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Uma ferramenta de gestão do conhecimento da Representação do IICA no Brasil Ano V (2011) nº 16 Cooperação Técnica RIB O BRASIL RURAL ESTÁ CONECTADO Programa Territórios Digitais fortalece a organização social e promove a educação digital no campo

Revista Cooperação Técnica RIB - Edição 16

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A edição traz na capa uma matéria especial que conta como o Programa Territórios Digitais está mudando a vida de muitos brasileiros, fortalecendo a organização social e promovendo a educação digital no campo. Em entrevista exclusiva, o coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, faz um panorama do atual cenário da agricultura brasileira, enumera os principais gargalos e destaca a importância da cooperação técnica para superar os desafios. E, ainda, uma reportagem especial sobre o lançamento da série de debates Momento de Intercâmbio promovido pelo IICA.

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Uma ferramenta de gestão do conhecimento da Representação do IICA no Brasil

Ano V (2011) nº 16

Cooperação Técnica RIB

O Brasil rural está cOnectadOPrograma Territórios Digitais fortalece a organização social e

promove a educação digital no campo

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Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 2 I 16ª Edição

Cooperação Técnica RIB Expediente

Diretor GeralVíctor M. Villalobos

Representante do IICA no BrasilManuel Rodolfo Otero

CoordenaçãoFernanda Tallarico

RedaçãoRodrigo GermanoAndré KauricCadija Tissiani

FotografiaArquivo IICA

DiagramaçãoFernanda Tallarico

A revista Cooperação Técnica RIB é uma publicação da Representação do IICA no Brasil. Os textos não refletem necessariamente a opinião do IICA, sendo de responsabilidade dos articulistas e entrevistados.

Fale Conosco55 61 2106.5425 / 5429 / [email protected]@[email protected]

Representação no BrasilSHIS QI 03, Lote A, Bloco F Centro Empresarial Terracotta - Lago Sul - Brasília/DF CEP 71.605-450Telefone: 55 61 2106 5477 www.iica.org.br

<< Nesta Edição >> Capa: Rodrigo Germano

EditorialManuel Rodolfo Otero

EntrevistaRoberto Rodrigues

ArtigoGertjan Beekman

NotíciasRepresentação do IICA no Brasil

IICA CooperaçãoCapa - Projeto Casa Digital

EspecialMomento de Intercâmbio

InstanteDiretor Geral do IICA visita o Brasil

03040810182426

Esta publicação está disponível em formato eletrônico (PDF) no site: www.iica.org.br

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E d i t o r i a l

O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) tem uma trajetória ininterrupta de quase meio século de vida ao serviço do desenvolvimento agropecuário e rural do Brasil. E apesar das dificuldades, a missão de contribuir para melhorar as condições de vida da população no meio rural sempre se manteve invariável.

Em janeiro deste ano, assumi o cargo de Representante do IICA no Brasil, com o objetivo principal de aproximar os parceiros, por meio da oferta de uma carteira de projetos que reflitam as demandas da agricultura brasileira face ao novo cenário internacional e regional do setor.

Esse novo cenário é caracterizado por diversos desafios. Como, por exemplo, o elevado preço das principais commodities, o que ocasiona a necessidade do agronegócio brasileiro de incrementar a produção nacional em 40% até 2020 para manter sua condição de liderança da nova revolução agropecuária mundial. Estes desafios não são apenas tecnológicos. No meio de importantes mudanças climáticas, o País deverá fazer um esforço adicional para manter sua base de recursos naturais e, não menos importante, incluir os pequenos produtores aos processos produtivos como parte de uma política de justiça social.

Diante desses desafios, a representação do IICA no Brasil desenvolve uma política de alianças estratégicas com instituições públicas e privadas, promovendo ao mesmo tempo redes colaborativas a nível multilateral como bilateral.

Diferentemente do que aconteceu durante as décadas de 1970 e 1980, no qual a agricultura brasileira era demandante de cooperação técnica para fazer frente à “Revolução Verde” dos Cerrados, no inicio do século XXI, o Brasil se encontra em um período de desenvolvimento agrícola, que o posiciona no papel de “ofertante” da cooperação técnica. Os avanços concretizados nas áreas de políticas tecnológicas, defesa agropecuária, comercial, agricultura familiar, para citar alguns exemplos, podem ser compartilhados com outros países das Américas de menor desenvolvimento relativo, promovendo, por esta via, a importância da cooperação horizontal.

Finalmente, a cadeia de agregação de valor do complexo processo da cooperação técnica requer uma política de comunicação que, no marco da filosofia da transparência e da prestação de contas, o parceiro esteja informado permanente sobre as principais atividades e resultados atingidos, com especial ênfase no uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação.

Assim, se insere neste contexto, este novo número da Revista Cooperação Técnica RIB, uma valiosa ferramenta de gestão do conhecimento ao serviço de nossos parceiros.

Boa leitura!

Manuel Rodolfo OteroRepresentante do IICA no Brasil

PerfilManuel Rodolfo Otero é médico veterinário, pela Faculdade

de Ciências Veterinárias da Universidade de Buenos Aires; tem dois mestrados, um em Produção Animal pelo Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE) e outro em Desenvolvimento Rural pela Universidade de Londres.

No IICA já exerceu outros cargos importantes como Representante do Instituto no Uruguai por 8 anos, Chefe de Assessores do Diretor Geral; Diretor de Programação e Avaliação; e Diretor Regional para a Zona Andina. É autor de numerosos documentos técnicos relacionados ao comércio internacional, políticas setoriais e modernização da agricultura.

Além do IICA, Otero exerceu o cargo de vice-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina, nos anos de 1999 a 2002 e também como Adido Agrícola do governo argentino, nos Estados Unidos, de 1984 a 1988.

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E n t r E v i s t aRoberto RodriguesCoordenador do Centro de Estudos do Agronegócio na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex- ministro da Agricultura.

De passagem por Brasília para atender uma demanda de avaliação da área de Agronegócios do IICA, o ex- ministro de Agricultura do governo Lula (2003-2006), Roberto Rodrigues, dedicou um tempo para conversar com a Revista Cooperação Técnica RIB sobre cooperação técnica e agricultura brasileira. Foram apenas 30 minutos, mas muito valiosos, de entrevista. Homem de respostas objetivas e contundentes, Rodrigues conseguiu em pouco tempo dar um panorama do atual cenário da agricultura brasileira, enumerar os principais gargalos e destacar a importância da cooperação técnica para superar os desafios.

RIB - Qual é o papel da cooperação técnica internacional para o Brasil?

Roberto Rodrigues - O Brasil é um País que conseguiu montar uma plataforma tecnológica em agricultura tropical respeitável. Felizmente, algumas instituições nossas, começando com a agronômica de Campinas e a biológica de São Paulo e, nos últimos 35 anos, com a Embrapa conseguiram montar uma grande plataforma tecnológica que permitiu ao País um grau de competitividade na área de agricultura formidável. Basta observar alguns números, como o de grãos por exemplo. Nos últimos 20 anos, a área plantada com grãos no Brasil cresceu 27% e a produção cresceu 154%. Se você pegar a área de cana de açúcar, que é um setor muito controlado, muito discutido no País inteiro, nós temos hoje quase oito milhões de hectares com cana no Brasil. Se tivéssemos a produtividade que tínhamos quando o

Proálcool começou, há 35 anos, precisaríamos ter o dobro da área cultivada para ter a mesma produção. E assim com grãos, com carne, com leite, tudo para gerar uma enorme evolução.

E este processo tecnológico nos traz uma vantagem competitiva que transcende a questão econômica, pura e simples, da produtividade e nos leva ao tema da sustentabilidade. Tema este que é o grande debate global atual e que na verdade traduz o maior desafio da humanidade do século XXI que é compatibilizar o aumento da produção agrícola com a preservação dos recursos naturais. E essa tecnologia tropical brasileira já fez essa lição de casa. Então, essa plataforma tecnológica nossa nos da, realmente, uma condição excepcional, reconhecida globalmente, de transformar o Brasil em uma potência agrícola de relevo no cenário mundial.

Ora, se a grande questão no mundo hoje é

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compatibilizar a oferta de alimentos, de energia e de fibras, do lado agrícola, com os recursos naturais preservados e o Brasil fez a lição de casa e se estudos recentes indicam que nos próximos dez anos a oferta mundial de alimentos tem que crescer 20% para atender a demanda explosiva nos países emergentes, por causa de população e renda que cresce muito nesses países, bem, se esses dois fatos, ou melhor, duas premissas: Brasil tem a tecnologia e o mundo precisa de tecnologia. Porque não transformar o Brasil numa plataforma de lançamento de cooperação internacional, tendo em vista a inovação tecnológica agrícola nos países tropicais, que é onde nós temos uma certa liderança?

Então a importância da cooperação internacional, sobretudo na plataforma tecnológica, diz respeito a uma nova forma de produção, mais sustentável e que garantirá ao mundo o suprimento essencial para que a vida prossiga em termos adequados em todos os rincões do planeta. E essa cooperação tem que ser iniciada, ser priorizada no nível regional, no nível continental, então a participação de um organismo como o IICA neste projeto de lançamento tecnológico é absolutamente essencial para que o mundo seja mais feliz.

