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TAXA DE INOVAÇÃO BRUTA E A TRAJETÓRIA TECNOLÓGICA DA PETROBRAS: UMA INTRODUÇÃO À ABORDAGEM SISTÊMICA, NEO- SCHUMPETERIANA E COMPLEXA Fred Leite Siqueira CAMPOS Professor Doutor do Curso de Administração em Agronegócio, Faculdade Educacional de Medianeira (FACEMED) - Medianeira, Paraná, Brasil Carlos Dias ALVES Professor Mestre do Curso de Administração em Agronegócio, Faculdade Educacional de Medianeira (FACEMED) - Medianeira, Paraná, Brasil

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TAXA DE INOVAÇÃO BRUTA E A TRAJETÓRIA TECNOLÓGICA DA

PETROBRAS: UMA INTRODUÇÃO À ABORDAGEM SISTÊMICA, NEO-SCHUMPETERIANA E COMPLEXA

Fred Leite Siqueira CAMPOS Professor Doutor do Curso de Administração em Agronegócio, Faculdade Educacional de Medianeira

(FACEMED) - Medianeira, Paraná, Brasil

Carlos Dias ALVES Professor Mestre do Curso de Administração em Agronegócio, Faculdade Educacional de Medianeira

(FACEMED) - Medianeira, Paraná, Brasil

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Resumo:

A dinâmica da inovação depende da aprendizagem e da difusão da tecnologia. Assim surgiu o conceito de sistema de inovação como o conjunto de agentes, vinculados à atividade inovadora, localmente. Aqui, objetiva-se calcular a taxa de inovação bruta, bem como apresentar a dinâmica da transição tecnológica da PETROBRAS, por meio de um modelo matemático. Serão evidenciadas a forma pela qual o paradigma tecnológico da empresa será explorado, as forças que o moldam, e suas características dinâmicas (irreversibilidade, múltiplos equil íbrios, estabil idade múltipla e dependência de caminhos). Perceber-se-á que o comportamento tecnológico da PETROBRAS advém de fatores sistêmicos que a circundam. Palavras-chave: Inovação bruta, Trajetória tecnológica, PETROBRAS, Neo-schumpeteriano, Complexidade.

Abstract: The dynamic of innovation depends on the learning process and the diffusion of

technology. The concept of innovation system is as the complex of agents with strong local character. On this sense, the rate of gross innovation wil l be computed as well as wil l be presented and analyzed the dynamic of technological transition of PETROBRAS. We will provide evidences on the form through which the technological paradigm of the target-company of this study wil l be explored and its dynamic characteristics. It will be perceived that the behavior of PETROBRAS comes from several systemic factors that surround the company. Keywords: Innovation, Technological trajectory, PETROBRAS, Neo-Schumpeterian, Complexity.

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1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é calcular a taxa de inovação bruta e verificar a dinâmica

pela qual o paradigma tecnológico da PETROBRAS é explorado, bem como as forças econômicas, sociais e institucionais que o moldam. Para tanto, será util izado um modelo sistêmico neo-schumpeteriano complexo – apresentado em uma equação em diferença-finita não-linear.

A escolha da PETROBRAS deveu-se, dentre outros, ao fato da referida firma ser líder nacional no ramo de extração e produção de petróleo e gás natural, bem como pelo fato de apresentar uma grande inserção internacional (com atividades de produção realizadas em terra e em alto mar, em vários continentes, tais como a América do Sul e a África).

A teoria evolucionista neo-schumpeteriana destaca a não-linearidade e a instabilidade das mudanças tecnológicas como fontes da variedade e complexidade da dinâmica econômica, em vez de entendê-las como fenômenos transitórios e perturbadores, como o faz o mainstream da teoria econômica. O enfoque evolucionário trata a mudança econômica como um processo irreversível, em que o tempo e a dinâmica complexa desempenham um papel essencial na compreensão da mesma.

A abordagem dinâmica neo-schumpeteriana permite elaborar o conceito de sistemas de inovação como uma construção institucional que impulsiona o progresso técnico. Além disso, partindo-se do ponto de vista que a economia é um sistema evolutivo que se encontra submetido sempre a mudanças devido a forças internas (derivadas em graus variados das mudanças técnicas) e externas, torna-se relativamente fácil mostrar que a análise da dinâmica econômica pode ser expressa por meio da matemática dos sistemas complexos cinegéticos. 2. SISTEMAS DE INOVAÇÃO

As diferenças de produtividade entre os vários agentes econômicos e a evidência

empírica do acelerado progresso das inovações tecnológicas em produtos e processos que baseiam e sustentam a competitividade e a sobrevivência das firmas dentro da dinâmica capitalista, têm sido a preocupação básica de muitos pesquisadores em Economia. Inclusive, essa tradição teve um de seus marcos principais com a elaboração do conceito de “destruição criadora” desenvolvido por J. A. Schumpeter (1883-1950) na primeira metade do século XX.

