Solidonio Leite-lingua Portuguesa No Brasil

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    SOLIDONIO LEITE

    ALNGUA PORTUGUESA

    NO BRASILAB

    EDITORESJ. L E I T E & C i a .

    R U A T O B I A S B A R R E T O , 1 2Rio de Janeiro

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    A edio d ig i ta l des te fac-s mi le fo i p reparada porCaio Csar Chris t ianoa par t i r da ed io or ig inal que per tenceu ao professorR a y m o n d C a n t e ida Univers idade de Poi t iers .Esta obra encontra-se em domnio pblico e por isso pode ser livremente distribuda.

    Este e-book distribudo gratuitamente atravs do blogue linguisticamente.wordpress.com

    Poitiers. setembro de 2011

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    A L ingua Portuguesano Brasil

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    O B R A S D O M E S M O A U C T O R V E N D A N A L I V R A R I A J . L E I T E

    C l s s i c o s E s q u e c i d o s , I v o l . c a r t 4 $ 0 0 0A a u c t o r i a d a A r t e d e F a r t a r , 1 v o l . b r o c h . . 1 0 $ 0 0 0F r . M a n o e l d a E s p e r a n a ( E x c e r p t o s ) , 1 v o l . b r . . 3 $ 0 0 0E r r o s I m p e r d o v e i s , 1 v o l . b r o c h 1 $ 0 0 0C l s s i c o s p o r t u g u e z e s , 1 v o l . b r o c h 1 $ 00 0

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    S O L I D O N I O L E I T E

    ALINGUA PORTUGUESA

    NO BRASIL

    E D I T O R E SJ . LE ITE & C ia .

    R U A T O B I A S B A R R E T O . 1 2R i o de Jane i ro

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    Monsenhor Sebast io Rodolfo Dalgado , in -s igne ph i lo logo e ind ian is ta , p rofessor de sns-cr i to na Faculdade de Let ras da Univ . de Lisboae auctor de vrios t rabalhos sobre os dialectosindo-por tugueses , d i r ig iu ao Dr . Sol idonio Lei -te a seguin te car ta , 3 proposi to do pr imei rodos ar t igos sobre A l ingua por tuguesa noBras i l :Exm o. Sr. Dr. Solidonio Leite.

    Cordiaes cump rimentos. Agradeo , mui-to penhora do, a remessa do seu bri-lhante artigo philologico, recebido hon-tem. O Leite de Vasconc ellos, que es-tava c ento, levou-o para o ler e tal-vez apreciar. Eu havia notado analo-gias entre o indo-portuguez e o p ortu-guez brasileiro e no sabia bem ex-plicar-me a razo.

    Agora fico inteirado do contactofrequente e prolongado que houve... Es-perando com anciedade ler a continua-o do seu interessante artigo, envio-lhe calorosos cump rimentoss.

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    I1 Commerc io da escrava tu ra e sua in f luen-cia na penetrao entre ns , dos d ia-lec tos ind o - po r tug uese s . 2 Dia lec tos

    de Ga, de Cei lo e Nortei . ro . - Inversod o p ro n o m e reg i m en .1 Muito antes de D. Joo VI assentar aCor te na c idade do Rio , j os seus moradores eos da Bahia f requentavam Moambique, de on-de t raziam, desde 1645, escravos e tar taruga,em retorn o dos gen ero s levados do B ras il .Nas v iagens quel la praa, en to par te (du-rante muitos annos) do- Estado da ndia e cen-tro do commercio com as terras da Africa orien-tal e da Asia, iam os navios a Ga, onde seachava o Conselho da Fazenda.Demais , todo o commercio de Moambiquefo i longo tempo monopol i io dos baneanes , ju -deus as ia t icos , que levavam constan temente r i -

    quezas dessa i lha para Damo e Dio , onde seformara a companhia commercial que e l les re-pre se nta va m ; e, alm del les, que,, des de 1687,permanec iam temporar i amen te em Moambique ,encontravam-se al l i os gent ios de Damo e DiOje uma populao branca de ind iv duos casados

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    10 A L ingua Po rtu gu esa 110 B rasi lxe por eu soube, trouxe; subst i tu io do suff i -xo d iminui t ivo dos ad ject ivos pela expresso Um pouco: Um pouco fraco em vez de fra-quito; e suppresso s vezes do a r t igo : Quemsabe nom e daqu elias terras? Po r ser contra re-ligio (*).P as s em o s s y n t ax e :R E G I M E N . O, A mudam-se em Lhe: Fuivisitar-/?, mas no Lhe encont re i .Diz-se: Oia a mim, em lugar de Oua - m e \escreveu a ns, por escreveu-zzos; leve a ellapara a sala, em lugar de leve-a para a sala;ap resen ta r sua dex t ra a ella, quando se deviad i ze r : ap r e s en t a r - / ^ s u a d ex t r a .C O L L O C A O D E P R O N O M E S P o s -pe-se ao verbo o pronome reg imen, cont ra ouso leg i t imo, in forma o ins igne Dalgado; epe os segu in tes exemplos : D i f f i c i l m e n t e pa-go-se as contas atrazadas. Que t-rne na tu ra l .Que so - lhe assacadas. El ie no canava-s^ eminsul tar . Ajunta: Pe-se s vezes , o pronomeregimen depois do par t ic ip io do passado: Ten-do a imprensa at queixado-s^ do seu procedi-men to i r r egu la r .

    Por sua vez, Lei te de Vasconcel los escreve(Dialecto logie Por tugaise , pag . 169) : Dans(*) Com ea bo te a virar , exe m plo colhid ono Cancioneiro do Norte, p. 3 . Poder amos c i ta r mui-tos out ros .

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    11 A L ingua Portug uesa 110 B rasilla syntaxe: incert i tude dans la place des pro-noms per sonne l s me, se, etc., comme dans lebrsilien ( 96), ex.: foi a carta que tu es-creveste-/g, onde a cobia dos poderosos pe-se de p.Alheiam-se, por tan to , da verdade os quesuppem ser bras i le i r i smo a inverso dos pro-nomes. puro d ia lecto de Qa, como tambmo uso da preposio em com os verbos de mo-v imen to : sbe no coquei ro , chegou em casa,,venha no meu quar to ; o emprego de bater epegar ac t ivamen te : ba teu a porta, bati-o bem,p eg u e o meu l iv ro ; e o das expresses: haviamseis annos, fazem d o u s m ezes ; fazem a lgunsannos .Quanto ao d ia lecto creoulo de Cei lo , bas-t e o segu in te :E atono sa 1 , do mesmo modo que nodialecto de Ga, no su l de Por tugal e en t re ns;LH r ep resen ta - se po r Y ou 1: oy, fya, brim(vermelho ) , ori ( o r e l h a ) i mergui; nos grosde comparao usa-se mais melhor, ma is peior,e tambm mais bom; a par da reduco dosexdruxulos, que se nota no dialecto de Qa, acreao de outros, como entre ns: pest ia,possia, diffrencia, sentencia, justicia; e,f ina lmen te , o emprego de falar com a signif ica-o de dizer, como entre ns, no Estado deMinas -Geraes .Se passarmos ao d ia lecto nor te i ro (Bom-

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    12 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lbaim, Mahim , B andor , B acaim, Cha l , e tc . ), en-cont raremos, como en t re ns:A P H E R E S E : d e s y l l a b a (Bastio por Se-bastio); de v (oc, uc, por voc); d e a (tnarr,cab, cord, panh, po r amarrar, acabar, acordar,apanhar); S media i segu ido de m equ iva lendoa z; at tenuao de o em a (ulh, custar, cubr,cum, etc . ) ; syncope de nasal s imples poston ica(horn' por homem, or d por o rdem; en t re ns :ord, hom i); tamem , cadra, por tambm, cadah o r a ; com ns, por comnosco ; d par mim umpiquen peda, em vez de dae-me um pe-q u en o p ed ao ; j deu pr'ell bunit p oi, em lu-gar de j lhe deu um bonito po.Grande in teresse tem para a d ia lecto log iapor tuguesa, e para a bras i le i ra em especial , oes tudo da penet rao ass im real izada por a lgunsdialectos indo-por tuguezes .

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    3 In f l u en c i a s co n s e rv ad o ra s e i n f l u en c i a sp e r t u rb ad o ra s d a l i n g u ag em ; l i o d eW hi tney , Gon alves Vianna e L i t t r . 4 E x t rem o g ro d e p e r f e i o d a l i n g u apor tugu esa nos scu los XVI e XVII .5 F i x an d o - s e em m o n u m en t o s l i t e r -r ios , a l ingua no pode mudar sem cor-rom per -se ; l i o de Re nan , Vo l ta i re eM a x M u l l e r . 6 O p o r t u g u s l i te r -r io no B ras i l .

    3 Occupando-se das in f luencias que sema nifes tam na l ingua de um povo, encareceWhitney a importancia da civi l izao como ele-men to conservador ; e accrescen ta :Une l i t tra ture cr i te , l 'hab i tude

    de conserver les souvenirs et de l i re, laprevalence de l ' enseignement , son t au-tan t d ' in f luences qu i ag issen t dans lemme sens; e t quand el les on t a t te in tle degr de force auquel e l les parv ien-nent chez les nations civilises, ces in-

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    1 4 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lf luences dominen t compl temen t dansl 'h i s to i re du langare . La langue es t f i -x . . . non se u lem ent des d i f f renc es lo -cales ne se produisen t p lus , mais e l lessont f facs par tou t ou l ' ducat ion serpand.

    Mostra ser a razo por que o ingls quese fa la na Ing later ra e o fa lado na Americado Nor te no nos deparam as d i f ferenas queapresentam, comparados com a l ingua mi , of rancs dos Canadenses , e o a l lemo dos co lo-nos da Pensylvania .Por sua vez d isse Gonalves Vianna: . . . oing ls da Europa cont inua a ser o padro do in-g ls dos Estados Unidos da America do Nor-te , como o cas te lhano l i terr io , s verdadei ra-mente vernculo no cen t ro da Espanha, omodelo que nenhum escr i to r das Republ icas daAmerica do Sul , de or igem hespanhola , desde-nha ou menoscaba .Acredi ta sobremanei ra os nossos foros depovo civi l izado o conservarmos o idioma quenos herdaram os por tugueses . Pde cada um dens percorrer todos os Estados do Bras i l , cer tode que se far comprehender prefei tamente , semnenhuma d i f f i cu ldade ; excep to em a lgumas c i -dades do su l , onde ha teu to-bras i le i ros que f in -gem s en tender o a l lemo. Nada fazem aocaso pequenas d i f fe renas r eg ionaes .

