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SOBRE AS RELAÇÕES PORTUGAL ESTADOS UNIDOS RUI CHANCERELLE DE MACHETE Lisboa 2005 LUSO-AMERICANA FUNDAÇÃO

SOBRE AS RELAÇÕES PORTUGAL ESTADOS UNIDOS · entre Portugal e os Estados Unidos da América. Portugal é um pequeno país, de dez milhões de habitan-tes, com diminutos recursos

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SOBRE ASRELAÇÕES

PORTUGALESTADOS UNIDOS

RUI CHANCERELLE DE MACHETE

Lisboa 2005

LUSO-AMERICANAFUNDAÇÃO

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Lisboa 2005

RUI CHANCERELLE DE MACHETE

SOBRE ASRELAÇÕES

PORTUGALESTADOS UNIDOS

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Índice

Palavras Introdutórias..................................................................................... 7

As Relações entre Portugal e os Estados Unidos da América......................... 13

Interesses Portugueses na América do Norte.................................................. 31

SOBRE ASRELAÇÕES

PORTUGALESTADOS UNIDOS

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PALAVRAS INTRODUTÓRIAS

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Reúnem-se nesta publicação duas conferências, ambas pro-feridas sobre o tema das relações luso-americanas: a maisantiga, “Interesses de Portugal na América do Norte” dadana Sociedade de Geografia em Dezembro de 2003, integradano ciclo de palestras “Visões de Política Externa Portuguesa”;a mais recente, “Relações entre Portugal e os Estados Unidosda América”, feita em 13 de Dezembro de 2005, constituindoa lição inaugural do Curso de Defesa Nacional de 2005--2006, organizado pelo Instituto de Defesa Nacional.

Apesar dos dois anos que as separam, ambas, para alémda unidade do objecto sobre que versam, obedecem à mesmapreocupação de sublinhar a relevância, nas relações interna-cionais, dos contactos e vínculos que se estabelecem entre osmembros e estruturas das sociedades civis dos diversos Estados.

Para os países pequenos como Portugal que não podemdispor de aparelhos militares e diplomáticos poderosos, estaperspectiva revela que as redes de relações entre a pessoa einstituições não públicas constituem factores de influênciaou de poder não despiciendas. As relações entre Portugal eos Estados Unidos, designadamente, ganham se vistas a estaluz, pois muitos aspectos que ficariam na penumbra no con-tacto Estado a Estado, passam a poder ser analisados e valo-rados.

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Alguns estudiosos da vida internacional procuram já inte-grar estas realidades nas suas teorias interpretativas. Privilegiam,na análise das relações internacionais, porém, a análise espec-tral do poder, sempre imputado aos Estados, em detrimentodo exame da especificidade dos diversos actores, e da carac-terização e enquadramento jurídico correcto do grupo polí-tico fundamental que está por detrás do Estado e da sua per-sonalidade. Esse grupo de pessoas físicas, identificado emtermos existenciais e históricos – muitas vezes, na Europa,coincidente com a Nação – não pode reconduzir-se à sim-ples noção funcional de povo, órgão do Estado, como o faza clássica construção de Gerber – Jellinek. Sem aí se esgotar,estrutura-se, antes, numa Constituição, Lei Fundamental quenão se articula e dá forma exclusivamente ao Estado, masque por diversos modos se relaciona com o grupo ou asso-ciação constituinte.

As reflexões de constitucionalistas como Haverkate1, e,entre nós, de Gomes Canotilho2, e os esforços dos que pro-curam desligar os conceitos de povo e de cidadania do deEstado, para dar maior coerência à construção europeia, pare-cem estar no caminho certo3. Deste modo, as sequelas nega-tivas no campo jurídico, e também no político, das teoriasque assentam nos conceitos recessivos de Estado, e sobera-nia – e também de povo, como órgão central do primeiro –poderão ser minimizadas.

A um outro nível, esta metodologia parece ser tambémapropriada para explicar o papel, na vida internacional, daspessoas individuais, das suas associações, das fundações, empre-sas e demais instituições. Compreender-se-á que a FundaçãoLuso-Americana para o Desenvolvimento que, por impera-tivo estatutário, se dedica primacialmente a incrementar e

1 Görg Haverkate,“Verfassungslehre –

Verfassung alsGegenseitigkeitsor-dnung”, Munique,1992, esp. pág. 38

e segs.

2 Veja-se,especialmente, o

artigo “Precisará ateoria da

ConstituiçãoEuropeia de uma

teoria do estado?”,in “Colóquio

Ibérico:Constituição

Europeia.Homenagem ao

Doutor FranciscoLucas Pires”,

Coimbra, 2005,pág. 665 e segs.

3 J. H. H. Weiler,“To be a European

Citizen: Eros andCivilization”, agora

publicado em “The Constitution

of Europe”,Cambridge, 1999,

p. 324 e segs. Os relatórios de

J. Kohott e de T. Vesting sobre

“Die Staatslehre und die Veraenderung

ihres Gegenstandes:Konsequenzen von

Europaeisierung und Internationalisierung”na reunião anual da

Associação dosProfessores de

Direito Público de2003 em

Hamburgo,VVDStRL, 63,Berlim, 2004,

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RUI CHANCERELLE DE MACHETE

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robustecer as relações entre instituições americanas e portu-guesas, como modo de contribuir para o progresso econó-mico, social e cultural do nosso País, dê particular atençãoa uma óptica que melhor enquadra e robustece a sua activi-dade. Da mesma forma, esta visão, que coloca a Fundaçãono âmbito da política externa portuguesa, como instrumentomodesto mas actuante nas relações com os Estados Unidos,permite sublinhar a miopia dos que a consideram simplesfonte de compensações financeiras, destinada a suprir défi-ces de erários públicos sempre minguados.

Diga-se, por último, que as duas falas que agora se dão àestampa, tentam também ser um grito de alerta para, face àsoportunidades que se vão perdendo para o País neste sector,tentar corrigir a rota. Oxalá possamos ser ouvidos!

27 de Dezembro de 2005

respectivamente p. 7 e segs. e p. 41 esegs., dão-nos bemideia da revisãoconceptual que seprocessa nosdomínios doDireito do Estado e do DireitoInternacionalPúblico, para alémnaturalmente do DireitoComunitário.

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PALAVRAS INTRODUTÓRIAS

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As Relações entre Portugal eos Estados Unidos da América

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1. Considerações Preliminares

O tema sobre que nos convidaram para falar são as relaçõesentre Portugal e os Estados Unidos da América.

Portugal é um pequeno país, de dez milhões de habitan-tes, com diminutos recursos económicos e modesta capaci-dade militar. Os Estados Unidos são hoje a única superpo-tência existente, depois do colapso da União Soviética. HubertVedrine, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros fran-cês, qualificou mesmo a Nação americana, de um modo umpouco malévolo, como “hiperpotência”.

Cabe, por isso, interrogarmo-nos, e talvez a pergunta sejaum pouco desagradável para as nossas susceptibilidades, sese justifica analisar o tema, pressupondo irrealisticamente queos dois sujeitos da relação ou relações tenham estatutos eordem de grandeza comparáveis, ou se será antes preferível,por mais profícuo, estudar a matéria apenas no âmbito geraldas relações entre a União Europeia e os Estados Unidos e,no domínio mais restrito das questões da defesa, fazer o examedos poderes europeu e americano no seio da NATO.

Debruçar-nos-íamos, assim, apenas sobre, de um lado, asrelações euroatlânticas e as suas consequências sobre o Estado--membro Portugal, e do outro, sobre o papel que o nosso

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País assume no seio da União Europeia e da NATO e sobreo modo como se desenvolvem e devem evoluir essas relações.A matéria sobrante seriam minúcias consulares sem granderelevo.