Dentro da abordagem neo-schumpeteriana ou da teoria evolucionária do desenvolvimento tecnológico, há evidências empíricas que sugerem que a dinâmica da inovação, base do processo de transformação econômica, depende não só dos recursos destinados para esse fim, mas, sobretudo, do processo de aprendizagem (que é cumulativo, sistêmico e idiossincrático) e da difusão da tecnologia. A base da aprendizagem está no conhecimento que, por esse enfoque, pode ser classificado como: universal ou específico, articulado ou tácito e público ou privado (DOSI, 1988). Já o processo de difusão tecnológica, acelera-se e se difunde com maior rapidez e eficiência quando o desenvolvimento tecnológico se realiza nas empresas. Sem barreiras, a natureza da tecnologia, incorporada nas pessoas e nas firmas, configura um peso importante à participação de outras instituições (como agências públicas, universidades e instituições financeiras) que por sua vez, também garantem a dinâmica do processo inovativo.

Portanto, o caráter central adquirido pelo conhecimento, pela aprendizagem e pela difusão para a dinâmica da inovação está diretamente vinculado ao desempenho das instituições presentes nas economias modernas. De fato, as instituições reproduzem, administram, regulam e coordenam as condições para a interação dos agentes e organizações nas quais é possível desenvolver processos de aprendizagem e transformá-los em atividades inovadoras.

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O sistema de inovação é definido como um conjunto de agentes e instituições (grandes

e pequenas firmas, públicas e privadas; universidades e agências governamentais; etc.), articuladas com base em práticas sociais, vinculadas à atividade inovadora tendo forte influência do meio, sendo as firmas privadas o coração de todo o sistema. As inter-relações dos agentes e instituições determinam o poder e a eficiência da produção, assim como a difusão e o uso do novo conhecimento, útil economicamente, marca o estado de desenvolvimento tecnológico local.

As ligações entre essas unidades são feitas por meio de: a) fluxos financeiros provenientes de fundos públicos e privados; b) ligações legais e políticas como as regras de propriedade intelectual, determinação

de padrões técnicos e políticas locais de promoção, geralmente coordenadas pelas unidades estatais;

c) fluxos tecnológicos, científicos e de informação que direcionam o mercado local; d) e, finalmente, fluxos sociais como o deslocamento de pessoal, que ocorre não só das

universidades para as indústrias como também de firmas para firmas. O desenvolvimento do conceito de sistema de inovação pressupõe, ainda, uma

abordagem teórica distinta da ortodoxia econômica. A unidade de análise é a firma inovadora, definida como uma organização ativa, bastante distinta da firma representativa dos modelos de equilíbrio geral. A firma inovadora, buscando a realização de lucros, atua com racionalidade restrita (ou limitada), utilizando-se de rotinas e mecanismos de busca, adotando estratégias e tecnologias que serão (ou não) sancionadas por mecanismos de seleção tanto mercantis quanto sócio-institucionais (PEREZ, 1986).

Agora, é importante ressaltar que um sistema de inovação tem de incorporar em seu funcionamento uma dimensão de articulação institucional própria, sem a qual não se constroem as relações entre os agentes do sistema, para se alcançar objetivos delineados. São as particularidades, características de cada sistema, que definem o caráter específico das instituições e/ou dos arranjos institucionais que são formados para a operação e concretização das políticas próprias de cada local, isto é, da sua diversidade.

Por outro lado, as oportunidades tecnológicas com as quais se defrontam as firmas estão intrinsecamente ligadas à dinâmica de estabelecimento e superação de paradigmas e trajetórias. Existe um inter-relacionamento dinâmico da ciência com a tecnologia utilizável pela produção, um processo mais complexo e multifacetado do que a visão tradicional de uma seleção pelos produtos, em função dos movimentos da demanda ou de um estoque livremente disponível de conhecimentos tecnológicos. Inicialmente, a seleção de determinado paradigma, ou seja, o início da seqüência dinâmica do processo de mudança técnica, é realizada de forma tal que a ação dos mecanismos de mercado é fraca. As inovações radicais (que consistem na introdução de um processo ou produto verdadeiramente novo capaz de causar uma ruptura na lógica do desenvolvimento tecnológico; e que se diferenciam das inovações incrementais que são as melhorias sucessivas, a que são submetidos os produtos e processos), e que estão na origem de um novo paradigma, dependem muito das novas oportunidades abertas pelos avanços científicos ou por fortes obstáculos encontrados no desenvolvimento de determinadas trajetórias tecnológicas (esse conceito sugere que as mudanças nas inovações tecnológicas possuem uma lógica própria).

Essas trajetórias oferecem caminhos mais ou menos delimitados para a operação dos mecanismos de seleção do mercado. Assim, a ação das forças econômicas encontraria seu espaço delimitado pelas trajetórias possíveis. Há aí uma formulação em que se configura um espaço para atuação das forças econômicas, mas sobre um leque de opções de certa forma limitado pelas possibilidades tecnológicas. As trajetórias tecnológicas, nesse contexto, confundir-se-iam com as opções dos processos, não totalmente aleatórios, de busca e seleção,

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pois as firmas devem buscar determinadas estratégias definidas dentro dos contornos de um paradigma estável (PEREZ, 1986).

