resumo_RBMCSA_2012

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    Uso de semeadora mltipla na implantao da cultura do arroz em trs sistemas de preparo do solo no Vale do Ribeira.

    Wilson Jos Oliveira de Souza(1); Samuel Ferrari(2); Elza Alves(2), Eduardo Nardini Gomes(2); Csar Henrique de Jesus(3); Tamires Tangerino(3); Artur Jos De Santana

    Neto(3)

    1 Engenheiro Agrnomo, Prof. Assistente Doutor, UNESP/Campus Experimental de Registro. Fone: 13 3828 2900 Ramal 2928, [email protected] (apresentador); (2) Engenheiro(a) Agrnomo(a), Prof. Assistente Doutor(a), UNESP/Campus

    Experimental de Registro; (3) Aluno(a) de graduao em Agronomia, UNESP/Campus Experimental de Registro.

    Apoio: UNESP/Prope.

    RESUMO: O Vale do Ribeira possui pouco mais que 30% de rea agriculturvel, sendo os sistemas conservacionistas, promissores na otimizao do uso do solo e de mquinas agrcolas. O experimento est sendo conduzido no Campus Experimental da UNESP/Registro, utilizando-se PC preparo convencional, CM cultivo mnimo e PD semeadura direta de arroz. O objetivo foi avaliar a capacidade operacional de uma semeadora-adubadora mltipla, bem como parmetros de planta e solo associados aos efeitos da mquina. Verificou-se que: 1. a falta de instrumento marcador de linha adequado na semeadora reduziu a capacidade de campo operacional no PD; 2. a maior cobertura da superfcie no PD reduziu a temperatura do solo s 14h; 3. M foi maior na semeadura direta, afetado pela maior cobertura da superfcie e menor temperatura do solo no perodo mais quente do dia; 4.o estande inicial da cultura do arroz foi semelhante nos trs sistemas de preparo do solo.

    Palavras-chave: plantio direto, cobertura do solo, temperatura

    INTRODUO O preparo do solo melhora as condies

    superficiais favorecendo a uniformidade de germinao de sementes, crescimento e desenvolvimento de plantas pela movimentao de gua e ar, controle de plantas competidoras e incorporao de corretivos e fertilizantes (MELLO et al., 2003), maior capacidade de armazenamento de gua no solo e possibilitar economia de gua de irrigao. O advento do sistema plantio direto promoveu grandes mudanas, onde se desenvolveram novos projetos e uso de mquinas e implementos na agricultura (BENEZ, 2002), que favorece a racionalizao, devendo-se considerar aspectos relativos ao solo (tamanho e formato da rea, a textura, declividade, cobertura vegetal,

    fertilidade, compactao, regularidade do nivelamento da superfcie), cultura (estande inicial, estabelecimento da cultura), mquinas (velocidade de trabalho, capacidade operacional, desempenho) e suas inter-relaes. Segundo Cortez et al. (2007) a modernizao e desenvolvimento de novas mquinas especificas para o sistema plantio direto (SPD) permitiu sua utilizao com eficincia, ao semear diretamente abaixo de uma camada de palha com mnima mobilizao do solo e com distribuio de semente e fertilizantes na profundidade recomendada. O trabalho teve como objetivo avaliar a capacidade operacional de uma semeadora-adubadora mltipla na implantao da cultura do arroz em trs sistemas de preparo do solo, bem como parmetros de planta e solo associados aos efeitos da mquina.

    MATERIAL E MTODOS O experimento encontra-se em conduo na

    UNESP/Registro-SP, (Lat. 243158W; Long. 475135N; Alt. mdia 25m), clima do tipo Cfa subtropical mido com vero quente, conforme a classificao de Koeppen, com temperatura mdia de 22C e precipitao anual de 1400mm. O solo definido como Sistema das plancies e terraos fluviais do Ribeira do Iguape (Ross, 2002). Coletaram-se amostras de solo em maio/2011, em 20 pontos ao acaso, na profundidade de 0-0,20m. As amostras foram encaminhadas ao laboratrio para anlise qumica de rotina. A adubao da cultura foi realizada aplicando-se 350 kg ha-1 de 4-14-8 no sulco de semeadura (Raij et al., 1996). O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso, em faixa, com trs sistemas de preparo do solo (PC- Preparo convencional com grade aradora, seguida de duas gradagens leves; CM- Cultivo mnimo com escarificador equipado com rolo destorroador; PD- Sistema de semeadura direta),

