Sustentabilidade Empresarial Uma Reflexao Sobre o Relatorio Petrobras de Sustentabilidade 2010 Segundo as Diretrizes Gri

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  • CELSO EDUARDO GUIMARES

    Sustentabilidade Empresarial: Uma reflexo sobre o Relatrio Petrobras de Sustentabilidade 2010 segundo as Diretrizes GRI

    SO CAETANO DO SUL

    2012

  • CELSO EDUARDO GUIMARES

    Sustentabilidade Empresarial: Uma reflexo sobre o Relatrio Petrobras de Sustentabilidade 2010 segundo as Diretrizes GRI

    SO CAETANO DO SUL

    2012

    Monografia apresentada ao curso de Ps-Graduao em Gesto Ambiental e Prticas de Sustentabilidade, da Escola de Engenharia Mau do Centro Universitrio do Instituto Mau de Tecnologia para obteno do ttulo de Especialista.

    Orientador: Prof. Roberto Lajolo

  • Guimares, Celso Eduardo

    Sustentabilidade Empresarial: Uma reflexo sobre o Relatrio Petrobras de Sustentabilidade 2010 segundo as Diretrizes GRI. Celso Eduardo Guimares So Caetano do Sul, SP : CEUN-EEM, 2012.

    74 p.

    Monografia (Especializao) Gesto Ambiental e Prticas de Sustentabilidade. Escola de Engenharia Mau do Centro Universitrio do Instituto Mau de Tecnologia, So Caetano do Sul, SP, 2012.

    Orientador: Prof. Roberto Lajolo

  • Dedico este trabalho minha esposa Luciana, que sempre me incentivou e apoiou nessa jornada, e tambm revisou meus trabalhos. Dedico tambm ao meu pai que me despertou desde criana o amor e o respeito natureza.

  • RESUMO

    O presente trabalho traz uma reflexo sobre o Relatrio de Sustentabilidade do Grupo Petrobras, referente ao ano base 2010, incorporando um cunho crtico em relao ao desempenho mensurado e publicado pela organizao luz dos conceitos mais reconhecidos na literatura especializada sobre sustentabilidade e desenvolvimento sustentvel.

    Os temas relacionados sustentabilidade tm sido utilizados de forma ampla por toda a sociedade. Observa-se na mdia em geral, nos governos, na indstria, no comrcio ou em organizaes no governamentais, o apoderamento dos termos para, geralmente, valorizarem uma marca, uma ao ou mesmo uma empresa como um todo.

    feita uma anlise baseada nas informaes contidas no relatrio referente ao perfil da empresa quanto forma de gesto, ao escopo do relatrio e a alguns dos indicadores, segundo as Diretrizes do Global Reporting Iniciative (GRI), procurando encontrar evidncias positivas e lacunas sobre o desempenho da organizao relatora.

    Palavras chave: Sustentabilidade, Sustentabilidade Empresarial, Desenvolvimento Sustentvel, Relatrios de Sustentabilidade, Relatrios GRI, Relatrio de Sustentabilidade Petrobras 2010, Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel.

  • ABSTRACT

    The proposal of this study is to present a reflection on the Report Sustainability of the Petrobras Group - base year 2010 - including a critical analysis of the performance measured and published based on the most recognized concepts in the literature of sustainability and sustainable development.

    The themes related to sustainability have been used widely throughout society. Media, governments, industry, commerce or non-governmental organizations generally use the terms to valorize a brand, an action or even a company as a whole.

    An analysis is made based on the report information relating to the company management profile, to the scope of the report and to some of the indicators according to the Global Reporting Initiative (GRI) Guidelines, searching for strengths and weakness evidences in the performances of the reporting organization.

    Keywords: Sustainability, Sustainable Development, Sustainable Reports, GRI Reports, 2010 Petrobras Sustainable Report, Sustainable Development Indicators

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 PIRMIDE DE INFORMAES 26 FIGURA 2 NMERO DE PUBLICAES DE RELATRIOS GRI 31

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1 NMERO DE PUBLICAES DE RELATRIOS GRI 31 QUADRO 2 INDICADORES DE DESEMPENHO GRI NA ESFERA ECONMICA 34 QUADRO 3 INDICADORES DE DESEMPENHO GRI NA ESFERA AMBIENTAL 34 QUADRO 4 INDICADORES DE DESEMPENHO GRI NA ESFERA SOCIAL 35 QUADRO 5 RESPOSTAS DA PETROBRAS A DEMANDAS LEVANTADAS PELA SOCIEDADE 52

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AMBEV American Beverage Company (Companhia de Bebidas das Amricas) CDP Carbon Disclosure Project CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel

    CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies CNUMAD Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente COV Composto Orgnico Voltil EcQ Employee Communication Quotient EIA Estudo de Impacto Ambiental FIRJAN Federao das Indstrias do Rio de Janeiro GEE Gs de Efeito Estufa GHG Greenhouse Gas (Gas de Efeito Estufa) GRI Global Reporting Initiative IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renovveis NAFTA North American Free Trade Agreement OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    ONG Organizao no Governamental ONU Organizao das Naes Unidas P&D Pesquisa e Desenvolvimento PDF Portable Document Format Petroquisa Petrobras Quimica PIB Produto Interno Bruto PNPB Programa Nacional de Produo e uso do Biodiesel PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Refap Refinaria Alberto Pasqualini RSC Responsabilidade Social Corporativa Sismico Sistema de Monitoramento da Imagem Corporativa SOX Sarbanes Oxeley Transpetro Petrobras Transporte WBCSD World Business Council for Sustainable Development WCED Commission on Environmental and Development

  • SUMRIO 1 INTRODUO 11 2 FUNDAMENTAO TERICA 13 2.1 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL 13

    2.2 CRESCIMENTO ECONMICO E DESENVOLVIMENTO HUMANO 17 2.3 PRESERVAO DO CAPITAL NATURAL E COMPENSAES PARA AS

    GERAES PRESENTES E FUTURAS 18

    3 AS ORGANIZAES EMPRESARIAIS E A SUSTENTABILIDADE 22 4 OS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE 26

    5 OS RELATRIOS DE SUSTENTABILIDADE SEGUNDO O MODELO GRI 30 5.1 O FRAMEWORK DA GRI PARA PRODUO DE RELATRIOS DE

    SUSTENTABILIDADE 32

    5.1.1 Princpios e orientaes 32

    5.1.2 Definio do contedo do relatrio 33

    5.1.3 Os indicadores de desempenho 33

    5.1.4 Nveis de aplicao da estrutura de relatrios GRI 36

    6 UMA ANLISE SOBRE O RELATRIO GRI DA PETROBRAS 38 6.1 METODOLOGIA 38

    6.2 AS EMPRESAS EXPLORADORAS DE COMBUSTVEIS FSSEIS E A SUSTENTABILIDADE

    39

    6.3 O HISTRICO DAS PUBLICAES PETROBRAS 40 6.4 O NVEL DA APLICAO DO RELATRIO DE SUSTENTABILIDADE

    PETROBRAS 2010 41

    6.5 ANLISE GERAL DO RELATRIO DE SUSTENTABILIDADE DA PETROBRAS 2010

    41

    6.5.1 Perfil da organizao atuao corporativa na viso estratgica e formas de gesto

    42

  • 6.5.2 Os limites abordados pelo relatrio de sustentabilidade Petrobras 44

    6.5.2.1 Gesto de risco 45

    6.5.2.2 Energias alternativas e renovveis 46

    6.5.2.3 Reduo e gerenciamento de emisses 47

    6.5.2.4 Preveno de acidentes 49

    6.5.2.5 Contribuio para o desenvolvimento local e impacto nas comunidades locais 50

    6.5.2.6 Prestao de contas e transparncia 52

    6.5.2.7 Gesto, poltica e viabilizao do Pr-Sal 54

    6.5.2.8 Pesquisa e desenvolvimento / inovao tecnolgica 55

    6.5.2.9 Engajamento e dilogo com pblicos de interesse 56 6.5.3 Os indicadores de desempenho reportados no relatrio 57

    6.5.3.1 Indicadores na esfera econmica 57

    6.5.3.2 Indicadores na esfera ambiental 59

    6.5.3.3 Indicadores na esfera social 64

    7 REFLEXO SOBRE O RELATRIO DE SUSTENTABILIDADE DA PETROBRAS

    66

    8 CONSIDERAES FINAIS 70 Referncias 73

  • 11

    1 INTRODUO

    Nos ltimos anos, vem se concretizando nas empresas a cultura de relatar seus desempenhos em relao a aspectos ligados sustentabilidade, em especial por meio de Relatrios de Sustentabilidade. Faz-se necessrio, portanto, que se tenha um olhar crtico sobre essas publicaes, no intuito de colaborar com a qualidade nos seus processos de elaborao e divulgao.

    Para isso, faz-se necessria uma viso mais abrangente, considerando as principais conceituaes referentes ao tema sustentabilidade e desenvolvimento sustentvel, uma vez que so temas relativamente novos na sociedade.

    O presente trabalho tem o objetivo de exercer uma reflexo sobre a publicao da Petrobrs que trata de seu desempenho com relao ao tema sustentabilidade no ano de 2010. Essa reflexo se referencia nas diretrizes estabelecidas pela organizao Global Reporting Iniciative (GRI) para elaborao e publicao de relatrios de sustentabilidade, alm de um conjunto de elementos conceituais sobre sustentabilidade, desenvolvimento sustentvel, indicadores de desempenho e instrumentos de comunicao de desempenho sustentvel.

    Assim, o item 2 traz uma reviso sobre algumas definies de sustentabilidade e desenvolvimento sustentvel. So apresentadas reflexes de reconhecidos autores sobre o papel do crescimento econmico no desenvolvimento humano da sociedade, com nfase no padro de desenvolvimento atualmente dominante, onde os recursos naturais so tratados como infinitos e utilizados exaustivamente em prol do crescimento econmico; bem como sobre a importncia da preservao do capital natural, a necessidade de nos preocuparmos com o legado que deixaremos para as geraes futuras e a necessidade de que essas sejam compensadas pela exausto desses recursos.

    Como o trabalho envolve a sustentabilidade empresarial, o item 3 traz a importncia das empresas na construo de um desenvolvimento mais sustentvel e o item 4 trata dos indicadores de desempenho de sustentabilidade.

    No item 5 so apresentadas as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), com um breve histrico dessa ferramenta para apurao e comunicao de desempenho de sustentabilidade, seguido de um breve descritivo sobre a metodologia, com foco nas principais orientaes e conceitos para uso do instrumento.

  • 12

    No seguimento, o item 6 contm reflexes sobre o relatrio Petrobras de sustentabilidade. Aduz inicialmente a metodologia utilizada para o estudo, seguido de um subitem especfico sobre a relao das empresas de energia com a sustentabilidade, com nfase naquelas exploradoras de combustveis fsseis. fornecido ao leitor um breve histrico das publicaes da Petrobras, com as caractersticas da publicao de ano base 2010, a qual o objeto de estudo do trabalho; alm de trazer informaes sobre o perfil da organizao quanto a sua forma de gesto, o escopo do relatrio e uma descrio de cada um dos temas priorizados e relatados pela Petrobras. O item tambm apresenta descries e reflexes sobre os indicadores de desempenho encontrados no relatrio, com foco naqueles que a empresa relatou de forma apenas parcial, sendo segregados por dimenses da sustentabilidade, ou seja, divididos pelas esferas econmica, ambiental e social.

