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MAR, ABR | 2008 Ano 2 - 5ª Edição Entidade de Caráter Social e Filantrópico Mulheres Atuantes, determinadas, guerreiras, surpreendentes. Em uma edição dedicada a elas, histórias e conquistas do universo feminino

Revista 05

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Revista Visão Seleta

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MAR, ABR | 2008Ano 2 - 5ª Edição

Entidade de Caráter Social e Filantrópico

MulheresAtuantes, determinadas,

guerreiras, surpreendentes.

Em uma edição dedicada a elas,

histórias e conquistas do universo

feminino

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2009, ano da regência do Sol, segundo a astrolo-gia. “A presença do Sol em cada ser, gera: consciência de si, vitalidade, entusiasmo e poder de realização”.

Todos nós sentimos que os tempos mudaram e que se faz necessário reaprender a viver de forma mais adequada com essa nova Era, mudanças interiores em nossos valores e em nosso modo de vida, para que pos-samos saber lidar com as adversidades e assim sermos felizes.

É desta forma, com sentimento de renovação e entusiasmo, que entregamos ao leitor a 5ª edição da Revista Visão Seleta.

Nesta edição, destacamos a mulher e seu perfil multifacetado, uma pequena homenagem, não somen-te pelas suas lutas e conquistas, mas também pela sua grandiosidade e capacidade da transposição de triste-zas em alegrias, além da energia de sobra para lutar pelo que creem.

Destacamos também, a evolução do carnaval campo-grandense, as conquistas, as dificuldades, as perspectivas, o trabalho em equipe, conforme o olhar de quem é apaixonado pelo trabalho que realiza e que vê no carnaval a fonte de alegria, de cultura e exterio-rização de sentimentos como o amor à arte, e a satis-fação de ver o brilho nos olhos das pessoas quando assistem aos desfiles.

Presidente: Gabriel Moreira dos Santos 1º vice Presidente: Amilton Nantes Coelho 1º Secretário: Milton Rosa Sandim1º Tesoureiro: Alfredo José de ArrudaDiretor: Vilson de FreitasAssessor Jurídico: João Maciel Neto

Jornalistas responsáveis: Nádia Bronze /DRT 141 MSMirella Bernard /DRT 121 MSDiagramação: Alex Freitas Responsável Gráfico: Alexandre BelchiorProdução e comercial: Marcia RodriguesRevisão: Valéria Valli Seffrin

Tiragem: 2.000 exemplaresImpressão: Grafica Seleta Rua Pedro Celestino, 3283 Bairro São FranciscoCEP: 79002 -320 | Fone: 67 3356 -1525Fale Conosco: [email protected]

Revista Visão Seleta é uma publicação da Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária

Vilson de FreitasDiretor da Revista

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índice04ENTREVISTA

Beth Puccinelli

08HIV AIDSCrianças, antes de tudo

19OPERAÇÃO CEROL Brincadeira perigosa

14PROJETOBombeiros do Amanhã

16 CAPADona Sinhana

20HISTÓRIA União dos Sargentos

24VIOLÊNCIA DOMÉSTICA “A agressão machuca o físico e a alma”

10FOLIACarnaval no sangue

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Conhecida pelo carisma e pela elegância com que transita tanto nos altos escalões ao lado do marido, governador André Puccinelli, quanto em todos os quadrantes do Estado quando está, por exemplo, em campanha, a primeira dama Beth Puccinelli está entre as mulheres que se destacam também pela sensibilidade com que mantém sinto-nia com o seu tempo.

A experiência mais recente de ser avó trouxe ainda mais brilho e entusiasmo. É o que se pode perceber nesta entrevista exclusiva para a Visão Seleta. Beth Puccinelli relembra sua trajetória, fala dos netos e da condição feminina com a mesma de-senvoltura que aborda outros temas como o desen-volvimento do Estado, os desafios da ação social e o que espera para as gerações futuras.

VS – Na sua visão, as mulheres continuam conquis-tando espaços na política. Qual deve ser o papel delas nessa atividade que, até há pouco tempo, era essencialmente masculina.Beth Puccinelli – A participação das mulheres na política não é um privilégio dos tempos atuais. Sem-pre estivemos, ao longo da história, participando das lutas políticas, sempre demos nossa parcela de es-forço. Estávamos num segundo plano, e, mais recen-temente, temos conquistado mais espaços, dividindo com os homens a condição de protagonistas. A lei que reservou nas chapas de candidatos uma parcela para as mulheres é um estímulo interessante, pois obriga os partidos a buscarem quadros femininos de expressão e a valorizá-los cada vez mais. Avançamos muito e seguimos adiante com firmeza. É um cami-nho que não tem retorno, não só aqui, mas no mundo todo. Do Chile à Alemanha, as mulheres assumem o comando. A Michelle Obama trouxe um papel novo e participativo para a esposa do presidente americano. Enfim, exemplos construtivos não nos faltam. Preci-samos é usá-los como estímulo e fazermos crescer a participação da mulher na política. Sem pressa, mas com consistência e competência.VS – Ainda nesse assunto, a senhora pensa em exercer algum mandato. Já pensou nisso?

Beth Puccinelli – Sinceramente, nunca me vi como candidata, da mesma forma como não me vejo dis-tante de uma campanha eleitoral em que estejamos, André e eu envolvidos de alguma maneira. Houve uma época em que meu nome foi lembrado para exercer um cargo... para ser candidata a suplente na chapa do senador Ramez Tebet, assim como che-garam a falar em candidatura a vice ou a deputada estadual.

Essas conversas, contudo nunca passaram de especulação ou mesmo do desejo sincero de alguns companheiros e companheiras. Há uma distância grande até querer ser candidata. Gosto da política. Vivo a política e reconheço que é uma atividade mui-to importante para transformar para melhor a vida das pessoas, mas quero continuar participando, mili-tando e trabalhando como tenho feito até aqui. Não me vejo, nunca me vi, como candidata.VS – Hoje, qual é a vida da Beth Puccinelli? Como está vivenciando a experiência da chegada dos ne-tos?Beth Puccinelli – Hoje, não posso negar, os netos nos envolvem e nos encantam muito, e isso traz al-gumas mudanças. É uma experiência muito rica e muito importante.

Emocionalmente, a felicidade se renova. É uma experiência intensa e rica como a maternidade, por um novo prisma, onde a maturidade permite viven-ciar melhor os sentimentos, melhorar a interação com as crianças acompanhando-as em todos os mo-mentos, desde o nascimento até mais adiante quan-do começam a andar e a conversar.

Mas nos traz também reflexões novas. Pensar no futuro, no mundo que estamos construindo, a partir dos netos é ainda mais forte. Eles nos trazem essa nova maneira de enxergar as coisas, de pensar no futuro e no legado que estamos construindo.VS – E como tem sido a rotina dos avós Beth e André?Beth Puccinelli – Os netos são muito mais podero-sos do que a gente imagina. O André não fica sem vê-los, sem se encontrar com eles, sem conversar e estimular todos os quatro. Cada um a seu modo e a seu jeito. Mesmo com a agenda intensa de audiên-

Primeira dama Beth Puccinelli

Entrevista

Beth Puccinelli

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cias e viagens, ele sempre reserva tempo nos finais de semana ou nas folgas para os netos.

Eu já os acompanho mais de perto. Fiz questão de dar a eles esse tempo e essa dedicação. Desde a gravidez, passando pelo nascimento e depois, quan-do começam a se desenvolver, me faço presente, acompanho, estimulo, ao lado dos pais e das mães. Não quero perder esse tempo por nada.VS – Essa condição nova mudou o papel e o traba-lho da primeira dama?Beth Puccinelli – Claro que mudou. Trouxe novas exigências das quais não me afastei. Mas também não me alienei. Continuo sendo a mesma militante das questões sociais que sempre fui, ao lado do An-dré.

Não preciso de cargo ou de função para dar minha contribuição. Não preciso de cargo para ser companheira e lutar ao seu lado, apoiá-lo nos mo-mentos difíceis e colaborar com seu trabalho sempre que puder.

Em síntese, sempre, ao longo de todos os seus mandatos esse tem sido o meu papel, e vai continuar sendo.

Continuo mobilizando colaboradores, continuo arregimentando gente e esforços sempre que neces-sário. Participo das atividades relacionadas ao Go-verno que dizem respeito ao fortalecimento da mu-lher. Enfim, estou na luta como sempre estive.VS – E como a senhora avalia o governo de André Puccinelli, principalmente na questão social?Beth Puccinelli – O André é um administrador com-prometido com os problemas sociais, muito mais do que com obras. É claro que as obras também têm um papel, mas se você olhar com a atenção, tanto no tempo em que foi deputado estadual e federal, quan-to nos oito anos de prefeito e mesmo agora como governador, a ação social é sempre o forte do seu governo.

