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em Notícias ENTREVISTA CONSTITUIÇÃO X IDEOLOGIA X CONADEP: MINISTRO DA JUSTIÇA REAFIRMA COMPROMISSO PELO FORTALECIMENTO DA DEFENSORIA PÚBLICA NO BRASIL CONTRAMÃO DA HISTÓRIA “A falta da Defensoria Pública junto às varas de Execução Penal e nas unidades prisionais causa um problema muito sério em SP” Atual Diretoria da OAB-SP persiste no corporativismo em detrimento do modelo constitucional de assis- tência jurídica gratuita em SP O JUIZ COORDENADOR DO CNJ, LUCIANO LOSEKANN, FALA SOBRE O MUTIRÃO CARCERÁRIO EM CURSO NO ESTADO: ARTIGO O jurista e professor da FGV-RJ, Pedro Abramovay, escreve sobre o papel da Defensoria em barrar as inconstitucionalidades da lei de drogas no Brasil www.apadep.org.br I Ano IV - n° 21 - Setembro/Outubro de 2011 Número insuficiente de Defensores Públicos mantém CAOS no sistema carcerário em São Paulo DEFESA SEM AP hom Ce

Revista APADEP em Notícias 09.10.2011

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Revista bimestral da Associação Paulista de Defensores Públicos (Apadep) - 09.10.2011

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Page 1: Revista APADEP em Notícias 09.10.2011

APADEP em Notícias I Julho - Agosto 1

em Notícias

entrevista

constituição x ideologia

x conadeP: Ministro da Justiça reafirMa coMproMisso pelo fortaleciMento da defensoria pública no brasil

contramão da história

“a falta da defensoria pública junto às varas de execução penal e nas unidades prisionais causa um problema muito sério em sp”

atual diretoria da oab-sp persiste no corporativismo em detrimento do modelo constitucional de assis-tência jurídica gratuita em sp

o juiz coordenador do cnj, luciano losekann, fala sobre o mutirão carcerário em curso no estado:

artigo

o jurista e professor da fGV-rJ, pedro abramovay, escreve sobre o papel da defensoria em barrar as inconstitucionalidades da lei de drogas no brasil

www.apadep.org.br I Ano IV - n° 21 - Setembro/Outubro de 2011

Número insuficiente de Defensores

Públicos mantém caos no

sistema carcerário em São Paulo

DEFESA SEM

apadep e anadep prestam homenagem ao professor celso antônio bandeira de Mello

Page 2: Revista APADEP em Notícias 09.10.2011

2 APADEP em Notícias I Setembro - Outubro

Nesta vigésima primeira edição da APADEP

em Notícias, comemorando o sucesso do novo projeto gráfico, trataremos neste exemplar de dois temas candentes na luta pela efetivação do acesso à justiça: a rela-

ção direta entre o colapso do sistema prisional e o número insuficiente de defensores públicos e um enfoque crítico da política de combate a entorpecentes no Brasil.

A falência do modelo prisional brasileiro está res-saltada nos relatórios dos mutirões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ): são milhares de presos desassistidos, sem acesso a processo nem a defensor público. Cabe ressaltar que em alguns estados não há sequer atuação em defe-sa dos presos, lembrando que Santa Catarina não possui Defensoria Pública, fato que levou o CNJ a soltar nota pública alertando o descaso do estado catarinense.

Grande parte da responsabilidade pela falência do sistema prisional também decorre do esgotamento do atu-al regime legal de repressão ao uso de entorpecentes, ex-cludente, que privilegia o puro e simples encarceramento em detrimento do tratamento correto, por meio de po-lítica pública de saúde. Para além do discurso moralista, Estado e sociedade devem abordar de forma pragmática o tema, dando solução racional ao assunto.

A par desses problemas e de tantos outros também estruturais do sistema de justiça, o estado de São Paulo ainda se vê submetido à agenda fortemente corporativis-ta da atual diretoria da subseção paulista da Ordem dos

OPINIÃO

APADEP: Se pudesse elencar suas

principais ações civis públicas, quais

seriam?

Jairo : Na tutela do Direito à Moradia, podemos destacar as relacionadas às enchentes, a que tratou da questão do zoneamento urbano em São José dos Campos, e outras, que tratam de regula-rização fundiária. Na área do Direito do Consumidor, podemos destacar a ACP do Residencial São Francisco, que ques-tiona a aplicação de cláusulas contratuais iníquas. Em relação aos serviços públi-cos, recentemente propomos uma ACP questionando modificações no sistema de transporte da cidade que acarretaram sérios prejuízos, tais como a diminui-ção do nível de conforto e aumento do tempo total de viagem. Mas, nesta área, a que atingiu o maior número de usuá-rios foi a do Ensino Fundamental, que impediu milhares de crianças de terem um “salto” no seu processo de formação, já que o Município pretendia matriculá-las do infantil IV direto para o segundo

um dos vencedores do concurso de práticas exitosas do X congresso nacional de defensores públicos, agraciado em 2008 com o título de cidadão Joseense pela câmara Municipal de são José dos campos pelos serviços prestados à população de baixa renda, Jairo é especialista em direito

processual civil pela universidade cândido Mendes (rJ) e destaca-se pela série de ações civis públicas propostas, sobretudo nas áreas do direito urbanístico e do consumidor, pleiteando melhorias no sistema de transporte e questionando irregularidades nas áreas educacional e fundiária.

o projeto “banco de injustiças”, feito pela comissão brasileira de drogas e democracia, em parceria com a associação nacional de defensores públicos (anadep), visa estimular o preenchimento de

formulários pelos defensores públicos com estórias cotidianas que tragam à tona reflexões sobre a lei de entorpecentes: ela acaba encarcerando sim o usuário? não diminuiu o tráfico? aumentou a violência no brasil? acesse o site da apadep ou da anadep e conte sua estória!