Por fim (e devido principalmente às semelhanças nos métodos de abordagem), a essência da dinâmica das trajetórias tecnológicas, no interior dos sistemas de inovação, pode ser capturada pela análise dos modelos não-lineares ou complexos. Assim, no tópico a seguir, serão apresentados alguns princípios básicos da Teoria Complexa.

3. A TEORIA DA COMPLEXIDADE

Conforme colocado em Gleiser (2002), por meio da história, da pesquisa e do

experimento percebeu-se que o comportamento econômico-social muitas vezes tende a ser mais complexo do que a simples aplicação do método reducionista (ortodoxo) pode prever. Certos sistemas podem exibir propriedades que emergem da interação entre suas partes. Neste caso, a soma das partes já não é mais igual ao todo e a idéia de se entender um sistema desmembrando-se suas partes individuais não se aplica neste contexto.

O estudo da Teoria da Complexidade foi um passo importante para que o reconhecimento de que no mundo da Economia as coisas são consideravelmente mais complexas do que a visão clássica determinística pode perceber. Sistemas dinâmicos complexos são modelados matematicamente por equações não-lineares que exibem certas propriedades, como, por exemplo, dependência das condições iniciais ou efeito feedback. Os sistemas que descrevem a realidade econômica podem ser compostos por um número muito grande de equações que por sua vez são compostas por um número muito grande de variáveis, cada uma com um peso específico (que pode ser fixo ou variar com o tempo).

As próprias variáveis que formam as equações, por sua vez, podem deixar de ser relevantes, ao se mudar a estrutura do sistema. Além disso, deve-se levar em consideração as inter-relações dos diferentes sistemas econômicos que estão interagindo em nível global e que são interdependentes. Tentar modelar estes sistemas econômicos de forma mecânica ajudou os economistas do passado. Porém, este método deixa de lado aspectos importantes do processo econômico, tais como: retornos crescentes, equilíbrios múltiplos, trajetórias dependentes, tecnologia e instituições.

Por esta razão, é necessário encarar o fenômeno econômico como um sistema evolutivo e dinâmico, em vez de um sistema em busca do crescimento equil ibrado estável. Para sistemas dinâmicos complexos, equilíbrio é igual a morte, o fim de sua evolução. Para se adaptar e evoluir, o sistema deve estar à margem do caos, o ponto em que se é mais criativo, flexível e ágil, sem se perder sua estrutura.

Portanto, a incapacidade apresentada por alguns sistemas dinâmicos não-lineares de reterem as características de sua dinâmica, quando sujeitos a pequenas perturbações ou a mudanças nas funções envolvidas na sua definição, fez surgir o conceito de complexidade que se refere a sistemas que, por apresentarem instabilidade estrutural no sentido acima descrito, desdobram-se de acordo com uma dinâmica mais rica do que a dos sistemas mais simples, como os lineares.

Percebe-se, ainda, que, em nível local ou micro – por exemplo, na relação entre compradores e vendedores de um determinado mercado –, sistemas complexos se auto-organizam para poderem evoluir trocando informações com o meio. Neste caso, eles seriam considerados sistemas abertos. Porém, em nível global ou macro, ou seja, quando se considera o conjunto de todos os mercados de bens ou ativos, o conjunto de todos os compradores e vendedores que atuam nestes mercados e os demais fatores que influenciam na mudança dos preços e reações dos agentes, tem-se um sistema fechado. É fácil perceber, então, que sistemas abertos trocam informações e energia com o meio para melhor poderem se adaptar a novas circunstâncias. As forças primárias que motivam o sistema advêm do meio, ou seja, o

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ambiente é o que determina a estrutura interna e organizacional, além de ditar as mudanças. Contudo, em sistemas complexos, a sua dinâmica interna também tem grande importância na elaboração da estrutura, mudança e adaptabilidade do sistema. Sistemas complexos são mais resistentes a perturbações causadas pelo meio. Eles conseguem reter sua estrutura devido à sua capacidade de mapear as informações do meio e de reagir de acordo com o que aprenderam no passado. Em virtude de sua capacidade de mapear a informação do meio para referência futura, relações persistentes podem evoluir ou se auto-organizar.

O funcionamento de um sistema complexo depende da natureza e do arranjo entre as suas partes e pode mudar caso novas partes sejam adicionadas, eliminadas ou rearranjadas. Tais sistemas possuem propriedades emergentes, pois, não são encontradas intrinsecamente em nenhuma de suas partes individuais e existem somente em níveis mais altos de observação. Qualquer comportamento atribuído ao sistema como um todo e que não pode ser encontrado em suas partes individuais é um exemplo de uma propriedade emergente.

O estudo de sistemas dinâmicos complexos não pode ser feito de forma reducionista, pois, ao se separarem as partes, o sistema perde suas características, que só podem ser observadas de forma holística. À interação entre as partes individuais, em nível local, emerge algum tipo de propriedade global, que não poderia ser prevista com o que se sabe sobre as partes individuais. Esta propriedade global (output), por sua vez, volta a ser um dos inputs do sistema, em uma forma de feedback. Assim, as partes individuais afetam o comportamento do sistema como um todo, mas também são afetadas por ele. O efeito feedback é então responsável pela adaptabili dade do sistema ao meio.