A esta segunda alternativa a resposta terá de ser rotunda-mente negativa. E deve sê-lo não apenas pela razão comezi-nha de que a política externa europeia, como uma realidadeautónoma, ainda não existe e de que a perspectiva NATO,mesmo em questões de defesa, é demasiado restrita para per-mitir abarcar toda a problemática que nesta matéria interessaao relacionamento entre Portugal e os Estados Unidos.

É que, na verdade, se a óptica referida é certamente mere-cedora de atenção, mesmo no estado actual da evolução daUnião Europeia, ela não abrange grande parte da políticaexterna portuguesa, incluindo a das nossas relações com osEstados Unidos, reciprocamente o mesmo acontecendo dolado americano. A questão, dada a desproporção entre os doispaíses a que antes aludimos, reveste menos importância paraos americanos, mas releva certamente muito para nós.

Mas, acresce que o paradigma das relações entre Estadossoberanos, juridicamente considerados como iguais, não éa única óptica por que hoje se observa a vida internacio-nal. Na necessidade de melhor compreender os novos aspec-tos da internacionalização de múltiplos sectores não apenasdos aparelhos administrativos e dos governos dos Estados,mas também de diversos sectores da sociedade civil, surgiuum novo paradigma, que levanta o véu da personalidadedo Estado para olhar a realidade sociológica que existe paraalém dela.

Esta metodologia que permite ver, por detrás do Estado,as pessoas, as suas associações empresariais ou de fim desin-

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teressado, capta as relações internacionais na riqueza da suadiversidade, sem necessariamente as reconduzir sempre à lentedeformadora do poder público. Aí não se nota com tantaintensidade a força do hard power, pois que nos encontra-mos na ambiência apropriada para o exercício de persuasãoe influência típicos do soft power, para usarmos os conceitosoperacionais de Joseph Nye1. No mundo das redes de rela-ções mais ou menos institucionalizadas, o poder soft con-vence, ganha adesões, mas não obriga pela ameaça ou exer-cício da coacção. O soft power continua, contudo, a ser poder.

Compreende-se facilmente que a análise das relações entrePortugal e os Estados Unidos sob a óptica das ligações socie-dade civil a sociedade civil ganhe uma outra dimensão eriqueza, maior do que a simples consideração dos vínculosEstado a Estado. Entender-se-á também que possibilite umanoção mais exacta da capacidade dos portugueses como nação– utilizemos esta expressão para simplificar –, pois que asnossas virtualidades para influenciar e cooperar em projec-tos comuns podem ser melhor desenvolvidas e aproveitadassem as delimitações económicas e militares do hard power.

Dedicaremos a nossa atenção nesta intervenção preferen-temente à análise feita segundo esta última perspectiva, emboranão possa deixar de abordar-se, também, as duas primeiras.Qualquer destas ópticas não deve fazer-nos esquecer, porém,que a realidade é una e que, por isso mesmo, as diversas pers-pectivas estão profundamente interrelacionadas.

Há ainda que referir que, supondo interpretar correcta-mente a intenção do honroso convite que nos foi feito, paraalém da descrição científica do status quo, procuraremos ali-nhar algumas considerações sobre o que se nos afigura poli-ticamente desejável para Portugal nesta matéria. Ao exame

1 “Bound toLead: TheChanging Natureof AmericanPower”, NovaIorque, 1990,pág. 188-201.

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AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

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do fáctico acrescenta-se o normativo que se julga exequívele se pretende que venha a concretizar-se.

Começaremos a exposição pelas relações euroatlânticas.

2. As Relações Euroatlânticas

Pressuposto para entender as relações euroatlânticas e a ori-entação do seu devir a curto e médio prazos, é identificar asopções estratégicas fundamentais da América, uma vez quecomo actor detém a supremacia e a iniciativa.

Passamos a enumerá-las rapidamente:A primeira e mais importante reporta-se à atitude sobre

o uso da força e sobre o unilateralismo ou a concordânciacom que são tomadas as decisões básicas a ela respeitantes.Continuará a inspiração da Casa Branca e do Congresso avir de Marte, o que justificará entre outras coisas a guerrapreventiva e o privilegiar a intervenção militar à diplomacia,ou vai, antes, contemporizar-se com Minerva, e, até em algunscasos, com a dialogante Vénus?2

Em termos menos mitológicos, no futuro as decisões ame-ricanas em matérias de segurança, de guerra ou de paz, tomamem conta a Carta das Nações Unidas, para não dizer que sesubmetem de modo estrito aos seus preceitos, ou seguem ocaminho essencialmente solitário do unilateralismo?

Segundo grande tema de escolha estratégica, aliás relacio-nado com o primeiro: qual a posição fundamental a assumirperante o Islão e os países islâmicos, em particular os árabes?Dar prevalência ao diálogo, ou preferir o clash of civilizations?

Terceiro sector, onde das opções tomadas decorrem con-sequências decisivas: reconhecimento de uma solidariedade

2 Os trabalhos deRobert Kagan,

“Of Paradise andPower – America

and Europe inthe New World

Order”, NovaIorque, 2003 ede Richard N.

Haass, “TheOpportunity –

America’sMoment to Alter

History’sCourse”, NovaIorque, 2005,

representam bemos dois termos da

alternativa.É interessante a

comparação coma perspectiva de

um europeuesclarecido e

atlantista, comoHelmut Schmidt,“Die Mächte der

Zukunft”,Munique, 2004,pág. 100 e segs.

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em matérias ambiental, climática e energética imposta pelanatureza das coisas, que implica mudanças custosas e restri-ções ou a excepção do mais poderoso?

Finalmente, que escolhas fazer face à explosão demográ-fica, à luta contra a pobreza, com todas as suas implicaçõesno domínio da ajuda ao desenvolvimento, da saúde, dasmigrações e last but not the least, do próprio terrorismo?

Destas definições estratégicas decorrem consequências damaior importância nas relações com os países asiáticos acaminho do estatuto de grande potência, como a China eum pouco mais atrás a Índia, ou com a Rússia, superpo-tência decaída, mas ainda com enorme influência. Condicionatambém a evolução do conflito do Médio Oriente e a lutacontra o terrorismo internacional, bem como contra a dis-seminação de armas de destruição maciça. É também fac-tor de primordial relevo no comércio internacional e naajuda à criação de condições necessárias a um desenvolvi-mento sustentado, etc. O rol das políticas em larga medidadependentes ou condicionadas pelas opções estratégicas ame-ricanas poderia continuar a ser enunciado por largos minu-tos ainda.

Quanto à Europa, a alternativa fundamental é a de saberse, face aos Estados Unidos, o parâmetro adequado é dePartners and Equals ou o de “Suserano e Vassalo”: a acentua-ção de um outro faz-se sentir mais imediatamente na AliançaAtlântica, que pelas suas características se torna facilmentepermeável a uma instrumentalização a favor de um controloamericano, enquanto, no que concerne à União Europeia, aopção se traduz em medidas favoráveis à sua desagregaçãoou, pelo contrário, em acções que reforcem e ajudem o avançona integração.

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AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

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Do lado europeu oscila-se entre o desejo de cooperaçãomantendo a autonomia desejável e possível – caso do ReinoUnido – e a posição céptica de princípio, dificultando o trabalho conjunto, se não mesmo, um anti-americanismoressentido, como tem acontecido com a França e até aAlemanha3. Mas, na actual crise que se vive na Europa,depois do falhanço da Constituição Europeia e na perspec-tiva de grandes transformações do modelo, hoje insustentá-vel, do Estado Social, a atitude é mais reactiva e de expec-tativa do que a de propor iniciativas que tentem rasgar novoscaminhos de cooperação.

O segundo mandato do Presidente Bush inicia uma vira-gem no sentido de abandonar os triunfalismos arrogantes tãocaracterísticos da fase inicial do neoconservadorismo no poder,tão bem traduzido no célebre estudo de Kagan “Of Paradiseand Power”, em benefício de uma atitude menos unilaterale mais dialogante que em conjunção com o contributo euro-peu, aproveite as oportunidades e os desafios para alterar ocurso da história recente.

