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revista do migrante Publicação do CEM - Ano XXIV, n° 69, Julho - Dezembro/2011 ISSN-0103-5576 D EC A S S ÉGUI S D EC A S S ÉG UI S idas e vindas idas e vindas italianos italianos coreanos coreanos zingari zingari   T  r  á  f   i  c  o   d  e  p  e  s  s  o  a  s - dossiê - - dossiê - 6 9 Q u e b e c    T  r  á  f   i  c  o   d  e  p  e  s  s  o  a  s Q u e b e c  

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revista do migrantePublicação do CEM - Ano XXIV, n° 69, Julho - Dezembro/2011

ISSN-0103-5576

DECASSÉGUISDECASSÉGUISidas e vindasidas e vindas

italianositalianoscoreanoscoreanos zingarizingari

  T r á f  i c o  d e

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- dossiê -- dossiê -

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Q u e b e c    T r á f  i c o  d e

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SUMÁRIO

Apresentação ..............................................................................................05

Helion Póvoa NetoLúcia E. Yamamoto

Dossiê – Decasséguis: Idas e Vindas

Lugares próprios entre modos de ser distintos?A inserção das crianças que moraram no Japão ....................................07Laura Satoe Ueno

Reordenações na família decasségui: Dilemas e desaos ....................19Victor Hugo KebbeRevitalização linguística do japonês no Brasil: A atuação dosretornados brasileiros do Japão como professores delíngua japonesa ...........................................................................................31Leiko Matsubara Morales

*************

Imigração coreana: A questão da reemigração e do retorno ...............47

Rafael MonteiroSênia Bastos

Na pia batismal: Tradição e identidade étnica nas práticasde transmissão de nomes de batismo em um grupo deimigrantes italianos ....................................................................................57Fábio Augusto Scarpim

A especicidade de Quebec no quadro das PolíticasMigratórias Canadenses ............................................................................71

 Marcus Vinicius FragaLucia Maria Machado Bógus

Tráco de pessoas para exploração sexual:Um esboço de revisão bibliográca .........................................................87Sidnei Marco Dornelas

Resenha ......................................................................................................111

Zingari (crônica) ........................................................................................115Helion Póvoa Neto

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E ste número da Travessia – Revista do Migrante  apresenta um grupo de artigos

que formam um dossiê – de iniciativa de Lúcia E. Yamamoto  – enfocando

especialmente a dinâmica mais recente do movimento migratório entre

Brasil e Japão, ora em momento de redenição devido à crise, aos movimentos deretorno da comunidade brasileira e à complexidade da existência de uma geração

situada “entre” os dois países.

Os artigos seguintes tratam também do retorno, das práticas familiares de

representação da migração, das políticas de estado no estímulo a imigrantes, e do

debate associado ao tráco de seres humanos.

O dossiê “Decasséguis: Idas e Vindas” contém artigos informados pela crise

japonesa, na qual ocorre evasão escolar de crianças que, face ao desemprego dos pais,

não tendo condições de frequentar as escolas privadas mas apresentando enormes

diculdades para acompanhar o ensino nas escolas japonesas, acabam por sair dosistema educacional. No âmbito familiar, são muitos os desaos tanto para as crianças

que, no contexto da crise, acompanham o retorno da família ao país de origem dos

pais, quanto para as que vivem a situação de famílias separadas, divididas entre Brasil

e Japão. Ao mesmo tempo, a educação e vivência da língua japonesa habilitam muitos

desses “retornados” a enveredar pelo ensino daquele idioma como perspectiva

prossional, no Brasil.

O artigo de Laura Satoe Ueno discute os aspectos psicossociais das crianças

retornadas e educadas no Japão. A experiência educacional, descontínua e

fragmentada, dessas crianças, sugere a necessidade da consideração daqueles aspectospara a compreensão das perdas, conitos e desaos envolvidos nos deslocamentos

humanos.

 A contribuição de Victor Hugo Kebbe sugere a importância de se entender as

formas pelas quais os membros de famílias distendidas entre dois países reordenam

os papéis familiares e repensam suas estratégias de vida. Caracterizados como famílias

transnacionais, os grupos de decasséguis enfocados permitem a compreensão de

processos que se generalizam, no contexto global, para muito além desse grupo mais

restrito.

O último texto do dossiê, escrito por Leiko Matsubara Morales, destaca como oretorno dos Nikkeis brasileiros se associa à revitalização do ensino da língua japonesa

no Brasil, através da entrada, nesse campo de trabalho, de pessoas educadas no Japão

e procientes nas duas línguas.

Os artigos reunidos neste dossiê contribuem para o enriquecimento nas

discussões relacionadas à relação entre educação e migração, tema merecedor de

maior difusão na comunidade acadêmica brasileira. Ao mesmo tempo, permitem

um olhar para aspectos, frequentemente negligenciados, de como crianças, jovens

e famílias inteiras vivem o contexto de uma crise internacional que atua fortemente

sobre os movimentos migratórios. No caso decasségui, trata-se de processos queincidem fortemente sobre uma comunidade de brasileiros no exterior caracterizada,

até muito recentemente, como uma das mais fortemente estabilizadas.

apresentação

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 O tema do retorno está presente também no artigo de Rafael Monteiro e Sênia

Bastos, que apresenta a literatura existente sobre os temas da reemigração e do

retorno, enfocando as representações, sobre este processo, de um grupo de coreanos,

imigrantes que formam no Brasil uma comunidade bastante expressiva, mas ainda

relativamente pouco estudada.O texto de Fábio Augusto Scarpim sugere, por outro lado, como no projeto

migratório, pode-se materializar, não a intenção do retorno, mas a rme intenção de

permanência na nova terra. A consolidação de tal projeto pode ser lida na análise feita

quanto a como imigrantes italianos no Paraná, entre o nal do século XIX e o início

do seguinte, atribuíam, à primeira geração nascida na nova terra, nomes evocativos da

terra de origem dos pais.

O artigo de Marcus Vinicius Fraga e Lucia Maria Machado Bógus destaca outro

aspecto, o da migração induzida ou estimulada por políticas de arregimentação dos

estados nacionais e, no caso, também por uma província canadense que expressa,em tais políticas, a sua especicidade e busca de autonomia em termos da atração de

trabalhadores. A análise da emigração de brasileiros para o Canadá, mais especicamente

para o Quebec, oferece a possibilidade de examinar uma forma de articulação destas

diferentes escalas de atuação do Estado, ao mesmo tempo que apresenta um caso

especíco, ainda pouco estudado, da emigração “qualicada” de brasileiros.

 A contribuição de Sidnei Marco Dornelas investiga, em profundidade, as

diversas questões envolvidas na consideração de um dos temas mais marcantes na

migração internacional na atualidade, o do tráco de pessoas para exploração sexual.

Sendo uma das primeiras tentativas de sistematização crítica do “estado da arte” daprodução bibliográca a respeito no Brasil, o texto articula as dimensões institucional,

acadêmica e de organizações da sociedade civil, em especial religiosas. Oferece assim

rica demonstração de como uma questão muito sensível e de grande complexidade

desdobra-se em diversos planos, desde o reconhecimento da existência de um

fenômeno, passando pela sua correta caracterização teórica e empírica, até os debates

políticos sobre como a sociedade deve agir quanto ao mesmo.

 A resenha apresentada por Leonir Chiarello e Lelio Mármora destaca um amplo

estudo promovido pela Rede Scalabriniana Internacional de Migrações – Scalabrini

International Migration Network (SIMN)  – envolvendo os quatro maiores países da América Latina (Argentina, Brasil, Colômbia e México), o qual tece um diagnóstico

atualizado de cada país acerca das principais tendências migratórias, das políticas de

migrações de cada Estado, bem como o envolvimento da sociedade civil na defesa

dos direitos dos imigrantes e na proposição de políticas públicas de migração.

Por m, a crônica Zingari , registra uma breve impressão sobre a presença dos

ciganos do Leste Europeu no transporte público de Roma e na vida cotidiana da

 velha cidade.

Helion Póvoa Neto

Lúcia E. Yamamoto

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Lugares próprios entre modos deser distintos?A inserção das crianças que moraram

no Japão

A experiência migratória se torna parte da história familiar. Quanto às crianças,

sabemos qe eas assimiam a jornada de maneira disna dos ados, raando-se de uma vivência que marca de modo duradouro seus desenvolvimentos.

No enano, pocas pesqisas sisemácas êm se focado nessa parceada população que migra, especialmente no que toca à saúde emocional.Winnico (1997), pediara e psicanaisa ingês, apono, aiás, ma endênciada sociedade a enfaar excessivamene as necessidades corporais, deixando deado probemas crciais do desenvovimeno psicoógico infan.

Nese argo, bscamos conribir com essa discssão necessária qe direspeio ambém, nm níve macro, a poícas púbicas dos países envovidos

nos deslocamentos.Parmos do enfoqe da Psicoogia Inercra, em qe o desenvovimeno

hmano é compreendido em decorrência da reação diaéca enre o sjeioe os contextos culturais, e que possibilita uma visão ampla dos fenômenospsicossociais. Consideramos, conforme Berry (2004), qe o conao connoentre indivíduos de duas ou mais culturas diferentes por intermédio damigração ocasiona uma ruptura no quadro de referência existencial e uma criseno sendo de perencimeno do sjeio, raendo m processo de mdançapsicológica.

dossiê - decasséguis

 Laura Satoe Ueno*

* Psicóloga e Mestre em Psicologia Social pela USP.

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Crenças, valores, relações e hábitos estão envolvidos nesse processo,faendo-se necessário ma ressociaiação, o aqio qe podemos chamar de“aprender a jogar um novo jogo”, havendo uma complexa interação de variáveispsicológicas e outras – culturais, sociais e situacionais – que levam as pessoas a

variados gras de esresse e adapação (BERRY, 2004; BERRY e a. 1992).Desse modo, fatores como idade, mudanças ocorridas no sistema familiar

e as possibilidades desse grupo contar ou não com um suporte comunitárioserão vistos como relevantes. Nesse contexto, as rupturas ocorridas na redesocial e nos laços sociais vitais que precisarão ser reconstruídos aos poucospelo imigrante no novo ambiente são questões a se considerar, pois é algoque gera sobrecarga e tensões nos membros da família, acompanhadas do lutopeo qe foi perdido e o imperavo de se faer novos invesmenos afevos(SluzkI, 1997).

Dialogamos também com autores da abordagem psicodinâmica, DonaldWinnico (op. ci.); Eri Erison (1976); leon e Rebecca Grinberg (1984) paracompreender qais são os desaos imposos em cada fase do desenvovimenoda idendade, nas siações em qe a sociaiação envove cras disnas.lembrando qe, no caso da migração Brasi-Japão, esse processo em sedado não somente entre sistemas simbólicos diferentes, mas concretamente,enre erriórios geográcos disnos e disanes, enre os qais as criançasfrequentemente transitam.

Em inhas gerais, achamos imporane faer as segines pergnas: Como

foi a escolha pela mudança e as circunstâncias de saída da família? Qual o nívelde coesão do grpo? Qa o se gra de rigide e exibiidade? Conam comsuporte e se sentem pertencentes a redes sociais na comunidade? Qual o nívelsocioeconômico e edcaciona dos pais? Como é a recepvidade o vivênciade discriminação no novo meio? Pensamos nesse conexo baseando-nos emSáre-Oroco e Sáre-Oroco (2001).

Nese argo, iniciamene nos deemos na dinâmica das famíias qereornam do Japão para o Brasi. Em segida, discmos a bicraidade noprocesso de desenvolvimento emocional e algumas implicações no espaçoinsciona escoar. Por m, ecemos agmas reexões gerais.

Famílias transitando entre Brasil e Japão

A família nunca deixa de ser importante e é responsávelpor muitas de nossas viagens. Nós escapamos, emigramos,trocamos o sul pelo norte e o leste pelo oeste devidoà necessidade de nos libertarmos. E depois, viajamosperiodicamente de volta para casa para renovar o contato

com a famíia (WINNICOtt, 1997, p. 59).

Com essas palavras, saiena-se o qano é fndamena a exisência defamiliares de quem possamos reclamar, a quem possamos amar, mas também

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odiar o emer. Pois, na reação enre pais e ses hos, há sempre aém de amor,ma ampa gama de senmenos presenes.

A preservação da atmosfera familiar resulta do relacionamento entre os paisno quadro do contexto social imediato em que vivem e do círculo mais amplo que

os envove. No processo de migração, como embram os psicanaisas Grinberg eGrinberg (1984), jsamene a famíia, qe é o enorno imediao de ma criançae qe poderia er a fnção de grpo connene e proeor em meio aos novosesmos, ambém esá esressada e abaada pea experiência do desocameno.

lembramos qe, no mndo conemporâneo, várias formas de organiaçãofamiiar podem ser observadas, endo como caraceríscas a diversidade ea ambiguidade. Lembramos, também, que a realidade da família enquantoinsição socia permeada por ma consrção hisórica foi apresenada porAris (1981). Se a famíia ncear como conhecemos hoje em sendo de ‘ar’,

de ma nidade esrra, emociona e signicava básica dos indivídos, nemsempre foi assim.

Com os movimenos migraórios conemporâneos, podemos armarqe esse mndo próprio, espaço para a inmidade, em se conceio idea eimaginário, em sido, aém do mais, qesonado.

uma pesqisa reaiada por Yamamoo (2008) reveo qe no ocane àcirculação das famílias brasileiras pelos espaços transnacionais entre Brasil eJapão, esas êm adoado várias esraégias em diferenes fases da vida para idarcom as mdanças sociais. A m de se manerem, eas se organiam econômica,

sica e sociamene. O fao dos membros se dispersarem em diferenes paísesmias vees é o qe orna possíve o spore aos hos. uma siação paradoxatem sido criada quando, para manter a integridade e fortalecimento da família,são prodidas separações.

São as crianças que, vistas como dependentes e deslocadas de seusambienes peas decisões famiiares, cosmam resisr às decisões de reorno.

Qano à voa dessas famíias ao Brasi, depois de erem morado no Japão,podemos considerar esse movimento uma nova migração. Costuma envolvertanto esforço e vulnerabilidade psíquica quanto a ida para fora. Conforme

DeBiaggi (2004), os esdos indicam qe geramene as pessoas não esão cienesdas implicações desse deslocamento que envolve mudanças em si mesmas e nacomunidade de origem.

Em pesqisa de Mesrado reaiada há agns anos (uENO, 2008), bscamoscompreender a vivência de um grupo de pessoas adultas retornadas no que se referiaàs representações culturais dos países entre os quais transitaram e à experiênciade reorno ao Brasi. De modo gera, reornar era vivido com dicdade peosparcipanes. Enre reaos de inasservidade, desorienação e de insasfaçãocom a conjnra do país, agns se senam esrangeiros ano aqi qano á.

Para uma criança, após separações temporárias entre os membros da famíliapor meses o anos, a renicação famiiar pode ser ma provação doorosa,onga e desorienadora. Os membros erão qe idar com novas regras, negociar

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a autoridade parena e combaer senmenos de desconexão. Haverá aindaconios angsanes dos geniores enre maneiras de edcar ma criança nmae nora cra, prácas esas sobre as qais faaremos ogo a segir.

Constuindo-se entre dois modos de ser e agirFamília, casamento e as relações sociais entre homens e mulheres, como

dissemos, esão inseridos nm conexo hisórico, poíco e econômico. Nasociedade japonesa contemporânea, observamos a permanência de um valorespecíco do casameno, havendo ma peciaridade da posição socia e papemaerno da mher. O casa, ao conrário do qe aconece na maioria dassociedades ‘ocidenais’, não esá no cenro da famíia, sendo qe o amor ivree românco não é considerado com ênfase o principa senmeno amejado dereaiação pessoa. Na ideoogia ainda persisene no Japão, ma famíia bemscedida é aqea qe reaia de modo exempar a divisão sexa do rabaho,sem confsão e nem conio de papéis: a mãe deve ser ineiramene responsávepea edcação dos hos, com presença consane e insbsíve, ao passo qeo pai deve esar ivre para se dedicar ao sisema prodvo, ao mndo do rabahoexterno. Estar às margens dessa norma familiar acarreta uma desvantagemperane a sociedade (HIRAtA, 2002).

 Esa esrra envove ma edcação de senmenos. Aravés das prácasde ensino/aprendiagem, desde o nascimeno se ransmiem sisemas de vaorese normas da cultura, de indivíduo para indivíduo, de geração para geração,garanndo sa manenção.

No Japão, ensina-se desde mio cedo à criança a conformidade ao papedenido para se gênero, idade e ordem de nascimeno. Em reação aos sexos,o treinamento das meninas é mais estrito quanto à expressão de humildade.Prioriar a harmonia inerpessoa e aoconenção, eviando conios com osoros, é ago a qe se aribi vaor aamene posivo.

É oportuno, nesse momento, explicarmos um importante conceito dasocioogia, o de sociaiação. Esa pode ser denida como o processo onogenéco

pelo qual se dá a ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundoobjevo de ma sociedade o de m seor dea. Essa inerioriação ocorre emcircnsâncias carregadas de ao gra de emoção e aravés de idencações qese reaiam nm horione qe impica m mndo socia especíco (BERGER;LUCKMANN, 1978).

Em m ineressane exo sobre esos de sociaiação precoce em padrõesdiversos de cultura, a antropóloga  taie lebra (1976) observa qe, enqanoa mãe japonesa se comnica mais sicamene qe verbamene com sebebê drane a amamenação e o banho, a mãe ‘ocidena’ faa mais com se

bebê drane essas avidades. A primeira ende a carregá-o para aqieá-o eapaigá-o. A segnda procra esmá-o para ser avo.

Lebra, professora japonesa que foi viver em solo americano, observa que na

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sociedade nipônica e, reavamene, ambém enre descendenes de imigranes japoneses, o iaikan o senmeno de nidade nas inerações inerpessoaisínmas é ago mio apreciado. Nesse conexo se procra desde cedo sensibiiaro sujeito para a interdependência e reciprocidade.

A criança é ensinada precocemente a estar limpa e devolver as coisas nogar de origem, a faer as coisas da forma apropriada. A ênfase na ordenação,capricho e mecosidade expressa ma ade qe nessa cra é sina demene viva, ava e mora.

A discipina se inensica qando a criança ange a idade escoar. Daí emdiane caberá à escoa edcá-a apropriadamene. Passa a ser encorajada adesenvolver um forte senso de pertencimento total ao grupo, de compromisso edesempenho em relação ao seu papel.

Ora, no caso das crianças nipo-descendenes, has de pais/mães

trabalhadores brasileiros das linhas de produção japonesas, chamamos a atençãopara ma série de desaos qe são imposos no processo de desenvovimenopsíqico. A ambigidade reacionada aos ses fenópos, sas maneiras de sere agir, bem como as de suas famílias de origem, ou então a própria situaçãode separação entre membros familiares, por si só podem, inclusive, ser vistasculturalmente de forma equivocada por médicos, professores, psicólogos eoutros como inadequadas ou sintomas de uma situação familiar patológica. É porisso qe as expecavas e o conexo imediao no país qe as recebe, seja á oaqui, são elementos potenciais de transição que têm repercussões importantes

nesse processo, como veremos.

Travessias e desaos à formação da idendade

Se, por um lado, uma criança tem mais habilidades para se deixar impregnar porimpressões novas, esá mais abera à aprendiagem e é mais capa de assimiar manova ínga e cosmes, por oro, exisem carências especiais, pois não parciparamda decisão dos pais de mdar e geramene não compreendem sas movações.Além disso, a explicação sobre essa situação à criança nem sempre acontece.

Nesse sendo, como já dissemos anes, o níve de coesão e o po decomunicação do sistema familiar serão fatores relevantes.É natural, contudo, os pais viverem uma forte ambivalência, na medida em

qe processam sas experiências aravés de m qadro dpo de referência: ‘áe aqi’, ‘anes e depois’ da mdança de país. Já para os hos, a referência é dadapea sociedade em qe vivem e o se eso de vida.

Conforme Sáre-Oroco e Sáre-Oroco (2001) as ransições são sempreestressantes e, mesmo nas melhores condições, haverá perdas e ambivalência.A absorção mais rápida, pelas crianças, da nova cultura criará níveis assimétricos

de compeência cra no meio, sendo a dos hos sperior à dos pais, gerandoreversão de papéis e ensões parcares na famíia.

Para melhor compreensão em termos psicodinâmicos, raemos as

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contribições dos psicanaisas Grinberg e Grinberg (1984), para os qais a idadeda criança é uma variável importante. Nos primórdios de seu desenvolvimento,o senmeno de conança básica do bebê na própria exisência é possíve peaprópria conança dos pais. Esa fnção parena pode car abaada, peo menos

temporariamente, quando a criança se vê fora do âmbito conhecido e seguro dosesos de sa própria cra.

Pouco mais tarde, num período em que a criança está tratando dearmar sa aonomia, a migração, sempre forçada peos maiores, jnocom a ameaça persecutória do novo, poderá acentuar a vergonha e dúvidasprecoces, minando ma conança básica já adqirida, sobredo qando seesá fragiiado por conios prévios. Ea é exposa a siações em qe se senediferene e incapa de comper com oras crianças de sa idade no so doidioma, não comparhando a cmpicidade preciosa dos códigos crais

secreos. As dúvidas passam pea denição do qe em vaor o não, de qemsão os bons ou maus, pois seus conhecimentos prévios não são compreendidosou não valem muito no novo meio.

Conqisada a aonomia, mais o menos ao na do erceiro ano, ocorrema primeira emancipação em reação à gra da mãe, paraeamene àsaquisições na linguagem, locomoção e representação. Ela desenvolve osreqisios prévios para iberação da iniciava não inmidada pea cpa, eapadenro de m cico via descrio por Erison (1976). Pode enconrar pea frenema série de desaos, pois precisa consrir ma idendade segra qe a orne

apa a prosperar em conexos profndamene diversos: em casa, na escoa, nomundo da família extensa e entre os amigos.

Ressaamos qe sa idendade será modada, em pare, em fnção decomo será visa e recebida. Os esereópos énicos enfrenados por indivídospodem ser aspectos poderosos e corrosivos.

Posteriormente, a adolescência será um momento crucial de busca por umnovo sendo de connidade e niformidade, qando ressrgem as crises dasfases precedentes. As perguntas “Quem eu sou? A que lugar pertenço?” se tornampngenes (PHINNEY, 1990). uma dúvida prévia, agravada pea esgmaaçãosofrida aravés das insições, pode cminar nma confsão de idendade,com incapacidade de assumir papéis, abandono escolar ou retraimento emestados inacessíveis.

Línguas, culturas e idendades

Com relação à língua, sabemos da sua importância por ser não só uminstrumento de comunicação, mas a representação de uma cultura e, segundoBordie (1994), m insrmeno de poder.

Para m ado, a aprendiagem de ma nova ínga reqer mio maisexibiidade. Ana, conforme expica Rev, (apd FREItAS, 2008, p. 220-221): “toda enava para aprender ora ínga vem perrbar, qesonar,

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modicar aqio qe já esá inscrio em nós com as paavras da primeira ínga”.A ência dos pais e hos em íngas diferenes cria barreiras na comnicaçãode pensamentos, de emoções mais profundas e no entendimento das intençõesdo outro.

O modo como ma criança é recebida nma escoa o comnidade podeser decisivo no desempenho dea denro desses novos espaços, onde adesde presgio e despresgio socia reacionadas ambém ao idioma reveam qaisas formas de ser que são vistas de maneira preconceituosa. Mesmo quando emcasa a famíia reconhece como essencia ransmir a riqea de conhecer masegunda língua por meio das suas relações, a criança que vive muitas situaçõespreconceituosas prefere deixar de manifestar seu conhecimento na língua dacultura de origem.

De acordo com ma pesqisa reaiada por Moraes (2010) com jovens

professoras nipo-brasieiras, biínges e reornadas do Japão, as mesmasexpressaram dicdades para se adapar ao novo ambiene ingísco, sendonecessárias movações inrínsecas de speração para se acançar ma inegraçãosocia em meio às ransições ingíscas e à impoência acarreada peo domínioimperfeio das íngas. Ineressane qe, nesse sendo, saber faar japonês e poderensinar a ínga no conexo brasieiro se orno ma facea posiva a ser oferecida.E qe, no caso das enrevisadas, possibiio a consrção de ma idendadeprossiona. Concordamos com m pono sobre o qa a aora chamo a aenção:a importância de se preservar a primeira língua em situações de migração.

Escola, microcosmo de uma ordem social mais ampla

Em argo anerior nese mesmo periódico (uENO, 2005), apresenamos oprocesso erapêco e a hisória de Carmem, brasieira de origem indígena eparaguaia, atendida em psicoterapia breve aos quarenta e cinco anos de idade.Observamos a reevância das experiências infans de migração e como mainserção escoar ramáca pode ser prodora de desconnidades ingíscas,afevas e sociais. O não reconhecimeno e a faa de m espehameno socia

posivo desencorajam o modo de ser do oro.O meio escoar merece nossa aenção por ser aqee no qa as criançasiniciam o conao sisemáco com a ora cra. Não à oa, é predominanemenenesse espaço qe os efeios da migração se faem noar, podendo represenaruma situação de intenso sofrimento.

Em primeiro lugar, quando pensamos numa sala de aula, devemos lembrarqe sa congração, com sas dinâmicas de poder e desigadade, aparece emcada aspeco com odas as sas parcaridades: no processo edcaciona, noconeúdo das aas, no ambiene sico, no so da ínga, como mencionamos, e

nas relações entre quem ensina e aprende.Aém de ser gar de práca socia e poíca, ea é ambém prodora de

idendades. De modo qe, no processo de aprendiagem, os aos dos anos

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provenientes de outros backgrounds, de se sbmeer o de conesar e resisr,revelam a recusa em parcipar de m conexo em qe não são aceios e qepõe em jogo sas idendades. A escoa é m âmbio em qe erão qe enconrarou fabricar um lugar próprio.

Dentro das fases do ciclo vital, a entrada na escola é um período decisivosociamene, qando a sociedade maior se orna mais signicava. Envove‘faer as coisas ao ado de oros e com os oros’. A criança procra se igar aosprofessores e pais de outras crianças, querendo observar e imitar pessoas, sepropondo a tarefas e papéis preparatórios para a realidade adulta da produção.

Para Erison (1976), a vida escoar precisa ssenar as aqisições das fasesaneriores do desenvovimeno da criança e sa vonade de aprender para se senrcapa de faer bem as coisas, o irá desenvover m senmeno de inferioridade,com aienação de si mesma e das sas arefas. O edcador deve saber reconhecer

e esmar esforços especiais, apoiando m senmeno de compeência, qe éo exercício ivre da desrea e ineigência na execção de arefas sérias. Ago qeserá ma base imporane para a parcipação cooperava na vida ada.

Como armam Sáre-Oroco e Sáre-Oroco (2001), fenômenos comoansiedade, inibição de capacidades, enavas de conroe obsessivo e manifesaçõespsicossomácas, cosmam ser freqenes e não esão igadas apenas a faoresinternos dos indivíduos, que sobrevêm em função de sua personalidade.Reacionam-se com ma sensação de iegimidade para parcipação nos espaçosde saber nessa nova cultura, representados pelo professor.

Pesqisas desses mesmos aores aponam as caraceríscas comns dema escoa efeva: iderança posiva; boa aoesma da eqipe; expecavasacadêmicas eevadas para odos os anos, independene da origem; vaoriaçãodas cras e das íngas de origem; ambiene socia segro com esrraordenada.

O qe aconece qando ma idendade denida por ma posição dedesajse/desencaixe com a cra escoar é assmida? Há o risco de secaminhar para ma progressiva condição de desqaicação socia, viso qe aescoariação deveria ser ambém m meio de garanr ma posição socia bem

sucedida no fro para hos de imigranes nma nova sociedade denro daeconomia global.

Sistemas educacionais em contextos de diversidade

“Meu lho é muito nervoso, balança a cabeça várias vezes. A professoradisse que ele é hiperavo e precisa de psicólogo. (...) Acho ele muito inocente. Ascrianças aqui no Brasil são mais espertas.”

Essa era a queixa de uma mãe atendida pela autora numa situação de

enrevisa inicia em psicoerapia breve no Serviço de Orienação Inercrada USP1. Ea procrava aendimeno para se ho de nove anos. Nipo-brasieirade segnda geração, rabahara drane ree anos no Japão e recém reornara

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de lá movida pela crise econômica mundial que causara demissões em massa.A criança nasceu lá e passara por mudanças bruscas, da escola japonesa paraa creche brasieira. E agora, vindo pea primeira ve ao país de origem dos pais,entrou na escola pública brasileira. De acordo com o relato apresentado, quando

foi dio ao ho qe iriam sair do país em qe moravam, eria baançado a cabeçae protestado “Não quero!” , daí enão passando a manifesar qes nervososfrequentes.

Nas reações da mãe aendida com japoneses, percebemos senmenosconianes e siações de discriminação vividas peo fao de ser brasieira. tinhaqe acamar o ho porqe ee era irreqieo e faia barho no prédio em qehabiavam, onde não havia oras famíias esrangeiras: “Lá tem que se conter,ter disciplina, criança ca horas numa la sem reclamar.”  

De voa ao Brasi, ea sena poco apoio do ambiene socia e passava peos

estranhamentos culturais. Sente que as coisas aqui no país, incluindo o sistemade edcação, não fncionam como deveriam. Se ho não eria a mesma maíciae não proesava qando a priminha enava rar vanagem nas compeções:“Aqui não é bom ser assim...”

Ea e o marido esavam em processo de separação conjga. O pai de seho, conforme reao maerno, ambém nipo-brasieiro, eria se recsadoa comparecer ao atendimento psicológico e não acreditava na relevância dasquestões emocionais. É descrito como um homem imaturo e irresponsável,que gastava grandes somas de dinheiro com jogos, nunca tendo se preocupado

geninamene com o ho.Apesar de oferecermos aernavas exíveis de aendimeno, reforçando a

importância de termos uma compreensão do que se passava com a criança ecom eles, naquele momento a mãe mostrou dúvida e ambiguidade quanto àprópria abertura para os aspectos internos implícitos nas vivências da famíliaenre conexos diferenes, coocando vários empecihos para a connidade doprocesso erapêco.

Enre imposições, irriações, repressões e enavas de conenção e conroede impsos, permeadas por sisemas crais, a criança se ornara pora-vo de

m conio qe parecia envover a famíia como odo. Sas hisórias pessoais deperencimeno e ses desejos foram aravessados por conjnras sociopoícasmais amplas que, como é sabido, vêm deslocando em massa os seres humanosenquanto recursos em circulação no sistema econômico capitalista global.

Cabe mencionar qe, no rabaho empreendido por Naagawa (2010) em SãoPao, com anos da rede púbica de ensino qe moraram no Japão, a negação dasdicdades peas famíias foi ambém reaada. Descreve-se a ocorrência, enreas crianças cjo desenvovimeno fora caraceriado por convivência e ineraçõesinersbjevas imiadas, de m esqecimeno da experiência vivida com o idioma

 japonês naqee país, aém de senmenos de insegrança e inadeqação.Nesse sendo, as avidades de mediação údica sob a éca do cidado

 – e não da correção – parecem ter sido essenciais para a saída da condição

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de invisibiidade e não-perencimeno, possibiiando a emergência daespontaneidade nas relações.

Desse modo, alertamos para o perigo de visões educacionais pautadas peloajsameno às aas, e qe procram idencar e medicar ‘ransornos’ enre

os anos, paoogiando e individaiando fenômenos qe diem respeio àprópria dinâmica da insição.

A visão taxativa do que se passa com essas crianças, tanto lá quantoaqui em nosso país, revela no fundo uma orientação educacional excludentee pouco preparada para o contexto da diversidade. Afinal, a inserção deum sujeito bilíngue ou bicultural não deveria passar pela exclusão do outroidioma o assimiação da cra ‘esranha’, como crê o senso comm. Nmâmbio poíico, sobredo, se fa premene a percepção da diversidadenestes novos imigrantes estrangeiros em solo brasileiro. Porém, enquanto

riqea, não como défici.

Considerações nais

Com essas reexões, esperamos er conribído para ampiar as discssõesvoadas meramene para qesões econômicas e dipomácas qe envovem amigração de populações adultas, lembrando que as crianças representam umaparcela crescente de indivíduos que atravessam fronteiras.

As decisões racionais de mudança, apesar de programadas como temporárias,

impicam nma perspecva em ongo prao, com criação de víncos sbjevosenvolvendo lugares diferentes. Colocam em jogo as habilidades do grupo familiarem idar com os dramas referenes ao processo, enre os qais, os conios enredesejos grupais e individuais.

Se, no séco passado, a escoariação represeno m vaor e objevode alto interesse para as famílias japonesas imigrantes e seus descendentesno Brasil, em contraste, na atualidade, a educação não tem sido consideradaimportante enquanto estratégia de ascensão econômica e social entre oschamados decasséguis.

Observamos qe a reaidade dos rabahadores brasieiros no Japão,caraceriada peo reaivo acesso aos bens e serviços, é, ao mesmo empo,assolada pela relatividade de suas cidadanias e pela vulnerabilidade em relaçãoà vida cultural. Reflete uma realidade global marcada pelo consumismo,acessíve por meio de víncos desenraiados com o mndo do rabaho.Panorama este que tem deslocado gerações e atravessado profundamenteseus percursos de vida.

Nota

1 - Aendimeno do Programa de Pós-gradação em Psicoogia Socia do IP-uSP voado paraimigrantes, descendentes, brasileiros que vão para o exterior, e brasileiros retornados apósmorarem fora do país, coordenado pela Profa. Dra. Sylvia Dantas.

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RESUMO

No presene exo, discmos como as crianças cosmam viver as mdanças enre cras,em especia aqeas qe reornaram do Japão. Apresenamos aspecos do processo de

sociaiação envovendo conexos crais diferenes, bem como as impicações damigração na dinâmica das famíias e no desenvovimeno psicoógico dos sjeios, parndo deinterlocuções teóricas entre as abordagens intercultural e psicodinâmica. Consideramos que

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os faores sociopoícos são fndamenais na compreensão das perdas, conios e desaosenvolvidos nos deslocamentos. No âmbito da educação, temos observado que a escolacosma reprodir desconnidades em ve de assegrar a ‘possibiidade de ser’ da criançana transição entre culturas diferentes.

Palavras-chave: crianças; migração de reorno; Japão.

ABSTRACT

In his paper, we discss how chidren, especiay hose who come bac from Japan, sayexperience he dierences in cres. We address aspecs of he sociaiaon process indieren cra conexs, he impicaons of migraon boh in an individa’s psychoogicadeveopmen and in famiy dynamics based on heoreca diaoges beween he cross-cra and psychodynamics approaches. We consider ha he sociopoica facors areessena o ndersand he osses, conics and chaenges invoved in moving. Wihin heream of edcaon, we have observed ha he schoo say reprodces disconniy insead

of ensring chidren’s “possibiiy of being” beween dieren cres.

Keywords: chidren; rern migraon; Japan.

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Para suprir a falta de mão de obra nas indústrias japonesas na década de1980, e visando casar o menor dano possíve em se ecido socia, o Japão abri

sas poras para a imigração dos nieis, descendenes de japoneses nascidosfora do Japão. O xo migraório qe se scede é conhecido no senso commcomo o “fenômeno decasségui”, acarretando várias disrupções nas comunidadesnieis em odo o Brasi e gerando novas conngências qe são esdadas emvários campos das ciências humanas há mais de vinte anos.

Apesar de ese xo migraório ser ampamene debado qano às sasimpicações sociais e poícas ano no Brasi como no Japão, são pocos osesdos voados às microdinâmicas sociais qe são codianamene engendradas.Mesmo com anáises socioógicas qe bscam o esdo da idendade (o das

idendades, como prero chamar) dos grpos de brasieiros com ascendêncianipônica nos dois países, é recene o esforço (YAMAMOtO, 2008) para enendero que ocorre dentro das famílias, lócus privilegiado para a compreensão deagenciamentos1 familiares, parentesco, redes sociais, etc.

O presene argo consi, de cera forma, m desdobrameno demeu trabalho de campo voltado para o doutorado, cujo foco é o estudo dasfamíias decasségis em soo japonês (SIlVA, 2011a, 2011b). Bsqei, aravésda observação parcipane, acompanhar de pero vários decasségis em sasronas diárias no Japão, omando como eixo noreador o esdo de como esse

Reordenações na famíliadecasséguiDilemas e desafos

Victor Hugo Kebbe *

* Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federalde São Carlos (UFSCar). Membro do Laboratório de Estudos Migratórios – UFSCar.

dossiê - decasséguis

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xo migraório interfere no interior da família e a maneira como esses brasileirosdialogam com o novo contexto cultural. Para tanto, adotei como campo empíricoa cidade de Hamamas, na província de Shioa, conhecida por er a maiorconcenração de brasieiros vivendo no Japão.

Sendo antropólogo, e adotando um escopo de análise diferenciado – o dafamília e do parentesco –, pude encontrar uma ampla variedade de agenciamentosou reordenações familiares para dar conta de famílias que estão distendidas emdois países. No meio dessas reordenações, é possível observar várias questõesreferenes à edcação dos hos desses brasieiros vivendo no Japão, gerandosérias impicações sociais debadas à exasão peos órgãos ociais, associaçõese organiações não governamenais de Hamamas. Precisamene por não sero meu foco de análise no doutorado, pude observar – como alguém de “fora”da discssão poíca sobre Edcação – agmas das nances qe percorrem os

projeos de vida de várias dessas famíias brasieiras; e qe impicam em reersobre alguns dos dilemas e projetos de vida desses brasileiros quanto às maneirascomo entendem a educação de ses hos em conno xo enre Brasi e Japão.

O Contexto cultural parcular de Hamamatsu

Ese argo em como objevo primeiro esdar as famíias de decasségisvivendo no Japão, com ma meodoogia capa de abordar as microdinâmicassociais qe nem sempre são percepveis nos esdos radicionais. usando a ideiade campo denso (GEERtz, 1989), enho como objevo compreender, aravés das

caegorias navas do campo, as prácas de signicação da experiência de vida dessegrpo nese conexo cra parcar, compreendendo as dicdades inerenesa ma pesqisa em Anropoogia urbana (MAGNANI, 2002, 2003, 2005).

Através da permanência e do convívio entre famílias de decasséguis, pudeobservar sas avidades ciadinas no dia a dia — seja no rabaho, nos momenosde aer, no ambiene famiiar, ec. A observação parcipane, em ma cidade

 japonesa com grande concenração de brasieiros, reveo-se imporane paracapar as maneiras como essas pessoas diaogam com o enorno; no caso, mconexo cra basane parcar. Assim como idenca Magnani, qe com

o esdo das cidades e da merópoe as froneiras sicas e geográcas são maisborradas do qe nnca, percebi em Hamamas a exisência de m campoextremamente móvel, exigindo a necessidade de acompanhar os vários circuitosrbanos dos brasieiros na cidade (MAGNANI, 2002, 2003, 2005). Em ais circios,pude acompanhar os decasséguis em várias outras dimensões, que não a fábrica,objeo de esdo já ampamene debado e discdo na ierara acadêmica.

Adoei como campo Hamamas, na província de Shioa, cidade conhecidapor abrigar o maior conngene2  de brasieiros vivendo no Japão nos dias dehoje. Qando de minha permanência na cidade, enre jnho de 2010 e março

de 2011, Hamamas nha 16 mi3

  brasieiros na cidade, perfaendo o maiornúmero dentre os esrangeiros. De acordo com as esascas da própria cidade,os decasségis brasieiros foram araídos, iniciamene em 1989, peas indúsrias

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nos arredores; enreano, nos dias de hoje, a cidade é conhecida por possirlojas, escolas, bancos, restaurantes e demais estabelecimentos brasileiros.Fixando-me em Hamamas, pde não só criar ma ampa rede de informanesbrasieiros, japoneses, americanos e peranos na cidade; como ambém aar

em das insições4

, como voluntário no ensino de inglês para adolescentese ados brasieiros na cidade, bscando, assim, compreender as dicdadesreais dos brasileiros em suas várias dimensões.

A presença brasieira em Hamamas é visíve em oda ma infraesrrado governo oca, enconrando-se pacas de sinaiação em japonês e porgês,sem contar os inúmeros serviços públicos da cidade que são oferecidos nos doisidiomas, sendo para alguns um exemplo de sucesso na recepção de populaçõesesrangeiras no Japão. Em conraparda, jsamene pea grande qandade deserviços presados em porgês, pde vericar em campo qe a maioria dos

brasileiros residindo na cidade não fala o idioma japonês nem em nível básico,aspecto observável em entrevistas informais com brasileiros e japoneses e nopróprio convívio com essas pessoas diariamene. A não prociência dessa popaçãono idioma japonês consi objeo de esdo não apenas de organiações nãogovernamenais e da prefeira oca, como ambém do Inso Naciona delínga Japonesa, qe reaio em seembro de 2010 ma pesqisa sobre o nívede entendimento de japonês por parte da população estrangeira na cidade.

Noa-se, já nesse momeno, qe o reavo domínio do idioma oca é mimportante fator de clivagem e determinante nas próprias relações sociais entrebrasieiros e japoneses, deimiando diferenes circios e avidades. Aspecovericáve em grande número de esdos sobre oros xos migraórios nomndo odo, à primeira visa é facve sgerir qe em Hamamas seria possíveviver em solo japonês com um pequeno conhecimento do idioma, contanto queamparado por inúmeras redes sociais, peo spore do governo e de insiçõesocais. Esa qesão encerra as avidades sociais de brasieiros na cidade(kAWAMuRA, 2003) e cria o qe os mes próprios enrevisados reaam da“sensação de que brasileiros não se misturam” nem com japoneses, e tampoucocom oros grpos migraórios residindo em Hamamas. O senmeno debrasiidade, o a vonade de manenção da cra de origem, qe aoram nesseconexo cra diferenciado (lESSER, 2000, 2003), mosram caramene qe,em meio a esa infraesrra para receber brasieiros no Japão, as conngênciase preocupações que surgem na cidade são diversas, evidenciando a diferença dehistoricidades enre as comnidades nieis no Brasi e os brasieiros vivendo noJapão (kEBBE ; MACHADO, 2007).

Projetos alternavos, novas conngências

A questão da ausência dos pais ou de outros parentes numa família

transnaciona (BRYCESON; VuOREllA, 2002; MACHADO; kEBBE; SIlVA, 2008)orna-se faor crcia nas “reacionaidades” (CARStEN, 2004), o agenciamenosque são feitos dentro da família. Para permanecerem unidas, as famílias

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transnacionais são confrontadas com o paradoxo de separarem os seus membrosem mais de m país. Mio aém das qesões econômicas e nanceiras, qecertamente são ponto integrante do projeto de emigrar, ou não, a família inteirapara o Japão, não podemos deixar de perceber o pape qe as crianças assmem

nessa eqação: Onde criar? O país recepor oferece serviços adeqados desaúde, edcação, segrança, ec.? Como ca a esrra famiiar, se avós, pais,os, irmãos, hos e neos esão disendidos dessa maneira? Mosrarei, a segir,casos qe isram como famíias em Hamamas criam agenciamenos, econtornam, assim, a distância entre os dois países.

lembro-me qe ma de minhas primeiras enrevisadas já reea sobre ose pape de mãe em Hamamas, pois se ho morava com a avó no Brasi.tendo já escrio a respeio (SIlVA 2011a), reaarei apenas m dos inúmerosexempos enconrados em Hamamas: o caso de Fernanda5, mãe soeira de 23anos de idade, terceira geração.

Originária de Presidene Prdene, Fernanda foi pea primeira ve ao Japão,aos quatro anos de idade, acompanhada da mãe. Com tudo preparado pelopai, que fora antes para trabalhar como decasségui, Fernanda aprendeu a falarporgês em sa nova casa no Japão e inicio formamene os ses esdosaos seis anos de idade em uma escola japonesa, sendo um dos vários casos debrasieiros biínges residenes na cidade. Inegrando o qe podemos chamar defamília transnacional, por possuir seus membros distendidos em mais de um país,Fernanda eseve em xo enre Brasi e Japão por cinco vees, sempre esandom membro da famíia em cada país para garanr exaamene essa esrra

familiar “transnacional”.Durante as idas e vindas, e sofrendo uma série de problemas familiares nos

dois países, Fernanda eve a edcação forma inerrompida por várias vees, oqe a fa pensar, aé os dias de hoje, sobre o qano isso pode er inerferidoem sua vida atual. Ela me procurou, pouco antes de meu retorno ao Brasil, paraque eu a ajudasse com a indicação de um professor de inglês, considerandoqe apenas com o aprendiado desse idioma eria chance de garanr m bomemprego no Brasi: “á e não vo sar o japonês pra nada”.

Mãe de m ho em idade escoar, Fernanda voo para o Japão aos 21

anos de idade, como decasségui, para tentar reunir a sua família novamente,e foi viver em Hamamas com o pai e o irmão, bscando evanar fndos paracom o fro de se rabaho maner ma edcação de qaidade para se hoúnico no Brasil. Evitando assim o histórico que marcou a sua própria educaçãofragmenada, Fernanda disende a famíia e se separo de se ho peqeno,mantendo, paradoxalmente, a família unida.

Enreano, ea sofre a dor da disância e da sadade de se ho peqeno —atenuada pelo uso constante da internet para a comunicação com a mãe no Brasil—, e considera qe esá perdendo ma fase crcia não só de sa própria vida

como mãe, mas também o momento de crescimeno de se ho, não sabendode qe forma isso poderá afeá-o no fro. Fernanda reconhece ser asene noacompanhameno dos esdos de se ho, arefa qe cabe emporariamene à

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avó. Pouco antes de me despedir, fui com ela a uma loja de brinquedos, no centrode Hamamas, para ajdá-a a escoher m qebra-cabeça para o se ho —m dos evenais presenes qe ea sempre envia ao Brasi; aém das remessasconstantes, que, juntamente com a internet, mantêm o “funcionamento” de sua

família.Por er aa prociência em japonês, e ambém por faar porgês, ainda

que de maneira precária, Fernanda assume o papel de tradutora junto à suafamília e amigos próximos. Mesmo por conta de sua educação fragmentada,ea ainda em o qe mios brasieiros em Hamamas não êm: o domínio doidioma japonês. Isso a cooca como radora e nó em ma rede socia basaneespecíca, sempre ajdando aqees qe pedem e segindo ma hierarqia deprioridades: parenes próximos > parenes disanes > mehores amigos > amigos> rabaho. Observei a exisência em Hamamas de várias oras pessoas com

o mesmo per, denoando, assim, m pape especíco qe os manêm comomediadores na comunidade.

Ao ser qesonada sobre os possíveis “probemas” qe enfrena ao viverdisane do ho e de sa edcação fragmenada, Fernanda percebe carameneqe é m dos mehores agenciamenos possíveis qe ea pôde faer para garanr anião famiiar, diane de odas as conngências qe srgem para gerir ma famíiaem dois países. Ea assim o fa, e paga as sas conas ano no Japão qano no Brasi,apesar de alterar seriamente um projeto familiar tradicional e, ainda mais, alterar areação enre mãe-ho. Segndo ea, essa ógica própria não confrona de maneira

agma com odos os discrsos ociais e de organiações não governamenaisenvovendo os “probemas das famíias de brasieiros em Hamamas”; discrsosesses que a deixam revoltada, pois diante da facilidade da migração entre Brasil eJapão e com a conna exisência de peo menos m membro da famíia vivendoem cada país, sa decisão é acerada. temporária, mas acerada.

Notamos, no entanto, o quanto a ausência dos pais dentro de casainencia na edcação e formação das crianças em Hamamas, de maneira semprecedenes, exisndo aé poco anes da minha chegada ao Japão, a presençade gangues de brasileiros na cidade, como me informaram alguns entrevistados.

Organiações não governamenais e ambém grpos, como a Shidokan KodamaDojo e a Igreja universa do Reino de Des/IuRD–Hamamas, bscam reraros jovens das ras, com rondas e programas de avidades especícas para a

 jvende; sendo qe os indivídos aendidos são, em agns casos, adoescenesnão matriculados nas escolas, com tempo ocioso, ou então, sem a presençados pais denro de casa. Segndo a Associação Brasieira de Hamamas, porconta das longas jornadas de trabalho e dos turnos diferenciados nas fábricas, écrescene o número de probemas egais envovendo as famíias de brasieiros —em especial quanto ao número de divórcios, ou então, com a explosão de uma

pascidade nos agenciamenos famiiares, aé enão nnca visos.Como informaram alguns entrevistados, muitos pais permanecem fora de

casa o dia odo, nas indúsrias; exisem ambém os casos de pais qe rabaham

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em turnos alternados, surgindo situações de marido e mulher que não conseguemse encontrar, durante o dia, aspectos estes que oferecem impasses quanto aocidado dos hos. Diane das necessidades nanceiras e das próprias exigênciasdo trabalho, observamos, então, o quanto o ambiente familiar e a ausência

dos pais interferem na educação das crianças. Como exemplo, temos o caso deMariana, 28 anos, não descendene de japoneses e - oro dado imporane —que não fala o idioma japonês, o que restringe, evidentemente, os círculos ecircios sociais dea própria e de sa ha.

Com ma ha peqena, e após enfrenar ma compicada separação, Mariananha peo menos dois empregos, m em Hamamas e oro em Nagoya, sendoqe os rendimenos eram desnados a cobrir as despesas pessoais, dívidas e aedcação da criança. Com o inio de minimiar as dicdades denro de casaem reação à edcação da ha, bem como graças às faciidades da infraesrra

para receber brasieiros de Hamamas, Mariana acho ser mehor maricá-aem uma escola brasileira, dadas as diferenças gritantes não apenas no sistemade ensino japonês, como o próprio comportamento, educação corporal, etc.Segndo ea, sa ha é “agiada demais para ma escoa japonesa”; condo,o fato de a mãe não dominar o idioma também pode ser pensado como umavariável importante no cálculo de onde maricar a ha.

A mesma percepção ocorre com funcionárias de uma escola brasileira, cujoshos esão odos maricados na mesma insição em qe rabaham. Comopde vericar, em enrevisas com as coordenadoras e professoras, apesar doao cso, os pais das crianças qe opam peas escoas brasieiras podem carasenes drane a maior pare do dia, enqano ses hos são amparadospeas “as” e “professoras”, qe se desdobram no cidado de vários anose suprem, de forma temporária, os papéis de mãe e pai momentaneamenteasenes. Em conraparda, segndo as mesmas coordenadoras e professoras,a asência dos pais no axíio e no acompanhameno da edcação dos hoscria ma carência qe eas nnca observaram no Brasi: com a exposão deparenes asenes, srge ambém ma reação afeva nas crianças qe ambémdeve ser considerada. Sejam pais e hos separados enre Brasi e Japão, sejampais e hos separados na mesma cidade, o “fenômeno decasségi” adenra nafamíia desses brasieiros com inúmeras forças. Veremos, a segir, ma brevediscussão sobre as diferenças, dilemas e agenciamentos dessas famílias debrasieiros vivendo em Hamamas, endo como eixo as diferenças de escoase a barreira do idioma.

Escolas japonesas, educação fragmentada e lhos tradutores

Quanto aos principais problemas das crianças e adolescentes brasileirosem Hamamas, aponados peas insições ociais e organiações não

governamenais, é imporane er em mene as diferenças de ensino e aprendiadonas escoas brasieiras e japonesas, ema ese discdo com mais propriedadepor vários outros estudiosos. Das barreiras iniciais, ao adentrar numa escola

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 japonesa, não podemos nos esquecer da recepção de um aluno estrangeiro quenão domina ou domina parcialmente o idioma do país receptor, gerando umimpasse dpo na avaiação do níve de aprendiado: aém da avaiação individade cada ano qe responde direamene ao programa de ensino oca (com sas

diferenças e incompabiidades em reação ao Brasi), como edcar m anoque não entende a língua falada em sala de aula?

Como, no Japão, o níve de aprendiado escoar é embasado no ano de idadeescolar, pude observar em campo que indivíduos que iniciaram seus estudosem escolas japonesas desde muito cedo, possuem não só um rendimento eaprendiado diferenes dos demais brasieiros em oros casos; como acabamassmindo papéis disnos no inerior da famíia, mosrando mais ma inexãodo movimeno migraório na consição da famíia. Nma variane qe pdeenconrar em Hamamas, deparei-me em agns momenos com brasieiros

que, educados desde muito cedo em japonês e “à japonesa”, não sabem oporgês o o faam com reava dicdade, aém de sa própria posracorpora os coocar mais como japoneses, do qe como brasieiros. Nesse sendo,enconrei dois adoescenes brasieiros qe faam, vesem-se e poram-se comoadoescenes japoneses; conforme me expico a mãe dees, o fao de os paisserem biínges eva os hos a recsarem o aprendiado do idioma porgêsdenro de casa. Oros casos simiares envovem ados qe se desprenderamcompletamente do uso do português, dos hábitos e prenomes brasileiros dentrode casa, não carregando consigo nenhum vínculo ou interesse de retorno ou

visia aos parenes deixados no Brasi, como esraégias o iniciavas pernenesao novo conexo cra em qe esão inseridos. O ao preço pea opção daimigração passa a ser cobrado, seja com o rompimento dos laços com a culturapré-migraória o, em casos exremos, com os próprios famiiares qe esão noBrasil.

Por outro lado, quando os pais não são falantes de japonês, existe o surgimentoda “barreira” da ínga denro de casa: assim, ovi de erceiros o medo de agnspais em maricar os hos em escoas japonesas, por não poderem maner acomnicação em casa com os hos, nm fro próximo. Ora possibiidade é

a parcipação mais ava dessas crianças e adoescenes maricados em escoas japonesas, nas tarefas familiares, como tradutores ou mediadores. Nesses casos,e como mais um agenciamento familiar propiciado precisamente por conta damigração, são os hos qe assmem o pape dos pais nas siações de conaocom a sociedade japonesa, no dia a dia, ou na prefeitura, no hospital, etc. Elesacompanham, assim, os pais e irmãos em consas médicas, ransformando-seem pivôs nas decisões familiares que envolvem contatos externos. Mesmo tendoa edcação fragmenada enre Brasi e Japão — como no caso de Fernanda (e,por isso, sabendo japonês m poco mais do qe os pais e amigos) —, esses

indivíduos são amplamente requisitados desde cedo, tomando a posição denós o nódos nas redes sociais em Hamamas, faendo pare, enão, mais dasócio-lógica oca, do qe na congração de m “probema”.

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Escolas brasileiras e a “barreira” do idioma

Devido à infraesrra parcar da cidade de Hamamas, à nãoprociência dos pais no idioma japonês e às variadas conngências com qe êm

de lidar diariamente por conta das longas jornadas de trabalho, para muitos dosmes enrevisados ma aernava viáve na cidade consisa em maricar seshos em escoas brasieiras, exisenes em número expressivo em Hamamas.Apesar do alto custo, tais escolas adotam brasileiros como professores que“sabem lidar com as crianças brasileiras”, e seguindo planos de ensino muitasvees provenienes do Brasi, amejando amorar, assim, agns dos diemasenfrentados pelas crianças, adolescentes e até mesmo professores e outrosprossionais de ensino.

Porém, a conraação de ores não qaicados como professores cria

outras implicações de âmbito mais amplo. Além da ausência de acompanhamentodos pais no aprendiado de ses hos, como em agmas escoas o ensino doidioma japonês não é incenvado, as crianças e adoescenes se encerramem avidades sociais e crais qase qe esriamene “brasieiras”, criandonovamente fronteiras nas relações com a sociedade japonesa, salvo alguns casos.Em minhas observações de campo, pude constatar que o contato de adolescentesbrasieiros com a sociedade japonesa e oros grpos migraórios de Hamamasé fortemente marcado pelo idioma, a saber, japonês, inglês e espanhol.

Como exemplos referentes à criação de agenciamentos por conta do

idioma, além dos casos de crianças e adolescentes peruanos que aprendemporgês para se reacionar com os brasieiros (pois, como me disseraminformanes peranas, “brasieiro não se misra e não aprende o espanho”),pude observar que adolescentes brasileiros matriculados também em escolasde inglês possuem outra esfera de inserção, expandindo, assim, seu contato nãosó com os japoneses que sabem ou estudam inglês, como também aumentandosas redes de amigos, namorados, namoradas, ec. Nesse sendo, saber o nãoo idioma deixa de ser somente um “problema”, para também se transformar emestratégia ou agenciamento.

Por m, segndo coordenadores e membros de organiações nãogovernamentais envolvidos em educação e no intercâmbio cultural, quandoocorre a decisão de não maricar os hos em escoa agma, por cona doprojeto familiar, ou da previsão de rápido retorno ao Brasil, etc., essas criançase adoescenes passam a car a maior pare do dia soinhos em casa, onge dospais ausentes por conta do trabalho. Esta situação de parentes ausentes implica,para muitos dos entrevistados, a imersão das crianças e adolescentes em um“círco vicioso”, marcado peas dicdades de adapação na própria vivência noJapão, revisiando assim as dicdades e probemas enfrenados peos próprios

pais. Em casos extremos, segundo as autoridades mencionadas, a situação deasência dos pais em casa e na edcação acaba esmando a marginaiação decrianças e adolescentes.

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Contudo, tendo em mente as diferenças de escolas, sistemas de ensinoe a inexão do conhecimeno o não do idioma, podemos observar como ainfraesrra única de Hamamas oferece às famíias de brasieiros faciidadese novas opções qe inerferem avamene nos projeos famiiares e nas próprias

dinâmicas sociais dentro e fora de casa.

Considerações nais - Nadando contra a corrente

Dada a dimensão de Hamamas, ano em imporância poíca qano nonúmero da população estrangeira residindo no período de minha estadia, é notávela fore presença de organiações não governamenais e associações japonesas,brasileiras ou mistas, que buscam contornar as implicações enfrentadas nestesvários qadros reacionados às novas gerações de nieis vivendo na cidade.Enquanto umas se debruçam nas questões de “integração” ou “intercâmbio

cultural” entre a sociedade japonesa e a população brasileira, outras se voltam jsamene para conrapor as diferenças inerenes à aprendiagem em saade aula. Como voluntário do Grupo Arace, drane de meses, pde observara atenção dos coordenadores em auxiliar as crianças e adolescentes comdicdades de aprendiado em escoas japonesas. Sendo odos biínges, essescoordenadores aam como mediadores na compexa reação pai-ano-escoa,buscando como meta encurtar as distâncias e desníveis presentes na educação.

Do outro lado do mundo, no Brasil, as discussões acerca das futuras geraçõesde nieis vivendo no Japão são movo de acaorados debaes e congressos. Se

o incenvo e foco na edcação foram e êm sido aspecos crciais na ascensãoeconômica e socia das comnidades nieis no país (CARDOSO, 1972), miosdos descendenes qe aqi esão não popam crícas qano ao fro da“comnidade brasieira no Japão”, em especia por cona do “descaso” o“descido” dos pais para com os hos, na terra do So Nascene, o qe gera“problemas atrás de problemas”.

Para além da existência, ou não, dos inúmeros “problemas” enfrentadospeos decasségis no Japão (“probemas” enre aspas, parcarmene porqealguns dos próprios entrevistados não os encaram como tais, mas apenas

como ma conseqência o disposivo acionado pea migração), os íderes dascomnidades nieis no Brasi não aenam para as diferenes conngênciase preocpações dos brasieiros vivendo no exerior, gerando, mias vees,projeos aernavos de vida e de famíia, qe inerferem, profndamene onão, na edcação dos hos e nas gerações fras.

Como já armei em ora opornidade, os brasieiros vivendo no Japão,descendenes de japoneses o não, perfaem ma historicidade  bastantediferene da “rajeória da comnidade niei” (kEBBE; MACHADO, 2007), ãoampamene difndida e reinvenada com o Cenenário da Imigração Japonesa

para o Brasi, ceebrado em 2008. Nessa historicidade dos decasséguis, notamosque o fenômeno migratório cria novos cenários e múpas forças qe afeamo projeto familiar. Nos casos brevemente apresentados, vemos, por exemplo,

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como a parcaridade da infraesrra de Hamamas para receber brasieiros,associada às conngências da esfera do rabaho, são apenas dois dos inúmerosaspecos qe adenram as famíias de maneira sem precedenes, obrigando-as ase rearranjarem, se reordenarem e repensarem a vida no Japão.

Durante minhas observações de campo, uma pergunta fundamental que eudirigia a agns de mes enrevisados, no momeno na da conversa, era seees encaravam ais insâncias e impicações como “probema”, no sendo deidencar sobre o quê e onde ees aocavam a paavra “probema”. Obve maampla variedade de respostas, mostrando, assim, que existe uma disputa emorno da referida paavra, por insições ociais, associações e organiaçõesnão governamenais, a qa poderia ser da, ave, como esriamene poíca,enevoando esraégias perfeiamene egímas em oros conexos crais.

Como impressões de agém “de fora”, percebo, porano, qe se fa mais

do que necessário o aumento dos estudos sobre os brasileiros vivendo noJapão; mas esdos qe aenem jsamene para as microdinâmicas sociais qenão são visas à de macroanáises, ma ve qe não compreendemos comprecisão qais são os agenciamenos feios peas famíias de brasieiros no Japão:ma anáise qe poderia ser basane frfera no enendimeno dos probemasedcacionais qe envovem as crianças em xo. Assim sendo, mesmo depois demais de vinte anos do surgimento do “fenômeno decasségui”, longe de esgotado,nosso campo conna mais abero e compexo do qe nunca.

Notas1 - O so do ermo ‘agenciameno’ consi, na verdade, m desdobrameno de verenescontemporâneas da Antropologia Social no estudo do parentesco. Após os importantesesdos de Schneider (1984), Srahern (1997, 1999, 2006), Wagner (1974) e Carsen (2004),observamos a necessidade de ma revisão críca das eorias de parenesco na AnropoogiaSocia. Como aponado por Machado (2010) e Machado, kebbe e Da Siva (2008), apercepção é igamene ú na compreensão de famíias qe são ieramene aravessadaspelas migrações internacionais, hoje amplamente difundidas e espalhadas pelo globo graçasàs novas ecnoogias de ranspore, comnicação (BAlDASSAR, 2007) e envio de remessas(CANAlES, 2005). Ao raer os ermos “agenciamenos”, “arranjos” e “reacionaidades”,

procramos vericar como essas famíias arcam os ses ermos de parenesco semse prender em denições consoidadas qe, em agns casos, podem aé mesmo nãocorresponder à reaidade. Sendo o objevo das Ciências Sociais eaborar modeos expicavoscom base na reaidade socia (e não o inverso), bsca-se capar deerminadas nances domndo vivido, para enão pensar em modeos expicavos para a emáca do parenesco, naconemporaneidade. tais qesões são foco e cenro de anáise da minha ese de doorado.2 - Vae noar qe Aichi-en concenra o maior número de decasségis brasieiros dispersosem toda a província.3 - É imporane ressaar qe poco anes da crise econômica de 2008, as esascas ociaisacerca da popação brasieira em Hamamas giravam em orno de 20 mi habianes. Coma crise e o súbito retorno de muitos desses brasileiros, os órgãos públicos, associações eorganiações não governamenais de Hamamas vêm bscando, aé o presene momeno,refaer as esascas, não apenas com o axíio do úmo censo naciona japonês, reaiadoem obro de 2010; como ambém através de um censo exclusivo da população brasileira,

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reaiado em fevereiro de 2011 pea Prefeira de Hamamas, em conjno com a Associaçãode Inercâmbio Cra Brasi-Japão.4 - tendo em mene a práca enográca e as écnicas de observação parcipane, aei comovonário nas aas de ingês para jovens e ados brasieiros, no Projeo Jno à HICE (Fndaçãopara Comnicação e Inercâmbio Inernaciona de Hamamas), onde ambém pde presenciar

como observador as aas de japonês para essas rmas. também fi vonário da OrganiaçãoNão Governamena ARACE, acompanhando semanamene os rabahos desenvovidos comcrianças brasieiras com dicdades no aprendiado em escoas japonesas.5 - tano “Fernanda”, qano “Mariana”, são nomes ccios, visando assim preservar aidendade das enrevisadas.

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RESUMO

Caraceriadas na Anropoogia Socia conemporânea como “famíias ransnacionais”,precisamene por serem consídas por membros vivendo separados em mais de m país,as famílias decasséguis vivem um paradoxo e são ainda pouco estudadas na Antropologiaa parr de ma perspecva diferenciada qe compreenda as microdinâmicas sociais. Eseargo propõe ma breve discssão acerca das famíias de decasségis enqano famíiastransnacionais, focando nas reordenações familiares e nos dilemas enfrentados pelas criançasnipo-brasieiras qe vivem na cidade de Hamamas, Japão.

Palavras-chave: famíia ransnaciona; decasségi; crianças.

ABSTRACTCharaceried in conemporary Anhropoogica theory as “ransnaona famiies” preciseyfor being consed of members iving apar in more han one conry, deasegi famiies ivewih a paradox and are s ie sdied in Anhropoogy from a dierenaed perspecveencompassing socia micro-dynamics. this arce proposes a brief discssion regarding hedeasegi famiies as ransnaona famiies, focsing on he famiy reorganiaons and hediemmas faced by he Japanese Braiian chidren iving in Hamamas ciy.

Keywords: ransnaona famiy; deasegi; chidren.

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Revitalização linguística do japonês no Brasil

A atuação dos retornados brasileirosdo Japão como professores de língua

 japonesa

* Docente da Universidade de São Paulo, Departamento de Línguas Orientais, Área de Lín- gua e Literatura Japonesa.

 Leiko Matsubara Morales *

Considerações iniciais1 

Há cerca de das décadas, diversos argos jornaíscos das empresas SãoPaulo Shinbun e Nikkei 2 ressaam a qesão do decínio da compeência ingíscados descendenes de japoneses. ta percepção não é m fao novo, pois já vinhasendo objeto de ampla discussão em diversos simpósios sobre o ensino de língua

 japonesa no Brasi (AlIANÇA CultuRAl BRASIl-JAPÃO, 1979 e 1982).No qe se refere ao ensino de ínga japonesa no país, a Segnda Gerra

Mndia consi m divisor de ágas. No período pré-Gerra, predominava

o monolinguismo japonês, por conta da condição em que estavam assentadosos imigrantes, como trabalhadores rurais, sem acesso à escola brasileira e coma ideia de voar ao Japão. Já no pós-Gerra, inicia-se o período de biingismo,com a inserção cada ve maior dos descendenes na escoa brasieira e com aínga japonesa passando para a condição de ínga de herança (MORIWAkI, 1998e 1999). Assim, a própria denominação das escoas japonesas de nihongakkô (ieramene, escoas japonesas) passo para nihongogakkô  (escoas de ínga

 japonesa), ganhando conornos cada ve mais insrmenais e crais da ínga,na enava de ransmi-a aos descendenes.

dossiê - decasséguis

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Nas nihongogakkô, o ensino se baseava na vivência diária e não na gramáca,nem na conversação. Essas insições de ensino cmpriram fnção diferenedas escoas brasieiras ao desenvover avidades crais japonesas, aém deincenvar aas de música e cano. Mias vees, as avidades crais eram

condidas por pais e mesres, havendo, ainda, mobiiação de oda a associação japonesa local. Essa situação era ideal para o desenvolvimento do bilinguismo, já qe havia dois domínios disnos em das íngas e cras diferenes, demodo qe as crianças aprendiam ambas as íngas pea vivência. Nos nais desemana, as crianças nham a opornidade de enconrar odos os membros dacomnidade para avidades crais, esporvas e recreavas. Esse panoramapermanece aé nais da década de 1980.

Para compreender o funcionamento das nihongogakkô, tomamosempresado o conceio de ‘comnidade de práca’, de lave e Wenger (1991),

bem como as denições de Ecer e McConne-Gine (1992):Um agregado de pessoas que se unem em torno de umengajameno nm esforço coevo. Maneiras de faeras coisas, maneiras de falar, crenças, valores, relações depoder; em sma, prácas qe emergem no decorrer desse

esforço múo (1992, p. 464). (tradção nossa).

A existência das nihongogakkô era crucial e indispensável para a permanênciada comnidade; as escoas eram imporanes gares de convivência, renindogerações. Ainda conforme Lave e Wenger, a existência da escola é, entre outrascoisas, o resado de m esforço coevo dos membros da comnidade qeparham vaores e crenças.

Nesse conexo, a gra do professor de japonês era imporane, já qeteoricamente seria uma força propulsora para o bom andamento da escola.Condo, ee nem sempre era reconhecido prossionamene, enre orosmovos, porqe o se empenho cava diído no meio dos rabahos vonáriosdos membros da comunidade.

Para o bom êxito das nihongogakkô, havia m rme ripé de ssenação: aparcipação dos pais, dos professores e dos próprios anos. Esse apoio começaa desmoronar com a inegração cada ve maior dos descendenes à sociedadebrasieira e com a conseqene perda ingísca, inensicada peo movimenomigratório decasségui, que, num primeiro momento, causou o êxodo de isseis3,e, a seguir, de descendentes nisseis4 e sanseis5 para o Japão (décadas de 1980 e1990, respecvamene).

Comparando os dados nméricos, a esmava de crianças brasieiras nafaixa de 0 a 14 anos regisradas nas cidades japonesas em 1990 era de 2.682;sendo qe em 1992, esse número nha sbido para 12.682. A expicação é qe,em jnho de 1990, foi promgada a reforma da lei de Imigração Japonesa,fato que desencadeou a entrada de brasileiros, acompanhados de suas famílias(YAMAMOtO, 2001 e uRANO, 2002). Desde enão, vine anos se passaram, e a

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crise gerada pea qebra do banco lehman Brohers, em 2008, forço o reornode brasieiros, raendo à ona sas vneráveis condições de rabaho. Cerca de70 mi pessoas reornaram em 2010, das qais, aé o na do mês de março domesmo ano, 20.693 saram o sbsídio de ajda oferecido peo governo japonês

para o retorno ao país6

. Nesse conexo, expica-se o ameno de reornadosados jovens na companhia de ses pais, eses mias vees com idade para seaposenar. Agns desses jovens aegaram ambém probemas na connidadedos esdos, preferindo faer o crso sperior no Brasi.

Perl dos professores e língua de aquisição

Faendo m breve rerospeco hisórico, em 1963, 56% dos professoreseram navos qe nham chegado ao Brasi no período pré-Gerra, 36% eramnavos do pós-Gerra, e 5,1% eram nisseis, grpo ese formado excsivamenede mheres. Na época, o niverso de professores de japonês era de 336 pessoas,enqano o de anos era de 14.829 (FEDERAÇÃO DAS ESCOlAS DE ENSINOJAPONÊS NO BRASIl, 1966). Em 2004, essa reaidade já se congrava de maneiradiferene, com cerca de 1.200 professores e 20.000 anos (FuNDAÇÃO JAPÃO,2006). Há, no enano, ma diferença qaiava, se compararmos a época aacom a década de 1960, qando a esmagadora maioria dos professores condiaas aas em sisema de casses msseriadas, com crianças de faixas eárias eníve de conhecimeno ingísco diversos, com fncionameno diário nos doisperíodos aernavos à escoa brasieira - o qe presspõe ma jornada onga derabaho, aém das avidades crais e recreavas qe se esendiam aé nosnais de semana.

A despeio das mdanças raidas peo empo, esse radiciona cosmepermanece nas nihongogakkô, e a comnidade espera parcipação dosprofessores. De modo gera, aamene, há maior exibiiação nos horários eopções diversicadas de insições de ensino; porém, isso só ocorre em grandescapitais como São Paulo, visto que no interior, as mudanças são lentas.

Apresenamos, a segir, o per dos professores, segndo a ascendência(abea 1) e formas de aqisição da ínga, para israr a predominância denavos e descendenes (abea 2).

Tabela 1

Ascendência do professor

Mesços 1 0,1%

Não descendentes 13 2%

Não especicado 43 7%

Navos e descendenes 587 91%tOtAl 644 100%

Fone: CBlJ / Cenro Brasieiro de línga Japonesa – Gia Escoar 2004

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Tabela 2

Tipo de aquisição da língua japonesa

línga de Herança (descendenes; japonês como l27 em comnidade) 257 41%

Primeira ínga (l1)8 (navos japoneses) 248 40%

Não Especicado 97 15%

Língua Estrangeira 20 3%

Reornados brasieiros (kikokushi ) 4 1%

tOtAl 626

Fone: Cenro Brasieiro de línga Japonesa – Censo para cercação de Professores 2004-2005.

Podemos dier qe, aé o ano de 2004, o per predominane ainda era denavos e descendenes (91%). No caso dos descendenes, a aqisição da ínga

foi por meio nara, como ínga de herança (lH9

), em casa o na comnidade,e não como LE10 No referido ano, os professores reornados consíram apenas1% do oa, mas esse número vem crescendo, como se pode observar no qadroa segir:

Tabela 3 – Perl dos inscritos no Curso de Formação de Professores de LínguaJaponesa do CBLJ - Centro Brasileiro de Língua Japonesa (2006 a 2010).

Geração 2006 2007 2008 2009 2010

Isseis (old  comers)11 2 3 4 3 2

Nisseis 2 4 5 5 5

Sanseis 2 2 2 2 5

Yonseis  1 0 0 0 0

Não-descendenes 1 1 1 0 0

New comers 12 2 0 0 0 0

Retornados 3 2 3 1 5

Não respondidos 1 2 1

toa 13 12 16 13 18

Decasséguis 1 4 2

Fone: Cenro Brasieiro de línga Japonesa (2010)

Tipos de aquisição de língua e possíveis efeitos didácos

Em escala mundial, de acordo com os dados da Fndação Japão (2006),29,8% dos professores de japonês eram navos; em 2004/2005, a porcenagemde professores no Brasi era de 40% e, se somados os descendenes, cja maioriahavia adqirido o japonês na forma de aqisição nara, chegava-se a 81% do

oa. Mio erroneamene, acredia-se qe a ência de m navo garane mbom prossiona de lE, mas é imprescindíve qe sejam desenvovidas habiidadesdidácas por pare de ais professores. Desses, mios acrediam poder transferir

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Aportes teóricos para esta pesquisa

Do ponto de vista da aquisição de LE, diversos trabalhos discutem os efeitosdo ambiene ingísco para se ober ma mehor aqisição da ínga-avo: o

ensino em sala de aula e em ambiente natural, assim como a importância de ter osdois ambienes (MORIYAMA et al., 2008). Diversos rabahos nesse sendo foramdiscdos na década de 1980, como por exempo: krashen (1982); Pica (1983);long (1980); e lighbown (1983). Há ainda faores sócio-hisóricos, geográcos,emocionais, ingíscos e crais. O fao é qe a inserção das crianças emprocesso de migração desencadeia uma série de estratégias para a sua adaptaçãoem m novo ambiene ingísco e cra, não só de ordem ingísca, masambém psicoógica; e nem sempre os professores de escoas normais qe esãoem contato com essas crianças, possuem conhecimento de ensino como LE.

Cabe escarecer qe para reaiar a referida pesqisa, é egímo bscar apoioem esdos de Cmmins (1987 e 1991) com hos de imigranes no Canadá,denro do conexo escoar do país-hospedeiro. Esse aor esabeece madiferença enre as noções de BICS (Basic Interpersonal Communicave Skills)e de CAlP (Cognive Academic Language Prociency ), drane o processo deadapação ingísca em conexo de migração. A primeira raa da ingageminerpessoa e a conversação do dia a dia para resover qesões do codiano;enqano a segnda consi a ingagem acadêmica especíca para ser sadaem assuntos da escola, e trata de procedimentos intelectuais que propiciarão odesenvovimeno cognivo da criança. Segndo observações empíricas, o ciadopesqisador consao qe no qe se refere à BICS, eva-se de dois a rês anospara a criança adqirir em conao com o novo ambiene ingüísco; enqanoem relação à CALP, a criança pode levar de cinco a sete anos para se desenvolvercomo m navo (CuMMINS, 1980). O seja, se ma criança é desocada dose conexo ingísco e passa a sar ma ínga diferene, é preciso qe osadultos ao seu redor tenham compreensão desses conceitos e percebam quenem sempre as das compeências caminham ado a ado; aém de ambém sernecessário evitar comparar a criança com monolíngues da mesma faixa etária,respeiando-se, assim, o empo de qe eas necessiam para chegar a m níveingísco condiene e esperado.

Estágio de bilinguismo das informantes

Segndo as informanes P1 e P3, o japonês é a ínga dominane, já qeeas preferem er exos jornaíscos e/o disseravos nessa ínga; porém, emalguns casos, dependendo do nível de familiaridade com o assunto, elas chegama sar ‘esraégias de comnicação’, como o emprésmo de expressões em íngaporgesa, como veremos adiane. P2 considera-se ene nas das íngas e

não incide em aernância de código ingísco. Entre as informantes, ela é aúnica que preserva o discurso formal, usando adequadamente o marcador depoide (desu e masu), aando em siações socioingíscas e inerpessoais.

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Redes de apoio

Mapeamos as redes de apoio de modo a evidenciar a assistência da família,marcando, assim, as condições de estudo e recursos materiais e pessoais que

caram disponíveis para as informanes, ao ongo da vida escoar no Japão e noBrasil.

Teve movação parao estudo da línguaportuguesa?

Material deApoio

Escolasespeciais

Meios desuperação

Inuências

P1 Sim, pois semprequeria voltar amorar no Brasil, mas

as crícas negavasdos parentesforam bastantecontundentes.

Livros quea sa a,professora

de umaescolapública,conseguiuprovidenciarparaestudar.

4 anos decursinho, quea ajudaram

a gostar deestudar,faciiando-lhe oentendimentodo conteúdo.

Amigosdo colégioajudavam na

prova. Incenvoda família, pormeio de apoiopsicológico etambém custeiodo cursinho.

Parentes e pais

P2 Não mio; avontade de estudarcom seriedade

só veio duranteo período depreparação para ovesbar.

Os ivroseram daescola, ou

adquiridoscom recursopróprio.

Colégioparcar, comcursinho no

úmo ano docoégio; mas oque realmentea ajudoufoi resolverestudarseriamente.

Apenas copiavao conteúdoestudado,

mesmo semcompreendero que estavaescrevendo.

Amigos e colegasda escola.

P3 Não apresentounenhuma respostapara esa pergna;

contudo, seuempenho emaprender a língua japonesa estavadiretamente ligadoao trabalho quefe de inérpreedurante o períodoem que estevedesempregada noJapão.

Nãocomentou.

Spevo noJapão (3 a 4meses).

Não comentoua respeio; nãosen ana

necessidade deesdar no Japãoe no Brasil.

Aparentemente,nenhuma.

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As informanes P1 e P2 veram basane apoio da famíia; ao conrário deP3, qe não eve pracamene nenhm.

A informane P2, qe recebe maior assisência, cono sempre com serviçosprossionais de professores parcares para acompanhar os esdos; aém

disso, o chefe de sa famíia viajo ao Japão como execvo de ma empresa,em siação conforáve em ermos nanceiros e sociais, diferenemene do qeocorre na maioria das famílias de decasséguis.

P1 não percebe diferença na mdança ingísca, pois foi aos 4 anos deidade para o Japão, e aprende facimene a ínga, ao ingressar nma creche

 japonesa. Sa primeira experiência com l2 ocorre no reorno ao Brasi, aos13 anos de idade, qando eve de aprender ma ínga nova. Primeiramene,ela foi matriculada numa escola estadual, sem receber atenção especial porser estrangeira, e só se interessou pelos estudos quando ingressou no curso

preparaório para o vesbar, no qa “os  professores explicavam bem, nhamvontade de fazer a gente entender ”. Com esse grande pono de inexão, eapasso a reamene gosar de esdar, empenhando-se, incsive, em seraprovada no crso de leras da universidade de São Pao (uSP). Sa adapaçãoà escoa brasieira foi m poco dici no começo, porqe ea era considerada“ingênua” peos coegas brasieiros, sendo freqenemene avo de goações, aonão entender as brincadeiras e nem as piadas. Ao mesmo tempo, porém, ela teveamigos qe a ajdaram na fase de adapação: “eram amigos que faziam provano meu lugar ”, “ passava a folha de resposta inteirinha respondida de questões

de história”. Drane o crso preparaório para o vesbar, ea só consegienfrentar mais um ano de curso graças ao apoio da mãe e da irmã, pois, no total,foram quatro anos frequentados.

P3 reao qe não crso o ensino médio, e só freqeno m crsospevo no Japão; porém, mesmo sendo aprovada, considera qe esse crso“não foi suciente para aprender todo o conteúdo que deveria ter estudado”. Elanão reao nenhm po de esforço para esdar, e armo qe isso se devia aofao de se senr “ protegida” por ser estrangeira e os professores japoneses nãoexigirem dela os mesmos resultados. Durante a entrevista, porém, ela demonstroualto grau de interesse, e seu nível de concentração aumentou ao falar de assuntosde rabaho: começara a rabahar cedo, aos 17 anos; sendo qe drane o períodode qase m ano em qe co desempregada, maneve-se com rabahos deintérprete, acompanhando gestantes a consultórios médicos, sabendo, assim,dier vários ermos da área de ginecoogia e obserícia, demonsrando dominar o

 jargão técnico da área, pouco usado na linguagem do dia a dia.

Pontos de inexão

P1 sena-se mio injsçada, qando os parenes com os qais moravafaiam crícas sobre o se porgês, em reação a erros de conjgação e faade marcação do pra. Mias vees, ees he dirigiam paavras desencorajadoras

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qano à sa obsnação em presar o vesbar da FuVESt (Fndaçãouniversiária para o Vesbar). tais crícas passaram a ser ma movação paraas qaro enavas de passar nesse cerame. Depois de er ingressado na carreiradesejada, podemos dier qe a sa baaha conna com a prodção de exos

disseravos, como ambém demonsra er dicdades para er exos eóricosqe reqerem maior reexão. Hove, incsive, ma ocasião em qe P1 nãoconsegi decodicar os caraceres japoneses, o qe parece ê-a consrangidoa ponto de pedir à sua orientadora a entrega antecipada do texto para preparara leitura.

No caso de P2, embora a própria informane não enha mencionadoo fato, parece terem surtido efeito os anos de acompanhamento comprofessores particulares em casa, e também o fato de ter frequentadocolégios particulares. Contudo, ela confessou que nunca sentiu motivação

para estudar, e que a mudança só veio ao se sentir desafiada pelos colegasdo coégio, qe diiam qe “não prestariam vestibular   fácil como o de Letras,só para dizer que entraram na USP”. Assim, apesar de a intenção inicial serprestar vestibular para Letras, ela mudou para uma carreira mais concorrida(Economia), “ para não fazer feio”.

P1 e P2 demonsraram qe o “desao” consi ma força propsorapara o enfrenameno de sas imiações e o engajameno nos esdos. Já,P3 não esboço essa preocpação em sperar dicdades provocadas pealíngua, mesmo tendo passado por diversas experiências de bullying  escolar.

um dado ineressane a noar é qe P3 parece er m níve mio ao deresiiência, ma ve qe diane das adversidades peas qais passo, maneve-se mio serena. Desaqe-se, ainda, qe P3, na ocasião em qe parcipo danossa pesqisa, esava recém-separada do companheiro, pai de ses dois hosmenores. Quando a pesquisadora lhe perguntou sobre como será a educaçãoingísca dos hos, ea disse qe jamais permiria qe ses hos passassempelo que ela passou.

Ocorrências Linguíscas

Em ermos de ocorrências ingíscas, podemos apreendê-as pordiversos ângulos. Destacamos alguns aspectos merecedores de atenção noâmbio do ensino. P3 foi a qe apreseno maior número de ocorrênciasineringíscas, denominadas ‘Esraégias Comnicavas’ (ECs). Esas sãorecrsos freqenemene iados por aprendies de lE; qando hes faampaavras para se faer enender, recorrem à l1. Noa-se qe o ineressane éqe, no caso de P3, sa ínga dominane é o japonês; no enano, qando hefaltam palavras no repertório, ela compensa com a expressão equivalente na

língua portuguesa, já que essa é a língua de comunicação entre os membrosda família. Para ilustrar o exemplo, apresentamos, a seguir, um fragmento daenrevisa; convém armar, porém, qe ais pos de ocorrências diferem do qe

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os estudos bilíngues denominam de code-switching, uma alternância de códigospica de biínges enes, sem qebras de sinaxe, sinagmas, e nem mesmode unidades lexicais. As palavras que faltavam no transcurso da conversa deP3 eram inseridas em porgês, para ssenar a comnicação. Essa pode ser

uma estratégia comumente usada entre os familiares, o que pode prejudicar aaaiação do vocabário aravés de novas expressões.

A segir, apresenamos rechos seecionados: no caso, as paavras ‘poíciafedera’ e ‘enrar em greve’ são precedidas de arga hesiação, segida de‘preenchedores de pasa’ (anô...), o qe reforça a evidência de qe ao faar, aentrevistada está em busca de ma paavra, e qe por não enconrá-a na íngaem uso, ela acaba recorrendo à EC.

Enrevisador: 2003-nen ni Brajir ni modoe...soreara, maa, Nihon e?

P3 – Ah, sô, shigas ni aea oi wa, mô sono oi wa ninshin7-ages de...de, odomo ga ....ni-san-ages ni naaramaa Nihon ni aer aer yoei daandes edo, anô, anô, polícia federal  oa, enb , entrou em greve, e pasupôto gaorenaaashi, waashi no bia ga iree, Nihon e ia oi moshia no o ga issai-han, 2005-nen nni o Brajir ni ie,de, maa, 2005-nen maa, Nihon...2005-nen 2-gas, Nihon e

ie, de, ooshi, a, yonen, 2009-nen ni aee...

Enrevisador (tradção): Voo para o Brasi em 2003 e depois, novameneao Japão?

P3 – Ah, é, qando voei em abri, e já esava com seemeses de gravide, enão, me programei para voar aoJapão assim qe a criança compeasse dois o rês meses,bem..., então..., por exemplo, a polícia federal , tudo entrouem greve, e  não consegi rar o passapore, me visoexpiro; qando fi ao Japão, o ho mais novo já esavacom m ano e meio. No ano de 2005, qei direo no Brasi,e em 2005, em fevereiro de 2005, fi ao Japão, e ese ano,

não, ano passado, em 2009, voei ao Brasi. 

As três informantes armaram er do dicdades para se adapar aonovo ambiene ingísco, mas parece haver ma correação enre o númerode erros ineringíscos e o gra de percepção de sas “fahas ingíscas”.Percebemos qe em P1 e P2 há m cidado para faar, m maior conroena exposição de sa faa, ave, porqe a enrevisadora seja professora daleras, o porqe sabem se raar de ma pesqisa. A informane P2, por

gostar de línguas, ingressou num programa de intercâmbio para estudar inglêsno Canadá, o qe mais ma ve conrma a imporância das decisões pessoaisem relação às línguas envolvidas.

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P3 ambém não consegi ssenar ma conversação qe reqeresse mnível de vocabulário elevado, além de demonstrar que o seu japonês tem umafore inência da variane diaea da região de Aichi, percepve aé mesmoaos ovidos daqees qe não são navos japoneses.

Escolha da prossão

Qano à escoha prossiona de ser professor de japonês, P1 e P3 disseramter escolhido essa carreira porque “era a única coisa que sabia fazer ” (P3); o “eraa coisa que mais sabia fazer ” (P1). Somene P2 nos cono, em om cerimonioso,como se esvesse pedindo descpas, qe a escoha foi esraégica, já qe haviaselecionado “a  carreira mais rentável em curto prazo”; aém de esa ser “ocaminho mais curto para trabalhar com língua”, pois o que ela queria de fatofaer era segir a carreira de radora-inérpree, o em reações inernacionais.

Das rês, P2 é a qe sa a ínga como insrmeno para angir oro objevomaior, enqano P1 e P3 parecem esar “reféns da língua”.

Qando pedi para qe dissessem qa ínga era a dominane, P1 disse qeas das íngas eram fores. Já, P3 não sobe precisar esse pono, armando qenão nha domínio em nenhma dessas íngas. De acordo com sas paavras,tudo está “na metade do caminho”, ou seja, chûtohanpa. Somene P2 nos dema descrição precisa e objeva da sa aoavaiação, reaando qe faia osrelatórios e trabalhos da faculdade sem problemas, chegando a avaliar que,em se raando de reaórios, nha noção de qe o se porgês era mehordo qe o japonês, pois drane o crso de Economia faia eiras eóricas eoperações ingíscas mais soscadas em porgês. Por sa ve, P1 reaoenfrenar desaos para “adquirir o vocabulário acadêmico para escrever  textosdissertavos” - fao esse qe veio a ser comprovado, poseriormene, peasanotações de campo, que apontam muito mais para problemas na estruturaçãodo texto e da sintaxe, do que no vocabulário em si.

Considerações nais

Foi imporane esdar ais pers, endo em visa o ensino de ínga japonesa,na medida em qe esa pode consir a ínga dominane, o ser ma íngaem desenvovimeno. Nesse sendo, com a emergência desse novo per - qe édiferente dos old comers (isseis) e dos new comers -, os organiadores de crsos deformação devem evar em cona o po de aqisição de ínga, bem como agnsfndamenos do biingismo, como, por exempo, ma formação ingíscafragmenada; aém de ainda incorporar qesões da variação ineringísca(esraégia comnicava, code-switching, ec), em ve de resringir-se ao aspecoinraingísco (regisro, aspecos socioingíscos), endo em visa a enorme

diversidade que pode ser encontrada em qualquer língua.Hisoricamene, por er sido ma lH, adqirida naramene no convívio

familiar e comunitário, o idioma japonês não é para muitos uma LE, que requer

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anos de estudo com dedicação e conhecimento de metodologia de ensino eaprendiagem. Isso gera poca vaoriação enre a comnidade, para com a grado professor de nihongogakkô como prossiona. O fao é qe, com a chegadadesses reornados, esá havendo ma sensíve reviaiação do japonês faado no

Brasil, que é carene de pessoas com maior ência, aravés da aaiação dorepertório em relação à variante local, e do aporte de informações culturais dodia a dia do Japão.

Em nome da diversidade ingísca no Brasi, é imporane qe o japonêsconne a ser ensinado como lE, e qe a comnidade nipo-brasieira conneinvesndo nas condições de rabaho dos professores de japonês, pois só assimconsegiremos angir m níve mais eevado de prossionaiação do professorda nihongogakkô. Não devem ser desperdiçadas as oportunidades que o retornodesses jovens oferece para a reviaiação do ensino de ínga japonesa no Brasi.

Notas

1 - A primeira versão dese rabaho foi pbicada nos Anais da BRASA (Braiian AssociaonSdies), em Brasíia, em 2011.2 - tradicionais veícos de comnicação da comnidade Niei em avidade no soo brasieiro,escritos majoritariamente em língua japonesa.3 - Japoneses navos; ieramene, primeira geração.4 - Descendenes de segnda geração.5 - Descendenes de erceira geração.6 - Jornal Nikkei , 20.4.2010.

7 - Há ma disnção, na ierara, sobre o ambiene ingísco de ma ínga em aqisição.Normamene, a l2 se refere a ma ínga com a qa o aprendi em conao no dia a dia,como meio de comunicação, mesmo não sendo a sua primeira língua. É o caso dos brasileirosqe esão no Japão, aprendendo o japonês como l2. No presene rabaho, o ermo serácoextensivo aos descendentes japoneses que vivem no Brasil, em virtude de eles teremcrescido em comnidades qe nham o japonês como ínga de comnicação, mesmohavendo redção na qaidade dos insmos ingüíscos, se comparados aos do Japão.8 - A l1 é a ínga maerna o nava de ma pessoa. A l1é a ínga qe ma pessoa aprendepor meio de aquisição natural.9 - O conceio de línga de Herança (lH) pode se referir à ínga ransmida de pai paraho, em siação de biingismo, como ínga minoriária frene à ínga ocia faada

majoritariamente no país em que a criança nasceu, ou para o qual emigrou. No caso em estudo,raa-se de descendenes japoneses, hos de imigranes japoneses qe nasceram no Brasi,mas qe por viverem em comnidade de japoneses, faavam a ínga dos ancesrais. O ermopode, ainda, referir-se à primeira ínga da criança qe se mda para oro país, e qe emconao com m novo ambiene ingísco erá de aprender ma nova ínga, mas sem deixarde faar a primeira (qe, no caso, poderá ser denominada de lH). Assim, o ermo é coexensivoàqueles que nasceram no Brasil e aprenderam o japonês num contexto comunitário e familiar,e ambém àqees qe para cá vieram e roxeram sa primeira ínga. Há vários ponos deinersecção enre lH e l2; enqano o primeiro em a possibiidade de reaiação ingíscaredida por esar em oro país, o l2 é a ínga majoriária do novo ambiene ingüísco, e ém ermo abrangene para dier qe se raa de ma segnda ínga aém da primeira.

10 - O conceio de ínga esrangeira refere-se àqea qe é aprendida peo ano em siaçãode saa de aa. Mias vees, o esdo se imia à gramáca e à conversação fnciona emsala de aula, e o aluno não está no país em que se fala essa língua. A língua não é o meio de

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comnicação direo no se dia a dia, e os insmos ingíscos são conroados, por ocorreremem ambiente de sala de aula.11- Em conrase a new comers, cosma-se empregar o ermo old comers  para os isseis,navos japoneses qe chegaram ogo da reomada da imigração pós-Gerra, a parr de 1953aé a década de 1980.

12- O conceio de new comers  pode variar, de acordo com os pesquisadores. No nossoenendimeno, ee abrange os navos qe vieram ao Brasi a parr da década de 1990.13 - É ma denominação dada à ínga japonesa faada no Brasi, com sas varianes em reaçãoao japonês padrão faado no Japão, por cona dos emprésmos ingíscos, novas criaçõesresanes do fenômeno de conao ingísco e maes semâncas. Sobre a variane emqesão, os dados ingíscos podem ser conferidos em kuYAMA (1999; 2000) e DOI (2002;2006; 2009).14 - termo sado no biingismo, para se referir à mdança de código ingísco qe os faanesbiínges faem freqenemene ao ongo da sa conversação, qe pode ser movada pordiversos faores, ais como: mdança de ópico do assno, idencação com o inerocor,situação de informalidade.

15 - traa-se de ma hipóese qe ssena haver ma idade idea para a aqisição da ínga.Esdos como o de lennerberg (1967) e Piner (1994) bscaram bases bioógicas para ssenarqe crianças êm idade deerminada para aprender ma ínga. O primeiro dene essa faseenre 3 e 14 anos; e, o segndo, aé os 6 anos. Oros preferem sar o ermo “período sensíve”

(BYAlIStOk e HAkutA, 1999).

Referências

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RESUMO 

Ese rabaho em como objevo raer à ona a emergência de m novo grpo de professoresde japonês, qe são os brasieiros reornados do Japão, em conseqência do xo migraórioconhecido como decasségi. São pessoas qe foram evadas para o Japão ainda em idadetenra, ou nasceram lá, e passaram pela educação escolar no país. Enquanto a maioriade descendentes jovens no Brasil não se interessa pela docência em língua japonesa, osreornados bscam a ocpação jscando qe “ensinar o japonês  é a única coisa que

sabem fazer ”. Diane da escasse de pessoas enes no idioma em qaro habiidadesingüíscas, e ambém da demanda reprimida de professores dessa ínga no Brasi, essenovo per vem conribir para a sa reviaiação. A pesqisa anaiso, qaiavamene, oreao de rês informanes, endo em visa o se hisórico de migração, nos segines aspecos:níve de biingismo, circnsâncias de aqisição e aprendiagem das das íngas (japonês eporgês), movações pessoais, aém do desempenho ingísco.

Palavras-chave: biingismo; decasségi; formação de professores.

ABSTRACT

this wor aims a bringing o igh he emergence of a new grop of Japanese eachers whoare Braiians ha have rerned from Japan wih a schoo edcaon in Japan, as a res ofhe migraon ow nown as deasegi. they are peope ha when chidren were aen oJapan a an eary age, or were born here and wen hrogh Japanese Edcaona sysem.Whie mos yong descendans in Brai are no ineresed in eaching he Japanese angage,rernees searching for jsfy his choice by saying ha “teaching Japanese is the only thingthey know how to do.” Given he shor sppy of peope en in he angage, an nmedemand for eachers of his angage in Brai, hese new proes have come o conribe oangage reviaiaon. the research examined qaiavey he proe of hree informans,in view of heir migraon hisory concerning he foowing iems: eve of biingaism,

circmsances of acqision and earning of he wo angages (Japanese and Porgese),persona movaons, as we as angage performance.

Keywords: biingaism; deasegi; eacher raining.

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Desde o início das primeiras evas emigraórias signicavas de coreanos nadécada de 1860 para a região da Manchúria, na China, a penínsa da Coreia vi

milhões de habitantes deixarem sua terra natal em busca de melhores condiçõesde vida. No que se refere à imigração coreana na América do Sul, especialmenteno Brasi, concenra-se no período da emigração Pós-Gerra da Coreia.

A emigração coreana para o Brasi eve se início na década de 1960, qandoo governo coreano adoo ma poíca emigraória com o inio de diminir aconcenração demográca e os conios sociais no país. Foi m processo nanciadoe organiado pea popação civi, qe após a Revoção Miiar de 1961 foi embusca de prosperar em terras estrangeiras. Entre os países americanos que maisreceberam imigranes coreanos a parr da década em qesão, o Brasi esá em

erceiro gar, precedido apenas peos Esados unidos e Canadá (MERA, 2005).Apesar de enavas não mio bem scedidas de inserção dos coreanos

recém-chegados na agricra, foi no meio rbano qe esse grpo reamenese esabeece. Desde a fase ocia da imigração coreana, em 1963, aé a faseda imigração irregar, na década de 1980, ees se concenraram principameneem bairros centrais da cidade de São Paulo, e se dedicaram a uma série dediferenes avidades econômicas aé se esabiiarem no ramo da confecção ecomerciaiação de ropas pronas.

coreanos

Imigração coreanaA questão da reemigração e do retorno

 Rafael Monteiro * Sênia Bastos **

* Mestre em Hospitalidade e bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi.** Doutora em História pela PUC/SP, Profª. do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi.

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Há ambém o caso de imigranes coreanos qe, insasfeios com sa condiçãonanceira no Brasi, o com a siação econômica do país, especiamene nadécada de 1990, resoveram reemigrar para os Esados unidos, principamene, oretornar para a sua terra natal. Com o crescimento rápido da economia coreana a

parr do na da década de 1980, mios coreanos senram-se enados a reornarpara a Coreia, no enano, a maioria já enraiada permanece no Brasi.O objevo do presene rabaho é apresenar a discssão os resados dos

esdos exisenes na ierara especiaiada sobre o ema da reemigração e doretorno dos coreanos, tendo em vista que não há publicações sobre o assunto emporgês. É ambém objevo anaisar o coneúdo de enrevisas com imigranescoreanos para enriquecer e esclarecer a discussão já desenvolvida.

Para ano, foram reaiadas enrevisas semiesrradas com noveimigranes coreanos, nascidos enre os anos 1942 e 1977, dos qais dois são do

sexo mascino. Esse grpo seecionado chego ao Brasi enre os anos 1965 e1984, e ses inegranes dedicam-se à reaiação de avidades econômicas qevariam da confecção e do comércio à educação.

Migração Transnacional

A fase da migração coreana iniciada na década de 1960 aé os dias aaisocorre drane m período em qe a mobiidade sica e a comnicação já nãoeram grandes barreiras como no início do século passado.

A possibiidade de ocomover-se com mais faciidade e conforo em menos

empo, somada aos avanços dos meios de comnicação, permie (e já permiahá peo menos das décadas, porém, de forma diferene) maior exibiidade emse opar por migrar em momenos de crise o de opornidade. A perspecva deampiação de negócios, de desenvovimeno acadêmico e prossiona no exeriorpassou a ser uma opção mais real ao redor do mundo.

