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Índice Editorial Forças Armadas O inexpugnável baluarte Ten Brig Ar Ivan Frota 2 CAER - Departamento Cultural Grupos de estudo Curso de humanidades Araken Hipólito da Costa Cel Av 4 A Amazônia é um patrimônio do Brasil - Por que se preocupar com a Amazônia? Joselauro Justa de A. Simões Cel Inf 6 A FAB na Amazônia Bruno Pedra Cap Av 11 Projeto Calha Norte Manoel Soriano Neto Cel Inf e Estado-Maior Historiador Militar 12 A FAB e o Projeto Rondom João Paulo M. Peixoto Professor da UnB 16 Ministério da Defesa... ou da Aviação Civil? Maj Brig Ar Lauro Ney Menezes 18 Não se mexe impunemente nas instituições Brig Ar Zilson Luís Pereira Cunha 20 Crise de gestão Ivan Carvalho Engenheiro e piloto 22 Participação do Comandante da Aeronáutica no Seminário de Defesa em 2002 Ten Brig Ar Carlos de Almeida Baptista 24 Casco x miolo Dilema entre modernizar e comprar “0 km” Ten Brig Ar Fernando de Assis Martins Costa 28 Grito de guerra Aviação de Patrulha Januário Sawczuk Cel Av 30 Integração latino-americana: um imperativo geopolítico Manuel Cambeses Júnior Cel Av 32 Lições de uma guerra abortada Ricardo Vélez Rodríguez Filósofo da UFJF 34 Que susto! Ten Brig Ar Sérgio Pedro Bambini 37 A Lógica Grasmcista da tomada progressiva do poder Dion de Assis Távora Cel Av 40 Fim da ciência? Severo Hryniewicz Professor de Filosofia da Faculdade João Paulo II 42 Uma Força Aérea de ponta requer Medicina Aeroespacial do mesmo nível Maj Brig Méd Dr. Ricardo Luiz de G. Germano 44 Breve histórico da devoção a Nossa Senhora do Loreto Aloísio Quadros Pesquisador e Historiador 46 Charge Ivo Batalha Cel Av 48

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ÍndiceEditorialForças ArmadasO inexpugnável baluarteTen Brig Ar Ivan Frota

2 CAER - Departamento CulturalGrupos de estudoCurso de humanidadesAraken Hipólito da CostaCel Av

4 A Amazônia é um patrimôniodo Brasil - Por que se preocuparcom a Amazônia?Joselauro Justa de A. SimõesCel Inf

6

A FAB na AmazôniaBruno PedraCap Av

11 Projeto Calha NorteManoel Soriano NetoCel Inf e Estado-MaiorHistoriador Militar

12 A FAB e o Projeto RondomJoão Paulo M. PeixotoProfessor da UnB

16

Ministério da Defesa...ou da Aviação Civil?Maj Brig Ar Lauro Ney Menezes

18 Não se mexe impunementenas instituiçõesBrig Ar Zilson Luís Pereira Cunha

20 Crise de gestãoIvan CarvalhoEngenheiro e piloto

22

Participação do Comandanteda Aeronáutica no Seminário deDefesa em 2002Ten Brig Ar Carlos de Almeida Baptista

24 Casco x mioloDilema entre modernizare comprar “0 km”Ten Brig Ar Fernando de AssisMartins Costa

28 Grito de guerraAviação de PatrulhaJanuário SawczukCel Av

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Integração latino-americana:um imperativo geopolíticoManuel Cambeses JúniorCel Av

32 Lições de uma guerraabortadaRicardo Vélez RodríguezFilósofo da UFJF

34

Que susto!Ten Brig Ar Sérgio Pedro Bambini

37 A Lógica Grasmcista datomada progressiva do poderDion de Assis TávoraCel Av

40 Fim da ciência?Severo HryniewiczProfessor de Filosofia daFaculdade João Paulo II

42

Uma Força Aérea de pontarequer Medicina Aeroespacialdo mesmo nívelMaj Brig Méd Dr. Ricardo Luiz deG. Germano

44 Breve histórico da devoçãoa Nossa Senhora do LoretoAloísio QuadrosPesquisador e Historiador

46 ChargeIvo BatalhaCel Av

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esde a criação inconstitucio-nal da “Reserva Ianomâmi”,

de alcance binacional e de absur-das dimensões, o Brasil continuacedendo às mais leves pressõesinternacionais para o estabeleci-mento de novos “santuários” in-dígenas em seu espaço amazô-nico, como o recente caso da re-gião Raposa Serra do Sol.

Legislação originada do Exe-cutivo, surpreendendo a opiniãopública nacional, permite a con-cessão de imensas glebas de ter-ras a estrangeiros, para explora-ção indiscriminada, por longos pe-ríodos, que atingem os limites demeio século.

Sem qualquer oposição do Go-verno, especialistas de outros pa-íses infiltram-se nessas reservas,impõem-lhes seus idiomas e cos-tumes, proíbem a entrada de bra-sileiros e despertam-lhes senti-

mentos separatistas, induzindo-asà criação de nações próprias.

Paradoxalmente, dá-se extra-ordinária ênfase ao combate dosdesmatamentos e ao trânsito denacionais nessas reservas, porémnão se vê qualquer medida efeti-va para expulsar dessas áreas ascentenas de estrangeiros clandes-tinos que por ali se estabeleceram.

Assim, a técnica do “retalha-mento” e do sistemático bloqueiodo desenvolvimento do imenso erico território afigura-se como as-pectos principais da estratégiadessa intenção.

Em âmbito nacional, continu-am atuando, livremente, gruposparamilitares, provavelmente fi-nanciados com dinheiro público,os quais se utilizam de técnicasterroristas para atentar, violenta-mente, contra o direito de propri-edade, sem que se veja das auto-ridades constituídas uma adequa-da vontade política para estancar,de vez, esses perigosos movimen-tos, antes que seja tarde demais.

Por outro lado, programas de

Ten Brig Ar Ivan FrotaPresidente

EDITORIAL

FORÇAS D

FORÇAS

O INEXPUGNÁVELBALUARTE

O INEXPUGNÁVELBALUARTE

O projetoalienígena de

“balcanização” daAmazônia brasileira faz

algum tempo encontra-seem plena marcha, ante avenal omissão e, talvez,

conivência de órgãosgovernamentais dos mais

elevados escalões, emparticular, do Ministério

do Meio Ambiente.

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mídia financiados por capital ex-terno, com objetivos dúbios, “mar-telam”, diuturnamente, a opiniãopública com dados meteorológi-cos distorcidos e exageradas pre-visões de desastres ecológicosiminentes, praticando verdadeiroterrorismo ambientalista.

É preciso denunciar, denunci-ar e denunciar, quantas vezes fo-rem necessárias, que o objetivoverdadeiro dessa pantomima doteórico e ridículo “aquecimentoglobal” não é outro senão o de fre-ar o desenvolvimento dos paísesemergentes, dentre outros, a Chi-na, a Índia e, no caso do Brasil, ode impedir a ocupação e o desen-volvimento racional da Amazônia.

Tudo isso tem acontecido sobos olhos permissivos das autori-dades dirigentes do País, que su-cumbem, docilmente, às pressõespolíticas dos países centrais, bemcomo, vergonhosamente, subme-tem-se, impassíveis, às atrevidasbravatas de “chefetes” regionais.

Esse comportamento governa-mental revela uma personalidadefrágil e amedrontada diante dequalquer tipo de oposição, com apreocupação única de manter-seno poder, a qualquer custo – in-ternamente, pelo humilhante su-borno das bolsas-voto – e, no cam-po externo, pela absoluta inação,frente aos claros objetivos de in-ternacionalização de parcelas donosso território.

Dentro desse quadro, o Brasil

fica à deriva, ante a ausência to-tal de lideranças que o protejamdessas ameaças antinacionaisque proliferam livremente.

É fundamental, pois, que a so-ciedade válida identifique a gra-vidade dessa situação e se dispo-nha a agir, emergencialmente,para exigir do Governo constituí-do, que impeça a continuação des-sas absurdas investidas que paí-ses, ONGs, entidades internacio-nais e a mídia mercenária têm pra-ticado contra os legítimos interes-ses da Pátria brasileira, sob penade incursão em crime de respon-sabilidade.

Felizmente, porém, as ForçasArmadas representam, talvez, aúltima esperança de garantia deuma resistência inflexível contratodo esse contexto adverso. Porisso, já há algum tempo, têm sidoalvo de planejada desatenção doEstado, visando ao seu enfraque-cimento gradativo.

A principal atuação desse pro-cesso é sobre o moral da tropa queprocura atingir, negando-lhe a atu-alização de equipamentos e con-gelando seus humilhantes salári-os, gritantemente desproporcio-

nais às suas responsabilidades.Porém, aqueles que assim

agem enganam-se, se pensamque vão enfraquecer as convic-ções da sociedade castrense, ouque essa poderá deixar-se inibirpor uma democracia ilegítima,construída sob o respaldo de umamaioria de eleitores corrompidospor degradantes esmolas pessoais.

Enganam-se, sim, porque asForças Armadas sempre estarãoprontas para ir às últimas conse-qüências, a fim de preservar asegurança da Pátria e a integrida-de de seu Território.

Portanto, que o Governonão se omita e exerça suaresponsabilidade constitu-cional de defender os le-gítimos interesses do País.

Se não o fizer, haveráquem o faça, o que já po-derá ter começado...

Sempre foiassim e continu-ará sendo, na His-tória deste País

ARMADAS ARMADAS

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GRUPOS DE ESTUDONo dia 14 de fevereiro último, os Gru-

pos de Estudo tiveram a grata oportuni-dade de receber o último Ministro e pri-meiro Comandante da Aeronáutica TenBrig Ar Walter Werner Bräuer.

O Grupo que trata do assunto “Mi-nistério da Defesa”, na parte referente aosquestionamentos, aproveitou o inegávelconhecimento do Comandante sobre oentão novel Ministério, criado durante suaprofícua gestão como Ministro, para elu-cidar dúvidas ainda existentes quanto aosfundamentos operacionais daquele ÓrgãoFederal Militar e, ao mesmo tempo, comalcance sobre a sociedade civil.

CURSO DE HUMANIDADESDe 4 de março a 24 de junho de 2008, toda terça-feira – de 9h 30 às 11h 45.Atenção! No caso de ainda haver interesse em participar, entrem em contato com oDepartamento Cultural.Será outorgado aos discentes o Certificado de Extensão (avalizado pelo Clube deAeronáutica, pela Academia Brasileira de Filosofia e pelo Instituto de Humanidades).O Curso, embora adaptado para nossa regionalidade contemporânea, tem por baseos cursos análogos americanos e ingleses (St. John´s College – EUA e OpenUniversity – Inglaterra).A apresentação oficial esteve a cargo do Dr. RICARDO VÉLEZ RODRIGUEZ, colom-biano de Santa Fé. Filosófo e detentor do Mestrado e do Doutorado em váriasOrganizações e Universidades. Pertence à Academia Brasileira de Filosofia e aoInstituto Brasileiro de Filosofia. Seu extenso currículo está dedicado ao Pensamen-to Latino-Americano – Estado, Cultura y Sociedad en la América Latina.

Março:4 e 18 ............. Cultura Ocidental .......... Francisco Martins de SouzaMarço:25 ................... Filosofia Política ............ Francisco Martins de SouzaAbril: 1, 8 e 15 ......... Filosofia ......................... João Ricardo ModernoAbril: 22 e 29 ........... Ciência Política ............. Umberto de C. Carvalho NettoMaio: 8 ..................... Moral ............................. Tarso Magnus da Cunha FrotaMaio: 13 e 20 ........... Filosofia da Religião ....... Marcela MariaMaio: 27 ................... Ciências ......................... Pedro Ivo SeixasJunho: 3 ..................... Artes Plásticas .............. Araken Hipólito da CostaJunho: 10 ................... Cinema .......................... Geraldo Edson de AndradeJunho: 17 ................... Música ........................... Ubirajara Carvalho da CruzJunho: 24 ................... Ópera ............................ Fernando Bicudo

Inscrições ou dúvida, ligar para (21) 2220-3691

Departamento Departamento GauguinDe onde Viemos? Quem Somos?Para onde vamos?141 x 411cm1897

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aul Gauguin, artista francês nascidono ano de 1848, era um próspero cor-

retor de valores, pai de cinco filhos, mem-bro da classe média e apreciador da Arte,em especial dos “escandalosos” impres-sionistas como Manet, Renoir, Monet,Cézanne e Pissarro.

Aos 35 anos, Gauguin decidiu rom-per com diversas “amarras”: emprego,família, sociedade européia. Anos de-pois, passou a ser mais conhecido pelasobras que pintou quando fugiu para osmares do Sul.

Em 1897, Gauguin, doente, pobre,endividado e profundamente angustiadocom a morte de sua filha Aline, pintou“De Onde Viemos? O Que Somos? ParaOnde Vamos?” Nesta tela, que represen-ta várias cenas do nascimento à morte,Gauguin se perguntava sobre o sentidoda vida. Morreu no Taiti, em 1903.

O homem, em determinado momen-to de sua existência, sempre se questio-na sobre este mesmo tema: De Onde Vie-mos? O Que Somos? Para Onde Vamos?Procura, então, auxílio da razão na Filo-

sofia e nas Ciências. Mas o fato é queestas não atingem o âmago da resposta.

No entanto, é na Revelação Divinaque a busca do sentido para a existênciaencontra a sua âncora mais firme. Aosque desejam aprofundar o sentido da Fé,a teologia, o estudo sistemático da reali-dade divina, oferece as razões do crer eo aprofundamento do estatuto ético ine-rente ao crer.

Observa Aristóteles (384-322 a.C.)que o desejo é “vazio e vão” a menos que“haja nas coisas que fazemos algum fimque desejamos por si mesmo” (Ética a Ni-cômaco, 1094, a 18-21). Caso contrário,a nossa vida torna-se vazia de significado,passiva, fragmentada, tediosa e, por issomesmo, drasticamente prejudicada.

É deste modo que são constituídosos países de ideologias totalitárias (na-zismo, comunismo), pois com base numacosmovisão materialista encontram, nes-ta, sua “única verdade”. Esquecem queas sociedades não sobrevivem sem osvalores éticos oriundos da Fé, sem a qualtendem a desaparecer. É importante lem-

brar que o Estado laico não significa umEstado anti-religioso ou Estado ateu.

Além da Fé, a Arte também traz umalento ao caminho do homem. A sensibi-lidade artística permite perceber e captar abeleza dos bens visíveis. O artista, ao con-templar as maravilhas das coisas existen-tes, por analogia, reconhece o Criador de-las. Cabe ressalvar que a Fé e a Sensibili-dade não excluem a Razão, porquanto umaFé sem Razão gera um religioso funda-mentalista, e uma sensibilidade sem Ra-zão produz um artista “sentimentalóide”.

Por dedução, podemos compreenderque a linguagem da sensibilidade é a lin-guagem da Arte, no sentido de traduziruma realidade que supera a compreensãohumana. Entendemos, então, que a ver-dade não acaba quando cessa o meu raiode percepção intelectual. Por sua vez, aSensibilidade ultrapassa o alcance da mi-nha Razão que, sem contradizê-la, leva ademanda da verdade a ulteriores etapas

Araken Hipólito da CostaCel Av

Diretor e Editor do Departamento Cultural

Cultural Cultural

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Espaço AmazônicoPara se ter uma noção do tamanho

da Região Amazônica, toda a Europa cabedentro dela, com exceção da Rússia. Sãoaproximadamente 5.000.000km2 repre-sentando 56% do território nacional. Delafazem parte os estados do Pará, Amazo-nas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima,oeste do Maranhão, norte do Mato Gros-so e o Estado de Tocantins. Mais do quea metade da nossa nação.

Ambiente AmazônicoPossui o maior banco genético do

mundo, incomparável biodiversidade,1/5 da água doce e 1/3 das florestasdo Planeta. Riquezas incalculáveis nosubsolo e imenso vazio demográfico.

Hylé, em grego, significa floresta. AHiléia Amazônica é o ecossistema maispreservado da Terra. O seu clima é equa-torial com 100% de umidade e com chu-vas abundantes e sistemáticas.

No Escudo das Guianas, ao norte doRio Amazonas, as riquezas minerais sãopouco conhecidas, o mascaramento dacobertura vegetal oculta o tesouro que seencontra no subsolo. O Grupo Roraimatem, na sua estrutura, um dos mais im-pressionantes conjuntos de rochas sedi-mentares. É rica em ouro e diamante.

No alto Rio Negro, encontra-se omaior depósito de nióbio (Nb) do Plane-ta, metal de “última geração”, utilizadona produção de aços especiais e, emcombinação com o níquel e o cobalto,compõe as superligas, indispensáveis àIndústria Aeroespacial.

A vocação mineral da Amazônia éimensa; nos reinos vegetal e animal en-contramos o maior banco genético doPlaneta. Gerarão produtos alimentícios,medicinais, químicos e outros ainda des-conhecidos. Neste particular, temos sidoalvo de “espionagem” por elementos es-trangeiros, travestidos até de turistas, osquais levam, para o exterior, mudas e se-mentes que tecnicamente pesquisadas,são transformadas em produtos acaba-dos. É a biopirataria. A exploração doecossistema é um prato feito para o ape-tite alheio.

Não devemos esquecer a abundân-cia da energia hídrica.

A pauta alimentícia da Hiléia, além dacastanheira, possui açaí, bacaba, bacuri,biribá, buriti, cacau, cupuaçu, graviola,inajá, jenipapo, mangaba, mari-mari, pa-tuá, pequi, pupunha, sapoti, sapucaia,sorva, taperebá, tunucá e tantas outras. Éapenas uma amostragem – de fome oamazônida não morre.

Os líquidos viscosos de grande va-lor industrial são, também, uma dádivade Deus. O látex não somente das se-ringueiras, mas, também, o látex da ma-çaranduba, da mangabeira e da maru-pita são usados para o preparo da bor-racha.

As plantas medicinais são objeto deestudos, sobretudo, de estrangeiros. Osnossos índios conhecedores dos segre-dos das plantas naturais estão sendo ob-jeto de exploração por pesquisadores ali-enígenas.

Por Bismark: “As riquezas naturais

nas mãos de quem não sabe ou nãoas quer explorar constituem perma-nente perigo para quem as possui.”

Regiões Críticase Áreas Estratégicas

Um dos alvos prediletos dos aliení-genas são as reservas indígenas, deven-do os brasileiros voltar suas atençõespara a penetração de estrangeiros nes-sas áreas.

Os territórios das “Reserva Iano-mâmi” e “Raposa Terra do Sol” sãocontíguos às áreas de fronteira e ul-trapassam a faixa de 150km, previstana Constituição.

A região da “Cabeça do Cachorro”(São Gabriel da Cachoeira) faz fronteira coma Colômbia, envolvida com ações de guer-rilha e narcotráfico internacional, bemcomo as posicionadas ao norte do estadode Roraima, fronteira com a Venezuela e aGuiana, bastantes vulneráveis em face dasnossas despovoadas fronteiras.

Urge acelerar o “Programa CalhaNorte” pela existência de uma regiãorica e praticamente inexplorada, des-

povoada e com fra-ca presença brasilei-ra ao longo de exten-sa fronteira de6.771km, ao nortedo Rio Amazonas.

Joselauro Justa de A. SimõesCel InfMembro do Grupo de Estudo daSoberania Nacional A AMAZÔNIA É UM A AMAZÔNIA É UM

“Não pode haver erro maior para uma naçãoque esperar ou contar com favores de outra”

George Washington

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7 iPor que se preocupar com a Amazônia?

