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FACULDADE DOM ALBERTO PÓS- GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL – PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL O PSICOPEDAGOGO FRENTE À INCLUSÃO DOS DEFICIENTES MENTAIS NA REDE REGULAR DE ENSINO Gislaine Aline Priebe Santa Cruz do Sul, setembro de 2009.

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FACULDADE DOM ALBERTO

PÓS- GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL –

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL

O PSICOPEDAGOGO FRENTE À INCLUSÃO

DOS DEFICIENTES MENTAIS NA REDE REGULAR

DE ENSINO

Gislaine Aline Priebe

Santa Cruz do Sul, setembro de 2009.

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Gislaine Aline Priebe

O PSICOPEDAGOGO FRENTE À INCLUSÃO

DOS DEFICIENTES MENTAIS NA REDE REGULAR

DE ENSINO

Trabalho de conclusão de cursoapresentado ao programa de Pós-Graduação da Faculdade Dom Alberto– Especialização em OrientaçãoEducacional - PsicopedagogiaInstitucional, sob a orientação daProfessora Ms. Luciane TorezanViegas, como pré-requisito paraobtenção do título de EspecialistaPsicopedagogia Institucional.

Santa Cruz do Sul, setembro de 2009.

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Agradecimentos

A toda a equipe pedagógica da Faculdade Dom Alberto, principalmente às

professoras Luciane Viegas e Luana Porto pelo apoio e dedicação e mim prestados

na construção desta monografia. Aos meus pais por sempre terem apostado em

mim e pelos valores que me transmitiram.

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“Temos direito a ser iguais quando

a diferença nos inferioriza,

temos direito a sermos diferentes

quando a igualdade nos descaracteriza”.

Boaventura de Souza Santos

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RESUMO

O referido trabalho intitula-se “O psicopedagogo frente à inclusão dos deficientes mentais na rederegular de ensino”. Este estudo foi realizado com o objetivo de investigar e analisar o trabalho dopsicopedagogo com alunos que apresentam deficiência mental, procurando pesquisar ascontribuições e a importância do trabalho deste profissional e refletindo sobre a importância dasescolas contarem com um psicopedagogo. Os instrumentos de pesquisa constituíram-se de umquestionário contendo questões abertas para professores e psicopedagogo e observações realizadasem uma turma de alunos de uma escola municipal de Candelária onde se tem um aluno comdeficiência mental incluso, para posterior análise qualitativa. Os resultados foram analisados atravésdas seguintes categorias: importância do trabalho do psicopedagogo com alunos que apresentamdeficiência mental e contribuições do psicopedagogo nas escolas dos alunos com deficiência mental.Foi possível averiguar o quão importante é o trabalho através de intervenções psicopedagógicas comos alunos que apresentam deficiência mental, pois através desta intervenção o psicopedagogo podeauxiliar nos processos de aprendizagem destes alunos, facilitando assim sua adaptação na rederegular de ensino, uma vez que um dos focos psicopedagógicos são as dificuldades e defasagens daaprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogo – Inclusão Escolar – Deficiência Mental.

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ABSTRACT

The referred work calls "the psychology-pedagogy professional in front of inclusion of people withmental deficiency in regular education network". This study was accomplished with the objective ofinvestigate and analyze the psychology-pedagogy professional's work with students that are deficientmental, looking for the work's contribution and importance of that professional, considering theschool's relevance of having the professional. The searching instruments were constituted by aquestion form with open questions to teachers and psychology-pedagogy professional, besidesobservations accomplished in a municipal school's class in Candelaria town with a mental deficiencystudent to posterior quantitative analysis. The results were analyzed by the following categories:psychology-pedagogy professional's work relevance with the mental deficiency student andprofessional's contribution in schools with students that are deficient mental In this case was possibleto verify that is very important the work though psychology-pedagogy interventions in students with amental deficiency, because though this intervention the psychology-pedagogy professional can assistin student's procedures of learning, making easier their adaptation in a regular education network,since one of psychology-pedagogy professional's focus are learning's difficulties and delays.

Keywords: Psychology-pedagogy professional - Inclusion - Mental Deficiency

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................8

1 A DEFICIÊNCIA MENTAL COM O PASSAR DOS ANOS.....................................11

1.1 História da Deficiência Mental no mundo ...........................................................11

1.2 Tratamento dado às pessoas com Deficiência Mental ao longo dos tempos ...14

2 O PSICOPEDAGOGO E A INCLUSÃO DOS DEFICIENTES MENTAIS NA REDE

REGULAR DE ENSINO................................................ ...........................................16

2.1 Breve histórico da Psicopedagogia.....................................................................16

2.2 O psicopedagogo como facilitador da inclusão dos deficientes mentais na rede

regular de ensino.......................................................................................................17

2.3 Estudo de caso....................................................................................................19

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................25

REFERÊNCIAS ........................................................................................................26

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INTRODUÇÃO

A inclusão é um tema bastante abordado atualmente, sabe-se que todo aluno

com necessidades educativas especiais deve estar na escola regular, socializados

com os “ditos normais”, pois sabemos que os seres humanos não vivem sem se

relacionar com outros seres humanos. Neste contexto da inclusão entram os

deficientes mentais (DM), que também devem estar incluídos na escola regular.Neste sentido, fez-se necessário avaliar a importância de alguns profissionais

que são fundamentais no processo de inclusão dos alunos com DM. Um destes

profissionais é o psicopedagogo.O psicopedagogo, clínico ou institucional, tem sua importância no processo de

inclusão dos alunos com DM, uma vez que este terá um olhar diferenciado para

estes alunos e poderá ajudar os professores para que os DM não sejam apenas

mais um na sala de aula, mas, sim, alguém que juntamente com os outros alunos

possa crescer e desenvolver suas aprendizagens para escola e para a vida.Considerando tal importância deste profissional, um dos temas que motivou

este estudo, é o papel do psicopedagogo na inclusão de alguns DM na rede regular

de ensino de uma escola municipal de Candelária. Nesta escola, estão matriculados quinhentos e dois alunos. Destes, vários

possuem algum tipo de necessidade educativa especial, porém somente um aluno

com DM desta escola foi objeto de investigação deste trabalho, juntamente com a

psicopedagoga que lhe presta atendimentos, a fim de estudar quais as contribuições

do psicopedagogo frente à inclusão dos alunos com DM. O aluno mencionado anteriormente receberá, ao longo deste trabalho, nome

fictício para que sua identidade seja preservada.Júnior é um aluno da 5ª série do ensino fundamental, tem doze anos de idade e

apresenta laudo de retardo mental grave, bem como, deficiência física (cadeirante).

Freqüenta o Centro de Apoio Pedagógico Especializado, que fica junto a Secretaria

Municipal de Educação, local onde trabalha a psicopedagoga, que o atende uma vez

por semana, no turno inverso ao da escola. O Júnior é filho de pais com pouca

escolaridade e também muito carentes.A inclusão é uma nova proposta que está sendo implantada nas escolas, sendo

assim, todos os alunos com DM, precisam fazer parte das turmas das escolas

regulares. Neste sentido, foi preciso averiguar a importância do psicopedagogo

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neste processo, para que esta inclusão de fato ocorra e também para que o trabalho

do psicopedagogo na escola seja valorizado.Considerando a importância dada à inclusão dos DM nas classes regulares de

ensino e visando o importante papel que os Psicopedagogos vêm desenvolvendo

nos aspectos relacionados a dificuldades de aprendizagem, esta pesquisa procura

responder: Quais as contribuições dos psicopedagogos no trabalho de inclusão dos

alunos com DM na rede regular de ensino? Que tipos de ações o Psicopedagogo desenvolve com os alunos com DMs,

favorecendo assim sua inclusão na escola e na sociedade?Nesse sentido esta pesquisa, ao analisar o papel do psicopedagogo na

inclusão dos DMs em classes regulares de ensino, pode contribuir para o

preenchimento de uma lacuna nos estudos sobre este tema, ampliando, ainda as

reflexões sobre o trabalho do psicopedagogo e a Educação Especial.Esta investigação constitui-se como um instrumento de apoio não só ao

profissional da Psicopedagogia, mas também para professores de Educação

Especial e de classes regulares que trabalham com alunos com DM e que precisam

de apoio do profissional da Psicopedagogia no seu trabalho. O diálogo a ser

efetivado por estes profissionais mostra-se crucial para o desenvolvimento de ações

pedagógicas produtivas e motivadoras para o sucesso dos sujeitos com DM no

contexto social.Outro fato que justifica a realização deste estudo é que através de observações

feitas anteriormente, através de observações, percebe-se que alunos com DM estão

se adaptando muito bem às classes regulares e os mesmos tem sido atendidos por

psicopedagogos. Diante deste contexto esta pesquisa configura-se como uma

reflexão acerca do papel que o psicopedagogo desempenha na inclusão dos alunos

com DM na rede regular de ensino.

Para a execução deste projeto métodos de pesquisa serão adotados para

tentar responder à problematização, coletar e analisar dados. Assim é necessário

descrever os procedimentos adequados à realização deste trabalho, sinalizando o

tipo de pesquisa, a abordagem do problema e os procedimentos e instrumentos para

a execução do estudo.

Quanto ao tipo de pesquisa, este estudo aproxima-se da pesquisa descritiva,

pois o problema que mobiliza esta investigação procura investigar a importância do

psicopedagogo na inclusão das crianças com deficiência mental na rede regular de

ensino.

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Desta forma, os sujeitos da pesquisa serão dois alunos com DM de uma

escola pública de Candelária e seus respectivos professores, colegas e

psicopedagogo.

Para a execução deste estudo alguns procedimentos, para a coleta de

informações foram necessários. A pesquisa bibliográfica contribuiu no sentido de

que leituras e registro de teorias e posicionamentos críticos foram ações para a

construção da fundamentação teórica do trabalho. Nesse caso, foram consultados

livros, artigos de revista, materiais digitais, etc. Também se realizou um estudo de

caso, no qual foi observado um aluno com DM em uma escola pública de Candelária

e os trabalhos do psicopedagogo com o mesmo, durante uma semana. A pesquisa

de levantamento ou survey também foi utilizada, de maneira que foram aplicados

questionários com o psicopedagogo e com os professores a fim de averiguar a

importância do trabalho do psicopedagogo com os alunos DM, de forma que estes

possam ser inclusos na rede regular de ensino.

O presente estudo apresenta dois capítulos. No primeiro capítulo foram

abordados as linhas históricas da deficiência mental e como, ao longo dos anos, as

pessoas com esta deficiência recebem tratamento. O segundo capítulo tem como

objetivo discutir a importância do psicopedagogo na inclusão dos deficientes mentais

na rede regular de ensino, como este pode auxiliar em suas aprendizagens e

adaptação ao currículo escolar.

1 A DEFICIENCIA MENTAL COM O PASSAR DOS ANOS

1.1História da deficiência mental no mundo

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O mundo atual caracteriza-se pela proliferação de expressões como sociedade

inclusiva, inclusão escolar e diversidade cultural. As políticas estabelecem que

sejam asseguradas “as igualdades de oportunidades” e a “valorização da

diversidade”. Estas políticas tendam a neutralizar as diferenças e tendem a

proclamar que o mundo da diversidade deve se dar sem diferenças ou em

igualdades.

Neste mesmo universo de diversidades culturais existem discussões e fatores

que levam à completa exclusão social, considero este fato merecedor de uma

reflexão mais profunda, afinal existem, ainda hoje, pessoas em condições extremas

de exclusão social. Lino de Paula (apud CARNEIRO, 2008, p. 20) aponta:

A deficiência mental é encarada pelo corpo social, por meiode uma visão qualitativa e não quantitativa, não apenas comose faltasse um coeficiente ideal de inteligência, como osoutros deficientes faltam os sentidos da visão ou da audição,ou até mesmo um membro ou a impossibilidade de usá-lo,mas como se lhe faltasse a própria essência da humanidade– a racionalidade. Justifica-se, assim, a discriminação,asegregação, a exclusão do conjunto da sociedade racional ea eterna recorrência à tutela e à caridade pública.

Neste sentido, o tema deficiência mental se insere nesta história, pois ao

longo dos anos as pessoas com DM eram extremamente excluídas e

segregadas, contudo sabe-se que o forte preconceito que enfrentam os DM

atualmente é decorrente de um processo histórico.

Para compreender melhor este processo farei um breve histórico da DM no

mundo.

Os registros mais antigos sobre esse tema se reportam a Grécia Antiga, sabe-

se que neste período o homem atlético era um referencial que se destacava

nesta cultura, o que pode ser percebido nas esculturas e pinturas da época.

Portanto as pessoas com DM não eram consideradas humanas, e então eram

abandonados ou mortos.

Esse quadro de abandono e rejeição acompanhou o DM ao longo dos anos e

eles só passaram a ter alma humana com o surgimento do Cristianismo na

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Europa, então o abandono destes passou a ser inaceitável, tinham direito à

abrigo e proteção, porém ainda não eram tratados como cidadãos (Vieira, 2003).

Somente a partir de 1526, uma nova visão da DM começou a surgir com o

médico e alquimista Paracelso, que pela primeira vez começa a pensar a DM

como um problema médico, pois até então esse tipo de deficiência era

considerada um castigo divino, dado aos pecadores.

Essa concepção em DM foi se modificando ao longo dos anos e em 1801

surge uma experiência de educação especial para pessoas com deficiência

através de Jean Itard, o qual recebe a tarefa de educar um menino selvagem

chamado Victor de Aveyron, que foi capturado em uma floresta. A partir desta

experiência os conceitos e aceitação por parte da sociedade perante os DMs

foram se modificando, bem como as possibilidades de educação dos mesmos.

Foi-se percebendo que era possível educar as pessoas com DM, ou qualquer

outra deficiência. (CARNEIRO, 2008)

Com base neste histórico vários conceitos referentes a DM foram sendo

criados e modificados, hoje temos os seguintes: a American Association on

Mental Retardiaton (AAMR) entende por DM:

O estado de redução notável do funcionamento intelectualsignificativamente inferior a média, associado a limitaçõespelo menos em dois aspectos do funcionamento adaptativo:comunicação, cuidados pessoais, competências domésticas,habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários,autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer etrabalho. (AAMR, 2006)

Um conceito semelhante também aparece na Convenção de Guatemala,

internalizada à Constituição Brasileira pelo Decreto nº3956/2001, no seu artigo 1º

define deficiência como uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza

permanente ou transitória, que se limita a capacidade de exercer uma ou mais

atividades essenciais a vida diária, causada ou agravada pelo ambiente

econômico e social (MANTOAN et al, 2007).

Como podemos perceber, ao longo dos tempos, os pensamentos e conceitos

referentes à DM foram sendo aperfeiçoados e trazidos mais para próximo da

realidade percebida atualmente.

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Neste contexto, considero de extrema relevância citar a Declaração de

Salamanca, que se constituiu em uma Conferencia Mundial em Educação

Especial, organizada pelo governo da Espanha, realizada em Salamanca em

1994, com o objetivo de informar sobre as políticas e guias governamentais , os

princípios, a política e as práticas em Educação Especial.

É a partir desta declaração que se passa a ter um olhar diferenciado sobre as

deficiências em geral, surgindo a partir daí, várias leis que asseguram a inclusão

das crianças com DM, ou qualquer outra deficiência nas classes regulares de

ensino, pois até então essas crianças eram segregadas a educação em escolas

especiais, dedicadas apenas às crianças com deficiência.

Penso que uma importante citação da Declaração de Salamanca é

fundamental para compreendermos como se deve assegurar o ensino das

pessoas com DM, onde assegura que “qualquer pessoa portadora de deficiência

tem o direito de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto

quanto estes possam ser realizados” (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA,1994).

Mais adiante afirma que as diferenças humanas são normais e que, em

consonância a aprendizagem deve ser adaptada às necessidades da criança, ao

invés de se adaptar as crianças às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo

e da natureza do processo de aprendizagem.

A DM, no meu ponto de vista, é uma das mais complexas deficiências,

principalmente pela grande quantidade e variedade de abordagens do seu

conceito.

No entanto, através desta retrospectiva da DM no mundo, podemos perceber

os grandes avanços que os estudos e tratamentos dados aos DMs vem

melhorando cada vez mais e à medida que a sociedade passar a incluí-los,

plenamente, como cidadãos com os mesmos direitos e deveres dos cidadãos

ditos “normais”, não veremos mais essa problemática da exclusão social e enfim

teremos um mundo mais digno e justo para TODOS.

1.2Tratamento dado às pessoas com DM ao longo dos tempos

A DM sempre se constituiu como um impasse para o ensino da escola

comum, pela sua complexidade e principalmente pela grande quantidade e

variedade de conceitos.

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Acredito que o tratamento dado às pessoas com DM, ao longo dos anos, seja

um dos principais responsáveis pelo forte preconceito e discriminação que os

mesmos enfrentam atualmente.

Sabe-se, através de registros, que somente no século XIII surgiu na Bélgica a

primeira instituição para abrigar os DMs, pois até então eles eram rejeitados,

abandonados e até mortos, por serem considerados não-humanos (VIEIRA,

2003).

No entanto, este acontecido não facilitou muito a vida dos DMs, ao mesmo

tempo em que passaram a ser considerados humanos, os preconceitos da

sociedade geraram diferentes formas de tratamento. Por um lado, estavam os

que concebiam a DM como uma escolha divina aos abençoados responsáveis

por pagar pelos males da humanidade, portanto estes eram dignos de caridade.

Por outro lado, havia aqueles que compreendiam a DM como um castigo divino a

ser pago por alguns e por isso deveriam ser isolados da sociedade, para que

esta não precisasse conviver com as condutas dos diferentes.

Em ambos os casos os DMs tinham direito à alimentação e ao abrigo, porém

tanto no caso da caridade quanto no castigo, o deficiente era isolado da

sociedade.

Como já vimos no capítulo anterior, o processo de aceitação dos DMs na

sociedade foi muito longo e somente após a experiência de Itard um dos

precursores dos pensamentos sobre Deficiência Mental no mundo, que se

propõe a educar um menino selvagem, criado por lobos. Itard se anima a criar

formas para educar este menino e, através destas, desenvolve um modelo de

educação para atender aos deficientes. A partir daí certamente ocorreu uma

grande evolução no pensamento, tratamento e conceito da DM.

Anos após estas experiências de Itard, foram criadas as escolas especiais,

com a finalidade de atender somente às pessoas com algum tipo de deficiência e

mais uma vez, mesmo não sendo considerados como castigo ou dignos de

caridade, estes eram novamente, ao meu entender, excluídos de alguma forma

da sociedade.

Neste contexto, também é importante frisar que a Deficiência Mental é difícil

de ser diagnosticada, também por isso, tem se levado a uma série de revisões de

seu conceito. A medida do coeficiente de inteligência (QI), por exemplo, foi

utilizada durante muitos anos como parâmetro de definição dos casos. Apesar de

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hoje não ser mais considerado como capaz de “medir” a capacidade mental dos

indivíduos, o CID (Código Internacional de Doenças, desenvolvido pela

Organização Mundial da Saúde), ao especificar o Retardo Mental (F70-79),

propõe uma definição baseada no coeficiente de inteligência (QI), classificando-o

entre leve, moderado e profundo, conforme o comprometimento.

Hoje sabemos que a DM não se esclarece por supostas categorias e tipos de

inteligência, de acordo com Mantoan et al (2007, p.15): “é necessário reunir

posicionamentos de diferentes áreas do conhecimento, para conseguirmos

entender mais amplamente o fenômeno mental.”

Mantoan et al (2007) também acredita que a dificuldade de diagnosticar e

conceituar a DM, trouxe conseqüências indestrutíveis na maneira de lidarmos

com essa deficiência e com quem a possui. “O medo da diferença e do

desconhecido é responsável, em grande parte, pela discriminação sofrida pelas

pessoas com deficiência, mas principalmente, por aquelas com Deficiência

Mental”. (MANTOAN, 2007, p.15).

Grandes avanços em relação ao atendimento aos DM vem ocorrendo ao

longo dos anos, hoje não são mais concebidas as escolas especiais, que aos

poucos estão se extinguido, pois a partir de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases

para a Educação Nacional classificou a Educação Especial como uma

modalidade de ensino, com isso ela perdeu a função de substituição dos níveis

de ensino, porém esta mesma lei possibilita interpretações enganosas que ainda

mantém, em alguns casos, a Educação Especial como um subsistema paralelo

de ensino escolar.

Contudo, a grande luta hoje, é para que todos os alunos com deficiência

estejam freqüentando a escola comum e que a Educação Especial ocorra com

uma nova concepção a de Atendimento Educacional Especializado, que é

sustentado legalmente, e uma das condições para o sucesso da inclusão escolar

dos alunos com deficiência.

Mantoan et al (2007, p. 22), uma das defensoras do Atendimento Educacional

Especializado aponta que:

Esse tipo de atendimento existe para que os alunos possamaprender o que é diferente dos conteúdos curriculares doensino comum e que é necessário para que possamultrapassar as barreiras impostas pela deficiência.

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Como podemos perceber, nestes dois últimos capítulos, com o passar do

tempo, que ainda caminha-se para uma visão cada vez menos preconceituosa

das deficiências. Também se pode perceber que o tratamento e o atendimento

dado às pessoas com DM vem se aprimorando cada vez mais, possibilitando que

estas possam tornar-se, cada vez mais, cidadãos desta nossa sociedade.

2. O PSICOPEDAGOGO E A INCLUSÃO DOS DEFICIENTES MENTAIS NA

REDE REGULAR DE ENSINO

2.1 Breve histórico da Psicopedagogia

A Psicopedagogia “nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do

processo de aprendizagem” (BOSSA, p.5, 1994). Teve origem na Europa, no século

XIX, que foi o primeiro país a se preocupar com os problemas de aprendizagem

através dos pensamentos de filósofos, médicos e educadores.

Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em 1946,

por J. Boutonier e George Mauco com direção médica e pedagógica. Estes centros

atendiam crianças com dificuldades de aprendizagem e com comportamentos

sociais inadequados, para o trabalho com estas crianças eram utilizadas uma união

dos conhecimentos das áreas da Psicologia, Psicanálise e Pedagogia. Esperava-se

que através dessa união fosse possível compreender e conhecer a criança e o seu

meio, para que então se pudesse definir ações que permitissem um trabalho de

reeducação destas crianças. (SAMPAIO, 2004).

Estes Centros fundados na Europa influenciaram significativamente a

Argentina, que há mais de trinta anos vem oferecendo em sua capital, Buenos Aires,

o curso de Psicopedagogia.

A Psicopedagiga chegou ao Brasil, na década de 70, quando surgiram os

primeiros cursos de capacitação nesta área. As dificuldades de aprendizagem, nesta

época eram associadas a disfunções neurológicas.

Sampaio (2004) confirma que o Brasil recebeu influencias tanto americanas,

quanto européias, através da Argentina. No sul do país, a entrada dos estudos de

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Queirós, Sara Paín, Alícia Fernandes, Jorge Visca, entre outros, enriqueceu o

desenvolvimento desta área de conhecimento no Brasil.

Contudo, como vimos inicialmente, os problemas de aprendizagem eram

tratados por médicos na Europa no século XIX, no Brasil ainda hoje percebemos que

na maioria das vezes as atitudes dos familiares é levar seus filhos a uma consulta

médica.

A Psicopedagogia foi introduzida aqui no Brasil, baseada em modelos

médicos de atuação e concepção dos problemas de aprendizagem. Foi nesta

concepção que se iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de especialistas

em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagogica de Porto Alegre (SAMPAIO,

2004).

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento que se propõe a integrar

conhecimentos e princípios de diferentes ciências humanas, com o propósito de

adquirir uma ampla compreensão sobre os vários processos do aprender humano. É

uma área de conhecimento multidisciplinar, onde ao psicopedagogo interessa a

compreensão de como ocorrem os processos de aprendizagem e entender suas

possíveis dificuldades.

Neste sentido, pode-se verificar a importância deste profissional, percebe-se

também que os cursos ligados a área da Psicopedagogia não param de crescer, o

que indica uma grande procura por esta profissão.

2.2 O psicopedagogo como facilitador da inclusão dos deficientes mentais na

rede regular de ensino

Em um momento em que as discussões atuais levam a reflexões sobre como

proporcionar da melhor forma a inclusão de DM na rede regular de ensino

procurando compreender seus processos e ritmos de aprendizagens, pode-se fazer

um elo perfeito entre psicopedagogia e inclusão.

Como vimos no capítulo anterior, a psicopedagogia teve origem na Europa no

século XIX, que, segundo Bossa (1994), foi o primeiro país a se preocupar com os

problemas de aprendizagens, através dos pensamentos de filósofos, médicos e

educadores.

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Desde seu início, na Europa, a psicopedagogia sofreu grandes avanços e

também retrocessos em suas experiências ligadas às dificuldades de aprendizagem.

Neste sentido, as discussões em relação às dificuldades de aprendizagem

vêm se alastrando ao longo dos anos, e com ela também a questão da inclusão das

crianças com DM nas classes regulares de ensino, desta forma é possível verificar

que há uma maneira de possibilitar uma melhor inclusão destas crianças com o

auxilio da Psicopedagogia.

A Psicopedgogia como área de atuação preocupada com o estudo da

aprendizagem humana e seu processo, pode ajudar a compreender os processos de

aprendizagem das crianças com DM. O trabalho do psicopedagogo poderá

encontrar maneiras de favorecer a aprendizagem dos DM, auxiliando o professor da

classe comum e orientando-o sobre a melhor forma de direcionar seu trabalho para

que seus alunos deficientes sejam incluídos na turma e tenham uma aprendizagem

significativa.

Segundo Macedo (apud BOSSA, 2000, p.31) as atividades do psicopedagogosão:

Orientação de estudos (organizar a vida escolar da criançaquando esta não sabe fazê-lo espontaneamente); apropriaçãodos conteúdos escolares (propiciar o domínio de disciplinasescolares em que a criança não vem tendo um bomaproveitamento); desenvolvimento do raciocínio (trabalhosrealizados com o processo de pensamento necessário ao atode aprender); atendimento de crianças (atender deficientesmentais, autistas ou com comprometimentos orgânicos maisgraves.

Observando as palavras de Macedo podemos verificar que entre as diferentes

atividades do psicopedagogo, está o atendimento aos deficientes mentais.

A DM é uma das mais complexas deficiências, principalmente pela grande

quantidade e variedade de abordagens do seu conceito. No entanto, através desta

retrospectiva da DM e da psicopedagogia no mundo, podemos perceber os grandes

avanços que os estudos e tratamentos dados aos DMs vem melhorando cada vez

mais, também é possível averiguar que a psicopedagogia poderá auxiliar para que

as crianças com DM possam ter um maior aproveitamento nas salas de aula

normais, pois o psicopedagogo poderá auxiliá-los na organização de sua vida

escolar na classe regular, propiciar o desenvolvimento do raciocínio e a

compreensão dos conteúdos escolares.

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Com este auxilio os DM poderão obter um rendimento maior em sala de aula

e passarem a serem aceitos cada vez mais intensamente na sociedade e à medida

que a sociedade passar a incluí-los, plenamente, como cidadãos com os mesmos

direitos e deveres dos cidadãos ditos “normais”, não veremos mais essa

problemática da exclusão social e enfim teremos um mundo mais digno e justo para

TODOS.

2.3 Estudos de Caso

O referido estudo de caso foi realizado com o aluno Júnior (nome fictício) que

tem doze anos e freqüenta a quinta série do Ensino Fundamental de oito anos.

Júnior é oriundo de uma família de condições econômicas e culturais, um pouco

desfavorecida. Mora com o pai e a mãe e tem dois irmãos, dos quais é o mais novo.

Os pais do menino possuem pouca escolaridade.

Júnior apresenta diagnóstico de deficiência mental grave. A American

Association on Mental Retardation (AAMR) divulgou uma definição para retardo

mental em 1992 (apud CARNEIRO, 2008, p. 20):

Retardo mental é uma incapacidade caracterizada porimportantes limitações, tanto no funcionamento intelectualquanto no comportamento adaptativo, está expresso nashabilidades conceituais, sociais e práticas. Essa incapacidadetem início antes dos 18 anos de idade.

Sabemos que há muitos fatores pré-natais que determinam o

surgimento de inúmeras doenças e deficiências. Em entrevista com a mãe

constatou-se que a gravidez ocorreu de forma tranqüila, com acompanhamento pré-

natal, porém no parto a mãe sentiu fortes dores, pois o menino foi tirado com

fórceps, lhe faltou a oxigenação no cérebro, acarretando uma possível paralisia

cerebral. O Júnior é cadeirante, demorou a falar e controlar os esfíncteres.

Os acontecimentos do parto foram bastante significativos na vida do menino,

uma vez que lhe deixaram seqüelas para o longo da vida, o menino não possui os

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movimentos dos membros superiores, faz uso de cadeira de rodas, possui atrofias

nas mãos, o que lhe ocasiona dificuldades para pegar objetos, entre eles os

escolares como lápis, tesoura, etc. Estes precisam ser adaptados para suas

necessidades. Também apresenta dificuldades na articulação das palavras. Realiza

acompanhamento de fisioterapeuta.

No ano de 2007, o aluno encontrava-se matriculado na terceira série de uma

escola do município de Candelária e foi encaminhado para o atendimento do Centro

de Apoio Pedagógico Especializado (CEAPE), pela supervisora da escola, pois o

mesmo não acompanhava a turma e precisava ser estimulado nas atividades

motoras finas e nas áreas do conhecimento.

O Centro de Apoio Pedagógico Especializado dispõe de serviços

educacionais especializados, psicopedagógicos e psicológicos, onde os alunos

frequentam os atendimentos no turno inverso da escola regular.

Ao longo dos anos o aluno é atendido pela psicopedagoga e pelas

educadoras especiais do Centro, é bastante assíduo.

No CEAPE são realizadas diversas atividades no computador, jogos,

atividades escritas, atividades estimulantes, entre outras. Estas atividades

procuraram desenvolver no Júnior a atenção, o raciocínio lógico, a expressão oral,

atividades psicomotoras, atividades ligadas as áreas do conhecimento, elevação da

auto estima, etc. Pode-se notar que o menino adora os jogos do computador

(labirinto, come – come, memória, corrida...), principalmente explorar a internet e

mexer em todos as ferramentas do computador, porém é muito limitado no que diz

respeito as atividades que envolvam raciocínio lógico matemático, leitura e escrita,

criatividade, não possui iniciativa e apresenta um vocabulário limitado (seria

interessante um acompanhamento fonoaudiológico), possui uma baixa auto estima

impedindo-o de ter perspectivas do futuro. O aluno também foi encaminhado para a

psicóloga e encontra-se na lista de espera.

Ao longo das intervenções psicopedagógicas feitas com o aluno pode-se

verificar um notável progresso no que diz respeito às suas aprendizagens, o aluno

conseguiu alfabetizar-se, ler, escrever, resolver cálculos, etc. Sempre respeitando

suas limitações físicas e mentais.

Neste sentido, a inclusão do aluno na escola tem sido cada vez mais

satisfatória, pois o psicopedagogo sugere ao professor maneiras de atuar e ensinar

ao menino, respeitando suas limitações, auxilia no traçado de objetivos para com

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este aluno, bem como faz com que o professor reflita sobre a capacidade que cada

aluno com deficiência mental tem.

É muito importante ressaltar o importante papel que o professor assume

durante o trabalho em sala de aula, pois é ele que o torna inclusivo ou não. Em

entrevista com a professora, percebe-se que a mesma tem uma grande adoração e

admiração por Júnior, disse que está muito satisfeita com o crescimento que Júnior

vem apresentando a cada ano, ressalta também o importante apoio que tanto ela

quanto Júnior vem tendo da psicopedagoga, esse acompanhamento que o menino

faz no turno inverso se tornou fundamental para o sucesso de seu desenvolvimento

cognitivo, físico e social. Para Júnior, o atendimento especializado que recebe da

psicopedagoga e educadoras especiais foi definitivo para que obtivesse sucesso em

suas aprendizagens, segundo a professora de sua turma.

Nesse sentido, Mantoan et al (2007, p. 22), uma das grandes defensoras do

Atendimento Educacional Especializado afirma:

O Atendimento Educacional Especializado decorre de umanova concepção da Educação Especial, sustentadalegalmente, e é uma das condições para o sucesso dainclusão escolar dos alunos com deficiência. Esseatendimento existe para que os alunos possam aprender oque é diferente dos conteúdos curriculares do ensino com eque é necessário para que possam ultrapassar barreirasimpostas pela deficiência.

É o que aconteceu com Júnior, após esse olhar diferenciado da professora

que resolveu encaminhá-lo para esse atendimento, em razão do mesmo apresentar

deficiência mental e física, que lhe impediam de acompanhar os aprendizados da

turma, hoje Júnior já conseguiu vencer vários obstáculos na escola e na vida diária,

elevou sua auto-estima e sente como membro integrante e importante da sociedade.

Acredito plenamente que o fato de Júnior estar estudando em uma escola

regular e receber atendimentos psicopedagógico e especializados no turno inverso,

tenha possibilitado todos esses avanços que se observa hoje, Júnior interagindo

com os colegas, brincando, participando das atividades em sala de aula, contudo

pode-se perceber que o olhar do professor sobre o aluno é fundamental, o professor

precisa ter convicção da importância da inserção dos alunos com DM nas classes

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regulares e para que isto ocorra precisa contar com a ajuda de profissionais

especializados, como psicopedagogos, educadores especiais, entre outros.

As entrevistas realizadas com alguns professores da rede municipal de ensino

de Candelária apontam para uma grande satisfação por parte dos mesmos em

relação à inclusão de alunos com DM nas classes regulares, uma vez que se

proporciona, aos poucos, uma extinção dos preconceitos em relação às deficiências.

Pode-se perceber que neste ambiente inclusivo, as pessoas ali inseridas convivem

muito bem com as diferenças de Júnior e, principalmente, conseguem compreendê-

las como algo importante em uma sociedade em que ser diferente deveria ser

considerado normal, afinal todos temos diferenças.

Os professores, quando indagados sobre a inclusão dos DM nas escolas

regulares e a formação dos professores para trabalhar com esta clientela, são

unânimes em afirmar que a inclusão é extremamente importante, porém os

professores estão muito preocupados em relação à formação, pois os cursos de

formação na área da educação não estão oferecendo o preparo necessário para que

os mesmos possam realizar um trabalho significativo com os DM, ou qualquer outra

deficiência. A maioria dos professores demonstram certa resistência em receber um

aluno com DM, ou qualquer outra deficiência, por não saber o que fazer e como

trabalhar com eles.

Neste sentido, julgam de extrema importância o trabalho do psicopedagogo,

uma vez que este ao realizar seu trabalho com os DM inclusos nas classes

regulares, servem de suporte para o professor. Os professores entrevistados, que

possuem em sua sala de aula DMs, afirmam que após os atendimentos

psicopedagógocos prestados aos seus alunos, estes demonstraram um avanço

significativo em suas aprendizagens, como é o caso do aluno Junior.

A professora do Júnior relata que antes da psicopedagoga trabalhar com o

mesmo, sentia-se angustiada por não saber como proporcionar situações

significativas de aprendizagem para o aluno, através das conversas e orientações

recebidas da psicopedagoga passou a realizar seu trabalho visando o crescimento

individual de Junior, respeitando seus limites e possibilidade, pode buscar, através

de suas conversas com a psicopedagoga, sugestões de atividades que podem ser

realizadas com o aluno, uma vez que um dos focos da Pscicopedagogia é o

diagnóstico e intervenção nas dificuldades de aprendizagem e nos DM, essas

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dificuldades muitas vezes são bastante acentuadas e o professor precisa de apoio

para procurar supri-las.

Através das entrevistas realizadas é possível observar que é de fundamental

importância que o professor possa contar com esse apoio de outros profissionais,

como o psicopedagogo, pois educar crianças com necessidades educativas

especiais não é uma tarefa fácil, principalmente porque os professores ainda não se

sentem preparados para lidar com a realidade da inclusão. O psicopedagogo pode

estabelecer um elo com os professores, para que através de suas intervenções, os

alunos com deficiência mental possam vir a superar algumas de suas dificuldades

na aprendizagem e desta maneira melhorar a situação de inclusão em que se

encontram.

A grande importância que a inclusão assume frente a sociedade é

indiscutível, o que se precisa é de um trabalho em rede, onde todos os profissionais

envolvidos possam ajudar e serem ajudados, pois assim, todos podem sair

ganhando, e principalmente os alunos deficientes que até pouco tempo só se

relacionavam com seus pares, hoje se sabe que quanto maior for a interação destes

com o meio social em geral, melhor será sua aprendizagem, pois é compartilhando

experiências que se constrói a aprendizagem.

Segundo Pooli (apud Roman e Steyer 1991, p.103):

Compartilhando experiências, as crianças vão assumindo umcomportamento cada vez mais social, que os leva a umamudança do ritmo de vida, implicando um processo deconhecimento progressivo, autonomia, valorização daidentidade, formação de um juízo moral,... representação dacultura, construindo o significado do mundo em movimento

O significado do mundo em movimento só pode ser construído partilhando

todos da mesma experiência de mundo, sem exclusões, afinal o mundo é o mesmo

para todos, independente de ser deficiente ou não.

Portanto, vendo o crescimento de Junior nos aspectos físicos, sociais e

cognitivos, percebendo o importante papel da escola, do professor e do

psicopedagogo na construção de conhecimentos dos alunos com DM e podendo

observar o sucesso das atividades realizadas em sala de aula e no Atendimento

Educacional Especializado, proponho que trabalhos como esse comecem a se

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tornar comuns, pois vivemos em uma sociedade em que as diferenças não devem

mais ser descaracterizadas, mas sim valorizadas para que a sociedade aprenda

com cada uma delas e se torne cada vez melhor, assim como Júnior hoje, que é um

cidadão muito melhor, que aprendeu a conviver bem com seus colegas e conseguiu

superar muitas de suas dificuldades, apesar de suas diferenças, o que comprova a

eficácia do trabalho interligado do professor e psicopedagogo, juntamente com

outros profissionais do atendimento educacional especializado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste estudo possibilitou-me sustentar cada vez mais a idéia de

que a inclusão dos DM nas classes regulares de ensino é fundamental e

indispensável na formação destes indivíduos na convivência em sociedade. Para

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que esta inclusão ocorra é necessário que vários profissionais se unam e se

engajem para este fim, profissionais estes como o psicopedagogo, o professor do

atendimento especializado, etc.

Através das observações e entrevistas feitas pode-se averiguar que os

professores da escola investigada conseguem compreender a importância do

trabalho do psicopedagogo com os alunos com DM inclusos, pois facilita a

compreensão e elaboração de atividades que irão auxiliar os mesmos na construção

de suas aprendizagens, bem como, minimizar os problemas de aprendizagem

apresentados pelos mesmos.

Cada vez mais precisamos lutar por uma sociedade mais justa, que

proporcione oportunidades iguais a todos os cidadãos, sejam eles deficientes ou

não. Considero a escola uma porta de entrada para sanar as barreiras da vida

social, capaz de transformar as sociedades existentes, principalmente na diminuição

dos preconceitos em relação aos DM, tão injustamente pré-julgados na atualidade.

Espero que com o passar dos anos o tratamento dos DMs continue

avançando como se tem visto ao longo da história, e que todos os profissionais

tenham a oportunidade de contribuir com o seu trabalho para o sucesso da inclusão

em todos os segmentos da sociedade.

Concluo esse trabalho com uma enorme satisfação em perceber que existem

escolas regulares, que tem alunos com DM inclusos, realizando um maravilhoso

trabalho como o observado ao longo desta monografia. Nós educadores somos

capazes de fazer a diferença na vida de nossos alunos, muito mais se esses

apresentam algum tipo de deficiência, pois é através de nosso olhar diferenciado

sobre eles, e das parcerias estabelecidas com outros profissionais como o

psicopedagogo, que estes virão a poder participar cada vez mais ativamente na

sociedade atual, a qual também fazem parte.

REFERÊNCIAS

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http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: 20 de

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BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas,

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