Enre os coreanos, hoje, verica-se a exisência de negócios inernacionais,famíias espahadas peo mndo, hos sendo enviados para oros países paracompear ses esdos, evidenciando novos pos de ransnacionaismo, oseja, mdanças nos angos formaos de migração. Par (2009), em m esdo

sobre migrações ransnacionais enre coreanos-ano-americanos, raça as roasmigratórias feitas por seus entrevistados, que chegam a ter seis ou mais etapas,como é o caso da roa Coreia do S-Paragai-Argenna-Brasi-EuA-México-EuA.

Hoje há grandes diferenças qe faciiam e movam migrações ransnacionais.levi e a. armam qe essas diferenças não se imiam ao fao de qe novastecnologias em transportes e comunicação permitem conexões mais rápidas emenos caras, mas ambém noa-se qe “em comparação ao passado, qandoa assimilação era exigida de forma mais vigorosa, há um contexto social maisoerane à diversidade énica e a conexões ransnacionais de ongo prao” (2003,

p. 569 – radção ivre)1.Criosamene, a noção de ma igação fore enre o migrane e o gar sico,

seja ele uma cidade, uma vila, etc., não está mais necessariamente vinculada

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à armação de sa idendade, endo em visa qe a parcipação em grposénicos e reigiosos pode ocorrer em níveis ocais, regionais e nacionais (lEVItte a., 2003). Isso qer dier qe, m imigrane coreano, por exempo, podeparcipar avamene nas avidades da comnidade coreana em São Pao sem

apresenar eadade ao se gar de origem, e sim às prácas crais do grpo.E ao mencionar o grpo, noa-se qe há membros com diferenes hisóricosmigraórios, qe raem consigo m reperório cra único.

Muitos dos coreanos que chegaram diretamente ao Brasil nas décadas de1960 e 1970 não permaneceram aqi, enqano oros aqi chegaram apóserem passado por oros países anes de acançar se desno na, qe paraalguns foi o próprio Brasil e, para outros, os Estados Unidos, por exemplo. Emfnção da dicdade na obenção de visos de permanência, agmas famíiasforam antes para países como Paraguai e Bolívia, onde permaneceram por poucoempo aé consegirem (de forma ega o não) enrar no Brasi e na Argenna.

Dados compiados por Choi (1991) aponam qe medidas resrivas imposaspeo governo brasieiro à enrada de coreanos em 1972 apenas mdaram a direçãodos xos de imigranes. De acordo com a abea 1, o número de ingressos no Brasiem 1972 foi de 2.635, segido por ma brsca qeda em 1973, com apenas 194ingressos. No enano, o número de ingressos no Paragai ameno drascamenea parr de 1972, passando de 94 naqee ano, para 6.727 ingressos em 1976.

tendo em visa qe a esmava da popação coreana no Paragai era de10 mi pessoas em 1999 (PARk, 1999) e de 6 mi aamene, de acordo como Minisério das Reações Inernacionais e Comércio da Repúbica da Coreia2,

o número de coreanos que permaneceu no Paraguai é muito menor do queo apresenado na abea 1, qe conabiia apenas nove anos de enradas naAmérica do S. Par (2009) ra ainda informações de qe aproximadamene40 mi coreanos chegaram a se esabeecer no Paragai, conrasando com onúmero mio menor de 6 mi coreanos vivendo no país aamene.

Mera (2005) ambém apresena em se esdo informações de oros aoresqe armam qe pracamene meade dos coreanos qe foram para o Paragaireemigraram para o Brasi e para a Argenna. No enano, a ierara mosraqe, em fnção de insabiidades poíco-econômicas havidas na Argenna já no

na da década de 1970, qaro vees mais coreanos qe passaram peo Paragaireemigraram para o Brasi (PARk, 2009).

Tabela 1: Entradas de coreanos no Brasil e no Paraguai / 1970-78.Ano Brasil Paraguai1970 1.775 521971 1.393 111972 2.635 941973 194 1921974 184 7141975 136 2.3911976 107 6.727

1977 71 1.2111978 41 1.515Total 6.536 12.907

Fone: Minisério das Reações Exeriores da Repúbica da Coréia, 1985 apd CHOI, 1991.

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O caso da famíia da Enrevisada 9 isra bem a qesão datransnacionalidade. Em função de um problema de saúde do pai, a famíliaresolveu mudar para um país com temperaturas mais amenas e, inicialmente,década de 1970, panejava ir para os Esados unidos. tendo o viso negado, a

famíia deixo a Coreia em 1976 e foi para o Paragai, onde permanece poraproximadamene rês meses, aé consegir reemigrar para a Argenna. Neseúmo país, ses inegranes permaneceram por qase see anos, porém, emfunção da situação do país e da saúde do pai, reemigraram para o Brasil, ondemannham conao com ma igreja oca, e se xaram denivamene. Desdeqando residiam na Coreia, dedicavam-se ao rabaho com bordados, e assimsegiram ao ongo de sa rajeória na América do S. trabaharam no ramoda confecção em Benos Aires, e em São Pao veram ocina de cosra, decaseado, de bordado e também trabalharam com loja.

No caso da reemigração para os EUA, é sabido que há uma grande atraçãopor pare dos coreanos peo eso de vida nore-americano, pois represena mreferencia de scesso prossiona e nanceiro mio vaoriado pea sociedadecoreana. Somado aos problemas socioeconômicos pelos quais o Brasil passounas décadas de 1980 e 1990, mios coreanos senram-se movados a persegiro tão sonhado American dream. Par (1999) menciona qe aproximadamene ameade dos qinhenos o seiscenos esabeecimenos de ropas iados aoKorean Garment Wholesalers Associaon in the United States3 são operados porcoreanos do Brasil. Como um grande número de coreanos que reside no Brasiltrabalha na indústria da confecção e já possui a experiência da área, eles tentamxar-se no mesmo po de negócio ao reemigrarem. Pode-se ainda israr o faoda reemigração da América do S para os EuA com a segine ciação:

Baseado em esmavas da comnidade, acredia-seqe 20.000 dos 300.000 imigranes coreanos no s daCaifórnia, aproximadamene de por ceno da popação,são imigranes secndários de países s-americanos.Geramene, esses coreanos viveram de qine a vine etrês anos na América do Sul antes de mudarem para osEsados unidos (PARk, 1999, p. 669 – radção ivre) 4.

Em agns casos, arma Joo (2007), a emigração para o Brasi já era pare deum plano, de acordo com o qual permaneceriam aqui temporariamente ao sairda Coreia, como um estágio intermediário antes de conseguirem emigrar para osEstados Unidos ou Canadá.

Para agns, o movo da reemigração para os EuA pode variar mio, masenre os aponados por Joo (2007) enconram-se a vonade de oferecer aoshos a opornidade de ma mehor edcação e perspecva de vida, panos de

viver em m país mais avançado e a cerea de qe irão prosperar nos negócioscomo o eram no Brasi. Aém disso, inci-se o caso dos imigranes qe seestabelecem na América do Norte e conseguem levar o restante dos familiares

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consigo para er a famíia nida, segindo assim as radições. Par (2009) discorreambém sobre casos de famíias qe mandam ses hos para esdar nos EuA e,posteriormente, conseguem levar a família toda para se estabelecer lá, e tambémcasos de coreanos qe deixam o Brasi por movos de segrança. “Mia gene

em aqee sonho porqe as mehores niversidades esão á [EuA], enão,mia gene mando os hos para á para esdar, ganhava o dinheiro aqi emandava o ho para os Esados unidos para esdar. Aí os hos acabam candoe chamam os pais” (E7).

A Enrevisada 3 reaa o caso da sa famíia, em qe o irmão, ho maisveho, formado em medicina no Brasi, foi para os EuA faer m eságio e acabose estabelecendo lá por ter conseguido uma boa oportunidade de trabalho. Àmedida qe o irmão se xo conforavemene nos EuA, evo os pais qe jáesavam aposenados no Brasi. Noa-se, nese caso, o vaor famiiar coreano

em qe o primogênio se responsabiia por cidar dos pais qando acançamcera idade. Soma-se, ainda, o fao de qe aém do irmão, a enrevisada possiambém ma irmã mais nova, o seja, os pais haviam cado no Brasi com asdas has, condo, qando as has casam, de acordo com a radição, easendem a car mais próximas da famíia do marido. Esse é m caso no qa osvaores crais inenciam a migração de renião famiiar.

Drane a década de 1980, ambém conhecida como a década perdidana América lana, a esagnação da economia brasieira e os aos índices deinação, segidos pea insabiidade poíco-econômica do início dos anos 1990,

foram movos signicavos para qe coreanos recém-esabeecidos no Brasipdessem enar ma nova vida nos Esados unidos. Par (2009) arma qe,nesse caso, muitos coreanos simplesmente seguiram os passos de muitos outrosbrasileiros que tentaram emigrar para outros países em busca de melhorescondições de vida.

É reaado no rabaho de Par qe o fao do imigrane coreano já er dovivências disnas em oros países anes de chegar aos Esados unidos heconfere maior vantagem em relacionamentos pessoais e maior tolerância emqesões sociais, como descrio abaixo:

O conceio de cra ransnaciona ambém ajda aexplicar porque imigrantes coreanos da América do Sulconseguem desenvolver um papel mais estratégico embairros ménicos nos EuA qe oros imigranescoreanos. Enquanto outros imigrantes avaliam a sociedadeamericana de ma perspecva coreana o não coreana,imigranes ransnacionais raem consigo oros qadrosde referência para questões que levam a uma variedade desoções execáveis (1999, p. 671 – radção ivre) 5.

Por outro lado, há aqueles que resolvem retornar ao Brasil depois de terreemigrado para os Esados unidos. Os movos do reorno variam, segndo Par

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(1999), no enano, denre ees desacam-se os de ordem socia. Os coreanossentem, por exemplo, que a questão racial no Brasil é levada menos a sérioe, por isso, aqi são avo de menos preconceio. também percebem qe acultura coreana não é tão respeitada nos EUA e, por isso, diferentemente dos

descendentes coreanos lá nascidos, os que nasceram na América do Sul, porapresenarem mais habiidades no idioma e por incorporarem mais caraceríscasda cra coreana, enconram-se mais exposos.

Por sa ve, ma minoria acabo reornando para a Coreia, e segndo Joo(2007), mios dees são idosos, o seja, imigranes qe chegaram ao Brasi emidade ada e veram mais dicdades em adapar-se aqi. A Enrevisada 7 dier conhecimeno de vários imigranes coreanos com idade a parr de 60 anosque retornaram para a Coreia após terem juntado dinheiro no Brasil, ou mesmopara a reaiação de raamenos médicos, pois á se senem mais conforáveis

para se comunicarem.Oro caso é aqee dos coreanos qe chegaram ainda jovens ao Brasi, o

mesmo aqueles da segunda geração e que acabam retornando para a Coreia. Nestaúma siação, os reornados coreanos-brasieiros endem a enconrar maisdicdades no processo de adapação por já esarem mais famiiariados comos cosmes e eso de vida brasieiros. Eses return migrants, como chamadospor Joo, enfrenam mais dicdades em se readapar à nova reaidade e emredenir sa idendade énica, ora considerando-se brasieiros, ora coreanos.

Noa-se, incsive, qe aamene os jovens coreanos qe residem no

Brasi, na sa maioria da segnda geração, vaoriam mais a cra e a idendadecoreana do que aqueles que chegaram aqui vindos de um país onde viviam muitoprecariamene. Nesse sendo, a Enrevisada 4 reaa:

[...] na década de 1990, a Coreia sbi mio de paamar,e jno com isso as mídias eerônicas, inerne, DVD, tVpor satélite começaram a mostrar uma Coreia diferente,melhor do que o Brasil. Então, a juventude de agora temcomo modeo de país a Coreia. [...] os pais não precisamfalar para os coreanos agora que eles são coreanos, que

eles não podem esquecer que são coreanos, porque opróprio jovem fala “eu sou coreano, a Coreia está melhoragora”; ees crem mais música coreana. Isso é possívepor causa da internet.

Em ma pesqisa reaiada em 2008, por m grpo de esdanes daUniversidade de São Paulo para o projeto The Korean Immigraon in the Americasda University of California – UCLA (IM et al., 2009), sobre a segnda geração decoreanos no Brasi, foram apicados 106 qesonários com brasieiros hos de

pai e mãe coreanos, com idade enre 15 e 18 anos. Noo-se qe poco mais dameade (56%) se considera mais coreano do qe brasieiro, mosrando evidênciado forte vínculo dos jovens com a cultura coreana.

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Mesmo apresenando a níve de idencação com a cra coreana, agrande maioria dos jovens enrevisados (86%) responde qe não gosaria deemigrar para a Coreia. Enende-se qe, mesmo sendo mio jovens para decidirse gosariam o não de se mdar para o país naa de ses pais, noa-se qe m

adoescene nessa idade esá foremene enraiado em se país, em sa cidade,aos seus hábitos, e muito vinculado às pessoas com quem se relaciona.

Ao ser pergnada sobre a qesão do reorno, a Enrevisada 7 respondeque, em sua percepção, um coreano que vive no Brasil preferiria reemigrar paraos Estados Unidos a retornar para a Coreia. A entrevistada acredita que coreanosqe vivem e já esão acosmados ao eso de vida ocidena enconram miadicdade em se adapar à vida na Coreia aa, em sas paavras: “do é mioapressado, tudo é muito corrido, então a gente se sente meio sufocado quandovai para á. [...] é meio acinane, de compeção. E as pessoas á, acho qe são

mais frias, por casa da compeção inensa” (E7).Mesmo no caso de alguns adultos, é muito complexo o retorno para a Coreia

o a reemigração para oro país. O enrevisado 6 di qe gosaria o avedevesse retornar para a Coreia, especialmente por conta do crescimento do paíse pelo fato da maioria da sua família ainda estar lá, mas acrescenta que já tevesas raíes reradas e não pode mais voar. Em sas paavras: “[...] ma ve qevocê ro rai, se coocar em oro gar, ora erra, se coocar rai errado não dápara sobreviver. Pensava... é mehor agenar aqi”. Incsive para esse indivídoqe já em hos ados no Brasi, deixar do aqio qe foi consrído no país

que o acolheu, após ter saído de sua terra natal em busca de melhores condiçõesde vida, a ideia do retorno é um grande risco.

Ao discorrer sobre o impaco do reorno desses coreanos-brasieiros naCoreia, Joo (2007, p. 169 – radção ivre) ssena qe os coreanos do Brasi“manveram sa cra e ses cosmes mais do qe qaqer oro grpo dadiáspora coreana”6. No rabaho da aora, enende-se qe a fao se dá peomovo das comnidades imigranes no Brasi goarem de reava oerância,o qe hes permie maner sas prácas crais com menos inerferência dasociedade local, em oposição ao caso das comunidades coreanas nos Estados

Unidos e Europa, que enfrentam problemas mais sérios de discriminação.Mas a questão do retorno à terra natal não se resume ao simples fato de estar

de volta entre os seus e em lugar familiar após ter conseguido a estabilidade sociale econômica ambicionada ao deixar a Coreia. Enconram-se por rás desse processodiversas implicações na situação do emigrante/imigrante, da população receptora eda popação deixada. O impaco socia e individa (psicoógico) é imenso.

Para Sayad, o retorno é fato intrínseco à ideia de emigração/imigração, eiando-se de ma meáfora, o aor isra qe “o reorno é naramene odesejo e o sonho de odos os imigranes, é como recperar a visão, a qe faa

ao cego, mas, como cego, eles sabem que esta é uma operação impossível. Sóhes resa, enão, refgiarem-se nma inranqia nosagia o sadade da erra”(2000, p. 11).

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Nesse sendo, ssena o aor, o reorno envove reações com o empo,com o espaço e com os grpos – aqee qe o acohe (não necessariamenearibindo a esse conao o adjevo hospiaeiro), e o grpo qe ee deixo. Asrelações com o tempo e com o espaço implicam a noção de poder voltar ao

pono e ao gar de parda, assim como qando foram deixados. No caso doespaço, signica ainda a sacraiação do gar, onde somene nee o emigraneacredita estar em contato consigo mesmo.

Já a reação com os grpos envove a necessidade de se adapar e aoarmarpara conseguir seu novo espaço na sociedade receptora. No caso da sociedadeqe é deixada, bscam-se jscavas e descpas peo fao de ê-a abandonado,e carrega-se ainda afevamene consigo o senmeno de faer pare do grpo.

Assim, o imigrante coreano que deixa o Brasil e retorna à terra natal buscao contato com aquilo que acredita ser a sua essência. No entanto, não se pode

ignorar o fao do imigrane er vivenciado conjnras e er do experiênciasqe engendraram mdanças sbsanciais ao caráer e eso de vida do indivído.Acredia-se qe mesmo para aqees qe no Brasi viveram nos chamadosenclaves étnicos7, o contato, mesmo que mínimo, com a cultura brasileira,ransformo-os de agma maneira.

Por isso, mesmo que o retorno à Coreia ou a reemigração, após a experiênciada imigração no Brasil, possam ter sido facilitados pela internet e pela realocaçãodos vínculos sociais aravés da famíia e de amigos, o processo conna sendoramáco e dooroso.

Notas

1 - “[…] today migrants encounter a social context that is much more tolerant of ethnic diver-sity and long-term transnaonal connecons compared to the past when assimilaon wasdemanded more strenuously” (lEVItt e a., 2003, p. 569).2 - hp://www.mofa.go.r Acesso em: 11 nov. 2010.3 - Associação Coreana de Aacadisas de Vesário dos Esados unidos.4 -“Based on a community esmate, 20.000 of 300.000 Korean immigrants in Southern Cali- fornia, almost 10 percent, are said to be secondary migrants from South American countries.

Generally, these Koreans lived for een to twenty-three years in South America before relo-cang to the United States”  (PARk, 1999, p. 669).5 - “The concept of transnaonal culture also helps explain why Korean remigrants from South America can beer play a strategic role in mulethnic U.S. neighborhoods than other Koreanimmigrants. While other immigrants evaluate U.S. society in either a Korean or a non-Koreanway, mulply-displaced immigrants bring addional frames of reference to quesons, leadingto varied workable soluons”  (PARK, 1999, p. 671).6 - “[…] retained their culture and customs more than any parts of the Korean diaspora ( JOO,2007, p. 169).” 7 - Caraceriado como m padrão de errioriaiação de minorias nas cidades, onde há “con-cenração de grpos especícos baseada em escohas vonárias, como o desejo de cons-

ição de reações de viinhança, manenção de eemenos de cra o reigião, proximidadede eqipamenos de comércio e serviço especícos, direio à manenção da ínga nava”

(CYMBAlIStA e XAVIER, 2007, p. 121).

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SAYAD, Abdemae. O reorno. Eemeno consvo da condição do imigrane. Travessia –Revisa do Migrane, São Pao, ano XIII, número especia, jan. 2000.

RESUMO

O presene argo bsca discr os emas da reemigração e do reorno no processo de imigraçãocoreana no Brasi. Objeva apresenar a discssão exisene na ierara especiaiada sobreo tema da reemigração e do retorno dos coreanos, bem como as representações de noveimigranes coreanos sobre esse processo. Consaa-se qe o conao, mesmo qe peqeno,com a cra brasieira, ransformo-os de agma maneira e, apesar da faciidade advindada tecnologia que permite a aproximação e a realocação dos vínculos sociais pela família eamigos, o processo conna sendo ramáco e dooroso.

Palavras-chave: imigração coreana; reemigração; reorno.

ABSTRACT

this arce discsses he processes of remigraon and rern of korean immigrans in Brai. Iaims o presen he discssion in he exisng ierare on he sbjec of remigraon and herern of koreans, as we as he represenaons of nine korean immigrans on his process. Iappears ha ahogh he conac wih Braiian cre is no so signican, i has somehowchanged them. Despite the fact that technology has made it easier for them to get closer sociales and he reocaon of he famiy and friends, he process connes o be ramac and painf. 

Keywords: korean immigraon; remigraon; rern.

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O nome próprio é m dos primeiros eemenos de diferenciação eindividaiação qe ma pessoa recebe. Ao mesmo empo, ee é m poderoso

meio de integração do indivíduo a uma família ou a um grupo social, e um signomio imporane na denição da idendade. Em mias sociedades, os nomessão pensados como m parimônio. Assim, as prácas de nomeação (o ao dearibir nomes de basmo) êm caráer signicavo para o esdo das radições,da circação de bens simbóicos e principamene da consição da idendade,seja individa o coeva.

O objevo dese argo é enender como se processaram as prácas deransmissão de nomes de basmo no inerior de m grpo iaiano, anaisando afrequência dos prenomes dados a meninos e meninas no decorrer de cinquenta

anos. Para isso, emos como foco de anáise agmas deenas de famíiasqe emigraram do Venêo no na do séco XIX e se insaaram em coôniasno mnicípio de Campo largo, no Paraná; e formaram ma paróqia1. A basedocmena iada é formada basicamene por regisros paroqiais (aas decasameno e basmo qe foram sisemaados pea meodoogia Fery-Henry(1985) de reconsição de famíias, orinda da demograa hisórica.

Ao anaisar o esoqe onomásco iado peo grpo percebemos qe aperpeação dos mesmos prenomes no inerior da inhagem era comm. Issose dava porqe era cosme no grpo em esdo iar os mesmos nomes dos

italianos

Na pia batismalTradição e identidade étnica naspráticas de transmissão de nomes debatismo em um grupo de imigrantesitalianos

 Fábio Augusto Scarpim *

* Mestre em História pela UFPR. Professor Colaborador da Universidade Estadual do Centro-Oeste UNICENTRO/IRATI.

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membros da famíia (avós, os, padrinhos, pais) o prenomes devocionais (sanodo dia, padroeiro da região de origem enre oros). Esse padrão esá de acordocom as chamadas sociedades tradicionais e, em diferentes momentos da históriapodem ser vericados.

Os nomes e sua frequência

As prácas de nomeação se consem em m dos signos acionadospelo grupo iaiano no processo de consrção de sa idendade coeva edas idencações énicas. A anáise das informações dos regisros paroqiais,sisemaados pea meodoogia de reconsição de famíias, reveo qe asescolhas dos prenomes não foram aleatórias, muito pelo contrário, estavaminenciadas pea herança cra raida da sociedade de origem. ConformeRober Rowand, “independene dos nomes em si, a exisência de madistribuição regular dos nomes próprios em qualquer população, ou a persistênciadessa disribição ao ongo do empo, consi m indício segro do caráersociamene signicavo das prácas de nomeação” (ROWlAND, 2008, p.18).

A maior frequência de determinados prenomes, assim como a menor deoutros, está diretamente ligada a mecanismos de ordem social, cultural oureligiosa. Como todo agir humano, o ato de nomear acontece para alcançar umobjevo, e é deerminado por conhecimenos, por avaiações e movações, qesão “condicionados pea sociedade como m odo e peo grpo socia” (EICHlER

apd SIEMENS, 1992, p. 40). Assim, a escoha do prenome de ma criança nãodeveria atender apenas aos interesses dos pais, mas também ser reconhecidadentro de uma esfera válida, de uma determinada ordem, para todo o grupo.

Anes de raar da disribição dos prenomes de basmo no decorrer doperíodo anaisado, é imporane ressaar as dicdades e as imiações dasfones iadas. O primeiro probema refere-se à maneira de grafar os prenomesnos regisros paroqiais. Desde o início da cooniação, os nomes, incsive dosimigrantes, são geralmente apresentados na forma portuguesa e não na formavêneta. Exempo disso é qe a maior pare dos noivos qe nasceram na Iáia e se

casaram em Campo largo, e mesmo de ses pais, em ses nomes radidos noregisro de marimônio. O inrigane é o fao qe, savo os regisros paroqiais dosprimeiros anos de uma das colônias, os demais foram feitos por padres italianos.Qa o movo? Regisrar os prenomes dos imigranes em porgês parece erse consído nma endência generaiada dos sacerdoes para faciiar sainserção na sociedade, o mesmo poderia ser ma deerminação da Igreja.Segndo Sérgio Odion Nadain, na Comnidade Evangéica lerana de Criba,consída por imigranes aemães e ses descendenes, os pasores aemãesgeramene mannham os nomes originais, seja no basmo e, mias vees, no

casameno. Por oro ado, mias crianças baadas com nomes grafados emaemão nham ses nomes aporgesados no casameno e (o) por ocasiãodo sepameno (NADAlIN, 2004). No caso dos italianos, diferentemente dos

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alemães, a impressão que temos é que os noivos italianos estariam perdendo nahora do casameno sa idendade basma, considerando o diáogo necessáriocom a sociedade maior, so-brasieira. Nesse sendo, os padres iaianoscontribuiriam para a integração dos noivos na sociedade receptora.

O argo de m regameno da Capeania Crada iaiana, insição criadaem 1888 para aendimeno espiria dos imigranes iaianos insaados emCriba e região ra a segine informação em reação à manenção dos ivrosde regisro:

Na capelania é preciso ter os livros seguintes, os quais serãoabertos, numerados, rubricados e fechados pelo Chancelerdo Bispado. Um livro de tombo para registrar aquilo quescede na capeania; m ivro para regisrar as visiaspasorais, ordens, avisos do bispo diocesano. três ivros

para regisrar, os baados, os casamenos e os óbios.O regisro desses ivros será feio em ínga porgesa,conforme a ordem do Ordinário. Como, porém, o bispadonão tem o seu pessoal adequado, damos ordem ao capelãocura superior para abrir, numerar e fechar estes livrosconforme o cosme da diocese (AzzI, 1987, p. 268).

No trecho acima podemos destacar que a recomendação era para que oslivros fossem feitos em língua portuguesa. Até que ponto essas determinaçõesnão deveriam ser apicadas ambém aos nomes? De qaqer forma, acredia-se

qe, para o grpo em esdo, o nome podia se apresenar de maneiras disnasno meio público e privado. Assim, na esfera pública, para facilitar a inserção nasociedade recepora, poderia ser iado em porgês, enqano no âmbiofamiiar e coonia permaneceria a como era na erra naa. A não-niformidadedos regisros paroqiais no qe oca à forma de grafar dica o enendimenode quando os contatos culturais entre o grupo italiano e brasileiro se estreitama pono de modicar o so do prenome nos dois âmbios. Referimo-nos a essainconsância, porqe na década de 1920, o padre Jorge Boroero, qe redigi asaas de basmo drane m cro período2, registrou a maior parte das crianças

com os prenomes em iaiano. também no ivro de regisro da Caixa Moráriada coônia Campina da paróqia em esdo, percebe-se qe na maior paredos casos, aé o ano de 1937, os nomes são escrios na ínga de origem 3. Aocontrário das atas paroquiais, esse livro não era redigido pelo sacerdote, mas simpor agm morador da coônia, responsáve pea adminisração da insição.

Em reação ao ro de indivídos isados nese docmeno, percebe-se qesomene a parr da década de 1910 começam a aparecer os primeiros prenomesradidos. Aé enão, embora mios esvessem grafados com erros, eses eramescrios na forma iaiana (o mehor, vênea) como, por exempo, o prenome

Piero  (grafado no diaeo). A parr desses indícios, acredia-se qe o processode “aportuguesamento” dos nomes foi lento, e que se iniciou quando da maiornecessidade de iação dee no ambiente público ou quando os contatos

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inerénicos se inensicaram, sendo qe no ambiene domésco e comniário,prevalecia como era na língua de origem. Dessa maneira, é possível que as atasparoqiais vessem m caráer mais púbico, daí a radção do prenome para aforma porgesa. É caro qe esse caráer “mais púbico” deve ser reaviado,

pois ao comparar o regisro paroqia com o civi, o úmo em m caráer miomais púbico do qe o primeiro. O recho do depoimeno a segir isra como amenção ao nome pode se dar em esferas disnas.

(...) me pai era Giacomo, nem muito bem o italiano, veja Jacó  é Giacomo, mas chamavam de Giaco, então não eramuito pelo nome em italiano, era o nome como chamavam.Meu avô se chamava Piero, Domingos se chamava Menigo, eFrancisco, Francesco, Keiko no dialeto,  Antonio, Toni,  José, o

Giuseppe virava Beppi4.

Da mesma maneira m conjno de apeidos qe era comm no codianodas coônias iaianas:

Andin, Angein, Angio, Basan, Bepi, Bepo, Cana, Firi,Gigio, Gso, Iaco, Iiha, Ina, Ia, lecio, lei, loo, Maneco,Marica, Marieta, Mariquinha, Mênega, Mênego, Meni,Mingo, Maneco, Nina, Nino, Pipea, tao, tcha, tiqeo,toni, tonico (CEQuINEl e a. 2006, p. 244).

Embora em siações formais, como na escoa, no carório e na Igreja na horado regisro, nos negócios o na vida poíca, os nomes fossem apresenados naforma porgesa, no codiano da coônia e na famíia, prevaecia a referência daínga maerna, na qa ees ransmiam sas crenças, ses hábios e cosmes.Nas situações informais, nem era o prenome italiano que predominava, mas simapeidos o formas abreviadas do nome na ínga origina. A própria repeçãode nomes rerados da inhagem gerava ma série de apeidos, sendo qe mmesmo prenome poderia er diferenes variações. Esse processo é ango;

segndo Benne ciado por Jac Goody, a diminição dos nomes e o amenopopaciona a parr da época das reformas dos sécos XI e XII agdiaram oproblema dos homônimos, o que veio favorecer o desenvolvimento dos apelidoscomo meio spemenar de idencação (GOODY, 1995, p.183). Embora nãoseja objevo desse argo discr a forma como o grpo idava com o so dosprenomes no se codiano o mesmo o so do nome por esses indivídos aolongo de sua vida, é importante destacar que essas “corruptelas” geradas pelopróprio sisema de ransmissão dos prenomes ambém faem pare dos códigoscrais do grpo e por sa ve da enicidade.

Independene da forma grafada o faada, a escoha por esse o aqeeprenome respondia aos costumes e desejos da família, e num âmbito maior, dogrpo. Embora mios dos nomes de basmo sejam apresenados nos regisros

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escrios, em porgês, a origem da sa escoha refere-se a eemenos simbóicos,caraceríscos do grpo de perencimeno, da sociedade origina.

Enre os anos de 1878 e 1937, nos 2.023 meninos baados foram iados310 diferenes prenomes e nas 1.948 meninas 278 variados nomes de basmo5.

Para os nomes dpos, apareceram 242 combinações diferenes para os meninose 248 para as meninas, iadas em 359 e 308 casos, respecvamene. As abeasqe se segem, mosram qais foram os de prenomes femininos e mascinospreferidos peos imigranes e ses descendenes. Os recores cronoógicos foramfeios em decênios, para vericar se há mdanças no so de deerminadosprenomes na passagem de uma geração a outra. As tabelas a seguir levaram emconsideração também a frequência dos prenomes, independente de estes seremiados de forma única o combinada.

 

TABELA 1 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES MASCULINOSESCOLHIDOS PELO GRUPO (1878-1937).

Nomes1878-1899 1900-1910 1911-1920 1921-1930 1931-1937 1878-1937

# % # % # % # % # % # %

Angelo 45 6,6 22 4,0 20 4,0 27 4,5 15 4,6 129 4,9

Antonio 86 12,6 76 14,0 68 13,5 83 13,7 38 11,7 351 13,2

Augusto 5 0,7 8 1,5 9 1,8 15 2,5 9 2,8 45 1,7

Bapsta 29 4,3 21 3,9 11 2,2 13 2,1 8 2,5 82 3,1

Domingo/Domenico

17 2,5 11 2,0 9 1,8 9 1,5 8 2,5 54 2,1

Francisco/

Francesco19 3,0 18 3,3 23 4,6 8 1,3 5 1,5 73 2,7

João/Giovanni 97 14,2 61 11,2 67 13,3 80 13,2 25 7,7 330 12,4

José/Giuseppe 69 10,1 60 11,0 45 9,0 39 6,4 11 3,4 224 8,4

Luis/Luigi 25 3,7 26 4,8 27 5,4 26 4,3 9 2,8 113 4,2

Pedro/Pietro 33 4,8 25 4,6 18 3,6 19 3,1 16 4,9 111 4,2

Subtotal 425 62,4 328 60,2 297 59,1 319 52,6 144 44,2 1512 56,8

Outros 256 37,6 217 39,8 206 40,9 288 47,4 183 55,8 1150 43,2

Total 681 100 545 100 503 100 607 100 326 100 2662 100FONtE: Regisros de Basmo, Acervos das Paróqias de São Sebasão e Nossa Sra. da Piedade (Campolargo/PR).

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TABELA 2 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES FEMININOSESCOLHIDOS PELO GRUPO ITALIANO (1878-1937).

Nomes1878-1899 1900-1910 1911-1920 1921-1930 1931-1937 1878-1937

# % # % # % # % # % # %

Angela 40 7,0 32 6,8 18 3,3 14 2,3 13 3,8 117 4,6

Anna 11 2,0 22 4,7 8 1,5 14 2,3 9 3,0 64 2,5

Antonia 24 4,2 12 2,6 35 6,5 16 2,6 15 4,4 102 4,0

Caerina/Caarina

21 3,7 27 5,8 17 3,2 19 3,1 8 2,3 92 3,6

Joana/Giovanna

17 3,0 9 1,9 22 4,1 9 1,5 6 1,7 63 2,5

Luiza/Luigia 20 3,5 17 3,6 22 4,1 22 3,6 8 2,3 89 3,5

Magdalena 16 2,8 8 1,7 9 1,7 8 1,3 2 0,6 43 1,7

Maria 94 16,4 89 19,0 100 18,6 108 17,8 63 18,3 454 18,0

Rosa 37 6,5 23 4,9 33 6,1 30 4,9 13 3,8 136 5,4

Teresa 16 2,8 20 4,3 26 4,8 15 2,5 24 7,0 101 4,0

Subtotal 296 51,8 259 55,2 290 54,0 255 42,0 161 46,8 1261 50,0

Outros 262 48,2 224 47,8 248 46,0 352 58,0 183 53,2 1269 50,0

Total 572 100 469 100 538 100 607 100 344 100 2529 100

FONtE: Regisros de Basmo, Acervos das Paróqias de São Sebasão e Nossa Sra. da Piedade (Campolargo/PR).

De acordo com as tabelas acima percebemos que para todo o períodoanaisado os de prenomes mais freqenes, com exceção do úmo para osmeninos e dos dois úmos para as meninas, correspondem a mais da meadedos nomes de basmo em so. Enreano, à medida qe as gerações se scedemhá ma maior diversicação dos prenomes. Para as mheres, esse fenômeno seprocessa principamene a parr dos anos 1920 e para os homens a parr dosanos 1930. Esse descenrameno poderia ser resado do impaco das poícasde nacionaiação dos esrangeiros e ses descendenes, propagadas peo Esadobrasieiro a parr dos anos 1920. Enreano, apesar dos dois úmos períodosindicarem o início de ma mdança no esoqe onomásco iado peo grpo,nma eira gera das das abeas, percebe-se qe o fao de eses de prenomesisados acima serem iados com basane freqência esá direamene igadoà forma como os imigranes e descendenes nomeavam ses hos. um dosprincipais movos é o fao de qe as fones de referência mais comm eram,sobretudo, a família e a religiosidade conforme a tradição da sociedade deorigem. A perpeação deses cosmes ra como resado direo m grporesrio de prenomes como os mais iados.

A anáise comparava das abeas 1 e 2 mosra qe a diferença de gêneroao longo do período estudado, em reação ao conjno dos de prenomes mais

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freqenes e o grpo dos “oros prenomes” é basane signicava. Por meiodas abeas acima observa-se qe para odo o período anaisado o percenados prenomes escohidos, fora do grpo dos de mais voados, foi de 43,2% paraos homens e 50% para as mheres. A diferença de conração no esoqe de

prenomes masculinos e femininos indica que o sistema de nomeação no interiordo grupo está de acordo com os valores e as formas de sociabilidade por elesdesenvovidos qe priviegio o pariarcaismo. Dar nomes é ambém ransmirvaores, esados e posições no inerior da famíia o inhagem. Os imigranesitalianos eram portadores de uma tradição camponesa patriarcal, na qual atransmissão de bens materiais e simbólicos se daria especialmente pela viamascina. Dessa maneira, noa-se qe a radição se maném mais fore paraos homens, pois são ees os herdeiros da inhagem. Segndo Jac Goody, naEuropa mediterrânica a supremacia da linhagem se manteve forte até o século

XIX (GOODY, 1995, p. 26). Como nesse sisema o par conjga cava incorporadodentro de uma unidade maior, a autoridade masculina prevalecia e recebia oapoio do grupo de parentesco. Como a mulher, pelo casamento, passaria à outralinhagem, as regras de transmissão do patrimônio simbólico não eram tão rígidasquanto para os homens.

Os prenomes mais iados peo grpo para baar ses hos esão deacordo com o esoqe onomásco raido peos imigranes. Assim, os principaisprenomes qe a geração de pioneiros poravam são pracamene os mesmosiados por ses descendenes. A abea a segir mosra os prenomes mais

iados enre os imigranes iaianos qe cooniaram Campo largo. Ospercentuais entre o conjunto total dos prenomes mais votados em relação aos“oros” evidenemene são maiores nas abeas 1 e 2 , pois o número oa denomes nesas das é bem maior qe a 3.

TABELA 3- PRENOMES MAIS FREQUENTES ENTRE OS IMIGRANTES ITALIANOS

Prenome # % Prenome # %

Angelo 24 4,5% Angela 42 8,3%

Antonio 54 10,2% Anna 17 3,4%

Bapsa 11 2,1% Antonia 12 2,4%Domenico 21 4,0% Caerina 34 6,7%

Francesco 31 5,8% Domenica 12 2,4%

Giovanni 58 10,9% Giovanna 15 3,0%

Giseppe 57 10,7% Luigia 22 4,4%

Luigi 32 6,0% Maria 109 21,6%

Pietro 31 5,8% Regina 18 3,6%

Santo 16 3,0% teresa 17 3,4%

Oros 196 37% Oros 206 40,8%

toa 531 100,0% toa 504 100,0%FONtE: livros de Regisros de Cadasro de Imigranes enrados peo Poro de Paranagá (DEAP),(1877-1891).

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Outra observação a ser destacada em relação ao rol de prenomes listadosacima é a noória percepção de qe os mais iados se reacionam aos principaispersonagens da Igreja, ano dos meninos qano das meninas, embora dosprimeiros seja mais acenado. No nore iaiano, a Igreja Caóica era m fore

eemeno de idencação coeva, o mehor, ma das únicas insições capaesde congregar a comunidade num âmbito maior que o da aldeia. A difusão dosnomes dos grandes paronos reigiosos seria reexo do movimeno empreendidopea Igreja de crisaniar os nomes próprios. Dessa maneira, mios dos nomesdados às crianças esavam impregnados do senmeno reigioso.

Mudanças e permanências no uso de determinados prenomes podem serobservadas a parr de diferenes evenos hisóricos, exempo disso pode serreacionado nas abeas 1 e 3. Nesas, vemos qe José ou Giuseppe está entre osmais iados. Conforme m esdo sobre os prenomes na repúbica orenna,a parr de censos de domicíios, ao ongo de 250 anos (1282-1532)6, o prenomeGiuseppe pracamene não exise nessas isas7 . Essa mudança provavelmente estáigada às ações da Igreja pós-ridenna em reação às gras da sagrada famíia. Éclaro que a comparação está sendo feita entre períodos temporalmente distantes.Mas, por outro lado, se levarmos em consideração que na referida pesquisa sobrea Forença dos sécos XIII ao XVI, o prenome Antonio está entre os mais usados,assim como no grpo em esdo, vericamos qe o nome do sano medievaatravessou séculos como um dos preferidos entre os italianos do norte8. Da mesmaforma, Piero, Giovanni e Francesco9 , que estão entre os mais usados em Florençana Idade Média, ambém encabeçam a isa dos nomes mais freqenes enre os

imigranes iaianos e descendenes em Campo largo nos sécos XIX e XX.A perpeação de deerminados cosmes, como o de ransmir nomes

de famiiares, ceramene conribi de forma signicava para a esabiidadedo esoqe de prenomes. Na abea 2, observamos qe o prenome Maria  ésoberano entre as meninas durante todo o período. Seja de forma simples oucombinada, foi argamene iado peos imigranes e descendenes. Maria ém prenome de origem semíca o hebraica (GuÉRIOS, 1973, p. 171) e semprefoi mio iado peos diversos povos eropes. O se so recorrene podeesar associado à progressiva difsão do co mariano a parr da Idade Média.

Entretanto, Dominique Schnapper alerta que não se pode concluir que suaproiferação esá associada somene à crescene inência da Igreja, orascasas ambém podem esar associadas (SCHNAPPER, 1984, p.114). No grpoem estudo, o prenome Maria é mio iado ano de maneira simpes comoem combinações, como, por exemplo, Maria Madalena, Maria de Lourdes, Maria

 Anunziata, qe podiam esar associado ao senmeno reigioso, o, em orasocasiões, a nomes de m famiiar, o ser iado por oro movo.

O cosme de se reper os mesmos nomes de basmo pea famíia faiacom qe deerminados prenomes fossem iados com basane freqência

enre os coonos iaianos. Enreano, oros qe não gram enre os de maisiados peo grpo ambém têm a mesma explicação. Plácido, por exemplo,aparece, enre os anos de 1888 e 1920, nove vees, e odos os meninos baados

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com esse prenome têm um ancestral comum, ou seja, são netos do imigrantePlácido Zampieri. Da mesma forma, os de meninos designados por Cipriano no mesmo período são todos netos do imigrante Cipriano Cunico. Na colôniaCampina, há m grande número de meninas baadas como Carolina, sendo que

quase todas se relacionam a uma ancestral comum.Aém de expressar vaores famiiares e reigiosos, o a idendade do grpo, aescoha de m nome ambém pode esar associada a m signicado conoavo.Segndo a denição de Sonderegger, o signicado conoavo é a soma dasassociações, imagens e senmenos igados a ee, qer sejam posivos, qer neros,qer negavos. Essa conoação pode ser evocada peo corpo sonoro, pea formaescrita do nome, pelo portador, pela capacidade de imaginação do ouvinte, ou, atémesmo, peo se signicado emoógico, na medida em qe for possíve idencá-o (SONDEREGGER apd SIEMENS, 1992, p.34). Enre os descendenes de iaianosdo grpo em esdo era comm a modicação de deerminados prenomes a parr

do nome de basmo de m famiiar. Nessa direção, principamene para o gênerofeminino, há muitos prenomes terminados em “Ina” , como: Paolina  (de Paola),Orsolina  (de Orsola), Carmelina  (de Carmela), Pasqualina  (de Pasqua),  Angelina (de Angela), Rosalina (de Rosa), Sanna (de Santa). O objevo dessa práca pareceter uma dupla função, ao mesmo tempo que se buscava a inovação, a escolhade m prenome poco comm e assim sbinhar a idendade do indivído,homenageava-se m membro da famíia. Era escohido m nome diferene, masqe não deixava de evocar m parene. Dio de ora forma, a própria repeçãogerava essas novas formações, tendo em vista a conciliação entre a tradição e a

criação de ma nova idendade para a criança por meio do nome.Os prenomes rerados de m deerminado esoqe famiiar, o docaendário iúrgico, consem a maior pare do ro daqees iados.Entretanto, apesar de esporádicos, alguns nomes bastante inusitados chamam aaenção. O so de Itália ou Ítalo como nome de basmo parece não er sido faoincomum aos diversos núcleos coloniais do sul do Brasil. Conforme cita o padreHenriqe Vieer, em Siveira Marns, no Rio Grande S, foram consanes asas dos sacerdoes paonos para a “crisaniação” de agns nomes própriosdemasiadamene igados ao nacionaismo iaiano. “Os iaianos mias veesdavam o nome de Ítalo aos meninos, e Itália às meninas, e contra isso nada sepodia faer. Para eviar ongas discssões e hes diia: ‘omemos São José porproeor’, e baava o menino com o nome de José Ítalo. As meninas tambémmerecem uma grande padroeira, e lhes dava o nome de Maria Itália, com oqe os coonos se senam mio sasfeios” (VIEtER apd POSSAMAI, 2004, p.147). Embora, denro do grpo em esdo, fossem pocas as meninas baadascomo Itália10, tanto de forma simples como combinada, o caso de uma famíliaespecíca merece ser desacado. O segndo e erceiro ho do casa DomingoBianco e Maria Vechiato, um menino e uma menina, receberam os prenomesde Vitório e Itália, respecvamene. Esses prenomes parecem não ser herdados

de nenhum parente próximo, mas provavelmente referências ao país de origemde seus pais. Vitório poderia ser uma referência ao primeiro nome do rei italiano(Viore Emanuelle) e o da menina, a menção à própria pária de origem.

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Além dessas menções à terra de origem dos imigrantes, há outros casosqe ambém chamam a aenção, como, por exempo, do menino baado comoBrasilino, qe parece sadar a pária recepora. também há agns prenomesqe, no esoqe oa iado pea comnidade, foram raros como Crescencia,

Fedenziana, Persilio, Ovídio, Tarsilla, Feliciano, Landilino ou Vicenza. O qequeriam esses pais quando escolheram esses nomes? Seriam referências amembros da famíia, coisas, gares, senmenos o poderiam ser invenados?Em algumas situações, o desejo de inovar, ou mesmo sublinhar a individualidadeda criança, parece ter se sobreposto aos costumes tradicionais. Por outro lado,os oros casos vão no sendo oposo, pois apresenam ma cara conoaçãoreigiosa, como:  Apostolo, Santa, Santo, Christao, Arcangelo, Anunziata,  entreoros, e qe são nomes caraceríscos da região de origem dos imigranes.

O hábio de iar nomes menos comns, derivados de m prenome emarga iação como aqees ciados acima, invenados o combinados, pode

er sido aernavas enconradas por agns pais para individaiar a criançanm período em qe as famíias nham m grande número de hos11. Porexempo, em 1914 o casa  Antonio Carlesso  e Luiza Massocheo  bao seprimeiro menino com o prenome Bernardino (nome do avô paerno), menos dedois anos depois, Pietro, irmão de Antonio, também escolhe para seu primeiromenino o prenome do avô paterno, só que ao invés de Bernardino, colocaBernardo combinado com Carlos (nome do avô maerno). A escoha de m nomedpo poderia ser ma maneira de individaiar crianças de idade próxima eqe moravam reavamene pero mas das oras? Com exceção de agns

prenomes que foram usados com maior frequência, os nomes duplos geralmentesão escohidos a parr de deerminadas inências. Na Forença renascensa,por exemplo, estes representavam a necessidade de conciliar nomes da linhagemcom o do parono reigioso. também serviam para soidicar os aços enre asdas famíias (da mãe e do pai), assim como era ma forma de enriqecer oesoqe de prenomes em so (klAPISCH-zuBER, 1980, p. 87-88). Vejamos qaisprenomes combinados foram uiados mais freqenemene peo grpo.

TABELA 4 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES DUPLOS MASCULINOSESCOLHIDOS PELO GRUPO ITALIANO (1878-1937).

nomes 1878-1899 1900-1920 1921-1937 1878-1937

# % # % # % # %

João Bapsa 13 11 21 16 18 17 52 15

Anonio li 1 1 6 5 0 0 7 2

Angelo Antonio 2 2 6 5 0 0 8 2

João Anonio 4 3 1 1 1 1 6 2

Santo Antonio 2 2 3 2 0 0 5 1

Oros 99 81,0 96 71 86 82 281 78

toa 121 100 133 100 105 100 359 100

FONtE: Regisros de Basmo, Acervos das Paróqias de São Sebasão e Nossa Sra. da Piedade (Campo

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largo/PR).

TABELA 5 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES DUPLOS FEMININOSESCOLHIDOS PELO GRUPO ITALIANO (1878-1937).

1878-1899 1900-1920 1921-1937 1878-1937

# % # % # % # %Maria lia 9 8 5 5 2 2 16 5

Maria Madalena 6 5 4 4 5 5 15 5

Maria Antonia 4 4 5 5 3 3 12 4

Maria de Lourdes 0 0 0 0 11 10 11 3

Maria Rosa 0 0 7 7 1 1 8 2

Oros 96 83 80 80,0 85 79 261 81

toa 115 100 101 100 107 100 323 100

FONtE: Regisros de Basmo, Acervos das Paróqias de São Sebasão e Nossa Sra. da Piedade (Campolargo/PR).

Nas tabelas acima, consaa-se qe são pocas as combinações qe foramiadas em maiores proporções peo grpo. Para os meninos,  João Bastaé o único prenome duplo que  pode ser denido como de grande iação.Enreano, indaga-se aé qe pono ese pode ser omado como prenome dpo,pois na graa iaiana, Giovanbasta mias vees se apresentava como um sóprenome12. Para um povo de grande devoção ao santo, poderíamos atribuir a suafreqência à inência do parono reigioso. Aém desse, as demais combinaçõesse relacionam aos prenomes mais recorrentes. No decorrer do período analisado,das 245 combinações mascinas, Antonio aparece em 42 deas, João em 47, Joséem 33 e Angelo em 24. É ineressane como agns prenomes dpos adqiremma cara conoação reigiosa como: Santo Antonio, Santo Paulo, Santo Tobias,

 João Santo, entre outros. Aliás, o uso corrente do prenome Santo é caraceríscoda Iáia, sendo poco comm em oras regiões da Eropa. também foram osiaianos os precrsores da iação de Maria como segundo nome masculino,principalmente junto com o prenome João (FuCIllA, 1949, p. 4-6).

Em reação aos nomes dpos femininos, percebe-se qe Maria está entre os

mais iados. Das 254 combinações, esse prenome aparece em 99 casos. Agnsarranjos já são tradicionais como Maria Madalena, que remonta à personagembíblica, também Maria Luiza,  qe é ma combinação iada por diferenesgrupos. Por meio da tabela acima, é notório que o nome Maria de Lourdes passaa ser iado somene a parr da década de 1920. Aé enão, não havia ocorridonenhm caso. Seriam reexos do co à N.ª Sr.ª de lordes difndido na Eropaa parr da segnda meade do XIX13? O próprio prenome Lourdes pracamenenão foi iado de forma única anes desse período. Aém de Maria, outrosprenomes ambém foram basane sados em combinações, ais como: Rosa em

21 prenomes dpos, Angela em 18 e Antonia em 19. Assim como os meninos,nomes combinados com conotação religiosa também apareceram: Maria Santa, Santa Caarina, Santa Inês, entre outros.

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Para naiar, embora a docmenação paroqia enha apresenado imiaçõespara a anáise das formas de nomear as crianças no momeno do basmo, enende-se que os prenomes dados pelos imigrantes e seus descendentes estão de acordocom códigos crais especícos qe faem a pone com o mndo ancesra

deixado para rás. A manenção do mesmo esoqe onomásco de prenomesreee o desejo do grpo perpear as radições qe os niam à pária Iáia. Pororo ado, as ransformações vericadas nas prácas nomeavas como a adoçãode prenomes considerados “raros” no estoque em uso, podem indicar uma série demdanças como: aproximação do grpo com a sociedade recepora, o abandonode parte das tradições por algumas famílias ou mesmo o desejo de sublinhar aidendade da criança com nomes da moda o considerados “novos”.

Notas

1 - As coônias iaianas formadas no mnicípio de Campo largo e qe consíram nossoobjeo de pesqisa são: Anônio Reboças, Campina, Mariana e Rondinha. A paróqia emesdo é a paróqia de São Sebasão ocaiada na úma coônia.2 - Regisros de basmo rbricados por esse cra compreendem o período de seembro de1926 a março de 1927.3 - A Caixa Morária era ma associação exisene no meio coonia com o objevo de angariarfundos para as despesas funerárias dos seus membros. A Associação registrava os óbitos dosmoradores em livro próprio.4 - Enrevisa concedida ao aor em 23/12/2008 por D. Pedro Fedao.5 - Os números (310 e 278) referem-se a prenomes simpes.

6 - Ver: <hp://www.sg.brown.ed/projecs/rae/doc/tlNAME1.hml> Acesso em: 14 jn.2009.7 - Nessa isa dos 165 mi prenomes, Giseppe aparece apenas das vees.8 - Anonio aparece 8.412 vees sendo o erceiro nome mais iado.9 - Piero, Giovanni e Francesco aparecem 7.973, 13.259 e 11.300 vees sendo o qaro,primeiro e segndo, respecvamene, dos mais iados.10 - Drane odo o período enconramos see meninas baadas como  Itália  e nenhummenino Ítalo.11 - Dominiqe Schnapper mosra qe a iação crescene de prenomes composos emúpos esá igada ao processo de rbaniação, ocorrido na Eropa enre o séco XVIII e oinício da Primeira Gerra Mndia, qe poderia ser inerpreado como ma resposa à dpa

necessidade de individaiar o sjeio no inerior de sa famíia e da sociedade, e de disngiro indivíduo e sua família da sociedade.12 - Há discssões em reação aos procedimenos a serem omados qando se disnge prenomesimpes de prenome combinado. Enreano, essa é ma qesão ingísca, qe no momenonão emos condições de resovê-a. Agns aores, como Jean Boer em se argo sobre atoscana do séco XVI, ambém saienam as dicdades e os probemas reavos aos nomessimpes e combinados. O aor considera “Giovanbasa” como primeiro prenome, e assim paraoros, como “Marcanonio” e Marcaréio” (BOutIER, 1988, p. 143-163).. Como a maior paredos prenomes se apreseno radida para o porgês no regisro de basmo, adoamos porcriério considerar como prenome combinado. Assim João Basa foi incído na isa de nomescombinados. Da mesma forma procedemos para oros casos como Mariana foi disngido deMaria Ana, no primeiro caso um prenome simples e, no segundo, um combinado.13 - Em 1907 o papa Pio X esende a ceebração de Nossa Senhora de lordes a oda a IgrejaUniversal.

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RESUMO

O presene argo em como eixo cenra a anáise das prácas de nomeação em m grpode imigranes e descendenes de iaianos no mnicípio de Campo largo, Paraná, no na doséco XIX e início do XX. O objevo dese argo é enender como se processaram as prácasde ransmissão de nomes de basmo no inerior do grpo, anaisando a freqência dosprenomes dados a meninos e meninas no decorrer de cinquenta anos. A análise da frequênciados prenomes mascinos e femininos no inerior do grpo foi reaiada a parr dos regisrosparoqiais (aas de basmo, casamenos e óbios) sisemaados pea meodoogia dereconsição de famíias, orinda da demograa hisórica.

Palavras-chave: nomes de basmo; imigranes iaianos, idendade.

ABSTRACT

the presen arce has, as he main scops, he anaysis of nominaon pracces in a grop ofIaian immigrans and descendans in Campo largo, Paraná, in he earier XIX cenry and ahe begining of XX cenry. the objecve of his arce is o ndersand how he pracces inransmission of bapsm names occrred inside he grop, anaysing he freqence of he rsnames given o boys and girs dring a y years inerva. the anaysis of he freqency maeand femae names in he grop was carried o from he parishes regisers (bapsm, marriageand deah mines) and sysemaed for he mehodoogy of famiy reconson, originaed

from historical demography.

Keywords: bapsm names; iaian immigrans; ideny.

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A parr dos anos 1980, os xos emigraórios ganharam imporânciacrescene e passaram a consir m fenômeno demográco reevane para o

Brasi. A principa hipóese, no conexo de ma economia poíca das migrações(PAtARRA; BAENINGER, 1996) é qe a forma pea qa o fenômeno ocorre noBrasi nos anos 1980 expresso, enre oros faores:

a) o esgoameno das migrações inernas como meio de acomodação dasqesões fndiárias não resovidas, já qe ma reforma agrária qe objevasseaender às reivindicações dos movimenos de a peo direio à iaçãocoeva da erra, de fao não foi execada;

b) os anseios por maior mobiidade socioeconômica de segmenospopacionais residenes nas cidades. Nese caso, apesar dos avanços raidos

pea impemenação de poícas de redisribição de renda, como o programaBosa Famíia, as poícas púbicas incsivas não consegiram sperar o diemada ampiação das desigadades sociais;

c) a recongração econômica do país frene a m capiaismo nanceirointernacional que promoveu o surgimento de uma classe trabalhadoramndiaiada.

quebec

A especifcidade de Quebec noquadro das Políticas MigratóriasCanadenses

 Marcus Vinicius Fraga* Lucia Maria Machado Bógus**

* Jornalista graduado pela Universidade Estadual de Londrina; especialista em política e re-lações internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo; mestrando em

Ciências Sociais pela PUC/SP.** Professora titular do Departamento de Sociologia e do Programa de Estudos Pós-Graduadosem Ciências Sociais da PUC/SP. Coordenadora do Observatório das Metrópoles de São Paulo.

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O crescimeno dos xos migraórios inernacionais foi, por oro ado,favorecido tanto pelo desenvolvimento e barateamento dos custos de transporte,como pela diminuição do tempo de deslocamento e a maior segurança dasviagens. Nos anos 1960, as eorias migraórias enendiam o fenômeno da aração

de outros cidadãos como uma forma vantajosa de alguns países enfrentarem aqueda na taxa de crescimento populacional. Naquele momento, presenciávamosum período de forte crescimento econômico das principais economias mundiais,aiado a m incenvo à imigração, o qe favorece a formação de grandes xosmigratórios e o estabelecimento de redes.

Após a crise energéca em 1973, observo-se, no enano, ma depressãoeconômica qe roxe mdanças conjnrais nas poícas migraórias aé enãoadotadas pelas principais economias mundiais. A opinião pública de grande partedos países desenvolvidos passou a se posicionar contrariamente ao ingresso denovos imigranes, mias vees cpabiiados pea precariação das condiçõeseconômicas e sociais nas regiões de desno. O desgase eeiora dos poícosfavoráveis ao ivre xo de pessoas provoco ma mdança de posicionamenoe o cso poíco-econômico evo ao esabeecimeno das barreiras de enrada,que passaram a se chocar com os xos resanes de redes migraórias jáestabelecidas.

As fronteiras passaram então a funcionar mais incisivamente como barreirasendo em visa eviar ma “enxrrada” de não-cidadãos nos principais paísesrecepores. Conforme zoberg, “(...) Dadas as disparidades enre os países domndo, o esabeecimeno de enradas ivres casaria xos iimiados, evando a

ma drásca mdança qe raria a eqaiação mndia, e, porano, ma qedaviolenta nos níveis de emprego e consumo entre os países mais desenvolvidos”(zOlBERG, 1989, p. 409, radção nossa).

A transformação das fronteiras como mecanismo de controle dos acessossegi, a parr de enão, m processo de jdiciaiação da perença, o seja, anecessidade de possuir um status comprobatório frente ao Estado, e, as decisõesegisavas, ancoradas na avaiação da opinião púbica, passaram a embasar, cadave mais, as poícas migratórias nos diferentes países do mundo.

Nas úmas décadas, as democracias capiaisas êmrearmado as sas poícas de imigração de ongo praoque, no geral, estabelecem barreiras contra a imigração,mas com pequenas portas de entrada que permitemxos especícos. uma das poras foi criada para permira aqisição de ceros pos de xos e ora para ingressode m peqeno número de asiados. As caraceríscas dasmigrações internacionais dependem em grande medidade como essas aberras são denidas (zOlBERG, 1989, p.

406, radção nossa).

Ese argo preende discr, a parr do esdo de m caso concreo,em qe medida as froneiras e as poícas de ingresso podem gerar fores

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externalidades econômicas, poícas e sociais. Para isso, nos propomos faerma anáise da poíca de imigração de Qebec e de sas conseqências parao imaginário e as expecavas migraórias dos anos de ma escoa de íngafrancesa qebeqense em São Pao, com fore apeo à emigração. Para reaiar

a primeira eapa da proposa, parmos dos rabahos de agns ciensas sociaiscanadenses buscando perceber como eles abordam o fenômeno das migraçõespara o Canadá e sa reação com as poícas púbicas do governo da provínciafranco-canadense de Qebec. Na segnda eapa, reaiamos m evanamenocom estudantes de francês dessa escola de língua francesa, por meio da aplicaçãode m breve qesonário socioeconômico.

O contexto de Quebec na políca canadense de imigração

O Canadá foi o primeiro país do mndo a adoar, em 1971, o mcraismocomo ma poíca de Esado (CAMERON, 2004). Ao ongo de sa hisória, o paísprospero baseado na diversidade e em ma coexisência pacíca enre sescidadãos de diversas procedências. Esta diversidade foi o produto de decisõesracionais tomadas por seus habitantes e dirigentes, os quais, em sua maioria,consideram a imigração e a diversidade de etnias um orgulho nacional.

Na história canadense, a imigração está associada à construção de umanação e, mais especicamene, ao desenvovimeno de ma economia robsaenraiada em m vaso erriório. Ese ímpeo por desenvover o país evo

à construção de um modelo de imigração de larga escala ao longo de todo oséco XX. A inenção de arair m grande conngene popaciona baseava-se,sobredo, na necessidade de consir m mercado inerno fore qe pdesseabsorver a prodção indsria canadense (CAMERON, 2004).

Atualmente, com a aceleração das trocas e a ampliação do comércioultramarino, essa necessidade premente de criação de um grande mercadoinerno, não se cooca com a mesma imporância, o qe prodi ma aeraçãosignicava na poíca de imigração canadense, hoje mais focada na aração deimigranes qaicados, qe spram a demanda em avidades carenes de mão

de obra naqee país (BIlES; BuRStEIN; FRIDERES, 2008b).Por oro ado, os reqisios do mercado de rabaho êm se mosrado cada vemais complexos provocando um aumento dos custos de treinamento e ampliandoos problemas de  inegração dos imigranes. “(...) as connas dicdades dosimigrantes em ter o reconhecimento de suas habilidades educacionais e laboraisadquiridas antes da entrada sugerem que, sem estratégias robustas de integraçãoobjevando redir as barreiras, os programas de imigração vão connar a sedebaerem” (BIlES; BuRStEIN; FRIDERES, 2008a, p. 8, radção nossa).

Além disso, há um consenso entre os pesquisadores canadenses de que

hoje em dia o poder de comnicação nas íngas ociais do país consi mabarreira que o imigrante precisa superar para conseguir se inserir no mercadode rabaho: somene com os conhecimenos ingíscos é qe m imigrane

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aamene qaicado consegirá radir para o se dia a dia os conhecimenosqe já possi em sa ínga maerna (BIlES; BuRStEIN; FRIDERES, 2008b).

De uma maneira geral, o aumento de oportunidades de trabalho, decorrenteda gobaiação, os raados de ivre comércio (NAFtA) e a compeção inernaciona

são faores qe ampiam as dicdades para arair imigranes qaicados.É por isso que o Canadá se apresenta ao mundo destacando suas vantagenscomparavas em reação a oros desnos – como m país qe possi maexceene infraesrra sica, boas esradas, aeroporos, ferrovias; exceeneambiene ineeca, com niversidades inernacionamene reconhecidas; mensino fundamental e médio gratuito, bilíngue e de qualidade, e com um sistemade saúde modeo. Isso do em ma amosfera de pa e oerância socia.

A diversidade étnica e cultural é considerada no Canadá o instrumentode criação de um círculo virtuoso sustentado pela imigração de trabalhadores

qaicados e por ma rede de spore socia. Esa rede baseia-se na ofera deescoas, hospiais, e empregos ao imigrane, ao mesmo empo em qe endadescivis do erceiro seor e os governos (federa, provinciais e mnicipais) rabahampara criar m ambiene aravo e acohedor.

Enreano, m desao a ser enfrenado ainda peo Canadá di respeio àtaxa de retorno aos países de origem ou mesmo de reemigração para outrospaíses, de conngenes expressivos de imigranes permanenes. Mais de 1/3 doshomens imigranes em idade de rabaho deixam o país em aé 20 anos após achegada. Mas o dado qe chama mais a aenção é qe aproximadamene 60%

dos qe deixam o país o faem ainda no primeiro ano após a enrada. Por mado, pode-se dedir qe a exisência dessa axa de reorno poderia signicarque o mercado de trabalho canadense não está oferecendo os ganhos queos imigrantes esperavam auferir. Por outro, as dimensões de ordem cultural,emociona e geográca, por exempo, ornam a qesão mio compexa,dicando a carea anaíca a respeio dos faores movacionais desse reorno(SWEEtMAN; WARMAN, 2008).

Do ponto de vista econômico, a imigração contribui para elevar o ProdutoInerno Bro do Canadá. Mas, isso não signica qe se eeve o PIB per capia. As

pesqisas econômicas condidas sobre o ópico da imigração divergem sobrese o impaco da poíca imigraória é posivo o negavo. Mas, odas chegam àconcsão de qe, mesmo qe o impaco seja posivo ee em sido peqeno, poisa qandade de imigranes qe enram por ano no Canadá é mio peqena paragerar conseqências deeérias na esabiidade do modeo poíco e econômicoadoado peo país (SWEEtMAN; WARMAN, 2008).

A poíca de imigração é concebida como poíca púbica visando ameniaragns probemas decorrenes da base demográca do Canadá, sem, no enano,resovê-os. Sa efevidade se ancora em qaro ponos imporanes:

- primeiro, ajda a combaer o cso da geração baby boomer  (os nascidosapós a Segnda Gerra Mndia aé meados dos anos 1960). Como oros paísesdesenvovidos, o Canadá presencio m crescimeno 18% acima do esperado

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nos nascimenos enre 1945 e 1960. Esa geração esá se aposenando e gerandocsos para a previdência socia do país (SWEEtMAN; WARMAN, 2008);

- segndo, benecia-se ao arair imigranes qaicados qe não sãoprodidos peo sisema edcaciona canadense. É imporane saienar qe m

imigrane qaicado represena m cso mio baixo para o país qe o recebe,pois sa rajeória prossiona não foi cseada peo país recepor;

- erceiro, como os imigranes geramene não rompem oamene a reaçãocom o país de origem, isso ampia as perspecvas de reações econômicas qepodem incremenar as exporações;

- qaro e úmo, a economia do país se benecia ao receber o capia e/o o espírio empreendedor dos imigranes qe chegam com a perspecva dese estabelecer.

A opinião púbica canadense aprova a poíca de imigração do país (JEDWAB,

2008). Pesqisas condidas peo governo mosram qe mesmo drane osaaqes de 11 de Seembro, nos Esados unidos (o momeno de maior ensãona reação com os imigranes), a poparidade da poíca de imigração do paísse manteve estável. A porcentagem de nascidos no Canadá que acreditam que onúmero de imigrantes que entram no país, a cada ano, é pequeno ou adequadonnca foi menor qe 60%, nem mesmo drane os aaqes errorisas às orresgêmeas do Word trade Cener, em Nova Iorqe. Nos úmos anos, esse dadose maneve inaerado. Assim, “Os canadenses parecem ser mais propensos aconcordar qe os imigranes êm ma inência posiva do qe os cidadãos da

maioria dos oros países recepores” (JEDWAB, 2008, p. 221, radção nossa).O Canadá é ma democracia federava mcra  no sendo de qe

vaoria a diversidade énica como ma bandeira da nação. Qebec é visapelos pesquisadores canadenses como um ponto de análise essencial paracompreender o qe signica “ser canadense”. O nacionaismo de Qebec éalgo levado extremamente a sério no Canadá, sendo parte principal do queevo à formação de ma poíca mcra no país. Mias das demandaspea aonomia poíca de Qebec persisem desde a fndação do país e sãocaraceriadas peos pardários de Qebec como ma espécie de consenso

enqano objevo de a poíca.No caso do Canadá, a faa de ma idendade naciona nicadora –

possivemene gerada pea diversidade ingísca esabeecida errioriamene – gera qesonamenos qano à egimidade do poder federa e perpea maa por reconhecimeno consciona por pare de Qebec. Por não exisrma nidade énica, os conios no modeo canadense de federaismo fgiramda radiciona dispa egaisa de eqiíbrio de poder, como a qe se congronos Esados unidos (GAGNON; IACOVINO, 2007).

Conforme Gagnon e Iacovino (2007), os modeos “pros” de federaismo

esadnidense e aemão foram criados para imiar os excessos do poder execvo.No Canadá, o modelo foi criado para acomodar a diversidade de nacionalidades.Ao ongo da consição hisórica  de Qebec, a província consi m pono

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de resisência cra francesa e reivindica aonomia poíca e econômica.Na primeira conferência inerprovincia, em 1887, co caro aos habianes deQuebec qe a noção de consrção de m país fndado no daismo cra (mapare francesa e ora ingesa) e na sa coexisência, dicimene seria respeiada.

Aé porqe as oras províncias iavam a dorina do daismo para resringiro acesso à edcação em ínga francesa à minoria franco-canadense espahadapelos territórios não quebequenses.

Nesse qadro, a província franco-canadense passo a se considerar como mgeo de resisência, onde poderia ser assegrada a represenação inscionaà maioria popaciona francesa. A grande depressão dos anos 1930 favoreceo srgimeno de reivindicações e consenmenos pea cenraiação da poícaeconômica e por m “New Dea” canadense orqesrado peo poder federa e aser executado em todo Canadá como a única salvação plausível.

Enreano, poicamene, Qebec conno rme em sa concepção doprincípio federal do dualismo, que conserva até os dias de hoje. A ComissãoRea de Inqério sobre Probemas Conscionais, de 1956, ambém conhecidacomo Comissão trembay, foi criada por Qebec e defende a connação dorespeito à divisão dos poderes do compromisso original dualista por conta dadisnção das comnidades crais qe evaram à formação do federaismocanadense. Até então, as outras províncias rejeitavam que Quebec pudessenegociar direamene com Oawa (cidade capia e sede do governo cenracanadense) mais aonomia em m momeno em qe a inervenção do governo

federal vinha crescendo rapidamente.Duas visões dominantes em Quebec dividem a corrente principal de seus

pensadores nacionaisas nos anos 1960. A primeira enxerga qe o federaismoassimérico poderia adeqadamene sasfaer às necessidades de esabiidadee nião no Canadá sem sobrepjar a diversidade do país. Para isso, cinco pré-reqisios deveriam ser respeiados em ma renovação consciona:

1 – o reconhecimeno expício em m preâmbo da Consição Canadense de qe Qebec é ma sociedade disna;

2 – a concessão de maior poder para Qebec execar as poícas púbicas

de imigração visando à adminisração do recrameno e inegração dos recém-chegados;

3 – a parcipação de Qebec na nomeação de rês membros da SpremaCore de Jsça com especiaiação em civil Law (sisema jrídico no qa ostribunais fundamentam suas sentenças nas disposições de códigos e leis. Emoposição, o restante do Canadá adota o common Law, pracado por paísesango-saxões, no qa o cosme prevaece sobre o direio escrio).

4 – imiações ao poder de gasos federais;5 – o reconhecimeno do direio de Qebec a vear qaqer emenda

consciona qe venha a afeá-a.Os pardários da assimeria acrediavam qe o modeo simérico, aé enão

vigene no Canadá, não poderia mais operar ma ve qe os cidadãos e os

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governos das províncias do restante do país olhavam para o governo federal e o“enxergavam” como o governo nacional, dotado de um instrumento principal decrescimento, enquanto este não era o caso dos cidadãos de Quebec.

A segunda visão entre os nacionalistas quebequenses era a de que o

experimeno federa havia fahado e qe Qebec só consegiria reaiarse projeo a parr de m rompimeno com o resane do Canadá. Comodecorrência, um novo acordo entre Quebec e o Canadá estaria fora da instânciado federalismo. Esta visão acreditava ser possível estabelecer dois paísesdisnos qe manvessem formaidade e proximidade econômica (GAGNON;IACOVINO, 2007).

Essas duas propostas foram apresentadas no âmbito das negociaçõesMeech lae – nos anos 1980 – qe preendiam eaborar ma nova Consição.Como ambas recomendações qebeqenses não foram acaadas na racação

do acordo, Qebec se recso a assinar a decisão. A parr daí, srgi a Comissãosobre a Poíca e o Fro de Qebec, esabeecida em seembro de 1990 peaAssembeia Naciona de Qebec. Os esdos da Comissão chegaram às mesmasconcsões eaboradas peos pardários de Qebec no âmbio do acordo Meechlae e foram pbicados em 1991. Qebec não foi signaária do acordo Meechlae, opando, assim, peo rompimeno com a federação, o qe evo à reaiaçãode pebiscios pea província a respeio da separação poíca (e não econômica)ou não do Canadá.

Nos úmos anos, odos os pebiscios qe ocorreram em Qebec aponaram

para a existência de uma grande divisão na população entre aqueles que optampor uma independência e um rompimento unilateral, e os outros que acreditamque manter o atual status quo é a mehor aernava para a província. O anode 1995 é do como o marco hisórico no sendo de esfriar o senmenonacionaisa franco-canadense. Nese ano, m pebiscio indagando se Qebecdeveria se separar do Canadá foi derrotado por uma margem muito estreita de49,42% “sim” para 50,58% “não” (GAGNON; IACOVINO, 2007).

Antes desse momento histórico, no entanto, o governo federal já previa apossibilidade de rompimento como concreta e contava com apoio da população

da província. Assim, nma enava de ameniar os ânimos, o governo federae o de Qebec rmaram m acordo em 1991 (MINIStèRE DES RElAtIONS AVEClES CItOYENS Et l’IMMIGRAtION, 1991). Qebec negocio exasvamenepara consegir aoridade para eaborar sas poícas migraórias. Esas sãopensadas como corroboradoras da resistência cultural da nação baseada noforaecimeno e disseminação da iação do francês. A preocpação doscidadãos de Quebec tem por base o receio frente a um poder central que aolongo da história demonstrou claramente seus interesses em indexar Quebecnão só territorialmente, mas, sobretudo, culturalmente.

A preservação da ínga francesa é da como o principa faor para oorescimeno de ma idendade cra qebeqense. “A parr do decínioalarmante da taxa de natalidade em Quebec, o Estado passou a se preocupar

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com a endência de ses habianes aos pocos migrarem ingiscamene ese tornarem uma comunidade anglófona. Assim, a imigração e a integraçãoornaram-se inerigadas ao desno da nação Qebec” (GAGNON; IACOVINO,2007, p. 97, radção nossa).

A vaoriação e exigência de qe os imigranes aprendam o francês se jscapor essa mesma ógica. O governo de Qebec invese em crsos de francêsgratuitos para os imigrantes da província – após o processo de solicitação e aceitedo viso permanene de imigração – objevando ma compea arcação einegração dos mesmos à sociedade franco-canadense. Aém disso, para arairrabahadores qaicados, o governo de Qebec esabeece escriórios deimigração voltados ao atendimento e ao recrutamento de imigrantes em todas asregiões do mndo: Magreb (em Monrea), Ásria (em Viena), Bégica e França(em Paris), México (na Cidade do México), Síria (em Monrea), Hong kong (na

própria cidade), Canadá (em Monrea), e Brasi (em São Pao). Aravés desespostos avançados de recrutamento, agentes de imigração do governo da provínciaminisram paesras e faem a primeira riagem dos candidaos. O púbico-avoé formado por jovens de aé 35 anos, casados o não (ser casado aribi maisponos), com hos o sem (er hos aribi mais ponos ainda), qe enhamformação niversiária e dois anos comprovados de aação prossiona naárea de formação, nos úmos cinco anos precedenes à daa de preenchimenodo formulário de solicitação. É necessário que tenham pelo menos o nívelinermediário de francês (qem sabe faar ingês ambém recebe mais ponos).

Agmas prossões nas qais a província possi carência de mão de obra – comoenfermagem, análise de sistemas, engenharias, etc., – possuem uma tramitaçãodo visto de imigrante permanente mais acelerada e dessa forma os solicitantescom poco esforço são aceios. Com essas informações, é monado m raningobjevo de recrameno1.

Os imigranes consem, hoje, aproximadamene 10% da popação deQebec. Minorias visíveis são qase 50% dos imigranes qe desembarcam naprovíncia a cada ano. A perspecva é de qe aé 2017 aproximadamene 20% dapopulação do Canadá seja formada por minorias visíveis. Quebec recebe a cada

ano por voa de 50 mi imigranes (o Canadá ineiro recebe aproximadamene 225mi). Ora caracerísca qe precisa ser mencionada é a aeração da composiçãodos países de origem dos imigranes. Aé a década de 1970, a maior pare deesera de origem eropeia. Hoje o qe vemos é ma diminição da porcenagem deparcipação dos imigranes eropes e m ameno de asiácos, dos orindos doconnene americano – ano-americanos, principamene – e africanos, os qais

 já conam mais da meade (CONSEIl DES RElAtIONS INtERCultuREllES, 2008).Ser um imigrante em Quebec representa aceitar e adotar os preceitos

de vaoriação da idendade da nação francófona. Desde qe respeiem a

ei, os imigranes podem maner ses cosmes e cra, diea, vesmena,preferências sexais e ceebrações. Iso porqe é a ínga francesa qe manémem Quebec a base de uma sociedade coesa.

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Com essa perspecva em mene, orna-se economicamente interessante oempreendimento de uma escola de língua francesa quebequense em São Paulo.Atraídos pela proposta de aprender o francês com o sotaque e meandros culturaisdo oca para onde preendem emigrar, jovens ados qe se encaixam no per

bscado pea poíca imigraória de Qebec passam a bscar o conhecimenoingísco qe hes faa para sperar a barreira de acesso ano ao viso deresidente permanente como ao mercado de trabalho canadense, assim quechegarem à província. Na sequência, detalharemos melhor esse fenômeno.

Os estudantes e o projeto migratório

Fundada em 2006 pea franco-canadense Caherine Povin, a École Québec é ma escoa especiaiada no ensino do francês para as pessoas qe desejamemigrar para Quebec. Além do ensino da língua, aspectos culturais da provínciacanadense são apresentados aos estudantes. A escola funciona como umprimeiro contato do provável futuro imigrante com a cultura quebequense e foicriada por iniciava pessoa de sa proprieária.

O esabeecimeno desa “rede migraória” inicio-se qando Povin,administradora de empresas com mestrado, vislumbrou a oportunidade deabrir seu próprio empreendimento. A escola não possui qualquer vínculo como escritório do governo de Quebec, em São Paulo, e recebe aproximadamentecem estudantes por ano, sendo que desde sua fundação Potvin acredita que por

voa de denos de ses anos emigraram (aproximadamene 35% do oados maricados no período de 2006 a 2011); percena basane eevado, masqe ambém indica qe a maioria dos ex-anos não migro para Qebec.

Visiamos a École Québec  nos dias see, oio e one de jnho de 2011.Reaiamos, primeiramene, ma enrevisa com a proprieária do esabeecimenono dia see e iniciamos a disribição dos qesonários socioeconômicos, após oconsenmeno da mesma. Foram preenchidos 48 qesonários, correspondendoà quase totalidade dos estudantes matriculados na ocasião, que concordaram emparcipar do evanameno. Cada qesonário connha 13 pergnas fechadas

e das aberas indagando: 1- qais os movos qe o(a) evaram a bscar meiospara emigrar do Brasi? 2- qais os movos qe o(a) evaram a escoher Qebeccomo desno?

Sempre que entrávamos em sala de aula para solicitar o preenchimento dosqesonários, informávamos qe se raava de ma pesqisa acadêmica, sobreo per socioeconômico dos brasieiros qe bscam o processo de imigraçãopara Quebec. Além disso, explicávamos que se tratava de uma coleta de dadosanônima e, porano, não era necessária a idencação dos informanes.

Ao longo da coleta dos dados, nos deparamos com dois estudantes

equatorianos que imigraram para o Brasil e agora estão pensando em Quebeccomo m novo desno migraório. Resovemos incí-os já qe se raava deresidentes permanentes no Brasil.

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Compseram a amosra 28 homens e 20 mheres – odos com idadesuperior a 22 anos – dos qais 39 se aodecararam brancos, 5 se decararampardos, 1 negro, 2 orienais-asiácos, e oro não responde. Qano ao níve deescoaridade, 26 possem ensino sperior compeo, 15 possem pós-gradação

compea (incindo especiaiação, mesrado o doorado), cinco possempós-gradação incompea, m decaro er ensino médio compeo e oro nãorespondeu.

Qano ao esado civi, 30 se decararam casados, 15 soeiros, 2 em niãoesáve, 1 separado, e nenhm divorciado o viúvo.

Para criar um padrão para a análise dos dados coletados, resolvemosseparar os qesonários em cinco grpos de idade: de 21 a 25 anos, de 26 a30 anos, de 31 a 35 anos, mais qe 36 anos, e m úmo grpo para aqeesqe não responderam a idade. No primeiro grpo, havia 3 soeiros e 1 casado.

No segndo, 5 soeiros e 10 casados. No erceiro, 2 soeiros e 14 casados. Noqaro grpo, 2 soeiros, 4 casados, 1 separado, e 1 em nião esáve. Dos qenão informaram idade 3 eram soeiros, 1 casado e 1 em nião esáve.

Em reação à presença de hos, cabe informar qe dos casados com idadesenre 31 e 35 anos, rês possem m ho e m possi dois hos. Dos soeirosenre 31 e 35 anos, m possi m ho. Dos mais vehos qe 36 anos e casados,odos possem hos (sendo dois com m ho apenas, m com dois hos e mcom rês hos). um dos qe se decararam em nião esáve informo qe emm ho. todos decaram preender imigrar com sas proes para Qebec.

A grande maioria dos enrevisados (46) esá inserida no mercado derabaho e, denre os empregados, 37 possem vínco empregacio forma (comcareira de rabaho assinada). Qano às prossões, foram decaradas: anaisade sistemas, analista programador, analista de comércio exterior, analista deconroadoria, adminisrador de empresas, esasco(a), engenheiro qímico,engenheiro de qaidade, engenheiro civi, projesa eerônico, engenheiromecarônico, engenheiro de aimenos, consor de SAP (Systems Applicaonsand Products.), programador(a) de compação, edcador(a) sico(a), psicóogo,densa, enfermeira, biomédico, designer gráco, professor(a) niversiário(a),

consor(a) de imóveis, médico, miiar da marinha, e edior(a) de mes.O qesonário ambém indagava sobre a renda famiiar bra (oa de

ganhos de odos os membros da famíia), dividida em cinco faixas, evando-se emcona qe o saário mínimo no Brasi no mês de jnho de 2011 era de R$ 545,00(qinhenos e qarena e cinco reais):

a) acima de 20 saários mínimos (sperior a R$ 10.900,00);b) enre 10 e 20 saários mínimos (enre R$ 5.450,00 e R$ 10.900,00);c) enre 4 e 10 saários mínimos (enre R$ 2.180,00 e R$ 5.450,00);d) enre 2 e 4 saários mínimos (enre R$ 1.090,00 e R$ 2.180,00);

e) aé 2 saários mínimos (aé R$ 1.090,00).As respostas apontaram para um nível de rendimento familiar bastante

sasfaório, indicando qe a emigração viria aender aém da expecava de

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maiores saários, a bsca de mehor qaidade de vida para a famíia, ma veqe 10 enrevisados responderam à aernava “a”; 19 responderam “b”; 14responderam “c”; 4 responderam “d”; m enrevisado não responde e nenhmresponde à aernava “e”.

Quanto ao nível de conhecimento do idioma, todos que assinalaramas resposas (apenas m não responde) armaram possir agm níve deconhecimeno de francês e ingês. Dos qe possem níve básico de francês (30),cinco ambém êm o níve básico de ingês, 10 o níve inermediário, 10 o níveavançado e cinco o nível superior. Dos que possuem nível intermediário de francês(17), cinco ambém êm o níve básico de ingês, rês o níve inermediário, cincoo nível avançado e quatro o nível superior.

No qesonário apicado, foram feias das pergnas discrsivas paraenar idencar as raões sbjevas indicadas como movos para deixar o

Brasi e ambém os movos para imigrar para Qebec. As faas apresenaramcera niformidade em reação aos movos para deixar o Brasi, desacando-se:a busca de melhor qualidade de vida, de mais segurança pública, a existênciade menores problemas de mobilidade urbana, a oferta de serviços públicos deqaidade, o sisema de jsça mais eqânime, a menor desigadade socia, amenor corrupção em diferentes esferas da sociedade, o maior reconhecimentoprossiona, ec. Qano à escoha do desno desaca-se a aceiação do imigranepela sociedade quebequense, a possibilidade de viver uma experiência de vidae de trabalho no exterior, um local com qualidade de vida para toda a família.

Seguem abaixo algumas das manifestações dos entrevistados, referentes àintenção de emigrar.

1 – Raões para sair do Brasi: “Faa de respeio dos governanes para com o povo brasieiro”;•“Vioência do Brasi, rânsio de São Pao, a poíca brasieira (tiririca•na poíca ningém merece). Isso incomoda. Emprego aqi em, masa insegurança de viver num país injusto e violento incomoda muitomais”;

“O preço qe se paga peos prodos no Brasi: aqi se em mio•imposo”;

“Corrpção, aos imposos, poícas púbicas inecaes, poíca exerna•do governo federa inadeqada”;

“A busca por uma sociedade mais justa, onde você tem retorno dos•imposos qe paga, sem er qe pagar por isso das vees, comoocorre no Brasil. E você vê que nada vai mudar, porque a sociedade seacomodo”;

“As eis qe não fncionam”;•

“O ranspore púbico de péssima qaidade”;•“Desrespeio no rânsio e prioridade dos aomóveis”;•“Faa de poíca de preservação do meio ambiene”;•

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“Pessimismo em reação às condições econômicas e sociais do Brasi”;•“Os ricos são favorecidos”;•“Poca vaoriação da carreira e do prossiona. Saários baixos”;•“tenho o sonho de er ma famíia e aqi (no Brasi) isso não é viáve.•

Estou desiludida com meu país, corrupção, violência, má educação dapopulação, falta de respeito com o próximo”.

2 – Raões para emigrar para Qebec:“Poder dar mais iberdade para minha ha, esar nma cidade mais•ranqia e er mais qaidade de vida”;

“Qebec em o Programa de imigração único no mndo (mais fáci e o•apoio do governo do Qebec)”;

“A qualidade dos serviços públicos, a facilidade e as portas abertas para•

receber o imigrane qaicado me fe qerer ir para Qebec”;“Quebec possui todas as qualidades que buscamos para a manutenção•esáve de nossas vidas”;

“Faciidade de [ober] viso de rabaho”;•“Boas niversidades”;•“Mesmo fso horário do Brasi”;•“Não acho o francês ma ínga dici, dicdade qe e nha com o•ingês”;

“também porqe vejo mio esemnho de brasieiros sobre as•

opornidades qe exisem á”;“Viver em ma sociedade com vaores qe jgo serem imporanes na•formação de m ho”;

“Admiração pea sociedade de Qebec e sa cra”;•“Possibiidade de imigrar e consegir recoocação prossiona em m•níve eqivaene, aém de ser m povo mais recepvo a esrangeiros”;

“um país com m Esado mais presene e menos corrpo”;•“O processo de imigração é bem viso peo [povo] oca, redindo o•risco de preconceio”;

“A facilidade para imigrar. Quebec está dando oportunidade para imigrar•egamene”;

“Pode-se aé ganhar menos á, mas a vida é mais digna”;•“Garana de m sisema de saúde eciene”;•“O fao de a edcação qe será oferecida aos mes hos será púbica e•de qaidade”;

“Preocpação com o meio ambiene”;•“O país precisa de enfermeiras”;•“E achei o processo [de imigração] caro e bem organiado. É ma•

província segra e com qaidade de vida”;“O cso de vida não é ão ao e mesmo com o saário mínimo as pessoas•conseguem sobreviver”.

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Considerações Finais

O na da década de 2010 roxe m senmeno renovado de aoconançae omismo em reação ao Brasi; o senmeno de qe o país namene poderá

dar cero e angir sa saga desenvovimensa. Parece qe a máxima de qe ospaíses em desenvovimeno não seriam capaes de oferecer emprego e poderde consmo (ver esse argmeno em: zOlBERG, 1989) para ses cidadãoscada ve menos se apica ao Brasi. Enreano, isso não parece ser scienepara brasieiros (incímos aqi os dois esdanes eqaorianos) qaicadosprossionamene se “agarrarem” a esse senmeno fanisa de qe “agora oBrasil vai dar certo”. Por que mesmo com emprego e poder de consumo essesbrasileiros buscam o processo de imigração para Quebec? Essa é uma perguntaqe não em apenas ma resposa e qe demanda múpas hipóeses.

O discrso comm dos esdanes da École Québec  expressa a desilusãocom a qaidade dos serviços púbicos e garanas sociais no Brasi – segrança,saúde, educação, desigualdade social, transporte público precário, corrupçãopoíca, ec., – ma espécie de insegrança qano ao conrao socia vigenena sociedade brasieira. A emigração aparece, assim, como ma enavade escapar desse desencano. Observamos qe esses brasieiros bscam sertratados pelo Estado como cidadãos, conseguindo ter acesso a serviços públicose ser respeiados peo rabaho qe reaiam – ees aegam qe não possemo devido reconhecimeno qe reivindicam. O per sociodemográco dos

estudantes da École Québec mosra qe ees se enqadram no modeo pico dapirâmide demográca brasieira hoje, com o predomínio de jovens em pena faseprodva e reprodva.

Percebemos qe m dos principais objevos de Qebec ao impemenarresrições de enrada esá em minimiar o crescimeno de ensões sociais criadaspea presença de m grande número de imigranes: em democracias iberais,geramene as poícas púbicas reeem ineresses capiaisas.

Há fores indícios de qe o níve de escoaridade é m dos faores direameneligados à forma como alguém aceita, ou não, os problemas da sociedade brasileira.

Pertencer a uma sociedade é uma das necessidades fundamentais dos sereshmanos. A faa desse senmeno pode raer conseqências sicas e psicoógicasao desenvovimeno do bem esar de m cidadão (DOVIDO e a., 2010).

Cases (2008) arma qe ma das ambivaências dese início de sécoXXI é ee commene esar associado à ide e aberra proporcionadas peasmelhorias nas infraestruturas de transporte e comunicações, levando as pessoasa pensarem frequentemente na permeabilidade das fronteiras dos estadosnacionais, ao mesmo empo em qe o ameno do xo migraório gera ocomportamento contrário por parte dos países potencialmente receptores, que

cada ve mais evanam mros para barrar o acesso dos indesejáveis. O aortambém mostra que grande pare do xo goba dese séco qe se iniciadeverá er o sendo s-nore.

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O recrameno inernaciona de pessoas aameneqaicadas é considerado posivamene em pracameneodos os países, enqano rabahadores poco qaicadossão vistos como fora de propósito em um contexto deeconomia pós-indsria.[…] Hoje em dia, o discrso poíco dominane é de qe amigração é um problema que precisa ser corrigido atravésde poícas púbicas apropriadas (CAStlES, 2008, p. 2, grifodo aor, radção nossa).

A movimenação de imigranes qaicados é commene associada àmobiidade prossiona. Oro pono imporane a ser ponderado em reaçãoao fenômeno das migrações é que o desenvolvimento dos países periféricosnão ende a redir os xos de pessoas. Com menor disparidade socia

enre os países, o xo migraório com visas à ascensão econômica e sociaenderá a ser menor. Enreano, a migração é m fenômeno mcasa eoras circnsâncias poderão se ornar aavancadoras dos xos. Ana,“(...) a migração fa pare das reações sociais normais” (CAStlES, 2008, p. 4,radção nossa).

O modeo neocássico de anáise da migração esá baseado em nmarelação de custos e perdas na qual o migrante avalia se, de acordo com seuscritérios individuais, é mais vantajoso permanecer ou mudar. “De acordo comesse modeo anaíco, a mera exisência de disparidades econômicas enre

deerminadas áreas é sciene para gerar xos migraórios” (CAStlES, 2008,p. 7, radção nossa). Dessa forma, eses xos enderiam a raer, no médioprao, m eqiíbrio das desigadades.

Consideramos qe as poícas de imigração, assim como a adoada porQuebec, levam essa questão econômica em conta para a elaboração dasbarreiras de entrada, mas esta não é a única variável que deve ser levadaem cona para a anáise desas poícas, pois ese modeo eórico faha emidencar oros faores movacionais. São ees: iner-reações enre osdiferenes xos migraórios, as migrações forçadas, a imporância da hisória

individa e da bagagem cra de cada indivído, a compexa narearansnaciona e em vários níveis da migração (econômica, poíca e geográca,por exempo), e, sobredo, a imporância das reações inerpessoais qealteram profundamente sua dinâmica conforme bem demonstra a teoria dasredes (CAStlES, 2008).

Nesse sendo, não podemos esqecer qe a gobaiação afeo direameneessa dinâmica ao gerar um intercâmbio cultural jamais experimentado até entãona história da humanidade. A migração deve ser vista não apenas como umaconsequência das transformações sociais, mas também como uma de suas

causas. E, como não se trata de um problema local, mas, sim, transnacional, deveser pensada gobamene. A migração, como nos aera Baman (2009), é madas qesões mais imporanes da pós-modernidade.

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Nota

1 - Mais informações sobre o processo de recrameno de imigranes qaicados podem serobdas aravés do sie <www.imigracao-qebec.ca>.

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RESUMO

O argo oferece ma discssão inrodória sobre a poíca de imigração da província deQebec, no Canadá, a parr da eira de rabahos de ciensas sociais canadenses ebrasieiros e da egisação daqee país reava ao assno. Apresena-se ambém como

essa poíca de imigração vem incenvando esdanes de ma escoa de ínga francesaqebeqense, em São Pao, a bscarem o viso de residenes permanenes. Enfoca-se aindaagns eemenos do per socioeconômico desses esdanes. Como ponos de parda e dechegada, as migrações internacionais são tratadas como uma das questões mais importantesda atualidade.

Palavras-chave: Poíca de imigração; Qebec; migração inernaciona.

ABSTRACT

the arce maes an inrodcory discssion on Qebec’s migraon poicy, in Canada, from

he anaysis of Canadian and Braiian socia sciens’s wors, as we as from he conry’sreaed egisaon. We aso presen how his migraon poicy has given incenves o sdensof a Qebecois French angage schoo in São Pao in order o mae hem oo for permanenresiden visas. We aso expose some eemens of he sdens’ socioeconomic proes. Wesar from and arrive a he concsion ha he inernaona migraons are one of he mosimporan isses of he presen word. (Tradução de Nina Maria Pinheiro de Brio).

Keywords: migraons poicy; Qebec; inernaona migraon.

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tráfco de pessoas

A discssão sobre o ráco de seres hmanos vem se ampiando nosúmos anos e araindo a aenção de diferenes seores da sociedade, seja

pelo que existe de apelo sensacionalista da Mídia sobre o caráter de violênciaoca em orno da orescene indúsria do sexo, seja peas caraceríscaspolêmicas dessa vertente da mobilidade humana, envolvendo a questão degênero, a ação do crime organiado ransnaciona, o probema ambígo da“vimiação”/“criminaiação” da pessoa do migrane. traa-se de m campovasto e complexo, e que ainda se encontra em movimento, em plena formação,o qe dica qaqer “esado da are” mais sereno o denivo. É, sobredo,um território extremamente polêmico, em que o caráter intrinsecamentepoíco da qesão migraória se manifesa de maneira aé mesmo esridene.

No emaranhado da qesão do ráco de pessoas exise m embae em orno dediferenes concepções: sobre poícas de sexaidade e de gênero; de gesão dasmigrações; dos direios hmanos; a egimidade de ceras formas de rabaho; acriminaidade e a vioência; a indúsria do rismo, do aer e do sexo; bem comode ma congração mcra da sociedade.

Por isso, o qe enamos faer aqi não passa do qe poderíamos chamar de“esboço”. Seria uma temeridade ter a pretensão de delinear um retrato completoe exasvo de m erreno de pesqisa e discssão poíca, acadêmica e miiane,que se encontra em plena ebulição. Não seria possível abarcar tudo o que é

Tráfco de pessoas para

exploração sexual

Um esboço de revisão bibliográfca

Sidnei Marco Dornelas *

* Missionário scalabriniano e membro do Setor Pastoral da Mobilidade Humana

(CNBB).

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prodido por diferentes organismos nacionais e internacionais, governamentaise de ONGs, circando pea inerne, discdo em Seminários e Congressos, eqe se orna maéria jornaísca, e porvenra acaba sendo pbicado em ivroo revisa cienca. No enano, é ambém “esboço” no sendo de qe se

busca não tanto uma revisão completa da literatura sobre esse tema, mas sim aelaboração de um instrumento que permita uma orientação nesse campo vastode discssão. Assim, ao mesmo empo em qe conexaiamos a prodçãoliterária, basicamente com documentos acessíveis via internet, procuramosaponar rês pbicações qe, de maneira reevane, coocam o ema do rácode pessoas na mesa de discssão: de caráer jrídico, socioanropoógico, emiiane peas endades de apoio aos migranes “vímas” de ráco.

Dessa forma, nese ensaio de revisão bibiográca, começamos enandorecperar o qe seria a ierara insciona, de caráer jrídico-poíco, de

endades nacionais e inernacionais, ONGs, o de caráer púbico, em orno doema do ráco de pessoas. Em segida, repassamos diferenes esdos na áreada sociologia, da antropologia e dos estudos culturais, que buscam conhecerempírica e eoricamene a reaidade do ráco de pessoas para ns de exporaçãosexual, com foco nas mulheres migrantes atuando no chamado “mercado dosexo”. Esdos de caráer cienco, mas ambém de agma maneira miiane,raem qesonamenos de oda ordem qano à abordagem inscionae sociopoíco-assisencia dessa qesão, visando, em pare, endades qeenam “socorrer” migranes qe se enconrariam racadas. Nesse sendo,

dedicamos a úma pare à ierara prodida por essas endades qe aamno campo da assistência aos migrantes. Entre outras, damos atenção àquelasqe, denro de ma movação de ordem reigiosa e sociopoíca, se remeem àpráca pasora da Igreja Caóica.

Literatura instucional: abordagem jurídico-políca

O aconecimeno marcane qe gavanio a aenção para o ráco depessoas, enão ainda ma denido em ermos inscionais, foi a promgação do“Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado

Transnacional Relavo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráco de Pessoas,em especial Mulheres e Crianças”, mais conhecido como Protocolo de Palermo(2000). Segndo a denição rmada, tráco de Pessoas seria:

O recrameno, o ranspore, a ransferência, oalojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo àameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, aorapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou àsituação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação depagamenos o benecios para ober o consenmeno de

ma pessoa qe enha aoridade sobre ora para ns deexploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploraçãoda prosição de orem o oras formas de exporação

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sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ouprácas simiares à escravara, a servidão o a remoçãode órgãos (Argo 3º, aínea A).

O exo do proocoo frisa ambém qe o consenmeno da “víma” seria

irreevane na caraceriação daqio qe seria a práca do crime de “ráco”, oo desocameno para ns de exporação o sfro do corpo do migrane.

Essa denição consensa em níve de Nações unidas, feia no sendo decombaer o “crime organiado transnacional”, veio condicionar tudo o que seriapbicado poseriormene. Percebe-se qe a aenção voa-se, principamene,para o “conrabando” de migranes, se desocameno forçado com a naidadede exporação sexa, em primeiro gar, mas ambém para prácas de rabahoanálogo à escravidão, ou para a remoção de órgãos. São todas formas de usufrutoabusivo do “corpo” do migrante. Desde o princípio, porém, o foco principal

parece ser a inserção de migrantes no mercado do sexo comercial.Oras naidades, em parcar as mias formas de escraviação moderna,

embora ão graves qano a exporação sexa, caram em segndo pano. Éverdade que algumas instâncias internacionais, em seus documentos e relatórios,procraram er ma visão mais ampa do ráco de pessoas, incindo odas asformas exremas de exporação sica do migrane. É o caso do reaório preparadopeo Escriório de lisboa da Organiação Inernaciona do trabaho (OIt),“Combate ao tráco de seres humanos e trabalho forçado: estudos de casos erespostas de Portugal ” (PEREIRA; VASCONCElOS, 2007), qe fa m esdo ampo

de casos de ráco de rabahadores migranes envovendo inúmeros ramos deavidades, incsive o ramo do sexo comercia. Igamene, o Deparameno deEstado dos Estados Unidos, em seu relatório “Tracking in Persons Report – 2010”(DEPARtMENt OF StAtE uSA, 2010), nm evanameno da siação do rácoem odos os países do mndo, nas páginas dedicadas ao Brasi, desaca o rácodesnado ao rabaho anáogo à escravidão no inerior do Brasi, sem deixar deconsiderar os casos de mheres e adoescenes desnadas ao mercado do sexono exerior, e os imigranes ano-americanos em siação de rabaho degradanena cidade de São Pao. Oro exempo de abordagem mais ampa e diversicada

da compexa qesão do ráco enconra-se na série de pbicações da GobaAiance Agains trac in Women (GAAtW), “Beyond Borders” (2010), qe, emboradando desaqe à qesão do ráco para ns de exporação sexa, aborda orasdimensões, como as poícas migraórias e a bsca de rabaho.

No Brasil, porém, apesar da clara associação da migração interna temporáriacom os casos de rabaho anáogo a escravo (REzENDE, 2004), evidenciadospeas reporagens veicadas pea ONG Repórer Brasi nos úmos anos e peasvárias campanhas mobiiadas pea Comissão Pasora da terra1, o mesmo dosconhecidos casos de redução de imigrantes bolivianos à condição de trabalho

degradane em cidades como São Pao, qando se raa de ráco de pessoas,a aenção de represenanes do poder púbico, miianes de ONGs e mesmoacadêmicos interessados no tema parece se direcionar unicamente para a questão

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da exploração sexual, em que seriam arregimentadas mulheres e adolescentes,desnadas para o exerior. Mesmo nm esdo sobre a migração e rabahodegradane, preparado com o apoio do Minisério do trabaho e Emprego (DIAS;MAttOS, 2009), cjo foco principa é a probemáca das condições de rabaho

de hispano-americanos em siação irregar na cidade de São Pao, qando,em dois ópicos, raa do ema do ráco, envereda-se pea discssão orosa daqesão do ráco de mheres e adoescenes para a indúsria do sexo.

Nesse conexo é qe srgem as primeiras abordagens orienando-aspara o ema do ráco para ns de exporação sexa no Brasi. Em sinoniacom o protocolo de Palermo, na área dos direitos humanos, aparecem estudosexporaórios sobre o ráco de pessoas (IIDH, 2003). Porém, é na perspecva

 jrídica do Direio Pena qe aparece ma primeira obra bscando faer mbaanço mais ampo sobre o assno. traa-se do ivro de Damásio de Jess,

“Tráco internacional de mulheres e crianças – Brasil ” (2003), endo comosbo, “Relatório elaborado pelo autor para o colóquio preparatório do XVIICongresso Internacional de Direito Penal ”, de abri de 2002. O ivro reprod mapesqisa qe eve como reaora gera Ea Wieco Vomer de Casho, e comoobjevo, “consoidar as informações prodidas por órgãos ociais, as nociasdivgadas pea imprensa brasieira e os dados prodidos por organiações dasociedade civi qe aam em Direios Hmanos”. Denro dessa perspecva, apósrês capíos em qe inrod a pesqisa e a emáca do ráco inernacionade pessoas como nova forma de escravidão, cenra sa aenção no rácoinernaciona de mheres e o ráco de crianças no Brasi. De fao, em doisongos capíos, ese rabaho apresena grande qandade de informações,tanto sobre a evolução da legislação, como o histórico de casos documentadosaté aquele momento, sobretudo na década anterior. Ressalta que, até então,o que ganhava destaque nas preocupações dos movimentos sociais – no quedi respeio ao combae da criminaidade – era o ráco e exporação sexa decrianças e adoescenes, ano em níve de ráco inerno, como inernaciona.A invesgação ganha parcar densidade ao recperar odo o dossiê de

inqérios sobre adoção irregar de crianças ao ongo da década de 1990,caraceriando-a como ma práca de “comerciaiação de crianças” o ma“indúsria da adoção”, em ocaidades ão diferenes como Iabna (BA) e Jndiaí(SP), e esados como Ceará, Goiás o Roraima. Cia ma Comissão Paramenarde Inqério de 1990, em qe se consao mais de 1900 processos fradenosde adoção inernaciona. tena descrever como se dá a exporação sexa infano-

 jveni no Brasi, nas várias ramicações da chamada “indúsria do sexo”: prácassexais mediane pagameno, pornograa na inerne, rismo sexa. Àqeaaltura, a pesquisa constatava que, do universo de casos documentados, apenas

1,83% desnavam-se para o ráco inernaciona de crianças e adoescenes. Naverdade, o qe se coocava em casa era predominanemene o ráco inerno.O ivro ainda ra dois capíos mais cros sobre a jrisprdência do ráco de

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mheres e crianças, e as iniciavas de prevenção e repressão no Brasil, seguidosde ma onga seção de anexos anenes à própria reaiação da pesqisa.

O per jrídico, de caráer pena, desa primeira pbicação mais consisenesobre a qesão do ráco de pessoas, di bem sobre o modo como essa emáca,

reavamene nova no campo dos esdos de migração e mobiidade hmana noBrasi, esava sendo percebida. Esa seria ambém a perspecva dominane naspesqisas pioneiras, especiamene focadas nessa qesão, reaiadas a parr de2002 pea Pesqisa sobre tráco de Mheres, Crianças e Adoescenes (PEStRAF).Foi m primeiro diagnósco sobre a incidência do ráco nos esados de SãoPao, Ceará, Rio de Janeiro, Goiás, a parr do esdo de inqérios poiciais eprocessos aberos pea Poícia Federa. Àqea ara, eriam sido idencadas241 roas nacionais e inernacionais.

Oros esdos e desdobramenos da pesqisa PEStRAF se scederam nos

anos segines, focaiando deerminadas regiões o ocais, como o Aeroporode Garhos (SP) e o esado do Rio Grande do S, bem como focaiando grposespecícos, como as mheres deporadas e não admidas. Nesse meio empo,o Brasi racava o Proocoo de Paermo (2004), criava a Poíca Naciona deEnfrenameno ao tráco de Pessoas (2006) e, poseriormene, eaborava o PanoNaciona de Enfrenameno ao tráco de Pessoas (2008), ambos pbicados peoMinisério da Jsça. Nesse conexo, ao ado das pesqisas PEStRAF, oraspbicações foram ançadas peo governo federa (Minisério do trabaho eEmprego, Minisério da Jsça, Minisério das Reações Exeriores), em parceria

com a Organiação Inernaciona do trabaho (OIt) e nanciadas pea AgênciaNore-Americana para o Desenvovimeno Inernaciona (uSAID), procrando darcona do fenômeno do ráco. todas essas iniciavas de pbicação enconram-se no qadro do Projeo de Enfrenameno ao tráco de Pessoas (tIP), renidasnm CD-ROM2.

O Governo brasieiro, desa forma, se ainha a m esforço comm a orospaíses ano-americanos na eaboração de poícas de combae ao ráco depessoas. Como exemplos deste empreendimento, temos desde publicaçõesociais, ambém em parceria com organiações como a Organiação Inernaciona

das Migrações (OIM), no Paragai (2005, 2007), na Boívia (2007), na Coômbia(2006), aé esdos mais ampos abordando grandes bocos regionais como a regiãodo Caribe (OIM, 2010) e o Mercos (SPRANDEl, 2004; BID, 2006). ta esforço seenquadra nas linhas postuladas pelos grandes organismos internacionais queorienam o combae ao tráco de Pessoas, e procra corresponder a ma demandade caráer predominanemene repressivo, como ca evidene nos docmenos doOce on Drgs and Crime das Nações unidas (uNODC, 2006 e 2009), o mesmonos relatórios publicados anualmente pelo Departamento de Estado dos Estadosunidos (2010). ta orienação se difnde em oras áreas chaves de aação,

como a coberra feia pea Mídia, exempicada pea pbicação nanciada peaOrganiaon for Secriy and Cooperaon in Erope (2008), confeccionada paraser m mana para giar a aação de jornaisas e prossionais de imprensa.

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Recenemene, a Secrearia Naciona de Jsça, no qadro do Pano Nacionade Enfrenameno do tráco de Pessoas, anço o Prêmio liberas, com o objevode esmar a divgação de esdos, pesqisas e reaos de experiências sobre aqesão do ráco, no sendo de ampiar o conhecimeno do ema. Evidenciam a

preocupação do governo brasileiro por um diálogo maior com as Universidadespara o conhecimeno dessa qesão. Em sa primeira edição, em 2010, ostrabalhos premiados evidenciam essa busca em alargar o debate, mas ainda semosram exremamene vincados à abordagem jrídico-poíca. Essa bsca,no entanto, é bem visível no primeiro colocado entre os graduados, que estuda acondição dos “ravess” no conexo da migração ransnaciona para o mercado deserviços sexais na Eropa (AGNOlEttI, 2010); o, em exos exporaórios sobreo modo como a caegoria de “ráco” vem sendo sada peos agenes poícosenvovidos no Pano Naciona de Enfrenameno ao tráco de Pessoas (SIlVA;

BlANCHEttE, 2010); o no modo como a imprensa espanhoa vem conoandoo combae ao ráco de pessoas (VENSON, 2010). Os demais exos enreaçam-se em considerações sobre a egisação e a práca poíca do enfrenameno aoráco (SAlES; AlENCAR, 2010; FRISSO, 2010; ARRuDA, 2010).

Enm, essas pbicações de cnho mais ocia se desdobram nm vasoeqe de peqenos sbsídios e exos desnados a m púbico mais argo, sejano sendo de ornar mais conhecida a reaidade do ráco de pessoas, seja nabsca de sbsidiar a ação de grpos ocais, organiações não-governamenais eoros aores sociais e poícos. Dessa maneira, emos peqenas carhas como

as qe são nanciadas peo Consado dos Esados unidos no Brasi (MASSulA;MElO, s.d.), pea OIM (CEMlA; SAVE tHE CHIlDREN, 2006) e pea SecreariaNaciona de Jsça (2009). Aém desses, srgem ambém esdos de divgaçãona área do Direio (BARBOSA, 2010). Denro desse qadro ampo de cooperaçãoenre essas agências e endades da sociedade civi, podemos conexaiar aparceria da Conferência Naciona dos Bispos do Brasi (CNBB) com o Minisérioda Jsça, evando à pbicação do coneúdo de m Seminário sobre tráco dePessoas reaiado peas das endades em 2008 (Seor Pasorais da MobiidadeHmana, 2010).

Interpretação das ciências sociais: sociologia, antropologia e estu-dos culturais

A paa das pbicações de caráer insciona, rápida e argamenedifundida, não demorou a provocar uma forte demanda por estudos de carátermais anaíco qe bscassem m ohar a parr de ma base empírica maissóida. A reaidade do ráco mosrava-se exremamene opaca e compexa,inerpeando os ciensas sociais à procra de indicavos mais consisenes para

m esdo mais ampo e profndo das qesões ssciadas. Nesse sendo, asérie de pbicações já ciadas da GAAtW (2010), é m demonsravo caro doesforço na produção de trabalhos que proporcionassem respostas adequadas às

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mias verenes srgidas em orno do ráco de pessoas: sas reações com asqesões de gênero, com a gobaiação e as poícas de segrança, com o mndodo rabaho, com as dinâmicas migraórias e as poícas mobiiadas para geri-as.Em parcar, os esdos qe diversos pesqisadores prodiram ao ongo dos

úmos anos, nas mais diversas áreas, procram dar ma maior fndamenaçãoempírica sobre o qe signica socia e poicamene o ráco de pessoas, e,sobredo, qem seria essa pessoa “racada”, o a “víma” do ráco.

Um exemplo dessa trajetória de busca por uma melhor compreensão dareaidade do ráco, de sas impicações sociais, poícas e econômicas, assimcomo das pessoas envolvidas, principalmente migrantes mulheres e adolescentes,enconramos na revisa pbicada pea OIM, a Internaonal Migraon. Em2005 foi ançado m número especia inado “Data and Research on HumanTracking: a Global Survey ” (lACzkO; GOzDzIAk, 2005), cjos argos nham

por m jsamene discr os desaos meodoógicos proposos pea pesqisaempírica na área do ráco de pessoas, sobredo no qe di respeio aoevanameno de dados conáveis. um eenco de argos fa ma revisão dosesdos qe enão se desenvoviam nas grandes regiões do panea: OrieneMédio, África Sb-saariana, América lana e Caribe, Ásia, ec. Cinco anosdepois, oro número seria ançado, em 2010, raendo ma renião de exosde horiones discipinares variados, com diferenes perspecvas eóricas, eprodidos a parr de referenciais empíricos disnos. Enconramos ai mesdo qe aborda as dicdades meodoógicas nas pesqisas qaiavas com

as pessoas “vímas” de ráco, e as sas impicações écas, a parr de maamosragem com mheres reornadas na Modávia (BRuNOVSkIS; SuRtEES,2010); m ensaio sobre as possibiidades de ma abordagem qe reacione aqesão do ráco com as eorias de desenvovimeno hmano, como esraégiade speração de sa principa casa, a pobrea (DANAIlOVA-tRAINOR; lACzkO,2010); ma anáise do discrso dos aores inscionais em orno do ráco,a parr do insrmena anaíco do “gerenciameno biopoíco” e do “cácoeconômico”, e a conseqene prodção das “vímas” do ráco de pessoas comoforma de esgmaação e conroe das migrações (BERMAN, 2010); m ensaio

qe bsca dissecar aqio qe seria m modeo econômico do ráco de pessoas(WHEAtON e a., 2010); ma invesgação sobre a ambigidade da condiçãodos rabahadores migranes conraados no Oriene Médio (JuREIDINI, 2010); aapresentação de uma pesquisa sobre o crescente número de menores viajandodesacompanhados pelos aeroportos europeus, como possível grupo de risco(DERluYN e a., 2010). Em odos ees percebe-se a bsca por m veio de anáiseque permita uma aproximação e compreensão mais profunda da complexidadedessa reaidade, seja pea invesgação empírica, seja peo so de m variadoreperório de insrmena eórico. temos assim ma rajeória em qe vários

caminhos levam à proposição de novos quadros referenciais para o estudo etrabalho de campo, e, sobretudo, para alcançar uma maior precisão e consensonos conceitos empregados.

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Na Eropa, onde as reações enre o ráco de pessoas e a indúsria dosexo vêm coocando qesonamenos crescenes, seja pea ação da Mídiasensacionalista, seja pela presença crescente de mulheres migrantes nesse nichode trabalho, os estudos acadêmicos igualmente se empenham por um maior

aprofndameno do insrmena eórico, assim como pea soide na anáiseempírica. Nm coóqio inernaciona reaiado pea universidade de Nice, naFrança, em 2007, ma de sas mesas nha jsamene essa emáca: “Industriedu sexe et tracs: une voie pour les migrant(e)s? ” Com efeito, a discussão dessareação enre migração e a indúsria do sexo, mias vees marcadamenepolêmica, se mostraria rica em ensinamentos sobre a complexidade da migraçãono erreno mfaceado e conradiório da gobaiação, principamene qandose considera a condição do migrante. No conjunto de trabalhos apresentados,emos: ma anáise de como o “corpo” vimiado da mher prosída e

migrane é consrído ideoogicamene, criminaiando a migração, sobredoem se tratando de migrantes oriundas do Leste europeu, brancas, para umaEropa Ocidena igamene branca (RuSSEl, 2007); ma anáise da qesãoda aeridade do corpo da mher migrane, em qe se impicam diaecamenea prosição de migranes, reações de gênero e modeos crais (MASSARI;SIEBERt, 2007); m esdo das rajeórias e ógicas de circação de dançarinasmigranes por cabarés da Síça (tHIÉVENt, 2007); m esdo da circação dasmheres migranes peo seor de serviços, enre o rabaho domésco e o serviçocomercia do sexo (GuIllEMAut, 2007). também enconramos essa preocpação

por uma compreensão da condição de gênero dos migrantes, num leque maiorde análise, em estudos recentes como os publicados pela revista Mondi Migran  (PISCItEllI; tEIXEIRA, 2010; PEluCIO, 2010), com foco especia sobre os ravessbrasieiros na Iáia e Espanha, e pea revisa Migraciones (GIRONA, 2009), nmestudo rico em informações, sobre os casamentos de mulheres migrantes comespanhóis, oriundos do contexto do chamado “turismo sexual”, e outro sobre ainvisibilidade dos menores migrantes viajando desacompanhados pela Espanha(DIEGO, 2010).

Na América lana, com ma ênfase menor, a qesão do ráco vem

se colocando, principalmente relacionada com o fenômeno crescente dafeminiação das migrações. É nessa perspecva qe foram eaborados agnsesdos pbicados pea Comisión Económica para América lana (CEPAl),em que predomina um enfoque que privilegia a análise socioeconômica decaráter macroestrutural, sobre a condição das mulheres migrantes e o respeitoaos direitos humanos. Sendo predominantemente uma região de origem dasmigrações, ais esdos inserem a qesão do ráco nm qadro hisóricomais amplo, em que se discutem as relações econômicas e sociais às quaisas mheres sempre esveram sbmedas, o srgimeno recene de ma

migração predominantemente feminina, as violações aos direitos humanos,os insrmenais jrídicos e programas sociais qe poderiam ser mobiiadosem sa defesa (CAStEllANOS, 2005; CHIAROttI, 2003). No caso brasieiro,

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o desdobrameno do esdo da qesão do ráco, a parr das mobiiaçõesinscionais para coibir essa forma de “crime ransnaciona” (Proocoo dePaermo), orieno-se em orno das denúncias crescenes sobre a exporaçãosexual de crianças e adolescentes no interior do país, da existência do chamado

turismo sexual e da constatação de que uma vertente importante da recenteemigração brasieira era consída por mheres desnadas para agns paísesda Europa, principalmente para o setor de serviços, incluindo os serviços de sexocomercial.

Agns argos foram pbicados ainda no conexo da década de 1990,seja como denúncia da condição vivida por mheres brasieiras prosídas naSíça (HuBER, 1996), seja como ensaio procrando reacionar expiciamene arealidade dos migrantes brasileiros no exterior, a questão de gênero e o turismosexa (lEItE, 2000). O amadrecimeno da discssão eórica de ordem socia

e poíca, no enano, com as qesões emergenes qe he são decorrenes,só veio poseriormene, no bojo do qesonameno da ação insciona derepressão ao ráco, enconrando m pono de referência imporane no Núceode Esdos de Gênero da universidade de Campinas (uNICAMP), e se veícode expressão nos Cadernos Pagu. Em se nº 25, do segndo semesre de 2005,m dossiê apresena argos propondo-se a qesonar a inha predominanecom que vêm sendo tratados temas sensíveis como a migração de mulheres,a prosição e o chamado rismo sexa: ma anáise do “esado da are”do debate internacional, cuja hegemonia vem sendo disputada por diferentes

correntes do movimento feminista, e pelos interesses dos países ricos doOcidene, em especia dos Esados unidos, raendo impicações probemácaspara os países mais pobres em ermos de raça e gênero (kEMPADOO, 2005);oro argo qe anaisa o modo como o debae vem sendo consrído no Brasi,conagiado por m esado de “pânico mora”, qe reee ineresses exógenosao conexo de origem da emigração brasieira (GRuPO DAVIDA, 2005); aabordagem antropológica de um estudo de caso, feito numa danceteria deCopacabana, sobre como se daria nesse gar especíco as reações enreclientes do “turismo sexual” e garotas de programa, com suas estratégias

para viabiiar se próprio projeo migraório (SIlVA; BlANCHEttE, 2005); mesdo cenrado na prodção do discrso esgmaador sobre as imigranesque trabalham na indústria do sexo europeu, e que, contraditoriamente, nãopercebe, o obscrece, a práca do chamado rismo sexa (AGuStIN, 2005);m argo qe disce as poêmicas enre vários grpos, incindo feminisas, nacaraceriação do rabaho sexa, em parcar aqee qe impica a presençade imigranes na Eropa (JulIANO, 2005).

Esse posicionameno críco foi aprofndado nm dossiê ançado no nº 31,do segndo semesre de 2008, inado “Trânsitos”, coordenado por Adriana

Pisciei e Márcia Vasconceos, e reprodido poseriormene no CD-ROM“Combate ao Tráco de Pessoas: trabalho em liberdade”, ançado pea OIt, e jámencionado anteriormente3. É ineressane observar qe cinco dos see argos

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pbicados nese dossiê êm o se foco no debae sobre as caegoriaçõesmobiiadas no combae e repressão ao ráco de pessoas, como a qesãoda “criminaiação” e/o “vimiação” das mheres migranes, os direioshmanos, as reações de gênero, as prácas do apareho jdiciário e poicia nesse

âmbio, aém da críca ao discrso sobre o ráco mobiiado peas insiçõesinernacionais e governamenais brasieiras. Assim, emos m argo qe seinscreve dentro do quadro de um estudo do Direito Penal aplicado à situaçãodas mheres envovidas nesse po de desocameno (FARIA, 2008); ma anáisena linha de uma criminologia dos processos judiciais envolvendo denúncias deráco, procrando discernir como se cooca a qesão de gênero (CAStIlHO,2008); oro, a parr dos reaos de mheres migranes regressadas ao Aeroporode Garhos, em São Pao, expõe a vioação dos direios hmanos no conexodo ráco e a imporância de disc-os nma perspecva de gênero (ASBRAD,

2008); m esdo qe reaciona noções como “rabaho forçado” e “ráco depessoas”, considerando suas interfaces com a questão de gênero no mundo damigração (VASCONCElOS; BOlzON, 2008); m esdo críco da adminisraçãoda jsça, em Direio Pena, considerando siações de prosição e ráco depessoas, e sa reação com o respeio aos direios hmanos (OlIVEIRA, 2008).Dois oros argos parecem bscar ma inha de anáise mais abera, qe saemdesse per críco mais esrio em reação à poíca de enfrenameno ao ráco,embora não deixem de qesonar os condicionamenos poícos da abordagemdas ciências sociais qano ao ráco: a condição das ravess na Iáia, e sa

reação com o combae e repressão à prosição (tEIXEIRA, 2008); e m exode Pisciei (2008), no qa disce os percaços da consrção do processo deconhecimeno nessa área, com ma enava de faer m baanço dos miosdilemas e entraves postos a uma discussão mais isenta sobre o tema.

Aliás, no Brasil, Adriana Piscitelli tem se revelado uma referência importanteno estudo dessa área, envolvendo a questão de gênero, a emigração de mulheres,o rismo sexa, a práca da prosição o do mercado do sexo em soo erope.Direcionando sa avidade de pesqisa na área da anropoogia, os argos qevem publicando contribuem, sobretudo, quando se quer considerar o ponto de

visa das e dos migranes envovidos na dinâmica socia do ráco de pessoas.Em 2002, no nº 19 dos Cadernos Pagu, publicou um texto exploratório sobre asrepresenações qe cercam as narravas de viajanes, “risas” à procra desexo, em países considerados exócos, discndo como noções de sexaidade,exosmo e aencidade esariam permeados pea qesão de gênero. A parrdessa mesma época, em qe esaria parcipando da reaiação das pesqisasPEStRAF, iniciaria m percrso qe resaria nm conjno de esdos cenradosna condição das mulheres migrantes envolvidas no mercado do sexo em paísescomo Iáia e Espanha. Aém do qe vem pbicando nos Cadernos Pagu, e tendo

parcipações em congressos e seminários, enre os qais podem ser ciados:abordagens da trajetória migratória de mulheres originárias do “turismo sexual”em Foraea, para a Iáia, onde se inserem no mercado do sexo o consegem

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mesmo conrair agma forma de marimônio (2004; 2007a); m esdo sobreas brasileiras no mercado do sexo na Espanha, recuperando suas trajetórias erepresenações, em parcar qano ao sendo do so do corpo, do consmoeróco e das inerações de raça e nacionaidade no sexo comercia (2007b);

outro estudo sobre as várias formas de inserção e circulação de brasileiras noâmbio da ransnacionaiação dos mercados sexa e marimonia, em paísescomo Espanha e Iáia (2009). Em odos ees, exise essa bsca por recoher aspercepções dos migrantes, e de dar valor ao modo como representam sua própriainserção no meio socia em qe normamene se dennciam os casos de rácode pessoas. Esse viés de anáise ra qesonamenos sérios para o modo comoas insições sociais, governamenais o não, se reacionam com as chamadas“vímas” do ráco, mesmo qando preendem defendê-as.

Nesse campo especíco de discssão se insere o esdo críco da aação

das organiações não-governamenais qe se propõem a resgaar as “vímas”do ráco de pessoas. A grande referência nesse campo é o rabaho de laraMaria Agsn, inado “Sex at the margins: migraon, labour markets andthe rescue industry ” (2007). traa-se de m esdo rico em inições sobre omodo como se apresenta o mundo da mobilidade humana nesse início do séculoXXI, posando, porém, ma reexão basane poêmica qano à reaidadedas rabahadoras migranes do sexo no connene erope. A aora possima rajeória de edcadora socia na América lana e Caribe, em parcardirecionada a migrantes e populações em risco social, como mulheres

prosídas. Migrando para a Eropa, persevero nesse campo de aaçãoe militância, passando também a desenvolver estudos nessa área, em quecomeço a qesonar de maneira críca as ONGs qe se propnham apoiar eresgaar migranes em siação irregar. Segndo Agsn, os agenes de serviçosocial constantemente negam o agenciamento dos trabalhadores migrantes pormeio de m movimeno ao mesmo empo eórico e práco, cjo objevo é ogerenciameno e o conroe desses grpos sociais. O resado é ma vimiaçãoda rabahadora migrane da indúsria do sexo, visa como víma invonária epassiva, e não como pessoas em busca de oportunidades de trabalho e ascensão

social, mesmo que sob condições de trabalho ilegais e degradantes.tendo essa posra como pono de parda, e coocando-se na inha dos

chamados “estudos culturais”, neste livro, a autora trabalha na intersecção dedois grpos: o dos migranes qe se desocam para a Eropa a m de se inserirno seor informa (domésco, serviços, enreenimeno, sexo...); e os qerabaham no serviço socia jno aos imigranes, considerando-os como grposde risco (ONGs, serviços púbicos). Os dois primeiros capíos discem de formainsgane as consrções eóricas qe procram compreender o modo comose congram aamene sob a gobaiação, ano o mndo da mobiidade

humana, como o setor econômico dos serviços, no qual se insere a indústria dosexo. O primeiro capío rabaha com a ide de caegorias como “migração”,“rismo”, “viagens”, “rabaho”, para caraceriar as ambigidades das múpas

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siações qe marcam ma mobiidade qe se desdobra de forma cada ve maisvariada e híbrida, fgindo a qaqer caegoriação mais rígida. Nm conexo dexos cada ve mais imprevisíveis, não se em mais a possibiidade de denir demaneira clara o que seria migração para trabalho, ou viagem para turismo, tempo

e espaço de aer e de rabaho, reações de gênero, nem propriamene qemseria o migrante. A experiência do migrante é marcada por uma simultaneidadecrescene de papéis sociais, ocaiações e referenciais crais. Em meio a anasindenições, esraégias múpas, informais e híbridas de desocameno, comodenir de maneira cara o qe seria ma siação de ráco? Em qe medida omigrane é “víma” o agene de se próprio desocameno? Igamene, nosegndo capío, cooca em discssão as indenições sobre a mfaceadaeconomia informal, designada de maneira genérica como sendo de “serviços”.A autora, ao mesmo tempo em que mostra como os empregos informais, de

reconhecimento duvidoso, são necessários socialmente, demonstra também aimportância desse setor informal, mesmo que invisível à contabilidade nacional,para o fncionameno da economia forma gobaiada. A chamada “indúsria dosexo”, qe se ramica nma enorme gama de “serviços”, qe excedem a pra esimpes “prosição”, é m dos mehores exempos de como ese seor informa,de lucros exorbitantes, ajuda a movimentar o ramo de entretenimento, hotelaria,gastronomia, de comunicações, entre outros. Ao setor informal, e dos serviçossexais em parcar, se dirige pare consideráve das mheres migranes, dandosendo à crescene feminiação das migrações, e a aora recpera vários de

seus depoimentos, assim como de seus clientes. As mulheres migrantes, nesseseor margina da economia gobaiada, repropõem de maneira conradióriaquestões referentes à alteridade de gênero, raça, cultura, bem como formasaernavas de agenciameno de ses projeos migraórios.

Nos capíos segines, Agsn enra propriamene no se ema: o srgimenodo seor socia, parcarmene aqee qe bsca de agma forma resgaarsociamene as mheres em siação de prosição. Nm capío dedicado àrecperação hisórica do srgimeno desse seor na Eropa, drane o séco XIX,fa ma geneaogia dos processos sociais qe fndaram a anropia moderna,

e de como está associada estreitamente com a emancipação das mulheres declasse média, da burguesia ascendente, para ocuparem posições no espaçopúbico, por meio de insos e avidades qe, conradioriamene, se propõema disciplinar e reeducar socialmente mulheres oriundas da classe trabalhadora,sendo as prosas m púbico avo por exceência. Dessa forma nasceria a aa“indúsria do resgae”, represenada peas inúmeras endades qe se propõem,em nome da emancipação das mheres e armação de ses direios, resgaaras mheres migranes, “vímas” do ráco. Em se inerário de anáise críca,a aora, aravés da observação parcipane e ma “m-ocaiada-enograa”

reaiada na Espanha, bsca ovir a vo das migranes aando nesse nicho derabaho, serviços sexais, e qesonar o campo de aação, as represenações,a meodoogia de inervenção socia e os posicionamenos poícos dessas ONGs.

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Para ano, em sa seção mais imporane, o ivro recpera oio narravas deaação dessas ONGs: na ra enre os grpos de mheres migranes; na ação deprevenção ao HIV; em grandes congressos sobre o combae ao ráco; em casasde acohida; no conao com donos de cabarés.

A autora conclui mostrando como, no propósito de resgatar as imigrantesexploradas pela indústria do sexo, atualmente, o setor social tende a construir ose próprio objeo, o ráco de pessoas e sas vímas, para esdá-o, organiá-o, debaê-o, geri-o e servir-se dee, reprodindo assim a desigadade e osesgmas qe marcam as mheres migranes, e perpeando as condiçõesde difsão de sa própria avidade. A proposa da aora é a de redenir asqesões a parr da esca dos próprios migranes, considerando sa demandapor documentação,  para sair da candesnidade e enconrar condições derabaho dignas, para agenciar soções com a sa parcipação, sem perder

de visa a reaidade de se desocameno, nm mndo de rabaho exíve,inserido na diáspora de um mercado transnacional. A tendência da autora emfgir de qaqer discrso moraiane, em bsca de soções pragmácas qese ajustem às demandas das migrantes, no caso de sua inserção voluntáriano mercado do sexo, é objeo de crícas, na medida em qe desconsidera osdiferentes níveis de violência implícitos nos mecanismos sociais e econômicosque regem esse mercado, e que não necessariamente transparece em suasrepresenações. traar a qesão éca de maneira nicamene pragmáca endepara ma “miopia” qe não percebe a banaiação do ma impício nas prácas

econômicas qe condicionam a vida de odos nm conexo de gobaiação,mas qe desqaicam, sobredo, os mais pobres. Revear as represenaçõesneocolonialistas presentes no mercado do sexo e no setor social, ou se propora assmir o proagonismo dos migranes, não jsca coocar a discssão écanm segndo pano. No enano, Agsn apona para ago fndamena: comoas endades da sociedade civi e sas mediações inscionais, não só agemna formação de ma caegoria socia, a “víma” do ráco, mas como ambémlidam com as pessoas que vivenciam de maneira contraditória essa condição.tais endades ambém êm se modo próprio de expressar sa visão do ráco,seu engajamento e posicionameno socia e poíco.

A palavra das endades no terreno de atuação

Em um de ses argos, “Entre as ‘máas’ e a ‘ajuda’ ” (2008), AdrianaPiscitelli expõe os muitos percalços que têm acompanhado os estudos daqesão do ráco. tais percaços provêm jsamene da gama de ineressespoícos qe vêm envovendo o enfrenameno desse probema, desde aformação do Proocoo de Paermo, aé a impemenação de poícas nosdiversos países, caraceriando o ráco como crime ransnaciona, aém da

fragiidade dos dados à disposição e generaiações indevidas, criando assim mestado de confusão conceitual que vem embaralhando o esclarecimento dasvárias qesões ssciadas. Como ese nosso “esboço” de revisão críca vem

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mostrando, tal forma de posicionar o problema tem condicionado a literatura arespeio do ráco, ransiando enre a “criminaiação” e/o “vimiação” dose das migranes, e a defesa de ses direios fndamenais. O qe aores comoAgsn aponam é para a necessidade do diáogo com a visão de mndo dos

migranes envovidos na qesão do ráco de pessoas. Enreano, percebemoscomo esses mesmos condicionamentos da produção de conhecimento sobre oema ambém inenciam a ação de inúmeras ONGs, e embora as observaçõesde Agsn aponem para a necessidade de ma aocríca por pare deas, essasendades ambém êm ma conribição signicava a aporar, como mediaçãopara aceder ao mundo dos migrantes. Com efeito, como conhecimento mediadoinscionamene, a consaação da condição de vioência em qe vivemmigrantes explorados pela indústria do sexo, permite conhecer outras dimensõesde suas vivências, que os próprios migrantes não se permitem revelar com tanta

faciidade. Na verdade, não exise campo de invesgação cienca, em siaçõesão marcadas por conios de ineresses, enredando odas as pares envovidas,que seja completamente isento e transparente.

O qe a experiência brasieira em mosrado, considerando seja as diversasreaidades de nosso país, seja o modo como enre nós o ráco de pessoas emse desdobrado em ramicações inernas, aém das inernacionais, abarcandovários ramos de rabaho desqaicado aém do mercado do sexo (core decana, derrbada de maa, pasagem, serviço domésco, consrção civi...), éqe ave os qadros de enendimeno da experiência eropeia não possam

ser facimene ransferíveis para o nosso país. O mehor, mesmo qaicandode maneira adequada o deslocamento de mulheres para o mercado do sexotransnacional, não se pode abstrair inúmeras situações de violência queacompanham a sa diversicada rajeória migraória. um ivro preparado sobos aspícios de ma rede de ONGs de rês países (Brasi, Sriname e RepúbicaDominicana) apresena m qadro de exporação de mheres qe afnda sasraíes no hisórico de injsças desses países, e qe ganha ma dimensão maisampa, no circio da mobiidade ransnaciona. traa-se do ivro “InvesgaciónTriparte sobre trata de mujeres: Brasil. Republica Dominicana y Surinam: una

intervención en red ” (2008), coordenado por Marce Hae, e organiado como apoio de várias redes de endades como a Sociedade de Defesa dos DireiosSexais no Amaonas (SoDireios) do Brasi, qe coordeno o desenvovimenoda pesquisa, e a Red Lanoamericana y Del Caribe contra La Trata de Personas (GRAtW e a REDlAC). O propósio qe orieno o projeo foi o de consrir marede de inervenção qe considerasse a dimensão ransnaciona do ráco, pormeio de ma aproximação enre as ONGs dos diferenes países, qe são “pone”para m processo de invesgação e prodção de conhecimeno, a parr do reaoe do ponto de vista das pessoas envolvidas.

Ese rabaho, de fao, procra renir informações a parr de diferenesperspecvas, por meio dessa rede de organiações qe se inserem diferenemeneem ses países de referência, e qe por sa ve ambém apresenam qadros

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(IBISS); CRIOlA (ma organiação de mheres afro-brasieiras); e a universidadedo Grande Rio (uNIGRANRIO); o a paaforma Movimeno Conra o tráco dePessoas (MCtP); a Associação Brasieira de Defesa da Mher, da Infância e daJvende (ASBRAD); o Cenro Hmaniário de Apoio à Mher (CHAME), aém

do já ciado SoDireios, enre mios oros grpos. todos ees possem ampomaeria divgavo, em várias mídias, e aam, sobredo, na área da prevençãoe da incidência poíca, moniorando e acompanhando a ação governamenade enfrenameno ao ráco. Porém, não se em conhecimeno de pbicaçõescom estudos mais aprofundados quanto à proposta teórica ou ao levantamentoempírico, por pare dessas endades e sas redes de ação, qe permissem maforma aernava de aproximação da qesão.

Denre as endades não-governamenais qe esão envovidas noenfrenameno ao ráco, nos ineressaria em parcar aqeas de caráer

pasora, ainhadas à Igreja Caóica. Posando-se de forma aernava às divisõesno seio do movimento feminista, que tem se dividido em sua militância parainenciar na orienação dada ao combae ao ráco, vários grpos e endadespastorais católicos, atuando em rede, têm uma inserção entre as mulheresmarginaiadas, vneráveis ao ráco de pessoas. Em níve inernaciona, exisema rede de insos de vida consagrada inensamene arcada: a Rede“thaia km”. Em vários países, redes de caráer naciona êm se organiadono combae ao ráco, e no Brasi arca-se em orno da rede “um Grio peaVida”. Em parceria com a OIM, a unione dei Speriori Maggiori d’Iaia (uSMI)

e a Inernaona union of Speriors Genera, a rede “thaia km” pbico mprograma de formação (VOlPICEllI, 2004) com objevo de orienar os agenespastorais atuantes principalmente na área de assistência e acompanhamentodas “vímas” resgaadas do ráco. No Brasi, os grpos e endades ocaisigados ao “um Grio pea Vida”, assim como as agenes da Pasora da MherMarginaiada (PMM) o da Comissão Jsça e Pa – CNBB Regiona Pará eBeém, êm aado no erreno, na inha da prevenção e conscienação, o naincidência sobre os organismos púbicos de repressão ao ráco. Exise aindapouco trabalho, e consequentemente pouca documentação e publicações, na

inha da assisência às migranes envovidas no ráco desnado à exporaçãosexa. O qe exise de mais signicavo é a pbicação de ma carha pea rede“um Grio pea Vida”, e viabiiada pea Conferência dos Reigiosos do Brasi (CRB,2009), qe se propõe a ser m insrmeno de reexão para os reigiosos agenesde pasora engajados no compromisso de erradicação do ráco de pessoas.Recenemene, os Grpos de trabaho (Gts) sobre trabaho Escravo e tráco dePessoas da CNBB, organiaram m II Seminário de Enfrenameno do tráco dePessoas (Brasía, 11 a 13/08/2011), em parceria com o Minisério da Jsça e aCahoic Reief Services (CRS), para ma maior arcação enre esses grpos e

m aprofndameno da qesão do ráco, ambém nma óca pasora. Nessemeio, ambém há ma grande dicdade de organiação e de prodção deconhecimento mais aprofundado sobre a questão.

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Enm, m “esado da are” sobre o qadro aa de esdos e pbicaçõessobre o ráco de pessoas para exporação sexa, mesmo qe parcia e nãopassando de um “esboço”, revela um terreno de disputa ideológica aindabasane acirrada, condicionada pea qaicação do ráco como crime e peas

ambigidades qe cercam a “vimiação” dos migranes. Não chega, porém, arevear em oda sa nide como os migranes vivenciam as várias formas devioência qe cercam se projeo de migração, e de qe maneira se poderia faeremergir de fato sua cidadania, neste contexto marcado por tantas coerções.tampoco se pode inferir com carea como endades da sociedade civi, comoas orindas da ação pasora da Igreja, de cnho caóico, poderiam coaborarpara esse m, no respeio à aeridade dos migranes inseridos nesse meio.Ainda nesse sendo, seja como processo de prodção de conhecimeno, sejacomo engajamento pelo respeito da dignidade humana na pessoa do migrante,

permanece sendo algo como um “canteiro de obras”, da construção de um“objeo” marcado por dispas ideoógicas, em qe m dos desaos, com cereanão dos menores, seria o de aprender a escar a vo e discernir a condiçãovivida pelos migrantes.

Notas

1 - A ONG Repórer Brasi veica nocias e anáises sobre a qesão do rabaho escravono Brasi, aravés de sa página: www.reporerbrasi.org.br, e vem animando a campanhade prevenção e conscienação “Escravo, nem pensar”. A Comissão Pasora da terra (CPt),

desde sas origens nos anos 1970, denncia ocorrências de rabaho escravo no meio rrabrasieiro, e vem faendo campanhas de conscienação, denúncia e incidência poíca paraa erradicação do rabaho escravo. Peo coneúdo veicado por essas denúncias, percebe-se como a questão da incidência do trabalho escravo está intrinsecamente associada com ofenômeno da migração temporária rural.2 - O conjno é formado por 14 docmenos, renidos nm CD-ROM inado “Combateao Tráco de Pessoas: Trabalho em Liberdade”, prodido sob os aspícios da OrganiaçãoInernaciona do trabaho (OIt), e coordenado por thais Dmê Faria. Inci qarodocmenos reprodindo os resados e anáises da pesqisa PEStRAF, e oros de caráerocia: “Passapore para a liberdade – m gia para brasieiros no exerior” (2007); “Pesqisasem tráco de Pessoas: I – Diagnósco sobre ráco de seres hmanos” (2004); “Gia para

ocaiação dos ponos vneráveis à exporação sexa infano-jveni ao ongo das RodoviasFederais Brasieiras” (2004); “Brasieiras e Brasieiros no Exerior – Informações Úeis”(2007); “Pesqisa em tráco de Pessoas – O ráco de seres hmanos no Rio Grande do S”(2006); “Pesqisa em tráco de Pessoas: II – Indícios de ráco de pessoas no niverso dedeporadas e não admidas qe regressam ao Brasi via Aeroporo de Garhos” (2006);“Pesqisa em tráco de Pessoas: III – tráco inernaciona de pessoas e ráco de migranesenre deporados(as) e não admidos(as) qe regressam ao Brasi via Aeroporo Inernacionade São Pao” (2007); “Cidadania, Direios Hmanos e tráco de Pessoas: Mana paraPromooras legais Popares” (2009); “Conribições para a Consrção de Poícas Púbicasvoadas à Migração para o trabaho” (2009); “Cooperação e Coordenação Poicia no Mercose Chie para o Enfrenameno do tráco de Pessoas” (2009); “tráco de Pessoas para ns

de Exporação Sexa” (2006); “Enfrenameno ao tráco de Pessoas no Brasi – crso parapoiciais” (2008); “Revisa Mercopo – capaciação e cooperação poicia no Mercos” (2007).Aém desse maeria de origem ocia, o CD-ROM ra ambém m número dos Cadernos Pag,

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com m dossiê coordenado por Adriana Pisciei e Márcia Vasconceos, inado “trânsios”,com esdos inerdiscipinares, ineiramene dedicados à qesão do ráco de pessoas.Adriana Pisciei em se desacado no esdo anropoógico dessa emáca, qe é abordadana segnda pare dessa revisão bibiográca, e acompanho a coordenação cienca daspesqisas PEStRAF.

3 - Os argos aqi ciados dos Cadernos Pagu  podem ser acessados também on line pelapágina da SCIElO Brasi.

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RESUMO

O argo bsca faer m ensaio de revisão bibiográca sobre o ema do ráco de pessoas paraexploração sexual, tendo presente que se trata de um campo de debates intenso e polêmico,ainda em formação. Divide-se em rês pares: exposição da ierara insciona, em qe

predomina ma abordagem jrídica e poíca de organismos inernacionais e nacionais; ainerpreação das ciências sociais, na inha da socioogia, anropoogia e esdos crais;a prodção de ONGs e endades da sociedade civi, em especia da Igreja Caóica, qese manifesam a parr de sa inserção no erreno de ação. As pbicações anaisadas sãopredominantemente acessíveis pela internet, procurando dar atenção especial para trêspublicações relevantes na área do direito penal, dos estudos culturais e de uma pesquisamobiiada por ma rede inernaciona de ONGs, enre o Brasi, a Repúbica Dominicana e oSuriname.

Palavras-chave: ráco de pessoas; exporação sexa; migração inernaciona.

ABSTRACT

the arce aims o mae a ierare review on he heme of peope racing for sexaexpoiaon, having in view ha his is an inense and poemic ed of discssion, s informaon. I is divided in hree pars: presenaon of he insona ierare, in whichpredominaes a jridica and poica approach of naona and inernaona organiaons;a socia science inerpreaon, as in socioogy, anhropoogy and cra sdies; NGOs’ andcivi sociey organiaons’ prodcon, especiay he Cahoic Chrch’s, ha come p fromheir acon in he ed. the pbicaons in anaysis are mainy avaiabe onine, and we gavespecia aenon o hree reevan pbicaons in he area of crimina aw, cra sdies andof a research condced by an inernaona newor of NGOs from Brai, Dominican Repbic

and Sriname. (tradção de Nina Maria Pinheiro de Brio).

Keywords: peope racing; sexa expoiaon; inernaona migraon.

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La cresciente brecha económico-social entre los países, elempobrecimiento de amplios sectores de la población, la inequidad social,la falta de cohesión social, las crisis económicas, el lento crecimiento delas ofertas laborales que repercute en el desempleo, los desastres naturalesy la violencia se encuentran entre los principales factores de la emigraciónde millones de latinoamericanos hacia el norte del continente americano

o hacia otros países de la región.Por otra parte, en algunos de los países de destino de los migrantes, las

políticas restrictivas obligan a millones de personas a vivir en situación deirregularidad migratoia, a la cual se vinculan los problemas de explotaciónlaboral, violación de derechos humanos, vulnerabilidad social, tráficohumano y trata de personas, entre otras consequencias.

En este complejo contexto, la gestión de los flujos migratorios requierepolíticas públicas sobre migraciones que sean explícitas y que incluyan a

las poblaciones migrantes.Uno de los elementos indispensables para la definición, puesta en

práctica y evaluación de las políticas públicas sobre migraciones es eldiagnóstico de los elementos vinculados a los procesos migratorios y susimpactos en las sociedades de origen, trásito y destino. El desconocimientode los mismos genera, en muchos casos, políticas públicas ineficientes parala recepción e integración de las poblaciones migrantes.

Asimismo, la gobernabilidad adecuada de los flujos migratorios exige

la corresponsabilidad entre los gobiernos y los actores de la sociedad civilde los países de origen, tránsito y destino de los migrantes en la definicióny desarrollo de plíticas y programas tendientes a garantizar la dignidad y

Resenha

LAS POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE

MIGRACIONES Y LA SOCIEDAD CIVILEN AMÉRICA LATINA

Los casos de Argenna, Brasil, Colombia y México

Leonir Mario Chiarello (coordinador)New York: SIMN, 2011, 644p.

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los derechos de los mismos migrantes y sus familias. En este sentido, elconsenso entre los actores gubernamentales y los actores de la sociedadcivil es una condición sine qua non para garantizar la legitimidad y eficaciade las políticas públicas sobre migración.

La participación creciente de la sociedad civil en la definición, ejecucióny evaluación de las políticas y programas de migraciones implica un cambiosustantivo en el carácter que tienen tales políticas y programas. Así, desdela concepción de las políticas públicas de migraciones como “políticasde Estado”, la activa intervención de la sociedad civil y sus resultadospermiten definirlas en la actualidad como “políticas de Sociedad”.

El carácter más amplio que han asumido estas políticas, tanto entérminos de los actores sociales que participan, como en cuanto a las

temáticas que constituyen sus fundamentos, permite observar cambiosimportantes tanto el la normativa internacional, como en la posición quesobre el tema han adoptado algunos países.

En este sentido, la gama de fundamentos que sirven de base a ladefinición de las políticas públicas de migraciones se ha ampliado, yendodesde la perspectiva de la seguridad (en general, principal argumentode los países receptores), a la del costo-beneficio de las migraciones, o aaquellas que privilegian los derechos humanos de los migrantes, tal comose observa en la mayoria de países de América Latina.

El papel privilegiado acordado a los fundamentos éticos en la definicióny ejecución de las políticas públicas de migraciones permite observar eldesplazamiento que está llevándose a cabo desde una concepción definidacomo “política de Estado” a otra que podría entenderse como “política dehumanidad”.

El futuro de las políticas públicas de migraciones va a enfrentarse a unespecial desafío en la forma en que se articule la relación entre la sociedadcivil y los gobiernos. Esa articulación puede orientarse tanto hacia la

negación de derechos al migrante, como se observa en forma creciente en laopinión pública de gran parte del mundo desarrollado, como a la aceptacióndel principio de desarrollo humano de la persona migrante como base detoda política, la cual ha sido ya asumida por diferentes organizaciones de lasociedad civil comprometidas en la defesa de tales derechos.

Para responder a estos desafíos en la definición, ejecución y evaluaciónde las políticas públicas sobre migraciones, la Rede ScalabrinianaInternacional de Migración (SIMN, por su sigla en inglés – Scalabrini

 International Migration Network ) ha implementado un sistema de monitoreode las políticas públicas sobre migraciones y de vinculación permanenteentre los tomadores de decisión sobre migraciones.

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Una de las actividades específicas de este sistema de monitoreo es larealización de investigaciones sobre los aspectos críticos de las migracionesinternacionales y sus vinculaciones con las políticas públicas.

Después de haber realizado un estudio exploratorio sobre las políticas

públicas sobre migraciones en el continente americano1, el SIMN promovióla presente investigación sobre las políticas públicas sobre migraciones y laparticipación de la sociedad civil en la definición, ejecución y evaluación detales políticas en los cuatro mayores países de América Latina: Argentina,Brasil, Colombia y México.

Esta investigación ofrece un diagnóstico actualizado de las principalestendencias de los flujos migratorios y las iniciativas que están llevandoa cabo los actores políticos y sociales que trabajan en el campo de las

migraciones en estos cuatro países, lo que permitirá a los tomadores dedecisiones en materias migratorias contar con nuevos elementos para ladefinición e implementación de nuevas políticas públicas y programassobre migraciones.

En el primer capítulo de la presente investigación, Lelio Mármora,con la colaboración de Gabriela Altilio, María Laura Gianelli Dublancy Yamila Vega, presenta las principales tendencias de las migracionesen Argentina, las políticas y leyes sobre migraciones implementadas a lo

largo de la historia de este país y, finalmente, una panorámica amplia delas actividades promovidas por los actores de la sociedad civil vinculadasa la definición, implementación y evaluación de las políticas públicas yprogramas argentinos sobre migraciones.

En el segundo capítulo, un equipo de investigadores coordinado porNeide Patarra e integrado por Duval Magalhães, Paolo Parise, Dirceu Cutti,Helion Póvoa Neto y Mariana Aydos, con la colaboración de ElizângelaLacerda, presenta un diagnóstico sobre las migraciones a lo largo de

la historia de Brasil, así como los principales instrumentos normativose institucionales a través de los cuales se ha basado la gobernabilidadmigratoria en el país, para concluir, finalmente, con una exposición delas principales percepciones y acciones de los actores sociales en Brasilen lo que concierne a la promoción de los derechos de los migrantes y depolíticas públicas sobre migraciones.

En el tercer capítulo, Roberto Vidal, Rosa María Martín, BeatrizEugenia Sánchez y Marco Velásquez presentan el extenso panorama de

1 – MIRKIN, Barry. La migración internacional en el Hemisferio Occidental: un estudioexploratorio. New York: Scalabrini International Migration Network, 2011.

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la migración, el refugio y el desplazamiento en Colombia, la descripciónde las políticas públicas sobre migración, desplazamiento y refugio quese han desarrollado, y el detalle del marco normativo de la participaciónciudadana en la definición de políticas públicas sobre migración,

desplazamiento y refugio en este país.En el cuarto capítulo, después de la exposición de Jorge Durán de las

principales tendencias de la inmigración, emigración, transmigración yrefugio en México, Cecilia Imaz presenta el marco jurídico e institucionalde las políticas públicas mexicanas. Posteriormente, Rodolfo Casillasanaliza la labor humanitaria al servicio de los migrantes promovida porlas organizaciones de la sociedad civil, focalizando su atención en laexperiencia de los albergues y casas de migrantes. Finalmente, Florenzo

María Rigoni presenta una lectura sapiencial sobre los flujos migratorioscentroamericanos en México.

La investigación sobre las políticas públicas sobre migraciones y lasociedad civil en Argentina, Brasil, Colombia y México revela que loshombres, mujeres, jóvenes, niños y niñas que migran, que son desplazadoso refugiados son sujetos de derecho y también actores centrales en laconstrucción de una cultura de convivencia en la cual todos pueden disfrutarde los derechos inalienables que poseen de forma inherente por el mero

hecho de ser lo que son: seres humanos. En este sentido, la concertación yla coordinación entre los actores del Estado y de la sociedad civil, incluidoslos migrantes, son una prioridad en la agenda política y social de estospaíses.

 Leonir Chiarello

 Lelio Mármora

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Em Roma, é praticamente impossível andar de metrô, de trem, de bonde, e não topar com eles. A atenção ao jornal ou à paisagem na janela éinterrompida pela breve saudação em forte sotaque estrangeiro, ao mesmotempo em que instrumentos musicais são retirados de mochilas e bolsas.Começam então a tocar e cantar em meio ao vagão, num espetáculoque precisa ser rápido, olhos e ouvidos atentos à possível intervenção dasegurança do sistema de transportes, que quando os surpreende obriga aparar e a descer.

O copinho é passado ao fim da apresentação-relâmpago, e ao depositara moeda a pergunta “de onde vêm?” recebe sempre a mesma resposta:romenos, todos, aparentemente sem exceção. E, naturalmente, ciganos. Oque não é dito mas está implícito.

Tocam violino, acordeom, címbalo, guitarra, gaita, e alguns portam

também à cintura o modernoso acompanhamento de uma bateria eletrô-nica. Um repertório que não variamuito: O Sole Mio, La Cumparsita,Cielito Lindo, Torna a Sorrento, aMarcha Turca de Mozart, BesameMucho. Às vezes, também, uma can-ção cigana. Poucas, infelizmente.Tudo misturado e emendado, aten-

dendo, no limite de tempo entre duasestações, ao que imaginam ser o gos-to do público.

Ouve-se também, frequentemen-te, o Tico-Tico no Fubá, que sabemser do Brasil. Além de uma originalversão de “Água de beber” com vio-lino e acordeom, ouvida uma vez a

caminho da Piazza del Popolo.Embora alguns sejam músicosestupendos, a qualidade da execução

Crônica

Zingari

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nem sempre é das melhores. Sem falar nos que apelam, como aquele casalcom uma criança de colo que, enquanto o pai sola sofrivelmente na gaita o“Cielito lindo”, a mãe instiga a menina – que não deve nem saber falar – afazer o “ai, ai, ai ai”.

Alguns passageiros torcem o nariz, fazem qualquer comentário hostilou abrem a janela para arejar o ambiente, insinuando que os artistasnão primam pela higiene pessoal. Mas há também olhares atentos,sorrisos contidos de satisfação, e muitos contribuem com um trocado,reconhecendo que a música ajuda a entreter a viagem. O que não eliminaum juízo bastante generalizado de que os  zingari  são, além de sujos, tutti

ladri . Enganadores, raptores de crianças, hipnotizadores. Uma gente quecolore um pouco a ocre paisagem romana, mas em quem não se deve

confiar. Opinião por sinal compartilhada tanto pelos italianos quantopelos romenos não-ciganos, indignados com a possibilidade de seremconfundidos com “aqueles”.

Que na sua maior parte habitam barracas precárias e trailers   noscampos nômades da periferia, visíveis da janela dos trens pendulares.São áreas degradadas, próximas aos grandes eixos viários de acesso aRoma, onde predomina uma relação tensa com os vizinhos, com casos deexpulsões violentas e de acampamentos incendiados.

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Os assentamentos, porém, não param de se expandir e multiplicar.Mesmo rejeitados, os ciganos continuam a chegar do Leste, onde pordécadas se ofereceu a imagem do Ocidente capitalista como terra dasoportunidades. Buscando por vezes a concessão de asilo político, ou

simplesmente enfrentando a situação de ilegalidade, saem de terras nasquais seus antepassados foram vendidos e escravizados por séculos, duranteum período por sinal quase coincidente com o da escravidão africana naAmérica. Onde, aliás, os ex-escravos também se notabilizaram, entreoutras coisas, pela arte musical. Mas essa é outra história.

Quem mora em bairro distante e vai para casa tarde da noite tambémos encontra nos ônibus, carregando os instrumentos depois de um dia detrabalho, e às vezes ameaçando transformar a viagem numa improvisação

coletiva, liberados que estão, a essa hora, de tocar apenas o trivial maisconhecido dos italianos. E, aí sim, executam algumas peças dos taraf  ,grupos de músicos das aldeias na Romênia. Quando isso acontece, ficadifícil descer no ponto certo, a tentação é seguir viagem ao lado deles.Muitas vezes, confesso, fiquei dividido.

Talvez nos campos nômades toquem noite adentro, cantando em suaprópria língua, talvez dancem junto à fogueira. Quem sabe? Acompanhadados estereótipos sempre presentes, persiste a curiosidade, quase fascínio,

que despertam. Como indesejáveis, invasores, mas também como asurpresa sonora que surge em meio ao trem superlotado.Um mundo que parece impenetrável, um caráter que suscita

desconfiança. Mas o copo de papel, apresentado no fim, bem que merecea moedinha. Grazie, buon viaggio signore .

 

 Helion Póvoa Neto

  Roma, maio de 2003

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TRAVESSIA - Revista do Migrante - Nº 69 - Julho - Dezembro / 2011120

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Travessia – Revista do Migrante deixou de ser monotemática e os

artigos podem ser enviados a qualquer momento.

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Travessia publica textos em espanhol.

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asterisco; quando houver mais de um autor, a revista respeitará a

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artigo, em ordem alfabética e se houver repetição de um mesmo autor,

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Seguir as normas da ABNT, destacando os títulos em itálico; no caso

de artigos em revistas, fazer constar: local, volume, número, páginas,

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Os textos devem ser inéditos e seu envio implica na cessão de direitos

autorais e de publicação à revista Travessia; o conteúdo é de inteira

responsabilidade dos autores, porém, o Conselho Editorial reserva-se o direito de selecionar os que serão publicados, efetuar correções

de ordem normativa, gramatical e ortográca, bem como sugerir

alterações.

Podem ser organizados dossiês e enviados à Travessia.

Além de artigos, a revista recebe resenhas, relatos, crônicas, contos...

Texto publicado dá direito a dez exemplares da edição.

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TRAVESSIA - Revista do Migrante - Nº 69 - Julho - Dezembro / 2011 121

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TRAVESSIA - Revista do Migrante - Nº 69 - Julho - Dezembro / 2011 123

Espaço aberto à divulgação de livrosdoados à Biblioteca do CEM

Serão divulgados apenas os livros que se enquadram nos critérios decatalogação da Biblioteca do CEM, especializada em migrações.

Neste estudo Henrique Manoel da Silva busca

acompanhar o signicado da ocupação dafronteira oriental paraguaia, não só comofenômeno de expansão da fronteira, típicado modelo brasileiro, mas também em sua

singularidade, a de ser transnacional. Se, por

um lado, os princípios que nortearam a moderna

expansão da fronteira agrícola brasileira foram,em grande medida, reproduzidos no processo

de colonização paraguaio, por outro, essareprodução não se fez sem uma acomodaçãoàs circunstâncias e peculiaridades do universo

social, político e econômico paraguaio. Entretanto,constata-se uma maior vinculação ao Brasil,e, os próprios imigrantes brasileiros continuamrearmando seus laços identitários com o país esuas comunidades de origem.

Este livro, de autoria de Marcelo Cintra de

Souza, fartamente ilustrado, é fruto de iniciativado Memorial do Imigrante, em parceria com

a Imprensa Ocial do Estado de São Paulo.Mostrar quem fez e quem faz a imprensa

imigrante em São Paulo, desde os primeirosPeriódicos que apareceram no Brasil, até as

mais tradicionais e inuentes publicaçõesdirigidas para esse público, que ainda circulam

no mercado paulista, é o objetivo desse trabalho.

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TRAVESSIA - Revista do Migrante - Nº 69 - Julho - Dezembro / 2011124

O migrante, o refugiado, o deslocado, o

fronteiriço, o habitante da periferia urbana, todosvivem superando limites, reconstruindo mundos

em seus movimentos. Como saber de seus

caminhos no passado, acompanhar os seuspassos no presente e imaginar o seu futuro?

São perguntas difíceis de responder dentro delimites restritos a uma única disciplina do campo

cientíco. Tais questões dizem respeito aospesquisadores, aos que se movem pela causa

dos migrantes, bem como aos que sofrem a

violência do deslocamento forçado ou a restriçãodo seu direito à livre mobilidade.

Este livro, organizado por Ademir Pacelli

Ferreira, Carlos Vainer, Helio Póvoa Netoe Miriam de Oliveira Santos reúne 29

contribuições apresentadas durante o IIISeminário promovido pelo Núcleo Interdisciplinarde Estudos Migratórios-NIEM, em 2008.

En esta obra, Loreta Ortiz Ahlf, una vezesbozado el contenido del derecho de acceso

a la justicia y el concepto de inmigranteirregular y su régimen internacional, analiza

la problemática del derecho de acceso a la justicia de los inmigrantes irregulares en el

derecho internacional, en el derecho de la

Unión Europea, así como lo relativo al accesoa la justicia a los sistemas regionales de

protección de los derechos humanos europeo yamericano.

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TRAVESSIA - Revista do Migrante - Nº 69 - Julho - Dezembro / 2011 125

Cristiane Maria Sbalqueiro Lopes éprocuradora do trabalho no Ministério Públicobrasileiro desde 1998. Este livro é fruto desua tese doutoral em Direitos Humanos eDesenvolvimento, defendida na UniversidadePablo de Olavide, em Sevilla. Com base emsua experiência, a autora busca compreendero estatuto do estrangeiro a partir dos DireitosHumanos. O estatuto do estrangeiro é umtema extremamente relevante no contextoatual devido as graves violações que sofre.Este trabalho torna-se um instrumento na lutapela dignidade humana, especialmente doestrangeiro.

O estudo está divido em cinco capítulos comos seguintes temas: Ideologia e crítica dasmigrações; A nacionalidade como critério deexclusão; As migrações no Direito Internacional;Aspectos sociojurídicos da i(e)migração

brasileira; Legislação brasileira sobre “estrangeiros” e regras de nacionalização do trabalho.Segundo a própria autora, o presente estudo busca evidenciar a tentativa de superar normas

 jurídicas, que desconsideram os Direitos Humanos como eixo principal.

Este livro resulta de um abrangente estudoconcebido e coordenado por pesquisadores do

Centro de Desenvolvimento e PlanejamentoRegional da Universidade Federal de Minas

Gerais (Cedeplar/UFMG) e do Núcleo deEstudos de População da Universidade

Estadual de Campinas (Nepo/Unicamp). Oobjetivo consistiu em traçar um diagnósticoda atual conjuntura nacional e traçar as

dimensões futuras dos processos demográcose a diversidade migratória da América Latina.

O estudo comporta duas partes: a primeiraapresenta a transição demográca, as políticas

sociais, os desaos, as possibilidades eo crescimento demográco na conjuntura

nacional. A segunda aponta a situação das

migrações internacionais, diagnósticos dosuxos migratórios, o contexto da América Latina

e outros movimentos de migração.

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TRAVESSIA - Revista do Migrante - Nº 69 - Julho - Dezembro / 2011126

O livro de Maciel Cover é fruto da elaboração desua dissertação de mestrado na UniversidadeFederal da Paraíba/UFPB. Seu livro foipremiado pala Associação Brasileira de Estudos

do Trabalho – ABET, através do Prêmio “Mundosdo Trabalho em perspectiva Multidisciplinar –2011”.O texto em referência analisa o trabalho

dos migrantes sazonais no corte de cana.

Trabalhadores que se deslocam – todos os anosde abril a dezembro – do Nordeste do Brasil(sertão da Paraíba e do Ceará) para as usinasde cana-de-açúcar do Estado de São Paulo(região de Campinas e Piracicaba).

O autor fundamentou-se no método etnográco,com participação nos locais de trabalho e nosalojamentos, “Roça” e “Barraco” como já revelao título. Analisando uma turma de quarentatrabalhadores.

“El Centro Integrado de Atención al Migrante(CIAMI) – Un espacio de inclusión social

para las mujeres migrantes en Santiago de

Chile” retrata uno de los tantos servicios alos migrantes por parte de los Misioneros

Scalabrinianos. Este libreto es el resultado deun trabajo teórico-práctico de Pe. Isaldo Antonio

Bettin (pe. Beto), director actual de CIAMI. Enel centro de este estudio están los servicios

otorgados a las mujeres migrantes extranjeras,

como a las provenientes de distintas regiones

del país durante los diez años de historia

de CIAMI. Además, también se dedica a ladescripción de la actual realidad migratoria

mundial y chilena.

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TRAVESSIA - Revista do Migrante - Nº 69 - Julho - Dezembro / 2011 127

Esta obra, organizada por Loraine SlompGiron e Roberto Radünz reúne trabalhos do

II Simpósio Internacional sobre ImigraçãoItaliana e o X Fórum de Estudos Ítalo-

Brasileiros, realizados através de convênioentre a Universidade de Caxias do Sul e aUniversidade de Padova, em 2005, por ocasiãoda comemoração dos 130 anos da imigraçãoitaliana no Rio Grande do Sul, contando com a

presença de professores italianos.O livro foi lançado em 2007, ano em que aUniversidade de Caxias do Sul comemorou 40anos de fundação. A trajetória da Universidadefoi marcada pelo estudo da imigração italiana

e, posteriormente, por convênios com váriasuniversidades italianas.

Os quinze artigos que formam a obra tratam

dos seguintes eixos temáticos: Cultura, língua ereligião.

Las autoras de este libro, Isabel Berganza S.y Judith Purizaga G., investigan y describen

la macro región norte de Perú, compuesta porlas regiones de Tumbes, Piura, Lambayequey Cajamarca, una zona con fuerte movilidadmigratoria, tanto de carácter regional (costa-

sierra-selva) como externo, en especial aEcuador, hacia donde migraron más de treinta

mil peruanos. Esta realidad también fueevaluada bajo la mirada macro internacional.

Han utilizado tanto la metodología cuantitativacomo la cualitativa, a través de entrevistas

en profundidad. Las conclusiones permitensubsidiar los equipos pastorales de Movilidad

Humana y de Derechos Humanos.

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SumárioApresentação

Helion Póvoa NetoLúcia E. Yamamoto

Dossiê – Decasséguis: Idas e Vindas

Lugares próprios entre modos de ser distintos?A inserção das crianças que moraram no Japão

Laura Satoe Ueno

Reordenações na família decasségui: Dilemas e desafios  Victor Hugo Kebbe

Revitalização linguística do japonês no Brasil: A atuação dosretornados brasileiros do Japão como

professores de língua japonesaLeiko Matsubara Morales

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Imigração coreana: A questão da reemigração e do retornoRafael Monteiro

 Sênia Bastos

Na pia batismal: Tradição e identidade étnica nas práticas detransmissão de nomes de batismo em um