Atos de GovernoDecisões questionáveis e proble-

máticas.Então vejamos:O Presidente Fernando Collor, em

Decreto Presidencial, assinado em 15 denovembro de 1991, criou a “Reserva Ia-nomâmi” (9.4 milhões de hectares ou16.642km2), com área equivalente ao es-tado de Santa Catarina. Consta que a de-cisão para a sua criação foi tomada emmeados da década de 60, por iniciativada Casa de Windsor, cujos pormenores eimplicações estratégicas foram arquiteta-dos pelo Príncipe Philip da Inglaterra.

Em 14 de abril de 1998, o PresidenteFernando Henrique Cardoso homologouas terras indígenas de São Gabriel da Ca-choeira, formando um polígono contínuode 10.6 milhões de hectares (quase dotamanho de Cuba).

Por sua vez, o Presidente Lula assi-nou a Portaria nº 534, de 13 de abril de2005, homologando a Reserva IndígenaRaposa Terra do Sol, de forma contínua,uma área de 1.743.000 hectares, consi-derada posse permanente dos grupos in-dígenas INGARIKÓ, MAKUXI, TAUREPANGe WAPIXANA. Tal atitude contraria frontal-mente todos os estudos e relatórios pro-movidos pelo Congresso Nacional.

O Presidente Lula sancionou, re-centemente, a Lei nº 11.284, de 2 demarço de 2006, que promove a indis-

criminada concessão de uso de flores-tas públicas na Região Amazônica.

IndígenasA polêmica é segregar ou integrar?Na demarcação das terras indígenas,

qual seria o seu tamanho?Quais os critérios para demarcar as

suas terras?Precisaríamos de respostas para es-

sas indagações, além de não conhecer-mos qual a regulamentação da Constitui-ção de 1988, com relação à exploraçãodas áreas indígenas.

As comunidades indígenas são cons-tituídas em tribos, geralmente nômadesde diferentes etnias e línguas diferentes.Não reconhecemos e repelimos a deno-minação de nações que permite interpre-tações levianas as quais podem ameaçaros interesses nacionais e até a integrida-de do território e a soberania nacional.

NarcotráficoPela extensão das fronteiras “aber-

tas” da Amazônia, que facilitou as pene-trações, constróem-se corredores depassagem do narcotráfico em direção àEuropa e aos Estados Unidos. O mesmoacontece com a Bolívia e a Colômbia, tra-dicionais produtores de coca. Não pos-suímos domínio sobre as áreas limítrofescom a Guiana e o Suriname.

Campos de pouso clandestinos, emplena selva, permitem o tráfico de entor-pecentes, de armas e de dinheiro. A Ama-zônia é imensa, e os pequenos aviõesvoam a baixa altura, dificultando a suadetecção pelo radar (SIVAM).

O Inimigo InvisívelA Amazônia é o paraíso da prolifera-

ção de doenças tropicais, tais como:leishmaniose, malária, febre amarela,hepatite, dengue, lepra (hanseníase †mai-or índice depois da Índia), tuberculose emosquitos que transmitem até cegueira(tracoma).

Os habitantes aclimatados à região(caboclos, índios e seringueiros) sãomenos afetados. Os brancos são maisvulneráveis a essas doenças.

Cobiça InternacionalConsideraçõesDesde épocas remotas, existem am-

bições sobre a Região Amazônica, des-pertando a curiosidade de famosos cien-tistas e naturalistas do mundo desenvol-vido, em torno da grandeza e das rique-zas da área. Teses sobre a livre navega-ção internacional no Rio Amazonas; e astentativas do Instituto Internacional da Hi-léia Amazônica reforçavam, em épocaspassadas, as más intenções com relaçãoao nosso País.

Hoje, as ações são concentradas pe-las Organizações Não Governamentais(ONG), algumas mascaradas com nobresprogramações sobre fins humanitários,ecológicos ou científicos, direitos hu-manos, defesa ambiental e combate adesigualdades sociais. Na realidade,

PATRIMÔNIO DO BRASIL PATRIMÔNIO DO BRASILPor que se preocupar com a Amazônia?

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pregam o lema de que a “Amazônia éPatrimônio da Humanidade”.

A idéia de que o BRASIL é incapazde preservar a natureza amazônica já temsimpatizantes na ONU, UNESCO e entida-des financeiras internacionais, incluindoaté a constituição de uma entidade su-pranacional para intervir na Amazônia.

As pressões e as presenças das ONGnas reservas indígenas e nas regiões defronteiras formam praticamente um “cor-redor de isolamento” que favorece a es-tranhos interesses.

Ação psicológicaUma verdadeira “cruzada” se forma

contra o Brasil, desde as vozes de perso-nalidades mundiais até à pregação de quea Amazônia pertence ao mundo.

Os países militarmente fracos corremo risco de ter as suas soberanias viola-das. Daí vem a concepção das guerrasassimétricas.

As perspectivas crescem com a pre-visão de escassez da água potável nomundo, por volta de 2025.

Frases de efeitoEntre as diversas manifestações de

personalidades contrárias à nossa sobe-rania sobre a área, destacaram-se:

1983 - Margareth Tatcher; 1989 -Al Gore; 1989 - François Miterrand; 1992- John Major; 1992 - Mikhail Gorbachov;1994 - Henry Kissinger; 1996 - MadaleineAlbrigth; 1998 - General Patrick Hughes;2005 - Pascal Lamy (Presidente da OMC):“A Amazônia e as outras florestas tropi-cais do Planeta deveriam ser considera-das bens públicos e mundiais e submeti-das à gestão coletiva, ou seja, gestão dacomunidade internacional.” Observemque Mitterrand, na época, criou a doutri-na da “soberania relativa” e a doutrina do“direito de ingerência”. Hoje já se fala de“soberania compartilhada”.

Invasão brancaEsta denominação é a mais sutil e

perigosa, pois a manobra envolventeacontece sem armas e sem derramamen-to de sangue.

As ONGs são financiadas por pode-

rosos grupos internacionais que estãode olho nas nossas riquezas naturais.Os órgãos do Governo não controlam oufiscalizam as suas atividades. Na reali-dade, as ONGs estão pesquisando, per-sonalizando ou patenteando a biodiver-sidade da área, e, até, da cultura nativa.Na reserva de MAMIRAUÁ, e outras, bra-sileiro não entra.

Pelo Padre Antônio Vieira: “Eles nãoquerem o nosso bem, eles querem osnossos bens”.

DesafiosCobiça internacional na Amazônia, na

busca da reserva incomensurável de pe-dras preciosas, jazidas das mais diversas,madeiras de lei, plantas medicinais e ani-mais exóticos; ausência de órgãos do Go-verno na Amazônia, fato já reconhecidopela ABIN; o Conselho Mundial de Igre-jas; a demarcação contínua de áreas indí-genas; na reserva Raposa Terra do Sol;uma fartura de ONGs; à Reserva Ianomâ-mi adentra no território venezuelano, o “ire vir” de “meia dúzia de índios” da mesmaetnia poderá redundar numa “expectati-va” de nação em terras pátrias e do paísvizinho; biopirataria; pressão de ambien-talistas e antropólogos; plantas da nossaflora, com aproveitamento medicinal, pa-tenteadas por laboratórios estrangeiros;demarcação, em favor de quilombolas, deáreas exageradas; a demarcação da reser-va do Rio Negro †“Cabeça do Cachorro”;e ineficiência da FUNAI e do IBAMA nogerenciamento dos assuntos amazônicos,pela extensão da área a ser fiscalizada.

Focos de TensãoA Região Amazônica também apre-

senta, hoje, outros problemas, taiscomo: grande interesse internacionalpelos recursos minerais e pela biodiver-sidade; utilização predatória dos recur-sos naturais; existência do contrabandoe, sobretudo, do narcotráfico, cujos re-cursos financeiros chegam a neutralizar,por vezes, a incipiente presença do po-der público; o constante descaminho de

minerais e pedras preciosas; a desorde-nada atividade de garimpagem com gra-ves deficiências sociais e trabalhistas; eas questões decorrentes de conflitos, en-volvendo, normalmente, índios, possei-ros, grileiros, garimpeiros, empresas demineração e fazendeiros.

Medidas AcauteladorasNota-se a ausência do Estado e a fal-

ta de vontade política na resolução dosgraves problemas dessa área estratégica,nos aspectos econômicos, psicossoci-ais e militares, de modo a proporcionarmelhores condições para a ocupação dospontos-chaves, no vazio habitado pelosamazônidas.

Os brasileiros devem ter em menteque os nossos netos merecem receberum Brasil forte e intacto. Admitir a perdada Amazônia por decorrência de sua in-ternacionalização significa inviabilizar oPaís como nação, pois perderemos 56%do nosso território. A opinião pública bra-sileira desconhece a gravidade do pro-blema, por ignorância ou por falta de es-clarecimentos da sociedade, veículos decomunicação e órgãos de Governo.

A presença das organizações milita-res do Exército na área, a vigilância aéreae o essencial apoio logístico da ForçaAérea Brasileira (FAB) na ligação dos dis-tantes pontos do continente amazônico,como também o atendimento, pela Mari-nha de Guerra, das populações ribeiri-nhas, abandonadas à própria sorte e iso-ladas da civilização, são respostas à pre-ocupação com a soberania nacional. OExército Nacional está empenhado nodesenvolvimento da chamada “Estraté-gia de Resistência”, cujos princípios bá-sicos são os de se opor ao Invasor, quetenha um poder militar incontestavelmentesuperior ao brasileiro. É necessário de-terminação, vontade, paciência e fé, paraexpulsar os alienígenas. Trata-se tambémde uma demonstração de não ceder àadversidade, apresentando uma políticade dissuasão, de maneira que os possí-veis invasores pensem duas vezes e es-

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tejam cientes de que pagarão com um ele-vado preço em vidas pela sua aventura.

A possibilidade apresentada não éutópica nem paranóica, pois no atualquadro político mundial, predominam aspressões intervencionistas de organis-mos internacionais. Precisamos, no en-tanto, de uma “vontade nacional”, paranão aceitar a limitação de nossa sobera-nia. Todos os cidadãos responsáveis,políticos ou não, devem “acordar” nos-so povo, que se encontra desinforma-do, de modo que surjam pressões legí-timas na formação da vontade nacio-nal, possibilitando a defesa da nacio-nalidade, contribuindo para o ressurgi-mento do sentimento de pátria, a des-peito de todas as nossas mazelas.

ConclusãoVamos abrir a janela e observar a

situação do nosso Planeta.Após o aparente término do “equilí-

brio do terror”, quando duas potênciasmundiais se digladiavam pela conquistados povos, seja por meio do controle ide-ológico, seja pelo econômico, hoje, ob-serva-se a atuação de uma potência hege-mônica e de um grupo de países (grupodos oito) que determinam o destino daHumanidade. A época da chamada “Guer-ra Fria”, em que predominava o conflitoLeste-Oeste, foi substituída por uma con-frontação Norte-Sul, em que os paísespobres, que detêm, no momento, umagrande instabilidade psicossocial, econô-mica e política, são constantemente ame-açados pelos ricos, ditos desenvolvidos.

Basta consultar a História para saberque, na política internacional, as amiza-des entre os países são transitórias, o quepredominam são os interesses nacionais.

Na realidade, os brasileiros devemvoltar as suas atenções, também, para oPantanal, o Aqüífero Guarani e a extensãode nossa fronteira marítima, hoje, deno-minada de Amazônia Azul, pela riqueza desua plataforma continental e a importânciana defesa da nossa Soberania.

Na época da tão badalada “globali-

zação”, na qual não sabemos o que te-mos a ganhar ou a perder e levando-seem conta a teoria de que os países nãotêm mais fronteiras, devemos ficar aten-tos para não sermos manipulados poruma mídia que não sabemos até que pon-to seria mera transmissora de notícias,favorecendo interesses de grupos inter-nacionais ou mesmo nacionais.

O lema INTEGRAR PARA NÃO EN-TREGAR está cada vez mais persistente.No entanto, existe uma luta surda entreos ambientalistas e os desenvolvimen-tistas. Não se deve degradar o ambienteecológico da Amazônia, porém não sedeve deixar de desenvolvê-la com crité-rio, como, também, não se deve conser-vá-la virgem para ser aproveitada e atéser possivelmente degradada por outrospovos. O bom senso deve prevalecer.

Nosso povo, principalmente a Clas-se Média, está preocupado com as nos-sas deficiências internas, em que a vio-lência, a corrupção, a impunidade e osmaus exemplos ocupam os noticiáriosdos veículos de comunicação, fazendocom que nos esqueçamos de abrir a ja-nela, tornando-nos desatentos ao que sepassa no mundo, onde há países que hojesofrem intervenções econômicas e/oumilitares.

Ao encerrarmos o presente trabalho,queremos prestar nossas homenagens abrasileiros que formaram a História daAmazônia, como o temido índio e guer-reiro AJURICABA, o desbravador PEDROTEIXEIRA, o patriota PLÁCIDO DE CAS-TRO, o memorável BARÃO DO RIO BRAN-CO, o idealista MARECHAL RONDON e oGENERAL RODRIGO OTÁVIO, autor dacélebre frase: “ÁRDUA É A MISSÃO DEDESENVOLVER E DEFENDER A AMAZÔ-NIA. MUITO MAIS DIFÍCIL, PORÉM,FOI A DE NOSSOS ANTEPASSADOS EMCONQUISTÁ-LA E MANTÊ-LA”

Frase colocada nas pa-Frase colocada nas pa-Frase colocada nas pa-Frase colocada nas pa-Frase colocada nas pa-redes dos alojamentosredes dos alojamentosredes dos alojamentosredes dos alojamentosredes dos alojamentosda Luftwaffe na Se-da Luftwaffe na Se-da Luftwaffe na Se-da Luftwaffe na Se-da Luftwaffe na Se-gunda Guerra Mundial.gunda Guerra Mundial.gunda Guerra Mundial.gunda Guerra Mundial.gunda Guerra Mundial.

“O inimigo que você não vê,é aquele que o abaterá.”

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O Segundo Esquadrão do Terceiro Grupo de Aviação, sediado na Base Aérea de Porto Velho,foi ativado pela Portaria nº R-619/GM3, de 28 de setembro de 1995, com a proposta de defender os interesses

da Força Aérea Brasileira, dos Poderes e das Instituições Nacionais, operando desde a fronteira noroeste do Brasil.

Seu emblema traz consigo símbolos que indicam a geografia amazônica, o Comando da Aeronáuticae uma batalha aérea entre um elemento Grifo – autoridade e um brasilisco – a impureza.

Diante da Missão atribuída ao Esquadrão e de suas origens, os integrantes do 2º/3º GAvcompartilham a grande satisfação em convidar Caçadores e Amigos para as comemorações

do seu 12º Aniversário. O evento acontecerá nos dias 11 e 13 de outubro.

Bruno PedraCap [email protected]

A FAB NA AMAZÔNIAA FAB NA AMAZÔNIA

Dia 13A partir das 8h30min da manhã,

com a presença de alguns convidadosespeciais, que ministrarão palestras sobre

“A Profissão Militar e a História”,“Liderança na Terra e no Ar”,

“A Heráldica e o Histórico Grifo”e “A Utilização do Simulador de Vôo no

Treinamento Específico de uma Aeronave”.Militares: 7º/8º - Civis: Passeio

Dia 14Lembramos, ainda,

que no dia 14 de outubroestará ocorrendo, a partir das 9h,

os Portões Abertosda Base Aérea de Porto Velho.

Dia 11Missa às 15h30min

Auditório do 2º/3º GAvFormatura comemorativa

às 16h30min – Hangar 2º/3º GAvMilitares: 7ºA - Civis: Passeio

Seja Bem-Vindoà Selva,

a Arena dos Grifos!

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PródromosA Amazônia, felizmente, vem des-

per tando o interesse nacional! Ela é alvode uma pertinaz cobiça, desde o séculoXVII, a qual se agudizou, nos dias hodi-ernos, em vista da progressiva escassezde recursos naturais nos países desen-volvidos. Ao Brasil, que detém cerca de60% da Gran ou Pan-Amazônia, cumpreguardá-la, defendê-la e explorá-la, ra-cionalmente, sem considerar a opiniãodos que a desejam, com escusas inten-ções, “preservá-la” como um intocávelmuseu, parque ecológico ou santuárionatural do planeta.

A Floresta Amazônica não pode ser“congelada”, como se uma estratégicae imensa reserva técnica/almoxarifadofosse, para a utilização, a médio e lon-go prazos, por nações hegemônicasque, por isso, pugnam por seu tomba-mento como “patrimônio comum daHumanidade”, tal e qual vetustos patri-mônios, v.g., da arquitetura de paísesmuito antigos.

A Amazônia, bastante diversificadae contrastante, não é o propalado “in-ferno verde”; ela é, sim, dos brasileiros,para o seu próprio usufruto, pelo quedevemos estar aprestados contra velei-dades alienígenas em internacionalizá-la ou “planetarizá-la”, transformando-aem gigantescos laboratórios de experi-mentação ou em “jardins botânicos ouzoológicos”, em nome de questões am-bientais, indígenas, climáticas etc. Paratanto, precisamos saber resistir, mesmoque a ferro, a fogo e a sangue, com osmeios de que dispomos, um deles, a“estratégia da resistência”.

AdvertênciaPreliminar

Assim, traçados esses prolegô-menos, passemos à abordagem doProjeto Calha Norte.

Muito já foi escrito acerca do assun-to. Destarte, não há como nos afastar darepetição de enfoques dados ao tema, porvários exegetas ilustres e competentes.Uma dificuldade que exsurge, no entan-to, é a seleção do que seja mais relevantedentre tantos aspectos importantes.

Um Pouco de Históriaa) A partir de fins do século XVI,

franceses, holandeses e ingleses incur-sionaram pelo baixo Amazonas, com in-tuitos exploratórios, de comércio e defixação na área.

O povoamento da região teve inícioem 1616, com a construção do Forte doPresépio – origem de Belém do Pará –caracter izando, por tanto, há 392

anos, a presença militar luso-brasi-leira na imensidão amazônica.

Ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX,foram erguidas, em pontos estratégicos,35 fortificações, de que é modelo o mo-numental Forte Príncipe da Beira, obra-prima da arquitetura militar colonial.

No Segundo Império, dá-se inícioà colonização, quando foram criadascolônias militares.

b) Nos dias atuais, deparamo-noscom o grave problema da integração da“Ilha Amazônica” ao todo nacional. Este,aliás, sempre foi o sonho dourado, oobjetivo-síntese, do patriótico ProjetoRondon: “Integrar para não Entregar”.Em várias e extensas áreas amazônicas, aúnica marca da presença governamentalé a existência de singelos aquartelamen-tos de Pelotões de Fronteira do Exército.E tal fato está compaginado com o as-sunto em comento, o Projeto Calha Norte(PCN), como apresentado adiante.

