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Análise Voltamétrica da Ciprofloxacina Aplicação a Medicamentos e a Remediação Fernando Odeberto Gonçalves Pereira Sumário O presente trabalho tem como objectivo o desenvolvimento de um método analítico, baseado na voltametria de onda quadrada (SWV), para a análise de ciprofloxacina (CIP) em produtos farmacêuticos e em processos de remediação. Para o desenvolvimento do método voltamétrico foram utilizadas duas células voltamétricas: a célula clássica (utilizando um eléctrodo de trabalho de carbono vítreo - GCE) e um eléctrodo de carbono impresso (SPCE). Após a optimização dos parâmetros da SWV, pH (3,04), frequência (400Hz), incremento de potencial (6 mV) e amplitude do impulso de potencial (40 mV), procedeu- se a validação dos métodos, obtendo-se zonas lineares entre a concentração de CIP e a intensidade de corrente de pico de 5,0×10 -6 a 6,0×10 -5 mol/L (GCE) e de 1,0×10 -5 a 4,0×10 -5 mol/L (SPCE) e limites de detecção de 9,48×10 -6 mol/L (GCE) e 2,13×10 -6 mol/L (SPCE). Verificou-se que a sensibilidade, a precisão e a selectividade são superiores para o SPCE, sendo por isso esta a célula mais adequada para proceder à análise da CIP em produtos farmacêuticos. O SPCE foi aplicado com sucesso à análise de CIP num produto farmacêutico. Para o tratamento de soluções aquosas contendo a CIP foram testados dois oxidantes: o permanganato de potássio e o peróxido de hidrogénio. Para o peróxido de hidrogénio os resultados obtidos foram inconclusivos. No caso do permanganato de potássio, os resultados mostram que a degradação da ciprofloxacina depende da concentração do oxidante. Para uma concentração de CIP de 3,00×10 -4 mol/L uma degradação rápida foi obtida com o uso de 6,00×10 -3 mol/L de permanganato de potássio. Na aplicação do permanganato na remediação de solos verificou-se que no caso de solos húmicos a ciprofloxacina é adsorvida pelo solo, não sendo possível confirmar a ocorrência da reacção de degradação. No caso de solos arenosos verificou-se que a ciprofloxacina foi rapidamente degradada pelo permanganato de potássio. Palavras-chave: ciprofloxacina, voltametria onda quadrada, eléctrodo de carbono vítreo, eléctrodo de carbono impresso, remediação

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  • Anlise Voltamtrica da Ciprofloxacina Aplicao a Medicamentos e a Remediao

    Fernando Odeberto Gonalves Pereira

    Sumrio

    O presente trabalho tem como objectivo o desenvolvimento de um mtodo

    analtico, baseado na voltametria de onda quadrada (SWV), para a anlise de

    ciprofloxacina (CIP) em produtos farmacuticos e em processos de remediao.

    Para o desenvolvimento do mtodo voltamtrico foram utilizadas duas clulas

    voltamtricas: a clula clssica (utilizando um elctrodo de trabalho de carbono vtreo -

    GCE) e um elctrodo de carbono impresso (SPCE).

    Aps a optimizao dos parmetros da SWV, pH (3,04), frequncia (400Hz),

    incremento de potencial (6 mV) e amplitude do impulso de potencial (40 mV), procedeu-

    se a validao dos mtodos, obtendo-se zonas lineares entre a concentrao de CIP e a

    intensidade de corrente de pico de 5,010-6 a 6,010-5 mol/L (GCE) e de 1,010-5 a

    4,010-5 mol/L (SPCE) e limites de deteco de 9,4810-6 mol/L (GCE) e 2,1310-6 mol/L

    (SPCE). Verificou-se que a sensibilidade, a preciso e a selectividade so superiores

    para o SPCE, sendo por isso esta a clula mais adequada para proceder anlise da

    CIP em produtos farmacuticos. O SPCE foi aplicado com sucesso anlise de CIP num

    produto farmacutico.

    Para o tratamento de solues aquosas contendo a CIP foram testados dois

    oxidantes: o permanganato de potssio e o perxido de hidrognio. Para o perxido de

    hidrognio os resultados obtidos foram inconclusivos. No caso do permanganato de

    potssio, os resultados mostram que a degradao da ciprofloxacina depende da

    concentrao do oxidante. Para uma concentrao de CIP de 3,0010-4 mol/L uma

    degradao rpida foi obtida com o uso de 6,0010-3 mol/L de permanganato de potssio.

    Na aplicao do permanganato na remediao de solos verificou-se que no caso

    de solos hmicos a ciprofloxacina adsorvida pelo solo, no sendo possvel confirmar a

    ocorrncia da reaco de degradao. No caso de solos arenosos verificou-se que a

    ciprofloxacina foi rapidamente degradada pelo permanganato de potssio.

    Palavras-chave: ciprofloxacina, voltametria onda quadrada, elctrodo de carbono vtreo,

    elctrodo de carbono impresso, remediao

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    Abstract

    The goal of the present work is to develop an analytical method, based on square-

    wave voltammetry (SWV), for the analysis of ciprofloxacin (CIP) in pharmaceutical

    products and remediation processes.

    For the development of the voltammetric method two different voltammetric cells

    were used: a classical cell (using a glassy-carbon working electrode - GCE) and a screen-

    printed carbon electrode (SPCE).

    After the optimization of the SWV parameters, pH (3,04), frequency (400Hz), pulse

    step (6 mV) and pulse amplitude (40 mV), validation of the developed methods was

    performed, obtaining linear relations between CIP concentration and peak current

    intensity from 5,010-6 to 6,010-5 mol/L (GCE) and from 1,010-5 to 4,010-5 mol/L

    (SPCE) and detection limits of 9,4810-6 mol/L (GCE) and 4,0210-6 mol/L (SPCE). For

    the SPCE the sensitivity, precision, and selectivity were higher when compared with the

    classical cell. Therefore this cell was found to be more adequate for the analysis of CIP in

    pharmaceutical products and was successfully applied in the quantification of CIP.

    The treatment of CIP in aqueous solutions was performed using two oxidants:

    potassium permanganate and hydrogen peroxide. The tests of hydrogen peroxide led to

    inconclusive results. The results obtained with potassium permanganate show that the

    degradation of CIP depends on the oxidants concentration. For a 3,0010-4 mol/L

    concentration of CIP a fast degradation was observed using 6,0010-3 mol/L

    permanganate.

    In the application of permanganate in the remediation of soils it was verified that

    CIP is adsorbed by humic soils, making the verification of the degradation reaction

    impossible. In the case of sandy soils, CIP is rapidly degraded by potassium

    permanganate.

    Key words: ciprofloxacin, square-wave voltammetry, glassy carbon electrode, screen-

    printed carbon electrodes, remediation

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    ndice

    1. Introduo .......................................................................................................................... 9

    1.1. Estatstica de venda de medicamentos...................................................................... 10

    1.2. Antibiticos .............................................................................................................. 11

    1.3. Ciprofloxacina .......................................................................................................... 12

    1.4. Voltametria ............................................................................................................... 15

    1.4.1. Voltametria Hidrodinmica ............................................................................... 17

    1.4.2. Polarografia de varrimento linear ...................................................................... 17

    1.4.3. Voltametria de impulso diferencial (DPV) ........................................................ 18

    1.4.4. Voltametria de onda quadrada ........................................................................... 19

    1.4.5. Voltametria cclica ............................................................................................. 21

    1.4.6. Mtodos de redissoluo ................................................................................... 22

    1.5. Elctrodos de carbono impresso ............................................................................... 24

    1.6. Validao de mtodos analticos .............................................................................. 25

    1.6.1. Linearidade ........................................................................................................ 25

    1.6.2. Limites de deteco e de quantificao ............................................................. 25

    1.6.3. Preciso .............................................................................................................. 26

    1.6.4. Exactido ........................................................................................................... 26

    1.6.5. Selectividade ...................................................................................................... 26

    1.7. Remediao de contaminantes.................................................................................. 26

    2. Condies Experimentais ................................................................................................ 31

    2.1. Instrumentao.......................................................................................................... 31

    2.2. Reagentes e solues ................................................................................................ 34

    2.2.1. Voltametria ........................................................................................................ 34

    2.2.2. Remediao ....................................................................................................... 36

    2.3. Procedimentos gerais ................................................................................................ 37

    2.3.1. Ensaios voltamtricos ........................................................................................ 37

    2.3.2. Estudos preliminares e de optimizao ............................................................. 37

    2.3.4. Validao dos mtodos desenvolvidos .............................................................. 38

    2.3.5. Doseamento da ciprofloxacina numa formulao farmacutica ........................ 39

    2.3.6. Remediao de solos ............................................................................................. 39

    3. Resultados ........................................................................................................................ 41

    3.1. Optimizao (GCE) .................................................................................................. 41

    3.2. Validao .................................................................................................................. 45

    3.2.1. Elctrodo de carbono vtreo (GCE) ................................................................... 45

    3.2.2. Elctrodo de carbono impresso (SPCE) ............................................................ 49

    3.3. Remediao .............................................................................................................. 55

    3.3.1. Interferncia do permanganato potssio, perxido de hidrognio e mangans . 55

    3.3.2. Permanganato de potssio e perxido de hidrognio ........................................ 56

    3.3.3. Ensaios com solo hmico/areia ......................................................................... 57

    4. Concluso ........................................................................................................................ 63

    5. Estudos Futuros ............................................................................................................... 66

    6. Bibliografia ...................................................................................................................... 67

    Anexos ................................................................................................................................. 71

    Anexo I Resultados da Optimizao e Validao ........................................................ 71

    Anexo II Resultados da Remediao ............................................................................ 85

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    Anexo III - Ficha segurana da CIP ................................................................................ 89

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    ndice de figuras

    Figura 1: Estrutura qumica da Ciprofloxacina ................................................................... 12 Figura 2: Sinais de excitao empregados em voltametria.................................................. 16 Figura 3: Sinais de excitao para a voltametria diferencial. .............................................. 18

    Figura 4: Voltagrama obtido por DPV ................................................................................ 19 Figura 5: Esquema de aplicao do potencial e medio da intensidade de corrente ao

    longo do tempo na voltametria de onda quadrada. .............................................................. 20 Figura 6: Voltamograma terico associado a SWV para um sistema reversvel................. 20 Figura 7: Sinal de excitao em voltametria cclica ............................................................ 21

