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Um estudo sobre a psicologia do mercado O setor de TI em consolidação Os segredos da Economist Intelligence Unit Nº 6 ||||| Janeiro/Fevereiro/Março 2008 ||||| www.apimec.com.br INOVAÇÃO Brasil ainda engatinha na única trilha para o desenvolvimento

Revista Apimec jan 2008

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Um estudo sobre a psicologia do mercado O setor de TI em consolidação Os segredos da Economist Intelligence Unit Nº 6 ||||| Janeiro/Fevereiro/Março 2008 ||||| www.apimec.com.br ALVARO BANDEIRA PRESIDENTE – APIMEC NACIONAL

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Page 1: Revista Apimec jan 2008

Um estudo sobre a psicologia do mercado

O setor de TI em consolidação

Os segredos da Economist Intelligence Unit

Nº 6 ||||| Janeiro/Fevereiro/Março 2008 ||||| www.apimec.com.br

INOVAÇÃOBrasil ainda engatinha na única trilha para o desenvolvimento

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CARTA S/A

...o seu 20º Congresso, coroando de êxitos quase quatro décadas de existência e de im-portantes serviços prestados para o mercado de capitais brasileiro.

O sucesso de nossa Apimec está no esforço de muitos abnegados que por lá passaram e deixaram impressas suas marcas em lutas que muitas vezes pareceram inglórias, mas que no final nos trouxeram o sabor da vitória. Foi as-sim na Lei das Sociedades por Ação e criação da CVM, passando pela profissionalização da comunidade de analistas e profissionais do mercado e cumprindo com galhardia o Plano Diretor do Mercado de Capitais, recém-encer-rado em sua recente versão, com os objetivos inteiramente cobertos.

Foi em função da dedicação desses profis-sionais que hoje podemos nos orgulhar do Bra-sil dispor de um mercado de capitais moderno em seu aparato legal e operacional, de pessoal bem treinado e reciclado e de perfeita sintonia com as práticas mais avançadas da análise de investimento e operações estruturadas.

Pois bem, o 20º Congresso da Apimec terá como tema central as Novas Fronteiras, os De-safios para o futuro e as Responsabilidades inerentes. Logo no início traçaremos os ce-nários econômicos internos, para em seguida cotejar com a nova ordem econômica global.

No próximo mês de agosto a Apimec estará realizando...

||| PRESIDÊNCIA Presidente Alvaro Bandeira | Vice-Presidente Maria Cecilia Rossi ||| DIRETORIA Certifi-cação Ronaldo Nogueira | Assessoria para assuntos Jurídicos Eduardo Boccuzzi | Assessoria para assuntos Institucionais Thomás Tosta de Sá | Assessoria para assuntos de Sustentabilidade Roberto Sousa Gonzalez ||| CONSELHO DIRETOR Alvaro Bandeira | Maria Cecilia Rossi | Alexandre Guimarães (Pres. APIMEC DF) | Paulo

Ângelo Carvalho de Souza (Pres. APIMEC MG) |Raimundo Porto Filho (Pres. APIMEC NE) | Luiz Fernando Lopes Filho (Pres. APIMEC Rio) |Lucy Aparecida de Sousa (Pres. APIMEC SP) | Débora de Souza Morsch (Pres. APIMEC Sul) ||| COMITÊ DE ÉTICA DA APIMEC - CEA Presidente Milton Luiz Milioni | Mem-bros Eduardo Boccuzzi | Francisco da Costa e Silva | Francisco Petros | Marco Geovanne Tobias da Silva | Nelson Eizirik | Robert John van Dijk ||| IBCPI – INSTITuTO BRASILEIRO DE CERTIFICAçãO DOS PROFISSIONAIS DE INVESTIMENTO Presidente do Conselho Ronaldo Nogueira | Diretor Geral Haroldo Reginaldo Levy Neto | Diretora Acadêmica Lucy Aparecida de Sousa ||| REVISTA APIMEC Diretor Responsável Carlos Antonio Magalhães

Discutiremos, na seqüência, o processo de in-ternacionalização das bolsas e das empresas brasileiras, matérias que estão na ordem do dia nacional e que têm movimentado os pro-fissionais da área.

Os painéis simultâneos que acontecerão trarão discussões de interesse da comunidade acadêmica e de analistas, com temário sobre a psicologia do mercado e análise técnica, go-vernança e desenvolvimento empresarial, a in-dústria de assets, instrumentos para avaliação e decisão de investimento. Dois outros temas se destacam representados pela qualificação e certificação de profissionais e sustentabi-lidade no mercado de capitais como fator de decisão de investimento. Abrangeremos ainda a Previdência Complementar e promoveremos “acalorados” debates entre profissionais de investimentos e de RI.

Por essa época (agosto), as discussões so-bre grau de investimentos deverão estar acir-radas e conseguiremos debater seus impactos sobre o mercado de capitais. Importância será dada também à educação dos investidores e às ações que deverão ser levadas a cabo.

Enfim, com a coordenação da Apimec Rio, seu presidente Luiz Fernando Lopes Filho, seu coordenador geral, Eduardo Werneck, o apoio fundamental das empresas abertas e suporte das demais regionais, estaremos realizando um Congresso para você e seu aprimoramen-to. Prestigie a Apimec com seu comparecimen-to e discussões profícuas e se una a nós nesse empreendimento de enorme relevância para o mercado de capitais brasileiro.

ALVARO BANDEIRA PRESIDENTE – APIMEC NACIONAL

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6 MERCADO EM AÇÃO

10 ENTREVISTADavid Crichton, diretor de Pesquisa da Economist Intelligence Unit

14 ESTUDOComo as finanças comportamentais afetam o mercado e geram ineficiência na precificação dos ativos

20 OPINIÃOA negociação quantitativa, segundo Fábio Bretas

26 LIVROUm olhar otimista e cauteloso sobre a América Latina em “The Forgotten Continent”

28 CAPAInvestimentos em inovação ainda estão longe de gerar bons frutos no Brasil

34 OPINIÃOOs reflexos no Brasil da turbulência norte-americana, por Adacir Reis

36 DAVOSDesencantamento no Fórum Econômico Mundial 2008

40 ANÁLISERoberto Gonzalez

42 ZOOM

�Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

Índi

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|||REDAÇÃO Publishers e editores Ana Costa – [email protected] e Cesar de Lima e Silva – [email protected]|Reportagem Gisele Amaral e Lucianne Carneiro (Londres)|Consultor editorial Marcos Tisser|Designer gráfico Fernanda Precioso|Secretária da redação Sônia Gomes||| A Revista Apimec é uma publicação trimestral editada pela Cellera Comunicações. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Os artigos, matérias assinadas, fotografias e informações técnicas são de responsabilidade dos respectivos autores||| Pré-impressão e impressão Walprint +55 21 2209 1717

www.cel lera .com.br+55 21 3222 8300+55 11 2626 1325

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REVISTA APIMEC | Nº 6ANO 36 | JAN/FEV/MAR 2008

Longe de saber seu real desfecho, a crise norte-americana parece acontecer em doses homeopáticas. No segundo semestre de 2007, o anúncio do calote de pagamentos de hipotecas; agora, a venda de um dos maiores bancos, o Bear Stearns, por um valor irri-sório. O que mais vem pela frente?

Muitos estudiosos apontam os riscos de estarmos cada vez mais dependentes das commodities, o que deveria ser evitado a partir de investimentos em pro-dutos de maior valor agregado para exportações, es-pecialmente aqueles que envolvem inovação. Trata-mos desse assunto em nossa matéria de capa, que dá pistas de como poderíamos ficar menos vulneráveis a crises externas, no futuro.

Exemplos da crescente importância da inovação e da tecnologia podem ser conferidos em nossa repor-tagem sobre o setor de Tecnologia da Informação. A forte demanda, ainda além da capacidade de ofer-ta, evidencia o potencial deste mercado não só aqui, mas em todo o mundo. Só no que diz respeito a mão-de-obra capacitada para trabalhar na área, no Reino Unido, estima-se que 6,8% das vagas disponíveis não serão preenchidas. No Brasil, a demanda por profis-sionais especializados deve gerar 100 mil vagas por ano em 2010.

Nesta edição, vale destacar também que passamos a contar com um colaborador fixo, na seção Análise. Nela, Roberto Gonzalez vai tratar de tudo o que en-volve o tema sustentabilidade, a começar por como ele tem impactado nas atividades das empresas de energia elétrica. Esse assunto já superou o modismo, em particular nesse setor que mexe tanto com o meio ambiente e a sociedade. Afinal, é diante de situações críticas que surgem alternativas aos modelos em vi-gor, como saídas de emergência.

Saída de emergência

22 SETORIALAs oportunidades do promissor mercado

de Tecnologia da Informação

� REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

editorial

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No final deste ano, as companhias abertas e as instituições financeiras brasileiras terão que estar com tudo pronto para preparar suas demonstrações contábeis com base nas determinações do IASB (Internacional Accounting Standards Board). Esta organização sem fins lucrativos é responsável pela edição e atualização das normas internacionais de contabilidade denominadas IFRS. Essas normas já estão em vigor na Comunidade Européia, desde 2005, e mais de 100 países já se comprometeram a adotá-la. O Brasil o fez por intermédio da CVM e do Banco Central. Aqui, as demonstrações consolidadas a partir de 31 de dezembro de 2010 terão que seguir o IFRS. Mas como sempre é preciso permitir sua comparação com o ano anterior, o trabalho começa de fato nos primeiros dias de 2009.O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado para centralizar e uniformizar o processo de produção de normas contábeis brasileiras, sempre de olho na convergência aos padrões internacionais. Além da Apimec, ele é

formado Abrasca, Bovespa, CFC, Fipecafi e Ibracon. Para dar uma dimensão melhor da árdua tarefa de estender essa mudança para fora do universo da CVM e do Banco Central, basta dizer que o Brasil tem cerca de 400 mil profissionais registrados na área contábil. Por isso, enquanto o Projeto de Lei 3.741/2000, que prevê a reforma da Lei das S/As, não estiver aprovado, o CPC está considerando o seguinte padrão de convergência para as demonstrações individuais:

• As normas internacionais serão adotadas sempre e quando não houver conflitos com a legislação vigente, sendo feitas as harmonizações necessárias para o melhor entendimento pelos profissionais.

• Os eventuais conflitos entre a legislação vigente e o padrão internacional serão claramente divulgados no documento de aprovação ou no próprio pronunciamento, quando aplicável, podendo ser utilizadas disposições transitórias quando oportuno.

• Quando no entendimento dos membros do CPC a norma internacional não estiver de acordo com o consenso da prática contábil mais apropriada, será feito o devido questionamento ao IASB, por meio dos fóruns adequados, a fim de contribuirmos para o processo de aprimoramento da norma internacional.

• O CPC, por meio de seus membros ou de grupos de trabalho especialmente formados, analisará e fará suas sugestões necessárias durante os processos de audiências públicas do IASB.

�Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

MERCADO EM AÇÃO

A gLOBALIzAçãO dA CONtABILIdAdE

~

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SEgundA ETAPA – EM FASE dE MobIlIzAção

(a) assuntos que apresentam certas divergências conceituais entre a norma brasileira e a internacional:

• Ativos Intangíveis• Benefícios a empregados (inclui IFRIC 14)• Pagamento baseado em ações Resultado por Ação• demonstrações contábeis consolidadas• Combinação de negócios• Adoção das IFRS pela primeira vez

(b) assuntos que requerem poucas alterações:

• Eventos subseqüentes• Práticas contábeis, mudanças de estimativas contábeis e erros• Apresentação das demonstrações contábeis• Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes• Imposto de Renda• demonstrações contábeis em economias hiperinflacionárias

TERCEIRA ETAPA – ASSunToS quE REquEREM AlTERAçõES MAIS PRoFundAS

• Instrumentos financeiros• Exploração e avaliação de recursos minerais• Ativos Biológicos• Subvenções governamentais• Relatório por Segmento (somente divulgação)

O CPC estimula o recebimento de comentários, sugestões, observações e colaborações que poderão ser encaminhados à Coordenadoria técnica do CPC pelo e-mail [email protected] ou por correspondência: Comitê de Pronunciamentos Contábeis, Coordenadoria técnica, SAS, Quadra 5, Bloco J, Ed. CFC, Brasília-dF, CEP 70070-920.

