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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · transmitidas pela oralidade através da literatura oral como: mitos, contos, lendas, ... palmares entre o sexo da população de palmares

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ/FACULDADE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE PARANAVAÍ

ARTIGO FINAL

O QUILOMBO DOS PALMARES: ORGANIZAÇÃO E ECONOMIA

Orientador IES: Marcos Roberto Pirateli Orientanda PDE: Irene Cardoso Leite

XAMBRÊ-PR2012

O QUILOMBO DOS PALMARES: ORGANIZAÇÃO E ECONOMIA

Irene Cardoso Leite1

Marcos Roberto Pirateli2

Resumo

Este artigo é resultado de uma pesquisa realizada para atender ao Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE e analisa a organização econômica e social do Quilombo dos Palmares. Para compreender melhor o tema faz–se necessário uma análise sobre a formação do quilombo desde o início quando os palmarinos eram poucos e foi preciso raptar escravos para viver no quilombo até quando se deu o aumento da população, população essa que além dos negros era formada também por índios, fugitivos da justiça, mulatos e aqueles que se sentiam oprimidos com o regime, chegando a causar apreensão aos donos de escravos. Apresenta também a organização familiar e religiosa dos palmarinos bem como a atuação dos grandes líderes: Ganga Zumba e Zumbi até a completa destruição do quilombo. O artigo finaliza com o resultado da implementação realizada no Colégio Estadual Paulo VI – Ensino Fundamental e Médio com alunos da primeira série do Ensino Médio da cidade de Xambrê Núcleo de Umuarama.

Palavras-chave: Quilombo; organização; política; economia; líderes.

1 Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná

2 Professor Orientador – Universidade Estadual do Paraná/Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí

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Introdução

Pretende-se desenvolver com esse trabalho uma reflexão sobre o Quilombo dos

Palmares sua organização e economia entre 1630 e 1695 na capitania de Pernambuco,

contemplando a Lei nº 10.639/2003 que inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a

obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-brasileira e Africana”.

A pesquisa sobre esse tema partiu da observação de que na escola ainda existe

um racismo muito forte e muita discriminação para com os afro-descendentes. O estudo

sobre o Quilombo dos Palmares se faz necessário para aprofundar os conhecimentos

sobre o processo histórico de resistência negra desencadeados pelos africanos

escravizados no Brasil, contribuindo para a produção de conhecimento e melhoria na

qualidade de ensino principalmente referente aos afro-descendentes para que sua cultura

seja valorizada tantos por eles quanto pelos outros, os negros não eram escravos, eles

foram escravizados, e muito contribuíram para a construção da nação brasileira. Os povos

africanos eram portadores de histórias, de saberes que na maioria das vezes eram

transmitidas pela oralidade através da literatura oral como: mitos, contos, lendas,

provérbios etc. Os africanos ao chegarem ao Brasil foram transformados em escravo a

eles a escravidão foi imposta em sua forma pura, o escravo era considerado uma

propriedade total do seu senhor, mantendo uma relação de dependência e privado de

quaisquer direitos, o seu dono podia fazer o que bem quisesse como vender, alugar,

penhorar e até mesmo matar. Os escravos trabalhavam duramente durante quinze horas

ou mais inclusive domingos e feriados (FREITAS,1978). A alimentação era precária e o

tempo médio de vida para os escravos que trabalhavam nos canaviais era mais ou menos

de cinco anos.

Também eles eram torturados segundo o seu comportamento sofrendo maus tratos

e castigos, mas mesmo sofrendo, passando por todo esse suplício eles tentaram resgatar

a sua humanidade. Durante todo o período de escravidão no Brasil os escravos de várias

formas resistiram à situação de opressão em que se encontravam. Apesar de serem

considerados apenas como uma coisa eles eram seres humanos e como tal não ficaram

passivos diante da sua condição, mesmo vindo de tão longe para uma terra estranha eles

resistiram de várias formas á escravidão e uma delas foi a fuga para viver nos quilombos

para viver em liberdade, buscando resgatar a cultura e a forma de viver que deixaram na

África, contribuindo para a formação da cultura brasileira.

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Os quilombos eram formados em regiões onde havia grandes concentrações de

escravos longe das cidades no meio das matas. Os habitantes dos quilombos eram

chamados de quilombolas. No período da escravidão, o Brasil se transformou em um conjunto de quilombos,

uns eram maiores e outros menores, mas todos muito importantes para a nossa história.