    Figura 8: Sinal de excitao e respectivo voltagrama de redissoluo andica. ................. 23 Figura 9: Representao de uma clula de elctrodo de carbono impresso. ....................... 24

    Figura 10: Equipamento utilizado nos ensaios voltamtricos. ............................................ 31 Figura 11: Elctrodo de trabalho (GCE) utilizado na clula clssica. ................................. 32 Figura 12: Elctrodo de referncia (Ag/AgCl/KCl 3mol/L) utilizado na clula clssica. ... 32 Figura 13: Elctrodo auxiliar (carbono vtreo) utilizado na clula clssica. ....................... 32 Figura 14: Representao da clula voltamtrica clssica................................................... 33

    Figura 15: Representao da clula voltamtrica SPCE. .................................................... 34

    Figura 16: Efeito do pH do electrlito na iP de uma soluo de CIP (1,0x10-3

    mol/L) na

    anlise por SWV. ................................................................................................................. 41 Figura 17: Efeito da frequncia na anlise por SWV de uma soluo CIP (1,0x10

    -3 mol/L)

    em tampo Britton-Robinson (pH 3,04). ............................................................................. 42 Figura 18: Efeito do incremento de potencial na anlise por SWV de uma soluo CIP

    (1,0x10-3

    mol/L) em tampo Britton-Robinson (pH 3,04). .................................................. 43 Figura 19: Efeito da amplitude do impulso de potencial na anlise por SWV de uma

    soluo CIP (1,0x10-3

    mol/L) em tampo Britton-Robinson (pH 3,04). ............................. 44 Figura 20: Estudo da linearidade entre a iP e a concentrao da CIP (GCE). ..................... 45 Figura 21: Representao da curva de calibrao (GCE). ................................................... 46

    Figura 22: Voltamogramas obtidos na anlise de CIP por SWV em tampo Britton-

    Robinson (pH=3,04) na zona linear (GCE) (=400Hz; ES=6,00mV; EP=40,05mV). .... 47

    Figura 23: Representao da curva de calibrao e da curva de adio padro (GCE). ..... 49 Figura 24: Representao da curva de calibrao (SPCE). ................................................. 50 Figura 25: Voltamogramas obtidos na anlise de CIP por SWV em tampo Britton-

    Robinson (pH=3,04) na zona linear (SPCE) (=400Hz; ES=6,00mV; EP=40,05mV). .. 52

    Figura 26: Representao da curva de calibrao e da curva de adio padro (SPCE). .... 54 Figura 27: Voltagrama do permanganato para a concentrao de 1,0x10

    -4 mol/L (GCE). . 55

    Figura 28: Resultados de perxido de hidrognio com clula clssica. .............................. 56 Figura 29: Resultados de permanganato de potssio com clula clssica. .......................... 57

    Figura 30: Voltagrama da CIP no primeiro ensaio realizado (tempo decorrido=5min). ..... 58 Figura 31: Voltamograma obtido no ensaio realizado no solo . .......................................... 59 Figura 32: Resultado do ensaio realizado com aplicao em areia. .................................... 60

    Figura 33: Representao da evoluo da iP em funo do tempo de reaco decorrido. ... 61

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    ndice de tabelas

    Tabela 1: Estatstica do medicamento de 2007. (Fonte: Infarmed) ..................................... 10

    Tabela 2: Nmero de embalagens dos antibiticos mais vendidos em 2007 em Portugal.

    (Fonte: Infarmed) ................................................................................................................. 11

    Tabela 3: Exemplos de estudos j realizados com CIP (2000-2008). ................................. 13

    Tabela 4: Preparao das solues tampo Britton-Robinson (I=0,3 mol/L). Volumes de

    solues de NaOH e KNO3 adicionados a 25,00mL de soluo cida, seguida de diluio

    at 100,0mL. ........................................................................................................................ 35

    Tabela 5: Valores ptimos dos parmetros da SWV. .......................................................... 44

    Tabela 6: Caractersticas da curva de calibrao para anlise da CIP por SWV (pH=3,04;

    =400Hz; ES=6,00mV; EP=40,05mV) (GCE). ............................................................... 47

    Tabela 7: Avaliao da preciso para a anlise da CIP por SWV (GCE). .......................... 48

    Tabela 8: Caractersticas da curva de calibrao para anlise da CIP por SWV (pH=3,04;

    =400Hz; ES=6,00mV; EP=40,05mV) (SPCE). ............................................................. 51

    Tabela 9: Avaliao da preciso para a anlise da CIP por SWV (SPCE). ......................... 52

    Tabela 10: Resposta da CIP usando a mesma clula (SPCE) em ensaios sucessivos para

    uma dada concentrao. ....................................................................................................... 53

    Tabela 11: Condies experimentais do primeiro ensaio com clula clssica. ................... 58

    Tabela 12: Ensaio realizado em areia adicionando-se permanganato. ................................ 60

    Tabela 15: Composio das solues para a preparao das solues tampo de Britton-

    Robinson. ............................................................................................................................. 71

    Tabela 16: EP e iP mdia para cada pH. ............................................................................... 72

    Tabela 17: iP da CIP para cada valor de . .......................................................................... 73

    Tabela 18: iP da CIP obtidas para cada valor de ES. .......................................................... 75

    Tabela 19: iP da CIP obtidas para cada valor de EP. .......................................................... 76

    Tabela 20: Resultados obtidos da linearidade da CIP por clula clssica. .......................... 77

    Tabela 21: Clculo do limite de deteco e de quantificao por clula clssica. .............. 79

    Tabela 22: Resultados da repetibilidade e preciso intermdia por clula clssica. ........... 80

    Tabela 23: Resultados da curva de adio padro por GCE................................................ 80

    Tabela 24: Limite deteco e de quantificao por SPCE................................................... 81

    Tabela 25: Resultados da repetibilidade e preciso intermdia por SPCE. ......................... 82

    Tabela 26: Resultados da curva de calibrao por SPCE. ................................................... 83

    Tabela 27: Resultados da curva de adio padro por SPCE. ............................................. 83

    Tabela 28: Resultados obtidos de iP da CIP nos ensaios de doseamento. .......................... 84

    Tabela 29: Ensaios realizados com permanganato (CCIP=3,0x10-5

    mol/L). ......................... 87

    Tabela 30: Ensaio com permanganato (CCIP=4.0x10-5

    mol/L). ........................................... 87

    Tabela 31: Ensaios realizados com perxido (Cciprofloxacina=3,0x10-5

    mol/L). ............. 88

    Tabela 32: Ficha segurana do antibitico em estudo, a CIP. ............................................. 89

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    Smbolos e Abreviaturas

    CIP - Ciprofloxacina

    DPV Voltametria de Impulso Diferencial

    EP - Amplitude do impulso de potencial

    ES - Incremento de potencial

    E - Potencial

    EP - Potencial do pico voltamtrico

    - Frequncia

    FIA Flow Injection Analysis

    GCE - Elctrodo de Carbono Vtreo (Glassy Carbon Electrode)

    iP - Intensidade de corrente do pico voltamtrico

    LOD - Limite de Deteco (Limit of Detection)

    LOQ - Limite de Quantificao (Limit of Quantification)

    n nmero de pontos da curva de calibrao

    RSD - Desvio Padro Relativo (Relative Standard Deviation)

    SPCE - Elctrodo de Carbono Impresso (Screen-printed carbon electrodes)

    SWV - Voltametria de Onda Quadrada (Square-Wave Voltammetry)

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    tP - Tempo de durao do impulso

    - Velocidade de varrimento de potencial

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    9

    1. Introduo

    Actualmente, a preocupao com a poluio dos solos tem vindo a crescer e cada

    vez mais se torna uma rea de estudo com vista melhoria da qualidade dos solos

    portugueses. Ate h pouco tempo, apenas se debatia a poluio das guas pois estas

    esto muito contaminadas com a maior variedade de produtos. Os solos, muitos deles

    considerados inertes ou incuos, estavam na realidade contaminados podendo afectar a

    sade humana. Hoje em dia, j se realizam anlises aos solos com o objectivo de avaliar

    os que esto contaminados.

    A presena de contaminantes no solo no representa apenas um perigo local pois

    a lixiviao causada pelas chuvas transfere a poluio para os lenis freticos, sendo os

    contaminantes transportados para locais distantes. Isto pode provocar a contaminao,

    por exemplo, de locais de captao de gua de consumo humano ou rega.

    No estudo a efectuar pretende-se analisar produtos farmacuticos. Os frmacos

    so introduzidos no solo atravs de guas residuais domsticas, industriais, hospitalares

    ou tambm atravs das fezes dos animais aos quais so administrados antibiticos a fim

    de evitar que apanhem doenas. Tem-se assistido a uma crescente utilizao de

    medicamentos, o que torna o tema remediao de solos um tema sobre o qual a

    comunidade cientfica se tem debruado no intuito de arranjar tcnicas e processos para

    a sua descontaminao.

    Uma razo que pode explicar o estado da contaminao de solos com produtos

    farmacuticos a no existncia de legislao para este tipo de contaminante. Assim no

    h um controle, por parte das entidades emissoras, da libertao destes produtos para o

    meio ambiente.

    Com o objectivo de encontrar uma soluo de tratamento de solos contaminados

    com este tipo de produtos, props-se o estudo que se vai realizar, em que se testa a

    tcnica de voltametria de onda quadrada na anlise de um frmaco previamente

    seleccionado. No final do estudo pretende-se determinar se a tcnica escolhida uma

    boa soluo para a monitorizao do frmaco, para depois ser possvel aplicar a anlise

    em solos contaminados. escolhida a tcnica de voltametria de onda quadrada pois

    apresenta as vantagens de tempos de anlise curtos devido s altas velocidades de

    varrimento, e de ser uma tcnica com elevada sensibilidade.

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    10

    1.1. Estatstica de venda de medicamentos

    Os grupos de medicamentos que se encontram no ambiente em maior quantidade

    so os anti-depressivos, antibiticos e os anti inflamatrios. Observando a estatstica do

    medicamento do Infarmed referente a 2007 pode-se visualizar as substncias activas

    mais vendidas neste ano em Portugal.

    Tabela 1: Estatstica do medicamento de 2007. (Fonte: Infarmed)

    Para o trabalho realizado o produto farmacutico seleccionado foi um antibitico

    cuja substncia activa a ciprofloxacina (CIP) sendo esta o terceiro antibitico mais

    vendido em 2007 em termos de nmero de embalagens (Tabela 2).

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    11

    Tabela 2: Nmero de embalagens dos antibiticos mais vendidos em 2007 em Portugal. (Fonte: Infarmed)

    Substncia Activa Embalagens

    Amoxicilina+cido clavulnico 2091167

    Azitromicina 892528

    Ciprofloxacina 673604

    Amoxicilina 643644

    Claritromicina 519168

    1.2. Antibiticos

    Os antibiticos podem ser classificados como substncias muito dessemelhantes

    entre si quimicamente, produzidos originalmente pelo metabolismo de certas espcies de

    fungos (griseofulvina, penicilina), bactrias (polimixina B, bacitracina), microspora

    (gentamicina) e streptomices (estreptomicina). A finalidade do antibitico combater

    microorganismos (monocelulares ou pluricelulares), causadores de infeces no

    organismo [1].

    Hoje em dia existem antibiticos contra diversos tipos de doenas como, por

    exemplo, pneumonia, sfilis, meningite, tuberculose, gonorria, escarlatina, etc.

    Existem vrios tipos de antibiticos sendo distribudos por grupos, de acordo com a

    sua funo. Os grupos so:

    1) Agentes antimicrobianos so substncias que inibem o crescimento de

    microrganismos ou os destroem. Quando estes agentes so originalmente

    produzidos por espcies de microrganismos, portanto de origem natural, so

    denominados antibiticos. Quando so produzidos de forma sinttica, denominam-

    se quimioterpicos.

    2) Bacteriostticos so agentes que inibem o crescimento bacteriano.

    3) Bactericidas so agentes que destroem as bactrias [1].

    O uso indiscriminado de medicao, principalmente sem orientao e

    acompanhamento mdico, pode ser prejudicial sade. O uso excessivo pode levar a

    que as bactrias desenvolvam capacidade de se defender do efeito do antibitico, que

    adquiram resistncia aos antibiticos. Assim o antibitico torna-se menos eficaz no

    tratamento das doenas [1].

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    12

    1.3. Ciprofloxacina

    O antibitico escolhido para analito do presente trabalho experimental foi a

    Ciprofloxacina (CIP). Os critrios de seleco basearam-se na relao:

    1 - Nmero de vendas

    2 - Preo do padro

    A CIP um antibacteriano mais indicado no combate a gastroenterites, infeces

    arteriais e de pele, infeces sseas e pneumonias. O nome qumico deste antibitico

    1-cyclopropyl-6-fluoro-1,4-dihydro-4-oxo-7-(1-piperazinyl)-3-quinolinecarboxylic acid. A

    estrutura qumica desta substncia activa representada na Figura 1 [2].

    Mais caractersticas do antibitico podem ser consultadas na ficha de segurana que se

    encontra no Anexo III.

    Figura 1: Estrutura qumica da Ciprofloxacina [2].

    Vrios mtodos de anlise j foram desenvolvidos ao longo dos anos para este

    antibitico. Na Tabela 3 apresenta-se alguns exemplos de estudos entre os anos 2000 e

    2008.

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    13

    Tabela 3: Exemplos de estudos j realizados com CIP (2000-2008).

    Mtodo*

    Detector

    Limite

    deteco

    Limite

    quantificao

    Matriz

    Referncia

    LC

    UV

    0.03 g/g 0.11 g/g Comida de beb [3]

    20 ng/ml

    (FD) e 100

    ng/ml (UVD)

    no soro e

    1 lg/ml na

    urina

    Soro humano e

    urina

    [4]

    Urina [5]

    MS

    0,1 mu g /Kg Ovos [6]

    4 ng/L 6 ng/L guas de rio e

    guas de esgoto [7]

    2 ng/g 7 ng/g Leite bovino [8]

    Estrumes de

    porcos, perus e

    galinhas e em

    solos na ustria

    [9]

    7 pg/mL 29 pg/mL

    guas [10]

    (1) Urina [11]

    (1) 10 ng/mL 44 ng/mL Preparaes

    farmacuticas [12]

    FD

    20 ng/ml

    (FD) e 100

    ng/ml (UVD)

    no soro e

    1 lg/ml na

    urina

    Soro humano e

    urina

    [4]

    Leite bovino e

    plasma bovino [13]

    41 ng/mL Plasma humano [14]

    5 ng/g Salmo [15]

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    14

    25 ng/L guas residuais

    hospitalares [16]

    1 mu g/L 9 mu g/L Leite [17]

    0,1 ng/g 1 ng/g Camaro [18]

    Peixe-gato,

    salmo e camaro [19]

    CE

    CL

    2,3x10-7

    mol/L Urina [20]

    MS Leite bovino [21]

    CL

    4,0x10-9

    g/mL

    Preparaes

    farmacuticas e

    fluidos biolgicos

    [22]

    4,40x10-9

    mol/L

    Comprimidos,

    urina e soro

    humano

    [23]

    AAS 25 ng/mL 400 ng/mL Preparaes

    farmacuticas [24]

    MEEKC Urina [25]

    FD Solos [26]

    Potencio-metria

    Preparaes

    farmacuticas [27]

    SWV SPCE 2,13x10-6

    mol/L

    7,09x10-6

    mol/L

    Preparaes

    farmacuticas (2)

    (1) No enunciado o detector utilizado no estudo

    (2) Diz respeito ao estudo em causa.

    * Legenda: LC Cromatografia Lquida

    UV Ultravioleta e Visvel

    MS Espectometria de Massa

    FD Fluorescncia

    CE Electroforese Capilar

    CL Quimiluminescncia

    AAS Espectofotometria de Absoro Atmica

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    15

    MEEKC Cromatografia Electrocintica micelar

    Pela anlise da tabela verifica-se que apenas num artigo se estuda solos. uma

    rea ainda pouco aprofundada, dai a escolha da remediao da CIP no solo por

    oxidao/reduo para o trabalho experimental a realizar. Tambm se pode observar que

    no foram efectuados estudos recorrendo voltametria. O mtodo mais utilizado a

    cromatografia lquida.

    1.4. Voltametria

    A voltametria nasce no incio do ano 1920, por intermdio do qumico

    checoslovaco Jaroslav Heyrovsky, Prmio Nobel de Qumica em 1959, sendo o primeiro

    tipo de voltametria designado de polarografia [29].

    Os mtodos voltamtricos fazem parte do grupo de mtodos electroanalticos,

    onde medida a intensidade de corrente em funo do potencial aplicado a uma clula

    electroqumica. Neste mtodo o objectivo favorecer a polarizao do elctrodo, sendo

    possvel aumentar essa polarizao usando as caractersticas mais indicadas para o

    elctrodo de trabalho. Devem-se usar elctrodos pequenos com reas superficiais muito

    pequenas (na ordem dos milmetros quadrados) o mais aconselhado [28].

    Durante o processamento da tcnica, ocorre um fenmeno de transferncia de

    massa do analito para a superfcie do elctrodo. Essa velocidade de transferncia de

    massa vai limitar por sua vez a velocidade de oxidao ou reduo do analito em estudo.

    A voltametria tem diversas aplicaes empregues por qumicos, bioqumicos e

    fsico-qumicos como por exemplo no estudo de processos de oxidao/reduo,

    processos de adsoro e mecanismos de transferncia de electres em superfcies

    modificadas de elctrodos.

    Devido ao facto do potencial no elctrodo de trabalho variar com o tempo, surge o

    termo sinais de excitao, que so nada mais do que funes potencial-tempo

    representando a variao do potencial ao longo do tempo. A figura seguinte representa

    as formas dos sinais de excitao mais comuns em voltametria, assim como o tipo de

    voltametria associado a cada sinal.

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    16

    Figura 2: Sinais de excitao empregados em voltametria [28].

    Num sistema voltamtrico a clula electroqumica constituda por dois ou trs

    elctrodos, sendo mais usual a utilizao de trs elctrodos. Estes elctrodos esto

    mergulhados na soluo que contm o analito e um electrlito no reactivo designado de

    electrlito de suporte ( um sal que adicionado em excesso soluo do analito). Um

    dos elctrodos usados o elctrodo de trabalho cujo potencial varia de diferentes formas

    com o tempo, dependendo do tipo de voltametria usada (Figura 2). O material utilizado

    para a rea activa do elctrodo pode ser, entre outros, carbono, ouro e platina. O

    potencial do elctrodo de referncia permanece constante durante o trabalho. O terceiro

    elctrodo chamado de elctrodo auxiliar que normalmente de platina ou de carbono

    vtreo. O analito oxidado ou reduzido no elctrodo de trabalho. Enquanto que o

    potencial entre este elctrodo e o elctrodo de referncia controlado, no caso da

    corrente esta flui entre o elctrodo de trabalho e o elctrodo auxiliar.

    O transporte que ocorre, do reagente para a superfcie do elctrodo, realizado

    devido a trs mecanismos: migrao sob a influncia de um campo elctrico, conveco

    resultante da agitao, difuso devido diferena de concentrao entre o seio da

    soluo e a superfcie do elctrodo. O electrlito de suporte inerte adicionado tendo em

    vista reduzir o efeito de migrao. Anlises estticas so utilizadas para a reduo da

    conveco [28].

    Uma possvel interferncia nas medies que so efectuadas a presena de

    oxignio. aconselhvel primeiramente efectuar o desarejamento da soluo,

    borbulhando um gs inerte de elevada pureza (normalmente azoto). Durante a

    experincia o gs mantido acima da superfcie da soluo a fim de evitar a reentrada de

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    17

    oxignio. No entanto este tipo de voltametria tambm permite realizar experincias onde

    se pretende determinar oxignio dissolvido em solues.

    1.4.1. Voltametria Hidrodinmica

    Este tipo de voltametria pode ser realizada de duas formas. Por um lado, pode-se

    fazer a agitao vigorosa da soluo enquanto esta est em contacto com um elctrodo

    fixo, ou pode-se faz-se girar o elctrodo a uma velocidade constante. Por outro, a soluo

    que contm o analito pode fluir atravs de um tubo onde est montado o elctrodo de

    trabalho. Esta ultima forma de proceder tem sido aplicado a casos em que se pretende

    detectar analitos oxidveis ou reduzveis medida que estes deixam uma coluna de

    cromatografia lquida ou um sistema de anlise por injeco em fluxo (FIA).

    Quanto utilizao da voltametria hidrodinmica, esta tambm pode ser usada na

    determinao de oxignio e certas espcies como glicose e sacarose; estudos de

    processos electroqumicos; deteco de pontos finais de titulaes voltamtricas. Este

    ultimo caso apenas se aplica se pelo menos um dos reagentes ou produtos de reaco

    seja oxidado ou reduzido no elctrodo de trabalho [28].

    1.4.2. Polarografia de varrimento linear

    Este tipo de voltametria difere da voltametria hidrodinmica em alguns aspectos.

    Por exemplo, na polarografia de varredura linear a transferncia de massa do analito para

    o elctrodo no se processa essencialmente devido aos mecanismos de conveco e de

    migrao mas sim devido difuso. Outra diferena o elctrodo de trabalho utilizado,

    que nesta tcnica um elctrodo de mercrio gotejante [28].

    Quando se est a trabalhar com o elctrodo de mercrio gotejante, a corrente

    sofre variaes que correspondem velocidade de formao da gota de mercrio.

    medida que uma gota de mercrio se solta do capilar a corrente cai para o valor zero. O

    aumento da corrente favorecido pelo aumento da rea superficial das novas gotas que

    se vo formando. A utilizao deste tipo de elctrodo apresenta algumas vantagens

    assim como contrapartidas, que so analisadas de seguida [29].

    Como vantagens, pode-se enunciar o facto de que neste tipo de elctrodo pode-

    se gerar novas superfcies metlicas continuamente independentemente do seu histrico.

    Outra caracterstica vantajosa que com este tipo de elctrodo facilmente se obtm a

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    18

    reproduo de correntes, independentemente se a reproduo alcanada a partir de

    valores altos ou baixos.

    A facilidade de oxidao do mercrio uma contrapartida para o uso do elctrodo

    gotejante. Uma possvel contrapartida com o uso deste tipo de elctrodo o entupimento

    do capilar o que provoca o mau funcionamento do mtodo. Devido s desvantagens

    enunciadas e toxicidade do mercrio, podendo provocar problemas na sade humana

    assim como no ambiente, este tipo de elctrodo tem sido sucessivamente afastado da

    voltametria [28].

    Assim conclui-se que a polarografia de varredura linear no dos melhores

    mtodos para usar pois apresenta baixa sensibilidade na ordem de 10-5 mol/L e alguns

    inconvenientes com o equipamento usado.

    Com o aparecimento dos mtodos de impulso, as limitaes da polarografia de

    varredura linear foram compensadas. Dentro dos mtodos de voltametria de impulso

    temos a voltametria de impulso diferencial e a voltametria de onda quadrada.

    1.4.3. Voltametria de impulso diferencial (DPV)

    Neste tipo de voltametria os sinais de excitao podem ser diferentes, consoante

    o tipo de equipamento usado. Na figura seguinte ilustra-se os sinais de excitao mais

    comuns na voltametria de impulso diferencial.

    Figura 3: Sinais de excitao para a voltametria diferencial [28].

    Duas medidas de corrente so aplicadas alternadamente. Uma aplicada em S1

    antes aplicao do impulso e a outra em S2 aps o final do impulso. Depois a diferena

    de corrente por impulso i registada em funo do potencial, resultando a curva

    diferencial que se apresenta na figura seguinte.

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    19

    Figura 4: Voltagrama obtido por DPV [28].

    A altura do pico obtido na curva em certas condies directamente proporcional

    concentrao.

    Uma vantagem da voltametria de impulso diferencial a sua maior sensibilidade

    comparativamente com a polarografia de varredura linear. Este tipo de voltametria

    tambm apresenta limites de deteco mais baixos, na ordem dos 10-7-10-8 mol/L [28].

    1.4.4. Voltametria de onda quadrada

    Na voltametria de onda quadrada (SWV) tambm possvel usar o elctrodo de

    mercrio gotejante, onde a varredura feita nos ltimos milissegundos de vida da gota de

    mercrio quando a corrente de carga essencialmente constante. No entanto este tipo

    de voltametria tambm tem sido realizado com elctrodo de mercrio de gota suspensa

    ou com elctrodo de carbono.

    A velocidade de varrimento de potencial () obtida atravs da expresso =ES,

    sendo a frequncia dos ciclos. A frequncia dos ciclos pode ser calculada atravs da

    expresso = Pt2

    1, onde tP representa o tempo de durao do impulso. Este tempo

    define o tempo de anlise e o incremento de potencial (ES) fixa o afastamento dos

    pontos de medio. O sinal analtico mais influenciado pela amplitude do impulso de

    potencial (EP) do que pelo incremento de potencial. Na Figura 5 representa-se um

    exemplo de esquema de aplicao do potencial (E) e medio da intensidade de corrente

    ao longo do tempo nesta tcnica [28].

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    20

    Figura 5: Esquema de aplicao do potencial e medio da intensidade de corrente ao longo do tempo na voltametria de onda quadrada [29].

    O sinal de excitao nesta tcnica obtido atravs da sobreposio da sequncia

    de impulsos com o sinal na forma de escada. A medida da corrente na SWV feita duas

    vezes em cada ciclo, uma vez no fim do impulso directo (if) e outra no fim do impulso

    inverso (ib). Pode-se depois representar graficamente a intensidade de corrente total it (if-

    ib) [29].

    Este tipo de voltametria apresenta como vantagem a sua elevada sensibilidade.

    Os limites de deteco situam-se na ordem dos 10-7-10-8 mol/L. Outra vantagem desta

    tcnica so as altas velocidades de varrimento nas anlises, o que leva a curtos tempos

    de anlise e gradientes de concentrao maiores dos que so encontrados na maioria

    das restantes tcnicas voltamtricas. [28].

    Figura 6: Voltamograma terico associado a SWV para um sistema reversvel [30].

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    21

    Esta tcnica tem vrias utilizaes, uma das quais tem vindo sucessivamente a

    ser mais utilizada, que a anlise de espcies orgnicas e inorgnicas. Tambm pode

    ser aplicada como mtodo de deteco em cromatografia lquida e FIA.

    1.4.5. Voltametria cclica

    Nesta tcnica de voltametria, parte-se de um determinado potencial e faz-se o

    varrimento de uma determinada gama de potenciais. Depois inverte-se o sentido, ou seja,

    efectua-se o varrimento no sentido inverso da mesma gama de potenciais. O ponto de

    partida e de chegada so o mesmo. Na Figura 7 pode-se verificar o que se acaba de

    enunciar. Durante a experincia o elctrodo mantido numa soluo (onde est contido o

    analito) em repouso. A corrente excitada na forma triangular obtendo-se o tipo de

    grfico representado na figura seguinte.

    Figura 7: Sinal de excitao em voltametria cclica [28].

    Os potenciais onde ocorre a reverso so designados de potenciais de inverso.

    Estes potenciais so escolhidos de forma a observar a oxidao ou a reduo.

    Os parmetros mais importantes num voltagrama desta tcnica so os potenciais

    de pico catdico e andico e as intensidades de corrente do pico catdico e andico.

    A principal aplicao deste tipo de tcnica na anlise qualitativa de processos

    electroqumicos.

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    22

    1.4.6. Mtodos de redissoluo

    No sendo propriamente um tipo de voltametria, os mtodos de redissoluo

    abrangem uma variedade de procedimentos electroqumicos nos quais a voltametria est

    presente. Os mtodos de redissoluo englobam duas fases. A primeira fase diz respeito

    a uma pr-concentrao quantitativa, seguindo a fase de anlise por um dos mtodos

    voltamtricos enunciados anteriormente.

    Comea-se por adicionar o analito soluo que se encontra sob agitao. O

    analito vai-se depositando no elctrodo sendo depois determinado por um mtodo

    voltamtrico. Durante esta segunda etapa, o analito redissolvido ou retirado do

    elctrodo de trabalho.

    Existe trs tipos de redissoluo. Um dos mtodos a redissoluo catdica,

    onde durante a etapa de deposio o elctrodo de trabalho funciona como um nodo e

    na etapa de redissoluo funciona como um ctodo. A redissoluo andica

    precisamente o contrrio, ou seja, o elctrodo funciona como um ctodo na deposio e

    como um nodo na redissoluo. O terceiro mtodo de redissoluo a adsortiva, onde a

    deposio do analito se d por adsoro fsica na superfcie do elctrodo e no pela

    deposio electroltica dos mtodos anteriores.

    A Figura 8 mostra um exemplo de sinal de excitao para mtodos de

    redissoluo. Diz respeito a uma redissoluo andica para a determinao de cobre e

    cdmio. O mtodo voltamtrico usado polarografia de varredura linear.

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    23

    Figura 8: Sinal de excitao e respectivo voltagrama de redissoluo andica [28].

    Os elctrodos mais usados nesta tcnica so o de mercrio de gota suspensa e o

    de filme de mercrio. No caso do filme de mercrio, o filme depositado sobre um disco

    de, por exemplo, carbono. Este tipo de elctrodo tem uma rea menor que o elctrodo de

    gota suspensa, o que permite obter resultados com maior sensibilidade. Outra vantagem

    do elctrodo de filme que produz picos mais estreitos no voltagrama. Por outro lado, o

    elctrodo de gota suspensa gera resultados mais reprodutveis especialmente para

    concentraes mais elevadas de analito.

    Os mtodos de redissoluo so mtodos simples e rpidos, o que uma

    vantagem a ter em conta aquando da escolha da tcnica que se quer usar. Estes

    mtodos permitem a determinao de analitos que estejam em quantidades muito baixas

    em soluo. Pode-se determinar compostos na ordem dos 10-9 10-11 mol/L. Os mtodos

    de redissoluo catdica tm sido muito aplicados na determinao de haletos. J a

    redissoluo adsortiva, usada na determinao de caties inorgnicos e compostos

    orgnicos que esto em concentrao reduzida na soluo [28].

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    24

    1.5. Elctrodos de carbono impresso

    Os elctrodos de carbono impresso (SPCE), tambm conhecidos como screen-

    printed carbon electrodes, so dispositivos planares baseados em diferentes camadas de

    tinta impressa em substratos, substratos esses que podem ser de plstico, vidro ou

    cermica. Estes dispositivos constituem um tipo de clula usada em voltametria. So

    constitudas, da mesma forma que as clulas de anlise clssicas, por trs elctrodos:

    referncia, auxiliar e de trabalho [31].

    Vrios tipos de materiais so usados na construo dos elctrodos, sendo que os

    mais usados so o carbono e metais nobres, como por exemplo, a prata, ouro e platina.

    O tipo de material de construo influencia o comportamento electroqumico do sensor

    [31].

    As vantagens deste tipo de dispositivo so a sua facilidade de operao, a sua

    portabilidade devido ao seu reduzido tamanho, a sua elevada fiabilidade nos resultados

    obtidos, facilidade de mudana de elctrodo, baixo custo da clula (cada clula custa

    1.50-2), permite uma reduo do consumo de amostra pois o volume de amostra

    adicionada clula para anlise cerca de 50L [31].

    AE

    RE

    WE

    Figura 9: Representao de uma clula de elctrodo de carbono impresso.

    (WE- elctrodo de trabalho; RE elctrodo de referncia; AE elctrodo auxiliar)

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    25

    1.6. Validao de mtodos analticos

    A validao de um mtodo analtico tem como objectivo determinar se o mtodo

    em estudo adequado para a finalidade pretendida.

    Os parmetros a validar e o procedimento a seguir dependem do tipo de anlise e

    dos objectivos pretendidos pelo analista. Os principais parmetros para avaliar o

    desempenho do mtodo desenvolvido devem ser: linearidade, limites de deteco e

    quantificao, preciso, exactido e selectividade.

    1.6.1. Linearidade

    A linearidade de um mtodo analtico a zona em que a resposta do analito varia

    linearmente com a quantidade de analito. Analisa-se a resposta do analito em funo de

    concentraes crescentes do mesmo. Para tal, a partir de um nmero mnimo de cinco

    padres constri-se uma curva de calibrao atravs de regresso linear.

    1.6.2. Limites de deteco e de quantificao

    O limite de deteco a quantidade mnima do analito detectada pelo mtodo em

    estudo. O limite de quantificao diz respeito menor concentrao do analito

    quantificada com preciso pelo mtodo. Pode-se enunciar uma forma de calcular estes

    dois limites [32].

    b

    SLOD XY /

    3

    b

    SLOQ XY /

    10

    Sendo que SY/X representa a estimativa dos erros aleatrios na direco do eixo dos yy e

    b representa o declive da curva de calibrao.

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    26

    1.6.3. Preciso

    Um parmetro que pode ser usado para avaliar a preciso o desvio padro

    relativo, sendo calculado atravs da expresso 100(%) x

    RSD

    , onde representa o

    desvio padro e x a mdia aritmtica das medies.

    A preciso avaliada pela repetibilidade, preciso intermdia e reprodutibilidade.

    A repetibilidade consiste em realizar ensaios considerando sempre as mesmas condies

    experimentais. A preciso intermdia consiste em efectuar ensaios em dias diferentes

    mantendo as restantes condies dos ensaios. Na reprodutibilidade utiliza-se o mesmo

    mtodo e amostras iguais mas realiza-se ensaios em diferentes condies.

    1.6.4. Exactido

    A exactido avalia, na zona linear do mtodo analtico seleccionado, a

    proximidade entre os valores obtidos experimentalmente e o valor real, ou assumido

    como tal. Este parmetro pode ser avaliado atravs da adio de uma amostra

    farmacutica da substncia activa em estudo.

    1.6.5. Selectividade

    A selectividade de um mtodo avaliada pela sua capacidade de distinguir o

    analito em estudo de outras substncias que podero estar presentes na amostra. Deste

    modo, na avaliao da selectividade de um mtodo para a anlise de uma substncia

    activa numa formulao farmacutica, a influncia dos excipientes presentes deve ser

    avaliada atravs do procedimento da seco anterior

    1.7. Remediao de contaminantes

    Nas ltimas dcadas, diversas tcnicas de remediao tm sido aplicadas no

    tratamento de solos contaminados com produtos farmacuticos. Vrios estudos foram

    realizados usando tcnicas como a ozonizao, a oxidao ou a bioremediao. Para

    prevenir/tratar doenas dos animais so-lhes administradas doses considerveis de

    frmacos. Uma parte destes frmacos posteriormente expelida nas fezes dos animais

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    27

    que serve, muitas vezes, de adubo em solos para actividade agrcola. Deste modo o

    frmaco transferido para o solo resultando na contaminao deste podendo esta ser

    transferida posteriormente para o ser humano por via da gua de consumo ou de rega.

    O modo como os contaminantes se movimentam nos solos foi estudado em Premasis

    Sukul [33], onde se analisa o processo de adsoro/desadsoro da sulfadiazina no solo.

    A quantificao da sulfadiazina foi realizada recorrendo tcnica de cromatografia de alta

    eficincia. Os resultados sugerem que a adio de matria orgnica ao solo, reduz

    posteriormente a contaminao da gua por parte do solo contaminado com sulfadiazina.

    provado no estudo o potencial de contaminao da sulfadiazina, sendo por isso um

    composto com necessidade de tratamento antes de ser libertado para os solos.

    A tcnica de ozonizao como demonstram alguns estudos, j foi utilizada para a

    destruio de antibiticos. Os artigos encontrados, no enunciam a aplicao desta

    tcnica em solos, no entanto se esta tcnica eficaz na destruio de compostos que

    no em solos, tambm poder ser capaz de tratar antibiticos existentes em solos.

    Porm, pode no ser to eficaz como outras tcnicas que j foram aplicadas neste tipo

    de contaminante em solos.

    O estudo realizado por Franziska Lange [34], diz respeito a ensaios realizados

    para estudar a inactivao e eliminao do antibitico, claritromicina, por reaco com o

    ozono. Deste estudo conclui-se que em efluentes lquidos a ozonizao um bom

    mtodo de inactivao ou eliminao de antibiticos, como o caso da claritromicina,

    devido grande reaco que existe entre o ozono e o antibitico. Em Bavo De Witte [35]

    estuda-se os efeitos da ozonizao na concentrao de ciprofloxacina. Posteriormente

    um produto de degradao da ciprofloxacina, o desetileno, identificado por

    cromatografia lquida de alta eficincia utilizando a espectometria de massa como

    detector. Os principais resultados demonstram que a ciprofloxacina degradada mais

    rapidamente a pH 3 e com as maiores concentraes de ozono testadas. A adio de

    pequenas quantidades de perxido de hidrognio favorece a degradao da

    ciprofloxacina.

    Tambm existem artigos publicados onde se faz o estudo da ozonizao em

    estrumes de animais, como por exemplo em Merih Otker Uslu [36], em que se realiza o

    estudo da eficincia da ozonizao na degradao do antibitico oxitetraciclina em

    estrumes e num efluente liquido sinttico. A taxa de degradao depende do pH e da

    concentrao de ozono aplicada. Conclui-se que o ozono no muito eficiente na

    degradao do oxitetraciclina, quando presente em estrumes, mas pode ser eficiente no

    tratamento de efluentes lquidos contaminados com oxitetraciclina. Uma razo que pode

  • Anlise Voltamtrica da Ciprofloxacina Aplicao a Medicamentos e a Remediao

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    28

    explicar a baixa eficincia em estrumes, a presena de altos teores de matria orgnica

    nos estrumes. Esta matria poder absorver o oxitetraciclina impedindo posteriormente a

    reaco do contaminante com o ozono.

    A tcnica de bioremediao tem sido tambm muito utilizada na remediao de

    solos contaminados, no s com antibiticos, mas com outros contaminantes. Rahyani

    Ermawati [37] analisou o comportamento de esterides hormonais em estrumes pela

    tcnica de bioremediao. Existem tambm estudos onde se aplica a tcnica de

    bioremediao em compostos petrolferos (Paul H. Fallgren [38]). Os ensaios foram

    realizados num reactor de fase slida onde se obtiveram boas taxas de degradao dos

    compostos petrolferos.

    Outro exemplo o estudo de J.K. Adesodun [39], onde de realiza o estudo da

    viabilidade do uso de dejectos de animais como bioremediao alternativa em solos

    contaminados com compostos petrolferos. Este um mtodo de simples aplicao e de

    custos reduzidos. Os dejectos utilizados so de bovinos, sunos e de aves domsticas.

    No final do estudo faz-se uma avaliao dos resultados obtidos, para verificar qual o tipo

    de dejectos mais eficiente no tratamento dos compostos petrolferos. Concluiu-se que os

    dejectos com melhores resultados so os de aves domsticas, seguindo-se os dejectos

    sunos.

    A bioremediao j foi tambm aplicada em fungicidas, como retrata o estudo

    Zarhelia Carlo Rojas [40]. Neste estudo enuncia-se um trabalho realizado com o objectivo

    de estudar a degradao do fungicida clortalonil, presente num solo usado para

    agricultura, em condies anaerbias. Os resultados obtidos provam que em condies

    anaerbias o clortalonil degradado, mesmo se este estiver presente em concentraes

    elevadas. Agustn Ibarrolaza [41] estudou a influncia de diferentes concentraes de

    crmio na eficincia do processo de bioremediao e na composio da comunidade

    bacteriana presente no solo contaminado com fenantreno. Conclui-se que a presena de

    crmio retarda a degradao do fenantreno e provoca alteraes na estrutura das

    bactrias presentes no solo.

    O mtodo escolhido para o trabalho proposto a oxidao qumica. Esta tcnica

    j foi estudada em vrias experincias efectuadas, onde so usados diferentes tipos de

    oxidantes qumicos. Exemplo de estudos j realizados aplicando a oxidao, temos em

    Paula Tereza de Souza e Silva [42] um exemplo da aplicao do reagente de Fenton em

    tratamento de solos contaminados. Como principais resultados tem-se que

    imprescindvel optimizar os parmetros: concentrao de perxido de hidrognio,

    concentrao de reagente Fenton, pH e o mais importante o tempo de reaco. Os

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    29

    resultados corroboram que o fenantreno mais facilmente degradvel que o pireno. Este

    estudo revela que o uso do reagente de Fenton fivel no processo de oxidao dos

    compostos fenantreno e pireno.

    O cloro tambm pode ser usado como oxidante qumico. Virender K. Sharma [43]

    estudou o processo de oxidao de medicamentos recorrendo a vrios oxidantes como

    cloro, xido de cloro, ozono e ferro. Os resultados mostram que a oxidao de frmacos

    atravs do ozono ocorre muito rapidamente (tempo meia vida inferior a 100s). Dos

    oxidantes testados, o O3 e FeVI apresentam-se como os mais eficientes em processos

    deste tipo.

    Para alm de ser possvel utilizar oxidantes qumicos, j possvel usar

    processos avanados de oxidao/reduo. o caso de Weihua Song [44], onde a

    oxidao de antibiticos feita atravs de radicais livres. Este mtodo uma alternativa

    aos convencionais tratamentos, que muitas vezes no so eficientes. Os radicais

    testados so o hidroxilo (OH) e o electro hidratado (e-aq). Os resultados do estudo

    mostram que o mtodo de utilizar radicais uma boa alternativa aos mtodos de

    tratamento vulgarmente usados. Conclui-se tambm que o radical hidroxilo mais

    eficiente do que o electro hidratado.

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    30

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    31

    2. Condies Experimentais

    Nesta seco descrita a instrumentao utilizada no estudo, assim como os reagentes

    e solues necessrios para a execuo do trabalho. A seguir enuncia-se os

    procedimentos experimentais adoptados nas vrias fases do estudo.

    2.1. Instrumentao

    Os ensaios voltamtricos foram efectuados utilizando um AUTOLAB

    potenciostato/galvanostato de modelo PGSTAT12 da marca Metrohm que controlado

    por um sistema de aquisio e tratamento de dados GPES 4.9. O AUTOLAB encontra-se

    acoplado a um stand voltamtrico Metrohm 663VA, o qual possui uma clula voltamtrica

    constituda por trs elctrodos da marca Metrohm (Figura 10), de seguida designada por

    clula clssica.

    Relativamente ao tipo de elctrodos utilizados na clula clssica, o elctrodo de

    trabalho (Figura 11) foi de carbono vtreo (d=2mm), enquanto que o elctrodo referncia

    foi de Ag/AgCl/KCl 3mol/L (Figura 12). O elctrodo auxiliar foi tambm de carbono vtreo

    (Figura 13).

    Figura 10: Equipamento utilizado nos ensaios voltamtricos.

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    32

    Figura 11: Elctrodo de trabalho (GCE) utilizado na clula clssica.

    Figura 12: Elctrodo de referncia (Ag/AgCl/KCl 3mol/L) utilizado na clula clssica.

    Figura 13: Elctrodo auxiliar (carbono vtreo) utilizado na clula clssica.

    A Figura 14 representa mais pormenorizada a clula voltamtrica clssica usada.

    A amostra introduzida na clula, onde so colocados os elctrodos que esto

    previamente fixados nos seus respectivos lugares. Aps a introduo da amostra, aplica-

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    33

    se um varrimento de potencial e ocorre uma transferncia de massa do analito para a

    superfcie do elctrodo de trabalho, ao longo do tempo de ensaio sendo avaliada a

    intensidade de corrente do sinal analtico de oxidao. O resultado obtido permite

    determinar em determinadas condies a quantidade do analito. Depois de cada leitura

    necessrio fazer a limpeza do elctrodo de trabalho, para retirar os produtos da oxidao

    do antibitico em estudo. Esta limpeza efectua-se com xido de alumnio com recurso a

    um pedao de camura. Faz-se a frico do elctrodo na camura contendo o xido de

    alumnio hmido. Depois lava-se o elctrodo com gua desionisada.

    Deve-se lavar muito bem a clula electroqumica. Convm no incio de cada

    ensaio efectuar uma leitura do branco para confirmar se obtm resposta da CIP. Caso se

    obtenha uma ligeira resposta significa que a clula no esta bem lavada.

    As clulas SPCE so adquiridas DropSens cuja referncia DRP 110. O

    substrato das clulas cermica e o elctrodo de trabalho de carbono com 4mm de

    dimetro. O elctrodo auxiliar tambm de carbono e o elctrodo de referncia de

    prata [45]. A amostra colocada na superfcie da clula onde se encontram os

    elctrodos. No necessrio realizar o desarejamento da soluo de anlise durante a

    realizao dos ensaios. Ao contrrio das clulas clssicas, neste tipo de clula no

    necessrio efectuar a limpeza do elctrodo de trabalho pois as clulas so descartveis.

    Na Figura 15 apresenta-se uma imagem representativa das clulas SPCE.

    Figura 14: Representao da clula voltamtrica clssica.

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    34

    Figura 15: Representao da clula voltamtrica SPCE.

    As pesagens necessrias foram efectuadas numa balana analtica Sartorius de

    modelo BP211D. As medies de pH realizaram-se num pH-metro da Crison de modelo

    GLP 22. Na questo de material de medio de lquidos, usou-se pipetas volumtricas,

    por exemplo de 10,00mL e 20,00mL. Tambm usou-se provetas graduadas por exemplo

    de 25mL. Para preparao de solues foram usados bales volumtricos de 100,00mL e

    250,00mL e vrios gobels. O material de vidro da marca Qualicolor e Normax. Para

    medir volumes inferiores a 10,00mL recorreu-se a micropipetas da Gilson. A triturao

    dos comprimidos da formulao farmacutica foi realizada com recurso a um almofariz.

    2.2. Reagentes e solues

    2.2.1. Voltametria

    Todas as solues foram preparadas com gua desionisada (condutncia

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    35

    Deve-se preparar grande quantidade de soluo stock de CIP para evitar preparar

    demasiadas vezes esta soluo ao longo do estudo o que poderia levar a alguma

    diferena de constituio das vrias solues preparadas.

    Relativamente aos ensaios voltamtricos de optimizao das condies

    experimentais, utilizou-se como electrlito de suporte solues tampo Britton-Robinson

    (I=0,3 mol/L). Estes preparam-se por adio de NaOH 0,8 mol/L, KNO3 1,34 mol/L a

    25,00mL de uma soluo cida (cido actico 0,16 mol/L+cido fosfrico 0,16

    mol/L+cido brico 0,16 mol/L), perfazendo-se o volume a 100,0mL com gua

    desionisada. No Anexo I apresenta-se a composio das solues constituintes dos

    tampes de pH. Na Tabela 4 apresenta-se, para cada valor de pH, as quantidades de

    NaOH e KNO3 adicionados a 25,00mL de soluo cida.

    Deve-se preparar grandes quantidades de soluo tampo do pH ptimo, para

    evitar preparar demasiadas vezes esta soluo ao longo do estudo o que poderia levar a

    alguma diferena de constituio das vrias solues preparadas.

    Tabela 4: Preparao das solues tampo Britton-Robinson (I=0,3 mol/L). Volumes de solues de NaOH e KNO3 adicionados a 25,00mL de soluo cida, seguida de diluio at 100,0mL.

    pH VNaOH (mL) VKNO3 (mL)

    1,78 0 21,14

    2,30 3,00 20,23

    3,04 4,50 19,60

    4,06 6,00 18,78

    4,96 9,00 16,93

    5,88 11,00 15,14

    6,75 13,50 12,25

    8,17 15,50 10,23

    9,29 19,00 8,00

    10,24 20,00 7,20

    Para a desoxigenao das solues analisadas usou-se uma corrente de azoto

    5.0 obtida atravs da Linde Sogas.

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    36

    No estudo da selectividade e no doseamento, a formulao farmacutica utilizada

    foi adquirida numa farmcia, sendo a designao de CIPROFLOXACINA 500mg sendo o

    produtor a Ranbaxy. A embalagem constituda por 16 comprimidos revestidos por

    pelcula.

    2.2.2. Remediao

    Inicialmente preparou-se solues dos oxidantes permanganato de potssio e o

    perxido de hidrognio, ambos de concentrao 1,0x10-2 mol/L. A soluo de

    permanganato foi preparada a partir de uma soluo j existente de concentrao 0,020

    mol/L. O perxido de hidrognio foi preparado a partir de uma soluo 30% (m/m) da

    marca Riedel-de Han. Preparou-se tambm uma soluo de cloreto de mangans a

    partir do composto em estado slido (marca Fluka), para verificar se o mangans tem

    interferncia na resposta da ciprofloxacina.

    Nos ensaios de remediao foi monitorizada uma soluo onde ocorre reaco

    entre a CIP e um oxidante. A soluo constituda por CIP, o oxidante em estudo e

    H2SO4 concentrado, sendo as quantidades de cada constituinte da soluo varireis de

    ensaio para ensaio. A utilizao do cido sulfrico deve-se ao facto de o oxidante actuar

    melhor em meio cido (pH=1). Para a monitorizao do processo de remediao

    necessria a utilizao de uma outra soluo, sendo esta preparada com uma

    determinada quantidade de soluo de reaco, soluo tampo de pH ptimo e NaOH,

    sendo as quantidades varireis ao longo dos ensaios que se realizam.

    O H2SO4 concentrado (93-97%) usado no ajuste de pH da soluo de reaco foi

    da marca Sigma Aldrich. A soluo de hidrxido de sdio usado no ajuste do pH da

    soluo de anlise foi preparada a partir do composto no estado slido da marca

    Pronalab, sendo a concentrao pretendida de 4 mol/L.

    Deve-se preparar grandes quantidades de soluo dos oxidantes testados

    soluo para evitar preparar demasiadas vezes esta soluo ao longo do estudo o que

    poderia levar a alguma diferena de constituio das vrias solues preparadas.

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    37

    2.3. Procedimentos gerais

    2.3.1. Ensaios voltamtricos

    Para a anlise do antibitico em causa, a CIP, utilizou-se a tcnica de SWV.

    Nos ensaios voltamtricos preliminares, usou-se vrias solues tampo Britton-

    Robinson. As concentraes da CIP pretendidas nos ensaios so obtidas por diluio das

    solues mais concentradas com electrlito de suporte na prpria clula electroqumica.

    O voltagrama correspondente ao branco foi obtido aps desoxigenao de

    10,00mL de electrlito de suporte. O desarejamento, acompanhado de agitao

    mecnica da soluo, foi realizado com azoto durante um perodo de tempo de 2min para

    o caso da clula clssica. Terminado o desarejamento, um voltagrama registado

    atravs da aplicao de um varrimento de potencial na direco andica. No caso da

    clula SPCE o ensaio foi realizado atravs da colocao de 60L de electrlito de suporte

    na superfcie do elctrodo de trabalho sendo a soluo analisada de imediato, no

    havendo tempo de desarejamento.

    Todos os voltagramas e respectivas condies operacionais so armazenados

    num computador pessoal.

    2.3.2. Estudos preliminares e de optimizao

    Nos estudos preliminares e de optimizao pretendeu-se estudar a influncia de

    diversos parmetros experimentais com possvel efeito combinatrio no sinal analtico.

    Nos ensaios realizados com a clula clssica o primeiro parmetro analisado foi o

    pH, seguindo-se a frequncia, o incremento de potencial e a amplitude do impulso de

    potencial da onda quadrada, respectivamente.

    A optimizao tem como objectivo a obteno da maior intensidade de corrente de

    pico, melhor preciso e maior selectividade. Os parmetros seleccionados so de

    seguida utilizados em todos os ensaios posteriores.