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    15 A Lingua Portuguesa 110 Brasil

    E porque no ha receio de es tacionarmosno caminho da civi l izao, devemos ter por cer-to que augmentaro d ia a d ia as foras de-fensivas da un idade da nossa l ingua. As cor-ren tes per turbadoras encont raro , ass im, res is-tncia cada vez mais eff icaz. Embora continuema inf lu i r , p r incipalmente na massa dos i l le t ra-dos , i ro concorrendo somente com expressesque logrem impr-se ao uso geral , consagrado,pelos bons escr ip tores .Quando uma l ingua j es t f ixada em mo-num en tos l i te r r io s , o s phenom enos per tu rba-dores raramente se produzem, e pouca inf luen-cia podem exercer . Ce n 'est pas, diz Li t t r.( H1 S T . DE LA L AN GU E F R A N AI S E , 8> ed .,pag. 150), quand une langue l i t traire est ar-me de toute sen auctori t, que ces phnom-nes se produisent ; dans ce cas, el le fai t recu-ler les patois, elle fface les dialects, elle im-pose la rgie et l 'uniformit, et , abri te, com-me l 'homme lui-mme dans les murs de ses vi l -les, contre les influences du cl imat , el le n 'estplus sujet te qu ' cel les des sicles.4 A l io dos mestres, que se tm consa-grado a es tudos especiaes do assumpto , most ra ,por tan to , quo longe se acha a l ingua por tu-guesa de encont rar no Bras i l in f luencias quevenham t rans fo rmal -a .J havia chegado em Por tugal , desde ossculos XVI e XVII, a esse gro de perfeio

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    16 A L ingua Por tu gue sa 110 B ras ilno qual de sorte se f ixam as l nguas que seno podem al terar sem corromper-se. (*)

    5 Une langue b ien fa i te d isseRenan , n ' a p lu s beso in de changer . . .on ne ' p rtend l ' enr ich i r que quand onne veut pas se donner la peine deconna t re sa r iohesse .

    O mesmo j haviam di to , alm de outros,Vi l lemain e Vol ta i re .So do u l t imo as seguin tes palavras :

    Toute langue tan t imparfai te , i lne s 'ensui t pas qu 'on doive la chan-ger . I l fau t abso lument s ' en ten i r la manire dont les bons au teurs l 'on tpar le; e t quand on a un nombre suf-f i san t d 'au teurs approvs , la langue es tf ixe. Ainsi on ne peut plus r ien chan-ger l ' i t a l ien , l ' espagnol , l ' ang lais ,au f ranais , sans les corrompre; la ra i -son en est claire: c 'est qu 'on rendrai t

    ( ! ) O ins igne M est re Dr . E du ard o Car lo s Pe-re i ra f igura um t r iangulo , em cujo ver t ice se achaa l ingua por tuguesa do sculo XVI: es tando nos ex-t remos da base , como di f fe renc iaes d ia lec taes , o fa -la r bras i le i ro e o lus i tano.

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    A Lingua Por tuguesa no Bras i l 17bientt inintel l igible les l ivres qui fontl ' instruct ion et le plaisir des nat ions.

    Por sua vez dout r ina Max Mul ler LaScience du L anga ge ( t rad . H arr s- Pe rro t ) :Aprs avoir t adopt comme lalangue de la lgislat ion, de la rel igion,

    de la l i t trature et de la civilisation g-nrale, le lat in classique devint f ixe etimmobile. I l ne pouvai t plus se d-velopper, parce qu ' i l ne lui tai t p luspermis de changer ni de dvier de sacorrect ion classique.. J C i t . , . , r r , 1 j t .6 A l ingua, de que se servem os nos soscscr ip tore s ma is po l idos , como Ruy B arbosa eI net, no d i f f r da que adm iram os nos me-lhores modelos c lss icos; sa lvo as ind ispens-veis innovaes a que todo o idioma est su-jei to , as quaes de nenhum modo lhe al teram ars t ructura , indole e fe io pecul iares .E o numero dos bons escr ip tores bras i le i -ros tende a augmentar , g raas ao in teresse quea s l inguagem vai desper tando , p r incipalmente

    depois dos t rabalhos do Codigo Civ i l .Ant igamente havia en t re ns menos cu ida-do nas composies l i terarias; e ainda, nos t ra-balhos des t inados ao ensino da mocidade. 11111 fa ct o in dis pu tv el , se gu nd o a se u te m po ve-remos . 2

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    7 Ins ign i f ican te in f luenc ia do e lemen toaf r ica no . 8 M o por tugue:s dos nos -sos escr ip to res an t igos . 9 L inguagemdo s l ivros d idt ic os . 10 Com o seensin ava a ar t e de escr eve r. 11 Me-l h o r i a d o p o r t u g u s n o B ra s i l .

    7 En t re ns pouco inf lu ram nos tem postn lon iaes e pos te r io rmen te o s e l emen tos per tu r -k idores da l ingua. O de maior durao , o e le-mento af r icano , que se pro longou at os nossost l ias, fracos vest gios deixou.I o i mui to m ais im por ta n te a in f luencia queiM-iccram os d ia lectos indo-por tugueses , espe-cia lmente o de Ga; no somente no temponu que o B ras il serv iu de por to de ar r ibadaou de escala (Antonio Franco Imag. da Virt . ,cm o Nov. de Coimbra II , 744 a 746); comolambem comi o comm ercio de escravos , seg un doj vimos.I . muito para notar a insignif icante in-f luencia desses e lementos , apezar de favoreci -do'; pela ausncia de correntes conse-rvadoras.

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    20 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i l8 Discurav a-se o es tud o da l ng ua, e da-va-se pouco apreo- l inguagem e ao estylo.Os mesmos que t inham obr igao de escrevercom asseio , nenhum cuidado punham nisso . Af-f i rmando que an t igamente no se escrev ia bompor tugus no Bras i l , accrescenta Jos Ver ss imo:

    Com todo o seu engenho e ou t rasqual idades , os nossos romnt icos escre-veram, seno p rop r i amen te mal , mu i todesai radamente . Gonalves Dias , JooL i sboa e o s M aranhen ses em gera l f a -z iam excepo . . . Macedo escrev ia pes-s imamen te e Bernardo Gu imares e ou -t ros no escrev iam melhor . Ainda emvista destes comeou, e depois del lesproseguio a reaco em favor de umal ingua mais apura da, e os seus resu l -tados, se no so ainda quaes os qui-zeramos so j bas tan te sa t i s factor iose paten tes para nos au tor izar a crrque l egaremos ao fu tu ro B ras i l umal i t tera tura mais perfe i ta que a que re-cebemos.

    A l inguagem incorrecta dos nossos escr i -p tores , ou passava despercebida, ou t inha-se ge-ra lmente por cousa somenos.9 Eram mal escr ip tos os propr ios l i -v ros adoptados no ensino secundr io e super ior .

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    21 A L ingua Portug uesa 110 B rasil

    I ningum dava por isso; apezar da gravidade< avul tado num ero dos er ros .Num compend io mu i to e log iado (Bah iaImvI) lemos o seguin te :Es tes phenomenos so innumeros ;todavia no so to d isparatados unsdos outros... (I , 6).Para se conhecer quaes sejam aspropr iedades de qualquer cousa, noha outro meio do que saber quaes se-jam os phenomenos que e l le apresen-ta (II, 12).

    I ni seguida, na m esma pa gin a:Na matr ia organizada manifes-tam-se cer tos phenomenos, que no soos phenomenos da matr ia inorganica;no an imal manifes tam-se cer tos pheno-menos, que no so os phenomenoscio vegetal , e no homem manifestam-se cer tos phenomenos que no so osphenomenos do an imal .

    1 pouco depois :Mui tos movimentos se passam nocorpo, e dos quaes no temos conscin-cia. (I, 55).

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    22 A L ingua Po rtug ues a 110 B rasilLogo na I a pag. do 2 o vol . se l:

    . . . p a r a p r o d u co d a s en s aon o s o . . . O l iv ro todo ass im.Em ou t ro compend io encon t ramos a todoo in s t an te exp resses como es t as :

    . . . i m p o s s i b i l i d ad e d e s e en ca r a rtod os os pro ble m as ; detalhes que sedeseja reproduzi r ; para se /calcu lar no-vos t r ingulos ; para se medi r as d is-t anc ias . E cons t ruces des t e f e i t i o :A g radua o po de n d o se r cen tes imalou sexages imal , ap resen temos ; As o -peraes no t e r reno , ex ig indo que oo p e r ad o r s a i b a . . . p a s s em o s ao e s t u d odos ins t rumentos .

    10 Os propr ios l iv ros adoptados off ic ia l -mente para o ensino da e loquencia e pot ica , noconst i tu am excepo . Comeavam por es te ter(p. 1) os Elementos de Rhetorica de Junque i raFre i re (Rio , 1869) : O o rador , como o poe ta ,nasce , no fo rma-se . No Prefac io do p ro fesso rda matr ia se l ia : Jovem cujo nome tornou-se ,paginas que consagrou- lhe .E a Sytiopse de Eloquncia e Potica do P.Honorato (Rio , 1870) es t cheia de expresses

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    23 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lmino as seguin tes : Dos meios que emprega-separa chegar aos f ins da eloquencia; As queso Io express ivas que no pode-se encont rar ;as regras especiaes que deve-se observar . Ser( Iara a e locuo quando empregar-se palavrasprprias. Dahi , pois, se dist ingue cinco espe-i i cs de palavras prprias, ou que o uso asl ( i i i ap rop r i ado ; a saber : . . . Devemos d i s t in -gui i as p lavras bello e belleza que quasi sem-pic se confunde; f igura pela qual repete-seas mesmas palavras: pela qual repisa-se asmesmas id a s . . . pela qual suppr im e-se pala-vras.Assim: que se ensinava entre ns a arte deescrever. A m esm a de fini o de estylo, o compen-dio official no a apresentava com mais l im-pe/a: Esty lo . . . era o nome que dava-se a umi i i s l ru m en to . . . com que escr iv ia-se . . . depois pas-sou a significar o que escrevia-se.Ningum est ranhava essa l inguagem a quelodos os ouvidos se t inham habituado. Era a delodos, a consagrada nos l ivros de ensino, nasl ies e preleces; ainda quando o seu obje-i lo fossem a elocuo e o estylo.

    II um facto, que a cr i t ica no pdedeixar de verif icar com sat isfao, dizia Verssi-mo em 1907, o da jnelho,ria do po rtu gu ez no B ra-il Aqui se est ho je escrev endo melh or, m aiseas lia, e m ais e leg ante m ente do que nunca seescreveu . . . Este resu l tado devido impor tan-

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    24 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lcia , aqui dada s questes grammat icaes e ,abundancia des tas . Sem embargo do que pedemmuitas del ias ter t ido de bizant inas e at deridiculas, o seu effei to foi ut i l , como ut i l ssimafo i a aco dos grammat icos e de ou t ros es tu-d iosos ou amadores da nossa l ngua, obr igandoos nossos escr ip tors a lhe darem maior apreo ,a es tudarem-na, a cu l t ivarem-na com maior es-t imao e a escreverem com mais cu idado . . .Comea-se a comprehender , ou j se compre-hende, que no ha escr ip tor bom ou grandeescriptor , sem l ingua.

    E ci tava os conhecidos versos de B oi leau :Sans la langue, en un moi, l'auteur de plusdivin est toujours, qouqu 'il fasse, un mcha ntcrivain.