Só para lembrar: o prefeito que fez sete milhões de metros quadrados de asfalto; construiu 26 esco-las; Ceinfs; informatizou todos eles; construiu pos-tos de saúde e o Hospital da Mulher; ampliou de tal forma os programas sociais e criou tantos empregos novos que Campo Grande foi, por mais de uma vez, reconhecida como a Capital que mais investiu em programas sociais do Brasil.

Não está sendo diferente agora. Para o André, desenvolvimento só tem importância se puder ser usufruído pela maioria da população. Para eu não ficar entrando muito em detalhes, só dois exemplos:

os nossos programas sociais atendem a mais de 80 mil famílias – números reais que podem ser conferi-dos – e com praticamente dois anos de governo, já estamos chegando a 30 mil casas populares que é mais do que foi feito pela administração anterior em oito anos. Não é uma crítica, é uma constatação do que eu disse.

Agora falando do nosso Estado, tenho certeza de que estamos no rumo do desenvolvimento, com novas indústrias gerando emprego, com crescimen-to consistente mesmo em tempo de crise mudando para melhor a realidade em nossa volta. Estamos construindo, com a população e com o apoio de to-dos os que acreditam e tem fé, um futuro melhor para todos. Isso é o que vale. Isso é o que tem impor-tância para as pessoas.VS – E nesse processo, onde fica a Beth Puccinelli?Beth Puccinelli – Ao lado do André, como compa-nheira e colaboradora, como sempre estive, e, com ele, ao lado da nossa gente. E fazemos isso porque entendemos que é dessa maneira que se deve traba-lhar. Aliás, como diria o André: é dessa maneira que se deve trabalhar muito.

É dessa forma que sempre vocês vão nos ver. Trabalhando e trabalhando muito. Dedicando nosso tempo e nossas forças a essa tarefa que não é só nossa, mas de todos os homens e mulheres de bem: construirmos um mundo cada vez melhor e mais jus-to para todos.

Visão Seleta Março, Abril | 2009 5

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O empresário Renato Greghi Jr., 51 anos, pos-suía uma pequena loja de roupas e calçados no cen-tro de Campo Grande, mas enfrentava um momento de grande dificuldade financeira. Em dezembro de 1995, o estabelecimento foi fechado. A família ga-nhou uma viagem em janeiro para o litoral de São Paulo. Ele e o sobrinho – já falecido – foram de caia-que até uma ilha perto da praia Ubatuba. Conversan-do, os dois tiveram a ideia de abrir um novo negócio, mas tudo ainda era muito vago.

De volta a Capital, os dois se encontraram e resolveram colocar a ideia em prática. “Passados al-guns dias, meu sobrinho ligou e disse que já daria para começarmos. Falamos com a dona do ponto. Em princípio ela não queria. Quase me joguei aos pés dela! Ela acabou autorizando. Então nós mesmos fizemos a reforma, assentamos tijolos, puxamos ca-nos e fizemos a primeira loja Pastel D’ouro. Não gas-tamos nada com mão-de-obra”, lembra. Os familiares também acabaram emprestando dinheiro para que as obras fossem realizadas.

Tio e sobrinho já tinham em mente que não queriam um negócio igual aos outros. Ambos fize-ram pesquisas de mercado para arrematar a ideia. Foram até um restaurante e compraram suco de la-ranja. “Lembro bem que o preço era R$1,30. A nossa intenção era vender um pastel e o mesmo suco por R$1,00. Fizemos as contas, vimos que era possível e começamos a vender. Foi isso que alavancou aquela loja. Já começamos com um conceito diferente de preço competitivo, rapidez no atendimento e boa qualidade dos produtos”. Assim nascia a rede Pastel D’Ouro. “Em um ano estávamos com quatro lojas”, conta o empresário.

Numa estratégia arriscada para expandir os ne-gócios, o empresário teve que usar de boa dose de sua capacidade empreendedora e ousadia, uma vez que as lojas passaram a ser compradas sem capital. “O momento era muito difícil, uma correria. Eu não tinha capital, mas tinha crédito. Tudo que entrava no caixa das lojas servia para o pagamento dos compro-missos. Por uns dois anos, fiquei sem nada. E minha esposa é quem segurava o rojão”, lembra.

Já com domínio do mercado, Renato resolveu abrir a quinta loja que, como diz, foi o grande acerto de sua vida. “Surgiu um ponto na Rua 14 de julho. Fui conversar com o dono do lugar e ele cobrava um preço alto pelo local. Como não tinha o dinheiro, voltei em novembro para conversar com ele. Dali a

algum tempo já seria Natal e se ele não tinha aluga-do o lugar até então, não conseguiria mais negociar com outra pessoa. Nisso o preço já havia baixado. Conversei com a minha esposa e ela me perguntou onde eu iria arranjar o dinheiro. Eu disse a ela que tinha uma saída e que estávamos em cima dela. Era minha casa. Ela se assustou. Dois dias depois ela me disse que topava vender a casa”.

Como bom negociante conseguiu fechar o con-trato por um valor ainda menor do que o combinado. E com esta loja é que a Pastel D’Ouro ganhou visibili-dade no mercado. A rede emprega diretamente 180 funcionários, já chegou a possuir 25 lojas e, atual-mente, conta com 18 em sistema de parcerias.

Pastel D’OuroUma ideia na cabeça e espírito empreendedor

fizeram do Pastel D’Ouro um negócio de sucesso

Empreendedorismo

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As crianças com HIV/Aids precisam receber abrigo e assistência comum a qualquer uma, já que são titulares dos mesmos direitos que todas as ou-tras. Como crianças e adolescentes, devem ter uma vida saudável, com tratamento médico e odontológi-co, alimentação balanceada, acompanhamento per-manente, educação e lazer. Ou seja, a doença não se sobrepõe à questão da infância. Com esta filosofia, a Afranfel cuida atualmente de cerca de 30 crian-ças portadoras da doença e presta ainda atendimen-to psicológico para os familiares dos pequenos. A sede conta com uma infra-estrutura preparada para abrigar as crianças com salas de aula, leitura, com-putação, consultórios médico, odontológico e psico-lógico, refeitório, área de lazer e eventos, quartos e banheiros separados por sexo e faixa etária. O Lar conta ainda com uma sala de corte e costura para que as mães das crianças possam aprender uma pro-fissão. Atualmente, a entidade atende 115 famílias

mensalmente. A entidade oferece diversas atividades

complementares para as crianças, como aulas de música e capoeira. Mesmo com tantos be-nefícios, a Irmã Madalena Aparecida da Sil-va conta que não é fácil chegar às crianças e aos pais portadores de HIV/Aids, por ser uma doença marcada pelo preconcei-to. “Os que vêm até nós, chegam quase acabados. Esta é uma doença que causa muita vergonha, eles têm muita rejeição,

então se escondem, têm medo de falar. Nós temos que ir atrás, temos que procurá-los. Por exemplo, estamos tentando fazer

com que uma criança que precisa de tratamento venha para o Lar há três

meses, mas a mãe tem medo de que as outras pessoas sai-

bam da sua condição. Ela não faz o tratamento e

não deixa a criança fazer. Mas como vamos julgá-la? É uma situação

difícil”. As crianças, geralmente, são encaminhadas ao Lar pelo Hospital O Dia, conselhos tutelares e jui-zados.

Irmã Madalena acusa que muitas vezes, as crianças sofrem preconceito até mesmo dos médi-cos. “No Lar elas não sofrem preconceito porque cuidamos o máximo possível. Não ficamos repetindo que elas têm HIV. Mas lá fora é diferente. Muitas vezes, quando uma criança adoece e temos que le-var aos postos, mesmo com a carteirinha do SUS, o médico atende a criança de qualquer jeito. Muitos falam: dá uma dipirona para essa dorzinha, depois a leve para a médica dela. Mas eu exijo que elas sejam bem examinadas. Na realidade, os próprios médicos têm medo e não estão preparados para lidarem com esta doença”, acredita. As crianças maiores são cien-tes da sua condição de portadores do vírus HIV. A Irmã explica que a psicóloga do Lar conversa com os pais e os prepara para que eles falem sobre a doença com os filhos. “Os adolescentes são muito espertos. Eles percebem tudo. Querem saber por que eles têm que tomar remédios e outros não. Por que eles são diferentes?”.

Na entidade, uma das prioridades é a educação, por isso crianças e adolescentes recebem reforço escolar. “O Lar não funciona como escola. Aqui faze-mos a parte de complemento. Queremos a inserção dessas crianças na escola, como qualquer pessoa. Todos os dias nós saímos às 5 horas, passamos pelos terminais de ônibus, damos a eles o café da manhã e o remédio dentro de uma van, levamos os que têm que estudar para as escolas e trazemos os pequenos”, conta a Irmã Madalena. Para ela, os maiores cuida-dos que se deve ter com as crianças são higiene, ali-mentação, controle da medicação e atividade física. A Irmã diz que um sonho a ser realizado é atender as crianças com fisioterapia e fonoaudiologia, uma vez que o vírus ataca seriamente os músculos e o aparelho auditivo.

