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Opinias UMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA INGLESES EM SÃO PAULO Eles começaram a chegar por volta de 1808 e nos deixaram grandes realizações VINHOS Saiba qual é a temperatura certa VANUATU O lugar mais feliz da Terra PUCCINI Um pouco da vida e obra Ano I - nº. 2 Julho - 2014

Revista Opinias n 02 - julho de 2014

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OpiniasUMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA

INGLESES EM SÃO PAULOEles começaram a chegar por volta de 1808 e nos deixaram grandes realizações

VINHOSSaiba qual é atemperatura certa

VANUATUO lugar maisfeliz da Terra

PUCCINIUm pouco davida e obra

Ano I - nº. 2Julho - 2014

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Opinias - Julho 2014

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Editorial Sumário

Expediente

Ciência e tecnologia servem a toda a humanidade,pois o progresso impele o desenvolvimento da sociedadecomo um todo. É assombrosa a velocidade com que osavanços tecnológicos vão ocupando todos os setores doconhecimento e, por consequência, do cotidiano. Claro queo desenvolvimento traz também consigo o lado negativo, namedida em que as inovações são mal utilizadas ou apresentam“efeitos colaterais” indesejáveis ou até mesmo imprevisíveis.Daí que alguns paradoxos se apresentam como grandedesafio ao ser humano. Se por um lado a modernidade lhedá perspectivas de maior longevidade e qualidade de vida,por outro o faz buscar soluções como o que fazer com umvolume cada vez maior de lixo advindo da necessidade dedescarte de produtos que vão ficando ultrapassados.

Nesta edição de OPINIAS não trataremosnecessariamente desse tema em nenhum dos artigosapresentados. Contudo, há que se pensar no assunto quandose constata, por exemplo, o sucateamento, em tão curtoespaço de tempo, do sistema ferroviário incrementado pelosingleses em São Paulo. O artigo dá uma boa mostra tambémda contribuição que o homem pode e deve dar ao seu meioambiente.

De modo geral, o convite que fica implícito na maioriados artigos desta edição é o de aproveitar o mundo da melhormaneira possível. Seja visitando lugares, seja apreciandobons vinhos. E enquanto isso refletindo sobre o dia a diaprático, avaliando questões de comportamento, externandoemoções e vivências. Enfim, tirando da vida e do mundo omelhor proveito possível e, acima de tudo, exercitando nossomaior tesouro, o pensamento. É ele a mola que impulsionao avanço tecnológico e certamente o que possibilita queesta fantástica viagem da vida seja cada dia mais incrível.

OPINIAS - ANO I - nº. 2 - Julho 2014 - Publicação virtual mensal da Rumo Editorial Produções e Edições Ltda. * Diretores: MarcosGimenes Salun, Luciana Gomes Gimenes e Naira Gomes Gimenes * Editor e Jornalista Responsável:: Marcos Gimenes Salun (MTb20.405-SP) * Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). *Redação e Correspondência: Av. Prof. Sylla Mattos, 652 - cj.12 - JardimSanta Cruz - São Paulo - SP - CEP 04182-010 E-mail: [email protected] - Tels.: (11) 2331-1351 Celular (11) 99182-4815. BLOG: http://opinias2014.blogspot.com.br/ * Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão (SP), Walter Whitton Harris (SP), LucianaGomes Gimenes (SP), Naira Gomes Gimenes (Australia), Gustavo Barbosa Rossato (SP), Carlos Eduardo de Oliveira (SP), Raquel Zarpellon(RS), Valquiria Gesqui Malagoli (SP), Angela Bretas (EUA), Luiz Gondim de Araujo Lins (RJ), Roberto Caetano Miraglia (SP) e FernandaGuimarães (CE).Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores a quem pertencem todos os direitos autorais. PERMITIDA a reprodução dosartigos desde que citada a fonte e mencionada a autoria.

MARCOS GIMENES SALUNJornalistaSão Paulo - [email protected]

VIAGEM INCRÍVEL

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Na Gimenes

Vanuatu

04Ingleses em SPDe descendência inglesa, o médicoWalter Whitton Harris narra o dote queseus patrícios legaram a São Paulo.

17Recorrências recorrentesValquíria Gesqui Malagoli

18 Encomendas

Angela Bretas entrevistou váriaspessoas para saber o que lhesencomendaram quando em viagemdos EUA para o Brasil.

23 Condomínio edilícioRoberto Caetano Miraglia

20 Giacomo Puccini

Luiz Gondin de Araujo Lins narraaspectos da vida e obra dessegrande compositor.

12 Cachalote

Gustavo BarbosaRossato

16 Xangri-Lá

RaquelZarpellon

14 Temperatura

Carlos Eduardode Oliveira

09 Navegando

Luciana GomesGimenes

24 A voz das mãosFernanda Guimarães

03 ViolênciaO psiquiatra Carlos AugustoGalvão fala sobre esse mal quenos aflige desde os primórdios.

Participe!Envie seu artigo ou comentários eembarque nesta aventura:[email protected]

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ViolênciaPorCARLOS AUGUSTO GALVÃOPsiquiatraSão Paulo - [email protected]

Quando se fala em violência, vem sempre a ideiado sofrimento físico que ela gera, do mais fraco sendosubjugado pelo mais forte, mas nem sempre a violênciaé física. Hoje é muito difícil definirmos esta palavra,embora ela faça parte de nosso dia a dia. Nos primórdiosda humanidade, o homem, que só sobreviveu até hojepor ser um animal social, tinha como meta chefiargrupamentos e, para isso, ser o mais forte, e assim impor-se na chefia desse grupo, promovendo sofrimento físicoaos que se indispusessem contra essa liderança; mas opróprio desenvolvimento social promoveu leis, que foramas maiores invenções para a harmonia dos cidadãos,ficando assim a violência ligada aos castigos para quemse rebelasse ou desobedecesse essas leis.

Asprimeiras que aparecem na história são: oCódigo de Hamurabi (olho por olho, dente por dente) ea tábua judaica dos 10 mandamentos. Todos os animaispraticam violência com seus iguais, geralmente emdisputas sexuais (briga de machos para ver quem concebea fêmea), ou disputa por alimentos, principalmente, emépocas de escassez. No ser humano também se observaesses tipos de disputa, mas seus cérebros trazem funçõesque estimulam a violência por outros motivos, porexemplo: a passionalidade, a ambição e a revolta. Essas“fraquezas” humanas distorcem o sentido que temos deviolência, pois a partir daí podemos observar outros tiposde agressões, não físicas, mas que podem serclassificadas de violência.

Há pouco, observamos na televisão um grupo devândalos que destruiu uma concessionária de carros deluxo, e em poucos minutos causaram um prejuízo demilhões de reais; violência, mas sem nenhuma lesãoorgânica em quem quer que seja, mas nem por isso deixade ser uma grande violência, pois alguém foi lesionadoem seus bens. Pura rebeldia.

Um corrupto que, por exemplo, rouba a merendaescolar das crianças, não está espancando-as, mas nãodeixa de ser uma imensa violência, pois seu ato lesionououtros seres humanos. Ambição desmedida. Um maridotraído que mata sua mulher e o amante clandestino dela,também pratica a violência que tem a passionalidade porgênese.

A violência acompanha o homem em seudesenvolvimento na crosta terrestre. Hoje sabemos quehá dezenas de milênios coexistiram duas espécieshumanas: o Homo sapiens, originário da Africa, que aose expandir pela Europa, lá encontrou a outra espécie: oHomo neandertalis. Conforme avançava o Homo

sapiens, os neandertalis iam desaparecendo, sendo queseus mais recentes fósseis foram encontrados no “fim”da Europa, a península Ibérica. Estudos recentesmostram que durante o avanço do Homo sapiens, elefoi interagindo com os neandertalis, pois a genética dohomem moderno inclui um considerável percentual dogenoma neandertalis.

Não dá para se pensar numa interação românticadas espécies, e a imagem que mais se aproxima é oícone da idade da pedra, o Homo sapiens arrastandopelos cabelos, em direção à sua caverna, um exemplarfeminino Neandertal.

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Augusto Comte, em seu ensaio sobre a teoria das funções

cerebrais, diz que o cérebro humano possui funções

altruísticas (que regem a relação do indivíduo com seu meio,

favorecendo este meio) e funções egoísticas (que regem a

relação do indivíduo com o meio, mas favorecendo a si

próprio). Há equilíbrio entre essas funções, desde que sejam

desenvolvidas em ordem (família, escola, amparo social)

promovendo, assim, o progresso da sociedade onde vive. O

desequilíbrio entre esses dois grupos de funções é de se

imaginar que seja a principal causa de reações violentas no

ser humano.

