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Ano X - N.º 29 - 22 de Setembro a 21 de Dezembro 2009 Esta Revista faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias e não pode ser vendida separadamente • Distribuição gratuita Estuary: Wildlife journal Report: Morais – Natura 2000 Network Interview: The dry bite of the viper Dunas DIÁRIO DA VIDA SELVAGEM Reportagem MACIÇO DE MORAIS: ROCHAS ULTRABÁSICAS Entrevista VÍBORAS: UMA MORDEDURA SECA

Revista PARQUES E VIDA SELVAGEM n.º 29, Outono 2009

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As traves-mestras desta publicação são a educação ambiental e a conservação da natureza.A revista PARQUES E VIDA SELVAGEM sai com o JORNAL DE NOTÍCIAS.A revista PARQUES E VIDA SELVAGEM é produzida trimestralmente pelo Parque Biológico de Gaia.http://www.parquebiologico.pt/doc.php?id=28&PAG=Revista

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Ano X - N.º 29 - 22 de Setembro a 21 de Dezembro 2009

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DunasDIÁRIO DA VIDA SELVAGEMReportagemMACIÇO DE MORAIS: ROCHAS ULTRABÁSICASEntrevistaVÍBORAS: UMA MORDEDURA SECA

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

FICHA TÉCNICA

Revista “Parques e Vida Selvagem”. Director

Nuno Gomes Oliveira. Editor Parque Biológico r

de Gaia. Coordenador da Redacção Jorge

Gomes. Fotografi as Arquivo Fotográfi co do

Parque Biológico de Gaia. Propriedade Parque

Biológico de Gaia, E. E. M. Pessoa colectiva

504888773. Tiragem 120 000 exemplares. ISSN

1645-2607. N.º Registo no I.C.S. 123937. Dep.

Legal 170787/01. Administração e Redac-

ção Parque Biológico de Gaia, E.E.M. - Rua da

Cunha - 4430-681 Avintes – Portugal - Telefo-

ne 227878120. E-mail: revista@parquebiologico.

pt - t Página na internet http://www.parquebio-

logico.pt - t Conselho de Administração Nuno

Gomes Oliveira, Nelson Cardoso, José Urbano

Soares. Publicidade Jornal de Notícias. Impres-

são Lisgráfi ca - Impressão e Artes Gráfi cas, Rua

Consiglieri Pedroso, 90 - Casal de Santa Leopol-

dina - 2730 Barcarena, Portugal. Capa: Garças-

brancas-pequenas na Reserva Natural Local do

Estuário do Douro; foto de João Luís Teixeira.

SECÇÕES

8 Cartoon

9 Ver e falar

10 Countdown

12 Fotonotícias

14 Portfolio

18 Quinteiro

22 Dunas

27 Espaços Verdes

55 Mosaicos

60 Biblioteca

61 Colectivismo

64 Crónica

Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadas da responsabilidade de quem as assina.

Esta revista resulta de uma parceria entre

o Parque Biológico de Gaia e o “Jornal de Notícias”

Outono 2009

SUMÁRIO 3

João L. Teixeira

23 DIÁRIO DA VIDA SELVAGEMdunasAo longo do Verão passado, a observação sistematizada de aves limícolas revelou dados diversos que atestam o interesse ecoturístico destaárea protegida de Vila Nova de Gaia. É por isso que a Reserva Natural Local do Estuário do Douro é um mundo novo para ser descoberto também por si.

40 MACIÇO DE MORAIS: ROCHAS ULTRABÁSICASreportagemO maior bloco contínuo de rochas ultrabásicas de Portugal estende-se ao longo deste espaço da Rede Natura 2000. Com plantas específi cas destes habitat, estamos perante antiquíssimos fundos oceânicos, em Trás-os-Montes, próximo de Macedo de Cavaleiros.

50 VÍBORAS: UMA MORDEDURA SECA entrevistaCom um nome tornado pejorativo, hoje as víboras são animais protegidos por lei. Se na evolução esta família progride com a expansão dos pequenos mamíferos, são agora espécies vulneráveis. José Carlos Brito, investigador do CIBIO da Universidade do Porto, estuda-as há uma década, e desvenda-lhe os mais recentes conhecimentos sobre estas serpentes fora de série.

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

No número de 24 de Setembro da prestigiada revista “Nature”,

uma equipa de cientistas da Universidade de Estocolmo (Suécia), chefi ada

por Johan Rockström, publicou o artigo “A safe operating space for humanity”

onde é proposto um novo método para avaliar as agressões ao planeta

Os cientistas introduzem o conceito de limi-tes ou fronteiras planetárias, dentro das quais a humanidade se tem de conter.

São propostos limites para as mudanças cli-máticas, a acidifi cação dos oceanos, a interfe-rência nos ciclos globais do azoto e do fósforo, o uso de água potável, as alterações no uso do solo, a carga de aerossóis atmosféricos, a poluição química e a taxa de perda da biodiver-sidade, tanto terrestre como marinha.

Johan Rockström e os colegas consideram que a humanidade já ultrapassou três desses limites – o ciclo do azoto, a perda da biodiversi-dade e as mudanças climáticas – e está perto de ultrapassar os limites do uso de água, da transformação de fl orestas e de outros ecos-sistemas naturais para uso agro-pecuário, da acidifi cação oceânica e do ciclo de fósforo.

No caso do azoto, antes da Revolução In-dustrial não era removida da atmosfera, para uso humano, qualquer quantidade. Actualmen-te são removidas anualmente 121 milhões de toneladas, quando o limite máximo proposto pelo estudo é de 35 milhões.

Calcula-se que a perda de biodiversidade, antes da era industrial, seria de 0,1 a 1 espécie por milhão, por ano. Actualmente extinguem-se mais de 100 espécies por ano, quando o limite proposto é de 35.

No que toca à água potável a humanidade consumia cerca de 415 quilómetros cúbicos por ano antes da Revolução Industrial. Actu-almente chegou a 2600, muito perto do limi-

te proposto de 4000 quilómetros cúbicos por ano.

Os autores concluem que “Embora a Terra tenha passado por muitos períodos de altera-ções ambientais importantes, o ambiente pla-netário tem-se mantido estável nos últimos 10 mil anos. Este período de estabilidade – a que os geólogos chamam Holoceno – viu surgirem civilizações, que se desenvolveram e fl ores-ceram. Mas esta estabilidade pode estar em risco”.

Estaremos, de facto, a ultrapassar os limi-tes?

Ano Internacional da Diversidade Biológica

À beira dos limites da perda de biodiversida-des estamos, com toda a certeza. Por isso, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2010 Ano Internacional da Diversidade Biológi-ca com o objectivo, segundo a ONU, de “cele-brar a diversidade da vida na Terra e contrariar a perda da biodiversidade no mundo”, que é mil vezes superior ao que seria natural.

A Assembleia Geral da ONU de 20 de Se-tembro de 2010 irá preparar a Cimeira da Bio-diversidade de Nagoya (Japão), que terá lugar no mês seguinte, e onde se pretende que os governos defi nam uma estratégia global para contrariar a perda da biodiversidade. O Ano In-ternacional da Diversidade Biológica terminará em Dezembro, em Kanazawa, no Japão, com

o anúncio do Ano Internacional das Florestas 2011.

Também a União Internacional para a Con-servação da Natureza está preocupada com o problema da perda de biodiversidade, ten-do lançado em 2001, em colaboração com a União Europeia, a campanha “Countdown 2010” que visa reduzir a perda de biodiversi-dade até ao ano 2010. No entanto, segundo o WWF (Fundo Mundial da Vida Selvagem), essa campanha resultou num fracasso uma vez que, na Europa, 65 % dos habitats e 52 % das espécies estão em estado de conservação mau ou desfavorável.

Segundo Andreas Baumüller, responsável do Gabinete de Políticas Europeias de Biodi-versidade da WWF, na última década, a União Europeia fez cortes orçamentais nos investi-mentos relacionados com a conservação da natureza, reduzindo-os a cerca de 0,1 % do orçamento da União Europeia. Dos cerca de 300 euros anuais que cada cidadão europeu desconta para a União Europeia, apenas 30 cêntimos são destinados à conservação do património natural.

Segundo a Professora Jacqueline McGlade, Directora Executiva da Agência Europeia do Ambiente, “a biodiversidade da Europa ainda é objecto de fortes pressões e enfrenta gra-ves riscos. Embora não possamos cumprir o objectivo que consiste em travar a perda da biodiversidade na Europa até 2010, certos pro-gressos têm no entanto sido registados.”

Estará a Terra à beira dos limites?

Por Nuno Gomes Oliveira

Director da Revista “Parques e Vida Selvagem”

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

EDITORIAL 5

Um dos grandes problemas é a falta de investigação científi ca e, logo, o desconhe-cimento; segundo um relatório de avaliação da situação divulgado em Julho de 2009 pela União Europeia, cerca de 13% dos habitats regionais e 27% das espécies foram classifi ca-das na categoria de “estado de conservação desconhecido”. O número das classifi cações nesta categoria foi particularmente elevado no Chipre, Grécia, Espanha e Portugal, países que consideraram “desconhecido” o estado de conservação de mais de 50% das espé-cies presentes nos seus territórios!

O que está em causa não são, apenas, as espécies selvagens mais emblemáticas, mas sim as próprias espécies animais e vegetais usadas na alimentação humana: quase 90% dos stocks de peixe são sobreexplorados e cerca de 30% podem já ter ultrapassado o limite da não renovação.

Mas, fruto do já referido desconhecimento, também novas espécies são constantemen-te descobertas e classifi cadas, como ainda recentemente (ver revista “Parques e Vida Selvagem”, n.º 28, com o Minibiotus ortho-fasciatus, no Parque Biológico. Em Agosto passado, o WWF (Fundo Mundial da Vida Sel-vagem) anunciava que entre 1998 e 2008 fo-ram descobertas 353 novas espécies na zona Oriental dos Himalaias (Sul do Tibete (China), o Nepal, a Índia e o Butão): mais de 200 plan-tas, 16 anfíbios e igual número de répteis, 14 peixes, duas aves, dois mamíferos e pelo me-nos 60 invertebrados.

A conservação da natureza, na Europa (Portugal, naturalmente, incluído), é regulada por dois diplomas fundamentais: a Directiva Aves e a Directiva Habitats. Esta última im-põe aos Estados-Membros a manutenção em bom estado de conservação de um conjunto de espécies e de habitats, criando os chama-dos “sítios da Rede Natura 2000”. No total, a rede Natura 2000 abrange mais de 25 mil sítios (das Directivas Aves e Habitats) e cobre cerca de 17% do território da União Europeia, curiosamente uma percentagem igual à que a

Rede Municipal de Parques de Gaia pretende cobrir.

Parques de Gaia Em Setembro foi possível abrir ao público

(ver, adiante, crónica do Presidente da Câ-mara Municipal de Vila Nova de Gaia, Dr. Luís Filipe Menezes) mais um parque: o Parque Botânico do Castelo, em Crestuma, assim de-signado pelo valor da sua vegetação natural. Para além dessa valência, este parque é um sítio arqueológico importante, o que cria uma nova frente de conservação do património.

Entretanto elaborou-se a proposta de clas-sifi cação do Vale do Febros como “paisagem protegida”, proposta essa que se viria a adi-cionar ao futuro “Parque Natural Local das Encostas do Douro”, cuja proposta fi nal irá à reunião de Câmara, para aprovação, ainda este ano.

Em construção continua o Parque da Pon-te Maria Pia, cuja conclusão apenas depende de dois protocolos de cedência de terrenos a celebrar com o Exército, um, e com uma em-presa privada, outro. Ainda este ano será feita a arborização deste parque, cuja conclusão se perspectiva para a Primavera de 2010.

Na próxima reunião da Assembleia Munici-pal de Gaia será votado o Regulamento Mu-nicipal de Parques e Áreas de Conservação da Natureza e da Biodiversidade do Conce-lho de Vila Nova de Gaia; mais uma vez Gaia será pioneira na conservação do património natural.

Centro de RecuperaçãoPela terceira vez consecutiva foi reprova-

da pelos Fundos Comunitários a candida-tura do Parque Biológico para reabilitação e modernização do Centro de Recuperação de Animais Selvagens; ou melhor, desta vez até foi aprovada, mas... a verba não che-gava para contemplar a nossa candidatura! Consideramos esta decisão perfeitamente

desajustada e injusta e, por isso, dela re-clamamos.

O Centro de Recuperação do Parque Bio-lógico funciona ininterruptamente há 26 anos, recebeu mais de 15 mil animais e recuperou e libertou cerca de 30%; neste momento abri-ga muitas dezenas de aves, nomeadamente exóticas, em regime de fi el depositário, por solicitação do ICNB (Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade) e de outras autoridades com que, desde sempre, mantive-mos uma estreitíssima colaboração.

O Centro de Recuperação do Parque Bioló-gico é o único numa vasta região com vértices em S. Jacinto, Vila Real e Gerês e o seu en-cerramento traria difi culdades acrescidas aos cidadãos que pretendem entregar animais sel-vagens encontrados feridos ou abandonados e ao SEPNA (Guarda Nacional Republicana) que, frequentemente várias vezes ao dia, ali vai depositar espécimes.

Os protocolos assinados com o ICNB e a DGV (Direcção Geral de Veterinária) afi rmam a importância deste Centro de Recuperação para as entidades que tutelam a conservação da natureza e a sanidade animal em Portugal.

Curiosamente, em 28 de Setembro, o “Di-ário da República” publicava a Portaria n.º 1112/2009, do Ministério do Ambiente, que vem regular o funcionamento dos centros de recuperação e criar uma rede comum de fun-cionamento, e considera que “Os centros nela enquadrados partilham objectivos comuns, contribuindo para a conservação da biodiversi-dade nas suas vertentes in situ e ex situ, para o conhecimento científi co e para a promoção da educação ambiental.”

Assim, ainda esperamos a revisão da deci-são tomada, sob pena de termos de encerrar o centro.

Áreas protegidas privadas

Há muito que se aguardava a oportunidade legal de criação de áreas protegidas privadas,

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Parques e Vida Selvagem Verão 2009

o que passou a ser possível a partir de 7 de Outubro, com a publicação pelo Ministério do Ambiente da Portaria n.º 1181/2009.

Assim, a partir de agora, os proprietários ou usufrutuários de terrenos com valores naturais ou, ainda, as organizações não governamen-tais de ambiente, podem requerer a classifi ca-ção desses imóveis como área protegida priva-da. Esse requerimento é dirigido ao ICNB, que deverá sobre ele decidir no prazo de 90 dias.

Esperamos que muitos proprietários adiram a esta possibilidade legal, tendo a primeira ma-nifestação de interesse partido (ainda antes da publicação da portaria) da Associação da Tran-sumância e Natureza (ATN) que pretende ver classifi cada a sua propriedade da Faia Brava, em Figueira de Castelo Rodrigo, que foi visita-da em 28 de Julho pelo Prof. Humberto Rosa, Secretário de Estado do Ambiente.

De recordar que já em legislação anterior (Decreto-lei n.º 264/79) foi prevista a criação de áreas protegidas privadas, na altura com a designação de “refúgio ornitológico”. Sabemos que foram feitos muitos pedidos mas, curiosa e incompreensivelmente, apenas um foi defe-rido.

Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 7/91, foi criado o Refúgio Ornitológico do Monte Novo do Roncão, na freguesia do Alan-droal, em Évora, e por ai se fi cou a aplicação da lei. Tentamos saber, junto do ICNB, quantos

pedidos de classifi cação, ao abrigo do referi-do Decreto-lei n.º 264/79 tinham dado entrada nos serviços, mas nunca obtivemos resposta. Esperamos sinceramente que o novo enqua-dramento legal não venha a ter o mesmo des-tino.

Litoral de GaiaProsseguem a bom ritmo as obras de con-

solidação das estruturas de defesa do cordão dunar de Vila Nova de Gaia, comparticipadas pelo QREN e a instalação da Reserva Natural do Estuário do Douro, que também viu a sua candidatura a fundos comunitários aprovada.

Em Agosto, em conferência de imprensa presidida pelo Vice-presidente da Câmara Mu-nicipal de Gaia, Dr. Marco António Costa, foi anunciada a preparação de uma nova candi-datura para ensaio de aplicação na costa de Gaia de estruturas de contenção da erosão, recorrendo à técnica dos “geotubos”, já em uso em muitos locais do mundo, mas nunca experimentada em Portugal.

Outras actividades do Parque Biológico

Algumas da acções previstas pelo Parque Biológico para o 2.º Semestre de 2009 ain-da não se puderam concretizar, como sejam

a instalação do Observatório astronómico e a edição do livro sobre a Flore Portugaise; quer uma, quer outra, serão concretizadas breve-mente.

Outras actividades estão já em preparação no Parque Biológico: em Novembro e Dezem-bro deste ano terá lugar o 4.º Encontro de Fotografi a da Natureza, em Março de 2010 decorrerá o 5.º Encontro Técnico da Asso-ciação Portuguesa de Anilhadores e em Abril de 2010 o III EETA – Encontro de Educação e Turismo Ambiental, em parceria com a So-ciedade Portuguesa para o Desenvolvimento, Educação e Turismo Ambientais; em 2012 está já confi rmada a realização do 12th Inter-national Symposium on Tardigrada, promovi-do em parceria com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Entretanto, por proposta do Instituto Bra-sileiro de Desenvolvimento Sustentável (ELO) está a ser estudada a possibilidade de instalar no Parque Biológico o Amazonia International Meeting Point (AIMP), um fórum de divulga-ção na Europa das problemáticas da Ama-zónia brasileira. Também com este instituto, está a ser preparada uma exposição sobre a expedição de Pedro Teixeira à Amazónia, en-tre 1636 a 1638.

Ainda este ano aguardamos a visita do Se-nhor Ministro do Ambiente da República De-mocrática de Timor-Leste.

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Esta é uma grande aposta do Município de Gaia para os próximos anos. Depois da rea-bilitação, praticamente concluída, da fachada atlântica do concelho, importava, agora, ini-ciar um ciclo de recuperação e valorização da fachada ribeirinha.

Assim, em meados de 2008 o Municí-pio encomendou a um gabinete externo um plano geral de intervenção nas Encostas do Douro, desde a Ponte Maria Pia até ao limite do concelho, em Lever. Apresentado esse es-tudo, foi decidido enquadrá-lo na fi gura jurídi-ca de “parque natural local”, para uma mais efi caz gestão dos 1987 hectares que serão intervencionados.

Pretende-se que este projecto salvaguar-

de a qualidade paisagística das Encostas do Douro e as transforme num grande parque de recreio de natureza que assentará, basi-camente, numa extensa via ciclo-pedonal ao longo de toda a margem gaiense do Douro e em alguns equipamentos lúdicos, alguns já existentes, outros a construir.

É um ambicioso projecto para mais de uma década, mas cujos resultados práticos no ter-reno se espera começar a ver já em 2010. Claro que muito do sucesso deste projecto terá a ver com a iniciativa privada, a quem caberá o investimento em equipamentos e infra-estruturas, quer sejam parques temáti-cos, quer restaurantes ou piscinas.

Entretanto avançam os trabalhos de ins-

talação do Parque da Ponte Maria Pia, pre-vendo-se para este Inverno a plantação de arvoredo e a abertura do parque na próxima Primavera.

Vem a propósito recordar que a Assem-bleia Geral das Nações Unidas declarou 2010 Ano Internacional da Diversidade Biológica; a política de espaços verdes de Gaia dá um contributo importante para a preservação da biodiversidade e, nesse sentido, somos um município pioneiro. No próximo ano apresen-taremos os resultados de anos de trabalho na conservação da diversidade biológica e do contributo de Gaia para a campanha da União Europeia no sentido de conseguir tra-var a perda de biodiversidade até 2010.

Por Luís Filipe Menezes

Presidente da Câmara Municipal

de Vila Nova de Gaia

Gaia mais verde A política municipal de criação de novas zonas verdes de conservação

da paisagem, recreio e lazer prossegue: no passado dia 13 de Setembro

foi inaugurado mais um parque – o Parque Botânico do Castelo,

em Crestuma – e no dia 28 de Outubro foi anunciada a intenção de criar

o Parque Natural das Encostas do Douro

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

OPINIÃO 7

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

8 CARTOON

ÚLTIMA HORA

Por Ernesto Brochado

Em 9 de Outubro reuniu no Parque Bioló-gico de Gaia o júri do Concurso Nacional de Fotografi a «Parques e vida selvagem», na sua edição de 2009.

Variando a composição do júri ano a ano, desta vez a tarefa coube a João Nunes da Silva, J. Paulo Coutinho e Nuno Gomes Oli-veira.

Após análise dos trabalhos, à fotografi a «Olhos na bruma», de João Petronilho, foi

atribuído o prémio «Arte fotográfi ca», no valor aproximado de mil euros. «Vórtex», de Pedro Ferrão Patrício, recebeu o prémio «Registo documental». O prémio Júnior, uma das novi-dades da edição deste ano do concurso, dis-tinguiu «Peneireiro», de Manuel José Brandão Malva, de 13 anos. Este último destinava-se a jovens concorrentes, até aos 15 anos de idade, sendo estes completados até 31 de Dezembro de 2009.

No total das fotografi as entregues, foram também distinguidos para exposição alguns trabalhos, segundo um compromisso entre a variabilidade temática e a sua qualidade foto-gráfi ca.

A exposição abre no salão de fotografi a do Parque Biológico de Gaia no próximo dia 7 de Novembro, às 15h00, com a entrega de prémios.

Concurso de Fotografi a

Prémio «Arte fotográfi ca» Prémio «Registo documental» Prémio Júnior

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Há que pôr em dia as palavras dos leitores...

À descoberta da vida selvagem

Galinha-de-água

VER E FALAR 9

Ano X - N.º 28 - 21 de Junho a 21 de Setembro 2009

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Onde encontrar a revista?Abel Barreto foi um dos leitores que desco-

briu a revista Parques e Vida Selvagem na Feira do Livro.

O seu e-mail chegou com estas palavras: «Boa tarde. Há dias, numa passagem apres-sada pela Feira do Livro no Porto tive a opor-tunidade de trazer comigo um exemplar (de Setembro de 2008) da revista “Parques e Vida Selvagem”.

Fiquei deveras surpreendido com a quali-dade e quantidade de informação da revista. Gostaria de saber como a obter. Ela é distri-buída com o “Jornal de Notícias”, mas em que datas? Parabéns pelo excelente trabalho».

A resposta seguiu, e já agora deixamos a previsão das datas de distribuição das pró-ximas revistas – revista n.º 30, Inverno de 2009/10, com o JN de 23 de Janeiro; revista n.º 31, Primavera de 2010, com o JN de 24 de Abril; revista n.º 32, Verão de 2010, com o JN de 17 de Julho.

É claro que, por razões que eventualmente nos transcendam, estas datas poderão ser re-ajustadas.

Por isso, o melhor é ir visitando o site www.parquebiologico.pt, onde essa informação é dada indo à secção Recursos, Revista.

Vá lá, acontece!Também Vera Gonçalves, de Beja, não sa-

bia da existência desta revista: «Bom dia. Só ontem tomei conhecimento da vossa revista “Parques e Vida Selvagem”, o que é vergo-nhoso, uma vez que a mesma já vai no n.º 27. Gostava de saber se é possível receber alguns números atrasados da referida revista.

Gostava de saber igualmente se há alguma forma de eu saber as datas em que a referi-da revista sai, uma vez que terei de solicitar no meu ponto de compra do jornal, para me reservarem um JN nessa altura. Muito obri-gada».

Resposta idêntica, à mensagem de cima e a outras afi ns, com envio de algumas revistas anteriores que ainda foi possível juntar. Na im-possibilidade do envio de todas, uma vez que a maior parte está esgotada, os leitores podem descarregar a versão electrónica das mesmas, em Acrobat reader, através do site www.par-

quebiologico.pt, indo à secção Recursos, Re-vista.