Para quem quiser acompanhar mais de perto as mudanças contábeis, segue uma lista dos assuntos com os quais o CPC pretende lidar até 2009:

PRIMEIRA ETAPA – Já EM CuRSo

•Redução ao Valor Recuperável dos Ativos – Pronunciamento emitido•Conversão de demonstrações Contábeis – Concluído•Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das demonstrações Contábeis – em fase final•Partes Relacionadas•Contratos de Construção e Concessão•Contratos de seguros (IRFS 4)•Fluxos de Caixa

� REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

MERCADO EM AÇÃO

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Dinheiro caro Como o governo federal tem déficit fiscal, o dinheiro com o qual ele vem comprando dólares no mercado de câmbio vem da emissão de títulos da dívida interna. Além disso, a queda do dólar gerou um prejuízo de R$ 47,5 bilhões ao Banco Central, em 2007. Como todos os prejuízos do BC são cobertos pelo Tesouro Nacional, isso vai gerar ainda mais dívida, pois vai demandar a emissão de novos títulos. Por isso muita gente tem criticado o nível das reservas internacionais do país, atualmente próximo de US$ 200 bilhões. Mas o diretor de Administração do BC, Antero Meirelles, lembrou que as reservas também trazem vantagens, como aumentar a confiança de investidores estrangeiros no país, reduzindo o custo que governo e empresas têm para tomar empréstimos no exterior. “Nós só saberíamos o custo de não ter essas reservas se não tivéssemos essas reservas num momento como o atual”, disse referindo-se à crise internacional.

�Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

O outro lado da moedaPara Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest Investimentos, a força do real, em razão das reservas internacionais, está provocando uma “verdadeira revolução” no mercado financeiro brasileiro. “Investidores internacionais de peso estão trazendo dinheiro para o mercado de renda fixa, principalmente no segmento de prazos mais longos. temos hoje um mercado de títulos privados de até 20 anos. Com isso, temos – pela primeira vez na nossa história – uma estrutura a termo de taxas de juros. dificilmente teríamos isso sem o dinheiro de fora por conta da confiança na taxa de câmbio. Os anos de chumbo da inflação deixaram uma marca indelével no sistema bancário brasileiro: operações de curto prazo e indexadas à inflação. São os investimentos de fora que romperam com esse comportamento de bancos e investidores. Se hoje temos financiamentos ao consumidor de até seis anos, é por conta desse mercado de títulos de longo prazo”, explica.

Que crise?A global Equity acaba de lançar dois fundos com os quais pretende captar R$ 800 milhões. Com R$ 300 milhões, o global Equity Ethical, quando estiver fechado, vai elevar o patrimônio dos chamados fundos de sustentabilidade para R$ 2 bilhões no Brasil. No início do ano passado esses fundos somavam apenas R$ 500 milhões. Já o global Equity Properties, de R$ 500 milhões, será destinado para diversos projetos de pequenas e médias construtoras que vinha tendo dificuldade de obter crédito em condições competitivas com as gigantes que abriram capital recentemente. Ele é um FIP imobiliário inovador, uma vez que esse tipo de fundo normalmente se destina a apenas um projeto de grande porte.

MERCADO EM AÇÃO~

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Bovespa + BM&Fdo blog do jornalista Luis Nassif: “Nos ultimos anos, finalmente, o mercado de capitais parece ter se consolidado. A partir de agora, terá que ser tema de qualquer discussão em torno de algumas políticas fundamentais:

1. Na integração com a América Latina, permitindo a criação das multinacionais latinas e facilitando processos de fusão e adensamento da cadeia produtiva do continente. Principalmente, permitindo negociações internas sem depender do dólar. A arbitragem entre moedas pode se dar na própria Bolsa.2. No financiamento das políticas industriais.3. Na criação de novos mecanismos de financiamento extra-bancários.4. Na extensão dos mecanismos de hedge aos pequenos produtores.5. Na consolidação do Brasil como o grande player agrícola mundial”.

� REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

Warren Buffet compraria...Além da moeda brasileira, é claro, que fez o investidor ganhar milhões nos últimos anos. A Standard & Poors tentou usar critérios similares aos de Buffet para listar companhias abertas que poderiam ser bons investimentos no momento. Na lista final de 60 empresas como 3M, Apple, British American tobacco, Coca-Cola, PepsiCo, Portugal telecom e telefonica, o Brasil está representado por Aracruz (foto) e Votorantim Celulose (VCP).

Apimec Sul 2008A presidente da CVM, Maria Helena Santana, vai a Porto Alegre no dia 16 de abril para um encontro com investidores, organizado pela Apimec Sul, na Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRgS). A regional já realizou, este ano, seu primeiro curso de Introdução ao

Mercado de Capitais, que teve inscrições esgotadas e será levado também para Florianópolis. Os próximos cursos serão os de gestão Avançada de Renda Fixa e Introdução ao Mercado de derivativos. Além desses, há o preparatório para o exame de Certificação de Agentes Autônomos de Investimentos e Empregados

de Instituições Financeiras, a 4ª edição do Especialização em Mercado de Capitais e a 15ª edição do Formação e Aperfeiçoamento de Profissionais para o Mercado de Capitais, este em parceria com a UFRgS. Para completar, em março, maio, julho, setembro e novembro, haverá cursos de dois dias sobre análise técnica. A Apimec Sul tem mais de 20 Reuniões Apimec agendadas, até o final do ano, assim como a já tradicional visita às instalações da Souza Cruz em Santa Cruz do Sul (foto).

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Além do óbvio

fotos divulgação

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ENTREVISTA | DAVID CRIChToN

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A derrubada de fronteiras causada pela globalização trouxe uma grande oportunidade para

o mercado de análise e pesquisa. Com ela, cresceu a necessidade de avaliar riscos levando

em conta aspectos cada vez menos óbvios, ligados à compreensão de diferentes questões

econômicas, financeiras e políticas dos diferentes países. “São cada vez mais importantes os

modelos de riscos comparativos para uma companhia decidir se vai investir no Equador e não

na Venezuela, ou na Tailândia e não no Laos, por exemplo”, afirma David Crichton, diretor da

equipe de pesquisa da Economist Intelligence Unit (EIU) – integrante do grupo The Economist.

Em entrevista exclusiva à Revista Apimec, ele aponta que as mudanças para as empre-

sas incluem mais exigências legais e um ambiente de acompanhamento rigoroso de

suas ações pelos stakeholders. E isso não está na mão apenas da tecnologia. Segundo

ele, não há substitutos para indivíduos, que mantêm contatos, entendem os diferentes

países, sabem fazer as perguntas certas e interpretar de maneira correta as respostas.

No caso da crise do subprime, no entanto, Crichton considera que houve erro não ape-

nas na avaliação desses novos riscos, mas também de fatores que podiam ser medidos,

já que a própria definição de subprime pressupõe tomadores de crédito com menor ca-

pacidade de pagamento. POR LUCIANNE CARNEIRO, CORRESPONDENTE EM LONDRES

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Revista Abamec – O que está mudando no trabalho de pesquisa e análise com o avanço da globalização desde os anos 90?David Crichton – A globalização nos trouxe uma grande oportunidade porque aumenta a necessidade de compreensão das diferentes condições econômicas, financeiras e políticas de cada país em que se opera. São cada vez mais importantes os modelos de riscos comparativos para uma companhia decidir seu investimento. Empresas multinacionais e interessadas em mercados emergentes têm que mergulhar fundo nas análises de risco para tomar suas decisões, como a escolha da cadeia de fornecedores. Em geral, as empresas não possuem este conhecimento e precisam de especialistas externos para este julgamento. Outra mudança é o aumento das exigências legais, especialmente em serviços financeiros, mas também em outras áreas como saúde, segurança e meio ambiente. Além disso, as empresas têm que operar em um ambiente de acompanhamento rigoroso de seus conselhos, dos investidores e das comunidades. Ou seja, existe uma série de novos fatores e variáveis que precisam ser compreendidos, medidos e modelados.

E que novas ferramentas são usadas hoje?Quando comecei, até o software Excel não era tão desenvolvido e usado como é hoje. Ser capaz de criar modelos de risco muito detalhados se tornou uma exigência básica. Mas outra característica muito importante é o acesso à informação. É claro que a internet ampliou o volume de informação, mas não há substitutos para indivíduos, que mantêm contatos, entendem os diferentes países, sabem fazer as

perguntas certas e interpretar de maneira correta as respostas. A tarefa não é apenas encontrar a informação, mas conseguir uma interpretação qualificada.

Como é o trabalho de sua equipe?Sou o diretor da equipe de pesquisa para o cliente, que funciona como uma operação de consultoria dentro da Economist Intelligence Unit (EIU). Avaliamos os problemas ou oportunidades de clientes e os ajudamos a entender os riscos e os fatores econômicos e políticos em torno de suas escolhas de negócio. Para isso, mobilizamos o conhecimento de colegas da EIU sobre diferentes países e a experiência e a habilidade na modelagem econômica e no desenvolvimento de previsões. Depois das consultas, adicionamos uma camada de análise customizada para cada cliente. Às vezes, esta camada de customização pode ser muito fina, apenas uma forma de apresentação diferente, mas em outras ocasiões praticamente todo o trabalho é customizado.

O ex-presidente do Fed Alan Greenspan disse que a crise do subprime tem uma causa maior que é a má avaliação dos riscos. Isso é de fato um problema? Inicialmente, a tarefa de avaliar riscos era concentrada em riscos que podiam ser medidos e facilmente identificados. Atualmente, no entanto, existem riscos menos óbvios e que também devem ser levados em consideração, ligados a circunstâncias diferentes na economia e na política. É preciso haver um entendimento muito mais profundo do risco e ampliar a responsabilidade sobre a avaliação, que não

“Atualmente, existem riscos menos óbvios ligados a circunstâncias

diferentes na economia e na política”

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deve estar concentrada em apenas duas ou três pessoas da diretoria. É preciso que seja ainda mais eficiente e não esteja focada somente nos riscos mais óbvios, mas em todas as possibilidades.

Qual foi o principal erro de avaliação no caso dos subprime?Há diferentes aspectos de avaliação de risco associados com a crise dos subprime, um que deveria ter sido óbvio, enquanto o outro nem tanto. A questão óbvia ocorre quando se concorda em emprestar dinheiro para tomadores que claramente têm mais dificuldade de pagamento, que é a definição do subprime. Já os riscos menos óbvios foram os associados aos novos produtos de crédito que foram criados, como as obrigações de dívida colaterizada (CDOs, na sigla em inglês), que vão em direção a uma tendência de dividir os diferentes elementos de risco e combiná-los em produtos financeiros diversos. Por um lado, parecia uma maneira de reduzir o risco, porque estava dividindo com produtos seguros, mas o que parece ter acontecido é que havia muito pouca transparência em relação às obrigações e responsabilidades de cada parte. Por isso houve tanta volatilidade, ninguém sabia quem ia segurar a última carta.

O senhor diria que a crise dos subprime passou? Qual é o cenário para a economia mundial? Ainda há preocupações, o risco de default existe, mas as ações dos bancos centrais têm ajudado a estreitar os riscos da crise. A equipe da The Economist ainda prevê crescimento na

economia mundial nos próximos anos, apesar das constantes revisões dos números para baixo. Não acreditamos que vá haver uma recessão nos Estados Unidos, mas o risco aumentou de 30% para 40% em pouco mais de três meses. Nossas previsões para 2008 são de um crescimento de 3,2% para a economia mundial, 1,5% para a economia americana e 4,3% para a América Latina. No início do ano passado, a expectativa para estas taxas era de 3,3%, 2,1% e 3,8%, respectivamente. Para 2009, revisamos nossa projeção da economia americana de 2,4% para 2%. Mesmo que estejamos atravessando a crise dos subprime, o impacto ainda será sentido por algum tempo, por causa das condições mais restritas de crédito e os menores níveis de confiança, que vão afetar gastos de consumidores e níveis de investimento. Ou seja, haverá efeitos no potencial de crescimento por algum tempo. As economias da China e da Índia, no entanto, continuam com boas perspectivas.

O senhor acredita na idéia do fim dos ciclos econômicos?Há evidências de que, nos últimos quinze anos, os altos e baixos dos ciclos econômicos se tornaram menos marcados, o que é positivo em termos de previsibilidade e estabilidade no mercado. A realidade, no entanto, é que o ciclo econômico ainda está conosco e sempre estará. Eventos inesperados, como a crise de subprime, sempre terão o potencial de nos abater e ampliar o intervalo entre as boas partes do ciclo e as ruins. Talvez os altos e baixos sejam mais moderados do que já foram, mas não há garantia de que não existirão mais.

“Mesmo que estejamos atravessando a crise dos subprime, o impacto ainda será sentido por algum tempo”

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Finanças Comportamentais

As Finanças Comportamentais são um novo campo de estudos de finanças. Essa nova teoria se contrapõe ao pressuposto de racionalidade dos tomadores de deci-são, adotado pelas Finanças Modernas.