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OsINGLESESem São Paulo

PorWALTER WHITTON HARRISMédico e escritorSão Paulo - [email protected]

Sem dúvida, a maior contribuição dos ingleses no Estado de São Paulo foi durante a

construção de estradas de ferro, ligando a capital ao interior e, principalmente, o interior

ao litoral. Muitos bairros da cidade de São Paulo originaram-se pela existência das ferrovias,

haja vista a Luz, Lapa e o Jardim Paulista, este último para os mais abastados. A

comunidade era formada por quase dez mil pessoas, com o registro do primeiro inglês em

São Paulo em 1808. Atualmente, não supera duas mil.

A cafeicultura foi a motivação principal para que SãoPaulo se tornasse um importante exportador de café,atingindo seu auge na economia de São Paulo durante aRepública Velha. Após a crise de 1929, gradativamenteadquiriu uma posição secundária graças à instalação dasindústrias. Mesmo assim, o Brasil permaneceu o maiorprodutor mundial de café.

A expansão da produção de café, nos meados doséculo XIX, atraiu o investimento dos britânicos emferrovias, para facilitar o escoamento das fazendassituadas no interior do Estado para o litoral (Porto deSantos). Em 1868, foi desenvolvido o transporteferroviário São Paulo-Santos, que foi a primeira efundamental conquista da escarpa costeira paulista, a qualhavia dificultado o desenvolvimento do planalto daquelaregião.

A primeira ferrovia no Estado de São Paulo foi a“Ingleza”, da São Paulo Railway Co., cuja construçãocomeçou em 1860 e foi concluída em 1867, com109 km de trilhos. A companhia foi criada em 1856 erecebeu, por meio de Decreto Imperial, concessão paraconstrução e exploração da ferrovia por 90 anos. Alémde investidores ingleses, um dos maiores acionistas foi oBarão de Mauá. A concessão terminou em 1946, e a

estrada de ferro passou, então, a ser denominada Estradade Ferro Santos-Jundiaí, sob o comando da União.

Em 1867, foi inaugurada uma singela estação, nobairro da Luz. Posteriormente, com o crescimento dademanda, ela foi ampliada. Em 1890, a São PauloRailway Co. decidiu construir uma nova e faustosaestação, local de convergência das principais estradasde ferro e cópia da estação ferroviária de Sidney, naAustrália. Esta estação seria a Estação da Luz, que foiinaugurada em 1901. Compete com qualquer estaçãono Reino Unido ou, por sinal, com as de outros lugaresdo mundo, que tenham sido construídas pelos britânicos.A influência britânica em São Paulo pode ter sidoesquecida, mas a Estação da Luz é testemunha viva dapresença dos ingleses. Atualmente, algumas linhas trazempassageiros de regiões distantes da própria cidade. Aunificação com o metrô aumentou ainda mais aimportância desta estação que foi reformada há poucosanos.

Entre 1915 e 1919, a cinquenta metros da Estaçãoda Luz, foi construída a Vila dos Ingleses, com 28 casasassobradadas, onde antes se localizava o jardim dopalacete da Marquesa de Itu. A finalidade era a de alugaras casas aos engenheiros ingleses que viessem a trabalhar

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na Estação da Luz e na estrada de ferro. Seguia o estiloarquitetônico das vilas dos subúrbios londrinos, comraízes nos estilos elizabetano e vitoriano, com influênciado colonial brasileiro. Na década de 1930, com adiminuição da mão de obra estrangeira, as casaspassaram a ser ocupadas por famílias paulistanas.Atualmente, são escritórios e ateliês.

Uma estação da São Paulo Railway foi, também,aberta em 1867, junto ao pátio de operações do sistemade cabos implantado pelos ingleses e centro demanutenção do funicular, no começo da descida da Serrado Mar. O nome da estação era “Alto da Serra”, maistarde passando à denominação de Paranapiacaba que,em tupi-guarani, quer dizer: “donde se tem o panorama

do mar”. Em 1896, construiu-se uma vila para osfuncionários da São Paulo Railway com seu estilo inglêse sua beleza associada, por vezes, ao denso nevoeirovindo da serra. Do outro lado da linha, formou-se umavila que não acompanhou o estilo original inglês. A vila setornou importante, porque era a última parada antes dese descer a serra. Em 1977, já havia outra estação, emvirtude da anterior ter sido destruída por um incêndio.Nesta ocasião, foi salvo apenas o relógio, uma réplicamenor da torre do Big Ben, que foi consertado ecolocado sobre uma nova torre ao lado do prédio novo.Até 2001, a Estação de Paranapiacaba era atendida pelostrens da Cia. Paulista de Trens Metropolitanos. Apósuns tempos, os trens somente passaram a seguir nos finsde semana e, depois, houve a suspensão total deles paraa vila, sendo necessário chegar de ônibus ou automóvelaté lá. Em 2002, a Prefeitura de Santo André adquiriu aVila Inglesa, mas não a vila ferroviária, que continuaabandonada. Está se tentando, aos poucos, restaurar alocalidade, com o patrocínio de entidades particulares.Paranapiacaba encontra-se incluída como “um dos maisimportantes monumentos do mundo”, pelo FundoMundial de Monumentos, que é uma organização sem

fins lucrativos, com papel fundamental no resgate econservação de localidades como o Vale dos Reis, noEgito, e a Grande Muralha da China.

Com a inauguração da “Ingleza” — a São PauloRailway Co. —, muitos ingleses foram mandados paraSão Paulo para trabalhar na ferrovia. Entre eles, estavaum engenheiro de nome John Miller. Aqui, casou-se comHarriet Fox. Em 24 de novembro de 1874, nasceu umfilho, Charles William Miller, no bairro do Brás.

Em 1884, com 10 anos de idade, Charles Miller foimandado para uma escola pública na Inglaterra, ondeaprendeu a jogar futebol e críquete. Lá jogou a favor econtra times como o Corinthians Football Club e St.Mary. Retornou ao Brasil em 1894, para trabalhar naSão Paulo Railway Co., tornando-se correspondenteoficial da Coroa Britânica e Vice-cônsul inglês em 1904.

Vários britânicos, entre eles engenheiros da recém-construída São Paulo Railway e outros comerciários dacidade, tiveram a ideia de fundar um clube, ondepudessem jogar críquete, tão apreciado pelos ingleses.Isto foi feito em 1888, com a fundação da São PauloAthletic Club (SPAC), conhecido como o Clube Inglês,hoje Clube Atlético São Paulo. O SPAC é consideradoo clube mais antigo da cidade de São Paulo. Lá, CharlesMiller foi essencial na criação da primeira equipe defutebol do Brasil. Era composta por altos funcionáriosingleses da São Paulo Railway e outras entidades delíngua inglesa, como The Gaz Co. (Companhia de Gás)e Bank of London and South America (Banco deLondres).

Em abril de 1895, Miller organizou o primeiro jogooficial de futebol, num terreno da Várzea do Carmo,entre equipes formadas pela São Paulo Railway (SPR)e da Cia. de Gás. O resultado foi de 4 a 2 para a SPR,com dois gols de Charles Miller. As primeiras disputasamistosas surgiram em São Paulo nos anos de 1899-1900, entre os clubes Germânia (atual E.C. Pinheiros),Mackenzie, São Paulo Athletic Clube e o E.C.

SSPAC - com Charles William Miller no centro (1905)

Vila de Paranapiacaba

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PatagôniaGELADA

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Internacional, todos com sócios da elite paulistana e devárias origens: inglesa, americana e alemã. A Liga Paulistade Futebol surgiu em 1902, a partir de cinco clubes, osacima mais o Clube Athletico Paulistano. A liga organizouo primeiro Campeonato Paulista de Futebol. TendoCharles Miller como artilheiro do time, o SPAC ganhouos três primeiros campeonatos, em 1902, 1903 e 1904.

Um dos eventos de destaque daquela época foi avisita do time inglês, o Corinthians F.C., em 1910, queestava ganhando todos os jogos no mundo amador dofutebol. Estreou no Rio de Janeiro, goleando oFluminense por 10 a 1. Em São Paulo, o SPAC perdeude 8 a 2, apesar da boa atuação do time local. Umgrupo de funcionários da São Paulo Railway ficou tãoimpressionado com a atuação dos ingleses, que resolveudar ao clube que fundaria mais tarde o nome de SportClub Corinthians Paulista. Foi Miller quem sugeriu onome do primeiro presidente do Corinthians Paulista.Em 30 de junho de 1953, faleceu esse idealizador dofutebol no Brasil.

