Revista Ecosturismo Set 2010

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista de Ecoturismo

Citation preview

  • Revista Brasileira de Ecoturismo Volume 03, Nmero 03, setembro de 2010

    Publicao da Sociedade Brasileira de Ecoturismo

    Os artigos aqui publicados refletem a posio de seus autores e so de sua inteira responsabilidade.

    Comit Avaliador: Prof. Dr. Adriano Severo Figueir Profa. Dra. Alcyane Marinho Prof. Dr. Alexandre de Gusmo Pedrini Profa. Dra. Almerinda Antonia Barbosa Fadini Profa. Dra. Ana Mara Wegmann Saquel Profa Dra. Andra Rabinovici Profa. Dra. Beatriz Veroneze Stigliano Prof. Drando. Bruno Pereira Bedim Profa. Dra. Clia Maria de Toledo Serrano Prof. Dr. Davis Gruber Sansolo Profa. Dra. Denise de Castro Pereira Prof. Dr. Eduardo Humberto Ditt Prof. Dr. Ferdinando Filetto Prof. Dr. Flvio Jos de Lima Silva Prof. Dr. Giovanni de Farias Seabra Arq. Hector Ceballos-Lascurain Profa. Dra. Heloisa Turini Bruhns Prof. Drando. Heros Augusto Santos Lobo Prof. Dr. Ismar Borges de Lima Prof. Dra. Ivani Ferreira de Faria Prof. Dr. Jess Manuel Lpez Bonilla Profa. Dra. Lilia dos Santos Seabra Profa. Dra. Jasmine Cardoso Moreira Prof. Dr. Joo Luiz de Moraes Hoefel Prof. Dr. Jos Artur Barroso Fernandes Prof. Dr. Jos Martins da Silva Jnior Prof. Dr. Lucio Flavo Marini Adorno Profa. Dra. Marilia Cunha Lignon Profa. Dra. Marta de Azevedo Irving Prof. Dr. Milton Augusto Pasquotto Mariani Profa. Dra. Nadja Castilho da Costa Profa. Dra. Odalia Telles M. Machado Queiroz Prof. Dr. Pedro de Alcntara Bittencourt Csar Prof. Dr. Sidnei Raimundo Profa. Dra. Solange Terezinha de Lima Guimares Profa. Dra. Sueli ngelo Furlan Prof.a. Dra. Suzana Machado Padua Profa. Dra. Vivian Castilho da Costa Prof. Dr. Zysman Neiman Web site: www.sbecotur.org.br/rbecotur

    Editor-Chefe Prof. Dr. Zysman Neiman Editores: Prof. Dr. Alexandre de Gusmo Pedrini Profa. Dra. Vivian Castilho da Costa

    Editor Executivo Junior Prof. Esp. Carlos Eduardo Silva

    Editoras de Idiomas Malila Carvalho de Almeida Prado

    Capa e layout do site Lucas Neiman

    Fotos Zysman Neiman

  • SUMRIO

    APRESENTAO..................................................................................................................05

    EDITORAL..........................................................................................................................................06

    ARTIGOS

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (MG): subsdios para o turismo comunitrio ..................................................................................................................358 Werter Valentim Moraes, Guido Assuno Ribeiro, Virgilio Furtado Dornelas, Renato Miranda Cardoso, Ivanete Freitas Araponga

    Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (MG, Brazil)s tourists profile: subsidies for community-based tourism........358

    Werter Valentim Moraes, Guido Assuno Ribeiro, Virgilio Furtado Dornelas, Renato Miranda Cardoso, Ivanete Freitas Araponga

    Ecoturismo, cultura e comunidades: reflexes sobre o entorno da RPPN Santurio do Caraa (MG)..............................................................................................................................382 Marina Ramos Plastino, Denise de Castro Pereira, Marlete da Glria Martins Maia, Danielle Alves Lopes Ecotourism, culture and communities: reflections about Caraa Sanctuary PRNP surrounding, MG, Brazil ........................................................................................................382 Marina Ramos Plastino, Denise de Castro Pereira, Marlete da Glria Martins Maia, Danielle Alves Lopes

    A importncia da evoluo do uso do solo como geoindicador para o planejamento do Ecoturismo em Unidades de Conservao aplicao no Parque Estadual da Pedra Branca (RJ) ..............................................................................................................................408 Rodrigo Silva da Conceio, Nadja Maria Castilho da Costa, Vivian Castilho da Costa The importance of the evolution of soil use as geoindicator to Ecotourism planning in Protected Areas application in Parque Estadual da Pedra Branca, RJ, Brazil................408 Rodrigo Silva da Conceio, Nadja Maria Castilho da Costa, Vvian Castilho da Costa

    Educao Ambiental pelo Ecoturismo numa Trilha Marinha no Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba (SP).............................................................................................................428 Alexandre de Gusmo Pedrini, Tatiana Pinto Messas, Eugnia da Silva Pereira, Natalia Pirani Ghilardi Lopes, Flvio Augusto Berchez Environmental Education for the Ecotourism on a Marine Trail in the Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, SP, Brazil ...........................................................................................428 Alexandre de Gusmo Pedrini, Tatiana Pinto Messas, Eugnia da Silva Pereira, Natalia Pirani Ghilardi Lopes, Flvio Augusto Berchez

  • Percepo ambiental dos usurios da Fazenda Santa Branca Ecoturismo (APA - Ribeiro Joo Leite), Terespolis (GO)...................................................................................................460 Raquel Gonalves de Sousa, Mirley Luciene dos Santos Environmental perception of users of Fazenda Santa Branca Ecoturismo (APA - Ribeiro Joo Leite), Terespolis, GO, Brazil......................................................................................460 Raquel Gonalves de Sousa, Mirley Luciene dos Santos

    Trilha ecolgica como instrumento de Educao Ambiental: estudo de caso e proposta de adequao no Parque Estadual Xixov-Japu (SP) .................................................................478 Fernanda Rocha, Fabiana Pestana Barbosa, Denis Moledo de Souza Abessa

    Ecological trails as Environmental Education tool: case study and correction proposal for the Parque Estadual Xixov-Japu, SP, Brazil..........................................................................478 Fernanda Rocha, Fabiana Pestana Barbosa, Denis Moledo de Souza Abessa

    Subsdios para planejamento socioambiental de trilha no Parque Estadual da Serra Furada (SC)...............................................................................................................................498 Paula Wronski Aguiar, Suzana Machado Padua, Marcos Affonso Ortiz Gomes, Alexandre Uezu Social and environmental subsidies for the planning of the of Parque Estadual Serra Furada trail, SC, Brazil ............498 Paula Wronski Aguiar, Suzana Machado Padua, Marcos Affonso Ortiz Gomes, Alexandre Uezu

    Levantamento quali-quantitativo da produo cientfica sobre Ecoturismo no Brasil...............528 Zysman Neiman, Renata Fronza Saraceni, Stefanie Geerdink Quali-quantitative survey of scientific production on Ecotourism in Brazil................................528 Zysman Neiman, Renata Fronza Saraceni, Stefanie Geerdink

    RESENHA

    Desenvolvimento Sustentvel em dois atos..............................................................................558 Fernanda Sola

  • APRESENTAO

    A REVISTA BRASILEIRA DE ECOTURISMO (RBEcotur) uma publicao eletrnica quadrimestral produzida pela Sociedade Brasileira de Ecoturismo (SBEcotur), sendo expresso do esforo dos profis-sionais nela envolvidos: editores e outros colaboradores. Criada em 2008, seus volumes so editados exclusivamente na formatao eletrnica on line (SEER).

    Publica artigos inditos de carter cientfico com o objetivo de atender diferentes profissionais diante dos vrios contextos de estudos e pesquisas em Ecoturismo e atividades afins, contribuindo para a difuso, dilogo e intercmbio de conhecimentos tericos ou aplicados, bem como para a formao de redes. Propem-se a promover um amplo debate entre o poder pblico e privado, as operadoras, as agncias, ONGs e instituies de ensino e pesquisa, principalmente no que tange a aplicao do plane-jamento e manejo do Ecoturismo voltado a prticas de mnimo impacto.

    A transferncia e troca desses conhecimentos so de suma importncia para que a anlise e a preveno dos impactos do Ecoturismo e atividades afins se constituam em ferramenta imprescindvel para dar subsdio manuteno das prticas de preservao e ao planejamento estratgico de ativida-des de lazer, interpretativas da natureza e de Educao Ambiental, ligadas conservao dos recursos naturais.

    So os seguintes os eixos temticos desta revista:

    Eixo 1 - Ecoturismo e Educao Ambiental

    Eixo 2 - Planejamento e Gesto do Ecoturismo

    Eixo 3 - Manejo e Conservao dos recursos naturais atravs do Turismo Sustentvel

    Eixo 4 - Ensino, Pesquisa e Extenso em Ecoturismo

    Eixo 5 - Ecoturismo de Base Comunitria

    O Ecoturismo uma prtica que precisa ser mais bem estudada e compreendida pois, apesar de j ser praticado h mais de cem anos (desde a criao dos primeiros parques nacionais no mundo: Yel-lowstone e Yosemite), s nos ltimos anos do sculo XX se configurou como um fenmeno crescente e economicamente significativo.

    Embora os seus princpios e diretrizes estejam claramente estabelecidos e paream conceitual-mente compreendidos pelos profissionais da rea, na prtica, o Ecoturismo carece ainda de uma viso estratgica, que promova seu desenvolvimento em nvel nacional. Esta afirmao especialmente ver-dadeira quando so analisados os projetos de desenvolvimento em implementao no Brasil e as difi-culdades no planejamento e obteno de resultados referentes aos compromissos com a Sustentabili-dade.

    Assim, convidamos todos os pesquisadores e produtores de conhecimento em Ecoturismo e -reas afins a somar seus esforos aos nossos, divulgando suas ideias nas edies da REVISTA BRASI-LEIRA DE ECOTURISMO.

    Prof. Dr. Zysman Neiman Prof. Dr. Alexandre de Gusmo Pedrini Profa. Dra. Vivian Castilho da Costa

    Editores da RBEcotur

  • EDITORIAL

    Prezados leitores e colaboradores. com muito orgulho que apresentamos mais uma edio de nossa Revista Brasileira de Ecoturismo, que vem se consolidando como um dos mais importan-tes peridicos do segmento no Brasil. Desde sua estreia, a RBEcotur vem mantendo tanto a sua periodicidade como a qualidade do tratamento que d aos artigos de seus colaboradores. Esses cuidados vem conferindo credibilidade e respeito no meio acadmico e cientfico.

