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Revista chasque

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Ano I - 1 ª edição - janeiro de 2013

Bairrista?

Quase nada!

Ano I - 1 ª edição - janeiro de 2013

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DEED

UARDAWAGNER

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Editorial

Por que fazer uma revista sobre cultura gaúcha? Primeiro, porquegostamos do gauchismo, das tradições desta pampa, de pertencer ao RioGrande do Sul , ou de ter “adotado” o Rio Grande como moradia. Segundo,porque a cultura do nosso estado é tão rica e tão diversificada, que mereceter um meio de divulgação especial sobre o assunto. Terceiro, porque que-remos mandar nosso chasque, por meio destas páginas, para os “gaúchos egaúchas de todas as querências”, como diz a já conhecida frase de Nico Fa-gundes.

Vai me dizer que tu não sabes o que é um chasque? Mas que barba-ridade! Bueno, antes de mais nada, um chasque é uma mensagem, um re-cado que se envia a alguém. Nos tempos dos farroupilhas, os chasqueseram enviados através de mensageiros que percorriam estas terras a cavalo,ou mesmo a pé.

De fato, é isso que nós queremos que a Revista Chasque seja. Umamensagem sobre cultura, folclore, costumes, tradicional ismo, campeirismo.Que tu, vivente, encontre na Chasque um pouco mais sobre história, músi-ca, dança, cul inária, esporte ou l iteratura regional . Que tu tenhas nas nos-sas páginas um pouco do Rio Grande, um pouco do amor e orgulho de sergaúcho.

Projeto Experimental apresentado ao Curso de Comunicação Social - habil itaçãoem Jornal ismo como requisito para aprovação na discipl ina de Trabalho deConclusão de Curso I I , sob orientação do Prof. Msc. Luis Fernando Rabel lo Borges.

Produção, Reportagem e Fotografia:Carol ine Scolari, Eduarda Wagner, Isabela Motta, Izadora Motta, Mayara Bonn e Rossana Enninger

Revisão:Mayara Bonn e Rossana Enninger

Edição e diagramação:Rossana Enninger

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Janeiro de 2013

Destaques daedição

6 | Laços de amizade com a

música

8 | Contos gauchescos

11 | Os loco lá da fronteira -

Entrevista com César Oliveira

e Rogério Melo

14 | O Movimento

Tradicional ista presente nas

Universidades

24 | Rio Grande de todas as

cores

28 | Tradicional ismo também

na Internet

30 | Como é um fandango

gaúcho?

32 | A rotina do tiro de laço

34 | Esportes gauchescos

36 | Tá no ENART, tá no

mundo!

38 | Gaúcho gosta de

carnaval?

Especial

18 | Por que gaúcho é bairrista?

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A história por trás da músicaComo é compor uma música para festival regionalista?

Mayara Bonn

O s festivais transmitem aidentidade do povo, em de-

terminado tempo histórico. Sãoimportantes no sentido de man-ter viva a música cultural gaú-cha, em seus diversos estilos eraízes, pois contribuem para ocrescimento do cenário musicaldo estado. Por isso, precisamoster muito cuidado para que nãose findem, mas, também, paraque não se tornem alvos de polí-ticas eleitoreiras ou troca de fa-vores entre compositores.

Compor uma música parafestival nem sempre é uma tare-fa fácil , pois cada evento possuium foco, o que requer do com-positor criatividade e conheci-mento. Para o compositor JoséRicardo Maciel Nerl ing, ao com-por uma letra, “além de buscarconhecer o foco do festival , pro-curo transmitir uma mensagempara aqueles que serão o polo

passivo da relação, ou seja, quemvai ler e ouvir a composição. Nomais, é deixar a inspiração falar esaber usar a técnica, o que tam-bém é muito importante”. Osfestivais são uma das formas dese transmitir a identidade do po-vo gaúcho, em determinadotempo histórico, e com issomanter viva a música culturalgaúcha, em seus diversos estilose raízes.

Assim, os compositoressão fundamentais para a exis-tência dos festivais, pois são elesque criam as poesias que poste-riormente viram músicas e con-tam histórias sobre a culturagaúcha. Para o compositor PauloRicardo Costa, “as letras são res-ponsáveis por contar histórias, e,depois do poema escrito, ai vema melodia. Para cada poema po-dem-se variar as melodias, masexistem rimas e métricas que jádirecionam o poema para sua

melodia, ou seja, uma letra fa-lando de uma doma, uma gine-teada, certamente vai para ummilongão ou chamamé, pois esseritmos se identificam com o te-ma. Se é um tema falando deamor, pode ser um rasguido,uma milonga mais cadenciada,um chamamé mais lento”.

Da mesma forma, Joséacredita que “cada compositorpossui uma forma singular decompor, a música antes de tudoé uma poesia, e com isso exigeque o compositor conheça l ite-ratura, não tendo apenas bomvocabulário, mas também tenhaconhecimento de metrificação erimas, ou seja, ele deve trabalharde forma que todos os versostenham o mesmo número de sí-labas, o que vem a facil itar otrabalho do musicista. Porém, aarte nos concede uma liberdadesem fim, permitindo que os po-emas sejam escritos de maneira

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DEJAQUEL

INEDOMANSK

I

Música

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menos simétrica, naforma livre”.

Os festivais demúsica nativista sãoresponsáveis por nãodeixar a produção mu-sical artística regionalterminar, mantendosuas pecul iaridades esubjetividades, além deserem identidade cul-tural de cada municí-pio, do estado do RioGrande do Sul e doBrasil .

O primeiro fes-tival sobre música tra-dicional ista de que setem notícia no RioGrande do Sul é a Cal i-fórnia da Canção Nativa, que foiideal izada por Colmar Duarteem 1971. Hoje os festivais já ul-trapassaram as l inhas do estadoe ganham prestígio também emSanta Catarina.

Para a mestranda em Pa-trimônio Cultural Jaquel ine Do-manski, os festivais “contribueme muito para o cenário musicaldo nosso estado. Esse tipo desegmento al imenta/nutre a cul-tura musical gaúcha de uma ma-neira simples, porém muitoimportante para que não caia noesquecimento nem no “modis-mo” tanto temido pelos funda-dores do 35 (primeiro Centro deTradições Gaúchas do Estado)”.

Paulo acredita que criaruma letra de música é contaruma história do estado, e isso al-gumas vezes gera dificuldade,pois, “com a quantidade de mú-sicas já existentes, o mais difícilé encontrar um tema que nãotenha sido escrito, ou que já te-nha sido, mas que possa ser me-lhorado. No mais, para quemestudou um pouco de poesia,métrica, rima, é fácil . Claro que

toda letra bem composta neces-sita de um começo, um meio eum fim, como uma redação, enão fugir do tema”.

Ele ainda afirma que osfestivais são o “melhor meio depropagação de uma cultura mu-sical . Espaço aberto para quemquer crescer na música e fazê-lacom responsabil idade, claro quepara isso é necessário estudarmuito e sempre estar a par detodos os acontecimentos e di-versificações musicais que existeaqui no Rio Grande do Sul”.

Da mesma forma, José vênos festivais uma forma de man-ter o l inguajar antigo presenteainda hoje, pois as músicas con-tam histórias e trazem as pala-vras da época, o que requer doespectador algum conhecimen-to e identificação, e tambémpermitem que ele aprenda coi-sas novas. “Todas as pessoaspossuem os seus valores e as su-as real idades, que são diferentesentre si. A música também é as-sim e, portanto, deve ser pra to-dos. Penso, de forma muitopessoal , que o distanciamento

entre a música regional e algu-mas dessas pessoas está no fatode que não há uma identificaçãoentre elas e os temas, ou mesmoa forma com que estes são tra-balhados nas composições”.

Assim, os festivais sãoimportantes na preservação deuma parte da cultura gaúcha,pois contribuem no lançamentode novas músicas. Para o pro-dutor de vídeo e compositorPaulo, “só na área musical , mul-tipl ique 14 músicas vezes 60festivais e veja quantas músicassaem por ano. Sem os festivais,certamente o Rio Grande seriabem mais pobre culturalmente.Além de uma juventude quevem hoje de boina e alpargata,bombacha e lenço curto, to-mando mate nas cuias pequenasno calçadão das cidades: sãocrias dos festivais. Esse é um es-paço de trabalho e aperfeiçoa-mento musical . Só não vai parafestival quem não gosta de serjulgado e acha que sua músicanão precisa crescer. Festival éensinamento, é cobrança e éamizade”.

José em participação no Carijo da Canção Gaúcha em Palmeira das Missões

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DEARQUIVO

PESS

OAL

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Isabela MottaIzadora Motta

A amizade, o entrosamento,o talento na música e o re-

lacionamento de anos contribuí-ram muito para que o grupoLaço de Guri viesse a surgir. Ovocal ista Adilson José Fabris, 40anos, afirma que “o relaciona-mento que a gente tinha foi ofator que determinou que a gen-te formasse o grupo, todos sãomúsicos profissionais de longadata, então esse conhecimentofoi o fator principal”.

Nas vésperas da SemanaFarroupilha do ano de 2010, osmúsicos estavam em uma con-fraternização e foram convida-dos pelo CTG Sentinela daCoxilha, de Caiçara/RS, para queorganizassem o grupo e fizes-sem um show na praça do muni-cípio. Os amigos se organizaramdurante a semana. No domingoà tarde, enquanto o filho deAdilson estava laçando uma vacaparada na praça, uma pessoa fa-lou: “como laça bem esse guri”.Assim decidiram pelo nome Laçode Guri e à noite, então, se apre-sentaram no CTG. Logo após es-te show, o Laço de Guri seapresentou em um fandango aoar l ivre que foi um sucesso, des-taca o vocal ista.

A partir daquele dia, co-meçaram os convites para o gru-po tocar em bailes, shows e nosmunicípios da região. Os músi-cos já tocavam juntos em outrasbandas, há cerca de dez anos,mas com o término da banda, osintegrantes decidiram formar oLaço de Guri.

Questionados sobre obje-tivos e o futuro, o gaiteiro Ubira-tan Fabris, 28 anos, diz que o“nosso principal objetivo é emprimeiro lugar manter a amizadee sempre tentar evoluir, somosmuito críticos e a gente querconsol idar nossa marca”. Adilsoncomplementa: “Fazemos um tra-balho com muito profissional is-mo no palco, a gente quer fazerperfeito, então essa é a preocu-pação, e também manter o rit-mo fandangueiro”.

Como o grupo já tem umrepertório formado, cada umpratica as músicas em casa, e,quando o grupo se reúne paraensaiar, atual izam o mesmo e oque mais for preciso. Os ensaiosdo Laço de Guri acontecem emmédia uma a duas vezes pormês, no estúdio na casa do bate-rista Natercio Cerutti Audino.“Se não tem apresentação agente inventa um churrasco e

aproveita pra ensaiar, porque aamizade está acima de tudo”, fi-nal iza Ubiratan.

A frequência dos ensaiosaumenta mais próximo às apre-sentações – cerca de dois outrês ensaios por semana até avéspera do show ou do baile. Ogrupo ainda não tem músicaspróprias, mas está pensando emgravar seu CD neste ano. O re-pertório tem influência nas mú-sicas de grupos como OsMonarcas, Os Serranos, Os Far-rapos, César Oliveira e RogérioMelo e outros.

De acordo com os músi-cos, o que não pode faltar nosshows é César Oliveira e RogérioMelo, Os Serranos e Os Monar-cas, “a gente procura pegar omelhor em cada grupo e colocara nossa cara nas músicas”, res-salta Ubiratan. O gaiteiro co-menta ainda, que a região temdificuldade em fazer com que o

O grupo Laço de Guri anima os fandangos da região

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DEDILVULG

AÇÃO

Laço de amizade com a música gaúchaO cotidiano de amigos que têm em comum a paixão pela músicagaúcha, mas que durante a semana exercem outras profissões.

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CTG promova eventos então, às vezes, ogrupo acaba saindo da região para seapresentar. Outra dificuldade é manter amusical idade gaúcha, tanto é que muitosgrupos gaúchos deixaram de existir pornão haver muitos eventos, e por nãoconseguir fazer com que a música gaúchaalcançasse o cenário nacional .

“Gostaríamos muito que os CTGsaqui da nossa região resgatassem mais apopularidade, porque senão não vai maishaver espaço. Precisamos renovar o CTG,inserindo mais crianças e jovens”, destacaUbiratan.

O vocal ista Adilson conta que umdos sonhos do grupo é tocar no campusda UFSM em Frederico Westphalen, poislá se encontram muitas culturas, vindasde outras regiões, principalmente dafronteira. Outro sonho é cantar no pro-grama Galpão Crioulo.

Um dos planejamentos do grupo éir fortalecendo a marca Laço de Guri, pa-ra um período de cinco ou dez anos. “To-dos os integrantes são apaixonados pelamúsica gaúcha e a música, ela é muitoengraçada. Tem momentos que elaacontece e aí você tem que abrir mão deprofissão e tem que trabalhar com ela, oque é bom”, final iza Adilson, comentandoa respeito de os músicos, futuramente,viverem somente da música.

Em paralelo com as atividadesmusicais, todos os integrantes do Laço deGuri estudam e/ou trabalham. O dia a diadeles é normal, tem seus compromissosdiários, seja na faculdade e/ou nos seusserviços. Quanto à organização, elesmesmos se dividem na real ização das ati-vidades do grupo. O gaiteiro Ubiratan e oguitarrista Amauri dos Santos Dal l Pass,28 anos, são os responsáveis pelo reper-tório. Já o baixista Emerson André Frozza,29, e o baterista Natercio, 31, ficam comos cuidados da comunicação visual . Adil-son é o responsável pela comunicaçãoexterna e contratos e Natercio tambémcuida da parte de arte gráfica. Mesmo oLaço de Guri se dividindo nos trabalhos,todos se ajudam e têm liberdade para fe-char contrato e dar as suas opiniões.