Voluntariado - Três religiosas e dez funcioná-rios trabalham no Lar, que conta ainda com alguns profissionais e acadêmicos voluntários. A psicóloga Almachia Maria começou trabalhando como vo-

Crianças, antes de tudo Num trabalho de muito respeito e dedicação, a Associação Franciscanas

Angelinas – Lar das Crianças com HIV/Aids (Afrangel), abriga atualmente 28 meninos

e meninas portadores da doença que, além dos cuidados específicos para esta

condição, recebem assistência como qualquer cidadão de direitos

HIV/Aids

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Crianças, antes de tudo4.386 bebês nasceram com HIV/Aids

entre 2000 e 2003.

17,2 mil gestantes com HIV ou Aids/ano, no Brasil, são projetadas.

38,5% das gestantes HIV positivas

são diagnosticadas no início da gestação,

de forma que ela e o bebê possam ser me-

dicados. Com o tratamento, a incidência de

nascimentos de crianças com HIV cai para

2%. Sem o tratamento, a incidência chega

a 15%.

Cerca de 20 mil crianças brasileiras estão infectadas com o HIV. No Brasil exis-tem 600 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV. Desse total, pelo menos 3% são crian-ças contaminadas através da transmissão vertical (mãe passa para o filho).

luntária e se tornou funcionária do Lar. “Há quatro anos comecei a fazer o atendimento voluntário das crianças no meu consultório. No ano passado, fui convidada a trabalhar aqui. Resolvi fazer isso porque adoro as crianças e acho que elas precisam muito. Segundo ela, trabalhar com as crianças portadoras de HIV/Aids é complicado “porque lidamos o tempo todo com o nosso lado terminal que, na realidade, é de todo mundo, não só deles”. Durante a semana, a psicóloga atende grupos de crianças, além de orien-tadoras e pais de crianças que não estão em trata-mento.

O mestre de capoeira José Gregório dos Santos trabalha como voluntário no Hospital Nosso Lar, e na entidade há mais de um ano e aponta que já percebe diferenças nas crianças. “Elas mudam tanto na ati-tude quanto no comportamento. Eles se alimentam melhor, têm mais força de vontade, querem brincar mais. A capoeira como um todo vem trazendo me-lhorias para os alunos. A capoeira é minha vida. Tra-balho com crianças desde o exército. É o que gosto de fazer. Trabalhar aqui é gratificante, você pode ver a vontade de viver dessas crianças, elas se esquecem da doença”.

O professor voluntário de música, Mário Fran-cisco Batista, fala da alegria em trabalhar com os jovens. “Trabalhar no Lar deixa a gente mais feliz que as crianças. É uma chance que a gente tem de sermos menos exigentes na vida. Às vezes, por pou-ca coisa, nós ficamos chateados. Quando fazemos o trabalho voluntário aqui, vemos que precisamos dar mais valor às coisas boas que acontecem na vida. É uma troca. A gente dá o tempo que temos disponível para eles e a gente aprende com eles, com o carinho deles e com a experiência deles. Para ele, a diferença do Lar para outras entidades “é a formação religio-sa, que dá uma dimensão diferente no trato com as crianças. Você percebe que elas começam a adquirir uma espiritualidade. Muitas vezes, mesmo na casa da criança, ela não tem isso. A espiritualidade é mui-to importante para a formação da personalidade das crianças”, argumenta.

Serviço: A Associação Franciscanas Angelinas recebe e necessita permanentemente de doações como alimentação, roupas de cama, mesa e banho, material de higiene (papel higiênico, sabonete, cre-me e escova dental), etc. Afrangel: Rua do Seminário, 2.500 - Bairro: Seminário. Fone: (67) 3365-0590.

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FOLIA

Vencedora do carnaval 2009, a Unidos da Vila Carvalho, junto às demais escolas de samba de Campo Grande, luta para manter viva a folia na cidade. Sem dinheiro, mas com garra e apoio da comunidade, os profissionais envolvidos com a festa conseguiram desfilar com emoção e contar sua história na avenida. Para eles foi necessário coragem, persistência e paixão. O carnavalesco Francis Fabian aponta para a falta de divulgação do Carnaval e revela as novidades que trará para o próximo ano

Carnaval no sangue

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muito aquele bichinho do samba do Rio de Janeiro. Pensei que precisava ganhar o carnaval 2009 aqui para poder sair por cima. Mas daí as coisas muda-ram. Vi um amadurecimento na diretoria da Vila Carvalho. Hoje temos uma pessoa que, para mim, é a continuidade do José Carlos [de Carvalho], nosso presidente, que é o filho dele. Ao invés de eu parar, ampliamos o trabalho. A conversa mudou. Desfila-mos com uma bateria de 120 a 150 componentes”.

Ele aponta ainda algumas mudanças que fize-ram a diferença para que o trabalho na Vila Carvalho continuasse. “Uma coisa que me encantou demais foi que conseguimos fazer diretores de alas. No Rio de Janeiro, as escolas de samba possuem diretores de alas que são pessoas sacramentadas, que trabalham juntamente ao carnavalesco e tem o compromisso de vender as fantasias durante o ano. Este ano con-segui implantar este sistema na Escola. Outro fator que alavancou minha vontade de fazer carnaval foi a garra do novo diretor da Fundac (Fundação Munici-pal de Cultura), o Athayde [Nery]. Junto com o pre-sidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Lienca), Eduardo Souza Neto, eu vi aquela luta 00

Com 297 pontos, a Escola de Samba Unidos da Vila Carvalho, conquistou o primeiro lugar do carna-val 2009 de Campo Grande, no Grupo Especial. Neste ano, ela foi para a avenida com o enredo “Carnavais dos Carnavais - 40 anos de criação da Vila Carvalho” apresentando a história da comunidade. A realiza-ção da festa na Capital gerou polêmica e chegou a ser ameaçada pela falta de recursos para as escolas de samba, que desfilaram sem um prêmio principal e com o total de categorias em julgamento cortado pela metade. Sem dinheiro, as escolas passaram pela Via Morena com menos carros, mas com a mesma animação. Debaixo de chuva, as agremiações inva-diram a avenida e foram apoiadas pelo público que compareceu mesmo com a falta de arquibancadas. A verde-rosa levou para o desfile 450 integrantes, sen-do a escola com o maior número de participantes.

Para o carnavalesco Francis Fabian, que traba-lha há cinco anos pela Escola, o apoio da comuni-dade foi determinante para um carnaval vencedor. “Embora já tivéssemos participado de carnavais com mais dinheiro, pra mim, 2009 foi um dos melhores carnavais, mesmo com toda a dificuldade. Porque a Vila Carvalho conseguiu fazer uma coisa que há anos a gente vinha tentando: fazer um carnaval com a comunidade, toda ela participando. Foi um carna-val do desespero monetariamente. Para uma cidade que não tem tradição no samba, conseguimos fazer nosso trabalho com venda de ingressos e bebidas nos poucos eventos que pudemos promover. Nisso ‘fizemos’ dinheiro para reformar a quadra da escola e para fazer um carnaval do qual saímos vitoriosos. Até para mim, como carnavalesco, vi que tive muito mais respeito da escola este ano”.

Fabian comenta que, pela falta de valorização e pelo envolvimento com escolas de samba do eixo Rio-São Paulo, não se sentia mais estimulado a fazer carnaval em Campo Grande. “Não era mais a minha vontade. Durante o ano, trabalhei muito com escolas de samba como Viradouro, então acabei sentindo

Lu Mathias, musa

da Unidos da Vila

Carvalho

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Visão Seleta Março, Abril | 200912

Ações - Para arrecadar fundos, a Vila Carvalho prepara um calendário para a promoção de eventos. “No dia 9 de maio, promoveremos uma feijoada. Para que ela dê lucro, vamos ter que pedir na cara de pau para que as pessoas nos ajudem. Ou seja, temos que nos movimentar”, diz o carnavalesco. No lado social, em abril, A Vila Carvalho dará início às atividades do projeto Vila do Amanhã, que acontecerá dentro da quadra da Escola. “É um sonho que há seis anos tentei realizar e só agora encontrei gente para ajudar. Lá teremos cursos de artesanato, música, canto, costura. Também vamos exigir que as crianças que participarem do projeto tenham boas notas. Este ano inovamos na avenida com um casal de mestre-sala e porta-bandeira mirim. No próximo queremos um casal de mestre-sala e porta-bandeira cadeirante. A quadra vai funcionar como uma escola. Este é o lado social da Vila Carvalho.

FOLIA

dos dois para garantir o carnaval, mesmo com todas as dificuldades e a falta de ajuda do poder público”.

O carnavalesco comenta que a crise, a falta vi-são política e de investimento trouxeram ainda mais força para a comunidade do samba. “A Vila Carvalho aprendeu que ela tem que ser ela e fazer por ela. Sou contra a dependência só do dinheiro que vem do governo. O governo pode e deve ajudar e ganhar dinheiro com o carnaval, abrindo o espaço, venden-do camarotes, colocando arquibancadas, iluminação adequada, banheiros. Muita gente sai do carnaval daqui por falta de estrutura e de conforto. Com isso o governo lucra, mas antes precisa investir. Campo Grande está perto de se tornar um ex-corredor. Com aeroporto em Bonito e em Corumbá, os vôos vão ser diretos. Então o corredor vai acabar. Por isso o inves-timento e a valorização da cultura aqui tem que ser imediato”, afirma.