4. MODELO COMPLEXO NEO-SCHUMPETERIANO APLICADO À PETROBRAS

Nessa seção, pretende-se determinar a forma constitutiva da trajetória tecnológica da

PETROBRAS. Para tanto, percorre-se, na seqüência desta, as seguintes etapas: a) o cálculo do valor da taxa de inovação bruta (i) da empresa; e, b) a aplicação do valor calculado de i a um modelo proposto para a geração da curva de exploração de suas oportunidades tecnológicas.

4.1 Determinação do valor da taxa de inovação bruta (i) da PETROBRAS

O cálculo do valor da taxa de inovação bruta (i) da PETROBRAS, que é o resultado da soma do valor da taxa de inovação incremental (ii) e do valor da taxa de inovação radical (ir), será empiricamente determinada, neste trabalho, como resultado da média aritmética simples dos valores: da variação do número de patentes depositadas e/ou registradas (ia); da variação no nível geral de produção de petróleo e gás natural (ip); da variação no número de mão-de-obra treinada (ih); da variação no nível de investimentos totais (iv); e, da variação nos custos totais internacionais associados à produção de petróleo (ic), conforme apresentado na equação 01, colocada a seguir.

i = (ia + ip + iv + ih + ic)/5 Equação – 01 Com relação à variação e ao número total de patentes depositadas e/ou registradas (ia),

considerou-se apenas o número bruto total dos pedidos apresentados e/ou registrados pela PETROBRAS junto aos órgãos responsáveis pelo registro de patentes (tanto em nível nacional como em nível internacional). Aqui, não foram feitas diferenciações entre quaisquer tipos de pedidos de patentes e todos foram considerados de igual peso. Os valores em questão foram retirados de Albuquerque e Cassiolato (2001) e, também, dos dados fornecidos pela PETROBRAS (2004).

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Por seu turno, a variação do nível geral de produção de petróleo e gás natural (ip) foi

conseguida com os dados fornecidos em PETROBRAS (2004). A mesma é resultado da média aritmética simples da produção bruta de petróleo (ipp) – considerando todos os tipos de óleos crus extraídos; todas as formas de extração: em terra e em alto mar; e todos os territórios de extração: nacional ou estrangeiro –, mais o nível de variação bruta da produção de gás natural (ign).

No que concerne à variação do número de mão-de-obra treinada (ih), utili zou-se os dados fornecidos pela PETROBRAS (2004). O treinamento aqui considerado é a soma de todos os treinamentos de pessoal da empresa, o que inclui: treinamento endógeno à empresa; treinamento exógeno à empresa; treinamento técnico; treinamento em nível de pós-graduação, realizado em uma instituição de nível superior (universidade), dentre outros.

Já a variação do nível de investimentos totais (iv) foi conseguida analisando-se os dados relativos às mudanças totais somadas dos investimentos governamentais (públicos) e privados.

Por fim, a variação nos custos totais internacionais, associada à produção de petróleo (ic), foi levantada considerando-se os valores-padrão internacionais. As informações foram consideradas em custos totais quadrimestrais médios, e foram retiradas de PETROBRAS (2004).

No cálculo final do valor de i, considerou-se o valor de ic negativo, tendo-se em vista que os custos se associam negativamente à capacidade inovativa da firma. Por motivos contrários, os demais valores (ia, ih, iv e ip) entram no cálculo final de i com ponderações positivas.

Vale destacar, também, que os cálculos dos valores das variáveis acima citadas (ia, ip, iv, ih e ic), que comporão o resultado da determinação de i, são todos referentes às variações ocorridas no período de 1999 até 2003. Esse período é coincidente com o fim do período de monopólio exercido pela PETROBRAS. Assim, os valores calculados poderão ser melhor representativos das taxas de exploração das oportunidades tecnológicas da empresa.

Porém, como deve ter sido percebido, são precedentes à determinação do valor de i, os cálculos referentes aos valores de: ia, ip, iv, ih e ic. Esses cálculos serão feitos a seguir e levarão em conta as seguintes determinações:

a) cada um dos valores – ia, ip, iv, ih e ic (que serão, a partir de agora, tratados de forma genérica por ix, ou seja, ix representará o cálculo de cada uma das variáveis ia, ip, iv, ih ou ic, respectivamente) será determinado em duas etapas. Em primeiro lugar, determina-se o resultado do ix – o valor médio da variação da variável (em cada caso), por meio da equação 02, colocada a seguir:

ix = • ix/5 Equação – 02 Em que: • ix – é o somatório dos valores brutos anuais (dados) da variável (em cada caso)1. b) por fim, em segundo lugar, cada um dos valores de ix será ponderado com relação

ao valor inicial da série de dados (i0)2, como mostrado pela equação 03, colocada a seguir.