Durante o período que a escravidão existiu os quilombos existiram em todo território

brasileiro (MOURA,1981).

Os quilombos pareciam ser grupos defensivos, mas muitas vezes atacavam para

conseguir artigos e objetos para poderem sobrevier como a pólvora e o sal. Não eram um

grupo isolado, eles tinham contato com outros grupos. Os quilombos recebiam os índios,

mulatos e negros, criminosos, fugitivos do serviço militar (esses eram os oprimidos da

sociedade escravista) (MOURA,1981).

Havia entre eles uma grande solidariedade, eram avisados das expedições

punitivas contra eles pelos demais grupos fazendo com que os quilombos tivessem vida

longa, pois quando as expedições chegavam ao local, eles já haviam se retirado levando

os produtos que eram produzidos nos quilombos.

Os quilombos variavam também de forma e de origem. Às vezes eles ocupavam

fazendas ficando muito tempo até serem expulsos (MOURA,1981).

Existiram vários quilombos no Brasil, o mais famoso de todos foi o Quilombo de Palmares

por ter sido a maior manifestação contra a escravidão.

O QUILOMBO DOS PALMARES

Para os primeiros escravos que se refugiaram na região de Palmares a fuga

representava uma forma de libertação, provavelmente eles não pensassem em derrubar a

escravidão, queriam apenas evitar a reescravização e sobreviver em liberdade.

( FREITAS1978).

A fuga dos negros eram realizadas a noite pelo mato adentro, mas os primeiros

habitantes de palmares eram poucos, faltavam mulheres e homens, por isso eles

precisavam descer ás plantações para induzir e raptar outros escravos principalmente as

negras, índias , mulatas e também brancas. Os palmarinos raptavam mulheres de outras

raças porque nos engenhos havia escassez de negras pois os senhores dos engenhos

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preferiam comprar homens. Muitas vezes as mulheres livres de condição humilde fugiam

com os negros palmarinos para viver em palmares. O problema do desequilíbrio em

palmares entre o sexo da população de palmares era muito sério (MOURA, 1987).

Quanto aos homens eram necessários tanto para o trabalho quanto para a guerra.

Poucos eram aqueles que fugiam espontaneamente para Palmares; foi necessário,

portanto sequestrar escravos do sexo masculino, e quando chegavam no quilombo eles

eram mantidos como prisioneiros e quando sequestravam outros escravos conseguiam a

liberdade dentro do quilombo.

Os quilombolas de palmares realizavam incursões para conseguirem armas,

ferramentas e pólvora, muitas vezes colocavam fogo e destruíam os engenhos como

forma de vingança (FREITAS, 1978).

Com o tempo a fuga para palmares foi geral, eles aproveitavam que a floresta era

acolhedora e de difícil penetração, terras férteis, muitas madeiras, caça e água em

abundância, e devido a esses fatores foram se aglomerando aumentando o número de

escravos foragidos e consequentemente a população de palmares. (MOURA,1987).

Nos fins do século XVI o número de escravos que viviam no Quilombo dos

Palmares já era grande e causava apreensão aos moradores da capitania de

Pernambuco.

Várias foram as situações favoráveis que contribuíram para o aumento da

população de palmares, dentre elas destaca-se a ocupação holandesa em Pernambuco

que diminuiu a disciplina rigorosa da escravidão desestruturando a dominação portuguesa

criando condições para que os escravos fugissem para as matas e chegassem até

palmares.

Segundo Gonsalves de Mello Neto:

A guerra empreendida pelos holandeses no período de 1630-1635 desorganizou completamente a vida da Colônia. Todos os negros aproveitaram a oportunidade para fugir. Pela leitura dos documentos vê-se que parou quase completamente o trabalho dos engenhos. Uma relação dos engenhos existentes entre o rio das Jangadas e o Una, feita pelo conselheiro Schott, mostra-nos a verdadeira situação dessas propriedades, exatamente na zona mais rica da capitania, a zona sul. Eram canaviais queimados, casas-grandes abrasadas, os cobres jogadas aos rios, açudes arrombados, os bois levados ou comidos, fugidos todos os negros. Só não haviam fugidos os negros velhos e os molequinhos. (GONSALVES DE MELLO NETO, 1947, p. 206-7).

