Santiago, Silviano - Vale Quanto Pesa - Uma Ferroada

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Silviano Santiago - Vale Quanto Pesa - Uma Ferroada - Critica literaria - Brasil

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  • Colecao LITERATURA E TEORIA LITERARIA

    Direcao: Antonio Callado Antonio Candido

    CIP-Brasil. Catalogacao-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    S226v

    82-0386

    Santiago, Silviano. Vale quanto pesa : ensaios sobre questoes politico-

    culturais / Silviano Santiago. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1982.

    (Colecao Literatura e Teoria literaria ; v. 44)

    1. Ensaios brasileiros I. Titulo II. Sene.

    CDD - 869.94 CDU-869.0(81)-4

    EDITORA PAZ E TERRA Conselho Editorial: Antonio Candido Celso Furtado Fernando Gasparian Fernando Henrique Cardoso

    SILVIANO SANTIAGO

    , . V A L E Q U A N T O P E S A , (Ensaios sobre questoes politico-culturais)

    YTtfl3WUCKAV>ri YHA88U

    PAZ E T E R R A

  • Copyright by Silviano Santiago / A j V

    Capa: Laura dc Castro Revisao: Heitor Ferreira da Costa

    Heidi Strecker Gomes

    . ^ 2 Co

    i m, I. ., _ -z2i

    Direitos adquiridos pela EDITOR A PAZ E TERRA S/A Rua Sao Josg. 90 18. andar Centro CEP 20010 Fone (021) 221-3996 R)o de Janeiro, RJ Rua Carij6s, 128 Lapa Sao Paulo, SP Tel.: 263-9539 HARVARD UNIVERSITY"

    LIBRARY

    SEP 2 2 1997

    1982 O O o

    Impresso no Brasil Printed in Brazil

    Para Sdbato e Edla, Ivan e A/aria,

    pelo apoio.

  • SUMARIO

    Faca (como fazer?) sen&eta 11 Apesar de dependente, universal 13 Vale quanto pesa 25 As incertezas do sim 41 Repressao e censura no campo das artes na decada de 70 47 Errata 57 Arrumar a casa, arrumar o pais 65 O teorema de Walnice e a sua reci'proca 69 Lideranca e hierarquia em Alencar 39 Imagens do remediado 117 A cor da pele 121 A literatura e as suas crises 127 Desvios da ficcao 135 As ondas do cotidiano 151 Fmtos do espaco 161 Uma ferroada no pe i tcdo p6 163 Paulistas-e raineiros 183 Entrevista 193

  • a natureza nao se sente abafada pelo opaco do bronze ou do marmore, 0 pn5prio trabalho se nutre de clorofila: "a arte banha-se com vida e como tal exige respirar",

    DELICADAS ARMAQOES. Nem abstrato nem figurativo, nem realidade nem representa9ao,

    COM O GRAFITE DO COTIDIANO os olhos do espectador traco, linha fazem incisoes na paisagem.

    Delicadas armacoes deixam entrever, atrav^s de vazios,

    A PAISAGEM.

    "Concebo estas estruturas associadas a imageris." O espa?o vazio nao impede tampouco a circulagao do olhar da natureza. No trabalho de Antonio Manuel a natureza volta a admirar e a ser admirada. E vista, entrevista, composta, enquadrada, lisonjeada, pisada, tocada. *-

    E eu espectador, me vejo visto, entrevisto, composto, enquadrado, Hsonjeado, pisado, tocado pela natureza:-Tudo e "suposto vazio"; tudo i "cheio". Pleno. ~ ^

    Antonio Manuel convence por estranhas ilacoes: pega "selva de pedra" e faz dela

    selva. Antonio Manuel convence por estranhas ilasoes: pega "parque industrial" e faz dele

    parque, pulmao da cidade, pulmao da arte, RESPIRAR.

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    i i

  • que explicita, na repetisao, o que nao ficou claro na primeira dramatiza?ao.

    A repetigao _ 6 preciso que atentemos agora para este fato estetico sempre negligenciado, ou mesmo rejeitado como "defeito" nao deixa 'de> ser uma primeira ..leitura '(microleitura interna) da intriga e,.,por extensao, do texto. O artista da forma seriada e popular, trabalhando com uma linguagem polissemica comb a da dramatiza9ao, necessita diminuir o hermetismo do enigma narrativo com sucessivas e parciais interpretacoes do drama, recorrendo para isso a pequenos nucleos .repetitivos, cujo maior interesse e o de apresentat. um personagem explicitando para outro o que foi mostra-do de forma dramatica alguns dias antes. Ou seja: o personagem, ao explicita'r a cena anterior, esta lendo-a, decifrando-a', descpdifi-candb-a para outro personagem, e este, em ultima instancia, faz as vezes do leitor comum. O leitor comum tentemos uma defi-ni?ao e aquele que, diante de um texto dramatjco, se" sente mais a von'tade no explicado do que no enigma.2

    - Esta primeira leitura interna da nafrativa, gerada pelos nucleos' repetitivos de responsabilidade doautor/narrador, e" o compromisso mais-ni'tido-que o texto seriado manuSm com'a temporalidade ine-rente ao seu ato de leitura. Isso por unrlado.:Po*r outro lado, serve-ela para manter uma determinada-linha de. interpretacao, um deter-minado sentido do texto, sentido este que, se encontra interrompido pela-intermitencia do seu aparecimento e desaparecimento. Em am-i bos os casos, abole-se a participa?ao individual do leitor no pro-1 cesso de comprensao, ja que a propria obra trarem si as cbnfigufa-i ?oes gerais e coletivas da suaJeitura. O autor nao so passa para osleitores comuns o drama, como ainda.a leitura-mais "justa'\dele. Ninguem se extravia no meio-do caminho da ;narrativa,-ou da sua aprecia9ao. Todos se irmanam ate o inevitaVel final feliz numa est6-ria cujo significado se da em transparencia para todos os que dela se aproximam.

    O prazer"da?!leitura do texto popular, para o leitor comum, nao reside.na espera e na descoberta da originalidade. Caso o fosse,

    2. Com isso'estamos querendo dizer que nao existe a priori uma catalo-gagao do individuo qualquer- que seja ele como leitor comum. E leitor comum aquele que o .quer ser. ;At6 mesmo o chamado-leitor erudito pode se quiser ocupar esta posi9ao.

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    I

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    O;

    nao haveria o- desejado e- angustiante happy ending, inevitavel como imposigao das chamadas leis de mercado, mas acatado pela industria cultural como.mdice de sucesso garantido. Caso o .fosse1, os numeros do ibope nao .aumentariam por ocasiao da apresenta-9ao tlo capitulo final a9ucarado e previsivel de uma ?telenovela (hoje ja^nem tomammais a.precaugao de nao di vulgar,, com ante-cedencia, o fim-da novela'pela.imprensa:escrita). O.leitor comurh quer .que o texto, apos,b:seu desaparecimento momentaneo, volte como era'. Paradoxalmente, 6 porque. o texto nao volta diferente que 6 leitor comum- ficai "surpreso" e contiffua a ler. o folhetim ou ver a telenovela. Paradoxalmente, 6 porque o texto da chamada literatura erudita volta,,sempre diferentejque o'leitor comum fica desorientado, desatento, .e abandona" a-sua leitura. O'paradoxd so existe porque tanto um processo de leitura quanto o outro tern sido sempre*feitos com a'otica exc!usiva.-do_ erudito, (o leitor comum nao teoriza sobre a sua leitura). No momento em que se quebra a' exclusividade da btica, ve-se que nao ha necessidade de aventar a questao do "paradoxb", recofihecendo que sap pro'dutos feitos den-tro de esteticas distintas e que, por isso, requerem leitores-com aptidoes distintas.

    Vladimir- Propp tihha .razao, ria sua Morfologia do Conto1, quando buscou o modelo unico de leitura que pudesse englobar todos os contos maravilhosos, abandbnarido como acessbrio os de-talhes que, num conto especifico, ipoderiam assinalar a sua diferenga com relacao aos demais,-a sua-originalidade. A gra?a e a beleza do conto popular razoes do seu-consumo "facil"* estao^circunscrU tas pela repeti9ao das mesmas a9oes (ou "fun96es", segundo Propp). Roland -Barthes tambem tinha razao ao abandbnar o modelo prop-piano de leitura,3 quando-chegou-a vez de interpreter uma;fic9o

    'de Balzac, Sarrasine* pois o universo da literatura erudita se orga-niza em difereri9a. Ao perceber/o equivoco'que cometia'com a sua "an^lise est natural da narrativa", Barthes imediatamente descobre que toda leitura individual e, uma escrita.Cbmo tal, a leitura deixa de ser um produto padronizado, mero consumo, atividade passiva; e passa a requerer do leitor uma jorgw criativa tao forte e intensa

    3 Referenda a "Analise estrutural.da narrativa.", primeiramente publicado na revista Communications, em 1964.

    4. Falo da parte introdut6ria de S/Z. publicado pelas Editions du Seuil em 1970.

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  • quanto a do c r iador rAgracaea beleza do texto-de ficcao erudita razoes do seii consumo "diffcil" estao circunscritaspela pro-ducao da diferenca dentro dele, ou seja, pela. produ9ao.de urn outro texto que repete o primeiro em diferenca.

    _ _Resumindo:.o "gancho" 6 a forma de compromisso que oautor erudito encontrou para "salvar",a narrativa.popular da^qualidade maior que :ela precisa apresentar, pafaro seu .leitor especffico -r1- a redundancia: 0,_"gancho".eV por outro lado, crecurso que,fala da rridcbrTsciencia do.autor.erudito ao querer.transgredir, falsamente, os limites quantitativos. do seu tuhiverso de Ueitores. Toda forma narrativa erudita que funda a sua .popularidade na retbricado "gancho" apenas fala de-um.prec6nceito,.quando nao.fala das.suas limitacoes. Acreditar*nbi"ganchb''.'6 pensar que o:que se-tem para dizer 6 importante mas ^ chato. ^ Ora, nada.que-6'importante 6 chato. So" e* chato o-que nao nos -interessa. E de nada^vale, finalmente, 0 "gancho". .- *' .) u .