Mas antes de falarmos sobre essa área específica, é importante contextualizar o de-senvolvimento das finanças. Até hoje não é possível precisar o momento em que as finanças se desvincularam do estudo de economia para se firmar com uma área da ciência específica.

Dois eventos, em minha opinião, marcam a consolidação do estudo de finanças. O primeiro foi a criação do Dow Jones Industrial Average ou índice Dow Jones, em 1896, por Charles H. Dow. Esse índice mede o desempenho das ações da New York Stock Exchange (NYSE). Charles Dow, além de ter colocado seu nome no mais famoso índice de mercado de ações do mundo, também ficou conhecido pela Teoria Dow, que é um dos fundamentos da análise técnica.

JurAndir Sell MACedo Jr.

Doutor em Finanças (EPS/UFSC)Mestre em Engenharia Econômica (EPS/UFSC)Professor Adjunto do Departamento de Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)Professor do Programa de Pós-Graduação Ciências Contábeis (PGC) da UFSC onde ministra a disciplina de Finanças ComportamentaisAutor do livro A Árvore do Dinheiro - Guia para Cultivar a Sua Independência Finan-ceira (Campus)

14Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

ESTUDO

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Um segundo evento marcante foi a publicação do livro Security Analysis por Benjamin Graham e David Dodd, em 1934. Nesse livro foram colocadas as bases da análise fundamentalista. Segundo os fundamentalistas, o valor de um ativo nada mais é do que o valor presente dos fluxos de caixa futuro desse investimento.

Tanto a escola gráfica quanto a fundamentalista consideram que o mercado nem sempre está certo e que é possível ganhar dinheiro descobrindo quando o mercado está errado. A teoria financeira tradicional considera que os mercados estão sujeitos a comporta-mentos irracionais.

A idéia de que os mercados pudessem se comportar de forma irracional contrariava os princípios da Teoria da Utilidade. De acor-do com esta teoria, em condições de incerteza, as pessoas racionais processam as informações objetivamente. Consideram toda infor-mação disponível e respondem a novas informações com base em um conjunto claramente definido de preferências.

Dessa forma, investidores racionais, ao comprar uma ação ou ativo, processam as informações disponíveis objetivamente. Os er-ros que cometem na previsão do futuro são aleatórios e não re-sultantes de uma tendência de otimismo ou pessimismo. Ainda segundo a Teoria da Utilidade, os agentes econômicos são racio-nais e tomam decisões econômicas de forma preponderantemente racional e deliberativa. Ou seja, sempre pensam antes de tomar uma decisão e sempre tomam decisões que aumentam os fatores de bem-estar (feel good factors).

Mesmo sabendo que nem todas as decisões são racionais e de-liberadas, a Economia Clássica e as Finanças Modernas consideram que essas decisões dos agentes econômicos são suficientes para modelar o funcionamento da economia e dos mercados.

New York Stock Exchange (NYSE)

Livro de Benjamin Graham & David Dodd, capa da Edição de 1951

RACIONAIS

DELIBERATIVAS I Homuseconomicus

15 REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

Page 16: Revista Apimec jan 2008

Para facilitar a utilização de modelos matemáticos, a Economia e, posteriormente, as Finanças, viraram as costas aos seres humanos reais, e passaram a considerar um universo de agentes racionais, egoístas e maximizadores de utilidade. O Homo Sapiens deu lugar ao Homo Economicus.

O conceito de racionalidade do tomador de decisão, presente na Teoria da Utilidade fortaleceu significativamente com o trabalho de Von Neumann e Morgenstern, que originou a Teoria dos Jogos. Influenciado pela Teoria dos Jogos, Markowitz publicou no início da década de 1950 um artigo histórico chamado “Portfolio Selection”. Neste artigo, Markowitz definiu risco como uma variável aleatória e tratava da forma como risco e o retorno se comportavam quando ativos adicionais eram adicionados a uma carteira. Este conceito de risco embasou a idéia de diversificação de investimentos. A defesa da diversificação parte do pressuposto que os investidores são ra-cionais e que os mercados não podem ser previstos. Sendo assim, um investidor não pode obter sistematicamente uma rentabilidade superior à da média do mercado.

O trabalho de Markowitz era tão inovador que causou uma ruptura na teoria de finanças. As finanças que supunham que era possível um investidor individual ganhar sistematicamente mais que a média de mercado passou a se chamar de Finanças Antigas ou Tradicionais. Em contrapartida, a escola que defendia o merca-do eficiente (onde a esperança matemática do especulador é zero) passou a ser chamada de Finanças Modernas.

Assim, o mainstream de finanças passou a acreditar que os mer-cados não poderiam ser previstos e que a melhor aplicação era em uma carteira que buscasse acompanhar a média de mercado (gestão passiva). Este conceito está baseado nas premissas de que o investidor é racional, avesso ao risco e sempre procura maximizar seu bem-estar (utilidade).

A idéia de “homem econômico” estava plenamente amparada na Psicologia Behaviorista. Porém, a deficiência do modelo racio-nalista para explicar o funcionamento econômico e, particularmen-te, as inúmeras anomalias no funcionamento dos mercados, vem tornando obrigatória uma revisão dos modelos clássicos de racio-nalidade dos tomadores de decisão.

A utilização de regras heurísticas

pode gerar vieses nas decisões. Um viés

de decisão (biases) é uma tendência

sistemática de violar os axiomas da

racionalidade ampla. Um fato importante

é que o viés pode, igualmente, afetar

de forma semelhante um grande número

de pessoas.

16Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

Page 17: Revista Apimec jan 2008

A Psicologia Behaviorista encontrou séria oposição na Psicologia Cognitiva. Segundo os cognitivos, muitas das decisões dos huma-nos são automáticas, ou seja, não são resultados de uma vontade deliberada de decidir. Eles também consideram que aspectos emo-cionais podem afetar muitas de nossas decisões.

Assim, as Finanças Comportamentais surgiram a partir dos avanços na compreensão da forma com que tomamos decisões, feitas particularmente pela Psicologia Cognitiva. As Finanças Com-portamentais não negam que a maioria das decisões econômicas é tomada de forma racional e deliberada. Mas consideram que, se não forem levadas em conta também as decisões emocionais e automáticas, os modelos econômicos serão falhos para explicar o funcionamento dos mercados.

Dois psicólogos cognitivos, Amos Tversky e Daniel Kahneman, criaram um modelo descritivo da forma utilizada pelos humanos para tomar decisões. Inicialmente, estes psicólogos notaram que os humanos utilizavam regras heurísticas para tomar decisões. Regras heurísticas são atalhos mentais ou regras empíricas para encontrar uma solução para dado problema.

A utilização de regras heurísticas pode gerar vieses nas decisões. Um viés de decisão (biases) é uma tendência sistemática de violar os axiomas da racionalidade ampla. Um fato importante é que o viés pode, igualmente, afetar de forma semelhante um grande nú-mero de pessoas.

Um segundo fator gerador de vieses de decisão descrito por

O Homo Economicus dos quadrinhos

DECISÕES RACIONAIS EMOCIONAIS

DELIBERATIVAS I IIAUTOMÁTICAS III IV

17 REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

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Kahneman e Tversky foi agrupado sob o nome de Teoria do Pros-pecto ou Teoria das Perspectivas (Prospect Theory). De acordo com essa teoria, os humanos utilizam duas fases no processo de escolha. A primeira para editar os prospectos arriscados e a segun-da para avaliar estes prospectos. A fase de editar consiste em uma análise preliminar das probabilidades oferecidas quando, freqüen-temente, se faz uma simplificação das probabilidades. Na segunda fase, as probabilidades editadas são avaliadas e a probabilidade de valor mais alto é escolhida.

A separação das decisões em duas fases e, particularmente, a uti-lização da fase preliminar de editar, que tenta simplificar o processo, muitas vezes gera vieses de decisão ou erros sistemáticos. A existên-cia de erros sistemáticos no mercado financeiro não é compatível

com as Finanças Modernas. A possibilidade de existência de erros sistemáticos no processo de decisão causa uma ruptura nas finanças já que abala um dos pressupostos das Finanças Modernas.

A tendência dos investido-res a cometer erros sistemáticos de avaliação é chamada de ilu-são cognitiva. Segundo Tversky e Kahneman, da mesma forma que os humanos têm dificulda-de para julgar subjetivamente quantidades físicas, também têm dificuldades para julgar subjetivamente probabilidades.

As ilusões cognitivas são como ilusões de ótica: são fá-ceis de entender, mas muito di-fíceis de eliminar. O objetivo de aprender sobre ilusão cognitiva, e sua influência no processo de tomada de decisão, é poder re-conhecer as situações em que este erro particular pode se ma-nifestar. Reconhecer as ilusões cognitivas pode ajudar o inves-tidor a evitar erros no processo de alocação de ativos e, por conseqüência, melhorar suas performances como investidor.

Mas, atenção: mesmo sen-do inúmeros os exemplos de falhas da Teoria da Utilidade, infelizmente a Teoria Compor-tamental ainda não representa um modelo consistente para nos permitir modelar o com-portamento econômico. Assim,

Ilusões de ótica: fáceis de entender, difíceis de eliminar

18Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

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RESUMO- As Finanças tradicionais consideram que, se analisarmos de forma cuidadosa os preços passados de um ativo (análise gráfica) ou os fundamentos de uma empresa (análise fundamentalista), um investidor individual pode ganhar mais do que a média do mercado;

- As Finanças Modernas consideram que, como muitos investidores estão continuamente analisando preços dos ativos, é muito difícil encontrar um ativo avaliado abaixo ou acima de seu valor real. Então, a melhor estratégia de investimentos é comprar uma carteira que represente a média do mercado (Ibovespa, por exemplo);

- É interessante notar que, se todos acreditarem que o mercado é ineficiente para atribuir preços de um ativo, o mercado se tornará ainda mais eficiente. Ao contrário, se todos acreditarem que o mercado é eficiente, então ninguém gastará tempo tentando descobrir o preço real de um ativo. Assim, o mercado iria tornar-se ineficiente. As hipóteses de eficiência ou ineficiência dos mercados são excludentes, porém interdependentes. Nenhuma pode estar 100% certa;

- Já as Finanças Comportamentais não tentam dizer como os mercados funcionam. Apenas afirmam que, em alguns momentos, uma ilusão cognitiva pode afetar um número significativamente grande de pessoas, de tal modo que afetaria o mercado como um todo, gerando uma ineficiência na precificação dos ativos.

a Teoria da Utilidade Esperada, mesmo apresentando inúme-ras falhas, ainda é a que me-lhor explica o comportamento econômico.

Dessa forma, vejo com preocupação pessoas que não dominam o ferramental mate-mático subjacente às Finanças Modernas e que acham que podem descartá-la. O que se busca é aprimorar o modelo clássico com as novas desco-bertas acerca da forma real com que tomamos decisões. O que as Finanças Comportamentais procuram é recolocar o Homo Sapiens no centro das Finanças.

Em minha opinião, mais do que tentar criar modelos de previsão do comportamen-to dos mercados, as Finanças Comportamentais têm mais a contribuir na área das finan-ças prescritivas, pois podem ajudar os investidores a reco-nhecer ilusões cognitivas que normalmente os levam a com-portamentos prejudiciais a sua saúde financeira. As Finanças Comportamentais têm mais contribuições nas mesas de aconselhamento financeiro do que na mesa de operações.

A possibilidade de existência de erros sistemáticos no processo de decisão causa uma

ruptura nas finanças já que abala um dos pressupostos das Finanças Modernas

19 REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

Page 20: Revista Apimec jan 2008

A grande inovação na gestão de investimentos que ocorreu em Wall Street nos últimos 30 anos foi li-derada por acadêmicos da área de ci-ências e amparada pelo crescimento continuo da capacidade de processa-mento e armazenagem dos computa-dores. A proliferação dos modernos sistemas de negociação começou com operadores de futuros nos anos 1970. Armados com mainframes e cartões perfurados, esses operadores começaram a testar estratégias sim-ples em dados históricos. A alta liqui-dez e os baixos custos de transação fizeram dos mercados futuros uma combinação perfeita para esta nova gama de operadores.

Nos dias de hoje, a negociação quantitativa é completamente aceita e praticada por muitos administrado-res profissionais de recursos no exte-rior. Estima-se que estes administrem mais de 3 trilhões de dólares ao redor do globo, com rentabilidades na casa dos 17% ao ano. Nesses sistemas, a interferência humana foi banida e tudo ocorre de forma automatiza-da. No Brasil, essa modalidade está dando seus primeiros passos, embora algumas casas de gestão tradicional

Ciência no mercado de capitais

20Jan/Fev/Mar de 2008 APIMEC

FAbio bretAs* tenham iniciado a operação de pequenos fundos há cerca de quatro anos, ainda que de forma não automatizada e com operações locais.

