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Aluna: Ana Ester Valente Alves Rodrigues : 8123 Pós-graduação: Educação especial: Domínio da visão Unidade curricular: Aquisição e Desenvolvimento da Comunicação e da Linguagem março de 2012 Reflexão sobre o filme A criança selvagem ATIVIDADE - MÓDULO I

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Aluna: Ana Ester Valente Alves Rodrigues Nº: 8123

Pós-graduação: Educação especial: Domínio da visão

Unidade curricular: Aquisição e Desenvolvimento da Comunicação e da Linguagem

março de 2012

Reflexão sobre o filme A criança selvagem

ATIVIDADE - MÓDULO I

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- Relatar el argumento o el resumen de la historia:

O “Selvagem de Aveyron” foi nome dado pela sociedade francesa coetânea a

um menino, com cerca de 11/12 anos, encontrado numa floresta francesa, em 1798. A

primeira vez que foi visto estava nu, enquanto procurava raízes e frutos. Foi levado por

três caçadores para uma aldeia, onde foi sujeito à chacota e à agressividade dos que

ali habitavam. Mais tarde, seria “adotado” por um camponês que o acompanharia até

Paris, onde iria permanecer até ao resto dos seus dias.

Inicia-se, digamos, a segunda fase do seu processo de integração na

sociedade civil. Após ter sido avaliado pelo conceituado psiquiatra Phillipe Pinel,

tornou-se alvo de estudo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos, onde permaneceu

cerca de um ano. Aqui, sofreu não só maus-tratos dos seus colegas, como também se

tornou num objeto bizarro de exposição, sendo frequentemente visitado pela

sociedade parisiense

Jean Itard, conhecido otorrinolaringologista e discípulo de Pinel, conseguiu

autorização para o levar para sua casa a fim de o educar. Deu-lhe um nome, Victor, e,

com a ajuda da sua governanta, Mme. Guérin, procurou (re)integrá-lo na sociedade a

que um dia pertencera. Para tal, Itard recorreu a diversas metodologias – como a

alfabetização de pessoas com deficiência auditiva – e técnicas – como a imersão em

banhos quentes em simultâneo com aspersão de água fria na cabeça –, bem como a

En esta actividad tendréis que visionar un film y contestar las cuestiones que se plantean a

continuación:

La película: El Pequeño Salvaje. L’enfant sauvage

Francia. 1960. 85 min. B/N.

Director: François Truffaut.

Fotografía: Néstor Almendros

Intérpretes:Jean-Pierre Cargol (Víctor), François Truffaut (Jean Itard), Françoise Seigner (señota

Guerin), Paul Villé (Remy), Jean Dasté (Professor Pinel)

Sinopsis: Basada en un hecho real relata la historia de un niño salvaje capturado en los bosques

franceses y recluido en un instituto de investigación. De vivir como un animal libre pasa a convertirse

en un ser rechazado, maltratado y visto como un fenómeno inhumano. Sólo el doctor Itard hará todo

lo posible para hacer de él un ser civilizado llevándolo a su propia casa. Transcurrido un tiempo, el

niño se encontrará perdido entre su deseo por recuperar su vida salvaje y su nueva etapa junto a su

protector.

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um ajustamento dos seus hábitos quotidianos – redução da quantidade de comida e

do tempo de permanência na cama –, e ao estímulo das suas aptidões afetivas.

Deste seu empreendimento (psico)pedagógico emanaram dois relatórios: o

primeiro, após nove meses de trabalho (em 1801); o segundo, e último, passados seis

anos (em 1807). A partir de então, Itard suspende o seu relato.

Características del síndrome o trastorno de carácter científico que aparecen

descritas en la biografía y película.

Penso que a designação Transtornos Globais do Desenvolvimento, me parece

a mais adequada aos comportamentos evidenciados por Victor. De acordo com o

Manual de Diagnóstico e Estatística das Deficiências Mentais, publicação da American

Psychatric Association (APA), o transtorno mental é concetualizado como um

comportamento clinicamente significante, um síndrome ou um padrão psicológico que

ocorre num indivíduo e está associado à existência de sofrimento, incapacidade ou de

perda de liberdade e é considerado como a manifestação de uma disfunção

comportamental, psicológica ou biológica do indivíduo.