Enredo 2009 – Francis Fabian adianta em pri-meira mão, para a equipe da Visão Seleta, o futuro

enredo da Vila Carvalho: África - Todos os deuses e todas as raças. “Já estou trabalhando para o carna-val do próximo ano. Carnaval, para mim, é arte, é cultura. Estou virando noites pesquisando a África. Uma coisa é ter certo conhecimento, outra coisa é você estudar. Tem a colonização inglesa e holandesa, fenícios, Egito, os Mandelas da vida, Moçambique, lendas e histórias”. O carnavalesco tem dedicado seu tempo estudando ainda os deuses africanos, tão fortes na cultura brasileira. “Todos nós temos um pezinho na África. E é esse tempero, essa mistura que deu beleza ao Brasil. Então já começo pela cria-ção do mundo que, para mim, foi na África. Um deus afro somente já daria um enredo. A África é mistério, mistura, amores. Para mim, a África é paixão, é cor. Claro que existe um lado de sofrimento muito forte, como no Brasil, mas existe uma alegria contagian-te, que faz do africano um povo diferente, como o brasileiro. Estou estudando também os instrumentos africanos para acoplar à bateria”.

Fantasias das Alas

‘As Rosas Não Falam’

(abaixo) e ‘Mãe

África’ (à esquerda);

o Carnavalesco na

fantasia ‘Bal Masqué’,

primeiro destaque da

Vila Carvalho (à direita)

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Aos 14 anos, o jovem Fernando é hoje um exemplo de que a força de vontade e o incentivo de algumas pessoas podem contribuir para um futuro melhor. Ele é um dos 60 jovens que participam do projeto Bombeiros do Amanhã, desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros Militar em parceria com a Se-cretaria Estadual de Trabalho, Assistência Social e Economia Solidária (Setas).

Criado em 1993, o Bombeiros do Amanhã tra-balha na formação de jovens com idades entre 12 e 15 anos, de baixa renda. Atualmente as atividades do projeto são desenvolvidas no Parque Tarsila do Amaral, localizado no bairro Vida Nova II e recebe jovens de diversos bairros como Vida Nova, Anache, Nova Lima e Columbia.

Conforme o coordenador do projeto, o 2º sargento Airton da Silva Medeiros os adolescentes

inseridos nas atividades são em sua maioria jovens em estado de vulnerabilidade. “Esses jovens antes de entrarem para o projeto ficavam nas ruas, muitos já estavam nas drogas e integrando gangues e com eles aqui podemos mudar essa realidade”.

Atividades – O período em que estão no par-que, ou seja, contrário à escola, os jovens realizam atividades esportivas, recreativas, culturais, orienta-ção escolar, higiene pessoal. Eles também aprendem noções básicas dos serviços realizados pelo Corpo de Bombeiros, como combate a incêndio, primeiros socorros, ordem unida, hierarquia, disciplina e pre-venção de acidentes domésticos. Os alunos recebem ainda café da manhã e almoço.

Para muitos que integram o projeto tudo é novidade. “Eles chegam aqui tímidos, e aos poucos vão se soltando. Para nós é muito gratificante ver

O futuro começa aqui

Bombeiros do Amanhã

O Corpo de Bombeiros, por meio do projeto Bombeiros do Amanhã

está mudando e para melhor a vida de jovens da Capital

Jovens que

integram a equipe

de monitores do

projeto para 2009

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Visão Seleta Março, Abril | 2009 15

essa evolução, eles passam a ser mais solidários, a convier melhor em sociedade e principalmente ficam longe da criminalidade”, ressalta o sargento.

EXEMPLOS - Vindo de uma família de três ir-mãos, de baixa renda e com risco de entrar para o mundo do crime, Fernando afirma que entrar para o Bombeiros do Amanhã mudou sua vida. “Eu gosto muito daqui, das brincadeiras, dos amigos e dos co-nhecimentos que eles nos passam”.

O sargento Airton nos revela que Fernando ficava na rua e um dia o convidou para conhecer o projeto. “É assim na maioria das vezes, eles não sabem o que é e ficam com receio de chegar até nós. E nesses casos nós vamos atrás da família e fazemos de tudo para trazer esse jovem para o parque”.

O projeto tem ainda outros resultados positi-vos, como melhor aproveitamento escolar, convivên-cia familiar e principalmente propicia aos jovens am-paro e segurança, minimizando exposição a riscos.

Há cinco anos como coordenador do projeto, o sargento destaca que conviver com esses jovens é um aprendizado diário. “Todo dia temos coisas novas, novos alunos, novas histórias e para nós do Corpo de Bombeiros é uma satisfação atender esses jovens”.

O sargento lembra ainda que o projeto desperta também a vontade desses adolescentes em se torna-rem bombeiros. “Hoje na corporação temos casos de ex-alunos do projeto que se tornaram profissionais, o que só aumenta nosso estímulo”.

Para quem se interessar pelos

Bombeiros do Amanhã, basta

entrar em conato pelo telefone

3354-1020

Parada cardíaca

Sinais e sintomasAusência de pulso e dos batimentos cardíacos, além de acentuada palidez. Se

detectado algum desses sinais a ação deve ser imediata e não será possível

esperar o médico para iniciar o atendimento.

O que fazerAplique a massagem cardíaca externa.

Como fazer a massagem cardíacaColocar a vítima deitada de costas em superfície plana e dura. As mãos do aten-

dente de emergência devem sobrepor a metade inferior do esterno. Os dedos

ficam abertos sem tocar o tórax. A partir daí deve-se pressionar vigorosamente,

abaixando o esterno e comprimindo o coração de encontro a coluna verte-

bral. Em seguida, descomprima. Repetições: quantas forem necessárias até a

recuperação dos batimentos. É recomendável a média de 60 compressões por

minuto.

CuidadosEm jovens a pressão deve ser feita com apenas uma das mãos e em crianças

com os dedos. Essa medida evita fraturas ósseas no esterno e costelas. Se hou-

ver parada respiratória juntamente com a cardíaca, elas devem ser realizadas,

reciprocamente.

O que pode causarChoque elétrico, estrangulamento, sufocação, reações alérgicas graves, afoga-

mento.

Ataque cardíaco

Sinais e sintomasDor, respiração ofegante, suores, vômitos e outros sinais.

O que fazerMantenha a pessoa sentada ou deitada, desaperte-lhe as roupas, cubra-o se sen-

tir frio, não tente transportá-lo sem ajuda ou supervisão médica. Somente dê

algum medicamento se a vítima já faz uso e costuma tomar em emergências.

Primeiros Socorros

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Visão Seleta Março, Abril | 200916

Dona ‘Sinhana’

Aos 98 anos, dona Sinhana é um exemplo de determinação, alegria e disposição. Uma das mora-doras mais antigas de Furnas do Dionísio ela relata a vida que passou na comunidade, a criação dos filhos e as tradições

As lembranças chegam aos poucos, mas quando elas chegam fazem dona Ana Batista da Silva, ou sim-plesmente Sinhana, como é conhecida, abrir um gran-de sorriso e começar a contar fatos de seu passado.

A equipe da Revista Visão Seleta esteve na co-munidade negra de Furnas do Dionísio, localizada no município de Jaraguari/MS, aproximadamente 40 km da capital. Lá a missão era achar umas das mora-doras mais antigas da comunidade, dona Sinhana. O que não foi muito difícil, pois todos ali sabem quem é ela. Seguimos o nosso caminho até chegarmos à casa da família.

Fomos recebidos pela filha, Maria Batista e sen-tada na sala da casa estava dona Sinhana, uma sim-pática senhora de 98 anos, mas que devido a demora do registro de nascimento tem, oficialmente 90 anos. Conforme a filha essa demora era comum na época e foi a própria dona Sinhana quem fez seu registro.

O pai veio de Goiânia e chegando à comunida-de encontrou com a mãe de dona Sinhana, onde se casaram e tiveram nove filhos. Nascida e criada em Furnas do Dionísio, ali também conheceu o marido, construiu sua família e viu seus oito filhos cresce-rem. “Mamãe era parteira e meus filhos nasceram todos aqui”, lembra. Hoje nem todos moram na co-munidade, mas a família continua muito unida, sem-pre ao redor da matriarca.

FAMÍLIA - Mesmo não admitindo que seguiu os passos da mãe como parteira, dona Sinhana fez nome da região e como diz a filha “já ‘pegou’ muita criança”.

A dança da Catira e as rodas de música tam-bém foram costumes deixados pelos pais. “Era muito bom, a gente dançava, cantava, fazia as pernas cho-rar”, fala abrindo um grande sorriso.