[ Editorial ]

Advogados do Brasil. Tratamos neste exemplar do pro-jeto de Lei inconstitucional, em trâmite na Assembleia Legislativa do Estado, com apoio da OAB-SP, que tenta ferir a autonomia constitucional da Defensoria com a transferência da gestão do Fundo de Assistência Judici-ária (FAJ). Caminhando contra sua própria história, a entidade pretende colocar-se à frente do modelo público de assistência jurídica apenas para manter vigente con-vênio que deveria servir de transição, conquanto alta-mente oneroso ao contribuinte paulista.

A proposta de alteração na gestão do FAJ, consubs-tanciada no PLC 65/2011, é farta em inconstitucionali-dades: seja por vício de iniciativa, porque a competência de legislar sobre a Defensoria Pública é do Executivo; seja material, por afrontar a autonomia institucional, garan-tida pela emenda n° 45, de 2004, e a previsão constitucio-nal de que o Estado deve prestar orientação jurídica por meio da Defensoria Pública, e não pelo Executivo. Nas próximas semanas, os defensores públicos de São Paulo aguardam esperançosos a confirmação do entendimento por parte dos deputados estaduais de que o cidadão que não possa arcar com as custas de um advogado particular deve ser atendido por uma instituição autônoma e inde-pendente. Só assim garantiremos, de fato, que a Consti-tuição seja respeitada e que a cidadania prevaleça sobre qualquer forma de corporativismo.

Boa leitura! A Diretoria

ExpEdiEntE

Esta revista é uma publicação da Associação Paulista de Defensores Públicos (APADEP) i Distribuída gratuitamente

Presidenterafael Valle Vernaschi

Vice-presidenterafael português

diretoria administrativacarolina nunes pannain e

ana paula de oliveira Meirellesdiretoria financeira

patrick lemos cacicedo e luiz felipe Vanzella rufino

diretoria jurídica rafael bessa Yamamura

e Wagner ribeiro de oliveira diretoria social e cultural

ana rita souza prata e samir nicolau nassralla diretoria de relações

institucionais e comunicação fabrício bueno Viana

diretoria de articulação social caio Jesus Granduque José

e bruno ricardo Miragaia souzadiretoria de assuntos legislativos

João Henrique imperia Martinie leila rocha sponton

diretoria de Previdência e convênios felipe capra da cunha lopes

e andré cadurin castrodiretoria de assuntos do interior

Genival torres dantas Junior e Vanessa pellegrini armenio

jornalista responsávellucas Krauss

Mtb: 54647 - spestagiária de comunicação

ana claudia JustinianoProjeto gráfico

[email protected] - capa

conselho nacional de Justiça - cnJ

FALE COnOSCO

Avenida Liberdade, n° 65, Cj.303. CEP: 01503-000 São Paulo / SP

Tel/fax: (11) 3107-3347

Mande dúvidas, sugestões, críticas ou comentários para

[email protected]

Page 3: Revista APADEP em Notícias 09.10.2011

APADEP em Notícias I Setembro - Outubro 3

Jairo Salvador

Jairo Salvador de Souza é Defensor Públi-

co da Regional de São José dos Campos, coordenador do

Centro de Atendimento Multidisciplinar e colaborador

do Núcleo de Habitação e Urbanismo da Defensoria

Pública de São Paulo

APADEP: Se pudesse elencar suas

principais ações civis públicas, quais

seriam?

Jairo : Na tutela do Direito à Moradia, podemos destacar as relacionadas às enchentes, a que tratou da questão do zoneamento urbano em São José dos Campos, e outras, que tratam de regula-rização fundiária. Na área do Direito do Consumidor, podemos destacar a ACP do Residencial São Francisco, que ques-tiona a aplicação de cláusulas contratuais iníquas. Em relação aos serviços públi-cos, recentemente propomos uma ACP questionando modificações no sistema de transporte da cidade que acarretaram sérios prejuízos, tais como a diminui-ção do nível de conforto e aumento do tempo total de viagem. Mas, nesta área, a que atingiu o maior número de usuá-rios foi a do Ensino Fundamental, que impediu milhares de crianças de terem um “salto” no seu processo de formação, já que o Município pretendia matriculá-las do infantil IV direto para o segundo

um dos vencedores do concurso de práticas exitosas do X congresso nacional de defensores públicos, agraciado em 2008 com o título de cidadão Joseense pela câmara Municipal de são José dos campos pelos serviços prestados à população de baixa renda, Jairo é especialista em direito

processual civil pela universidade cândido Mendes (rJ) e destaca-se pela série de ações civis públicas propostas, sobretudo nas áreas do direito urbanístico e do consumidor, pleiteando melhorias no sistema de transporte e questionando irregularidades nas áreas educacional e fundiária.

ano fundamental. Assim, crianças de seis anos estudariam com crianças de oito, sendo evidente que estavam em estágios de desenvolvimento diferentes.

APADEP: Como avalia a importância

dessas ações para a população carente e

quais os resultados obtidos mais recen-

temente na região?

