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Atualidade A esperança, o grito que sai do coração do homem Fé e Razão Paulo, participante dos sofrimentos de Cristo Entrelinhas O precioso dom do limite pessoal Só Família Família: lugar insubstituível para o encontro com Cristo

Shalom Mana 188

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Publicação mensal, editada e organizada pela Comunidade Católica Shalom.

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Um caminhoUm caminhoUm caminhoquaresma:quaresma:quaresma:

AtualidadeA esperança, o grito quesai do coração do homem

Fé e RazãoPaulo, participante dos

sofrimentos de Cristo

EntrelinhasO precioso dom

do limite pessoal

Só FamíliaFamília: lugar insubstituívelpara o encontro com Cristo

Um caminhoUm caminhoUm caminhoquaresma:quaresma:quaresma:

AtualidadeA esperança, o grito quesai do coração do homem

Fé e RazãoPaulo, participante dos

sofrimentos de Cristo

Só FamíliaFamília: lugar insubstituívelpara o encontro com Cristo

Coordenação Geral CRISTIAnO TuLI

Coordenação Editorial AnDRÉA LunA vALIMELIAnA GOMES LIMA

Equipe de RedaçãoAnDRÉA LunA vALIMAnDRÉIA GRIPPELIAnA GOMES LIMAJOSÉ RICARDO F. BEZERRA

RevisãoJOSÉ RICARDO F. BEZERRASAnDRA vIAnA

Editor de ArteAuGuSTO F. OLIvEIRA

Colaborou nesta ediçãoJOSEFA ALvES DOS SAnTOS

Gerente ComercialSuZAnA ALBuQuERQuE

AssinaturasCICILIAnA TAvARESLAnE MARQuES

Jornalista ResponsávelEGÍDIO SERPA

E X P E D I E N T E

SERVIÇO DE APOIO AO ASSINANTECE 040 - s/n - Km 16 - Divineia - Aquiraz/CE - 60170-000

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E D I T O R I A L

Deus, através de sua Igreja, sempre nos dá um cami-nho, um espaço, um tempo para mergulharmos mais em seu mistério de amor por cada um de nós. E a

estes tempos denominamos, Tempos Litúrgicos.Por isso, também nós da Shalom Maná, nesta edição, no As-

sunto do Mês, partilhamos um pouco sobre este tempo tão especial que é a Quaresma. Tempo de oração, de conversão, de retorno... Tempo que de forma concreta nos faz fi tar os olhos naquilo que é essencial: o Eterno. Deus e seu amor por cada um de nós, cada ato seu salvífi co, libertador e redentor. Até chegar ao seu maior ato de amor pela humanidade: sua morte na cruz e Ressurreição.

No Atualidade vamos ver a II Parte do artigo do Prof. Guz-man Carriquiry nos fazendo mergulhar ainda mais na riqueza do Continente Americano, à Luz da Encíclica Spe Salvi, do nosso Pastor, Papa Bento XVI. Artigo este que nos enche de esperança e desejo de lançar nossas redes em águas mais profundas, em busca do coração do homem que tem sede de Deus.

Veremos também no Igreja Celebra a história das mártires Santa Perpétua e Santa Felicidade. Essa linda história de ami-zade e santidade.

No Entrelinhas, nossa mãe e Co-Fundadora, Maria Emmir, nos dá mais uma vez uma lição; e com sua própria vida nos ensina que temos limites, e eles longe de serem nossos inimigos são dons, que nos fazem reconhecer que precisamos – e dependemos – de Deus e dos irmãos.

No Espiritualidade, nossa leitura nos convida ao reencontro com Deus, a termos sempre viva a experiência com o Deus Vivo, a percebermos a necessidade de o termos sempre como centro de nossas vidas.

No Só Família, a excelente entrevista do Pe. Álvaro Corcuera, Superior Geral do Movimento Apostólico Regnum Christi, nos atenta para que, na construção de uma família, não percamos de vista o essencial da vida cristã, que é viver frente a Deus.

E, muito mais recursos querido leitor, você vai encontrar nesta Edição para que tenha sua fé fortalecida e sua experiência de amor com Deus renovada.

Lembre-se, tudo sempre preparado como muito carinho e zelo para você.

Boa leitura e Deus abençoe!

QUARESMA: UM CAMINHO

SUMÁRIO

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04 18

3708 22

4009

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Só FamíliaFamília: lugar insubstituível para o encontro com Cristo

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EntrelinhasO precioso dom do limite pessoal

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20 Fé e RazãoPaulo, participante dos sofrimentos de Cristo

Especial80 anos do Estado Vaticano

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A Palavra do PapaDiálogo ecumênico

Arte e EspiritualidadeA Orelha de Malco

Assunto do MêsQuaresma: Um caminho

EspiritualidadeA experiência com o Deus vivo

A Igreja CelebraSantas Perpétua e Felicidade, Mártires

TestemunhoDeus ultrapassa tudo o que podemos imaginar...

AtualidadeA esperança, o grito que sai do coração do homem - Parte II

Orando com a PalavraQuando orardes, dizei: Pai nosso...

EntrevistaSó a graça de Deus permite que nos abramos à diferença

Papo JovemJesus e a ditadura da moda

Acontece no Mundo

Divirta-se

Shalom Maná - Março/20094

A PALAvRA DO PAPA

DIÁLOGODIÁLOGODIÁLOGOECUMÊNICOECUMÊNICOECUMÊNICO

Bento XVIDiscurso pronunciado na Semanade Oração pela Unidade dos Cristãos realizada em janeiro de 2009

A “Semana de Oração pela unidade dos Cristãos”, trata-se de uma iniciativa espiritual belíssima, que está se estendendo cada vez mais entre os cristãos, em sintonia, e poderíamos dizer, em resposta à importante invocação que Jesus dirigiu ao Pai no Cenáculo, antes de sua Paixão: “Que sejam uma só coisa, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).

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Queridos irmãos e irmãs,Em quatro ocasiões, durante esta oração sacerdotal, o Se-nhor pede a seus discípulos

que sejam “uma só coisa”, segundo a imagem da unidade entre o Pai e o Filho. Trata-se de uma unidade que só pode crescer no exemplo da entrega do Filho ao Pai, ou seja, saindo de si e unindo-se a Cristo. Por duas vezes também, nesta oração Jesus acrescenta como fim desta unidade: para que o mundo creia. A unidade plena está conectada, portanto, à vida e à própria missão da Igreja no mundo. Esta deve viver uma unidade que só pode derivar de sua unidade com Cristo, com sua transcendência, como sinal de que Cristo é a verdade. Esta é nossa responsabilidade: que seja visível para o mundo o dom de uma unidade em virtude da qual nossa fé se torne crível. Por isso, é importante que cada comu-nidade cristã tome consciência da urgência de trabalhar de todas as formas possíveis para chegar a este grande objetivo. Mas sa-bendo que a unidade é antes de tudo “dom” do Senhor, é importante ao mesmo tempo implorá-la com oração incansável e confiada. Só saindo de nós mesmos e dirigindo-nos a Cristo, só na relação com Ele podemos chegar a estar realmente unidos entre nós. Este é o convite que, com a presente “sema-na”, recebemos como crentes em Cristo de toda Igreja e Comunidade Eclesial; a Ele, queridos irmãos e irmãs, devemos responder com generosidade.

Este ano, a “Semana de oração pela unidade dos cristãos” propõe para a nossa meditação e oração estas palavras tomadas do livro do profeta Ezequiel: “Estarão unidos em tua mão” (37,17). O tema foi escolhido por um grupo ecumênico da Coreia, e revisa-do depois para sua divulgação internacional pelo Comitê Misto de Oração, formado por representantes do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Ecumênico das Igrejas de Genebra. O mesmo processo de preparação foi um estimulante e fecundo exercício de autêntico ecumenismo.

Na passagem do livro do profeta Ezequiel da qual se tirou o tema, o Senhor ordena ao profeta que tome duas madeiras, uma como

símbolo de Judá e suas tribos, e a outra como símbolo de José e de toda a casa de Israel unida a ele, e lhe pede que as “aproxime”, de modo que formem uma só madeira, “uma só coisa” em sua mão. É transparente a parábola da unidade. Aos “filhos do povo”, que pedi-rão explicação, Ezequiel, iluminado desde o Alto, dirá que o próprio Senhor toma as duas madeiras e as aproxima, de forma que os dois reinos com suas respectivas tribos, divididas entre si, sejam “uma só coisa em tua mão”. A mão do profeta, que aproxima os dois lenhos, é considerada como a mão do próprio Deus que recolhe e unifica seu povo e finalmente a humanidade inteira. Podemos aplicar as palavras do profeta aos cristãos, como uma exortação a rezar, a tra-balhar, fazendo todo o possível para que se cumpra a unidade de todos os discípulos de Cristo; trabalhar para que nossa mão seja instrumento da mão unificadora de Deus. Esta exortação é particularmente comove-dora e importante nas palavras de Jesus após a Última Ceia. O Senhor deseja que seu povo inteiro caminhe – e vê nele a Igreja do futuro, dos séculos futuros – com paciência e perseverança para a realização da unidade plena, atitude esta que comporta a adesão dócil e humilde ao mandato do Senhor, que o abençoa e o torna fecundo. O profeta Ezequiel nos assegura que será precisamente Ele, nosso único Senhor, o único Deus, que nos colherá em “sua mão”.

Esta é nossa responsabilidade: que seja visível para o mundo o dom de uma unidade em virtude da qual nossa fé se torne crível.

Na segunda parte da leitura bíblica se aprofunda no significado e nas condições da unidade das diversas tribos em um só reino. Na dispersão entre os gentios, os israelenses haviam conhecido cultos errôneos, haviam assimilado concepções de vida equivocadas, haviam assumido costumes alheios à lei di-vina. Agora o Senhor declara que já não se contaminarão mais com os ídolos dos povos pagãos, com suas abominações, com todas suas inquietudes (cf. Ez 37,23). Exige a necessida-de de libertá-los do pecado, de purificar seu

Shalom Maná - Março/20096

coração. “Eu os livrarei de todas as suas rebeldias – afi rma –, e os purifi carei”. E assim serão meu povo e eu serei seu Deus” (ibidem). Nesta condição de renovação interior, estes “seguirão meus mandamentos, observarão minhas leis e as porão em prática”. E o texto profético termina com a promessa defi nitiva e plenamente salvífi ca: “Farei com eles uma aliança de paz... Porei meu santu-ário, ou seja, minha presença, no meio deles” (Ez 37, 26).

A visão de Ezequiel é particu-larmente eloquente para todo o movimento ecumênico, porque manifesta a exigência imprescin-dível de uma renovação interior autêntica em todos os compo-nentes do Povo de Deus, que só o Senhor pode realizar. A esta renovação devemos estar abertos também nós, porque também nós, dispersos entre os povos do mundo, aprendemos costumes muito distantes da Palavra de Deus. “Assim como hoje a renovação da Igreja – lê-se no De-creto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II – consiste essencialmente no crescimento da fidelidade à sua vocação, esta é sem dúvida a razão do movimento rumo à unidade” (UR, 6), ou seja, uma maior fi delidade à vocação de Deus. O decreto sublinha também a dimensão interior da conversão do coração. “O ecumenismo verdadeiro – acrescenta – não existe sem a conversão interior, porque o desejo da unidade nasce e amadurece na renovação da mente, na abnegação de si mesmo e no exercício pleno da caridade (UR, 7).” A “Semana de oração pela unidade” se converte, desta forma, para todos nós, em estímulo a uma conversão sincera e a uma escuta cada vez mais dócil à Palavra de Deus, a uma fé cada vez mais profunda.

A “Semana” é também uma ocasião propícia para agradecer ao Senhor por tudo o que nos concedeu fazer até ago-ra “para aproximar” uns dos outros, os cristãos divididos, e as próprias igrejas e

comunidades eclesiais. Este espírito animou a Igreja Católica, a qual, durante o ano passado, prosseguiu, com fi rme convicção e segura espe-rança, mantendo relações fraternas e respeitosas com todas as igrejas e comunidades eclesiais do Oriente e do Ocidente. Na variedade das situações, às vezes mais positivas e às vezes com mais difi culdades, esforçou-se por não decair nunca

no empenho de re-alizar todos os es-forços para a recom-posição da unidade plena. As relações entre as igrejas e os diálogos teológicos continuaram dando sinais de con-vergências espirituais alentadoras. Eu mesmo tive a alegria de encon-trar, aqui no Vaticano e ao longo das minhas viagens apostólicas, cristãos procedentes de todos os horizontes. Acolhi com viva alegria por três ocasiões o Patriarca Ecumênico, Sua Santidade Bartolomeu I e, como acontecimento extraordiná-rio, nós o ouvimos tomar a palavra, com calor eclesial fraterno e com confiança convencida no porvir, durante a recente assembleia do Sínodo dos Bispos. Tive o prazer de receber os dois Catholicoi da Igreja Apostólica Armênia: Sua Santi-dade Karekin II, de Etchmiazin, e Sua Santidade Aram I, de Antelias.

Só saindo de nós mesmos e dirigindo-

nos a Cristo, só na relação com

Ele podemos chegar a estar realmente

unidos entre nós.

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E, fi nalmente, compartilhei a dor do Patriarcado de Moscou pela partida do amado irmão em Cristo, o Patriarca Sua Santidade Alexis II, e continuo permanecendo em comunhão de oração com estes irmãos nossos que se preparam para eleger o novo Patriarca da venerada e grande Igreja Ortodoxa. Igualmente, foi-me dado encontrar representantes das diversas Comu-

nhões cristãs do Ocidente, com os quais prossegue o diálogo sobre o importante testemunho que os cristãos devem dar hoje de forma concorde, em um mundo cada vez mais dividido e enfrentado tantos desafi os de caráter cultural, social, econômico e ético. Por isso e por tantos outros encontros, diálogos e gestos de fraternidade que o Senhor nos permitiu poder realizar, agrade-cemos-lhe juntos com alegria.

Queridos irmãos e irmãs, apro-veitemos a oportunidade que a “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos” nos oferece para pedir ao Senhor que prossigam e, se for possível, que se intensifi-quem, o compromisso e o diálogo ecumênicos. No contexto do Ano Paulino, que comemora o bimilê-nio do nascimento de São Paulo,

não podemos não referir-nos ao que o Apóstolo Paulo nos deixou escrito a propósito da unidade da Igreja. Cada quarta-feira dedicarei minha refl exão às suas cartas e ao seu precioso ensi-namento. Retomo aqui simplesmente quando escreveu dirigindo-se à comu-nidade de Éfeso: “Um só corpo e um só espírito, como uma só é a esperança à qual fostes chamados, a da vossa vo-cação. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 4-5). Façamos nosso o anseio de São Paulo, que dedicou sua

vida inteiramente ao único Senhor e à unidade de seu Corpo Místico,

a Igreja, dando, com o martírio, um supremo

testemunho de fi delidade e de amor a Cristo. Seguindo seu exemplo e con-

tando com sua intercessão, que cada comunidade cresça no empenho da

unidade, graças às diversas iniciativas espirituais e pastorais e às assem-bleias de oração co-mum, que costumam

ser mais numerosas e intensas nesta “Se-

mana”, fazendo-nos já saborear antecipadamente, de certa forma, o gozo da unidade plena. Ore-mos para que entre as igrejas e comu-nidades eclesiais continue o diálogo da verdade, indispensável para dirimir as divergências, e o da caridade, que con-diciona o próprio diálogo teológico e ajuda a viver unidos para um testemu-nho comum. O desejo que habita em nossos corações é de que chegue logo o dia da comunhão plena, quando todos os discípulos do único Senhor nosso poderão fi nalmente celebrar juntos a Eucaristia, o sacrifício divino para a vida e a salvação do mundo. Invocamos a intercessão maternal de Maria, para que ajude todos os cristãos a cultivarem uma escuta mais atenta da Palavra de Deus e uma oração mais intensa pela unidade.

