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Sociedade, Estado e Mercado Aula 11 – Teoria da Dependência Prof.: Rodrigo Cantu

Sociedade, Estado e Mercado Aula 11 –Teoria da Dependência ...rodrigocantu.weebly.com/uploads/2/3/0/7/23070264/sem_aula11_depend... · Enrique Dussel (1934 -) Teoria da Dependência

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Sociedade,EstadoeMercado

Aula11– TeoriadaDependência

Prof.:RodrigoCantu

• Mini-sistemas / Sistemas mundo• Impériosmundo• Economiasmundo

• Centro/semi-periferia /periferia

• Vantagemeconômicadocentro:fronteiratecnológica

• Vantagempolítico-militar

• TSMvs Marx

Teoria do sistema Mundo

CiclosSistêmicosdeAcumulação– Braudel, Arrighi

Espaço mundial sem distorções

Espaço mundial segundo PIB (% do PIB mundial) - 1900

Espaço mundial segundo PIB (% do PIB mundial) - 1960

Espaço mundial segundo PIB (% do PIB mundial) - 2015

Giovanni Arrighi(1937-2009)

Gráfico 1 – PIB como proporção do PIB mundial

Fonte:FMI,WorldEconomicOutlook

AdescobertadaAméricaeadeumapassagemparaasÍndiasOrientaispelocabodaBoaEsperançasãoosdoismaioresemaisimportanteseventosregistradosnahistóriadahumanidade.[...]Porunirem,atécertoponto,asregiõesmaisdistantesdomundo,

porpossibilitar-lhes aliviar mutuamente as necessidades,aumentarsuassatisfaçõeseestimularsua

atividade,suatendênciageralpareceriaserbenéfica.Paraosnativos,porém,tantoosdasÍndiasOrientaiscomoosdasÍndias

Ocidentais, todos os benefícios comerciaisquepossamter

advindodesseseventosnaufragaram e se perderam nos infortúnios horríveis queprovocaram.Contudo,essesinfortúniosparecemterderivadomaisdeacidentesdoquedapróprianaturezadesseseventos.

Naépocaespecíficaemqueserealizaramtaisdescobertas,

aconteceuqueasuperioridade de forças estavaatal

pontodo lado dos europeus,queestespuderamcometerimpunementetodasortedeinjustiçasnaquelasregiõeslongínquas.Futuramente,porém,épossívelqueosnativosdessespaísessetornemmaisfortes,ouosdaEuropamaisfracos,eoshabitantesdetodasasdiversasregiõesdomundo

possamchegaràquelaigualdade de coragem e força que,inspirandotemormútuo,constituioúnicofatorsuscetíveldeintimidarainjustiçadenaçõesindependentese

transformá-laemcertaespéciederespeito pelos direitos recíprocos.Contudo,nadaparecetermaisprobabilidadedecriartaligualdadedeforçadoqueointercâmbiomútuodeconhecimentosedetodosostiposdeaprimoramentosquenatural,oumelhor,necessariamente,trazconsigoumamplocomércioentretodosospaíses.

Smith,A.Riqueza das Nações,livroII,pp.141

Teoriacríticalatino-americana

AníbalQuijano(1928-)

FernandoH.Cardoso(1931– )

EnzoFaletto(1935– 2003)

WalterMignolo(1941-)

EnriqueDussel(1934-)

TeoriadaDependência

Antecedentes:

• Desenvolvimentodesigualecombinado(Trostsky)

• Teoriasdoimperialismo(Lenin)

• AusênciadefeudalismonaAméricaLatina(C.PradoJr.)

• Desenvolvimentoparaforavs paradentro(Cepal)

TeoriadaDependência

Correntes:

• Estruturalistas:R.Prebisch,C.Furtado,O.Sunkel,A.Pinto,H.Jaguaribe,M.C.Tavares,A.Ferrer

• Não-marxistas:F.H.CardosoeE.Faletto

• Marxistas:R.M.Marini,T.dosSantos,V.Bambirra

TeoriadaDependência

Teses centrais:

Adinâmicaeconômicadecertospaísesécondicionadapela

dinâmica(expansãoeretração)de outra economia àqualestásubordinada

AméricaLatinasemprefoicapitalista– colonizaçãoeuropeiacomoexpansãodocapitalismomercantil

Divisãointernacionaldotrabalho– centro(atividadesnafronteiratecnológica)eperiferia(atividadesdebaixovaloragregado)

Multi-dimensionalidade dadependência– condiçãodependentepossuiconsequênciasnãosóeconômicas,mastambémpolíticas, sociais e culturais.