    Oromance de Lima Barreto legitimamente popular ha sua ' escrita nao prima, 6 claro, pbr "ganchos" audaciosos, que dariam 0 torn original da composicap harmoniosa de" que' estamos falando e iremos comentar. Triste Fim de Policarpo Quaresma assume"a redundSncia^como*atforma-limite^que encontrou para atar os fios disperses de^uma intriga original, para dar-lhe:sentido, intriga. esta que-scdesloca do suburbio,.carioca para;umaTreparticaopublica, desta paraio campo,:eTdo. campo_para.o..Minist6rio da Guerra,tra-zendo. sempre .urn numerojvariado^de personagens quej,se_perdem pelo;meio do caminhodo texto .e.levantando, problemas patri6ticos que se esborpam e desaparecem diantejde. obstaculos intransponi-veisr Perdidos os~personagenspelos ilabirintOs da narrativa,/desa^ parecidos os-problemas levantados.com argucia pelo,narradorfica; no entanto, o sentido claro do texto,-ajlinha"de'leitura.'Qualquer leitor consegue .seguir .0 romance ate* otfim seni precisar.do^anzol da surpresapara agucar a sua curiosidade. _ ~ . . 3 " _^ - ; por ai que se:deve;falar, em primeiro-. lugar,- dafqualidade popular que o texto de Lima-Barreto oferece, quando numiconfron; to-com Machado ddAssis, ou-com-os seus sucessores modernistas; A posicao isolada e intrigante de Lima Barreto explica-se pelo fato de ter eleiassumido uma estetica popular numarliteraturacomo a brasileira, em que os crite'rios de legitimacao do produto ficcional foram sempre 6s dados pela leitura erudita. Nao apresentando, os

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    sucessivos^ nticleos de originalidade que, sao os-"ganchos"-, nao se comprometendo portanto com a ma\fe" erudita diante, do texto po-pular,-0 romance de Lima Barreto ~se legitima atraves dos nucleos repetitivos que fazem 0 prazer, dosjeitores ^comuns e p desespero dos leitores criticos. . _ ' - , - -> .* Tenhamos a mod&tia.dei ler Tr/ste Him de Policarpo Quaresma respeitahdo a leitura que o narrador fazdbprbpriq texto np inte-rior do romance e -que e dada de. presente para qualquer ^um; dos seus possiveis leitores.^Este e 0 valor hermeneutico maior do resu: mo de toda a intriga romanesca que se-encohtra as paginas 206 e 207 da rhoderna edicao de Triste Fim. Leiamos ojrecho:- - , ,^

    Desde dezoitoanbs que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. (V. .)--*

    O tupi encontrou a ihc'redulidade-geral, o-riso, a rhofa, o escdrnio; e:levou-b a lbiicura. >Uma decepcao. E a agricultura? Nada. As terras naOieram ferazes e.ela^nao

    -

    era facil como diziam os linos. Outra decep5|o. E; quando o seu patriotismo se fizera combatente, o-^que achara? Decepcoes. ( . . . )

    "*' A patria que quiserater era um mito; era um'fantas-ma criado no silencio dovseu gabinete. * '

    Nesse longo niicleo.repetitivo, de que extraimos-apenas o.es-sencial, a agao do livro para, e a narrativa .volta-se-sobre, si: mesma* repete-se a si, lendo com cuidado exegetico extraordinario para nbs as aventuras do personagem principal. O compromisso dessas ;pagir nas e, mais comiO.leitor pouco atento e incapaz- de. ter .dado >um sentido pr6prio ao que-vinha lendo, do,que com o leitor-critico; -que ]$ tinha chegado^a.essas^concluspes - ^ e a outras mais -ao analisar cuidadosamente o texto. Para-este leitor, esse niicleo repe-titivo funciona { para usar- uma- expressao cara a Mallarm6, quando comentaya ^p papel-da-epigrafe no livro 'como um lustre que serve.para-iluminar a'cena da representa^ao. Tomemo-lo como tal. " " ' r - 1'-

    Naquele conciso e preciso resumo_de todo 0 romance "f team a descoberto a base e as razoes das, motivacpes maiores .do perso\ nagem? principal, Policarpo Quaresma, e" tambem os'andaimes se-manticos que sustentam as sucessivas.acpes que compbem a intriga*

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  • A transfdfma9ab da no9ao de "patria", Iivresca-e"abstrata, em realidade concreta, com cbnsistencia sbcio-politica' e econbmi-ca, 6 6 norte da existencia de Policarpo, ju'stificativa" unica para a sua vida. A nb9ao 6 configurada na juventude e em coiitato com uma "brasiliana" convencional;6 a. nocao e" totalmente desapegada de urn exame ou reflexao sobre os fatos coficfetbs da sociedade brasileira. A origem da nocao o "silgncio do gabinete" ja diz tudo. E produto de uma biblioteca radical.e simplbria', organic zada em tofho de "urn espirito que presidia a.sua reuniao" o patriotismo'. A reuniao, por sua-vez, fraduzia uma idSntica "dispo-sifao particular do espirito" do dono. O* espirito. do "Joveiri patriot tico se casa com o espirito da biblioteca patribtica, armando um sistema tautolbgico cuja linica forga o "amor da patria". Este amor, exclusivo-e tiranico, xenbfobo, e.o que. legitima "a ansia de reformas e a busca de poder. E ele que leva Policarpo a esquecer o bem-estar individual ("gastara, a, sua mocidade^nisso, a sua virilida-de tambe*m", p. 206), embarcando-o na canoa da "fefbfma moral e intelectual" do Brasil. Este a'specto reformista, autofitano e conser-vador do seu pensamento, baseado que estava nosr chamados valo-res tradicipnais perpetuados pela brasiliana, ] vinha anunciado no nome do autor da epigrafe, o historiador frances-Renan, responsa: vel por identica campanha na III Republica francesa.