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Durante a invasão de Pernambuco pelos holandeses, eles tentaram atrair para o

seu lado os negros escravos mas estes não aceitaram aproveitando portanto a

oportunidade e o momento propício devido a fraca vigilância dos senhores que estavam

ocupados com a guerra para buscar o caminho da emancipação que era fugir para o

Quilombo dos Palmares (FREITAS, 1978).

Mas no momento da fuga nem sempre chegavam em Palmares com facilidade,

passavam fome, cansaço até chegar ao seu destino e muitas vezes ao chegar em

Palmares eles se armavam e voltavam para se vingar, roubar armamentos e libertar

escravos que ainda continuavam sendo explorados e maltratados.

Como os ataques dos palmarinos eram constantes no período em que os

holandeses dominaram Pernambuco, os moradores reclamavam para as autoridades da

companhia, por esse motivo Maurício de Nassau permitiu aos moradores portugueses de

Pernambuco para se armarem e se prevenirem contra os ataques dos negros e ofereceu

recompensa pela captura dos palmarinos. Também enviou uma expedição para destruir

Palmares, pois eles consideravam os palmarinos um bando de “salteadores e escravos

fugitivos”. (PÉRET, 2008).

Os holandeses sabiam da existência e localização de Palmares Grandes e

Palmares Pequenos, enviaram para um espião chamado Bartolomeu Linstz para viver em

Palmares e conhecer o modo de vida dos palmarinos, mas o resultado dessa missão foi

ignorado, foram enviadas pelos holandeses expedições que nada conseguiram a não ser

um completo fracasso.

A população de Palmares aumentava devido as fugas dos escravos negros, ao

nascimento dentro do quilombo e também devido ao ingresso dos índios, salteadores, os

que fugiam da justiça e todos aqueles que se sentiam oprimidos pelo sistema escravista.

Entre essa população havia brancos e brancas como prova dessa existência foi

aprisionado em 1644 por Rodolfo Bara, “alguns mulatos de menor idade” (MOURA,1987).

A apreensão que o aumento da população causava se confirma em uma carta

escrita em 1557 pelo padre Pero Lopes:

Não seria impossível, dizia ele, que um dia se repetisse em Pernambuco o ocorrido na ilha de São Tomé, onde os negros haviam queimado as plantações e expulsados os portugueses. Os negros rebeldes da capitania, assegurava o padre Pero Lopes, “são os primeiros inimigos” e “dão muito trabalho (FREITAS,1978, p. 39).

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Os assaltos feitos pelos palmarinos eram constantes e os senhores de escravos

tinham que se defender por conta própria desses assaltos, as vezes as tentativas não

obtinham resultados e o problema se tornava tão grave que as autoridades coloniais

passaram a dar atenção. É o caso de D. Diogo Botelho, 3º Governador Geral do Brasil

que organizou uma expedição contra os negros de Palmares, mas não tiveram sucesso e

nos anos seguintes a população de palmares prosperou e se multiplicou (FREITAS ,

1978).

As mais importantes comunidades palmarinas situaram se na parte meridional da

capitania de Pernambuco, hoje o Estado de Alagoas.

ECONOMIA E POLÍTICA

Palmares era uma confederação de quilombos sendo os principais: Mocambo de

Zumbi, Acotinero, Tabocas, Dambrabanga, Subupira, Macaco, Osenga, Serinharém,

Amaro, Andalaquituche, Alquatune, além de outros menores, sendo que Macaco era a

capital da “República”.

Palmares chegou a contar com uma população entre 20.000 a 25.000 mil

habitantes e se transformou em um grande obstáculo para o regime escravista da região,

preocupando seriamente as autoridades coloniais pois o Quilombo dos Palmares era

como se fosse um estímulo para os escravos que viviam na região fugirem para lá em

busca de liberdade, e foi semelhante a muitos estados que existiram na África

(CARNEIRO, 1966).

O Quilombo de Palmares era formado por vários mocambos que se transformaram

em uma confederação e depois em uma república que chegou a ter entre 20 a 30 mil

habitantes. Havia em cada povoação um chefe que era escolhido pela sua inteligência e

força, mas ele era controlado por um conselho, existia também uma assembleia que

tomava as decisões sobre os problemas mais sérios onde participava os habitantes

adultos do quilombo, existindo entre os palmarinos igualdade civil e política

(FREITAS,1978).

