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Revista

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Revista elaborada para a disciplina de Redação 4 do curso de Jornalismo da UFPE, ministrada por Isaltina Gomes.

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Page 1: Revista
Page 2: Revista

Editorial

“achei que ia escrever so-bre heróis e guerras

magia e criaturas místicasaventuras que não existem

e essas coisasmas escrevo sobre como

sei que ele não é meue sobre a impossibilidade

de não ser dele. “

Da amiga Moema

Mais difícil que amar é falar de amor. Até os que amam e o sabem não encontram como verbalizar e traduzir o significa-do de tudo aquilo pras pobres almas que ainda não chega-ram lá. Mas como todo mundo sabe, as cartas de amor são ri-dículas e se não o fossem, não seriam cartas de amor. E essa revista corre o risco de ser tachada de ridícula porque tenta colocar formas de amar ao longo de suas páginas. De lingua-gem jornalística a relatos crus, cada colaborador, da forma que considerou mais apropriada e confortável, mostrou com letras ou traços uma nuance do amar. Sem a menor preten-são de esgotar o tema, as páginas que se seguem estampam o substantivo que é a razão do existir com a esperança de

serem levadas a sério.

Edição: Marcela PereiraTextos: Aline Van der Linden, Daniel de Anrade Lima, Gabriela Au-

tran, Igor Ruann, João Pascoal, Laís Araújo e Nicoly Monteiro.Ilustração: Marcela Pereira

Diagramação: Daniel de Andrade LimaColaboradores: Gabriela L’amour, Marcela Lins e Moema França.

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Sumário05 __________________ CRÔNICA DO AMOR QUE NÃO DEU

08 __________________ AMOR DE LONGE

11 ___________________ EUS E TERRAS

13 ___________________ DOS ANIMAIS

14 ___________________ UMA HISTÓRIA DE AMOR COM INÍCIO E FIM

16 ___________________ AS COISAS TÊM QUE ACABAR NA HORA QUE ACABAM (UM AMOR BEM GRANDE DE UNS DIAS APENAS)

19 _____________________ SOBRE OS DELEITOS VIOLENTOS COM FINS VIOLENTOS

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CRÔNICA do AMORque NÃO DEU

(por conta do Facebook)

Aline v.

Desde que ele entrou no salão, fiquei intrigada. Como nunca tinha visto aquela figura antes? Deus grego, ainda que estranho, já grisalho, arrebata-dor. Lá estava ele bem na minha frente. Envolvida desde quando o avistei, um olhar sequer consegui. Mas uma amiga o conhecia. No dia seguinte, abro o Facebook: num inbox o link que dava pro perfil do cara.

Inclusive, essa experiência de namorar à distância, em tempos de Orkut, Fotolog e outras mídias, nutriu um sentimento comum entre nós dois de mostrar que apesar de... estávamos juntos. Surgiu em ambos também a necessidade de cascavilhar perfis de ami-gos e amigas, vulgo stalkear, para ver se descobria alguma mentirinha - essa prática garantia que apa-rentemente tudo corria bem e só descobri que era recíproca quando voltei. Mas isso não vem ao caso.

No perfil, a foto de uma criança. Muito parecida com ele, “deve ser filha”... Não dava pra ver muitas fotos, mas todo o conteúdo que ele publicava sim. Ué, entre os amigos em comum um grande amigo meu! “Tu conhece ele de onde? Vizinho!?” “Querida, ele tá solteiro e vocês formariam um casal e tanto!” Sim, era a sobrinha dele. Ok.

Ora... Eis que o destino decidiu nos unir ou “você atrai o que pensa”: justamente no dia que estava empenhada em esquecer essa besteira toda, num mar de gente foi a primeira cara que vi quando che-guei no show. E olhava para mim.

Conversamos qualquer coisa e no dia seguinte começou a ladainha: me adicionou no Facebook. Inbox. Qualquer dúvida sobre o assunto que ele falava, Google. Mas confesso... C A D A palavra me-dida, pra não errar nem falar besteira. Pra encantar. Sem lembrar que o encanto viria se fosse eu mesma.

Nunca soube me relacionar. Não obstante, eram jus-tamente meus casos - ao invés de realizações e con-quistas - que determinavam as fases da minha vida. Em setembro de 2003, fiquei pela primeira vez. Em agosto de 2004, consenti um namoro com um me-

nino pelo qual sentia nojo. Um mês depois, sem nem falar ou chegar perto dele, ele acabou. Em setembro

do mesmo ano, conheci meu primeiro namorado. Em 2006, namoramos separados pelo Atlântico. Um

ano depois, acabei tudo. E et Cetera

Já eram tempos de Facebook e, como boa prenda, dá para olhar o perfil de todo mundo sem deixar o

rastro. Cliquei.

Um mês, eu disse, um mês de amor platônico-virtu-al. F5 diários no perfil dele, descobrindo um mundo

completamente alheio ao meu, de opinião, música e outros conteúdos que nunca tinha visto na vida.

Criei uma vontade incrível de conhecê-lo. Expectati-va. Meu pai chama isso de julgar o livro pela capa.

Música vai, música vem, fomos apresentados. ... ... ............. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1111111111111

* baseado em stalkeadas reais

(O primeiro texto tem que chegar mostrando que às vezes a gente fode tudo)

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Ainda assim foi. Tudo por acaso. Nos encontramos sem marcar uma, duas, três, quatro vezes. Nos Qua-tro Cantos, nos blocos de carnaval. E seguimos as-sim, por acaso. “Cuidado pra não se apaixonar por mim, moça!” E já arrancando páginas dentro de mim desde o primeiro dia(!).

Por quê? Ora, tinha lá no Face. Uma tia que mora fora perguntando quando ele iria fazer o mestrado lá. “No segundo semestre!” “Não posso me envolver, ele vai embora.” E também postava umas músicas bon vivant, parecia querer ser assim, solto no ar. Sinais.

A cada encontro, morria mais um pouquinho por dentro, por não viver o que sentia, a partir de con-clusões precipitadas e absurdas. Fingia ser um caso a parte, uma paixão qualquer. E tudo que ele queria de mim, soube depois, era a certeza de querer estar ali com ele.

Mas foi. Ela se tornou querida, namorada, amor. Ele não foi embora e fizeram outros planos. Construíram um lar. Estão definitivamente na vida.

Que nada, não era pra ser mesmo. Mas sofri, por re-alizar que deixei de sentir algo em sua plenitude por uma noia incomensurável.

O que mais me desagrada é saber que não fui a única, já me deparei com históricos semelhantes. É a constatação de que mídias sociais podem sim desviar o comportamento de pessoas desatentas e conduzi-las a experiências incompletas.

De antemão, eu digo: se conhecer alguém assim tão querido, não perigue: esqueça o Face.

Como podia um encontro ser tão certeiro? E pior que era mesmo! Cara a cara, relaxava e era eu. Mas

nunca, nunca demonstrei nada.

Tanto faz o que veio depois. Mas de tanto observar e subentender o que ele publicava, comecei a travar nos diálogos - era mais fácil calar nos beijos e coisa e tal. Julgava já saber de tudo e tinha vergonha de

perguntar, porque assim entregaria meu jogo de stalker.

Um mês depois do “fim”, surge uma cara nova no Facebook dele. Claro, continuei diariamente obser-vando tudo que vinha dali. Ela comentava em tudo,

marcava-o em tudo.

Podia ser eu, quem sabe. Se tivesse contado meu segredo a ele e deixado tudo acontecer. Se, ao invés

de ser virtual, estivesse presente de corpo, alma, coração e tudo. Porque por dentro era assim.

plano de vôo :: aterragem forçada ou quedafoto :: Francesca Woodman

Amor de longeou três casais mostram que a distância geográfica pode aproximar ainda mais pessoas que se amam

Samíramis e Henrique estão juntos há cinco anos. Os dois são bem jovens e se conhece-ram na escola, no primeiro dia de aula da 8ª série. Eram do mesmo grupo de amigos e andavam juntos para todos os lugares, mas Samíramis mal pode acreditar quando soube por um amigo que Henrique gostava dela. ”Nunca nenhum garoto tinha se interessa-do por mim, todos fugiam ou pediam cola nas provas e logo ele tão fofo, tão incrível se interessou por mim?”. Ela chamou o amigo para uma conversa no recreio, quando sur-giu o pedido de namoro e o primeiro beijo. Eles continuaram inseparáveis durante o res-to do ano e todo o ensino médio. Como a escola era integral, passaram mais de 10 ho-ras juntos todos os dias, apoiando um ao ou-tro nos estudos e nas horas livres. Em 2012, quando ambos cursavam o 3º ano, o pai do Henrique foi transferido para a Bahia. Ele é ministro da Ministro da Igreja Messiânica e já havia passado o tempo de sua estadia no Recife. No último dia antes da mudança, Henrique e Samíramis aproveitaram ao má-ximo o tempo que tinham, passando a ma-nhã e a tarde juntos, e à noite, participaram da colação de grau da escola. A partir daí, o Skype passou a ser o principal meio de comunicação dos dois. Ele estuda na Universidade Federal da Bahia – UFBA à tarde, e ela na Universidade Federal de Per-nambuco – UFPE pela manhã, então eles se falam todos os dias à noite, contando tudo o que acontece na vida na cada um. Nos fins de semana, se dedicam a um projeto que desenvolveram juntos, o jogo de videoga-me Cosmo Defender 02. Às vezes eles dis-cutem, sentem insegurança, medo, ciúmes, mas buscam resolver tudo na conversa.No próximo ano, as coisas devem se tor-nar um pouco mais fáceis, porque Henrique pretende pedir transferência na faculdade e voltar a morar aqui. Os dois estão torcendo para que dê tudo certo no projeto, já que ele precisa de dinheiro para se manter sem a fa-mília. Outra opção é que Samíramis se mude para a Bahia, mas a vontade de Henrique é morar no Recife, onde estão suas melhores lembranças, amigos, e claro, a namorada. 1