RIB - O senhor comentou sobre desafios. Quais seriam os principais desafios para agricultura brasileira?

Roberto Rodrigues - Bom, nós temos três grandes vantagens comparativas em relação à países com extensão territorial como o Brasil. Primeiro temos terras disponíveis. O Brasil hoje cultiva 72 milhões de hectares de 850, que é o território todo, portanto, menos de 9% do território nacional é cultivado agricolamente. Então temos uma condição de expansão territorial que nenhum País do mundo tem. Segundo, temos a tecnologia tropical, que é altamente sustentável e, em terceiro, temos um produtor rural muito competente, inclusive porque os planos econômicos, voltados para estabelecer uma economia nos últimos 20 anos, tiraram do campo muita gente que não resistiu às pressões econômicas. Então, quem sobreviveu, sobreviveu com competência para ficar no processo. Então nós

temos três condições realmente notáveis.Agora, a pergunta é importante porque

caracteriza os gargalos do Brasil. Eu diria que temos cinco gargalos no Brasil. O principal é o da logística industrial. Nós ficamos dez, quinze anos sem fazer investimentos consistentes na área de logística. Então, falta ferrovia, rodovia, porto, armazenagem, hidrovia, falta um projeto integrado, inclusive falta uma saída para o Pacífico, que seria um mecanismo de abertura de mercado na Ásia, extraordinário para o País. Então, o primeiro gargalo é logística e infraestrutura. E esse gargalo está razoavelmente tratado pelo PAC. Se o PAC sair do papel para valer, boa parte desse problema será superado. Não obstante, faltam, ainda, muitos investimentos, sobretudo na área portuária.

O segundo gargalo é o de uma política de renda pro campo. Todos os países desenvolvidos do mundo tem mecanismos que garantem a estabilidade da renda do produtor rural a partir da premissa de que é essencial garantir a segurança alimentar do cidadão daquele País. Então o cidadão recebe garantia de alimentos através da renda estável do produtor rural. Então, mecanismos como subsídios explícitos, como barreiras de importação de produtos, estímulos à exportação, vários mecanismos protecionistas garantem aos agricultores dos países desenvolvidos uma renda estável qualquer que seja o preço do mercado. E não temos isso no Brasil. Já criamos o

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“A importância da cooperação técnica internacional,

sobretudo na plataforma tecnológica, diz respeito a uma nova forma de produção, mais sustentável e que garantirá ao mundo suprimento essencial para que a vida prossiga em

termos adequados em todos os ricões do planeta.”

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seguro rural, que demora a decolar. Nossa lei do credito rural é de 1965, o Brasil mudou completamente e a lei é a mesma. Nossa política de preços mínimos não funciona. Nossos mecanismos de comércio privado são poucos difundidos. Precisamos ter um esforço maior publico e privado na direção da questão de uma renda estável para a agricultura.

O terceiro gargalo é o ligado a área de comércio, sobretudo comércio internacional. Nós colocamos, nos últimos dez anos, todo o peso da nossa negociação na Rodada de Doha, da OMC, que, infelizmente, não decolou. Então, perdemos tempo, não fazendo acordos bilaterais, não montando acordo com a União Européia, que é um mercado gigantesco, não cuidando da relação sul-sul com mais consistência, não criando instrumentos de agregação de valor. Por exemplo, a China, que é um grande mercado, não vai comprar só soja em grão. Temos que criar regras novas de comercio que viabilizem acesso a mercados, de forma mais competente do que fizemos até agora.

O quarto gargalo é o da defesa sanitária. Esse é um tema recorrente e é também transversal do ponto de vista continental. Porque não adianta eliminar aqui no Brasil, se o Paraguai não eliminar, se a Colômbia não eliminar. Então, enquanto não houver uma ação ampla - ação esta que o Brasil deve liderar porque é o maior rebanho - não vamos ter um reconhecimento internacional sobre a qualidade da nossa carne, porque infelizmente nas áreas extensas do Brasil no nordeste, no norte, ainda tem Aftosa. Então, a defesa sanitária é um gargalo fundamental.

O quinto gargalo é o ligado à tecnologia. Embora tenhamos, como já disse, a melhor tecnologia tropical do planeta, esse é um processo dinâmico. A tecnologia é um investimento sistemático e sistêmico. Tem que haver permanente experiência nessa área e o setor privado precisa participar disso através de empresas com protocolo específico, que são inclusive prevista pela lei de inovação tecnológica. Não conseguimos sair do papel nisso ai. Então, dependemos muito de recursos públicos para pesquisa. E um Estado moderno, um país moderno, uma nação moderno precisa de muita tecnologia para ser competitiva.

Então são cinco ou seis gargalos importantes. Mas todos eles, na verdade, estão pendentes de um

tema superior, um guarda-chuva dos gargalos, que é a inexistência de uma estratégia nacional para esses assuntos. Você tem, hoje, uma política agrícola muito boa, instituída pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), inclusive através de câmaras, por cada uma das cadeias produtivas ou produzidas por instrumentos de políticas públicas. Então temos uma belíssima política agrícola desenhada no nível do MAPA, mas os instrumentos para implementar isso estão dispersos em outros ministérios. O orçamento quem faz é o Ministério do Planejamento, a liberação de recursos quem faz é a Fazenda, a taxa de juros quem decide é o Banco Central, a taxa de câmbio é o Banco Central, a logística quem decide é o Ministério dos Transportes, a negociação quem faz é o Itamaraty, as regras de comércio quem faz é o MDIC, floresta plantada é o Meio Ambiente, questão agrária no Ministerio do Desenvolvimento Agrário, a área de energia, bicombustível está no Ministério de Minas e Energia, dinheiro para pesquisa no Ministério de Ciência e Tecnologia, enfim, são doze, quinze ministérios sem falar em empresas como Petrobrás, Inmet, IBAMA, ANA, Embrapa, FUNAI, que interferem com que o processo agrícola seja uma estratégia direcionada. Então a ausência de uma estratégia ampla do estado brasileiro, que incorpore inclusive a revisão de legislações obsoletas no País, é que cria todos os gargalos aos que me referi anteriormente. Então precisamos ter uma definição nacional estratégica, que infelizmente, a última que tivemos foi no governo Geisel, nos anos setenta. Então esse é o grande tema a ser debatido pela agricultura brasileira contemporaneamente.

RIB - Como está inserida essa questão dos gargalos no governo atual?

Roberto Rodrigues - Esses gargalos já foram apresentados à presidente Dilma. Se o governo brasileiro desenvolver aquilo que se propõe a fazer, nós podemos resolver uma boa parte dos gargalos. Por outro lado, em uma democracia, como é o caso do Brasil hoje, as políticas publicas só se desenvolvem, só são implementadas, se a sociedade majoritariamente assim quiser. E o Brasil é um País que se urbanizou muito rapidamente e a sociedade urbana não tem

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uma visão adequada da agricultura. Então, nós estamos iniciando, agora, um grande programa de comunicação rural mostrando para a sociedade urbana a interdependência que há entre o rural e o urbano. Um não vive sem outro. E o respeito que o urbano passa a devotar ao rural será, sem duvida, um instrumento para que as políticas sejam desenhadas adequadamente.

RIB - Como o IICA pode contribuir para a transformação produtiva do Brasil defendendo o meio ambiente e garantindo o desenvolvimento sustentável?

Roberto Rodrigues - Se o IICA cumprir a missão dele, que é promover a competitividade da agricultura, garantindo o bem estar das populações rurais com a preservação dos recursos naturais, que é também a visão que a agricultura brasileira tem, o IICA pode transformar essa plataforma tecnológica brasileira e

essas demandas estruturais, que nós tratamos, em uma ação articulada de caráter continental, com uma relação mais democrática, mais justa, mais igualitária entre os países americanos. E isso seria, sem dúvida, uma enorme plataforma de lançamento das tecnologias agrícolas brasileiras para os outros países do continente.Por outro lado, em uma democracia, como é o caso do Brasil hoje, as políticas publicas só se desenvolvem, só são implementadas, se a sociedade majoritariamente assim quiser. E o Brasil é um País que se urbanizou muito rapidamente e a sociedade urbana não tem uma visão adequada da agricultura. Então, nós estamos iniciando, agora, um grande programa de comunicação rural mostrando para a sociedade urbana a interdependência que há entre o rural e o urbano. Um não vive sem outro. E o respeito que o urbano passa a devotar ao rural será, sem duvida, um instrumento para que as políticas sejam desenhadas adequadamente.

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“O IICA pode transformar essa plataforma tecnológica brasileira e essas demandas estruturais, que nós tratamos, em uma ação

articulada de caráter continental, com uma relação mais democrática, mais justa, mais igualitária entre os países americanos.”