Manoel Soriano NetoCel Inf e Estado-Maior (Historiador Militar)[email protected]

PROJETO CALHA NORTEPROJETO CALHA NORTE

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Acrescente-se a isso, a cobiça inter-nacional sobre a Amazônia, desde os tem-pos coloniais. A propósito, em apertadasíntese, reavivemos, dentre muitos outros,alguns episódios referentes ao desejo deinternacionalizar-se a região ou dela tirar-se o máximo de vantagens. Ei-los:

– a esquipática tese esposadapelo Chefe do Observatório Naval deWashington, Mathew Maury. Ele pro-punha a ocupação norte-americana daAmazônia, a qual “formava com o Golfodo México, um único complexo geográfi-co, sendo o Rio Amazonas nada mais doque o prolongamento do Mississipi”;

– a tentativa da UNESCO, em 1948,de criação do Instituto Internacional daHiléia Amazônica, aceita, de forma sub-serviente, pelo Brasil, e tão somente de-pois, rejeitada pelo Congresso;

– a proposta do Hudson Institute,apresentada em 1967, de nome “PlanoMar Mediterrâneo”, que previa a cons-

trução de sete lagos – quatro, no Brasil, etrês, na Colômbia – na Floresta Amazôni-ca, e a abertura de uma hidrovia interior,com saída para o Pacífico, alternativa aoCanal do Panamá;

– a persistente campanha, desde1981, do Conselho Mundial de Igre-jas Cristãs, para a criação de “naçõesindígenas”;

– a instalação, nas duas últimas dé-cadas, de 20 bases e guarnições ianques,aéreas ou de radar (as “forward bases”)em países amazônicos, nossos vizinhos;

– as declarações ofensivas, de gra-das autoridades mundiais, como a maisrecente, do Diretor da Organização Mun-dial do Comércio (OMC), o francês Pas-cal Lamy: \“A Amazônia deve ser consi-derada um bem público mundial e admi-nistrada pela comunidade internacional”;

– a fim de melhor promover o desen-volvimento e preservar a soberania naci-onal, os países amazônicos, por iniciati-

va do Governo João Figueiredo, avença-ram, em 1978, o Tratado de CooperaçãoEconômico-Social, hoje denominado deOrganização do Tratado Inter-Regional deCooperação Amazônica (OTCA), conhe-cido como “Pacto Amazônico”. Por di-versas razões, o Pacto não atingiu os ob-jetivos colimados, um deles a criação deum Mercado Comum Amazônico (comoviria a ocorrer com o Tratado do Merco-sul, celebrado em Assunção, em 1991);

– frustradas as expectativas do“Pacto Amazônico”, o Brasil passou aestudar um projeto especial para a Ama-zônia brasileira. Eis a gênese do PCN,que saiu do papel, de forma acelerada,em 1985, em face de um incidente defronteira, linhas à frente referido.

O Projeto Calha Norte(da criação aos dias atuais)

a) A defesa e o desenvolvimentosustentável da Amazônia são os objeti-vos prioritários do PCN, hoje com dimen-sões bem maiores daquelas inicialmenteestabelecidas, como assinalaremos.

O Projeto possui várias ver tentes,não sendo, como alhures difundido,exclusivamente militar, apesar de quecerca de 60% de seus recursos são alo-cados para projetos militares. Ele foi de-sencadeado de forma célere por causade um incidente provocado pela pene-tração de guerrilheiros colombianos emterritório brasileiro, no ano de 1985. Em4 de julho de 1993, em ar tigo intitula-do “Algo de Novo e o Calha Norte”, de-clarou o ex-presidente José Sarney:

“Quando assumi a Presidência, logonos primeiros meses, maio de 85, éramossurpreendidos com a presença de umacoluna guerrilheira do M 19, grupo revo-lucionário da Colômbia, entrando em SãoGabriel da Cachoeira para abastecer-se.Para lá deslocamos tropas e os manda-mos de volta. Determinei que o Conselhode Segurança estudasse imediatamenteum programa de defesa das nossas fron-teiras mortas e secas das vastas regiõesamazônicas. Veio o Projeto Calha Norte.”

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b) Em junho de 1985, foi aprovadauma Exposição de Motivos para a implan-tação, a curto prazo, do PCN. Assim, soba orientação do Ministro-Chefe da CasaMilitar, General Rubens Denys, dá-se iní-cio, em 1986, às ações do PCN na regiãoao norte das calhas dos rios Amazonas eSolimões, daí o nome do programa. OProjeto (hoje muito mais amplo) abrangia14% do território nacional, numa super-fície de 1.221.000 km2, povoada por 1,7milhão de habitantes, que se estendiapelos estados do Amapá, Amazonas,Pará e Roraima. Essa área, dissociadageograficamente do restante do Brasil,pelos rios Amazonas, Negro e Solimões,com 160 km de faixa de fronteira, de Ta-batinga ao Rio Oiapoque, carecia (e ain-da carece) de um trabalho sinérgico ecoordenado de ministérios e de órgãosgovernamentais. Diga-se que a situaçãode desassistência dessa ampla região foiminimizada, recentemente, pela transfe-rência de três Brigadas de Infantaria, deSanto Ângelo (RS), de Petrópolis (RJ) ede Niterói (RJ), para Tefé (AM), Boa Vista(RR) e São Gabriel da Cachoeira (AM),respectivamente, com as suas peças demanobra transformadas em Batalhões deInfantaria de Selva (dando ensejo à cria-ção de novos Pelotões de Fronteira) e ainstalação de outras Organizações Milita-res, como vários Tiros de Guerra.

c) Os objetivos do PCN são:– aumento da presença brasileira

na área;– ampliação das relações bilaterais

com os países vizinhos;– expansão da infra-estrutura viá-

ria para complementar o transporte flu-vial, o mais importante fator de integra-ção regional;

– fortalecimento da ação dos órgãosgovernamentais;

– intensificação da demarcação defronteiras;

– promoção da assistência e prote-ção às populações indígenas, ribeirinhase extrativistas.

Apesar da benemerência desses no-

bilitantes objetivos, somente as FFAA res-ponderam à altura, aos desafios por elespropostos. O Exército, já razoavelmentearticulado na região, disponibilizou, emseus Pelotões de Fronteira, um pavilhão,denominado de “pavilhão de terceiros”,para o acolhimento de órgãos governa-mentais com responsabilidade no Proje-to (INCRA, FUNAI, FUNASA, IBAMA, PF,EMBRAPA, Receita Federal etc.). Lamen-tavelmente, tais pavilhões estão, em suagrande maioria, ociosos. É que os ditosPelotões encontram-se no meio da flo-resta, a muitos dos quais somente se temacesso por aviões da Força Aérea Brasi-leira (FAB) ou helicópteros do Exército (háum Batalhão de Helicópteros em Manaus).

Acrescente-se que é notável a im-plantação de uma estrutura viária na Re-gião Amazônica, pelo 2° Grupamento deEngenharia de Construção, sediado emManaus, por intermédio de seus cincoBatalhões de Engenharia de Construção.

Também a instituição pelo Exército,com a participação das outras Forças co-irmãs, de uma estratégia de dissuasão,chamada de “estratégia da resistência”,treinada desde 1994, constituiu-se em fa-tor relevante para a concretização dos ob-jetivos do PCN, em sua expressão militar.

Não podemos deixar de citar os ines-timáveis serviços prestados pela Marinhado Brasil, por meio de navios e lanchasda Flotilha da Amazônia (onde se sobre-levam as ações de misericórdia, de seusnavios-hospitais), em 22.000 km de riosnavegáveis, e pela criação, na AmazôniaOcidental, de um Distrito Naval, na cida-de de Manaus.

Quanto à FAB, gostaríamos de des-tacar as missões do CINDACTA IV (Cen-tro Integrado de Defesa Aérea e Controlede Tráfego Aéreo IV), aquartelado emManaus. Tal Centro absorveu as tarefasdo SIVAM (Sistema de Vigilância da Ama-zônia), ativado desde 2002, em uma áreade 5,5 milhões de km2, que cobre toda aAmazônia sul-americana. Trata-se domais sofisticado aparato de monitoramen-to do mundo, de detecção e alarme aéreo

por antecipação, sendo também utiliza-do, em parceria, por países vizinhos. Asmissões do citado Centro são as de Defe-sa Aérea, Controle de Tráfego Aéreo,monitoramento de navegação fluvial, ob-servações ambientais por sensoriamen-to remoto etc., para as quais dispõe deuma densa e complexa rede integrada portrês Centros de Vigilância Regionais, porsatélites, radares fixos e móveis, estaçõesmeteorológicas e de monitoramento am-biental, equipamentos avançados de te-lecomunicações, aeronaves de ataque ede características especiais etc. e de pes-soal altamente qualificado. Aduza-se queo SIPAM (Sistema de Proteção da Ama-zônia) foi concebido para a coleta e inte-gração de informações relativas ao meioambiente, à climatologia, e outras, comvistas a ações globais do Governo. O Sis-tema, diretamente subordinado à CasaCivil da Presidência da República, muitose ampara no trabalho do CINDACTA IV,porém ainda não funciona a contento. Arespeito do assunto, atentemos para asafirmações do Brigadeiro Ivan Frota, emseu artigo “Desmilitarizar, Não! Mas, Sim,Completar a Militarização!”, publicado naRevista do Clube Militar, jan. 2007:

“O CINDACTA IV, sozinho, guarnecetoda a Amazônia brasileira (5.200.000km2), incorporando a atividade comple-mentar de vigilância dos céus daquelaárea (Sistema de Vigilância da Amazônia– SIVAM) e provendo informações ele-trônicas, em tempo real, para viabilizar ofuncionamento do Sistema de Proteçãoda Amazônia (SIPAM).”

E mais: as responsabilidades da For-ça Aérea na região, assaz se ampliaram,em decorrência da recente “Lei do Tiro deInterdição” (mais conhecida como “Leido Abate”), para a interrupção e inibiçãode vôos clandestinos de narcotrafican-tes, contrabandistas etc.

Mas façamos uma visada-à-ré eretornemos à evolução do Projeto, cria-do, repita-se, em 1985, e implementadoa partir do ano seguinte.

O Governo de Fernando Collor mo-

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dificou, radicalmente, o PCN; e aindacriou, em 1991, a descomunal ReservaIndígena Ianomami, de funestas conse-qüências, mormente nos dias atuais(quando outra foi criada, de nome Rapo-sa Serra do Sol, também de dimensõescolossais, ambas nas “orelhas” de Rora-ima, ricas em minerais estratégicos, e quepodem se transformar em “nações indí-genas”), em frontal testilha com as metastraçadas para o Projeto.

Em 1999, o PCN, subordinado aoMinistério da Defesa, situação em quese encontra até hoje, foi revigorado, ten-do sido firmado um convênio com aFundação Getúlio Vargas (FGV) e o Insti-tuto Superior de Administração Econô-mica (ISAE) para o estudo sistêmico desua área de atuação, consoante sete pla-nos elaborados para os municípios maiscarentes.

Desafortunadamente, o Projeto nãoprosseguiu com o desempenho deseja-do, ressalvando-se o esforço hercúleodas FFAA para o cumprimento de sua par-te no programa, pois além de terem assuas atribuições por demais aumentadas,adquiriram o necessário “poder de polí-cia” para nela operarem, “ex vi” da LeiComplementar nº 117/2004.

O PCN ampliou, sobremaneira, aolongo dos anos, a sua área de abrangên-cia, pela inclusão de municípios do Acree de Rondônia; deveria até ter mudado dedenominação, pois não mais abarca ape-nas a “calha norte” dos Rios Amazonase Solimões. Para aferirmos, atualmente,a grandiosidade do programa, diga-seque ele engloba 194 municípios dos es-tados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará,Rondônia e Roraima, numa área de2.743.986 km2, correspondente a 32%do território nacional. Esta imensa áreapossui quase oito milhões de habitantes,dentre estes, 30% da população indíge-na do País.

Lastimáveis, apesar do gigantismoalcançado pelo PCN, são os sucessivoscortes e contingenciamentos de recur-sos que o Projeto vem sofrendo desde a

sua criação, sendo correto afirmar-seque ele é dinamizado, quase que exclu-sivamente, pelas FFAA.

ConclusãoOs problemas amazônicos não de-

vem ser vistos somente pelo viés de ques-tões ambientais, indígenas etc. Urge quesejam encarados também sob os enfo-ques militar, de defesa e de guarda daambicionada região. Todos esses proble-mas são imbricados e o PCN, do qual fi-zemos uma breve abordagem, teve ogrande mérito de isso evidenciar.

Na Amazônia brasileira há um “vaziode poder”, como afirmou o atual Coman-dante Militar da Amazônia, General Heleno.Caso não sejam tomadas urgentes provi-dências, aos poucos e sub-repticiamen-te, máxime por uma “invasão branca”,de espiãs e traiçoeiras ONGs, nacionais eestrangeiras, esse vazio vai aumentar.

Infelizmente, nas duas últimas déca-das, o Brasil submeteu-se (e continua sesubmetendo), precipitada e humilhante-mente, à “nova ordem mundial” – da glo-balização neoliberal e da ganância desen-freada. Foram, e estão sendo cerceadas,neste período triste e vergonhoso, que,no futuro, inexoravelmente, a nossa His-tória há de apontar, as justas pretensõesbrasileiras nos campos científico-tecno-lógico, nuclear, aeroespacial, militar etc.,mercê da subserviência de nossos go-

vernantes e elites dirigentes aos ditamesdos mais poderosos, com quem celebra-mos vexatórios acordos, como se fôsse-mos a “Botocúndia do Jeca Tatu”, pararelembrarmos do nacionalismo de Mon-teiro Lobato... Necessitamos, imediata-mente, resistir, reagir e exacerbar o orgu-lho nacional, hoje bastante amolecido,não vergando nossa cerviz a interessesatentatórios à soberania nacional. Lem-bremo-nos da altivez de um BrigadeiroEduardo Gomes que, em 1945, após so-licitação do Vice-Almirante dos EUA, Jo-nas Ingram, para que ele propusesse aoPresidente da República “uma adminis-tração mista”, acima da soberania brasi-leira, para as Bases do Nordeste, respon-deu, pronta e bruscamente: “Never!”.

Por derradeiro, alertemos: o pretextode que o PCN nada mais é do que “a mi-litarização da Amazônia – pulmão domundo” – vem sendo brandido por enti-dades como o Conselho Indigenista Mis-sionário (CIMI), ONGs de rapina, parla-mentares vendilhões e tantos outros “mal-ditos-sejam”, inquinados de mentalida-de entreguista e/ou revanchista. Tal men-talidade retardou e está retardando as pa-trióticas e constitucionais atividades doProjeto, principalmente pelos infames esistemáticos cortes e contingenciamen-tos de verbas destinadas às FFAA e que oimpulsionam, prioritariamente, como ne-nhuma outra Instituição faz

A Amazônia é dos brasileiros e para os brasileiros! SELVA!

PROJETO CALHA NORTEPROJETO CALHA NORTE

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DUAS HISTÓRIAS, UMA MISSÃODUAS HISTÓRIAS, UMA MISSÃOA INTEGRAÇÃO NACIONAL

Força Aérea Brasileira (FAB) participou do ProjetoRondon desde os primeiros momentos de sua cria-ção, em 1967. Havia um entrosamento institucional

e de ideais, tão significativo, que um oficial da Corpora-ção, Coronel Roy Hermínio Affonso Friedde, foi levado àdireção nacional do Projeto.

Unidos pelos mesmos ideais: a ocupação da Amazô-nia, a integração nacional e o apoio aos brasileiros de ter-ras longínquas, estas duas instituições trilharam os mes-mos caminhos de conhecimento e cooperação mútua du-rante os 22 anos de existência do Projeto Rondon.

Mais de 400 mil estudantes participaram, ao longodesse período, das diversas operações do Projeto Ron-don. Nas décadas de 1970 e 1980 do século passado, oRondon chegou a mobilizar 25.000 estudantes por ano.

Não fosse a FAB, dificilmente o Rondon teria existido

com toda a pujança que o caracterizou nos anos de suamaior expansão, os 1970 do século passado. Nesse perío-do, verificou-se um crescimento exponencial no númerode estudantes nas suas operações, bem como o alarga-mento do programa de Campus Avançado.

Durante os vinte e dois anos, os 23 campi avançados,devidamente instalados e equipados (com alojamentos edemais instalações de apoio administrativo, salas de aulas,laboratórios, veículos, lanchas, barcos ambulatórios etc.),propiciaram a mais de 120.000 universitários e professoresdas 55 instituições de Ensino Superior envolvidas, a oportu-nidade de conhecer e conviver com realidades tão diferen-tes. Dessa forma, universitários e professores participaramde seu processo de desenvolvimento; interiorizaram a açãoda Universidade com a prestação de serviços aos órgãospúblicos; promoveram o envolvimento das comunidades com

A FAB e oA FAB e oAlunos e professores da Universidade

Federal do Rio Grande do Sulchegam a Porto Velho (RO), após

saírem de Porto Alegre (RS), 1972

João Paulo M. PeixotoProfessor da UnB, mestre em GovernoComparado pela London School of Economicsand Political Science, é professorde Ciência Política e Administração Públicana Universidade de Brasilia

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as ações governamentais; aperfeiçoaram e qualificaram mão-de-obra; adequaram-na à realidade do grande interior bra-sileiro e às peculiaridades desse mercado de trabalho; e,acima de tudo, prepararam o universitário para o exercícioconsciente da cidadania, com fundamento nos princípios doidealismo, que aprimoram o caráter e asseguram a preva-lência dos valores espirituais e morais, os quais constituí-ram sempre a base de todo o ideário do Projeto Rondon.Esse ideário é muito familiar às Forças Armadas em geral,e, à Força Aérea, em particular.

Quantos não foram os jovens oficiais e sargentos queparticiparam com galhardia e entusiasmo das missões detransporte dos universitários pelos quatro cantos desteimenso Brasil.

Quantos não foram os jovens universitários que deixa-ram de lado as reticências e a ideologia e viram, nos jovensfardados, os companheiros de luta nos mesmos ideais: aintegração nacional; a luta contra a miséria, a exploração eo subdesenvolvimento, a construção de um País justo, de-senvolvido e próspero. Esses sonhos não tinham ideologias;eram sonhos forjados num único amálgama: a brasilidade.

Já se vão 40 anos da criação do Projeto Rondon, masainda hoje sua mensagem e seu lema – Integrar para nãoEntregar – continuam atuais. Vivos, na força de uma Coor-denação Nacional, que tem como Presidente o CoronelSérgio Mário Pasquali, secundado por outros leais compa-nheiros, pelos membros do Conselho de Administração epelas Coordenações Estaduais, além de centenas de cola-boradores diretos e indiretos, que se encarregam de man-ter viva a chama rondonista País afora.

Igualmente à FAB, podemos afirmar que o Projeto Ron-don também é passado, presente e futuro. Enquanto osjovens de lá ou de cá se moverem pelo idealismo, peloespírito de aventura e pelo amor pela Amazônia e peloBrasil, estas duas instituições prevalecerão nos coraçõese mentes dos brasileiros

Projeto RondonProjeto Rondon

Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon(em pé, terceiro da direita para a esquerda),

foi o artífice do respeito brasileiro por suaspopulações indígenas. Suas expedições

pelos sertões inspiraram asForças Armadas a integrar o País

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artindo da tese de que o GovernoFederal necessitava criar um Minis-tério da Defesa em sua estrutura,

e que, no mínimo, seria a amalgamaçãodos elementos basilares da Defesa Na-cional (que eram os antigos MinistériosMilitares), há que se deduzir que a essenovo Ministério somente seriam atribuí-dos os assuntos diretamente ligados aoseu “métier”: Defesa.

Se assim fosse, pergunta-se:– De que forma um Ministério Militar

“polivalente” como o antigo Ministério daAeronáutica (e mesmo o Comando daAeronáutica) poderia vir a ser assumidopor esse novo Ministério, com toda suaestrutura organizacional, missões, encar-gos institucionais históricos etc., queabrangiam atividades que não tinhamnenhuma (e ainda não têm) vinculaçãodireta com o assunto Defesa?