(porque perfil jornalístico de bregalove também funciona*)

Nicoly Monteiro

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No último aniversário de Gabriela, Paulo enviou um áudio dele mesmo cantando a música Se Lembra Coração, de Geraldinho Lins, que diz: “Aonde você for me leve com você, não deixe de querer nem de gostar de mim, aonde você for eu quero ir com você...”. 17.240,56 quilômetros, 32 horas de voo e 12 horas e meia de fuso horário separam Recife da cidade australiana Darwin, onde ela, a bióloga Gabiela Arcoverde, faz seu doutorado, com previsão de volta de-finitiva para o Brasil em 2016. Aqui no Recife, reside Paulo Lins, estudante de medicina. Eles namoram desde outubro 2012, e enfrentam a distância desde o início da relação.

Quando se conheceram, eram da mesma turma de espanhol no curso Cervantes. De colegas passaram a amigos, e daí a algo mais. Antes de o romance se tornar oficial, Gabriela contou para Paulo que havia enviado um projeto de doutorado para a Universidade de Darwin, e estava esperando uma resposta, que acabou saindo no mesmo dia. Pau-lo decidiu pedi-la em namoro mesmo sabendo que em poucos meses já não iriam se ver com frequência, pois achou que valia a pena tentar.

De lá para cá, foram duas viagens dele para a Austrália, e uma dela para o Brasil. No resto do tempo, eles contam com a tecnologia par manter contato, principalmente por Skype e mensagens no WhatsApp. As duas famílias apoiam totalmente a relação, Paulo sempre visita os pais de Gabriela, mesmo quando ela não está por aqui. Já os amigos, no começo, não acreditavam muito que iria dar certo, mas aos poucos foram se convencendo.

O primeiro ano que passaram separados foi o mais difícil, pois ambos precisaram se adaptar a esse tipo de namoro. A confiança acaba sendo peça chave no decorrer do tempo. Ele conta que ela é mais ciumenta, já que ele sai mais com os amigos no Recife, sem grandes problemas. Quanto ao futuro, ele pretende passar um tempo em Darwin pouco antes do fim dos estudos de Gabriela, e estar lá quando ela defender a tese. Por enquanto, para eles, o que mantém o relacionamento firme é o esforço dos dois para que possam se falar sempre e compensar a distância física com outras formas de demonstração de amor.

Thaysa tem 24 anos e nasceu no Rio do Janeiro. Ela namora Rafael, que também é de lá, e os dois moram no Recife, cidade que acabou sendo responsável por uni-los. Eles se conhecem há dez anos, e na maior parte desse tempo não eram nem amigos, mesmo morando no mesmo bairro. Rafael se mudou para cá em 2012, quando ele e sua família foram chama-dos para trabalhar em SUAPE. O irmão mais velho dele, Gabriel, namora uma amiga da Thaysa, Carol, também veio para Recife por não suportar a ideia de manter um relacionamento à distância. Carol convidou a ami-ga Thaysa para passar o Réveillon na cidade, na passagem de 2012 para 2013. Assim que Thaysa chegou e viu Rafael, ela imediatamente sentiu algo por ele, e naquele mesmo dia rolou o primeiro beijo.

Os 14 dias programados para a viagem viraram 50, e no dia em que a passagem de volta estava marcada, ele a pediu em namoro. Passaram um ano se relacionando de longe, entre conversas telefônicas, cartas, webcam e dez pontes aéreas indo e vindo. Thaysa conta que a maior di-ficuldade era ficar sem o contato, sem sentir cheiro, sem olhar nos olhos. Além disso, é difícil ficar pensando no que a pessoa está fazendo e com quem está. Os dois prometeram serem sempre sinceros um com o out-ros, porque achavam que não tinha necessidade de manter uma relação desse jeito se não fosse verdadeira.

Quase todo mundo achava loucura manter o namoro desse jeito, falando coisas do tipo “Ah, Thaysa, você acha mesmo que ele não te trai?”, e ela respondia: “Eu não traio. Não posso afirmar que ele trai. Mas se eu sou sincera com ele, porque ele não seria comigo?”, e isso calava as pessoas. Hoje em dia, muitas delas já vieram visitar a Thaysa e passaram a en-tender e apoiar. Thaysa conta que desde o dia em que foi embora pela primeira vez, quando veio passar o Réveillon, dizia que voltaria para ficar. E sempre que voltava para o Rio, se sentia triste, não só por ter que se separar do Rafael, mas porque já alimentava uma vontade de sair de lá, por estar insatisfeita com vários aspectos do Rio de Janeiro.