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a r t i g oGertjan BeekmanCoordenador de Recursos Naturais e Adaptação às Mudanças Climáticas do IICA no Brasil

A Rio + 20 e as novas perspectivas para o desenvolvimento

O Brasil tem a frente mais uma oportunidade de chamar a atenção do planeta para os desafios

ambientais que marcam este século. Para os atores engajados na luta pela mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, pela preservação da biodiversidade e pela desaceleração dos processos de degradação dos solos, a Conferência Mundial das Nações sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, prevista para 2012, no Rio de Janeiro, será decisiva.

O mais importante encontro mundial sobre meio ambiente acontece 20 anos após a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92 ou Rio-92, que teve a participação de mais de 100 chefes de estado e criou as três convenções que hoje norteiam as iniciativas para a conservação dos ecossistemas e redução da pobreza intensa em que vivem as populações das áreas mais vulneráveis.

Munidos de relatórios que comprovam os avanços, compromissos e recomendações para o enfrentamento das questões ambientais, as partes buscam pelo menos um sinal mais claro de comprometimento de todos os países-membros com as metas de implementação das convenções, como a redução de carbono na atmosfera, o que rebate diretamente sobre a preservação da biodiversidade e o avanço ou a redução das áreas desertificadas.

Nesse ponto, onde se observa com clareza a forma como as três convenções estão imbricadas, fica evidenciado a necessidade de se promover sinergias entre entres seus gestores, de se ampliar a articulação interinstitucional em todos os níveis e de ser enfocar os esforços em temáticas transversais aos

três mandatos, com o objetivo maior de se buscar uma abordagem mais incisiva e precisa para a Rio+20.

Essa transversalidade tem sido a maior preocupação do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) em sua nova gestão. Nesse contexto, temas como comunicação, inovação tecnológica aplicada à gestão dos recursos naturais e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) são vistos como as ferramentas-chave que perpassam todos os eixos temáticos, dentro da nossa estratégia de trabalho.

Planos de comunicação elaborados para projetos cuja meta é a preservação do meio ambiente e a condução a um modelo de desenvolvimento verde, centrado na sustentabilidade, permitem a melhor disseminação das boas práticas, o monitoramento dos projetos, a transferência e a gestão do conhecimento, a comparação das ações em curso e a conscientização sobre a necessidade de se adotar um modelo que leve em consideração as dimensões ambiental e social do desenvolvimento, além da econômica.

O desenvolvimento de tecnologias e modelos produtivos que permitam adaptar a agricultura às novas condições climáticas, e ao mesmo tempo, mitigar os efeitos que esta atividade tem sobre o ambiente e os recursos naturais também tem sido um dos principais pontos de atenção do IICA.

Nesse plano há uma série de oportunidades já vislumbradas e desafios a serem vencidos. A revisão do planejamento do agribusiness, fundamentado nos conceitos de água virtual (quantidade de água necessária para a produção de um produto,

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A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável visa renovar o engajamento dos líderes mundiais com o desenvolvimento sustentável do planeta, vinte anos após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Serão debatidos a contribuição da “economia verde” para o desenvolvimento sustentável e a eliminação da pobreza, com foco sobre a questão da estrutura de governança internacional na área do desenvolvimento sustentável.

considerando-se toda as fases da cadeia de produção), por exemplo, o desenvolvimento de sistemas de infraestrutura hídrica, e a atualização dos mecanismos que calculam os limites de cada país para emissões de carbono, e demais gases de efeito estufa (GEE´s) na atmosfera são algumas dessas frentes de trabalho para os próximos anos.

Com as mudanças climáticas que estão previstas, de acordo com cenários de IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), é de se esperar que haja uma redistribuição geográfica das chuvas, alteração da sua intensidade, e freqüência de ocorrência de eventos extremos. Assim, a resposta obviamente dos ecossistemas representados pelas bacias hidrográficas, será diferente. Nesse caso, o próprio agro zoneamento terá que contemplar e levar em consideração o surgimento de novos cenários ditados pela variabilidade climática ou de mudanças climáticas.

Se uma determinada região passar a ter uma situação de escassez de água, as culturas mais intensivas deixarão de ser as mais indicadas. Assim, as culturas vão migrando de regiões, se redistribuindo geograficamente, e a própria infraestrutura hídrica e a infraestrutura associada aos processos de produção terão que acompanhar esse movimento.

Para a simulação de cenários , podemos usar o caso no caso do café. Os níveis de aquecimento global ao longo do século preconizados pelo IPCC, sugerem que os locais geográficos mais favoráveis para esta cultura estariam nas proximidades da fronteira

como o Estado do Rio de Janeiro, em altitudes mais elevadas. Esta projeção poderia implicar que toda a infraestrutura de armazenamento e processamento, ou seja, as fábricas também tenham que se deslocar.

Esse tipo de percepção deve começar a entrar na discussão dos governos em termos de planejamento, em médio prazo. Da mesma forma, os requerimentos hídricos (´´pegada hídrica´´) necessários para se produzir um determinado produto também precisam entrar nessa conta. De modo a não explorarmos os recursos naturais a exaustão.

A adoção dos conceitos de MDLs, para nós dentro da cooperação técnica, também é algo muito interessante, e inclusive já começa a ser pensado para a formulação de nossos projetos. Certificação verde de produtos agropecuários, créditos de carbono e projetos de redução das emissões de CO2, CH4 e CFCs na agricultura podem pavimentar a construção de uma economia seja orientada para baixo carbono, que é muito mais justa e adequada. Além disso, gera inúmeros créditos associados e faz circular bilhões de dólares.

Enfim, em um momento em que todos os olhos do mundo se voltam para a Rio +20, e em que as perspectivas são tão variadas quanto elevadas, a integração de ações prioritárias em resposta às necessidades e demandas diversas faz-se necessária. Os ingredientes estão aí. Agora é fazer uma boa mistura do que há e nos certificar que isso resulte em algo palatável para as discussões na Rio +20 e para o futuro do nosso planeta.

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n o t í c i a s

CRIC9 adota recomendações para a COP10

A Nona Sessão da Comissão para a Revisão da Implementação da Convenção (CRIC9) encerrou

seus trabalhos no último dia 25 de fevereiro, com a adoção de um relatório que sintetiza recomendações dos países-membros da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), para apreciação da próxima Conferência das Partes. A décima edição da COP será realizada entre 10 e 21 outubro, na cidade de Changwon, na República da Coréia.

As sugestões oferecidas abordam questões fundamentais para o alcance dos cinco objetivos operacionais que constam no Plano de Ação Estratégico de dez anos da UNCCD. Essas metas incluem o aumento dos esforços para elaboração de políticas públicas incisivas, para sensibilização e conscientização das populações, para ampliação

Novo sistema de avaliação de desempenho e discussões aprofundadas sobre o alinhamento dos planos nacionais com a estratégia da Convenção representaram um marco no processo da UNCCD

das fontes de financiamento, para transferência de conhecimento e capacitação, e finalmente, para advocacy.

Efetivamente, não saíram do encontro projetos de decisão, mas uma compilação de ideias, devidamente negociadas entre as partes. Ainda assim, a CRIC9, realizada em Bonn, na Alemanha, de 21 a 25 de fevereiro, pode ser considerada um divisor de águas no que diz respeito ao futuro do processo da UNCCD.

Entre tantas questões importantes, a reunião destaca-se por ter marcado a estréia do novo sistema PRAIS (Performance, Review and Assessment of Implementation System) para a elaboração dos relatórios nacionais. Desenvolvido pelo secretariado da UNCCD, pelo Mecanismo Global (MG), pela Global Environmental Facility (GEF) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),

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o método é baseado no uso de indicadores de desempenho quantitativos para o relato das ações dos governos, sociedade civil, iniciativa privada e organizações internacionais voltadas para o enfrentamento dos desafios impostos pela desertificação e degradação da terra.

O PRAIS é visto pela UNCCD como um passo extremamente significativo para a implementação da convenção. “A partir de agora será possível acompanhar as tendências e avaliar se estamos nos movendo na direção correta”, avaliou o secretário executivo da UNCCD, Luc Gnacadja.

Christian Mersmann, diretor gerente do Mecanismo Global, vê no novo sistema uma alternativa para monitorar e direcionar melhor os recursos. Segundo ele, informações valiosas sobre volume, fontes, distribuição geográfica e alocação de recursos estarão disponíveis. “Pelo menos um cenário mais claro do estado dos investimentos e das despesas públicas direcionadas ao manejo sustentável da terra começa a emergir”, afirmou.

Os delgados, de modo geral, parecem concordar, apesar das inúmeras críticas. Entre as ressalvas aparece a falta de apoio técnico e financeiro necessários para a operacionalização do software, e de uma análise mais qualitativa das ações de cada país. “Como todo software em fase de implementação, o sistema ainda é falho. Falta, por exemplo, objetividade em algumas perguntas. No entanto, acredito que seja uma ferramenta eficaz para se monitorar os avanços e principais desafios na luta contra a desertificação”, avaliou o ponto focal nacional de Combate a Desertificação do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, Francisco Campello.

