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REVISTA%20JERRY%20LEWIS%20ISSUU.pdf

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  • 2Jerry Lewis, um artista modernoFrancis Vogner dos Reis e Paulo Santos Lima

    De Charles Chaplin a Jim Carrey, de Mack Sennett aos irmos Farrelly, o cinema cmico norte-americano conheceu sua sntese

    mais complexa e radical em Jerry Lewis. Ator e diretor: duas dimenses de um mesmo artista, tais como outros grandes cmicos do cinema, como Buster Keaton, Charles Chaplin e Jacques Tati, que tambm eram diretores. Jean-Luc Godard, no entanto, o considerava o maior cineasta entre os cmicos que acumulavam as duas funes. Ainda que Lewis tenha sido estrela nos filmes de outros diretores, alguns mais inexpressivos, como Hal Walker, e um de primeira grandeza, como Frank Tashlin, foi como diretor dos prprios filmes que a arte de Jerry Lewis alcanou um patamar nico na histria do cinema. J nos filmes com Tashlin, como Bancando a Ama Seca (Rock-a-Bye Baby, 1958) e Ou Vai ou Racha (Hollywood or Bust, 1956), a mise en scne era radicalmente orientada no aspecto performtico de Jerry e nas disfunes do corpo na vida moderna. Ao lado de John Cassavetes, Jerry Lewis pode ser considerado a grande ruptura no interior da tradio cinematogrfica americana ambos fariam de seus cinemas gestos modernos incisivos, agressivos e corajosos. Cassavetes foi acolhido como gnio do cinema independente, que realizava seus filmes apartado do maquinrio industrial, mas Lewis, no interior da indstria (filmava pela Paramount), foi visto como persona non grata por realizar filmes de humor nonsense e extravagante, que contrastava com o conservadorismo do pblico e do cinema americano da poca. Pagou caro por ousar dentro da indstria de Hollywood, num gnero de apelo industrial e maquinrio que Hollywood sempre aceitou como transgresso permitida dentro da linha de montagem; e assim teve,

    O Ministrio da Cultura e o Banco do Brasil apresentam Jerry Lewis o rei da comdia. A mostra em homenagem ao diretor, produtor e ator Jerry Lewis revela o poder criativo de um artista que revolucionou o gnero da

    comdia.

    Considerado um gnio do cinema moderno, ficou famoso por comdias estilo pastelo e personagens caricaturais que serviram de inspirao para estrelas do humor como Robin Williams, Billy Crystal e Jim Carrey.

    A mostra apresenta a trajetria do artista, com nfase em sua fase mais autoral. A exibio conta com 23 filmes, variando entre sua atuao na companhia de Dean Martin, trabalhos solos e filmes em que radicalizou o seu estilo em nvel esttico e performtico.

    Ao realizar esta mostra, o Centro Cultural Banco do Brasil leva ao conhecimento do pblico o trabalho de um importante artista para a cinematografia mundial, afirma seu compromisso com a democratizao da cultura e contribui para a formao e o desenvolvimento cultural da sociedade brasileira.

    Centro Cultural Banco do Brasil

  • 3lamentavelmente, uma curta e sazonal carreira de cineasta. De grande astro popular, se tornou um cineasta maldito com direito a um filme lendrio, The Day the Clown Cried (1972), jamais exibido por motivos ainda obscuros.

    Como ator, Lewis a sntese radical do burlesco americano, que parte de Charles Chaplin, Harold Lloyd e Buster Keaton, passando pelo Gordo e o Magro e pelos irmos Marx. Como todos os atores cmicos, as disfunes caticas de seu corpo nos espaos e nas relaes com objetos e seres desestabilizam a ordem social, e personagens de Jerry Lewis desnaturalizam a cultura e as regras sociais, mostrando o absurdo das normas, das autoridades e dos pactos de convivncia. Todos eles fizeram isso bagunando as prprias regras do naturalismo e da ordenao rgida da linguagem do cinema americano, assim como viram a sociedade como um simulacro de absurdos. Mas Lewis utiliza um repertrio mais amplo e ousa nas medidas (os desenhos de Chuck Jones, a art pop na sua capacidade de delegar a uma cor ou objeto cotidiano toda uma dissertao sobre o funcionamento do mundo), pendendo entre detalhes milimtricos (algum ndice manifestado pelo rosto, por exemplo) e a hemorragia (as cores, os sons volumtricos), entre o plano-detalhe e o plano geral que situa a diegese num contexto inesperado, mesmo sendo do cinema e do mundo (O Terror das Mulheres/The Ladies Man, 1961, grande exemplo). O rosto de Jerry Lewis, uma plataforma de revelao (denncia?) dessa dinmica do mundo moderno, mascarado de ordem mas que na verdade oprime o homem atravs dum caos e dum vazio de esprito bestiais, mostra-se em sua plenitude em O Otrio (The Patsy, 1964), onde o Lewis-diretor pauta o Lewis-ator a radicalizar o uso facial que j fazia nos trabalhos dirigidos por Tashlin e, de certo

    modo, at em obras mais genricas ao lado de Dean Martin: Stanley Belt, o tal otrio, sim atrapalhado, um tanto ingnuo, manipulado, mas seu rosto alterna iluso e conscincia, ou uma constatao lcida do absurdo do mundo, que no caso o pior dos mundos, o da mdia e da indstria de entretenimento. Ele ri da prpria estupidez de sua condio de aceitar

    aquele jogo esprio. Exemplo idem o de Errado pra Cachorro (Whos Minding the Store?, Tashlin, 1963), Lewis fazendo um vendedor que s parece bobo porque a loja de departamento a usina desse absurdo travestido de funcionalidade (afinal, precisamos mesmo dum eletrodomstico ou de um colcho novo?). Os personagens de Jerry Lewis se embananam menos por incapacidade e mais porque o mundo tecnolgico potente em seus vazios e disfunes, uma teia de embaraos e absurdos.

    Como diretor, Lewis levou ao paroxismo esses predicados do cinema cmico a partir das rupturas de linguagem do cinema moderno. Seu cinema pode ser comparado ao jazz americano, do bebop, passando pelo jazz modal e chegando ao free jazz. Como um intrprete/msico de jazz, nos seus filmes ele pode alterar harmonias e frmulas rtmicas. Ainda como um msico de jazz, ele abandona a noo estrita de progresso harmnica, os acordes, as escalas e a mtrica rtmica.

    Dirigidos, escritos, produzidos e interpretados por Jerry Lewis, filmes como O Mensageiro Trapalho (The Bellboy, 1960), Mocinho Encrenqueiro (The Errand Boy, 1961), O Terror das Mulheres e O Otrio so obras radicais e sem concesses, paradigmas no s do cinema americano e do cinema burlesco, mas tambm do cinema moderno. Os filmes de Lewis se autodestroem,

    desde a trama que vai se desintegrando aos poucos em favor das imagens puras (e absurdas), passando pelo cenrio que vai ruindo por interveno do caos encarnado por Lewis e o prprio pacto de iluso entre filme e espectador que desfeito em obras como, por exemplo, O Otrio, que no seu fim revela todo o seu aparato tcnico e ficcional assim como o fizeram outros cineastas modernos, como Godard).

    A mostra Jerry Lewis - O Rei da Comdia busca abranger o mximo da carreira de Jerry Lewis e chamar especial ateno para o seu trabalho de diretor, no s como autor cmico e americano, mas sobretudo como autor moderno que dialoga diretamente com diretores radicais como Charles Chaplin, Jacques Tati e os primeiros Jean-Luc Godard, dos anos 1960. O pblico brasileiro, principalmente aquele com mais de 30 anos, conhece Jerry Lewis atravs dos filmes bem que, bem populares, eram muito reprisados nas tardes da TV nos anos 1970 e 1980. Talvez no se lembre do nome de muitos filmes, mas suas imagens (e seu humor) so estampas marcadas na memria. As novas geraes tero a oportunidade de conhecer este que no apenas um dos grandes atores e diretores do cinema, mas tambm um grande artista americano moderno que dialoga com a tradio cmica do cinema americano, com a pintura abstracionista americana, a arquitetura funcionalista, o jazz, a fico visual das animaes dos anos 1940 e 1950, a HQ e a performance.

