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Ano 01 – Número 03

Rockazine Edição #03

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Terceira edição do Rockazine.

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Ano 01 – Número 03

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Jornalista ResponsávelKarina [email protected]@karinafrancisMTB 62.032/SP

ColunistasFabio Gomos@somdonorte

Mary Camata@marycamata

Maurício Angelo@mgangelo

Patrícia Toni@pattyfirmino

Rafaela Cappai@rafacappai

Textos Karina Francis

DiagramaçãoArtur Guimarães

CapaKarina Francis eArtur Guimarães

ColaboraçãoAndré Campos

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial das reportagens, entrevistas, artigos e ilustrações sem a prévia autorização dos titulares dos direitos autorais.

[email protected]: (11) 6427-5812

Siga-nos no

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Acesse tambémwww.rockazine.com.br

Karina Francis Gouveia, editora do Rockazine

Ano passado, nessa mesma época, eu estava enlouquecendo para con-

cluir as matérias da primeira edição do Rockazine. E hoje, vendo o resulta-

do final desta terceira edição, eu penso: “Nossa, todo esforço valeu a pena!”,

isso porque, só quem faz um produto independente sabe que não é nada

fácil. Além disso, quem me conhece sabe o quanto sou neurótica com meus

projetos pessoais, tentando sempre dar o melhor de mim.

O meu vínculo com o Rockazine é igual ao de uma mãe com seu filho.

Eu planejo, carrego dentro de mim, cuido, e tenho uma relação muito forte

com ele. E, cada vez que vejo ele crescer um pouquinho, fico muito feliz.

Adoraria fazer um por mês, mas não sobra tempo suficiente. O Rockazi-

ne é um projeto que coloco em prática nas horas vagas, infelizmente elas têm

sido poucas ultimamente. Cada edição é feita com muito carinho e com pes-

soas que assim como eu, acreditam muito na música independente. Pessoas

que sempre querem saber o porquê das coisas e adoram novos desafios.

O foco nas bandas continua forte. Para esta edição, entrevistamos Mó-

veis Coloniais de Acaju, Aeromoças e Tenistas Russas, Diego de Moraes e o

Sindicado, entre outras. O legal é que elas não têm quase nada em comum,

cada uma com estilo bem diferente da outra, mas que juntas, agregam mui-

tas experiências interessantes.

Inspirada na pergunta: Qual foi o último disco que você comprou? A

terceira edição do Rockazine discutiu o futuro dos discos. Atualmente, a

fabricação de discos de vinil e fitas K7 estão aumentando em grande es-

cala. Os álbuns virtuais ainda são a opção mais utilizada por bandas inde-

pendentes, apesar disso, as plataformas antigas já não são mais coadjuvantes

no século XXI. Por isso, a matéria principal tentou mostrar esse panorama

através do olhar de pessoas que atuam ativamente nesse cenário.

É isso! Enquanto a humanidade caminha, a gente corre para tentar pen-

sar na próxima edição!

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EQUIPE DESTA EDIÇÃO(01) Karina Fracis • Jornalista responsável;

(02) Artur Guimarães • Diagramação;

(03) Fabio Gomes • Colaborador;

(04) Mary Camata • Colaboradora;

(05) Maurício Angelo • Colaborador;

(06) Patrícia Toni • Colaboradora;

(07) Rafaela Cappai• Colaboradora e

(08) André Campos • Colaborador.

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14Diego de Moraes e

o Sindicato

22Móveis Coloniais

de Acaju

28Aeromoças e

Tenistas Russas

34W-rox

38Hierofante Púrpura

bandastecnologia

retrato

discussão

06do vinil à fitinha

A pergunta é:Será tudo uma questão de

moda, ideologia, qualidade sonora ou estratégia?!

44Manifesto do artista

independente do tipo faça você mesmo

46Vamos falar de

domínio público?

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festivais48

Mais um festival nasce no norte

quadrinhos51

a vida de um PandeMonio

coxinhização50

Independente BR:é preciso ir além

Por um Brasil independente

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Do vinil à fitinha

A pergunta é:Será tudo uma questão de

moda, ideologia, qualidade sonora ou estratégia?!

||| Texto Karina Francis

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Fitas K7 lançadas pelo selo

Pug Records

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O vinil é uma experiência tátil, visual e auditiva.

Colocá-lo no toca discos, ler o encarte e ainda

ouvir um som que tem vantagens cientificamente

comprovadas sobre qualquer

som digital, tudo isso faz com que o vinil seja encarado

como um fetiche, um objeto de

desejo.

||| João AugustoSócio-proprietário da

DeckDisck/Polysom

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Mp3 é como fast food – você está no rolê ou fazendo

alguma coisa e deixa o player rolando suas milhares de

pastas. Agora o vinil é como um jantar bacana

com um bom vinho!

||| Marcelo FuscoProprietário da Trezeta Musik

Karina Francis

Paulistana, jornalista,editora do Rockazine.

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Diego de Moraes e

o Sindicato||| Texto Karina Francis

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Para mim, o espírito

independente é ter uma

autonomia para com a sua

obra. Fazer o que quer

fazer, sem se preocupar com o que esperam de você. É usar

o ‘foda-se!’ como filosofia

de vida

||| Diego de Moraes

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Se eu vou a um show, pago pra ver os músicos,

não ‘para ver o evento’. Se o

artista fica sem remuneração, o

principal elemento de toda essa

‘cadeia produtiva’ fica desestimulado.

||| Eduardo Kolody

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O artista independente

é o mais dependente,

pois existe uma rede de

relações sociais em torno dele.