Ela esperou até sua formatura na faculdade de jornalismo, no fim de 2013, para se mudar permanentemente, no início de 2014. A adaptação à nova cidade não podia ser melhor. Ela se encanta cada dia mais com o amor que o povo tem por Recife e por Pernambuco. Gosta da cultura e do esti-lo de vida que ela e Rafael levam. Eles moram perto da praia e aproveit-am mais o dia do que a noite. Não que Recife não tenha uma noitada boa, ela diz. Mas ela não conhece ainda, assim como várias outras facetas da nossa terra que ela pretende conferir.

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EUS E TERRAS

Ranyere:

Universitário, Recifense, 22 anos.Atualmente mora em Birmingham, no Reino Unido.

Depois que uma pessoa descobre o quão grande é o mundo - depois de viajar pra alguns paises - , eu, particularmen-te, não tenho sentimento de pertencimento a lugar algum. Nem ao Brasil, onde fui criado, nem na Inglaterra, onde tudo funciona e é um pais de “1º mundo”. Minha vontade é conhecer mais e mais lugares e culturas e pessoas. No momento não sinto que pertenço a um certo lugar, mas talvez no futuro eu descubra esse lugar.Vontade de voltar dá sim, até porque cada lugar é diferente um do outro, e é sempre bom estar mudando os ares. Aqui não tem praias, nem hotéis legais como na costa brasileira. Nem aquela paisagem tropical e comidas deliciosas. Cada lugar tem seus prós e contras.Não queria viver aqui por toda minha vida, porque enjoaria, assim como tava enjoado de Recife na época que vim pra cá. Pra mim o ideal seria ficar viajando a vida toda até descobrir um lugar que eu ache que vale a pena se estabelecer.

mais com o sentimento de pertencimento em relação a um outro espaço. E isso pode se dar de maneira individual ou coletiva. A comunidade otaku - amantes da cultura oriental - por exemplo, se identifica muito mais com o país produtor da cultura que lhes interessam do que o país em que eles - membros - se originam.A falta de cumprimento das demandas públicas e demais assuntos que refletem a má estruturação política também pode ser um fator de desconstrução do sentimento de pertencimento. No entanto, sobre esse ponto, especifica-mente, podemos colocar que o sentimento de pertencimento é a força motriz para a luta por melhorias no espaço em que se habita. Pelo desejo de viver em um lugar melhor. É anti-conformista. É assim no #OcupeEstelita, onde os militantes têm o desejo de mudar a cidade para melhorá-la, para que ela seja acessível a todos. É o sentimento de pertencimento individual que reflete no desejo do bem-estar coletivo.

Milena:Produtora Cultural, Recifense, 26 anosMudou-se para São Paulo há pouco mais de 3 meses

A minha relação com Recife é muito complexa. Eu nasci em recife, cresci, nunca me mudei de casa até os 26 anos e passei pouco tempo fora da minha casa, durante uma pequena mudança de 3 meses. Eu amo a cidade, não tenho dúvidas, mas odeio também. Odeio o que ela tem se tornado, odeio os caminhos que escolheram pra ela. Às vezes me dá um desespero por não conseguir visualizar um futuro legal pra cidade que não seja uma imensa bolha de prédios de gente rica no centro e na orla e o resto do povo na beira disso. Curto pra ca-ralho ser recifense, não me imagino tendo nascido em outro lugar, noutra cultura, nou-tro país. Amo a cidade, a praia, o centro, os meus amigos e as relações de amizade que estabeleci ao longo da minha vida. tudo o que eu sou e tenho vem do Recife. Eu amo praia, toda ela, e apesar de não frequentar a praia de Boa Viagem, saber que ela existe a 10km da minha casa me dá uma sensação de segurança. me deixa tranquila, me acalma. Mesmo que eu passe um ano sem passar por lá (o que é impossível, but, ok), saber que a praia não andou um centímetro pra longe me deixa mais feliz. O fato dela estar plenamente disponível para consulta. Amo isso. Amo o centro também. Mesmo com a catinga, a sujeira, a vida difícil dos moradores de rua, as mazelinhas, os roubos, a falta de segurança. Mas amo tanto o centro - tanto! - que meus olhos passam um photoshop automático na paisagem e eu vejo tudo lindo. Tem lugares me encantam muito por ali, o mercado de São José, as igre-jas (todas elas), os sobrados, casarões, as ruínas, as pedras do chão das ruas. Isso é foda demais. Amo as minhas relações. a minha família. os meus amigos, os de farra e os de toda hora. os encontros casuais na parada de ônibus, no bar, no cinema, no caminho pra faculdade. Amo as pessoas que eu deixei em reci-fe. Pra caralho. A minha mudança pra São Paulo é desejo antigo. Gosto muito dessa cidade, gosto mais a cada dia, apesar de ainda entender pouco como ela funciona e não saber qual o melhor vagão do metrô pra descer perto da saída..