Condoleezza Rice tem sido a face visível desse novo posi-cionamento, reflectido tanto na NATO como nas novas posi-ções defendidas no espectro mais alargado dos problemasdiscutidos com a União Europeia.

Portugal, como Estado Membro da União Europeia, deveclaramente empenhar-se – e tem-se empenhado – em queo Velho Continente seja receptivo à nova postura ameri-cana, de modo a que progressivamente sejam apagadas asgraves sequelas das divergências causadas pela segunda guerrado Iraque.

Na NATO há que forcejar por que a Organização alarguea sua área de intervenção a África, no que concerne a opera-

3 Consultar apropósito os

resultados do“Transatlantic

Trends Survey”de 2005, um

projecto doGerman Marshall

Fund e daCompagnia di

San Paolo,apoiado pela

Fundação Luso--Americana, à

data disponívelem

www.transatlantictrends.org

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ções de manutenção da paz e do reforço do papel próprio dosEstados da região, procurando conseguir a erradicação dasguerras privadas do banditismo militarizado e da anarquia.

A política portuguesa pretenderá decerto conseguir que asacções a desenvolver sejam concertadas com os países afri-canos de expressão oficial portuguesa no seio da Comunidadedos Países de Língua Portuguesa – CPLP.

Finalmente e sobretudo requer-se um sério empenhamentona afirmação e aprofundamento dos valores comuns que cons-tituem o ocidente numa realidade própria a um tempo cul-tural, económica e política.

Muitas são as incógnitas mas existem sinais de esperançade que a oportunidade não será perdida – como escreveRichard Haass em livro recente –, nem pela Europa, nempelos Estados Unidos.

3. As Relações Bilaterais

No que se reporta às relações bilaterais entre Portugal e osEstados Unidos, a ausência de conflitos ou de problemas demonta, autoriza a que os esforços se concentrem em maté-rias novas e de grande alcance, o que não significa descuraros negócios correntes. O Acordo de Cooperação e Defesadeve ser tornado mais abrangente e eficaz, para se tornar averdadeira trave mestra dessa cooperação.

O recrudescimento do interesse dos Estados Unidos peloContinente Africano, a que já de algum modo aludimos apropósito da NATO, constitui o grande ensejo para quePortugal ganhe novo protagonismo. Refiro-me obviamenteà África Subsaariana, embora não devam ser olvidados os

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países do Magreb, e mais em geral, os Estados africanos domediterrâneo ocidental.

Abrem-se perspectivas que necessitam ser, primeiro, objectode reflexão e, depois, de acções conjuntas de apoio ao desen-volvimento em geral, sobretudo nos países africanos de expres-são oficial portuguesa, e, com maior incidência, nos camposda saúde, educação e infraestruturas básicas.

Importa desenvolver o trilateralismo das iniciativas, hojeainda muito incipiente, em que, à preponderância de meiosfinanceiros e técnicos americanos há que contrapor, do ladoportuguês, sempre no esforço conjugado de atingir objecti-vos comuns, a língua e o conhecimento do meio natural ehumano de portugueses e africanos, e ainda a vontade polí-tica dos países recipientes.

A NATO poderá, no âmbito dos seus propósitos de alar-gamento a África das suas acções preventivas e de sanação deconflitos, ser complementada por esforços conjugados bila-terais, tendentes à formação e treino das forças militares dospaíses da área. O Acordo de Cooperação e Defesa deve serestendido a essas novas áreas.

A CPLP, insiste-se, porém, agora em termos predominan-temente bilaterais, deverá ser chamada a desempenhar umpapel mais activo, como lugar de diálogo e instrumento deconcatenação de esforços, de modo a projectá-la para o nívelde uma organização internacional respeitada e funcional-mente importante.

No Mediterrâneo ocidental, a cooperação luso-americananão possuirá certamente a mesma intensidade e relevância.As questões migratória e de segurança exigem porém que seaproveitem, do lado português, as predisposições existentesnos países da região para utilizar novas vias de acesso à Europa

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e também aos Estados Unidos diferentes das habitualmentetrilhadas. A trilateralizaçao de diversos projectos será assimum caminho viável4.

Num e noutro caso, não se trata de agir contra ou emdetrimento da União Europeia. Pretende-se apenas ir maisalém e aproveitar especificidades portuguesas que, em termosde Europa e em última análise, significam não uma subtrac-ção, mas antes uma adição de oportunidades e resultados.

Do outro lado do Atlântico, agora a Sul, há também tri-lateralismos a estabelecer. Tendo em conta a comunidadelinguística, a história e os laços que continuam a unir-nosao Brasil, importa ajudar a desenhar uma política de coo-peração entre a América do Sul e a América do Norte. Afastarou, pelo menos, mitigar muitas das nuvens que habitual-mente se acastelam sobre a região, será, certamente, tarefaútil. Não seria mais afinal do que operacionalizar a CPLP nasua zona mais importante, a dos vínculos entre Portugal eo Brasil, procurando encontrar contactos e meios de coo-peração trilaterais com o grande vizinho da América doNorte. Aí todavia poderá dizer-se quase tudo se encontrapor fazer.

4. A Cooperação de Sociedade Civil a Sociedade Civil

Chegamos ao último ponto que nos propusemos abordar: àconstrução e interacção das redes internacionais de coopera-ção das sociedades civis dos dois países, e também das pró-prias instituições públicas agindo no exercício da autonomiade que gozam. Aqui, como dissemos, os actores a conside-rar como sujeitos de relações bilaterais não são os Estados,

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AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

4 O “NorthAfrica LeadersForum”, quereuniu naFundação Luso--Americana em 7de Dezembro de2005, revelouquão promissoraé a via dacooperaçãopolítica,económica ecultural com ospaíses da orla Suldo Mediterrâneo,e, em especial,com os doMagrebe.

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como pessoas colectivas unitárias, nem os seus órgãos, masos indivíduos, as empresas, as associações e fundações, as uni-versidades e toda a miríade de entidades que compõem asociedade civil, a que acrescem institutos públicos, autar-quias, regiões, etc.5

Não há que desdenhar este ponto de vista favorável aoexercício do soft power relegando desdenhosamente esta teiade contactos e de laços para o instrumentário dos fracos econsiderando apenas relevantes os vínculos entre as potên-cias baseados na força bélica ou nos recursos financeiros públi-cos. Pelo contrário, com o aumento de densidade e de com-plexidade da vida internacional e transnacional – de que aglobalização é simultaneamente uma prova e um modo espe-cífico de encarar a realidade –, aparece cada vez com maiorevidência que a concepção do direito internacional e da socie-dade internacional, baseadas na soberania dos Estados comoúnicos sujeitos actuantes, representa uma interpretação emmuitos pontos claudicante da realidade que tem por objecto.

Num período em que a soberania e o próprio Estado sãoentidades recessivas, não é indiferente para uma sociedadepolítica como a portuguesa e tendo em atenção o contextopolítico-internacional em que se movimenta, lançar mão deinstrumentos teóricos que iluminem aspectos importantesdas suas vantagens.

5. Os Temas e Redes a Considerar em Concreto

Tendo em conta que o objecto de intervenção se circunscreveàs nossas relações com os Estados Unidos, mencionaremos comotemas principais: a língua portuguesa e a cultura da língua por-

5 O interessantelivro de Anne-

-Marie Slaugther,“A New World

Order”,Princeton, 2004,

sobrevaloriza asinstituições

administrativas emesmo políticas.Pelo contrário, a

perspectiva dasredes e do soft

power só ofereceverdadeiro

interesse numaóptica que, noplano interno,

abandone asclássicas

construções deGerber e Jellinek

e, no planointernacional,

considere aspessoas singularese os grupos como

actores normais,e não como

excepções aosEstados, osúnicos que,

antes, seriampossuidores de

uma legitimidadenatural por serem

sujeitos derelações

internacionais.