Além do Laço de Guri

Amauri dos Santos Dall Pass

Bacharel em DireitoGuitarra e vocais

Emerson André Frozza

Vendas e publ icidade em loja de música e acadêmicode Anál ise e Desenvolvimento de SistemasBaixo e vocais

Natercio Cerutti Audino

Designer gráfico e estudante de MarketingBateria

Adilson José Fabris

Gerente Sicoob de Frederico Westphalen e Mestreem desenvolvimento regionalVocal ista

Ubiratan Fabris

Farmacêutico Clínico industrial especial ista emacupuntura e Medicina Tradicional Chinesa.Gaita Piano e Gaita de botão

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DEISABEL

AMOTTA

André (E) tem a música presente no cotidiano

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Literatura

Contos Gauchescos, a obracentenária de Simões Lopes NetoA obra do autor gaúcho Simões Lopes Neto, que foi lançada pelaprimeira vez em 1912, completou seu centenário de publicação.

Mayara Bonn

N arrada na voz do persona-gem Vaqueano Blau Nunes,

os Contos Gauchescos de Si-mões Lopes Neto trazem umpouco da cultura gaúcha em su-as histórias. Principal persona-gem da obra, Blau Nunes, emalgumas histórias é protagonistae em outras assume o papel deespectador interessado e atento.O l ivro possui uma linguagemmais regional ista, pois traz mui-tas falas populares do gaúcho.Trabalhando-as de forma erudi-ta, o autor chega a criar umaterceira l inguagem, rica e popu-lar.

João Simões Lopes Neto,mais conhecido como SimõesLopes Neto, é um autor gaúchonatural de Pelotas, que, alémdeste l ivro, publ icou apenasmais três: Cancioneiro Guasca(1910), Lendas do Sul (1913) eCasos do Romualdo (1914). De-vido à grande expressão do es-critor e por ser sua cidade natal ,foi criado em Pelotas o InstitutoSimões Lopes Neto, que tem co-mo objetivo preservar, valorizare divulgar a obra do escritorgaúcho.

Para o presidente do Ins-tituto Simões Lopes Neto, Anto-nio Carlos Mazza Leite, o autor“cada vez mais se firma comoum dos grandes escritores danossa pátria, ombreando-se com

os maiores vultos da l iteraturabrasileira, e o Instituto existepara valorizar e difundir suaobra”.

Em comemoração aocentenário da obra, o Institutopromoveu durante todo o anode 2012 um ciclo de palestraschamado "Contos Gauchescos -100 anos da escrita.. . 100 anosde leituras". Segundo o acadê-mico de jornal ismo da UFPEL eassessor de imprensa do Institu-to, Cassio Lilge, “ao todo foram19 encontros no ano – um pracada conto da obra –, onde es-tudiosos convidados estiveramexpondo suas anál ises sobre ca-da um dos contos”.

Os contos de Simões Lo-pes Neto tratam sobre a história

do Rio Grande do Sul e, hoje, éuma obra obrigatória nos vesti-bulares do Estado.

Um pouco sobre a obra

O primeiro Conto, Tre-zentas Onças, é uma amostra dal inguagem regional ista que oautor util iza, expressões como“guaiaca, cusco”, espanhol ismoscomo “mui, cousa” e ditos po-pulares como “brabo como umamanga de pedras”, são algunsexemplos. A temática tambémcomeça a moldar os valores dogaúcho, estando a honra acimade tudo, mesmo quando grandequantia de dinheiro está em jo-go.

A l inguagem util izada por

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DEDIVULG

AÇÃO

Cena do filme Contos gauchescos, gravado no Rio Grande do Sul

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Simões exige um pouco do leitor contemporâ-neo, que em alguns momentos pode ter dificul-dade para entender o que o autor quer dizer,principalmente em momentos descritivos. Porexemplo, neste trecho do conto “No Manatial”:“Vancê acredita?… Nesta manhã, desde cedo,os pica-paus choraram muito nas tronqueirasdo curral e nos palanques… e até furando no oi-tão da casa;… mais de um cachorro cavoucou ochão, embaixo das carretas;. e a Maria Altinaachou no quarto, entre a pa-rede e a cabeceira da cama,uma borboleta preta, dasgrandes, que ninguém tinhavisto entrar…”.

“No Manatial” é outroconto que compõe o l ivro,considerado um dos maisbelos e, ao mesmo tempo,talvez o mais triste, revelan-do um pouco como nascemas lendas e as assombrações.O que impressiona no autor éque, apesar do l inguajar pró-prio, a narrativa flui com na-tural idade, tal como ocorrequando um causo é contadonuma roda de chimarrão.

Para a professoraMestre do Instituto Federalde Educação, Ciência e Tec-nologia Sul Riograndense (IF-Sul) de Pelotas,Jaquel ine Thies Koschier, “a l inguagem regiona-l ista de Simões causa um pouco de estranha-mento aos jovens urbanos contemporâneos,pois eles não têm, muitas vezes, o contato dire-to com expressões típicas do interior e do sécu-lo XIX”. Porém, como os temas do l ivro sãouniversais, o entendimento geral da obra não écomprometido.

Além de ser uma obra importante paraos vestibulares das Universidades do Rio Gran-de do Sul , o l ivro também é um val ioso docu-mento histórico, uma vez que revela um poucodo pensamento sobre a cultura gaúcha e brasi-leira de um século passado. Dentro do conto “ONegro Bonifácio”, por exemplo, a representaçãofeita da mulher e do negro gera estranheza eaté revolta no leitor moderno, mas retratam osvalores da época de publ icação do texto:

“Os dentes [da Tudinha eram] brancos e

lustrosos como dente de cachorro novo; e oslábios da morocha deviam ser macios comotreval , doces como mirim, frescos como polpade guabiju. (.. .) No barulho das saúdes e dascaçoadas, quando todos se divertiam, foi queapareceu aquele negro excomungado, paraaguar o pagode”.

“O Negro Bonifácio” tem como tema adisputa que ocorre entre quatro gaúchos pelapersonagem Tudinha, “a chinoca mais candon-

gueira que havia naquelespagos”. A disputa evolui echega a um duelo san-grento, do qual emerge aofinal a revelação de umahistória de amor secreta,ardente e improvável dabela morena com o NegroBonifácio.Talvez o sucesso doscontos seja que sua es-sência não está nas pala-vras, nas frases, nal inguagem popular retra-balhada, e sim no subtex-to, no não-dito, naquiloque só o leitor acostumadocom os meandros do gê-nero conto poderá perce-ber, como a relação deTudinha com o Negro.

Hoje, passados cem anos, pode-se dizerque Contos Gauchescos é um clássico em todasas acepções de clássico, já que é uma obra queprovoca de forma incessante muitos discursoscríticos sobre si, mas sempre os repele paralonge. É, por fim, um livro além de seu tempo eespaço, pois embora tenha uma linguagem re-gional ista e tenha como tema a cultura gaúchacom seus tempos de guerras, facões, cavalos eheróis, as temáticas são universais: traição, ciú-me e honra, mesquinhez, saudades, todos vol-tados para a construção de um livro que mostrea cultura gaúcha através dos contos de SimõesLopes Neto.

Ainda em comemoração ao centenárioda obra, o l ivro virou um longa-metragem, gra-vado nas cidades de Pelotas, São Gabriel e Pi-ratini, que estreou nos cinemas em 03 denovembro de 2012, sob a direção do cineastaHenrique de Freitas Lima.

Cem anos de escrita e leitura

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O Mate do João CardosoSimões Lopes Neto

- A LA FRESCA!.. . que demorou a tal fritada! Vo-cê reparou?Quando nos apeamos era a pino do meio-dia.. .e são três horas, largas! .. . Cá pra mim esta genteesperou que as franguinhas se pusessem gal i-nhas e depois botassem, para depois apanharemos ovos e só então bater esta fritada encantada,que vai nos atrasar a troteada, obra de duas lé-guas.. . de beiço! .. .I sto até faz-me lembrar um caso... Vancê nuncaouviu falar do João Cardoso?... Não?... É pena.O João Cardoso era um sujeito que vivia poraqueles meios do Passo da Maria Gomes; bomvelho, muito estimado, mas chalrador comotrinta e que dava um dente por dois dedos deprosa, e mui amigo de novidades.Também... naquele tempo não havia jornais, e oque se ouvia e se contava ia de boca em boca,de ouvido para ouvido. Eu, o primeiro jornal quevi na minha vida foi em Pelotas mesmo, aí por1851.Pois, como dizia: não passava andante pela por-ta ou mais longe ou mais distante, que o velhoJoão Cardoso não chamasse, risonho, e renitentecomo mosca de ramada; e aí no mais já enxota-va a cachorrada, e puxando o pito de detrás daorelha, pigarreava e dizia:- Olá! Amigo! Apeie-se; descanse um pouco! Ve-nha tomar um amargo! É um instantinho... cri-oulo?! . . .O andante, agradecido à sorte, aceitava... menosalgum ressabiado, já se vê.- Então, que há de novo? (E para dentro de casa,com uma voz de trovão, ordenava: ) Oh! Criou-lo! Traz mate!E já se botava na conversa, falava, indagava, pe-dia as novas, dava as que sabia; ria-se, metia opi-niões, aprovava umas cousas, ficava buzina nasoutras.. .E o tempo ia passando. O andante olhava para ocavalo, que já tinha refrescado; olhava para o solque subia ou descambava... e mexia o corpo pa-ra levantar-se.- Bueno! São horas, seu João Cardoso; vou mar-chando!.. .- Espere, homem! É um instantinho! Oh! Crioulo,olha esse mate!

E retomava a chalra. Nisto o crioulo, já caleado esabido, chegava-se-lhe manhoso e cochichava-lhe no ouvido:- Sr., não tem mais erva! .. .- Traz dessa mesma! Não demores, crioulo! .. .E o tempo ia correndo, como água de sangacheia.Outra vez o andante se aprumava:- Seu João Cardoso, vou-me tocando... Passebem!- Espera, homem de Deus! É enquanto a gal inhalambe a orelha! .. . Oh! Crioulo! .. . olha esse mate,diabo!Outra vez o negro, no ouvido dele:- Mas, sr.! . . . não tem mais erva!- Traz dessa mesma, bandalho!E o carvão sumia-se largando sobre o paisanouma riscada do branco dos olhos, como escarni-cado...Por fim o andante não aguentava mais e paravapatrulha:- Passe bem, seu João Cardoso. Agora vou mes-mo. Até a vista!- Ora, patrício, espere! Oh crioulo, olha o mate!- Pois sim... porém dói-me que você se vá semquerer tomar um amargo neste rancho. É uminstantinho... oh! Crioulo!Porém o outro já dava de rédea, resolvido à reti-rada.E o velho João Cardoso acompanhava-o até abeira da estrada e ainda teimava:- Quando passar, apoie-se! O chimarrão, aqui,nunca se corta, está sempre pronto! Boa via-gem! Se quer esperar.. . olhe que é um instanti-nho... Oh! Crioulo! .. .Mas o embuçalado já tocava a trote largo.Os mates do João Cardoso criaram fama... Agente daquele tempo, até, quando queria dizerque uma cousa era tardia, demorada, maçante,embrulhona, dizia – está como o mate do JoãoCardoso!A verdade é que muita casa e por muitos moti-vos ainda às vezes parece-me escutar o JoãoCardoso, velho de guerra, repetir ao seu crioulo:Traz dessa mesma, diabo, que aqui o sr. tempressa! .. .- Vancê já não tem topado disso?.. .

Contosgauchescos

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A autêntica música gaúcha deCésar Oliveira e Rogério Melo

F ilhos da fronteira, César Oliveira e RogérioMelo iniciaram sua vida cultural e artística na

cidade de São Gabriel , a Terra dos Marechais. Jun-tos como dupla desde 2001, com onze CDs lança-dos e três DVDs, eles dividem o palco e o gostopela música e o folclore rio-grandense. Suas músi-cas retratam a vida na pampa gaúcha e seusshows são sucesso de públ ico. Confira a entrevistaque a Revista Chasque fez com a dupla.

Chasque - Muitos artistas do Rio Grande do Sulcomeçaram a carreira em festivais, incluindo vo-cês. Como vocês veem a importância dos festivaisde música nativa pra música gaúcha?

César Oliveira - Festival é uma vitrine. Já foi maisforte, uma das principais vitrines pra música gaú-cha em si. É um movimento novo, pequeno emtodo cenário musical do mundo inteiro, tem apro-ximadamente 60 anos. Mas é um movimento per-dido se for anal isar, dentro da música gaúcha.Sempre falo e nunca vou parar de falar, se for fa-zer uma conta muito rápida, vamos resumir queem 50 anos já chegaram a existir três festivais emum fim de semana, digamos que aconteceramtambém 58 festivais num ano, aí tu multipl ica issopor doze músicas. Então tu faz uma conta e, cadêtodas essas músicas? Muito poucas pessoas co-nhecem isso e são inúmeras músicas perdidas que

Como dupla, são mais de dez anos de carreira e seus shows são sucesso de públ ico

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SDEROSS

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Entrevista

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nunca mais vão aparecer. Porque os discos estãoperdidos, os LPs, discos que foram feitos, foramcompostos por inúmeros compositores que tam-bém já não existem mais, não compõem mais.Então, lamentavelmente, é um acervo culturalque não tem mais como tu reaver. Só se alguémrealmente pudesse ir atrás. E antes os festivaiseram algo feito por grupos de amigos, pessoasque se juntavam pra fazer isso aí, todas competi-am no festival , mas hoje tá muito enfraquecidomesmo. E surgiam novos talentos, nós somospessoas que surgiram nos festivais, e quem derativesse a época dos festivais! Era o maior movi-mento, pelo menos eu que tive uma época boados festivais, eu digo que foi pra mim um dosmaiores movimentos musicais folclóricos domundo inteiro.

Chasque - Qual o segredo do sucesso destesmais de dez anos de carreira?

César Oliveira - São mais de 25 anos de amizade.Mas é trabalho, bastante trabalho. Existe uma

coisa que nós antes de sermos quem somos, deestarmos cantando, antes de qualquer coisa, an-tes de subirmos ao palco, antes de sermos Césare Rogério, nós já éramos amigos e já tínhamosisso dentro da nossa educação, já existia o que agente canta. Não é uma coisa transportada, quefoi inventada, nós estamos cantando o que é anossa vida. Não vamos mudar, nãotem nem como a gente mudar ecantar outra coisa, porque cantarisso aqui pra nós é uma questão dehonra, é uma identidade muito forte.

