Segunda Guerra Mundial(a Invasao Da Africa)

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Operao "Tocha"A Invaso da fricaO destrier de vanguarda alcanou o porto; ao penetra-lo, tudo estava quieto. Ento, enquanto singrava tranqilamente suas guas calmas, as trevas da noite explodiram em fogo e ao, quando os pesados canhes de costa, as metralhadoras nos penhascos e os fuzis dos cais despejavam cargas mortferas em sua direo. Era a resposta grande questo: os franceses iam lutar!

Uma invaso desnecessria ?A tomada da frica do Norte pelos Aliados, em fins de 1942, tem sido descrita de vrias maneiras: um golpe bem sucedido contra o regime francs de Vichy, que controlava as colnias norte-africanas da Arglia e Marrocos; uma ttica diversiva perdulria, desperdiando tempo e homens numa rea perifrica do esforo de guerra; e uma tentativa estrategicamente marginal, mas necessria para aplacar os nervos dos russos enquanto invivel, em 1942 ou mesmo em 1943, a ofensiva contra a "Fortaleza Europa". A "Operao Tocha" foi por certo tudo isso. Se 1940 foi o mais negro perodo da guerra para a Gr-Bretanha, 1942 marcou o renascimento das esperanas de todos os Aliados em alcanar a vitria contra as Potncias do Eixo. No comeo do ano deu-se a queda do Sudeste Asitico para o Japo, aps o desastre de Pearl Harbor. Soldados alemes aproximavam-se de Suez e estavam s portas de Moscou. Pelo fim do ano, embora contido, o Eixo no sofrera nenhuma derrota incapacitadora. Os Aliados no tinham obtido ainda ganhos territoriais importantes. A opinio pblica, sobretudo na Unio Sovitica e nos Estados Unidos, ansiava por boas notcias, depois de meses de derrotas e retiradas. Assim que os Estados Unidos entraram na guerra, Stalin pressionou mais fortemente, com o objetivo de aliviar o impacto dos soldados alemes sobre territrio russo, pela abertura de uma segunda frente contra Hitler no continente europeu. Embora a ajuda prevista na Lei de Emprstimo e Arrendamento j estivesse chegando dos Estados Unidos e, alis, os britnicos, apesar de sua grande necessidade de maquinaria, tivessem enviado suprimentos limitados de equipamento para a Rssia, a mquina militar nazista continuava avanando. O tradicional aliado da Rssia, o General Inverno, ajudara a deter o mpeto da blitzkrieg, mas era inevitvel uma ofensiva de primavera. A Rssia precisava fosse feito um ataque que obrigasse a Alemanha a deslocar tropas que fatalmente investiriam contra a j tnue linha de resistncia de Stalingrado e Moscou. O que Stalin no poderia deixar de perceber que os Estados Unidos e a Gr-Bretanha eram totalmente incapazes de montar um ataque no continente europeu em 1942. Durante todo o ano, houve concentrao de homens e suprimentos na Gr-Bretanha, mas a Muralha Ocidental, o permetro defensivo da Alemanha ao longo da costa atlntica, tinha uma reputao difcil de ignorar. Embora os acontecimentos subseqentes provassem que as defesas costeiras da Alemanha no eram inexpugnveis, Churchill e Roosevelt no tinham certeza de obter sucesso num ataque Frana ou aos Pases Baixos, sobretudo porque a Marinha dos Estados Unidos e sua crescente fora area tinham de multiplicar esforos no sentido de impedir que o Hava casse nas mos do Japo. A mquina de guerra dos Estados Unidos j estava em pleno funcionamento, mas ainda no se tinha transformado no colosso em que se converteu. O ensaio de uma invaso do continente, as incurses de Dieppe, foi um desastre monumental. A lio recebida impedia que os Aliados ocidentais se atrevessem a ofensivas que no fossem maduramente pensadas e preparadas, a menos que a coisa fosse realmente muito sopa. Nem Churchill nem Roosevelt podiam correr o risco de vir a desferir um golpe srio no moral do povo com uma invaso mal feita na Europa. Contudo, era preciso fazer algo. Em meados do vero de 1942, os russos pareciam estar beira da derrota. Foi nessa atmosfera que se decidiu invadir a frica do Norte. Esta regio fazia parte do imprio colonial francs e, como tal, passara automaticamente ao controle do regime-ttere de Vichy, que substitura a Terceira Repblica, aps a queda da Frana. Embora o regime francs livre, de De Gaulle, sediado em Londres, esperasse atrair as colnias para a sua causa, poucos haviam respondido ao "canto de sereia" do grand Charles. De sua parte, os Estados Unidos haviam mantido tnue relao com Vichy at o ataque a Pearl Harbor, e esse namoro com o ttere de Hitler se tornaria um fator vital no sucesso da "Operao Tocha". Muitos membros do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos viam a idia de um desembarque na frica do Norte Francesa com certa apreenso. Se os franceses resistissem e os alemes os apoiassem, os Aliados ocidentais se veriam a braos com um conflito no lugar

errado, no momento errado e contra o inimigo errado. Embora Robert Murphy, o "diplomata entre guerreiros", tivesse trabalhado longa e arduamente com colaboracionistas franceses em potencial, dentro das fileiras de Vichy, no se sabia com certeza se eles agiriam ou no na hora azada. O General Marshall temia um fracasso e era por um ataque geral frica do Norte, de modo a impedir que informaes vitais passassem dos colaboracionistas em potencial para o Alto-Comando nazista. Concordou-se em que os franceses s saberiam dos detalhes no ltimo minuto e decidiu-se atacar a frica do Norte em fins de 1942, de modo que, pelo final do ano, os Aliados ocidentais estariam combatendo soldados nazistas em lugar de adiar a invaso do continente at 1943. Se a frica do Norte pudesse ser tomada sem muitas dificuldades, o Afrika Korps de Rommel se veria entalado entre os americanos, em Marrocos e na Arglia, e os britnicos de Montgomery, no deserto lbio. Havia outro problema. A esquadra francesa, presa valiosssima, ainda podia cair em mos aliadas, desde que o trabalho da diplomacia fosse bem sucedido. O assenhoreamento dos navios franceses pelos nazistas, se os Aliados no agissem prontamente para tom-los, transformaria a invaso dos Aliados, ainda que muito bem concluda, num triunfo parcial dos nazistas. Assim, a cooperao do Almirante Darlan e a de seu adversrio poltico, De Gaulle, eram necessrias para a conquista de resultados mximos. No de espantar que quando se desfechou a "Operao Tocha", no comeo de novembro de 1942, Churchill, De Gaulle e at mesmo os franceses que na frica do Norte estavam dispostos a abraar a causa aliada, quando chegasse o momento, partilhassem as apreenses de Marshall. Portanto, a histria da "Operao Tocha" no apenas a narrativa de uma invaso militar mas tambm da intriga poltica e diplomtica que possibilitou esse golpe. Os olhos de Stalin estavam sobre os Aliados quando suas foras desembarcaram nas praias norte-africanas. Da "Operao Tocha" dependia, alm do moral pblico; a f dos russos na sinceridade dos Estados Unidos e da GrBretanha em realizar uma guerra ativa contra Hitler. A partida foi vencida, contra enormes desvantagens. Contudo, a desconfiana de Stalin, apesar da "Tocha" e de El Alamein, no foi aplacada. Em vez disso, a dvida que Stalin e De Gaulle tinham dos anglo-saxes aumentou graas "Operao Tocha". Mas o mesmo aconteceu com as chances aliadas de uma vitria contra o Eixo.

Tringulo de ConfusoA 6 de novembro de 1942, o Almirantado francs em Vichy soube que um grande comboio britnico passara pelo Estreito de Gibraltar, rumo ao leste. Comunicados idnticos chegaram Comisso Franco-Alem do Armistcio, em Wiesbaden, e aos Altos Comandos alemo e italiano. Naquele dia, as notcias vindas do Egito foram ruins: o alquebrado Afrika Korps estava de volta fronteira lbia, tentando fugir ao 8 o Exrcito britnico. Sem saber ao certo se a fora naval britnica se destinava a ajudar Malta, atacar a Sardenha ou a Siclia, ou atacar Rommel pela retaguarda, desembarcando na Tripolitnia, o OKW (Alto Comando Alemo) pediu ao governo francs de Vichy que no se opusesse a quaisquer movimentos que ele achasse necessrio fazer "prximo da costa da Tunsia". Em Vichy, a confuso era total. Antes que o governo se pudesse reunir, e sem consultar a ningum, o Almirante Auphan, Ministro da Marinha, recusou a permisso de desembarque de tropas do Eixo, mas consentiu no lanamento de minas em guas tunisianas, contanto que "feito discretamente", dando a garantia de que, "como de hbito, no passaremos informaes aos inimigos do Eixo". Algumas horas mais tarde ele ordenou que unidades de caas e antiareas francesas no atacassem avies alemes que sobrevoassem a zona desocupada da Frana na direo do Mediterrneo; tambm deu ordens marinha, em Argel, que realizasse reconhecimento areo para localizar o comboio e transmitir a informao ao Eixo. meia-noite de 7 de novembro, o OKW enviou uma mensagem atravs de Wiesbaden oferecendo colaborao militar alem, em particular apoio areo, no caso de um desembarque britnico na frica, se o governo francs a solicitasse. Sem esperar pela reunio do gabinete de Vichy, Auphan telegrafou para Argel: "O OKW oferece apoio areo do Eixo, vindo da Siclia e da Sardenha. Em que forma e onde desejam esse apoio?" A resposta recebida foi: "Apoio contra os transportes ao largo de Argel". A primeira providncia para a colaborao com a Alemanha foram tomadas antes que o Gabinete francs se reunisse. Quando este finalmente se reuniu, s 11:00 h de 8 de novembro, os alemes insistiram para que aceitassem de imediato o oferecimento. O Primeiro-Ministro Pierre Laval tentou evitar um compromisso direto, contemporizar e manobrar; mas o processo que levava inexoravelmente ao fracasso do regime de Vichy comeara.