Na Phynance tudo já ocorre de forma totalmente automa-tizada, sem qualquer tipo de interferência humana. Fatores limitantes do crescimento dessa modalidade de negociação no país vêm se extingüindo dia-a-dia, à medida que o mer-cado de capitais brasileiro vem amadurecendo. Custos de transação e a automação do processo de execução de ordens no mercado de ações já não são impeditivos para uma imple-mentação plena da modalidade.

Recentemente a Bovespa automatizou todo o pregão, o que possibilita que sistemas totalmente automatizados co-loquem suas ordens sem a interferência humana, mitigando riscos operacionais. Todavia, a questão da liquidez de alguns mercados locais ainda preocupa. Num outro plano é bom que se esclareça que ainda há falta de mão-de-obra especia-lizada, cientistas focados nesse mercado e um baixo enten-dimento do que está por trás de tais sistemas de negociação automatizados, o que certamente tem atrasado o aumento do patrimônio sob gestão neste segmento.

O desconforto por parte de uma parcela dos investidores locais quanto ao fato da decisão de compra e venda de ativos estarem sob a responsabilidade de um conjunto de maquinas é um ponto importante a ser abordado aqui. Num certo sen-tido, o fato do processo de investimento estar sob controle de uma máquina não difere em nada do processo tradicional. Tudo que é processual pode ser traduzido em código compu-tacional e deixado daí por diante como tarefa de execução automatizada para um sistema de computadores.

Deixando de lado a questão do modelo fundamentalista de valoração, tudo não passa de um processo que é repetido para tantas empresas quanto se deseja avaliar e da mesma

OPINIÃO~

Page 21: Revista Apimec jan 2008

forma. Ainda que a origem da avaliação não seja a funda-mentalista e seja da tão conhecida e usada analise técnica, tudo continua sendo um processo passível de automação. A tomada de decisão pode ser automatizada, e seu proces-samento deixado a cargo de máquinas. Até a execução da ordem de compra ou venda já pode ser deixada para um sistema computacional, e isso não tem nada a ver com o su-cesso do investimento.

Na essência, um sistema de negociação quantitativo não difere em nada dos processos acima. A diferença real entre eles encontra-se na natureza e qualidade dos modelos de ava-liação e precificação utilizados. Vale lembrar que os modelos de alocação de ativos e de valoração de empresas oriundos da moderna teoria das finanças e usados nos fundos de ges-

tão tradicional são também modelos matemáticos. Modelos usados na negociação quantitativa também o são. Contudo, são oriundos de um outro tipo de análise, a cientifica.

Por ter evoluído muito no último século, a ciência con-segue dar respostas a questões intrincadas do passado, rela-cionadas ao comportamento humano. Muito disto deve-se

Ciência no mercado de capitais

“Vale lembrar que os modelos de alocação de ativos e de valoração de empresas

oriundos da moderna teoria das finanças e usados nos fundos de gestão tradicional são

também modelos matemáticos”

*Diretor geral da Phynance – [email protected]

também à capacidade de processa-mento dos computadores. Modelos matemáticos que no passado eram proibitivos hoje são factíveis devido ao poder máquinas. Uma outra capa-cidade, e esta deixada apenas para a negociação quantitativa, é a de poder fazer simulações e, em especial, simu-lações do passado. É possível saber, sem qualquer tipo de dúvida, como teria se comportado o sistema de negociação quantitativo num evento de mercado no passado. Isso agrega muito valor. Se um gestor tradicional fosse exposto à mesma pergunta do passado, responderia sob a influên-cia de ter conhecido ou vivenciado o fato. O modelo quantitativo não, uma vez que não viveu o passado e não aprendeu nada efetivamente até o evento ocorrer.

A ciência dispõe hoje de mode-los que podem dar excelentes res-postas para muitos desafios da hu-manidade e o mercado de capitais é um deles. Assim não há o que se temer quanto a deixar seus investi-mentos a cargo de um gestor quan-titativo automatizado.

21 APIMEC Jan/Fev/Mar de 2008

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A grande inovação na gestão de investimentos que ocorreu em Wall Street nos últimos 30 anos foi li-derada por acadêmicos da área de ci-ências e amparada pelo crescimento continuo da capacidade de processa-mento e armazenagem dos computa-dores. A proliferação dos modernos sistemas de negociação começou com operadores de futuros nos anos 1970. Armados com mainframes e cartões perfurados, esses operadores começaram a testar estratégias sim-ples em dados históricos. A alta liqui-dez e os baixos custos de transação fizeram dos mercados futuros uma combinação perfeita para esta nova gama de operadores.

Nos dias de hoje, a negociação quantitativa é completamente aceita e praticada por muitos administrado-res profissionais de recursos no exte-rior. Estima-se que estes administrem mais de 3 trilhões de dólares ao redor do globo, com rentabilidades na casa dos 17% ao ano. Nesses sistemas, a interferência humana foi banida e tudo ocorre de forma automatiza-da. No Brasil, essa modalidade está dando seus primeiros passos, embora algumas casas de gestão tradicional

Ciência no mercado de capitais

20Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

FAbio bretAs* tenham iniciado a operação de pequenos fundos há cerca de quatro anos, ainda que de forma não automatizada e com operações locais.

Na Phynance tudo já ocorre de forma totalmente automa-tizada, sem qualquer tipo de interferência humana. Fatores limitantes do crescimento dessa modalidade de negociação no país vêm se extingüindo dia-a-dia, à medida que o mer-cado de capitais brasileiro vem amadurecendo. Custos de transação e a automação do processo de execução de ordens no mercado de ações já não são impeditivos para uma imple-mentação plena da modalidade.

Recentemente a Bovespa automatizou todo o pregão, o que possibilita que sistemas totalmente automatizados co-loquem suas ordens sem a interferência humana, mitigando riscos operacionais. Todavia, a questão da liquidez de alguns mercados locais ainda preocupa. Num outro plano é bom que se esclareça que ainda há falta de mão-de-obra especia-lizada, cientistas focados nesse mercado e um baixo enten-dimento do que está por trás de tais sistemas de negociação automatizados, o que certamente tem atrasado o aumento do patrimônio sob gestão neste segmento.

O desconforto por parte de uma parcela dos investidores locais quanto ao fato da decisão de compra e venda de ativos estarem sob a responsabilidade de um conjunto de máquinas é um ponto importante a ser abordado aqui. Num certo sen-tido, o fato do processo de investimento estar sob controle de uma máquina não difere em nada do processo tradicional. Tudo que é processual pode ser traduzido em código compu-tacional e deixado daí por diante como tarefa de execução automatizada para um sistema de computadores.

Deixando de lado a questão do modelo fundamentalista de valoração, tudo não passa de um processo que é repetido para tantas empresas quanto se deseja avaliar e da mesma

OPINIÃO~

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forma. Ainda que a origem da avaliação não seja a funda-mentalista e seja da tão conhecida e usada analise técnica, tudo continua sendo um processo passível de automação. A tomada de decisão pode ser automatizada, e seu proces-samento deixado a cargo de máquinas. Até a execução da ordem de compra ou venda já pode ser deixada para um sistema computacional, e isso não tem nada a ver com o su-cesso do investimento.

Na essência, um sistema de negociação quantitativo não difere em nada dos processos acima. A diferença real entre eles encontra-se na natureza e qualidade dos modelos de ava-liação e precificação utilizados. Vale lembrar que os modelos de alocação de ativos e de valoração de empresas oriundos da moderna teoria das finanças e usados nos fundos de ges-

tão tradicional são também modelos matemáticos. Modelos usados na negociação quantitativa também o são. Contudo, são oriundos de um outro tipo de análise, a cientifica.

Por ter evoluído muito no último século, a ciência con-segue dar respostas a questões intrincadas do passado, rela-cionadas ao comportamento humano. Muito disto deve-se

Ciência no mercado de capitais

“Vale lembrar que os modelos de alocação de ativos e de valoração de empresas

oriundos da moderna teoria das finanças e usados nos fundos de gestão tradicional são

também modelos matemáticos”

*Diretor geral da Phynance – [email protected]

também à capacidade de processa-mento dos computadores. Modelos matemáticos que no passado eram proibitivos hoje são factíveis devido ao poder das máquinas. Uma outra capacidade, e esta deixada apenas para a negociação quantitativa, é a de poder fazer simulações e, em especial, simulações do passado. É possível saber, sem qualquer tipo de dúvida, como teria se comportado o sistema de negociação quantitativo num evento de mercado no passado. Isso agrega muito valor. Se um ges-tor tradicional fosse exposto à mesma pergunta do passado, responderia sob a influência de ter conhecido ou vivenciado o fato. O modelo quanti-tativo não, uma vez que não viveu o passado e não aprendeu nada efeti-vamente até o evento ocorrer.

A ciência dispõe hoje de mode-los que podem dar excelentes res-postas para muitos desafios da hu-manidade e o mercado de capitais é um deles. Assim não há o que se temer quanto a deixar seus investi-mentos a cargo de um gestor quan-titativo automatizado.

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Page 24: Revista Apimec jan 2008

Tecnologia brasileira em ebulição

O analista-chefe da Coinvalores, Marco Aurélio Barbosa, é um dos que avaliam que essa também seja a nossa realidade. “Se olharmos a Data-sul, só depois do IPO, em junho de 2006 e até 10 de março, a empresa realizou nove aquisi-ções”, explica. O próprio grupo TOTVS nasceu de uma fusão, em 2005, de duas outras em-presas: Microsiga e Logocenter. No ano seguinte, abriu capital e, logo em seguida, adquiriu a RM Sistemas. Outras aquisições foram realizadas desde então, como a Midbyte Informática, Inteligência Organizacional e BCS Informática.

Um setor em que, muito mais do que em qualquer outro, é preciso inovar a

cada dia. Pautado por essa essência, o setor de Tecnologia da Informação (TI)

vem crescendo consistentemente pelo mundo. Só em olhar o volume movi-

mentado pelas fusões e aquisições globais dá pra se ter uma idéia do gigan-

tismo do setor. Em 2007, segundo relatório da consultoria norte-americana

The 451 Group, as empresas de tecnologia movimentaram US$ 476 bilhões

em 3.559 operações, sendo 80 delas com valores acima de US$ 1 bilhão.

E é por aí que o setor deve crescer nos próximos anos, inclusive no Brasil.

22Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

Page 25: Revista Apimec jan 2008

Tecnologia brasileira em ebuliçãoO aquecimento

da economia nacional eleva o investimento em

tecnologia, aumenta a automação e,

conseqüentemente, o mercado das

empresas

Com a economia aquecida, o setor passa por uma movimenta-ção promissora no país, e deve registrar, este ano, a chegada de cer-ca de oito empresas à Bovespa. Entre elas está TIVTS, cuja minuta de pré-lançamento está em aprovação na CVM. A empresa fornece soluções integradas de TI e BPO (business process outsourcing), que é a terceirização de processos de negócios com uso intenso de TI.

Olinda DigitalSó na América Latina, o mercado de TI já superou a marca de

US$ 42 bilhões, segundo a consultoria Frost & Sullivan. Isso talvez explique os cálculos do Ministério do Trabalho e Emprego que mostram aumento na demanda de profissionais, que deve chegar a 100 mil por ano em 2010. E já há vagas que não vêm sendo ocupadas por falta de qualificação da mão-de-obra existente. Este número tem como base uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom), em parceria com o Governo Federal e a FINEP. O levantamento mostra que o Brasil pode exportar US$ 5 bilhões, dentro de dois anos, em tecnologia da informação. Mas para atingir esta cifra seria necessário ter um número suficiente de profissionais dispo-níveis no mercado, em sua maioria, programadores de softwares. A demanda não tem aumentado só no Brasil. No Reino Unido, por exemplo, o déficit de profissionais especializados, que era de 4,2%, em 2007, passou para 6,8%, em 2008.

Para acelerar a formação dessa mão-de-obra específica, cen-tros de pesquisa vêm sendo instalados no Brasil. Em Olinda (PE), a prefeitura da cidade inaugurou, em setembro de 2007, o Olinda Digital. Trata-se de um pólo tecnológico, onde está instalado o Microsoft Innovation Center, voltado para incubação de empre-sas de TI e capacitação de jovens. Ali, a Datasul acaba de aportar uma franquia de distribuição em que vai treinar alunos da rede pública do município como programadores de internet, em nível técnico, de olho nessa lacuna projetada para o mercado.

Além da necessidade para o mercado interno, a exportação de softwares vai demandar ainda mais a qualificação de pessoal. Tra-dicionalmente, o Brasil já é um país de formação de contingentes de engenheiros mais habilitados do que outros emergentes como

Em Olinda fi ca o pólo tecnológico onde está instalado o Microsoft Innovation Center

23 REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

Page 26: Revista Apimec jan 2008

indianos, russos e mexicanos. Para o presidente da Brasscom, An-tonio Carlos Rego Gil, a tendência de terceirização de serviços de TI abre uma janela para o Brasil. Isso porque os países compradores querem opções principalmente à Índia, detentora de 40% desse mercado em todo o mundo. Fatores como grande diferença de fuso-horário, enormes divergências culturais e problemas geopolí-ticos na região estão no centro do debate.

Ricardo Araújo, analista-chefe da Itaú Corretora, aponta a flexi-bilidade das empresas brasileiras como outra grande vantagem para competir lá fora. “Tudo o que elas têm que saber para sobreviver aqui, com tantas regras e legislações diferentes a todo momento, concede esse jogo de cintura”, acredita.

Além das credenciais para ousar no mercado externo, os analistas vêem grandes oportunidades aqui mesmo no Brasil. O aquecimento da economia nacional eleva o in-vestimento em tecnologia, aumenta a automação e, conseqüentemente, o mercado das empresas de TI. Isso sem falar na redução de custos pro-piciada pela informatização.

Dúvidas e preocupaçõesO que, por um lado, é um ponto

muito positivo, ainda mais se consi-derada a forte demanda mundial, também se configura como um gar-galo do setor, particularmente para as empresas que querem partir para o IPO. Como o capital da empresa é basicamente intelectual, ele se torna intangível e, portanto, mais difícil de precificar. “Como colocar preço nes-ses cérebros?”, questiona Marco Au-rélio Barbosa, da Coinvalores. Para ele, esse fator precisa ser muito bem conduzido no momento em que é feita a estratégia de crescimento.

Barbosa lembra que cada vez mais os acionistas querem reduzir sua ex-

Como precifi car o capital intelectual?

MAIORES COMPRADORES NOS ÚLTIMOS 5 ANOS NO MUNDO

24Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

Page 27: Revista Apimec jan 2008

O SETOR NA BOVESPAAtualmente, a Bovespa ainda possui poucas empresas listadas. Divididas em duas categorias, elas se agrupam por natureza – Computadores e equipamentos, e Programas e Serviços. No primeiro grupo, estão Bematech (BEMA3), Itautec (ITEC3) e Positivo (POSI3). Já no segundo, estão Datasul (DSUL3), Ideiasnet (IDNT3), TOTVS (TOTS3) e UOL (UOLL3 e UOLL4). O critério estipulado pela Bolsa acaba sendo um pouco modificado na cobertura dos analistas.De todas, Ideiasnet talvez seja a única puramente de TI, em sua real definição. E UOL, que lá fora entraria na categoria Mídia, fica em TI muito provavelmente por não termos no Brasil essa categoria e por seus negócios se assemelharem aos de Telecom. Até por isso, geralmente os analistas que cobrem TI são os mesmos de Telecom.Assim é na Itaú Corretora. “Muitas discussões em tecnologia estão ligadas à telecom. Essa semelhança leva ao agrupamento. Até porque ainda não é rentável ter uma cobertura exclusiva, pelo próprio tamanho do mercado de TI”, pondera o analista-chefe, Ricardo Araújo.A tabela a seguir mostra, em milhões de dólares, o valor de mercado, em 26 de março de 2008, das companhias listadas na Bovespa:

posição ao risco. “O mercado lá fora já se acertou e conseguiu adaptar a necessidade à realida-de local. Aqui, as empresas terão que começar a discutir e a criar condições que tragam soluções sem conflitos entre acionistas, funcionários e administração”.

Além da questão de precifi-cação, as relações de trabalho também inspiram dúvidas e preocupações. Boa parte dos profissionais possui contratos de prestação de serviços, o que não é uma prática ilegal, mas que, sob a ótica do mercado de capitais, leva a uma gover-nança difícil. “Assim, uma em-presa pode ter valor de merca-do de R$ 1 bi e, da noite pro dia, sofrer uma enxurrada de ações trabalhistas que vai der-rubar esse valor para R$ 300 milhões, por exemplo”, avalia Ricardo Araújo, da Itaú.

Para o sócio da Ernst & Young Carlos Alberto Miranda, a fase de planejamento é um dos momentos mais importan-tes para o IPO. “Essa etapa é crucial”. Segundo ele, são ne-cessários pelo menos dois anos para construir o processo de gestão e infra-estrutura, con-tratar executivos e assessores e ainda atualizar os requisitos financeiros e relatórios. Aspec-tos referentes à governança corporativa também devem ser um dos principais focos da empresa nesse momento. Uma boa estrutura legal, financeira e

EMPRESA VALOR DE MERCADOPOSITIVO INFORMÁTICA 1.166,42 TOTVS 810,94 UNIVERSO ONLINE - PREF 548,94 DATASUL 297,40 IDEIASNET 254,30 BEMATECH INDÚSTRIA E COMÉRCIO 208,00

de gestão de riscos acaba sendo diferenciais para o processo de abertura de capital.

Mesmo com números tão distantes, a diferença entre os mercados brasileiro e estrangeiro, para Barbosa, é puramente o reflexo da pro-porção do tamanho dessas economias. “O fato de a economia norte-americana ser maior faz com que, automaticamente, esse mercado seja maior lá também. Mesmo assim, a distância mostra o quanto ainda é possível o setor crescer por aqui”.

25 REVISTA APIMEC Jan/Fev/Mar 2008

Page 28: Revista Apimec jan 2008

“The Forgotten Continent: The Battle for Latin America’s Soul” – que deve ser lançado no Brasil este ano pela editora Campus/Elsevier – relata a história do continente desde o século XIX, passando pelas crises econômicas dos anos 1980 e por entre o fim da década de 1990 e o início deste século. O volume de informações poderia classificar a obra como uma espécie de enciclopédia básica para apre-sentar o continente e explicar o pano de fundo que o autor define como a atual batalha pela alma da América Latina: os diferentes ca-minhos tomados pela democracia na região.

O presidente venezuelano Hugo Chavez é o protagonista desta ba-talha, com políticas populistas financiadas pelo que é descrito como um acidente da história: a alta no preço do petróleo desde 2001. De acordo com Reid, a Venezuela de Chavez faz parte do grupo de de-mocracias instáveis ou ameaçadas, ao lado de Bolívia e Equador. Os outros dois grupos são os das democracias consolidadas – composto por Uruguai, Costa Rica e, talvez, o Chile – e o das democracias em processo de consolidação – no qual inclui Colômbia, Argentina, Bra-sil, México, República Dominicana e, talvez, Peru.

Reid – cuja carreira está fortemente ligada à região desde o início da década de 1980 e já morou em Lima, Cidade do México e São Paulo – considera que a chamada alternativa bolivariana seja a pri-meira rival para a democracia liberal na América Latina depois do fim

O Continente esquecidoSem a pobreza extrema da África ou o forte crescimento econômico da China

e da Índia, e distante da ameaça terrorista que direciona as atenções para o

mundo árabe. Assim é explicada a falta de interesse na América Latina no

cenário internacional, razão para chamá-la de ‘O Continente Esquecido’ no

livro recém-lançado, no Reino Unido, pelo editor de Américas da revista The

Economist, Michael Reid. Já em 1971, lembra o jornalista, o então presidente

Richard Nixon recomendou ao futuro secretário de Defesa americano, Donald

Rumsfeld, que se mantivesse afastado da região se quisesse ter uma carreira

brilhante. “A América Latina não importa... As pessoas não se preocupam com

a América Latina”. LuCianne Carneiro, CorrespondenTe em Londres

Forgotten Continentthe Battle for Latin America’s SoulMichael ReidYale University Press1ª edição - 2007384 págs

26Jan/Fev/Mar 2008 reViStA APiMeC

LIVRO

Page 29: Revista Apimec jan 2008

da Guerra Fria. Sem citar nomes, ele aponta a falta de críticas a Chavez da esquerda latino-americana e alerta para o risco de se estabelecer uma tolerância para qual-quer tipo de autocracia, desde que seja eleita.

Para os que estão acostumados a observar o Brasil como líder e maior força da região, o espaço dedicado ao país e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no li-vro talvez seja decepcionante. Embora aponte a ambição brasileira a líder regional, sua crescente importância nas negociações comerciais mundiais e sua aspiração a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Orga-nização das Nações Unidas (ONU), Michael Reid aponta os problemas que a postura de Chavez impõe ao Brasil e classifica como humilhação, por exemplo, a nacionali-zação dos ativos da Petrobras na Bolívia, com o apoio da Venezuela.

Se de um lado proclama-se a vitória contra a inflação, as conquistas do governo Lula com o Programa Bolsa Fa-mília e o aumento do valor real do salário mínimo, do outro são destacadas a decepção com o atual governo e as denúncias de corrupção. A avaliação geral em relação à situação brasileira, no entanto, é positiva, e Reid diz que “o progresso foi mais importante que o desaponta-mento” nos últimos anos, citando dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostram a que-da de 43%, em 1993, para 30,7%, em 2007, da popula-ção brasileira que vive na pobreza.

Aos mais interessados na história contemporânea da América Latina, vale a pena atravessar os primeiros ca-pítulos – talvez um pouco longos demais na descrição das guerras de independências nos principais países da região – para encontrar um relato objetivo das princi-pais mazelas que afetam os países latino-americanos: o peso do setor informal na economia, a violência urba-na, a educação deficitária, a desordem urbana e a imi-gração. Ao longo do livro, o paradoxo entre países ao

mesmo tempo tão semelhantes e tão diferentes se repete. Principalmente quando se trata de comparar com o Brasil, que durante muito tempo voltou suas costas para o continente ao se inspirar nos modelos ditados pelos Estados Unidos e pela Europa.

Defendendo um olhar pelo me-nos de otimismo cauteloso para o futuro da América Latina, o autor acredita no amplo progresso con-quistado na região nas últimas déca-das. Ainda que incompletas e com alguns erros de implementação, ele argumenta que as reformas econô-micas permitiram que a maioria dos países da região estivesse em 2007 na melhor posição dos últimos 25 anos. O fato de a maioria dos go-vernos não ter mais amplos déficits fiscais, ter reduzido a dívida externa e desenvolvido mercados de dívida na moeda local, para o jornalista, credencia a região a enfrentar, sem maiores conseqüências, uma desa-celeração na economia mundial.

O cenário que se deslumbra para 2008 e os próximos anos parece ser um teste para as apostas otimistas de Reid. Resta saber se a América Latina atravessará este período em melho-res condições ou se mais uma vez vi-verá o círculo vicioso de baixo cres-cimento, populismo e instabilidade, perpetuando a eterna promessa de ser a região do futuro.

A avaliação geral em relação à situação brasileira é positiva, e Reid diz que “o progresso foi mais

importante que o desapontamento”

27 reViStA APiMeC Jan/Fev/Mar 2008

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O continente esquecidoSem a pobreza extrema da África ou o forte crescimento econômico da China e da Índia, e distante da ameaça terrorista que direciona as atenções para o mundo ára-be. Assim é explicada a falta de interesse na América Latina no cenário internacio-nal, razão para chamá-la de ‘O Continente Esquecido’ no livro lançado em dezem-bro do ano passado em Londres pelo editor de Américas da revista The Economist, Michael Reid. Já em 1971, lembra o jornalista, o então presidente Richard Nixon recomendou ao futuro secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, que se mantivesse afastado da região se quisesse ter uma carreira brilhante. “A Amé-rica Latina não importa... As pessoas não se preocupam com a América Latina”.

“The Forgotten Continent: The Battle for Latin America’s Soul” – que deve ser lançado no Brasil este ano pela editora Campus/Elsevier – relata a história do continente des-de o século XIX, passando pelas crises econômicas dos anos 80 e entre o fim da década de 1990 e o início deste século. O volume de informações poderia classificar a obra como uma espécie de enciclopédia básica para apresentar o continente e explicar o pano de fundo que o autor define como a atual batalha pela alma da América Latina: os diferentes caminhos tomados pela democracia na região.

O presidente venezuelano Hugo Chávez é o protagonista desta batalha, com políticas populistas, financiadas pelo que é descrito como um acidente da história: a alta no preço do petróleo desde 2001. De acordo com Reid, a Venezuela de Chavéz faz parte do grupo de democracias instáveis ou ame-açadas, ao lado de Bolívia e Equador. Os outros dois grupos são os das democracias consolidadas – composto por Uruguai, Costa Rica e, talvez, o Chile – e o das democracias em pro-cesso de consolidação – no qual inclui Colômbia, Argentina, Brasil, México, República Dominicana e, talvez, Peru.

Reid – cuja carreira está fortemente ligada à região desde o início da década de 1980 e já morou em Lima, Cidade do México e São Paulo – considera que a chamada alternativa

FORGOTTEN CONTINENTThe Battle for Latin America’s SoulMichael ReidYale University Press1ª edição - 2007384 págs

REPRODUÇÃO

26Jan/Fev/Mar de 2008 APIMEC

LIVRO

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bolivariana seja a primeira rival para a democracia liberal na América Latina depois do fim da Guerra Fria. Sem citar nomes, ele critica a esquerda latino-americana pela falta de críticas a Chávez e alerta para o risco de se estabelecer uma tolerância para qualquer tipo de autocracia, desde que seja eleita.

Para os que estão acostumados a observar o Brasil como líder e maior força da região, o espaço dedicado ao país e ao pre-sidente Luiz Inácio Lula da Silva no livro talvez seja decepcio-nante. Embora aponte a ambição brasileira a líder regional, sua crescente importância nas negociações comerciais mundiais e sua aspiração a uma cadeira permanente no Conselho de Segu-rança da Organização das Nações Unidas (ONU), Michael Reid aponta os problemas que a postura de Chávez impõe ao Brasil e classifica como humilhação, por exemplo, a nacionalização dos ativos da Petrobras na Bolívia com o apoio da Venezuela.

Se de um lado proclama-se a vitória contra a inflação e as conquistas do governo Lula com o Programa Bolsa Família e o aumento do valor real do salário mínimo, do outro são desta-cadas a decepção com o atual governo e as denúncias de cor-rupção. A avaliação geral em relação à situação brasileira, no entanto, é positiva, e Reid diz que “o progresso foi mais impor-tante que o desapontamento” nos últimos anos, citando dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostram a queda de 43%, em 1993, para 30,7%, em 2007, da população brasileira que vive na pobreza.

Aos mais interessados na história contemporânea da América Latina, vale a pena atravessar os primeiros capítulos – talvez um pouco longos demais na descrição das guerras de independên-cias nos principais países da região – para encontrar um relato objetivo das principais mazelas que afetam os países latino-ame-ricanos: o peso do setor informal na economia, a violência ur-bana, a educação deficitária, a desordem urbana e a imigração. Ao longo do livro, o paradoxo entre países ao mesmo tempo tão semelhantes e tão diferentes se repete. Principalmente quando se trata de comparar com o Brasil, que durante muito tempo voltou suas costas para o continente ao se inspirar nos modelos

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ditados pelos Estados Unidos e pela Europa.

Defendendo um olhar pelo menos de otimismo cauteloso para o futuro da América La-tina, Michael Reid acredita no amplo progresso conquistado na região nas últimas décadas. Ainda que incompletas e com alguns erros de implementação, ele argumenta que as reformas econômicas permitiram que a maioria dos países da região es-tivesse em 2007 na melhor posi-ção dos últimos 25 anos. O fato de a maioria dos governos não ter mais amplos déficits fiscais, de ter reduzido a dívida externa e de ter desenvolvido mercados de dívida na moeda local, para o jornalista, credencia a região a enfrentar, sem maiores con-seqüências, uma desaceleração na economia mundial.

O cenário que se deslum-bra para 2008 e os próximos anos parece ser um teste para as apostas otimistas de Reid. Resta saber se a América Lati-na atravessará este período em melhores condições ou se mais uma vez viverá o ciclo vicioso de baixo crescimento, populis-mo e instabilidade e perpetuará a eterna promessa de ser a re-gião do futuro.

27 APIMEC Jan/Fev/Mar de 2008

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Atrás da alta tecnologia“Precisamos fazer um esforço adicional para adequar a nossa pauta de

exportações à dinâmica do mercado mundial. Hoje ainda vemos uma

defasagem acentuada, pois ela é dominada pelas commodities primárias e

manufaturados de baixa tecnologia, enquanto o comércio mundial mostra

preferência pelos produtos de alta e média tecnologias”, disse em dezembro

Fábio Grynzpan, diretor da Anpei, no Seminário Internacional sobre avaliação

de políticas de ciência, tecnologia e inovação, organizado pelo Centro de

Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do Governo, no Rio de Janeiro. A

Anpei é uma associação brasileira que reúne empresas inovadoras com forte

atuação em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

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Fosse Alan Greenspan, o ex-presiden-te do Fed (banco central dos EUA) que ainda faz os mercados tremerem, quando se pronun-cia, o excessivo otimismo que tem marcado a economia brasileira mais recentemente poderia ficar um pouco abalado. Mas, não. O otimismo persiste, ainda que a observação ao lado aponte provavelmente um perigoso calcanhar-de-aqui-les que o Brasil ainda manteve nesse longo pe-ríodo de prosperidade pelo qual o mundo está passando. Duas pesquisas recém-divulgadas, uma feita pela consultoria Bozz Allen Hamilton e outra pelo governo britânico, sobre as com-panhias mais inovadoras do planeta mostram que o Brasil ainda está muito para trás nesse ranking. E que as duas companhias brasileiras mais inovadoras obtêm suas principais receitas justamente das commodities: Petrobras e Vale.

Obviamente o fato de serem produtoras de petróleo e minérios não tira o mérito de Petrobras e Vale se destacarem entre as mais inovadoras. Até porque seus investimentos em inovação acabam se estendendo também a ou-tros setores da economia e, eventualmente, re-sultando em produtos de alta tecnologia, como o C4D, software desenvolvido pela brasileira PhDsoft em parceria com a Petrobras. Ele ge-rencia a manutenção de estruturas como na-vios e plataformas de petróleo, um processo complexo e caro que, se mal conduzido, pode resultar em grandes prejuízos financeiros para companhias como a petrolífera. É um produto único em todo o mundo, que também já é uti-lizado pela Shell, no Brasil, e vem despertando o interesse de outras companhias no exterior. Ou seja, o tipo de “efeito colateral” bem-vin-do do desenvolvimento de uma empresa do setor de commodities, capaz de gerar mais di-visas para o país.

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Contudo, alerta o nosso Grynzpan: “É nos setores mais dinâmi-cos da economia mundial (alta e médias tecnologias) que se con-centram as empresas mais inovadoras, que conseguem um preço prêmio pelos seus produtos. É aí, na nossa maior carência, que precisaremos do maior esforço”.

PatentesEstudos que a Anpei tem realizado vêm reunindo informações im-

portantes sobre o quadro de investimentos em inovação, no Brasil, pelo setor privado, que foi responsável por 61% dos US$ 879 bilhões investidos em P&D em 2006, em todo o mundo, segundo a Bozz Allen Hamilton. A associação aferiu, por exemplo, que um dos problemas da inovação brasileira é que a principal atividade inovadora do nosso setor industrial tem sido a incorporação de máquinas e equipamen-tos para redução de custos e aumento da eficiência produtiva, sendo ainda muito baixa a inovação de produtos para o mercado. Assim, apenas 2,8% da indústria de transformação introduziram inovações para o mercado interno, entre 2001 e 2003, contra taxas de 22%, na Alemanha e na Itália, e 12% na França. Depois disso, o sistema brasileiro de ciência e tecnologia já avançou muito, o que também já foi pesquisado. Hoje o Brasil possui modernas estruturas de fomento à inovação comparáveis às de países desenvolvidos. “No entanto, esses avanços não têm sido suficientes para induzir a realização de P&D e inovação pelo setor privado em volume e velocidade que nos permita acompanhar os nossos concorrentes mundiais”, constata Grynzpan.

Em artigo recente na Folha de S.Paulo, o diretor-geral da Socieda-de Pró-Inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky, e o consultor em gestão de patentes André Korottchenko de Oliveira fazem coro com as preocupações da Anpei. “Oito anos de vigência dos fundos setoriais, quatro anos da Lei da Inovação e dois anos e meio da Lei do

Bem não levaram o Brasil a melho-rar sua performance tecnológica em relação aos demais países em desenvolvimento. Ao contrário, pioramos. No ranking de 2007 do escritório norte-americano de pa-tentes, o USPTO, perdemos uma posição em relação a 2006, fican-do agora em 29º lugar, enquanto mais um país emergente – desta vez a Malásia – nos faz engolir po-eira”, diz o texto.

Entre 2005 e 2007, o Brasil re-gistrou 288 patentes no USPTO, contra 359 da Malásia, 1.410 da Índia e 2.775 da China. A com-paração com o triênio anterior (2002-2004) mostra que, enquan-to a China cresceu 53% no perío-do, a Índia, 48% e a Malásia, 94%, o Brasil caiu 13%. Na verdade, o Brasil vem perdendo posições para outros países emergentes desde a década de 1970. Fomos ultrapas-sados por Taiwan, em 1975, Co-réia do Sul, em 1983, China, em 1986, Cingapura, em 1996, Índia, em 1998, e agora Malásia. “Den-tre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil foi o único que

SetoreS exportação ComérCio tipoSdeprodutoS BraSileira(%) mundial(%)

altatecnologia 12 30 Farmacêuticos,eletrônicos,aviõesmediatecnologia 19 30 máquinas,automóveis,mat.elétricoBaixatecnologia 08 07 aço,Ferrointensivoemmo*/rn* 13 13 têxteis,Sapatos,papel,móveisCommoditiesprimárias 40 11 minérios,agribusiness

*mo=mão-de-bra*rn=recursosnaturaisFonte:anpei

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Page 35: Revista Apimec jan 2008

apresentou queda no ranking de patentes. E não por acaso, somos o país desse bloco que tem a menor taxa de crescimento do PIB”, analisam Nicolsky e Oliveira.

Países como Coréia do Sul e Taiwan registraram elevadas taxas de crescimento do PIB com base na competitividade resultante do es-forço de desenvolver produtos de consumo de alta tecnologia, como aparelhos de TV, DVD, telefones celulares e câmeras digitais. Cada uma das inovações que esses aparelhos exigem gera uma patente que protege o investimento realizado. Um celular de última geração, por exemplo, tem de 5 mil a 6 mil patentes. No USPTO, que representa o maior mercado de patentes do mundo, os emergentes que mais têm avançado são também os que mais registram elevação do PIB.

Exportações“Precisamos urgentemente de políticas públicas ousadas para re-

verter a atual trajetória que leva o Brasil a uma inaceitável dependên-cia tecnológica e a ser um mero exportador de commodities”, com-pletam os autores.

Vale lembrar novamente que ninguém se manifesta contrário à exportação de commodities, mas muitos apontam nossa exces-siva dependência delas como um grave problema. Para o presi-dente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Co-recon-RJ), João Paulo de Almeida Magalhães, o que está faltando é a definição urgente de uma estratégia de desenvolvimento para o país. De fato, o Governo não esconde que o tema também o preocupa e está avaliando como estimular a P&D no Brasil com

GASTOS COM INOVAÇÃOTotal mundial: US$ 879 bilhões

As 1000 maiores S/As investidoras - 51%

Da 1001ª a 2000ª S/As - 3%S/As menores e companhias privadas - 7%

Governos, organizações sem fins lucrativos e outros - 39%

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o objetivo de contribuir para o aumento das exportações de pro-dutos de alta tecnologia.

De acordo com Fábio Grynzpan, o aumento significativo de P&D no setor privado, que o Governo está esperando, virá principalmente das grandes empresas. Em 2005 elas investiam cerca de R$ 5,6 bi-lhões, o que equivale a 79% de todo o investimento em P&D interno do setor industrial. A meta do Governo é de dobrar a intensidade (percentual dos investimentos sobre a receita com vendas) de P&D das empresas privadas, o que exigirá, das grandes empresas, pelo menos dobrar os seus investimentos. “Esse padrão de domínio pelas grandes empresas se assemelha mais ao dos Estados Unidos do que ao da Itália, onde predomina o investimento pelas pequenas empresas. No nosso caso, um aumento de 10% no total dos investimentos em P&D pelas grandes empresas equivale a dobrar o que investem as micro e pequenas”, afirma o diretor da Anpei.

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a meta deveria ser aumentar a exportação de alta e média tec-nologias para pelo menos 25% do total de exportações, que era a meta da OCDE (Organização da Cooperação de Desenvolvimento Econômico) no inicio da década.

Vale e PetrobrasSe a tarefa não é fácil, pelo menos pode-se contar com as próprias

empresas de grande porte como aliadas. Isso porque uma boa parte delas já não pode mais se dar ao luxo de atuar apenas no mercado

doméstico. Elas precisam exportar mais do que para continuar cres-cendo, para sobreviver. E no mer-cado globalizado, elas têm que competir no único jogo que há para ser jogado na economia atu-al, que é a contínua introdução de produtos inovadores.

