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SALVE SUA EMPRESA! SALVE SUA EMPRESA! SALVE SUA EMPRESA! SALVE SUA EMPRESA! Um olhar indignado sobre a Um olhar indignado sobre a Um olhar indignado sobre a Um olhar indignado sobre a gestão e seus maiores gestão e seus maiores gestão e seus maiores gestão e seus maiores pecados pecados pecados pecados

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  • SALVE SUA EMPRESA!SALVE SUA EMPRESA!SALVE SUA EMPRESA!SALVE SUA EMPRESA!

    Um olhar indignado sobre a Um olhar indignado sobre a Um olhar indignado sobre a Um olhar indignado sobre a

    gesto e seus maiores gesto e seus maiores gesto e seus maiores gesto e seus maiores

    pecadospecadospecadospecados

  • SALVE SUA EMPRESA!

    2

    O contedo desta obra, inclusive reviso ortogrfica, de

    responsabilidade exclusiva do autor

  • BRENO COSTA

    3

    Ilustrao: Paulo Jnior

    Capa: Breno Costa

  • SALVE SUA EMPRESA!

    4

    Lorena, minha amada antpoda...

    Aos meus empregadores, gestores, colegas de trabalho, funcionrios e clientes. (do passado, presente e futuro)

  • BRENO COSTA

    5

    Voc no tolera erros? Adora dizer que pe a mo na

    massa? Um texto de fcil e rpida leitura que faz o

    pblico enxergar a gesto empresarial sob outra

    perspectiva. s vezes, no af de ter bons resultados e

    fazer o bem para sua empresa, voc pode causar danos

    profundos e irreparveis. Alm disso, este livro

    questiona a noo atual do politicamente correto.

    Esteja aberto para pensar de forma diferente. Mesmo

    discordando em algum momento ou em algum

    captulo, o propsito posto o de gerar reflexo.

    consultoriadna.com.br

  • SALVE SUA EMPRESA!

    6

    O autor

    Breno Costa possui uma viso afiada sobre o

    relacionamento das empresas com o seu ambiente

    interno e externo. Em sua caminhada inicial passou por

    mais de doze contratantes e os mais diversos cargos.

    Especializado em marketing, atualmente trabalha

    como consultor de pequenas e mdias empresas,

    professor do ensino superior e traz, nesta obra, aos

    gestores e empresrios, uma nova forma de enxergar

    suas atividades.

  • BRENO COSTA

    7

    Introduo

    Vamos direto ao ponto. Sou um autor desconhecido,

    mas o que me credencia a escrever este livro e deter

    um pouco da ateno do leitor o fato de ter passado

    por mais de doze empresas de reas completamente

    distintas - apesar da pouca idade - e ter prestado

    consultorias para algumas outras. Existe muito

    profissional por a, perto de se aposentar, que no tem

    a metade das experincias que possuo. Minha

    observao durante todo esse tempo que a grande

    dificuldade do patro pensar como peo. O fato de ter

    trabalhado em muitos lugares, dos mais diversos tipos,

    me deu a sensibilidade que poucas pessoas tm hoje

    em dia. No pense que s atuei sob o manto de belos

    cargos e salrios, j tive ocupaes de pouqussimo

    prestgio, como a de operador de telemarketing, essa

    caricatura. Alm disso, tenho dois olhares: fui peo e

    hoje sou patro. Muitos empresrios e diretores tm

    uma viso mope do seu negcio, pois ou a maioria

    deles ou iniciou sua carreira como empresrio, ou

    tiveram pouqussimas experincias antes de

  • SALVE SUA EMPRESA!

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    comandarem uma equipe, ou se esqueceram, quando

    se tornaram patres, de como era ser peo.

    Com essa viso adquirida, costumo ver alguns

    absurdos cometidos por pessoas das mais experientes.

    Erros banais que um pouco de sensibilidade com

    relao ao contexto que vivemos poderiam ser

    evitados. Posso parecer pretensioso e, na verdade,

    realmente estou sendo.

    O que veremos daqui em diante ser um conjunto de

    pensamentos e reflexes sobre as atitudes dos

    empresrios e gestores, principalmente de pequenas e

    mdias empresas, tendo em vista sempre o impacto

    nos negcios, satisfao dos funcionrios, qualidade do

    trabalho, clima empresarial e imagem corporativa.

    Peo desculpas antecipadas aos leitores caso no

    gostem do meu estilo largado, com a utilizao de

    neologismos, coloquialismos... s vezes me sinto

    indignado com algumas atitudes e elas tornam o meu

    texto um pouco spero e ofensivo. Mas esse tambm

    foi um artifcio utilizado para que eu consiga gerar a ira

    ou contorcer as entranhas do empresrio arcaico, que

  • BRENO COSTA

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    no se atualiza e contribui para a infelicidade de

    muitos dentro de sua empresa e dele prprio. Essa foi a

    pretensiosa forma que criei para que meu texto

    galgasse algum tipo de impacto na vida do leitor.

    Apesar de gostar de ler pesquisas acadmicas, no quis

    pautar este livrete em referncias slidas, em doutores,

    mestres, professores, etc. Contudo, concordo que se

    tivesse feito dessa forma, teria mais credibilidade e

    firmeza esse emaranhado de pensamentos. Porm,

    perderia em espontaneidade e em nvel de revolta. De

    toda forma, a falta de sustentao acadmica no

    desmoraliza o texto, j que utilizo argumentos que so

    fceis de serem observados cotidianamente. Todos os

    exemplos esto ao nosso redor. Repito: no tenho a

    pretenso de ser referncia acadmica, s pretendo

    gerar a inquietao na cabea de empresrios e

    gestores.

    Nada aqui pretende ser verdade, regra ou receita de

    bolo. O que este texto busca gritar para o mundo

    empresarial alguns pensamentos de uma pessoa que

    acha que muitas coisas podem mudar. Isso quase um

  • SALVE SUA EMPRESA!

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    romance narrado em primeira pessoa, que um vido

    observador.

    Depois de me formar em Comunicao Social, me

    especializado em Gesto Estratgica de Marketing e me

    defrontado com um complexo dilema pessoal e

    profissional, iniciei um processo de reflexo, levando

    em considerao todas as minhas experincias,

    observaes, estudos acadmicos e leituras diversas. O

    esforo de comear a escrever veio durante meu

    processo de psicanlise. Era um projeto pessoal, de

    autoconhecimento, mas quando comecei s me veio

    cabea assuntos profissionais. Ento, mudei o projeto

    inicial para me dedicar ao mundo empresarial.

    J fui peo. Falo que peo um estado de esprito, e

    no uma profisso. Ser peo dizer que a empresa s

    quer te foder, assim como esticar o papelo para

    dormir aps o almoo. Ser peo bater o ponto em

    horrio rigorosamente britnico. Portanto, existem

    pees em vrios nveis da empresa. Pode existir um

    gerente peo, um coordenador peo, etc. E um peo

    peo, claro.

  • BRENO COSTA

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    O que vejo so muitos empresrios e gestores que no

    conseguem olhar a empresa com o olhar do peo. Esse

    foi um exerccio que fiz para escrever, at mesmo pelo

    fato de j ter pensado e vivido conforme os dois lados.

    No quero me deter frescura e ao polimento de

    utilizar termos muito bem definidos e corretos, como

    colaborador, gestor, lderes, etc. Termos pomposos que,

    na prtica, so utilizados para o mesmo fim. irritante

    ver no mundo empresarial a preocupao em se

    utilizar tais termos e a falta de preocupao em fazer

    com que o sentido desses seja aplicado. Sem contar que

    a cada dia surge um novo modismo, uma nova frase do

    momento ou um novo guru. Ento, caro leitor, no me

    corrija. No estou preocupado com a correta utilizao

    dos significantes que podero estar escritos nas linhas

    que seguem. O que vale aqui o sentido geral do texto

    e o proveito que pode ser tirado daqui para ser

    aplicado em sua empresa.

    Muitos podem se perguntar o que me motivou a

    publicar este livro. Respondo: minha propaganda,

  • SALVE SUA EMPRESA!

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    quero conseguir mais clientes para ganhar dinheiro,

    assim como vocs ou qualquer outro mortal.

    Acredito que ficou atrado pela minha sinceridade nas

    linhas anteriores. Vivemos uma carncia de verdade

    em todas as relaes cotidianas, inclusive nas relaes

    empresariais. Eu poderia ter dito que o objetivo do

    meu livrete seria ajudar os pequenos e mdios

    empresrios no entendimento do processo de gesto e

    bl, bl, bl... Conversa fiada! A verdade atrai, a

    verdade gera confiana, mesmo que voc no goste

    dela. E, c pra ns, ningum acreditaria sinceramente

    nesse ltimo objetivo que escrevi, no verdade?

    Soaria como mais uma falcia das que vemos por a aos

    montes. Estamos fartos do discurso. Voc acredita em

    propaganda poltica? Seria o sucesso do deputado

    Romrio (ex-jogador de futebol) consequncia da sua

    sinceridade?

  • BRENO COSTA

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    Uma viso geral sobre a gesto

    O que vejo so supervisores, coordenadores, gerentes e

    empresrios que, pelo cargo que ocupam, acham que

    sabem e devem saber mais da empresa e do servio do

    que seus funcionrios. A lgica deveria ser inversa.

    altamente recomendvel que os funcionrios saibam

    mais do que os donos e diretores. humanamente

    impossvel se especializar em vrias reas do

    conhecimento, a no ser que seu crebro seja do

    tamanho de uma bola de basquete, o que tornaria sua

    fisionomia parecida com a de um humanide daqueles

    que vemos em filmes de fico. Uma empresa contm

    uma complexidade de conhecimentos especficos, RH,

    finanas, marketing, tecnologia, etc. e, com certeza,

    existem pessoas que detm grande conhecimento e

    habilidade em cada uma dessas reas. Neste caso, no

    seria recomendvel deixar as especialidades por conta

    de especialistas? Guarde isso, gestor: quem faz o

    trabalho todo o dia sabe mais sobre ele do que voc.

    Quer melhorar algum processo? Pergunte a quem faz.

    Quer mudar algo? Pergunte a opinio de quem faz.

  • SALVE SUA EMPRESA!

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    Quer uma soluo para algum problema da sua

    empresa? No pergunte para seus iguais, seus colegas

    empresrios ou gerentes. Pergunte para aquele cara

    que faz sua empresa funcionar no dia a dia, na lida com

    o cliente. Ele a salvao para o seu negcio.