At o anoitecer de 7 de novembro, os comboios prosseguiram calmamente para leste, sem dar indcios sobre seu destino. O General Juin, comandante das foras armadas francesas na frica do Norte, estava na Villa des Oliviers, onde morava, num subrbio de Argel, quando um membro do seu Estado-Maior lhe telefonou, dizendo: Robert Murphy, cnsul-geral dos Estados Unidos em Argel, queria v-lo urgente. E era mesmo. Em pouco, um entusiasmado Murphy estava no gabinete do general, informando-o de que os americanos estavam desembarcando na rea de Argel, naquela mesma noite, em resposta a um apelo feito ao governo americano pelo General Giraud, que chegaria a Argel a qualquer momento. Na verdade, os desembarques j tinham comeado. Para Juin, foi um momento difcil. Ele era uma das altas-patentes francesas favorveis causa dos Aliados. (Libertado da fortaleza de Knigstein em junho de 1941 por insistncia do General Weygand, e nomeado Comandante-Chefe na frica do Norte em novembro daquele ano, ele preparara planos secretos para frustrar qualquer tentativa de invaso do Eixo na Arglia ou Tunsia). Havia apenas trs semanas que Murphy dissera a Juin, numa reunio secreta, que os Estados Unidos estariam dispostos a dar apoio militar aos franceses na frica do Norte a qualquer momento, mas somente mediante solicitao do governo francs de Vichy. Agora eles haviam chegado repentinamente, em resposta ao apelo de um general francs que escapara arrojadamente da priso na Alemanha - Giraud era realmente muito respeitado nos crculos militares, mas no tinha qualquer autoridade formal, que as foras armadas francesas pudessem reconhecer. Embora Juin fosse comandante do exrcito na frica do Norte, o Almirante Darlan, seu superior, e comandante supremo das foras francesas, por acaso estava em Argel, tendo chegado de repente, havia dois dias, para visitar seu filho, gravemente enfermo de poliomielite. Juin no podia fazer nada, com base em sua autoridade, com Darlan no local; ele estava ofendido com a falta de confiana dos americanos, irritado com o que considerava ingenuidade deles. Darlan, hospedado ali perto, foi chamado. Quando chegou, minutos depois, foi informado e ficou tremendamente irritado. Nesse momento, descobriram que o telefone da Villa tivera sua linha cortada; os jardins estavam ocupados por homens armados no-identificados e no demoraram a saber que os comandantes do exrcito e da fora area de Argel, bem como o prefeito da cidade, haviam sido presos por algumas foras no-autorizadas. Enquanto falavam, as luzes da cidade apagaram-se e sons de disparos, vindos da baa, foram ouvidos. Darlan solicitou que lhe permitissem informar ao Marechal Ptain, com o que Murphy concordou. Juin insistiu na libertao dos comandantes franceses e no restabelecimento da sua cadeia de comando. Era preciso fazer tudo para evitar a ecloso de hostilidades entre as foras francesas e os americanos que estavam desembarcando naquele momento; e somente ele prprio poderia faz-lo. Assim comearam quatro dias de negociaes entre os franceses de Vichy, os franceses pr-aliados e os americanos, uma quadrilha danada em movimentos lentos e solenes, entremeados de elementos de farsa, e que decidiriam toda a seqncia de acontecimentos na frica do Norte. Iniciara-se a operao que dava a primeira esperana verdadeira de libertao aos povos da Europa Ocidental, muito adequadamente batizada de "Tocha". A "Tocha" foi a primeira grande operao anfbia realizada pelos Aliados ocidentais, nascida para atender a duas necessidades prementes surgidas na primeira metade de 1942: a resoluo de problemas de estratgia militar e o atendimento de necessidades polticas urgentes, internacionais e internas. Por outro lado, a realidade das condies navais e terrestres dos Aliados pesou definitivamente em favor da "Operao Tocha", em contraposio a um ataque mais direto Europa. Pouco depois da queda da Frana e da sua diviso em zona ocupada e em zona no-ocupada, sob um governo residente em Vichy, dirigido pelo Marechal Ptain, os britnicos esboaram planos para mandar foras para Marrocos, Arglia e Tunsia, com o objetivo de repor os franceses na guerra. Mas a oportunidade de aplicar esses planos no viria enquanto a Gr-Bretanha estivesse s. Nos ltimos dias de 1941, aps o ataque japons a Pearl Harbor e a entrada dos Estados Unidos na guerra, Roosevelt, Churchill e seus EstadosMaiores haviam concordado, na "Conferncia Arcadia", em Washington, no planejamento conjunto da guerra; numa estratgia combinada, dando prioridade derrota da Alemanha; no desenvolvimento conjunto de recursos militares e econmicos; na concentrao de grandes foras americanas no Reino Unido para o ataque Europa; num desembarque na frica do Norte Francesa e na criao de um comando combinado para o Pacfico Sudoeste. No comeo de 1942, o Presidente Roosevelt anunciou o "Programa de produo para a Vitria": 45.000 avies, 45.000 tanques, 20.000 canhes antiareos, 15.000 canhes antitanques, 500.000 metralhadoras em 1942, e quase o dobro em 1943, com 8 milhes de toneladas em navios mercantes

no primeiro ano e 10 milhes no segundo. As perdas navais causadas pelos ataques japoneses haviam sido incapacitadoras, mas o poderio potencial para o futuro era vasto. Contudo, "futuro" era a palavra atuante e os primeiros meses de 1942 foram de desastre aps desastre. verdade que durante os meses de inverno os exrcitos soviticos, a fora principal para a derrota de Hitler, realizaram grandes ofensivas, limparam os acessos de Moscou e recuperaram muito terreno. Mas em janeiro Rommel, que fora repelido atravs da Cirenaica, reagrupara-se, retomara a iniciativa, frustrando uma planejada ofensiva britnica, reocupara Bengazi e avanara 480 km na direo do Egito, destruindo a 1 a Diviso Blindada britnica. Em fevereiro, Cingapura caiu. No comeo de maro foi a vez das ndias Orientais Holandesas; pelo final de maro, foi a Birmnia. Em fevereiro, todos os navios de um comboio de abastecimento para Malta foram afundados; s naquele ms os Aliados perderam 679.000 toneladas em navios mercantes, a mais alta em qualquer ms da guerra at ento. As foras britnicas do Oriente Mdio haviam sido enfraquecidas por transferncias de tropas para a ndia, no esforo de deter os nipnicos. Estas tinham de ser substitudas e reforadas. Diante dos avanos que os japoneses realizavam no Pacifico, os Estados Unidos tiveram de transferir para l foras navais do Atlntico, enfraquecendo as defesas contra os submarinos. De um modo geral, em abril de 1942 o futuro parecia negro. Somente uma coisa era certa: a fora, a longo prazo, das potncias que se uniam contra Hitler. Nesse momento sombrio, o Presidente Roosevelt enviou seu Chefe do Estado-Maior do Exrcito, General Marshall, e seu assistente especial, Harry Hopkins, a Londres, para discutirem com os britnicos um plano para a tomada da ofensiva contra a Alemanha na Europa Ocidental: a primeira grande ofensiva conjunta pelos Estados Unidos e a Gr-Bretanha. "Somente l", disse o Presidente, " que seus recursos combinados, terrestres e areos, podero ser desenvolvidos plenamente, para que se d Rssia o mximo apoio". A proposta principal era desembarcar na costa francesa em abril de 1943, com 30 divises americanas (9 blindadas) e 18 britnicas (trs blindadas), 5.800 avies e cerca de 7.000 barcaas de desembarque. Para transportar a fora e o equipamento necessrios da Amrica para o Reino Unido, 60% dos transportes seriam de outras nacionalidades que no americana. Paralelamente ao preparo da operao principal, cuja montagem demoraria um ano, deveria ser feito um plano de ao imediata, com as foras disponveis, se houvesse repentina desintegrao das linhas alems, ou se a resistncia russa aos seus ataques corresse o perigo de colapso. Esse plano revelava no arrojo de sua concepo a certeza do Presidente de que a derrota da Alemanha tinha de ser o objetivo principal e demonstrava o desejo que tinha de ver foras terrestres americanas lutando ao lado dos britnicos contra os alemes. Neste sentido, Churchill e os chefes de Estado-Maior britnicos acolheram o plano; mas tambm achavam que ele ignorava fatores vitais, em particular a necessidade de impedir que os japoneses chegassem ndia, e deixava pendente uma grande pergunta: o que as foras americanas e britnicas estariam fazendo entre abril de 1942 e abril de 1943 enquanto se concentravam para atacar a Europa? Elas no podiam simplesmente gastar o tempo preparando-se e observando os russos lutarem. Foi aventada uma operao limitada, como ao intermediria, tomada de uma cabea-de-ponte em Cherbourg, no comeo de outubro, como preliminar dos desembarques principais, a serem feitos na primavera seguinte. Outra sugesto apresentada preconizava um desembarque na frica do Norte Francesa, como j se discutira. Uma terceira, sugerida por Churchill, era desembarcar no norte da Noruega, que ele via como o nico mtodo de ao militar capaz de oferecer s foras soviticas cooperao efetiva. Nessa poca, os acontecimentos na Frente Oriental influenciavam militar e politicamente todo o planejamento americano e britnico. Conseguiriam os alemes, arrancando atravs do Cucaso, unir-se aos japoneses na ndia quando reiniciassem os ataques na primavera e no vero? Sucumbiria a Rssia tenso e seria obrigada a celebrar uma paz em separado com os alemes? Ou seriam os alemes repelidos? Entrariam os alemes em colapso diante da resistncia e do contra-ataque soviticos? O resultado dessas grandes batalhas seria decisivo para o desfecho da guerra. Todo o planejamento anglo-americano tinha de levar em conta a possibilidade de despachar a maior quantidade possvel de equipamento de guerra para a Unio Sovitica e a ao de emergncia, caso as coisas sassem excepcionalmente bem ou excepcionalmente mal na Frente Oriental. Esses problemas militares, de si muito srios, eram ainda complicados pela poltica. Independente da terrvel realidade militar, no se podia sequer pensar em deixar transcorrer um ano com os russos lutando e os aliados ocidentais aparentemente de braos cruzados, treinando para uma ofensiva a concretizar-se num futuro distante. Aos olhos dos neutros, das naes ocupadas e dos povos ameaados pela expanso da guerra,

tal inatividade no seria compreendida, ou melhor, seria interpretada como uma forma de consentimento a que a Unio Sovitica sangrasse at a morte, coisa que repugnava aos sentimentos do povo britnico, que admirava a luta dos soviticos e compreendia que em ltima anlise, a sua herica resistncia estava salvando a Gr-Bretanha; a presso poltica em favor de ao militar direta em apoio dos russos aumentou sistematicamente durante todo o ano de 1942. Nos Estados Unidos havia, naturalmente, marcante sentimento popular em favor de um ataque ao Japo o mais breve e eficazmente possvel; apesar disso, o governo americano inclinara-se prioritariamente para a derrota da Alemanha; mas um longo perodo de inatividade teria diminudo a resistncia ao desejo de travar primeiro guerra ao Japo. Na Austrlia e na Nova Zelndia, cujos soldados haviam desempenhado papel to relevante na luta contra os alemes e italianos, no Egito e na Cirenaica, o povo estava naturalmente preocupado com o crescente perigo do avano japons no Pacfico. Em princpio, os britnicos aceitaram o plano proposto pelo Presidente Roosevelt, salientando, no entanto, que ele no deveria pr em risco a resistncia ao Japo e, em especial, a defesa da ndia. Concordaram em iniciar imediatamente o planejamento conjunto para o desembarque de foras americanas e britnicas na Europa na primavera de 1943, embora abrigassem dvidas terrveis sobre a sua viabilidade. Com o intuito de aperfeioar a coordenao do movimento, Roosevelt e Churchill solicitaram a Stalin que enviasse representantes s discusses que se realizavam em torno do planejamento da guerra. Em maio, Molotov, ento Ministro do Exterior, visitou a Inglaterra, foi aos Estados Unidos e retornou Rssia, passando de novo pela Inglaterra. Resultaram principalmente dessa visita um Tratado de Aliana entre a GrBretanha e a URSS e a declarao pblica de que "se chegara a pleno acordo com relao urgente abertura de uma segunda frente na Europa em 1942" - empreendimento de srias conseqncias polticas. Assim, nos dias sombrios de abril de 1942 tomaram-se as primeiras providncias para virar a sorte contra Hitler na Europa Ocidental. Os Estados-Maiores Conjuntos de planejamento americano-britnico foram criados. A tarefa principal do rgo consistia em planejar o grande ataque atravs do Canal da Mancha, mas a ele tambm cabia preparar com velocidade algumas aes intermedirias, antes do fim de 1942. Logo se tornou claro que os britnicos tinham opinies diferentes a respeito. O General Marshall era francamente favorvel ao plano de uma cabea-de-ponte na Bretanha. Os britnicos preferiam a frica do Norte. Essas divergncias levaram a certa tenso entre americanos e britnicos. Entre os americanos importantes, sobretudo o General Marshall, havia uma crescente desconfiana de que os britnicos no eram totalmente favorveis invaso pelo Canal da Mancha, estando mais preocupados em defender seus interesses imperiais. Parecia que os britnicos, Churchill em particular, estavam sempre procurando alternativas "no muito honestas" que ocultavam alguns objetivos polticos a longo prazo, e a preocupao que revelavam com o Mediterrneo, o Oriente Mdio e a ndia levava disperso de esforos que impedia a concentrao de foras para um ataque decisivo. Os britnicos, embora acolhessem felizes o esprito ofensivo e a determinao dos americanos, consideravam-nos mal informados a respeito da realidade militar. Palavras rudes nesse sentido foram escritas pelo Chefe do Estado-Maior Imperial, como: "No era possvel levar muito a srio os 'castelos no ar' de Marshall... Estvamos beira do desastre total. A Austrlia e a ndia estavam ameaadas pelos japoneses; havamos perdido temporariamente o controle do Oceano ndico; os alemes ameaavam a Prsia e nosso petrleo; Auchinleck estava em situao precria no deserto, e os afundamentos por submarinos eram enormes... carecamos desesperadamente de navios mercantes e no podamos preparar operaes de vulto sem navios adicionais. Estes s poderiam ser obtidos abrindo-se o Mediterrneo e salvando um milho de toneladas pela eliminao da rota do Cabo da Boa Esperana". Enquanto o prolongado debate continuava atravs do Atlntico, os Aliados sofreram outra srie de reveses, alcanando Hitler o ponto culminante do sucesso. No fim de maio, os exrcitos alemes atacaram na frica e na frente russa. A 21 de junho, Tobruk caiu. A 23 de junho, quase 300 divises abriram caminho na direo do Volga e do Cucaso. A 24 de junho, Rommel cruzou a fronteira do Egito; por volta do dia 30, chegou s trincheiras de El Alamein, onde o 8 Exrcito Britnico finalmente resistiu, a apenas 64 km de Alexandria. A 23 de julho a ofensiva para o Volga e o Cucaso foi reiniciada. No comeo de agosto os alemes alcanaram os campos petrolferos a oeste do Cucaso (encontrando-os destrudos). Em meados de setembro, Stalingrado foi sitiada, chegando-se grande crise da guerra. As perdas no mar aumentavam. Nos dias 14 e 15 de junho, dois comboios tentaram chegar a Malta - um vindo do oeste, outro, do leste. Dos 17 navios, apenas dois chegaram ilha. No final de junho, dois teros de