Essas lembranças da família, dos irmãos reuni-dos, das festas de Santo Antônio e dos bailes é que fazem dona Sinhana voltar ao passado e dizer com uma grande alegria “tenho a mesma disposição e a mesma animação de antes e é isso que quero pas-sar para as novas gerações”. Hoje ela não pode mais dançar como antes, pois há seis anos, devido a um problema de circulação, dona Sinhana teve as pernas amputadas. Mas isso não foi motivo para tirar sua alegria. “Só não tenho as pernas, a minha alegria de viver continua a mesma”.

O AVIÃO – Ao contar sua história de vida, dona Sinhana relembra um fato que marcou sua vida. Ela tinha 20 anos, estava carpindo o quintal de casa, quando olhou para o céu e viu uma “cruz” voando. “Comecei a gritar para minha mãe e a perguntar o que era aquela cruz no céu”, conta aos risos. Com muito medo, ela que nunca tinha visto nada parecido saiu correndo, parou o que estava fazendo para ver o que era aquilo.

Ela nos conta que uma vizinha disse “não é uma cruz, é um aeroplano”, mas a explicação não a satis-fez. “Ainda estava com medo, achei que o mundo ia acabar”, relata.

Uma das moradoras mais antigas de Furnas do Dionísio, ela nos relata a

vida que passou na comunidade, a criação dos filhos e as tradições

Capa: Furnas do Dionísio

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Visão Seleta Março, Abril | 2009 17

Ir para a cidade em carro de boi, também era umas das aventuras, mas como o carro era muito lento, Sinhana revela que preferia ir a pé, colhendo frutas e assim chegava mais rápido. Esses são ape-nas alguns dos episódios que ela traz na memória e que a permite reviver seu passado.

Dona Sinhana nunca foi a um cinema, e perdeu as contas de quantas coisas deixou de conhecer, mas ela deixa claro que isso nunca a impediu de ser feliz e viver bem na comunidade. Faz questão de nos dizer que é feliz e que Furnas do Dionísio é o seu lugar.

COMUNIDADE - Conforme informações dos moradores, Furnas do Dionísio se formou em 1890, quando o ex-escravo vindo de Minas Gerais, Dionísio Antônio Vieira organizou uma comitiva e estabele-ceu-se com seus familiares em áreas da Fazenda La-geadinho, atual município de Jaraguari/MS. No ano de 1907, Dionísio requereu a posse definiti-va das terras e o governo na época, lhe deu 914 hec-tares para ele e seus descendentes. Ao morrer por volta de 1920, estes fizeram um inventário da área e na expectativa de conquistarem melhores condições de vida, alguns de seus herdeiros venderam suas ter-ras e migraram para a cidade.

Furnas do Dionísio possui mais de 400 mora-dores representados por cerca de 90 famílias. O cul-tivo do solo sempre foi a forma de sobrevivência dos moradores, sendo a produção de arroz, feijão, man-dioca, milho e cana-de-açúcar, as principais fontes de renda. Muitas vezes quando a produção supera as expectativas, a Associação de Pequenos Produtores Rurais de Furnas do Dionísio negocia esses alimen-tos com o Ceasa, em Campo Grande.

Aliado a este plantio existe ainda a produção do leite e derivados e a agroindústria caseira, com produtos como a rapadura, melado, farinha, doces em compotas e açúcar mascavo, produzidos de for-ma artesanal.

A vida na comunidade não sofreu muitas al-terações ao longo de sua formação. A rotina diária desses homens e mulheres consiste basicamente nos afazeres domésticos e na lida da enxada, enquanto as crianças freqüentam as escolas da comunidade. O que podemos ver é uma comunidade unida, com orgulho de suas raízes e, principalmente, que luta diariamente para que essa cultura não se perca com o tempo.

Dia Internacional contra a Discriminação Racial

No dia 21 de março de 1960, na cidade de Joanesburgo, ca-pital da África do Sul, 20 mil negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especifi-cando os locais por onde eles podiam circular.

No bairro de Shaperville, os manifestantes se depararam com tropas do exército. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186. Esta ação ficou conhecida como o Massacre de Sha-perville. Em memória à tragédia, a ONU – Organização das Nações Unidas – instituiu 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

O Artigo I da Declaração das Nações Unidas sobre a Elimina-ção de Todas as Formas de Discriminação Racial diz:

“Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou di-ficultar o reconhecimento e exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública”

O racismo se apresenta, de forma velada ou não, contra ju-deus, árabes, mas, sobretudo, contra os negros. No Brasil, onde os negros representam quase a metade da população, chegando a 80 milhões de pessoas, o racismo ainda é um tema delicado. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD – em seu relatório anual, “para conseguir romper o preconceito racial, o movimento negro brasileiro precisa criar alianças e falar para todo o país, inclusive para os brancos. Essa é a única maneira de mudar uma mentalidade forjada durante quase cinco séculos de discriminação”.

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Uma antiga brincadeira de crianças, jovens e até adultos está causando sérios problemas na Capital. O que era para ser uma diversão já provocou a morte de um jovem e feriu outro gravemente. E tudo isso aconteceu porque pessoas estavam soltando pipas, mas não como uma brincadeira e sim fazendo uso do cerol, que é uma mistura de cola com pó de vidro.

Para tentar inibir o uso do cerol e conscientizar as pessoas do mal que ele causa, a Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Atendimento a Infância e Juventude (Deaij) deu início a Operação Corta Cerol. Iniciada no dia 02 de março, a operação prendeu só no primeiro dia seis pessoas e para a surpresa dos policiais, apenas um era menor. Até agora já foram presas 14 pessoas.

Conforme a delegada titular da Deaij, Maria de Lourdes Souza Cano, as atividades da polícia são de repressão a essas pessoas. “O que percebemos é que a maioria não se preocupa com o perigo que está causando. Todos os dias temos apreensão de material”.

OPERAÇÃO - A operação teve início no bairro Aero Rancho e região. “Começamos pelo bairro onde tivemos uma vítima fatal e por coincidência foi nesse local que encontramos pessoas maiores de idades usando cerol”, ressalta a delegada. Lembrando que a operação foi deflagrada depois que o motociclista Valdir Rodrigues Cavalcante morreu degolado por uma linha com cerol.

Os policiais já estiveram no bairro Nova Lima e região e vão dar continuidade em diversas regiões da Capital.

Segundo a delegada Maria de Lourdes, a operação Corta Cerol tem como objetivo orientar e repreender quem utiliza a mistura para soltar pipas.

O que era para ser brincadeira está causando morte

“É preciso conscientização das pessoas”. CRIME – No Código Penal está bem

explicado. Artigo 12, a prática de ação que “expõe a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente” é crime, podendo ser respondido com prisão de três meses a um ano. Por isso quem for pego com cerol pode responder criminalmente sim.

“A partir do momento que uma brincadeira se torna um ato grave, com conseqüências graves, que

Operação Corta Cerol

Delegada Maria

de Lourdes Souza

Cano, titular da

DEAIJ

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Visão Seleta Março, Abril | 2009 19

mata pessoas é um problema da polícia. Tem que agir com repressão, tirar essas pessoas de circulação”, enfatiza a delegada. Ela ressalta ainda que não é apenas o cerol que corta. Existem outros tipos de linha, como a número 10, que são tão cortantes quanto à mistura.

Todas as pessoas apreendidas são conduzidas a delegacia e vão responder a processo judicial. Já os menores, são apreendidos e respondem em liberdade.

A prática pode ser classificada como crime, como lesão corporal dolosa (quando há intenção de ferir), tentativa de homicídio, ou ainda como homicídio doloso, quando há vítima fatal.

A delegada explica que o que ainda não existe é uma lei regulamentada administrativamente, ou seja, que impede a fiscalização em estabelecimentos comerciais, o que seria de responsabilidade da prefeitura, porém na esfera criminal não há nada que impeça o trabalho da polícia.

RESPONSABILIDADE – “Mas é crime?”, “Eu já soltei pipa”. Essas são as indagações mais freqüentes que os policiais enfrentam durante as abordagens. “Isso já é histórico, e o que mais nos surpreende é que as pessoas, principalmente os maiores já sabem diferenciar as coisas, o que é perigo ou não, mas continuam fazendo”, destaca a delegada.

A família também é muito importante nesse trabalho. Para a titular da Deaij, a conscientização dos pais, a vigilância deles, bem como o bom exemplo é fundamental para acabar com o cerol. “Muitos dizem que os jovens não obedecem, que pedem para não usar a mistura, mas onde está a educação desse jovem? Não cabe a polícia educar, por isso pedimos total empenho das famílias”.

Só a conscientização de todas essas pessoas que usam o cerol, de que ele pode matar, é que vai acabar com essa prática. Que tal fazer do ato de soltar pipa uma brincadeira de verdade? Pense nisso.