    O item 7 traz reflexes sobre a anlise efetuada no relato da organizao publicadora, destacando aqueles considerados mais positivos luz dos conceitos da sustentabilidade, assim como aqueles pontos que deveriam ter maior foco de melhorias. Finalmente, o item 8 encerra com as consideraes finais.

  • 13

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    Nesse item, apresenta-se um breve apanhado sobre temas e conceitos essenciais para uma compreenso ampla da ideia de desenvolvimento sustentvel, na viso de diferentes autores e em diferentes aspectos.

    2.1 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    Existem muitas definies sobre sustentabilidade e desenvolvimento sustentvel. Conforme Van Bellen (2005), as diferenas entre as definies para diferentes autores podem chegar a mais de 160. Isso ocorre em decorrncia de uma variao de entendimentos do que seja a prpria sustentabilidade.

    Os termos relacionados sustentabilidade possuem origem relativamente recente. Segundo Veiga (2010), o adjetivo sustentvel, at a dcada de 1970, era apenas um jargo tcnico utilizado pela comunidade cientfica para se referenciar capacidade dos ecossistemas absorverem as tenses ambientais. Ele ainda descreve que a expresso desenvolvimento sustentvel surgiu na dcada de 1980 e ganhou legitimao em junho de 1992, na Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, conhecida como Eco-92.

    A conceituao dos autores Barbier, Markanfya e Pearce (1990) traz uma abordagem de desenvolvimento que vai alm do crescimento econmico.

    Desenvolvimento um conjunto de metas ou objetivos desejveis para a sociedade. Essas metas incluem, sem dvida, o objetivo bsico para assegurar um aumento do nvel de renda per capita o que tradicionalmente considerado como o padro de vida. [...] hoje existe uma nova abordagem quando se d nfase na qualidade de vida sobre a sade da populao,

    nos padres de educao e bem-estar social geral, e na compreenso do fato do

    desenvolvimento sustentvel envolver a concepo de um sistema social e econmico que

    garanta que essas metas sejam sustentadas. (BARBIER, MARKANDYA e PEARCE, 1990, p. 1)

    Segundo Van Bellen (2005), a definio de desenvolvimento sustentvel contida no relatrio produzido pelo World Commission on Environmental and Development (WCED), conhecido como Relatrio Brundtland, integra as dimenses econmica, social e ambiental. As definies

  • 14

    formuladas nesse relatrio foram utilizadas na Conferncia Eco-92 e do tambm uma importante noo do tipo de sustentabilidade que se almeja, abordando o desenvolvimento nas trs dimenses, seja para as geraes atuais como as futuras, de uma forma que uma no comprometa a outra.

    O manual elaborado pela Organizao Global Reporting Initiative, em seu prefcio, traz a definio de desenvolvimento sustentvel segundo o Relatrio Brundtland, e o complementa com consideraes sobre a responsabilidade das organizaes na sociedade:

    O objetivo do desenvolvimento sustentvel satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir suas prprias necessidades. Como foras fundamentais na sociedade, as organizaes de todos os tipos tm um papel

    importante a desempenhar em seu alcance. (GLOBAL REPORTING INITIATIVE, 2006, p. 3)

    As trs dimenses que as definies descritas trazem formam o chamado de trip da sustentabilidade, tambm conhecido como Tripple Botton Line, composto por:

    Economia (Lucro) Humano (Social) Ambiental (Conservao dos Recursos Naturais)

    Uma organizao que possui uma poltica para se desenvolver de maneira sustentvel aquela que possui objetivos que procuram respeitar esse trip, ou seja, que contenha objetivos, metas e programas que procurem manter (sustentar), no longo prazo, o retorno financeiro dos investimentos, o bem estar dos indivduos que, de alguma maneira, interagem com essa organizao e continuamente minimizem os impactos ambientais identificados na sua operao.

    Na anlise de Veiga (2010), mais abrangente, as duas disciplinas cientficas envolvidas nesse conceito so a ecologia e a economia. No caso da primeira, h a tendncia de se partir da ideia de equilbrio, ancorando-se no conceito de sustentabilidade ecolgica. Neste caso, se refere a um determinado ecossistema no perder sua resilincia, que conforme a definio do prprio Veiga (2010) trata-se da capacidade de um ecossistema absorver tenses ambientais sem, perceptivamente, mudar seu estado ecolgico para um estado diferente. Em outras palavras, Veiga (2010, p.17) define como a habilidade dos ecossistemas absorverem choques, adequar-se a eles e, at mesmo, deles tirar benefcios, por adaptao e reorganizao.

  • 15

    Os termos sustentabilidade fraca e forte so importantes nesse contexto. O primeiro, conforme Veiga (2010, p. 18), se refere considerao de que cada gerao deixe um legado seguinte equivalente somatria de trs tipos de capital, que ele considera inteiramente intercambiveis ou intersubstituveis: o propriamente dito (econmico), o natural-ecolgico, e o humano-social. O conceito de sustentabilidade forte mais abrangente e destaca a obrigatoriedade de manter constantes, pelo menos, os servios do capital natural para as geraes seguintes.

    importante atentar, tambm, para o fato que as formas de vida no planeta Terra, como o conhecemos hoje, no podem se sustentar para sempre. Sabemos que as condies fsico-qumicas que possibilitam a vida das espcies que habitam a biosfera so finitas, ou seja, essas condies devem mudar no decorrer de um determinado perodo de tempo, causando grandes transformaes na camada que possibilita o desenvolvimento dos seres, o que levar indubitavelmente a extines, inclusive dos humanos. O que se espera, portanto, quando se fala em desenvolvimento sustentvel, minimizar os impactos humanos que possam vir a antecipar essas extines.

    Dentre as maiores preocupaes, em termos de sustentabilidade ambiental, destacam-se as mudanas climticas provocadas pelas atividades antrpicas. Inserem-se, nesse contexto, as emisses de gases decorrentes da queima de combustveis fsseis e a contaminao dos reservatrios de gua potvel, alm da diminuio da diversidade biolgica, que so provocadas, principalmente, por perdas expressivas de coberturas de matas nativas e por emisses de poluentes, com destaque ao acmulo de substncias qumicas que, em forma de resduos emitidos pelas atividades antrpicas, se concentram nos oceanos e diminuem, ou mesmo extinguem, espcimes que vivem nesse habitat. Outros tipos de preocupaes so a pesca excessiva em rios e oceanos e a destruio da camada de oznio.

    Esses e outros problemas afetam diretamente as outras dimenses do trip da sustentabilidade. Como exemplo, j se prev grandes problemas na produo de alimentos em decorrncia do aquecimento global. O autor Brown (2009) cita vrios exemplos colhidos de diversos autores cientficos nesse tipo de situao, como das geleiras das Cordilheiras do Himalaia no Continente Asitico e dos Andes no Sul-Americano que, com a elevao das temperaturas, podero deixar de existir, podendo afetar tradicionais produes agrcolas que dependem dos rios que se formam durante o lento degelo ocorrido entre a primavera e o vero. Poder ser comprometido o cultivo em lugares considerados carentes na dimenso social como na Bolvia e Plat Tibetano. Isso sem contar na provvel falta de gua potvel para consumos bsicos como dessedentao e coco de

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    alimentos. A diminuio dos estoques de pescados, devido extrao excessiva e sem a correta gesto dessa atividade, deve tambm afetar negativamente partes substanciais de povoados que tm no consumo dessas espcies suas principais fontes de protena.

    Esses problemas, que primeiramente so interpretados como ambientais, tendem a causar outras consequncias negativas nas outras dimenses. Primeiramente na social, pois grandes populaes podem no ter o bsico suficiente para sobreviver, como alimentao, gua potvel, saneamento bsico e vestimenta adequada. Problemas econmicos tambm podem ser desencadeados em decorrncia dos possveis colapsos nos sistemas de servios ambientais e consequentes crises sociais, com possveis conflitos entre povos por disputa pelos itens de primeira necessidade, o que pode gerar um ciclo ainda maior de degradao ambiental, mais problemas sociais e ainda mais problemas econmicos.

    Entender o inter-relacionamento entre as diferentes dimenses da sustentabilidade, onde uma afeta diretamente a outra, importante para a humanidade procurar um caminho em direo ao desenvolvimento sustentvel, tendo em perspectiva a viso sistmica ou holstica dos desafios para caminharmos nessa direo.

    O fsico Capra (1982) j estruturava o problema da viso fragmentada e mecanicista na dcada de 1970, viso essa extremamente utilizada durante os sculos XIX e XX, na qual os sistemas de gesto visam somente o desenvolvimento e o sucesso do seu prprio sistema, sem se preocupar com suas inter-relaes.

    [...] uma nova viso da realidade, baseia-se na conscincia do estado de inter-relao de interdependncia essencial de todos os fenmenos fsicos, biolgicos, psicolgicos,

    sociais e culturais. Essa viso transcende fronteiras interdisciplinares e conceituais e ser explorada no mbito de novas instituies (CAPRA, 1982, p. 259).

    A filosofia trazida pela definio do conceito de sustentabilidade segundo o Relatrio Brundtland est alinhada viso de Capra (1982).

    O desenvolvimento sustentvel aquele, portanto, que agrega melhor qualidade de vida para as comunidades em geral, porm de forma a equilibrar o uso do capital natural e com prioridade ao desenvolvimento social.

  • 17

    A seguir, o trabalho aborda a primazia que tem sido dada ao crescimento econmico, em detrimento das esferas social e ambiental, essenciais na lgica da sustentabilidade para o progresso da humanidade.

    2.2 CRESCIMENTO ECONMICO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

    Sachs (1986) traz ao debate a necessidade de diferenciao entre os conceitos de desenvolvimento humano e crescimento econmico.

    [...] No curso do ltimo quarto do sculo XX, que se caracterizaram por uma expanso sem precedentes de produo de bens materiais, os economistas de todas as correntes dos

    neoclssicos aos marxistas estiveram de acordo no grande destaque dado s teorias de

    crescimento. [...] associou-se a ideia de desenvolvimento de crescimento, ou seja, tomaram-se as partes pelo todo, e ignorou-se a diferena que existe entre condio

    necessria e condio suficiente. (SACHS, 1986, p. 38)

    O autor complementa dizendo que a ideologia do crescimento traz consigo a ideia do quanto mais, melhor e de que todos os problemas estruturais acabaro por se resolver. E ainda aponta os pontos negativos dessa ideologia.

    [...] Ao invs de se redefinir as finalidades do desenvolvimento, concentra-se nas instrumentaes do aumento da oferta de servios. No toma conhecimento das diferenas

    qualitativas no entanto, essenciais entre desenvolvimento e maldesenvolvimento, nas

    quais pesam, de um lado, o grau de satisfao das necessidades sociais reais da populao e, de outro, os custos sociais e ecolgicos do crescimento. (SACHS, 1986, p. 38)

    Nesse sentido, os indicadores de desenvolvimento dos pases, baseados nas contabilidades nacionais o conhecido Produto Interno Bruto (PIB).

    [...] PIB se tornou o barmetro do desempenho socioeconmico, perversamente extrapolado como indicador de desenvolvimento. [...] as mazelas do PIB tm sido severamente criticadas, principalmente por ele s abranger atividades mercantis e ignorar a depreciao

    dos recursos naturais e humanos. (VEIGA, 2010, p. 18-19)

  • 18

    Dessa forma, verificamos a importncia de mensurao mais adequada das informaes estatsticas que formam os ndices e indicadores de desenvolvimento sustentvel. Veiga (2010, p. 19) aponta os esforos na busca de alteraes e extenses do PIB, com o objetivo de transform-lo em indicador de prosperidade sustentvel, mediante correes de clculo frequentemente chamadas de PIB Verde.

    O autor Young (2010, p. 135) tambm mostra a preocupao nos atuais Sistemas de Contas Nacionais que ignoram a questo da sustentabilidade na utilizao dos recursos naturais e ainda afirma que as Contas Nacionais no procuram medir bem-estar, mas sim o nvel de atividade econmica.

    Observa-se, portanto, que h uma necessidade de se inserir elementos de outras esferas, alm da econmica, como a ecolgica e a social, por exemplo, para medirmos o desenvolvimento humano. Esses aspectos se aplicam para a mensurao do desenvolvimento de uma nao, ou de uma instituio, seja ela do primeiro, segundo ou terceiro setores.

    Ser feita a seguir uma abordagem sobre alguns dos desafios de se equilibrar crescimento econmico, que essencial para possibilitar o desenvolvimento social, com preservao do meio ambiente, particularmente em relao ao capital natural, para que as geraes futuras possam ter o mnimo necessrio para satisfazerem suas necessidades.

    2.3 PRESERVAO DO CAPITAL NATURAL E COMPENSAES PARA AS GERAES PRESENTES E FUTURAS

    Os autores Barbier, Markandya e Pearce (1990) destacam a importncia de preservar os recursos para as geraes futuras, ou de que essas sejam, de alguma forma, compensadas. Se o capital natural for consumido no presente, outros tipos de capitais, que elevem a qualidade de vida promovendo o desenvolvimento humano, como melhorias nas estruturas educacionais, saneamento bsico, infraestruturas em geral, entre outros investimentos, deveriam ser legados s geraes descendentes daquelas que consumiram o capital natural.

    Existem vrias formas de compensaes, entre elas destacam-se as de cunho legal, que ocorrem por intermdio de legislao especfica atravs de estudos de impactos ambientais, os quais determinam

  • 19

    as aes compensatrias que o empreendedor deve tomar, ou ainda por termos de ajustamento de conduta.

    Elas podem ocorrer atravs de tributao especfica, com repasse de valores ao governo cuja comunidade est sendo afetada pela atividade. Tambm acontecem por iniciativas de empresas do setor privado que, diretamente ou atravs de parcerias com ONGs, promovam melhoria da qualidade de vida das comunidades do entorno, investindo assim no desenvolvimento social sem que o capital financeiro flua atravs de instituies governamentais. Essas iniciativas visam responder aos instrumentos legais, ou melhoria da imagem da empresa e relacionamento com os stakeholders1.

    Um exemplo de instrumento com essa finalidade so os royalties que a legislao brasileira determina para certos tipos de atividades extrativistas como petrleo e gs natural. Eles tm objetivo de compensar a exausto desses recursos naturais no renovveis e os impactos causados pela atividade exploratria. Os municpios e estados so beneficiados com as arrecadaes provenientes desses royalties, e devem realizar investimentos baseados em polticas pblicas que, tanto as geraes presente como as futuras, tenham benefcios estruturais compensatrios devido exausto das riquezas e degradaes ambientais acarretadas pela atividade. A lei determina que:

    A sociedade e suas subsidirias produtoras fiquem obrigadas a pagar a compensao

    financeira aos Estados, Distrito Federal e Municpios, correspondente a 5% (cinco por cento) sobre o valor do leo bruto, do xisto betuminoso e do gs extrado de seus respectivos territrios, onde se fixar a lavra do petrleo ou se localizarem instalaes

    martimas ou terrestres de embarque ou desembarque de leo bruto ou de gs natural,

    operados pela Petrleo Brasileiro S.A. - PETROBRAS, obedecidos os seguintes critrios:

    I - 70% (setenta por cento) aos Estados produtores; II - 20% (vinte por cento) aos Municpios produtores; III - 10% (dez por cento) aos Municpios onde se localizarem instalaes martimas ou terrestres de embarque ou desembarque de leo bruto e/ou gs natural. (BRASIL, 1989)

    A compensao ambiental ainda enfrenta grandes desafios para que ocorra de forma mais justa. Provavelmente um dos maiores seja o da mensurao, ou valorao, do capital natural que est

    1 Os stakeholders so definidos como organizaes ou indivduos que possam ser significativamente afetados pelas

    atividades, produtos e/ou servios da organizao e cujas aes possam afetar significativamente a capacidade da organizao de implementar suas estratgias e atingir seus objetivos com sucesso. Isso inclui organizaes ou indivduos cujos direitos nos termos da lei ou de convenes internacionais lhes conferem legitimidade de reivindicaes perante a organizao. (DIRETRIZES GRI, 2006, p. 10)

  • 20

    sendo consumido, visando que essas compensaes sejam as mais equivalentes possveis, em relao aos valores dos prejuzos causados pelo consumo das matrias-primas (principalmente as no renovveis) e a degradao ambiental, causada pela atividade. Barbier, Markandya e Pearce (1990) definem que a grande dificuldade da valorao do capital natural o fato destes servios serem fornecidos gratuitamente. Eles tm preo zero simplesmente porque no existe mercado em que seus verdadeiros valores possam ser revelados atravs dos atos de compra e venda. Tambm o autor Young (2010) aponta o grande desafio da valorao do meio ambiente.

    [...] A pouca disponibilidade de informaes estatsticas sobre a extenso dos impactos ambientais. Qualquer estudo na rea requer como premissa a elaborao de indicadores ambientais em unidade fsicas. Os pases desenvolvidos j avanam nesse sentido, mas a sistematizao de estatsticas ambientais algo ainda bastante distante da realidade dos

    pases em desenvolvimento, como o Brasil. Por isso, os poucos estudos empricos nessa

    rea acabam recorrendo a um nmero demasiadamente grande de aproximaes e hipteses simplificadoras, e os resultados assim obtidos devem ser olhados com extrema cautela.

    Mas ainda que a questo da falta de informaes estatsticas em unidades fsicas seja superada resta a questo da valorao dessas variveis. (YOUNG, 2010, p. 156-157)

    Pode-se entender melhor essa dificuldade ao analisar o impacto de uma atividade que acarreta em perda da biodiversidade. Nesse caso, essa atividade pode vir a ser responsvel por extino de espcies. E a extino, como se sabe, para sempre. Como muitas das espcies j extintas nem sequer chegaram a ser analisadas, fica muito difcil que uma pesquisa consiga determinar, exatamente, como eram as interaes e funes desses indivduos nos ciclos ecolgicos, e sendo assim quantificar quais os prejuzos causados ao meio ambiente e aos servios ambientais prestados a determinada unidade fsica.

    Quando SACHS (1986) se refere contabilidade nacional, que usada para medir o crescimento de determinado pas, demonstra tambm os problemas referentes a no valorao do meio ambiente e falta de considerao do capital natural na lgica de avaliao de desenvolvimento tradicional.

    [...] A contabilidade nacional, hoje utilizada para medir crescimento, baseia-se na noo de valor de troca, que abrange indistintamente valores de uso socialmente reconhecidos como

    tais, pseudo-valores de uso que no trazem qualquer satisfao ao consumidor, salvo talvez uma diferena de status em relao aos demais consumidores, os no-valores, que

    constituem, na realidade, um custo de funcionamento do sistema e, no, um resultado.

    Alm disso, ela contabiliza de igual forma os fluxos de recursos renovveis e as punes no

    capital da natureza (que um estoque e no um fluxo), seja no caso da minerao, por

  • 21

    exemplo. Outros custos ecolgicos de produo como a destruio do acervo gentico ou a degradao da fertilidade dos solos provocada por prticas agrcolas erradas so

    simplesmente ignorados; e a prpria poluio ainda um custo, ao mesmo tempo,

    ecolgico e social que mal se comea a se levar em conta, mesmo assim parcialmente e

    apenas como consequncia do custo de despoluio. (SACHS, 1986, p. 38-39)

    Apesar de todas as dificuldades, de grande importncia que as instituies que exploram os recursos naturais, sejam eles exaurveis ou renovveis, compensem de alguma forma as comunidades afetadas pelas atividades, mesmo que as compensaes ainda no representem o valor total dos prejuzos causados, uma vez que os estudos referentes valorao do capital natural ainda muito incipiente. necessrio e urgente que, pelo menos a partir dos estudos j realizados, as organizaes usurias dos capitais naturais, apliquem parte dos lucros em investimentos que melhorem a qualidade de vida das comunidades, alm de preservar ou mesmo recuperar unidades impactadas.

    Nesse sentido, os indicadores de sustentabilidade so ferramentas de extremo valor para mostrar como as instituies esto se beneficiando do capital natural e dos servios ambientais (utilizao de recursos naturais). Esses indicadores tambm servem para apontar como e quanto est se investindo em preservao e recuperao do meio ambiente, e mais, como e quanto se investe na melhoria da qualidade de vida das populaes que esto sendo afetadas como forma de compensao.

  • 22

    3 AS ORGANIZAES EMPRESARIAIS E A SUSTENTABILIDADE

    As primeiras organizaes lembradas quando o assunto fomentar o desenvolvimento sustentvel so as governamentais, sejam elas nossas cidades, estados, as naes independentes ou entidades que representam um conjunto de naes, como a Organizao das Naes Unidas (ONU), OCDE (Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico), assim como as regionais como Mercosul ou Tratado Norte-Americano Livre Comrcio (NAFTA sigla em ingls).

    Sem dvida, o poder das organizaes do 1 setor importantssimo, pois elas proveem legislao regulatria e fiscalizao, alm de exercer o poder de polcia e ter o papel de gerir o patrimnio comum das sociedades. Porm, necessrio lembrar o poder de influncia crescente das organizaes do 2 e mesmo do 3 setor. A capacidade de influncia das empresas do setor privado pode ser percebida quando companhias como grandes montadoras de automveis, bancos multinacionais ou enormes empresas do setor de energia passam a agir segundo polticas voltadas a desenvolver processos produtivos e servios mais sustentveis, ou como Veiga (2010) denomina, de reduo da insustentabilidade.