A American Association on Intelectual and Developmental Disabilities (AAIDD)

defende o conceito de deficiência intelectual, que julgo ser também de extrema

importância para a compreensão do problema que o menino selvagem nos apresenta.

Esta deficiência caracteriza-se por limitações significativas no funcionamento

intelectual e no comportamento adaptativo, abarcando muitas competências sociais e

práticas quotidianas. Esta incapacidade origina-se antes dos 18 anos de idade.

Quando o examinaram, o menino selvagem exibia no seu corpo marcas de sofrimento,

de dor, causadas supostamente por animais da floresta e uma, em especial, que, de

acordo com a avaliação de Pinel, terá sido infligida pela pessoa (ou pessoas) que o

tentou matar e o votou ao abandono. Foi nesta condição que viveu em total isolamento

relativamente aos indivíduos da sua espécie, pelo que não pode desenvolver

competências de comunicação, de socialização, de afeição, de atenção, de abstração,

essenciais ao seu desenvolvimento total. Por não ter adquirido estas competências,

esta criança manifestava disfunções comportamentais e intelectuais.

Estas competências adquirem-se no contacto com o seu semelhante e

emergem da cultura em que somos educados, sem elas, Victor vive

desajustadamente. Não consegue comunicar, porque não domina a linguagem verbal

e não socializa porque não consegue comunicar. Vêem-se, por conseguinte,

comprometidas as suas competências sociais e, por inerência, o seu funcionamento

intelectual.

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A este respeito, gostaria de referir os contributos de dois importantes

pensadores: Vygotsky (1978/1984) e Bruner (1983). Vygotsky designa de “zona de

desenvolvimento proximal” a capacidade de a criança funcionar entre dois níveis de

desenvolvimento: o seu nível real e o nível potencial (que ocorre, geralmente, com a

cooperação de alguém mais experiente). Segundo este autor, a proximidade com uma

pessoa mais velha estrutura a interação comunicativa, de modo a que o nível de

desenvolvimento real da criança, se aproxime de seu nível potencial, ajudando-a a

avançar de um nível para outro. Bruner (1983) explica a aquisição da linguagem,

partindo de dois mecanismos: um é equivalente ao Language Aquisition Device (LAD),

e corresponde a uma força interna (push) que estimula a criança a aprender a

linguagem; o outro é a força que absorve (pull) a linguagem do meio social, através do

estímulo encorajador (scaffolding) da pessoa que mais interage com a criança, aliada

ao contexto constante e reconhecível no qual a linguagem é usada. Este complexo,

que tem a designação de Language Acquisition Support System (LASS) e é

considerado essencial para a aquisição da linguagem. Em resumo, Vygotsky e Bruner,

embora seguindo abordagens diferentes, são unânimes em concordar que existe uma

estrita relação entre as competências linguísticas/comunicativas, a interação com meio

e, porventura, o afeto com o outro, sendo estas duas condições imprescindíveis ao

desenvolvimento total da criança.

A Víctor, faltou-lhe toda esta estrutura durante um período da sua vida que se

configura determinante para que estas aquisições se efetuem.

¿Cómo se definen los protagonistas de la biografía?, ¿Qué diferencia o

dificultad tienen?

Gostaria de individualizar quatro dos intervenientes nesta história, pela maior

importância que nela adquirem devida aos papéis que desempenham.

Desde logo, o protagonista desta história, Victor. Victor é, nesta quadratura, o

aluno em estado “selvagem” e, portanto, com todas as dificuldades de uma criança

que viveu privada do convívio social e dos atos de comunicação verbal. Tinha

problemas de locomoção, galopava e troteava (posição quadrupede) em vez de andar

em posição bípede; não reagia aos sons e não fixava a sua visão (apenas em objetos

da sua necessidade de alimentação); não falava, apenas emitia sons guturais

semelhantes aos dos animais; não tinha quaisquer noções de higiene pessoal e

rotinas quotidianas.

Jean Itard, um médico-filósofo, que se tornou num pedagogo, influenciado

pelas teorias humanistas de Rosseau e Locke, intentou “moralizar” Victor, educando-o.