Uma rede em que um depende

do outro

||| Diego de Moraes 2120

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Móveis Coloniais de Acaju

||| Texto Karina Francis

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Rockazine: Qual foi o último disco que cada um comprou?

Roy HargroveThe RH Factor

Marcelo JeneciFeito pra Acabar

Devendra BanhartWhat Will We Be

Adele21

Miss LiLate NightHearthbroken Blues

O Choro e sua HistóriaIzaías e Israel Bueno de Almeida, entre amigo

Hoje a obrigação do

músico que quer construir uma carreira vai bem além de ensaiar e fazer shows,

ele precisa se envolver com

a gestão do negócio.

||| Esdras

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A gente precisa do

trabalho do outro

pra fazer o som do Móveis, o resultado

final com a mão dos 10 é o que dá a cara da

banda

||| Esdras

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||| Texto Karina Francis

Aeromoças e Tenistas Russas

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Se não temos muito acesso aos grandes

meios de comunicação de massa como a TV,

garantimos nosso espaço nas mídias sociais,

que representam o futuro da informação

compartilhada

||| Aeromoças e Tenistas Russas

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O mais massa de tudo é quando alguém chega

depois do show e diz ‘cara, vocês tem influência da banda

X da Finlândia?’, sendo que a gente nunca ouviu falar

dela na vida... Isso é ser inclassificável

||| Aeromoças e Tenistas Russas

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Em relação ao cenário

independente atual, acho

que estamos realmente

consolidando uma plataforma

sólida, que atende as

demandas das bandas que

querem circular para mostrar

seu trabalho. E é sustentável sim

||| Aeromoças e Tenistas Russas

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||| Texto Patrícia Toni

W-ROX: Surge um novo rock!

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Patrícia Toni

Paulista de Poá, jornalista em formação e mesmo com sua queda, ainda prefere o diploma. Tem 22 anos e é apaixonada por música, em todas as suas formas. Já trabalhou com revista, TV e internet e atualmente, é assessora de imprensa.

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Deixa o mundo ser torto...||| Texto Karina Francis

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essência do grupo. O que sentem quando estão no palco? E o que tentam passar para o público?Danilo: Sinto-me num estado de elevação único, me sinto paranóico, elétrico, calmo como um louco, me sinto cansado, fadigado, me sinto fa-zendo algo representativo, algo único, me sinto satisfeito em documentar minha vida pela música, em poder me expressar, me sinto feliz quando alguém se identifica e vem comentar depois, perguntar os significados em-butido nas letras, me sinto sozinho em cima do palco também, ai bate uma encanação de que o show ta uma merda, de que ninguém ta curtindo, umas neuras mesmo, fecho os olhos e canto, interajo com o Gabriel, Helena (quando ela participa) ou com o Diogo e geralmente (na maioria da vezes) sou amparado por uma bela duma virada na bateria, ou uma levada dis-torcida bem encaixada pela Jaguar ou pela Tele, um groove macio do baixo. Um mix de experimentos sensoriais, e até mesmo extra-sensoriais quando rola uma reunião com o Alberto H. (nosso guru espiritual) no pré-show. Momentos que procuro gravar tudo numa VHS pra lembrar depois, na hora não to nem vendo direito, é um bando de coisa disforme pra tudo que é lado, ao mesmo tempo em que rola um foco bonito, interessante também. Quando tem um sistema bom de P.A eu fico bem empolgado. Consigo in-terpretar melhor as nuances do vocal, consigo passar mais emoção para os meus parceiros de banda e procuro ser bem articulado, quase passo a decla-mar as frases da letra para que me faça ser compreendido. Procuro dar uma atenção especial nesse quesito, quero que quem nos assista entenda a mensa-gem da banda, se identifique com ela, aprenda algo ou simplesmente se sinta bem. O palco é um templo sagrado.

Rockazine: Vocês estão juntos há mais de cinco anos e de lá pra cá muita coisa mudou. Sendo assim, como avaliam a o cenário musical independente no Brasil? Danilo: Pois é, realmente muita coisa mudou. Muita ban-da boa encerrou suas atividades, banda ruim também, out-ras tantas surgiram com um potencial incrível, outras com nem tanto potencial, porém, com bons contatos, influência$ e esquemas que passam a favorecer mesmo aquele velho (e execrável) hábito da social polida e ponderada, da pose altiva glamourosa que nós do Hierofante não dominamos muito. Isso não quer dizer que somos anti-sociais, muito pelo contrário, adoramos mesmo é a tal sociabilização, conhecer pessoas, novos projetos, coletivos, selos, produ-tores, videomakers, com respeito e admiração por pessoas que estão nessa de banda pelo verdadeiro amor, dedicados, empenhados em realizar. Penso que quanto mais afundo se envolve mais se percebe e sente na pele os lados positivos e negativos de ser músico no circuito alternativo nacio-nal. Hoje, com o advento da internet e suas redes sociais, as informações correm de um lado pro outro num ritmo acelerado, frenético, é só tirar o cabelo dos olhos, ajeitar a orelha no esquema da concha e deixar a nossa boa cultura, a arte, a música (a melodramática então, melhor ainda), fluir pra dentro do cérebro e ta feito o estrago, e o melhor, podemos compartilhar, divulgar. Estranho é perceber, ou nem tão estranho, que diante dessa “facilidade” as pessoas possuam uma visão tão limitada, uma visão de burocrática censura pelo o que elas não compreendem e fechem os ol-hos pro Mundo-Brasil ao seu redor, buscando a salvação no exterior, repudiando artistas da sua própria estirpe. O modismo e a postura de descrença ignorância (por parte do público e até mesmo de mídias ditas “especializadas”), me incomodam muito. Acredito, que hoje a nossa música é levada mais a sério, compreendida nos seus aspectos mais minuciosos, mas ainda esbarramos e deslizamos no prob-lema de gerar o tal do capital, ainda mantemos (ou tenta-mos manter) nossos empregos que tomam bastante parte do nosso tempo, saúde espiritual e física, da nossa (ins)piração...mesmo depois de 5 anos (quase 6) ainda não en-contramos esse denominador comum, mas a cada ensaio, viagem para shows, gravação e afins, o projeto faz mais sen-tido, ganhamos força e crescemos (juntos) musicalmente. Rockazine: O show da banda é marcado por uma intensa loucura, que embora seja ‘louca’ chega a ser doce de tão intensa. Vocês parecem se transportar para outro lugar e ao mesmo tempo tentam mostrar toda a

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Rockazine: Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão. Assim vocês registram os shows e demais momentos da banda. A iniciativa de registrar tudo partiu de qual objetivo? Qual o retorno dessas ações?Danilo: O Glauber Rocha que iria go-star dessa pergunta, mas não tem como não prestar eternas homenagens ao es-tilo libertário desse monstro do cinema brasileiro. Homenagens que não pon-tuam tanto esteticamente tudo o que já produzimos, até porque não sou tão pretensioso. Mas é uma idéia (uma ati-tude) que perdurará por entre os sécu-los, enquanto existir cabeças pensantes, criativas o suficiente para mexer suas próprias bundas em prol da produção inventiva. Essa é nossa iniciativa, sim-plesmente se mexer. A (boa) tecnolo-gia, tanto de áudio quanto de vídeo, nunca esteve tão ao nosso alcance. Não existe mais desculpa para o não-fazer, o não-criar, não dependemos de mais ninguém para divulgar nossos regis-tros. É óbvio que existem boas vitrines, como exemplo a Trama Virtual na web, e o programa Radiola (veiculado na Tv Cultura) e até mesmo os Labs da MTV que abriram espaço para o clipe de “Su-jeito sem Brio”, isso só para citar esses três, que já bastante contribuíram para divulgar, espalhar pelos ares magnéti-cos essa nossa despretensiosa e român-tica psicodelia em audiovisual. Eis o retorno, ser reconhecido por caminhar com dignidade diante das necessidades culturais do nosso público.

Rockazine: A banda já está trabalhando em músicas novas. Elas seguem a mesma pegada desenvolvida pelo grupo ou podemos esperar algo novo?Gabriel: Estamos com a novíssima “Espírito Espelho” já sendo apresenta-

da nos shows e nela contamos com a participação da baixista Helena Duarte pois toda estrutura da música é feita no piano que é de responsabilidade do Danilo. Acreditamos que as novas composições estão mais maduras e refinadas em re-lação ao Transe Só e os outros ep´s lançados. Hoje após seis anos de banda e nossas experiências anteriores com outras bandas,gravações, shows e viagens acreditamos que aquela magia intensa e surreal tem cada vez mais se tornado uma realidade nas novas composições, estamos bem felizes com os resultados nos ensaios e pré produções.. Muitas surpresas estão a caminho e nossa expectativa é que sejam bem recebi-das por todos que aguardam esse novo trabalho.

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||| DaniloHierofante Púrpora

Essa é nossa iniciativa,

simplesmente se mexer.

A (boa) tecnologia,

tanto de áudio quanto de

vídeo, nunca esteve tão

ao nosso alcance.

Rockazine: O consumidor da música alternativa esta cada vez mais exigente, em um terreno fértil de boas bandas, como é o caso do nosso país, é difícil estabelecer um álbum que só recebeu elogios por parte da crítica. Como avaliam esse momento de grande aceitação do álbum ‘Transe Só’?Gabriel: Avaliamos com muita felicidade e sensação de dever cumprido, pois, quando gravamos as doze músicas la em 2008, a idéia era lançarmos tudo de uma só vez e por decisões, dúvidas, condições as coisas tomaram outro rumo e lançamos 3 ep´s com quatro músicas cada.De algum jeito imaginamos que esse foi o melhor caminho pois sempre estivemos produzindo e trabalhando nessas músicas, e hoje após esses 3 anos temos todas elas lançadas num álbum que é o Transe Só, onde pudemos caprichar num projeto gráfico, bootlegs ao vivo, enfim, algo diferenciado do que anda acontecendo por aí.

Rockazine: Crise de Creize, Adubado e Transe Só, são 3 EPs que foram gravados num mesmo momento. Porém, é possível dizer que cada um possui um conceito próprio? Como definem esse trabalho?Danilo: Gravadas no mesmo momento, porém, as com-posições aconteceram em épocas distintas. Quatro delas (Hospital das Curas, Rosa Frígida, Rainha do Universo e Sujeito sem Brio) nasceram quando o Felipe Lima ainda era integrante do Hierofante. É notável pra quem acompanhou a “cronologia” dos três EPs, principalmente o “Transe Só” (que revela Hospital e Rosa) algumas pontuais diferenças em compor como quarteto. Os conceitos nasceram natu-ralmente, não perdemos muito tempo na escolha das faixas. Hoje, com distanciamento, quando escuto separadamente cada EP, percebo que a combinação das faixas foi realmente a ideal pra cada lançamento, como se as músicas tivessem se atraído umas pelas outras, unindo-se em pares perfeitos. A apoteose ocorreu no exato momento em que compila-mos todas elas num único álbum, o “Transe Só” físico. E não poderia ser diferente, a idéia, o conceito principal era realmente lançá-las em formato de álbum cheio desde o início. No fim das contas, soa como uma etapa vitoriosa, o fechamento de um ciclo, uma transição evolutiva.

Rockazine: A internet possibilita a livre expressão dos artistas. E as pessoas sedentas por propostas interessantes utilizam a internet para encontrá-las. O que está fazendo a banda crescer cada vez mais é

a identificação do público com as músicas que se torna automaticamente uma vontade de espalhá-las pra todo mundo. E é notável como a banda utiliza a internet para própria divulgação. Além de marcar os próprios shows, cuidar do relacionamento com o público, fazer os roteiros de clipes. Isso para vocês é ser independente?Gabriel: Acredito que é mais ou me-nos isso aí, recentemente li uma ent-revista de 95/96 quando o Fugazi veio para o Brasil e nessa entrevista o Ian Mackeye explica bem como ele trab-alhava com a banda onde ele gravava, ele lançava, ele marcava os shows, ou seja, era totalmente independente. Nós não temos essa mentalidade tão radical, acreditamos que para o trab-

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Fotos: Hendi du Carmo

alho ser concretizado com sucesso é sempre importante uma opinião de quem não faz parte como músico da banda pois quando tudo está em nos-sas mãos, acaba meio que sendo do nosso jeito, do jeito que nos agrada ou ok, obrigado e fica pra próxima, entende ? A internet ta aí pra ajudar eu diria em quase 100% das ações porque querendo ou não, divulgamos tudo através dela então só nos resta aproveitar esse meio “gratuito” e fazer com que mais gente conheça nosso trabalho. Através da internet hoje te-mos um selo em Maceió (PopFuzz Records), outro no Rio de Janeiro (Transfusão Noise Records), temos nosso álbum distribuído por todo o Nordeste, coisa que sem ela não tería-mos tantas chances de alcançar com tanta facilidade, é muito gratificante conhecer gente através da internet e quando isso se realiza pessoalmente é

meio mágico, afinal estamos aí pra conhecer pessoas novas e sedentas por boa música.

Rockazine: Quais os próximos passos do Hierofante Púrpura?Gabriel: Nossos próximos passos são compor, gravar, lan-çar, tocar, produzir e tudo se renova, é incrível isso não? Ainda vamos lançar este ano, um split com nossos compan-heiros da banda Alarde onde teremos uma música inédita, outra versão de uma música deles e vice-versa. Sejamos livres, sejamos felizes com boa música, boas imagens e prin-cipalmente com bons e leais amigos. Estamos aí de peito ab-erto pra receber todo tipo de gente, felizes com os resultados e com a opinião de quem está conhecendo nosso trabalho. Em 2012 muita novidade está por vir e do mesmo jeito que a surpresa será pra todos vocês, será pra nós também. Que-remos viver a música, a arte e as experiências da vida. Um álbum novo virá pra selar esse momento único da época em que vivemos e quem viver verá. Muito obrigado Karina pela oportunidade de estarmos nesse Rockazine #3, e que seja a primeira de muitas participações do Hierofante Púrpura nesse material rico que você independentemente produz com maestria, amor e dedicação! Deixa o mundo ser torto...

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Olá, muito prazer. Meu nome é artista-independen-te. Eu sou do tipo Faça Você Mesmo. Eu me viro nos trinta, jogo nas onze, frito o peixe e olho o gato ao mes-mo tempo. Eu uso minhas habilidades de malabarista pra manter todas as bolas no ar ao mesmo tempo, sem deixar a peteca cair.

Eu trabalho pelo menos 10 horas por dia pra dar conta de pagar as contas. Eu não tenho plano de saúde, não te-nho conta de celular fixo, não tenho carro e não tenho co-ragem de assumir uma prestação de 6 pagamentos futuros.

Eu não tenho horas fixas de trabalho, não tenho equi-pe fixa de trabalho e não tenho salário fixo pelo meu tra-balho. Tem mês que entra, tem mês que não.

Eu me envolvo em pelo menos quatro projetos ao mes-mo tempo, recebendo pequenos cachês de cada um. No montante a coisa fica mais fácil.

Eu não sou bom com dinheiro e não sei cobrar direito pelo que faço. Eu trabalho de graça.

Não tenho rotina, não tenho férias, não tenho ócio criativo.

Muitas vezes trabalho naquilo que não gosto pra poder fazer aquilo que gosto.

Você pode incluir meu trabalho na lista dos sazonais. De Novembro à Março é particularmente difícil. Não que eu não trabalhe. Eu trabalho muito, a questão é que eu não ganho dinheiro.

Eu não tenho ecritório, nem estúdio, nem sala de en-saio onde possa trabalhar. A sala lá de casa é ao mesmo tem-po meu escritório, meu estúdio e também sala de reunião.

Meu parceiro também é artista. Somos os dois no mes-

mo barco, sem ninguém pra segurar a onda quando a maré baixa. Nós dese-jamos ter filhos, mas não sei quando teremos segurança suficiente pra ter coragem de encomendar um.

Eu sou multi-tafera, o que ao meu ver já não é tão bom assim. No currículo soa bonito, mas na vida real significa que eu não consigo focar em uma só coisa de cada vez.

Sobre meu currículo, ele pare-ce um Frankstein, com experiências diversas, em projetos diversos, com gente diversa. Pode até parecer que sou instável, mas se você olhar bem, faz até bastante sentido. Eu não sou instável, sou apenas uma pessoa que tem múltiplos interesses e múltiplas qualidades. E uma enorme capacida-de de adaptação também.

Tá bom, eu confesso que às vezes tenho dificuldade de focar em um só projeto, uma só ideia. Eu tenho ideias a todo momento, mas não sei exata-mente como realizá-las.

Tá certo, não sou eu que sou ins-tável, mas minha vida sim. Ando na corda bamba diariamente, esperando a ligação que vai garantir o cachê do mês seguinte.

Manifesto do Artista Independente do Tipo

Faça Você Mesmo

||| Texto Rafaela Cappai

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Sim, minha vida é precária. A linha que divide prazer e traba-

lho é bem fininha, e as coisas pulam de um lado para o outro sem nem pe-dir permissão. Começo trabalhando e quando já vi estou me divertindo. Ou começo me divertindo e quando vi, já virou trabalho. E mesmo se eu estiver me divertindo, saiba que pos-so estar trabalhando. Uma coisa não exclui a outra.

Muitas vezes as pessoas não respei-tam meu horário de trabalho. Muitas vezes eu mesmo não respeito meu ho-rário de trabalho, trabalhando quando deveria estar descansando e descansan-do quando deveria estar trabalhando.

Muitas vezes não estou no clima de ir a lançamentos e estréias, mas fico pensando que são esses momentos que podem me abrir oportunidades. Então eu vou, mas eu acho meio es-tranho quando alguém me diz que tenho que fazer network. Sair pra trocar cartões que eu nem tenho, com pessoas que não conheço. Esse tal de network já faz parte do que eu sou, descobrindo novas pessoas e fazendo amigos. Sem forçar a barra.

De vez em quando eu consigo emplacar um projeto através de Lei de Incentivo, o que me dá um certo respi-ro por um curto espaço de tempo, mas eu vejo com suspeitas esse boom des-sas tais indústria e economia criativas, uma vez que não entendo muito bem como isso vai ajudar na prática a desen-volver a minha vida, a forma como eu trabalho e a maneira com que ganho meu dinheiro, sem necessariamente atingir a integridade do que faço.

Apesar de estar crescendo e evo-luindo na minha carreira, muitas ve-

Rafaela Cappai

Atriz, bailarina, jornalista e empreendedora cultural. Vive à procura de alternativas, ferramentas e soluções que possam ajudar artistas a encontrar sustentabilidade naquilo que amam fazer.

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zes tenho a sensação de que estou dando voltas no mesmo lugar, correndo atrás do meu próprio rabo. Não consigo ter a regularidade que gostaria, gerando oportunidades em um fluxo estável.

Às vezes tenho vontade de ter emprego fixo, carteira assinada, plano de saúde, ferias pagas, 13º salário… em um escritório fechado, com gente chata e careta, fazendo tra-balho sem graça… daí a vontade passa.

Eu até já tentei trabalhar em um ambiente um pouco menos criativo e mais comercial, mas tinha a sensação de que estava vendendo minha alma ao diabo, por um preço bem camarada, já que o salário e as condições também não eram lá grandes coisas.

Já pensei em desistir mais vezes do que você possa ima-ginar, mas quando penso na minha felicidade, sei que mi-nha motivação é intrsínseca, não necessariamente vem só de dinheiro ou reconhecimento. Eu amo fazer o que faço e não me vejo sendo feliz fazendo outra coisa. Muitas vezes até não sei se consigo fazer outra coisa. Já pensei em abrir uma loja de empadas, mas a ideia passa rapidinho quando penso que não dá pra ficar sem cantar, dançar, atuar, tocar, escrever, pintar, criar, fazer arte.

Aos poucos tenho aprendido palavras como marke-ting, redes sociais, network, cadeia produtiva, empreende-dorismo, já que dizem por aí que isso pode me ajudar a melhor professar a minha arte, mas sinto que o artista que vive em mim fica meio escondido por trás de planilhas de custo, contas à pagar, orçamentos, objetivos e justificativas.

Minha meta de vida é trabalhar 100% com arte, sem precisar me envolver em projetos com os quais não me identifico conceitualmente e esteticamente.

No fundo eu sou feliz por exercer minha liberdade ar-tística e criativa, mas a perrenga financeira vez ou outra diminui minha confiança no futuro e minha paixão pelo que faço. Já o amor, esse continua intacto.

E pra você que olha de fora, minha vida pode até pa-recer mais fácil que a sua. Saiba que sou artista e trabalho com arte. Eu não mexo com arte. Com arte não se mexe, é coisa muita séria pra se mexer.

Texto inspirado nas entrevistas realizadas para o artigo “Precarity in the music sector of the city of Belo Horizonte: characteristics and strategies”, durante Mestrado em Empreendedorismo Cultural e Criativo, na Goldsmiths University of London. 45

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No Brasil, o tema do domínio público é escassamente debatido. A única vez, de fato, que vi o tema ser bastante comentado foi no começo de 2008, quando, passados 70 anos da morte de Noel Rosa, sua obra passou ao domínio público – que nada mais é que o fim do período de exclusi-vidade de utilização econômica de uma obra intelectual (li-terária, artística ou científica). Até ali, a maioria das pessoas associava a expressão a um e-mail enviado como spam em que alguém, alarmado, dizia que estava para sair do ar o site www.dominiopublico.gov.br, por falta de acessos (jamais ameaçado, o site completará 7 anos em novembro).

A passagem de uma obra ao domínio público abre uma série de possibilidades interessantes. Permitiu-me, por exemplo, compilar e lançar no blog http://noelrosa100.blogspot.com/ o CD virtual Noel Rosa Cantor – Vol. 1, apenas com fonogramas liberados, para download gratuito (o único pagamento exigido do interessado é o envio de uma mensagem sobre o CD para sua rede social). Também propicia o surgimento de uma editora como a Legatus, de Alexandre Pires Vieira, que só lança e-books de textos que ele busca no já citado site Domínio Público. Vieira chega a faturar 6 mil dólares por mês com suas vendas na livraria virtual Amazon. Machado de Assis está entre os autores que Vieira publica. Assim como ele, diversos outros edito-res hoje podem lançar Machado, de modo que há concor-rência e o leitor pode optar pela edição que achar melhor. Outros benefícios são a redução de custos para produção de CDs, shows e livros que utilizem obras liberadas.

O medo de enfrentar concorrência, num setor da eco-nomia onde ela não é habitual, acaba gerando distorções, que se ligam ao silêncio em relação ao domínio público. Eu soube, por exemplo, de uma cantora que pagou a uma editora musical em 2009 pela gravação de uma música de Cândido das Neves. Tendo este autor falecido em 1934,

desde 2005 sua obra se acha em do-mínio público – ou seja, cessou, por força de lei, o mandato que a edito-ra tinha para representar os herdeiros do autor. O correto seria a editora comunicar à cantora que a obra esta-va liberada e que ela poderia gravá-la sem ônus. Na mesma época, um can-tor me procurou porque queria lançar uma compilação, semelhante à que fiz de Noel, de obras de Sinhô, mor-to em 1930 e cuja obra está liberada desde 2001. Ao buscar os fonogramas originais nas gravadoras, era informa-do, erroneamente, que a cada mudan-ça de suporte (ou seja, do 78 rpm para o LP, deste para o CD, MP3 etc), a contagem de 70 anos de proteção se reiniciava (não há nada parecido com isso escrito na Lei do Direito Autoral em vigor no país, a 9610/98 - http://www.cultura.gov.br/site/?cat=1346).

É bom não esquecer que o papel do direito autoral é assegurar um pe-ríodo de exclusividade ao autor e seus herdeiros, para a exploração comer-cial de sua obra. Findo esse período, a obra passa ao domínio público, se tornando então patrimônio de todos; fica, porém, assegurado, eternamente, o direito moral do reconhecimento da autoria. Esse é o mesmo princípio das patentes de invenções – por exemplo, Alexander Graham Bell inventou

||| Texto Fabio Gomes

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o telefone e durante alguns anos sua empresa, a Bell, teve o monopólio le-gal assegurado; acabado esse período, qualquer outra empresa poderia fa-bricar telefones, com o que o consu-midor ganhou, por meio da concor-rência, melhorias técnicas e redução de custos. Enfim, por não encarar o domínio público com a mesma visão que o dono da Legatus, Alexandre Pires Vieira, algumas gravadoras e editoras adotam as atitudes citadas no parágrafo anterior. Ao lado da desin-formação, pode acontecer também a pressão sobre os legisladores para estender indefinidamente o prazo de proteção. Nos Estados Unidos, o pra-zo, que era de 70 anos, passou a ser de 90, em 1998; a emenda ganhou o ape-lido de “Mickey Mouse Protection Act”, pois se comentava que a Disney é que teria exigido a prorrogação, para evitar a liberação dos filmes mais anti-gos do camundongo.

Observem que Brasil e Estados Unidos adotam prazos de proteção diferentes. Pois é, cada país é livre para fixar o período que lhe parecer melhor, desde que não seja inferior ao estabelecido pela Convenção de Berna - 50 anos. Essa autonomia aca-ba gerando um efeito colateral preo-cupante: a falta de parâmetros claros sobre qual legislação deve ser con-siderada em cada caso. A ponto de, no site Domínio Público, o próprio Ministério da Educação admitir que “as diferentes legislações que regem os direitos autorais de outros países trazem algumas dificuldades na veri-ficação do prazo preciso para que uma determinada obra seja considerada em domínio público.”

Fabio Gomes

Gaúcho de Porto Alegre, formou-se em Jornalismo pela UFRGS em 2001. Edita o blog www.somdonorte.com.br e os sites www.brasileirinho.mus.br e www.jornalismocultural.com.br. Atualmente mora em Belém do Pará, de onde colabora com o Rockazine e a revista Intera, de Manaus.

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Pode não parecer, mas 70 anos post mortem é muito tempo. No caso de obra em parceria (muito comum no campo da música), a contagem do prazo só começa após a morte do “último dos co-autores sobreviventes”, como diz o artigo 42 da Lei 9610. Peguemos um exemplo, o caso de “Carinhoso”, choro que Pixinguinha compôs no co-meço dos anos 1920 e que foi letrado por João de Barro em 1937. Como Pixinguinha morreu em 1973, e João de Barro em 2006, “Carinhoso” só passará ao domínio pú-blico em 2077, mais de 150 anos depois de ter sido escrita!

É possível alterar isto? Não muito. O direito auto-ral é regulado desde 1886 pela Convenção de Berna. O Brasil, sendo seu signatário, deve seguir vários princí-pios ali fixados, como esse do prazo mínimo de 50 anos. O país que ousar fixar um período menor arrisca-se a ser excluído do acordo e ver seus criadores intelectuais perderem o direito à proteção no exterior. Sou favorável a que, na revisão que o Congresso Nacional deve fazer em breve na Lei do Direito Autoral, o prazo de proteção seja reduzido para 50 anos.

Seria importante que mais gente no Brasil entendesse os benefícios econômicos e culturais do domínio público. São raras as iniciativas como a minha, criando um hotsite com toda a obra já liberada de Noel Rosa - http://www.brasileirinho.mus.br/noelrosa.html . Ou projetos como o Noel Inédito, da cantora e compositora baiana Laura Dan-tas, que musicou letras de Noel cuja melodia se perdeu. Vários outros compositores importantes já estão com as obras em domínio público - cito apenas três: Carlos Go-mes, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth. Acima de tudo, entendo que falta, principalmente, um referencial. Algo que dê visibilidade às obras em domínio público. Penso que artistas que estivessem pesquisando repertório para um CD ou roteirizando um novo show poderiam consultar uma base de dados para ter opções de obras pe-las quais, legalmente, não precisariam pagar direitos auto-rais, reduzindo consideravelmente seus custos de produ-ção. Óbvio que sabemos que este não é o único critério a considerar (a qualidade da obra e sua identificação com o intérprete certamente pesarão mais), mas não deixa de ser relevante – além de ajudar a colocar novamente em circu-lação na sociedade obras criadas há pelo menos 70 anos, e que fazem parte do rico patrimônio cultural de nosso país. 47

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Quem diria que em um estado tão longe das grandes capitais do rock no Brasil, pudessem existir bons festivais? Em uma cidade com pouco mais de 115 mil habitantes chamada Ji-Paraná, conhecida como “coração de Ron-dônia”, nasceu em pleno mês de agosto de 2011 um novo festival de rock chamado Festival Poraquê.

Com este nome exótico de uma enguia que paralisa sua presa com uma descarga elétrica que chega a matar um cavalo, o “Poraquê”, que também quer dizer “o que entorpece”, surgiu na idéia dos organizadores do festi-val que fazem parte do Coletivo Interior Alternativo, de usarem o nome do animal que é personagem de historias que se ouvem na beira dos rios que cortam a cidade - Rio Machado e Rio Urupá. “A busca por algo que remetesse a nossa região. Foi assim que surgiu Festival Poraquê”, disse um dos organizadores do festival, Raphael Amorim.

Realizado durante dois dias com um total de 12 ban-das de quatro estados, o Festival tinha acesso livre ao pú-blico de todas as idades. Através de parcerias idealizadas pela Fundação Cultural e a Prefeitura do município jun-tamente com o Coletivo Interior Alternativo e o Circuito Fora do Eixo, a primeira edição do Festival começou bem tímida, porém com bandas atuantes na cena independen-te. Com o objetivo de criar uma vitrine dos artistas locais, fazendo um intercâmbio com bandas da cena indepen-dente de outros estados, o Festival Poraquê contou não só com atrações musicais, mas também com oficinas, workshop e um debate sócio ambiental com participação de membros de outros coletivos, bandas e público em ge-ral, sem o menor custo.

Enquanto as bandas se apresenta-vam, tatuadores realizavam a 1ª Expo Tattoo. Entre uma cervejinha e um bom rock, vários roqueiros decidiam riscar a pele. Foi em meio a figuras exóticas sempre presentes em festi-vais de rock que o vocalista da ban-da Subpop Derek Ito, da cidade de Vilhena, comemorava o nascimento de mais um festival no Estado. “As bandas de rock rondoniense só tem a ganhar com o surgimento do Festival Poraquê. É mais uma oportunidade de mostrarmos nosso trabalho onde a cena, mesmo pequena, existe e mui-tas vezes é esquecida”, disse o jovem.

A banda mato-grossense Maca-co Bong, foi à escolhida para fechar a primeira noite do Festival Poraquê. O baixista Ney Hugo falou sobre a força das bandas independente no Brasil e a importância de uma circu-lação nos festivais a fora: “Acredito que a cena independente já superou todas as outras cenas. Há dois anos, a gente diria que a cena estava come-çando a se fortalecer. Hoje em dia já conquistamos espaço. Em qualquer lugar do Brasil, a banda já não quer mais gravar um CD com uma gran-

Festival Poraquê: mais um festival

nasce no norte

||| Texto Mary Camata

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de gravadora. O objetivo das bandas agora é rodar o Brasil em festivais, divulgando seu som nas redes e pro-pagando de graça seu trabalho pra que seja conhecido. A Macaco Bong gosta muito de Rondônia e apoiamos essa circulação das bandas indepen-dentes nos festivais. É fundamental pra gente intensificar essa circula-ção”, disse Ney.

O rapper cuiabano Linha Dura que também foi uma das atrações do Festival, falou sobre a experiência de ser o único rapper no meio do rock. “Gostei muito de conhecer Ji-Para-ná. Eu cresci ouvindo hardcore, mas o rap foi a minha maneira de entrar nas favelas e passar o meu recado. No Brasil ainda tem essa divisão de rock

Mary Camara

Graduada em Comunicação Social e pós-graduada no Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná (RO). Atualmente é editora-chefe do Jornal Correio Popular, foi coordenadora do Curso de Comunicação Social do Ceulji/Ulbra e assessora de imprensa de alguns festivais de rock em Rondônia. É fotoógrafa e também donado Blog A La Maryjanne.

pra cá e rap pra lá. Sei que sempre vai ter uma galera que não vai gostar, mas outra galera vai parar, ouvir e refletir a nossa mensagem”, disse Linha Dura.

Encantado com a estrutura do festival na segun-da maior cidade de Rondônia – depois da capital Porto Velho – o vocalista da banda de rock mineira Vandaluz, Vane Pimentel, era só elogios ao “recém-nascido” Pora-quê: “Que energia boa e que festival maravilhoso. É mui-to bom estar pela primeira vez no calor de Rondônia. É uma coisa fora da nossa realidade. Nunca sonhamos que viajaríamos para tão longe só para mostrar nossa música. Quantos conceitos vamos levar daqui. É muito bom par-ticipar deste festival com a nossa espontaneidade de dei-xar nossa musica fluir”, falou Vane enquanto se preparava para subir ao palco com a Vandaluz, última banda a se apresentar na primeira edição do Festival Poraquê que ainda contou com a banda paraense Strobo. “É muito bom trazer nosso som de tão longe pra uma galera tão bacana”, finalizou Léo Chermont, vocalista da Strobo.

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Dentro do vasto processo de “coxinhização” da nossa música, parece que o politicamente correto tomou conta e não deve mais sair. Vejo gente assustada com “fenôme-nos” como A Banda Mais Bonita da Cidade, que durou o incrível tempo de 1 mês. Em breve o grupo dará origem a uns três “projetos solo” de voz-violão-ukelelê-tecladinho yamaha e os que sobrarem irão abrir uma sorveteria hips-ter. O mal nunca acaba.

E o que isso representa de fato na música brasileira? Nada. Assim como “virais” que explodem na internet não costumam ultrapassar seu microcosmo de burburinho efê-mero. Me dê três exemplos de coisas relevantes que “bom-baram” na web ano passado e continuam a movimentar alguma coisa sem precisar pesquisar muito ou forçar a me-mória. Pois é, impossível.

O que realmente me preocupa é a ausência de um mé-dio escalão sólido na música nacional. No topo temos os artistas mainstream de todos os gêneros, na base os inde-pendentes com maior – ou nenhuma – estrutura, vivendo de shows esporádicos patrocinados por grandes empresas, projetos de lei, os SESC’s da vida, um ou outro festival e por aí afora. Há poucos artistas com verniz “independen-te” - que não arraste grandes massas mas que consegue um público razoável – capazes de se manter.

A música “independente” brasileira tem quase nada de “independente”, se considerarmos o termo ao pé da letra. Incluindo todo o Fora do Eixo e as dezenas de cole-tivos espalhados pelo país. Verdade: é muito melhor que o nada que tínhamos. Outra verdade: é preciso sair do momento inicial de oba-oba e empolgação pura e sim-ples, o que já começou a acontecer na torrente de críticas e discussões dos últimos 2 anos, para uma efetiva “nova fase” dessa cadeia produtiva.

Ótimo que conseguimos construir algo. Melhor ain-

da se alcançarmos o aperfeiçoamento do que já existe, tapando os gargalos, assumindo os erros e buscando algo mais justo para todos. Ao invés de se refugiar num patrulhamento acéfalo e num discursinho pseudo-marxista chulé da pior espécie. Orwell manda lembranças.

Em outra ponta, bandas precisam apelar para o crowdfunding, com pin-ta de “iniciativa bacana” e “antena-da”, mas com um prazo de validade curtíssimo, com dezenas de proble-mas na sua essência e possível apenas para grupos com uma base de fãs mí-nima, a exemplo do Autoramas.

Parece que a música “indepen-dente” cada vez mais é passatempo para jovens endinheirados, playboys com dinheiro de sobra para não te-rem que se preocupar em viver do seu trabalho. Não é difícil observar isso: basta conhecer boa parte dos grupos por aí. Ao mesmo tempo em que, não por acaso, bandas decentes acabam ou ficam no eterno “termina e volta”.

Ao contrário do que alguns gos-tam de acreditar, precisamos de – ain-da – comer muito sal para solidificar o que já existe. E não é sem uma dose de coragem e a capacidade de lidar com críticas de maneira sadia, algo aparentemente impossível pra tanta gente, que isso será possível.

Independente BR:é preciso ir além

||| Texto Maurício Angelo

Maurício Angelo

é jornalista e edita a www.revistamovinup.com

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COLORIDOS

Eu sou o último exemplar da minhaespécie...

Todos da minha geração foram morrendo ou esquecidos com otempo!

Passo minha vida bebendo whisky e ouvindo meus velhos discos.

Uma vez por mês eu tento voltara sociedade...

Vamos por um poucode cor nesta cidade

cinza gente!!!Mas vejo que ainda não estoupreparado para isso.

FIM

Page 52: Rockazine Edição #03

Do vinil á fitinha, Diego de Moraes e o Sindicato, Móveis Coloniais de Acaju, Aeromoças e Tenistas Russas, PandeMonio, e muito mais...

Nesta Edição