    Esse apego a textos ufanistas e a tradi9ao torna a figura de Policarpo Quaresma bem mais ambiguanas suas Iutas politicas do que querem alguns' leitores apressados' do critico do Marechal de Ferro; Pode-se mesmo levantar a hipbtese; alias bem plausivel, de que o seu 6dio a mediocridade do Marechal Flbriano provinha da perseguifao impiedosa'que o entao presidente fazia-ao restante das forgas'monarquicas ativas no pais. De qualquer forma, passagens como estaatestam a presenca de Renan no seu pensamento:

    Como e" que o povb nao guardava as tradicoes de-trin-,ta anos passados? Com que rapidez corriam assim da sua Jembran^a os seus folgares e suas can^oes? Era bem um sinal de franqueza, uma demonstra9ao de inferioridade

    5. A lista dos livros que'compoem a brasiliana de Policarpo se encontra a pagina 24. Af tambem se IS: ' ( . . . ) o que o patriotismo o fez pensar, foi um conhecimento inteiro do Brasil, levando-o a meditacoes sobre os seus recursos, para depots entao apontar os rem&Iios, as medidas pro-gressivas, com pleno conhecimento de causa".

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    diante daqueles povos tenazes que os" guardam durante seculos! Tornava-se preciso reagir; desenvglver o culto das

    _ tradigoes (grifo nosso), mante-l.as sempre yivazes nas me-mbrias e nos costumes (. .*.) (p. 39).

    Estabelecida a base e a motiva9ao basica do personagem a biblioteca e o patriotismo, , o resumo citado ainda levanta de, maneira impecayel o rigor, da Mtiidade tripartida que e a forma que define a composi9ao do romance. Nao s6 define a trifurca9o har-moniosa da narrativa, como ainda marca o desenlace das tres ati-vidades politico-patribticas de Quaresma a decep9ao. O patrio-tismo

  • sidencia-da Republics, pensa que antes de mais nada'"toma-se hecessanorefazer a administracaoVe^imagina um"governo forte, respeitado; inteligente" (p. 135), a quern hipotecaria todo o seu apoio. O Marechal de Ferro nao se cola a imagem que dele fazia. "O seu entusiasmo por aquele fdolo politico era forte, sincere, desintere'ssado.' Tinha-o na conta de enfirgico, de fino e superviden-te, tenaz e conhecedor dasLnecessidades do pals ( . . . ) . Eritretanto, nao era assini. Conruma ausencia de qualidades intelectiiais, havia no carfiter do Marechal Floriano uma qualidade predominante: tibieza de finirho; e ho seu temperamento, muita preguica" (p. 152). Contra a mediocridade re in ante; contra o rancor e o gosto de vinganca dos homens fortes do momento, Policarpo insurge-se. Rebel a-se contra as ordens desumanas que recebe e que deve' executar como carcefeirbi Vira inimigo do poder e sujeito as'cruel-dades de um governo autoritario. preso na ilha das Cobras, onde encontra 6 seu fim. Terceira e Ultima decepcao.

    -Dentro dessa linha interpretativa, vemos que Triste Fim e* dos romances brasileiros o que melhor tenia tiza a questao da reprfis-sao ao intelec'tual dissidente, pois disso tra'ta todo o tempo o roman-ce. A forca de dissidencia nao reside tanto nas acoes patridticas do personagenrcom vistas-a uma mudanca-radical no Brasil, mas no fato de Policarpo te'f as suas acoes norteadas por um ideal', e e perseguindo a este que se insurge contra as forcas dominantes no contexto sbcio-politicb e econbmico brasileiro/Sao esiasra forca da facilidade com que adotamos o portugues como lingua, materha! com que nos desvencilhamos do hosso" passado indigena; a forca

    -do" abandono a que relegamos as nossas terras ferteis; a forca do autoritarismorcentraIizado na capital da Republica. Insurgindo1 con-tra essas Jorcas. dominantes-.que man tern o Brasil _e osmbrasileiros submissos, mediocres _e( inconseqiientes, ^Policarpo atica;a-ira dos Jupiteres^menores! e tdo grande Jupiter. A repressao ?a "dissidSncia aparece, entao, no Triste Fim nab corii'as.roupagens da< violencia ffsica-e destruidora; mas sob otveu sutili com que., a encontramos na modemidade ocidental..A violencia do^maniebmio; a violencia das, regras/municipais manipulaveis; a violencia do sistema car-cerfirio. Vejamos: , ^ . - -Ao querer iniplantar-o tupi-guarani como lingua oficial, e ca-

    luniado, e pior: considerado louco. Encerrado num hospicio*~ai descobre que o lugar 6 "meio hospital, meio prisab-~(pi 77). Ten-

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    tando, impor-se a comunidade como brasileiro verdadeiramentejnte-ressado no crescimento das nossas riquezas agrfcolas, Policarpo encontra a segunda forma de marginalizacao: e" expulso da comu-nidade, sendo dado como, cidadao relapso e contraventor. A,terceira e .ultima forma y e m d o poder central, dessa f6rmula sui-generis que o.Marechal de Ferro encontrou para.goyernar o pais: a "tira-niadome^tica".*E explica o narrador: "O bebS portou-se malcas-tiga-se. Levada a cousa ao grande o portar-se jnal era fazer-lhe opoj sicao, ter opinioesxontranas as suas e o castigo nao era mais palr madas, por6m, prisap e morte" (p. 154)., -(

    A epfgrafe do livro, de responsabilidadede Renan, e" a-melhor peca que podemosvapresentar para uma vez mais-assinalar o caxi-ter redundante deste ultimo aspecto da leitura. Com a ajudadela, fica claroque, antes:de ser o patriotismo de Policarpo a-razao da repressao, sao bs caminhos que busca para.por em prtica um ideal ^ . quaisquer que fossem eles. Isto quer dizer que1 a originalidade do-projeto nacional de Policarpo nao estd tanto no fato de ser patritStico (tqdos, a sua maneira, o sao), mas de ter adotado uma forma ideal de patriotismo como justa p a r a o processo de salva-cao do pais: Na epfgrafe se diz>que:o homem superior, transpor-tandojpara a priStica-real osprincipios-do ideal, ve que'as suas qualidades se tornam defeitos, enquanto os homens que tern como mdvel de acao: o egois'nio e a rotina- vulgar encontram na vida didria um grande exito. Ao homem superior, nos seus caminhos pela'vulgaridadeda terra, e-dado o fracasso.'De antemab.-O roman-ce-de Lima Barreto se encontra aqui devidamente - delimitado por toda uma postura idealista e-idealizante do in'telectual, de que- 6 exemplo no s^culo XIX o poema ''L'Alba'tros", de* Charles Baude-laire.'i Esta ave, nas profundezas1 do azul, plana-como-um passa'ro sublime; no conves do navio, aprisionada pelos mar'inheiros ter-riveis, parece um pequeno monstro deseiigo'nc'ado que se enrosca pelas prbprias patas gigantescas, incapaz de dar um passo gracioso. No navio, serve de chacota para 6s maririheiros, assim como Pbli-

    6. Segundo poema da cole^ao Les Fleurs du Mat. Encontra-se na parte ' que:se'intitula "Spleen et Id6al". A avc uma metfifora para a condifao

    dp pbeta, metafora esta que se aclara, redundantemente, na ultima estrofe _ do poema: "Le Poete est semblable au.rprince des nuees / Qui hante J]aJ tempete' ef se rit de l'archer; / Exil6 sur le sol au milieu des

    hue*es," / Ses ailes-de g^ante"11'empechent de marcher"..

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  • carpo servia de chacota para os seus companheiros cle reparticab. Anseiam pelo azul do ceu;

    Este.jogo entre o ideal e o vulgar, entre o fracasso do homem superior* e o sucess'o do homem vulgar, esta ^muito bem expresso no romance pela tensao dramatica entre Policarpo e Genili'cio. Olga, diante do padrinho Quaresma, "sentia confusamente nele alguma coisa de superior, uma ansia de ideal, uma tenacidade em seguir urn sonho, uma ideia, um voo'enfim para as altas regioes "do espfritb que ela nao estava habituada a ver em ninguem no mundo que freqiientava" (p. 44). Ja" Genelfcio era "empregado do Tesouro, ja no meio da; carreira, amea9ava ter um grande futuro. Nao haviahiriguem mais bajulador e submisso do que ele" (p..56).

    Chegado e\o:momento de percebef que,.se.o romance.faz uma critica violenta as.for9as que impedem o desabrochar das ideias de Policarpo, .por outro lado trazele^ tambem ainda estamos nos valendo da indicacao de leitura que se encontra no citado resumo uma critica a nocao idealizante de patria que. Policarpo tenia por em pratica. Isso indica um complexo desvio ironico na leitura do romance, pois parece que.o texto acaba por darrazao aos cn'-ticos e repressores de Policarpo. (Tal ironia nao se encontra fora dos livros recentes de Fernando Gabeira, onde a critica da acao revolucionaria dos jovens pode vir acoplada a uma defesa da re-pressao, visto ter esta livrado o pais ^dasr "loucuras" dos jovens.) yoltando a pSgina 207 de Triste Fim, lemos:. "Nab teria levado (Policarpo) toda-a_sua> vida norteado por, uma ilusao, por-uma ide*ia a.menos, sem.base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo imperio se esvaia?" O questionamento ^radical do ,texto 6 o da nocaq de "pdtria". Traca ele a origem da nocao entre os gregos e romanos. Chama.a atencao.para o" papel que teve na-criacao dos Estados modernos^e chega a conclusao maior do livro:

    CMtamente era uma noao sem-consistencia racional e.pre-cisava ser reyista (p. 207).

    O resumo que vem servindo de apoio a nossa e a qualquer Ieitufa do romance, comeca a se fechar e a fechar esta interpreta-5ao. O -pessimismo visceral do pensamento de -Uma Barreto aflora. 'O t6pico da triste; vida inutil extravasa os limites do romance. A dissidencia, baseada que estava em uma nocao iluso'ria, fruto

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    de gabjnete'de leitura, nao traz e nao pode trazer frutos reais, aca-bando por dar como resultado uma vida sem rastros e sem sentido:

    - e assim-6 que ia para a cova, sem deixar tra9o seu, sem um filho, sem um amor, sem um beijo mais quente, sem nenhum-mesmo, e senvsequer uma asneira!-(p,_ 208).

    Lima Barreto encontra aqui o jovem modernista Carlos Drum-mond de Andrade. E Mario de Andrade que, com a proverbial sen-siBilidade para o objeto novo, detecta, nos poemas de Alguma Poe-sia (1930), o "seqiiestro da vida besta".7 Deix'emos a"palavra com Mario, pois dele 6 o melhor comentrib da lifao que ,Lima Barreto passava para os pbsteros:

    i (O seqiiestro da vida besta) representa a l'uta entre o poeta; que 6 um ser de a^So pouca, muito'empregado publico, com familia, caipifismo e' paz, enfim o "bocejo de felici-dade", como ele mesmo (Drummond) o descreveu, e as exigencias. da vida, social contempor^nea que ja vai, atin-gindo o Brasil das capitals, o ser socializado, deacao mui-ta, efjcaz para a sociedade, mais publico que intimo, com maioriraio~de acao que 6 cumprimento db dever na fami-lia e no empreguinho. O poeta adquiriu uma consciencia penosada sua inutilidade pessoal e da inutilidade social

    L e humana da "vida besta".

    'Para quern leu com cuidado o nome do personagem que apa-rece desdeotituib do romance; tal conclusao a que estamos chegan-do quanto a funfao do intelectual na sociedade brasileira nao tao original como se pode pensar. Ja esta ela agora e sempre no nome do personagem. Entre os diversos jogos semanticos que se podem depreender do-titulo, isolemos dois que nos ser vem de apoio agora.

    "Policarpo", informa-nos o Diciondrio Moraes, significa "que tern ou produz muitos frutos". Ora, o nosso Policarpo nada deixa de si, dai a ironia maior do seu nome. Ironia que esta na redundan-cia de "triste fim" que se encontra na raiz carpo de Policarpo: carpir, lamentar, chorar, cantar tristemente. Ironia que esta" ainda em,carpo, pulso, "lugar onde o antebraco se. junta a mao". O Poli-carpo de Lima Barreto de triste-fim porque de nenhum fruto

    7. Artigo escrito em 1931, e hoje recolhido em Aspectos da Literatura Brasi-leira.

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  • e e* tamMm depulso fraco. Nao se esquecendo ainda que o verbo carpir ^nos remeteria a outro campo semfintico: "limpar o mato (uma roca)" e o citado dicionrio nos di como exemplo: "carpir a erva ruim que prejudica o trigo". Retomemos: oPolicarpo e* de triste fimporque e" de.nenhum fruto e t.tambenrde1 pulso fraco, e 6 ainda um idealista que nao consegue limpar-a erva ruim da sua plantacao. O nosso personagem ja" trazia no estranho nome toda a carga irdnica que se patenteia no resumo das suas aventuras.que se encontra no final do romance.

    E este final melanccMico de uma triste vida besta se encontra. expresso na polissemia da outra parte do seu nome, Quaresma.i tanto o perfodo de quarenta dias de jejum que se segue ao sacri-, ffcio de Cristo, como ainda uma especie de coqueiro do -Brasil. tanto o sinal que. indicia q caminho em vao do bode expiat6rio, como ainda o sfmbolo romanticb por excelencia da brasilidade ufa-nista, que e* o .coqueiro. Minna terra tem. Policarpo Quarcsma. Acabaria a vida besta de .Policarpo por significar que ele e" um parasita da civilizacao?alguem que passou e nao viveu?Ser a-his* tdrico, passa e desaparece sem deixar fruto, carne' da sua carne, "sem deixar mesmo"? * o que parece nosindicar o-terceiro signi-ficado para quaresma: "inseto que ataca as roseiras e 6 parasita das Irvores frutfferas".

    A interpretacao da unidade tripartida que '6 a forma do corpo do romance, indiciada pelo nucleo repetitivo final, corroborada' pela

    epfgrafe de^Renan e devidamente explicitada pela polissemia encon-i trada desde o tftulo da ficcao, se fecha.8.PoucastObras da literatura

    *

    8.1 Carlos Nelson Coutinho interpreta a condicao de Policarpo como 'bizarra"> e, com a.ajuda do jovem I*ucks, ye nele p representante entre.nds do "henSi problemfiticb" "aquele que biisca valores'autSnticos num mundo' degradado". A-diferehca'basica do Jnossb raciocfnib t querCarlos Nelson apenas discute a necessidade.de uma participacao popular, no projeto nacional a nfvel da fabulafao do romance (o tema da' bizarrice, devida-mente respaldado pelo "intimismb a sbmbra'do poder"), enqua'nto estamos' salientando que o prdprio ato de leitura para Lima Barreto era abrangente e.nada elitista. Por isso i diffcil para nos dar sequSncia.a uma distincao inicial que Carlos Nelson estabelece na fortuna_crftica; de Lima Barreto. Uma "visao da funcao cntico-social" da literatura pode e deve .incorporar valores que-advSm de uma "yisao formalista-de arte". A irejeicao, .da retorica do "gancho* 6 a maneira como Lima Barreto poe a nu 6 mascaramento da est&ica popular pela ma" i& elitista, pensamos n6s. (Ver: "O significado de Lima Barreto na Literatura

    t Brasilcira".. In: Realismo & Anti-realismo na Literatura Brasileira.'Rio, Paz e Terra,:1974.)