Outros esportes trazidos para o Brasil no final doséculo XIX pelos ingleses que trabalhavam na São PauloRailway e na The São Paulo Tramway, Light & PowerCo., Limited (a Cia. Paulista de Bondes, Força e Luz,de origem canadense), foram o tênis e o golfe. Asprimeiras quadras de tênis foram construídas em 1892,no São Paulo Athletic Club.

A chegada do golfe ao Brasil ocorreu de formacuriosa. Os engenheiros ingleses e escoceses, queconstruíam a ferrovia, convenceram monges beneditinosa ceder parte do terreno do Mosteiro de São Bentopara a construção do primeiro campo de golfe do País,na região atualmente situada entre a Estação da Luz e orio Tietê. A expansão da cidade em direção ao rioobrigou a transferência do campo, em 1901, para umlocal próximo à confluência das avenidas Paulista e

Brigadeiro Luiz Antônio, local este, até hoje, denominado“Morro dos Ingleses”, devido aos tais “ingleses” quejogavam seu golfe ali. Fundou-se então o “São PauloCountry Club”, que teve o primeiro campeonato internoem 1903.

A presença dos ingleses em São Paulo, e a diferençalinguística com o português, fez com que se reunissem emtorno da conservação das tradições britânicas. O ClubeInglês cobria parte dessas necessidades, porém faltavaum local próprio para os cultos religiosos, com a maioriainglesa de religião anglicana, havendo alguns presbiterianos,geralmente de origem escocesa. Com isso em mente, foiconstruída uma pequena capela, próxima da Estação daLuz, para acomodar a maioria que trabalhava na São PauloRailway na década de 1860, em terreno doado pelo Barãode Mauá, consagrada, em 1873, como a St. Paul’sAnglican Church (Igreja Anglicana de São Paulo). Com adeteriorização do bairro da Luz, decidiu-se por uma novaigreja em Santo Amaro, o bairro onde havia importanteconcentração de ingleses e seus descendentes. A pedrafundamental foi firmada em 1962. A partir de 1995, tornou-se a Catedral para a diocese de São Paulo. Apoia váriasentidades, como missões entre as favelas de São Paulo euma casa para idosos da comunidade.

Outro aspecto importante era os cuidados com a saúde.Um chinês de Macau, o imigrante José Pereira Achao,contraiu febre tifoide durante sua viagem de navio para oBrasil, na segunda metade do século XIX. Na época, ahigiene e saúde pública eram muito precárias. Hospitalizadona Santa Casa de São Paulo, o protestante Achao foipressionado a converter-se ao catolicismo, prática comumnas instituições da época. De seu constrangimento, nasceua ideia da criação de um hospital que acolhesse pessoasde qualquer credo, raça ou nacionalidade, sem distinção.Quando faleceu, em agosto de 1884, legou dois contosde réis (equivalente a 4.000 dólares de hoje) à IgrejaPresbiteriana, para que sua ideia fosse levada a cabo. Em1890, um grupo de imigrantes britânicos, norte-americanose alemães, ligado às igrejas protestantes da cidade, uniu--se a tradicionais famílias paulistas para fundar a SociedadeHospital Evangélico, que teve suas primeiras instalaçõesinauguradas em 1894 e que se transformaria no HospitalSamaritano. A palavra “samaritano” deriva da Samária,cidade da antiga Palestina, onde havia um povo comcaracterísticas culturais bem diversificadas. Em sentidofigurado, significa caridoso, bom, beneficente, por alusãoao personagem bíblico “O Bom Samaritano”, modelo decaridade. Era um atrativo para convencer os maisincrédulos de que valia a pena deixar a Inglaterra e virtrabalhar em São Paulo.

Ainda no século XIX, foi inaugurado o primeiro centrocirúrgico. O hospital foi dirigido pelo Dr. Lauriston Job

Críquete no São Paulo Athletic Club - 1934

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Lane de 1907 a 1942, cuja grande influênciaconsolidou a existência da instituição. Em 1895, foicontratada a primeira matron (enfermeiraprofissional), que veio da Inglaterra para dirigir osserviços de enfermagem — uma inovação — porqueaté o começo do século XX apenas religiosastrabalhavam nos hospitais do Estado.

Nas décadas de 1940-1950, houve uma grandereforma do hospital, graças a importantes doaçõesdo Liceu de Artese Ofícios, NadyrFigueiredo, Com-panhia Antarctica,Moinho Santista,Rhodia, GeneralElectric e GeneralMotors do Brasil.Os primeiros cur-sos de enfermagemda cidade de SãoPaulo, por conta daEscola de Enfer-magem Job Lane,do Hospital Sama-ritano, iniciaram-seem 1948. Hoje,este hospital é referência mundial.

A inconveniência de se mandar os filhos estudaremna Grã-Bretanha — como foi o caso de Charles Miller— redundou na fundação de uma escola britânica emSão Paulo. Em 1926, abriu-se oficialmente a St. Paul’sSchool, nos Jardins, bairro luxuoso da cidade.

O conceito de uma escola para membros dacomunidade inglesa remonta a 1867, quando 30crianças de funcionários ingleses da São Paulo Railwayrecebiam aulas do prelado da Igreja Anglicana de SãoPaulo. O número de famílias britânicas cresceuconstantemente de 1867 a 1926, à medida queengenheiros, contadores, banqueiros e industrialistasbritânicos vinham trabalhar na cidade em expansão.A Escola Britânica S.A. começou com 60 alunos eacomodações para 12 meninos internos, com afinalidade de providenciar uma educação aprimoradapara os filhos de pais britânicos. Em 1927, foramadquiridos 18.000 m2 no Jardim Paulistano por 50contos de réis, que o ex-proprietário usou paracomprar ações da própria Escola, que depois dooupara esta.

Nos primeiros anos da escola, meninos e meninaseram ensinados separadamente. Com odesenvolvimento da Escola, foram introduzidas aulasdo idioma português, assim como História e Geografiado Brasil. Mais tarde, também admitiram-se meninas

como alunas em regime de internato e as classes passarama ser mistas. Cada vez ficou mais claro que muitas criançascompletariam sua educação aqui no Brasil e não retornariampara o Reino Unido. Com essa finalidade, foi iniciado umcurso ginasial brasileiro matutino, com aulas em inglês noperíodo da tarde.

Em 1951, a Escola Britânica tornou-se a Fundação

Anglo-Brasileira de Educação e Cultura (FABEC). Oestatuto determinava que fosse uma fundação sem fins

lucrativos, com oobjetivo de desen-volver a educação ecultura (intelectual,física e espiritual) parajovens de ambos ossexos no Estado deSão Paulo. Posterior-mente, providen-ciaram-se classespreparatórias para oingresso nas univer-sidades brasileiras.

À medida que osanos passaram, aC o m u n i d a d eBritânica de São

Paulo teve de se preocupar com aqueles que não podiamou não queriam voltar para a Inglaterra e tinham optadopor permanecer no Brasil. A Fundação Britânica deBeneficência, já existente em 1947, recebeu, de Miss HelenStacey, a doação de uma casa no bairro de Brooklin Paulista,com a finalidade de providenciar alojamento, alimentação,cuidados básicos e conforto para idosos de ambos os sexos.

A Stacey House, como passou a ser conhecida,permaneceu naquela localização até 1981, quando foivendida, devido à “incorporação imobiliária”. Foi compradaoutra casa, mais moderna, próxima ao Aeroporto deCongonhas. A Stacey House é a residência dos membrosmais velhos da Comunidade que preferiam não morarsozinhos. Durante mais de meio século, vem recebendo oapoio de indivíduos da comunidade, bem como de muitasempresas. Assistência médica e de enfermagem foi sempregarantida, graças ao Hospital Samaritano, e pela atuaçãovoluntária de profissionais da área.

Os residentes da Stacey House têm seus própriosquartos com extensão telefônica, banheiro individual e estãoconectados a TV por cabo. Os funcionários da casa evoluntários providenciam exercícios leves, terapiaocupacional e passeios para os residentes. Tambémrecebem inúmeros convites para atividades em clubes e nasresidências de membros da Comunidade.

Com a diminuição do número de membros nacomunidade para um quinto do que era há 80 anos, tem

Hospital Samaritano

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havido uma procura menor para a Stacey House e,atualmente, há poucos residentes. No entanto, amanutenção da casa e funcionários onera muito afundação mantenedora. Em 2006, por ocasião da Festade Aniversário da Rainha Elizabeth II, o seu representanteanunciou que os moradores atuais seriam transferidospara outra residência de idosos e a Stacey House seriadesativada. Foram dadas duas opções para os própriosresidentes, que consideraram o Lar Sant’Ana como oque mais se aproxima da casa que foi seu lar por tantosanos.

