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Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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OBS: Na jurisprudência citada, sempre que não houver indicação do tribunal, entenda-se que é do Superior Tribunal de Justiça.
Índices
Ementas – ordem alfabética
Ementas – ordem numérica
Índice do “CD”
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Tese 315
RÉU REVEL CITADO POR EDITAL – SUSPENSÃO DO CURSO DO
PRAZO PRESCRICIONAL – ARTIGO 366 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL – SUJEIÇÃO AO TEMPO DA PRESCRIÇÃO PELO MÁXIMO DA
PENA COMINADA AO CRIME – INADMISSIBILIDADE
O período de suspensão de que trata o artigo 366 do Código de Processo
Penal não está sujeito ao tempo da prescrição em abstrato, pois, do
contrário, o que se teria seria uma causa de interrupção e, não, de
suspensão
(D.O.E., 05/08/2009, p. 52)
Cancelada na R.O.M. de 03/02/2011, conforme Aviso nº 076/2011, publicado no D.O.E. de
076/2011-PGJ, p. 46/47.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA
SEÇÃO CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO, nos autos do Recurso em Sentido Estrito nº 993.08.048501-1
– Comarca de Piracicaba, em que figura como recorrente a JUSTIÇA
PÚBLICA e como recorrido J. A. D. S., vem perante Vossa
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Excelência, com fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas “a” e “c”,
da Constituição da República, artigo 255, § 2o , do RISTJ, artigo 26 da
Lei nº 8.038/90 e artigo 541 e parágrafo único do Código de Processo
Civil, interpor RECURSO ESPECIAL para o Colendo Superior Tribunal
de Justiça, contra o v. acórdão de fls. 38, pelos motivos adiante
aduzidos.
1. A HIPÓTESE EM EXAME
Pela r. decisão de fls. 27/28, o MM. Juiz de Direito da
Terceira Vara Criminal da Comarca de Piracicaba, determinou a
suspensão do processo, nos termos do artigo 366 do Código de
Processo Penal, bem como do lapso prescricional, pelo período fixado
no artigo 109 do Código Penal, observada a pena máxima cominada
para a infração.
Inconformado, o representante do Ministério Público
recorreu em sentido estrito, sustentando que o artigo 366 da lei
processual não criou uma forma de imprescritibilidade, como previsto
na Constituição da República, eis que o lapso prescricional poderá
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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retomar o seu curso, quando o acusado comparecer em juízo ou
constituir defensor (fls. 02/08).
Contra-arrazoado o recurso (fls. 22/24), a r, decisão foi
mantida no juízo de retratação (fls. 29).
O parecer da Douta Procuradoria de Justiça foi pelo não-
provimento do agravo (fls. 31/33).
A Sétima Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, por votação unânime, negou provimento ao
recurso, de conformidade com o voto do relator (fls. 38).
Eis o voto do Relator:
“V o t o n ° 8 4 6
R e c o r r e n t e : Ministério Público do Estado de São
Paulo
Recorrido: J. A. D. S.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Cuida-se de Recurso em Sentido Estrito tirado pelo
representante do Ministério Público contra a decisão
copiada a fls. 27/28, que ao aplicar o disposto no art. 366,
do CPP, decorrência do não atendimento à citação editalícia
do denunciado, que também não se fez representar por
advogado, suspendeu o processo, bem como o lapso de
prescrição, tomada em conta a pena máxima, in abstracto,
disposta no preceito secundário da norma restritiva atribuída
ao recorrido na exordial acusatória.
Sustenta o recorrente que tal decisão fere a lei e seu
espírito, que de forma alguma criou nova regra de
imprescritibilidade.
Recurso processado e contrariado.
Aportando os autos nesta Instância, a Procuradoria de
Justiça opina pelo provimento do recurso.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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É o relato do quanto necessário.
No meu modesto entender o recurso não prospera,
sempre preservado o respeito do entendimento dos ilustres
e cultos representantes do Ministério Público.
A questão não é nova, e desde o nascedouro trouxe
acirrado debate.
Talvez por isso, já lembrava Alberto Silva Franco, in
Suspensão condicional do processo, Boletim IBCCRIM, n°
42 - Especial, junho, 1996, p. 02, que a suspensão do
processo ao acusado, citado por edital, que não tenha
comparecido em Juízo, nem constituído advogado é
acompanhada da suspensão do lapso prescricional. Isto
quer dizer que o prazo de prescrição, recomeçado com o
recebimento da denúncia ou da queixa (causa interruptiva),
deixa de fluir a partir da suspensão do processo e essa
causa impeditiva mantém seus efeitos sem nenhuma
limitação temporal. Somente quando se dê a presença do
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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acusado é que o prazo prescricional volta a fluir, somando-
se, no prazo prescricional total, o tempo decorrido até a
suspensão do processo. É evidente a impropriedade do
texto legal que cria, de modo oblíquo, mais um caso de
delito imprescritível, fora das hipóteses referidas nos incisos
XLII e XLIV da Constituição Federal (o racismo e a ação de
grupos armados, civis e militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático).