“Um só corpo e um só espírito, como uma só é a esperança à qual fostes chamados, a da vossa vocação. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 4-5).

Shalom Maná - Março/20098

ARTE E ESPIRITuALIDADE

Christos YannarasTeólogo ortodoxo

Quando não aceitamos a dinâmica da Cruz, sempre alguém perde a orelha, ou sofre perdas mais sérias.

Este capitel românico (parte superior da coluna de uma Igreja da idade média) resume o Mistério Pascal do Cristo e do Cristão.

Jesus, rodeado de traição e violência no jardim das oliveiras (cf. Jo 18,1-11), dedica-se a recolocar a orelha que Pedro, em sua incompreensão havia cortado a Malco.

Judas abraça como se amasse, como se quisesse possuir, dominar Aquele que criou o universo e mantém em movimento cada átomo.

O Amor não possui, doa-se, e por isso o braço destro se estende generoso na direção de Malco, que está ajoelhado, desesperado diante de uma perda que tampouco compreende.

O gesto de Jesus, a paz de seu rosto, são atitudes de senhorio sobre a paixão, a morte, a violência, o ódio.

Diz a liturgia: somente na Cruz nós vemos a Luz, porque ali vemos a força de um Amor infi nito.

Sua grande mão aberta está a mostrar a orelha, quase a dizer-nos:

“Shema Israel...” “Escuta, Filho!!”... escuta com este novo Ouvido que te dou.

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ASSunTO DO MÊS

Quaresma:Quaresma:Quaresma:Um caminhoUm caminhoUm caminho

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Quaresma:Quaresma:Quaresma:É de signifi cado singular o caminho ascético que a Igreja nos propõe de forma particular na Quaresma. As práticas penitenciais propostas pela Igreja, tais como: particular na Quaresma. As práticas penitenciais propostas pela Igreja, tais como: a oração, a esmola e o jejum, ou mesmo as tantas obras de caridade e ainda o exercício das virtudes da renúncia e despojamento, não podem limitar-se aserem “práticas temporárias”, pois isso caracterizaria uma vida espirituale humana empobrecida e superfi cial.

Shalom Maná - Março/200910

Antônio Marcos de AquinoMissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

Chegado o tempo da Quaresma (do Latim “Quadragé-sima”), a Igreja se

prepara de forma mais intensa para a celebração do Mistério “salvífico-redentor” que é a Páscoa do Senhor (sinal sacramental da nossa conversão).

Quem não se lembra do solene rito penitencial da imposição das cinzas na Quarta-Feira, dando início ao Tempo da Quaresma? Este se estende até a Quinta-Feira Santa antes da Missa da Ceia do Senhor (in Ceone Domini), e cor-responde a exatos quarenta dias em que a Igreja faz “um caminho para o Senhor”, um itinerário de fé que adentra a Semana Santa e culmina no Tríduo Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo). Trata-se de um ca-minho de conversão e renovação da experiência primeira do amor.

É para nós também um “ca-minho de subida” para Jerusalém,

uma experiência de deserto, pois precisamos superar a prova, ven-cer as tentações, amadurecer nas decisões, dar sentido ao caminhar de cada novo dia.

O Tempo Litúrgico Quaresmal porta em si uma rica simbologia extraída e fundamentada nas Sa-gradas Escrituras. A Palavra viva do Senhor dá sentido à “ascese” (atitudes e gestos que favorecem a nossa conversão a Cristo, de forma particular a oração, a esmola, o je-jum e a renúncia), tão necessários para a vida cristã, vindo a encontrar eco maior na vida da Igreja nesse tempo. É ainda a Palavra de Deus que ilumina a nossa consciência e desperta o nosso coração da sono-lência e da prisão de todo pecado, fazendo-nos desejar ainda mais a conversão.

O caminho de volta como tempo de graça

A vivência da Quaresma requer a disposição para um retornar ao que é essencial. Isso nem sempre é fácil, o sabemos. As graças ba-tismais permanecem na vida de muitos como que obscurecidas,

tímidas ou adormecidas. Todos nós corremos o risco de não deixar que sua “presença operante” dê sentido, qualidade e fervor ao nosso viver.

É “tempo de graça”! Tempo de renunciar a toda forma de escra-vidão, a tudo aquilo que rouba em nós o dinamismo da fé, a alegria da vida cristã, a beleza e a confiança de sermos sempre amparados pela graça de Deus. Enfim, é tempo de Salvação.

O Tempo da Quaresma nos une de forma ainda mais misteriosa à vida ofertada de Jesus Cristo, sua dor e sofrimento.

A Quaresma assume uma espi-ritualidade penitencial, mas nunca de tristeza ou de morte, mas de vida. A Quaresma nos coloca no deserto, mas quer nos levar ao Mistério Pascal. Nossa vida pode, hoje, passar pela paixão, mas esse tempo nos convida a morrer para ressuscitarmos com Cristo.

A conversão e o retorno para Cristo, nem sempre são fáceis, como nunca é fácil superar um tempo doloroso e sombrio na nossa vida quando nos parece que até o céu está escuro, distante e

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intangível. A melhor maneira de vivermos um caminho de retorno como preparação para a Páscoa do Senhor é suplicar-lhe que nos dê a graça do desejo e da caridade. Es-teja como estiver o nosso coração, é necessário que nunca percamos de vista o desejo que é sustentado pela fé e pelo abandono à Providência Divina que nunca nos engana.

Maravilhosamente fala Santo Agostinho da importância do de-sejo como disposições para esperar sempre as maravilhas de Deus no processo do retorno: “É frutuoso perseverarmos no desejo, até que chegue a nós o que foi prometido e assim acabe o gemido e permaneça apenas o louvor”.

Quaresma é caminho de purificação

É de significado singular o caminho ascético que a Igreja nos propõe de forma particular na Quaresma. As práticas penitenciais propostas pela Igreja, tais como: a oração, a esmola e o jejum, ou mesmo as tantas obras de caridade e ainda o exercício das virtudes da renúncia e despojamento, não

podem limitar-se a serem “práticas temporárias”, pois isso caracteriza-ria uma vida espiritual e humana empobrecida e superficial.

Seja lá qual for a nossa prática penitencial ela precisa moldar a nossa vida, nossas atitudes e cons-ciência. Não há nenhum sentido nossas ações penitenciais quando elas não conseguem – com a purifi-cação necessária que delas decorre quando autênticas – redirecionar nossa vida, fazendo – a retornar, trilhar um caminho novo para adentrarmos com o Senhor na Semana Santa e nos dispormos a morrer com Ele para com Ele ressuscitarmos.

Absolutamente nada tem sen-tido quando não somos atraídos para Cristo e sua Paixão: Ele é a Ressurreição e a Vida (cf. Jo 11,25); Ele é o grão de trigo que morre para produzir muitos frutos (cf. Jo 12,21); Ele é o caminho e a vida para quem quer segui-lo, desprezando a própria vida neste mundo, a fim de conservá-la para a vida eterna (cf. Jo 12,25).

Recordemos que a purificação maior é a do nosso orgulho, do

retornar aos irmãos, e ao primeiro amor, também no que diz respei-to à caridade fraterna. Sabemos quanto nos custa o perdão quando “somos inocentes” na ofensa sofri-da ou mesmo causada. Também a Quaresma – indispensavelmente – quer nos fazer viver uma purifi-cação na nossa forma de amar os irmãos, a esposa, o esposo, aquela pessoa que nos parece tão difícil de conviver ou aceitar.

Neste Tempo Quaresmal ainda é necessário que tenhamos cons-ciência de que a purificação ou a prática penitencial deve ser capaz de nos fazer enxergar concreta-mente as necessidades dos outros e, não nos tornarmos indiferentes, mas de nos tornar próximos. Só o amor de Deus em nós dá sentido a toda e qualquer purificação.

Voltar ao primeiro amorQuando a Quaresma propõe a

espiritualidade de uma renovação da vida batismal e penitencial, com a vivência desses aspectos na dimensão pessoal, mas, especial-mente, no âmbito comunitário (eclesial), ela quer nos fazer viver

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Shalom Maná - Março/200912

a experiência do retorno, do ca-minho ao primeiro amor. Fruto do extasiar-se com a Paixão do Senhor por nós, e da vida nova fruto de sua Ressurreição.

As palavras do rito da imposi-ção das cinzas traduzem muito do mistério desse retorno ao primeiro amor quando o sacerdote diz: “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar” (cf. Gn 18,12). Vemos assim que nada pode nos garantir a felicidade senão a vida de Deus em nós. A expressão “és pó” não significa que “estamos fadados a desaparecer”, como assim diz a cultura transitória do hoje, mas que nossa origem é Deus que nos criou do nada pelo seu amor abundante e misericordioso.

Somos frágeis, somos argila, e só Deus é nossa força e nossa plena realização. Quem não faz

a experiência de encontro com o seu nada, também conhece muito pouco da vida de Deus. O orgulho e a prepotência nos impedem de aceitar um Amor que livremente quer ir para Jerusalém dar a vida pelos seus irmãos para que eles sejam plenamente felizes. Somos todos necessitados de redenção e só o amor de Deus pode nos redimir.

O deserto preparou Jesus para a Páscoa. Caminhou para Jerusalém porque o amor o impulsionava. Também nós – através da vivência da Quaresma – estamos a caminho da Paixão, pois sem ela não pode-mos viver a Ressurreição.

“Convertei-vos e crede no Evan-gelho” (Mc 1,15), corresponde ao sentido pleno da vivência da Qua-resma. Neste caminho de retorno que nos propõe este Tempo, pela ação do Espírito Santo, devemos

voltar ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído, ou nos afas-tado, se é que um dia o tenhamos encontrado.

Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de vivermos a Quaresma dóceis ação do Espírito, com o coração desejoso de subir com Ele a Jerusalém, para que no seu ato supremo de amor por nós na Paixão, com Ele morramos, para que com Ele ressuscitemos.

Que a Santíssima Virgem Ma-ria, Mãe e Mestra do Amor, nos ajude a viver esse caminho de volta ao primeiro amor, que é o coração de Cristo, fonte de nossa paz.

Fontes: - RATZINGER, Joseph. Dogma e Anúncio, Loyola, São Paulo, 2007.- BERGAMINI, Augusto. Cristo, Festa da Igreja, Paulinas, São Paulo, 1994.- Bento XVI. Mensagem para a Quaresma do ano de 2009.

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SÓ FAMÍLIA

para o encontro com Cristopara o encontro com Cristopara o encontro com Cristo

Família:Família:Família:

O Encontro Mundial das Famílias aconteceu dos dias 14 a 18 de janeiro, na Cidade do México. na entrevista a seguir, Pe. Álvaro Corcuera, Superior Geral do Movimento Apostólico Regnum Christi e da Congregação Religiosa dos Legionários de Cristo faz um balanço das conclusões.

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Como Deus age em momentos como este, do Encontro Mundial das Fa-

mílias no México? Que frutos se pode esperar?

Padre Corcuera: Eu tenho certeza de que nesses dias, Deus agiu de maneira profunda e plan-tou sementes de graça em muitos corações. O Encontro terminou, mas estas sementes crescerão pou-

Pe. Álvaro CorcueraSuperior Geral do Movimento Apostólico Regnum Christi e da

Congregação Religiosados Legionários de Cristo

co a pouco. O Papa recordava em junho, no porto de Brindisi, que o estilo característico e inconfundível de Deus é que Ele costuma realizar as maiores coisas de forma pobre e humilde; que sua obra sempre é silenciosa, e não espetacular, mas que esses gestos humildes e dis-cretos, como os inícios da Igreja na Galileia, são de uma grande força de renovação. Cristo quer reinar no “pequeno e decisivo mundo que é

o coração do homem” – em pala-vras do Papa – e em cada lar. Este Encontro Mundial das Famílias foi como um Pentecostes, onde pedimos ao Espírito Santo que nos transforme. Ao mesmo tempo, acho que Ele nos pede, nesta época difí-cil, que vivamos como Jesus Cristo, com a urgência de fazer o bem, em estado de missão, formando entre todos um só coração e uma só alma, como os primeiros cristãos.

Shalom Maná - Março/200914

Em sua intervenção durante o Congresso Teológico no En-contro Mundial das Famílias, o senhor destacou a fé, a esperança e a caridade como pilares da vida cristã e como desafi o para as fa-mílias católicas. Por quê?

Se nós, cristãos, queremos construir a família, não podemos perder de vista o essencial da vida cristã, que é viver frente a Deus. As virtudes teologais são a forma propriamente cristã de nos relacio-narmos com Deus; são a espinha dorsal que mantém a família unida e em pé, ainda que faltem outras realidades. Se falta a fé, a esperança e a caridade, a família cristã não sobreviverá, inclusive nas melhores condições externas.

E a família é o lugar espontâneo em que as crianças aprendem a viver essas virtudes de forma na-tural e espontânea. Isso se aprende não a partir da teoria, mas com o exemplo de que a fé não é cumprir

uns mandatos por obrigação, mas uma resposta viva ao amor de Deus, onde a gratuidade do amor é um fator decisivo. Aprendem que Cristo não é uma ideia, mas o centro da nossa vida e a resposta a todos os problemas; que os sacra-mentos não são um evento social,

mas uma verdadeira celebração da presença de Deus na nossa vida, um encontro com Ele.

Na família se aprende a viver a fé sem se acostumar com ela, mas como algo vivo que se renova e cres-ce, que se compartilha sem medo, que se une no amor. Na família, os fi lhos aprendem dos pais e dos ir-mãos mais velhos a falar com Deus, a escutá-lo, a aderir à sua vontade, a ir além do sofrimento ou da tristeza. E na família se aprende o amor, o que dá sentido a tudo e sem o qual nada tem sentido. Nela se aprende o perdão, a compaixão, a paciência, a justiça; aprende-se a desculpar, a falar bem, a pensar bem, a fugir da crítica e de tudo aquilo que possa fazer a alma morrer. Ao ver seus pais assim, as crianças se abrem às realidades últimas da vida e des-cobrem o valor do tempo frente à eternidade. É na família que se compreende que Deus é Pai e que amá-lo é a maior felicidade do homem. A família se converte, ainda em meio às difi culdades, em um paraíso na terra. E este mundo precisa de pequenos paraísos que irradiem a força transformadora do amor de Deus.

Na família, os fi lhos aprendem dos pais e dos irmãos mais velhos a falar com Deus, a escutá-lo, a aderir à sua vontade, a ir além dosofrimento ou da tristeza.

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Falemos da esperança. Com todos os dados estatísticos e da paulatina deterioração da famí-lia, qual seria o fundamento da esperança nesta realidade?