Nas mesas de negociação, o Brasil defende a simplificação desse sistema, a fim de evitar despesas desnecessárias, e uma abordagem mais qualitativa dos indicadores. Em outras palavras, a delegação brasileira defende um recurso que reflita de forma mais precisa as realidades das nações, em vez de ser uma mera ferramenta de comparação.

Para a UNCCD, a tarefa agora é acertar as arestas do sistema e aperfeiçoá-lo para que também possa ser usado na elaboração de relatórios sobre indicadores de impactos e, enfim, medir o progresso

da implementação da estratégia da convenção.As discussões sobre o alinhamento dos

Programas de Ação Nacionais com a estratégia da UNCCD também foi um dos pontos que diferenciam a CRIC9 das demais reuniões. A sete anos do fim da data prevista para conclusão da implementação do mandato da UNCCD, as partes estão conscientes de que este é o momento de adequar seus programas de ação.

Esse assunto foi discutido em todos os fóruns durante a CRIC, inclusive no encontro dos grupos de interesses regionais, nos grupos de contato, no plenário e em duas mesas-redondas organizadas como eventos paralelos. Esses workshops fizeram parte dos esforços do secretariado da UNCCD e do Mecanismo Global para facilitar e promover o alinhamento dos Planos Nacionais em conformidade com seus mandatos.

A experiência compartilhada pelos países em todas as atividades da CRIC enfatizaram, mais uma vez, que a uma mudança mais contundente para com o alinhamento dos planos nacionais requer não apenas recursos significativos, mas fontes variadas. Uma condição fundamental é a existência de uma real vontade política, apoiada por ações contínuas e consistentes voltadas a todos os interessadose em todos os níveis. O valor das parcerias de trabalho e a necessidade de aumentar a capacidade de facilitar o processo também estão entre as principais lições extraídas dessas atividades.

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“A partir de agora será possível acompanhar as tendências e

avaliar se estamos nos movendo na direção correta.”

Luc GnacadjaSecretário Executivo da UNCCD

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Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 12 I 16ª Edição Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 13 I 16ª Edição

Em fevereiro, Bonn, na Alemanha, foi o palco de dois importantes encontros na agenda da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD). A Segunda Sessão Extraordinária do Comitê de Ciência e Tecnologia (CST2) e a 9ª Sessão do Comitê para Revisão da Implementação da Convenção de Combate a Desertificação (CRIC9) reuniram aproximadamente mil delegados, de 194 países-membros, para definir recomendações estratégicas para a 10ª Sessão da Conferência das Partes (COP10), elencadas após a análise e avaliação dos relatórios nacionais sobre o processo de implementação da convenção.

De acordo com o secretário executivo da UNCCD, Luc Gnacdja, o encontro marcou uma mudança de paradigma em todos os esforços intergovernamentais para monitorar o desempenho dos países na implementação da Convenção.

Em entrevista exclusiva, Luc Gnacadja avaliou os resultados das reuniões, defendeu a importância do novo sistema, inédito entre as três convenções criadas no Rio em 92, e falou sobre suas expectativas para a COP10, marcada para outubro próximo, na República da Coréia, e para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20.

RIB - A UNCCD alcançou as expectativas em relação à CST2 e CRIC9?

Luc Gnacadja - O trabalho de base para as decisões das COPs (Conferências das Partes) é realizado por órgãos subsidiários da UNCCD, como o Comitê de Ciência e Tecnologia e o Comitê de Revisão da Implementação da Convenção. A Segunda Sessão Extraordinária do Comitê de Ciência e Tecnologia (CST2) apresentou uma série de conselhos para a próxima COP, em especial, sobre metodologias para monitorar os indicadores de impacto no próximo ciclo de relatórios. A Nona Reunião do Comitê de Revisão da Implementação da Convenção (CRIC9), que aconteceu na semana seguinte, avaliou os relatórios nacionais das partes em relação às estratégias de implementação. Pela primeira vez, em todo o processo de implementação da Convenção,

Entrevista // LUC GNACADJAnós tivemos a oportunidade de avaliar relatórios que foram elaborados sob os mesmos parâmetros e indicadores, o que nos permitiu ver claramente as metas alcançadas e as que precisam ser atingidas. Temos uma série de metas para 2014-2018, e o tipo de sistema discutido na CRIC nos ajudará a estabelecer uma base de dados. A partir da próxima reunião do Comitê, marcada para o próximo ano, e a cada dois anos, nas COPs, será possível acompanhar as tendências, avaliar se estamos nos movendo na direção correta e se a velocidade com que nos movemos vai nos levar aos resultados pretendidos na estratégia. Estou satisfeito por ter recebido cerca de 120 relatórios nacionais, até novembro do ano passado. Além disso, 89 países afetados apresentaram avaliações. Estou bastante satisfeito com o novo sistema de avaliação baseado em uma plataforma da Web, o PRAIS, que é uma novidade para as partes. Creio que a partir dessa ferramenta poderemos aprender muito sobre o que já fizemos.

RIB - Quais as lições aprendidas?Luc Gnacadja - Primeiro, a crescente

sensibilização em quase todos os países sobre a questão da desertificação é bastante satisfatória. Os relatórios mostram que, globalmente, 25% da população está ciente dos desafios impostos pela desertificação e pela degradação da terra, e de como isso se relaciona com as perdas de biodiversidade e mudanças climáticas. A meta em relação à sensibilização era atingir 30% da população até 2018. Por isso, a notícia é muito boa. Mostra que as ações tomadas pelas Partes nesse sentido são realmente eficazes. No entanto, em países desenvolvidos, apenas 7% da população tem consciência do problema. E isso é preocupante. Nós precismos aumentar os nossos esforços e nos certificar de que as populações dos países desenvolvidos sabem o que está acontecendo. Este não é um desafio apenas dos países afetados, é uma questão global. A degradação do solo tem enorme impacto sobre a segurança alimentar e a pobreza. Os relatórios também mostraram campos específicos onde há necessidade

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de mobilizar mais esforços para alcançar as metas, por exemplo, os Planos de Ação Nacionais devem ser alinhados à estratégia da UNCCD. A meta é que 80% dos países afetados tenham seus planos alinhados até 2014, mas apenas 6% estão em conformidfade. Portanto, se queremos atingir esse objetivo até 2014, temos de mobilizar os nossos esforços.

RIB - Uma das críticas que figura entre as Partes sobre o novo sistema para elaboração dos relatórios nacionais, o PRAIS, é em relação à equiparação dos países? Qual o objetivo de se criar uma base de dados para comparar países?

Luc Gnacadja - Não se trata de comparar países. Nós só podemos melhorar aquilo que podemos medir. Se temos um sistema para medir indicadores, seremos capazes de compreender de maneira mais clara os nossos pontos fracos e fortes, e assim, elaborar ações e políticas mais focadas. Isso também é bom para que os países aprendam uns com os outros. Fala-se muito sobre cooperação sul-sul, transferência de tecnologia e compartilhamento do conhecimento, mas como afirmar que podemos aprender com outros países, se não sabemos quais são as suas experiências bem-sucedidas? Portanto, não se trata de comparar, mas definir uma base de dados para monitorar o progresso e também identificar as áreas onde a partilha de conhecimentos poderia estar em foco.

RIB - Nas COPs, a integração entre as três convenções tornou-se recorrente. Qual a posição da UNCCD sobre essa questão?

Luc Gnacadja - Eu não creio que eles falem sobre integração. Em minha opinião, integração seria pegar as três convenções e transformá-las em uma. As Partes, na verdade, pedem sinergias, reunindo ações que poderiam ser mais eficazes para a implementação de cada um dos mandatos. Nesse sentido, penso que sim, que há espaço para a criação de sinergias em vários níveis. Há um terreno comum nas três convenções. No entanto, as sinergias estão acontecendo efetivamente em nível da comunidade. Se você perguntar para as comunidades que medidas estão tomando para adaptação à mudança

do clima e para melhorar a fertilidade dos solos, eles não vão dizer quer hoje eles estão implantando as ações para mitigar as alterações climáticas, amanhã vão implementar a convenção de biodiversidade e depois de amanhã a de combate à desertificação. Na comunidade, os contextos estão integrados, as ações são conjuntas. Já em âmbito nacional, a políticas públicas devem assegurar que cada espaço para sinergias seja cuidadosamente trabalhado. A este respeito os pontos focais nacionais e instituições focais para a biodiversidade, mudanças climáticas e desertificação devem se articular mais. Em 60, dos 193 países membros (para a biodiversidade) e 194 (para mudanças climáticas e combate à desertificação), o ponto focal de cada convenção está nos mesmos ministérios. Então, nesses 60 países deveria ser fácil construir sinergias. Além disso, em 15 países, o ponto focal das três convenções é a mesma pessoa. As sinergias deveriam ser realmente eficazes, mas não são. Creio que a questão dos recursos pode ser um entrave para o processo de construção de sinergias, especialmente quando geridos pela mesma pessoa a cargo das três convenções. A maneira de pensar em setores é equivovada. A abordagem deveria ser diferente. Na natureza as coisas estão intrincadas, nos ecossistemas não existem barreiras. Se você não utiliza bem o solo, isso vai impactar no clima, se você perde biodiversidade, isso afeta a terra. É assim que as coisas funcionam. Em nível global, em que o estabelecimento de sinergias também é absolutamente necessário, já existe um grupo composto pelos secretariados das três convenções (Desertificação, Biodiversidade e Mudanças Climáticas) com o objetivo de reunir as decisões das Partes em relação às ações de sinergia e avaliar de que forma facilitar a implementação das três convenções.