Rogério Melo - Em uma entrevistaum rapaz perguntou pra gente por-que a nossa música gera tanta força,porque nós tocamos forte, canta-mos forte. Eu acabei não respon-dendo pra ele, mas acho que éporque nós temos orgulho do quenós cantamos. Uma coisa que é in-voluntária, nós sabemos o momentoda dolência, sabemos quando temque cantar mais manso, mas achoque nossa música em geral , quandosubimos no palco, a nossa força, oporquê da nossa música ser tão for-te é porque nós cantamos com or-gulho aquilo que a gente canta.

Chasque - Nos shows que vocês fa-zem fora do Estado, como é a re-presentação da cultura gaúcha, forado parâmetro do Rio Grande do Sul,há aceitação, por causa do reco-nhecimento dos prêmios que vocêstiveram?

Rogério Melo - Acho que é anteriora isso. Desde o princípio da nossacarreira nós já tocávamos em SantaCatarina, começamos tocando bastante em San-ta Catarina e Paraná consequentemente, e nãome surpreende o sair do Rio Grande do Sul . Mesurpreende bastante a aceitação e nos lugaresque nós tocamos a preservação. Nós fizemos umshow em um CTG em Chapecó e estava todomundo pilchado, coisa que é muito difícil de veraqui no Rio Grande do Sul , no Paraná também éassim, as pessoas preservam.

"Hoje eu digo que o senti-mento da cultura gaúchatornou-se um estado deespírito. Mas pra nós é umorgulho muito grande tupoder dizer que quase nóstemos uma identidade depátria aqui."

César Oliveira

"Quando subimos no palco,a nossa força, o porquê danossa música ser tão forteé porque nós cantamoscom orgulho aquilo que agente canta."

Rogério Melo

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César Oliveira - Principalmente quando a gentevai pra lá, as pessoas que não tem a identidadetem isso, como até uma amiga nossa falou, elaera ‘manezinha da ilha’, “eu não entendo, vocêscantam assim e a gente fica olhando, eu não en-tendo nada do que vocês cantam, mas dá até prase emocionar”. Aí a gente diz que é folclore, que

o folclore passa isso aí, ele passa aidentidade de um povo. Como oRogério falou, elas acreditam, elastêm aquela confiança no que a gen-te canta porque nada é fictício. Ospersonagens não são fictícios, sãopessoas que ou viveram ou a genteconheceu ou ainda conhece, aindafazem parte da vida da gente. Ma-neco Rosa, essas pessoas que nóscantamos que nós temos muito or-gulho disso ainda, homenagear emvida alguns deles. Então tem comoestar cantando e imaginando aque-la pessoa e sentir orgulho de tudoisso.

Rogério Melo - Cantar um fato e àsvezes no palco nós estamos can-tando e lembrando daquele fato.Acontecimentos que nós conhece-mos ou quem escreveu nos contou,nos relatou, assim como relata namúsica.

César Oliveira - Lá fora do estadoquando a gente chega a gente sen-te isso, e às vezes isto também já sel iga àquela famosa frase “por que amúsica gaúcha não consegue ga-nhar o Brasil?”. Aí a gente respondedesta forma, que justamente não éa música gaúcha, a música folclóri-ca ela só é reconhecida quando ela

tem um diferencial , e o diferencial é quando ela éautêntica. Tu vai escutar uma música folclóricade qualquer outro país, ela tem que ter o dife-rencial daquele povo. Agora no momento que tuvai escutar a música gaúcha, um exemplo quan-do numa época ela ia ser projetada para o Brasilinteiro, uns tiraram o principal fator, tiraram abombacha, aí cadê o gaúcho? Tirou a bombacha,não tem sua identidade, não tem sua caracterís-

tica. Então quando tu é autêntico tu é aceito, anossa música presumo que seja autêntica, ela éespontânea, natural , aí por isso ela tem aceita-ção, porque ela é autêntica.

Chasque - O que representa a cultura gaúchapara vocês, César e Rogério, como pessoas enão como artistas que transmitem isso para opovo?

César Oliveira - Hoje eu digo que o sentimentoda cultura gaúcha tornou-se um estado de espí-rito. Porque se for falar em ser gaúcho, nós so-mos rio-grandenses, mas nós o ser gaúchotornou-se um estado de espírito, porque as pes-soas têm uma carência em ter uma identidadecultural , e faz com que muitas pessoas adotem acultura gaúcha. Mas pra nós é um orgulho muitogrande tu poder dizer que quase nós temos umaidentidade de pátria aqui, eu considero a nossacultura gaúcha uma pátria única, que tem um li-mite cultural que quase também é um limite re-gional e geográfico.

"Hoje eu digo que o senti-mento da cultura gaúchatornou-se um estado deespírito. Mas pra nós é umorgulho muito grande tupoder dizer que quase nóstemos uma identidade depátria aqui."

César Oliveira

"Quando subimos no palco,a nossa força, o porquê danossa música ser tão forteé porque nós cantamoscom orgulho aquilo que agente canta."

Rogério Melo

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Nas fronteiras do conhecimentoDTGs e Piquetes são uma opção de cultivar a tradição longe de casa.

Caroline Scolari

A lém de figurar em músicas, versos, danças ecrenças, o gosto pela cultura gaúcha também

está presente em instituições de ensino superiornos quatros cantos do estado do Rio Grande doSul . O orgulho gaúcho marcado pela coragem,hospital idade, honra e respeito à palavra empe-nhada está presente na vida de quem cultiva a tra-dição por este rincão afora, como é o caso demuitos estudantes que vão para outras cidades es-tudar, e levam o tradicional ismo junto na baga-gem. Muitos acabam fundando e organizandoDepartamentos Tradicional istas dentro das uni-versidades.

Na Universidade Federal do Pampa (UNI-PAMPA), campus de Dom Pedrito, esse processo érecente e ainda se encontra em fase de organiza-ção e implantação do Departamento de TradiçõesGaúchas (DTG) João Otacíl io Nobre Medeiros Ju-

nior. Da mesma forma, no ano de 2008 foi criadoo DTG Vaqueano Blau Nunes, no campus da Uni-versidade Federal de Santa Maria em FredericoWestphalen.

Outras universidades já possuem DTGs hámais tempo, como é o caso do Piquete QuerênciaPastoral , criado em 2002 na Pontifícia Universi-dade do Rio Grande do Sul (PUCRS) de PortoAlegre, que é um dos mais antigos departamentosde tradições gaúchas dentro de instituições deensino superior. Outro que também já existe hámais tempo é o DTG Noel Guarany, que funcionadesde 2005 na Universidade Federal de SantaMaria (UFSM) campus Santa Maria.

Nas duas instituições, as entidades sãoabertas para toda a comunidade acadêmica, ouseja, estudantes, funcionários e professores po-dem participar de qualquer um dos departamen-tos do DTG ou Piquete, como danças, laço,

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O DTG Noel Guarany da UFSM de Santa Maria participa de eventos como o Enart

Universidade

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cultura, jantares, cursos de danças, entre outrasatividades promovidas, pois as universidades bus-cam um espaço de igualdade para os envolvidos.

Tainá Severo Valenzuela, historiadora, pro-fessora de história e atualmente mestranda emPatrimônio Cultural da UFSM, 27anos, patroa do DTG Noel Guaranydesde 2006, comenta que ingressouno Movimento Tradicional ista em1997, quando tinha 12 anos, dan-çando em invernadas em Rosário doSul , sua cidade natal . Após começara estudar na UFSM e residir em San-ta Maria, ingressou no DTG NoelGuarany, onde já foi Prenda, Capataze Diretora Artística. Atualmente elaé patroa da entidade. Seu interessepela tradição surgiu ainda quandocriança através das danças, “comeceia dançar bal let aos quatro anos deidade e sempre tive interesse por dança. Gostavade ver os grupos tradicional istas e pedi aos meuspais que me incluíssem em algum grupo”.

Já Jeovane de Bem dos Santos, 22 anos, es-tudante de agronomia, natural de Boa Vista dasMissões e atual patrão do DTG Vaqueano Blau Nu-nes, fala que começou a participardas atividades tradicional istas quan-do “ingressei na universidade, háquatro anos. Antes disto, participavacomo espectador”. Mas o tradicio-nal ismo sempre esteve presente navida de Santos, pois, vindo de umafamíl ia do interior, o gosto pelastradições vem de berço, segundoele. “Sempre tive o incentivo a par-ticipar, meu pai, meus avós e meustios sempre foram e ainda são l iga-dos ao movimento tradicional ista”,comenta.

Tanto o DTG Noel Guarany como o DTGVaqueano Blau Nunes surgiram para atender àsnecessidades de estudantes em conservar as tra-dições gaúchas. O primeiro veio através do desejodos universitários que foram morar em Santa Ma-ria e que participavam do meio tradicional ista emsuas cidades de origem, porém não tinham condi-ções de ingressar nas entidades tradicionais da ci-dade, devido às dificuldades financeiras, detransportes etc, como expl ica Valenzuela. O se-gundo, como diz o patrão Santos, “surgiu da ne-

cessidade de desenvolver atividades para aSemana Farroupilha, no qual foi desenvolvido umprojeto de duração de um ano dentro da institui-ção. Assim, os participantes e os demais simpati-zantes acharam que deveria ter continuação o

movimento, para atender tambémàqueles que saem de sua cidade na-tal e abandonam as atividades deseu CTG”.

As atividades dos DTGs dasinstituições são organizadas con-forme uma patronagem, com prin-cípios semelhantes de outrasentidades do Movimento Tradicio-nal ista Gaúcho. A patroa do DTGNoel Guarany expl ica que “conta-mos com as invernadas artística(grupo de dança e modal idades in-dividuais), campeira (que participae organiza rodeios campeiros), so-

cial (que organiza os sócios da entidade e oseventos promovidos, como jantares, almoços,fandangos) e cultural (responsável pela promoçãode palestras, oficinas e do Departamento dePrendas e Peões)”. Além disso, “dividimos as tare-fas conforme as funções de cada um, mas também

compartilhamos de todas as ativi-dades da entidade igualmente, paraque as tarefas sejam bem sucedi-das”, destaca a patroa.

Já Santos comenta que a en-tidade difere em alguns pontos emrelação a um CTG, “pois visa atingirà juventude tradicional ista, inte-grando estes, os quais podem termuitas diferenças entre si, mas oamor pela tradição é o mesmo, nãoimportando curso, classe social , corde pele etc. Sendo assim, as ativi-dades do DTG visam e se moldam à

real idade acadêmica. Os eventos real izados peloDTG visam buscar ou ‘desenterrar’ tradições oucostumes para que não se percam com o passardos tempos. Isso tudo pra mostrar que a culturagaúcha e os costumes do pago não morreram, eque essa tradição será passada de pai para filho noque depender de ‘nós’”. A organização das tarefasacontece “através de reuniões na casa de um inte-grante ou no lugar que pudermos, e por lá desen-rolamos a prosa, numa grande roda de chimarrão,e agregamos a isso de vez em quando um chur-

"O amor pela tradi-ção é o mesmo, nãoimportando curso,classe social , cor depele, etc. Sendo as-sim, as atividades doDTG visam e se mol-dam à real idade aca-dêmica"

Jeovane dos Santos

"Dividimos as tarefasconforme as funçõesde cada um, mastambém comparti-lhamos de todas asatividades da entida-de igualmente"

Tainá Valenzuela

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rasco, um carreteiro ou coisa as-sim, gaita, violão e pandeiro,quase parecem com aqueles bai-les retratados nas canções. Umaroda de conversa onde todos sãoiguais”.

Entretanto, no PiqueteQuerência Pastoral da PUCRS aformação é um pouco diferentedos DTGs. Não é fil iado ao Movi-mento Tradicional ista Gaúcho eas designações para tratamentodos responsáveis pelo Piquetetambém são diferentes, confor-me expl ica Rafael Rossetto, 30anos, estudante de Direito, quecoordena o projeto há três anos.Ele diz que não util izam “a l in-guagem patrão, peão, devido àcarga histórica negativa que es-ses termos carregam. Util izamosmais uma linguagem pastoral , decoordenar, articular esse espa-ço”. Rossetto participa de ativi-dades tradicional istas desde os10 anos de idade, pelo incentivoe participação de seu pai em ro-deios e cursos de danças tradici-onais. A ideia de montar oPiquete surgiu “basicamente pa-ra confraternizar e cultivar aamizade, a fraternidade, a fé e asrelações entre as pessoas que vi-vem o mundo universitário”. Aorganização do Piquete é feitapelo Centro de Pastoral e Sol ida-riedade da Universidade, em quesão sugeridas programações, sãofeitos almoços e jantares, ciclosde palestras sobre a cultura gaú-cha, saraus culturais etc. O gal-pão do Piquete é montado edesmontado todos os anos naSemana Farroupilha, permane-cendo montado por cerca de 30dias, onde cada grupo de univer-sitários pode se organizar l ivre-mente e util izar o espaço,obedecendo a uma agenda dereservas feitas onl ine.

Durante o período em

que estão nas universidades,os acadêmicos concil iamseus estudos com a respon-sabil idade exigida por seuscargos de l iderança, paramanter vivo o amor pelatradição e a vontade departicipar desses Movimen-tos Tradicional istas. Acimade tudo, aguçar a vontadepara que os novos estudan-tes, ao ingressarem no ensi-no superior, tambémparticipem das entidades.

Como Valenzuelacomenta, para concil iar osestudos com a participaçãono DTG “é preciso dividirbem seu tempo, se organi-zar, as atividades da entida-de são posteriores aoshorários das aulas paraatender a todos os interes-sados em participar”. Assimcomo é para o patrão San-tos, do DTG Vaqueano BlauNunes, que concil ia os horá-rios, e também relata que “asatividades do DTG são ajus-tadas de acordo com a real i-dade acadêmica para quetodos possam participar”.

