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OUZA ANO 3 - Nº 18 AGO-SET/2013 R$ 9,99 revistaa.net BR-135 Bem-vindo à Oeste, Bahia miscellanea TRAPICHE: MAIS QUE UM BAR, AGORA EM BARREIRINHAS LEMBRANCEIRAS: IÊDA MARQUES LANÇA LIVRO COM IMAGENS CAPTADAS DESDE OS ANOS 1980 cult PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE DE SÃO DESIDÉRIO PEDE ATENÇÃO

Revista A ed. 18

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Pra você que está sempre na frente

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BR-135Bem-vindo à

Oeste, Bahia

miscellaneaTRAPICHE: MAIS QUE UM BAR,

AGORA EM BARREIRINHAS

LEMBRANCEIRAS: IÊDA MARQUES

LANÇA LIVRO COM IMAGENS

CAPTADAS DESDE OS ANOS 1980

cultPatrimônio da humanidade de São deSidério Pede atenção

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Um projeto ambicioso

Com a publicação da primeira edição da r.a, começamos a colo-car em prática um ambicioso projeto de integração da região através do jornalismo. Só o Oeste é maior que muitos estados brasileiros. Mas, infelizmente, muitos dos que aqui moram des-conhecem a realidade social, cultural e conjuntural desta Bahia.

Por isso, investimos em reportagens como esta estampada na capa sobre a BR-135. Afinal, qual a situação desse importante corredor rodoviário que corta a Bahia da divisa com o Piauí à divisa com o estado mineiro?

Para compreender por que a Pesquisa CNT de Rodovias de 2012 consi-derou a BR-135 “RUIM” no estado baiano, viajamos do Km 0 ao Km 462. O que vimos é, no mínimo, preocupante. E a incompetência da administração pública está presente em praticamente todos os quilômetros.

Encontramos pontes inacabadas, irregularidades no processo de licencia-mento ambiental, trechos sem asfalto, pontes de madeira em ruína, pro-blemas com desapropriação, geometria inapropriada, sinalização precária, pavimentação deficiente e, claro, muita reclamação.

Até o final do ano eleitoreiro de 2014, estão previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) um investimento total de R$ 348 milhões na BR-135, na Bahia. Se esses recursos vão resolver os problemas da rodovia, não se sabe. Aliás, não se sabe nem se eles, realmente, chegarão até aqui. Mas, como é ano de eleição, “tudo” é possível. Inclusive, nada, como diria um filósofo músico baiano.

Destacamos também, nesta edição, o Congresso Brasileiro de Espeleologia (CBE), realizado em Barreiras. Foram sete dias de debates em torno da ciên-cia dedicada às cavidades do solo. As de São Desidério, então, dispensam comentário. Consideradas patrimônio da humanidade, elas correm o risco de ser “atropeladas” pela BR-135 que, acredite, tem seu traçado exatamente por cima dessa área.

A riqueza social, ambiental, cultural e econômica da região Oeste é ines-timável. O problema é que poucos conhecem essa realidade. Por isso que, a cada edição, sentimos que estamos cumprindo a missão proposta desde o início: integrar a região através de um jornalismo sério, que valoriza todos os esforços para transformar e melhorar a realidade.

Do editor

Ouza Editora Ltda.

DirEtOr DE rEDaçãO E EDitOr Cícero Félix (Drt-PB 2725/99)

(77) 9131.2243 e 9906.4554 [email protected]

DirEtOra COmErCiaL anne Stella

(77) 9123.3307 e 9945.0994 [email protected]

rEDaçãO Gabriela Flôres

(77) 9987.2220

SECrEtária DE rEDaçãO Carol Freitas

(77) 8826.5620 e 9176.4555 [email protected]

iLuStraçãO Júlio César

EDiçãO DE artE Leilson Soares

COnSuLtOria DE mODa Karine magalhães

rEviSãO rônei rocha e aderlan messias

imPrESSãO Coronário Editora e Gráfica

tiraGEm 3 mil exemplares

aSSinaturaS/COntatOS COmErCiaiS Barreiras

(77) 9906.4554 / 9131.2243 / 9123.3307Barra

Helena: (74) 3662.3621Bom Jesus da Lapa

Gisele: (77) 9127.7401Luís Eduardo magalhães

anton roos: (77) 9971.7341 Dávila Kess: (77) 9173.6997 / mônica Zanotto: (77) 9969.9679

Santa maria da vitória marco athayde: (77) 3483.1134 / 9118.1120 / 9939.1224

rosa tunes: (77) 9804.6408 / 9161.3797

Av. Clériston Andrade, 1.111 - Sala 16 Tel.: (77) 3611.7976 - Centro - Barreiras (BA)

ANO 3 - Nº 18 AgO-SET/2013

A r.A obedece a Nova Ortografia da Língua Portuguesa e não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nas

colunas assinadas.

www.revistaa.net

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16 | A MisCellAneACiência: Congresso Brasileiro de Espeleologia em BarreirasObituário: morrem Dominguinhos e Prisilina Fidelisreligião: a nova cara da igreja CatólicaO personagem: Seu Bida, uma lição que não se aprende na escolaDesenrola a língua: por aderlan messiasFashion Cult: por Dávila KessExclamação: por Karine magalhães

29 | eConoMiA & MerCAdoLocação de máquinas: a brincadeira virou negócioEmpreendimento: Park verde entrega primeira etapa Opinião/iuri Fernandes: novos Estados: emancipacionismo e impopularidade 36 | entrevistA: MÁRCIO CARVALHO reforma, o calo político 42 | CApA BR-135. Aqui, no Oeste da Bahia, ela chega ao fim. É o fim!

54 | uM lugArrui rezente: Santuário da Lapa

56 | Cultnoite de Barreiras: O novo trapicheFotografia: a luz do olhar de iêda marques impressões: por anton roos Esporte: Pôquer, a arte do blefe

64 | soCiAlGelo, Limão e açúcar: por tizziana Oliveira

índice

c.félix

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ago-set/2013 revis ta da bahia 9

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[email protected]

Canaisleitor

revista a

Ação da polícia contra manifestantes“Quero externar minha solidariedade aos bravos MANIFESTANTES da cidade de BARREIRAS, e a todos que bravamente ocupam as ruas cobrando seus direitos de forma pacífica e ordeira. Ao mesmo tempo, repudio toda ação covarde e arbitrária do Estado brasileiro que usou do braço militar como repressão ao povo trazendo a tona o caos ao invés do diálogo. Continuem firmes nessa luta, mesmo sendo poucos, vocês demons-traram força e coragem e não se calaram frente à força brutal e covarde. Aqueles que se apoiam em argumentos não temem o po-der da bala, vocês são provas concretas disso. Estou extremamente orgulhoso da juventude deste nosso Oeste com ranço de velho que caminha rumo a um Oeste novo e melhor para todos. Cada marca de bala no corpo desses jovens, e de tanto outros, são marcas profundas em nossa democracia. Acredito na força do povo, acredito na força que vejo na luta de vocês que também é minha mesmo que distante. Avante! Na luta sempre!” Robson Vieira

“Que linda matéria! Fui às lágrimas! Muito obrigada pela verdade... Obrigada pelo profissionalismo da cobertura.”Berenice Lima Peres

“Muito boa a matéria, apesar de eu considerar que Comissão da Paz e CDL não representam anseios da sociedade que queremos, a fala da Presidenta da OAB foi ótima. Já a fala do prefeito, só reforça o que ele é: um despreparado, que não sabe pra que veio e acha que Barreiras é a mesma dos anos anteriores. A gente não tem medo, Tonhão!Parabéns aos corajosXs manifestantes e meu repúdio à decisão do GOVERNO ESTADUAL de reprimir o ato pacífico. Ousando lutar, venceremos!”Paula Vielmo

Matéria sobre o Dia do Rock“Um salve a essas bandas que, embora popular somente pra uma minoria, não desistem de levar o bom e velho rock’n roll pra quem gosta desse estilo musical! Um salve aos garotos da Quase Urbanus, que de vez em sempre hipnotiza e seduz a plateia que pra pra admirar seu som; outro salve à RIPA! Outro salve bem forte pra quem promove, ouve, incentiva, comparece, FAZ o rock de Barreiras acontecer!”Évelyn Knebel

“É o fim da era pagodão! eu já falei! tá vindo coisa boa por aí, podem esperar! o gigante acordou com uma guitarra na mão!”Ranieri Resende

ErrataO município de Exu fica em Pernambuco e não no Ceará, como foi publicado em “O personagem” na seção miscellanea da edição 17 da r.a.

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caiunarede Colaboração do internautaEnvie uma foto, sugestão de pauta, comentário. Participe! Você faz a notícia.

O Programa das Nações Unidas divulgou recentemente dados o IDH dos municípios. O índice usa como base a renda, longevidade e educação. De modo geral o país mudou de “muito baixo” (0,493) em 1991 para “alto desenvolvimento humano” (0,727), em 2010. No Oeste, Barreiras ficou em 1º lugar.

Centro de Testagem, Aconselhamento e Serviço Ambulatorial Especializado Edgard Pita (CTA SAE) de Barreiras divulgou dados preocupantes sobre a infecção por HIV na região. Ano passado, 280 novos casos foram registrados, contra 56 em 2011. As mulheres são as mais infectadas.

A NATUREZA SURREAL DE CORDEIRO

Melhora o Índice de desenvolviMento huMano (idh)

auMenta eM 500% o núMero de casos de infecção por hiv

Não tenho medo de dizer o que eu penso. Enquanto tiver vereador que pensa de forma retrógrada, de ter vez no governo, de ter emprego, de ter cargo para sustentar seus cabos eleitorais, a cidade não vai pra lugar nenhum.”Do vereador Digão Sá, em entrevista exclusiva ao revistaa.net. Apesar de ser da base do governo, por duas vezes foi contra a orientação da bancada. Menu Entrevistas

estatísticas

Barreiras 0,628 0,723 0,721

LEM - - 0,716

Bom Jesus da Lapa 0,554 0,654 0,633

Formosa do R. Preto 0,558 0,646 0,618

Santa Maria da Vitória 0,536 0,669 0,614

1º2º3º4º5º

MuniCípios 1991 2000 2010

Encontre a notícia Digite a tag na ferramenta de busca do site para localizar sua informação.

“mais de 300 veículos fazem transporte ilegal na região”

“Casos de abandono de crianças é comum em Barreiras”

Coordenador da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), Carloizo Santos.

Natural de São Desidério e radicado em Barreiras, Inácio Cordeiro expôs suas obras na Expoagro, em julho. O Homem Vegetal, a Onça Pintada e o Veado Campeiro atrairam a curiosidade de adultos e crianças. O objetivo da exposição foi despertar nas pessoas o respeito pelo meio ambiente.

Presidente do Conselho Tutelar,Fabiana Morato diz que denúnciasmais frequentes são de abandono de incapaz.

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abordo

Beleza alternativaConfira os flagrantes fotográficos captados durante a viagem pela Br-135 para reportagem de capa desta edição. na foto, a estrada entre São Desidério e Catolândia, uma alternativa para o novo traçado da rodovia, que está emperrada há cerca de 10, anos devido a problemas com desapropriação e licença ambiental.

Veja outras fotos no menu Ensaios/A bordo www.revistaa.net

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euquero

1 Baú Mart Zebra com fecho + alçasBuritis presentes (77) 3611.8531

4 Perfume Carolina Herrera 100mligABelezA (77) 3611.0639

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2 Sandália Lilica RipilicaliliCA & tigor (77) 3612.3626

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miscellaneaeventos, design, tendência, moda...

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pATRImôNIO DA hUmANIDADE

cársticO de sãO desidériO

Congresso Brasileiro de Espeleologia realizado pela primeira vez no nordeste tenta despertar

consciência sobre a importância das cavidades e rios subterrâneos no solo do Oeste

texto C.FÉLiX

lago do cruzeiroConsiderado o maior lago subterrâneo das

Américas, fica na caverna do Buraco do Inferno da Lagoa do Cemitério

CiÊnCiA

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miscellanea

Pela primeira vez, o Congresso Brasileiro de Espeleologia (CBE) foi realizado no Nordeste. Mais que justo. “Há uma diversidade espeleológica imensa na região”, defendeu Leo-nardo Morado, doutor em geologia, professor da Universida-

de Federal do Oeste e um dos organizadores do congresso que está em sua 32ª edição. O evento foi sediado no IFBA, em Barreiras, e transcorreu entre os dias 8 e 14 de julho.

Além de promover o debate em torno da espeleologia (estudo das cavidades naturais do solo), inclusive com palestrantes es-trangeiros e estudiosos de todas as regiões do país, o CBE busca despertar o interesse sobre o assunto. “Que mais e mais pessoas conheçam e valorizem o patrimônio de cavernas que possuímos”, enfatizou Morato.

“Muitas pessoas daqui nem sabiam que há cavernas em São Desidério. Falta divulgação do potencial turístico e científico pe-los órgãos municipais. Nem as mineradoras tiveram interesse em apoiar o evento”, disse Bruna Oliveira. Ela faz parte do Morcegos do Cerrado Espeleo grupo (MorCEg),formado por estudantes da Ufob das áreas de biologia, geologia, engenharia ambiental e geografia.

O grupo ajudou a organizar o congresso e tem realizado um tra-balho documental de valor inestimável para a área espeleológica através de mapeamento, registros fotográficos e pesquisas no mu-nicípios de São Desidério e Barreiras. Vários artigos científicos já foram gerados a partir de prospecções de campo orientados pelo professor Morato.

“As cavernas podem guardar diversas informações sobre o pas-sado e evolução da Terra. No desenvolver de seus espeleotemas [formas minerais como estalactites e estalagmites], podem ficar registradas por exemplo as variações climáticas que determinada região atravessou. Isso contribui até para as recentes discussões sobre o aquecimento global, suas causas, e as tendências climá-ticas para o futuro”, disse Morato que, inevitavelmente, entra no assunto sobre a construção da BR-135, tema de capa desta edição.

Para o professor, a construção da rodovia sobre o sistema cársti-co (conjunto de cavidades debaixo do solo por onde podem passar rios subterrâneos) pode afetar todo equilíbrio do sistema e selar qualquer possibilidade de investigação científica para a humani-dade. Já foram identificadas 256 entradas de cavidades pelo Cen-tro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav) do Instituto Chico Mendes no sistema cárstico de São Desidério. A maioria sequer tem nome.

“Isso é aqui um ‘hotspot’. É o que a gente chama de ponto quente, que tem que ser conservado. É um Yellowstone da vida, é um Deserto do Atakama, é o Pantanal Mato-grossense. Eles vão guardar uma biodiversidade e uma diversidade eco-lógica única nesse lugar. Vai aparecer um bocado de coisa que não foi sequer descoberta ainda”, diz o professor Prudente Neto, que coordenou uma mesa redonda sobre a BR-135 no CBE.

Alinhado à definição de Neto, o cientista cubano Ángel graña gonzález, presidente da Federação Espeleológica da América Latina e do Caribe, declarou: “es patrimonio de la hu-manidade”. O que se conhecia de espeleologia nas américas até então, foi superada.

“O maior lago subterrâneo é o Lago do Cruzeiro, dentro do Buraco do Inferno da Lagoa do Cemitério, a Bacupari tem o maior salão subterrâneo. O Rio João Rodrigues Rodrigues en-tra na terra, faz a caverna, sai, entra”, explica Jocy Brandão, coordenador do Cecav. O impacto sobre uma caverna, alerta ele, pode gerar até problema com falta de água na região.