Quanto às que vão sendo publicadas ao lon-go do tempo, basta fi car atento e não esque-cer de comprar o jornal certo na data referida no site já citado.

A primeira visita escolarQuando Carla Carvalhal folheava a revista,

de repente revê-se, em tempo de infância, na primeira visita escolar que o Parque Biológico de Gaia recebeu, há mais de duas décadas.

Diz: «Bom dia. Antes de mais os meus pa-rabéns pelo magnífi co trabalho desenvolvido no parque ao longo dos anos. Promove uma excelente educação ambiental e revela-se um local onde se pode relaxar e abstrair do quoti-diano citadino. Uma maravilha!

Foi com muita satisfação que na revista n.º 24 pude relembrar o dia em que fui com a mi-nha escola, Pires de Lima, realizar a primeira visita escolar ao parque, com a plantação de um medronheiro, na foto publicada no artigo ‘Uma história sem fi m’. O título não podia ter sido mais bem escolhido. Já levei a minha fi -lha duas vezes ao parque e não vai fi car por aqui pois adorou e nós também. Será que é possível obter essa foto e rever mais alguma dessa visita? Obrigada e até breve. Melhores cumprimentos!».

Por entre as pedrasAo enviar-nos a sua mensagem, fi cámos a

saber que Manuel Ferreira é igualmente leitor desta revista. Sem uma fotografi a, porém, é di-fícil satisfazer a sua dúvida: «Exm.ºs Srs. revista “Parques e Vida Selvagem”, é com agrado que leio a vossa publicação e gostaria de partilhar convosco uma observação que fi z há uns tem-pos.

Num fi m de tarde desta Primavera, fi z por aca-so uma observação de uma espécie de ave que me intrigou, dado que o local está fortemente poluído – troço do rio Tinto (ponte do Caneiro). Vi três exemplares que pareciam ser galinhas-de-água, completamente negras excepto a extremidade das asas que eram brancas e um bico amarelo. Deslocavam-se agilmente por en-tre as pedras e na água era como se de patos se tratassem. Passo por lá diariamente e olho

curioso para o local, na esperança de fazer uma nova observação, mas só vejo as habituais andorinhas, melros, pardais e rolas.

Tive pena de não ter tido uma máquina fo-tográfi ca à mão. Daí perguntar se, com estes poucos dados, podiam ter a amabilidade de me informarem de que espécie se trata?

Continuem realizando esse meritório trabalho de sensibilização, em prol do meio ambiente!

Grato pela v/melhor atenção, subscrevo-me».

Resposta: «Boa tarde. Neste momento esta-mos no fecho da próxima revista e não temos os dados todos para lhe responder.

Vamos averiguar se estará descrita alguma variação entre as nossas galinhas-de-água. A alternativa seria alguma outra espécie parecida, exótica, que escapasse de algum zoo. Galeirão não seria, pela sua descrição.

Jorg

e G

omes

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

10 CONTRA-RELÓGIO

Biodiversidade

Agir nessa vertente impõe alterar hábitos e criar medidas tanto ao nível do indivíduo como da sociedade.

A biodiversidade liga-se com a diversidade de recursos presentes no planeta na esfera dos se-res vivos. Esta palavra de sete sílabas descreve a variedade de vida e os processos naturais que decorrem na Terra.

Esta campanha, lançada pela Organização para as Nações Unidas, vulgariza a ideia até há poucas décadas apenas conhecida de alguns cientistas: o ser humano não está acima dos outros seres vivos, sejam eles plantas, animais ou outros, e mais – não só não está acima como depende deles para sobreviver.

Os ecossistemas naturais são as máquinas primárias e efi cientes de onde saem substân-cias tão fundamentais à sobrevivência imediata como o oxigénio que respiramos, a água de que dependemos diariamente ou o solo fértil que cultivamos.

Ao herdar recursos desse jaez dos antepas-sados, ao longo de gerações a sua qualidade tem sido posta em causa, o que levanta um pro-

blema ainda maior: não devemos passar pela Terra e deixar uma herança útil aos vindouros?

Nesse sentido, a campanha Parar a perda de biodiversidade até 2010 aponta sete passos essenciais:

1 – Tanto as espécies de seres vivos como os ecossistemas precisam de espaço para existi-rem. Pelo menos 10% de ecossistemas de todo o tipo devem fi car sob protecção para salva-guardar a natureza e as paisagens naturais.

2 – Sem biodiversidade a agricultura deixa de existir. As práticas agrícolas não podem excluir a sobrevivência da vida selvagem: estimular uma agricultura diversifi cada que reduza o uso de pesticidas e fertilizantes artifi ciais é a chave para a biodiversidade. A agricultura biológica é um bom exemplo.

3 – A pesca excessiva ameaça o futuro de espécies que ainda nos aparecem na mesa. Se não forem tomadas medidas para protecção dos stocks selvagens, que permitam a reprodu-ção sustentável das espécies, os nossos netos não as conhecerão.

4 – Estradas, fábricas e as construções imo-

biliárias em geral destroem habitats naturais de fl ora e fauna. Se tanto o desenvolvimento urba-no como o rural continuarem a ignorar o mundo natural, o meio ambiente em que vivemos será dominado pela poluição e pelo cimento.

5 – As alterações do clima são hoje outro grande desafi o da humanidade. O aquecimento global deve ser contrariado de forma a garantir que as espécies consigam migrar ou adaptar-se às novas condições.

6 – Se libertar espécies fora do seu habitat nativo, elas podem morrer ou então tornarem-se invasoras capazes de degradarem os ecos-sistemas que agridem. Reduzir o impacto de espécies invasoras que já são um problema é crucial.

7 – Salvaguardar a biodiversidade é a forma de garantir o desenvolvimento sustentável. Os serviços prestados pelos ecossistemas propor-cionam a base de toda a actividade económica. Medidas com interesse nesta área incluem in-centivos de mercado, assistência ao desenvolvi-mento, comé rcio amigo da diversidade biológi-ca e processos internacionais de gestão.

Faltam 68 dias para expirar uma data que muitos gostariam que fosse mágica,

mas não é obviamente: Parar a perda de biodiversidade até 2010

Ana Scarpa

A network of active PartnersPartners from all of the many sectors taking part in the fi eld of biodiversity activity will be coming together in the Countdown 2010 network, to support the commitment made by world leaders to start taking more care of worldwide biodiversity by 2010. The combined efforts of Governments and the Countdown 2010 Partners, will contribute to biodiversity conservation in raising awareness worldwide. However, the thought is that there are no magic buttons to push to stop the loss of biodiversity.

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

CONTRA-RELÓGIO 11

Assembleia de ParceirosO centro de congressos do Estoril acolheu a

primeira Assembleia de Parceiros Countdown 2010/Portugal no passado dia 25 de Setem-bro.

O evento contou com várias sessões simul-tâneas, subordinadas a temas como a inter-venção da engenharia natural na promoção da biodiversidade urbana, o programa Business & Biodiversity e um seminário sobre o uso das tecnologias de informação na promoção das Áreas Protegidas.

O coordenador do programa foi Sebastian Winkler, presidente do Countdown 2010, e o evento teve como parceiros o Instituto da Con-servação da Natureza e da Biodiversidade e o Countdown 2010.

O público-alvo desta iniciativa juntou os par-ceiros do Countdown 2010, alguns municípios e universidades, organizações não-governamen-tais e empresas públicas e privadas. Winkler, cuja formação se liga à economia, disse que «os serviços prestados pelos ecossistemas estão estimados em cerca de 33 milhões de dólares/ano», descrevendo-os como fundamentais para a alimentação e a medicina, indispensáveis para que haja disponibilidade de água potável e de oxigénio atmosférico, sendo certo que funcio-nam até como protecção de desastres naturais, além de proporcionarem algo tão simples como o prazer de passear num bosque.

Curiosamente, os refl exos na opinião públi-ca europeia acentuam-se e apontam a fasquia dos 63% no que diz respeito à parte da po-pulação que crê que proteger a natureza deve ser prioridade em relação à competição eco-nómica.

«O Countdown 2010», sublinhou, «é uma rede de parceiros activos que trabalham juntos para atingirem a meta de parar a perda de bio-diversidade até 2010». Contudo, tratando-se de uma campanha, vai obviamente prolongar-se para além dessa data, como seria de es-perar.

Os sete passos iniciais para salvar a biodi-versidade, porém, mantêm-se: 1. conservar pelo menos 10% de cada tipo de ecossistema; 2. produzir alimentos em sintonia com a natu-reza; 3. parar a sobreexploração dos recursos marinhos; 4. planear os transportes e a urba-nização sem esmagamento de espaços; 5. combater as alterações climáticas e ajudar as espécies a adaptarem-se; 6. reduzir o impacte das espécies exóticas; 7. providenciar incenti-vos para salvar a biodiversidade.

O certame foi organizado à imagem do que já acontecera em Bruxelas sobre a mesma te-mática, envolvendo parte dos parceiros inter-nacionais daquela rede.

Fotos: João L. TeixeiraSeminário sobre o uso das tecnologias de informação na promoção das Áreas Protegidas

Auditório: intervenção da engenharia natural na promoção da biodiversidade urbana

Sebastian Winkler, presidente do programa Countdown 2010

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Filhas do fogo«Eh, pá! Onde é que elas andam?». Ora diga lá se, com esta cara, não será o

que esta salamandra-comum-de-pintas-ama-relas está a pensar?

E que ninguém a deprecie: manda assim a programação biológica do animal.

Em regime de urgência, onde param as ra-parigas? O pensamento não sai da pista.

Malandreco, sabe como ninguém: nesta al-tura do ano andam perto de água.

Embora a espécie já tenha abandonado an-tigas membranas entre os dedos — vestígio evidente de actividade aquática — continua a ter de pôr no meio líquido os ovos fecunda-dos, para os seus girinos poderem ver a luz do Sol e da Lua.

Olfacto activo, atira narinas ao ar, detecta humidades, e segue adiante, até à fonte do amor, que a concorrência é tramada.

Ao contrário do que seria de pensar, tra-

tando-se de animais de sangue-frio, acaba de abrir a época de reprodução, descrita em dois tempos: o Outono e a Primavera. Esta incidência depende da região geográfi ca.

Discreto, o acasalamento ocorre em terra. Durante a cópula, o macho coloca-se debaixo do corpo dela, segurando-a com os membros anteriores e esfrega a cabeça na garganta da menina dos seus olhos.

Depois, ambos entrelaçam as caudas e o macho liberta o espermatóforo que é recolhi-do pela cloaca da fêmea.

Estas podem depositar na água entre 20 a 40 larvas, raramente 70, informa o «Guia de anfíbios e répteis de Portugal».

Regra geral, as larvas atingem a metamor-fose entre dois e seis meses após o nasci-mento. A maturidade sexual demora: só ocor-re aos três a quatro anos de idade.

O certo é que nesta época, a palavra sala-

mandra anda em bolandas, agora que se adi-vinha o adeus às temperaturas tépidas.

A lareira lá de casa já de si tem uma sa-lamandra não biológica. Esta mítica fi lha do fogo denuncia que o epicentro do fenómeno estará na pilha de lenha que se amontoa lá fora, sobre a terra, um espaço primoroso para este pequeno anfíbio de voracidade acutilante deambular em busca de repasto e abrigo.

À procura de mais uma acha para a foguei-ra, lá aparecia mais um urodelo! Ups! Negro e amarelo, combinação de alerta: veneno à vista?

Bem, as fi lhas do fogo não viajam nessas fronteiras perigosas, mas é sempre bom não mexer e, caso isso seja inevitável, há que sol-tar a salamandra no jardim, num canteiro, e depois tratar de lavar as mãos.

Texto: JG

12 FOTONOTÍCIAS

João

Pet

roni

lho

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

FOTONOTÍCIAS FOTONOTÍCIAS 1313

Um fruto entre espinhosNada mais simples – a cor deu-lhe o nome:

castanha. E o fruto nomeou a árvore: castanhei-ro. Não é pena leve: esta semente pode dar origem a um indivíduo com mais de um milhar de anos.

A tonalidade banal, apesar do breve lustro de recém-nascida, faz com que depressa a casta-nha se confunda com a terra e as folhas caí-das, demorando a encontrá-las quem as quer comer, seja homem seja bicho.

Mamíferos e aves chamam-lhe um fi go, sem transtornar o sabor. Entre os primeiros, contam-se javalis, veados, corços, esquilos, texugos...

Qual tesouro guardado por espinhos, o ou-riço tomba a dizer: Ninguém vai comer o que guardo, ou terá de enfrentar o meu exército!

Há escasso tempo, no Estio, era verde, en-quanto crescia. Teve como apêndice os esta-mes, memória da fl or do castanheiro, que pas-sou de amarela a castanha.

Andaram por ali abelhas e afi ns, a transpor-tar células sexuais de uma fl or para outra, eaumentaram a fertilidade da árvore. Em trocado serviço, o vegetal dá o néctar, excluindo ovento, que não deseja iguaria. Será por issoque não fertiliza tanto?

Ao chegar o ouriço ao chão, caído da árvore,não tarda a fi car da cor da terra.

Além de defesa, os seus espinhos são gan-chos de transporte das sementes. Terá tiradovantagem dos javalis quando estes se deitampara a soneca à sombra da árvore, e os espi-

nhos se enfarelam no pêlo, viajando à boleiapara locais diferentes?

Os recursos para que a castanha se torneuma árvore de respeito, quiçá centenária, temmuito a ver com o solo, a humidade, a luz...

Consta até que a força da paixão entre o ou-riço e a castanha cantou tão alto que chegouaos ouvidos de um pequeno mamífero. Semdemora, copiou-lhe a ideia. Hoje todos o co-nhecemos como ouriço-cacheiro.

Plantas e animais, todos tão diferentes, to-dos tão iguais. Alguns querem desaparecer para não serem deglutidos, outros, como asbagas, querem aparecer para serem comidose, mesmo assim, darem futuro à semente.

Texto: JG

* O forte odor das fl ores atrai abelhas e outros insectos que, juntamente com o vento, transportam o pólen de umas árvores para as outras. A mesma árvore possui fl ores femininas e masculinas, mas os ensaios de autofecundação efectuados demonstraram que o castanheiro é praticamente auto-estéril e a fecundação cruzada é indispensável. É das fl ores femininas, agrupadas em duas ou três, no interior de uma cápsula espinhosa, a que se dá o nome de “ouriço”, que resultam as castanhas.

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14 PORTFOLIO

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Osistema fotográfi co digital, quer por economia

de meios, quer por facilidades técnicas,

veio permitir aos fotógrafos da natureza,

especialmente aos amadores, a realização

de alguns sonhos. Entre eles o da fotografi a de insectos.

Alterar o ISO, a sensibilidade, e seguir fotografando é uma

vantagem formidável. Ainda melhor é a possibilidade de

premir o disparador, ver de imediato a imagem captada e

aceitar ou corrigir os elementos fotográfi cos. Isto é um salto

técnico extraordinário na história da fotografi a da natureza.

O sistema da Polaroid de certo modo já permitia isto mas

nunca teve as valências técnicas necessárias a este tipo de

fotografi a.

Hoje pode-se fotografar tudo – ou quase tudo – sem

necessidade de recorrer a equipamentos altamente

especializados. Uma “bridge”, câmara que faz a ponte entre

uma compacta e uma com capacidade para intermutar

objectivas, com um bom zoom, é geralmente uma solução

satisfatória. É que perante um alfaiate lacustre (Gerris

lacustris) caminhando sobre a água, uma borboleta da couve

(Pieris brassicae) ou uma mosca Episyrphus spc. em voo,

o segredo do sucesso fotográfi co pode estar escondido

na paciência, na determinação e até no acessório de três

pernas, o tripé.

Muitos fotógrafos preferem os insectos mais vistosos e/

ou mais raros. Nestas categorias podemos apontar o

imponente Vespão (Vespa crabro) – a maior vespa da Europa

– espectacular fabricante de “papel prensado” e a sempre

Libélulas: observar e fotografarPor Humberto Grácio

Apatura ilia

Dragonfl ies: Observationand Photography Because the digital camera system is economic and offers easy-to-use technical facilities, it has enabled nature photographers, especially amateurs, to realize of some of their dreams; among them perhaps, the photography of insects such as Dragonfl ies.

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PORTFOLIO 15

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

bela e escassa Apatura ilia, ambos residentes e habituais

visitantes do Parque Biológico de Gaia.

Mas há uma ordem de insectos que, tanto do ponto de

vista científi co como fotográfi co, tem vindo a cativar cada

vez mais adeptos. É a ordem Odonata a que pertencem

as libélulas (Anisoptera) e as libelinhas (Zygoptera) que

designaremos genericamente por libélulas. Embora sejam

completamente inofensivas para o homem nos meios rurais

chamam-lhes “Tira-olhos”. Até agora foram registadas em

Portugal 65 espécies diferentes de libélulas.

Alguns destes insectos são verdadeiros bio-indicadores

tanto da qualidade da água como do ambiente. Convém

lembrar que a maior parte da sua vida ocorre em ambiente

subaquático sob a forma de ovos e de larvas e que a

poluição da água pode ser fatal para algumas espécies. Um

fenómeno que os investigadores seguem com toda a atenção

é o da expansão para Norte da Europa de espécies oriundas

de África. Os motivos deste comportamento poderão ser

complexos mas certamente não serão alheios às alterações

climáticas e, em especial, ao aquecimento global.

Na nossa opinião as libélulas são tão belas como as

borboletas. Veja-se, por exemplo, o inconfundível

Crocothemis erythraea, de cor vermelha “da cabeça aos

pés”ou a jovem e delicada Ischnura pumilio na sua fase

laranja, dita “aurantiaca”.*

Menos comum em Portugal é a Brachythemis leucosticta,

de origem africana, que segundo os especialistas tem vindo

a deslocar-se de Sul para Norte devido à construção de

barragens e de represas**. É uma espécie com acentuado

dimorfi smo sexual. Os machos adultos são inconfundíveis

por serem os únicos no nosso país a terem uma grande

mancha escura em cada asa. As fêmeas, apesar de menos

conspícuas e de na sua maioria não terem a mancha escura

nas asas, são também de grande beleza. Quando pousadas

na areia são difíceis de localizar. Muitas vezes são apenas

denunciadas pelo pterostigma, a mancha de cor amarela na

ponta das asas.

Anax parthenope

Sympetrum fonscolombii

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OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

16 PORTFOLIO

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É uma espécie que presta um serviço inestimável aos

criadores de gado. As populações desta libélula vivem perto

dos bebedouros do gado. Aí aguardam pela chegada das

manadas e colocando-se ao lado dos animais caçam em

voo as moscas e mosquitos que os incomodam e que são

muitas vezes portadores de doenças.

Perguntar-se-á: Mas não é difícil aproximarmo-nos destes

insectos para os fotografar a distâncias que por vezes não

ultrapassam alguns centímetros? Umas vezes é e outras não

é. Há acontecimentos e até fenómenos naturais que facilitam

a aproximação.

A da página seguinte é de uma Anax parthenope que se

enrolou no fi o de nylon da cana de pesca de um pescador.

Para salvar o insecto foi necessário segurá-lo e cortar o fi o

de nylon por baixo das asas. Após a operação a libélula fi cou

um pouco entorpecida e foi possível colocá-la sobre um

arbusto e fotografá-la durante os breves segundos em que

se manteve pousada.

Este Anax está referenciado para Portugal tendo como limite x

setentrional da sua área de distribuição aproximadamente a

zona de Évora**. Com o acidente atrás descrito, ocorrido no

passado mês de Agosto, pode-se com segurança afi rmar

que já chegou à margem esquerda do rio Tejo, no concelho

da Chamusca, por alturas do Castelo de Almourol.

As libélulas têm inúmeros predadores entre os quais

podemos citar as aranhas, as rãs, os sapos e as aves. As

próprias libélulas, as de maior envergadura, comem as

mais pequenas. Uma das características mais marcantes VeVesVeVesVesVesVesVesVesVesVesesesVesVeseVVeeeeee pãopãopãopãopãopãopãpãpãopãopãoãopãopãopãopãopãopãopããopãopãopãopãoooopãooopãppppppppppp

Crocothemis erythraea

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PORTFOLIO 17

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

destes insectos é o seu exclusivo e complexo sistema de

fecundação. Esta só se concretiza na posição conhecida por

roda (wheel em inglês) como a da imagem seguinte de um l

casal de Sympetrum fonscolombii.

No campo encontram-se por vezes libélulas presas em teias

de aranha e em condições de serem fotografadas. Foi o que

aconteceu com esta Calopteryx haemorrhoidalis, macho.

Nem sempre é referido o contributo prestado pelas libélulas

à sobrevivência das aves insectívoras, precisamente aquelas

cujas populações têm vindo a regredir um pouco por todo

o lado. Um dia, inesperadamente, um Abelharuco (Merops

apiaster) exibindo como troféu a sua libélula (não identifi cada) rr

pousou perto do fotógrafo camufl ado entre a vegetação.

Mas não devemos confi ar no acaso. A maneira mais

interessante de fotografar estes insectos é ao alvorecer de

uma manhã fria de Outono. Nessa altura o insecto está

paralisado pelas baixas temperaturas nocturnas e não

reage à nossa aproximação. É um momento inesquecível

para qualquer fotógrafo da natureza encontrar uma libélula,

aqui uma Sympetrum spc., coberta de gotas de orvalho

e paralisada. Nesta imagem, captada numa manhã de

Outubro, foram escurecidas algumas partes do fundo para

salientar uma situação tão bela quanto efémera.

Por isso aqui deixamos um apelo aos interessados:

Toca a levantar cedo e a pôr mãos à obra. Ah, além do

equipamento fotográfi co não se esqueçam do tripé, das

botas de borracha e da lanterna de cabeça. Se puderem

levar muita determinação e alguma paciência tanto melhor.

* Field Guide to the Dragonfl ies of Britain and Europe,

by Klaas-Douwe B Dijkstra. British Wildlife

Publishing, 2006, UK.

** LIBELLULA,Supplement 9, Atlas of the Odonata

of the Mediterranean and North Africa, 2009

GdO, Bornsen, Germany.

http://photogracio.wordpress.com

Sympetrum spc

Pieris brassicae, borboleta-da-couve

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Repensar o jardimOutubro é uma boa altura para rever as opções do seu jardim, seja ele um relvado, um corolário de canteiros, um pátio ou até uma parede...

Se aprecia que a vida selvagem visite o seu jardim, não convém desestabilizá-lo constan-temente.

As folhas, os ramos e os troncos caídos de um bosque são nichos específi cos para ani-mais que enriquecem a diversidade biológica.

Por isso, na medida justa, o seu quintal deve refl ectir esses dados, até porque os insectos são uma parcela fundamental para a maior parte das aves selvagens que visitem o seu jardim.

Há épocas em que alterar este espaço até uma certa escala pode destruir ninhos e frustrar o desenvolvimento das plantas, no-meadamente no fi m do Inverno, Primavera e Verão.

Chegado o Outono, esta é a altura adequada para podar, reordenar e plantar no seu jardim.

Haverá provavelmente reformas de fundo a serem feitas, e é claro que devem acontecer agora, quando as plantas estão em abranda-

mento vegetativo, as aves já não têm ninho e os próprios animais invertebrados aquietaram o seu ciclo de vida.

Em qualquer dos casos, independente-mente da exposição solar, o tipo de terra ou o espaço disponível ao pé do seu lar, há um de-nominador comum a reter: a vegetação nativa da região tem maior capacidade de atrair aves do que a fl ora exótica, a que os nossos artró-podes difi cilmente conseguem deitar o dente.