Nesse caso, uma observação da Anpei dá força à defesa do Co-recon-RJ quanto à definição de uma estratégia de desenvolvimen-to. Segundo a associação, as polí-ticas públicas tendem a priorizar o apoio a projetos específicos, mas o que as empresas precisam é criar e manter sua estrutura de P&D para poder realizar projetos de forma contínua e sustentável, integrados à sua estratégia competitiva. Isso porque, para as empresas que atu-am no mercado internacional, a inovação é parte de um processo organizacional planejado, e não o desenvolvimento de um projeto esporádico.

Únicas empresas brasileiras presentes tanto na pesquisa da

Apenas 2,8% da indústria de transformação introduziram

inovações para o mercado interno,

entre 2001 e 2003

A Vale planeja investir US$ 884 milhões em inovação, em 2008

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Bozz Allen Hamilton, quanto na do governo britânico, Vale e Petro-bras se encaixam nesse perfil, com a exceção de não dependerem mais de qualquer tipo de ajuda financeira do Governo. Basta dizer que a Vale vai investir US$ 59 bilhões nos próximos cinco anos para que isso fique muito claro. Trata-se de um montante superior ao PIB de muitos países. Só em 2008 serão US$ 11 bilhões, o maior volume de investimentos de uma mineradora em todo o mundo. Desse total, US$ 884 milhões serão destinados a P&D. A Petrobras não divulgou expectativa de investimentos em P&D para 2008, mas seus gastos na área subiram 20,7% de 2006 para 2007, atingindo US$ 881 milhões.

Ambas as empresas ficaram entre as 200 primeiras na edição de 2007 do The Global Innovation 1000, da Bozz Allen Hamilton, que lista as mil companhias de capital aberto que mais investem em inova-ção do mundo. Esse grupo de companhias é responsável por 51% de todos os recursos destinados para P&D. Na 2007 R&D Scoreboard, do governo britânico, que mapeia as 1.250 maiores investidoras (não necessariamente de capital aberto), encontra-se ainda a Embraer. Os

gastos da companhia de aviação com P&D chegaram próximo de US$ 250 milhões, no ano passa-do, e devem alcançar US$ 300 milhões, este ano, e US$ 350 mi-lhões, em 2009.

Os números podem não ser o bastante para correlacionar o suces-so de Vale, Petrobras e Embraer ao caráter estratégico que conferem à inovação. Mas isso somado aos ar-gumentos dos especialistas, à traje-tória dos registros de patentes e sua correlação com o PIB e outros in-dícios torna evidente que, no míni-mo, precisamos abrir mais os olhos para essa questão, como os orien-tais já fizeram há muito tempo.

Reunião Apimec da Petrobras, no Rio: lucros menores, mas investimentos cada vez maiores em P&D

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O livro Desafio aos Deuses – a fascinante história do risco, de Peter Bernstein nos mostra que na antigui-dade o homem achava que o futuro era algo intangível, um capricho dos deuses. Em saborosa narrativa, esse in-vestidor/historiador revela que ao lon-go dos séculos o homem desenvolveu modelos econométricos e de gestão de riscos, passando a conceber o futu-ro como uma realidade que pode ser antecipada.

Há poucas semanas, o presiden-te do Banco Central norte-americano (Federal Reserve), Ben Bernanke, foi ao Congresso dos Estados Unidos e disse que bancos pequenos poderiam que-brar. Alguns dias depois, não foi um banco pequeno que soçobrou, mas um dos maiores e dos mais antigos, o Bear Stearns, que havia sobrevivido até mesmo à crise de 1929. Tentando re-ativar a economia norte-americana, já em recessão, Bernanke baixou os juros por seis vezes consecutivas, chegando neste momento a 2,25%, ou seja, juros negativos, já que a inflação dos últimos 12 meses foi de 2,30%.

A crise norte-americana, que co-meçou com o segmento subprime do mercado hipotecário e depois se espraiou para todo o mercado finan-ceiro, recoloca dúvidas cruciais sobre nossa capacidade de antecipar situa-ções de crise, como a atual.

Crise norte-americana e (auto) regulação dos investimentos

ADAcir reis* Há um ano atrás, quem imaginava essa turbulência toda?Alan Greenspan, que hoje tem sua atuação à frente do Fe-

deral Reserve questionada, em entrevista para o Financial Ti-mes, traduzida para o Valor (edição de 18/03/08), saiu-se com essas reflexões: “O problema essencial é que nossos modelos – tanto os modelos de risco quanto os econométricos – por mais complexos que tenham se tornado, ainda são simples demais para capturar todo o conjunto de variáveis que conduzem a realidade econômica global”.

Embora o fatalismo de Greenspan possa ser visto como le-gítima defesa, suas palavras não são triviais e funcionam como severa advertência. Ao final dessa entrevista, Greenspan, uma ex-autoridade, do alto de seus mais de 70 anos, manifesta o temor de se ter uma onda regulatória que venha a provocar um excesso de intervencionismo do Estado, sufocando a com-petição e a liberdade.

Outra importante opinião é a de George Soros (Financial Times, 22/01/08). Também com seus mais de 70 anos, com tantas façanhas já protagonizadas, Soros, um quase ex-mer-cado, concorda num ponto com Greenspan: a crise ameri-cana atual é a pior desde a 2ª Guerra. Embora reconhecen-do também a insuficiência dos modelos de gestão de risco, Soros critica o fundamentalismo de mercado e parece cami-nhar em direção oposta à de Greenspan, pois afirma estar chocado com a total ausência de responsabilidade, seja dos atores do próprio mercado, como as agências classificadoras de risco, seja especialmente das autoridades governamen-tais. O megainvestidor sustenta que ao final dessa crise o dólar estará irremediavelmente fragilizado, o que provocará um realinhamento de forças entre as grandes potências.

Quais os reflexos disso tudo para o Brasil e, mais especi-ficamente, para os investimentos dos fundos de pensão bra-sileiros? No campo regulatório, quais serão os reflexos para os investidores, especialmente os institucionais? Os surtos regulatórios, conseqüência sempre forçosa dessas crises de quando em quando devem ser evitados. É a chamada “le-gislação de pânico”.

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OPINIÃO~

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Os Estados Unidos debatem se o que faltou foi inter-venção dos órgãos reguladores, e já se fala em algo como uma Sarbanes-Oxley II, desta vez para o mercado finan-ceiro. No Brasil estamos num estágio diferente da relação do Estado com o mercado. Contrariando os ventos norte-americanos, precisamos avançar no processo de desburo-cratização e de atribuição de responsabilidades aos diver-sos atores do mercado.

Hoje o Conselho Monetário Nacional (CMN) já comete ex-cessos regulatórios, pois sua competência legal é apenas a de fixar diretrizes para os investimentos dos fundos de pensão. O Conselho é Monetário e Nacional. Deve tratar de macro-economia, e não de sublimites, contratações e terceirizações, temas que pretensamente se destinam à proteção de interesses dos participantes de planos de previdência e, por isso, estão na alçada do Conselho de Gestão da Previdênci Complementar (CGPC) e da Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

Para neutralizar o risco de algum furacão Katrina no campo regulatório, poderíamos fixar a seguinte agenda:

1) reforçar a transparência dos atos dos diversos atores que integram o mercado financeiro e dos investidores institucio-nais, de modo a atenuar ou neutralizar conflitos de interesses;

2) lembrar que a gestão de riscos prevista na Resolução CGPC 13/04 é um processo cotidiano de aprimoramento e de renovação;

3) eleger, urgente, alguns temas para a auto-regulação, como exigir das agências classificadoras de risco, em relação aos papéis oferecidos aos fundos de pensão, um padrão de conduta diferente do verificado até agora;

4) avançar na agenda da educação financeira e previden-ciária, como bem salientou o Secretário de Previdência Com-

Crise norte-americana e (auto) regulação dos investimentos

*Sócio do escritório Reis Advocacia e presidente do Instituto San Tiago Dantas de Direito e Economia. Foi Secretário de Previdência Complementar (2003/2006) e membro titular do COREMEC (Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização).

plementar, Ricardo Pena, em seu re-cente discurso de posse.

Com a tendência de diversificação dos investimentos dos fundos de pen-são brasileiros, está chegando a hora de rever alguns comandos tipificado-res de conduta previstos no Decreto 4942/03, como o art. 64, que hoje, ao estabelecer como ato irregular aplicar em desacordo com as diretri-zes estabelecidas pelo CMN, tem um comando muito aberto, dando mar-gem para um perigoso subjetivismo da autoridade estatal.

Os Estados Unidos estão se convencendo de que um modelo híbrido, com um pouco mais de responsabilidade do Estado, ajuda-rá o mercado a ser mais eficiente. No Brasil, país cada dia mais conec-tado ao que acontece no mundo, precisamos lembrar que o modelo híbrido significa um pouco mais de mercado, em contraponto às res-ponsabilidades do Estado.

O mercado de capitais brasileiro tem acumulado uma boa experiên-cia no campo da auto-regulação. Já entre os fundos de pensão essa ex-periência é menor. Há uma boa ca-minhada pela frente.

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As Metas do Milênio foram uma série de objetivos que diversos líderes e organizações internacionais se comprometeram, na Reunião do Milênio, em 2000, a não poupar esforços para atingir até 2015. Passado metade desse prazo, os progressos, segundo os líderes da Ação, foram os seguintes:• 3 milhões de crianças a mais sobrevivem todos os anos• 2 milhões de pessoas agora recebem tratamento contra a AIDS• Mais 41 milhões de crianças estão na escola• 2 milhões de vidas são salvas todos os anos com vacinação bá-sica• Poliomielite, Lepra e Tétano neonatal estão a ponto de serem eliminados• As economias africanas cresceram em média 6% ao ano, nos últimos três anos, e estão prontas para um desenvolvimento ainda mais acelerado nos próximos.

Mas o fato é que o compromisso com as metas acabou ficando quase que esquecido, sendo que ainda restam os seguintes proble-

Esperança e medo em DavosNa véspera do encerramento do Fórum Econômico Mundial 2008, em Davos,

no dia 26 de janeiro, algumas personalidades divulgaram uma declaração con-

junta de Ação pelas Metas do Milênio. “Eu falo em nome daqueles que são

mais vulneráveis às mudanças climáticas e por aqueles que sofrem com a mais

extrema pobreza. Que 2008 seja o ano da virada”, afirmou Ban Kin-Moon, se-

cretário-geral da ONU. “Todos nós concordamos que este é o momento de pas-

sar de promessa para performance”, completou a rainha Rania, da Jordânia.

mas a resolver:• 72 milhões de crianças ain-da não vão à escola e muitos dos que freqüentam as salas de aula recebem educação de baixa qualidade• Metade das nações em de-senvolvimento sofre com a falta de saneamento básico. Caso a tendência se mante-nha, a meta de saneamento não será batida em quase 600 milhões de pessoas• Mais de meio milhão de mu-lheres ainda morrem todos os anos por complicações que podem ser tratadas e preveni-das relacionadas ao parto ou

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tler

36Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

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Da esquerda para a direira: Ban Kin-moon, secretário-geral da ONU, Umaru Musa Yar’Adua, presidente da Nigéria, Gordon Borwn, primeiro-ministro do Reino Unido, a Rainha Rania, da Jordânia, Bill Gates e Bono Vox em ação para salvar as Metas do Milênio

pós-nascimento • Mais de 33 milhões de pes-soas são soropositivas e mais de um milhão morrem de ma-lária todos os anos, incluindo uma criança a cada 30 segun-dos• 980 milhões de pessoas ain-da vivem com menos de US$ 1 por dia

Para a “virada”, foi apresen-tada em Davos a proposta de serem estabelecidas metas até 2010, que possam conduzir ao alcance das metas de 2015, in-cluindo:• Mais 75 milhões de pessoas retiradas da extrema pobreza na África• Mais 25 milhões de crianças nas escolas• Mais 4 milhões de vidas in-

fantis salvas• Mais 35 milhões de nascimentos feitos por pessoas com as habilidades médicas exigidas• Mais 70 milhões de pessoas com acesso à água potável

Então, os próximos passos serão os seguintes:• A partir de abril, o setor privado vai se reunir e anunciar novas medidas para ajudar a alcançar as Metas do Milênio• Em junho, os líderes europeus vão definir o que a União Euro-péia pode fazer para acelerar progresso em direção às Metas • Em julho, a reunião do G8 no Japão será voltada para discutir o aquecimento global e o desenvolvimento • Em setembro, na ONU – e pela primeira vez – governos, em-presas, organizações da sociedade civil, ONGs e grupos religio-sos vão se reunir para marcar qual é a metade do caminho para as Metas do Milênio, analisar o progresso e decidir quais são os passos adicionais que a comunidade internacional deve tomar para acelerar as ações.