Igor:

Universitário, Recifense, 20 anosAtivista do movimento #OcupeEstelita

A questão de identidade de brasileiro/pernambucano/recifense se dá muito mais com uma questão afetiva. Não só pela questão espacial, do pertencer a esse lugar, mas do que se constrói nesse lugar. É subjetivo. São as afetividades e seu lugar no mundo que vão se atre-lando ao espaço e ao curso que o tempo vai passando, esse pertencimento pode se enrai-zar ou se perder. As relações sociais é que fazem o espaço e sempre há uma necessidade afetiva que parte de maneira individual ou coletiva em relação à cidade, estado ou país. Os amantes do futebol se identificam com o fato do Brasil ser considerado “país do futebol” e isso o torna, de certo modo, mais brasileiros. Já o sen-timento de não-pertencimento se dá muito

(Sobre aquelas coisas que a gente nem sabia que amava até começar a falar delas)

Igor Ruann

Uma vez o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, Tomás Lapa, me disse que existe uma relação muito forte entre o indivíduo e o solo, que o solo tem uma energia própria. Segundo ele, essa relação é tão forte que em alguns países existe o chamado jus solis - direito do solo. Ou seja, se você nasceu em determinado ter-ritório, você é considerado natural daquele lugar.

A nacionalidade é umas das primeiras identidades impostas ao indivíduo. Não se escolhe nascer em determinado lugar, mas já se pertence ali. Pertencer-se a uma nação implica partilhar referências a um passado comum – uma me-mória, e construir naquele espaço suas próprias vivências.

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(não dá pra não falar dos não-humanos)

Dos Animais

Formada em Jornalismo e pós-graduada em Jornalismo Político, a pernambucana Goretti Queiroz é uma militante ferrenha das causas dos animais. Mais do que isso, ela é uma entu-siasta quando o assunto é cuidado e respeito com todas as formas de vida. Ela ama animais, ama o que faz e não mede esforços para fazer o que acha que é certo. Começou a se interessar pelo assunto quan-do iniciou a carreira de editora no Blog Dog Mídia, cargo que ocupa até hoje. As áreas de atuação de Goretti são as mais diversas, e as redes sociais têm sido grandes aliadas, prin-cipalmente em relação às ações que precisam de campanhas mais rápidas, como resgates e adoções. São usadas, também, para sensibili-zar e chamar a atenção dos internautas para os problemas ligados às causas dos animais, o que tem atraído muitos seguidores no mundo virtual. No Facebook, Goretti faz, acontece e divulga tudo referente às campanhas das quais participa. Quem a conhece sabe: ela é engaja-mento em cada post. Recentemente, a história de um cachorrinho vítima de maus tratos ganhou as páginas dos jornais, portais e deu origem até a uma insti-tuição, a Fundação Dentinho, da qual Goretti é coordenadora. Muito magro, sem pelos e cego, foi assim que o animal foi encontrado. Goretti divulgou, mostrou a situação do cachorrinho da raça poodle, frágil, sem qualquer tipo de proteção ou cuidado. Dentinho mobilizou, sen-sibilizou e fez com que muitos recifenses logo entrassem na fila de adoção. E foi adotado. Ainda bem.Para Goretti, lugar de animal é bem longe de qualquer atividade que envolva exploração. Nada de animal sendo usado como transporte, entretenimento, no caso dos circos, e cobaia das indústrias de cosméticos e higiene, além de ser terminantemente contra a prática da vivissecção, que consiste em dissecar um ani-mal vivo com o propósito de realizar estudos

de natureza anatomo-fisiológica.De acordo com Goretti, Pernambuco viveu, recentemente, muitos avanços no que diz re-speito às causas dos animais. “Já avançamos muito com a nossa ação do MDA, uma vez que conseguimos importantes espaços na luta por políticas públicas, como a implantação do Núcleo Legal de Defesa Animal do Ministério Público, o 3º do país, e a Comissão de Bem Estar e Defesa Animal da OAB/PE e, mais re-centemente, a Secretaria Executiva de Defesa Animal – SEDA, da Prefeitura do Recife, a 4ª no país. Só que o Direito dos Animais está bem acima do que podemos fazer só em Pernambu-co, pois dependemos muito de Leis Federais”, enfatiza a militante. Com as proporções do Facebook e a capaci-dade de atingir vários nichos, a rede social é a principal na divulgação das causas. Existem, por exemplo, vários grupos onde os inte-grantes se mobilizam para ajudar os animaiz-inhos. A publicitária Camila Lemos participa dessas redes de ajuda e tem um papel bem bacana nisso tudo. É que ela oferece o chama-do “lar temporário”, onde os animais ficam até que encontrem um lar fixo para eles. Cada an-imal é anunciado nos grupos ou, no caso dos mais velhinhos, a divulgação precisa ser feita até mesmo em clínicas veterinárias, já que são mais difíceis de serem adotados. “Filhotes são adotados super rápido. Em relação aos out-ros, fica um pouco mais difícil”, afirma. Camila trabalha, também, inscrevendo os animais nas feiras de adoção, eventos decisivos no que diz respeito à garantia dos direitos dos animais. Para adotar, basta querer ter um animal de es-timação, além de precisar saber cuidar, o que exige responsabilidade e, sobretudo, amor.