RIB - De que forma a UNCCD pode contribuir para a disseminação das boas práticas?

Luc Gnacadja - Boas práticas estão relacionadas à partilha de conhecimento. Nós vamos apresentar na COP 10 um sistema de gestão de compartilhamento de conhecimento conforme solicitado pelas partes. A COP 10 deverá decidir e aconselhar criticamente como isso será feito. Há uma clara necessidade de

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acesso ao que chamamos de melhores práticas e a forma como vamos compartilhá-las. Isso significa que essas experiências precisam ser avaliadas e, em seguida, submetidas a um sistema que permita a sua disseminação e compartilhamento.

RIB - Qual a visão da UNCCD com relação ao envolvimento da sociedade civil no processo de elaboração dos relatórios nacionais?

Luc Gnacadja - Quando falamos em sociedade civil tendemos a pensar em ONGs. Mas nós sabemos que a sociedade civil tem muitos componentes. As ONGs são um componente importante e um bom alvo para nós, porque na maioria das vezes eles trabalham a nível comunitário, especialmente no relato de boas práticas, mas devemos estar conscientes de que o setor privado também é um forte aliado no que diz respieito às boas práticas. Por isso, penso que esse setor também deva ser bastante estimilado. Eles são parte do problema, mas também pode ser uma grande parte da solução. Porque eles inteferem diretamente no modelo de produção. É preciso mobilizar o setor privado, como acontece com nas convenções de mudança climpatica e de biodiversidade, especialmente no âmbito do protocolo de partilha de benefícios. Portanto, se queremos evitar a degradação, se queremos preservar o solo, devemos garantir que os produtos fabricados a partir de materiais de solo e da terra sejam feitas de forma sustentável. Assim, as corporações também devem reavaliar seus processos.

RIB - Quais as expectativas da UNCCD com relação a COP10? Quais os principais pontos a serem discutidos?

Luc Gnacadja - Alguns pontos bastante relevantes estão na agenda COP10. Um deles, claro, é a definição do Plano de Trabalho para 2012-1015. Outros pontos que deverão entrar na discussão serão a Segunda Conferência Científica da UNCCD e o sistema para elaboração dos relatórios de indicadores de impacto, que vai ajudar a estabelecer uma base de dados a fim de monitorar anualmente os impactos da implementação. Esperamos com isso fazer com que as Partes adotem metas de níveis de impacto. Temos

metas para indicadores de desempenho precisamos de metas de indicadores de impactos também. Esta convenção nasceu no Rio de Janeiro. Vinte anos mais tarde, espero que as Partes olhem para o que já foi feito, para o que ainda falta e para o que é necessário para o futuro. Nesse sentido, devemos nos assegurar de que estabelecemos ações e metas concretas para preservar a terra e evitar a degradação do solo.

RIB - Rio +20: Quais são as questões para a próxima década no âmbito do mandato da UNCCD?

Luc Gnacadja - Pobreza e insegurança alimentar serão agravadas pelas alterações climáticas e pela perda da biodiversidade. Portanto, se queremos colocar em contexto os desafios impostos pela mudança climática, perda da biodiversidade e desertificação, devemos olhar para onde queremos os impactos. Como vamos garantir, por exemplo, que o bilhão de pessoas esquecidas em terras áridas e que enfrenta uma incrível pobreza e sofre a cada dia com os efeitos da mudança climática, saia dessa condição de vulnerabilidade? Sabemos que quando não fazemos nada a questão se transforma em fome, insegurança alimentar, instabilidade e conflitos. Espero que possamos realmente trazer alguma abordagem específica para este encontro e também possamos discutir sobre economia verde, desenvolvimento sustentável e redução da pobreza de forma efetiva. Em 2050, seremos nove bilhões de pessoas e a necessidade de crescimento da produção de alimentos é óbvia. Essa missão é quase impossível, a menos que encontremos uma alternativa para reverter essa tendência. Espero que esses pontos estejam no centro do palco. Além disso, existem outras questões que agravam a situação. Quando mapeamos os conflitos no mundo, oito de cada 10 estão travados em terras secas. Essa instabilidade em nível regional contribui para um mundo cada vez mais instável. E a única maneira de reverter isso é atacando as causas desses conflitos, que na maior parte das vezes tem a ver com a degradação de recursos vitais, como a produtividade da terra e água. Sem solo não há vida. Espero que a Rio +20 seja construída sobre essa evidência.

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IICA apóia o INMET no fortalecimento de suas ações agrometeorológicas

O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e o IICA reafirmaram a parceria entre os institutos,

durante recente encontro realizado em Brasília. O Projeto de Cooperação Técnica (PCT) Fortalecimento das ações Agrometeorológicas do INMET em apoio ao Agronegócio, firmado entre as instituições pautou o encontro.

O Diretor do INMET, Antonio Divino Moura, apresentou a Manuel Otero, que está a frente da Representação do IICA no Brasil (RIB), e ao Coordenador da área de Recursos Naturais da RIB, Gertjan Beekman, as principais ações do Instituto Nacional em parceria com o IICA e a atuação do órgão nos recentes acontecimentos das chuvas no estado do Rio de Janeiro.

No âmbito do PCT, em 2010, foi finalizada a primeira fase do novo Sistema de Apoio às Decisões Agrícolas, conhecido como SISDAGRO, que substituirá com grandes vantagens o sistema atualmente disponível no portal INMET.

Lauro Fortes, coordenador geral de Desenvolvimento e Pesquisa do INMET, enfatizou que o novo sistema “oferecerá algumas facilidades como o cálculo de balanço hídrico, estimativas de produtividade, risco climático, entre outras ferramentas. Funcionalidades para o produtor e também para o próprio Governo, na tomada de decisões.” No mesmo ano, concluiu-se a nova arquitetura de informação a ser utilizada no portal INMET, visando torná-lo mais atraente, amigável, confiável e abrangente para os usuários externos.

Por meio do PCT com o IICA, o software Consortium for Small-scale Modeling (COSMO, sigla em inglês), será adquirido. Trata-se de um modelo não-hidrostático, com uma resolução de 5 km e pode contribuir para a melhoria da previsão de vários fenômenos não observados pelos modelos hidrostáticos.

Outro tópico que está sendo desenvolvido no âmbito da cooperação refere-se a criação do Centro

Virtual de Eventos Meteorológicos que terá como função gerar informações aos serviços de alerta (defesa civil e população) quando da previsão e ocorrência de eventos extremos. A previsão numérica do tempo (atmosfera) também está inserida no contexto da cooperação INMET-IICA.

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IICA e MAPA definem ações para 2011

Fruto da manifestação do governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA), de multiplicar o potencial de cooperação técnica na área agrícola entre o Brasil e os países de menor nível de desenvolvimento no continente, realizou-se, em fevereiro, reunião entre técnicos do IICA e do MAPA com o objetivo de discutir propostas de trabalho entre as duas instituições e propor uma agenda conjunta de trabalho para alcançar tal intento.

“O IICA é um organismo de amplitude hemisférica especializado na área agrícola. Queremos aproveitar a capilaridade da instituição e desenvolver de forma embrionária projetos com os países latino-americanos. Porque ao Brasil interessa uma região forte”, explicou Alexandre Pontes, coordenador-geral de negociação na OMC do MAPA.

Entre os temas considerados prioritários para a realização de trabalhos de cooperação técnica entre o IICA e o MAPA estão o apoio à participação dos delegados dos países das Américas nos subcomitês do Codex Alimentarius; medidas sanitárias e fitossanitárias; o controle da mosca carambola na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa; a produção de sementes de arroz na Guiana para exportação ao Brasil; e o Projeto Embrapa Américas.

Parceiros querem aumentar projetos de cooperação técnica na área agrícola entre os países latino-americanos

Durante a reunião, Manuel Otero reiterou a intenção do IICA em aprofundar a cooperação técnica com o MAPA. “É um parceiro estratégico”, afirmou.

Além disso, foram apresentados os trabalhos em andamento pelas duas instituições e que vão ao encontro do objetivo da agenda atual, como o projeto em apoio ao Embrapa Américas, que segundo Jamil Macedo, possui escritórios técnicos localizados em diversos países latinos americanos, o que facilitaria o processo de cooperação com outros países em um novo projeto.

A especialista em Sanidade Agropecuária e Inocuidade dos Alimentos Lucia Maia, apresentou os trabalhos que vem desenvolvendo nos últimos dois anos com o Ministério de Agricultura em relação à Influenza Aviaria (IA) junto aos Órgãos Executores de Defesa Agropecuária e Inocuidade dos Alimentos nos Estados brasileiros.