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RUI CHANCERELLE DE MACHETE

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tuguesa, a cooperação científica e tecnológica, a economia eainda o progresso e elevação do estatuto das comunidades por-tuguesas e dos luso-americanos nos EUA. Teremos de abordaras diferentes questões, brevitatis causa, por forma sucinta, pesemuito embora a grande importância de todas elas.

A língua constitui não apenas o meio por excelência decomunicação entre os homens, mas o próprio meio como seestrutura e desenvolve a personalidade. A ela se articula umacultura que a tem como veículo central da sua estruturaçãoorgânica e do seu crescimento e afirmação.

Recentes investigações sobre a história das línguas e asconsiderações da sua dinâmica revelam quão variados são osfactos que ditam o prestígio e o êxito das línguas ou o seudeclínio e perecimento. Exploram as interconexões entre alíngua, a demografia, o comércio, o desenvolvimento eco-nómico e o progresso científico. A sociolinguística procuraexplicar também as relações entre a língua, a cultura e opoder, soft and hard . No livro admirável que escreveu sobrea história mundial das línguas, “Empires of the Word”,Nicholas Ostler procura compreender as razões do sucessodas vinte línguas mais faladas no mundo6. Entre as dez pri-meiras, inclui-se o Português, na quarta posição entre as euro-peias, a seguir ao Inglês, o Espanhol e o Russo. Ostler faztambém juízos de prognose para os próximos cinquenta anose o Português – apesar da relativa desatenção dos falantes edos respectivos Estados – não está mal situado.

Os Estados Unidos, goste-se ou não, são hoje o palco domundo para muitas batalhas, incluindo as travadas no campocultural em sentido lato.

Existem dois milhões de portugueses, brasileiros e cabo-ver-dianos residentes no nosso vizinho do outro lado do Atlântico.

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AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

6 “Empires of the Word – A LanguageHistory of theWorld”, NovaIorque, 2005,pág. 380 e segs. epág. 523 e segs.Sobre a políticada língua,merecemparticularatenção asconsiderações de Vasco GraçaMoura “Sobre a línguaportuguesa ealgumas políticaspara ela”, in“Lusitana Praia”,Porto, 2004, pág.97 e segs; veja-se,também, otrabalho deVictor Marquesdos Santos,“Portugal, aCPLP e aLusofonia –Reflexões sobre aDimensãoCultural daPolítica Externa”,in “NegóciosEstrangeiros”,nº 8, Julho de2005, com longabibliografia.

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Impõe-se uma política consequente que não abandone aque-les que falam o Português por o terem aprendido com os pais,mas tenha também em atenção os que procuram o Portuguêscomo segunda língua, por razões profissionais, científicas ouculturais. É uma tarefa complexa que requer estudo e tambémacção rápida. Que tem de visar o ensino americano ao nívelprimário e secundário, mas também o universitário. Requer--se a conjugação de esforços dos países da CPLP e a explora-ção das possibilidades financeiras e institucionais oferecidaspela legislação dos Estados federados americanos que prote-gem as minorias culturais e o ensino das línguas estrangeirase também a preocupação estratégica de Washington. O Por-tuguês foi considerado uma língua de importância estratégicapara a bagagem das Forças Armadas americanas. Exige a pre-paração de livros escolares e de professores a todos os níveis,primário, secundário e universitário. A política de promoçãodo conhecimento, e a tradução para Inglês de livros basilaresda nossa cultura não pode ser descurada.

O Instituto Camões deu os primeiros passos, ao abando-nar a prioridade das culturas latinas na prossecução da defesada nossa língua e cultura. Mas, temos de convir que, se secoteja a actividade do Instituto Camões com as acções desen-cadeadas pelos institutos similares de Espanha, França, Itáliaou Estados Unidos, nos encontramos ainda numa fase inci-piente e modestíssima.

As dificuldades experimentadas com o College Board paraintroduzir o Português entre os exames de admissão univer-sitária Scholastic Assessment Tests (SAT), é uma boa prova desubalternidade da nossa língua na América, em confrontonão apenas com o Espanhol, o Francês ou o Alemão, mascom o Japonês, o Coreano ou o Hebraico.

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Porventura, a convicção de que a promoção da nossaeconomia nos Estados Unidos, ou a atracção do investi-mento americano por Portugal não vingarão sem que anossa cultura seja mais conhecida na grande Nação ame-ricana, ajudará a corrigir a miopia. Não é fazendo discur-sos grandiloquentes sobre a grandeza da língua de Camõese Pessoa que se muda o status quo. Este só se altera comuma decisão estratégica assente no conhecimento da reali-dade sobre a concorrência das línguas e na exequibilidadedas políticas de divulgação e ensino do Português. Sem essapolítica, a difusão da nossa cultura será sempre subalter-nizada a outras culturas com línguas animadas por políti-cas de difusão mais dinâmicas. A colaboração estreita entreportugueses, brasileiros e restantes povos da CPLP e tam-bém com entidades americanas é igualmente um impera-tivo necessário.

Quanto à América, há que reconhecer que o conhecimentoda sua cultura pelos portugueses é escasso, resumindo-se, paralargas camadas da população portuguesa ao conteúdo dasproduções fílmicas e televisivas de Hollywood e a certos aspec-tos mais populares ou que se afiguram extravagantes da “ame-rican way of life”. É muito pouco para compreender a com-plexa realidade dos Estados Unidos e da sua sociedade ecultura. Muito, nesse campo, há, assim, a fazer.

No campo da cooperação científica e técnica, o conheci-mento do rico e diversificado complexo universitário e deinstitutos de investigação americanos, oferece múltiplas pos-sibilidades de cooperação entre aquelas entidades e as suascongéneres portuguesas, até para benefício mútuo. Do ladoportuguês, abre perspectivas de avanço científico e tecnoló-gico apreciáveis, acrescendo significativamente à panóplia de

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oportunidades oferecida pelas instituições europeias. Mas,também do lado americano, não é despiciendo o contactocom alguns centros de excelência portugueses, que estão situ-ados na Europa e não criam os obstáculos à cooperação tran-satlântica que, por vezes, surgem noutros membros da União.A triangulação por via portuguesa constitui assim um cami-nho interessante. Igualmente aqui, há que multiplicar esfor-ços e alargar a acção do Acordo de Cooperação e Defesa.Parte importante do nosso actual esforço de inovação e dedesenvolvimento tecnológico passa pela intensificação da coo-peração com os Estados Unidos nos capítulos da ciência purae da aplicada.

No domínio económico, é reconhecida a imbricação entreos sistemas europeu e americano, bem sublinhado em artigorecente por Joseph Quinlan7.

As nossas trocas comerciais com os Estados Unidos são,porém, muito modestas e o investimento americano e oturismo reduzidos. Dada a desproporção entre os dois paí-ses, um aumento de 1% do comércio externo americanocom Portugal poderia contribuir decisivamente para mudara presente conjuntura económica do nosso país. Compre-ende-se por isso a importância de que se revestem ou deve-riam revestir-se as relações económicas entre Portugal e osEstados Unidos. Tem-se, porém, dedicado pouca atenção àmatéria por parte dos poderes públicos. Do mesmo modo,os investimentos nas acções, que permitiriam a mudança,são escassos.

A visibilidade de Portugal e dos produtos portugueses nosEstados Unidos é pequena, o que dificulta em muito o cres-cimento dos intercâmbios de pessoas e de mercadorias e tam-bém não predispõe a que as firmas americanas pensem em

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7 “Drifting Apartor Growing

Together? ThePrimacy of the

TransatlanticEconomy”,Center for

TransatlanticRelations,

Washington,2003.

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Portugal, quando realizam os seus investimentos na Europa.O exemplo da promoção da Espanha deveria inspirar-nosem muitos sectores. Mas importaria sobretudo não esque-cer que cultura e economia se encontram profundamenteentrelaçadas.