    Gestor, se voc ainda trabalha com pessoas que no

    sabem mais do que voc, crie formas para que elas

    aprendam, aprendam e aprendam. Um dia elas sabero

    mais do que voc. E sabe qual o benefcio disso? Sua

    empresa, num todo, ser muito mais forte. Pode estar

    se perguntando: - Tudo bem, mas um funcionrio

    assim sair da empresa e ser meu concorrente no

    futuro. Recomendo que pare a leitura aqui e faa uma

    sria anlise sobre esse tipo de pensamento. Se sua

    empresa tiver funcionrios especializados em todas as

    reas e setores ela tender a ser competitiva em um

    todo. Supondo que seu melhor funcionrio de vendas,

    depois de aprender tudo na sua empresa, saia, ele ser

    s um bom funcionrio de vendas que ter que

    conseguir outros de marketing, RH, finanas...

  • BRENO COSTA

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    Continuando. Quando os gestores so os fundadores da

    empresa eles esto acostumados a fazer tudo do seu

    jeito (esse um problema muito comum de empresas

    familiares, que veremos mais frente). O erro mais

    comum achar que o jeito certo o seu jeito (na

    maioria das vezes o jeito do dono a pior opo). Darei

    um exemplo muito esclarecedor onde quase todos se

    identificam.

    Muitas pessoas aprendem a dirigir com o pai. Se esse

    for o seu caso, provavelmente foi uma experincia

    horrorosa. Para piorar, sua capacidade de dirigir

    sempre diminua quando ele estava dentro do carro.

    Provavelmente voc arranhava marchas, encostava a

    roda no meio fio... Sabe por qu? Porque seu pai queria

    que voc dirigisse da mesma forma que ele. Na

    verdade, o que ele queria mesmo era estar no banco do

    motorista e dirigindo por voc. Tambm rolava

    daquela desconfiana natural. Olha o buraco! Olha o

    quebra-molas! Freia! Cuidado com aquele carro!

    Quando voc est no carro sozinho, sem a presena de

    algum desse jeito, incontestavelmente dirigir

  • SALVE SUA EMPRESA!

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    melhor, mais seguro e tranquilo. Dentro das empresas

    acontece a mesma coisa. Os gestores querem por a mo

    em tudo e suas tripas se contorcem ao ver algum

    fazer algo que eles mesmos no fariam daquela forma.

    Da surge uma interferncia sem necessidade. Caro

    empresrio ou gestor, se voc no confia na capacidade

    de um funcionrio, porque o contratou? Se voc no

    confia em ningum, no deveria gerir nada, voc

    deveria ter um negcio de uma nica pessoa. Se voc

    sabe que seu funcionrio sabe dirigir, deixe-o livre e

    ele dirigir melhor.

    A maioria dos gestores, por acharem que sabem mais, e

    por acharem que tm maior capacidade de darem a

    soluo de qualquer problema, determina o que cada

    um deve fazer e, s vezes, nos mnimos detalhes.

    Percebe-se aqui que o prprio gestor cria um abismo

    que separa um funcionrio da empresa. Explico. Esse

    abismo causado pelo distanciamento do funcionrio

    com as decises e os processos empresariais. O

    funcionrio no dono do seu trabalho, o trabalho

    dado para ele e no feito e criado por ele. Esse

    funcionrio no tem opinio, no pode e tem medo de

  • BRENO COSTA

    17

    sugerir, no participa. Esse cara apenas um apertador

    de parafusos, no tem voz. Percebeu o abismo? Esse

    funcionrio enxerga a empresa como algo distante, que

    no faz parte da sua vida.

    Todavia, ainda temos alguns que diro: - Mas eu pago

    pelo trabalho dele! - Eu pago e ele trabalha! Simples.

    Tudo bem, companheiro. J vi muitas pessoas

    pensando dessa forma. O que digo que todos, desde a

    poca das cavernas, geriam suas vidas. Porm, vieram

    as empresas e comearam a determinar o que

    deveramos ou no fazer, sem explicar o porqu. Se

    isso nunca funcionou, hoje em dia menos ainda.

    Vivemos em uma sociedade que, como nunca, participa

    de tudo, graas internet. Estamos nos acostumando a

    participar, a interferir, a se manifestar, nem que seja

    atravs do Facebook. Isso uma onda que j

    realidade, tomou conta de tudo e de todos. J est

    enraizado. Portanto, se antes no se motivava ningum

    criando um abismo entre funcionrio e empresa, hoje,

    menos ainda. Interessante pensar que os gestores

    criam esse abismo e depois cobram comprometimento,

    que tratem a empresa como se fossem deles, que no

  • SALVE SUA EMPRESA!

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    demorem no cafezinho... Cobra-se para que

    funcionrios tratem a empresa como se fossem deles,

    mas se faz o contrrio, tiram do funcionrio qualquer

    sentimento de posse. Da forma como que a maioria das

    empresas gerida hoje, impossvel pedir para que

    todos tenham comprometimento.

    No questo de concordar ou no. questo de

    aceitar. O mundo assim e voc no poder mudar o

    mundo. Caso no queira que seu funcionrio participe

    da gesto de sua empresa, continuar tendo os

    mesmos problemas.

    Pense. Se seu funcionrio no comprometido, a culpa

    sua. Ou voc contratou mal, ou no deu significado

    para o trabalho dele. Talvez voc duvide da capacidade

    do seu funcionrio, e desconfie at o fim. Como que

    uma pessoa pode ser confivel se no recebe

    confiana?

    Vamos para um exemplo muito ilustrativo. Como

    possvel que algum faa trabalhos voluntrios,

    visitando asilos, por exemplo, extremamente motivado,

  • BRENO COSTA

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    e sem receber nada, perdendo tempo e tendo inmeros

    custos? O trabalho voluntrio, para essas pessoas,

    recheado de sentido e significado, no verdade? Ora,

    se voc daqueles que diz: - Pago em dia, dou vale

    alimentao, vale transporte, plano de sade e o

    funcionrio ainda me prejudica! Volte algumas linhas e

    pense novamente no trabalho voluntrio. No

    voluntariado, paga-se para trabalhar, ento, pergunto:

    salrio e benefcios motivam? No.

    Mas ainda h pessoas que trabalham por conta do

    salrio, acomodadas. Concordo. Mas j imaginou como

    essas pessoas poderiam render e serem mais

    comprometidas se estivessem no comando do veculo e

    sem algum sentado no banco do passageiro enchendo

    sua pacincia? Portanto, se voc um empresrio que

    gosta tanto de nmeros e menos de pessoas, saiba que

    trabalhando com as pessoas que voc aumentar

    seus nmeros. Portanto, deixe que as pessoas tomem

    conta do volante. Se voc no deixar as pessoas

    dirigirem com tranquilidade, est atrofiando sua

    empresa.

  • SALVE SUA EMPRESA!

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    Algumas atitudes que no percebemos fazem com que

    qualquer funcionrio tenha medo de fazer qualquer

    coisa, e renda cada vez menos. Uma delas, por exemplo,

    interromper conversas ao telefone para dar sua

    opinio e ensinar como se faz, colocando palavras na

    boca do funcionrio e corrigindo uma conversa em

    acontecimento:

    Pede um momento! Pede um momento! Como se o

    mundo estivesse acabando.

    Seu funcionrio sabe atender, s fica inseguro e tem

    medo de fazer perto de voc. Se ele cometer pequenos

    erros, explique depois que ele encerrar a ligao. No

    seja aquele pai chato que ensina o filho a dirigir. Faa

    com que ele se sinta vontade com voc.

    Todos escondem os erros que cometeram porque

    sabem que quando comunicarem o problema, a cara do

    chefe vai ficar roxa e ele comear a esbravejar como

    um louco. Se voc no fica dando esporro toda hora, a

    qualquer custo, sabe qual o benefcio disso? Os erros

    chegaro at voc, sem que seja necessrio descobri-

  • BRENO COSTA

    21

    los. Os prprios funcionrios relataro os erros com a

    maior naturalidade e no criaro artifcios para

    escond-los. Deixe todos vontade com voc, gestor.

    No intimide.

    Muitos pensam que a postura forte e coercitiva a que

    impor respeito e medo. Pessoas com medo faro tudo

    correto, certo? Errado. E para piorar, vo esconder os

    erros de voc. Alm de te odiarem. Ah, e passaro

    tambm a no se dedicar, por enxergarem que s

    estaro lhe beneficiando com o trabalho. Como vemos,

    um ciclo vicioso.

    No desautorize um funcionrio se ele estiver

    correto, a no ser que seja extremamente necessrio.

    Sabe aquela histria de deixa eu falar com um

    supervisor? Na maioria das vezes o supervisor

    desautoriza o pobre do atendente, que vai se sentindo

    diminudo e passa por imprestvel. Delegue algumas

    responsabilidades e se segure na cadeira, sofra, d um

    tiro nas tmporas e veja o que ele est fazendo, mesmo

    achando que ele est errado (voc delegou a

    responsabilidade da deciso para ele). Na maioria das

  • SALVE SUA EMPRESA!

    22

    vezes ele estar certo. Se estiver errado, faz parte do

    preo necessrio para o crescimento da empresa.

    Lembre-se de que voc quem atrofia sua empresa.

    Imagine a seguinte situao em uma central de

    relacionamentos. Depois de negociar uma fatura em

    atraso, a atendente chega ao mximo de sua margem

    de negociao, dividindo em quatro parcelas iguais.

    Porm, o cliente quer e briga para que sua dvida seja

    dividida em seis vezes. Depois de tanta discusso

    chega-se o momento fatdico:

    - Deixe-me falar com seu supervisor? Diz o cliente,

    com vrias pedras na mo.

    - Senhor, no h motivos para que fale com o meu

    supervisor, s parcelamos dvida nesse valor em at 4

    vezes. Replica a atendente.

    - No me interessa, eu quero falar com algum superior

    agora! Ui!

  • BRENO COSTA

    23

    Depois de um princpio de conflito, o supervisor entra

    na linha:

    - Pois no, senhor?

    - o seguinte: eu falei para essa menina que eu tenho

    que parcelar minha dvida em seis vezes e ela no quer

    parcelar!

    Depois de ouvir toda a reclamao do cliente, o

    supervisor pergunta:

    - O que ela disse, e o que ela te explicou?

    O cliente repete as informaes. O supervisor ento

    diz:

    - A deciso da atendente, ela a pessoa capacitada e

    autorizada para abrir excees ou no. Eu,

    concordando ou discordando, delego essa

    responsabilidade a ela. Portanto, continue

    conversando com a minha atendente, pois ela quem

    ir resolver seu problema, e no eu.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    24

    Essa uma situao dos sonhos. Imaginem pessoas

    capacitadas (capacitadas, repito alm do negrito)

    tomando decises de forma competente, agilizando a

    vida de todos e passando por cima de questes

    burocrticas. Gestor, confie responsabilidades, no

    interrompa decises, no desautorize funcionrios.

    Mesmo que voc no acredite, sua opinio nem sempre

    a melhor. Uma faxineira, um operador de

    telemarketing, ou qualquer outro pode ter uma deciso

    melhor do que a sua. Lembre-se: liberte sua empresa

    das amarras que voc mesmo criou.

    O futebol uma excelente ilustrao para o que digo.