Aliás, o Cecav defendeu no congresso a transformação da área cárstica de São Desidério em Unidade de Conservação Federal (UFC), para preservar definitivamente o patrimônio es-peleológico da região e espantar de vez a possibilidade da pavimentação sobre o sistema.

Não é preciso, no entanto, esperar que seja criada essa UFC, para proteger essa área. Realizar o Congresso Brasileiro de Espeleologia aqui, no Oeste, já foi um passo importante nessa direção. Agora, é esperar para conferir se realmente o CBE conseguiu cumprir sua função social de despertar, principal-mente nas autoridades públicas, a consciência de valorização e respeito por este patrimônio da humanidade.

PrograMaÇÃoNo decorrer dos sete dias de evento foram realizadas conferências, mesas redondas, apresentações de trabalhos e excursões. Nas fotos acima, visita à Gruta da Beleza, em São Desidério, rica em espeleotemas

fotos: c.félix

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Matéria completa, fotos e vídeos na reportagem “Manifestantes classificam de covardia ação policial”. Digite manifestação na Busca do site www.revistaa.net

A terceira manifestação realizada em Barreiras, desde que o país foi toma-do por uma onda de protestos, não terminou bem. Um grupo formado em sua maioria por alunos e professores universitários interditavam a ponte Aylon Macedo desde o meio dia, com uma carta de reivindicações dirigida ao poder pública municipal. Era 1º de julho e em todo o País rodovias estavam interditadas por caminhoneiros.

O grupo pretendia liberar a ponte meia noite, mas foram obrigados a liberá-la antes. Já passava das 21h, quando a polícia militar, atendendo a uma ordem do comando geral de Salvador começou a dispersar os mani-festantes. Com cassetetes, bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha, os policiais partiram para cima do grupo.

“A gente fazia um cordão humano. Um me puxou, me empurrou e quan-do olhei vi outro policial me apontando a arma. Nunca vi uma ação tão covarde. Me senti extremamente órfão sendo atacada por alguém que deveria me defender”, declarou Renata Jucá, professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia. Ela participava do movimento e acabou sendo atingida por uma bala de borracha.

A cena lembrava o período truculento da ditadura. Em pouco tempo, os manifestantes que protestavam de forma ordeira foram dispersados com força desproporcional.

Dias depois, representantes da sociedade civil organizada se manifestaram contra a ação policial. Em nota, a subseção da OAB de Barreiras declarou: “Em uma democracia, é sim dever da polícia garantir a ordem, contudo respeitando o constitucionalmente direito consagrado à liberdade de expressão. Infelizmente, não foi o que se viu na lamentável atuação dos agentes públicos da PM baiana na referida oportunidade”.

polícia usa bombas e balas de borracha para dispersar manifestantes

EM BARREiRAs

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miscellanea

Nascida no dia 22 de setembro de 1923 em Santa Rita de Cássia, Prisili-na se considerava barreirense de coração. Chegou em Barreiras devido a transferência do marido que trabalhava nos telégrafos. A professora foi responsável pela criação da primeira escola particular de Barreiras.

Tendo vivido há mais de 60 anos em Barreiras, Prisilina publicou um livro denominado “Barreiras conta a sua história”, que narra às transfor-mações que presenciou durante o desenvolvimento do município. A leitura fácil foi feita para atrair a atenção dos jovens.

“O jovem de hoje não gosta de ler sobre a história, mas a linguagem do livro é fácil. Os outros livros são outras pessoas contando a história, mas ninguém nunca escreveu se colocando na pele da cidade de Barreiras”, revelou a escritora em sua última entrevista que foi dada a r. a.

pRisiLinA RiBEiRo FiDELis

mOrrE, aOS 90 anOS, autOra DE “BarrEiraS COnta a Sua HiStÓria

O sanfoneiro e cantor Dominguinhos morreu no dia 23 de julho no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em de-corrência de complicações infecciosas

e cardíacas. Ele estava internado desde dezem-bro do ano passado. O cantor tinha 72 anos e foi enterrado no Recife. Ele lutava há seis anos contra um câncer de pulmão. Ao longo do trata-mento, ele desenvolveu insuficiência ventricu-lar, arritmia cardíaca e diabetes.

O sanfoneiro era considerado o mais importante do país e herdeiro artístico de Luiz gonzaga (1912-1989). Ele trabalhou com o Rei do Baião e ganhou dele a primeira sanfona. Instrumentista, cantor e compositor, Dominguinhos ganhou, em 2002, o grammy Latino com o “CD Chegando de Mansi-nho”. Fez parcerias de sucesso com músicos como gilberto gil, Chico Buarque, Anastácia e Djavan.

Trajetória - Nascido em 1941, José Domingos de Morais, veio de uma família humilde de ga-ranhuns e herdou os dotes musicais de seu pai Chicão, que era sanfoneiro. Quando criança, ele

SILêNCIO NO fORRó

LuTo

formou o trio Os Três Pinguins com seus dois ir-mãos. Logo depois, ele conheceu Luiz gonzaga na porta de seu hotel. O músico ficou impressionado e chamou Dominguinhos para ir ao Rio de Janeiro. Mais tarde, ele fez parte da equipe do Rei do Baião e foi reconhecido por cantores como gilberto gil, Maria Bethânia, Elba Ramalho e Toquinho.

A cantora pernambucana Anastácia fazia parte do grupo de gonzaga e não demorou a fazer parte da vida de Dominguinhos. Os dois iniciaram uma parceira dentro e fora dos palcos, que os levou ao casamento. No entanto, o casamento com Anas-tácia não deu certo e Dominguinhos acabou se envolvendo com outra cantora, também pernam-bucana, guadalupe.

O primeiro disco de Dominguinhos foi “Fim de Festa”, lançado em 1964. O último foi “Yamandu + Dominguinhos”, em 2008. Ao longo dessas déca-das de carreira, lançou dezenas de discos.

Herdeiro artístico de Luiz gonzaga, Dominguinhos lutava contra um câncer de pulmão há seis anos. Pernambucano de garanhuns, ele gravou seu primeiro disco em 1964

eM SÃo PauloHospitalizado desde dezembro, Dominguinhos, 72 anos, faleceu no Hospital Sírio-Libanês

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Se uma pessoa é gay e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Ele diz que eles não devem ser marginalizados por causa disso, mas que devem ser integrados à sociedade”

Cada religião tem suas crenças. Se há uma criança que tem fome, que não tem educação (...) e essa educação virá dos católicos, dos protestantes, dos ortodoxos ou dos judeus, não importa. O que me importa é que a eduquem e saciem a sua fome”

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A NOvA CARA DA IgREjA CATóLICA

JoRnADA MunDiAL DA JuVEnTuDE

Após quatro meses no mais alto cargo da Igreja Católica, Jor-ge Mario Bergoglio, 76 anos, mudou a relação da igreja com os fiéis. Humilde e simpático, Papa Francisco veio ao Brasil em julho para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Durante a visita o líder dos católicos mostrou essa mudança dentro da igreja. Ignorou o luxo, manteve a janela do carro sempre aberta, beijou crianças, visitou uma comunidade carente, distribuiu benções e até, experimentou chimarrão.

“Eu me senti recebido com um afeto que desconhecia, de forma muito calorosa. O povo brasileiro tem um grande coração. Quanto à rivalidade, creio que já está totalmente superada. Porque negociamos bem: o Papa é argentino e Deus é brasileiro”, disse o pontífice em uma entrevista.

Nunca se viu um papa falar sobre assuntos polêmicos. Ao ser questionado sobre a evasão de católicos para outras religiões, o papa levantou uma hipótese que acredita ser a causa de igreja estar perdendo os fiéis ao longo dos anos.

“Para mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe… dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, se descuida disso e só se comunica com docu-mentos, é como uma mãe que se comunica com seu filho por carta”, declara Francisco.

Durante o voo de volta para Roma, Francisco respondeu a mais perguntas de jornalistas. E mais uma vez surpreendeu a todos ao falar sobre um tema que sempre causa discussões dentro da igreja; o homossexualismo.

“Se uma pessoa é gay e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Ele diz que eles não devem ser mar-ginalizados por causa disso, mas que devem ser integrados à sociedade”, respondeu, em uma das mais generosas referên-cias aos homossexuais já feitas por um pontífice.

Antes de ir, Francisco deixou uma mensagem ao povo brasileiro demonstrando o desejo de que as pessoas possam ajudar o próximo sem pensar em ter algo em troca.

“Cada religião tem suas crenças. Mas, dentro dos valores de sua própria fé, trabalhar pelo próximo. E nos encontrarmos todos para trabalhar pelos outros. Se há uma criança que tem fome, que não tem educação, o que deve nos mobilizar é que ela deixe de ter fome e tenha educação. Se essa educação virá dos católicos, dos protestantes, dos ortodoxos ou dos judeus, não importa. O que me importa é que a eduquem e saciem a sua fome”, declara.

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Seu Bida,uma lição que nãose aprende na escolaInventor da famosa cachaça “Bananinha” e de mais dez tipos, pelo menos, Alcebíades Barbosa mal assina o nome. Mas, na vida, só inveja o estudo. Ele não admite mas, na verdade, é um professor.texto/foto C.FÉLIX

miscellanea

O personagem

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-Seu Alcebíades, como o senhor aprendeu a fazer um trem tão puro desse - o grau ideal -, nesse recanto da Bahia? – perguntou o especialista mineiro em um evento em Santa Maria da Vitória para avaliar a cachaça

feita na região- Com o suor do rosto! Uma coisa que meu pai nos ensinou foi não

roubar, trabalhar com a consciência. Agora eu quero ser o Rei da Ca-chaça! Não pela quantidade, mas pela qualidade – respondeu Seu Bida, como é conhecido em Correntina, debaixo de um aplauso efusivo.

Isso faz uns 15 anos, mas ele conta como se tivesse acontecido ontem. Todo envaidecido, diz: “Já veio pinga de vários lugares mas nunca bateu a minha, no sabor. Eu já deixei de ganhar muito dinheiro pra ensinar a fazer a bananinha”. Esta é a cachaça mais famosa de pelo menos uma dúzia feita por Seu Bida, um simpático senhor de 71 anos com bigode e cabelos brancos que mora na zona rural de Correntina.

“Quando eu comprei isso aqui eu dormia uma hora na noite. Saía de casa de madrugada para moer, chegava aqui, enchia os tachos e ia pra roça molhar feijão. Saía umas 7h, 8h da noite e ia encher os litros porque não tinha bujão. Ia dormir 11h e quando era 12h o relógio me chamava e eu começava tudo de novo”, relembra, enfatizando o quanto era sofrido. Na época tinha três filhos. Casou-se com 22 anos e nos oito anos seguintes foram oito filhos. “Aí a gente parou e resolveu zelar dos filhos e da nossa vida”.

A propriedade vem de sua bisavó e foi adquirida pelo seu pai, que comprou a herança dos outros familiares e ali terminou de criar os 10 filhos. “Meu pai é vivo e vende pinga pra mim na cidade. Ele tem 95 anos, mas você não diz. Ele fez duas viagens ao Mato grosso a pé”, conta com entusiasmo.

Seu Bida aprendeu a fazer a cachaça sozinho. Trabalhava com o pai fazendo rapadura e veio a curiosidade pelo destilado. “Já tenho 40 anos nessa profissão e ainda não aprendi tudo que tenho pra aprender. Isso aqui é uma aula que você estuda, estuda e não aprende tudo. Cada ano você inventa uma coisa. Se você quer uma pinga de qualidade você inventa, né? Mas num dá pra viver só disso aqui, não. Eu vendo leite, tenho minha aposentadoria e aí vai dando pra lamber. Compra uma camisa esse mês, no outro já compra uma cueca, crio umas vaquinhas ali. Aqui se aproveita tudo”.

Este ano, a produção vai ser pouca, lamenta Seu Bida. Já che-gou a fazer até 10 mil litros. Ano passado fez 5 mil, mas este ano, se der, vai ser uns 2 mil litros. Ele diz que faz umas oito varieda-des, mas quando começa enumerar são 11: bananinha, goiabi-nha, aroeira, vick, cagaita, capim santo, umburana, manjericão, maracujá, cravinho, abacaxi.

“Calcei a primeira precata eu tinha 14 anos. Levei umas 10 quedas antes de chegar na escola porque eu não sabia usar a precata. Fui criado -não tenho vergonha, não! - em cama de vara. Eu e mais quatro irmãos. Aí, depois que as coisas foram evoluindo, com muito tempo apareceram dois sapateiros aqui em Correntina e começaram a fazer precata. Nessa época eu vendia um bezerro pra comprar um par de precata, pra você vê como era difícil pra nós. A gente tomava banho, vestia a roupinha limpa, mas ficava com o pé no chão porque não tinha dinheiro pra comprar precata. A vida foi muito sofrida pra gente chegar aonde chegou hoje, mas sempre com a barriga cheia. Meu pai colhia as sacarias de feijão, farinha e quando não prestava jogava fora porque não tinha pra quem vender. Era muita fartura, mas uma parte da vida foi muito difícil”, relembra.

Orgulhoso de sua vida, Alcebíades Pereira Barbosa, ao lado de sua mulher Maria, conhecida como Roca de Bida, diz que a única coisa na vida que inveja é o estudo. “Não tive escola. Assino o nome na carreira, senão só sai o risco. A família de meu pai é toda inteligente, mas não tivemos escola”.

Quando fala dos filhos, Seu Bida fica mais reflexivo. “Isso aqui era tudo cheio de cana, mas quando meus meninos arrumaram os serviços deles aí eu disse: ‘agora é pouca cana’”. A metáfora ilustra sua vontade de parar, de não “empatar” mais seus filhos. “O velho vai chegando para a idade, é hora de descansar, né? Eu tenho eles numa prisão. É meu filho e tem o meu compadre que trabalha comigo desde o começo. Eu dei a escola pros meus oito filhos. Mas só a caçula Zilma, que mora em Brasília e tem 26 anos, fez faculdade e agora está fazendo pós-graduação. Os outros trabalham na cidade e sábado e domingo eles tiram para me ajudar. Eu não quero isso, o dia que eles têm para descansar, ficar com a família, eles vêm para me ajudar. Eu tenho nove netos, vou ter mais um na semana que vem. Ano que vem se meu compadre quiser mexer eu ainda faço pinga, mas se ele não quiser, eu não faço mais. Aí eu vou dar a cana pro meu genro pra ele fazer”.

O sonho de se tornar o Rei da Cachaça, no íntimo, foi realizado. Mas, quem sabe, ainda pode ganhar um bom dinheiro com o sucesso da bananinha. “Tô esperando um empresário vir aqui me buscar. Vou ensinar pra ele. Mas assim: eu quero fazer meus pés de cocho, quero um alambique do meu, a fornalha do mesmo sis-tema da minha e vou ficar lá por seis meses. Agora, não é pouco dinheiro que eu quero não”, diz em gargalhada. “Eu morro e levo esse segredo, o gosto da pinga”.

trêS hoMenS e uM engenhoCansado, Seu Bida pensa em parar para dar a seu filho (centro) um

futuro diferente. “Ano que vem se meu compadre (direita) quiser mexer eu ainda faço pinga, mas se ele não quiser, eu não faço mais.