    Mas h de se analisar as contradies em relao atuao mais sustentvel do setor privado. Para Abramovay (2008), a responsabilidade socioambiental do setor privado envolve um paradoxo bsico. A grande questo dentro desse paradoxo que as organizaes privadas possuem objetivos puramente capitalistas, ou seja, visam o lucro. Friedman apud (ABRAMOVAY, 2008) afirma que qualquer companhia voltada a controlar a poluio alm do exigido por lei, para contribuir com a melhoria do meio ambiente, estaria praticando o socialismo puro e simples. Apesar disso, indubitvel que cada vez mais as empresas estejam tomando iniciativas para agir de forma a minimizar seus impactos negativos, ou mesmo procurar por oportunidades em relao a aumentar seus impactos positivos, seja na esfera ambiental ou social. lgico que h interesses empresariais por trs desse tipo desse tipo de atitude, e a questo que Abramovay (2008) coloca saber de que maneira se formam e se exprimem esses interesses.

    De qualquer forma, devem-se considerar as fortes e relevantes presses dos consumidores de produtos e servios para que as empresas tenham atitudes cada vez mais sustentveis. Como exemplo, pode-se citar o caso da rede de lojas de roupas e acessrios Zara, denunciada pelo fato de alguns de seus fornecedores manterem funcionrios bolivianos em situao irregular, sendo explorados em trabalho escravo para confeco de roupas, que seriam vendidas por suas lojas. A

  • 23

    repercusso desse caso na mdia foi de grande magnitude, trazendo prejuzos financeiros para a empresa, tanto por danos imagem como por autuaes legais. A empresa se viu, ento, na obrigao de melhorar a fiscalizao dos seus fornecedores a fim de evitar outros problemas como esse. Esse episdio ilustra o que Vinha (2010, p. 181) diz que, com a emerso do novo termo sustentabilidade, novas regras na concorrncia capitalista emergiram, obrigando as empresas (sobretudo as multinacionais) a adquirirem competncia para administrar conflitos e demandas sociais de maneira a se manterem competitivas.

    As empresas compreendem, cada vez mais, que as preocupaes com os aspectos relacionados sustentabilidade esto tambm relacionadas com preservar os seus ativos financeiros, devido a fatores como gerao de passivos ambientais resultante de acidentes ou operaes inadequadas, crimes ambientais seguidos por responsabilizao penal ou administrativa, indenizaes, entre outras. Isso representa uma mudana comportamental das empresas nas ltimas dcadas que, segundo Vinha (2010, p. 182), resulta da presso da sociedade que se organizou para combater o desmatamento e a poluio, e das restries legais e da ao regulatria e fiscal do Estado. A autora completa o raciocnio mencionando que, se por um lado as organizaes necessitam dispor de altos custos para atendimento s normas legais, os acidentes e crimes ambientais provocam escndalos corporativos que abalam a confiana dos investidores, consumidores e acionistas, refletindo na queda de vendas e no valor das aes da empresa.

    Outro exemplo eloquente do setor privado com a rede varejista de supermercados Wal-Mart, com sede nos Estados Unidos e unidades no Brasil, que nos mostra o potencial de impacto que uma organizao desse porte pode ter para a reduo da insustentabilidade dentro das mais diversas cadeias produtivas e como a presso da sociedade pode gerar resultados. H alguns anos, essa rede varejista sofria vrias acusaes de violar os direitos trabalhistas no seu pas de origem. No Brasil foi publicado pela ONG Observatrio Social, no ano de 2000, um relatrio mostrando vrios pontos fracos na atuao dessa empresa tanto no aspecto social junto a seus funcionrios, quanto a respeito do meio ambiente, sade ocupacional e segurana do trabalho. (OBSERVATRIO SOCIAL, 2000)

    Nos ltimos anos, a corporao decidiu colocar em prtica uma poltica focada nos conceitos do desenvolvimento sustentvel. Resultado disso pode ser verificado no modo como a empresa influenciou uma ampla rede de fornecedores para lanar produtos menos agressivos ao meio ambiente. Isso se observa no programa especial exibindo pelo Canal de Notcias Globo News com o ttulo de Sustentabilidade nas Prateleiras. Nele, a narrativa mostra como fornecedores de vrios

  • 24

    ramos foram desafiados pelo Wal-Mart a desenvolver produtos que utilizassem menos gua, energia e matrias-primas no processo produtivo. A primeira gerao desses produtos, considerados mais sustentveis, foi apresentada nesse programa especial. Depois de um ano e meio, os reprteres voltaram rede de supermercados e constataram que a aceitao por parte dos consumidores pelos produtos ambientalmente mais sustentveis foi grande. Outros 13 novos estavam sendo lanados com o mesmo apelo. A diversidade grande. Alimentos, cosmticos e higiene pessoal, com empresas no porte da Philips, AMBEV, Santher, Pilo, Veja, Whirlpool entre outros. Verificam-se investimentos em novas embalagens, eco-design, tcnicas de produo mais limpa, com obteno de resultados muito interessantes.

    Os efeitos de conscientizao tambm devem ser ressaltados. Isso vem sendo observado nas gndolas e embalagens dos produtos, pelos comunicados dos esforos para mitigar os impactos ambientais na produo e consumo. Podemos considerar que a leitura dos avanos que as mercadorias indicam contribui para algum nvel de educao dos consumidores sobre o tema ambiental, e constituem exemplos de medidas que podem ser aplicadas para ajudar a diminuir a insustentabilidade das atividades humanas.

    Analisando o caso do Wal-Mart, pode-se entender a natureza das aes pelas quais as organizaes do setor privado podem colaborar para o desenvolvimento sustentvel: alm de melhorar os produtos na dimenso do meio ambiente tambm fomentam a dimenso econmica com investimentos em inovao e aplicao de novas tecnologias, com gerao de empregos qualificados com boa remunerao. Segundo Diretrizes GRI (2006, p. 3) um dos grandes desafios do desenvolvimento sustentvel a exigncia de escolhas inovadoras e novas formas de pensar, mostrando identidade das iniciativas citadas com os preceitos dessa organizao.

    Mesmo tendo como objetivo final o lucro, a implantao de uma poltica de sustentabilidade nas organizaes privadas pode representar contribuio significativa ao desenvolvimento sustentvel.

    Segundo Abrramovay (2008), fundamental reconhecer a dependncia mtua entre corporaes e sociedade. Ele complementa afirmando que as escolhas das empresas no envolvem apenas seleo de tecnologias, preos e procedimentos produtivos. Referem-se, tambm, maneira como vo relacionar-se com as dimenses socioambientais, do que fazem ou, em outras palavras, qualidade de sua insero social.

  • 25

    As organizaes que incorporam a ideia de sustentabilidade possuem a oportunidade de se beneficiarem, tornando pblicas suas iniciativas por meio de relatrios de sustentabilidade. Para auxili-las a mensurar, divulgar e prestar contas para os stakeholders sobre seu desempenho organizacional, em termos de desenvolvimento sustentvel, existe metodologias e ferramentas de apoio. Entre elas, destacam-se as diretrizes dos relatrios GRI que, alm de apresentarem informaes sobre o seu perfil de atuao e sobre sua forma de gesto em base anual, tambm apresentam indicadores de desempenho econmico, ambiental e social, de uma forma que os mesmos sejam passveis de comparao na evoluo entre diferentes perodos e diferentes organizaes.

    Os itens a seguir apresentam os principais conceitos sobre indicadores e ndices de sustentabilidade.

  • 26

    4 OS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE

    Conforme Carvalho e Barcellos (2010, p. 99), indicadores e ndices podem ser maneiras de mensurar a sustentabilidade mesmo que, pelo atual estado da arte, a sustentabilidade imensurvel. Eles acrescentam que no existe uma definio universalmente aceita sobre sustentabilidade que possa ser aplicada a todas as situaes e que no seja excessivamente genrica e pouco precisa.

    Apesar disso, importante traduzir o desempenho de uma organizao quanto atuao sustentvel em nmeros e estatsticas. H que se considerar que mesmo no sendo suficientes para dar conta de mensurar totalmente a sustentabilidade, ainda assim, traz o benefcio da comparabilidade indicativa de quais esto percorrendo caminhos em direo sustentabilidade e quem est ficando para trs.

    Nesse sentido, os indicadores e ndices so ferramentas cada vez mais teis e usadas pelas mais diversas organizaes para mensurar, planejar e replanejar sua forma de gesto e comunicar o seu desempenho para o pblico.

    Para D. McQueen e H Noak apud Van Bellen (2005, p. 41), um indicador uma medida que resume informaes relevantes de um fenmeno particular ou um substituto dessa medida. Para Holling apud Van Bellen (2005, p. 42) um indicador uma medida do comportamento do sistema em termos de atributos expressivos e perceptveis.

    FONTE: Adaptado de Hammond et al. (1995) apud (VAN BELLEN, 2005) FIGURA 1: PIRMIDE DE INFORMAES

  • 27

    Conforme Carvalho e Barcellos (2010), a melhor forma de explicao do que so indicadores, ndices e dados estatsticos, a utilizao de demonstrao grfica, por meio de uma pirmide dividida em quatro partes (Figura 1). Em sua base esto os dados primrios, que so aqueles brutos, sem qualquer compilao ou agregao. Logo acima, est o subconjunto das estatsticas, que o agrupamento metdico de sries, de fatos ou de dados numricos. Na terceira parte esto os indicadores, que so subconjuntos das estatsticas e no topo, os ndices, que so as consolidaes de indicadores.

    Para ir origem da palavra, Hammond apud Van Bellen (2005, p. 41) buscou sua traduo direta do latim indicare, que significa: descobrir, apontar, anunciar, estimar.

    Os indicadores so provenientes de agregaes estatsticas e outros dados colhidos, assim como de sistemas de mensurao e informam o progresso de determinado processo.

    Para a ORGANIZAO PARA A COOPERAO E DESENVOLVIMENTO ECONMICO (1993) apud Carvalho e Barcellos (2010, p. 104), um indicador deve ser entendido como um parmetro, ou valor derivado de parmetros, que apontam e fornecem informaes sobre o estado de um fenmeno com uma extenso significativa.

    Os indicadores possuem a funo de comunicar uma situao histrica atual ou de tendncia futura. O autor Gallopn (1997) apresenta suas principais funes:

    Avaliar as condies e tendncias Comparar lugares e situaes Avaliar as condies e tendncias em relao aos objetivos e metas Fornecer informaes de alerta precoce Antecipar condies futuras e tendncias

    Indicadores trazem comparabilidade por sries histricas e/ou com outras entidades (entre pases, instituies, organizaes etc.). Mostram a situao em relao a alguma meta e traz insumos indicativos para tomadas de decises gerenciais.

  • 28

    Para Carvalho e Barcellos (2010), um bom indicador aquele que possui um maior apelo, ou seja, aquele que, para um determinado assunto, possua os dados estatsticos que forem mais importantes. As principais qualidades de um bom indicador so:

    Precisa ser confivel, ou seja, ser obtido atravs de processos e por organismos que possuam os requisitos para obter resultados confiveis;

    Tratar de um tema relevante, que d um significado a aspectos de importncia para quem l o indicador;

    Ter boa base terica, utilizando as melhores metodologias que puderem ser aplicadas para apurar os valores;

    Ter uma boa cobertura estatstica. Se for um indicador sobre a populao brasileira, por exemplo, deve-se buscar boa representatividade em todas as regies do pas.

    Ser sensvel s mudanas do objeto; Ser especfico em relao ao objeto que est sendo mensurado; Ser facilmente compreendido pelo pblico alvo, sendo construdo para ser comunicado e

    entendido de acordo com a audincia proposta, seja ela especializada ou no. O bom indicador deve comunicar atravs de seus atributos, exatamente em relao ao que foi proposto na elaborao do mesmo.

    Ser periodicamente atualizvel e ter uma base histrica, principalmente para se verificar progressos e tendncias. Para isso, devem ser atualizados constantemente com intervalos de tempo definidos de acordo com a necessidade em questo.

    Por ltimo, os indicadores ainda podem ser classificados como descritivos ou normativos. Segundo Jannuzzi apud Carvalho e Barcellos (2010, p. 107), os descritivos apenas descrevem caractersticas e aspectos da realidade emprica, no sendo fortemente dotados de significados valorativos, enquanto os normativos incorporam de forma explcita juzos de valor ou critrios normativos. Um exemplo desse ltimo seria a proporo de casos de clera e a baixa taxa de saneamento bsico por habitante em determinada regio.

    Ainda Gallopn (1997) argumenta que um indicador que tem uma varivel associada a um atributo de interesse num processo de gesto (processo decisrio) muito mais til do que um indicador que seja superficial ou que tenha caractersticas isoladas ao sistema. Portanto, pode-se dizer que os indicadores mais importantes so normativos, pois eles so selecionados para tomadas de deciso.

  • 29

    No ltimo nvel da pirmide (Figura 1), situam-se os ndices. A alta agregao de valores para formar um indicador, chegando ao ponto de agregar indicadores diferentes para gerar um novo indicador derivado, denominada de ndice. Eles so comumente utilizados para simplificar um comunicado para a populao em geral, aos polticos, os economistas e os formadores de opinio. J o meio acadmico prefere trabalhar com as informaes de forma mais desagregada.

    Carvalho e Barcellos (2010, p. 113-114) complementam que trabalhar com um conjunto de indicadores, o que, sem dvida, muito mais rico em termos de informaes, porm esse caminho leva inevitavelmente a duas questes: Que indicadores selecionar? Como no ficar perdido? Para dar apoio, nesse tipo de situao, existem os frameworks, tambm conhecidos como marcos ordenadores ou estruturas ordenadoras. Para Gallopn (1997), frameworks ajudam a organizar os diferentes indicadores relevantes para o desenvolvimento sustentvel, pois esse abrange muitas questes e dimenses e uma espcie de marco conceitual necessria. O autor transcreve as concluses do workshop realizado em Ghent, Blgica, pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) sobre o uso de frameworks de indicadores:

    Frameworks de indicadores, organizando indicadores individualmente ou em conjuntos de forma coerente, trazem vrios usos adicionais. Eles podem guiar os dados globais e processo de coleta de informaes. Eles so ferramentas de comunicao teis para os

    tomadores de deciso, resumindo as principais informaes provenientes de diversos

    setores. Eles sugerem agrupamentos lgicos para conjuntos relacionados de informaes, promovendo a sua interpretao e integrao. Eles podem ajudar a identificar questes importantes e encontrar a informao adequada que esteja faltando, vindo assim a identificar as necessidades de coleta de dados adicionais. Por fim, frameworks de

    indicadores podem ajudar a divulgar relatrios, atravs da estruturao das informaes coletas, processos de anlise dos relatrios e em muitas questes e reas que dizem respeito

    ao desenvolvimento sustentvel. (GALLOPN, 1997)

    Na sequncia do trabalho, ser apresentada a estrutura de um dos principais frameworks utilizados hoje pelo meio empresarial, com a finalidade de organizar e comunicar o desempenho quanto ao tema sustentabilidade.

  • 30

    5 OS RELATRIOS DE SUSTENTABILIDADE SEGUNDO O MODELO GRI

    A organizao sem fins lucrativos CERES, com base em Boston (EUA), concebeu um mecanismo para divulgao de informaes sobre sustentabilidade. Essa iniciativa teve a adeso do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o fruto foi o projeto de criao das Diretrizes para Relatrios de Sustentabilidade GRI.

    Em 2000, a primeira verso das diretrizes foi publicada e, por volta de 50 organizaes em todo o mundo passaram a utiliz-las, incluindo a empresa brasileira Natura Cosmticos. A organizao GRI, at esse momento ainda ligado ao CERES, se tornou independente em 2001 e transferiu sua sede para a Holanda em 2002, formando nesse pas uma fundao.

    As diretrizes GRI foram atualizadas sucessivamente e a atual verso a G3, que comeou a ser desenvolvida em 2005, envolveu a participao de 100 pessoas em todo o mundo, e foi publicada em 2006.

    O GRI uma rede com a participao de peritos e representantes de 40 pases e de diversos

    setores da sociedade (empresas, organizaes no governamentais, agncias governamentais, entre outros). Eles constituem os grupos de trabalho e rgos de governana do rgo e determinam suas diretrizes. (HOURNEAUX JUNIOR e HRDLICKA, 2006, p. 7)

    Houve um grande crescimento no nmero de organizaes em todo o mundo, e tambm no Brasil, que tem utilizado as diretrizes GRI para comunicar suas formas de gesto e seus respectivos indicadores de sustentabilidade, conforme mostram o Quadro 1 e a Figura 2.

  • 31

    Ano base Nmero de publicaes

    no mundo

    Nmero de publicaes

    no Brasil

    1999 11 0 2000 44 1 2001 122 1 2002 139 5 2003 166 4 2004 275 7 2005 373 12 2006 517 17 2007 712 38 2008 1118 72 2009 1517 82 2010 1866 135

    FONTE: (GLOBAL REPORTING INITIATIVE, 2011) QUADRO 1: NMERO DE PUBLICAES DE RELATRIOS GRI

    FONTE: (GLOBAL REPORTING INITIATIVE, 2011) FIGURA 2: NMERO DE PUBLICAES DE RELATRIOS GRI

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    1600

    1800

    2000

    19

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    20

    00

    20

    01

    20

    02

    20

    03

    20

    04

    20

    05

    20

    06

    20

    07

    20

    08

    20

    09

    20

    10

    Nmero de

    publicaes no mundo

    Nmero de

    publicaes no Brasil

    Ano Base

  • 32

    5.1 O FRAMEWORK DA GRI PARA PRODUO DE RELATRIOS DE SUSTENTABILIDADE

    As diretrizes da GRI para elaborao e publicao de relatrios de sustentabilidade foram concebidas visando garantir uma abordagem consistente do desempenho das empresas, possibilitando permitir acompanhamento e intercomparaes. Dessa forma, foi formulada uma estrutura padro de relatrio, embasado em princpios que pode ser utilizada por organizaes de qualquer porte, setor ou localidade. Levam em conta as questes prticas enfrentadas por uma srie de organizaes, desde pequenas empresas at grupos com operaes variadas e geograficamente espalhados. Visa, ainda, oferecer a quem produz os relatrios e aos seus usurios os princpios e conceitos que suportam a definio do contedo do relatrio e a qualidade de coleta e divulgao das informaes, incluindo os indicadores das esferas econmica, ambiental e social.

    Essas diretrizes foram baseadas no triple botton line, uma vez que proporciona espao para relatos nas trs esferas de sustentabilidade. Vale ressaltar que no pretende dar o tom da estratgia de sustentabilidade, mas sim proporcionar um modelo que fornea apoio com orientaes, que auxilia a relatar aspectos importantes nas trs dimenses. Fornece, portanto, um padro que auxilia a quem relata e tambm aos leitores, principalmente na comparabilidade entre concorrentes.

    5.1.1 Princpios e orientaes

    So importantes informaes de entrada para a elaborao dos relatrios segundo as Diretrizes GRI ( 2006, p. 5):

    Orientaes para definir o contedo do relatrio. Princpios para definir o contedo do relatrio. Princpios para assegurar a qualidade do relatrio. Orientaes para estabelecer o limite do relatrio.

    O relatrio dever conter, conforme orienta Diretrizes GRI ( 2006, p. 6):

    Perfil, fornecendo informaes de contexto geral para compreenso do desempenho organizacional, incluindo sua estratgia e governana. Deve fornecer uma viso estratgica da relao da organizao com a sustentabilidade. Um descritivo com os principais impactos, riscos e oportunidades dever tambm compor o perfil da organizao.

  • 33

    Informaes sobre a forma de gesto contendo dados cujo objetivo explicar o contexto no qual deve ser interpretado o desempenho da organizao numa rea especfica.

    Indicadores de desempenho, os quais expem as informaes sobre o desempenho econmico, ambiental e social da organizao passveis de comparao.

    5.1.2 Definio do contedo do relatrio

    As orientaes das Diretrizes GRI (2006) que norteiam a composio do escopo do relatrio so chamadas de princpios de materialidade. Esses princpios determinam que a organizao relatora considere metodologias que, de alguma forma, cubram os temas e indicadores que reflitam os impactos significativos nas trs dimenses do triple botton line.

    Os temas devero adquirir importncia, conforme a prioridade estabelecida na avaliao dos stakeholders e na importncia dos impactos econmicos, sociais e ambientais. As Diretrizes GRI (2006, p. 8) destacam que devem ser considerados os impactos que ultrapassam o limiar que afeta a capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir suas prprias necessidades. As orientaes esto, portanto, diretamente sustentadas no conceito bsico definido no Relatrio Brundtland.

    A organizao deve demonstrar os processos usados para as definies de prioridades. Tambm deve apresentar a forma como definiu e engajou os stakeholders considerados para alimentar com informaes de entrada, as quais devem servir de base na definio dos temas e indicadores mais relevantes para comporem o relatrio de sustentabilidade.

    5.1.3 Os indicadores de desempenho

    Esto divididos em trs blocos, segundo a abordagem do tripple botton line: econmico, ambiental e social, sendo esse ltimo subdividido em cinco partes (emprego; relao entre trabalhadores e governana; sade e segurana no trabalho; treinamento e educao; diversidade e igualdade de oportunidades).

    Os aspectos considerados em cada uma das esferas dos indicadores esto relacionados nos quadros 2, 3 e 4.

  • 34

    Aspectos relacionados pelas Diretrizes GRI

    Indi

    cado

    res

    Eco

    nm

    ico

    s Desempenho Econmico (valores gerados e distribudos, riscos e oportunidades para as atividades devido s mudanas climticas, cobertura das obrigaes do plano de penso, ajudas significativas advindas do governo)

    Presena no Mercado (relao dos salrios mais baixos comparado ao salrio mnimo local, polticas de gastos com fornecedores locais, procedimentos para contratao local de membros da alta gerncia).

    Impactos Econmicos Indiretos FONTE: Adaptado de (DIRETRIZES GRI, 2006) QUADRO 2: INDICADORES DE DESEMPENHO GRI NA ESFERA ECONMICA

    Aspectos relacionados pelas Diretrizes GRI

    Indi

    cado

    res

    Am

    bien

    tais

    Materiais (uso e reciclagem renovveis e exaurveis) Energia (consumo direto e indireto) gua (retirada por fonte, reciclada, reutilizada) Biodiversidade (impactos em reas de proteo ou administrados pela organizao) Emisses, efluentes e resduos Produtos e servios (mitigao de impactos ambientais, recuperao de produtos e embalagens) Conformidade (multas, sanes e outras no conformidades legais) Transporte (impactos significativos no transporte de produtos, bens, materiais e trabalhadores) Geral (investimentos e gastos com proteo ambiental)

    FONTE: Adaptado de (DIRETRIZES GRI, 2006) QUADRO 3: INDICADORES DE DESEMPENHO GRI NA ESFERA AMBIENTAL

  • 35

    Aspectos relacionados pelas Diretrizes GRI In

    dica

    dore

    s So

    cia

    is

    Prt

    ica

    s Tr

    aba

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    e Em

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    o D

    ecen

    te

    Emprego (tipo de emprego, rotatividade, faixas etrias, gnero, regio; diferenas entre benefcios para empregados registrados e temporrios). Relao entre trabalhadores e governana (abrangncia de acordos coletivos, notificaes de mudanas operacionais aos empregados). Sade e segurana no trabalho. Treinamento e educao (mdia de treinamentos com discriminao por categoria funcional, programas de gesto de competncias, programas de anlise de desempenho e carreira). Diversidade e igualdade de oportunidades.

    Dir

    eito

    s H

    um

    an

    os

    Prticas de investimento e de processos de compras (clusulas referentes a direitos humanos em contratos significativos, percentual de fornecedores que so submetidos a avaliaes sobre o tema, treinamento a empregados em polticas de direitos humanos). No discriminao. Liberdade de associao e negociao coletiva Trabalho infantil (identificao de operaes com risco de ocorrncia e medidas adotadas para a abolio) Trabalho forado ou anlogo ao escravo (identificao de operaes com risco de ocorrncia e medidas adotadas para a abolio) Prticas de segurana (treinamento de pessoal de segurana relativo a aspectos de direitos humanos). Direitos indgenas.

    Soci

    eda

    de

    Comunidade. Corrupo (unidades de negcio submetidas a avaliaes de riscos, treinamentos e medidas tomadas em respostas a casos ocorridos). Polticas pblicas (participaes na elaborao, relaes incluindo contribuio financeira para partidos polticos ou instituies relacionadas) Concorrncia desleal (aes judiciais) Conformidade legal.

    Res

    pon

    sabi

    lida

    de

    pelo

    Pr

    odu

    to

    Sade e segurana do cliente. Rotulagem de produtos e servios Comunicaes de marketing Conformidade legal (inclui nmero de reclamaes comprovadas relativa privacidade e perda de dados de cliente) Compliance (multas por no conformidade)

    FONTE: Adaptado de (DIRETRIZES GRI, 2006) QUADRO 4: INDICADORES DE DESEMPENHO GRI NA ESFERA SOCIAL

  • 36

    O nmero total de indicadores, por esfera da sustentabilidade, est assim distribudo:

    Econmicos: 7 indicadores essenciais e 2 adicionais Ambientais: 17 indicadores essenciais e 13 adicionais Sociais

    o Prticas trabalhistas e emprego decente: 9 indicadores essenciais e 5 adicionais o Direitos humanos: 6 indicadores essenciais e 3 adicionais o Sociedade: 6 indicadores essenciais e 2 adicionais o Responsabilidade do produto: 4 indicadores essenciais e 5 adicionais

    Desse modo, perfaz-se um total de 79 indicadores de desempenho de sustentabilidade. Cada indicador possui um protocolo que fornece a orientao bsica para interpretao e compilao das informaes.

    Os Protocolos de Indicadores fornecem definies, orientaes para compilao e outras

    informaes destinadas a auxiliar as organizaes relatoras e a assegurar coerncia na

    interpretao dos indicadores de desempenho. Os usurios das Diretrizes devem tambm usar os protocolos de indicadores. (DIRETRIZES GRI, 2006, p. 4)

    Outra importante rea do marco ordenador GRI sobre o nvel de aplicao do relatrio, voltado a proporcionar uma adequao amena da organizao relatora ferramenta, uma vez que h trs nveis que vo do menos exigente at o mais rigoroso.

    5.1.4 Nveis de Aplicao da Estrutura de Relatrios GRI

    De acordo com a maturidade dos relatores, os relatrios so categorizados com trs nveis: A, B e C. Os nveis de aplicao so verificados e auto-declarados pelos relatores, segundo os critrios estabelecidos pela GRI onde se exige, para cada nvel, um volume mnimo de respostas de indicadores, sendo o nvel C o menos exigente e o A o mais exigente. (DIRETRIZES GRI, 2006)

    Os relatrios ainda podem ser auditados externamente por terceiros (empresas de auditoria credenciada pela GRI), ou pela prpria GRI. As empresas que passam por auditoria externa de verificao de terceiros podem, na sua autodeclarao, incluir o smbolo + no seu nvel de

  • 37

    aplicao, ou seja, uma organizao que se enquadra no nvel de aplicao B, caso se submeta a auditoria de verificao de terceiros, se autodeclarar B+.

    Essas verificaes externas apresentam um custo elevado, principalmente para as organizaes com menor porte financeiro. Dessa forma elas preferem somente submeter os relatrios de sustentabilidade consulta pblica para que os stakeholders e a comunidade em geral verifiquem sua qualidade. As vantagens de se submeter a auditores credenciados derivam de seu preparo para efetuar as validaes, buscando na organizao evidncias atravs de entrevistas e rastreando documentos de que as diretrizes GRI foram aplicadas na elaborao dos relatrios. Esse processo proporciona uma maior confiabilidade aos stakeholders nos relatrios.

    Na sequncia, o trabalho traz uma pequena imerso no relatrio da Petrobras, referente ao ano de 2010, possibilitando assim uma viso, luz dos conceitos de sustentabilidade, desenvolvimento sustentvel e indicadores de sustentabilidade empresarial, sobre a real utilizao desses para mensurao de desempenho nessa rea.

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    6 UMA ANLISE DO RELATRIO GRI DA PETROBRAS

    O objetivo fazer uma reflexo sobre o relatrio Petrobras de sustentabilidade 2010. Nesse item, so revistas e comentadas as informaes publicadas pela empresa luz das diretrizes GRI, dos conceitos de sustentabilidade forte e fraca e do desenvolvimento sustentvel do triple botton line.

    Primeiramente se apresenta a metodologia adotada para essa anlise, seguindo com consideraes sobre a questo da sustentabilidade empresarial concernente as empresas energticas, que tem como principal insumo os combustveis fsseis em seus processos produtivos.

    Na sequncia, relatado um histrico das publicaes da Petrobras e so apresentados alguns aspectos gerais sobre o relatrio, como o perodo abrangido e o nvel de aplicao segundos as diretrizes GRI.

    Cada dimenso, aspecto e indicador do Relatrio so analisados e comentados luz dos conceitos apresentados nos itens dois, trs e quatro e das diretrizes GRI.

    6.1 METODOLOGIA

    A anlise do relato da Petrobras estruturada a partir dos seguintes tpicos destacados nas Diretrizes GRI: perfil da organizao e forma de gesto; processo de materialidade de contedo; temas prioritrios na questo da sustentabilidade - ao todo dez; indicadores de desempenho.

    A seguir, um resumo de aspectos que sero tratados em cada um dos tpicos.

    Perfil da organizao e forma de gesto: feita uma reflexo sobre a abordagem relatada pela empresa, em relao a sua viso estratgica e de gesto em termos de sustentabilidade, com base nas Diretrizes GRI e outros conceitos pertinentes.

    Processo de Materialidade: faz-se uma discusso quanto ao processo apresentado no relatrio para priorizao e elaborao do seu contedo.

    Os dez temas prioritrios: desenvolve-se uma reflexo sobre como cada um dos temas priorizados no processo de materialidade.

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    Indicadores de desempenho: so analisados os indicadores relatados parcialmente. O objetivo chamar a ateno sobre quanto poderia ser prejudicial aos stakeholders a omisso parcial de informaes de indicadores de desempenho.

    Sero relacionados em bullets os principais pontos discutidos sobre o relatrio no trabalho, fornecendo assim um resumo dos destaques encontrados, seguidos de uma reflexo geral discursiva sobre esses destaques.

    6.2 AS EMPRESAS EXPLORADORAS DE COMBUSTVEIS FSSEIS E A SUSTENTABILIDADE

    A ameaa de crise ambiental em decorrncia das mudanas climticas, provvel resultado da alta concentrao de Gases Efeito Estufa (GEE) na atmosfera terrestre, principalmente pelo acmulo em decorrncia das emisses pela queima de combustveis fsseis, pode causar desestabilizaes nos padres climticos e gerar riscos s formas atuais de vida no planeta.

    A responsabilidade pela utilizao de combustveis derivados de petrleo, gs natural e carvo mineral de todos, pois apesar de serem feitas muitas crticas s matrizes energticas atuais, poucos esto dispostos a pagar mais caro por energia mais limpa ou renovvel durante uma possvel fase de transio. O exemplo disso est na escolha do combustvel utilizado para abastecer os veculos de motor flex no Brasil, que funcionam tanto com gasolina como com etanol. Na grande maioria das vezes, o consumidor faz a sua escolha de acordo com o preo a ser pago e no pelo impacto que um ou outro causa ao meio ambiente.

    Apesar disso, crescente a presso popular para que governos e empresas privadas procurem direcionar suas polticas no sentido de substituir os combustveis fsseis por fontes de energia renovveis e de menor impacto ao meio ambiente, alm dos reclamos para pesquisas e incentivos em desenvolv-las para torn-las mais acessveis e utilizveis em larga escala.

    Alm dos impactos ambientais causados pela emisso dos GEEs, a explorao de combustveis fsseis traz outros riscos e danos ambientais de grande magnitude. Prospeco de petrleo em plataformas martimas podem causar acidentes graves, como o que foi observado em 2011 no Golfo do Mxico, com uma plataforma operada pela empresa British Petroleum, assim como em transportes como o acidente que ocorreu em 1989 com o navio petroleiro da Exxon Corporation, no Alasca. Sem contar os acidentes por vazamentos em oleodutos terrestres que contaminam solo e

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    cursos dgua. Ainda podem ser citados os estragos proporcionados pela extrao de carvo mineral e a prpria poluio atmosfrica causada pela queima desses combustveis.

    Todos esses aspectos tornam as multinacionais exploradoras dos combustveis fsseis alvos de crticas e associaes de suas imagens com poluio. Isso tem levado a empresas como a Petrobras a investir em projetos visando maior sustentabilidade ambiental. Como outras empresas do ramo, ela busca uma identidade mais ligada produo energtica, em especial de fontes limpas e renovveis.

    [...] Os gigantes do petrleo anunciam investimentos vultosos em energia renovvel e metas ambiciosas na reduo de emisses na tentativa de mudar sua imagem pblica, desgastada

    por dcadas na liderana da emisso de CO2. [...] raro encontrar, hoje, uma empresa deste setor disposta a ostentar o estigmatizado nome de sua principal atividade (seja explorao de petrleo, seja de gs). Todas querem ser reconhecidas, principalmente, como empresas de energia.

    [...] Ao menos no plano da retrica, representantes dos mais diversos setores empresariais esforam-se em demonstrar que os custos ambientais deixaram de ser vistos como um mal

    necessrio para serem encarados como parte integrante do negcio. (VINHA, 2010, p. 183)

    No relatrio de sustentabilidade a Petrobras apresenta sua misso: atuar de forma segura e rentvel, com responsabilidade social e ambiental, nos mercados nacional e internacional, fornecendo produtos e servios adequados s necessidades dos clientes e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos pases onde atua (PETROBRAS, 2011). De certo, isso expressa a preocupao da empresa com a questo da sustentabilidade, a ser verificada, no entanto, em sua gesto cotidiana.

    6.3 O HISTRICO DAS PUBLICAES PETROBRAS

    A Petrobras uma empresa de sociedade annima de capital aberto e de economia mista sob controle do governo brasileiro, por meio do Ministrio de Minas e Energia. Fundada no ano de 1953 a mais importante petrolfera e lder no mercado brasileiro nesse setor, atuando nos segmentos de explorao e produo, refino, comercializao e transporte de leo, gs natural, petroqumica, distribuio de derivados, energia eltrica e outras fontes renovveis de energia como biocombustveis. (PETROBRAS, 2011)

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    O primeiro ano em que a empresa publicou seu relatrio de sustentabilidade com as Diretrizes GRI foi em 2003 referente ao ano de 2002. Nesse ano, apenas quatro empresas no Brasil, segundo o relatrio oficial do GRI, publicaram relatrios, sendo a Petrobras uma delas. Na ocasio a verso das diretrizes ainda era a G2.

    Desde ento, foram publicados relatrios de sustentabilidade baseados nas diretrizes GRI anualmente, sendo que em 2007, ano base 2006, foi publicado o primeiro na atual verso G3, no nvel de aplicao A+ e nessa mesma classificao ocorre desde ento.

    6.4 O NVEL DA APLICAO DO RELATRIO DE SUSTENTABILIDADE PETROBRAS 2010

    Em 2010 o relatrio de sustentabilidade da Petrobras foi publicado com o nvel de aplicao A+, sendo assim, o relatrio contempla todos os indicadores de desempenho definidos como essenciais (nvel A), e o mesmo foi submetido auditoria externa (smbolo + frente do A). Essa auditoria foi realizada pela empresa KPMG Auditores Independentes, e as concluses finais esto reproduzidas abaixo:

    Com base em nossa reviso, no temos conhecimento de qualquer modificao relevante

    que deva ser feita nas informaes de sustentabilidade divulgadas no Relatrio de

    Sustentabilidade da Petrobras, relativo ao exerccio findo em 31 de dezembro de 2010, para

    que o mesmo esteja preparado de acordo com as diretrizes GRI-G3 e com os registros e arquivos que serviram de base para a sua preparao. (PETROBRAS, 2011)

    O relatrio est disponvel na internet, em formato conhecido como PDF, que pode ser obtido no site www.petrobras.com.br/rs2010. Algumas informaes podem ser obtidas numa verso on line, que se encontra no mesmo site da empresa.

    6.5 ANLISE GERAL DO RELATRIO DE SUSTENTABILIDADE DA PETROBRAS 2010

    Sero tecidas consideraes sobre os quatro pontos priorizados anteriormente em 6.1, e considerados importantes no relatrio Petrobras (2010), a saber:

    Informaes sobre o perfil da organizao e formas de gesto

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    O processo de materialidade de contedo para elaborao do relatrio Os dez temas apontados pela empresa e stakeholders como os mais prioritrios na

    questo da sustentabilidade Os indicadores de desempenho relatados de forma parcial

    6.5.1 Perfil da organizao atuao corporativa na viso estratgica e formas de gesto

    Alm de se propor a atender as diretrizes do GRI, o Relatrio de Sustentabilidade do ano de 2010 da Petrobras tambm se prope a comunicar o cumprimento dos dez princpios do Pacto Global da Organizao das Naes Unidas (ONU), da qual a empresa signatria.

    O relatrio composto por uma parte inicial que transmite aos leitores o perfil de atuao da organizao, sua misso, a viso do que a empresa almeja como meta para o ano de 2020 e seus principais valores. Os mesmos esto transcritos abaixo:

    Desenvolvimento Sustentvel

    Integrao

    Resultados Prontido para mudanas Empreendedorismo e Inovao tica e Transparncia Respeito vida Diversidade humana e cultural Pessoas

    Orgulho de ser Petrobras

    Observa-se que, dentro dos valores que a organizao preconiza, h forte apelo ao desenvolvimento sustentvel, sendo este o primeiro dos valores apontados e ainda fortalecido com outros, enfocando, principalmente, os aspectos sociais e a tica.

    Nesse tpico, conforme orienta as diretrizes GRI, h uma explicao sobre sua linha de atuao, porm bastante focada no mercado brasileiro, fazendo pouca meno aos negcios do mercado externo.

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    Como em grande parte dos relatrios baseados nas Diretrizes GRI por diferentes empresas, este convida o leitor, constantemente, a visitar o site oficial da empresa na internet para obter mais informaes.

    O perfil de governana da Petrobras descrito com as funes dos conselhos, diretorias e comits que compem o quadro de gesto da empresa. H, ainda, um organograma hierrquico grfico ilustrando a composio do quadro gestor.

    Quanto viso estratgica da organizao em relao ao desenvolvimento sustentvel, observa-se claramente que, durante os diferentes estgios de desenvolvimento de produtos e nas operaes do grupo, h preocupao em promov-lo. Porm, pela gigantesca dimenso da organizao, com forte diversidade de atividades, sendo a grande maioria possuidoras de muitos aspectos e impactos ambientais, sociais e econmicos nos mercados onde atua, verifica-se que os planos estratgicos para promoo do desenvolvimento sustentvel poderiam ser mais bem explorados. Na anlise do relatrio, houve inclinao dvida se todos os impactos significativos possuem o tratamento que deveriam. Um exemplo disso a preveno de vazamentos. Para as operaes de explorao de petrleo e gs no meio martimo, h um grande descritivo da preocupao estratgica da companhia com o tema, porm no se percebe a mesma energia dispensada para operaes como transporte de combustvel.

    A Petrobras no responsvel pelas polticas de consumo de combustveis fsseis, porm como a empresa possui tambm operaes que envolvem produo de combustveis renovveis, principalmente de biocombustveis, observou-se a oportunidade (no aproveitada) do relatrio demonstrar se h esforos, no sentido de gerar influncia no mercado consumidor e nas polticas pblicas, a fim de promover uma migrao mais veloz da matriz energtica de fsseis para renovveis. O relatrio traz estratgia de aumento de produo para atender demandas para biocombustveis, conforme uma necessidade j existente no mercado, o que j positivo, mas para o porte da empresa se espera mais empenho em ajudar o desenvolvimento nessa rea. Entende-se que o objetivo maior de uma organizao empresarial que opera no mercado capitalista manter sua sustentabilidade financeira, proporcionando lucro aos seus acionistas. Mas, h de se observar que h um forte posicionamento nas comunicaes da empresa de que a Petrobras est comprometida com o desenvolvimento sustentvel. Segundo os conceitos do tripple botton line, os quais o framework GRI se apoia, poderia se esperar mais iniciativas relatadas, a fim de fomentar o

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    desenvolvimento econmico juntamente com o social e preservando o mximo possvel o meio ambiente, principalmente o capital natural no caso de uma empresa de energia.

    Referente viso estratgica em relao ao desenvolvimento sustentvel, outro ponto positivo que merece destaque o discurso sobre os planos de gerenciamento especficos nas trs esferas do desenvolvimento sustentvel. Em especial na rea ambiental, com nfase a programas de eficincia energtica, emisses atmosfricas, proteo biodiversidade e gesto de resduos.

    A organizao tambm demonstra utilizar o princpio da precauo, principalmente para o desenvolvimento de novos produtos e implantao de novos empreendimentos, dando ateno especial s suas responsabilidades com a segurana nacional, pela sade das pessoas e pela preservao do meio ambiente.

    Observa-se, portanto, a preocupao em apresentar uma imagem de que a organizao tem comprometimento com a sustentabilidade, porm, no so em todos os aspectos que a empresa oferece exemplos convincentes. As oportunidades de melhoria observadas no relatrio sero apresentadas no final desse item.

    6.5.2 Os limites abordados pelo relatrio de sustentabilidade Petrobras

    O contedo do relatrio se refere s atividades que a organizao opera e suas subsidirias - Petrobras Distribuidora, Petrobras Qumica S.A. (Petroquisa), Petrobras Biocombustveis, Petrobras Transportes S.A. (Transpetro), Liquigs e Refinaria Alberto Pasqualini (Refap). Essas operaes esto presentes no territrio brasileiro e em outros 29 pases.

    Seguindo as orientaes Diretrizes GRI (2006), foi elaborada uma matriz de materialidade, norteando assim os temas prioritrios a serem tratados no contedo do relatrio. Abaixo, encontram-se os dez temas priorizados, de acordo com a produo da matriz:

    1. Gesto de riscos 2. Energias alternativas e renovveis

    3. Reduo e gerenciamento de emisses 4. Preveno de acidentes 5. Contribuio para o desenvolvimento local

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    6. Impacto nas comunidades locais 7. Prestao de contas e transparncia 8. Gesto, poltica e viabilizao do Pr-Sal 9. Pesquisa e desenvolvimento / inovao tecnolgica 10. Engajamento e dilogo com pblicos de interesse

    Segundo explicaes contidas no prprio relatrio, a matriz de materialidade foi produzida a partir do cruzamento das percepes dos principais pblicos de interesse: empregados, investidores, fornecedores, comunidades, formadores de opinio, especialistas e poder pblico, entre outros (PETROBRAS, 2011). No h, porm, maiores detalhes sobre os processos utilizados para se capturar essas percepes junto aos stakeholders e traduzidas para a elaborao da matriz.

    O autor considera importante que relatrios desse tipo sejam transparentes nesse processo, j que dizem respeito ao escopo do contedo do relato. Uma vez que a organizao, tendenciosamente, deseje evitar informar certos temas, ela pode simplesmente influenciar para que os mesmos no sejam priorizados, justificando dessa forma que esses sejam pouco ou nada mencionados. H de se observar, porm, que h um captulo especfico sobre os processos de engajamento e dilogos da empresa com os pblicos de interesse. Os procedimentos de comunicao com stakeholders em destaque so o sistema de monitoramento da imagem corporativa, monitor de responsabilidade social corporativa, monitor de alinhamento estratgico. Esses processos podem ter subsidiado informaes ao processo de elaborao da matriz de materialidade, mas mesmo nesse caso, considera-se importante ter sido descrito em linhas gerais que isso ocorreu e de que forma.