Bento XVI nos disse com toda clareza ao concluir o Encontro: “A resposta cristã diante dos desafios consiste em reforçar a confiança no Senhor e o vigor que brota da própria fé, a qual se nutre da escuta atenta da Palavra de Deus”. Deus Pai, Filho e Espírito Santo: Ele é o fundamento da nossa esperança. Os testemunhos das famílias de todos os lugares do mundo, que compartilhamos neste encontro, são uma demonstração de que Deus age quando os seus filhos se abrem à sua graça, apesar das nos-sas limitações, fraquezas e quedas. Ele é o exemplo do Pai perfeito, do Filho perfeito, do Irmão perfeito e do Amigo perfeito. E como Ele é, assim nos ensina a ser no mundo. É o Espírito que age, e nós cola-boramos com Ele.

Também é muito importante que se viva a alegria na família,

como uma característica essencial da virtude da esperança. Uma autêntica alegria, que é como quem já vai re-fletindo a beleza do céu no lar.

Que relação se dá entre a família e a felicidade pessoal? A família é insubstituível?

Somos felizes quando somos amados e amamos. A família é o lu-gar privilegiado para experimentar esse amor profundo, o mais pareci-do com o amor de Deus, porque na família somos amados sem condi-ções, por ser quem somos, não pelo que fazemos ou temos; não somos amados pelas nossas qualidades ou capacidades, nem nos deixam de amar pelas nossas limitações e defeitos. Essa incondicionalidade e gratuidade do amor, ainda que não sejamos capazes de amar sempre assim, é um reflexo do amor de Deus. Somos vistos como Deus nos vê. Os pais são testemunhas privilegiadas do amor infinito da vida dos filhos. Eles participaram do milagre, mas sabem que não são os artífices, que nem tudo esteve em

suas mãos. Assim vislumbram o dom que é a vida, o aspecto divino que há nela.

A família é o lugar propício e insubstituível, segundo os planos de Deus, para o encontro com Cristo, porque está chamada a ser espelho do amor de Deus. A famí-lia se converte em um verdadeiro lar, como em Nazaré, onde se com-partilham as alegrias e as tristezas, onde se pode dizer que se forma a atitude de ser um só corpo, uma só alma e um só coração. A base disso se encontra na oração, em particu-lar na oração em família. Quanta razão tinha o Pe. Peyton, quando dizia que “a família que reza unida permanece unida”. Também pode-mos dizer que a família é mais feliz na medida em que se dá e que se oferece, como no caso da família missionária. Neste caso, também poderíamos dizer que a família que reza unida, e que unida faz o bem levando o Evangelho, permanece ainda mais unida.

Fonte: Zenit

Shalom Maná - Março/200916

ESPIRITuALIDADE

Cassiano Rocha AzevedoMissionário da Com. CatólicaShalom em Fortaleza/CE

Meus ouvidos ti-nham escutado falar de ti, mas agora meus olhos

te viram” (Jó 42,5).Essa foi a resposta de Jó a Deus

após sua experiência com a presen-ça divina. Jó havia sido provado duramente por Deus. Em um só dia, viu seus fi lhos e escravos mor-tos, perdeu todos os seus rebanhos pela ação de salteadores, assassinos, furacões, relâmpagos... Perdeu até mesmo a saúde...

Diz a Bíblia que, durante todo o seu sofrimento Jó permaneceu fi el, não cometeu pecado algum nem proferiu contra Deus qualquer blas-fêmia. No capítulo 38 do Livro de Jó lemos que do seio da tempestade Deus falou a Jó e, à medida em que Deus fala, o sol vai clareando as suas trevas. Deus fala no íntimo de Jó e a experiência da sua presença santa o faz exclamar: “Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram”.

A experiência da presença é tão forte que ele diz: “meus olhos

te viram”. E, diante da santidade de Deus, reconhece o pecado e se retrata – não por ter cometido crimes, mas porque diante da san-tidade de Deus, todos somos injus-tos e pecadores – e penitencia-se

no pó e na cinza. Um novo tipo de arrependimento, experimenta o coração de Jó movido por íntima e profunda compulsão interior de considerar os seus atos diante da grandeza e da Majestade Divina.

nesta sociedade incrédula, consumista, materialista, secularizada, que perdeu o sentido do sagrado, somente a experiência do olhar misericordioso de Jesus atingindo o olhar pobre e sedento de cada homem pode mudar o mundo.

Um novo tipo de arrependimento, experimenta o coração de Jó movido por íntima e profunda compulsão interior de considerar os seus atos diante da grandeza e da majestade divina. Jó silencia.

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Jó silencia. É Deus quem vai justificá-lo. O Senhor repreende os amigos e pede que Jó interceda por aqueles que tornaram sua provação mais espinhosa. Jó, o pobre de Javé, o mais necessitado de intercessão, aprende a interceder na sua pobreza e, diz a Bíblia, é justamente enquanto ele intercede por seus amigos que o Senhor lhe restitui tudo o que ele havia perdido, restituindo-lhe em dobro. Sim, verdadeiramente a cura vem pela nossa disposição em entrar em unidade com todos; essa é a obra do Espírito Santo na vida de Jó e na nossa. Jó nos ensina que a experiência pessoal supera qualquer conhecimento intelectual.

Outra grande figura do Antigo Testamento, o rei Davi, tem algo a nos ensinar sobre isso. O maior desejo de Davi era ver Deus em toda a sua glória, por isso que-ria construir-lhe um templo, mas a glória divina foi-lhe manifestada diante da visita da misericórdia, quando matara Urias para ficar com Betsabé (cf. Sl 50).

Essa contemplação foi esperada também pelo profeta Simeão, no Templo. Ao receber Jesus no colo, exclama com toda a alma: “Deixai agora vosso servo ir em paz, conforme prometestes, ó Senhor. Pois meus olhos viram vossa salvação, que preparastes ante a face das nações!” (Lc 2,29-30). Diante de Jesus menino, o velho Simeão se dá conta de que vivera para aquele momento e, portanto, sua vida estava completa. Nada mais lhe faltava.

Como o olhar de Deus cruzou com o de Jó e o seu ser iluminou-se, assim foi com Maria Madalena, quando sentiu-se pela primeira vez olhada como pes-soa e não como prostituta; o olhar de Jesus era cheio de misericórdia, como o foi para Pedro na hora da negação, e o foi para a mulher adúltera: “Nem eu te condeno, vai e não tornes a pecar”. É o único olhar que verdadeiramente transforma uma vida.

Esse amor espera ser descoberto por nossos olhos em qualquer situação. Seja qual for o momento que atravessamos, se nos restam ainda anos, meses, dias ou apenas horas de vida. Um dos ladrões na cruz – depois disso chamado de “Bom ladrão” –, ao contemplar o Cristo chagado, servo sofredor, “roubou o céu de Jesus” por seu olhar de fé, reconhecendo naquele “Homem das Dores” o Rei de Israel, cujo Reino não é deste mundo, pois os dois estavam prestes a morrer.

Tomé viu as chagas gloriosas do Ressuscitado que passou pela Cruz e tornou-se o Apóstolo das Índias.

Foi olhando a glória de Deus no céu que Estêvão pôde ser fiel no martírio. Foi pelo estrondoso olhar de misericórdia sobre Saulo, quando ia prender os cristãos em Damasco, que ele ficou realmente cego e, após ser iluminado por essa nova luz, tornou-se o “Apóstolo dos Gentios.”

A Santa Teresa de Ávila foi dada a graça de olhar para o lugar que o demônio lhe havia preparado no inferno e o que lhe era reservado no céu, por Deus. Com essa visão, escolheu, é claro, o lugar celeste e empenhou-se para “conquistá-lo” para si e para a humanidade.

Nesta sociedade incrédula, consumista, materia-lista, secularizada, que perdeu o sentido do sagrado, somente a experiência do olhar misericordioso de Jesus atingindo o olhar pobre e sedento de cada ho-mem pode mudar o mundo.

O mundo que erra muito acerca do conhecimento de Deus, que tem seu olhar voltado para a grandeza e a beleza da criação – em lugar da grandeza e beleza do Criador – só poderá redirecionar seu olhar através do profundo poder transformador da misericórdia. A recente canonização de Irmã Faustina, apóstola da misericórdia neste nosso século, é uma indicação segura de que a Igreja entra num novo kairós em que o novo pentecostes nos leva ao coração misericordioso de Jesus e à adoração. É um tempo de graça em que se proclama Teresinha de Jesus, Doutora da Igreja e, trilhando sua pequena via de abandono, conhece-remos mais rapidamente a misericórdia e depressa aprenderemos a adorar.

O mundo que erra muito acerca do conhecimento de Deus, que tem seu olhar voltado para a grandeza e a beleza da criação – em lugar da grandeza e beleza do Criador – só poderá redirecionar seu olhar através do profundo poder transformador da misericórdia.

É importante nos alegrar pelas sementes que morreram e já começam a florescer nesta nova pri-mavera da Igreja, e mais ainda pelo que virá... Pois quanto mais maldade, injustiça e dureza de coração se vê, maiores provisões de graça e misericórdia caem do coração de Cristo para renovar a humanidade. Assim, rezamos para que não tarde o dia em que todos proclamaremos, em uníssono: “Agora, viram-te meus olhos”!

Shalom Maná - Março/200918

MártiresMártiresMártiresGraças ao Diário escrito na prisão por Perpétua1, a pedido dos companheiros que com ela se encontravam, a Sagrada Tradição cuidou de fazer chegar até nós o comovente testemunho da fé em Cristo até o martírio, de Perpétua e Felicidade, ocorrido durante a grande perseguição aos cristãos por parte do imperadorSéptimo Severo em Cartago (norte da África), no ano de 203.

Antônio Marcos de AquinoMissionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

A memória litúrgica destas duas corajosas mulheres mártires é celebrada no dia 07 de março, data em que entregaram suas vidas a Cristo na arena de Car-

tago. É comum a nós ouvir seus nomes sempre que se reza a Ladainha de todos os Santos e na Primeira Oração Eucarística.

Sabemos que os mártires são lembrados de forma privilegiada, porque não só ofertaram suas vidas com coragem e inteira liberdade, mas também foram sustento na fé dos desenco-rajados. Ao derramarem

A IGREJA CELEBRA

o sangue se uniram a Cristo no Gólgota, tornaram-se “Eucaristia” e germinaram a semente do Evangelho. Não se importavam se eram objetos de espetáculo nos anfi teatros e plateias dos coliseus pagãos, devorados pelas feras e degolados pelos gladiadores cruéis, mas apenas se importavam em viver a entrega da vida sem fraquejar na fé e com a confiança de que participariam tão logo da vida eterna. Eram obstinados pela Verdade que, de fato, encontraram.

SANTAS PERPÉTUA E FELICIDADE,SANTAS PERPÉTUA E FELICIDADE,SANTAS PERPÉTUA E FELICIDADE,

MártiresMártiresMártiresSANTAS PERPÉTUA E FELICIDADE,

MártiresMártiresMártiresSANTAS PERPÉTUA E FELICIDADE,

MártiresMártiresMártiresSANTAS PERPÉTUA E FELICIDADE,

MártiresMártiresMártires

Perpétua, 22 anos, de família nobre e pagã, fi cou famosa por sua conversão ao cristianismo. Era casada e mãe de um pequeno fi lho. Felicidade era sua criada (escrava). Também muito jovem, estava grávida de oito meses.

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Não tinham medo da morte porque amavam a Cristo apai-xonadamente. Ele primeiro nos amou e se entregou por nós (cf. 1Jo 4,18-19). Tinham consciência nítida e inteira confi ança de que morriam pela fé porque não são as forças humanas que vencem o mundo, mas a fé em Cristo (cf. 1Jo 5,4).

Perpétua, 22 anos, de família nobre e pagã, fi cou famosa por sua conversão ao cristianismo. Era casada e mãe de um pequeno fi lho. Felicidade era sua escrava. Também muito jovem, estava grá-vida de oito meses. Ambas eram amigas e, além de catecúmenas, eram autênticas propagadoras da fé. Após serem presas na casa de Perpétua, foram levados também quatro outros escravos já con-vertidos à fé cristã. Jogados no calabouço viveram terríveis dias de suplício até o momento do martírio na arena de Cartago que, é possível existir até hoje.

Perpétua e Felicidade foram batizadas na fé cristã ainda na prisão, para a grande alegria delas. O pai de Perpétua, pagão, visitando-a na prisão, tudo fez para que a fi lha voltasse atrás na sua confi ssão de fé para que fosse livre da morte, mas ela – mesmo sentindo um grande pesar por seu pai – não voltou atrás na sua fé e assim motivou também Felici-dade a não desanimar. Com um extraordinário brilho ela mesma narra esse fato no seu escrito da prisão, enquanto estava diante do juiz inquisidor e do seu pai que a implorava para renunciar a fé. Olhando para seu pai e apon-tando uma bandeja lhe disse: Pai, como se chama esta vasilha? “Uma bandeja, filha”, respondeu ele. Pois bem meu pai, “essa vasilha deve ser chamada de bandeja, e não de pote ou colher, porque

não mais como senhora e escrava, mas como fi lhas de Cristo e da Igreja, amigas e irmãs na fé.

Já feridas foram colocadas no centro da arena e, despedindo-se ainda com “o beijo da paz” (ósculo santo)2, foram degoladas pelos gla-diadores. Quão forte testemunho deixaram para a humanidade essas duas mulheres que viveram a fé até as últimas consequências. Não trocaram o céu por alguns anos a mais de vida, nem pelos seus fi lhos, parentes e mesmo pelos prazeres deste mundo. Foram inebriadas pelo amor de Cristo e foram capa-zes de ir até as últimas consequên-cias por causa desse amor.

Perpétua e Felicidade são duas santas da Igreja e para elas quere-mos olhar e suplicar a intercessão por todos nós que precisamos dar testemunho alegre e corajoso da fé em Cristo, mesmo que nos com-portem desprezos, humilhações e até a própria vida. Também Per-pétua e Felicidade são um grande rastro luminoso com que Deus atravessou a história. Vemos nelas verdadeiramente um testemunho que resiste ao tempo, porque, mor-riam naquela arena diante das tre-vas da ignorância daqueles que as condenaram, mas, Cristo a Luz da luz, devolvia a vida a elas para não mais morrerem, como também a memória de seus testemunhos para a vida da Igreja. Assim seja!

Notas:1 Artigo: DIGEST, Readr´s Editora. Depois de Jesus, o triunfo do Cristianismo, 1999, Cap. 5 Os antigos Documentos que narram o martí-rio destas duas santas, eram muito estimados pelos cristãos da antiguidade. Santo Agostinho diz que a leitura de tais textos nas igrejas era de grande crescimento e estímulo na fé dos cristãos. Os escritos foram acabados por Tertuliano e, posteriormente, deram origem ao Livro: “Paixão de Perpétua e Felicidade”. 2 A tradição do beijo no rosto trocado pelos cristãos era um forte símbolo de unidade e re-conciliação, como sinal do amor de Cristo pela Sua Igreja. Na hora do martírio simbolizava essa comunhão com Cristo e uns com os outros.

ela é uma bandeja. E eu que sou cristã, não posso me chamar pagã, nem de nenhuma outra religião, porque sou cristã e o quero ser para sempre”.

Felicidade veio a ter o fi lho na prisão, mesmo em meio a dores e ao deboche dos soldados. Estava agora pronta para o grande mo-mento. Antes do martírio, Per-pétua, Felicidade e os outros es-cravos, fi zeram na prisão a última ceia como era de costume e direito aos condenados. Testemunha-se que eles chegaram, de alguma for-ma, a receber a Comunhão, o Pão Eucarístico e, após esse momento,

Não trocaram o céu por alguns anos a mais de vida, nem pelos seus fi lhos, parentes e mesmo pelos prazeresdeste mundo.

motivaram-se uns aos outros e se alegraram esperando os últimos instantes para entrarem na arena onde, uma multidão, instigada a se saciarem com o espetáculo cruel e bárbaro, aguardavam-nos.