Além disso, a especialista apresentou o trabalho realizado em coordenação direta com a Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA, na busca de uma definição de estratégias para o trabalho conjunto com alguns dos países que conformam a região amazônica (Guiana Inglesa e Francesa) relacionados ao problema da mosca da carambola.

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IICA e ABC debatem integração de ações em projetos de cooperação

O Representante do IICA no Brasil, Manuel Otero, e o Ministro Marco Farani, Diretor da Agência

Brasileira de Cooperação (ABC), reuniram-se, dia 21 de março, para debater os desafios do Instituto e os trabalhos desenvolvidos em parceria com a Agência.

Na ocasião, Otero fez um balanço dos principais projetos em desenvolvimento no território brasileiro. Farani apontou interesse em integrar esforços com o IICA em diversas temáticas que a ABC trabalha. Foram marcados encontros com a equipe de gerentes da Agência com os coordenadores das áreas temáticas do Instituto.

Entre os temas destacados está a troca de experiências e informações sobre iniciativas de combate à desertificação; articulação de ações governamentais em faixas de fronteira; articulação de ações de defesa sanitária animal e vegetal com ênfase na mosca da carambola; proposição de um esboço sobre um espaço de articulação técnica entre organismos internacionais, sob a liderança da ABC, em temas relacionados com o desenvolvimento rural sustentável.

“A cooperação multilateral propicia espaços favoráveis para discussão e elaboração sobre políticas públicas e o trabalho do IICA é muito importante para todo o país”, apontou o ministro Farani.

Participaram da reunião, Aureliano Matos, coordenador da Unidade de Gerenciamento de Projetos da Representação do IICA no Brasil (RIB); Gertjan Beekman, coordenador da área de Recursos Naturais da RIB; Carlos Miranda, coordenador da área de Territórios e Bem estar rural da RIB; o coordenador de Projetos de Cooperação Técnica Multilateral da ABC, Márcio Lopes Corrêa, e os gerentes de projetos da ABC, Pedro Veloso (África), Maria Augusta Ferraz (América Latina), Pedro Meirelles (Programas IICA, OACI, ONM); e Grazieli Adjafre, Analista de Projetos IICA/ABC.

“A cooperação multilateral propicia espaços favoráveis para discussão e elaboração sobre políticas públicas e o trabalho do IICA é muito importante

para todo o país”

Ministro Marco FaraniDiretor da ABC

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IICA participa do Dia Meteorológico MundialO encontro reuniu 120 especialistas no tema, entre funcionários do INMET, do IICA, dos Ministérios da Agricultura (MAPA) e Ciências e Tecnologia (MCT) e da FAO.

O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), órgão vinculado à Organização Meteorológica

Mundial (OMM), comemorou, no dia 24 de março, o Dia Meteorológico Mundial, com a realização do Seminário Clima e Você, em Brasília.

O encontro reuniu 120 especialistas no tema, entre funcionários do INMET, do IICA, dos Ministérios da Agricultura (MAPA) e Ciências e Tecnologia (MCT) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Em suas palavras de abertura, o Secretário Executivo do MAPA, Milton Elias Ortolan, representando o Ministro da Agricultura Wagner Rossi, destacou o papel do INMET no enfrentamento de desafios latentes na relação homem e natureza. “O tema é atual e reflete essa interação. Neste cenário de intensas chuvas seguido de seca prolongada, o INMET tem papel importante em diversos aspectos, entre eles o de prevenção de riscos”, apontou. Fez referência também, ao Projeto de Cooperação Técnica firmado entre o INMET e o IICA, que visa implementar um modelo não-hidrostático, com uma resolução de 5 km e pode contribuir para a melhoria da previsão de vários fenômenos não observados pelos modelos hidrostáticos.

O Diretor do INMET, Antonio Divino Moura, falou sobre os avanços tecnológicos na previsão do clima e na recuperação de dados históricos, que segundo ele “há mais de 100 anos de registro e o INMET está envidando esforços no processo de catalogação de milhares de documentos”. Divino chamou os documentos de memória do clima do Brasil.

Durante a segunda parte do seminário, o Representante do IICA no Brasil, Manuel Otero, apresentou o painel O Clima e as ações do IICA para enfrentar os impactos das mudanças climáticas na Agricultura. Segundo Otero, para que a agricultura seja parte da solução é preciso uma mudança de modelos, de uma atividade convencional para uma mais ambientalmente responsável.

“Um pacote de alternativas ecoeficiente devem ser adotado para minimizar os efeitos das atividades agrícolas no clima, destacando para práticas adequadas no manejo do solo; incentivo ao plantio direto; investimento em biotecnologia; preservação de agroflorestas; e utilização de sistemas agrossilvipastoris”, disse o Representante.

Otero ressaltou ainda que o IICA tem um Plano de Médio Prazo 2010 – 2014, que reconhece a importância das Mudanças Climáticas na agricultura, com a criação do Programa de Coordenação Transversal de Recursos Naturais, Gestão Ambiental e Adaptação às Mudanças Climáticas.

Armin Augusto Braun, da Secretaria Nacional da Defesa Civil, apresentou as diretrizes de ação do Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres (CENAD), que tem como “objetivo possibilitar, por intermédio do emprego de um sistema informatizado, o gerenciamento de ações preventivas e de respostas, permitindo o geoprocessamento de dados via satélite”.

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O IICA está comprometido com a solidariedade hemisférica, a

igualdade social, a redução da pobreza rural, a prestação de contas,

a transparência, o bem estar dos funcionários, a equidade de gênero,

a multiculturalismo e a diversidade, a proteção do meio ambiente e a

sustentabilidade financeira.

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O Brasil Rural está conectadoO Programa Territórios Digitais está mudando a vida de muitos brasileiros, fortalecendo a organização social e promovendo a educação digital no campo

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“Eu sou eu e minha circunstância”, esta frase é de um conhecido filósofo espanhol Ortega

y Gasset. Embora o agricultor de 32 anos, Pedro Marcelo Pereira da Silva, nunca tenha ouvido falar sobre Gasset, sabe muito bem quais são suas circunstâncias. Pedro nasceu e cresceu nas ruas empoeiradas do Sítio Soledade, em Mauriti, no semi-árido cearense, onde as circunstâncias são de 40 famílias de agricultores, pastos compridos com árvores retorcidas no meio, mato alto, crianças brincando em cima e debaixo dos cajueiros e uma estrada de terra que os liga ao município. O homem de semblante sério sente-se orgulhoso por suas circunstâncias, que para ele, de um ano pra cá, mudou muito, e apontou um motivo muito aparente para isso: uma casa que está no centro do Sítio; ela se diferencia das outras, que têm telhas desconexas, sem banheiros e com água que vem do poço artesiano. Essa, porém tem antena digital, janelas e porta de ferro.

Pedro, os moradores do Sítio Soledade e de outros 15 sítios ao redor foram beneficiados pelo Projeto Territórios Digitais, que faz parte do Programa Territórios da Cidadania, do Governo Federal, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Com a coordenação do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) e do IICA, por meio de um Projeto de Cooperação Técnica com o MDA, o Territórios Digitais já alcançou 99 municípios brasileiros, beneficiando agricultores familiares, indígenas e quilombolas, e instalou nessas terras 110 Casas Digitais. Até 2012, estão previstas a instalação de outras 2.050 Casas, por meio do Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades (Telecentros.Br).

“A cooperação técnica firmada entre o MDA e o IICA vem possibilitando, a contratação de consultorias, para realizar avaliação de experiências participativas e a formulação de metodologias de capacitação, estudos de impacto das TICs nas áreas rurais, no sentido de potencializar a contribuição da agricultura para o desenvolvimento dos territórios e de cidadania no campo. O projeto Territórios Digitais agradece a importante contribuição do IICA”, ressalta Rossana Moura, coordenadora do Programa

Territórios Digitais.“Quando chegaram os computadores, nos

organizamos para preparar o local que iríamos instalar a Casa Digital, em quatro dias erguemos as paredes, e pintamos tudo, com a internet instalada precisávamos aprender a mexer nos computadores”, contou Pedro.

Antes de inaugurar o espaço público, a própria comunidade escolhe até 40 moradores para participar do Curso de Gestores Comunitários Voluntários e Multiplicadores, quando aprendem noções básicas de informática e conteúdos de gestão comunitária. Os parceiros geralmente são as esferas estaduais e municipais, além de ONGs, fundações e institutos.

No estado do Ceará, o MDA conta com as parcerias da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do estado (SDA/CE); execução do Instituto Agropolos; do Instituto Nordeste Cidadania (INEC); e da Delegacia Federal do MDA.

Sandra Bandeira é coordenadora do Projeto Casas Digitais do Campo, assinado pela SDA/CE, e atua integrada ao Territórios Digitais. Segundo Sandra, o objetivo da Secretaria é integrar as comunidades e promover a trocar de experiências.