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Itard foi um dos primeiros experimentalistas no âmbito da pedagogia, na medida em

que pôs em prática (testou) não apenas a filosofia defendida por Rosseau e Locke, no

que diz respeito à “natureza” do homem, mas também a visão epistemológica

empirista-sensualista de Condillac, filósofo seu contemporâneo. O seu objetivo

primeiro em relação a Victor era o de “examinar o grau de inteligência e a natureza

das ideias num adolescente privado da educação por ter vivido separado da sua

espécie”1. Mais tarde, partindo do postulado de que a anormalidade desta criança

decorria do isolamento em que tinha vivido, Itard determina um segundo objetivo:

educar Victor, submetendo-o ao que era chamado na época de “tratamento moral”.

Moral porque incidia sobre as faculdades mentais – os comportamentos - e não sobre

o corpo. Para tal, ficará com esta criança à sua guarda. Contudo Itard confrontar-se-á

com as dificuldades linguísticas e comunicativas de Víctor. Se, por ventura, conseguiu

que a criança se desenvolvesse cognitiva e afetivamente, ainda que de forma bastante

limitada, o mesmo não aconteceu relativamente à linguagem e à comunicação.

A Mme. Guérin detém nesta história um duplo papel. Tem, nas palavras de

Itard “a paciência de uma mãe e a inteligência de uma professora2 esclarecida” (Cit

por FERRANTI 2000). Os estímulos afetivos que Víctor recebeu vinham, sobretudo, de

Guérin.

Por fim, Philipe Pinel, o teórico e o avaliador. É ele quem faz o diagnóstico de

Víctor, considerando-o inferior a um animal, um idiota (designação nosográfica

contemporânea relativa a uma pessoa que não falava ou apenas murmurava alguns

sons desarticulados e vivia num estado de permanente e invencível estupidez)

condenado ao asilo, sem qualquer hipótese de reabilitação. Ao contrário de Itard, Pinel

parte do postulado que esta criança foi devotada ao isolamento devido à sua

anormalidade, o que o precipita na decisão de a internar no asilo de Bicêtre, de que

era, então, diretor.

¿Cómo afecta en sus vidas?

Sem dúvida que as vidas de todos estes “atores” serão afetadas por esta

situação, embora umas mais do que outras, dependendo do grau de envolvimento que

nela tiveram.

Antes de mais, Víctor, sem dúvida o protagonista, por excelência, desta história

(não obstante o grande relevo de Itard). O curso da sua vida sofrerá um enorme volte

face (uma vez mais) com a sua saída de um estado primitivo para um estado civilizado

1 Citação do filme A criança selvagem

2 Sublinhado meu

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que o irá confrontar com regras, hábitos, afetos (e desafetos), enfim, uma série de

atividades humanas que até então desconhecia. Tudo isto irá gerar uma certa

insegurança, numa primeira fase, que se tonará progressivamente em aprendizagens

efetivas e que lhe irão permitir uma melhor adaptação ao convívio com o seu próximo.

Pinel e Itard verão a sua vida afetada sobretudo ao nível do seu trabalho científico.

Ambos veem nesta criança um caso de estudo, tanto mais que os intriga o facto de

esta ouvir, mas não falar (razão pela qual foi levada para um instituto de surdos), pese

embora a diferença de opiniões entre ambos no que diz respeito às possibilidades de

educação de Víctor. Contudo, e precisamente porque Itard acreditava ser possível

educar este menino, levou-o para sua casa, facto que seguramente alterou a sua vida

e (sabemo-lo pelos seus relatórios) a sua visão romântica sobre o que era o “homem

natural”.

¿Cómo es vivido o percibido por aquellas personas con quienes conviven (en la

escuela, en su familia, en otros ambientes, etc.)?

Víctor foi encontrado por uma camponesa que chamou três caçadores para o

apanharem e o levarem para a sua aldeia. Aqui, esta criança é vista como um ser

animalesco e é tratada como tal (vive fechado num palheiro, sai à rua amarrado por

uma corda). A sua diferença não foi bem aceite pelos outros aldeães que o agrediram

e maltrataram. Apenas um aldeão manifestou a sua misericórdia e o tomou à sua

guarda. Terá visto o menino por detrás do “selvagem”, o humano para além do animal.

No instituto de surdos, as outras crianças fazem chacota dele e maltratam-no, e os

guardas transformam-no num objeto de exposição para a sociedade parisiense, e com

ele obtêm algum lucro.

Percebe-se que com os seus vizinhos tem uma relação que se pauta pelo

imediatismo da satisfação das suas necessidades e prazeres (beber leite e ser

transportado num carrinho de mão).

Pinel e Itard veem-no como um objeto da sua curiosidade científica.

Distinguem-se as suas posições pela possibilidade que este segundo encontra de

educar Víctor, contra a fatalidade determinada por Pinel, que o considera um idiota.

Mme. Guérin depositou nele muita ternura e teve uma influência direta na sua

educação.

¿Qué conflictos tiene en los lugares en los que está (sus relaciones familiares y

sociales)? ¿Qué conflictos viven quienes le acompañan y conviven con él/ella?

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Numa primeira fase, Victor reage ao contacto físico, mordendo quem se

aproximasse dele. Esta sua reação acentua ainda mais a forma como é olhado por

quase todos os que o rodeiam, como um animal, o que gera um eminente clima de

agressividade entre o menino e os restantes aldeãos.

No instituto recusa-se a deitar-se na cama, preferindo deitar-se no chão; no

jardim, cobre-se com folhas secas e recusa-se a aparecer, o que provoca conflitos

com os empregados.

Em casa de Itard, e, portanto, num contexto mais familiar, Victor tem ataques

de fúria frequentes, sobretudo em situações de aprendizagem frustrada. Mais tarde,

foge de casa. Tudo isto cria um ambiente de conflito entre si e Itard, cujo clímax se dá

aquando da posta à prova da noção de injustiça/justiça desta criança.

Mme. Guérin entra também em discórdia com Itard, na medida em que

contesta o excessivo treino a que Victor estava a ser submetido diariamente.

O próprio Itard entra em conflito consigo próprio ao perceber que as suas

teorias sobre as possibilidades de educar esta criança parecem ter sido goradas.

¿Qué posibilidades desarrolla? ¿Qué posibilidades desarrollan quienes le

acompañan y conviven con él/ella?

Para a educação de Victor, Itard estabeleceu um programa que contava com

cinco objetivos: o primeiro era adaptá-lo à vida social, com o intuito de o levar à

aquisição de hábitos quotidianos; o segundo pautava-se pelo desenvolvimento das

suas funções sensoriais, para que Victor reagisse às diferentes sensações de forma

adequada; o terceiro verificaria “ o despertar em Victor da esfera das ideias, dar-lhe

necessidades novas e multiplicar as relações com os que o rodeavam” (cit. por

OLIVEIRA), procurando, assim, a aquisição de conceitos, a socialização e a afeição; o

quarto incidia sobre a fala, que permitiria a Victor a socialização; por fim, o quinto

objetivo seria o de conduzi-lo ao exercício das “operações mais simples do espírito

sobre os objetos da sua necessidade” (cit. por OLIVEIRA) que lhe permitiriam, por

exemplo, desenvolver o simbolismo, a representação e a utilização da escrita.

Victor não conseguiu atingir plenamente os objetivos deste programa, embora

tenha logrado a aquisição de algumas das competências dele emanadas. Assim,

relativamente ao primeiro objetivo adquiriu hábitos de alimentação (aprendeu a usar os

talheres), de higiene diária e de vestuário; no que diz respeito ao segundo objetivo

desenvolveu a sua sensibilidade ao tato (no filme podemos ver que ganhou

sensibilidade ao frio, sentindo necessidade de se vestir), ao olfato e ao paladar, bem

como a audição (como podemos observar no filme quando Victor reproduz os mesmos

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sons que Itard emite com um tambor e uma sineta) e a visão; o terceiro objetivo foi um

dos bem-sucedidos, pois Victor estabeleceu laços afetivos com Mme. Guérin e com

Itard, reconhecia na indumentária que o seu preceptor vestia o momento de dar um

passeio, passeios estes que se tornaram um hábito na sua vida e sem os quais ficava

triste; o quarto objetivo não foi conseguido, uma vez que, até ao fim da sua vida, Victor

conseguiu pronunciar poucas palavras, o que no filme se confirma na única expressão

que pronuncia “lait”; o quinto e último objetivo foi, digamos que, parcialmente

(incipientemente) alcançado e vemo-lo na dificuldade de nomear os objetos da sua

instrução na ausência destes (como podemos perceber quando, no filme, Itard

esconde a malga com o leite), embora, mais tarde, observemos que associa a palavra

ao objeto, na sua ausência, no entanto, esta associação resulta, mais do da sua

capacidade para o simbolismo da linguagem, da sua atenção e memória.

São portanto várias as possibilidades que desenvolve quer a nível intelectual,

quer afetivo.

¿Con qué recursos cuenta y de dónde proceden?

Desde logo, oferece-se salientar que, numa primeira fase do seu programa

educativo, Itard utiliza uma pedagogia assente nas associações entre as necessidades

primárias de Victor e os objetos da sua instrução, para, depois, a complexificar como

forma de desenvolver as suas capacidades cognitivas.

Itard estimula várias competências através do jogo. Este é um recurso bastante

utilizado na educação de Victor, uma vez que Itard reconhecia nele um estímulo da

atenção e da memória.

São vários os recursos que utiliza para os estímulos sensoriais, cada um

adaptado ao sentido que procurava desenvolver: exposição banhos de água quente

com aspersão de água fria e identificação de objetos, para desenvolver o tato;

vocalização e emissão de sons que Victor devia imitar, para estimular a audição;

identificação de letras e objetos, como estímulo da visão.

Para a aquisição da linguagem e da comunicação, Itard usa uma metodologia

de associações entre o objeto e a sua articulação fonética, entre objeto, forma gráfica

e articulação fonética e entre forma gráfica e articulação fonética.

Como método prévio à aprendizagem da escrita, usa o quadro de ardósia e

começa com os grafismos, para depois utilizar um quadro com as letras do alfabeto

que eram identificadas com caracteres móveis. Mais tarde, Itard recorre-se destes

mesmos caracteres para ajudar Victor a formar palavras.

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Itard quis ainda estimular os valores éticos e morais em Victor e, para tal, expô-

lo a uma situação prática.

Resta ainda referir que, transversalmente à pedagogia usada por Itard, assenta

no princípio da recompensa e do castigo

.

¿Qué necesita para desarrollar sus recursos y sus posibilidades?

Para que estes recursos e possibilidades pudessem ser desenvolvidos, foi

necessário haver um trabalho contínuo e adaptado às necessidades de Victor. Por

saber da importância desta premissa, Itard requer a continuidade da guarda do

menino, o que lhe permite fazer uma observação direta e contínua dos progressos e

retrocessos do seu aluno.

Um outro requisito importante é a criatividade. Estava-se ainda numa fase

muito incipiente do conhecimento dos processos psicológicos implicados na educação

especial, e Itard teve de criar os seus próprios instrumentos e recursos de trabalho.

Esta história mostra ainda alguns dos requisitos essenciais para a

prossecução desta tarefa, nomeadamente, a persistência face ao desapontamento, o

trabalho de equipa (embora não especializada), a disponibilidade, entre outros.

¿Qué importancia creéis que tiene el diagnóstico?

Sem dúvida que o diagnóstico tem uma grande relevância na compreensão do

problema e do indivíduo, na medida em que interfere na planificação do programa

educativo que deverá ser ajustado às necessidades das crianças, para que haja

progresso no seu desenvolvimento global. Posto isto, há, na história que ocupa esta

reflexão, alguns erros de diagnóstico. Para Pinel, esta criança estava

irremediavelmente perdida, era um “idiota” igual a muitas outras crianças do hospital

psiquiátrico que supervisionava. Pinel apenas diagnostica o problema sem ter em

consideração a história daquela criança: a condição social em que cresceu, as

variantes de nível sensorial, intelectual e emocional. O resultado do seu diagnóstico

tem por base indicadores sobretudo orgânicos, pelo que a inobservância da

normalidade inviabiliza qualquer possibilidade de recuperação/aprendizagem.

Jean Itard tem uma leitura diferente deste problema. O seu diagnóstico tem em

linha de conta a influência do meio no desenvolvimento desta criança, tanto mais que

o seu objetivo científico (teórico) era “examinar o grau de inteligência e a natureza das

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ideias num adolescente privado de educação por ter vivido separado da sua espécie”3.

Percebe-se nesta premissa uma abertura do espetro das causas associadas ao

transtorno de Victor, cujas variáveis do sujeito e socioculturais terão tido peso na

decisão de Itard pela educação desta criança.

Sem dúvida que os destinos da vida desta criança teriam sido outros, com

outro diagnóstico, como referem Baptista & Oliveira (cit. por VASQUES & BAPTISTA)

“Caso o olhar de Pinel tivesse prevalecido, Victor teria sido mais um dos pacientes dos

hospícios franceses, exposto a um ‘atendimento’ que era sinônimo de isolamento e

abandono”4.

Sabemos que Victor nunca desenvolveu plenamente as suas competências

cognitivas, comportamentais e linguísticas, eventualmente devido a alguns equívocos

de natureza metodológica/pedagógica, nomeadamente a dicotomia

recompensa/punição, o reforço positivo e as atividades mecânicas, sem esquecer o

pouco contacto de Victor com outras pessoas

- Expresar qué es lo que a ti particularmente te dice

Começaria por dizer que nunca antes tinha visionado este filme, embora seja

referido, sobretudo na Linguística, como um exemplo das questões relacionadas com

o domínio da aquisição da linguagem. De facto, esta parece-me ser uma das

problemáticas centrais do seu argumento: aquela com que Itard mais se debateu e

cuja não realização inviabilizou o desenvolvimento global desta criança e a sua

educação.

Este filme procura mostrar a importância da socialização no desenvolvimento e

na educação do ser humano e, portanto, revela o quão sociais nós somos. Sem dúvida

que é da nossa relação com o outro que emergem necessidades de ordem emocional

e comunicacional que nos permitirão ajustarmo-nos à realidade e à sociedade. Para já

não referir a componente cognitiva que, de igual modo, facilita este ajustamento ou

adaptação.

Há ainda uma outra questão que me agradou neste filme: a complexidade do

ser humano pela multiplicidade de que é feito. Victor seria, sem dúvida, um ser mais

complexo do que, à partida, Itard terá suposto e sabia-o. O desconhecimento de toda

a sua história anterior criou um vazio no conhecimento dos referentes de Victor e da

3 Citação do filme A Criança Selvagem

4 Carla K. VASQUES, Claudio Roberto BAPTISTA, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Educação:

um Discurso sobre Possibilidades

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eventual remanescência de alguns acontecimentos, no que esta criança, depois jovem

e, mais tarde, adulto conseguiria, ou não, reabilitar.

Nesta história, identifico-me com um certo “experimentalismo controlado” de

Itard. Ou seja, conhecedor das escolas de Rosseau e Locke, cuja ênfase é posta na

natureza humana e nas suas infinitas possibilidades quando exposta à razão e à

experiência (tentativa/erro), arriscou aplicar estas teorias no programa educativo que

desenvolveu com Victor. Chamo-lhe “experimentalismo controlado”, precisamente

porque Itard é hoje reconhecido como o primeiro educador no âmbito do ensino

especial. Foi o primeiro pedagogo a testar a educação do homem natural.. Identifico-

me ainda com a ousadia, determinação e sensibilidade com que olhou para este

menino, fazendo da sua a casa dele. Sem dúvida que Itard percebeu que teria de fazer

um trabalho continuado com o seu pupilo e que, para tal, teria de estar tão próximo

quanto possível dele, o que não seria possível de outro modo, pois os “internatos” não

permitiam esta proximidade. Identifico-me, de igual modo, com o sentido maternal de

Mme. Guérin e o afeto que sempre teve para com Victor, a sua capacidade de olhar

para a criança atrás do “selvagem”.

Aliás, esta minha empatia com Guérin é o contraponto do que eu considero não

ter sido muito incipiente entre Victor e Itard: os afetos. Julgo que este foi um dos

problemas que obviou ao sucesso deste programa educativo de Itard. Porventura, a

afetividade aproxima-nos do outro, ao mesmo tempo que saímos de nós. Ora, Itard via

em Victor um estímulo da sua curiosidade científica que era tão ávida, quanto o foi o

modo como o pretendeu educar, sobretudo na frequência dos seus exercícios, e no

princípio da punição/recompensa, ao mesmo tempo que subestimou o lazer, a

brincadeira, essenciais ao desenvolvimento de qualquer criança. Este foi, aliás, um

dos problemas apontados por Guérin a propósito de uma manifestação de fúria de

Victor. De facto, os afetos abrem-nos para o entendimento do outro, vemos o que está

para além do que olhamos, escutamos para além do que ouvimos (vislumbra-se,

porventura, alguma ironia – involuntária, bem se vê – nas palavras de Itard).

Ainda no âmbito do que considero não ter sido bem-sucedido na pedagogia de

Itard, há um outra área que foi também pouco considerada: a socialização. É um facto

que Itard procurou implementar o convívio de Victor com outras pessoas, contudo,

restringiu-o a uma família da vizinhança, o que não é, de todo, suficiente para o

desenvolvimento das competências adjacentes – a comunicação, a linguagem, o

sentimento de pertença.

Face a estas circunstâncias, o que eu faria de diferente estaria precisamente

relacionado com a componente sócia afetiva. Desde logo, procuraria formar uma

equipa de trabalho multidisciplinar, dada a necessidade de elaborar um diagnóstico o

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mais preciso possível, para seguidamente elaborar um programa de intervenção

adequado às especificidades de Victor. A sua implementação deveria acontecer num

ambiente de convívio com pares e também com adultos, por forma a diversificar as

relações de Victor com o seu próximo, estimulando, assim, os afetos, a comunicação,

a linguagem, enfim, a sua socialização.

São algumas as lições que podemos extrair desta história. Antes de mais, e

relativamente a Victor, vemos a necessidade que temos das relações com o outro, da

vida em sociedade, como garantia da nossa segurança e da nossa estrutura

psicossociológica.

Como educadora, vejo a importância que tem conhecermos os alunos com

quem trabalhamos, as especificidades do seu problema, a sua história, para que

possamos fazer um trabalho de ensino e educação eficaz. Se, por um lado, importa

enquadrar os resultados do diagnóstico numa esfera teórico-científica, por outro, é

absolutamente essencial atendermos às características individuais dos nossos alunos.

Como disse atrás, devemos ver a pessoa para além da deficiência. E, este

pode ser um movimento difícil de fazer, até porque implica afetos que tantas vezes,

como educadores, pretendemos subestimar devidos às angústias saídas de alguma

impotência que sentimos. Porém, somos todos feitos desta “massa”.

¿Cómo os afecta a ostros en vu estra vida cotidiana el temer en cuenta a las

personas de nê?

O trabalho na área do ensino não termina no último tempo de um dia de aulas,

pelo contrário, procedimentos como a planificação, a criação de instrumentos de

trabalho, a avaliação são, frequentemente, levados para as nossas casas. Por

conseguinte, entrelaçam-se o privado e o profissional. Ora, se isto é verdade no

ensino de alunos sem nê, tanto mais será com alunos com estas necessidades, uma

vez que, pela sua natureza, este trabalho é, em meu entender, mais exigente,

sobretudo do ponto de vista dos conhecimentos que envolve e da singularidade de

cada aluno.

Tenho já alguma experiência no trabalho com pessoas com DV e bem sei o

quanto a minha consciência ficou desperta, sobretudo, para o que a visão envolve.

Embora já tenham passado alguns anos desde esta minha experiência, lembro-me

que me confrontava, no meu quotidiano, com a perceção do que eu via e do que os

meus alunos não viam, num esforço para compreender a DV e poder, assim,

minimizar informações lacunares, como por exemplo “O interruptor está dentro da

casa de banho” (sim, mas de que lado da porta, a que altura…). Tornei-me mais

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consciente do espaço que me rodeia, da relação entre o meu corpo e os movimentos

que cada tarefa quotidiana envolve.

É por tudo isto que reafirmo a maior frequência que este tipo de ensino ocupa o

nosso espaço privado. Sentimos uma premente necessidade de o reconfigurar.

¿Qué creéis que necessitais aprender y desarrollar para poder relacionarmos

major con estas personas y para apoiar sus posibilidades?

Antes de mais, julgo que é fundamental tomar consciência de que

necessitamos de aprofundar os nossos conhecimentos sobre o que seja a deficiência

com que trabalhamos, pois só assim poderemos fazer um diagnóstico fiável e,

posteriormente, uma planificação adequada a cada aluno. Este conhecimento irá

mitigar a carga subjetiva que muitas vezes colocamos na avaliação que fazemos e na

nossa atuação como educadores

Se, por um lado, devemos atender a este aspeto, por outro, devemos

compreender o aluno na sua individualidade, para o que serão utilizadas técnicas

específicas que implica conhecer.

Importa ainda sermos capazes de flexibilizar o currículo, os nossos

procedimentos, com vista à progressão do aluno.

Torna-se evidente que o trabalho em equipa é de extrema importância, pela

entreajuda que se cria entre os vários profissionais e que ajudará não só a fazer face

às dificuldades que possam surgir no decorrer de todo o processo de aprendizagem

dos alunos, como também à elaboração das adaptações curriculares que se tornem

necessárias.

¿Qué suponde para ti como profissional este estúdio? ¿Qué te condute a

plantear-te en relaciona a las nê? ¿Qué influencias há exercido en ti el estúdio

de esta historia?

As necessidades educativas especiais são uma área muito abrangente e que

pode ser olhada de vários prismas, desde o social, passando pelo jurídico e pelo

psicológico, até ao educacional. É neste último que, como educadores nos devemos

posicionar, sob pena de nos perdermos em campos para os quais não estamos

devidamente preparados.

É como profissional da educação que me coloco face às necessidades

educativas especiais, sobretudo da componente da intervenção. Não quero com isto

dizer que o educador não deva participar no diagnóstico, até porque será sempre

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necessário posicionar o aluno no currículo escolar e, para tal, terá sempre de

diagnosticar para melhor perceber o ponto de partida dos seus alunos. Mas, julgo que

é importante compreendermos o nosso papel, as nossas competências, para que

evitemos e deceção e o desapontamento que poderiam estar envolvidos na nossa

envolvência numa área para a qual não estamos profissionalmente preparados.

Esta história reflete-se nos nossos dias precisamente pela necessidade de uma

intervenção precoce e pela importância de que se reveste o Plano Individualizado de

Ensino que deve estabelecer as respostas educativas que se configurem ser as mais

adequadas a cada aluno e fundamentar a “afetação dos recursos necessários”5.

- Qué escanas o citas entressacas por su especial relevância, y que crês que

vale la pena compartir con los companheiros/as.

Destaco duas cenas que me parecem elucidativas por um lado da questão afetiva

implicada nesta história, por outro da pedagogia utilizada por Itard:

Esta cena demonstra que a afetividade é uma área importante na educação de uma

criança, bem como na ensino de um aluno com nee.

Esta cena aponta para o cuidado que devemos ter na complexificação das tarefas que

propomos aos nossos alunos.

5DGIDC, Educação Inclusiva e Educação Especial: Um Guia para Directores

Quando Victor foge de casa do prof. Itard pela última vez, ao se encontrar

de novo a Srª Guérin, manifesta a sua enorme alegria, abraçando-a, e

expressa também algum arrependimento a Itard.

Quando Victor manifesta a sua ira ao tentar fazer corresponder as letras,

sem o conseguir.

Page 15: 95404945 Reflexao Menino Selvagem

http://www.scielo.br/pdf/%0D/prc/v16n2/a13v16n2.pdf

http://www.rizoma.ufsc.br/html/343-of4-st2.htm#_ftn10

DGIDC, Educação Inclusiva e Educação Especial: Um Guia para Directores

RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano.