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RODRIGO RICARDO CARVALHO
O CINEMA BRASILEIRO COMO DIFUSOR DA CULTURA NACIONAL:
UMA ANÁLISE DE FILMES BRASILEIROS INDICADOS A PREMIAÇÕES EM
FESTIVAIS NO EXTERIOR
Trabalho de conclusão de cursoapresentado à Universidade do Vale doRio dos Sinos – UNISINOS, comorequisito parcial para a obtenção do títulode Bacharel em Administração Hab.Comércio Exterior.
Orientadora: Profª. MS Miriam S. Mylius
São Leopoldo
2009
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São Leopoldo, 10 de Junho de 2008
Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno RodrigoRicardo Carvalho encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo suaapresentação oral e escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituídapela coordenação do Curso de Administração Hab. Comércio Exterior.
________________________________________
Miriam MyIius
Professor(a) Orientador(a)
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Ao meu pai Antenor e minha mãe Goreti,pela dedicação, amor, compreensão e oportunidades a mim dadas.
Dedico esta vitória a vocês!
Às minhas irmãs, sobrinhos e cunhados,por toda a ajuda dada!
Ao meu amigo Cléo,com seu pensamento positivo, sempre me encorajando
a encarar os desafios.
À minha amiga Lisi,sempre prestativa, que me auxiliou a escolher
as pedras as quais deveria desviar e as quais deveria carregar.
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AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Miriam,por sua amizade e paciência, por ter guiado e apontado meus erros,
resultando no presente estudo.
Aos colegas da Seven Stars,pela compreensão e entendimento.
À minha amiga Josi,por seu exemplo de luta.
Às amigas Marta e Vânia,pela compreensão na minha ausência.
À minha amiga Wica,por todo o carinho recebido.
A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que este trabalho se realizasse,
meus sinceros agradecimentos!
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“Cultura, portanto, também é economia, além de cidadania e de simbologia, e
nesta economia da cultura, nós, brasileiros, temos muito a oferecer e a conquistar.
Como diria Câmara Cascudo, em frase resgatada recentemente por uma campanha
publicitária, o melhor do Brasil é o brasileiro; e o melhor do brasileiro é a sua
cultura”.
Gilberto Gil, ex-ministro e cantor.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 10
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ...................................................................... 11
1.2 OBJETIVOS .................................................................................................... 16
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................ 16
1.2.2 Objetivos Específicos.............................................................................. 17
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 17
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 20
2.1 CULTURA........................................................................................................ 20
2.1.1 O Surgimento da Cultura........................................................................ 21
2.1.2 A Diversidade de Culturas ..................................................................... 24 2.2 A FORMAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA ............................................ 30
2.2.1 O Choque de Culturas e Transplantação no Brasil......................... 33
2.2.2 O Sistema Cultural Brasileiro................................................................ 36
2.2.2.1 Subsistema de Líderes e Liderados..................................................... 39
2.2.2.1.1 Concentração de Poder ...................................................................... 42
2.2.2.1.2 Personalismo ........................................................................................ 45
2.2.2.1.3 Paternalismo ......................................................................................... 48
2.2.2.2 Subsistema Institucional......................................................................... 50
2.2.2.2.1 Espectador ............................................................................................ 51
2.2.2.2.2 Formalismo ............................................................................................ 54
2.2.2.2.3 Impunidade ............................................................................................ 57
2.2.2.3 Subsistema Pessoal................................................................................ 59
2.2.2.3.1 Lealdade às pessoas ........................................................................... 60
2.2.2.3.2 Evitar Conflito ........................................................................................ 61
2.2.2.4 Subsistema dos Liderados..................................................................... 64
2.2.2.4.1 Flexibilidade .......................................................................................... 65
2.2.3 Festas e Ritos que permitem visualizar outros traços culturais . 68
2.3 OS ESTUDOS SOBRE CINEMA ................................................................ 70
2.3.1 A Evolução e Revolução do Cinema ................................................... 72
2.3.2 Cinema como Divulgador da Cultura .................................................. 75
2.3.2.1 O Cinema como Comunicação e Divulgação de Idéias.................... 75
2.3.2.2 O cinema como Reflexo da Sociedade................................................ 79
3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS ................................................................. 84
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA............................................................... 84
3.2 DEFINIÇÃO DA ÁREA/POP.-ALVO/AMOSTRA/UNID. ANÁLISE ........ 87
3.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ........................................................ 97
3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS........................................................ 98
3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO E DO ESTUDO ............................................ 100
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................ 102
4.1 CENTRAL DO BRASIL, 1998...................................................................... 102
4.1.1 Análise – Parte1 ........................................................................................ 103
4.1.2 Análise – Parte 2 ....................................................................................... 104
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um cinema de qualidade e que esta opinião do público brasileiro ainda persiste em
um número de pessoas.
Com base em estudos sobre cultura, em especial a cultura brasileira, esta
pesquisa visa identificar como o cinema brasileiro revela no exterior os principais
traços da cultura nacional nos filmes. Os filmes pesquisados foram participantes de
festivais internacionais de cinema no exterior, onde há o contato inicial do público
estrangeiro com as obras cinematográficas produzidas no Brasil.
Neste estudo, adota-se o método qualitativo, através de uma pesquisa de
caráter exploratório-descritivo, tendo como estratégias a pesquisa bibliográfica e a
documental.
Portanto, para a leitura e compreensão do presente estudo, o mesmo é
estruturado como segue: capítulo 1, introdução, apresentação e definição do
problema de pesquisa. Neste mesmo capítulo, também são apresentados o objetivo
geral e específicos que norteiam o trabalho bem como a justificativa. O capítulo 2
apresenta a construção teórica do estudo com conceitos sobre cultura e cinema, que
serviram de base para a análise dos dados. No capítulo 3, são apresentados os
métodos e procedimentos, organizados em: delineamento da pesquisa, técnicas decoleta de dados, técnica de análise dos dados e limitações da pesquisa. A
apresentação e análise dos resultados são abordadas no capítulo 4, que será
seguido pelas considerações finais.
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Conforme Meirelles (2009), presidente do Banco Central do Brasil (BACEN),
no XI Seminário Anual de Metas para Inflação, apontou uma boa estimativa para o
Brasil:
O regime de Metas, e ainda mais importante, o compromisso inequívoco esem concessões com o regime mostrado nos últimos anos resultou embenefícios significativos para o Brasil: taxa de crescimento do PIB de 5% de2004 a 2008 versus cerca de 2% das décadas anteriores, geração média demais de 1,5 milhões de empregos por ano, inflação consistemente na
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brasileiro desde o início do incentivo até os dias de hoje. O período inicial, que vai de
1993 a 1998, é chamado pelos estudiosos como a “Retomada do Cinema Brasileiro
como Nagib (2002), que também apresenta que os recursos obtidos para a
produção destes filmes nacionais provieram da Lei 6.685, conhecida como a Lei do
Audiovisual, que foi promulgada em 1993. As obras cinematográficas produzidas por
estes recursos, segundo a autora, começaram a aparecer em 1995.
Na figura 1, é possível acompanhar o fenômeno do aumento das produções
nacionais:
Figura 1: Número de obras lançadas e produzidas com ajuda da Lei do AudiovisualFonte: Elaborado pelo autor a partir de dados apresentados pela ANCINE
A evolução acima pode parecer insignificante perante o cinema norte-
americano. Segundo MPAA1 (2009), no ano de 2008, o mercado americano lançou
610 filmes. Existe um contraste muito grande se comparado o lançamento de filmes
americanos ao lançado ao início dos anos 90 no Brasil, que de acordo com Nagib
(2002), visto que em 1992 apenas dois filmes brasileiros foram lançados no
mercado.
Estes primeiros anos do período considerado pelos cineastas como o
“renascimento” do cinema brasileiro este também é caracterizado, por Nagib (2002)
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do incentivo da Lei do Audiovisual. Na figura 2, verifica-se a posição de filmes que
participaram de festivais internacionais no exterior nos últimos dez anos:
Figura 2: Número de filmes que participaram de festivais internacionaisFonte: Elaborado pelo autor a partir de dados apresentados pela ANCINE e IMDB
A participação em festivais também é incentivada pela ANCINE, através do
apoio para participações em festivais internacionais de cinema. As informações
sobre esta ajuda financeira, conforme ANCINE (2009), disponibilizados no site da
Agência, varia do simples envio da cópia da película para o festival bem como o
pagamento de passagens aéreas para os representantes do filme nos festivais. Ao
todo, de acordo com a ANCINE, este apoio abrange até 67 festivais internacionais,
divididos entre os níveis apoiados conforme anteriormente citado.
Verifica-se tanto perante a comunidade acadêmica quanto a comunidade que
acompanha o cinema brasileiro, certa preocupação com o que se está exibindo no
exterior, principalmente no que se refere aos problemas sociais apresentados como
a má-distribuição de renda e o problema da violência. No entanto, estes problemas
sociais estão presentes no país e o cinema apenas os representa nas telas. Porém,
muitas vezes, não é levada em consideração a possibilidade dos filmes
apresentarem o próprio brasileiro, ou seja, a cultura e a forma de relacionar-se
socialmente do nosso povo.
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Segundo Bottomore e Outhwaite (1996), o cinema é considerado um veículo
de comunicação de massa. Os mesmos autores afirmam que a cultura de massa é a
produção destinada aos grandes grupos de consumidores e que modificam hábitos
de comportamento.
Para Langie (2005), os indivíduos contemporâneos e consumidores na era da
informação, imagens, consumo de objetos e idéias, e que, imerso neste universo de
trocas, sempre procura algo que os satisfaça. Bergan (2007) contribui afirmando que
os filmes estão mais acessíveis aos consumidores, pois o surgimento do vídeo e
mais recentemente o DVD, além do download pela internet possibilita ao espectador
assistir os filmes das mais variadas maneiras. Assim, é possível afirmar que o
cinema é produzido para as grandes massas, está presente na sociedade para
consumo e seu alcance já ultrapassou os limites das salas de exibição.
Portanto, considerando os investimentos brasileiros na produção nacional,
juntamente com o desempenho dos filmes brasileiros no exterior comprovados pelas
indicações e premiações em festivais internacionais, além do movimento de
identidade realizado pelo cinema do período, chamado de a Retomada do Cinema
Brasileiro, aliados ao poder do cinema como cultura de massa e a sua fácil
acessibilidade nos tempos atuais, pretende-se responder a seguinte questão de
pesquisa: Quais são os principais traços culturais brasileiros, apresentados pelo
cinema nacional, nos filmes exibidos no exterior?
1.2 OBJETIVOS
Na próxima seção serão apresentados o objetivo geral e os objetivos
específicos.
1.2.1 Objetivo Geral
Apontar os principais traços culturais brasileiros, apresentados pelo cinema
nacional, nos filmes exibidos no exterior.
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1.2.2 Objetivos Específicos
- Apresentar os principais conceitos relacionados à cultura e aos traçosculturais brasileiros.
- Apresentar o cinema como instrumento difusor de cultura.
- Identificar os principais traços culturais brasileiros em sete produções que
foram indicadas a premiações em festivais internacionais no exterior.
1.3 JUSTIFICATIVA
A indústria cultural no mundo, sob o aspecto econômico, é uma atividade
lucrativa. Segundo MINC2 (2009), estimativas chegam a cerca de U$ 1,3 trilhão em
atividades culturais no mundo, segundo o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, em
discurso na Cerimônia de lançamento da TEIA, Encontro da Diversidade Cultural no
Brasil, disponível no site do Ministério da Cultura, em 28 de agosto de 2007.
A revelação destes dados é importante e mostram a capacidade de geração
de recursos através das atividades culturais. A indústria do cinema, dentre as
atividades culturais, também é uma indústria muito ativa na geração de recursos e
cultura.
A indústria cinematográfica nacional está em fase de expansão
principalmente na parte de produção com o recebimento de investimentos, conforme
foi observado anteriormente. Os filmes nacionais, através dos recursos financeiros
obtidos com leis de incentivo ou patrocinadores, têm gerado resultados satisfatórios,
dentro dos padrões internacionais em termos de qualidade e competitividade e estão
concorrendo a prêmios nos festivais internacionais no exterior.
Desta forma, os filmes brasileiros estão sendo exibidos para platéias
estrangeiras e sob seus olhares demonstram o cotidiano, as histórias e os conflitos,
e, principalmente, a questão da cultura. Com esta pesquisa, pretende-se apresentar
informações sobre o cinema nacional focando os traços culturais brasileiros por ele
2 MINC – Ministério da Cultura
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exibidos. Os principais traços serão identificados através da construção da
fundamentação teórica deste estudo, com base na análise de teorias antropológicas
e sociais dos traços culturais brasileiros.
Serão identificados os principais traços culturais observados nos filmes que
obtiveram presença no âmbito internacional, com divulgação e participação em
festivais no exterior, embasados pelas informações bibliográficas e estudos sobre a
cultura brasileira.
Cabe comentar que o cinema brasileiro está aumentando sua expressividade
no âmbito internacional e que os filmes produzidos no país e exportados estão
abrindo oportunidades para o mundo de conhecer o país e a cultura. Portanto, os
outros países estão conhecendo os cenários brasileiros, o povo brasileiro, a cultura
brasileira e tantas outras informações que podem estar completamente distorcidas
da imagem de um país tropical, onde somente na imaginação deles imperam o
carnaval, a mulata, o futebol e a Floresta Amazônica.
Além do conhecimento sobre a cultura, o cinema nacional pode despertar
curiosidade sobre outras informações e aspectos brasileiros como economia, história
e outros fatores importantes para a inserção do Brasil na economia mundial.Cabe salientar que o fomento da indústria do cinema no país, está gerando
produções de boa qualidade. Este processo gera também uma demanda de mão-de-
obra e outras atividades exigidas pelo setor, criando novos postos de trabalho e
atividades econômicas relacionadas no país. O profissionalismo apresentado para
produção dos filmes ligará-se diretamente à imagem do profissional brasileiro ainda
muito marcado historicamente como um povo aventureiro e não adaptado ao
trabalho.Esta pesquisa também visa contribuir para a divulgação do cinema no país
como um cinema sério, qualificado e competitivo, visto que tem participado de
festivais ao redor do mundo. É interessante salientar que o próprio público brasileiro
possui certo preconceito com o cinema que aqui é feito e este estudo visa esclarecer
e até mesmo identificar as qualidades em termos de produção.
Motta e Caldas (1997) apontam o gosto do brasileiro pelo arquétipo
estrangeiro, ao qual nos referimos a todas as coisas boas, e o que é nacional não
tem qualidade ou serventia. No caso do cinema brasileiro também não é diferente,
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2.1.2 A Diversidade de Culturas
De acordo com as afirmações citadas pelos autores anteriormente, sendo acultura uma predisposição humana e que evoluiu com o passar dos anos, não pode
ser negado que as diversas experiências vividas pelos povos no passado sejam
iguais umas das outras. O planeta e seu contingente humano são formados por
diferenças e semelhanças culturais entre países, continentes e povos, visto que a
cultura é um processo de evolução e de uma adaptação do homem à natureza,
através de uma forma inteligente.
Santos (1991) diz que a diversidade existente entre as culturas acompanha avariedade da história dos seres humanos, onde expressa diversas possibilidades de
vidas sociais organizadas onde registram diferentes formas e graus do domínio
humano sobre a natureza. Laraia (2004), no entanto, afirma que a diferença cultural
pode ser explicada como a desigualdade dos estados evolutivos na cultura.
Santos (1991) relata que há tendências gerais constatáveis dentro da história
das sociedades e que é impossível estabelecer seqüência fixas para detalhar as
fases em que cada realidade cultural atravessou.
A natureza do homem, assim como o instinto animal, ainda possui algumas
leis as quais ainda são seguidas. O homem precisa comer e multiplicar-se para
garantir a perpetuação da espécie. Diferenciado do animal que faz tudo isso por
instinto o homem, através da cultura, tem consciência dessas necessidades. Laraia
(2004, p. 38) explica que
para se manter vivo, independente do sistema cultural ao qual pertença, eletem que satisfazer um número determinado de funções vitais, como aalimentação, o sono, a respiração, a atividade sexual etc. Mas, emboraestas funções sejam comuns em toda humanidade, à maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra.
Laraia (2004) relata que a espécie humana se diferencia anatomicamente e
fisiologicamente devido ao dimorfismo sexual, mas é indiferente quando isso serelaciona com cultura, pois mesmo que o comportamento existente entre pessoas de
sexos diferentes não influencia na questão cultural. O autor ainda exemplifica que
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o que temos é um processo recorrente vivo, entre a sociedade e a cultura,em que seus membros agem e manifestam a cultura que, em dado tempo,lhes imprime um padrão de comportamento particular, mas que setransforma em função do funcionamento desta mesma sociedade ou deoutras, numa perspectiva temporal mais longa. Convivem o tradicional e o
novo, estabelecendo ambos uma troca dinâmica de elementos até um novoestado de equilíbrio.
Outra definição para cultura é de caráter etnológico, a cultura sobre este
aspecto, diferencia uma cultura da outra através de códigos e símbolos de cada
cultura. Vannucchi (1999) afirma que o conceito etnológico define o modo de viver
típico, ou estilo de vida comum entre seres de um determinado grupo humano de
diferentes etnias. O autor exemplifica esse conceito e percebe-se então que para oconceito etnológico nada mais é do que a própria identificação das mais diversas
etnias ou nações. Cultura brasileira, cultura italiana, cultura americana, cultura
japonesa, seriam exemplos de como esse conceito separa os seres humanos
culturalmente. Santos (1991) complementa a afirmação de Vannucchi , pois além de
definir que a cultura diz respeito àquilo que caracteriza um povo ou nação, o
conceito etnológico também pode ser aplicado até em grupos no interior de uma
sociedade, sendo desta forma a cultura que difere elementos dos demais povos ou
grupos sociais existentes.
Kuper (2002) apresenta os estudos sobre cultura com um processo de
entendimento e que para isso é necessária a desconstrução da mesma. Todos os
costumes, símbolos e significados, como convicções religiosas, rituais,
conhecimentos, valores morais, arte e gêneros políticos devem ser analisados
separadamente e conforme a crítica do autor, não simplesmente agrupados em um
simples pacote rotulado como cultura, consciência coletiva, ou superestrutura, ou
discurso. Separando esses elementos é possível explorar as configurações em que
a língua, os conhecimentos, as técnicas, as ideologias políticas, os rituais, as
mercadorias se relacionam entre si.