Mais abrigo e alimento: mais aves

Com a intensa ocupação de espaço que caracteriza as nossas cidades, com frequência nem há lugar para um jardim, a não ser nos seus sonhos.

Esse complemento do lar, o pequeno espa-ço verde, não é um luxo, é uma necessidade face à ligação estrutural e psicológica que to-

dos temos com a natureza, sejamos daqueles que desatam à bofetada a alguma vespa que voe perto ou dos que lhe estendem a mão a ver se pousa.

Quando não há jardim, há sempre a solução de usar o espaço mínimo da varanda e das ja-nelas.

Quem é que nunca viu uma casa algures com uma hera a estender-se por ali fora? Quantos ninhos de aves, pequenos mamíferos, répteis e insectos não abrigará, silenciosa, uma estrutura vegetal deste jaez?

É claro que se tiver não uma mas várias es-pécies nativas, nomeadamente fetos, madres-silvas, pequenas roseiras e afi ns, a diversidade vegetal aumentará prodigiosamente.

Em resposta, a natureza não resistirá a fazer presentes os seus agentes mais talentosos, capazes de lhe dar o máximo prazer de ob-servação.

Se mantiver limpos e abastecidos alguns ali-

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Verdilhões à coca de sementes depositadas num tronco seco

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mentadores de grão, sejam de mesa, de tubo ou até um coco cortado ao meio e pendurado num ramo, a presença de chapins, pardais, verdilhões, e outras aves selvagens far-se-á constante, assim que vencerem o receio da novidade.

Sem espaço Já assim foi complicado conseguir uma

casa, imagine se tivesse jardim! Não obstante, pode surgir algum nicho onde

se faça presente simbolicamente essa ligação à natureza: uma varanda, uma fl oreira na ja-nela, o telhado, se viver no último andar, ou o jardim do condomínio.

E, em casos extremos, estão a aparecer os chamados jardins verticais.

Pensará: pior do que isso só os jardins de pernas para o ar! E a terra não cai?

Bem, os criadores do conceito já têm uma série de experiências em curso e arranjam sis-temas em que isso não acontece. Só tem fal-tado a inspiração para lidar mais com espécies autoctones.

Inclusive, aqui perto, em Espanha, o sistema foi desenvolvido para conseguir reduzir visivel-mente a poluição em torno de uma estação de caminho-de-ferro e na absorção de dióxido de

carbono da atmosfera, na Galiza. Em Madrid há até um museu que transformou uma grande parede vertical, exterior, em mais uma verda-deira obra de arte.

Não é nada que a natureza já não tivesse sugerido: os muros rústicos dos campos co-brem-se de plantas espontâneas e tornam-se abrigos extraordinários para a vida selvagem.

Vêem-se ali fetos, conchelos, saxífragas, roseiras-bravas, madressilvas e outra vegeta-ção que se encaixa nos meandros, capaz até de sazonalmente dar alimento a animais de pe-queno porte que ali residem ou passam.

MigraçõesCom o avanço das cidades, ao longo da his-

tória chegamos a um ponto em que os habitat se isolaram, assemelhando-se a ilhas num mar de cimento.

As populações de vida selvagem que fi ca-ram isoladas ou conseguem bater as asas e sair dali ou, se forem espécies com hábitos sedentários, não têm muito mais a fazer senão resignarem-se a desaparecer.

Isso faz com que a perda da diversidade biológica, do ponto de vista da quantidade de espécies e da variabilidade genética, passe por esta fragmentação de habitats que afecta ma-

míferos, répteis, anfíbios, plantas e outra vida selvagem.

Uma forma de contrariar esta tendência será regenerar corredores verdes ou fazer questão de pelos seus próprios meios criar ao pé do seu lar uma estação de reabastecimento.

As migrações de aves que foram criar por exemplo em vários habitat no Norte da Europa já começou em Agosto passado.

Os papa-moscas, andorinhas, várias espé-cies de felosa, cucos, papa-fi gos e outros estão a deslocar-se para sul, indo alguns destes ani-mais alados para regiões tão longínquas como as que fi cam para além do deserto do Sara, em África.

Se reservar abrigo, água e alimento para es-tes viajantes de longo curso no seu jardim, esta-rá a aumentar as possibilidades de sobrevivên-cia que, se houvesse a cultura de reverdecer as cidades, estariam basicamente satisfeitas.

Quando um pisco-de-peito-ruivo cantar numa destas manhãs, mesmo às escuras, no seu quarto, estará a colher os benefícios do apoio que der à natureza perto de si, com a noção de que o ser humano faz parte dela e esta só faz sentido com a maior diversidade possível.

Texto: Jorge GomesFotos: João L. Teixeira

Um jardim vertical, na Amadora Chapim-real: extracção de sementes num alimentador naturalizado

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Peixe-lírio: quando o mar aqueceSe calhar quase não dá pelas outras, mas

uma excepção impõe-se: o Lírio, Seriola rivo-liana, também conhecido, em alguns locais, por Írio ou Charuteiro-limão, é um peixe da família Carangidae, que inclui, entre outros, o carapau.

Pode atingir cerca de 1,6 m de comprimen-to e 14 kg de peso (apesar de já terem sido capturados exemplares com cerca de 59 kg), sendo, por essa razão um peixe de porte con-siderável.

Forma, normalmente, cardumes de poucos indivíduos, que se distribuem preferencialmen-te entre os 5 e os 35 m de profundidade. En-quanto juvenis são muitas vezes observados junto a objectos fl utuantes, como troncos ou bóias.

Caracteriza-se por uma cor azul-acizentada no dorso, sendo mais claros na face ventral.

Possuem ainda barras escuras sobre a nuca, estendendo-se estas desde o olho até ao início da barbatana dorsal. É uma espé-cie que se alimenta quer de noite, quer de dia, procurando principalmente ou-tros peixes ou invertebrados, como as lulas.

Os Lírios capturados perto de recifes de coral, quando ingeridos, podem causar enve-nenamento por ciguaterra (desenvolve-se uma grande irritação estomacal, raramente mortal).

Tendo em conta que esta é uma espécie presente em águas temperadas, nos oceanos Atlântico, Pacífi co e Índico, e que em Portugal apenas estava descrita nas regiões da Madeira e Açores, pode entender-se a sua recente apa-rição na costa Norte de Portugal Continental como um sinal de que as águas costeiras real-mente têm vindo a aquecer gradualmente, fac-

to que foi comprovado pelos registos ofi ciais de temperatura do mar.

O Lírio é um peixe com pouco interesse comercial, apesar de ser apelativo ao nível da pesca desportiva. É capturado principalmente com redes de enredar, palangres e à linha.

Texto: José Pedro Oliveira, curador do Aquário da Estação Litoral da Aguda «ELA». Foto: João Luís Teixeira

No início de 2010 serão apresentadas as conclusões do estudo que investigadores do Departamento de Zoologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto realizaram ao longo de vários pontos do rio Febros, no decurso do acidente rodoviário ocorrido em 25 de Agosto de 2008.

O sinistro derramou ácido clorídrico nes-te curso de água, provocando a matança

de uma grande quantidade seres vivos. A companhia de seguros Tranquilidade, segu-radora do camião acidentado, fi nancia este estudo.

A pesquisa focou, através da análise de colheitas periódicas, não só os peixes mas também os macroinvertebrados aquáticos, cujas populações são elementos fundamen-tais na cadeia alimentar dos ecossistemas ri-

beirinhos. A ideia principal consiste em avaliar a capacidade de regeneração do rio.

De salientar que, no rio Febros, o maior afl uente do rio Douro nascido no concelho de Vila Nova de Gaia, há populações de dois peixes endémicos do Noroeste da península Ibérica: o ruivaco, Achondrostoma oligolepis Robalo et al., 2007, e a boga-do-norte, Pseu-dochondrostoma duriense Robalo et al., 2007.

Rio Febros: estudo em fi nalizaçãoJo

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Colheita de macroinvertebrados no rio Febros Alexandre Valente coordena a investigação

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Extinções de menor importância? A tendência para empreender esforços de conservação de espécies ameaçadas faz-se sentir por todo o planeta. Quem resiste a apoiar espécies como o panda ou um dos grandes felinos?

Contudo, talvez fosse de olhar para mais perto e cuidar de proteger espécies que atin-gem uma fasquia considerada menor.

Um exemplo seria tomar medidas que pro-tejam o plâncton nos oceanos ou até os abe-lhões que voam entre jardins e prados.

PlânctonO plâncton consiste em biliões de pequenos

seres unicelulares – nalguns casos até micros-cópicos – que vivem no mar, próximo da su-perfície. Estão no fundo da cadeia alimentar e são alimento de baleias, camarões e aves ma-rinhas. Costuma dizer-se que, se recolhêsse-mos o plâncton todo do mar e o lançássemos em terra, ele iria ocupar uma área equivalente à América do Norte com uma profundidade ma-ciça de metro e meio.

Se o ser humano com a sua actividade de-sequilibra a vida nos oceanos por deliberada pesca excessiva, está a criar sérios problemas. Barcos de pesca em actividade ilegal contu-maz, os mais falados são japoneses, chacina-ram 90% dos tubarões, que são predadores marinhos de topo.

Retirando uma grande parte dos peixes do mar, os mais pequenos não se alimentam dos ainda mais pequenos que eles, e por aí abaixo até chegarmos ao plâncton. Por consequência,

há quantidades grandes de plâncton a morrer no fi nal do seu ciclo de vida em vez de ser co-mido. Os seus pequenos corpos sedimentam-se no fundo oceânico e decompõem-se, intro-duzindo elementos tóxicos no oceano.

Desde os anos 50, acentuou-se em 70% a quantidade de plâncton sedimentado no ocea-no Pacífi co da costa Oeste da América. Vários estudos evidenciaram que, em razão disso, os níveis de oxigénio estão a decair.

Lobos da Pedra Amarela

No Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, o lobo foi abatido sistematicamente e le-vado à extinção na região no século passado.

Sem estes predadores para equilibrarem o ciclo de vida do parque, a sua saúde, inclusi-ve a nível de vegetação, estava a declinar de forma preocupante. Felizmente, os gestores deitaram a mão a tempo a esta crise: a reintro-dução do lobo em Yellowstone surgiu e apenas uma década depois o parque já estava de saú-de novamente com o equilíbrio restabelecido.

Ao longo de milhões de anos um número incontável de espécies de mamíferos, peixes, aves, incluindo diversas espécies de hominíde-os, chegaram à Terra e dela desapareceram. Ao longo das várias Idades do Gelo houve mi-

ríades de alterações. É natural, é a evolução em acção.

Evolução contínuaAgora mesmo a evolução continua a agir e há

informações novas a surgir. Hoje sabemos que as plantas convertem dióxido de carbono em oxi-génio. A maior parte do ar que respiramos vem do fi toplâncton que se desloca nos oceanos.

Similarmente, sem os abelhões e outros in-sectos, como os que fertilizam o solo, cedo passaríamos fome e desapareceríamos. Só conseguiremos sobreviver se elementos como o plâncton e um grande grupo de insectos também sobreviverem. Se ignorarmos as cria-turas das camadas mais baixas da cadeia ali-mentar, pereceremos.

Chegou talvez o tempo útil de olhar menos para o tigre de Bengala, ou para o panda, por-que acabarão provavelmente por se extinguir.

Ao invés, continuamos a depender em larga escala do plâncton, das aves, dos abelhões e das aranhas, pelo oxigénio de que necessi-tamos ou pela sua actividade, que fertiliza as colheitas de que nos alimentamos. Falhar nisso poderá resultar nada mais nada menos do que na própria extinção da espécie humana.

Tradução e foto: Jorge Gomes

Por Peter Mitchell

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Cordão dunarO nosso país dispõe de 560 quilómetros de costa arenosa e de 383 quilómetros de litoral rochoso

As areias que o mar arremessa para terra acumulam-se e formam dunas.

O solo arenoso, pobre em nutrientes e água, bafejado pela salsugem das ondas, é amanhado por brisas e ventanias, sob a batu-ta do sol, e o beijo da chuva.

Mesmo assim, há dezenas de espécies de plantas capazes, de uma maneira ou de ou-tra, de sobreviverem a este meio pouco pro-pício. E medram.

Este fenómeno permite que a mobilidade natural das dunas se retraia, fi xando-se sob acção das raízes vivas desta fl ora. Se assim não fosse, teríamos campos e estradas inva-didas pelo areal e pelas próprias ondas, uma vez que só as dunas absorvem a hostilidade do mar, diminuindo o seu avanço.

Em muitos pontos do litoral, como neste, as dunas e essa importante vegetação foram praticamente destruídas.

Por outro lado, a erosão costeira avança e não é compensada pela alimentação com no-vas areias trazidas pelo rio Douro até ao mar, e depois espalhadas na costa pelas correntes marinhas.

Como consequência, assistimos ao fenó-meno da transgressão do mar sobre a cos-ta, com a diminuição da área de praia e, em muitos pontos da nossa costa, com prejuízos assinaláveis para as casas e outros estabe-lecimentos humanos. Não é fácil recompor a erosão costeira, quando esta surge.

Com base em tecnologia holandesa, está em curso um trabalho de consolidação das dunas através da colocação de geotubos, isto é, uns monumentais tubos de polipropileno, cheios no local com areia. Esta intervenção irá provocar a sedimentação da areia que anda em deriva oceânica.

Com isso, pretende-se conquistar terra ao

mar, segundo o projecto de consolidação do cordão dunar de 63,6 hectares da costa da cidade, já em execução, apresentado pelo Parque Biológico de Gaia.

A colocação de novos regeneradores duna-res - paliçadas - ajudarão as plantas a fi xar as dunas , enquanto os novos passadiços evita-rão o pisoteio de forma a permitir a circulação da areia e o crescimento de plantas, interferin-do o mínimo sobre o sistema dunar.

Também as universidades do Porto e Mi-nho estão em campo. Realizam um estudo do risco de erosão do litoral do concelho de Vila Nova de Gaia e acompanham a evolução da faixa costeira servindo de suporte científi co e técnico a decisões e opções futuras.

A consolidação do cordão dunar é impor-tante para a segurança da costa: a única coi-sa que separa as casas e construções do mar é a praia e as dunas.

João L. Teixeira

João L. Teixeira

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Diário da vida selvagem A Reserva Natural Local do Estuário do Douro é um mundo novo à espera de ser descoberto também por si

No que toca a aves limícolas, na segunda quinzena de Agosto observou-se uma con-centração máxima diária que atingiu valores superiores às duas centenas de aves.

Destacaram-se o pilrito-das-areias (Calidris alba) e o pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina) – indivíduos alpina e schinzii.

De referir ainda a importante presença de garajau (Thalasseus sandvisensis) que chegou a atingir valores da ordem das nove dezenas.

Confi rmou-se neste ano a reprodução de borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) na restinga dunar do Cabede-lo, tendo ainda sido neste mês observado um grupo com quase três dezenas de aves desta espécie na RNLED.

A criação da Reserva Natural Local do Es-tuário do Douro (Vila Nova de Gaia), como área importante para a ocorrência de espé-cies de aves aquáticas, poderá vir desta for-ma a reforçar o valor do Estuário como zona de referência para desenvolver actividades de recreio-lazer (birdwatching/birding(( ) e mesmo de investigação.

No dia 8 de Agosto foi observado no es-

tuário perto do limite Nordeste da RNLED um golfi nho (Tursiops truncatus), tendo sido acompanhado o seu percurso desde jusante da ponte de Arrábida até ao canal da Foz de acesso à barra do Douro.

0 mês de Setembro iniciou com a chegada dos ostraceiros (Haemantopus ostralegus).

Além das gaivotas mais abundantes que aqui podem ser vistas durante todo o ano – guincho-comum (Larus ridibundus), gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus – várias subes-pécies) e gaivota-de-patas-amarelas (Larus cachinnans michahellis) – destaca-se a obser-vação da gaivota-de-cabeça-preta (Larus me-lanocephalus) e do gaivotão ou alcatraz (Larus marinus) que tem mantido os seus efectivos próximos de uma dezena.

Muitas outras aves também aqui podem ser vistas nesta época do ano. Surgem os pri-meiros indivíduos das espécies que começam a chegar a este local para aqui permanecerem durante todo o Inverno. Entre eles é de referir o primeiro corvo-marinho (Phalacrocorax car-bo) que surgiu no início de Setembro, sendo já evidente o crescente aumento da presença

de garças – (garça-branca (Egretta garzetta) e garça-real (Ardea cinerea(( ), que iniciou com a presença de meia dúzia de aves e na última semana de Setembro já contava com mais de duas dezenas de aves.

Nesta época de migração – que decorre de meados de Agosto até Novembro – destaca-se entre a passarada a presença de alguns chascos (Oenanthe oenanthe) que podem ser observados essencialmente na zona dunar e a presença do bonito pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) que chegou a este estuário pelo dia 10 de Setembro.

No que se refere às limícolas, importante grupo de aves estuarinas migradoras, salien-ta-se a presença de mais de duas dezenas de borrelhos-grandes-de-coleira (Charadrius hiaticula), mais de uma centena de fuselos (Li-mosa lapponica) e maçaricos-de-bico-direito (Limosa limosa) e grupos de cerca de uma centena e meia de indivíduos de pilritos de duas espécies (pilrito-de-peito-preto e pilrito-das-areias).

Não esquecer as andorinhas-do-mar onde a presença de andorinhas-do-mar-anãs (Ster-

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na albifrons) e andorinhas-do-mar-comuns (Sterna hirundo), de alguma discreta compa-rada com a ocorrência de garajau (Thalasseus sandvicensis) nos últimos dois meses.

Fica aqui uma resumida amostra do que tem sido o estuário nos últimos dois meses.

As limícolas são um importante grupo de aves estuarinas destacando-se a ocorrência nos dois últimos meses de pelo menos 12 es-pécies diferentes.

Entre as cerca de três milhares de gaivo-

tas que têm marcado presença no estuário, de pelo menos cinco espécies diferentes, po-derão observar-se alguns indivíduos de uma espécie de gaivota que apresenta uma inte-ressante particularidade: é a maior gaivota do mundo!

Nos Passeriformes, pequenas aves cano-ras, destaca-se pelo menos a presença de cinco espécies migradoras características desta época: chasco (Oenanthe oenanthe), pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica), felosa-

poliglota (Hippolais polyglotta) e lavandisca-amarela (Motacilla fl ava iberiae).

Assim o estuário promete bons momentos e interessantes surpresas para os observa-dores de aves, fotógrafos da natureza e to-dos aqueles que de alguma forma queiram usufruir deste interessante espaço de vida selvagem.

Texto: Paulo FariaFotos: João L. Teixeira

Ostraceiros

Garajau, Thalasseus sandvicensis

Observações ornitológicas no Estuário

O Parque Biológico de Gaia realiza todos os primeiros domingos de Outubro a Maio, entre as 10 e as 12 horas da manhã, observações ornitológicas no Estuário.

Se gosta de observar aves ou quer come-çar a observá-las e conhecê-las, tem aqui uma boa oportunidade.

É simples… basta aparecer no Estuário do Douro no seguintes domingos: 8 de Novembro, 6 de Dezembro, 3 de Janeiro, 7 de Fevereiro.

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Cria de borrelho-de-coleira-interrompida nascido nesta Reserva Natural LocalGaivotas de várias espécies, com um bando de limícolas em primeiro plano

Wildlife journalIn the second half of August, we registered in the Douro Estuary, a maximum daily count of more than two hundred birds. For example, although Sanderlings and Dunlins were the most frequently seen birds, nonetheless, more than a hundred Sandwich Terns were also recorded. If you would like to observe the birds in the Estuary, we will be in Vila Nova de Gaia with spotting telescopes on the second Sunday of November, and the fi rst Sundays of December and January, between 10:00 and 12:00. See you soon!

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JoãoJoãJoJoãoJoJoãoãoJoãoãooãooãoJoãoJ ãooJJJJo oJoãJ ooJJJoãooooJJoãoooãoãooãoãoo Luí LuíLu LuíLuí LuíLu Luí LuíLuLuí LuíLuíLLLLuíuuuLuíLuíLLL s Tes Tes Tes Tes TeTes Tes Tes Tes TTes TeTees TeTes TeTeTees Ts Ts Tess Tes Ts TeTs Ts TeT ixeiixeiixeixixixeiixeiixeieiixeiixeiixexxeiixeiixeiixeixeixeixxixxxxxx rarararaararaaaraaaaaararararraraaraaaa

Parque de Dunas da AgudaEm pleno Outono, seja ao longo do mar seja sobre as dunas, as aves mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmiiiiiiiiiigggggggggggggggggggggrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaadddddddddddddddddoooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaassssssssssssssssssss ddddddddddddddddiiiiiiiiiirrrrrrrrrrrriiiiiiiiiggggggggggggggggggggeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmmmmmmmmmmmmm----------ssssssssssssssssseeeeeeeeeeeeeeeeepppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa áááááááááááááááááááááááááááááááááááááááááááááááááárrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaasssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooosssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss ffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaassssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

Se tiverem de parar, como nós próprios em viagem, estas aves encontram nas dunas um abrigo e, se possível, algum alimento. Vindas dos territórios de reprodução, fogem do frio.

As dunas são um ambiente dinâmico. Pa-radoxalmente, são as frágeis plantas dunares quem melhor consegue convencer a areia das dunas a estabilizar.

CaCaCaCaCaaC ululululuululu e,e,e,eee,e,e, f fffffololololollhahahahahas s s s s e e e e ee fl fl flflflororororoooreseseseseseses d d dd dde eeeeee lililimimimmmmimm tatatatatatat dadadadadadaaas sssss dididddddid memememmemmen-n-n-n-nnnsõsõsõsõsõsõsõsõsõssõõõsõõsõõesesesesesesseseseeeeses, , , , , , , coccocccococococococococompmpmpmpmpmpmpppmpmmpmmpmmpleleleleleleeeetatatatatataataataaam-m-m-m-m-m-m-m-m sesesesesseeseesesssssess c c cc cc cccccomomomomomomomomomommomoom r rrrrr rrrraíaíaíaíaíaíaíaaaaaaa zezezezezezezezzezezezees s ssss s sss vavavavavvavavavvavvav stststtststststtstts asasasasasasaasasaaasa , , , dededededeededed vovovovovoovovovoovo---rarararararararaaarararararrrarrrrrar doodododododdodododododododdoooodoodorararararaaararaaaarararararaaaas ss ss s s s ss ss sssssss dedededededededdedededeedededeeeeeee s ss sss ss ssssssaiaaiaiaaiaiaaaaiaaaiaaiiaaaa s ss s ssss s sssssssss ee e ee eeeee ee huhuhuhuhuhuhhhuhuhuhuhhhuhuhuhuhuhuhuhuhuuhuuhh mimimimimimimimimimmimmimmimmmmmmmmmmmm dadaddadadadadadaddadaddadadadddadaaadaadededededededededededededededededeeededededee rr r rrrr rrrrr r rralalalalalalalalalaaalaaaaaalallla,aaa,a,a,a,aa,aa,aa,a,a, n n n n n nnnnnnnnnnno o oo ooo oooooooo ooo lilililillilililililiiiil mimimimimimmmmmmimmmmmmmmimimimmiteteteteeetetetetetetetetettetette ddd d ddddddd dddddddddda aa aaaa aaaaaaaaaaaaasosososososososooosososososoossoosososossssssosssss brbrbrbrbrbrbrrbrbrbrbrbrbrbrbbbbbrbbbbbbbrbrbbbrbrbrbbbrbb eveveveveeveveveveveveveveveveeveeeveeeeeveeeeeeeveeeeeeeeeeeevivivivivivivivivivivivvivivvvvvvivvvvvvvivênênênênênênênênênênênêêênênêênêênêêêêêêêênêênê ciciciciciiciciciicicccicccccccciciiiiccc a.a.a.a.a.aaaaa.a.a.a.aaaaa.a.aaaa.aaaaaaa

A selecção natural dos indivíduos mais ap-tos, em cada espécie, leva-as a superar as adversidades, sobretudo após a tórrida inso-lação estival.