Figure-se a hipótese de alguém que tenha sido
processado por infração ao art. 129 do Código Penal e que
tenha sido citado por edital, não tendo constituído defensor.
Suspensos o processo e a prescrição, inexistente
nenhum termo final da causa impeditiva, o acusado poderá
ser julgado pelo mencionado delito vinte ou trinta anos após
sua prática. Assim, uma infração penal de pequena
lesividade social poderá ficar, por tempo indefinido, como
uma espada de Dâmocles, sobre a cabeça de um acusado.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Figure-se, agora, a hipótese de alguém processado
por igual infração penal e que tendo sido citado
pessoalmente, não tenha comparecido em Juízo. Declarado
revel, o processo terá curso sem sua presença e se não
tiver sido condenado até quatro anos após o recebimento
da denúncia, estará extinta a punibilidade do fato delitivo em
virtude da prescrição da pretensão punitiva estatal. O não
comparecimento justificará um tratamento tão
arbitrariamente desigual entre o acusado citado
pessoalmente e o acusado citado por edital, por outro lado,
o desatendimento à citação por edital poderá fazer com que
o desvalor social e jurídico que mereceu um dia o fato
criminoso possa manter-se tempos afora com a mesma
força?
Dai porque me parece mais consentâneo com o
espírito da lei que a eternização do feito, e também do
poderio acusatório do Estado, somente retomado com o
comparecimento do acionado, implique na idéia de que o
legislador disse menos do que pretendia (dixit minus quam
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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voluit), de forma que à doutrina e à jurisprudência coube o
papel sempre relevante de proceder à interpretação da
norma frente aos princípios norteadores do processo.
Assim, é predominante, na doutrina e na
jurisprudência, o entendimento de que o tempo máximo da
suspensão do curso do prazo prescricional deve
corresponder àquele fixado nos incisos do artigo 109 do
Código Penal, observada a pena máxima cominada em
abstrato para a infração penal praticada.
Damasio Evangelista de Jesus pondera que o prazo
da suspensão da prescrição não pode ser eterno (...). Se,
em face do crime, o Estado perde, pelo decurso de tempo a
pretensão punitiva, não é lógico que, diante da revelia,
pudesse exercê-la indefinidamente. Por isso, entendemos
que o limite da suspensão do curso prescricional
corresponde aos prazos do artigo 109 do Código Penal,
considerando-se o máximo da pena privativa de liberdade
imposta abstratamente. (...) Cremos constituir um critério
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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justo. Se, para permitir a perda da punibilidade pela
prescrição, o legislador entendeu adequados os prazos do
art. 109, da mesma forma devem ser apreciados como
justos na disciplina da suspensão do prazo extintivo da
pretensão punitiva, (...) Terminado o prazo de suspensão da
prescrição, recomeça a correr, levando-se em conta o
máximo abstrato da pena privativa da liberdade e o
tempo anteriormente decorrido.
A ação penal entretanto, continua suspensa.
(Prescrição Penal, Ed. Saraiva, 16ª. edição, 2003).
E, conforme bem elucidado por Júlio Fabbrini
Mirabete, não é possível, porém, ter a suspensão do prazo
prescricional como indefinida e permanente, uma vez que
tal solução levaria à imprescritibilidade, só possível nas
exceções previstas na Constituição Federal (art. 5º, XLII e
XLIV). Não havendo a lei delimitado o prazo máximo de
suspensão, deve-se considerar o prazo máximo previsto
para a prescrição, ou seja, 20 anos (Art .109, I, do CP) ou,
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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como já se tem decidido, prazo previsto para a prescrição
punitiva, com base no máximo da pena cominada
abstratamente para o crime. (Código de Processo Penal
Interpretado, 7ª. Ed., Atlas, pág. 787).
Nesta toada, a jurisprudência não discrepa de tal
entendimento.
No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:
Recurso em Sentido Estrito n° 1.004.0993/2-00 - Santos -
rei. Desembargador Antônio Manssur; Recurso em Sentido
Estrito n° 009975903/9 - São Paulo - rei. Desembargadora
Maria Thereza do Amaral; Recurso em Sentido Estrito n°
1.172.393.3/6-00 - Piracicaba - Ricardo Cardozo de Mello
Tucunduva; Recurso em Sentido Estrito n° 1.134.306.3 –
Santos - Desembargador Wilson Barreira; Recurso em
Sentido Estrito n° 1.144.609-3/3 - Piracicaba - Rel.
Desembargador Juvenal Duarte.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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E, no Superior Tribunal de Justiça: STJ-5ª. Turma, HC
n° 39125 / SP, rel. Min. Félix Fischer, j . 17.05.2005, DOU
05.09.2005; STJ-5a Turma, HC 25.734/SP, rel. Min. José
Arnaldo da Fonseca, j 11.11.2003, DOU 09.12.2003; STJ-
5ª. Turma, HC n° 34.245/SP, rel. Min. Gilson Dipp, j
07.10.2004, DOU 16.11.2004; STJ-6ª. Turma, REsp. n°
220.230/SP, rel. Min. Fernando Gonçalves, j 03.12.2001,
DOU 04.02.2002; STJ-5a Turma, RHC n° 7.052/RJ, rel.