    Neste nmero esto presentes oito contribuies em formato de artigos originais, alm de mais uma resenha, fazendo com no ano 2010 completemos 29 trabalhos publicados, dos quais 26 so artigos. Este ndice j nos qualifica a solicitar indexao no sistema Scielo, conforme seus crit-rios, o que devemos fazer ainda neste ano. Para uma publicao com periodicidade quadrimestral, como nosso caso, so necessrias, dentre outros critrios, a publicao de pelo menos 24 artigos anuais, nmero este ultrapassado pela RBEcotur. Com esta edio, tambm, completamos nosso terceiro volume, e partiremos agora para o quarto ano de atividade da Revista.

    No primeiro artigo desta edio, Werter Valentim Moraes, Guido Assuno Ribeiro, Virgilio Furtado Dornelas, Renato Miranda Cardoso e Ivanete Freitas Araponga apresentam a experincia do projeto boas prticas com o turismo comunitrio no territrio da Serra do Brigadeiro, Estado de Minas Gerais, desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Promoo Cultural CEPEC, e financiado pelo Ministrio do Turismo, Analisando o perfil dos usurios desta Unidade de Conservao, con-cluem que hpa uma pr-disposio dos mesmos a usufruir dos produtos e servios da agricultura familiar, o que impe a necessidade de melhorias na organizao dos empreendedores locais e a-gricultores familiares.

    Em seguida, ainda no Estado de Minas Gerais, Marina Ramos Plastino, Denise de Castro Pereira, Marlete da Glria Martins Maia e Danielle Alves Lopes, fazem uma interessante reflexo sobre as possibilidades de preservao cultural quatro comunidades do entorno da RPPN Santurio do Caraa atravs do Ecoturismo. Atravs de um diagnstico rpido participativo (DRP) as autoras demonstraram que as comunidades identificam, mas nem sempre valorizam suas tradies, seu modo de vida tipicamente rural, o manejo dos recursos naturais, os rituais religiosos, a beleza pai-sagstica e os stios histricos locais como atrativos tursticos. A partir desta constatao, propem aes que possam promover debates sobre as potencialidades locais, e um planejamento participa-tivo para a construo de solues comunitrias.

    O terceiro artigo, de autoria de Rodrigo Silva da Conceio, Nadja Maria Castilho da Costa e Vivian Castilho da Costa faz uma avaliao da evoluo do uso do solo no Parque Estadual da Pe-dra Branca, no Estado do Rio de Janeiro, como um dos geoindicadores para o desenvolvimento do ecoturismo. Os autores adotaram o percentual de perda da categoria floresta com relao s de-mais categorias de uso do solo como unidade de medio em distintos perodos. Foi constada a di-minuio de floresta o que poder comprometer a manuteno dos recursos fsico-biticos que a-traem os visitantes a esta Unidade de Conservao.

    O quarto artigo, de Alexandre de Gusmo Pedrini, Tatiana Pinto Messas, Eugnia da Silva Pereira, Natalia Pirani Ghilardi-Lopes e Flvio Augusto Berchez apresenta uma atividade de Educa-o Ambiental para Sociedades Sustentveis no contexto do Projeto EcoTurisMar (Educao Ambi-ental pelo Ecoturismo Marinho em reas Protegidas) ocorrida na Trilha Marinha da Praia do Pres-

  • dio, Parque Estadual da Ilha Anchieta, no Estado de So Paulo, Os resultados de uma criteriosa avaliao dessa atividade demonstram que a mesma de configura como factvel para proporcionar sensibilizao e aquisio de novos conceitos/posturas para uma percepo/interpretao adequa-da do mar atravs do ecoturismo. Essa constatao vem apoiada em anlises estatsticas de res-postas a questionrio aplicado aos usurios da Unidade de Conservao.

    Em seguida, no quinto artigo, Raquel Gonalves de Sousa e Mirley Luciene dos Santos anali-sam as diferentes posturas comportamentais dos usurios da Unidade Agroecolgica Santa Bran-ca, no Estado de Gois, em relao ao ambiente natural e ao trabalho de Educao Ambiental ali realizado, com base na aquisio e anlise de informaes de seu estado cognitivo. O cruzamento de variveis evidenciou no existe uma dependncia entre ter uma concepo globalizante sobre meio ambiente e ter participado das atividades de EA ou ser um funcionrio, o que pode indicar fa-lhas na abordagem ambiental. Foi detectado ainda que as concepes de meio ambiente indepen-dem da escolaridade do visitante, o que sugere falhas tambm nos nveis formais de ensino. Ante essas constataes, as autoras fazem sugestes sobre possveis procedimentos a serem adotados para uma efetiva EA nas atividades de Ecoturismo.

    Outro estudo de caso interessante apresentado no sexto artigo, desta vez numa Trilha eco-lgica do Parque Estadual Xixov-Japu, no Estado de So Paulo, para a qual Fernanda Rocha, Fa-biana Pestana Barbosa e Denis Moledo de Souza Abessa realizaram um diagnstico das suas con-dies e estrutura como o intuito de apresentar solues para os problemas encontrados. Desta for-ma, propem alternativas para que a Unidade de Conservao possa se constituir um importante local para recreao e Educao Ambiental.

    Tambm analisando uma trilha para propor melhorias a serem implantadas, Paula Wronski Aguiar, Suzana Machado Padua, Marcos Affonso Ortiz Gomes e Alexandre Uezu apresentam, no stimo captulo, alguns Subsdios para planejamento socioambiental no Parque Estadual da Serra Furada, no Estado de Santa Catarina. A regio do entorno do Parque foi estudada por meio de ferramentas do mtodo de Diagnstico Rpido Rural (DRR), que indicou a necessidade de um programa de capacitao para a comunidade Serra Furada, alm de um sistema de monitora-mento e controle de impacto de visitao para a trilha.

    Finalizando a seo de artigos, Zysman Neiman, Renata Fronza Saraceni e Stefanie Geerdink, fazem um indito levantamento quali-quantitativo da produo cientfica sobre Ecotu-rismo no Brasil, a partir de anlise dos trabalhos apresentados no VII Congresso Brasileiro de Ecoturismo, para cujos autores inscritos foi enviado um questionrio sobre as caractersticas de seus respectivos grupos de pesquisas. Os resultados demonstram que h ainda no pas uma pequena quantidade de grupos especializados nessa temtica e que a publicao de sua pro-duo ainda se d quase exclusivamente atravs de congressos. No entanto, o estudo detectou um substancial crescimento da temtica do Ecoturismo nos cursos universitrios de turismo, ge-ografia, biologia e meio ambiente. Completando esta edio, Fernanda Sola escreveu uma resenha da obra Desenvolvimento Sustentvel: o desafio do sculo XXI, de Jos Eli da Veiga, obra de referncia que procura discutir o que realmente traz de novo a idia do desenvolvimento sustentvel que, ou pior, o que h de difi-culdade em se chegar a bom termo na compreenso de seus significados. Nossa resenhista revela

  • em sua breve mas contundente anlise, como o autor, em dois atos, se debrua sobre o adjetivo (desenvolvimento) e o adjetivo (sustentvel), nos convidando a refletir sobre a hiptese de que a retrica desse conceito corresponde ao incio da transio que superar a viso inaugurada pela revoluo industrial, o que configura uma abordagem bastante cara ao pesquisadores do Ecoturis-mo.

    A todos, uma boa leitura!

    Zysman Neiman

    Editor Chefe

    Tiet Era uma vez um rio...

    Porm os Borbas-Gatos dos ultra-nacionais esperiamente! Havia nas manhs cheias de Sol do entusiasmo

    as mones da ambio... E as gignteas!

    As embarcaes singravam rumo do abismal Descaminho... Arroubos... Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!...

    Ritmos de Brecheret!... E a santificao da morte!... Foram-se os ouros!... E o hoje das turmalinas!...

    - Nadador! vamos partir pela via dum Mato-Grosso? - Io! Mai!... (Mais dez braadas.

    Quina Migone. Hat Stores. Meia de seda.) Vado a pranzare com la Ruth.

    Mario de Andrade

    Nota dos Editores: O Buriti (Mauritia flexuosa), presente no logotipo da RBEcotur, uma homena-gem Pindorama, a Terra das Palmeiras, com suas paisagens de grande po-tencial para o ecoturismo, bem como s suas veredas, que compem alguns dos mais expressivos e belos conjuntos cnicos de nosso pas. A cada nmero da Revista, uma rvore brasileira ser evocada. Neste nmero a espcie ho-menageada a Cambuci (Campomanesia Phaea), uma rvore frutfera que mede de 3 a 5 metros de altura e originria da Mata Atlntica. Seu nome tem origem indgena, devido forma de seus frutos verdes e achatados, parecidos com os potes de cermica que recebiam o mesmo nome. parente da goiaba, da pitanga, da jabuticaba e tambm do eucalipto.

  • SEO

    ARTIGOS

  • Na ilha por vezes habitada

    Na ilha por vezes habitada do que somos, h noites, manhs e madrugadas em que no precisamos de

    morrer. Ento sabemos tudo do que foi e ser.

    O mundo aparece explicado definitivamente e entra em ns uma grande serenidade, e dizem-se as

    palavras que a significam. Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas

    mos. Com doura.

    A se contm toda a verdade suportvel: o contorno, a vontade e os limites.

    Podemos ento dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou roda do mundo infatigvel, porque mordeu a alma at aos

    ossos dela. Libertemos devagar a terra onde acontecem

    milagres como a gua, a pedra e a raiz.

    Cada um de ns por enquanto a vida. Isso nos baste.

    Jos Saramago

  • Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (MG): subsdios para o turismo comunitrio1

    Werter Valentim Moraes, Guido Assuno Ribeiro, Virgilio Furtado Dornelas, Renato Miranda Cardoso, Ivanete Freitas Araponga

    RESUMO

    O turismo de base comunitria vem se destacando no cenrio turstico nacional, devido, prin-cipalmente, disponibilizao de valores agregados economia local inserida com a ativida-de turstica. Assim, o projeto boas prticas com o turismo comunitrio no territrio da Serra do Brigadeiro desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Promoo Cultural CEPEC, financia-do pelo Ministrio do Turismo, visa maximizar valores agregados, demonstrando que a regi-o, com sua organizao social e ambiental, apresenta condies de assumir a cadeia produ-tiva do turismo atravs da agricultura familiar, aliando-se ao Parque Estadual da Serra do Bri-gadeiro - PESB com seus atrativos naturais. A rea de abrangncia desta pesquisa o entor-no do PESB, que limita com o municpio de Araponga, sede da administrao da referida Uni-dade de Conservao (UC). A proposta conhecer o usurio da Unidade de Conservao, com o intuito de identificar os atrativos tursticos visitados e sua infra-estrutura, valorizando a aptido da regio com sua agricultura familiar. Os dados iniciais indicam a pr-disposio dos turistas pelos produtos e servios da agricultura familiar e a necessidade de uma melhor or-ganizao dos empreendedores locais e agricultores familiares para um intercmbio, e uma identificao dos possveis canais de comercializao.