Para Motta e Caldas (1997), a cultura é conceituada através da antropologia e
da sociologia comportando inúmeras definições. De acordo com os autores, a cultura
é a maneira com a qual um povo satisfaz as suas necessidades materiais e
psicossociais. Dentre outros conceitos, o autor declara que a cultura é definida
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e dos passos durante a história que contribuíram para a constituição do país. Assim,
verifica-se a importância da adaptação ou aculturação dessas três raças no
território. Desta forma, é necessário considerar que mesmo colonizados
economicamente e culturalmente pelos portugueses, os brasileiros não possuem
todos os seus valores e seus costumes.
Ortiz (1985, p. 15-16) define que
quando se firma que o Brasil não pode ser mais uma “cópia” da metrópole,está subentendido que a particularidade nacional se revela através do meioe da raça. Ser brasileiro significa viver em um país geograficamentediferente da Europa, povoado por uma raça distinta da européia.
Outro autor, Damatta (1997), revela uma posição excludente de alguns
antigos teóricos sobre a cultura brasileira, tratando o país como um pedaço de
Portugal perdido da Europa, formado por um conjunto de raças que se misturando
sob um clima tropical e exuberante, mas condenados à degeneração, à morte
biológica, psicológica e social.
Não levando em consideração as opiniões raciais, foi neste ambiente
separado da Europa e de adaptações e misturas que nasceu a nação brasileira.
Motta e Caldas (1997) relatam que a miscigenação das raças no Brasil deu-se
devido à falta de restrições sociais e devido à falta de mulheres brancas. Portanto,
esta foi a base formadora de nossa sociedade atual, uma sociedade exclusivista
(aos brancos) e sem oportunidades aos índios e negros. Conforme Motta e Caldas
(1997), uma sociedade também é formada por classes sociais, organizações e
instituições, e não somente da mistura e adaptação de raças e etnias.
Portanto, conclui-se que para o entendimento da cultura brasileira faz-se
necessário o estudo dos traços culturais, assunto este abordado no próximo
subcapítulo.
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2.2.1 O Choque de Culturas e Transplantação no Brasil
No capítulo anterior abordou a formação da população brasileira. Oentendimento desta formação populacional leva a indagar como o triângulo de raças
se adaptou e formou as características atuais as quais consideramos como
características brasileiras. Neste subcapítulo serão abordados temas como, as
relações sociais do colonizador, a grande massa de índios brasileiros e os negros
africanos.
A formação da cultura portuguesa, até o ano de 1500, revela a habilidade do
português em dominar outros povos devido à sua própria história e formação de suasociedade. Segundo Motta e Caldas (1997), Portugal possuía uma sociedade
hibrida, onde a mobilidade social era muito grande. Devido aos freqüentes ataques
de outros povos e a sua situação geográfica, Portugal teve várias influências sobre a
sua cultura.
Os autores ainda discorrem que dentre os povos dominadores daquela terra,
encontram-se os celtas, normandos, romanos e mouros. Conforme a terra era
conquistada, uma enorme mobilidade social e miscigenação aconteciam. Verifica-se
essa mobilidade através da grande população portuguesa com os mesmos
sobrenomes, não sendo o costume português de preservar as raízes, ou seja, a
preservação do status do nome como nos outros países da Europa.
Os autores ainda afirmam que os portugueses encaravam a figura em seu
próprio corpo, onde não era branco e nem negro. As influências de suas colônias
fizeram com que a população portuguesa mudasse completamente a esfera jurídica,
institucional e moral, pois era o país onde se nascia loiro e transformava-se em um
adulto moreno, trazendo a tona uma dualidade carnal entre branco e negro, sendo a
influência africana a que mais mudou a forma de viver na Europa, dando tons a vida
sexual, a alimentação, a religião e correndo nas veias portuguesas um sangue
mouro em uma população branca. Entre estes antagonismos, o povo português
então se transforma e forma a sociedade portuguesa, com seus contrastes seguindo
assim também no Brasil.
Sodré (1996) destaca que no estudo da cultura brasileira o primeiro traço é o
da origem colonial. O autor aponta que a cultura brasileira é formada por muitos
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traços dos portugueses, tratando-se dessa forma de uma cultura transplantada, ou
seja, os índios e a população brasileira nascida após o contato do português
absorveram os seus valores e as idéias portuguesas.
Porém, esta transplantação de cultura apaga muitos dos valores da cultura
dominada. Segundo Cobisier (1956), a transplantação da cultura do povo dominante,
impõe e faz prevalecer os seus valores, instituições e formas de vida, impactando
nas condições ambientais ou, mais precisamente, sociais, e que levam a um
processo de adaptação. O autor declara que a transculturação não é realizada em
sua totalidade, ou seja, não apaga todos os valores e crenças de uma sociedade,
pois a cultura dominada é característica de um contexto natural diferentemente da
estrutura e traços da cultura transplantada.
Portanto, é natural em uma transplantação uma readaptação de costumes e
traços culturais da cultura dominada sob a cultura dominante. Percebemos no caso
brasileiro, que os índios em um primeiro momento, e os africanos em um segundo
momento, absorveram tais valores dos portugueses os quais eram os dominadores.
Sodré (1996) aponta que a transplantação queimou etapas intermediárias das
sociedades já existentes no Brasil. O processo que muitas vezes foi brutal, incluindo-se a destruição da comunidade primitiva indígena e de seus valores culturais, e
implantando posteriormente com os recursos humanos importados, ou seja, o tráfico
de negros ao Brasil, fornecendo através da aplicação desta força de trabalho,
produtos aos mercados externos.
Sodré (1996) enfatiza que a ocupação do território brasileiro para a
exploração econômica trouxe do exterior, ou seja, de Portugal, os senhores de terras
e a exploração do trabalho alheio, mais precisamente dos escravos. Portanto, a novacolônia tornou-se um objeto de produção, e assim como os recursos humanos,
representados pelos escravos, criada através de um sistema de produção idealizado
pelos portugueses, ou seja, uma produção também transplantada e de grande
escala para atender as exigências externas, efetivando de vez a transplantação da
cultura. Cobisier (1956) destaca que uma colônia, ou seja, um povo
economicamente colonial e dependente, não é dependente somente politicamente,
mas culturalmente.
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A característica do sistema econômico e social no Brasil colônia é apontada
por alguns teóricos sociais sobre as relações das culturas envolvidas neste processo
de transculturação. Sodré (1996) define que o encontro destas três correntes
humanas – o branco português, o índio brasileiro e o negro - foi impulsionado a partir
do sistema econômico implantado pelos portugueses, entre conflitos ou
acomodações, transitórios ou duradouros, que permitiu mesmo que no seu período
inicial, traços culturais diferentes entre eles, a supremacia dos brancos e seu
sistema social caracterizado pelo feudalismo sobre o sistema social indígena que era
primitivo e coletivista e, a supremacia dos brancos e a cultura transplantada através
do sistema econômico caracterizado pelo sistema escravista.
Cobisier (1956) caracteriza a colônia como “instrumento” do povo colonizador
e dominante, no qual consegue instaurar uma relação entre conquistados e
conquistadores, ou dominados e dominadores, estabelecendo uma relação
correspondente ao do senhor e do escravo.
O mesmo autor enfatiza que esta relação traz à tona a transculturação, pois o
escravo trabalhando para o seu senhor e não para si, tem como propósito o objetivo
de seu senhor, sendo o escravo um instrumento de serviço dos projetos e interesses
alheios. Tudo o que é produzido pelo escravo não possui a sua imagem, ou seja,
através do que o escravo constrói esta imagem do que o seu senhor necessita ou
deseja, impedindo que o escravo possa pensar e produzir suas próprias idéias,
levando-o a alienação e, através desta alienação o senhor humilha e doma o
escravo, que por sua fragilidade acaba tendo a consciência de seu senhor e guiado
por suas objetivações.
Portanto, verifica-se que a dominação do escravo propaga ainda mais as
idéias coloniais e a transculturação, que no caso brasileiro, indicava o escravo como
um ser inferior e indigno de consideração e respeito da sociedade.
Para entender a cultura brasileira nos dias atuais, a descrição acima
apresentou o início de todo o processo descritivo e conceitual deste termo.
Ressalta-se que será utilizado o método de análise da cultura brasileira proposta por
Barros (1996), que descreve um modelo para interpretação desta relacionando o
sistema cultural brasileiro e as ações entre eles, indicando os traços culturaisexistentes.
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preconceitos, estão presentes o racial, os pensamentos de incapacidade de trabalho
regular, de um esforço construtivo, de dominação e apropriação de técnicas
modernas, de industrialização, do exercício de democracia e à incapacidade de
organização política.
Esquematizando o desenvolvimento da cultura brasileira Sodré (1996) afirma
que este desenvolvimento foi realizado em três etapas, que consistem em:
- Primeira etapa: a transplantação da cultura anterior ao aparecimento da
classe social intermediária;
- Segunda etapa: a transplantação da cultura posterior à classe social
intermediária; e
- Terceira etapa: surgimento do processo de desenvolvimento de uma cultura
nacional pela expansão das relações capitalistas.
Barros (1996, 1996, p.26) apresenta o sistema cultural brasileiro atual
formado por duas forças: os líderes e os liderados. Dentro deste sistema verifica-se
a ação da posição de líderes e liderados, mas dinamizada pelas situações “pois
qualquer cidadão pode encontrar características nos subsistemas alternativos
conforme a situação na qual se encontre, isto é, ora estamos na posição de líderes,
ora estamos na posição de liderados”.
Segundo Motta e Caldas (1997), historicamente, a posição de líderes sempre
foi marcada pela situação econômica disposta em nossa sociedade. Os autores
apresentam essa hierarquização através da imposição da família patriarcal sobre a
população que escravizava o negro e mantinha grande influência moral. A família
colonial foi responsável pela disseminação de uma idéia machista, pois eram
liderados pelos senhores de terra, ligando-o ao poder, e desta forma, o aceite pelas
classes mais desfavorecidas do respeito a esta estrutura social, além da obediência
irrestrita a estes senhores.
Damatta (1997) comenta que a mistura de raças foi uma maneira de esconder
a injustiça social contra negros, índios e mulatos, explicando que esta mistura
resolveria o grande problema nacional que é a hierarquia. Portanto, ao considerar
que o Brasil seja formado por todas as raças tem-se a idéia de que existe uma
democracia social no país, disfarçando a sociedade hierarquizada. Esta também
possui outras formas de degradações sociais, com as quais exclui-se indivíduos de
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maneira mais precisa do que considerar brancos como superiores e negros
inferiores, mas sim de acordo com a cor da pele, dinheiro, poder, feiúra, nome de
família ou conta bancária. O autor declara que a degradação social possui um
número ilimitado de maneiras de julgamento, porém todas elas conotam sempre o
sentido na expressão conhecida pelos brasileiros de que cada um sabe muito bem o
seu lugar.
Damatta (1997), afirma que no Brasil todas as situações são marcadas pela
presença de um dono, ou seja, sempre existe uma situação ao qual hierarquiza as
relações sociais. O autor ainda declara que nem sempre este dono é uma pessoa
concreta, um herói ou um santo, mas cada situação deve considerar uma graduação
social.
Para Barros (1996, p. 31), “isto não significa que se restrinjam aos
governantes, podendo ser também um mestre-de-obras, em sua relação com os
operários”. Damatta (1997) declara que o povo brasileiro vive uma realidade de uma
lógica social em que ordena “cada macaco no seu galho” e também “um lugar para
cada coisa, cada coisa em seu lugar”. O modo de vida do brasileiro é tratado como
uma pré-disposição à aceitação da condição social dos elementos de uma
sociedade criada por escravos, onde as pessoas decentes não podiam sair às ruas
e trabalhar. As relações sociais trilhavam um caminho onde a classe dominante
dispunha do trabalho e os escravos e o povo pobre ofereciam a sua força de
trabalho, criando uma relação moral onde não só um tirava o trabalho do outro, mas
onde também a classe dominante imperava sobre toda a sociedade.
Portanto, como explica Barros (1996, p. 31), “na dimensão hierárquica, o que
existe é a concentração de poder”. A autora, também expõe que ao lado da
concentração de poder verifica-se o personalismo que está “presente na dimensão
pessoal da nossa sociedade”. Ele também apresenta o paternalismo como
articulador dessas duas dimensões delineando o perfil brasileiro de liderança.
Apresentado o subsistema dos líderes, a figura 7, demonstra como esses três
elementos se articulam:
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Figura 7: Subsistema dos líderes,Fonte: adaptado de Barros (1996, p.32)
Os três elementos, concentração de poder, paternalismo e personalismo,
apresentaram a formação do subsistema de líderes, portanto, no próximo
subcapítulo aborda-se a característica principal deste subsistema que é a
concentração de poder.
2.2.2.1.1 Concentração de Poder
Barros (1996) descreve que a concentração de poder só tem validade quando
existe por parte dos indivíduos a consideração da autoridade legítima, ou seja, a
autoridade só terá poderes se esta for aceita pelos demais indivíduos. A autora
destaca que
a legitimidade coloca em destaque a aceitação que os membros de umasociedade fazem, em consenso ou voluntariamente das bases nas quais aautoridade se estabelece. Essas bases podem ser a tradição, os princípiosracional-legais ou o carisma (p. 32).
A autora exemplifica a autoridade baseada na tradição através dos primeirossistemas políticos, como a monarquia que era aceito pelos membros da sociedade e
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Barros (1996) confirma esses costumes quando
a expressão popular “Você sabe com quem está falando?“ que ouvimos emsituações conflitivas, revela toda a carga autoritária exercida pelo cidadãoque se julga com direitos (reais ou imaginários) especiais, isto é, não sujeitoa uma lei de caráter geral para todos na sociedade (p. 34).
Portanto, conclui-se que a hierarquia é uma das características principais da
cultura brasileira e que participa do subsistema de líderes observado por Barros, que
também define outras características como o personalismo, apresentada na próxima
seção.
2.2.2.1.2 Personalismo
O personalismo é uma característica muito observada pelos estudiosos da
cultura brasileira.
Barros (1996) propõe uma análise do indivíduo sem privilégio e sem
diferenciação dos demais sob a óptica da hierarquia e com autoridade e legitimação
através do carisma. Esse sistema de concentração de poder, segundo a autora,
seja pela força de sua personalidade, ou por seus dons inexplicáveis, abase dos líderes de autoridade é totalmente instável e não proporciona um
princípio para a sucessão com os outros sistemas baseados na tradição ounos sistemas nacional-legais (p. 37).
A autora, ainda afirma que o carismático, sendo através de seu poder de
magnetismo, por suas ligações ou relações com outras pessoas e não por sua
especialização, é percebida no cotidiano brasileiro. Exemplificando os mais
conhecidos na história brasileira, a autora cita Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek,
Jânio Quadros, Leonel Brizola, Fernando Collor, onde colocavam o partido político
em segundo plano, pois os mesmos estavam fundidos e englobados pelo candidato.
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Para a autora, esses exemplos, em um intervalo de tempo curto, parecem ser
significativos para um traço cultural denominado personalismo.
A sociedade brasileira, no entanto, critica quaisquer sujeitos que não estão
envolvidos nas relações sociais. Damatta (1997) comenta que a criatura que não é
capaz de ligar-se com a sociedade, geralmente, liga-se ao individualismo, isto é,
considerado como egoísmo, um sentimento ou uma atitude social condenada entre
os brasileiros.
O autor descreve a sociedade brasileira como hierarquizada sob forte
influência do individualismo e igualitarismo. Separar-se dos demais é desvincular-se
dos segmentos considerados tradicionais como a casa, a família, eixo de relações
pessoas e ligar-se diretamente ao estado, às associações voluntárias como
sindicatos, partidos políticos e órgãos de representação de classe abrindo mão dos
direitos do sangue, filiação, casamento e amizade. O autor finaliza sua idéia de que
quando todos são "gente", todos se respeitam e relacionam-se dentro de seus
limites, todos sabem seus lugares e devem ficar satisfeitos. Barros (1996) assinala
como Damatta, quando afirma que
esse é o “cidadão” brasileiro que se diferencia pela hierarquia e pelasrelações pessoais. Aqui no Brasil, o indivíduo isolado e sem relações éconsiderado como altamente negativo, um ser marginal em relação aosoutros membros da comunidade. A comunidade norte-americana seriahomogênea, igualitária, individualista e exclusiva; no Brasil ela seriaheterogênea, desigual, relacional e inclusiva (p. 37).
Outra afirmação da autora mostra uma questão considerada importante na
cultura brasileira: a família. Segundo a mesma autora, “para os que têm pouca
riqueza e prestígio social, a família é uma fonte de prestígio individual, pois ali o
indivíduo poderia sentir-se “alguém”. A família é o espaço social onde o indivíduo
pode ser o centro do cenário” (p.39).
Damatta (1997) explica que em casa nos sentimos pessoas, ou seja, temos o
domínio da família, todos se sentem iguais e estão protegidos pela “luta pela vida”.
Já no exterior o autor comenta o sentimento de saudade dos brasileiros, pois na
maioria dos casos se situam diante de um mundo impessoal, onde não há uma
relação de intermediação entre as relações sociais.
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Já Motta e Caldas (1997), destacam um lado positivo sobre as relações
sociais brasileiras, pois os brasileiros desenvolveram a hospitalidade e receptividade
justamente por sermos uma sociedade baseada em relações. Os brasileiros são
conhecidos por evitar soluções violentas preferindo a conciliação e amizade. Os
estrangeiros sentem-se a vontade no país, sendo definido como um povo acolhedor.
Os autores ainda enfatizam que nas relações brasileiras de amizade as
demonstrações de afeto não excluem beijos e abraços, contrastando com as
atitudes americanas e a grande parte dos europeus. Nas apresentações evita-se o
possível as distâncias, assim quando um homem é apresentado a uma mulher, dará
um beijo no rosto selando a apresentação e desta forma, tornando familiar e pessoal
todas as relações que supostamente seriam cobertas de formalismos. Dentro desta
maneira intimista dos brasileiros, os autores destacam até mesmo a forma de falar.
Os brasileiros utilizam muito em sua linguagem o sufixo “inho”, que torna a palavra
mais familiarizada e pessoal, fazendo com que objetos e pessoas tornem-se muito
mais próximas e acessíveis.
Como exemplo, os países Brasil e o Japão são comparados por Barros
(1996):
[...] dão mais valor ao seu grupo de “pertença” do que o indivíduopropriamente dito, fazendo do seu grupo uma referência forte. Essa atitude,na qual a referência para a decisão e a importância ou a necessidade dapessoa envolvida na questão, sobrepondo-se às necessidades do sistemano qual a questão está inserida, é a que encontramos no Brasil e a elaestamos chamando de personalismo (p. 39).
A mesma autora relata que “a combinação dos dois traços mencionados,
concentração de poder e personalismo, em maior ou menor grau, tem como síntese
o paternalismo. Ele apresenta duas facetas: é o patriarcalismo e o patrimonialismo”
(p. 39).