Como na maioria das cidades do mundo, há umaregional paulistana da Legião Britânica de Ex-Combatentes. Reúne os ex-militares das várias guerrasem que participou o Reino Unido. Na Catedral Anglicanade São Paulo, celebra-se uma missa especial, no domingomais próximo de 11 de novembro, que coincide com ofim da Primeira Guerra Mundial, quando foi assinado oArmistício em Compiègne, após ocorrer o colapso doexército alemão em todas as frentes de batalha.Comparecem prelados de vários credos, representantesmilitares do Brasil e de outros países tradicionalmentealiados, e das Legiões Britânica, Francesa e Belga. Sãolidos os nomes dos membros da comunidade britânicaem São Paulo que deram suas vidas nas duas guerrasmundiais. Aquele domingo é conhecido como o “Dia daPapoula” e todos usam uma papoula vermelha artificialpresa à lapela do paletó ou ao vestido, confeccionadopor veteranos incapacitados. A arrecadação vai para umfundo de ajuda para mutilados de guerra, geralmente deoutras guerras que não as supramencionadas, porque amaioria dos sobreviventes daquelas já se foi.

Meu pai veio, sozinho, para a Argentina, aos 15 anosde idade, em 1910, retornando para a Inglaterra paralutar na Primeira Guerra Mundial. Depois, voltou para aAmérica do Sul, indo para o Paraguai. Somente em 1925decidiu mudar de ares, vindo para São Paulo. O atrativo,como nos contou, foi o fato de haver mais oportunidadesde trabalho aqui e também pela ótima assistência médica,devido à existência do Hospital Samaritano.

Minha mãe veio para o Brasil com nove anos deidade, em 1913, ficando num colégio interno, emPiracicaba. Seu pai fora “importado” da Inglaterra paratrabalhar como contador numa firma inglesa quenegociava café. Durante um tempo, a família morou nafazenda da firma onde trabalhava meu avô, em Matão,perto de Araraquara. Posteriormente, veio para a Capital.

Pois é, eu estou aqui graças a um cão. Meu pai,quando chegou a São Paulo, comprou um cão pastoralemão. Naquela ocasião, morava numa pensão alemãonde não se aceitava animais de estimação. Foi entãoobrigado a deixá-lo nos alojamentos do Alto da Serra,

onde trabalhava na construção da usina hidroelétrica daLight and Power. Após um tempo, cansado dasexigências da pensão, resolveu procurar outra. Leu umanúncio na revista “Times of Brazil”, noticiário mensalda comunidade inglesa, de circulação no eixo Rio-SãoPaulo, que não existe mais. Era de uma pensão inglesanão muito longe de onde estava. Lá, perguntou para osenhorio se poderia levar o pastor e este lhe respondeuque sim, pois a família gostava muito de cães. Meu paientão mudou-se para aquela pensão. No fim de tarde,após retornar do Alto da Serra, costumava passear paraexercitar o cachorro e quem o acompanhava era a filhado dono da pensão. Preciso dizer mais alguma coisa?Era a minha mãe.

Após quase 150 anos de história dos ingleses nacidade de São Paulo, a convivência diária com ospaulistanos e gente de outras origens nessa grandemetrópole e a noção de que a maioria viera do ReinoUnido para fazer sua vida aqui e aqui permanecer, fezcom que houvesse uma profunda integração com tudo oque diz respeito à cidade. Recentemente, com o intuitode centralizar as atividades britânicas, construiu-se umedifício ao qual foi dado o nome de Centro BrasileiroBritânico (Brazilian British Centre), que abriga oConsulado Britânico em São Paulo, a Fundação Britânicade Beneficência, o Conselho Britânico, a Câmara deComércio, a sede administrativa da Cultura Inglesa(cursos de inglês), um restaurante (The Bridge), um pub

(Drake’s) e um auditório.Uma preocupação constante para quem ainda é da

primeira geração nascida fora da Inglaterra é a de quemuitos dos descendentes, embora carreguem um nomeou sobrenome inglês, por vezes, nem são mais fluentesna língua de seus avós ou bisavós, tal a miscigenaçãointer-racial. Não há como se saber o que as futurasgerações dirão a respeito de um nome estrangeiro quelevam. Portanto, é de suma importância que se procurefomentar a noção de quem foram os ancestrais.Pessoalmente, encontrei uma forma de assim fazer,através de uma biografia de meus pais, com inúmerasfotografias de família, além de documentos pertinentes.Meus netos nada saberão de seus bisavós se não aconsultarem. Que dizer, então, de meus bisnetos, não éverdade?

Texto extraído do livroHUNKY DORY - uma antologia

de prosa e verso Walter W.Harris

Rumo Editorial - 2013 - 1a.ediçãotodos os direitos reservados

AQUISIÇÕES:

[email protected]

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Opinias - Julho 2014

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MÚSICA CLÁSSICAO MUSOPEN, biblioteca on-line de obras musicais de domíniopúblico, disponibiliza peças de 150 compositores clássicos paradownload ou audição on-line. As composições estão organizadas porperíodos, instrumentos, intérpretes e compositores. As peças sãoconduzidas por maestros e instrumentistas consagrados. Para fazer odownload é necessário um registro simples. Os downloads gratuitossão limitados ao número de cinco por dia. O Musopen tambémdisponibiliza as partituras das obras que compõem o projeto. Acesse: https://musopen.org/

No imenso mar da internet é possível encontrar bons lugares para atracar

durante a navegação. Singrando esses mares, a redação de OPINIAS

encontrou alguns portos seguros que vale a pena conhecer:

PorLUCIANA GOMES GIMENESAdministradora de empresas eCoordenadora de comprasSão Paulo - [email protected]

NAVEGANDO

CARTÓRIOS ON-LINEA conhecida burocracia dos serviços de cartóriopoderá ser facilitada com a utilização da internet.No site CARTÓRIO 24 HORAS, você poderá

requerer certidões e documentos em cartórios de todoo Brasil, pagar as taxas pela internet e receber os

documentos no endereço que indicar. Consulte:http://www.cartorio24horas.com.br/

MEDICAMENTOSNo site CONSULTA REMÉDIOS você poderá encontrartudo sobre medicamentos: preços, informações, bulas emuito mais. Você encontra o remédio que deseja em ordemalfabética, por categoria ou por princípio ativo, utilizando osistema de busca inteligente do site, que permite ainda quevocê localize drogarias e farmácias mais próximas de ondeestiver. E lembre-se: qualquer medicamento deverá serutilizado sob supervisão ou orientação médica.http://consultaremedios.com.br/

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Opinias - Julho 2014

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Você já ouviu falar de Vanuatu? Eu, pelo menos, nunca tinha ouvido até encontrá-lonum site de turismo e decidir visitar este país tão lindo e encantador. Em busca de umdestino barato saindo aqui da Austrália onde moramos há quase 5 anos, encontramosVanuatu. Trata-se de um arquipélago composto por 83 ilhas relativamente pequenaslocalizadas no Pacífico, a 3 horas e meia de voo saindo de Sydney.A população de 220.000 habitantes é menor que a do Guarujá (SP) e seu tamanho menorque a cidade de São Caetano do Sul (SP), com aproximadamente 12.274 km2!É um pedacinho de terras vulcânicas no meio do nada quando comparado à imensidãodo nosso Brasil.Existem vários vulcões ativos em Vanuatu e a atividade vulcânica é relativamentecomum. A mais recente erupção ocorreu em 2008 e outra em 1945. Enquanto olhava asfotos daquele lugar no site de viagens, tive uma impressão fortíssima de um dejavu.Vanuatu é um daqueles paraísos de águas claras, calmas e quentes que o Globo Repórtermostra nas noites de sexta-feira.Lembrei-me da minha infância e do meu sonho de um dia poder visitar um lugar comoesse que o repórter mostrava. Eu tinha lá meus 10 anos quando assistia àquele programana televisão que mostrava locais tão exóticos, cheios de lugares verdes e de maresazuis esverdeados. Então eu pensava: “toda pessoa deveria ter o direito de visitar umparaíso como este pelo menos uma vez na vida...”. É emocionante e de tirar o fôlego.Bem, visitamos a ilha principal, Efate. Lá conhecemos um povo tranquilo e sorridenteque gosta de reggae e que até parece andar mais devagar, devido ao calor. Simples nomodo de viver, mas muito, muito feliz e conectado com a natureza tão divina das ilhas.O lugar é realmente magnífico e apesar de seu nome não ser tão popular como Tailândiaou Caribe, muitos de nós já vimos pelo menos um dos pontos turísticos mais famosos. Láfoi um dos sets do filme “Lagoa Azul”, de Randal Kleiser. Seguem algumas fotos de nossavisita. Se um dia decidirem sair por aí em busca de novas sensações, visitem Vanuatu.