Min. Félix Fischer, j 07.04.1998, DOU 18.05.1998; Habeas
Corpus n° 31801/SP, 6ª Turma do STJ, rei. Min. Hamilton
Carvalhido, j. 16.12.2004, unânime, DJ 06.02.2006.
Não me descuro que recentemente, no julgamento do
Recurso Extraordinário n° 460.971-1/RS, a Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, em
voto da relatoria do eminente Ministro Sepúlveda Pertence,
deixou assentado entendimento diverso sobre a questão.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Contudo, pondero que malgrado a decisão seja mais
um norte de pensamento, não vem a expressar e
determinar o entendimento majoritário a que me filio.
De tal forma, entendo incensurável a decisão, que
proponho a manutenção.
Ante o exposto, e de tudo o mais que dos autos
consta, NEGO PROVIMENTO ao recurso.
E como voto e proponho o julgamento.
MARCÍO LÚCIO FALAVIGNA SAUANDAG
RELATOR” (fls. 39/45).
Foram opostos Aclaratórios pelo Ministério Público, para
sanar omissão relativa à análise dos incisos XLII, XLII e XLIV do artigo
5º da Constituição da República (fls. 48/54), os quais foram rejeitados
nos seguintes termos:
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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“V o t o n° 978
Embargante: Ministério Público
Cuida-se de embargos declaratórios que o
representante do Ministério Público apresenta frente ao v.
acórdão, sob o prisma da omissão, na medida em que a
Turma não analisou com percuciência o conteúdo do
disposto nos incisos XLII, XLIII e XLIV, do art. 5º, da CR/88,
e art. 366, do CPP.
É o relato do quanto necessário.
Aviados a tempo e modo, os embargos merecem
conhecimento.
Porém, no mérito, a rejeição se impõe.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Com o devido respeito ao subscritor do recurso, não
há omissão no julgamento que mereça saneamento.
Como sabemos, o julgador não está obrigado a
discorrer sobre todos os regramentos legais ou todos os
argumentos alavancados pelas partes. As proposições
poderão ou não ser explicitamente dissecadas pelo
magistrado, que só estará obrigado a examinar a contenda
nos limites da demanda, fundamentando o seu proceder de
acordo com o seu livre convencimento, baseado nos
aspectos pertinentes à hipótese sub judice e com a
legislação que entender aplicável ao caso concreto.
(Recurso Especial n° 792.497 - RJ, rel. Ministro Francisco
Falcão, j. em 10.11.2005).
No mesmo sentido: REsp. n° 61.999/DF; REsp.
155.259/DF; REsp. 76.493/DF; REsp. 59.119/DF; AGREsp.
n° 109.122/PR.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Daí porque se mostra lapidar a lição de Paolo Tonini,
lembrada pelo Desembargador Roberto Midolla, no
julgamento da Apelação n° 1.470.861/9-00: Discorrendo
sobre a necessidade de fundamentação nas decisões
judiciais, que "constitui uma conquista da nossa civilidade
jurídica", explica Paolo Tonini, exímio professor de Florença,
como deve ser entendida a exigência de motivação: "Isso
não significa que o juiz deve argumentar sobre todo e
qualquer detalhe, o que acarretaria motivações redundantes
e substancialmente inúteis. É necessário que o juiz exponha
a motivação de tudo que é relevante, vale dizer, de todas as
escolhas que influenciem o êxito final da controvérsia e de
todas as premissas de seu raciocínio que foram
racionalmente colocadas em questão" (cf. La prova penale,
tradução brasileira de Alexandra Martins e Daniela Mróz,
sob o título A Prova no Processo Penal Italiano, 1ª. ed., RT,
2002, pág. 104) .
E prossegue o culto Desembargador: Efetivamente,
vem como luva para o caso a lição contida no aresto
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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assim ementado: "a sentença deve analisar as teses da
defesa, a fim de a prestação jurisdicional ser exaustiva.
Urge, todavia, ponderar se o julgado encerra conclusão
inconciliável com a referida tese, desnecessário fazê-lo
expressamente. A sentença precisa ser lida como um
discurso lógico. Não há espaço para itens supérfluos"
(STJ, 6ª. Turma, REsp. 47.474-4/RS, rel. Min. Luiz
Vicente Cernicchiaro, in DJU de 24/10/94, pág. 28.790,
grifei). Em outras palavras: "A sentença deve ser um
todo lógico, embora sem o rigor que alguns querem"
(Magalhães Noronha, Curso de Direito Processual
Penal, 28ª. ed., Saraiva, 2002, n. 123, pág. 287, in fine).