Segundo Moura (1987), havia entre os palmarinos uma administração pública onde

o rei tinha poderes ilimitados em seguida um conselho com representantes dos diversos

quilombos tendo autonomia em seu espaço. A escolha do rei era eletiva e ele era votado

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pelo conselho. Os chefes dos mocambos se subordinavam ao rei apenas nos assuntos de

extrema importância como paz e guerra.

Em palmares existia uma organização estatal centralizada e complexa, havendo

uma estrutura administrativa, judicial e militar. O regime político não era liberal, a

legislação era rigorosa e os crimes como roubo, adultério, homicídio e a deserção era

punido com a pena de morte (FREITAS, 1978).

Palmares aos poucos foi se transformando em um reduto seguro e atrativo para

todos os perseguidos e explorados da sociedade colonial brasileira que iam para lá a

procura de uma vida digna e sem exploração.

Palmares tinha uma economia diversificada, começando com uma fase de coleta de

alimentos, caça e pesca, sendo que essa fase não desapareceu, permanecendo como

complementar e subsidiária.

Segundo Moura (1987), a caça e a pesca eram fundamentais, existiam muitos

animais na região facilitando a caça, tais como: antas, onças, raposas, veados, pacas,

cutias, caetetus, coelhos, preás, tatus, tamanduás, quatis, e outros animais que era a

base de uma alimentação abundante suficiente para abastecer a população inicial do

quilombo.

Com o passar do tempo houve o aumento da população então a economia se

tornou complexa e a produção diversificada, pois dispunham de mão de obra suficiente

para todo tipo de trabalho e também de artesãos que confeccionavam ferramentas de

ferro elevando assim o nível de produção.

Desenvolveram a agricultura, experiência adquirida por eles na África. A terra era

preparada duas semanas antes do plantio através de queimadas. Tudo era feito

coletivamente, desde a preparação da terra, a semeadura até a colheita.

Segundo Moura (1987), os palmarinos usavam técnicas de plantio, regadio e colheita

trazidos da África. Com o tempo Palmares se desenvolveu uma economia

fundamentalmente agrícola com excedentes de produção.

A agricultura era baseada na policultura, o milho era o cultivo principal, sendo

colhido duas vezes por ano, além do milho plantavam feijão, banana, mandioca, batata-

doce e cana-de-açúcar. Esses produtos eram fundamentais para a agricultura de

Palmares, abastecia a população palmarina e ainda tinha um excedente que era utilizado

pelos membros da comunidade nas festas religiosas e nos momentos de lazer, a outra

parte era guardada para os períodos das guerras ou trocados com os produtores locais

com produtos que os palmarinos não produziam (MOURA,1987).

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O fim da colheita era celebrado com festejos durante uma semana, onde

dançavam, comiam, bebiam e é claro folgavam (FREITAS,1978).

No quilombo também havia grandes pomares com diversas árvores frutíferas.

Segundo Carneiro:

A floresta estava povoada de árvores frutíferas – e ali se encontravam jaca, laranja, manga. Lima da Pérsia, lima de umbigo, laranja-cravo, fruta-pão, cocos da praia, abacate, pitanga, limão, melancia, mamão, ananás, abacaxi, araçá, pinha, fruta do conde, banana, goiaba, joá, ingá, cajá, jenipapo, trapiá, jaracatiá, pitomba, Sapucaí... (CARNEIRO,1966, p.16).

Também praticavam a produção extrativa principalmente com a palmeira já

conhecida por eles na África .Os frutos da palmeira cresciam no cacho e cada cacho tinha

até cem frutos, do tamanho de um ovo ou mais. A casca do fruto da palmeira após ser

batida dava uma polpa que os palmarinos comiam com farinha, também da polpa retirava

um óleo que dela servia para iluminação, extraiam azeite para preparar os alimentos e a

manteiga. Da palmeira fabricavam uma espécie de vinho, da casca faziam cachimbos e

com as folhas cobriam as casas, faziam esteiras, cestos e abanos ( FREITAS,1978).