“Quando chegamos à comunidade percebemos o relacionamento entre eles crescendo, e por isso trabalhamos dois focos durante a capacitação: a educação no campo e a cultura da partilha para que aprendam a se relacionar com as diferenças”, informou. Destacou ainda, que já foram instaladas 24 Casas Digitais no Ceará e outras 267 devem ser implantadas até o fim deste ano.

De segunda a sábado, a partir das 7 da manhã, a Casa Digital de Soledade é aberta. Do lado de fora, desenhos nas paredes enfeitam a fachada e lá dentro

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um mundo inteiro de possibilidades, informações e conhecimentos. Todas as Casas instaladas pelo Programa, contém 10 computadores completos, uma impressora, um servidor, uma antena de internet wireless, um projetor de datashow, além de mobiliário. Tudo entregue gratuitamente à comunidade, que realiza a sustentabilidade da gestão comunitária autônoma da Casa. Maria Poliana de Melo Landim, de 18 anos, cuida da Casa Digital de Soledade nas tardes de quinta-feira, é responsável pelo blog da comunidade na internet, - http://www.casadigitalsoledade.blogspot.com/ - e está organizando o segundo bingo solidário em prol da Casa. O primeiro evento aconteceu ao final do ano passado, quando toda a comunidade se reuniu, arrecadou doações e promoveram um torneio de futebol. Toda a renda foi revestida na forragem do teto da Casa. Poliana contou que pretende nos próximos meses, como parte das comemorações de

um ano de uso da Casa, realizar uma série de palestras para jovens e adultos sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis.

No sítio Soledade, os computadores ganharam nomes de árvore: cajueiro, pitombeira, mangueira, laranjeira, entre outras. E é nesse pomar de conhecimentos que Pedro acabou de criar seu perfil no Facebook e suas primeiras palavras na rede social foram “Valeu a tuma do Territorios”. Ainda se acostumando às mais de 80 teclas do computador, nessa frase, ele expressa sua gratidão ao Programa. A falta de oportunidades de conhecimento e de horizonte colocava em questão a permanência dos jovens no campo. Hoje, segundo Pedro, os jovens estão motivados a expandir seus conhecimentos com a realização de cursos virtuais. “Minha vida mudou muito, a Casa Digital me deu oportunidade de conhecer lugares que nunca tinha ouvido falar. E o mais importante, é ver nossas crianças crescendo e tendo oportunidades que nós não tivemos na idade delas”, afirmou Pedro.

Antônio Marciano Pereira é primo de Pedro, tem 24 anos, é professor da Escola Rural de Fortuna, vilarejo próximo ao Sítio, divide seu tempo com a lida no campo, as aulas na escola, cortando os cabelos dos vizinhos, arrumando os pneus das carroças e a noite alfabetizando jovens e adultos em um cômodo de sua casa. Ainda nessa corrida rotina, reserva tempo para utilizar a Casa Digital como ferramenta para o preparo de suas aulas e estudo. Iniciou um curso de edificações com caráter virtual, portanto a chegada e instalação da Casa Digital há 100 metros de sua casa facilitou e muito sua jornada.

“Se não fosse a Casa Digital eu teria dificuldades para concluir meu curso. Como educador, quero usar a Casa para que meus alunos, tanto as crianças quanto os adultos, conheçam as vantagens de usar a internet para seu aprendizado”, disse Marciano.

O jovem dedica sua vida em mudar a de muitos. É bom de fala e de papo, um líder nato. Todas as quintas-feiras leva seus alunos para dentro da Casa, onde os faz acessar um mundo de oportunidades e informações, tornando aquele espaço um ambiente de troca e intercâmbio de aprendizagem, de crescimento e de convivência do cotidiano com o

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virtual. “Quero que a Casa continue e seja cada vez mais valorizada”, afirmou.

É há aproximadamente 15 minutos de caminhada da Casa Digital de Soledade, uma imensa algarobeira carregada de fartura e admiração, generosa em sua sombra, marca onde fica a casa do pequeno Francisco Fabrício Furtado de Oliveira, um dos cinco filhos da Dona Graça e do Senhor Miguel.

Fabrício é um dos mais novos usuários/gestores da Casa, participou da capacitação quando ainda tinha 9 anos. Todas as terças-feiras, ele acorda às 7 horas e encara a estrada, faça chuva ou sol, para usar a Casa Digital, acompanhado pela gestora do turno, Anailma Nunes, a Loira como é conhecida.

Em busca de aprendizado, Fabrício acessa sites de notícias e jogos interativos e quando questionado no que deseja ser quando terminar o ensino médio, diz logo: “Quero ser educador, me formar em Pedagogia”. Talvez aqui seja o reflexo da interação com os usuários da Casa e o exemplo do jovem Marciano.

Recém conectadaNo município de Crato, a Casa de Digital da

Villa Malhada foi instalada na sede da Associação

de Produtores Rurais Padre Frederico, há apenas 5 meses e já se vê resultados de mudança na rotina da comunidade.

Na região, vivem mais de 245 famílias, que cuidam da plantação de feijão, arroz, milho, amendoim, maracujá, banana, goiaba, caju e manga, entre outros produtos que são comercializados nas proximidades da Villa e no SEASA de Crato.

Segundo José Sebastião Agostinho, agricultor e gestor da Casa, seus companheiros de campo estavam sempre desatualizados de informações importantes como cotação de preço de produtos e insumos, alem do surgimento de novas pragas.

“Estamos felizes, pois agora nos sentimos parte do mundo globalizado, temos informações em tempo real. A produção só teve ganho. Quando aparece uma nova praga, já temos condições de nos prevenir contra ela”, contou José.

Durante a exposição agropecuária de Crato, o agricultor vende com sua família mais de 3 mil tapiocas, produzidas com matéria prima colhida das terras da Villa, e foi nessa feira que ele recebeu informações sobre o Programa Territórios Digitais e não demorou muito para os computadores

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curso. Como educador, quero usar a Casa para que meus alunos, tanto as crianças quanto os adultos, conheçam as vantagens de usar

a internet para seu aprendizado.”

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chegarem.Com o treinamento de 38 gestores a Casa abriu

suas portas para a comunidade. As informações que José Sebastião dizia serem importantes, agora estão 24 horas acessíveis. O agricultor disse ter expandido seu olhar do mundo e acredita que a Casa Digital é a extensão da Escola da Villa.

Compartilham da mesma opinião, as professoras Valdenia Gonçalves e Eulina Agostinho, que enfatizam que a Casa é o ponto de encontro da aprendizagem e do lazer.

“Expandiu o aprendizado dos alunos, que antes se limitava ao livro didático e ao pátio da escola, onde as atividades extraclasses aconteciam. Os alunos têm agora uma importante ferramenta de estudo”, contou Valdenia, formada em Geografia, gestora da Casa e estudante de pedagogia, na Universidade Regional do Cariri (URCA).

Eulina, aluna do curso à distância de pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), contou que é professora do Programa de Educação de Jovens

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e Adultos (EJA) e coloca seus alunos para fazerem uso da internet. “A maior vantagem foi a inovação dos estudos e materiais de ensino, preparo minhas aulas na Casa Digital e estou iniciando um trabalho de inserção destes jovens e adultos no mundo digital, um caminho de infinitas oportunidades de aprendizado”, afirmou Eulina.

Para a estudante de economia Rejane Teixeira, de 21 anos, “a Casa deu uma grande perspectiva para os moradores da Villa, promovendo a socialização entre as diversas comunidades da região. Mulheres que viam apenas sendo donas-de-casa e crianças e jovens sem ocupação, hoje têm onde investir seu tempo. A auto-estima da população aumentou, pois hoje se sentem capazes de alcançar novas oportunidades”.

A jovem conta que a gestão da Casa acontece com a participação de todos. Uma turma está sendo formada para ministração de um curso básico de informática, aplicado pelos próprios gestores. “Já organizamos um evento aqui na Associação e temos a pretensão de reformar a Casa, pintar as paredes e

“Os alunos têm agora uma importante

ferramenta de estudo.”

Valdenia Gonçalves

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identificar a fachada. Agora ela é nossa Casa”, contou.

Um olhar especial no 10 de abrilJosé Dionísio dos Santos, de 86 anos, é

conhecido como Vozinho no Assentamento 10 de Abril, no Crato, é o poeta da comunidade, uma enciclopédia da sabedoria popular. Ele, nos altos de sua experiência, reconhece que a Casa Digital é uma porta para o infinito mundo do conhecimento.

Em sua simples casa mostra a velha e companheira máquina de datilografia, hoje emperrada, pelo tempo. Vozinho confessa que ainda não se adaptou à tecnologia do computador, mas já iniciou suas aulas de socialização com o equipamento. Sente a diferença nas pontas dos dedos, segundo ele, o teclado é muito sensível e sente falta do barulho das teclas marcando o papel.

Começou a digitalizar seu acervo de inúmeras estrofes, porém sentiu que ainda precisa se acostumar com as teclas. Tem um sonho, ganhar um computador, para treinar em casa os dedos, que segundo ele, são teimosos e pesados.