    174

    brasileira tem uma1 composicao tao nftida, tao fechada. e- . . . tao redundante. Diffcir e" fazer com que o-estilete da originalidade "interpreiatrfa perfure aredundancia hermeneutica. Tentemos.*

    II

    X originalidade de leitura de Triste Fim de Policarpo Qua-resma encontra-se no envolvimento que o romance mantem com a brasiliana nele-mencionada'e na distancia critica que ele permite com relacao a ela. As hocoes ufanistas, aprendidas na biblioteca, tanto servem de motivacaopara a luta ingl6ria de Policarpo, como ainda sao destrui'das de uma penada sd pelo )& analisado resumo interpretative do livro. No presente momento trata-se de perceber nao s6 que relacoes intertextuais pode manter o romance;-a fim de que se capte melhor as suas vertentes criticas, como ainda de assinalar que Triste Fim marca um ponto nevralgico na leitura que fazemos hoje do discurso s6cio-cultural que. desde Vaz de Ca-minha'tenta explicar para n6s o que era e. 6 o Brasil. Ai, sim, reside a maior modernidade do projeto de Lima Barreto. O ponto nevralgico 6 e porque . ambfguo: a escrita ficcional, subscreve o discurso hist6rico-nacionalista e ufanista, e ao mesmo tempo o re-jeita, julgando-o, criticando-o como ilus6rio. A escrita ficcional ao. mesmo tempo conipartilha dos valores socio-politicos e ecoriomicos que vinham sendo veiculados por aquele discurso, e marca a; ne-cessidade de uma reviravolta a nivel de discurso para que melhor se coloquem e se estudem os verdadeiros problemas na-cionais.

    Nesse sentido, a ficgao de Lima Barreto seria o elemento que irromperia na. cadeia -discursiva nacional-ufanista, causando um curto-circuito critico que 6 inapelavel: fi o .primeiro e histdrico curto-circuito opefado na cadeia. Este acidente chamaria a atencao para o fato.concreto de que todo discurso sobre o Brasil fpi irreme-diavelmehte idealista, comprometido que estava com um discurso religioso e paralelo e que, finalmerite, foi o dominador. Dai advm que toda e qualquer discussao sobre o Brasil (tanto nos seus aspec-tos sociais qiianto culturais) se encontre de inicio marcada por uma alta taxa de metaforiza^ao da linguagem. Lima Barreto tenta assinalar esta metaforizacao, chamando a atencao para o tipo de acao patri6tica e alienada que ela propicia, com o fim de indicar a

    175

  • T

    necessidade de tomar a.linguagem ufanista ap pe* da letra. Isto 6: no ,seu sentido proprio, /des-metaforizado.

    Trabalhemos com exemplos concretos que nos conduzam a uma retornada de Triste Fim-por esta vereda.

    O processo de idealiza^ao no discurso ufanista se encontrana contaminacao do discurso leigo pelo discurso religioso; tal proces-so pode ser, evidenciado ja na Carta do escrivao Pero Vaz de Ca-minha. Sua descricao da terra-desconhecida tem como. mediador^ 6bvio o texto biblico. Diaritcde uma realidade desconhecida, diantet de seres que sap desconhecidos pela falta de "vergonha", Caminha, se-serve de unrsuporte biblico para^poder situar, explicjir,-dentro de. padroes etnocentricos; os seres e- a sua falta de vergonha, a terra e estes seres sem-yergonha.

    Tanto a terra quanto os seres viviam^na origem dos tempos^ isto e\ no jperiodo antes da. queda. Portanto,. ainda estavam no Paraiso Terreal. A realidade;paradisiaca na medida.em que nap, correspondia a realidade social indigena, pelo contrdrio,- ali esta\ para recalca-la na sua concretude corresponde- no entantp ao modelo depensamentoeuropeu da epoca. Seria a maneira de inte-grar ideologicamente.o:: "desconhecido" (Brasil) ao conhecido (Eu-ropa), sem que se salientassem as diferencas das partes, diferen-cas estas que certamente escapariam do compressor etnocgntrico.1 O proprio desconhecido ja tem-umlugar"concretoe predetermina-, do pelos textos da 6poca o paraiso terreal;- , pa_ssando a sua, leitura e compreensao a ser continua "historicamente", cristalina, e logica. A tal ponto esta integra?ao do desconhecido a civilizacao crista e ocidental pode ser feita em termos europeocentricos, que, os textos da poca dizem de um lugar real onde ainda existe a situa$ao paradisiaca. Como nos alerta Sergio 'Buarque de Hpllan-, da,-nas paginas iniciais da Visao do Paraiso, "sabe-se que para os tefilogos da Idade MeMia nao representava o Paraiso Terreal ape-nasum mundo intangivel,.incorpdreo, perdido no comego dos tem-pos, nem simplesmente alguma fantasia vagamente piedosa, e sim uma realidade ainda presente em sitio rec6ndito,,mas porventura inacessivel".8

    Se a propria nudez os indigenas nao tinham incorpprado a nocjio psic616gica e autocritica -de "vergonha", podia .-ser aquela

    9- Visao do Paraiso, Sao, Paulo, Companhia Editora National, 1969.

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    lida pelos europeus como signo de "inocencia". Se a vergonha os indigenas nao tinham incorporado a nocao teologica de culpa, de pecado, podiam ser os seres selvagens tidos como Adao e Eva antes da queda. Fica f^cil para n6s assinalar como os outros ele-mentos do texto vao caindo dentro deste mesmo esquema etnocen-trico de pensamento, e com isso vao perdendo a sua diferenca, vale dizer, o seu significado original. Disso tudo podemos concluir que os indigenas, enquanto seres culturais, s

  • ScgundO)nivel:j ardos^religiosos que^ele^majnclari^para^esta^erra.; Terceirpinivd^iajdosjiois^ Aqui tambem Oj^plantioV; sera.fdcil.e mais fcu\a colheita","pois'"a

    semente'uc(no, sentido,figurado:^a palavra.de Deus),cai em ("terra inocenteV (tambem nojentido.figurado^a mente'indi'gena). vamos por,jfases.b cus a obnsbiaq oSv -eat mo; .olnsrnaznan sb juhl

    tiulOra, como^os (indigenas-> no, .texto, europeocentnco vivem em l _ ' - J -1- 'r-1 ' -rvw.*