Rossetto também ex-pl ica que, “como o Piquete émontado no mês de setem-bro apenas, o tempo é ques-tão de organização paracultivar esse gosto pelo quehá de melhor na tradiçãogaúcha”. E também acres-centa dizendo que “participoem alguns momentos pon-tuais com maior intensidade,mas particularmente nos in-tervalos, visto que trabalhomuito próximo do Piquete.Então vou até o Piquete paratocar umas músicas de gaitapara os participantes, parti-cipo aos sábados e domingosquando alguns grupos se

O Piquete Querência Pastoral é montado durante o mês de setembro no campus da PUCRS

Apresentações artísticas são uma das atividades do Entrevero Farrapo organizado pelo DTG Vaqueano Blau Nunes

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reúnem”. Ele diz que a maioria dos acadêmicos util i-zam horários alternativos, início das aulas, os funcio-nários também. “Há uma grande dificuldade emrelação ao tempo, mas as pessoas vêm ao Piquetepara confraternizar, sorver um bom chimarrão e co-mer um churrasco gaúcho. Porém, poucas pessoasandam pilchadas na universidade. Há alguns gaúchos,que já foram ginetes, laçadores etc. Mas, de fato, sãopoucos”, comenta o coordenador.

A conservação das tradições por meio da ins-talação de um DTG ou um Piquete dentro da univer-sidade é importante, e pode trazer muitos pontospositivos, não só para cultivar o tradicional ismo, masprincipalmente para social ização, resgatar a históriado gaúcho, o fortalecimento de amizades, trocas deexperiências e produção de conhecimento entre osacadêmicos. O patrão do DTG Vaqueano Blau Nunesde Frederico Westphalen fala que “o principal ponto éa integração de pessoas de vários lugares, classes etc.em prol de um sentimento. Assim se formam novasamizades, troca de experiências, parcerias, fazendo aaproximação de pessoas com um ponto em comumno início, mas com o passar do tempo, conforme vãose conhecendo, vão vendo que têm mais em comumdo que imaginam”.

O coordenador Rossetto comenta que o Pi-quete tem um “objetivo claro que é proporcionar àcomunidade universitária a vivência dos valores doevangelho na tradição gaúcha, o compartilhamentode sabores e saberes com fé e hospital idade, além daintegração entre grupos/turmas, o relacionamentofraterno e sol idário, a cooperação, o diálogo, a inclu-são, o respeito à diversidade”.

A mestranda e patroa do DTG Noel Guaranydiz que “é importante que a Instituição tenha um nú-cleo que trabalhe com os aspectos culturais do localonde está alojado de forma responsável e fundamen-tada. Estar dentro da Universidade é estar dentro deum grande polo produtor e difusor do conhecimento,e poder util izar de um espaço como este para traba-lhar com a cultura gaúcha é vital para ela”.

Para muitos, o Movimento Tradicional ista équase uma rel igião, pois é onde se tem algo que seacredita e admira. O povo gaúcho é conhecido porvalorizar muito sua história, exaltando a coragem e abravura de seus antepassados, a conservação daidentidade de um povo, expressando por meio de su-as tradições seu apego aos costumes regionais. Dessamaneira, essas entidades tradicional istas contribuempara a manutenção da cultura e dos costumes, alémde ser uma forma de integração nas universidades.

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O Piquete Querência Pastoral é montado durante o mês de setembro no campus da PUCRS

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Apresentações artísticas são uma das atividades do Entrevero Farrapo organizado pelo DTG Vaqueano Blau Nunes

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Ah! Eu sou gaúcho!O povo rio-grandense já é conhecido pelo orgulho e amor as suas tradi-ções, sendo por isso mesmo considerado bairrista.Caroline ScolariMayara BonnRossana Enninger

Antes de qualquer coisa, precisamos definir osignificado de Bairrismo ou Bairrista, que se-

gundo o Dicionário Aurél io é o “Defensor dos inte-resses do seu bairro ou de sua terra, de maneiraobsessiva e em detrimento dos demais”. Talvezseja por isso que muitos se perguntam por que osgaúchos são tão bairristas? Não se deve só peladefesa do seu estado, que os gaúchos chamam deQuerência, Pátria Gaúcha ou País, mas principal-mente pela diferença do modo de falar, os costu-mes como o de sorver o chimarrão, o churrascotípico do Rio Grande do Sul , levado para qualqueroutro lugar aonde se vá.

Para o professor de história Tales Albarel lo,24 anos, os gaúchos demonstrarem um bairrismotão grande se deve “primeiramente à existênciade um Movimento Tradicional ista Gaúcho, pois oRio Grande do Sul é o único estado que tem ummovimento com tanta abrangência, organização eadeptos que busquem reforçar uma identidade re-gional . O MTG ‘ideal izou’ um ‘gaúcho’, sendo esseum homem simples, de valores e l igado à l idacampeira, e util iza alguns fatos históricos para jus-tificar a grandeza desse ser, praticamente mitoló-gico”.

O professor de danças tradicionais e pes-quisador, Vianei Portela de Mel lo, diz que “o RioGrande do Sul foi colonizado cerca de dois séculosdepois do restante do Brasil , a Capitania de SãoPedro do Rio Grande era mesmo singular em rela-ção às demais, identificando-se muito com os vizi-nhos da região rio-platense. E as lutas paradefender as fronteiras em constantes sobressaltosforjaram um tipo singular, e nosso orgulho talveztenha relação com essa consciência de séculos de-fendendo as fronteiras do sul do país”.

Além disso, sendo o Brasil um país com di-mensões continentais, possibil itou a existência dediferentes culturas, e também fez com que esta-

dos próximos tivessem identificações próximas.Porém, não é o caso do Rio Grande do Sul , quetem uma diferença evidente, uma característicafundamental ímpar, em relação aos demais esta-dos, pois o RS foi invadido pelo Brasil . E essesconfl itos pelas fronteiras e a Guerra dos Farraposque terminou em 1845 (há apenas 167 anos),tendo como consequência a anexação forçada daRepúbl ica Rio-Grandense ao Brasil , ajudaram acriar um imaginário heroico dos gaúchos, que de-ve ser cultuado e preservado por meio das mani-festações artísticas e campeiras.

O acadêmico de Engenharia Florestal daUFSM, Ezequiel Gal l io, 24 anos, comenta que, pelofato do Brasil ser um país heterogêneo (diversasculturas), se faz necessária a tomada de medidaspara preservar e cultivar a cultura gaúcha entre

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Objetos são usados como símbolos de orgulho

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todas as demais que existem. Por isso o bairrismo,pois assim é possível manter viva a tradição, sendoque nossa cultura é característica exclusiva denosso povo, portanto, a responsabil idade de nãodeixar a mesma esquecida é nossa. Já a modeloRaquel Lutes, 20 anos, diz que “todo mundo quenasce no Rio Grande do Sul já tem por ordem esseamor inexpl icável . Falando por mim, eu cresciamando e me emocionando a cada 20 de setem-bro, meu pai me conta que quando muito pequenaeu usava vestidinho de prenda”.

O professor Vianei fala que o gaúcho se“habituou à sensação de l iberdade das arriadas pe-la imensidão da campanha, foi mil icia-no, engrossando as fileiras dosexércitos como massa de manobra aolongo da história a serviço dos coronéisde ocasião. Enquanto os filhos dos lati-fundiários estudavam na Europa, overdadeiro gaúcho, o índio vago,transformado em herói, peleava emorria no campo de batalha defen-dendo os interesses da incipiente soci-edade ol igárquica. O que restou foi oestereótipo desse gaúcho aculturado,redimido para a util idade dos interesses dominan-tes, e a crença que ainda vigora buscando ofuscarsua origem pejorativa primitiva enaltecendo-o ro-mântica e miticamente como o “centauro das co-xilhas””.

De mais a mais, as razões desse estereóti-po do gaúcho são de fundo histórico e cultural , eficam claras ao observarmos a bandeira do RS, ou

ao darmos uma breveatenção à história daformação do Rio Grandedo Sul . E, com isso, aconstrução histórica dacultura gaúcha ao longodos anos, que começouprincipalmente ao finalda década de 1940, pe-las ações de Paixão Côr-tes e Barbosa Lessa, quebuscaram resgatar anti-gos costumes, ocorridosem regiões rurais, queeram desconhecidospela população urbana.Como diz o historiadorTales, esse resgate se

deu através de “relatos e demonstrações, as quaisforam gravadas na memória de cada um. Esseshomens foram construindo as suas visões do queseria o ‘gaúcho’. Com base nisso, entre outrasfontes, foram montadas as danças e músicas quehoje são dançadas nos Centro de Tradições Gaú-chas, as provas campeiras, entre outras atividadesl igadas ao movimento tradicional ista”.

Ao longo do tempo, a cultura gaúcha foisendo fortalecida, principalmente em oposição àcultura brasileira, pelo fato do gaúcho se conside-rar melhor que o brasileiro. Nas palavras de Tales,“cabe frisar que o ‘gaúcho’, esse homem campeiro

que l idava com gado e nas horas va-gas dançava e se divertia, realmenteexistiu, talvez não da exata formadescrita pelo MTG, mas ele viveu nacampanha gaúcha. O que o MTG fezfoi criar um ideal de gaúcho, que teveseu comportamento padronizado, oqual foi considerado o mais ‘puro’”.E também surgiu uma nova onda

tradicional ista no RS, com o sucessode cantores e grupos musicais nativoscantando a defesa da terra gaúcha e

dos costumes. Segundo Vianei, “a música regio-nal ista gaúcha, por sua especificidade, não temlugar nos grandes centros do país. Afinal de con-tas, fora dos l imites da cultura gaúcha, quem po-deria entender frases como “Flor de tuna,camoatim de mel campeiro, pedra moura dasquebradas do Inhanduí”, que claramente possuium cunho separatista do restante do Brasil?”. Ou

A música gaúcha tem letras que demonstram esse amor pelo Rio Grande

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"Relembrar opassado e cul-tuar a vida decampo é umaforma de vida.Esse resgate meorgulha muito"

Giovani Grizotti

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mesmo quando vemos as torcidas de Grêmio e In-ternacional , cantando o Hino do Rio Grande doSul de forma tão intensa, em vez do Hino Nacio-nal , isso não ocorre por acaso, é a manifestação dosentimento gaúcho, do amor, do orgulho à tradi-ção. Raquel Lutes comenta que “todos cantamcom muita emoção e orgulho o nosso hino, e acre-dito que esse amor e orgulho à tradição vem depai para filho”.

Ainda dentro da cultura brasileira, a culturagaúcha é tão importante quanto a nordestina, porexemplo, com suas manifestações culturais, comoo frevo e o forró, mas não podemos deixar de ladoque, em se tratando da cultura do RS, os gaúchosirão considerá-la melhor que qualquer outra cultu-ra do país. Raquel Lutes comenta que é “melhor acultura gaúcha, porque mostra o orgulho, a pai-xão, a força, a coragem, a garra, de um povo quelutou por seus ideais, mostra que um povo unidojamais será vencido e esquecido. Sem falar quenosso dicionário é uma coisa de ‘louco né, tchê’,rico em palavras, frases e expressões que em ne-nhum outro lugar do mundo são util izadas”.

O jornal ista Giovani Grizotti, editor e Re-pórter Farroupilha no site do G1, afirma que temorgulho de ser gaúcho. “Sou tradicional ista e vivoa tradição como se fosse uma rel igião. Esse univer-so do gaúcho, seus costumes, as roupas típicas, aorganização da forma de centros detradições.. . Enfim, relembrar o pas-sado e cultuar a vida de campo éuma forma de vida. Esse resgate meorgulha muito”. Mas, em relação aobairrismo afirmado por muitos gaú-chos, ele diz que “muitos bairristasnão tem os pés no chão. Não é ver-dade que somos melhores em tudo.Claro, alguns indicadores sociais sãosuperiores a média nacional . Talvez aimigração europeia tenha trazido umespírito empreendedor, desbravador,o que pode ter contribuído na nossaformação. Mas ficamos nisso. No mais, temos osproblemas e virtudes comuns a todos os brasilei-ros”.

O também jornal ista e historiador, JuremirMachado da Silva, pondera que “eu gosto do RioGrande do Sul . Mas não tenho um orgulho especi-al por ser gaúcho. Ser gaúcho é tão bom quanto,para quem nasceu no Rio de Janeiro, ser carioca. Ébom por ser o lugar da gente, mas não fizemos

nada de mais importante que os outros. Quer di-zer, cada lugar faz algo importante, mas não vejonenhum estado brasileiro que tenha feito tão maisa ponto de gerar um orgulho especial”. Para ele, obairrismo está presente em qualquer região, em

qualquer estado do país. “É tudoigual . Cada um acha que bairrista é ooutro. Alguns assumem o própriobairrismo. Outros nunca o fazem,mas nem por isso deixam de serbairristas. Normalmente quemaponta o dedo contra o bairrismo dooutro, faz isso por bairrismo”.Já para o professor Tales, a cultura

gaúcha integra a cultura brasileira, enão é nem inferior nem superior, poisa cultura brasileira contém muitosregional ismos, como o gaúcho. Seobservarmos, no Centro-Oeste há a

cultura pantaneira. No interior de São Paulo e Mi-nas Gerais, existe uma forte cultura sertaneja deraiz, com a musical idade das modas de viola. O Riode Janeiro é conhecido pelo samba. Algumas des-sas manifestações culturais têm mais espaço mi-diático, o que faz com que fiquem conhecidasnacionalmente, como é o caso do forró e da músi-ca sertaneja. Dessa forma, a cultura gaúcha não émelhor que a brasileira, mas sim faz parte dela.

"Cada um achaque bairrista é ooutro. Normal-mente quemaponta o dedocontra o bairrismodo outro, faz issopor bairrismo."

Juremir Machado

Desfiles durante a Semana Farroupilha são uma demonstração desse orgulho dos gaúchos

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Bairrismo

A arte de amar o lugar que nascemosou moramos é nato de muitos povos no mun-do. Algumas pessoas já nascem com este sen-timento interior e outras começam adescobrir o mesmo com o decorrer dos anos!

No Rio Grande do Sul , cultivam-se astradições, os usos e costumes, a cultura deuma forma muito ampla, podendo ser atravésde uma vivência artística, cultural , campeira,esportiva, entre outras que divulgam e pre-servam as tradições deste chão.