VANUATUa encantadora efeliz lagoa azul

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PorNA GIMENESAdministradora de empresasSydney - Austrá[email protected]

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Blue Lagoon - Port Vila

Sunset em Erakor Island Resort & Spa Vanuatu

Reggae nativo no Erakor Island Resort

Road Trip, em Éfaté

Cores e belas paisagens presentes em todo o lugar

http://guia-viagens.aeiou.pt/vanuatu-o-lugar-

mais-feliz-da-terra-algures-no-pacifico/

Saiba mais sobre VANUATU

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O som do piano ressoa por entre asparedes da mansão. A cena de um filme projetaum homem consolando uma mulher em prantos.Uma sucessão de imagens decifradas atravésde um belo traço transcende ao que muitasvezes a leitura convencional, aquela feita apenaspor palavras, não consegue traduzir: O som dosilêncio.

E com as mãos de uma velha senhoragestante acariciando uma grande baleia, inicia-se a graphic novel (ou novela gráfica, comopreferir) Cachalote.

Lançada em meados de 2010, marca aestreia de Daniel Galera, um dos nomes maisinteressantes da nova literatura (essa tal degeração zero zero) no gênero considerado umsubgênero por muitos, as HQ´s. E vem bemacompanhada do artista Rafael Coutinho, filhodo ilustre cartunista Laerte.

As cenas desenhadas sob a prosa deDaniel Galera mostram como se escreve de

verdade nos quadrinhos. O texto está além dosbalõezinhos com as frases e os diálogos. Cadaquadro é uma letra nova de um alfabeto próprioe mostra quão genuína é a arte sequencial.

Seis histórias estão divididas em trêspartes. A cena inicial, descrita no primeiroparágrafo deste texto, não será desenvolvida nomiolo do livro. O leitor não vê o amadurecimentoda história formada apenas por uma senhoragrávida e sua baleia onírica. Mas são com essesmesmos personagens que o livro se fecha.

Já as outras cinco constroem quebra--cabeças com imagens diferentes, mas em todosos quadros dá-se a impressão que falta umapeça importante para o desenvolvimento dospersonagens. Se esta imagem fosse a de umagrande baleia cachalote, a peça perdidaprovavelmente seria o estômago. Como se oalimento entrasse pela superfície, mas não seriadigerida totalmente.

Depois da introdução, é mostrado um atorde cinema chinês conhecido como XuDongsheng. Visivelmente acima do peso, équase um clichê dizer que está decadente. Vemao Brasil promover seu último filme de artesmarciais tendo como premissa um retorno triunfaldo astro. Durante sua estadia em um hotel chiquena companhia de mulheres e bebidas, um colegaator comete suicídio. Sua reação indiferente otransforma em suspeito.

Resenha baseada na Graphic Novelde Daniel Galera e Rafael Coutinho

CacCacCacCacCachalotehalotehalotehalotehalote

PorGUSTAVO BARBOSA ROSSATOEscritor e Servidor públicoJundiaí - [email protected]

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halotehalotehalotehalotehaloteHermes é um escultor que vive isolado em sua casa no campo. Seu trabalho com as pedras de

mármore revela aos poucos uma obsessão contida. Encontra um diretor de cinema disposto atransformar sua vida em filme. O cineasta quer dissecar o cotidiano do escultor misturando realidadecom ficção.

Um jovem chamado Vittorio vive aventuras eróticas no estilo bondage japonês com garotasque seguem o mesmo padrão estético. Uma menina linda e delicada (fugindo desse padrão) entrana vida do rapaz e descobre suas fantasias não convencionais. Ela está disposta a compartilhar aexperiência, mas sua pele não se adapta às cordas que Vittorio a prende. Quanto mais apertada,mais destrutivo é o processo.

Rique, um órfão de pai e mãe, vive com seus tios ricos. Uma relação complexa entre tios esobrinho o faz viajar por tempo indeterminado na Europa. Em Paris, encontra Dante que viveilegalmente com sua namorada Nádila. Os dois viram um ponto de sustentação para Rique, que nãoconsegue enxergar o desprezo de não saber fazer nada.

E por fim Túlio, um escritor deprimido. Tem uma relação amistosa com sua ex-mulher quetambém possui problemas emocionais. Eles se vêm constantemente e seus encontros estão alémde fazer a filha criança observar a mãe e o pai no mesmo lado. Os dois ainda precisam um do outropara construir uma nova página em suas vidas.

Essas histórias não se cruzam em nenhum momento do livro, e não existe uma separação dequando uma começa e outra termina. Ao ler estranhei a ausência dos números nas páginas. Essaorganização própria dos autores me fez sentir flutuando numa piscina quando seus pés não tocammais o azulejo e você precisa erguer a cabeça para continuar respirando.

O livro está além de descrever a solidão. Trata também sobre a insegurança. A dificuldade dese desconstruir ou reinventar. Descer aos reinos abissais do oceano frio e ver criaturas sem asformas familiares. A sensação ao final da leitura é a de boiar em uma piscina incapaz de enxergarsua profundidade.

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PorCARLOS EDUARDO DE OLIVEIRAEngenheiroSanto André - [email protected]

Salut les amis!

Dia desses um amigo comprou uma adega climatizada e meperguntou se eu poderia aconselhá-lo sobre a temperaturacorreta de regulagem de seu equipamento. Então fuipesquisar para melhor orientá-lo, originando assim umapostagem no meu blog e esta coluna em Opinias.Primeiramente, muita gente acha que a adega serve paracolocar os vinhos na temperatura correta de serviço - seriasó tirar da cave, desarolhar e beber! Mas a verdade não ébem essa para boa parte dos vinhos. Em segundo lugar,adega climatizada em casa é um luxo.

Qualquer lugar fresco e abrigado da luz já é suficiente paraarmazenar bem os vinhos do uso cotidiano. Para isso serveum armário, o espaço sob a escada, o depósito nagaragem... Ficando longe de fontes de vibrações, luz e calor(lareiras, chaminés, fornos), tudo bem - o vinho deve semanter bem neste local. O investimento em uma adega sóvale a pena para quem opta pela compra de vinhos deguarda, aqueles grandes vinhos que devem ficar armazenadosdurante um certo período a fim de que cheguem no pontocerto para sua degustação.

A grande maioria das minhas garrafas é guardada num móvelcom nichos, sob o balcão. Minha pequena adega climatizadaé reservada para os vinhos mais delicados, os mais velhos, eaqueles que eu guardo para ocasiões especiais. Ali euconservo velhos Bourgonhas e jovens Brunellos diMontalcino, Barolos e Bordeaux que precisam de algumtempo na garrafa para “desabrochar”. E eu a regulei parafuncionar entre 15 e 18 graus centígrados. Para a nossatemperatura média em São Paulo, essa faixa é econômica -desde que a adega esteja com um bom isolamento, não vaificar acionando o compressor e gastando energia a todahora.

VINHOVINHOVINHOVINHOVINHOna temperaturacerta

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http://www.conservadonovinho.blogspot.com.br/VISITE O BLOG e DESFRUTE MAIS

Quanto à temperatura de serviço, ou seja, a temperatura que o vinho deve sermantido à mesa enquanto estiver sendo consumido, genericamente, em torno dos18 graus a maioria dos vinhos tintos já está adequada para ser degustada. Osvinhos brancos precisam ainda de um resfriamento antes de serem bem apreciados;se houver antecedência, podem ser colocados na geladeira por um tempo; docontrário, um balde de gelo com uma solução refrigerante (água, gelo, um poucode sal e um pouco de álcool) é bem eficaz para o resfriamento.

Alguns enófilos não recomendam resfriar o vinho rapidamente no congelador paranão provocar um “choque térmico”. Outros dizem que não faz mal nenhum estechoque em vias de sacar as rolhas, principalmente se tratando de uma garrafa maissimples e despojada. Concordo com estes últimos, uma vez que, em ocasiõesespeciais e com vinhos especiais, você naturalmente irá se programar comantecedência e tomará mais cuidado ao resfriar docemente sua tão bem guardadagarrafa num balde de gelo, onde você pode facilmente controlar a temperaturaadicionando ou retirando os cubos.

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Deve-se notar que a temperatura mais baixa ressalta a acidez, o frescor, a jovialidadedo vinho, enquanto “mascara” a doçura, a fruta, o álcool (o álcool é doce). Por issocostumamos beber os vinhos mais encorpados, concentrados e tânicos a temperaturasmais altas e os vinhos que devem ser mais refrescantes, brancos e espumantes, maisresfriados. O tanino, aquela substância presente nos vinhos tintos que provoca asensação de adstringência e secura na boca, é potencializado a temperaturas maisbaixas. Ainda, de acordo com o gosto individual, pode-se ressaltar algumacaracterística do vinho manipulando a sua temperatura de serviço, como tambémdisfarçar um defeito ou um desequilíbrio de determinada garrafa.