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    com 12 repeties (36 parcelas de 6,0 x 20m - 120 m2). Aps o preparo, realizou-se a semeadura no dia 13/01/2012 utilizando-se 130 kg ha-1 de sementes certificadas de arroz (Oryza sativa L.) cultivar IAC 15 (0,35m entre linhas). A velocidade real de trabalho foi determinada dividindo-se o comprimento da parcela pelo tempo gasto pelo conjunto motomecanizado no percurso de cada parcela, sendo os dados transformados para km h-1. A Capacidade de Campo Operacional (CcO) foi determinada multiplicando-se largura efetiva de trabalho pela velocidade e pela eficincia de campo de 75% (ASAE, l999). A porcentagem de cobertura do solo foi medida no dia 16/01/2012, 3 dias aps a operao de semeadura do arroz em dois pontos por parcela (Laflen et al., 1981). O estande inicial foi determinado 17 dias aps a emergncia das plntulas, em 07/02/2012, nas 3 linhas centrais com comprimento de 2 metros, dentro de cada parcela. O nmero mdio de dias para emergncia das plntulas foi determinado de acordo com descrito por Maguire (1962). A temperatura do solo foi medida em dois pontos de cada parcela utilizando-se medidor eletrnico conectado a uma haste metlica (cobre-constantan), na profundidade de 0-0,10m, s 9h e s 14h seis dias aps a semeadura (19/01/2012). A umidade do solo foi determinada na mesma profundidade e data s 14h, utilizando o mtodo gravimtrico (EMBRAPA, 1979).

    RESULTADOS E DISCUSSO Todos os parmetros estudados apresentaram

    baixos coeficientes de variao, indicando que os dados coletados apresentam consistncia. Os valores de velocidade de deslocamento foram semelhantes nos trs sistemas de preparo do solo, como pode ser observado na Tabela 1. Entretanto, os valores de Capacidade de Campo Operacional, mostraram-se maiores no sistema de preparo convencional, comparado ao sistema de semeadura direta. Nota-se ainda uma correlao positiva (Tabela 3) linear e significativa (Tabela 4) entre V e CcO. Considerando que os valores da CcO so efetivos, calculados a partir da velocidade e largura reais de trabalho do conjunto motomecanizado, o menor valor observado no PD pode ser explicado pelo alinhamento deficiente do conjunto na segunda passada pela parcela, promovendo menor espaamento entre as linhas externas, j que a

    semeadora no possua marcador de linhas ou barra de luz para correta orientao do operador.

    TABELA 1. Anlise de varincia e teste de mdias para velocidade de trabalho (V), Capacidade de Campo Operacional (CcO), Nmero mdio de dias para emergncia das plntulas (M) e Estande Inicial da cultura (EI), em trs sistemas de preparo do solo, no ano agrcola 2011/12 no Vale do Ribeira (Registro SP). Mdia de 12 repeties.

    TIPO DE PREPARO DO SOLO

    V CcO M EI

    (km h-1) (ha h-1) (dias) (plantas m-2)

    PC 5,35 2,52 b 8,38 a 155,04 CM 5,11 2,43ab 8,49 ab 151,39 PD 5,23 2,36 a 8,89 b 131,31 Mdia 5,23 2,44 8,59 145,91 Teste F 0,0876NS 0,0329* 0,0315* 0,0463NS CV (%) 4,75 5,91 5,38 16,11

    PC = Preparo convencional; CM = cultivo mnimo; PD = plantio direto. CV = coeficiente de variao; Mdias seguidas de mesma letra na coluna no diferem entre si ao nvel de 5% de probabilidade; NS = no significativo; * = significativo a 5% de probabilidade.