  • 4Jerry Lewis e a comdia modernaLuiz Carlos Oliveira Jr.

    No comeo de O Mensageiro Trapalho (The Bellboy, 1960), primeiro filme dirigido por Jerry Lewis, um homem se apresenta

    como produtor executivo da Paramount e avisa ao espectador que este filme no como a maioria. Aqui, no h trama nem enredo, mas apenas uma srie de sequncias idiotas, uma sucesso de situaes cmicas provocadas por um funcionrio de um hotel.

    Duas caractersticas recorrentes do cinema de Lewis j se colocam a. Em primeiro lugar, a desestruturao do enredo. Embora os dois filmes consensualmente (mas no indiscutivelmente) apontados como os seus melhores a saber, O Professor Aloprado (The Nutty Professor, 1963) e O Otrio (The Patsy, 1964) sejam justamente os mais bem estruturados em termos narrativos e dramatrgicos, h de se notar que o formato episdico, mais solto e desorganizado, rendeu-lhe momentos inesquecveis como comediante. Em filmes como O Terror das Mulheres (The Ladies Man, 1961), A Famlia Fuleira (The Family Jewels, 1965) e As Loucuras de Jerry Lewis (Cracking Up/Smorgasbord, 1983), alm do prprio O Mensageiro Trapalho, a falta de uma intriga romntica ou de uma carga sentimental relevante, assim como a proposital fragilidade do fio narrativo condutor, permite a Lewis concentrar seus esforos criativos na elaborao das gags. Conta-se que o roteiro de O Mensageiro Trapalho foi escrito em oito dias; a descrio do

    enredo mnima, mas o detalhamento dos aspectos visuais e sonoros das gags to minucioso que perfaz um roteiro de 170 pginas para apenas 70 minutos de filme.

    Construindo O Mensageiro Trapalho e O Terror das Mulheres quase como uma mera sucesso de gags, Lewis recupera algo das primeiras comdias burlescas, em que a narrativa decorria muito mais da explorao sistemtica das possibilidades cmicas de um espao do que de uma estrutura dramtica preconcebida. Esse cinema de colagem anrquica de ideias cmicas era um atentado involuntrio tradio clssica da obra de arte harmoniosa e coesa com partes organicamente articuladas num todo. No por acaso, conquistou a admirao de muitos artistas e intelectuais de vanguarda (Andr Breton, Antonin Artaud, Bertolt Brecht). Tambm no por acaso, o sucessor tardio desse cinema, Jerry Lewis, seria uma grande fonte de inspirao para Jean-Luc Godard.

    No cinema, quem nasceu primeiro foi a gag, e no as tcnicas de narrao: Ainda antes de o cinema pensar em contar histrias, j reconhecia a sua capacidade de registrar efeitos visuais cmicos, quase sempre nascidos de uma relao problemtica entre o ator e os objetos que o rodeiam1. A gag no precisa trabalhar no contexto de um argumento preciso; ela no se submete ordenao conjunta de uma narrativa seno para desestabiliz-la e destru-la ela uma perturbao do discurso normal, da lgica implcita do filme2. Em linhas gerais, pode-se defini-la como a descrio das relaes desastrosas entre um corpo, um espao e os objetos a presentes. O plano geral, essencial no cinema burlesco, sublinha a relao do heri cmico com um contexto espacial que pode ser favorvel ou na maioria dos casos desfavorvel a ele. O corpo burlesco uma insurgncia contra o regime de vida mecanizado e repetitivo das sociedades modernas. Sempre que adentra algum lugar, sua misso uma s: aumentar o grau de entropia. O limite da frmula, evidentemente, a destruio total, como se v com frequncia nos filmes com Jerry Lewis: por uma srie de acidentes em cascata, ele provoca um verdadeiro abalo ssmico. Basta ver o desfecho da antolgica cena com o professor de canto em O

    Otrio ou o caos promovido em todas as sequncias na loja de departamento de Errado pra Cachorro (Whos Minding the Store?, Frank Tashlin, 1963).

    A outra premissa que Lewis assume l no prlogo de O Mensageiro Trapalho o distanciamento. Trata-se de afirmar e deixar claro que isto um filme. A comicidade de Lewis funciona fora do processo tradicional de envolvimento do espectador. Eis um dos traos da sua modernidade: questionar e deslocar, como o cinema moderno faria ao longo dos anos 1960, a relao convencionada entre plateia e filme. Isso o levar sem que seja preciso abrir mo da comdia fsica em seu funcionamento mais bsico e elementar adoo de formas cmicas sofisticadas, balizadas no somente pela performance burlesca, mas tambm pela excelncia tcnica e estilstica, o que resulta numa grande recorrncia da gag metacinematogrfica na obra de Lewis. Piadas que colocam em jogo os segredos de fabricao dos filmes ou seus componentes materiais e estruturais, que j existiam desde Chaplin (e mesmo antes), seriam uma das suas diverses prediletas. Difcil fugir do exemplo mais bvio: a cena de apresentao de Buddy Love em O Professor Aloprado, que comea com um plano-sequncia inteiramente filmado com cmera subjetiva: o espectador v tudo pelos olhos da personagem, que anda pela rua provocando olhares admirados nos lugares por onde passa. Na sequncia anterior havamos visto Lewis se transformar num monstro, mas a reao das pessoas agora ambgua, podendo ou no ser de espanto com algo horripilante. Um suspense se cria, dilatado pela longa durao do plano. Somente depois que ele entra numa boate e desperta novos olhares surpresos ocorre o contraplano que nos mostra que o tmido e desastrado Julius Kelp se metamorfoseou no exatamente num monstro, mas num gal narcisista, arrogante e excntrico (o Mr. Hyde desta adaptao enviesada de O Mdico e o Monstro). A eficcia da cena est totalmente vinculada inventividade formal do ator-diretor.

    O Professor Aloprado o primeiro filme em que Lewis investe mais detidamente no que se afirmaria como sua grande obsesso temtica: a diviso da personalidade. A partir da, uma constante multiplicao de personae

    1Jacqueline Nacache, O cinema clssico de Hollywood, Lisboa: Texto & Grafia, 2012, p. 30.2 Ibid., p. 31.

  • 5cmicas ter lugar em sua obra. Em A Famlia Fuleira, ele interpreta sete figuras diferentes, numa narrativa mais prxima do formato livre de O Mensageiro Trapalho do que da construo linear de O Professor Aloprado e O Otrio. No filme seguinte, Trs em um Sof (Three on a Couch, 1966), Lewis faz um artista plstico que tem de se desdobrar em outras trs personagens. O protagonista apenas um homem comum, at mesmo banal ( talvez a primeira vez que Lewis aparece na tela de cara limpa, sem o filtro do clown); sua funo no filme estabelecer um contraponto para as figuras cmicas, impondo ao espectador um maior grau de distanciamento, pois fica evidente no jogo de disfarce o fato de Lewis realizar esse filme para refletir sobre seu prprio trabalho de comediante. Filme de transio (de crise?), Trs em um Sof questiona o sentido ontolgico da representao cmica. Lewis indaga a si mesmo (e a ns) sobre o que significa, afinal, ser engraado reflexo central da comdia moderna, como j demonstrara a obra-prima O Otrio.

    O troca-troca de fantasias se repetir em O Fofoqueiro (The Big Mouth, 1967) e nos filmes posteriores do comediante, atingindo um ponto de ebulio no extraordinrio As Loucuras de Jerry Lewis. Para alm de um desejo manifesto de constante autoanlise, essa fragmentao personalstica demonstra uma inesgotvel pulso inventiva: trata-se de sempre abrir um novo campo de variedade dentro do repertrio de expresses corporais e faciais j disponveis. Lewis poderia ter passado a carreira inteira fazendo um nico papel (digamos, o eterno pateta desastrado, ingnuo e bem intencionado da poca da parceria com Dean Martin), e ainda assim o adoraramos. Mas ele decidiu fazer mais, muito mais, e por isso o consideramos o grande gnio da comdia a ter surgido depois da era Chaplin/Keaton.

    Luiz Carlos Oliveira Jr. crtico e pesquisador de cinema. Autor do livro A Mise en Scne no Cinema: Do Clssico ao Cinema de Fluxo (Papirus , 2013). Ex-editor da revista Contracampo, j colaborou para as revistas Bravo!, Cult, Foco, Interldio e Pais. Ministrou cursos e oficinas em espaos como Centro Cultural Banco do Brasil, Cinesesc, Cine Humberto Mauro e Fundao Getlio Vargas.

    Self-service: os ltimos longas de Jerry LewisAaron Cutler

    Os dois longas-metragens mais recentes dirigidos por Jerry Lewis foram inicialmente pouco notados nos Estados Unidos.

    Um Trapalho Mandando Brasa (Hardly Working, 1980), mesmo entrando no circuito comercial europeu e sul-americano logo aps sua concluso, levou dois anos para entrar em cartaz em seu pas de origem, quando a 20th Century Fox lanou uma verso reduzida do filme. As Loucuras de Jerry Lewis (Cracking Up, 1982), cujo ttulo a Warner Brothers mudou do original Smorgasbord (uma enorme mesa de comida estilo buffet), teve um destino ainda pior ao ser encaminhado direto para vdeo e TV a cabo.

    Eu pessoalmente adoro estas duas produes independentes de Lewis, obras diferentes de sua primeira safra hollywoodiana. Nelas, escolhas do diretor que foram interpretadas como erros como a tendncia de prolongar as cenas alm da durao convencional, repetir piadas ad infinitum, ignorar a continuidade e romper com a quarta parede para comentar a limitao de uma produo de baixo oramento so virtudes que do origem a muitos de seus melhores momentos. Alm disso, so virtudes das quais Lewis sempre soube tirar proveito. Os filmes funcionam no s em seus prprios termos, mas tambm em dilogo com a carreira inicial do cineasta no estdio Paramount Pictures com O Mensageiro Trapalho (The Bellboy, 1960), O Terror das Mulheres (The Ladies Man,1961) e Mocinho Encrenqueiro (The Errand Boy, 1961), entre outros filmes.

    Lewis nasceu com o nome de Joseph Levitch e j em sua infncia de classe mdia em Nova Jersey nutria um amor pelo cinema. Filho de um casal de artistas do vaudeville de ascendncia russo-judaica, ele atuou no teatro algumas vezes em famlia e acabou, aps anos, levando para o cinema o nome artstico de seu pai (Danny Lewis), junto com um estilo de contar histrias por livres associaes nutrido pela natureza variada do vaudeville. O incio de sua carreira cinematogrfica ocorreu dentro

    de circunstncias confortveis, atravs das quais ele teve a oportunidade de refinar seu estilo cmico autocentrado. A maioria das piadas de seus filmes focada no prprio artista em sua fisionomia, fisicalidade e, em especial, sua psicologia, a qual ele expe ao retratar uma variedade de personagens masculinos e femininos em cenas surrealistas.

    Em contraste ao naturalismo artificial de muitos dramas hollywoodianos, Lewis ofereceu ao seu pblico uma artificialidade natural, expressando a insistente procura da mente humana por organizao do caos ao seu redor. Seus filmes autorais so ao mesmo tempo autorretratos e registros documentais autoconscientes, inclusive Um Trapalho Mandando Brasa (cujo roteiro foi escrito em parceria com Michael Janover). O longa abre com uma montagem de cenas dos filmes de Lewis realizados h duas dcadas na Paramount, seguida pelas palavras Jerry Lewis is e o ttulo do filme, Hardly Working. (Jerry Lewis est sem trabalho).

    O cineasta havia perdido seu privilegiado posto em Hollywood e no dirigia um filme havia dez anos, com exceo de The Day the Clown Cried (1972), o qual no foi concludo. Aps a sequncia inicial de Um Trapalho Mandando Brasa, o Lewis do presente aparece no familiar papel de um melanclico palhao de circo, chamado Bo Hooper. Ele delicia o seu pblico ao tirar de sua mala uma srie de objetos como tacos de golfe, cordes de linguia, um par de esquis, uma gaiola de pssaros e at um pequeno palhao.

    Logo aps a apresentao, Bo e seus colegas recebem a notcia de que o circo ser fechado. Fora do circo, desempregado e sem moradia, ele sofre para arrumar um lugar em um mundo com pouco espao para seu comportamento fora do padro. Mesmo com a ajuda de sua irm, que o abriga contra a vontade do marido um gerente de banco que no se conforma com a incapacidade do cunhado de se portar como um capitalista respeitvel , Bo passa sem sucesso por vrios empregos em dez dias.

    Ele experimenta ser um barman em um clube de striptease, mas se distrai facilmente com as pernas das danarinas; a tentativa de ser um vendedor em uma loja de mveis logo fracassa por no conseguir achar

  • 6a etiqueta de preo dos objetos a venda. O triunfo s chega de forma no monetria, em seu breve cargo de frentista em um posto de gasolina, quando, apesar de destruir o carro de uma cliente, a trapalhada agrada moa (interpretada por Susan Oliver), rendendo a ele um romance. Sem que Bo saiba, Claire a filha de seu futuro chefe (Harold J. Stone) nos correios, onde ele encontrar um trabalho fixo. Na segunda metade do filme, Bo se d bem como carteiro e procura se distanciar de seu passado no circo, assumindo o novo uniforme cinza e cercado pelas paredes e armrios cinzas de seu novo local de trabalho. Mas ele se d conta, eventualmente, que no est sendo justo consigo mesmo.

    Ao longo do filme, assistimos a Bo e Lewis personificando outros papeis exagerados, como um danarino de discoteca la John Travolta e uma tpica senhora judia, residente em um condomnio de luxo para idosos. Estes momentos brincalhes nos preparam para o clmax do filme, quando Bo, ao se deparar com uma entrega que mais parece uma providncia divina um casal de coelhos frteis , assume seu velho uniforme de palhao e faz as entregas acompanhado de uma multido admirada. Claire e seu pai assistem cena e o velho, furioso, condena Bo ao que considera um crime: desrespeito a um rgo pblico. O palhao ento responde que est apenas fazendo seu trabalho.

    O filme termina com Bo procura de uma nova vida, desta vez guiado por seu corao. Esta concluso pode ser vista como uma resposta pessoal de Lewis para uma indstria cinematogrfica mecnica e impessoal. Bo e Lewis, ao contrrio de muitos, podem admitir que so palhaos. Superficialmente, o homem que vemos fracassou com todos menos consigo prprio e ainda, mantendo-se verdadeiro a sua essncia, se renovou, voltando a ser um sucesso.

    Na poca em que Um Trapalho Mandando Brasa foi lanado nos Estados Unidos, alguns crticos reclamaram que Lewis, quase sexagenrio, era inapropriado para o papel, e que o filme havia sido feito amadoramente. Ainda assim, o personagem e a forma como ele foi retratado so consistentes com o tipo de heri amador que Lewis

    personificou em toda sua carreira no cinema. Este protagonista j definido nos primeiros longas de Lewis um tpico trapalho que luta para executar tarefas simples, exigidas por sua classe social trabalhadora, como carregar malas, pintar painis e organizar estoques. Seu herosmo reside em provar de forma honesta e persistente que ele capaz de execut-las, culminando em um espanto nas pessoas ao seu redor, quando se mostra mais capacitado do que o imaginado por elas.

    As tramas na maioria dos filmes de Lewis se desenvolvem conforme as confuses deste personagem (americano e sugestivamente judeu, como o prprio artista), que crescem a um nvel grotescamente freudiano, resultando em uma personificao de seu prprio medo. As demais aes do filme cessam quando ele foca na concluso de alguma tarefa bsica, aps a qual poder encontrar outro pesadelo da vida cotidiana. Ele se esfora para conseguir ser bem-sucedido enquanto conduzido por medos de excluso, dor, morte e das mulheres. Eles representam coletivamente um medo maior o do fracasso que deve ser superado.

    Este medo transparece em As Loucuras de Jerry Lewis, realizado logo aps Um Trapalho Mandando Brasa. O filme comea em tom de pnico ao assistirmos as mos de um annimo tirar de uma mala diversos itens como uma dinamite, um revolver, veneno, uma granada e uma corda de enforcamento. Logo descobrimos Lewis no papel de um suicida chamado Warren Nefron, que aps inmeras tentativas fracassadas desiste e procura se consultar com um psiquiatra. Warren parece uma figura de desenho animado: calado, tipicamente em desconforto, sendo caado a todo momento e esbofeteado, empurrado, roubado e perseguido por estranhos como um criminoso, porm seu nico crime foi tentar confiar em seu entorno. Ele incorpora os medos de seu criador ao extremo e acredita que um tamanho fracasso na vida ao ponto de no conseguir se sair bem nem ao cometer suicdio.

    Aparentando ser o mais atrapalhado e ilgico filme de Lewis, As Loucuras de Jerry Lewis retrata uma srie de aes que fracassam durante as sequncias seguintes. Ao longo do filme (escrito em

    parceria com Bill Richmond, roteirista que trabalhou com Lewis nos tempos da Paramount), ns aprendemos que o fracasso afligiu os ancestrais de Warren e o assistimos colidir com praticamente todos que cruzam seu caminho. Ele passa por um banco onde pretensos assaltantes (no qual o lder tambm interpretado por Lewis) fogem antes mesmo do roubo, aps realizarem uma apresentao para as cmeras de segurana no estilo da Broadway. Ele se consulta com um mdico New Age (novamente interpretado por Lewis) que logo perde a postura zen e acaba se tornando um vagabundo. O cuidadoso psiquiatra (interpretado por Herb Edelman) aps diagnosticar Warren como insano, o ajuda a conquistar tranquilidade, mas ele prprio enlouquece ao ser engolido pelo mundo surreal de seu paciente.

    No final do filme, Warren aparece deixando uma sala de cinema onde um letreiro anuncia um filme de Jerry Lewis Smorgasbord: The Movie e passa por uma longa fila na bilheteria. Duas mulheres perguntam sobre o filme, ao que ele responde em um tom infantil e nasalado, facilmente reconhecvel pelo pblico de Lewis. Sua postura tambm se transforma de ereta para familiarmente relaxada, e em seguida assistimos a uma srie de cenas onde Lewis e outros atores brincam enquanto aparecem os crditos finais. Assim como a audincia na tela, ns testemunhamos um homem atingir uma espcie de paz. Ele encontra pessoas com quem compartilhar suas ansiedades atravs da brincadeira como sempre de descobrir os contedos da mala humana de Jerry Lewis.

    Obrigado minha esposa, Mariana Shellard, pela traduo e reviso deste texto.

    Aaron Cutler, norte-americano, crtico de cinema, programador e vive em So Paulo. Colaborou com textos crticos para revistas e sites como os norte-americanos Cinema Scope, Cineaste, Film Comment e The Village Voice, para a publicao britnica Sight & Sound e para a brasileira Revista Cintica. Foi assistente de programao em trs edies da Mostra Internacional de Cinema de So Paulo (2012-2014) e mantm o site pessoal The Moviegoer http://aaroncutler.tumblr.com.

  • 7Jerry Lewis, estrategista do regressivoRuy Gardnier

    H muitas maneiras de denunciar o domnio das instituies sobre o indivduo e a consequente automatizao das relaes

    sociais, a hipocrisia dos encontros e das posies de status, a inibio e represso de qualquer sinal de expressividade mais pessoal que destoe do protocolo esperado. Luis Buuel fez sua denncia a partir do cinismo, da crueldade e do aporte do naturalismo literrio. Frederick Wiseman o faz circunscrevendo e descrevendo o modus operandi de cada instituio especfica e vendo qual espao ela deixa para cada um. Stanley Kubrick o fez do alto, e com seu estilo glido conseguiu zombar e se maravilhar com aquilo que o homem acha de si mesmo e que no . Jerry Lewis denuncia a partir do riso, e tem como tema maior a regresso. Em Lewis, a regresso no um estado no qual um determinado personagem se esconde e cria um mundo prprio; uma arma ativa para radiografar no a si mesmo, mas o outro, e imprimir toda a torpeza, toda a robotizao do que se convenciona chamar de vida adulta e pessoa sria de todos os no regressivos que sabem sempre se comportar sem uma palavra errada, sem um gaguejar, sem uma gafe, sem o menor constrangimento. No mundo de Jerry, uma gafe uma gag e uma gag um questionamento moral.

    Mas alto l zeeeeeep! twik! CRASH! , no todo humor regressivo que automaticamente se transforma em ferramenta de luta contra o enfadonho comportamento certo. E, ao mesmo tempo, tambm muito fcil e temerrio atribuir uma caracterstica subversiva a qualquer gesto cmico por seu potencial liberador (de riso, ao menos). Ento necessrio especificar. Enquanto trabalha basicamente como ator, sendo dirigido por Norman Taurog ou Hal Walker, Jerry Lewis certamente j um cmico completo em seu domnio, um virtuoso das caras e bocas, um histrio velocista, mas ainda tem alguma dificuldade em encontrar a moldura social perfeita para desancar mesmo quando h um alvo at relativamente fcil para explorar, caso de O Palhao do Batalho (At War with the Army, Hal Walker, 1950), uma comdia sobre

    o exrcito. Mesmo com Frank Tashlin esse sim um cineasta verdadeiramente digno dessa atribuio a coisa no se configura por completo, ainda que haja evidentes semelhanas de temas e abordagens (comparar Em Busca de um Homem [Will Success Spoil Rock Hunter?, Frank Tashlin, 1957] com O Otrio [The Patsy, 1964)) entre alguns filmes que ambos dirigiram. Mas s quando Lewis assume a direo e se afirma como mestre de dois domnios que a perfeio ser atingida.

    Esses dois domnios, comum o comediante junt-los: Chaplin, Keaton, Tati, todos os grandes atores cmicos

    que precisam do espao acabam uma hora ou outra descobrindo que precisam tambm dominar o espao cnico, no s o de seu prprio corpo. S que, ao contrrio de todos eles, Lewis constri seu estilo de mise en scne s antpodas de seu personagem, ao passo que o universo de Chaplin-diretor corresponde ao de Carlitos, o de Keaton-diretor tem o mesmo laconismo dos objetos que as expresses de seu rosto, o de Tati desajeitado e parece rimar com a mobilidade do longilneo Mr. Hulot. Mas se Jerry Lewis-ator infantilide, inofensivo, falastro e exagerado, o cinema de Jerry Lewis-diretor malicioso, agressivo, discreto e elegante. O timing cadenciado das sequncias, a sutileza de certas criaes de expectativa, os no-ditos que ficam como sugesto para o espectador destoam sobremaneira do estilo direto, frentico, caricatural e ostensivo das caretas de Lewis-ator. E essa variao de tom, do diretor ao ator, que vai tornar totalmente subversivos os personagens vividos pelo ator Jerry, ao menos nos filmes mais ambiciosos, ou seja, a partir

    de O Terror das Mulheres (The Ladies Man, 1961). Opera-se uma perspectivao do personagem, um remanejamento dentro do sistema narrativo e espacial, rtmico e tonal que faz as debilidades de Jerry-ator combaterem os mundos de agruras que Lewis-diretor coloca sua frente.

    O Terror das Mulheres relativamente modesto em relao ao escopo de seu personagem. No Jerry contra o mundo, apenas Jerry aprendendo a conviver com mulheres. Mas talvez seja o filme matricial para falar da regresso do personagem, seja porque oferece a cena primitiva do trauma recm-formado na universidade, Herbert H.

    Heebert vasculha o campus em busca de sua namorada e, encontrando-a nos braos de um alto, sai em disparada gritando mame pelos jardins da univesidade , seja pela forma de deixar evidente uma recusa vida adulta e aos papeis de poder masculinos vigentes poca (embora ele seja claramente caracterizado como no homem em certo nvel, ele consegue fazer chorar um poderoso mafioso que, esse sim, domina ou parece dominar todos os cdigos de masculinidade e ao). No entanto, talvez mais determinante para a performatividade travada do personagem seja a breve (e hilria) montagem em campo-contracampo de todas as mulheres do casaro, absolutamente silenciosas, olhando para o protagonista. Lewis equaciona perfeio: o que provoca angstia o olhar do outro, no saber reagir ao lugar do outro, supor que deve-se suprir aquilo que o olhar do outro espera de voc. A reao no poderia ser outra: sair gritando mame e correr pelas escadarias multiplicando-se em quatro de tanta ansiedade.

  • 8A mesma cena ocorre no comeo de O Otrio, s que dessa vez no so mulheres-vamp querendo seduzir um ps-universitrio traumatizado. So experientes profissionais do ramo do entretenimento que querem pegar um z ningum e transform-lo numa estrela do show business. Exatamente a mesma relao campo-contracampo ocorre, e o camareiro Stanley Belt comea a gaguejar, falar palavras sem sentido e tentar falar diversas frases ao mesmo tempo, sem conseguir terminar

    nenhuma. Se em O Terror das Mulheres a objetificao (bem de leve, em comparao) ia no sentido da simples busca de um handyman, em O Otrio a transformao em objeto tende ao absoluto: pegaremos voc, vestiremos voc, treinaremos, poremos palavras na sua boca, diremos como mexer o corpo, como agir, ou seja, como ser. nesse filme que a regresso e a debilidade funcionam mais preciosamente como armas: na incapacidade de ser ensinado a repetir, na inconformidade do comportamento ou na pardia das situaes de status, cada cena desse estupendo filme faz do erro contnuo uma mquina de m vontade contra a estandardizao da vida e da arte. Virulento libelo contra a produo de estrelas descartveis dentro da indstria cultural, sem dvida, mas sem a pressa ou o esnobismo de ver nisso tudo uma nica e mesma coisa ao contrrio, Lewis foca na automatizao e repetio ad nauseam dos procedimentos justamente para chamar a ateno para o singular, para o brilhante, para a fora da originalidade e da arte.

    Num dado momento em que Stanley se deixa levar pelos cdigos aceitveis de vida adulta, graas aos poderes de

    seduo (verdadeiros, mas nem por isso menos calculistas) da personagem de Ina Balin, um simples gesto na tirada do cachecol faz com que uma pea de roupa transforme-se numa forca e mostre como aquele personagem sente-se totalmente inadequado naquele lugar, naquela vestimenta, naquela pompa. Ironicamente, com a mesma situao de homem enforcado que comea o ltimo longa-metragem dirigido por Jerry Lewis, e com toda certeza seu filme mais radical. As Loucuras de Jerry

    Lewis (Cracking Up/Smorgasbord, 1983) substitui aqui o personagem regressivo dos filmes anteriores por um doente crnico, um personagem chamado Warren Nefron pelo sobrenome, algum que sofre dos nervos que vai de consulta em consulta, de psiquiatra a guru, para tentar entender por que ele no consegue se comportar como todas as outras pessoas, ou seja, ser normal. Obviamente, essa guinada de personagem se d parcialmente pela idade de Lewis, em 1982 (data de filmagem) contando 56 anos e portanto com poucas possibilidades de convencer como uma criana bobona. Mas impossvel no notar que isso tambm acontece graas a um esforo de universalizao da incapacidade de se adaptar, em parte porque h um pouco de inadaptvel em cada um, em parte porque os padres de normalidade criados pela medicalizao da sociedade americana fizeram de todos grandes neurticos.

    Smorgasbord Lewis ensima potncia. Se os primeiros filmes eram fragmentrios, esse o triunfo do fragmento (radicalmente s esquetes em prolongamento). Se a agressividade s se deixava ler nas entrelinhas

    de suas produes anteriores, aqui ele ostentatoriamente furioso. Se nos outros filmes havia uma certa negociao com a expectativa do pblico (personagem bonzinho, par romntico, fiapo de histria), aqui no h qualquer concesso. Depois da tentativa falhada de suicdio, Nefron vai ao psiquiatra apenas para encontrar um esnobe afetado do mesmo jeito que Stanley Belt j encontrara visitando o professor de canto em O Otrio. Mas se l o virtuosismo de humor fsico se resumia a no conseguir sentar em cadeiras exticas, em Smorgasbord ele mal consegue dar um passo sem cair num piso excessivamente encerado (excessivamente encerado = a aparncia de normalidade suplementar a mais valia de saber/poder dos escritrios de advogados, mdicos, restaurantes chiques etc. que se quer fazer ver). Em O Terror das Mulheres a idade adulta impossvel, em O Otrio a indstria do entretenimento impossvel, mas em Smorgasbord o prprio mundo que impossvel. Como que para deixar claro, umas cinco vezes no filme aparece um sujeito e gratuitamente d um soco na cara de um personagem, quase sempre Nefron uma dramatizao comovente do real lacaniano.

    Contra esse tipo de mundo, o retardo inadaptvel j no suficiente. necessrio o gesto veemente do demiurgo, tanto na construo de espao-tempos singulares quanto na interpretao e na dramatizao do vivido. No basta mais encenar: necessrio uma ao deliberada do diretor para fazer resistncia. E quanto a isso a trajetria de Lewis-diretor revela uma implacvel seta de reorganizao estratgica do mundo para remoldurar seu personagem ali onde ele poder fazer maior estrago e usar o riso como fora de desmitificao.

    Ruy Gardnier jornalista, pesquisador e crtico. Fundou em 1998 a revista eletrnica de cinema Contracampo, da qual foi editor at 2008. Crtico de cinema do jornal O Globo, trabalhou como pesquisador para o Tempo Glauber (2007-2011), para a Cinemateca do MAM e no acervo audiovisual do Circo Voador. Foi curador de retrospectivas sobre os cineastas Julio Bressane (CCBB e CineSesc) e Rogrio Sganzerla (CCBB), alm de co-curador, com Eduardo Valente e Joo Luiz Vieira, da mostra Cinema Brasileiro Anos 90: 9 Questes (CCBB).

  • 9do clown ingls, tracejando pontos fulgurantes de improvisos, sejam corporais ou verdadeiros atentados de detalhes imprevisveis dentro da lgica previsvel. absolutamente anacrnico observar como Lewis em O Mensageiro Trapalho procura pensar a arte num universo que renega o seu valor de culto e permite sua refrao num universo sem aura divina, sem relao direta entre o significado e o complexo de signos ao qual o primeiro se refere (comum arte ocidental de modo geral), sem uma idia condutora que preexiste e sustenta a todas estas relaes narrativas.

    um filme que, de certa forma, remete aos primeiros filmes de Orson Welles, onde percebemos uma pardia contumaz ao esprito racional, tornado o burlesco nas relaes entre os homens. Mas claro que temos a uma diferena: Welles era um intelectual ardiloso que utilizava uma srie de falsas placas indicativas dentro de um pntano narrativo. Lewis trabalha com o barroco, isso certo, mas ele no faz com que o barroco sintetize quaisquer preocupaes filosficas ou mesmo em relao ao romantismo perdido dos sculos que o cinema buscou no seu incio mimetizar (como em Welles). Pelo contrrio, se a corrupo e a decadncia do homem so irremediveis em Welles, aqui jamais iro manifestar-se como as preocupaes caras arte de Lewis, mas de mecanismos com funes dramticas (e tambm ldicas) bastante especficas. As preocupaes verdadeiramente caras ao cinema de Lewis encontramos nesta operao impossvel e insana de revelar o que poderia ser a transparncia, a verdade ontolgica (uma palavra que pode parecer absurda a princpio em se tratando de Lewis) do falso esplendor de papelo, da picaretagem pela picaretagem, da superfcie pelo que ela contm de brilhante, liso, escorregadio: a cena dos telefonemas aleatrios; o nmero de vaudeville; o personagem de Lewis no filme, Stanley, no meio do bombardeio de uma crise afetiva entre hspedes do hotel; sem esquecer, claro, da cena com a orquestra, verdadeiro tratado em forma de arte potica que Lewis, j no seu primeiro filme, nos d de sua arte.

    Felipe Medeiros tradutor e crtico de cinema. Escreveu em veculos como o site Dicionrios de Cinema e as revistas Lumire e La Furia Umana. Atualmente, compe o conselho editorial da Revista Foco www.focorevistadecinema.com.br

    Jerry Lewis e a estreia na direoFelipe Medeiros

    Seria um pouco injusto afirmar que h um divisor de guas na carreira de Jerry Lewis como ator: um antes e um depois de trabalhar

    com Frank Tashlin. A princpio, porque podemos perceber um comediante que mereceria, nos termos propostos por Jean Douchet, o ttulo de autor em filmes onde consegue arrancar criatividade suficiente para tornar digno o trabalho de um diretor medocre. Mas, de fato, no deixa de ser singular o salto de qualidade que ele teve como ator nos filmes de Tashlin, um diretor muito mais propenso direo de atores e criao de achados visuais para esquetes que os demais diretores com quem trabalhou no passado.

    O Mensageiro Trapalho (The Bellboy, 1960) nasce do prprio incentivo de Tashlin, que via potencial de direo em Lewis. E eis que surge a sua primeira oportunidade para dirigir um filme: a Paramount precisava de algum lanamento para o vero de 1960, e Lewis escreve, s pressas, o roteiro de uma comdia sem histria, enredo, com um mnimo de dilogos e inteiramente tomada por esquetes. Em quatro semanas, o projeto est pronto.

    Nota-se a quintessncia do apuro traado sob a direo de Tashlin. Os trejeitos, os mpetos, as lufadas de humor parecem cada vez mais ousados, estimulados pela explorao dos cenrios, da sofisticao inverossmil e do gigantismo destes em relao s aes de Lewis. Como a nota introdutria do produtor Jack E. Mulcher (na verdade, o ator Jack Kruschen passando-se por um produtor da Paramount fictcio), ainda nos primeiros segundos do filme, aponta: um filme onde impera a tolice e o humor mais raso. O filme mais debilide que j vi. Ledo engano. O Mensageiro Trapalho traz consigo a frescura corporal e cintica de Dislocation Mystrieuse e LHomme la Tte en Caoutchouc (Georges Mlis, 1901), assim como a liberdade formal que cede passagem s pantomimas do seu protagonista como visto com Harry Langdon em Tramp, Tramp, Tramp (Harry Edwards, 1926) ou Buster Keaton em The Haunted House (Edward F. Cline e Buster Keaton, 1921).

    Lewis parte de um conceito de gag funcional, brutal, sem rodeios na hora de arrancar o riso do espectador, mas o que sobra a melodia, a repercusso entre os arranjos de cena, a conduo rtmica e at mesmo a poesia do homem mido e trpego que sai ileso das suas jornadas peculiares. Ora, o que h de mais bonito e difcil no cinema evocar o carter espontneo das coisas, o dado impensvel no momento oportuno. E h de ser ressaltado o processo de filmagem de O Mensageiro Trapalho, que preserva o aspecto espontneo da primeira tomada (organizando e pincelando a cena para uma nica tomada antes de rod-la), a primeira entrega dos atores, no dando brechas ao esmorecimento pelas repeties da mise en place. nesse filme que Lewis cria o video assist, permitindo-lhe verificar se os planos fluem e o tempo de corte corresponde ao planejado.

    O humor, apesar de agradar a tantos espectadores, olhado de maneira desdenhosa quanto ao seu lado inventivo. E pela inveno que Lewis imediatamente se revela como realizador excepcional: difcil imaginar um filme como O Mensageiro Trapalho executado por um diretor mediano. O timing, os arranjos internos das cenas, os ngulos que favorecem o cmico, so assinados por um grande inventor de situaes, que tanto se mostram certeiras, porque econmicas e por atenderem ao apelo imediato que pede passagem para o riso, bem como elaboradas na justa riqueza atrativa: onde o ponto de referncia de cena, Lewis como protagonista, conduz as demais peas de modo estratgico, amplificador. Estratgia que vem do cartoon mais superficial porque longe da alegoria como se caracterizava, por exemplo, a obra de George Cruikshank. Lewis est mais para Jean Bellus, Robert Lassalvy e Rene Caille no cartoon e para Tex Avery nos filmes de animao: o tino para enquadramentos que fixam bem certos desenhos com os corpos que sero o contraponto fundamental para suas situaes de ruptura normalidade ou padro da cena.

    H sempre um jogo de gato e rato cujo contedo ignora ou at mesmo zomba de sua mensagem ou importncia enquanto arte. E, assim como em Keaton, Harold Lloyd e Harry Langdon, consegue-se lidar com a previsibilidade das expresses e dos infortnios tresloucados, hierticos do gnero e que nos remetem herana

  • 10

    Um palhao no batalhoAt War WithTheArmy1950, 93 min, Livre

    Direo: Hal WalkerElenco: Jerry Lewis, Dean Martin, Mike Kellin, William Mendrek

    Soldado atrapalhado (Lewis) cria mil confuses no quartel, complicando a vida de seu amigo de infncia (Martin), agora sargento.

    Morrendo de MedoScared Stiff1953, 108 min, 12 anos

    Direo: George MarshallElenco: Dean Martin, Jerry Lewis, Lizabeth Scott, Carmen Miranda

    O cantor Larry Todd (Martin) e seu parceiro atrapalhado Myron Mertz (Lewis) so perseguidos por um gngster ciumento. Na fuga, so ajudados por Mary Carrol (Lizabeth Scott), herdeira de uma grande propriedade em Cuba. Mas eles no estaro livres dos problemas.

    Artistas e ModelosArtists and Models1955, 109 min, Livre

    Direo: Frank TashlinElenco: Dean Martin, Jerry Lewis, Shirley MacLaine, Dorothy Malone

    Um cartunista desempregado (Martin) sente-se incomodado quando toda noite seu companheiro de quarto (Lewis) sonha histrias das revistas em quadrinhos que l avidamente. At que ele percebe que as aventuras sonhadas foram publicadas e podem ser sua fonte criativa.

    O Rei do LaoPardners1956, 90 min, Livre

    Direo: Norman TaurogElenco: Dean Martin, Jerry Lewis, Agnes Moorehead, LonChaney Jr.

    Fazendeiros, Slim Mosely (Martin) e Wade Kingsley (Lewis) so mortos por uma gangue que pretende se apoderar da terra de Slim e Wade. Anos depois, seus prprios filhos, Slim Mosely Jr e Wade Kingsley Jr. (novamente Dean Martin e Jerry Lewis) voltam para vingar os seus pais.

    Ou Vai Ou RachaHollywood or Bust1956, 95 min, Livre

    Direo: Frank TashlinElenco: Dean Martin, Jerry Lewis, Pat Crowley, Anita Ekberg

    Steve (Martin) o vigarista que ter de dividir um carro adquirido num sorteio, com outro que tambm foi premiado, Malcolm (Lewis), este com o sonho de ir a Hollywood conhecer a atriz dos seus sonhos. O malandro e o inocente faro a viagem juntos. ltimo filme da dupla.

    O Delinquente DelicadoThe Delicate Delinquent1957, 101 min, Livre

    Direo: Don McGuireElenco: Jerry Lewis, Darren McGavin, Martha Hyer, Robert Ivers

    Jerry Lewis faz o jovem tmido e desastrado que suspeito de ser delinqente juvenil, mas estuda para ser policial. Stira aos filmes de gangue, como Juventude Transviada, e primeiro trabalho de Lewis sem o parceiro Dean Martin.

    filmes

  • 11

    Bancando a Ama-secaRock-a-Bye Baby1958, 103 min, Livre

    Direo: Frank TashlinElenco: Jerry Lewis, Marilyn Maxwell, Reginald Gardiner, Salvatore Baccaloni

    Clayton Poole (Lewis) um rapaz que vive em uma cidade pequena e que trabalha como reparador de televiso. O amor de sua infncia (Marilyn Maxwell) se tornou uma grande estrela, mas est grvida e viva. Ela volta cidade natal e pede ajuda a Clayton para ele cuidar do beb.

    O Rei dos MgicosThe Geisha Boy1959, 98 min, Livre

    Direo: Frank TashlinElenco: Jerry Lewis, Marie McDonald, Sessue Hayakawa, Suzanne Pleshette

    O Grande Wooley (Lewis) um mgico desajeitado que, sem emprego e dinheiro, aceita uma oferta do Governo e das Foras Armadas para viajar ao Japo com o objetivo de entreter os soldados americanos que l esto para combater na guerra. O estranhamento de Wooley com os costumes japoneses ser a grande fonte de confuses deste americano em terra estrangeira.

    Cinderelo sem SapatoCinderfella1960, 91 min, Livre

    Direo: Frank Tashlin.Elenco: Jerry Lewis, Judith Anderson, Henry Silva, Anna Maria Alberghetti

    Aps a morte do marido milionrio, a viva se mostrou uma tima me para os filhos, mas maltrata e explora severamente seu enteado, Cinderelo (Jerry Lewis), o verdadeiro herdeiro. Mas um fada-padrinho (Ed Wynn) ajudar o rapaz a se engajar com a princesa Charming (Anna Maria Alberghetti). Releitura do clssico Cinderela.

    Detetive MixurucaIts Only Money1962, 83 min, Livre

    Direo: Frank Tashlin.Elenco: Jerry Lewis, Joan OBrien, Zachary Scott, Jack Weston

    Lester March (Jerry Lewis) um rfo de 25 anos e trabalha como reparador de eletrodomsticos, mas seu sonho ser um detetive. Seu melhor amigo um de verdade, e est trabalhando em um caso sobre uma cliente que procura um sobrinho desaparecido. A recompensa de 100 mil dlares faz com que Flint pea ajuda a Lester para entrar na casa da famlia e descobrir o mistrio.

    Errado pra Cachorro Whos Minding the Store? 1963, 90 min, Livre

    Direo: Frank TashlinElenco: Jerry Lewis, Jill St. John, Ray Walston, Agnes Moorehead

    Phoebe Tuttle (Agnes Moorehead) dona de uma grande loja de departamentos que no aprova o namoro de sua filha com um rapaz pobre chamado Norman Phiffier (Jerry Lewis). Phoebe, ento, decide contratar o rapaz para trabalhar na loja, dando-lhe tarefas complicadas para poder humilh-lo e tambm mostrar a filha que ele um desmiolado. As coisas no saem como o esperado.

    O Bagunceiro ArrumadinhoThe Disorderly Orderly1964, 89 min, Livre

    Direo: Frank TashlinElenco: Jerry Lewis, Glenda Farrell, Everett Sloane, Karen Sharpe

    Jerome Littlefield (Lewis) um jovem com excelente corao, que trabalha como atendente em um hospital. Entretanto, Jerome no consegue estudar Medicina, pois afetado por todos os males que atingem os pacientes, o que sempre gera desastres em alta escala.

  • 12

    O Mensageiro TrapalhoThe Bellboy1960, 72 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Alex Gerry, Bob Clayton, Sonnie Sands

    Tudo pode dar errado quando Jerry Lewis encarna Stanley, um mensageiro mudo e atrapalhado, no sofisticado Hotel Fontainebleau, em Miami Beach, Flrida. Em vrios e geniais esquetes cmicos, Stanley experimenta toda sorte de catstrofes, incluindo embates com hspedes de topless, chaves trocadas e telefonemas invertidos. Primeiro filme dirigido por Jerry Lewis.

    O Professor AlopradoThe Nutty Professor1963, 107 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Stella Stevens, Del Moore, Kathleen Freeman.

    Julius Kelp (Jerry Lewis) um professor muito trapalho e que est apaixonado por uma de suas alunas. Para tentar chamar a ateno dela e das mulheres, ele inventa uma frmula que o transforma em um timo galante e exibido cantor. Porm, a frmula tem um efeito temporrio e isso faz com que ele passe por vrias situaes complicadas. O filme mais popular de Jerry Lewis.

    O Terror das MulheresThe Ladies Man1961, 95 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Helen Traubel, Pat Stanley, George Raft

    Depois de ser chutado por sua garota, o deprimido Herbert (Lewis) jura renegar os relacionamentos romnticos e decide viver sua vida como um solteiro convicto. Porm, por acaso, ele arranja emprego em uma hospedaria feminina em Hollywood, gerando uma srie de confuses.

    Mocinho EncrenqueiroThe Errand Boy1961, 95 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Brian Donlevy, Howard McNear, Dick Wesson

    A Paramaut Pictures, um grande estdio de Hollywood, decide contratar um espio que descubra o que acontece l dentro. Isso porque a empresa est perdendo dinheiro, no pelos seus filmes mas pelo seu prprio servio nos seus setores. Por coincidncia, o chefe da companhia v um moo (Lewis) trabalhando em um cartaz, e o contrata para o cargo. Mesmo sendo gentil e honesto, Morty tem um especial talento em arranjar confuso.

    O OtrioThe Patsy1964, 101 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Ina Balin, Everett Sloane, Peter Lorre

    Quando um popular animador tem uma morte prematura, seus perplexos associados correm desesperadamente para encontrar um substituto. O escolhido Stanley Belt (Lewis), um pacfico empregado de hotel que saltar do anonimato ao estrelato. Grande crtica mordaz de Lewis ao show business.

    Uma Famlia FuleiraThe Family Jewels1965, 99 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Donna Butterworth, Sebastian Cabot, Neil Hamilton

    Donna Peyton, uma rf de nove anos, herda uma fortuna em milhes de dlares, mas precisa escolher um pai entre seus seis malucos tios (todos feitos por Jerry Lewis), que tomar posse da herana e cuidar dela.

  • 13

    Trs em um SofThree on a Couch1966, 109 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Janet Leigh, Mary Ann Mobley, Gila Golan

    Christopher Pride (Lewis) um pintor que planeja aproveitar uma viagem a Paris para levar sua noiva (Leigh) e casar com ela em solo francs. Mas ela, uma psicanalista, no pode abandonar trs jovens pacientes desiludidas com seus parceiros. Pride, ento, decide se passar por trs homens com personalidades diferentes para preencher o vazio das moas.

    Uma Dupla em SinucaOne More Time1970, 92 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Sammy Davis, Jr., Peter Lawford, Maggie Wright, Leslie Sands

    Chris Pepper (Peter Lawford) e Charlie Salt (Sammy Davis, Jr.) vem o seu nightclub falir e pedem ajuda ao irmo gmeo de Chris. Ele recusa a ajud-los, e depois encontrado morto. Pepper assume a sua identidade, e ento ele descobre que o irmo j foi um contrabandista e que foi assassinado por seus cmplices.

    Qual o caminho para a guerra?Which Way to the Front1970, 92 min, Livre

    Direo: Jerry Lewis.Elenco: Jerry Lewis, Jan Murray, John Wood, Steve Franken

    Homem mais rico do mundo em 1942, o playboy norte-americano Brendan Byers III (Lewis) andava entediado quando foi convocado para servir o exrcito. Ele deseja lutar, mas rejeitado no exame mdico. Por conta disso, ele e mais trs homens que tambm no foram aceitos resolvem formar um exrcito particular, com direito a se passar por nazista para assim ajudar o avano dos aliados.

    As Loucuras de Jerry LewisCracking Up/Smorgasbord1982, 89 min, Livre

    Direo: Jerry LewisElenco: Jerry Lewis, Milton Berle, Sammy Davis Jr., Herb Edelman

    Warren Nefron(Lewis) um deprimido que no consegue fazer nada direito, inclusive se suicidar. Ele recorre ao seu psiquiatra, contando vrias passagens de sua vida. Filme em esquetes e com Jerry Lewis assumindo diversas personas.

    O Rei da ComdiaThe King of Comedy1983, 109 min, 12 anos

    Direo: Martin Scorsese. Elenco: Robert De Niro, Jerry Lewis, Diahnne Abbott, Sandra Bernhard

    Rupert Pupkin (De Niro), aspirante a co-mediante obcecado por se tornar um rei da comdia, consegue finalmente interceptar seu dolo, Jerry Langford (Lewis), e lhe pede ajuda para participar do seu talk-show. Ao no ser atendido, Pupkin tem um plano um tanto radical para conseguir seus minutos de fama na TV.

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    QUARTA - 18/02

    QUINTA - 19/02

    SEXTA - 20/02

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    DOMINGO - 22/02

    SEGUNDA - 23/02

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    DOMINGO - 01/03

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    QUINTA - 05/03

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    DOMINGO - 08/03

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    TERA - 10/03

    QUARTA -11/03

    QUINTA - 12/03

    SEXTA - 13/03

    SBADO - 14/03

    DOMINGO - 15/03

    SEGUNDA - 16/03

    O Rei da Comdia

    O otrioO terror das mulheresCinderelo sem sapatoMocinho encrenqueiroO otrioO mensageiro trapalhoO delinquente delicadoCinderelo sem sapatoO mensageiro trapalhoO Rei da Comdia

    O terror das mulheresO delinquente delicadoBancando a ama secaErrado pra cachorroOu vai ou rachaO rei dos mgicosDetetive mixurucaQual o caminho pra guerra?Errado pra cachorroMocinho encrenqueiroOu vai ou rachaAs loucuras de Jerry Lewis

    O rei dos mgicosDetetive mixurucaAs loucuras de Jerry LewisUm palhao no batalhoQual o caminho pra guerra?O professor alopradoTrs em um sofDEBATE - Jerry Lewis ator e diretorUm palhao no batalhoO professor alopradoO rei do laoO bagunceiro arrumadinho

    Uma famlia fuleiraUma dupla em sinucaO bagunceiro arrumadinhoArtistas e modelosUma famlia fuleiraMorrendo de medoO rei do laoArtistas e modelosUma dupla em sinucaMorrendo de medoBancando a ama secaTrs em um sof

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    CCBB Braslia - 18/02 a 16/03/2015

    DATA FILME HORA

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    CCBB Rio de Janeiro - 18/02 a 02/03/2015

    DATA

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    O otrio

    O delinquente delicado

    O terror das mulheres

    O Rei da Comdia

    Qual o caminho pra guerra?

    Mocinho encrenqueiro

    Cinderelo sem sapato

    O mensageiro trapalho

    O otrio

    Mocinho encrenqueiro

    DEBATE

    Qual o caminho pra guerra?

    Cinderelo sem sapato

    O Rei da Comdia

    O terror das mulheres

    Trs em um sof

    O delinquente delicado

    Morrendo de medo

    O rei dos mgicos

    Errado pra cachorro

    Detetive mixuruca

    Bancando a ama seca

    Ou vai ou racha

    Detetive mixuruca

    O rei dos mgicos

    Um palhao no batalho

    O rei do lao

    O mensageiro trapalho

    Uma famlia fuleira

    O bagunceiro arrumadinho

    Artistas e modelos

    O rei do lao

    Uma dupla em sinuca

    O professor aloprado

    As loucuras de Jerry Lewis

    Bancando a ama seca

    Ou vai ou racha

    Artistas e modelos

    Errado pra cachorro

    Morrendo de medo

    O bagunceiro arrumadinho

    Uma dupla em sinuca

    Um palhao no batalho

    As loucuras de Jerry Lewis

    Trs em um sof

    Uma famlia fuleira

    O professor aloprado

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    CCBB Rio de Janeiro - 18/02 a 02/03/2015

    FILME HORA

    QUARTA - 04/03

    QUINTA - 05/03

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    SBADO - 28/03

    DOMINGO - 29/03

    SEGUNDA - 30/03

    O rei da comdia

    O otrioO terror das mulheresCinderelo sem sapatoMocinho encrenqueiro

    O otrio

    O delinquente delicadoCinderelo sem sapatoO mensageiro trapalhoO Rei da Comdia

    O terror das mulheresO delinquente delicadoBancando a ama secaDEBATEOu vai ou rachaO rei dos mgicosDetetive mixurucaErrado pra cachorroQual o caminho pra guerra?

    Ou vai ou rachaAs loucuras de Jerry Lewis

    O rei dos mgicosDetetive mixurucaAs loucuras de Jerry LewisUm palhao no batalhoQual o caminho pra guerra?O professor alopradoErrado pra cachorroMocinho encrenqueiroTrs em um sofUm palhao no batalhoO professor alopradoO rei do laoO bagunceiro arrumadinho

    Uma famlia fuleiraUma dupla em sinucaO bagunceiro arrumadinhoArtistas e modelosUma famlia fuleiraMorrendo de medoO rei do laoO mensageiro trapalhoArtistas e modelosMorrendo de medoUma dupla em sinucaBancando a ama secaTrs em um sof

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    CCBB So Paulo - 04 a 30/03/2015

    DATA FILME HORA

  • CRDITOS

    PATROCNIOBanco do Brasil

    REALIZAOCentro Cultural do Banco do Brasil

    PRODUOSegunda-Feira Filmes

    CURADORIAFrancis Vogner dos Reise Paulo Santos Lima

    PRODUO EXECUTIVARaquel RochaAlexandre Sivolella

    COORDENAO DE PRODUOPedro Nogueira

    PRODUO DE FILMESMarlia Lima

    LEGENDAGEM4Estaes

    PRODUO LOCALDaniela Marinho e Rafaella Rezende (Braslia)Katharine L. Weber (So Paulo)

    ASSESSORIA DE IMPRENSAMarina Fernandes (Braslia)Eduardo Santos (Rio de Janeiro)Baob Comunicao (So Paulo)

    PROJETO GRFICO E VINHETAInhamis Studio

    WEB DESIGNInhamis Studio

    AGRADECIMENTOSAaron CutlerAleques EitererAllia HotelsAmanda Carvalho de AndradeBistro do Pao (Maria Nauer)Carlos LosillaClber EduardoFabrcio FeliceFelipe MedeirosFilipe FurtadoGraham FultonGreens RestauranteHernani HeffnerIncio AraujoJoo Luiz VieiraJulia KellyLuiz Carlos Oliveira Jr.Ruy GardnierSrgio AlpendreTatiana MonassaTiago Mata MachadoTunico Amncio