Os gaúchos, como são chamadas aspessoas nascidas no Rio Grande, carregamconsigo este sentimento de amar sua terra deuma forma única, o que vem completar a de-nominação do nativismo, e algumas cidadestem este sentimento mais aflorado por seushabitantes, de amor a sua terra, ao pedaço dechão que nasceram, moravam ou vivem, cha-mado de Bairrismo.

Todo este sentimento que possuímospor nossa terra, o Rio Grande na maior essên-cia e nossos municípios em instancia menor,foi motivo da criação de muitos festivais demúsica nativa no estado, de muitas letras emelodias, belos poemas, contemplando nossaarte com muitos músicos, cantores e compo-sitores ao longo dos anos, mas sendo princi-palmente uma característica marcante dosgaúchos. O trecho do poema abaixo, de auto-ria do compositor Eron Vaz Mattos, bem des-creve esta característica do povoriograndense:

"Os homens e mulheres deste pagoestão como cernes de guajuvira;eretos e firmes, como sempre.Nas suas almas está guardadaa melhor fibra da raça crioula,mantendo como patrimônio maior,a honra, a dignidade, o apego ao chão,ao trabalho e honesto."

Carinhoso Abraço,Raquel Pinheiro1ª Prenda do Rio Grande do SulGestão 2012/13.

Sant’Ana do Livramento, Verão/2013

OpiniãoEntre 7 e 20 de se-tembro, qual significamais?

Em decorrência,questionamos algumaspessoas sobre qual dasdatas havia uma maioridentificação, se era o 7de setembro ou o 20 desetembro. O estudanteEzequial Gal l io se identi-fica mais com o “20 desetembro, sem dúvida,assim como todos os ou-tros gaúchos que têmorgulho deste ‘país’ cha-mado Rio Grandes doSul”. Raquel Lutes con-corda: “20 de setembro,sem pensar duas vezes.Não sei expl icar exata-mente o que eu sinto,

mas me dá uma emoção, um aperto no peito. Atéjá chorei em pleno desfile, pois desfilo há muitoanos e cada vez parece que é a primeira. Abaixode chuva e sol , o povo está lá para saudar a nossacultura. Cada vez que penso que um estado paraem um dia só para relembrar quem fez a nossahistória, me dá um orgulho e vontade de gritarbem alto ‘ah, eu sou gaúcha’. E só quem nasceuaqui sabe o que é ter um amor sem tamanho aum chão”.

Na visão de Tales Albarel lo, a data da Re-volução Farroupilha, por seu vínculo ao Movi-mento Tradicional ista Gaúcho, ganhou maiordestaque no estado, entretanto não só o dia daIndependência, mas também o da RevoluçãoFarroupilha, possui um objetivo de aumentar osentimento de orgulho, nacional ou rio-granden-se, fazendo parte das representações de identi-dades que temos. Albarel lo acredita que a datade 7 de setembro tenha perdido muito do seusignificado ao longo dos últimos anos, como agrande comemoração vinculada à Ditadura Civil-Mil itar no Brasil , de forma que hoje os desfilesnão teriam mais a importância que outrora tive-ram. “Por estar próximo ao tradicional ismo, jáque minha famíl ia frequenta um CTG, tenhomaior identificação com o 20 de setembro”, co-menta.

Desfiles durante a Semana Farroupilha são uma demonstração desse orgulho dos gaúchos

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Isabela MottaIzadora Motta

A empresária Joviana Dalberto, 32, de Frederi-co Westphalen, aprendeu com seus pais des-

de pequena a cultivar a cultura gaúcha. Jovianaestá grávida de seu primeiro filho, e conta quepretende passar para seus filhos esse amor pelacultura. Os hábitos da empresária são beber chi-marrão todos os dias, comer churrasco no domin-go, ouvir músicas diariamente e assistir aapresentações de danças gaúchas.

Joviana sempre que possível prestigia even-tos do CTG Rodeio da Querência e acha muito im-portante que todos participem de algum CTG,para ela um marco aqui no Rio Grande do Sul .

“Quando converso com pessoas de outrosestados, com outras culturas, elas acabam comen-tando o quanto acham bonito e legal a nossa cul-tura”, acrescenta.

A empresária acredita que a cultura do RioGrande do Sul é uma das mais fortes que se temno Brasil . “Em qualquer lugar que se fale sobre o

estado, grande parte das pessoas vão saber sobreo que esta sendo comentado”. Para Joviana, esseconhecimento sobre o gaúcho e sua cultura émuito importante para manter a preservação damesma.

Segundo ela, a escola é um ponto chavepara passar o conhecimento da cultura, e deveriaparticipar todos os anos da Semana Farroupilha,para que as crianças desenvolvam e criem o espí-rito gaúcho de cultivar a cultura.

Sobre a vestimenta, Joviana diz: “Usamosbastante pilcha, meu esposo usa praticamente to-dos os dias, eu também, só agora que estou grávi-da não estou usando”. A indumentária gaúcha vemacompanhando a modernidade: as bombachas,que antigamente eram só de favo, hoje existemem inúmeros modelos, como por exemplo a cam-peira, as castelhanas, as femininas com elastano,que se moldam melhor ao corpo da mulher. Issotambém é legal”, acrescenta a gaúcha.

A empresária tem duas irmãs que tambémgostam muito da cultura, inclusive foram prendas

Histórias de quem cultiva a tradiçãoNão importa o lugar onde vivam, os gaúchos não deixam seus costumes.

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O chimarrão é o principal companheiro dos gaúchos

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do CTG Rodeio da Querência. Para ela, é fun-damental que todas as pessoas do estado seconscientizem sobre a importância da cultura etudo que a envolve. Acredita ser saudável ospais passarem seus conhecimentos para os fi-lhos, pois as crianças ficam mais interessadassabendo eles incentivam a conhecer e a cultivar.

Um fator importante e que deve ser le-vado a sério, segundo Joviana, é de que os jo-vens estão indo para festas, boates cada vezmais cedo, e muitos não convivem, não têm oscostumes gaúchos, porque nunca lhes foi pas-sado. Assim, os costumes vão sendo perdidos. Aempresária pretende passá-los para seus filhos.“Depois, quando jovens, eles vão ter conheci-mento da cultura e, se um dia forem embora doestado, vão levá-la consigo”, acrescenta.

Joviana ressalta que no estado do MatoGrosso há muitos gaúchos e, por mais que es-tejam morando lá, levaram com eles o gosto pelatradição. “Quando retornam ao RS querem bebero nosso chimarrão, porque a nossa erva é a me-lhor que existe e nosso churrasco também”.

Matheus Frantz de Faria, 21, atualmentereside em Rio Grande e também tem o costumede beber chimarrão. Para ele, é essencial o matenos finais da tarde, seja inverno ou verão. Já ochurrasco fica mais para quando vai para a campa-nha, onde sua famíl ia tira parte do sustento, já quelá tem um suprimento inesgotável de lenha para ofogo.

Estudante de Engenharia da Automação,Matheus conta que não é frequentador de CTGs,apesar de ter nascido e sido criado em Dom Pedri-to (local onde foi assinada a paz farroupilha). Suafamíl ia veio da região central do estado, entãonunca teve uma ligação com o CTG. “Sempre tive-mos campo, e estava sempre junto à l ida do cam-po, à agricultura e pecuária”, expl ica.

Ele acha muito importante o incentivo àcultura, pois é nela que está presente toda a ori-gem e toda a história do estado. “Temos nossaidentidade por tudo o que ocorreu no passado, e éimportante não se esquecer disso”, destaca.

Já o administrador Fernando Jesus da Ro-cha, 29, de Gravataí, participou do CTG quandoera criança, da mesma forma que seus pais partici-pavam por incentivo de seu avô materno.

A famíl ia de Fernando bebe chimarrão dia-riamente pela manhã e pela noite. O administra-

dor gosta muito de churrasco, mas, na sua casa, ochurrasco só é feito em dias festivos.

Fernando acha importante cultivar a cul-tura para estimular as futuras gerações a cultiva-rem-na também. Para ele, esta é uma forma deconservar as raízes e interl igar o presente e o pas-sado. “Pretendo transmitir aos meus filhos o gostopelo chimarrão e pelo churrasco, e, deixá-los l ivrespara outros costumes. Atualmente Fernando nãoparticipa do CTG, mas tem vontade que seus fu-turos filhos participem.

O gaúcho da praia de Tramandaí, Yimi Sil-veira Junior, 26, regente do coral do município,também teve contato com a cultura gaúcha desdecedo. Assim como o avô de Fernando, que incen-tivou a famíl ia inteira, o avô de Yimi sempre foi umgrande promotor da cultura gaúcha e chegou aser patrão de CTG. Em sua casa, assim como namaioria da casa dos outros entrevistados, man-tém-se o hábito de beber chimarrão e fazer chur-rasco frequentemente, além do violão estarsempre presente nas reuniões famil iares.

Yimi conta que cultiva a cultura tambémem seu ambiente de trabalho, pois o repertório doCoral Municipal contém músicas tradicional istas.

Aprecia as danças gaúchas, já se apresen-tou com o coral e já foi a churrasco no CTG, masnunca participou ativamente. Yimi também achamuito importante o incentivo à cultura, pois tam-bém acredita que a identidade do povo tem queser preservada.

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Quando criança, Fernando vestia a pilcha gaúcha

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História

Rio Grande de todas as coresA miscigenação cultural é resultado da colonização dos imigrantes.

Caroline ScolariMayara Bonn

O Rio Grande do Sul é um estadodemocrático e, como todo o res-

tante do Brasil , foi colonizado por dife-rentes culturas, como a indígena, que jáexistia em nosso estado antes da colo-nização portuguesa. A cultura ital ianaque se instalou na serra gaúcha, a cul-tura alemã que também colonizou o in-terior do estado, a cultura dos negros,entre tantas outras que ajudaram aformar o que somos hoje. Diante disso,diversos costumes foram trazidos porestes imigrantes e adaptados para a re-al idade do estado.

Para a professora de história,Jussara Jacomel l i, de FredericoWestphalen, “a cultura rio-grandense éresultado da mistura cultural de gruposhumanos que trazem implícito a histo-ricidade de sua etnia, a exemplo do ita-l iano, alemão, polonês, do africano, doíndio, entre outros grupos, que ao en-trarem em contato construíram rear-ranjos culturais, diferenciando a formade expressão, de cul inária, de bebidastípicas e outros, do território do RioGrande do Sul em relação a outras es-feras territoriais”.

Os ital ianos trouxeram o acordeão, os jo-gos de carta como bisca, trissete, quadrilha, esco-va e outros, além de hábitos al imentares como oconsumo de massas polenta e vinho. Muitos rel igi-osos trouxeram o costume de comemorar as boassafras com festas, sempre iniciadas por uma missa.As casas com porão e sótão e o telhado de tabui-nhas são contribuições ital ianas a nossa arquitetu-ra. Nas danças tradicionais gaúchas temos oexemplo do Chote de Quatro Passi.

Já os alemães influenciaram a arquitetura,os movéis, os bordados de ponto de cruz, nas hor-

tas e pomares, no jardim diante das casas, nascortinas e sanefas, na “schimier”, nas conservas depepino, rabanete, chuchu e repolho. Introduziramdiversas festas comemorativas, como o Kerb, enas danças trouxeram os chotes, como o choteCarreirinha.

Antes deles, já habitavam o nosso Estadoos índios que deixaram como legado a boleadeirae o poncho, além de contribuírem com lendas co-mo M’Boi Guaçu, M’Boraré, Obirici.

Diferentes culturas que convivem e se mis-turam. Na cidade de I juí, noroeste do Rio Grandedo Sul , dentro da Expoijuí surgiu a Fenadi, Festa

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Grupos folclóricos apresentam danças e trajes típicos

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Nacional das Culturas Diversificadas. Para o presi-dente do Centro Cultural 25 de Julho de I juí, ErloAdolfo Endruweit, “a integração é importante einfluencia diversos setores, na música temos a in-tegração de chotes, na cul inária temos a massa,entres outros fatores”. Da mesma forma, Jussaraacredita que “a cuca (alemã), o vinho, a polenta,os carteados (ital ianos), o chimarrão e o churras-co (indígena), a capoeira (africana-brasileira) en-tre outros, tem um viés étnico que hojeconstituem a cultura regional : a cultura da popula-ção rio-grandense”.

Se no início cada cultura tentou ocupar oseu espaço separadamente, hoje vemos uma mis-tura que agrega todas e as transforma em umacultura gaúcha. Para Jussara “não somos gruposétnicos, somos o povo do Rio Grande do Sul , umhíbrido cultural . As expressões de grupos étnicos(ital ianos, alemães, .. . .) não estão amparadas navida cotidiana: no cotidiano, as pessoas, indepen-dente de etnia, sentam para cartear juntas; numbaile, dançam juntas, os mesmos tipos de músicas,participam da festa da Nossa Senhora dos Nave-gantes, da Festa de Iemanjá, do carnaval . As ex-

pressões étnicas isoladas são específicas de gruposrestritos. Portanto, é na integração dos costumesque nos mostramos como povo.”

Para Erlo, apesar de “viver no Rio Grandedo Sul e conviver com a cultura gaúcha, tenhomais afinidade com a Etnia Alemã, uma vez queparticipo de um Centro Cultural da Etnia Alemã e,com isso, procuramos resgatar a cultura e as tra-dições de nossos antepassados”.

Em Frederico Westphalen, apesar do pre-domínio da população ital iana, devido à coloniza-ção, para Jussara “a cultura Frederiquense, a meuver é uma soma de todas as etnias. Para se teruma ideia disso, apesar de predominar população“ital iana”, quem não recorre a benzeduras? Quemnão gosta de algum tipo de jogo? De dança?Quem não saboreia a cuca? O churrasco? Quemistura: cuca com churrasco”. São ações cotidia-nas que permitem afirmar que apesar de existiremdiferenças étnicas, o certo é que todas convivemem um determinado território geográfico fazendocom que convivam e misturem-se umas as outrasdando origem a uma nova cultura, a cultura do RioGrande do Sul .

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As danças tradicionais gaúchas também tiveram influências dos colonizadores

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A miscigenação das culturas italiana e alemãPratos trazidos por imigrantes foram incorporados à culinária gaúcha.