Jairo: É mais um instrumento na de-fesa das populações carentes, bastante eficaz, se utilizado corretamente, já que permite o tratamento dos problemas de forma global, otimizando tempo e recursos. É importante ressaltar que as ACP’s não são a panacéia para todos os

males, pois nada substitui a organização e a mobilização da sociedade. Muitas deixam de ser propostas a partir de so-luções extrajudiciais conquistadas com a mobilização da população. Quanto aos resultados, embora muitas ainda es-tejam em curso, temos obtido algumas decisões importantes, como a determi-nação do desassoreamento do Córre-go e remoção dos sedimentos e a que impediu o fechamento de uma escola do Bairro Capuava. Entretanto, outras tantas ainda prosseguem sem decisão favorável, como a Ação Civil Pública do Zoneamento, em que a liminar foi con-cedida e depois revogada. Para a propo-situra, sou ajudado por muitos colegas. Acredito que a grande força da Defen-soria Pública está na atuação institucio-nal, não somente na inegável capacidade individual de seus membros. O que eu posso dizer é que não existe satisfação maior do que ver o prometido aces-so à justiça tomar contornos reais. É isso que me move.

M uitas ACP’s deixam de ser propostas a partir de

soluções extrajudiciais conquistadas com a mobilização da população

Acredito que a grande força da Defensoria Pública está na atuação institucional, não somente na inegável capacidade individual de seus membros

iii fórum nacional de coordenadores DA INfâNCIA E JuVENTuDE DAS DEfENSOrIAS PúbLICAS DO brASIL

AGENDA

O encontro serve como programa de intercâmbio de atuação preventiva e de defesa técnica dos direitos da criança e do adolescente no Brasil

BRASíLIA/DF Seg

dez12

Ter

dez13

o projeto “banco de injustiças”, feito pela comissão brasileira de drogas e democracia, em parceria com a associação nacional de defensores públicos (anadep), visa estimular o preenchimento de

formulários pelos defensores públicos com estórias cotidianas que tragam à tona reflexões sobre a lei de entorpecentes: ela acaba encarcerando sim o usuário? não diminuiu o tráfico? aumentou a violência no brasil? acesse o site da apadep ou da anadep e conte sua estória!

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[ Editorial ]INICIATIVA

Esta revista é uma publicação da Associação Paulista de Defensores Públicos (APADEP) i Distribuída gratuitamente

jornalista responsávellucas Krauss

Mtb: 54647 - spestagiária de comunicação

ana claudia JustinianoProjeto gráfico

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Mande dúvidas, sugestões, críticas ou comentários para

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4 APADEP em Notícias I Setembro - Outubro

“Para um estado como São Paulo, que tem mais de 170 mil presos, chega a ser risível dizer que atuam 50 profisionais da Defensoria na Execução Penal. É realmente lamentável” Alvino Augusto de Sá

é o n° aproximado de defensores que atuam na execução penal. são mais de 2400 presos para cada defensor

Lamentável

50

Número baixo de defensores públicos

em São Paulo agrava o caos no sistema

penitenciário

O estado de são paulo tem a maior população carcerária do país: aproximadamente 178 mil presos, segundo da-dos recentes do mutirão car-

cerário do CNJ (Conselho Nacional de Justi-ça), atualmente em curso no estado. Ou seja, de cada três pessoas presas no Brasil, uma está em São Paulo. Descaso, superlotação, falta de assistência jurídica gratuita, maus tratos, tortura, são expressões geralmente utilizadas para caracterizar o fracasso do sistema carce-rário estadual. Ainda assim, contrariando o apontamento de diversos especialistas da área, uma das principais soluções para diminuir o caos no sistema prisional paulista continua sem real enfrentamento: o número de pro-fissionais da Defensoria Pública que atuam na área da execução penal. Em todo o estado, dos atuais 500 defensores públicos, apenas cerca de 50 atuam nessa área. Se considerar-mos o número total de presos condenados (que deveriam em tese ser tutelados por estes defensores) seriam 120 mil encarcerados. A relação, evidentemente, é absurda: são mais

Assistência jurídica

de 2.400 presos para cada defensor público. Exemplo símbolo deste quadro de de-

fasagem de assistência jurídica gratuita ao preso é a região de Presidente Prudente. A cidade do interior do estado, com pouco mais de 200 mil habitantes, fica a quase 600 km da capital. A região Oeste, que circunda o muni-cípio, é hoje detentora da maior concentração de presídios do Brasil. Segundo dados da SAP (Secretaria de Administração Penitenciária do

Estado de SP), existem 36 unidades prisionais na região, sendo 26 Penitenciárias, 2 Cen-tros de Detenção Provisória, 3 Centros de Progressão Penitenciária, 4 Centros de Res-socialização e 01 Unidade de Regime Disci-plinar Diferenciado. Apenas as que abrangem a Unidade Presidente Prudente da Defenso-ria Pública são 15 unidades penitenciárias. Seria esperado, portanto, que houvesse um número considerável de defensores públicos atuando no local. Mas essa não é a realidade. São apenas dois. Sim, isso mesmo: apenas dois defensores públicos atendem uma região com quase 15 mil presos. “Para um estado como São Paulo, que tem mais de 170 mil presos, chega a

Encarceramento em massa

Especial

Número insuficiente de defen-sores públicos em São Paulo agrava o caos do sistema peni-tenciário defasada

DIVu

LGAÇÃO

Page 5: Revista APADEP em Notícias 09.10.2011

APADEP em Notícias I Setembro - Outubro 5

Matéria • Capa i sem defesa jurídica

dos presídios de pesidente prudente, região detentora da maior concentração de penitenciárias no brasil, estão superlotados

70%

“A presença de mais defenso-res públicos nos presídios, no entanto, não significa ape-nas que muitos dos condenados serão libertados. Na realidade, garante-se a regularidade do cumprimento das penas e assegu-ram-se outros direitos consti-tucionalmente garantidos”Patrick Cacicedo

Direitos dospresidiários

ser risível dizer que atuam 50 profissionais da Defensoria Pública na execução penal. É real-mente lamentável”, opina Alvino Augusto de Sá, professor doutor da Faculdade de Direito da USP e membro titular do Conselho Nacio-nal de Política Criminal e Penitenciária (CNP-CP). Para Alvino, mestre em Psicologia Social e doutor em Psicologia Clínica, se o preso não tem assistência jurídica, alguém em quem ele possa confiar sua trajetória de execução, os outros trabalhos, como o de reinserção so-cial, minam. “Simplesmente não adianta nós, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocu-pacionais, diretores de oficinas, de educação, de escola, desenvolvermos atividades visando à reinserção social se o preso não tem o que para um hospital seria o médico, que é o de-fensor público, o operador do direito”.

O Coordenador Auxiliar do Núcleo Es-pecializado de Situação Carcerária da Defen-soria Pública de São Paulo, Patrick Cacicedo, concorda e diz que o número insuficiente de defensores acarreta outro problema gravíssi-mo em São Paulo: apenas os coordenadores das Varas de Execução Penal fazem visitas de vistoria aos presídios. Isso acaba diminuindo a possibilidade de investigar denúncias de tor-tura, por exemplo. “Para a realização de aten-

dimentos jurídicos, análise de fato dos proces-sos, cada defensor público consegue visitar, em média, apenas dois presídios por mês”, diz. Em todo o estado, apenas sob responsabilidade da SAP, são 147 estabelecimentos prisionais. Uma das consequências desse quadro, claro, é o agravamento de um problema histórico do sistema carcerário paulista: a superlotação. “Não existindo defesa, acesso à justiça gratui-ta, vão todos para a cadeia. A superlotação é verificada em praticamente todos os presídios hoje no Brasil e decorre também da falta de de-fensores públicos”, afirma o deputado federal Domingos Dutra (PT-MA), relator da CPI do Sistema Carcerário da Câmara dos Deputados, finalizada em 2009.

Em São Paulo, os números da região de Presidente Prudente corroboram a afirmação do deputado: a própria Secretaria de Adminis-tração Penitenciária aponta que mais de 70% dos presídios da região estão superlotados. “A presença de mais defensores públicos nos presídios, no entanto, não significa apenas que muitos dos condenados serão libertados. Na realidade, garante-se a regularidade do cum-primento das penas e asseguram-se outros di-reitos constitucionalmente garantidos”, com-pleta Cacicedo.

sem justiça, um barril de pólvora: o cadeião de pinheiros, conjunto de quatro cdp’s (centros de detenção provisória), possui três vezes mais presos do que sua capacidade e também abriga presos já condenados. em sp, é conhecido como o “novo carandiru”

defasada

CNJ

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6 APADEP em Notícias I Setembro - Outubro

AvAliAção

Atualmente, tramita no Conselho Su-perior da Defensoria Pública paulista proposta de uma política institucional voltada aos pre-sos provisórios, que correspondem a mais de um terço dos presidiários do estado, segundo dados de 2010 do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (Depen-MJ). O objetivo do Conselho é estabelecer diretri-zes de atuação em duas frentes: o atendimen-to processual e a fiscalização das condições de aprisionamento. Após audiência pública que contou com contribuições de organizações da sociedade civil como o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), o Instituto Práxis de Direitos Humanos (IPDH), o Sou da Paz, a Pastoral Carcerária, o Instituto Terra, Tra-balho e Cidadania e a Conectas Direitos Hu-manos, além da contribuição de dezenas de defensores públicos, uma série de medidas serão sugeridas por meio de deliberação do colegiado. Dentre as propostas estão a cria-ção da função de Coordenador de Assistência

a Presos Provisórios; o fato de o atendimento ao preso provisório passar a ser realizado por todos os defensores públicos atuantes na área criminal, além da realização de treinamento e capacitação para visitas e preenchimento de relatório preparado pelo Núcleo Especializado de Situação Carcerária (cujos padrões deverão seguir diretrizes internacionais).

Outra importante iniciativa recente foi a realização em junho da oficina “Monitora-mento de Locais de Detenção”. Durante três dias, mais de 40 defensores públicos participa-ram de capacitação para identificar ocorrências de tortura e maus tratos durante visitas às uni-dades prisionais e de internação. O curso foi promovido pela Escola da Defensoria Pública de São Paulo (EDEPE) em parceria com a APT - Association of the Prevention of Torture, órgão consultivo do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos Estados Americanos (OEA).

No entanto, mesmo com o empenho da Defensoria em administrar o “cobertor cur-to”, a estrutura pessoal defasada sempre vem à tona, invariavelmente. “Por isso a necessi-dade urgente do envio do ante-projeto de lei pelo Executivo à Assembleia Legislativa de São Paulo que cria mais 100 cargos de defensores públicos no estado”, diz o presidente da APA-DEP, Rafael Vernaschi. Contrariando o Plano Pluri-Anual em vigência, que previu a criação de 100 cargos por ano, apenas 25% das vagas foram criadas, resultado da aprovação de lei em outubro de 2009. Se o PPA tivesse sido cumprido, a Defensoria Pública contaria hoje com 800 defensores, e não apenas 500. As consequências do número insuficiente de defensores públicos são diretas: agravamen-tos de denúncias de tortura feitas por orga-nismos internacionais, constantes rebeliões nos presídios e o tratamento desumano diá-rio que sofrem as quase 180 mil pessoas en-carceradas no estado mais rico da nação.

O deputado Domingos Dutra, que presidiu a CPI dos Presídios: “Não existindo defesa, acesso à justiça gratuita, vão todos para a cadeia. A superloção é verificada em praticamente todos os presídios hoje no Brasil e decorre também da falta de defensores”

CPI dosPresídios

À esquerda, acima, membros da sociedade civil parti-cipam de audiência pública promovida pelo conselho superior da defensoria paulista. ao lado, cela superlotada verificada pelo cnJ no cdp de pinheiros

A Defensoria Pública de SÃO PAuLO fAzENDO SuA PArTE

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Page 7: Revista APADEP em Notícias 09.10.2011

APADEP em Notícias I Setembro - Outubro 7

Essa lei, pretensa-mente mais liberal, pro-vocou uma das maiores explosões carcerárias já vistas no país. De 2007, quan-do ela come-ça a produzir efeitos, a 2010, a po-pulapção carcerária relativa a drogas cres-ceu impres-sionantes 62%

Pedro Abramovay é jurista, professor da FGV-RJ. Natural de SP, foi secretário Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, assessor especial do então ministro Márcio Thomaz Bastos (2003-2007) e secretário de Assuntos Legislativos entre 2007 e 2010. Recentemente, foi indicado pelo governo brasileiro para assumir a direção executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

Em 2006, muitos dos que se consideram garan-tistas ou progressistas em matéria penal come-moraram a aprovação da nova lei de drogas.

Pela primeira vez, de maneira expressa, o porte de drogas para consumo pessoal não mereceria pena de prisão. Passados cinco anos, será que ainda há motivo para comemorar? Nenhum! Não temos o hábito no Brasil de realizar um balanço dos resul-tados de nossas leis, de tratá-las como uma política pública que deve ser avaliada a fim de que se possa fazer uma correção de rumos para que os objetivos definidos sejam atingidos.

No caso de drogas isso é ainda mais grave. As políticas de drogas em geral, em quase todos os países do mundo, inspiradas pela lógi-ca bélica do war on drugs, não estabe-lecem objetivos claros para análises de eficácia. Assim, nunca um país apre-senta como sucesso da política de dro-gas a melhoria dos índices de saúde, a redução do consumo ou até a redução da violência. Sempre se pretende me-dir a eficiência de uma política de dro-gas pelas apreensões, pelo número de presos ou até pelo número de mortos.

Mas essa lei, pretensamente mais liberal, provocou uma das maio-res explosões carcerárias já vistas no país. De 2007, quando ela começa a produzir efeitos, a 2010, a população carcerária relativa a drogas cresceu impressionantes 62%. Eram cerca de 60 mil os presos por tráfico em 2007 e 106 mil em 2010. Para termos ideia da magnitude deste cresci-mento, no mesmo período, a população carcerária relativa aos outros crimes cresceu 8,5%.

O que aconteceu? A nova lei tinha algumas armadilhas. Combinada com uma aplicação do di-reito que despreza a Constituição e privilegia a pro-pagação da ideologia proibicionista, criou-se no Bra-sil um cenário perverso de aplicação da lei de forma seletiva e injusta. A primeira armadilha foi a possibili-dade de redução de pena para condenados por tráfi-

co que não tenham ligação com o crime organizado e tenham bons antecedentes. Uma medida aparen-temente garantista, mas que veio acompanhada da proibição de conversão desta pena em alternativa. A segunda armadilha foi a proibição de liberdade pro-visória. Esta previsão evidentemente inconstitucional e desproporcional - lembremos que um homicida tem direito à liberdade provisória - faz com que mui-tos usuários, classificados como traficantes pela polí-cia, aguardem meses ou anos na prisão até que um juiz modifique sua situação jurídica. Por fim, a lei não prevê uma distinção clara entre o que é um usuário e um traficante, conferindo um peso muito maior à decisão da polícia sobre esta distinção. Na prática,

frequentemente pessoas em situações idênticas são qualificadas como usuá-rios ou são enviadas à cadeia simples-mente por morarem em uma favela ou pela cor de sua pele. As duas primeiras armadilhas já foram declaradas incons-titucionais pelo STF. Entretanto, por ra-zões ideológicas, o judiciário teima em desprezar a posição de sua corte Su-prema. É chegada a hora de se enfren-tar este tema no Supremo de forma mais abrangente. Deve-se questionar a constitucionalidade de diversos pon-tos específicos, mas também deve-se provocar o STF para que possa seguir as posições já tomadas pelas cortes es-panhola, argentina, colombiana, entre outras, para que afirme que a criminali-

zação do porte para consumo é inconstitucional por se tratar de autolesão e, portanto, não passível de interferência estatal por meio do direito penal.

Entre todos os legitimados para levar o tema ao STF, nenhum outro tem as condições políticas, e nem vive as inconstitucionalidades causadas pela lei de drogas, como a Defensoria Pública. Por isso, sugi-ro à ANADEP que ajude o Brasil a corrigir o rumo de sua política de drogas exigindo que a Constituição e os direitos fundamentais dos brasileiros preponde-rem sobre uma aplicação ideológica da lei.

ARTIGOpedro abramovay

A Lei de Drogas no Brasil:

Constituição X Ideologia

Entre todos os legitimados para levar o tema ao STf, nenhum outro tem as condições políti-cas, e nem vive as inconstitucio-nalidades cau-sadas pela lei de drogas, como a Defensoria Pública

Agência brasil

Page 8: Revista APADEP em Notícias 09.10.2011

8 APADEP em Notícias I Setembro - Outubro

APADEP: dr. Luciano, primeiramente, qual

a importância da realização do mutirão car-

cerário do CnJ no estado de São paulo, que

possui hoje 1/3 dos presos do país?

Luciano Losekann: Não haveria sentido em o CNJ realizar mutirões carcerários em to-dos os estados da federação e não realizar no estado que possui a maior população carcerá-ria do país. São 178 mil presos, sendo 94 mil no regime fechado, aproximadamente 25 mil no regime semi-aberto e o restante em regime aberto e em livramento condicional. Então, não só pelo número de presos, mas pela im-portância estratégica que São Paulo possui no cenário nacional, nós não poderíamos deixar de realizar esse primeiro mutirão, que visa não apenas colocar em liberdade, mas, na verdade,

revisar os processos de execução criminal e dar regularidade ao funcionamento da justiça cri-minal, na medida do possível.

APADEP: Em termos gerais, quais as im-

pressões do CnJ ? O que vocês têm constata-

do no sistema carcerário paulista?

Luciano Losekann: Em termos gerais, as instalações físicas dos estabelecimentos em São Paulo podem ser consideradas de razoá-veis para boas. Isso comparando com outros estados da federação, onde temos situações absolutamente inadmissíveis. Óbvio que o sistema paulista, como no resto do país, está superlotado. E isso inviabiliza um adequado tratamento penal do preso. Agora, estas boas condições físicas não têm inibido as constantes reclamações de tortura que existem no siste-ma prisional paulista. E também não inibem a existência de condições péssimas de encarce-ramento, como, por exemplo, em Delegacias da região litorânea, na Baixada Santista.

APADEP: Referente à assistência jurídica

gratuita destinada ao preso, há constata-

ção de um número insuficiente de defen-

sores públicos?

Luciano Losekann: Sim, este é outro pro-blema sério. São Paulo tem hoje 500 defen-sores e nem todos, por óbvio, estão atenden-do na área da execução penal. E esta falta de Defensoria Pública junto às varas de execução penal e nas unidades prisionais causa um pro-blema muito sério. Eu sou um entusiasta da Defensoria no sentido de que, quando ela, não só em São Paulo, mas em todo o país, estiver atuando nas unidades prisionais, os problemas na execução penal tendem a diminuir. Outro problema sério, que reflete na atuação da De-fensoria, é a falta de informação por parte do

o programa de mutirões carcerários do Conselho nacional de justiça (cnj)

teve início em agosto de 2008 e já percorreu mais de 20 estados da federação.

Além de analisar os processos, o programa tem a proposta de traçar uma

radiografia do sistema carcerário em cada estado onde é realizado

Luciano Losekann, Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), coordena o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do CNJ. Assessor da Presidência do órgão e um dos principais coordenadores dos mutirões carcerários, ele concedeu por telefone, de Presidente Prudente, interior de SP, a seguinte entre-vista à revista APADEP em Notícias:

O CNJ começou no dia 20 de julho em SP o maior mutirão carcerário do país. A proposta era ana-lisar cerca de 94 mil processos (presos condenados) até 20 de dezembro, mas provavelmente o prazo será pror-rogado por 1 ou 2 meses

• aceSSo à juStiça No cárcere •

de pacificaçãoDefensoria é forma

94 mil processos

CNJ

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APADEP em Notícias I Setembro - Outubro 9

preso sobre a execução da pena. Na medida em que tivermos uma Defensoria atuante, junto dos presos nas unidades prisionais, há uma pacificação no interior da unidade, pois o pre-so bem informado peticiona menos, reclama menos. E ele tem diante de si um profissional do direito que vai lhe dizer como e quando ele terá o direito a benefícios. Então, ter mais de-fensores públicos é uma forma de pacificação. O preso quer saber do processo dele. Enquanto ele não tem essa informação, enquanto ele não sabe quanto vai progredir, reduzir a pena, ele não fica tranquilo. E vou te dar outro exemplo. Há um problema seriíssimo em São Paulo que envolve tanto o Executivo como o Judiciário e a própria atuação da Defensoria Pública: os procedimentos administrativos disciplinares que são instaurados contra os presos. Uma boa parte deles é nula por ausência de se assegurar ao preso o direito de defesa. Também na par-te administrativa, porque a defesa por vezes é feita por um advogado da Funap ou por um bacharel em direito que é ligado à SAP (Secre-

taria de Administração Penitenciária de SP). Mas quem acusa não pode exercer a função de de-fensor! Isso é absolutamente nulo e afronta o mais comezinho direito de defesa do preso. Hoje há falta de judicialização desse procedi-mento da falta disciplinar. E é uma constante, é regra praticamente no estado de São Paulo. O preso não é ouvido sobre uma falta grave, por exemplo, e o reconhecimento pelo juiz, com a simples homologação daquele procedimento, inviabiliza vários direitos, acarreta em várias punições. Ele passa a não ter direito à comuta-ção, fica sem a possibilidade de progressão de regime e assim por diante. Por mais pesado que seja para o poder judiciário ter de judicializar, ter de ouvir estes presos, isso é uma obrigação do judiciário.

APADEP: Aqui em São paulo há hoje me-

nos de 50 defensores para atuar na Execução

penal. A quantidade de processos é enorme.

Como o senhor vê isso?

Luciano Losekann:: Esse número ainda é insuficiente para o tamanho do estado de São Paulo. Pelo número de processos que trami-tam na justiça paulista, certamente não apenas na área penal, São Paulo possui uma grande demanda reprimida das pessoas carentes que não têm condições de contratar um advogado. O que nós observamos também no mutirão é

que a Defensoria não consegue dar conta do recado, por exemplo, nas varas da capital. Os defensores vão atuando, assim, quase no sufo-co, no desespero. Um mecanismo de atuação que talvez comece a ser prestigiado, embora na execução penal a gente sempre procure ob-servar a questão da individualização das penas, são situações muito assemelhadas como, por exemplo, os presos que já tiveram deferida a progressão de regime e permanecem aguar-dando vaga para ir para o semi-aberto. Estes, os Tribunais têm que começar a agilizar pelo menos em adotar um mecanismo de habeas

corpus coletivo, para determinar que eles efeti-vamente possam ir para o regime semi-aberto. Se determinar que cada um ingresse individu-almente, isso vai abarrotar ainda mais os Tri-bunais.