No mesmo teor há outros arestos: 1) "Não cabe ao juiz
responder um a um os argumentos da defesa. O que lhe
compete apreciar e decidir, sob pena de nulidade, são
as teses hábeis levantadas pela acusação ou pela
defesa" (TACrimSP, Ap. 541.177-4, 7ª. Câm., rel. Juiz
Hélio de Freitas, in Boletim Mensal de Jurisprudência,
70/7); 2) "Nula não é a sentença que, implicitamente,
aprecia os argumentos das alegações finais"
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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(JTACrimSP, 89/443); 3) "A sentença, desde que
preencha os requisitos do art. 381 do Estatuto
processual, não pode ser considerada nula porque se
omitiu o magistrado de apreciar alguma alegação não
substancial da defesa. O princípio do duplo grau de
jurisdição, que está em consonância com o principio da
ampla defesa, não diz respeito a detalhes do processo,
a argumentos minuciosos aventados pela defesa, mas
representa, tão só, a possibilidade de a sentença ser
reapreciada, como um todo, em segunda instância"
(RJDTACrimSP, 24/148); 4) "O fato de o julgador não ter
se dedicado a rebater cada uma das teses da defesa
não enseja a nulidade do julgado, pois este não está
obrigado a se debruçar sobre cada uma das teses
defensivas ou acusatórias trazidas aos autos, quando
encontra motivo suficiente para fundamentar a decisão
naquilo que entenda pertinente. O que se impõe é a
consideração da causa demonstrando-se as razões do
decisum.“ (RT, 743/609); 5) "O que se exige é que o réu
saiba o raciocínio em que se assentou a conclusão,
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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para que possa, em seu pedido de inconformismo,
alinhar as falhas que embasam o decisum” (JTACrimSP,
83/494).
De tal forma, não se pode falar em omissão pelo
simples fato de a Turma não haver dissecado o conteúdo
das disposições legais mencionadas, pois do corpo do
acórdão se extrai conclusão clara, séria e firme que a elas
se remete, e com as mesmas se mostra inconciliável, dando
resolução ao tema posto em análise.
Portanto, não acolho os embargos em seu mérito.
Acredito que mais, seja desnecessário aduzir, posto
que nada mais pertine à análise, como forma de dirimir
controvérsia posta em julgamento.
Diante do exposto, e de tudo o mais que dos autos
consta, NEGO PROVIMENTO aos embargos declaratórios.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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É como voto e proponho o julgamento.
MÁRCIO Lúcio FALAVIGNA SAUANDAG
RELATOR” (fls. 58/62).
Ao limitar a suspensão do lapso prescricional, pelo
período previsto no artigo 109 da lei penal, considerada a pena máxima
prevista para o crime, a Douta Turma Julgadora, além de negar
vigência ao artigo 366 do Código de Processo Penal, deu interpretação
diversa da que lhe tem atribuído o Supremo Tribunal Federal,
autorizando, pois, a interposição deste recurso, com amparo nas
alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional.
2. A CONTRARIEDADE A DISPOSITIVO LEGAL
Dispõe o artigo 366 do Código de Processo Penal:
“Se o acusado, citado por edital, não comparecer,
nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo
e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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determinar a produção das provas consideradas
urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva,
nos termos do art. 312”.
O Egrégio Tribunal “a quo” limitou a suspensão do lapso
prescricional, pelo período previsto no artigo 109 da lei penal,
considerada a pena máxima prevista para o crime.
Contudo, assim decidindo, inevitavelmente negou
vigência ao disposto no artigo 366 do Código Processual, pois criou
regra de interrupção do lapso prescricional, não contenplada na lei
processual.
De fato, não há que se confundir o instituto da suspensão
com o da interrupção: no primeiro, cessa-se o prazo, considerando-se
o período decorrido, quando da retomada; no segundo, a cessação
implica a desconsideração do lapso anterior, com o início de novo
prazo.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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A hipótese aventada no v. acórdão recorrido – suspensão
pelo período previsto no artigo 109 da lei penal, considerada a pena
máxima prevista para o crime, seguida do início de nova contagem –
corresponde à interrupção do prazo que, entretanto, não foi
contemplada na lei processual penal, pois o artigo 366 disciplinou
hipótese de suspensão, sujeitando a retomada do lapso prescricional a
evento futuro e incerto, qual seja, o comparecimento do acusado ou a
constituição de defensor, para fins de efetividade da amplitude de
defesa, mesmo após a edição da Lei nº 11.719, de 20 de junho de
2008.
Em suma: o artigo 366 da lei processual não trata de
suspensão do lapso prescricional “ad eternum”, eis que a retomada
está sujeita às hipóteses acima.
Nessa linha CÉSAR ROBERTO BITENCOURT:
“Como a lei não prevê limite temporal da
suspensão da prescrição, deverão surgir várias
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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interpretações sobre o tema. Por ora, uma coisa é certa:
a Lei nº 9.271 não criou uma nova hipótese de
imprescritibilidade, além daquelas previstas no texto
constitucional (art. 5º, incs. XLII e XLIV, da CF), como
pareceu inicialmente a alguns pensadores. Como
destaca Damásio de Jesus não se trata de nova
hipótese de imprescritibilidade, porque, na verdade, a
prescrição começa a correr e é suspensa, e na
imprescritibilidade não há início do curso prescricional”
(Manual de direito penal, São Paulo: Saraiva, vol. I, 6ª ed.,
2000, pp. 681/682).