Eduarda Wagner

O tradicional churrasco é umprato que sempre está na

mesa do gaúcho. Não tem comoimaginar algum que não saboreieuma boa carne assada, um pratotípico, um símbolo oficial do es-tado, presente nos almoços dedomingo, nas festas. Símbolo di-fundido em todo o território na-cional , tornando-se uma “marcaregistrada” do gaúcho. Mas é só ochurrasco que vai à sua mesa?

O churrasco é o principale mais conhecido prato, mas di-versos outros fazem parte dacultura do gaúcho. O nosso esta-do é privilegiado por uma variedade de pratos típi-cos, influência de várias culturas que povoaram onosso chão, tornando assim a cozinha do gaúchouma mistura de vários pratos e temperos. Porém,há etnias que possuem maior influência, por teremsido os primeiros no processo de colonização, co-mo os alemães e ital ianos. Além desses, há a parti-cipação gastronômica de índios, poloneses,negros, açorianos, entre outros.

Em cada canto do Rio Grande há uma pe-cul iaridade na cul inária. Na região da Serra Gaú-cha, por exemplo, com forte presença dacolonização ital iana, é comum a al imentação à ba-se de massas. Mariza Boccadini, 52 anos, é des-cendente de uma famíl ia ital iana, e por essemotivo conhece muito sobre comidas típicas des-sa etnia, pois, como ela mesma diz, “Aprendi coma Nonna e a Mamma”. Mariza conta que, apesar dapizza e da macarronada serem os pratos mais co-nhecidos, a cul inária ital iana é muito mais vasta,em que são util izados muitos temperos, comoorégano, manjericão, fungos e azeite de ol iva.

Mariza afirma que muitos pratos ital ianossão feitos com peixe e util izam pouca carne. Umprato bem conhecido e fácil de preparar, segundoela, é o risotto, que é parecido com o carreteirogaúcho, mas possui menos carne e mais temperos.Ela também conta que ter sempre a mesa farta efazer as refeições com a famíl ia reunida é uma tra-

dição ital iana.A cul inária alemã também está fortemente

presente em todo o estado. Helga Elsenback, 63anos, expl ica que o tradicional café colonial era umcostume dos alemães, trazido pelos imigrantes.Sempre que chegava alguma visita, colocava-se àmesa tudo o que tinham em casa: pão, cuca, do-ces, salgados, o que nos dias de hoje é uma mistu-ra de comidas de várias culturas.

Ela conta que na cul inária alemã a carne deporco é muito util izada, assim como a de pato.Sem falar no uso de batatas e repolho. A misturade doce com salgado também vem dos alemães.Pratos como o Eisbein, feito com joelho de porco,ou o Sauerkraut (chucrute), que é o repolho cozi-do colocado em conserva. Helga afirma que “oque se mais conhece dos alemães são as cucas,chimias, salsichas e doces de fruta”, mas a cul iná-ria em si não é tão conhecida, são receitas não tãocomuns. Helga diz que, quando ela cozinha, é difí-cil fazer um prato que seja igual à receita original :ela sempre mistura um pouco de outros temperose ingredientes, segundo ela, para a receita ficarmais com “a nossa cara”.

Diferentes culturas que ao longo dos anosforam se incorporando à identidade do gaúcho ehoje convivem com o churrasco e outros pratostradicionais do estado, proporcionando uma maiordiversidade e integração de costumes.

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A massa é um dos pratos da cul inária ital iana

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Spaghetti Al la CarbonaraPor: Mariza Boccadini

Ingredientes

• 320g spaghetti de "grano duro"

• 4 ovos

• 200g panccetta em cubos (no lugar da

panccetta, pode ser usado bacon)

• Pimenta do reino moída na hora (a gosto)

• Parmesão ralado (o suficiente)

• 5 colheres de sopa de creme de leite sem soro

Modo de Preparo

1. Em uma panela, coloque 5 l itros de água com

um punhado de sal grosso para ferver

2. Aqueça bem uma frigideira grande e coloque

os cubos de panccetta e frite até que fiquem

crocantes

3. Um pouco de óleo se desprenderá da

panccetta

4. Retire um pouco se achar que tem muito

5. Reserve

6. Em uma vasilha quebre os ovos e misture

com o parmesão até formar uma pasta

homogênea e bem úmida

7. Adicione a pimenta-do-reino na quantidade

que desejar, misture bem e reserve

8. Cozinhe o spaghetti "al dente"

9. Reacenda o fogo da frigideira, e escorra o

spaghetti reservando um pouco da água do

cozimento

10. Misture a massa aos cubos de panccetta na

frigideira e apague o fogo

11. Acrescente os ovos misturando muito bem

para que se aqueçam apenas com o calor da

massa cozida (é importante não deixar os ovos

cozinharem)

12. Acrescente o creme de leite, sempre

misturando bem

13. Caso fique muito "seco", acrescente uma ou

duas colheres da água da fervura.

Receita Alemã de ChucrutePor: Helga Elsenback

Ingredientes

Chucrute na salmoura - 1ª parte:

• 1 repolho pequeno

• 2 colheres de sopa de sal

• 1/2 xícara de vinagre

Chucrute - 2ª parte:

• chucrute já curtido

• 3 sementes de zimbro

• 3 grãos de pimenta

• 1 colher de sopa de manteiga ou margarina

• 1 porção de bacon picado (a gosto)

Modo de Preparo

Chucrute na salmoura - 1ª parte:

1. Lave e corte o repolho em tirinhas, deixando algumas

folhas inteiras

2. Coloque o repolho em uma bacia com o sal em cima

3. Vá amassando até separar a água

4. Coloque o repolho em um recipiente de vidro ou

esmaltado

5. Prove o sal , e acrescente se achar necessário

6. Coloque também a água que havia soltado do repolho

no processo do amassamento

7. Cubra tudo com as folhas inteiras de repolho

8. Coloque um peso em cima e complete com água

9. Não deixe o repolho em contato com o ar para não

apodrecer

10. Deixe fermentar por 10 dias, sempre observando se

não falta líquido

11. Após esse período, retire o chucrute e lave

12. Pode-se guardar até 15 dias na geladeira ou 3 meses

no freezer

Chucrute - 2ª parte:

1. Lave o chucrute e reserve

2. Derreta a manteiga e acrescente o bacon para fritar

3. Coloque o zimbro e a pimenta

4. Refogue o chucrute

Cozinhando com a Chasque

Nesta edição, trazemos duas receitas de pratos típicos para você, uma alemã e outra ital iana.

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Tecnologia

A internet também é tchê!Sites e páginas nas redes sociais trazem um pouco mais da culturagaúcha para os “intchêrnautas”Rossana Enninger

As tradições e costumes dosnossos antepassados estão

presentes diariamente na vidados gaúchos. Em uma roda dechimarrão, no toque de gaita, nal ida no campo ou mesmo no lin-guajar cotidiano de quem vivena cidade. São marcas do gaú-cho que ultrapassam fronteiras ejá são conhecidas. E no século21, não poderiam deixar de es-tarem presentes também no“mundo” da internet.

São páginas institucio-nais, de entidades e órgãos rela-cionados com a cultura gaúchaque ganharam portais na inter-net e oferecem ao públ ico as-suntos diversos, como leis,diretrizes, conceituações, acon-tecimentos históricos que aquise passaram ou nos influencia-ram de alguma maneira.

Em alguns momentossurgem ideias ou preocupaçõesem divulgar a cultura do estadopara as suas diversas regiões oupara além delas. Um exemplo é aTV Tradição, que surgiu em2009 com o princípio de real izarcursos à distância para o meiotradicional ista, mas acabou mi-grando para a internet em 2010.Hoje real iza transmissão de pro-gramas e eventos artísticos,campeiros, esportivos, culturais,que divulguem a cultura gaúchapara os tradicional istas.

Como destaca o diretorda TV Tradição, José Alfredo

Tessmann, “o maior desafio é ofinanceiro, custear a televisãotem sido um trabalho difícil , masa quantidade de acessos vemcrescendo a cada transmissão.No Enart 2012 atingimos1.269.000 acessos e isto signifi-ca que muita gente gosta e querassistir à TV Tradição, entãonosso compromisso com a qua-l idade aumenta”.

Também há aquelas pes-soas que gostam da cultura re-gional e encontram na internetum meio de contribuir para suadivulgação. Um exemplo é a es-tudante de jornal ismo da UniscClarissa Moura, coordenadorado Blog BAHstidores, que traz“tudo sobre os bastidores dosfestivais e eventos nativistas”.Ela conta que acompanhava osfestivais pelo rádio ou frequen-tando alguns quando era possí-vel , mas sempre tevecuriosidade em saber o queacontecia além do palco, nosbastidores dos festivais. Daí aideia de criar um blog com a te-mática e com esse acompanha-mento diferenciado dos eventos.

“O BAHstidores é atual i-zado quase que diariamente,pois frequentemente há notíciasrelacionadas ao cenário dos fes-tivais. Além da divulgação des-tes eventos, desde o início dadivulgação até sua real ização,com matérias informativas, en-trevistas, fotos e vídeos, tam-

Páginas na internet e nas redes sociais

contribuem para a divulgação de in-

formações culturais

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bém são feitas matérias falando sobre os bastido-res das carreiras dos músicos participantes de fes-tivais, lançamentos, turnês, shows especiais,projetos novos etc... Completamos um ano em ju-lho de 2012 e atingimos a marca de 200 mil aces-sos”, expl ica Clarissa.

Além disso, ela não deixa de frequentar osfestivais para real izar as co-berturas. “Em geral , me or-ganizo para participar depelo menos um festival por

mês, priorizando sempre os maiores ou os que dãoajuda de custo para imprensa. Tendo em vista queeu mesma custeio minhas despesas, não tenhonenhum patrocínio até o momento”.

Além do blog, o BAHstidores também temuma fanpage no Facebook, onde os leitores temacesso e podem contribuir com comentários ouinformações sobre os festivais que estão aconte-cendo nas suas regiões. Como acrescenta Clarissa,“desde o início do BAHstidores sempre procureimostrar ao leitor que este é um espaço para todos.Qualquer pessoa que quiser publ icar algo sobreessa temática tem total l iberdade. Recebo diaria-mente diversas contribuições dos leitores, elesagem como “correspondentes” me trazendo in-formações de suas cidades e regiões. Em algumasocasiões, leitores do blog já fizeram inclusive acobertura de eventos, passando na sequência ví-deos, fotos e informações ao vivo”.

Além do BAHstidores, no Facebook tam-bém há diversas páginas com conteúdo regional ,com “causos” e ditados gauchescos, perfis de mú-sica, dança ou mesmo aqueles mais humorísticos.Tirlei Azevedo, administrador da página Tradicio-nal ismo, diz que a inspiração veio do pai, “ele can-ta quase todas as músicas que estão nos posts,sempre prestava atenção nas letras e isso me en-cantava, tenho paixão pela nossa cultura e quandoa criei não havia nada parecido com o que eu gos-tava, apenas piadas gaúchas, nada muito profundocomo versos de músicas e imagens do pampa, derodeios, apresentações de invernadas, tudo o quevia nos rodeios. Percebi que muita gente tambémcresceu ouvindo os mesmos versos e comparti-lhavam e comentavam em seus faces, acompa-nhava os comentários e ficava fel iz por saber queagradava”.

Atrair o públ ico é a principal função daspáginas culturais na internet. O estudante Émer-son Rafael da Silva acha essa característica funda-mental , uma vez que “fica bem mais fácil e práticoter acesso à informação, facil itando a aproximaçãodo externo com a entidade, ou o grupo de enti-dades”. Dessa forma, a inclusão de assuntos domeio tradicional ista e cultural gaúcho na internetcontribui para a expansão do acesso a informa-ções nesta área, ampliando os conhecimentos so-bre o contexto cultural regional para as maisdiversas regiões.

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Diversão

"Baile gaúcho, cordeona e china bonita"Como é um fandango em um Centro de Tradições Gaúchas?

Eduarda Wagner

“A gaita chorou, violão dedilhou, navoz do cantador já nasceu uma canção, é ofandango gaúcho bem tradicional , não temmal e é bom pro coração”. Estes versos deJoão Luiz Corrêa retratam bem o início de umfandango, ou baile gaúcho. Um fandango ca-racteriza-se por ser um baile tradicional istaque acontece em um Centro de TradiçõesGaúchas (CTG), do qual participam membrosda entidade real izadora do baile e de CTGs demunicípios vizinhos.

Os fandangos começam em um horá-rio um pouco diferenciado em relação a outrosbailes ou festas que acontecem à noite, poistem início, mais ou menos, às vinte e duashoras. As músicas que são bailadas no decor-rer da noite são somente músicas de ritmosgauchescos, como vaneira, vaneirão, chote,rancheira, chamamé e valsa. Durante toda anoite as músicas são tocadas e dançadas. Umbom baile, segundo Tatiane da Silva Rocha,que participa há mais de 15 anos de fandan-gos, é quando o salão se encontra lotado depares dançando, pois anima quem está senta-do a dançar também.

Mas tchê, o que tem um fandango bemgaúcho?

Prendas e peões da entidade recepcionam as pes-soas e as conduzem até as mesas, sempre com umsorriso e muita cortesia, mostrando a hospital ida-de do local . As pessoas dançam somente na pistadefinida para a dança, o salão ou tablado, e apósdançar voltam para suas mesas. Renan Busatto, 17anos, conta que no decorrer do baile eles aprovei-tam para jogar truco, pois alguém sempre aparececom um baralho. Também contam causos e reve-em os amigos. Algumas vezes, antes do início dobaile apresentam-se invernadas artísticas da enti-dade real izadora do evento.

Não faltam em fandangos o “bol icho” e acozinha. No bol icho, a bebida é sempre por contados peões da entidade, que vendem fichas, entre-gam bebidas nas mesas e recolhem as garrafasvazias. A cozinha é responsabil idade das prendas,que vendem pasteis, cuca com linguiça, cachorroquente e, às vezes, com a ajuda dos peões sai umchurrasco vendido em pequenas porções.

Quem participa deste “bailezito”?