    TABELA 2. Anlise de varincia e teste de mdias para porcentagem de cobertura do solo (COB), Temperatura (T solo) e Umidade gravimtrica (Ug) do solo, em trs sistemas de preparo do solo, no ano agrcola 2011/12 no Vale do Ribeira (Registro SP). Mdia de 12(1) e seis(2) repeties.

    TIPO DE PREPARO DO SOLO

    COB(1) T solo (C)(2) Ug(2) (%) 9h 14h (g/g)

    PC 7,92 a 25,30 a 31,33 b 0,24b CM 42,96 b 25,59 b 31,46 b 0,22 ab PD 94,58 c 26,13 c 29,73 a 0,20 a Mdia 48,49 25,67 30,84 0,22 Teste F 0,0001** 0,0001** 0,0003** 0,002** CV (%) 14,22 0,31 1,70 5,77

    PC = Preparo convencional; CM = cultivo mnimo; PD = plantio direto. T= temperatura do solo no dia 19/01/2012, na profundidade 0-0,10m; Ug = umidade gravimtrica do solo no dia 19/01/2012, na profundidade 0-0,10m; CV = coeficiente de variao; Mdias seguidas de mesma letra na coluna no diferem entre si ao nvel de 5% de probabilidade; NS = no significativo; ** = significativo a 1% de probabilidade.

    A quantidade de palha sobre a superfcie neste sistema e a pequena movimentao do material pela semeadora limitaram a percepo visual da posio correta de retorno pelo operador, evidenciando a necessidade de bons instrumentos marcadores de linhas, especialmente quando se utiliza o sistema plantio direto.

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    O valor de M tambm foi diferente considerando-se os sistemas de preparo convencional (PC) e semeadura direta (PD). As plntulas de arroz precisaram de tempo menor para emergir no sistema tradicional (PC), comparado com a semeadura direta. Esta diferena na velocidade de emergncia das plntulas no afetou de forma significativa o estabelecimento da cultura do arroz, j que o estande inicial da cultura (EI) mostrou-se semelhante nos trs sistemas de preparo do solo (Tabela 1).

    TABELA 3. Coeficientes de correo (R) entre as variveis estudadas na implantao da cultura do arroz em trs sistemas de preparo do solo, no ano agrcola 2011/12, no Vale do Ribeira (Registro SP).

    V CcO M EI V 1

    CcO 0,7503 1 M

    -0,0821 -0,2140 1 EI

    -0,0984 0,1379 -0,2839 1

    COB T solo (C) Ug COB 1 9h 14h T do Solo (C)

    9h 0,8064 1 14h -0,7994 -0,7109 1

    Ug -0,4808 -0,5088 0,3343 1 V= velocidade real de deslocamento; CcO = capacidade de campo operacional; M = nmero mdio de dias para emergncia das plntulas; EI = estande inicial da cultura; COB = Porcentagem de cobertura do solo; T = temperatura do solo no dia 19/01/2012, na profundidade 0-0,10m; Ug = umidade gravimtrica do solo no dia 19/01/2012, na profundidade 0-0,10m; Os valores de R grafados em itlico indicam a combinao de variveis analisadas tambm por regresso linear (Tabela 4).

    A anlise de correlao entre EI e M (Tabela 3) mostrou que, para este experimento, as variveis foram independentes. Os resultados mostram que M depende mais da COB (Tabela 2), elevando-se com o aumento da cobertura da superfcie (Tabela 4), o que pode explicar, em parte, o maior valor de M no PD. As temperaturas maiores do solo no PC nas horas mais quentes do dia (14h) parecem contribuir com a reduo no M do arroz, dada a correlao negativa (Tabela 3) e linear significativa (Tabela 4) observada neste experimento. Embora os dados de COB tenham sugerido correlacionarem-se de forma negativa linear e significativa com o EI, no se verificou isto nos tratamentos estudados, j que

    houve diferena no percentual de cobertura do solo (Tabela 2), mas no no EI (Tabela 1).