No mesmo rumo PEDRO HENRIQUE DEMERCIAN e
JORGE ASSAF MALULY:
“(...) Na verdade, não se trata de uma situação de
imprescritibilidade, pois seu termo final é fixado pelo
comparecimento do acusado. Não se pode esquecer, de
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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outra parte, que também o Estado estará
impossibilitado de exercer o jus puniendi.
Além disso, a CF, ao estabelecer a
imprescritibilidade para alguns crimes (art. 5º, incisos
XLII e XLIV), não vedou ao legislador ordinário a
ampliação desse rol, mesmo porque a prescrição é
matéria típica de direito penal e deve ser tratado, em
princípio, nessa seara (art. 22, inciso I, CF).
Na verdade, o constituinte, ao impor a
imprescritibilidade para determinados delitos, apenas
se antecipou ao legislador, proibindo-o de dispor de
forma diversa.
Além disso, há um princípio em nosso direito –
com embasamento lógico e inspiração ética -, em
virtude do qual, independentemente de previsão legal
específica, fica suspenso o curso da prescrição sempre
que haja impedimento temporário à instauração ou
desenvolvimento do processo, sobretudo se ele é
irremovível ou tem sua remoção sujeita à decisão alheia
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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(e, particularmente, quando ela dependa daquela a
quem a extinção da punibilidade aproveitará).
(...)
Semelhante hipótese temos quando a Casa
Legislativa indefere a licença para ser processado o
membro do Congresso Nacional (art. 53, § 2º, CF).
Enquanto durar seu mandato, o curso da prescrição
permanecerá suspenso e assim se perpetuará se o
parlamentar for sucessivamente eleito” (Curso de
processo penal, 4ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2009, pp.
366/367).
Oportuno, ainda, o comentário de AFRÂNIO SILVA
JARDIM:
“A criação feita por parte da doutrina de prazos da
suspensão da prescrição que não estão previstos na lei
é artificial e arbitrária. Aí, sim, estar-se-ia legislando no
lugar do legislador” (A suspensão obrigatória do processo
(Reflexão sobre a interpretação e aplicação do art. 366 do
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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CPP), In: Direito processual penal: estudos e pareceres. Rio
de Janeiro: Forense, 9ª ed., 2000, p. 363).
Acresce-se que, o Colendo Supremo Tribunal Federal, ao
julgar caso idêntico ao dos autos, decidiu que não deve prevalecer a
limitação da suspensão do curso do lapso prescricional, prevista no
artigo 366 do Código de Processo Penal, assentado em três motivos:
1. “A indeterminação do prazo da suspensão não
constitui, a rigor, hipótese de imprescritibilidade: não impede a
retomada do curso da prescrição, apenas a condiciona a um
evento futuro e incerto, situação substancialmente diversa da
imprescritibilidade”;
2. “a Constituição Federal se limita, no art. 5º, XLII e
XLIV, a excluir os crimes que enumera da incidência material das
regras da prescrição, sem proibir, em tese, que a legislação
ordinária criasse outras hipóteses”;
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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3. “não cabe, nem mesmo sujeitar o período de
suspensão de que trata o art. 366 do C.Pr.Penal ao tempo da
prescrição em abstrato, pois, "do contrário, o que se teria, nessa
hipótese, seria uma causa de interrupção, e não de suspensão”
(RE 460971, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE,
Primeira Turma, julgado em 13/02/2007, DJ 30-03-2007 PP-
00076).
Em suma, pois, ao decidir que a suspensão do lapso
prescricional carece de limitação temporal, impondo-se a interrupção
do seu curso, a Douta Turma Julgadora contrariou frontalmente o
prevista no artigo 366 da lei processual penal, que dispõe sobre regra
de suspensão do prazo, sujeita a condição futura e incerta.
3. DO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL
O Colendo Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do Recurso Extraordinário nº 460971, do qual foi Relator o Ministro
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 13/02/2007,
publicado no DJ 30-03-2007, pp. 76, e em repertório autorizado de
jurisprudência (LEXSTF v. 29, n. 346, 2007, p. 515-522 – cópia
anexa), cujo v. acórdão ora se adota como paradigma, assim
decidiu:
EMENTA: I. Controle incidente de inconstitucionalidade: reserva de plenário (CF, art. 97). "Interpretação que restringe a aplicação de uma norma a alguns casos, mantendo-a com relação a outros, não se identifica com a declaração de inconstitucionalidade da norma que é a que se refere o art. 97 da Constituição.." (cf. RE 184.093, Moreira Alves, DJ 05.09.97). II. Citação por edital e revelia: suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, por tempo indeterminado - C.Pr.Penal, art. 366, com a redação da L. 9.271/96. 1. Conforme assentou o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ext. 1042, 19.12.06, Pertence, a Constituição Federal não proíbe a suspensão da prescrição, por prazo indeterminado, na hipótese do art. 366 do C.Pr.Penal. 2. A indeterminação do prazo da suspensão não constitui, a rigor, hipótese de imprescritibilidade: não impede a retomada do curso da prescrição, apenas a
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condiciona a um evento futuro e incerto, situação substancialmente diversa da imprescritibilidade. 3. Ademais, a Constituição Federal se limita, no art. 5º, XLII e XLIV, a excluir os crimes que enumera da incidência material das regras da prescrição, sem proibir, em tese, que a legislação ordinária criasse outras hipóteses. 4. Não cabe, nem mesmo sujeitar o período de suspensão de que trata o art. 366 do C.Pr.Penal ao tempo da prescrição em abstrato, pois, "do contrário, o que se teria, nessa hipótese, seria uma causa de interrupção, e não de suspensão."
5. RE provido, para excluir o limite temporal imposto à suspensão do curso da prescrição.
Eis o relatório e o voto do Eminente Relator:
“R E L A T Ó R I O
O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE -
RE, a, do Ministério Público, em matéria criminal, contra
acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o
qual, à unanimidade, negou provimento ao recurso em
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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sentido estrito interposto de decisão que, ao declarar a
revelia do agravado - C. Pr. Penal, art. 366 -, suspendeu o
curso do processo, mas limitou a suspensão do prazo
prescricional ao da prescrição em abstrato do fato delituoso.
Esta a ementa do julgado (f. 2l):
"REVELIA. ARTIGO 366. SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. OBRITGATORIEDADE. LIMITE. Se de um lado a suspensão do procedimento, estabelecida no artigo 366 do Código de Processo Penal, deve ser aplicada em conjunto com a suspensão do prazo prescricional, de outro, ela (suspensão) não pode ser indefinida. Isto criaria a imprescritibilidade para todos os crimes, contrariando a Constituição Federal (artigo 5º, incisos XLII e XLIV). Concedida as medidas (suspensão e prescrição) no procedimento do réu revel que não compareceu, deve-se limitar a última aos prazos do artigo 109 do Código Penal. Foi o que fez o julgador de primeiro grau. Recurso ministerial não provido. Unânime.”
Os embargos de declaração foram rejeitados, verbis (f.
16)
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO REJETTADOS. A alegação dos representantes do Ministério Público que o colegiado afirmou a inconstitucionalidade do artigo 366 do Código de Processo Penal, é totalmente equivocada. A Câmara, ao decidir por estabelecer um prazo para a suspensão do prazo prescricional, determinado em razão da suspensão do procedimento face ao não comparecimento do citado por edital, apenas supriu uma lacuna da lei processual que, neste particular, é omissa. Se houvesse a declaração da inconstitucionalidade, não se aceitaria, também, a própria suspensão do processo em razão da revelia. Embargos rejeitados. Unânime."
Alega-se, inicialmente, violação do art. 97 da
constituição Federal, sob o fundamento de que o acórdão
recorrido, ao acolher o que entendeu ser a única
interpretação conforme à Constituição do art. 366 do C. Pr.
Penal - com a redação dada pela L. 9.271/96 -, realizou, na
verdade, uma espécie de controle de constitucionalidade, o
que não poderia ser fracionário do Tribunal de Justiça.
Aduz a recorrente, verbis:
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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“(...) sobre o princípio da interpretação conforme, cabe
colacionar a lição de Luís Roberto Barroso, em sua obra
Interpretação e Aplicação da Constituição”:
‘Frequentemente, esse princípio enseja que se
afirme a compatibilidade de uma lei com a
Constituição, com exclusão expressa de outras
possibilidades interpretativas, reputadas
inconstitucionais. Visto pelo lado positivo, a
conseqüência que engendre é, sem dúvida, a
preservação da norma. Mas, pelo lado negativo, tem
um caráter invalidatório, sendo acertada sua
equiparação a uma declaração de nulidade sem
redução de texto, como fazem autores alemães, a despeito da crítica do cunho teorizante de Bryde. (grifou
Porque assim é, interpretação conforme a
Constituição funciona também como um
mecanismo de controle de constitucionalidade.
Como bem perceberam os publicistas alemães e, especialmente, o Tribunal Constituição Federal,
verdade, declarando a inconstitucionalidade de
outras possibilidades de interpretação
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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(auslegungsmöglichkeiten) ou de outras possíveis
aplicações (anwendungsfälle). (grifou-se).
Em acórdão Unânime e longamente
fundamentado, de que foi relator o Ministro Moreira
Alves, pronunciou-se o Supremo Tribunal Federal
sobre específica questão de ser a interpretação
conforme a Constituição não apenas um critério
hermenêutica, mas também um mecanismo de
controle de constitucionalidade’.
Sendo a interpretação conforme método de controle de
constitucionalidade, o Tribunal 'a quo', ao aplicá-la na
exegese do artigo 366 do Código de Processo Penal,
adequando-o à Constituição Federal para permitir a fixação
de limite à suspensão da prescrição – no caso entendeu o
Tribunal que seria inconstitucional o artigo 366 do Código
de Processo Penal se a suspensão fosse por prazo
indeterminado; portanto, essa decisão equivale a
declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto
do dispositivo em comente -, desconsiderou o princípio da
reserva de plenário".
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
35
No mérito, alega-se violação do art. 5º, XLII e XLIV,
da Constituição, eis que, a partir dos referidos dispositivos,
concluíra o acórdão recorrido que o art. 366 do C. Pr. Penal
– de acordo com a redação do art. 1º da L. 9.271/961 - não
poderia criar hipótese de suspensão da prescrição por
prazo indeterminado.
Sustenta o recorrente, no ponto - com apoio em
precedentes do extinto Tribunal de Alçada Criminal de São
Paulo - que os arts. 5º, XLII e XLIV, da Constituição, não
impedem a suspensão até que o réu compareça ao
processo, o que, ademais, não se confunde com a
imprescritibilidade do crime.
1 C. Pr. Penal, art. 366: “Art. 366: Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspenso o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312”.
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O Ministério Público Federal, em parecer da lavra
do Il. Subprocurador-Geral Haroldo Ferraz, opinou pelo
provimento do recurso (f. 100).
Conclui o Il. Subprocurador-Geral, após mencionar
as correntes doutrinárias quanto à questão, que deve ser
adotado o entendimento de Alberto Silva Franco, segundo
o qual a lei não fixou limite, de modo que o termo final do
prazo suspensivo ocorre na data em que o réu comparece
em juízo, seja qual for o tempo decorrido.
Aduz-se, verbis:
"Não se pode interpretar a lei, fazendo tabula
rasa do seu teor ou mesmo construindo um novo texto
legislativo.
O processo, como é certo, afeta a dignidade da
pessoa acusada, que, certamente, tem interesse em
defender a sua honra, que seria lavada com uma
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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decisão absolutória. A solução do acórdão recorrido
viola as disposições legais.
Por outro lado, legislação anterior à Lei 9.271/96
levava ao julgamento de revéis, quase sempre, por
Isso mesmo, com a defesa comprometida.
Para refazer o equilíbrio entre acusação e defesa
é que foi editada a nova lei.
Não há sentido em se proclamar que uma
suspensão de prescrição, sujeita apenas à condição
resolutiva de comparecimento do acusado (art. 366, §
2º do CPP), estaria submetida a uma prescrição, não
prevista em lei, que, por isso mesmo, usufruiria do
privilégio da não interrupção por qualquer das causas
que normalmente interrompem a prescrição.
É inaceitável a interpretação do acórdão
recorrido, que agindo como legislador, criou uma
prescrição não prevista em lei e, por isso mesmo, não
sujeita a interrupções."
É o relatório.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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V O T O
O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE -
(Relator):
I
Não cabe cogitar, no caso, de violação do art. 97 da
Constituição Federal.
Conforme asseverou a 1ª Turma no julgado do RE
184.093, relator o em. Ministro Moreira Alves (29.04.97, DJ 05.09.97), “no controle di
artigo 97 da Constituição, e isso porque, nesse sistema de
controle, ao contrário do que ocorre no controle
concentrado, não é utilizável a técnica da declaração de
inconstitucionalidade sem redução do texto, por se Ihe dar
uma interpretação conforme a Constituição, o que implica
dizer que inconstitucional é a interpretação da norma de
modo que a coloque em choque com a Carta Magna, e não
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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a inconstitucionalidade dela mesma que admite
interpretação que a compatibiliza com esta".
II
Com razão o recorrente, no entanto, quanto à
alegada violação do art. 5º, XLII e XLIV, da Constituição.
Ao contrário do que afirmado pelo Tribunal a quo no
julgamento dos embargos de declaração, fora explicita a
invocação do art. 5º, XLII e XLIV, da Constituição, para
extrair do art. 366 do C. Pr. Penal a interpretação segundo a
qual a suspensão da prescrição não se poderia estender
par prazo indeterminado.
E, ao assim decidir, equivocou-se o Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul.
Recentemente, afastou o Supremo Tribunal Federal
(Ext. 1042, de que fui relator, 19.12.06), por unanimidade, a
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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entendimento segundo a qual a Constituição Federal
proibiria a suspensão da prescrição, por prazo
indeterminado, na hipótese do art. 366 do C. Pr. Penal.
Conforme asseverei naquele julgamento, não há
falar que a suspensão não poderia ter prazo indeterminado,
sob o fundamento de que a Constituição Federal somente
admite a imprescritibilidade quanto aos crimes de racismo
(CF, art. 5º, XLII) e de ação de grupos armados contra a
ordem constitucional e a Estado Democrático (CF, art. 5º,
XLIV).
Em primeiro lugar, porque a indeterminação do
prazo da suspensão não constitui, a rigor, hipótese de
imprescritibilidade.
A suspensão, com efeito, não impede a retomada
do curso da prescrição, apenas a condiciona a um evento
futuro e incerto, situação substancialmente diversa da
imprescritibilidade.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Ademais, a Constituição Federal se limita, no art. 5º,
XLII e XLIV, a excluir os crimes que enumera da incidência
material das regras da prescrição, sem proibir, em tese, que
a legislação ordinária criasse outras hipóteses.
Ressaltei, ao final, que ao contrário do
entendimento de parte da doutrina e da jurisprudência
mencionadas, não cabe nem mesmo sujeitar o período de
suspensão de que trata o art. 366 do C. Pr. Penal ao tempo
da prescrição em abstrato, pois, “do contrário, o que se
teria, nessa hipótese, seria uma causa de interrupção, e não
de suspensão".
Pelos mesmos fundamentos, dou provimento ao
recurso extraordinário, para excluir o limite temporal imposto
à suspensão do curso da prescrição: é o meu voto.
Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE – Relator
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 460.971-1 RIO GRANDE
DO SUL
V O T O
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA – Senhor
Presidente, acompanho o voto de Vossa Excelência.
Queria apenas chamar a atenção, além do brilho do
voto de Vossa Excelência, a honestidade intelectual do
Subprocurador-Geral da República é um exemplo de ética,
porque ele chama, inclusive, no parecer, a doutrina
contrária à tese defendida por ele para rebater. O que torna
um trabalho, realmente, a ser seguido no campo da ética.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 460.971-1 RIO GRANDE
DO SUL
V O TO
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhor
Presidente, o jogo de sutilezas do raciocínio do Vossa
Excelência realmente confirma que o pensamento jurídico
tem de ser requintado.
Há situações em que a nossa capacidade de
distinguir entre coisas parecidíssimas, há situações em que
esse “olho clínico" se faz absolutamente necessário.
Acompanho o veto de Vossa Excelência, ainda,
uma vez, com todo louvor” (cópia anexa).
3 - DEMONSTRAÇÃO ANALÍTICA DE SEMELHANÇA
Como se verifica pela transcrição ora feita, é evidente o
paralelismo entre os casos tratados no julgado trazido à colação e a
hipótese decidida nos autos: nos dois processos houve decisão sobre
a possibilidade de limitação do prazo do lapso prescricional, previsto no
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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artigo 366 do Código de Processo Penal; porém, as soluções aplicadas
apresentam-se opostas.
Segundo o teor do v. acórdão impugnado:
“Assim, é predominante, na doutrina e na
jurisprudência, o entendimento de que o tempo máximo da
suspensão do curso do prazo prescricional deve
corresponder àquele fixado nos incisos do artigo 109 do
Código Penal, observada a pena máxima cominada em
abstrato para a infração penal praticada” (fls. 42).
Enquanto para o v. acórdão paradigma:
“Ressalte-se, ao final, que ao contrário do
entendimento de parte da doutrina e jurisprudência
mencionadas, não cabe nem mesmo sujeitar o período de
suspensão de que trata o art. 366 do C.Pr.Penal ao tempo
da prescrição em abstrato, pois, "do contrário, o que se
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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teria, nessa hipótese, seria uma causa de interrupção, e não
de suspensão” (cópia anexa).
Portanto, enquanto para o r. julgado recorrido, a luz do
disposto no artigo 366 do Código de Processo Penal, “...é
predominante, na doutrina e na jurisprudência, o entendimento de
que o tempo máximo da suspensão do curso do prazo
prescricional deve corresponder àquele fixado nos incisos do
artigo 109 do Código Penal, observada a pena máxima cominada
em abstrato para a infração penal praticada...”, para o v. acórdão
trazido à colação, “...ao contrário do entendimento de parte da
doutrina e jurisprudência mencionadas, não cabe nem mesmo
sujeitar o período de suspensão de que trata o art. 366 do
C.Pr.Penal ao tempo da prescrição em abstrato, pois, "do
contrário, o que se teria, nessa hipótese, seria uma causa de
interrupção, e não de suspensão”.
Nítida, pois, a semelhança das situações cotejadas e
manifesta a divergência de soluções.
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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Sendo assim, mais correta, ao nosso ver, a solução
encontrada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal.
4. DO PEDIDO
Ante o exposto, demonstrado de forma fundamentada o
dissídio jurisprudencial, aguarda esta Procuradoria-Geral de Justiça
seja deferido o processamento do presente recurso especial por Essa
Egrégia Presidência, bem como seu ulterior conhecimento e
provimento pelo Superior Tribunal de Justiça para, cassada a r.
decisão impugnada, seja excluído o limite temporal imposto à
suspensão do curso da prescrição.
São Paulo, aos 20 de abril de 2009.
PERSEU GENTIL NEGRÃO
Procurador Geral de Justiça
Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 315
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EDUARDO ARAUJO DA SILVA
PROMOTOR DE JUSTIÇA DESIGNADO
Índices
Ementas – ordem alfabética
Ementas – ordem numérica
Índice do “CD”