Com a luz solar a diminuir e as temperatu-ras em queda, esta fl ora vai fl orindo e deixan-do as sementes, leves, para que o vento as transporte para outros sítios e aí encontre esta dedededeedeescscscscenenenndêdêdêdêêncnccciaiaiaaa o ooo ooo s s seueueeeuue l luguguguguggggarararrarara aaaaaao o o ooo sososososool.l.

Cardo-marítimo, Eryngium maritimum

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

João Luís Teixeira

AgendaOutubro e Novembro

YogaÀs quartas e sextas-feiras às 9h45. A orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a actividade em regime de voluntariado.

Tai chiCom o Prof. Pedro Coelho, segundas e quintas-feiras, às 9h30.

As mulheres do campo vêm à vilaAos sábados de manhã, venda de legumes sem pesticidas.

Para mais informações contacte os serviços do Parque, consulte o site www.parquebiologico.pt ou envie um e-mail: [email protected]

Parque da LavandeiraA cada dia que passa este parque localizado em Oliveira do Douro cativa mais visitantes

Aos sábados de manhã, “As mulheres do campo vêm à vila”. Nem sempre fi ca claro se é o passeio pelo Parque que enche a saca de legumes no regresso ou se é o contrário.

O certo é que tomar um chá ou um café no bar do Parque da Lavandeira tem outro sabor. Pela janela a vista alcança uma paisagem do-minada por árvores e, às vezes, há até piscos e toutinegras que pousam por momentos num ramo junto à janela e encantam os menos dis-traídos.

Lá fora é o ar livre. Agora que o Outono ama-relece as folhas do arvoredo até parece que o Parque se veste a rigor para receber quem o procura. Aliás, bons hábitos, segundo as pes-quisas que apontam vantagens da existência

de espaços verdes em meio urbano, segundo os quais há uma relação de maior violência nas cidades onde tais espaços de natureza não existem.

Uma pesquisa realizada no Japão demons-trou que as fatias da população com acesso a jardins e parques têm níveis de saúde mais elevados e uma taxa de mortalidade menor.

Se ainda não conhece o Parque da Lavan-deira, fi que então a saber que se situa em Oli-veira do Douro, em Vila Nova de Gaia.

Com entrada gratuita, neste espaço verde a natureza apresenta uma forte componente lúdica reforçada pela profunda ligação que os jardins exprimem entre o ser humano e a na-tureza.

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Parque Botânico do Castelo Abriu um novo espaço verde em Vila Nova de Gaia, dedicado à botânica e ao lazer: em breve contará com um centro de interpretação de fl ora, de geomorfologia e de arqueologia

Luís Filipe Menezes, presidente da Câmara Municipal de Gaia, inaugurou em 13 de Se-tembro o Parque Botânico do Castelo, em Crestuma.

«Esta obra foi realizada dentro da fi losofi a do Parque Biológico: com custos reduzidos, essencialmente com o pessoal da casa», disse o autarca, sublinhando que «são obras para se ir fazendo».

Com o objectivo de aumentar dos actuais três para «seis ou sete metros quadrados a média de espaços verdes por habitante» no Município de Gaia, Menezes referiu que ou-tros parques irão abrir a breve prazo no con-celho.

Adquiridos os terrenos pela autarquia de Gaia há uma dezena de anos, o novo Par-que Botânico do Castelo é contíguo ao Clube

Do Centro de Gaia a Crestuma contam-se 14 km – esta vila situa-se na zona Oriental do concelho, junto à margem esquerda do rio Douro

Luís Filipe Menezes

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Fotos: João L. Teixeira

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Náutico de Crestuma e dispõe-se no espaço de forma peculiar: em socalcos assentes em xisto.

É por isso que, quanto mais o visitante sobe, mais a paisagem sobre o rio Douro, que corre em baixo, ganha melhor horizonte.

Ao fi m de uma agradável subida com de-graus cavados na própria pedra do morro, os visitantes deparam com uma eira de xisto ao pé de uma casa preexistente, agora recupe-rada.

Ao longe vê-se a barragem de Crestuma-Lever.

Numa faceta botânica, os visitantes encon-tram ali uma vegetação autóctone que reas-sumiu o seu lugar assim que a agricultura foi abandonada no local.

Vêem-se sobretudo freixos, sobreiros, oli-veiras, loureiros e, entre outras espécies, car-valho-alvarinho e negral.

À sombra dos medronheiros, há também um endemismo do Norte de Portugal, a Om-phalodes nitida, assim como uma planta es-pecialmente interessante, chamada pica-rato ou gilbardeira. O nome deriva da utilidade que lhe davam os antigos quando queriam fazer o seu fumeiro sem a participação dos roedores lá de casa.

Este parque incluirá brevemente, segundo Nuno Oliveira, «um centro de interpretação de fl ora, arqueologia e geomorfologia, a ins-talar na Casa da Eira», estrutura que já existia no topo deste espaço verde.

A ideia é «perceber e explicar a história do local, a fl ora e como se formou o maciço do ponto de vista geológico». Será feito um pedido à «Faculdade de Ciências da Univer-sidade do Porto para que realize um estudo mais detalhado», concluiu.

Segundo o presidente da Junta de Fregue-sia de Crestuma, a abertura ao público deste parque satisfaz «um anseio de muitos anos da população».

Pelos diversos vestígios de ocupação an-tiga, a área está classifi cada como estação arqueológica no Plano Director Municipal.

Estando «a fi losofi a do Parque Biológico presente» neste novo parque, Menezes sa-lientou que «estão já a ser construídos até noutros municípios outros parques» e decla-rou o propósito de alargar as competências desta empresa municipal à gestão «de todos os espaços verdes» gaienses.

O Parque Botânico do Castelo está aberto todos os dias e a entrada é livre.

Medronheiro

Pica-rato ou gilbardeira

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Parque Natural Local das Encostas do Douro

O Município de Vila Nova de Gaia está a desenvolver o projecto de criação do primeiro Parque Natural Local do país. Com o nome de Encostas do Douro, a ideia foi apresentada no passado dia 29 de Setembro, pelas 11h00, por Marco António Costa, vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, quando apresentou o Plano Estratégico de Desenvolvimento das Encostas do Douro.

O parque natural local em causa vai ser implementado nos próximos dez anos na marginal ribeirinha de Gaia, num investimento global estimado em cerca de 58,5 milhões de euros.

A implementação deste novo Parque Natu-ral será dirigida pelo director do Parque Bio-lógico de Gaia, Nuno Gomes Oliveira, e pelo professor universitário Luís Ramos, que afi r-

mou: «Para melhor defi nir uma estratégia de valorização paisagística, ambiental, urbanísti-ca e económica dividiu-se o território em qua-tro unidades: vale de Quebrantões, areinho de Avintes, vale de Arnelas e vale do Uíma». Prevê-se que os projectos-âncora de cada zona fi quem prontos até 2015, considerando-se que «os restantes não deverão ir além dos 10 anos».

Marco António Costa, vice-presidente da Câmara Municipal de Gaia, apresentou o Plano Estratégico de Desenvolvimento das Encostas do Douro

De modo a salvaguardar a qualidade paisagística e o potencial recreativo deste espaço territorial com cerca de 1987 hectares, vai surgir de Lever até à Ponte Maria Pia o Parque Natural Local das Encostas do Douro

Fotos: João L. Teixeira

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Ofi cinas e camposDurante as férias escolares do passado Ve-

rão o Parque Biológico de Gaia abriu os seus campos e ofi cinas. Este espaço lúdico e pe-dagógico destinou-se a crianças e jovens en-tre os seis e os 14 anos de idade, envolvendo-os em actividades diversas.

O Biodetectives foi um jogo de apresenta-ções. Depressa fi caram a conhecer os cole-gas de férias e o próprio parque.

Depois surgiu a Selecção Natura, nada mais do que um dia dedicado a descobrir a natureza em pormenor e montar “acampa-mento” junto ao rio.

O contacto com alguns dos animais cos-tuma ser a actividade preferida. Deu-se pelo nome Jovens Tratadores.

As plantas fi caram sob a alçada das Mãos Verdes, um dia dedicado a conhecer e cuidar das plantas completada com a construção de um minijardim.

Houve também Aventura em Castelo de Paiva, seguida de uma visita ao Geoparque de Arouca e de actividades de arvorismo e orientação.

Pela importância do tema, todos participa-ram na Festa da Biodiversidade e houve lugar

às Ecocriatividades, que deu asas à imagina-ção.

Em breve virão as férias escolares de Na-tal, pelo que já está disponível o programa das Ofi cinas de Inverno, que incluirá também actividades diversas. Os nomes de algumas delas soam bem: Voando sem asas, Cheiros e sabores de Natal, Quente ou frio, ou Ano novo vida nova. A data-limite das inscrições esgota cinco dias antes do início das activi-dades.

Fotos: http://camposferias.blogspot.com

Sábado no ParqueTodos os primeiros sábados de cada mês o Parque Biológico propõe um programa diferente e contempla os seus visitantes com várias actividades.

Em de 7 de Novembro o atelier das 11h00 será «A paparoca da bicharada». Às 14h30 decorre uma conversa sobre os animais do Parque. Há ainda uma visita guiada por técnicos da casa e percurso ornitológico.

Em Dezembro o programa é idêntico, mudando o atelier à mesma hora para «O Parque visto à lupa», sendo a conversa do mês sobre «A dinâmica dos ecossistemas: factores abióticos».

Aos primeiros e terceiros sábados de cada mês, se não chover, há anilhagem científi ca de aves selvagens.

Colheita de castanhas e magustoSábado, 7 de Novembro, entre as 14h00 e as 17h00, divirta-se com os seus fi lhos

e sobrinhos e venha ao Parque Biológico apanhar as castanhas dos ouriços. Assadas na fogueira à maneira antiga sabem sempre melhor. Inscrição obrigatória.

Exposição do concurso de fotografi a da natureza «Parques e Vida Selvagem»Em 7 de Novembro, sábado, pelas 15h00, há lugar à entrega de prémios deste concurso, na abertura da exposição dos trabalhos distinguidos pelo júri para exposição.

Observação de aves selvagens na Reserva Natural Local do Estuário do Douro

Aos primeiros domingos de manhã dos meses de Dezembro e Janeiro de 2010, entre as 10h00 e o meio-dia, leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias e binóculos à Baía de S. Paio, no estuário do rio Douro, do lado de Gaia. Com telescópio, estarão técnicos

do Parque para observar as aves do litoral. Em Novembro esta actividade decorre no 2.º domingo do mês.

Ofi cinas de InvernoDe 21 a 23 de Dezembro e de 28 a 30 do mesmo mês, destina-se a crianças e jovens dos 6 aos 15 anos, de 21 a 23 e de 28 a 30 de Dezembro. Entrada às 9h00 e saída às 17h30. Inscrição necessária.

Receba notícias por e-mailPara os leitores saberem das suas actividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt. A alternativa será receber os destaques, sempre que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a [email protected]

Mais informações: [email protected] directo: 227 878 138

AgendaEis as actividades do Parque Biológico de Gaia a breve prazo que mais lhe poderão interessar...

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Parques e Vida SelvagemParques e Vida Selvagem Outono 2009

As vindimas marcaram o ritmo do Parque Biológico de Gaia no passado sábado, 26 de Setembro, em dois períodos: das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00.

Depois de apanhadas e colocadas em ces-tos as uvas seguiram para o lagar para se-rem pisadas mecanicamente. Mas quem quis pisou-as à moda antiga, ou seja, com os pés descalços.

Noutro dia, também num sábado, 10 de Ou-tubro, houve lugar pelas 17h00 à apanha de espigas de milho na quinta de Santo Tusso, complementada pela visita ao eco-museu do moinho do Belmiro.

Pelas 18h00 decorreu a recriação da des-folhada propriamente dita com a actuação do rancho folclórico Danças e Cantares de San-ta Maria do Olival. Os participantes inscritos jantaram pelas 19h30, no restaurante Vale do Febros.

Vindimas e desfolhada

João Luís Teixeira

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

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Fauna: novidades no ParqueLibélula-aneladaCordulegaster boltonii (Donovan, 1807)

A Libélula-anelada é um insecto perten-cente à ordem Odonata, que inclui as libélu-las e as libelinhas, um dos grupos de insec-tos mais primitivos. Esta libélula, facilmente reconhecível pela coloração negra ornada de anéis amarelos ao longo do tórax e abdó-men, é uma das maiores da fauna portugue-sa. Os seus grandes olhos verdes ocupam quase a totalidade da cabeça, como noutras espécies de libélulas, e são responsáveis pela detecção de presas, capturadas em manobras de voo de extraordinária precisão e destreza.

Um dos comportamentos mais curiosos de observar nesta espécie é a oviposição, isto é, a deposição de ovos realizada pela fêmea na água. Pairando no ar, com movimentos ver-

ticais, as fêmeas imergem repetidas vezes a extremidade do abdómen na água libertando os ovos gradualmente. Este comportamento é responsável por um dos nomes comuns das libélulas nas zonas mais rurais de Portugal: “os bate-cus”.

A área de distribuição desta espécie abarca o Norte de África e estende-se para norte pela Europa até à Escandinávia e para leste até aos Montes Urais. Da Península Ibérica eram conhecidas quatro subespécies distintas, no entanto em estudos genéticos recentes não foi possível comprovar a sua distinção, ainda que tenha sido confi rmada a elevada diversi-dade genética existente nesta região.

Os adultos surgem em meados de Maio, sendo frequente avistar os machos em voo de patrulha ao longo dos ribeiros. As fêmeas possuem um comportamento muito mais dis-creto e são apenas avistadas ocasionalmente.

No Parque Biológico de Gaia a sua observa-ção é possível junto ao rio Febros, não sen-do no entanto uma espécie particularmente abundante.

Texto e foto: Sónia A. Ferreira (CIBIO-UP)Fo

tos:

JG

QUE SERÁ ISTO?

Nesta edição decidimos

meter-nos consigo.

Portugal tem um património natural

fantástico, mas o mais certo é a maior parte da população não saber o que é o quê.É por isso que lançamos este desafi o e resolvemos premiar a primeira resposta correcta a cada uma das fotografi as.A fotografi a representativa da fl ora é uma fl or. Está certo. Mas de que espécie? Necessitamos de tirar teimas e por isso deve enviar-nos o nome vulgar por que é conhecida e o nome científi co.Há sites de fl ora na internet que poderão ajudar.O mesmo para o animal selvagem aqui representado.

As respostas devem ser enviadas pelo correio ou por e-mail até 10 de Novembro, para [email protected], tendo no “assunto” a pergunta

do título: Que será isto? Às duas primeiras respostas (uma por cada foto) será oferecido um exemplar dos livros editados pelo Parque. Boa sorte!

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

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Centro de recuperaçãoNesta edição escolhemos dois embaixado-

res especiais do centro de recuperação em funcionamento no Parque Biológico de Gaia: a pequena lontra em reabilitação e o caso dos peneireiros que resolveram nascer numa va-randa de um prédio em obras.

Uma lontra juvenil foi encontrada em Águeda por Rui Vaz. Preocupado com a sobrevivência do animal, entregou-a na Re-serva Natural das Dunas de S. Jacinto no sentido de dar seguimento à respectiva re-abilitação.

Com conhecimento do trabalho que o Par-que Biológico desenvolve com lontras, no seu centro de recuperação, eis que em 27 de Agosto ela é entregue a esta empresa munici-pal de Vila Nova de Gaia.

De temperamento bravio, dá bons sinais de poder vir a ser integrada num habitat ribeiri-nho, mas ainda precisa de tempo para cres-

cer a fi m de enfrentar com êxito as adversida-des de uma vida em liberdade.

O Verão de 2009 foi o ano do peneireiro. Tivemos conhecimento de vários casos de tentativa de adaptação à cidade desta espé-cie e no próprio centro foi entregue um número mais elevado de peneireiros a necessitarem de cuidados em relação a outros anos. Assim que revelaram condições, foram entregues ao cuidado do Parque Nacional da Peneda-Gerês onde, nos seus túneis de voo, revelaram apti-dões de caça, elemento crucial para dar efi cá-cia à sua sobrevivência em liberdade.

Por ano o Parque Biológico de Gaia recebe cerca de 1900 animais, conseguindo recuperar e libertar cerca de 30%.

Os animais irrecuperáveis fi cam em exposi-ção, no Parque ou noutro local, servindo fi ns de educação ambiental, ou são usados para programas de criação em cativeiro.

Ninho de peneireiro na varanda de uma casa

Lontra juvenil

É o mais antigo centro de recuperação de fauna de Portugal (funciona desde 1983) e o que maior número de animais recebe.

O Centro funciona em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade e com a Direcção-Geral de Ve-terinária.

João L. Teixeira

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Anilhagem: e vão três

O sol já brilha ao início da manhã deste sá-bado, 3 de Outubro. Com o dia bafejado pelo bom tempo, a mesa de anilhagem e restante equipamento saíram da sala do Chasco e ins-talaram-se em baixo, na velha eira de xisto, à sombra de um carvalho-alvarinho que vai pin-gando bolotas, ao sabor da época.

Entre a dúzia de aspirantes a anilhadores científi cos de aves selvagens, Mafalda Ferreira e Luana Ramos são as mais recentes partici-pantes do grupo de anilhagem em serviço no Parque Biológico de Gaia: vieram pela primeira vez e chegaram pelas «oito menos tal», apurá-mos. Agora que chegam à mesa de anilhagem acompanhadas de formandos mais antigos, trazem na mão pequenos sacos de pano.

O que virá aí? Nesta fase não é uma respos-ta fácil: «Sei que há um chapim, os outros não sei o que são. São assim meios amarelados», diz Mafalda. Verdilhões?

São espécies vulgares na região, mas a co-lheita de dados como o peso, as medidas de penas da asa e da cauda, seguidas do tarso e do bico são úteis para estudos a médio prazo. Se, depois de aplicada a anilha houver recap-turas da mesma ave, melhor, mais dados será possível interpretar.

João Rua, estudante em Vila Real com residência no Porto, na mesa de anilhagem tem uma carriça nas mãos. A anilha já foi aplicada com a ajuda de um alicate especial para esse efeito. «Estas costumam ser tão pequeninas?», ouve-se. «As aves na mão parecem ser mais pequenas do que a voar», diz António Cunha Pereira, anilhador creden-ciado pela Central de Anilhagem e membro da Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves.

Em serviço estão outros voluntários habitu-ais, como Rui e Pedro Andrade, de Barcelos,

Sidónio Silva, de Árvore, e Miguel Santos, que vem de Espinho.

Seja Outono ou Primavera, Verão ou Inverno, duas vezes por mês, este grupo tem coragem para se levantar quase a meio da noite, des-locando-se sem atraso ao Parque, pelo gosto de desempenharem a tarefa em si: «É por isso que algumas pessoas que querem receber for-mação desistem», comenta Rui Brito, biólogo e formador. António continua: «É o gosto pela actividade que motiva o esforço. Isto terá a ver com o perfi l das pessoas envolvidas. O incó-modo de levantar muito cedo compensa pelo prazer que temos de estar aqui».

Há pessoas das mais diversas profi ssões a receberem formação vai para mais de dois anos, o que lhes reserva vários dias do ano para chegarem ao Parque Biológico de Gaia uma hora antes do sol nascer, já que a mon-tagem das redes de captura faz parte da ins-

Contaram-se três anos de actividade contínua do grupo de anilhagem científi ca de aves selvagens no passado dia 14 de Outubro...

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36 ESPAÇOS VERDES

Rede de anilhagem Chapim-azul Mesa de anilhagem

Rouxinol-comum Toutinegra-de-barrete

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trução de anilhador. Ao amanhecer o equipa-mento tem de estar instalado, sendo visitadas estas redes de seis a 18 metros de hora em hora para recolha de aves. Os animais são transportados em sacos de pano para a mesa de anilhagem, local onde decorre o registo mi-nucioso de dados.

A anilhagem é uma árvore que dá frutos? «Temos bons exemplos. Estamos aqui nove pessoas, a maior parte a receber formação. Umas já têm mais de dois anos de participa-ção, outras têm menos, e duas delas vieram hoje pela primeira vez».

Criar um grupo de formação «era um dos nossos objectivos. Formar um grupo que con-tinue a trabalhar por muitos anos sem depen-der de um ou dois é óptimo. Com isso con-seguimos uma dinâmica de pessoas que vêm trabalhar com assiduidade». diz Rui Brito.

E no que toca à recolha de dados? «Temos dados interessantes ao nível das espécies que não se sabia que nidifi cavam no Parque, que estão confi rmadas neste momento. O facto de apanharmos ferreirinhas com pelada de in-cubação garante que elas estão a nidifi car cá dentro».

Contudo, «três anos ainda é pouco para po-dermos verifi car tendências: é possível ver que esses frutos ainda estão verdes».

Algumas das espécies

anilhadas

Gavião, chapim-rabilongo, chapim-car-voeiro, chapim-real, chapim-azul, guar-da-rios, verdilhão, trepadeira-comum, pica-pau-malhado-grande, peto-verde, rouxinol-bravo e comum, cuco-comum, pisco-de-peito-ruivo, rabirruivo, papa-moscas, papa-moscas-cinzento, tenti-lhão, gaio, pega-rabuda, alvéola-cinzenta, diversas espécies de felosa, pardal-mon-tês, pardal, ferreirinha, estrelinha, toutine-gra-de-barrete, toutinegra-dos-valados, toutinegra-de-cabeça-negra, carriça, tor-do-pinto, tordo-ruivo, entre outras.

Um outro dado motivador será «poder ha-ver uma recaptura de uma ave que anilhamos cá e que alguém recaptura noutro local, inclu-sive noutro país». Até agora ainda não acon-teceu mas pode agora estar a ser recapturada alguma. Ou o inverso.

Até porque «aqui há piscos invernantes». Pedro Andrade sublinha: «Há aves que só vêm cá hibernar. Há atricápilas (toutinegras-de-barrete) que aparecem em Fevereiro num ano e, a mesma ave, passado um ano, volta a ser recapturada no mesmo sítio.

Tudo isto surge através de uma colabo-ração estabelecida entre o Parque e estes

anilhadores, registados na Central Nacional de Anilhagem, coordenada pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversida-de, num projecto europeu de Estações de Es-forço Constante para monitorização das aves selvagens.

Com a colaboração destes ornitólogos de-vidamente credenciados, capturam-se aves, sendo estas objecto de análise biométrica. Ao ser-lhes aplicada uma anilha metálica com um código único no mundo é como se fi cassem com um bilhete de identidade. Depois disso, são devolvidas à liberdade.

Os visitantes do Parque podem assistir de passagem pelo percurso de descoberta da natureza a este trabalho, que se desenrola na quinta do Chasco e termina pelas 12h30.

Os dados recentes de mais um ano de ac-tividade apontam para 56 espécies diferentes e 1180 aves.

As sessões de anilhagem decorrem normal-mente nos primeiros e terceiros sábados de cada mês, da parte da manhã, se não chover. Em jeito de boletim quinzenal de anilhagem, os próprios formandos criaram um blogue, que pode visitar: http://anilhagemdeaves.we-ebly.com

Por Jorge Gomes

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

37

Análise biométrica na mesa de anilhagem Papa-moscas Ferreirinha

Gavião

Libertação de um verdilhão anilhado

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ÁFRICA

EUROPA

Madrid

Londres

Gaia

Gibraltar

Lisboa

Dakar

38 MIGRAÇÕES

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Um juvenil, uma fêmea e um macho

Rota cinzenta Rota verdeRota castanha

Esta é a história mais curta.