Gabriella Autran

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Valdeci demorou, mas ligou. Pelo telefone os dois relembraram as histórias da infância e adolescência, e o amor que estava quase esquecido, aflorou novamente. Neemias então fez um convite inesperado. “Ele disse: ‘Venha pra cá pra São Paulo morar comigo’, eu não tinha como negar”. Após seis meses morando juntos, Neemias e Valdecir relembraram tudo que já haviam vivido e, com o casamento, con-cretizaram tudo que um dia foi sonhado.

Mas, como Valdecir gosta de ressaltar, esta é “uma história de amor complicada”. Os filhos de Neemias não aceitaram a ideia de um novo casamento do pai, o que acabou gerando atritos entre o casal.”Eu casei pra ficar por todo tempo, até a morte. Mas aí ele não tomou atitude e deixou o filho dele causar muito problema por causa de dinheiro. Além do mais, era tudo muito diferente. Ele se surpreendeu porque eu já não era a mesma menina de anos atrás,né? E eu também me surpreendi, os dois já es-tavam velhos, mudados, já tinham vivido muita coisa”, relata Valdeci em tom de lamento. A história feita e refeita tantas vezes em sua cabeça se encaminhou para um final não planejado, e após dois anos juntos o relacionamento terminou. “Agora é isso... Ele está vivo e eu estou viva,mas estamos separados. Eu acredito que as coisas tem a hora certa pra acontecer, e talvez, a da gente fosse aquela, quando éramos jovens. O tempo muda muito as pessoas, mas eu não me arrependo de ter tentado. Foi uma história de amor com início e fim”.

(pra mostrar que as vezes a vida é assim mesmo)

Uma história de amor com início e

fimJoão Pascoal

Sempre que alguém começa a contar uma história com: “Bem, não sei nem começar...” esteja certo de que muitas memórias serão relatadas. É assim que Valdeci começa a falar ao ser perguntada sobre sua história de amor com Neemias. Não é uma história de amor qualquer. A própria Valdeci faz questão de frisar que se trata de “uma história de amor complicada”.Naquela época, ainda criança, ela começou a alimentar um sentimento que nem mesmo cinco décadas fariam desapare-cer. “Eu tinha quatro anos e ele tinha nove, a gente brincava junto. Eu vivia correndo, caia muito e ele me protegia. Ele era meu amigo desde pequeno, quase um protetor, foi daí que começou tudo”, relata Valdeci. Ela parece voltar no tempo e se transportar para as ruas do Cabo de Santo Agostinho, que testemunharam inúmeras tardes de diversão que ainda hoje são lembradas com nostalgia.

Nessa época, o interesse de um pelo outro não passava de uma companhia para brincar. A amizade entre os dois se for-taleceu ao longo dos anos, e abriu espaço para um sentimento até então desconhecido para Valdeci. “A tarde só tinha graça quando a gente se via. Eu tinha me apaixonado por ele, e ele por mim”. Como em uma história de amor que se preze, daquelas de filme, nada acontece de maneira fácil. Aos 18 anos, Neemias, pressionado pela família acabou noivando com outra menina. A noiva tinha 16 anos, era mais velha que Valdeci que acabara de chegar aos 13. “Ele dizia que se não fosse tão velho pra mim, a gente se casava. A gente se gostava demais, mas tinha isso da idade”, rememora Valdeci, que ainda hoje parece desejar ter nascido com, ao menos, dois anos de antecedência.

Porém, quis o destino que o noivado de Neemias não fosse adiante. Entretanto, outro obstáculo surgiu. O pai de Neemias recebeu uma oferta de emprego em São Paulo e levou toda a família com ele. “Acabou que foram todos pra São Paulo, e ficamos separados por cinquenta anos”. Após a partida de seu, até então, amigo, Valdeci mal teve tempo para lamentar. Poucos meses depois o matrimônio atravessaria o seu caminho, mas não da forma que ela esperava. “Eu não casei, me casaram”, relata Valdeci. Para seus pais, extremamente conservadores, qualquer relacionamento de amizade que fosse além do aceitável já era transformado em compromisso, e assim foi feito.”Meu amigo me deu um beijo na bochecha, e minha irmã invejosa espalhou que eu estava namorando. Meu pai era muito rígido, e ainda mais naquela época, se estava namorando, tinha que casar”.