    Algum acredita que o Felipo joga mais que o

    Neymar? O treinador tem uma idia geral de quem so

    os melhores para aquela posio. Felipo sabe mais do

    que ningum que o Neymar o cara que vai aplicar um

    drible final. No necessrio explicar detalhadamente

    qual o procedimento correto para dar o drible, como

    pegar na bola, etc. A Seleo Brasileira tem jogadores

    especializados e competentes, repito! em cada

    posio e cada um, na hora do jogo, tomar as decises

    necessrias, sem ter que ficar perguntando ao Felipo

  • BRENO COSTA

    25

    toda hora. Afinal, eles so especialistas nas suas

    posies. Lembre do que foi dito sobre fazer um

    funcionrio aprender mais do que voc sobre a rea

    que ele vai atuar. Agora, leitor, pegue tudo isso que foi

    dito e compare com o que fazemos em nossas

    empresas.

    Outra questo polmica: Algum acha que o Felipo,

    por ser o chefe, ganha mais do que o Neymar? Claro

    que no. Sei que essa informao j demais para a

    nossa cabea formada na Terra Brasilis. Isso acontece

    por um simples motivo: igual ao Neymar, no se acha a

    todo o momento, mas, igual ao Felipo, simples de

    encontrar. O mercado d mais valor ao Neymar do que

    ao Felipo.

    Por que temos a necessidade de achar que chefes e

    empresrios tm que ganhar mais do que seus

    subordinados? Quem estipula o preo limite das

    mercadorias e, tambm, dos soldos, o mercado.

    Funciona assim no mercado de bens de consumo e

    servios e o nosso queridssimo mercado de mo de

  • SALVE SUA EMPRESA!

    26

    obra no diferente. Sempre foi assim e no

    conseguiremos lutar contra isso. Aceite.

  • BRENO COSTA

    27

    O direito de errar

    Pessoas com medo de errar erram. Pessoas com medo

    de errar se sentem inseguras. Pessoas com medo de

    errar trabalham mal. Pessoas com medo de errar no

    criam. Pessoas com medo de errar no inovam.

    Pessoas com medo de errar no melhoram. Pessoas

    com medo de errar no se motivam. D o direito de

    seus funcionrios errarem.

    Muitas invenes que mudaram a histria da

    humanidade vieram de erros. Pesquise sobre a

    inveno do Viagra. Vou me delongar s um pouco em

    apenas um exemplo.

    O famoso post-it, aquele papelzinho amarelo que

    grudamos nas telas de nossos computadores e

    marcamos pginas de livros, foi inventado porque a

    3M, empresa que deteve a patente do produto, d o

    direito para que seus funcionrios errem. E at mesmo

    incentiva o erro. A 3M faz isso porque ela quer inovar.

    O criador desse produto queria criar uma cola super

    poderosa e acabou falhando na sua saga. O produto

  • SALVE SUA EMPRESA!

    28

    resultante foi uma colinha muito fajuta que acabou

    sendo utilizada para grudar papis de recado em sua

    estao de trabalho. Habemus post-it!

    s vezes vejo empresrios loucos para que sua

    empresa saia de uma situao difcil, precisando criar

    solues, inovaes, ideias, etc. Porm, essa empresa

    coage o funcionrio, amedronta atravs de seus chefes

    demnios. Ao primeiro erro de qualquer um, o que

    vem um xingamento ou um palavro. Sabe o que

    esses funcionrios vo fazer em uma empresa como

    essa? S o bsico, o feijo com arroz. Quem no quer

    errar faz o que sempre foi feito, j que o resultado

    desse velho trabalho j conhecido. Quando fazemos o

    diferente nos damos com a possibilidade de termos

    outro resultado, que pode ser bom ou ruim, mas, em

    essncia, ser uma inovao. Ento, se voc adora

    xingar e coagir, no reclame que sua empresa parou no

    tempo e no cresce mais.

    Voc pode me questionar e dizer que o erro gera

    custos. Sim, o erro gera custos. Concordo. o custo do

    crescimento e do bem estar da empresa. Voc pode

  • BRENO COSTA

    29

    optar por uma empresa que no erra e se atrofia ou

    uma empresa que erra e se sente bem. O bem estar e o

    crescimento tm custos. Voc no paga juros de

    financiamento para comprar um equipamento novo?

    Custo do crescimento.

    Algumas correes nos funcionrios so mnimas e

    irritantes de qualquer ponto de vista. Querer interferir

    em como ele arruma a mesa, em como ele anota e, at

    mesmo, em algumas decises que no interferem em

    absolutamente nada, mas que voc no faria daquele

    jeito, s piora o clima da empresa e faz com que as

    pessoas trabalhem pior. Voc, gestor, se julga no

    direito de pedir para fazer do seu jeito s pelo fato de

    ter autoridade para impor. Pense que em algumas

    situaes fazer de um jeito ou de outro no ter

    interferncia nenhuma em nada.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    30

    A burocracia

    A burocracia surgiu com a finalidade de criar padres

    para processos administrativos. Porm, com o passar

    do tempo, deixou de ser um meio para se tornar um

    fim. Os trabalhadores passaram a utilizar a burocracia

    pela prpria burocracia. Por exemplo, atualizar os

    dados passou a ser a finalidade do trabalho, e no,

    fazer com que o produto chegue ao endereo correto

    do cliente. Todos pararam de enxergar a finalidade do

    trabalho burocrtico e acham a coisa mais importante

    do mundo atualizar os dados. Essa anomalia

    empresarial chegou ao alarmante nvel de impedir que

    um cliente saia da loja com seu produto na mo pelo

    simples motivo de no saber seu CEP de cor.

    Sem o CEP no ser possvel estar efetuando a venda,

    senhor, pois o sistema no permite.

    Mas o objetivo do sistema no facilitar a vida da

    empresa? Repare se sua empresa no est mudando o

    objetivo final para prestar servios burocrticos.

    Anomalias como essas tambm podem acontecer pela

  • BRENO COSTA

    31

    falta de liberdade que dada ao funcionrio para

    solucionar qualquer coisa.

    Criei uma metfora muito interessante para entender o

    que acontece com empresas demasiadamente

    burocrticas ou lentas.

    Certa vez, um andarilho, bbado e maltrapilho,

    passava sobre um viaduto, andando em seu

    habitual zigue e zague. Nesse dia, um zigue e

    zague mais sinuoso o fez despencar l de cima e

    cair sobre uma linha de trem. Para piorar a

    situao dessa personagem, que no conseguia

    movimentar suas pernas, um monstro de ferro

    movido a vapor estava para chegar ao encontro

    com o acidentado. Alguns transeuntes curiosos

    chegavam ao local e comearam um debate:

    - Devemos tir-lo daqui rpido, um trem pode

    chegar a qualquer momento! Disse um sujeito

    que queria solucionar a situao.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    32

    - Claro que no! Se o locomovermos agora

    podemos agravar sua leso e torn-lo

    paraplgico para o resto de sua vida

    Esbravejou uma mulher contra o primeiro

    cidado a se manifestar.

    E assim ficaram durante um bom tempo,

    enquanto o andarilho, que j estava curado de

    sua ressaca, assistia a tudo sem entender bem o

    que todos debatiam.

    O trem apareceu no horizonte e, de tanto

    levantarem teses e argumentaes sobre o que

    fazer com o pobre acidentado, no viram a

    aproximao. Quando se deram por conta j era

    tarde demais e o trem passou por cima do pobre

    homem, enquanto, assustados, todos correram.

    Se tivessem se preocupado em tirar o homem da

    linha de trem rapidamente, como disse o primeiro

    cidado, hoje o pobre moo estaria vivo, porm em

    uma cadeira de rodas e, talvez, tivesse parado de

    beber. Como as pessoas pensaram demais,

  • BRENO COSTA

    33

    debateram demais, se emaranharam em

    burocracias e preciosismos, acabaram matando um

    homem.

    Gestores e empresrios que deixam algumas

    decises na mo de funcionrios e permitem que a

    burocracia tenha apenas um papel secundrio na

    estrutura da empresa, garantir a sobrevivncia do

    negcio. Hoje, na maioria das empresas, se discute

    muitos preciosismos, vaidades e burocracias que

    acabam escondendo ou esquecendo o seu

    objetivo final: atender bem seus clientes. No faa

    como na metfora anterior, no fique preso em

    preciosismos. Pense no objetivo final. Se algum

    imprevisto (ficar na cadeira de rodas) acontecer no

    meio do caminho, o importante cumprir o

    objetivo final e mais importante (ficar vivo, mesmo

    que tenha algumas sequelas). Pequenas decises,

    dentro de setores, so extremamente morosas

    justamente por causa de preciosismos e

    perfumarias. Faa a coisa fluir, deixe os setores e a

    empresa viva, mesmo que a algum custo.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    34

    Empresa familiar

    Existem alguns problemas na empresa familiar que

    travam o seu crescimento. Talvez este seja o seu caso,

    talvez no. Mesmo que no esteja em uma empresa

    familiar, vale a leitura, j que este captulo tambm

    bem esclarecedor.

    O mais comum que o pai da famlia seja a pessoa que

    dita as regras. Apesar de teoricamente haver um

    nivelamento de opinies e sugestes, a opinio do pai

    da famlia acaba prevalecendo sob aquele argumento

    da experincia. Experincia vale? Claro que vale, e

    muito. Mas se tomarmos todas as decises com base na

    experincia ficaremos presos cada vez mais ao passado

    em um mundo cada vez mais dinmico. Nem sempre a

    experincia a resposta certa.

    Na medida em que a empresa vai crescendo, seu

    fundador vai delegando cargos de maior importncia

    aos membros da famlia. So os tais cargos de

    confiana. Essa lgica de pensamento o que trava o

    crescimento das empresas familiares, j que o tamanho

  • BRENO COSTA

    35

    da empresa vai ficando limitado quantidade de filhos,

    tios, irmos, etc. Nessa lgica de pensamento, quando

    se acabam os membros da famlia, a nica forma de

    crescer tendo mais filhos e netos.

    Empresas familiares do certo? Essa uma pergunta

    frequente. E a resposta : depende da famlia. Aquelas

    famlias que conseguem nivelar as opinies e sugestes

    e, aquelas que conseguem discutir sem brigar, podem

    dar muito certo.

    impressionante como todos os tentculos da

    empresa familiar refletem, de certa forma, a

    personalidade do seu fundador. Se seu fundador

    desconfiado, essa empresa ter, em todas as relaes

    pessoais e profissionais, esse atributo. Se for um

    fundador honesto, tenha certeza que essa empresa

    nunca sonegar impostos. Caso voc seja o fundador da

    sua empresa, pense em como os seus defeitos esto

    afetando todas as esferas empresariais. Se o fundador

    for centralizador, todos os demais gestores tambm

    centralizaro suas atividades.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    36

    H um exerccio de pensamento que pode lhe ajudar a

    descobrir se sua empresa familiar slida ou no.

    Ajuda tambm a descobrir o nvel de desenvolvimento

    organizacional. Faa a seguinte pergunta: se o dono

    sair, a empresa andar por si s? Se a resposta for no,

    volte aos captulos anteriores. Voc est fazendo

    muitas coisas na sua empresa sem ser especialista no

    assunto. Voc est impedindo sua empresa de crescer.

    Voc est a sufocando. Saiba que qualquer pessoa pode

    fazer um trabalho melhor do que o seu. Caro gestor e

    empresrio, o seu papel gerir, e no colocar a mo na

    massa. Sabe aquela histria do jogo de xadrez ou

    damas de que quem olha o jogo de fora enxerga melhor

    as possibilidades? O papel do gestor justamente esse:

    ficar de fora do jogo.

    No discurso muito bonito: - ele dono, mas pe a

    mo na massa! Bonito s no discurso. Se voc faz isso,

    est trabalhando mal.

  • BRENO COSTA

    37

    Tratando funcionrios como crianas

    Para ter confiana preciso que demonstre confiana.

    Tratar os funcionrios como crianas demonstra que

    voc no confia na capacidade deles. A utilizao desse

    artifcio bossal mais comum do que se pode imaginar.

    Muitas empresas tratam seus funcionrios como

    crianas. Sabe aqueles mascotes da CIPAT, jornal mural

    com florezinhas, bonequinhos e vrios outros inhos?

    No consigo entender, com toda sinceridade, qual a

    lgica por de trs desses mascotes. Penso que o gestor,

    do alto de sua inteligncia que julga inigualvel deve

    pensar que essa a nica forma de chamar a ateno

    dos seus incapazes funcionrios para a mensagem

    que quer passar. Porm, como esses funcionrios so

    adultos caso contrrio, no estariam trabalhando

    no vo se identificar com tais mascotes do

    jornalzinho e vo continuar enxergando a empresa

    como algo distante da realidade, algo que no digno

    de ser levado a srio. De novo: voc confia em

    propaganda poltica? Seria parecido com esse

    distanciamento que voc vive hoje em dia. Trouxe esse

  • SALVE SUA EMPRESA!

    38

    exemplo para voc se sentir por ao menos um segundo

    na pele de seu funcionrio.

    s vezes alguns RH`s trabalham com essa lgica,

    tratando a empresa como jardim de infncia. Fazem

    muitas coisinhas, muraizinhos, dentre outros, e se

    esquecem do que realmente importa: gerir pessoas de

    forma franca, olhando nos olhos, tratando pessoas com

    sinceridade, confiana e de forma adulta. No minimizo

    aqui a importncia dos murais e jornais internos. O que

    condeno a formatao desses de forma a deix-los

    com aspecto infantil, ldico e bossal.

    Contudo, j trabalhei em uma empresa, de perfil

    feminino, onde as funcionrias adoravam florezinhas,

    capas de caderno do Ursinho Pooh, canetas com firulas,

    etc. No condeno essa atitude, tem mais que deixar

    que role, j que isso traz alguma familiaridade do

    funcionrio com o trabalho. O que condeno que a

    infantilizao seja sistemtica.

  • BRENO COSTA

    39

    Punio

    A punio deveria ser aplicada em dois casos: se foi de

    propsito ou se foi displicente. Quando se pune uma

    pessoa que errou, mesmo que um erro banal, mas com

    a melhor das intenes, o que acontecer o desgaste

    irreversvel deste funcionrio. Ele tender a no criar

    mais, assumir menos responsabilidades e fazer s o

    seu feijo com arroz.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    40

    RH - contratao

    Supondo que j trabalhei em mais de 12 lugares e

    passei, no mnimo, por 30 entrevistas, me considero

    com um pouco de insumos para discorrer sobre o

    processo seletivo dos RH`s. Falta um pouco de

    franqueza aqui tambm. Falta objetividade. Alguns

    tratam seus candidatos como crianas.

    Certa vez participei de um processo seletivo onde me

    senti extremamente constrangido. S no deixei a sala

    de entrevistas porque precisava muito da grana que

    estava em jogo. O processo se constituiu em duas

    etapas. Na primeira, um face a face com a analista de

    RH. At aqui, tudo bem. Na segunda parte que foi

    criado o jardim de infncia, com canetinha, lpis de cor,

    cartolina, revistas para recortar... Pediram para que eu

    contasse a minha histria utilizando os materiais

    disponveis. Portanto, tive que, do alto do meu orgulho,

    comear a cortar revistas velhas e a trabalhar com

    canetinha. E olhe que a vaga era para profissionais de

    nvel superior completo.

  • BRENO COSTA

    41

    Meu caro RH, isso constrangedor. No prego que o

    processo seletivo deva ter aspecto sisudo, frio ou

    tenso. Apenas ridculo expor o candidato a esses

    papis. Claro que esse tipo de atividade pedido para

    analisar fatores psicolgicos, etc. Mas ser esta a nica

    forma? No estou questionando a validade do teste.

    Talvez me colocar constrangido seria o objetivo. Se

    este for o caso, ser que as consequncias do teste

    foram positivas? Eu tomei raiva da empresa. O teste

    pode ser eficaz para avaliar uma coisa ali ou outra aqui,

    mas o candidato que no foi aprovado no obrigado a

    saber em que estava sendo avaliado e poder sair por

    a falando mal da firma em que foi fazer entrevista. No

    tenho autoridade suficiente para questionar a validade

    desse tipo de teste, mas para questionar o dano que ele

    pode trazer imagem da empresa, tenho considervel.

    Vamos discorrer agora sobre a falta de flexibilidade

    dos horrios de entrevistas agendadas pelo RH. Vamos

    ser sinceros, quando analisamos o currculo de algum

    e vemos que a pessoa est trabalhando, partimos do

    princpio que ela tem um horrio a cumprir naquela

    empresa, certo? Claro! O problema que todos

  • SALVE SUA EMPRESA!

    42

    preferem acreditar que isso no verdade e alguns

    RH`s so completamente inflexveis na hora de marcar

    a tal da dinmica de grupo. O que custa, novamente,

    tratar todo mundo com franqueza e de forma adulta?

    Ligue para um candidato e veja se aquele horrio

    vivel para as duas partes. Por que no flexibilizar isso

    um pouco? De certa forma, est todo mundo fingindo.

    O candidato finge que no deu uma desculpa na firma

    de que ia levar sua me ao mdico e a empresa

    contratante finge que no sabe disso. No fim, ficam

    todos infelizes. A empresa contrata o cara errado e o

    candidato v que a empresa contratou a sua mscara e,

    um dia, ser infeliz por no suportar manter essa

    mscara durante muito tempo e vai procurar ou no

    sua felicidade em outro lugar.

    No sou especialista no assunto, no sou psiclogo.

    Mas considero as entrevistas pouco objetivas. Coisas

    do tipo fale duas qualidades e dois defeitos, graas a

    Deus, esto caindo em desuso, mas ainda so muito

    perguntadas por a. Se voc um contratante, saiba

    que as pessoas decoram essas coisas, e que a maioria

    vai falar que seu defeito ser muito ansioso. Quero

  • BRENO COSTA

    43

    informar tambm que todos os anos tm, no mnimo,

    umas trs matrias sobre como se comportar em

    entrevistas de emprego no Jornal Hoje. Com isso, as

    pessoas ficam decorando o que vo falar, decorando o

    papel a ser representado. O candidato finge que no

    est representando e a empresa contratante finge que

    acredita. Sempre me perguntam por que no acham

    um funcionrio que preste. A resposta est no

    processo seletivo ou, at mesmo, na gesto da sua

    empresa.

    Por que as coisas no so mais objetivas? Veja a vaga

    que est em jogo, veja o perfil profissional necessrio,

    veja em que o candidato realmente bom, analise se

    ele dar certo para a vaga e pronto.

    Algumas anlises prvias matam muitos bons

    candidatos no meio do caminho. Qual o problema de

    existir no Facebook do candidato uma foto dele

    completamente bbado, de cueca e vomitando em um

    ano de jardim? Isso no significa que ele ser um mau

    funcionrio.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    44

    Outra coisa que no consigo entender porque, em

    muitos dos casos, os salrios das vagas divulgadas s

    podem ser ditos no ato da entrevista. No falo daqueles

    que so combinar ou que tm suas especificidades,

    mas sim daqueles salrios que j so pr

    determinados. Se o salrio for dito, o RH poder

    economizar o tempo de vrios candidatos, pois aqueles

    que no se interessarem, no vo empregar esforos

    para ir a um processo que vo recusar a vaga depois.

    Nesses casos, no se respeitam os candidatos.

    Outra falta de respeito so aqueles processos

    demorados, onde se perde quase meio dia em uma

    dinmica, mesmo o RH sabendo que alguns candidatos

    trabalham atualmente. Da mesma forma, agem com

    falta de respeito quando mandam o cara voltar

    empresa vrias vezes... As coisas poderiam ser mais

    resumidas.

    Considero outra falta de respeito tamanha dispensar

    um candidato sem dizer o motivo. Alguns candidatos se

    sentem muito mal quando so dispensados e se julgam

    incapazes. Porm, o que no entendem que no o

  • BRENO COSTA

    45

    fato de serem ruins ou serem bons. O fato que muitas

    vezes no so o que a empresa quer. completamente

    diferente. Falta, de fato, um feedback real aos

    candidatos sobre em que pecaram nas entrevistas,

    sobre qual o perfil era procurado, etc. Isso tratar o

    candidato com respeito e se importar de verdade com

    ele. Seja humano.

    Lembro sempre que todo contato com a empresa

    reflete como ela em um todo. Se um candidato faz um

    processo seletivo onde ele no respeitado, ele

    tender a pensar, e com razo, que a empresa, em um

    todo, no respeita seus funcionrios e clientes. Pense

    tambm que esse candidato, caso no seja contratado,

    poder ser cliente um dia e falar da ineficincia da

    empresa com seus amigos, vizinhos...

  • SALVE SUA EMPRESA!

    46

    Vestir a camisa

    Todas as escolhas da vida geram nus e bnus. A

    escolha de ser empresrio no diferente. O

    empresrio tem o nus de se preocupar com a empresa

    diariamente, nos finais de semana, etc. Enfim, o

    empresrio deve viver a empresa, esse o seu nus. O

    bnus do empresrio ter certa flexibilidade de

    horrios, no ter chefe, poder fazer uma retirada

    maior, dentre outros.

    O funcionrio tambm tem seus nus. Bater carto, dar

    satisfao, horrios rgidos, cobrana... E os bnus? J

    pensou que se exigirmos dos funcionrios que eles

    vistam a camisa, assim como os donos, eles teriam

    apenas nus? Ento, o funcionrio deve se

    despreocupar com a empresa depois do seu expediente

    de trabalho e no deve sofrer por ela, pois estes so os

    nus do proprietrio.