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24 revis ta da bahia ago-set/2013

Desenrola aderlan messias Professor universitário, licenciado em Letras

Vernáculas, bacharel em Direito e especialista em Psicopedagogia e pós-graduado em Criminologia

CONECTADOfacebook: [email protected]

e-mail: [email protected]

por AderlAn MessiAs

Piriguete e Ricardãono dicionário

Foi com esta letra da música “As piriguetes chegaram” que a palavra “piriguete”, surgida nas favelas de Salvador e tida como gíria marginal, ganha rapida-

mente seu espaço nos grupos sociais. Atrelada a ela tantos outros vocábulos, a exemplo de “ricardão” e “ficar” são pro-pagados corriqueiramente pela mídia. Isso demonstra que a língua é um organismo vivo. Ela está em constante mutação.

Por conta disso, surge um grupo de pesquisadores, co-nhecidos como lexicógrafos, que analisa a possibilidade de inserção dos vocábulos no dicionário brasileiro. Vale lembrar que muitas palavras ou sentidos só entram no dicionário de-pois de muita pesquisa. Um dos critérios é não haver dúvida da sua etimologia. Piriguete, por exemplo, é um neologismo, fruto da junção das palavras “perigosa” e “girl” (garota em inglês). Dada uma condição do uso da língua no dia a dia, o termo “perigosa” transformou-se em “pirigosa” e para não ficar estranha a pronúnica, passou-se a utilizar o guete, e estava feita a adaptação.

Engraçado que o dicionário Aurélio, por exemplo, tem su-avisado o conceito. A expressão piriguete significa “moça ou mulher que, não tendo namorado, demonstra interesse por qualquer um”. Ao que se vê, este conceito é bastante harmo-nioso, pois na visão de cada pessoa, vários são os significa-dos, sobretudo para a classe masculina.

Nesta classe, a concepção tida é de mulher “gostosa”, que vai à caça, que usa short curto, marquinha de sol à mostra, uma pesada maquiagem, e que está em toda festa, sobretudo de pagode. Muitos, ironicamente afirmam que só saem com elas para se divertir e nada mais. Agregado a este sentido de amor passageiro e sem compromisso, tem-se o uso do termo “ficar”, que também ganhou página no dicionário.

Outra que tem conquistado espaço no Aurélio é “Ricardão”. Termo bastante utilizado nos filmes e obras como Estação Carandiru, de Dráuzio Varella (1999, p.61): “tu bateu no meu reconhecimento, maluco. Descolei que você é o Ricardão da minha mulher. Agora vai morrer!” Tal vocábulo faz referên-cia àquele que assume a condição de amante. Ele é do tipo que está à disposição da mulher casada a qualquer hora, em qualquer lugar.

Como é possível notar, a mulher perde vantagem e o ho-mem a ganha, uma vez que o termo “piriguete” sensualiza e

denigre o sexo feminino, ao passo que “Ricardão” ficando com a mulher de outro, tem a fama de galã, sedutor, ou, no senso comum “pegador”, “garanhão”, o que caracteriza, na socieda-de, como aspecto positivo.

Uma palavra torna-se verbete na medida em que é usada pelos falantes de uma língua, e que passa a ter um signi-ficado próprio. Assim também uma palavra que já teve seu apogeu na história, pode sair de cena, consequentemente do dicionário, basta que ela tenha ficado no passado, a exemplo dos termos “teúda” e “manteúda”, expressões muito utilizadas na década de 30 pelos coronéis, quando estes tinham e man-tinham um relacionamento extraconjugal.

Tem piriguete dizendo que não sabe o que é piriguete! Então, eu vou lhe dizer o que é: Primeiro, irmão, eu quero dizer que a gente do pagode não vive sem as piriguetes! Então, a gente fez uma música pra elas...A piriguete é o seguinte... A piriguete é aquela mulher que tem o fogo muito alto, sabe? Que toma o homem da amiga, o namorado da amiga... às vezes ela toma, né? E quanto mais homem pra elas melhor... Essas são as piriguetes...” (PAgOD’ART)

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Marcelo Gervásio Silva pretende cruzar o Brasil sob um skate. O céu é o limite para esse carioca da gema, que passou em Barreiras no mês de julho. A morte de seu pai foi o que impulsionou o skatista de 51 anos a largar tudo e ir em busca de algo grandioso que pudesse homenagear seu herói. A bordo de seu skate ele tem tudo de que precisa. Algumas peças ele mesmo desen-volveu para garantir sua segurança. Marcelo já entrou para o Guiness Book e é registrado como o primeiro skatista a fazer um percurso desse porte sob o skate. A próxima missão do carioca é dar a volta ao mundo e essa viagem começa em janeiro de 2014.

DEsAFio

CariOCa quEr rODar O munDO DE SKatE

No primeiro pronunciamento depois da posse, a reitora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), professora Iracema Veloso deixou claro que para um compromisso como este será preciso muito empenho. Inicialmente a reitora deixou vai se dedicar às questões burocráticas e a implantação da instituição.

“Nós não temos ainda uma equipe de estrutura administrativa formada, precisamos construir os documentos legais desta universidade: estatuto, regimento, plano de desenvolvimento institu-cional. Nós temos um trabalho administrativo muito grande”, disse.

Questionada sobre quais cursos, realmente, seriam instalados nos campi da Ufob, Iracema justificou que não participou da comissão da implantação, mas que Barreiras terá o curso de Medicina e Santa Maria da Vitória será um centro

das artes, com cursos de Comunicação, Direito; o curso de Ciências Agrárias contemplará vários campi.

Iracema não deu previsão para realização de concursos, somente adiantou que o Ministério da Educação liberou apenas os cargos adminis-trativos de pró-reitor, reitor e de dirigentes. A ex-pectativa do MEC é que todos campi comecem a funcionar a partir do segundo semestre de 2014. Certamente não todos os cursos.

Currículo - Professora da Escola de Nutrição da UFBA e Pesquisadora do Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador, Iracema Veloso é graduada em Nutrição com mestrado e dou-torado em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia Ainda na UFBA. Foi diretora da Faculdade de Nutrição e, até esta data, Pró-Reitora de Planejamento.

reitora da Ufob toma posse e já dá expediente em Barreiras

iRACEMA VELoso

c.félix

acervo Pessoal

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26 revis ta da bahia ago-set/2013

Exclamação karine magalhãesConsultora de moda, trabalhou na renomada Maison Ana

Paula e nas lojas Rabo de Saia, Chocolate, Mary Zide (todas em Brasília) e também em cerimoniais com Cristina Gomes.

Atualmente, presta consultoria à Maison Caroline.

CONECTADOfacebook: karine.beniciomagalhaes

e-mail: @ituau_Karine

por kArine MAgAlhães

Trend Street Style!Elegância, sofisticação e corpo amostra são palavras de ordem no verão 2014! A dupla infalível preto e branco continuará reinando no calor e mixado com yellow fica um luxo! O jeans destroyed é uma das tendências divas em calças, shorts, saias e jaquetas. Alfaiataria, bali, fauna e a flora também serão peças chave da estação mais quente do ano. Confira tudo nas imagens do stret style feito em Brasília e passe também na coluna exclamação online www.revistaa.net/exclamcao. Até a próxima!

FOTOS: KARINE MAGAlHãES

Keronlayne Oliveira - Conjunto

Keronlayne Oliveira - Alfaiataria with short

Rafael Patreze - Alfaiataria desconstruída

Anderson Ducarmo - Alfaiataria desconstruída Keronlayne Oliveira -

Nozinho and Destroyde

Surama Guimarães - Bali and mulher urbana

Catarina Patrício - Black White and yellow

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28 revis ta da bahia ago-set/2013

Fashion Cult Dávila kessÉ estilista por formação, graduada em Design de Moda

e pós-graduada em Moda: Produto e Comunicação. Atualmente trabalha na Agência IMMAGINE.

CONECTADOfacebook: agenciaimmagine

site: www.agenciaimmagine.com.bre-mail: [email protected]

por dávilA kess

Nos últimos verões brasileiros, as tendências de vestuário tiveram uma profusão de cores fortes, chamada “color blocking”, depois vieram os tons pasteis que reinaram

absolutos e neste verão que inicia podemos ver uma mistura har-moniosa destas duas referências. As cores vibrantes serão usa-das, quase sempre, em produções monocromáticas ou aliadas a tons neutros, resultando num verão lindo e equilibrado. Algumas tendências se destacam nesta temporada. Confira a seguir algumas delas:

Algumas cores vão ser destaque nesta temporada, entre elas o amarelo, vermelho, verde-floresta, azul-arara e, principalmente, o laranja-tangerina. A cor tem tudo para ser o grande destaque do VERÃO 2014, por ser bastante chamativa, e por combinar harmo-niosamente com outras peças – tanto as neutras, quanto estam-padas.

O duo clássico preto e branco dificilmente sai da moda, a dupla foi eternizada por grandes nomes da moda como Coco Chanel e Yves Saint Laurent e foi vista na maioria dos desfiles e previews VERÃO 2014. As produções com esta tendência é atemporal, portanto nesta estação tem o seu auge em composições geométricas, em sua maioria listras. As listras por sua vez continuam em pratica-mente todas as modelagens e em diferentes tipos: grossas, finas, descontraídas e para atualizar o look a dica é misturar o P&B a tons coloridos e estampado. Verão sem cor não teria graça, portanto, que as passarelas, vitrines e ruas se encham de cores vivas!!!

O estilo étnico sempre reaparece valorizando a cultura de diversas partes do mundo com muita personalidade. E, nesse verão, o estilo étnico surge em desenhos geométricos, grafismos, padronagens tribais, animais exóticos e trabalhos artesanais. Onde uma mistura harmoniosa de estampas e cores fortes que combinam perfeita-mente com a estação.

fotos: rodrigo Martini

Trends: Verão 2014

Laranja

Listras

estampa étnica

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ago-set/2013 revis ta da bahia 29

economia&mercadocarreiras, consumo, negócios, gestão, etc.

Todo menino sonha em ter uma retroescavadeira, um trator para brincar de escavações na terra do quintal de casa. ga-briel Barbosa dos Santos Jr. foi um desses meninos. Seu so-nho virou paixão e, hoje, aos 32 anos, possui seu próprio

negócio no ramo de veículos pesados.“Isso começou quando eu estava trabalhando com meu pai. Se passar

uma cegonha com várias ferrares e outra com uma máquina, meu olho vai direto na máquina”, revela gabriel, que ainda lembra da época que ficava com o pai na loja de peças dessas máquinas que tanto o seduzia.

Aos 16 anos, gabriel já trabalhava com uma moto niveladora. Aprendeu o funcionamento das máquinas observando os mecânicos de seu pai. Com o passar dos anos percebeu que já estava na hora de começar a dar os próprios passos.

Em 2003, abriu a JR Rental, para locar máquinas pesadas para terra-planagem. Logo na primeira compra se deu mal. A máquina comprada em Salvador não funcionou. Comprou outra. Essa funcionou. Enfim, os negó-cios começaram a entrar nos eixos, literalmente. “Já são 10 anos de estra-da!”, diz, surpreso com a própria marca. Mas sabe que tudo isso é fruto de muito investimento, principalmente na qualificação da mão de obra.

Há pouco tempo, uma empresa veio a Barreiras dar um curso de ope-rador e queria alugar suas máquinas. Ele preferiu disponibilizá-las gratui-tamente.

“Operar uma máquina dessas é uma arte. É uma profissão difícil. Esse tipo de curso não pode ser somente teórico. Precisa da máquina. Eu vi que naquele momento seria mais vantajoso ceder o equipamento. Uma daquelas pessoas que fazia o curso poderia vir trabalhar comigo”, explicou.

A empresa de gabriel é a única do Oeste que faz parte da Associação Baiana de Locadores de Máquina (Abelme). Isso é bom, mas, para o empre-endedor, seria interessante uma associação entre os próprios empresários do setor. Isso traria melhores resultados para todos.

“Eu sou contra qualquer tipo de movimento que venha lesar quem está nos contratando. Com uma associação teríamos parceiros. Por exemplo: está começando uma obra na Timbaúba que vai precisar de 31 equipa-mentos. Ninguém aqui tem essa frota. Com isso vem maquinário de fora e quem contrata quer pagar bem menos do que é estabelecido. Com uma associação isso não aconteceria”, fala gabriel, na esperança de que no futuro, o empreendedorismo seja, de fato, um exercício de parceria.

a brincadeiravirou negócio

LoCAÇÃo DE MÁQuinAs

Há dez anos no mercado, empresário gabriel Barbosa reconhece que setor poderia se beneficiar se houvesse mais parceria.texto GABRiELA FLoREs

aScenSÃoHoje, a JR Rental já conta com 12 máquinas e atualmente Gabriel analisa uma proposta para prestar serviços em Angola, África

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economia&mercado

produtores do oeste desafiam a seca com produção agroecológica

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É só visitar uma das 75 propriedades do povoado do Brejinho, zona rural de Santana, para ver que o verde brota, contrapondo-se ao cinza da vegetação castigada pela seca. O verde é resultado do programa Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), que de-senvolve uma tecnologia social, atuando com pequenos produtores que optaram por trabalhar com uma agricul-tura sustentável, sem uso de agrotóxicos.

O trabalho integra técnicas simples, onde os produtores fazem uma horta circular, com um galinheiro ao centro, irrigação por gotejamento e plantam ao redor hortaliças como tomate, alface, coentro, pimentão e cenoura. Para a instalação do sistema agroecológico, os lavradores recebem material para instalação da horta circular. As orientações aos produtores são feitas por três técnicos agrícolas e um engenheiro agrônomo que realizam visi-tas frequentes, auxiliando no desempenho do programa.

Josemar Costa possui 1,7 hectares, onde antes usavam apenas 15% para o plantio de hortaliças. Depois do PAIS, 60% da área é aproveitada. E isso mudou a dedicação dele e da mulher a terra. “Já planejamos comprar um carro para vender em outras cidades”, afirma Josemar.

O Pais é uma iniciativa da Fundação Banco do Brasil em parceria com o Sebrae, BNDES e Petrobras. Em Santana, o PAIS também é desenvolvido pela Associação de Cultura, Desenvolvimento e Ação Social. Com a aplicação do Programa nas propriedades, os agricultores têm mais economia, valor agregado ao que é produzido e acom-panhamento técnico. Tudo isso sem custo.

Desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU) o programa Serviços em Ino-vação e Tecnologia (Sebraetec) reúne quase 20 mil empresários por ano. O programa é ministrado no Brasil com exclusividades pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

A capacitação é feita em 60h ao longo de seis dias. O participante estuda as caracte-rísticas do comportamento empreendedor e tem oportunidade de vivenciar fortes mudanças comportamentais, revendo conceitos e atitudes.

Pesquisas comprovam que os negócios tocados por quem fez o seminário têm mais

chances de sobrevivência, pois o empreen-dedor ganha poder de competitividade e permanência no mercado.

A capacitação une aspectos da conduta empresarial e exercícios práticos que aper-feiçoam as habilidades do empreendedor na criação e condução de negócios. Você poderá ter assistência técnica na elaboração ou ajuste de seu plano de negócios, envol-vendo aspectos de mercado, tecnologia, informação, administração e finanças.

Em Barreiras, as entrevistas que selecionarão empreendedores com ou sem empresa construída para participar do Empretec acontecem entre os dias 6 a 20 de agosto.

programa das nações unidas capacita empreendedores

sEBRAETEC

São dois quilômetros de barco da zona urbana de Barra até o Projeto de Piscicultura Água Branca, onde estão 100 tanques-rede, cada um com 4 m² e capacidade para criação de até 500 alevinos. Quando o projeto começou, Joaquim Campos trocou a pescaria pela piscicultura e foi um dos pioneiros do Projeto.