“O que percebemos é que a maioria não se preocupa

com o perigo que está causando. Todos os dias

temos apreensão de material”

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Incentivo ao esporte:

Copa Metropolitana de

Karatê do Clube União

dos Sargentos

Visão Seleta Março, Abril | 200920

No ano de 2008, a União Beneficente dos Sub-tenentes e Sargentos das Forças Armadas (UBSSFA) completou 77 anos de existência. Fundado em 28 de dezembro de 1931, pelo general de brigada Berthol-do Klinger, teve como objetivo reunir os sargentos e suas famílias num grêmio de mútua beneficên-cia. Em 1932, o general Klinger foi para São Paulo apoiar a Revolução Constitucionalista contra Getúlio Vargas, deixando o Clube desorganizado, já que ou-tros militares que lideravam a empreitada também se deslocaram para outros estados. Por algum tempo a entidade continuou funcionando, com dificuldades e em situação precária. Mesmo diante dessa realida-de, os militares que ficaram não pouparam esforços para manter o clube e reergue-lo.

As reuniões aconteciam ora num quartel ora

noutro, até que uma casa foi alugada para que fos-sem promovidas as reuniões, mantendo, assim, o âni-mo dos associados. Até 1933 o desconto das mensa-lidades em folha de pagamentos dos associados não era realizado, passando a ser autorizado em 1934, o que melhorou a situação da entidade a ponto de se pensar em uma sede própria para o Clube. Ainda em 1935, os militares conseguiram da prefeitura a doa-ção de um terreno onde a sede social foi construída. A inauguração aconteceu em 1º de abril de 1939. Em 49, o Clube União dos Sargentos foi reconhecido como Utilidade Pública Estadual. O reconhecimento federal veio um ano depois.

O Clube União dos Sargentos está inserido na cultura campo-grandense, uma vez que ele cresceu junto com a Capital. De acordo com o presidente da

O Clube completou 77 anos de história de determinação e seriedade,

marcas registradas de seus fundadores e seguidas pela atual administração. A

entidade se destaca na sociedade campo-grandense pelos seus eventos sociais,

esportivos, culturais e beneficentes

União dos SargentosHistória

Page 21: Revista 05

Momento de oração no churrasco dos

militares da Reserva em comemoração ao

aniversário do Clube

O seletiano José

Nasário dos Santos,

o presidente Ângelo

Spalanzani e o 2º vice-

presidente Agápito

Ribeiro

Visão Seleta Março, Abril | 2009 21

entidade, Angelo Spalanzani, “com o intuito de pro-porcionar esporte, lazer, cultura, o clube se desen-volve desde 1932 no seio campo-grandense e é, com certeza, um dos principais clubes da cidade até hoje”. Ele diz que a história do clube se mistura à histó-ria de Campo Grande. “Nesse período vários clubes foram criados e deixaram de existir. Essa conquista se deve à força das administrações que aqui passa-ram, aos trabalhadores e colaboradores. Por ser um clube tradicionalmente militar – apesar de não ha-ver vínculo específico com as forças armadas, pelo estatuto, o Clube tem personalidade jurídica própria – mantém-se vivo pela credibilidade, por ser uma en-tidade séria, que trabalha em prol dos associados e congrega não-associados campo-grandenses”.

Pelo estatuto, a entidade é beneficente. Este ca-ráter é uma grande marca da administração Angelo Spalazani. “Fazemos doações, cedemos os salões do clube para instituições filantrópicas sem fins lucrati-vos e atendemos o setor público. O setor precisa de espaços para realizar eventos como jogos de salão. Mediante ofício, o clube não cobra por esses even-tos. A sede campestre também atende filantropica-mente o setor público. No ano de 2007, o primeiro desta administração, computamos 142 cessões para escolas públicas”, afirma o presidente. O Clube Femi-

nino de Campo Grande conta com o apoio da UBSS-FA para promover eventos que têm a renda revertida para entidades que prestam trabalhos sociais.

A União dos Sargentos se sobressai na promo-ção de eventos. Ela oferece três eventos semanais fixos (domingo com grupos e bandas regionais; quartas-feiras com seresta; e quintas-feiras – Baile da Saudade). “É o clube social recreativo que mais promove eventos em Mato Grosso do Sul. Promo-vemos 220 eventos por ano. Por toda a estrutura que o clube oferece, os promoters perceberam aqui um ‘point’ para shows nacionais”, aponta Spalazani. Diversos artistas de renome nacional já se apresen-taram no clube, como Caubi Peixoto, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Ritchie, Biafra, Raça Negra, Dudu Nobre, João Mineiro & Marciano, Milionário & José Rico, Luiz Airão, entre outros. A administração do Clube também busca valorizar a música regional, abrindo espaço para cerca de 20 bandas e grupos durante o ano.

No esporte, o Clube União mostra ainda mais a sua força ao participar com equipes de futebol, natação e katarê, que se destacam em campeonatos municipais, estaduais e nacionais. O clube, que ini-cialmente tinha 300 sócios, conta atualmente cerca de 3.500. Portanto, desde a fundação até os dias de hoje, com dedicação e força, a entidade se destaca e presta um serviço grandioso para a sociedade sul-mato-grossense. Vida longa e próspera ao Clube União dos Sargentos!

União dos Sargentos

Page 22: Revista 05

O governo do Estado, através da Co-ordenadoria de Polícia Comunitária da Se-cretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), terá mais um reforço em breve, visando a segurança da população. Trata-se dos Postos Móveis de Policiamen-to Comunitário, previstos para serem im-plantados este ano em comunidades com maior necessidade de presença policial.

Serão três postos inicialmente que contarão, cada um, com um veículo fur-gão, caracterizado, equipado com compu-tador, acompanhados de motocicletas. A novidade está sendo adquirida com apoio do Ministério da Justiça e Secretaria Na-cional de Segurança Pública (Senasp).

A novidade deverá dinamizar as ações de segurança pública na Capital, inicialmente e levar segurança às comu-nidades, atendendo aos pleitos das popu-lações. O coordenador estadual de Polícia Comunitária, tenente-coronel Carlos de Santana Carneiro, disse que o reforço tam-

Governo terá postos móveis de Polícia Comunitáriabém servirá para integrar esforços com outros órgãos públicos, de forma a faci-litar a vida do cidadão, agregando outros serviços, além do patrulhamento, como auxílio em ações de atendimento médico, social, etc.

O tenente-coronel Santana partici-pou, de 10 a 12 de março, da 5ª Reunião Nacional de Polícia Comunitária, em Foz do Iguaçu (PR), onde foram apresentados os resultados de ações executadas em 2008 no Estado.

Dentre tais ações, destacam-se os 40 cursos de Polícia Comunitária já realiza-dos na atual gestão do governo estadual, que capacitaram mais de 1.800 agentes entre profissionais de segurança pública e lideranças comunitárias em todo o Es-tado.

Na ocasião ainda se estabeleceram estratégias para serem colocadas em prá-tica através das coordenadorias estaduais em parceira com o Ministério da Justiça e

a Secretaria Nacional de Segurança Públi-ca (Senasp) ao longo de 2009, daí a im-plantação dos postos móveis.

O governo do Estado, através da Su-perintendência de Políticas de Segurança Pública, será contemplado com mais 10 cursos de promotor de polícia comunitá-ria (com 44 horas/aulas) e um curso de multiplicador (com 88 horas/aulas) com previsão de início a partir da segunda quinzena de abril e atendimento a 550 profissionais de segurança pública e líde-res comunitários em Campo Grande, São Gabriel do Oeste, Rio Verde de MT, Glória de Dourados, Nova Andradina, Amambaí, Chapadão do Sul, Corumbá, Miranda e Ponta Porã.

Polícia Comunitária - O Policiamen-to Comunitário é uma filosofia e estraté-gia organizacional que proporciona uma nova parceria entre população e polícia, baseada na premissa de que tanto a polí-cia quanto a comunidade devem trabalhar

Segurança

Page 23: Revista 05

Governo terá postos móveis de Polícia Comunitáriajuntas para identificar, priorizar e resol-ver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da área.

A Sejusp, através da Polícia Militar, vem implementando esta filosofia, bus-cando a integração entre comunidade e polícia, para que juntas estabeleçam es-tratégias preventivas contra a criminali-dade.

Na Capital, a região urbana do Prosa (Novos Estados, Mata do Jacinto, Carandá Bosque e adjacências) já está sendo con-templada com este tipo de policiamento, através de policiais em motocicletas. “Os policiais fazem a ronda preventiva, con-versam com moradores, comerciantes, estabelecendo uma relação de proximi-dade com a comunidade”, explica o coor-denador estadual de Polícia Comunitária, tenente-coronel Carlos de Santana Car-

neiro. “São abordagens feitas com visão pre-ventiva, respeitando os direitos humanos e ze-lando pela integridade das pessoas, buscando contribuir para a paz da comunidade”, relata ele.

De acordo com o oficial, a PM está tendo resultados positivos, se antecipando ao come-timento de delitos na comunidade, sendo que o objetivo é estender os trabalhos a todos os bairros. Além disso, a coordenadoria está dis-tribuindo material informativo referente à Polícia Comunitária para a sociedade e para profissionais de segurança pública envolvidos no processo.