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    IV12 Deve o escr ip to r es tudar a l ngua e

    as reg ras da e locuo nos bons mode-los verncu los . 13 Ha en t re essesmui tos que no t ra tam de re l ig io . C i ta -se g rande numero de t raba lhos h i s to r icos .14 Tra balh os sobre v iagens . 15 Sobre po l i ti ca . 16 Sobre nove l l i s t i ca ;comedias . 17 L iv ros de l e i tu ra ame-na . 18 Sobre p in tu ra de cos tume s ;(mora l is tas. 19 O ut r os assum ptos .

    12 Passou o tempo em que se olhavacom indi f ferena a l inguagem e o es ty lo dascomposies 1 i terarias. Quem deseje ser escri-ptor deve conheceir a l ingua), e estudar as regrasda elocuo. Se os interessados fossem ouvidos,naturalmente os mais apressados em obter g lo-r ias 1 i terar ias , mani fes tar -se- iam pelo commo-do reg imen an t igo , de abso lu ta negl igencia . Mas,no se lhes permit te voto. Nem lhes vale dize-rem que so fast idiosos os l ivros clssicos, esomente se occupam de rel igio. Dado que as-sim fosse, nada faria ao caso o assumpto em sebalando de modelos da ar te de escrever . S-

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    26 A L ingua Portu gue sa 110 B rasilmente nos sermes de Ti l lo tson , lembrmos emoutro logar , achou Dryden essa myster io-sa lei da crea o da B el la P hrase que o es-merado Flauber t levou toda a sua v ida pro-curando , p r incipalmente na obra de Chateau-b r i and . Mui tos ou t ros a encon t ra ram na de Bos -suet , s imples apologie de la rel igion chrt ien-ne par le moyen de la Providence, pelo quedenom inaram subl ime orador dos lugarescommuns, a esse grande art ista da palavra queSain te Beuve qual i f ica o mais e loquente de to -dos os escr ip tores f ranceses .13 No , porm, verdade que os l ivrosclss icos por tugueses t ra tem somente de assum-ptos re l ig iosos . O cont rar io tes t i f icam centenasde obras , onde se os ten tam as bel lezas da nos-sa l ingua.T o avu ltado o seu num ero que seriaimpossvel mencional -as aqui . L imi tamomos porisso a a lgumas, comeando pelos t rabalhos h is-t r icos de Joo de Barros , Couto , Castanheda,Ges , B erna rdo de B r ito , An tonio e FranciscoBrando , Mar iz , Af fonso de Albuquerque , Lu izde Souza, A. Pa es Viegas, B ern ard ino da Si l-va , Ferno Guerrei ro , Ayres Varel la , D. Lu izde Men ezes , B al thazar Tel les , Soares da Si lva ,Lucas de Santa Cathar ina, Lu iz Mar inho de Aze-vedo , Souza de Macedo, Monterroyos Masca-nhas , p r incipalmente na Epanaphora Ind ica osi rmo s B arboza, a H is tor ia da nd ia de A.

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    27 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lPin to Perei ra , um dos prosadores mais bene-me r i tos de es t imao , B r i to Frei re , B erredo eRocha Pi ta , os quaes par t icu larmente nos in -t e ressam.Bastar -nos- ia Joo de Barros , un iversalmen-te admirado . Segundo boa opin io , excedeu aTi to Liv io : no assumpto por ser o mais novoque o mundo v iu ; nos factos , porque no soapocryfos , como mui tos da h is tor ia de Liv io ;no in teresse porque t ra ta de costumes, r i tos ,t rajos, regies, imprios, povos, mares, i lhas,produes , commercios , e navegaes nunca so-nhadas dos ant igos. E no estylo, sendo pelocommum igual a el le, em muitos logares o ex-cedeu.14 No que respei ta especialmente a v ia-gens , temos a Peregr inao de Ferno MendesPinto , as No ticias dfc rein o de Co chinch ina,de Manoel Ferre i ra , o Peregr ino na America ,de N. Marques Pere i ra ; o Tra tado sob re ascousas da China, por G asp ar da C ruz ; osI tenerar ios escr ip tos por A ntonio Ten rei ro , Pan-ta leo d 'Avei ro , M. Godinho , Gaspar de S .Bernard ino , F . Guerrei ro ; a Jornada do Ar-cebispo , de Antonio de Gouva; a de Antoniode Albuquerque Coelho , por Velez Guerrei ro ,e as Relaes constan tes da His tor ia Trag ico-Mari t ima, alm de muitas outras.15 Q ua nto ao s assum ptos po l ticos , ler -se-o com summo provei to a Arte de Reinar

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    28 A L ingua Portu gue sa 110 B rasile a Just i f icao dos Por tuguezes de Antoniode Carvalho Parada, a Pol i t ica Pred icavel deManoel dos Anjos; a Summa Pol i t ica de Se-bast io Cesar de Menezes; o Abecedar io Realde J . dos Pra ze res ; a B rachio logia Real dePr ncipes , por Jacin to de Deus; as obras deF. de Andrade Lei to e de Antonio Moniz deCarvalho , a Escola de Verdades Aber ta aosPr ncipes , es t imadss ima t rad . de A. Alvaresda Cunha; a Instruco Poli t ica, de Sylva eSouza; os Successos de Por tugal , de Lu iz deTo rre s de L ima; os Discursos e ou t ras ob rasde Sever im de Far ia e de Joo Pin to Ribei ro ;a Armonia pol i t ica, de Souza de Macedo; partedos innumerave i s t r aba lhos de Mon ter royos Mas-carenhas, todos muito curiosos, os de Joo Ri-bei ro Cabral , a lguns de Lu iz Mar inho e Duar teRibeiro de Macedo, o discurso pol i t ico de LuizLoureno Sampaio , o precioso l iv ro Avisospara o pao de Luiz de Abreu de Mello; etambm o Perfei to so ldado e Pol i t ica mi l i -tar , de Joo de Medei ros Corra , e a v ibran teOrao apodix ica , do nosso Diogo Gomes Car-nei ro (natural do Rio de Janei ro) .

    16 Quem prefer i r o genero novel l i s t ico ,tem as H istor ias de jprovei to, de Tra nco so o pr imeiro l iv ro do genero publ icado na Hes-panha ; a Chron ica do Imperador Cla r imundo ,de Joo de B ar ros ; o Pa lmer im d ' Ing la t e r ra ,por Francisco de Moraes; a Menina e Moa ,

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    29 A Lingua Portuguesa 110 Brasilde B ernard im R ibe i ro ; o Mem or ia l das p roezasda segunda Tavola Redonda , de Jorge Ferrei -ra ; a Lusi tan ia t ransformada , de F . Alvaresdo Orien te , e os Infor tn ios t rg icos e asNovel las exemplares , por Gaspar P i res de Ra-bel lo . E querendo passar s comedias , encont ra-r faci lmente pelo menos a Eufrosina , e asdo nosso Antonio Jos .17 Os que desejarem l iv ros de recreaoe ut i l idade, podem 1er com provei to a EscolaDecur ia l , de Frad ique Espinola , os Apologosdialogaes, e a Feira de Annexins, de Fran-cisco Manoel de Mello; a Hora de Recreio ea Recreao Provei tosa , de Joo B apt i s ta deCastro, as Let tras symbolicas e sibyl l inas, deRaphal da Pur i f icao , tambm a Fabula dep lane tas , de iB ar tho lom eu P acho , a Cor te n 'A l -deia , de Ro dr igu es L obo ; a Academia nosMontes , de Montei ro de Campos; e o Diver-t imento erudi to, de J . Pacheco.18 Se se quizer pintura de costumes, emmui tas ob ras se encon t ra r ; p r inc ipa lmen te nasseguin tes , merecedoras , a todos os respei tos , deencarecimento : Soldado Prat ico , de Diogo doCouto , Pr imor e Honra da Vida Soldadescano Estado da ndia, publicado por Antonio Frei-re , Tempo de Agora de Mar t im Affonso deSouza, e

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    30 A Lingua Portuguesa 110 Brasilmioso, Aleixo de Santo Antonio, Diogo de Pai-va, 2, D. Francisco Manoel de Mello) um del-les, o nosso patr cio Mathias Aires, auctor dasRef lexes sobre a Vaidade dos Homens , eda Car ta sobre a for tuna , pde compet i r comos melho res das l i t e ra tu ras es t r ange i ras .19 Ser ia no ter f im, se cont inussemoscom a l i s ta . Cor tmos por mui tos auctores , eexclu mos os t rabalhos pot icos , e os que tmpor objecto direi to , medicina, mil icia, caval lar ia,ph i lo log ia , mathemat ica , p in tura , e tc .Exclu mos tambm as chronicas re l ig iosas ,no obs tan te o f fe recerem-nos avu l t ado mate r i a lh is tor ico , e crescido numero de in formaescur iosas , de todo o gen ero . B as te-nos lem braras que mais de per to nos in teressam: a Chronicada Companhia de Jesus do Estado do Bras i lpor S imo de Vasconcel los ; a Imagem da Vir -tude em o Noviciado de Coimbra, de AntonioFranco , to preciosas para o es tudo do Bras i lco lonial ; a Chron . da Comp de Jesus , d .e Bal -thazar Tel les ; e a inda o Orien te Conquis tado ,do nosso Francisco de Souza, do qual disse Ca-m i l l o :

    O nosso homem em not ic ias daAsia o jesui ta Francisco de Souza,g rande s ty l i s t a , p ro fundo pensador , mu i -tas vezes propheta , e de todos quantosda sua ordem escreveram acerca da nos-

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    31 A Lingua Portuguesa 110 Brasilsa organizao social o que mais abonosd de luzes, e juizo claro, e desapegodas regras impostas pela companhia deJesus a seus chronistas.

    Por tan to os que ev i tam os velhos modelosvernculos suppondo-os fas t id iosos e crendei ros ,andam completamente er rados , e desprezam, aconta de infundado receio, o nico meio deconhecer-se a r iqueza da nossa l ingua.

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    V

    2 0 Pro s ad o r e s m o d e rn o s . 2 1 E r ro sa t t r ibu idos aos c lss icos onde es to mui -tas vezes nas reg ras dos g rammat icos .22 O nacionalismo na l ingua gem . 23 Dif ferenc iaes d ia lec taes nos d iver -sos Es tados do Bras i l .

    20 Se nos qu izermos res t r ing i r a uma d-zia de prosadores mais modernos , mui to aprovei -taremos com os seguin tes : Antonio das Neves Pe-reira, notvel phi lologo, auctor da Mecanica daspalavras em ordem harmonia do discurso, doExame cr i t ico sobre o uso prudente das pa-lavras de que se serviram os nossos bons es-criptores!, e do Ensaio sobre a Philologia Por-tugue za ; Francisco Dias Gomes, o hom em tal -vez de mais apurado engenho que Por tugal temt ido para aval iar mr i tos de escr ip tores (Her-culano) ; Pe dr o Jos da Fonsec a, au ctor da m e-lhor parte do Diccionario da Academia e demui tos ou t ros t rabalhos es t imadss imos; Fr . Fran-cisco de S. Luiz, em quem o amor da pa-

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    34 A L ingua Po rtug ues a 110 B rasilt r ia se desent ranha em affectos pela boa e ge-nu na l inguagem nac iona l (L a t ino ) ; D . F ran -cisco Alexandre Lobo , o escr ip tor mais c lss icodo pr incip io des te scu lo (XIX) , segundo Ca-m i l lo ; Seba st io Xavier B o telho , auctor da fa-mosa Memoria Esta t s t ica , da qual d isse Her-culano ser o l ivro de prosa mais bem es-cr ip to dos apparecidos nos l t imos v in te annosem Por tuga l ; ( accrescen tando , em ou t ro lugar ,que to sua t inha fe i to B otelho a form osa l n -gua por tuguesa, to e legante e f luen te o seudescrever e j i a rra r , que d i f i cu l to s am en te lhe le -varo van tagem os nossos p r imei ros p rosado-res) ; o me sm o He rculan o , Cam il lo , C ast i lho etambm Lat ino , Adolpho Coelho , Rebel lo da Si l -va e Gar re t .21 Entre as a l legaes apresen tadas con-tra a lei tura dos clssicos, uma del ias consis-te em que tambm el les er raram mui tas vezes .Sem duvida haver descuidos nos melhoresespecimens da vernacul idade. O mesmo acontecena l i teratura de todos os paizes e de todos lostempos. I sso , en t re tan to , jamais impediu sejao uso i f re qu en te dos m ode los c lss icos ind is-pensvel a quem pretenda escrever bem. ver-dade ind isputvel , consagrada pelo consenso una-n ime dos mes t res .Demais , tem acontecido levar-se a desacer-to o que r igorosamente correcto . O er ro , quesuppomos ver nos bons auctores , onde es t mui-

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    35 A Lingua Portuguesa 110 Brasiltas vezes na regra dos grammat icos , fo rmu-lada sem a neeessar ia observao dos factos dal inguagem. Como toda a general izao , o pre-cei to grammat ical ser tan to menos seguro quan-to menor fr a cpia dos factos sys temat izads .Refer indo -se a um dos nossos me lho resgram mat icos , d isse o ins igne Ruy B arbosa, queao perfe i to conhecimento das regras a l l ia o lon-go t ra to dos mest res da l ingua (Repl. n u m er o2 3 9 ) :

    Com o seu cri tr io de assentarinduces grammat icaes sobre um, dousou tres exemplos, a continuas dece-pes se expor ia o mest re .Agora mesmo es tamos lendo , com mui toprovei to , p rofundo l iv ro escr ip to por uma dasnossas maiores competncias em matr ia de lex i -cologia, no qual o nico defei to que nos parecehaver o ter o auctor l imitado por demais Dnumero das obras consul tadas .Af f i rma , po r exem plo :

    Em a ndia, a China, a Indo-ch ina o emprego da pa lav ra A foi sempre obrigatorio, assim como omascul ino O em o Japo , o In-dosto...

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    36 A L ingua Por tugu esa 110 B ras ilNo que respei ta a nd ia , no conhecemosexcepo. O mesmo no se pode dizer relat iva-mente a China, Cochich ina, Indosto . E quan-to a Ja p o , t emo s em nossos apon tam en tos cen -tenas de casos do seu uso sem antecipao doart igo. Isso, al is, se v nos proprios t i tulosde alguns l ivros clssicos e especiaes sobre oJapo , como as es t imadss imas Cartas de Japo;e o l ivro de Francisco Cardim Elogios e

    Ramalhetes de Flores Borifados com o Sanguedos Religiosos da Compan hia de Jesus a quemos Tyrannos do Imprio de Japo tiraram asvidas... Lisboa, 1650. (x)Repare-se no avul tado numero dos l iv rosque teve de ler o egreg io Dalgado , para comporo seu Glossrio; no obstan te l imi tar -se a pala-vras de or ige m as ia tica . Po rqu e 'no fez o mes-mo, cahiu Gonalves Vianna nos erros que osob red i to Dalgado mos t rou , examinando- lhe asApostillas.

    ( J ) No ou tro l ivro do mesmo auto r , Batalhasda Com panhia de Jesus, impresso pe la pr imeira vezem Lisboa , no anno de 1894, es t no f ront . Provnc iado Japo, ta lvez por engano do . revisor , porque nocorpo da obra f igura a palavra iserr i o ar t igo na quasito ta l idad e dos casos ; havendo pag inas onde ass im sev nove vezes. O proprio Cat. da Acad. fez algumasvezes al terao semelhante , como por exemplo, no t i-tu lo da obra de Manoel Fer re i ra , no qua l poz Mis-so da Conchichina onde devia reproduz i r Misso deConchichina .

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    37 A Lingua Portuguesa 110 Brasil22 Vem-se d izendo ha mui to que noses t amos emancipando dos po r tugueses no querespei ta l inguagem. J se chegou a escrever :

    Para nacional izarmos o B ras il , preciso que comecemos por abolir es-se preconcei to . . . de que os nossos t r in-ta mi lhes de bras i le i ros fa l iam o mes-mo idioma de que t rs milhes de in-divduos se ut i l izam da outra bandado Atlnt ico.

    Os que ass im desv i r tuam o nacional i smo,levando-o para o ter reno da l inguagem, esque-cem aqui l lo de Renan:Cette considrat ion exclusive dela langue a , comme l ' a ten t ion t rop for -te donne la race, ses dangers, sesinconvnien ts . Quand on y !met de l 'e-xagerat ion , on se renferme dans unscul ture dtermine, tenue, pour nat io-nal ; on se l imite, on se claquemure.

    On qui t te le g rand ai r qu 'on resp i redans le vas t champ de l 'humani t pours 'enfermer dans des convent icu les decompatr io tes . Rien de p lus mauvaispour l ' espr i t ; r ien de p lus fcheux pourla civilisation.

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    38 A L ingua Por tuguesa 110 B rasi l23 E no vm que o argumento da ex is-tncia, entre ns, destes traos caracterst icosd i f ferenciaes do id ioma falado em Por tugal ,provar ia de mais , a t tes tando que a suppostaemancipao onde anda mais ad ian tada emnossa mesma casa .Na verdade, as d i f ferenas que a l inguagem

    do nosso povo apresen ta , comparada com a quese usa em Por tugal , so menores das que senotam nos d iversos Estados do Bras i l ( j do-cumentadas em vocabulr ios reg ionaes) . E a in-da no houve quem visse nesse facto natural s -s imo prova de que os mesmos Estados se es-te jam emancipando uns dos ou t ros no tocante l inguagem; o que obr igar ia os nacional i s tas del ingua a d iv id i rem-se geograph icamen te (permi t -t a - se a exp resso ) , sob as fo rmas f r agmen tar i asdo que se poder ia chamar estadualismo.A verd ade que no B ras il tem appare cido ,ao ladoi da l ingua l i teraria, differenciaes diale-ctaes; do fmesmo "modo que em Portugal e em1 t odaa par te do mundo, agora e em todos os tempos.Gomes de Moura d iz ia : Como os d ia lectoscons i s t em nas maio res ou menores d i f fe renasda l inguagem de povos que fa l iam a mesma l in -gua commum, observa-se que rara a l inguaque no tenha es tas d i f ferenas , ou d ia lectos .Poder amos i r mai s longe , a f f i rmando quetodas os tm, e nada perdem com el les ; pelocont rar io , a l imentam-se, e enr iquecem.

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    ,VI2 4 A co n s t ru co p o r t u g u es a em co n f ro n -to com a f rancesa. O que dizem contraes ta os me lhor es auc to re s f ranc eses . 25 L e i am o s s em p re o s b o n s m o d e l o s v e r -ncu los , espec ia lmen te os escr ip to res re -l ig iosos . 26 Po rqu e so es tes os me-lhores . 27 A obra dos jesu tas noBrasi l

    24 Os que evi tara a lei tura dos exempla-res da boa l inguagem por tuguesa , o rd inar i amen tese consagram dos l iv ros f ranc eses . Vo-se hab i tua ndo pouco a pou co a mo noto nia de suaconstruco; e ao cabo se lhe tm afeioado desor te que f icam eternamente presos ordemdirecta dos Franceses .Sabe todo o mundo quanto d i f fr a synta-xe nas duas l inguas . A nossa e para tudo; per-mi t te ev i tar -se o tom uni forme, e ob ter -se aaf inao dos per odos , median te recursos , comque se a judam a e legancia e a harmonia . Afrancesa, enf iad inha por nominat ivo , verbo ecaso, exige, como notava Schopenhauer (enca-

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    40 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lrecendlol a superioridade da al lern) , uma ordemseveramente lg ica das palavras ; pelo que temsido em todos os tempos o to rmento de seuspoe tas e p rosadores . Vejamos a lguns depo imen-tos , den t re os mais val iosos .Seja de Fenelon o pr imei ro .

    La svr i t de no t re langue cont represque tou tes les invers ions de phra-ses augmente encore in f in iment la d i f -f icu l t de fa i re des vers f ranais , ons 'es t mis a pure per t dans une es-pece de tour ture pour fa i re un ouvra-ge...Vol ta ao assumpto em out ros lugares .At ten te-se nas palavras de Vol ta i re :

    t i [ fi r i ! ~ n j . TCet t e l angue embar rasse d ' a r t i -c les , dpouvue d ' invers ions , pauvre determes poet iques , s tr i le en tours har-dis, asservie a l 'eternel le monotonie. . .P as s em o s a M er c i e r :

    .. . elle n 'a ni abondance, ni ner-gie, ni audace. . . sa marche, loin d '-t re l ibre et f iere, est compasse, me-sure, rtrcie, soumise au compas.

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    41 A Lingua Portuguesa 110 BrasilPor sua vez B oi leau , depo is de escreve r :

    .. . i l y en a beaucoup ou ellees t fo r t pauvre ; et i l ya un trs grandnombre de pet i tes choses qu 'e l les nesanrai t d i re noblement , accrescenta:Mais, au l ieu de plaindre en celale ma lheur de no t re langue, p ren dron s-nous le part i d 'accuser . . .

    Veja-se agora a (op in io de M arm on tel :.. . l ' inversion, qui donnait aux an-ciens l 'heureuse l iber t de p lacer lesmots dans l 'o rdre le p lus harmonieux ,nous es t p resque abso lument in terd i te .

    Maravi lha , en t re tan to , o que os escr ip toresf ranceses logram fazer com a sua l ingua. A ra-zo est nestas palavras de Jos Verssimo, queme receram a t ranscr ip o de Ruy B arbosa (Re-pl ica, n . 423):Os Francezes escrevem natural -

    mente bem ; so excepes os que de lesconhecem alm das l inguas classicas,ou t ro id ioma que no o seu ; mas mes-mo o conhecendo, lem enormementemais no seu que no alheio. Apren-dendo o seu profundamente (o curso

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    42 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lde f rancez nos lyceus DE SETEANNOS) e d i rec t amen te dos seus g ran -des escr ip tores es tudados sob todos osaspectos, no admira que a cr i t ica al l iraro tenha a no tar - lhe incorreces del inguagem .

    25 Leiam-se os bons auctores f ranceses ,que em mui to nos aprovei tam; mas no deixe-mos de l e r t ambm os exemplares verncu los ;po is somente nel les poderemos aprender os se-gredos da nossa l ingua, a diff ici l ar te de escre-ver . E dentre el les temos por sem duvida se-rem os melhores precisamente os escr ip tores re-l ig iosos .26 Tendo o pensamen to vo l t ado para ascousas de Deus, desprezavam applausos dos ho-mens, cu jo m o gosto jam ais in f lu ia nos seust rabalhos . No meio esp i r i tual , onde se i so la-vam, os vicios da poca nenhuma influencia pu-deram exercer .E no se l imitavam s cl i ronicas rel igio-sas ; nem a medi tar sobre a or igem e des t inodo homem. Estudavam-lhe a natureza e os af -fectos ; e , para penet rar os coraes e conhe-cer os segredos dalma, t inham a faci l idade dosmeios , e occasies proporcionadas . Quanta veza lmas impene t rve i s espon tane am en te se lhesabr iam? Por i sso , mui tos sah i ram perfei tos psy-chologos; e com o ta len to de expresso , em que

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    43 A L ingua Por tug uesa 110 B ras ilningum os igualava, enr iqueceram a l ingua denovos termos acommodados s del icadezas dossent imentos , e ao tumul tuar das paixes .27 Demais , g rande par te da His tor ia doBras i l , desde que chegou o pr imei ro governadorgeral (1549) , acha-se in t imam ente l igada aosserv ios dos jesu tas . Cathequizaram os nd ios ,abr i ram escolas , ed i f icaram igrejas , rasgaram es-t radas , agr icu l taram os campos, ens inaram ar tese off ic ios , p romoveram aldeiamentos , fundaramcidades , modif icaram costumes, compuzeram d is-crd ias , a largaram o ter r i t r io ; levaram emfima toda a parte os benefcios da luz, as sua-v idades e consolaes do amor e da brandu-ra ( i ) .

    E esses serv ios , dos quaes f icaro sempredis tan tes os maiores encarecimentos , constam daschronicas re l ig iosas que os publ icam e documen-tam. Referiram-se em cartas onde os padres iamnoticiando o que faziam, e tudo o que lhesdesper tava a a t teno , as quaes se reg is t ravamcm l ivros especiaes, presentes aos chronistas dao rdem.No res is t imos ao prazer de t ras ladar do( ' ) ... o que no podia acabar o G ov ern ad orpoi fora de armais' , e violncia da polvora e pelouro,i inibnva o Padre Manoel da Nbrega s com a suapresena e poucas p alavras , diz B althaza r Telles I, 102).

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    4 4 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lpadre Antonio Franco ( Imag. da Vir t . em oNov. de Coimbra I I , 179) , os seguin tes passosrela t ivos fundao do Rio de Janei ro :

    . . . e o despedio para o Rio nosprincpios do anno de 1564, com re-g imento , que em tudo se regesse peloconselho do Padre Nbrega, e lhe obe-decesse como a el le em pessoa, tendopara si que pelo grande ser que re-conhecia no Padre Nbrega ter iam ascousas o (desejado acerto , como em ver-dade o t iveram. Em chegando Estciode S ao Rio, des ped iu um b arco a SoVicente a chamar o Padre Nbrega.Logo se embarcou com dous compa-nheiros, e chegou ao Rio era Abri l ,sex ta- fe i ra da semana san ta , meia-noi te , com grande tempestade, ondecorreu ev idente per igo de ser tomadodos Tamoyos, que t inham j quebra-do as pazes. . . Em dia de Paschoa sedisse missa na I lha dos Francezes, on-de o Padre Nbrega fez uma prat icaa todos, em que procurou t i rar- lhes omedo, que t inham dos tamoyos, peloque del les t inham exper imentado . Ex-or tou-os a conf iarem em Deus, cu javontade era que se povoasse o Rio .Ficaram todos mui to an imados.

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    45 A L ingua Por tugue sa 110 B ras il.. . Com ajuda de Deus, e zeloincansavel acabou de vencer todos osimpedimentos , que d i f f icu l tavam a jo r -nada: el la se veiu a pr em effei to noJanei ro seguin te de 1565 d ia de SoSebast io , a quem logo tomaram porPadroe i ro da empreza .. . . Durante esta conquista, man-dou o Padre Nbrega ao I rmo Jo-seph de Anchieta que fosse tomar or-den s B ahia, e el le em pe ssoa aco-diu ao Rio de Janeiro, aonde de SoVicente de continuo fazia acodir com'bast imentos e canoas que de novo porsua agencia se armavam em frma que

    se pde bem dizer que o muito quealli tem o reino se deve ao zelo des-te Santo Padre .Haver bras i le i ro que ache des in teressan tea narrao de taes factos da nossa h is tor ia ,e seja indiffereri te dedicao dos jesu tas queandaram aqui , dezenas de annos, com sacrif -c io de todas as commodidades , semeando o bem,lanando e (consol idando os fundamentos da nos-s a g r an d eza?Impossvel que haja en t re ns quem tenhapor assumpto enfadonho e insuppor tavel a no t i -cia dos servios dos que, tomando entre moso noss o B rasi l log o ao nascer , o cercaram de

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    46 A Lingua Por tuguesa 110 Bras i lcarinho, cobriram de bnos, fortaleceram e ci-v i l izaram; consagrando- lhe todo o thesouro deseus af fectos , todas as energ ias do seu esp i r i to ,e levando o zelo por seus augmentos a t aosacrif cio da sade e da prpria vida.Na pessoa de Anchieta , d isse Eduardo Pra-do , g lor i f icamos a nossa h is tor ia e os fe i tos dosnossos maiores : os i rmos podem dissen t i r en t res i , mas todos tm o sen t imento commum davenerao pelos paes . E es te sen t imento reve-la-se entre os povos pelo amor l ingua na-cional , aos costumes, s t radies, por toda essariqueza que o patr imonio de uma nao.

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    Diccionario da LinguaPortuguesa

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    Do me smo m odo que a Academia da C rus -ca e as Academias francesa e hespanhola, a- ;das Sciencias de Lisboa, fundada em Dezem-bro de 1779 pe lo Duque e Lafes e o Abbade :Jos Corra da Serra , consagrou-se , an tes demais nada, composio do diccionario da l n-gua . Real izada a sua primeira sesso a 16 deJaneiro de 1780, logo na sesso publica deabertura solemne", a 4 de Julho do mesmo anno,um dos seus mais i l lus t res membros , o labo-r ioso ph i lo logo Pedro Jos da Fonseca, apre-sen tou , p reced ida de br i lha n te in t roduco , aplanta, sobre a qual devia levantar-se o mo-num ental ed i f c io . , :Nessa planta explicava (sob n. 1): O Dic-c ionar io da L ingua Po r tuguesa , cu jo p ro jec to seofferece, dever conter os vocbulos puramentepor tugueses em todas as suas s ign i f icaes , as-s im prpr ias , como t ransla tas , declarand-se emcada huma del ias a sua natureza, p ropr iedade efora , jun ta m ente com o uso regu lar ou ano- ,mal ia das palavras e f rases^ f ixado tudo pelos

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    exemplos dos auctores c lss icos da sobred i tal ingua .Em seguida most rava qual o methodo quese devia observar na grandiosa const ruo (ns .2 a 25).Poucos annos depois , conclu dos os peno-s ss imos t rabalhos preparatr ios , inclus ive o es-tudo e esco lha dos pr incipaes auctores e obras ,com que se devia abonar o diccionario , sahiu luz (em 1793) o seu primeiro volume, obrasuper ior a todo o encarecimento .Durante a sua composio, qual o so-bred i to Pedro Jos da Fonseca, Agost inho Josda Cos ta de Macedo e B ar tho lomeu Ignac ioJorge, se en t regaram com a maior dedicao ,a ponto de sacrif icarem a sade, viram-se estesprecisados , para cont inuar seus t rabalhos , a reu-n i r ou t ros mater iaes , completando o cata logodos auctores e pbras que formam a grande cau-dal da boa l inguagem vernacula .S assim evi tar iam justas censuras, comoa que . fez Juan Mi r aos auc to res do Dicc iona-r io da Academia hespanhola . (* )Longo t empo empregaram examinando o va-lor das pbras a inda no ju lgadas pelos competen-

    (*) Censura-os (Pronturio de Hispanismo) por-que de ixaram no esquec imento innumeros modelos c ls-s icos da poca mais g lor iosa da l inguagem hespanho-la . Ci ta uns cem desses autores , a juntando- lhes out ros

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    62 Dicc ionar io c ia L ingua Por tugu esa 51te s; e aconteceu m uita s vezes reconhe cerem queeram imprestveis .Dahi a organizao do Catalogo dos Li-vros que se ho de lr para a continuaodo Diccionario da Academia, publ icado em 1799.Mais tarde, reso lv ida a prosegui r na arduatarefa , to bem comeada, e en tendendo que seno deviam excluir os bons modelos de l in-guagem poster iores a 1626 , a Academia no-meou uma commisso permanen te de t r es mem-bros (a 651813) , incumbida de examipartodas as obras onde se dever iam colher abona-es para o diccionario , e determinou (1814)se contemplassem tambm os pr incipaes escr i -p tores do sculo XVIII , e os seguin tes atos nossos dias.

    Na sesso de 2461814 , in fo rmando oVice-Secretar io Mendo Tr igoso que a commissof icara desanimada ao encarar a mproba tarefa ,d iz ia : Era necessr io lr a t ten tamente per to demi l vo lumes, ex t ractar as suas phrases e ter -mos, ou para melhor dizer copial-os mais deuma vez; era necessr io a lphabetar es ta co l lec-o immensa, para depois esco lher e joei rar ,segundo reg ras f ixas e an te r io rmen te es t abe le -em novo t raba lho; e most ra que as suas obras tmmais vozes cas t ias , mais var iedades de modismos,mais v iveza de h ispanismos, mais cauda l de engenho,mais fundo de sc ienc ia e mais pezo de sabedor ia doque todas as de Cervantes .

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    cidas, o que fosse mais digno de se aprovei-tar ; era necessr io buscar e tymologias , def in i -es, etnfim, tudo o que const i tue os grandesmater iaes da grande compi lao do thesou-ro da l ingua por tuguesa; e era sobretudo neces-sr io an tes de qualquer des tes t rabalhos , fo r -mar um ju izo cr i t ico dos escr ip tores modernos;matr ia d i f f ic i l de sua natureza, a inda mesmoque se olhe despida de algumas circumstancias*que a to rnam mel indrosa e cheia de esp inhos .Pos te r io rmen te , a Academia , t endo compra-do a Alexandre Herculano o d iccionar io legadoa es te por Andr Joaquim Ramalho , nomeou,para indicar os meios de concluir a revisodesse t rabalho; , e fazel-o publicar , uma commis-so composta dos Srs . Marquez d 'Avi la e deBolama (Pres idente) , A. Jos Viale , A. da Si l -va Tul l io , A. Soromenho, Dr . B . A. Gomes,Innocencio F. da Si lva, D. Jos de Lacerda, La-t ino Coelho e o Visconde de Cast i lho, que,por doena, no poude tomar par te nos t ra-ba lhos .Os es tudos fe i tos por essa commisso con-venceram-na de que o manuscr ip to de AndrRamalho, apezar de ser o mais copioso de vo*cabulos e de phrases de quantos se tm com-posto na l ingua por tuguesa , ex ig ia a inda umgrande t rabalho af im de poder-se publ icar . Jus-t i f icando as concluses, a que phegara, apre-sen tou em Outubro de 1870 , minucioso re la tor io ,

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    62 Diccionario cia L ingua Portu guesa 53red ig ido por Lat ino Coelho , do qual des tacamoso segu in te :No es tado presen te dos es tudos e tymo-logicos em Por tugal , ser ia precoce e necessar ia-mente mal succedida a tentat iva de um diccio-nar io e tymologico . A commisso en tende poisque no diccionario que se intenta publicar , es-cr ip to essencialmente pragmat ico , e no espe-cu lat ivo , an tes des t inado , p r incipalmente u t i -l id ad e com mu m, se "elevem om ittir t od as as re-feren cias e tymologicas , add iando para ense jomais oppor tuno a publ icao de uma obra es-pecia l , que sobre es te assumpto possa corres-ponder auetor idade e ao decoro de uma toeminente corporao , como a Academia Real dasSciencias de Lisboa. . .A douta commisso sugger ia o seguin te :E como condio essencial em obra deto grande tomo e impor tancia l i terar ia a un i -dade na redaco, parece commisso indis-pensvel o conf iar esse t rabalho a uma s pes-soa, que desempenhe as funees de d i rectorda publicao, devendo auxil iar-se das que lheparea necessar ias para que a rev iso se ef fe-ctue com a maxima presteza. E para que hajacoheso e conformidade no t rabalho , o que maisfaci lmente se consegue quando a e l le se appl i -cam pessoas , que de bom grado se en tendeme tm hbi tos l i terr ios semelhantes , parece con-venien te que o d i rector haja de propor Aca-

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    62 Diccionario cia L ingua Portug uesa 54demia os ind iv duos que o ho de a judar nasua em preza , f ica nd o todav ia a defin i t iva esco-lha dependente da conf i rmao acadmica .A Academia esco lheu en to o propr io La-t ino Coelho , seu secretar io , o qual , tomando porbase o manuscr ip to de Ramalho e o an t igo d ic-cionar io da mesma Academia, que no passarada letra A, chegou a redigir cerca de metadede toda a obra .Em seu relatorio de 1871, com o qual apre-sen tou , impresso , um especimem ou typo dodiccionario , como o estava executando, depoisde jus t i f icar o p lano seguido , escreveu:Postos es tes prel iminares , minha opi -nio que o diccionario deve ser redigido, se-gundo as ind icaes que vou apresen tar :1 A palavra escr ip ta com a or togra phia ,que es ta Real Academia, sob proposta que lheser p resen te , ha ja de adop ta r .2 A pronuncia correcta da palavra, ex-pressa por um modo em par te phonet ico , empa rte convencion al , at ten ta a ' nsufficiencia do scaractres romanos para dar todos os sons danossa l i ngua .3o A indicao lexic ogra phic a da palavrae as f lexes d i f feren tes , a que su je i ta paraind icar os nm eros e os gen eros , quand o el lasse a fas t am das r eg ras geraes .4 As var ias s ign i f icaes de cada termo,a comear dos que na ordem lgica, se reputam

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    pr imi t ivos , e descendo por suas t ransies na-turaes a t aos sen t idos t ransla t ic ios .5o A ci tao dos textos clssicos, quantosejam necessr ios para auctor i sar a palavra eas suas diversas accepes.6" As mais no tveis phrases , modismosjpro loquios e adagios , que se referem a cadapalavra .7o A rege ncia de cada vocb ulo, e a suadist inco, quando diversa, segundo as ac-cepes em que tomada.Quando o archaismo es t desde mui to re t i -rado da circulao vulgar ou l i teraria, sem quenenhum escr ip tor de no ta o haja remoado, equando a sua ressurreio no seja recommen-dada por nenhuma necess idade de locuo , por

    haver palavras , que mais expressamente o sub-st i tuam, deve indicar-se por um signal ou poruma abrev iatura (um as ter i s t ico , por exemplo) ,que o vocbulo desusado ou obsoleto , tendoporm o cu idado de no prodigal i sar es ta des i -gnao e de a reservar exclus ivamente para ostermos, que de nenhuma u t i l idade podem serno es tado presen te da l inguagem.Entre os neologismos ha uns que no tmem seu favo r seno o u so ; ou t ros , r igo rosamen tepor tugueses , po r se rem fo rmados segundo asanalogias da l ingua patr ia, tm por si a aucto-r idade dos escr ip tores contemporneos , que fa-zem f em pontos de vernacul idade. Os que

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    56 Diccionario da L ngua Portu guesa/tm bapt i smo l i terr io , devem ent rar no fundocommum da l ingua, sem nota especial . Aos queso como que in t rusos e apenas to lerados nofalar commum, ponha-se- lhes o fer re te , ind ican-dj-os por um signal , como no auctorisados naescripta ou no discurso oral , para que os in-doutos , vendo-os incorporados no vocabular ioos no ju lguem to es t remes e puros como osque so genuinamente nacionaes por or igem ouadopo .Mui tos annos consagrou Lat ino composi -o do diccionario , esforando-se, a todo o po-der que poude, por corresponder conf ianaque dep os i tar a a "Academia na sua p ro fu nd a eru-d io phi lo log ica , sc ien t i f ica e lex icographica .Em seu relatorio de 10 de junho de 1886informava el le que apezar da escassez de meios ,j estava escripta do diccionario uma parte quese podia computar em metade de toda a obra as letr as A, B , C, Dv e da letra E, os ar t igosat as letras Er.A vene rao que t r ibu tam os me mo ria d oexcelso Pedro Jos da Fonseca, p r incipal au-ctor do diccionario da Academia, no nos per-

    n i i t te deixar de t ranscrever aqui a seguin te pas-sagem desse re la tor io .Tudo quanto se podia u t i l izar se reduzao manuscr ip to de Ramalho , que apenas ummodesto vocabular io , ou an tes uma copia deB lu teau . e de M orae s com a addio de a lgu m as

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    62 Diccionario cia L ingua Portu guesa 57palavras, e a indicao de alguns raros textos,muitas vezes sem apontar a obra, nem o au-ctor; e ao diccionario ant igo da Academia, oqual no passou da letra A, e apezar dos apodose motejos , com que se tem pretendido moder-namen te des lu s t r a r o mrito incontestvel da suaenorm e erudio, no teve no seu tempo obrasemelhante, que se lhe avantajasse em planoe execuo.In t roduziu Lat ino Coelho no d iccionar io oster m os technicos das sciencias, ar te s e off ic ios,e as phrases, locues, idiot ismos, adagios, r i -fes , p rovrb ios , fo rmulas fami l iares e l i ter-r ias , onde f igura cada vocbulo , auctor izando-ascom centenas de mi lhares de tex tos co lh idosnos bons auctores de todas as pocas. A per-fe io dos grandes d iccionar ios , como hoje secompem e publicam, exige, diz el le, que acada palavra, a cada acepo, a cada phrase,a cada modismo corresponda a c i tao de a l -gum escr ip to , em que se encont re exempl i f i -cado.Para a cont inuao do t rabalho , p ropoz nof inal do seu re la tor io , en t re ou t ras medidas , ass eg u i n t e s :1 Q ue se nom easse uma commisso paraexaminar os t rabalhos j real izados e dar a suaopin io sobre e l les .2o Q ue a pa rte do diccionario que aindarestava por fazer , se dividisse em duas o t res

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    62 Diccionario cia L ingua Portug uesa 58seces , f icando a pr imei ra a cont inuar na le-t ra E (escr ip ta a t Er) a cargo do d i rector , a ju-dado por um ou dous co l laboradores .3 o Que se nomeasse para cada uma dasseces restantes um director especial com oseu respect ivo co l laborador , devendo os d iversosdirectores 'communicar-se entre si , para haverperfei ta un i formidade quanto ao p lano e re-daco.Ul t imamente a Academia nomeou uma com-misso para os t rabalhos do Diccionar io ; masinfel izmente no puderam ter andamento pelomot ivo consta n te do B oletim da Seg . Classe ,IX, 468 a 71.

    ** *

    Fun dad a em 1897 a Academ ia B ras i le i rade Let ras , bem era tomasse a seu cargo pro-mover a publicao do diccionario , objecto prin-cipal das corporaes do mesmo genero . Pode-r ia faci lmente ob ter a val ios ss ima cooperaoda Academia das Sciencias de Lisboa.Dis to , porm, no cogi tou , segundo at tes tao seu Regimento pr imi t ivo (de 28 de Janei rode 1897) , onde se l :Art . 24. Alm de out ros meiosque a Academia possa mais tarde ado-p tar para preenchimento de seus f ins ,p rope-se desde j :

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    62 Diccionario cia L ingua Po rtug ues a 59a) a organizar um annuar io b i -b l iographico das publ icaes brazi le i -ras que apparecerem no paiz ou noex t e r i o r ;b) a co l i j i r dados b iogrf icos el i terrios, como subsidio para um di-c ionr io b ib l iog raph ico nac iona l ;c) a organizar um vocabulario cr i-t ico dos brazi le i r i smos in t roduzidos nal ingua por tugueza e em geral das d i -ferenas no modo de fa lar e escreverdos do is povos;cl) a col i j i r e imprimir as pro-dues de escr i to res nacionaes que es-te jam indi tas e auxi l iar a impressode obras de valor l i terrio que no

    encon t rem ed i to r ;e) a conceder prmios s com-pozies 1 i terarias que os merecerem.At 1909, o nico t rabalho a que se con-sagrra (alm da questo de saber se Brasi l deveescrever-se com s ou com z) foi a reforma or-thographica , u l t imamente desprezada por inad-missvel .Seis annos antes, em 1903, sahira a mo-numen ta l Replica do Conse lhe i ro Ruy Barbosa ,na qual se l (n. 22):

    Respei to ao idioma, saiu escri-p ta no que e l le mesmo desvanecidamen-

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    62 Diccionario cia L ingua Portugu esa 60te chama o dialecto brasi leiro, surroamplo , onde cabem larga, desde queo inventaram para socego dos que nosabem a sua l ingua, todas as escriasda preguia, da ignorancia e do mogosto , r tu lo amer icano daqui l lo queo grande escr ip tor lus i tano t ra tara porum nome angols . L encont rar o ou-v ido verncu lo todos o s s t jgmas des -sa degene rao , em es tado co l l iqua-t ivo, do idioma em que escreveram noB ras i l, Gon alves Dias , Francisco L is-boa e Machado de Assis .

    Em out ro lugar (n . 423) da mesma Re-plica:

    D epois en to que se inventou ,apadr inhado com o nome ins igne deJos de Alencar e ou t ros menores , odialecto bras i le i ro , todas as mazel lase co rru pte las d o idioma que (nossos pa esnos herdaram, cabem na indulgnciap lenar ia dessa forma da re laxao edo despreso da grammt ica e do gos-to . Aquel la formosa manei ra de es-crever, que delei tava os nossos maio-res , passou a ser , para a orelha des tesseus t r i s tes descendentes , o typo dainelegancia e obscur idade. Ao sen t i r de

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    62 Diccionario cia L ingua Portugu esa 6 1ta l gen te , quanto mais offender a l in -guagem ps modelos c lss icos , tan tomais melodias rene; quanto mais d is-tar do bom por tugus , mais luminosi -dade encerra . As bossas da palavra re-cheiaram-se- lhe de f rancs , l igei ramen-te lardeado ou t rufado s pressas deingls e al lemo. De todos esses idio-mas, af ina l j todos mal sab idos , ha u-rido na sciencia de cada um apenas oquantum satis para o t rato dos l ivros,a que a prof i sso , ou a cur ios idade osat t rae , f ica- lhes sendo a nossa apenasa menos mal conhecida en t re as va-r ias 1 inguas es t rangei ras , cu ja cu l turacul t ivam.

    E pouco depois (n . 425) :Direi que o estar ia em brasi leiro ,a querermos enxovalhar , cont ra a mi-nha opinio, este adject ivo, associan-do-o ao abandono dos bons modelosda l inguagem, cu ja h is tor ia , cu jos mo-numentos e cu jos des t inos se en t re la-am com os da nossa raa e os da

    nossa nacional idade .De perfei to accordo com essas idas do in-s igne Mest re , ass im dout r inava out ro acadmico

    (Dicc. Grammat., 3a ed.) :

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    62 Diccionario cia L ingua Portug uesa 62B ras i le i r ismo s. a expre sso quedamos a toda a cas ta de d ivergnciasno tadas en t re a l i nguagem por tuguezavernacula e a fa la da gera lme nte noB rasi l. . .

    Dizendo depois que ha quem d ao con-juncto dessas divergncias o valor de dialecto,accrescenta qu t , a inda acci tando essa op in io ,de accordo com o concei to amplssimo de Wi-thney, seria de todo inadmissvel dar ao dia-lecto bras i le i ro os foros de l ngua l i terar ia ; po isa sua emancipao se no de todo inexequ -vel (em remoto fu turo) seguramente , pelomenos , p rematu ra .

    Ajun ta , em no ta :At ho je , tem sempre predomi-nado o elemento clssico, com as devi-das concesses aos que tudo querem,e desejam a l icena de fa lar e escrevera seu tal ante.

    Ci ta , em seguida, vocbulos usados no Bra-si l (aio, bahiano, lazo, saxuga, birro , etc.) ;e diz: So vcios todos de origem popular , queno poder iam passar l ngua l i terar ia .E conclue af f i r m an do que a l i tera tura bra -si leira to cedo no deixar de ser um domnioda l ingua immortal de Cames .

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    62 Diccionario cia L ingua Portu guesa 63 vista d essa s idas de dois dos seus m em-bros mais auctor i sados , a Academia que, se-gundo v imos, a f ienhum t rabalho se en t regara a t1909 alm da reforma or thographica , t ra tou deelaborar o Novo Regimento In terno (18 de Ju-nho de 1910) , no qual p ro jectou a composiode um diccionario etymologico e historico da

    l ingua po r tuguesa .Para a execuo desse grandioso pro jectonada abso lu tamen te se t em fe i to ; parecendo-nosque se no pensa em pol-o por obra. Attentou-se ta lvez nas d i f f icu ldades do emprehendimento ,'Verdade i ramen te essas d i f f i cu ldades so mu i -tas , e sobremanei ra escabrosas .B astar ia lem brar o que succedeu quan doVol ta i re propoz adoptasse a Academia Francesa,na reviso do' seu d iccionario, nov o plan o, igualao que; a nossa Academia se obrigou a real izar .Taes ob jeces lhe oppuzeram, que e l le ,p recisando most rar como era fci l a execuodo seu p lano , p rocurou apresen tar em poucosi r tezes todo o t rabalho comprhendido na le-t ra A. Esgotaram-se- lhe as foras ; e veiu asuccumbir poucos d ias an tes da sesso em quese devia vo tar def in i t ivamente o sobred i to p la-no. E assim a reviso do t rabalho de 1762 con-t inuou da mesma forma por que se es tava fa-zendo.Em Por tugal , a Academia Real das Scien-cias, resolvendo rever e completar o manuscri-

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    62 Diccionario cia L ingua Portug uesa 64pto de Ramalho , no se aventurou a venceras d i f f icu ldades que offerece a e laborao deum diccionario historico.La t ino Coelho , no seu re l a to r io ap resen tadoem 1871, ass im se expressou:

    So tan tas , e a lgumas to esca-brosas , na presen te conjunctura as d i f -f i cu ldades que se oppem a emprehen -der ta l monumento l i terr io , que no in teno des ta Real Academia pragora o pei to a esta empresa, para aqua l seriam prec isos larg os annoP dele i tu ras e locubraes .

    E propoz um plano mais modesto , segun-do o qual o diccion ario deve ria red igir-se deaccrdo com as seguin tes ind icaes:lo A palavra escr ip ta com a or th ogra phiaque a Academia adoptasse .2 A pronu ncia correc ta da palavra, ex-p re ssa po r um modo em par t e pho ne t i co , emparte convencional , at tenta a insufficiencia doscaracteres romanos para dar todos os sons dal ingua.3 A ind icao lex icograp hica da palavrae as f lexes d i f feren tes , que su je i ta paraind icar os nmeros e os generos , quando el lasse afas tam das regras geraes .4o As varias sign if ica e s de cada ter-

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    62 Diccionario cia L ingua Po rtug ues a 65mo, a comear dos que na ordem lgica, se re-putam pr imi t ivos , e descendo por suas t ransi -es naturaes a t aos sen t idos t ransla t ic ios .5o A ci tao dos text os clssicos, quan-do sejam necessr ios para auctor i sar a palavrae as suas diversas accepes.6o As m ais no tveis phrases , mo dismo s,pro loquios e adagios , que se referem a cada pa-lavra .7 A re gen cia de cada v ocb ulo, e a suadist inco, quando diversa, segundo as acce-pes em que tomada.A composio de um diccionario da l n-gua portuguesa, de accrdo com essas indicaes,sem ter as d i f f icu ldades do d iccionar io h is to-r ico e e tymologico , no t rar ia g lor ia menor nossa Academia.Em toda a par te haver ia pessoas d ispos-tas a prestar o auxil io de suas contr ibuies,mandando palavras co lh idas em escr ip tores bra-s i le i ros e por tugueses , e a inda no reg is t radasnos diccionarios. A indicao dos auctores, dapagina e edio das respect ivas obras, faci l i -tar ia a verif icao; se o nome do escriptor noo tornasse d ispensvel .Demais disso, o diccionario assim redigi-do const i tuir ia a melhor defesa do nosso idio-ma, agora ser iamente ameaado .Est imei sempre em mui to a misso da Aca-demia B ras i le i ra de L et ras des t inada a ser a5

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    62 Diccionario cia L ingua Portu gue sa 66gua rda da nossa l ingua (M ach ado de Assis) ; a tudo empenhar para secundar o esforo dosque se consagram 1 pureza do nosso id ioma( Nab u co ) .Avul ta sobremanei ra a impor tancia da so-bred i ta misso , e por tan to , a responsabi l idadedos acadmicos , agora que se nos abre um pe-r odo , em que f requente e d i la tado contacto deout ros povos; maior in f lux de ou t ras c iv i l i sa-oes ; e consequen temen te mai s fo r t e in f luen -cia de l inguas es t rangei ras vo submet ter p ro-va decisiva a admiravel resistencia do nossoid ioma.Penso por i sso que a i l lus t re corporaodevia cuidar do diccionario da nossa l ingua, re-vendo o t rabalho j mui to ad ian tado , e force-jando por conclu i l -o .Assim poder ia sah i r -se g lor iosamente quan-do t ivesse de mostrar os t i tulos da sua act ivi-dade l i terar ia , os documentos de zelo da l ingua.Ento caber- lhe- ia ao jus to , aqui l lo de Bru-n e t i r e : Bref , la ver i tab le g lo i re de l 'Aca-

    dmie n 'aura pas t d ' t re un Cena-ele de hommes de le t t res ; mais b iend 'avoi r main tenu l 'un i t gnrale de lalangue .Infel izmente , porm, desprezando o seugrandioso pro jecto de um d iccionar io e tymolo-

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    72 Diccionario cia L ingua Portu guesa 67gico e histo rico da nossa l ngu a, deixou deadoptar o (da Academia das Scienias de Lisboa,menos ambicioso , mas igualmente benemer i to deapplausos; e vo l tou a consagrar -se ao vocabul-r io de bras i le i r i smos, com o qual p retende com-memorar o cen tenr io da nossa independencia .

    Refer indo-nos aos pr imei ros t rabalhos , pu-b l icados nos t res pr imei ros nmeros da Revistadissemos no se ter posto nel les o necessr iocuidado . Receiamos acontea o mesmo agora .No se es tabeleceram prv iamente regrastocantes escolha dos auctores, e ao rebuscodos vocbulos e phrases . Tudo se deixou aoarb tr io dos diversos acadmicos; e no ao cri-tr io un i forme de uma commisso especial , ouda commisso de lex icographia (cu jos membros ,a e le io de seus pares , conf i rmando, a l is aopin io geral , a t tes ta , serem os mais compe-t en tes no assumpto ) .

    Pelo menos, o que fazem suppor as no-t ic ias mandadas para a imprensa. E de caminhonota rem os que, sendo essa s 'dema siado minu-ciosas no que respei ta a factos de somenos im-por tncia , nada infel izmente in formam sobre asconsideraes dos acadmicos; o que deveraslamentavel , t ra tando-se de assumpto que in te-ressa a todos os que fa lam por tugus .O que nel las se l o seguin te :

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    72 Diccionario cia L ingua Portu guesa 68Passa-se aps a t ra tar do es tudosobre bras i le i r i smos. Acerca do metho-do a estabelecer-se falam os Srs. Alen-car e Laet . O Sr . Aust regsi lo , commu-nica escolher a obra de Franklin Ta-vora, para del ia extrahir a contr ibui-o que lhe caber fazer de expres-ses prprias do nosso paiz. . . O Sr.Fel in tho de Almeida declara cont inuaros estudos que j iniciou no Inferno

    Verde, de Alber to Rangel . O Sr . Lu izGuimares Fi lho esco lhe H e r o e s eBandidos de Joo do Nor te ; Meu Ser-to de Catu l lo Cearense, e Quem con-ta um conto de Cornl io Pi res . Osdem ais acadmicos f icaram de d izermais tarde os l iv ros que preferem ma-nusear .

    To pouco nos dizem essas not icias se pre-viamente se f ixou o alcance do vocbulo bra-sileirismos.

    Regis t rar o vocabular io somente d icespecul iares dos bras i le i ros , a l teraes no sen t idodas palavras e tnanei ras especiaes de d izer -se en-t re ns o que em Por tugal se expressa de ou-tro modo; ou tambm nomes de coisas que s*exis tem no B ras i l ; ou a inda os chamados ter -mos pan -amer icanos?