“Não vou mais para o meio do rio lançar redes e tarrafas, mas ainda tenho profundo cuidado e respeito pelo rio que sempre me ofereceu muito e me ajudou a sustentar minha família,” reconhece Campos.

A tilápia é a única espécie criada pelos pisci-cultores em tanques-rede, com demanda

garantida no mercado e maior rendimento da carne.

Hoje, os tanques do projeto possuem 25 mil peixes que são abatidos quando chegam a 900 gramas. No projeto são produzidas quatro toneladas e meia de tilápia por mês, que são processadas na Cooperativa de Piscicultores de Barra.

Mais de mil pessoas são beneficiadas direta e indiretamente, entre 24 piscicultores, familiares e pescadores. Atualmente, todo o mercado de Barra é atendido pela Coo-perativa e a ideia é ampliar a produção para atender outros mercados.

cooperativa de piscicultura beneficia mais mil pessoas

EM BARRA

no rio grande São 100 tanques-rede no projeto, com capacidade criação de até 500 alevinos, cada

fotos: c.félix

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A engenheira agrônoma Ana Paula Veloso, incentivada pelo pai Antonio Veloso, decidiu investir em um plantio sombreado, por dentro de um plantio de bananei-ra, com um sistema de irrigação permanente, para cultivar o cacau em uma região quente e seca como o oeste da Bahia.

Já são quatro anos produzindo cacau e há dois meses estão fazendo chocolate refinado no povoado Barreiras Norte, zona rural de Barreiras. A família é dona da marca Cacau do Oeste e produz brigadeiros, chocolate em barra, em gotinhas, alpino, na forma de flor e em licor.

“Esperamos ter mais aceitação do produto no mercado, chegar a um sabor que atraia um público maior, mas sempre dentro do nosso propósito de vendermos um produto mais natural”, destaca Ana Paula.

O Sebrae fez uma consultoria tecnológica para melhoria na qualidade do produto, análise para viabilidade do negócio e consultoria na formação do preço de venda. As próximas atividades serão a consultoria de mercado, acesso a feiras e eventos e participação no programa Serviços em Inovação e Tecnologia (Sebraetec) para construção da marca e embalagem adequada do produto.

Banana da lapa é vendida para 16 estados

pRoJETo FoRMoso

família produz chocolate com cacau de Barreiras

Tipo REFinADo

A banana é o principal produto explorado em Bom Jesus da lapa. São oito mil hectares do perímetro Formoso, em que seis mil são destinados à fruta, gerando sete mil empregos e comercializando R$ 180 milhões por ano.

O produtor rural Manoel Antônio de Carvalho Filho tem 68 hectares no projeto Formosa II, sendo 29 hectares destinados ao plantio de banana. Ele participa do Grupo Banana da Bahia, que conta com o apoio do Sebrae na participação de Rodadas de Negócios e missões comerciais. O que é plantado pelo grupo é vendido para 16 Estados. A região é o segundo maior perímetro irrigado de bananicultura do país.

Outra ação do Sebrae para diversificar a cultura foi uma missão técnica do Sebrae em São Paulo de onde extraíram a ideia de plantar limão. Tudo dentro de um processo de aproveitamento e sustentabilidade.

O produtor Manoel Antônio aposta na cultura do limão, que, de acordo com ele, deve ser bem aceito no mercado de São Paulo, na entressafra da fruta. “Aqui, possui clima favorável, com água disponível, luminosidade e calor, fatores que favorecem o investimento em novas culturas. No mês de junho, São Paulo é frio, quando ganhamos espaço no mercado de lá. Quem oferta limão, nesta época do ano, ganha dinheiro”, ressalta Marco Antônio.

cacau do oeSteHá quatro anos, o fruto é produzido no povoado Barreiras Norte, no sítio Jacarandá, às margens da BA-447, sentido Angical

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economia&mercado

“Aqui nós temos perspectiva de qualidade de vida melhor. Estou satisfeito com o cumprimento do cronograma e o respeito pelo cliente”, declarou o cardiologista Francisco Pordeus, que adquiriu três terrenos no loteamento Park Verde, na saída para Catolândia.

A primeira etapa do empreendimento foi entregue em clima de festa, na área de convivência já construída do bairro planejado.

Alguns proprietários, antes mesmo da entrega simbólica e festiva dos lotes, já começaram a construir, a exemplo de Ilídio Santana. Ele elogiou a infraestrutura e não vê a hora de concluir a obra. “A localização é o principal diferencial - um bairro planejado, com toda essa natureza, rodeado pelas serras e com um pôr--do-sol que não se vê igual na cidade”, declarou.

Emocionada, Andrea da Matta Castro disse estar satisfeita. “É uma festa linda mostrando a felicidade de todos nós [clientes], que confiamos e acreditamos na construção de um sonho em busca de uma melhor qualidade de vida.”

O loteamento Park Verde foi desenvolvido através da parceria entre Brasil Desenvolvimento Urbano e Tropical Imóveis. Para Almir Ramos, diretor da TI, o sucesso é fruto de planejamento e muito trabalho. “Nos preocupamos desde a escolha da área com muito verde e temperatura agradável até a infraestrutura completa com área de lazer”.

Para João Victor Araújo, diretor-presidente da BRDU, o cliente confiou no Park Verde, no trabalho desenvolvido para oferecer algo diferente e com qualidade. “Acreditamos em Barreiras. Esta festa é uma homenagem ao cliente que deposi-tou sua confiança nesse projeto de vida chamado Park Verde.”

Festa no centro de convivência do bairro planejado em local privilegiado de Barreiras marca a entrega oficial de lotes aos primeiros compradores.texto/fotos REDAÇÃo

ParK Verdeentrega primeira etapa

EMpREEnDiMEnTo

confraternizaÇÃo Acima, os diretores do grupo que construiu o empreendimento na entrega ao primeiro comprador do imóvel. Abaixo, placas dos lotes sendo entregues durante a confraternização que reuniu mais de 400 pessoas. Elano Santarém animou o público

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A localização é o principal diferencial - um bairro planejado, com toda essa natureza, rodeado pelas serras e com um pôr-do-sol que não se vê igual na cidade”iLíDio sAnTAnA é um dos primeiros proprietários a começar a construir

Aqui nós temos perspectiva de qualidade de vida melhor. Estou satisfeito com o cumprimento do cronograma e o respeito pelo cliente”FRAnCisCo poRDEus cardiologista de Barreiras

Este bairro planejado de Barreiras está localizado em uma das áreas mais privilegiadas da cidade. É composto de lotes residenciais de 360m², em média, com ampla área de lazer

loteameNto paRk veRde

Informações: (77) 3021 3217/ 3613 4425

Com o centro de convivência já pronto, com parque infantil, praça, pista de cooper, quadro poliesportiva, quadro de vôlei e tênis, o loteamento dispõe de pórtico de entrada, pavimentação, iluminação pública, rede de água e esgoto e de drenagem pluvial.

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34 revis ta da bahia ago-set/2013

economia&mercado

No ano passado, o plebiscito para a criação dos estados do Ta-pajós e do Carajás reacendeu no país as discussões sobre o polêmico tema da redivisão federal. O Decreto Legislativo nº

136/2011 autorizou o plebiscito que fez da proposta de divisão do Pará a que mais avançou dentre as 18 que tramitam no Congresso Nacional pela criação de novos estados, sob a vigência da Constituição Federal de 1988.

A consulta à “população diretamente interessada” rejeitou as duas pro-postas de divisão paraense. Com a rejeição das propostas, as diversas regiões candidatas puderam perceber que o tema ainda é bastante im-popular: tanto pelo seu desconhecimento pela população, quanto por não conseguir convencer a sociedade brasileira das vantagens de cada uma das propostas de novos estados.

Em geral, os discursos emancipacionistas baseiam-se em argumentos históricos e culturais, afirmando-se a ausência de laços de identidade jun-to às velhas capitais, a diferença de colonizações, costumes e distância entre a região candidata e os tradicionais centros de poder dos quais que-rem se desvincular.

Obviamente que são legítimos os argumentos históricos e culturais, principalmente porque refletem uma vontade coletiva de não se estar su-bordinado às decisões de outras regiões. Contudo, não se pode ignorar a multidisciplinaridade da questão, concluindo-se que outros temas devem ser abordados quando da divulgação das propostas, tanto para uma maior eficácia dos discursos emancipacionistas agora quanto para o próprio su-cesso do novo estado futuramente.

É fato que, embora o tema redivisional date da própria origem do Brasil, os atuais movimentos ainda não conseguiram sucesso em superar três importantes entraves: 1) o fraco apelo político do tema no Congresso, 2) as dúvidas sobre a viabilidade econômica 3) bem como sobre a possibilidade jurídica para a criação dos novos entes.

Deste modo, continua o brasileiro pensando que a criação de novos estados vai ser sempre desvantajosa, elevando-se os gastos públicos sem contrapartida. Destaque para a impopularidade com os gastos com parla-mentares, tanto pela criação de novos parlamentos, quanto pela amplia-ção do número de cadeiras e pela possível elevação da carga tributária para cobrir esses gastos.

Como se não bastasse, existe também grande resistência de conserva-dores do “velho Brasil litorâneo” em redesenhar-se o mapa do país, E para além do apego ao mapa, julgam as regiões tradicionais que toda proposta de emancipação é na verdade uma manobra oportunista de uma pequena elite local para a tomada do poder, sem esquecer-se da antipatia causada pela diminuição dos repasses federais para todos os estados já existentes

Opinião por iuri fernAndes

Novos Estados: emancipacionismoe impopularidade

Advogado e Internacionalista, mestrando em direito tributário pela Universidade Católica de Brasília/DF, professor da Unyahna e da FAAHF // e-mail: [email protected]

em consequência da criação de mais um ente federativo para dividir o “bolo tributário”.

Assim, continua o tema impopular, especialmente nas regiões mais populosas e mais influentes do Brasil. E neste complicado con-texto, não se observa os movimentos destacarem que a emancipação é um direito, inclusive constitucional. Não destacam que muitas das propostas de criação são ótimas alternativas de desenvolvimento, que gerarão impactos positivos em todo o país. No caso do Estado do Rio São Francisco, por exemplo, não existe um estudo de viabilidade econômica, aliás sequer foi contraposto um famoso estudo do IPEA que argui a inviabilidade de todas as propostas de redivisão, mesmo este cheio de limitações metodológicas.

Para além da história, da cultura e até da política – esta que se destacará no Congresso quando o tema ganhar maior aceitação na sociedade – é necessário conhecer e difundir as questões econô-micas e jurídicas que permeiam o tema, para sua maior adesão nos fóruns decisórios nacionais. Claro que não há uma fórmula a ser se-guida por todas as regiões querelantes, mas é óbvio que se deve desmistificar alguns pontos que têm inviabilizado a criação de novos estados. Ou então, os movimentos continuarão muito se esforçando mas pouco obtendo sucesso neste nobre propósito da reorganizar a gestão do território brasileiro.

São Francisco

GurguéiaCarajás

Araguaia

Juruá Mato Grosso do Norte

Tapajós

Oiapóque

Rio Negro

Solimões Maranhão do Sul

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Reforma, o calo político

MÁRCIO CARVALHOentrevista

Plebiscito é um equívoco, uma alternativa limitada ou eficien-te para se definir a reforma política que o Brasil precisa?

É sempre muito difícil você realizar uma reforma política, pela complexidade do tema e pela quantidade de interesses diferentes que existem dentro do Congresso Nacional. Na campanha eleitoral de 2010, em um debate no Uol, se não me engano, a candidata Marina Silva perguntou para a candidata Dilma, como ela faria uma reforma política, uma vez que o PT já estava em dois governos e não tinha conseguido fazer. Nem FHC e nem os governos Lula conseguiram fazer! Naquele momento ela respondeu que a ideia era fazer um plebiscito, uma mini constituinte e no fim referendar o resultado dessa mini constituinte. Com as manifestações populares recentes, a minha impressão é que a presidente aproveitou o clima político para relançar essa ideia. O problema é que a ideia da mini constituinte foi atacada por todos os lados, desde a grande mídia até à própria base do governo.

Nessa reforma, o que assombra os políticos: a) O rigor quanto à fidelidade partidária? , b) O fim da reeleição? c) O fim do foro privile-giado? d) A redução do número de partidos? ou e) O financiamento público de campanha?

O fim do foro privilegiado ou o fim da imunidade parlamentar, provavelmente, é o tema mais complicado, seguido diretamen-te pelo financiamento público de campanha. Em 1988, quando a gente estava saindo de uma ditadura militar que fechou congresso, prendeu, torturou e matou gente - fazia todo o sentido você instituir a imunidade parlamentar. Hoje, a democracia está bem mais con-solidada do que naquele momento. A gente já tem condições de ter uma imunidade parlamentar reduzida. Não digo extinguir, porque você pode ter diversos problemas, especialmente em um país que nos últimos anos tem se tornado muito policialesco, um judiciário que começa a ter uma força desmedida em relação aos outros po-deres. Você pode ter abusos de um lado e de outro.

A gente ficou muito feliz com o fato de ter um julgamento de um mensalão, mas foi um julgamento iminentemente político. Foi coincidência esse julgamento acontecer no semestre em que ti-nha eleição para prefeito? Foi coincidência esse processo chegar a termo analisando a atuação de um partido? É de conhecimento público e há processo de dois outros casos de mensalão, de outros partidos e que são anteriores a esse. Nenhum dos poderes é neutro, nem a justiça! Ela também se presta ao jogo político. Então eu vejo com reserva você tirar totalmente a imunidade parlamentar.

Financiamento de campanha é um dos itens que tem que ser abordado numa reforma política. Hoje nós temos um financiamento misto. Existe um fundo partidário, mas permite-se a contribuição tanto de pessoas físicas quanto de jurídicas. E voltando ao caso do

A discussão sobre a reforma política não é nenhuma novidade. Desde o governo FHC acontecem mudanças. Reeleição, fidelidade partidária, Lei da Ficha Limpa, por exemplo, são mecanismos políticos novos. Agora, impulsionada pelas manifestações populares, a reforma política voltou à cena, com temas espinhosos como financiamento de campanha, imunidade parlamentar, suplência de senador, fim do voto secreto no Congresso. Em entrevista à r.a, o professor da Universidade Federal do Oeste da Bahia, mestre em ciência política pela Unicamp e doutorando em filosofia, Márcio Carvalho explicou por que os políticos temem tanto a reforma e alfineta: “Nenhum dos poderes é neutro, nem a justiça! Ela também se presta ao jogo político!”. Ele vê com reserva a extinção da imunidade parlamentar e sinaliza que a reeleição poderia ser substituída por um mandato de cinco anos. Carvalho diz ainda que muitos assuntos estão ficando fora desse debate sobre a reforma e uma mini constituinte talvez fosse ideal a um plebiscito. Confira!texto/foto C.FÉLiX

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mensalão: o que foi o mensalão? O mensalão foi um esquema de compra de votos. Com que dinheiro? Com o dinheiro de caixa 2 de campanha elei-toral. Por que é possível fazer o caixa 2? Porque se permite o financiamento privado, abre brechas para o desvio de recursos. Então, o financiamento público é o que acaba sendo o mais transparente. Porque todo recurso que for usado numa campanha é auditado e vai estar no Portal da Transparência, no Portal do TSE. As doações também estão lá, mas quando você permite a utilização de dinheiro privado, permite que a doação seja de X contabili-zados e outro tanto não. Se você impede isso, minimiza o problema. Vamos supor que você entregue um santinho. Neste santinho vai ter um número da licitação que foi feita para imprimi-lo e aí, um partido, obviamente, vai fiscalizar o outro.

Financiamento público não significa mais gasto para o governo?Os partidos têm seus mecanismos de arrecadação e arrecadam parte para

o governo federal. É dinheiro público? Sim e significa um aumento de gasto público. A gente está muito preso a essa questão do gasto público. Às vezes, vale mais a pena você ter um gasto público controlado do que ter um gasto privado completamente solto. Eu não queria defender um lado ou outro. Nos EUA, por exemplo, o financiamento é todo privado, mas você tem uma transparência enorme. A indústria de petróleo faz uma festa para arrecadar dinheiro para um candidato X. É muito claro isso. A nossa cultura não é tão clara. A empreiteira que vai doar, vai lá na frente cobrar a defesa de interes-se. Lá a petrolífera também vai pedir defesa de interesse, mas está claro - a indústria financiou o candidato e a população tem conhecimento.

A empresa grande, hoje, não financia somente um candidato, financia vários. Quem ganhar, ela tem retorno certo. Aí o mundo privado se espalha em todo o espectro político. É uma situação que não é confortável. Esse sistema de financiamento misto permite muito desvio e ingerência. Logo depois que a presidente falou sobre essa reforma política a OAB se reuniu com ela e apresentou uma proposta de financiamento público que permitiria que pessoas físicas contribuíssem também, mas com no máximo 700 reais mensais por partido. Então você teria um financiamento misto, mas sem que a empresa fosse “dona de um deputado”.

Duas coisas sobre as eleições: unificação e reeleição. Como o senhor ver os dois temas?

A unificação das eleições é uma medida que pode ser boa para reduzir os gastos. Eu não vejo a necessidade de as eleições municipais estarem deslocadas das eleições estaduais e federais. Agora, em algumas situações há motivo para você descolar as eleições. Vou dar um exemplo. Nos EUA, o presidente é eleito no meio do mandato do legislativo. O deputado federal é eleito, por exemplo, em 2010 e o presidente em 2012. Por que isso? Vamos supor que o presidente entre com a maioria no Congresso. Ele consegue fazer as reformas que precisa ou consegue governar do jeito que deseja já que tem a maioria do Congresso. Se ele não estiver governando a contento, em dois anos a população tira a maioria dele no Congresso e limita seus poderes. Ou seja, a cada dois anos a população pode referendar o trabalho dele ou falar “não, você não está fazendo o que a gente quer”. Seria um deslocamento diferente do que é hoje.

Esse modelo atual de deslocamento no Brasil não é ideal, não tem gran-des diferenças. Você isola o poder municipal do processo político amplo do país. A cada dois anos você tem um momento em que há uma reconfigura-ção de interesses. Dois anos são os interesses mais regionais, mas que tem reflexo da política nacional e, dois anos, para o nacional. Eu realmente não vejo a necessidade disso. Quanto à reeleição, ela já foi implementada. Ou, dizem alguns, comprada no governo FHC. Ele foi o primeiro presidente ree-leito. Aliás, eu acho estranho agora que o PSDB seja o partido que mais bata

A empresa grande, hoje, não financia somente um candidato, financia vários. Quem ganhar, ela tem retorno certo. Aí o mundo privado se espalha em todo o espectro político”

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na tecla do fim da reeleição. Vamos colocar as cartas na mesa? O PSDB tinha um projeto de poder de 20 anos que foi abortado em oito. Quem assumiu em seguida foi o PT, também com um projeto de 20 anos - já está em 10. A gente tem que pensar em dois níveis a questão da reelei-ção. O primeiro nível é o interesse momentâneo - tem o interesse mo-mentâneo em impedir que o PT consiga manter esse projeto de poder de longo prazo. Por outro lado, pensando abstratamente, a gente precisa se questionar: quatro anos são suficientes para você fazer um governo? Vamos supor que mude agora, que o PSDB vença as próximas eleições e nosso presidente seja Aécio Neves. Em quatro anos, ele consegue im-plementar as reformas que ele julgar necessárias em relação aos 10 anos que o PT teve no poder? Talvez não. Então a solução de meio termo aí é aumentar o mandato para cinco anos e terminar com a reeleição. Esta é a proposta mais forte dentro do senado.

E sobre a morosidade do sistemaSe você tivesse uma burocracia que funcionasse, se você tivesse um

processo político - aí eu falo de uma coisa mais profunda: alterar os me-canismos de como o congresso funciona, de como o executivo funciona dando agilidade a esses processos –, aí sim quatro, cinco anos seria ótimo. A cada quatro ou cinco anos eu questiono a população: “É esse o caminho que vocês querem ou está na hora de mudar de volta?” Eu não sou partidário da reeleição. Mas talvez até o fim da reeleição seja um caminho bom para o país. Agora a gente precisa repensar também em outros aspectos do funcionamento. Você pensa no tempo necessário para aprovação de uma lei no congresso devido ao seu regimento in-terno e a restrições constitucionais! Precisa reformar os procedimentos dentro do legislativo. Perceba o legislativo. A gente vive numa contradi-ção. A nossa Constituição foi feita dentro de um regime presidencialista, porém colocando instrumentos de parlamentarismo, ou seja, dando força ao legislativo. Ao mesmo tempo, ao dar força para o legislativo, a gente diz que é um presidencialismo de coalisão. O presidente precisa neces-sariamente ter uma maioria no congresso para funcionar o país, porque os instrumentos são muito parlamentaristas. Por outro lado, o legislativo, ao ficar de posse desses instrumentos – os diversos interesses estão lá e são legítimos –, quando você tem muitos interesses e um sistema muito burocratizado, trava o sistema. Qual dos poderes hoje é o que tem pior avaliação da população? É o legislativo. É o que tem o poder de barrar o funcionamento de um presidente e ao mesmo tempo é o que a popula-ção menos confia, porque ele acaba sendo muito moroso.

Um dos problemas do plebiscito é que ele ataca pontualmente, mas talvez não vá em algumas questões que são fundamentais. Em 1993, teve o plebiscito e a gente escolheu o presidencialismo. Foi escolhido o presidencialismo, mas o instrumento dá muita força ao parlamento. O que o Executivo precisa fazer? Medida Provisória. O que vem de cima para baixo. Tem que ser discutida no parlamento, sim, mas ao mesmo tempo é o que dá o mínimo de agilidade ao Executivo. Não deveria ser assim. O Executivo deveria propor leis, mas leis para serem discutidas e aprovadas. Como essa discussão vai muito longe, a saída que o Execu-tivo (a partir do governo FHC e governo Lula todo) foi o instrumento da Medida Provisória. Passa a valer imediatamente e aí tem que ser discuti-da pelo Congresso. Perceba a diferença: quando o Executivo propõe uma lei, ela não vale imediatamente. O Congresso discute e só promulgada ela vale. A Medida Provisória vale a partir de “hoje” e tem que ser discu-tida. Então é um sistema que precisa ser mais balanceado e a reforma

política que está sendo proposta não consegue abordar esses temas. Já uma reforma política via mini constituinte abordaria esses temas.

Em 1988, Ulysses Guimarães, com a Constituição recém aprovada, declarou que ainda seria necessária uma reforma política. Só agora, 25 anos depois, volta-se a discutir o assunto?

Nem uma coisa, nem outra. A reforma política está em pauta desde o primeiro governo FHC, desde 1995 que se fala sobre o assunto. A ne-cessidade de uma reforma política vem de longa data. O que se tem é a incapacidade de realizar essa reforma por esses motivos que eu falei. O legislativo acaba tendo poder e os mecanismos de exercício desse poder são muito intricados. A gente brinca que tem alguns deputados, alguns senadores que conseguem fazer as coisas com mais rapidez porque eles conhecem o regimento a fundo. ACM era conhecido por ter o regimen-to da Câmara e do Senado decorado na cabeça, então ele conseguia encontrar os caminhos dentro desse regimento para tocar mais rapida-mente os projetos que ele desejava, tinha interesse.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) descartou reforma para as eleições de 2014, mas, deverá entrar em vigor entre as 2016 e 2018. Não seria lento demais?

Sinceramente, alguns dos itens de uma reforma podiam ser imple-mentados imediatamente, respeitando-se o período de um ano antes que a Constituição exige, como foi o caso do Ficha Limpa. Mudança de financiamento talvez seja o item que precise de um pouco mais de tem-po. Nós vamos ter eleição em 2014, mas certamente já hoje há empresas que estão reservando seus recursos para as doações de campanha. O fundo partidário, para ser composto, vai demorar um tempo também, você não vai arrecadar recursos da noite para o dia. Então, algumas dessas mudanças precisam realmente de um tempo.

Você acha que vai sair o plebiscito?Eu não sei dizer, mas me parece que não é o desejo do legislativo.

Se houvesse um plebiscito a população saberia avaliar todos os itens?É por isso que eu disse que entendi a proposta da presidente como

aproveitando o clima político para colocar algo que ela efetivamente já tinha defendido. Mas a pressa, nesse caso, é ruim. As pessoas não en-tendem nem o modelo atual. Por exemplo, falando em sistemas eleito-rais, as pessoas não entendem como funciona nem o voto proporcional, que é o modelo que a gente usa há algumas décadas. Aí eu apresento para elas as seguintes proposições: “continuamos com o proporcional, mudamos para lista fechada, lista aberta, distrital, distrital misto, dis-tritão”. O cidadão brasileiro não tem uma formação política e não vai

entrevista MÁRCIO CARVALHO

Eu acabaria com as coligações para impedir que essa proliferação de partidos crie partidos de aluguel, legendas de aluguel”

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entender isso da noite para o dia. Vai ter que ser feita, como foi na época do presidencialismo, toda uma campanha educativa. E qual o problema dessas campanhas educativas? Elas não são neutras. Quem defende o voto proporcional vai fazer uma propaganda a favor do voto proporcional e não uma educação a favor disso. A gente tem um problema sério de educação política, de cultura política que vem da base. Eu até brinco que talvez o ideal não fosse ter reintroduzido ao Ensino Médio a Sociologia, mas a Ciência Política. E qual o problema disso? Um professor pode ser ligado a um partido, ou candidato a alguma coisa e possa influenciar os alunos. Talvez o grande problema seja esse, a gente ter uma educação política. Não existe neutralidade, mas que não seja tão carregada ideologicamente.

Eu não sou contrário a existência de muitos partidos. Acho que é importante você ter a liberdade partidária para que haja a liberdade de defesa dos diversos interesses que existem na sociedade. E aí a gente volta ao problema do funcionamento do sistema eleitoral e do sistema político. O problema é que esse funcionamento permite que uma série de partidos pequenos sejam o que a gente chama de le-genda de aluguel. Talvez um dos pontos que não está se falando mui-to é o tema das coligações partidárias. Não está previsto para entrar nesse plebiscito, mas é fundamental. Por que existe a possibilidade de coligações? No voto proporcional, que é o que a gente tem, quan-do você vota no candidato A1, você está votando simultaneamente na coligação A, B, C. Então se a população dá muitos votos para o candidato A1, esses votos, pela proporcionalidade, acabam gerando cadeiras no Parlamento ou na Câmara de Vereadores para os partidos A, B e C. Portanto, você vota em um determinado candidato e ajuda a eleger outro de um partido que nem é da sua simpatia.

A grande virtude do voto proporcional é fazer com que todos os votos tenham algum valor no resultado final. A grande desvantagem é que o sistema permite que você vote em alguém e eleja outro alguém. Como é um sistema muito complexo, a população não entende isso direito. Outra coisa que acontece muito é um presidente de partido chegar e falar: “Eu acredito que você consegue ganhar a eleição para vereador, se candidate”. O presidente do partido sabe que você não vai conseguir se eleger, mas sabe que você vai conseguir uns 100, 200 votos que já valem para contar para a coligação.

Às vezes, a pessoa se candidata achando que vai conseguir ser vereador e ela está sendo usada somente para arrecadar votos para a coligação. Você vê coligações com uma quantidade enorme de can-didatos. Às vezes, os últimos conseguiram 5, 10 votos. Aí você vai somando e isso elevou o quociente eleitoral da coligação. Você sendo candidato ajudou a eleger alguém que nem é da sua confiança. A coligação permite que os partidos pequenos sobrevivam com baixa representação. Agora, se você acabar com a coligação nas eleições proporcionais, aí o pequeno partido vai ter que realmente defender um determinado interesse frente à população para receber seus votos e não se atrelar a coligações maiores.

Minha posição é: não gosto da ideia de barrar partidos. Tem um determinado setor da sociedade que não está representado, é justo criar um partido político. Porém, eu acabaria com as coligações para impedir que essa proliferação de partidos crie partidos de aluguel, legendas de aluguel. Coligação é um tema muito difícil para um con-gresso querer abordar porque vários deputados foram eleitos exata-mente pelas coligações.

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EXPEDIÇÕES

BR-135

capa

kM 241 Primeira ponte inacabada no trecho entre São Desidério e Correntina. O asfalto reaparece na frente com várias interrupções

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BR-135 Aqui, no Oeste da Bahia, ela chega ao fim. é o fim!

A falta de competência administrativa do governo federal com a BR-135 na Bahia chega a ser escandalosa. Este é o primeiro assunto abordado pela série “expedições r.a”, que vai levar ao leitor, a partir desta edição, um panorama da realidade social, cultural e econômica da região Oeste. Esta reportagem vai mostrar os problemas da rodovia que deveria promover o desenvolvimento interiorano de Norte a Sul do país, de São Luís (MA) a Belo Horizonte (Mg). Confira.texto/foto CÍCERO FÉLIX

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44 revis ta da bahia ago-set/2013

Joaquim José de Oliveira, conhecido em São Desidério por Joaquim do Rádio, não se deixa levar por qualquer conversa. Quando se fala em BR-135, argumenta ele, São Desidério aparece como bode expiatório. “Eles usam sem-pre a desculpa que é por causa das cavernas. E o restante pra lá, que não tem nada? Num tem nem estrada”, diz. A construção do trecho entre São Desidério e Correntina teve início há cerca de 10 anos e ainda não foi concluído.

Em meados de 1940, o pai de Joaquim do Rádio “abria picada, cortando os matos e enfincando os marcos no ca-minho para os topógrafos” que estudavam o percurso da rodovia. Ele lembra disso com melancolia e não compre-ende por que depois de tanto tempo essa estrada “está desse jeito”.

O sentimento de Joaquim do Rádio é compartilhado por muitos brasileiros que reclamam da ineficiência dos poderes públicos do país para aplicar adequadamente os recursos arrecadados pelo governo e dar celeridade aos projetos socioeconômicos. Isto emperra as melhorias na infraestrutura e, consequentemente, no desenvolvimento sustentável. Nossas estradas, por exemplo, apesar de ter na modalidade rodoviária o principal meio de transporte (61,1% das cargas e mais de 90% dos passageiros são transportados pelas rodovias), ainda é muito precária.

A matriz rodoviária começou a se consolidar nas déca-das de 1950/60, com a chegada da indústria automobi-lística e a implantação de projetos viários ligando todas as regiões do País. Era o grande passo para fomentar o desenvolvimento interiorano. Mas, “tinha uma pedra no meio da caminho” e atendia pelo nome administração pú-blica.

Projetada para interligar Norte e Sul do Brasil, de São Luís (MA) a Belo Horizonte (Mg), a BR-135, na Bahia, é “ruim”, de acordo com a Pesquisa CNT Rodovias 2012. São pontes inacabadas, irregularidades no processo de licenciamento ambiental, problemas com desapropriação, trechos sem asfalto, pontes de madeira, geometria inapro-priada, sinalização precária, acidentes constantes.

De acordo com documentos do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC2) estão previstos um investimento de R$ 348 milhões na BR-135 no trecho da Bahia até 2014. No entanto, não há informação sobre o que foi gasto – desde 2011 - e feito até agora. A sensação que se tem é que foi muito pouco e dentro de um péssimo planeja-mento.

Joaquim do Rádio tem toda razão quando diz que “falta muita coisa”. A equipe da r.a fez três viagens pelos 462 quilômetros da BR-135 na Bahia e apenas entre Coribe e Cocos (42 quilômetros) encontrou uma obra ativa do governo federal. Estão sendo investidos pouco mais de R$ 13 milhões em manutenção e restauração da rodovia entre as duas cidades. Muito pouco perto do montante previsto pelo PAC2. Resta saber se, no ano eleitoreiro de 2014, vamos encontrar mais placas e obras ativas. Até lá, a realidade da BR-135/BA é a que você vai conhecer a partir de agora.

capa

MA

pi

BA

MG

São Luís

Barreiras

Montes Claros

Belo Horizonte

Corrente

É uma rodovia longitudinal. Tem por característica interligar as regiões Norte e Sul do País em seus mais de

De acordo com o programa de Aceleração do Crescimento do governo federal, até 2014 devem ser investidos

Corta

e mais de

invEstiMEntos

2,5 milquilômetros.

4 estados20 cidades

Depois de 2014 serão investidos mais

R$ 96milhões

R$ 880milhões

MaranhãoR$ 58 milhõespiauíR$ 138 milhõesMinas GeraisR$ 336 milhõesBahiaR$ 348 milhões

fonte: departamento nacional de infraestrutura de transporte e Ministério do Planejamento

BR-135 no Brasil

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MG

Formosa do Rio Preto

Riachão das Neves

São Desidério

Correntina

Jaborandi

Cocos

Coribe

Santa Maria da Vitória

Barreiras

São Félix do Coribe

pi BR-135BAHiA

Km

0

pesquisa CnT de Rodovias 2012

RuiM

BR-135BAHiA

Km

462

DE sÃo DEsiDÉRioA CoRREntinA: 137 quilômetrossitUAÇÃo: Não há asfalto nos primeiros 19 quilômetros. Estuda-se a possibilidade de mudar o traçada da rodovia uma vez que, pelo atual, o risco de impacto ambiental ao sistema de cavernas considerado patrimônio da humanidade é grande. Do Km 226 em diante acontecem várias interrupções. Há pontes sem cobertura asfáltica e inacabadas. As desapropriações viraram um problema sério para a conclusão da rodovia que chega ao fim em Correntina, antes do Rio Corrente. O trecho seguinte da rodovia está em leito natural via Jaborandi e Coribe, onde a BR-135 reaparece como Km 401. A via alternativa é a BR-349

DE sÃo fÉlix Do CoRiBEA DivisA/MG: 138 quilômetrossitUAÇÃo: O condutor encontra o asfalto em vários estágios de degradação e muito buraco. Próximo a Coribe há asfalto precário. Em todo trecho falta acostamento e a sinalização horizontal não existe. Em todo percurso, desde a divisa com o Piauí, aparece a primeira placa do governo federal com obra ativa. Trata-se da recuperação e manutenção até Cocos.Os últimos quilômetros até a divisa com o Estado mineiro são de estrada de terra e muita poeira. A BR-135, na Bahia, se encerra com uma ponte de madeira sobre o rio Carinhanha. Não por falta de fonte de concreto armado. Ela existe, mas como o traçado da BR passa por uma propriedade que não desapropriada, ela está abandonada.

A Confederação Nacional dos Transportes considerou em sua avaliação o pavimento (regular), sinalização (ruim) e geometria (ruim).

DA DivisA/piA sÃo DEsiDÉRio: 207 quilômetrossitUAÇÃo: Do Km 0 até 123 é razoável. O pavimento tem cerca de 20 anos e precisa de manutenção. Daí para frente quase não existe acostamento e a sinalização é precária. A partir do Km 172 o tráfego da rodovia vai ficar crítico, com o funcionamento do contorno viário de Barreiras. O fluxo de 3,6 caminhões serão despejados nesse trecho. No trecho entre Barreiras e São Desidério a pavimentação é ruim. A pista é estreita em vários pontos, principalmente nas pontes. Falta acostamento e sinalização horizontal e vertical.De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, aconteceu uma média de 16 mortos e 139 acidentes entre 2011 e 2012.

BR-349

BA-172

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no dia 3 de julho de 1972, chegava em Barreiras o 4º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército Brasileiro. O País vivia o “mi-lagre econômico” e o regime militar começava a se preparar para

a abertura política. Nesse clima, o 4º BEC vinha com a missão de construir a rodovia de Ibotirama a Brasília. Foram 10 anos de trabalho sobre mais de 700 quilômetros. Tempo maior foi gasto nos 180 quilômetros entre Barrei-ras e a divisa com o Piauí.

Primeiro, foi construído os 56 quilômetros até Riachão das Neves, entre 1974 e 1975. O trecho restante foi concluído na década de 1990. No entan-to, desde o primeiro pavimento até hoje, a estrada teve pouco cuidado. Um trecho, inclusive, chegou a desaparecer.

“Fizeram o asfalto de novo tem uns três anos. O negócio estava feio. A gente tinha que pegar a Estrada do Ouro pra chegar em Barreiras porque a rodovia estava intransitável, era só buraco”, conta Daniel Ferraz, gerente do Agronegócio Condomínio Estrondo. “Agora tá uma maravilha, mas essa BR é muito perigosa. Tem muita curva. Só dá pra rodar de dia”, avalia.

Da divisa até Barreiras, a rodovia fica mais deficiente a partir do Km 156. O intenso tráfego de caminhões e carros de passeio, afetado pela falta de acostamento e de sinalização, aumenta o risco de acidentes graves. E essa situação vai piorar.

O contorno viário de Barreiras, que deve entrar em funcionamento nos próximos meses, vai tirar o trânsito diário de 3,6mil caminhões do centro da cidade e despejar na BR-135, a partir do Km 172. “O contorno está apenas transferindo o problema de lugar. Isso é fato desde que se planejou

capa

a obra”, argumentou Maurício Aguiar, secretário de Infraestrutura de Barreiras.

Em abril, o DNIT autorizou a prefeitura de Barreiras a elaborar um Estudo de Viabilidade Técnico, Econômico e Ambiental (EVTEA) para duplicar esse trecho, colocar passarelas, construir um novo contorno ao sul e vários entroncamentos. Até agora o estudo não foi realizado.

“A licitação será aberta agora, no final de agosto. Pelo menos uma empresa interessada já apareceu. O EVTEA não é um estudo sim-ples. É multidisciplinar: envolve engenheiro, urbanistas, ambienta-listas, sociólogos, antropólogos. Assim que uma empresa for contra-tada ela vai ter um prazo para elaborar o estudo e o DNIT demora um ano para fazer. Temos orçado para essa obra R$ 50 milhões”, explicou o secretário.

Do Km 180 até o 207, a situação não é muito diferente. É um trecho bastante acidentado e precário. O prefeito Demir Barbosa, de São Desidério, reclama da falta de vontade política. “Até hoje eles só fazem tapa-buraco. Isso é paliativo. Tá crítico. Produzimos soja, algodão. Aqui é uma região muito produtiva. Já passou da hora de termos uma estrada em perfeitas condições de trânsito”, desabafa o prefeito, enfatizando que é preciso alargar e colocar pontes “decen-tes” nesse trecho.

180 quilômetros em 20 anos

da diviSa a barreiraS Os primeiros 120 quilômetros (direita) apresentam uma pavimentação jovem, mas falta manutenção e em alguns trechos não há acostamento, o que é comum no trajeto final, agravado pela falta de sinalização horizontal

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A duplicação do trecho urbano da BR-135/020 é imprescindível,

principalmente depois que o Contorno Norte entrar em funcionamento.

Mais de 3 mil caminhões vão deixar de circular pelo centro da cidade e a

trafegar por aqui. passarelas deverão ser construídas

Este contorno vai ser providencial. Vai evitar o tráfego de caminhões

que vêm de luís Eduardo Magalhães dos estados de Goiás, Tocantins e do

Distrito Federal.

Ponte do contorno está quase pronta

SÃO DESIDÉRIO CATOLÂNDIA

RIACHÃODAS NEVES

ANGICAL

LUÍS EDUARDO MAGALHÃES

SALVADOR

BARREIRAS

BA 455

BA 447

Contorno sul

Contorno norte

entrada e Saída Nesse trecho, a BR-135 se mistura com a BR-020. É zona urbana de Barreiras. O risco de acidente é eminente e o fluxo de veículos deve aumentar quando o contorno viário estiver funcionando

BR-135

BR-135

BR-242

BR-242/020

BR-135/020

Para solucionar o problema do fluxo de veículos no entorno de Barreiras, será realizado um Estudo de Viabilidade Técnico, Econômico e Ambiental (EVTEA). A ideia é duplicar os trechos urbanos das rodovias que cortam a cidade e criar mais um contorno.

solUÇÕes

-

-

--

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-

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48 revis ta da bahia ago-set/2013

capa

fiM da br Depois de passar pela primeira ponte desativada e pelo desvio de Inhaúma, chega-se à Ponte Velha, no Km 320. Sobre a ponte de madeira, que suporta até 12 toneladas, conforme placa no local, vê-se à esquerda a segunda ponte inacabada. Parte de sua estrutura fica nos quintais da comunidade. Pouco mais de 20 quilômetros pela frente a BR-135 chega ao fim (foto acima), antes mesmo de atravessar o Rio Corrente, que demandaria outra ponte. A frase na traseira do ônibus “Só Deus pode te dar o que você sonha” parece reforçar o desejo de se ver a estrada, enfim, concluída

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Cerca de 140 quilômetros de BR-135 separam São Desidério de Correntina. Os primeiros 19 quilômetros - do Km 207 ao 226 – são sobre uma estrada de terra tortuosa seguida de

um areão. Não se percebe, mas a viagem acontece sobre uma zona cárstica (relevo calcário formado por cavernas e drenagens subterrâ-neas) rara no mundo, motivo pelo qual até hoje o trecho não recebeu asfalto. Mas não é esse patrimônio da humanidade que emperra a conclusão da rodovia entre as duas cidades.

Depois do Km 226, começa um asfalto que não passa de três quilômetros. Percorridos 500 metros de estrada de terra, o asfalto retorna. Com ele, a esperança de que até Correntina vai ser assim, sobre esse tapete negro. Ledo engano. Várias pontes sem cobertura asfáltica são encontradas. Duas pontes inacabadas obrigam o con-dutor a pegar desvio. Uma se encontra na comunidade de Mutamba e a outra na de Ponte Velha. Na primeira, a ponte está feita, mas falta mais que cabeceiras; na segunda, que passa sobre o Rio do Meio, falta muito mais.

“Pelo amor de Deus! Aqui é uma região de muita produção, passa carreta direto, está se desenvolvendo. Por que que eles deixam esse trecho de chão? Deviam pelo menos ajeitar onde tem as pontes para não dar acidentes”, reclama Paulo Roberto Scartazzini, produtor rural. Seu filho, Jonas Scartazzini, emenda: “Desviando ou não des-viando [esse trecho de cavernas de São Desidério], a gente precisa que se tome uma providência e que saia logo esse asfalto”. “Tem épocas que a gente não pode tirar o produto da lavoura. Com a chuva isso aqui é intransitável”, conclui o pai, lamentando-se.

Em 2002 e 2005 foram realizadas duas licitações para a realiza-ção de obras entre o Km 207 (São Desidério) e Km 344 (Correntina). Desde que as obras começaram, em 2004, foram investidos R$ 53 milhões, de acordo com o DNIT. Provavelmente insuficientes para concluir as pontes e efetivar as desapropriações que não consegui-ram avançar. Nem em Inhaúmas e nem em Ponte Velha.

Em Ponte Velha, aliás, o tráfego é feito por uma ponte de madeira estreita que suporta, no máximo, 12 toneladas. Quem atravessa a ponte vê, a uns 300 metros do lado esquerdo, ao pé do rio, duas colunas de concreto de uma ponte inacabada.

Logo, à frente, depois da ponte, casas simples enfileiradas. No quintal da casa de José Batista do Nascimento, uma armação de ferro e cimento que dá forma a um túnel que compõe a estrutura da ponte. Sua função é dar passagem à água, mas é usada de garagem para uma carroça com rodas de madeira.

Nascimento, ao lado da filha com nome de escritora, Cecíla, lem-bra de dois acidentes que aconteceram na ponte de madeira, um deles com humor. “A cabine do caminhão ficou pra cima”. Mas nem todas as lembranças têm graça. Quando chove sua casa é quase levada pelas águas. Ele não gosta dali. Nem Cecília. Ela terminou o ensino médio e não enxerga na conclusão da rodovia a possibi-lidade de um futuro melhor. Nem sabendo que vai ser instalada ali perto, em Santa Maria da Vitória, a Universidade Federal do Oeste.

“Tem quase uns cinco anos que o povo do governo passou aqui. A minha parte eu assinei. Teve umas casas que não assinaram porque não concordaram com o preço. A minha foi R$ 23 mil e uns quebra-

dos. Deram mais um pouquinho pra eles, mas eles não aceitaram. Aí entraram na justiça”, explica Nascimento.

Ele é viúvo. Dos cinco filhos que teve só três estão vivos. O caçu-la, que assinou os papéis da desapropriação, foi o último a falecer. “Tens uns quatro anos. Foi depois que fizeram essa rodovia, lá perto de Correntina. Ele tinha 29 anos. Ia de moto... morreu um colega dele oito dias depois, perto da Cabeceira grande. Ali morreu um co-lega meu, a mulher dele. Morreu mais dois. Que eu saiba já morreu bem seis aí nessa BR”, conta, como quem diz: “A vida continua, a estrada continua”. E continua, mas desaparece.

Pelo traçado, a BR-135 deveria passar ao lado direito da cidade de Correntina. No entanto, galhos secos sobre o asfalto sinalizam para outra realidade: dali para frente não tem mais estrada. Aliás, quem não conhece o trajeto se perde facilmente. Nenhuma placa indica o começo do fim da estrada nem a entrada da cidade, 500 metros antes do asfalto se acabar. Seja bem-vindo a Correntina, aqui a BR-135 desaparece.

o que há no meio do caminho?

À eSPera da deSaProPriaÇÃo O viúvo Nascimento e a filha Cecília não vêem a hora de sair dali (a casa deles está na foto à esquerda). “Tem quase uns cinco anos que o povo do governo passou aqui. A minha parte eu assinei. Teve umas casas que não assinaram porque não concordaram com o preço”, conta

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capa

O imbróglio começou em 2004, quando o Centro de Recursos Ambientais da Bahia (CRA-BA), expediu uma licença ambiental simplificada para que a BR-135 fosse construída entre São Desidé-rio e Correntina. “O Ibama que é responsável pelo licenciamento ambiental, fiscalização - fora de unidades de conservação – daqui-lo que compete à União”, explicou Jocy Brandão, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav), órgão vinculado ao Ibama e responsável por pareceres sobre áreas cársticas.

Brandão e Alexandre lobo, do Grupo Bambuí de Pesquisas Espe-leológicas (GBPE), participaram de uma mesa redonda intitulada “lições da BR-135”, no 32º Congresso Brasileiro de Espeleologia realizado no Ifba de Barreiras, em julho. Coordenada pelo profes-sor Prudente Pereira Neto, da Ufob, o debate teve por objetivo esclarecer todo o processo em torno do licenciamento ambiental para a obra.