um comboio que transportava suprimentos para a Unio Sovitica foram afundados. Na primeira semana de julho, perderam-se 400.000 toneladas de navios mercantes no Atlntico. Do outro lado do mundo houve um sucesso importante - a derrota dos japoneses em Midway, que alterou a situao estratgica no Pacfico, causando tambm srias perdas Marinha dos Estados Unidos, o que levou o Almirante King e os lderes da Marinha Americana a pensar um pouco mais, ainda que momentaneamente, no Pacfico que na frente europia. No comeo de agosto, foras americanas desembarcaram em Guadalcanal e Tulagi, nas Ilhas Salomo. Foram precisos seis meses para expulsar os japoneses e outro imenso sacrifcio em navios de linha e transportes. S nos primeiros dias da ofensiva os americanos perderam quatro cruzadores. Enquanto isso se verificava, a principal preocupao dos britnicos era concentrar foras no Egito e defender Malta, com o objetivo de assegurar a posse do Mediterrneo, ao mesmo tempo que criavam, no Reino Unido, condies para que dali sasse o grande ataque Europa. Os russos travavam enormes e desesperadas batalhas, suportando grandes baixas e voltando-se para seus aliados no Ocidente no s em busca de suprimentos como tambm de apoio efetivo. Os americanos estavam multiplicando suas indstrias e treinando milhes de homens para participar decisivamente da guerra. No entretempo, esforavam-se por deter os japoneses no Pacfico, ardendo de ansiedade pelo momento de combater os alemes, previsto para antes do fim de 1942. A pelo comeo de julho, o desacordo entre os Chefes de Estado-Maior americanos e britnicos havia criado um impasse, achando os primeiros que a maneira melhor e mais direta de atacar os alemes e aliviar a presso sobre os russos seria atravs da tomada de uma cabea-de-ponte no norte da Frana, em setembro de 1942 (esse projeto chamava-se "Malho"), e os britnicos, que isto seria um convite derrota para os exrcitos alemes, que eram maiores e mais bem equipados; eles estavam convencidos de que, nessa poca, no haveria nmero suficiente de barcaas de desembarque ou suficiente apoio areo de longo alcance, advogando a idia de que era essencial limpar o Mediterrneo, para apertar a corda no pescoo do Eixo. Nesse estgio havia o perigo de virem os Chefes de Estado-Maior americanos a afastar-se da estratgia de a Alemanha primeiro, para lanar o que pudesse no Pacfico. A presso para isto, por parte do Almirante Ernest King, Comandante-Chefe da Marinha e Chefe das Operaes Navais, estava sempre presente: ele concordara com a prioridade para a Europa, mas no a aceitava; sua preocupao principal era sempre o Japo. A situao foi resolvida pelos dois lderes polticos. Churchill abordou diretamente Roosevelt, salientando a impossibilidade - na sua opinio - da cabea-de-ponte no norte da Frana e as vantagens, polticas e estratgicas, de um desembarque na frica do Norte Francesa. Numa deferncia s opinies do seu prprio Estado-Maior, Roosevelt fez um ltimo esforo para mudar o ponto de vista britnico, mandando Marshall, King e Hopkins a Londres para defender o ponto de vista americano. Os britnicos no queriam ceder. Eles estavam em boa posio para impor seus pontos de vista, porquanto qualquer operao contra a costa europia, na data proposta, teria de ser, em grande parte, britnica, pois somente pequeno nmero de soldados americanos poderia estar preparado. Aceitando a posio britnica, o Presidente Roosevelt enviou novas instrues ao seu Estado-Maior: este deveria chegar a um acordo sobre alguma operao a ser iniciada em 1942. Das vrias alternativas, ele deu prioridade ocupao da frica do Norte Francesa. Os Chefes de Estado-Maior americanos concordaram em que seria melhor usar tropas americanas na frica Noroeste do que envi-las para o Oriente Mdio. Com certas reservas, admitiram que o planejamento da "Operao Tocha" se iniciasse imediatamente em Londres. O Presidente ignorou essas reservas e, a 25 de julho, comprometeu os Estados Unidos incondicionalmente. Depois da guerra, o General Eisenhower escreveu que os acontecimentos posteriores o haviam convencido de que "os que na poca consideraram a 'Operao Malho' insensata estavam corretos na avaliao que fizeram do problema". Os avies, de limitado raio de ao, ento disponveis no poderiam realmente proporcionar cobertura area perfeita. Ademais: "da operao no noroeste africano fluram benefcios para as naes aliadas que foram sentidos durante toda a guerra e ajudaram materialmente a conquistar a grande vitria quando se deu a verdadeira invaso, em 1944". Depois de muito desacordo, exasperao e desconfiana, desencadeados pela dura realidade da logstica processo que recebeu a influncia da obstinao de Churchill e da viso de Roosevelt - americanos e britnicos chegaram afinal a uma deciso que poderia dar as maiores vantagens estratgicas e polticas com

as foras e meios disponveis. A poltica desempenhara importante papel na deciso adotada e desempenharia outro ainda maior no planejamento e execuo. A deciso sobre a forma que a operao deveria tomar, a escolha das tropas de desembarque e a nacionalidade do comandante-chefe foi puramente poltica e assim deveria ser; os territrios a serem ocupados e seu regime interno impunham isto sos Aliados. Quando a Frana se esboroou ante a arremetida nazista e, usando o prestigio do provecto "heri de Verdun", o Marechal Ptain, os derrotistas que se encontravam frente do governo capitularam e cooperaram secretamente na diviso do pais; as possesses norte-africanas, Marrocos, Arglia e Tunsia, adquiriram importncia especial, prtica e emocional para os franceses colaboracionistas. Praticamente, elas eram importantes para preservar uma espcie de padro de vida na Frana desocupada; emocionalmente, serviam para manter a iluso de soberania e grandeza imperial francesas. A Frana no foi apenas dividida geogrfica e politicamente entre zona ocupada pelos alemes e zona governada por franceses; houve profundas dissenses internas. Muitos franceses, jamais aceitando capitulao, tentaram permanentemente encontrar meios de combater e frustrar os alemes. Outros, embora contrrios, aceitaram a situao por no verem outra sada exceto esperar por tempos melhores. Alguns viam vantagem em trabalhar no sistema vigente, por serem simpatizantes do nazismo ou porque o regime significasse a realizao de seus interesses pessoais. O governo de Ptain e Laval era, em essncia, pr-fascista e colaboracionista. Mas o prestgio do Marechal e a fachada de independncia que criou ajudaram muitos franceses a suportar o choque da derrota. Efeito amargo do trgico acontecimento foi criar em alguns franceses sentimento de dio contra o ex-aliado britnico que continuava lutando; e esse sentimento foi intensificado quando os britnicos tomaram ou destruram grande parte da esquadra francesa, para que no viesse a cair em poder dos alemes e que, em suas operaes contra a Alemanha, atacaram as possesses francesas de Dakar e Sria. Para muitos franceses, Ptain simbolizava pelo menos a permanncia da identidade francesa e, quem sabe, a possibilidade de independncia no futuro. Isto se aplicava particularmente aos oficiais da marinha, do exrcito e da fora area, que fizeram um juramento de fidelidade pessoal para com o Marechal como chefe do estado. Em parte alguma esses sentimentos em relao ao Marechal eram mais fortes do que na frica do Norte. At mesmo aqueles que sinceramente desejavam a derrota dos alemes, que eram maioria no seio da oficialidade do exrcito francs, ainda se consideravam rigidamente ligados a Ptain pela lealdade. Apesar disso, certos comandantes-de-exrcito tentaram conservar em boa forma as foras que puderam manter segundo os termos do armistcio e conseguiram ocultar aos inspetores nazistas do armistcio parte do equipamento que possuam. Outra complicao era a posio de De Gaulle e dos franceses combatentes. Alguns os acolhiam e mostravam-se dispostos a apoi-los; mas para a maioria, pelo menos dos oficiais, eles eram vistos como traidores. Muito diferente era, no entanto, a relao de Vichy com os Estados Unidos. Quando Ptain formou seu governo, em junho de 1940, o governo americano, ainda neutro, o reconheceu e manteve-se em estreito contato com ele. Durante os dois anos seguintes, os americanos valeram-se desse contato para tentar neutralizar a influncia alem nos territrios coloniais franceses e impedir que o Eixo viesse a utiliz-los e se apoderar da esquadra francesa, internada em Toulon. Eles organizaram o abastecimento de quantidades limitadas de bens para uso da populao civil na frica do Norte Francesa e criaram uma rede consular especial para supervisionar esse trabalho, mas que funcionava ativamente como Servio de Inteligncia. Tudo isso era coordenado pelo Cnsul-Geral Robert Murphy, que mantinha estreito contato com os lderes do governo francs, com os comandantes militares e com as correntes favorveis a De Gaulle que estivessem preparadas para agir em apoio dos Aliados. Ao abrigo do exerccio do controle da ajuda econmica, os doze vice-cnsules econmicos de Murphy mantinham-se em contato com agentes secretos dos Aliados, participando de subverso e espionagem. Eles fizeram contatos valiosos com as organizaes de resistncia, atravs das quais colhiam informaes necessrias ao planejamento das operaes e os agentes que delas pudessem participar. Naqueles anos de 1940 e 1941, a poltica dos Estados Unidos para com o governo de Vichy provocou certas dvidas e criticas dentro do pas, e muito mais na Gr-Bretanha. Nas fbricas e nas foras armadas, centros em que praticamente se resumia toda a atividade dos britnicos, no havia em geral tolerncia para com tal