APADEP: Especificamente por parte dos

presos ouvidos no mutirão, houve reclama-

ção dessa falta de assistência jurídica?

Luciano Losekann::: Sim, houve aqui em São Paulo e isso acontece em todos os esta-dos. As pessoas estão muito desinformadas e a Defensoria Pública tem esse papel, de levar a informação essencial ao preso. Nós esta-mos distribuindo em todo o país a cartilha da pessoa presa, a cartilha da mulher presa, e é impressionante como essas informações são absorvidas. Eles começam a partir do direito à informação, da obtenção dessas informações, a reivindicar os seus direitos. Isso é absoluta-mente essencial. Hoje, com a nossa população carcerária formada em boa parte por pessoas analfabetas, semi-analfabetas, analfabetas fun-cionais, pouco instruídas, essas informações são importantíssimas.

“Esta falta de De-fensoria Pública junto às varas de execução penal e nas unidades prisionais causa um problema muito sério. Eu sou um entusiasta da Defensoria no sentido de que, quando ela, não só em São Paulo, estiver atuando nas unidades pri-sionais, os proble-mas na execução penal tendem a diminuir”

Entrevista I luciano losekann

acima, foto de sala onde são analisados os processos durante o mutirão carcerário realizado pelo cnJ em são paulo.

CNJ

Problema sério

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cidadania

Há 23 anos a Constituição Federal do Brasil estabeleceu como dever do Estado garantir a defesa jurídica daqueles que não podem pagar por um advogado particular. Nos

termos da Carta Magna, em seu artigo 5°, LXXIV: “O Estado prestará assistência jurídica integral e gratui-ta aos que comprovarem insuficiência de recursos”. E para efetivar esta prestação jurisdicional o artigo 134 da Constituição instituiu a Defensoria Pública. No entan-to, contrariando a história da entidade, a atual diretoria da seção São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil insiste em caminhar no sentido oposto, co-locando interesses privados à frente do mo-delo público de assistência jurídica vigente no país.

No estado de São Paulo, a Defensoria Pública foi criada em 2006, após 18 anos do comando constitucional e sob pressão popu-lar que envolveu mais de 400 entidades da so-ciedade civil organizada. Como a assistência jurídica gratuita é um dever público, nos lo-cais onde ainda não há instalações da Defen-soria, o Estado, por meio desta, paga advogados inscritos na OAB-SP para atuarem na defesa da população carente. Estes profissionais, que não prestaram concurso público, são remunerados a cada processo ou a cada audiência, por meio de receitas públicas advindas do Fundo de Assistên-cia Judiciária (FAJ).

atual diretoria da oab-sp segue na

contramão da história

Este modelo, verificado nesta proporção ape-nas no estado de São Paulo, constitui um paliativo, claramente inconstitucional, em transição, e altamen-te oneroso aos cofres públicos, ao bolso do cidadão contribuinte. Para que isso fique mais claro, imagine-mos, por exemplo, se o número insuficiente de juí-zes e promotores no estado de São Paulo recebesse a mesma tratativa. Para suprir tal lacuna, o Executivo contrataria bacharéis em Direito, sem concurso pú-blico, para atuarem como magistrados ou promotores de justiça. Isso seria plausível? Como a resposta é não,

por que para a instituição Defensoria Públi-ca isso pode ser feito?

Enquanto o estado não conta com o número ideal de defensores públicos para prestação de assistência jurídica gratuita, permanece a necessidade de contratação de advogados dativos. E como pelo ordena-mento jurídico vigente cabe à Defensoria gerir o fundo do qual advém verbas para o pagamento de advogados conveniados, à instituição não resta outra alternativa senão

zelar pela boa gestão do erário e honrar os deveres estipulados no convênio firmado com a Ordem dos Advogados.

Mas inconformada justamente com esta gestão do convênio realizado pela Defensoria e após ameaçar a interrupção dos serviços prestados pelos advogados

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dativos, as lideranças da advocacia paulis-ta aprovaram no Colégio de Presidentes de Subseções, em outubro, proposta para transferir a gestão do convênio de Assis-tência Judicial da Defensoria Pública para a Secretaria de Justiça e Cidadania do Go-verno de São Paulo. Em seguida, por meio do deputado Campos Machado (PTB), foi apresentado o projeto de lei 65/2011 na As-sembleia Legislativa do Estado (Alesp) com o mesmo objetivo.

A proposta, no entanto, além de ig-norar o modelo público constitucional de assistência jurídica, está também repleta de outras inconstitucionalidades: trata-se de vício de iniciativa porque a competência de legislar sobre a Defensoria Pública é do Executivo; e material, por afrontar a auto-nomia institucional, garantida pela emenda constitucional n° 45, de 2004, e a previsão constitucional de que o Estado deve prestar orientação jurídica por meio da Defensoria Pública, e não pelo Executivo e suas Secre-tarias.

Em resposta a nota da OAB-SP, a ad-ministração da Defensoria Pública explica os porquês do não pagamento de uma pequena parcela de certidões aos advogados dativos. Durante processo de análise, “verificou-se que uma parte das certidões apresentava in-consistências e irregularidades, porque pre-enchidas sem todas as informações necessá-rias. Houve casos de pedidos de pagamento

por situações não previstas nos termos do convênio. Havia também casos de certidões apresentadas em duplicidade”, diz a nota assinada no final de outubro pelo 1° Sub-Defensor Geral da Defensoria Pública, Davi Depiné. E ainda acrescenta que: “Em todos os casos, as certidões inaptas a gerar paga-mentos são encaminhadas à OAB, por meio de sua Comissão de Assistência Judiciária, para que o órgão promova sua regulariza-ção - entrando em contato, se necessário, com os respectivos advogados”.