Para além da difusão da imagem de modo a aumentar avisibilidade do país, conviria não esquecer o importantepapel que podem desempenhar as câmaras de comércio luso-americanas implantadas, não apenas em Nova Iorque, masna Nova Inglaterra e na Califórnia, cuja rede conviria serreforçada. Também do lado americano seria útil que semelhorasse o conhecimento das condições em que as fir-mas portuguesas podem actuar nos Estados Unidos e dasvantagens em poder investir em Portugal, em particularcomo via de acesso à Europa continental e até à África aosul do Sáara.

Quanto às comunidades portuguesas nos Estados Unidos,dois vectores principais devem merecer a nossa atenção: anecessidade de que os portugueses se tornem bi-nacionais,se inscrevam no recenseamento e votem nas eleições ameri-canas, e a necessidade imperiosa que os emigrantes invistamna educação dos seus filhos. Uma e outra são condiçõesimprescindíveis para firmar o prestígio e a influência dascomunidades portuguesas na América8.

6. Em Conclusão

Passámos em revista de modo apenas enunciativo ou sinté-tico alguns dos aspectos que reputamos mais relevantes doestado actual e das perspectivas no futuro próximo, das rela-

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8 A FundaçãoLuso-Americanapara o Desenvol-vimento tem vin-do a desenvolvera esse respeitodois projectos, deque se esperamresultados impor-tantes, quanto àscomunidades portuguesas: oPortugueseAmerican Citi-zenship Project, que visa conseguir queos portugueses hámuito radicados nos EUA adquiramnacionalidade ame-ricana sem perdera portuguesa, seinscrevam norecenseamento eexerçam o direitode voto nas elei-ções americanas, anível federal, esta-dual e municipal; e a Portuguese Lan-guage Initiative (PLI), que pretende aumentar o nú-mero de estudan-tes da língua por-tuguesa nos níveisprimário, secun-dário e universitá-rio. Existe aindaum programa im-portante no sen-tido de aumentarnas universidadeso número dedepartamentosque incluem oportuguês e a cul-tura portuguesano elenco dosseus estudos.

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ções luso-americanas. Podemos, a terminar, concluir que elasrepresentam para os dois países oportunidades importantesde contribuir para uma ordem internacional mais segura ejusta, com incidência particular em algumas áreas do globoque têm sido permanentemente muito esquecidas. Há, toda-via, para isso que fazer um esforço de reflexão e estudo e,particularmente, de ter a vontade política de um e outro ladodo Atlântico para levar de vencida os inevitáveis obstáculosque sempre surgem.

Lisboa, Instituto de Defesa Nacional13 de Dezembro de 2005

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SOBRE ASRELAÇÕES

PORTUGALESTADOS UNIDOS

Interesses Portuguesesna América do Norte

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As minhas primeiras palavras são naturalmente para agra-decer o honroso convite, que desmereço, para integrar aluzida companhia que profere palestras neste ciclo deConferência sobre Visões da Política Externa Portuguesa esaudar a Sociedade de Geografia por esta iniciativa. ASociedade de Geografia é uma instituição com grande tra-dição e reflexão sobre as relações externas de Portugal e asua missão no mundo, que agora está a ser reavivada. Aindabem. Precisamos de muitos Think tanks de qualidade quereflictam sobre os problemas que preocupam a sociedadeportuguesa.

Há também que referir ter alguma dificuldade em tra-tar desta matéria dos interesses portugueses nos EstadosUnidos depois de o Senhor Embaixador Pedro Catarino terfeito uma exaustiva resenha das nossas actividades naquelegrande País.

Será assim difícil que esta minha fala possa ter algum valoracrescentado. Mas tentarei dar o meu modesto contributo.

Permitam-me que adopte, do ponto de vista metodoló-gico, uma visão realista, seguindo o ensinamento de umgrande professor americano que estudou e ensinou relaçõesinternacionais, Hans Morgenthau. No seu livro “PoliticsAmong Nations”, aquele professor foi extremamente claro

Manteve-se a oralidade da exposição

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acerca dos interesses das potências e do modo como as defen-dem, e foi sob essa óptica que abordou as relações interna-cionais e, também, o papel dos Estados Unidos na vida inter-nacional. Mutatis mutandis é na perspectiva dos interessesportugueses que abordarei o assunto.

Portugal encontra-se hoje, no contexto das relações inter-nacionais e da sua vida de Estado de há muitos séculos ede nação formada através do Estado também ao longo demuitos séculos, numa situação difícil. As relações com osEstados Unidos assumem, por isso mesmo, uma particularimportância, embora possamos notar algumas dificuldadesno seu enquadramento teórico. E isto porque, afinal decontas, estamos agora integrados num quadro institucio-nal de unificação europeia, de uma unificação europeiaque, com os seus progressos e os seus recuos, tem um pen-dor claramente, em muitos dos seus aspectos, designada-mente a política externa, federalizante. É assim interessantever como é que os países, particularmente os mais peque-nos, têm, apesar disso, relações bilaterais directas comEstados que não fazem parte da União Europeia. Julgo aliásque é muito útil que as tenham, mas, em todo o caso, nãodeixa de ser um problema político sempre interessante, ode haver políticas próprias dos Estados, autónomas em rela-ção à União. Diga-se de passagem, que, este fenómeno sevai tornando cada vez mais frequente na vida dos diversosEstados federais.

Se avaliarmos as muitas análises da política externa por-tuguesa, verificamos que evidenciam os interesses que a UniãoEuropeia tem designadamente face aos Estados Unidos e osinteresses que os Estados Unidos têm face à União Europeia,mas, que os interesses portugueses aparecem um pouco mais

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diluídos. Foi bom ouvir hoje o Senhor Embaixador PedroCatarino sublinhar que eles são muitos e de monta.

Portugal é uma nação velha de séculos. Somos todavia umpequeno País. Um País que tem claramente de tomar cons-ciência que, na fase crítica actual que atravessa, tem de con-tinuar a lutar pela sua afirmação como entidade política pró-pria, como projecto de vida de um grupo político que pretendemanter a sua autonomia e a sua identificação numa socie-dade moderna cada vez mais globalizada.

As relações com os Estados Unidos, a única superpotên-cia, assumem por isso mesmo uma enorme importância. Aocontrário daquilo que eram as previsões negativas de PaulKennedy no “Rise and Fall of Great Powers”, publicado em1987, o qual prognosticava que os Estados Unidos tinhamatingido o seu zénite como superpoder e que a partir daí sópodiam regredir, tem vindo a verificar-se que o seu papel eimportância no Mundo se reforçaram. Essa hegemonia assumecada vez maior relevo nas relações internacionais. Nesseponto, continuando a lição de Morgenthau, é mais seguraa análise de Brzezinski1 a propósito do império americanoprocurando as vias adequadas para que este possa prolongara sua influência, do que acreditar nas profecias do historia-dor Paul Kennedy. Perante uns Estados Unidos que pro-pendem a considerar em muitos aspectos a Europa comoum todo, apesar da guerra no Iraque a ter dividido na novae na velha Europa, e em que Portugal é uma das potências,um dos Estados menos poderosos da nova Europa, é impor-tante indagar como é que poderemos utilizar os EstadosUnidos para a defesa dos nossos interesses. Importa tambémaveriguar para além dos nossos interesses globais, os inte-resses geograficamente situados nos Estados Unidos. E que

1 “The GrandChessboardAmericanPrimacy and itsGeostrategicImperatives”,1997.

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interesses realmente temos nos Estados Unidos? Essa a per-gunta a que procurarei responder.