poltica, tampouco para com aqueles que levaram a Frana capitulao e para com o governo dela resultante, cujos membros, no consenso quase unnime dos ingleses, no passavam de covardes, de traidores que os deixaram sozinhos e com os alemes s portas. O governo britnico, porm, no compartilhava dessa opinio. Para o Presidente Roosevelt, de cujas convices democrticas a ningum lcito duvidar, tal poltica era desagradvel, mas enquanto os Estados Unidos permanecessem neutros, era-lhe necessrio lev-la a cabo. E ele soube colocar esse aparente semicolaboracionismo a servio da causa aliada. O que os Aliados conseguiram desses dois anos de "ceias com o diabo" superou em muito quaisquer desvantagens polticas, bastando consignar a influncia que teve no planejamento e nos resultados da "Operao Tocha". Os acontecimentos provaram estarem errados aqueles que a criticavam. Nessa situao, era necessrio que os desembarques nas possesses francesas da frica do Norte parecessem operao inteiramente americana. Esperava-se que as foras francesas acolhessem a libertao e, na pior das hipteses, fizessem apenas uma resistncia simblica, se os desembarques fossem americanos. Se fossem, no entanto, britnicos, os franceses quase que certamente lutariam. Sobre isto, os Aliados estavam de acordo. verdade que, na poca, as foras que os Estados Unidos podiam oferecer eram relativamente pequenas, de modo que a maior parte das formaes de combate teria de ser, nos primeiros meses, britnica. Contudo, os britnicos concordaram em que a liderana da operao coubesse a um americano e, assim que decidida a sua realizao, propuseram o nome do General Marshall para comand-la e para orientar o prosseguimento do planejamento para a invaso da Europa, no ano seguinte. Embora o acordo estabelecido, o homem nomeado foi o Tenente-General Dwight D. Eisenhower, nomeado apenas comandante supremo da "Operao Tocha", permanecendo temporariamente vago o comando da incurso contra a Europa. Naquela poca, o nome de Eisenhower era praticamente desconhecido fora do exrcito americano. Ele chegara Inglaterra, em junho de 1942, como comandante das foras americanas no teatro de guerra europeu e encarregado de ali organizar a formao de um grande exrcito americano, trabalhando em conjunto com os britnicos no planejamento da invaso da Europa. A 24 de julho decidiu-se pela realizao da "Operao Tocha", embora, na poca, os Chefes de Estado-Maior americanos no compreendessem que haviam sido finalmente comprometidos pelo Presidente. A 26 de julho, o General Marshall, que estava em Londres, comunicou a Eisenhower a sua designao para comandante-chefe da "Tocha". Muita formalidade teve de ser superada para que a designao fosse confirmada, o que se deu afinal em comeos de agosto. Eisenhower recebeu a diretiva dos Chefes de Estado-Maior somente no dia 13 daquele ms - estabelecendo extensa operao anfbia que seria levada a cabo em outubro. A estava outra das caractersticas especiais dessa espantosa operao. Nascida de um longo processo de hesitao, desacordo e discusso, condicionada a sua aprovao por uma srie de consideraes de ordem essencialmente poltica, a mais ambiciosa operao de invaso martima, a maior da histria at ento, tinha de ser planejada, organizada e montada em trs meses. O planejamento, sob o comando de Eisenhower, comeou praticamente sem que ele esperasse ser nomeado para comand-la. Grandes atribulaes marchetaram o desenvolvimento dos trabalhos de planejamento. Discordncias entre os planejadores e chefes de Estado-Maior, entre chefes britnicos e americanos, a todo momento um atentado contra o sucesso da "Tocha". Apesar disso, a capacidade de organizao dos americanos, a experincia e teimosia dos britnicos, a habilidade e o tato diplomticos de Eisenhower - e a dose de sorte necessria a todos os grandes empreendimentos - produziram um sucesso triunfal; mas a sua realizao dentro do prazo foi tarefa excessivamente rdua.

O ProblemaNa diretiva dos Chefes de Estado-Maior Combinados a Eisenhower se continha a ordem para que "conseguisse, em conjunto com as foras aliadas do Oriente Mdio, total controle da frica do.Norte, desde o Atlntico at o Mar Vermelho". Isto seria realizado em trs estgios. Primeiro, ele deveria estabelecer posies firmes e mutuamente apoiadas na rea de Oran-Argel-Tnis, na costa norte, e na rea de Casablanca, na costa noroeste. Em seguida, deveria explorar essas posies fortificadas para obter o controle completo de toda a rea do Marrocos Francs, Arglia e Tunsia e, no caso de reao dos espanhis, tambm do Marrocos Espanhol. Finalmente, ele devia operar para leste, com o objetivo de "completar o aniquilamento das foras do Eixo que enfrentavam as foras britnicas no Deserto Ocidental e de intensificar as operaes areas e navais contra o Eixo no continente europeu".

A distncia entre Casablanca e Tnis, por estrada de 2.038 km. A rea coberta pela diretiva era superior a um e meio milho de quilmetros quadrados. parte a costa bastante plana e aberta do Atlntico, a maior parte da regio na direo do mar consiste de grandes cadeias de montanhas, altas e rochosas. Ao sul delas a terra vai-se transformando em deserto at que chega ao Saara. As praias da costa atlntica so batidas por ondas fortes, sendo raramente possvel levar um barco at elas. A linha costeira do Mediterrneo quase toda rochosa. Fator essencial nas operaes de desembarque a obteno imediata de algum tipo de porto que permita a manuteno e concentrao de formaes de combate, coisa inexistente nas praias dessas costas. Para dar cumprimento a essa operao e levar as tropas necessrias praia, seria preciso transport-las por uma distncia de 3.700 km, desde a Esccia, e 7.200 km, desde a costa leste dos Estados Unidos, bem como sincronizar a chegada aos pontos de ataque. Os trs pases tinham uma populao de quase 17 milhes de pessoas, a maioria delas residindo perto da costa e nas reas prximas aos portos. O Marrocos e a Tunsia estavam nominalmente sob o domnio absoluto dos governantes nativos, Sulto e Bei, mas, na realidade, sob o controle dos Residentes-Gerais Franceses, apoiados pelo Estado-Maior francs e por foras armadas francesas. No Marrocos Francs, dos 6.500.000 habitantes, apenas 175.000 eram franceses; na Tunsia, dos 2.750.000 habitantes, 110.000 eram franceses. A Arglia era formalmente um departamento da Frana Metropolitana e muito mais integrada na economia e na poltica francesas. Dez por cento da populao eram nativos ou cidados naturalizados franceses; o casamento entre franceses e argelinos era normal e reconhecido. Ao norte e oeste do Marrocos Francs situavam-se as reas muito menores do Marrocos Espanhol e Tnger, e se esperava que elas permanecessem neutras. Nos termos do acordo de armistcio com os alemes, as foras armadas que os franceses podiam manter e o tipo de equipamento que podiam usar eram muito restritos. O controle disso no era fcil para os alemes e italianos. Tinha de haver algumas foras para manter o pas devidamente controlado e para prevenir contra qualquer possvel ataque da Gr-Bretanha ou dos Estados Unidos. Por outro lado, no se podia abrir aos franceses a possibilidade de alguma ao eficaz contra o Eixo. Os termos do armistcio limitavam as foras terrestres a 120.000 homens, cerca de 55.000 no Marrocos, 50.000 na Arglia e 15.000 na Tunsia. Elas eram principalmente unidades de infantaria nativas (tirailleurs), comandadas por oficiais franceses, soldados de boa qualidade, com vigorosa tradio militar, que demonstraram coragem e habilidade, mais tarde, na campanha tunisina. Havia tambm algumas unidades da Legio Estrangeira, Chasseurs d'Afrique, e Zuavos (franceses nascidos na frica). As armas, munio e equipamento eram escassos e obsoletos. Permitia-se a manuteno de 12 unidades de artilharia de campanha motorizada, mas virtualmente sem qualquer canho mdio ou pesado. Para a cavalaria mecanizada havia entre 120 e 160 tanques obsoletos e 80 carros blindados no Marrocos, cerca de 110 tanques idnticos e 60 carros blindados na Arglia e 20 carros blindados na Tunsia. Segundo um relatrio que Eisenhower enviou a Marshall em meados de setembro, os efetivos operacionais da fora area francesa na frica eram de uns 500 avies. "Nem os bombardeiros nem os caas so do tipo mais moderno", disse ele, "mas os caas tm desempenho superior aos utilizados em porta-avies. Por conseguinte, se os franceses fizerem uma resistncia decidida e unificada ao desembarque inicial, sobretudo se concentrarem o grosso da fora area contra um dos dois portos principais, podem dificultar muito o desembarque naquele porto, se no impedi-lo". Todos esses territrios eram mantidos sob controle militar direto. A partir de 1940, quando o General Maxime Weygand foi enviado para l como Comissrio-Geral, altos oficiais do exrcito e da marinha tomaram o lugar dos civis em quase todos os principais postos administrativos. Essa poltica foi intensificada ainda mais em 1942, por iniciativa do Almirante Darlan. Em novembro de 1942, o General Alphonse Juin era Comandante-Chefe das foras francesas na frica do Norte. O Residente-Geral do Marrocos era o General Auguste Paul Nogus e, da Tunsia, o Vice-Almirante Jean-Pierre Estva. Um civil, M. Yves Chatel, era o Governador-Geral da Arglia, mas seu gabinete era chefiado pelo Vice-Almirante Raymond Fenard. Ainda havia foras navais importantes nos portos do noroeste africano. A principal esquadra francesa, objeto de ansiedade e desejo dos Aliados e dos alemes, ainda se encontrava em Toulon, no sul da Frana, onde ficara quando da capitulao, com o Almirante Darlan recusando-se a transferi-la dali para um porto