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    72 Diccionario cia L ingua Portu guesa 69Se se t ratasse de um diccionario da l inguapor tuguesa, andar-se- ia com segurana, em ter -reno perfe i tamente desbravado . So bem conhe-cidos os docum entos da boa l inguag em , nosquaes todos os acadmicos ter iam de es t r ibar-se .Alm dissoj j est fei toj , e muito adiantado,t rabalho so l ido , que faci l i tar ia a concluso doedifcio .O imesmo no acontece comi o projectado vo-cabulr io . Cada um dos termos, venha dondevier , ter de submetter-se a r igorosa verif ica-o, a min ucio so ex ame, antes de obter ingre s-so nel le. Somente assim evi tar-se-o os damno-sos cont rabandos de que nos fa la Cast i lho .Ainda que se t rate de escriptores de boanota, pode ser que em suas obras se nos de-parem termos peregr inos , o parecer bem for-mados, mas sem o cunho e os requisi tos neces-sr ios para f igurarem no vocabular io acadmico . poss vel tambm que preten dam lugar en-t r e o s b ras i l e i r i smos exp resses po r tugues i s s i -mas, indo-por tuguesas , af r icanas , e tc . ; e a indavocbulos corruptos , abso lu tamente inadmiss veis .Temos visto: e puvido muitas vezes o nosso tu -

    desco mudado no i ta l ian ismo tedesco; e os ter-m os acacha pado, barboleta, caimbras, camp otei-ra, capucho , potimplora, cordavo , conoeira, es-trambtico, mod orna, mindinho, ajressurado, pe-lancas, cacarecos, trincai, viandande, em lugar deacaap ado, borboleta, Cam aras, comp oteira, capu-

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    72 Diccionario cia L ingua Portug uesa 70lho, can timplora, cor do vo, couo eira, estramb-tico, mod orra, mem inho, aforurado, pelhancas,cacareos, tincal, vinha d'alho.Haver tambm os termos novos , com osquaes escr ip tores auctor i sados tenham sabido acu-d i r s precises de uma l inguagem mais apro-pr iada e express iva, como tem fei to mui tas ve-zes o nosso Ru y B arb osa ; e esses com que o smest res enr iquecem o id ioma, no devem con-s idera r - se b ras i l e i r i smos .Ao passo que para en t rar um termo nodiccionar io por tugus bas ta que auctores consa-grados o abonem, t ra tando-se do vocabular iode bras i le i r i smos, ind ispensvel saber no so-men te que escr ip to res b ras i l e i ro s o emprega-ram; mas tambm se o encont ramos, com amesma s ign i f i cao , nos po r tugueses ; p r inc ipa l -mente examinal-o luz da sciencia da l ingua-gem^ e ver1 se ou no concilivel com o g n i oda nossa l ingua.Diz com razo um t rabalho recentemente pu-bl icado: Se cada individuo que escrever uml ivro ou ar t igo empregar metaphor icamente e aseu bel p razer vocbulos de s ign i f icao assen-tada, no f im de pouco tempo n ingum se en-tender .Que ser quando a l iberdade, em vez decingi r -se a metaphoras , passar a no ter maisl i m i t e s ?Procedendo-se levemente , veremos repet i -

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    72 Diccionario cia L ingua Portug uesa 71rem-se os enganos havidos nas cont r ibu ies jpubl icadas , nas quaes se encont ram vocbulosgenu inamen te po r tugueses , i ndo -po r tugueses , a -fr icanos, pan-americanos, etc. , alm de outrosque so co r rupes de t e rmos po r tugues i s s imos ;e que a todo o tempo lembrar iam aqui l lo deum dos mais ins ignes mest res no assumpto .

    Observaremos que ha mui tos ter -mos no uso popu la r des f igu rados e per -ver t idos , cu jos exemplares puros ex is-tem nos au tores c lss icos; mas por es-tes serem j to desconhecidos comoos mesmos au tores prevalecem os cor-rup tos , de manei ra , que a inda as pes-soas bem educadas , os tomam por pa-lavras de uso, cuidando que assim so,como soam, e porque no tm moas palavras sans, para as combinar ed iscern i r , ass im as empregam, como asouvem, e falam, ou escrevem s vezesbem barbaramen te aque l l es mesmos quedeviam ser exemplos de l inguagem pu-ra e correcta.

    Carecemos de auctor idade para essas con-s ideraes . Fazemol-as , no obstan te , porque oassumpto nos toca, in teressando-nos tan to comoaos senhores acadmicos; e a inda pelo receiode ver expresses que no merecem ent rar na

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    72 Diccionario cia L ingua Portug uesa 72caudal da nossa l ngua, lograrem reg is t ro no vo-cabulrio da Academia, que, assim, dar- lhes-iacurso.Porque Ju l io Ribei ro occupando-se de f le-xes d iminut ivas reg is t rou (Cast i lho) : Eu e e l laandamos . . . passeandiio a par, outro eminentephilologo no teve duvida em accrescentar: Aalguns d iminut ivos costuma-se jun tar a locuo da Silva, que lhes torna mais intensa a si -g n i f i cao : pintadinho da Silva, raladinho daSilva.Poder ia en to completar da Silva eMello, que temos ouvido mui tas vezes , e jun-t a r : umzinho, assimzinho, estezinho; e, no to-cante a ^expresses augmentat ivas, a locuo p'raburro; e ou t ra no menos f r equen te .No sabemos onde i ro , nesse andar , osnossos grammat icos . Maior receio , en t re tan to ,nos causar ia a composio de um vocabular ioacadmico de bras i le i r i smos, sem os cu idadosind i spensve i s .Desejosos de f igurar no cata logo dos au-ctores com que o mesmo vocabular io deve abo-nar-se , mui tos escr ip tores , so l tando as velas aota len to invent ivo , i r iam t ransformando o nossobel l i ss imo id ioma.Em pouco tempo j passmos de silenciare solucionar para homenagear e at para sercaducado; e agora mesmo es tou vendo o se-guin te passo de um dos nossos l i tera tos : . . .des-

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    72 Diccionario cia L ingua Po rtug ues a 73de 1905 ingressou no corpo diplomtico. . . Oingressar j f igura no diccionario de C. deF igue i redo . De homenagear chegaremos a vas-salagear; e de ser caducado i remos a ser pe-rempado, ser p rescr ip tado , ser extinctado, serfallidado, ser rescindidado, ser avulsado, ser acl-didado; e talvez a ser commissado (em vez deser declarado em commisso) ; ser sem efjeituado(por ser declarado sem effe i to ) ; e ser em dis-potiibilisado (ser posto ou declarado em dispo-n ib i l idade) . de todos os dias o candidatar-se; vi rodepo i s aspirantar-se, pretendentar-se e ainda con-cursar-se. J se usa odontolando, que jus t i f ica-ria philololando, ethnololando, anthropololatido,e tambm bibliotheconomiando, etc.Annunc io pub l i cado u l t imamen te p romet t ebom ordenado a jueiras habi l i tadas . Deveter por cer to o annuncian te que os in teressadossabem denominar - se jueira a pessoa que t ra-balha em point jour. Na parte edi torial deum jornal j vimos: reclamaram gritadora-mente.

    Se isso era possvel quando no se recom-mend avam os bras i le i r i sm os, im aginem os que sur-presas nos reservaro escr ip tores apostados aconquis tar a g lor ia de augmentar - lhes o nu-m er o .A grande per igo nos expe a Academia seno t iver muito cuidado e perspicacia na verif i -

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    72 Diccionario cia L ingua Portug uesa 74cao dos t tulos com que os termos e locuescol l ig idas pretenderem lugar no vocabular io .A prova de ser fundado o nosso receio es tnas prpr ias cont r ibu ies j accei tas e publ i -cadas .

    *

    Tratando aqui do d iccionar io da l ingua por-tuguesa, no devo deter -me no exame dos bra-s i le i r i smos constan tes da Revista da Academia.Largo espao tomar ia esse exame, que pede es-tu do espec ial . L imito-me, por isso, a brev ssi-mas consideraes , deixando de par te os ter -mos que so p rop r i amen te americanismos. Esses ,or iundos quasi sempre do tup i -guaran i , tm au-gmentado por igual a r iqueza das l nguas por tu-guesa e espanhola . F iguram nos vocabulr iosde Granada, Ci ro Bayo , e ou t ros ; e de razoque tambm os nossos o reg is t rem.Neste par t icu lar no to somente a inclusode a lgumas exp resses que , segundo me pare -ce, o uso no introduziu em nossa l ingua.

    Antes de mais nada, apresen tarei as du-v idas que me suggere o pr imei ro vocbulo cons-tan te das cont r ibu ies publ icadas Abaruna.L-se na I a con t r ibu io :AB ARU NA . s . m . homem negro (ves t idode preto) padre . . . Alencar M inas de

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    72 Diccionario cia L ingua Po rtug ues a 75Prata, III , 356. Encontra-se o mesmo noDiccionario de Candido de Figuei redo .Com igual s ign i f icao , Braz da CostaRubim e Macedo Soares reg is t ram abuna.Esse u l t imo, escreve:

    Abuna, s . m. , padre , f rade: no-me que os indios das Misses davamaos jesu tas , a l lud indo sua roupetanegra . Etym. Br . s , ab () homem ad una negro , p reto .E R u b i m :

    Abuna. Do guaran i aba, homem,hu, escuro ou preto. Nome com quealguns ind ge nas c iv i li sados d es igna-vam os jesu tas, por causa do habitopreto . possvel que o vocbulo abaruna,encon t rado nas Minas de Prata, esteja, em

    virtude de um erro de impresso, em lu-gar de abuna, ou abautia. Como te rmo dal ingua geral ( tup i -guaran i ) dever ia ser abau-na h o m em p r e t o ; o u abaruna sacer-dote preto . Na composio de ou t ras pala-vras ab e abar conservam a ul t imavoga l (Vej . Bap t i s t a Cae tano e Mon toya) .

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    72 Diccionario cia L ingua Portug uesa 76Abana, porm , de or igem ar ab ic a;segundo at tes ta Fr . Domingos Viei ra , emcu j o Diccionarlo v e m o s :

    AB UNA. ( Do a r ab e aba, pae, e na, nos-so) . Nome que os abexins ou chr is tos daEth iopia do ao seu metropol i tano .Abo na-se com Joo de B arros D-

    cadas, 3 foi . 87 col . 3 ; e Fr . B ernardim Hist. da Ethiopia.A me sma cousa es t em B lu teau , Mo-raes, Constncio, Faria e em Fr. Joo deSousa Vestgios da lingua arabica emPortugal, onde se l, na palavra Abuna:

    He o t i tu lo que os Chr is tos noOrien te do aos sacerdotes . S ign i f icanosso pae, ou nosso padre . He com-posto' de abu, pai , e do pronome na,nosso. Depois que os Abexins t iveramnoticia da f de Christo , nunca t ive-ram mais que hum bispo a que cha-mam Abuna . Historia Geral daEthiopia, por Fr . B ernard ino , cap . 38p. 93.A expresso fo i in t roduzida no Bras i lcom a mesma s ign i f icao de padre, jrade;segundo se v em Macedo Soares, que, ac-

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    62 Diccionario cia L ingua Portu guesa 77crescentando al lud i r roupeta negra dosjesu tas, procurou com essa explicao tor-nar accei tavel a etymologia, que propoz.Mas, adoptando-se no Bras i l a mesmaexpresso para nomear os jesu tas , que erambrancos , sobre mui to respei tados , no era na-t