Vinhos tintos mais simples, mais leves, mais “fáceis de beber” - como por exemplo os Beaujolais, podem serbem mais resfriados, até em torno de 12ºC. Vinhos brancos novos e refrescantes podem ser bebidos entre 8 e10ºC, e os mais encorpados, maturados em barrica de carvalho, devem ser menos resfriados, consumidos emtorno de 12, até 14ºC. Quanto aos vinhos “fortificados” doces, os tintos (Porto, principalmente), podem serbebidos na temperatura ambiente, enquanto que os brancos (Sauternes, Muscat, colheitas tardias) sãocontroversos - alguns enófilos recomendam apreciá-los em torno de 14ºC, mas eu acho melhor bebê-los maisgeladinhos, o que destaca sua acidez equilibrando mais com sua doçura.

Com o tempo, a sensibilidade será suficiente para definir se um vinho está na temperaturacorreta ou não - o uso de termômetros não me parece muito prático, embora existam nomercado ótimos termômetros infra-vermelhos muito fáceis de usar. Convém que o enófilo tenhaem mãos pelo menos dois baldes para o resfriamento e conservação dos vinhos à mesa - ummaior, para ser utilizado em ocasiões em que são abertas várias garrafas, e outro, menor, paraseu uso mais cotidiano - afinal é dispendioso e demorado produzir grande quantidade de gelo.No caso da utilização de decanter (o que será assunto em uma próxima edição), pode sernecessário às vezes repousá-lo em uma travessa com gelo ou água gelada. Como quase tudo nomundo dos vinhos, isso parece ser uma questão de “milhagem”, ou melhor, “litragem”...

Santé! Au revoir!

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Eu moro em XANGRI-LÁ, município do litoral norte do RioGrande do Sul composto por 8 praias. Mar agitado com ondasfortes favorecem a prática do surfe e da pesca. A plataformamarítíma é uma atração ímpar, com 300 metros mar adentro emforma de “L” e com 75 metros de braço ao norte.Originalmente tinha o formato de “T”, mas em 1997 fortesressacas abalaram as estruturas e o braço sul caiu e afundou nomar. Xangri-Lá possui dois sambaquis dos mais importantes dolitoral gaúcho, verdadeiros sítios arqueológicos. Faz divisa aonorte com a lagoa dos Quadros. A paisagem daqui é deinconfundivel beleza e o pôr do sol é maravilhoso. O nome foiinspirado em SHANGRI-LÁ, uma palavra criada pelo novelistainglês James Hilton (1900-1954), na sua obra HorizontePerdido escrita em 1933. Shangri-Lá era um país imaginário, naregião do Tibete, na qual as pessoas que lá chegavamconseguiam conservar a sua forma física, desde que dali nãomais se retirassem. Nesta obra, que o cinema e as muitastraduções tornam amplamente conhecidas, James Hiltonrealizou um "tour de force" aliando o romance de aventuras aoromance de ideias. Xangri-Lá é um símbolo e uma aspiração.Nele não existe o mal, e a vida cresce em amor e sabedoria.Xangri-Lá é a terra dos homens felizes, constituíndo uma versãomoderna da Terra da Promissão. O romance de Hilton escritocom beleza e simplicidade traduz a tranquilidade de Xangri-Lá.

SAIBSAIBSAIBSAIBSAIBA A A A A TUDO SOBRE MINHA CIDTUDO SOBRE MINHA CIDTUDO SOBRE MINHA CIDTUDO SOBRE MINHA CIDTUDO SOBRE MINHA CIDADE:ADE:ADE:ADE:ADE:http://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://www.xang.xang.xang.xang.xangrila.rrila.rrila.rrila.rrila.rsssss.g.g.g.g.gooooovvvvv.br/no.br/no.br/no.br/no.br/novvvvvosite/osite/osite/osite/osite/

Eu moro emXangXangXangXangXangri-Lári-Lári-Lári-Lári-Lá

PorRAQUEL ZARPELLONFotógrafa amadoraXangri-Lá - RS

[email protected]

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A ideia – sempre – é escrever algo novo. Mas, tão vero quanto “quem ama o feio bonito lheparece”, dá-se toda vez que nos dispomos, nós, os poetas, a dizê-la: a novidade. Dá-se algo meiocontraditório, algo um tanto quanto inexplicável, e, algo a que não explicamos, sobretudo porquedisso não temos o domínio... algo mais ou menos assim... por assim (tentar) dizer. Nós, porconseguinte, os poetas, supostos artífices, pretensos mestres, estamos mais (no mínimo) para osossos no ofício dela, a Palavra. Dela, que faz de nós o que bem quiser. E que, por sorte nossa, nosquer bem.

Reparem que, invariavelmente, as cinzelamos, as novas, sob lustrosas roupagens, palavrasoutras, chovendo, entretanto, isso sim, no molhado! E aqueles que depõem contra mim, repetir-se-ão entre argumentos – pra variar também –, protestando: ora, que absurdo; não é nada disso, umacoisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, e blá-blá-blá...

Lutem, pois a luta é o mote da vida, da mesma maneira que o mote é a vida da Poesia.Lutem, debatam entre si, haja vista no que me diz respeito não adiante mais querer convencer-medo contrário, ou seja, de algo que não seja exatamente isso: a dita-cuja coisa é a mesma coisa cuja--dita.

Os motivos persistem. Nós é que não vamos sendo os mesmos. Cinzas, verdes, vermelhos,azuis, lilases, pretos, brancos, amarelos, furtas... as cores continuam ali. Nós, todavia, passamos.Indubitavelmente todas as coisas sofrem ações, transformações... apresentam-se alteradas, maisfortes ou tênues.

Porém, será mesmo que o olhá-las, não será – este sim – ao invés de quaisquer mudançasque em si ocorram, o que de fato concorre para a pluralidade das formas de, por sua vez, serem taisocorrências traduzidas? É como sinto quando suponho traduzi-las agora. Sabendo-a jamais umatradução ao pé da letra.

O que não garante sentir ou pensar o mesmo amanhã. Nem daqui a pouco. E lá virei eu. Denovo aqui (e acolá) para dizê-lo. Não para dizê-lo igualmente, embora, diverso o mesmo diga.

Permanece o Tempo. Variamos entre sólidos propósitos e líquidas incertezas. Bem (oumal) assim somos: seres de impalpáveis naturezas, de essências inconstantes, imateriais por suposto.Elásticos apesar e talvez por causa de tudo.

Aonde quer que cheguemos... tornaremos à raiz: essa busca tão inútil, tão estúpida quantonobre, sabe-se lá de quê ou por qual razão. Uns tornados talvez sejamos. Ou simplesmente unstontos. Menos um fenômeno e mais uma casualidade. Ou não.

Seja, entanto, como seja... não é de todo ruim sê-lo. Não é de todo mal não sabê-loexatamente, outrossim. Soubéssemos mais, não estaríamos aqui a divagar. Soubéssemos menos,não elucubraríamos sequer. Soubéssemos aquilo, talvez não saberíamos isto e vice-versa. Tivéssemoso fogo absoluto do conhecimento, quem sabe, não nos juntaríamos em torno dessa metafóricafogueirinha de papel alimentada não por um moto-contínuo, mas, antes – e sempre – pelo mote--perpétuo.

...

recorrênciasRECORRENTES“Quando nasci, já tinham sido inventadas todas

as palavras que podiam salvar o mundo. Só faltava salvá-lo.”

Almada Negreiros - (1893-1970)

PorVALQUIRIA GESQUI MALAGOLIEscritora e artista plástica

Jundiaí - [email protected]

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da janela lateral do quarto de dormir (monotipia)

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Um fato que já virou rotina para os residentes dos EUA quandoestão com viagem marcada para o Brasil é receberem pedidos deencomendas; sejam de familiares ou amigos residentes no Brasil,ou mesmo dos que aqui residem e que aproveitam a comodidadee a economia. Estas pessoas sabem que os preços dos produtosimportados, quando comprados na fonte, no caso nos EUA – sãomais em conta, não pagam taxa de importação e além do mais háa mordomia de receberem seu produto pelas mãos de umapessoa de confiança, sem problemas de extravio da mercadoria.

Entretanto há dois lados da mesma moeda: apesar de osinteressados verem essa oportunidade como uma maneira deeconomizar ao encomendar seus “importados”, nem sempre osque estão de viagem marcada para o Brasil estão dispostos alevarem encomendas. Portanto dicas são válidas tanto para quempede como para quem concorda em levar algo. Quando for pedirpara algum amigo ou familiar para adquirir encomenda, nãoesqueça de considerar o peso, o valor e a disposição docondutor. Caso aceite levar algum pedido, tenha certeza deespecificar o peso máximo, o que é concebível levar, o tamanho eo valor, para não chegar lá e ter surpresas inesperadas econstrangedoras.