Os companheiros foram des-troçados pelos ferozes leopardos. Perpétua entrou com sua amiga Felicidade na arena cantando um Salmo de confi ança no Senhor, e logo uma “vaca feroz” começou a golpeá-las com seus chifres, mas não chegou a matá-las. Um fato comovente: Perpétua já ferida se põe de pé e vai erguer Felicidade ajeitando suas vestes para que morram devidamente cobertas, ta-manha era a pureza do seu coração e também demonstrando seu amor por Felicidade. Ali elas morriam

Shalom Maná - Março/200920

FÉ E RAZÃO

Josefa AlvesMissionária da Com. CatólicaShalom em Fortaleza/CE

A experiência a cami-nho de Damasco, que mudou radi-calmente a vida de

Paulo, tornou-se o centro de onde emanava toda a força para a reali-zação da sua missão. Evangelizar, testemunhar aquele amor, tornou-se a sua meta, e a grandeza dessa missão recompensava qualquer luta, perseguição, sofrimento.

Porque associado a Cristo, seu sofrimento era enraizado na ale-gria (2Cor 7,4). A possibilidade de alegrar-se em meio às tribulações, não é estranha àqueles que vivem uma misteriosa participação aos sofrimentos e glórias de Cristo. Existe aqui, uma íntima união entre tribulação e consolação: “Na verdade, assim como os sofrimen-tos de Cristo são copiosos para nós, assim também por Cristo é copiosa nossa consolação” (1Cor 1,5). Paulo compreendeu que, o mistério da Paixão está contido no mistério

Pascal; que as testemunhas da Pai-xão de Cristo são, necessariamente, testemunhas da sua Ressurreição. Esta foi a sua experiência, este foi o seu testemunho vivido, pregado e escrito; ele compreendeu que o sofrer não é um absurdo, nem uma crueldade de Deus, mas um grande dom de amor.

ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas, e no meio das pro-vações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus” (At 20,19). Lendo estas palavras recordamos de súbito tantas das expressões com as quais Paulo descreve nas suas cartas, as fadigas suportadas para anunciar o Evangelho. Aqui ele recorda aos presbíteros que a grande característica do seu mi-nistério foi este “servir o Senhor1”, “com humildade2”, “entre as lágri-mas3” e “provas4”. Seus opositores eram principalmente os judeus, seus correligionários de um tempo, que o consideravam um renegado e um traidor. Não faltavam hos-tilidades também por parte dos pagãos. As lágrimas de Paulo são o oposto da alegria do pastor que reconduz ao redil a ovelha perdida, a alegria do pai misericordioso que encontrou o filho perdido. Isso quer dizer que as suas lágrimas expressam a dor, a inquietude, a angústia e a preocupação diante do perigo ao qual estão expostos alguns cristãos, podendo perder a salvação, ou seja, a vida eterna.

“Eu servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas, e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus” (At 20,19).

Paulo compreendeu que, o mistério da Paixão está contido no mistério Pascal...

Como o Bom Pastor ( Jo 10) que dá a vida por suas ovelhas, Paulo expôs a própria vida pela salvação daqueles que o Senhor lhe havia confi ado; ele sabe que ser pastor signifi ca também guardar o rebanho de todo perigo e não sub-trair nada do plano de Deus.

No livro dos Atos dos Apósto-los, encontramos um emocionante discurso de Paulo aos anciãos de Éfeso, onde, em meio à dor da separação ele declara: “Eu servi

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Na segunda carta aos Coríntios temos o testemunho de um ver-dadeiro apóstolo, de alguém que ofertou-se livremente por amor a Cristo e aos seus filhos espirituais: “Aquilo que os outros ousam apresen-tar – falo como insensato – ouso-o também eu ... Muito mais, pelas fadigas; muito mais, pelas prisões; infinitamente mais, pelos açoites. Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Três vezes fui flagelado. Uma vez, apedrejado. Três vezes naufraguei. Passei um dia e uma noite em alto-mar. Fiz nume-rosas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de estirpe, perigos por parte dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos! Mais ainda: fadigas e duros trabalhos, numerosas vigílias, fome e sede, múltiplos jejuns, frio e nudez! E isto sem contar o mais: a minha preocupação cotidiana, a solicitude que tenho por todas as Igrejas!”

São profundas e inesgotáveis as riquezas e os benefícios do mistério de Cristo – da sua kenosis, da sua vida terrena, da sua Paixão, Morte e Ressurreição – por isso o apóstolo é feliz por ser inseri-do em tal mistério: “Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo, na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Col 1,24). Com esta frase, Paulo não quer dizer que a Paixão de Cristo foi incompleta; seria absurda tal afirmação. Ele afirma que apesar na eficácia do sacrifício de Cristo, ainda são necessárias fadigas e sofrimentos para difundir o Reino de Deus até os extremos confins da terra. Essa missão é confiada aos apóstolos de todos os tempos. Mas tais sofrimentos não têm um valor em si mesmos, somente enquanto unidos a Cristo e inseridos no poder redentor da Sua cruz.

Em todos os seus escritos, Paulo testemunha uma clara consciência do valor salvífico do sofrimento de Cristo, por isso pode afirmar, com autoridade: “que os sofrimentos do tempo pre-sente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós. Pois a criação anseia pela revelação dos filhos de Deus” (Rm 8,18).

Notas:1 Cf. Fil 1,1.2 Cf. Fil 4,12.3 Cf. Fil 3,18.4 Cf. 1Tes 3,5.5 Cfr. João Paulo II, Salvifici Doloris, 1.

Somente quem sabe manter acesa a chama do amor de Cris-to pode vencer as mais duras e humilhantes provas! Os pseudo-apóstolos rapidamente cedem as armas ao verem despontar os primeiros obstáculos e perigos.

Após ter sido conquistado por Cristo (cf. Ef 3,12) toda a sua vida encontrou sentido somente naqueles que por amor se entre-gou: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gal 2,20).

Sua experiência, embora muito pessoal, tornou-se testemunho e modelo para aqueles que, con-quistados por Cristo, sentiam o apelo de participar plenamente da Sua vida. Ele “comunica a sua própria descoberta e alegra-se por todos aqueles a quem ela pode servir de ajuda – como o ajudou a ele – para penetrar no sentido salvífico do sofrimento”5.

“Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que amou e se entregou a si mesmo por mim”

Shalom Maná - Março/200922

Deu sDeu sDeu sDeu sDeu sDeu s

TESTEMunHO

tudo o que podemos tudo o que podemos tudo o que podemos tudo o que podemos tudo o que podemos tudo o que podemos imaginar...imaginar...imaginar...

ultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassa

Partilhando com vocês essa passagem da minhavida gostaria, antes de tudo, de dar graças anosso Senhor, que me salvou e me permitiu

renascer, pelo seu Amor que ultrapassa todo amor. Gostaria também de gritar: “Respeitem o

outro no seu corpo, na sua intimidade. Respeitem a si mesmos também”.

Maria

Gostaria de diri-gir estas linhas a

todos os jovens, garotas e rapazes. Uma garota talvez possa compreender-me melhor a partir do interior, se infelizmente lhe aconteceu uma experi-ência como a minha. Que estas palavras sejam para você uma mensagem de esperança.

Partilhando com vocês essa passagem da minha vida gosta-ria, antes de tudo, de dar graças a Nosso Senhor, que me salvou e me permitiu renascer, pelo seu Amor que ultrapassa todo amor. Gostaria também de gritar: “Res-peitem o outro no seu corpo, na sua intimidade. Respeitem a si mesmos também”.

Tenho vinte e oito anos. Tinha treze quando me aconteceu o que vou lhes contar. Quinze anos se passaram e eu nada esqueci. Todo o “fi lme” desse fato que dilacerou

a minha vida está gravado em mim para sempre. Óbvio, pois foi escrito não sobre a “rocha”, mas sobre “argila em formação”, numa página branca, virgem. Mas agora, através do amor de Jesus, tudo se transformou.

Aos treze anos eu ainda era uma “menininha”. Feliz da vida, sem problemas, querendo amar o mundo inteiro, mas querendo amar a Deus mais que tudo, com toda a força do meu pequeno coração. Utopia? Não, não creio. É a inge-nuidade das “crianças”. Possível, então? Sim, ainda hoje eu penso, apesar da dureza deste mundo, graças à força de Deus.

Freqüentemente eu dizia a mim mesma: “Eu quero permanecer pura até o casamento. Entretanto, eu sentia no coração um chamado para amar só a Deus durante toda a minha vida. Parecia-me que só Deus poderia saciar toda a sede de amor que havia em mim. E eis que, de repente, numa esquina, sou, gratuitamente e sem razão, vítima de toda a violência de um ser hu-mano. Era uma sexta-feira, uma hora de torturas sexuais, de gestos, um lugar, gravados para sempre. Palavras como: “Eu quero matá-la”, que ferem atrozmente. Eu estava encurralada entre algumas tábuas e o muro de um cemitério. Ninguém

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para socorrer-me. Como eu gostaria de ir ao encontro daqueles mortos do outro lado do muro... O que pode fazer uma menina de treze anos para se defender da maldade de um homem de vinte ou vinte e cinco anos? Nada. Eu desejava o nada. Aquele Jesus que havia feito um apelo ao meu coração fi cara surdo de repente? Por que tudo aquilo? Por que tanta violência? Quantas perguntas fi z a mim mesma... Durante onze anos! Onze anos, como é longo! Creia-me. Principalmente quando você carrega esse peso sozinha...

Quando cheguei em casa – meus pais estavam ausentes por alguns dias –, eu só tinha uma idéia na cabeça: a morte. Tentei o suicídio... Acordei após ter dormido por dois dias. Mas a idéia do suicídio não me deixava e não me deixaria tão cedo. Eu não era a mesma pessoa. Havia um “antes” e havia um “depois”. Esse “depois”, eu o detestava de antemão. Eu me detesta-va. Eu me tornara um lixo. Um corpo e um coração sem gosto pela vida. Um coração? Não sei se eu ainda possuía um. Todo amor que ele até aí guardara transformou-se em ódio contra o ser humano, principalmente contra o sexo masculino.

Então, por que continuar a viver se eu não era mais nada? Apenas a morte poderia libertar-me. Era o que eu pensava. Essa idéia me perseguia com tenacidade. Os dias corriam sem me trazer nada de novo. Jesus, a fé, tudo em que até então eu crera de repente evaporou. Não havia mais amor em mim. Por ninguém. Nem por mim. A segunda tentativa de sui-cídio também fracassou. Então, forjei uma barricada em torno de mim. Essa barricada, eu a queria o mais resistente possível para que ninguém, nunca, encon-trasse nela uma brecha. Meus pais não entenderam a mudança. Meu caráter foi se tornando cada vez mais duro. Eu me sentia mal, muito mal por estar assim, mas era quase contra a minha vontade. Eu era vítima e me sentia culpada. Quantas vezes, durante o sono, revivi a cena do estupro. Era indelével. Gostaria de ter matado aquele homem.

Não era mais necessário que me falassem de Deus; eu projetava nele toda a minha tristeza, todo o meu desgosto. Era quase culpa dele o que me acontecera, pois ele não tinha ido me libertar. Agora, eu compre-endo como durante todo esse tempo ele sofria comigo,

pois Deus é amor. Ele nos mostra isso todos os dias, mostrou-o na minha própria vida.

Os anos passaram. Pouco a pouco eu recomecei a rezar. Sem perceber, creio, pois eu me sentia ter-rivelmente só. Eu procurava alguém a quem falar. Hoje posso dizer que nunca, nem por um segundo, o Senhor largou a minha mão. Fui eu que larguei a dele. O Senhor podia restituir-me a pureza que eu perdera sem querer. Apenas ele podia me recriar.

No fi nal desses onze anos de desgosto, de tristeza, encontrei um padre com quem pude me abrir. Atra-vés do sacramento da reconciliação, através de seu coração, pude dar para Jesus todo o ódio acumulado, e pouco a pouco, com a ajuda do Senhor, recuperei a paz. Jesus tinha encontrado uma brecha na barricada que eu havia levantado com a força dos meus braços. Suavemente, mas com fi rmeza, ele fez seu trabalho de Salvador. Ele não parava de chamar-me pelo meu nome. Para ele eu era como sempre uma criança. Eu era como antes. Em alguns meses a barricada desmo-ronou. O Senhor só desejava uma coisa: poder morar no meu coração para me dar incessantemente o seu amor. Ele repetia sem cessar: “Você é única aos meus olhos e eu a amo” (Is 43,4).

Eu precisava deixar-me amar. Mas isso era muito duro para mim. Eu precisava tornar-me criança outra vez. Santa Teresa do Menino Jesus ajudou-me muito: “Quanto mais você for pobre, mais Jesus a amará. Se você se afastar ele irá longe, bem longe, buscá-la...”.

Shalom Maná - Março/200924

uma luta em mim em relação a esse perdão. Eu iria dá-lo ou recusá-lo? Eu pensava que perdoá-lo não mudaria nada para mim, não apagaria o que eu tinha vivido. Então, para quê? Mas, se eu o re-cusasse, estaria uma vez mais fechando a porta do meu coração ao amor de Jesus. Ele não nos pediu para perdoar os nossos inimigos? Por outro lado, recusando-me a dar esse perdão, eu sabia que estaria “mantendo” no pecado, longe de Deus, esse moço que me agredira. Mas eu continuava evitando... Então, levei tudo isso para a oração, pedindo uma só coisa: que eu fosse verdadeira ao conceder esse perdão. Que ele fosse realmente o desejo do meu coração e a vontade do Senhor. Eu também me confiei à Mãe do Céu, pedindo-Ihe para tornar o meu coração dócil ao espírito de Jesus.

Um belo dia, pude colher esse perdão como uma flor que acaba de desabrochar, e oferecê-lo a Jesus no sacramento da reconciliação. Uma paz imensa invadiu-me. É verdade que não foi um passe de mágica que me fez esquecer tudo que eu vivera; mas, oferecendo esse perdão, tudo foi transformado. Eu quero assegurar-lhe que foi o Senhor, por sua graça, que me permitiu dar-Ihe o perdão. Sem ele meu coração nunca teria consentido em perdoar. Eu sou tão pobre...

Eis as maravilhas do amor do Senhor. Você não acha que ele ultrapassa tudo o que podemos imaginar? Você não acha que ele está sempre ao nosso alcance? Que vale a pena percorrer com ele um trecho do caminho para conhecê-lo melhor?

Eis o mais belo milagre do Senhor: “Ele transfor-ma em estrelas os seus pontos negros... se você lhe dá um pouco do seu coração!”.

Nota:Transcrito de: Ange, Daniel. Teu corpo feito para o amor. São Paulo: Loyola, 1995, pp. 184-189.

Eu precisava deixar-me amar. Mas isso era muito duro para mim. Eu precisava tornar-me criança outra vez. Santa Teresa do Menino Jesus ajudou-me muito: “Quanto mais você for pobre, mais Jesus a amará. Se você se afastar ele irá longe, bem longe, buscá-la...”.

Compreendi também que no madeiro da cruz Jesus havia assumido todos os meus sofrimentos. Esse sofrimento oferecido permitiu que, por minha vez, pouco a pouco, eu lhe oferecesse o meu. Isso não aconteceu num só dia. Foram necessárias horas e horas de doçura, de delicadeza, de paciência por parte do Senhor para reabilitar-me comigo mesma.

Eu readquiria a alegria de viver. Um dia, ao assumir o meu serviço no hospital, tive uma enorme surpresa. Diante de mim, num leito de doente... ele! Aquele rapaz que tanto me fizera sofrer, que desejara matar-me, contra quem secretamente eu alimentara um ódio incrível, estava lá, naquele leito de hospital, sofrendo, pobre e enfraquecido.

Durante onze anos, mesmo sem revê-lo, seu rosto ficara gravado em mim e agora ele surgia novamente na minha vida. Passado o choque da surpresa eu compreendi que, teoricamente, deveria cuidar dele. Na prática, aquilo parecia estar acima das minhas forças. Ele estava lá, nas minhas mãos, à minha disposição, esperando – como doente – que eu o aliviasse.

Então, todo o ódio que eu sentia por ele e que começava a atenuar-se, tornou-se mais forte, mais lancinante, mais presente. Eu podia vingar-me: eu podia matá-lo. E não se tratava de palavras vãs. Eu poderia muito bem injetar-Ihe algo em dose mortal. Pensei nisso. Desde o início. Pensava nisso à noite, em casa, sabendo que no dia seguinte o reencontraria. Eu pensava que, matando-o, me sentiria livre para sempre.

Eu sentia que Jesus me pedia para perdoar. Mas isso parecia estar além das minhas forças. Houve

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ESPECIAL

Eliana GomesMissionária da Com. CatólicaShalom em Fortaleza/CE

Com uma exposição, um congresso acadê-mico e um concerto que contou com a

presença do Papa Bento XVI, a Santa Sé comemorou os 80 anos do nascimento do Estado Vaticano.

No dia 11 de fevereiro comple-taram-se oito décadas da assinatura dos Pactos de Latrão. A exposição foi inaugurada em 12 de fevereiro no Braço de Carlos Magno, junto à Pra-ça de São Pedro. Nela, os visitantes conheceram como era a Santa Sé an-tes de 1929, como foi a construção do Estado Vaticano e como aconteceu a assinatura dos Pactos de Latrão.

Os Pactos de Latrão ou Pactos Lateranenses (11 de fevereiro de 1929) foram negociados quando o rei da Itália era Victor Manuel III. São chamados de “pactos”, pois se trata de três acordos: um pacto reconhece a independência e soberania da Santa Sé e cria o Estado da Cidade do Vaticano; uma concordata defi ne as relações civis e religiosas entre o governo e a Igreja na Itália – resume-se no lema “Igreja livre em Estado livre”; e, em terceiro lugar, uma conven-

“Estado do vaticano: território mínimo indispensável para o exercício de um poder espiritual.” (Papa Pio XI)

ção fi nanceira proporciona à Santa Sé uma compensação pelas perdas sofridas na anexação dos Estados Pontifícios à Itália, em 1870. Os pactos foram revisados em 1984, quando o socialista Bettino Craxi era primeiro-ministro.

Uma seção foi dedicada a Pio XI, em cujo pontifi cado aconteceu aquele acordo histórico que permitiu o reconhecimento mútuo entre o então Reino da Itália e a Santa Sé. Igualmente se dedicou outra seção aos pontífi ces que sucederam Pio XI e ao desempenho de cada um deles como chefes do Estado Vaticano.

A segunda iniciativa consis-tiu no congresso denominado “Um pequeno território para uma grande missão” que aconteceu dos dias 12 a 14 de fevereiro e que contou com a presença do cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálo-go Inter-Religioso.

No congresso foram analisados temas como a independência do Papa e do Estado Vaticano, as instituições da Santa Sé, as ima-gens e mitos diante da opinião pública, Pio XI como fundador e construtor do Estado, os anos difíceis da guerra e do pós-guerra, as reformas do Vaticano, a presença e infl uência de João Paulo II, a Rá-dio, o Estado Vaticano, o Estado Italiano, entre outros.

O evento concluiu-se com uma mesa redonda na qual se discutiu a frase do Papa Pio XI com a qual defi niu a razão de ser do Estado Vaticano: “esse território mínimo indispensável para o exercício de um poder espiritual”.

A terceira iniciativa foi o con-certo comemorativo de “O Mes-sias” de Haendel, a cargo de Our Lady’s Choral Society e da RTE Concert Orchestra de Dublin, com a presença do Papa Bento XVI.

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ATuALIDADE

Prof. Guzmán Carriquiry LecourSubsecretário do Pontifício

Conselho para os Leigos

Se observamos os diversos povos, culturas e civilizações que se sucederam sobre a face da terra, o que podemos encontrar de mais humano que a sede de verdade, do anseio

pela felicidade, que a necessidade de justiça e o desejo de amor que se unem, indestrutíveis e inextinguíveis, no coração de cada pessoa? A humanidade é unida por uma experiência fundamental, um conjunto original de evidências, desejos e exigências constitutivas do nosso coração, da nossa razão e da nossa afetividade. Não entramos em contato com a realidade como uma tabua rasa. Cada um traz consigo um dote, constituído pelos recursos comuns à natureza humana com os quais podemos relacionar-nos com o real em torno a nós. A própria natureza nos introduz no conheci-mento de nós mesmos, dos outros, da história, das coisas, fornecendo-nos, como instrumento universal de confronto, aquele mesmo impulso que cada mãe transmite da mesma forma aos seus fi lhos. A exigência da verdade – ou seja, do sentido da vida e do signifi ca-do geral da realidade –, a exigência de felicidade – ou seja, da plena realização de si, do cumprimento das próprias potencialidades –, a exigência de justiça – ou seja, do respeito pela dignidade própria e comum –,

a exigência de amor –, ou seja, da reciprocidade e da gratuidade da comunhão –, constituem a fi sionomia fundamental, a energia profunda e a trama existencial com que os homens de cada tempo e lugar desenvol-vem a própria humanidade, afrontando seriamente a vida, relacionam-se com os eventos e descobrem e guardam a esperança.

Esses anseios tornam-se perguntas inquietantes, às vezes verdadeiros gritos que acompanham a condição humana nas diversas circunstâncias e travessias da

“É este o nosso grito – exclamou o Servo de Deus João Paulo II durante a sua última viagem à América Latina, na basílica-santuário de Nossa Senhora de Guadalupe,em 23 janeiro 1999 –, uma vida digna para todos!”.

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existência. De onde venho e para onde vou? Qual é o significado úl-timo da existência? Que sentido há no sofrimento e na morte? Como alcançar a felicidade? Realmente, vale a pena viver? Quais as razões para viver, conviver, sofrer, lutar, amar, esperar? É a nossa própria vida que é colocada em discussão com essas perguntas, com esses gritos. O coração do homem per-manece inquieto enquanto não encontra respostas realmente satis-fatórias. A razão, que é a abertura à realidade na totalidade dos seus componentes, pede para conhecer o significado integral dessas coisas, não pode contentar-se de silêncios e divagações, fugas na superficiali-dade, posturas frustrantes de cinis-mo ou de conformismo. De fato, o homem foi criado para o infinito. Desejos e necessidades do seu coração não admitem limitações. Estamos à procura da verdade por inteiro, começando pelos conteú-dos, e os indispensáveis “porquês”, da nossa infância até as pesquisas científicas, às reflexões metafísi-cas, à inteligência da fé. Sabemos que o particular encontra o seu significado à luz do inteiro, e isso impulsiona a nossa sede de verdade até o fim, à raiz da totalidade do real. Gostaríamos de ser plena-mente felizes, e não aceitamos que a felicidade se reduza a uma experiência passageira, ofuscada e interrompida por dores, sofri-mentos e fracassos. Rebelamo-nos diante das injustiças que devem so-frer outras pessoas, grupos sociais e povos oprimidos, expropriados e excluídos dos bens destinados a todos, a começar pelo bem da própria vida e pela dignidade humana. Gostaríamos de cons-truir um mundo no qual reine, definitivamente, a justiça, onde as espadas sejam transformadas em arados e cessem as guerras, tiranias

Gostaríamos de ser plenamente felizes, e não aceitamos que a felicidade se reduza a uma experiência passageira, ofuscada e interrompida por dores, sofrimentos e fracassos.

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e escravidão. Gostaríamos de amar e superar todo limite, mais forte que a morte, um amor sem fi m, total, para sempre. “É este o nosso grito – exclamou o Servo de Deus João Paulo II durante a sua última viagem à América Latina, na basílica-santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, em 23 janeiro 1999 –, uma vida digna para todos!”.

Quanto mais esses desejos, essas perguntas pal-pitam no coração, quanto mais é advertida a sua importância totalizante, quanto mais arde o desejo e se levanta o grito que exige respostas totais a essas ânsias, tanto mais se sofre pela impotência e pela alie-nação humana, pela incapacidade de alcançar uma tal completa satisfação. Não conseguimos alcançar toda a verdade, toda a justiça e todo o amor que natural-mente, intimamente, infi nitamente dese-jamos ardentemente com nossas próprias forças limitadas, de-sordenadas, finitas. Fazemos o mal que não queremos e não o bem que quería-mos. Caim continua a ser o assassino do seu irmão, perma-nece uma desordem interior profunda, que nenhuma mudança de estrutura consegue curar, enquanto a morte inexoravelmente devora os nossos grandes desejos e ideais que todo o nosso ser procura e recla-ma. Seria contra a natureza, irracional, injusto que os desejos e as necessidades que constituem o nosso ser fossem condenados a ser frustrados. A vida não é – não pode ser! – uma “paixão inútil”, como dizia Jean-Paul Sartre. Não pode ser condenada a terminar no nada. Os anseios do coração humano não podem ser considerados arbitrários: miram um além, reclamam algo a mais. O nosso coração tem em si uma exigência última, imperiosa, de verdade e de felicidade, de justi-

ça e de amor, que exigem uma realização. A esperança é a estrutura própria da natureza humana, a essência da alma; a vida é uma promessa que espera e implora o seu cumprimento.

Somente a “hipótese-Deus”, somente a afi rmação do Mistério como realidade que transcende as nos-sas capacidades puramente humanas, corresponde à estrutura original do homem. É o mesmo Deus que colocou esse anseio no coração do homem, criando-o à sua imagem e semelhança, e vem ao encontro do homem na história, para doar-lhe a promessa certa da sua plena realização. O diálogo de Deus com o coração do homem teve o seu cume: o Mistério que tudo criou, no qual tudo consiste e subsiste, o Deus procurado e desejado pelo homem em todo o tempo,

cultura e religião, o Mistério a quem o homem direcionou a imaginação, a ra-zão e a oração, se fez homem irrompendo na história, em um tempo e em um lugar determinados, em um instante deci-sivo para a vida do mundo, de todo o

universo. Ele revela o verdadeiro rosto de Deus, e com ele o rosto do destino do homem, o signifi cado último do nosso ser. Confessamos e experimentamos que Jesus Cristo é o Verbo de Deus encarnado, a rea-lização do Amor misericordioso e redentor, a presença irrevogável de Deus no meio de nós; é o caminho, a verdade e a vida, resposta totalmente satisfatória, aliás, superabundante para os desejos e as necessidades do coração humano.

No coração do homem existe um inextinguível desejo de infi nito... Somente o Deus que se fez fi -nito para romper a nossa fi nitude e conduzir-nos à sua dimensão infi nita pode realmente responder às

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Rebelamo-nos diante das injustiças que devem sofrer outras pessoas, grupos sociais e povos oprimidos, expropriados e excluídos dos bens destinados a todos, a começar pelo bem da própria vida e pela dignidade humana.

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exigências da nossa natureza. O texto mais citado no Magistério do Servo de Deus João Paulo II é o parágrafo 22 da Gaudium et Spes: “Na realidade somente no mistério do Verbo encarnado encontra ver-dadeira luz o mistério do homem”. O Deus feito homem, o “novo Adão”, “o homem perfeito” “desve-la plenamente o homem a si mes-mo e lhe manifesta a sua altíssima vocação”. Portanto – conclui S.S. Bento XVI na homilia inaugural do seu pontifi cado – “quem deixa entrar Cristo, não perde nada, nada – absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. [...] Somente nessa amizade se abrem realmente as grandes po-tencialidades da condição humana. [...] Ele não tira nada, e doa tudo. Quem se doa a Ele, recebe o cên-tuplo”. E a vida eterna.

Esperanças no hojeda América Latina

E retornemos à nossa his-tória... Quais são as esperanças seculares, terrenas, hoje em vigor na América Latina?

São sinais de esperança as mais de três décadas de duração e de propriedade dos processos de democratização em quase toda a América Latina, tanto mais importantes enquanto deixam atrás de si períodos recorrentes de instabilidades e “golpes de estado”, a terrível dialética entre violências insurrecionais e repressões liber-ticidas, as práticas aberrantes de assassinatos políticos, “desapari-ções” e torturas. Trata-se de uma esperança que precisa-se guardar e cultivar. Essa continuará a ser tal, se fundada sobre o respeito dos direitos naturais e das liberdades fundamentais das pessoas e dos povos: a libertas ecclesiae, que está na origem de toda liberdade e é solidária com essas, é um critério

sensível para medir e garantir este respeito. Crescerá essa esperança se se consegue dar séria continuidade e credibilidade às instituições dos poderes públicos, se se rompe o círculo dos sistemas de poder e das lutas políticas auto-referen-ciais, se não se torna escravos das idolatrias do poder e das suas tendências autocráticas, se se sabe combater a corrupção e garantir uma autêntica ordem pública e segurança cidadã. Reforçar-se-á, essa esperança, se animada por vasta inclusão e participação popular na vida pública, movida por valores e ideais enraizados e presentes na tradição cristã dos nossos povos. Existe a necessidade de autênticas democracias que se mostrem realmente capazes de afrontar a complexidade e a dramaticidade dos problemas e dos desafi os sociais, indo além da persistente luta entre facções, a jaula de permanentes contraposi-ções, acusações e descréditos entre “inimigos”, as exasperações ten-dencialmente violentas, sabendo fazer confl uir vastas convergências populares e nacionais rumo a grandes objetivos de reconstrução, desenvolvimento e justiça social, e mobilizar as capacidades de trabalho, empreendimento e cria-tividade, sacrifício e solidariedade das pessoas, das famílias, dos mais diversos setores sociais e das asso-ciações e obras da sociedade nes-sas tarefas. É fundamental, para guardar e cultivar essa esperança, a guia dos três princípios basila-res da doutrina social da Igreja: a dignidade da pessoa humana, a subsidiariedade e solidariedade. Existem hoje na América Latina modelos virtuosos para essa espe-rança e não poucas ameaças.

Um outro horizonte de espe-rança foi aberto pelo fato de que os países latino-americanos estão

vivendo uma grande onda de cres-cimento econômico, graças sobre-tudo aos altos preços dos produtos agro-alimentares, minerais e ener-géticos. Mas será possível imprimir um crescimento auto-sustentável também em conjunturas que já se apresentam menos favoráveis e mais críticas, em meio ao terre-moto que se expande nas grandes instituições fi nanceiras e com o clima de recessão que se respira nos Estados Unidos e na Europa ocidental? Em que medida estão efetivamente reinvestindo as ri-quezas obtidas a nível tecnológico, produtivo, educativo e de decisões políticas de equidade social? Nos tempos das “vacas magras” se po-derá avaliar adequadamente quais tenham sido as políticas virtuosas, que regem o choque destas con-junturas críticas, e quais, ao invés, que levam a novas situações de instabilidade e depressão.