Os quilombolas adotavam a base econômica da família livre, organizado a base da

agricultura de subsistência e criação de animais, viviam em um regime comunitário

através do trabalho coletivo e de solidariedade, aumentando a produção (MOURA,1981;

MOURA,1987).

Da fauna e da flora os palmarinos retiravam o que era necessário às suas vidas,

como: azeite, luz, roupas, materiais para fabricação de suas casas e da argila modelavam

potes e vasilhas.

Havia também em Palmares o setor artesanal, onde produziam se cestos, potes de

argila, tecidos grossos, pilões e vasilhas. Produziam se também o material bélico que era

usado nas guerras como: arcos, flechas, facas, lanças e outros. Fabricavam se também

cachimbos de barro, instrumentos musicais e outros instrumentos que eram usados no dia

a dia da comunidade (MOURA, 1987).

A economia em Palmares era abundante devido a grande quantidade de mão de

obra, a solidariedade que reinava entre eles e o trabalho cooperativo, contrastando com a

miséria das populações do litoral, mostrando dessa maneira o caráter antieconômico da

escravidão, o negro livre era capaz de produzir para o seu sustento, podendo viver em

meio a uma grande fartura (FREITAS,1978).

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RELIGIÃO E CULTURA

A religião praticada pelos palmarinos era uma mistura de religião africana e do

cristianismo, semelhante ao catolicismo, posto que no quilombo havia capelas com

imagens de divindades africanas e também de Jesus, Nossa Senhora da Conceição e

São Brás. Havia celebração de casamentos e batizados realizados por sacerdotes. No

quilombo não era permitido a existência de feiticeiros (FREITAS, 1978 ;

CARNEIRO,1966).

Os sacerdotes eram escolhidos entre o mais astuto dos palmarinos. Eram

ensinadas em Palmares algumas orações cristã.

Décio Freitas interpreta a religião praticada em palmares da seguinte forma:

Praticavam uma religião do tipo sincrético na qual se combinavam fragmentos das crenças africanas e do cristianismo dos colonos. Nas capelas de todas as povoações as imagens das divindades africanas partilhavam os altares com as de Jesus, Nossa Senhora da Conceição e São Brás. Se bem que os documentos falem com bastante frequência nos sacerdotes palmarinos, nada dizem sobre a sua importância política e social. Não há indicações de que formassem uma casta poderosa ou sequer influente. É interessante observar, geralmente falando, as rebeliões escravas da América não tomavam cariz profético ou messiânico, ao contrário do que ocorreu com as rebeliões das camadas de livres pobres (FREITAS,1978,p.48).

Segundo MOURA (1987), não havia entre os palmarinos o monopólio do sagrado,

com diversos níveis de hierarquia, a execução de práticas sagradas eram realizadas na

comunidade, as pessoas que realizavam essas práticas eram escolhidas entre os próprios

palmarinos e o prestígio desaparecia assim que terminasse o culto, os atos religiosos era

uma comunhão praticada na coletividade com o sobrenatural.

A língua falada em Palmares era própria deles e era formada pela união da língua

portuguesa, africana e indígena. Quando as autoridades ou moradores queriam se

entender com os palmarinos recorriam a intérpretes.

A organização familiar era baseada na poliandria e poligamia. O rei e os chefes dos

mocambos praticavam a poligamia, tinham direitos a várias mulheres. A família

poliândrica funcionava na comunidade em geral. Isso ocorreu em palmares devido à

desproporção entre os sexos, e a poliandria e poligamia foi uma solução para conseguir o

equilíbrio entre os palmarinos (MOURA, 1987).

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Palmares era um território grande e com uma população numerosa, para garantir a

segurança foi necessário organizar um exército para assegurar o sossego de seus

moradores. Ganga Muiça era o comandante do exército e as armas usadas eram: arcos,

flechas, lanças, facas e armas de fogo que eles obtinham através do escambo (troca) ou

tomavam das expedições. A militarização de Palmares surgiu para defender as vidas e a

república.

LÍDERES

Com o tempo o seguimento militar passou a adquirir funções importantes

principalmente prestígio político, surgindo assim uma espécie de casta militar. Com o

crescimento tanto da população quanto da importância de Palmares as guerrilhas foram

se transformando em operações militares de extrema importância e com o descobrimento

de uma economia agrícola surgiu a necessidade de uma reformulação e transformação

das táticas e técnicas militares para a defesa do patrimônio coletivo (MOURA,1987).