Outro canal de comunicação criado é o site da coordenadoria, que publica as ações futuras e passadas no endereço www.sejusp.ms.gov.br/polcomunitaria.

Page 24: Revista 05

Visão Seleta Março, Abril | 200924

Aposentada há 9 anos, Zenóbia Pedrosa era professora primária e trabalhava na alfabetização de crianças. Depois de se formar no curso de Direito, passou a trabalhar como escrivã da Delegacia de Roubos e Furtos (DERF). “Foi uma mudança brusca de profissão, mas consegui me adaptar, pois vi nos policiais pessoas destemidas. Também passei a co-nhecer o pessoal da Segurança Pública e tomei gosto pela parte administrativa”, conta. Em pouco tempo Zenóbia já trabalhava na Diretoria Geral da Polícia Civil, ajudando a elaborar o 1º concurso para delega-do. “Com a divisão do Estado, em 1979, tivemos que criar tudo da estaca zero”.

Em 1984, como delegada, prestava serviços no gabinete do Departamento de Polícia Civil, e foi quando passou a observar as denúncias vindas de mulheres. “Eu fazia plantão nas delegacias e via que, frequentemente, havia duas ou três mulheres víti-mas de violência que apareciam para prestar queixa. Eu as chamava para uma conversa, mas ouvia dos agentes que aquelas mulheres gostavam de apanhar, porque acabavam voltando para os maridos. Eu me indignava porque eles não davam importância. Te-nho a impressão de que, muitas vezes, as ocorrên-cias sequer eram registradas”.

Para trabalhar na primeira delegacia especiali-zada em violência contra a mulher do Mato Grosso do Sul, Zenóbia teve que fazer um estágio em São Paulo para entender como as mulheres eram trata-das. “Com a criação da Deam encontrei muito apoio da imprensa da época. Percebia que todo mundo

estava com um grito preso na garganta. Os movi-mentos populares das mulheres também me deram força. Em dois anos criamos mais oito delegacias especializadas no Estado”. Mas trabalhar na Delega-cia Especializada no Atendimento à Mulher não foi tarefa fácil para a então delegada. “Muitos homens chegavam lá alterados e achavam que a delegacia era a continuação de seus lares. Mas eu fazia valer minha autoridade. Nunca abusei, mas agia com o ri-gor da lei. Os homens eram respeitados como seres humanos e cidadãos de direito. Muitos deles, fora do álcool e das drogas, eram bons pais e esposos”.

Segundo Zenóbia, o aumento das denúncias fei-tas pelas mulheres contra seus agressores “é mérito dos profissionais que as atendem bem e dão segui-mento para a resolução dos problemas”, sem deixar de citar a Lei Maria da Penha que, para ela, significa um grande avanço tendo em vista seus efeitos na redução da violência contra mulheres. “Com a Lei, elas [mulheres] passaram a ter coragem e acreditar mais”. A ex-delegada admite que muitas mulheres, mesmo depois de repetidas agressões, voltam para seus parceiros. “A maioria dessas mulheres depende psicologicamente ou financeiramente dos maridos agressores. Elas, geralmente, têm mais de dois filhos em idade escolar, em creches ou têm crianças com necessidades especiais”.

Ela acredita que além do ciúme, o vício em dro-gas ou álcool, o sentimento de posse é um dos gran-des problemas relativos à agressão. “Temos cada vez mais casos que estão consternando a população, como o da garota Eloá, sequestrada e morta pelo ex-namorado. Os homens querem ser donos das mulhe-res, querem tê-las como um objeto. É um sentimento

Violência Doméstica

“A agressão machuca o físico e a alma”Num exemplo de profissionalismo e força a ex-delegada Zenóbia Pedrosa

relembra o trabalho na segurança pública, em especial na Delegacia

Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), onde lida-se com famílias

fragilizadas, emoções e sentimento

Page 25: Revista 05

Visão Seleta Março, Abril | 2009 25

No ano passado, a Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher

(Deam) registrou mais de 4500 denúncias de violência, 600 a mais do que no

ano de 2007

Denúncias de violência contra mulher em Campo Grande cresceram 15%, em 2008

Dados da Fundação Perseu Abramo dão conta de que uma a cada cinco

mulheres já passou por algum tipo de violência física, sexual ou outro caso de

abuso praticado por um homem.

Uma pesquisa realizada pelo Senado indica que 83% das mulheres brasileiras conhecem a Lei Maria da Penha e 78% dizem temer denunciar o agressor

A Delegacia da Mulher fica na Rua Arlindo Andrade, 149, próximo a

Rodoviária de Campo Grande, Centro. O atendimento é feito de segunda a

sexta-feira das 8h às 18h. Nos finais de semana a população deve procurar o

Centro Integrado de Polícia Especializada (Cepol) para registros de casos de

violência contra a mulher

Centro de Atendimento a Mulher em Situação de Violência – Rua Gal. Nepomuceno Costa, 593. Fone: (67) 3361-7519

Disque-Denúncia 180 - Central de Atendimento à Mulher. Ligação

gratuita

de posse que fere e, muitas vezes, mata. Isso não é amor. Quem ama não mata”, conclui.

Zenóbia Pedrosa manda uma mensagem às mulheres para que elas confiem nas autoridades, denunciem as agressões e não sofram caladas. “A mulher que é agredida com um tapa que seja precisa denunciar, senão diz ao homem que o tapa foi bom e que precisa levar um mais forte. Faça o registro po-licial para que sejam tomadas as providências legais. Sabemos das fragilidades penais, mas as autoridades são obrigadas a cumprir seus deveres. Eu aconselho à qualquer mulher que tome cuidado com quem co-locam dentro de casa”.

Por três anos à frente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Zenóbia Pedrosa acabou ficando suscetível a amea-ças. “Sofri ameaças de presos, porque algumas pes-soas que ajudei a colocar no presídio ainda estavam lá dentro quando assumi a função, como no caso de alguns estupradores. Tive que trabalhar adminis-trando 6 mil presos em todo o Estado, muitos de-les ligados a facções criminosas”. Ela diz que não se identificou com o trabalho, permanecendo nele até 2006. “No entanto, durante o período que estive no comando não houve rebelião e isso é positivo. Pude contar com uma equipe que tinha real compromis-so”.

Ações - Na área da segurança pública, foram implantadas no Estado 11 Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher entre 1999 e 2004. Para aju-dar as mulheres a sair da situação de violência, há o Centro de Atendimento Cuña Mbarete (em guarani, “mulher forte”), em Campo Grande, e o Centro de Atendimento Viva Mulher, em Dourados. Os Cen-

tros oferecem orientação por meio do disque SOS Mulher em todo o Estado, além de atendimento e acompanhamento social, psicológico, jurídico, gru-po de apoio e reflexão. As Casas Abrigos (uma em Campo Grande e outra em Dourados) protegem as mulheres em situação de violência doméstica e se-xual que correm risco de morte. Na Casa Abrigo de Campo Grande as crianças participam de atividades lúdicas e recreativas e têm acompanhamento escolar e pedagógico.

“Os homens querem ser

donos das mulheres (...). É um senti-

mento de posse que fere e, muitas

vezes, mata. Isso não é amor. Quem

ama não mata”

Page 26: Revista 05

Sua vida em boas mãosCurtir a vida, fazer aquela viagem com a famí-

lia, ter uma casa confortável, um automóvel para tra-balhar e se divertir, ter estabilidade financeira, saúde e garantir uma boa educação para os filhos são so-nhos comuns a qualquer pessoa. Mas o que acontece com esses sonhos, caso haja algum imprevisto? A vida é cheia deles. Mesmo sabendo disso, a maioria das pessoas não se dão conta da necessidade de se precaver ou então desconhece as modalidades de co-bertura oferecidas pelas seguradoras.

Wall Scudler, da Scudler Seguros, acredita que as pessoas procurariam muito mais os serviços e produtos oferecidos pelas seguradoras se soubes-sem sobre suas vantagens e benefícios. “As pessoas acreditam que os seguros são feitos para a morte, mas não sabem que, atualmente, temos seguros pre-miáveis, resgatáveis. As companhias estão montando seguros de vida tanto para o homem quanto para a mulher. Algumas companhias oferecem um dia no salão de beleza, massagem, ofurô, bonificações ex-tras de academias, por exemplo. É fantástico. A ideia então não é precisar morrer, mas viver muito para aproveitar todos os benefícios que as companhias têm agregado aos produtos. As pessoas que fazem seguro de vida são aquelas que têm um pouco mais de visão. É uma questão de zelo, de cuidado, de estar preparado para uma eventualidade”.

Ela reforça que as pessoas devem estar pre-cavidas para qualquer tipo de problema que possa ocorrer. “Temos vários clientes que têm um carro

financiado e precisam dele para trabalhar. Imagi-ne se a ferramenta de trabalho deles não

é segurada e acaba ‘quebrando’? O que é que eles vão fazer? E se

um carro financiado dá perda total e

não tem seguro. A pessoa vai ter que continuar pa-gando por um bem que ela ainda não possui e quiçá terá que pagar por um terceiro automóvel”, argu-menta.