    PALAVRAS-CHAVE: Unidade de Conservao; Pesquisa de Mercado; Ecoturismo de Base Comunitria

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F. Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB/MG): subsdios para o turismo comunitrio. Revis-ta Brasileira de Ecoturismo, So Paulo, v.3, n.3, 2010, pp.358-381.

    Pg ina 358 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (MG, Brazil)s tourists profile: subsidies for community-based tourism

    ABSTRACT Community-based tourism is increasing in the national tourism scenario, mainly for providing value-added services to the local economy and tourism activity. The project "Good Practices for Community Tourism in the Territory of Serra do Brigadeiro" developed by the Center of Research and Cultural Promotion CEPEC and funded by the Ministry of Tourism, aims to maximize these added values, showing that the region, together with its social and environmental organization, is a strong tourism product that should be incorporated to the Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. The area covered by this research consists of the conservation unit and its surroundings, whose borders are shared with the city of Araponga. The main objectives of this study are to identily the visitor of the conservation unit and diagnose the tourist attractions and infrastructure, together with the development of guidelines for community-based tourism and value of the regional aptitude for family farming. Preliminary data indicate potential for community tourism in the region and interest of the target audience in reference to these tourism products.

    KEYWORDS: Protect Area; Market Research; Community-based Ecotourism.

  • IntroduoIntroduoIntroduoIntroduo

    As aes relatadas neste artigo foram desenhadas em reunies, cursos e oficinas de turismo realizadas no mbito do Territrio da Serra do Brigadeiro TSB, onde se insere a Unidade de Conservao do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, gerenciada pelo Instituto Estadual de Florestas IEF, do estado de Mi-nas Gerais. A proposta de se desenvolver o turismo de base comunitria iniciou-se a partir de 2006, dentro do Programa de Turismo para este Territrio, financiado pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio - MDA, pois j se trabalha na regio uma articulao com a REDE TRAF Turismo Rural na Agricultura Familiar desde o ano de 2003.

    O turismo no espao rural um dos eixos temticos do Territrio, sendo dis-cutido desde a data de sua criao em 2003. Assim, o CEPEC desenvolveu o Pro-jeto Casa da Cultura em 2004, e Inventrio Cultural da Serra do Brigadeiro em 2007, com recursos do MDA. A EMATER desenvolveu o projeto Planos Munici-pais de Turismo no Territrio da Serra do Brigadeiro em 2004, atravs do aporte financeiro do MDA, at 2007.

    Com base nesse conjunto de projetos, o CEPEC e a Associao Amigos de Iracambi, que gerencia a Reserva Particular do Patrimnio Natural Iracambi e o Centro de Pesquisa Iracambi, membros do Conselho Gestor do Territrio apresen-tam o referido projeto de turismo de base comunitria, intitulado Boas Prticas pa-ra o Turismo Comunitrio. Neste, se pretende aplicar as estratgias da Rede de Turismo Rural da Agricultura Familiar TRAF e a metodologia Receitas para o Sucesso do Turismo de Base Comunitria TBC do Programa de Reduo da Pobreza pela Exportao PRPE, tendo como fonte a International Trade Centre UNCTAD/WTO 2004.

    . A rea de abrangncia do projeto envolver os municpios de Araponga, Rosrio de Limeira, Fervedouro, Miradouro, Divino, Sericita, Pedra Bonita, e Muri-a, estabelecendo as bases de trabalho localizadas estrategicamente na vertente oriental em Araponga e na vertente ocidental em Rosrio de Limeira. As institui-es envolvidas so: a Emater, o IEF, atravs da Unidade de Conservao do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, as Escolas Famlias Agrcolas, a Associa-o dos Municpios Integrantes do Circuito Turstico da Serra do Brigadeiro - A-BRIGA, os Sindicatos de Trabalhadores Rurais e as Associaes Comunitrias e os Grupos Organizados que j atuam em parceria com o CEPEC nas aes de cultura e turismo.

    Nesta regio, j existe certo fluxo de turistas nacionais e internacionais, a-trados pelo programa de voluntariado da Associao Amigos de Iracambi, que re-cebe uma mdia de 100 voluntrios por ano (2007), totalizando a visita de 36 pa-ses que se interessam pelo desenvolvimento da atividade turstica solidria e cien-tfica.

    Pg ina 359 Rev ista Bras i le ira de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro

    O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro conta com uma rea total de 14.984 hectares onde predomina a Mata Atlntica. Foi criado em 27 de junho de 1996, atra-vs do Decreto No 38.319, que no seu pargrafo nico previa: O Parque Estadual de que se trata o artigo tem por finalidade proteger a fauna e a flora regionais, as nas-centes de rios e crregos da regio, alm de criar condies ao desenvolvimento de pesquisas cientficas e ampliao do turismo ecolgico na regio.

    O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro abrange os municpios mineiros de Araponga, Fervedouro, Miradouro, Ervlia, Sericita, Muria, Divino e Pedra Bonita, e tem vrios Picos: o do Soares (1.985 metros de altitude), o Campestre (1.908 m), o do Grama (1.899 m) e o do Bon (1.870 m). So 13.210 hectares de matas nativas e uma paisagem dominada por montanhas, vales, chapadas e encostas e diversos cur-sos dgua que integram as bacias dos rios Paraba do Sul e Doce (IEF, 2002).

    O Plano de Manejo da Unidade de Conservao j foi elaborado estando em fase de execuo, com programas especficos de turismo rural e ecoturismo, com gesto participativa atravs do Conselho Participativo de Gesto do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, o que possibilita uma grande aprendizagem de gesto do tu-rismo de base comunitria. Comunidades da Serra do Brigadeiro

    Os municpios pertencentes a Serra do Brigadeiro, no entorno do Parque Esta-dual da Serra do Brigadeiro, so compostos por comunidades que detm sua cultura ainda bastante preservada e um ambiente de grande beleza cnica e relevncia ambi-ental. Pode ser observada a utilizao de alternativas centenrias na produo de ali-mentos e moradia, alm da regio manter seu calendrio de eventos, com inmeras festividades religiosas como festas juninas, cavalgadas, peregrinaes, folia de reis e o famoso forr do interior.

    Entretanto, as comunidades enfrentam problemas como o xodo rural, ocasio-nado pela sedutora vida urbana e pelo desmatamento ocasionado pela diminuio da produtividade e a infertilidade do solo, que aumenta o consumo de insumos inorgni-cos e demanda maiores reas para plantio. Estes fatores agravam questes sociais como o aumento do ndice de prostituio, consumo de entorpecentes, pobreza, do-enas por poluio entre outros.

    Em termos de produo agrcola, o caf se destaca como o principal produto do Territrio, ocupando a maior parte da rea plantada. Porm, o volume produzido no reflete o maior valor da produo, muito provavelmente em funo da baixa pro-dutividade e qualidade do caf. Municpios onde os agricultores vm buscando a pro-duo de cafs de qualidade tm obtido um maior valor da produo por hectare (VP/ha), como o caso de Araponga, que, embora tendo uma das menores reas planta-das com caf do territrio, conta com um bom ndice de VP/ha (MDA, 2003). Assim, o

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

    Pg ina 360 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

  • caf de Araponga detentor, por trs anos consecutivos, do prmio de melhor caf do Brasil, tornando-se um potencial produto turstico a ser explorado neste projeto.

    A Serra do Brigadeiro encontra-se ameaada, muito devido ao rpido avano de modelos desenvolvimentistas que suprimem as culturas tradicionais. Sendo assim, deve-se incentivar a implantao de atividades mais sustentveis que aproveitem dos potenciais locais para gerar uma melhor qualidade de vida no meio rural, resgatando, preservando e promovendo o ambiente natural.

    Desta forma, o turismo de base comunitria surge como uma ferramenta para impulsionar a prazerosa vida no campo e proporcionar aos visitantes potenciais uma maior conscincia e valorizao destes ambientes, patrimnios, pessoas e suas ca-ractersticas culturais.

    O Conceito de Territrio

    De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT, uma ques-to a ser pensada como se delimita o espao em que as relaes sociais, ambien-tais e culturais acontecem. No Brasil houve alguns estmulos para discusses relati-vas s caracterizaes destas reas geogrficas atendidas por uma poltica pblica federal, que se iniciou na dcada de 90, com o Programa Comunidade Solidria, onde o foco era o municpio. J a SDT no trabalha em espao politicamente definido por-que seu foco gente, o que condiz com decises que favorecem s alguns, mas sim um grupo que tenha coisas em comum. As fronteiras jurdicas e polticas no respei-tam estes princpios.

    Segundo MDA (2003), a Secretaria de Desenvolvimento Territorial definiu terri-trio como sendo o espao que afetivamente as pessoas se sentem vinculadas. O do-cumento pondera que difcil trabalhar com uma poltica pblica cuja definio to sentimental, mas reconhece que quando se vai a um territrio possvel se perceber as referncias e valores comuns das pessoas que ali vivem. Muitas coisas tm valor para as pessoas que vivem no local, mas no so reconhecidas pelo governo, como, por exemplo, festas, tradies, entre outras caractersticas culturais. Aspectos como esses definem a identidade de um territrio. O estmulo comum, despertado pelas pessoas que ali vivem, a dinmica capaz de impulsionar aes que condizem com o estmulo governamental. No entanto, na maior parte das vezes, um municpio no de-fine esse tipo de sentimento, mas se at apenas questo jurdica. O que torna ainda mais complexa a situao que em um mesmo municpio pode haver mais de um ter-ritrio, dificultando a proposio de polticas pblicas. J em outros casos, mesmo co-munidades distantes se sentem parte de um mesmo territrio.

    Segundo o MDA (2003) a Secretaria de Desenvolvimento Territorial enumerou vrios elementos para detectar territrios: o sentimento de pertencimento, o padro histrico produtivo, a manifestao tnica, as prticas religiosas e festas comuns, en-tre outros. Mas, o sentimento de pertencimento a um territrio o mais determinante

    Pg ina 361 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • que todos os demais, e portanto, deve ser o principal fator de polticas pblicas para a transformao. O documento afirma que devem ser dadas as condies para que o povo de um territrio efetive suas escolhas e assim se empodere.