Marcondes Guedes, um adolescente de 14 anos, é um dos gestores mais novos da comunidade, não perde a paciência com o Vozinho, sempre está disposto a ajudá-lo e orientá-lo, e é o mais respeitado entre os jovens. Seguindo a política da Casa Digital, quem deve definir as regras do seu uso são os

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próprios gestores.No 10 de Abril, é Marcondes quem faz questão de

manter a ordem lá, pois somente crianças acima de dez anos podem usar os computadores, as menores devem estar acompanhadas; as meninas não podem entrar de shorts curtos e os meninos sem camiseta. Com toda essa história de regular os acessos na Casa e ajudar os amigos no acesso aos computadores, despertou em Marcondes uma mudança que pode ser por toda a vida.

“Antes da chegada da Casa no Assentamento, eu pensava em ser bombeiro e agora com o meu envolvimento nas atividade da Casa e na interação com as pessoas que a frequentam, eu quero ser técnico em informática”, contou Marcondes.

Eliete Saldanha, cursa pedagogia à distância e usa a Casa Digital para realizar suas pesquisas e ajudar as crianças nos trabalhos dados pelas professoras. “A Casa Digital veio para fortalecer a interação de toda a comunidade e hoje as crianças e jovens têm mais acesso a informação, o que reflete no sucesso da Casa Digital do Assentamento”, afirmou.

“A Casa Digital atingiu um patamar reconhecido nacionalmente. Tem vida longa e útil para a comunidade quando esta se apodera do conhecimento e dos equipamentos e tem resultado significativo”, destacou o coordenador geral do NEAD, Joaquim Soriano.

“Meu pai morava em Várzea Alegre, no ano de 27 eu nasci.

Sou brasileiro e gosto do meu país.Meu pai era agricultor e, por isso, mudou pra fazenda Boriz.

Meu pai era agricultor trabalhava na cultura, senão tinha muito dinheiro, mas tinha sempre fartura.

No inverno se acaba, agente passava, mas a vida era dura.

(Vozinho, José Dionísio dos Santos, Poeta do 10 de Abril)

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Foto: Rodrigo Germano

E s p E c i a l

Em 2010, o Brasil realizou 590 iniciativas de cooperação técnica internacional no que se refere à

região Sul-Sul, alcançando 81 países e movimentando cerca de US$ 35 milhões. A agricultura foi o setor com maior volume de operações, respondendo com 22% do total de cooperações. Um recorde para o País. Nesse contexto de valorização e crescimento das atividades de cooperação técnica pelo governo brasileiro, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), como agência especializada e em busca de oferecer um serviço de cooperação de melhor qualidade, lançou no mês de fevereiro a série de debates Momento de Intercâmbio.

A iniciativa surgiu da reflexão sobre algumas dificuldades do Instituto, como a falta de divulgação de produtos frutos de cooperação técnica e de resultados alcançados em experiências exitosas oriundas dos mesmos projetos de cooperação. Soma-se a este fato, a falta de conhecimento de alguns gestores públicos sobre como se dá e a importância da cooperação técnica, engessando diversas ações dirigidas à população brasileira. “Há que se estimular as experiências de cooperação técnica. É uma excelente ação para o desenvolvimento dos países”, disse o representante do IICA no Brasil, Manuel Otero. A afirmação de Otero vai ao encontro de um dos objetivos da presidenta do Brasil, Dilma Roussef, de fortalecer as ações de cooperação técnica

Momento de IntercâmbioUm espaço para conhecer, discutir, aprender e vislumbrar novas oportunidades, assim é caracterizada a ação de promover um intercâmbio de experiências. Seguindo esta filosofia, o IICA criou a série de debates “Momento de Intercâmbio”. No lançamento da ação, a experiência de construção da proposta do Programa Nacional de Educação Ambiental e Agricultura Familiar esteve em pauta. Veja como foi esta primeira experiência e conheça um pouco mais sobre essa iniciativa inovadora.

internacional como meio para se difundir as exitosas experiências brasileiras para outros países. Tal fato reforça, ainda mais, a série de debates.

“Além de divulgar os produtos e resultados, a iniciativa cria um espaço de aproximação com os parceiros atuais e potenciais do IICA; estimula a troca de experiências e conhecimentos; e incentiva o debate técnico”, afirmou Cristina Costa, especialista em Projetos de Cooperação Técnica.

Agricultura Familiar e Educação Ambiental: a primeira experiênciaFruto da cooperação técnica entre o IICA, o

Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), a experiência de construção da proposta do Programa Nacional de Educação Ambiental e Agricultura Familiar com foco nos Territórios do Vale do Paranã e Chapada dos Veadeiros foi o tema de discussão, no dia 28 de fevereiro, na sede do IICA Brasil, do lançamento da série de debates técnicos Momento de Intercâmbio.

Representantes de diversos Ministérios, líderes de associações em territórios e técnicos especializados no tema tiveram a oportunidade de conhecer e de opinar sobre a metodologia adotada para construir a proposta. Ao todo, 82 pessoas de 22 instituições participaram da iniciativa. “Nosso objetivo aqui é compartilhar esta experiência desenvolvida no

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âmbito da cooperação técnica IICA e aproximar novos parceiros. A cooperação técnica é debater, pensar e construir”, afirmou Manuel Otero ao abrir o evento.

O consultor do IICA Ricardo Novaes contextualizou aos presentes o objetivo do projeto de cooperação técnica e apresentou como foi desenvolvida a construção do Programa Nacional. “Um Programa unindo educação ambiental e agricultura familiar é uma demanda antiga dos movimentos sociais. Apresentei como se deu a formulação da proposta do Programa, destacando a importância da participação coletiva”, afirmou.

A apresentação do consultor resultou em diversos comentários dos presentes. “Achei muito importante conhecer a formulação de uma proposta. Isto permite a nós, como sociedade civil, e até mesmo especialistas, a entender o processo e dar vida a uma proposta. Percebemos que esta proposta vai sair do papel”, explicou Philippe Pomier Layrargues, professor da Universidade de Brasília (UnB).

DebatesA secretária de Articulação Institucional e

Cidadania Ambiental, do MMA, Samyra Crespo, manifestou sua satisfação com o evento e enumerou três aspectos positivos. “Primeiro, a metodologia participativa da proposta; segundo, o recorte do Programa voltado a atender as demandas da agricultura familiar brasileira; e, um terceiro aspecto, é o intercâmbio, o momento de mostrar para todos os parceiros e para outros, que podem nela se inspirar, como a proposta foi construída. Então eu acho que trouxe muitas contribuições”, explicou.

Já o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do MMA, Roberto Vizentin, também presente ao evento, destacou a importância de um programa de educação ambiental aliado a um outro Programa – no caso o Mais Ambiente - e comentou sobre o impacto da proposta. “É fundamental que a visão ambiental seja apreendida pelos agricultores familiares como um componente da transformação do modo de produção e como facilitador para a regularização fundiária”, afirmou.

A questão da praticidade de um projeto, ou seja, a

execução da proposta foi questionada diversas vezes no Momento de Intercâmbio. “Está bem desenhado, com metodologia participativa, tem tudo para dar certo. Mas será que vai sair do papel?”, questionou um dos agricultores presentes, oriundo do Território do Vale do Paranã. A secretária Samyra defendeu que com o programa desenhado e atendendo a uma demanda pública, o mesmo tem de ser inserido no plano de políticas do Governo Federal, “isso significa estar no plano plurianual de investimentos, significa ter recursos e metas definidas e bem como parcerias e responsabilidades estabelecidas”. A secretária informou que espera colocar o Programa em prática ainda este ano.

ProgramaçãoOs próximos “Momento de Intercâmbio” já estão agendados. No dia doze de abril, o tema será a Elaboração do Plano Diretor de Agricultura Irrigada do Estado de Minas Gerais e, no dia sete de junho, o tema será Georreferenciamento do Oeste da

Bahia.

Como participarEntre em contato com a organização

do evento:

Gisele [email protected]

(61) 2106.5414

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cial

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i n s t a n t E

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Wagner Rossi, recebeu o diretor-geral do IICA, Víctor M. Villalobos, o diretor de gestão e operações regionais do Instituto, Victor Del Angel e o representante do IICA no Brasil, Manuel Rodolfo Otero, no dia 29 de março. Na reunião, o Ministro demonstrou interesse em fortalecer a cooperação técnica com o IICA na área dos biocombustíveis e sanidade agropecuária.

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Concurso do IICA premia estudantes de Publicidade e PropagandaEstudantes de publicidade e propaganda têm uma boa notícia: a Representação do IICA no Brasil (RIB) está promovendo um concurso para definir um novo nome

e layout de capa para revista Cooperação Técnica RIB.

A participação neste concurso é gratuita e está aberta para estudantes matriculados no curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda de qualquer centro de ensino superior cadastrado no Ministério da Educação

(MEC). Será registrada apenas uma proposta por participante. Não serão admitidas propostas coletivas.

As inscrições vão até o dia 29 de abril de 2011.

Não fique de fora!Acesse o regulamento no site: www.iica.org.br

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