Cinquenta anos se passaram. Nesse meio tempo, Valdecir se casou três vezes e teve sete filhos. A vida caminhava sem surpresas, até que um dia, no bairro de Areias, zona oeste do Recife, Valdeci encontrou a irmã de Neemias. Conversa vai, conversa vem, Valdeci soube que Neemias seguia vivendo em São Paulo, desde aquela época. Ele havia se casado por lá e estava viúvo. Ao fim do encontro, a irmã de Neemias deu o número do telefone dele para Valdeci, para que os dois podes-sem conversar. Ao chegar em casa, Valdeci afirma que pensou mil vezes antes de ligar, ficou até com frio na barriga. “Quem imagina uma coisa dessa, né? Depois de cinquenta anos fiquei de novo ansiosa pra falar com ele”, se diverte.

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(drama relâmpago!!!!)

As coisas têm que acabar na hora que acabam (um amor bem grande de uns dias apenas)

Lembro das sombras cobrindo as paredes e o seu rosto a cada vez que passava um carro. A luz do farol causava quase um relevo, era uma homenagem ao antigo, uma prova de que existem bairros bonitos e sobreviventes. Os detalhes da grade eram sua roupa e sua pele, que nem foi com aquela menina no dia em que eu estava tão fora de mim que não ouvia nada que o sotaque do sul dela dizia. Naquele dia pensei em conversar com você mas tive medo, minha liberdade às fica constrangida em chamar atenção. Alguns dias depois somos eu e você naquela mesma varanda, os detalhes da mesma grade, eu no seu colo, o copo de caipirinha no chão, as portas de madeira fosca fechadas (mas não havia nenhuma preocupação real quanto a ser visto). Música no ouvido, pernas, bocas e braços, não havia nada que podia ser feito pra melhorar aquele segundo. A fumaça do cigarro de palha direto na boca.

Laís Araújo

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3.Caipirinhas compradas no início (e ao mesmo tempo no fim) daquela rua que passamos tantos dias subindo, descendo, parando. Era o meu dever naquela sexta-feira: uma rodada de bebidas pra todo mundo e todo mundo era só nós dois. As minhas são melhores, mas se a gente usar um pacote desse açúcar fica bom. Prefiro azeda, mas também gosto assim. Um copo cai e caem também os limões no meu braço, nas minhas pernas. Pedimos outras, toco no seu rosto, falo do quanto estou feliz que você está acordado. Estamos nos divertindo, é a nossa última noite. Empurro seus pés com os meus pés. Contemplo a efemeridade de tudo mas naquele segundo não há tristeza, há só coisas bonitas na rapidez do momento. Tenho vontade de ter você aqui mesmo, na rua. Seria uma história boa. O bar fecha e a gente sai andando.

2. Que desespero. Embarco pra Recife em dois dias e perdi todos os meus documentos e os meus cartões. Não quero o seu dinheiro emprestado, nada disso vai resolver nada. Acho que deixei cair no taxi, já checamos a recepção, o quarto, o estacionamento. A moça da recepção falou que nos ligaria, mas nem quero deixar meu número, só deixo porque você insiste. Vai, me deixa procurar mais uma vez, eu não posso ter perdido isso. R$91 reais por três horas me parece tão absurdo, já me sinto mal pela possibilidade de você pagar sozinho. Estávamos no Largo do Machado, havia janelas grandes e espelhos, havia sido estranho, bom, mas estranho, estranho-bom, mas queria mais, queria espontâneo e queria mais. Vamos embora e você está alerta, nem parece que dormia em pé como enquanto descíamos o elevador. Noite passada tu dormiu duas horas. Não consigo conversar, não vai ficar tudo bem, não precisa mentir. Chegamos no início (e também no fim) da rua, o taxímetro marca R$15, meu telefone toca: Senhora Laís, encontramos seus documentos. Grito, o táxi gira como num filme. Foi perfeito como numa mentira. Agora você tá vivo e vou te levar pra beber.

1. Quase todo mundo já foi embora, não há mais constrangimento nenhum na frente de ninguém. Deitada no can-to do sofá vejo tu falando no celular. Estou fazendo alguma coisa errada? Parece tão correto. Adormeço e acordo várias vezes, na última com você se arrumando do meu lado. Nos beijamos e falamos baixinho, mas nem precis-ava, todo mundo da sala tá dormindo. Vamos, sim, eu topo, vai ser ótimo, só não quero te largar agora. Minha roupa que acho mais bonita, o batom vermelho. Ficamos nos olhando no espelho, talvez num vídeo, num filme, a cena de nós dois fosse bonita. Olho pra tua cama entre as outras tantas e lembro de quando quase fomos ao teatro. Fui te acordar perto das cinco horas, você levou um susto e lembrar da forma como você me olhou dá um certo calafrio bom e triste. A sessão era oito e meia. Conversamos e nos abraçamos e fomos interrompidos pelos outros habitantes do quarto mil e uma vezes e nos beijamos e discutimos e nos abraçamos. É melhor a gente ir, vamos nos atrasar. Descemos as escadas, come alguma coisa que talvez dê tempo. Olho pro relógio que fica na cozinha: caralho, já são meia-noite e meia.

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(no fim a gente tinha que falar de Shakespeare*)

(*e daquilo que o amor não é e dos vazios que a gente car-rega e daquilo que faz a gente ser a gente e das coisas que a gente sempre quis amar mas nunca amou e das dores e dos prazeres e das breguices que cabem e descabem numa revista e de

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gente. Assim como todas as pes-soas são meio bicho meio gente. Na verdade, não é nem meio a meio, é mais pra todo bicho e todo gente. A menina achava incrível que era primitiva e pós-moderna ao mesmo tempo. Tinha um corpo que não controlava, porque o corpo não era ela, mas ao mesmo tempo ela era o corpo. De todo jeito, Alice gostava de se sentir bem. A dor só era boa quando ela se sentia bem. Tipo a penetração, que doía mas era boa. É diferente de cair da bicicleta, que só era bom pela queda, mas não pelo corte. A não ser quando começava a cicatrizar, que dava uma coceira gostosa. Tanto fazia, ela gostava de se sentir bem. Co-mia bolo, chocolate, fumava, bebia, ingeria um monte de coisa e desin-geria um monte também. E gostava disso tudo. Era bem simples, fazia o que gostava e não fazia o que não gostava, ou fazia, mas não gostava mesmo assim. O problema é que às vezes ela gostava das coisas mas sabia que não era certo. Não que não fosse certo pela proibição, pela restrição, porque era muito bicho e pouco gente, mas porque era violento demais. E não era aquela violência animal, de macaco com macaco ou cachorro brincando de morder o rabo, era violência insti-tucionalizada mesmo. Era consumo, era desgaste, era excesso. Tudo que ela podia fazer mas não devia. Tipo Romeu e Julieta que eram só desejo e todo mundo sabia que ia dar errado, até eles, e mesmo assim fizeram e fariam tudo de novo. Não é sobre amor. Nunca foi sobre amor. É so-bre violência. E era isso que repetia nos prazeres violentos de Alice. O prazer e a violência.

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A gente acorda com o sol e com os passos, você ri e avisa que sua blusa xadrez está ao contrário em mim. Parece gostar. Eu gostei. Estou amassando seu braço, abraçando com as pernas, não somos discretos. Havia trinta e três novos-talvez-amigos no albergue, agora não passa de dez ou doze. Que lindos vocês dois, Isis disse. Acho que éramos, ali na cama-sofá que ficava no meio da sala do último andar, entre uns pedaços de sol insistentes. Nin-guém olhava ou reparava ou falava mais de uma vez, era tão óbvio. Fomos tentar dormir no quarto, seu vôo era daqui a pouco. Tentamos dormir mas só conseguíamos falar. Você arruma a mala, eu tomo um banho: te vejo no corredor, um beijinho, penso em te convidar pra ir naquele restaurante do início-fim da rua. Desisto, é um pouco demais, já tá acabando, pra que isso? Digo que não é nada e você faz o convite que eu queria.

As pessoas dão muitos beijos e abraços quando sabem que não vão se ver por um tempo muito longo, talvez um tempo-nunca-mais. Me mantenho pouco afetada, seguro bem firme os meus olhos, acho tão cafona chorar. Anda-mos pela rua, estou achando esse taxista um pouco rude. O vôo é no Santos Dumont, isso é bom porque é mais perto que o Galeão. Olho pra tu e sinto tristeza, não sei explicar, não vou demonstrar, tenha uma boa viagem, viu? Você me entrega a camisa xadrez que acordei vestida ao contrário, é pra eu ficar, levar comigo embora. Aceito, não sei o que dizer, digo tchau, me viro, vou embora. Fecho a porta do que foi tão aconchegante por tantos dias e não consigo deixar os olhos imóveis, subo pro quarto vazio e alivio um pouco a agonia que senti, mas nada muito dramático, isso de drama eu acho um pouco cafona.

Uma mensagem bêbado que me deixa arrepiada. Respondo e nada. Pergunto e nada. Antes disso você havia dito que gostava de mim, que também queria me ver, passou aquela música que ainda não foi lançada e aquela outra que eu não conhecia. Evitei o quanto dava mas já era automático a conversa sempre que eu parava da vida daqui e sentava no computador. Você responde de repente: sim, levemente bêbado, mas uma merda aconteceu. Já sin-to o que é e sinto certo. Vamos ter que parar de nos falar. É uma pena, mas vai ter que ser assim. Vou te excluir, ok? Tá bom? Você tá aí? Você namora e ela viu tudo. Mas agora já está tudo bem. Horas depois tu disse obrigada pelas noites e pelo Siba. Não respondi nada. Pensei em responder. Estava bloqueada. Você não existe mais na única forma que existia antes, então não existe mais e pronto. Se eu for pra Recife falo com você. Gravei o disco que te prometi e fiz a capa com cartolinas, mas os correios estraram em greve.

Envelope amassado dentro da gaveta, tiro a camisa do cabide. Devia ter mandado um beijo.

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