Determina-se, assim, o iz – que representa o valor final para cada variável ia, ip, iv, ih ou ic e que será util izado na equação 01, à determinação de i.

iz = ix/i0 Equação – 03

1 O número 5 representa a quantidade de anos (dados) usados para o cálculo dos valores médios dos ix. Ou seja, os dados referentes aos anos de 1999 até 2003. 2 O valor inicial da série de dados será sempre o valor da variável para o ano de 1999.

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Em que: i0 – é o valor inicial da série de dados utilizados, para cada variável ia, ip, iv, ih ou ic. Deve-se perceber que, os valores finais iz serão todos determinados em forma de

proporcionalidade (com relação ao valor inicial da série de dados – i0), em cada um dos casos ia, ip, iv, ih ou ic. Tal comportamento é importante para o modelo dinâmico proposto, pois, explicita a “velocidade” de variação de cada termo estudado3.

Portanto, os valores finais de cada uma das variáveis (ia, ip, iv, ih e ic, ou seja, iz pela generalização apresentada anteriormente) são os calculados a seguir:

Conforme já apresentado, o valor da variação do número de patentes depositadas e/ou registradas (ia) iguala-se à razão do seu valor médio (entre 1999 e 2003) pelo valor inicial de referência (o número de patentes depositadas e/ou registradas pela PETROBRAS, para o ano de 1999). Assim, ia = 162/137, o que leva para um valor final4: ia = 1,182.

Ainda, o valor da variação no nível geral de produção de petróleo e gás natural (ip) determina-se pela média aritmética simples da variação da produção de petróleo (ipp) com a variação da produção de gás natural (ign), conforme apresentado na equação 04, colocada à frente:

ip = (ipp + ign)/2 Equação – 04 Sendo que a ponderação dos valores de ipp é igual5 a 1.355.659,7/1.131.835,8, o que

leva a um ipp = 1,198. Por outro lado, o ign é igual6 a 36.795,8/31.388,0, o que leva a um ign = 1,172.

Assim, pela equação 04, ip = 1,185. Já o valor da variação no número de mão-de-obra treinada (ih) foi encontrado por meio

dos dados presentes no Gráfico 01. Dessa forma, o somatório dos valores de ih é igual a (29.874 + 27.937 + 27.617 +

29.839 + 32.114)/5, ou seja, 29.472.2. Logo, o valor final de ih será determinado pela razão 29.472.2 /29.874, o que leva a um valor final de ih = 0,987.

Também, o valor da variação no nível de investimentos totais (iv) foi determinado por meio dos dados presentes no Gráfico 02.

Dessa forma, o somatório dos valores de iv é igual a (4.259,2 + 4,290,1 + 4.448,0 + 6.693,7 + 6.012,0)/5, ou seja, 5.140,6. Logo, o valor final de iv será determinado pela razão 5.140,6/4.259,2, o que leva a um valor final de iv = 1,207.

Por fim, o valor da variação nos custos totais internacionais associados à produção de petróleo (ic) foi encontrado por meio dos dados presentes no Gráfico 03.

3 A velocidade de variação das variáveis é um pré-requisito importante para modelos dinâmicos (inclusive os não-lineares), pois, evidencia a taxa de variação do mesmo. Ver a respeito em Nicolis e Prigogine, 1989. Ainda, as explicações para as escolhas das formas das equações 02 e 03 são, mais uma vez, sua simplicidade de uso e a sua adequação ao modelo aqui proposto. 4 O valor médio do número de patentes depositadas e/ou registradas pela PETROBRAS (entre 1999 e 2003) foi retirado de Albuquerque e Cassiolato (2001, p. 21) e complementado pelos dados de PETROBRAS (2004). Já o valor inicial de referência (o número de patentes depositadas e/ou registradas pela PETROBRAS, para o ano de 1999) foi retirado de Campos (2001). 5 Dados retirados de Campos (2004). 6 Dados retirados de PETROBRAS (2004).

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GRÁFICO 01

Em 2001 não inclui empregados da REFAP SA. (* ) Segundo semestre de 2002. Fonte: PETROBRAS (2004).

GRÁFICO 02

Fonte: PETROBRAS (2004).

GRÁFICO 03

Fonte: PETROBRAS (2004).

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Dessa forma, encontra-se o valor de ic = 1,062. Agora, aplicando-se a equação 01, para o cálculo do i, tem-se que: i = (1,182 + 1,185 + 1,207 + 0,987 - 1,062)/5 O que leva, por conseguinte, ao resultado final da taxa de inovação bruta para a

PETROBRAS como sendo i = 0,7. Na próxima etapa, aplica-se o valor de i encontrado para se gerar a curva de

oportunidades (trajetórias) tecnológicas da PETROBRAS. 4.2 Geração da trajetór ia tecnológica da PETROBRAS com i = 0,7

Admitindo-se que a dinâmica de exploração de um determinado paradigma tecnológico seja dado pela seguinte equação em diferença-finita de primeira ordem não-linear7 descrito pela equação 05:

Ut + 1 = (1 + iT)Ut - iUt

2 Equação – 05 Sendo que: U indica o grau de exploração das oportunidades tecnológicas oferecidas

pelo paradigma tecnológico. Por sua vez, i representa a taxa de inovação bruta do sistema e T é uma constante que indica o grau de oportunidades tecnológicas inerentes a cada paradigma tecnológico.