ENCOMENDENCOMENDENCOMENDENCOMENDENCOMENDASASASASASlevar ou não?

Eis a questão...PorANGELA BRETASJornalista e escritoraBoca Raton - EUA

[email protected]

“Bom, tenho um grande amigo na

Bahia, que quando soube que eu

estava indo de férias ao Brasil,

me ligou e encomendou uma

‘baby doll’ – boneca inflável”

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O QUE GOSTARIA DE ENCOMENDARDOS EUA E RECEBER NO BRASIL?

Sérgio Moraes - Treinador de Cavalos – São Roque– SP: “O que mais eu gostaria de encomendar dosEUA são artigos para cavalos (freios, mantas,protetores e caneleiras etc.), botas, chapéus, DVDsem geral, eletrônicos, jeans Wrangler, e se fossepossível, café do Starbucks... mas para ser supersincero, o que eu mais gostaria mesmo era podervoltar a morar nos Estados Unidos. Estou aqui desde2008 e não consigo mais me adaptar a isto aqui,morro de saudades da América”.

Vania Bretas – 55 anos – Consultora Dilarouffe(Cosméticos Brasil) – Barbacena – MG: “Eu tenhopreferência por perfumes e cosméticos. Tanto queencomendei via internet um Dermology, pena que nãorecebi”.

Vanda Fátima Haut Alcantara – 44 anos – Agentede Viagem – Ariquemes – RO: “O que mais gosto dereceber de encomenda é perfume importado, adoro!”

QUAL FOI O PEDIDO MAIS ESTRANHOQUE VOCÊ RECEBEU PARALEVAR COMO ENCOMENDA?

Rodrigo Marianno – 42 anos – General Contractor– Fort Lauderdale: “Bom, tenho um grande amigo naBahia, que quando soube que eu estava indo de fériasao Brasil, me ligou e encomendou uma “baby doll” –boneca inflável – para satisfazer seus desejos sexuais.Queria uma boneca americana. Levei, mas passei amaior vergonha quando, no aeroporto, revistaramminha mala. Fiquei com a cara no chão. Imagine irpara o Brasil e levar mulher de plástico!”

Maurício F. – 38 anos – Corretor de Imóveis – BocaRaton: “Concordei em responder porque prometeramnão colocar meu último nome ou minha foto na revista.O que já me pediram para levar e que na hora fiqueisem jeito de dizer não, foi um gigantesco “water-pipe”– cachimbo de água para fumar baseado. O problemaé que tive que me explicar na alfândega, além de terque pagar peso extra da bagagem porque o cachimboera muito grande e frágil. O pior é que meu amigo ficoutão doido com a encomenda que esqueceu de mepagar. Nunca mais me submeto a isso. Quando vou aoBrasil não aviso mais aos amigos... chego desurpresa!”

Rui Moreira Frizzo – 44 anos – Empresário –Pompano Beach: “Bom, como vou ao Brasilfrequentemente, meus parentes que lá residemaproveitam e me sobrecarregam de pedidos quevariam entre eletrônicos e perfumes. Entretanto, minhaúltima encomenda foi um pesadelo. Me pediram 12latinhas de Dr.Pepper (refrigerante) porque lá nãoexiste. Como é algo barato e fácil de encontrar, nãohesitei em prometer que levaria. Entretanto, acho quecom a pressão do avião as latinhas estouraram dentroda mala e arruinaram todas as minhas roupas e algunspresentes eletrônicos. Encomendas para o Brasil?Estou fora dessa!”

Maria Aguinela Ferrazzo – 22 anos – Estudante daFAU: “Quando vou ao Brasil gosto de levarpresentinhos para minhas primas que já residiram aqui.Só que na minha última experiência passei apertadoporque resolvi levar Peanut Butter (elas adoram ageleia de amendoim daqui). Levei 10 vidros e aalfândega de lá me tomou tudo, não deixou eu passar ealém do mais, tive que pagar uma multa porque leveimais de 10 unidades do mesmo produto. Achei umabsurdo porque não paguei nem 50 dólares pelosprodutos e mesmo assim tive que desembolsar mais de300 reais de multa e ficar sem os produtos... Foiburrice minha, pois resolvi levar 10 unidades e aprendia lição!”

SAIBA COMO NÃO SER BARRADO NAALFÂNDEGA NO BRASIL

http://www.receita.fazenda.gov.br/aduana/viajantes/viajantechegbrasilsaber.htm

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2020202020 GIACOMOPUCCINIPUCCINIPUCCINIPUCCINIPUCCINI

PorLUIZ GONDIM DE ARAUJO LINSPsiquiatra e escritorRio de Janeiro - RJ

[email protected]

Um dos maiores talentos musicais edramáticos de todos os tempos, GiacomoAntonio Domenico Michele Secondo MariaPuccini detestava a música quando criança.Porém, a genética exerceu forte influência,posto que ele representava a quinta geraçãomusical em sua família.

O pai, Michele Puccini, foi professor,compositor e organista em Lucca, cidade daItália onde Giacomo nasceu em dezembro de1858. Foi o quinto de sete filhos. Ficou órfãode pai aos seis anos e o tio, Fortunato Magi, oencaminhou ao Istituto Musicale Pacini.

Aos onze anos, sua mãe conseguiu umapensão que lhe permitiu estudar em Milão,cidade dos sonhos dos jovens de talento naItália daquela época. Teve lembranças penosasdas aulas de piano quando menino, pois aoerrar uma nota, recebia uma canelada de seuprofessor. Anos depois, quando ouvia uma notafalsa, o pé lhe saltava para cima, tal aprofundidade do condicionamento. Aos vinteanos, já em Milão e ainda pobre, suas refeiçõeseram sopa e feijão.

Puccini foi um homem atraente, sempreteve irresistível atração pelas mulheres,primando pela infidelidade; viciado no jogocarteado, onde contraiu muitas dívidas. Gostava

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de beber e de caçar, extremamente vaidoso,não admitia derrotas e era pão duro.

A melodia de Puccini se constitui numaespécie de clorofórmio que acalma os sentidose adormece o intelecto. O narcótico de suamúsica foi destinado a encantar o mundo. “Amúsica das óperas de Puccini não há de sercantada apenas com a garganta, mas tambémcom o coração”.

Puccini é considerado o pai do teatromusical moderno. Percorreu labirintosromânticos com toques poéticos sutis epersonalíssimos. Isso não impediu críticasdirigidas a algumas de suas óperas, a saber:Influência da “Carmen”, de Bizet, no segundoato de “ La Bohème”; Passagens de “Tristão eIsolda”, de Wagner, na abertura do terceiro atode “Manon Lescaut”, o belíssimo Intermezzo;As marcas das últimas óperas de Verdi, de quemfoi profundo admirador; Lembranças deDebussy, em “Madame Butterfly”; Influênciada “Sagração da Primavera”, de Stravinsky,em sua última ópera “Turandot”.Aliás,Turandot também estaria relacionadaa uma coleção de caixas de música, oriundasde Pequim, que lhe foram cedidas por umamigo. Antes de completar essa ópera, Puccinifaleceu, sendo ela terminada por seu pupiloFranco Alfano (apenas as duas últimas cenas).

Arturo Toscanini conduziu a óperaTurandot em sua estreia, em abril de 1926, napresença de Benito Mussolini. Ao chegar aoponto em que Puccini a interrompera, ele paroude reger dizendo: “aqui o maestro abaixou suacaneta”.

Quando Puccini alcançou enormepopularidade, tornou-se um elegante Don Juan,passando a ser assediado por um número

elevado de mulheres, inclusive casadas. Umadelas, de nome Elvira Geminiani, casada comum comerciante de Lucca, abandonou o maridoe fugiu com o compositor, num relacionamentoque durou dezoito anos. Embora amando Elvira,desfrutou, concomitantemente, de várias outrasmulheres de todas as classes sociais.

No que concerne às leis do amor, há umdivisor de águas, real ponto de desencontroentre o homem e a mulher. Enquanto esta primapela continuidade, aquele está em permanentedescontínuo. Ela está ligada a uma cadeia,sucessão de elos que envolvem o prazer, sem umpico culminante; ele precisa atingir ao pináculo,sem antes e sem depois, importando, apenas,chegar àquele objetivo. Puccini não escapou aesse princípio inexorável.

Eram dois compartimentos bem distintos:o artista genial e o bicho homem. Passou a serchamado de Monsieur Butterfly. Uma criadado casal Puccini, de nome Doria, acusada de seramante do compositor, tomou veneno e morreu.A autópsia veio a revelar que era virgem. Diziamde Puccini: “ele suga todas as flores e varia acada momento”. Ao que ele retrucava: “no diaem que eu não mais me apaixonar, poderãoencomendar-me o enterro”.

Sua vida privada ensejou uma série deanedotas e aí vai uma delas: enquanto sehospedava em um elegante hotel de Viena, noperíodo de fama, uma bela mulher foi visitá-lo.Estando de pijama, sentiu-se pouco à vontade,pediu desculpas e foi ao quarto para se vestir.De volta, encontrou a mulher nua. Pensou: “essamulher é louca, mas, pensando melhor, achoque seria perigoso lutar contra a loucura, quantomais se tratando de um espírito loucoencerrado em um corpo tão bonito”.

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Acima de tudo, Puccini adorava asolidão, quando se sentava ao piano, chapéuna cabeça, fumando, elaborando temas denovas canções. No cenário, um lago de pratacontrastando com o céu noturno.

Puccini, já famoso, buscava o intérpreteprincipal para “La Bohème” e, entre diversoscandidatos, estava Enrico Caruso. A áriaescolhida foi “Che gelida manina”, tendoCaruso vacilado num “dó agudo” próximo aofinal, perdendo, assim, sua chance. Para ogrande tenor, isso foi um grande desafio, queele aceitou e venceu, tornou-se amigo íntimo dePuccini, vindo a ser o mais brilhante intérpretede suas óperas.

A primeira ópera “Le villi” (1884), sobreos campônios da Floresta Negra da Alemanha,participou de um concurso e não ganhouprêmio. Ele ficou decepcionado, posto que seucolega e amigo Pietro Mascagni obtivera sucessopleno com a ópera “Cavalleria Rusticana”. Em1889, a segunda ópera, “Edgar” foi um fracassoque quase conduziu Puccini ao desânimo.Mas, em 1893, “Manon Lescaut” foi grandesucesso.

Em 1886, “La Bohème”, no teatro Regio,em Turim, arrebatou as plateias. Sua linhamelódica atinge a plenitude, somada à concisãoquase epigramática dos diálogos. São raras asóperas que mantêm durante toda a sua extensão(duas horas aproximadamente) os esplendorespoéticos, misto de tragédia e humor. As árias“Mimi” e “Che gelida manina”, além do dueto“O suave fanciulla” são arrebatadores.

Em 1900, ocorreu a estreia de “Tosca”(amor, ódio, revolta, inconformismo, tragédia).Narra a história de um pintor romanocondenado à morte pelo chefe de polícia. Asárias “Recondita armonia”, “Vissi d’arte” e “Elucevan le stelle” (despedida da vida)apaixonam pela beleza e grandiosidade. Nestaúltima, é incrível o clarinete anunciando a ricamelodia. No entanto, a peça foi duramentecriticada por Gustav Mahler.

No ano de 1904, no teatro Scala deMilão, “Madame Butterfly” foi lançada.Fracasso inicial daquela que viria a ser dasóperas mais populares do mundo, narrando ahistória muito triste de uma gueixa japonesaque se apaixona por um tenente da marinhaamericana. O “dueto de amor” é consideradoo mais belo de todas as óperas. Talvez a peça

seja a mais sonora de todas compostas pelomestre de Lucca. Puccini rescreveu a ópera,modificando o tema da entrada da Butterfly,dividiu em dois o segundo ato, que era muitolongo e suprimiu as referências grosseiras einoportunas do tenente Pinkerton aoshábitos alimentares do povo japonês. O filhodo casal teve como nome Desgosto.

Destaque-se, ainda, o “tríptico” compostode 3 óperas curtas: “Gianni Schichi”, “SuorAngelica” e “Il tabarro”. A última ópera domestre italiano foi “Turandot”. Versa sobre umaantiga lenda chinesa de uma princesa frígidaque submetia seus pretendentes à solução de trêsenigmas, sob pena de perderem a vida casofalhassem. Outras óperas poderiam ser citadas:“La fanciulla del west” (enorme sucesso nosstados Unidos) e “La rondine” (grande lirismo).

Puccini era muitíssimo exigente, beirandoao perfeccionismo, levando anos para comporuma ópera. Apenas em 1968 ele foi reconhecidona Alemanha. O grande inventor ThomasEdson, admirador do mestre italiano, deu-lheum gramofone de presente.

Quando compunha “Turandot”, Puccinisentiu uma indisposição; foi diagnosticado umtumor maligno, o qual foi tratado por umrenomado especialista da Europa. Ele sofreumuito, já era diabético, não mais falava, secomunicava por bilhetes. Faleceu em 29 denovembro de 1924, em Bruxelas e o corporetornou à Torre do Lago, palco maravilhosode suas grandes criações e lá permanece atéhoje. Puccini inspirou o futuro Teatro Musical efoi imortalizado por sua grandeza incomparávele inspiração divina.

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Opinias - Julho 2014

2323232323Antes regido pela Lei nº. 4.591, de 16 dedezembro de 1964, o condomínio em edificações ganhouum capítulo inteiro no Novo Código Civil de 2002,denominado “Do Condomínio Edilício”, regulado pelosartigos 1.331 a 1.358.

Quem possui apartamento ou conjunto comercialintegrante de um edifício, tem pleno conhecimento dasdificuldades de relacionamento e convívio social.

Os problemas são de toda ordem e vão desde obarulho excessivo da vizinhança, passando porfuncionários e síndicos despreparados, até ainadimplência, os abusos e a arrogância.

Desta forma, morar ou trabalhar em umcondomínio exige tolerância, compreensão, diálogo,equilíbrio, respeito e educação, ou seja, qualidades quese encontram em desuso nos dias atuais. Então, comosolucionar os litígios e as controvérsias?

Em primeiro lugar, os problemas podem serminimizados quando o edifício possui uma “ConvençãoCondominial” abrangente, objetiva e moderna, e, ainda,um “Regimento Interno” que se adapte perfeitamente àsatividades do prédio. Depois, existe a lei que rege amatéria e o Poder Judiciário para aplicá-la.

Além disso, o exercício da sindicância deve serfirme, seguindo rigorosamente as normas estatutárias eos dispositivos legais, aplicando as sanções cabíveissempre que se fizer necessário.

Sabemos que gerir e administrar um edifício sobo regime de condomínio não é fácil. Às vezes surgemproblemas em nossa própria casa, onde moram quatroou cinco pessoas, imaginem um prédio residencial depequeno a médio porte, com vinte apartamentos, porexemplo, onde em média moram e circulam diariamentede oitenta a cem pessoas aproximadamente.

É por isso que enfatizamos a importância da“Convenção Condominial” e do “Regimento Interno” doedifício. Esses dispositivos serão a “lei” do condomínio,razão pela qual se torna imprescindível que cadaproprietário tenha uma cópia da Convenção e sejacolocado em local visível a todos o Regimento Interno,para que ninguém possa alegar ignorância dessas normas.Ressalte-se, ainda, que as decisões importantes etambém aquelas que envolvam custo significativo paraos condôminos devem sempre ser tomadas em“Assembleia”, onde democraticamente todos possamvotar e externar as suas opiniões, lembrando que, paracada tipo de assunto a ser discutido há um quorum

específico necessário para o seu exame e aprovação,de acordo com a lei.

Por vivermos em sociedade, há direitos eobrigações que todos nós temos que exercitar e cumprir.Nos condomínios – sejam eles verticais ou horizontais –não é diferente.

PorROBERTO CAETANO MIRAGLIAAdvogado / Negócios ImobiliáriosSão Paulo - [email protected]

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Opinias - Julho 2014

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Pede-me moderação a mão destraComo se possível fosse emudecerOs gestos que anseiam o toqueDedilhado pelos caminhos da escritaQuando são os versos precipício e refúgioA canhestra emoção entorna dos dedosIgnorando a vigília do comedimentoOu a calma que me indica a ponderaçãoA palavra em mim é sempre expostaInquieta e nua, engolindo silêncios

Tenho na ponta dos dedosO lado de dentro do peitoO verso e anverso do que não seiMeu viés e reverso confessosSou de dizeres fartos e incontidosQue se lançam impulsivos no papelNo abismo de linhas desconhecidasMinha caligrafia não acalenta brisasDescobre-se e sabe-se em ventaniasEscrevo sempre intensamenteComo se a última palavra fosseE na voz de cada letraBalbuciasse o derradeiro suspiro

A voz dasminhas

MÃOSMÃOSMÃOSMÃOSMÃOS

PorFERNANDA GUIMARÃESGerente de hotel / poetaFortaleza - [email protected]