É ainda sinal de esperança o fato que diversos setores populares até ontem excluídos do mercado e da função pública não são mais “mar-ginais”, resignados e silenciosos, mas irrompem na cena das nações, com uma carga que é ao mesmo tempo de humilhação, exasperação e esperança de vida melhor. Es-pecialmente as comunidades e os movimentos indígenas mobilizam-se tornando-se protagonistas. Bem-vinda a valorização de “todas las sangres” – como diz o título do novo livro do peruano José M. Arguedas – e que se renda a devida dignidade e justiça àqueles que foram os mais humilhados e explorados. A dramá-tica questão indígena é uma questão nacional, de terra e de cultura, em uma pátria comum, sem exclusões. Não servem, porém, as chamadas anacronistas e míticas para as civilizações pré-colombianas, as apologias do neolítico, as meras reservas para os indígenas, a reto-

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mada de cosmogonias, o retorno de bruxos e magos, o indianismo anti-católico de ideologias confusas ou desonestas que retomam a “lenda negra”. Não servem nem mesmo as formas de desagregação da unidade nacional e latino-americana a partir de forçadas contra-posições étnicas. “Não somos [...] uma soma de povos e etnias que se justapõem”, reafi rmam os Bispos latino-americanos no documento da V Conferência Geral em Aparecida (n. 525). Inclusive aqueles que chamamos “indígenas” são na sua grande maioria etnicamente e culturalmente mestiços, ainda que marginalizados. A verdadeira questão é saber como ajudar estes setores populares a tornarem-se concidadãos, no século XXI, da construção das nações, promovendo a sua educação, formação e condições de vida que lhe tornem capazes de dialogar com o tremendo poder da cultura, do tra-balho e da “polis” do nosso tempo. Aqui reside o quid de uma autêntica esperança de resgate.

Uma esperança viva desde o tempo dos “Libertado-res”, emersa periodicamente com rostos diversos e for-mas históricas na vida dos países latino-americanos, é aquela esperança da construção de uma “pátria grande”, de uma grande nação capaz de incluir toda a verdade e a riqueza de povos irmãos, no subcontinente que mais que outros pode contar com os fatores de unifi cação a nível mundial. Bento XVI intuiu claramente esta vocação original, recordando aos representantes diplo-máticos da Santa Sé as palavras que João Paulo II disse durante a inauguração da IV Conferência de Santo Domingo (12/10/92), quando falou de “povos unidos defi nitivamente no caminho da história da mesma geografi a, fé cristã, língua e cultura”. O seu processo de integração parece fundamental para afrontar os desafi os colocados pelo crescimento e o inserimento “na dinâmica mundial condicionada sempre mais pelos efeitos da globalização” (idem). “Uma e plural, a Amé-rica Latina é a casa comum, a grande pátria de irmãos [...]” mesmo que despedaçada por profundas desigual-dades. “É a grande pátria” da qual falaram “Puebla” e “Santo Domingo”; e a V Conferência exprime a sua fi rme vontade de prosseguir com este compromisso” (cf. Documento de Aparecida, n. 525-527). Mais concretamente, os Bispos em Aparecida evidenciam também “melhoramentos signifi cativos e prometedores nos processos e nos sistemas de integração dos nossos países nos últimos vinte anos. As relações econômicas e políticas intensifi caram-se. Existe uma nova e mais estreita comunicação e solidariedade entre o Brasil e os países hispano-americanos e caribenhos”. Apesar disso, “existem graves bloqueios que param esses processos”. O documento cita a fragilidade e a ambiguidade de

“uma mera integração comercial” e a sua redução a “questões relacionadas às cúpulas políticas e econômi-cas”, sem que se aprofundem raízes na vida e na par-ticipação dos povos. Sobretudo revela-se que, “apesar da linguagem política sobre integrações abundantes, a dialética de contraposição parece prevalecer sobre o dinamismo de solidariedade e amizade”. Alimentar as convergências políticas, intensifi car, articular e institu-cionalizar uma sempre maior cooperação econômica, construir redes de comunicação física, energética e midiática, desenvolver os intercâmbios educativos e culturais, promover diversos movimentos e obras de solidariedade social, em vista da edifi cação de uma união sul-americana, no horizonte da “grande pátria” latino-americana, é um caminho de esperança no presente e para o comum porvir. Dessa não podem ser símbolos comuns aquelas antigas civilizações in-dígenas (que nunca tiveram uma consciência comum e, na atualidade os indígenas não chegam a ser 10% da população latino-americana), mas o são certamente Nossa Senhora de Guadalupe, o Cristo de “Los Andes” e o Cristo Redentor do Corcovado.

Alguns veem no modo de construção do “socia-lismo do século XXI” na América Latina um cami-nho de esperança. E algo que deve ser submetido a ulteriores apreciações e que abre sérios debates. Não basta confundir o “socialismo” com a concentração do poder político e uma dinâmica estatal. Corre-se o risco de tornar-se retórica ideológica e errada se não está fundamentada sobre o árduo dever de refazer seja um balanço das falências, misérias e devastações provoca-das pelas experiências históricas do “real socialismo”, que inclua necessariamente uma crítica radical dos paradigmas ideológicos de um marxismo-leninismo que perdeu força persuasiva, atrativa e propulsora; seja também da social democracia encharcada em um pragmatismo confuso e remodelada pelo hedonismo e pelo relativismo que prevalecem na sociedade do consumo e do espetáculo. Permanece árduo o dever, teórico e prático, de refazer, realistas e audazes, no-vos e originais modelos de desenvolvimento para o bem comum dos povos latino-americanos, além do anacronismo e das misérias de um neo-liberalismo e de um socialismo que mata a liberdade.

A fonte e o horizonte de toda verdadeira esperançaA promoção de um crescimento econômico

persistente e auto-sustentável, a incorporação tec-nológica e a modernização dos setores produtivos com alto valor complementar, a exaltação dos níveis educacionais em quantidade e qualidade humana, a

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reconstrução da base familiar e so-cial, a gradual superação dos muros de desigualdade e de exclusão, o alargamento e o aprofundamento ideal de uma autêntica democracia participativa, a construção de um Estado que não seja inefi ciente e sufocante e de um difuso empre-endimento de mercado que seja inclusivo, o caminho de integração de um mercado comum e de uma confederação sul-americana e latino-americana... são grandes e exigentes tarefas que pedem sere-na inteligência, fi rme paciência e sólida esperança. Pedem sobretudo uma maturidade humana das pes-soas e dos povos.

Somente um amor maior que as nossas misérias humanas é revo-lucionário e abre verdadeiros hori-zontes de esperanças, não limitados a “aquilo que se esperava – afi rma o Papa na Spe Salvi 35 – que as auto-ridades políticas e econômicas nos oferecessem [...]. Somente a grande esperança-certeza de que, apesar de todos os fracassos, a minha vida pessoal e a história no seu conjunto são guardadas no poder indestrutível do Amor e, graças a isso e por isso possuem sentido e importância, só uma tal esperança pode (não obstante todos os fracassos) dar ainda coragem de agir e de continuar” (cf. n. 35ss). “Eis o tesouro inestimável do qual é rico o continente latino-americano, eis o seu patrimônio mais precioso [...]. Esta é a vossa força, que vence o mundo – afi rmou o Papa na sua homilia em Aparecida –, a alegria

que nada nem ninguém poderá tirar-vos, a paz que Cristo vos conquistou com a sua cruz! É esta a fé que fez da América o Continente da Esperança. Não uma ideologia política, não um movimento social, não um sistema econômico; é a fé em Deus amor, encarnado, morto e ressuscitado em Jesus Cristo, o autêntico fundamento dessa esperança [...]”.

Não existe melhor servo à espe-rança que aquele da missão evan-gelizadora da Igreja. O documento conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Aparecida ilustra e propõe brilhantemente as razões e os ca-minhos dessa esperança na missão. Na missão está em jogo o destino das pessoas e das nações. Não existe construção verdadeiramente humana – construção da pessoa e da sociedade – se Cristo não é re-conhecido como a “pedra angular”. Cristo nos doa tudo e não nos tira nada – como disse S.S. Bento XVI na primeira homilia do seu ponti-fi cado (24.04.2005) – daquilo que torna a vida livre, bela e grande, da-quilo que é autenticamente verda-deiro e bom para a vida das pessoas, dos povos e das nações. “Somente de Deus – disse Bento XVI em Verona (19.10.2006) – pode vir a mudança decisiva do mundo” e a inauguração de um mundo novo, que penetra continuamente o nosso mundo, o transforma e o atrai a si. É a “revolução do amor”, à qual o Papa chamou os jovens em Colônia, que é mais forte que todo limite

e opressão, vitória sobre a morte (21.08.2005; cf. Spe Salvi, n.35ss).

Sendo conscientes do fato de que são ainda mais de 80% os latino-americanos batizados na Igreja católica, valor que consti-tui mais de 40% dos católicos a nível mundial, pode-se afirmar que, apesar de todos os nossos limites, as nossas incoerências e misérias, o destino dos povos latino-americanos e a missão da Igreja católica estão em grande parte interligados, ao menos pelas próximas décadas do século XXI. Caindo em refl uxo a tradição ca-tólica, e se não se procede com um intenso trabalho de educação da fé para converter os batizados em au-tênticos discípulos e testemunhas de Cristo, se não desencadeiam realmente energias missionárias por uma “nova evangelização”, se essa tradição católica não se torna alma, inteligência, força propul-sora e horizonte de crescimento, de maior justiça e fraternidade, de maturidade humana, os nossos po-vos sofrerão e perderão a sua maior riqueza. E se os nossos povos per-manecem submersos pelos ciclos periódicos de exaltações utópicas e depressões críticas, de idolatrias e messianismos temporais que ge-ram novas formas de escravidão, de crescimento econômico mas que trazem desigualdades intoleráveis, de atrasos e marginalidades no concerto mundial, o catolicismo é que sofrerá. Deus sustenta a nossa esperança, muitas vezes contra toda esperança.

Shalom Maná - Março/200932 Shalom Maná - Março/200932

ORAnDO COM A PALAvRA

José Ricardo Ferreira BezerraMissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

Você que é leitor antigo desta Revista sabe que o objetivo desta seção é levá-lo a ler e meditar com a Palavra de

Deus através do antigo e comprovado método da Lectio Divina que consiste em quatro passos: leitura, meditação, oração e contemplação. Os leitores novos ou os que tiverem dúvida podem consultar as revistas anteriores ou escrever-nos: [email protected].

Antes de continuar, peça o auxílio do Espírito Santo, Aquele que inspirou os autores sagrados a escreverem aquilo que Deus quis, para que você entenda o quê e o para quê foi escrito.

Hoje vamos tomar a oração que Je-sus nos ensinou. Tomemos o evangelho segundo São Lucas (11,1-4) e a passa-gem paralela do Evangelho de Mateus (6,7-15).

Leia com calma, primeiramente em Lucas, quando os discípulos pedem a Jesus que os ensine a orar e depois o texto de Mateus que é a fórmula con-sagrada da oração da Igreja com os sete pedidos.

O Pai-Nosso é a mais perfeita das orações como disse Santo Tomás de Aquino. “Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor”, afirmou Santo Agostinho.

O objetivo aqui não é fazer um estudo profundo do Pai-Nosso. O Ma-gistério da Igreja e inúmeros santos já escreveram e meditaram sobre a oração que o próprio Jesus nos ensinou. Uma boa base está no Catecismo da Igreja Católica nos números 2759 a 2865.

No “Pai-Nosso”, os três primeiros pedidos têm por objeto a Glória do Pai: a santificação do Nome, a vinda do

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Quando orardes, dizei:Quando orardes, dizei:Quando orardes, dizei:

Pai nosso...Pai nosso...Pai nosso...O Pai-nosso é a mais perfeita das orações como disse Santo Tomás de Aquino. “Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor”,afi rmou Santo Agostinho.

Reino e o cumprimento da Vontade divina. Os quatro seguintes apresentam lhe nossos desejos: esses pedidos concernem à nossa vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate visan-do à vitória do Bem sobre o Mal (CIC 2857).

Pai. A oração inicia chamando a Deus de Pai. São Pedro Crisólogo afi rma: “A consciência que temos de nossa situação de escravos nos faria desaparecer debaixo da terra, nossa condição terrestre se reduziria a pó, se a autoridade de nosso Pai e o Espírito de seu Filho não nos levassem a clamar: ‘Abba, Pai!’ (Rm 8,15)... Quando ousaria a fraqueza de um mortal chamar a Deus seu Pai, senão apenas quando o íntimo do homem é animado pela Força do Alto?”

Peça então ao Espírito Santo esta ousadia. Clame a Deus, chamando-o de Pai ou Paizinho. Comece assim: “Paizinho, eis-me aqui! Sou teu fi lho! Foste Tu que me geraste e me teceste no seio de minha mãe. Tu me conheces bem, desde antes de eu nascer. E hoje em tua presença eu clamo a ti, Paizinho. Com toda confi ança de uma criança em seu Pai, venho a ti. Transforma o meu duro coração, Pai...” Continue sua oração no seu caderno, conforme o Espírito Santo lhe inspirar.

Pai nosso. “Pai, dá-me a consciência de que somos todos irmãos e teus fi lhos. Paizinho, eu tenho con-fi ança em ti, pois Tu és o nosso Pai e Tu nunca nos abandonas...” (continue do seu jeito...)

Que estais no céu. “Sei, Pai, que o céu não é um ‘lugar’, mas uma maneira de ser. Tu não estás longe de mim, Tu és um Deus-conosco, um Deus próximo. O céu já começou com a tua vinda. Pai nosso que estais

no céu, Tu me ultrapassas em grandeza e majestade, mas é para ti que vou, é para o céu que me criaste. Pai nosso que estais no meu e nos corações de todos os teus fi lhos...” (continue...)

Santifi cado seja o vosso Nome. “Pai, sei que és San-to, sois o Deus três vezes Santo. Sei que teu nome é Santo. O Filho, Jesus, que nos deste é Santo. Santi-fi cadas são as tuas obras. Santifi cadas sejam as tuas obras em mim. Que eu seja santo como Tu és santo! Santifi ca-me, Paizinho, torna-me aquilo para o que Tu me criaste, a santidade...” (vá em frente...)

Venha a nós o vosso Reino. “Sim, Pai, que o teu Reino venha logo. Reino de amor, paz e justiça. Sei que o teu Reino já começa aqui. Que eu faça a minha parte na construção do teu Reino. Que eu não me esconda e nem esconda os talentos que Tu me deste para ajudar-te na construção do teu Reino. Que todas as vezes que eu te pedir a vinda do teu Reino, eu possa me comprometer em fazer a minha parte e apressar a tua vinda. Maranatha! Vem, Senhor!...” (siga sua inspiração...)

Seja feita a vossa vontade. “Sei que a tua Vontade é que todos os homens sejam salvos e cheguem ao co-nhecimento da verdade. Dá-me, pois, a perseverança na oração para que eu conheça a tua vontade a cada dia. Dá-me a coragem para cumprir a tua Vontade por mais desafi adora que ela seja. Dá-me a aceitação da tua Vontade quando ela me parecer difícil de aceitá-la. Pai, que a tua Vontade prevaleça sempre em minha vida...” (continue...)