Além disso, assumindo-se que o grau de exploração das oportunidades tecnológicas de um determinado paradigma é plenamente concretizado quando T = 1 (admitindo-se, assim, a utilização de 100% das oportunidades da tecnologia). Também, considerando, para o caso da PETROBRAS, que U1 = 0,5 (ou seja, que no momento inicial de verificação da exploração técnica 50% das oportunidades do paradigma já tenham sido exploradas8).

Portanto, a dinâmica do sistema, isto é, a forma pela qual o seu paradigma tecnológico será explorado, dependerá da taxa de inovação bruta, que nesse caso é i = 0,7. Logo, com a substituição, na equação 05, do valor encontrado de i, a forma constitutiva da equação que determinará a trajetória tecnológica da PETROBRAS é a apresentada na equação 06, colocada abaixo:

Ut + 1 = (1 + 0,7)Ut – (0,7)Ut

2 Equação – 06 Para o valor de i = 0,7, as explorações tecnológicas apresentam um comportamento

sem descontinuidades e há a integralização do paradigma vigente. A Figura 1, mostrada à frente, retrata a dinâmica de exploração integral do paradigma (ou seja, T = 1, para i = 0,7).

Considerando-se que o paradigma tecnológico é plenamente explorado quando se tem que Ut + 1 = T, a taxa de inovação correspondente ao valor i = 0,7 (linha azul na Figura 01) permite que se aproveite a totalidade das oportunidades tecnológicas propiciadas pelo paradigma, representado por T = 1, de maneira rápida, sem oscilações e continuamente. Tal comportamento é o esperado e o existente na “economia real” das explorações tecnológicas apresentadas pela PETROBRAS.

Porém, o comportamento apresentado poderia ser diferente. Admitindo-se, por exemplo, valores de i entre o intervalo 0 • i • 2 (intervalo em que o sistema apresenta um comportamento sem descontinuidades), o sistema tende a explorar integralmente o paradigma 7 Modelo proposto em Bueno (1996), reformulado e adaptado para este trabalho. 8 Essa suposição parece ser bastante razoável, tendo-se em vista, dentre outras: a) o tempo de existência da PETROBRAS; e, b) o tempo de uso do petróleo como combustível (em nível internacional).

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vigente em múltiplos equilíbrios e com velocidades diferentes. A Figura 2, à frente, retrata a dinâmica de exploração integral do paradigma (ou seja, T = 1) para valores de i = 1,1 (seqüência 1), i = 0,7 (seqüência 2) e i = 2 (seqüência 3).

O valor i = 0,7 (linha vermelha na Figura 02) permite que se aproveitem as oportunidades tecnológicas mais rapidamente do que sob qualquer outra taxa (dentro do intervalo proposto acima). Taxas inferiores, assim como taxas superiores, também permitam a exploração completa do paradigma tecnológico. Mas, por vezes, com um caminho para T qualitativamente idêntico ao obtido para i = 0,7, embora quantitativamente mais lento, ou então, produzindo uma dinâmica distinta. Para o caso de i = 2, por exemplo, é como se o comportamento dos agentes forçasse o sistema acima de suas possibil idades, introduzindo inovações radicais que ainda não têm chance de competir com as técnicas existentes, em razão de não contarem com as externalidades derivadas da introdução conjunta de inovações correlatas, como ocorre quando um novo paradigma tecnológico se afirma, ou então, por não ter havido, ainda, uma influência determinante no comportamento da estrutura dos preços relativos.

FIGURA 01

TRAJETÓRIA TECNOLÓGICA DA PETROBRAS

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1 4 7 10 13 16 19 22

Ut

Ut+

1 PETROBRASi=0,7

FONTE: Pesquisa direta – 2004.

Bueno (1996) afirma que é perfeitamente razoável o pensamento de um mundo

econômico não-estático, no entanto, formalmente, o sistema só pode evoluir se não prevalecer uma situação de equilíbrio geral estrito. Assim, para o modelo apresentado, um incremento mínimo na taxa de inversão bruta a partir do nível superior a i = 2, é capaz de impulsionar o sistema para um outro paradigma tecnológico. Parece que acima desse ponto se gera uma massa crítica de inovações capazes de produzir as externalidades que tornam a nova técnica claramente superior à antiga. Mas essa capacidade é apenas potencial, visto que se não forem asseguradas outras condições, como a adaptação do aparato institucional sugerida pela idéia de sistemas de inovação, o novo paradigma pode não vingar.

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FIGURA 02

TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25Ut

Ut+1

Seqüência1

Seqüência2

Seqüência3

FONTE: Pesquisa direta – 2004.

Para i um pouco superior a 2, por exemplo igual a 2,01; o sistema sofre uma

bifurcação, isto significa que neste ponto o sistema perde sua estabilidade estrutural (apresentando estabilidade múltipla), ou seja, perde a capacidade de reter as características qualitativas de sua dinâmica anterior passando a oscilar indefinidamente entre os valores T = 1,0474 e T = 0,9476, conforme mostrado esquematicamente na Figura 3, à frente.