Permito-me sublinhar, ainda do ponto de vista metodo-lógico, um outro aspecto que acho que é extremamente inte-ressante: estamos muito habituados a olhar as relações inter-nacionais na óptica dos Estados e considerar os Estados comoseus actores principais. A verdade, porém, é que se olharmosna perspectiva do grupo político fundamental que identificae que se serve do Estado como seu instrumento – normal-mente para facilitar as coisas falamos das nações – é pertinenteobservar que a nação ou a sociedade política não se resumeapenas ao Estado, não utiliza apenas o Estado. O Estado é umdos seus instrumentos de afirmação, ainda o principal, masnão o único. O Estado como construção política resulta noplano externo, do aprofundamento da ideia de soberania e,no plano interno, das lucubrações dos professores de DireitoPúblico Alemão sobre o poder centralizado dos déspotas ilu-minados em confronto com o liberalismo ascendente da bur-guesia. Pendemos habitualmente a pensar o problema ao invés,sendo o Estado a utilizar a Nação. Mas, quando se procura araiz última do poder constituinte, a boa hierarquia das coi-sas regressa. A integração europeia, à medida que as restriçõesdas soberanias se acentuam, tem ajudado a sublinhar a grandeimportância da sociedade política primária. As comunidadespolíticas organizam-se em Estados, mas organizam-se tam-bém numa série de outras entidades, as autarquias, as regiões,e nas próprias instituições a sociedade civil; as instituições dasociedade civil, v.g. as empresas, as universidades, as associa-ções, as fundações, etc., constituem ou podem ser utilizadascomo instrumentos daquela. Por aí se compreende que possaser um pouco menos dramático a circunstância de haver limi-

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tações drásticas da soberania, já as houve no passado, porquenão haver agora?; compreende-se outrossim que existam mui-tos instrumentos de afirmação da identidade política, da indi-vidualidade de um grupo político que não passam necessáriae exclusivamente pelo Estado, embora o Estado assuma natu-ralmente uma importância muito grande.

É relevante sublinhar este ponto porque a economia con-tinua sem dúvida hoje a ter um aspecto primacial e funda-mental; mas ao lado da economia para países como Portugal,a cultura e a sua língua assumem ou devem assumir umaenorme relevância, diria mesmo uma relevância decisiva. Seconsiderarmos o que nos separa da Espanha, e se olharmospara aquilo que nos pode dar a verdadeira identificação noquadro europeu e no quadro mundial, os domínios da cul-tura e da língua, serão provavelmente tão ou mais relevantesdo que o da economia. E isto, para dizer que os nossos inte-resses nos Estados Unidos são interesses certamente de caráctereconómico, mas também são interesses de carácter cultural,em que a língua desempenha um papel particularmente impor-tante. As comunidades portuguesas radicadas nos EstadosUnidos são, por sua vez, instrumentais para essa solidifica-ção, para a capacidade de afirmação dessa autonomia. E que,por isso mesmo, a política externa que deve ser seguida nãodeve prescindir de utilizar devidamente esses instrumentos ede ter essa dimensão cultural. É evidente que isso não sig-nifica que nós abandonemos ou demos menor atenção aoutras dimensões dessa política como as da defesa, ou con-sideremos como negligenciáveis outros aspectos de naturezamais marcadamente económica. Gostava, porém, de subli-nhar que não é infelizmente habitual uma perspectiva emque a cultura seja um aspecto privilegiado da nossa acção

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externa. E, todavia, poderíamos de uma maneira impressivadizer que para vender sapatos, ou para vender têxteis, é pre-ciso também dar a conhecer Fernando Pessoa. E isto não éuma boutade, porque, em termos de projecção externa, osaspectos económicos e os aspectos culturais e científicos aca-bam por estar intimamente conexionados.

Há um outro aspecto de grande importância no que dizrespeito aos Estados Unidos. Tem-se discutido em Portugal,a propósito da opção europeia, sobre a existência de outrasopções do País, principalmente no que diz respeito à coo-peração com os países africanos de expressão oficial portu-guesa, com o Brasil e com os Estados Unidos. Suponho, con-tudo, que nenhum pensador realista é capaz de afirmar queessas vertentes da nossa política externa representam verda-deiras alternativas à política europeia. Portugal é um Paíseuropeu e a integração europeia é a nossa primeira priori-dade. Mas isto não significa que não seja muito interessanteem termos de reforço do bargaining power, em termos decapacidade negocial, mantermos relações desenvolvidas ediversificadas com outros países importantes. É assim posi-tivo fortalecer as nossas amizades e os nossos relacionamen-tos com os Estados Unidos, com os países africanos de expres-são portuguesa, com o Brasil, ao lado das nossas relaçõeseuropeias. Aquelas relações dão-nos uma capacidade nego-cial no contexto europeu muito maior do que se nos redu-zirmos a este quadrilátero de 89.000 km2, e oferecem-nosalternativas sectoriais que não devem ser desperdiçadas.

Os outros países europeus, aliás, também o fazem, a Grã--Bretanha porventura é o exemplo mais típico. A Inglaterranão se sabe nunca exactamente bem se é um Estado euro-peu ou se é o irmão hoje mais pequeno, embora mais velho,

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dos Estados Unidos. A verdade é que representa um bomexemplo do tipo de vantagens que se podem obter no desen-volvimento dessas políticas alternativas que, no nosso caso,não devem pôr em causa a opção principal.

Quantas vezes é mais fácil, v.g. no campo das relações cul-turais e científicas, para a realização de projectos conjuntosde investigação, demonstrar o valor dos nossos pontos devista pela circunstância de estarmos aliados a americanos queconcordam connosco, do que pelo simples contacto bilate-ral directo com Paris ou com Berlim. É uma experiêncianegocial que muitos certamente já fizeram.

Em termos mais concretos, mencionarei quatro ou cincopontos que consubstanciam interesses portugueses extrema-mente relevantes dentro dessa óptica de afirmação da identi-dade nacional, de reforço do bargaining power e da constru-ção de um network cada vez mais decisivo nos tempos actuais.

Começaria pela língua e pela cultura. Perfilho uma visãovoluntarista, em certo sentido optimista, pois é possível pro-gredir significativamente a partir da situação actual.Encontramo-nos num estádio bastante atrasado em relaçãoà promoção linguística e cultural em comparação com mui-tos outros países europeus e particularmente em relação ànossa vizinha Espanha. Efectivamente a situação em termosda defesa da expansão da nossa língua e da nossa cultura nosEstados Unidos, carece de ser urgentemente alterada. OsEstados Unidos são hoje um palco de competição internaci-onal das culturas extremamente importante, decisivo mesmoquanto a influências e dominâncias. Muitas das coisas na áreacientífica, cultural e artística discutem-se na América, mesmoquando não têm que ser submetidas a uma decisão políticaque seja essencial para a prossecução daquilo que são os inte-

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resses dos Estados. E, todavia, do ponto de vista do prestí-gio, da influência, do exemplo, essas competências assumemum significado de enorme repercussão.

O problema da defesa e expansão da nossa língua é umaquestão politicamente vital para Portugal. É a língua que nosidentifica como seres que pensam de uma maneira diversa deoutros povos e garante a especificidade da nossa cultura naEuropa. É a língua que nos liga ao Brasil e é ela que nos ligaàs nações africanas e cimenta a cultura deste conjunto desociedades políticas. Nos Estados Unidos, pelas razões referi-das, a questão da língua portuguesa é extremamente impor-tante, a língua veicula uma cultura e, no caso do Português,uma cultura multinacional importante, embora relativamentedesconhecida. Uma cultura partilhada por uma comunidadede luso-descendentes, na ordem de um milhão de pessoas, epor outro milhão de brasileiros. É uma demonstração da visi-bilidade do país. No que respeita à língua, o que encontra-mos neste momento é uma situação um pouco sombria,embora em rápida mutação: por um lado, temos um ensinopago pelo Estado português que é realizado em escolas defim-de-semana com professores mal preparados e deficiente-mente supervisionados pelo Ministério da Educação. A dedi-cação de muitos professores e o desvelo dos pais evita o pior;mas o quadro é negro. Temos, depois, as escolas americanas,onde se ensina o Português. Não são muitas mas tendem aaumentar. Um facto curioso: quando no país das estatísticasque são os Estados Unidos, se procura saber quais são os cur-sos de Português, qual é o seu número, que professores exis-tem, que alunos os frequentam, as estatísticas falham mise-ravelmente. E um dos trabalhos que estamos precisamente adesenvolver na Fundação Luso-Americana é o de tentar apu-

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rar qual é o número de estudantes e quais são os cursos quesão dados.