    Considerando a premissa de que a matriz de materialidade produzida para apoiar a elaborao do contedo do relatrio de sustentabilidade da Petrobras para o ano de 2010 esteja traduzindo, de fato, os dez principais temas segundo os prprios stakeholders, faz-se a seguir uma reflexo sobre como cada um dos temas tratado no relatrio.

    6.5.2.1 Gesto de Risco

    H um captulo especial, dentro da estratgia da organizao, sobre gesto de risco. O foco da preocupao, segundo Petrobras (2011) so os fatores que causam impactos nos resultados corporativos e exigem constante monitoramento em funo das metas de crescimento. Observa-se que a empresa est preocupada com os riscos que possam afetar a sua sade financeira e a sua

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    imagem. Por isso h ateno especial aos que possam abalar o meio ambiente provocado pelas suas operaes. O relatrio afirma que a empresa emprega o princpio da precauo quanto a riscos ambientais, principalmente aqueles que possam afetar a sade humana.

    Dessa forma, a empresa demonstra tratar o tema de gerenciamento de riscos de forma sistmica. Porm, luz da discusso sobre sustentabilidade desenvolvida nos itens anteriores, na qual se enfatiza uma viso mais abrangente desse conceito, observa-se que faltam evidncias no relatrio mencionando se h e quais so suas principais bases e processos, visando mitigar impactos negativos em diferentes comunidades. Tendo em vista os perfis das operaes da organizao, essa exerce forte influncia, tanto positiva como negativa, em comunidades das mais diversas culturas, condies financeiras, poder poltico entre outras. Exemplos a serem citados so as populaes pesqueiras nas reas costeiras, ou na selva amaznica, que so comumente afetadas de forma acentuada quando um novo empreendimento implantado. Em geral, os entornos dessas comunidades possuem riscos de maior escala que outras reas, como as urbanas, onde h maior infraestrutura. Portanto, as reas isoladas necessitam de um gerenciamento de riscos diferenciado.

    6.5.2.2 Energias alternativas e renovveis

    Em Petrobras (2011), a empresa comunica que est compromissada com uso de energia renovvel. Informa que, por utilizao do biodiesel produzido, foram evitadas emisses da ordem de um milho de toneladas de CO2 no ano de 2010. Destaca projetos como o desenvolvimento de utilizao de insumos como leo de palma no estado do Par, visando produo de biocombustvel, assim como a converso de uma usina termeltrica em Juiz de Fora para operar com etanol, alm do gs natural. Menciona ainda outro projeto para a refinaria de Duque de Caxias, que utilizar biogs produzido por aterro sanitrio como insumo energtico.

    Destaque tambm deve ser dado ao fato da empresa propiciar a utilizao de gs natural para gerao de energia eltrica. A organizao via extrao de gs de reservas fsseis ou via transporte desse a longa distncia atravs de gasodutos, viabiliza a utilizao desse combustvel como alternativa para a produo de energia eltrica. Essa alternativa possibilita um plano de contingncia para sustentar o crescimento do pas, frente s sazonais quedas de produo de hidreltricas em funo de condies hidrolgicas desfavorveis. O gs natural, mesmo sendo um combustvel fssil, considerado uma boa alternativa de transio da era dos fsseis para os renovveis, que viro principalmente de fontes solares, elicas ou hdricas. Ele menos nocivo ao meio ambiente do

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    que outros fsseis como o petrleo e seus derivados e o carvo mineral, principalmente em relao ao acmulo excessivo de gases efeito estufa na atmosfera.

    Outro ponto a ressaltar refere-se aos biocombustveis para os quais a Petrobrs tem uma subsidiria especfica. O relatrio demonstra os investimentos financeiros e as operaes implantadas pela companhia que desenvolvem e operam principalmente as produes de etanol e biodiesel. Explica-se que as operaes de produo de biodiesel esto em diferentes regies do pas, o que bom do ponto de vista da sustentabilidade, uma vez que possibilita o desenvolvimento de forma democrtica. As usinas que produzem este biodiesel possuem o selo fornecido pelo Ministrio de Desenvolvimento Agrrio denominado Combustvel Social. Este selo destina-se aos produtores de biodiesel que promovem a incluso social e o desenvolvimento regional, por meio de gerao de emprego e de renda para os agricultores familiares do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Isso relevante, pois proporciona grandes oportunidades para projetos socioambientais. H que se considerar, porm, que a Petrobras est somente seguindo as orientaes das diretrizes da poltica pblica brasileira atravs do Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel (PNPB).

    O autor considera que a organizao publicadora do relatrio est respondendo s necessidades do mercado. No h fortes menes de iniciativa de fomento para utilizao em maior escala de energia renovvel para alm das diretrizes governamentais e demandas de mercado, apesar de haver nessa rea um potencial relevante para investimentos mais intensos em produo de combustveis de fontes renovveis. Dessa forma, entende-se que a Petrobras colocaria em prtica, com nfase, aes mais coerentes com sua proposta de praticar o desenvolvimento sustentvel.

    6.5.2.3 Reduo e gerenciamento de emisses

    O aspecto ambiental referente s emisses atmosfricas por parte das empresas do grupo Petrobras , sem dvida, um dos que causa os maiores impactos negativos ao meio ambiente e sade humana. Tanto em suas operaes na explorao e produo de petrleo e gs natural, como de refino para produo de seus derivados e transportes. A utilizao dos produtos, principalmente dos combustveis para transporte e gerao de energia, como diesel, gasolina, querosene, etanol, entre outros, responsvel por impactos significativos nos meios antrpico e natural, devido s emisses de poluentes. Entre os impactos esto as mudanas climticas, devido principalmente s emisses de carbono; a chuva cida devido s emisses de dixido de enxofre (SO2); problemas respiratrios

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    devido a materiais particulados emitidos pelos combustveis e os processos de refino (fontes fugitivas); smog fotoqumico resultante das formaes de poluentes secundrios, originados de poluentes primrios como particulados, dixido de nitrognio (NO2) e Compostos Orgnico Volteis (COVs).

    Os impactos devidos s emisses provenientes da produo e consumo de combustveis so dos mais significativos. Faz todo sentido, portanto, que a preocupao com a reduo e gerenciamento das emisses esteja entre os dez mais importantes temas em relao sustentabilidade no relatrio da Petrobras.

    As Diretrizes GRI (2006), pela importncia do tema emisses, possuem indicadores especficos, na maioria tratada como essenciais, que so apresentados em Petrobras (2011) na forma de tabelas, fornecendo dados em valores absolutos das emisses atmosfricas efetuadas pelas empresas do grupo.

    Vale ressaltar que o relatrio traz tratativas adicionais ao tema, com demonstraes que a companhia tem foco no assunto em suas formulaes estratgicas, seja para implantao de novos empreendimentos ou em melhorias nos j existentes, no sentido de gerenciar e diminuir suas emisses de forma integrada, atravs dos seus sistemas de gesto.

    As tabelas com os valores absolutos das emisses apresentam nmeros referentes aos ltimos cinco anos em relao a 2010. O relatrio mostra tambm uma relao entre os valores investidos em eficincia energtica e gerenciamento de emisses, contra a respectiva economia de consumo de combustveis nas operaes em barris de leo equivalente (boed). Traz ainda seus principais projetos com objetivos de reduo de emisses, sejam eles para cumprir determinaes legais, como a diminuio do enxofre na composio com leo diesel, sejam eles por pr-atividade da organizao como pesquisas avanadas para desenvolver tecnologia para separao, captura e armazenamento de CO2 durante os processos de explorao e produo de petrleo.

    Outro destaque a demonstrao de que em alguns aspectos a empresa possui viso sistmica, elemento vital para o desenvolvimento de aes sustentveis mais consistentes e eficazes. Prova disso so as iniciativas de aperfeioamento logstico, que visam desenvolver um programa de ampliao da infraestrutura dutoviria e hidroviria do Brasil, para transporte do combustvel renovvel da regio produtora do Centro-Oeste e de So Paulo para os mercados consumidores

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    localizados no pas e no exterior (PETROBRAS, 2011). Essa iniciativa, alm de reduzir custos, reduz tambm as emisses atmosfricas de poluentes em operaes de transporte.

    Apesar do tema ser tratado pela Petrobras como prioritrio, praticamente todas suas operaes esto ligadas, em sua essncia, em emisses, principalmente as atmosfricas. O foco demonstrado majoritariamente o de reduo e mitigao. Para a converso de rumo em direo sustentabilidade, baseada no tripple botton line, faz-se necessrio que, empresas como a Petrobras, procurem programas mais desafiadores, com objetivos de encontrar alternativas ao uso de combustveis fsseis.

    6.5.2.4 Preveno de acidentes

    As preocupaes com acidentes so facilmente compreensveis quando o que se avalia so as operaes de uma empresa.

    Em relao ao isso, a Petrobras traz no relatrio contedo especfico. Alm dos indicadores estipulados pelas Diretrizes GRI, h uma tabela contendo os indicadores de vazamentos de leos e derivados e dos acidentes ocupacionais nos ltimos cinco anos. Na tabela constam nmeros absolutos, sem comparaes de produo versus ocorrncias.

    A empresa comunica a preocupao com o tema na sua estratgia de negcios, quando menciona que reconhecida internacionalmente por possuir excelncia nas suas operaes em guas profundas, com sofisticado contedo tcnico e tecnolgico que tem na segurana sua principal marca (PETROBRAS, 2011). Afirma obedecer aos mais rigorosos procedimentos de preveno de acidentes, detalhando alguns processos como sendo os mais avanados, no sentido de prevenir ou mesmo estancar vazamentos rapidamente em casos de acidentes. O treinamento interno de seus colaboradores em segurana tambm uma bandeira que a empresa ostenta, sendo essa rea foco de grandes investimentos.

    Novamente, observa-se uma forte preocupao quanto ao gerenciamento de riscos de acidentes em poos de explorao de petrleo e gs. O mesmo nvel de preocupao, no entanto, no observado para outras operaes, as quais possuem riscos elevadssimos, como os processos de refino de petrleo, transporte e armazenamento de leo e outros combustveis.

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    Considerando-se as preocupaes com a explorao em reas martimas, compreensvel a ateno dada s prevenes com os acidentes nesse tipo de operao. Seria importante, porm, que a empresa tambm fornecesse demonstraes, de igual prioridade, na preveno de acidentes nas outras atividades de alto impacto em caso de desastres.

    6.5.2.5 Contribuio para o desenvolvimento local e impacto nas comunidades locais

    O potencial de contribuio ao desenvolvimento em reas remotas devido s caractersticas dos negcios da organizao muito grande, talvez o maior entre todas as empresas brasileiras. H investimentos em reas como serto nordestino, reas costeiras de pouca a