No geral são pessoas que gostam de músi-

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Os pares dançam ao ritmo de músicas gaúchas

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ca gaúcha, dastradições do es-tado e estão l i-gadas a algumaentidade tradi-cional ista, mas obaile é aberto aopúbl ico. Chamaa atenção o fatode que criançase jovens partici-pam desses fan-dangos,tornando umevento de certaforma famil iar,pois é um localonde se encon-tram crianças,seus pais, avós,tios. Luiza Pe-goraro, 13 anos, vai a fandangos acompanhada deseus pais desde o primeiro ano de vida. Ela contaque ama participar, pois adora dançar e diz que jáfoi em bailes em muitos municípios diferentes,pois acredita que um baile é um local onde todosse respeitam.

O patrão do CTG Querência da Serra, Pe-dro Bairros, desabafa que para um baile ser bomdeve haver a troca de visitas entre entidades vizi-nhas, pois as pessoas do município não compare-cem muito aos fandangos. “Só vem no baile quemé do CTG e gosta, nós temos muitos associadosque nunca vieram em um baile”. No baile do Que-rência da Serra real izado em novembro estiverampresentes onze entidades diferentes, o que na vi-são do patrão deu um “fandango dos bom!”.

Essa união entre as entidades e a participa-ção da famíl ia faz com que os gaúchos consigammanter suas tradições.

Uso da pilcha

O traje típico do gaúcho, a pilcha, é suamarca registrada, bombacha, camisa, lenço e botae a prenda de vestido de prenda, com suas man-gas e saias longas. Muitos tradicional istas partici-pantes dos fandangos não gostam do fato de quealgumas entidades l iberam o uso de outras roupasque não sejam a pilcha gaúcha completa. As enti-

dades não querem se manifestar a respeito, masuma das razões observadas para o traje l ivre emfandangos é a possibil idade de atrair um públ icomaior.

Em Seberi, para entrar em um baile gaú-cho, sem mesmo dançar, é necessário estar com apilcha completa. Há entidades que não são tão rí-gidas com este quesito, o que incomoda algumaspessoas, como afirma Tatiane, que alega que umCTG é um local de se preservar os costumes gaú-chos, por isso deve ser obrigatório o uso da indu-mentária.

Os músicos do grupo que animará o bailetambém devem sempre estar devidamente pil-chados. O patrão Pedro conta que, se não estive-rem pilchados, podem até pagar uma multa àentidade, dependendo do contrato.

Normalmente as entidades conseguem re-al izar no máximo dois ou três bailes por ano, poistodo o trabalho de organização, divulgação, l im-peza e recepção é feito por membros da patrona-gem, associados, prendas de faixa e peões decrachá, além de membros das invernadas campei-ras e artísticas. Mas garantem que vale a pena,porque um fandango é um evento social muitoimportante para as entidades, pois ajudam a pre-servar as tradições e mostrar aos mais novos comose faz um bom fandango, incentivando as novasgerações.

A sala fica cheia de prendas e peões dançando a noite inteira

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Um tiro de laço dura 10 segundos, a preparação para eledura minutos, um rodeio, três dias. Mas o que contribui paraessa festa durar todo esse tempo?A rotina dos gaúchos que participam dos rodeios tradicionalistas.

Mayara Bonn

A festa campeira mais tradi-cional do Rio Grande do Sul

é o Rodeio. De outubro a maio,que é a considerada temporada,são mais de 40 rodeios por mês,que movimentam cerca de 1,2milhão de pessoas segundo oMTG (Movimento Tradicional is-ta Gaúcho). Há uma grande sé-rie deles em diferentes cidades,em todas as Regiões Tradiciona-l istas do RS. Para esta reporta-gem foram acompanhados doisrodeios: o da cidade de TrêsPassos, que ocorreu de 23 a 25de novembro de 2012, e quealém dos prêmios também clas-sificava para a festa campeira doEstado (FECARS), e o rodeio dacidade de Campo Novo, primei-ro Rodeio de 2013 da 20ª Re-gião Tradicional ista.

Todos querem ver umagrande competição, com cavalosbem cuidados e vistosos, porémisso tudo requer cuidado, o quesegundo o laçador Tafarel deOliveira, de Três Passos, abrangedesde o transporte dos animaispara o rodeio até o al imento aque eles são acostumados.

Chegando ao rodeio, co-mo ele ocorre em diferentes ci-dades a cada final de semana, énecessário montar o acampa-mento com barracas e lona. Emalguns casos, relembra-se otempo antigo dos laçadores quereal izavam a tarefa como traba-lho, pois a iluminação algumasvezes é feita com o fogo de chão

e velas. A preparação da comidatambém remonta à forma comoera feita antigamente, pois o fo-go de chão é o mais util izadopara fazer as comidas, principal-mente o churrasco e o carreteirocampeiro.

O rodeio também é umponto de encontro de amigosque gostam dessa prática, poisreúne pessoas de diferentes ci-dades e idades, que gostam decultuar e manter viva a essênciada cultura gaúcha.

As provas campeiras vãoalém do tiro de laço, que é aprincipal prova, mas temos tam-bém prova da gineteada, a provada rédea, prova do couro, provado cepo, estafeta, truco. Para ascrianças tem a prova da vaca pa-rada, entre outras provas, de-pendendo do tamanho e daorganização do rodeio. Mas ape-

sar de tantas provas, a mais dis-putada é o tiro de laço, pois sãodiversas modal idades com pre-miação para os primeiros luga-res. As crianças desde cedo sãoincentivadas a participar com oslaços Piá e Guri, as mulheresdisputam o laço Prenda, aindatemos o Laço Pai e Filho, que in-centiva a prática famil iar, etambém os laços Veterano eEquipe. Todas as modal idadespossuem fases classificatória,que duram de sexta a sábado,ficando para o domingo a fasefinal e definição dos vencedores.

Para Mauricio Kunzler, deTrês Passos, os rodeios são umaforma de integração e tambémuma forma de manter viva acultura gaúcha, exigem certopreparo de quem quer partici-par, como pilcha adequada paralaçar, estrutura para montar

No intervalo das provas, a roda de chimarrão reúne os tradicional istas

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acampamento, e também disposição para passaralguns dias longe do conforto da casa. Mas eletambém acredita que o fato de se reunir amigos,para uma boa conversa ou ouvir uma gaita e umviolão bem tocados, fazem valer a pena.

Porém, recentemente surgiu um projeto delei que pretende proibir a perseguição de animaisdurante os rodeios em todo país, lei proposta pelodeputado federal Ricardo Tripol i (PSDB-SP). Oprojeto tem gerado muitas críticas, já que poderiaacabar com os rodeios e consequentemente comuma parte da tradição gaúcha. Para o estudantede medicina veterinária, Wil l ian Bonn, é complica-do anal isar a proposta do senador, pois o correto é

preservar os animais nos rodeios,tentando evitar maus tratos. Po-rém, não é possível se pensar naextinção dos rodeios. O que deveocorrer é a sua adaptação à real i-dade de cada Estado, de forma aproteger os animais, mas tambémassegurando a manutenção datradição do tiro de laço.

Da mesma forma, a laçadoraRafaela Faccin, de Três Passos, dizque “não imagino acabarem comos rodeios, venho de uma famíl iade agricultores que trabalha como campo e nos finais de semanasempre participamos dos rodeiospróximos de Três Passos, temossempre um cuidado com os ani-mais, mesmo o gado que é alvo

do laço tem regras pra cuidar”. Rafaela acreditaque o deputado foi infel iz na colocação, pois “achoque esse projeto de Lei não pode ser igual paratodo o Brasil , porque aqui no sul os rodeios são di-ferentes das festas como as de São Paulo”. Elalembra que aqui o MTG sempre fiscal iza e nos ro-deios existem os fiscais da prova, assim como háuma equipe organizadora do rodeio que jamais vaiquerer ver algum animal machucado.

Pensar em um projeto como este é tentaracabar com parte da história do Rio Grande do Sul .Deve sim existir leis que protejam os animais, masnão é possível acabar com uma prática reiteradada cultura de um povo.

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A hora do laço

Brete: o antes do tiro de laço

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Nem só de futebol e tiro de laçoTruco e jogo de bocha, dois esportes tradicionais que fazem parte docotidiano do gaúcho.

Caroline Scolari

O gosto pelos costumes gaúchos sedestaca, também, através da pre-

servação e continuidade na prática deesportes trazidos pelos colonizadores doRio Grande do Sul , tais como o jogo detruco, de bocha, jogo do osso, entre ou-tros. A bocha e o truco são exemplos dejogos em que não há contato físico entreos participantes. São democráticos, poispermitem a participação de peões eprendas, independente de idade e con-dicionamento físico, integram famíl ias eamigos, servem para duelos e disputasem equipes, são baratos e recomenda-dos para prevenir problemas de memória.

O estudante de agronomia Daniel de Mou-ra, 23 anos, de Frederico Westphalen, joga, alémdo truco, outros esportes da cultura gaúcha, des-de os dez anos de idade, como o tiro de laço, pea-lo, provas de destreza e agil idade campeiras. Elediz: “escolhi essas atividades, pois elas foram sur-gindo para mim através de oportunidades”. Acres-centa ainda que seu aprendizado veio pelosensinamentos do avô e dos pais, pessoas que con-tribuíram em boa parte da sua infância para queele aprendesse essas atividades.

O diagramador André Luiz Lazzari Marche-zan, 31 anos, morador de Faxinal do Soturno, jogabocha por incentivo de seu pai. “O interesse surgiudesde criança, pois era o esporte mais praticadona nossa região, e com o incentivo da famíl ia eamigos, comecei a participar de campeonatos com11 anos, e estou jogando até hoje”.

Tanto o jogo de bocha quanto jogo de tru-co tiveram suas origens na Espanha e na Itál ia,mas foram trazidos pelos ital ianos para o RioGrande do Sul . Porém, a origem do truco é incer-ta, especula-se que tenha surgido com os mouros,mas não há um consenso a esse respeito. Já o jogode bocha era praticado pelos camponeses espa-nhóis com bochas de “pedra-sabão”. Nos anos 60veio a util ização do cerne de madeira e atualmen-te as bochas são fabricadas com resina sintética,

sendo que seu peso pode variar de 1,15kg a 1,3kg.A disputa consiste em arremessar bochas (bolas)de madeira ou de resina sintética sobre uma can-cha com dimensões de 24x4 metros, que antiga-mente era de terra batida, bem lisa, e hojecostuma ser de piso sintético. O jogo tem comoobjetivo conseguir jogar a bocha o mais próximoao “bal im” ou a menor bola do jogo, disputadacom arremessos de quatro bochas de cada jogadorou dupla, depois disso é feita a contagem dospontos.

André Marchezan fala que para jogar bo-cha o jogador deve possuir “sempre muita disci-pl ina, é o famoso jogo da amizade, esporte semcontato físico, que preza acima de tudo a amizade,o respeito e a interação entre os ‘adversários’”.

Da mesma maneira, o estudante de Tec-

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As bochas jogadas somam pontos conforme a proximidade do bal im

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nologia em Redes de Computa-dores Jul iano Stefanel lo Bizel lo,23 anos, de Santa Maria, falaque seu interesse pelo truco sur-giu ainda no ensino fundamen-tal , por influência dos amigos, epratica o esporte somente pordiversão. Bizel lo também diz queo truco “tem uma grande signifi-cância em minha vida, pois trazas rodas de amigos que ficammuito tempo sem se reunir. Gerauma confraternização muito ba-cana. Na cultura gaúcha o trucoé de suma importância. Faz par-te da história do sul”.

O truco gaudério foi pas-sado de geração em geração, co-mo um esporte popular detáticas e estratégias, e tambémde mentiras. Conforme Bizel lo,“a capacidade de mentir e fazero adversário pensar que tuascartas não são boas ajuda mui-to”.

A disputa normalmente éreal izada entre duas ou quatropessoas, deve ser jogado com obaralho espanhol de 40 cartas.

São distribuídas trêscartas para cada parti-cipante, que segueuma sequência, da car-ta de menor valor parao maior. No jogo comduas pessoas, a disputados pontos é individu-al , já com quatro parti-cipantes são maiscomuns duas duplasque se enfrentam. Nofinal , quem somar pri-meiro o total de pon-tos (12 ou 24) ganha apartida.

Já no jogo de bo-cha, a forma de com-petir pode variar. Naspartidas simples, ondedois jogadores se en-frentam, eles arremes-

sam quatro bochas cada, e nasde pares/duplas os jogadoresatiram duas bochas e a pontua-ção vencedora será a que pri-meiro total izar 12 pontos. Empartidas de equipes formadaspor quatro bochófilos, os joga-dores arriscam uma bocha cadae a pontuação vencedora será aque primeiro total izar 16 pon-tos, sendo marcados os pontoscom base no número de bolasmais próximas do “bal im” emcomparação com a equipe ad-versária.

Marquezan faz parte doEsporte Clube Cruzeiro, e juntocom os companheiros partici-pam de torneios de bocha muni-cipais, regionais, estaduais e atémesmo internacionais, sendoque em 2012 conquistaram umcampeonato em Rivera, no Uru-guai. “É sempre bom participarde torneios, ainda mais na com-panhia dos amigos, e nessescampeonatos sempre fizemosnovas amizades”, diz Marche-zan.

Tanto o truco como abocha são praticados em tor-neios pelo estado e disputadosem muitas cidades. Moura falaque estes esportes contribuíram“para minha formação de cará-ter, honestidade e aprender ocerto e duvidar do errado, ama-dureceu, transmitiu calma, poisem finais a calma e concentra-ção são essenciais”.

A preservação dos cos-tumes gaúchos está presente nodia-a-dia de cada um que praticaesses esportes. Para Marchezan,“conservar as tradições gaúchasatravés do esporte, na famíl ia ecom os amigos é muito impor-tante, porque é uma forma deunir, e fortalece os laços de ami-zade e respeito.” Ele também dizque “a preservação das tradiçõesgaúchas dentro da sociedade eparticipação em um CTG ouDTG é importante porque ensinavalores esquecidos pelo resto dasociedade”.

Além do truco e da bo-cha, Moura também participa deoutras atividades gaúchas e eleacredita que “a cultura gaúchaestá além dos esportes, ela vemde ensinamentos de gerações,ela está em uma conversa comum avô que tem uma história,contando alguns causos rema-nescentes de tempos antigos.Os esportes vieram para juntar opessoal e agregar mais adeptos àcausa”.

Enfim, os esportes sãouma das formas que o gaúchoencontrou para se reunir e con-fraternizar com os amigos, al-gumas vezes serve comodisputa, mas na maioria é vistocomo uma forma de diversãoentre amigos que cultivam umamesma ideia: manter o tradicio-nal ismo presente no seu cotidi-ano.

Pessoas de qualquer idade podem jogar truco

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"Tá no ENART, tá no mundo!"Todos os anos o Encontro reúne milhares de tradicionalistasEduarda Wagner

O ENART (Encontro de Artee Tradição) é considerado

o maior festival de arte amadorada América Latina segundo aUNESCO. Os participantes nãoganham a vida com isso, a maio-ria possui outras profissões e ésomente nas horas de lazer quepodem se dedicar e ensaiar paraas apresentações. É um dos mai-ores eventos tradicional istas doestado,sendo promovido peloMTG (Movimento Tradicional is-ta Gaúcho). É dividido em duasetapas: as interregionais, ondereúnem algumas regiões tradici-onal istas, e dessa etapa saem osfinal istas, e a fase final , que ésempre real izada no municípiode Santa Cruz do Sul . Na últimaedição, o ENART contou comprogramações paralelas que in-crementaram o evento.

Todo dançarino, gaiteiro,trovador, declamador, vocal ,conjunto instrumental que parti-cipa do ENART tem o mesmosonho, ser o grande campeão.Mas por quê? Pelo fato de que oganhador é reconhecido em to-do o estado como o melhor da-quela modal idade em que foiconsagrado campeão. Quem sa-be bem o que é isso é Erik FialhoHoffmann, que em 2012 foicampeão da modal idade chula.Ele conta que muda muita coisa,desde convites para apresenta-ções, e há um reconhecimentomaior pelo que ele faz depois dotítulo. “Antes eu era apenas umchuleador, agora sou tipo “OChuleador””, ele conta em meioàs risadas. Fala que até está maispopular, ainda mais nas redes

sociais, pois o seu número deamigos virtuais dobrou. Erik falaque ficou muito orgulhoso de simesmo, pois lá junto dele esta-vam os melhores, pessoas queeram seus ídolos e que agora sãoamigos e parceiros.

A última final do ENART,que aconteceu nos dias 16,17 e18 de novembro de 2012 foi odestino de milhares de gaúchos,gaúchas e simpatizantes da cul-tura do Rio Grande do Sul . Alémdas apresentações e demonstra-ções artísticas, também aconte-ceram em Santa Cruz do Sulalguns eventos que merecem serdestacados.

Comenda João de Barro eAniversário do MTG

No dia 15 de novembro,real izou-se a cerimônia de en-trega das comendas João de Bar-ro, que é uma forma dehomenagear pessoas e entida-des tradicional istas com relevan-tes serviços prestados ao

Movimento Tradicional ista Gaú-cho e a preservação da nossacultura. A homenagem é mate-rial izada num certificado, e cadaregião tradicional ista sugere no-mes para que recebam a co-menda. Também recebem ahomenagem regiões ou pessoasque são importantes não só paraa sua região, mas para todo oestado, em um âmbito tradicio-nal ista.

Na mesma oportunidadeaconteceu uma cerimônia emcomemoração aos 46 anos doMovimento Tradicional ista Gaú-cho, com direito a parabéns ebolo para os presentes.

Tchêncontro Estadual daJuventude Gaúcha

Durante todo o dia 15 denovembro, as 30 RT (RegiõesTradicional istas) apresentaramseus trabalhos de pesquisa, cadauma com um tema diferenciadosobre a história do RS. Os temasforam apresentados em ordem

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A modal idade de Danças Tradicionais Força A é a que reúne maior públ ico

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cronológica, o que transformou o momento cultu-ral em uma volta no tempo, pois as apresentaçõesiam desde os primórdios, com os índios que habi-tavam o estado, até os dias de hoje. Todas as apre-sentações foram em forma de teatro, com mesclade poesia, dança, canto e músicas.

Vera Trindade, que assistiu pela primeiravez a um Tchêncontro, estava maravilhada. “Acheitudo l indo, pois ninguém é remunerado financei-ramente para fazer isso e os detalhes das roupas eo conteúdo é tudo muito l indo mesmo”. O traba-lho de pesquisa e ensaios foi feito em cada região,em uma parceria entre jovens, prendas de faixa,peões de crachá, departamento jovem e departa-mento cultural de cada uma das 30 RT.

Mostra Folclórica do ENART

Nesta edição, aconteceu a 13ª MOSTRA DEARTE E TRADIÇÃO GAÚCHA, que tem como ob-jetivo a exposição e divulgação das pesquisas eatividades culturais desenvolvidas pelas Prendas ePeões, coordenados pelos Departamentos Cultu-

rais das 30Regiões Tradicional istas.Cada regiãoapresentou um tema diferenciado em sua mostra.Uma das propostas do MTG era a de que o temafosse apresentado sob uma visão do jovem, dandoum novo enfoque ao tema que muitas vezes já foiapresentado.

Durante todo o dia 17 de novembro, aspesquisas foram apresentadas, cada região comseu estande.A prenda Maria Angél ica Boul ivieconta que quem passeava pelo evento pode co-nhecer um pouco da visão do jovem sobre a his-tória do RS.Ela acredita que a mostra é omomento cultural mais importante do ENART,pois traz de forma simplificada momentos impor-tantes do passado do nosso estado.

O ENART, como se pode ver, vai além dasapresentações artísticas de dança, é também umaoportunidade para troca de conhecimentos entreapreciadores da cultura de todo o estado e, tam-bém de pessoas de fora. Da mesma forma, o en-volvimento de jovens com a cultura do estado fazcom que ela cresça dia a dia mantendo viva aidentidade do gaúcho.

O campeonato da FIFA

Alcir Nicolau Pereira

Com bom humor,Alcir escreve sobreo Grenal Guasca,que acontece numvilarejo perdido dopampa rio-gran-dense. O autor nar-ra o campeonatoatravés de contosque revelam, além da disputa, arti-manhas para driblar adversários, juí-zes e problemas que vão surgindo nocampeonato. A disputa final fica porconta do Maragato InternacionalCrubi, fundado pelo Coronel Lindó-rio, e o Grêmio Fusbal l Chimango,fundado pelo Capitão Olegário.

Sugestão

Concerto Campestre

Lançado em 2004 o filme traz a história do major Eleuté-rio, um rico proprietário da época de ouro das charquea-das (1860). Ele é um homem rude, que conduz suaspropriedades com mão de ferro. Major se interessa pelamúsica erudita e resolve contratar músicos e um maestropara organizar uma orquestra. Quem gosta do maestro ésua filha, que estava prometida ao sobrinho de um pode-roso barão.

Era assim naquele tempo

César Oliveira e Rogério Melo

Já está nas lojas o novo CD da duplaCésar Oliveira e Rogério Melo, quemais uma vez remete ao bom nativismo que é a marcaregistrada da dupla. O CD contém composições total-mente inéditas, como “Não estava para peleia”. Comprodução gráfica rica em detalhes - desde o figurino atéobjetos de cena – que busca dar o tom do disco.

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Isabela MottaIzadora Motta

A lessandro Fagundes da Silveira, 32, pedagogode Porto Alegre, se considera amante do car-

naval . Filho único nasceu no Rio Grande do Sul ,mas com um ano de idade mudou-se para Brasíl ia.Lá permaneceu por quinze anos. Alessandro acre-dita que por ter sido criado fora do estado, acabounão tendo maior interesse e nem incentivo paracultivar grande parte das tradições gaúchas. Fes-tas como o carnaval , despertaram seu interesse,tanto é que participa ativamente do carnaval dePorto Alegre.

Já o gaúcho de Ametista do Sul , Daniel Bro-gl io, 22, conta que sua famíl ia cultiva as tradições,bem como os contos e os causos gaudérios. Danielacredita que isso fez com que ele passasse a se in-teressar pela história e pela cultura. O estudantede filosofia acrescenta que o que mais marcou emarca a vivência de sua famíl ia, diz respeito a al-guns costumes típicos indispensáveis no cotidianofamil iar, como o chimarrão bebido sempre na ter-túl ia (roda de amigos), e a cozinha gaudéria comfogão e forno a lenha, com indumentárias própriaspara o uso exclusivo para preparar os pratos típi-cos.

Devido à vida acadêmica e suas obrigações,no momento ele reside em Passo Fundo e nãoconsegue viver todos esses costumes.

Daniel acredita ser muito relevante cultivarvalores que de fato norteiam a vida de um deter-minado povo ou sociedade. “Penso ser importanteporque a vida típica do povo riograndense traz emseu bojo uma cultura rica, tanto nos belos costu-mes que prezam pelo respeito, igualdade e valori-zação da pessoa humana, bem como é rica em suacul inária, e sua indumentária, no vestir e no falar.Um povo que perde a sua cultura perde sua alma,fica sem identidade”, final iza.

O estudante conta que já fez curso de dan-ça gaúcha e que hoje em dia participa de eventosdo CTG, como tiro de laço e rodeios.

Já Alessandro lembra-se de ter frequentadoo CTG (em Brasíl ia era chamado de CTN – Centro

de Tradições Nativistas) raríssimas vezes.Rubens Wagner, 49, está um pouco afasta-

do do CTG, mas ele e sua famíl ia já participaramativamente do centro, inclusive da patronagem.Rubens acha que é muito importante manter atradição, pois os valores e os costumes do povogaúcho precisam ser cultivados.

Apesar de não ser seu caso, Alessandropercebe que o cultivo das tradições e dos costu-mes é muito importante para o desenvolvimento epreservação de determinada cultura ou marca. “Éextremamente vál ido para a manutenção da iden-tificação de um povo. Só não concordo que sejauma imposição, uma obrigação. Conheço, por ex-emplo, alguns casos em que forçaram filhos e ne-tos a ter um comportamento voltado às tradições,mas que deram certo”.

Alessandro não frequenta o CTG e festasgauchescas, mas participa e ama o carnaval . Co-

Gaúcho gosta de Carnaval?Opiniões dos gaúchos sobre a maior festa do Brasil são diferentes.

A beleza do Carnaval encanta o públ ico

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nheceu a festa pela televisão, os desfiles de esco-las de samba e posteriormente o carnaval de rua eclubes. Seu primeiro carnaval foi em um clube emBrasíl ia. Seus pais também gostam da festa e atéhoje mostram fotografias antigas nos carnavais

que frequenta-vam em clubes dointerior do RS.

Para o peda-gogo, a alegria é oque chama maissua atenção nafesta. O som docavaquinho, dopandeiro e dotamborim. Segun-do ele, não há es-paço para atristeza. “Gostodas mulheres se-minuas, dos en-saios nas quadrasdas escolas desamba e do car-naval na avenida,seja na Marquêsde Sapucaí, sejano Complexo Cul-tural do Porto Se-co, aqui em PortoAlegre.”

Além de Brasíl ia, cidade onde passou todainfância e pré-adolescência, e Porto Alegre, sua ci-dade atual , Alessandro já pulou carnaval em Tra-mandaí, Santana do Livramento e Rio Pardo. Esteúltimo o surpreendeu positivamente com um be-líssimo e animado carnaval de rua com dias alter-nados para escolas de samba e blocoscarnavalescos.

O gaúcho Alessandro frequenta o carnavalem diversos lugares, são eles, clubes, ruas, aveni-das e quadras de escolas de samba. Sua escola docoração é a Imperatriz Dona Leopoldina, de PortoAlegre. Além dos ensaios na quadra, o pedagogojá até desfilou na avenida.

“O carnaval é uma festa popular, é umamarca do povo brasileiro. Independe de onde apessoa mora. Não há fronteiras para o carnaval .Prova disso é a cidade de Uruguaiana, que é reco-nhecida por ter um dos melhores carnavais do

país”, acrescenta.Para ele, nada impede que um tradiciona-

l ista, alguém fortemente l igado às raízes do nati-vismo, possa curtir o carnaval “falo isso baseadonum exemplo notável : João de Almeida Neto, alémde ser reconhecidamente um dos maiores nomesdo tradicional ismo e da música do Rio Grande doSul , é também um grande fol ião.”.

Alessandro ainda diz que infel izmente opreconceito é uma real idade e que vivencia issocom pessoas próximas, mas, como diz o dito po-pular, o sol nasce pra todos. O preconceito devedar lugar ao respeito.

Já Daniel não gosta de carnaval . “Não gostoporque penso que o carnaval em si perdeu o sen-tido e a razão de ser.” Vendo hoje os carnavais, élamentável a direção que tomou este importanteevento folclórico brasileiro. Para ele, a “pegação” éum fator dentre outros, imoral que contribui paraque o carnaval não seja um espaço para a famíl iaque vive na sobriedade e integridade de valores.Segundo Daniel , se um dia o carnaval foi local paraa famíl ia, hoje é um local para degradação dessainstituição.

O estudante diz ser completamente a favorde festas, tanto que participa de muitas, contudoque sejam em lugares dignos de respeito. O aca-dêmico não afirma e não general iza que em ne-nhuma festa de carnaval não exista respeito edignidade, mas para ele é o que predomina. Acre-dita que existem pessoas que são capazes de gos-tar de carnaval e das tradições do Rio Grande doSul , porém, ele não gosta da festa.

Mesmo nunca tendo participado do carna-val , Rubens, também não gosta da festa. A im-pressão que o técnico em eletrônica tem é de quenesta festa gera-se uma liberdade para as pessoasfazerem qualquer coisa e para ele, parece que nemo poder públ ico tem autoridade para interferir noque acontece, mas, o gaúcho de Erval Seco res-peita as pessoas que gostam e participam. “Prefiroum bom baile de CTG, um show ou baile da socie-dade para me divertir”, final iza Rubens.

Pular carnaval , aproveitar um bom fandan-go são eventos que fazem parte da vida de diver-sas pessoas, e não é por isso que deixam de sergaúchas. Sendo o Brasil um país tão grande e comdiversas influências, essa mistura é natural e sau-dável , pois preserva e mantém viva diversas cul-turas.

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A beleza do Carnaval encanta o públ ico

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