O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje. “Tu sabes Paizinho, de todas as minhas necessidades materiais

Shalom Maná - Março/200934 Shalom Maná - Março/200934

e espirituais. Sei que este pão que te peço não é só para mim, mas para nós, pois é o nosso pão. Que eu aprenda a repartir o pão que Tu me dás. Que eu tenha consciência de que o pão que me sobra, falta na mesa de outros. Que eu leve o pão da tua Palavra a muitos que não te conhecem. Tu és o verdadeiro Pão do céu, o alimento verdadeiro para os homens. Como os apóstolos, eu também te peço: Dá-me sempre deste pão. Envia mais sacerdotes para consagrarem e distribuírem a Eucaristia...” (continue...)

Perdoai as nossas ofensas, assim com nós perdoamos a quem nos tem ofendido. “Paizinho, eu me reconheço pecador e necessitado do teu perdão. Reconheço as muitas vezes que te ofendi e aos

teus filhos, meus irmãos. Perdoa-me, pois estou

disposto a perdo-

ar a todos os que me ofenderam. Pai que eu não guarde mágoas e ressentimentos em meu coração. Ensina-me a perdoar incondicio-nalmente. Que eu busque sempre o sacramento da Reconciliação para receber o teu perdão e tua graça...” (continue...)

Não nos deixeis cair em tentação. “Pai, não me deixes entregue a mim mesmo e às minhas cobiças.

Não me permitas entrar no caminho que conduz ao pecado. Dá-me, Senhor, o Espírito de discernimento e de fortaleza e a graça da vigilância e a perseverança até o fim. Pai, eu sei que este mundo jaz sob o poder do maligno, mas eu tenho confiança em ti, pois venceste o mundo. Sei que não permitirás que eu seja tentado acima das minhas forças, mas na pro-vação me darás os meios para suportá-las e vencê-las contigo. Dá-me um

coração vigilante e atento para fugir das ocasiões de pecado...” (continue...)

Mas livrai-nos do mal. “Paizinho, livra-me do Maligno, do Diabo (aque-le que divide). Com a tua Igreja, eu te peço que

manifestes a tua vitória, pois Jesus já venceu Sata-

nás, o ‘Príncipe deste mundo’. Pai livra-nos de todos os males presentes, passados e futuros causados pelo Mal. Pai que o teu Reino venha logo e reine

assim a tua paz para nós...” (continue...) Amém! “Sim, Pai, que assim seja!

Que tudo isto que te pedi se cumpra, hoje e sempre! Que o meu Amém ex-

presse meu compromisso contigo, de fazer a minha parte. Amém! Amém! Amém!...”Você continuou a sua oração após cada frase?

Se não o fez, retome a oração do Pai nosso e reze conforme o Espírito Santo lhe inspirar. O objetivo da

Lectio é orar com a Palavra. Se você não rezar, pouco ou nada adiantará. Lembre-se de que a sua oração, só você

pode fazê-la. Caso você não tenha escrito sua oração tome agora o seu

caderno e anote as principais graças, e os compromissos que Deus lhe inspirou hoje.

Ó Maria santíssima, filha predileta do Pai, mãe de Jesus e esposa do Espírito Santo, rogai por nós!

Shalom!

“Sei, Pai, que o céu não é um ‘lugar’, mas uma maneira de ser. Tu não estás longe de mim, Tu és um Deus-conosco, um Deus próximo.

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JUBILEU SHALOMO Ressuscitadoe o homemESPIRITUALIDADEEis o Amor!

ESPECIALCampanha daFraternidade 2008

APROVEITE!

Não é uma ação qualquerQue se faz sem olhar o porquê,Mas, uma expressão que requerSentido em tudo saber,Que o amor recebido geraResposta naquele que espera.

Não é peso, perda, desgasteOu troca de favor, empateQue faz do outro devedor, E de quem dá um constante cobrador.

Assim, dar é riqueza sem igualQue cura o coração do malDo egoísmo, soberba e então,Faz do que recebe um irmão.

E aquele que aceita a ofertaDecerto mais rico ele � caDe bens que na alma desperta,Gratidão, alegria e sinal de alertaPara também de graça dar,E o ciclo do amor gerar.

Tereza Brito

do d arO sentido

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EnTREvISTA

Temos visto na mídia uma crescente preocupação com o aumento do fenômeno da intolerância religiosa. Até mesmo no Brasil, onde há uma grande diversidade étnica, cultural e, portanto, religiosa, o fenômeno está ganhando força e torna-se um desafi o para a sociedade. Afi nal, o diálogo entre as religiões está intimamente ligado ao problema da justiça e, ambos, à questão da paz.Para falar sobre o desafi o do diálogo interreligioso e sua relação com a justiça e a paz, entrevistamos a jornalista e teóloga Maria Clara Bingemer, Decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PuC-Rio.

Maria Clara BingemerJornalista e teóloga

Por Andréa GrippMissionária da Com. Católica Shalom no Rio de Janeiro/RJ

Qual o papel das religiões na promoção da paz?Maria Clara Bingemer – As religiões têm como papel lem-brar o ser humano dos valores essenciais: qual é o sentido da vida, em que consiste sua dignidade de ser humano. E,

ao mesmo tempo, fazê-lo experimentar sua identidade profunda de ser alguém capaz de Deus, aberto ao transcendente, capaz por graça de, em sua fi nitude, tocar o Infi nito, comunicar-se com o Absoluto. A religião abre para o ser humano horizontes novos e mais amplos, que transcen-dem a imediatez e o tamanho reduzido e raquítico das ideologias e das propostas materiais. Por isso, promovem a paz, estimulando a tolerância, o diálogo, abrindo círculos mais vastos de comunhão.

Os indicativos mostram que as pessoas estão cada vez mais desorientadas interiormente, o que prova que, ao contrário do que se prega em muitos setores da sociedade, o progresso e o desenvolvimento econômico não se traduzem em paz de espírito. A que se deve essa realidade, em sua opinião?

Creio que o melhor que posso fazer é invocar as recentes de-clarações do novo superior geral da companhia de Jesus, Padre Adolfo Nicolás. Ele diz que em tempos como os nossos, quando o consumo material se torna uma tirania e suga todas as nossas energias, quando há uma fadiga da caridade, as soluções externas ajudam pouco. Há que se cul-tivar o caminho interior, como ele chama, designando, assim, a espiritualidade, a vida de oração. Na verdade, o ser humano pode

Shalom Maná - Março/200938

estar cheio de recursos mate-riais, mas isso não o realiza. O verdadeiro sentido de sua vida se encontra na autotranscendência, no encontro com o Absoluto. E numa época como a nossa, quando o absoluto está quase varrido do horizonte, quando tudo é relativo, as pessoas ficam extremamente desorientadas.

Um dos princípios fundamentais das religiões é a justiça. Pode haver paz sem justiça?

Não, não pode haver paz sem justiça, justamente porque a in-justiça é a maior das violências. Ela impede o ser humano de ser justamente humano. Frei Betto diz, com muita razão, que no Brasil e em outros países falamos muito em direitos humanos, mas na verdade ainda estamos lutando pelos direitos, digamos, “animais”: comer, ter um lugar para se abrigar das intempéries, engordar a cria. Se a justiça não se fizer, não avan-çar, e a brecha entre ricos e pobres se alargar ainda mais, podemos estar certos de que a violência acompanhará diabolicamente esse crescimento. Lutar pela justiça é lutar pela paz. Já dizia o saudoso Papa Paulo VI, em sua Encíclica Populorum Progressio, que fez 40 anos este ano: “o desenvolvimento é o novo nome da paz”.

Em sua opinião, qual o caminho para a paz?

O único caminho para criar comunhão é o caminho interior. As pessoas podem ser de culturas, línguas diferentes, mas se têm sintonia interior, espiritual, aí elas experimentam proximidade. A proximidade geográfica não é garantia para nada, sobretudo hoje. Nas grandes cidades, às vezes não conhecemos nossos

vizinhos e vamos nos reunir com pessoas no outro extremo da cidade. Por quê? Por sintonia, afinidade, que pode ser cultural, artística, estética. Mas, sobretudo, espiritual, experiencial no sentido mais profundo.

Papa João XXIII, na Encíclica Pacem in Terris fala da impor-tância da liberdade religiosa, princípio também constitutivo da Doutrina Social da Igreja. Qual o papel do diálogo religioso no estabelecimento da paz?

Sem dúvida a tolerância e a li-berdade religiosa são um exercício prático para a paz. Na medida em que olho a religião do outro, sua fé diferente da minha como legí-tima e a respeito, embora dela não partilhe, estou instaurando uma dinâmica de paz, de diálogo, de abertura, e, portanto, de paz.

O ecumenismo, entre os cris-tãos, e o diálogo interreligioso, são defendidos pelas diferentes tradições religiosas. Mas, então, por que é tão difícil viver isso na prática?

Porque para nós é muito di-fícil aceitar o diferente, aquilo que não somos nós, aquilo que não reproduz o que somos inte-gralmente. A religião do outro, a fé do outro, me instiga, porque revela a mim a diferença e que eu não sou dono da verdade. O outro revela que tenho que abra-çar a verdade em que creio com espírito de pobreza, daquele que sabe não possuí-la por inteiro. Nossa inclinação natural é re-duzir o outro ao mesmo de nós. Só a graça de Deus nos permite abrir-nos à diferença, respeitá-la, contemplá-la amorosamente e até aprender dela, sem renunciar ou negligenciar ao que somos, ao que acreditamos.

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As religiões têm como papel lembrar o ser humano dos valores essenciais: qual é o sentido da vida, em que consiste sua dignidade de ser humano. E, ao mesmo tempo, fazê-lo experimentar sua identidade profunda de ser alguém capaz de Deus, aberto ao transcendente, capaz por graça de, em sua finitude, tocar o Infinito, comunicar-se com o Absoluto.

Shalom Maná - Março/200940

PAPO JOvEM

Renata M. Bezerra

Sábado. Anoitece em um dos maiores shop-pings da cidade. Som-bras se multiplicam em

movimento entre os corredores, entrando e saindo das lojas, na praça de alimentação. Ao fundo, o som de brinquedos eletrônicos mistura-se a uma “música ambien-te” quase inaudível e ao barulho de milhares de vozes, formando uma sinfonia ensurdecedora, que poucos chegam a perceber. Nin-guém se importa. Há uma espécie de hipnose em gente que sonha vestir as mais badaladas grifes e estar sempre na última moda. As vitrines seduzem as pessoas como lâmpadas fascinam mariposas.

Em outros centros comerciais a paisagem muda, mas o com-portamento é idêntico. O con-sumo cresce. Empresas gastam milhões em novas lojas, que têm

Jesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditaduraJesus e a ditadura

É triste perceber que nós, jovens e adolescentes, muitas vezes nos tornamos alvos fáceis da artilharia do consumismo. Quando nascemos o mundo já girava nesse ritmo e, por não sabermos como sair dessa, nos deixamos engolir por esse furacão vertiginoso.

o ambiente projetado para atrair e encantar. São pequenas fábricas de dinheiro cuja matéria-prima é a vaidade, o desejo imoderado de atrair atenção.

Somos todos vistos como con-sumidores em potencial, e é o “consumo que tem feito o mundo girar”, segundo especialistas.

É triste perceber que nós, jo-vens e adolescentes, muitas vezes nos tornamos alvos fáceis da ar-

tilharia do consumismo. Quando nascemos, o mundo já girava nesse ritmo e, por não sabermos como sair dessa, nos deixamos engolir por esse furacão vertiginoso.

Sabemos que a adolescência é o período em que a personalidade começa a “tomar corpo”. Nesse tempo temos oportunidade de fazer uma escolha mais livre e consciente dos valores que norte-arão nossas vidas. Também nesse

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momento despertamos para a bus-ca da nossa identidade, queremos descobrir quem somos, tememos a rejeição e necessitamos ser aceitos, amados... Daí o fato de ser muito comum nessa fase uma certa iden-tifi cação com o grupo de amigos (ou com “ídolos”) no modo de falar, de se portar e vestir...

O fato de estarmos ainda des-cobrindo quem somos nos torna frágeis, vulneráveis aos constantes ataques da mídia, que investe alto para nos transformar em consumi-dores, para nos convencer da “ne-cessidade” que temos dos produtos que estão sendo anunciados. Não é à toa que o chamado “mercado jovem” é um dos mais lucrativos.

Chega a ser “golpe baixo” o que as grandes marcas e a ditadura da moda fazem conosco. Elas sabem das nossas inseguranças, do desejo que temos de ser aceitos, e por isso tentam nos convencer de que vale-mos o que vestimos, de que somos o que vestimos e que se usarmos a marca “tal” seremos bem-vistos, bem-aceitos etc. E acabamos entrando nesse jogo. Vestimos as marcas, submetemo-nos à moda e esperamos que ela nos proporcione aquilo que promete: segurança, identidade, aceitação, valor... e quando isso não acon-tece nos frustramos e corremos em busca de outras marcas, de novas aquisições que nos façam sentir alguém, que diminuam o gosto amargo do vazio que fi ca em nossa boca... A frustração e o vazio só aumentam, e no meio desse turbilhão é difícil perceber quão paradoxal é essa situação e quão contraditórias acabam sendo nossas atitudes: superestimamos nossa imagem, mas queremos ser amados pelo que há dentro de nós; nos portamos e vestimos igual a todos, mas lutamos para provar que somos diferentes...

Somos levados a supervalorizar o que está fora, a “embalagem”, as roupas de marca, o corpo “sarado”, os acessórios da moda...e muitas vezes sofremos quando não temos no guarda-roupa “aquela calça” (ou seja lá o que for) que vimos na semana passada (e que nem sempre tem a nossa cara, mas como todo mundo está usando, acabamos nos acostumando)... E isso é tão perigo-so! Não raro encontramos pessoas que investem todo o seu tempo livre, inteligência e saúde, sua vida nisso! É por essa escravidão que muitos trocam a liberdade que nos foi dada por Deus!

Alguém pode estar pensando: “Ih, lá vem! Daqui a pouco você vai dizer que temos de andar em farrapos!” Não, claro que não! Defi nitivamente não é isso que Deus quer. Certamente, Ele deseja que cuidemos com zelo e amor daquilo que Ele mesmo nos confi ou; e andar sujo e mal vestido não é, de modo algum, sinal de desapego; é antes sinal de desleixo, de falta de zelo. O que Ele quer é que fi que bem claro para nós que não precisamos da escravidão que os modismos tentam nos impor. Não pertencemos às marcas, não pertencemos nem a nós mes-mos, somos propriedade de Deus, fomos comprados por um alto preço: o sangue de Cristo! (cf. 1Cor 6,20).

Precisamos deixar que em nosso meio e den-tro de nós reine Je-sus e não a ditadura da moda. A nossa maneira de vestir não deve ser algo vindo de fora para dentro, mas re-fl exo do nosso ser interior, daquilo que verdadeira-

mente somos, e daquele que em nós habita.

Em vez de tentar nos identifi car com modas ou marcas que jamais conseguirão conter a totalidade do nosso ser, por que não procuramos nossa identidade onde seguramen-te a encontraremos? Em Jesus, não só seremos capazes de desvendar nossa identidade, como também de enxergá-la revestida de uma dignidade e valor que marca ne-nhuma no mundo seria capaz de nos dar. Somos fi lhos muitíssimo amados de Deus, nele encontra-mos todo amor e acolhida. Ele, mais que ninguém, é capaz de dizer quem somos (afi nal, quem melhor do que o Autor para falar de sua obra?). Então, em vez de optar pela escravidão de nos encaixar naquilo que a mídia, a moda e os outros esperam que sejamos, experimen-temos a liberdade de descobrir e ser o que Deus pensa de nós!