Atingindo o ponto de bifurcação, o sistema, dependendo das circunstâncias econômicas, sociais e institucionais pode ir por um dos dois caminhos apresentados na Figura 3. O último caso, que apresenta grau de oportunidade tecnológica menor que uma unidade poderia ocorrer, por exemplo, em razão de uma adesão em massa a tecnologias do novo paradigma que depois se revelam não factíveis economicamente, ou por uma incapacidade do sistema de inovação de manter um ambiente favorável ao prosseguimento da exploração do novo paradigma. As irreversibilidades causadas pelo sucateamento de parte do equipamento e a interrupção do processo de aprendizagem imanentes ao antigo paradigma impediriam, nesse caso, o retorno às condições anteriores.

FIGURA 03

FONTE: Pesquisa direta – 2004.

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Suponha-se, entretanto, que T seja 1,0474. Agora a taxa de inovação bruta que

proporciona a exploração mais rápida do novo paradigma, isto é, a trajetória tecnológica mais eficiente, é dada por i maior que a unidade. O ambiente mais rico em oportunidades, aberto pelo novo paradigma, é compatível com uma taxa de inovação maior. Mas um outro fenômeno interessante acontece. Viu-se que uma flutuação na taxa de inovação bruta acima do nível 2 já era capaz de provocar uma bifurcação; agora este valor crítico é 1,93. Isto poderia significar que o sistema tornou-se mais apto para a inovação, de modo que, nas novas circunstâncias, uma modificação menor na variável de controle i já é capaz de provocar um novo salto evolutivo.

Esse fenômeno reflete uma característica fundamental dos sistemas evolutivos que é o fato de sua dinâmica ser dependente do caminho. Isto significa que as modificações estruturais obtidas em cada instante, além de serem irreversíveis, condicionam os resultados produzidos pelo comportamento individual nos momentos seguintes da trajetória evolutiva.

Para valores de i maiores ou iguais a 2,5 e menores ou iguais a 2,57; um comportamento muito menos ordenado começa a emergir. Para i igual a exatamente 2,5; ocorre uma bifurcação dupla. O sistema passa a oscilar entre os seguintes valores Ut + 1 = 1,2250 e 0,5359 e entre Ut + 1 = 1,1577 e 0,7012. Em i = 2,55, ocorre uma bifurcação quádrupla, e assim por diante, até que para valores superiores a 2,57 o comportamento torna-se absolutamente caótico, isto é, aparentemente destituído de qualquer padrão observável.

Para os neo-schumpeterianos ou evolucionistas econômicos, a economia não se comporte de maneira caótica devido às assimetrias interfirmas, tecnológicas e de procedimento, que caracterizam uma situação de desequilíbrio para os neoclássicos. Para essa escola econômica, eles não são apenas dados da realidade, mas elementos essenciais para a evolução dos sistemas econômicos. Percebe-se que, mesmo partindo de hipóteses de racionalidade restrita e descartando a metodologia equil ibrista, a interação entre os agentes econômicos não produz o caos, mas dá-se segundo padrões ordenados. Isto é, o comportamento dos agentes é tal que mantém a variável independente i, em uma determinada faixa (para o exemplo, entre os valores 0 e 2,5) de modo a ser possível a exploração dos paradigmas tecnológicos ou, em certas circunstâncias e de forma teorizável, sua superação. A evolução econômica, portanto, embora não se processe segundo trajetórias de equilíbrio, produz padrões teorizáveis, aos quais os evolucionistas denominam estados que se auto-organizam e que se configuram nas trajetórias tecnológicas.

Um fator de estabil idade para i encontra-se na relativa inflexibilidade do aparato institucional, que configura os sistemas de inovação, em adaptar-se as modificações no paradigma técnico-econômico. Também, deve-se lembrar que as características próprias do processo de geração e difusão de tecnologia impõem aos agentes um comportamento racional, mas não no sentido neoclássico, no processo de introdução de inovações. Assim, os mecanismos de seleção via mercado, os ganhos de produtividade advindos da aprendizagem derivada do uso contínuo de uma certa tecnologia (learning by doing) e as condições de apropriabilidade de lucros extraordinários gerados pelas inovações, definidas principalmente pela estrutura de mercado do qual a firma participa, definem uma certa taxa de inovação bruta que flutua dentro de uma faixa que gera padrões globais ordenados (BUENO, 1996).

Nesse sentido, pode-se explicar a dinâmica apresentada pela exploração das oportunidades tecnológicas da PETROBRAS (mostradas na Figura 01) como resultante: a) do monopólio exercido, por décadas, pela empresa (o que lhe assegurou, dentre outros, ganhos de escala); b) o grau micro e macroeconômico de interação da firma com o seu “meio sistêmico” (garantido-lhe a aprendizagem necessária às inovações); e, c) por seus desempenhos apresentados: na geração de inovação (via novas patentes), no treinamento de seu pessoal, nos investimentos realizados (inclusive em laboratórios e pesquisa e desenvolvimento), e nos níveis crescente de produção (e produtividade).

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5. CONCLUSÃO

Unindo-se os resultados apresentados pela análise da complexidade com as

características propostas pela teoria evolucionista referentes à dinâmica tecnológica no interior dos sistemas de inovação, podem-se sistematizar os resultados da variação das mudanças econômicas reais.

Deve-se lembrar que, nos sistemas de inovação, os processos passados (no sentido dos caminhos escolhidos para a dinâmica da inovação) tendem a influenciar o presente. Essa característica é conhecida como dependência de caminhos e é percebida pela dinâmica das trajetórias tecnológicas. Além disso, mesmo apresentando um alto grau de especificidades locais, os sistemas podem ter uma multiplicidade de configurações institucionais estáveis, como as apresentadas, no exemplo, que garantiam a estabilidade para os níveis de inovação bruta i = 0,7 ou i = 2.

O número de estados possíveis de equilíbrio, após uma transição, é maior ou igual ao que existia antes da transição. Por isso, ainda que o estado padrão inicial de equil íbrio seja único, levando-se a uma configuração institucional particular, o número de estados estáveis poderá ser maior que um após a transição. Essa propriedade é chamada de estabilidade múltipla e pôde ser percebida pelas bifurcações apresentadas pela dinâmica do modelo quando a taxa de inovação bruta foi considerada no intervalo entre i = 2 e i = 2,5.

Há, ainda, irreversibilidades na dinâmica apresentada pelas mudanças tecnológicas nos sistemas de inovação presentes na impossibilidade de volta a um paradigma técnico anterior. Essa irreversibilidade é resultante das modificações causadas no âmbito econômico, social e institucional pela adoção de uma dada trajetória tecnológica. Assim, os agentes econômicos individuais ao explorarem o ambiente tecnológico (e conseqüentemente o econômico) existente, sob incerteza, acabam por transformá-lo contínua e irreversivelmente.

Verificou-se, que o valor da taxa de inovação bruta (i) da PETROBRAS, que foi ponderada como resultado da média aritmética simples dos valores: da variação do número de patentes depositadas e/ou registradas (ia); da variação no nível geral de produção de petróleo e gás natural (ip); da variação no número de mão-de-obra treinada (ih); da variação no nível de investimentos totais (iv); e, da variação nos custos totais internacionais associados à produção de petróleo (ic), foi de i = 0,7. Nesse patamar, houve o aproveitamento da totalidade das oportunidades tecnológicas propiciadas pelo paradigma, representado por T = 1, de maneira rápida, sem oscilações e continuamente. Tal comportamento é o apresentado pela PETROBRAS.

Portanto, as explicações para o comportamento das trajetórias tecnológicas da PETROBRAS parecem advir dos vários fatores sistêmicos próprios que circundam a empresa, dentre eles: o monopólio estatal de décadas, os investimentos crescentes e voltados à geração de novas tecnologias (que garantem novas patentes), e ao pessoal treinado e capacitado que forma a firma. Assim, aplicando-se um modelo matemático de dinâmica não-linear e calculando-se o valor da taxa de inovação bruta, pôde-se perceber a forma constitutiva da trajetória tecnológica da PETROBRAS. E mais, pôde-se verificar que sua dinâmica é complexa e dependente dos fatores sistêmicos que a envolvem.

REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Eduardo da Motta e; CASSIOLATO, José Eduardo. (2001) - Less-developed countries and innovation in health: notes and data about the brazilian casa. Texto para Discussão 156. Belo Horizonte, UFMG.

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BUENO, Newton P. (1996) - Complexidade e evolução: uma nota sobre a estrutura dos modelos neo-schumpeterianos. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 50, n. 4, p. 487-498. CAMPOS, Fred Leite Siqueira Campos (2001) - Alguns elementos constitutivos do sistema local de inovação potiguar na década de 1990: um estudo das grandes empresas industriais no Estado do Rio Grande do Norte. 225 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. ______. (2004) - Sistema de inovação e complexidade: uma abordagem quantitativa com enfoque neo-schumpeteriano à dinâmica da trajetória tecnológica da PETROBRAS. 125 f. Tese – Departamento de Economia e Finanças, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande. DOSI, Giovanni. (1988) - The nature of the innovation process. In: _____ et al. (eds.). Technical change and economic theory. London: Printer Publishers, p. 221-238. GLEISER, Ilan (2002) - Caos e complexidade. Rio de Janeiro: Campus. NICOLIS, Grégoire; PRIGOGINE, Ilya (1989) - Exploring complexity: an introduction. New York: W. H. Freeman and company. PEREZ, Carlota. (1986) - Las nuevas tecnologías: una visíon de conjunto. In: OMINAMI, Carlos (org.). La tercera revolutión industral: impactos internacionalis del actual viraje tecnológico. Buenos Aires: Grupo Editor Latinoamericano, p. 43-89. PETROBRAS. (2004) - Petrobras 50 anos e relações com investidor. Rio de Janeiro. Disponível em < http://www2.petrobras.com.br/portugues/index.asp>. Acesso em: 30 jun. 2004.