Com menos de um ano de

idade, a águia-pesqueira

conhecida pelos investigadores

como Thistle deixou em voo

migratório o Norte da Grã-

Bretanha em 9 de Agosto.

Após percorrer uma distância

de mil e duzentos quilómetros

afundou-se no mar, quase um

mês depois.

Esta águia-pesqueira fêmea,

denominada Logie, com cerca

de sete anos de idade sai da

Guiné-Bissau em 12 de Março.

Regista-se um pormenor: as

más condições atmosféricas

forçam-na a atrasar-se em

Espanha e França. Percorridos

5824 quilómetros, atinge o

habitat de nidifi cação em 23 de

Abril, no Norte da Grã-Bretanha.

Sem parar durante 35 horas,*

este macho de águia-

pesqueira de sete anos de

idade, Nimrod, voou do Norte

da Grã-Bretanha num primeiro

bater de asas em 22 de

Setembro. Palmilhada uma

distância de 5256 quilómetros,

atinge a Guiné-Bissau em

17 de Outubro. Pelo caminho

registam-se detalhes como

este: pára na França durante

onze dias.

* distância percorrida nesse

período: 2299 quilómetros.

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MIGRAÇÕES 39

O voo das águias-pesqueirasCorre ainda notícia de que uma espécie que outrora nidifi cou em Portugal, a águia-pesqueira, apenas ocorre agora de passagem.

Vê-se no estuário dos rios Minho e Coura, no estuário do Tejo, na Ria Formosa, e até já foi vista nesta década no estuário do Douro.

Como muitas outras espécies, as águias-pesqueiras migram. E fazem viagens de milhares de quilómetros.

Se os invernos com o passar dos anos vierem a apresentar temperaturas mais tépidas, será provável que as águias-pesqueiras do Norte da Euro-

pa reduzam as deslocações migratórias e se fi quem pelo Sul europeu.

Encontramos a história de várias águias-pesqueiras num site.*

Com base nisso, resolvemos trazer até si dados interessantes. Além dos pontos de partida e de chegada, estas águias levaram dispositivos que

permitem, através dos satélites, saber qual a deslocação e em que tempo foi realizada. Segundo tais resultados as aves cobriram, em média,

320 Km por dia, a 40 Km/hora, a 150 metros de altura.

Os pontos de partida e chegada não seriam desconhecidos, mas perguntava-se se elas se deslocariam no Outono pelo litoral da Europa, desde a

Grã-Bretanha a África, por exemplo, à Guiné-Bissau, a seguir a Dakar. E aí seria normal vê-las em pleno Inverno.

Por outro lado, na Primavera estão de regresso à Europa, no afã da reprodução.

Convertidos os dados em mapa, aqui fi ca uma parte das histórias de vida de Thistle, Logie e Nimrod…

* www.roydennis.org/ospreyTexto e foto: Jorge Gomes

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

40 REPORTAGEM

No Nordeste, o maciço de Morais despede-se dos rigores estivais. Bafejado pelo clima mediterrânico, reúne património natural que o coloca sob a alçada da Rede Natura 2000. A geologia complexa do sítio suscita da fl ora talento raro para medrar e a fauna vê-se representada pelo lobo, o gato-bravo e a toupeira-de-água...

Maciço de Morais: um pedaço de história da Terra

Rio Sabor

Morais massif: A piece of the Earth’s HistoryIn the Northeast of Portugal, the Morais massif contains a rich natural heritage, which is under the jurisdiction of Natura 2000 Network.Its complex geology and Mediterranean climate combine to shelter rare fl ora and fauna. Here, for example, there are the Iberian desman, wolves and the wildcat, Felis silvestris...

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REPORTAGEM 41

José Feliciano bate com o martelo numa grande rocha esverdeada e diz: «Este xisto provém de uma rocha vulcânica».

Já estou a aprender, ali numa berma de es-trada a caminho de Izeda.

Emerge a sensação de que estas pedras guardam segredos antigos e só os murmuram aos ouvidos de seres que olham para elas como ninguém.

Tal paixão estende-se a inúmeras partes da fi na espuma que é a crosta terrestre e foi esta cumplicidade que trouxe à luz do dia o maciço de Morais como a maior extensão contínua de rochas ultrabásicas do país, não havendo mais do que meia dúzia de locais capazes de ombrear com ele em todo o Globo.

Pedra na mão, o geólogo sublinha: «Teve de haver uma fracturação profunda para o basal-to em forma de lava ascender à superfície».

Não são artes mágicas, embora pareçam, desdobradas por alguém que reconhece que ninguém estaria lá na altura para assistir ao fe-nómeno. Ao longo de anos houve análises de laboratório, químicas e microscópicas, para que a explicação surja em timbre explícito:

«Já temos aqui uma história a partir apenas da análise do afl oramento rochoso: basalto que se transformou em xisto».

Este é um dos muitos pormenores que evo-cam uma época recuada da história da Terra. Havia então um grande oceano, o Rheic, pai do Atlântico. Contavam-se na altura dois enor-mes continentes: Gondwana e Laurússia.*

Quando a tectónica de placas levou ao fe-cho desse vasto oceano, deu-se o que os ge-ólogos conhecem como a orogenia Varisca, uma grande colisão continental assente em impensáveis movimentos telúricos, criadora de cadeias montanhosas, ocorrida em época remota, entre 380-280 milhões de anos.

Esta sucessão de eventos antiquíssimos está bem conservada e à vista no maciço de Morais, encontrando na aldeia do mesmo nome o epicentro deste vórtice geológico.

Através de imagens de satélite, distingue-se ali uma mancha circular que lembra a colisão de um grande meteorito. O mesmo mostra a carta geológica: «Terão sido materiais mais densos os responsáveis pela confi guração cir-cular. Resistiram à erosão e durante o trans-

porte moldaram os materiais menos densos envolventes», explica Eurico Pereira, o mentor da carta geológica da região.

Monte malditoA aldeia de Morais assenta sobre a falha

que dividiu o maciço em dois. A norte do povoado, há terrenos em que

a vegetação é escassa. Não é de estranhar: o solo faz-se de materiais do manto terrestre subjacentes a um antigo fundo oceânico.

Estas rochas, conhecidas por ultrabásicas, são um manto de difícil trato para as plantas. Solos com crómio, ferro e níquel impõem aos pinheiros plantados, após várias décadas, a estatura de árvores juvenis.

Também os sobreiros, com 120 anos, se mantêm com um porte acanhado, como numa fotografi a tirada na década de 30, e «sobrevivem graças a associações de fungos chamados micorrizas, que lhes fornecem ali-mento».

Quem comenta agora a paisagem é Pedro Teiga, engenheiro ambiental: «Ao longo de dé-

José Feliciano, geólogo Os vários tipos de xisto contam diferentes histórias

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

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42 REPORTAGEM

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cadas houve planos sucessivos de plantação nestes terrenos, sem efeito».

Ali vingam as plantas de solos ultrabásicos, tais como algumas espécies de tomilho, Thy-mus zygis, de santolina, Santolina semiden-tata, ou a salgadeira, Alyssum pintodasilvae. A salgadeira é neste grupo de plantas a mais expressiva, uma vez que consegue acumular mais níquel no caule e nas folhas do que o que se regista no solo em que medra.

Teiga explica que estas plantas «hiperacu-muladoras de metais são objecto de estudos variados». Interessa «o conhecimento dos mecanismos», já que «pode contribuir para uma melhor gestão ambiental no controlo de áreas contaminadas».

Eurico Pereira destaca a sabedoria popular: «Há um regato na zona da Junqueira do qual os pastores não deixam nem por sombras aproximar as ovelhas. A água tem arsenopi-rite. Ao alterar-se, este composto liberta ar-sénio. Se as ovelhas passam por lá e bebem daquele regato vão desta para melhor».

A sul de Morais a vegetação transforma-se e revela-se mais rica, numa moldura mediter-rânica.

É por essas bandas que se ouvem os pin-tos-barronqueiros, ou abelharucos, agora em viagem para África...

Se para os geólogos as rochas são o mais-que-tudo da paisagem, para quem se interes-sa por botânica a vegetação fala por si só e

denuncia o clima, o tipo de solo, a presença ou ausência da água…

Domínio mediterrânico A natureza dá curvas e contracurvas e,

pelo caminho, há muito para ver. O sol brilha agora com toda a força enquanto o trilho de terra batida paira sobre uma vertente que faz lembrar os matagais algarvios. Os dedos do clima mediterrânico esticam-se até ao Norte e chegam longe!

Avançando até Balsamão, próximo do rio Azibo, a paisagem faz-se de azinho e trovis-co, de cadornos e cornalheiras, sem excluir muitas outras plantas adaptadas ao clima. Entre eufórbias peculiares e giestas que o não serão, há pelo menos um ser vivo familiar: o funcho, ainda em fl or no fi m do Verão. Não há insectos a bulir, excepto um punhado de formigas numa fl or. O calor encosta a vida sel-vagem à sombra e esta só surgirá quando a luz amainar.

Uma borboleta-do-medronheiro, a maior da Europa, levanta voo no bafo do arbusto que lhe dá nome, procura sombra mais efi caz. Pousa, e deixa de se ver.

Uma descida e mais adiante as margens do rio Azibo. Com um pé na água, amieiros. As folhas parecem menores do que as dos do litoral: quererão reduzir a evaporação? As raízes cobram a água dos poços, mas a copa

Tomelos ou salgadeiraSantolina

Tomilho

RetamaEurico Pereira, geólogogg gggggggggggggggggg Funcho Cornalheira

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frondosa retém o oxigénio da água, ensom-brando-a, e possibilitando a sobrevivência estival de peixes endémicos, como a boga-do-norte.

Terminada a sombra do precioso amial, a margem ergue-se e deixa a nu rocha esver-deada, anfi bolítica. Um patamar abaixo o leito do rio vai seco, à maneira mediterrânica. Uma pedra clara merece o comentário dos geólo-gos que explicam estarmos perante «o bilhete de identidade da crosta oceânica» desta su-cessão geológica: o complexo de diques.

Na especialidade, «um dique é uma intru-são de rocha em fusão segundo uma fractura que atravessa camadas ou corpos rochosos preexistentes». Segundo Eurico Pereira, «po-demos ter todos os sinais indicadores da pre-sença de crosta oceânica, mas sem a presen-ça de diques não há certezas». O complexo de diques é «o código de barras que indica claramente a presença de crosta oceânica». Feliciano remata: «Estive nos Andes diante de algo idêntico, a 4 mil metros de altitude, mas o estado de conservação deste está bem me-lhor».

Gnaisse-ocelado A agricultura de bocage marca a paisagem

de forma reticulada. No maciço de Morais é a localidade de Vinhas, entre Izeda e Castro Roupal, no lado Norte, que a representa. As

sebes dos campos fazem-se essencialmente de freixo, que aqui dá nota da proximidade de água. Onde esta corre tudo fi ca mais verde.

«A diversidade biológica ganha com a presença deste tipo de agricultura», explica Pedro Teiga, enquanto um tartaranhão bate as asas de um campo próximo. Conclui: «Os corredores verdes estendem-se por aqui, através de serras, como a da Nogueira, e através de vales como os dos rios Sabor, Maçãs e Azibo».

Adiante, na aldeia de Talhas, a paisagem va-ria e ajeita-se em planura, à moda do Alentejo. Quem manda nestas bandas são os cereais.

Quilómetros adiante na paisagem há zim-bros-galegos, Juniperus oxycedrus. Estas co-níferas tomam formas caprichosas, algumas arredondadas como se fi apos de nuvens se fi zessem à terra e, verdes, se erguessem entre um vai-não-vai de mil formas.

Sem tardar, desce-se ao leito seco de um ribeiro, polido e com marmitas à vista, nada mais do que buracos feitos na rocha pela ero-são da água em cascata. Estamos no vale do rio Sabor.

Eurico Pereira deixa de lado a ciência e lem-bra a infância. Quando ali brincava, admirava o gnaisse: «Esta rocha seduzia-me», recorda. O granito-dente-de-cavalo transformado recebe o nome de gnaisse-ocelado: «Aqui vê-se bem a fi brosidade mineral sobre a foliação da ro-cha». E a «direcção de transporte está à vista:

Rio Azibo: quando o calor aperta, a água fi ca em poços, enquanto noutros troços fl ui, subterrânea

Pedro Teiga Zimbro-galego na paisagem Gnaisse-ocelado de Lagoa

Sândalo-branco

Complexo de diques

REPORTAGEM 43

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44 44 REPORTAGEMREPORTAGEM

A partir de agora já pode caçar (com máquina fotográfica, é claro) no Parque Biológico,sem necessidade de licença de caça. E pode levar os seus troféus: corços, bisontes,açores, pica-peixes e muitas outras espécies vão decorar as paredes de sua casa.

Poderá fotografar ao longo do Parqueou utilizar um dos novos abrigos de caça-fotográfica,

instalados em locais calmos e fora do circuito de visitas.

noroeste-sudeste». Também eu pensava que as rochas não migravam...

Sobre rodas, o grupo pára depois de alguns minutos. Avança-se num breve trilho ladeado de amendoeiras, na vertente do vale.

Feliciano aponta o contacto entre o irreco-nhecível gnaisse reduzido a pó por forças telú-ricas e uma rocha densa, escura.

Até dói pensar na força necessária para re-duzir o gnaisse àquilo: «Isto era um granito». Trata-se de algo a que os geólogos chamam uma «descontinuidade sísmica de primeira grandeza, neste caso uma paleo-descontinui-dade de Conrad».

Esta rocha poderá ter estado «a mais de 60 quilómetros na direcção do núcleo da Terra e poderá ter cerca de 1100 milhões de anos». Uma vez que só se prospecta a uma dúzia de quilómetros da superfície terrestre, o número 60 fi xa uma distância notável.

Subindo alguns metros, abre-se uma paisa-gem imensa com o rio Sabor a correr ao fun-do. Teiga fala de um ninho de águia-de-bonelli, não longe na vegetação rupícola — adaptada a meios rochosos — e na ripícola, com um pé

na água. Lamenta: «Sete tipos de habitat vão desaparecer com a construção da futura bar-ragem do rio Sabor».

Parque geobiológico Estes e muitos outros atractivos, multiplica-

dos segundo a estação do ano, já são conhe-cidos como Parque Geobiológico de Macedo de Cavaleiros.

«Na designação inclui-se», explica Manuel Cardoso, vereador do Turismo do Município de Macedo de Cavaleiros, «todo o maciço de Mo-rais. Há duas candidaturas, já aprovadas, que vão permitir o desenvolvimento deste potencial — não só estudá-lo teoricamente e divulgar tais estudos como produzir toda a documen-tação que lastre o desenvolvimento turístico». Acentua: «Percorra milhões de anos de história geológica e a Macedo Natura».

Além disso, haverá lugar à «publicação de fl yers, mapas, guias, artigos na imprensa, fi lmes e site on-line». Uma série de percursos serão apontados: os chamados «Caminhos Verdes de Macedo de Cavaleiros». Adianta Manuel

Cardoso que «estarão devidamente limpos e sinalizados. Vão ser centenas de quilómetros». Instalar-se-ão também «miradouros e pontos com mesas de orientação», bem como «um centro de acolhimento aos visitantes e equipa-mentos multimédia de acesso a este universo de informação». Para já, «este Outono estará disponível um primeiro fl yer com um mapa-rresumo e indicações genéricas sobre o Parque Geobiológico de Macedo de Cavaleiros».

Sendo o maciço de Morais Rede Natura 2000, há que aproveitar o prestígio da região: «O nosso concelho é Eco XXI. Temos muito orgulho em ter tanta área como Rede Natura 2000: Morais, Sabor-Maçãs, Nogueira e Ro-meu. O nosso desenvolvimento sustentável passa pelo turismo e o facto de ter tantas áre-as classifi cadas como Rede Natura 2000 só é benéfi co, neste ponto de vista».

Texto e fotos: Jorge Gomes

Parque Geobiológico de Macedo de CavaleirosCâmara Municipal de Macedo de Cavaleiros 5340-218 Macedo de Cavaleiros Telefone: 278 420 420 E-mail: [email protected]

Posto de TurismoTelefone: 278 426 193

Junta de Freguesia de Morais5340 MoraisTelefone/Fax: 278 452 193E-mail: [email protected]

* Gondwana incluía as actuais América do Sul, África, Madagáscar, Índia, Austrália e Antárctida; Laurússia englobava a América do Norte, a Europa e a Ásia do Norte.

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SALPICOS 45

Conhece bem os ascendentes do seu cão?A origem do cão doméstico continua a ser um dos mistérios da Natureza. Apesar de muito se discutir sobre os ancestrais deste animal, hoje o lobo, concretamente o lobo-cinzento, é o que se destaca em variados estudos genéticos. Outros elementos do género Cannis fazem crer que o cão doméstico poderia ter diferentes origens, mas o lobo é o único com inteligência e comportamento social desenvolvido para suportar esta hipótese. Várias evidências apoiam esta teoria, não só características e comportamentos semelhantes, mas a mais importante é a capacidade de se reproduzirem e gerarem descendência fértil.Embora raramente aconteça, há registo de esquimós tentarem cruzar os seus cães com lobos a fi m de melhorarem a qualidade dos seus cães de trenó. É esta capacidade reprodutora com descendentes férteis

que junta os lobos e os cães na mesma espécie. Somente a nível de subespécie é que se dá uma diferença taxonómica que é Canis lupus lupus e Canis lupus familiaris.Os primeiros registos fósseis de dentes carnívoros não nos permitem distinguir entre pequenos lobos e cães domésticos. No entanto, o achado mais importante da domesticação está datado de 12 000 anos onde foi encontrado um esqueleto humano com um cão. Pensa-se que começou com a domesticação de lobos que se aproximavam de comunidades recolectoras para se alimentarem. Os mais sociais acabavam por ser adoptados mas somente até uma idade juvenil devido ao seu comportamento instável e de matilha. Esta aproximação trouxe vantagens para ambas as espécies, mas infelizmente para os lobos a relação com os humanos levou a alterações de qualidades comportamentais

como por exemplo a diminuição da acuidade visual, audição e capacidade de resposta. Ainda assim, julga-se o cão como mais inteligente que o lobo apesar da recíproca compreensão de linguagem vocal e comportamental.Sem dúvida, a selecção artifi cial feita pelo Homem infl uenciou o cruzamento entre diferentes espécies e subespécies de lobo. De acordo com o interesse humano, as diferentes raças de cães foram surgindo a partir da selecção evolutiva das qualidades ancestrais selvagens. No entanto, qualquer uma das raças de cães existentes não difere mais do que 0.2% geneticamente do lobo. Por isso, se tem um cão, parabéns pois tem parte de uma alcateia doméstica!

Por Sara Pereira, bióloga Foto: Jorge Gomes

Cão-de-água português

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46 REPORTAGEM

Parque Biológico de Vinhais A aposta incide no turismo de natureza: com percursos de maior ou menor extensão, a pé ou de bicicleta, tudo começa no Parque Biológico de Vinhais, paredes-meias com o Parque Natural de Montesinho...

Os binóculos ainda dormem no bornal, mamas s ataté é sesem m eleleses d dáá paparara v verer u umama s sérérieie de aves selvagens na barragem de Prada: patos-reais, mergulhões-anões, maçaricos-das-rochas, alvéolas...

Num percurso de seis quilómetros – o mamamaisisss l lononongogogog d dddososos q qqueueue ss sãoãooão p p prororopopop ststosos – e estste e pópópóloloo fififi ccca a a a aa mem iooio.

Jááá sse e deeesffrurr totou uu dedede pppaiaa sasagegegensns comoom bbosos-quququq es, searas, hortass, árá vov rees s ded frur to, e hohohhhhhhhhhhhhhhhouve ataa é umma águia-a de-asa-redonda que babbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb tet u asas dda beirra dod trilhho.

Agorora aoaao ppé ééé dad áágugua, as mam rggenns s veestemm-sesessesse ccomom aas s últit maas s fl florese dde sasaalggll ueueirrinnhah e ddedededededddededededee m mmmmmeneenenne tatatataststs roro, , dede c cororninichchãoão e ee mmmmadadadreresssssililvavas,s, ddededeedddedddddeedddeeeeeeeeeeeeedeeed s s sssssssanananaananaaaananaaaaaa guguguguininininhohohoh s s ss e e ee jujuujuncnccncosososo , , ememmem c cujujujujo o abababbririr gogooo s ss se eee ggugggggggguuguguguuugggggguuguugugguggguguggguuugugugggguuuguguuggguuuuuuuuuguggugggg araraaararaaaaaaaaaa dadaddddddadadddddddddddddddddaddddddddddddddddd m m m mmm mmmmmm ininininsesesesectctctctosososos v v v várárárárioioioios s s s nononono d d d diaiaiaia q qqqueueueue fi fi fi fi nnn ndadadada.. . .

São eles um dos pressupostos para a fafacece m maiais s vivisísívevel l dodo e ecocossssisistetemama, , rereprpresesenen-tada pelas aves.

Neste fi m de tarde, o sol lança uma luz caprichosa e é o coaxar das rãs mais tardias que tece a paz decantada na paisagem.

Na terra humedecida vêem-se as pega-das de aves e dede m mamamífífererosos. . AbAbunundadam m osos jaavalis, que aproveitam a protecção da noite pap raa ffossaarerem a tet rrrra a em busca de larvas e tubéb rculoso . OmO nín voros, commo o o o ser huh mano, disppersam-m se durante o dia e descanssam, did sfarçadod s com a a cor da própria tere ra.

Maiss adid anaa te aandam turu isstas.. Há á ummm cassssalal joovevem.m DDe e papaasss agaagemmem, , pepep dede q queue d ddisispap reremos umumuu a a aa fofofototogrgrgrafiafiafia a aa d dda a a susususua aa prprprprópópópririr a a mámám ququuq inini a,a,,, p pp pararara aamamamamaisisisis t t ttarararardededede r r r rececececorororordadadadarerereem.m.m.m V VV Vieieieierarararam m mm dededede l l llonononongegegege... TaTaTaTa--

deu, de Sintra, é professor de matemática. RiRitat trabab lhlha na á árereaa fifi nanancnceieirara dde e umuma a emem-presa e veio de Palmela.

Confi rmam o que Carla Alves, directora do Parque Biológico de Vinhais, nos su-blinhou horas antes: «As pessoas vêm ver Montesinho, mas vêem pplalacacas s nanas s esestrtradas e e nãnão o sasabebem m bebem m o o quque faf zer para visitar o Parque Natural».

Vinhais assumiu-se commo o poporta de entra-da neste espaço da rede nan cicc onal dde e árá eaaass protegidas: dispõe aagora d o cec ntro interpre-tativo instaladoo no castelo da vila quuuuuuuuuuuuuuue des-creve asa virrtuudees ece ológó icas, faunnnunnnnnnnunnnnnnnnnnnnnníísticaas, fl flororístiticacc s e e ete nooooogrg áfiá ccccccccasaaaaasaa dda reegig ãoo: : «H««««HHHH«H««««««««« á á quque asasassosososocicicc arar eeststs a a vivivvivivvivvvvvvv lalala aa M Moooooooooononoooooooo tetetesiss nhnhnho»o»oo , didid z.zzzzzzz...zzz.zzzzzzzzzzzzzz.

«A«A«A«As s ss pepepepessssssssoaoaoaoaaaaaaaoaoaaaaaaaaaaaaaas ss têtêtêtêm m mm deddddddddedededddddddddddd s ss sababababerererer q q q queueueue e e eeeeeeeee eeeeeeeeeeeeexixixixiststststememememmmmmmmmmmmmmmm

Biological Park of Vinhais Close by the huge Natural Park of Montesinho, the Biological Park of Vinhais is the starting point of several routes with clearly marked paths indicating greater or lesser diffi culty, all of which are accessible by foot or bicycle. The tracks cover most of the 3,884 hectares covered by the Park. Recommended places to visit along the way are: The Cidadelha. the Vidoeira swamp and the Barragem de Prada.