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Não pertencemos às marcas, não pertencemos nem a nós mes-mos, somos propriedade de Deus, fomos comprados por um alto preço: o sangue de Cristo! (cf. 1Cor 6,20).

Precisamos deixar que em nosso meio e den-tro de nós reine Je-sus e não a ditadura da moda. A nossa maneira de vestir não deve ser algo vindo de fora para dentro, mas re-fl exo do nosso

Somos todos vistos como consumidores em potencial, e é o “consumo que tem feito o mundo girar”, segundo especialistas.

Shalom Maná - Março/200942

ACOnTECE nO MunDO

Os Correios do Bra-sil lançaram no dia 7 de fevereiro um selo comemorati-

vo do centenário de nascimento de Dom Helder Camara.

De acordo com os Correios, o lançamento ocorreu em duas

Brasil: selo em homenagem deDom Helder Camara

da paz. Ao lado, em tamanho menor, a imagem de agricultores representa alguns dos importantes movimentos sociais dos quais par-ticipou, como a Pastoral da Terra, Pastoral do Negro e Pastoral do Índio.

Ao fundo, a imagem rebai-xada e em silhueta da Igreja das Fronteiras, local em que viveu até sua morte. Complementando o selo, um fundo azul e alaranjado, simbolizando o alvorecer de um novo tempo.

O design ficou a cargo da ar-tista Silvania Branco, que utilizou técnicas de ilustração vetorial e computação gráfica na elabora-ção da imagem. A tiragem é de 1.020.000 unidades.

Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, no Ceará, e faleceu em Pernambuco, em 27 de agosto de 1999.

cidades significativas na vida do homenageado: Fortaleza/CE, local de nascimento de Dom Helder, e Recife/PE, onde atuou como arce-bispo por mais de duas décadas.

O selo traz a imagem de Dom Helder Camara soltando uma pomba branca, símbolo universal

Complementando o selo, um fundo azul e alaranjado, simbolizando o alvorecer de um novo tempo.

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Bento XVI nomeou o sacerdote m e x i c a -

no Pedro Miguel Funes Díaz, dos Cruzados de Cristo Rei, como chefe de escritório na Congre-gação para a Doutrina da Fé, onde até agora trabalhava como ajudan-te de estudo, segundo anunciou neste sábado a Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Pe. Pedro Miguel Funes nasceu na Cidade do México em 1958. Ele é um dos primeiros sa-cerdotes da Sociedade de Cruzados de Cristo Rei,

Doutrina da FéNomeação do chefe de escritório na

inspirado nas palavras de Cristo, que ensina aos seus apóstolos: Quem quiser ser o primeiro, que seja o último e o servidor de todos.

Ele explica que o ser-viço da sociedade consis-te em promover o amor

Milhares de jovens dos cinco conti-nentes se uniram em um dia de

oração de 24 horas ininterruptas, que aconteceu com Eucaristias e Adorações em cerca de 400 cidades do mundo inteiro.

De Jerusalém a Roma, Nova York, Cracóvia, assim como na Ar-gentina, Brasil, Espanha, França e em alguns países da África, Austrália

Jovens dos cincocontinentes – Oração pelapaz na Terra Santa

e Ásia rezou-se pela paz na Terra Santa. Também houve uma Missa com esta intenção na paróquia do Patriarcado Latino da Sagrada Fa-mília de Gaza.

A Cidade do Vaticano também participou desse dia internacional com uma Eucaristia concelebrada pelo cardeal Raffaele Farina, pre-feito da Biblioteca Apostólica Vati-cana, com a Comunidade Salesiana da Tipografia Vaticana.

O Dia Internacional de Oração pela Paz nasceu da intenção de responder às palavras pronunciadas por Bento XVI no Ângelus de 28 de dezembro passado, no qual pediu aos cristãos “orações intensas” pela paz.

A iniciativa foi promovida por várias associações juvenis católi-cas, como a Associação Nacional “Papaboys”, o Apostolado “Jovens pela Vida”, as Capelas da Adoração Perpétua na Itália, os grupos de Reunião Eucarística e outros.

O Dia de Oração recebeu também a adesão de muitos grupos de oração, leigos, consagrados, de sacerdotes de todo o mundo, e de muitas pa-róquias salesianas, das Missionárias da Consolata e dos Missionários do Preciosíssimo Sangue.

Jovens do mundo inteiro aderiram no Facebook “Queremos a paz na Terra Santa” (Vogliamo la pace in Terrasanta).

surgida em 25 de janeiro de 1971 em Naucalpan (México).

Comentava que a so-ciedade tem como fim estender o Reino de Cristo nos homens e nas sociedades através do ministério sacerdotal

e a obediência ao Papa; pesquisar, ensinar e di-fundir com fidelidade a mensagem da salvação, atendendo ao ambiente cultural e à variável pro-blemática dos tempos; acatar as disposições dos bispos, colaborar com o clero, com os institutos religiosos, as sociedades de vida apostólica etc., fomentando seu respeito e estima; e apoiar e im-pulsionar, espiritual, mo-ral e doutrinalmente os leigos para que cumpram sua missão de impreg-nar e aperfeiçoar toda a ordem temporal com o espírito evangélico.

Filme: Nossa vida sem Grace

John Cusack in-terpreta um pai que perde o rumo na vida quando sua mulher é morta em serviço no Iraque. Sem forças para contar o ocorrido para as fi lhas, ele as leva em uma viagem até um parque de diversões. Sabendo que a diversão não pode durar pra sempre, ele luta para encon-trar as palavras que vão mudar as vidas de suas fi lhas.

Shalom Maná - Março/200944

DIvIRTA-SE

HORIZONTAIS:1- Segundo nome de Judas, o traidor (Mt 10,4)2- Primeiro fi lho do profeta Eli (1Sm 1,3)3- Sacerdote que encontrou o Livro da Lei (2Cr 34,14)4- Rei de Tiro que ajudou na construção do Templo de Salomão (1Rs 5,15)5- Filho de Fineias cujo nome signifi ca a Glória de Israel foi exilada (1Sm 4,21)6- Mãe de Adonias, o quarto fi lho de Davi (2Sm 3,4)7- Pai de Coré que se revoltou contra Moisés (nm 16,1)8- Mandou matar João Batista (Mt 14,10)9- Foi arrebatado para que não experimentasse a morte (Hb 11,5)10- Filho de Saul feito rei de Israel por dois anos (2Sm 2,10)11- Profetizou o nascimento do Emanuel (Is 7,14)12- Profeta enviado a Daniel na cova dos leões (Dn 14,37)13- Terceiro fi lho de Aarão (nm 3,2)14- General de nabucodonosor, segundo homem do Reino (Jt 2,4)

VERTICAIS:1- Seus fi lhos fi caram como porteiros do Templo (1Cr 16,42)2- A mãe de João Batista (Lc 1,58)3- Filho de Henoc e neto de Caim (Gn 4,18)4- Mãe de Sedecias que reinou onze anos em Jerusalém (2Rs 24,18)5- Pai do profeta Jeú, que falou contra o rei Baasa (1Rs 16,7)6- O nome mudado de Jacó (Gn 32,29)7- O fi lho de Abraão e Sara (Gn 21,3)8- Do ouro de sua família, Zacarias fez coroas para ungir Josué (Zc 6,10)9- Cunhada com quem Herodes se casou (Mc 6,17)10- Rei de Aram ungido por Elias (1Rs 19,15)11- um dos chefes dos Trintas de Davi (1Cr 12,4)12- Foi chicoteado pelo Céu por atacar a sala do tesouro (2Mc 3,34)

por José Ricardo Ferreira Bezerra

Horizontais1. Iscariotes/ 2. Hofni/ 3. Helcias/ 4. Hiram/ 5. Icabod/ 6. Hagit/ 7. Isaar/ 8. Herodes/ 9. Henoc/ 10. Isbaal/ 11. Isaias/ 12. /Habacus/ 13. Itamar/ 14. Holofernes.Verticais1. Iditun/ 2. Isabel/ 3. Irad/ 4. Hamital/ 5. Hanani/ 6. Israel/ 7. Isaac/ 8. Idaias/ 9. Herodiades/ 10. Hazael/ 11. Ismaias/ 12. Heliodoro.

Personagens bíblicos iniciados por “H” ou “I”

Augusto era um menino pro-dígio e muito astuto. Certo dia, quebrou uma barraca

de frutas de um ambulante, espalhan-do as frutas por toda a rua.

O pobre homem reclamou ao pai do garoto, que prontamente pagou pelo prejuízo.

Embora o pai soubesse que o � lho era dado a travessuras, estava também consciente de que não era peculiar ao menino prejudicar uma pessoa com suas ações. Não desejan-do passar-lhe uma reprimenda, o pai perguntou-lhe qual o motivo daquele compor-tamento.

“Observei o homem arrumar as frutas no car-rinho,” defendeu-se. “Ele colocou frutas estragadas e de qualidade inferior por baixo, então co-briu tudo com uma

Filme:O Vaticanode Bento XVI

Ao longo de 23 anos, o cardeal alemão Joseph

Ratzinger foi o braço direito de João Paulo II e um dos mais poderosos integrantes da Cúria Romana. Hoje, ele é o Papa Bento XVI. Este DVD traz a biogra� a do Sumo Pontí� ce e uma entrevista inédita, em que ele revela seus locais preferidos no Vaticano e conta como foi sua trajetória até se tornar um in� uente líder da Igreja Católica. Em imagens nunca antes vistas, Bento XVI nos acompanha em um passeio pelo menor Estado independente do mundo e nos guia por lugares maravilhosos e inacessíveis ao público. Dos arquivos da Santa Inquisição aos cemitérios e museus, o Papa nos apresenta um mundo que ninguém conhece tão bem quanto ele. Numa visita que vai muito além do mistério e dos portões de bronze que cercam o Vaticano, mergulhamos em uma fascinante viagem pelo universo de Bento XVI.

fina camada de frutas de primeira. Estava tentando enganar os fregueses, que iriam pensar serem todas de boa qualidade. Era meu dever proteger comprado-res desavisados de serem roubados por uma pessoa desonesta.”

Já na infância, Augusto manifestava tanto sua inte-ligência quanto o senso de justiça.

As aparências enganam

- Março/2009

do passar-lhe uma reprimenda, o pai perguntou-lhe qual o motivo daquele compor-

“Observei o homem arrumar as frutas no car-rinho,” defendeu-se. “Ele colocou frutas estragadas e de qualidade inferior por baixo, então co-briu tudo com uma

EnTRELInHASMaria Emmir Oquendo Nogueira

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limite pessoallimite pessoallimite pessoalO precioso dom doO precioso dom doO precioso dom do

Como um fi lme cada vez mais longo, o Senhor me foi mos-trando o quanto eu

era presunçosa, como “só queria ser a tal”, como se diz no Nordeste. A medida do meu limite era a neces-sidade do outro, ainda que o que ele necessitasse ou pedisse fosse

muito difícil ou quase impossível para mim. Adotei isso como um projeto de vida: ao amar Jesus e meu irmão, diria sempre “sim”. Fa-ria sempre o que fosse necessário, ainda que não soubesse fazê-lo.

Para ser sincera, creio que, enquanto Deus permitiu, esse projeto de vida “funcionou”. Se eu

não sabia fazer, estudava, aprendia, tentava, desde que ajudasse. Se não podia fazer, sacrifi cava o sono, a saúde, mas fazia o necessário para os outros e – imagine o atrevimen-to! – para Deus!!!

O resultado é que presenciei o poder de Deus cada dia de minha vida. O que eu não sabia, Deus sa-

neste começo de ano, Deus me deu um presente inusitado. Enquanto todos faziam grandes planos para em 2009 melhorar neste ou naquele aspecto, o que Deus me pediu foi fazer planos para respeitar meus limites humanos, amá-los e utilizá-los como instrumentos preciosos para “garimpar” a humildade.

Shalom Maná - Março/200946

bia. O que eu não podia, Deus po-dia. No fi m, sempre dava certo.

Por outro lado, aprendi de tudo um pouco e Deus me usou pacien-temente, provavelmente com um sorriso no canto da boca. Aprendi também algo importante, talvez tarde demais: o que as pessoas jul-gam necessário nem sempre o é de fato. Existem falsas “necessidades”, carências, ilusões, fantasias, ape-gos, expectativas, idolatrias. Existe até uma saudável convivência com a necessidade que leva as pessoas a Deus e ao amadurecimento atra-vés da oração, da refl exão, da luta diária para amar.

Meu projeto de sempre cor-responder às necessidades dos outros escondia uma fraqueza de base: não saber quando e como dizer “não”. Dizendo melhor: não saber discernir à luz do Espírito Santo quando Deus realmente queria que eu servisse àquela pessoa da forma que ela pensava “necessitar” ou de outra forma, como, por exemplo, a intercessão e penitência escondidas.

Sabe que com isso quase me colocava no lugar de Deus? Pior, quase me colocavam no lugar de Deus! Meu raciocínio sincero era: “Se para Deus nada é impossível, posso ser instrumento para o im-possível que só Deus pode fazer. Aí, então, essa pessoa encontrará o Senhor e o amará mais”.

Em contrapartida, o raciocínio sincero das pessoas era: “Se ela

rezar por mim, fi co curado. Se ela me der uma bênção, fi co bom, se ela pregar, vem gente”. Veja só: me colocavam no lugar de Deus! Também pudera! Eu mesma me colocava aí! Eu mesma ia agindo conforme o que as pessoas pediam e nem sempre segundo o que Deus pedia!

Meu projeto de sempre corresponder às necessidades dos outros escondia uma fraqueza de base: não saber quando e como dizer “não”.

Foi aí que o Senhor me ensinou mais uma vez que só Ele é, só Ele ama verdadeiramente, só Ele pode, só Ele sabe, só Ele realmente resolve...

cansa, que tudo crê, tudo espera, tudo suporta, como afirmam Teresinha e Paulo. Ora, se eu estava exausta, era sinal que não estava amando com autentici-dade, verdadeiramente fazendo a vontade de Deus, realmente ouvindo a Deus sobre Sua von-tade para o irmão.

Foi aí que o Senhor me ensinou mais uma vez que só Ele é, só Ele ama verdadeiramente, só Ele pode, só Ele sabe, só Ele realmente re-solve e, como um bom artesão de nossas almas, usa o instrumento apropriado para cada obra. Quan-to a mim, sou um instrumento, digamos, um pincel, que um dia fi ca “careca” ou uma plaina que um dia fi ca cega. Um bom artesão, naturalmente, não usará um pincel para aplainar um tampo, nem uma plaina para fazer pátina.

Em meu orgulho disfarçado de presunção de onipotência, quis ser plaina, pincel, martelo, chave de fenda e sabe Deus o que mais. Resultado: exaustão, pincel careca, plaina cega, martelo frouxo. Deus, naturalmente, pode nos utilizar como quiser ou pode, simples-mente, deixar-nos ver nossos limites com tanta evidência que isso será para nós salvação. No meu caso, o grande problema, a causa da exaustão, parecia ser não saber dizer “não”. A grande chaga, porém, era achar que eu, pecadora, criatura humana, pudesse me dar a esse luxo!

Resultado: exaustão, que é um termo politicamente correto para uma série de sintomas extrema-mente desagradáveis. É a pura verdade que o amor não sabe calcular, que não cansa e nem se