Foram diversas suspensões e liberações. Idas e vindas que resul-taram em prejuízos ambientais, econômicos e sociais, sem falar dos rastros de irregularidades com a omissão de documentos e pareceres equivocados. Embora até o momento o trecho sobre a zona cárstica entre os quilômetros 207 e 226 não tenha sido asfaltado, pelo menos sete cavidades dessa área foram suprimidas apenas com a terraplanagem.

Em setembro de 2010, o Cecav recebeu denuncia de impacto ambiental nas cavidades e fez uma vistoria técnica na caverna Buraco do Inferno da lagoa do Cemitério. Constatou desmoro-namento no interior da caverna, pediu a suspensão da obra e solicitou estudos geofísicos do empreendedor. Este apresentou um estudo superficial que não esclarecia as causas da queda dos blocos. Os trabalhos continuaram e, dois anos depois, o Cecav fez outra vistoria no mesmo lugar e verificou que novos blocos haviam se desprendido do teto da caverna.

“Nós não temos competência para atuar no licenciamento ambiental, só em unidade de conservação federal. Todas essas constatações técnicas foram encaminhadas ao Ibama através de ofícios, notas técnicas, pareceres para compor o processo e orientar o Ibama na tomada de decisão. Foi pedido um Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para isso tudo e está parado aí até hoje, apesar de ter ocorrido a revogação da suspensão do licenciamento”, disse Brandão.

Os órgãos federais não conseguem se entender, explicou o de-putado estadual Hebert Barbosa (DEM), presidente da Comissão de Infraestrutura da Assembleia legislativa da Bahia. “Estivemos no Ibama e ouvimos do presidente que a alternativa apresentada pelo DNIT tinha sido aprovada. Só restava agora o DNIT fazer os ajustes do contrato para a execução da obra. Posteriormente, estivemos no DNIT e a informação foi completamente contrária: o Ibama teria solicitado um estudo e o DNIT contratou a Universi-dade BioRio e que em breve o levantamento seria encaminhado ao IBAMA. É incrível! Você não consegue extrair uma informação precisa sobre o que está acontecendo”.

trapalhadas e prejuízos

gruPo baMbuí/reProdução

cec

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iMPacto Grupo Bambuí de pesquisas espeleológicas visita o sistema de cavernas em São Desidério. Em duas vistorias realizadas pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas constatou-se o desprendimento de blocos do teto do Buraco do Inferno apenas com a terraplanagem no local. Para o Cecav, a melhor alternativa é mudar o trajeto da rodovia

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o leito natural da BR-135, depois de Correntina, é por Jaborandi. Mas não vale a pena. São mais de 30 quilômetros de estrada de terra em péssimo estado. Se o percurso estivesse asfaltado seria, no mínimo,

econômico. De Correntina para Coribe, via BR-349, seriam 119 quilômetros; via Jaborandi, 73. Aliás, de Barreiras a Santa Maria da Vitória pela BR-242/BA-172, via Javi, são 313 quilômetros. Pela BR-135 esta distância cairia para 222, 91 quilômetros a menos.

Enfim, saindo de Correntina o ideal é pegar a BR-349 até São Félix do Coribe, são aproximadamente 60 quilômetros. Depois de percorridos 35 quilô-metros, um antigo cemitério protegido por lei, conforme marco cartográfico do IBgE, surge à direita. Os túmulos, as cruzes de madeira, as flores de plástico coloridas, grades de ferro, troncos e uma árvore frondosa intensificam o clima bucólico da estrada sem acostamento e sinalização.

A sete quilômetros de Santa Maria da Vitória, um posto de pesagem aban-donado, totalmente depredado e saqueado. Parece cenário de filme. Mas, o som dos carros e caminhões cortam o silêncio do abandono e revelam a desa-pontadora realidade da administração pública.

A obra foi construída pelo Departamento de Infraestrutura do Estado da Bahia (Derba) e chegou a ser inaugurada e, posteriormente, abandonada. O posto não poderia operar em uma rodovia federal. Porque foi construído ali é uma incógnita. Simplesmente dinheiro público jogado fora. Janelas, portas e vasos sanitários foram arrancados no posto com quatro escritórios, dois de cada lado da rodovia.

De São Félix do Coribe até Coribe são cerca de 70 quilômetros pela BA-172. Os primeiros 20 quilômetros são ruins, mas o pior vem na sequência, depois da comunidade da Colônia do Formoso. Ranhuras dão sinal de que boa parte ali era asfalto. O que restou, buracos estão engolindo logo à frente. São quase

coribe, aqui a BR reaparece

MaiS de 400 quilôMetroS dePoiS... A primeira placa do governo federal de uma obra ativa surge exatamente quando a BR-135 ressurge, em Coribe. Máquinas fazem manutenção e recuperação de 42 quilômetros até Cocos

fora da br-135 Saindo de Correntina, a alternativa é seguir pela BR-349. Nela, curiosamente um posto de pesagem do governo estadual está abandonado. Porque ele foi construído em uma rodovia federal não se sabe. Mas foi até inaugurado. Chegando em São Félix pega-se a BA-172 em péssimo estado

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20 quilômetros de péssimo estado. Fica menos ruim próximo de Coribe, ainda assim sem acostamento e com a sinalização ver-tical precária. Uma placa bilíngue com a frase “Leia a Bíblia/The Book of god”, em uma imponente árvore, chama mais atenção.

Chegamos em Coribe. Aqui a BR-135 reaparece, depois de se perder no horizonte de Correntina. Com ela, a primeira placa do DNIT no percurso de 400 quilômetros informando uma obra ativa na rodovia. Serão investidos R$ 13 milhões na restauração e manutenção do Km 401 até o 443, em Cocos. Prazo para ter-minar: 14 de janeiro de 2015. Data que gera receio, exatamente por ser depois das eleições. De qualquer forma, só em ver má-quinas trabalhando renova as esperanças de que a BR-135, uma hora dessas, pode ser concluída. Não se sabe quando.

Depois de Cocos, até a divisa com Minas gerais, a BR-135 se despede da Bahia com uma estrada de terra muito fina. O poei-rão torna a viagem mais lenta e perigosa. São 18 quilômetros. Ao final, sobre o rio Carinhanha, uma temível ponte de madeira de 100 metros. No período chuvoso, a travessia de um estado para o outro fica mais arriscado. Um risco alto e incoerente, considerando que a cerca de 400 metros dali existe uma ponte de concreto novinha, construída em 2011. Mas, até hoje, não foi usada. No traçado da rodovia definido pelo DNIT, depois da ponte a estrada teria de passar por uma propriedade particular com um pivô agrícola. Até agora o governo não conseguiu ne-gociar a desapropriação dessas terras.

“Há mais de trinta anos era pra ter feito essa ponte. A ver-ba saiu e eles engoliram. Hoje, tudo mudou, é uma maravilha daqui a Montalvânia”, diz o agricultor João José da Costa, de 71 anos. Feliz com a recente pavimentação da BR-135 até sua cidade mineira e com a ponte nova, que ironicamente serve de enfeite para a paisagem da divisa dos estados da Bahia e Minas gerais.

capa

enfiM, a diviSa coM MinaS geraiS Os últimos quilômetros da BR-135 na Bahia, depois de Cocos, é um poeirão sem tamanho, que se encerra em uma ponte de madeira pouco confiável, sobre o rio Carinhanha. Ela é utilizada não por falta de outra ponte, ela existe (foto do meio), mas não pode ser usada. De acordo com o traçado do DNIT para a rodovia, depois da ponte a estrada cortaria uma propriedade que tem um pivô agrícola e o dono não aceitou a idenização proposta pela União. O jeito é continuar enfrentando a ponte de madeira, que cai-não-cai

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umlugar especialoeste

foto RUI REZENDE

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Santuário da LapaCapital baiana da fé, Bom Jesus da Lapa anualmente, principalmente entre julho e outubro, milhares de romeiros vindos de várias localidades do país e do mundo. Cravado no interior de um conglomerado de rochas, o santuário com seus vários salões é a manifesta fortaleza da fé e devoção se espalham.

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cO nOVOTRApIChE

cultmúsica, cinema, artesanato, agenda,noite em Barreiras...

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om mais de nove anos de existência, o Bar e Restaurante Trapiche é hoje um dos ícones da cidade de Barreiras. Foi com a proposta de valorização da cultura que o Trapiche abriu suas portas, tornando-se, não apenas um bar, mas também um estabelecimento de resgate histórico-cultural barreirense.

O Trapiche abriu suas portas no dia 23 de janeiro de 2005, ali no cais. O bar, a meia luz com objetos e fotografias antigas, era diferente de tudo o que se via em Barreiras. As noites ferviam aos cuidados furtivos de “Nazaro” - grafitado na parede - e do São Jorge, em um altar privilegiado da nave boêmia. Foram oito anos assim, nesse endereço.

Agora, o Trapiche foi reinaugurado em Barreirinhas, o bairro mais movimentado da cidade, às margens do Rio grande. São diversos ambientes e novos serviços para fornecer a seus clientes uma melhor receptividade com melhor estrutura, maior espaço e conforto. O bar hoje está reestruturado em outro local, mas é claro, sem perder suas essências. “Temos um atendimento de restaurante que antes não tínhamos. No sábado, servimos a já tradicional feijoada e no domingo, servimos galinha caipira, moquecas e outros pratos. A partir de quarta-feira servimos jantar”, explica Vitor Laurindo, um dos proprietários.

A vontade de trazer atrações musicais com renome nacional sempre foi de inte-resse de Vitor e do pai genivaldo Laurindo dos Santos. “Isso se tornou real. Fizemos a reinauguração com Xangai e pode esperar que vem coisa boa por aí. Nesse novo

Do Centro para Barreirinhas. O point noturno da cidade hoje é mais que bar. É restaurante e espaço para manifestações culturais, como lançamento de livros. texto GABRIELA FLORES fotos C.FÉLIX

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genivaldo laurindoPara o empresário, o novo espaço é a realização de um sonho. “Sempre quisemos trazer atrações nacionais e aqui isso é possível. Fizemos a inauguração com Xangai e estamos estudando a vinda de Paulinha da Viola, Luiz Melodia”

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espaço nós temos essa vantagem de trazer atrações diferentes. A fotó-grafa Iêda Marques lançou seu livro aqui e agora temos um projeto para trazer Paulinho da Viola e Luiz Melodia. Ainda não é certo, mas estamos negociando”, disse genivaldo, emendando que o bar e restaurante é um espaço artístico e cultural, aberto para a locação de eventos, exposições, congressos e palestras.

TRApiCHE - Espaço Artístico e CulturalFica na Rua Amazonas, sem número. Funciona de quartas às sextas-feiras a partir das 18h. Aos sábados a partir do meio dia. No domingo são servidos almoços e fecha às 18h. O novo espaço comporta 800 pessoas. Informações: (77) 9990.8525

oNde Fica »

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nunca esqueceu suas origens. Ela sempre esteve envolvida em projetos ligados à educação, cultura popular, meio ambiente, articulação e mobi-lização comunitária com foco na agricultura familiar.

“Eu não tenho formação acadêmica, mas tenho amigos que sempre me auxiliam a compreender temas que envolvem minha luta. Fui diretora do Parque Nacional da Chapada Diamantina e teve pessoas, homens em geral, que acharam ruim. Eles diziam que por eu ser mulher e não ter formação em biologia não estava capacitada para o cargo”, conta. Mero preconceito. Sua gestão mostrou sua competência.

A fotografia entrou na vida de Iêda aos seis anos de idade, quando saiu de Boninal para morar em Barreiras. A vitrine do estúdio de Na-poleão Macedo era repleta de imagens da cidade. Ela gostava de ficar admirando os registros feitos por Macedo.

Com uma máquina analógica sem fotômetro, Iêda começou a fazer os primeiros cliques, usando apenas a sensibilidade para medir a luz. O alto custo dos filmes forçava a caprichar em cada imagem. Por muitas vezes deixou de registrar coisas interessantes por causa do limite de 36 poses que dispunha para trabalhar. Mas isso não impediu Iêda de seguir com seu sonho e lançar o livro.

“Eu fiz o livro para a população rural. Esse trabalho envolve um ativis-mo ambiental através da cultura. Eu trabalho em projetos de combate à pobreza no Nordeste. Eu provoco o conhecimento científico que está lá engavetado e coloco no livro”, concluiu.

Chapada Diamantina é repleta de belezas naturais. Sua vasta extensão a torna especial por ter segredos ainda não revelados. A fotógrafa Iêda Marques vê além da biodiversidade que lá existe. Nascida em Boninal, na região da Chapada, Iêda percorreu povoados, conheceu pessoas e vivenciou a cultura que lá existe.

A tradição do quebra pote no casamento do último filho de um casal, o menininho que usa um chapéu com fitas coloridas pagando uma pro-messa, o violeiro de sorriso largo que é fã de Elis Regina. Tudo registrado pelas lentes da fotógrafa.

Iêda percorreu o caminho que seu pai fazia até Barreiras na época que era tropeiro. Ela saiu registrando tudo que lhe chamava atenção, tudo que parecia ter sido esquecido com o avanço da globalização. As imagens captadas desde 1980 foram reunidas no livro “Lembranceiras, imaginário e realidade”.

“Eu queria, com esse livro, que a cultura dessas comunidades rurais nunca fossem perdidas. Acredito que essas fotografias já fazem esse trabalho de resgate”, disse.

No quintal da casa às margens do Rio grande, em Barreiras, e sob as sombras de árvores a fotógrafa conta que já conheceu o mundo, mas

a

cultfotografia

a luz do olhar de iêda marquesFotógrafa e ativista cultural lança “Lembranceiras, imaginário e realidade” em Barreiras e provoca a sociologia com sua sensibilidade sobre o cotidiano rural da Chapada ao Oeste. texto GABRIELA FLORES fotos C.FÉLIX

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Meus dentes separados na frente

Frejat já cantou sobre eles. “O que mais me encanta em você, é a tua capacidade de me enlouquecer, é a tua sensualidade ardente, teus dentes separados na frente”. Eu tenho dentes separados na frente. A música, claro, não foi escrita para mim. Frejat

não era Cazuza, ó pá e por mais bem intencionado que pudesse soar, não ficaria bem o pai do “barão vermelho” cantarolar uns versos em minha homenagem, ainda mais assim tão íntimos. De jeito nenhum, grito e repito em voz alta. Se fosse a Madeleine Stowe sussurrando esses mesmos versos no meu ouvido, aí sim, aí sim. O que importa é que até a manhã da última quinta-feira, achava os meus dentes separados na frente totalmente sem graça. Até demais.

Quando eu era moleque não gostava deles. Porque eu haveria de ter dentes separados se todos meus amiguinhos não tinham? Ensaiei ir ao dentista para corrigir o hiato entre um dente e outro, mas para minha completa felicidade, não fiz, nem minha mãe me obrigou e nem meu pai deixou um cheque para 30 dias no consultório da minha dentista. Sim, eu tinha uma dentista. Era mulher, era loira, mas não lembro o nome dela. Infelizmente. Acostumei-me com a separação, tanto que não consigo me imaginar sem o buraquinho no meio dos dentes.

- Dentes separados é um charme e está na moda – me disse uma amiga na manhã em que meus dentes separados deixaram de ser sem graça. Aliás, ela foi a culpada por isso. Nunca an-tes uma pessoa tinha me falado algo parecido sobre meus dentes separados. Nem minha mãe.

Levantei a sobrancelha, senti a bochecha corar, ri e por fim, deixei que eles me escapassem da boca: meus dentes separados na frente. Meus e de mais ninguém. Com todo charme que só eles possuem, ainda mais agora que estão na moda. A propósito, não sei como podem estar na moda. Não espero e não consigo imaginar uma pessoa indo até um consultório dentário pedir para separar os dentes. Não tem cabimento. O charme é de quem os tem de nascença, como eu, a Madonna, a Laura Pausini, a Brigite Bardot. Uma vez mais, obrigado mãe, obrigado pai.

No linguajar dos consultórios dentários, meus dentes separados na frente são conhecidos como diastemas, que nada mais são que um espaço extra entre dois ou mais dentes. É mais frequente eles serem observados nos dois dentes frontais da arcada superior. Vejam só o que descobri. “Muitas crianças têm diastema como resultado da queda dos dentes de leite, mas, na maior parte dos casos, os espaços se fecham quando os dentes permanentes nascem”. Não foi meu caso.

Continua: “O diastema pode ser causado pela diferença de tamanho dos dentes, pela falta de dente ou anormalidade do freio labial, que é o tecido que se estende do lábio à gengiva até o ponto em que se localizam os dois dentes frontais superiores. As causas secundárias do diastema envolvem problemas de alinhamento bucal, como o grau de overjet ou protrusão dentária”. Hummmm. Bom, o que importa é que continuo sendo “portador” de diastema e desde a última quinta-feira, acho isso o máximo. Ponto.

Também descobri, lendo sobre o tema que entre as opções de tratamento está – pasmem – “manter o diastema”. Perfeito. Para que, ora, pois, haveria eu de ceifar o meu charme? Juntar meus dentes frontais, separados há mais de 33 anos. Não há motivo nenhum para isso. Prefiro continuar a rir feito um bobo toda vez que o CD player do carro tocar a música do Frejat. É divertido. “...teus dentes separados na frente”. Sim, os meus. Minha amiga me ajudou a gostar um pouco mais dos meus dentes separados na frente. Obrigado. Agora, posso dizer para quem quiser ouvir: tenho dentes separados na frente, uso alpargatas, gosto de iogurte de morango e mulheres de óculos. Só me falta um caderno de caligrafia, só. Meus dentes separados na frente são um charme, um charme.

Impressõese-mail [email protected]

por Anton roos

noite de autógrafoSO livro editado pela Solisluna Editora já foi

lançado em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e recentemente em Barreiras, no dia 18 de julho no

Trapiche. Fotos do livro foram expostas em binólocos

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e

cultesporte

Sendo de azar ou não, o jogo vem conquistando adeptos e se espalhando pelo

Brasil. Criado em 2008, o Barreiras Poker Clube tem 129 integrantes e torneios

mensais que podem pagar até R$ 3 mil ao vencedor.texto/foto GABRiELA FLoREs

pôqUER,

A Arte dO BLeFe

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e

“O fator sorte pode ganhar um jogo, mas uma boa estratégia pode re-verter essa situação. Conheço pessoas que sempre reclamam do fator sorte. Sempre tem uma bad beat, que é você ter uma porcentagem alta de chances de ganhar, mas ele acaba perdendo. não basta apostar tudo para colocar medo nos adversários, tem que saber administrar essa van-tagem”, diz Guilherme.

Helder e Guilherme pensam em pôquer 24h por dia. Os dois ainda não vivem somente do esporte, eles usam o tempo livre para jogar. mas tem dias que precisam fazer o off pôquer, que consiste em passar um tempo sem jogar ou pensar no esporte. Eles criam suas próprias rotinas de jogo, têm hora para começar e terminar.

um grande torneio dura de 3 a 5 dias, já no online o jogador pode ficar 12 horas seguidas sentado na frente do computador. O pôquer é um es-porte da mente, os participantes ao fim de uma competição apresentam um forte desgaste mental.

“Existe ainda o preconceito com os jogadores de pôquer. aprendemos que não se pode usar nosso próprio dinheiro justamente para não que-brar. nós não somos viciados, somos apaixonados pelo pôquer. É a mes-ma coisa da maioria gostar de futebol, mas nós gostamos do pôquer. É um esporte, é emocionante e é raciocínio puro”, declara Helder.

analisar as jogadas e estudar diferentes maneiras de jogar é rotina de quem quer ser tornar profissional. Guilherme sempre recupera alguma de suas jogadas e estuda as possiblidades estratégicas com os amigos e treinadores do time.

“O pôquer é uma profissão como qualquer outra. Se o jogador não tra-balhar e não estudar o jogador não ganha. terão pessoas que vão lucrar e outras que vão fracassar. não dá para você ser um jogador profissional sem se dedicar bastante ao esporte”, finaliza Guilherme.

gGuilherme vai ao flop com apenas um par de três na mão. as cartas da mesa lhe mostram somente números altos que podem bater seu jogo facilmente. Ele pensa rápido. aumenta a aposta e se esforça para manter a calma diante de seu blefe. Os óculos escuros escondem o olhar que grita, insistentemente, para que todos desistam e assim ele ganhe o pote.

não alterar as expressões corporais e o tom de voz é fundamental para que os outros jogadores não captem sua mentira. O pôquer é um esporte que envolve estratégia em que os adversários utilizam suas emoções contra você. Saber controlar os outros jogadores da mesa pode decretar uma vitória.

Guilherme villavicencio é jogador semiprofissional de pôquer online desde o começo de 2013. Ele mora em Barreiras e joga para o Steal team de Goiânia, que é considerado um dos melhores times do Brasil. Guilherme chega a jogar de 25 a 30 torneios por dia. acostumado a não lidar com as reações de seus oponentes, sua concentração tem que ser redobrada quando joga live, ou seja, encarando os adversários na mesa.

“na minha vida pessoal eu consigo descobrir quando um amigo meu está mentindo. você analisa as reações daquela pessoa e acaba se acostumando com elas. tudo isso, você consegue perceber no jogo. Eu era um cara que não conseguia me concentrar muito fácil, mas quando eu comecei a jogar, o pôquer me ensinou a ter concentração e disciplina”, informa Guilherme.

O pôquer é um dos jogos de cartas mais jogados no mundo e movi-menta milhões de dólares todos os anos em seus luxuosos e glamoro-sos torneios. no jogo online, é possível encontrar todos os dias diversos torneios, nos quais podem ter brindes ou dinheiro real como prêmios.

O Barreiras Poker Clube reúne mensalmente um grupo de pessoas que adoram o esporte. O clube foi criado em 2008 e já registra 129 jogadores. a sede é uma casa alugada que tem as contas pagas pelos próprios participantes. Os torneios mensais têm em média 50 jogado-res. a inscrição é de r$150 e o vencedor de cada competição acumula pontos para determinar o campeão do ano.

“Hoje, temos mulheres que jogam aqui no clube e tivemos que criar algumas regras. não podemos jogar bêbados, sem camisa e temos que evitar palavrões. Cada mesa tem um representante do torneio que vai aplicar as punições. a primeira é ficar uma rodada sem jogar, a segun-da fica uma hora sem jogar e na terceira é expulsão do torneio”, explica Eder Batista, jogador há três anos.

tomar decisões em situações de risco em curto espaço de tempo é uma rotina para quem joga pôquer. Por ser praticamente todo baseado em estratégia, o jogo já se tornou disciplina em alguns dos maiores centros educacionais do mundo. a universidade Estadual de Campi-nas (unicamp) e o instituto de tecnologia de massachusetts (mit, sigla em inglês) já aplicam os fundamentos do pôquer a seus alunos.

Helder muritiba é outro jogador de destaque no clube barreirense. Ele já chegou a entrar no ranking de premiação em um torneio online. “O pôquer ajuda as pessoas a entenderem a complexidade das outras coisas. tem gente que só olha para frente quando quer chegar a um determinado lugar e o pôquer ensina que existem outros caminhos para chegar a esse mesmo lugar”, explica ele.

O fator sorte é levado em consideração quando está se jogando pôquer. Sair com uma mão boa ou um flop (as três primeiras cartas da mesa) favorável podem lhe dar a vitória, mas muitas vezes pode significar a derrota.

MaiS que uM jogoUm dos organizadores do clube, Guilherme Villavicencio diz que o pôquer, um dos jogos de cartas mais jogados no mundo, o ensinou a se concentrar, a ter disciplina. Os encontros do grupo acontecem sempre nas tardes de domingo

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cultagenda

Acompanhe a programação diária pelo site:www.revistaa.net

MúSiCA

Entre os dias 23 e 25 de agosto acontece em Vitória da Conquista o Festival de Inverno 2013. Nomes como Saulo, Titãs, lulu Santos e Jota Quest vão agitar as noites nos três palcos montados no Parque de Exposições Teopompo de Almeida. Além do palco prin-cipal, outros espaços garantem diversão dos visitantes. A Tenda brinda o público com as batidas eletrizantes que fazem sucesso no mundo todo e conta com os melhores DJs nacionais. O espaço gourmet conta com diversos tipos de cafés, chás, chocolates, massas e degustação de vinhos, apresentando assim o que existe de melhor na culinária regional.

Em outubro é a vez de lençóis sediar a 15ª edição do tradicional festival da cidade, entre os dias 10 e 13. Ainda sem atrações confirmadas, o festival já reuniu artistas como Gilberto Gil, Ana Carolina, Carlinhos Brown, Frejat e outros. Os shows, sempre gratuitos acontecem na Praça Horácio de Mattos. Os organizadores esperam um público de 30 mil pessoas. O Festival de lençóis também funciona como um importante instrumento de reflexão e conscientização ambiental, proporcionando atividades que despertam atitudes ecológicas e de preservação ao meio ambiente. Além da programação cultural, o público pode aproveitar o ecoturismo e a prática de esportes radicais que integram as atrações da região.

A pergunta é: será que não temos condições de ter um festival próprio aqui no Oeste, sem necessariamente apostar todas suas fichas no sertanejo?

O Rappa e Zélia Duncan são atrações confirmadas para agitar o palco principal da 9a Edição do Festival de inverno Bahia

DOIS fESTIvAIS, ainda distantes de nós

fotos: reProdução

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CiNEMA

LiTERATURA

Entre os dias 20, 21 e 22 de setem-bro são Desidério realiza mais uma edição da Festa da paz com as ban-das Aviões do Forró, Jota Quest e Claudia Leitte no Coliseu da Paz.

Fabiano Cambota e Fábio pessoa apresentam o show “Falando Sério” no dia 23 de agosto no Hotel Saint louis em Luís Eduardo Magalhães a partir das 20h.

sE LiGA!

O romance traz como protagonistas os irmãos Pari e Abdullah, que moram em uma aldeia distante de Cabul. São órfãos de mãe e têm uma forte ligação desde pequenos. Assim como a fábula que abre o livro, as crianças são separadas, marcando o destino de vários personagens. Paralelamente à trama principal, o autor narra a história de diversas pessoas que, de alguma forma, se relacionam com os irmãos e sua família, sobre como as escolhas que fazem ressoam através de gerações. Seguindo

os personagens, mediante suas escolhas e amores pelo mundo - de Cabul a Paris, de São Francisco à Grécia -, a história se expande. É um livro sobre vidas partidas, inocências perdidas e sobre o amor em uma família que tenta se reencontrar.

A obra trata da Proclamação da República e fecha uma trilogia iniciada com ‘1808’, sobre a fuga da corte portuguesa de Dom João para Rio de Janeiro, e continuada com ‘1822’, sobre a Indepen-dência do Brasil. Com 24 capítulos ilustrados, ‘1889’ busca contribuir para a compreensão de um dos períodos mais controversos da história do país, em um relato que procura explicar não só os aconte-cimentos que levaram à queda da monarquia, em 1889, mas também outros episódios da história

brasileira como a Guerra do Paraguai e o movimento abolicionista.

O filme é a continuação da comédia de 2010 (Red - Aposentados e perigosos) e reúne o ex-agente da C.I.A Frank Moses ao seu improvável grupo de agentes aposentados para uma busca global por um dispositivo nuclear desaparecido. RED 2 es-treia em agosto e conta com astros consagrados como Bruce Willis, Helen Mirren, John Malkovich e Catherine Zeta-Jones sob a direção de Dean Parisot. Classificação: 14 anos.

Khaled hosseni: O silêncio das montanhas

laurentino Gomes: 1889

dean Parisot: Red 2 - Aposentados e ainda mais perigosos

O rei Roberto Carlos volta a Brasília e o Centro de Convenções Ulysses Guimarães será palco para duas noites, 23 e 24 de agosto, de muitas emoções.

Brasília recebe a cantora internac-ional de R&B Beyoncé, para um show inesquecível, a The Mrs. Carter Show acontece no estádio Mané Garrincha no dia 17 de setembro.

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Tizziana Oliveira CONECTADOe-mail: [email protected]: tizzianaoliveira

twitter: @tizzioliveira

Gelo, Limão e Açúcar

Em foco!A leonina, Julienne Morais de 15 anos posou para as lentes da fotógrafa Kika. Ela diz que seu sonho é viajar o mundo. Sua paixão é a fotografia! Ela cursa o segundo ano do ensino médio, no Cemac, em luís Eduardo Magalhães.

everton rosa KiKa

Casamento de princesa!Vanessa Stracci e Guy Pellegrino Borges casaram na igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Barreiras, no dia 13 de julho. Após uma cerimônia emocionante, casal e convidados seguiram ao salão le Rêve, que teve decoração projetada por Maurício Cortes e luiz Pedro, que também foi o responsável pelo buquê da noiva. O casal viajou em lua--de-mel para Roma!

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(77) 3639 0194

Sua meta é falar fluentemente inglês, francês e espanhol. Já ficou um mês na Argentina, um mês em londres e ainda quer mais, conta a estudante luiza Karoline Rios. Ela estuda Relações Interna-cionais na Universidade Católica de Brasília. luiza passou o mês de julho estudando e conhecendo alguns países da Europa.

Aniversáriode RitaA noite foi especial para Rita de Cassia Iria, que festejou seu aniversário com amigas na sua residência, em luís Eduardo. A reunião começou às 20h, e as convidadas prestigiavam a belíssima e simpática anfitriã. Rita aproveitou para colocar a conversa em dia com as convidadas.

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em Londres e Paris

Me CAiu os Butiá do Bolso...

Você já conhece o BB Cream? O “Beauty Balm” ou “Blemish Balm” que traduzindo é um creme bálsamo de beleza (beauty) ou defeito (blemish), ou seja, é um creme de beleza que tem a principal função de corrigir os defeitos da pele do rosto. O produto multi funcional, criado na Ásia, apareceu no mercado ano passado com intuito de ser um creme perfeito para qualquer mulher. Suas funções são hidratante, primer, protetor solar, creme anti-idade e anti-oleosidade e cobertura de base.

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social

Chrystyan e Jacira

Catia e CarlosFabio e Bia

Eliandra, Nara e Eliana

Neiva, Lucian, Fabricio, Rosanna e Patricia

Marciano, Marcio e Matheus

Ana Karolina, Flavia e Ligiane

Adriano e Camila

Marianna, Andressa e Gabriela Uiliam, Katty, Davi, Gloria, Thiony, Monique e Kassiury

Bárbara,Thomas e Pâmela

Patrycia e Tiriago

Darci, Larissa e Stefanie

Jessica, Amanda e Renata

Estevão, Vanderli e Carlos

foto

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Keli e SidneiCatia e Carlos

Linda e Velton

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