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REPORTAGEM 47

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

em Trás-os-Montes vários parques naturais, um chamado Montesinho, outro Douro In-ternacional e outro Alvão».

EsEstetess ee ououtrtrosos e espspaçaçosos p prorotetegigidodoss sãsãoo razão mais qque sufi ciente paparara « fi fi cacarerem m alalojojadados e p doderem viisiti á-los ao longo de vários dias». Até porque «isto já existia em termos de paisagem, não estava era organi-zaddo. QQueremos ser uma montra», remata.

O Parque Biológico de Vinhais possui um percurso interno e percursos no exterior, que se estendem a parte dos cerca de 3884 hectc ararese qque abrangeg .

Há três pólos por onde passam os per-cursos propostos, devidamente sinalizados: o da Cidadelha, o da charca da Vidoeira e o da barragem de Prada.

Com apenas quilómetro e meio, o per-cucursrso o aoao ppólo da Cidadelha, , a exexememplplo o dodos s restantes, existe para ser percorrido a pé ou de bicicleta, que pode alugar no próprio parque, ponto de partida e de chegada.

O O exex-líbíbriris dedeste ee trtrililhohoo é oo mmiiradadououuro dda aCiC dadadeelhlha.a AAAli exix sts e e umm obsbsb ervav tórir o cocom minformmação sobre a história do local. Aliás, prossegug em escavvações araa queológicas s a apop ucuccos mmettroros rereveev laladoorras s dadad c cullultuurar casss-trtrrtrejejeje a.a. A AAo o o loloongngngngo o o o dedededestststste eee peppep rcrcrcr urururu sosososo pp poddodde e e obobobob--seseseservrvrvrvarararar a a a a pp ppaiaiaiaisasasasagegegegem m mm cacacacararararactctctctererererísísísístitititicacacaca d d d da aa a rererereggigiãoãoãoão, ,,

bem como uma fauna e fl ora diversifi cadas. Pelo caminho olhar a carvalhiça é um prazer.

O carvalhal regenera. Dominado por carvalho-nenegrgralal, sasatuturara os trt oncos com lílíquenes gene-rorososos,s, e e s sugugerere-e-sese a alili a a fl fl o orereststa a enencacantntadada a dodo futuro.

Nesta época de Outono abandonam as fo-lhas e pperdem o verde,e, m mararcecescscenentetes,s, à à mmededi-ida que os nutrientes são absorvidos. As copas fi cam castanhas, a condizer com o amarelo dos vidoeiros e os tons alaranjados dos castanhei-ros e cerejeiras, assim pintados à medida que asas m mololécécululasas d da a clclororofiofi l la a sese d desesesestatabibililizazam.m.

Ao fazer este percurso está a uma altitude de cerca de mil metros. Sucedem-se ao redor dos seus passos prados permanentes inter-calados por matos — com predomínio de ur-zes, giestas, estevas, carqueja e sargaço —, lalamemeirirosos, sosoututosos, , sasardrdoaoais e sobobrereirirosos, , zozonanas s húmidas, e construções tradicionais como os moinhos-de-água.

Outro dos percursos dirige-se ao ppólo da ViViV dodoeieie rarar . A A exxtetenssãoã ddeste trir lhho pouco exx-ceedede aaa ddo o anterior, sendn o iguau lmmmente fácil de pepep rcorrerer..

Seeee o chão o estiveer húh mim dododod , enencooontntraaráá f farartatas sopporortutuunidaadedees s dede t tttrereeinini araraar a aa s suauauu v vococccaçaçaçaçãoãoão p p pararara a aainnnintétét rpprprprereretetetete d ddde eee pepepepegagagagadadadadas.s.s.s J J JJavavavavalalalalisisisis, , cocococorçrçrçrçosososos, , , rarararapopopopo----sasasaas,s,ss, c cccãeãeãães ss s e e ee ququququiçiçiçiçá á á á loololobobobobos s s s dedededeixixxixararararamamamam dd d de e ee nonononoitititi e e e e e dededede

madrugada vestígios enquanto davam rumo à vida.

Chegados à charca, escasseia a vontaadede dde efalar face ao que se oferece aos olhos. Um mer-gugulhlhãoão-a-anãnãoo afafasastata-s-see ee fifi caca aa nnadadarar n noo lilimimitete da água que penetra pela vegetação ribeirinha. A superfície da água é um espelho tranquilo e asas c cororeses t trerememeluluzezemm aoao s sababoror d daa brbrisisaa.

Até mesmo no fi m do Estio estas plantas dão gosto à vista, ancorada na cor e nas formas refl ectidas na água. Não é grande, mas atende às necessidades de muita fau-nana a aququátáticicaa e e dádá d dee bebebeberr aa ououtrtra tat tnta. OO mergulhão lá anda, a medir o perigo. E faz aquilo que lhe dá o nome: mergulha. Debai-xo de água revela-se um nadador exímio e alimenta-se de larvas de insectos aquáticos, de anfíbios e afi ns, que sabe captp urar comom agagililididadade.e.

Há apenas meia dúzia de anos este lago resumia-se a uum simpm leees s chara coc ccercaado dde saibro ondn e os heliccópópó teterros s ennchhc iam m a a barrrigi a ade águua pap ra commbab ter incêndios…s

Há libélulas azuisi queu voaam entrrre e osos jjunncoc s da margem.m Algummas eem cópula, , ououtrassas nnnãoão. SeSe e eststesesse c cololoro ididdddososos insnsecece totot s ss deded fi fi m mm d ddde e VeVeVeVerãrãrãão o oonãnãnão ooo sesesese pp pperererertutututurbrbrbrbamamamam c cccomomoom o o oo b b bbararara ululululhohohoho, , asasasas a a aaveveveves s ss e e e e osososos mamamamamímímímífefefeferorororos s s s seseseserãrãrãrão o o o osososos g g g grarararandndndndeseseses f f ffugugugugititititivivivivosososos q q q queueueue s s s sóóó ó vevevv rárárárá s see e e guggug ararra dadadadar rrr sisisisilêlêlêêncncncn ioiiio e e p ppacaca iêiêêêncncciaiaiaia n no o obobsesess r-r-

BarBarBarBa ragragagr em em eem de de dde PraPraPr dadadad

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PaPaPPaPaPaPaPaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrqrqqrqrqrqrqrqrqqqrqrqrrrqrqrqrqrqrqrrrqrqqrqrrrrqrqrqrrqrqrrrrrrrrrqrqrrqrqrrqrrqrqrrrqrrqrqrqrqrqrqrrqqqrqqqrqqqqqquuuuueuueueueueueueueuuuueeueueueuueeuueueueueuueuuueeueuueueeueeeuuueeeeeees ssss ssssss s ss s ss s s ssss eeeeeeeee e eeeeeeeeeeeeee eeeeeeeee eeeeeeeee ViViVViViViVViViVVVViVVVVVVVVVViVViiVVVVidadadadadaddaddadadadadadddadadadadaddaddadaddaddaadd SSSSS SSSSSSSSS SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSeleleleleeleeleleleleeleeleleeeleleleeeleleeelleeelellelleelleelelleeeellllllvavavvavavavavavavavaavvavavaaavaaavavavavvaavaaavavaavaaavaaavavvaavaaaaavaaaaaaavaaaaaaaaaaggggegegegggegegegegegeegggegegegegegggeeegegegegegeegegeegegegeegegegegegegegegegegegegeegegegeggegegeeegegegegggegegggggegeegegeegggeggegegegeggegggeeeegegegeegg mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm O OO O OO OOOOOOOO OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOututututututututututttttooooooonnnonononoooooooooonononnoooooononnooooooooooooonnononnnnooooonoooonnooonooooooonooooononoo o oo oooooooooooo 2022202020220202220220202202020022200200000909090099090909099909009090990

48 REPORTAGEM

vatório cercado de salgueiros, de juncos, poejo e muitas outras plantas.

A observação demorada denuncia agora um segundo mergulhão-anão oculto no juncal. Ambos estão já com penugem acinzentada, de Outono, e poderão ser um casal. Terão co-ragem para adoptar o local, e na próxima Pri-mavera regressarem para fazer o seu ninho à feição de uma ilha não longe da margem?

E aquilo ali na água, como um fogo-fátuo imerso? É uma pele de cobra-de-água, direi-tinha, sem rebuço!

Com 6,7 quilómetros, o parque propõe o ter-ceiro percurso, centrado no pólo da barragem de Prada.

Percorrê-lo redunda numa tarde bem pas-sada, se quiser olhar a paisagem com olhos de apreciador.

Poderá surpreender perdizes pelo caminho, pássaros diversos, e até encontrar pelo chão de terra o inesperado: uma lagarta de Chon-drostega vandalicia (Millière, 1865), uma bor-boleta nocturna endémica da península Ibérica que, segundo Ernestino Maravalhas, não se registava há 80 anos em Portugal, e que foi ali fotografada em 8 de Março de 2006.

No percurso interno do parque encontra-mos Afonso, de 9 anos. Apesar dos avós serem da região, moram perto de Lisboa e

foi pela internet que descobriram o Parque Biológico de Vinhais. Interpelado sobre a vi-sita diz: «Vim só passar férias». Explica que é a primeira vez que ali está e os animais que lhe despertam maior interesse, numa respos-ta rápida, são os javalis e os veados, que até existem nas redondezas em liberdade, embo-ra não sejam fáceis de avistar.

Entre diversos animais da fauna selvagem da região, no percurso interno do Parque acentua-se a presença das raças autóctones: «Queremos contribuir para a preservação des-tas raças», afi rma Carla Alves. No Parque Bio-lógico de Vinhais «estão todas representadas, encontrando-se algumas em vias de extinção: estou a falar do burrico de Miranda, da ovelha churra, do porco bísaro, da cabra-preta de Montesinho, que é a mais problemática, pois está praticamente extinta — se calhar somos o maior produtor do país com quatro ou cinco cabras», refere.

Vinhais é um concelho agrícola que assen-ta «quer na produção fl orestal do castanheiro quer na parte pecuária da exploração das ra-ças autóctones: o porco bísaro cria-se para fumeiro; a ovelha churra-galega-bragançana pasta em rebanhos e serve para vender os cordeiros…». Reforça: «Devemos dar desta-que a esta questão».

Nesse sentido, há um projecto que já está aprovado: «Um centro de interpretação de raças autóctones com a vertente de degus-tação. Será como que um restaurante de car-nes de raças autóctones DOP – denominação de origem protegida – e vai juntar mirandesa, bísaro, cordeiro bragançano». O fumeiro é um conhecido componente económico importan-te nesta região.

Como há muito para ver e visitar, o Par-que Biológico de Vinhais propõe-lhe várias alternativas de alojamento, vá em grupo ou individualmente: «O Parque de Campismo Rural, além da possibilidade de dormir em tendas ou caravanas possui chalés (bunga-((lows) prefabricados. Estes têm capacidade para quatro pessoas, kitchenet equipada e aquecimento. Há também a hospedaria do Parque, com capacidade para 50 pessoas, instalada num renovado e bem equipado so-lar setecentista».

Como no primeiro ano de actividade con-taram 15 mil visitantes, já há o propósito de «aumentar os bungallows e instalar uma pisci-na biológica». Carla Alves realça: «Isto nunca pára, nunca está pronto. É o que torna inte-ressante trabalhar neste espaço».

Texto e fotos: Jorge Gomes

Mergulhão-anão na charca da Vidoeira

Carla Alves, directora Ovelhas churras

Veado

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REPORTAGEM 49

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Lameiros: pastagens que favorecem a biodiversidade

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A mordedura seca da víbora Com um nome tornado pejorativo, hoje as víboras são animais protegidos por lei: se na evolução esta família progride com a expansão dos pequenos mamíferos, agora faz-se de espécies vulneráveis

Em Marvão, onde reside, José Caldeira dobra-se para apanhar um plástico do solo quando sente a mordedura.

«Foi tudo muito rápido», diz. «As serpentes estavam a acasalar». Não tardaram a surgir as dores e os suores, até que desmaiou.

A nora levou-o ao hospital de Portalegre. A assistência médica resumiu-se à «adminis-tração de soros, terapêutica antibiótica e me-dicação», visto não estar disponível antídoto para a mordedura da víbora-cornuda. Uma semana depois regressou a casa. Vivo, claro.

Próximo de Bragança, Albertina Garcia apa-nhava carqueja quando sentiu uma picadela junto do tornozelo: «Só depois reparei numa cobra que rastejava junto de mim», lembra.

A perna inchou e Albertina procurou ajuda no hospital do distrito. Uma fonte clínica infor-ma que «a paciente recebeu assistência e es-teve sob vigilância». No entanto, «as análises realizadas não detectaram nenhuma toxina e apenas se verifi caram manifestações locais», refere a mesma fonte.

O hospital contactou o Centro Nacional de Intoxicações e esta entidade não recomendou o uso do soro antiofídico, um antídoto usado em casos afi ns. Por precaução, e após con-tactos com o Hospital de Santo António, a se-nhora foi enviada para o Porto, onde também não lhe terá sido aplicado o soro.

O confl ito entre animais selvagens e as po-pulações, em territórios de contacto, gera me-dos e mitos. Como resultado, o conhecimento destes seres vivos sai depreciado, até que os investigadores trazem à luz do dia o tema. Fa-lámos com José Carlos Brito, investigador do CIBIO da Universidade do Porto, e hoje uma das autoridades científi cas na matéria.

As mordeduras de víbora não são mor-tais?

José Carlos Brito – Podem ser. Mas tam-bém podem não ser perigosas. No limite, faria a comparação entre a mordedura de víbora e a picada de abelha. Pode ser mortal para certas pessoas, para outras pode não acar-retar problema nenhum. Se adicionarmos um

pouco mais de perigosidade à mordedura de víbora, não andaremos longe da realidade.

De que tipo de veneno dispõem estas víboras?

José Carlos Brito – É um veneno hemolí-tico. Basicamente destrói células sanguíneas. Tem propriedades estranhas: pode alternar entre ter propriedades anticoagulantes e co-agulantes.

A utilização destes venenos na indústria far-macêutica poderia ser explorada: apresenta potencial para, por exemplo, em operações, estancar hemorragias. Alguns componentes desse veneno poderiam ter uma aplicação médica importante.

Depara-se mais com cobras mortas do que com cobras vivas. Quando isso acon-tece, mesmo que não o seja, ouve-se: «É uma víbora! Mata». Mesmo que sejam ví-boras, não devem ser mortas. Como se explica isto?

José Carlos Brito – É difícil. Torna-se fácil explicar a alguém que vive na cidade e não lida com víboras diariamente. Mas explicar isto a quem vive no campo, que encontra ví-boras com frequência, já é difícil.

Há casos de pessoas que são mordidas

enquanto cortam feno. Era algo relativamen-te comum em Montalegre. Com a mecaniza-ção da agricultura estes casos diminuíram, mas antigamente eram habituais: as pessoas iam aos lameiros cortar o feno e nessa altura eram picadas. É complicado convencê-las a não matar víboras, mesmo explicando que comem os micromamíferos capazes de nos provocarem problemas mais graves do que uma mordedura.

Hoje, já são escassos os locais em Portu-gal, infelizmente, em que existem víboras em abundância, mas quando há muitas podem ser um problema.

Como é que um leitor pouco dado a esta matéria, ao ver uma serpente, pode perce-ber que está perante uma víbora?

José Carlos Brito – Penso que a forma mais fácil de distinguir se uma serpente é ví-bora ou não será pelo seu comportamento. Se não fugir é forte candidata a ser uma ví-bora. Qualquer uma das outras espécies que temos em Portugal opta pela fuga assim que sente a aproximação do homem.

Depois há outros caracteres: por exemplo, a cauda é extremamente pequenina em com-paração com as outras serpentes, que têm caudas longas.

A cabeça tem uma forma mais triangular, enquanto a cabeça das outras serpentes tem uma forma mais ovalada.

Mas aqui temos algumas subtilezas: é o caso da cobra-de-água que mimetiza algu-mas das características das víboras. Tem também o ziguezague no dorso, consegue pôr a cabeça em forma de triângulo, e quan-do se irrita faz mesmo um silvo semelhante ao das víboras. São bluffs.

Alguém vai com os fi lhos para uma casa no campo e descobre que ali há uma po-pulação de víboras. O que pode fazer para prevenir acidentes?

José Carlos Brito – É complicado. Isso re-sulta do confl ito do homem e das suas acti-vidades com a natureza. Não é um problema restrito às víboras, abrange outros animais. Do

José Carlos Brito: investigação no Norte de África

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ponto de vista prático não há muito a fazer, mas há conselhos básicos para quem tem de passar em sítios onde um encontro com víbo-ras é provável: não andar de sandálias, mas com botas; não colocar a mão no solo sem ver onde está a pôr a mão...

Qual é o tamanho máximo de uma víbo-ra?

José Carlos Brito – O exemplar maior de que há registo estava nas colecções do museu Bocage (entretanto destruídas por um incên-dio) e tinha 72 cm. Actualmente é difícil encon-trar um animal com mais de 60 cm. Dá ideia de que ou são predadas ou atropeladas ou mor-tas pelas pessoas numa fase precoce.

Estatisticamente é mais fácil encontrar uma pequena do que uma grande?

José Carlos Brito – Sim. A maior parte das víboras que encontrámos estarão entre os 30 e 40 cm.

E quando nascem?José Carlos Brito – Nascem com cerca de

15 cm. Mas o veneno é tão ou mais potente do que o dos adultos.

Embora injectem uma quantidade menor, quando mordem, este é mais concentrado do que o dos adultos. Nessa altura alimentam-se sobretudo de lagartixas e de pequenos musa-

ranhos. Quando crescem praticamente aban-donam os répteis e concentram a dieta nos roedores.

Em grande parte do nosso país já não existem…

José Carlos Brito – Já não. E porquê? De-vido a uma grande fragmentação dos habitat. Com o crescimento das zonas urbanas, com a implementação da rede viária, com a altera-ção dos bosques autóctones para eucaliptais, todos estes factores levaram a que a espécie esteja ausente de muitos locais onde, no pas-sado, certamente existia.

Há um exemplar de víbora muito interessan-te no Museu de História Natural do Porto que provém de Nevogilde e é dos anos 30, se não estou em erro. Actualmente em Nevogilde será impossível encontrar uma víbora, já não existe habitat disponível.

Na região do Grande Porto, por exemplo, haverá ainda algum sítio com víboras?

José Carlos Brito – Surpreende-me nesta região, nos últimos anos, terem aparecido ví-boras em locais em que à partida não deveriam aparecer. Estiveram totalmente insuspeitos.

Por exemplo, aqui à volta de Vairão, alguns locais no concelho da Maia, muito humaniza-dos, com intensa utilização dos solos e da fl o-

resta, volta e meia ainda aparecem víboras ou atropeladas ou capturadas em locais em que não se esperaria ainda existirem.

Como explica isso? José Carlos Brito – De uma forma geral a

fragmentação dos habitat levou à extinção da espécie em muitos locais. Mas no Noroeste de Portugal, chuvoso, a disponibilidade de presas é tão favorável à ocorrência de víboras que mesmo assim elas conseguem subsistir, o que não ocorre noutros locais do país, onde ou chove menos ou a disponibilidade de presas é menor.

A maior parte está restrita às zonas monta-nhosas. Gerês, Alvão, Montemuro, Arga, todas estas serras têm boas populações de víbora. Nas zonas de planície penso que as popula-ções estejam mais fragmentadas, mas con-seguem aparecer em eucaliptais ou pinhais, embora apenas na proximidade de pequenas linhas de água. A nível arbóreo, o carvalho foi substituído pelo eucalipto, mas ao nível do solo continuamos a encontrar os mesmos arbus-tos típicos. Isso permite a existência dos tais micromamíferos dos quais depois a víbora se alimenta.

Por oposição, se formos para o Centro de Portugal, ou sobretudo para o Sul, onde a

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precipitação é menor, qualquer alteração no habitat é desastrosa e a espécie extingue-se no local.

Diria por isso que a sul do Douro e para o Nordeste transmontano as populações já estejam muito fragmentadas, restringindo-se aos principais maciços montanhosos.

As populações isoladas levam ao empo-brecimento genético que poderá dar espa-ço a doenças e a outros problemas?

José Carlos Brito – Não está estudado esse aspecto. Potencialmente poderia acon-tecer. Aliás, uma das víboras que apareceu há um par anos numa praia perto de Labruge, Vila do Conde, evoca isso.

Há ali dois ou três lameiros e tudo o resto são casas sobre casas. Nesse local já apare-ceram três víboras. Estamos a falar de uma área de habitat semifavorável de 200 m2. Um dos indivíduos que se observou apresentava diversas defi ciências a nível das escamas ce-fálicas, o que levantou dúvidas sobre se se-ria uma víbora-cornuda ou de Seoane, o que depois foi esclarecido a nível genético. Está entreaberto esse problema das malformações e da consanguinidade em pequenas popula-ções isoladas.

Em Portugal há duas víboras: uma abrange todo o território continental, a víbora-cornuda, e a víbora-de-seoane, restrita basicamente ao Gerês. Estas duas espécies hibridam?

José Carlos Brito – Tanto quanto se sabe,

não. Existem na Europa dois grandes grupos de víboras. Umas com distribuição mais se-tentrional, para a Inglaterra, para o Norte de França e depois daí até à Rússia (caso da víbora-comum, Vipera berus). E um outro conjunto de víboras com distribuição mais meridional: uma é a cornuda, Vipera latastei, centrada na península Ibérica, a áspide, Vi-pera aspis, centrada na península Itálica, e a víbora-nariguda, Vipera ammodytes, as duas centradas nos Balcãs.

Pouco se sabe até ao momento. Aparente-mente não há hibridação entre os dois grupos mais afastados, o grupo setentrional e o me-ridional, mas há indivíduos viáveis, são férteis, entre espécies do grupo meridional.

Portanto, no caso particular na península Ibérica, existe em Burgos (ao longo do vale do rio Ebro), no Norte de Espanha, uma zona de contacto entre a víbora-de-Seoane (Vipera seoanei) – com afi nidade ao grupo setentrio-iinal –, a víbora-cornuda e a área da áspide.

A convergência morfológica entre a cornu-da e a áspide é de tal forma acentuada que alguns exemplares não se conseguem identi-fi car: a que espécie pertencem? Entretanto a genética veio a confi rmar que se trata de hí-bridos. Mas não existem híbridos detectados entre a víbora setentrional, a de Seoane, e a áspide ou a cornuda.

As víboras apresentam áreas de distribui-ção que nós chamamos parapátricas, ou seja, onde existe uma espécie de víbora não existe

mais nenhuma. Elas excluem-se num mesmo espaço. Contudo, nos limites de ocorrência de duas espécies podem ocorrer pequenas zonas de contacto.

Estamos a falar de dois ou três quilómetros de sobreposição nas áreas de distribuição.

Isso aplica-se igualmente ao Gerês, onde coexistem as duas espécies do pa-trimónio natural português?

José Carlos Brito – Precisamente. No Par-que Nacional da Peneda-Gerês, a víbora-cor-nuda aparece nas serras da Peneda, Soajo e Gerês, enquanto a de Seoane está presente nos planaltos de Castro Laboreiro e da zona oriental do Gerês (Mourela, Pitões das Júnias). A transição é por vezes marcada por vales de rios, como no caso do rio Bredo: a ociden-te encontra-se a víbora-cornuda enquanto a oriente se vê a de Seoane.

Ao longo dos vales com maior disponibi-lidade de sol existe víbora-cornuda. A partir de certa altitude, onde o clima é mais frio e chuvoso, já existe a de Seoane.

Quanto mais tempo passa mais se conhe-ce. O meu trabalho centrou-se na Peneda-Gerês mas, com os investigadores espanhóis, temos estudado a cornuda de um ponto de vista transversal, o que nos permite conhecer a distribuição, a alimentação, os habitat, a re-produção, desde a península Ibérica a Marro-cos, até à Argélia e Tunísia, onde esta espécie também existe.

Distinguem-se à vista desarmada? José Carlos Brito – Sim, por exemplo a do

Alto Atlas marroquino é pequenina e, a nível de escamas dorsais, só tem 19 fi adas, enquanto as espécies ibéricas têm entre 21 a 23 fi adas. No entanto, geneticamente pouco se diferen-ciam das outras populações marroquinas, o que sugere que as pequenas dimensões cor-porais constituem uma adaptação às condi-ções ambientais das montanhas do Alto Atlas.

Na península Ibérica também é fácil, porque aquilo que seria a linhagem ocidental, que co-meçaria do Sul, do rio Douro para baixo até ao Algarve, nessas víboras o padrão de co-loração tende a ser mais acastanhado. Por oposição, as do Gerês, e depois as de Espa-nha, são muito mais acinzentadas.

As víboras a sul do Douro tendem também a ter um padrão de ziguezague menos angu-loso.

Há alturas do ano em que se vêem me-nos?

José Carlos Brito – As víboras têm hábi-tos muito secretivos. Se analisarmos o ciclo

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anual de actividade, de Janeiro a Março hiber-nam. Depois em Março e Abril têm um pico de actividade quando saem dos refúgios de Inverno e procuram locais para se alimenta-rem: tornam-se um bocadinho mais visíveis. A partir de fi nais de Maio e durante todo o Verão adquirem hábitos nocturnos, logo, vemos a sua detecção difi cultada. Voltam a ter outro pico de actividade entre Setembro e Outubro, altura em que é mais fácil observá-las.

Mas não é algo que elas desejem: o padrão de coloração e a forma como dispõe o cor-po tendem a camufl ar-se com o meio que a envolve. É preciso olho treinado para a dis-tinguir.

As víboras namoram?José Carlos Brito – São animais solitários.

Não formam grupos, não vivem em comuni-dades: cada animal vive por si só e são ani-mais muito sedentários.

Isto quer dizer que uma víbora pode ocupar durante um ano inteiro uma área de 200 ou 300 m2. Umas vezes estará escondida, outras estará visível.

É assim excepto numa época do ano, a altu-ra de reprodução. Nessa altura as fêmeas emi-tem um conjunto de feromonas demonstrando que estão receptivas e não saem do seu lugar.

Mas os machos deslocam-se – nessa al-tura podem movimentar-se por distâncias relativamente grandes, em busca das fêmeas e, quando detectam um sinal químico, depois torna-se fácil a localização da fêmea.

Quando dois machos chegam ao mesmo tempo junto de uma determinada fêmea, nor-malmente avaliam-se pelo tamanho. Depois é variável de espécie para espécie. No caso da víbora-cornuda não existem combates. Se chegassem a vias de facto o macho mais pe-sado ganharia, pois representa maior robus-tez física. Noutras espécies europeias estes combates chegam mesmo a acontecer. Os machos levantam a parte anterior do corpo, enlaçam-se e o vencedor é aquele que conse-gue pôr a cabeça por cima do vencido.

É estranho não se morderem…José Carlos Brito – A produção do vene-

no tem um custo associado. Sai caro produ-zir veneno. A víbora só gasta veneno quando tem mesmo de o fazer.

Daí a questão da mordedura seca que re-feri, aquela que não liberta veneno. Só quan-do quer caçar uma presa ou quando há um predador que está disposto a atacá-la para a matar, nesse caso é que há a libertação do veneno. A partir do momento em que o gasta

o animal fi ca indefeso: o veneno demora al-gum tempo a ser reposto.

Muitas vezes a mordedura implica a perda dos dentes inoculadores do veneno. Quando morde os dentes partem-se.

Digo isto porque ao analisar conteúdos es-tomacais de muitas víboras atropeladas era frequente encontrar no estômago os restos da presa e também os colmilhos.

O veneno tem a ver com a digestão?José Carlos Brito – Tem três funções. Uma

é provocar a morte da presa. A segunda é ini-ciar o processo de digestão através da acção das enzimas que estão presentes no veneno. E em terceiro lugar facilitar a localização da presa.

Quando uma víbora se quer alimentar de um rato, este representa algum grau de ame-aça para a víbora, através da sua própria mordedura para a qual a víbora pode não estar preparada. Por isso é que elas mordem e afastam-se. O rato segue o seu caminho e passados alguns minutos o veneno entra em acção e o rato morre. Surge outro problema: onde pára o rato? O veneno permite à víbora seguir o sinal químico e localizar o rato.

As víboras «são tão más que quando nas-cem até matam a mãe»?

José Carlos Brito – As víboras não são más, apresentam é algumas características surpreen-dentes que, no limite, lhes conferem vulnerabili-dade aos factores de ameaça e que contribuem para uma maior probabilidade de extinção.

Uma delas está ligada à reprodução. Como são ovovivíparas, não colocam os ovos na ter-ra. A gestação é feita de forma semelhante à dos seres humanos: as crias desenvolvem-se dentro do abdómen das fêmeas. Isto tem van-tagens e desvantagens.

Vantagens: a fêmea pode optimizar a ter-morregulação ao contrário de uma cobra que deixa os ovos no chão: o que acontecer acon-tece e ela não pode fazer nada. Pelo contrário, a víbora pode escolher locais mais propícios para se aquecer e proporcionar um desenvol-vimento constante dos embriões, pode evitar sair quando chove muito e os ovos já não apo-drecem no solo

Desvantagens: Nunca sabe quando se po-derá reproduzir outra vez e quando isso acon-tece interessa-lhe ter o maior número de crias possível, dado que o número de ovos que uma fêmea produz é proporcional às dimensões corporais: quanto maior, maior o número de víboras que consegue ter.

Como o desenvolvimento se dá no abdó-men, este fi ca ocupado pelos embriões. Nas fases fi nais de gestação é incapaz de comer. Após o parto algumas acabam por morrer – daí o mito de que as víboras são tão más que quando nascem até matam a mãe. Isto pode ter surgido com a observação de uma víbora a parir. Não é que as crias a tenham morto, mas de certa forma, pelo seu desenvolvimento, im-pediram que a mãe comesse, deixando-a tão fraca que não sobrevive.

Em Espanha há mais uma víbora: a áspide

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54 ENTREVISTA

As fêmeas que sobrevivem têm um desgas-te tão grande com a gestação que não se con-seguem reproduzir no ano seguinte. Têm de esperar dois anos – e isto é o normal para as víboras europeias. Mas a víbora-cornuda tem de esperar 3 anos.

Isto confere uma vulnerabilidade tremenda às populações. O número de crias que uma fêmea consiga ter na sua vida é muito menor do que o de uma serpente que se reproduza todos os anos.

Outra característica é a de se mexerem pou-co, as suas áreas vitais são pequenas. Os es-tudos que fi z no Gerês levam-me a crer que a sua dispersão, enquanto juvenis, é reduzida. Não é um animal, por oposição a uma cobra-rateira, que pode andar 3 ou 4 quilómetros para se dispersar. Uma víbora não faz isso. É capaz de se dispersar 500 metros em média – isto faz com que havendo qualquer perturba-ção no habitat ela já não consegue atingir outro que lhe permita sobreviver.

Texto: Jorge Gomes

200 km0

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MOSAICO 55

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Gramíneas de altitude

Um exemplo de actividade humana que favorece a diversidade biológica são os cervunais, pastagens de montanha que se degradam se não forem compensados pelo pastoreio.A serra da Estrela, com perto de dois mil metros de alitude, é o cenário de uma «investigação multidisciplinar em gramíneas de altitude, com ênfase no seu estatuto taxonómico e conservação», que decorre sob a orientação de técnicos da Universidade de Coimbra coordenado por Fátima Sales, do Instituto do Ambiente e Vida. Acima dos 1600 metros ocorrem estes prados de gramíneas em que predomina o cervum, Nardus stricta. Daí o nome: cervunal. Assinalando pontos elevados de biodiversidade, esta planta resiste a temperaturas baixas e a longos períodos debaixo de neve. Poucas são as espécies

que com ele sobrevivem. Por se desenvolverem em ambiente extremo, essas comunidades vegetais são ecologicamente importantes, uma vez que constituem refúgio para a fauna destas altitudes.As plantas perenes dos cervunais têm um desenvolvimento tardio, dado as baixas temperaturas a que estão sujeitas boa parte do ano. São óptimas pastagens na segunda metade da Primavera e no Verão, sobretudo porque em zonas mais abaixo os prados começam a escassear. Com um papel de relevo na produção do famoso queijo da serra, o cervunal tem características notáveis: «à medida que o cervum cresce em altura, a base da planta morre mas não se desagrega, podendo estas porções inertes atingir profundidade e volume consideráveis. Esta massa compacta retém grandes quantidades de água e constitui

um reservatório hídrico apreciável na serra». Este projecto «incide em áreas representativas da diversidade das Poaceae neste Parque», contando-se entre os seus objectivos «o intercâmbio de conhecimentos entre a Universidade e a comunidade».Com vista a passar a palavra, foi criado um percurso ao longo da lagoa Comprida, entre «zimbrais, cervunais e arrelvados, entrecortados por afl oramentos rochosos». A informação recolhida durante o projecto irá sendo divulgada no site em baixo e através de seminários, percursos pedestres, brochuras e folhetos: «Espera-se que as actividades propostas e os resultados obtidos estimulem o espírito inovador local e encorajem a fi xação das populações no interior do país».

Mais informação: www.uc.pt/grasses

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56 MOSAICO

Um estudo revelou que há ninhos que são ocupados por aves de rapina há centenas e mesmo milhares de anos.

Seja pela posição estratégica para a caça, pelo clima ou por outras razões, o certo é es-ses nichos encaixados nos penhascos atra-em, geração após geração, nomeadamente uma espécie de rapina, o falcão-gerifalte, Fal-co rusticolus.

Analisada a camada de excrementos, al-gumas com dois metros de sedimentação, os investigadores concluíram por datação de carbono que o ninho de Kangerlussuaq, no Centro-oeste da Gronelândia, já conta entre 2360 e 2740 anos.

Os investigadores encontraram na região dois outros ninhos, um com mil anos e outro com mais de 600 anos.

Esta espécie de falcão pertence à fauna do Árctico. A descoberta do ninho com 2500 anos foi realizada por uma equipa da Univer-sidade de Oxford, no Reino Unido: «Embora soubesse que muitas espécies de falcão reu-tilizam os locais de nidifi cação ano após ano, nunca imaginei que estaríamos a falar de ni-nhos que têm sido utilizados intermitentemen-te por mais de 2000 anos», disse Burnham, o cientista que chefi ou a pesquisa.

Ninho activo há mais de dois milénios

No entanto, o facto de os falcões perma-necerem fiéis a certos locais de nidificação ao longo de centenas de gerações sugere que podem ser especialmente vulneráveis às alterações climáticas, pensa o investi-gador: «Outras espécies, como os falcões-peregrinos, estão a deslocar-se para nor-

te, à medida que o clima aquece, sendo previsível que venham a competir com os falcões-gerifalte por locais de nidificação. Se os animais forem obrigados a encontrar outros locais, estes podem não estar tão protegidos do duro clima da Gronelândia», conclui.

João

L. T

eixe

ira

Falcão-gerifalte

Parques e Vida SelvagemParque Biológico de Gaia | 4430 - 757 AvintesTelemóvel: 916 319 197 | e-mail: [email protected]

Quer fazer parte deste projecto?Quer divulgar os seus produtos a mais de um milhão de leitores?

Garanta a sua presença na próxima revista!

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Chamam-lhes riscaadinhos e são caracóis da espécie Cepaea nemoralis.

Está em curso umm mega-estudo na área da biologia evolutiva, que decorre em 14 pa-íses, inclusive em Porrtugal, tendo o pontapé de partida do projecto sido dado no Reino Unido.

Com habitats variaados, estes artrópodes não andam longe dee si. Adapta-se a bos-ques, a terraços fl uviaais e até a jardins, pos-sivelmente sob o olhaar guloso dos melros lá do sítio.

Observação, contaagem e registo das dife-rentes formas de caraacóis desta espécie são as traves-mestras daa investigação que abre espaço para todos oos cidadãos que reco-lham a informação neecessária para participar.

O reegisto dos dados e a formação é feita on-line.

Baasicamente, o quee pretendem os coor-denaadores do projectoo é uma ajuda sua a fi m dde descobrirem se «as conchas de cores maiss claras são mais comuns mais a norte do qque costumavam sser, agora que o clima aqueeceu».

Além disso, queremm «descobrir se a pre-daçãão dos caracóis peelas aves ainda é im-portaante, dado que aoo longo dos últimos 30 anoss tem havido uma grande diminuição do númmero de tordos nalguuns lugares». Por isso, «se existem menos torrdos, seria de esperar que os diferentes caraccóis fossem menos fi -éis aaos seus habitats ppróprios, ou seja, aos quais estão acostumaddos».

EEsta espécie reúne mmaior interesse perante outras porquee já existtem registos de várias déccadas, o qque permmite comparar dados: «Reeunimos toodos os rregistos históricos so-bre os padrões de cooncha com bandas de caraacóis que encontraamos. Existem muitos milhhares deless, recolhiddos sobretudo há pelo mennos 30 anoos».

OOs cientistaas descobbriram que os tipos de conncha mais escura teendem a ser mais co-munns em regiiões arboorizadas, onde a cor de funddo do habitat é a caastanha, ao passo que na eerva, os caaracóis dee concha com bandas tenddem a terr cores mmais claras, amarela, e têmm mais bandas. Estaa variação é adaptativa, peloo menos eem parte ppermite a camufl agem. Maiis: www.evvolutionmegalab.org.

A Mata do Desterro, próxima de Seia, foi pal-co de uma sessão prática de combate a plan-tas invasoras na tarde de 29 de Julho.

Com a afl uência de cidadãos da região, dos bombeiros e de funcionários do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversida-de, um grupo de botânicas da Universidade de Coimbra ensinou como reduzir os efeitos ne-fastos produzidos pelo avanço das mimosas, Acacia dealbata, de origem australiana.

Segundo Elizabete Marchante, do Centro de Ecologia Funcional do Departamento de Botâ-nica da Universidade de Coimbra, estas acções «visam divulgar e aumentar o conhecimento do público sobre plantas invasoras e simulta-neamente contribuir para o controlo de várias espécies de plantas invasoras em áreas com interesse para a conservação da natureza».

O método de controlo assenta basicamente na extracção transversal de mais de meio me-tro da casca da árvore, devendo ser arranca-dos da terra os rebentos periféricos, cuja exis-tência iria viabilizar a regeneração do espécime a posteriori através das suas amplas raízes.i

O público-alvo desta iniciativa são «estudan-tes de biologia, botânica, ecologia, engenharia do ambiente, engenharia fl orestal, educação ambiental, entre outros».

Caracóis à lupa

Controlo de plantas invasoras

A diversidade é vantajosa: «Temos sempre alguém de uma área diferente, o que enriquece as discussões e permite uma troca de conhe-cimentos.

Tal fómula de sucesso em dado momento abre-se à participação de qualquerpessoa inte-ressada: «A participação em acções de contro-lo no terreno e, simultaneamente, em sessões de formação sobre o tema tem-se revelado

uma forma de sensibilização muito efi caz».Estes campos de trabalho científi co, ao todo

oito, decorreram antes noutros locais, como a serra do Açor, nas lagoas de Santo André e da Sancha e nas dunas de S. Jacinto.

Desta feita, o evento foi organizado em par-ceria com o Centro de Interpretação da Serra da Estrela.

Mais informação: www1.ci.uc.pt/invasoras

Jorg

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omes

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58 SEQUESTRO DE CARBONO

Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3Alice Branco e Manuel Silva

Ana Filipa Afonso MiraArnaldo José Reis Pinto Nunes

Artur Mário Pereira LemosBernadete Silveira

Carolina de Oliveira Figueiredo MartinsCarolina Sarobe Machado

Caroline BirchColaboradores da Costa & GarciaCónego Dr. Francisco C. Zanger

Deolinda da Silva Fernandes RodriguesDinah FerreiraDinis Nicola

Eduarda Silva GirotoEscola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos -

Pegada Rodoviária Segura - Ambiente e InovaçãoFamília Carvalho Araújo

Família LourençoFernando RibeiroFrancisco Saraiva

Inês, Ricardo e Galileu PadilhaJoana Garcia

João Guilherme StüveJoaquim Pombal e Marisa Alves

Jorge e Dina FelícioJosé Afonso e Luís António Pinto Pereira

José António da Silva CardosoJosé António Teixeira GomesJosé Carlos Correia Presas

José Carlos LoureiroJosé da Rocha Alves

José, Fátima e Helena MartinsLuana e Solange Cruz

Manuel Mesquita M.ª Helena Santos Silva e Eduardo Silva

Mário GarciaMário Leal e Tiago Leal

Paula FalcãoPedro Manuel Lima Ramos

Pedro Miguel Santos e Paula SousaRita Nicola

Sara PereiraSerafi m Armando Rodrigues de Oliveira

Sérgio Fernando FangueiroTurma A do 8.º ano (2008/09)

da Escola EB 2, 3 de ArgoncilheTurma E do 10.º ano (2008/09)

da Escola Secundária de ErmesindeVânia Rocha

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono

O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbonoPara mais informações pode contactar o Parque Biológico ou em [email protected]

Parque Biológico de Gaia, EEM • Projecto Sequestro do Carbono • 4430 681 Avintes – V. N. de Gaia

Nome do Mecenas

Recibo emitido à ordem de

Junto se envia cheque para pagamento Procedeu-se à transferência para NIB 0033 0000 4536 7338 053 05

apoiando a aquisição de euros.

PPaParara a addede iririrr aa esesttete p prorojjeje tctctoo rerecoco trtrtee oo seseguguiininttete r recectâtâtângng lululoo ee rerememettata p parara:a:

1 m2 = € 50 = menos 4 kg/ano de CO2

Telefone

Email

Endereço

N.º de Identifi cação Fiscal

O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo Sim Não

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Dia 21 de Setembro foi assinado um proto-colo entre El Corte Inglés e o Parque Biológico de Gaia, que juntam assim forças no combate pela redução de carbono na atmosfera, com vista a atenuar os malefícios das alterações climáticas.

Parte das receitas da campanha Gaia Stock Off, que decorreu de 1 a 5 de Outubro, rever-terão a favor da campanha de Sequestro do Carbono em curso.

Por sua vez, esta empresa municipal com-promete-se, com a verba, a fl orestar uma área protegida de 23 hectares.

Nuno Oliveira, pelo Parque, acentuou: «Da-mos o nosso contributo, à nossa escala, ao planeta. Mais do que a acção em si, queremos passar uma mensagem pedagógica».

Pedro Vasconcelos, director de Relações Externas do El Corte Inglés, destacou: «Pre-tendemos alertar consciências. Mais compras e menos emissões de CO2. Os descontos che-gam aos 70%».

Nessa oportunidade surgiu também a in-

Parceria institucional

formação de que está a nascer o projecto «Bosques Municipais». A ideia consiste em fl orestar pequenas áreas, como os nós das auto-estradas: «Contribuímos, mais uma vez, para a redução de emissões de dióxido de

carbono para a atmosfera e, ao mesmo tem-po, com a sombra das árvores, impedimos o crescimento das silvas. É também uma me-dida de redução de custos», explicou Nuno Gomes Oliveira.

João

L. T

eixe

ira

João L. Teixeira

Conferência de imprensa

Exposição montada pelo Parque Biológico de Gaia no espaço cedido pelo Corte Inglés no início de Outubro

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

BIBLIOTECA 61

Uma das aquisições mais curiosas

e recentes no âmbito do projecto

do Parque Biológico “Raízes

bibliográfi cas da História Natural

de Portugal” foi o “Catálogo do Museu de

Augusto Luso da Silva subdividido em três

partes: História Natural, Artes e manufacturas;

Curiosidades, moedas e medalhas; com um

apêndice do Gabinete de Física”. Trata-se

de um exemplar manuscrito, pelo que único,

com data de 1866.

Augusto Luso da Silva (Porto, 22/02/1827 — Porto, 13/05/1902), foi professor de geografi a do Liceu do Porto, poeta e um dos pioneiros em Portugal a publicar textos sobre moluscos, de que possuía uma importante colecção no seu museu da Rua do Bonjardim, n.º 612, no Porto.

Naturalista, envolvido com o grupo que se reunia em torno das colecções do Museu Al-len, no Porto, manteve relacionamento estreito com Augusto Nobre e com outros zoólogos da época. Publicou um estudo sobre os moluscos terrestres e fl uviais de Portugal, que apareceu em cinco partes no “Jornal de Ciências Mate-máticas, Físicas e Naturais”.

Num pedaço de papel solto, manuscrito, in-cluído no catálogo adquirido, escreve Augusto Luso: “...uma Helix que descrevi no mesmo jornal com o nome de Helix Lusitanica Minor – mas que hoje estou certo de ser uma espé-cie nova, conservando a mesma descrição, dou-lhe o nome de Helix Allen, em memoria do Dr. Eduardo Allen;...”. Trata-se do caracol actualmente designado Oestophora lusitanica (Pfeiffer, 1841), sobre a qual o Dr. Lud. Pfeiffer indica como área de distribuição “Portugal from Lisboa to Galicia. Introduced to Azores”. Ante-riormente, Linnéu tinha classifi cado a espécie como Helix lusitanica Linné, 1767, e mais tar-de, Pfeiffer, como Helix lusitanica Pfeiffer, 1841, indicando como localidade típica “Portugal: “Oporto” = Porto, Douro”. A espécie Helix Allen nunca foi descrita.

Por Nuno Gomes OliveiraDirector da revista “Parques e Vida Selvagem”

Raízes bibliográfi cas

Fontes: http://www.triplov.com/hist_fi l_ciencia/luso_da_silva/biografi a/bios.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Luso_da_Silva

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

62 COLECTIVISMO

Tagis – Centro de Conservação

das Borboletas de Portugal

Museu Nacional de História Natural

Jardim Botânico da Universidade de Lisboa

Rua da Escola Politécnica, 58 • 1250-102 Lisboa

Tel. + Fax: 21 396 53 88

[email protected] • www.tagis.org

SPEA – Sociedade Portuguesa

para o Estudo das Aves

Avenida da Liberdade, nº 105 - 2º - esq.

1250 - 140 Lisboa

Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39

[email protected] • www.spea.pt

O Lagartagis é como todos já sabem um laboratório vivo no centro de Lisboa, um espaço bem protegido no seio do Jardim Botânico da Uni-versidade de Lisboa. Ao ritmo das estações, esta estufa de borboletas vai mostrando aqui e ali segredos à mão de semear até mesmo para os mais distraídos.

Se a Primavera é sinónimo de novos ovos e rebentos, o Outono é por sua vez um período de preparação para a estação fria. Chegou a hora de colher os frutos vermelhos das framboesas e dos tomateiros, e de apanhar aqui e ali as sementes das aromáticas e dos cardos dos galhos secos que ainda protegem os rebentos meio escondidos na base.

As borboletas Monarca preparam-se para o Inverno reduzindo a sua actividade, substituindo as lutas entre si ou até mesmo com as peque-nas borboletas Malhadinha por pausas mais prolongadas nas lantanas ainda em fl or. Por outro lado, os machos das Cleópatra parecem ser mais preguiçosos que as fêmeas, acordam cada vez mais tarde. Só mesmo as malhadinhas e as Borboletas da Couve permanecem activas nos dias mais frios.

Para saber mais sobre as borboletas basta visitar o Lagartagis aberto todos os dias das dez às 17h00 ou até mesmo participar numa das actividades do nosso programa educativo.

Ofi cinas pedagógicas Lagartagis «Quem come quem no Lagartagis?» – Esta actividade realiza-se du-

rante todo o ano, de segunda a sexta das 10 às 17h00.«Onde estão as Borboletas no Inverno?» – Durante o Outono e o

Inverno, de segunda a sexta para grupos das 10 às 17h00. «Flores e Frutos para Borboletas Gulosas» – Esta ofi cina realiza-se du-

rante o Verão, de segunda a sexta-feira para grupos das 10 às 17h00.

Por Ana Sofi a Leitão

O Outono no Lagartagis

A cidade de Elvas aco-lhe, entre os dias 5 e 8 de Dezembro, no Centro de Negócios Transfrontei-riço, o VI Congresso de Ornitologia da SPEA & IV Congresso Ibérico de Ornitologia, iniciativa con-junta da SPEA e da SEO (Sociedade Espanhola de Ornitologia). No evento, já considerado uma refe-rência a nível nacional e ibérico, esperam-se mais de 200 ornitólogos, que irão debater temas tão diversos como a agricul-tura e conservação da natureza, a conservação e gestão de zonas hú-midas, as aves marinhas e protecção do meio marinho, entre outros. Serão apresentados mais de 130 trabalhos, entre comunicações orais e posters, estando já confi rmada a presença de oradores convidados da Royal Society for the Protection of Birds, Universidade da Extrema-dura, Instituto de Productos Naturales y Agrobiologia, Parque Natural da Madeira e das entidades organizadoras, SPEA e SEO. Do evento fazem ainda parte uma exposição de fotografi a de natureza, bem como uma feira dedicada aos produtos e serviços de natureza. O Congresso tem o apoio da Câmara Municipal de Elvas, EPSON, Imprinove, REN, Bloom, Naturlink e Revista Veterinária Actual, entre outras entidades. A “I Feira Natureza ConVida”, que decorre no mesmo recinto e nas mesmas datas do congresso, tem como objectivo a mostra de activi-dades socioeconómicas ligadas à natureza e ao seu uso sustentável. A feira terá entrada livre, funcionando também como espaço social do congresso e é o local ideal para fazer as suas compras de Natal! Se ainda não se inscreveu no Congresso, ou na Feira (e é expositor) contacte-nos! Em Dezembro todos os caminhos vão dar a Elvas, e cer-tamente não vai querer faltar!

Para mais informações:http://www.spea.pt/index.php?op=congreso2009E-mail: [email protected] +351 213 220 430

Elvas recebe Congresso de Ornitologia e I Feira “Natureza ConVida”

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

COLECTIVISMO 63

Núcleo Português de Estudo

e Protecção da Vida Selvagem

Parque Biológico de Gaia

4430 - 757 Avintes

Tel. + Fax: 227 878 120

[email protected]

www.vidaselvagem.pt

O NPEPVS (Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem) tem continuado o processo de reorganização da associação e retomou algumas acções de conservação. As-sim, em Agosto passado, publicou um gran-de anúncio no “Jornal de Notícias”, apelando à não caça à Rola-brava, face ao declínio da espécie.

Foram imensas as reacções de apoio a esta iniciativa, mesmo da parte de caçadores; no entanto, a caça à Rola-brava prosseguiu como habitualmente, apesar de a nidifi cação este ano ter sido muito escassa e tardia.

A propósito da Rola, o NPEPVS congratula-se por, fi nalmente e após décadas de luta, a Reserva Ornitológica do Mindelo ter sido fi nal-

mente reclassifi cada, com o nome de “Paisa-gem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo”, como consta do Aviso n.º 17821/2009, publi-cado no “Diário da República”, 2.ª Série, de 12 de Outubro de 2009.

Congratulamo-nos, igualmente, por ter sido aceite a alteração da alínea c), do artigo 3.º (Objectivos específi cos) do respectivo regula-mento, que passou a ter a seguinte redacção: c) A perpetuação do pioneirismo português na conservação da natureza no estudo da diversi-dade biológica, nomeadamente no âmbito da ornitologia, protagonizado pelo Prof. Doutor Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior e pela antiga Direcção-Geral dos Serviços Florestais

Reclassifi cada a Reserva Ornitológica do Mindelo

e Aquícolas, e materializado na criação da Re-serva Ornitológica do Mindelo e no Núcleo de Estudos Ornitológicos da Faculdade de Ciên-cias do Porto.”

Esta reclassifi cação pecou por tardia, mas é uma vitória clara do Movimento de Conserva-ção da Natureza e uma derrota dos que, ao longo dos anos, tentaram betonizar esta área. Longa vida à já velhinha Reserva Ornitológica do Mindelo.

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Parques e Vida Selvagem Outono 2009

Plantas Atropínicas:benefícios, malefícios e riscos

64 CRÓNICA

Por Jorge Paiva

Biólogo, Departamento de Botânica

da Universidade de Coimbra

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Os compostos tropínicos são um grupo de alcalóides que foram isolados a partir de plan-tas pertencentes a mais de duas dezenas de géneros de Solanaceae e alguns outros géne-ros de Brassicaceae (Cruciferae) (ex.: couves, nabos, mostardas, rúcula e agrião), Convolvu-laceae (ex.: corriola e batata-doce), Dioscore-aceae (ex.: inhame-bravo e inhame-dos-tintu-reiros), Erythroxylaceae (ex.: plantas da coca), Euphorbiaceae (ex.: titímalos e estrela-do-na-tal), Orchidaceae (orquídeas), Proteaceae (ex.: próteas e grevíleas) e Rhizophoraceae (plantas dos mangais).

É nas Solanáceas que se encontram as plantas com maior teor em alcalóides tropíni-cos, como a atropina, a hiosciamina e a esco-polamina. É uma família a que pertencem mui-tas plantas alimentares básicas (ex.: batateira, beringela, piripíri, pimenteiro e tomateiro), plan-tas ornamentais muito comuns (ex.: cestros, e trombeteiras) e plantas extremamente tóxicas (ex.: erva-do-diabo, meimendros e beladona ou erva-moura-furiosa) ancestralmente utiliza-das em fi toterapia.

AlcalóidesA atropina e derivados são alcalóides. Não é

fácil o conceito deste termo. O vocábulo etimo-logicamente signifi ca “alcali” (base). Na realidade são bases orgânicas azotadas. Originalmente, eram consideradas alcalóides todas as bases orgânicas obtidas a partir das plantas. Este conceito foi, posteriormente, modifi cado para um sentido mais restrito. Assim, por exemplo, Konigs, no fi m do século XIX, sugeriu que alca-lóides seriam todas as bases orgânicas naturais com anéis de piridina. Este conceito mostrou-se, mais tarde, demasiado restrito. Posterior-mente, Ladenbur considerou que alcalóides se-riam todos os compostos naturais com carácter básico, cuja estrutura molecular contivesse pelo

menos um átomo de azoto (nitrogénio) num anel heterocíclico. Este conceito exclui qual-quer composto sintético e inclui, além das ba-ses nitrogenadas vegetais, todas as de origem animal. Actualmente, o termo está geralmente limitado a bases orgânicas azotadas, naturais e de origem vegetal. No entanto, para alguns au-tores, este último conceito é muito restrito, pois engloba apenas fi to-alcalóides ou alcalóides ve-getais. Hoje em dia, consideram-se alcalóides compostos orgânicos naturais, nitrogenados, de origem vegetal, de estrutura complexa, ge-ralmente com propriedades básicas e acção fi -siológica. São, indubitavelmente, dos princípios activos de maior interesse na medicina tradi-cional. Tem-se especulado um pouco sobre a utilidade dos alcalóides para as plantas que os produzem. Alguns autores consideram que são substâncias que as plantas produzem para se protegerem dos insectos (insecticidas naturais) ou de doenças infecciosas, pois são produzidos em quantidades reduzidas e são altamente tóxi-cos. Esta hipótese não é totalmente válida, pois a maioria dos alcalóides não tem acção insec-ticida ou bactericida ou mesmo fungicida. Ou-tros autores consideram-nos como uma reserva energética, devido às reduzidas quantidades produzidas pelas plantas ou, então, constituem produtos tóxicos de excreção do metabolismo celular vegetal. Esta última hipótese parece ser a mais verosímil visto que, geralmente, os alcalóides localizam-se nos tecidos epidérmi-cos e no látex das plantas. Na realidade, todos os seres vivos necessitam de azoto (N), pois é um dos elementos constituintes do ADN, mas como é extremamente tóxico todos os organis-mos vivos têm de expelir o que não utilizam (os mamíferos, como nós, excretam-no pela urina). Porém, isso não justifi ca a enorme variedade de alcalóides e a respectiva localização diversifi ca-da no corpo das plantas. Os alcalóides foram dos primeiros princípios activos fi siológicos iso-

lados a partir das plantas. Em 1803, Friederich Serturner, farmacêutico de Hanover (Alemanha), isolou a morfi na e o ácido mecónico a partir do ópio da papoila-dormideira (Papaver somnife-((rum L.), substâncias que ele considerou como bases orgânicas. A partir destes resultados, de-senvolveu-se rapidamente a investigação sobre os alcalóides. Assim, poucos anos passados, isolou-se a cafeína (1818), a quinina e a emetina (1820), a coniína (1827), a codeína e a atropi-na (1832), a colquicina e a hiosciamina (1833), etc. Actualmente, já se isolaram mais de 3000 alcalóides a partir de cerca de 4000 espécies de plantas, a maioria dos quais com elevada activi-dade farmacológica.

Ocorrem alcalóides em, praticamente, todo o Reino Plantae (Plantas) e no Reino Myco-ta (Fungi(( ) (Fungos). Estes últimos produzem, iigeralmente, pequenas quantidades de al-calóides, com algumas excepções, como a cravagem-do-centeio [Claviceps purpurea (Fr.) Tul.], que produz a ergotina e o cogumelo co-nhecido por mata-moscas [Amanita muscaria [[(L. ex Fr.) Hook.], produtor da letal muscarina. Poucas plantas vasculares primitivas (Pteridófi -tas, as plantas vasculares sem sementes) são produtoras de alcalóides, como as cavalinhas (Equisetum (( spp.), que elaboram a equisetonina e os licopódios (Lycopodium (( spp.) produtores de licopodina, clavatina e clavatoxina. Nas vas-culares Espermatófi tas (plantas produtoras de sementes), acontece também que nas mais primitivas, as Gimnospérmicas (Espermatófi tas sem fl or, nem fruto), poucas plantas produzem alcalóides, como as espécies de Ephedra que produzem a efedrina. As Antófi tas ou Angios-pérmicas (plantas vasculares com fl or e fruto) são as maiores produtoras de alcalóides.

Vulgarmente associa-se o termo alcalóide com drogas psicotrópicas. É evidente que al-guns desses estupefacientes mais poderosos devem a sua acção fi siológica a alcalóides,

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piridínicos e pirrolidínicos, que incluem com-postos atropínicos, como a atropina, hioscia-mina e escopolamina (hioscina) ou com núcle-os de piridina como os compostos nicotínicos. Muitos outros alcalóides das Solanáceas são glucósidos, como a solanina e a solaneína.

A atropina C17H23NO3, quando hidrolisada transforma-se num ácido trópico e num álco-ol, o tropanol ou tropina. A atropina é pois um éster tropínico do ácido trópico.

O ácido trópico, por forte aquecimento, de-sidrata e forma o ácido atrópico, insaturado.

Ácido atrópico Ácido trópico

A tropina apresenta duas formas epímeras, diferindo na orientação do grupo –OH, no car-bono (3) e na conformação. Ambas as formas, tropina e -tropina, são opticamente activas.

-tropina

tropinaAlcalóides tropínicos foram já isolados a par-

tir de 21 géneros de Solanáceas.As Solanáceas, família com maior quan-

tidade de plantas atropínicas, constituem uma família ubiquista (“cosmopolita”), maio-ritariamente de ervas, mas também árvores ou arbustos incluídos em 90 géneros e 2800 espécies. A maioria das espécies ocorre na Austrália e América do Sul e Central. É na América do Sul que se encontra a maior con-centração de géneros endémicos (40), pelo que se admite que a família terá tido a sua origem naquele subcontinente. O género com maior número de taxa e mais importante é o género Solanum com 1400 espécies. A famí-lia inclui não só muitas plantas alimentares bá-sicas, como a batateira (Solanum tuberosum L.), como ornamentais muito comuns como as petúnias (Petunia spp.) e plantas altamente tóxicas, utilizadas desde há muitos séculos, como a beladona (Atropa belladona(( L.).

Aspectos económicos das solanáceas

• OrnamentaisAlgumas Solanáceas são cultivadas como

ornamentais pelas suas fl ores, particularmente espécies dos géneros Browallia, Brugmansia, Cestrum, Datura, Nicotiana, Nierembergia, Petunia, Salpiglossis, Schizanthus, Solanum e Solandra; outras pelos seus frutos coloridos, como alguns taxa de Capsicum, Physalis, Solanum e Streptosolen. Do género Physalis, é bem conhecida a “planta-da-lanterna-da-china” (Physalis alkekengi L.), nome derivado da forma do colorido (vermelho-alaranjado), acrescente e infl ado cálice. Como este per-manece infl ado e colorido, mesmo depois de exsicado, é uma planta há muito e extensi-vamente utilizada em arranjos de plantas e

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como por exemplo, o ópio da papoila-dormi-deira (Papaver somniferum (( L.), a cocaína da coca (Erythroxylum coca (( Lam.), a psilocibina do peiote [Lophora williamsii[[ (Lem. ex Salm-Dyck) iJ. M. Coult. = Echinocactus williamsii Lem. ex Salm-Dyck] e a muscarina do cogumelo mata-moscas [Amanita muscaria[[ (L. ex Fr.) Hook.].

Apesar de extraordinariamente tóxicos, os alcalóides são muito utilizados em fi toterapia e medicina convencional, desde que administra-dos em doses mínimas, como, por exemplo, a atropina que é utilizada nos colírios em so-luções a 1% (ex.: Atropocil) e como antídotos em envenenamentos com cogumelos ou into-xicações, em soluções (0,2-0,5 %) de sulfato de atropina, para perfusão ou injecção. Actu-am de modo muito diverso. Muitos são activos sobre o sistema nervoso central, como o ópio, ou são parasimpatolíticos, como os alcalóides das Solanáceas e os da cravagem-do-centeio [Claviceps purpurea (Fr.) Tul.]. Outros têm efei-tos emeto-catárticos, como a colquicina, pro-duzida pelo cólquico (Colchicum autumnale L.). Alguns alcalóides têm efeitos hepatotóxicos, provocando a necrose das células hepáticas, como os alcalóides do tremoceiro (Lupinus al-((bus L.) e da tasneirinha (Senecio vulgaris L.).

Os alcalóides não estão localizados sem-pre no mesmo tipo de órgãos das plantas. Na maioria das vezes estão concentrados nos órgãos subterrâneos, como rizomas e bolbos. É também frequente concentrarem-se nas fo-lhas, frutos e sementes.

Muitas plantas utilizadas na alimentação são produtoras de alcalóides, alguns até letais. Po-rém, utilizamos como alimentos os órgãos que não contêm alcalóides, como acontece, por exemplo, com a batateira (Solanum tuberosum ((L.), pois comemos o rizoma (batata) e não o fruto (um pequeno tomate) nem as folhas, ou, ainda, quando o alcalóide é solúvel em água, lavamos em água o respectivo órgão antes de o ingerirmos, como acontece com as semen-tes (tremoços) do tremoceiro (Lupinus albus ((L.), que são lavadas em água corrente antes de as comermos.

Alcalóides das solanáceas

Os alcalóides das Solanáceas são heterocí-clicos, na sua maioria dos grupos tropânicos,

Brugmansia arborea Brugmansia x insignis Brugmansia sanguinea Brugmansia x candida

Atropa belladonaDatura stramonium

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fl ores secas. Actualmente é muito frequente verem-se trombeteiras (Brugmansia spp.) em jardins públicos e privados, pois têm fl ores muitos grandes, vistosas e em grande nú-mero. Mas é necessário haver muito cuida-do, particularmente com crianças, pois estas plantas contêm elevadas concentrações de alcalóides atropínicos nas folhas e fl ores. Foi assim, que em fi nais de 2008, no Funchal, 4 adolescentes (14-19 anos de idade) sofre-ram graves intoxicações (1 perdeu a vida) por terem bebido uma infusão, vulgo (“chá”), de duas fl ores cada um. Isso porque um deles (o de 19 anos) viu uns estrangeiros “drogarem-se” dessa maneira, pois estes alcalóides, em doses “convenientes” são alucinogénicos.

• AlimentaresEntre as Solanáceas mais utilizadas na

alimentação podemos citar a batateira (So-lanum tuberosum L.), originária da região temperada dos Andes, América do Sul; a beringela (Solanum melongena L.), do Sul da Ásia; o tomateiro (Lycopersicon esculen-tum Mill.), do Ocidente da América do Sul; os pimenteiros (Capsicum annuum L.), da América Tropical e o pimenteiro-de-cheiro e piripíri (Capsicum frutescens L.), da América Tropical.

Outras Solanáceas são populares alimen-tos na América Tropical mas pouco conheci-das fora dessa região, como o tomatinho-de-capucho (Physalis pubescens L.), da América do Sul; o barrileiro (Physalis ixocarpa Brot. ex Hornem.), da América Central; a groselheira-do-cabo (Physalis peruviana L.), da América do Sul; o tomateiro-arbóreo [Cyphomandra crassicaulis (Ortega) Kuntze], da América do Sul; o melão-arbustivo (Solanum muricatum Ait.), da América do Sul; a cocona (Solanum tapiro Humb. & Bom. ex Dun.), da América Central; a lulita (Solanum hirsutissimum Stan-dley) e o lulo (Solanum quitoense Lam.), da América Central.

Os alcalóides das Solanáceas não estão concentrados no mesmo órgão em todas as espécies, tal como já referimos para outras famílias. Assim, não utilizamos na alimenta-ção sempre o mesmo órgão das diferentes Solanáceas comestíveis. Por exemplo, do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) comemos os frutos (tomates), mas não uti-lizamos as folhas para dar ao gado [como fazemos com o milho (Zea mays(( L.)], pois as folhas contêm elevada concentração de alcalóides, sendo até utilizadas como insecti-

cidas, depois de secas e reduzidas a pó (era assim que os índios “limpavam” os piolhos da cabeça); tal como do pimenteiro (Cap-sicum annuum L.) e do piripíri (Capsicum frutescens L.); da batateira (Solanum tube-rosum L.), comemos o rizoma (batata), mas não comemos os frutos (pequenos tomates), nem utilizamos a rama para dar ao gado; do espinheiro (Lycium europaeum L.), comemos as folhas e não as bagas, pois estas contêm alcalóides atropínicos, etc.

Porém, por vezes, chegam-se a utilizar na alimentação alguns órgãos tóxicos de Sola-náceas, misturados com órgãos de outras plantas, como acontece, por exemplo, em São Tomé e Príncipe, onde a população uti-liza as folhas e os frutos do maquêquê (So-lanum macrocarpum L.), com alguma toxici-dade, na confecção do calulú, o prato típico desse país. Isto explica-se, porque não só este era um prato dos escravos, como tam-bém porque estes alcalóides são estimulan-tes e alucinogénicos.

Mesmo o gado quando pasta e come, inadvertidamente, a ramada e frutos de algu-mas Solanáceas, sofre as respectivas con-sequências, como acontece, por exemplo, com a erva-moura-negra (Solanum nigrum L. subsp. nigrum) e a erva-moura-alaranjada (Solanum luteum Mill. subsp. luteum), que causam a morte no gado ovino e estados comatosos no gado bovino. Geralmente, no campo, o gado reconhece-as e não as comem. No entanto, tive conhecimento de mortes de cavalos, por terem comido folhas e frutos (as sementes contêm elevada con-centração de atropinas) da fi gueira-do-infer-no (Datura stramonium L.). Isso aconteceu porque os cavalos não reconheceram a plan-ta seca, que estava no fardo de palha seca que lhes deram. As sementes desta planta, moídas para que assim o “pó” pudesse estar “disfarçado” numa sopa ou chá, foram (não sei se ainda são) muito utilizadas em bruxa-ria, para provocar alucinações a quem lhes interessava, para poderem afi rmar que a pessoa estava com “o diabo no corpo”. Daí a designação “fi gueira-do-inferno”.

• Tóxicas e medicinaisA Solanácea tóxica mais conhecida e com

maior interesse económico é o tabaco (Nico-((tiana tabacum L. e Nicotiana rustica L.), da América Tropical, utilizado para fumar, mascar ou como rapé. São das plantas mais popula-res e mais nocivas em todo o Mundo. Muitas

espécies de Nicotiana contêm nicotina, um alcalóide altamente tóxico que, por isso, é também utilizada como poderoso pesticida. Entre os muitos efeitos nocivos da nicotina na saúde humana, como signifi cativos efeitos no aparelho respiratório (ex.: enfi sema pulmonar; cancro) e no aparelho circulatório (ex.: doen-ças coronárias), gastro-intestinais (ex.: esti-mulação salivar, náuseas, vómitos e diarreia) e cerebrais (ex.:inibição da oxidação de piru-vato pelas células cerebrais), a nicotina tem acção narcótica tendo sido, por isso, aplica-da na captura de animais selvagens, através da injecção com uma seringa projectada por uma arma adequada. O animal é imobilizado num estado cataléptico, sendo conhecidas as doses a injectar por biomassa animal.

Da folha do tabaco foram ainda isolados outros alcalóides como, por exemplo, a nico-timina (anabasina) e a nomicotina.

Várias Solanáceas têm sido utilizadas em fi toterapia desde a Antiguidade Grega. Entre as mais conhecidas e que adquiriram noto-riedade pela toxicidade devida a compostos atropínicos, está a beladona (Atropa bella-((dona L.), a fi gueira-do-inferno (Datura stra-monium L.), a mandrágora (Mandragora offi -cinarum L.) e os meimendros (Hyoscyamus alba L. e Hyoscyamus niger L.). Exemplos de Solanáceas medicinais e também tóxicas, mas menos conhecidas e utilizadas em fi to-terapia, são espécies dos géneros Brugman-sia, Cestrum, Duboisia, Nicandra, Physalis, Schwenkia e Solanum.

Muitas espécies de Solanum e algumas de Capsicum e Lycopersicon contêm alcalóides que são esteróides.

Solanáceas da fl ora portuguesa

Na fl ora portuguesa ocorrem, como nativas e naturalizadas, 35 espécies de Solanáceas pertencentes a 14 géneros: Atropa (1 espé-cie); Capsicum (2 espécies); Cyphomandra (1 espécie); Datura (2 espécies); Hyoscyamus (2 espécies); Lycium (4 espécies); Lycopersicon(1 espécie); Mandragora (1 espécie); Nicandra(1 espécie); Nicotiana (3 espécies); Physalis(2 espécies); Salpichroa (1 espécie); Solanum (13 espécies); e Withania (1 espécie).

Destas 35 espécies de Solanáceas, ape-nas 9 são nativas, pertencentes a 5 géneros: Hyoscyamus (2 espécies); Lycium (2 espé-cies); Mandragora (1 espécie); Solanum (3 espécies) e Withania (1 espécie).

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Este Outono:

Parque Biológico BIORAMA: visite!

Parque da Ponte Maria PiaEm construção

Reserva Natural Local do Estuário do DouroEm instalação

Reabilitação do Cordão Dunar de Gaia

Parque Botânico do Castelo (Crestuma)Abriu dia 13 de Setembro

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