“Agenda positiva”Antes do fórum, já havia sido proposta uma “agenda positiva”

que definia o tema do ano como “O Poder da Inovação Coope-rativa” com o objetivo de enfrentar os principais desafios da insta-bilidade econômica, das mudanças climáticas e do “crescimento

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econômico justo”. De fato, o ex-primeiro ministro do Reino Unido Toni Blair disse acreditar que o tema poderia ser a chave para todos os problemas do mundo. CEO da PepsiCo, Indra Nooyi ponderou: “Espero que não estejamos aqui apenas com o espírito da possibi-lidade de fazermos algo, mas com o espírito de realmente fazer”. Ele se referia às Metas do Milênio, especialmente às questões rela-cionadas à água.

Em Davos, cada um acaba sempre puxando um pouco mais para a sua área. James Dimon, CEO do JPMorgan Chase & Co, co-mentou a crise internacional: “A economia global é extremamente complexa, e não tenho certeza se as ferramentas disponíveis para os legisladores são capazes de resolver todos esses problemas. As pessoas estão fazendo o possível para diminuir os efeitos negativos de uma retração”. David O’Reilly, CEO da Chevron, deixou bem clara a sua preocupação: “Eu sei que muitos estão preocupados com o cenário econômico, mas, em longo prazo, estou aqui para falar sobre energia. Como o número de famílias que saem da li-nha da pobreza cresce cada vez mais, a demanda energética vai aumentar. O trabalho de encontrar soluções para este desafio re-presenta um teste para o tema da conferência e vamos precisar de ambos, inovação e cooperação”.

E assim, entre os dias 23 e 27 de janeiro, foram realizadas 240 sessões do Fórum 2008. O programa oficial foi construído em cima de cinco subtemas:

• Negócios: Competindo Com Cooperação • Economia e Finanças: Enfrentando a Insegurança Econômica • Geopolítica: Alinhando Interesses que Atravessem Fronteiras • Ciência e Tecnologia: Explorando as Novas Fronteiras da Na-tureza • Valores e Sociedade: Compreendendo Mudanças Futuras

Até que no mesmo dia da divulgação da Ação pelas Metas do Milênio, uma sessão para as empresas falarem de suas experiências e expectativas para a inovação cooperativa deixou claro que essa é uma prática que também deve levar mais tempo do que se espera para se tornar regra.

O brasileiro Carlos Ghosn, presidente da Renault/Nissan, destacou que o relacionamen-to bem-sucedido entre as duas empresas, uma da França e ou-tra do Japão, foi construído por meio da inovação, uma vez que “não existe um livro ditando re-gras de como deve funcionar uma aliança”. Ele apresentou um outro ponto de vista sobre o assunto: “A questão de pro-priedade intelectual pode apre-sentar problemas em qualquer relacionamento corporativo e às vezes é preciso deixar claro o que pode e não pode ser com-partilhado”.

“Qualquer colaboração entre empresas requer nego-ciação, com cada lado saben-do exatamente o que pode ganhar”, ressaltou o CEO da Reuters, Thomas H. Glocer: “Se você é 100% dono de uma idéia incrível, não irá ligar para os seus amigos para contá-los”.

PessimismoEnfim, em meio a tanta von-

tade de acreditar que o mundo está melhorando, sobressaem as impressões de que o futuro será pior do que o passado. Três do-cumentos divulgados dias antes pela organização do evento sin-

Nos Riscos Globais também pode ser considerado um alerta de que a segurança alimentar vai se

tornar um problema econômico e político cada vez mais complexo nos próximos anos

38Jan/Fev/Mar 2008 REVISTA APIMEC

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tetizavam esse clima. O relató-rio Riscos Globais 2008 mostra como cresceram os níveis de in-segurança econômica e política na última década. Publicado em conjunto com Citigroup, Marsh & McLennan Companies, Swiss Re, o Wharton School Risk Cen-ter e Zurich Financial Services, ele é baseado em informações de uma rede de mais de 100 dos maiores líderes empresariais, to-madores de decisão, cientistas e outros grandes acadêmicos que, ao longo de 2007, fizeram parte da Rede de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial. Os assuntos identificados ali servem como pauta da Reunião Anual.

No que diz respeito a ques-tões financeiras, o relatório ex-

pressa o receio de que a atual falta de liquidez poderá desencadear uma recessão nos EUA, até o final do ano. Isso exigiria novas idéias sobre o risco financeiro sistêmico, com mais colaboração entre os se-tores público e privado, em resposta à revolução dos mercados finan-ceiros nos últimos 20 anos. O texto também recomenda um conjunto de princípios na gestão de riscos e examina de que maneira o setor financeiro pode ser ainda mais importante no processo de transferên-cia de riscos no futuro.

No Riscos Globais também pode ser encontrado um alerta de que a segurança alimentar vai se tornar um problema econômico e polí-tico cada vez mais complexo nos próximos anos, fazendo a criação de políticas globais mais difícil e necessária. Cooperação em grande escala para lidar com as vulnerabilidades associadas às cadeias de abastecimento transnacionais e à concentração de produção podem também ser necessárias. Finalmente, com o preço recorde do petró-leo, o relatório recomenda uma abordagem melhor para a segurança energética nos próximos anos.

PesquisasUma pesquisa de opinião feita para o Fórum pelo Instituto Gallup,

com 61.600 pessoas de 60 países, foi outro documento divulgado. Algumas conclusões foram a falta de confiança da maioria das pessoas nos líderes globais, e a impressão de que a próxima geração vai viver em um mundo mais perigoso.

O pessimismo parece ter contaminado até os jovens líderes do Fó-rum. Em uma outra pesquisa intitulada Mapeamento do Futuro para uma Agenda Global, o outro documento divulgado dias antes do Fó-rum, os jovens buscaram projetar como será o mundo em 2030, com conclusões que foram desde a perda de poder dos estados-nação, à definição do aquecimento global como principal problema. Isso mes-mo com 64% dos entrevistados acreditando que armas de destruição em massa serão utilizadas por atores não estatais, ou seja, terroristas ou criminosos em geral, até 2030. Um detalhe pé que, para os jovens, a China será a nação líder, seguida dos EUA, índia e Rússia. O único BRIC não citado é o Brasil.

A edição deste ano do Fórum Econômico Mundial contou com cerca de 2.500 participantes de 88 países, sendo 27 chefes de estados ou governos, 113 ministros de governo e 60% de líderes do mundo dos negócios. Do Brasil, foram o ministro das Relações Exteriores, Cel-so Amorim, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azeve-do, e o escritor Paulo Coelho, entre outros, que se juntaram a gente como George Soros, Rupert Murdoch, Michael Dell, Bill Gates, Bono Vox e Peter Gabriel.

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A partir desta edição, come-çaremos a dialogar sobre a susten-tabilidade no mercado de capitais e sua relevância para os profissionais de investimento.

O objetivo é apresentar, a cada edição, uma reflexão acerca de um setor ou da proatividade de uma companhia dentro do conceito da sustentabilidade.

Vamos começar por um setor vital para o desenvolvimento socio-econômico do país, o de energia elétrica. Há duas razões que emba-sam a sua escolha: empresas desse setor vêm se destacando, em todo o mundo, em relação à sustentabili-dade; e a sociedade, principalmen-te depois do “apagão de 2001”, a fiscaliza com maior veemência.

O setor de energia sempre mos-trou proatividade em relação à sustentabilidade, mesmo antes do “apagão”. Como exemplo, pode-mos citar o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), instituído em 1991, e o Programa Nacional de Eletrificação Rural Luz no Campo, de 1999.

Em outubro de 2001, a Aneel (Agência Nacional de Energia) pu-blicou a Resolução Aneel Elétrica nº 444, com o propósito de estru-

A Sustentabilidade no setor de Energia ElétricaRobeRto GonzAlez* turar o Manual de Contabilidade do Serviço Público de

Energia Elétrica. Além de um plano de contas, o Manual continha uma ampliação das instruções contábeis e do roteiro para estruturação e publicação de informações econômicas e financeiras, bem como a recomendação para que as concessionárias e permissionárias do serviço público de energia elétrica publicassem o relatório com informações de natureza socioambiental. O órgão regu-lador também foi pioneiro ao lançar a instrução sobre o balanço social. Em novembro de 2003, foi instituído o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica – Luz para Todos.

Desde seu surgimento, em 1996, a Aneel debate a ques-tão da sustentabilidade com as empresas concessionárias e permissionárias de serviço público, tanto com relação à

questão ambiental, quanto, por exemplo, sobre a inclusão da população menos favorecida economicamente.

Em 2006, a Aneel desenvolveu o Manual de Elaboração do Relatório Anual de Responsabilidade Socioambiental das Empresas de Energia Elétrica, bem como a metodo-logia para o Prêmio Energia Cidadã, que levará em consi-deração os relatórios de responsabilidade socioambiental publicados pelas empresas. A Aneel tornou obrigatória a apresentação do relatório referente a 2007. Algumas ques-tões-chave relevantes:

“Recentemente, um profissional de uma empresa concessionária participou como

palestrante da ABCE em um evento sobre rating socioambiental, o que mostra mais

uma vez o pioneirismo do setor”

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ANÁLISE´

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• Prazo para entrega do documento: 30 de abril de 2008;• Comparação com os três últimos exercícios sociais, ou seja, 2005, 2006 e 2007, sendo obrigatórios os dados re-ferentes a 2007;• O documento deve ser aprovado pelos Conselhos de Administração e Fiscal, ou seja, deve estar na ordem do dia da convocação da reunião e em sua ata, isto é, leva obrigatoriamente a temática para os órgãos estratégico e fiscalizador da companhia;• Além das tabelas preenchidas com os dados, é relevante um descritivo da análise do desempenho;• O documento se tornará público.

Além do órgão regulador, as entidades de classe também se posicionam em prol da sustentabilidade, como a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), que possui desde 1999 o Prêmio Abradee em diversas categorias. Na segunda edição do prêmio, em 2000, foi criada a categoria Responsabilidade Social, sendo a Cemig a ganhadora.

Não só a categoria Responsabilidade Social está conectada à sustentabilidade; outras duas também têm uma forte rela-ção: a “melhor nacional” e a “melhor avaliação pelo cliente”. A Abradee também desenvolve outras atividades relacionadas à sustentabilidade com seus associados.

A Associação Brasileira de Concessionária de Energia Elé-trica (ABCE) entrega, desde 1980, a medalha “Eloy Chaves”, que premia a excelência na prevenção de acidentes. A ABCE possui, também, o Comitê de Meio Ambiente e organiza even-tos sobre a responsabilidade das concessionárias perante seus consumidores. Recentemente, um profissional de uma empre-sa concessionária participou como palestrante da ABCE em um evento sobre rating socioambiental, o que mostra mais uma vez o pioneirismo do setor.

Outra questão relevante é a listagem de empresas do setor

A Sustentabilidade no setor de Energia Elétrica

*Assessor de Sustentabilidade da presidência da Apimec Nacional, diretor de Estratégia de Sustentabilidade e Conteúdo da TheMediaGroup Comunicação de Valor, membro dos conselhos deliberativos do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da Bovespa e do fundo Ethical, da ABN Asset Management, e professor da Trevisan Escola de Negócios e da Universidade Imes – [email protected]

em índices de sustentabilidade como o Dow Jones Sustainability World In-dex (DJSWI). Dentre as três empresas brasileiras elegíveis do setor para este índice, a Cemig sempre esteve pre-sente. Em 2005, a carteira mundial do DJSWI considerou oito empresas do setor, e a Cemig figurou como a líder mundial em sustentabilidade, posição que continua a ocupar.

No índice de sustentabilidade empre-sarial da Bovespa, o setor é o que tem o maior número de empresas, 11 ao todo: AES Eletropaulo, AES Tietê, Cemig, Cesp, Coelce, Copel, CPFL, Eletrobrás, Energias do Brasil, Light e Tractebel.

No lançamento da terceira carteira do ISE, o setor foi o terceiro em volu-me de participação, com 13,19%. A participação nos níveis diferenciados de governança corporativa, no Novo Mercado e no índice de ações com tag along também há um número sig-nificativo de empresas do setor.

Ainda trataremos das empresas de energia elétrica e do próprio setor, que é rico em indicadores socioambientais atrelados aos econômico-financeiros.

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A ESTRUTURA DE aço do Estádio Nacional, em Pequim, é limpa por alpinistas chineses. A China está gastando cerca de 40 bilhões de dólares em infra-estrutura para organizar as Olimpíadas, de 8 a 24 de agosto. O país acredita que sua economia ficará livre da tradi-cional recessão pós-olímpica devido ao seu tamanho e ao ainda crescente apetite de seus consumidores e investidores

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