TeoriadaDependência

Etapas da dependência na América Latina:

Séc.XVI-XIX– ExportaçãodeprodutosprimáriosviamonopólioscomerciaisconcedidospeloEstadocolonizador,mãodeobraservilouescrava

Séc XIX– meadosdoséc XX– Incentivoseinvestimentodomercadodocentroparaaproduçãoeexportaçãodeprodutosprimários,trabalhoservilouassalariado

Meadosdoséc XX-1990– Investimentosdiretosdeempresasmultinacionais,indústriadofim do ciclo do produto

1990-Hoje – Aberturadomercadodecapitaisedependênciadefluxosfinanceirosinternacionais,re-especialização produtiva

TeoriadaDependência

Impactos políticos da dependência:

Centro• Economiasintegradas• Tecnologiasedifundehomogeneamente• Vantagensnocomérciointernacional• Aumentodosalárioreal• Incorporaçãopolíticadeclassessubalternas

Periferia• Economiasnãointegradas• Tecnologiaconcentradanosetorexportador/

heterogeneidadeprodutiva• Desvantagensnocomérciointernacional• Baixossalários• Exclusãopolíticaesocial

Impactos políticos da dependência (Cardoso e Faletto):

Economias com controle interno do sistema produtivo

• Argentina,Brasil,Uruguai,Colômbia

• OligarquiadomésticadominaEstadoeatividadesexportadoras

• Choqueadverso:burguesia doméstica sevoltaàindustrialização (comoatividadeacessória)

• ↑Urbanizaçao,↑assalariamento

• ↑Mercadointerno

• Incorporaçãosócio-políticadeclassesmédias

Impactos políticos da dependência (Cardoso e Faletto):

Economias de enclave• México,Bolívia,Venezuela/Chile,Peru/AméricaCentral

• OligarquiadomésticadominaEstado,nãodominaatividadesexportadoras

• Choqueadverso:burguesiainternacionalnão sevoltaàindustrialização

• Estadocomoatordamudançaeincorporaçãosócio-políticadeclassesmédias

Aníbal Quijano (1928 -)

• NasceemYanama,Yungay,Peru

• Formação:finaldadécadade1940–1964,PerueChile

• InfluênciadeJoséCarlosMariátegui

• Décadade1970:Professoremváriospaíseslatino-americanos

• Décadade1980:ProfessornosEUAenaEuropa

• UniversidadRicardoPalma+BinghamtonUniversity,NY

Quijano,A.2005.Colonialidade dopoder,eurocentrismo eAméricaLatina,p.117.

A América constitui-se como o primeiro espaço/tempo de um padrão de poder de

vocação mundial e, desse modo e por isso, como a primeira id-entidade da

modernidade. Dois processos históricos convergiram e se associaram na produção

do referido espaço/tempo e estabeleceram-se como os dois eixos fundamentais do

novo padrão de poder. Por um lado, a codificação das diferenças entre

conquistadores e conquistados na ideia de raça, ou seja, uma supostamente

distinta estrutura biológica que situava a uns em situação natural de inferioridade

em relação a outros. Essa ideia foi assumida pelos conquistadores como o principal

elemento constitutivo, fundacional, das relações de dominação que a conquista

exigia. Nessas bases, consequentemente, foi classificada a população da América, e

mais tarde do mundo, nesse novo padrão de poder. Por outro lado, a articulação de

todas as formas históricas de controle do trabalho, de seus recursos e de seus

produtos, em torno do capital e do mercado mundial.

Quijano,A.2005.Colonialidade dopoder,eurocentrismo eAméricaLatina,p.121.

[...] os colonizadores exerceram diversas operações que dão conta das condições que

levaram à configuração de um novo universo de relações intersubjetivas dedominação entre a Europa e o europeu e as demais regiões e populações domundo, às quais estavam sendo atribuídas, no mesmo processo, novas identidadesgeoculturais. Em primeiro lugar, expropriaram as populações colonizadas – entreseus descobrimentos culturais – daqueles que resultavam mais aptos para odesenvolvimento do capitalismo e em benefício do centro europeu. Em segundolugar, reprimiram tanto como puderam, ou seja, em variáveis medidas de acordocom os casos, as formas de produção de conhecimento dos colonizados, seuspadrões de produção de sentidos, seu universo simbólico, seus padrões deexpressão e de objetivação da subjetividade. [...] Em terceiro lugar, forçaram –também em medidas variáveis em cada caso– os colonizados a aprenderparcialmente a cultura dos dominadores em tudo que fosse útil para a reproduçãoda dominação, seja no campo da atividade material, tecnológica, como da subjetiva,especialmente religiosa. É este o caso da religiosidade judaico-cristã. Todo esse

acidentado processo implicou no longo prazo uma colonização dasperspectivas cognitivas, dos modos de produzir ou outorgar sentido aos

resultados da experiência material ou intersubjetiva, do imaginário, do

universo de relações intersubjetivas do mundo; em suma, da cultura.

Quijano,A.2005.Colonialidade dopoder,eurocentrismo eAméricaLatina,p.122.

Conceito de modernidade

“O fato de que os europeus ocidentais imaginaram ser a culminação de uma

trajetória civilizatória desde um estado de natureza, levou-os também a pensar-se

como os modernos da humanidade e de sua história, isto é, como o novo e ao mesmo

tempo o mais avançado da espécie. Mas já que ao mesmo tempo atribuíam ao

restante da espécie o pertencimento a uma categoria, por natureza, inferior e por

isso anterior, isto é, o passado no processo da espécie, os europeus imaginaram

também serem não apenas os portadores exclusivos de tal modernidade, mas

igualmente seus exclusivos criadores e protagonistas. O notável disso não é que os

europeus se imaginaram e pensaram a si mesmos e ao restante da espécie desse

modo –isso não é um privilégio dos europeus– mas o fato de que foram capazes de

difundir e de estabelecer essa perspectiva histórica como hegemônica dentro do

novo universo intersubjetivo do padrão mundial do poder”.

Quijano,A.2005.Colonialidade dopoder,eurocentrismo eAméricaLatina,p.121.

Nesse sentido, a pretensão eurocêntrica de ser a exclusiva produtora eprotagonista da modernidade, e de que toda modernização de populaçõesnão-européias é, portanto, uma europeização, é uma pretensão etnocentrista e

além de tudo provinciana. Porém, por outro lado, se se admite que oconceito de modernidade se refere somente à racionalidade, à ciência, àtecnologia, etc., a questão que estaríamos colocando à experiência histórica nãoseria diferente da proposta pelo etnocentrismo europeu, o debate consistiriaapenas na disputa pela originalidade e pela exclusividade da propriedade dofenômeno assim chamado modernidade, e, em consequência, movendo-se nomesmo terreno e com a mesma perspectiva do eurocentrismo. Há, contudo, um

conjunto de elementos demonstráveis que apontam para um conceito demodernidade diferente, que dá conta de um processo histórico

específico ao atual sistema-mundo. Nesse conceito não estão, obviamente,ausentes suas referências e seus traços anteriores. Porém, define-se enquantoparte de um universo de relações sociais, materiais e intersubjetivas, cujaquestão central é a libertação humana como interesse histórico da sociedade etambém, em consequência, seu campo central de conflito.

Quijano,A.2005.Colonialidade dopoder,eurocentrismo eAméricaLatina,p.121.

Em primeiro lugar, o atual padrão de poder mundial é o primeiro efetivamente

global da história conhecida. Em vários sentidos específicos. Um, é o primeiroem que cada um dos âmbitos da existência social está articulado a todas asformas historicamente conhecidas de controle das relações sociaiscorrespondentes, configurando em cada área um única estrutura com relaçõessistemáticas entre seus componentes e do mesmo modo em seu conjunto. Dois,é o primeiro em que cada uma dessas estruturas de cada âmbito de existênciasocial, está sob a hegemonia de uma instituição produzida dentro doprocesso de formação e desenvolvimento deste mesmo padrão de poder.Assim, no controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos, está aempresa capitalista; no controle do sexo, de seus recursos e produtos, a famíliaburguesa; no controle da autoridade, seus recursos e produtos, o Estado-nação;no controle da intersubjetividade, o eurocentrismo. Três, cada uma dessasinstituições existe em relações de interdependência com cada uma das outras.Por isso o padrão de poder está configurado como um sistema. Quatro,finalmente, este padrão de poder mundial é o primeiro que cobre a totalidadeda população do planeta.

A. Quijano

• Colonialidade dopoder

• Capitalismo(economia)

• Eurocentrismo (simbólico)

• Transmodernidade (E.Dussel)

José Maurício Domingues (1960 -)

• Formaçãoentre1985-1993,RiodeJaneiro,LSELondres

• Modernidadeglobalesubjetividadescoletivas

• Incorporapensadoresdeoutrospontosdosulglobal:orientemédio,Índia,ÁfricadoSuleChina.

José Maurício Domingues (1960 -)

Críticas ao programa da Colonialidade

Visão reducionista da modernidadeConcentra-seapenasemseusaspectosopressivos

Insuficientes instrumentos para a análise socialImportanteperspectivadedenúnciadaopressãoMaspermanececomoretóricaespeculativa,fornecepoucosconceitosequestõesparaainvestigaçãoempírica

José Maurício Domingues (1960 -)

Alternativas para a teoria social na América Latina

Investigação empírica sobre movimentos sociais reivindicatóriosCríticaimanentediantedateorizaçãocrítica

Giros modernizadoresMomentosdeincorporação institucionaldereinvindicaçõespopulares

Análise das tendências da modernidade globalIncorporarteorizaçõesdocentroedaperiferiaparaaanálisedadireçõesdadinâmicaopressão-emancipação

Ponto de partida: multidimensionalidade de uma modernidade híbrida