britnico, africano ou americano. Em Bizerta e Oran, no Mediterrneo, s havia destrieres, submarinos e barcos de pequeno porte; em Casablanca encontravam-se sete destrieres, oito submarinos, um cruzador equipado com canhes de 6 polegadas e o novo couraado, Jean Bart que, embora no estivesse inteiramente pronto, podia disparar seus canhes. Em Dakar, na extremidade oeste da frica, estavam o moderno couraado Richelieu e mais trs cruzadores. Havia cinco aerdromos bons e cinco secundrios no Marrocos, embora somente o de Port-Lyautey tivesse pistas de concreto. A Arglia dispunha de trs aerdromos primrios, perto de Oran, Argel e Bne, com outros menores em Blida, Stif, Tafaroui, Constantine e Tbessa. A Tunsia possua dois aerdromos primrios e dois secundrios, com vrios campos operacionais na plancie costeira. A Frana permanecia dividida, com todo o norte e uma faixa da costa ocidental que ia at a fronteira espanhola ocupados pelos germnicos, com um Q-G alemo em Paris; e uma zona desocupada, cobrindo o centro e o sul da Frana, governada por Vichy. A Espanha pr-Eixo ainda estava formalmente neutra, embora repleta de agentes nazistas. Assim, a Alemanha no tinha contato direto com o Mediterrneo pela Frana ou pela Espanha. No Mediterrneo Central, as foras areas do Eixo demonstraram todo o seu poderio quando investiram contra um comboio que ia para Malta, em agosto. Neste ataque, nove dos 14 navios mercantes integrantes do comboio se perderam, por diferentes causas. O Ministrio da Aeronutica britnico previu que em fins de outubro haveria 395 avies alemes e 530 italianos na Sardenha e na Siclia (os efetivos reais eram de 298 avies alemes e 574 italianos). A maioria desses avies estava a menos de 320 km de Tnis ou Bizerta. A sincronizao da operao e a escolha da data para o Dia "D" foram difceis. Importantes fatores exigiam que o incio do ataque se verificasse o mais breve possvel. Por motivos polticos, Churchill e Roosevelt mostravam-se ansiosos por acender a "Tocha" sem mais delongas. Churchill sugeriu que fossem dadas ordens a Eisenhower para desembarcar a 14 de outubro o mais tardar, "com as tropas disponveis e nos lugares que considerar adequados". Havia uma razo militar para a marcao da data do desembarque para o mais cedo possvel: era probabilidade de, reduzindo-se a integridade da luta na Frente Oriental, com a chegada do inverno, no comeo de novembro, os alemes transferirem tropas de l para a Europa Ocidental. Ademais, a estao chuvosa na Arglia e na Tunsia comea em princpios de novembro; os vales se transformam em atoleiros e toda a terra cultivada impossibilita o movimento de veculos com lagartas. Era necessrio estar em terra e at a Tunsia antes que isto acontecesse. Durante o outono haveria luta no Egito e far-se-ia novo esforo para repelir as foras do Eixo. Os atrasos prolongados tambm aumentariam muito o perigo de que os franceses viessem a saber dos planos. Por outro lado, se a operao devia ser total ou principalmente americana, haveria necessidade de tempo para que se fizesse concentrao e o transporte de tropas, manobras que demorariam, uma vez que quando se decidiu realizar a "Operao Tocha", a mobilizao e o treinamento Exrcito, da Marinha e da Fora Area dos Estados Unidos apenas comeara. As nicas unidades americanas que haviam chegado Irlanda do Norte eram a 34a Diviso (de Infantaria), a 1a Diviso Blindada e pequenos destacamentos da Fora Area, e assim mesmo, parcialmente treinadas. Embora se esperasse que os franceses oferecessem ligeira oposio aos americanos, era essencial que a fora reunida para o desembarque fosse to grande e to maciamente equipada, inclusive com armas e tanques modernos, que se justificasse a expectativa de uma simples defesa simblica e uma conquista rpida. As formaes americanas tinham de ser despejadas em terra em grandes nmeros e poderosamente apoiadas pela Fora Area e pela Marinha, de forma a demonstrar desde logo a inutilidade de qualquer oposio. Era preciso tempo para isto; as formaes necessrias ainda estavam sendo criadas e treinadas. Governo algum jamais tentara realizar uma expedio martima, envolvendo mil rs de quilmetros, para terminar num grande ataque seguido de desembarque. Eisenhower quem melhor descreve a dificuldade que enfrentava: "Um dos nossos grandes problemas era determinar exatamente quantos elementos de terra, mar e ar estariam disponveis para a operao. De ordinrio um comandante recebe, juntamente com fixao do objetivo geral, a dotao definida de foras, para que possa elaborar seu plano estratgico, apoiado por detalhados programas tticos, logsticos e de organizao. Neste caso, tudo era muito vago, a quantidade de recursos, o objetivo final etc. Declaradamente definido, s o ataque. A Marinha dos Estados Unidos, em particular, relutava em comprometer-se com uma estimativa dos vasos que poderia fornecer para a expedio. Era debaixo dessa enervante atmosfera de incerteza que tnhamos de trabalhar e planejar."

A escolha do local dos desembarques foi to difcil quanto a fixao da data certa, afinal dependente daquela escolha. A situao geogrfica tornava conveniente desembarcar as tropas o mais a leste possvel, no Mediterrneo. A nica ferrovia de bitola-padro ali existente percorria uma distncia de 960 km, desde a costa do Atlntico at Oran, mais 400 km at Argel e, finalmente, 800 km at Tnis. Outra ferrovia, esta de bitola estreita, ligava a Arglia central costa tunisina. Havia duas rodovias pavimentadas, que corriam de leste a oeste e que eram capazes de suportar trfego nos dois sentidos, com pontes com capacidade para at 25 toneladas. Uma dessas rodovias acompanhava a linha da costa mediterrnea e outra, paralela primeira, situava-se bem mais para o interior. A regio montanhosa no permitia que transportes a percorressem em qualquer direo. O equipamento ferrovirio estava em ms condies, os estoques de carvo eram reduzidos, e a frica francesa no produzia nenhum. Para poder utilizar as ferrovias, os Aliados teriam de levar grande quantidade de material e equipamento. Era essencial a tomada de portos utilizveis logo no primeiro ataque. O de Casablanca surgia decididamente como o melhor na costa ocidental do Marrocos e servia a toda a frica Noroeste, s que toda essa costa sofria o embate de grandes ondas vindas do Atlntico. Segundo os boletins mais otimistas, as barcaas s poderiam abeirar-se das praias apenas um dia em cada quatro, durante os meses de outubro e novembro. Na costa argelina, no Mediterrneo, os melhores portos importantes eram os de Oran e Argel, com portos secundrios utilizveis mais a leste, em Bougie, Philippeville e Bne. Quanto mais se penetrasse o Mediterrneo, maior o risco de ataques das foras areas do Eixo. A questo da cobertura area ocupou grande parte do tempo de estudos e clculos. Os comboios que se aproximassem pelo Atlntico precisariam de proteo; as foras de ataque teriam de contar com apoio areo e as unidades navais que iam no suporte dos elementos do ataque precisavam de proteo contra os avies baseados em terra. Poucos porta-avies estavam disponveis e a nica base terrestre das foras areas era em Gibraltar. A captura de aerdromos adequados nas primeiras 24 horas fazia-se, portanto, to necessria quanto a obteno dos portos. Qualquer que pudesse ser a reao das foras francesas, era certo que os alemes agiriam to logo soubessem o que estava acontecendo. Para eles, era apenas um pulo, da Siclia at a Tunsia. Os germnicos poderiam meter-se entre os exrcitos aliados que avanariam da Arglia para o leste e o 8o Exrcito Britnico, que vinha lutando do Egito para oeste, a menos que a "Operao Tocha" evolusse com rapidez suficiente para frustr-los. Considerando todos esses fatores, Bne destacava-se como objetivo conveniente por situar-se no extremo leste da rea dotada de cobertura area. Argel era um porto importante e o centro do controle poltico, econmico e militar. O de Oran era outro, ligado aos muito necessrios aerdromos, e, finalmente, Casablanca, por dispor de excelente terminal ferrovirio e por ser politicamente importante no tocante ao controle do Marrocos e ao exerccio de influncia sobre a Espanha. Mas as foras disponveis no dariam para atacar os quatro objetivos. Na verdade, se se usassem apenas tropas americanas, a escolha teria de limitar-se a um porto ou, no mximo, dois. Embora tudo tivesse de parecer puramente americano, qualquer pretenso maior fatalmente teria de incluir foras britnicas. Demorado estudo dos vrios fatores levou Eisenhower a inclinar-se por levar toda a sua fora para dentro do Mediterrneo. Ele considerava Tnis uma presa to grande que os desembarques iniciais deveriam incluir Bne - situado a apenas 120 milhas areas da Tnis. "Entrar no Mediterrneo sem estabelecer uma base em Casablanca implicava risco extra, mas eu achava que, j que estvamos arriscando tanto; poderamos muito bem jogar tudo num nmero s, com a idia de que Casablanca, quando isolada do leste, ou cairia sozinha ou seria capturada por colunas que retornariam de Oran pela estrada de ferro. Tambm fui influenciado pelos grandes riscos naturais implicados num desembarque em Casablanca." Assim, em fins de agosto, o Estado-Maior de Planejamento Combinado enviou aos Chefes de Estado-Maior Combinados o Esboo do Plano do Comandante-Chefe para a operao que no inclua Casablanca e foi com base nesse esboo que teve incio o planejamento detalhado. Ento, segundo palavras de Churchill, "Washington largou uma bomba", que suscitou nova divergncia entre britnicos e americanos. Nas primeiras discusses, realizadas no vero, os Chefes de Estado-Maior americanos e importantes polticos tinham insistido num desembarque, em setembro, nas costas da Frana e manifestado a desconfiana de que os britnicos estivessem sendo tmidos e relutantes. Ao examinarem a possibilidade da "Operao Tocha", mostraram-se excessivamente cautelosos, por no desejarem o perigo de

ter a Espanha em seu flanco; pareciam temer que, empenhando quaisquer foras em combate no Mediterrneo, estariam "metendo a mo em cumbuca". Eles propunham que se limitasse a operao a um desembarque em Casablanca e se eliminasse qualquer ataque imediato na costa mediterrnea, ou pelo menos que no se fosse alm de Oran. O planejamento foi suspenso repentinamente para que se resolvesse o problema surgido. Como acontece tantas vezes, a situao, embora muito sria, tinha o seu lado cmico. Os britnicos, pela boca de Churchill, pressionaram os americanos para faz-los sentir a necessidade de se operar no Mediterrneo. Eisenhower, o comandante supremo americano, partilhava desse ponto de vista e era favorvel a que se ignorasse Casablanca. O General Alan Brooke, Chefe do Estado-Maior-Geral Imperial britnico, embora advogasse a incluso de Argel nos planos, insistia tambm na incluso de Casablanca, por sentir a necessidade de mais portos e por causa da ameaa area representada pela Sardenha e Siclia contra a tentativa de desembarque em Bne. O General Mark Clark registra que o Almirante britnico Lyster, "um oficial chistoso, escolhido para comandar os porta-avies no Mediterrneo durante a invaso", disse que o que era de fato urgente era "explorar, explorar, explorar", avanando para leste, para Tnis, maior velocidade possvel; ele sugeriu que se levassem os 5.000 soldados disponveis em Malta imediatamente para Tnis, transportando-os em "bombardeiros despojados da sua aparelhagem". A 27 de agosto Churchill enviou vigorosa mensagem a Roosevelt salientando a importncia vital de Argel e o atraso que seria causado por qualquer mudana de plano. Respondendo, Roosevelt reiterou-lhe que os ataques iniciais tinham de ser feitos por uma fora terrestre exclusivamente americana, certo de que este fato daria como resultado menor resistncia por parte das foras francesas. "Eu me arriscaria a dizer que estou relativamente seguro de que um desembarque feito por britnicos e americanos resultaria em resistncia total por parte de todos os franceses na frica." Ele props fossem feitos desembarques simultneos, por tropas americanas, em Casablanca e Oran, seguidos, uma semana depois, de ataques britnicos mais a leste. Ele no acreditava pudessem tropas aerotransportadas e pra-quedistas alemes chegar em grandes nmeros a Argel ou Tnis at duas semanas aps o ataque inicial. Mas num aspecto importante o Presidente estava pisando em terreno falso. Embora fosse possvel fornecer tropas americanas para esses desembarques, todos os navios mercantes e foras navais para Oran teriam de ser britnicos, e patrulhas areas britnicas cobririam o Mediterrneo Ocidental. Churchill fez pleno uso destes dados em sua resposta. Pensando melhor, Roosevelt modificou sua posio e props: 1. Desembarques simultneos em Casablanca, Oran e Argel, usando soldados americanos (34.000) em Casablanca e Oran (25.000), e em Argel 10.000 soldados americanos para o desembarque na praia, seguidos, dentro de 24 horas, por soldados britnicos, para garantir o desembarque", desembarcando num porto "em navios no equipados para combate". 2. Para o desembarque em Casablanca a tropa sairia dos Estados Unidos e, para Oran e Argel, usar-se-iam unidades baseadas no Reino Unido. 3. Os Estados Unidos forneceriam cargueiros de combate para a fora de Casablanca e transporte para as tropas subseqentes, bem como transportes para 15.000 homens, mais 9 navios cargueiros para os soldados americanos sediados no Reino Unido. 4. Os Estados Unidos no poderiam fornecer mais foras navais alm das j disponveis no Atlntico. 5. As fontes britnicas tm de fornecer os navios mercantes necessrios ao transporte das foras de Oran e Argel, exceto os transportes americanos j no Reino Unido e destacados para a "Operao Tocha", as tropas adicionais necessrias para o ataque a Argel e as foras de acompanhamento e "as foras navais necessrias para toda a operao, exceto a fora naval dos Estados Unidos indicada acima". Disso resultou um meio-termo aceitvel para todos: desembarques simultneos em Casablanca, Oran e Argel, mas no em Bne, com cargueiros de combate suficientes, retirados das foras de Oran e Casablanca para dar fora adequada aos desembarques em Argel. A fora de Argel seria mista, americana e britnica. A 20 de setembro emitiu-se o plano baseado no meio-termo; a "competio transatlntica de ensaio" palavras de Eisenhower - custara trs semanas de atraso; a data marcada para o ataque no foi 14 de outubro,

nem mesmo 30 de outubro, como se sugerira mais tarde, e sim 8 de novembro. Isto deixava sete semanas para completar o planejamento, organizar e montar a operao. certo que j se fizera grande parte do planejamento; mas qualquer alterao de plano envolvia imenso trabalho de mudana nos detalhes em todos os nveis. Por exemplo, para cada formao ou grupo, num desembarque, impe-se que se pormenorize como cada homem e cada pea de equipamento devem ser embarcados num navio, de modo a ser desembarcado na ordem certa no local de destino. Toda vez que h uma mudana, tudo tem de ser revisto. Para dar um exemplo dos detalhes implicados, para cada grupo de brigada britnico includo no ataque a Argel, a "tabela de desembarque" enchia 28 pginas datilografadas, relacionando 422 nmeros de identificao, cada um destes especificando um grupo de soldados e seu equipamento, organizado na ordem em que cada grupo seria necessrio na praia. Com os objetivos e a data finalmente marcados, foi possvel reiniciar-se o planejamento definitivo. A organizao de Comando e Estado-Maior para isto foi formada das trs foras armadas dos dois paises. Eisenhower desde o comeo dos trabalhos de planejamento lutou pelo estabelecimento de uma organizao integrada que no abrigasse sentimentos de inveja e discriminao de nacionalidades, e nisso sem dvida reside a sua mais importante contribuio ao desenvolvimento harmonioso dos trabalhos dos Aliados de combate agresso do Eixo. "Na organizao, operao e composio do meu Estado-Maior, procedemos como se todos os seus membros pertencessem a um nico pas." A despeito de todas as dificuldades, ele se ateve a este conceito e o fez funcionar. Para seu subcomandante Eisenhower escolheu o Major-General Mark Clark, que fora mandado para o Reino Unido para comandar o 2o Corpo Americano. De incio, o plano previa a designao de um britnico para seu subcomandante, mas Eisenhower decidiu que, se algo acontecesse com ele, seu substituto deveria ser americano tambm, para conservar a "fico de que a investida era exclusivamente americana". Como Chefe de Estado-Maior ele tinha o General-Brigadeiro Walter Bedell Smith, do secretariado dos Chefes de EstadoMaior Combinados, com sede em Washington. Os Subchefes de Estado-Maior eram o General-Brigadeiro Gruenther (EUA) e o Brigadeiro Whiteley (Reino Unido); o principal oficial administrativo, Major-General Humphrey Gale, era britnico. Tanto a estrutura de comando como o planejamento foram muito influenciados pelas duas mais notveis caractersticas da "Operao Tocha", ou seja, o ataque a ser feito depois de milhares de quilmetros percorridos e as trs operaes de desembarque diferentes, separadas umas das outras por centenas de quilmetros, sendo que, uma delas, num mar diferente do das outras duas. Cada ataque deveria ser feito com nmero de soldados suficiente para uma concluso rpida, envolvendo foras de todas as armas, para que, uma vez em terra, a explorao fosse decisivamente feita. Os grupos tinham de ser capazes de operar independente do apoio de qualquer das outras duas. Para satisfazer a essas exigncias, as foras de ataque foram organizadas em grupos integrados por homens de todas as armas, designados Foras-Tarefas: Ocidental para Casablanca, Centro para Oran e Oriental para Argel. Para comandar o ataque a Casablanca foi escolhido o Major-General George Patton. Para Oran, que seria o alvo do 2o Corpo dos Estados Unidos, j no Reino Unido, Mark Clark teve de abrir mo do comando, pois era subcomandante aliado, nomeando-se o Major-General Fredendall. Para Argel, no planejamento original, a fora principal devia ser o 1 Exrcito Britnico, cujo comandante era o Tenente-General Kenneth Anderson, que recebeu esse comando devido a uma srie de mudanas. A primeira escolha havia recado no Tenente-General Alexander, porm mandaram-no consertar as coisas no Oriente Mdio. Seu substituto seria o Tenente-General Montgomery; mas, no dia seguinte sua nomeao, o Tenente-General Gott, comandante do 8o Exrcito, foi morto, e enviaram Montgomery para tomar seu lugar. O General Eisenhower exercia o comando das foras navais das duas naes atravs de um "Comandante Naval Aliado, Fora Expedicionria", o Almirante britnico Sir Andrew Cunningham, que respondia perante o Comandante-Chefe aliado pela segurana das comunicaes martimas da expedio numa grande rea do Atlntico oriental e do Mediterrneo ocidental. O Comandante-Chefe no pde estabelecer idntico arranjo para o ar, pois nesse setor havia dois comandos distintos: o General-Brigadeiro Doolittle exercia o comando das foras areas americanas, e o Marechal-do-Ar Sir William Welsh, o das britnicas. Ele tambm tinha dois consultores aeronuticos em seu Estado-Maior, o Vice-Marechal-do-Ar Sanders e o General-Brigadeiro Howard Craig. Essa disposio era insatisfatria, por fazer tbua rasa das lies aprendidas no Oriente

Mdio, onde a organizao de grandes foras areas, incluindo formaes britnicas e americanas, sob um comando unificado mostrara-se de grande valor. A "Tocha" foi a primeira operao em que foras navais e areas, americanas e britnicas, foram postas sob o controle de um s comandante para o perodo dos desembarques. Dos muitos problemas que tinham de ser resolvidos, e bem, o da sincronizao da transferncia de comando do Comandante-Chefe naval para o comandante da Fora Aliada. Para facilitar o planejamento das operaes "interarmas", os americanos criaram um Comit Marinha-Exrcito para a "Operao Tocha", com a funo de coordenar o trabalho, dentro dos departamentos do exrcito e da marinha, de aplicao das decises do Comandante-Chefe, ou dos comandantes da fora-tarefa do exrcito e marinha. Sujeito ao plano-diretor preparado pelo ComandanteChefe, todo o planejamento dos desembarques em Casablanca foi realizado nos Estados Unidos, sob a orientao do General Patton. O planejamento das operaes de Oran e Argel foi um pouco mais fcil para o Comandante-Chefe: pelo menos os Estados-Maiores de planejamento estavam no mesmo pas. O plano de ataque a Oran foi preparado por um grupo de planejamento do 2o Corpo dos Estados Unidos, em Londres, com o General Clark no comando at que Fredendall assumisse oficialmente o posto, a 10 de outubro. Os arranjos para Argel saram de maneira um pouco estranha. Nos primeiros momentos de sua elaborao, o planejamento foi realizado pelo 1 Exrcito Britnico, sob o comando do General Anderson. No comeo de setembro, quando se estabeleceu que os desembarques em Argel tambm deveriam parecer americanos, com todas as foras de desembarque, durante o ataque, sob o comando americano, o Major-General Ryder, comandante da 34 a Diviso de Infantaria americana, que se encontrava na Irlanda do Norte, foi designado comandante da fora de ataque. O planejamento do 1o Exrcito para o avano pela Tunsia tinha de ser includo nos planos de Ryder. Isto tambm implicava a nomeao de um subcomandante americano, recaindo a escolha no GeneralBrigadeiro Porter. Ryder tinha de planejar os desembarques, em cuja vanguarda iriam unidades da sua prpria diviso e da 39a americana, cabendo tambm a essas duas divises o fornecimento de todas as tropas de acompanhamento - sendo os transportes e apoio naval e areo britnicos. Ao Estado-Maior do General Anderson coube programar a passagem do comando quando as tropas tivessem desembarcado e estabelecer a maneira de disp-las em formao para as operaes terrestres subseqentes. Portanto, para Argel havia uma Fora-Tarefa Oriental (1o Exrcito) e uma Fora de Ataque Oriental (elementos de duas divises americanas). Trs grandes problemas de avaliao que iriam encontrar desafiavam os planejadores da "Operao Tocha": os planos talo-germnicos no Mediterrneo, a posio da Espanha e a situao da prpria frica do Norte Francesa. Em apenas uma rea havia contato real com o inimigo, no Egito onde era possvel uma estimativa precisa da concentrao e intenes do Eixo. Malta era uma grande preocupao para os altos comandos alemo e italiano, assim como para os britnicos. Na primavera de 1942, Hitler e Mussolini haviam decidido invadir Malta, aplicando no ataque tropas aerotransportadas da Siclia, somando quatro divises, com um acompanhamento martimo. A invaso deveria ser feita em julho. Mas naquele ms, Tobruk caiu; era possvel ento que Rommel conseguisse captura Egito e o Canal de Suez e Hitler adiou a operao de Malta at setembro. No decorrer do vero, quando o Eixo se esforava por concentrar foras para um ataque decisivo contra a posio britnica em El Alamein, a base de Malta, ainda uma vez, mostrou-se bastante til, impedindo o reforo de abastecimento do Afrika Korps. Atacando incessantemente com avies e submarinos, o Eixo tentou impedir que suprimentos chegassem ilha, e quase conseguiu. Em setembro, Alan Brooke escreveu: "Os suprimentos que possumos tero chegado ao fim meados de outubro. Futuras remessas pendero da ofensiva no Oriente Mdio do empreendimento na frica do Norte. Se nenhum dos dois obtiver xito, s Deus sabe como manteremos Malta viva." Mas ainda assim a ilha continuou a funcionar na destruio das comunicaes do Eixo e, meados de setembro, Hitler ordenou um ataque areo total como preliminar da destruio completa de Malta. Esse ataque teve incio a 10 de outubro e durou dez dias inteiros. J ento, a tentativa de Rommel de romper as defesas de El Alamein, em agosto, havia fracassado. Era certo que os britnicos no demorariam a atacar. Tambm em Stalingrado as coisas no iam bem. Era preciso grande esforo para restaurar o poderio do Eixo no Mediterrneo. Em abril de 1942 os alemes haviam advertido aos italianos que, se alguma coisa acontecesse na frica, a Itlia tinha de estar preparada para invadir a Frana metropolitana e a Tunsia. A possibilidade de os Aliados desembarcarem na Frana, na Espanha ou no Noroeste da frica havia sido examinada.

A Espanha foi um enigma durante toda a guerra. Para a "Operao Tocha", Gibraltar tinha um papel decisivo a desempenhar. Era evidente que um ataque pela Espanha, antes do incio da operao ou nos seus primeiros dias, poderia representar um desastre. Mas, ser que Franco agiria? Era possvel; mas seria provvel? As opinies, de ambos os lados do Atlntico, eram divergentes; polticos e estrategistas, do Exrcito e da Marinha, admitiam possibilidades as mais diversas. Em princpio, Franco era totalmente favorvel ao Eixo. Mas Hitler no conseguira convenc-lo a agir. Mesmo depois da queda da Frana, em 1940, a Espanha no se alinhou. E no outono daquele ano, quando os alemes examinavam a possibilidade do envio de um grupo de exrcitos pela Espanha para ocupar Gibraltar, a Arglia e a Tunsia, como parte de um plano para expulsar os britnicos do Mediterrneo, Hitler, numa demorada entrevista pessoal com Franco em Hendaia, no conseguiu convenc-lo a concordar. O ditador espanhol dirigia um pas empobrecido. Seus contatos com o resto do mundo e com os Estados Unidos eram-lhe economicamente vitais. Ele no se convencera de que os britnicos estivessem totalmente desprovidos de recursos, e dava a seus amigos do Eixo toda a ajuda que podia, exceto entrar na guerra. De sua atitude dependeria muito o sucesso, ou no, das operaes dos Aliados. Franco mantinha foras em reserva para o caso de a Espanha ser atacada. Embora os Chefes de Estado-Maior americanos, e em particular os almirantes, estivessem realmente temerosos de enfiar o pescoo na corda representada por Gibraltar e Tnger, eles tendiam, em geral, a ignorar o perigo espanhol. Atravs de Murphy, muita informao sobre a frica do Norte Francesa chegava ao QG de planejamento dos Aliados, informaes essas que influenciaram bastante as decises tomadas. Durante dois anos os contatos de sua equipe foram mobilizados para colher informaes sobre como se exprimia a opinio pblica, para descobrir o estado de esprito dos lderes militares e polticos nos vrios nveis. Gradativamente, escolheu os que eram hostis ao Eixo, estabelecendo com alguns deles estreitas relaes secretas. Muito relacionado, hbil e sagaz nas negociaes secretas, Murphy era uma verdadeira vocao de artista, manifesta muitas vezes nas tramas que contribura para a criao da "Operao Tocha". No comeo de setembro, Murphy foi a Estados Unidos, para apresentar relatrio ao Presidente e aos Chefes de Estado-Maior. Dali, partiu, disfarado de "Tenente-Coronel McGowan", para o Reino Unido, onde passou um dia em conferncia secreta com General Eisenhower, em sua casa de campo perto de Londres, fornecendo-lhe uma estimativa da cooperao civil e militar que foras invasoras americanas podiam esperar. Os problemas de segurana eram motivo de preocupao para Eisenhower. O Presidente autorizara Murphy a avisar aos amigos de confiana, com pelo menos 24 horas de antecedncia, sobre os desembarques e locais aproximados onde se verificariam. Havia um conflito entre a necessidade de impedir a revelao do segredo (com perda do elemento surpresa) e o tempo a ser concedido aos simpatizantes dos Aliados para que pudessem agir. Os relatrios de Murphy influenciara muito a soluo de um grande problema dos Aliados: com quem lidariam eles como principal lder francs no desembarque na frica do Norte? Como encontrar um francs representativo, livre da mcula do colaboracionismo, de posio suficientemente alta para aglutinar as foras armadas francesas e reduzir ao mximo a resistncia aos Aliados? Entre os lideres que se encontravam na frica do Norte Francesa aparentemente no havia nenhum. O General Juin elaborara planos para resistir a qualquer invaso da Tunsia e da Arglia oriental pelo Eixo. Ele era anti-Eixo - ou pelo menos pr-Frana, o que, em ltima anlise, significava ser pr-Aliados - mas relutava em desafiar as ordens que recebera do governo de Vichy. O General Nogus, o Residente-Geral do Marrocos, burlando a vigilncia dos inspetores alemes do armistcio, nos primeiros dias aps a queda da Frana, fizera o possvel para preservar as foras francesas que mais tarde retomariam a luta. Mas, na opinio de Murphy, dois anos de espera abateram-lhe o esprito, o que provavelmente faria que resistisse ao desembarque americano. Nem o Tenente-General Koeltz, comandante-de-exrcito da regio de Argel, nem o Major-General Barr, comandante-de-exrcito em Tnis, agiriam sem Juin. Tanto o Almirante Fenard, Secretrio do Governo na frica do Norte, como o Almirante Estva, Residente-Geral da Tunsia, eram instrumentos dceis de Darlan. Num nvel mais baixo, havia o Major-General Charles Mast, comandante da Diviso de Argel, e o MajorGeneral Emile Bthouart, comandante da Diviso de Casablanca, que eram firmemente pr-Aliados e estavam dispostos a lutar, mas, por no serem elementos de cpula, no seriam aceitos como autoridades pelos outros. Contudo, mantinham-se em estreito contato com o General Giraud, e foi este que os Aliados escolheram como a grande personalidade capaz de reunir em torno da causa aliada os demais soldados que ali se encontrassem.

Giraud tinha grande reputao no exrcito. Lutara e sobrevivera Primeira Guerra Mundial, servindo por muitos anos no Marrocos. Era comandante do 7 Exrcito em 1940. Sua fuga do Castelo de Koenigstein, na Saxnia, em abril de 1942, tornou-se famosa; vivia tranqilamente na Frana no-ocupada, reconhecendo oficialmente a autoridade do Marechal Ptain mas, na realidade, mantinha contato secreto com os patriotas de Argel e com os oficiais desmobilizados na Frana. Sua esperana era que houvesse um desembarque americano na zona desocupada, na primavera de 1943. Murphy foi autorizado a voltar para Argel e estabelecer contato entre Giraud e Eisenhower, providncia esta muito conveniente por vrias razes. As ordens de Eisenhower eram no sentido de entrar na frica do Norte Francesa, resistir s investidas do Eixo e avanar o mais rpido possvel para apoiar as foras britnicas que combatiam os alemes mais a leste. Seria um fardo muito pesado e uma perda de tempo e de recursos se tambm tivesse de governar a frica do Norte - e isto, de qualquer modo, no era trabalho para soldado. Para o futuro da Frana e o sucesso de eventual invaso da Europa, era essencial reunir os franceses da frica do Norte em torno dos Aliados. Por razes polticas, o rascunho da diretiva do Presidente para Murphy especificava que no se pensava em qualquer mudana na administrao civil do Marrocos, Arglia ou Tunsia. No era possvel confiar em qualquer dos homens de Vichy - e, de qualquer modo, isto seria politicamente inaceitvel para muitos dos aliados. Era necessrio encontrar algum. Giraud, com seu atrativo popular, sua integridade, seu desejo de resistir aos alemes e sua autoridade militar, parecia ser o homem certo. Mal chegou a Argel, Murphy teve outro contato oculto - desta vez de Darlan. O Almirante, assim dizia o personagem com quem Murphy se encontrou, estava sendo forado a escolher entre uma colaborao muito mais estreita com os alemes ou alinhar-se com os Estados Unidos, trazendo consigo a esquadra francesa. Para lev-lo a decidir-se em favor dos americanos, ele precisava de garantias seguras do vulto da ajuda americana que viria. (Em suas memrias, o General Juin lembra que Darlan dissera ao Almirante Leahy, embaixador americano em Vichy : "Se vocs tivessem cinco mil avies e cinco mil tanques para nos dar, talvez pudssemos chegar a um acordo".) Murphy recomendou ao seu governo que tentasse criar cooperao entre Darlan e Giraud. Contudo, o General Mast disse a Murphy que Giraud preferiria agir sozinho e assegurou-lhe de que o general poderia, por si s, reunir os franceses na frica do Norte, conseguir o apoio da esquadra francesa surta nos portos norte-africanos e tornar possvel aos americanos "entrarem sem praticamente disparar um s tiro". Assim, os planos prosseguiram com Giraud e sem Darlan; acontece que o destino tinha um curinga escondido, e reuniu estes dois homens contra as suas vontades. Assim, a partir de comeos de setembro, os planos para uma operao de trs pontas prosseguiram: aparentemente eles eram americanos, com o General Giraud como o homem que conseguiria o apoio dos franceses, por meio de uma transmisso radiofnica a ser feita no Dia "D".

Planos operacionaisO sucesso da "Operao Tocha" dependia de dois fatores principais: as foras navais e os navios mercantes disponveis, e Gibraltar - especialmente Gibraltar. Em seu livro Crusade in Europa, Eisenhower escreve: "Em novembro de 1942, excetuando-se a Fortaleza Gibraltar, os aliados no tinham um nico palmo de terra em toda a regio da Europa Ocidental e, na rea do Mediterrneo, nada a oeste de Malta. Gibraltar, que pertencia Gr-Bretanha, possibilitou a invaso da frica Noroeste." O Rochedo e sua baa proporcionavam um excelente ponto de reunio de navios mercantes, depsito e oficina de montagem de avies enviados encaixotados, um aerdromo para dar o nico apoio areo baseado em terra para a operao e um QG fortificado para o comandante-chefe. Gibraltar, seu Governador e Comandante-Chefe, o Tenente-General Mason-MacFarlane, e os comandantes naval e da aeronutica, passaram ao controle de Eisenhower, e todos os servios navais e areos foram postos disposio da "Operao Tocha". O Rochedo e sua baa tambm proporcionavam aos espies do Eixo toda a facilidade de obteno de informaes. O aerdromo ficava na fronteira espanhola, separado da Espanha pr-Eixo apenas por uma

cerca de arame farpado. Tudo o que acontecia podia ser visto por tipos vidos de informaes, com o auxlio de binculos. No era possvel qualquer camuflagem; tudo estava aberto aos avies de reconhecimento inimigos; e havia um bocado de coisas para ver. Desde o comeo da guerra comearam a ser construdas fortes defesas na fronteira espanhola. Abriram-se galerias no prprio Rochedo para o domnio do istmo. Foram instaladas mquinas de destilao na rocha slida para garantir o abastecimento de gua potvel e usou-se o aterro das galerias para aumentar a pista de pouso, transformando-a numa faixa de quase 1.600 m que se estendia baa adentro. A largura de 150 m permitia uma faixa central de 50 metros que servia de campo de pouso e decolagem; o resto era usado para taxiar, mas, para a "Operao Tocha", ela serviu finalidade vital de dar espao para a montagem e estacionamento de esquadres de avies. Durante vrias semanas, antes do inicio da "Tocha", cada metro foi ocupado por Spitfires ou por tambores de gasolina. s primeiras horas do Dia "D", mais de 350 avies estavam ali estacionados, asa com asa, tomando todo o espao disponvel. Ao p do Rochedo, a Baa de Algeciras transformou-se num ancoradouro para barcos auxiliares e embarcaes pequenas, navios-tanque, rebocadores, belonaves que se reabasteciam e que tinham sido reunidos antes que as foras de ataque penetrassem no Mediterrneo. Para todos estes e para muitas belonaves e alguns transportes que cruzariam o Estreito, tambm tinha de haver combustvel, gua e uma infinidade de outros servios. Apesar de toda essa atividade excepcional, os Aliados conseguiram manter o inimigo em dvida quanto s suas intenes. Mesmo assim, de surpreender que ele no tivesse feito uma tentativa sria de interromper, atravs de ataques pelo ar, esses preparativos. S para as trs foras de ataque, no contando as tropas de acompanhamento, cerca de 65.000 homens tinham de ser desembarcados em suas respectivas praias. Os navios mercantes e as marinhas aliadas foram alvo de enorme tenso. A fora-tarefa dos Estados Unidos estava h 16 dias no mar; os comboios de ataque que zarparam de Clyde, 13 dias no mar. Seis comboios que transportavam suprimentos essenciais para Gibraltar zarparam a 2 de outubro, seis dias antes de distribudos os planos finais para a operao! O que a histria oficial britnica descreve como "o imenso e complexo movimento por mar" envolveu cerca de 370 navios mercantes e mais de 300 belonaves. Esta quantidade s podia ser reunida pegando-se inclusive navios da Esquadra Metropolitana (a Home Fleet) britnica, reduzindo-se o volume das escoltas que comboiavam navios no Atlntico, suspendendo-se os comboios para a Rssia e os do Reino Unido para o Atlntico Sul. O programa mercante aliado, em todas as partes do mundo, foi prejudicado pelo afastamento do servio normal de grande nmero de transportes, de navios-depsito, de navios de abastecimento, rebocadores e outros vasos auxiliares que tiveram de ser afastados do servio normal. As Marinhas americana e britnica deveriam proporcionar fora de desembarque escolta e cobertura ao longo dos caminhos de acesso e cobertura e apoio aos desembarques. Um grupo naval britnico que estava no Mediterrneo, conhecido como Fora H, com trs navios de linha, trs cruzadores, trs porta-avies e 17 destrieres, deveria proteger o flanco norte da fora e impedir qualquer interferncia da esquadra francesa ou da italiana; uma vez iniciados os desembarques, estes navios deveriam estar disponveis para dar apoio ao ataque. Ao todo, os ataques reais poriam em ao 294 vasos de guerra, navios de transporte e de abastecimento; a Fora H elevou os nmeros envolvidos no Dia "D" da "Operao Tocha"- para 327. Para dar cobertura de longo alcance aos desembarques americanos na costa do Atlntico, um grupo naval britnico, composto de dois cruzadores e trs destrieres (Fora G), navegaria pelo Atlntico, ao sul dos Aores. A organizao do apoio areo inicial apresentou dificuldade, pois Gibraltar distava muito de qualquer dos pontos de ataque para que pudesse dar cobertura area aos desembarques. Os avies de Gibraltar deveriam ser usados para reconhecimento e fotografia, patrulhas anti-submarinas, ao contra vasos de superfcie inimigos e proteo aos comboios que se aproximassem do Mediterrneo ou que nele penetrassem em demanda costa marroquina. Na ltima dessas misses tambm haveria apoio dos aerobotes americanos baseados em Freetown. As outras importantes contribuies de Gibraltar seriam na transferncia de caas para aerdromos capturados no Marrocos e na Arglia, de modo a possibilitar o essencial apoio de avies baseados em terra s tropas do exrcito. Trs dias aps o desembarque, 160 caas deveriam voar para

Casablanca, 160 para Oran e 90 para Argel. Previa o planejamento que sete semanas aps o incio da operao o conjunto de avies de vrios tipos deveria atingir 1.244 aparelhos no Comando Areo Ocidental (Marrocos) e 454 no Oriental. Durante os ataques, o suporte areo seria fornecido pelos porta-avies. Em apoio dos desembarques ocidentais funcionariam um porta-avies de esquadra e quatro de escolta. Nos do Centro, Oran, haveria dois porta-avies de escolta, com um total de 27 aparelhos, e o porta-avies de esquadra Furious, destacado da Fora H, com 32 caas. Os desembarques do lado oriental contariam com um porta-avies de esquadra e um de escolta, somando 27 caas. Alm disso, poderia haver o apoio de mais dois porta-avies integrantes da Fora H, fornecendo um total de 77 aparelhos. Assim, at que fossem capturados aerdromos terrestres, o total de avies que poderiam estar disposio para o ataque aos objetivos no Mediterrneo seria de 163 aparelhos, que arcavam com a dupla incumbncia de proteger a esquadra e dar apoio s tropas de desembarque. Para o transporte da fora de ataque e os veculos de que ia necessitar, que montavam a mais de 9.000, a fora que se dirigia para Casablanca contava com 22 transportes americanos carregados para combate e 8 navios mercantes; a que objetivava a Oran, 15 navios de desembarque de infantaria, 3 navios de desembarque de tanques e 29 transportes de vrios tipos; a que visava Argel, 11 navios de desembarque de infantaria, cargueiros de combate (americanos) e 18 navios mercantes de vrios tipos. A maneira como armar esses navios foi outro problema que a equipe de planejamento teve de enfrentar. Dever-se-ia esperar uma oposio total aos desembarques, ou apenas uma resistncia simblica - ou nenhuma resistncia? A preparao do navio, a disposio a bordo das armas e do equipamento, varia de acordo com a dificuldade a ser superada no desembarque e essa preparao no pode ser improvisadamente feita depois que a frota tenha zarpado, mas antes, e com muita segurana. Decidiu-se supor o pior e estivar os navios para desembarques com oposio. A ampla disperso de objetivos, a caracterstica mais marcante da "Operao Tocha", evidenciou-se novamente nos planos tticos dos ataques, em especial nos que se dirigiriam contra Casablanca. Ao General Patton e ao Almirante Hewitt, comandante da Fora-Tarefa Naval Ocidental, coube a tarefa de dirigir o desembarque de cerca de 33.000 homens com seu equipamento, incluindo tanques mdios, depois de uma viagem de quase trs semanas, numa costa que lhes dava, na melhor das hipteses, uma chance em cinco de sucesso. Era necessrio capturar intacto e o mais depressa possvel o porto e o aerdromo prximo. Por motivos militares e polticos, eles tinham de desembarcar com uma fora poderosa, para sobrepujar as defesas e prover a base psicolgica para a negociao. Com fortes defesas voltadas para o mar, Casablanca no podia ser atacada diretamente: teria de ser tomada pela retaguarda, por foras que desembarcariam na costa. Mas que costa terrvel! parte a violncia das ondas que contra ela rebentam por quase todo o ms de novembro, a costa exposta e oferece muito poucas praias, mesmo que se possa chegar at l. Ademais, seria necessrio um porto para desembarcar os tanques. As nicas baias nela existentes so artificiais, protegidas por molhes. Das que ficam perto de Casablanca, nenhuma tinha profundidade suficiente nem tamanho para essa finalidade. Agadir e Mogador ficam a mais de 360 km de distncia; Safi, a 200 km para sudoeste; Rabat, a 85 km para nordeste, e Port-Lyautey, a 140 km a nordeste. Estes eram os nicos portos adequados ao desembarque dos tanques. Rabat, embora contasse com um bom aerdromo nas proximidades, tinha de ser excluda. Como capital do Marrocos, era a residncia do Sulto, fato que punha em risco o relacionamento da tropa atacante com a populao muulmana. Port-Lyautey possua um aerdromo com pistas de concreto e havia praias adequadas nas proximidades. A 30 km de Casablanca, para o interior, situa-se o pequeno porto de Fedala, porto de pesca e depsito de gasolina; ele no podia ser usado para descarregar os tanques, mas na baa em que se situa algumas das poucas praias ali existentes foram consideradas excees, em quilmetros de costa formada de escarpas e baixios. Assim, trs objetivos foram escolhidos para desembarques simultneos: para os blindados, Safi, situada a 200 km; para o ataque pelos grupos de combate de infantaria, Fedala, a apenas 30 km; para a tomada de um aerdromo at o anoitecer do Dia "D" da "Tocha", Port-Lyautey, a 140 km. Dois flancos do ataque estariam distanciados um do outro por mais de 320 km. As foras destacadas para integrar a Fora-Tarefa Ocidental eram as 3 a e 9a Divises de Infantaria (menos a 39a) Turma de Combate, que fora mandada para a Fora de Ataque Oriental, em Argel), a 2a Diviso

Blindada, os 70o e 756o Batalhes de Tanques, os 603o, 609o e 702o Batalhes de Destruidores de Tanques, as 21a e 72a Companhias de Sinaleiros e o 36o Regimento de Engenharia de Combate. O grupo de ataque a Oran funcionaria muito menos disperso, registrando-se entre os dois flancos dos atacantes a distncia de 80 km em linha reta. Oran situa-se na parte mais profunda de uma baa que tem quase 40 km de largura entre os promontrios, dentro de uma baa secundria cujas extremidades, a 13 km uma da outra, so penhascos abruptos que se transformam em colinas acidentadas, dominando e protegendo o porto. Essas colinas correm ao longo da costa por uma distncia de 50 km a oeste do porto e 32 km a leste, descendo abruptamente para a praia e dando pouca oportunidade para desembarque e muito menos para penetrar para o interior com veculos e canhes. Somente atrs do promontrio oeste da grande baa que se estendia uma plancie com praias abertas. Esta plancie era isolada de Oran pelas colinas mais altas, que chegavam quase s portas da cidade, tambm forte em defesas naturais do lado da terra. Ao sul das colinas costeiras, a plancie contm uma srie de lagos salgados (sebkras), dos quais o maior, o Sebkra d'Oran, estendendo-se do sul para oeste do porto, tem cerca de 40 km de comprimento e at 10 km de largura, ocupando virtualmente todo o terreno plano naquela rea. No vero ele se contrai dificultando o acesso ao longo da costa; na estao chuvosa ele se alarga e fica mais lamacento. Ao longo da sua margem norte h uma estrada macadamizada (estrada de rodagem com brita) e uma ferrovia. A maior parte dessa distncia, de mais de 32 km, um desfiladeiro entre a margem do lago e as encostas sul das colinas, ficando mais largo ou mais estreito conforme o tempo e o estado da costa. Era tambm necessrio encontrar em Qran um porto para o desembarque dos tanques mdios. O transporte disponvel para a fora inclua trs petroleiros modificados para desembarcar veculos pela proa (foram os precursores dos famosos navios de desembarques de tanques-TLS), mas s podiam desembarcar blindados leves, pois os tanques mdios eram grandes demais para a abertura de sada desses barcos. Havia no entanto, um pequeno porto em Arzew, na baa situada logo a leste da baa de Oran e a cerca de 40 km da cidade de Oran por estrada de rodagem. parte as dificuldades de ordem geogrfica, toda a parte interna da baa de Oran era dominada por canhes costeiros fortificados. Qualquer tentativa de desembarcar na prpria baa estava fora de cogitao. Como acontecia em Casablanca, era necessrio desembarcar em flancos muito separados e atacar pela retaguarda. Tambm ali fariam trs desembarques. direita, 45 km a oeste de Oran, em Mersa Bou Zedjar, encontravase a primeira praia adequada, que tambm tinha espao, para o interior, onde se poderia movimentar as tropas e uma sada para a regio situada atrs da praia. Dali corre uma estrada que passa por uma abertura nas colinas e se liga estrada principal, ao longo da margem do Sebkra. A praia era boa para as barcaas de desembarque de blindados leves. No centro, os desembarques se dariam na extremidade ocidental da plancie situada a oeste de Oran, mas fora da prpria baa de Oran, junto aldeia de Les Andalouses, que empresta seu nome plancie. Dali, sai uma estrada que leva para o interior