    Cada um fez sua escolha, ou, pelo menos, foi o que

    restou a ser feito. Um funcionrio, o outro

  • BRENO COSTA

    47

    empresrio. No podemos exigir que um dos lados

    tenha apenas nus, essa seria uma carga injusta.

    Pense. O grande problema enfrentado hoje no de

    funcionrios que no vestem a camisa, mas sim dos

    que no cumprem com suas obrigaes. Se todos os

    funcionrios fizessem somente suas obrigaes, no

    haveria os problemas que levam a muitos falarem que

    os meus funcionrios no vestem a camisa da

    empresa. Claro que existiro alguns que faro algo

    alm, que iro encher os olhos do patro, mas no sero

    todos, e nem seria bom que fossem.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    48

    Entenda o peo: um estado de esprito

    J falei anteriormente que peo um estado de

    esprito, e no um cargo, ou uma profisso. O

    pensamento do peo o seguinte: o lucro da empresa

    fica com o dono e ele paga o mnimo para os

    funcionrios para que o lucro aumente. De certa forma,

    esse um pensamento correto, mas o que eles no

    entendem que os seus salrios so estipulados pelo

    mercado. o que eu chamo de dinmica dos tomates.

    Quando a chuva programada no cai, h uma queda na

    produo, o que leva os preos dos tomates a subirem

    e a dona de casa, se quiser incrementar sua salada com

    tomates, ter que dispensar um pouco mais de

    dinheiro para isso. a lei da oferta e da procura.

    Quanto se tem pouco de alguma coisa, essa coisa fica

    cara. Quando se tem muito dessa coisa, fica barata. o

    mesmo que acontece com nossa mo de obra.

    De alguma forma, importante deixar claro para todos

    os funcionrios que eles recebem aquilo que o

    mercado est pagando. O salrio deles no

  • BRENO COSTA

    49

    deliberado inteiramente pelo patro, mas sim, em boa

    parte, pelo mercado. Logo, a forma para que a

    peozada ganhe mais, fazendo com que existam

    poucos deles, fazendo trabalhos espetaculares, se

    especializando, migrando para reas de trabalho em

    ascenso... Tem muito peo por a, e por isso ganham

    pouco.

    O peo acha que o patro o responsvel por sua

    carreira. O peo pensa que se fizer um trabalho mal

    feito, s prejudicar o patro, mas no pensa que

    agindo dessa forma vai apenas prejudicar ele mesmo.

    Quando algum pedir referncia para o seu superior,

    sero as piores. Um dia ele ir reclamar que no recebe

    promoo e no acha outras oportunidades.

    O peo apelida o que faz o trabalho bem feito de baba

    ovo da empresa. Ele no enxerga que a pessoa s est

    fazendo sua obrigao e melhorando a prpria imagem

    trabalhando bem. O peo no entende que fazer um

    trabalho bem, ou faz-lo de forma extraordinria, s

    far bem para si prprio.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    50

    O peo adora falar que o patro pega a hora que quer,

    porque quem pode manda, obedece quem tem juzo.

    Lembram do nus e do bnus? Eles no entendem isso.

    Outra mxima do peo dizer algo mais ou menos

    assim quando est desempregado: - Vou esperar meu

    seguro desemprego acabar para procurar servio.

    Por fim, peo acha que patro no trabalha. Como

    pesquisador da rea de comunicao, para evitar, ou ao

    menos amenizar essas indisposies veladas, meu

    conselho : sempre deixar claro todas as decises,

    todas as tarefas e o motivo de tudo. Das atitudes, das

    demisses, das promoes, das punies, das

    gratificaes, etc. Para explicar isso tudo, tem-se que

    fazer uma gesto de forma sincera, adulta e

    transparente.

  • BRENO COSTA

    51

    O urgente, o imprevisto e o culto ao

    trabalho

    importante que tenhamos senso crtico quando

    vemos vagas que pedem senso de urgncia ao

    candidato. Caso veja uma vaga assim, candidato,

    pesquise o mximo sobre a empresa. O urgente, na

    maioria das vezes, o que era para ter sido feito

    ontem. Parece que h um culto ao urgente e ao

    trabalho enfadonho. Orgulhamo-nos e enchemos a

    boca com muito prazer ao dizer: - Eu trabalho doze

    horas por dia, trabalho noite, de madrugada. Existem

    dois pontos de destaque nessa patologia.

    Primeiro. Existem pessoas que trabalham menos e

    ganham mais. Se voc trabalha muito mais do que

    outras pessoas, uma possibilidade que voc menos

    competente do que as que trabalham menos ou, ento,

    teve menos oportunidades. Isso no bonito. No se

    orgulhe disso.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    52

    Segundo. Se tudo na sua vida urgente porque voc

    est a gerindo mal. Se o imprevisto constante, h uma

    falha de gesto. Os publicitrios quase tm um

    orgasmo ao dizer que dormem na agncia, que

    trabalham sempre com urgncia, que no tm vida

    social... Isso apenas mostra que eles gerem mal o seu

    trabalho. Podem ser bons publicitrios, mas so maus

    gestores. Quando trabalhamos sempre com a urgncia

    e com o imprevisto, no temos tempo para o

    pensamento. Pensar o trabalho fundamental de

    qualquer gestor. Quando tudo urgente, fazemos

    muito e pensamos menos.

    Claro que o urgente e o imprevisto sempre vo ocorrer.

    Sempre. Mas quando isso se torna comum, quando o

    imprevisto se torna rotineiro, j sintomtico. At

    mesmo em um Pronto Socorro o imprevisto

    controlvel. Um PS trabalha diretamente ligado ao

    urgente e emergente. Se a essncia do trabalho de um

    PS esse, isso deixa de ser um imprevisto, no

    mesmo?

  • BRENO COSTA

    53

    O culto pobreza

    muito comum vermos empresrios enchendo a boca

    para falar: - J engraxei sapato e ralei muito para

    chegar at aqui. Quem nunca ouviu essa frase, ouviu ao

    menos algo parecido. O que digo o seguinte: no tem

    diferena nenhuma entre um empresrio que ganhou

    na Mega Sena e um que engraxou sapato antes de

    montar seu negcio. Provavelmente se a pessoa que

    ganhou na Mega necessitasse, tambm engraxaria

    sapatos.

    Se voc engraxou sapato e vendeu bala no semforo,

    meu companheiro, no fez mais que sua obrigao. o

    instinto de sobrevivncia, todos tm. Alguns podem

    dizer que foram honestos, justos, trabalhadores... Isso

    se acha em qualquer esquina, em qualquer buteco

    (acho mais bonito escrever assim do que boteco).

    Honestidade no vantagem exclusiva que poucos

    tm, se acha aos montes.

    Parecemos cultuar a pobreza, ao menos o brasileiro.

    Sentimo-nos envergonhados ao comprar um carro e,

  • SALVE SUA EMPRESA!

    54

    por isso, a todo o momento temos que afirmar que

    ralamos muito para chegar at aqui e que j

    engraxamos muitos sapatos. O peo quando v o chefe

    de carro, j diz: - Patro patro! Talvez seja por esse

    tipo de atitude, para espantar a inveja e justificar sua

    grana, que os empresrios e gestores afirmam

    trabalhar muito a todo o momento.

    Eu acho que o interessante dessa histria nos

    perguntarmos por que gostamos tanto da pobreza. Por

    que damos mais valor ao cara que trabalha muito do

    que ao cara que trabalha pouco e ganha a mesma

    quantidade de dinheiro? Por que louvamos o cara que

    j engraxou sapato antes de montar sua empresa? Por

    que temos vergonha de dizer que trabalhamos pouco

    ou que montamos nossa empresa com facilidade? Por

    que temos vergonha de nos tornarmos ricos?

    Sinceramente, no sei responder essas questes. Fao

    ideia, mas seria leviano levantar alguma hiptese aqui.

  • BRENO COSTA

    55

    Nunca tirei frias

    Se voc se orgulha de dizer isso, tenho d de voc.

    Pense racionalmente em qual a grande vantagem de

    sair vomitando isso por a. Voc est acabando com sua

    vida e caso voc tirasse algumas frias no ficaria mais

    pobre, tenho certeza.

    Um carro com ar condicionado custa mais caro. Uma

    geladeira que no precisa abrir a porta para tirar cubos

    de gelo tambm. Pagamos mais caro pelo conforto e

    quando deixamos de ganhar algum valor em dinheiro

    para podermos descansar, estamos comprando-o

    tambm. O que me estranha ver empresrios

    pagando muito caro em confortos menos proveitosos.

    Esse carro muito confortvel! Disse um empresrio

    que nunca tirou frias. Se ele est disposto a pagar to

    caro pelo conforto, no entendo o motivo de no ter

    tirado suas frias. Talvez seja vergonha de dizer que

    no est trabalhando e algum falar que vida de

    patro boa demais. Talvez seja a necessidade de

    justificar seus bens e dizer pra todo mundo, de forma

    muito orgulhosa, que nunca tirou frias.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    56

    Em um pas que venera a pobreza, um pecado ter

    uma vida confortvel. A forma de pagar por este

    pecado se auto flagelando. Sob esse ponto de vista, se

    voc comete o pecado de ser rico, paga por ele

    sofrendo mentalmente e fisicamente. Se voc no o faz,

    a sociedade faz por voc. S desta forma podem aceit-

    lo, tendo que trabalhar sem tirar frias para no ser

    julgado como metido ou playboy. Isso tudo me lembra

    cenas de religies extremistas onde os fiis cortam seu

    prprio corpo para que saiam purificados.

  • BRENO COSTA

    57

    A fama do preguioso

    No meio de gestores e empresrios muito comum

    ouvir que est difcil contratar algum que no seja

    preguioso e que ns trabalhamos 12 horas por dia e

    no ficamos reclamando. Pois , saiba que existem

    trabalhos mais fceis do que outros.

    Lembra daquela histria de nus e bnus? Ento.

    Talvez o peo pense a mesma coisa de voc quando o

    v reclamando de algo: - Olha l, patro reclamando de

    barriga cheia.

    Um operador de telemarketing sofre mais do que um

    gerente, e no me venha com aquela histria de que

    chefe tambm trabalha, etc. Claro que trabalha. Mas

    trabalha com algo menos desgastante do que o

    operador de telemarketing.

    Algumas pessoas tm trabalhos mais penosos que

    outros e isso absolutamente normal. Algumas

    pessoas ganham mais e trabalham menos, e isso

    tambm normal. Para estes, o que acontece um

  • SALVE SUA EMPRESA!

    58

    fenmeno simples, o resultado do seu trabalho mais

    valorizado. No adianta que voc cave, cave, cave, cave

    e ache apenas coisas sem valor. Porm, se algum

    consegue cavar apenas um buraco raso para achar um

    diamante, este ser mais rico que o primeiro. Simples.