    Na realizao do Plano de Desenvolvimento Territorial, foram trabalhadas as seguintes identidades territoriais:

    O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro;

    O cultivo do caf de montanha, ou caf de altitude de qualidade;

    A agroecologia ;

    A cultura (festas, religio, hbitos, crenas);

    A predominncia da agricultura familiar;

    O solo, o clima e relevo da regio;

    Os trabalhos de artesanato;

    O potencial para o ecoturismo e o turismo rural;

    A estrutura fundiria;

    A criminalidade ocorrida por conflitos fundirios em uma determinada poca, em especial nas comunidades do entorno do Parque que so mais isoladas;

    A falta de infra-estrutura;

    A religiosidade como aglutinadora;

    A herana cultural indgena dos povos Puris;

    A interao entre as comunidades do entorno do Parque;

    A luta unida das comunidades no processo de criao do Parque da Serra do Brigadeiro;

    A gua de boa qualidade e medicinal.

    Ressaltou-se que o limite do territrio no poltico, pois as comunidades do entorno do Parque tm grande identidade entre si.

    O Eixo Temtico do Turismo Rural

    Segundo o CTA-ZM (2005), no Plano de Desenvolvimento Territorial foram de-finidos vrios eixos temticos. Este documento traz os debates realizados e as defini-es tomadas em busca do desenvolvimento com sustentabilidade para a regio. Pa-ra tal, foram definidos como eixos estratgicos de ao nas as comunidades do entor-no do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: Preservao e Recuperao do Meio Ambiente, Turismo Rural, Agricultura Familiar Diversificada, Agroindstria Familiar e Artesanato e Cultura.

    No eixo Turismo Rural, pretende-se explorar o potencial turstico do Parque Es-tadual da Serra do Brigadeiro e do Territrio de maneira a promover a qualidade de vida das comunidades sem, no entanto, descaracteriz-las e/ou desrespeit-las. O

    Pg ina 362 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • benefcio deve ser para todos os municpios, permitindo e facilitando a circulao de recursos dentro do territrio com o intuito de gerar ocupaes rentveis aos morado-res, e visando o desenvolvimento econmico, social e ambiental do mesmo.

    So oito (08) as aes que esto sendo trabalhadas no Territrio:

    Ao1: Elaborao do Plano de Turismo Sustentvel do Territrio, que compreen-de a realizao de um inventrio sobre potencialidades e necessidades para o de-senvolvimento do turismo, a divulgao dos atrativos tursticos e o ordenamento do turismo.

    Ao2: Capacitao de moradores/as para o turismo, que um processo amplo de formao considerando o que acontece em cada local e as experincias de ca-da participante. Sero, assim, realizados cursos e intercmbios, alm da capacita-o de prefeitos e vereadores acerca do tema, que inclui a conscientizao e ca-pacitao da populao e a melhoria da segurana.

    Ao 3: Proporcionar para a populao informaes para se relacionar com os tu-ristas, como por exemplo, quem so, de onde vem, qual o interesse dos mesmos na regio, acesso a pontos tursticos.

    Ao 4: Busca de recursos para investir nas propriedades, com base nas fontes de apoio definidas pelo PRONAF e cooperativas de crdito, com os possveis exe-cutores sendo os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e associaes locais.

    Ao 5: Incentivar e promover a discusso do turismo adequado para cada muni-cpio.

    O grupo gestor do Territrio da Serra do Brigadeiro colocou os impactos que o tu-rismo pode causar nas comunidades se no houver preparao e adequao dos municpios e comunidades para trabalhar o turismo. Assim, o grupo levantou a ne-cessidade de uma nova ao com moradores, organizaes populares, poder p-blico e setores estratgicos como educao e sade, contando com o apoio do MDA, Ministrio do Turismo e IEF. O grupo levantou como possveis executores o CEPEC e outras organizaes locais e as prefeituras.

    Ao 6: Construo de Centros de Informaes Tursticas, que tm a finalidade de disseminar informaes tursticas e comercializao de produtos do territrio em cada municpio.

    Ao7: Incentivar eventos culturais envolvendo as comunidades. O grupo v a im-portncia dessa ao, entendendo a cultura popular tradicional como mais equili-brada e harmoniosa com a natureza. Os possveis executores so o CEPEC, as comunidades e as prefeituras. As fontes de apoio para a realizao dessa ao podem ser as organizaes locais e as Escolas Famlias Agrcolas. Estes eventos podero ser uma opo de lazer para os moradores e atrativos para turistas.

    Ao 8: Melhoria da Infra-Estrutura de estradas e sinalizao das mesmas, priori-zando a atividade turstica.

    Pg ina 363 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • O Que se Pretende Realizar

    Uma definio do Turismo Baseado na Comunidade - TBC apresentada pelo UNCTAD/WTO (2005, p.27) baseado no Encontro de Catmandu, no Nepal, que afirma o seguinte: Uma interao visitante/anfitrio, cuja participao significativa para am-bos e gera benefcios econmicos e de preservao para as comunidades e o meio ambiente local.

    Jain e Lama (2000) sugerem que o TBC pode tomar outras formas tais como a valorizao dos saberes e fazeres transformados em produtos tursticos, tendo como princpio os bens naturais e culturais da regio. Neste sentido o turismo de base co-munitria resulta no ganho de receitas para as comunidades anfitris, manter sua cul-tura e preservar seus recursos.

    Quadro 1 - Receitas para o Sucesso do Turismo de Base Comunitria TBC no Programa de Reduo da Pobreza pela Exportao - PRPE.

    Fonte: International Trade Centre UNCTAD/WTO, 2004.

    Os Sete Mdulos de Formao do TBC, conforme UNCTAD/WTO (2005, p.37), so:

    Comercializao do Turismo - ensina responsveis de acolhimento a sele-cionar operadores tursticos locais, postos de turismo, agncias de viagens. O mdulo pe em evidncia, estratgias de comercializao, marketing mix e promoo.

    Desenvolvimento de Produtos Artesanais - visa criao de associaes de fabricantes de artesanato. O mdulo trata do reforo das capacidades de produo e comercializao dos produtores artesanais.

    Desenvolvimento Agrcola - visa formar ou fortalecer associaes de produ-tores agrcolas. O mdulo pe em evidncia o reforo das capacidades de produo e comercializao dos produtores agrcolas.

    Pg ina 364 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • Gesto de Acolhimento dos Turistas - visa capacitar associaes para aloja-mento de turistas, restaurantes, estncias, e proprietrios de cafs. O objeti-vo reforar os servios competitivos de todas as empresas envolvidas.

    Atividades Culturais e Artsticas - visa permitir s comunidades, explorarem o seu patrimnio cultural nico e propor divertimento (danas, folclore, espet-culos etc..) de uma maneira profissional e rentvel.

    Prestao de Servios Especficos - refora as competncias e os conheci-mentos para uma melhor prestao de servios.

    Gesto Ambiental visa envolver todos os parceiros do TBC numa tentativa de adoo de uma abordagem holstica e vivel do desenvolvimento.

    O PRPE identificou o Turismo Baseado na Comunidade - TBC como um dos setores nos quais as comunidades podem participar na cadeia produtiva de atividades comerciais e servios relacionadas com o turismo.

    O largo espectro de turismo responsvel relativo s diversas alternativas (turismo ecolgico, turismo tnico ou turismo comunitrio, etc.), oferece ao Programa de Reduo da Pobreza uma gama variada de oportunidades de ajuda s comunida-des em pases em vias de desenvolvimento. Os projetos baseados no TBC podem, assim, contribuir para um aumento das capacidades nacionais, fornecendo uma op-o vivel para o desenvolvimento comercial e para o esprito empresarial regionais.

    O Programa de Reduo da Pobreza pela Exportao - PRPE (Export-Led Po-verty Reduction Programme EPRP), do International Trade Center - ITC (Centro de Comercio Internacional) um programa que aspira o aumento da capacidade empre-endedora de produtores e prestadores dos servios nas comunidades (UNCTAD/WTO, 2005). O objetivo final melhorar a vida das comunidades tradicionais desfavo-recidas e o aumento da qualidade e da quantidade da produo e dos servios ofere-cidos pelas comunidades locais, ao passo que responde s necessidades dos princi-pais mercados internacionais e nacionais.

    Com base nestas premissas, as Entidades do CEPEC e da Associao dos A-migos de Iracambi tomaram a iniciativa de se associar Unidade de Conservao para desenvolver uma proposta de turismo responsvel para o Territrio da Serra do Briga-deiro. De acordo com a realidade atual das iniciativas de turismo existente, mesmo ainda sem ser considerado como um destino de Turismo de Base Comunitria reco-nhecido pelo Ministrio do Turismo, a proposta planejar um gesto comprometida com este direcionamento.

    A constatao de que as prticas tursticas em pequenas comunidades e o in-cremento das atividades tursticas apoiado por polticas pblicas, no trouxeram os benefcios potenciais prometidos para as populaes locais, leva alguns autores (BURSZTYN; BARTHOLO; DELAMARO, 2009) a questionar tais prticas e as polti-cas pblicas que as sustentam como: a quem interessam? Quem so seus efetivos beneficirios? No haveria um modelo alternativo?

    Pg ina 365 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • Com o intuito de responder a questionamentos como estes, o CEPEC, como organizao no governamental, desenvolveu um modelo alternativo de turismo na cidade de Araponga/MG, situada na mesorregio Zona da Mata e microrregio de Vi-osa (Figura 1), com uma rea de 304,421km, uma populao de 8.029 habitantes, contendo um grande potencial turstico, uma rica biodiversidade e uma beleza cnica exuberante. No municpio se encontra instalada a sede administrativa do Parque Esta-dual da Serra do Brigadeiro PESB. O municpio ocupa 5.420 ha da rea total da Uni-dade de Conservao, correspondendo a 41,3% em relao UC e 17,85% em rela-o ao municpio (PROMATA e IEF, 2007).

    O PESB apresenta grande potencial ecoturstico nos quesitos de con-templao, fotografia, esportes radicais, turismo cientfico e educao ambiental, atividades previstas no Decreto Estadual N 21724 1981 de 23/11/1981, que regulamenta os Parques Estaduais instituindo como objetivo principal destas reas: preservao, estudos, pesquisas, tra-balhos de interesse cientfico e o oferecimento de condies para re-creao, turismo e atividades educativas e de conscientizao ecolgi-ca (BORGES, 2006, p.64)

    Figura 1 Mapa do municpio de Araponga/MG e suas divisas.

    Com este trabalho procurou-se levantar o interesse e as expectativas do turis-ta em relao regio, de forma a se ter melhor conhecimento da realidade para per-mitir aes descentralizadas, com o intuito de gerar estratgias que permitam elaborar roteiros tursticos com maior envolvimento da populao anfitri nesta atividade. Des-ta forma, o projeto Boas Prticas de Turismo Comunitrio, apoiado pelo Ministrio do Turismo, ser a mola propulsora de aes que buscar aproximar o consumidor final aos atrativos e produtos tursticos, com aes de gesto comunitria.

    Segundo Maldonado (2009) o patrimnio comunitrio formado por um conjun-to de valores e crenas, conhecimentos e prticas, tcnicas e habilidades, instrumen-tos e artefatos, lugares e representaes, terras e territrios, assim como todos os ti-pos de manifestaes tangveis e intangveis existentes em um povo. Com base nes-

    Pg ina 366 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • tas premissas, a regio do entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro consti-tuiu o territrio da Serra do Brigadeiro. Neste, expressam seu modo de vida e organi-zao social, sua identidade cultural e suas relaes com a natureza. Como conse-quncia destes valores, o turismo abre vastas perspectivas para a valorizao do a-cervo do patrimnio comunitrio. Maldonado (2009) tambm afirma que diversas ava-liaes tm mostrado que, graas ao turismo, as comunidades esto cada vez mais conscientes do potencial de seus bens patrimoniais, ou seja, do conjunto de recursos humanos, culturais e naturais, incluindo formas inovadoras de gesto de seus territ-rios.

    Rede TRAF - Ferramenta de Gesto

    No Brasil, a Rede de Turismo Rural na Agricultura Familiar REDE TRAF est presente em 24 estados com mais de 350 instituies atuantes que j participaram de alguma metodologia do Programa Nacional de Turismo Rural na Agricultura Familiar PNTRAF2. O Turismo Rural na Agricultura Familiar entendido como a atividade tu-rstica que ocorre na unidade de produo dos agricultores familiares que mantm as atividades econmicas tpicas da agricultura familiar, dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar seu modo de vida, o patrimnio cultural e natural, ofertando produtos e servios de qualidade e proporcionando bem estar aos envolvidos (BRASIL, 2004 p.08)

    O que pretendem o Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, o Ministrio do Tu-rismo e parceiros trabalhar de forma integrada, utilizando-se de toda atividade turs-tica no meio rural como fator de mobilizao proporcionando retorno financeiro e me-lhores condies de vida aos produtores e comunidades rurais (REDE TRAF, 2003).

    O Turismo Rural na Agricultura Familiar vem ocorrendo em determinadas regi-es e produto das iniciativas promovidas pelos agricultores com apoio de entidades ligadas Assistncia Tcnica e Extenso Rural e entidades da sociedade civil, em organizaes comunitrias, formais e informais, gerando novas formas de trabalhos e negcios diversificados (BRASIL, 2004).

    Segundo o Plano de Desenvolvimento Territorial do Territrio da Serra do Bri-gadeiro, foram definidos oito eixos temticos. Este documento traz os debates realiza-dos e a busca do desenvolvimento com sustentabilidade para a regio (CTA-ZM, 2004). No eixo Turismo Rural, pretende-se explorar o potencial turstico do Parque Es-tadual da Serra do Brigadeiro de maneira a promover a qualidade de vida das comuni-dades sem, no entanto, descaracteriz-las e/ou desrespeit-las. Os benefcios devem permitir e facilitar a circulao de recursos dentro do territrio com o intuito de gerar ocupaes rentveis aos moradores/as, visando o desenvolvimento econmico, social e ambiental.

    Conforme o CTA-ZM (2004), as aes que esto sendo trabalhadas no Territ-rio, so:

    Pg ina 367 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • Elaborao do Plano de Turismo Sustentvel do Territrio;

    Capacitao de moradores/as para o turismo;

    Caracterizao do perfil turstico da regio;

    Busca de recursos para investir nas propriedades;

    Promoo e discusso do turismo adequado para cada municpio;

    Construo de Centros de Informaes Tursticas;

    Incentivo a eventos culturais envolvimento das comunidades;

    Melhoria da infra-estrutura de estradas e sinalizao das mesmas.

    O conceito de economia solidria que se pretente instalar compreende uma diversidade de prticas econmicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associaes, clubes de troca, empresas, redes de cooperao, entre outras, que realizam atividades de produo de bens, prestao de servios, finanas solidrias, trocas, comrcio justo e consumo solidrio (MTE; SENAES, 2006). Esta tica solidria na economia vem se apresentando como uma ferramenta para esta nova categoria de turismo, possibilitando organizar, de forma inovadora, fontes alternativas de gerao de trabalho e renda.

    Com esta contextualizao, Irving (2009) nos diz que o turismo de base comu-nitria pode ser o encontro entre identidades, no sentido de compartilhamento e a-prendizagem mtua. Neste caso, seu planejamento deve considerar o compromisso tico, de respeito e engajamento de quem est e de quem vem e o intercmbio real entre os sujeitos que recebem e os que so recebidos e, destes, com o ambiente no qual interagem. Sem essa interao, a troca de valores no se efetiva e o espao da interao ganha contornos apenas circunstanciais. Assim, alm da expectativa do turista em relao ao local que visita existe a dos residentes do destino em relao visita. Na maioria das vezes, o turismo de base comunitria transcende s expectati-vas por haver uma cumplicidade entre visitantes e comunidade envolvida com a ativi-dade turstica, numa perspectiva de ganho mutuo.

    Turismo de Base Comunitria - Ferramenta de Comercializao

    O turismo de base comunitria conceituado pelo Ministrio do Turismo (2006), como um modelo de desenvolvimento turstico, orientado pelos princpios da economia solidria, associativismo, valorizao da cultura local, e, principalmente, protagonizado pelas comunidades locais, visando apropriao por parte dessas, dos benefcios advindos da atividade turstica. As caractersticas ambientais da Serra do Brigadeiro aliado ao perfil scio cultural do territrio nos indicam que o turismo de ba-se comunitrio com enfoque na agricultura familiar tem potencial para ser o direciona-mento da atividade turstica regional.

    Pg ina 368 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • Segundo a Rede Turismo Comunitrio3, as deficincias da oferta de turismo comu-nitrio podem assim ser caracterizadas:

    Oferta dispersa e fragmentada, carente de estruturas e mecanismos regula-res de cooperao interna para organiz-la e externa para potencializ-la. Apesar das vantagens das parcerias serem percebidas, os esforos empre-endidos ainda so incipientes e pouco sistemticos.

    Escassa diversificao dos produtos tursticos cujos componentes so base-ados exclusivamente em fatores naturais e herdados. Existe potencial e von-tade para empreender inovaes que superem o mimetismo predominante.

    Gesto profissional limitada, tanto operacional como gerencial dos negcios; as tendncias e o funcionamento da indstria do turismo so desconheci-dos. As aspiraes das comunidades de acesso a servios de informao e capacitao permanecem amplamente insatisfatrias.

    Qualidade heterognea dos servios, com predominncia de qualidade m-dia e baixa. A competncia aguda com outras empresas tende a resolver-se somente em curto prazo e atravs da baixa de preos.

    Posicionamento incerto e imagem pouco divulgada do turismo comunitrio em mercados e segmentos dinmicos: a promoo e comercializao so realizadas geralmente, por meios rudimentares, individuais e diretos.

    Deficincia dos mecanismos de informao, comunicao e organizao co-mercial: a fraca representao e capacidade para negociao com outros agentes da cadeia turstica no permite a tomada de decises estratgicas, alm do horizonte dirio.

    Participao marginal ou subordinada de mulheres e suas associaes na concepo e conduo de projetos tursticos e, consequentemente, na cap-tao de benefcios.

    Dficit notvel de servios pblicos: rodovias, eletricidade, gua potvel, sa-neamento ambiental e esgoto, comunicaes e sinalizao turstica. As co-munidades no so capazes de cobrir estes custos; isto responsabilidade dos governos locais ou nacionais.

    A demanda turstica explica, em uma de suas finalidades, o comportamento do consumidor, tendo em vista suas decises de compra de bens e servios que esto disposio no mercado turstico (BROWN, 2005). Sob o enfoque econmico, o consu-midor tem como objetivo primordial a obteno da mxima satisfao de seus gastos, atravs da escolha da melhor combinao possvel dos produtos tursticos. Sob outra tica, a demanda tambm avalia a oferta destes produtos, no momento em que os consumidores no praticam, no exercem, no atuam, no vivenciam a vida no ambi-ente em que foram produzidos tais produtos. Nestes casos, no se est praticando o

    Pg ina 369 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • turismo de base comunitria, pois no se est interagindo com a produo dos bens e servios nas regies de visitao.

    Para que esta interao seja alcanada da melhor forma possvel, a Rede TU-RISOL Turismo Solidrio4 identifica os seguintes princpios que devem ser trabalha-dos:

    1. A comunidade deve ser proprietria dos empreendimentos tursticos e ge-renciar coletivamente a atividade.

    2. A comunidade deve ser a principal beneficiria da atividade turstica, para o desenvolvimento e fortalecimento da Associao Comunitria.

    3. A principal atrao turstica o modo de vida da comunidade, ou seja, sua forma de organizao, os projetos sociais que faz parte, formas de mobiliza-o comunitria, tradio cultural e atividades econmicas.

    4. As atividades que fazem parte do cotidiano que o turista vai experimentar devem proporcionar intercmbio cultural e aprendizagem ao visitante.

    5. Os roteiros respeitam as normas de conservao da regio e procuram ge-rar o menor impacto possvel no meio ambiente.

    6. Comunidades e visitantes participam da distribuio justa dos recursos fi-nanceiros.

    7. Busca por envolvimento de diversos elos da cadeia do turismo no benefcio das comunidades, por meio da parceria social com agncias de turismo.

    As demandas percebidas pelos ecoturistas tm sido, de acordo com SWAR-BROOKE (2000), a autenticidade da arquitetura, no setor de auto-acomodao, com a converso de construes tradicionais em meios de hospedagem para turistas, como nas zonas rurais do sul da Frana. Esta constatao tambm pode ser observada no Brasil em diversas regies, quando se enfatizam os traos culturais caractersticos Que podem ser de interesse do visitante.

    O envolvimento das comunidades nas etapas da operacionalizao e organiza-o desta categoria de turismo permite encontrar as particularidades das regies que permitem atrair turistas motivados a vivenciar esta troca de saberes. O pertencimento a certas tradies pode, assim, ser um atrativo relevante para os roteiros tursticos.

    Segundo Maldonado (2009), existem empresas comunitrias como parte da economia social, que mobilizam recursos prprios e valorizam o patrimnio comum, com a finalidade de gerar ocupao e meios de vida para seus membros. Assim, a finalidade da empresa comunitria no lucro nem a apropriao individual dos bene-fcios que so gerados, e sim a sua distribuio equitativa, atravs do investimento em projetos de carter social ou podendo ser enriquecido ainda com produo de i-tens diversos.

    Pg ina 370 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • Ainda sobre turismo de base comunitria, Silva, Ramiro e Teixeira (2009) pro-pem que seja utilizado, de forma sinrgica, as potencialidades do atrativo ambiental para a melhoria dos resultados econmicos e da qualidade de vida local. Com a valo-rizao da cultura e a preservao do meio ambiente, pode-se evitar que o cresci-mento do turismo provoque uma concentrao desordenada do capital produtivo e so-cial, promovendo o acesso a bens e a servios pblicos. Alem disso, promove-se a integrao com outros setores, e se trabalha a economia de base local.

    Material e Mtodos

    Um questionrio foi elaborado e aplicado aos turistas durante o feriado do carnaval de 2009 em trs reas distintas do Parque Estadual da Serra do Brigadei-ro, a saber: na portaria oficial da Unidade de Conservao, na entrada para o Pico do Bon e na sede do municpio de Araponga. O numero de questionrios respon-didos por visitantes foi de 73.

    Uma entrevista tambm foi realizada no mesmo perodo de carnaval com os comerciantes da cidade de Araponga, em uma amostragem de 18 estabeleci-mentos.

    Aps a aplicao do questionrio e das entrevistas, os resultados foram tabulados, e em seguida feita uma analise descritiva de todos os dados. Os resul-tados da pesquisa retornaram comunidade no jornal informativo do CEPEC de circulao municipal.

    Resultados e Discusso

    Identificar o destino que se busca estabelecer para o turismo de base comu-nitria uma questo prioritria para a aproximao com o mercado consumidor. Neste sentido, o territrio da Serra do Brigadeiro em seu atual estgio de percep-o da atividade turstica, identifica particularidades que o credencia a este tipo de turismo. Depende de um pblico que se identifique, atravs da interao com a co-munidade anfitri, podendo ser o elo que aproxima o consumidor e o destino sob uma nova tica.

    Em relao hospedagem do turista no municpio, observa-se um grande interesse do visitante em acampar, representando 53% do total de pesquisados, o que comprova a preferncia do turista por lugares que tenham possibilidades de se ter um contato maior com a natureza, como mostra a Figura 2. Alm disso, as poucas opes de hospedagem no tm um sistema de divulgao como placas ou outros meios. Esta realidade dever ser mudada com as aes do projeto de boas prticas, quando se buscar dotar a regio de uma sinalizao dos empreen-dimentos da agricultura familiar com a atividade de turismo.

    Pg ina 371 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • Figura 2 Meios de hospedagem utilizados pelos turistas. Fevereiro/2009.

    A pouca diferena com relao idade dos turistas (Figura 3), pode facilitar a atividade dentre os que praticam a agricultura familiar, que tm o potencial de serem empreendedores dos meios de hospedagem. Uma vez que a maioria dos visitantes de adultos de at 35 anos, que, em geral, esto procura de novidades nas suas ex-perincias de viagens. Estes visitantes adultos podem encontrar aventuras em locais ainda bastante intocados em termos ambientais e culturais, como o territrio da Ser-ra do Brigadeiro. Esta informao ajuda a direcionar a formatao dos roteiros que sero implantados nesta etapa. Esta informao para o poder pblico permite ade-quar o calendrio de eventos e a programao voltada para estes jovens que, em sua maioria, so da Universidade Federal de Viosa.

    Figura 3 Idade dos visitantes. Fevereiro/2009.

    Dentre os atrativos tursticos que a cidade oferece, o Pico do Bon foi apontado por 16% como o lugar mais frequentado pelos turistas, seguido das Cachoeiras da Laje com 14% e a do Pio com 12%. Percebe-se que uma quantidade considervel de visitantes (19%) no responderam a esta questo (deixadas em branco), o que indica

    Pg ina 372 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • haver uma carncia de informao dos atrativos e de infra-estrutura turstica da regi-o. Na sede do PESB esto concentradas vrias trilhas interpretativas e o centro de visitantes, locais de infra-estrutura especficas de uso pblico da Unidade de Conser-vao. No entanto, com base nas respostas dos entrevistados, apenas 6 % visitaram estas reas. O que surpreende que o visitante que vai a cachoeira do Pio, de propri-edade de uma famlia de agricultores, passa obrigatoriamente pela sede do PESB, o que refora a necessidade de uma maior gesto com participao comunitria, como mostra a Figura 4.

    A Fazenda do Brigadeiro, o Cruzeiro e a Igreja so atrativos que se encontram no interior do PESB. A Pousada Vitarelli e o Vale da Lua so empreendimentos parti-culares e no caracterizam a agricultura familiar, sendo o ltimo onde se encontra um dos campings locais. O seu Dico, proprietrio da Pousada Remanso um agricultor familiar que tambm serve refeio e aluga quartos e tem o camping mais utilizado. J a Cachoeira do Pio de propriedade de um agricultor familiar, onde tambm se pode acampar, e conta com um pequeno bar e uma lanchonete.

    Os dados apresentados na Figura 4 demonstram que os atrativos mais valori-zados se encontram nas propriedades de particulares, sendo muitos que praticam a agricultura familiar, a grande maioria, precisam ser valorizados para deter de fato os benefcios da atividade. Portanto, a gesto da atividade precisa ser melhor trabalhada atravs de roteiros e capacitaes diversas para que se possa implantar o Projeto Bo-as Prticas.

    Figura 4 Lugares mais visitados pelos turistas no entorno do PESB. Fevereiro/2009.

    Quando questionados sobre a disposio em pagar por atividades, produtos e servios como especificados na Figura 5, foi constatado que 20% esto interessados em se hospedar na casa de agricultores familiares, maior interao e potencial de se ter uma experincia nica e de se conhecer melhor a regio. Uma pequena parcela, 3 % dos entrevistados, tem vontade de conhecer a regio com profissionais aptos, ou seja, guias conhecedores do municpio.

    Pg ina 373 Rev is ta Bras i le i ra de Ecotu ismo, So Pau lo v .3 , n .1 , 2010 Pg ina 373 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • Devido a faixa etria predominante, existe uma demanda por se praticar es-portes radicais, observado em 32% das respostas. A cavalgada, uma atividade nova e que tem conquistado vrios adeptos, foi mencionada por 9% dos entrevistados. Uma parcela considervel (24%) procuram as propriedades rurais para conhecer e tornar o passeio mais dinmico e agradvel, pois possibilita um contato maior com o povo lo-cal, vivenciando a lida do campo como tratos de animais e agroecologia, entre outros. O artesanato constou em 12% das entrevistas, pois h um desejo de consumir algo feito regionalmente. Este dado pode nortear aes futuras, pois a regio no apresen-ta muitos produtos, e esta uma prtica com potencial de agregar valores economia das famlias rurais. A realizao de um catlogo dos produtos e servios do turismo de base comunitria ser um dos resultados desta fase do Projeto Boas Prticas, de modo a facilitar a comercializao dos j existentes e fomentar sua diversificao.

    Figura 5 Atividades em que o turista tem disposio a pagar. Fevereiro/2009.

    Na Tabela 1, foram avaliadas as infra-estruturas bsicas e tursticas da regio do entorno do PESB. O atendimento e a alimentao so os pontos mais menciona-dos, o que poder trazer ganhos para a cidade de Araponga. Com relao ao acesso regio e aos atrativos foi detectado que este se encontra em pssimas condies, sendo esta responsabilidade dos gestores do turismo no municpio e dos governos locais, o que pode ser resultado de desarticulao dos tomadores de deciso.

    Percebe-se que os preos das visitas esto sendo trabalhado de forma coeren-te, sem abusos e contradies, segundo as respostas obtidas. O lixo ainda no pre-ocupante, mas se no houver o cuidado de se trabalhar esta questo, por parte dos gestores do turismo, poder se tornar um problema e atrapalhar a qualidade dos atra-tivos e consequentemente da regio.

    Pg ina 374 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • Tabela 1 Conceitos que descrevem as opinies dos turistas do PESB. Fevereiro/2009.

    Os resultados da Tabela 1 apresentam mdias, conforme a Figura 6. O concei-to bom obteve a melhor das mdias, com 37%, e o pssimo foi o que apresentou o menor ndice, com apenas 3%. As respostas em branco tiveram um resultado bem significante (17%), o que pode ser justificado pelo desconhecimento dos visitantes em relao aos patrimnios histricos e, tambm, pelo fato da maioria dos visitantes esta-rem acampados e optarem por prepararem sua prpria alimentao.

    Figura 6 Mdia dos conceitos que melhor descreve o entorno do PESB. Fevereiro/2009.

    As entrevistas realizadas com os comerciantes da sede do municpio de Ara-ponga permitiram reconhecer as categorias de negcios, como o perfil bsico estrutu-ral da capacidade empreendedora dos comerciantes face atividade de turismo.

    vlido destacar que a cidade de Araponga no apresenta tradio no carna-val. Assim, os turistas que se encontram na sede do municpio, em sua maioria, so parentes, convidados e amigos da populao residente. O fluxo turstico que a cidade recebe se distribui pela zona rural onde se hospeda. A minoria restante retorna para a

    Pg ina 375 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Avaliao Avaliao Avaliao Avaliao InfraInfraInfraInfra----estruturasestruturasestruturasestruturas timotimotimotimo BomBomBomBom RegularRegularRegularRegular RuimRuimRuimRuim PssimoPssimoPssimoPssimo Em BrancoEm BrancoEm BrancoEm Branco

    Acesso a regio 5% 18% 34% 25% 14% 4%

    Acesso aos atrativos 5% 41% 25% 16% 4% 8%

    Infra-estrutura da cidade 12% 36% 25% 7% 4% 16% Infra-estrutura dos atrativos 12% 42% 23% 10% 0% 12%

    Hospedagem 21% 36% 10% 5% 1% 27%

    Alimentao 25% 40% 10% 3% 0% 23%

    Patrimnio histrico 15% 26% 11% 0% 1% 47%

    Informaes recebidas 18% 45% 16% 5% 1% 14%

    Atendimento recebido 29% 48% 8% 3% 0% 12%

    Preo 11% 45% 19% 3% 0% 22%

    Opo de o que fazer 19% 36% 23% 7% 3% 12%

    Condio do lixo 16% 36% 27% 5% 5% 10% Sinalizao 12% 27% 21% 21% 11% 8%

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • sua cidade de origem, talvez por no haver tanta oferta de pousadas e alojamentos.

    Foram entrevistados todos os estabelecimentos comerciais da praa central, onde o carnaval aconteceu. Com relao aos tipos de negcios existentes, percebe-se insuficincia de empreendimentos de hospedagem e alimentao no municpio. Apesar da existncia do PESB j ter mais de 10 anos, ainda no despertou na sede do municpio esta possibilidade de negcio (Tabela 2). Um dos motivos pode ser a falta de um calendrio de eventos que estimule um fluxo de visitao. A cidade des-provida de um supermercado com itens relevantes para uma sociedade turstica. Sen-do assim, o turista chega ao municpio com os itens de consumo j adquiridos em ou-tras praas. Este fato inibe o mercado, pois por um lado o consumidor no busca os estabelecimentos existentes e, por outro, o fornecedor que adquire produtos capazes de atender as demandas do pblico visitante.

    Tabela 2 Caracterizao dos negcios na cidade de Araponga / MG. Fevereiro/2009.

    Considerando que ningum espera ter prejuzo em o seu negcio, podemos concluir pela Tabela 3 que, 66% (44+22) dos comerciantes tiveram lucro e 34% no se planejaram para um perodo de alta visitao, e por isso no obtiveram o lucro es-perado. A falta de planejamento pode ser justificado pela falta de conhecimento das necessidades do consumidor.

    Tabela 3 Caracterizao dos negcios na cidade Araponga / MG. Fevereiro/2009.

    Na caracterizao do perfil do empreendedor, percebe-se pela Tabela 4 que 67,5% (62 + 5,5) conseguiram satisfazer as necessidades dos clientes, o que pode ser melhorada. Estes dados reafirmam algumas informaes j comentadas que so

    Pg ina 376 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    TIPO DE NEGCIOTIPO DE NEGCIOTIPO DE NEGCIOTIPO DE NEGCIO

    QUANTIDADEQUANTIDADEQUANTIDADEQUANTIDADE

    %%%%

    Mercearia 2 12

    Loja de roupas 2 12

    Padaria 2 12

    Restaurante 1 05

    Penso 1 05

    Bar 4 22

    Lan house 1 05

    Mercado 2 12

    Posto de gasolina 1 05

    Agricultor que recebe turista 1 05

    Pousada 1 05

    TOTALTOTALTOTALTOTAL 18181818 100100100100

    Seu negcio no carnaval foiSeu negcio no carnaval foiSeu negcio no carnaval foiSeu negcio no carnaval foi QuantidadeQuantidadeQuantidadeQuantidade %%%%

    acima do esperado 4 22

    abaixo do esperado 6 34

    igual ao esperado 8 44

    TotalTotalTotalTotal 18181818 100100100100

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • a falta de calendrio de eventos para estimular o fluxo de turistas na sede do munic-pio, o desconhecimento do perfil do consumidor turista, o pouco entendimento da ati-vidade turstica, a capacidade limitada de gerenciamento, entre outras que caracteri-zam o perfil do empreendedor de uma pequena cidade interiorana do estado de Minas Gerais.

    Tabela 4 Caracterizao dos negcios na cidade de Araponga / MG. Fevereiro/2009.

    Conforme a Tabela 5, percebe-se que a atividade turstica muito nova na cidade, pois os resultados mostram que os comerciantes esto despreparados pa-ra trabalh-la. Conforme mostra a pesquisa, 51% pretendem aumentar os estoques, o que os favorecer se tiverem mais mercadorias/produtos. Estabelecer mecanismos de orientao gerencial para esta classe pode aumentar o fluxo de receitas no munic-pio, pois o aumento de consumo poder ser praticado tambm pelos moradores da cidade.

    Tabela 5 Caracterizao dos negcios na cidade de Araponga / MG. Fevereiro/2009.

    Existe a necessidade de se buscar maior harmonizao da demanda e da ofer-ta. Neste momento os bens e os servios necessitados pelos turistas tm de ser ad-quiridos fora da comunidade local pelos empreendedores, o que ocorre quando a co-munidade local no capaz de fornecer um produto ou servio pedido ou incapaz de fornec-lo em termos competitivos. Saber quais so os produtos e os servios ex-ternos das comunidades locais pode resultar na identificao de oportunidades para estas comunidades e, ao mesmo tempo, fortalecer a unio dos atores lideres do pro-cesso. Neste sentido, existe a necessidade de um constante monitoramento dos ser-vios com o intuito de aproxim-los da demanda e assim satisfaz-la.

    Uma das melhores maneiras de aumentar os benefcios provenientes do turis-mo reverter para a economia local a demanda dos turistas, ou seja, aproximar o consumidor de servios do turismo com os empreendimentos de hospedagem, ali-

    Pg ina 377 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Voc conseguiu atender aos pedidos dos clientes?Voc conseguiu atender aos pedidos dos clientes?Voc conseguiu atender aos pedidos dos clientes?Voc conseguiu atender aos pedidos dos clientes? QuantidadeQuantidadeQuantidadeQuantidade %%%%

    todos os pedidos 11 62

    menos da metade dos pedidos 1 5,5

    no atendi porqu no tinha a mercadoria pedida 2 11

    a metade dos pedidos 3 17

    no atendi mais porqu faltou mercadoria 0 0

    atendeu mais da metade dos pedidos 1 5.5

    TotalTotalTotalTotal 18181818 100100100100

    O que pretende fazer para melhorar o seu negcio?O que pretende fazer para melhorar o seu negcio?O que pretende fazer para melhorar o seu negcio?O que pretende fazer para melhorar o seu negcio? QuantidadeQuantidadeQuantidadeQuantidade %%%%

    investir mais tempo com trabalho para o turismo 2 10

    aumentar meu estoque 9 51

    aumentar minhas opes de negcio. 5 28

    melhorar em tudo 1 5,5

    divulgar o negocio 1 5,5

    TotalTotalTotalTotal 18181818 100100100100

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • mentao, operadores e empresas de transportes entre outros, com a comunidade anfitri. Esta relao desperta nas comunidades anfitris as possibilidades de comr-cio atravs da atividade turstica, possibilitando benefcios econmicos locais e, con-sequentemente, a reduo de bens e servios fornecidos por agentes externos co-munidade.

    Concluso

    O PESB hoje, para a regio da Zona da Mata de Minas Gerais, uma rea indispensvel para o desenvolvimento sustentvel, onde se deve considerar a inclu-so social como sue mola propulsora. Assim, a atividade turstica que vem se buscan-do para a regio deve ocupar um papel de destaque, pois sua funo como geradora de renda tem um potencial de ser benfico a todos, se bem gerenciado.

    No entanto, o que esta pesquisa demonstrou que a cidade de Araponga, a-presenta caractersticas relevantes, como:

    A mais prxima da referida Unidade de Conservao com condies reais de aumento de fluxo turstico devido presena da portaria do PESB;

    A maior rea no interior do PESB, o que implica em uma somatria de re-cursos financeiros advindos do ICMS Ecolgico, disponvel para investi-mentos na rea do turismo ambiental;

    A que recebe maiores investimentos do rgo pblico estadual respons-vel pela administrao do PESB, o Instituto Estadual de Florestas;

    A existncia de empreendedores de base local, caracterizados pela agri-cultura familiar com produtos associados ao turismo;

    A presena de empreendedores predispostos a investir no setor de turis-mo;

    A interao da cidade com trabalhos diversos da Universidade Federal de Viosa e de ONGs externas ao municpio, que a divulgam como modelo de conservao ambiental para o Brasil, estimulando um fluxo de turistas constantes.

    O conhecimento dos impactos positivos ambientais, sociais e financeiros que a atividade turstica pode proporcionar, deve ser conduzido de forma adequada. Neste sentido, iniciativas de ordenamento do turismo de base local precisam ser discutidas em toda a esfera da sociedade buscando apresentar os benefcios da atividade com propostas de gesto dentre as comunidades envolvidas com o processo turstico lo-cal. Por outro lado, a regio caracterizada pela cidade de Araponga tambm reflete alguns pontos negativos que podem ser comuns a outras regies do Brasil, como:

    Descomprometimento da gesto de empreendimentos de base local, devido a inexistncia de um planejamento para uma poltica pblica de turismo;

    Pg ina 378 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • Pouca diversidade de produtos tursticos sendo disponibilizados ao consu-midor, devido a limitada capacidade gerencial dos empreendedores de turis-mo de base local;

    Infraestrutura bsica e turstica deficiente nos stios tursticos, por causa da m utilizao dos recursos financeiros sem definio de prioridades de in-vestimento.

    Como consequncia, parece haver uma viso destorcida e limitada sobre a atividade turstica de base local em todo o mercado. Os impactos negativos so per-cebidos no s pela comunidade local, que deixa de maximizar sua participao no fortalecimento deste turismo, como pelos visitantes, que acabam experimentando u-ma viagem aqum das suas expectativas e necessidades, e acabam no vivenciando os valores culturais, os produtos rurais e ambientais de uma regio peculiar pautada na agricultura familiar.

    No entanto, a fora do turismo de base comunitria, mesmo com um planeja-mento incipiente e infra-estrutura inadequada para atender a esse fluxo turstico cres-cente, tem despertado uma nova forma de renda para o povo local com a concretiza-o de vrios meios de hospedagem domiciliar geridas pelas famlias agricultoras, prtica que vem sendo denominado de hospedagem de montanha. Torna-se necess-rio, assim, a integrao de entidades pblicas e privadas na rea de turismo, de modo a que apiem a iniciativa. importante promover este tipo de turismo que visa melho-rias sociais e proteo ambiental antes que empresrios sem esta viso venham a re-alizar atividades que apenas visem o lucro, no s no territrio da Serra do Brigadeiro como em outros destinos que ainda tm riquezas socioambientais a serem comparti-lhadas com visitantes e residentes locais.

    Sendo assim, o projeto de turismo de base comunitria, que est sendo im-plantado deve se preocupar em atender parmetros sustentveis de uso do entorno do PESB, assim como formatar roteiros de acordo com os princpios da REDE TRAF e da REDE TURISOL Turismo Solidrio permitindo a agregao de valor e renda agricultura familiar. O projeto boas prticas deve, portanto, buscar estabelecer canais de visibilidade do que um turismo responsvel, justo e sustentvel, de modo a inspi-rar outros a desenvolverem atividades que podem beneficiar a natureza e a coletivida-de.

    Referncias Bibliogrficas

    BURSZTYN, I.; BARTHOLO, R.; DELAMARO, M.. Turismo para quem? Sobre caminhos de desenvolvimento e alternativas para o turismo no Brasil. In: BARTHOLO, R.; SANSO-LO, D.G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitria diversidade de olhares e ex-perincias brasileiras. Rio de Janeiro: Editora Letra e imagem, 2009, parte I, p.76 - 91.

    BORGES, J. Relatrio do diagnstico de Uso Pblico do PESB. Rio de Janeiro: IEF. 2006. 77p.

    BROWN, L. Competitive Marketing Strategy. 2 edio. South Melbourne: Thomas Nelson. 2005. 135p.

    Pg ina 379 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • BRASIL. Ministrio do Turismo. Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil. Braslia, MTur, 2004. 56p.

    CTA-ZM. Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentvel PTDRS Serra do Briga-deiro. Braslia: MDA. 2005. 81p.

    INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS. Parque Estadual da Serra do Brigadeiro - Plano de Manejo / Etapa I. 2002 (verso incompleta).

    IRVING, M.A.. Reinventando a reflexo sobre turismo de base comunitria inovar pos-svel? In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D.G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunit-ria diversidade de olhares e experincias brasileiras. Rio de Janeiro: Editora Letra e imagem, 2009, parte I, p.108 - 121.

    JAIN, N. LAMA, W. Community-based Tourism For Conservation And Development: A Resource Kit. Washington: The Mountain Institute. 125p. 2000.

    MALDONADO, C. O turismo rural comunitrio na Amrica Latina: gnesis, caractersticas e polticas. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D.G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Co-munitria diversidade de olhares e experincias brasileiras. Rio de Janeiro: Editora Letra e imagem, 2009, parte I, p.25 - 44.

    MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRRIO. Referncias para o Desenvolvi-mento Territorial Sustentvel. Srie Textos para Discusso. No. 04. Braslia: MDA 2003. 35 p.

    MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRRIO. Programa de Desenvolvimento Territorial Sustentvel: Territrio da Serra do Brigadeiro. Braslia: MDA/SDT. 2003. 35p. (mimeo).

    MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Secretaria Nacional de Economia Solidria SENAES. Atlas da Economia Solidria no Brasil. Braslia: MTE 2006. 61p.

    MCKERCHER, B.. Turismo de Natureza Planejamento e Sustentabilidade. So Pau-lo: Contexto. 2002. 303p.

    PROMATA; IEF. Plano de Manejo da Serra do Brigadeiro - Resumo Executivo. Belo Horizonte. Outubro, 2007. 15 p.

    REDE TRAF. Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural na Agricultura Fa-miliar. Belo Horizonte: Rede TRAF, MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio. 2003. 23p.

    SILVA, T.P.K.; RAMIRO, R.C.; TEIXEIRA, B.S. Fomento ao Turismo de Base Comunit-ria: a experincia do Ministrio do Turismo. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D.G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitria diversidade de olhares e experincias brasileiras. Rio de Janeiro: Editora Letra e imagem, 2009, parte I, p.361-368.

    SWARBROOKE, J. Turismo sustentvel: turismo cultural, ecoturismo e tica. Volume 5. So Paulo: Ed. Aleph, 2000. 135p.

    UNCTAD/WTO. Mdulo de Treinamento para o Sucesso do Turismo Baseado na Co-munidade - TBC no mbito do PRPE Programa de Reduo da pobreza atravs da Exportao. Internacional Trade Center - ITC. 96p. 2005.

    Pg ina 380 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Moraes, W.V.; Ribeiro, G.A.; Dornelas, V.F.; Cardoso, R.M.; Araponga, I.F.

  • NOTAS: 1 O presente trabalho teve a colaborao dos estagirios Renato e Ivanete do CEPEC e do tcnico da Associao Amigos de Iracambi. O mesmo trabalho se insere no projeto Boas Pr-ticas de Turismo Comunitrio da Serra do Brigadeiro com apoio financeiro do Ministrio do Turismo, sendo objeto de tese de doutorado do Departamento de Engenharia Florestal da U-niversidade federal de Viosa. 2 PNTRAF Programa Nacional de Turismo Rural na Agricultura Familiar http://www.mda.gov.br/saf/arquivos/0708519756.pdf , acessado em maio de 2009. 3 Rede de Turismo Comunitrio http://www.redturs.org/nuevaes/articulo.php , acessado em maio de 2009. 4 Rede TURISOL Turismo Solidrio - http://turisol.wordpress.com/conceitos/ , acessado em maio de 2009.

    Werter Valentim Moraes: Universidade Federal de Viosa. Email: [email protected] Link para o currculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9223383660522009

    Guido Assuno Ribeiro: Universidade Federal de Viosa. Email: [email protected] Link para o currculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9849187635825179

    Virgilio Furtado Dornelas: Associao Amigos de Iracambi. Email: [email protected]

    Renato Miranda Cardoso: CEPEC - Centro de Pesquisa e Promoo Cultural. Email: [email protected]

    Ivanete Freitas Araponga: Centro de Pesquisa e Promoo Cultural. Email: [email protected]

    Data de submisso: 19 de novembro 2009.

    Data do aceite: 23 de maio de 2010.

    Pg ina 381 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    Perfil dos turistas do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: subsdios para o turismo comunitrio.

  • Ecoturismo, cultura e comunidades: reflexes sobre o entorno da RPPN Santurio do Caraa (MG)

    Marina Ramos Plastino, Denise de Castro Pereira,

    Marlete da Glria Martins Maia, Danielle Alves Lopes

    Plastino, M.R.; Pereira, D.C.; Maia, M.G.M.; Lopes, D.A. Ecoturismo, cultura e comunidades: refle-xes sobre o entorno da RPPN Santurio do Caraa (MG). Revista Brasileira de Ecoturismo, So Paulo, v.3, n.3, 2010, pp.382-407.

    Pg ina 382 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010

    RESUMO

    O objetivo deste artigo refletir sobre perspectivas para o desenvolvimento local por meio de iniciativas de preservao cultural associadas ao ecoturismo em quatro co-munidades do entorno da RPPN Santurio do Caraa (MG). Essa regio marcada por reas protegidas pressionadas pelo adensamento urbano e por intensivas ativida-des de minerao, o que expe tais comunidades a uma gama de problemas socio-ambientais. A pesquisa realizada por meio do diagnstico rpido participativo (DRP) demonstrou que as comunidades identificam, mas nem sempre valorizam suas tradi-es, seu modo de vida tipicamente rural, o manejo dos recursos naturais, os rituais religiosos, a beleza paisagstica e os stios histricos locais como atrativos tursticos. Essa descoberta induziu a proposio de aes em rede social para promover discus-ses sobre as potencialidades locais, considerando o planejamento turstico participa-tivo como estratgia para construir solues comunitrias.

    PALAVRAS-CHAVE: Ecoturismo; Comunidades; Rede Socioambiental.

    Ecotourism, culture and communities: reflections about Caraa Sanctuary PRNP surrounding, MG, Brazil

    ABSTRACT The aim of this paper is to discuss prospects for local development through cultural preservation initiatives related to ecotourism in four communities surrounding the Caraa Sanctuary PRNP (MG, Brazil). This region is marked by protected areas compressed by urban densification and intensive mining activity, which expose these communities to a range of socio-environmental problems. The research conducted through participatory rapid appraisals (PRA) showed that communities identify, but not always value their traditions, their typically rural way of life, the management of natural resources, religious rituals, the natural beauty and local historic sites as tourist attractions. This discovery led to actions being proposed in the social net to promote discussions on potential sites, considering the participatory tourism planning as a strategy to build community solutions.

    KEYWORDS: Ecotourism; Communities; Socio-environmental Net.

  • Introduo

    Em determinados contextos sociais, o desenvolvimento de base local se torna ameaado pela economia predominante na regio. As regies intensivas em ativida-des mineradoras e industriais, assim como os grandes centros urbanos, so aponta-das como clssicos exemplos de tais ameaas. Paradoxalmente, em ambientes de minerao destacam-se prticas de proteo e conservao ambiental, em especial, por meio de reservas particulares de patrimnio natural, as RPPNs, institudas por for-a da lei, como medida de compensao por danos ambientais.

    Em Minas Gerais, no contexto do Quadriltero Ferrfero e da Regio Metropoli-tana de Belo Horizonte, encontra-se a rea de Proteo Ambiental Sul (APA SUL RM-BH), composta por mais de duas dezenas de unidades de conservao. Sua localiza-o a caracteriza como uma regio intensiva em minerao e metalurgia. Conforme diversas fontes de pesquisas, institucionais e cientficas, a complexidade dos mlti-plos usos dos recursos ambientais, neste territrio, colocam a preservao cultural das comunidades urbanas e periurbanas que nele se localizam em situao de vulne-rabilidade. Ao mesmo tempo, a conservao ambiental e, com ela, o ecoturismo se tornam pressionados na medida em que se configuram diferentes formas de uso do solo, seja para empreendimentos imobilirios e industriais ou, especificamente, para a extrao mineral.

    O reconhecimento de traos de situaes de ameaas e vulnerabilidade socio-ambiental, as reas de degradao ambiental e a exausto de recursos naturais colo-cam em evidncia movimentos sociais e estatais a favor da preservao ambiental e da sustentao de unidades de conservao. No seio de tais iniciativas, recolocam-se as questes associadas s estratgias de desenvolvimento social e econmico e o enfretamento das polmicas entre atores e interesses distintos. No caso da APA SUL RMBH, as comunidades locais sofrem diretamente os impactos dos avanos da eco-nomia mundial e vivenciam a intensificao das atividades minerrias consideradas prioritrias como motoras do desenvolvimento do estado. Essas afirmaes derivam-se, entre outras fontes, dos esforos de pesquisa e extenso universitria, realizados por ocasio da implementao do projeto estruturante da Rede Socioambiental APA SUL RMBH, considerada o primeiro nodo de uma Rede de Pesquisa e Extenso So-cioambiental em Regies Mnero-metalrgicas.

    A partir de debates sobre perspectivas do desenvolvimento local e alternativas socioeconmicas para comunidades no entorno de unidades de conservao ambien-tal e, ao mesmo tempo, de empreendimentos mineradores, configura-se como campo de interesse, neste artigo, a conexo entre o ecoturismo e a preservao cultural co-mo meio para qualificar e recuperar valores da vida cotidiana.

    As quatro comunidades e a regio objeto de estudo neste trabalho situam-se no entorno da Reserva Particular de Patrimnio Natural Santurio do Caraa, localiza-da em territrios dos municpios de Catas Altas e Santa Brbara (MG). Essas localida-des encontram-se entremeadas a empreendimentos mineradores de ferro e ouro, de

    Ecoturismo, cultura e comunidades: reflexes sobre o entorno da RPPN Santurio do Caraa (MG).

    Pg ina 383 Revista Bras i le i ra de Ecotur i smo, So Pau lo v .3 , n .3 , 2010