É particularmente interessante verificar que a entidade quetem a seu cargo, por contrato com o Governo Federal, o apu-ramento desses números (CARLA – Center for Advanced Researchon Languages Acquisition, de Minnesotta), não os conhecia.Houve um período até ao ano 2000 em que se informavahaver 145 alunos que estudavam Português. Neste momentojá apurámos com alguma precisão o número dos portugue-ses, ainda faltam os brasileiros, – também é uma das defici-ências complicadas das nossas estatísticas a propósito dosfalantes de Português –, mas já vamos na ordem dos 12.000.O Senhor Embaixador Catarino teve oportunidade de refe-rir a cruzada, a campanha em que estamos empenhados paraque os exames de admissão universitária SAT (ScholasticAssessment Tests), incluam o Português como segunda língua,o que não é apenas uma questão útil para aqueles que estu-dam Português ou que já falam Português em casa poderembeneficiar de testes em que possam ser exímios, numa lín-gua que lhes é familiar e que, portanto, possam evitar fazerum exame da segunda língua em Espanhol ou em Francês,mas é também significativo em termos de status da língua,designadamente ao nível do ensino superior. Muita coisa pas-sará a ser diferente se tivermos o Português como segundalíngua nos SAT. E basta ver os esforços que foram recente-mente feitos e coroados de êxito pelos japoneses, pelos core-anos, pelos russos, para colocar agora a sua língua nos refe-ridos exames para se perceber que há aqui um problemacultural e político e económico extremamente relevante.

É uma batalha que põe à prova a capacidade dos portu-gueses para fazerem pressão, para fazerem lobby, para terem

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visibilidade nos Estados Unidos. É uma guerra que ainda nãoestá ganha, mas é a meu ver um ponto extremamente impor-tante para se ver como é que Portugal é capaz de realmentedefender os seus interesses, porque não há efectivamente razãonenhuma para que portugueses e brasileiros, e cabo-verdia-nos não defendam os seus interesses comuns neste capítuloe finalmente obtenham ganho de causa.

Também na matéria mais alargada de cultura, o problemada afirmação de uma cultura portuguesa que possa ombrearcom outras culturas, como a espanhola, ou francesa, ou alemãnos Estados Unidos, é um aspecto que não pode ser negli-genciado. Foi aqui referido o papel do Instituto Camões, quetem uma acção meritória, embora por vezes um pouco fra-gilizada. Temos, neste momento, uma presidência do InstitutoCamões que começa a dedicar aos Estados Unidos uma aten-ção completamente diferente daquela que até aqui tinha vindoa ser seguida, embora o esquema dos leitores, por exemplo,seja em algumas universidades americanas, de uma completaineficiência. Há que repensar, com os recursos escassos quetemos quais os instrumentos mais eficazes, não apenas conhe-cer a História e a Literatura Portuguesas, mas também a eco-nomia, a integração europeia, os aspectos, os positivos e osnegativos, relacionados com a descolonização, etc.

Devem mencionar-se dois outros pontos: o primeiroreporta-se à necessidade de articulação, de cooperação nodomínio logístico e cultural, entre nós e os brasileiros, o quenem sempre tem acontecido. Neste campo, não temos sidoparticularmente felizes, uns e outros. E teremos de compre-ender que sem essa cooperação os objectivos culturais de ume outro País não serão atingidos. Outra vertente também par-ticularmente relevante diz respeito aos países africanos de

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Page 45: SOBRE AS RELAÇÕES PORTUGAL ESTADOS UNIDOS · entre Portugal e os Estados Unidos da América. Portugal é um pequeno país, de dez milhões de habitan-tes, com diminutos recursos

expressão portuguesa. Esses países africanos procuram tam-bém eles começar a ter algum grau de visibilidade nos EstadosUnidos – uns mais outros menos, pelo que há que perder ohábito de considerar que os PALOPs são todos da mesmadimensão ou têm os mesmos interesses –; e é completamentediferente considerar a situação de Angola, de Moçambiqueou até de Cabo Verde, que tem uma colónia importante nosEstados Unidos, da de outros países lusófonos. É desejávelque a CPLP passe a interessar-se por este ponto como formade sublinhar a importância da sua acção no campo cultural,sublinhando a sua relevância estratégica para uma comuni-dade transcontinental de países.

Outros interesses a considerar são o estatuto das comuni-dades portuguesas nos Estados Unidos e a necessidade do seuupgrading. Não é certamente desconhecido que as comuni-dades portuguesas nos Estados Unidos desfrutam de umainfluência na vida americana menor do que as das comuni-dades de dimensão similar de outras etnias, como por exem-plo, a grega, para dar um exemplo concreto. As razões sãosobretudo derivadas de se haver investido pouco na educaçãoda nova geração de luso-descendentes. E aí também há cor-recções importantes a realizar. Os portugueses hoje pratica-mente já não emigram pela melhoria das condições em Portugal,designadamente nos Açores. Assim, as pessoas não emigram,ou emigram em números muito reduzidos, para os EstadosUnidos. Por consequência, a população imigrante envelhecerapidamente. Mas a maior parte dos emigrantes portuguesesnos EUA não pensa voltar; só alguns excepcionalmente volta-rão. Não faz, porém, sentido que esses emigrantes participempouco ou nada da sociedade que os acolheu, designadamentena vida política. Se não votarem, serão esquecidos, não con-

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tam. Há que resolver um problema delicado, que é, por umlado, não perder os laços desses emigrantes e dos seus des-cendentes com Portugal, mas, por outro lado, conseguir queeles adquiram a nacionalidade americana, se inscrevam norecenseamento, votem e, portanto, tenham influência ao nívellocal, ao nível dos estados e ao próprio nível federal. Deveigualmente procurar-se que aqueles que tem ascendência por-tuguesa, alguns desempenhando funções já de algum relevo,seja no campo político, seja no campo empresarial, ou nodomínio universitário, permaneçam ligados a Portugal e cons-tituam um veículo importante da presença de Portugal nosEstados Unidos. A PALCUS, com os seus altos e baixos, é umexemplo importante de uma organização representativa dacomunidade de luso-descendentes que ainda há pouco temponem sequer existia, ao contrário do que acontecia com ascomunidades italiana, grega, alemã e por aí fora. Isto é reve-lador de quanta atenção vai ser necessária, que a sociedadepolítica portuguesa preste a estes assuntos.

Existe, há mais de cinco anos, um programa lançado pelaFundação Luso-Americana – Portuguese American CitizenshipProject – no sentido de levar os portugueses nos EstadosUnidos, que não tencionam regressar, a adquirirem a nacio-nalidade americana, a recensearem-se e a votar. Esse pro-grama é subsidiado pela Fundação Luso-Americana, mas quetem tido o apoio de entidades oficiais portuguesas, designa-damente teve o apoio do Presidente Mário Soares e o apoiodo Presidente Jorge Sampaio, do Governo português e doEmbaixador de Portugal nos Estados Unidos, o que é impor-tante para que não haja hesitações e equívocos, dado o melin-dre desta política. O objectivo é o de conseguir que as comu-nidades portuguesas possam ter uma participação na vida

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municipal, na vida estatal e até ao nível federal. É impor-tante que senadores e os representantes municipais, estadu-ais e federais se preocupem com os imigrantes portugueses,não apenas pelos laços culturais e familiares que eventual-mente os unam, mas pela circunstância de em muitos dosdistricts haver um número significativo de portugueses cujaopinião não pode deixar de ser tida em conta.

A cooperação científica com os Estados Unidos – outroaspecto dos nossos interesses naquele País – tem progredido,mas é ainda relativamente diminuta. Acresce que o nossoconhecimento da realidade americana é pequeno. Não conhe-cemos bem a administração americana, e não conhecemosbem, o modo como funciona o sistema universitário ame-ricano, o sistema de investigação americano, os programasde apoio do Estado à investigação. Para vos dar um exem-plo até há relativamente pouco tempo, eu conhecia muitomal, e presumo que em Portugal ninguém conhecesse muitobem, como é que efectivamente funcionava o apoio daNational Science Foundation a certo tipo de investigaçõesdesenvolvidas por entidades americanas em parceria cominstituições estrangeiras.

Trata-se de um processo obviamente simples: mas é pre-ciso consultar a Internet, ver as coisas in situ, convidar cien-tistas da National Science Foundation para virem cá, contac-tar com cientistas portugueses que falem bem Inglês e tenhamprojectos credíveis, e a pouco e pouco as coisas começam atornar-se claras e começa a poder incentivar-se instituiçõesamericanas que pretendam contactar com instituições euro-peias – e as instituições científicas portuguesas servem paraesse esforço de internacionalização americana, o que não édespiciendo para conseguir resultados. Mas tudo isto envolve

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preparação, estudo, e trabalho permanente ao longo dos anos.Se olharmos para trás, concluímos que já se progrediu bas-tante, mas, uma vez mais, se cotejarmos o nosso caso compaíses de dimensão similar, como a Holanda, a Bélgica ou aDinamarca, apercebemo-nos de quanto falta ainda caminhar.

Depois há que mencionar obviamente os problemas daeconomia. E aí diria que em primeiro lugar deve haver umagrande preocupação de interrelacionar os aspectos culturais,os aspectos das comunidades portuguesas e os aspectos eco-nómicos, o que não significa obviamente pensar que se podemresolver os problemas das relações do comércio ou do inves-timento directo com base nos chamados mercados étnicos.Tal seria uma perfeita utopia. Mas é importante que Portugaltenha uma visibilidade nos Estados Unidos maior do queaquela que neste momento goza, que, como disse, ainda érelativamente reduzida. E nesse capítulo há várias câmarasde comércio luso-americanas que funcionam, não muito bem,diga-se de passagem, mas enfim, que funcionam, mas a suaarticulação com o ICEP e a API é muito deficiente. Existe umesforço actual da política externa portuguesa, da Embaixadae dos Consulados nos Estados Unidos, para articular diplo-macia política e diplomacia económica, iniciativa meritóriaque importa realçar. Ainda é muito cedo para avaliarmos comoé que as coisas vão evoluir, mas a verdade é que a situaçãoactual vai melhorando lentamente. É, no presente, uma situa-ção ainda muito insatisfatória, se atendermos, quer à percen-tagem do comércio português com os Estados Unidos – emboracom uma balança excedentária favorável a Portugal –, querao investimento directo americano em Portugal. É certo quehá investimento europeu que é na verdade investimento ame-ricano, disfarçado, digamos; são empresas americanas que

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têm as suas subsidiárias europeias e que, através delas inves-tem em Portugal. O investimento directo americano é, dequalquer forma, de um valor relativamente reduzido com-parado com o investimento feito noutros países europeus.

No campo do turismo, o panorama também não é ridente.Vale a pena observar, por exemplo, o que tem sido a recentepolítica de propaganda turística da Espanha nos EstadosUnidos, sublinhando designadamente o papel que a Espanhateve na guerra do Iraque e comparar com a publicidade quetemos vindo a fazer, e cotejar os americanos que cada anovisitam Espanha com o número dos que anualmente recebe-mos mesmo descontando as diferenças de dimensão geográ-fica. Temos aí uma ideia da enorme distância que há a per-correr para obtermos resultados um pouco mais satisfatórios.

Se pudéssemos aumentar fosse apenas em 1% o comércioexterno americano canalizado para Portugal, isso seria umaumento exponencial, brutal, que provavelmente resolveriaalgumas das dificuldades mais candentes que actualmenteafligem a nossa economia. No campo económico há muitacoisa a fazer, mas um dos problemas mais graves é o grandedesconhecimento que as empresas portuguesas têm acercados Estados Unidos, e igualmente, o grande desconhecimentoque as empresas americanas têm acerca de Portugal. Destemodo, é muito difícil criar condições para investir, é muitodifícil comerciar. Há medidas que estão a ser tomadas quepoderão dar alguns resultados, mas é do nosso interesse, comoocorre com todos os restantes Estados, desenvolver estraté-gias e não apenas fazer campanhas ocasionais, para que ascoisas melhorem em termos significativos.

Por último, gostaria de referir que no plano mais imedi-atamente político e em que a defesa e a segurança assumem

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parte importante, a vantagem de dispormos das condiçõesexcepcionais dos Açores. É claro que é bom estarmos cons-cientes que a estratégia americana evolui, e que um dia – nãoé muito previsível que isso aconteça a breve trecho –, podeacontecer que com as novas armas, com as novas estratégias,as coisas se alterem significativamente.

Mas é importante observar que também aí vale a penaestarmos atentos e estudarmos as linhas estratégicas gerais eos seus desenvolvimentos. Não é despiciendo saber que aÁfrica passou a ter um interesse outra vez muito mais rele-vante do que aquele que até há pouco tempo lhe era atri-buído na estratégia americana e que até se pode admitir quea NATO renovada possa ter um papel out of area inovador.Apresento este ponto como exemplo daquilo que poderemosfazer: perscrutar os problemas e as oportunidades para depoisagir. A relação com os Estados Unidos não é para nós umarelação anti-europeia, mas é uma relação que valorizada nospermite, a Portugal, ter uma outra capacidade negocial naEuropa, que é efectivamente onde nos situamos e onde vamoster que continuar, seja como for que evolua a União Europeia.E eu espero que evolua num sentido que seja favorável aosnossos interesses e não ouçamos apenas aquelas notícias nega-tivas que temos ultimamente vindo a receber a propósito,quer do Tratado da Constituição Europeia, quer do problemado Pacto de Estabilidade.

Em suma, julgo que nós portugueses temos interesses extre-mamente importantes nos Estados Unidos. Esses interessesdevem ser estudados e valorizados. Temos que lutar para queesses interesses sejam devidamente cuidados, e aumente anossa capacidade de influenciar. Portugal vive, todos os paí-ses vivem – mas nós somos um País muito pequeno, por con-

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sequência isso é muito mais nítido –, apoiado na sua redede contactos, na sua rede de interlocutores. Nessa rede inclui-se também naturalmente a sua diáspora.

A diáspora não é apenas uma expressão poética. Pro-pendemos a englobar em conceitos mais ou menos poéticos,aquilo que são as nossas vantagens e depois não extraímos aoperacionalidade que as mesmas têm mas pouco pragmáti-cas. E a verdade é que a situação é séria e carecemos quasedramaticamente de não perder oportunidades que contri-buam para a nossa autonomia.

Examinemos permanente e cuidadosamente as nossas opor-tunidades. Agir em conformidade, não apenas nos domíniospolítico e económico mas também cultural, com os diag-nósticos feitos e as estratégias escolhidas, é um imperativocada vez mais categórico.

Procurei, nestas despretensiosas palavras, traduzir a rele-vância que a cultura em termos amplos deve ter hoje na nossapolítica externa, em particular, nas suas relações com osEstados Unidos da América, porque essa é a chave do êxitodas nossas políticas e o modo de melhor garantir a nossaidentidade e autonomia como sociedade política.

Lisboa, Sociedade de Geografia15 de Dezembro de 2003

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EDIÇÃO

Fundação Luso-Americanapara o Desenvolvimento

DESIGN

Atelier B2

CAPA

Salette Brandão

PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO

Textype – Artes Gráficas, Lda.

TIRAGEM

1500

Lisboa, Dezembro de 2005

ISBN

972-8654-17-0

DEPÓSITO LEGAL

236 858/05

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