    Portanto, o retorno financeiro no medido pela

    quantidade de trabalho. O seu retorno medido pelo

    valor que as pessoas do ao seu trabalho e, valor, cada

    um tem o seu.

  • BRENO COSTA

    59

    Entre trincheiras

    sintomtico ver que a relao entre empregado e

    empregador uma relao tensa. Uma guerra fria. O

    que acontece o seguinte: o empregador acha que o

    peo ir estragar determinada rea de sua empresa e o

    funcionrio acha que o patro s quer usar de sua

    fora de trabalho para engordar. O resultado disso

    uma relao entrincheirada. Ambos os lados ficam em

    suas trincheiras, armados at os dentes esperando o

    outro lado dar o primeiro tiro para iniciar a guerra.

    uma tenso constante. uma tenso que reflete um

    pas fundado na Casa Grande & Senzala*.

    Essa relao explica o medo que temos dos nossos

    chefes e a falta de confiana em todos os funcionrios.

    No h um culpado, nem um iniciador para essa

    tenso. O fato que a guerra fria acontece em um

    movimento simultneo, o que dificulta quebrar o Muro

    de Berlim levantado entre as partes. Para que esse

    clima seja desarmado necessrio que uma das partes

    * Livro mpar de Gilberto Freyre que conta deliciosamente como foi a formao sociolgica do Brasil, baseada na relao entre os senhores de engenho da casa grande e os escravos da senzala.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    60

    abra mo da sua desconfiana crnica. Essa a tarefa

    mais difcil.

    Em uma guerra, quando deixamos de analisar o

    inimigo como soldado e o vemos como uma pessoa,

    que possui famlia, crenas, costumes, hobby, ou seja,

    uma vida como outra qualquer, ele se torna humano.

    Essa s uma sugesto para que possamos sair da

    trincheira.

    Novamente vou falar algo que fruto da minha

    observao: adoramos nos diferenciar do nosso

    inimigo e, para isso, apontamos os seus defeitos de

    forma a ressaltar nossas qualidades. Contudo,

    esquecemos que outras pessoas tambm fazem isso

    com a gente o tempo todo. A guerra no para. Quando

    qualquer funcionrio contratado no consegue

    executar o trabalho que foi oferecido tendemos a

    critic-lo sem ao menos nos perguntar o porqu do seu

    mau desempenho (ele no um soldado, um ser

    humano). Tendemos a ressaltar aqueles defeitos que

    ele tem e que provavelmente no temos. Somos

    incapazes de fazer uma autocrtica e dizer que

  • BRENO COSTA

    61

    contratamos a pessoa errada para a vaga errada e em

    refletir que o tal funcionrio poder se dar bem em

    outro local. Temos dificuldade de refletir tambm que

    o problema pode estar na empresa, que reprime aquele

    funcionrio que tem dificuldade de se desinibir (talvez,

    desinibido, poderia ser excelente). O problema pode

    estar na nossa empresa, mas como estamos em uma

    relao de trincheira, olhando para inimigos, e no

    para pessoas, somos incapazes de fazer qualquer

    crtica a ns mesmos. Tente sair da trincheira e

    enxergue o outro como uma pessoa.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    62

    Expresses do mundo empresarial

    O olho do dono que engorda o gado: Sim. O olho.

    Porm, muitos empresrios confundem o olho com a

    mo. O dono estar de olho uma boa coisa, porm

    alguns acham que devem executar tarefas ao invs de

    liderar. Contudo, essa expresso tambm traz

    arraigada a desconfiana no funcionrio, j que no

    mundo empresarial vemos o outro sempre como

    inimigo ou rival, nunca como um parceiro. Essa

    expresso traz a idia de que se no ficarmos de cima

    do funcionrio ele ir nos prejudicar.

    Trabalhei muito para chegar at aqui: temos vergonha

    de expormos nossa competncia de ganhar dinheiro

    trabalhando pouco. Para no ficarmos envergonhados,

    dizemos sempre que tudo que conquistamos foi base

    de muito suor. Balela. Quem trabalha pouco para

    ganhar muito muito competente e no preciso ter

    vergonha disso. Outro ponto de vista: por acaso

    pecado nascer rico? tambm a canonizao do

    sofrimento. Essa expresso refora a ideia de que

    preciso sangrar para se obter o sucesso. Temos o

  • BRENO COSTA

    63

    prazer pelo sofrimento, impressionante. O caminho

    tortuoso mais bonito. Ponha uma coisa em definitivo

    na sua cabea, existe sucesso sem sofrimento, e

    estamos cheios de exemplos por a.

    Vestir a camisa: J foi dito anteriormente. Cada um com

    seu nus e cada um com seu bnus.

    Ele dono, mas pe a mo na massa: Se voc dono e

    pe a mo na massa, no se gabe disso. J explicamos o

    motivo.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    64

    Transparncia

    muito bom ter funcionrios dedicados,

    comprometidos e... envolvidos. Como envolver seus

    funcionrios se a empresa no se deixa envolver?

    Todos na empresa precisam saber onde esto pisando,

    para onde esto indo, como esto indo e com quem

    esto lidando. Como algum pode se sentir motivado

    se no v sentido no que faz?

    J se imaginou dentro de um carro e de olhos

    vendados? Como em um sequestro, vedam os seus

    olhos e te levam para algum lugar que voc no sabe

    onde. Muito menos consegue ver por onde est

    passando. a metfora perfeita para quem est dentro

    de uma empresa no transparente.

    Qual o problema do funcionrio saber quanto a

    empresa d de lucro e sua situao financeira? Qual o

    problema do funcionrio saber qual o objetivo

    estratgico da empresa? Nenhum. Na verdade, ao

    contrrio, no h problemas, s h benefcios. Como

  • BRENO COSTA

    65

    algum vai ajudar a atingir algum objetivo se no sabe

    qual ?

    O brasileiro no gosta de compartilhar informao,

    pois ter uma informao que o outro no tem o que o

    diferencia dos demais. O brasileiro adora se diferenciar

    dos outros e esse um dos principais motivos pelo

    qual retemos tanta informao. Regozijamo-nos

    quando sabemos que sabemos mais do que a ral.

    Sentimos realmente muito prazer. Somos uma

    sociedade que adora a hierarquia e que adora subjugar

    o outro. No mundo empresarial, subjugamos atravs da

    informao retida.

    No temos um rival, temos um parceiro. Trabalhando

    todos como parceiros, todos enriquecem juntos. Se

    coloque no lugar de um funcionrio que se sente como

    parte da empresa, que se sente participando, que sabe

    das estratgias, que pode sugerir. Imagine o quo

    valorizado ele ir se sentir quando compartilhar da

    mesma informao do dono ou diretor.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    66

    Por fim. O principal motivo que nos faz reter

    informaes como sigilosas a sustentao sem

    sentido de um ego para que nos sintamos superiores

    aos demais funcionrios.

    Claro que h, sim, informaes estratgicas, que devem

    realmente ficar restritas a um pequeno grupo que

    tomaro decises. Isso tem que acontecer sim. Porm,

    o que vemos que, alm dessas informaes, todas as

    demais ficam desnecessariamente restritas. sobre

    isto que se trata este captulo.

  • BRENO COSTA

    67

    Promoes e carreira

    Historicamente as empresas promoveram as pessoas

    erradas. O que comum vermos a lgica que

    descrevo a seguir.

    Suponhamos que temos uma linha de montagem de

    motores veiculares. Com o passar do tempo essa

    empresa cresceu e o gerente que antes tomava conta

    de toda linha de produo agora precisa se desdobrar

    para acompanhar, j que outras tarefas lhe foram

    oferecidas. A partir de ento surge a ideia de promover

    um dos funcionrios da linha de montagem a

    encarregado, para que possa gerir a equipe mais de

    perto.

    At aqui, tudo certo. O problema comea a surgir nos

    critrios escolhidos para definir qual dos

    trabalhadores ser promovido. O mais comum de se

    ver a empresa premiando aquele sujeito que executa

    melhor o seu trabalho, aquele que conhece de

    montagem de motores como ningum. A empresa v

    na promoo uma forma de premiar o conhecimento e

  • SALVE SUA EMPRESA!

    68

    o bom trabalho desempenhado. Contudo, quando esse

    indivduo ocupa o cargo de liderana, muitas das vezes

    ele no sabe liderar.

    Para liderar preciso uma srie de qualidades que

    muitos no tm (mas que pode ser desenvolvida). Sabe

    aquela pessoa que quando fala todos se calam e

    prestam ateno? Toda famlia tem um membro assim.

    Sabe aquela pessoa que tem mais credibilidade do que

    voc mesmo quando vocs falam sobre a mesma coisa?

    Quando o nosso promovido entra em sua sala de

    encarregado, ele no sabe delegar tarefas sem que soe

    ofensivo. No sabe ter autoridade sem ser autoritrio.

    Se v completamente perdido quando precisa chamar

    ateno de um antigo colega de cho de fbrica. Por

    esses motivos, passa a perder credibilidade e gera

    tenso no relacionamento entre os funcionrios. A

    situao fica insustentvel, at que chega o crasso e

    inevitvel dia: a demisso do recm promovido.

    O erro no foi do encarregado. O erro foi da empresa,

    que escolheu a pessoa errada para promover. Para

    encarregado, o RH dessa empresa-exemplo deveria

  • BRENO COSTA

    69

    escolher aquela pessoa com melhores caractersticas

    de liderana. Aquela pessoa que tem credibilidade

    quando fala, que capaz de obter seguidores. Aquela

    pessoa que capaz de fazer com que todos trabalhem

    para ele e com ele sem a necessidade da coero,

    apenas pelo poder de convencimento. As pessoas

    acreditam nele.

    Geralmente esse cara aquele que organiza o

    churrasco da turma, a pelada de final de semana...

  • SALVE SUA EMPRESA!

    70

    Hierarquia

    Roberto DaMatta, antroplogo e uma das maiores

    referncias no estudo da cultura brasileira, em

    algumas de suas obras discorre sobre o nosso gosto

    pela hierarquia. Segundo DaMatta, em F em Deus e P

    na Tbua: ou como e por que o trnsito enlouquece no

    Brasil, esta sociedade baseada em hierarquia, ou em

    Casa Grande & Senzala, como Gilberto Freyre ilustra

    graciosamente bem, tem reflexos inclusive no trnsito.

    no trnsito que se materializa a nossa hierarquia

    enraizada na cultura como, por exemplo, quando o

    carro mais velho ou mais barato d preferncia para o

    carro maior ou mais caro.

    Discusses antropolgicas parte, estamos falando de

    empresas. Como o nosso comportamento

    hierarquizado impacta em nossas relaes

    empresariais?

    - No gosto pelo poder: os gestores gostam de

    ostentar seu cargo e se sentem imensamente

    ofendidos quando essa hierarquia quebrada.

  • BRENO COSTA

    71

    da que vem a famosa frase: fulano passou por

    cima de mim.

    - Na guerra fria empresarial, que foi

    mencionada anteriormente, onde patro e

    funcionrio nutrem um clima tenso e velado.

    - Na falta de transparncia recorrente em

    empresas brasileiras, onde quem detm a

    informao se sente em nvel superior e no

    compartilha absolutamente nada.

    - Na deficincia dos gestores em delegar tarefas.

    extremamente dolorido quando eles passam

    uma tarefa que julgam ser deles (e no da

    empresa).

    - No medo de ensinar colegas de trabalho

    determinadas tarefas e serem demitidos para

    ceder espao ao novato. Pense: se for para voc

    ser demitido, o ser de todo jeito, ento, pare de

    ser mesquinho.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    72

    - Quando o gestor fica demasiado tempo atrs

    de sua cadeira e no anda pela empresa. Isso faz

    com que perca enorme quantidade de

    informaes preciosas para a gesto.

    - H tambm uma guerra fria entre cliente e

    empresa. Um achando que o outro quer lhe

    prejudicar.

  • BRENO COSTA

    73

    Bossalidade ao lidar com o cliente

    Uma pergunta inicial: voc acredita na propaganda

    daquela empresa de eletrodomsticos que diz que toda

    sexta feira o preo mais barato do Brasil e que

    para acabar o estoque?

    Claro que no. Ento, porque costuma fazer o mesmo

    com os seus clientes? Aquele ditado popular que diz

    que mentira tem perna curta nunca foi to verdade.

    Alis, atualmente a mentira no tem nem pernas.

    Na era da informao, onde todos possuem um

    computador com acesso internet em mos e a

    qualquer momento, no h espao para mentiras ou

    ms intenes. Imagine que voc est fechando uma

    venda sob o argumento de ser o seu produto o mais

    barato do mercado. Naquele momento o cliente pode

    tirar do bolso seu celular que mal custou duzentos

    reais, com dois chips pr-pagos e acessar o Buscap

    para ver se voc est falando a verdade ou no. Na era

    da verdade e da informao, nesse exemplo de vendas

    especificamente, o melhor argumento seria: - O meu

  • SALVE SUA EMPRESA!

    74

    preo no o mais barato, mas voc pode levar o

    produto agora para casa e no precisa pagar o frete.

    Ora, no muito mais convincente?

    Faz-se urgente repensar as antigas frmulas de

    promoo e propaganda, pois as propagandas atuais

    vo acabar por matar as empresas que querem

    promover.

    Outro ponto. Trocar um produto ou cancelar um

    servio no Brasil uma tarefa que demanda muito

    sofrimento. Pense racionalmente, quanto mais

    empecilho se coloca ao cliente, menos chance voc ter

    de t-lo de volta.

    O empresrio pode pensar que muitos clientes iro

    enganar a empresa e levar vantagem e por isso

    necessrio aumentar a dificuldade da troca (esse

    pensamento est ligado nossa cultura hierarquizada).

    Para cancelar um servio, nem se fala! preciso estar

    de muito bom humor para que essa experincia no

    acabe com o seu dia. Isso s gera antipatia, raiva,

  • BRENO COSTA

    75

    averso sua marca. Responda: qual a empresa de

    telefonia no Brasil desfruta de boa reputao? J sei a

    resposta. Agora, imagine que qualquer uma das

    empresas de telefonia mude o atendimento ao cliente e

    o tratem com respeito (to simples, no? Nem precisa

    de consultor para isso). Imagine que nessa empresa

    no seja preciso sangrar para cancelar qualquer

    servio ou fazer qualquer solicitao. Essa empresa

    ser imbatvel! Eu seria seu primeiro cliente. Voc,

    no?

  • SALVE SUA EMPRESA!

    76

    Marketing: voc no sabe o que

    O que Marketing?

    Posso apostar que a maioria das pessoas que esto

    lendo isto respondeu pergunta mentalmente e errou.

    O marketing no o que a maioria das pessoas pensa.

    Confesso que me d muita raiva quando vejo o uso

    indiscriminado e errado do termo. O problema que

    marketing est sendo associado enganao, com um

    significado muito pejorativo. Para piorar, marketing, a

    cada dia que passa, est sendo confundido com

    propaganda e divulgao. Isso mesmo, leitor,

    marketing no nem divulgao, nem propaganda.

    O marketing no tem a funo de ludibriar o cliente

    para manipul-lo no sentido pejorativo do termo

    manipular e faz-lo comprar algo que se no fosse os

    artifcios mgicos dos marqueteiros normalmente no

    comprariam.

  • BRENO COSTA

    77

    Pautado em diversos autores, nacionais e

    internacionais, pode-se concluir que o marketing tem

    uma funo central: realizar troca de valores.

    Mas o que so esses valores? O valor pode ser qualquer

    coisa, desde que algum enxergue benefcios em

    adquiri-lo. Por exemplo, um ingresso para uma final de

    campeonato pode custar aproximadamente quinhentos

    reais. Contudo, mesmo sendo f de futebol e torcendo

    para um dos times que disputam o campeonato, algum

    indivduo pode no estar disposto a pagar pelo

    ingresso, pois, para ele, os benefcios em adquirir o

    ingresso no cobrem o preo de quinhentos reais.

    Porm, sabemos que muitas pessoas esto dispostas a

    desembolsar o valor em questo (R$500,00) para

    poder ver seu time campeo. Isso nos demonstra que o

    valor individual e sofre variaes o tempo todo. A

    seguir, procuro demonstrar a relao entre o valor de

    um produto e o seu preo atravs de um grfico de

    barras:

  • SALVE SUA EMPRESA!

    78

    preo

    valo

    r

    Figura 1: relao entre valor e preo do ponto de vista do cliente que

    gosta de futebol e torce para um dos times em questo.

    Figura 2: relao entre valor e preo do ponto de vista do cliente que no

    gosta de futebol ou no torce para um dos times em questo.

    pre

    o

    valo

    r

  • BRENO COSTA

    79

    Uma Coca-Cola com gelo e limo, hoje, pode ter um

    valor de cinco reais. Porm, imagine se, caminhando

    em um deserto, com muita sede, veja uma barraquinha

    vendendo essa desejada Coca? Esse simples

    refrigerante ter um valor muito alto e voc estar

    disposto a desembolsar mais de cem reais por ele.

    Portanto, o valor, repetindo, pode ser qualquer coisa

    que qualquer pessoa enxergue benficos em adquirir.

    Alm disso, qualquer fator pode fazer com que esse

    valor sofra alteraes, sejam fatores do ambiente, da

    pessoa, ou do prprio produto.

    Reforando, o valor de um produto no o quanto ele

    custa. O valor de um produto a quantidade de

    benefcios que um comprador ir adquirir.

    Qual o benefcio ao adquirirmos um produto de luxo,

    como uma camisa de marca? Apenas cobrir o corpo? A

    resposta vai muito alm do bvio. O benefcio de

    participar de um grupo social, ser reconhecido, dentre

    outros, vai muito alm de cobrir o corpo.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    80

    Agora que sabemos o que um valor, voltemos ao

    conceito de marketing. Vimos que o marketing deve

    trocar esse valor no mercado, o que significa, no caso

    das empresas, trocar um valor por dinheiro. Portanto,

    o marketing deve: criar valor; contar sobre esse valor,

    distribuir o valor e determinar um preo para adquirir

    esse valor.

    Criar Valor: o P de produto do marketing.

    Quando qualquer empresa cria um determinado

    negcio ou produto, ela j cria um valor, que

    pode ser comprado pelo cliente. Ou seja,

    quando uma empresa abre suas portas ela j faz

    e fez marketing. Esse valor inicial tambm pode

    ser incrementado. Um bom exemplo,

    novamente, so as roupas de marcas luxuosas.

    Todos sabem que o valor que faz parte do

    produto vai muito alm do custo da pea. O

    valor que est ali um trabalho que superou a

    fbrica e faz com que as pessoas queiram

    adquirir um produto muito mais pelo

    significado de utiliz-lo do que pelo seu objetivo

    bsico. Quando um motoqueiro compra uma

  • BRENO COSTA

    81

    moto para lazer, como uma Harley Davidson, ele

    no est comprando uma moto, ele est

    comprando liberdade. O preo que ele paga pelo

    produto no equivalente s peas, motor,

    carenagem mais o lucro da marca. O

    motoqueiro paga pelo valor, ou seja, o produto

    fsico e, principalmente, a sensao de

    liberdade, que supera o custo de produo do

    produto. Esse valor criado pelas associaes

    da marca com o conceito de liberdade que

    vivenciada em tudo que envolve a empresa.

    Outro exemplo de criao de valor (agregado ao

    produto) para o cliente o da Natura. A Natura

    se diz uma empresa transparente. Ela no

    apenas diz isso, ela . V fabrica da Natura e

    ver que h espaos enormes que realmente so

    transparentes, de vidro. O espao boa parte

    iluminado pela luz do sol. A fbrica s um dos

    exemplos no caso da Natura.

    Contar sobre esse valor: este o P de

    propaganda. No adianta ter um valor se as

    pessoas no souberem que esse valor existe e

  • SALVE SUA EMPRESA!

    82

    que pode suprir suas necessidades. Acredite: a

    propaganda representa apenas 25% do

    marketing, mas importante.

    Distribuir o valor: o P de praa. Agora que o

    valor j existe para ser comprado e as pessoas

    j o conhecem, necessrio que esse valor

    esteja disponvel em supermercados, internet

    ou lojas prprias. necessrio que ele seja

    vendido nesses locais ou por vendedores porta

    a porta, telefone ou catlogos. primordial que

    se determine um sistema de logstica para que o

    mercado seja abastecido no tempo que o cliente

    deseja e no haja falhas de estoque ou entrega.

    Por fim, coloque os produtos para pessoas

    certas. Apesar de parecer um erro banal, j vi

    muitos comerciantes de bairros pobres

    querendo vender roupas de luxo.

    Determinando o preo do valor: P de preo.

    Tenha certeza que algum sempre estar

    disposto a pagar alguma coisa a mais por

    alguma coisa a mais. Seja essa coisa a mais algo

  • BRENO COSTA

    83

    fsico, parte do produto, um servio ou alguma

    urea simblica criada no entorno da marca do

    produto. O preo de qualquer produto pode ir

    muito alm daquele valor frio do custo utilizado

    para produzir mais a margem de lucro. Lembre-

    se tambm que, s vezes, o preo elevado de um

    produto o que gera seu diferencial e justifica a

    compra. por isso que considero um dos

    maiores erros tentar criar uma imagem de

    empresa mais barata do mercado, pois sempre

    ter algum querendo pagar a mais por alguma

    coisa a mais. Essa coisa a mais valor.

    Esses so os famosos 4 P`s do Marketing. Veja que

    todos tm relao com o conceito de valor. Contudo,

    outro conceito central no entendimento do marketing

    o de necessidade, j que qualquer produto ou servio

    s tem valor se for para supri-la. Essa necessidade

    pode ser social, sentimental, psicolgica, fisiolgica...

    Ento, temos como necessidade, por exemplo, sede.

    Aps, temos alguns desejos (recheados de valor) que

    podem suprir a mesma necessidade (sede): gua,

    refrigerante, cerveja, suco, etc. Parece simples, mas no

  • SALVE SUA EMPRESA!

    84

    . Peguemos o exemplo da cerveja, que pode suprir

    tambm uma necessidade social quando um

    adolescente comea a beber para se inserir em um

    grupo de convvio.

    Como vimos, o marketing deve fazer de tudo para

    trocar valor no mercado, ou seja, vender e garantir a

    rentabilidade e a manuteno da empresa. Ora, isso

    no muito mais que apenas fazer propaganda e

    divulgao? Se o marketing pea fundamental para

    garantir a perenidade da empresa, podemos afirmar

    com toda certeza que o marketing est muito, mas

    muito mais perto da administrao do que da

    publicidade.

    Ento, por que o marketing sempre foi e associado

    publicidade? Porque a publicidade a parte visvel do

    marketing. a ponta do iceberg. Sabemos que o iceberg

    possui 90% de gelo abaixo da superfcie da gua e

    apenas 10% de gelo visvel.

  • BRENO COSTA

    85

    Voc pode dizer: - Mas eu no tenho dinheiro para

    contratar um profissional de marketing para a minha

    empresa!

    Para fazer marketing no necessrio possuir um

    profissional da rea em seu quadro de funcionrios!

    Como eu j disse, quando uma pessoa abre uma firma

    qualquer ela j est fazendo marketing. Para que uma

    empresa faa marketing, basta que seus donos e

    diretores apliquem sua filosofia.

    Caso o empresrio queira entender mais sobre o tema,

    uma boa opo so os cursos, palestras e consultorias.

    Nesta ltima opo, o consultor no ser um

    funcionrio da empresa, ele deve ser um professor de

    marketing para que os donos, diretores e demais

    gestores saibam aplicar os conceitos da rea. A funo

    do consultor deixar o conhecimento na empresa para

    que ela o aplique durante muito tempo, independente

    da consultoria.

    O objetivo aqui no que voc saiba tudo sobre o tema,

    mas que tenha ao menos uma ideia mnima a respeito.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    86

    Ademais, no chame um consultor dizendo que voc

    tem um problema de marketing. Quem vai dizer se

    voc tem um problema de marketing ou no o

    consultor especializado.

    Dizer para o consultor que est com um problema de

    marketing semelhante a voc ir ao mdico e pedir

    para ele receitar o remdio que voc acha que vai cur-

    lo, sendo que o profissional da rea quem vai dizer

    qual o remdio correto a ser administrado.

    Contratar uma consultoria como levar sua empresa a

    um consultrio, deixe o consultor fazer a consulta e

    receitar o remdio. muito deselegante sugerir o

    remdio ao mdico e, tambm, ao consultor.

  • BRENO COSTA

    87

    Comunicao interna

    importante entender que qualquer empresa s se

    sustenta devido a processos de comunicao.

    Entenda a empresa como um corpo humano, com seus

    rgos (setores ou departamentos), tendo cada um

    uma funo e, concomitantemente, dependente de

    outros. Inclusive, necessrio s vezes, ir a um

    consultrio mdico (consultor), para que seja feita uma

    interveno que faa o corpo voltar a funcionar

    normalmente.

    Os processos de comunicao so o que vo fazer os

    rgos trabalharem em sintonia para que o corpo no

    pare de funcionar. Se comunicar de forma assertiva

    essencial e veremos a seguir algumas consideraes a

    respeito dessa tarefa.

    Conversas de corredor devem ser utilizadas

    estrategicamente. Aquele cafezinho com os colegas de

    empresa pode ser uma fonte inesgotvel de ricas

    informaes. Utilize de bate papos informais para

  • SALVE SUA EMPRESA!

    88

    sugar o mximo do clima dentro da empresa, das

    insatisfaes, conflitos, problemas, etc. A formalidade

    afasta as respostas espontneas e verdadeiras. Gestor

    ou empresrio, saia de trs da sua mesa e ande pela

    empresa, tire uma hora do dia para isso. Nessa

    caminhada voc ser bombardeado de informaes

    ricas e verdadeiras.

    Estimule a comunicao de baixo para cima. muito

    mais fcil que as informaes fluam de cima para

    baixo, ou seja, da diretoria da empresa para os

    funcionrios de mais baixo cargo. como se a

    gravidade fizesse informaes carem do topo da

    empresa e as impedissem que subissem dos setores

    inferiores para a diretoria. O papel do gestor

    bombear as informaes que ficam paradas na base da

    empresa para que cheguem a ele. As formas de se fazer

    isso so vrias, como veremos a seguir.

    Em primeiro lugar, como se viu, o gestor no

    pode intimidar. Se voc intimidador ou j

    possui essa fama, pea para que outra pessoa

    busque as informaes por voc.

  • BRENO COSTA

    89

    Andar pela empresa tambm uma excelente

    forma de obter informaes.

    Pode-se, tambm, promover reunies um pouco

    mais formais (mas que deixem os funcionrios

    bem vontade) como do tipo Fale com o

    Presidente.

    Nas reunies, inicie com refrigerantes, salgados

    e conversas informais, isso deixa todos

    participantes um pouco mais vontade.

    Criar caixas de sugesto, reclamao e elogio

    costuma funcionar muito bem.

    Tente quebrar a hierarquia da sua empresa.

    Muitos gerentes, encarregados e supervisores

    se sentem ofendidos quando um funcionrio

    passa por cima deles para falarem com um

    diretor ou presidente. Porm, isso benfico,

    pois demonstra que as pessoas no tm medo e

    querem falar, se manifestar. Isso demonstra

    uma empresa madura, que no esconde

  • SALVE SUA EMPRESA!

    90

    informaes. Lembre-se: informao

    fundamental para a sobrevivncia de qualquer

    empresa, j que o insumo para a tomada de

    deciso.

    Alguns gestores escondem informaes dos

    seus superiores. Isso acontece pelo fato de

    terem medo de errar. No intimide.

    A direo das empresas deve tomar o cuidado para no

    sequestrar seus funcionrios, ou seja, coloc-los dentro

    de um carro, de olhos vendados e no contar para onde

    esto os levando. Essa uma metfora para a empresa

    que no alimenta seus funcionrios com informaes

    sobre decises estratgicas. Os gestores devem fazer

    com que os funcionrios sintam que saibam para onde

    a empresa est indo. No tem como se motivar quando

    se est com os olhos vendados. Pense com todo o

    cuidado do mundo o motivo pelo qual a gesto da sua

    empresa segura todas as informaes para si.

    Provavelmente no haver uma explicao racional. O

    cu azul e, mesmo que voc no goste, ser obrigado

    a conviver com isso. As pessoas, hoje em dia, no

  • BRENO COSTA

    91

    conseguem se motivar se no souberem para onde

    esto indo, porque esto indo e quem est os levando.

    Nenhum funcionrio hoje se motivar se ele no sentir

    que pode opinar e participar da gesto das empresas. A

    sociedade caminhou para isso e posto est. Agora se

    vire.

    Alguns meios podem ser utilizados pela empresa para

    informar aos funcionrios seus atos e decises:

    Jornal mural. Pode parecer meio infantil, mas

    no ser se for tratado com seriedade. um

    timo meio e deve ser posicionado no local de

    maior fluxo de pessoas dentro da empresa. Para

    que ele seja atrativo, uma boa dica misturar

    meio s informaes da direo programaes

    de shows, cinema, curiosidades e outras

    notcias interessantes.

    Informativo interno. Um jornal voltado para

    funcionrios, que deve ter peridiocidade, ser

    atrativo e de fcil leitura.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    92

    Reunies formais e informais, como vimos

    anteriormente.

    Eventos de confraternizao. So excelentes

    oportunidades para passar mensagens e,

    tambm, ouvir funcionrios.

    Intranet ou comunidades digitais de

    comunicao. Algumas empresas possuem esse

    tipo de ferramenta. muito interessante, j que

    acaba se tornando um hbito do funcionrio

    chegar, ligar o computador e acessar a intranet.

  • BRENO COSTA

    93

    Consideraes derradeiras

    Escrevi este livro como forma de manifesto, carregado

    de raiva ao ver empresas interessantssimas

    cometerem erros dos mais banais. De forma geral,

    percebo que esses erros so cometidos por dois

    motivos: pela cultura na qual estamos inseridos e pela

    ansiedade crnica na qual no conseguimos mais parar

    e observar.

    Participe de qualquer processo seletivo que a empresa

    pergunte qual o defeito que os candidatos tm. Todos

    respondero num unssono: - ansiedade! No

    conseguimos mais nos sentar para ouvir uma msica,

    assistir televiso sem por a mo no controle remoto ou,

    o pior, no caso de empresrios e gestores, observar.

    Toda pessoa responsvel por tomadas de decises

    deve ter a observao como hbito. primordial. A

    ansiedade patolgica, da qual somos vtimas, acabou

    com esse hbito. Estamos querendo fazer alguma coisa

    a todo tempo. Estamos parando pouco e,

    consequentemente, observando pouco. Pare, mas

  • SALVE SUA EMPRESA!

    94

    desligue o notebook, coloque seu celular no silencioso,

    apenas observe.

    Sabendo da nossa cultura hierarquizada, tente ser o

    primeiro a se levantar da trincheira posta entre as

    partes. No valorize tanto a hierarquia, pois a

    sociedade est caminhando em sentido inverso.

  • BRENO COSTA

    95

    Bibliografia

    Marketing:

    COBRA, Marcos. Administrao de Marketing no Brasil.

    3 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2008.

    KOTLER, Philip. Administrao de marketing: anlise,

    planejamento, implementao e controle. 5 ed. So

    Paulo: Editora Atlas, 1997.

    KOTLER, Philip. Marketing 3.0: as foras que esto

    definindo o novo marketing centrado no ser humano.

    1 ed. So Paulo: Editora Campus, 2010.

    LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Administrao de

    Marketing: Conceitos, Planejamento e Aplicaes

    Realidade Brasileira. So Paulo: Atlas, 2006.

  • SALVE SUA EMPRESA!

    96

    Comunicao Organizacional:

    ARGENTI, Paul A. Comunicao Empresarial: a

    construo da identidade, imagem e reputao. 4 ed.

    Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

    TORQUATO, Gaudncio. Tratado de Comunicao

    Organizacional e poltica. So Paulo: Pioneira Thomson

    Learning, 2002.

    Antropologia:

    DaMATTA, Roberto. F em Deus e P na Tbua: ou

    como e por que o trnsito enlouquece no Brasil. Rio de

    Janeiro: Rocco, 2010.

    FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Rio de

    Janeiro: