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Revista Agropecuária Catarinense - Nº36 SETEMBRO 1996

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Revista RAC da EPAGRI sobre pesquisa agropecuária e extensão rural

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Page 1: Revista Agropecuária Catarinense - Nº36 SETEMBRO 1996
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Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 1

NESTNESTNESTNESTNESTA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃO

As matérias e artigos assinados não expressamnecessariamente a opinião da revista e são de inteira

responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que

parcial, só será permitida mediante a citação da fontee dos autores.

S e ç õ e s

Agrop. Catarinense, Florianópolis, SC, v.9, n.3, p.1-68, setembro 1996

Avaliação do desempenho de colônias de abelhasafricanizadas e italianas hídricasArtigo de Geraldo Moretto e Fernando Luis Cassini .....................................................

Unidade demonstrativa com adubação química na cultura damandioca em solo arenoso, no Sul de Santa CatarinaArtigo de Euclides Mondardo e Mauro Luiz Lavina .......................................................

Uso de enzimas pectolíticas no despolpamento decaroços de pêssego e de ameixaArtigo de Jean Pierre Rosier e Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet .........................

Goiabeira serrana: fatores climáticos trazem a pesquisade volta ao centro de origem da espécieArtigo de Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet e Pedro de Alcântara Ribeiro ...........

Relação entre o tamanho inicial e final dos frutos de macieira, cultivar FujiArtigo de José Luiz Petri e Marcia Mondardo .................................................................

Erva-mate em alta densidadeArtigo de Dorli Mário Da Croce, Paulo Alfonso Floss,Raul de Nadal e João Augusto Müller Bohner ..............................................................

Fatores que afetam a produtividade do rebanho leiteiro do Leste de SCArtigo de Amaro Hillesheim e João Lari Felix Cordeiro ................................................

Reação no solo de diferentes frações granulométricas de um calcáriocomercialArtigo de Carla Maria Pandolfo e Marino José Tedesco ...............................................

Micotoxinas: o perigo oculto das raçõesArtigo de Laura Helena Vega Gonzales Gil e Gustavo Julio Mello Monteiro de Lima .

Necessidade de calcário para os solos das regiõesLitoral e Vale do Itajaí, Santa CatarinaArtigo de Jonas Ternes dos Anjos, Antonio Ayrton Auzani Uberti,Clóvis Goulart de Bem e José Maximiliano Müller Netto ................................................

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No mundo inteiro cresce o interesse pelas plantasmedicinais, opção terapêutica que, entre outras, tem agrande vantagem do baixo custo, acessível às cama-das mais pobres e mais doentes da população.

Nesta edição a revista Agropecuária Catarinensetraz uma reportagem com mais informações sobre estetema tão amplo e importante.

As demais reportagens abordam a MissioneiraGigante, forrageira nativa do Sul do Brasil, e mandioca,em seu aspecto de aproveitamento industrial em SantaCatarina.

Os artigos técnicos desta edição, em número dedez, englobam fruticultura, erva-mate, biotecnologia,correção da acidez do solo, apicultura, produção deleite, mandioca e o perigo que representam asmicotoxinas nas rações.

Boa leitura e não esqueça de renovar a suaassinatura da revista Agropecuária Catarinense.

T e c n o l o g i a

Uma questão de eficiênciaEditorial ...............................................................................................................................

A biodiversidadeArtigo de Gerson Luiz Selle ...............................................................................................

A EPAGRI no contexto do desenvolvimento regional - umensaio por associação de idéiasArtigo de Edison Azambuja Gomes de Freitas ..................................................................

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O p i n i ã o

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Cartas ................................................................................................................................Agribusiness ....................................................................................................................Reflorestar .......................................................................................................................Pesquisa em Andamento .........................................................................................Registro .....................................................................................................................Lançamentos Editoriais ..................................................................................................Novidades de Mercado ...................................................................................................Flashes ..............................................................................................................................Vida Rural - soluções caseiras ......................................................................................

R e p o r t a g e m

Forrageira nativa tem a preferência dos produtoresReportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliari ...........................................................

Agroindústria da mandioca: desafiospara os pequenos empresáriosReportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliari ...........................................................

Pesquisa sobre plantas medicinais recebe ajuda especialReportagem de Paulo Sergio Tagliari .......................................................................

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2 Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996

Edi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia l

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDI-ÇÃO: Adilson José Pereira, Anísio Pedro Camilo, Cesar Assis,Edison Azambuja Gomes de Freitas, Eloi Erhard Scherer,Frederico Denardi, Gilberto Tassinari, Jean-Pierre HenriJoseph Ducroquet, José Luiz Petri, José Rivadávia JunqueiraTeixeira, Luis Carlos Robaina Echeverria, Murito Ternes,Osmar de Moraes, Remo Tadeu Haeming, Rosalino Buffon,Rubson Rocha.

JORNALISTA : Homero M. Franco (Mtb/SC 709)

ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves

DESENHISTAS: Jorge Luis Zettermann, Vilton Jorge de Sou-za, Mariza T. Martins, Dilson Ribeiro

CAPA : Foto de Antonio Amaury Silva Júnior

PRODUÇÃO EDITORIAL : Daniel Pereira, Janice da SilvaAlves, Marlete Maria da Silveira Segalin, Rita de CassiaPhilippi, Selma Rosângela Vieira, Vânia Maria Carpes

DOCUMENTAÇÃO: Selma Garcia Blaskiviski

ASSINATURAS/EXPEDIÇÃO: Luciane Santos Albino, RosaneChaves Furtado, Zulma Maria Vasco Amorim - GED/EPAGRI,C.P. 502, Fones (048) 234-1344 e 234-0066, Ramais 206 e243, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC.Assinatura anual (4 edições): R$ 15,00 à vista.

PUBLICIDADE: Florianópolis: GED/EPAGRI - Fone (048)234-0066, Ramal 263 - Fax (048) 234-1024 - São Paulo, Riode Janeiro e Belo Horizonte: Agromídia - Fone (011) 259-8566 - Fax (011) 256-4786 - Porto Alegre: Agromídia Fone(051) 221-0530, Fax (051) 225-3178. Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) -Florianópolis:

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 -TrimestralEditada pela EPAGRI (1996- )1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa

Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC.II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão deTecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, SC.

15 DE SETEMBRO DE 1996

Impressão: EPAGRI CDD 630.5

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação daEPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e ExtensãoRural de Santa Catarina S.A., Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, Fones (048) 234-1344e 234-0066, Fax (048) 234-1024, Telex 482 242, 88034-901 - Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

EDITORAÇÃO: Editor-Chefe: Afonso Buss, Editor-Técnico:Vera Talita Machado Cardoso, Editores-Assistentes: MaríliaHammel Tassinari, Paulo Sergio Tagliari

COMITÊ DE PUBLICAÇÕES:PRESIDENTE: Afonso BussSECRETÁRIA: Vera Talita Machado CardosoMEMBROS: Airton Rodrigues Salerno, Celso AugustinhoDalagnol, Eduardo Rodrigues Hickel, Carlos Luiz Gandin,Roger Delmar Flesch

A EPAGRI é uma empresa da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura.

Uma questão de eficiênciaUma questão de eficiênciaUma questão de eficiênciaUma questão de eficiênciaUma questão de eficiência

A atualidade é sempre acom-panhada da discussão de algunsassuntos que constituem a moda.São estes temas, que emergem douniverso de preocupações indivi-duais e que de repente se tornamcoletivas e importantes, que fa-zem a moda.

Atualmente é moda falar maldo funcionário público.

Para muitos hoje em dia nãohá vendaval, nem tufão, nem seca,nem praga, nem epidemia queseja mais prejudicial à nação doque o funcionalismo público. Nadapode ser mais ineficiente.

No geral as opiniões que estãona moda são emitidas com totaldesconhecimento de causa, for-muladas mais por assimilação depreconceitos do que de conceitos,mais por indução do que por refle-xão.

Muitas pessoas que hoje voci-feram contra o funcionalismo pú-blico o fazem sem refletir sobre oque seja o Estado e a função públi-ca.

Deste modo é necessário, ainda

que desagradável, apelar para o ób-vio na tentativa de centrar tão im-portante discussão em seus aspectosfundamentais.

A primeira dessas obviedades nosdá conta de que mesmo na maisliberal das economias, mesmo namais absoluta concepção de liberda-de de mercado, há atividades que sóo Estado, materializado em seus fun-cionários, pode realizar.

Em segundo lugar é preciso sem-pre lembrar que a intervenção esta-tal na economia não tem finalidadeeconômica, mas social. Portanto,nem o Estado nem seus funcioná-rios têm por objetivo a eficiênciaeconômica. E, portanto, não proce-dem as comparações entre o públicoe o privado com base em parâmetroseconômicos.

Em terceiro lugar é preciso que seentenda que a decisão de reduzir amáquina estatal implica transferiratribuições e gastos do setor públicopara o setor privado. Como o setorprivado somos todos nós, cidadãos,não haverá, em tese, nenhuma mu-dança na existência e na distribui-

ção de encargos. O que a sociedadepaga para o Estado fazer, terá quepagar para que um empresáriofaça. Ou será algo a que terá querenunciar.

Fora isso, tudo é uma questãode eficiência, e isto é tudo o queimporta saber: face à realidadeatual, que tamanho e que estrutu-ra deve ter o setor público brasilei-ro para atingir o máximo de efici-ência no atendimento das necessi-dades sociais?

Esta é uma pergunta complexaque não será respondida com pai-xões, nem com modismos, nem comleviandades, mas com conheci-mento e responsabilidade.

Entre os debates - alguns úteis,outros não tanto - que cercama questão, os funcionários daEPAGRI têm orgulho em dizer quefazem pesquisa agropecuária e ex-tensão rural, duas atividades queo setor público agrícola catarinen-se vem executando ao longo demuitos anos com eficiência e resul-tados comprovadamente úteis àsociedade.

REVISTA TRIMESTRAL

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Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 3

CARTAS

MandiocaMandiocaMandiocaMandiocaMandiocaVenho por meio desta solici-

tar a Vossas Senhorias informa-ções sobre a cultura da mandio-ca (mandioca doce), tais como:sistema de plantio, tratos cultu-rais, correção de solo,comercialização, etc.

Solicito informações refe-rente às publicações na área bemcomo o meio de adqui-rí-las.

Agradeço a colaboração dossenhores, pois as informaçõesdisponíveis fora dos institutos depesquisa são muito limitadas.

Celber Santos WittSanta Maria, RS

OvinosOvinosOvinosOvinosOvinos

Como técnico agrícola tive aoportunidade e ao mesmo tem-po o privilégio de conhecer algu-

mas publicações que foram ela-boradas pela EPAGRI, onde par-ticularmente achei tais publica-ções de alto nível, portanto que-ro parabenizar a todos que con-tribuíram na elaboração de taismateriais.

Querendo me aprofundar noramo agropecuário, principal-mente pecuária, gostaria de namedida do possível, receber deVossa Senhoria alguns materi-ais referentes a criação de ovi-nos.

Emanoel José LucasSanta Cecília, SC

SindicatoSindicatoSindicatoSindicatoSindicato

O SINTEA-PR vem por meiodeste solicitar a Vossas Senhori-as o Catálogo de Publicação, con-tendo os respectivos preços daspublicações, visto que temos emmãos a relação referente a ju-

lho, agosto e setembro de 1994.Outrossim, gostaríamos de

divulgar entre os nossos filiadosuma relação atualizada das pu-blicações técnicas.

Sendo o que tínhamos parao momento, antecipadamenteagradecemos.

João Teixeira da CruzDiretor de TecnologiaSindicato dos Técnicos

Agrícolas de Nível Médio noEstado do Paraná

Curitiba, PR

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Senhor Presidente,

Acuso o recebimento da re-vista “Agropecuária Catarinen-se”, volume 9, no 2, pelo qualagradeço.

Aproveito a oportunidadepara parabenizar a esse Órgão e

ao repórter Paulo Sergio Tagliari,pela matéria veiculada à página55, intitulada “Associação impul-siona a bananicultura em SantaCatarina”.

Por tratar-se de um produtode alta nutritividade e de baixocusto, produzido em larga escalaem várias regiões do Estado deSanta Catarina, como sita a ma-téria, informo que a AssembléiaLegislativa do Estado de SantaCatarina aprovou a minha pro-posição que solicita a inclusão dabanana seca no cardápio da me-renda escolar, cujo processo en-contra-se no FAE/MEC emBrasília, aguardando liberação.

Sendo o que se oferecia demomento, renovo protestos deelevada estima e considera-ção.

Atenciosamente,

Geraldo WerninghausDeputado Estadual

Fpolis, SC

tação no texto. Abreviaturas, quandoexistirem, deverão ser esclarecidas.

5. Gráficos e figuras devem ser acom-panhados de legendas claras e obje-tivas e conter todos os elementos quepermitam sua arte-finalização pordesenhistas e sua compreensão pe-los leitores. Serão preparados empapel vegetal ou similar, emnanquim, e devem obedecer às pro-porções do texto impresso. Dessemodo a sua largura será de 5,7 centí-metros (uma coluna), 12,3 centíme-tros (duas colunas), ou 18,7 centíme-tro (três colunas). Legendas claras eobjetivas deverão acompanhar osgráficos ou figuras.

6. Fotografias em preto e branco de-vem ser reveladas em papel brilhan-te liso. Para ilustrações em cores,enviar diapositivos (eslaides), acom-panhados das respectivas legendas.

7. Artigos técnicos devem ser redigidosem até seis laudas de texto corrido (alauda é formada por 30 li-nhas com70 toques por linha, em espaço dois).Cada artigo deverá vir em duas vias,acompanhado de material visualilustrativo, como tabelas, fotografi-as, gráficos ou figuras, num montan-te de até 25% do tamanho do artigo.Todas as folhas devem vir numera-das, inclusive aquelas que contenhamgráficos ou figuras.

8. O prazo para recebimento de arti-gos, para um determinado númeroda revista, expira 120 dias antes dadata de edição.

9. Os artigos técnicos terão autoria, cons-tituindo portanto matéria assinada.Informações sobre os autores, quedevem acompanhar os artigos, são:títulos acadêmicos, instituições detrabalho, número de registro no con-selho da classe profissional (CREA,CRMV, etc.) e endereço. Na impres-são da revista os nomes dos autoresserão colocados logo abaixo do títuloe as demais informações no final dotexto.

10.Todos os artigos serão submetidos àrevisão técnica por, pelo menos, doisrevisores. Com base no parecer dosrevisores, o artigo será ou não aceitopara publicação, pelo Comitê de Pu-blicações.

11.Dúvidas porventura existentes po-derão ser esclarecidas junto àEPAGRI, que também poderá forne-cer apoio para o preparo de desenhose fotos, quando necessário, bem comona redação.

12.Situações imprevistas serão resolvi-das pela equipe de editoração da re-vista ou pelo Comitê de Publica-ções.

A revista Agropecuária Catari-nense aceita, para publicação, artigostécnicos ligados à agropecuária, desdeque se enquadrem nas seguintes nor-mas:

1. Os artigos devem ser originais e en-caminhados com exclusividade àAgropecuária Catarinense.

2. A linguagem deve ser fluente, evi-tando-se expressões científicas e téc-nicas de difícil compreensão. Reco-menda-se adotar um estilo técnico--jornalístico na apresentação da ma-téria.

3. Quando o autor se utilizar de infor-mações, dados ou depoimentos deoutros autores, há necessidade deque estes autores sejam referen-ciados no final do artigo, fazendo-seamarração no texto através de núme-ros, em ordem crescente, colocadosentre parênteses logo após a infor-mação que ensejou este fato. Reco-menda-se ao autor que utilize nomáximo cinco citações.

4. Tabelas deverão vir acompanhadasde título objetivo e auto-ex-plicativo,bem como de informações sobre afonte, quando houver. Recomenda-selimitar o número de dados da tabela,a fim de torná-la de fácil manuseio ecompreensão. As tabelas deverão virnumeradas conforme a sua apresen-

Normas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária Catarinense

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4 Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996

AGRIBUSINESS

Reciclagem do lixoReciclagem do lixoReciclagem do lixoReciclagem do lixoReciclagem do lixo

orgânica passa então pela fer-mentação e ganha um aspectosemelhante ao da terra, rico emNPK. A compostagem reduz paramenos da metade os rejeitos quevão para o aterro, praticamenteeliminando a presença de gasese de chorume.

A devolução do material or-gânico ao solo, além de comple-tar o ciclo natural da existênciade animais e vegetais, solucionaparcialmente um dos problemasambientais mais graves, que é adestinação final dos resíduos.

O Brasil está desperdiçandoum grande volume de compostoorgânico. Segundo a AssociaçãoBrasileira de Empresas de Lim-peza Pública, 50% das 96 miltoneladas de lixo domiciliarprodu-zido diariamente poderi-am ser transformadas em adu-bo pelo processo decompostagem, gerando um pro-duto rico em nutrientes.

Para se chegar ao composto,é preciso retirar do lixo vidros,latas, plásticos e outros itenscomo baterias e pneus. A massa

Brasil: terceiro maior mercado do mundoBrasil: terceiro maior mercado do mundoBrasil: terceiro maior mercado do mundoBrasil: terceiro maior mercado do mundoBrasil: terceiro maior mercado do mundo

FMC adquire a Frigoscandia EquipmentFMC adquire a Frigoscandia EquipmentFMC adquire a Frigoscandia EquipmentFMC adquire a Frigoscandia EquipmentFMC adquire a Frigoscandia Equipment

A FMC Cooperation anunciouque adquiriu recentemente aFrigoscandia Equipment HoldingAB, líder mundial na fabricaçãode equipamentos para resfria-mento e congelamento em linha.Com escritórios centrais emHelsingberg (Suécia), a empresaocupa uma sólida posição no mer-cado de equipamentos industriaispara processamento de alimen-tos, tais como fritadoras, fornos,racionadoras, batedoras e equi-pamentos para o cozimento e em-panamento de alimentos.

A Frigoscandia complementa,em grande medida, o setor deequipamentos processadores dealimentos fabricados pela FMC,que mantém a liderança mundialna produção de equipamentos quecompreendem desde a colheitaaté o processamento de frutas evegetais. A companhia é tambémlíder mundial na tecnologia depreservação de alimentos, utili-zada em seus esterilizadoresrotativos, hidrostáticos eautoclaves, e em sistemasassépticos e pasteurizados.

o que corresponde a um valorestimado de US$ 310 milhões.Um dos maiores complexos quí-mico-farmacêuticos do país, aShering-Plough conta com umparque industrial de 50 mil metrosquadrados em Jacarepaguá, Riode Janeiro, produz mais de 100milhões de unidades de medica-mentos humanos e animais aoano e emprega cerca de 1.200funcionários.

O mercado veterinário brasi-leiro é o terceiro do mundo emfaturamento, ficando atrás so-mente dos Estados Unidos e doJapão. O resultado de negóciosdeste setor se deve à altíssimaqualidade dos produtoscomercializados no mercado.

Neste contexto brasileiro, aShering-Plough deve responderpor 10% do faturamento este ano,

“Temos adicionado e subtra-ído muitos produtos e serviçosde nossa essência de negóciosem sementes. Respondemos comsucesso aos mercados em evolu-ção, ao mercado internacional eà evolução da tecnologia. Conti-nuar atendendo às mudanças demercado com sucesso, continuasendo a essência do sucesso quealmejamos a longo prazo”.

Com esta mensagem,dirigida mundialmente aos cola-boradores daPioneer, o presi-dente Charles S.Johnson reforçou,mais uma vez, aclara visão de fu-turo da empresa.A Pioneer tem,como compromis-so, cruzar o séculovencendo todos osdesafios, em bus-ca de metas impos-tas por um merca-

do globalizado. Neste mercado aliderança exigirá, mais do quequalidade, habilidade para adap-tar-se às novas situações, per-cepção dos momentos certos devirada e humildade na busca dasatisfação do cliente. Tudo issomantendo o foco da missão daempresa, que é fornecer produ-tos e assistência que aumentema eficiência e a rentabilidadedos agricultores em todo o mun-do.

AGRITECHAGRITECHAGRITECHAGRITECHAGRITECHmovimenta mais de US$ 50 milhõesmovimenta mais de US$ 50 milhõesmovimenta mais de US$ 50 milhõesmovimenta mais de US$ 50 milhõesmovimenta mais de US$ 50 milhões

Cerca de 7 mil visitantes detodo o mundo visitaram aAGRITECH 96, em Tel Aviv,Israel. Esses visitantes, incluín-do-se aí compradores, represen-tantes governamentais, fazen-deiros e pesquisadores, repre-sentavam mais de 100 países.

Como resultado deste even-to, empresas agrícolas de Israel

aumentaram o leque de seusnegó-cios em nível mundial,princi-palmente com a China, aÍndia, os países asiáticos, aTailândia, Marrocos e Egito, en-tre outros. Entre os itens de ex-portação de Israel merecem des-taque equipamentos de irriga-ção, casas de vegetação, semen-tes, plásticos e softwares.

Pioneer pronta para a virada do séculoPioneer pronta para a virada do séculoPioneer pronta para a virada do séculoPioneer pronta para a virada do séculoPioneer pronta para a virada do século

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Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 5

ApiculturaApicul turaApicul turaApicul turaApicul tura

Avaliação do desempenho de colônias de abelhasAvaliação do desempenho de colônias de abelhasAvaliação do desempenho de colônias de abelhasAvaliação do desempenho de colônias de abelhasAvaliação do desempenho de colônias de abelhasafricanizadas e italianas híbridasafricanizadas e italianas híbridasafricanizadas e italianas híbridasafricanizadas e italianas híbridasafricanizadas e italianas híbridas

apicultura no Brasil pode ser di-vidida em duas fases: anterior à

introdução da abelha africana Apismellifera scutellata, ocorrida em 1956,e posterior à introdução dessasubespécie de abelhas (1).

O período que precedeu a africa-nização da abelha Apis mellifera noBrasil caracterizou-se principalmentepelo abandono da atividade apícola jáexistente na época, devido às dificulda-des de manejo da abelha africanizada(híbrido entre abelhas de raças euro-péias e africanas). Entretanto, à medi-da que avanços nos estudos sobre aagressividade (comportamento defen-sivo) e técnicas de manejo ocorriam,novos adeptos da apicultura foram sur-gindo até levarem o país entre os mai-ores produtores de mel do mundo (2).

Trabalhos da literatura mostramque nas condições climáticas do Brasila abelha africanizada exibe diversasvantagens em várias característicasem relação às abelhas de raças euro-péias. A resistência a doenças e maiorprodução de mel, entre outras, sãocaracterísticas em que as abelhasafricanizadas mostram maior desem-penho em relação às européias (3, 4 e5).

Sabe-se que o comportamentoagressivo na abelha africanizada é maisintenso que o manifestado nas abelhasde raças européias, o que dificulta omanejo da abelha africanizada. Toda-via, é conhecido que híbridos entreessas duas raças de abelhas apresen-tam menor comportamento agressivo(6). No entanto, até o momento, nascondições climáticas de Santa Catarinanão se conhece a realização de traba-lhos procurando comparar a capacida-de produtiva entre abelhasafricanizadas e européias híbridas.

Este trabalho teve como objetivos:• Verificar a influência da raça de

abelhas na capacidade de postura derainhas africanizadas e italianas.

• Verificar a capacidade de arma-zenamento de pólen e mel das colôniasde abelhas africanizadas e italianas hí-bridas.

Materiais e métodos

A primeira etapa do presente traba-lho foi iniciada em agosto de 1993 erealizada junto ao apiário do ParqueEcológico Cidade das Abelhas, da Em-presa de Pesquisa Agropecuária e Ex-tensão Rural de Santa Catarina S.A.,localizada no município de Florianópo-lis. A partir de janeiro de 1994 todas ascolônias de abelhas envolvidas no expe-rimento foram transferidas para umareserva de eucalipto de propriedadedas Centrais Elétricas de Santa Catari-na, situada na localidade de Rio Verme-lho, município de Florianópolis.

O experimento foi constituído deseis colônias de abelhas africanizadas esete colônias de abelhas italianas híbri-das. As rainhas africanizadas foramproduzidas de matrizes de enxamescapturados no município de Florianó-polis, enquanto que as rainhas italia-nas foram produzidas no Apiário Pascon,sediado no município de Rio Claro,Estado de São Paulo. As matrizes queoriginaram essas rainhas italianas fo-ram adquiridas de apiários comerciaisdos Estados Unidos da América.

Todas as rainhas, ainda virgens,foram introduzidas em núcleos de fe-cundação contendo aproximadamente1kg de abelhas adultas e três quadros(favos) contendo mel, pólen e cria. Afecundação ocorreu livremente no arcom zangões africanizados originados

de colônias de abelhas do apiário doParque Ecológico da Cidade das Abe-lhas e de enxames presentes na natu-reza, próximos à área onde se realizouo trabalho.

A substituição das colônias de abe-lhas de núcleos para ninhos do tipoLangstroth foi realizada à medida queocorria o crescimento das colônias.Quando o fluxo de alimento prove-niente da natureza era escasso, todasas colônias de abelhas eram alimenta-das com as mesmas quantidades xaro-pe (mel e água nas mesmas propor-ções).

No período de outubro de 1993 amaio de 1994, mensalmente, foramrealizadas avaliações referentes à ca-pacidade de postura da rainha e à capa-cidade de armazenamento de mel epólen. Em todos os quadros de cadacolônia de abelhas, em cada análise,foram registrados os números de áreascorrespondentes às variáveis em estu-do e posteriormente transformados emnúmero de centímetros quadrados.

O desempenho das colônias de abe-lhas foi obtido pela estimativa da áreade favos ocupada com cria, mel e pólen.Um suporte de quadro dividido emáreas de 4cm2 , em ambos os lados, foiutilizado para avaliar a área ocupadacom cria, mel e pólen.

A análise de variância a um critériode classificação foi utilizada para veri-ficar a diferença entre as médias dastrês variáveis estudadas nas abelhasafricanizadas e italianas híbridas.

Resultados e discussão

O desempenho das colônias de abe-lhas africanizadas e italianas híbridasem relação a capacidade de postura dasrainhas e armazenamento de mel e

A

Geraldo Moretto e Fernando Luis Cassini

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6 Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996

ApiculturaApicul turaApicul turaApicul turaApicul tura

pólen é expresso pela área média dasuperfície de favos ocupados com essasvariáveis estudadas.

A área de favos ocupada com pólenfoi de 475,40 + 48,8cm 2 nas colônias deabelhas africanizadas e 315,37 +

38,12cm2 nas italianas híbridas. Esta-tisticamente verifica-se diferença sig-nificativa entre as duas raças de abe-lhas quanto ao desempenho dessa vari-ável (F = 3,86; P <0,05).

Quanto à área média da superfíciedos favos ocupada por mel, os dadosobtidos foram 1.045,04 + 123,70cm2 nasabelhas africanizadas e 672,96 +

94,02cm2 nas abelhas italianas híbri-das. Estatisticamente também obser-va-se maior eficiência no desempenhodessa característica produtiva nas abe-lhas africanizadas (F = 5,88; P< 0,017).

A superfície dos favos ocupados comcria de operárias foi em média de2.503,62 + 290,80cm 2 nas abelhasafricanizadas e 2.613,75 + 201,70cm2

nas abelhas italianas. Estatisticamen-te não há diferença significativa quan-to à capacidade de postura entre rai-nhas de abelhas africanizadas e italia-nas (F = 0,10; P< 0,05).

Sabe-se que a produção de mel epólen pelas abelhas, entre outros fato-res, está relacionada ao tamanhopopulacional das colônias de abelhas.Assim, colônias mais populosas emmédia são mais produtivas que outrasde menor população. Nesse trabalho,embora as condições de fluxo de ali-mento onde se instalou o apiário expe-rimental não refletissem as condiçõesideais para a produção de mel e pólen,pode-se verificar que as abelhasafricanizadas e italianas apresentam omesmo desempenho quanto à quanti-dade de cria, o que deve determinarsimilar tamanho na população de abe-lhas adultas entre essas duas raças deabelhas. No entanto, quando se com-para a performance quanto às áreasmédias de favos ocupadas com mel epólen, verifica-se que as abelhasafricanizadas são mais eficientes queas italianas híbridas em armazenaresses tipos de alimento. Isto indica queas abelhas africanizadas devem estarmelhor adaptadas às condições de am-biente de nosso Estado em relação àsabelhas italianas.

Em outras regiões do Brasil as abe-lhas africanizadas - de maneira geral,mostraram maior eficiência na produ-ção de mel em relação a outras abelhasde origem européia.

Além de excelentes produtoras demel e pólen, as abelhas africanizadasdemonstram elevada resistência a inú-meras doenças, principalmente ao ácaroVarroa jacobsoni , considerada atual-mente maior praga na apicultura mun-dial (5). Enquanto muitos países sus-tentam sua apicultura à base de produ-tos químicos, que determinam eleva-dos custos de produção e a contamina-ção do mel com resíduos químicos, noBrasil o mel é retirado das colônias deabelhas livres de qualquer conta-minante, e a apicultura é realizada acustos muito inferiores em relação àsregiões onde as abelhas necessitam detratamentos periódicos.

Como as abelhas italianas híbridasmostram a capacidade de serem tãopopulosas quanto as africanizadas, se-ria importante a realização de experi-mentos que testassem o desempenhodessas abelhas em outras atividadesapícolas.

A geléia real é um produto elabora-do pelas operárias jovens e a sua produ-ção exige colônias de abelhas populo-sas. A aplicação da técnica para a pro-dução dessa substância exige muitocontato direto com as colônias de abe-lhas. Então, é importante o uso deabelhas com maior mansidão no de-sempenho dessa atividade apícola. Asabelhas italianas híbridas são maismansas que as africanizadas, portanto,estudos visando o desempenho da pro-dução de geléia real pelas abelhas itali-anas híbridas, nas condições climáticasde Santa Catarina, devem ser realiza-dos (2).

Literatura citada

1. NOGUEIRA NETO, P. Notas sobre a históriada apicultura do Brasil. In: CAMARGO,J.M.F. Manual de apicultura. São Paulo:Agronômica Ceres, 1972. p.17-32.

2. BRANDEBURGO, M.A.M. Estudo da in-fluência do clima na agressividade daabelha africanizada. Ribeirão Preto: Fa-culdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP, 1970. 149p. Tese Mestrado.

3. STORT, A.C. Genetic study of agressivenessof two sub-species of Apis mellifera inBrazil. Revista Brasileira de Genética,Ribeirão Preto, v.8, p.285-294, 1980.

4. BRANDEBURGO, M.A.M. Comportamen-to de defesa e aprendizagem de abelhasafricanizadas: Análise de correlaçãoentre variáveis biológicas e climáticas,herdabilidade e observações entre colô-nias irmãs. Ribeirão Preto: Faculdadede Medicina de Ribeirão Preto/USP,1986. 156p. Tese Doutorado.

5. MORETTO, G.; GONÇALVES, L.S.; DEJONG, D. Heritability of Africanizedand European honey bee defensivebehavior against mite Varroa jacobsoni.Revista Brasileira de Genética, Ribei-rão Preto, v.16, p.71-77, 1993.

6. COSENZA, G.W. Melhoramento de abe-lhas por meio de hibridização e seleção.In: CONGRESSO BRASILEIRO DEAPICULTURA, 2., 1972, Sete Lagoas,MG. Anais . Sete Lagoas: IPACO/Seçãode Entomologia, 1974. p.133-135.

Geraldo Moretto, biólogo, M.Sc., Centro deCiências Exatas e Naturais, UniversidadeRegional de Blumenau, 89010-971 -Blumenau, SC e Fernando Luis Cassini,eng. agr., Cart. Prof. no 7.173-D, CREA-SC,EPAGRI/Parque Ecológico Cidade das Abe-lhas, C.P. 302, Fone/Fax (048) 238-1176, 88010-970 - Florianópolis, SC.

Page 8: Revista Agropecuária Catarinense - Nº36 SETEMBRO 1996

Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 7

Euclides Mondardo e Mauro Luiz Lavina

MandiocaMandiocaMandiocaMandiocaMandioca

Unidade demonstrativa com adubação química na culturaUnidade demonstrativa com adubação química na culturaUnidade demonstrativa com adubação química na culturaUnidade demonstrativa com adubação química na culturaUnidade demonstrativa com adubação química na culturada mandioca em solo arenoso, no Sul de Santa Catarinada mandioca em solo arenoso, no Sul de Santa Catarinada mandioca em solo arenoso, no Sul de Santa Catarinada mandioca em solo arenoso, no Sul de Santa Catarinada mandioca em solo arenoso, no Sul de Santa Catarina

Tabela 2 - Teor de amido da Unidade Demonstrativa de adubação química na culturada mandioca. Jaguaruna, SC - EPAGRI 1996

Ano/amido(%)

1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 X

Sem adubo 27,3 28,4 30,4 30,5 29,1Com adubo 29,3 29,8 31,5 32,1 30,7

Diferenças 2,0 1,4 1,1 1,6 1,6

Tratamento

Tabela 1 - Produção de raízes da Unidade Demonstrativa de adubação químicana cultura da mandioca. Jaguaruna, SC - EPAGRI 1996

Ano/raiz(t/ha)

1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 X(A)

Sem adubo 6,0 10,1 7,0 5,1 7,0 100,0Com adubo 14,9 25,0 24,4 24,1 22,1 315,7

Diferenças 8,9 14,9 17,4 19,0 15,1 215,7

ÍndiceTratamento relativo

(%)

solo arenoso (Areias QuartzosasDistróficas) ocupa uma extensa

área de aproximadamente 42.000ha,representando em torno de 2,0% dototal da área cultivada em Santa Cata-rina e se caracteriza pela baixa ferti-lidade natural, textura extremamen-te arenosa e reduzido teor de matériaorgânica.

Este tipo de solo situa-se ao longode todo o Litoral Catarinense, onde amandioca é uma das principais cultu-ras estabelecidas, pela sua rusticida-de e adaptabilidade. Por outro lado,estima-se que somente na região SulCatarinense sejam plantados em tor-no de 10.000ha de mandioca, nestetipo de solo.

Vários trabalhos de pesquisa fo-ram desenvolvidos pela EPAGRI, atra-vés da Estação Experimental de Urus-sanga, com o objetivo de determinaras melhores doses e épocas da aduba-ção química na cultura da mandioca,nas condições de solo AreiasQuartzosas.

Os resultados obtidos, foram sub-metidos à apreciação dos técnicos eprodutores rurais da região, atravésde uma Unidade Demonstrativa, ins-talada no Campo Experimental deJaguaruna, no período de quatro anosagrícolas (1991/92 a 1994/95).

A cultivar de mandioca utilizadafoi a Mandim Branca, noespaçamento de 0,8x0,6m e em culti-vo de um ciclo, com o plantio emsetembro e colheita em junho do anoseguinte.

O tamanho das parcelas foi de500m2, sendo que numa foi feita adu-bação química recomendada pelo Sis-tema de Produção (N80 - P30 - K60) ena outra parcela não teve adubação. Olocal foi o mesmo para as duas situa-

O ções, durante os quatro anos.A análise do solo feita em 1991,

antes da implantação da Unidade, apre-sentou os seguintes valores: pH (H2O)= 4,7; pH (SMP) = 6,0; Ca+Mg (me%)= 0,6; Al (me%) = 0,5; M.O. (%) = 0,9;P (ppm) = 14,0; e K (ppm) = 23.

A adubação recomendada pelo Sis-tema de Produção foi aplicada emduas épocas: a primeira (N40 - P30 -K60) 45 dias após o plantio e a segunda(N40 - P0 - K0), 30 dias após a primei-ra. As fontes foram, respectivamente,uréia, superfosfato triplo e cloreto depotássio. Nas duas adubações, o adu-bo foi incorporado através de cultivadora tração animal.

O sistema utilizado foi o cultivo

mínimo, sem aração e gradagem, comaplicação de herbicida dessecante navegetação natural, em torno de 30dias antes do plantio.

Nas Tabelas 1, 2 e 3 são apresenta-dos os resultados, ano por ano e amédia dos mesmos, da produção deraízes, teor de amido e estande finalou percentagem de plantas na colhei-ta, respectivamente.

A produção de raízes, na média dosquatro anos (Tabela 1), foi de 7,0t/hasem adubo e 22,1t/ha com adubo,correspondendo 215,7% a mais devidoao efeito da adubação. No primeiroano (1991/92), as produções foram pre-judicadas pelo baixo estande, provo-cado pela má qualidade das manivas

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8 Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996

MandiocaMandiocaMandiocaMandiocaMandioca

Tabela 3 - Estande final da Unidade Demonstrativa de adubação química na culturada mandioca. Jaguaruna, SC - EPAGRI 1996

Ano/estande(A)

(%)

1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 X

Sem adubo 83,6 99,6 94,8 92,5 92,6Com adubo 81,8 98,1 95,7 95,4 92,7

(A) Estande final - percentagem de plantas na colheita, em relação ao ideal (100%).

Tratamento

(muitas falhas), como pode ser obser-vado na Tabela 3.

Além do expressivo aumento naprodução de raízes, a adubação influ-enciou positivamente também no teor

de amido, passando de 29,1% para30,7%, com o índice de 5,5% a mais, namédia dos quatro anos (Tabela 2).

O custo do adubo e da mão-de-obrapara aplicação do mesmo foi equiva-

lente a 3,0t/ha de raízes. Assim sendo,na média dos quatro anos, a adubaçãoquímica aumentou a produção de ra-ízes em 15,1t/ha e custou o equivalen-te a 3,0t/ha de raízes, cuja renda,considerando somente a adubação, foide 12,1t/ha, (15,1 - 3,0), o que pode serconsiderado uma prática agronômicaaltamente rentável em termos econô-micos.

Euclides Mondardo, eng. agr., Cart. Prof.no 124-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experi-mental de Urussanga, C.P. 49, Fone (048)465-1209, Fax (048) 465-1460, 88840-000 -Urussanga, SC e Mauro Luiz Lavina, eng.agr., Cart. Prof. no 10.326, EPAGRI/Adminis-tração Regional do Vale do Rio Tubarão, RuaSão José, no 45, Fone/Fax (048) 626-0577,88701-260 - Tubarão, SC.

REFLORESTAREucalyptus benthamii var.benthamii - nova alternativapara as regiões de climatemperado

As regiões de clima temperado deSanta Catarina (região Bioclimática1), de modo especial o Planalto, con-centram os maiores maciços flores-tais plantados, predominando o pínus(fibra longa para papel e celulose). Oeucalipto teve lugar secundário, sen-do plantado como material energé-tico e mais recentemente como ma-téria-prima para produção de papelde melhor qualidade (fibra curta).

A disponibilidade de poucas espé-cies resistentes às geadas, caracte-rísticas da região, tem sido uma dasprincipais dificuldades para a explo-ração de eucaliptocultura na região.Por muito tempo restringiu-se a es-pécies E. viminalis, que embora re-sistente à geada, tem apresentadoproblemas de qualidade e produtivi-dade, além de madeira de difíciltrabalhabilidade. Outras espéciesmenos resistentes foram tentadas.A espécie E. dunnii, menos resisten-te ao frio, mas de melhor qualidadee produtividade, vem tendo intensi-ficado seu plantio, devido à maiordisponibilidade, agora, de sementesproduzidas no Estado.

Recentemente as atenções estão

A árvoreA árvoreA árvoreA árvoreA árvoreinseticida-fungicidainseticida-fungicidainseticida-fungicidainseticida-fungicidainseticida-fungicida

A espécie arbórea Azadirachta in-dica (nome comum em inglês: Neemou Nim), nativa do sudeste asiáticotropical, é uma espécie que tem utili-zação para quase todas as suas partes.Porém o mais importante uso é nocontrole de pragas e doenças em diver-sas culturas. O interesse por estaespécie como inseticida despertouquando observou-se que as árvoresnunca eram atacadas pelos gafanho-tos.

As pesquisas indicam hoje quemais de 200 espécies de insetos, al-guns nematóides, fungos, bactérias evírus são afetados pelos produtos ob-tidos de diferentes partes do “Neem”.

As plantas do “Neem” contêm vá-rios princípios químicos ativos queatuam de diferentes modos, dificul-tando a resistência das pragas e doen-ças.

Plantas de algumas culturas, comoo feijão, podem inclusive absorverpelas raízes e transportar até as fo-lhas o “azadirachtin”, principal princí-pio ativo do “Neem”.

Segundo o pesquisador da EPA-GRI Milton Geraldo Ramos o Pro-grama de Pesquisas e Difusão de Tec-nologias de Essências Florestais daEPAGRI está buscando introduzir aespécie no Litoral de Santa Catarina.

voltadas para a espécie Eucalyptusbenthamii var. benthamii , devido àsua resistência às geadas severas,agregando-se a qualidade (forma) dasárvores plantadas e as qualidades desua madeira para serraria e laminação,como madeira de acabamento em mó-veis e outros fins mais nobres. Avali-ada na região de Campos Novos, mos-tra aos dois anos de idade uma alturamédia de 9,5m e diâmetro na altura dopeito (DAP) médio de 10,31cm.

Eucalyptus benthamii var.benthamii

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BiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologia

Uso de enzimas pectolíticas no despolpamento de caroçosUso de enzimas pectolíticas no despolpamento de caroçosUso de enzimas pectolíticas no despolpamento de caroçosUso de enzimas pectolíticas no despolpamento de caroçosUso de enzimas pectolíticas no despolpamento de caroçosde pêssego e de ameixade pêssego e de ameixade pêssego e de ameixade pêssego e de ameixade pêssego e de ameixa

Jean Pierre Rosier e Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet

abastecido de caroços, é submetido aum movimento rotativo para remo-ção dos restos de polpa. Outras máqui-nas mais sofisticadas e eficientes, en-volvendo água em alta pressão e mo-vimento de rotação, também são uti-lizadas (1). Estes processos mecânicosproporcionam maior limpeza, porémnão dispensam a secagem em cama-das, conforme N.L. Finardi, enge-nheiro agrônomo, EMBRAPA-CPACT,Pelotas (RS), em comunicação pesso-al, em 1995.

Estes métodos de despolpagem,além de bastante trabalhosos, nãopermitem obter sementes com taxade germinação constante e satisfatória.Esta taxa é normalmente inferior a50%, e em alguns casos não chega a10%. Uma das razões é que o processode decomposição e secagem da polpaproporciona condições muito favorá-veis ao desenvolvimento de microor-ganismos, aumentando o risco de con-taminação da amêndoa (endocarpo) epor, conseqüência, do embrião.

Em função destas dificuldades mui-tos viveiristas sujeitam-se a comprar“germinados”, ou seja, plântulas de 10a 15cm para garantir sua disponibili-dade de porta-enxertos. O preço des-tes germinados e seu transporte alonga distância encarecem bastante aprodução de mudas: de R$ 7,00/1.000caroços para R$ 100,00/1.000 germi-nados (preço posto em Santa Catarina).

Com o objetivo de aumentar a efi-ciência da despolpagem no processode produção de mudas, testou-se naEstação Experimental de Videira ouso de enzimas pectolíticas para de-gradação da polpa remanescente jun-to a caroços de pêssego e ameixa.

Entre as alternativas para adespolpagem, as enzimas pectolíticasagem decompondo as pectinas res-ponsáveis pela consistência mucila-ginosa da polpa e sua aderência aocaroço. Estas enzimas têm sido reco-mendadas na separação de sementesde citrus para porta-enxertos (2).

Condições daexperimentação ediscussão

Os primeiros experimentos foramrealizados em condições de laborató-rio com caroços de ameixa, cultivarSanta Rita, e posteriormente comcaroços de pêssego, cultivar Sundarde caroço aderente à polpa.

Foram testadas duas enzimas co-merciais utilizadas na elaboração devinho e sucos, Polifruit1 e FPL2, deno-minadas adiante respectivamente deenzimas 1 e 2, e que apresentamconforme seus fabricantes atividadespectolíticas de 1.827.000 unidadespectolíticas/g.

O primeiro teste foi conduzido comcaroços de ameixa, retirando-se a mai-or parte do resíduo da polpa com faca.Os caroços com restos de polpa aderidaforam pesados e colocados a macerarem soluções aquosas de várias con-centrações de enzimas por 24 horasem estufa BOD com temperatura de25oC. Tomando-se por base a dosagemindicada pelo fabricante para amaceração da uva, testou-se oseguinte gradiente de concentra-ções para as duas enzimas: 0 (teste-munha sem enzima); 16,6; 33,2 e66,4ml/100kg de caroços de ameixacom resíduos de polpa. Após a

produção de porta-enxertos defruteiras através da utilização

de sementes é uma prática tradicio-nalmente utilizada por viveiristas eprodutores. Para algumas espécies,como o pessegueiro, a ameixeira e ocaquizeiro, são utilizados caroços esementes provenientes de resíduosda indústria, ou de frutas de descartedo consumo in natura, os quais apre-sentam uma grande quantidade depolpa aderida.

Para se obter um bom índice degerminação, a remoção da polpa éuma operação imprescindível paraevitar perdas (1). Devido a sua compo-sição açucarada, a sobra de polpa fer-menta e eleva a temperatura dos ca-roços a níveis que podem comprome-ter o embrião e reduzir a taxa degerminação.

No caso do pêssego, os viveiristascostumam utilizar os caroços prove-nientes das fábricas de conserva. Tra-tando-se de pêssego de conserva, oscaroços são aderentes à polpa e saemda fábrica com uma quantidade depolpa suficiente para promover fer-mentação do material. Para evitar afermentação e o conseqüente aqueci-mento dos caroços, os mesmos sãocolocados para secagem à sombra emcamadas de aproximadamente 10cm,as quais são movimentadas duas ve-zes por dia durante duas semanas.Após este período os caroços são en-tão lavados, o que permite retirarparte do resíduo de polpa já decom-posta.

Em alguns casos, é usado um equi-pamento constituído de um tamborcujas faces internas são guarnecidasde pontas metálicas. Este tambor,

A

1. Enzima pectolítica comercializada no Brasil pela AEB Bioquímica Latino Americana Ltda.2. Enzima pectolítica comercializada no Brasil pela Novo Nordisk do Brasil.

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BiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologia

maceração cada amostra de caroçosfoi colocada em uma peneira de malha2mm e submetidas a uma lavagemem água corrente por 30 segundos. Omaterial que permaneceu na peneira,caroços e resíduos de polpa umedecida,foi colocado para secar sobre papeltoalha em temperatura ambiente, por1 hora. Uma nova pesagem do mate-rial enxuto proporcionou os resulta-dos que estão apresentados na Figura1. Constatou-se que a enzima 1 nadose de 33,2 ml/100kg e o dobro destadose da enzima 2 foram suficientespara limpar os caroços de ameixa.

Na avaliação, a taxa de germina-ção dos caroços não apresentou dife-renças notáveis entre tratamentos,ficando na faixa de 80 a 90%.

No caso do pêssego, conduziu-seum experimento com dosagens bai-xas na mesma faixa que aquelasusadas em ameixa, de 0; 10ml; 20ml e40ml para cada uma das enzimas, euma superdosagem de 160ml/100kgpara verificar eventual efeito defitoto-xidez sobre a germinação dassementes.

Como apenas a maior dosagem(160ml/100kg) apresentou resultadosatisfatório em termos de limpezados caroços com 80 e 90% da polparemovida, dependendo da enzima,montou-se um outro experimento comdosagens mais altas que permitis-sem encontrar a mais adequada everificar a margem de segurança quan-to ao poder germinativo das semen-tes, ou seja: 0; 84; 168; 336 e672ml de enzima pectolítica paracada 100kg de caroços com restos depolpa. As dificuldades encontradascom o caroço do pêssego exigindomaior dosagem de enzima que o deameixa se deve, provavelmente, àsreentrâncias daquele caroço, que re-têm a polpa através de filamentos demaior consistência.

A avaliação da eficiência dasenzimas foi feita usando-se a mesmametodologia de limpeza e pesagemapós maceração que nos experimen-tos anteriores. O peso da testemunha(sem aplicação de enzimas após amaceração em água e drenagem) con-firmou em laboratório as dificuldadesencontradas pelos produtores, ou seja,

apenas 10% da polpa residual foi re-movida pela lavagem. Já nos trata-mentos onde foram utilizadas as

enzimas, mesmo na menor dosagem,retirou-se mais de 80% da polpa de-pois de 24 horas de maceração (Figura

Figura 1 - Percentagem de polpa de ameixa consumida por duas enzimas pectolíticas

Figura 2 - Percentagem de polpa de pêssego consumida por duas enzimas pectolíticas

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BiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologia

sementes, e levando-se em conta obaixo custo da técnica comparado coma retirada manual ou mecânica dapolpa, poder-se-ia recomendar a dosa-gem de 168ml para 100kg para seter um bom coe-ficiente desegurança quanto à eficiência do pro-cesso de limpeza (Figuras 3 a 6).

O teste de germinação dos caroçosde pêssego foi feito utilizando dezcaroços por parcela com três repeti-ções, ou seja, 30 caroços por trata-mento, num total de 270 caroços. Oscaroços misturados com pó de xaximúmido foram colocados na geladeirapara estratificação e quebra dedormência logo após a limpeza. Apósquatro meses foi feita uma primeiraavaliação dos caroços, quando emmédia 57% estavam abertos apresen-tando sementes germinadas. Os caro-ços remanescentes foram quebradosmanualmente a fim de se extrair assementes para verificar seu estadofitossanitário e poder germinativo.Em relação ao número inicial de caro-ços, 8,5% das sementes estavam dete-rioradas, as demais foram colocadas agerminar em placas de petri com pa-pel filtro umedecido, chegando-se de-pois de 50 dias a uma taxa média finalde 70% de ger-minação. A taxapoderia ter sido mais elevada se nãotivesse havido conta-minações comfungos em 12,5% das amêndoas apóssua extração dos caroços. A demoraem germinar, que aumentou o riscode contaminação, é decorrente daexigência em frio da cultivar Sundar,muito mais elevada que a da cultivarCapdebosc, a mais utilizada para por-ta-enxerto de pessegueiro e ameixei-ra. Não houve correlação entre dosesde enzimas e taxa de germina-ção.

Sob o ponto de vista prático algu-mas precauções devem ser tomadasem virtude do efeito corrosivo da cal-da formada pela polpa sob a ação dasenzimas, recomendando-se usarvasilhames de plástico ou inox. A tem-peratura é um fator importante nofuncionamento das enzimas, porémno verão, quando se coletam os caro-ços, a temperatura ambiente é próxi-ma aos 25oC recomendados, na maiorparte do tempo.

2), enquanto que as maiores dosagenssuperaram o nível de 90% de polpaconsumida, confirmando a eficiênciado processo biotecnológico.

As diferenças entre enzimas e en-tre dosagens não foram significativas.

A dosagem de 84ml de enzimapectolítica para cada 100kg de caroçonão despolpado parece ser a indicaçãomais adequada. Entretanto, como asdoses mais elevadas não prejudica-ram a capacidade de germinação das

Figura 3 - Caroços de ameixa após 24 horas de maceração com enzima 1:(1) Testemunha sem enzima; (2) 16,6ml/100kg; (3) 33,2ml/100kg;

(4) 66,4ml/100kg

Figura 4 - Caroços de pêssego após 24 horas de maceração com enzima 1:(1) Testemunha sem enzima; (2) 40ml/100kg; (3) 160ml/100kg

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BiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologiaBiotecnologia

Conclusão

As enzimas pectolíticas são eficien-tes na despolpagem de caroços de pês-sego, propiciando uma limpeza rápidae total. As enzimas não alteram opoder germinativo das sementes.

A dosagem indicada de 160ml/100kgde caroços com polpa é válida para asmarcas de enzimas pectolíticas testa-das.

A facilidade de utilização e os bonsresultados obtidos fazem com que adespolpagem através do uso de enzimaspectolíticas seja recomendada paraviveiristas que desejam obter umamelhor percentagem de germinaçãode caroços de pêssego e ameixa comredução de mão-de-obra.

Literatura citada

1. HARTMANN, H.T.; KESTER, D.E. Plantpropagation; principles and practices.

4.ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1983.727p.

2. BARMORE, C.R.; CASTLE, W.S. Separationof citrus seed from fruit pulp for rootstock

propagation using a pectolytic enzyme.HortScience, Mount Vernon, v.14, n.4,p.526-527, 1979.

Jean Pierre Rosier, eng. agr., Ph.D., Cart.Prof. no 5.517-D, CREA-SC, EPAGRI/Admi-nistração Regional de Caçador, Estação Expe-rimental de Videira, C.P. 21, Fone/Fax (0495)66-0054, 89560-000 - Videira, SC e Jean-PierreHenri Joseph Ducroquet, eng. agr., Ph.D.,Cart. Prof. no 17.954-D, CREA-PR, EPAGRI/Administração Regional de Caçador, EstaçãoExperimental de Videira, C.P. 21, Fone/Fax(0495) 66-0054, 89560-000 - Videira, SC.

Figura 5 - Caroços de pêssegos tratados comercialmente com enzimas 1:160ml/100kg, após 24 horas de maceração antes da limpeza com esguicho

Figura 6 - Mesmos caroços de pêssego após limpeza com esguicho

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Fruta nativaFruta nativaFruta nativaFruta nativaFruta nativa

Goiabeira serrana: fatores climáticos trazem a pesquisaGoiabeira serrana: fatores climáticos trazem a pesquisaGoiabeira serrana: fatores climáticos trazem a pesquisaGoiabeira serrana: fatores climáticos trazem a pesquisaGoiabeira serrana: fatores climáticos trazem a pesquisade volta ao centro de origem da espéciede volta ao centro de origem da espéciede volta ao centro de origem da espéciede volta ao centro de origem da espéciede volta ao centro de origem da espécie

Antecedentes

Há dez anos a idéia de pesquisar agoiabeira serrana (Feijoa sellowiana),para viabilizar seu cultivo comercial,foi aprovada em reunião de planeja-mento do Programa de Fruticulturade Clima Temperado da ex-EMPASC.Anteriormente, a espécie já tinha sidoobjeto de estudos de um botânicojoaquinense (1), que salientou seupotencial para cultivo comercial.

Pensava-se então que, por ser umafrutífera nativa no Estado de SantaCatarina, seu cultivo não apresenta-ria grandes dificuldades. A coleta deexemplares nativos, produzindo fru-tos com características desejáveis emtermos de tamanho e rendimento empolpa, deixava vislumbrar resultadosmelhores que aqueles obtidos até en-tão, nos países onde esta espécie jávinha sendo explorada comercialmen-te, há várias décadas, como NovaZelândia e Estados Unidos. Nestespaíses a base genética muito estreitado germoplasma de feijoa utilizadoaté pouco tempo não permitiu a cria-ção de cultivares que produzissemfrutos com qualidade suficiente paraconquistar uma parcela significativado mercado.

Primeiros passos

O primeiro passo foi montar umacoleção na Estação Experimental deVideira (EEV) com clones seleciona-dos e enxertados sobre seedlings,coletados dos melhores exemplaresencontrados nas várias regiões do Es-tado de Santa Catarina onde a goia-

beira serrana ocorre naturalmente ouna forma de cultivo caseiro. A maioriados exemplares foram encontrados atra-vés de um concurso de amostras reali-zado na região serrana, com o patrocí-nio e o apoio logístico de uma casaagropecuária1 de Lages e a ajuda bené-vola de pessoas interessadas no proje-to. Foi então possível ter acesso a 148exemplares, dos quais os 49 melhoresforam introduzidos na coleção da EEV.Outros 100 exemplares foram introdu-zidos a partir de prestimosas colabora-ções do público em geral, ou de coleçõesde outros países.

Paralelamente, foram conduzidaspesquisas sobre multiplicaçãovegetativa, optando-se pela enxertiasobre seedlings, já que a multiplicaçãopor estaquia, a princípio mais tentado-ra, não apresentou resultados

satisfatórios com a tecnologia disponí-vel.

Pontos deestrangulamento

Os primeiros problemas aparece-ram na fase de produção das mudas,quando em 1990 todos os 900 seedlingsacabaram secando. Identificou-se o fun-go Colletotrichum gloeosporioides comoagente causador desta doença (2). Nosanos subseqüentes, o problema foiamenizado com aplicação de fungicidasa base de cobre ou mancozeb. Na cole-ção as plantas, que vinham apresen-tando bom comportamento fitossa-nitário até então, começaram tambéma apresentar sintomas de secamento,com intensidade diferenciada, depen-dendo do clone (Figura 1).

Figura 1 - Secamento da planta provocado por antracnose

Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet ePedro de Alcântara RibeiroU

1. Aquiles Marin.

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Fruta nativaFruta nativaFruta nativaFruta nativaFruta nativa

Em 1991, os primeiros clones intro-duzidos, então no terceiro ano, come-çaram a produzir frutos, alguns dosquais com ótimas características. Po-rém, já no ano seguinte praticamentetodos os frutos apresentavam man-chas de antracnose, também causadaspor C. gloeosporioides , sendo poucos osfrutos que chegavam a maturação com-pleta na planta (Figura 2).

Estudos realizados em laboratóriopermitiram identificar alguns dosfungicidas mais eficientes no combatein vitro a este fungo: tebuconazole,prochloraz, ciproconazole e benomyl(2). Contudo, testes preliminares reali-zados a campo na EEV mostraram quena falta de maiores conhecimentos so-bre a epidemiologia da doença, sãonecessárias aplicações semanais des-tes fungicidas, desde a floração até acolheita, para controlar a doença nofruto. Esta séria limitação não eraesperada, já que a antracnose em ra-mos ou frutos não tinha sido observadanos exemplares silvestres, não sendocitada na literatura disponível (1 e 3).Felizmente, na coleção de clones e nasquadras de avaliação de seedlings daEEV foram encontradas plantas resis-tentes à antracnose que incide nosórgãos vegetativos. Existe também umacerta variabilidade entre clones quan-to a níveis de danos nos frutos, porémainda não foram encontradas plantasisentas de danos nos frutos.

Berço minado

Por estar no centro de origem daespécie, a goiabeira serrana depara-secom um número surpreendente de pra-gas: cochonilhas, percevejos, tripes,ácaros, besouros, traças, mariposasminadoras e moscas-das-frutas (4).

Algumas destas pragas são conside-radas espécies novas ainda não descri-tas ou catalogadas. Contudo, a espéciemais problemática para o cultivo dagoiabeira serrana na região do AltoVale do Rio do Peixe é a mosca-das--frutas Anastrepha fraterculus , que temna goiaba serrana sua fruta predileta.Outra espécie cuja larva também dani-fica o fruto, especialmente na regiãoSerrana e cuja identificação ainda nãochegou a nível de espécie, é o gorgulho

Figura 2 - Dano no fruto causado por antracnose

Tabela 1 - Comparação de alguns parâmetros climáticos entre São Joaquim(Altitude - 1.388m) e Videira (Altitude - 774m) - período 1971 a 1995

Outubro a março Abril a setembroEspecificação

Videira São Joaquim Videira São Joaquim

Média das temperaturas máximas (oC) 26,95 21,48 21,51 16,11

Média das temperaturas mínimas (oC) 14,85 11,88 8,50 7,63

Total das precipitações (mm) 970,2 869,50 835,7 797,1

Conotrachelus sp., cujo controle poderáser facilitado por apresentar apenas umageração por ano, conforme comunicaçãopessoal de E.R. Hickel, pes-quisador daEPAGRI/EE Videira, em 1995.

Providências

A podridão amarga da maçã, causadapor Glomerella cingulata, forma perfeitade C. gloeosporioides, requer altas tem-peraturas e precipitações pluviométricaspara o seu desenvolvimento (5), incidindocom muito mais intensidade no AltoVale do Rio do Peixe que na regiãoSerrana. Por analogia, levantou-se ahipótese de que o mesmo pudesse acon-tecer com a antracnose da goiabeiraserrana. Conforme Tabela 1, esta regiãoapresenta média de temperaturas máxi-

mas bem mais baixa (-5oC) e precipita-ções um pouco menores que a regiãodo Alto Vale do Rio do Peixe, oferecen-do portanto condições menos favorá-veis ao desenvolvimento da antrac-nose, especialmente durante o perío-do que se estende da floração até acolheita.

Instalou-se então em 1992 umaminicoleção com clones de goiabeiraserrana na Estação Experimental deSão Joaquim (EESJ). Os primeirosfrutos foram colhidos em 1995, semproblemas de antracnose, e plantasapresentando ótimo estado sanitário.Paralelamente, testes de comporta-mento com seis clones foram instala-dos, em 1993, nas Estações de Urus-sanga, Ituporanga, Itajaí, Canoinhas,além de São Joaquim e Videira, com a

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Fruta nativaFruta nativaFruta nativaFruta nativaFruta nativa

colaboração de um pesquisador em cadauma destas Estações.

Em função destes primeiros resulta-dos está se implantando o banco ativode germoplasma de goiabeira serranana EESJ, conforme projeto inserido noPrograma Nacional de Recursos Gené-ticos da EMBRAPA. Este banco degermoplasma, constituído inicialmen-te pela maioria dos clones nativos ouintroduzidos do exterior e já reunidosna EEV, será enriquecido ano a anocom novos clones de destaque que vie-rem a ser encontrados. Em 1995 foramenxertadas mudas dos 51 primeirosclones a serem levadas a campo emmaio de 1996.

A maioria destes clones é originárioda própria região Serrana, já que emSanta Catarina esta goiabeira é rara-mente encontrada em estado espontâ-neo em altitudes abaixo de 800m, apre-sentando densidade crescente, propor-cional à altitude. Verdadeiros bosquesde goiabeira serrana foram encontra-dos nos municípios de São Joaquim,Bom Jardim da Serra, Urupema, Uru-bici e Lages (Painel) e na Serra do Espi-gão, na parte alta dos municípios deCaçador e Lebon Régis. Já em Videira(altitude 774m) esta espécie não é nati-va, sendo apenas encontrada nos quin-tais.

Além dos avanços em fitossanidade,mencionados acima, o acervo técnicoreunido nestes últimos anos sobre nu-trição (6), fenologia e fecundação (7) ecultura in vitro (8) permitirão dar su-porte a iniciativas de plantio comercialna região Serrana, caso se confirme amenor incidência de antracnose naque-la região.

Apesar de exploradas comercialmen-te em alguns países, as cultivares degoiabeira serrana disponíveis não apre-sentam diferenças sensíveis em rela-ção aos exemplares silvestres e deixama desejar do ponto de vista comercial, oque caracteriza um processo dedomesticação incompleto (9).

Em virtude da diversidade biológicados aspectos envolvidos nos processosde domesticação da goiabeira serrana,os trabalhos de pesquisa vêm sendorealizados por uma equipe multidis-ciplinar na forma de um projeto inte-

grado2, reunindo pesquisadores daEstação Experimental de Videira nasáreas de fitossanidade, polinização,melhoramento genético, coleta degermoplasma; da Estação Experimen-tal de São Joaquim na condução dobanco ativo de germoplasma, incluin-do também coleta de germoplasma eavaliação de seedlings, e do Departa-mento de Fitotecnia do Centro de Ci-ências Agrárias da UFSC na área demelhoramento genético, engenhariagenética e cultura in vitro. A ênfase nomelhoramento genético justifica-sepela grande variabilidade da espécieem termos de características do frutoe de resistência da planta a antracnose.Esta variabilidade genética permitegrandes progressos através das técni-cas clássicas do melhoramento genéti-co. Até o presente, esta equipe vemobtendo resultados apreciáveis, apro-veitando estruturas existentes, compouca necessidade de tempo de dedica-ção da maioria de seus integrantes.

Limitando-se agora a tentarviabilizar o cultivo desta espécie naregião Serrana, objetiva-se aproveitaras condições climáticas desfavoráveisao desenvolvimento da antracnosepara aumentar as chances de implan-tar a cultura com sucesso. Confirman-do-se as expectativas de aceitação dofruto no mercado, será mais fácil jus-tificar maiores investimentos em pes-quisa, inclusive para estender o culti-vo a outras regiões, se for convenien-te, selecionando cultivares resisten-tes a antracnose.

In memoriam

Ao saudoso eng. agr. Pedro deAlcântara Ribeiro, colega e exemplarpesquisador, que como co-autor destetrabalho participou desde o princípiodas pesquisas na coleta de materiaisvegetativos até a implantação do Ban-co Ativo de Germoplasma de Goiabei-ra Serrana na Estação Experimentalde São Joaquim, nosso reconhecimen-to.

Literatura citada

1. MATTOS, J.R. A goiabeira serrana. 2.ed.Porto Alegre: Instituto de Pesquisas deRecursos Naturais Renováveis “AP”,

1986. 84p. (Publicação IPRNR, 19).

2. ANDRADE, E.R. de; DUCROQUET,J.P.H.J. Antracnose em goiabeira ser-rana. In: CONGRESSO IBERO-AME-RICANO, 1., CONGRESSO LATINO-AMERICANO, 5., CONGRESSO NA-CIONAL DE HORTICULTURA, 4.,1992, Montevidéu, Uruguai. Resumos.Montevidéu: Sociedade Uruguaya deHorticultura/Confederación Latino-Americana de Horticultura, 1992. p.31.

3. MATTOS, J.R. Goiabeira serrana - frutei-ras nativas do Brasil. Porto Alegre:1990. 120p.

4. HICKEL, E.R.; DUCROQUET, J.P.H.J.Entomofauna associada à goiabeira ser-rana (Feijoa sellowiana Berg). RevistaBrasileira de Fruticultura, Cruz dasAlmas, v.14, n.2, p.101-107, 1992. (Trab.apres. no 12. Congresso Brasileiro deFruticultura, 1993, Porto Alegre, RS).

5. BLEICHER, J. O sistema pluviométricopara previsão da podridão amarga damacieira. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.4, n.3, p.16-18, 1991.

6. DAL BÓ, M.A.; DUCROQUET, J.P.H.J.Efeito do pH e teor de P no solo sobre ocrescimento e absorção de nutrientesda goiabeira serrana (Feijoasellowiana). Revista Brasileira de Fru-ticultura, Cruz das Almas, v.14, n.2,p.109-114, 1992. (Trab. apres. no 12.Congresso Brasileiro de Fruticultura,1993, Porto Alegre, RS).

7. DUCROQUET, J.P.H.J.; HICKEL, E.R.Fenologia da goiabeira serrana (Feijoasellowiana, Berg) no Alto Vale do Riodo Peixe, Santa Catarina. Revista Bra-sileira de Fruticultura, Cruz das Al-mas, v.13, n.3, p.313-320, 1991. (Trab.apres. no 11. Congresso Brasileiro deFruticultura, 1991, Petrolina-PE)

8. GUERRA, M.P.; PESCADOR, R.;CORDOVA, A.; DUCROQUET, J.P.;NODARI, R.O. Somatic embryogenesisin Feijoa sellowiana . In: REDBIO’95:ENCUENTRO LATINOAMERICANODE BIOTECNOLOGIA VEGETAL, 2.,1995, Puerto Iguazu, Argentina. BuenosAires: INTA, 1995. Resumo A-54.

9. WOOD, B.W.; PAYNE, J.A.; GRAUKE,L.J. The rise of the U.S. pecan industry.Hortscience, Mount Vernon, v.25, n.6,p.594, 721-723, 1990.

Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet,eng. agr., Ph.D., Cart. Prof. n o 17.954-D,CREA-PR, EPAGRI/Administração Regionalde Caçador, Estação Experimental de Videi-ra, C.P. 21, Fone/Fax (0495) 66-0054, 89560-000 - Videira, SC.+Pedro de Alcântara Ribeiro, eng. agr.,pesquisador da EPAGRI/Estação Experimen-tal de São Joaquim, falecido a 5 de janeiro de1996.2. Aprovado pelo CNPq.

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

Relação entre o tamanho inicial e final dos frutosRelação entre o tamanho inicial e final dos frutosRelação entre o tamanho inicial e final dos frutosRelação entre o tamanho inicial e final dos frutosRelação entre o tamanho inicial e final dos frutosde macieira, cultivar Fujide macieira, cultivar Fujide macieira, cultivar Fujide macieira, cultivar Fujide macieira, cultivar Fuji

José Luiz Petri e Marcia Mondardo

tamanho dos frutos na colheita jáestá determinado desde muito

cedo, inclusive durante a formação dagema florífera, de modo que um frutoinicialmente grande também o será nacolheita e um relativamente pequenose manterá nesta condição. Existe umaestreita correlação entre o tamanho dofruto em diversos períodos de cresci-mento e o tamanho na colheita (1). Acurva de crescimento dos frutos permi-te predizer o calibre final dosmesmos, bem como orientar o raleioquanto aos frutos que devem ser elimi-nados.

Com base no mesmo princípio, ofruto pequeno no início do desenvolvi-mento também o será na colheita,mesmo que se eliminem todos os fru-tos que estejam a seu redor (2). Destemodo a eliminação de frutos pequenosproporciona uma maior uniformidadeno tamanho, além de melhorar o cali-bre final dos frutos colhidos.

O tamanho do fruto é determinadopelo número de células inicial , sendoque, geralmente, frutos de tamanhogrande têm mais células que frutos detamanho pequeno. O período de divi-são celular dura de quatro a cincosemanas a partir da polinização, demodo que o número total de célulasque terá o fruto permanecerá constan-te após este período. O número total decélulas formadas durante a fase demultiplicação celular é fundamentalpara determinar o tamanho final dofruto. Terminada a fase de multiplica-ção celular, inicia-se imediatamente afase de crescimento dos frutos, sendoque cerca de 50 dias após a floração ocrescimento das células é o fator maisimportante para o crescimento do fru-to da macieira (3).

Através do conhecimento da curva

de crescimento dos frutos é possível, jáaos 60 dias após a plena floração (DAPF),estimar o tamanho do fruto por ocasiãoda colheita. A importância de se conhe-cer a curva de crescimento dos frutos éfazer um prognóstico do tamanho finaldos frutos com antecedência, podendo-se direcionar o raleio e adequar a com-pra de embalagens de acordo com otamanho esperado.

O presente trabalho foi desenvolvi-do com o objetivo de avaliar o desenvol-vimento dos frutos nas diversas fasesde crescimento e a influência de algu-mas variáveis no mesmo.

Material e métodos

Frutos da cultivar Fuji/MM-106, emgemas de brindila, foram etiquetadosem dez plantas, marcando-se 20 frutospor planta. Os frutos marcados foramselecionados de maneira a apresentarfrutos de tamanho médio e frutos comtamanho até 40% inferior à média.Após 45 dias da plena floração iniciou-se a medição quinzenal do diâmetrotransversal dos frutos até a colheita,ocasião em que foram colhidos e pesa-dos individualmente. Estas observa-ções foram realizadas durante cincoanos, nas mesmas plantas, que tinhamseis anos de idade no início das observa-ções, em Fraiburgo, SC.

A curva de crescimento dos frutosfoi ajustada considerando-se o diâme-tro médio de todos os frutos amostradose cada um dos cinco ciclos. Uma divisãoem três tamanhos, partindo-se dos demaior tamanho aos 45 dias após a plenafloração (DAPF) e os de tamanho 20 e40% inferiores, foi adotada para obter-se o ajuste das curvas de crescimentopor classe de tamanho dos frutos emcada ciclo. Foi estabelecida a correla-

ção entre o tamanho aos 45 DAPF e otamanho na colheita, e também foideterminada a relação entre peso ediâmetro dos frutos.

Em outras plantas foram marca-dos frutos em função do tipo de ramo,procurando-se marcar frutos do mes-mo tamanho. Os tipos de gema selecio-nados foram:

• Frutos em gemas terminais comlançamento do ano maior que 10cm.

• Frutos em gemas terminais comlançamento do ano menor que 10cm.

• Frutos em gemas terminais semcrescimento.

• Frutos em esporões sem cresci-mento.

• Frutos em gemas de esporõessem folhas ou folhas muito pequenas.

Resultados e discussão

O crescimento dos frutos a partirdos 45 DAPF até a colheita, conside-rando-se os cinco ciclos, é descritoatravés de regressão quadrática (Fi-gura 1), apresentando um R2 de 0,96.Isto permite estimar o diâmetro mé-dio dos frutos nas diversas fases dedesenvolvimento com razoável segu-rança. A análise dos resultados mos-tra que é possível estimar o diâmetrodos frutos na colheita a partir dodiâmetro de frutos amostrados aos 45DAPF, visto que há uma relação line-ar entre o diâmetro inicial e final dosfrutos (Figura 2). Estas informaçõespoderão auxiliar na estimativa de pro-dução e seleção de embalagens.

Na Figura 2 observa-se que o diâ-metro final dos frutos depende dodiâmetro inicial dos mesmos e do tipode gema em que o mesmo se encon-tra, pois frutos de tipos de gemasdiferentes também apresentaram

O

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

comportamento diferente.Quando os frutos foram divididos

em três classes de diâmetro aos 45DAPF, considerando-se cada ciclo emseparado, constatou-se que os frutosmenores aos 45 DAPF chegaram acolheita também com diâmetro infe-rior (Figuras 3, 4, 5, 6 e 7). Houve umatendência de os frutos maiores apre-sentarem uma taxa de crescimentomaior.

Os resultados evidenciam que alémde já serem menores aos 45 DAPF,esta relação aumenta até a colheita

em relação aos frutos de maior tama-nho ini-cial. Estas informações confir-mam a recomendação de que o raleiodeve ser seletivo, retirando-se os fru-tos de menor tamanho (4).

Nas condições de inverno ameno,a cultivar Fuji apresenta uma série deanomalias na formação de gemas efrutos. Na análise de frutos de tama-nho similar por ocasião do raleio, dediferentes tipos de gemas, consta-tou--se uma acentuada diferença nocrescimento final dos mesmos. A me-lhor taxa de crescimento dos frutos

ocorre em gemas que emitem cresci-mento superior a 10cm (Tabela 1).Isto está relacionado com a maiorárea foliar, pois para o fruto se desen-volver normalmente necessita de umasuperfície mínima de folhas ativas (4).Resultados similares mostraram quefrutos de ramos com mais de 10cm decomprimento foram os de maior ta-manho (5).

A relação entre o diâmetro e o pesodos frutos na colheita em três ciclos édescrita através de regressãoquadrática (Figura 8).

Figura 1 - Curva de crescimento de frutos da cultivarFuji e diâmetros observados a partir dos 45 DAPF.

Dados de cinco ciclos

Figura 2 - Relação entre o diâmetro dos frutos aos 45DAPF e o diâmetro na colheita, descrita através deregressão linear. Dados de cinco anos, cultivar Fuji

Figura 3 - Curvas de crescimento de frutos da cultivarFuji e diâmetros observados por classe de diâmetro ao 45

DAPF. C1 = 20 a 26mm, C2 = 26,1 a 32mm e C3 = 32,1 a38mm. Ciclo 81/82

Figura 4 - Curvas de crescimento de frutos da cultivarFuji e diâmetros observados por classe de diâmetro aos 45DAPF. C1 = 18 a 26mm, C2 = 26,1 a 34mm e C3 = 34,1 a

42mm. Ciclo 82/83

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

Conclusões

• Através da curva de crescimentodos frutos podem ser estimados osdiâmetros dos mesmos nas diversasfases de desenvolvimento a partir dos45 DAPF.

• Os frutos de menor diâmetro aos45 DAPF tendem a apresentar umataxa de crescimento menor.

• Há uma forte relação entre diâ-metro e peso dos frutos na colheita.

• Frutos em diferentes tipos degemas apresentam crescimento dife-renciado.

Tabela 1 - Influência do crescimento dos ramos do ano sobre diâmetro dos frutos e o pesomédio na cultivar Fuji. Fraiburgo, SC

Peso Diâmetro médio transversalmédio dos (mm)

frutos(g) No raleio Na colheita

1 123,8 18 622 98,7 19 573 90,5 19 574 71,2 18 535 54,2 18 48

Notas: a) 1 = Frutos em gemas terminais com lançamento do ano maior que 10cm.b) 2 = Frutos em gemas terminais com lançamento do ano menor que 10cm.c) 3 = Frutos em gemas terminais sem lançamento.d) 4 = Frutos em gemas sem lançamento.e) 5 = Frutos em gemas sem folhas ou folhas muito pequenas.

Posiçãodofruto

Figura 5 - Curvas de crescimento de frutos da cultivarFuji e diâmetros observados por classe de diâmetro aos 45DAPF. C1 = 21 a 30mm, C2 = 30,1 a 39mm e C3 = 39,1 a

48mm. Ciclo 83/84

Figura 6 - Curvas de crescimento de frutos da cultivarFuji e diâmetros observados por classe de diâmetro aos 45DAPF. C1 = 20 a 27mm, C2 = 27,1 a 34mm e C3 = 34,1 a

41mm. Ciclo 84/85

Figura 7 - Curvas de crescimento de frutos da cultivarFuji e diâmetros observados por classe de diâmetro aos 45DAPF. C1 = 11 a 19mm, C2 = 19,1 a 27mm e C3 = 27,1 a

35mm. Ciclo 85/86

Figura 8 - Relação entre peso e diâmetro dos frutos na cultivarFuji, descrita através de regressão quadrática. Dados de três

anos

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

Literatura citada

01. BATJER, L. P. ; BILLINGSLEY, M. D. ;WESTWOOD, M. N. ; ROGERS, B. S.Predicting harvest size of apples atdiferent times during the growingseason . Proceedings of the AmericanSociety for Horticultural Science ,Mount Vernon, v. 70, p.46-57, 1937.

02. LOPES, J. G. O. El oclareo químico delmanzano. Hortofruticultura, n. 4,p.53-59, 1993.

03. GONZALO, F. G. El raleo químico emmanzano. Revista Frutícola, v. 13, n.2, p.57-66, 1992.

04. TISCORNIA, J. L. Raleio em macieira.Pelotas: EMBRAPA-CNPFT, 1983. 18p.(EMBRAPA-CNPFT. Circular Técnica,7).

05. TAKESHI, I. Influência de localização degemas floríferas sobre a fenologia ecrescimento de ramos e frutos em ma-cieira . Pelotas: EMBRAPA-CNPFT,1987. 21p. (EMBRAPA-CNPFT. Bole-tim de Pesquisa, 13).

José Luiz Petri, eng. agr., M.Sc., Cart Prof.617-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experi-mental de caçador, C.P. 591, Fone (0496) 63-0211, Fax (0496) 63-3211, 89500-000 - Caça-dor, SC e Marcia Mondardo , enga agra,M.Sc., Cart. Prof. 21.640-D, CREA-SC,EPAGRI/Estação Experimental de caçador,C.P. 591, Fone (0496) 63-0211, Fax (0496) 63-3211, 89500-000 - Caçador, SC.

Erva-mateErva-mateErva-mateErva-mateErva-mate

Erva-mate em alta densidadeErva-mate em alta densidadeErva-mate em alta densidadeErva-mate em alta densidadeErva-mate em alta densidade

Povoamento em alta densidade 2,50 x 1,50m = 2.666árvores/ha

erva-mate (Ilex paraguariensisSt. Hil.) é uma espécie florestal

arbórea nativa que ocorre principal-mente no Brasil, na Argentina e noParaguai e, em menor escala, no Uru-guai, na Colômbia, na Bolívia, no Perue no Equador. As principais regiões deocorrência são: no Brasil, a região Sul;na Argentina, a Província de Missionese no Paraguai, a parte oriental entre osrios Paraguai e Paraná (1).

O Estado de Santa Catarina localiza-se numa das regiões em que a erva--mate ocorre naturalmente em grandequantidade, o que significa uma condi-ção ambiental ótima para a espécie. Aestrutura fundiária do Estado é caracte-rizada pelas pequenas propriedades, res-ponsáveis pela maior parte da produçãoprimária do Estado e sustentáculo his-tórico do setor agroindustrial. Porém,os pequenos agricultores, que tanto con-tribuem para a economia catarinense,encontram-se em dificuldades para pro-porcionar às suas famí-lias uma rendamínima, havendo necessidade de im-plantar novas opções agropecuárias ade-quadas aos recursos dis-poníveis e com alto valorda produção por hectare,como é o caso da erva-mate.

A necessidade de daratenção aos pequenosagricultores do Estado éagravada pela ameaça pro-vinda da abertura da eco-nomia, expondo os agen-tes econômicos à concor-rência externa, numa in-tensidade nunca ocorridana história do Brasil. Noâmbito do Mercado Co-mum do Cone Sul -

MERCOSUL, os produtos brasileirosmais ameaçados são os agrícolas daregião Sul. Assim, a erva-mate e osdemais produtos agrícolas do Brasilmeridional precisam ser estudados,tanto do ponto de vista tecnológicocomo econômico, no sentido de produ-zir e comercializar competitivamen-te.

Além de buscar rentabilidade, nãopode ser menosprezado o esgotamen-to dos recursos naturais, principal-mente, na agricultura, pela prática desistemas de produção inadequados àscondições locais (2).

Na busca de rentabilidade e dasustentabilidade, a erva-mate é umaessência florestal capaz de contribuircom a recuperação e a preservaçãodos recursos naturais, desde que ex-plorada com níveis tecnológicos ade-quados. Para isso acontecer é neces-sária a profissio-nalização do homemdo campo.

Este trabalho tem por objetivo ava-liar a produção de biomassa foliar deerva-mate plantada em alta densida-

A

Dorli Mário Da Croce, Paulo Alfonso Floss, Raul de Nadal eJoão Augusto Müller Bohner

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20 Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996

Erva-mateErva-mateErva-mateErva-mateErva-mate

de (2,5 x 1,5m), bem como sua viabilida-de econômica.

Material e métodos

Localização do experimento

O experimento foi conduzido no mu-nicípio de Chapecó, SC, distrito de Mare-chal Bormann. Chapecó está localizadona latitude 27o07’S, longitude 52o37’W ealtitude de 679m. A vegetação anteriordo local do experimento era capoeira,com alta densidade de erveiras nativas,timbó (Ateleia glazioviana), camboatá(Matayba guianensis), canela amarela(Nectandra lanceolata) e outras de me-nor porte.

O solo do local foi classificado comoLatossolo Roxo Distrófico (Unidade deMapeamento Erechim).

Produção de mudas

As mudas foram produzidas no vivei-ro da Ouro Verde Agropecuária Ltda.,localizada no distrito de MarechalBormann, Chapecó, SC, com a orienta-ção dos engenheiros florestais daEPAGRI, seguindo a tecnologia disponí-vel.

Preparo do solo

No preparo do solo primeiramentefoi executado o destoque, seguido dearação e subsolagem até 40cm de pro-fundidade. O pH foi corrigido para 5,5adicionando-se 6t de calcário dolomítico/ha.

Delineamento experimental

O delineamento experimental adota-do foi de blocos casualizados com quatrorepetições. As mudas foram plantadasno mês de agosto de 1986 noespaçamento de 2,5m entre linhas e1,5m entre plantas, em número de 20por parcela, o que equivale a 2.666 plan-tas/ha.

Adubação

As adubações foram feitas no plantio(60g/cova de NPK 10-20-10) e anualmen-te após a poda (100g/planta de NPK 10-

20-10). Em intervalos de dois anosespalharam-se 3kg de esterco de aves/planta. Essas adubações foramefetuadas na linha de projeção dascopas das árvores.

Tratos culturais

Foram realizadas capinas ecoroamento das mudas, duas vezespor ano, até as plantas completaremtrês anos de idade.

Foi constatada a presença da brocada erva-mate Hedypathes betulinus(Klug, 1825). No controle desta pragafoi utilizado inseticida a base de“fosfina”, quando na forma larval, ecatação manual quando adulto, o queos autores consideram a melhor for-ma de controle no momento. Em ne-nhum ano houve a necessidade decontrole da lagarta Thelosia camina(Schaus, 1920) e da ampola da erva-mate, Metaphalara spegazziniana(Lizer, 1917).

Poda de formação

A poda de formação foi reali-zada um ano após o plantio, como corte das plantas a 20cm dosolo. Esta operação é realizadanormalmente em ervais tecnica-mente conduzidos e tem por ob-jetivo melhorar a estrutura daplanta visando torná-la mais pro-dutiva, dando condições de am-pliar o diâmetro de copa a partirda base (Figuras 1 e 2).

Avaliação da biomassa foliar

A biomassa foliar foi avaliadacom base na produção de folhas eramos utilizados para a indús-tria, expressa em quilo.

Avaliação econômica

Tratando-se de cultura pere-ne, onde os resultados dos inves-timentos distribuem-se ao longoda vida útil do erval, a análiseeconômica demanda abordagenscom modelos plurianuais, optan-do-se pela análise de investimen-to (3). Como principais indicado-

res de economicidade, determinaram-se a Taxa Interna de Retorno e o PayBack Time. A Taxa Interna de Retor-no mede o retorno do dinheiro aplica-do e deve ser comparada com taxas dejuros para aplicações alternativas,para saber se um projeto é ou nãoviável economicamente. O Pay BackTime indica após quantos anos deimplantação de um projeto a somaacumulada das receitas iguala e passaa superar a soma acumulada das des-pesas. Para os cálculos, foi considera-da uma vida útil de 20 anos para oerval. Há indicações de uma vida útilbem maior, porém indeterminada. Apartir do sexto ano, a produção foiconsiderada estabilizada.

Resultados e discussão

Produção de biomassa foliar

Na prática a avaliação de biomassafoliar é feita pela colheita de folhas eramos utilizados pela indústria, inici-ando após o terceiro ano de idade, jáque se trata de uma cultura perene.

Figura 1 - Erva-mate a ser podada a 20cm dealtura do solo (poda de formação)

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Erva-mateErva-mateErva-mateErva-mateErva-mate

Figura 2 -Erva-mate 40dias após apoda deformação

Os resultados das produções de folhase ramos nas sete avaliações realizadasencontram-se na Tabela 1.

As Tabelas 2 a 4 apresentam osresultados referentes à avaliação eco-nômica do experimento.

A média histórica de preços pagosao produtor situa-se em 2,3 dólares porarroba (15kg), preço pago pela erva--mate no pé, com o custo da colheitapor conta do comprador.

Para os agricultores que são propri-etários de terra e precisam escolherentre projetos alternativos, verifica--se, a esse preço, uma Taxa Interna deRetorno (TIR) de 57% ao ano, extrema-mente alta para as condições interna-cionais, pois o patamar de viabilidadeeconômica de projetos é encontrado apartir de 10% ao ano. Incluindo o valorda terra a 2 mil dólares/ha e mantendoa média histórica de preço, a TIR cai de57% para 35% ao ano (Tabela 2).

Baixando o preço médio da erva--mate para 1,9 dólar a arroba, as taxaspassam para 51% sem o valor da terrae para 30% ao ano se considerada aaquisição de terra a 2 mil dólares/ha.

No entanto, há que considerar quea TIR é avaliada comparando-a com ojuro real da economia e que o Brasilpratica um dos mais altos juros reaisdo mercado financeiro mundial. Alémdisso, o valor da terra no país é maisalto do que deveria ser pela rendaauferida na agricultura, indicando quea terra tem forte função de reserva devalor, mais do que de fator de produ-ção.

O Pay Back Time, isto é, o períodode retorno do investimento é de cincoanos para o caso de compra da terra ede quatro anos sem o valor da terra.

O investimento no primeiro ano,sem a compra de terra, é de US$1.087,00/ha. A esse valor deve ser acres-centado o valor da terra, se for o caso,e mais as despesas do segundo e doterceiro ano, US$ 221,00 e US$ 346,00/ha, respectivamente (Tabela 3).

A disponibilidade líquida nos anosde estabilização do sistema é de 2,8 a2,9 mil dólares/ha/ano ao preço de 2,3dólares/arroba de erva-mate, e de 2,2 a2,3 mil dólares/ha/ano para o preço de1,9 dólar/arroba. É uma renda líquidadas mais altas entre as culturas pra-

Tabela 3 - Investimento inicial necessário para implantação dosistema em US$/ha

AnoEspecificação Total

1o 2o 3o

Sem compra da terra 1.087 221 346 1.654Com terra a US$ 2.000/ha 3.087 221 346 3.654

Tabela 1 - Produção de erva-mate em kg/ha/ano e em kg/planta/ano, no espaçamentode 2,5 x 1,5m (2.666 plantas/ha)

Ano de avaliação kg/ha/ano kg/planta/ano

1989 6.884 2,581990 15.644 5,871991 19.919 7,471992 19.440 7,291993 19.623 7,361994 19.730 7,401995 21.674 8,13

Tabela 2 - Taxa Interna de Retorno do sistema de erva-mate em alta densidade(2,5 x 1,5m), para dois níveis de preços e duas opções de valor da terra

Taxa Interna de RetornoEspecificação

(% ao ano)

Sem compra de terraErva-mate a US$ 2,3/arroba 57Erva-mate a US$ 1,9/arroba 51

Com compra de terra a US$ 2 mil/haErva-mate a US$ 2,3/arroba 35Erva-mate a US$ 1,9/arroba 30

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22 Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996

Erva-mateErva-mateErva-mateErva-mateErva-mate

Literatura citada

1. REITZ, R; KLEIN, R.M.; REIS, A. Madeirasdo Brasil. Florianópolis: Lunardelli,1979. 320p.

2. FERREIRA FILHO, J.C. Cultura e preparoda erva-mate. Rio de Janeiro: MA/In-formação Agrícola, 1957. 64p.

3. CASAROTTO FILHO, N.; KOPITTKE, B.H.Análise de investimentos. 5.ed. SãoPaulo: Vértice Editora Revista dos Tri-bunais, 1992. 323p. (Manuais Vértice,3).

Dorli Mário Da Croce, eng. florestal, Cart.Prof. no 2.274-D, CREA-SC, EPAGRI/Centrode Pesquisa para Pequenas Propriedades,C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 23-0600, 89801-970 - Chapecó, SC; Paulo Alfon-so Floss, eng. florestal, Cart. Prof. no 58.576-D, CREA-RS, EPAGRI/Centro de Pesquisapara Pequenas Propriedades, C.P. 791, Fone(0497) 22-4877, Fax (0497) 23-0600, 89801-970 - Chapecó, SC; Raul de Nadal, eng. agr.,M.Sc., Cart. Prof. no 4.197, CREA-RS, EPA-GRI/Centro de Pesquisa para Pequenas Pro-priedades, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax(0497) 23-0600, 89801-970 - Chapecó, SC eJoão Augusto Müller Bohner, eng. flores-tal, Cart. Prof. no 21.418, CREA-SC, EPAGRI/Centro de Pesquisa para Pequenas Proprie-dades, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax(0497) 23-0600, 89801-970 - Chapecó, SC.

ticadas no Oeste de Santa Catarina (Ta-bela 4).

Os indicadores analisados nas Tabe-las 2, 3 e 4 caracterizam a produção deerva-mate em alta densidade como umsistema economicamente promissor.

Conclusões erecomendações

• O sistema revelou-se extremamen-te produtivo, sem agredir o ambiente,pois o único inseticida utilizado foi afosfina, um gás que atua tão somentenas galerias das brocas, sem resíduos nanatureza ou nas partes aproveitáveis daplanta.

• Do ponto de vista econômico, osistema apresentou Taxas Internas deRetorno bem acima do exigido por enti-dades financeiras internacionais para ofinanciamento de projetos. Porém, pe-rante a situação anacrônica dos juros nomercado brasileiro, os mais altos domundo em 1995, esse nível de rentabili-dade, considerado extremamente eleva-do nos demais países, pode não ser tãoatrativo no Brasil. Há também outrasameaças à atratividade do investimentoque são:

- O preço da terra: a erva-mate éexigente quanto às condições físicas dosolo e as terras que lhe são propíciassão altamente valorizadas no merca-do. A análise foi feita com o preço deUS$ 2 mil/ha e acima desse valordificilmente se justificaria do ponto devista econômico a aquisição para aprodução agrícola.

- A falta de estudos de mercadoatual e futuro, com projeções da ofertae da demanda, o que torna insegura aexpectativa de preço: não se tem certe-za de que a média histórica representeo preço futuro, quando os ervais atual-mente implantados estarão em francaprodução.

• Recomendam-se assim estudosde mercado, principalmente no que serefere ao balanço de oferta e da de-manda, considerando os novos planti-os e a expansão da demanda em uso nochi-marrão, assim como outros usospossíveis. Para isso são necessáriasequipes hoje inexistentes no Estado eque para serem formadas necessitamde uma ação conjunta do setor privado(ervateiras) e do setor público (Secre-tarias da Agricultura e da Indústria eComércio, Assembléia Legislativa ePrefeituras Municipais), pois a consti-tuição dessas equipes exige a contra-tação de profissionais altamenteespecializados.

• Recomendam-se também pesqui-sas das potencialidades e dos proces-sos de utilização da erva-mate em for-ma de infusão, refrigerantes, pó solú-vel, chá mate líquido e na farmaco-química. Para este item também hánecessidade de formar uma estruturae uma equipe, o que pode ser realizadono âmbito da EPAGRI, com a partici-pação da iniciativa privada e em con-junto com os demais países doMERCOSUL, principalmente a Argen-tina.

Tabela 4 - Disponibilidade líquida nos anos de estabilização do sistema

Especificação US$/ha/ano

Com erva-mate a US$ 2,3/arroba 2.800Com erva-mate a US$ 1,9/arroba 2.200

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EPAGRI/Chapecó, estão avaliando no-vas cultivares de gramíneas perenes deinverno quanto a produção de matériaseca (MS), persistência, época de pro-dução e qualidade.

O experimento denominado Com-petição de gramíneas perenes deinverno foi implantado em Chapecóem junho de 1993, e estão sendo avali-adas as seguintes gramíneas de esta-ção fria: Festuca (Festuca arundinaceaSchreb) cultivares: Ky 31, EEL,Farroupilha, Tacuabé, 7(101), (105) e(106); Faláris (Phalaris aquatica L.)cultivares: 9(201), 11(203), (205), (206) eIPZ cinqüentenária; Azevém perene(Lolium perenne L.) cultivar Ellett;Aveia perene (Arrhenatherum elatiusL.) cultivar IPZ Vacaria; e Cevadilha(Bromus catharticus Vahl) cultivar IPZIntegração.

Os dados médios de produção e qua-lidade obtidos nos dois primeiros anos,1994 (sete cortes) e 1995 (oito cortes),estão na Tabela 1, cabendo destacarque a produção obtida no período críti-co de março a maio, época em que aspastagens de aveia e azevém ainda nãoestão aptas para o pastejo, e em agostoa novembro, quando as pastagens deinverno já começaram seu declínio e aspastagens cultivadas de verão e as na-tivas ainda não estão em pleno desen-

volvimento, são de extrema impor-tância no sistema produtivo.

A exceção de azevém perene,cevadilha e aveia perene, todas asgramíneas testadas apresentaramum estande de cobertura do solosuperior a 90% em relação ao estandeinicial.

Os altos valores de proteína bru-ta na matéria seca em parte sejustificam pelo bom valor forrageirodestas espécies, bem como pelo fatodesses valores terem sido obtidosno período de menor crescimentodas espécies forrageiras, determi-nando uma menor idade fisiológicadas forrageiras por ocasião dos cor-tes, resultando numa maior con-centração de nutrientes.

Os pesquisadores envolvidos notrabalho, eng. agr. José Lino Rosa(coordenador estadual do projeto,da Estação Experimental de Lages),eng. agr. Mário Miranda (executorregional/CPPP), méd. vet. RubsonRocha (colaborador/CPPP) e eng.agr. Carlos Alberto Lajús (colabora-dor/CPPP) acreditam que até o finaldeste terceiro ano de avaliação te-rão condições de dar definições so-bre o potencial de utilização dessasforrageiras para a região Oeste deSanta Catarina.

PESQUISA EM

ANDAMENTO

Avaliação de gramíneasAvaliação de gramíneasAvaliação de gramíneasAvaliação de gramíneasAvaliação de gramíneasperenes de inverno noperenes de inverno noperenes de inverno noperenes de inverno noperenes de inverno no

Oeste de Santa CatarinaOeste de Santa CatarinaOeste de Santa CatarinaOeste de Santa CatarinaOeste de Santa Catarina

A região Oeste de Santa Catarinapraticamente não difere das demaisregiões do Estado quanto àestacionalidade da produção leiteira.Esse fato está diretamente relaciona-do à baixa disponibilidade de forra-gem no período do outono e inverno,a qual por sua vez é justificada porqueas principais espécies forrageiras quecompõem os campos naturais no Es-tado são predominantemente de pro-dução estival.

A conservação de forragem, viasilagem ou feno, contribui paraminimizar esse entrave, e apesar deser uma prática bastante difundidaainda são poucos os produtores quea adotam. Convém lembrar que oteor protéico da silagem, por melhortecnologia que seja empregada, ébaixo para atender a demanda dosbovinos, principalmente quando utili-zada na alimentação das vacas leitei-ras.

Com o objetivo de minimizar esseentrave na pecuária, os pesquisado-res do Centro de Pesquisa para Pe-quenas Propriedades - CPPP, da

Tabela 1 - Produção de matéria seca por corte e anual (kgMS/ha), teor de proteína bruta (% PB) e teor de nutrientes digestíveis totais(% NDT), obtidos com as quinze cultivares de gramíneas perenes de inverno instaladas em Chapecó

(médias dos dois primeiros anos: 1994 e 1995)

Produção de Matéria Seca (kgMS/ha)

Total PB NDTTratamentos Cortes Anual % %

Mar. Abr. Maio/Jun. Jul. Ago. Out. Nov. Dez.

Faláris 11(203) 2.574 144 718 438 579 527 519 121 5.620 19,10 55,89Festuca 7(101) 2.158 650 639 212 199 328 701 306 5.193 15,16 59,40Faláris 9(201) 2.320 83 528 449 567 510 560 140 5.157 18,40 56,69Aveia perene IPZ Vacaria 2.265 54 281 382 370 414 1.265 87 5.118 20,64 62,10Festuca Farroupilha 2.467 466 510 189 232 300 589 247 5.000 15,60 59,58

Festuca EEL 2.320 427 618 203 204 281 548 206 4.807 16,00 57,97Festuca (105) 2.321 555 551 179 156 201 499 206 4.668 16,60 58,73Cevadilha IPZ Integração 1.822 319 479 347 378 451 711 125 4.632 18,12 59,59Faláris IPZ Cinqüentenária 2.297 82 475 331 420 390 494 84 4.573 19,93 56,96Festuca Ky 31 2.229 429 421 164 188 179 467 200 4.277 16,13 61,45Faláris (205) 1.722 97 415 425 604 429 454 76 4.222 18,62 57,86Festuca (106) 1.795 435 532 208 233 266 553 183 4.205 16,06 57,97Faláris (206) 2.086 46 328 314 462 349 448 99 4.132 19,82 59,89

Festuca Tacuabé 1.444 373 471 171 228 303 551 158 3.699 15,77 58,16Azevém perene cv. Ellett 233 0 18 36 157 215 222 37 918 19,87 62,74

Média geral 2.003 277 466 270 332 343 572 151 4.414 17,07 57,18

Período entre cortes (dias) 157 94 42 42 43 44 43 38 - - -

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Pesquisa em AndamentoPesquisa em AndamentoPesquisa em AndamentoPesquisa em AndamentoPesquisa em Andamento

Paisagem lunarPaisagem lunarPaisagem lunarPaisagem lunarPaisagem lunar

A exploração a céu aberto de car-vão mineral, na região Sul de SantaCatarina, resultou em extensas áreasalteradas com a inversão das camadasque constituem o solo, ficando 80%das áreas mineradas (2.500 a 3.000ha)soterradas. Em alguns locais formam-se pequenas lagoas devido aoescorrimento e infiltração de águas,cujo pH varia de 2 a 4. A idade destes“depósitos” varia de 30 a 35 anos atécinco a seis anos, com uma revegetaçãonatural mais diversi-ficada nas áreasmais antigas, conforme trabalho daFundação de Amparo à Tecnologia eao Meio Ambiente -FATMA sobre “Re-cuperação piloto de áreas mineradas acéu aberto, de 1982”.

Estas áreas, caracterizadas comode paisagem lunar, estão localizadasem microbacias que fazem parte deuma bacia hidrográfica maior, quecapta água das precipitaçõespluviométricas, as quais escorrem nasencostas e são acidificadas, afetando aqualidade da água, comprometendo oecossistema (agricultura, vida aquá-tica, etc.).

A vegetação natural de áreas alte-radas é um processo normalmentelento e freqüentemente as espéciesque se implantam não são desejáveisnem do ponto de vista agrícola ousilvicultural, nem do ponto de vistapaisagístico ou ecológico.

Preocupados com isso e num traba-lho de parceria, a EPAGRI/Adminis-tração do Sul Catarinense, Universi-dade do Extremo Sul Catarinense-UNESC, Núcleo de PesquisasAmbientais-NUPEA e o Grupo FidélisBarato formaram uma equipe comobjetivo de identificar espéciesarbóreas capazes de se desenvolversatisfatoriamente nas condições dasáreas degradadas, determinar a capa-cidade das espécies arbóreas de cresci-mento rápido para regeneração dosolo nestas áreas e estabelecer siste-mas racionais para o povoamento dasáreas, com espécies arbóreas de dife-rentes propósitos (ecológico, misto eprodutivo).

Em meados de 1993 foi instalado oProjeto Itapema (Lauro Müller), com

os trabalhos:• Introdução e avaliação de espécies

arbóreas nativas e exóticas para povo-amento de áreas degradadas pela ex-ploração do carvão mineral.

São duas as condições de avaliação:condições naturais e condições melho-radas (utilizando cama de aviário,calcário, fosfato natural e solúvel).

As espécies testadas neste trabalhosão: acácia-negra, cássia MR, maricá--vermelho, bracatinga-vermelha, acá-cia-mangio, acácia-auriculiformis, tim-baúva, ingá-macaco, ingá-feijão, pata--de-vaca e caroba.

• Avaliação de sistemas derevegetação para recuperação de áreasalteradas pela exploração de carvãomineral.

Três sistemas estão sendo avalia-dos: ecológico (bracatinga-vermelha eacácia-trinervis), misto (casuarina eacácia-negra) e produtivo (eucalipto epínus). Cada um destes sistemas serátestado em área degradada (sistemati-zada), área degradada com uma cober-tura de solo de aterro e em área degra-dada, mais solo de aterro, maisrevegetação com gramínea.

Nestes trabalhos são avaliados:• Planta - sobrevivência, veloci-

dade de crescimento, produção defolhas e galhos, produção de lenha emadeira, e a floração das várias espé-cies, para possível utilização na apicul-tura.

• Solo e água - através de análisesserão acompanhados acidez, níveis dematéria orgânica e nutrientes.

A execução dos trabalhos é coorde-nada pelo eng. agr. Milton Ramos(EPAGRI/Estação Experimental deItajaí) e pelos colaboradores eng. agr.Darci Antônio Althoff (EPAGRI/Esta-ção Experimental de Urussanga),quím. Nadja Zim Alexandre (UNESC/NUPEA) e quím. ind. Carlos AlbertoLopes (Grupo Fidélis Barato).

Nestes dois anos e meio, desde quefoi instalado o projeto, já se pode veri-ficar que os sistemas produtivos estãose saindo melhor na área que possuiapenas uma camada de terra de aterrosobre área degradada. Acácia-trinervis,bracatinga-vermelha e acácia-negra sãoas espécies que estão despontando comoas melhores, nas três formas de mane-

jo nas áreas degradadas.

Potencial doPotencial doPotencial doPotencial doPotencial docapim- elefantecapim- elefantecapim- elefantecapim- elefantecapim- elefante

anão cvanão cvanão cvanão cvanão cv. Mott para. Mott para. Mott para. Mott para. Mott paraprodução animal eprodução animal eprodução animal eprodução animal eprodução animal e

conservação do soloconservação do soloconservação do soloconservação do soloconservação do solo

Os resultados das pesquisas quevêm sendo realizadas pela EPAGRI,através da Estação Experimental deItuporanga desde 1985, mostram queo capim-elefante anão cv. Mott pro-duz 1,0kg de ganho de peso vivo PV/novilho/dia, durante os meses deoutubro a abril. Neste período é pos-sível manter em torno de 1.500kg dePV/ha/dia, em pastejo contínuo, comum ganho de 6,0kg de PV/ha/dia.Desta forma, durante a fase de utili-zação da pastagem, de aproximada-mente 200 dias, colhem-se em tornode 1.200kg de ganho de PV/ha, semprejuízos à pastagem e ao solo. Éimportante destacar que estes ren-dimentos são obtidos exclusivamen-te a pasto, apenas com inclusão desal mineral e água. Dentre os objeti-vos do trabalho busca-se avaliar oefeito de níveis de oferta de forra-gem sobre o solo (características físi-cas e químicas), a planta (sistemaradicular, cobertura do solo, diâme-tro de touceiras, taxa de cresci-mento, qualidade, característicasmorfofisiológicas, persistência, den-tre outros aspectos) e o animal (gan-ho médio diário por animal, ganhopor hectare, número de animais porhectare e qualidade de carcaça). Estetrabalho é desenvolvido por umaequipe de pesquisadores de diver-sas instituições, incluindo a EPAGRI(Edison Xavier de Almeida, Jeffer-son Araújo Flaresso, CelomarDai-son Gross), a UFRGS(Prof. Gerzy Ernesto Maraschin), aUDESC/CAV (Prof. Henrique Ri-beiro Filho e Prof. Ildegardis Bertol),a UFSC (Prof. Lauro Müller), alémde um convênio EPAGRI-UFRGS(Oscar Harthmann). O projeto contacom financiamentos parciais da EPA-GRI-FEPA, Programa Microbacias -BIRD e CNPq.

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L e i t eL e i t eL e i t eL e i t eL e i t e

Fatores que afetam a produtividade do rebanhoFatores que afetam a produtividade do rebanhoFatores que afetam a produtividade do rebanhoFatores que afetam a produtividade do rebanhoFatores que afetam a produtividade do rebanholeiteiro do Leste de SCleiteiro do Leste de SCleiteiro do Leste de SCleiteiro do Leste de SCleiteiro do Leste de SC

o gado leiteiro tem-se como pa-drão geral que uma vaca deve ter

um intervalo de partos (IP) de 365 dias,uma duração de lactação (DL) de 305dias, um período seco (PS) de 60 dias e,claro, uma alta produção de leite porlactação (PL). No entanto, poucas ve-zes se verifica o que acontece quandoestes fatores fogem ao padrão.

Desta forma, utilizando os regis-tros obtidos através de acompanha-mento de propriedades na região Lestede Santa Catarina, desenvolveu-se esteestudo para analisar a tendência daprodução de leite da lactação em curso(produção atual) e influências sobre alactação subseqüente (produção futu-ra).

Material e métodos

Os dados utilizados neste estudoforam coletados pelos técnicos da ex--EMPASC/ACARESC em visitas men-sais a um grupo de produtores de leitena região Leste do Estado, no períodode 1980 a 1991. Estes produtores esta-vam distribuídos em quatro microrre-giões geográficas (MRG): MRG deJoinville, Blumenau, Rio do Sul e Tu-barão.

No período de 1980 a 1984, foramacompanhados três produtores de tec-nologia média nas MRG de Blumenaue Rio do Sul. De 1985 a 1991 passou-sea acompanhar produtores também dasMRG de Joinville e Tubarão. Nesteperíodo escolheram-se dois produtoresque usavam tecnologia mais avançadae dois bem típicos da média, em cadamicrorregião. Ocorreram desistênciade alguns produtores que foram subs-tituídos por outros e, assim, este estu-do contém observações obtidas junto a28 produtores.

Estes produtores possuiam áreasde 10 a 20ha, com rebanhos de cinco a

quinze vacas, e o leite era o principalproduto comercializado. Diversos pro-dutores utilizavam inseminação artifi-cial, faziam algum tipo de vacinação econtrole de endoectoparasitas. A suple-mentação com volumosos no cocho erafeita por quase todos, mas poucos fazi-am silagem e correto arraçoamento.

Produção atual

Para a análise das influências sobrea produção atual foram utilizadas 675observações, referentes a 327 vacas de25 produtores. Só foram utilizadas asobservações que apresentavam partoapós o encerramento da lactação, fe-chando assim um intervalo de parto.Desta forma, para cada observação,dispunha-se da duração da lactação (DL-em dias), intervalo de partos (IP-emdias), produção da lactação completa(PL-em kg) e, como a variável maisimportante, a produção média diária deleite ou produtividade (PL/IP - em kg/dia), obtida dividindo a produção dalactação integral pelo respectivo inter-valo de partos.

Para analisar a influência sobre aprodutividade foram estabelecidas ascorrelações entre a produção médiadiária de leite (PL/IP) e os demaisfatores envolvidos (DL, IP e PL) eestabelecidas as respectivas equaçõesde regressão.

Produção futura

Neste estudo analisou-se especifi-camente a influência do intervalo departos (IP-em dias) e do período seco(PS-em dias) sobre a produção de leiteda lactação subseqüente. Para aumen-tar o número de observações, as produ-ções de leite na lactação subseqüenteforam ajustadas para 305 dias (1). As-sim foi possível contar com todas

lactações com controle interrompidoapós três meses de ordenha. Destaforma obtiveram-se 787 observaçõesde 28 produtores.

A análise da variância foi feita pelométodo de quadrados mínimos. Asequações foram estabelecidas atravésda regressão de segundo grau direta-mente, envolvendo todas observações.

Resultados e discussão

Produção atual

A Tabela 1 apresenta os coeficien-tes de correlação simples entre a pro-dução média diária de leite (produtivi-dade-PL/IP) e as demais variáveis.Ainda foram incluídas as correlaçõesdas demais variáveis entre si.

Na Tabela 1 observam-se, inicial-mente, as correlações entre a produ-tividade e a duração da lactação (DL).A produção média diária (produtivida-de) teve uma correlação de apenas0,09 com a duração da lactação, ouseja, a produtividade da vaca nalactação em curso esteve pouco asso-ciada à extensão da lactação, apenas9%. Assim, o fato de uma lactação sermais curta ou mais longa pouco in-fluiu na produção média diária. NaFigura 1, onde se ilustra esta influên-cia, observa-se que lactações com du-ração entre 305 e 427 dias resultaramem produções médias diárias muitoparecidas. O ponto ótimo ocorreu aos368 dias.

As produções, nesta região, foramtão baixas no período final das lactaçõesque praticamente não afetaram a pro-dução global de uma vaca, o que expli-ca a baixa correlação entre a produti-vidade e a duração da lactação. Noentanto, é relevante a correlação tersido positiva. Assim, para otimizar aprodutividade é necessário estender alactação ao máximo (até 60 dias antes

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do próximo parto), respeitando-se umperíodo seco, de regeneração da vacapara o pró-ximo parto, como se veráadiante. Em resumo, quanto mais tem-po se estender a lactação, melhor seráa produtividade, embora com pequenainfluência.

Seguindo a observação das correla-ções da produção média diária (Tabela1) tem-se a correlação com o intervalode partos (IP). O intervalo de partosteve uma associação de -0,21 ou 21%com a produtividade. Este valor tam-bém é o mais encontrado na literatura(2), não se tratando assim de umaparticularidade desta região e sim deuma tendência muito generalizada. Ima-gina-se, muitas vezes, que a influênciado intervalo de partos sobre a produti-vidade seja maior. Na realidade, umparto é uma condição necessária paraque uma vaca produza leite, mas não éuma condição suficiente, pois o quantoela produzirá de leite dependerá deoutros fatores. Assim, em conseqüên-cia, a influência do período de tempoentre dois partos (intervalo de partos)sobre a produção atual de leite foi,neste estudo, de 21%. Porém, estegrau de associação entre o intervalo departos e a produção média diária foiexpressivo. Por isso, deve ser conside-rada pelo produtor para maximizar aprodução de leite. Na Figura 2 estatendência fica mais evidenciada.

Ainda deve-se realçar que a correla-ção é negativa, ou seja, as produçõesmédias diárias aumentam à medidaque os intervalos de partos forem me-nores. Isto é um aspecto muito impor-tante, que será esclarecido mais adian-te. No entanto, nesta análise, sobre aprodução atual, não aparece o pontoótimo, ou seja, qual o melhor intervalode partos, nem qual o limite para omenor intervalo de partos (Figura 2).Isto de fato tem a ver com a influênciasobre a lactação seguinte, ou seja, avida produtiva futura da vaca. Estrita-mente, sobre a produção atual, fica emaberto a regra de que quanto maiscurtos forem os intervalos de partos,maior será a produção média diária, oua produtividade.

Seguindo a observação das correla-ções da Tabela 1, encontra-se a corre-lação da produção média diária, ouprodutividade (PL/IP), com a produçãoda lactação integral (PL). Esta correla-ção foi de 0,84 ou 84%. Sem dúvidanenhuma, o grande fator de influência

Tabela 1 - Coeficiente de correlação das 675 observações entre as variáveis: produção médiadiária de leite - produtividade (PL/IP), duração da lactação (DL), intervalo de partos (IP),

e a produção da lactação integral (PL)

Duração da Intervalo de Produção lactaçãoVariável lactação partos integral

(DL) (IP) (PL)

PrincipalProdução média diária (PL/IP) 0,09(A) - 0,21(B)   0,84(B)

(Produtividade)OutrasProdução lactação integral (PL) 0,54(B) 0,32(B)

Intervalo de partos (IP) 0,84(B)

(A) Significativo (P<0,05).(B) Significativo (P<0,01).

sobre a produti-vidade de umavaca é a produ-ção bruta de lei-te durante umalactação (PL), atal ponto que oscontroles leitei-ros formais se li-mitam a medir aprodução dalactação. No en-tanto, existemalguns inconve-nientes, princi-palmente emnão levar emconsideração acorrelação de21% com o in-tervalo de par-tos, o que nãodeveria ser des-prezado. Na prá-tica, o que podeocorrer seria,como exemplo,que uma vacaproduzisse 5.000litros numalactação com umintervalo de par-tos de 365 dias euma outra também produzisse 5.000litros com um intervalo de partos de730 dias. Se simplesmente for compa-rada a produção da lactação completa(PL), ambas as vacas são iguais, mas sefor comparada a produtividade, atravésda produção média diária (PL/IP), umavaca produz 13,7 litros/dia e a outraapenas 6,8 litros/dia.

Na Figura 3 observa-se a influênciada produção da lactação sobre a produ-ção média diária. Tanto pela correlaçãode 84% como no gráfico, fica bem evi-

denciado que para a produção leiteiraa grande ação deve ser canalizadapara a produção de leite em si, que édecorrência da nutrição, da genética edo manejo, mas especialmente o pri-meiro fator que tem a resposta maisacentuada sobre a produtividade, poisa grande influência sobre a produçãomédia diária vem da produção brutade leite em si.

Na Tabela 1 aparecem mais trêscorrelações. A primeira é a correlaçãode 54% entre a produção da lactação

Figura 1 - Influência da duração da lactação sobre aprodução média diária de leite (produtividade) na mesma

lactação

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mas na área reprodutiva e sanitária.Estas tendências descritas tambémnão são uma particularidade destaregião, pois as mesmas são constata-das em trabalhos científicos sobre oassunto. Por isso, recomenda-se quea seleção seja em função da produtivi-dade e não apenas pela produção dalactação.

A última correlação da Tabela 1,entre o intervalo de partos (IP) e aduração da lactação (DL), foi de 84%.Isto significa que, nesta região, a du-ração da lactação é muito semelhanteà extensão do intervalo de partos.Também significa que o período secoé pouco influenciado pela amplitudedo intervalo de parto. É um fato posi-tivo, pois revela que o produtor seca avaca em função do próximo parto etambém revela que as vacas têm boapersistência na lactação. No entanto,ainda restam 16% de desajustes, ouseja, lactações que estão em desarmo-nia com a extensão do intervalo departos.

Produção futura

Na análise de variância o intervalode partos e período seco apresenta-ram efeito altamente significativo (P<0,01) sobre a produção da lactaçãosubseqüente. Porém, não houveinteração entre estes dois fatores (P>0,05). As análises de variância dasequações quadráticas de ambas variá-veis também foram altamente signifi-cativas (P >0,01).

Na região Leste do Estado, a mé-dia dos intervalos de partos foi de 390dias. No entanto, para atingir estamédia, 37% dos intervalos de partosforam inferiores a 350 dias e 16%foram superiores a 440 dias. Já foidetectada uma série de problemasreprodutivos, dos quais resultaramalguns intervalos de parto tão longos(3).

A influência do intervalo de partose período seco de forma significativasobre a lactação seguinte já havia sidoestudada em Minas Gerais (4) e noParaná (5).

Na Tabela 2 constam as médiasdas produções de leite nas lactaçõessubseqüentes referentes às classesdos intervalos de partos. A Figura 4,por sua vez, apresenta o gráfico dainfluência do intervalo de partos so-bre a produção da lactação subse-qüente. Tanto pela Tabela 2 comopela Figura 4 pode-se observar que a

completa (PL) e aduração da lacta-ção (DL). Vê-seque a DL teve umaassociação de ape-nas 9% com a pro-dução média diá-ria, mas de 54%com a produção dalactação, ou seja,quando se consi-dera só a produ-ção por lactação(PL), a duração dalactação (DL) émuito influente,porém para a pro-dutividade (PL/IP) pouco signifi-ca.

A correlaçãoentre a produçãoda lactação com-pleta (PL) com ointervalo de par-tos (IP) foi positi-va (32%). Isto éum aspecto queprovoca muitosequívocos, poisquanto maior ointervalo de par-tos, maior a pro-dução da lactação.No entanto, aquiestá o ponto cha-ve em distorção,pois à medida queos intervalos departos vão se tor-nando maiores, aprodutividade vaidiminuindo, ouseja, em lactaçõesmuito longas avaca já deveriater parido nova-mente e estar pro-duzindo bemmais numa novalactação. Por isso,esta correlaçãopositiva entre pro-dução da lactaçãoe intervalo de par-tos é muitas ve-zes inconvenien-te, pois pode en-cobrir baixas pro-dutividades emfunção de proble-

Figura 3 - Influência da produção da lactação sobre aprodução média diária de leite (produtividade) no mesmo interva-

lo de parto

Figura 2 - Influência do intervalo de partos sobre aprodução média diária de leite (produtividade) na mesma

lactação

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los de 333, 373 e 403 dias, respectiva-mente.

Para o período seco é correto oprocedimento de, uma vez feita a co-bertura, continuar a ordenhar até osétimo mês de gestação. E este proce-dimento é válido para qualquer inter-valo de parto, tanto os mais curtoscomo os mais longos, já que não seconstatou a interação entre intervalode partos e período seco na análise devariância.

Desta forma, para melhorar a pro-dutividade, nesta região, reunindo to-dos aspectos vistos, o setor que maisnecessita de atenção são os fatoresligados à produ-ção de leite emsi. A produção deleite é conseqü-ência, em pri-meiro plano, deuma nutriçãoadequada parauma vaca quetenha aptidão lei-teira. O interva-lo de partos tam-bém é resultadode uma série defatores, comonutrição, sani-dade e manejo,principalmente.Os intervalos departos curtos(<350 dias) seri-am desejáveissomente sobre aprodutividade dalactação em cur-so, porém, depri-mem significati-vamente a lac-tação seguinte e,por isso, devemser evitados. Afaixa ideal dosintervalos departo se situaentre 350 e 380dias. Até 440 diasde intervalo departo, em vacasboas produtoras(médias superi-ores a 18 litros/dia), ainda é to-lerável; porém,acima disto, osintervalos de

parto deprimem a produção atual e afutura de forma mais acen-tuada. Oprodutor deve controlar a monta ejamais cobrir ou inseminar antes de50 dias pós-parto. Após 90 dias semêxito na cobertura, deve recorrer àassistência de médico veterinário efazer novas tentativas até no máximode 120 dias para vacas de produçãomédia e no máximo 150 dias para asvacas de alta produção. Passados es-tes prazos, sem êxito, o ideal é descar-tar esta vaca, que poderá ser ordenha-da ainda por alguns meses. Feita acobertura, deve-se fazer a previsão dopróximo parto. A previsão de secar a

grande influência depressiva sobre aprodução de leite é exercida, com maiorclareza, pelos intervalos de parto muitocurtos. Nesta região, intervalos curtoschegam a ser freqüentes em proprieda-des onde o produtor mantém tourojunto ao rebanho das vacas sem ne-nhum tipo de controle. Nestas situa-ções ocorrem coberturas no primeirocio pós-parto, dando origem a freqüen-tes concepções precoces.

Ainda há de se salientar que o pontoótimo, neste trabalho, é de 404 dias, oque pode ser considerado baixo se com-parado com 520 dias, dado obtido emoutros estudos (4). Em outro trabalho(5) não houve ponto ótimo, pois a ten-dência foi descrita por uma equaçãosimples (reta), que apontava para osintervalos de partos maiores como sen-do os melhores.

O efeito de intervalos de partos lon-gos sobre a produção da lactação se-guinte não é muito claro, no entantofica bem caracterizado o efeito negativoque é exercido sobre a lactação seguin-te quando os intervalos de partos sãocurtos, ou seja, inferiores a aproxima-damente 350 dias. Aqui deve ser lem-brado que intervalos de partos longosprejudicam a produtividade da lactaçãoem curso, como já foi visto.

A Tabela 3 traz as médias das produ-ções de leite da lactação subseqüenteem relação às classes de período seco.Na Figura 5 consta o gráfico da influên-cia do período seco sobre a produção dalactação subseqüente.

A influência de período seco é nítida,tanto visível na Tabela 3 como na Figu-ra 5. Tanto a tendência gráfica como oponto ótimo coincidem com os resulta-dos obtidos em outros trabalhos (4 e 5),ou seja, na faixa de 55 a 60 dias sesituam os melhores períodos secos. Emcontrapartida, fica muito bem caracte-rizado que períodos secos inferiores a30 dias e superiores a 90 dias, aproxi-madamente, exercem forte influênciadepressiva sobre a produção da próxi-ma lactação.

De acordo com estes resultados, sãoconsideradas adequadas as recomenda-ções que indicam como período propíciopara as coberturas entre 50 e 90 diaspós-parto, podendo se prolongar até 120dias, desde que se tenha uma assistên-cia de profissional habilitado para evi-tar que este período se prorrogue pormais tempo. Isto resultaria em interva-

Tabela 2 - Número de observações, médias e desvio padrão daprodução da lactação subseqüente referentes às classes de intervalo

de partos prévios

Classe dos intervalos Número Média +Classe de partos de desvio padrão

(IP - dias) observações (kg)

1 < 320 64 2.234 + 6662 320 a 350 226 2.720 + 9603 351 a 380 193 2.991 + 1.0564 381 a 411 124 2.769 + 9205 412 a 441 57 2.723 + 1.0956 442 a 471 29 2.581 + 1.1957 472 a 502 30 2.935 + 1.4788 > 502 64 2.635 + 914

Geral - 787 2.751 + 1.014

Figura 4 - Influência do intervalo de partos sobre aprodução da lactação subseqüente

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vaca também deve ser feita nestemomento, para dois meses antes dopróximo parto. Assim, está-semaximizando a duração da lactação eadequando o intervalo de partos den-tro de uma faixa correta e sem maio-res prejuízos sobre a produção. Po-rém, estes fatores são auxiliares, poisa essência da produtividade passará adepender da qualidade genética davaca e da alimentação.

Conclusões

A produtividade de uma vaca, pro-

dução média diária de leite, numalactação em curso é obtida essencial-mente por altas produções combina-das com intervalo de partos mais cur-to e com duração de lactação maislonga possível.

O intervalo de partos e o períodoseco têm efeito significativo sobre alactação subseqüente. Este efeito équadrático, com pontos ótimos de 404e 58 dias, respectivamente. Os inter-valos de partos que mais afetam nega-tivamente a produção da lactação sub-seqüente são os inferiores a 350 dias,e os períodos secos são os inferiores a

30 dias e os su-periores a 90dias.

Os produto-res da região Les-te de Santa Ca-tarina possuemgrande parte dasobservações deintervalo de par-tos, duração daslactações e perí-odo seco dentrodo período esta-belecido como fa-vorável para be-neficiar a produ-ção de leite. Aprodutividade sónão é maior emfunção de fato-res diretamenteligados à produ-ção em si, comonutrição, genéti-ca e manejo.

Recomen-dações

Para melho-rar a produtivi-dade de leite daregião Leste deSanta Catarinarecomenda-se:

• Uma nu-trição adequada,a uma vaca deaptidão leiteira.

• Controlaro intervalo departos. Deve fi-car entre 350 e380 dias.

• Controlar

o período de serviço. Jamais cobrir ouinsemi-nar antes de 50 dias pós-parto.A cobertura deve ficar entre 50 e 90dias pós-parto, para se alcançar umintervalo de parto ideal de até 380 dias.Nas vacas de alta produção pode-setolerar um período de serviço de até150 dias, com intervalo de parto deaproximadamente 440 dias. Se a vacanão ficar coberta dentro destes prazos,procurar assistência de um médicoveterinário especializado na área dereprodução animal.

• Fazer a previsão do próximo partoe dois meses antes deste secar a vaca.Assim, está-se maximizando a duraçãoda lactação, o período seco e adequan-do o intervalo de partos dentro de umafaixa correta e sem maiores prejuízossobre a produção.

Com uma boa nutrição e qualidadegenética da vaca, associadas ao manejoreprodutivo e sanitário, se conseguiráuma melhor produtividade e maioreficiência da atividade leiteira.

Literatura citada

1. MILAGRES, J.C. Melhoramento animal-seleção.Viçosa: UFV, 1980. 77p.

2. MADALEHA, F.E.; VALENTE, J.; TEODORO,R.L.; MONTEIRO, J.B.N. Produção de leitee intervalo entre partos de vacas HPB emestiços HPB:Gir num alto nível de manejo.Pesquisa Agropecuária Brasileira , Brasília,v.18, n.2, p.195-200, 1983.

3. TORRES, C.L.A.; CORDEIRO, J.L.F. Causas deinfertilidade de bovinos leiteiros nas regiões doVale do Itajaí e Nordeste de Santa Catarina:índices zootécnicos . Florianópolis: EMPASC,1991. 37p. (EMPASC. Documentos, 124).

4. NOBRE, P.R.C.; MILAGRES, J.C.; CASTRO,A.C.G.; FONSECA, F.A. Influência do inter-valo de partos e período seco na produção deleite do rebanho leiteiro da UniversidadeFederal de Viçosa, Estado de Minas Gerais.Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia,Viçosa, v.14, n.4, p.421-428, 1985.

5. RIBAS, N.P.; MILAGRES, J.C.; CASTRO, A.C.G.;TORRES, C.A.A. Influência do intervalo departos e do período seco sobre a produção deleite, gordura e porcentagem de gordura emrebanhos holandeses da bacia leiteira deCastrolândia, Estado do Paraná. Revista daSociedade Brasileira de Zootecnia , Viçosa,v.13, n.2, p.225-234, 1984.

Amaro Hillesheim, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof.no 1.783-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experi-mental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244,Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC e JoãoLari Felix Cordeiro, méd. vet., M.Sc. CRMV-2 no

0099, SDA/EPAGRI/Estação Experimental deItajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473)46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC.

Tabela 3 - Número de observações, médias e desvio padrão dasproduções da lactação subseqüente em relação às classes de período

seco prévio

Classe de períodos Número Média +

Classe secos de desvio padrão(PS - dias) observações (kg)

1 < 10 20 2.261 + 6092 10 a 30 39 2.438 + 7233 31 a 50 94 2.663 + 8004 51 a 70 254 3.100 + 1.1885 71 a 90 157 2.795 + 9156 91 a 110 97 2.695 + 8597 111 a 130 63 2.439 + 8428 > 130 63 2.113 + 867

Geral - 787 2.751 + 1.014

Figura 5 - Influência do período seco sobre a produçãoda lactação subseqüente

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Forrageira nativa tem a preferência dos produtoresForrageira nativa tem a preferência dos produtoresForrageira nativa tem a preferência dos produtoresForrageira nativa tem a preferência dos produtoresForrageira nativa tem a preferência dos produtores

Missioneira Gigante, nativa do Sul doBrasil, mas que ainda não tem a suaorigem devidamente elucidada. O quese sabe é que ela foi coletada pelaEPAGRI no Alto Vale do Itajaí, e queprovavelmente surgiu de maneira es-pontânea na natureza.

A Missioneira Gigante é da espécieAxonopus sp e tem como primas próxi-mas a grama jesuíta, o capim-mantei-ga, o capim-missioneiro, etc., todastambém do gênero Axonopus. O que aMissioneira Gigante tem de especial éa sua capacidade de resistir aos frios eàs geadas, mesmo sendo umaforrageira de verão. É adaptada aterrenos declivosos e com baixa fertili-dade, mas se recebe um pouco de adu-bo cresce vigorosa e toma conta dapastagem, afastando as ervas daninhasou pastos de má qualidade. Mas nãoficam por aí as suas qualidades. Umaboa vantagem é a sua palatabilidadepelos bovinos, que esquecem as outrasforrageiras quando a Missioneira Gi-gante está por perto. Além disso possuiboa resistência ao pisoteio e rápidoalastramento no terreno. E, ainda, podeser plantada em várzeas, desde quebem drenadas.

Produtor satisfeito

Quem está satisfeito com tudo issosão os produtores rurais, a exemplo doSr. Ademir Miller Ghisoni, da localida-de de Ilha Grande, no município deGrão Pará, região Sul de Santa Catari-na. Ele possui 2ha da Missioneira Gi-gante, mas pretende, daqui para dian-te, plantar o resto das terras de pasta-gens com esta grama de qualidade. Aotodo são 60ha, a maioria morros, atu-almente cultivados com MissioneiraJesuítica, Folha Larga e cerca de 4hacom a Brachiaria humidicola.

Ademir mostrou à reportagem daRAC que consegue manter quinze bo-vinos e dois cavalos durante quase todoo ano nestes 2ha com a Missioneira,

Missioneira Gigante cresce vigorosa mesmo noinverno e supera outras forrageiras em muitas

qualidades

A MissioneiraGigante,

pastagemnativa do Sul

do Brasil, estásendo

descoberta portécnicos e

pecuaristas ecausando ótima

impressão atodos. Suas

característicase qualidades

são altamentepromissoras e a

EPAGRI jáiniciou

pesquisas comesta forrageira.

m eterno problema dos pecua-ristas, principalmente no Sul do

Brasil, é encontrar uma pastagemrústica que seja resistente ao frio doinverno e às terríveis geadas, ao mes-mo tempo que possa produzir tam-bém no verão. Várias experiênciastêm sido feitas, várias plantas têmsido testadas, mas não se encontrouainda um pasto considerado ideal. Os

que atendem a maioria das exigênciaspossuem algum tipo de problema, comoo alto custo de implantação e manu-tenção, só se adaptam a um período doano, e assim por diante. Mas agoraparece que os produtores rurais etécnicos encontraram uma pastagemque, se não cobre todas as necessida-des do pecuarista e do animal, pelomenos chega bem perto. Trata-se da

U

Reportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliari

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

da Estação Experimental de Urussan-ga detectou uma alta preferência dosagricultores do Litoral Sul Catarinen-se pela Missioneira Gigante. Da re-gião que vai do município de Lagunaa Praia Grande, a Estação Experi-mental já instalou 33 unidades de-monstrativas com várias forrageiras,porém a Gigante é a que mais tem sedestacado. Este fato obrigou a Esta-ção a incluir a espécie no programa demultiplicação e distribuição de mu-das, apesar de ainda não estar reco-mendada. Esta situação não deixa deser um pouco preocupante, porque arenovação das pastagens das áreas demorro e de várzeas bem drenadasvem sendo feita quase que exclusiva-mente com a Missioneira Gigante. Oideal é que houvesse ao longo dotempo uma diversificação de espé-cies, alertam os técnicos.

Nos últimos dois anos, vem sendoveiculada na imprensa nacional umaintensa propaganda sobre uma nova erevolucionária forrageira, o Tifton 85,que é uma gramínea híbrida, obtidodo cruzamento do Tifton 68 com plan-tas do Quênia. Vários pecuaristas com-praram mudas desta forrageira, a pre-ços às vezes muito altos, pois as infor-mações davam a entender que os pro-blemas de alimentação dos bovinos,em termos de qualidade e quantidade,estavam resolvidos. O produtor, ge-

Ademir: “Vou plantar a Missioneira Gigante em toda a minha propriedade”

somente aliviando a pastagem quandoela começa a rebrotar na primavera.

Para o engenheiro agrônomo LuizDal Farra, extensionista e Coordena-dor de Difusão da Gerência Regional daEPAGRI de Urussanga, estes númerossão bastante expressivos, já que o pastonativo consegue suportar, em média,uma cabeça por hectare no verão, e noinverno bem menos ou quase nada.Outro dado ressaltado por Dal Farra éque a Gigante resiste bem à seca, umacaracterística muito útil, já que os perí-odos de estiagem não têm sido raros noSul do Brasil nos últimos anos.

Ademir Ghisoni tem na suinoculturaa sua atividade principal, com 120 ma-trizes e desenvolvendo todo o ciclo dacriação. O esterco produzido pelos suí-nos ele aproveita para distribuir poraspersão, nas pastagens. “A MissioneiraGigante é tão boa pastagem no invernoquanto as outras no verão”, comentaentusiasmado o produtor, explicandoque ela comete a façanha de crescermais no inverno do que outrasforrageiras tropicais no período de ve-rão.

O produtor ganhou as mudas daGigante de outro produtor e, por suavez, está distribuindo um pouco dassuas para vizinhos e parentes. Enquan-to isso, a Estação Experimental deUrussanga há cinco anos vem obser- Técnicos da EPAGRI mostram que o Tifton 85 está seco da metade para baixo

vando o comportamento destagramínea e ela tem se destacado entreas demais. Segundo o engenheiro agrô-nomo Luiz Dal Farra, a Estação jádistribuiu mudas da forrageira até ago-ra a 1.500 produtores, que tambémredistri-buíram a outros produtores.

Qualidade superior

O trabalho de Difusão de Tecnologia

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32 Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

ralmente ávido por novidades e porsoluções milagrosas, atirou-se de cor-po e alma na nova alternativa. Mas oque se tem observado, na prática, ébem diferente do afirmado na propa-ganda.

Diante da situação, a Estação Expe-rimental de Urussanga resolveu de-senvolver um trabalho de pesquisa,comparando a nova espécie com aMissioneira Gigante. O experimentoestá a cargo do pesquisador SimiãoAlano Vieira e está sendo executado naárea da Estação Experimental, em soloPodzólico de média fertilidade. O pes-quisador informa que a avaliação temcaráter preliminar, mas se estenderápor mais 30 meses, quando então serãoobtidas conclusões definitivas.

As duas espécies de forrageiras fo-ram plantadas em julho de 1995, e emjaneiro de 1996 iniciaram-se as avalia-ções. A adubação programada por hec-tare, de acordo com a recomendação,foi 388kg de uréia, 244kg de superfosfatotriplo e 187kg de cloreto de potássio.Metade da adubação foi aplicada emjaneiro e a outra metade será utilizadaem setembro. Os cortes para determi-nação da matéria seca (forragem) fo-ram feitas em três estádios de desen-volvimento: de 20 em 20, de 40 em 40e de 60 em 60 dias. O valor nutritivo deambas as forrageiras foi determinado

Tabela 2 - Produção de forragem (matéria seca) do TIFTON 85 e da Missioneira, em Urussanga, noperíodo de 04/05 a 23/07/96. (Período frio)

4 cortes de 2 cortes de 1 corte de20 em 20 dias 40 em 40 dias 60 em 60 dias

Missioneira Tifton 85 Missioneira Tifton 85 Missioneira Tifton 85

Forragem (t/ha) 1,46 0,90 1,14 0,62 1,30 0,79

Determina-ções

Tabela 1 - Produção de forragem (matéria seca) e valor nutritivo do TIFTON 85 e da Missioneira,em Urussanga, no período de 04/01 a 04/05/96 (período quente)

6 cortes de 3 cortes de 2 cortes de20 em 20 dias 40 em 40 dias 60 em 60 dias

Missioneira Tifton 85 Missioneira Tifton 85 Missioneira Tifton 85

Forragem (t/ha) 6,03 6,29 8,17 7,08 9,91 7,82Proteína Bruta (%) 14,08 14,50 11,27 11,43 10,55 10,55Digestibilidade (%) 50,78 52,42 48,40 49,20 47,00 48,65Nutrientestotais (%) 45,32 47,00 43,77 44,43 42,80 43,90

Determina-ções

no Laboratório de Nutrição Ani-mal da Estação Experimental deLages.

As Tabelas 1 e 2 mostram osdados obtidos, respectivamente,em período com temperaturasmais elevadas e com temperatu-ras mais baixas. A produção deforragem da Missioneira Gigan-te foi levemente superior noperíodo mais quente (Tabela 1) eacentuadamente maior no perí-odo mais frio (Tabela 2). Quantoao valor nutritivo há uma pe-quena vantagem em favor doTifton.

Ao contrário do que se espe-rava, o Tifton 85 apresentou umcrescimento muito pequeno, àmedida que a temperatura e oefeito de adubação de base dimi-nuíram .

Conforme relata SimiãoAlano Vieira, o Tifton 85 é umaespécie muito exigente em ferti-lidade, pouco persistente e pou-co competitiva com as espéciesnativas, especialmente gramí-neas. O pesquisador explica tam-bém que a Missioneira produzuma forragem muito macia (fo-lhas e colmos) e verde no seutodo, mesmo nos cortes efetuados de60 em 60 dias. Nessas condições amassa vegetativa do Tifton, da meta-

Missioneira Gigante, no primeiro plano, sedesenvolve melhor que o Tifton 85, logo acima

de para baixo, estava seca e os colmosfibrosos.

As observações visuais e os depoi-mentos dos agricultores, inclusive em

regiões climáticas mais frias doque Urussanga, confirmam una-nimemente a aceitação daMissioneira quanto a preferên-cia animal, persistência, cresci-mento no inverno, qualidade deforragem, adaptação a diferen-tes solos, competição com plan-tas invasoras etc. Em funçãodisso, muitos produtores já es-tão arrancando as plantas deTifton e plantando outrasforrageiras, principalmente aMissioneira Gigante. Como úl-tima informação, os técnicos daEPAGRI orientam que aMissioneira Gigante não se re-produz por sementes, a sua re-produção é através de mudas eestolões. O endereço de Estação Ex-perimental de Urussanga é: Ro-dovia SC-446, km 16, Bairro daEstação , C.P. 49, Fones: (048)465-1933, 465-1766 e 465-1913,Fax (048) 465-1209. 88840-000 -Urussanga, SC.

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Agroindústria da mandioca: desafios para osAgroindústria da mandioca: desafios para osAgroindústria da mandioca: desafios para osAgroindústria da mandioca: desafios para osAgroindústria da mandioca: desafios para ospequenos empresáriospequenos empresáriospequenos empresáriospequenos empresáriospequenos empresários

Reportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliari

agroindústria da mandioca temem Santa Catarina um segmen-

to bastante representativo e, apesardos baixos preços relativos pagos aosetor, um grande número de enge-nhos de farinha, fécula e derivadosainda continua produzindo e lutandocontra as adversidades do mercado.

Os problemas ou sucessos daagroindústria catarinense da mandio-ca estão de certa forma interligados

aos da matéria-prima, ou seja, a produ-ção da raiz. Apesar do ligeiro aumentoda produtividade, nos últimos anos, obaixo aporte tecnológico da cultura ain-da é um dos desestímulos ao seu maiorcrescimento, sem mencionar fatoresclimáticos e, principalmente, o merca-do (baixos preços) que contribuem paraa situação de desequilíbrio no setor.Segundo o Instituto CEPA/SC, a produ-ção nacional de mandioca mantém--

se praticamente no mesmo nível dofinal da década de 70: volume de produ-ção em torno de 24 milhões de tonela-das, área plantada entre 1,8 e 2,1 mi-lhões de hectares e um modesto ganhode produtividade (de 12.600 a 13.200kg/ha). A produção catarinense, de suaparte, vem diminuindo gradativamente(de 63.400ha e 1,1 milhão de toneladasna safra 90/91 a 50.400ha e 906 miltoneladas na safra 94/95). Sua produti-

A

As pequenas e médias agroindústrias representam 95% do total e empregam milha-res de pessoas no meio rural

Uma visão geral da produção e agroindustrialização da mandioca no Brasil eem Santa Catarina é apresentada nesta reportagem. A ênfase é para a

pequena agroindústria catarinense que vem enfrentando crises edesafios, ano após ano, e que consegue sobreviver graças à tradição e à tenacidade

dos pequenos empresários rurais.

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vidade, no entanto, vem oscilandoentre 17 e 18 mil quilos/hectare.

O Brasil tem sido o maior produtormundial com 24 milhões de toneladasde raiz em 1994, seguido da Nigéria(21 milhões) e Tailândia (19 milhões).No MERCOSUL, depois do Brasil,seguem o Paraguai com 2,5 milhões ea Argentina com 150 mil toneladassomente. Chile e Uruguai não têmtradição e clima para a produção daraiz. No país, os maiores produtores,em ordem, são: Pará, Paraná, Bahia,Maranhão, Rio Grande do Sul, MinasGerais e Santa Catarina. Em termosde produtividade, os Estados do Paranáe Santa Catarina são os que apresen-tam os maiores rendimentos e, porcoincidência ou não, a industrializa-ção da mandioca é mais evoluída nes-tas regiões, onde se localizam as prin-cipais agroindústrias de fécula, polvi-lho azedo e farinha no Brasil.

Pequenos, médios egrandes

A cultura da mandioca tem sido degrande importância econômica e soci-al para o Brasil, já que é cultivada emtodos os Estados do país por milharesde famílias rurais, a grande maioriaem pequenos estabelecimentos agrí-colas que geram produção, mão-de-obra e desenvolvimento. Somam-se aisto também os inúmeros estabeleci-mentos agroindustriais de pequeno emédio porte que beneficiam a raiz,empregando também milhares de pes-

soas, agregando valor ao produto egerando ICMS aos Estados.

Conforme artigo da engenheiraagrônoma Marney Pascoli Cereda,uma das maiores autoridades brasi-leiras na agroindustrialização da man-dioca, a cultura já era processadapelos ín-dios, mesmo antes do desco-brimento do Brasil, através de equipa-mentos artesanais que ainda continu-am a ser utilizados em várias regiõesbrasileiras, principalmente no Nortee Nordeste. A introdução de equipa-mentos mecânicos foi feita mais tardepelos colonizadores portugueses, maso processamento foi mantido pratica-mente inalterado, a não ser nasfecularias de grande capacidade, queadotaram a tecnologia disponível in-ternacionalmente para a extração doamido de cereais.

Basicamente são encontrados trêstipos de indústrias de processamentoda mandioca no Brasil: artesanais,pequeno e médio porte e indústrias degrande porte. As artesanais constitu-em 35% do total das agroindústrias ecomo diz o nome são fabriquetas fami-liares, utilizam, segundo a técnicaMarney Cereda, menos de mil tonela-das de raiz por ano. Produzem princi-palmente a farinha, por isso são cha-madas de “casas de farinha”, mas tam-bém fabricam a fécula doce e fermen-tada (ver box). A qualidade do produtodeixa muito a desejar, embora pos-sam contar com a preferência de con-sumidores locais e regionais. A fari-nha é desuniforme, podendo apresen-

tar granulação grosseira e variaçãode cor. Os equipamentos são rústicose de fabricação própria. Em geral ope-ram à força do braço, com animais, ecom motores à gasolina ou óleo dieselapenas nas etapas mais pesadas.

O engenheiro agrônomo GilbertoTassinari, da Gerência de RecursosNaturais da EPAGRI e conhecedor docultivo da mandioca em Santa Catari-na, entende que há necessidade ur-gente de um controle de qualidade naindustrialização, não só no segmentoartesanal, mas também nas indústri-as pequenas e de médio porte. Segun-do o técnico, os produtos vendidostêm que ter mais qualidade, os rótu-los devem mostrar a composição doalimento, data de fabricação, prazo de

Entenda os termosEntenda os termosEntenda os termosEntenda os termosEntenda os termos

Farinha - O método de obten-ção da farinha é o mais simples detodos, constituindo na raspagem dacasca, trituração ou moagem daraiz, prensagem e posteriormentesecagem em forno, obtendo-se afarinha grossa que, após peneira-da, torna-se farinha comestível.

Fécula - A fécula é o amidoextraído da raiz, também chamadode polvilho. Existem dois tipos depolvilho, o polvilho doce e o azedo.

Polvilho doce - Também cha-mado de fécula, o polvilho doceresulta da lavagem, raspagem, tri-turação e centrifugação (processomais moderno) ou decantação (pro-cesso artesanal) do amido da raiz demandioca. É utilizado pela indús-tria na fabricação de tintas, emfrigoríficos serve como liga para osembutidos, etc.

Polvilho azedo - É o mesmopolvilho doce, só que passa por umprocesso de fermentação, com pos-terior secagem ao sol. É o polvilhoutilizado na confecção de biscoitos,pão de queijo, bijus, roscas, etc.

Raspas e farinha de raspas -É a raiz da mandioca cortada empedaços finos, com casca, e secadaem forno. A farinha é a raspa tritu-rada. Servem pra alimentação ani-mal.

Polvilho azedosecando ao sol.O polvilhotem amplautilização naalimentação,como confecçãode biscoitos,pão de queijo,roscas, etc.

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validade, etc. “O setor ainda não estáem conformidade com o Código de Defe-sa do Consumidor”, alerta o técnico erevela que “somente a farinha e a fécu-la (polvilho doce) possuem um padrãocontrolado, em função do Empréstimodo Governo Federal - EGF - crédito pa-ra o setor agropecuário estocar o pro-duto, esperando melhor preço de ven-da, e assim mesmo é um padrão para aindústria e não para o consumidor”.

Quanto ao segundo segmento, asindústrias de pequeno e médio porte,representam 60% do total e são as maisnumerosas e diversificadas, produzin-do farinha, fécula doce e fermentada(polvilho azedo), raspas e farinha deraspas. Algumas produzem dois oumais produtos ao mesmo tempo, ade-quando--se à demanda do mercado. Oequipamento em geral é simples, ope-rando com energia elétrica ou queimade combustível (óleo ou lenha). Rarasvezes têm marca comercial própria,vendendo seus produtos a firmasembaladoras, cooperativas e outros -são empresas familiares com controlecontábil precário, mão-de-obra poucoespecializada e baixas produtividade equalidade no processo e produto.

O aspecto mais grave é a geração deresíduos que não passam por processa-mento antipoluição, devido ao baixonível tecnológico empregado e à ten-dência destas pequenas indústrias a seagruparem, aumentando o volume depoluição.

Finalmente, as indústrias de gran-de porte constituem a minoria, cercade 5%. As fecularias processam cercade 40 a 50 mil toneladas de raízes porano, dependendo da oferta de matéria-prima. Operam com equipa-mentos sofisticados, como ascentrífugas que substituem aspeneiras lavadoras em uso pe-las pequenas fábricas, porexemplo. Funcionam com gran-de eficiência e, devido ao eleva-do custo de instalação, produ-zem apenas a fécula (polvilhodoce) ou seus produtos modifi-cados, de alto valor agregado efácil colocação no mercado in-terno ou externo. Estão quasetodas localizadas nas regiõesSul e Sudeste.

O controle de qualidade é um dospontos altos deste segmento que, emgeral, tem laboratórios próprios ouacesso a eles. Seguem padrões nacio-nais e internacionais, seus produtossão de alta qualidade e razoável padro-nização e comercializados geralmen-te com marca própria. Outro aspectoimportante é que os resíduos são tra-tados ou comercializados comosubprodutos, constituindo-se em fon-te adicional de renda.

Tecnologia elevaprodutividade

Em Santa Catarina a produção damandioca concentra-se no Vale doItajaí (30%), Sul do Estado (35%) eOeste (18%), sendo que na regiãooestina destina-se basicamente aoconsumo na propriedade, principal-mente para alimentação de bovinosde leite e suínos. A produção total noEstado é destinada, em sua maiorparte, ao consumo no próprio estabe-lecimento e para as agroindústrias.

O número de estabelecimentos quetransformam a raiz em farinha demandioca e fécula está caindo drasti-camente. Os pequenos engenhos fa-miliares estão dando vez a engenhosmelhor instalados com baixo uso demão-de--obra. Em Santa Catarina,inclusive, existe fábrica de equipa-mentos para engenhos e que jácomercializa principalmente para ovizinho Estado do Paraná.

Levantamento feito pela EPAGRI,em 1994, dá conta que existem 600engenhos de farinha, 21 fecularias e41 engenhos de polvilho azedo no

Estado, espalhados nas regiões pro-dutoras, conforme mostram a Tabela1 e a Figura 1. Além disso, informa oengenheiro agrônomo Mauro Lavina,da EPAGRI, pesquisador e especialis-ta na produção e agroindustrializaçãoda mandioca, existem ainda pequenasindústrias caseiras de roscas, biscoi-tos, bijus, etc., em especial no muni-cípio de Biguaçu, na GrandeFlorianópolis, e uma no município deAraranguá.

Vários fatores estão interferindohoje na comercialização dos produtosindustrializados da raiz da mandioca,afetando, portanto, a agroindústriado setor. Pode-se iniciar citando afalta de crédito para o setor e este,quando existe, é ofertado com jurosmuito elevados. Na verdade não exis-te uma linha especial de crédito paraapoiar este segmento que, sem dúvi-da, se reveste de considerável impor-tância econômica e social. Outro fatoré a concorrência com o amido de mi-lho, cujo preço tende a ser mais baixo.Também o subsídio concedido ao trigodificulta os investimentos no setor.Como foi comentado antes, a falta demelhor gerenciamento nos engenhostem impedido um maior desenvolvi-mento do setor, sem mencionar quemuitas farinheiras trabalham ilegal-mente, o que dificulta ainda mais.

Vale salientar ainda o que foi regis-trado bem no início desta matéria, ouseja, o cultivo da mandioca possuibaixo aporte tecnológico. É um culti-vo praticado muitas vezes por produ-tores de baixa renda e baixo nívelcultural, com o objetivo de subsistên-cia. Falta também organização do pro-dutor e do setor da pequena (artesanal)e média agroindústria.

Tabela 1 - Parque de industrialização da mandioca de Santa Catarina

Engenhos de farinha Fecularias

Capacidade Capacidade CapacidadeNo nominal industrial No nominal industrial No nominal industrial

(t/dia) (t/dia) (t/dia)

Litoral SulCatarinense 528 14,0 10 120 39 9Alto Vale Itajaí 12 8,0 11 122 2 10Baixo Vale Itajaí eGrande Florianópolis 60 3,0 - - - -Total 600 12,7 21 121 41 9

Fonte: Relatório Reunião Planejamento, 1994 - EPAGRI/SC.

Região

Engenhos depolvilho azedo

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

tivo com outras espécies vegetais, oque propicia maior proteção ao solo,melhor controle de pragas e doençase possível aumento na renda do agri-cultor).

O apoio da pesquisa eextensão

Na região Sul do Estado, ao longodo Litoral, encontram-se exemploscaracterísticos da agroindústria damandioca. Apesar da crise no setor eda diminuição do número de estabele-cimentos, a tradição ainda é um fatorque mantém as famílias lidando nosengenhos.

A reportagem da RAC foi visitar nomunicípio de Araranguá alguns pe-quenos engenhos, de cunho familiar eque ainda resistem à modernização,adaptando-se ao mercado, utilizandorecursos próprios e contando somen-te com, talvez, um único apoio, ostécnicos da EPAGRI.

No município existem 17 enge-nhos de farinha de mandioca, quesomam 70 mil sacos de farinha porano. Os engenhos são de porte peque-no, tocados por mão-de-obra familiar,a exemplo de duas outras pequenasindústrias de polvilho azedo que pro-duzem anualmente cerca de 10 milsacos de polvilho. Há ainda uma pe-quena fábrica artesanal bijuzeira ondesão feitos produtos derivados da man-dioca. Existe também um grande ata-cadista (comprador de farinha) donode um armazém com capacidade para200 mil sacos por ano (1 saco = 50kg defarinha).

Os extensionistas da EPAGRICergio Tibola e Vicente Sandrini Pe-reira orientam os produtores locaisde mandioca e os pequenos empresá-rios da agroindústria mandioqueira.Cergio Tibola informa que a área plan-tada total este ano no município foi de1.350ha. Mas a produtividade da raizcaiu em função do excesso de chuvano início do ano. O rendimento previs-to é de 12t/ha, quando o normal é emtorno de 18t/ha. Os solos predominan-tes na região para o cultivo da mandi-oca são os arenosos, chamados tecni-camente de Areias QuartzosasDistróficas. Há 20 anos, a cultura damandioca ocupava uma área de 6 milhectares, perdendo espaço ano apósano para, principalmente, a culturado fumo.

Não obstante estes entraves, a pes-quisa e assistência técnica têm levadoalgumas tecnologias eficazes aos agri-cultores como é o caso da recomenda-ção de cultivares mais adequadas e demaior produtividade. A aplicação doBaculovirus contra o “maranduvá damandioca” foi um inegável avanço nocontrole da principal praga da cultu-ra, pois substitui com vantagens osinseticidas químicos anteriormenteutilizados, além de não poluir o ambi-ente e ser atóxico aos homens e ani-mais. A recomendação de herbicidas

(produtos e dosagens) para o cultivode primeiro e segundo ciclos tambémfoi um avanço tecnológico. As unida-des demonstrativas, a multiplicaçãode manivas e o armazenamento deramas também são práticas impor-tantes para melhorar o rendimentoda cultura. Somam-se a estas, as no-vas técnicas de manejo da cultura,utilizando-se adubação verde (plantasque melhoram a fertilidade dos solospelo aumento do teor de nitrogênio edas propriedades biofísico-químicas) ea rotação de culturas (variando o cul-

Figura 1 - Localização do parque agroindustrial da mandiocaem Santa Catarina

Pequenoempresário lutacontradesestímulo dosetor

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Mas a EPAGRI tenta ajudar osagricultores de todas as maneiras pos-síveis. Atualmente 615 famílias dedi-cam-se ao cultivo da mandioca, nor-malmente associado à cultura do fumo.Uma das estratégias dos técnicos étestar novas variedades, cultivaresmais produtivas e adequadas ao pro-cesso de industrialização. Por isso, nomunicípio existe uma Unidade de Pes-quisa Participativa da cultura da man-dioca, onde, com o apoio dos pesquisa-dores da Estação Experimental deUrussanga, são testadas novas culti-vares e, como diz o nome, com aparticipação direta dos agricultoresno processo de avaliação.

Atualmente as variedades mais uti-lizadas são a Mandioca Branca, tam-bém chamada de Mandioca Prata, e aRosinha. Cerca de 95% da área estácultivada com a Mandioca Branca, jáque o produtor a considera ótima paraa indústria, tanto de farinha comopolvilho. Possui película da raiz finacom pouca perda, raízes de cor bran-ca, raízes médias com bomengrossamento, sem anelamento.

Além disso, tem bom teor de amido,fator fundamental para a indústria. Ésuscetível à bacteriose, principal do-ença que ataca a cultura, porém, até omomento não têm ocorrido ataquescom prejuízos econômicos na região.

Com o intuito de melhorar o apro-veitamento da mandioca (mais espe-cificamente do aipim), a equipe daEPAGRI de Araranguá, através daextensionista Marley WiesercoskiAlborghetti, realizou, nos meses dejunho e julho recém findos, quinzecursos com donas de casa das comuni-dades rurais, obtendo a presença de364 pessoas, com distribuição de apos-tilas com 83 receitas caseiras sobre ouso do aipim. Marley esclarece que araiz tem propriedades nutritivas emedicinais importantes, está disponí-vel durante quase todo o ano e é umafonte alimentar de baixo custo, poden-do ser cultivada mesmo em solos po-bres, pois é uma planta muito rústica.

Pequenos empresários

Salustiano Gregório Francisco éum médio produtor da comuni-dade de Sanga do Veado, emAraranguá, que tem apostadono cultivo da mandioca e na in-dustrialização da raiz, ativida-des iniciadas pelos seus antepas-sados há muito tempo. Mas, aocontrário de antigamente, quan-do a mandioca era a única opçãodos agricultores do Litoral deSanta Catarina, hoje a diversifi-cação é a saída para os empresá-rios rurais. Além dos 50ha culti-vados com a raiz, Salustiano pro-duz fumo em outros 25ha, 3hade milho do cedo (agosto/setem-bro) e mais 12ha do cereal apóso fumo. Prevenido, ele plantou10ha de eucalipto que servem deproteção às lavouras contra osconstantes ventos do Litoral eutiliza a madeira para constru-ção na fazenda e lenha para oforno do engenho. Também criaum pouco de gado, em torno de30 cabeças, que alimenta à basede rama de mandioca, cana esilagem, além, é claro, do pastolocal.

O engenho fica ao lado da casa. Naépoca da visita da reportagem da RAC,estava parado em função daentressafra. O produtor mostrou osequipamentos que compõem o enge-nho, iniciando pelo depósito querecepciona a raiz da mandioca, pas-sando pelo raspador que retira a cas-ca, indo para o cevador (moagem) e,após, para a prensa. Em seguida, araiz passa por outro cevador e, final-mente, chega ao forno, onde a farinhaé aquecida, tostada e secada.Salustiano explica que antigamente afábrica trabalhava, em média, 90 dias(maio a agosto), porém hoje, em fun-ção da motorização e eletrificação, otempo diminuiu para 40 dias. Mas nãoparam por aí as mudanças. A produti-vidade também modificou, pulando de1.300 sacos, quando o processo eraartesanal, para 2.500 sacos com aintrodução do motor e, hoje em dia,atinge 8 mil sacos. “Com a maioreficiência e diminuição do tempo deindustrialização, consegui liberarmão-de-obra para as outras lavourase atividades”, revela satisfeito o em-presário, e conta ainda que utiliza acultivar mandioca branca em sua la-voura porque rende em média, 8 sa-cos de farinha por tonelada de raiz, aopasso que as outras variedades nãopassam dos 5 a 6 sacos por tonelada.Quanto à comercialização, ele infor-ma que vende a R$ 6,00 o saco durantea safra e R$ 9,00 na entressafra. Parao consumidor, o quilo da farinha sai aR$ 0,30.

Na comunidade de Sanga da TocaII, a reportagem da RAC foi conheceruma típica fábrica de polvilho azedo,de propriedade de João Carlos Schefferde Borba, que trabalha com a ajuda deum filho e mais três empregados. Aprodução do polvilho é de maio aagosto e rende, em média, 4,5 a 5sacos por tonelada de raiz. A produçãototal fica em torno de 5 mil sacos porsafra, informa o empresário, que hácatorze anos lida com fecularia.

O processo é um pouco mais com-plexo que a produção de farinha. Darecepção da raiz, o produto passa,através do descarregador, a um cara-col que conduz a raiz ao raspador. Aseguir, vai a um cevador que recebeágua (diferente do processo da fari-nha) e daí para uma peneira vibratóriacom malha fina de aço inox que separa

Seu Salustiano aponta para o raspador, equipa-mento que retira a casca da mandioca

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a fibra do amido em quatropeneiramentos, sempre com água. Afibra é jogada em uma lagoa de decan-tação fora do prédio. Ela pode serutilizada na lavoura como adubo, ra-ção ou misturada na silagem para ogado. O amido que vai formar o polvi-lho é conduzido a uma calha, onde ficadecantando (separando o líquido dosólido) durante três dias, e dali paratanques de armazenagem para fer-mentar (30 a 60 dias). Após, procede-se à secagem ao sol num estradocoberto por lona plástica preta duran-te dois dias. Finalmente, o polvilho élevado ao moinho, onde é colocadonos sacos de 50kg e armazenado espe-rando a comercialização.

João Carlos conta que já ganhoumais dinheiro com o polvilho. “Hácinco anos o movimento era maior,mas como hoje tem muita gente indopara a lavoura de fumo, calculo que ademanda vai aumentar”, diz esperan-çoso. Ele fala orgulhoso que seu pro-duto tem boa qualidade, usa bastanteágua para lavar o produto e tirar aareia e sujeira. “É um produto limpo,natural, não tem agrotóxicos”, revelaconfiante e faz um alerta: “O governodeveria dar mais incentivo àsfecularias, pois é pequena empresa,gera emprego e ICMS. Infelizmentenão existe financiamento incentiva-do, o dinheiro está difícil, a gente temque se virar como pode”, desabafa.

Quem não está reclamando muitoé o microempresário Itamar V. daRocha, morador da comunidade dePontão e único fabricante de biju naregião Sul do Estado, sendo seu pro-duto de grande aceitação no municí-pio de Araranguá e cercanias. Mas

não foi sem sacrifício que o jo-vem empreendedor enfrentou odesafio de mudar totalmentesuas atividades e se dedicar àfabricação de produtos caseirosà base de polvilho. Intoxicadoseriamente pelos agroquímicosutilizados na lavoura de fumo,na qual trabalhava há váriosanos, tomou coragem e, parasurpresa de parentes e amigos,resolveu abrir uma bijuzeira.Com pouco dinheiro, mas commuito entusiasmo, adaptou a es-tufa de fumo, transformando-aem forno com chapa de aço, ecom o apoio da mulher e maisquatro empregados começou aproduzir o biju.

A receita não é difícil e Itamarensina que os componentes sãomassa de mandioca, farinha demilho, erva-doce, canela, açúcare sal. Mistura os ingredientes,coloca em pequenas formas re-dondas que vão assar direto nachapa de aço. Outra receita bas-tante apreciada é a popular ros-ca que consiste de polvilho aze-do, ovos, banha ou margarina,água e sal, açúcar, e adicionacravo ou erva--doce para dar aroma egosto especiais. Mas não ficam por aíos produtos elaborados na bijuzeira.Para exibir as qualidades culinárias,tradição da região, Itamar convidou areportagem da RAC e o pessoal daEPAGRI de Araranguá para um caféda tarde, onde colocou na mesa diver-sos bolos, biscoitos, tudo à base depolvilho. Tapioca, biroró, paçoca deamendoim, cuscuz, docinho, broa, pãode polvilho, voadeiro (rosquinha de

João Carlos de Borba e o seu polvilho:“governo deveria incentivar, dar apoio às

fecularias, pois estas geram emprego e ICMS”

polvilho) são alguns dos produtos queele prepara eventualmente para fes-tas e alguma encomenda especial.Um de seus favoritos é o João Pança,bolo feito de massa de mandioca comamendoim moído e assado em banho-maria.

O novo empresário confessa quenão está dando conta da demanda. Asua produção atual é de 500 pacotes debijus por dia, “mas daria para colocartranqüilamente uns 2 mil”, garanteItamar. Cada pacote de biju pesa 280gque ele vende no comércio a R$ 0,80que, por sua vez, é revendido aosconsumidores de R$ 1,20 a R$ 1,50. “Aminha idéia é ampliar, dar maisemprego, colocar 40 a 80 trabalhado-res na fábrica”, raciocina omicroempresário que pretende cons-truir, em um galpão ao lado do atual,mais um forno com chapa. Com umpouco de recurso a mais ele pode,inicialmente, dobrar o turno de traba-lho na bijuzeira. Mas o seu espíritoempreendedor esbarra na atual polí-tica creditícia do governo. Faltam re-cursos e financiamentos adequadosàs microempresas.

No forno, adaptado deestufa de fumo,Itamar da Rochaprepara inúmerasreceitas com o polvilhoda mandioca

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Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 43

REGISTRO

ficial (utilizando produtos químicos) nafruta, já que esta prática aumenta signi-ficativamente a produção dos pomares,entre outras vantagens. O Dr. Cacciopofalou sobre as diversas cultivares de quiviexistentes no mercado mundial, a maio-ria resultante dos trabalhos iniciais demelhoramento conduzidos na NovaZelândia. A mais plantada mundialmen-te é a Hayward pelas suas característi-cas e qualidades, mas o expert italianorevelou que recentemente foi lançada umanova cultivar, a Top Star, que possui umapeculiaridade que é a ausência de pelosna fruta, o que a torna mais atraente aoconsumidor. O Dr. Cacciopo mostrou tam-bém um fato interessante que é a exis-tência de plantas de quivi na NovaZelândia já com 50 anos de idade e aindaproduzindo normalmente, fato raro emespécies frutíferas comerciais.

O engenheiro agrônomo, empresárioe produtor Gervásio Silvestrin (deFarroupilha, RS) proferiu as seguintespalestras: Propagação, principais méto-dos e práticas de viveiro; Poda e manejodas plantas e Comercialização e aprovei-tamento. Outros assuntos importantesda programação foram: Manejo do solo eirrigação, pelo engenheiro agrônomo eprodutor Roberto Yamanishi, de CampoBelo do Sul, SC; Polinização e Raleio, acargo do professor Gilmar Morodin, daUFRGS; Principais pragas e moléstias eseu controle, pela pesquisadora RosaMaria Valdebenito Sanhueza, do CentroNacional de Pesquisa da Uva e Vinho daEMBRAPA em Bento Gonçalves, RS;Colheita e cuidados pós-colheita, peloprofessor Auri Brackman, da Universi-dade Federal de Santa Maria-UFSM; e,por fim, Classificação e padrões técnicosdo quivi, ministrado pelo engenheiro agrô-nomo Luiz Claudio Vieira, da EMATERde Vacaria, RS.

Importância do quivi

O quivi começou a adquirir importân-cia comercial a partir da década de 50,com a criação de várias cultivares naNova Zelândia. Deste país se difundiu ese adaptou a uma grande variedade desituações climáticas, nos diversos conti-nentes. A área mundial em pomares dequivi é de 75 mil hectares, com umaprodução anual total de 1.040 milhão de

I Curso NacionalI Curso NacionalI Curso NacionalI Curso NacionalI Curso Nacionalsobre a Culturasobre a Culturasobre a Culturasobre a Culturasobre a Cultura

do Quivido Quivido Quivido Quivido Quivi

Apareceu sem alarde, mas hoje jáestá se tornando um sucesso no Sul doBrasil. O seu nome é exótico - quivi - e vemde uma região exótica também, a China,onde cresce naturalmente em bosques emontanhas no Vale do Rio Yang-Tzé,desde o nível do mar até 2 mil metros dealtitude. A introdução desta fruta naEuropa (Grã-Bretanha, França e Itália)ocorreu em 1903 e nos E.U.A. em 1904.Na Nova Zelândia, país que foi o maiorprodutor e difusor do quivi durante longotempo, a fruta entrou em 1904. Na Amé-rica do Sul a cultura do quivi chegou noChile, no final dos anos 70, e no Brasil foiintroduzida em 1970, mas as primeirasexperiências com a fruta datam do iníciode 80, no município de Farroupilha, noRio Grande do Sul. Posteriormente omunicípio de Campo Belo do Sul, emSanta Catarina, desenvolveu o cultivodo quivi, sendo hoje o maior produtornacional.

Para conhecer melhor esta fruta de-liciosa e rica em vitamina C e própriapara o cultivo nas regiões mais altas e

entidades promotoras e participantes lan-çaram algumas obras sobre o quivi, comdestaque para o boletim “Normas técni-cas para o cultivo de quivi no Sul do Bra-sil”, patrocinado em conjunto pelaEPAGRI e Secretaria da Agricultura deFarroupilha, “Anais do I Simpósio Brasi-leiro da Cultura do Quivi”, elaborado pelaEMBRAPA com patrocínio da BASF e umlivro sobre a “Cultura do Quivi” tendocomo autores os professores da disciplinade Fruticultura da Universidade Federaldo RS.

Planta atinge 50 anos

O curso proporcionou uma atualizaçãotécnica aos participantes, abordando as-suntos como “Situação do quivi na Europae no mundo”, “Melhoramento e principaiscultivares” e “Nutrição e Adubação”, estesa cargo do Dr. Otávio Cacciopo, especialis-ta da Itália. O engenheiro agrônomo epesquisador Ênio Schuck, da EPAGRI, fezas seguintes palestras: Exigências emclima e solo e quebra de dormência, Prepa-ro do solo e instalação do pomar. O pesqui-sador, que conduz há cinco anos experiên-cias com o cultivo do quivi na EstaçãoExperimental de Videira, destacou a im-portância da quebra de dormência arti-

Quivi está seespalhando mundoafora. Além da frutain natura,subprodutos atraem oconsumidor

frias do Brasil, a Prefeitura Municipalde Farroupilha e a Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul-UFRGS organi-zaram o I Curso Nacional sobre a Cultu-ra do Quivi, no período de 24 a 26 de julhodo corrente, em Farroupilha, RS, e quecontou com a participação de técnicos,produtores rurais, empresá-rios e espe-cialistas nacionais e internacionais nocultivo da fruta. Por ocasião do evento, as

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Regist roRegist roRegist roRegist roRegist ro

toneladas e com o envolvimento de 34 milprodutores. A área, produção total e nú-mero de produtores dos principais paísesestão relacionados na Tabela 1.

No Brasil os cultivos se iniciaram apartir de meados da década de 80, e acultura vem despertando um interessecrescente nestes últimos anos, principal-mente em função dos bons preços alcan-çados pela fruta no mercado, pelo altopotencial produtivo e baixo custo de pro-dução e por apresentar, até o presente,poucos problemas fitossanitários. Nopaís a área plantada está ao redor de500ha, destacando-se os Estados deSanta Catarina e Rio Grande do Sul.

A produção de quivi ainda é restritana região Sul, devido à falta de tradiçãoe às escassas informações específicassobre aspectos como adubação, pragas emoléstias, entre outros. Atualmente, amaior parte do quivi comercializado noBrasil provém de importação, o que de-monstra seu bom potencial de mercado.Levantamentos preliminares realizadosnos anos de 1994/95 indicam como mai-ores produtores os Estados do Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina, São Paulo euma pequena área no Paraná. Devido aosbons preços alcançados no mercado naci-onal e à possibilidade de diversificaçãode atividades, estima-se que esta cultu-ra cresça rapidamente em área e númerode produtores na região Sul do país.

Os frutos de quivi têm propriedadesterapêuticas e, devido a sua riqueza emvitamina C e elementos minerais, prin-cipalmente fósforo e potássio,potencializam as defesas do organismona prevenção de enfermidadesestacionais, como gripes e resfriados e,até, cancerígenas.

Polinização e cultivares

As plantas de quivi produzem um

número pequeno de flores, portanto umaboa polinização é vital para bons rendi-mentos. Um vingamento de flores acimade 90% é requerido para uma boa produ-ção comercial.

O quivi, como planta dióica, produzflores masculinas e femininas em indiví-duos diferentes, sendo necessária a pre-sença de plantas de ambos os sexos em ummesmo bloco e que floresçam ao mesmotempo para produção de frutos. O tama-nho dos frutos está diretamentecorrelacionado com o número de semen-tes; assim, frutos grandes, bempolinizados, podem conter de 1.000 a 1.400sementes, ao passo que frutos pequenos,mal polinizados, não contêm mais de 50a 100 sementes. Geralmente nos plantioscomerciais 15% das plantas sãopolinizadoras (masculinas).

As cultivares (variedades) de quivirecomendada para cultivo são Bruno,Monty e Hayward, sendo indicadas comopolinizadoras as cultivares Matua eTomuri. No início a cultivar Hayward foimuito cultivada, mas como ela é muitoexigente em frio, e os nossos invernos sãoirregulares, a sua produção vem diminu-indo, dando lugar, principalmente, à culti-var Bruno, menos exigente em frio, e aindamais produtiva e precoce para entrar emprodução (segundo a terceiro ano após oplantio da muda).

A Monty é vigorosa e produtiva, porémcom tendência à produção excessiva, o queobriga o fruticultor, muitas vezes, a fazerum raleio intenso no pomar.

Quanto à cultivar polinizadora Matua,esta apresenta longo período de floração,é muito vigorosa e tem alto potencial deprodução de flores. E, finalmente, a Tomurié uma polinizadora tardia, possuindo co-incidência maior com a produtoraHayward. É cultivar pouco vigorosa, comnúmero de flores/planta bem inferior àMatua e seu requerimento em horas defrio é maior.

Caibi comemora sucesso daCaibi comemora sucesso daCaibi comemora sucesso daCaibi comemora sucesso daCaibi comemora sucesso daCasa Familiar RuralCasa Familiar RuralCasa Familiar RuralCasa Familiar RuralCasa Familiar Rural

Caibi é um pequeno município doOeste de Santa Catarina que recente-mente, dia 6 de junho, comemorou seus30 anos de emancipação político-admi-nistrativa. Sua população de 7.426 habi-tantes vive quase que exclusivamente daagricultura. A economia do município sebaseia na produção de feijão, milho, fran-go e suíno. A imensa maioria dos agricul-tores situa-se na faixa dos pequenos pro-dutores rurais, com propriedades queraramente ultrapassam os 10ha. Comopraticamente todas as áreas agrícolasdo país, o município de Caibi sofre com agrande crise que se abate sobre o setor. Oque diferencia Caibi de outros municípi-os é, entre outras iniciativas, a criação edesenvolvimento do ensino através daCasa Familiar Rural, passando efetiva-mente da teoria para a busca de soluçõespráticas para a agricultura.

Casa Familiar Rural é uma institui-ção de ensino, cujo modelo está em expan-são no Brasil, principalmente no Sul. Oestilo de ensino surgiu na França, após aSegunda Guerra Mundial, com a necessi-dade de produzir mais alimentos e de-senvolver a agricultura. Este modelo deensino, baseado na pedagogia dealternância, leva o jovem agricultor aestudar por uma semana em regime deinternato, seguido de duas semanas nasua própria residência. Durante as duassemanas que permanece em sua residên-cia o jovem é incentivado a aplicar, junta-mente com seus familiares, e verificar osresultados práticos dos ensinamentosobtidos na Casa Familiar Rural. O curso,desta maneira, tem três anos de duração.

Pioneira no Estado deSanta Catarina

A Casa Familiar Rural São Domin-gos de Caibi, SC, é a pioneira no Estado.Recentemente algumas foram criadasno território catarinense. Em Caibi ainstalação ocorreu ainda em 5 de abril de1993. Existem outras, do mesmo siste-ma, funcionando no Rio Grande do Sul eParaná. Em Caibi a Casa Familiar Ru-ral é mantida basicamente pela prefei-tura municipal, e coordenada por umconselho de pais e entidades interessa-dos no crescimento da agricultura.

Tabela 1 - Área plantada, produção e número de produtores de quivi dosprincipais países produtores

Área Produção Número(ha) (t) de produtores

Itália 20.000 370.000 10.000Nova Zelândia 17.800 220.000 3.400Chile 10.000 100.000 1.500

Fonte: Rivista di Fruticultura, n.7-8, p.63-66, 1993.

País

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Regist roRegist roRegist roRegist roRegist ro

A instituição de ensino iniciou o tra-balho com uma turma de 16 alu-nos.Hoje conta com mais de 40, divididos emtrês turmas. Os alunos recebem amplaformação, e ao completarem o curso serãoverdadeiros profissionais em agricultu-ra, com conhecimentos técnicos, admi-nistrativos e de relacionamento huma-no. Os trabalhos pedagógicos, demonitoração e acompanhamento estão acargo do engenheiro agrônomo ÁlvaroPoleto, e mais três técnicos agrícolas,Pedro Dias e os irmãos Nairto e NorbertoSerafini. A governanta/cozinheiraJustina Graciola completa o quadro. Ostrabalhos do grupo vão além damonitoração interna na Casa FamiliarRural. Quando estão em casa os alunosrecebem visitas dos técnicos e monitores,que observam e avaliam o rendimentodos ensinamentos através das culturasfeitas em áreas demonstrativas, desde oplanejamento até o cultivo.

O valor da boa orientação

Os jovens agricultores estudam naCasa Familiar Rural-CFR durante todoo dia, e têm também horários definidospara práticas desportivas e lazer. Umavez por semana recebem palestrantesque complementam as informações eensinamentos. Os estudos realizadosaprofundam conceitos e práticas de ad-ministração rural, passando por pecuá-ria geral, agricultura geral, coopera-tivismo e associativismo, mecanizaçãorural e apicultura.

Para se ter uma idéia, recentementeos alunos trabalharam numa série delavouras demonstrativas de cultura demilho (1994). A orientação neste traba-lho domiciliar foi feita pelos própriostécnicos/monitores, com apoio da prefei-tura municipal e da Agroceres, que cedeuas sementes. Os resultados foram alta-mente positivos, e em uma das áreasfoi alcançada a média de 142,18 sacas demilho de 60kg/ha, muito superior à mé-dia obtida no Brasil, que está em torno de40 sacas. Os resultados de todas as la-vouras demonstrativas foram apresen-tados em doze tardes de campo.

A Casa Familiar Rural de Caibi ini-ciou suas atividades na Linha Maracujá,interior do município. Hoje ocupa, interi-namente, um centro municipal de educa-ção e esporte, mas o prefeito de Caibi,José Bravo, já iniciou a construção deprédio e instalações próprias para aco-lher a entidade. O Secretário Municipal

de Agricultura e ex-presidente do Conse-lho da CFR, Gabriel Gandolfi, frisa que “aprofissionalização e a boa for-mação le-vam à melhoria de vida, produtividade erenda na atividade agrícola”.

A CFR de Caibi tem recebido diversasvisitas de prefeitos e pessoas ligadas àatividade agrícola de outros municípios eregiões, todos interessados no trabalho eem recolher informações da iniciativa doscaibienses. A CFR de Caibi integra aAssociação Regional das Casas Familia-res Rurais, que faz parte da organizaçãomundial deste sistema de ensino.

Estas informações foram repassadaspelo jornalista Marcelo Augusto Nitschke,Caibi, SC.

Mutação induzida - NovaMutação induzida - NovaMutação induzida - NovaMutação induzida - NovaMutação induzida - Novamaneira de desenvolvermaneira de desenvolvermaneira de desenvolvermaneira de desenvolvermaneira de desenvolver

variedades de arrozvariedades de arrozvariedades de arrozvariedades de arrozvariedades de arroz

Mutação é um fenômeno que se mani-festa espontaneamente na natureza, po-rém muito raramente. Através desse fe-nômeno, originam-se indivíduos diferen-tes de seus progenitores, cujas caracterís-ticas são transmitidas a seus descenden-tes. Os indivíduos assim originados rece-bem a denominação de mutantes e desem-penham importante papel na evoluçãodas espécies.

No final da década de 1920, dois cien-tistas, Muller e Stadler, o primeiro traba-lhando com a mosca Drosophila e o segun-do com plantas, descobriram que os raiosX provocavam o surgimento de mutantes.Descobria-se, dessa maneira, a possibili-dade de acelerar artificialmente a ocor-rência de mutação.

A partir desses acontecimentos, vá-rios outros cientistas trabalharam comindução artificial, verificando que muitosagentes químicos e físicos eram capazesde induzir a mutação. Dentre os inúmerosmutagênicos químicos, destacaram-semetanossulfato de etila (EMS), sulfato dedietila (dES) e etilenimina (EI), enquantoque os principais mutagênicos físicos fo-ram os raios X, raios gama e neutronsrápidos.

Uma das atividades que mais se inte-ressou pela mutação induzida foi, semdúvida, o melhoramento de plantas, queencontrou no método uma nova fonte devariabilidade e possibilidade de desen-volvimento de novas atividades.

Até o ano de 1961, menos de 200 vari-edades de espécies cultivadas tinham sido

desenvolvidas através da mutaçãoinduzida. Em 1993 o número de varieda-des criadas achava-se próximo de 1.800,entre cereais, espécies propagadasvegetativamente e plantas ornamentais.Das variedades de cereais desenvolvi-das, 140 eram de trigo, 238 de centeio e318 de arroz.

O arroz foi uma das espécies maisestudadas com relação às mutaçõesinduzidas e os países onde mais varieda-des estão sendo utilizadas são a China,com 118, Japão, com 42, e Índia, com 25.

Praticamente quase todas as carac-terísticas de interesse agronômico de umaplanta podem ser modificadas atravésda mutação artificial: ciclo vege-tativo,estatura, arquitetura da planta, tama-nho e qualidade de grãos, resistênciavarietal a doenças, etc.

Em Santa Catarina os trabalhos commutação induzida em arroz iniciaram--se em 1985 na Estação Experimental deItajaí, utilizando-se como agentemutagênico os raios gama.

A irradiação com raios gama é reali-zada no Centro de Energia Nuclear naAgricultura - CENA, instituição de pes-quisa ligada à Universidade de São Pau-lo, localizada em Piracicaba, SP.

Irradiando-se as sementes com raiosgama, originam-se, a partir da segundageração, plantas com características di-ferentes da variedade original. A seleçãoe a avaliação dessas plantas mutantesem sucessivas gerações permitem o de-senvolvimento de uma nova variedade.

Diferente do que ocorre nashibridações, onde uma variedade é obti-da a partir do cruzamento de duas vari-edades, na mutação induzida a varieda-de é desenvolvida a partir da irradiaçãode uma única variedade.

Os resultados observados até o mo-mento são bastante animadores, con-tando-se atualmente com cerca de 70mutantes selecionados a partir daindução de mutação nas variedadesEMPASC 101, EMPASC 105 e IRGA408.

Segundo informa o pesquisadorTakazi Ishiy, da Estação Experimentalde Itajaí, da EPAGRI, os referidosmutantes apresentam algumas caracte-rísticas melhores que a variedade origi-nal, notadamente com respeito à quali-dade de grãos, resistência à brusone eausência de pilosidade.

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Correção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do solo

Reação no solo de diferentes frações granulométricas deReação no solo de diferentes frações granulométricas deReação no solo de diferentes frações granulométricas deReação no solo de diferentes frações granulométricas deReação no solo de diferentes frações granulométricas deum calcário comercialum calcário comercialum calcário comercialum calcário comercialum calcário comercial11111

Carla Maria Pandolfo e Marino José Tedesco

calcário é um material prove-niente de uma classe de rochas

que contém no mínimo 80% de carbo-nato de cálcio e/ou magnésio (1). Alémde calcário, outros produtos que con-têm como “princípio ativo” óxido,hidróxido, carbonato ou silicato decálcio e/ou magnésio podem ser utili-zados na correção de acidez do solo. Ocalcário é o corretivo de uso maisfreqüente, podendo ser do tipocalcítico, dolomítico, magnesiano,calcinado ou não.

Um dos fatores que mais afeta adissolução do calcário no solo é a suagranulometria. A reação do calcáriono solo depende do contato corretivo-solo. Assim, quanto mais finas as par-tículas, mais rápida é a ação na corre-ção da acidez do solo (2 e 3).

A qualidade de um calcário podeser avaliada por diversos parâmetros.Teor e tipos de neutralizantes,granulometria, teor de impurezas eumidade são alguns deles. A avaliaçãoda qualidade do calcário é feita atra-vés do PRNT (Poder Relativo deNeutralização Total). O PRNT indicaa eficiência dos calcários, associandoa eficiência relativa das partículas,por classe de granulometria, com opoder de neutralização (4), conjugan-do, portanto, características físicas equímicas do corretivo.

A qualidade do corretivo é definidapelo PRNT, expresso em termos dopoder de neutralização (PN) ou equi-valente em carbonato de cálcio (CaCO3)e do tamanho das partículas(reatividade), da seguinte maneira (5):

PRNT = PN x Reatividade/100De acordo com a legislação, os

calcários são classificados por classede PRNT (6). São classificados como Aaqueles calcários que possuem PRNT45 a 60%, B os que têm PRNT 60,1 a75,0%, C aqueles que apresentamPRNT de 75,1 a 90,0%, e classe D osque apresentam PRNT>90%.

Normalmente, os calcários comer-cializados no RS e SC têm alto PN,porém sua granulometria é bastantegrosseira, diminuindo os valores dePRNT em função da baixa reatividadedessas partículas.

A reatividade do calcário dada nafórmula para cálculo do PRNT é obti-da através da eficiência relativa (ER)do calcário. Esta é resultante dopeneiramento de uma amostra, utili-zando-se peneiras com malhas referi-das na legislação. As quantidades quepassam pelas peneiras são multiplica-das por índices de eficiência (oureatividade) referentes à granulo-metria.

A portaria no 3, de 12 de junho de1986, que oficializou o uso de PRNT,prescreve que a ER das partículas decorretivo deve ser calculada utilizan-do os índices: 0 (zero) para a fraçãoretida na peneira ABNT no 10 (2mm);0,2 para a fração que passa na peneiraABNT n o 10 e fica retida na peneira no

20 (0,84mm); 0,6 para a fração quepassa na peneira ABNT n o 20 e ficaretida na peneira ABNT no 50 (0,3mm)e 1,0 para a fração que passa na penei-ra ABNT n o 50 (6). A eficiência relativaestá diretamente relacionada àgranulometria, e a maior eficiência éalcançada quando se reduz o tamanhodas partículas pelo aumento da áreaespecífica. Os resultados da análise de

247 amostras de calcário, recebidaspelo laboratório de solos do CPPP/EPAGRI/Chapecó, encontram-se naFigura 1. Observa-se que mais de 60%das amostras de calcário apresenta-ram PRNT acima de 75,1%, ou seja,foram enquadradas na classe C e D.Apenas 2% dos materiais não se en-quadraram nas classes, pois, apresen-taram um PRNT abaixo de 45%.

Devido à importância da granulo-metria como um dos fatores determi-nantes na rapidez de reação do calcáriono solo, apresenta-se este trabalho,que teve por objetivo estudar o com-portamento no solo de fraçõesgranulomé-tricas de calcário com di-ferentes tamanhos, em dois tipos desolo.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido acampo, no Rio Grande do Sul, nossolos Durox (Latossolo Bruno álico-LB) e São Jerônimo (Podzólico Ver-melho Escuro-PE). Algumas caracte-rísticas dos solos estudados são apre-sentados na Tabe-la 1.

Os tratamentos constaram das se-guintes frações de um calcário comer-cial: 10-20; 20-35; 35-50; 50-120, 120-270 e <270 malhas/polegada; incluiu-se, ainda, um tratamento sem calcário(testemunha) e um com carbonato decálcio em pó. Algumas característicasdas frações de calcário utilizadas sãoapresentadas na Tabela 2.

Os experimentos constituíram-sede microparcelas compostas de recipi-entes cilíndricos de polietileno comcapacidade de 14 litros, enterrados ao

1.Contém parte do trabalho de tese de (PANDOLFO, C.M. Efetividade de frações granulométricas de calcário na correção da acidez do solo. FA/UFRGS, Porto Alegre, 1988. 92p.).

O

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Correção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do solo

nível do solo. No fundo destes recipi-entes foi colocada uma tela depolietileno possibilitando a livre dre-nagem. O solo, proveniente da cama-da arável (0 a 20cm), foi previamentepeneirado em peneira de 4mm deabertura de malha e homogeneizado.Após a aplicação e mistura do correti-vo, 15kg de solo seco por microparcelaforam colocados nos recipientes comárea de 2,5m x 6,0m. O delineamentoutilizado foi o completamente casua-lizado com duas repetições, totalizando44 microparcelas. O solo foi mantidodescoberto, sendo que periodicamen-te procedia-se a remoção das plantasinvasoras. As épocas de amostragemapós a aplicação dos corretivos varia-ram de 3 a 99 meses no solo LB e de3 a 78 meses no solo PE.

Três quantidades de cada fração docalcário foram aplicadas, sendo estasdependentes da eficiência esperada,determinadas previamente em testesde laboratório. A utilização de quanti-dades variáveis de corretivo para so-los e frações granulométricas diferen-tes foi adotada para possibilitar a ob-servação de modificações graduais depH do solo. Os valores de pH, medidosem água nas diversas amostragens,foram relacionados graficamente comas quantidades de corretivos aplica-das. Dos gráficos resultantes foramretiradas as quantidades necessáriasde cada fração para elevar o pH emágua a 5,5, 6,0 e 6,5. Devido à neces-sidade de sistematização dos valoresobtidos, a correção da acidez do solofoi expressa pela média aritméticadestas quantidades de calcário neces-sárias para atingir os valores de pHem água a 5,5, 6,0 e 6,5. Os valoresdestas médias se aproximam das ne-cessidades de corretivo para elevar opH a 6,0, principalmente nas fraçõesmais reativas.

A necessidade de calcário das dife-rentes frações granulométricas paraa correção do pH em água é mostradanas Figuras 2 e 3 para o solo LB e PE,res-pectivamente. Estas figuras fo-ram elaboradas utilizando-se as equa-ções de regressão apresentadas naTabela 3.

Discussão dos resultados

As Figuras 2 e 3 mostram a reaçãodas diferentes frações de corretivosmedidas pelo pH em água, em relação

ao tempo, nos dois so-los. Como foi utilizadoum artifício matemáti-co para ajustes dos da-dos, que foram as equa-ções de regressão, mui-tas vezes as curvas obti-das podem não refletirexatamente o que ocor-re “quimicamente” nosolo. Porém, a maior oumenor inclinação da retaou a derivada da equa-ção indicam uma maiorou menor reação no soloe, também, a perda doefeito corretivo.

De uma maneira geral, as Figuras 2e 3 mostram que as frações mais finasde calcário (menor que 270, 120 - 270 e50 - 120) e o carbonato de cálcio apre-sentam equações de retas (solo LB) oucurvas (solo PE) com pequenos incre-mentos nas necessidades de calcário,indicando uma perda do efeito correti-vo com o tempo, de forma gradual e

Tabela 1 - Características iniciais dos solos estudados

SoloCaracterística

LB PE

pH em água 5,1 5,4Al trocável (me/dl) 2,0 1,6Ca trocável (me/dl) 1,6 1,2Mg trocável (me/dl) 0,8 0,9Matéria orgânica (%) 4,5 3,0Necessidade de calcário(A) 7,7 2,5Teor de argila (%) 62 31

(A) Necessidade de calcário para elevar o pH a 6,0 (PRNT 100)determinada com a adição do carbonato após seis meses dereação.

uniforme. Pode-se observar, também,que as frações mais grossas de calcário(10-20, 20-35 e 35-50) atingem a maioreficiência corretiva entre 50 e 60 me-ses, decrescendo a seguir. Este de-créscimo pode ter ocorrido devido àfalta de renovação de contato entrepartículas do corretivo com o solo,visto que não houve revolvimento domesmo após a amostragem. O tempo

Figura 1 - Enquadramento dos calcários analisados nos anos de 1989-95pelo laboratório de solos do CPPP/EPAGRI, nas classes de PRNT

estabelecidas pela legislação

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Correção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do solo

Tabela 2 - Diâmetro de partículas, valor de neutralização e teores de cálcio e magnésio nasdiferentes frações granulométricas do calcário utilizado

Tratamentos Diâmetro Valor(peneira) de de Cálcio Magnésiomalhas/ partículas neutralização (%) (%)polegada (µµµµµ) (% ECaCO

3)(A)

10 a 20 2.000 a 841 95,5 22,4 9,920 a 35 841 a 500 95,0 22,0 9,935 a 50 500 a 250 96,0 21,9 10,050 a 120 250 a 105 93,0 21,2 9,6120 a 270 105 a 53 91,9 21,1 9,6< 270 < 53 92,9 21,2 9,6Carbonato pó 100,5 29,7 5,8

(A) ECaCO3 = Equivalente em carbonato de cálcio.

que as partículas do corretivo ficamem contato com o solo é importante àmedida que as partículas apresentemmaior diâmetro (7). Os resultados derapidez na perda do efeito residual dasfrações mais grossas (Figuras 2 e 3),obtidos através das curvas ajustadas,não são respaldados por aquelesreferenciados na literatura. O tempode duração do efeito corretivo é inver-so ao tamanho das partículas (3). As-sim, corretivos que apresentam umaquantidade apreciável de partículasgrossas necessitam de mais tempopara a reação, porém, o seu efeitocorretivo se mantém por mais tempo.

Verifica-se, ainda, em ambos ossolos (Figuras 2 e 3), que as fraçõesmais finas (50-120; 120-270 e menoresque 270) e o carbonato em pó, emgeral, apresentam retas com pequenadeclividade positiva ou curvas comcaráter levemente ascendente. Asretas com declividade positiva ou ascurvas ascendentes apresentadas pe-las frações 50-120, 120-270 e menorque 270 indicam que a sua reação nosolo é rápida e o efeito corretivo éperdido gradualmente, logo após asua aplicação. Com relação à fração35-50, esta apresentou uma reaçãosemelhante à das frações mais finasno solo LB, ao contrário do que foiobservado com esta fração no solo PE.

As frações 10-20 e 20-35 apresenta-ram uma reação distinta das demaisfrações. A declividade negativa dascurvas apresentada pelas frações, in-dica uma diminuição da necessidadede corretivo com o tempo. No solo LB,isto ocorre até aproximadamente 60meses para a fração 10-20 e 42 mesespara a fração 20-35 e no solo PE até 49meses para a fração 10-20 e 42 mesespara a fração 20-35. A reação daspartículas finas no solo é rápida devi-do à maior área superficial específica.Partículas grossas, por sua vez, apre-sentam menor área superficial, a re-ação é mais lenta, porém o seu efeitotende a se prolongar por mais tempo(3 e 8). Pensando-se nos reflexos darelação custo--benefício da calagem,se por um lado o calcário com maiorproporção das frações mais grossas émais barato no moinho, o retorno emprodutividade das culturas pelo uso émenor devido à reação mais lenta.

Calculando-se a perda de 50% doefeito corretivo, verificou-se que esta

Figura 2 - Necessidade de corretivo das diferentes frações para correçãodo pH em água do solo LB em relação ao tempo

ocorreu aos 35 e 60 meses para ossolos LB e PE, respectivamente, uti-lizando--se os valores de 8,1 e 3,1t/ha

de carbonato (médias de valores obti-dos nas três primeiras épocas deamostragem e três níveis de pH em

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Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 49

Tabela 3 - Equações de regressão entre a necessidade média de calcário determinada pelopH em água (y) e o tempo de reação (x) durante a duração do experimento

CoeficienteFração Equação de

correlação (r)

Solo LB10 a 20 y = 33,21719 - 0,82827x + 0,00722x 2 0,76*20 a 35 y = 14,91557 - 0,31665x + 0,00454x 2 0,96**35 a 50 y = 9, 13264 + 0,06458x 0,67*50 a 120 y = 7,30701 + 0,12448x 0,94**120 a 270 y = 7,25391 + 0,04846x 0,62< 270 y = 7,17640 + 0,11048x 0,88**Carbonato y = 8,06258 + 0,07353x 0,96**Solo PE10 a 20 y = 35,32259 - 1,37464x + 0,01378x 2 0,86**20 a 35 y = 16,26097 - 0,62838x + 0,00694x 2 0,91**35 a 50 y = 9,71857 - 0,36511x + 0,00438x 2 0,85**50 a 120 y = 3,95638 - 0,09179x + 0,00165x 2 0,90**120 a 270 y = 2,90928 - 0,04035x + 0,00096x 2 0,93**< 270 y = 2,93336 - 0,03633x + 0,00101x 2 0,80**Carbonato y = 3,10020 - 0,03137x + 0,00095x 2 0,92**

* Valor significativo ao nível de P = 0,05.** Valor significativo ao nível de P = 0,01.

Correção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do solo

água; dados não mostrados). Verifica-se que a diferença observada foi pe-quena para os dois solos, provavel-mente em função das áreas distintasuma da outra e das condições de climadiferentes. Em termos médios, a per-da de 50% do efeito do carbonato, paraos solos destes experimentos, ocor-reu em torno dos cinco anos após aaplicação do corretivo.

A eficiência relativa (ER) das fra-ções em relação ao carbonato foi cal-culada utilizando-se a necessidade decalcário obtida pela integração dasequações de regressão calculadas noperíodo de 24 meses (equações nãomostradas). As eficiências relativaspara as frações 10-20, 20-35, 35-50, 50-120, 120-270, <270 foram de 44,6;83,5; 90,1; 92,9; 107,1 e 93,8% no soloLB e 18,5; 35,4; 63,0; 100,0; 116,0 e111,5% no solo PE, respectivamente.

As maiores diferenças na ER entreos dois solos ocorreram nas frações10-20, 20-35 e 35-50, o que pode serexplicado pela diferença no teor deargila e no teor médio anual de umi-dade nos solos. Observou-se aindaque a ER das frações mais finas (quepassam pela peneira 50) variou de92,9 a 116,0%, estando próxima aos100% desejados. Pode-se considerar,assim, que as partículas de calcárioque passam pela peneira 50 reagemtotalmente no solo, no período de doisanos.

As eficiências relativas obtidas nosolo PE aproximam-se daquelas utili-zadas e estabelecidas pela legislação(considerando para a classe 20-50 a

Figura 3 - Necessidade de corretivo das diferentes frações para correçãodo pH em água do solo PE em relação ao tempo

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Correção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do soloCorreção do solo

ER média das frações 20-35 e 35-50) eparecem mais adaptadas a um grandenúmero de solos brasileiros cujos te-ores de argila variam entre 20 a 40%com baixa precipitação anual.

Conclusões erecomendações

O trabalho apresentado, nas condi-ções que foi conduzido, permite con-cluir e recomendar o seguinte:

• As frações mais finas de calcário(menor que 270, 120-270 e 50-120),bem como o carbonato de cálcio (pó),apresentam uma reação mais rápidano solo do que as frações mais grossas(10-20 e 20-35). Conseqüentemente,as frações mais finas têm um maiorefeito a curto prazo, mas apresentamum menor efeito residual no solo.

• A ER na correção da acidez dosolo das partículas de calcário comdiâmetros entre 2,0 e 0,3mm (penei-ras 10 a 50), num período de dois anos,variou de 18,5 a 63,0% no solo PE e de44,6% a 90,1% no solo LB.

• As partículas de calcário comdiâmetro menor que 0,30mm (penei-ra 50) apresentam ER 100% na corre-ção de acidez de ambos os solos, numperíodo de dois anos.

• Os calcários finamente moídos(tipo filler), normalmente apresen-tam uma rápida reação no solo, po-rém o seu efeito residual no solo émenor. Custo e objetivos do uso destetipo de calcário deverão ser conside-rados.

• Aproximadamente 50% do efeitocorretivo do carbonato de cálcio e dasfrações mais finas de calcário é perdi-do 55 a 60 meses após sua aplicação.Contudo, recomenda-se que novas apli-cações de calcário só sejam realizadasmediante indicação da análise do solopara evitar aplicações de subdoses oudoses acima do necessário.

Literatura citada

1. MONIZ, A.C. Reservas e ocorrências derochas calcárias no Brasil. In: REU-NIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDA-DE DO SOLO, 15., 1982, Campinas, SP.Acidez e calagem no Brasil. Campinas:Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,1983. p.1-9.

2. DAVIS, F.L. Effect os fineness of

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n.6, p.251-255, 1951.

3. ALCARDE, J.C. Características dos corre-tivos da acidez do solo. In: SIMPÓSIO

SOBRE APLICAÇÃO DE CALCÁRIONA AGRICULTURA, 1986, Ipanema,

1986. Anais. Campinas: FundaçãoCargill, 1986. p.1-19.

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Neutralização Total. Bragantia, Cam-pinas, v.36, p.139-145, 1977.

5. BARTZ, H.R.; BISSANI, C.A.; SCHERER,

E.E.; TASSINARI, G.; SIQUEIRA,O.J.W. de; FELTRACO, S.L.;

WIETHÖLTER, S. Recomendações deadubação e calagem para os estados do

Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.3.ed. Passo Fundo: SBCS-Núcleo Regi-

onal Sul, 1994. 223p.

6. BRASIL. Ministério da Agricultura. Secre-taria Nacional de Agropecuária. Porta-

ria No 3, de 12 de junho de 1986. DiárioOficial, Brasília, 16 de jun. 1986, seção

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7. LOVE, J.R.; COREY, R.B.; OLSEN, C.C.Effect of particle size and growth of

alfafa. In: INTERNATIONALCONGRESS OF SOIL SCIENCE, 7th,

1960, Madison. Transactions. Madison:International Society of Soil Science,

1960. v.3, p.293-301.

8. BARBER, S.A. Liming materials andpratices. In: ADAMS, F. Soil acidity

and liming. 2.ed. Madison: AmericanSociety of Agronomy, 1984. p.3-56.

Carla Maria Pandolfo, eng. agr., M.Sc.,

Cart. Prof. n o 7.289-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experimental de Campos Novos, C.P.

116, Fone (0495) 44-1655, Fax (0495) 44-1777,Campos Novos, SC; Marino José Tedesco,

eng. agr., PhD., Faculdade de Agronomia/Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(Bolsista do CNPq), C.P. 776, Fax (0513) 36-3575, Porto Alegre, RS.

LANÇAMENTOS

EDITORIAIS

Dormência e indução dabrotação de fruteiras de clima tem-perado. Boletim Técnico no 75. 110p.

Para que as fruteiras de clima tempe-rado iniciem um novo ciclo vegetativo naprimavera, em condições naturais, é ne-cessário que a planta seja exposta a umperíodo de baixas temperaturas. A regu-laridade e a intensidade das baixas tem-peraturas são fundamentais, pois oscila-ções durante o período de dormênciapodem fazer com que a planta permane-ça por um maior período em dormênciaou que ocorram brotação e floraçãodesuniformes, podendo grande parte dasgemas permanecerem dormentes.

Os autores deste trabalho, José LuizPetri, Luiz Antonio Palladini, EnioSchuck, Jean-Pierre Henri JosephDucroquet, Cangussú Silveira Matos eAugusto Carlos Pola, baseados nas infor-mações de pesquisa acumulada de diver-sos anos, orientam o manejo de fruteirasde clima temperado nestas condições.

Receitas com laranja. Boletim Di-dático no 13. 38p.

Trata-se de uma publicação conjuntaEPAGRI, Prefeitura Municipal deChapecó e Associação Catarinense deCitricultura. O trabalho reúne diversasreceitas à base de laranja (bebidas, geléi-as, doces, biscoitos, roscas, bolos, tortas,sobremesas, carnes, etc.) que foram tes-tadas pela equipe das extensionistas deEconomia Doméstica da EPAGRI.

Estas e outras publicações daEPAGRI podem ser adquiridas na Sededa Empresa em Florianópolis, ou medi-ante solicitação ao seguinte endereço:GED/EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-0066, 88034-901 - Florianópolis, SC. Paramaiores detalhes solicite também o Catá-logo de Publicações da EPAGRI (gratui-to).

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AlimentosAlimentosAlimentosAlimentosAlimentos

Micotoxinas: o perigo oculto das raçõesMicotoxinas: o perigo oculto das raçõesMicotoxinas: o perigo oculto das raçõesMicotoxinas: o perigo oculto das raçõesMicotoxinas: o perigo oculto das rações

Tabela 1 - Principais micotoxinas, fungos que as produzem e alimentos em que mais se desenvolvem

Micotoxina Fungo Alimento

Aflatoxina (B1, B2, Aspergillus flavus Grãos de oleaginosas, milho, trigo, arroz, cevada, aveiaG1, G2, M1, M2) Aspergillus parasiticus centeio, leite, farinha de sangueOcratoxina Aspergillus ochraceus

(alutanus) Milho, trigo, cevadaPenicillium veridicatum

Citrinina Penicillium citrinum Milho, trigo, cevada, aveia, centeioErgotamina Claviceps purpurea Centeio, trigo, cevadaTricotecenos Fusarium graminearum Milho, trigo, cevada, aveia, centeio (Desoxinivalenol, T2) (Gibberella zeae)

Fusarium sporotrichoidesFusarium trincinctum

Zearalenona Fusarium graminearum Milho, trigo(Giberella zeae)F. trincinctumF. moliniforme

Fumonisinas (B1, B2, Fusarium moniliforme Milho e subprodutos e resíduos de milhoB3, B4, A1, A2) Fusarium proliferatum

Fusarium nygamai

presença de micotoxinas nos ali-mentos constitui-se num risco à

saúde pública e pode proporcionar gran-des perdas econômicas na produção ani-mal. As micotoxinas são metabólitos se-cundários, produzidos por certos fungosem crescimento, podendo contaminargrãos e sementes durante o amadureci-mento da planta, na colheita, no armaze-namento, no processamento e, até mes-mo, no transporte. Os principais fatoresque favorecem o desenvolvimento de fun-gos são a umidade e a temperatura, masoutros fatores podem interferir, como pH,taxa de oxigenação, período de arma-zenamento, grau de contaminação, condi-ções físicas dos grãos e infecção por inse-tos (1).

Muitas micotoxinas provocam mani-festações toxicológicas agudas e crônicasno homem e nos animais, dependendo daconcentração, do tempo de exposição àmicotoxina, do sexo, idade e estado nutri-cional. Além disso, um alimento pode es-tar contaminado com mais de uma toxinaao mesmo tempo, podendo levar a umefeito sinérgico, aditivo ou antagônico dasmicotoxinas (2). Os fungos de maior im-portância econômica e suasrespectivas micotoxinasestão descritos na Tabela 1.

Aflatoxinas

As aflatoxinas são asmicotoxinas mais estuda-das até hoje, sendo a maisimportante a aflatoxina B1,por ser mais toxigênica eabundante (2).

As aflatoxinas B1, B2,G1 e G2 são encontradas emgrãos, principalmente deoleaginosas, por terem es-tas alto valor energético. Asaflatoxinas M1 e M2 ocor-rem no leite e são derivadasda B1 e B2 (1).

A aflatoxicose pode ocor-

A rer em todos os animais, especialmentepatos e perus jovens, suínos em cresci-mento e terminação, fêmeas em gestaçãoe animais lactantes (3).

Seus efeitos tóxicos levam à inibiçãomitótica, imunodepressão, carcinogênesee defeitos congênitos. O órgão mais afeta-do é o fígado, o que leva a alterações naabsorção de lipídios. O fígado passa aapresentar-se pálido, amarelo, friável, comaspecto gorduroso e pequenas áreashemorrágicas (1 e 2). A aflatoxina tam-bém interfere na absorção de proteínas,vitaminas e minerais devido ao compro-metimento de diversos sistemas enzi-máticos (4). Os animais ainda apresen-tam imunodepressão humoral e celular,que resultam em baixa resposta imuno-lógica a vacinações, e aumento da susce-tibilidade a doenças infecciosas (5). Osprincipais sintomas clínicos de aflato-xicose são apresentados na Tabela 2.

Ocratoxinas

A ocratoxina é uma micotoxinanefrotóxica produzida principalmente

pelos fungos A. ochraceus e P. viridicatum.Clinicamente a doença é caracterizadapor poliúria, polidipsia, anorexia, diar-réia, desidratação e perda de peso (4).

Em suínos, o consumo de 1mg/kg depeso vivo de ocratoxina leva à morte oanimal em 5 a 6 dias, e concentrações de1 ppb na dieta durante três dias causampolidipsia, poliúria, redução no ganho depeso e diminuição da eficiência (3). A Ta-bela 3, mostra os efeitos da ocrato-xicose.

Citrininas

A citrinina foi isolada inicialmente doPenicillium citrinum, mas posteriormen-te se descobriu que o gênero Aspergillustambém a produz. É freqüentemente en-contrada em alimentos contaminados comocratoxina (5).

Esta micotoxina é nefrotóxica como aocratoxina e causa lesões em muitas espé-cies de animais, especificamente tumoresrenais em ratos. Animais que consomemalimentos contaminados com citrininaapresentam diarréia, aumento no consu-mo de água, poliúria, aumento no tama-

Laura Helena Vega Gonzales Gil eGustavo Julio Mello Monteiro de Lima

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AlimentosAlimentosAlimentosAlimentosAlimentos

nho dos rins e nefrose. Há também dimi-nuição no consumo de alimento eimunodepressão (4).

Ergotaminas

Claviceps purpurea é um fungo queinvade o ovário de certas flores e produzuma toxina alcalóide denominada ergo-tamina (5). A intoxicação por ergotaminapode afetar o homem e os animais e seapresentar de várias formas. No entanto,a gangrena e a interferência reprodutivasão as mais comuns (3).

Os sintomas de intoxicação porergotaminas incluem desequilíbrio, con-vulsões, paralisia temporária e diminui-ção da circulação em membros, orelha ecauda. Esta diminuição da circulaçãosangüínea, às vezes, leva à gangrena eposteriormente perda de extremidades (2e 5). A Tabela 4 mostra algumas conseqü-ências.

Tricotecenos

Os tricotecenos são produzidos pordiversas espécies fúngicas, constituindoum grupo de micotoxinas que apresentammetabólitos tóxicos quimicamente seme-lhantes. Os mais estudados são os produ-zidos por Fusarium spp: desoxinivalenol(vomitoxina, DON) e toxina T2. O meca-nismo de ação dos tricotecenos é basica-mente a inibição da síntese protéica einterferência com a síntese do DNA (2 e 5).

Desoxinivalenol (Don,Vomitoxina)

É uma micotoxina produzida por F.graminearum (ou seu estágio sexualGibberella zeae ), F. trincinctum , F.sporotrichoides. Estes fungos causam gran-de grau de contaminação no trigo. Avomitoxina é freqüentemente acompanha-da por outros tricotecenos e seus efeitostóxicos são mais intensos do que a açãoisolada de cada toxina (4).

Vomitoxina é o nome comum da toxi-na, sendo o vômito um dos sintomas. Ovômito normalmente não ocorre com aingestão de alimentos com baixas concen-trações de toxina, sendo necessáriosaproximadamente 10 ppm ou mais paraque isso ocorra. O suíno inicialmente podeingerir uma quantia significante de ali-mento contaminado, mas com a posterior

Tabela 4 - Principais sintomas de intoxicação por ergotaminas

Espécie animal Alguns sinais clínicos e lesões

Suínos • Diminuição de ganho de peso com níveis de 0,1%.• Porcas no último semestre de gestação, alimentadas com 0,3% deergotamina, apresentam leitões de menor peso ao nascimento eagalaxia.• Gangrena com níveis de 0,3%.• Diminuição do consumo de alimento.

Aves • Redução no consumo de alimento e no ganho de peso.• Necrose de bico, crista e dedos.• Enterites, empenamento anormal.• Hipertensão devida à vasoconstrição periférica.• Perda de coordenação e incapacidade de ficar em pé.

Bovinos • Gangrena na pele da ponta das orelhas, ponta da cauda e coroa decasco.

Ovinos • Ulceração e necrose de língua, mucosa da faringe, abomaso eintestino delgado.

Tabela 3 - Principais sintomas de ocratoxicose

Espécie animal Principais sinais clínicos e lesões

Suínos • Lesões renais visíveis e redução do ganho de peso com 200 ppb.• Níveis de 1.000 ppb induzem a polidipsia, redução de crescimento,azotemia, glicosúria, poliúria e nefrose.

Aves • Diminuição no ganho de peso, imunodepressão.• Lesões renais, que resultam em acúmulo de ácido úrico, coagulopatia.• Diminuição na produção, tamanho e qualidade dos ovos.

Bovinos • Depressão, redução no ganho de peso, nefrose e enterite com 1mg/kg vivodurante catorze dias.

• Coagulopatia com níveis de 2mg/kg vivo durante catorze dias.

Tabela 2 - Principais sintomas de aflatoxicose

Espécie animal Principais sintomas e lesões

Suíno •A ingestão de níveis < 100 ppb não leva a apresentação de sinais clínicos,mas no abate os animais apresentam resíduos no fígado.

•A ingestão de 200 a 400 ppb resulta em disfunção hepática eimunodepressão.•400 a 800 ppb levam à redução no crescimento, diminuição no consumode alimento, icterícia, hipoproteinemia e pêlo arrepiado.•Níveis de 1.200 a 2.000 ppb induzem a icterícia, hemorragias subcutâneas, coagulopatia, depressão, anorexia e algumas mortes.•Mais de 2.000 ppb resultam em insuficiência hepática, coagulopatia e

morte em 3 a 10 dias.•O fígado apresenta-se friável, com aumento de volume e cor amarelada.•Fêmeas que ingerem de 500 a 750 ppb durante a lactação apresentam

aflatoxina no leite, comprometendo assim o desenvolvimentodos leitões lactentes.

Aves •Apresentam inibição do crescimento.•Imunodepressão que resulta em diminuição de resposta a vacinaçõese suscetibilidade aumentada a Salmonella, Candida, Treponema eEimeria.•Sensibilidade a machucaduras durante a “apanha” e abate (hematomase hemorragias).•Redução na produção de ovos.•Resíduos nos ovos quando ingerem níveis de 100 ppb.•Aumento do fígado, baço e pâncreas.•Atrofia da bolsa de Fabrício e timo.

Bovinos •Redução no ganho de peso, diminuição na produção de leite.•Disfunção hepática, icterícia e coagulopatia.

êmese há uma redução voluntária daingestão de alimento para evitar o vômito.Dessa forma, o vômito pode ser um sinto-ma inicial. Concentrações de aproxima-

damente 20 ppm podem induzir em suí-nos o vômito 15 minutos após o consumoinicial, cessando imediatamente o consu-mo do alimento (5). Na Tabela 5, os sinais

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Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 53

AlimentosAlimentosAlimentosAlimentosAlimentos

informações por espécie animal afetada.

Zearalenona

De todas as micotoxinas produzidaspelos fungos sobre alimentos, a zeara-lenona é a que mais afeta o sistemareprodutivo, por apresentar atividadeestrogênica. A zearalenona é produzidapor várias espécies de Fusarium que inva-dem os grãos ainda no campo, antes dacolheita do produto (4).

O suíno é a espécie mais sensível à

zearalenona. Embora essa toxina tenhaefeito em animais de todas as idades, asfêmeas com três a quatro meses de idadesão as mais atingidas. Animais intoxica-dos apresentam sintomas de estroge-nismo. Em casos extremos, podem ocorrerprolapso retal, vaginal e infertilidade.Tem-se ainda observado mortalidadefetal, fetos mumificados, abortos, leitõesnatimortos, síndrome dos membros aber-tos em leitões (splay leg) e aumento dataxa de retorno ao cio (1 e 2).

Os machos apresentam feminilizaçãocaracterizada por atrofia de testículos,aumento de tamanho das glândulas ma-márias, redução da libido e, em algunscasos, aumento do prepúcio (2 e 4).

Concentrações altas de zearalenonanão ocasionam nas aves problemas sé-rios à produção de ovos e carne. No entan-to, deve-se dar atenção à presença destesmetabólitos altamente estrogênicos nosalimentos (4 e 5). Na Tabela 7, os sinaisclínicos para cada espécie animal.

Fumonisinas

Os animais mais sensíveis àfumonisina são os eqüinos, suínos e ratos.Os efeitos clínicos variam com a espécie edosagem. No entanto, a hepatotoxicose éum fator comum em todas elas (2).

As fumonisinas constituem um grupode seis micotoxinas, produzidas por vá-rias espécies de fungo (Tabela 1), sendoque a mais conhecida e importante é afumonisina B1.

As fumonisinas são comumente en-contradas em grãos de milho e seussubprodutos e resíduos. Elas apresentamgrande risco para as pessoas e animaispor serem carcinogênicas e termoestáveis(3).

A fumonisina B1 é responsável pelaleucoencefalomácia eqüina, síndrome doedema pulmonar em suínos e tumores defígado em ratos (2 e 3).

A leucoencefalomalácia se manifestaclinicamente por tremores musculares,fraqueza, incoordenação, andar em círcu-los, incapacidade de deglutir, acentuadadepressão e perda da consciência. A icte-rícia pode ocorrer em alguns casos. A mortese verifica 48 a 72 horas após o início dossintomas. À necropsia, aparecem áreasde liquefação da substância branca docérebro (1 e 4).

Tabela 7 - Principais sintomas de intoxicação por zearalenona

Espécie animal Principais sinais clínicos e lesões

Suínos • 1 a 3 ppm em marrãs causam efeitos estrogênicos como vulvovaginitee prolapso.• As fêmeas apresentam manutenção do corpo lúteo, anestro e

pseudogestação com níveis de 3 a 10 ppm.• Quando fêmeas ingerem cerca de 30 ppm uma a três semanas após a

cobertura ocorre morte embrionária.• Machos com 14 a 18 semanas de idade podem apresentar diminuição dos

níveis de testosterona no sangue, diminuindo conseqüentemente alibido.

Aves • Em reprodutoras em fase de recria foram observados aumentos noganho de peso, tamanho do ovário e peso da crista com níveis de 300 ppm.• Aumento da incidência de cisto de ovário.• Poedeiras consumindo 25 a 100 ppm durante catorze dias apresentam

melhor produção de ovos do que as controle (sem zearalenona).Bovinos • Baixa taxa de fertilização.

• Necessitam em média duas a quatro coberturas, quando o normal é umaa duas coberturas para se obter a fertilização.

Tabela 6 - Sintomas de intoxicação por toxina T2

Espécie animal Principais sinais clínicos

Suínos • Efeito imunodepressor com a ingestão de 5 a 8 ppm.• Redução do ganho de peso e redução do tamanho das leitegadas com a

ingestão de 8 a 10 ppm.• Êmese, letargia e rejeição de alimentos com a ingestão de 16 ppm.• Hemorragia e perda de peso, lesões necróticas na boca e aparelhodigestivo.

Aves • Lesões e má formação do bico em pintos com níveis de 0,4 a 0,6 ppmdurante três semanas.• Empenamento anormal, redução na produção de ovos.• Redução significante no ganho de peso e na ingestão de alimento comníveis de 2 a 3 ppm.• Comprometimento do sistema nervoso, má formação dos ossos, mortalida-

de.Bovinos • Lesões necróticas na boca e aparelho digestivo, enterite e úlceras.

• Fezes sanguinolentas, enterites, úlceras no abomaso e rúmem,coagulopatias.

Tabela 5 - Principais sintomas de intoxicação por vomitoxina

Espécie animal Principais sinais clínicos

Suínos • A ingestão de 1 ppm é suficiente para promover redução no consumo deração, o qual pode ser de até 50% de decréscimo com a ingestão de 5 a

10 ppm da toxina.• A completa rejeição do alimento ocorre com níveis de 20 ppm aproximadamente.

Aves • Não apresenta efeitos negativos com níveis de até 5 ppm.• Baixa conversão alimentar, lesões na cavidade oral e moela são observadas com níveis de 5 a 10ppm durante seis semanas.

clínicos.

Toxina T2

Os efeitos tóxicos desta toxina sãobastante variados e atingem o sistemanervoso, imunológico e digestivo. Os prin-cipais sinais são necrose superficial decontato principalmente na boca e apare-lho digestivo, vômito, inapetência, infla-mações, diarréias, abortos e sinais neuro-lógicos, que variam de acordo com a espé-cie animal (3, 4 e 5). A Tabela 6 resume as

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AlimentosAlimentosAlimentosAlimentosAlimentos

Em suínos, a síndrome do edema pul-monar pode atingir animais de qualqueridade. Os sintomas agudos incluem respi-ração difícil, cianose e enfraquecimento, ea morte geralmente ocorre dois a três diasapós o início dos sintomas.Macroscopicamente, os animais apresen-tam cianose, hidrotórax e extenso edemapulmonar (3). Mais detalhes na Tabela 8,a seguir.

Interação entre asmicotoxinas

À medida que as condições para o cres-cimento fúngico são favoráveis, aumentaa probabilidade de se ter mais de umatoxina em um mesmo alimento, que po-dem ser produzidas ou não por um fungodiferente. O Fusarium tem, por exemplo,potencial para produzir mais de uma to-xina (1 e 2).

Portanto, a interação entremicotoxinas é uma preocupação a mais namanutenção da qualidade dos grãos. Umagravamento nesse problema é a dificul-dade de diagnóstico. As interações entremicotoxinas podem levar a efeitossinérgicos da ação micotóxica sobre osanimais, como é o caso de interações entreaflatoxina e toxina T2, aflatoxina evomitoxina, ou ainda toxina T2 edesoxinivalenol (6).

Detecção de fungos emicotoxinas

A presença da micotoxina no alimentonão está diretamente associada à presen-ça dos fungos, pois pode ha-ver presença de fungos semque haja produção de toxi-nas e estas podem permane-cer no alimento mesmo apóso desaparecimento do fungo(1).

Alimentos contamina-dos por fungos podem seravaliados através do examevisual dos grãos, ou aindaatravés do uso de raioultravioleta (black light).Este último método é válidosomente para grãos conta-minados com fungos do gê-nero Aspergillus. Esses mé-todos são muito utilizadosem locais de compra e recebi-mento de grãos devido à sua

rapidez. Contudo, é impreciso e não équantitativo (5).

Para o diagnóstico de micotoxinas, osmétodos mais utilizados são: ELISA (en-saio imunoenzimático), cromatografia decamada delgada (TLC) e cromatografialíquida de alto desempenho (HPLC). OELISA é muito utilizado, pois é de fácilmanejo, rápido e seu custo não é alto. Já oteste de cromatografia é uma técnica so-fisticada e requer equipamentos caros oque dificulta a sua utilização.

O HPLC vem sendo usado como méto-do padrão para a confirmação das análi-ses realizadas por TLC e ELISA. É impor-tante salientar que a maior dificuldade nadeterminação das micotoxinas de um lotede alimento ou ração está na amostragem.Isto porque o lote é normalmente grandee a contaminação não é ho-mogênea. Por-tanto, os resultados dependem de umaboa amostragem (1 e 2).

Prevenção e controle defungos e micotoxinas

Sem dúvida, o melhor método para

controlar a contaminação por micotoxinasem alimentos é prevenindo o desenvolvi-mento de fungos. A contaminação de grãospor fungos é um problema sério e de difícilcontrole, ocorrendo em condições inade-quadas de armazenagem, colheita ou du-rante o período de pré-colheita e transpor-te (2).

Os fungos são classificados em trêsgrupos: fungos de campo, fungos inter-mediários e fungos de armazenamento;estes diferem conforme as condições quefavorecem o seu crescimento (Tabela 9).

É importante saber que alguns fungossão capazes de produzir pequenas quan-tidades de micotoxinas, quando expostosa temperaturas e umidades menores oumaiores que as descritas na Tabela 9.

Para prevenir as infestações de fungono campo devem ser tomadas as seguin-tes medidas: fazer controle de insetos efungos, plantar em espaçamento recomen-dado, manter a cultura limpa de ervasdaninhas, fazer rotação de culturas, des-truir e enterrar restos de culturas, se pos-sível irrigar a cultura para evitar o estresseda seca, plantar e principalmente colher

Tabela 9 - Condições ótimas para a produção de micotoxinas por alguns fungos

Umidade Teor deGrupo Fungo Temperatura relativa umidade do

do ar alimento

Fungos de campo Alternaria Variável 90% Variável, ocorreminvadem grãos e sementes Cladosporium geralmente emdurante os estágios finais Fusarium épocas de alta umidade.de amadurecimento da Helminthosporiumplanta, o dano é causado Clavicepsantes da colheita.Fungos intermediários Penicillium Oscilações de 85 a 90% 22 a 23%invadem as sementes e Fusarium temperaturas al-grãos antes da colheita tas (20 a 25oC)e continuam a crescer e com tempe-causar danos durante o raturas baixasarmazenamento. (8 a 10oC)Fungos de armazenamento Arpergillus 27 a 30oC 85% 17,5 a 18,5% paradesenvolvem-se e causam grãos de milho,danos somente em trigo, arroz e sorgocondições favoráveis de 8 a 9% para sementes dearmazenamento. amendoim, girassol e algodão.

Tabela 8 - Principais sintomas de intoxicação por fumonisinas

Espécie animal Principais sinais clínicos e lesões

Suínos • Edema pulmonar agudo, hepatose e diminuição do consumo de alimentoe imunodepressão.

Eqüinos • Apatia, desordens nervosas, paralisia do lábio inferior, cegueira, depressão, superexcitação e cabeça baixa.

Aves • Inibição do crescimento, diminuição do consumo de alimento.• Diarréia, fraqueza das pernas.• Lesões orais, alta mortalidade.

Bovinos • Diminuição da função hepática e imunodepressão.

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AlimentosAlimentosAlimentosAlimentosAlimentos

Estes adsorventes estão sendo usadosquando a presença de aflatoxinas for de-tectada através de amostragens (> 15%das amostras analisadas) e análises (>50 ppb), adicionando às rações elabora-das com estes grãos 0,5% de aluminons-silicatos ou bentonita (1).

Conclusão

A saúde humana e a produção animaltêm sido muito prejudicada com a ingestãode alimentos contaminados commicotoxinas. Por isso é necessário darmaior atenção aos efeitos nocivos causa-dos pelas micotoxinas, buscando melho-res conhecimentos sobre seus efeitos, es-tabelecendo níveis máximos demicotoxinas nos alimentos e identifican-do métodos de descontaminação de ali-mentos eficientes e de custo acessível.

Deve-se ainda conscientizar a popula-ção que o melhor método para evitar acontaminação é evitar o desenvolvimentode fungos nos alimentos, através de méto-dos preventivos durante a colheita, trans-porte e armazenamento.

Literatura citada

1. LÁZZARI, F.A. Umidade, fungos e micotoxinas naqualidade de sementes, grãos e rações. Curitiba:Ed. do Autor, 1993. 133p.

2. DIEKMAN, M.A.; COFFEY, M.T. Micotoxins and swineperformance. West Lafayette, Indiana: PurdueUniversity/Cooperative Extension Service, s.d.n.p. (PHI, 129).

3. LEMAN, A.D.; STRAW, B.E.; MENGELING, W.L.;D’ALLAIRE, F.; TAYLOR, D.J. Diseases of swine.7.ed. Ames, Iowa: Iowa State University Press,1992. p.735-743.

4. BIBERSTEIN, E.L.; ZEE, Y.C. Tratado demicrobiologia veterinária. Zaragoza: EditorialAcribia, 1990. p.397-404.

5. COLNEK, B.W.; BARNES, J.H.; BEARD, C.W.; REID,W.M. Diseases of poultry. 5.ed. Ames Iowa: IowaState University Press, 1991. p.884-915.

6. PERFUMO, C.J. Aflatoxicoses en las espéciesmamíferas. La Plata, Argentina: Univ. de La Plata,1994. 16p. (Cursillo sobre Micotoxinas y SaludAnimal).

Laura Helena Vega Gonzales Gil, méd. vet., bolsistado CNPq, CRMV 8.750, Centro Nacional de Pesquisa deSuínos e Aves - CNPSA/EMBRAPA, C.P. 21 - 89700-000, Concórdia, SC e Gustavo Julio Mello Monteirode Lima, eng. agr., Ph.D., bolsista do CNPq, Cart. Prof.no 137.500, CREA-SC, Centro Nacional de Pesquisa deSuínos e Aves - CNPSA/EMBRAPA, C.P. 21 - 89700-000, Concórdia, SC.

gânicos como propiônico, acético,sórbico e benzóico (2). A utilização de ácidos orgânicos é

recomendada para armazenamentopor mais de 20 dias e para grãos comumidade superior a 14%. Estes áci-dos não produzem efeito algum so-bre as micotoxinas já presentes nosgrãos (2 e 3).

Utilização de alimen-tos contaminados commicotoxinas

Quando medidas preventivas nãoforam realizadas, ou não foram efe-tivas, deve-se optar por métodos dedetoxificação dos alimentos. O ide-

al seria a eliminação do alimento conta-minado, após a constatação da presençade micotoxina. No mundo todo tem-serealizado grandes esforços na procura demétodos e procedimentos para minimizaros efeitos das micotoxinas sobre a saúdee produtividade dos animais e diminuiçãodas perdas econômicas (2).

• Descontaminação: A descontami-nação pode ser feita através de remoçãofísica (grãos ardidos), destruição atravésdo calor, desativação biológica (certos fun-gos e levedos reduzem a aflatoxina) etratamento químico com ozônio, peróxidode hidrogênio, hipoclorito de sódio,formaldeído, hidróxido de cálcio e amônia,em casos de contaminações por afla-toxi-na. Todos estes métodos são extrema-mente caros e, portanto, inviáveis (1).

• Diluição de partidas contaminadas:A diluição de grãos contaminados, comgrãos não contaminados pode ser umasolução quando os níveis de micotoxinasnão são altos. Nestes casos, recomenda-se

formular dieta com altos níveis deproteína e vitaminas. Rações suple-mentares com metio-nina e lisinaatenuaram os efeitos da aflatoxinasobre suínos e aves (3). • Uso de adsorventes: Recente-

mente vêm sendo utilizadas maté-rias inertes na dieta para reduzir aabsorção de aflatoxinas pelo tratogastrointestinal. O uso do carvãoinativado obteve valores pouco ex-pressivos, mas os aluminossilicatosde sódio (zeolita sódica), aluminos-silicatos de cálcio e as bentonitas,adicionados à ração, mostraramresultados satisfatórios em aves,suínos, bovinos e ovinos (2).

À direita grãos de milho atacados e estragadospor fungo, comumente chamados de “milhoardido”. À esquerda grãos de milho sadios.

O armazenamento de grãos em condições desfa-voráveis propicia o desenvolvimento fúngico

(mofo) e a produção de micotoxinas. À direitagrãos de trigo comprometidos e à esquerda grãos

sadios

em época adequada e evitar danos mecâ-nicos à cultura (1).

Na prevenção de contaminação porfungos durante a colheita e transporte, asprincipais medidas a serem tomadas são:colher no ponto ótimo de maturação, evi-tar danos mecânicos durante a colheita,não deixar o produto exposto à noite nocampo, procurar não colher em dias chuvo-sos, proteger contra a chuva durante otransporte, secar o produto imediatamen-te após a colheita, escolhendo a melhortécnica para cada produto, e não ensacarou armazenar antes que o produto estejadevidamente seco (1).

Durante a estocagem deve-se armaze-nar os grãos em locais secos e que nãopermitam a entrada de água, limpos, fa-zer controle de insetos e roedores,monitorar a umidade e a temperaturaperiodicamente. Para evitar o crescimen-to fúngico no armazenamento diversassubstâncias têm sido utilizadas. Osantifún-gicos mais usados são ácidos or-

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Pesquisa sobre plantas medicinais recebe ajuda especialPesquisa sobre plantas medicinais recebe ajuda especialPesquisa sobre plantas medicinais recebe ajuda especialPesquisa sobre plantas medicinais recebe ajuda especialPesquisa sobre plantas medicinais recebe ajuda especial

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari eFotos de Antonio Amaury Silva Júnior

As plantas medicinais, como o boldo japonês, ajudam a população no combate amales muitas vezes incuráveis

Em Santa Catarina, nomunicípio de Rodeio, Mé-dio Vale do Itajaí, situa-seuma das mais completascoleções de plantas medici-nais que se conhece. A im-portância desta coleçãopara a população e, emespecial, para a pesquisacientífica é enorme. E tudose deve ao esforço e dedica-ção de uma única pessoa, aIrmã Eva, uma freira de qua-se 100 anos de idade queainda trabalha incessante-mente no local.

resce em todo o mundo, inclusiveno Brasil, o consumo das ervas

medicinais. A busca da cura de doençaspor plantas com propriedades terapêu-ticas é uma prática antiguíssima, re-montando a milênios. Após as duasgrandes guerras mundiais, o desenvol-vimento da indústria química aceleroua produção dos remédios ditos artifici-ais, porém o custo crescente destesmedicamentos modernos tem levadomuita gente a procurar produtos alter-nativos. As plantas medicinais quenossos avós usavam e as suas receitascaseiras estão em voga novamente. Aprópria indústria, constatando essenovo filão que se abre, está investindopesado na produção e comercialização

dos fitoterápicos.A produção comercial das ervas

medicinais vem se expandindo, cons-tituindo-se numa ótima renda alter-nativa para os pequenos produtoresrurais. A produção sistemática demudas de plantas medicinais reduz ouelimina os riscos de agressão ao meioambiente, contribuindo com a saúde ea economia do consumidor. Dada agrande importância deste cultivo, aEPAGRI decidiu incluir no seu pro-grama de pesquisa de hortaliças eplantas ornamentais este novo seg-mento, ficando com a denominação dePrograma Estadual de Pesquisa eExtensão Rural de Hortaliças, Flores,Plantas Ornamentais e Medicinais-

PROHORT. Os pesquisadores, princi-pais responsáveis pela pesquisa emplantas medicinais, são os engenhei-ros agrônomos Antônio Amaury SilvaJúnior e Valmir José Vizzotto, daEstação Experimental de Itajaí. Estespesquisadores estão desenvolvendoimportantes trabalhos visando conhe-cer melhor as diversas plantas medi-cinais ocorrentes em nosso meio e,inclusive, espécies vindas de fora. Re-centemente os técnicos lançaram umapublicação (Boletim Técnico No 68)com o título “Plantas medicinais, ca-racterização e cultivo”, que relaciona28 espécies das mais procuradas. Aobra, com 67 páginas, é fartamenteilustrada e, no final, possui uma tabe-la relacionando plantas com os malesque curam.

C

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Milagre medicinal

Uma importante ajuda à pesquisaestá vindo de um lugar não muitolonge da Estação Experimental deItajaí. Trata-se do convento Congre-gação das Irmãs CatequistasFranciscanas, no município de Ro-deio, no médio Vale do Itajaí, cerca de100km da Estação. Ali a reportagemda RAC, acompanhada pelo pesquisa-dor Valmir José Vizzotto, foi conheceruma das maiores coleções de plantasmedicinais existentes no Brasil, commais de mil espécies entre ervas,arbustos e árvores cultivados. Paracuidar de todo este incomparável acer-vo, a Congregação não possui gruposde técnicos, nem batalhão de funcio-nários, mas somente uma pessoa, aIrmã Eva Michalak, de 84 anos deidade e que ao longo de 50 anos vemcoletando e estudando plantas medi-cinais e até curando pessoas doentes.Para realizar este milagre, a freiranão recebeu nenhum recurso mone-tário ou humano, porém seu esforço eentusiasmo impulsionaram o empre-endimento. A Irmã Eva entrou naCongregação em 1930 e no início suavida consistia no trabalho de educa-ção de crianças. As aulas eram pelamanhã, e à tarde a freira trabalhavana lavoura, onde tirava parte do sus-tento para alimentação e outros gas-tos, recebendo também ajuda da co-munidade. No período de férias (de-zembro a janeiro) as escolas fecha-vam e as freiras voltavam ao conven-to, e em fevereiro retornavam ao dia-a-dia das escolas.

Seu primeiro contato com as ervasmedicinais aconteceu já na década de30, quando recebeu um livro, editadona Polônia, com a descrição e compo-sição de centenas de ervas medicinaise indicação de uso no tratamento dedoenças e problemas de saúde daspes-soas. Mas foi só a partir do finaldos anos 50 que começou a implantarsua coleção de plantas medicinais,incluindo árvores frutíferas. Mais re-centemente, com a implantação, pelaIgreja Católica, da Pastoral da Saúde,a Irmã Eva iniciou um programa detroca e recebimento de ervas medici-nais de outros Estados brasileiros.Além disso, a freira também viajou

Irmã Eva há 50 anos vem coletando e cultivando plantas medicinaispara a cura de doenças

pelo Brasil e coletou diversas espéci-es, bem como recebeu materiais defreiras que viajaram a outros paísesem missão catequética, principalmen-te a países da África.

Pelo seu importante trabalho deajuda à população, a Irmã Eva rece-beu o prêmio AMIGA DA COMUNI-DADE, no último dia 20 de agosto, emFlorianópolis, na sede da Federaçãodas Indústrias do Estado de SantaCatarina - FIESC.

Recursos para pesquisa

A importância das ervas medici-nais para a população foi ressaltadaem recente artigo da RAC(Agropecuária Catarinense, v.9, n.1,mar. 1996), de autoria dos pesquisado-res Amaury Júnior e Valmir Vizzotto.Segundo dados coletados pelos técni-cos da EPAGRI, a Organização Mun-dial da Saúde concluiu que, em 1989,50 milhões de brasileiros não tiveramacesso aos medicamentos. Mesmoassim, os brasileiros desembolsamanualmente cerca de 3 bilhões dedólares com a aquisição de medica-mentos sintéticos importados, o quecorresponde a 95% de todos osfármacos comercializados no país, sen-do 5% os fitoterápicos.

A própria Organização Mundial deSaúde, na 31 a Assembléia, recomen-dou aos países membros o desenvolvi-mento de pesquisas visando a utiliza-ção da flora nacional com o propósitoterapêutico. Cerca de 4 bilhões depessoas dependem das espécies medi-cinais, principalmente das nativas deseus próprios países. Das 119 subs-tâncias químicas extraídas de plantase utilizadas na medicina, 74% foramobtidas com base no conhecimentopopular da fitoterapia.

A flora brasileira é riquíssima emespécies com princípios ativos pron-tos, esperando apenas serem testa-dos, a custos incomensuravelmentemenores. São cerca de 5 mil princípi-os ativos identificados em ervas nati-vas, porém a falta de equipamentos,de verbas e de recursos humanos temobstado o desenvolvimento desta área.

Recentemente, o Fundo Nacio-nal do Meio Ambiente-FNMA, ór-gão do Ministério do Desenvolvimen-to e do Meio Ambiente, aprovou re-cursos da ordem de R$ 126.000,00para auxiliar as pesquisas da EPAGRIcom ervas medicinais. Os objetivosespecíficos das pesquisas são:

• Coletar e preservar germoplasmanativo de plantas medicinais.

• Identificar e caracterizar botâni-

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

ca e fenologicamente as espécies me-dicinais.

• Manter um banco degermoplasma ativo.

• Multiplicar as espécies mais pro-missoras por métodos agronômicos ecultura de tecido.

As pesquisas ainda prevêem o iso-lamento e identificação de princípiosativos de espécies não estudadasfitoqui-micamente. E também a di-vulgação dos resultados na forma defolders, palestras, publicações, cursose exposições. Por fim, a EPAGRI vaicolocar à disposição das entidades pú-blicas matrizes das espécies promis-soras.

Para desenvolver este audaciosoprojeto, a EPAGRI conta com o apoioe intercâmbio técnico-científico de ou-tras instituições. Por exemplo, a Fun-dação Universitária Regional deBlumenau-FURB presta cooperaçãotécnica na área de cultura de tecido ede células, e a Universidade do Valedo Itajaí-UNIVALI, nas áreas defitoquí-mica e controle de qualidade.

É bom esclarecer que a Irmã Evausa tratamento fitoterápico e nãohomeopatia (processo mais complexo- ver box) na cura de diversas enfermi-dades e problemas das pessoas que,quase todo o dia, aparecem na Con-gregação. Ela oferece gratuitamenteas ervas e as orientações de comopreparar o remédio. Pessoas com cân-cer, doenças incuráveis e até AIDStêm visitado a freira que, apesar desua idade, atende a todos com carinhoe atenção.

Ao percorrer a coleção, Irmã Evamostrou à Reportagem da RAC algu-

mas importantes plantas medi-cinais, explicando o seu uso. Porexemplo, ela esclareceu que osagricultores costumam queimargalho do umbu (árvore nativa noSul do Brasil) e a cinza é mistu-rada com sal e dada no cocho aosanimais. Assim o gado perde oscarrapatos e bernes.

A sua coleção é composta demuitas árvores frutíferas: jaca,citros diversos, amora, goiaba,etc., todas com algum podermedicamentoso. A folha e o fru-to do caqui são calmantes e for-tificantes, as folhas e os brotos novosda ameixa japonesa servem para tra-tar úlcera e diabetes. A amora brancado mato é útil para tratar diabetes ecolesterol.

Quanto às ervas, tem o melhoral,nome popular para designar uma ervanativa da família das Amarantháceas,do gênero Althernantera sp., que ser-ve para aliviar a dor de cabeça. Atilandsia (barba-de-bode) é boa paraferidas e o caruru para a digestão. Etem a canforeira, uma árvore cujaraiz (casca) serve para dores muscula-res e reumatismo.

O pesquisador Valmir Vizzotto ex-plicou que as ervas e plantas medici-nais muitas vezes possuem nomesdiferentes para a mesma espécie, poiso Brasil é um país de grande áreaterritorial com muitas regiões, costu-mes, culturas e populações caracte-rísticas, o que leva a mudança dosnomes. Uma das tarefas dos pesquisa-dores é tentar organizar todo esseacervo de milhares de plantas, co-meçando pela unificação das denomi-

nações. A seguir, algunsexemplos de plantas comseus nomes mais conheci-dos e nomes científicos. Babosa - Aloé vera Indicações: o suco da plan-

ta é emoliente e resolutivo,quando usado topicamentesobre inflamações, queima-duras, eczemas, erisi-pelase queda de cabelos. A polpaé oftálmica (cura proble-mas nos olhos), vul-nerária(cura feridas) e vermífuga.A folha, despida de cutícula,é um supositório calmantenas retites hemorroidais.Chapéu-de-couro

Pata-de-vaca

Pfaffia

É ainda utilizada em entorses, contu-sões e dores reumáticas.

Catinga-de-mulata - Tanacetumvulgare

Indicações: Vermífuga, emenagoga(regula o ciclo menstrual) e anti-hel-míntica.

Chapéu-de-couro - Echinodorusmacrophyllus

Indicações: diurético, depurativo,anti-reumático e antiofídico. É usadono tratamento de doenças renais, viasurinárias, ácido úrico, artritismo enas erupções da pele (uso interno).

Hortelã-pimenta - Mentha piperi-ta

Indicações: distúrbios digestivoscomo náuseas e cólicas, diarréias, res-friados, dores de cabeça, dores mus-culares, dores de dente, dores de gar-ganta, amebíase e úlceras.

Guaco - Mikania glomerataIndicações: broncodilatador, anti-

-séptico da vias respiratórias,febrífugo, sudorífico, anti-reumático,cicatrizante, expectorante eantiasmático.

Pfaffia - Pfaffia iresinoidesIndicações: tônico geral, estimu-

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metade dos produtos utilizados nahomeopatia. São as substâncias bá-sicas. Essas plantas precisam estarnum determinado ponto ideal de seudesenvolvimento, constatado por pe-ritos em botânica, para que final-mente possam ser utilizadas. Ao che-garem no laboratório, são utilizadasem seu estado natural. Sãomaceradas em volumes específicosde álcool 100% puro, durante ummínimo de semanas. Daí, são pren-sadas sob uma pressão constante de100kg/cm2  e depois filtradas. Depoisdo processo de filtração, são conser-vadas em local fresco à uma tempe-ratura constante de 18oC, periodica-mente examinadas e controladas.

As diluições homeopáticas são re-sultados de uma série de sucessivasdesconcentrações da substância debase.

Entenda os termos

Fitoterapia: Sob esse nome com-plicado - fitoterapia - esconde-se, naverdade, a forma de tratamento maissimples e mais natural. A idéia éancestral: tratar as doenças ou pre-veni--las graças a certos preparadosvegetais ou aos princípios ativos quedeles se pode extrair.

Essa medicina verde, ecológicacomo se diz hoje, é tão velha quantoo gênero humano. Pré-hominídeos,pitecantropos, sinantropos ouafricantropos guiados pelo mesmoinstinto que os gatos e os cachorrosquando comem ervas para se purgar,sa-biam distinguir as plantas comes-tíveis daquelas que podiam curar,cicatrizar ou aliviar.

Esses conhecimentos empíricos,

adquiridos no dia-a-dia, transmitidosde geração a geração, estão tanto naorigem de todas as medicinas primiti-vas como na de nossa medicina atual.

O preparo das plantas é simples,não exige processos mais complexos,pois consiste em manipular as folhas,talos, ramos e frutos para infusões,chás, etc.

Homeopatia: A homeopatia é ummétodo de tratamento das doençasque consiste em dar ao paciente, emdoses diluídas e previamente dinami-zadas, um produto natural - vegetal,animal ou mineral - que, empregadoem doses ponderáveis ou tóxicas, te-nha pro-vocado, experimentalmenteno homem são, o aparecimento desintomas se-melhantes àqueles quese pode cons-tatar no decorrer dadoença a ser tratada.

Os vegetais representam mais da

Babosa

Guaco

Hortelã-pimenta

Pulmonária

zes. Pata-de-vaca - Bauhinia

forficata Indicações: hipoglice-

miante (antidiabético),diurético e antidiarréico. Pulmonária - Pulmona-

ria officinalis Indicações: béquica (con-

tra tosse), calmante eemoliente (internamente).Loções são preparadas parao combate à verruga, es-pinhas e rachaduras noseio. Camomila - Chamomila

matricaria Indicações: calmante. O

chá de camomila é receitacaseira muito popular eusado em mamadeiras paracrianças de tenra idade.Tem sabor suave e agradá-vel. Vassourinha-de-botão

- Cephalanthus escoparius Indicações: hemorróides,

inflamação do útero, ová-rio, peritonite.

Para contato com os pesquisa-dores Antônio Amaury Silva Júniore Valmir José Vizzotto, o endereço

lante do apetite, cicatrizante, antiinfla-matório, aumenta a força muscular,diminui os tremores nas pessoas ido-sas e é usado no tratamento de vari-

é: Estação Experimental de Itajaí,C.P. 277, Fone (0473) 44-3677, Fax(0473) 44-0050, 88301-970 - Itajaí,SC.

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NOVIDADES DE

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A Ciba Agro lança mais umaavançada e inédita tecnologiano controle da requeima nasculturas de batata e tomate e domíldio na cebola. Trata-se donovo produto Folio, o resultadoda asso-ciação do Metalaxyl como clorotalonil, os mais eficientesingredientes ativos para o trata-mento destas doenças.

Devido à combinação dessesdois componentes fungicidas, acada pulverização de Folio as

plantas ficam protegidas externae internamente. Isso se dá graçasà sistemicidade do Metalaxyl e,também, pela superior ação doClorotalonil. Como resultado, ob-tém-se um controle altamente efi-ciente das doenças, reduzindo in-clusive o número total de apli-cações e o custo final do tratamen-to.

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te os agricultores, que estão ga-nhando em qualidade, produtivi-dade e preço final.

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CalagemCalagemCalagemCalagemCalagem

Necessidade de calcário para os solos das regiões LitoralNecessidade de calcário para os solos das regiões LitoralNecessidade de calcário para os solos das regiões LitoralNecessidade de calcário para os solos das regiões LitoralNecessidade de calcário para os solos das regiões Litorale Ve Ve Ve Ve Vale do Itajaí, Santa Catarinaale do Itajaí, Santa Catarinaale do Itajaí, Santa Catarinaale do Itajaí, Santa Catarinaale do Itajaí, Santa Catarina

s regiões Litoral e Vale do Itajaísão formadas por onze

microrregiões homogêneas e abran-gem uma área de 34.248 km2, o querepresenta 35,9% da superfície doEstado de Santa Catarina. A agricul-tura, nestas regiões, se caracterizapor ser intensiva, diversificada e rea-lizada em pequenas propriedades comárea média de 22,4ha em seus 93.077estabelecimentos rurais. Os princi-pais produtos agrícolas, em área cul-tivada, na safra 1991/1992 foram: mi-lho (127.705ha), arroz (115.727ha), fu-mo (69.484ha), feijão (50.390ha), man-dioca (46.505ha), banana (31.475ha) ecebola (26.258ha). O valor bruto daprodução agropecuária das regiõesLitoral e Vale do Itajaí representa32,2% do total do Estado (1).

Os solos da região Litoral, segundoo levantamento de reconhecimento(2), têm como paisagem dominante orelevo vigoroso das serras litorâneasentrecortado pelas terras baixas dasplanícies costeiras. As serras são áre-as de domínio de podzólicos vermelhoamarelo distróficos derivados de gra-nito. As terras baixas possuem acen-tuada diversidade de solos que se dife-renciam, principalmente, pelas con-dições de drenagem, textura e teoresde matéria orgânica. Assim, na cotaaltimétrica mais elevada, dominamas areias quartzosas distróficas; nasdepressões do relevo dominam os so-los glei pouco húmicos e húmicos enas áreas muito mal drenadas e comvegetação característica dominam ossolos orgânicos. A região do Vale doItajaí é de domínio quase que absoluto

dos cambissolos álicos. Os solos dasregiões Litoral e Vale do Itajaí são, emsua grande maioria, ácidos e necessi-tam de calagem para a obtenção deelevados rendimentos das culturas(2).

Diversos métodos têm sido utiliza-dos para a determinação da quantida-de de calcário para corrigir a acidez dosolo. Dentre estes encontram-se os desolução tamponada, o do alumíniotrocável e os que levam em considera-ção a saturação de alumínio ou asaturação de bases (3, 4 e 5).

Em Santa Catarina, a recomenda-ção de calcário é baseada no métodoSMP modificado, que utiliza uma so-lução tamponada a pH 7,5 (1). Estemétodo foi calibrado para diversossolos dos Estados do Rio Grande doSul e Santa Catarina (3, 6 e 7).

O objetivo deste trabalho foi relaci-onar a necessidade de calcário dossolos das regiões Litoral e Vale doItajaí, Santa Catarina, com algumasde suas características químicas e com-parar a quantidade de calcário reco-mendada pela tabela da Comissão deFertilidade do Solo (8) com a recomen-dação estimada por equações de re-gressão que levam em consideraçãodiversas características químicas dosolo.

Material e métodos

Foram coletadas 25 amostras dacamada arável (0 a 20cm) das princi-pais unidades de mapeamento de soloque ocorrem nas regiões Litoral eVale do Itajaí, cujas características

químicas estão na Tabela 1. Estasamostras foram incubadas, em dupli-cata, com doses crescentes dehidróxido de cálcio, durante três se-manas, para a obtenção das curvas deneutralização. Estas curvas foramutilizadas para calcular as quantida-des de carbonato de cálcio (necessida-de de calcário, t/ha, PRNT 100%) ne-cessárias para elevar o pH do solo, emágua, até 5,5, 6,0 e 6,5. Durante operíodo de incubação, as amostrasforam mantidas úmidas e foram re-volvidas três vezes por semana.

Em cada amostra, foram determi-nados o pH em água, o pH de equilí-brio do solo com a solução tamponadaa pH 7,5 (índice SMP), cálcio + mag-nésio e alumínio trocáveis e matériaorgânica, de acordo com a metodologiapara análise de solos (9 e 10).

Foram realizadas análises de re-gressão linear, quadrática e múltiplaentre as quantidades de calcário ne-cessárias para atingir pH 5,5, 6,0 e 6,5(variável dependente) e o pH do soloem água, o índice SMP, os teores decálcio + magnésio e alumínio trocáveise a matéria orgânica (variáveis inde-pendentes).

Foram comparadas as recomenda-ções médias de calcário, calculadaspela tabela da Comissão de Fertilida-de do Solo (8) com as quantidadesestimadas por equações de regressão,em 50 amostras de solos tomadas aoacaso dentre aquelas enviadas ao La-boratório de Análises de Solo da Com-panhia de Desenvolvimento Agrícolade Santa Catarina, no ano de 1993,por agricultores das regiões estuda-das.

A

Jonas Ternes dos Anjos, Antonio Ayrton Auzani Uberti,Clóvis Goulart de Bem e José Maximiliano Müller Netto

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CalagemCalagemCalagemCalagemCalagem

Resultados e discussão

As quantidades de calcário neces-sárias para atingir pH 5,5, 6,0 e 6,5,determinadas por incubação, são apre-sentadas na Tabela 2. As relaçõesentre a necessidade de calcário (Tabe-la 2) e as características químicas(Tabela 1) dos solos das regiões doLitoral e Vale do Itajaí, estimadasatravés de equações de regressão,estão apresentadas nas Tabelas 3 e 4.

As equações de regressão linearsimples (Tabela 3) indicam que a ne-cessidade de calcário está relacionadasignificativamente com o pH em água,com o índice SMP, com a matériaorgânica e com o alumínio trocável dosolo. A regressão entre a necessidadede calcário e o teor de cálcio + magnésiotrocáveis não foi significativa. Os coe-ficientes de determinação das equa-ções de regressão linear simples en-tre a necessidade de calcário e ascaracte-rísticas químicas dos solosindicam que 26 a 46% da variabilidadeda ne-cessidade de calcário é estima-da pela equação de regressão do pH dosolo; 51 a 59% pela do índice SMP; 53a 71% pela da matéria orgânica e 53 a65% pela do Al trocável. Através doscoeficientes de determinação, verifi-ca-se que a necessidade de calcário émelhor estimada pelas característi-cas químicas do solo que estãorelacionadas à aci-dez potencial, ouseja, o índice SMP, a matériaorgânica e o alumínio trocável.

Foram realizadas, também, análi-ses de regressão quadrática entre anecessidade de calcário e as caracte-rísticas químicas do solo, porém nãofoi encontrado efeito significativo.

Considerando-se que as equaçõesde regressão linear entre a necessida-de de calcário e o índice SMP, a maté-ria orgânica e o alumínio trocávelapresentaram os maiores coeficien-tes de determinação, foram efetuadasas análises de regressão linear múlti-pla utilizando-se estas característicasquímicas combinadas duas a duas e astrês em conjunto (Tabela 4). Verifica-se que houve um aumento acentuadodos coeficientes de determinação, in-

Tabela 1 - Características químicas de amostras de solos das regiões Litoral e Vale do Itajaí,Santa Catarina

Unidade Al (D) Ca+Mg(E)

Amostra de Classificação (A) ISMP(B) (meq/ (meq/mapeamento(A) 100ml) 100ml)

01 Orleans Podzólico 4,4 4,8 4,3 2,9 0,802 Içara Podzólico 5,1 5,6 4,5 0,4 5,003 Içara Podzólico 4,9 6,0 1,6 1,0 0,804 Lauro Muller Podzólico 4,4 4,4 3,8 4,1 0,705 Tubarão Cambissolo 4,5 5,2 5,1 1,1 9,806 Morro da Fumaça Podzólico 4,5 5,9 2,5 0,9 1,807 Morro da Fumaça Podzólico 4,7 5,4 2,1 1,7 0,808 Jacinto Machado Cambissolo 5,0 5,3 2,5 1,4 2,209 Sanga Areia Terra Roxa

Estruturada 5,2 6,0 2,6 0,1 5,310 Blumenau Glei 4,7 5,6 3,5 1,8 1,311 Blumenau Glei 5,2 5,9 3,2 0,4 5,112 Brusque Podzólico 4,4 4,6 4,3 3,6 1,613 Corochel Cambissolo 4,5 4,4 3,6 4,0 3,014 Corochel Cambissolo 4,8 4,7 4,3 4,1 2,215 Ituporanga Cambissolo 4,9 4,7 7,4 3,1 1,716 Ituporanga Cambissolo 4,3 4,5 7,4 3,6 1,417 Araranguá Areias Quartzosas 5,3 5,7 3,8 0,7 1,018 Ilha Podzólico 5,1 5,3 4,0 1,2 1,619 Pouso Redondo Cambissolo 4,4 4,5 6,9 3,3 0,520 Rio do Sul Cambissolo 4,2 4,1 3,8 5,9 0,721 Rio do Sul Cambissolo 4,4 4,6 3,6 2,8 1,022 Orleans Podzólico 4,4 4,5 3,6 2,1 0,723 Orleans Podzólico 4,5 5,2 3,1 1,7 0,624 Santo Amaro Cambissolo 4,8 5,5 3,5 1,3 2,125 Ilha Podzólico 5,3 6,1 3,5 0,7 0,9

(A) Santa Catarina (8).(B) Índice SMP: pH do solo em contato com uma solução tamponada a pH 7,5.(C) Matéria orgânica.(D) Alumínio trocável.(E) Cálcio + magnésio trocáveis.

MO(C)

(%)pH

água

Tabela 2 - Necessidade de calcário, determinada por incubação, para elevar o pH dos solos dasregiões Litoral e Vale do Itajaí, Santa Catarina, a três níveis

Unidade Necessidade de calcário (t/ha)(B)

Amostra de Classificação(A)

mapeamento(A) pH 5,5 pH 6,0 pH 6,5

01 Orleans Podzólico 7,0 9,9 12,802 Içara Podzólico 3,3 6,8 10,303 Içara Podzólico 1,6 2,6 3,704 Lauro Muller Podzólico 7,2 10,0 12,805 Tubarão Cambissolo 7,2 10,4 13,506 Morro da Fumaça Podzólico 2,8 4,1 5,407 Morro da Fumaça Podzólico 2,7 4,3 5,908 Jacinto Machado Cambissolo 2,7 5,0 7,309 Sanga Areia Terra Roxa Estruturada 2,0 4,6 7,110 Blumenau Glei 7,6 10,9 14,211 Blumenau Glei 2,3 6,7 11,012 Brusque Podzólico 7,4 10,6 13,813 Corochel Cambissolo 8,7 12,2 15,714 Corochel Cambissolo 6,8 10,8 14,915 Ituporanga Cambissolo 9,2 16,1 23,016 Ituporanga Cambissolo 15,0 20,8 26,717 Araranguá Areias Quartzosas 0,9 2,8 4,818 Ilha Podzólico 2,9 5,8 8,719 Pouso Redondo Cambissolo 11,4 16,4 21,420 Rio do Sul Cambissolo 13,1 17,6 22,021 Rio do Sul Cambissolo 6,5 9,1 11,722 Orleans Podzólico 5,1 7,4 9,623 Orleans Podzólico 4,4 6,5 8,524 Santo Amaro Cambissolo 3,5 6,1 8,725 Ilha Podzólico 5,3 7,1 8,8

(A) Santa Catarina (8).(B) Calcário com PRNT de 100%.

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CalagemCalagemCalagemCalagemCalagem

em conjunto. Como pode ser observa-do, a equação de regressão para amatéria orgânica e o alumínio trocávelexplica de 84 a 88% da variabilidade danecessidade de calcário para os trêsníveis de pH indicados. Já a equaçãopara o índice SMP, a matéria orgânicae o alumínio trocável explica de 85 a90%. Desta forma, pode--se utilizar asduas equações para es-timar a neces-sidade de calcário. Con-siderando-se,no entanto, que nas análises de rotinarealizadas em Santa Catarina o índiceSMP, a matéria orgânica e o alumíniotrocável são determinados, pode-sesugerir que seja dada preferência parao uso da equação que leva em contaestas três características.

A comparação entre a recomenda-ção média de calcário pela tabela ba-seada no índice SMP (8) e a estimadapor equações de regressão linearmúltipla considerando duas variáveis(matéria orgânica e alumínio trocável)e três variáveis (índice SMP, matériaorgânica e alumínio trocável), é en-contrada na Tabela 5. Conforme podeser observado, as recomendaçõesmédias de calcário calculadas pelasequações de regressão são menoresdo que as da tabela da Comissão deFertilidade do Solo (8), representandouma redução de 25,5 a 33,3% nasrecomendações de calcário para atin-gir pH 5,5, 6,0 e 6,5, o que correspondea uma dimi-nuição acentuada nos cus-tos da calagem.

Conclusões

• As características químicas quemelhor se relacionaram com a neces-sidade de calcário foram o índice SMP,a matéria orgânica e o alumínio trocá-vel.

• As quantidades de calcário re-comendadas para atingir o pH dosolo até 5,5, 6,0 e 6,5, estimadaspor equações de regressão linearmúltipla, foram menores (de 25,5 a33,3%) do que aquelas recomenda-das pela tabela da Comissão deFertilidade do Solo (8), representan-do uma redução considerável no cus-to da calagem.

dicando uma melhoria na estimativada necessidade de calcário pelo uso deduas ou mais características químicasvinculadas à acidez potencial. Dentre

as equações ajustadas merecem des-taque a que leva em consideração amatéria orgânica e o alumínio trocávele aquela com as três características

Tabela 3 - Equações de regressão linear simples e coeficientes de determinação entre a necessidadede calcário, determinada por incubação, para elevar o pH dos solos das regiões Litoral e Vale do Itajaí,

Santa Catarina, a três níveis e o pH em água, índice SMP, matéria orgânica, alumínio ecálcio+magnésio trocáveis

pH a atingir Equação de regressão Coeficiente de determinação (r2)

5,5 NC(A) = 40,1 - 7,2 pH(B) 0,4646,0 NC = 47,0 - 8,0 pH 0,3386,5 NC = 53,8 - 8,8 pH 0,258

5,5 NC = 29,4 - 4,6 ISMP(C) 0,5896,0 NC = 38,6 - 5,8 ISMP 0,5536,5 NC = 47,9 - 7,0 ISMP 0,510

5,5 NC = - 1,3 + 1,8 MO(D) 0,5286,0 NC = - 1,3 + 2,6 MO 0,6516,5 NC = - 1,4 + 3,4 MO 0,707

5,5 NC = 1,6 + 2,0 A(E) 0,6496,0 NC = 3,7 + 2,4 Al 0,5866,5 NC = 5,8 + 2,9 Al 0,528

5,5 NC = 6,4 - 0,3 Ca+Mg(F) 0,0246,0 NC = 9,4 - 0,2 Ca+Mg 0,0086,5 NC = 12,4 - 0,1 Ca+Mg 0,002

(A) Necessidade de calcário, em t/ha, PRNT 100%.(B) pH em água.(C) Índice SMP: pH do solo em contato com uma solução tamponada a pH 7,5.(D) Matéria orgânica, em %.(E) Alumínio trocável, em meq/100ml.(F) Cálcio + magnésio trocáveis, em meq/100ml.

Tabela 4 - Equações de regressão linear múltipla e coeficientes de determinação entre a necessidadede calcário, determinada por incubação, para elevar o pH dos solos das regiões Litoral e Vale do

Itajaí, Santa Catarina, a três níveis e o índice SMP, matéria orgânica e alumínio trocável

pH a atingir Equação de regressão Coeficiente de determinação (r2)

5,5 NC(A) = 17,8 - 3,2 ISMP(B) + 1,1 MO(C) 0,7356,0 NC = 19,3 - 3,4 ISMP + 1,9 MO 0,7936,5 NC = 20,7 - 3,7 ISMP + 2,6 MO 0,811

5,5 NC = 9,0 - 1,2 ISMP + 1,5 Al(D) 0,6566,0 NC = 16,5 - 2,2 ISMP + 1,6 Al 0,6006,5 NC = 23,7 - 3,0 ISMP + 1,8 Al 0,545

5,5 NC = -2,0 + 1,2 MO + 1,5 Al 0,8396,0 NC = -2,2 + 1,9 MO + 1,7 Al 0,8806,5 NC = -2,4 + 2,7 MO + 1,8 Al 0,884

5,5 NC = -11,0 + 1,4 ISMP + 1,3 MO + 2,0 Al 0,8486,0 NC = -15,6 + 2,2 ISMP + 2,1 MO + 2,4 Al 0,8916,5 NC = -20,7 + 3,0 ISMP + 2,9 MO + 2,8 Al 0,898

(A) Necessidade de calcário, em t/ha, PRNT 100%.(B) Índice SMP: pH do solo em contato com uma solução tamponada a pH 7,5.(C) Matéria orgânica, em %.(D) Alumínio trocável, em meq/100ml.

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(B) Equações de regressão com duas variáveis (MO e Al).(C) Equações de regressão com três variáveis (ISMP, MO e Al). MO = matéria orgânica, em %; Al =

alumínio trocável, em meq/100ml. ISMP = pH do solo em contato com uma solução tamponadaa pH 7,5.

Nota : Valores entre parênteses representam a redução da quantidade média de calcário calculadapelas equações de regressão em relação à tabela dos Estados do Rio Grande do Sul e de SantaCatarina (1).

CalagemCalagemCalagemCalagemCalagem

UFRGS/Departamento de Solos, 1985.188p. (Boletim técnico, 5.)

10. EMBRAPA. Manual de métodos de aná-lise de solo. Rio de Janeiro: EMBRAPA-SNLCS, 1979. 1v.

Jonas Ternes dos Anjos, eng. agr., PhD,Professor aposentado, Departamento de En-genharia Rural, Centro de Ciências Agrárias,Universidade Federal de Santa Catarina, Bol-sista do CNPq, C.P. 476, 88040-900 - Florianó-polis, SC; Antonio Ayrton Auzani Uberti,eng. agr., MSc, Professor Assistente, Depar-tamento de Engenharia Rural, Centro deCiências Agrárias, Universidade Federal deSanta Catarina, C.P. 476, 88040-900 -Florianópolis, SC; Clóvis Goulart de Bem,químico, Companhia Integrada de Desenvol-vimento Agrícola de Santa Catarina, Secreta-ria de Estado do Desenvolvimento Rural e daAgricultura, C.P. 256, 88034-901 - Florianó-polis, SC e José Maximiliano MüllerNetto, eng. químico, Companhia Integradade Desenvolvimento Agrícola de SantaCatarina, Secretaria de Estado do Desenvol-vimento Rural e da Agri-cultura, C.P. 256,88034-901 - Florianópolis, SC.

Literatura citada

01. INSTITUTO CEPA/SC. Síntese anual daagricultura de Santa Catarina 1993 .Florianópolis: 1994. v.1.

02. SANTA CATARINA. Secretaria da Agri-cultura. Levantamento de reconheci-mento dos solos do Estado de SantaCatarina. Santa Maria: UFSM, 1973.2v.

03. KAMINSKI, J. Fatores da acidez e neces-sidade de calcário em solos do RioGrande do Sul. Porto Alegre: UFRGS/Departamento de Solos, 1974. 96p. TeseMestrado.

04. RAIJ, B. van. Recomendações de aduba-ção e calagem para o Estado de SãoPaulo. Campinas: Instituto Agronômi-co, 1985. 107p. (Boletim técnico, 100).

05. SCHERER, E.E. Acidez de sete latossolosdo planalto Sul-Riograndense e avali-ação de dois métodos para a determina-ção de suas necessidades de calcário.Porto Alegre: UFRGS/Departamentode Solos. 1976. 96p. Tese Mestrado.

06. ERNANI, P.R.; ALMEIDA, J.A. Avaliaçãode métodos e recomendação quantita-tiva de calcário para os solos do Estadode Santa Catarina. Lages: UDESC/De-partamento de Solos, 1986. 53p. (Bole-tim técnico de solos, 1).

07. MURDOCK, J.; PAVAGEAU, M.;RUCKHEIM FILHO, O.; FRASCA FI-LHO, A.; FRATINI, C.; KALCKMANN,R.E. Determinação quantitativa da ca-lagem . Porto Alegre: UFRGS/Departa-mento de Solos, 1978. 20p. (Informati-vo Interno, 04/78).

08. COMISSÃO DE FERTILIDADE DOSOLO - RS/SC. Recomendações de adu-bação e de calagem para os Estados doRio Grande do Sul e de Santa Catarina .3 ed. Passo Fundo: Sociedade Brasileira

de Ciência do Solo - Núcleo RegionalSul, 1994. 224p.

09. TEDESCO, M.J.; VOLKWEISS, S.J.;BOHNEN, H. Análise de solo, plantase outros materiais . Porto Alegre:

Tabela 5 - Recomendações médias de calcário para atingir pH 5,5, 6,0 e 6,5 em 50 amostrasde solos das regiões Litoral e Vale do Itajaí, Santa Catarina, baseadas na tabela da Comissão de

Fertilidade do Solo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e em equações de regressão linear múltipla

Recomendações de calcário (t/ha, PRNT 100%)pHa Tabela RS/SC (A) Equações de regressão (B) Equações de regressão(C)

atingirMédia Erro padrão Média Erro padrão Média Erro padrão

5,5 4,5 0,36 3,3 (26,7%) 0,32 3,0 (33,3%) 0,346,0 7,1 0,46 5,2 (26,8%) 0,42 5,0 (29,6%) 0,426,5 9,8 0,57 7,3 (25,5%) 0,53 6,9 (29,6%) 0,54

(A) Comissão de Fertilidade do Solo - RS/SC.

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Agrop. catarinense, v.9, n.3, set. 1996 65

EMBRAPEMBRAPEMBRAPEMBRAPEMBRAPA lança sua primeiraA lança sua primeiraA lança sua primeiraA lança sua primeiraA lança sua primeiracultivar de pêracultivar de pêracultivar de pêracultivar de pêracultivar de pêra

O Rio Grande do Sul e SantaCatarina cultivam juntos cerca de65 mil ha de batata, representando30% do total plantado no Brasil.Apesar de se destacarem nacional-mente, os dois Estados apresen-tam as mais baixas produtivida-des, em torno de 10t/ha (200sc/ha).Com o objetivo de discutir este pro-blema e propor soluções, reuniram-se na Universidade Federal deSanta Maria, RS, mais de 100 par-ticipantes, entre técnicos e produto-res. A EPAGRI, através do pesqui-sador Antonio Carlos Ferreira daSilva, da Estação Experimental deUrussanga, participou deste even-to, realizado no período de 22 a 24de maio passado.

Na abertura da reunião apre-sentou-se a situação da cultura dabatata no MERCOSUL - os pro-blemas e custos de produção, aindustrialização e tendências demercado. As perspectivas para oBrasil e, especialmente, para RS eSC não são boas. Além dos pro-

blemas de doenças que as importa-ções de batata-consumo podemtrazer, o custo de produção maiselevado e a baixa produtividade tor-nam a produção catarinense menoscompetitiva no MERCOSUL. Noentanto, trabalhos de pesquisa eextensão rural apresentados na reu-nião mostraram que a melhoria daqualidade da batata-semente, asso-ciada ao uso de cultivar adaptada,pode dobrar o rendimento da cultura(400sc/ha) e reduzir o custo de pro-dução. Outra decisão tomada nestareunião, e que poderá contribuir paraaumentar o rendimento da batati-nha, é a elaboração de um documen-to contendo as recomendações téc-nicas para o cultivo de batata no RSe SC. A organização dos produtoresde batata-consumo, através de asso-ciações como a do município deSilveira Martins, RS, pode contribuirpara redução do custo de produção dacultura e também para conseguirmelhores preços na comercializa-ção.

EPEPEPEPEPAGRI participa da III ReuniãoAGRI participa da III ReuniãoAGRI participa da III ReuniãoAGRI participa da III ReuniãoAGRI participa da III ReuniãoTécnica Anual da Cultura da BatataTécnica Anual da Cultura da BatataTécnica Anual da Cultura da BatataTécnica Anual da Cultura da BatataTécnica Anual da Cultura da Batata

A Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária-EMBRAPA aca-ba de lançar sua primeira cultivar depêra, destinada aos Estados do RioGrande do Sul, Santa Catarina,Paraná, São Paulo e região Sul deMinas Gerais. Criada e desenvolvi-da na EMBRAPA-Clima Tem-perado, unidade da empresa emPelotas, RS, a nova pêra, de nomeCascatense, é altamente produtiva,chegando a 30t/ha, significativamen-te superior à média brasileira de 10t/ha.

A pêra Cascatense pode ser plan-tada nas regiões daqueles cinco Es-tados que apresentem ao redor de300 horas/frio intenso/ano (igual ouabaixo de 7,2oC), floresce na segundaquinzena de agosto, é colhida emmeados de janeiro, apresenta for-mato piriforme (de sino) e tamanhomédio (120g a 220g/fruto). Sua polpa

SISCAL

Segundo os pesquisadores OsmarDalla Costa e Cícero JulianoMonticelli, o Sistema Intensivo deSuínos Criados ao Ar Livre (SISCAL)vem conquistando um grande núme-ro de criadores pelo bom desempenhotécnico, baixo custo de implantação emanutenção, número reduzido deedificações, facilidade na implanta-ção e ampliação da produção, mobi-lidade das instalações e redução nouso de medicamentos. Entretanto,para instalação do SISCAL é precisodispor de terreno com declividademáxima de 20 a 25%.

Esse sistema caracteriza-se pormanter os animais em piquetes nasfases de reprodução, maternidade ecreche, cercados com fios e/ou telas dearame eletrificados - através deeletrificadores de corrente alterna-da. As fases de crescimento e termi-nação (25 a 100kg de peso vivo)ocorrem em confinamento. Segundoos pesquisadores, muitos suinocul-tores utilizam o SISCAL para a pro-dução de leitões que são vendidospara terminadores quando atingemde 25 a 30kg de peso vivo. DallaCosta chama atenção para o fato deque é preciso organizar a produção naimplantação do SISCAL - como se fazno sistema confinado -, estabelecen-do o sistema de manejo em lotes, comintervalos entre os lotes compatíveiscom o tamanho do rebanho.

SISCAL no CNPSA

Pesquisadores da EMBRAPA-Suínos e Aves iniciaram um trabalhode acompanhamento desse sistemana região Oeste de Santa Catarinaem 1987. Depois de dois anos deobservação, em 1989, decidiram ins-talar esse sistema nas dependênciasdo Centro de Pesquisa. O objetivo eraverificar a viabilidade técnica e eco-nômica do mesmo. À medida que osexperimentos de pesquisa nessa áreaforam sendo desenvolvidos e os resul-tados desse trabalho aparecendo, aEMBRAPA-Suínos e Aves foi, tam-bém, divulgando informações perti-nentes que orientassem os suinocul-tores desejosos de praticar a suino-

cultura através dessa alternativa.Em março de 1994 foi lançado

um comunicado técnico (número209) que resume um estudo compa-rativo entre a criação ao ar livre e aconfinada. Em agosto do mesmoano, em parceria com a Rhodia-Mérieux, Campinas, SP, foi lança-do um boletim técnico com suges-tões que orientavam o produtor naimplantação desse sistema, como,por exemplo, qual o melhor local,tamanho e repartição da área, áreapor animal, cercas, bebedouros,comedouros, cabanas, como fazer omanejo, a cobertura, o monito-ramento sanitário, a ração, etc.

A partir das sugestões de im-plantação, a EMBRAPA-Suínos eAves avançou, estruturando umabase de trabalho nessa área queenvolve diferentes instituições - comoas Universidades Federais de San-ta Catarina e Goiânia, o InstitutoAgronômico do Paraná e o Centro dePesquisa Agropecuária do Rio Gran-de do Sul. Nesses Estados foram, eainda estão, sendo implantadosnovos sistemas. Nessa fase, comoresultado das pesquisas realiza-das, já é possível observar que osproblemas de conservação do soloestão sendo solucionados e que osistema de criação de suínos ao arlivre pode ser uma atividade ecolo-gicamente equilibrada e, portanto,autossustentável.

Em setembro de 1995 foi reali-zado na sede da EMBRAPA-Suínose Aves um encontro técnico sobreSISCAL que integrou técnicos e pro-dutores de suínos da região Sul.Nessa ocasião surgiu a idéia derealização do simpósio.

Hoje, a EMBRAPA-Suínos eAves, com os demais promotores,está empenhada em formar umfórum de discussão sobre o assun-to, através da realização do ISimpósio, estimulando a troca deidéias e experiências entre aquelesque, em diferentes níveis, estãoatuando ativamente na suinocul-tura e utilizando esse sistema.

Estas informações foram re-passadas pela jornalista TâniaMaria Giacomelli Scolari, doCNPSA, EMBRAPA.

Divulgação InternacionalUm trabalho dos pesquisadores

Darci Antônio Althoff, da EPAGRI-EE Urussanga, e César Moura deAndrade, da Fundação Cearence deMeteorologia e Recursos Hídricos,intitulado “Relações entre anomali-as da temperatura superficial doPacífico e anomalias de precipitaçãoe vazão (Chapecó, SC, Brasil) paraprevisões de utilização de práticasconservacionistas do solo” foi publi-cado nos anais do curso sobre apli-cações práticas da previsão climática

a curto prazo, realizado em SantaFé, Argentina. O curso foi orga-nizado pela Faculdad de Ingenieriay Ciencias Hidricas - FICH e peloInternational Research Institute -IRI, e realizou-se em julho de1995.

O objetivo do trabalho de Althoffe Andrade é obter um modelo deprevisão de altas precipitações, ba-seado na temperatura do Pacífico,e assim antecipar as medidas deconservação do solo.

(Concórdia-CNPSA) Em setem-bro, de 17 a 19, Concórdia, emSanta Catarina, será sede do ISIMPÓSIO SOBRE SISTEMAINTENSIVO DE SUÍNOS CRIA-DOS AO AR LIVRE. Para a suarealização, integram-se àEMBRAPA-Suínos e Aves empre-

sas como a EPAGRI/SC, EMATER/RS, CEPAGRO/RS, EMATER/PR,ABCS/Sinasui/RS e UFSC/SC.

Esse evento, que deverá reunirtécnicos, pesquisadores, produtorese estudantes interessados na discus-são do tema, acontece no anfiteatroda EMBRAPA-Suínos e Aves.

Suínos criados ao ar livre: simpósioSuínos criados ao ar livre: simpósioSuínos criados ao ar livre: simpósioSuínos criados ao ar livre: simpósioSuínos criados ao ar livre: simpósioavalia sistemaavalia sistemaavalia sistemaavalia sistemaavalia sistema

é branca, suculenta, parcialmentemanteigosa, moderadamente aromá-tica e tem bom sabor, com 12o a 14o

Brix (teor de açúcar).A pêra brasileira ainda se man-

tém em áreas limitadas devido àfalta de cultivares adaptadas às con-dições locais, situação que poderámudar a partir de agora, com o plan-tio da Cascatense. A produção brasi-leira de pêra é de apenas 18 miltoneladas por ano - concentrada noRio Grande do Sul, Santa Catarina,Paraná e São Paulo - para um consu-mo nacional da ordem de 110 miltoneladas, a maior parte atendidopelo produto comprado dentro doMERCOSUL, principalmente da Ar-gentina.

Outras informações com o jorna-lista Antonio Heberlê, da Assessoriade Imprensa da EMBRAPA-ClimaTemperado, fone (0532) 21-2122.

FLASHES

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CONJUNTURA

comestíveis, mas, ao invés de utilizá-las,os modernos agricultores preferem plan-tar uma única variedade, altamente pro-dutiva e lucrativa. Hoje, mais de 40% dosremédios prescritos no mundo são produ-zidos a partir dos recursos naturais. Omar, por exemplo, também ajuda a curardoenças humanas, pois sabe-se que apro-ximadamente 50 espécies marinhas pro-duzem substâncias químicas que podemajudar no tratamento do câncer.

Estima-se que 10% de todas as espé-cies vivam no Brasil, criando uma dasmais variadas expressões de toda a natu-reza. Em termos mundiais, o nosso país éo que abriga o maior número de primatas,anfíbios, peixes de água doce e plantascom flores. Além disso tem o maior núme-ro de vertebrados e provavelmente lideratambém em termos de insetos de todos ostipos, ficando em segundo lugar quando setrata de número de répteis, palmeiras e deespécies endêmicas (aquelas que não sãoencontradas em nenhum outro lugar).

O Brasil é rico em diversidades. AAmazônia possui uma de cada três árvo-res existentes nas florestas tropicais querestaram no planeta, sendo uma das áre-as menos afetadas pela ação do homem.Nossa Mata Atlântica, que cobria a regiãoCosteira de norte a sul, é considerada hojeo bioma mais devastado da América doSul.

Deve-se ressaltar que o Brasil é umdos países onde os contrastes sociais sãomais agudos, com as mais sérias conseqü-ências sobre o meio ambiente. A corridapelo desenvolvimento, alimentada pelasnecessidades de uma população que cres-ce em número e em pobreza, tem justifica-do a exploração selvagem dos recursosnaturais, erradamente tidos comoinfindáveis.

O grande problema de tudo isso é queuma metade do mundo é muito mais ricado que a outra. Os ricos países industria-lizados consomem mais do que sua justaparte dos recursos, embora possuam umaquarta parte da população do planeta,queimando 70% dos combustíveis fósseis.Muitos dos recursos naturais que as na-ções industrializadas consomem são en-contrados nos países mais pobres, cujaseconomias dependem das exportações. Ocomércio mundial de madeiras tropicais,que tem causado devastação no SudesteAsiático, aumentou, em grande parte, de-vido à demanda de clientes ricos na Euro-pa e no Japão.

Em termos de Brasil, os 2% mais ricossão proprietários de mais da metade dasterras; na África do Sul, os 15% maisprósperos possuem mais de três quartosdas terras do país. Enquanto isso, mi-lhões de pessoas nas áreas rurais carecem

A biodiversidadeA biodiversidadeA biodiversidadeA biodiversidadeA biodiversidadeGerson Luiz Selle

iodiversidade é o termo utilizadopara expressar a variedade da vida

na Terra e os padrões naturais que essava-riedade forma. Seu significado podeser melhor compreendido se considerar-mos a biodiversidade em dois níveis: pri-meiro, todas as espécies de vida - plantas,animais, microorganismos, etc; segundo,as interrelações, ou “ecossistemas”, queessas espécies formam, que são essenci-ais. Não se sabe exatamente quantasespécies diferentes de plantas e animaisexistem no mundo. As estimativas apon-tam entre 10 e 50 milhões. Até agora, oscientistas só classificaram e nominaram1 milhão e meio de formas distintas devida.

Com o passar dos tempos os grupos deespécies evoluíram e formaram ecossiste-mas estreitamente relacionados. Essesecossistemas são estruturas complexas,nas quais a existência de uma espécieafeta, diretamente, todas as outras. Avida humana está profundamente ligadaà existência de outras espécies.

As plantas e os animais não estãodistribuídos de maneira uniforme pelomundo. Acredita-se, por exemplo, que asflorestas tropicais contêm quase a meta-de de todas as espécies animais e vege-tais, cerca de um terço das aves e umagrande parte dos insetos emicroorganismos existentes na Terra. Emparte, isso deve-se ao fato de as florestastropicais estarem localizadas em regiõesonde a chuva e a temperatura são quaseuniformes durante todo o ano. O rio Ama-zonas abriga cerca de 3 mil espécies dis-tintas de peixes, e isto significa quinzevezes o número de espécies encontradasnas águas doces da Europa. Acredita-seque, nesse grande rio, vivam muitas espé-cies ainda desconhecidas do homem.

Muitas atividades humanas, como aderrubada de árvores, a drenagem de pân-tanos e o desmatamento de áreas virgenscom fins agrícolas ou para a construção decidades, têm provocado, com freqüência,grandes impactos e resultados nocivos.Apesar disso, o homem também melho-rou seu meio ambiente. Uma boa partedas áreas rurais européias ganharam for-ma pelas mãos de seus habitantes, eabrigam ecossistemas preciosos.

Os cientistas deduzem que, pelo me-nos 80 mil espécies vegetais são comestí-veis, porém, 90% das nossas necessida-des nutricionais são cobertas por apenas30 espécies. A natureza nos oferece umagrande variedade de plantas e animais

B

de terras e lutam para sobreviver. Comdemasiada freqüência são obrigados aexplorar, excessivamente, qualquer áreanatural ao seu alcance. Cada ano, 17 mi-lhões de hectares de florestas tropicaissão desmatados. As estimativas suge-rem que, se isso continuar, até 60 milespécies vegetais, e um número aindamaior de animais, serão extintas nos pró-ximos 30 anos.

A globalização do plantio de varieda-des altamente produtivas e uniformescausou o desaparecimento de muitas ou-tras. Só para exemplificar, atualmente osagricultores nos Estados Unidos culti-vam um quinto das variedades vegetaisque cultivavam há um século. Isso signi-fica uma perda enorme em termos degenes disponíveis para cruzamentos e pos-sibilita a criação de sistemas agrícolasmuito vulneráveis a pragas e doenças. NoBrasil, acredita-se que 92 tribos de índiosdesapareceram neste século, levando jun-to seus conhecimentos. Segundo cientis-tas, até o final do século 21, o número deidiomas falados no mundo deverá dimi-nuir de 6 mil para 3 mil.

Todos estes fatos levam a crer que aperda da biodiversidade contribui para adegeneração da vida comunitária, fazen-do com que populações migrem para cida-des ou mesmo para outros países. Umacontecimento que pode ser ressaltado éo ocorrido com os javaneses, quando umacombinação de desmatamento e explosãodemográfica fez com que uma populaçãode 1 milhão de pessoas abandonasse suasterras de origem.

Nosso mundo é lugar de injustiça. Adistribuição das riquezas, do poder políti-co, de terras, empregos e educação, é muitodesigual. Alguns países têm mais do queoutros e isso ocorre com as pessoas tam-bém. Os esforços conservacionistas de-vem levar essa realidade em considera-ção, e trabalhar para reduzir taisdesequilíbrios e seus efeitos adversos so-bre o meio ambiente. Todos podemos to-mar decisões que tenham um impactoreal sobre o meio ambiente, para o bem oupara o mal. Espera-se que nossosgovernantes também façam sua parte poiseles têm o poder nas mãos e isso pode serusado para pôr em prática atividades, ouprojetos, através de um desenvolvimentosustentável e justo, que num espectromais amplo venham a conservar abiodiversidade da vida.

Gerson Luiz Selle , eng. florestal, M.Sc.,Centro de Pesquisas Florestais/Departamen-to de Ciências Florestais/CCR, UniversidadeFederal de Santa Maria, Fone (055) 226-1616ramal 2444 - Fax (055) 226-2347, 97119-900 -Santa Maria, RS.

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OPINIÃO

sucesso - não somente seu - mas principal-mente da organização. Em termos vulga-res isto tem ti-do a denominação de “vestira camiseta”.

Sentir o conscientecoletivo - afinação

A missão que cabe a uma dada insti-tuição afina-se consoante o interesse doconsciente coletivo. O que é este? É umorganismo ainda em formação que, embo-ra não totalmente autoconsciente, sugere/demanda a cada cidadão ou empresa qualé a necessidade de valores que ele precisareceber, para fortificar-se, afirmar-se e“devolver” um produto por cuja inspiraçãoo processo é retroalimentado ao nível daspessoas e suas representações organiza-das. Esta é a “VOX POPULI - VOX DEI”que a sabedoria manda escutar e atender,como requisito de construção social. “Eutenho que internalizar que o organismosocial é o meu organismo expandido a umaoitava superior, sendo eu uma importantecélula; assim o meu interesse específico écondicionado ao interesse social maior,através do qual eu me realizo”. Se eu nãoajo assim, é porque ainda sou comandadopelo meu ego (consciência externa) que seserve a si mesmo, gera uma forma - pensa-mento que polui/sugestiona o campo dasidéias de outras pessoas/grupos que estãona mesma faixa, e impede em mim e neleso exercício da “cidadania”. Por isso o “ami-go da sabedoria” da Grécia antiga,Sócrates, anunciou o seu famoso “conhece-te a ti mesmo”, que de tão simples aindanão é compreendido na real dimensão pelocidadão “normal”.

Ao nível da administraçãoda Empresa

O processo ora experenciado e em evo-lução na empresa, do Planejamento Es-tratégico, atesta bem a necessidade damudança tática da operação da EPAGRI,saindo do mero gerar/adaptar e difundirtecnologia agropecuária com exercício deextensão rural. A confusão que ora severifica nesses conceitos, que em boa par-te são já o passado da empresa, é o móvelda sua refugação/desfazimento e conse-qüente busca do reequilíbrio no patamarsuperior, até atingirmos o exercício efetivosob a égide do novo modelo operativo,inspirado no que fora conscientização peloplanejamento estratégico. Este então faz-nos ver a real missão da empresa, que é

A EPA EPA EPA EPA EPAGRI no contex-AGRI no contex-AGRI no contex-AGRI no contex-AGRI no contex-to do desenvolvi-to do desenvolvi-to do desenvolvi-to do desenvolvi-to do desenvolvi-

mento regional - ummento regional - ummento regional - ummento regional - ummento regional - umensaio por associa-ensaio por associa-ensaio por associa-ensaio por associa-ensaio por associa-

ção de idéiasção de idéiasção de idéiasção de idéiasção de idéias

Edison Azambuja Gomes de Freitas

consabido que a sociedade experi-mente hoje um verdadeiro “salto

quântico” em comunicação, decorrênciado aperfeiçoamento rápido e eficaz do pro-cesso intra-humano. A unidade-indivíduo(que é um universo, unidade da diversida-de), assim instrumentada no auto-aper-feiçoamento, viabiliza - pelo exercício di-ário - a comunicação entre pessoas e gru-pos, com expansão regional, nacional, con-tinental até chegar-se ao fato objetivo da“aldeia global”. A Internet hoje é aconcretização de que o homem se socializaem nível planetário, e vai além...

Este quadro mostra bem que nossaresponsabilidade comunicativa vai au-mentando, dado o alargamento do alcanceque ela vai tomando. Inobstante sepotencializa uma idéia ou proposta paraprocedimentos inovadores, revolucionári-os, que quebram a dormência do pensa-mento e engendram a fraternidade plane-tária para ulteriores conquistasconceituais, que movem o processo e aevolução.

O contexto favorece qualquer processointegrativo/interativo, pelo qual as em-presas públicas e privadas seemparceiram no afã de acelerar proces-sos, economizar serviços e render maisdividendos a si e ao meio.

Qualidade Total

A “Qualidade Total” em essência o queé? É a qualificação do serviço/produto deuma firma ou conglomerado, mercê dadescoberta da sua real missão num con-texto em que ela se vê como peça funda-mental de uma engrenagem social de cau-sas e efeitos, cuja empatia com o interessedo cliente (confesso ou inconfesso) propor-ciona a tecitura da malha da construçãosocial. A verdadeira viabilização da QT éa estimulação da auto-estima do indiví-duo dessa organização no sentido de elemudar o enfoque da intracomunicação(ego/EU) e sentir--se entusiasmado pelo

É

“conhecimento, tecnologia e extensão parao desenvolvimento sustentável em bene-fício da sociedade”.

Ou seja, em meu modo de interpretar- lembro que é um ensaio - seria alimentaro consciente coletivo engendrando a ativa-ção dos fatores de produção agropecuáriasustentada, transformação agroin-dustrial, e “consumo”. O diagnóstico ex-terno e interno da instituição tem--nosmostrado que a visão holística (holos = otodo) integra nossa ação nessa cadeiaprodutiva - transformativa - utilizadora,que é cíclica. Aqui considera-se produto eserviço, abarcando a influência tambémem comercialização, transporte,beneficiamento e passando ainda porcooperativismo nos três setores (produtor- agroindustrialista - consumidor) em quecada um deles se organiza e interage/reaciona por nossa ação, ainda que indire-ta com ganho de todos.

Daí a importância de mostrarmos acada um desses setores a suapotencialidade e interdependência. Fazerver ao produtor - por exemplo em cursos deprofissionalização - que se não seconscientizarem de sua força organizativapotencial e da barganha na exigência deseus direitos de cidadão, a riqueza queeles geram vai alimentar principalmenteelos posteriores da cadeia em detrimentodeles próprios, ameaçando sua sobrevi-vência na atividade.

Assim, a nossa cidadania gera a cida-dania dos demais, e o processo é “iterativo”,isto é, tanto vai daqui pra lá como de lá pracá. O nosso capital maior, o conhecimento,é o principal insumo, a ser potencializadoa bem da sociedade; vale mais do que opróprio dinheiro, pois é o gerador da rique-za se posto a serviço de todos, ou ao serintercambiado por dinheiro quando aEmpresa celebra parcerias ou convênioscom benefícios ambilaterais. De resto con-clui-se que o processo iterativo é o que oUniverso todo utiliza para o seu desenvol-vimento, começando pelas trocas quími-cas da matéria, potencializando no DNA,tramitando para a psique, a moral e osupra-sumo: o Espírito, molde de Deus emnós.

Edison Azambuja Gomes de Frei-tas, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no

3.616-D, CREA-SC, EPAGRI/EstaçãoExperimental de Lages, C.P. 181,Fone (049) 224-4400, Fax (049) 222-1957, 88502-970 - Lages, SC.

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VIDA RURALSOLUÇÕES CASEIRAS

Delícias com melDelícias com melDelícias com melDelícias com melDelícias com mel

Modo de fazer:

Em um balde ou bacia (se possívelesmaltados) despejar 13 garrafas deágua, adicionar o mel, o fermento e ogengibre misturando muito bem. Dei-xar descansar por 20 horas cobertocom uma toalha de algodão. Retirar aespuma sobrenadante e colocar emgarrafas previamente esterilizadas,deixando a maior parte do gargalovazio. Fechar com rolhas novas recémfervidas e que devem entrar no garga-lo sob pressão. É necessário que asgarrafas estejam muito bem vedadaspara segurar a pressão. Amarrar arolha com barbante mediante umalaçada que a prenda firmemente norebordo do gargalo. Cobriropcionalmente a rolha e barbante comcera de abelha liquefeita para isola-mento. Guardar as garrafas em localfresco por dois dias aproximadamente(o estouro de alguma rolha indica quea bebida está pronta). Colocar na gela-deira e servir. A bebida se conserva porpouco tempo em refrigeração. Acom-panha aperitivos, doces de natal emesmo refeições natalinas.

Cerveja deCerveja deCerveja deCerveja deCerveja demel Honigbiermel Honigbiermel Honigbiermel Honigbiermel Honigbier

Honigbier é uma bebida cuja ori-gem é atribuída aos antigos povosgermânicos que a denominavam ori-ginalmente de “Mêt”. Apresenta bai-xo teor alcoólico, sabor agradável,podendo, portanto, ser partilhadaem família. Faz parte da tradiçãonatalina de várias famíliasblumenauenses, sendo preparada emritual de festa nos dias que antece-dem o Natal. O “estouro” da rolhaquando retirada simula o do cham-panhe, pois a bebida é borbulhante,devendo ser servida gelada econsumida imediatamente após aabertura.

Ingredientes:

13 garrafas de água (3/4 de litro)1kg de mel1 colher das de sopa de fermentobiológico1 gengibre de tamanho médio corta-do em rodelas

Nota: Receita fornecida por Maike Hering Queiroz.

Pão de melPão de melPão de melPão de melPão de mel

Ingredientes:

2 e 1/2 xícaras (chá) de farinha detrigo

1 xícara (chá) de açúcar mascavo2 colheres (café) de bicarbonato de

sódio1 colher (chá) de cravo moído,

erva--doce e canela (misturados)1 xícara (chá) de leite1/2 xícara (chá) de mel1/2 embalagem de cobertura de

chocolate ao leite Lacta (250g)

Modo de fazer:

• Peneire juntos a farinha, o açú-car mascavo e o bicarbonato.

• Junte as especiarias (cravo mo-ído, erva-doce e canela) bem mistura-das e vá acrescentando aos poucos oleite e o mel.

• Unte uma fôrma retangular,pequena, com manteiga, despeje amassa e asse em forno médio (170oC),por cerca de 40 minutos.

• Rale o chocolate em raladorgrosso ou pique-o miúdo.

• Desenforme o pão de mel eespalhe o chocolate ralado por toda asuperfície ainda quente, deixando queo calor da massa o derreta.

• Espere alguns minutos e alisecom uma espátula, formando umacamada bem uniforme.

• Depois de frio, corte o pão demel em pedaços de tamanho regular.

Nota: Do livro de Receitas da Lacta.

Esquema da laçada para firmar a rolha no gargalo da garrafa