Wall acredita que a população ainda não tem a cultura de fazer o seguro. “Nos países desenvolvidos, o seguro, é o último item a ser cortado do orçamen-to familiar, mesmo nesses tempos de crise. Já nos países em desenvolvimento, as pessoas acham que o seguro é supérfluo. O seguro dá tranquilidade de, pelo menos, estar amparado numa situação em que você não pode contar com a ajuda de terceiros. A única condição que o seguro não cobre é o caso do segurado estar embriagado ou não possuir habilita-ção”, pondera.

Como empresária e empreendedora, Wall Scu-dler vem se destacando cada vez mais no mercado de seguros e é uma apaixonada pelo que faz. “Ouvi várias vezes as pessoas me dizerem que deve ser di-fícil vender papel. Eu respondi que não vendo papel, mas ofereço estabilidade, reposição de patrimônio, segurança de que os filhos irão continuar na facul-dade e de que, num transtorno qualquer, as pesso-as estarão amparadas e o patamar da vida delas vai continuar na mesma situação.

Scudler - No mercado há 23 anos, única corre-tora do Estado a possuir o Prêmio Qualidade Lojista, a principal preocupação dos profissionais da Scu-dler Seguros é garantir a seus clientes o acesso às soluções de proteção mais adequadas e vantajosas. A empresa trabalha para oferecer os melhores ser-viços e analisar com profundidade as necessidades do cliente, propondo o programa de seguros mais ajustado a realidade de cada indivíduo. Para garan-tir a qualidade, rapidez e precisão no atendimento, a Scudler possui uma equipe altamente especializada.

Seguros

Page 27: Revista 05

AH, A MULHER!!!

O ser mais importante do universo? Não

sei, talvez!

Mas, o que eu sei é que elas sempre

me ensinaram a viver. Com elas aprendi a

amar, viver em familia, respeitar o próximo e

também conceder o perdão, até mesmo aos

imperdoáveis.

Não deixo de citar a fidelidade e

determinação em sustentar o lar e, por muitas

vezes, receber em seus braços o homem, quase

S::S::C::H::

A Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária – Quadro de Terenos vem firmando seu papel junto à comunidade carente do município. Graças ao traba-lho da diretoria do Quadro, Departamento Feminino e colaboradores somente em 2008 foram realizados cerca de 4,9 mil atendimentos.

Campanhas como a do agasalho, que dis-tribuiu roupas, calçados, cobertores, leite em pó para famílias das áreas urbana e rural e beneficiou mais de 400 pessoas; doações aos desabrigados em San-ta Catarina que em parceria com a Polícia Rodoviária Federal foram encaminhadas roupas, alimentos, água; distribuição de 25 cestas natalinas com produtos ali-mentícios básicos. As cestas foram entregues no dia 21 de dezembro, com um café da manhã para mais de 160 pessoas. Outra campanha desenvolvida pelos seletianos de Terenos é a “Final de ano feliz”, que be-neficiou 11 famílias que trabalham na coleta de mate-riais recicláveis junto ao aterro municipal. Para essas pessoas foram distribuídas 32 galinhas de granja.

Mas as atividades não param por aqui. Conforme o presidente do Quadro de Terenos, Edu-ardo Aramis as atividades sociais vão muito além. O projeto Sopão, por exemplo, distribuído sempre no 4º sábado de cada mês, para famílias carentes , já atendeu cerca de 815 pessoas.

Ações em parceria com a Pastoral da Crian-ça e o Lar São Vicente de Paula, com atividades so-ciais, almoços já soma mais de dois mil atendimentos. Um projeto que também é mérito desses seletianos é o “Amigo da Árvore”. Criado e executado pelo Quadro de Terenos, o projeto que tem o apoio do Instituto Na-tural para Desenvolvimento da América do Sul – IN-DAS distribuiu 300 mudas da espécie “Uva do Japão” e teve a participação de 150 pessoas.

Com diversas atividades sociais, os seletianos do Quadro de Terenos destacam o

trabalho feito no município e o benefício que levam às comunidades carentes

Quadro de Terenos

“São atividades como essas que nos faz acreditar que estamos no caminho certo e que a Se-leta está desempenhando seu verdadeiro papel. Que-ro agradecer a todos os parentes, as seletianas e aos nossos parceiros, que sem a ajuda dessas pessoas não conseguiríamos tal sucesso”, destaca Eduardo Aramis.

Page 28: Revista 05

Visão Seleta Março, Abril | 200928

Os vereadores da Câmara Municipal de Campo Grande aprovaram em sessão ordinária, o projeto de autoria do presidente da Casa de Leis, vereador Paulo Siufi, que autoriza o Poder Executivo a instituir o Programa de Conscientização do consumo abusivo de bebidas alcoólicas.

A proposta, aprovada em primeira discussão e votação, visa incentivar ao Poder Executivo a promoção de ações que inibam o consumo abusivo de bebidas alcoólicas.

De acordo com o projeto, o Executivo Municipal deverá dar incentivo às entidades da sociedade civil que tenham como objetivo ações voltadas à educação sobre o consumo abusivo de bebidas alcoólicas; divulgação de campanhas educativas nos veículos de comunicação tais como jornais, televisão e rádio; sugestão de novas ações voltadas à redução do consumo exagerado de bebidas alcoólicas; celebração de convênios com entidades da Federação e setor privado visando ampliar o Programa e buscar novas alternativas para a diminuição do consumo

de bebidas alcoólicas; e disponibilização de dados estatísticos dos acidentes de trânsito decorrentes do uso abusivo de bebidas alcoólicas.

O projeto possui 10 artigos e prevê ainda a participação das entidades da sociedade civil no referido Programa, colaborando com as seguintes ações: divulgação de material educativo; sugestão de novas ações voltadas à redução dos acidentes de trânsito provocados pelo uso abusivo de bebidas alcoólicas; e promoção de debates e reuniões periódicas objetivando a integração dos envolvidos no Programa e a conseqüente otimização das iniciativas.

Em sua proposta, Paulo Siufi incluiu também a participação dos responsáveis por casas noturnas, eventos festivos, bares, conveniências de postos de gasolina e assemelhados situados em Campo Grande, que participarão do Programa por meio de: afixação em cartazes, cartelas individuais, ou folders de divulgação de mensagens educativas quanto aos riscos da associação de uso de bebidas alcoólicas com a direção de veículo; sugestão de novas ações voltadas à redução dos acidentes de trânsito; concessão de acesso livre e gratuito aos agentes públicos ou credenciados por entidades da sociedade civil que visem desenvolver ações educativas de que trata a presente lei.

Conforme o autor do projeto, “os jovens vêm sofrendo, não raras às vezes, pondo em risco a própria vida, pela associação de bebidas alcoólicas com a direção de veículos. A estatística é assustadora e as notícias veiculadas nos meios de comunicação diariamente vêm ao encontro dessa importante iniciativa para os jovens campo-grandenses e seus parentes. Assim, o Programa proposto une as entidades da sociedade civil, o Poder Executivo e o empresariado em torno do mesmo objetivo, qual seja, conscientizar os jovens ao uso abusivo de bebidas alcoólicas”.

* Com assessoria

Vereadores aprovam programa de conscientização sobre consumo de bebidas alcoólicas

Política

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Page 30: Revista 05

MULHERSe pusermos a falar da MULHER, certamente seremos redundantes. Ela já foi cantada, versada, adorada e, do mais nobre poeta ao plebeu mais distraído, ela fez pulsar os corações numa igualdade sem distinção.Então me perguntariam, será você capaz de definir esta palavra tão complexa em uma única palavra tão simples, e eu respondi sem pestanejar: apenas trocaria duas letrinhas e para mim a

definição seria MELHOR.Gilbraz Marques da Silva : :

Mulher: palavra doce, sinônimo de amor.

Ah! Se a “humanidade” fosse igual a ela...

O mundo seria mais justo e as pessoas

respeitariam-se mais.

Se a “humanidade” fosse igual a ela...

Sexo frágil ... Será que esse adjetivo

combina?

Marcos Antônio : :

AH, A MULHER!!!

O ser mais importante do universo? Não sei, talvez!

Mas, o que eu sei é que elas sempre me ensinaram a viver. Com

elas aprendi a amar, viver em familia, respeitar o próximo e

também conceder o perdão, até mesmo aos imperdoáveis.

Não deixo de citar a fidelidade e determinação em sustentar o

lar e, por muitas vezes, receber em seus braços o homem, quase

sempre, um menino!

Então, dessa compreensão feminina extraimos a matéria-prima

para melhorar o mundo em que vivemos.

Oh, meu deus! Não deixe nos faltar as mulheres, senão,

conheceremos o verdadeiro “sexo frágil”.

AH! ESSAS MULHERES!!!

08 DE MARÇO – DIA INTERNACIONAL DA MULHER.

Paulo Sergio Pereira : :

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