    O COB aumentou de forma significativa medida que se reduziu a intensidade de preparo do solo, parecendo influenciar o comportamento da temperatura do solo nos dois horrios estudados. No perodo da manh (9h), verificou-se menor temperatura no solo no PC, seguida do CM (cultivo mnimo) e PD. No perodo da tarde (14h) este comportamento inverteu-se, com os maiores valores no PC e CM e menores no PD. Estes comportamentos esto diretamente relacionados com a porcentagem de cobertura do solo, dadas as correlaes observadas (Tabela 3). A menor mobilizao do solo no PD, associada maior cobertura da superfcie pode diminuir a velocidade de aquecimento e resfriamento do solo, o que justifica as maiores temperaturas pela manh (resfriamento mais lento) e a menores no perodo da tarde (aquecimento mais lento).

    TABELA 4. Anlise de regresso linear simples entre variveis estudadas na implantao da cultura do arroz em trs sistemas de preparo do solo, no ano agrcola 2011/12, no Vale do Ribeira (Registro SP). Mdia de 12(1) ou 6(2) repeties. Variveis Equao R2 P CV (%) V x CcO(1) Y = 0,4905x-0,1269 0,5629** 0,0001 4,46

    CcO x COB(1) Y = -101,6990X+296,374 0,1920** 0,0062 68,98

    COB x EI(1) Y = -0,3044X+160,6740 0,1376* 0,0259 19,53

    COB x T9h(2) Y = 0,0154X+25,3626 0,6503** 0,0001 0,87

    COB x T14h(2) Y = -0,0404X+31,6500 0,6390** 0,0001 1,95

    COB x Ug(2) Y = -0,0006X+0,2304 0,2312* 0,0434 10,77

    COB x M(1) Y =0,0063X+18,2818 0,1921** 0,0075 5,66

    T9h x T14h(2) Y = -1,8854X+79,2384 0,5054** 0,0009 2,28

    T9h x Ug(2) Y = -0,0361X+1,1428 0,2589* 0,0310 10,57

    T9h x M(2) Y = 0,5381X-5,2455 0,1736NS 0,0855 5,16

    T14h x M(2) Y = -0,2558X+16,4551 0,2758* 0,0252 4,83

    V= velocidade real de deslocamento (km h-1); CcO = capacidade de campo operacional (ha h-1); M = nmero mdio de dias para emergncia das plntulas (dias); EI = estande inicial da cultura (plantas m-2); COB = Porcentagem de cobertura do solo (%); T = temperatura do solo no dia 19/01/2012, na profundidade 0-0,10m (C); Ug = umidade gravimtrica do solo na profundidade 0-0,10m (g H2O g-1 solo seco); NS = no significativo; * = significativo a 5% de probabilidade; ** = significativo a 1% de probabilidade.

    A umidade atual do solo, medida base de massa, foi maior no PC, quando comparado ao PD. A anlise de correlao sugere comportamento inverso entre cobertura do solo e umidade, o que no reflete

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    a realidade. Neste ensaio, deve-se considerar que tal efeito na umidade gravimtrica deve estar associado s caractersticas do solo da regio (textura mdia a siltosa na camada 0-0,20m, com presena de argilas expansivas) e, especialmente ao tipo de preparo. Quando no se mobiliza o solo (PD), preserva-se os canalculos deixados pela decomposio das razes de plantas anteriormente instaladas, facilitando a infiltrao de gua, promovendo maior deslocamento da gua no perfil. Para a peculiaridade dos solos da regio, a gua permanece por mais tempo na camada superficial, que satura mais rapidamente e conduz a maiores perdas de solo, como constatado visualmente nas parcelas experimentais.

    CONCLUSES Com base nos dados pode-se concluir que: 1. a

    falta de instrumento marcador de linha adequado na semeadora reduziu a capacidade de campo operacional da operao na semeadura direta; 2. a maior cobertura da superfcie no PD reduziu a temperatura do solo no horrio mais quente do dia (14h); 3. o nmero mdio de dias para emergncia das plntulas de arroz foi maior na semeadura direta, afetado pela maior cobertura da superfcie e menor temperatura do solo no perodo mais quente do dia; 4. porm, o estande inicial da cultura do arroz foi semelhante nos trs sistemas de preparo do solo.

    AGRADECIMENTOS PROPe Pr-reitoria de Pesquisa da UNESP pelo

    auxlio pesquisa (Primeiros Projetos 2011).

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