Upload
lyquynh
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
FACULDADE DOM ALBERTO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR
ROTINA:
ESPAÇO E TEMPO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Josiane Costa Lucas
SANTA CRUZ DO SUL, AGOSTO 2010
2
Josiane Costa Lucas
ROTINA:
ESPAÇO E TEMPO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao programa de Supervisão
Escolar da Faculdade Dom Alberto,
Especialização em Supervisão Escolar,
sob a orientação de Ana Paula Porto,
como requisito parcial para obtenção do
título de Especialista em Supervisão
Escolar.
Santa Cruz do Sul, 12 de agosto de 2010
3
Josiane Costa Lucas
ROTINA
ESPAÇO E TEMPO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi submetido ao
programa de Pós-Graduação da Faculdade Dom Alberto
– Especialização em Supervisão Escolar, sob a
orientação da professora Ana Paula Porto, como
requisito parcial para obtenção do título de Especialista
em Supervisão Escolar.
______________________________________
Professora Orientadora
4
Dedico este trabalho aos meus filhos, que são
o que existe de mais importante na minha vida
e que compreenderam a minha ausência em
muitas noites e sábados inteiros.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me sustenta e me dá forças todos os dias para seguir adiante e
acreditar.
Aos meus filhos, por suportar minhas ausências nos dias de aula e em
momentos de estudo.
Ao Hélio, que retirou livros na biblioteca da UFRGS, muitas vezes enviados a
mim via Sedex; pelas leituras em conjunto e todo apoio.
Ao Alex e a Charise, que cuidaram dos meus filhos para que eu pudesse ir
descansada para as aulas aos sábados.
Aos colegas, pelos sábados agradáveis que passamos juntos.
Aos professores, que ampliaram meus olhares sobre a educação,
relembraram coisas importantes que estavam adormecidas e me deram uma
sacudida, fazendo com que minhas leituras aumentassem consideravelmente.
A minha mãe, que sempre me incentivou aos estudos. Ao meu pai, que me
ditou muitos dos trechos de livros aqui citados.
À professora Ana Paula, pela compreensão e ajuda nos momentos difíceis.
6
RESUMO
Este trabalho analisa a importância da rotina na Educação Infantil. A base teórica da pesquisa buscou nos textos disponíveis o histórico, a legislação, as principais concepções da Educação Infantil e o papel do tempo no cotidiano das crianças da Educação Infantil atual. O universo da pesquisa abrangeu professoras e monitoras da Educação Infantil, das redes municipal, estadual e particular do município de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. O estudo qualitativo utilizou a metodologia do tipo descritivo e contou com a participação de 13 professoras e uma monitora. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário. O estudo demonstra a importância da rotina como forma de organizar o tempo e o espaço da Educação Infantil, influenciando positivamente no desenvolvimento cognitivo da criança, o que pode ser comprovado também pela literatura consultada. O resultado final deste trabalho realizado confirma o que a pesquisadora observava diariamente em sua sala de aula: que a rotina organiza o tempo e o espaço e proporciona aos alunos segurança sobre o que virá depois, podendo ser criativa dentro de cada momento.
Palavras-chave: Espaço; Tempo; Rotina; Educação Infantil.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 08
1. O QUE É A EDUCAÇÃO INFANTIL? ............................................................. 12 1.1. Educação Infantil .................................................................................. 12 1.2. O que é rotina? ..................................................................................... 17 1.3. O papel do professor na construção da rotina ...................................... 19 1.4. A criança de Educação Infantil, agente principal de uma rotina ........... 22
2. ESPAÇO E TEMPO DA EDUCAÇÃO INFANTIL ........................................... 29
2.1. Organização das rotinas ....................................................................... 29 2.2. Salas de aula, espaço onde uma rotina se desenvolve ....................... 34 2.3. Momentos de uma rotina ...................................................................... 36
2.3.1. Hora da chegada ....................................................................... 38 2.3.2. Hora do brinquedo livre ............................................................. 38 2.3.3. Hora da rodinha da novidade .................................................... 42 2.3.4. Hora do trabalhinho ................................................................... 43 2.3.5. Hora do lanche .......................................................................... 43 2.3.6. Hora da brincadeira ...................................................................... 44 2.3.7. Recreio ou brinquedo livre ............................................................ 47 2.3.8. Hora do conto ou da historinha ................................................. 48 2.3.9. Hora de ir embora ..................................................................... 50
3. CONTRIBUIÇÕES DA ROTINA ........................................................................ 51
3.1. Qualidade na rotina............................................................................... 51 3.2. Qualidade na educação infantil ............................................................ 53
4. A PESQUISA COMO BUSCA DE INFORMAÇÕES ...................................... 61
4.1. Um retrato do que pensam os educadores de educação infantil de Santa Cruz do Sul ....................................................................................... 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 65 ANEXOS ............................................................................................................. 68
Anexo I: Questionário distribuído às professoras entrevistadas ................. 68
8
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa busca refletir sobre a rotina na Educação Infantil, que é
diariamente executada, muitas vezes de forma mecânica sem compreender a
percepção da criança sobre a escola de Educação Infantil. Segundo pesquisas já
realizadas, Barbosa (2006) afirma que a rotina é uma categoria pedagógica que os
responsáveis pela Educação Infantil utilizam para organizar as atividades diárias.
Os profissionais que atuam nas instituições da Educação Infantil dificilmente
refletem sobre a rotina, pois ela normalmente é planejada antecipadamente e
apresentada para as crianças como algo pronto e fechado, não levando em
consideração os anseios das crianças, tratando-as como seres sem fala e sem
opinião.
As instituições pedagógicas infantis vivenciaram vasta expansão em
diferentes lugares do mundo, desde 1960 na Europa e América do Norte, ou por
volta das décadas de 1970 e 1980, no caso do Brasil. Expressiva, também, continua
sendo a ampliação do número de estudos e pesquisas na área, notoriamente a partir
da década de 1980, que repercutiram na valorização e na consolidação da criança
enquanto sujeito de direitos e deveres, arraigados de especificidades inerentes à
infância.
Ao conquistar amparo legal na sociedade, a Educação Infantil passou por
uma ampla reflexão sobre os conceitos de infância, cuidar e educar, os quais, no
decorrer dos últimos anos, deram margem à necessidade de redirecionamento da
função pedagógica das instituições infantis.
Nesta perspectiva, surgiram outros documentos oficiais visando à promoção
da aprendizagem e ao desenvolvimento da criança, tais como o RECNEI em 1998,
os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil em 2006, entre
outros. Assim, era necessário construir diretrizes para o segmento da Educação
Infantil que contemplassem as conquistas legais ocorridas nas últimas décadas e
que norteassem as finalidades de cuidar e educar da criança pequena. Estas ações
denotam a ressignificação dos avanços pedagógicos coerentes com a vida da
criança, envolvendo os seus diferentes contextos, sejam sociais, políticos,
econômicos, culturais ou religiosos.
O reconhecimento legal do direito das crianças pequenas à educação e aos
9
cuidados possibilitou, também, novo desafio para nós educadores que atuamos
neste segmento da educação: proporcionarmos uma Educação Infantil que favoreça
o desenvolvimento integral da criança, ou seja, uma Educação Infantil de qualidade.
Esse desafio se constitui no nosso dia-a-dia ao pensarmos, construirmos e
vivenciarmos práticas pedagógicas arraigadas de estratégias e conteúdos,
associadas aos fazeres e saberes das crianças no ambiente escolar.
Segundo SOUSA (1998, p. 102), a qualidade da Educação Infantil e as
probabilidades de sua melhoria podem ser vistas como princípios inspiradores e
norteadores da nossa prática pedagógica, auxiliando-nos, ainda, a construirmos
estratégias de ensino e aprendizagem mais envolventes e desafiadoras para as
crianças, tão quanto:
[...] capazes de, em um só tempo e espaço, respeitar coisas como: o singular e o plural, as identidades e as diversidades, as características e as necessidades, as capacidades e as possibilidades das crianças, os seus espaços individuais e coletivos e, também, as suas culturas, as suas realidades, e as suas etapas específicas do desenvolvimento pessoal e social. [...]
Dentre tantas dimensões, acreditamos que uma delas perpassa toda a prática
pedagógica das escolas infantis, tornando-se essencial no que diz respeito à
primeira etapa da educação básica: a construção das rotinas. As rotinas permeiam
não apenas os três principais eixos trabalhados na primeira infância – a construção
da identidade, da autonomia e da socialização – como também a estruturação do
tempo e do ritmo da criança frente à proposição de atividades diversificadas, livres,
dirigidas e lúdicas, bem como as interações estabelecidas, a construção de vínculos
afetivos e sociais, o uso do espaço e a conexão entre os interesses do educador no
dia-a-dia escolar das crianças.
Cabe, então, destacarmos que as crianças passam parte significativa do seu
tempo nas salas de aula de Educação Infantil, espaço cheio de vida e movimento,
onde ocorrem a construção do conhecimento, as trocas interativas, a construção de
referências, da segurança e da auto-estima. Estas salas de aula também são
espaços de aprendizagem e intencionalidades educativas, onde ocorre uma série de
atividades e estratégias voltadas ao desenvolvimento e aprendizagem. Assim, se
defendemos uma educação que vise ao desenvolvimento integral da criança, não
podemos deixar de pensar no papel que a organização das rotinas exerce no
10
contexto da Educação Infantil. Aqui esta organização é entendida como uma
dimensão chave da qualidade na Educação Infantil, que permeia toda a prática
pedagógica desenvolvida na sala de aula, possuindo importantes contribuições para
o desenvolvimento da criança.
O que me motivou a iniciar esta pesquisa foi o fato de eu sempre ser
questionada pelas estagiárias do curso de pedagogia, ao observarem minhas aulas,
sobre porque meus alunos eram tão tranquilos, porque eles brincavam tão felizes e
circulavam pelos momentos da aula com tanta segurança e autonomia. Fazendo
uma reflexão, descobri que a rotina era a causadora desta organização. Resolvi,
então, me aprofundar sobre este assunto, e tive grande curiosidade de saber se as
demais professoras do meu município também se utilizavam de rotina.
As reflexões que proponho nesta pesquisa versam sobre a organização
escolar, ou seja, a rotina, o espaço e o tempo. Trata-se de um tema pouco
questionado e refletido, já que as rotinas são implementadas de forma ‘mecânica’
dentro da escola, sem o devido tratamento por parte dos profissionais. Os
professores sabem que a criança não deve ser mais entendida como um ‘ser sem
fala’, pelo contrário, ela é um sujeito que produz cultura e desenvolve-se
continuamente. Então, como as crianças vêem esta organização escolar? Participam
dela expondo suas opiniões? Como organizariam este espaço? Como a rotina surgiu
na história? Ela é importante? Com esta pesquisa busco compreender estas
inquietações. Acredito que esta pesquisa oportunizará um repensar sobre o trabalho
que venho desenvolvendo na Educação Infantil, além de, através dos depoimentos
tomados de profissionais da área, poder contribuir para uma reflexão sobre as
rotinas nas escolas de Educação Infantil.
Nesse sentido, o objetivo geral foi analisar quais as concepções que alguns
profissionais têm de rotina na educação infantil.
Dentre os objetivos específicos, analisamos como as rotinas se compõem no
dia-a-dia da educação infantil e qual a sua importância. Também identificamos o
espaço e o tempo da educação infantil exemplificando cada momento da rotina.
Ainda, dentre os objetivos específicos, identificamos as contribuições da
rotina, dando qualidade à educação infantil.
Dessa forma, estruturamos o presente trabalho da seguinte maneira: após
esta introdução, no primeiro capítulo procuramos definir o que é educação infantil, o
que é rotina, definimos o papel do professor e o da criança dentro da rotina.
11
No segundo capítulo, abordamos a organização das rotinas da educação
infantil, diferenciando as expressões: espaço e tempo. Explicamos organizações das
rotinas, visualizamos a sala de aula, espaço principal onde a rotina se desenvolve e
a seguir definimos passo a passo de uma rotina, momento a momento, desde a hora
da chegada até a a hora da saída.
No capítulo terceiro, apresentamos as contribuições da rotina, sendo de
qualidade da própria rotina e qualidade na educação infantil.
Por fim, no quarto capítulo analisamos as informações construídas durante o
desenvolvimento da pesquisa, sobre o que os professores conhecem sobre a rotina.
Nas considerações finais concluímos o trabalho apresentando a forma como
as rotinas estavam organizadas, as suas finalidades e relações com o
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, e as suas contribuições para a
construção de uma educação infantil de qualidade.
12
1. O QUE É A EDUCAÇÃO INFANTIL? 1.1 Educação Infantil
A Educação Infantil no Brasil compreende o atendimento às crianças de 0 a 6
anos, diferentemente de grande parte dos países, onde a Educação Infantil se realiza
entre 3 e 5 anos. Dentro do contexto da sociedade contemporânea, na Educação
Infantil a criança tem a oportunidade de frequentar um ambiente de socialização,
convivendo e aprendendo sobre sua cultura mediante diferentes interações com seus
pares.
Do ponto de vista histórico, a educação da criança esteve sob a
responsabilidade exclusiva da família durante séculos, porque era no convívio com
os adultos e outras crianças que ela participava das tradições e aprendia as normas
e regras da sua cultura. Em 1837, Froebel criou um espaço onde as crianças eram
consideradas como plantinhas de um jardim do qual o professor seria o jardineiro. A
criança se expressaria através das atividades de percepção sensorial, da linguagem
e do brinquedo. Assim surgiu a denominação de Jardim de Infância. Mas falar do
Jardim de Infância, creche ou da Educação Infantil é muito mais do que falar de uma
instituição, de suas qualidades e defeitos, da sua necessidade social ou da sua
importância educacional. É falar da criança. De um ser humano, pequenino, mas de
vida exuberante. (DIDONET, 2001).
Por criança entende-se um ser diferente do adulto na idade e na maturidade,
além de ter certos comportamentos típicos. Mas, tirando a idade, o limite entre
criança e adulto é complexo, pois este está associado à cultura, ao momento
histórico e aos papéis determinados pela sociedade. Estes papéis dependem da
classe sócio-econômica em que está inserida a criança e sua família. Não tem como
tratar a criança analisando somente sua ‘natureza infantil’, desvinculando-a das
relações sociais de produção existente na realidade.
A valorização e o sentimento atribuídos à infância nem sempre existiram da
forma como hoje são concebidas e difundidas; elas foram modificadas a partir de
mudanças econômicas e políticas da sociedade e isso pode ser observado em
13
pinturas, igrejas, diários de família, testamentos, o que demonstra que família e
escola nem sempre existiram da mesma forma.
A necessidade da Educação Infantil aparece, historicamente, como reflexo
direto das grandes transformações sociais, econômicas e políticas que ocorrem na
Europa a partir do século XVIII. Eram as creches que surgiam, com caráter
assistencialista, visando afastar as crianças pobres do trabalho servil que o sistema
capitalista em expansão lhes impunha, além de servir como guardiãs de crianças
órfãs e filhas de trabalhadores. Nesse sentido, a pré-escola tinha como função
principal a guarda das crianças.
Já no século XIX, uma nova função passa a ser atribuída a Educação Infantil,
agora mais relacionada à ideia de “educação” do que a de assistência. A função era
a de compensar as deficiências das crianças, sua miséria, sua pobreza e a
negligência de suas famílias. Sendo assim, a pré-escola seria capaz de suprir as
“carências” culturais, linguísticas e afetivas das crianças provenientes das classes
populares.
E foi essa a concepção de Educação Infantil, uma educação compensatória, que chegou ao nosso país na década de 70. Oliveira aponta claramente como este processo se deu no Brasil:
Devido a muitos fatores, como o processo de implantação da industrialização no país, a inserção da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho e a chegada dos imigrantes europeus no Brasil, os movimentos operários ganharam força. Eles começaram a se organizar nos centros urbanos mais industrializados e reivindicavam melhores condições de trabalho; dentre estas, a criação de instituições de educação e cuidados para seus filhos. Os donos das fábricas, por seu lado, procurando diminuir a força dos movimentos operários, foram concedendo certos benefícios sociais e propondo novas formas de disciplinar seus trabalhadores. Eles buscavam o controle do comportamento dos operários, dentro e fora da fábrica. Para tanto, vão sendo criadas vilas operárias, clubes esportivos e também creches e escolas maternais para os filhos dos operários. O fato dos filhos das operárias estarem sendo atendidos em creches, escolas maternais e jardins de infância, montadas pelas fábricas, passou a ser reconhecido por alguns empresários como vantajoso, pois mais satisfeitas, as mães operárias produziam melhor. (OLIVEIRA, 1992, p. 18).
Desta forma, a Educação Infantil passa a ter muitas funções, dependendo da
classe social da criança, ou até mesmo da região brasileira onde esta escola ou
creche estivesse inserida. Abramovay e Kramer (1985) discutem quatro funções da
14
pré-escola, historicamente situadas: a "pré-escola guardiã", que cumpria
exclusivamente a função de liberar as mães para o mercado de trabalho, atendendo
apenas às necessidades de subsistência das crianças; a "pré-escola preparatória",
que tinha por objetivo compensar as deficiências das crianças das classes
populares, sua miséria, sua pobreza e a negligência de suas famílias, preparando-as
para a alfabetização; a "pré-escola com objetivos em si mesma", que tinha por
objetivo promover o desenvolvimento global e harmônico das crianças, mas que se
isentava de estabelecer critérios mínimos de qualidade; por fim, a "pré-escola com
função pedagógica". Esta última concepção, defendida pelas autoras, considera que
a pré-escola não visa, exclusivamente, à preparação para a alfabetização nos
moldes tradicionais, mas ela "toma a realidade e os conhecimentos infantis como
ponto de partida e os amplia, através de atividades que têm um significado concreto
para a vida das crianças e que, simultaneamente, asseguram a aquisição de novos
conhecimentos" (1985, p.35).
Pode-se resumir então que, do ponto de vista histórico, os problemas
relacionados à Educação Infantil são decorrentes de um passado não muito distante,
pois, desde a origem das primeiras instituições de atendimento à infância, houve
uma clara separação entre os objetivos da creche e dos jardins de infância, pois
enquanto as creches atendiam as crianças das camadas mais populares, as
propostas dos jardins de infância e das pré-escolas, de cunho pedagógico, davam
ênfase à socialização e à preparação para o ensino regular. Nota-se que as
crianças das diferentes classes sociais eram submetidas a contextos de
desenvolvimentos diferentes, pois enquanto as crianças das classes menos
favorecidas eram atendidas com propostas de trabalho que partiam de uma ideia de
carência e deficiência, as crianças mais abastadas recebiam uma educação que
privilegiava a criatividade e a sociabilidade infantil.
Após analisarmos o histórico da Educação Infantil, cabe ver o que foi e o que
está sendo feito em termos de legislação. Sendo assim, verifica-se que, até o final
dos anos 70, pouco se fez em termos de legislação que garantisse a oferta desse
nível de ensino. Na década de 80, diferentes setores sociais uniram forças com o
objetivo de sensibilizar a sociedade sobre o direito da criança a uma educação de
qualidade desde o nascimento. Mas foi somente com a Constituição Federal de
1988 que este direito foi efetivamente reconhecido.
15
De acordo com Bittar (2003, p. 30), o esforço coletivo dos diversos segmentos
visava assegurar na Constituição “[...] os princípios e as obrigações do Estado com
as crianças”. Assim, foi possível sensibilizar a maioria dos parlamentares e
assegurar na Constituição brasileira o direito da criança à educação. A pressão
desses movimentos na Assembleia Constituinte possibilitou a inclusão da creche e
da pré-escola no sistema educativo ao inserir, na Constituição Federal de 1988, em
seu em seu artigo 208, o inciso IV: “[...] O dever do Estado para com a educação
será efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pré-escolas às crianças
de zero a seis anos de idade” (BRASIL, 1988).
A partir dessa Lei, as creches, anteriormente vinculadas à área de assistência social, passaram a ser de responsabilidade da educação. Tomou-se por orientação o princípio de que essas instituições não apenas cuidam das crianças, mas devem, prioritariamente, desenvolver um trabalho educacional. A Constituição representa uma valiosa contribuição na garantia de nossos direitos, visto que, por ser fruto de um grande movimento de discussão e participação da população civil e poder público, “[...] foi um marco decisivo na afirmação dos direitos da criança no Brasil” (LEITE FILHO, 2001, p. 31).
Na realidade, foi somente com a Constituição que a criança de zero a seis
anos foi concebida como sujeito de direitos. Dois anos após a promulgação da
Constituição Federal de 1988, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) – Lei 8.069/90, que, ao regulamentar o art. 227 da Constituição Federal,
inseriu as crianças no mundo dos direitos humanos. De acordo com seu artigo 3º, a
criança e o adolescente devem ter assegurados os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, para que seja possível, desse modo, ter acesso às oportunidades
de “[...] desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade” (BRASIL, 1994a). Por isso esta Lei é mais do que um simples
instrumento jurídico, porque:
Inseriu as crianças e adolescentes no mundo dos direitos humanos. O ECA estabeleceu um sistema de elaboração e fiscalização de políticas públicas voltadas para a infância, tentando com isso impedir desmandos, desvios de verbas e violações dos direitos das crianças. Serviu ainda como base para a construção de uma nova forma de olhar a criança: uma criança com direito de ser criança. Direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer, direito de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar. Isso quer dizer que são atores do próprio desenvolvimento. (FERREIRA, 2000, p. 184).
16
Somente com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei 9.394/96 é
que esta integração, já prevista na Constituição Federal, começou a ser implantada
de forma mais sistemática, pois até recentemente as creches e pré-escolas
destinadas ao atendimento das crianças de 0 a 6 anos estavam vinculadas à
assistência social e não faziam parte do sistema educacional. No art. 29 da LDB, a
Educação Infantil foi conceituada como sendo destinada às crianças de até seis
anos de idade, com a finalidade de complementar a ação da família e da
comunidade, objetivando o desenvolvimento integral da criança nos aspectos físicos,
psicológicos, intelectuais e sociais.
Pelo art. 30 da LDB, ficou clara a divisão da Educação Infantil em duas etapas:
em creches, ou entidades equivalentes, para crianças de 0 a 3 anos de idade, e em
pré-escola, para as crianças de 4 a 6 anos de idade. Não é obrigatória, mas direito
público, cabendo a expansão da oferta ao município, com o apoio das esferas
federal e estadual.
Em 2000, foi realizado o primeiro Censo da Educação Infantil pelo Ministério da
Educação, com o objetivo de ampliar o cadastro de instituições que oferecem esse
nível de ensino e de obter informações mais detalhadas sobre o tipo de atendimento
realizado. Os resultados preliminares desse censo especial, divulgados em setembro
de 2001, permitiram um diagnóstico mais preciso da Educação Infantil no Brasil e
constituíram um instrumento eficaz para que a sociedade possa acompanhar os
resultados das políticas educacionais, com um claro reflexo no planejamento e na
implementação de políticas públicas.
O Ministério da Educação criou os Parâmetros Curriculares da Educação
Infantil, referencial para a formação de professores de Educação Infantil, além das
diretrizes para o credenciamento das instituições ao sistema de ensino nacional,
para auxiliar a implementação da nova institucionalidade da Educação Infantil. Os
referenciais foram feitos para servir como guia de reflexão de cunho educacional
sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam
diretamente com crianças de 0 a 6 anos, respeitando seus estilos pedagógicos e a
diversidade cultural brasileira.
Barreto (1998) ressalta que, apesar do avanço da legislação no que diz respeito
ao reconhecimento da criança à educação nos seus primeiros anos de vida, também
é importante considerar os inúmeros desafios impostos para o efetivo atendimento
17
desse direito, que podem ser resumidos em duas grandes questões: a de acesso e a
da qualidade do atendimento. Quanto ao acesso, a autora enfatiza que, mesmo
tendo havido, nas últimas décadas, uma significativa expansão do atendimento, a
entrada da criança na creche ainda deixa a desejar, em especial porque as crianças
de famílias de baixa renda estão tendo menores oportunidades que as de nível
socioeconômico mais elevado. Sobre a qualidade do atendimento, ressalta:
As instituições de Educação Infantil no Brasil, devido à forma como se expandiram, sem os investimentos técnicos e financeiros necessários, apresentam, ainda, padrões bastante aquém dos desejados [...] a insuficiência e inadequação de espaços físicos, equipamentos e materiais pedagógicos; a não incorporação da dimensão educativa nos objetivos da creche; a separação entre as funções de cuidar e educar, a inexistência de currículos ou propostas pedagógicas são alguns problemas a enfrentar. (BARRETO, 1998, p. 25).
Ao pensar nos desafios propostos e nos muitos outros que podem contribuir
para uma educação que respeite, efetivamente, o desenvolvimento e aprendizado
da criança pequena, parafraseamos o pensamento de Bujes (2001) ao reconhecer
que esse espaço deve ser muito mais qualificado e que, ao incluir o acolhimento e a
segurança, também precisa ser um ambiente que desperte a emoção e desenvolva
a sensibilidade, contemplando, assim, a curiosidade e a investigação dos pequenos
infantes. Para tanto, nos baseamos nos dez aspectos-chave para uma Educação
Infantil de qualidade, propostos por Zabala (1998, p. 50). Segundo ele “[...] a ordem
não é importante, uma vez que a relevância de cada um dos aspectos mencionados
deriva do seu conteúdo, não da sua posição na lista” e que se constituem: 1)
organização dos espaços; 2) equilíbrio entre a iniciativa infantil e no trabalho dirigido
no momento de planejar e desenvolver as atividades; 3) atenção privilegiada aos
aspectos emocionais; 4) utilização de uma linguagem enriquecida; 5) diferenciação
de atividades para abordar todas as dimensões do desenvolvimento de todas as
capacidades; 6) rotinas estáveis; 7) materiais diversificados e polivalentes; 8)
atenção individualizada a cada criança; 9) sistemas de avaliação, anotações que
permitam o acompanhamento global do grupo e de cada uma das crianças; 10)
trabalho com os pais e mães.
1.2. O que é rotina
18
A palavra rotina, segundo Cunha (apud BARBOSA, 2006, p.41), surge do
francês antigo como route, um derivado da palavra do latim vulgar rota. Seus
primeiros registros aparecem na alta Idade Média, possivelmente no século XV, mas
sua utilização no cotidiano foi apenas no final do século XVII e apareceu na língua
francesa como routine, que no português foi traduzida como rotina. Significa um
curso ou procedimento regular, uma performance invariável de certos atos, uma
sequência ordenada. De acordo com o dicionário Luft (2000), rotina quer dizer
repetição das mesmas coisas, dos mesmos atos, prática costumeira, norma
constante de proceder.
A este respeito Barbosa (2006) afirma que alguns dicionários de pedagogia e
ensino, como o escrito por Cmpagne (s.d, p.545), trazem que rotina “é um processo
até certo ponto mecânico para fazer ou ensinar alguma coisa, [...] uma pratica
transmitida e tornada habitual, sem princípios de razão para regulá-la ou para
justificá-la”. Embora seja considerado por alguns autores um ato mecânico, a rotina
torna-se fundamental para a organização e otimização das atividades propostas
para crianças pequenas. Para Bertolini (apud BARBOSA, 2006, p.44) “denominam-
se routine as práticas realizadas que fazem parte necessária e imprescindivelmente
do trabalho de cuidado das crianças, como a higiene, a alimentação, o sono, o início
e fim das atividades, a entrada e saída, todas as quais conferem uma ordem para a
experiência confusa da criança”. A escola trata de estabelecer horários para as
diferentes ações, mas nem sempre essa organização favorece o trabalho
pedagógico e as necessidades dos alunos.
Organizar o cotidiano das crianças na Educação Iinfantil pressupõe pensar que o estabelecimento dê uma sequência básica de atividades diárias, e antes de tudo, resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades (BARBOSA, 2006, p.67)
Quando se fala em rotina, a primeira impressão que se tem é que a rotina é
estanque, monótona, que nada pode ser mudado. Grande engano, a rotina é apenas
uma organização que dá segurança à criança, pois ela sempre sabe o que vai
acontecer depois, e dá organização ao trabalho do educador. A rotina deve ser
absolutamente flexível, trazendo, ao mesmo tempo, diversidade e segurança.
19
Para que a rotina dê segurança à criança, ela nunca deve ser mudada. Como
assim? Estaria eu me contradizendo, já que no parágrafo acima afirmei que ela deve
ser flexível? Não! Ela deve ter seus tempos diariamente respeitados: chegada,
brinquedo livre, rodinha, lanche, trabalhinho, recreio, historinha e hora de ir embora,
pois a criança sempre saberá que depois que ela brincou de tudo o que queria, por
exemplo, será a hora de contar alguma coisa para seus colegas, alguma novidade e
que depois disso, fará alguma atividade cognitiva e que depois disso é hora de
comer e assim sucessivamente. A criança precisa saber o que lhe acontecerá, pois
isso lhe ajudará a consolidar a ideia de espaço e tempo, bem como a sua inserção
nos mesmos.
O que deve acontecer é a diversidade de atividades dentro de cada momento,
o que pode ser exemplificado através da hora do trabalhinho: um dia faz-se pintura,
no outro colagem, no outro registro de uma história ou de uma música, e assim por
diante. O trabalho diversificado é um indicador de qualidade, pois uma característica
do aluno de Educação Infantil é a concentração limitada. O educador que conhece
as fases do desenvolvimento infantil sabe que as crianças necessitam de
movimento, constante variação de ambientes e atividades interessantes e criativas.
Um trabalho diversificado amplia o universo da criança e lhe proporciona diferentes
experiências.
1.3. O papel do professor na construção da rotina
O professor de Educação Infantil deve estar preparado para trabalhar com
crianças pequenas, deve ter em mente o quanto o seu trabalho é importante e o
quanto ele interfere diretamente no desenvolvimento das crianças, nas suas
aprendizagens e até mesmo nas famílias.
Por isso o profissional deve estar capacitado, embora a LDB exija apenas o
curso normal. Cabe ao professor a sua especialização, buscando uma formação
acadêmica e cursos específicos de contação de histórias, brincadeiras, etc. É
extremamente importante também que o professor tenha conhecimento das fases do
desenvolvimento infantil, as características de cada fase, o que a criança faz, como
ela age e o que necessita para se desenvolver.
20
Um professor pode – e deve – proporcionar todas as condições favoráveis,
ricas e criativas para que seus alunos vivam a infância com alegria, recebam
aprendizagens significativas e tenham suas potencialidades desenvolvidas. Quando
um professor (ou qualquer profissional que atue com as crianças, como os
monitores, por exemplo) não está habilitado e preparado, ele causa traumas nas
crianças, por atitudes incorretas como gritos, maus tratos psicológicos e muitas
vezes até mesmo físicos.
Ao profissional da Educação Infantil cabe proporcionar experiências
enriquecedoras e diversificadas fazendo com que as crianças desenvolvam suas
capacidades e fortaleçam suas auto-estimas, já que esta capacidade faz parte de
um processo que tem sua origem na infância. O papel do adulto será de aceitar e
apoiar a criança fazendo com que ela construa uma imagem positiva de si mesmo.
Precisam ser éticos não permitindo que as crianças passem por situações
constrangedoras e traumatizantes. A criança precisa do reconhecimento emocional,
principalmente por parte dos professores, do valor de sua brincadeira, de modo que
esta possa revestir-se para ela de total importância. Torna-se necessário que os
educadores tenham uma visão do grande valor que há nas atividades lúdicas para o
desenvolvimento e a educação da criança, porque quando a criança brinca e joga,
todo o sentimento e emoção são colocados em seus atos. A criança precisa
descobrir o prazer de aprender, e os professores, o prazer de ensinar.
Também são tarefas do professor selecionar os materiais a serem utilizados
nos momentos de brincadeira espontânea, levando em conta as limitações espaciais
e econômicas impostas pela escola. Ele também deve estar atento às necessidades
de acordo com as idades dos alunos para poder juntamente com elas estabelecer
organizações dos materiais, possibilitando o acesso a todos. Compartilhar com as
crianças a organização do material é uma maneira de valorizar uma postura de
organização e responsabilidade, o que acarretará uma atitude de cooperação e
respeito entre elas.
O professor deve se preocupar com o modo pelo qual a criança aprende,
muito mais do que com o modo pelo qual vai ensinar. Deve buscar meios para tornar
eficiente e atraente a relação ensino-aprendizagem. Não precisa cair no extremismo
e pensar que se precisa brincar o tempo todo, ou seja, oficializar a brincadeira como
método e técnica de ensino. Deve-se retirar dela justamente o seu bem mais
21
precioso, a espontaneidade. O professor deve ser integrante das brincadeiras, ora
como observador e organizador, ora como personagem que explicita ou questiona e
enriquece o desenrolar da trama, como elo de ligação entre as crianças e o objeto, e
como elemento mediador entre as crianças e o conhecimento. O professor deve
estar sempre junto às crianças, acolhendo suas brincadeiras, auxiliando-as nas reais
necessidades e buscas em compreender e agir sobre o mundo em que vivem.
O professor deve ter em mente que a verdadeira educação é aquela que visa
a atender às necessidades e aos desejos infantis, e, portanto, as atividades lúdicas
devem ser realizadas com a participação ativa, livre e espontânea da criança. Assim,
os educadores devem se dispor a realizar atividades lúdicas através de jogos,
dramatizações e brincadeiras, com o objetivo de proporcionar momentos alegres e
agradáveis para as crianças.
Craidy e Kaercher (2001) destacam três funções que podem ser assumidas
pelo professor no desenrolar das brincadeiras: observador, catalisador e participante
ativo. Na primeira função, o professor procura intervir o mínimo possível, de maneira
a garantir a segurança e o direito à livre manifestação de todos. A segunda função
procura descobrir as necessidades e os desejos implícitos na brincadeira, para
poder enriquecer o desenrolar de tal atividade. E, na terceira função, o professor
atua como um mediador das relações que se estabelecem e das situações surgidas,
em proveito do desenvolvimento saudável e prazeroso das crianças. O professor
deve ter em mente que o aprender e o construir conhecimento não podem estar
desvinculados do prazer e da alegria de viver. Quando o professor diz que o aluno
deve ficar quieto, porque a sala de aula não é local de brincadeira, está ensinando
que o brincar está separado da aprendizagem. Os alunos não precisam estar
disciplinadamente sentados um atrás do outro, sem rir e sem gostar, para aprender.
Na sala de aula, deve ocorrer uma integração perfeita entre os aspectos
cognitivos, psicomotores, afetivos e sociais. Através das brincadeiras espontâneas e
dirigidas, as crianças aprendem e apreendem o mundo que as cerca, incorporando
as competências necessárias para o seu desenvolvimento. O professor deve
trabalhar os aspectos cognitivos necessários para que os alunos prossigam no
processo ensino-aprendizagem, mediando e oportunizando as situações. Devem
procurar estimular o poder de criação das crianças, desenvolvendo sua curiosidade,
22
levando em consideração seus interesses e a necessidade de buscar sempre mais
do que aquilo que encontra ao seu alcance, para haver a construção do
conhecimento.
Para que o professor identifique as necessidades e os interesses das
crianças, ele deve valorizar a comunicação no contexto da sala de aula, ou seja,
conversar sobre suas brincadeiras. Isto faz com que as crianças valorizem o brincar
e desenvolvam um senso de propósito, audiência e registro. É necessário valorizar o
brincar como a cultura da criança, que, como qualquer cultura, possui sua própria
linguagem.
Moyles (2002) comenta que na conversa a criança demonstra o que
aprendeu, dizendo que o brincar linguístico dirigido tende a ocorrer quando as
crianças têm a oportunidade de conversar sobre as atividades e sobre aquilo que
elas entendem e aprendem a partir delas (p.67).
Ainda de acordo com Moyles (2002), no contexto da aprendizagem escolar o
professor deve dar ênfase especial aos seguintes aspectos: 1- participação ativa da
criança em todas as experiências de aprendizagem destinadas a encorajar o uso de
todos os sentidos, incluindo o movimento; 2- oportunidade de viver novas situações
de aprendizagem e, mais importante, de reestruturar o conhecimento existente e de
transferir habilidades e conhecimentos inerentes para novas situações e problemas,
a fim de encontrar soluções; 3- oportunidades de descoberta e criatividade pessoal
apoiada pelos adultos, levando à aprendizagem da independência do pensamento e
da ação; 4- interação com outras crianças e adultos, por meio da qual possa
aprender uma variedade de habilidades, princípios e valores sociais; 5- envolvimento
em situações lúdicas significativas e construtivas, que permitirão o desenvolvimento,
combinado com experiências de aprendizagem com grande variedade de materiais a
recursos; 6- oportunidade de praticar e revisar habilidades em um ambiente
consistente e estável, e de aprender sem medo do fracasso.
1.4. A criança de Educação Infantil, agente principal de uma rotina
23
As crianças são seres ativos que podem e devem se tornar a cada dia mais
competentes para lidarem com as coisas do mundo, mas isso só acontece se elas
tiverem oportunidades. Tendo uma lógica que é toda sua, ela encontra maneiras
originais e peculiares para tanto, pois através do brinquedo do sonho e da fantasia é
capaz de viver em um mundo só seu.
A criança da Educação Infantil tem a sua educação envolvida em dois
processos que são educar e cuidar e também tem necessidade de atenção, carinho
e segurança, até por sobrevivência. As crianças tomam contato com o mundo
através de experiências diretas com as coisas e pessoas do mundo e formas de
expressão que nele ocorrem.
O cuidar significa realizar as atividades voltadas aos cuidados básicos como
alimentos, sono e higiene. É um processo que faz com que a criança participe de
uma experiência cultural própria do seu grupo social. Este processo não acontece
sozinho, mas num ambiente repleto de cuidados inserido numa vida afetiva.
O desenvolvimento infantil se dá num processo dinâmico, pois as crianças
não são passivas às informações que estão ao seu redor. A capacidade de aprender
e conhecer se constrói a partir das trocas estabelecidas entre sujeito e o meio.
É através do contato do seu corpo com as coisas do ambiente e da interação
com os seus pais que as crianças vão desenvolvendo acessibilidade à autoestima, à
capacidade afetiva, ao raciocínio, ao pensamento e à verdade, bem como à
articulação entre os diferentes níveis de conhecimento: motor, afetivo e cognitivo.
Tudo isso acontece de forma simultânea e integrada.
Os conceitos de criança, infância e Educação Infantil que se têm hoje foram
gradativamente construídos no decorrer da história, em função das diversas
demandas sociais, culturais, políticas e econômicas presentes em diferentes
contextos. Segundo Dermatini (2002) há diferentes maneiras como a infância pode
ser sentida, pensada, relatada e vivenciada de acordo com cada período. Porém,
essas concepções perpassam, perpassaram e perpassarão amplas discussões
sobre o cuidar e o educar.
Entendemos que o cuidar e o educar voltados para a criança têm se dado de
forma variada ao longo da história, em função das necessidades e realidades
vivenciadas. Isto é, temos desde o auxílio de membros da família e amigos até o
acesso às instituições educativas formais, organizadas para essa finalidade.
24
Desde os séculos XVI e XVII, o pragmatismo religioso vinculado ao
desenvolvimento científico e a expansão mercantilista geraram novas perspectivas
educativas, que influenciaram a educação de crianças pequenas. Apareceram
escolas para os pequenos na Inglaterra, na França e em alguns países europeus
onde as crianças aprendiam a ler a partir dos seis anos de idade, embora a
finalidade maior na época fosse o ensino religioso.
Nos séculos XVII e XVIII, crianças pobres de dois e três anos eram inseridas
nas charity schools (escolas de caridade), criadas na Europa Ocidental. Contudo, a
ideia de educar crianças de diferentes condições sociais já estava presente em
Comenius (1592-1670), em especial na sua obra The School of Infancy (A escola de
crianças) divulgado em 1628, em que defendia uma educação voltada para as
experiências sensoriais que futuramente seriam interpretadas pela razão. “Daí sua
defesa de que a educação de crianças pequenas deveria utilizar materiais e
atividades diferentes – passeios, quadros, modelos e coisas reais – segundo suas
idades de modo a auxiliá-las no futuro a fazer aprendizagens abstratas” (OLIVEIRA,
2007, p.13).
No século XVIII, cenário da Reforma Protestante, a criança tinha sobre si uma
educação autoritária, em que a rotina escolar era permeada pela autodisciplina. Já
na contra-reforma religiosa, a visão da educação voltada para as crianças pequenas
mudou. Parte dessa mudança deve-se às contribuições teóricas de Rousseau
(1712-1778). Segundo ele, os educandos possuíam a necessidade de conviver com
processo educacional voltado ao seu ritmo próprio, ligado ao seu processo
maturacional. Promovia, dessa forma, uma rotina escolar fundamentada numa ideia
libertária vinculada ao ritmo da natureza e às dimensões biológicas.
Influenciado por Rousseau, Pestalozzi (1746-1827) propôs a ideia de uma
educação amorosa, mas disciplinadora, bem como ligada ao desenvolvimento dos
sentidos, segundo defendido por Comenius (1592-1670). Nessa direção,
argumentava a favor de uma rotina escolar com horários rígidos e atividades
mescladas envolvendo linguagens diversificadas como artes, música, matemática,
expressão oral e o contato com a natureza.
Segundo Oliveira (2007), os jardins de infância (kindergardens) surgiram com
Froebel (1782-1852), discípulo de Pestalozzi, pessoa de visão mística e com ideal
político de liberdade. Em Froebel, as crianças eram vistas como “pequenas
sementes que, adubadas e expostas a condições favoráveis em seu meio ambiente,
25
desabrochariam em um clima de amor, simpatia e encorajamento – estariam livres
para aprender sobre si mesmas e sobre o mundo” (OLIVEIRA, 2007, passim).
De acordo com a referida autora, no Jardim de Infância froebeliano
predominavam atividades práticas originadas pelos anseios e vontades das crianças
diante da sua capacidade de criar, vista por Froebel como inata. A proposta
educacional de Froebel envolvia atividades de cooperação e jogos livres, bem como
aquelas amplas, de livre expressão por meio da música e de construções com
materiais, tais como papel e argila. A rotina das crianças era flexível e diversificada,
repleta de atividades, muitas das quais construídas com as próprias crianças. Assim:
Froebel organiza seu famoso modelo de recursos pedagógicos dividindoos em prendas e ocupações. As prendas seriam materiais que não mudariam de forma: cubos, cilindros, bastões e lápides, que, usadas em brincadeiras, possibilitariam à criança formar um sentido da realidade e um respeito à natureza. Já as ocupações consistiriam de materiais que se modificam com o uso: argila, areia e papel, que eram usados em atividades de recorte, dobradura, alinhavo em cartões onde diferentes figuras estavam desenhadas, enfiar em um colar, e outras. Canções completariam esta lista de sugestões de materiais e atividades, todas elas realizadas junto com a professora, sob estímulo desta. (OLIVEIRA, 2007, p.15)
Em se tratando da educação das crianças, não podemos esquecer as
contribuições ao desenvolvimento infantil advindas de Maria Montessori (1870-
1952), que idealizou materiais adaptados ao contato e à exploração sensorial pelas
crianças, bem como propôs mobiliário infantil adequado ao tamanho delas.
As contribuições das ideias de Comenius, Rousseau, Pestallozi e Froebel
influíram no ideário pedagógico relativo à infância, bem como no entendimento dos
conceitos de criança e Educação Infantil. Todos eles constituídos de acordo com os
diferentes contextos e épocas.
As instituições pedagógicas ditas infantis surgiram no século XVIII, época da
Revolução Industrial, não na perspectiva de proporcionar o contato das crianças
com vastas, criativas e significativas experiências de construção de conhecimentos
favorecedoras do desenvolvimento infantil, mas em resposta às más condições de
vida das crianças pequenas, que muitas vezes, junto com seus pais, trabalhavam
horas seguidas em fábricas, indústrias, minas etc.
Destacamos que nessa época, século XVIII, iniciaram-se os discursos a favor
de uma Educação Infantil universal, como direito de todas as crianças
independentemente da classe social a que pertenciam e também sobre a relação
26
entre o cuidar, na perspectiva das crianças de baixa renda, e o educar, na dimensão
das crianças de classe alta.
No Brasil, muitos foram os impasses e os entraves encontrados no percurso
da história, no que tange à formação dos conceitos de criança, da infância e da
Educação Infantil. Porém, nas décadas de 70 e 80, o movimento em busca de
educação pública para todas as crianças alavancou a conquista e o reconhecimento
legal na Constituição Federal de 1988 da educação em creches e pré-escolas como
direito da criança e dever do Estado, conforme preza o artigo 208, inciso IV: “O
dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...]
“atendimento em creche e pré-escola, às crianças até 6 (seis) anos de idade”.
Avanços significativos foram dados também no que se refere aos direitos da
infância. A criança passou a ser vista como sujeito dotado de direitos políticos e
sociais no art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.
No entanto, muito ainda precisa ser feito para que isso seja realidade na vida
de todas as crianças. Igualmente, avanços foram trazidos pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB – Lei n. 9.394/1996), que ressignificou a
Educação Infantil, definindo-a como a primeira etapa da educação básica:
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I – educação básica, formada pela Educação Infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – educação superior.
De acordo com a Lei n. 11.274/2006, a criança com seis anos de idade
passou a ter a obrigatoriedade de ser inserida no ensino fundamental com duração
de nove anos. Essa Lei estabeleceu prazo para a sua implementação até 2010.
Portanto, as instituições educacionais infantis precisam se organizar de forma
adequada para cumpri-la. Isso requer, entre outras providências, a reestruturação de
conteúdos, estratégias pedagógicas associadas as necessidades características dos
alunos.
27
Na LDB, a linguagem refere-se à Educação Infantil dividindo-a em creches (a
faixa etária de zero a três) e em pré-escolas (de quatro a seis anos de idade), o que
representa uma incoerência em relação à Constituição, uma vez que esta, em seu
artigo 208, diz ser dever do Estado oferecer a Educação Infantil em creches e pré-
escolas para as crianças até cinco anos de idade.
Na concepção atual de Educação Infantil, oriunda, principalmente, a partir da
metade do século XIX, vai-se além do partilhar com as famílias a responsabilidade
de educar as crianças. Ela referia-se, também, a um espaço pedagógico construído
gradativamente, no decorrer da história, preparado para a troca e a construção de
experiências educativas para os meninos e meninas entre zero e cinco anos de
idade, vistos como sujeitos de direitos e deveres próprios da infância.
A Educação Infantil é, pois, uma etapa educativa voltada ao atendimento em
creches e pré-escolas visando o desenvolvimento integral de meninos e meninas de
0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade, o que em si chama a atenção para as
especificidades desse atendimento. Especificidades essas inerentes à infância, que
se integram umas às outras, o que requer a existência de interação entre o cuidar e
o educar. Há de se entender e respeitar as amplas singularidades envolvidas no
processo de desenvolvimento da criança, e as suas implicações para a organização,
por nós, profissionais da educação da rotina cotidiana das crianças pequenas, nas
instituições educativas. Há de se planejar atividades lúdicas, jogos, brincadeiras e
aprendizagens integradas que contribuam para o seu desenvolvimento integral,
incluindo a construção da sua identidade, da sua autonomia e da sua socialização.
Nessa perspectiva, na presente pesquisa é de nosso entendimento que:
- a criança é um ser repleto de direitos e deveres, um ser social, sujeito em
pleno processo de constituição, um vir a ser, formada socialmente de acordo com o
contexto político, econômico, social e cultural onde está inserida, que possui nos
adultos à sua volta a referência maior de segurança e conhecimento, repleta de
singularidades e necessidades específicas;
- a infância é uma construção social e corresponde a um período especial de
desenvolvimento da criança que requer a atenção para os diferentes sujeitos que a
compõem, segundo seus respectivos contextos;
- a Educação Infantil deve proporcionar à criança o desenvolvimento e a
aprendizagem para a vida e para o mundo, capacitando-a para superar os desafios
apresentados em seu dia-a-dia. Nas palavras de Sousa (2006, p. 124):
28
Na Educação Infantil cuidamos de pessoas em fase muito especial da vida, a infância, em que se dá a semeadura das nossas bases como ser pessoal e social, e as educamos. Nesse período, residem e convivem os primórdios da nossa identidade e das aprendizagens sobre nós, o outro e o mundo mais amplo onde estamos inseridos e de como nele nos comportar. Nesse espaço primeiro da vida, começamos a nossa caminhada na direção da conquista da autonomia e do exercício da cidadania.
Em síntese, partimos dos seguintes pressupostos:
[...] sendo a infância uma construção histórica e social, é impróprio ou inadequado supor a existência de uma população infantil homogênea, pois o processo histórico nos faz perceber diferentes populações infantis com processos desiguais de socialização. (FRANCO, 2002, p. 30)
E de que:
É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto das experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e sociais é muito mais do que uma representação dos adultos sobre esta fase da vida. É preciso conhecer as representações de infância e considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc. reconhecê-las como produtoras da história. (KUHLMANN JR., 1998, p. 31).
Acreditamos que a criança é um sujeito social e histórico ávido por desvendar
os mistérios da vida e do mundo, deparar-se com o novo, superar e criar desafios. É
um ser surpreendente e fabuloso que está em pleno processo de construção do
conhecimento, buscando desenvolver habilidades e competências inerentes à
infância, como a integração cada vez maior ao meio social, o acesso a ambientes
diversificados, o desenvolvimento da linguagem oral e motora. Além disso, é
fundamental que a criança esteja exposta à elaboração diária de repertório
composto por múltiplas linguagens para que possa, assim, alargar a compreensão
de mundo de forma vasta, bem como vê-lo e experimentá-lo de infinitas maneiras.
29
2. ESPAÇO E TEMPO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
2.1. Organização das rotinas
Quando falamos em rotina, qual ideia nos vem à cabeça? Pensamos a prática
educativa vivenciada pelas crianças nas creches e pré-escolas, assim como as
abordagens teóricas que são usadas ao conceber a própria rotina? Ou pensamos
em modelos e paradigmas a serem seguidos nas atividades propostas
cotidianamente às crianças, numa estrutura espacial e temporal, na organização e
na ocupação do tempo das crianças? Muitas são as abordagens sobre o conceito de
rotinas.
Podemos pensar a rotina, na Educação Infantil, como uma estrutura em que
se desenvolve o trabalho cotidiano nas instituições de ensino voltadas ao
atendimento das crianças pequenas entre zero e cinco anos de idade.
Barbosa (2006) nos diz que o aparecimento do termo rotina na língua
portuguesa é datado de 1844. Apesar de já existir há muito mais tempo, foi apenas
no século XII que a ideia de rotina passou a ser utilizada na vida e na linguagem
cotidiana. Sua significação básica, presente em algumas línguas, como latim, inglês,
português e francês, é a de noção espacial vinculada a um caminho, uma direção,
um rumo. Agregada a esse significado está presente a ideia de percurso familiar, já
conhecido e já compreendido.
A rotina é uma categoria pedagógica que os responsáveis pela Educação
Infantil estruturam para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas
instituições educativas infantis. Para Barbosa (2006), este conceito delineia a rotina
como uma estrutura fundamental para o desenvolvimento das atividades diárias nas
creches e pré-escolas.
Desta forma, a rotina pode ser entendida como uma estrutura gerenciadora
do tempo e do espaço que, em diversos momentos, obedece à lógica
institucionalizada dos padrões da pedagogia escolar que se impõem tanto sobre as
crianças quanto sobre os adultos que vivem grande parte do seu tempo no ambiente
escolar.
De acordo com Oliveira (2007), a rotina é uma categoria pedagógica da
Educação Infantil que funciona como a estrutura básica organizadora da vida
30
coletiva diária em certo tipo de espaço social e educacional: creches e pré-escolas.
Nestas, há sempre uma rotina constituída de formas diversas vivenciada pelas
crianças. Algumas escolas elaboram-na coletivamente, outras seguem diretrizes e
normas impostas pela gestão da instituição ao corpo docente, coordenadores e
diretores. Muitas vezes, leva-se em consideração alguns fatores condicionantes,
quais sejam o modo de funcionamento da instituição, o horário de entrada e saída
das crianças, o horário de alimentação e o turno dos funcionários etc.
Já Barbosa (2006) revela que há questões determinantes e condicionantes
associadas à organização das rotinas nessas instituições, destacando as questões
legais e administrativas como básicas para a construção das convenções e das
regras de funcionamento institucionais. Ressalta, ainda, que há uma funcionalidade
dessas questões, mas não um determinismo.
Sendo assim, na Educação Infantil, a rotina deve considerar as
especificidades das crianças pequenas. Em sua estruturação e organização é
importante buscar compreender os seus objetivos, bem como observar e refletir
sobre o seu funcionamento. Igualmente, é relevante avaliar se ela favorece ou não o
desenvolvimento e a aprendizagem da criança, respeitando-a segundo o seu
contexto de vida.
As rotinas desempenham “[...] um papel importante no momento de definir o contexto no qual as crianças se movimentam e agem [...]” (ZABALZA, 1998, p. 52). Elas também:
[...] atuam como as organizadoras estruturais das experiências cotidianas, pois esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do processo a ser seguido e, ainda, substituem a incerteza do futuro (principalmente em relação às crianças com dificuldades para construir um esquema temporal de médio prazo) por um esquema fácil de assumir. O cotidiano passa, então, a ser algo previsível, o que tem importantes efeitos sobre a segurança e a autonomia.
Segundo Barbosa (2006), em sua função de organizadora e modeladora dos
sujeitos, a rotina diária na Educação Infantil pode ser padronizadora e
universalizante. Isto é, ela segue padrão fixo e universal em sua formulação, na sua
estrutura e no modo de ser representada. Uma rotina pode tornar-se padronizadora
à medida que a sua organização seja voltada apenas ao grupo como um todo, de
forma homogeneizadora, e não às crianças, como sujeitos histórico-sócio-culturais,
em suas necessidades específicas.
31
Para Freire (1998, p. 43), “[...] construir uma rotina é tecer uma articulação
harmoniosa entre as atividades, no tempo e no ritmo que se desenvolve o espaço
[...]”. Esse ritmo aponta para o fato de cada uma das crianças de uma sala de aula
se diferenciar em suas realidades, em seus aspectos afetivos, motores, físicos e
emocionais. Tais diferenças mostram que cada uma delas tem um processo de vida
peculiar e singular. Cada grupo de alunos ou cada classe de crianças possui
características específicas e ritmos de aprendizagem diferentes. Mas isso não se
restringe às crianças. A esse respeito, Freire (1998, p. 43) esclarece:
[...] o ritmo do grupo de viver o tempo é constituído dos ritmos de cada participante, que se constitui de variações. Uma rotina constitui-se de ritmos diferentes e semelhantes (semelhança não significa homogeneidade de seus participantes). Por isso, rotina é entendida como a expressão do pulsar do coração vivo do grupo (com diferentes batidas rítmicas). Rotina entendida como a cadência sequenciada de atividades diferenciadas que se desenvolvem num ritmo próprio em cada grupo.
A rotina envolve, também, a subjetividade da criança no tempo e no espaço; a
sua preparação para a vida e o mundo; as relações e interações construídas; o
atendimento às especificidades inerentes a cada fase da infância, bem como
aqueles de cada contexto. Engloba, ainda, os diferentes ritmos e tempos
apresentados, podendo, conforme a sua organização, revelar contribuições para a
construção do conhecimento da criança. Mas queremos conceber a rotina como a
estruturação da subjetividade da criança no tempo e no espaço?
Este entendimento da rotina como constituição da subjetividade no tempo e
no espaço requer reflexão sobre o sentido da infância e da criança. Diversas são as
concepções teóricas sobre os conceitos de criança e infância, os quais são
atribuídos de acordo com os diferentes contextos sociais apresentados. Eles são
conceitos construídos cultural e socialmente, que orientam e determinam a
organização do trabalho pedagógico nas instituições que atendem as crianças
pequenas.
Conforme esclarecido por Freitas E Kuhlmann Jr. (2002, p. 47), isto se refere
à: “[...] concepção ou à representação que os adultos fazem sobre o período inicial
da vida, ou como o próprio período vivido pela criança, o sujeito real que vive essa
fase da vida [...]”. A infância representa, então, fase de vital importância para a
32
construção da identidade, da socialização e da autonomia da criança, alguns dos
aspectos essenciais para o desenvolvimento de uma Educação Infantil de qualidade.
Por isso, concordamos com a visão de Dahlberg, Moss e Pence (2003, p. 63),
no que se refere à não existência de apenas um único conceito sobre criança e
infância, mas, como afirmam eles, “[...] existem muitas crianças e muitas infâncias,
cada uma construída por nossos entendimentos de infância e do que as crianças
são e devem ser [...]”.
O entendimento sobre infância e criança norteia as escolhas que se fazem
nas instituições educativas sobre o trabalho pedagógico em geral, ou ainda, sobre o
tipo de atividades e estratégias pedagógicas a serem propostas na rotina cotidiana
das crianças.
No presente trabalho entendemos a criança como alguém que, durante a
infância, está se constituindo como pessoa, e também como sujeito de direitos e
deveres em plena formação de valores, princípios éticos, religiosos, culturais, sociais
e políticos. E, ainda, como um “[...] sujeito político (ser de poder), sujeito
epistemológico (ser de saber) e amoroso (ser de amor) [...]” (REIS, 2000). Ser este
que é acolhido e que acolhe, que almeja, sonha, idealiza, deseja, com poder de vez
(oportunidade de participar e compartilhar), voz (expor sua ideias, hipóteses,
pensamentos) e com o poder de decisão (fazer as escolhas frente às diferentes
realidades apresentadas, de acordo com as suas vivências), sujeito em constante
processo de formação física, cognitiva, psicológica, emocional e afetiva.
Estas percepções sobre a infância e a criança requerem um trabalho
pedagógico que considere a criança e o seu processo de desenvolvimento e
aprendizagem de modo integrado e coerente. No entanto, sabemos que muitas
vezes, nas escolas e pré-escolas, há certo distanciamento entre o ideal e o real, ou
entre [...] “o que se ‘quer fazer’ e o que ‘se pode fazer’ [...]” (BATISTA, 1998, p. 1).
Questionamos, portanto, se é possível produzir um olhar específico voltado
para uma rotina que permita a estruturação da subjetividade da criança no tempo e
no espaço, de forma a integrar o cuidar e o educar com as relações sociais positivas
estabelecidas entre o professor e os alunos, e entre os próprios alunos. Tudo isso de
forma qualitativa e significativa.
Dependendo do tipo de organização da rotina, têm-se maiores ou menores
resultados em relação à estruturação da subjetividade da criança no tempo e no
33
espaço. Muitas são as estratégias aplicadas na rotina escolar que visam promover a
aprendizagem e o desenvolvimento da criança.
O trabalho pedagógico está relacionado com a organização da sala de aula,
como espaço de diálogo, reflexão e construção. Mas não é só isso. Tal organização
envolve as relações e as interações sociais, e ainda, as estratégias pedagógicas.
Envolve, sobretudo, um trabalho sério de mediação e negociação.
Conforme Machado (2007, p. 37):
É imprescindível a presença de um mediador que entenda serem determinados conhecimentos necessários àqueles sujeitos, que possibilite a realização de certas atividades pelas crianças, assim como se certifique que a elaboração entre os parceiros tenha, de fato, ocorrido.
No contexto da Educação Infantil, boa parte das relações sociais refere-se ao
diálogo entre os professores e os alunos, dos alunos entre si, bem como aquele
desenvolvido entre as demais pessoas da comunidade escolar. Ao longo dos
diálogos, é possível e desejável a construção de relações afetivas positivas que
vinculem e aproximem mais as pessoas e ajude-as em seu processo de
desenvolvimento e a aprendizagem, em especial, às crianças.
À medida que a criança constrói conhecimentos e aprende, ela se
desenvolve. Ao se desenvolver ela aprende. Para Vygostsky (2000), a
aprendizagem converte-se em desenvolvimento e vice-versa.
O tipo de relação professor e aluno que se desenvolve não pode ser ignorada.
Quando se têm vínculos afetivos e emocionais positivos, estes otimizam, junto à
criança, a construção da segurança, proporcionando maior envolvimento nos
processos de aprendizagem, aumentando, assim, as chances de ocorrência de
aprendizagens significativas.
Desta forma, não é difícil concluirmos que nós, educadores, temos o papel de
mediadores, orientadores e construtores da organização da rotina escolar, num
clima de relações positivas, visando construir uma Educação Infantil de qualidade.
Assim sendo, a rotina pode e deve ser vista como uma das dimensões da qualidade
na Educação Infantil.
Segundo Paniagua e Palacios (2007, p. 131), as nossas formas de agir
dependem da nossa formação pessoal, acadêmica e profissional. Tudo isso
influencia o ambiente a ser construído, a organização da rotina e as relações
34
concretizadas entre os sujeitos presentes no contexto da sala de aula “[...] e em
grande medida, condicionam que as coisas funcionem ou não [...]”.
Em sala de aula, nós assumimos diferentes papéis, dentre eles a organização
e a condução da sala de aula; a motivação; o contato com as famílias; a troca de
experiências entre os colegas; mas, principalmente, a promoção da aprendizagem e
do desenvolvimento das crianças no âmbito cognitivo, social, físico e afetivo.
Concordamos com Edwards (1999, p. 161), o nosso papel “[...] centraliza-se na
provocação de oportunidades de descobertas, através de uma espécie de facilitação
alerta e inspirada, e de estimulação do diálogo, de ação conjunta e da co-construção
do conhecimento pela criança [...]”.
No presente trabalho, as crianças são vistas como: “[...] protagonistas ativas e
competentes, que buscam a realização através do diálogo e da interação com
outros, na vida coletiva das salas de aulas, da comunidade e da cultura, com os
professores servindo como guias”. (1999, p.160).
Acreditamos, assim, que as atividades desenvolvidas na sala de aula através
da nossa mediação, com os ritmos e significados construídos cotidianamente por
meio da formulação da rotina, são aspectos essenciais para a organização da
criança no tempo e no espaço.
Podemos concluir que a construção das rotinas possui um papel fundamental
no que tange ao desenvolvimento e à aprendizagem da criança. A rotina é, pois,
parte essencial da formação dos nossos pequenos educandos. Ela é uma dimensão
educativa favorecedora da construção do conhecimento por parte destes a criança,
sendo um referencial essencial para a construção da sua autonomia, identidade e
socialização e, ainda, para a sua atuação na vida e no mundo.
2.2. Salas de aulas, espaço onde uma rotina se desenvolve
As salas de aula da Educação Infantil são organizadas de forma a privilegiar o
trabalho que ali será desenvolvido.
Conforme Delgado (2004, p. 05) “é inviável pensar em educação da infância
na contemporaneidade sem refletir sobre as dimensões, tempos e espaços, sobre as
culturas infantis...” Nenhum espaço na escola é mais colorido, alegre e agradável
que as salas de Educação Infantil – ao menos deveriam ser assim. Ambiente
35
aconchegante, daqueles que a gente sente vontade de chegar e ficar, que o pai e a
mãe não tenham mais vontade de ir embora.
Madalena Freire, no livro Sala de aula: que espaço é esse?, define:
Compreendo a sala de aula como um espaço. Neste espaço e em relação com o ser-humano-criança acontecem algumas atividades de trabalho pedagógico; são rotinas, como também frutos de procuras e de experiências. São também, descobertas por através destas atividades. Educador e educando vão conferindo seus alcances, seus achados. A partir do relacionamento desses dois é que o espaço vai sendo colorido e povoado. Comentar sobre as expressões humanas do espaço é uma forma de contar um pouco da experiência que comigo vive e atua, apaixonadamente. (FREIRE, 1998, p. 96).
O espaço deve atender às necessidades das crianças e estas necessidades
devem se sobrepor às dos adultos. A prioridade não é a comodidade do adulto, mas
a necessidade da criança e, principalmente, a sua segurança, já que não deve haver
objetos, móveis ou até mesmo brinquedos que coloquem sua vida ou seu bem estar
em risco. Por exemplo, as mesas não devem ter cantos, quanto menores as
crianças maiores devem ser os brinquedos e peças de jogos. Madalena Freire
também define o espaço:
O espaço é retrato da relação pedagógica. Nele é que o nosso conviver vai sendo registrado, marcando nossas descobertas, nosso crescimento, nossas dúvidas. O espaço é retrato da relação pedagógica porque registra concretamente, através de sua arrumação (dos móveis...) e organização (dos materiais...) a nossa maneira de viver esta relação. . (FREIRE, 1998, p. 96).
Os espaços devem permitir a autonomia das crianças. Devem ser
organizados de forma que todos tenham acesso aos brinquedos, livros e materiais.
É importante que as crianças tenham liberdade de locomoção e sintam que estão
num ambiente agradável e prazeroso. A higiene do local é imprescindível, já que as
crianças brincam muito no chão e colocam brinquedos na boca. Tudo deve ser limpo
e arejado, e diariamente deve ser passado álcool nos objetos de uso comum.
Este espaço deve ter a “cara” da turma, com registros, desenhos, pinturas,
esculturas e fotografias. É de desconfiar quando encontramos uma sala de
Educação Infantil muito organizadinha, com desenhos prontos, feitos pela
professora, sem a exposição da produção infantil, ou seja, do que é construído no
dia-a-dia pelas crianças.
36
A partir daí é que se pode dizer do espaço como retrato. Ele conta inúmeras experiências vividas dentro da sala de aula. Aquilo que é vivência minha, junto com crianças, não é possível expressar tudo isso se as paredes da sala estão nuas ou decoradas (alienadamente) com as figuras de Mônica ou Pato Donald, desenhadas apenas por mim. A linguagem do lugar deve comentar as histórias e as relações acontecidas ali. É nesse sentido que o espaço é retrato (e registro) da minha prática, assim como minha casa retrata como eu vivo, assim como meu corpo retrata aquilo que eu sou, o que estou vivendo... (FREIRE, 1998, p. 97 e 98).
Moyles (2002) sugere como a sala deve estar organizada para atender
aos propósitos da brincadeira, da aprendizagem e da linguagem. Segundo ela, a
sala deve estar organizada mais ou menos em cinco áreas, conforme segue: 1 -
uma área com carpete, basicamente para atividades de turma inteira ou grandes
grupos, onde são guardados também vários materiais para trabalho com a
linguagem; 2 - uma área para o brincar de faz-de-conta; 3 - uma área de
investigação para o trabalho em atividades grupais de ciência e de matemática,
contendo vários materiais, entre os quais areia e água, brinquedos de construção,
caixas de classificação, e assim por diante; 4 - uma área “criativa”, onde são
guardados todos os materiais para as atividades de arte, artesanato e design:
materiais de sucata, cola, tesouras etc; 5 - uma área temática, onde estão dispostos
para uso os materiais relativos ao assunto em pauta, e onde as crianças também
possam exibir coisas interessantes, que desejam “mostrar e contar” aos outros.
2.3 Momentos de uma rotina
Ao se conceber os momentos de uma rotina e a construção do dia-a-dia de vivências de uma sala de aula de Educação Infantil, há de se pensar em primeiro lugar na criança, nos seus interesses e oportunidades de aprendizagens significativas.
...para que a Educação Infantil seja um lugar de aventura e experiência para a afirmação do tempo da infância, mais que qualquer atividade programada, valerá a relação com as crianças, seus mundos, suas diferenças. Mais que conteúdos previstos para serem assimilados (pelo “aluno”) apenas em determinados momentos (a “hora da atividade”), valerá o mergulhar na aventura em busca do desconhecido – com as crianças, o grupo, em todos os momentos do dia-a-dia; formulando perguntas, convivendo com a dúvida, com a incerteza, fazendo do cotidiano uma saborosa aventura de conhecer
37
o mundo com paixão. Essencial: viver e qualificar a experiência de cada um e de todos... (OSTETTO, 2004, p. 11).
Desta forma, contaram muito os meus 18 anos de experiência com a
Educação Infantil, onde uma rotina foi construída. Dentro desta rotina, cada
momento é carregado de significados, objetivos e intenções.
Sempre pensamos uma prática educativa respeitando o ser criança e
possibilitando tempos e espaços da ação educativa. Pois a criança:
...como ser simbólico, inicia-se no mundo brincando, jogando com os elementos ao seu redor, experimentando-se e, a partir do concreto, viaja em busca de mundos distantes, desconhecidos. A imaginação é sua maior ação. Através dela vai “conversando” com esse mundo ao seu redor e vai se apropriando de seus significados. Ela vive e aprende a realidade circundante jogando, fazendo com o corpo, com os objetos que manipula e os transforma nisso ou naquilo, ao sabor do movimento, na liberdade da “inventação”... (OSTETTO, 2004, p. 11).
Havia um conceito de que a Educação Infantil era apenas uma preparação
para o primeiro ano, para a escola de verdade, e que este espaço era para a criança
ser cuidada e treinada. Este contexto é muito bem descrito:
Fila de entrar, todo mundo alinhado. Canto de entrar. Quinze minutos para guardar objetos e apanhar material. Quinze minutos para uma história de Chapeuzinho vermelho ou dos Três porquinhos, ou a Branca de neve, ou a Alice... Quinze minutos, mais ou menos, para uma pintura, ou uma colagem em desenho mimeografado; esse mimeografado pode ser um lindo gato estilizado, pode ser uma simpática borboleta ou um adorável elefantinho... Esse desenho custa trabalho à criatividade da professora que é quem sempre se esforça por encontrar e desenhar no stencil algum animalzinho. Muitas vezes ela procura e encontra nos arquivos do ano passado algum desenho. Meia hora mais ou menos, para EXERCÍCIOS DE COORDENAÇÃO MOTORA FINA. As crianças fazem os mesmos movimentos: no ar, na lousa ou no caderno. Cantam e desenham ccccccc dizendo onda vai, onda vem, onda miúda não mata ninguém. Esse canto permite desenho e dança. Quinze minutos para criar livremente com palitos de fósforo sobre a mesa, colando-os, às vezes, sobre uma folha de papel mimeografado. Quinze minutos, mais ou menos, para exercício no caderno quadriculado: desenhar quadrinhos, muitos; desenhar naviozinhos, triângulos, desenhar muitas vezes a letra “u”, a letra “n”, cada um desses desenhos, cada uma dessas letras permite um canto, permite uma historieta que favorece o aprendizado do alfabeto. A criança é alfabetizada pouco a pouco. Meia hora, mais ou menos, para as crianças brincarem nos aparelhos recreativos: gangorra, escorregador, trepa-trepa, gira-gira, areia e pneus. A professora fica observando, sentada ou socorrendo algum “perigo”, e fica conversando com as crianças. Essa hora é importante porque as crianças esgotam seu excesso de energia, ficam mais quietas a partir daí. De volta à classe.
38
Quinze minutos para a limpeza. É a hora de lanchar. Quinze minutos para brincar de “ovo-choco” ou outra brincadeira que envolva todas as crianças. Quinze minutos, mais ou menos, para ajeitar a sala de aula, colocar alguma ordem nos materiais, guardar nas pastas todos trabalhos feitos no dia, colocar em exposição alguns trabalhos que não caibam nas pastas, arrumar a sacolinha e a lancheira, lavar-se e despedir da “tia” para ir pra casa. A professora então registra como foi seu dia, organiza alguns arquivos sobre as atividades desse dia. (COSTA, 1993, p. 99 e 100).
A partir desta descrição de Eliana Pires da Costa, podemos visualizar com
clareza como era uma rotina de Educação Infantil. Em nenhum momento era
privilegiado o interesse das crianças, seus anseios, desejos e curiosidades.
Atualmente ainda encontramos práticas similares à descrita acima, ou uma
educação mais por intuição do que por conhecimento. As atividades com lápis e
papel, a alfabetização ou a numeração precoce, o cerceamento do corpo, a rigidez
dos horários, tudo isto torna as rotinas repetitivas e empobrecedoras. A criança é um
sujeito que vive um momento onde predomina a afetividade, o sonho e a fantasia.
Este momento precisa ser vivido, e não apressado.
2.3.1 A hora da chegada A hora da chegada é fundamental para o sucesso da adaptação diária de
cada criança, pois é neste momento que cada um deve ser bem recebido, com
alegria e afeto.
Este aconchego deve dar à criança vontade imensa de ficar naquele espaço,
a sala de aula, sentindo que é seu e que nele terá momentos felizes. Já os pais
devem sentir no educador a segurança e a confiança de que seu filho será bem
atendido, bem cuidado, bem tratado, amado e respeitado.
2.3.2 A hora do brinquedo livre Quando a criança chega na escola, ela está cheia de anseios, desejos,
vontades e estas devem ser saciadas, por isso o primeiro momento após a chegada
deve ser de brinquedo livre, onde cada um possa escolher o que quer fazer: montar
Lego, desenhar, organizar um quebra-cabeça, brincar de casinha, brincar de
carrinho etc. Mas isso não pode gerar uma grande bagunça? Sim, nos primeiros dias
39
gera uma grande desorganização, principalmente aos olhos de quem olha de fora do
contexto. Por isso as combinações devem ser feitas, como, por exemplo, guardar o
que foi pego antes de pegar outro brinquedo ou jogo, colocar cada coisa no seu
lugar, e a cada dia ir reforçando e refazendo, se necessário, as combinações.
Quando a criança tem ao seu alcance todos os brinquedos e materiais e
satisfaz seus desejos e vontades, fica muito mais fácil e tranquilo que ela se
concentre na rodinha da novidade para ouvir seu colega, ou na hora do trabalhinho,
para realizar uma atividade que necessita de maior atenção.
Se não acontece este momento, a criança fica sempre com um desejo de
brincar de alguma coisa, de pegar um jogo para montar, ou fazer um desenho.
Quando uma criança brinca, joga ou desenha, ela está desenvolvendo a capacidade de representar, de simbolizar. É construindo suas representações que as crianças se apropriam da realidade. É através do jogo simbólico, do “faz-de-conta”, que a criança assimila a realidade externa – adulta – à sua realidade interna. (FREIRE, 1983, p.25).
O brinquedo surge na vida da criança quando seus desejos não podem ser
satisfeitos imediatamente, ou seja, surge para superar as suas necessidades mais
primitivas e imediatas. Nesta perspectiva, o brinquedo funciona como um
atendimento às necessidades irrealizáveis imediatamente para a criança, pois ela se
envolve num mundo imaginário onde satisfaz seus desejos. Vygostsky (1989), nos
diz que para resolver esta tensão, a criança (...) envolve-se num mundo ilusório e
imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, esse mundo é o
que chamamos de brinquedo (p.106). No brinquedo a criança cria uma situação
imaginária, porém baseando-se em regras. Não existe brinquedo sem regras. Estas
são as de comportamento, as quais são adquiridas através de sua realidade. Não
são previamente estabelecidas como as do jogo, mas têm sua origem na própria
situação imaginária. Ou seja, se a criança está representando um papel de mãe e a
boneca é sua filha, ela irá obedecer às regras de comportamento maternal. Assim, o
brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos
da realidade, colocando a criança na natureza e nas construções humanas. Pode-se
dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos
reais, para que possa manipulá-los.
40
Segundo Aberastury (1992), o brinquedo possui muito das características dos
objetos reais, mas, pelo seu tamanho, pelo fato de que a criança exerce domínio
sobre ele, pois o adulto outorga-lhe a qualidade de algo próprio e permitido. Além
disso, o brinquedo é substituível, permitindo que a criança repita, à vontade,
situações prazerosas e dolorosas que, entretanto, ela por si mesma não pode
produzir no mundo real.
Para Vygotsky (1989), através do brinquedo a criança passa a lidar com
diferentes percepções e significados relacionados com os objetos e as ações aos
quais está habituada, representando uma rica fonte de desenvolvimento. Uma
condição muito interessante surge quando a criança, envolvida em momentos de
brincadeira, inclui nestas ações objetos reais, da sua vida e do mundo que a cerca.
Ainda segundo Vygotsky (1989, p.114), o brinquedo cria uma nova forma de
anseios. Ensina-a a desejar, relacionando seus desejos a um “eu” fictício, ao seu
papel no jogo e suas regras (...). Uma criança não se comporta de forma puramente
simbólica no brinquedo; ao invés disso, ela quer e realiza seus desejos, permitindo
que as categorias básicas da realidade passem através de sua experiência. Ao
pensar, a criança age. As ações internas ou externas são inseparáveis: a
imaginação, a interpretação e a vontade são processos internos conduzidos pela
ação externa.
Em uma criança muito pequena, os objetos determinam o seu comportamento
em relação a eles, ou seja, a criança não consegue separar o campo do significado
do campo perceptual. Os objetos ditam o que a criança tem que fazer. O brinquedo
irá permitir que a criança desloque os significados dos objetos. É através do
brinquedo que a imaginação, enquanto processo psicológico, relaciona-se com o
mundo, atribuindo-lhe significados além daqueles socialmente estabelecidos. Neste
sentido, percebe-se que é através do brinquedo que o ser humano emancipa-se dos
limites do real. Assim, no brinquedo os objetos perdem sua força determinadora e a
criança começa a agir independente daquilo que vê. O brinquedo surge como o pivô
da separação entre o campo do significado e da visão, possibilitando que a ação não
apareça mais pela imposição das coisas, mas pelas ideias da criança. O brinquedo,
então, opera fazendo com que a imaginação entre em cena. Por exemplo, quando a
criança monta em uma vassoura e finge estar montando num cavalo, ela está
41
conferindo um novo significado ao objeto. O mais importante não é a similaridade do
objeto com a coisa imaginada, mas o gesto. Dessa forma, no brinquedo, o
significado conferido ao objeto torna-se mais importante que o próprio objeto.
Mais uma vez segundo Vygotsky (1989, p.110-111), é no brinquedo que a
criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa,
dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos
pelos objetos externos (...). No brinquedo o pensamento está separado dos objetos
e a ação surge das ideias e não das coisas: um pedaço de madeira torna-se um
cavalo.
Diante do que foi exposto, ressalta-se a importância da adoção dos
brinquedos dentro do ambiente escolar, em razão do desenvolvimento
proporcionado por eles, pois estimula a criança a descobrir, inventar, analisar,
comparar, diferenciar, classificar, etc. É, sem dúvida, muito importante na formação
global e no conhecimento infantil. Entendido como recurso que ensina, desenvolve e
educa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar
cores ou formas; nos brinquedos de tabuleiro, que exigem a compreensão do
número e das operações matemáticas; nos brinquedos de encaixe, que trabalham
noções de sequência, de tamanho e de forma; nos múltiplos brinquedos e
brincadeiras, cuja concepção exige um olhar para o desenvolvimento infantil e a
materialização da função psicopedagógica.
Com o papel de proporcionar o desenvolvimento da criança, o brinquedo
permite a ação intencional (afetividade), a manipulação de objetos e o desempenho
de ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas interações com seus pares
(social), contemplando várias formas de representação da criança ou suas múltiplas
inteligências, contribuindo muito para a aprendizagem.
De acordo com Kishimoto (2001), ao assumir a função lúdica e educativa, o
brinquedo merece algumas considerações: com a função lúdica ele propicia
diversão, prazer e até desprazer, quando escolhido voluntariamente; e com a função
educativa o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu
saber, seus conhecimentos e sua compreensão do mundo. A utilização do brinquedo
potencializa a exploração e a construção do conhecimento, por contar com a
motivação interna, típica do lúdico, mas o trabalho pedagógico requer a oferta de
42
estímulos externos e a influência de parceiros, bem como a sistematização de
conceitos em outras situações. Ao utilizar a forma lúdica (objeto suporte de
brincadeira) para estimular a construção do conhecimento, o brinquedo educativo
conquistou espaço definitivo na Educação Infantil.
A brincadeira livre permitiu a exploração, a direção da professora permitiu o
domínio, e a nova oportunidade de exploração permitiu o acréscimo de uma nova
aprendizagem. Segundo Moyles (2002, p.33), por meio do brincar livre e
exploratório, as crianças aprendem alguma coisa sobre as situações, pessoas,
atitudes, respostas, materiais, propriedades, texturas, estruturas, atributos visuais,
auditivos e sinestésicos. Por meio do brincar dirigido, elas têm uma outra dimensão
e uma nova variedade de possibilidades, estendendo-se a um relativo domínio
dentro daquela área ou atividade. Por meio do brincar livre subsequente e ampliado,
as crianças provavelmente serão capazes de aumentar, enriquecer e manifestar sua
aprendizagem.
2.3.3 Hora da rodinha da novidade Segundo Madalena Freire, em seu livro A paixão de conhecer o mundo, “um
outro dado importante da ‘hora da roda’ é a possibilidade de um conhecimento maior
das crianças entre si, e da professora em relação a elas e vice-versa.” (1983, p. 20).
Momentos como o da rodinha, em que o grupo todo está reunido em círculo,
cada um ver o outro é essencial para que aos poucos possam exercitar seus
“poderes” de decisão, tão específicos e inerentes às crianças na Educação Infantil.
Isso é também importante para que todas aprendam pelos efeitos das suas ações.
Conforme Leekeenam e Nimmo (1999, p. 265),
[...] Compartilhar, discutir e oferecer oportunidades para que haja feedback entre as crianças e seus companheiros são maneiras importantes de construir-se ideias, bem construir-se o senso de coletividade em um grupo [...]
A roda de conversa é uma excelente ocasião para promover essas situações
de interação e socialização.
43
É também neste momento que a criança aprende a se expressar oralmente, a
esperar a sua vez de falar, a ouvir o outro e interpretar o que lhe está sendo dito.
E é neste momento que as combinações são feitas e o educador explica
como será o dia e quais as atividades que serão desenvolvidas, trazendo, desta
forma, segurança para a criança, por saber o que acontecerá.
2.3.4. Hora do trabalhinho Também chamada de hora da atividade, este é o momento dos registros, das
expressões artísticas e plásticas.
Hoje se sabe que o pedagógico não está na atividade em si, mas na postura
do educador, pois “não é a atividade em si que ensina, mas a possibilidade de
interagir, de trocar experiências, e partilhar significados é que possibilita às crianças
o acesso a novos conhecimentos” (MACHADO, 1996, p. 08).
Vale a pena abrir um parênteses aqui para falar da importância das descobertas das crianças. É fundamental que as crianças tomem consciência de que elas estão fazendo, conquistando, estão se apoderando do seu processo de conhecimento e que o professor, igualmente, com elas, os dois são sujeitos desse processo na busca do conhecimento. Daí que o papel do professor não é o de “dono da verdade”, mas sim o de quem, por maior experiência e maior sistematização, tenha capacidade de devolver as crianças, de modo organizado, as informações do objeto de conhecimento. (FREIRE, 1983, p. 45).
O mais triste é ainda assistirmos a aulas de Educação Infantil onde este é
julgado o momento mais importante e, muitas vezes, o único onde as aprendizagens
se desenvolvem. Por isso, tomam grande parte do tempo, e crianças muito
pequenas acabam submetidas a longos períodos sentadas, pintando, passando por
cima de pontilhados, em atividades copiadas e reproduzidas, sem nenhum
significado pra a criança. É claro que uma criança só aprende a recortar recortando,
a pintar pintando e a colar colando, mas isso tem que ter um significado, tem que ser
de acordo com o seu interesse, adequado para a sua idade e dentro do assunto do
projeto que está sendo trabalhado naquele momento. E quem disse que o desenho
a ser pintado ou recortado não pode ser o seu ou o de um coleguinha?
2.3.5. Hora do lanche
44
Meu lanchinho, meu lanchinho, vou comer, vou comer... quem nuca ouviu
uma turma de crianças de Educação Infantil se preparando para o lanche e
cantando esta música?
Mas mais que o momento de saciar uma necessidade básica, a hora do
lanche é um momento de reflexão, onde as crianças podem fazer uma pequena
oração, ecumênica, que pode ser até mesmo construída pela turma, para agradecer
pelo alimento. A alimentação saudável deve ser enfatizada; hábitos de higiene,
como lavar as mãos antes de comer e escovar os dentes após, devem ser
incorporados a este momento e ao desenvolvimento da autonomia, pois é na hora
do lanche que a ajuda do educador é mais requisitada, para abrir, fechar etc. Além
disso, é nesta hora que, ao invés de fazer, o educador deve mostrar, ensinar e
estimular para que a criança o faça.
2.3.6. Hora da brincadeira
A brincadeira é um meio privilegiado de inserção na realidade. Através das
brincadeiras, as crianças manipulam os conhecimentos sobre si, sobre o mundo e
sobre tudo que está ao seu redor. Desta forma, é um espaço onde ela pode
expressar, de modo simbólico, suas fantasias, desejos, medos, sentimentos e os
conhecimentos construídos a partir da experiência vivida. Quando brinca, a criança
elabora hipóteses para a resolução de seus problemas e toma atitudes além do
comportamento habitual de sua idade, pois busca alternativas para transformar a
realidade. Os seus sonhos e desejos podem ser realizados facilmente na
brincadeira, quantas vezes desejar, criando e recriando as situações que ajudam a
satisfazer alguma necessidade presente em seu interior. Segundo Bruner (apud
KISHIMOTO, 2001), a brincadeira é importante para exploração, já que a ausência
da pressão do ambiente cria um clima propício para investigações necessárias à
solução de problemas. Assim, brincar leva a criança tornar-se mais flexível e buscar
alternativas de ação (p.26). A criança desenvolve-se pela experiência social em suas
interações, em suas experiências históricas, especialmente no mundo criado pelos
adultos. Desta forma, a construção do real parte então do social. A brincadeira se
45
constitui numa atividade na qual as crianças são introduzidas no mundo através da
forma de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos. Elas evoluem
por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções das brincadeiras feitas
por outras crianças e adultos. Nesse processo, ampliam gradativamente a sua
capacidade de visualizar a riqueza do mundo real, e, no plano simbólico, procuram
entender o mundo dos adultos, pois, ainda que com conteúdos diferentes, estas
brincadeiras possuem uma característica comum: a atividade do homem e suas
relações sociais de trabalho. Deste modo, vão adquirindo uma melhor compreensão
de si próprias e do outro. A brincadeira acaba sendo o resultado de relações
interindividuais, portanto de cultura, pressupondo uma aprendizagem social.
Mesmo atuando em uma estrutura imaginária, onde as crianças assumem
diferentes papéis e atribuem diversos significados às suas ações e aos objetos com
os quais interagem, na brincadeira há constante escolha por parte da criança. Essa
escolha tem como primeira limitação as regras da brincadeira, a partir dos temas e
papéis escolhidos. Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua
imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras
de organização e convivência. Por exemplo, quando brincam de “escolinha”, tem
que haver alunos e uma professora, e as atividades serão desenvolvidas de acordo
com as regras pré-estabelecidas, como ocorre numa escola real. Para brincar
conforme as regras, terão que se esforçar para exibir um comportamento
semelhante. O que na vida real é natural e passa despercebido, na brincadeira
torna-se regra e contribui para que a criança entenda o universo particular dos
diversos papéis que desempenha.
Vygotsky (1989) considera que a brincadeira cria uma zona de
desenvolvimento proximal, determinada pela capacidade de resolver de forma
independente um problema, e um nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a
colaboração de um companheiro mais capaz. A zona de desenvolvimento proximal
refere-se, assim, ao caminho que a criança vai percorrer para desenvolver funções
que estão em processo de amadurecimento.
A criança se comporta além do comportamento habitual para a sua idade, o
que faz criar uma estrutura básica para as mudanças da necessidade e da
46
consciência, originando um novo tipo de atitude em relação ao real. Na brincadeira,
aparecem tanto as ações na esfera imaginativa, numa situação de faz-de-conta,
como a criação das intenções voluntárias e as formações dos planos da vida real,
constituindo-se, assim, no mais alto nível do desenvolvimento.
Wajskop (2001) ressalta a importância da ação das brincadeiras na zona de
desenvolvimento proximal. A brincadeira é uma situação privilegiada de
aprendizagem infantil onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais
complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma
situação imaginária, assim como pela negociação de regras de convivência e de
conteúdos temáticos (...). É por essa razão que Vygotsky considera que a
brincadeira cria para as crianças uma zona de desenvolvimento proximal,
determinado pela capacidade de resolver problemas sob orientação do adulto ou
com a colaboração de um companheiro mais eficaz (p.35). A brincadeira constitui-se
em uma situação privilegiada de aprendizagem, transformando-se em fator
educativo no processo pedagógico. No entanto, esta atividade não surge
espontaneamente, mas sob a influência da educação, geralmente informal no início,
através dos contatos com parentes ou em grupos de crianças.
A brincadeira de faz-de-conta, estudada por Vygotsky, 1989, corresponde ao
jogo simbólico estudado por Piaget, onde a criança é levada a agir num mundo
imaginário, em que a situação é definida pelo significado estabelecido pela
brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes. Assim, do ponto
de vista do desenvolvimento, o jogo do faz-de-conta pode ser considerado um meio
para desenvolver o pensamento abstrato. Deste modo, no jogo do faz-de-conta a
criança torna-se aquilo que não é, age com objetos que substituem os que lhe são
vetados e interage segundo padrões que se mantém distantes do que lhe é
determinado. Isto possibilita uma liberdade para a criança, permitindo-lhe ultrapassar
os limites dados por seu desenvolvimento. Mas, apesar de ser uma situação
imaginária, é uma atividade regida por regras que são reflexo das relações reais das
pessoas com os objetos, das pessoas entre si e dos papéis que elas desempenham
no cotidiano. Ao brincar de ônibus, por exemplo, a criança tem que tomar o modelo
dos motoristas reais que conhece e extrair deles um significado geral e abstrato para
a categoria “motorista”. Para brincar conforme as regras, a criança terá que se
esforçar para exibir um comportamento igual ao do motorista, o que a impulsiona
47
para além de seu comportamento como criança. É importante registrar que o
conteúdo do imaginário provém de experiências anteriores adquiridas pelas
crianças, em diferentes contextos. Conforme a criança experimenta vários papéis na
brincadeira, poderá verificar as consequências por agir de um ou de outro modo,
fazendo com que as regras de conduta sejam internalizadas e desenvolvendo o
sistema de valores que irá orientar seu comportamento. Este tipo de brincadeira
apresenta dados que confundem a realidade com a fantasia. Isto pode ser explicado
pelas capacidades de imitação, observação e imaginação. A criança, através de sua
vontade, poderá representar o que gostaria que fosse real. Os meninos passam a
ser super-heróis, por exemplo, e as meninas princesas. Ou, então, exaltam
estereótipos, como a mãe rígida que castiga os filhos. A menina representará a mãe
que castiga a boneca, que representa sua filha. Os temas surgem a partir da
realidade que a criança observa ou experimenta em sua vida cotidiana, pois nesta
brincadeira ela reflete, mesmo que indiretamente, as relações vivenciadas no seu
mundo social. Isto permite que a criança possa reviver situações que lhe causaram
enorme excitação e alegria ou alguma ansiedade, medo ou raiva, podendo nesta
situação mágica e descontraída expressar e trabalhar essas emoções muito fortes
ou difíceis de suportar. Ela pode reviver uma situação traumática, explorando-a com
certo distanciamento, que lhe permite trabalhar situações difíceis que sentiu naquele
momento.
É importante ressaltar que é necessário que as crianças brinquem sozinhas,
pois se sentem mais à vontade para expressar suas fantasias, tomar iniciativa e
aprender realmente um comportamento social. O professor pode atuar como um
investigador, pesquisando a influência de fatores sócio-culturais através da
brincadeira, podendo esclarecer aspectos importantes do desenvolvimento infantil,
principalmente sobre o modo como aprendem e relacionam a realidade vivenciada
com a fantasia.
2.3.7 Recreio ou brinquedo livre
É importante ressaltar que o “parque” não é um tempo de recreio isolado da
dinâmica do trabalho, sem atuação do professor. Na verdade o “parque” nos
48
oferece, pela sua riqueza de variedade de interesses, assim como pela
heterogeneidade de idades, uma diversificada observação para a elaboração das
atividades a serem desenvolvidas com e pelas crianças. (FREIRE, 1983, p. 23)
Brincadeiras dirigidas levam a criança a vivenciar atividades em grupos
maiores e menores, possibilitando a consciência de conviver com o diferente e ao
mesmo tempo com as peculiaridades de cada um. Por meio dessas experiências
distintas, a criança aprende, desde cedo, a respeitar o espaço do outro e o limite de
seus desejos.
Nos dia de chuva, muitas vezes não há espaços físico adequado para
brincadeiras, então há de se buscar outras alternativas de diversão, como jogos, por
exemplo.
2.3.8. Hora do conto ou historinha
É na infância, nos primeiros anos, que o livro deve ser aproximado das
crianças, tanto quanto os brinquedos, pois para formarmos crianças que gostem de
ler, é preciso que oportunizemos a elas uma possibilidade de divertimento e
aprendizagem na leitura e na literatura. A relação que o educador tem com o livro e
com as histórias será fundamental para a aproximação de seus alunos.
Todos nós, independente de idade, sexo ou cor, temos necessidade de contar
aquilo que vivenciamos, sentimos, pensamos e sonhamos, e é por isso que o ato de
ouvir e contar histórias está quase sempre presente nas nossas vidas desde que
nascemos. Aprendemos por meio das experiências concretas das quais
participamos, mas também através daquelas experiências das quais tomamos
conhecimento através do que os outros nos contam.
Dessa necessidade humana surgiu a literatura: do desejo de ouvir e contar
para, através desta prática, compartilhar.
Contadas em versos ou em prosa, as histórias permitiram que a humanidade
passasse de geração a geração, sua história, seus efeitos, suas decepções, seus
amores, seus sonhos, seus temores e suas esperanças.
Às vezes, no dia-a-dia da escola infantil, esquecemos o quanto ouvir e contar
histórias é importante. Quando lembramos dessa importância, transformamos este
momento de partilha – que é o ato de ouvir e contar – em algo estranho. Nele,
49
contadores de história e ouvintes transformam-se em professores e alunos. A partir
daí, definidos os papéis (um conta e o outro ouve) encerra-se a possibilidade da
partilha.
Quem de nós não lembra de uma história, em particular, contada por alguém
querido, de um modo especial que, talvez por isso mesmo, até hoje somos capazes
de relembrar: fadas, reis e rainhas, florestas mágicas, loucas aventuras, romances,
histórias familiares, poderes gigantescos que por alguns instantes eram nossos...
tudo isto fazia parte do nosso mundo. Eram as histórias que nos faziam acreditar e
realizar tudo, ou quase tudo.
Se observarmos atentamente, veremos que é destas práticas, de ouvir e
contar histórias, que surge a nossa relação com a leitura e a literatura. Portanto,
quanto mais acentuarmos no dia-a-dia da escola infantil estes momentos, mais
estaremos contribuindo para formar crianças que gostem de ler, e que vejam nos
livros, na leitura e na literatura, uma fonte de prazer e de divertimento. Mas, afinal,
como podemos fazer isto? Isto quer dizer que devemos contar diariamente para as
nossas crianças? E aquelas que não querem ouvir? Devemos insistir? Devemos
contar histórias desde o berçário? Mas os bebês não são muito pequenos para ouvir
histórias? Quais são os livros mais indicados? Será que isso existe? E de que
material devem ser os livros?
Isso pode ser confirmado...
...o trabalho com a concepção sociointeracionista sobre como a criança aprende, ou seja, acredito que esse processo se dá através da interação com o meio: em se tratando de literatura a leitura acontece por meio das interações entre elas e os adultos depois, entre os adultos. Portanto, acredito que somente iremos formar crianças que gostem de ler e tenham uma relação prazerosa com a literatura se propiciarmos a elas, desde muito cedo, um contato frequente e agradável com o objeto livro e com o ato de ouvir e contar histórias. Em primeiro lugar e, após, com o conteúdo desse objeto, a história propriamente dita – com seus textos e ilustrações. (KAERCHER, 2001, p. 82)
Isto equivale a dizer que deve-se tornar o livro parte integrante do dia-a-dia
das nossas crianças. É o primeiro passo para iniciarmos o processo de uma
formação como leitores. Cabe destacar, ainda, que estou me referindo a leitores
como sendo pessoas que leiam com fluência e frequência, mas também por prazer,
por alegria, por desejo próprio. É igualmente importante frisar que, quando me refiro
à leitura, estou concebendo-a como um processo amplo de construção de sentidos
50
que não se reduz apenas ao domínio da palavra escrita, mas que,
fundamentalmente, abrange as diversas linguagens (gráfica, plástica, musical,
corporal) que fazem parte – ou deveriam fazer – do dia-a-dia da Educação Infantil.
Finalizo com:
“... é sempre bom lembrar que a literatura é arte. Arte que se utiliza da palavra como meio de expressão para, de algum modo, dar sentido à nossa existência. Se nós, na nossa prática cotidiana, deixarmos espaço para que esta forma de manifestação artística nos conquiste seremos, com certeza, mais plenos de sentido, mais enriquecidos e mais felizes.” (KAERCHER, 2001, p. 87)
2.3.9. Hora de ir embora
A hora de ir embora é um momento de fala da educadora com as famílias,
pois todos os pais ansiosos querem saber como foi o dia de seus pequeninos, o que
fizeram, o que aprenderam, portanto é muito importante que os pais sejam
esperados com um ambiente organizado, com as crianças calmas, que podem estar
montando um jogo ou brincando de massinha, com seus materiais organizados e o
educador alegre, para que os pais fiquem confiantes que não poderiam ter deixados
seus filhos em melhor lugar.
51
3. CONTRIBUIÇÕES DA ROTINA 3.1. Qualidade na rotina
Conforme já abordamos, a concepção e a prática das rotinas incluem a ideia
de tempo e espaço, bem como a organização cotidiana das atividades a serem
propostas. Ademais, elas são dinâmicas e arraigadas de vida. São ferramentas que
auxiliam na nossa reflexão e na avaliação da prática pedagógica diária, tanto quanto
no desenvolvimento das habilidades e competências inerentes à realidade infantil.
A organização das rotinas na sala de aula das instituições de Educação
Infantil é uma categoria pedagógica de vital importância, desde que haja nela
espaços para flexibilidade nas atividades cotidianas propostas às crianças, assim
como o respeito à diversidade presente em sala de aula, às subjetividades e às
histórias de vida. Isso significa espaço para se vivenciar uma rotina repleta de
diversidade de situações e experiências ao longo do processo de ensino e
aprendizagem, ocorrendo, assim, uma Educação Infantil de qualidade.
As rotinas perpassam o Projeto Político Pedagógico das instituições
educacionais e revelam a proposta de ação educativa dos seus profissionais. Em
alguns casos, elas são as normas ditadas pelo sistema, pelos diretores ou até
mesmo por professores e demais profissionais da instituição. Contudo, em algumas
escolas, as normas são construídas com os educandos, tornando-os participantes
no processo de organização da rotina, considerando-os, assim, como sujeitos
atuantes, com o poder de vez (participação), voz (a palavra) e de decisão (escolhas
e opiniões). Isto favorece a otimização das possibilidades dessas serem respeitadas
por todos que as constroem.
No presente estudo, consideramos as rotinas na perspectiva de sua
organização, ou seja, como uma categoria pedagógica estruturadora da organização
da criança no tempo e no espaço, assim como favorecedora da aprendizagem e do
desenvolvimento desses pequenos construtores do conhecimento. Portanto,
compreendemos a organização das rotinas como um dos aspectos chave para a
construção de uma Educação Infantil de qualidade.
Além de categoria pedagógica, concordamos com Barbosa (2006) ao
52
considerar as rotinas como produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no
dia-a-dia, tendo como objetivo a organização da cotidianidade. Rotina e cotidiano
são conceitos diferentes, mas que apresentam pontos de intersecção e
convergência.
A expressão “cotidiano”, diz Barbosa (2006), já começou a ser produzida no
século XVIII, quando a literatura contava, em romances, a história da vida das
pessoas comuns. Nesta época, a pintura descobria o encanto de retratar homens,
mulheres e crianças em suas atividades diárias, contribuindo para demonstrar a
riqueza da vida cotidiana e dos eventos que acontecem todos os dias. O estudo do
cotidiano foi conquistando espaço de pesquisa em diferentes áreas de
conhecimento. Para a autora (2006, p. 37):
O estudo do cotidiano foi constituindo-se como um campo de estudos nas áreas da sociologia, da antropologia e da história, nas quais o cotidiano é visto tanto como objeto de estudos como estratégia metodológica de pesquisa. A história – até então escrita a partir dos grandes feitos, dos grandes nomes – procurou incluir o dia-a-dia na análise de suas questões e a antropologia (com os estudos etnográficos) contribuiu para reivindicar a importância do cotidiano na construção teórica das ciências sociais.
Ao falarmos no cotidiano, nos referimos às significações das atividades
cotidianas propostas no dia-a-dia das crianças que influem no processo de
construção do conhecimento de cada uma delas na sala de aula de Educação
Infantil.
Mas o que seriam, então, as rotinas rotineiras? [...] “Rotineiras são as ações
ou os pensamentos – mecânicos e ou irrefletidos – realizados todos os dias da
mesma maneira, um uso geral, um costume antigo ou uma maneira habitual ou
repetitiva de trabalhar.” [...] (Ibid., p. 41).
Em contraposição à rotina, o cotidiano é muito mais abrangente e refere-se a
uma noção espacial e temporal fundamental para a vida humana, pois tanto nele
acontecem as atividades repetitivas, rotineiras, triviais, como também é o locus onde
há a possibilidade de se encontrar o inesperado, onde há margem para a inovação,
onde se pode alcançar o extraordinário do ordinário (Ibid., p. 37). Logo:
As rotinas podem ser vistas como produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia-a-dia, tendo como objetivo a organização da
53
cotidianidade. São rotineiras atividades como cozinhar, dormir, estudar, trabalhar, cuidar da casa, reguladas por costumes e desenvolvidas em um espaço tempo social definido e próximo, como a casa a comunidade ou o local de trabalho.
Ao organizar o cotidiano da criança, estamos organizando a rotina da escola
onde ela passa parte significativa do seu tempo, tendo acesso a diferentes
estratégias, experiências, recursos e relações que deixam, deixaram e deixarão as
suas marcas para a vida e para o mundo.
As rotinas são entendidas aqui não apenas como “[...] um dos elementos
integrantes das práticas pedagógicas e didáticas que são previamente pensadas,
planejadas e reguladas, com o objetivo de ordenar e operacionalizar o cotidiano da
instituição e constituir a subjetividade de seus integrantes [...]” (Ibid. p. 39), mas
também como a dimensão educativa favorecedora da aprendizagem e do
desenvolvimento infantil, onde o ritmo, o envolvimento, o contato com o mundo, a
realização, a liberdade, a brincadeira, a consciência, a imaginação, as interações
dos sujeitos nela envolvidos e os encantos da infância estejam presentes, para que
possa atuar como caminho para uma Educação Infantil de qualidade.
3.2. Qualidade na Educação Infantil
O desempenho social da Educação Infantil no Brasil vem se alterando
gradativamente. Atualmente, almejamos a valorização e o reconhecimento da
instituição educativa infantil como ambiente propício à vivência de direitos e deveres
de todas as crianças, incluindo o direito ao acesso à Educação Infantil de qualidade.
Esse reconhecimento e essa valorização necessitam de alguns fatores
essenciais: a participação efetiva do Estado, das crianças, da família e da
sociedade, a fim de que seja construída uma educação de qualidade, cada vez mais
sólida e edificada.
A busca pela qualidade da Educação Infantil cresce com as contribuições
advindas das mais diversas áreas do conhecimento. Jamais se almejou tanto a
melhoria e os avanços desse segmento para os sujeitos envolvidos nesse processo
educativo: nós professores, os alunos e toda a comunidade ali inserida.
A discussão a respeito da qualidade da educação para as crianças pequenas
proposta nas instituições de Educação Infantil tem alcançado maior respaldo a partir
54
da década de 1990, seguindo as modificações contextuais, sociais, políticas,
econômicas e legais advindas com os avanços tecnológicos, a globalização e a
redemocratização do país. A esse respeito:
A qualidade é uma das grandes exigências e desafios das últimas décadas; tornou-se um bem a ser conquistado, palavra de ordem em todos os setores da sociedade. Qualidade dos serviços de saúde, qualidade no transporte, na alimentação, qualidade de vida (CORRÊA, 2007, p. 85).
De acordo com Sousa (1998, p.1), “[...] a qualidade de vida, associada ao
conceito de saúde e bem-estar das pessoas, das comunidades e das populações,
também se agrega a este conjunto de exigências. De certa forma, o conceito de
qualidade se insere no de cidadania [...]”.
Cidadania é entendida, desse modo, como um dos maiores desafios que
permeia toda a Educação Infantil. Conforme Oliveira (2002, p.52), o “[...] marco
maior de todo o processo de Educação Infantil é o trabalho de formação para a
cidadania”, onde ser cidadão significa “[...] ter acesso a formas mais interessantes
de conhecer e aprender a enriquecer-se com a troca de experiências com outros
indivíduos. [...]” (Ibid, p. 52). Ainda para Oliveira (2002, p. 52-53):
Educar para a cidadania envolve a formação de atitudes de solidariedade para com os outros, particularmente com aqueles em dificuldade de superação de atitudes egoístas; implica fazer gestos de cortesia, preservar o coletivo, responsabilizar-se pelas próprias ações e discutir aspectos éticos envolvidos numa determinada situação. Inclui, para cada criança, poder se expressar e respeitar a expressão do outro em relação a sentimentos, ideias, costumes, preferências, ser aceita em suas características físicas e morais [...]
Para Sousa (2006), embora a qualidade seja algo muito importante para a
vida de todos nós, nem sempre paramos para pensar a respeito dela. Parece mais
fácil exigir, falar sobre ou reconhecer a qualidade em produtos, serviços, programas,
pessoas ou numa equipe de trabalho, do que defini-la em virtude de uma série de
fatores que se interpenetram, começando com a natureza ambígua,
multidimensional e subjetiva do termo qualidade.
De acordo com Dahlberg, Moss E Pence (2003), a qualidade não é uma
expressão neutra, mas rica em valores, construída por determinada sociedade a
quem serve e mantém seus interesses.
55
Gentili (2002, p.157) encontra no conceito de qualidade uma lógica capitalista
baseada “[...] na adaptabilidade e ajuste ao mercado, competitividade, produtividade,
rentabilidade, mensurabilidade [...]”. Para ele, essa lógica está associada ao trabalho
desenvolvido nas instituições educativas, em especial, as infantis, e ao trabalho
realizado nelas. Nas suas palavras:
Um novo discurso da qualidade deve inserir-se na democratização radical do direito à educação. Isto supõe que, em uma sociedade plenamente democrática, não pode existir a contradição entre o acesso à escola e o tipo de serviço por ela proporcionado. Assim, como não há democratização sem igualdade no acesso, tampouco haverá sem igualdade na qualidade recebida por todos os cidadãos e sem a abolição definitiva de qualquer tipo de diferenciação ou segmentação social (p.176).
Bondioli (2004), atuando na realidade voltada às escolas infantis em Reggio-
Emilia, na Itália, discutiu a natureza da qualidade, o seu modo flexível e negociável,
e sugeriu indicadores de qualidade para as creches. “[...] Isto é, a qualidade
depende de debates entre os envolvidos acerca da determinação dos valores,
objetivos e prioridades do trabalho desenvolvido” (CORRÊA, 2007, p. 90).
Para Bondioli (2004), a qualidade é autoreflexiva, contextual, com natureza
processual, participativa e transformadora. A qualidade na perspectiva processual é
vista como processo, como construção e não como um dado pronto e acabado. Já a
qualidade na dimensão participativa é aquela em que ocorre a atuação democrática
dos sujeitos sociais envolvidos. Por fim, a natureza transformadora modifica as
demais, visando à mudança para o melhor.
Seguindo nesta perspectiva, Capistrano (2005, p. 54) complementa o
conceito de qualidade associando-o à dimensão humana. Para ela:
A busca da sensibilidade humana, que ainda se faz pouco presente em nossas pesquisas ou estudos sistematizados, a qualidade em vir a ser a escola um espaço de ludicidade, prazer, cooperação, conflitos e busca. Algo que possa ultrapassar os muros da escola e contaminar a sociedade na procura de novas formas de viver e ser feliz. A qualidade da educação baseada na qualidade de vida, na relação com o outro, nas alegrias, na busca do conhecimento, nas brincadeiras e conflitos que o cotidiano pode nos proporcionar.
Para se alcançar uma Educação Infantil de qualidade, amplos são os fatores que necessitam ser considerados, entre eles destacamos principalmente:
56
[...] satisfazer as necessidades e interesses das crianças e envolvê-las cognitiva e afetivamente, cada vez mais, com o seu próprio processo educativo. E ainda seduzi-las com o desafio de aprender a aprender, ampliando progressivamente seus horizontes de possibilidades, desejos, aspirações e realizações (SOUSA, 1998, p.23).
As repercussões das distintas concepções de qualidade, frente aos diferentes
contextos educativos, são apontadas por Zabalza (1998) ao destacar a
multidimensionalidade. O autor explicitou dez aspectos chaves da qualidade, dentre
eles: a organização dos espaços; o equilíbrio entre a iniciativa infantil e o trabalho
dirigido no momento de planejar e desenvolver as atividades; a atenção privilegiada
aos aspectos emocionais; a utilização de linguagem enriquecida; a diferenciação de
atividades para abordar todas as dimensões do desenvolvimento e todas as
capacidades; os materiais diversificados e polivalentes; a atenção individualizada a
cada criança; os sistemas de avaliação e o trabalho com mães e pais.
Por acreditarmos que as vivências prazerosas, diversificadas, amplas,
motivadoras e saudáveis no ambiente escolar possibilitam às crianças a constituição
de interações que colaboram qualitativamente para o seu desenvolvimento, e que
essas fazem parte das rotinas, assumimos que estas são uma dimensão de
fundamental importância para o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, já
que ela passa parte significativa do seu tempo nas creches e pré-escolas, e, por
isso, enfatizamos nesta pesquisa a construção das rotinas como caminhos para uma
Educação Infantil de qualidade.
Também defendemos que uma Educação Infantil de qualidade supõe a
construção de um Projeto Político Pedagógico, que ofereça respaldo significativo à
criança no sentido de construção de uma rotina voltada para as suas necessidades
específicas. Do mesmo modo, essa proposta deve nos possibilitar a elaboração de
planejamento de objetivos e atividades coerentes com essas necessidades. Isso
implica, entre outras coisas, usarmos o tempo de forma construtiva e qualitativa,
oferecendo espaços para que as crianças se envolvam com satisfação nas vivências
oferecidas.
Na busca por uma Educação Infantil de qualidade, torna-se indispensável a
nossa qualificação e formação específica, tanto no que diz respeito à formação
inicial, quanto à formação continuada – ambas direito dos profissionais de Educação
Infantil e obrigação do Estado. Essa formação influenciará nossos conceitos e
atitudes frente às crianças. Repercutirá, ainda, na formação de nossos conceitos
57
relativos à criança e à infância, que de uma ou outra forma terá reflexo no nosso
planejamento, bem como na nossa postura cotidiana como educadores.
Em resumo, a Educação Infantil é uma construção coletiva que envolve as
crianças, as famílias, o corpo docente e toda a comunidade educativa da instituição.
Para isso, tudo tem importância, as interações, os diálogos, os ambientes, os
materiais e a rotina. Cada coisa e o seu conjunto precisam ser favorecedores do
desenvolvimento e da aprendizagem da criança. Em outras palavras, em se tratando
da qualidade na Educação Infantil nada pode ser negligenciado. Desde a
organização dos tempos das crianças até as estratégias para envolvê-las nos
fazeres cotidianos. Do planejamento da Projeto Político Pedagógico ao
planejamento das aulas. Não menos importantes são os nossos critérios de seleção,
mediadores da construção do conhecimento da criança.
Mas qual é a relação entre a qualidade e a organização da rotina?
Uma rotina se constitui a partir de um dia-a-dia de trabalho e de vivências que
se estruturam no tempo, com ritmos e marcas particulares. Para construir um grupo
harmonioso e produtivo, no qual cada pessoa se sinta atendida em suas
necessidades, é preciso que essa rotina conte com marcas bem definidas,
equilibrando diversidade e constância o tempo todo. Isto significa que, mesmo
apresentando atividades variadas, o grupo precisa contar com uma rotina própria
(Citado em BRASIL, 2006, p.28).
De certa forma, tanto o conceito de rotinas considerado como a estruturação
da criança no tempo e no espaço quanto o de qualidade dizem respeito à vida, à
aprendizagem e ao desenvolvimento. Conforme nos lembra Sousa (2006):
[...] a qualidade é entendida, antes de tudo, como uma lógica significadora da vida que, no contexto da Educação Infantil, aponta para a necessária criação e expansão das melhores condições para o crescimento, o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, e, portanto, também significadora da prática pedagógica do professor [...]
Na perspectiva de uma Educação Infantil de qualidade, ao vivenciar as
atividades cotidianas propostas, ao construir e reconstruir as vivências inerentes à
rotina escolar, a criança elabora conhecimentos, desenvolve habilidade e processa a
sua autonomia. Ademais, aprende a questionar, a expor suas hipóteses de
pensamento e as suas ideias, e a acreditar em si mesma. Torna-se, assim,
58
construtora de uma rotina previsível, mas não rígida, constituída por atividades
variadas e significativas. Uma rotina capaz de respeitar as necessidades de cada
criança.
Assim, numa rotina de qualidade há espaços para atividades previsíveis,
como o momento da acolhida, da entrada, da roda de conversa, do lanche, do
parque e da saída, assim como para correr, pular, brincar, inovar, aprender e
ensinar, além dos momentos mais espontâneos que usufruam da paz e da
tranquilidade, atividades coletivas e aquelas mais individuais. Uma rotina em
movimento, permeada por atividades diversificadas, ricas e significativas para o
universo infantil.
Movimento entendido aqui na concepção das múltiplas linguagens infantis, ou
seja, nas infinitas formas de significar a aprendizagem e o conhecimento, construir e
reconstruir o mundo de inúmeras maneiras, numa perspectiva de ir e vir,
experimentar, ousar, inovar, criar, desafiar e dar significado à vida e ao mundo como
favorecedor do desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Nessa perspectiva, a rotina está vinculada ao currículo em movimento,
conforme nos esclarece Barbosa (2006, p.111):
Auxiliar o cotidiano de uma professora, ou seja, transformar planejamentos em projetos vivos, é pensar no currículo em movimento, em ação e em todos os elementos que o constituem e o significam como um campo de sentidos. Para isso é fundamental questionar as rotinas estabelecidas e cristalizadas, saber suas razões e origens evitando que engessem crianças e professores.
Um currículo em movimento favorece a organização das rotinas na
concepção de diferentes linguagens, mesclando a diversidade e a construção do
conhecimento vinculadas a uma Educação Infantil de qualidade. Segundo SOUSA
(2006), Educação Infantil, qualidade e diversidade são conceitos que se relacionam
entre si. Neste sentido, as rotinas se constituem, mais uma vez, numa das
dimensões da qualidade e, como tal, estão em constante desenvolvimento e
construção, sempre de forma dinâmica.
Desta forma, como a criança passa parte significativa de sua infância na
escola, precisamos pensar numa Educação Infantil de qualidade, em que as rotinas
sejam flexíveis e construtoras do conhecimento, recheadas por múltiplas linguagens,
59
sendo constituídas junto com as crianças, sempre respeitando a diversidade do
mundo infantil.
Ao considerarmos as várias dimensões da qualidade da Educação Infantil
como promotora do desenvolvimento e da aprendizagem da criança, verificamos
que as rotinas também contribuem para a formação de cultura de valorização da
infância e da criança, de modo que elas possam alcançar, de forma mais
significativa, o respeito da sociedade, uma vez que possibilitam uma vasta reflexão
sobre as suas especificidades.
Um dos caminhos é a compreensão da importância do respeito à
singularidade e à diversidade das crianças na sala de aula, podendo, de modo mais
adequado, construir a qualidade, conforme sugerido por SOUSA (2006, p. 100): “[...]
uma Educação Infantil de qualidade é aquela que proporciona à criança um estado
mais permanente de bem-estar e a mantém envolvida, à medida que experiência as
coisas e aprende [...]”.
Desse modo, ao pensarmos a qualidade na Educação Infantil, precisamos
refletir a respeito da formação dos educadores das crianças pequenas, as suas
concepções sobre criança e infância, os sujeitos envolvidos nesse processo de
construção da qualidade, e a respeito da importância da organização da rotina no
contexto da sala de aula. Isso ocorre porque é a partir dos conhecimentos das
crianças que atividades serão propostas e mediações serão realizadas, gerando e
determinando seus fazeres pedagógicos que necessitam, constantemente,
coerência entre a teoria e a prática.
As crianças apresentam especificidades – uma maneira própria de ser – que
as diferenciam dos adultos por pensarem o mundo de uma forma própria, com
competências e saberes peculiares, construídos nos caminhos percorridos durante a
sua trajetória de vida. Se nós formos capazes de perceber a criança dessa forma,
conseguiremos pensar a organização da rotina para a criança, sempre respeitando e
compreendendo o tempo e o ritmo inerente a ela, na dimensão de competências que
lhe são próprias, abrindo espaços para que ela seja protagonista em seu processo
de desenvolvimento e a sua aprendizagem.
Partimos da mesma abordagem de Sousa (2006), ou seja, as crianças
precisam ser consideradas como sujeitos da própria educação. Isso para assim
avaliar se as rotinas apresentadas nas escolas infantis são adequadas para a
60
criança de acordo com suas necessidades, com o seu universo e contexto, e não o
inverso.
Desse modo, torna-se imprescindível pensarmos numa rotina voltada aos
interesses e necessidades da criança quando falamos numa Educação Infantil de
qualidade. Para isso, as salas de aula das creches e pré-escolas precisam ter uma
rotina que proporcione atividades, envolvendo diversas linguagens infantis,
adequadas ao grupo de crianças e ao contexto de cada uma delas, organizadas de
tal forma que ampliem o atendimento das necessidades específicas inerentes a
infância, bem como sejam propícias à diversidade de vivências para elas,
respeitando-as como sujeitos de direitos e deveres.
Mas será que há documentos que defendam a qualidade na Educação Infantil
e ofereçam suporte teórico ao educador sobre as especificidades das crianças
durante a infância?
No Brasil, embora a Constituição Federal já apresente “[...] a garantia da
qualidade do ensino [...]” como um dos princípios da educação em seu artigo 206,
trataremos, aqui, dos seguintes documentos: o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil (RCNEI) e os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a
Educação Infantil (PNQEI). Tais documentos foram utilizados nesta pesquisa por
apresentarem especificidades sobre a qualidade na Educação Infantil.
61
4. A PESQUISA COMO BUSCA DE INFORMAÇÕES 4.1. Um retrato do que pensam os educadores de Educação Infantil de Santa Cruz do Sul A pesquisa foi realizada com 13 professoras e 1 monitora. As catorze
entrevistadas, todas do sexo feminino, atuam na Educação Infantil, em sala de aula;
5 fizeram magistério, 11 têm graduação e 7 especialização.
Esses primeiros dados nos mostram que as mulheres são maioria na
educação infantil. Das 14 entrevistadas 11 têm graduação, ou seja, têm
conhecimento das fases do desenvolvimento infantil, sendo assim, não atuam por
intuição, mas com objetivo. Dentre as 4, 7 têm especialização, isso nos mostra que
as profissionais estão em constante aprimoramento.
Com relação ao tempo de atuação no magistério, quatro atuam de dois a
cinco anos, sete atuam de cinco a 10 anos e três atuam de 10 a 20 anos. Já na
Educação Infantil especificamente, uma atua a menos de dois anos, três atuam de
dois a cinco anos, quatro de cinco a 10 anos e seis de 10 a 20 anos. Estes últimos
dados nos mostram que a maioria das professoras têm tempo maior na educação
infantil, isso deixa claro o quanto é apaixonante a educação, pois quem entra acaba
ficando, se graduando e especializando na área.
Todas já leram sobre rotina, isso nos mostra a importância da rotina na
educação infantil e também que a rotina está presente nos cursos de graduação e
especialização. 13 utilizam a rotina diariamente e apenas uma às vezes, mas as 14
entrevistadas sabem da importância da rotina. Se das 14, 13 usam rotina
diariamente comprova que rotina é fundamental na organização do espaço e do
tempo da educação infantil.
Um bom exemplo de rotina, que utilizo diariamente em minha sala de aula e
afirmo que dá certo, foi explicado no capítulo 2 e tem a seguinte sequência: hora da
chegada, hora do brinquedo livre, hora da rodinha da novidade, hora do trabalhinho,
hora do lanche, hora da brincadeira, recreio ou brinquedo livre, hora do conto ou da
historinha e hora de ir embora.
62
Os livros citados na entrevistas foram também utilizados como bibliografia
neste trabalho. Sendo eles Educação Infantil, pra que te quero? Qualidade na
educação infantil e Paixão de conhecer o mundo.
Esta pesquisa então mostra que os profissionais que responderam aos
questionamentos estão capacitados para atuar na educação infantil pois lêem sobre
rotina, utilizam em suas práticas, continuam se aprimorando e se interessando em
que a educação infantil tenha de fato qualidade.
63
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluir uma trajetória de estudos nos leva a um momento de reflexão onde
percebemos que revelar ideias, pensamentos e construções foi algo desafiador,
momento de superação e de muitas aprendizagens. Foi também um momento de
construção de saberes e de desenvolvimento de novos conhecimentos.
Uma leitura nos leva a outra e uma dúvida gera tantas outras. Não há muita
bibliografia a respeito da rotina da Educação Infantil, e o que mais pesou foi, de fato,
a comprovação das pesquisas, das entrevistas, das leituras, da importância da rotina
e da grande contribuição que ela dá ao planejamento do educador a ao
desenvolvimento das crianças.
Afirmamos, portanto, a importância da participação das crianças na
construção e organização da rotina das escolas infantis, na organização do tempo e
espaço, para que estejam presentes nas atividades diárias do mundo infantil numa
perspectiva integrada entre o cuidar e o educar.
Ressaltamos o cuidado para organizar a rotina da criança sem que isso
torne as atividades rotineiras repetitivas, desmotivadoras e exaustivas sendo
realizadas da mesma forma todos os dias.
Lembramos, ainda, que ao considerarmos estas atividades, devemos
ponderar algumas especificidades inerentes ao universo infantil, principalmente as
afetivas, emocionais, sociais e cognitivas. Estas repercutem na construção de
referenciais essenciais das crianças, tais como a segurança, a autoestima e a
desenvoltura para o enfrentamento do mundo exterior.
Afinal, não podemos esquecer que cabe ao educador [...] “centralizar-se na
provocação de oportunidades de descobertas, através de uma espécie de facilitação
alerta e inspirada e de estimulação do diálogo, de ação conjunta e da co-construção
do conhecimento com a criança”. [...] (EDWARDS, 1999 p.159) .
Para isso, nós educadores assumimos diferentes papéis no contexto da sala
de aula, dentre eles a promoção da aprendizagem das crianças nos domínios
cognitivo, social, físico e afetivo (necessidades específicas); o manejo da sala de
aula (a organização do tempo e dos ritmos das crianças); a preparação do ambiente
64
(o uso do espaço); o oferecimento de incentivo e orientação (a construção da
identidade e da autonomia); a comunicação com outras pessoas importantes da
comunidade pedagógica presente na instituição de ensino (a ocorrência das
interações).
Logo, precisamos, dentre outros aspectos, estarmos bem fisicamente e
emocionalmente para que possamos favorecer o desenvolvimento, a aprendizagem
e o bem-estar das crianças.
Afinal, ao pensarmos na rotina escolar de uma sala de aula da Educação
Infantil, estamos tratando das crianças enquanto sujeito de direitos e deveres, com
contextos e histórias de vidas diversas, que têm muitas vezes a oportunidade de
alçar vôos na construção do conhecimento de forma qualitativa e significativa
apenas na escola, ao participarem das atividades ali propostas.
A realização desta pesquisa fortaleceu a nossa inquietação sobre a
importância da organização das rotinas para o desenvolvimento e a aprendizagem
das crianças pequenas, sobre o quanto é necessário que os educadores da infância
reflitam sobre as suas estratégias em sala de aula, as atividades propostas, a
importância da ludicidade, os jogos e as brincadeiras, as histórias contadas, o uso
da imaginação, a construção das interações, dos vínculos afetivos e de todas as
vivências realizadas diariamente no ambiente escolar. Tudo isso frente à
singularidade de cada uma das crianças, ás suas histórias de vida, aos seus
contextos diversos, às suas subjetividades no que tange à construção das rotinas
como caminho para uma Educação Infantil de qualidade.
65
BIBLIOGRAFIA
ABRAMOVAY, Miriam; KRAMER, Sônia. O rei está nu: um debate sobre as funções da pré-escola. Cadernos CEDES, São Paulo, n. 9, p. 27-38, 1985.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006.
BARRETO, Ângela Maria Rabelo Ferreira. Situação atual da Educação Infantil no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Infantil. Coordenação-Geral de Educação Infantil. Subsídios para o credenciamento e funcionamento de instituições de Educação Infantil. Brasília, v. 2, 1998.
BATISTA, Rosa. O caráter educativo da creche: um estudo de caso a partir da rotina. Dissertação (Mestrado em Pedagogia). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.
BITTAR, M.; SILVA, J.; MOTA, M. A. C. Formulação e implementação da
política de educação infantil no Brasil. In: Educação infantil, política, formação e prática docente. Campo Grande: UCDB, 2003.
BRASIL. Constituição (1988). Brasília, 1988.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990. Dispõe sobre o Estatudo da Criança e do Adolescente. Brasília, 1990.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Infantil. Referencial
Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília, v. 2, 1998.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Escola infantil: pra que te quero?. In: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gladis. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora, p. 13-23, 2001.
COSTA, Eliana A. Pires da. O Espaço do Pré... In: MORAIS, Regis (org.). Sala de aula: que espaço é esse? Campinas: Papirus, 1986.
66
CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gladis. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri. Infância, pesquisa e relatos orais. In, DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri; FARIA, Ana Lúcia Goulart; PRADO, Patrícia Dias (orgs). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas: Autores Associados, 2002.
DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a creche, um bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Brasília, v. 18, n. 73, p. 11-28, 2001.
FERREIRA, Maria Clotilde Rossetti (Org.). Os fazeres na educação infantil. São Paulo: Cortez, 2000.
FRANCO, Márcia Elizabete Wilke. Compreendendo a infância: como condição de criança. Porto Alegre: Mediação, 2002.
FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo: relato de uma professora. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Madalena. Rotina: construção do tempo na relação pedagógica. 2. ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1998.
GONZÁLEZ REY, Fernando Luis. O sujeito que aprende: desafios do desenvolvimento da aprendizagem na psicologia e na prática pedagógica. In: TACCA, Maria Carmem (org). Aprendizagem e trabalho pedagógico. Campinas: Alínea, 2006.
KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.
LEITE FILHO, Aristeo. Proposições para uma educação infantil cidadã. In: GARCIA, Regina Leite; LEITE FILHO, Aristeo. (orgs.). Em defesa da educação infantil. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. p. 29-58. (Coleção O sentido da escola)
LUFT, Celso Pedro (Ed.). Minidicionario Luft. 20 ed. São Paulo: Ática, 2000.
MACHADO, Maria Lucia de A. Educação infantil e sócio-interacionismo. In:
67
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de (org). Educação infantil: muitos olhares.
São Paulo: Cortez, 2007.
MOYLES, Janet. Só Brincar? O papel do brincar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez, 2007.
OSTETTO, Luciana Esmeralda (org). Encontros e encantamentos na educação infantil: partilhando experiências de estágios. 6 ed. Campinas: Papirus, 2000.
PANIAGUA, Gema; PALACIOS, Jesus. Educação infantil: resposta educativa
à diversidade. Porto Alegre: Artmed, 2007.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem.
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ZABALZA BERAZA, Miguel Angel. Qualidade em educação infantil. Porto
Alegre: Artmed, 1998.
68
ANEXOS
ANEXO I: Questionário distribuído ás professoras entrevistadas
Esta pesquisa é parte do trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Supervisão Escolar.
SANTA CRUZ DO SUL, ABRIL DE 2010
SUPERVISIONANDO A ROTINA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
NOME
.............................................................................................................................................................
SEXO
( ) Masculino ( ) Feminino
ÁREA DE ATUAÇÃO
( ) Professor ( ) Monitor
FORMAÇÃO
( ) Ensino Médio ( ) Magistério ( ) Graduação – qual?
( ) Especialização – qual? ( ) Mestrado – qual? ( ) Doutorado – qual?
TEMPO DE ATUAÇÃO NO MAGISTÉRIO
( ) Menos de 2 anos ( ) De 2 a 5 anos ( ) De 5 a 10 anos ( ) De 10 a 20 anos ( ) Mais de 20 anos
TEMPO DE ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
( ) Menos de 2 anos ( ) De 2 a 5 anos ( ) De 5 a 10 anos ( ) De 10 a 20 anos ( ) Mais de 20 anos
VOCÊ JÁ LEU SOBRE ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL?
( ) Não
( ) Sim – o que você leu?
...................................................................................................................................................................
NA SUA OPINIÃO, PARA QUE SERVE A ROTINA?
...................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
VOCÊ UTILIZA A ROTINA DIÁRIA?
69
( ) Não ( ) Sim ( ) Às vezes
POR QUE VOCÊ OPTOU POR ESTA ROTINA?
...................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
SE VOCÊ UTILIZA A ROTINA DIÁRIA, EM QUANTAS ETAPAS ELA É DIVIDIDA E QUAIS SÃO ELAS?
.............................................................................................................................................................
QUAIS CONTRIBUIÇÕES A ROTINA JÁ TROUXE AO DESENVOLVIMENTO DOS SEUS ALUNOS?
..............................................................................................................................................................
70
RESULTADO DA PESQUISA
Esta pesquisa é parte do trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Supervisão Escolar.
SANTA CRUZ DO SUL, ABRIL DE 2010
SUPERVISIONANDO A ROTINA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
NOME
..............................................................................................................................................................
SEXO
0 Masculino 14 Feminino
ÁREA DE ATUAÇÃO
13 Professor 01 Monitor
FORMAÇÃO
0 Ensino Médio 5 Magistério 11 Graduação – qual?
7 Especialização – qual? 0 Mestrado – qual? 0 Doutorado – qual?
TEMPO DE ATUAÇÃO NO MAGISTÉRIO
0 Menos de 2 anos 4 De 2 a 5 anos 7 De 5 a 10 anos 10 De 10 a 20 anos 0 Mais de 20 anos
TEMPO DE ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
1 Menos de 2 anos 3 De 2 a 5 anos 4 De 5 a 10 anos 6 De 10 a 20 anos 0 Mais de 20 anos
VOCÊ JÁ LEU SOBRE ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL?
0 Não
14 Sim – o que você leu?
...................................................................................................................................................................
NA SUA OPINIÃO, PARA QUE SERVE A ROTINA?
...................................................................................................................................................................
VOCÊ UTILIZA A ROTINA DIÁRIA?
0 Não 13 Sim 1 Às vezes
POR QUE VOCÊ OPTOU POR ESTA ROTINA?
...................................................................................................................................................................
71
SE VOCÊ UTILIZA A ROTINA DIÁRIA, EM QUANTAS ETAPAS ELA É DIVIDIDA E QUAIS SÃO ELAS?
...................................................................................................................................................................
QUAIS CONTRIBUIÇÕES A ROTINA JÁ TROUXE AO DESENVOLVIMENTO DOS SEUS ALUNOS?
...................................................................................................................................................................