Palmares teve dois grandes líderes:Ganga Zumba e Zumbi.

Ganga Zumba foi o primeiro grande líder do Quilombo dos Palmares. Filho da

princesa Aqualtune, ele nasceu em Palmares, teve três mulheres, duas negras e uma

mulata e numerosos netos, era denominado de Grande Chefe. Provavelmente tinha sido

eleito pelos líderes dos mocambos que formavam o Quilombo dos Palmares, se valia de

um Conselho de Chefes e morava no mocambo do macaco (CARNEIRO, 1966; FREITAS,

1978).

Os chefes de cada mocambo tinha autoridade local mas as decisões mais

importantes com de guerra ou questões que interessava a todos estavam nas mãos do rei

Ganga Zumba que era respeitado por todos os quilombolas que através de um gesto de

vassalagem se ajoelhavam, batendo palmas de cabeça curvada(CARNEIRO, 1966).

Em 1678 após vários conflitos, Ganga Zumba firmou um tratado de paz com as

autoridades coloniais mudando-se para Cucaú. Zumbi porém não aceitou esse tratado,

Ganga Zumba foi envenenado e Zumbi tornou-se o chefe de Palmares e continuou a

resistência contra a pressão portuguesa.

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Zumbi ao assumir o governo em Palmares instaurou uma ditadura, não teve

dificuldades para ocupar Macaco a capital do Quilombo e foi aclamado grande chefe

( FREITAS,1978).

Percebendo que o Quilombo dos Palmares iria enfrentar uma guerra não perdeu

tempo e tratou de preparar Palmares para o enfrentamento reforçando assim as

fortificações de Macaco.

Zumbi nasceu livre, em 1655 nos Palmares, foi o último chefe do Quilombo dos

Palmares e considerado um símbolo da resistência negra à escravidão.

Com sete anos de idade, foi capturado e entregue a um padre português. Foi

batizado e recebeu o nome de Francisco. Ele teve a oportunidade de aprender a língua

portuguesa e praticar o catolicismo, mas em 1670 Zumbi voltou ao seu lugar de origem

(Palmares), com 15 anos de idade. Zumbi era considerado imortal por aqueles negros que

viviam fora do quilombo, devido às várias vitórias que tinha conseguido contra os

portugueses. Ele foi chefe do Quilombo dos Palmares no período mais decisivo da luta,

ou seja, quando foram enviadas expedições para destruir definitivamente Palmares, era

sobrinho do rei Ganga Zumba e irmão de Andalaquituche.

Em 1675, Zumbi então “General das Armas”, foi ferido e ficou aleijado de uma

perna em um combate contra os soldados portugueses (CARNEIRO, 1966).

Provavelmente o nome Zumbi era um título ou apelido que significava “deus da

guerra”, ele era respeitado e temido pelos seus adversários. Zumbi teve mais de uma

mulher e provavelmente uma delas era branca segundo os documentos (CARNEIRO,

1966; MOURA, 1987).

Durante o período em que Zumbi foi líder do Quilombo dos Palmares, a

comunidade aumentou e se fortaleceu, conquistando várias vitórias contra os soldados

portugueses, ele se tornou hábil em planejar e organizar o quilombo devido à sua

coragem e conhecimentos militares.

Mas Palmares não podia continuar existindo por ser uma economia igualitária e

comunitária sendo um exemplo econômico, político e social que se chocava com o

sistema escravista colonial vigente. Uniram-se então a Igreja, os senhores de engenho, os

bandeirantes, as estruturas do poder colonial e escravista para a destruição total de

Palmares, pois o Quilombo constituía um inimigo, um constante chamamento para os

escravos fugirem em busca de liberdade, desafiando as estruturas do poder

colonial(MOURA, 1987; CARNEIRO, 1966).

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Em 1694, o bandeirante Domingos Jorge Velho comanda um grande ataque ao

Quilombo dos Palmares, após essa batalha a sede do quilombo é totalmente destruída e

Zumbi apesar de ferido foge, mas é traído por seu companheiro Antônio Soares e morto

em 20 de novembro de 1695 e a sua cabeça foi colocada em um poste em Recife no

“lugar mais público” em praça pública, para que os homens que o consideravam imortal

ficassem com medo (CARNEIRO, 1966).

Atualmente, o dia de sua morte, 20 de novembro é comemorado no Brasil como o

Dia da Consciência Negra.

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA

A implementação foi realizada no Colégio Estadual Paulo VI - Ensino Fundamental

e Médio com alunos do 1º ano A do Ensino Médio da cidade de Xambrê Núcleo de

Umuarama.

Primeiramente foi apresentado a Produção Didática Pedagógica e o Projeto: O

Quilombo dos Palmares: organização e economia à Direção e Equipe Pedagógica da

escola salientando a importância do mesmo para os alunos, foi dado total apoio para a

sua efetivação.

Em um segundo momento o projeto foi apresentado aos alunos participantes das

atividades de implementação, destacando seu objetivo e seu desenvolvimento. Após a

apresentação aos alunos foi realizada uma reflexão sobre a escravidão no Brasil, como os

escravos foram retirados de sua terra para viver em um lugar distante sofrendo torturas,

maus tratos, alimentação precária, trabalho duro sem descanso entre outros, assim como

a coragem que eles tiveram de lutar contra a escravidão e principalmente fugir para

formar os quilombos, houve grande participação por parte dos alunos inclusive alguns

ficaram surpresos em saber como foi grande o sofrimento dos escravos no Brasil. No final

dessa reflexão foi apresentada a Lei nº 10639/2003 que inclui no currículo oficial da Rede

de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro Brasileira”.

Em um outro encontro foi apresentado o tema: “O que é quilombo?”. Foi realizado

reflexões e discussões sobre o mesmo salientando que no Brasil existiram vários

quilombos mas o objeto do estudo seria o Quilombo dos Palmares.

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No encontro seguinte foi realizado a leitura do texto: “Como se formou o Quilombo

de Palmares”, houve reflexão e debate com intensa participação dos alunos. Foi realizada

no laboratório de informática pesquisa sobre Palmares para complementar o texto anterior

e realização das atividades propostas e produção individual de textos sobre Palmares.

Realizamos trabalho em grupo sobre o texto: “A economia praticada em Palmares”,

onde os alunos concluíram que os palmarinos viviam em meio a uma grande fartura

através da caça, pesca, coleta, agricultura e artesanato e não eram forçados e vigiados

para realizar seu trabalho. Em seguida fizemos uma pesquisa sobre como era realizado o

trabalho no Quilombo dos Palmares, os alunos concluíram que o trabalho era coletivo

através do regime comunitário e solidário, finalizamos com a realização das atividades

propostas.

Estava previsto no cronograma uma visita a comunidade quilombola Manoel

Ciríaco dos Santos no município de Guaíra. Elaboramos algumas perguntas para a

entrevista aos quilombolas, fizemos a visita a comunidade quilombola onde fomos muito

bem recebidos e o presidente falou sobre a história da comunidade, uma história de muita

luta e sacrifício, em seguida os alunos fizeram perguntas ao presidente desde a formação

do quilombo, economia, religião, organização social e política e logo depois os

quilombolas fizeram uma apresentação de capoeira com a participação de todos. Essa

visita foi muito significativas para a concretização da implementação.

Em um outro encontro foi trabalhado o texto: “A organização social e política no

Quilombo dos Palmares” com realização das atividades propostas, os alunos concluíram

que apesar de serem numerosos eles eram bem organizados e estruturados. Realizamos

uma pesquisa sobre a religião praticada em Palmares e a organização familiar com

apresentação do resultado da pesquisa.

Fizemos a leitura e discussão dos textos: “Ganga Zumba e Zumbi” com realização

da atividades e concluímos que os líderes palmarinos foram hábeis guerreiros e também

corajosos principalmente Zumbi que lutou até o fim para defender seu povo.

Debatemos também o texto sobre a consciência negra, os alunos tiveram a

oportunidade de falar sobre o que aprenderam sobre Palmares e a importância do dia 20

de novembro para o resgate das contribuições dos povos negros na história do nosso

país.

Finalizamos a implementação com a confecção de um painel para exposição das

produções realizadas pelos alunos fruto das pesquisas feitas no decorrer da

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implementação. O resultado da implementação foi satisfatório e os objetivos foram

alcançados.

As atividades realizadas pelos alunos e as fotos estão em anexo.

Conclusão

Pela análise da historiografia privilegiada, conclui-se que o Quilombo dos Palmares

se tornou um grande obstáculo para as autoridades coloniais da época por se tornar

numeroso e bem estruturado, tanto politicamente quanto economicamente, havendo entre

os palmarinos solidariedade, trabalho coletivo e organização. Ficando claro que os

quilombolas viviam em meio a uma grande fartura e não precisavam ser vigiado e

castigado para trabalhar pois o que precisavam eram de viver em liberdade resgatando a

sua cultura e o modo de viver que deixaram na África por ter sidos retirado a força, mas

foram capazes de lutar por seus ideais até o fim.

Constatou-se também com esse trabalho que muito pouco se trabalha na escola

sobre os afro-descendentes, principalmente sobre o Quilombo dos Palmares pois a

temática é pouco citada nos livros didáticos ou é muito limitada, é preciso abordar com

mais profundidade a história dos afro-descendentes para que haja uma maior

compreensão por parte dos alunos a respeito do tema e também a valorização da cultura

afro em nosso país.

O objetivo do projeto foi alcançado, pois dele resultou a produção de uma Unidade

Didática com temas sobre Palmares que possibilitou aos alunos reflexão e debates sobre

os temas propostos de uma forma mais aprofundada dando a eles condições de

entendera a coragem e a luta que os negros tiveram de resistir ao regime que os

escravizavam e os oprimiam.

Referências

APOLINÁRIO, Maria Raquel. História. São Paulo: Moderna, 2007.

AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos

15

históricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A. 1966.

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DOCUMENTOS CONSULTADOS ON LINE

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GANGA ZUMBA. Disponível em: <http://wikipedia.org/wiki/Ganga_Zumba>. Acesso em : 21/07/2011.

PINDOBA. Disponível em: <http://arboretto.blogspot.com/2008/pindoba.html>. Acesso em: 21/08/2011.

ZUMBI DOS PALMARES. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Zumbi_dos_Palmares>. Acesso em :21/07/2011.Anexos

16

Atv. 1: Entrevista com o presidente da Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos SantosFonte: O autor em 22/10/2011

17

Atv. 2: Pesquisa sobre a formação do Quilombo dos PalmaresFonte: O autor em 06/10/2011

18

Atv. 3: Questões sobre os Quilombos e a formação do Quilombo dos PalmaresFonte: O autor em 06/10/11

19

Atv. 4: Questões sobre a Economia praticada em PalmaresFonte: O autor em 13/10/2011

20

Atv. 5: Questões sobre a Organização social e política no Quilombo dos PalmaresFonte: O autor em 01/11/2011

21

Atv. 6: Questões sobre Ganga Zumba e Zumbi

Fonte: O autor em 10/11/2011

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Fig.1: Apresentação de capoeira no Quilombo Manoel Ciríaco dos SantosFonte: O autor em: 22/10/2011

Fig.2: Cartazes do Quilombo Manoel Ciríaco dos SantosFonte: O autor em: 22/10/2011

Fig. 3: Artesanato feito no Quilombo Manoel Ciríaco dos SantosFonte: O autor em: 22/10/2011

Fig. 4: Cartazes do Quilombo Manoel Ciríaco dos SantosFonte: O autor em 22/10/2011

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Fig. 5: Alunos do Colégio Est. Paulo VI no Quilombo Manoel Ciriaco dos SantosFonte: O autor em 22/10/2011

Fig. 6: Alunos do Colégio Est. Paulo VI no Quilombo Manoel Ciriaco dos SantosFonte: O autor em 22/10/2011

Fig. 7: Alunas do Colégio Paulo VI que participaram da implementação do Projeto sobre o Quilombo dos PalmaresFonte: O autor em 18/11/2011

Fig. 8: Exposição de Cartazes feitos pelos alunos que participaram da implementação do Projeto sobre o Quilombo dos PalmaresFonte: O autor em 18/112011

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Fig. 9: Exposição de Cartazes feitos pelos alunos que participaram da implementação do Projeto sobre o Quilombo dos PalmaresFonte: O autor em 18/112011

Fig. 10: Alunos realizando pesquisa no laboratório de informática sobre a formação do Quilombo dos PalmaresFonte: O autor em 06/10/11