O conceito de paternalismo apresenta-se no próximo subcapítulo, onde suas
características são apresentadas conforme estudo feito por Barros (1996).
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2.2.2.1.3 Paternalismo
Barros (1996) apresenta o paternalismo como um traço cultural presente nasrelações sociais brasileiras. Segundo a autora o paternalismo
com princípios onde a autoridade máxima está centrada no pai, de formainquestionável, estendia este pátrio poder não só ao âmbito de suasrelações privadas, como também interferia fora de seu recinto doméstico.Com isso, vimos, historicamente, as atitudes típicas do relacionamentofamiliar invadirem o espaço público, conformando também o sistemaburocrático brasileiro. Este se viu invadido em suas posições e cargos por
pessoas de confiança, ou das relações pessoais das famílias no poder. Acompetência e o mérito, através do concurso público, que estão na base dosistema racional-legal, na formação dos quadros burocráticos do sistema,freqüentemente são abalados pelos laços afetivos e apelos emocionais queestão na dinâmica de decisão do sistema familiar. Passamos, assim, a ter amáquina estatal pública comandada pela ordem genealógica e, por issomesmo, voltada aos interesses familiares privados (p. 40).
Portanto, este traço cultural é uma síntese do sistema das relações familiares.
Barros (1996, p. 40) ainda apresenta que a nossa sociedade considera “o valor de
que o patriarca tudo pode e aos membros do clã só cabe pedir e obedecer, pois
caso contrário, a rebeldia pode ser premiada com a exclusão do âmbito das
relações”, sendo o patriarca considerado como figura central das relações afetivas e
familiares, pois o
patriarcalismo, a face supridora e afetiva do pai, atendendo ao que dele
esperam os membros do clã, e o patrimonialismo, a face hierárquica eabsoluta impondo com a tradicional aceitação, a sua vontade aos seusmembros, convivem lado a lado em nossa cultura (p. 41).
Esta característica é tão forte na cultura brasileira que as escolhas políticas
ainda são denominadas por esta figura social presente na sociedade, pois a autora
relata que
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no Brasil, o que existe é uma dependência, muitas vezes infantilizada, emrelação ao governo. Os brasileiros continuam a eleger como perfil maisadequado para sua liderança aquele que possa ser forte e centralizador eque tenha um rosto bastante personalizado (BARROS 1996, p. 42).
Tal característica é explicada por Motta e Caldas (1997) pela história da
estruturação econômica e do trabalho no Brasil pela figura do Senhor de Engenho.
Os autores ainda citam que “para aquele que trabalhava para um senhor, mesmo
que fosse maltratado, este mesmo senhor era, sobretudo, uma referência” e que
esta dependência econômica aumentava ainda mais a sua dependência, pois “ele
contava com o poderoso para todas as suas necessidades. Tudo se passava, do
nascimento à morte, e por gerações sucessivas, sob a influência do senhor e de suadominação” (p. 97).
Para Barros (1996) o poder é uma estratégia de duplo controle. Pode ser
exercitado o controle do destino pela possibilidade de uma perda/recompensa e de
uma posição funcional com conseqüências econômicas, sendo assim, percebe-se
também que as relações sociais oriundas do grau de parentesco, amizade ou
intimidade poderão auxiliar o controle do comportamento e da perda/recompensa
das relações pessoais.
Mas mesmo com o passar dos anos e a evolução das relações econômicas
envolvidas,
é nessa mistura de aspectos puramente econômicos, na qual se faz umatroca objetiva de trabalho por remuneração, com aspectos essencialmenteafetivos, em que se troca emocionalmente a dedicação e colaboração não
atritosa pelos laços de intimidade pessoal, que se desenvolvem o jogo e aestratégia de cada um dos atores (BARROS, 1996, p.42-43).
Conforme Barros (1996, p. 43), esta troca sentimental e ao mesmo tempo
econômica repercutiram nas estruturas sociais hoje existentes no país, pois “as
sociedades e organizações lideradas tão paternalisticamente quanto seus membros
permitam” e enfatiza que “o paternalismo existe tanto nos liderados quanto nos
líderes, sendo o sistema de valores dos dois grupos, geralmente, complementares”
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Para Motta e Caldas (1997, p. 153), a
liderança e distância do poder são categorias inter-relacionadas, que afetamuma à outra. Nas organizações, as desigualdades – distâncias relativas decada grupo em relação aos centros de tomada de decisão – relacionam-seao processo de liderança.
Para Barros (1996) a falta desta liderança, principalmente autocrática,
ocasiona um sentimento de orfandade e proporciona uma alteração de
comportamento dos liderados como advogados de si próprios não se preocupando
com o todo, grupo ou sociedade aos quais esses indivíduos pertençam. A autoratambém aponta que “os brasileiros revelam pouca capacidade ou oportunidades
restritas de filiação a grupos ou associações, só o fazendo em função de festas e
comemorações e, nestes casos, orientados por suas ligações pessoais” (p. 44).
A mesma autora ainda menciona que o modelo de estrutura brasileiro é
egocentrista e dependente, e, desta forma, para garantir sua segurança futura e de
seus familiares constitui um capital social baseado em relações com o poder
gerando o que se costuma chamar de “amigos do homem”, resultando em uma
relação de devedor e créditos pessoais e, obviamente, devendo para os poderosos e
nas hierarquias ou com status superior.
Portanto, o paternalismo é uma característica e um produto das relações
sociais, conforme citação dos autores acima mencionados, onde há uma forte
tendência de hierarquização dentro do sistema social que leva os brasileiros a uma
dependência e a uma trama em suas relações, que intensifica ainda mais a
interdependência entre líderes e liderados.
2.2.2.2 Subsistema Institucional
O terceiro subsistema cultural apresentado por Barros (1996) trata-se do
subsistema institucional. A autora apresenta este sistema baseado na liberdadeindividual e no grau de autonomia, como principais características dinâmicas deste
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e que conforme a autora “a forte herança dos traços rurais assentados na prática
autoritária do patriarca estendendo seus domínios para os espaços públicos” (p. 45),
disseminando, desta forma, o traço de espectador.
A autora destaca este traço cultural muito forte na cultura brasileira quando,
por exemplo, o indivíduo não consegue relacionar-se através de suas relações
interpessoais e quando há uma grande concentração de poder, o que posiciona os
brasileiros como espectadores.
Segundo a mesma autora tal traço também se desenvolveu durante a História
do país, gerando o ato de comunicados e exemplificado com a frase histórica
imperial de Dom Pedro I, “Digo ao povo que fico”. Esta fase histórica denota o
silêncio perante aquilo que o povo não pode alcançar, mas que é aceito quando
alguém do poder toma uma decisão.
No conceito deste traço Barros (1996, p. 47) comenta que “funcionamos,
reflexivamente, orientados pela autoridade externa. Nosso centro de gravitação, [...]
sempre esteve em uma referência de poder externo dominadora, que limita a nossa
consciência crítica”, mostrando a incapacidade do indivíduo de lutar pelo que
realmente quer e que coloca sob responsabilidade dos que detêm o poder asdecisões político-econômico-sociais. Assim, observa-se o traço cultural de
espectador
com suas principais vertentes de mutismo e de baixa consciência crítica e,por conseqüência, de baixa iniciativa de pouca capacidade de realizaçãopor autodeterminação e de transferência de responsabilidade dasdificuldades para as lideranças (BARROS, 1996, p. 47).
A transferência de responsabilidade gera um comodismo característico na
cultura brasileira. Barros (1996) descreve esta transferência como:
[...] se o poder não está comigo, não estou incluído nele e não sou eu quemtomou a decisão, a responsabilidade também não é minha. Logo, voutransferi-la para quem de direito, na nossa cultura, para cima, na linha
hierárquica (p. 48).
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A autora ainda explica que
entre a “cultura do fazer”, voltada para o mundo, com a perspectiva damudança cumulativa e a idéia e a “cultura do estar”, que foge do mundo,que resiste à mudança e desconfia do progresso, seria mais apropriadopara os brasileiros a “cultura do estar fazendo”, isto é, agindo “para o gasto”ou o suficiente para a manutenção do estado atual ou, no máximo,pequenas reformas sem avanços significativos (p. 49).
E finaliza comentando que
Deus e o tempo são para nós recursos inesgotáveis. Um Deus que ébrasileiro, a quem está entregue a nossa sorte, pois caberá a ele dar umasolução aos nossos problemas, bastando, para isso, só esperar. Esperar otempo de amanhã e ir dando tempo ao tempo para que os imponderáveisatuem mais livremente e que o assunto se resolva com o mínimo deinterferência. A nossa existência não é um empreendimento que deverá serbem-sucedido em prazo hábil, como o é para os americanos. É, sim, umbilhete de loteria, no qual vale à pena apostar, pois pode ser premiado umdia (p. 49).
Em relação à religiosidade do brasileiro, a afirmação acima referenciada por
Barros (1996) complementa-se com a de Damatta (1997), que segundo o autor, esta
também é vista como
um idioma que busca o meio-termo, o meio caminho, a possibilidade desalvar todo o mundo e de em todos os locais encontrar alguma coisa boa edigna. Uma linguagem, de fato, que permite a um povo destituído de tudo,que não consegue comunicar-se com seus representantes legais, falar, serouvido e receber os deuses em seu próprio corpo (p. 117).
Portanto, a posição de espectador é exemplificada na acomodação dos
brasileiros perante o poder. Existe o pensamento que se contra o poder o indivíduo
não conseguem lutar, é mais fácil acomodar-se, viver na ilusão e na esperança de
um Brasil melhor.
Em seqüência, aos traços culturais, no próximo subcapítulo aborda-se o
formalismo.
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2.2.2.2.2 Formalismo
Outro traço e que articula o subsistema institucional é o formalismo. SegundoBarros (1996), o formalismo é construído por alguns fatores, entre eles a segurança
com as incertezas do futuro. A autora também destaca que a tecnologia, as leis e a
religião são os fatores principais fatores que transmitem maior segurança em uma
sociedade.
Barros (1996), também cita que:
O brasileiro apresenta códigos de uma socialização do tempo que ocolocaria mais próximo de uma sociedade pouco preocupada com o futuro.Seguramente, ele vive muito mais no tempo presente do que no futuro. Abusca por resultados imediatistas e de uma baixa capacidade deprovisionamento mostram uma postura sem ansiedade para o que possa virdepois (p. 52).
Em complementação à citação mencionada acima Motta e Caldas (1997)
indicam que o brasileiro sempre está limitando seu foco de perspectivas a curtoprazo. Os autores ainda comentam que, em projetos ambiciosos, quando surge um
obstáculo, este é considerado um trampolim, sempre se valendo da idéia do menor
esforço.
Como exemplo, o pensamento do povo brasileiro difere do pensamento dos
povos protestantes. Motta e Caldas (1997, p. 52) assinalam que “enquanto os povos
protestantes exaltam o esforço manual, o que é admirado pelo português e, por
conseguinte, pelo brasileiro é a vida de senhor”. Tal pensamento é explicado,principalmente, pelo sistema econômico escravocrata, ocorrido na história do país,
que Damatta (1997) descreve como uma desqualificação social e visão do trabalho
como castigo.
O mesmo autor explica que a palavra trabalho é derivada de tripaliare do
latim, que significa castigar com tripaliu, um instrumento de tortura da Roma Antiga
que consiste em uma espécie de canga usada para suplicar escravos.
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dessa forma, tal lealdade permite um retorno positivo aos liderados no sentido da
segurança, visto que o brasileiro está sempre em busca desta.
Um exemplo dado por Motta e Caldas (1997) sobre a lealdade é apresentado
no âmbito profissional, quando
além da competência técnica e profissional, as pessoas devem estarproximamente relacionadas a alguém (normalmente com mais idade) que jádetenha algum poder dentro das organizações. Precisamos estabeleceralgum vínculo com alguém, nos níveis hierárquicos superiores, quesimpatize conosco e, de certa forma, nos facilite o caminho ou, no mínimo,nos proteja (p. 124-125).
Damatta (1997) figura neste traço o personagem do padrinho, que é aquele
intermediador entre as pessoas, o qual está direcionado a atender e a protegê-los.
Como exemplo, um indivíduo ao entrar em um grupo tenta afiliar-se, seja através de
uma relação pessoal ou de algo que seja em comum entre os outros sujeitos mais
influentes de um grupo a fim de validar-se e de obter ajuda em seus objetivos
pessoais. Portanto, o autor classifica o padrinho como um intermediador, que
relaciona o mundo social com as pessoas.
Barros (1997), no entanto, afirma que quanto mais formalismo se reforça mais
fortalecerá a lealdade às pessoas, pois somente assim o sistema flui. Segundo a
autora, a rigidez institucional só é solucionada através das redes de relacionamento
pessoal.
Dessa forma, observa-se que a lealdade às pessoas está baseada no
relacionamento interpessoal do indivíduo com o seu contexto social, e este procura aproteção do líder.
No próximo subcapítulo, aborda-se o traço de evitar conflito.
2.2.2.3.2 Evitar Conflito
A característica base deste traço cultural parte, segundo Barros (1996), da
situação de desigualdade de poder, uma baixa motivação, passividade e pouca
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iniciativa. A desigualdade de poder e grande dependência podem ocasionar uma
situação de conflito, que através das relações líder e liderado, são resolvidas através
das relações sociais e lealdade às pessoas.
Damatta (1997) aponta que entre estas duas unidades básicas do sistema
social brasileiro, o “jeitinho”, a “malandragem” e o “sabe com quem está falando” são
correntes que circulam em nossa sociedade e foram criadas para enfrentar as
contradições e paradoxos de modos brasileiro. Entre o indivíduo e a pessoa, entre a
obediência e a lei, cria-se uma intermediação pessoal entre a lei aplicada pelo
detentor do poder e aquele que deveria aplicá-la de forma que a lei torna-se um
pouco desmoralizada. Esta atitude, relatada pelo autor, revela que a lei não é tratada
como gente e por isso é insensível e assim, todos saem “ganhando”.
Desta forma, o autor apresenta as leis com um único significado no
entendimento dos brasileiros: o “não pode”. Sendo esta palavra, segundo o autor,
capaz de tirar os prazeres, desmanchando projetos e iniciativas e afirma que tal
proibição é tão presente em nossa legislação que é considerada como uma
regulamentação do “não pode”, usada de forma geral e constante.
Damatta (1997), novamente coloca que entre o “pode” e o “não pode”, de ummodo totalmente ilógico, mas bem brasileiro, se junta o “pode” com o “não pode”.
Essa junção é a significação do “jeitinho”, por onde se opera em um sistema legal e
que quase sempre nada tem a ver com a realidade social.
Barros (1996) comenta que ainda neste traço percebe-se
[...] o pouco respeito às leis, normas e regulamentos, com a baixa prática deestabelecer premiações, parece que a sociedade brasileira optou por ummodelo de envolvimento mais coercivo-alienativo. Freqüentemente, existemreferências de que “calado, o brasileiro já está errado”, significando umacoerção através da punição para aquele que queria arriscar-se a participarcom alguma sugestão, abafando qualquer iniciativa empreendedora que osbrasileiros por ventura tenham (p. 62).
Essa coesão social é apontada por Barros (1996) como um produto do traço
cultural lealdade ao líder, pois o líder, através das relações e do poder, que influi
sobre o grupo, seduz os liderados e, assim, atacar com a arma que é o
comprometimento.
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brasileiro conforme é relatado por Barros (1996). Damatta (1997) declara que
apenas no carnaval é que permitimos as competições, um costume não muito
cultuado em nossa cultura, pois a competição não faz parte em uma sociedade
hierarquizada.
Na próxima seção apresenta-se o último subsistema de ação cultural do
brasileiro.
2.2.2.4 Subsistema dos Liderados
Seguindo o esquema elaborado por Barros (1996), o subsistema dos líderes,
institucional e pessoal foi possível analisar dois traços apresentados pela autora e
que pertencem ao subsistema dos liderados e compreendidos pelos traços de
postura de espectador e evitar o conflito. Na figura 10, observam-se os traços
culturais, os quais pertencem ao subsistema de liderados:
Figura 10: Traços do subsistema lideradosFonte: adaptado de Barros (1996, p.67)
Para finalizar o estudo de sistema de ação cultural apresentado pela autora
se faz necessário apresentar o último traço que articula os sistemas institucional e
pessoal e que atuam dentro do subsistema de liderados, denominado como traço
cultural de flexibilidade.
No subcapítulo a seguir apresentam-se os conceitos teóricos sobre este traço.
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2.2.2.4.1 Flexibilidade
Segundo Barros (1996),
a Flexibilidade é a versão moderna do processo que se convencionouchamar de “jeito criollo” como uma estratégia de segundo grau, isto é,suscitada do formalismo cujas características seriam a criatividade epragmatismo (p. 67).
Para a autora este traço cultural é explicado pelas crises econômicas que oBrasil passou nos últimos anos, gerando concentração de renda e o aumento da
distância do poder. Também aponta que em momentos de crise, a insegurança é
ainda maior e o instinto de sobrevivência, principalmente do caso brasileiro, que é
baseado no grande formalismo, induz ao chamado “jeitinho brasileiro”.
Damatta (1997) aponta a figura do malandro ligando-o ao jeitinho, e
exemplifica sua atuação na sociedade, principalmente, em época de eleições. O
malandro é o intermediador entre o poder, ou aquele que deseja o poder, e oeleitorado, que principalmente neste período possui uma lista de exigências muito
mais apurada do que em outros momentos, ou seja, o malandro é o intermediador
entre líderes e liderados.
Motta e Caldas (1997) apresentam a malandragem como uma herança do
traço de pessoalidade nas relações dos brasileiros. Ressalta-se que a malandragem
impera devido às diferentes gradações sociais e como método de navegação social.
Baseado nas relações familiares e de amizades a sociedade possui indivíduosreconhecidos e valorizados devido a sua rede de relações interpessoais, ao
contrário do malandro que sempre consegue dar um jeitinho.
Existe na cultura brasileira, segundo Damatta (1997), outra figura não menos
importante do que o malandro, mas que também faz a intermediação entre
indivíduos e pessoas que é personificado pelo despachante. Enquanto o malandro é
o profissional do jeitinho, o despachante é o intermediador entre aquele que não
consegue dar um jeitinho, ou seja, não possui relações pessoais com osrepresentantes da lei.
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O autor descreve o despachante como o típico serviçal, o qual através de
suas relações e paciência providencia tudo aquilo que lhe é solicitado dentro de
órgãos públicos e poder, de maneira a satisfazer um requerimento que qualquer
indivíduo poderia realizar. A figura do despachante é ligada diretamente àquele que
está nivelado socialmente acima dos indivíduos, mas que devido ao ato igualitário da
lei e a falta de contatos em determinado órgão dentro de suas relações pessoais,
não consegue utilizar-se do “jeitinho” para realizar tal tarefa.
Segundo Barros (1996, p. 68), “a flexibilidade representa, na verdade, uma
categoria com duas faces que denominamos de adaptabilidade e de criatividade,
ambas reconhecidamente apontadas até pelos estrangeiros que nos visitam”. A
autora conceitua esta adaptabilidade como uma capacidade criativa exercitada
dentro de limites determinados e prefixados, sendo este processo que decorre ao
lado do sistema institucional, onde o reconhecimento das normas resulta no
ajustamento de alguns elementos e criando novos hábitos que condizem com a
maneira de ser do indivíduo.
Damatta (1997) declara que o “jeitinho” é um estilo de realizar algo
importante, mas é também, uma maneira simpática, desesperada e até humana de
relacionar o impessoal com o pessoal. O autor ainda indica que o jeito ajuda a ver o
mapa de navegação social, pois em países igualitários não há dúvidas, ou se pode
fazer ou não se pode. Já no Brasil, entre o “pode” e o “não pode” encontramos um
jeito, pois ele é a forma em que concilia todos os interesses, criando uma relação
estável entre o solicitante e o funcionário-autoridade e a lei universal.
Barros (1996) explica esta flexibilidade
[...] pelo fato de o formalismo se ver diante da lealdade às pessoas. Se porum lado existe um arcabouço normativo idealizado, a ser seguido dentro dodomínio institucional, existe também uma rede de relacionamento baseadana lealdade pessoal dentro de uma realidade social que, se acionada, vaiestimular a busca de uma solução para objetivos pessoais (p. 69).
Damatta (1997) representa a nossa sociedade integrada pela mobilidade
social através de agentes e situações como o “jeitinho”, o malandro, o padrinho e odespachante que fazem as negociações e intermediações daquilo que pode ser
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legal ou que serve de interesse dos sujeitos envolvidos, e que estas maneiras de
navegar utilizam-se das relações sociais existentes entre os sujeitos, da simpatia, da
malícia e sensualismo que atuam juntamente com esses agentes.
O mesmo afirma Motta e Caldas (1997) quando apontam que e o malandro e
o “jeitinho” se completam. Na verdade o malandro utiliza-se do “jeitinho” para
estreitar ainda mais as relações pessoais e atingir seus objetivos. Porém, esta
característica só é considerada ruim em casos ilícitos. Devido ao “jeitinho”, o
brasileiro consegue sobreviver às situações encontrando maneiras criativas para
enfrentar os problemas e solucioná-los. Conforme os autores, o malandro consegue
captar o perfil psicológico das pessoas e, desta maneira, relacionar-se melhor em
diferentes situações.
Finalizando o conceito de criatividade, Barros (1996) ressalta que esta tem
elemento inovador, observado nas atividades esportivas em equipe, nas festas de
carnaval e em outras demonstrações que mesmo individuais, também constituem
características ligadas à sociedade brasileira e são apresentadas principalmente em
momentos onde a igualdade realmente ocorre.
Segundo Barros (1996),
é o que ocorre na festa do carnaval. Aí se processa a igualdade de fato,pretos e brancos, ricos e pobres, poderosos e não poderosos, católicos eumbandistas, brasileiros e estrangeiros, cultos e analfabetos, todos iguaissambando, cantando o mesmo enredo [...] - É preciso notar, porém, quemesmo neste momento, principalmente nas escolas de samba, existem osdestaques e a comissão de frente que sinalizam o indivíduo se sobrepondoao grupo, construindo novamente uma hierarquia de fato suportada, porémpelo relacionamento pessoal (p. 69).
Damatta (1997), que faz uma a análise da sociedade brasileira através de
seus ritos, dentre eles o carnaval, também considera esta última manifestação
cultural do Brasil como uma forma de libertação. O autor declara que neste
momento, o brasileiro, ou melhor, grande parte da população aceita este momento
como uma libertação das premissas de dependência de trabalho, assim como da
miséria, das obrigações, do pecado e dos deveres. O autor descreve este momento
como a liberdade do povo, pois deixam de viver o fardo e o castigo do trabalho e das
relações sociais as quais vivem diariamente.
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Para finalizar os conceitos sobre os traços culturais com base em Barros
(1996), na próxima seção apresenta-se como as festas e os ritos brasileiros auxiliam
a apontar alguns traços brasileiros, bem como identificar novos traços.
2.2.3 Festas e Ritos que permitem visualizar outros traços culturais
Neste subcapítulo apresenta-se como as festas e ritos brasileiros demonstram
alguns traços culturais e outros não previstos por Barros (1996).
Damatta (1997), antropologista brasileiro, que utiliza as coisas do dia-a-diapara apresentar os traços culturais brasileiros, também utiliza o carnaval para
mostrar algumas características.
Segundo o autor, no carnaval desconstrói-se todo o aparato social ao qual os
brasileiros vivem e nesta época acontece a inversão de papéis, além da equalização
social dos brasileiros. O carnaval pode ser definido como uma liberdade conquistada
pelo brasileiro, pois, nesta época, se possibilita a “ausência fantasiosa e utópica de
miséria, trabalho, obrigações, pecado e deveres” (p. 73).
Dentre os traços apresentados pelo autor e que não é mencionado por Barros
(1996), está o traço da sensualidade. Para Damatta (1997), o carnaval
é, no fundo, a oportunidade de fazer tudo ao contrário: viver e ter umaexperiência do mundo como o excesso – mas agora como excesso doprazer, de riqueza (ou de “luxo”, como se fala no Rio de Janeiro), de alegria
e de riso; de prazer sensual que fica – finalmente – ao alcance de todos (p.73).
Sobre a sensualidade mencionada por Damatta, Motta e Caldas (1997)
comentam que o nascimento da sensualidade brasileira está ligado aos costumes
portugueses, que adquiriram essa cultura dos árabes e mouros, visto que eles foram
muito presentes nas invasões às terras lusitanas.
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De acordo com os autores essas culturas apresentavam a poligamia como
base cultural e por tratar-se de um povo conquistado, os portugueses acabaram
assimilando o mesmo costume4.
Motta e Caldas (1997) apontam que as opiniões da Igreja sobre a nova
colônia eram muito severas em relação aos costumes indígenas, onde tratavam o
nudismo dos povos nativos como desejos carnais. Porém, o que a Igreja não previa
era que os portugueses ao se relacionarem com as índias, tornavam-se membros da
família indígena tratando de “povoar” a nova terra com uma liberdade sexual muito
grande.
Já as africanas, que não foram figuradas pelos autores como um desejo
carnal, conforme considerava a Igreja, pois julga-se que o sensualismo provinha dos
colonizadores e senhores que, aproveitando de suas posições de poder, abusavam
destas mulheres devido a sua fragilidade social. Os autores relatam que as índias ou
os portugueses não eram menos sensuais que as africanas, porém as mulheres
negras eram alvos da “fome” dos homens brancos, pois estavam socialmente
desfavorecidas, assim como os companheiros negros dos filhos de senhores de
escravos, que devido a sua maior fragilidade eram também alvos das brincadeiras
sexuais dos seus donos.
Motta e Caldas (1997), assim com Damatta, vinculam a sensualidade também
aos ritos, como a Festa de São João, considerado pelos brasileiros como um Santo
casamenteiro e, à comida, com os famosos e apreciados doces, identificados como,
beijinho, casadinho e véu de noiva, que ligam os estímulos de fecundidade,
sensualidade e amor. O prazer do paladar nos brasileiros também é ligado aos
prazeres sexuais e é percebido quando Damatta (1997, p. 61) descreve que:
Não é, pois, por acaso que muitas figuras de nosso panteão mitológico sãomulheres cozinheiras ou que sabiam usar as artes da culinária paraconseguir uma posição social importante. Gabriela e Dona Flor sãocozinheiras de rara capacidade e estilo; também Xica da Silva, na criaçãocinematográfica (que usava como arma e requinte) e sexualidade paratransformar em dominado o dominante-branco-comedor. Gabriela, cravo ecanela. O nome é suficiente para inspirar essas formas de fazer e essesestilos de preparar o que os poderosos ignoram e só uma inversão do
4 Este processo chamado transplantação ou transculturação foi tratado através dos autores Sodré eCobisier. Ver capítulo 2.2.1 O Choque de culturas e transplantação no Brasil
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mundo, fazendo com que a cabeça seja trocada pelo estômago e pelo sexo(onde todos os homens se igualam e se deleitam...).
Damatta (1997) afirma que a sensualidade não está somente tratada noíntimo dos casais, mas que está implícita nas ações do dia-a-dia. Motta e Caldas
(1997) apontam que o sensualismo está nas conversas, nas entrelinhas, em olhares,
completamente diferente da nossa vida cotidiana e regrada por uma sociedade
machista e religiosa. No carnaval, onde realmente estes traços culturais atravessam
as normas sociais e são mais liberadas é que os brasileiros demonstram a evidência
mais latente deste traço do que o resto do ano rotineiro
O sistema social brasileiro apresentado neste capítulo, e de acordo com
Barros (1996, p. 71), é “a capacidade de flutuar nos espaços dos líderes e dos
liderados, ou do institucional e pessoal, ligando-os do paternalismo e da flexibilidade,
do formalismo e da lealdade pessoal, explicam alguns dos paradoxos de nossa
sociedade. Uma sociedade alegre, harmônica mesmo na pobreza; criativa, mas com
um baixo nível de crítica. A forma de operar estes aparentes paradoxos, [...], é que
faz típica nossa cultura, deixando os observadores externos admirados com o nosso
jeito de ser”.
2.3 OS ESTUDOS SOBRE CINEMA
O cinema é tema de estudos por várias disciplinas e segundo Costa (1989),
que apresenta um esquema generalizado de como os trabalhos sobre cinema são
conduzidos de uma forma em geral, utilizando três diferentes bases: a história no
cinema, a história do cinema, o cinema na historia.
A diferença entre essas três diferentes bases é explicada pelo autor entre as
diferentes ênfases dadas aos estudos de cinema. O autor ainda argumenta que a
história no cinema é baseada em pesquisas realizadas através dos filmes e são
utilizadas para explicar e exemplificar determinados fatos históricos ou mesmo a
história atual. Também são usados como fontes complementares a outras fonteshistóricas em pesquisas sobre determinados temas.
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Sá (1967, p. 20) apresenta os motivos para estudos do cinema como
instrumento de educação do ponto de vista técnico, artístico e cultural pois:
- sua técnica amplia a visão de conjunto da realidade;
- permite ilustrar com novo vigor a literatura, a história, a ciência etc.;
- desenvolve o campo das pesquisas e do jornalismo;
- amplia o campo das influências subliminares;
- sendo uma arte, exerce grande poder sugestivo sobre a imaginação;
- valoriza elementos e setores ilustrados, unicamente até então em livros
(documentários sobre museus, danças e folclore, arqueologia etc.);- abre novos horizontes sobre todos os campos da cultura:
- especializada e científica;
- social e educacional;
- religiosa e filosófica;
- literária e artística;
- política e universal.
E Sá (1967, p.20) ainda complementa: “Como desconhecer, então, ou
abandonar tão valioso instrumento auxiliar?! Devemos-lhe a divulgação de culturas
exóticas e o conhecimento (vulgarização) de hábitos e costumes peculiares a outros
povos e civilizações”.
A seguir tem-se a história do cinema, como a primeira base deste estudo,
onde serão apresentadas informações sobre a evolução do cinema.
2.3.1 A Evolução e Revolução do Cinema
O cinema, idealizado pelos irmãos Lumière, que são considerados os pais do
cinema pelos estudiosos, conforme Bernardet (1983), começou a tomar a forma que
é apresentado hoje não por seus criadores, mas por outro homem: George Mèilés. O
autor relata que após a primeira apresentação Mèilés tinha interesse em adquirir um
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firmasse como um produto comercializável, levando-o a condição de sétima arte,
sendo a primeira forma artística original do século XX.
O crescimento da produção de cinema no mundo se intensifica, pois conforme
Bergan (2007), a produção americana foi realizada de tal forma e sua expressividade
foi tão grande que, em 1948, os estúdios americanos tiveram que investir, na
produção da Inglaterra, devido a uma intervenção do governo, 75% das rendas
obtidas nos filmes que eram exibidos no país. Devido a esta evolução na produção a
difusão do cinema americano começa a ser mundial. Impulsionado pelo cinema
sonoro e com um mercado mundial a ser conquistado, o cinema americano começa
a ser visto por muitos países na terceira década do século passado.
Bergan (2007) comenta que, em 1930, a dublagem dos diálogos nos filmes
exportados começa a ser realizada, potencializando ainda mais o mercado consumir
de cinema devido à dublagem na língua do espectador.
Alvarenga (2006) menciona que o cinema americano é algo familiar e ao
mesmo tempo estranho. O autor comenta que é estranho pelo fato de não tratar
assuntos do nosso dia-a-dia, nosso mundo e nossa maneira de percepção de
realidade. Mas devido a sua dominação, este cinema estranho é para nós familiarporque fomos acostumados e levados a conhecer o cinema através dele
No entanto, a difusão de filmes americanos nos países começou a contrastar
com os interesses dos mesmos e com a suas produções nacionais, assim, Bergan
(2007) destaca que após o fim da Guerra a França limitou o acesso dos filmes
americanos nas salas de cinema e iniciou uma colaboração com a Itália para a
produção de filmes independentes.
Desde então, o cinema toma grandes proporções como comunicação demassa, isto é possível observar quando Bergan (2007) relata que, em 1953, foi
transmitida pela primeira vez a cerimônia do Oscar pela televisão. Complementando
o quadro da ampliação do cinema em outras mídias, o autor também relata que em
1955 a RKO (Radio-Keith-Orpheum), produtora e distribuidora americana, fez a
primeira venda de filmes a uma rede de televisão.
Anos depois o alcance do cinema foi ainda mais longe e apresentado por
Bergan (2007), que afirma que a Sony foi a primeira empresa a lançar no mercado o
primeiro gravador doméstico de videocassete.
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Dessa maneira, verifica-se que o centenário cinema, foi espectador de um
século de grandes mudanças. Bergan (2007) afirma que não só o cinema, mas a
moda, política, literatura também sofreram grandes mudanças, principalmente frente
às atitudes mais liberais referente ao sexo. Durante os últimos cem anos, o cinema
registrou toda a mudança da sociedade, e, além disso, também registrou fatos da
história, que levados pela imaginação dos produtores e diretores, colocaram na
grande tela das salas de exibição, façanhas e personagens históricas, como
Cleópatra, 1962 , com a atriz Elizabeth Taylor.
Portanto, a evolução do cinema é notável, não somente por suas evoluções
tecnológicas, mas também pela indústria que foi construída através dele, que se
difere muito da opinião dos irmãos Lumière e, anteriormente, citada por Bergan
(2007), quando descreve o desinteresse comercial dos inventores do aparelho que
projetava imagens em movimentos em uma sala escura.
2.3.2 Cinema como Divulgador da Cultura
A seguir, nas próximas seções são abordados assuntos relacionados ao
cinema como meio de comunicação e divulgação, educação e reflexo da sociedade.
2.3.2.1 O Cinema como Comunicação e Divulgação de Idéias
Bernardet (1983) diz que o cinema pode ser considerado natural e
representando a realidade na tela, pois a realidade se expressa sozinha na tela,
descrevendo que o cinema, diferentemente de outras formas artísticas conhecidas
pela humanidade, é feito de forma natural, não sendo considerada, neste caso, a
animação, pois o realismo é exibido exatamente como fora captado pela câmera.
Duarte (2002) complementa e explica a afirmação de Bernardet (1983),
quando relata que na primeira apresentação do cinema na história um público de “33espectadores assistiram, pasmos, às primeiras projeções de filmes feitos pelos
inventores do cinematógrafo – os irmãos Lumière. Eram filmes curtos, com cerca de
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A narrativa deverá ser influenciada pela cultura, conforme, anteriormente,
citado por Canevacci (1990), a qual ela foi concebida. Esta interferência da cultura
realizada pela inclusão de várias outras características da cultura, que segundo
Turner (1997), podem ser os mitos, as crenças e as práticas preferidas que de
alguma forma penetrarão nestas narrativas e, por isso, verifica-se nas narrativas as
diferenças e tendências temáticas ao longo do tempo.
A autora observa que essas diferenças, principalmente, nas narrativas
surgidas no século XIX, onde as narrativas, em sua maioria, terminavam com o
casamento, uma representação de que com o ato do casamento os problemas
terminariam. Esta tendência da narrativa, no entanto, reforça o desejo da sociedade
em questão de que o casamento era aceito na sociedade, porém não era um reflexo
direto desta sociedade. Desta forma, os mitos, crenças e práticas preferidas de uma
cultura poderão ser reforçados, criticados ou reproduzidos da forma que se
apresentam nas narrativas.
Duarte (2002) também aponta a visão sobre formas sociais e
comportamentos quando afirma que
certamente muitas das concepções veiculadas em nossa cultura acerca doamor romântico, da fidelidade conjugal, da sexualidade ou do ideal defamília têm como referência significações que emergem das relaçõesconstruídas entre espectadores e filmes (p. 19).
Turner (1997) também descreve essa percepção e aponta essa influência
através de códigos e convenções utilizadas para possibilitar essa comunicação. A
autora explica que ao ver um filme consegue-se identificar, através de gestos,
sotaques ou estilo de vestuário a classe, grupo de referência ou subculturas mesmo
não conhecendo a cultura em questão, pois conecta-se essas informações a nossa
cultura e dessa forma, construindo analogias entre o sistema social apresentado e a
própria sociedade.
A autora ainda relata que esses códigos, por sua vez, estão organizados e
são indícios de uma cultura e podem ser apresentados simbolicamente nas
contradições sociais e lidar com as divisões e iniqüidades políticas entre grupos,
classes ou sexos e que foram naturalmente construídas e criadas pela sociedade.
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Portanto, o cinema sendo formado por esses sistemas de representação e como
estrutura narrativa é, muitas vezes, considerado um campo extenso para análises
ideológicas.
Dessa forma, através da citações anteriores, os filmes podem ser analisados
para a caracterização e descrição das formas sociais existentes. Segundo Sá (1967,
p. 30), os elementos abaixo constituem alguns pontos que podem ser analisados
dentro dos filmes:
- valores espirituais;
- valores vocacionais;
- preconceitos a neutralizar ou destruir;
- problemas sociais e políticos a analisar;
- importância da família e da comunidade para o indivíduo;
- o sentido da justiça e do bem;
- a descoberta do mal como uma realidade a ser combatida;
- o progresso em nossas mãos;
- valores literários e artísticos a serem conquistados;
- a cultura dos outros povos; e
- cinema autêntico.
Turner (1997), afirma que o gênero é o produto básico de três grupos de
forças: a indústria cinematográfica, formado por suas práticas de produção; o público
e as suas expectativas e competências; e, por fim, o texto e a sua contribuição ao
gênero como um todo. Esses três elementos interligados movimentam o cinema e os
tornam importantes dentro de uma sociedade.
A autora também aponta que as instituições de promoção de cinemas
nacionais serão sempre regidas como agências de marketing que revelam
intimidamente que a produção de filmes nacionais está ligada a representação e
disseminação de imagens da nação em seu território no exterior, sendo que o que é
visto não é apenas tratado como um empreendimento comercial, mas sim, uma
projeção cultural nacional.
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A seguir, na próxima seção, apresentam-se algumas informações sobre a
indústria cinematográfica brasileira.
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3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
Neste capítulo são apresentados os métodos e procedimentos para arealização desta pesquisa e está estruturalmente descrito pelo delineamento da
pesquisa, definição da unidade de análise, técnicas de coletas de dados, técnicas de
análise de dados e limitações do método e do estudo.
Assim sendo, os capítulos descritos abaixo caracterizaram e conduziram a
pesquisa na busca, análise e compreensão dos dados pesquisados para o
atendimento dos objetivos propostos por este estudo de forma racional e coerente.
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
O trabalho de conclusão de curso, sendo um dos quesitos para a formação de
profissionais, é uma etapa importante para o estudante, pois conforme Roesch
(1999, p.185),
envolvem uma comparação entre teoria e realidade e, tendo em vista seucaráter acadêmico, requer a utilização de elementos do processo científico.O processo de pesquisa envolve precisamente teoria e realidade.
Portanto, para que esta pesquisa seja concreta, faz-se necessário a
importância dos métodos científicos de pesquisa utilizados para finalmente entendera ligação que a autora anteriormente citada declara entre a teoria e realidade.
É necessário também delineá-la de modo a sua fácil compreensão e
interpretação. Vergara (2000, p. 46) declara que “o leitor deve ser informado sobre o
tipo de pesquisa que será realizada, sua conceituação e justificativa à luz da
investigação específica”.
Mas não somente para a informação do leitor que se deve caracterizar o tipo
de pesquisa a ser realizado, pois conforme Gil (2002, p. 43),
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o delineamento refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensãomais ampla, que envolve tanto a diagramação quanto a previsão de análisee interpretação de coleta de dados. Entre outros aspectos, o delineamentoconsidera o ambiente em que são coletados os dados e as formas decontrole das variáveis envolvidas.
O autor, ainda cita que o delineamento expressa o desenvolvimento da
pesquisa, enfatizando os procedimentos técnicos de coleta e análise de dados,
tornando possível na prática, a classificação das pesquisas conforme o seu
delineamento.
A pesquisa será qualitativa, pois Roesch (1999, p. 123), afirma que
[...] a tradição fenomenológica parte da perspectiva de que o mundo e a“realidade” não são objetivos e exteriores ao homem, mas socialmenteconstruídos e recebem um significado a partir do homem.
A autora ainda afirma que a função do cientista social não é apontar os fatos
e medir a freqüência dos padrões, mas de analisar as diferentes construções e
significados que as pessoas atribuem a sua experiência. Portanto, para odesenvolvimento, análise e descrição dos dados, bem como as conclusões sobre o
mesmo, nivelou-se esta pesquisa como caráter exploratório-descritivo, pois
conforme afirmação de Gil (2002, p. 41), as pesquisas exploratórias “têm como
objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas de torná-lo
mais explícito ou a constituir hipóteses” e complementa que
[...] tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificarconceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas maisprecisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores (GIL, 1999, p.43).
E também afirma que “o produto final deste processo passa a ser um
problema mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais
sistematizados” (GIL, 1999, p. 43).
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Já Vergara (2000) interpreta a pesquisa exploratória como uma investigação
em uma área na qual não há muitos conhecimentos acumulados e sistematizados e
devido a sua natureza por sondagem não comporta hipóteses antes de sua
realização, mas que poderão surgir durante ou ao final da pesquisa.
Gil (2007, p. 44) conceitua as pesquisas descritivas como “a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de
relações entre variáveis” e complementa que “embora definidas como descritivas a
partir de seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do
problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias”.
A forma como esta pesquisa será realizada é apresentada pelos autores
como bibliográfica e documental. Segundo Gil (2002, p. 44) “a pesquisa bibliográfica
é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos”. O autor discute que este tipo de pesquisa apresenta uma
vantagem, pois permite ao investigador informações mais amplas do que se fosse
pesquisar diretamente. Roesch (1999, p.107), afirma que a pesquisa bibliográfica “na
prática, implica seleção, leitura e análise de textos relevantes ao tema do projeto,
seguida por um relato escrito”.
Gil (2002) relata que a pesquisa documental é semelhante à pesquisa
bibliográfica, mas é diferenciada na natureza das fontes. O autor ainda afirma que
enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente dascontribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisadocumental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamentoanalítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos
de pesquisa (GIL, 1999, p. 66).
O autor anteriormente citado, ainda discorre que a pesquisa documental
segue os mesmos passos que a pesquisa bibliográfica, apenas considerando que o
primeiro passo é a exploração das inúmeras fontes documentais.
Gil (1999, p. 66) ainda classifica os documentos como
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Divulgação noBrasil
Divulgação noexterior
Resumo do filme:O filme retrata a história do tráfego de drogas no Rio de Janeiro tendo como cenário a favela da Cidade de Dmudou para Cidade de Deus quando pequeno e que sonha em ser fotógrafo, e conta a história da favela moradores pela obtenção do poder através da criminalidade. Buscapé é retratado como um dos moradores hondentro de um quadro onde impera a corrupção, violência e tráfico de drogas.
Quadro 2: Quadro resumo da Obra Cidade de Deus, 2002 elaborado pelo autorFonte: Informações IMDB e resumo do filme elaborado pelo autor
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LINHA DE PASSE, 2008
Escritores:Marcos BernsteinJoão E. Carneiro
Indicações:Melhor Direção no Festival de Cannes – França em 2008
Gênero:Drama
Premiações:Melhor Atriz no Festival de Cannes – França em 2008Melhor Atriz no Festival de Cinema de Havana – Cuba em 2008
Melhor Edição no Festival de Cinema de Havana – Cuba em 2008Segundo Prêmio para Direção no Festival de Cinema de Havana – Cuba em 2008
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Divulgação noexterior
Resumo do filme:O filme conta a história de uma família na periferia de São Paulo, formada por Cleuza, a mãe e grávida, esonhos. Cleuza, trabalhadora doméstica, Dênis como motoboy, Dinho como frentista e Dario querendo ser jopai, mostram uma família humilde e que tentam sobreviver para conquistar seus sonhos. O filme traça um elucidam as mesmas situações entre os personagens.
Quadro 5: Quadro resumo da Obra Linha de Passe, 1998 elaborado pelo autorFonte: Informações IMDB e resumo do filme elaborado pelo autor
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BICHO DE 7 CABEÇAS, 2001
Escritores:Luis BolognesiAustragésiloCarraro
Indicações:Melhor Filme no Festival de Cinema de CartagenaMelhor Direção no Festival de Cinema de LocarmoMelhor Direção no Festival de Cinema de Estocolmo
Gênero:
Drama
Premiações:
Melhor Filme no Festival de Cinema e Cultura Latino Americana em Biarrtiz – França – 2001Melhor Ator no Festival de Cinema em Cartagena – Colômbia – 2002Melhor Diretor Estreante no Festival de Cinema em Cartagena – Colômbia – 2002Melhor direção no Festival Internacional de Cinema de Mulheres em Créteil – França – 20022°lugar em melhor direção no Festival Internaciona l de Locarmo – Suíça – 2001 Laiz Bodanzky bicho de sete cabeçasMelhor filme, diretor estreante, melhor júri jovem e prêmio imprensa de melhor filme – Trieste – Itália - 2001
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Resumo do filme:O Bicho de 7 cabeças é um filme que mostra um adolescente, que é tratado pela família como problemát
interná-lo. No manicômio, Neto, o adolescente, se depara com um tratamento inadequado por parte dos mdo manicômio onde são apenas administrados drogas muito fortes. A tensão familiar entre o jovem e sua entre Wilson e Neto, pai e filho respectivamente. O garoto, após ser retirado do manicômio, apresenta prode remédios. O filme é um protesto ao regime manicomial brasileiro
Quadro 6: Quadro resumo da Obra Bicho de 7 Cabeças, 2001 elaborado pelo autorFonte: Informações IMDB e resumo do filme elaborado pelo autor
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DEUS É BRASILEIRO, 2003
Escritores:João E. CarneiroRenata A.Magalhães
Indicações:Melhor Filme no Festival de Cinema de Cartagena – Colômbia - 2003
Gênero:Drama
Premiações no exterior:Não obteve premiações
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Resumo do filme:Deus, cansado de cuidar da humanidade resolve tirar férias. Como o seu posto não pode ficar vazio para enseu lugar, sendo Quincas, um homem bom e que Deus julga ser o melhor substituto e que mora no Brasil. D juntamente com Madá, todo o percurso de Deus em busca do Santo Quincas. O filme apresenta o caráter bcom o seu escolhido, o mesmo é ateu, e Deus tem que novamente voltar para seu posto, pois vê que nãofiquem juntos.
Quadro 7: Quadro resumo da Obra Deus é Brasileiro, 2003 elaborado pelo autorFonte: Informações IMDB e resumo do filme elaborado pelo autor
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Quadro 8: Quadro resumo da Obra Tropa de Elite, 2003 elaborado pelo autorFonte: Informações IMDB e resumo do filme elaborado pelo autor
TROPA DE ELITE, 2007
Escritores:
André BatistaRodrigoPimentelLuiz E. Soares
Indicações:
Melhor Filme Latino Americano da Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas – Cidade do México – 2008
Gênero:AçãoDramaSuspense
Premiações no exterior:Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Berlim – Alemanha – 2008Melhor Filme e Melhor Audiência do Festival de Cinema Latino Americano de Lima – Peru – 2008Melhor Trilha sonora no Festival de Cinema e Música de Park City – Estados Unidos – 2008Melhor Filme Festival Hola – Lisboa – Portugal - 2008
Divulgação noBrasil
Divulgação noexterior
Resumo do filme:O filme, narrado por Cap. Nascimento, integrante do BOPE – Batalhão de Operações Especiais no Rio de Jque possa ocupar seu lugar para que o mesmo saia do Batalhão, para que possa se dedicar a família. Nascisua escolha, é chamado a participar da missão do Papa, ao qual ele não conseguiu sair. O filme apresetambém toda a corrupção dos policiais, o tráfego de drogas e a violência causada por ele. O filme se desenrMaria, sua colega de faculdade. Cap. Nascimento acaba conseguindo sair da polícia e substituído por Matias
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3.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Vergara (2000), apresenta que o elemento mais importante para a
identificação do delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados.
A técnica de coleta de dados para esta pesquisa, realizou-se de acordo com
os conceitos definidos pelos autores a seguir e, através dos quais, esta pesquisa foi
enquadrada como bibliográfica e documental.
Segundo Gil (2002, p. 44) “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com baseem material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. O
autor discute que este tipo de pesquisa apresenta uma vantagem, pois permite ao
investigador informações mais amplas do que se fosse pesquisar diretamente.
Roesch (1999, p.107), afirma que a pesquisa bibliográfica “na prática, implica
seleção, leitura e análise de textos relevantes ao tema do projeto, seguida por um
relato escrito”
Gil (2002) relata que a pesquisa documental é semelhante à pesquisa
bibliográfica, mas que é diferenciada na natureza das fontes. O autor ainda afirma
que
enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente dascontribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisadocumental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamentoanalítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetosde pesquisa (GIL 1999, p. 66).
O autor anteriormente citado, ainda discorre que a pesquisa documental
segue os mesmos passos que a pesquisa bibliográfica, apenas considerando que o
primeiro passo é a exploração das inúmeras fontes documentais.
Gil (1999, p. 66) ainda classifica os documentos como
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podem ser analisados estatística-descritivamente sob o aspecto quantitativo através
de técnicas de contagem e freqüência e procurando identificar relações entre
fenômenos, no entanto para esta pesquisa, os dados serão estudados somente
qualitativamente, visto que esta pesquisa não procura relacionar estatisticamente,
pois trata-se de um estudo exploratório-descritivo e que apontou os traços culturais
brasileiros dentro das produções nacionais.
Para Gil (2002) a pesquisa documental aparece sob os mais diversos
formatos, tais como fichas, mapas, formulários, cadernetas, documentos pessoais,
cartas, bilhetes, fotografias, fitas de vídeo e discos. Para tanto, é necessário uma
análise de conteúdo, que Bardin (1995) apresenta como uma manipulação de
mensagens, (formadas pelo conteúdo e expressão deste conteúdo) para que seja
possível a identificação de uma realidade que não seja a da mensagem
propriamente emitida. Gil (2002, p. 89) afirma que “o grande volume de material
produzido pelos meios de comunicação e a necessidade de interpretá-lo determinou
o aparecimento da análise de conteúdo”
Bardin (1995) afirma que a análise de conteúdo é expressa em três etapas:
a) pré-análise;b) a análise do material;
c) o tratamento dos resultados, a interferência e a interpretação
Conforme a autora, a pré-análise é a fase necessária para a organização e a
sistematização de idéias iniciais a serem analisadas, além da escolha dos
documentos a serem analisados. Neste estudo a pré-análise e a definição da
amostra foram realizadas simultaneamente, pois o total de filmes assistidos foi
superior ao da amostra estudada. Neste período foram anotadas observações
gerais sobre a obra.
A segunda etapa descrita por Bardin (1995) é o momento em que o material a
ser analisado já possui uma sistemática, em um período considerado logo e
cansativo, obtido através das decisões tomadas na pré-análise. A autora expõe que
nesta etapa é definida a codificação para a análise, e que envolve o recorte (escolha
das unidades), a enumeração (escolha das regras de contagem) e a classificação
(escolha de categorias). Tomando-se como base que este estudo é exploratório-
descritivo e não objetiva a análise da freqüência dos traços apresentados nos filmes,
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tomou-se por base somente a classificação (escolha de categorias), baseadas no
modelo proposto por Barros (1996). No modelo idealizado pela autora, os traços
culturais brasileiros apresentados a seguir, foram determinados como as categorias
de análise. São eles:
a) concentração de poder;
b) formalismo;
c) espectador;
d) paternalismo;
e) impunidade;
f) flexibilidade;
g) personalismo;
h) lealdade às pessoas;
i) evitar conflito.
Portanto, através da pesquisa bibliográfica, as categorias da análise de
conteúdo foram identificadas através do modelo de sistema de ação culturalbrasileiro e serviu de norteador para a análise dos filmes.
No subcapítulo a seguir, são apresentadas as limitações do método e do
estudo para a elaboração da pesquisa.
3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO E DO ESTUDO
Todo método e estudo, conforme Vergara (2000) possui possibilidades e
limitações. O presente estudo, sendo uma pesquisa exploratória, que de acordo com
Gil (1999) é um tipo de pesquisa com a finalidade de familiarizar um problema, é
passível, assim como outros estudos, a indagações dos leitores sobre as limitações
dos métodos e do estudo.
Por ser uma exploratória sobre o cinema brasileiro, as limitações estãodiretamente ligadas à amostra selecionada. Por ser um estudo que visa apontar as
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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Este capítulo propõe-se a apresentar os objetivos deste estudo que é aidentificação dos traços culturais brasileiros nas produções nacionais indicadas aos
festivais internacionais. Faz-se necessário, portanto, o cumprimento dos objetivos
específicos desta pesquisa relacionados ao tema e que são identificados como a
apresentação das funções do cinema, apresentação do cinema como difusor da
cultura brasileira, a apresentação dos traços da cultura brasileira e a identificação
destes traços nas produções nacionais.
Seguidamente, são apresentadas as observações dos dados coletados nasproduções cinematográficas nacionais escolhidas como amostra, compreendida
nesta pesquisa por sete filmes, que foram produzidos no período e após o período
denominado A Retomada do Cinema Brasileiro pelos estudiosos do cinema nacional,
compreendido após a extinção da EMBRAFILME no governo do ex-presidente
Fernando Collor de Mello e após a aprovação da Lei de Incentivo à Cultura e Lei
Rouanet, as principais iniciativas governamentais para o fomento do cinema no país,
até 2008.
Através da pesquisa bibliográfica, identificaram-se os traços culturais que
foram apontados nos filmes, que por sua vez, representam a pesquisa documental
deste estudo.
Por fim, são apresentados os dados necessários para responder a questão de
pesquisa, assim como os objetivos geral e específicos.
4.1 CENTRAL DO BRASIL, 1998
Nos seguintes trechos do filme Central do Brasil, 1998 destacaram-se os
seguintes traços culturais:
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4.1.2 Análise – Parte 2
Aos 6 minutos e 13 segundos do filme até 8 minutos e 43 segundos,apresentam cenas em que Dora e sua amiga Irene lêem as cartas escritas por ela e
que foram ditadas por seus clientes. A cena transcorre com as personagens lendo
as cartas e decidindo quais serão enviadas, quais serão guardadas e quais serão
descartadas. Neste trecho, apresentaram-se os seguintes traços culturais:
flexibilidade, paternalismo, personalismo e lealdade às pessoas.
Dora apresenta nesta cena dois traços: a flexibilidade e o paternalismo. Para
a flexibilidade, também denominado por Damatta (1997) e Motta e Caldas (1997)como malandragem, relaciona-se a cena em que Dora, a escritora de cartas, e que,
dentro de sua função, deveria postar as correspondências, não as envia. Observou-
se que seus clientes são enganados, pois pagaram para que a escritora redigisse a
carta e postasse, porém não chegarão ao destinatário.
O traço cultural lealdade às pessoas, apresentado por Barros (1996), que
afirma que este é encontrado pelo indivíduo que valoriza o prestígio e o poder, mas
só pode tê-lo através de suas relações pessoais, é apresentado no momento em
que Irene é convidada por Dora a fazer a escolha das correspondências escritas
naquele dia, mas ela enfatiza que não acha correto fazer isso.
Neste caso, destacou-se a lealdade às pessoas, pois mesmo sabendo que o
que Dora fazia era incorreto, ela participava da seleção de cartas. Naquele momento
Dora detinha o poder sobre as correspondências que, ao seu julgamento, deveriam
ser recebidas ou não. A lealdade, traço verificado na personagem de Irene, que
consegue através de seus argumentos que a carta de Ana, mãe de Josué e principal
personagem do filme, seja guardada na gaveta aguardando posterior seleção para
postagem de correspondências, é ressaltada neste trecho. Para o líder, apresentado
neste caso por Dora, também é necessário que seja feita a vontade de Irene, pois
conforme Barros (1996), o líder forma um capital social e o retorno de segurança aos
liderados, que neste momento ela utiliza para que sua amiga não discorde do que
ela faz. A posição de poder apresentado por Dora é tão grande, que mesmo sua
amiga Irene falando que havia gostado muito de uma das cartas, rasga acorrespondência.
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4.1.4 Análise – Parte 4
Quando o filme chega aos 19 minutos e 35 segundos até 36 minutos, sãodiscorridas cenas que apresentam os traços culturais da malandragem, do
personalismo, de evitar conflito e da impunidade. O trecho citado inicia-se com a
conversa do segurança com Dora. O menino fica na casa de Dora, onde conhece
Irene. Após, Dora leva Josué para um grupo que coordena adoções de crianças
brasileiras ao exterior e retorna para casa com uma televisão. Irene, sabendo da
condição financeira de Dora, desconfia e questiona a forma como conseguiu
dinheiro para comprá-la. Dora explica que entregou o garoto para adoção, mas ficasubentendido que Josué fora vendido. Irene argumenta que ele está grande demais
para adoção e que existem grupos que matam e vendem os órgãos dessas crianças,
saindo da casa de Dora desaprovando o ato.
A malandragem, segundo Damatta (1997), é personaliza no filme por Dora e
pelo segurança que querem ganhar dinheiro fácil. O personalismo e a lealdade às
pessoas, que Barros (1996) admite ser o personalismo uma forma de poder através
das relações pessoais, sendo verificado quando Irene consegue fazer com que Doraveja a verdade da adoção.
O traço de evitar conflito, descrito por Barros (1996), também é percebido
quando Dora discute com Irene e fala à amiga que o assunto não deve ser mais
discutido e Irene sai da casa, pois sabia que não adiantaria discutir com Dora.
A impunidade é apontada por Damatta (1997) quando os delitos são
praticados em favorecimento do próprio infrator.
Dora pensa no que fez, rouba o garoto do grupo de adoção e foge enquanto o
policial é atendido na casa de Irene, que também a avisa do segurança dizendo que
não retornará para casa. Neste trecho percebeu-se que existe a malandragem
mencionada por Damatta (1997), que diz que o malandro é aquele que quer ganhar
dinheiro à custa dos outros sem o mínimo esforço. A malandragem é percebida tanto
no policial quanto em Dora. Após a recriminação da amiga sobre a venda de Josué,
observa-se que Irene possui grande influência e apresenta traços como o
personalismo, além da lealdade a personagem de Dora.
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Dora, como líder, não poderia atuar se não houvesse a legitimação de seu
poder através de Irene, portanto, decide levar em conta o que Irene fala sobre a
venda de Josué e o resgata do grupo de adoção, assim decide levar o menino até
ao seu pai. Neste trecho, observa-se ainda que o policial vai à casa de Dora
reclamar o dinheiro ou tirar satisfações sobre sua atitude. Enquanto Irene fala ao
telefone com Dora, demonstra lealdade à amiga, pois declara que sabia que ela era
uma boa pessoa.
4.1.5 Análise – Parte 5
Entre 50 minutos e 60 minutos e 50 segundos, foram percebidos os seguintes
traços culturais: personalismo, lealdade às pessoas, impunidade e sensualidade. As
cenas iniciam após a perda do ônibus em que Dora havia deixado Josué para seguir
viagem e decide voltar ao Rio de Janeiro, no entanto, o menino sai do ônibus e fica
com ela. Dora sobre efeito da bebida adormece e perde o ônibus, até que consegue
carona com Cesar, um caminhoneiro.Durante uma entrega de mercadoria em um estabelecimento comercial, Dora
é flagrada roubando. Cesar intervém quando o dono tenta recuperar as coisas
roubadas por Dora, alegando que a conhece, que é sua amiga e, portanto, alega ter
certeza que ela não tinha roubado nada. Na seqüencia do trecho, em um
restaurante, Dora deixa transparecer que gosta de Cesar e demonstra seus
sentimentos ao caminheiro, que foge enquanto ela vai ao banheiro.
Nesta cena verificou-se que através do personalismo de Cesar, tratado porDamatta (1997) como a relação pessoal com poder, e que convence o dono do
estabelecimento de que Dora não é criminosa, ou seja, através de uma ligação
pessoal que ela brevemente obteve com o caminheiro que lhe deu carona, consegue
proteção.
Mesmo o caminhoneiro percebendo o roubo somente depois que entrou
novamente no caminhão para seguir viagem, o mesmo omite o ato dizendo que
conhece o dono do armazém e que o mesmo é muito desconfiado. O caminhoneiro
não leva a sério o roubo e ainda come uma das mercadorias roubadas.
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4.2 CIDADE DE DEUS, 2002
A seguir, aborda-se a análise realizada no filme Cidade de Deus.
4.2.1 Análise – Parte 1
Aos 06 minutos até 08 minutos e 35 segundos apresenta-se o traço cultural
impunidade. As cenas desse trecho mostram um assalto ao caminhão de entrega de
gás domiciliar pelo trio Ternura; uma gangue de assaltantes formada por Cabeleira,
Alicate e Marreco. Durante o assalto é distribuído entre a população os botijões de
gás retirados do caminhão. Além disso, no final distribuem para os garotos que
jogavam futebol uma parte do dinheiro roubado.
Dessa forma, o trio era considerado herói, pois ajudavam a população da
favela. Portanto, há uma conivência dos moradores pois, além do poder que o trio
tinha sobre os favelados, legitimado pela violência, também tinham seu respeito.Esta conivência era usufruída pelos moradores compensando os problemas
econômicos das pessoas que viviam na favela. Barros (1996, p. 56) descreve que
estes heróis são “transgressores da lei, mas dentro de seu grupo e área de atuação,
são heróis que protegem seus membros”.
4.2.2 Análise – Parte 2
Entre 10 minutos e 30 segundos e 14 minutos e 32 segundos apresenta-se a
lealdade às pessoas, representado por Dadinho, quando se aproxima do Trio
Ternura. Dadinho tem idéia de assaltar um motel e apresenta seu plano ao Trio
Ternura que faz o assalto. Dadinho quer tornar-se bandido e assaltar o motel, então
torna-se leal ao Trio, pois necessita atingir este objetivo.
Neste caso, a quadrilha é o poder, representado através de Dadinho a relação
de lealdade e personalismo. No entanto, no momento do assalto, ele é impedido de
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por Damatta (1997), como a capacidade do brasileiro de ligar as relações sociais às
relações pessoais.
4.2.4 Análise – Parte 4
Dos 48 minutos aos 49 minutos e 21 segundos são mostradas cenas com a
apresentação hierárquica do tráfico. As cenas mostram todas as funções de todos os
que trabalham para o tráfico, desde crianças até os responsáveis pelas “bocas”,
assim como todos os cargos abaixo do patrão. Faz-se uma comparação do patrãoda favela ao traço paternalista da cultura nacional. Para Barros (1996), a autoridade
máxima está centrada na figura do pai e que este poder não está somente presente
em suas relações privadas, mas também fora dele.
No filme também destacou-se que o patrão age de acordo com as leis
impostas por ele, através de um formalismo próprio, em que os liderados estão
sobre o seu poder em cargos instituídos por este.
O filme apresenta os seguintes cargos: aviãozinho, que são representados
pelos meninos que levam e trazem refrigerantes e recados, acima destes estão os
olheiros, que recolhem as pipas para avisar caso a polícia apareça na “boca”. Em
um nível acima estão os vapores, são os vendedores de drogas que ficam na favela,
e ao sinal dos olheiros, devem fugir rapidamente. Os soldados são os encarregados
de assegurar que a polícia não irá invadir a “boca” e, por isso, é considerado no filme
um cargo de maior responsabilidade do que os anteriormente citados.
O personalismo e a lealdade também são apresentados nestas cenas através
do subsistema pessoal com o poder, pois apresentam a figura do gerente, ao qual o
filme o concebe como o braço direito do patrão, ou seja, as figuras são ligadas ao
paternalismo (patrão), personalismo e lealdade às pessoas (gerente).
Damatta (1997) apresenta o traço do personalismo como o sujeito que
através de suas relações sociais consegue relacionar-se de maneira pessoal.
Enquanto que a lealdade é apresentada por Motta e Caldas (1997), que a considera
como um caminho mais fácil para que o liderado ou aquele que está em posição
desfavorável seja protegido.
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4.2.5 Análise – Parte 5
A legitimidade do poder de Zé Pequeno, no contexto do filme, se dá atravésda violência ou morte dos “inimigos” ou aqueles que não respeitam as leis feitas pelo
traficante. No filme observou-se esta legitimação no trecho entre 60 minutos de filme
e 63 minutos e 20 segundos.
Neste trecho é apresentado o dono de uma mercearia que fora atacado pelo
grupo conhecido na favela como “Caixa Baixa”. Este grupo era formado por crianças
e que faziam pequenos furtos. Após o ataque na mercearia, o dono do comércio
reclama com Zé Pequeno, que vai atrás dos meninos e condena um a morte, alémde ferir outro garoto.
Nesta cena, Filé com Fritas que desejava tornar-se criminoso, presencia a
cena e mata um dos meninos do “Caixa Baixa” sob o comando de Zé Pequeno.
Verificaram-se os seguintes traços culturais: o paternalismo, a lealdade às pessoas,
o personalismo, o formalismo, a concentração de poder e a postura de espectador.
A lealdade às pessoas, traço cultural explicado por Motta e Caldas (1997),
aponta que esta característica é marcada por aqueles indivíduos que necessitam de
proteção, são apresentados através do comerciante que reclama a Zé Pequeno
sobre o furto ocorrido em seu estabelecimento.
O paternalismo é representado na figura de Zé Pequeno, pois sendo o patrão
e detentor do poder, dita as leis da favela. Barros (1997) cita que a figura do pai
impõe sua vontade aos seus membros. Amparado por suas leis, o traficante procura
o grupo de crianças, mas apenas dois integrantes são castigados, ambos com tiros
nos pés. No entanto, Filé com Fritas, o garoto que queria ser criminoso e que fora
convidado a dar uma volta com Zé Pequeno, somente assiste.
A postura de espectador é representada pela personagem do garoto, que
mesmo não gostando do que estava vendo e em situação desfavorável ao patrão,
não entra em conflito com o traficante, que logo o obriga a matar um dos meninos.
Este traço é descrito por Barros (1996) quando o indivíduo não consegue relacionar-
se pois, neste caso, o garoto não tinha vínculos com Zé Pequeno, mas devido aopoder do traficante, nada pode fazer a não ser as ordens do traficante.
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4.2.6 Análise – Parte 6
Aos 81 minutos e 56 segundos marcam outra parte da história. Zé Pequenoestupra a namorada de Mané Galinha e o obriga a observar tal ato. Ele deixa as
vítimas, mas retorna para matar Mané Galinha. Ao enfrentar Zé Pequeno, o seu
bando assassina o irmão de Mané Galinha.
Após o assassinato, Cenoura aparece entregando uma arma a Mané Galinha,
que a usa para tentar matar Zé Pequeno. Ao atirar, Mané Galinha mata somente um
dos comparsas de Zé Pequeno, que foge. Os vizinhos parabenizam Mané Galinha
pela morte do bandido.
O trecho analisado termina aos 68 minutos e 35 segundos e representa o
heroísmo de Mané Galinha perante os moradores da favela, ligando-o ao traço de
impunidade. No entanto, tal impunidade é legitimada pelos vizinhos, pois, os
mesmos consideram o assassino um herói por ter matado o comparsa do traficante.
Barros (1996) apresenta o traço da impunidade através do heroísmo daqueles que
transgridem a lei, mas que protegem os seus membros.
4.3 TROPA DE ELITE, 2007
Nas análises que serão realizadas posteriormente mostrarão os traços
culturais brasileiros presente nesta obra.
4.3.1 Análise – Parte 1
No trecho inicial do filme entre 1 minuto e 30 segundos até 04 minutos e 35
segundos, correspondendo às primeiras cenas do filme, narradas pelo Capitão
Nascimento, são mostrados os traficantes em um baile funk de favela e também a
subida ao morro pelos policiais.
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Neste trecho, verificou-se dois traços culturais: a impunidade e a posição de
espectador. A impunidade, descrita por Barros (1996), representada nestas cenas
pelo que a autora descreve ser a Lei de Gerson “É preciso levar vantagem em tudo”
e verificada com a narração de Capitão Nascimento ao comentar sobre os policiais
corruptos, que sobem o morro para recolher o “arrego”, uma espécie de propina
paga pelos traficantes para que a polícia não atrapalhe o tráfico. Também é
apresentada pela narração a conivência da polícia com os traficantes, pois devido à
grande organização dos criminosos e a falta de preparo e armamento da Polícia
Militar os policiais não entram nos morros para que a lei seja cumprida.
Além disso, o narrador fala sobre as três possibilidades dos policiais:
corromper-se, omitir-se ou ir para a guerra contra os traficantes. Ao corromperem-se
os policiais se enquadram no traço cultural da flexibilidade ou da malandragem, mas
para a característica maligna destes traços, que é a transposição da legalidade, ou
seja, a flexibilidade, apontada por Motta e Caldas (1997), quando esta apresenta-se
em casos ilícitos.
Quando omitem-se, os policiais são enquadrados na posição de espectador,
pois sabendo do poder do tráfico e as normas que giram em torno de tal atividade
criminosa nada fazem para amenizar. Este relato representa o traço abordado por
Barros (1996), que diante de grande concentração de poder e de soluções que não
podem ser tomadas, se arriscam a morrer, enquanto que os policiais honestos se
valem do traço da concentração de poder (sob a óptica da polícia) para fazer valer a
lei (formalismo).
4.3.2 Análise – Parte 2
Entre 19 minutos e 26 segundos até 24 minutos e 30 segundos Capitão
Nascimento narra a vida de Matias. O narrador apresenta Matias como um policial
honesto, de bom coração e vencedor pois, de acordo com as palavras do narrador,
ele era “um negro, pobre que conseguiu estudar na melhor faculdade de Direito do
Rio de Janeiro”. Verificou-se nesta narração que este é um dos arquétipos
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brasileiros e que a sua situação social de pobre e negro não apresentaria grandes
chances de crescimento na sociedade atual.
Segundo Damatta (1997), esta é uma forma de preconceito no Brasil que
rotula as pessoas de forma hierárquica e os discrimina. Neste trecho, também fala-
se sobre lealdade às pessoas, personalismo e impunidade, representados pelos
estudantes perante Matias. Na cena em que o policial faz o trabalho proposto na
aula da faculdade, os colegas consomem drogas na frente dele. Observou-se que
apesar de sua posição ser de representante e cumpridor da lei, não dá o comando
de prisão. Neste caso, verificou-se o personalismo e a lealdade aos colegas, pois
Matias não cumpre a lei que aufere seu cargo, sendo a lei é revista, ou seja, quem é
de sua relação pessoal não necessita cumprir a lei, fazendo a chamada “vista
grossa” apresentado pelos autores, ou conforme Barros (1996), que apresenta que a
aplicação da lei será de acordo com o grau de relacionamento que o julgado tem
com a pessoa.
4.3.3 Análise – Parte 3
Esta parte do filme, que compreende entre 31 minutos e 34 minutos e 30
segundos apresentam cenas sobre a apresentação do trabalho do grupo de Matias.
Na cena há uma discussão sobre o papel da polícia na sociedade e muitos alunos
tinham uma visão da polícia como corrupta e violenta. Dentro do contexto
apresentado pelo filme, Matias, o policial honesto, defende a polícia e critica os
colegas de classe alta, pois argumenta que o maior problema da violência está notráfico e acusa a burguesia de contribuir com o tráfico devido ao consumo.
Notou-se, neste caso, que por ser não somente uma instrução profissional,
mas também ideológica, Matias acredita no poder da polícia. Porém, os argumentos
dos colegas de que a polícia é corrupta e violenta, apresenta a sociedade brasileira
como espectadora, ou seja, sabe dos problemas mas devido a uma grade
desigualdade de poderes nada faz.
Após as acusações de Matias aos colegas sobre o desconhecimento da
origem do tráfico e a violência e a corrupção gerada por ele, observo-se que a classe
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ficou chocada e quieta. Logo a situação foi contornada pelo professor que
rapidamente muda de assunto, demonstrando o traço cultural de evitar conflito.
Para Barros (1996), que classifica o traço de evitar conflito, comenta que pode
também haver a intermediação de uma terceira parte, mas que deve ter relações
com ambas as partes. Neste caso, o professor, que ao perceber que as acusações
de Matias poderiam gerar mais discussões, altera o assunto e decide finalizar a aula.
4.3.4 Análise – Parte 4
Aos 42 minutos e 55 segundos, mostra a cena dentro de um dos
departamentos da polícia, onde o soldado Paulo pede ao sargento Rocha suas
férias, pois estava há quatro anos sem usufruir do benefício. No entanto, o sargento
propõe que o mesmo tire as férias mediante “ajuda”. Neste caso, a “ajuda” não é
explicitamente falada, tratando-se implicitamente de propina. O soldado, que
reclama o direito de férias nada faz, pois não aceita o pagamento da propina.
Observou-se que a concentração de poder e o formalismo da polícia sãoaproveitados pelo sargento através da flexibilidade ou malandragem para ganhar
dinheiro dos policiais em funções abaixo de sua posição.
Damatta (1997) apresenta o traço cultural de malandragem como o sujeito
que quer ganhar dinheiro à custa dos outros. O desfecho desta parte do filme, pelo
não aceite do policial para o pagamento da propina, é caracterizado pela posição de
espectador do soldado, que diante do poder e o recebimento de seu direito às férias
mediante o pagamento da propina, nada pode fazer e também não pode reclamar.
A impunidade, neste caso, também é presente na cena, visto que o sargento,
detentor do poder, não é condenado ou até mesmo denunciado da extorsão, pois
percebe-se que sua gaveta possui dinheiro de outros policiais que aceitaram o
pagamento da propina.
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Souza). Na cena, o pai questiona aonde o filho vai e Neto responde que irá viajar.
Em contrapartida, o pai diz que o filho pedirá dinheiro e Neto responde que irá “se
virar”, enquanto sua mãe observa tudo. Não sendo uma resposta conveniente com o
que o pai gostaria de ouvir, o mesmo começa a discutir com o filho, lhe questionando
de onde irá tirar dinheiro, lhe ofendendo como criminoso entre outras e ficando com
mais raiva ao ver o filho com um piercing na orelha.
Observou-se que os traços apresentados neste trecho são o paternalismo,
formalismo, lealdade às pessoas, evitar conflito e espectador. O paternalismo
representado pelo pai e, conforme Barros (1996), o patriarca impõe suas vontades
não somente no âmbito familiar como fora dele, quer impor seus limites e ordens de
acordo com a sua crença. Também percebeu-se que o formalismo, representado na
fala do pai, que chama o filho de homossexual, ao vê-lo com um piercing ,
desrespeitando as regras da sociedade em ter uma relação, convencionada pelas
normas sociais, heterossexual, é explicado pela visão de Motta e Caldas (1997)
sobre uma sociedade machista.
A posição de espectador é ligada a Neto. Barros (1996) explica que a posição
de espectador está sempre diante de uma grande concentração de poder e
formalismo. Na cena, o adolescente, diante do poder do pai, não lhe dirige a palavra,
somente respondendo em sua defesa. No entanto, a pressão é tanta, que foge do
pai para viajar. Também são apontados os traços de lealdade às pessoas e evitar o
conflito, demonstrados por Meire, mãe de Neto, que presencia a briga, mas não
toma partido devido ao poder do marido, e dessa maneira não defende o filho, e não
emite sua opinião sobre a situação, evitando o conflito com o seu marido.
O traço de evitar conflito, apresentado por Barros (1996), é caracterizado pela
grande oposição dos dominados ao poder absoluto, no caso desta parte do filme, o
marido possui o poder e ela omite os fatos.
4.4.2 Análise – Parte 2
O traço da sensualidade também é presente no filme entre 14 minutos e 20
segundos até 14 minutos e 55 segundos. Durante o almoço em que Neto participa
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na casa de Leninha, uma mulher que o ajudou emprestando dinheiro para voltar
para casa. Leninha e seus amigos estão na mesa conversando, quando Leninha
lança um olhar sobre Neto, que em seguida retribui o olhar.
A câmera filma os detalhes destes olhares como se representassem o olhar
dos personagens. Este trecho termina com a volta de Neto para casa e, em sua
lembrança, ele e a mulher relacionando-se sexualmente. Damatta (1997) apresenta
este traço cultural quando afirma que os brasileiros ligam o prazer do paladar ao
prazer sexual.
4.4.3 Análise – Parte 3
Entre 17 minutos e 19 minutos e 10 segundos, Neto e seus amigos saem na
rua para pichar um prédio quando são pegos pela polícia. Os policiais, ao abordarem
Neto, batem e picham a roupa e o rosto de Neto. Ao buscar o filho, o pai o
repreende dizendo que somente daquela maneira foi possível descobrir que criou
um vagabundo, e sua mãe o faz prometer ao seu pai que não iria mais sair comaquele grupo de amigos.
O traço da concentração de poder foi verificado na posição dos policiais que,
ao invés de só autuarem o rapaz e levar à delegacia, utilizaram de sua posição de
superiores para bater e pichar Neto.
Conforme o traço cultural concentração de poder apresentado por Barros
(1996) quando afirma que a sociedade brasileira tem se valido da força militar e o
poder racional-legal para a manutenção do poder. O rapaz por sua vez, não estando
em direito de reclamar, pois fora pego em situação criminosa nada faz, mesmo
possuindo direitos de ser tratado dignamente, e, portanto, apresentando a posição
de espectador que, de acordo com Barros (1996), diante de um poder muito forte e
um formalismo, sendo este o caso da polícia, Neto nada tem a fazer.
Seu pai, através de suas críticas, representa o paternalismo, mas mesmo
assim aceita a promessa do filho. Meire, sua mãe, desta vez utiliza-se do
personalismo junto ao seu pai para evitar conflitos entre seu marido e Neto,
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negociando junto ao filho a promessa ao marido de que Neto não iria mais andar
com os outros rapazes.
Conforme Damatta (1997) que afirma que na sociedade brasileira, o indivíduo
deve manter laços considerados tradicionais como a família, sendo que na situação
de Neto, o que estava fazendo era completamente ao contrário.
4.4.4 Análise – Parte 4
Aos 28 minutos e 18 segundos até 20 minutos e 55 segundos o pai de Netodescobre que o filho utiliza maconha e fala com sua filha sobre a situação do irmão,
preocupado com o que os outros poderiam falar dele. A irmã, preocupada com o que
o pai a relata, diz que irá procurar “uma solução”. Após, Neto é internado em uma
clínica psiquiátrica.
Nos 41 minutos e 10 segundos, na primeira visita à Neto, ele tenta alertar a
família de que a clínica o trata mal e dá muitas drogas. O pai, nervoso e brigando
com o filho, fala que foi difícil achar uma vaga na clínica e agradece a irmã por ela
ter “mexido os pauzinhos” para que ele pudesse estar se tratando naquele local.
Percebeu-se que os traços culturais apresentados nestas cenas são o
paternalismo e o personalismo. No caso paternalismo é a expressão do pai quanto
ao que os outros pudessem falar de seu filho. Na teoria de Damatta (1997), esse
seria o ambiente casa, ao qual todos os presentes devem ter bom exemplo e tudo o
que acontece dentro de casa não transparecer ao restante da sociedade, pois sob o
âmbito familiar a regra é o espelho do que o pai deseja.
Já o personalismo é apresentado na cena da visita ao hospital quando o pai,
brigando com o filho, fala que a sua irmã “mexeu os pauzinhos”, ou seja, através de
seus contatos no escritório, para que pudesse garantir uma vaga ao irmão para
tratamento naquela clínica. Segundo Barros (1996), a rede de amigos ou de
parentes é o caminho considerado natural para o brasileiro para resolver os
problemas e obterem privilégios, neste caso, de Neto ser tratado em uma clínica.
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4.5 DEUS É BRASILEIRO, 2003
Deus é Brasileiro apresenta os seguintes traços culturais:
4.5.1 Análise – Parte 1
Dos 17 minutos e 14 segundos aos 18 minutos e 55 segundos, Divaldécio
deixa Deus em uma cidade vizinha na feira de Penedo onde ele supostamente
encontraria o Santo Quincas. Deus pergunta se Divaldécio conhece o Santo
Quincas, porém ele nega, pois conforme suas palavras “essa gente de feira não é de
meu círculo de amizades”. Ao questionar novamente se não conhecia, afirmando
que o pai de Quincas foi tropeiro, ele inventa uma desculpa e fala que deve ir para
casa se não perderia o jantar.
No momento seguinte, Deus questiona como Divaldécio conseguiria juntar
dinheiro para pagar a dívida ao agiota. Seguindo a sua jornada até a feira, Deus éalcançado por Divaldécio que argumenta de que ele foi muito burro ao deixar alguém
com tanta importância sem ajuda. Percebeu-se os traços culturais neste trecho
apontados como flexibilidade, personalismo e paternalismo.
Para a flexibilidade observou-se, através de Divaldécio, que é o malandro na
história. Ao ser questionado por Deus sobre o dinheiro devido, ele acha que poderá
contar com a ajuda de Deus para que possa pagar ao agiota que, conforme Damatta
(1997), afirma que o malandro é aquele que está à procura de soluções fáceis e dedinheiro à custa dos outros.
O personalismo também é apontado em Divaldécio, pois ele quer através de
sua relação pessoal com o poder, resolver os seus problemas. Barros (1996) explica
que o personalismo é para o brasileiro uma forma de trafegar e obter privilégios.
O paternalismo ainda é representado pelas atitudes de Deus, pois verificou-se
que o poder sobre Divaldécio, quando o chantageia e o ameaça sobre a dívida, para
ajudá-lo a encontrar Quincas. Barros (1996) comenta que a rebeldia pode ser
premiada com a exclusão do âmbito das relações.
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Outro traço cultural observado no trecho é o que Damatta (1997) fala sobre a
hierarquia ou a forma que o brasileiro se posiciona perante os outros membros da
sociedade, pois Divaldécio ao ser questionado se conhecia Quincas e o pai, por
serem pessoas de baixo nível social, conforme seu julgamento, nega dizendo que
não conhece este tipo de pessoa, portanto, ele segrega as pessoas e as classifica
de menor importância que ele.
4.5.2 Análise – Parte 2
No trecho entre 30 minutos e 32 minutos, Deus vai à procura de Quincas na
feira de Penedo. Ao chegar a um açougue, colega de Quincas fala que o mesmo se
mudou. Ao ouvir aquilo, Divaldécio tenta convencer Deus de que ele poderia ajudar
e substituir Deus até que ele voltasse de férias. Deus recusa a oferta, mas
Divaldécio pede para que Deus dê um “jeitinho”. Novamente Deus nega tal pedido.
Posteriormente, Madá também se junta ao grupo, pois quer ir para São Paulo.
O personalismo de Divaldécio é observado quando ele se oferece a Deuspara ocupar o seu lugar durante suas férias. De acordo com Barros (1996), através
dos contatos pessoais os brasileiros procuram estabelecer relações com aqueles
que possam beneficiar ou oferecer algum privilégio. Também verificou-se que
Divaldécio tenta, através do personalismo, ocupar o lugar de Poder. Também
percebeu-se a flexibilidade que Divaldécio sugere à Deus para que, através do
jeitinho, ou seja, da malandragem, possa Deus ofertar o cargo a ele, mostrando, de
acordo com Damatta (1997) diz que no Brasil, entre o “pode” e o “não pode”encontramos o jeito, uma maneira de conciliar o interesse de todos.
4.5.3 Análise – Parte 3
A partir dos 44 minutos, na viagem de ônibus para o Vale do Patigum,
Divaldécio conversa com Deus sobre a criação do mundo e afirma que ele estava
sentindo-se muito sozinho ao criar o mundo. Divaldécio fala que Deus deve se sentir
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sempre muito sozinho, pois nunca teve pai, mãe, mulher e família. Verificou-se que
essa característica, informada por Damatta (1997) se refere ao personalismo, pois
para o autor, na cultura brasileira a família é um laço importante em nossa
sociedade.
Também é verificado que, após 54 minutos, Divaldécio fala sobre a procura
de Deus por Quincas, pois mais uma vez Quincas havia se mudado. Divaldécio diz a
Deus que não há problema, pois tudo dá certo no final e consola Deus, pois
argumenta que se algo ainda não está dando certo, é porque ainda não acabou.
Nesta cena, notou-se o emprego do traço formalismo, pois a visão dos brasileiros,
sempre acreditando que Deus é brasileiro e em dias melhores, como afirma Barros
(1996).
4.5.4 Análise – Parte 4
Após 60 minutos de filme percorrido, Deus, Madá e Divaldécio pegam carona
com um homem que os leva até Palmas, no Tocantins, para que eles sigam atéJalabão para encontrar Quincas. Antes de chegar ao destino final, o homem que dá
carona, coloca fogo no carro para que possa pegar o dinheiro do seguro. O homem,
no entanto, os indica e pegar carona, pois daquele ponto seria mais fácil chegar ao
destino.
Observou-se neste trecho do filme que o homem que dá carona é um
malandro e, conforme a descrição de Damatta (1997), o malandro é aquele que está
em busca de dinheiro fácil obtendo vantagem sobre os outros, no caso da cenaanalisada, seria a vantagem sobre o seguro.
4.5.5 Análise – Parte 5
Ao chegar ao destino, corridos 63 minutos de filme, Deus pergunta aDivaldécio se ele já tinha andado de avião. Divaldécio diz que não, mas retruca com
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de Dalva insulta Majestade de negro malandro. Majestade tenta reverter a situação
dizendo que ele não é malandro, mas quando o pai insiste, ele saca a arma
ameaçando a família e foge. Observou-se a figura paternalista do pai de Dalva,
desaprovando o casamento da filha e ofendendo, de forma agressiva, o
companheiro de Dalva.
Sob o aspecto apresentado por Barros (1996), o patriarca tudo pode e aos
membros cabe somente pedir e obedecer. Também percebeu-se o arquétipo de
negro malandro e vagabundo, que a sociedade brasileira ainda costuma julgar além
de outras formas grosseiras e preconceituosas; herança cultural histórica da
escravatura.
4.6.4 Análise – Parte 4
Aos 56 minutos de filme é mostrado Deusdete procurando a ajuda do irmão
adotivo. Sua irmã foi violentada por dois rapazes e Deusdete faz a queixa na polícia,
mas ao saber do relato aos policiais, os rapazes começam a persegui-lo. Aoprocurar a ajuda de Zico, o irmão adotivo, que havia tornado-se traficante, este
prontamente diz que vai “dar um jeito”. No entanto, o irmão recusa o tipo de “ajuda”
que ele está pensando, pois não acredita em soluções violentas, mas Deusdete
pede uma arma para que possa se defender, caso os rapazes venham a tentar
agredí-lo. Em um ataque dos rapazes, Deusdete mata os rapazes.
Observou-se neste trecho do filme a relação pessoal entre Deusdete e o
irmão adotivo. Mesmo que Zico tenha saído de casa para traficar, apresenta o traçode personalismo tratado por Barros (1996), no qual os brasileiros procuram soluções
para seus problemas, através de sua rede de amigos ou parentes.
Zico, sendo considerado o poder nesta situação logo tentar ajudar o irmão,
com um “jeito”. O jeito para o irmão tratava-se da morte dos rapazes criminosos.
Barros (1996) que apresenta o “jeito” como uma forma de evitar a insegurança sob o
aspecto do instinto de sobrevivência, sendo, neste caso, apresentado no filme na
forma da ilegalidade, considera-se o lado perverso do jeito brasileiro.
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4.6.5 Análise – Parte 5
Em 98 minutos e 20 segundos do filme é apresentado o casamento de LadyDi e Sem Chance dentro da prisão. O casamento ocorre sob os olhares dos detentos
gays do Carandiru. Ao final do casamento, Sem Chance brinda ao médico e lhe
agradece o que lhe fora ensinado, dizendo que com o que aprendeu montaria seu
próprio consultório e esperaria por Lady Di fora da prisão, para que juntos
montassem uma família.
Percebeu-se o valor do casamento e da família na sociedade brasileira.
Mesmo no contexto penitenciário, Lady Di e Sem Chance fizeram a cerimônia deunião. Verificou-se o traço cultural do personalismo, apontado por Damatta (1997)
que comenta o fato do brasileiro manter laços considerados tradicionais como a
família. É importante ressaltar que mesmo sendo uma união homossexual e dentro
de uma prisão, o valor moral e de união do casamento na sociedade ainda é muito
forte e por isso considerada-se uma estratégia de aceitação.
4.7 LINHA DE PASSE, 2008
Neste filme, puderam ser apontados os seguintes traços culturais:
4.7.1 Análise – Parte 1
Aos 03 minutos e 08 segundos até 09 minutos e 08 segundos, um pênalti é
marcado pelo juiz contra o Corinthians. Neste momento, Rogério Ceni, um goleiro do
time adversário se dirige ao campo do Corinthians A torcida corintiana fica aflita,
muitos orando para que o gol não fosse marcado. Na cena seguinte é mostrado
Dario, filho de Cleuza, que participa de uma peneira, e escuta atentamente as
instruções do avaliador.
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escolhido. As cenas se intercalam com os outros dois irmãos de Dario, Dênis e
Dinho.
Dinho trabalha em um posto de gasolina quando Dênis, o motoboy, chega
para abastecer o tanque. Conhecendo o irmão, Dinho pergunta se o mesmo tem
dinheiro, e sob a negação do irmão, Dênis insiste ao irmão para colocar dois ou 3
litros, pois o posto teria 50 mil, não fazendo falta. Ao sair do posto, Dinho vai para a
casa da ex-esposa e mãe de seu filho. Bianca reclama à Dênis o dinheiro para o
filho que não é deixado há três meses. Na seqüência, os dois beijam-se e Dinho
convida a ex-esposa a ir ao motel. Ele é repreendido por Bianca, pois prefere que o
dinheiro que seria pago ao motel seja deixado para o bebê.
Neste trecho identificou-se o traço do personalismo e malandragem por Dario,
que ao tentar se passar por mais novo é apontado como malandro e personalismo,
no momento em que tenta convencer o avaliador a ajudá-lo. Damatta (1997)
conceitua a malandragem, como um agente de navegação social e que permite
alcançar objetivos através de relações com pessoas reconhecidas.
Os traços da malandragem e do personalismo podem ser notados no
personagem de Dênis, pois conforme Damatta (1997) o malandro é o sujeito quetenta sempre conseguir um benefício à custa dos outros. Já o personalismo
conceituado por Barros (1996) indica que o sujeito procura sua rede de amigos e
parentes para resolver os seus problemas.
Também percebeu-se o traço da sensualidade quando Dênis, após beijar a
ex-esposa e ouvindo da mesma que ele beija bem, ao ouvir tal elogio, acha abertura
para convidá-la a ir ao motel. Motta e Caldas (1997) comentam que há sensualidade
nas entrelinhas e nas conversas.
4.7.3 Análise – Parte 3
Aos 30 minutos discorridos do filme, Cleuza, a empregada, e Stela, a patroa,
dialogam sobre o filho de Stela. O diálogo corrente sobre coisas do filho é
interrompido quando Stela pede para que Cleuza se sente, sob o olhar de
desconfiança da empregada.
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Neste trecho identificam-se o paternalismo e a concentração de poder da
patroa, além do formalismo. Conforme Damatta (1997) o brasileiro vive em uma
lógica social que ordena “cada macaco no seu galho” e “um lugar para cada coisa,
cada coisa em seu lugar”, ou seja, ao ser empregada de Stela, Cleuza não deveria
sentar-se à mesa, pois a mesa é considerada o espaço dos donos e não dos
empregados.
4.7.4 Análise – Parte 4
Aos 32 minutos do filme, Dênis chega à empresa em que trabalha. Ao
conversar com a funcionária tenta, através da sensualidade, fazer com que ela lhe
direcione mais trabalhos e não para os companheiros. Percebeu-se este traço com a
afirmação de Motta e Caldas (1997) quando coloca que a sensualidade está nas
entrelinhas dos diálogos e das conversas.
4.7.5 Análise – Parte 5
Aos 38 minutos e 50 segundos Dario está jogando no torneio de futebol do
condomínio em que sua mãe trabalha. Durante o jogo, devido à inexperiência dos
oponentes e a habilidade de Dario com a bola, um dos adversários reclama de seu
próprio time dizendo que estavam perdendo o “filho da empregada”.
Percebeu-se a questão da hierarquia imposta pela sociedade, descrita por
Damatta (1997) através da expressão de “cada maçado no seu galho”. Obsevou-se
também o tom de que, Dario, o “filho da empregada”, deveria ser colocado em tal
posição de inferioridade. Também percebeu-se a hierarquia na cena em que Dênis
chega novamente ao posto para pedir dinheiro emprestado ao irmão, o dono do
posto se aproxima dos dois reprimindo Dinho e pede para Dênis sair do posto, caso
não seja para abastecer.
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por Barros (1996), pois as leis não são cumpridas devido a fatores estruturais do
país.
Também verificou-se o poder e o paternalismo de Cleuza quando ofendida
por Dinho, que argumenta que mais uma vez terão um irmão que não sabem quem é
o pai. Neste momento, a mãe o bate na face, tentando impor respeito, sendo um
traço cultural marcado pelo paternalismo, apresentado por Barros (1996) que a
conduta e princípios na figura do pai são inquestionáveis.
4.7.8 Análise – Parte 8
Em 64 minutos e 17 segundos de filme, no jogo de futebol marcado com a
presença do treinador do time chamado Tiradentes, apresenta-se Arlindo, treinador
de Dario, que deseja convencer o funcionário do clube de que Dario é um bom
jogador e merece ser contratado pelo time.
O traço cultural apresentado nesta parte do filme é o personalismo, descrito
por Barros (1996,) onde o indivíduo procura através de suas relações solucionar um
problema. Também apontou-se Arlindo como um padrinho, de acordo com a
descrição de Damatta (1997), que é o intermediador entre indivíduos e pessoas,
visto que, através de Arlindo, o jogador pode ser contratado pelo Tiradentes e tornar-
se um jogador de futebol profissional.
4.7.9 Análise – Parte 9
Em 67 minutos e 14 segundos, estão Dario e Arlindo conversando sobre o
jogo e também sobre a resenha de seu treinador com o treinador do clube
Tiradentes. Arlindo explica a Dario, que o treinador do Tiradentes poderá dar uma
chance a Dario caso ele “molhe a mão” do treinador.
Esta expressão, muito conhecida pelos brasileiros, indica que algo será feitomediante ao pagamento de propina. O traço cultural flexibilidade apresentado na
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cena, de acordo com Damatta (1997), mostra que o malandro é o intermediador
leva ao conhecimento da diretoria seu argumento para indicação e contratação, se o
jogar lhe pagar o valor solicitado.
4.7.10 Análise – Parte 10
Em 73 minutos e 58 segundo do decorrer do filme, ao chegar em casa, Dênis
dá a mãe a bolsa jogada nos entulhos pelos ladrões. Cleuza fica emocionada com o
presente, mas ao mexer nela, encontra um documento, comprovando que aquelabolsa não foi comprada em uma loja. Ao perceber que a bolsa teria sido roubada ela
ordena ao filho que a devolva.
Dênis argumenta que achou a bolsa, mas Cleuza mesmo assim insiste em
afirmar que não quer nada roubado dentro de sua casa. Percebeu-se nesta cena o
traço do formalismo e é apresentado pela conduta de Dênis. Segundo Barros (1996),
os brasileiros utilizam canais legais e extralegais que permitem não respeitar as leis
e normas e aceitos como normais e regulares pela consciência coletiva. Observa-seeste fato pela expressão conhecida como “achado não é roubado”.
No trecho analisado, mesmo sabendo que a bolsa havia sido roubada, Dênis
acha que não seria ruim pegá-la e dar-lhe à sua mãe, assim, alterando o sentido da
norma que roubar não é considerado legal, mas que pode-se achar algo e dar a
alguém.
4.7.11 Análise – Parte 11
Após 77 minutos e 53 segundos, Dario e Arlindo conversam. Arlindo
questiona Dario sobre a questão do dinheiro a ser pago para o treinador do time do
Tiradentes e Dario e responde que sua mãe conversou com sua patroa, pedindo um
adiantamento.
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Dario afirma que conseguirá uma parte do dinheiro, pois sua mãe irá dar “um
jeito”. Novamente, verificou-se o emprego da expressão do jeitinho brasileiro, pelo
traço da flexibilidade, mas do lado positivo, em que a sua mãe, tentará resolver o
problema do dinheiro para pagar ao treinador do Tiradentes.
O traço da flexibilidade é apontado por Motta e Caldas (1997), que apresenta
esse traço devido a nossa pessoalidade nas relações, tanto com família quanto
amigos, e no filme, percebeu-se que desta forma, Cleuza utilizará suas relações
para garantir o pagamento ao treinador.
4.7.12 Análise – Parte 12
Em 87 minutos e 14 segundos, Dinho e seu chefe, discutem após o
funcionário relatar que fora assaltado. O dono do posto irritado começa a culpar
Dinho, que se defende, pelo roubo. O dono, no entanto, não aceita as explicações
dadas e ainda acusa que ele e o irmão armaram tudo para que roubassem o posto.
Dinho, defendendo-se das acusações, fala que Deus é testemunha, quando o
dono altera mais ainda seu comportamento, insultando o funcionário. Após Dinho
agredir seu chefe, foge do posto de gasolina.
Verificou-se o traço da concentração de poder do dono posto, pois conforme
Motta e Caldas (1997), os costumes escravistas e ruralistas ainda se encontram nas
relações de trabalho. No filme, mesmo o funcionário falando a verdade e tentando
evitar a discussão e manter o seu emprego, irrita-se com o dono do posto e o agride,
o que mostra a baixa capacidade de recuo do brasileiro pois, conforme Barros
(1996), descreve através da expressão com “dou um boi para não brigar, mas uma
boiada para não sair da briga”.
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4.7.13 Análise – Parte 13
Aproximadamente aos 100 minutos e 40 segundos de filme, Dênis, após umassalto mal sucedido, seqüestra um homem que fora atropelado durante a fuga e o
leva para longe do local do acidente. Ele tira o capacete e o homem, assustado, não
o encara demonstrando que não o quer identificá-lo.
No entanto, Dênis o obriga a virar-se e fitá-lo, questionando se ele está o
vendo. Percebeu-se que Dênis quer ser notado, que Dênis quer ser visto e não
ignorado. Assim, verificou-se que neste ponto em que Dênis sai da posição de
espectador, traço brasileiro, relatado por Barros (1996), que identifica como osentimento de apatia dos brasileiros perante a indiferença das leis devido ao
monopólio dos direitos individuais em nossa sociedade. Percebeu-se que o
personagem necessita que alguém se importe com o que ele está fazendo, ou seja,
ele transpassa os limites e mostra o que ele realmente quer. Também percebeu-se
nesta cena que o roteiro dá a intenção de que os menos favorecidos, de acordo com
a cultura brasileira, não são notados ou vistos, ou que são insignificantes ou
invisíveis.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo da presente pesquisa consistiu em apontar os principais traçosculturais brasileiros, revelados pelo cinema nacional, nos filmes exibidos no exterior.
Para isso, conforme explicitado nos capítulos anteriores, foi realizada a análise de
filmes visando detectar quais as principais características culturais evidenciadas
nestas obras.
O cinema é, sem dúvida, um veículo de comunicação e aborda aspectos,
significados, modo de vida e sistema de valores, assim como os outros meios de
comunicação de massa como, por exemplo, o rádio, a televisão, os jornais, revistas,história em quadrinhos, música e moda, que permitem a apresentação e a
interpretação de diferentes culturas.
Dessa forma, o cinema, utilizado como instrumento difusor de cultura,
transforma-se em uma fonte rica de informação, pois seus recursos apresentam uma
visão do conjunto de uma realidade social, exercendo grande poder de persuasão,
sugerindo que o espectador utilize sua imaginação, interprete e questione o que é
observado.
Esta projeção, tecnologicamente amparada pelos recursos de câmera, luz,
som, edição, montagem, evoluiu de tal forma que o cinema consegue expressar uma
realidade mesmo que em condições inexistentes. A realidade, obtida através da
linguagem cinematográfica, permite o entendimento dos filmes por parte dos
espectadores e relaciona-se ao mundo real sob diferentes perspectivas.
Essa diferenciação, sob o aspecto da construção de uma linguagem
cinematográfica por determinada sociedade, apresenta significações próprias e
peculiares, principalmente sobre papéis e atitudes sociais da cultura na qual foi
desenvolvida. A França, por exemplo, considera o papel do cinema como uma
estratégia política de preservação de seu patrimônio cultural.
Os filmes ou o seu conjunto são fontes de análises culturais visto que
apresentam mitos, crenças, valores e práticas de uma determinada cultura.
Tornando-se um objeto de comunicação, os filmes narrativos representam uma
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reconstrução da cultura onde foram produzidos e, através de suas narrativas,
transmitem informações sobre elementos culturais de determinada sociedade.
Os filmes narrativos, diferentes dos documentários, apresentam uma maneira
eficaz para transmitir estas informações, pois utilizam como ferramenta a narrativa,
que é a construção de um fato através de uma história. A eficácia da narrativa, um
meio comum e simples de apresentar os fatos, é percebida desde a infância, onde
as histórias narradas conseguem apresentar, de maneira sucinta e agradável, os
acontecimentos.
Percebeu-se então que o cinema, através de filmes narrativos, também
possui um papel divulgador de cultura a outras sociedades. A indústria
cinematográfica, o público e o gênero do filme, que constroem a importância do
cinema, revelaram que as produções nacionais disseminam imagens da nação em
territórios internacionais. Através dos filmes exportados, a projeção da cultura na
qual o filme foi produzido está sob os olhares dos espectadores estrangeiros.
O cinema brasileiro, a partir dos anos 90, período denominado pelos críticos
brasileiros como A Retomada do Cinema Brasileiro, foi importante para o Brasil
devido ao reconhecimento da produção cultural como uma atividade econômicalucrativa. Foram observados os resultados desta nova perspectiva sobre o cinema
quando os filmes brasileiros obtiveram o sucesso e o reconhecimento internacional,
através de suas participações em festivais no exterior.
A indústria cultural mundial, que segundo estimativas, movimenta cerca de U$
1,3 trilhão. O cinema, dentre suas atividades, abrange um número muito grande de
consumidores de cultura. Esses Indivíduos, utilizando-se da tecnologia,
transacionam os filmes como mercadorias, que estão fisicamente disponibilizadosem grandes redes de varejo e lojas especializadas na venda de DVDs, e, também,
virtualmente distribuídos via download pela internet, livraram-se de todas as
barreiras impostas pelas salas de exibição.
Com este estudo verificou-se a expressividade do cinema brasileiro nos
festivais internacionais, através das indicações e premiações recebidas,
oportunizando aos espectadores estrangeiros, além do conhecimento do cinema
nacional, o conhecimento sobre lugares, aspectos culturais e situação econômica deuma parcela da população do país.
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A cultura é um objeto de estudos e discussões intermináveis, principalmente,
quando reconhecida na forma etnológica, como a identificação de certas
características de determinando contingente humano, povo ou país, incluindo-se
neste contexto o Brasil.
O povo brasileiro, dentre as demais etnias, apresenta algumas semelhanças e
diferenças com outros países em termos culturais, mas que, de maneira peculiar,
satisfaz suas necessidades materiais e psicossociais de modo adverso a outras
culturas.
A cultura brasileira tem sido analisada sob vários enfoques e por autores das
mais diversas áreas do conhecimento como, história, sociologia, antropologia, etc.,
que estudam, ao longo dos anos, sobre a realidade nacional, tentando sistematizar
conceitos sobre esta sociedade tão complexa.
Diante desta diversidade de enfoques, foi necessário um marco conceitual
para servir de base teórica para a análise dos filmes selecionados. Destes autores
consultados, optou-se por trabalhar, neste estudo, com o modelo construído pela
pesquisadora brasileira Betânia Tanure de Barros, psicóloga, professora da
Fundação Dom Cabral e especialista em comportamento organizacional, que atravésde suas teorias, apresenta o sistema de ação cultural brasileiro.
A teoria da autora se difere das teorias de miscigenação e a adequação dos
espaços das raças dentro da sociedade brasileira, e resultou em uma lógica
diferente de se relacionar com os agentes dentro do contexto social do país.
Esta lógica social, presente nos brasileiros, é historicamente explicada pelas
relações entre dominador e dominado, que estão presentes desde o momento em
que os portugueses iniciaram a colonização do Brasil. Até hoje, para os brasileiros,as situações sempre presenciam um dono, sendo essa uma forma de hierarquizar
ou graduar as relações sociais, visto que em sua história, o Brasil sempre
apresentou uma minoria com boa situação econômica dominadora e uma maioria,
considerada desqualificada, miserável e dominada.
Esses dois pólos, pelo modelo da autora, classificam os líderes e liderados,
com uma série de traços culturais cada. Estes interagem através de subsistemas
institucionais e pessoais, os quais possuem traços culturais distintos. Esses quatro
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elementos, delineados como subsistemas, apresentaram os seguintes traços
culturais:
a) Subsistema de Líderes: o traço do paternalismo.
b) Subsistema de Liderados: o traço da flexibilidade.
c) Subsistema Institucional: o traço do formalismo.
d) Subsistema Pessoal: o traço da lealdade às pessoas.
Estes subsistemas interelacionam-se através de outros traços culturais como
seguem:
a) Concentração de Poder: articula o Subsistema Institucional e Subsistemade Liderados.
b) Personalismo: articula o Subsistema Pessoal e Subsistema de Liderados.
c) Posição de espectador: articula o Subsistema dos Liderados e Subsistema
Institucional.
d) Evitar conflito: articula o Subsistema de Liderados com o Subsistema
Pessoal.
Também foi apresentado o traço da impunidade, atuante dentro do sistema
cultural como uma força que impede o colapso do sistema de relações sociais no
Brasil, e que não permitiria a existência dos outros traços, pois está relacionado
diretamente o paternalismo, a flexibilidade, a lealdade às pessoas e o formalismo,
atuantes dos subsistemas já mencionados,
Outro traço observado, mas não inserido no modelo proposto por Barros
(1996), é o sensualismo, sempre presente no cotidiano do brasileiro.
Com base nos traços mencionados, o presente estudo, considerado por
teóricos como um estudo cultural, apontou os principais traços culturais brasileiros
presentes nos filmes nacionais, que participaram de festivais no exterior. Destacam-
se, a seguir, as principais considerações sobre a análise das produções:
A flexibilidade, também denominada malandragem, foi observada no filme
Central do Brasil, através da personagem de Dora e do segurança da estação. Em
Tropa de Elite, a flexibilidade foi apontada nos policiais corruptos, descritos por
Capitão Nascimento. No filme Linha de Passe, o treinador do time do Tiradentes ao
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perante o crime organizado e a corrupção da polícia, em Tropa de Elite; Neto, em
Bicho de 7 cabeças; e Chico, no filme Carandiru foram exemplos do traço de
espectador, diferente de Dênis, em Linha de Passe, que sai desta posição,
apresentando algo diferente do que o brasileiro está acostumado.
A impunidade foi apontada no segurança e em Dora, no filme Central do
Brasil; no Trio Ternura, em Mané Galinha, em Cidade de Deus; nos policiais
corruptos, em Dudu, Roberta e Maria, no filme Tropa de Elite e, também, nos
comentários do avaliador da primeira peneira, em Linha de Passe.
O personalismo, por sua vez, foi apontado no segurança da estação, em Irene
e César, em Central do Brasil; Dadinho, Bené e nos gerentes de pontos de drogas,
em Cidade de Deus. Matias, Senador Rodrigues e Maria representaram este traço
em Tropa de Elite, assim como Meire e a irmã de Neto em Bicho de 7 cabeças.
Divaldécio, em Deus é Brasileiro; em Chico, Deusdete, Lady Di e Sem Chance, no
filme Carandiru; e, também, apontado nos personagens de Dario e Arlindo, em Linha
de Passe.
Irene, em Central do Brasil; Dadinho e os gerentes dos pontos de distribuição
de drogas, em Cidade de Deus foram os representantes do traço de lealdade àspessoas. Matias, Senador Rodrigues, Roberta, Edu e Maria, em Tropa de Elite;
Meire, em Bicho de 7 cabeças; e, Cleuza, em Linha de Passe¸ também
representaram o traço de lealdade às pessoas.
Já o traço de evitar conflito, observou-se em Irene, no filme Central do Brasil,
assim como no garoto que deseja ser criminoso em Cidade de Deus. No filme Tropa
de Elite, este traço foi apresentado no professor de Matias. No filme Bicho de 7
cabeças foram apontados nos personagens Meire e Neto e, também, no avaliadorda primeira peneira, em Linha de Passe.
O traço da sensualidade, último traço cultural estudado, que segundo os
autores é muito presente no cotidiano brasileiro, foi representado por Dora, em
Central do Brasil; Leninha e Neto, no filme Bicho de 7 cabeças. No entanto, Dênis,
em Linha de Passe, foi a personagem mais representativa deste traço dentro da
amostra de filmes analisados.
Cabe comentar que quanto às limitações deste estudo, para a formação da
amostra pesquisada, tentou-se contemplar filmes de diferentes gêneros,
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participantes de festivais internacionais e lançados no exterior. Porém, em função do
critério de participação em festivais internacionais, agrupou-se uma amostra de
filmes, em sua maioria, com o gênero drama.
As limitações encontradas na acessibilidade da amostra, nos
estabelecimentos de locação, não interferiram para que o objetivo proposto pela
pesquisa, de apontar os traços culturais nos filmes indicados em festivais no exterior,
fosse alcançado, visto que respondeu a questão de pesquisa.
O estudo, de caráter exploratório-descritivo, busca familiarizar um problema
ainda não pesquisado. Através dos apontamentos dos traços culturais observados
nos trechos dos filmes, em referência a análise da amostra selecionada, foram
apresentados filmes que transmitiram imagens do cotidiano brasileiro e seus
problemas, em cenários esteticamente de boa qualidade, porém de péssima visão
para aqueles que buscam, através dos filmes, conhecer um país.
Nestes filmes, foram apresentados problemas estruturais como a mão-de-
obra desqualificada, analfabeta e mal paga, que trafegam em um sistema de
transporte inadequado, não só público, como o de mercadorias, exemplificando-se
as estradas de terra. Também é transmitido, através das imagens, uma infra-estrutura precária aos próprios habitantes do país, aos quais convivem com sérios
problemas de moradia, saúde pública e violência.
A exposição destas informações pode influenciar em uma decisão estrangeira
quanto à aplicação de recursos no Brasil, pois o país ainda apresenta deficiências
estruturais e problemas nas áreas econômicas. Os filmes também apresentam o
país com leis não aplicadas e/ou obedecidas pelos cidadãos. Assim, promove
reflexões e indagações sobre o cumprimento de acordos daqueles que transacionamcomercialmente com o Brasil.
Dessa forma, pode-se dizer que o cinema brasileiro, além de apresentar a
cultura nacional, mostra também uma realidade escondida pelos ótimos números
que a economia brasileira vem apresentando na última década. É importante
ressaltar que o cinema, sendo um meio de comunicação, também pode revelar a
realidade do Brasil.
Outro ponto a ser considerado, é que o cinema nacional, mesmo
apresentando tais problemas, não pode ser alvo de mudanças em suas histórias,
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