    ( illicit, IJI O^ IJ\|U r1! (:

    boi ou vaca, cabra, ovelha ou^galinha, ,ou qualquer outro animal que esteia.acostumado ao.viver, do, homem.,.E, nao comem senao.deste, inhame,rderque ha rmuito, e.dessas.sementes e fruto que a. terra-. e-as^arvores de si.lancam*. O.fruto. e\aado de;presente ao homem,

    ilancam noLsentido de "fazergerminar"wJ., . . I 5 l irmEstaremos percebendo que e desta maneira que se instilam den-

    trojdOjdiscurso.da.cuIrura brasileira.,os, tracos ufamstas? ,que se instil am, os tracos ida nqueza e.das opulencias sem fim-e naturais, da terraiubernma.-iterragque, em se, plantando.-tudo da? Este dis-cursOijvai^sei responsayel pelapoucalimportanciaJiquerse vai dar ao trabalhoida, acriculturaentre,ri6s, Discurso,,,ainda/7que vai ser questionadOjdejmaneira^rnaistsistemdtica^d^no^^seculo.XXMatrav^s. do^esforco fictional donosso Lima Barreto, fazen'do' coin que Poli-

    .i._ .,_ j,i , in/mi o Qiuxi. ~>.* " ' ;,;'0 j- \ carpo enfrente:lasiJagruras,da,lavoura, e,defum,Mario.de Andrade, quando, emJV/acunaima^alerta.para^ps males da.sauya.e da saiide na nossa terra. No entanto, poucos. anos^antes^do'livro de Lima eide)M5ri0i o3conde .de,Alfonso.Celso.ainda.escrevia dentro dos

    _

    1 * -

    A , - - *-- , ,J"- ,"*' i .',/ ysxjt, r>i"'- J'!-, u/" padroes europeocentncos-e qumhentistas:.'Ha,a arvore do pao, a

    arvore-jdo papel,(ar arvore,daiseda,.a arvore^do leite.jcuios frutos, folhas, tibras.ou,lsucos-oferecemasipj,opriedadesie as aphcacoes das especiesjde quejlhessproveio o.nomel'.^E^continua: "Ver^ade'ira maraYilhaj! a

    3 uberdade, da ,fterra rroxa.^ que Q-calor-ie ra ^umidade bastamfia fecundar"i1JirAte.,pareca.que,,nao houve necessidade do trabalho escrayOjnoLBrasil..-^

    S I 7 a 0 7 q Sfi Q-? 9 ^ ^ fi h BbfijPodemo,sridisso 'cqncluir.que, dentro da Carta de Carriinha, a, "on obfizu s odi^z o ol e>-b^

    M j.birf.T.? "'.HrV on

    178

    atividade dertrabalhar-afiterraBno")Jplaritio^) dada'4,Bu Ol^jusjjuTVi^lflt'fll, capital na producao do texto postenor..da cultura brasileira: o pro-f .on ajn-v^ ^ \,oo p, ^.-v, , . ai^litfaio ^.ij* i-,.^.o - aquele o padraotf linguistico \ em ; textos 3anteriores:'.a 'Carta (textoss europeus~,2portanto) ? ou: sez nao: pudessemosl corhprovar sua dissemina?ao por textos posteriores da pr6pria cultura brasileira. 12. Idem, verbete: "lan^ar", sentido 2..CTCt 12 J sb sio io3 .bjrr* , .7 V

    179

  • A tarefa e* longa e esbocaremos aqui apenas algumas indicacoes com vistas a leitura, ou releitura, de Triste Fim.

    Na primeira tarefa, ajuda-nos a informacao de Joseph Hoffner, no livro Colonialismo e Evangelho. Diz-nos ele: "( -) na anti-guidade, fundar colonias denotava acao altamente cultural, coisa alias que a propria palavra, derivada de colere, ja indica, pois este verbo latino esta aparentado etimologicamente com 'cultu-ra' e 'cuko', o que vinha a ser um novo local de arar e plantar, de cuidar e tratar, de venerar e adorar". Portanto, o que o texto de Caminha opera e coagular a polissemia (arar X venerar, plantar X adorar) e marcar como principal um dos significados, uma das atividades (venerar, adorar), estabelecendo entre eles uma hierar-quia basica ao ni'vel do sistema da lingua portuguesa e ao mesmo tempo ao nivel do sistema da colonizac.ao.

    Em sucessivas leituras feitas ainda em sala de aula, temos perseguido a malha da palavra semente dentro do discurso da cul-tura brasileira. E impossivel resumir aqui o nosso trabalho, pbde-mos dar apenas uma indicacao dos textos que nos tern servido de baliza, para configurar epocas distintas deste padrao estabelecido pela Carta: o "Sermao da Sexagdsima", de Vieira, Iracema, de Alencar, e Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Detenhamo-nos neste, para encerrar, ainda que provisoriamente, esta segunda e erudita leitura da ficcao de Lima Barreto.

    Faz parte ele de um sistema de textos cujo padrao lingiifstico, acima descrito, passa por uma seVie de continuas transformacoes, e a importancia radical de Policarpo Quaresma seria dada pela des-metaforizacao da palavra "semente". Ou seja: a principal se-mente de que a terra brasileira precisa e a que 6 escrita no seu sentido pr