Apesar do entendimento jurídico pela inconstitucionalidade ser pacífico para o Executivo e para a maioria dos deputados estaduais, o PLC 65/2011 segue tramitando na Casa Legislativa. No início de novem-bro, passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e foi distribuído ao depu-tado João Antônio (PT), que apresentou voto contrário, pela inconstitucionalidade. Até o fechamento desta edição da revis-ta, o PLC continuava em trâmite. Os de-fensores públicos de São Paulo aguardam manifestação dos deputados estaduais pelo arquivamento do processo ante sua visível inconstitucionalidade. Nesse meio tem-po, não se espera, no entanto, que a atual Diretoria da OAB-SP resgate sua história de defesa dos princípios constitucionais e cesse as ofensivas desproporcionais ende-reçadas ao modelo de assistência jurídica gratuita no estado de São Paulo.

“...verificou-se que uma das partes das certidões apresentava inconsistências e irregularidades, porque preenchidas sem todas as informações necessárias. Houve casos de pedidos de pagamento por situações não previstas nos termos do convênio. Havia também casos de certidões apresentadas em duplicidade”

Matéria I cidadania ou corporativismo

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notaPública da defensoria deputado campos

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o deputado estadual João antônio (pt), vice-presidente da comissão de constituição de Justiça da alesp, elabo-rou voto contrário ao plc 65, pela inconstitucionalidade

assembleia legislativa de são paulo (alesp): o projeto de lei complementar 65/2011 é inconstitucional por vício de iniciativa e material

criar mais cargos de defensores públicos em sp é sinônimo de economia e maior oferta de serviço à população. isso sem contar os benefícios da mediação de conflitose da educação em direitos exercida pela defensoria pública

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O professor André Ramos Tavares, mestre e doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP e livre-docente pela Faculdade de Direito da USP, emitiu no mês de outu-bro parecer favorável à capacidade postula-tória dos Defensores Públicos, independente de inscrição nos quadros da Ordem dos Ad-vogados do Brasil. A contratação do parecer jurídico se deu por iniciativa da APADEP, tendo sido aprovada em Assembleia Geral da ANADEP (Associação Nacional dos De-fensores Públicos), dia 04 de outubro. O do-cumento, que também trata dos reflexos da dispensa de inscrição, será somado à ação di-reta de inconstitucionalidade 4.636 proposta pelo Conselho Federal da OAB. A ADIN en-contra-se atualmente na Procuradoria Geral da República para apresentação de parecer.

Mais de 1200 defensores públicos de todo o Brasil parti-ciparam, entre os dias 15 e 18 de novembro, do X Congresso Na-cional de Defensores Públicos (CO-NADEP), realizado na capital do Rio Grande do Norte, Natal. Além dos concursos de Práticas Exitosas e Teses, diversas mesas debateram temas como o novo código de pro-cesso civil, a política criminal vol-tada às drogas no país, o consumo aliado à preservação ambiental, di-reito à moradia, direito de família, além do tema principal do encontro: “A erradicação da pobreza na atu-ação da Defensoria Pública: as vá-rias dimensões do acesso à Justiça”.

A solenidade de abertura con-tou com a presença de diversas au-toridades, dentre elas a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini; a Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros; o Ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho; o Senador da República José Agripino Maia, além de diversas autoridades da esfera federal e local.

A solenidade de encerramen-to, realizada na sexta-feira (18/11), contou com a palestra do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que reafirmou compromisso com o fortalecimento da Defensoria Públi-ca no Brasil. Antes do encerramento do Congresso, durante Assembleia Geral promovida pela organizadora

www.apadep.org.br

“O Ministério da Justiça tem um forte com-prometimento

com o Estado de Direi-to. Defendemos uma Defensoria Pública forte. Dia haverá em que nós tenhamos em cada comarca um Juiz, um Promotor e um Defensor Público. Essa é a nossa utopia. Não sei até quando estarei à frente do Ministério da Justiça, mas du-rante todo o tempo em que lá permanecer, estarei ao lado de vocês, empenhado nos interesses da Defensoria Pública”

DIó

GEN

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A/rN

FRASE

josÉ eduardo cardozo, Ministro da Justiça, durante o X congresso nacional de defensores públicos, em novembro

x conadeP debate erradicação da pobreza

CURTAS

Autonomia

Parecer de andrÉ ramos taVares

andré ramos tavares com o ministro ricardo lewan-doski no lançamento do Vade-Mécum eleitoral, de autoria de ambos, dia 19 de outubro

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a governadora do rn, o presidente da anadep, o Ministro da previdência social, o senador José agripino e a presidente do condege durante abertura do X conadep em natal

Jairo salvador, à esquerda, defensor público paulista, foi um dos 3 vencedores do concurso de práticas exitosas do X conadep

o defensor público por sp, aluísio iunes (se-gundo da esquerda para a direita), ganhou o 1° lugar no concurso de teses do X conadep

do evento, a Associação Nacional de Defensores Públicos (ANADEP), o estado do Espírito Santo foi elei-to para sediar o XI Congresso Na-cional de Defensores Públicos, em 2013. No ano de 2012, ocorrerá em Fortaleza (CE), o V Congresso da Associação Interamericana de Defen-sorias Públicas, com o tema “Sistema Interamericano de Direitos Humanos e a atuação dos Defensores Públi-cos na promoção e defesa das pesso-as em condição de vulnerabilidade”.

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