    Nos ensaios realizados com as clulas SPCE, para os parmetros SWV, usou-se

    os mesmos valores da clula clssica para poupar nos custos das clulas. Assim neste

    caso comeou-se com a determinao da linearidade seguindo-se os ensaios de

    repetibilidade/preciso intermdia.

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    38

    2.3.4. Validao dos mtodos desenvolvidos

    De forma a validar os mtodos desenvolvidos, determinou-se a zona de

    linearidade entre a intensidade de corrente do pico e a concentrao de CIP, o LOD, o

    LOQ, a preciso e a selectividade.

    A zona de linearidade foi estabelecida atravs da anlise de vrias solues de

    CIP de diferentes concentraes. Atravs dos resultados obtidos, determinou-se qual a

    zona onde o sinal da CIP linear com a concentrao. No estudo da linearidade do

    mtodo, utilizando a clula clssica, estudou-se uma gama de concentraes de CIP

    entre 5,00x10-7 mol/L e 2,00x10-4 mol/L. Com o SPCE estudou-se uma gama de

    concentraes de CIP entre 1,00x10-7 mol/L e 7,00x10-5 mol/L.

    Quanto preciso, avaliada a nvel da repetibilidade e preciso intermdia,

    determinou-se para trs concentraes de CIP que so abrangidas pela zona linear. Para

    se avaliar a preciso realizou-se cinco leituras seguidas de cada concentrao escolhida

    (para se avaliar a repetibilidade) em trs dias diferentes (para se avaliar a preciso

    intermdia). No caso da clula clssica as concentraes seleccionadas para se realizar

    o estudo da repetibilidade e preciso intermdia foram: 1,00x10-5, 3,00x10-5 e 5,00x10-5

    mol/L. Relativamente s clulas SPCE as concentraes seleccionadas para se realizar o

    estudo da repetibilidade e preciso intermdia foram: 1,00x10-5, 3.00x10-5 e 4,00x10-5

    mol/L.

    Nos estudos de selectividade triturou-se 2 comprimidos da formulao

    farmacutica correspondendo a uma massa de 1,5540g. Dos comprimidos triturados

    pesou-se 0,01552g (equivalente a 10mg de CIP), misturou-se com 100,00mL de gua e

    procurou-se extrair o princpio activo com a ajuda de um banho de ultra-sons. Assim

    ficou-se com uma soluo com concentrao em CIP de 3,00x10-4 mol/L. Um volume de

    526,0L da soluo resultante foi adicionado a 10,00mL de soluo tampo pH 3,04 que

    se encontrava na clula voltamtrica clssica, obtendo-se assim uma concentrao de

    CIP de 1,50x10-5 mol/L. A soluo resultante foi analisada por SWV. Em seguida fez-se

    adies sucessivas da soluo stock de CIP (1,00x10-3 mol/L), de modo a obter

    concentraes de CIP (padro) de 5,00x10-6, 1,00x10-5, 1,50x10-5, 2,00x10-5, 2,50x10-5

    mol/L, fazendo-se depois a anlise voltamtrica.

    Para as SPCE, as solues a analisar foram previamente preparadas e guardadas

    em recipientes apropriados. Isto porque neste tipo de clula voltamtrica no possvel

    efectuar mistura de solues. As concentraes pretendidas so as mesmas que na

    clula clssica. Para a preparao das solues comeou-se por adicionar em todos os

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    39

    bales volumtricos (de 10,00mL) 500L da soluo amostra. De seguida, para obter as

    concentraes pretendidas, adicionou-se os seguintes volumes da soluo stock de CIP

    (1,00x10-3 mol/L): 0, 50, 100, 150, 200 e 250L. Completou-se o volume com soluo

    tampo.

    2.3.5. Doseamento da ciprofloxacina numa formulao farmacutica

    O doseamento da CIP numa formulao farmacutica (Ciprofloxacina 500 mg

    Ranbaxy) foi somente efectuado com o SPCE por proporcionar anlises muito mais

    rpidos quando comparado com a clula clssica.

    Neste doseamento triturou-se 2 comprimidos da formulao farmacutica

    correspondendo a uma massa de 1,5540g. Dos comprimidos triturados pesou-se

    0,01552g (equivalente a 10mg de CIP), misturou-se a massa pesada com 100,0mL de

    gua e procurou-se extrair o princpio activo com a ajuda de um banho de ultra-sons. Da

    soluo resultante preparou-se solues diludas de modo que as suas concentraes

    (1,510-5; 2,510-5 e 3,510-5 mol/L) se situassem dentro dos limites da concentrao da

    curva de calibrao (1,0010-5 4,00x10-5 mol/L). Estas solues foram analisadas e

    com as intensidades de corrente do pico obtidas foi calculado as concentraes de CIP

    atravs da interpolao na curva de calibrao.

    2.3.6. Remediao de solos

    Comeou-se por verificar se os oxidantes a testar e o io mangans apresentavam

    sinais de oxidao. Os oxidantes testados foram o permanganato de potssio e o

    perxido de hidrognio. Primeiro teve-se de verificar a obteno de resposta com os

    oxidantes em soluo aquosa. A possvel obteno de sinal voltamtrico do oxidante

    pode afectar os resultados aquando da anlise do antibitico. Isto pode levar

    sobreposio de picos dos dois compostos.

    Quanto ao mangans apesar de no ser um oxidante, foi avaliado da mesma forma a

    obteno de resposta porque este composto um produto da reaco do permanganato.

    OHMneHMnO 22

    4 458

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    40

    Como no final da reaco temos mangans em soluo, caso se obtenha resposta

    depois de efectuado o varrimento de potenciais, isto vai afectar os resultados obtidos pois

    para alm de estar a detectar CIP est-se tambm a detectar mangans.

    Na identificao do melhor oxidante foram realizados diversos ensaios com diferentes

    concentraes de cada oxidante, sendo avaliado o comportamento da iP da CIP ao longo

    de tempo de reaco. A concentrao de CIP manteve-se constante em todos os

    ensaios, sendo de 3,00x10-4 mol/L. Os critrios para a seleco do melhor oxidante

    basearam-se na capacidade de degradao da CIP e o tempo necessrio para essa

    mesma degradao. Pretendia-se um oxidante capaz de degradar totalmente a CIP num

    curto espao de tempo.

    Para o perxido de hidrognio comeou-se por utilizar uma concentrao deste

    oxidante de 7,00x10-3 mol/L. Verificou-se que este oxidante no consegue degradar a

    CIP. Ento optou-se por no realizar mais ensaios com este oxidante, passando-se para

    os ensaios com o permanganato de potssio a fim de se verificar se este oxidante era

    mais eficaz. As concentraes testadas de permanganato de potssio foram: 1,00x10-4

    mol/L, 1,00x10-3 mol/L, 6,00x10-3 mol/L e 7,00x10-3 mol/L.

    Depois de determinado o oxidante mais eficaz na degradao da CIP fez-se a

    aplicao em solo. Comeou-se por pesar 10,0g de um solo previamente seco. Preparou-

    se uma soluo da CIP para adicionar ao solo, para assim se criar um solo contaminado

    com este composto. depois adicionado ao solo o oxidante para avaliar se consegue

    degradar a CIP contida no solo. O meio foi acidificado com H2SO4 concentrado. A

    reaco ocorreu num gobel. Ao longo do tempo retirou-se amostras, que foram filtradas

    e corrigido o pH a 3 (pH ptimo) com NaOH 4 mol/L antes de serem analisadas por SWV.

    O procedimento nos ensaios realizados com areia foi igual ao referido anteriormente para

    o solo.

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    41

    3. Resultados

    3.1. Optimizao (GCE)

    O estudo da oxidao da CIP foi realizado pela tcnica SWV com uso de uma

    clula clssica e posteriormente com uma clula SPCE. O sinal da CIP que se obtm foi

    um pico na zona da gama de potenciais utilizada.

    No processo de desenvolvimento da tcnica de SWV foi necessrio optimizar

    determinados parmetros que esto interrelacionados e que podem exercer um efeito

    combinado no sinal analtico da CIP.

    O primeiro parmetro a optimizar foi o pH. Nesta etapa avaliou-se a resposta da

    CIP (1,0x10-3 mol/L) para diversas solues tampo de pH numa gama compreendida

    entre [1,78; 11,91].

    Nos ensaios do branco, nalguns tampes, obteve-se um ligeiro pico no mesmo

    potencial da CIP. A iP destes picos teve de ser subtrada iP dos picos da CIP antes de

    se construir o grfico iP em funo do pH.

    O pH ptimo corresponde ao pH para o qual a iP da CIP mxima. Os resultados

    obtidos dos ensaios apresentam-se na Figura 16 e na Tabela 16 (Anexo I).

    Figura 16: Efeito do pH do electrlito na iP de uma soluo de CIP (1,0x10-3 mol/L) na

    anlise por SWV.

    0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00

    0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00

    pH

    iP (A)

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    42

    Como se pode observar na Figura 16 a partir do tampo com pH 8,17 a

    ciprofloxacina deixa de dar resposta. Avaliando a resposta da CIP para os diversos

    valores de pH, pode-se constatar que esta resposta maior para o pH 3,04, sendo por

    isso este o valor de pH ptimo e utilizado nos ensaios seguintes. O EP obtido para este

    valor de pH de aproximadamente 1,2V.

    O parmetro seguinte a testar foi a frequncia. Testou-se vrios valores de no

    intervalo [10Hz; 650Hz]. Para cada valor deste parmetro foi determinado a iP da CIP

    1,0x10-3 mol/L Tabela 17 (Anexo I).

    Figura 17: Efeito da frequncia na anlise por SWV de uma soluo CIP (1,0x10-3

    mol/L) em tampo Britton-Robinson (pH 3,04).

    Analisando a Figura 17, verifica-se um aumento crescente da iP da CIP com o

    aumento da aplicada. Observa-se que a partir de 400Hz a iP comea a estabilizar,

    correspondendo a de 400Hz ptima.

    Depois de determinada a ptima, realizou-se ensaios com o objectivo de

    determinar qual o melhor ES (Figura 18). Para cada valor deste parmetro foi

    determinada a iP da CIP 1,0x10-3 mol/L sendo utilizado ES de 1 a 10mV (incrementos de

    1mV) estando representado na Tabela 18 (Anexo I).

    0,00

    5,00

    10,00

    15,00

    20,00

    25,00

    30,00

    0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 (Hz)

    iP (A)

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    43

    Figura 18: Efeito do incremento de potencial na anlise por SWV de uma soluo CIP (1,0x10-3 mol/L) em tampo Britton-Robinson (pH 3,04).

    Pela observao da Figura 18 nota-se uma tendncia crescente da iP da CIP at

    ao ES de 6,00 mV, onde se obtm a altura mxima de 29,0A, invertendo-se depois a

    tendncia para valores superiores a 6,00mV.

    Para o ensaio de 4,05mV a iP deu um valor baixo analisando a tendncia dos

    restantes ensaios, provavelmente devido a um erro experimental ou uma ineficaz limpeza

    do elctrodo.

    O ES ptimo 6,00mV, pois para este valor de incremento de potencial que se

    obtm a resposta mxima da CIP.

    O ltimo parmetro a optimizar foi a amplitude do impulso de potencial, EP. Para

    determinar a EP ptima fez-se a anlise do pico de uma soluo de CIP 1,0x10-3 mol/L,

    sendo que se pretende o pico mais bem definido, ou seja, o pico mais estreito e mais alto.

    Os resultados obtidos esto representados na Figura 19 e na Tabela 19 (Anexo I).

    0,00

    5,00

    10,00

    15,00

    20,00

    25,00

    30,00

    35,00

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

    ES (mV)

    iP (A)

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    Figura 19: Efeito da amplitude do impulso de potencial na anlise por SWV de uma soluo CIP (1,0x10-3 mol/L) em tampo Britton-Robinson (pH 3,04).

    A partir da EP 60,00mV, inclusive, o pico da CIP obtido j demasiado largo para

    o mtodo ser considerado selectivo. Por esta razo s foram realizados ensaios at

    EP de 75,00mV.

    Para o ensaio de 45,00mV obteve-se um valor bastante superior ao dos restantes

    ensaios, sendo que poder ter ocorrido algum erro experimental.

    O pico da CIP melhor definido foi obtido com o valor de 40,05mV de EP com uma

    iP igual a 26,85A, correspondendo assim ao EP ptimo.

    Na Tabela 5 apresenta-se resumidamente os valores optimizados dos vrios

    parmetros para a anlise da CIP.

    Tabela 5: Valores ptimos dos parmetros da SWV.

    Parmetro Valor

    pH 3,04

    400Hz

    ES 6,00mV

    EP 40,05mV

    0,00

    5,00

    10,00

    15,00

    20,00

    25,00

    30,00

    35,00

    40,00

    45,00

    0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00

    EP (mV)

    iP (A)

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    45

    3.2. Validao

    3.2.1. Elctrodo de carbono vtreo (GCE)

    De modo a encontrar-se a relao linear entre a iP e a concentrao da CIP,

    analisou-se solues com concentraes entre 5,00x10-7 e 2,00x10-4 mol/L de CIP. Os

    resultados obtidos so indicados na Tabela 20 (Anexo I) e na Figura 20.

    Figura 20: Estudo da linearidade entre a iP e a concentrao da CIP (GCE).

    0,00 5,00

    10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00

    0,00E+00 5,00E-05 1,00E-04 1,50E-04 2,00E-04 2,50E-04

    Concentrao CIP (mol/L)

    iP (A)

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    46

    A curva de calibrao linear indicada na Figura 21.

    Figura 21: Representao da curva de calibrao (GCE).

    As caractersticas desta curva de calibrao bem como os limites de deteco e

    quantificao calculados a partir desta, so indicados na Tabela 6.

    O coeficiente de correlao obtido foi de 0,9903, pelo que se pode afirmar que a

    resposta da CIP linear entre 5,0x10-6 mol/L e 6,0x10-5 mol/L. A explicao para o

    coeficiente no ser mais prximo de um, deve-se ao facto da necessidade de limpeza

    manual do elctrodo de trabalho de ensaio para ensaio. A limpeza nunca igual ao longo

    dos ensaios de modo que pode influenciar os resultados obtidos.

    Na Figura 22 apresenta-se os voltagramas de onda quadrada obtidos na anlise

    de solues com concentraes na gama de linearidade.

    Na Tabela 21 Anexo I apresenta-se os clculos realizados para calcular o limite de

    deteco e limite de quantificao.

    y = 371368x + 5,193

    0,00

    5,00

    10,00

    15,00

    20,00

    25,00

    30,00

    0,00E+00 1,00E-05 2,00E-05 3,00E-05 4,00E-05 5,00E-05 6,00E-05 7,00E-05

    Concentrao CIP (mol/L)

    iP (A)

    r = 0.9903

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    47

    Tabela 6: Caractersticas da curva de calibrao para anlise da CIP por SWV (pH=3,04; =400Hz; ES=6,00mV; EP=40,05mV) (GCE).

    Parmetros Valores obtidos

    Gama de Linearidade (x10-6 mol/L) 5,0-60,0

    n 7

    Coeficiente correlao 0,9903

    Declive (A.L/mol) 371368

    Erro do declive, Sb (A.L/mol) 23360

    Ordenada na origem (A) 5,193

    Erro da ordenada na origem, Sa (A) 0,998

    SY/X 1,17x10-6

    LOD (x10-6 mol/L) 9,48

    LOQ (x10-6 mol/L) 31,6

    Figura 22: Voltamogramas obtidos na anlise de CIP por SWV em tampo Britton-Robinson (pH=3,04) na zona linear (GCE) (=400Hz; ES=6,00mV; EP=40,05mV).

    0,0E+00

    3,0E-05

    6,0E-05

    9,0E-05

    1,2E-04

    1,5E-04

    0,70 0,85 1,00 1,15 1,30 1,44

    E/V

    i/A 5mol/L

    10mol/L

    20mol/L

    30mol/L

    40mol/L

    50mol/L

    60mol/L

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    48

    Depois de determinada a zona de linearidade, pretende-se estudar a

    repetibilidade e preciso intermdia na zona linear. Repetibilidade consiste em realizar

    cinco ensaios seguidos para cada concentrao escolhida. Escolhe-se trs

    concentraes da zona linear. Preciso intermdia efectuar ensaios em trs dias

    diferentes mantendo as mesmas condies dos ensaios.

    As concentraes escolhidas da zona linear foram: 1,0x10-5, 3,0x10-5 e 5,0x10-5

    mol/L. A preciso foi avaliada atravs do desvio padro relativo, sendo os valores obtidos

    apresentados na Tabela 7.

    Tabela 7: Avaliao da preciso para a anlise da CIP por SWV (GCE).

    Concentrao

    (mol/L)

    Repetibilidade (RSD%)

    (n=5)

    Preciso intermdia (RSD%)

    (n=3)

    1,00x10-5 4,17 9,92

    3,00x10-5 5,46 6,47

    5,00x10-5 5,01 6,15

    Analisando a tabela, verifica-se que os desvios padres obtidos so superiores

    aos valores para os quais se pode afirmar que os resultados so precisos. Os resultados

    so considerados satisfatrios quando o desvio padro inferior a 5%. No caso da clula

    clssica os valores superiores so derivados limpeza do elctrodo, facto que torna mais

    difcil a obteno de valores precisos.

    De notar que a repetibilidade melhor que a preciso intermdia e que a preciso

    dos resultados melhora medida que a concentrao de CIP aumenta.

    Com os estudos da selectividade pretendeu-se determinar se o mtodo

    selectivo, ou seja, se os excipientes presentes nos comprimidos do frmaco interferiam

    com os resultados.

    Para os ensaios realizados no estudo da selectividade preparou-se uma soluo

    do frmaco de concentrao 1,5010-5 mol/L, qual se adicionou quantidades crescentes

    da soluo stock de CIP de concentrao 1,00x10-3 mol/L. As quantidades foram

    adicionadas de modo a obter-se concentraes de 5,0010-6; 1,0010-5 e 1,5010-5,

    2,0010-4 e 2,5010-4 mol/L. O declive da curva de adio padro foi comparado com o

    declive da curva de calibrao (sem adio do frmaco).

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    49

    A curva de calibrao e a curva de adio padro obtidas pela clula clssica so

    representadas na Figura 23, sendo os valores obtidos para a construo dessas curvas

    apresentados na Tabela 23 do Anexo I.

    Figura 23: Representao da curva de calibrao e da curva de adio padro (GCE).

    A razo entre os declives das duas curvas (1,8) confirma que os excipientes

    presentes no frmaco analisado interferem com os resultados. Pode-se afirmar que o

    mtodo no selectivo na anlise da CIP neste frmaco. Isto no permite o uso do

    mtodo da curva de calibrao para a quantificao de CIP no frmaco em estudo,

    devendo-se utilizar o mtodo da adio padro.

    3.2.2. Elctrodo de carbono impresso (SPCE)

    Depois de se estudar o comportamento da CIP com a clula voltamtrica clssica,

    pretendeu-se depois usar uma clula voltamtrica mais moderna, a SPCE, para se

    comparar os resultados obtidos com clulas diferentes de modo avaliar qual a mais

    adequada.

    Dever-se-ia comear com a optimizao dos parmetros da SWV, mas tal no foi

    efectuado com vista a poupar o nmero de clulas de SPCE a usar. Utilizou-se os valores

    dos parmetros optimizados anteriormente na clula clssica. Caso no se conseguir-se

    obter resultados da CIP ento fazia-se novamente a optimizao dos parmetros.

    y = 678000x + 12,45

    r = 0,996

    y = 371368x + 5,19 r = 0,990

    0,00

    5,00

    10,00

    15,00

    20,00

    25,00

    30,00

    35,00

    0,00E+00 1,50E-05 3,00E-05 4,50E-05 6,00E-05 7,50E-05

    Concentrao CIP (mol/L)

    iP(A)

    curva calibrao

    curva adio padro

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    50

    Comeou-se por realizar o estudo da linearidade entre a concentrao da CIP e a

    iP. De modo a encontrar-se esta relao linear foi analisado solues com concentraes

    entre 1,00x10-7 e 7,00x10-5 mol/L.

    A resposta da ciprofloxacina tem uma tendncia crescente com o aumento da

    concentrao at 4,0x10-5 mol/L tendendo depois a estabilizar. A curva de calibrao

    linear indicada na Figura 24.

    y = 1322500,000x + 31,250

    r = 0,999

    0,00

    10,00

    20,00

    30,00

    40,00

    50,00

    60,00

    70,00

    80,00

    90,00

    0,00E + 00 1,00E -05 2,00E -05 3,00E -05 4,00E -05 5,00E -05

    Figura 24: Representao da curva de calibrao (SPCE).

    O coeficiente de correlao obtido foi de 0,99