– De que forma atuaria o Poder Polí-tico governamental com relação à manei-ra pela qual o novo Ministério da Defesaassumiria (ou expeliria?) os encargos decaráter sumamente sócio-econômicos,

Maj Brig ArLauro Ney Menezes

[email protected]

como são a Indústria do Transporte Aé-reo (Aviação Civil – DAC), a Administra-ção Aeroportuária (INFRAERO) etc., atéentão inseridos no universo de encargosdo Ministério da Aeronáutica?

– Em assumindo, restaria ainda defi-nir de que forma essas atividades seriamexercidas no contexto do novo Ministério(que somente mais tarde tornaram-seseus encargos, com a criação da ANAC ea subordinação da INFRAERO)?

Mas nada foi dito ou feito para aco-modar a estrutura do novo Ministério, vi-sando acolher essas tarefas: foi “desplu-gar” da Aeronáutica e “plugar” no orga-nograma do Ministério da Defesa... e as-sunto encerrado(?).

Pelo silêncio criado em torno dessasformulações à época da criação do Mi-nistério da Defesa, a impressão quepassou é que essas matérias (absorçãodo DAC e da INFRAERO) em sendo “ex-plosivas” seriam abordadas quando omomento fosse “politicamente estável econtrolado”, para não se “mexer em ves-peiro”, que até àquela data dava indíciosde estar hibernando...

Na “rationale” do antigo Ministérioda Aeronáutica, e que fundamentava to-das as suas conceituações, definições,

estrutura de poder, de decisão e gestão– o Poder Aéreo era uma composiçãode valores e valias que passava, tam-bém, pela administração do Sistema deAviação Civil, pela Administração Aero-portuária, além de outros componentesnão-militares (todos de interesse sócio-econômicos).

Em assim sendo, à época, era possí-vel supor que:

– o Ministério da Defesa se adaptariae exerceria a necessária coordenação paraque essas novas atividades (incongru-entes, por princípio, com a atividade-fimdo Ministério da Defesa) pudessem vir aser exercidas no contexto de suas res-ponsabilidades específicas (Defesa).

– Ou o Ministério da Defesa “expeli-ria” essas atividades que, então, passari-am ao encargo de outras estruturas dagestão Federal.

O Governo Federal não havia abertoclaramente seu pensamento a respeitodesses assuntos. Evidentemente, os Gru-pos de Trabalho dedicados ao estudo damatéria e formulação de soluções, entra-ram em “regime”. Por sinal, era extrema-mente difícil (se não complicado) quanti-ficar o peso específico do componentepolítico que poderia, em última instância

P

MINISTÉRIO da DEFESA...MINISTÉRIO da DEFESA...MINISTÉRIO da DEFESA...

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e momento, adicionar um novo elemento(hoje conhecido) na equação de forçasem discussão.

Por diversas vezes essa matéria, eessa forma de ver o futuro, teria passadopelos “laboratórios de análises” e estu-dos dos Estados-Maiores. Tudo indica-va (pelo que tem sido possível captar) queo então Ministério da Aeronáutica nãoacreditava que uma “pressão deforma-tiva” de sua estrutura e de encargos vies-se a se corporificar e, pensou ainda, queviria a ser capaz de mobilizar força políti-ca com suficiente valor para não permitirque esse ato cirúrgico, em sua históricaestrutura, fosse praticado... Ledo enga-no. Entretanto, para uma determinada li-nha de pensamento interno (Força Aérea),haveria uma enorme perda para a Admi-nistração Pública, caso a solução cami-nhasse para esse desenlace: a dissolu-ção/desvinculação do DAC e a desvincu-lação da INFRAERO.

E em contrapartida, contudo, diziamos ideólogos do Poder Aéreo, que estaseria a oportunidade para ver – finalmen-te – surgir, a Força Aérea Brasileira que,há cinqüenta anos, teima (?) em somenteser vista e reconhecida como existentenos documentos, discursos, ordens do

dia, apostilas das Escolas, nas fuselagensdos seus aviões e nos desfiles aéreos...Livre dessa “prestação de serviços” (aAviação Civil e os Aeroportos), os encar-gos puramente militares passariam a sero denominador comum para a estruturaorganizacional de guerra que – finalmen-te – viria a surgir com a criação do Co-mando da Força Aérea Brasileira (e nãoda Aeronáutica...)

Porém, a realidade aí está: o Ministérioda Defesa veio para ficar e vem marcandosua presença, cada vez mais pujante, nocenário da Administração Pública Federal.E, como explicitado anteriormente, tendoassumido a ANAC e a INFRAERO... quedeixaram o universo gestionário do antigoMinistério da Aeronáutica.

Entretanto, para os “velhos soldados”que acompanharam atentamente o “pas-sar do tempo”, a estrutura do Ministérioda Defesa foi construída “para não funci-onar”, e carece de uma “demolição geral”para se tornar eficaz e cumprir sua única everdadeira missão: Defesa. A gestão daAviação Civil e dos Aeroportos, diga-sede passagem – são missões inferidas,passageiras, que caberão a outros Órgãos,e não devem compor o cenário chamadoDefesa... Entretanto, vale relembrar que,

em recebendo o DAC e a INFRAERO, ne-nhum esforço dispendeu o Ministério daDefesa para coordenar esse acolhimento...E, aí – possivelmente – está a origem do“apagão aéreo”...

Entretanto – e possivelmente con-vocado por esse “caos aéreo”, ou atémesmo pelo encantamento provenientedas “luzes que vêm da ribalta” – o Mi-nistério da Defesa tem mobilizado a opi-nião pública mais para tratar de “distân-cia entre assentos dos aviões de carrei-ra, da nova malha aérea, dos atrasos dosaviões das Empresas Aéreas, do ‘groo-ving’ das pistas etc.”, olvidando que –na área que realmente lhe cabe, que é aDefesa e os assuntos Militares, há umcontencioso enorme que o Governo tei-ma em postergar: a remuneração dosmilitares, a valorização da carreira dasarmas e o reequipamento e a revitaliza-ção das Forças Armadas.

Em os enfrentado, aí sim, estará cui-dando daquilo que lhe cabe, institucio-nalmente e de maneira irretorquível: aDefesa Nacional.

Por oportuno, a Rússia possui umMinistério específico para cuidar da Avi-ação Civil.

Para quem já tem 41...

Joana VasconcelosPantelmina2001

ou da AVIAÇÃO CIVIL?ou da AVIAÇÃO CIVIL?ou da AVIAÇÃO CIVIL?

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s Instituições são organismosvivos criados para cumprir umafinalidade específica. Ao longo

de sua existência crescem, fortalecem-se, ganham conhecimentos e experiên-cias peculiares, através de seus quadrosque evoluem até aos postos de direção.Elas têm também suas enfermidades, nasua maioria de fácil tratamento, desde quenão resultem de longo período de aban-dono ou de exposição ao uso predatório.

Os diagnósticos nesses casos têm deser feitos sem jamais se perder de vista afinalidade e os objetivos da Instituição.Outras intenções podem levar a um diag-nóstico falso que conduzirá à adoção deremédios catastróficos. Nossas últimasdécadas estão repletas de exemplos deextinção, criação ou movimentação, semrazões muito claras, de Ministérios, Se-cretarias, Autarquias, Conselhos e Agên-cias, com danosas conseqüências paraas atividades desenvolvidas nesses ór-gãos. Dentre eles encontram-se as insti-tuições às quais estão afetas as questõesrelativas ao Tráfego Aéreo.

O Controle de Tráfego Aéreo, no Bra-sil, antes sabidamente seguro, eficiente,elogiado e premiado internacionalmente,após o acidente com o avião da Gol pas-sou, para surpresa de todos, a ter proble-mas expostos e criticados. Para que elessejam diagnosticados, é necessário le-var-se em consideração:

– a redução da malha aeroviária comas crises da Varig;

– a crescente demanda de transporteaéreo em cerca de 20 % a.a. nos últimosquatro anos;

– os estímulos ao aumento da de-

Não se mexe impunemente

nas InstituiçõesBrig Ar Zilson Luís Pereira [email protected]

manda promovido pelas empresas aére-as, sem contar com reservas na frota enas equipagens, de modo que qualquerestrangulamento pontual venha a refletir-se em toda a malha;

– a concentração da oferta de vôos,pelas empresas, nas rotas e horáriosmais rentáveis;

– as reivindicações dos controladores;– a suficiência dos equipamentos

existentes;– os contingenciamentos dos recur-

sos orçamentários, inclusive aqueles ar-recadados para aplicações definidas nosetor;

– os interesses de empresas estran-geiras em oferecer um serviço de Controlede Tráfego, precisando para isso desacre-ditar e desmilitarizar nosso serviço e, ine-vitavelmente, o cenário institucional ondeesses fatos estão se passando.

Esse cenário estava inserido, ao tem-po do Ministério da Aeronáutica, numconceito maior denominado Poder Aero-espacial que, embora inexistindo comoorganismo institucional, configurava-sepelo enlace lógico, consistente, claro eeficaz entre a Força Aérea, a Indústria Ae-roespacial, a Infra-Estrutura Aeronáuti-ca, a Infra-Estrutura Aeroportuária e aAviação Civil. Nele, todos os órgãos inte-ragiam em benefício de um eficiente Con-trole do Espaço Aéreo e todos eram ser-vidos por pessoas, civis e militares, quetinham suas raízes profissionais e carrei-ras afins com a atividade aeroespacial.

Antes de prosseguir, é indispen-sável entender que controlar o espaçoaéreo sobre um território, pressuposto detoda nação soberana, é tarefa complexa.

Num paralelo simplista, seria comomanter o controle de uma área privada quefosse franqueada ao uso público. Torna-se então indispensável: criar regras para ouso; estabelecer caminhos demarcadospor cercas, muros, guaritas, vigias; terconhecimento de quem está circulando,onde estão e o que estão fazendo; ofere-cer facilidades mútuas para congêneres;ser consultado por desconhecidos queprecisem nos visitar e, por fim, ter a capa-cidade de desestimular intrusos ou os quenão queiram sujeitar-se às regras da área,até ao ponto de impedir-lhes o uso.

Tratando-se do espaço aéreo, as ati-vidades necessárias são idênticas. OControle de Tráfego Aéreo é uma delase, ao mesmo tempo em que provê inú-meras informações para o uso segurodo espaço, ele concorre de tal forma paraas demais atividades do Controle do Es-paço Aéreo que isolá-lo demandaria du-plicidade de meios, como o fazem asgrandes potências, a custos astronômi-cos. Também não podemos querer ado-tar sistemas de países de menor exten-são territorial, como a França, por exem-plo, onde o Tráfego Aéreo Internacionaldestina-se predominantemente a Paris,e onde o Tráfego Aéreo Doméstico com-pete com excelentes malhas – rodoviá-ria e ferroviária, principalmente se levar-mos em conta o tempo porta a porta,com a integração Metrô/TGV.

Voltando ao cenário institucional da-quela época, recordemos que os Minis-tros Militares usavam dois bonés: um deComandante da Força, outro de Ministroda Defesa, quando tinham de tratar as-suntos da Política de Defesa, como a ne-

A

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cessidades de meios. Contavam, paraisso, com toda a estrutura do Ministériocorrespondente como suporte.

A primeira mudança foi a criação doMinistério da Defesa segundo uma visãomíope de que essa seria uma forma decolocar militares sob um mando civil,como se assim já não o estabelecesse aConstituição. Cabe lembrar que se um diarompeu-se temporariamente o controlecivil sobre os militares, as causas parti-ram do Governo ao escolher o caminhoda indisciplina, da quebra da hierarquia edo amotinamento.

Não estando configurada, legal e his-toricamente, portanto, a necessidade deum novo controle civil, restaram as ra-zões de cunho político-ideológico a ins-pirarem a criação do Ministério da Defe-sa, sem preponderarem as motivaçõesdecorrentes do elevado montante de res-ponsabilidades do Órgão e a envergadu-ra necessária para atendê-las.

Quando se pensa em Defesa Nacio-nal, pensa-se na apropriação de todas asforças vivas da nação e não só de seu bra-ço armado. Por isso os países põem, pre-ferencialmente, à frente dessa Pasta umcivil de conhecimento multidisciplinar econsagrado reconhecimento por serviçosrelevantes na vida pública. Ele poderá,assim, mais facilmente, encontrar cami-

nhos e bem transitar pelos Poderes, nointuito de somar esforços para melhor con-solidar uma Política de Defesa.

Sem esses cuidados na sua criaçãoquanto à estrutura necessária para pros-seguir num trabalho que era realizado portrês ministérios, a Pasta da Defesa recebeainda a Empresa Brasileira de Infra-Es-trutura Aeroportuária (INFRAERO) e aAgência Nacional de Aviação Civil(ANAC), e passa a ter que decidir no maisalto nível, sobre assuntos daquelas áre-as, sem ter para isso Quadros com a qua-lificação e experiência necessárias.

O problema da decisão, por si só,não seria tão crítico. Acontece que se so-mou a ele, entretanto, a deterioração dacompetência gerencial na INFRAERO eANAC em decorrência das mudanças devinculação, quando não havia diagnósti-cos de deficiência que as indicassem.

Com o novo vínculo ao Ministério daDefesa, cargos antes ocupados por pes-soal de vivência nas duas instituições,

passaram a receber pessoas indicadas,nem sempre pelas aptidões requeridas,mas em atendimento a composições ecomprometimentos políticos.

Em cenários como estes não predo-minam, evidentemente, os objetivos e in-teresses das instituições. As prioridadesde seus diretores, por falta de conheci-mentos e por fidelidade, serão, sem dúvi-da, aquelas que melhor satisfizerem ao quedeles esperam as organizações que os in-dicaram para o cargo. Essa é uma questãode sua sobrevivência na posição.

Assim, diagnósticos errados ou vi-ciados levaram os governos a mexeremnas instituições, resultando em soluçõesdanosas cujo preço está sendo pago portoda a Nação. E quaisquer propostas deestudos, que não se dediquem ao examede todas as variáveis intervenientes, es-tarão apenas oferecendo soluções palia-tivas de curto prazo que não suportarãoas sobrecargas eventuais ou projeçõesfuturas de desenvolvimento

Sergio VegaWaiting Room/The Void2002

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dededededeGESTÃOGESTÃOGESTÃOGESTÃOGESTÃO

CRISECRISECRISECRISECRISEdedededede

GESTÃOGESTÃOGESTÃOGESTÃOGESTÃO

uitos são os ar tigosabordando a propaladacrise no setor da Avia-

ção Civil brasileira, mas poucos a têmtratado com fundamento ou com o in-tuito de esclarecer ou mesmo trazer àtona pontos relevantes que possam ofe-recer subsídios para uma discussão emtorno de soluções viáveis, evitando estaenxurrada de ações intempestivas queassolam o setor.

Por ser uma atividade com alto graude interatividade com outros setores davida nacional e suscetível de rápida ob-solescência tecnológica, todos os pro-fissionais da Aviação sabem da necessi-dade premente de uma política consis-tente, que se traduza em ações efetivaspara o desenvolvimento sustentado detoda a Indústria da Aviação Civil brasilei-ra, levada adiante por gestões competen-tes em todos os seus segmentos.

Quando o Governo anuncia um “Pla-no de Ação para o Crescimento” e se-quer leva em consideração a relação deproporcionalidade entre o crescimentoda economia e o transporte aéreo, numPaís ainda deficitário em sua infra-es-trutura rodo-ferroviária, conclui-se quealgo está faltando a esse planejamento.Um Brasil de dimensões continentais,carente de transporte intermodal, requer,no mínimo, que a integração aérea sejauma prioridade.

Por outro lado, se fizermos um res-gate histórico do desenvolvimento dotransporte aéreo no Brasil, isto é, abor-dando-se todos aqueles segmentos queo compõem: Aviação Geral, empresasaéreas e de infra-estrutura aeroportuária,fabricantes de aeronaves, controle doespaço aéreo e o próprio órgão regula-dor do setor, veremos que sua dilapida-ção se iniciou, lentamente, há cerca de10 anos.

Antes desse período, o Brasil sem-pre teve lugar de destaque no cenário daAviação mundial, por suas ações con-sistentes no controle e na segurança doseu espaço aéreo, da sua frota de aviões

e helicópteros – uma das maiores domundo – na formação de seus pilotos e,principalmente, na regulação do setoraéreo, ações estas traçadas por políticaselaboradas a partir do Conselho Nacio-nal de Aviação Civil (CONAC) e do Depar-tamento de Aviação Civil (DAC).

Independentemente do aspecto de ocontrole ser feito por um órgão militar,havia planejamento, com metas, prazos eresultados a serem alcançados, tudo istoem um ambiente da maior competênciaaeronáutica se comparado com o quevemos hoje. O balanço histórico mostrou

Ivan CarvalhoEngenheiro e Piloto de Linha Aérea

[email protected]

que a antiga gestão cometeu alguns pe-cados, mas teve a indulgência devida aquem cumpre seu papel de forma efetiva.

Ao mesmo tempo em que, nos idosde 1990, a Aviação Civil no mundo semodernizava por meio de mudançasem seus aspectos técnicos e de políti-ca mundial, protagonizados pela Orga-nização da Aviação Civil Internacional(da qual o Brasil é país-membro fun-dador), o próprio mercado mundial seauto-ajustava, cobrando uma maioreficácia de seus parceiros.

Nessa mesma época, vivenciávamos

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no Brasil o início de um período de expe-riências inconseqüentes para o setor dotransporte aéreo, todas com forte com-ponente político-partidário, e que foramminando, ao longo dos anos, o que setinha de consistente em vigor.

Foi então implementada uma desre-gulamentação do setor sem a solidez su-ficiente que, aliada a uma conjuntura eco-nômica instável, afetou sobremaneira asaúde das empresas nacionais, provo-cando um verdadeiro colapso.

Paralelamente, sucederam-se contin-genciamentos de orçamentos, todos di-recionados aos segmentos coordenadospelo Órgão Regulador setorial, numa mis-tura de soberba e de visão obtusa, comose fosse necessário imputar um castigoao componente militar do setor. Essasações vêm causando, ao longo do tem-po, profundos problemas a toda a infra-estrutura aeroviária.

Na outra ponta, assistimos à ban-carrota em que o setor de Infra-EstruturaAeropor tuária mergulhava, segmentoque já experimentava os resultados da-nosos decorrentes de uma gestão mera-mente político-par tidária de sua maiorempresa, a Infraero.

A criação de uma Agência não pode-ria ter sido meramente uma ação política e,sim, a consolidação de um projeto quecontemplasse competências oriundas nãosó do antigo órgão regulador, mas, tam-bém, das empresas aéreas, da Aviaçãoexecutiva e geral, da Indústria Aeronáuti-ca, das universidades de Ciências Aero-náuticas, enfim, deveria ter sido uma opor-tunidade de se solidificar uma gestão com-petente na Aviação Civil brasileira.

Inicialmente, traçou-se até um pla-no de transição, com a par ticipação deum grupo de trabalho, com objetivos de-lineados coerentemente, mas, nos mo-mentos finais, a militância política pre-valeceu, implementando-se o que hojese constitui em uma autarquia anacrôni-ca do ponto de vista organizacional e quese desviou até dos moldes internacio-nais previstos pela Organização da Avi-

ação Civil Internacional (OACI) para en-tidades reguladoras da Aviação Civil.

Como se diz popularmente: quem nãoé competente não se estabelece. E, porisso mesmo, não é de se estranhar que afalta de política consistente de curto, mé-dio e longo prazos, acompanhada dasausências de dotação orçamentária e ges-tão profissional ao longo do tempo, sóse traduziria em caos!

O caos aéreo tem solução, em todasas áreas, desde que haja planejamento,ações e pessoas competentes e motiva-das nesse sentido.

Precisamos recompor os fatores:humano e material, no setor de Controledo Espaço Aéreo, por meio de políticasde formação, progressão e incentivo àcarreira de controlador de vôo, viabilizan-do-se a integração de civis e militares quea exercem, de um programa efetivo demanutenção dos atuais equipamentos eoutro de aceleração da sua moderniza-ção, com o objetivo de atender aos requi-sitos de Comunicação, Navegação, Vigi-lância e Gerenciamento de Tráfego Aéreo(CNS-ATM) previstos para o nosso con-tinente; e recompor, em médio prazo, aoperacionalidade dos Centros Integradosde Defesa Aérea e Controle de TráfegoAéreo (os CINDACTA).

A formulação de uma Política Nacio-nal Integrada para a Aviação Civil, con-forme sinalizada recentemente ao CONACpor diferentes segmentos da Aviação deveser uma prioridade a ser retomada.

As previsões de crescimento dotransporte aéreo para o continente latino-americano são da ordem de 12%, o que otorna atrativo em relação a todos os ou-tros mercados (basta acompanhar o au-mento de participação das empresas es-trangeiras nos últimos três anos), porémexige do Brasil a capacidade de absorvê-lo com empresas sólidas, infra-estruturaeficiente e material humano capacitado.

Hoje, vivenciamos uma escassezmundial de pilotos e, se não houver açõesconsistentes no sentido de incentivar aformação de pilotos por intermédio dos

aeroclubes, das escolas e das Universi-dades de Aviação bem estruturadas, ve-remos, em curto prazo, aeronaves brasi-leiras operadas por pilotos expatriados,como já se vê em outros mercados, comoos da Ásia e do Oriente Médio.

Outro importante fator para o setorda Aviação Civil é a solidez de suas em-presas aéreas. Um novo marco regula-tório, que contemple a revisão do Códi-go Brasileiro de Aeronáutica e das leiscomplementares, que inclua políticas ta-rifárias consistentes, e que faça um con-trole eficiente e isento, é o único meiode se forjar um mercado sólido comempresas for tes, fomentando-se o res-surgimento da Aviação Regional e deuma integração azeitada com as demaisempresas existentes.

O mercado regido de forma eficien-te cer tamente propiciará benefícios aosusuários e às empresas, harmonizandodemanda e ofer ta em coerência com umprograma de crescimento para os próxi-mos anos.

A consolidação desses objetivos épossível, desde que haja competência emtodos os segmentos do setor e vontadepolítica de se viabilizar uma solução queseja orquestrada por um elenco de valo-res humanos e materiais intrínsecos a ele,deixando-se de lado as soluções exóge-nas e intempestivas, que até agora nadade efetivo produziram.

Por fim, só resta ficarmos atentos auma questão que paira no ar – a queminteressaria manter nossa Aviação nocaos em que está?

A resposta talvez já esteja na cartilhadaqueles parlamentares que pregam os“céus abertos” como solução para a Avia-ção em nosso País, solução que se adota-da certamente irá enterrar um segmentomuito importante do ponto de vista sociale estratégico, resultando, no médio prazo,em perdas de divisas ainda mais subs-tanciosas que as atuais, constituindo-seem um verdadeiro desserviço ao cidadãousuário e ameaçando a própria soberaniada Nação brasileira na sua totalidade

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ue prazer tenho eu de ouvir do De-putado Neiva Moreira algumas bre-ves considerações sobre a Força

Aérea como fator de desenvolvimento doPaís e da importância das Forças Arma-das para o progresso, para o desenvolvi-mento e para a segurança nacional.

Estamos neste momento sendovistos e ouvidos, em milhares de laresbrasileiros, graças à TV Câmara. Te-mos a opor tunidade de mostrar a es-sas famílias quem somos, o que re-presentamos neste País, como acha-mos que devemos ser tratados no mo-mento e no futuro.

O Parlamento nacional e, indireta-mente, a sociedade par ticiparão des-se conhecimento mais aprofundado aque nos referimos quando falamos emForças Armadas.

O contexto de uma nova ordem in-ternacional se mostra ainda confusa emuito distante do equilíbrio político, eco-nômico e social tão almejado pelo con-cer to das nações.

O término da Guerra Fria apenas mu-dou algumas posições dos atores cen-trais na política internacional. Em sua es-sência, permanecem intactos todos osconceitos e relações fundamentais quesempre nortearam os mecanismos daconvivência entre os países, medianteas regras que, imutavelmente, estabele-cem o status quo entre os mais for tes eos mais fracos, entre os desenvolvidose os subdesenvolvidos, entre os ricos eos pobres.

Todos os discursos dos centros depoder mundial carecem da necessáriacoerência no que tange ao campo militar,e se revelam pródigos na direção de su-postas demandas de mudança no papel

das Forças Armadas, somente para ospaíses do chamado Terceiro Mundo.

Somos pela paz e queremos a paz.O Brasil, não obstante, possui dimen-são geopolítica e posição que o leva aser considerado potência mediana. Mui-to embora o cenário político-estratégicoem que se encontra esteja confinado àAmérica do Sul, apresenta uma políticaexterna coerente, ao liderar o processode integração regional. No contexto dasua diplomacia, busca manter a opçãopor uma postura de potência pacífica,tentando desqualificar o emprego da for-ça como meio de solução de conflitos einteresses.

É pacífico por seus compromissos epropósitos, não por timidez ou por seusarsenais.

O arranjo adequado entre as deman-das, responsabilidades e limites de acor-dos internacionais ditados pela nossa so-berania é o grande e constante desafio.

A principal razão é fortalecer o podernacional por intermédio da dissuasãomilitar. A realidade política, como sem-pre, é cambiante, mutável, provisória,temporária.

Relembro as palavras do Barão doRio Branco:

“Diplomatas e soldados são colabo-radores que prestam mútuo auxílio. Umexpõe o direito e argumenta com ele emprol da comunidade. O outro se bate paravingar o direito agredido, respondendo aviolência com violência.”

O fim da Guerra Fria, com efeito, pôsem relevo um debate que perdura até osdias correntes, sobre o papel das ForçasArmadas.

Historicamente, as Forças Armadasbrasileiras têm cumprido missões de

Ten Brig Ar Carlos de Almeida [email protected]

Participação do Comandante

Q

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ordem interna, que têm assumido asmais diversas formas.

Merece destaque a que diz respeitoao envolvimento das Forças Armadas nocombate ao mundo das drogas.

A missão das Forças Armadas temde ser, primordialmente, a defesa exter-na. O combate ao tráfico de drogas exigepreparação policial específica. Caso fos-se atribuída às Forças Armadas, essa mis-são exigiria a mudança da mentalidadedo profissional militar desde a sua for-mação nas escolas. O País, então, teriauma imensa polícia, mas sem capacida-de dissuasória e muito atraente para aven-turas, porque não teria Forças Armadascom capacidade de resposta.

Urge não reforçar a preocupação mi-litar com a temática interna, e sim incre-mentar o preparo militar para as questõesexternas, a fim de que o Brasil não veja oaparelho militar transformado em órgãosuprapolicial.

O emprego das Forças Armadas, emsua essência, tem por objetivo a aniqui-lação do inimigo, devendo, portanto, agircom a necessária violência, com o objeti-vo de decidir definitivamente o conflito.Para tanto, utiliza armamento pesado e oemprego da força em massa, de táticas ede técnicas específicas para esse tipo deconfronto, o que não se coaduna com anatureza das ações policiais.

A possibilidade para combater o cri-me organizado é afastada, por conside-rar-se que não está ainda caracterizadoum estado de guerra, condição necessá-ria para o emprego das Forças Armadasem sua plenitude, e é necessário medir aamplitude e conseqüência de suas ações,em decorrência de possíveis problemasrelacionados aos direitos humanos.

Não existem características físicasque diferenciem bandidos de pessoas debem. Essa ação cabe às Polícias Civis eMilitares, que devem estar bem aparelha-das para executar esse tipo de tarefa.

O combate ao crime organizado deveser buscado em direção às causas doproblema e não simplesmente aos efei-tos de momento, sendo necessário quese adotem medidas no sentido de devol-ver às Polícias o prestígio e a auto-esti-ma, de modo a reaparelhá-las, pagar-lhes melhores salários e mantê-las nasruas, a fim de que se possa proporcionara segurança almejada pela população.

Com relação ao serviço militar, têmsido freqüentes debates que envolvemvariados questionamentos sobre a obri-gatoriedade de atendimento a esse devercívico. A obrigatoriedade do serviço mi-litar é adotada em dois terços dos paísesque possuem Forças Armadas organiza-das, sendo realizado em períodos quevariam de quatro meses, em Portugal, adois ou três anos, na Bulgária. Na Ale-manha, por exemplo, a partir de 1994, oserviço militar continuou sendo de dozemeses e constituído por 10% de voluntá-rios, 20% de profissionais e 70% dosadvindos da conscrição obrigatória.

Na América Latina, dez países ob-servam o serviço militar obrigatório porum período de 12 a 24 meses. Porém,em Cuba, é de 36 meses. Somente Uru-guai, Argentina, Guiana e Suriname ado-tam exclusivamente a forma de voluntari-ado. No Brasil, tomando-se por base jo-vens da classe de 1982, por exemplo,para o serviço militar em 2001. A Mari-nha, o Exército e a Força Aérea incorpo-raram 5,54% do total de um milhão e 553mil jovens alistados.

da Aeronáuticano Seminário de Defesa em 2002

Bernard FrizeEndroit240 x 185cm2000

Organizado pela Comissãode Relações Exteriores e de Defesa Nacional

da Câmara dos Deputados

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Para a vigilância do espaço aéreo edas fronteiras terrestres e marítimas epara o cumprimento de suas complexasmissões específicas, as Forças Armadasbrasileiras dispõem de efetivo irrisório,se comparado com sua população e seuterritório.

Possuindo um dos maiores PIB’s domundo, o Brasil tem empenhado na de-fesa menos do que 0,50% desse produ-to. É um dos que menos gastam, em per-centuais do PIB, em defesa.

Os militares dos Quadros permanen-tes, altamente capacitados, aplicados naInstituição, garantem a ampliação dosefetivos e da operacionalidade das For-ças, na medida em que a situação deemergência se venha delineando em atode beligerância. Atualmente, a defesa sebaseia em equipamentos sofisticados,que devem ser operados por homenscom elevada capacidade intelectual epreparação técnica.

A maioria da opinião pública é favo-rável à manutenção da obrigatoriedade doserviço militar. No serviço militar ocorre asocialização do jovem, o desenvolvimentode valores morais e o estímulo ao respei-to às leis e às instituições.

Continuam a ter relevância conceitostradicionais como soberania, integridadedo território e identidade nacional.

Identifica-se a necessidade de umperfeito planejamento baseado na ante-visão do possível emprego das ForçasArmadas em determinada situação ouárea de interesse estratégico para a de-fesa nacional.

O Brasil é o maior País do continen-te sul-americano e o quinto maior doplaneta. Possui uma área de 8 milhões e547 mil quilômetros quadrados, um li-toral com a extensão de 7 mil e 367 qui-lômetros, uma fronteira seca com 15 mile 719 quilômetros de diferentes Regi-ões internas – Amazônica, Atlântica, Pla-tina e a do Cone Sul – fazendo fronteiracom dez dos outros doze países do con-tinente. Possui a maior floresta tropicaldo mundo, correspondendo a 51% do

território brasileiro. Abriga o maior rio,portador de 20% de toda a água doceexistente, sendo 11% em condições deconsumo humano, e as maiores flora efauna e biodiversidade do planeta.

É política dos Estados Unidos daAmérica o uso da força sempre que osinteresses americanos forem ameaçados.Será aceitável que as nações devam tersuas Forças Armadas sucumbidas anteas políticas externas dos mais fortes, nor-malmente divergentes dos nossos inte-resses nacionais?

A suposta ausência, hoje, de ameaçasexternas não significa que não existam defato, ou que não venham a materializar-sede forma mais evidente no futuro.

Quantas missões realizamos, rotinei-ramente, sem que a sociedade saiba!

A Marinha do Brasil nas idas à esta-ção na Antártida, nossas idas à Europa ea outros continentes, como levar as tro-pas brasileiras ao Timor e trazê-las de lá,são exemplos de missões que temos aresponsabilidade de manter bem apoia-das e preservadas.

Compromissos internacionais comBusca e Salvamento relativos a sinistros

aéreos em território nacional e sinistrosaéreos e marítimos no Oceano Atlântico,desde o nosso litoral até ao Meridiano10. Sabem os senhores e as senhorasonde está localizado o Meridiano 10?Muitos integrantes da sociedade pensamque a responsabilidade da Força Aéreaou da Marinha do Brasil termina logo ali,a cerca de 200 milhas, na plataforma.Não. Neste ano ainda, a Força Aérea tevea satisfação e o orgulho de fazer um res-gate de tripulações e passageiros de doisbarcos que naufragaram perto do Meri-diano 10 — cerca de dez, doze horas devôo do nosso C-130, por não termosainda avião de patrulha. Certamente va-mos ter em breve, se a sociedade assimconcordar.

Diversas missões de transporte depessoal e de material, em apoio às víti-mas de calamidades públicas, taiscomo enchentes e incêndios, ocorremanualmente.

O plano de apoio à Amazônia é ati-vidade permanente e essencial paraaquela região, implementado por inter-médio de transporte aéreo e apoio a ór-gãos do Governo, notadamente o Minis-tério da Saúde, nas freqüentes campa-nhas de vacinação e combate às epide-mias nas regiões carentes.

Essa é a nossa Força Aérea.Também por esses motivos costu-

mo chamar a FAB de “Força AerosocialBrasileira”.

Alguns projetos já se encontram emandamento. Tenho dito e repito que serí-amos muito mais eficientes e menos one-rosos se trocássemos as 750 aeronavesexistentes por apenas 300 novas. Toda-via, duros contingenciamentos impostosno presente momento têm dificultado arealização do plano na cadência ideal,além de não permitirem a recuperação dacapacidade operacional da Força.

Relembro mais uma vez que os com-promissos que a Força Aérea Brasileiratem com o Brasil serão sempre o objeti-vo permanente de nossa causa, no cum-primento da nossa missão

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CASCOCASCOxistem vários ditados populares so-bre “continente e conteúdo”, taiscomo: “Quem vê cara não vê cora-

ção”; “Por fora bela viola, por dentropão borolento” e muitos outros.

Mas o que interessam à AviaçãoMilitar atual essas comparações?

As respostas podem ser inferidas dasatividades em curso em Forças Aéreas demuitos países, no tocante à moderniza-ção de sistemas versus a compra de no-vas aeronaves já totalmente equipadas.

Se a busca é sempre no sentidode ter maior capacidade ope-

racional de seus vetores,qual será o fatorpredominante na

tomada de

decisão quanto à modernização versuscompra de novas aeronaves?

É fato conhecido que a eletrônicaestá revolucionando, e em alta veloci-dade, a capacidade bélica das aerona-ves, seja quanto aos equipamentos debordo como quanto aos tipos de arma-mentos. E essa alteração vem acompa-nhada da ampliação da vida útil das ae-ronaves de combate, por sucessivasmodernizações da sua estrutura, conhe-cidas por “mid-life upgrade”.

Uma entrevista publicada recente-mente em conceituada revista internacio-nal de Aviação fornece algumas pistaspara equacionar essa disputa entre com-pra versus modernização das aero-naves militares. Apresentada porum Diretor de empresa espe-cializada em eletrônicamilitar, cita alguns fa-

tores interessantes relacionados a rada-res, equipamentos eletro-óticos e “links”de comunicações, tais como:

– o custo da modernização de umaaeronave com 30 anos de idade sai a 20%do preço de uma aeronave nova;

– a aeronave assim modernizadapode chegar a 80% da capacidade ope-racional da aeronave nova, se atualiza-da a sua parte eletrônica a cada cincoanos aproximadamente;

– cer tas atualizações da eletrônicainstalada em aeronave já empregada

XMIOLOMIOLOMIOLOTen Brig Ar Fernando de Assis Martins Costa

[email protected]

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podem ter um preço próximo ao de umaaeronave nova de missão equivalente,tornando inócua essa solução. Assim,essa inatingível modernização tem deser superada por alterações das regrasde emprego operacional da aeronaveantiga;

– a utilização de meios de eletrônicae de armamentos modernos pode dar àaeronave modificada, para emprego emcertas missões, capacidade operacionalsemelhante à das aeronaves novas;

– as células das aeronaves da classedos F-15, F-16, e mesmo algumas daRússia podem durar até 50-60 anos, des-de que sejam fielmente seguidos os pro-cedimentos recomendados para sua ma-nutenção. O que deve ser substituído ouatualizado é a parte eletrônica.

Na citada entrevista, não foi mencio-nado um fator de grande importâncianesse aspecto dualista: compra versusmodernização. Trata-se do custo da im-plantação de uma nova aeronave dentrodo sistema logístico e operacional, emvirtude da enorme variação dos tipos depeças de reposição, de simuladores paratreinamento dos seus tripulantes, dosmeios de apoio de terra e dos armamen-tos necessários para seu pleno emprego.

A imprensa internacional tem publi-cado vários exemplos de modernizaçõesem aeronaves já com muitos anos de uso,em face do custo de uma aeronave equi-valente. As atualizações nas asas e naestrutura dos antigos P-3 e C-130 E/H devárias Forças Aéreas foram justificadaspelo custo dos modernos P-8 e C-130J/

C-17, que ultrapassam os orçamen-tos de países várias vezes mais

ricos que o Brasil. Na USAF,não foi considerado

o custo da

instalação de radares AESA em certo nú-mero de aeronaves F-15, pois as respon-sabilidades daquele país determinam nãoconsiderar o custo final como o fator maisimportante do processo, mas, sim, suacapacidade operacional. As aeronavesA-10, já bem antigas, continuam a serrevitalizadas quanto à estrutura e moder-nizadas quanto à parte eletrônica, a fimde poderem empregar armamentos maiseficazes. Na RAF, as modernizações dosSea Harrier até à chegada dos F-35B de-pois de alguns anos levaram também aessa solução. Os antigos Tornado, já naversão GR4, continuam a sofrer moder-nizações de vulto na sua eletrônica. Asconstantes atualizações dos F-16 emmuitas Forças Aéreas mostram que, mes-mo com aeronaves mais modernas já nomercado, o custo da sua substituição éproibitivo para aqueles países. Entre oshelicópteros, ocorre o mesmo, haja vistaas constantes atualizações dos CH-47,CH-53, H-60, AH-1 e H-1H. Exemploscomo a utilização de aeronaves de trei-namento com mais de 50 anos de fabri-cação, mas atualizadas eletronicamen-te, indicam que a finalidade pode ser atin-gida a um custo relativamente baixo emcomparação com o abandono das aero-naves antigas e a compra de outras maismodernas.

No Brasil, o problema da introduçãode mais um tipo de aeronave no inventá-rio tem de ser levado muito em conside-ração, pois ainda não há a política de con-tratar a manutenção com o fabricante atéao nível máximo possível, sem perda docontrole do processo. O caso do atualSuper Tucano parece ser típico. No finaldo ano de 1988, quando ficou evidenteque a FAB não poderia arcar com o proje-to de uma aeronave de treinamento a jato,conforme proposto pela EMBRAER,como substituto das aeronaves Xavante,

uma solução intermediária foi sugeridapelo EMAER àquela empresa, usando umaversão melhorada do Tucano, mas capazde desenvolver 300kt em cruzeiro; umacabine de pilotagem o mais semelhantepossível à dos AMX, com a mesma apre-sentação em seus instrumentos de vôo ea mesma simbologia no HUD. Equipa-mentos de alto custo poderiam ser subs-tituídos por modelos mais simples, ca-pazes de proporcionar treinamento comresultados muito semelhantes aos obti-dos nas aeronaves operacionais, tais comoum HUD mais simples, “transponder”comercial em lugar do IFF, sistema Ome-ga em lugar do INS, mas tudo com grava-ção de áudio/imagem do HUD para pos-terior crítica, e equipamentos de comuni-cações/navegação de padrão comercial.Apenas a cabeça de um míssil tipo Maverickcolocada sob a asa daquela aeronavedaria ao piloto o treinamento necessárioao seu lançamento, sem necessidade dedespesas elevadíssimas com a utilizaçãode mísseis reais, solução essa já empre-gada em outras Forças Aéreas muito inte-ressadas no rendimento operacional deseus pilotos. Entretanto, outros fatoresforam incluídos no exame da solução parasubstituição dos AT-26, resultando noatual Super Tucano, com característicasmuito diferentes do originalmente pro-posto, logicamente com um custo váriasvezes acima do estimado inicialmente.

Essas notas ficam como simples lem-brança aos encarregados da atualizaçãoda capacidade operacional das aeronavesda FAB sobre o que está sendo exausti-vamente estudado no mundo e as soluçõesadotadas por muitas outras Forças Aéreas.

São conhecidas as severas restriçõesorçamentárias do Brasil, mas o que nãose pode perder de vista é a responsabili-dade maior que compete à nossa ForçaAérea Brasileira na Defesa Nacional: man-ter o mínimo de capacidade de pronta-res-posta e a quantidade necessária de tripula-ções familiarizadas com o nível tecnológi-co das aeronaves modernas e com o em-prego de armamentos de maior eficácia E COMPRAR “0 Km” E COMPRAR “0 Km”

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INICIATIVAO Grito de Guerra da Aviação de Pa-

trulha foi iniciativa do Coronel-AviadorJanuário Sawczuk, Cardeal 63 e OlimpusHonorário 19, baseado no estudo apre-sentado a seguir.

FATORESCONSIDERADOS

O Brasil Pré-CabralinoA hipótese de um desenvolvimento

autóctone do homem americano, parale-lo ao de outras regiões do planeta, estáhoje totalmente descartada, embora asculturas aqui desenvolvidas não guar-dem resquícios de culturas de outroscontinentes.

As populações da costa eram pre-dominantemente coletoras e pescado-ras. Os sítios do litoral datam de cercade 8000 a.C. a 500 d.C.

Mesmo a partir de 1500 – ano emque se encerra oficialmente a Pré-Histó-ria do Brasil – o que se conhece dosíndios brasileiros limita-se aos grupos

com os quais os descobridores tiveramcontato – basicamente as populaçõesque ocupavam a faixa litorânea. Esti-mados entre um milhão e três milhõesde pessoas à época do descobrimento,eles pertenciam essencialmente aotronco lingüístico tupi-guarani. Os tu-pis-guaranis ocupavam a costa deSão Paulo até ao Pará, e seus princi-pais grupos eram os tupinambás (emtorno da Baía da Guanabara), tupini-quins (sul da Bahia e Espírito Santo),tupinás (Pernambuco), tamoios (sul doRio de Janeiro), termiminos (São Pau-lo), caetés (Bahia, Sergipe, Alagoas ePernambuco), tabajaras (Pernambuco eParaíba) e potiguares (Paraíba, Rio Gran-de do Norte e Ceará). A região ao sul deSão Paulo era habitada pelos guaranis –cuja língua sobrevive no Paraguai e nasfronteiras do Brasil e da Argentina – esuas tribos mais importantes eram oscarijós (de São Paulo até à Lagoa dosPatos) e os tapes do litoral gaúcho.

Terra sem malesFreqüentemente as funções de che-

fia são acumuladas pelo médico-feiticei-ro ou xamã. Entre os grupos tupis-gua-ranis, o xamã liderava as migrações quese fizeram em busca da “terra sem ma-les”. Acreditam esses índios que alémdo mar existe um paraíso terrestreonde as plantas crescem por si, háfartura para todos, ninguém sofre eos homens são eternos.

TupinizaçãoPara a formação da cultura brasi-

leira, contribuíram elementos forma-dos, sobretudo, pela tradição tupi. Aeste processo chamou-se tupinização doportuguês no Brasil. De então até nossosdias, esse lastro indígena da cultura bra-sileira se conserva em grande parte. Ofato pode ser observado pela facilidadecom que são encontrados, em lares bra-sileiros, elementos culturais familiares emuma comunidade tupi. Reconhecemos

G R I T OJanuário SawczukCel [email protected] de GUERRA

O Grito de Guerra daO Grito de Guerra daO Grito de Guerra daO Grito de Guerra daO Grito de Guerra daAAAAAviação de Pviação de Pviação de Pviação de Pviação de Patrulha foiatrulha foiatrulha foiatrulha foiatrulha foi

aprovado na XXIV Raprovado na XXIV Raprovado na XXIV Raprovado na XXIV Raprovado na XXIV Reuniãoeuniãoeuniãoeuniãoeuniãoda Ada Ada Ada Ada Aviação de Pviação de Pviação de Pviação de Pviação de Patrulhaatrulhaatrulhaatrulhaatrulha

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AVIAÇÃOde PATRULHA

inúmeros implementos de pesca: o puçá,espécie de rede, a sararaca[1], bem comoa pesca por envenenamento com timbó[2].

Além desses aspectos, iremos en-contrar também outros mais:

– Chamamos pelos mesmos nomeselementos da flora: abacaxi, buriti, car-naúba, mandacaru, mandioca, capim,sapé, taquara, peroba, imbuia, jacaran-dá, ipê, cipó, pitanga, maracujá, jabuti-caba, caju; da fauna: capivara, quati,tatu, sagüi, caninana, jacaré, sucuri, pi-ranha, araponga, urubu, curió, sabiá;geográficos: Aracaju, Guanabara, Tijuca,Niterói, Pindamonhangaba, Itapeva,Itaúna, Ipiranga; e nomes próprios: Ju-randir, Ubirajara, Maíra;

– Muitos temem as mesmas assom-brações, como o curupira, a cobra-gran-de, utilizando-se de formas similares parapoder controlá-las.

Recordemos o lugar onde hoje sesitua o Ninho das Águias, a Academia daForça Aérea: a cidade de Pirassununga –“Lugar onde peixe faz barulho”[3].

COMENTÁRIOSAnalisando os fatores apresentados,

verificamos que, segundo pesquisas ar-queológicas, está comprovado que, des-de pelo menos 8000 a.C., nosso litoralera habitado por nossos aborígenes. Di-versos grupos, espalhados entre os atu-ais estados do Rio Grande do Sul e Pará,formavam a família lingüística tupi-guarani.

A pesca era por eles praticada, sen-

do encontrados em sua cultura elemen-tos místicos no tocante ao mar.

Ao aqui chegarem, os descobrido-res os encontraram e, desse contato,nasceu o que chamamos de tupinização,processo em que várias partes da cultu-ra indígena foram incorporadas à novacultura que aqui nascia.

Assim sendo, os nossos indígenasnos legaram elementos de cultura até hojeconservados, por estarem plenamenteinseridos em nosso dia a dia.

CONCLUSÃONosso litoral, muito antes do descobri-

mento, era habitado pelos tupis-guaranis.Nesse grupo lingüístico devemos

encontrar as palavras que expressemnosso Grito de Guerra. Não devemos pro-

curá-las em outros idiomas. Vamos usaro que é nosso; o que aqui nasceu.

Incorporemos ao nosso “Vocabulá-rio Patrulheiro” mais uma expressão,como tantas outras assimiladas de nos-sos irmãos indígenas, primeiros habitan-tes de nossa terra, na cultura brasileira

Salve a Patrulha!

Grafia original do Grito de Guerra.Escrito por Wera Djekupé – Brilho Guerreiro – Guarani da tribo Mbya

SIGNIFICADO:“MATAR O PEIXE MAU”

PRONÚNCIA:DJADJUCÁ PIRÁ UAí

A pronúncia, aqui simbolizada com “DJA” e “DJU”, ocorre como se os “D” fossemquase mudos, porém realizando um som diferente, no qual levamos a língua aopalato (céu da boca) ao pronunciarmos “JA” e “JU”.

Estes são os aspectos considerados na criação de nosso Grito de Guerra.

REFERÊNCIAS:[1] Flecha que os índios usam para mataro pirarucu, a tartaruga, o peixe-boi, etc.[2] Designação comum a plantas,basicamente leguminosas e sapindáceas,que induzem efeitos narcóticos em peixese, por isso, são usadas para pescar.Fragmentadas e esmagadas são lançadasna água; logo os peixes começam a boiare podem ser facilmente apanhados á mão.[3] Do tupi:

pi’rá, el. comp. = peixecomsu’nuga, ger. de su’nu, ‘rumurejar,ribombar’

Vejamos, então,o Grito de Guerra da Aviação de Patrulha:

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Manuel Cambeses JúniorCel Av - Conferencista Especial da Escola Superior de Guerra; Membro Titulardo Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e Vice-Diretor do [email protected]

Ilustração de Ivo BatalhaCel Av

INTEGRAÇÃO

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om o esfacelamento do impériosoviético e o fim da Guerra Fria nocenário internacional, abriu-se um

período de transição entre o fenecido siste-ma bipolar e a nova ordem que estava porsurgir. Toda transição caracteriza-se, geral-mente, pela incerteza, instabilidade e con-tradição entre forças e tendências na lutapor prevalecer. Entretanto, neste alvorecerde um novo milênio, é evidente que existeuma só superpotência sustentada em ab-soluta superioridade tecnológica na ex-pressão militar, apenas compensada pelocrescente peso geopolítico da China e geo-econômico da União Européia. Porém, curi-osamente, o surgimento do Euro deu inícioao gradual rebaixamento do domínio doDólar norte-americano no sistema financei-ro internacional.

Recordemos que, ao final da SegundaGuerra Mundial, a elite dirigente norte-ame-ricana, acompanhada pela totalidade de suaopinião pública, decidiu reviver e fortaleceruma economia liberal em nível mundial. OsEstados Unidos assumiram a responsabili-dade fundamental da defesa do mundo oci-dental, permitindo aos seus aliados euro-peus e japoneses concentrarem seus re-cursos, e os provenientes do Plano Mar-shall, em suas reconstruções econômicas.

A iniciativa estadunidense foi decisivana fundação da Organização das NaçõesUnidas, do GATT, e na criação do BancoMundial e do Fundo Monetário Internacio-nal. Constatamos, porém, que decorridomais de meio século, já não existe nos Es-tados Unidos o consenso que permitiu esseativismo internacionalista de cunho liberal.Tanto a elite dirigente quanto a opinião pú-blica estão divididas em relação ao papeldo país no sistema mundial. No Partido Re-publicano, baluarte tradicional do livre co-mércio, surgiu uma forte corrente protecio-nista e nacionalista com claras vertentesxenófobas. Também no Partido Democrata,

o partido do internacionalismo de Wilson,Roosevelt e Kennedy, se tem fortalecido atradicional corrente protecionista e a aver-são à ajuda internacional, bem como às or-ganizações multilaterais. Para reforçar esteargumento, basta mencionar que a maispujante e poderosa economia do mundopossui o mais baixo orçamento de ajudainternacional entre os países industrializa-dos, em relação ao seu Produto Interno Bru-to (apenas 0,08%, comparado com 0,97%da Dinamarca e 0,76% da Suécia). Até emcifras absolutas, os Estados Unidos coope-ram menos do que o Japão e a França.

Alguns analistas entendem que estaatitude deve-se ao ressurgimento do velhoisolacionismo norte-americano, reforçadopelo desaparecimento da ameaça comunis-ta, catalisador do consenso internaciona-lista da Guerra Fria. No entanto, consideroque em certos setores da sociedade esta-dunidense se está produzindo uma correntede pensamento profundamente preocupan-te. Trata-se de uma peculiar mescla de xe-nofobia, protecionismo e ativismo interna-cional unilateral. Este unilateralismo con-cretizou-se “inter alia” nas conhecidas leisHelms-Burton e D’Amato; na inaudita e semprecedente negação ao então Presidente BillClinton de negociar um tratado internacio-nal de comércio via “fast track”; na oposi-ção do Congresso em pagar as dívidas econtribuições norte-americanas às institui-ções multilaterais, bem como em certasações judiciais; e policiais unilaterais naluta contra o narcotráfico.

Um ilustre professor da Universidadede Harvard contou certa vez uma estóriamuito significativa. Em uma conferência, emuma pequena cidade próxima a Boston, per-guntaram ao citado mestre sua opinião so-bre uma possível invasão dos Estados Uni-dos por tropas das Nações Unidas. O ater-rador neste caso é que, na audiência, nin-guém sorriu. Se isto pode acontecer na Nova

Inglaterra, a poucos quilômetros de Harvard,berço do internacionalismo “wasp” da cos-ta este do país, o que poderá suceder no sulou no meio-oeste dos Estados Unidos, cal-dos de cultura da Ku Klux Klan e do extre-mismo terrorista de milícias, como aqueleresponsável pelo atentado de Oklahoma?Afortunadamente, para o resto do mundo, apotência hegemônica neste início de sécu-lo XXI é uma sociedade democrática e, por-tanto, aberta, corrigível e perfectível. Ima-ginemos em que tipo de mundo nós viverí-amos se a potência dominante fosse totali-tária, como a Alemanha nazista ou a UniãoSoviética. Ademais, na sociedade estadu-nidense, existem poderosos anticorpos deorigem liberal que deveriam contrapor-seao crescimento deste unilateralismo xenó-fobo. A América Latina tem uma óbvia eestreita relação com os Estados Unidos, ecreio ser necessário e urgente que os lati-no-americanos reajam frente a esta nova epotencial ameaça, em duas vertentes. Aprimeira consistiria em melhorar e fortale-cer a escassa capacidade de influência denossos países, na relativamente maleávelopinião pública norte-americana e, em par-ticular, em seu aberto sistema político. Ob-viamente, cada Estado latino-americanotem seus próprios interesses específicosem sua relação bilateral com os EstadosUnidos. Entretanto, poderíamos e devería-mos atuar de modo sinérgico, e em conjun-to, para reforçar e aproveitar a reduzida,porém crescente, influência dos cidadãosestadunidenses de origem latina, e paramodificar a tradicional imagem negativa dolatino-americano junto à opinião públicanorte-americana.

Finalmente, é imprescindível que trans-formemos a integração latino-americana emum urgente imperativo geopolítico, se de-sejamos deixar de ser considerados seresexóticos e marginais espectadores no ce-nário internacional

LATINO-AMERICANA:UM IMPERATIVO GEOPOLÍTICO

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clima do Continente sul-americano esteve bastantequente nestas últimas se-

manas, em decorrência do bombardeio,pela Força Aérea colombiana, do acampa-mento das FARC, na zona limítrofe doEquador com a Colômbia, e do ulterior en-frentamento que as tropas especiais daForça de Deslocamento Rápido do Exérci-to (FUDRA) tiveram com os guerrilheirossobreviventes ao ataque aéreo. Não se tra-tava, certamente, de acampamento provi-sório. Segundo informaram os jornalistasque estiveram presentes depois do ataque,no lugar dos acontecimentos, era um postoavançado das FARC, muito bem dotadode todos os serviços e com ampla infra-estrutura. A morte do Comandante RaúlReyes era o objetivo colimado pelas for-

Ricardo Vélez RodríguezCoordenador do Centro de Pesquisas

Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”,da UFJF. Membro do Instituto

de Humanidades, Londrina. Membroda Academia Brasileira de Filosofia,

Rio de [email protected]

ças do Estado colombiano. Os dados en-contrados no acampamento, particular-mente nos computadores em poder dosguerrilheiros, revelam, de entrada, as vin-culações inegáveis entre os meliantes e osgovernos dos presidentes Chávez, da Ve-nezuela, e Correa, do Equador, justamen-te os que mais bravatas protagonizaramlogo após o falecimento do mencionadoguerrilheiro, a quem Chávez deu o estatu-to de herói.

Algumas lições devem ser tiradas dosfatos ocorridos. Em primeiro lugar, que élegítimo o esforço do Governo do Presi-dente Uribe, na sua luta contra os guerri-lheiros das FARC. A Colômbia invadiu oterritório equatoriano? Sim, mas para pre-servar a integridade do Estado colombia-no, seriamente ameaçado ao longo das

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GUERRAABORTADA

uma

últimas décadas pela guerrilha de narco-traficantes. Do ponto de vista das rela-ções internacionais, aos colombianosassiste a Resolução 1.376 da Organiza-ção das Nações Unidas, de 2001, queproíbe os países membros de abrigar noseu território grupos terroristas, financiá-los ou fornecer-lhes armamento. Ora, oEquador, repetidas vezes, tinha feito vistagrossa em face dos alertas do Governode Bogotá, que indicavam a presença deguerrilheiros das FARC nesse país. A in-vasão de dois quilômetros em territórioequatoriano soa, assim, como ato de le-gítima defesa praticado pelas Forças Ar-madas comandadas pelo Presidente Uri-be. Isto ficou mais claro depois que osdocumentos apreendidos com os meli-antes mostraram que havia contatos dire-tos e freqüentes entre Raúl Reyes, HugoChávez e o Governo equatoriano. A Co-missão da OEA decerto tomará conheci-mento de todos esses detalhes e as deli-berações do colegiado pan-americanocolocarão em maus lençóis os presiden-tes do Equador e da Venezuela. É esse omotivo fundamental pelo qual a OEA nãoGUERRA

ABORTADAcondenou a Colômbia na reunião de emer-gência realizada em Washington na se-mana passada. Esperam-se outros des-dobramentos nesse terreno.

Segunda lição: ficou claro de quallado estão o Presidente Chávez e seu se-guidor, o presidente equatoriano. Eles sealinharam claramente em favor dos fora-da-lei ao tomarem as dores das FARC,exigindo inclusive da comunidade inter-nacional o reconhecimento desses terro-ristas como grupo beligerante. O que eramapenas indícios levantados por jornalis-tas, tanto na Europa quanto na Venezue-la, na Colômbia e nos Estados Unidos,no sentido de que Chávez dava abrigo,

LIÇÕESde

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na Venezuela, aos grupos guerrilheiroscolombianos, permitindo-lhes acesso aserviços médicos essenciais, a materiaisde intendência e armamentos, ficou con-firmado nos documentos apreendidos noacampamento das FARC. O presidentevenezuelano deverá explicar, agora, àcomunidade internacional, a “ajuda” de300 milhões de dólares concedidos àguerrilha colombiana. Deverá dar expli-cações, outrossim, acerca da notícia quefoi divulgada por alguns jornalistas, deque as FARC colaboram com o líder ve-nezuelano no treinamento das milíciasrevolucionárias, com as quais pretendeespalhar o seu movimento pela AméricaLatina afora. Explicações deverão ser da-das, de outro lado, pelo Presidente Cor-rea, do Equador, no relativo ao abrigodado aos meliantes das FARC. É de todoponto de vista injustificável o fato de oPresidente da Venezuela estar intervindonos assuntos internos dos outros paíseslatino-americanos, com a sua propostaesdrúxula de uma integração de todos osexércitos desta parte do Continente, vi-sando à etérea “revolução bolivariana”.Tudo movido pelos seus petrodólares. Deoutro lado, é reprovável a farsa em tornodos direitos humanos dos seqüestradospelas FARC, protagonizada por Chávez epor Correa, os quais chegaram pratica-mente a negociar com a vida das vítimaspara obter dividendos políticos. O huma-nitarismo dos líderes “bolivarianos” é, nomínimo, questão discutível.

Terceira lição: o Governo brasileirodeve revisar com urgência a sua posiçãofavorável às FARC, ao não arrolá-lascomo grupo terrorista e ao ficar simples-mente censurando o Governo da Colôm-bia pelo fato de se defender. Como mui-tos analistas da imprensa brasileira des-tacaram ao longo dos últimos dias, se oBrasil pretende assumir um papel de me-diador na América Latina, deve fazer es-forços concretos e significativos em prolde manter clara uma posição equilibrada.O populismo é mau conselheiro nas rela-ções internacionais, seja lá pelas razões

que se aleguem. Parece que o GovernoLula fica cheio de dedos quando se tratade condenar alguém do famigerado Forode São Paulo, simplesmente por simpati-as ideológicas, que de forma alguma de-vem pautar a nossa política externa. Fe-lizmente, no caso da reunião da OEA e doGrupo do Rio, ficou do lado de fora o“chanceler ad hoc” petista, o SenhorMarco Aurélio Garcia, cujas declaraçõesà imprensa internacional comprometerama sensatez que deveria prevalecer no AltoGoverno, ao se mostrar simpático àsFARC, pondo em risco a idoneidade doGoverno brasileiro para lidar com assun-tos ligados ao combate contra o terroris-mo. Plena razão assiste às vozes que, daimprensa e da opinião pública em geral,pedem a convocação do Senhor MarcoAurélio Garcia perante a Comissão deRelações Internacionais do Senado, a fimde explicar as suas absurdas declarações.

Quarta lição: ficou claro que a Co-lômbia está conseguindo vencer os ter-roristas, preservando o estado de direitoe as garantias constitucionais, graças,sobretudo, à sensata política de “segu-rança democrática” desenvolvida peloPresidente Alvaro Uribe e, também, emdecorrência das reformas efetivadas nasForças Armadas e na Polícia. Hoje, elassão as mais preparadas do Continente naluta antiguerrilheira. É uma organizaçãomoderna de 208 mil homens (sendo 136mil do Exército, 15 mil da Marinha, setemil da Força Aérea e 50 mil da PolíciaNacional), que desenvolve uma luta semquartel contra os inimigos da Democra-cia. Está se tornando realidade o que oestudioso Alfredo Rangel dizia há algumtempo: as FARC e os movimentos guerri-lheiros, em geral, deverão acolher-se àsnegociações de paz, nos termos fixadospelo Estado colombiano, que contem-plam a submissão à Justiça de todosaqueles que tiverem praticado crimes delesa-humanidade e que abre espaço paraa reinserção pacífica à vida civil dos de-mais membros das organizações arma-das. Que as FARC estão chegando ao fim

da linha, não resta dúvida, a julgar pelodesespero que assola os que, do exteri-or, dão apoio militar a esses facínoras:que o digam as bravatas de Chávez e deCorrea, em dias passados. E que o di-gam, também, os apavorados chefes desegurança dos chefões da narcoguerri-lha, que começaram já a entregar os seuscomandantes, a fim de salvar a própriapele e ganhar as milionárias recompen-sas que, habilmente, o Governo de UribeVelez oferece aos que facilitem a captura,vivos ou mortos, dos capos di tutti capidas FARC.

Quinta lição: a grande vedete no tea-tro de operações, na fronteira com o Equa-dor, foi o avião Supertucano A-29, daEmbraer, que deverá ver aumentadas assuas vendas na Feira Internacional do Are do Espaço (FIDAE), que terá lugar emSantiago do Chile, no final deste mês. AColômbia tinha comprado 25 dessas ae-ronaves em 2005. Os Supertucano co-lombianos foram equipados com tecno-logia de terceira geração, como o sistemaFLIR Brite Star (que funciona como de-signador para lançamento de bombasguiadas a laser). Cada um desses apare-lhos está dotado, também, de um telême-tro (Laser Range Finder), que fornece adistância para o alvo, bem como de umsistema de comunicação que permite aospilotos manter contato com as forças desuperfície, em tempo real. Os pilotos dosSupertucano colombianos estão equipa-dos, outrossim, com um sistema, acopla-do ao capacete, chamado Nigth VisionGoogle, para ataques noturnos. Não é àtoa que os Supertucano se tornaram opesadelo da guerrilha colombiana. O es-quadrão com essas aeronaves, situado noComando Aéreo de Combate nº 2, emApiay, a 100 quilômetros ao sul de Bogo-tá, é responsável pelas grandes baixas quea guerrilha das FARC tem sofrido nos últi-mos meses. Ao longo de um ano, essasaeronaves chegaram a realizar 1.200 mis-sões de ataque. (Cf. Chico Otávio, “Ataquetransforma Avião em Vedete de Feira Aé-rea”, O Globo, 6 mar. 2008, p. 32)

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rgulho-me de jamais ter atra-sado uma decolagem para

cumprir uma missão operacional en-quanto estive no serviço ativo.

No entanto, houve uma vez em queaconteceu um providencial atraso mo-tivado pelo motorista do Esquadrão quedormiu demais.

Corria o mês de junho de 1978, in-verno chegando. Eu comandava umdos mais operacionais esquadrões daForça Aérea de então, o Quinto Esqua-drão Misto de Reconhecimento e Ata-que (5º EMRA), o Esquadrão Pantera,testado em combate. A Unidade, especi-

alizada em Operações Aéreas Especiais,era sediado na Base Aérea de Santa Ma-ria (RS) e ainda o é, hoje, com a denomi-nação de 5º/8º Grupo de Aviação.

Naquela época, o Esquadrão eraequipado com aeronaves T-25 Univer-sal, armadas; L-42 Regentelo; e heli-cópteros UH-1D Iroquois, estes equi-pados com seis metralhadoras .30,sendo quatro frontais, operadas pelopiloto, e duas laterais, operadas, res-pectivamente, pelo mecânico e pelo ar-tilheiro e, ainda, dois lançadores defoguetes 70mm. Todo o treinamento ea doutrina do Esquadrão eram voltados

para operações de combate à guerrilha.Mantínhamos um rigoroso progra-

ma de manutenção operacional realiza-do em módulos, em que, mensalmen-te, cada piloto executava todas as ma-nobras básicas da aeronave que voa-va. Assim, no UH-1D, o piloto fazia umamissão no tráfego e quadrado, umamissão de área restrita, uma missão deauto-rotação real, uma missão de em-barque e desembarque e uma missãode transpor te de carga externa. Comisso, todos sempre estávamos opera-cionalmente capazes. Essa metodolo-gia havia sido “importada” do Progra-

QUESUSTO!

Ten Brig Ar Sergio Pedro [email protected]

O

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ma de Treinamento do 1º/4º GAv,quando, no final de 1975, o Capitão-Aviador Paulo Farias de Castro e eu,na época Operações do Esquadrão,havíamos feito o Curso de Ataque nasaeronaves AT-26 Xavante daquelaUnidade Escola. No ano de 1976, o5º EMRA operou essas aeronaves emsubstituição aos heróicos e lendáriosAT-6 Texan.

Nesse mês de junho, o Príncipe doJapão, hoje Imperador Akihito, faziauma visita ao Brasil em comemoraçãoaos 70 anos da imigração japonesa.

Na tarde do dia 16 de junho de1978, o Comandante da Base Aérea deSanta Maria (BASM), Coronel-AviadorLuiz Guilherme Gaelzer, chamou-me ecomunicou-me ter recebido ordem doComandante do V Comando Aéreo Re-gional (V COMAR) para que um heli-cóptero UH-1D armado estivesse, namanhã seguinte, em Foz do Iguaçu,onde o comandante da aeronave rece-beria instruções do general encarrega-do da segurança do Príncipe na região.Era o comandante da Guarnição deCascavel (PR).

Apesar da alta probabilidade deocorrer nevoeiro, a ordem foi de deco-lar às quatro horas da manhã.

Pouco antes das três horas, está-vamos, o Capitão-Aviador Paulo Viei-ra Rocha e eu, na por taria do EdifícioSantos-Dumont, aguardando a “kom-bi” do Esquadrão. Três horas, três equinze, três e meia, e nada. A condu-ção só chegou às três e cinqüenta como motorista apavorado.

– Desculpe Major, eu não acordei.Fomos para a Base após apanhar

os dois sargentos que compunham atripulação: 1S Q AR Ivan Apolo da Sil-veira e 3S Q AV Rogério César Prokopp.Durante o deslocamento, realizamos obrifim e cancelamos o café da manhãque havíamos solicitado.

Chegamos à Base, preparamoso helicóptero, fizemos a inspeção

externa minuciosa e o plano de vôocom o cuidado de especificar “mis-são militar”, no campo destinado aobservações. Guarnecemos e de-mos a par tida.

O aeródromo estava fechado paraoperações por instrumentos devido àocorrência de nevoeiro obscurecido.Iríamos assim mesmo, pois a declara-ção de “missão militar” permitia nos-sa decolagem naquelas condições.Cheques completados, autorização datorre, início do táxi, seguindo religio-samente a linha amarela balizadora,pois de minha posição de comando eraimpossível ver o helicóptero estacio-nado ao lado.

A decolagem foi feita do centro dapista, sobre a linha branca. Com todocuidado até at ingir a velocidadetranslacional e, a par tir daí, vôo porinstrumentos na sua mais pura expres-são. Executamos a subida inversa atéà altitude de 2.000 pés e, após, subi-da em rota. Nivelamos a 4.500 pés,agora voando, no topo, sobre umaimensa camada de estratos. Faltava umpouco para as cinco horas da madru-gada. Após nivelar, ainda tensos, co-mentamos os acontecimentos da ma-nhã, o atraso da condução, com o con-seqüente recolhimento do motorista aoxadrez, e o comentário do SargentoApolo, que estava cismado pelo fatode seu biorritmo, modismo da época,retirado no dia anterior, estar com to-das as linhas cruzando-se no pontomais baixo da tabela, indicando másor te à vista. Dávamos tratos à bolaimaginando que tipo de missão nóscumpriríamos em Foz do Iguaçu.

Mantínhamos o rumo magnético008º. Nossa rota tangenciava a fron-teira com a Argentina até encontrar oRio Iguaçu, quando aproaríamosnosso destino sem entrar em territó-rio argentino.

Após perdermos o sinal do NDBSanta Maria, nossa navegação baseava-

se somente na bússola do helicóptero.Cada um pilotava cerca de 20 mi-

nutos, conforme doutrina do Esqua-drão para evitar o cansaço e a desori-entação espacial.

Já estávamos voando há mais deuma hora quando conseguimos sinto-nizar uma estação rádio “broadcasting”.Era a rádio de São Miguel do Oeste, ci-dade localizada no extremo oeste do es-tado de Santa Catarina. Quando a agu-lha do RMI apontou para a estação, tive-mos uma surpresa desagradável. Deve-ria apontar para a proa, porém indicavaquase o través direito, ou seja, devidoao vento desconhecido, estávamos so-brevoando território argentino com umhelicóptero militar armado e municiado.Imediatamente, fizemos curva à direitaaproando a cidade.

Voando em direção ao Brasil, ago-ra com um auxílio externo, começamosa nos sentir um pouco mais relaxados.Lembro-me, eram 6h 25min. Na altitu-de em que estávamos já dava para iden-tificar, no horizonte, alguma claridade.Faltava, ainda, cerca de uma hora parao nascer do sol oficial.

Aconteceram, então, duas coisasquase que simultaneamente. Deixamosde voar sobre a camada de nuvens, po-dendo ver algumas sombras no solo. Eo helicóptero deu um tranco e uma gui-nada para a esquerda, o alarme de fogoacendeu, as luzes do painel de alarmeforam acendendo uma a uma e eu co-mandei o coletivo para baixo, entrandoem auto-rotação, ao mesmo tempo emque o aviso de baixa rotação do rotorcomeçava a “miar”. Olhando para bai-xo vi um risco mais claro e falei para atripulação no interfone:

– Pousaremos naquele rio.Sabia estarmos sobre região mon-

tanhosa, e um rio, pelo menos, é plano.Não sei quantos segundos durou

a queda. Em auto-rotação, a razão dedescida do UH-1D é de cerca de 2.500pés por minuto. Estávamos a 2.000

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pés de altura. Acelerei o helicóptero evi que chegaríamos ao rio. Reduzi paraa velocidade recomendada de 65kt(nós). O Capitão Vieira Rocha, a cadamomento, indicava pelo inter fone asituação real, velocidade e altura. Como solo aproximando-se, tivemos umaimensa surpresa. O que eu imaginaraser um rio era, na verdade, uma estra-da morro acima. Seguimos o aclive,íngreme, da estrada, trabalhando como cíclico e o coletivo. Não fizemos o“flare”. Optei pelo pouso corrido. Apóso toque, usei o coletivo para frear e ofiz com máxima intensidade, pois nãopodia adivinhar o que tinha pela fren-te. O helicóptero parou. À direita, orotor principal estava a menos de meiometro de um barranco e, à esquerda,havia um declive, quase na vertical, decerca de cinqüenta metros, terminan-do, efetivamente, em um riacho. Des-cemos rapidamente com medo dofogo, mas esse se apagara na desci-da. O mecânico, Sargento Prokopp,constatou que o motor gripara. Sou-bemos, mais tarde, que um rolamentose desmanchara e a turbina havia gira-do excentricamente, daí resultandoatrito e fogo.

No momento em que a emoção to-

mava conta de nós e as pernas começa-vam a tremer, no alto da colina apareceuum caminhãozinho, do qual desceu umhomem tomando chimarrão. Disse estarprocurando o cometa que vira caindocom um rastro enorme de fogo. Nós éra-mos o “cometa”. Tomei, também, umchimarrão e recobrei a calma. Lembreido biorritmo do Sargento Apolo e brin-quei com ele, dizendo que se o dele es-tava ruim, o meu deveria estar com to-das as linhas cruzando-se na par te su-perior, indicando muita sorte.

É impor tante registrar que, na se-mana anterior ao acidente, o Capitão Vi-eira Rocha e eu, juntos, havíamos cum-prido o treinamento de auto-rotaçãodentro do módulo operacional.

O Capitão Vieira Rocha e eu fomos,de carona, até ao quar tel da Polícia Mi-litar, na cidade, de onde pudemos ligarpara Santa Maria.

Falando com o Coronel Gaelzer, re-latei a ocorrência, solicitei que mandas-sem outro helicóptero para prosseguirna missão e, também, pedi-lhe paramandar tirar o motorista do xadrez, poisse ele tivesse cumprido o horário, difi-cilmente estaríamos vivos, dada a ab-soluta escuridão que encontraríamosno momento da pane.

No entorno das dez horas, o Capi-tão-Aviador Mauro Leandro dos San-tos Rossi chegou com outro helicópte-ro, um motor e uma equipe de manu-tenção. Creio interessante assinalar quenão foi possível pousar o helicópterosocorro ao lado do acidentado, pois odesnível do terreno excedia o limite depouso em terreno inclinado.

Minha tripulação assumiu o heli-cóptero. Transferimos o armamento edecolamos para Foz do Iguaçu. Chega-mos a tempo de cumprir a missão dedar cobertura, com atiradores de elite abordo, ao trajeto do Príncipe Akihito.

Executamos nossa tarefa, reabas-tecemos e decolamos para São Migueldo Oeste. Já entardecia.

O Capitão Rossi e sua equipe ha-viam acabado de trocar o motor denosso helicóptero.

Trocamos novamente de aeronavee decolamos para Santa Maria. Era noi-te, e, desta vez, íamos escoltados pelohelicóptero do Capitão Rossi, que voa-va em nossa ala, um pouco afastado.

Chegamos a Santa Maria depoisdas vinte horas de uma noite de in-verno, após um longuíssimo dia, emque fizemos aquilo que mais sabía-mos fazer: cumprir nossa missão

Helicóptero UH-1D 8537Tripulação:

Comandante:Major-Aviador Bambini

1º Piloto:Capitão-Aviador Vieira Rocha

Mecânico:3S Q Av Prokopp

Artilheiro:1S Q AR Apolo

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A LÓGICA General-de-Exército Gilber toBarbosa Figueiredo(*), Presi-

dente do Clube Militar, expressou muitobem, no seu artigo, a revolta dos milita-res que lutaram contra a subversão e queagora constatam que todo o trabalho, sa-crifício e riscos corridos foram em vão. Arecente promoção de Lamarca, um trai-dor do Exército e covarde assassino foium escárnio ao Exército Brasileiro e àsForças Armadas, que lutaram bravamen-te contra a subversão comunista que ten-tou por vários meios e em várias oportu-nidades se apoderar do poder político eeconômico no Brasil do século XX. Muitagente morreu nessa luta e, agora, o quese faz é premiar subversivos.

Entretanto, o que está acontecendono País é muito mais grave do que uminsulto ao Exército Brasileiro e às ForçasArmadas. Está em pleno andamento umamudança paulatina de regime. O que eracorreto ontem, hoje está errado. O queera errado ontem, hoje é enaltecido. LuizCarlos Prestes, o maior mentor do comu-nismo tupiniquim, traidor do Exército edo País, hoje é endeusado. Em 1945,Prestes, após ser anistiado por GetúlioVargas da prisão a que foi condenado porsua participação na Intentona Comunistade 1935, se candidatou a senador peloPartido Comunista Brasileiro e foi o se-nador mais votado na época. O povo bra-sileiro, desinformado, o elegeu com umamaciça votação. Mais tarde, Prestes foicassado ao declarar que tomaria partidoda Rússia no caso de uma guerra entreaquele país e o Brasil. Na oportunidade,o Presidente Dutra cassou também o Par-tido Comunista (PC).

Naquela época, o PC já falava emvoto para analfabetos, sabendo que so-mente assim, com o voto de pessoas hu-

mildes, incultas, desinformadas e facil-mente manipuláveis, poderia chegar aopoder. Mais tarde, já se falava em Minis-tério da Defesa. O objetivo era tirar os mi-litares do Primeiro Escalão do Governo,subordinando-os a um civil indicado po-liticamente, sem o imprescindível prepa-ro técnico, profissional, vocacional e es-tratégico exigido pela vida castrense.

Mais adiante, providenciou-se a po-lítica do desarmamento, cujo objetivo foidesarmar o cidadão de bem, inclusive osmilitares, com vistas a anular uma possí-vel reação a qualquer regime de força aser implantado no País. Paralelamente, odesmantelamento e o conseqüente enfra-quecimento das Forças Armadas comple-tam o quadro.

Não se tenha dúvida, portanto, deque, se nada for feito no sentido de im-pedir essa mudança, a próxima IntentonaComunista será vista como “uma legíti-ma revolta dos militares esclarecidos epatriotas contra a burguesia capitalistadominante e subordinada aos interessesamericanos”. A propósito, já há algunsanos, não é comemorada a derrota da in-surreição comunista de 1935 pelas For-ças Armadas. Dias houve em que o Pre-sidente da República tradicionalmentecomparecia ao evento. Tudo isso denotaum abrandamento da resistência demo-crática aos caminhos espúrios do comu-nismo internacional. Aceitamos que issoacontecesse, como também aceitamosque não se comemore mais o dia 31 demarço. Em 1964, os militares brasileiros,chefiados pelo então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Humberto deAlencar Castello Branco, depuseram oPresidente da República em exercícioJoão Goulart, o “Jango”, numa cartadadecisiva para impedir que o Brasil caísse

em mãos esquerdistas e, conseqüente-mente, fosse implantado no País o regi-me preconizado e adotado na época porMoscou.

Ironicamente, existem hoje escolas,ruas, praças e avenidas com o nome deLuiz Carlos Prestes, tudo dentro da lógi-ca gramscista da tomada progressiva dopoder, em que o teórico italiano AntonioGramsci (1891-1937) pregava a desmo-ralização, ao longo do tempo, de todasas instituições nacionais. Por conta des-sa estratégia, há pouco tempo foi muda-do o nome da Escola General Médici ecolocado em seu lugar o nome de umadolescente baleado num subúrbio doRio de Janeiro. Todo o dia acontece algoque desmoraliza os militares, pois estessão ainda a única instituição capaz deimpedir uma tomada de poder pelos co-munistas, agora travestidos de socialis-tas ou socialista-morenos, conformegosta de afirmar o Presidente venezuela-no Hugo Chávez, fiel aliado do ditadorcubano Fidel Castro. Não nos surpreen-damos, pois, se amanhã nos depararmoscom uma estátua de Carlos Lamarca erigi-da em um logradouro do Rio de Janeiro.

A população brasileira, por sua vez,vem se acostumando com a falta de auto-ridade, de honestidade e ética dos atuaisdetentores do poder. “Nunca, na Históriadeste País”, se viu ou se ouviu falar emtanta corrupção tão próxima aos primei-ros escalões do Governo. A população jáestá se acostumando com a total insegu-rança a que é submetida diuturnamente,e com a também total impunidade dequem pratica crimes escudados nas suasposições políticas e em seus cargos pú-blicos. E o que é pior: acomodando-setambém com a idéia de que não há nadaque se possa fazer no sentido de morali-

A LÓGICA O

Dion de Assis TávoraCel [email protected]

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GRAMSCISTAda

TOMADAPROGRESSIVA

doPODER

daTOMADA

PROGRESSIVAdo

PODERzar o País, suas autoridades e suas insti-tuições. Acredito que até essas ações es-petaculares de prisões feitas pela PolíciaFederal se prestam ao esquema de des-moralização dos poderes constituídos,pois os presos logo em seguida são sol-tos por força de liminares ou por deci-sões dos Tribunais Superiores. Assim,quando os presos são soltos pela Justi-ça, o brasileiro percebe que tudo não pas-sou de uma encenação emoldurada pelapirotecnia policial, ou de uma apologiaao crime e à impunidade – nada de con-creto vai acontecer aos criminosos.

Dessa forma, quando a desmorali-zação total dos poderes constituídosprovocarem a ingovernabilidade do País,a situação estará pronta para uma mu-dança de poder – a substituição da anti-ga ordem democrata pela nova ordemsocialista-morena. Aí, então, veremoscomo e quanto o saudoso presidente Fi-gueiredo estava certo ao dizer: “Dia viráem que se terá saudade dos tempos daDitadura Militar no Brasil”

GRAMSCISTA

(*) O General-de-Exército Gilberto Barbosa Fi-gueiredo foi Chefe do Departamento de Ensi-no e Pesquisa, órgão responsável pela con-dução da Política Cultural da Força Terrestre,que vem contribuindo de maneira eficaz naprojeção da cultura militar no cenário nacio-nal e internacional, atualmente na reserva, éPresidente do Clube Militar.

Artur ZmijewskiRepetition2005

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Fimda

ciência?Severo Hryniewicz

Professor de Filosofia da Faculdade João Paulo [email protected]

Emily JacirReturn150 x 150 cm2003

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m meio às discussões so-bre o novo paradigma,disseminam-se muitasprofecias anunciando a

agonia de alguma coisa: StevenWeinberg anunciou o fim da Físicade partículas (sonhos de uma teo-ria final); Francis Fukuyama, o fimda História e, recentemente, JohnHorgan, no livro “The End of Sci-ence”, prenuncia o iminente fim detoda ciência.

Diante da profecia de Horgan,muitos pensadores, particularmen-te os cientistas, reagiram afirman-do tratar-se de mais uma encena-ção capaz de provocar grande es-tardalhaço graças a uma impren-sa ansiosa por teorias deste tipo.Basta, por exemplo, lembrar afama instantânea adquirida porFukuyama.

Dentre os autores que reagi-ram a Horgan está John Casti, ma-temático, Diretor do Centro de Pes-quisas do Santa Fé Institute e Pro-fessor Titular da Universidade deViena.

Segundo Casti, a ciência não éum substantivo ou um adjetivo se-gundo o qual se possa rotular defi-nitivamente uma determinada áreae negar este rótulo a outra, como areligião ou a arte. A ciência deveser vista, sobretudo, como um ver-bo, ou seja, uma permanente bus-ca. O que a distingue das demaisáreas é o fato de que ela pressu-põe o uso de regras próprias. Umaregra científica possui certas ca-racterísticas: clareza, isenção, neu-tralidade e abertura ao público.Além disso, na procura de respos-tas para as perguntas sobre o mun-do, o cientista deve fazer empregodo método científico.

Para que a tese de Horgan te-nha fundamento, deveríamos con-

siderar como válida uma das duasseguintes hipóteses: não há maisperguntas interessantes a se fazersobre o mundo; não há como esta-belecer regras científicas aptas aresolver questões que estimulem anossa curiosidade.

Segundo Casti, nenhuma dasduas hipóteses faz sentido e nenhu-ma delas pode ser levada a sério.Argumentando a favor da insufici-ência da primeira hipótese, na obra“Paradigmas Perdidos” (EditoraRocco), Casti relaciona seis pro-blemas a desafiar a ciência hoje eque, como conseqüência, mantêmaceso o interesse não só dos cien-tistas, mas de toda a sociedade.São eles:

– Como surgiu a vida na Terra?– Os padrões sociais do com-

portamento humano são determina-dos pelos genes?

– Como os seres humanos ad-quirem a linguagem?

– É possível construir um com-putador capaz de pensar como o serhumano?

– Há formas inteligentes devida extraterrestre na Via Láctea?

– Há uma realidade objetivaindependente da observação hu-mana?

Em relação a cada uma destasquestões, Casti apresenta um lon-go elenco de cientistas espalhadospelo mundo, os quais se ocupam emsolucioná-las.

Quanto à segunda hipótese,Casti fala da permanente reformu-lação e adaptação dos métodos ci-entíficos aos detalhes que envol-vem a busca da solução dos pro-blemas atualmente investigados.Cita, por exemplo, o trabalho de-senvolvido pelo Santa Fé Institute

no sentido de adaptar os computa-dores, tornando-os capazes de seconstituírem em laboratórios aptosa realizar um número tão grande deexperimentos, os quais seriam qua-se inviáveis, além de extremamen-te caros, no mundo real. SegundoCasti, este é um belo exemplo decomo os métodos científicos nãoestão obsoletos ou passivos dian-te das novas dificuldades que sur-gem na pesquisa científica. Talcomo o microscópio e o telescópiopossibilitaram, no seu tempo, umverdadeiro “boom” de descobertascientíficas, a utilização adequadado computador também possibilita-rá a geração de ampla gama denovas questões ainda por respon-der. Estas novas questões serão abase para a criação de sistemascomplexos.

Em relação àqueles que sãopregoeiros as Cassandras do fim dealguma coisa, Casti cita um casofamoso de descrédito quanto a des-cobertas científicas: Lord Kelvin,Presidente da Royal Society e umdos mais famosos físicos do sécu-lo passado, quando do anúncio dadescoberta do raio-X, proclamou,ruidosamente: “O raio-X vai reve-lar-se uma fraude” e, numa outraocasião, afirmou: “Posso garantirque mecanismos mais-pesados-que-o-ar não podem voar. É abso-lutamente impossível”. As duasafirmações parecem ridículas hoje.Por fim, Casti cita a famosa afir-mação do escritor de ficção cientí-fica Arthur A. Clarke, conhecidacomo a Primeira Lei de Clarke:“Quando um cientista eminente,porém idoso, declara que uma de-terminada coisa é possível, eleprovavelmente está certo. Quandoele declara que algo é impossível,ele provavelmente está errado”

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Brasil, em termos de Aviação, tem uma História rica,bem sedimentada e respeitada em todo o mundo.Podemos citar: Santos-Dumont, a Campanha da

Força Aérea Brasileira (FAB) na Segunda Guerra Mundiale a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), entreoutros destaques.

Considerando-se os dias atuais, temos o seguinte quadro:– Aviação Civil: Apesar das “trapalhadas” realizadas

pelo Executivo (tentando negociar com amotinados) e porseus “companheiros” que aparelhavam a Agência Nacio-nal de Aviação Civil (ANAC) e a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeropor tuária (INFRAERO) – festival de incom-

petência – as feridas deixadas (felizmente houve mudanças)não causaram tanto prejuízo no conceito que temos na Inter-national Civil Aviation Organization (ICAO) e na InternationalAir Transport Association (IATA) respectivamente, pois o sal-do histórico é bastante positivo. Nossas autoridades de Avi-ação Civil sempre tiveram par ticipações importantes juntoàs reuniões e decisões dessas organizações;

– Aviação Militar: Embora tenhamos um passado depar ticipação efetiva e eficiente durante a Segunda GuerraMundial, quando comparecemos a reuniões internacio-nais sobre Medicina Militar somos olhados como meroscoadjuvantes bem periféricos, apesar do esforço e da cri-

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Uma Força Aérea de ponta requerMEDICINA AEROESPACIAL

do mesmo nívelMaj Brig MédDr. Ricardo Luiz de G. Germano

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atividade do efetivo do (Centro de Medicina Aeroespacial(CEMAL), do Instituto de Fisiologia Aeroespacial (IFISAL)e de nossos médicos junto aos esquadrões.

Aviões de caça e helicópteros sofisticados requerem si-muladores no mesmo nível, para que tenhamos a seleção e otreinamento ideal de suas tripulações. Só assim perderemoso mínimo de aeronaves e tripulações. Nosso IFISAL carecede simuladores de intensificação da gravidade e de desori-entação espacial.

A FAB, em 1988, adquiriu uma centrífuga humana (si-mulador de G) considerada de ponta para a época. Foi arma-zenada no Depósito de Aeronáutica do Rio de Janeiro (DARJ),não tendo sido instalada. Por solicitação do IFISAL, na ges-tão 1999-2003 da Diretoria de Saúde da Aeronáutica (DIRSA),foi criado um grupo de trabalho, devidamente autorizadopelo Comando-Geral do Pessoal (COMGEP), com vistas àviabilidade de funcionamento, atualização e instalação des-sa centrífuga humana. O resultado desse trabalho mostrouque os três itens eram possíveis com um custo/benefíciofavorável. Tal estudo foi encaminhado ao COMGEP, que porsua vez encaminhou-o ao Estado-Maior da Aeronáutica.Acompanhou esse estudo sobre a centrífuga humana, umasolicitação de aquisição de um simulador de desorientaçãoespacial para preencher a carência acima referida.

Análise do InvestimentoO investimento a ser analisado seria a recuperação, atu-

alização e instalação da centrífuga humana, além da aquisi-ção de um simulador de desorientação espacial. Seremospragmáticos e objetivos nesta análise, considerando direta-mente as vantagens e desvantagens.

a) Vantagens– Melhor seleção e treinamento de tripulantesMuitos centros de formação de pilotos, em países de-

senvolvidos, incluem testes em simuladores como critériode admissão. Deste modo, economizam, preenchem melhorseus objetivos e criam menos problemas psicossociais (me-nor número de cor tes durante o curso);

– Menor perda de aeronaves e de recursos humanosRaramente o tripulante tem opor tunidade de transmitir

experiência adquirida em um acidente, haja vista que na imen-sa maioria das vezes ele não sobrevive. No simulador, eleaprenderá, sobreviverá e não haverá perda da aeronave e deoutros tripulantes;

– LiderançaConquistaremos maior respeito e admiração pelas de-

mais Forças Aéreas, principalmente no continente sul-americano, aumentando ainda nossa influência sobre ospaíses africanos de língua por tuguesa. Cer tamente os

oficiais sul-americanos e os daqueles países africanosviriam treinar no Brasil;

– Elevação do nível de respeito em reuniões internacionaisCom a elevação do nível de conhecimento de nossos

fisiologistas e tripulantes, teríamos mais a oferecer nas reu-niões internacionais quanto à troca de informações. Sendoassim, passaríamos de coadjuvantes a protagonistas;

– Quebra de paradigmas burocráticosMuitas vezes, apenas o teste no simulador decidirá se

um piloto de caça pode ou não manter atividade aérea. Naausência do simulador, por segurança e, na dúvida, opta-se pelo cor te. Deste modo, perdemos desnecessariamenteefetivo e experiência a ser transmitida. Como exemplo, te-mos a liberação de pilotos de caça da United States AirForce (USAF) para o vôo, somente após teste na centrífugahumana, por terem sido submetidos à implantação de lenteintra-ocular;

– Evolução da performanceOcasionalmente, um caçador mais criativo descobre e

descreve uma manobra que poderá ser autorizada paratodos os demais, sem riscos, após devidamente testadano simulador;

– Maior faturamentoEste recurso propiciará um maior faturamento que po-

derá ser tanto político (troca com outras Forças Aéreas),como financeiro (simplesmente o pagamento do serviçoprestado).

b) Desvantagens– Preço do empreendimentoO empreendimento tem um custo inicial de implantação

e outro de manutenção que é contínuo;– Reação à mudançaEste tipo de reação sempre existe historicamente.ConclusãoConfrontando as vantagens com as desvantagens, po-

demos dizer que o custo inicial já será pago com o primeirobinômio (aeronave + tripulação) que deixar de se perderdesnecessariamente.

Com relação à manutenção, além de outros binômiosque serão economizados, teremos o faturamento e o apren-dizado de nossos efetivos com manutenção, contribuindopara pagá-la. Este raciocínio serve também para a análisedo simulador de desorientação espacial. Sendo assim, ocusto/benefício, a nosso ver, é favorável.

Espero que este ar tigo sirva de “brain storm” para ou-tros grupos de trabalho sobre o assunto.

Cabe, aos caçadores e fisiologistas em atividade, a mo-tivação de nossas autoridades para tal

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casa de Santa de Loreto (na Itá-lia) sempre foi objeto de estudode historiadores católicos. Pes-quisas recentes revelaram fatos

inéditos quanto à sua historiografia, es-clarecendo que a casa que abrigou Mariae sua pequena família, na Galiléia (cidadede Nazaré), compunha-se de uma grutaencravada na rocha e uma casa (residên-cia) de granito situada em frente à gruta.

Consta por tradição verbal que, em1291, a dona da casa de pedras foi remo-vida do lugar onde estava, foi transporta-da por anjos celestiais e fixada no lugare-jo italiano conhecido como Loreto (aolado do Mar Adriático), no dia 10 de de-zembro do ano de 1294. Entre as duasdatas citadas, a casa ficou temporaria-mente assentada na localidade de Hiria,aguardando seu translado definitivo paraLoreto.

Em 1926, iniciou-se uma escavaçãoarqueológica sob a Santa Casa de Lore-to, concluindo-se os estudos poucosanos depois, com o reconhecimento ci-entífico de que as pedras da Casa ali en-contradas tinham as mesmas característi-cas das rochas naturais de Nazaré. Pes-quisas do ano de 1924, reexaminadas noséculo XX, revelaram que aquelas pedrasnão tinham nada em comum com as ro-chas italianas da região. Havia, nos ar-quivos do Vaticano, documentos que his-toriavam outra versão, segundo a qual,no século XII, a Família De Angelis (an-jos, em italiano) se apoderou das pedrasda Santa Casa, preocupada com a guerratravada entre muçulmanos, e as remeteupara a Itália, pensando em lá erigir umacapela com devoção à Maria, Mãe deJesus Cristo. Vários outros objetos es-tudados cientificamente, inclusive pala-vras grafadas nas rochas, moedas da épo-

Aloísio QuadrosPesquisador e Historiador

[email protected]

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BREVE HISTÓRICO da DEVOÇÃO

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NOSSASENHORAde LORETO

ca e outros diminutos objetos, tudo con-duziu à afirmativa de que aquelas pedraseram efetivamente naturais da Galiléia enão apenas semelhantes.

A adoção oficial pelo Vaticano é apopular versão de que os pedaços derocha foram transportados via aérea (deum ao outro continente), como é evi-dente neste contexto. Aqui no Brasil, aMatriz de Irajá, situada na extensa Bai-xada de Jacarepaguá, mal atendia àParóquia de Nossa Senhora da Apre-sentação, em vir tude da grande distân-cia que as separava, o que levou seusdirigentes a erguer uma nova paróquia,e que resultou, em 1661, no surgimen-to da Freguesia de Nossa Senhora deLoreto, cuja capela foi erigida no anode 1664. Pouco tempo durou o novotemplo, ruindo em conseqüência daprecariedade da sua construção. Oshabitantes locais, animados pela fé re-ligiosa de que eram possuídos, orga-nizaram-se, amealharam recursos mo-netários e reergueram uma nova cape-la, no mesmo lugar da anterior, no altode uma colina situada na Freguesia (Ja-carepaguá), no Rio de Janeiro).

Na Itália, Nossa Senhora de Lore-to foi proclamada Padroeira dos Aero-nautas pelo Papa Bento XV (1920), nodia 10 de dezembro, como o dia históri-co da devoção.

Na nossa terra, onde se cultiva a de-voção à Santa Mãe de Deus, o templofoi elevado à categoria de SantuárioPerpétuo, a 17 de outubro de 1970 econtemplado com a designação oficialcanônica de Santuário Nacional de Nos-sa Senhora de Loreto, com anuênciade Sua Santidade o Papa PAULO VI, con-firmando o Decreto do Cardeal-Arcebis-po do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Bar-ros Câmara, com o objetivo de atender àdesassombrada solicitação (10 de agos-to de 1970) do Marechal-do-Ar Márciode Souza e Mello, à época Ministro daAeronáutica do Brasil.

A maioria das ocorrências ora cita-das foi extraída de “O Rosário Medita-do”, de autoria do Padre Peyton (norte-americano), obra editada pelo Centro deRelações Públicas do Ministério da Aero-náutica, entre tantas outras fontes.

Agora, este ano, com a anuência edecisiva participação do III COMAR, sobo comando do Major-Brigadeiro-do-ArAilton dos Santos Pohlmann, será ce-lebrada missa votiva homenageando aPadroeira dos Aeronautas e em intençãode todos aqueles que faleceram tripu-lando aeronaves. O ato religioso será ofi-ciado pelo Coronel-Capelão da Aeronáu-tica Milton Campos, no dia 10 de de-zembro próximo, às 11 horas, no pró-prio Santuário

No último dia 4 de janeiro de2008, despediu-se de nós um serhumano dotado de um caráter in-quebrantável, que, durante seucaminhar, colaborou com o setoraeronáutico.

Consagrado historiador e pes-quisador, tornou-se obstinado infor-mante a respeito da Cultura e daHistória Aeronáutica, movido, tal-vez, pelo “hobby” que escolheu nasua juventude, a de pára-quedista.

Sua vida foi pautada, não so-mente por constituir-se numa pes-soa dotada de brilhante caráter, óti-mo chefe de família, trabalhador,mas, também, por seu espíritobrincalhão e, por essa razão, foiquerido por todos, com seu tem-peramento cativante.

Colaborou, com excelentes ar-tigos, na “Revista Aeronáutica”, in-cluindo o seu último artigo, sobreNossa Senhora do Loreto, Padro-eira dos Aviadores, que publicamosna presente edição de nº 264.

O Clube de Aeronáutica exter-na sua eterna gratidão ao Compa-nheiro Aloísio Quadros.

NOSSASENHORAde LORETO

Homenagem aAloísio Quadros

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Ilustração Ivo BatalhaCel Av