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© António Pais 1 TÉCNICA DE DEFINIÇÃO DE OBJECTIVOS Por António Pais PARTE I Gestão por Objectivos e Fixação de Metas de Desempenho Gestão por Objectivos A gestão por objectivos desenvolve-se através da definição de objectivos e do controlo e avaliação dos resultados do desempenho face a esses objectivos. Uma vez definidos os objectivos, o desempenho é avaliado em termos dos resultados que realizam os objectivos. O grau de realização dos objectivos determina o grau de sucesso do desempenho. A Figura 9 ilustra a ideia da gestão por objectivos. Figura 9 – Gestão por objectivos Quando estamos perante um grau inferior de realização de objectivos é porque os resultados do desempenho não permitiram atingir os objectivos Resultados Objectivos Gestão por Objectivos Definição de Objectivos Desempenho da Organização

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TÉCNICA DE DEFINIÇÃO DE OBJECTIVOS Por António Pais

PARTE I

Gestão por Objectivos e Fixação de Metas de Desempenho

Gestão por Objectivos

A gestão por objectivos desenvolve-se através da definição de objectivos e

do controlo e avaliação dos resultados do desempenho face a esses

objectivos. Uma vez definidos os objectivos, o desempenho é avaliado em

termos dos resultados que realizam os objectivos. O grau de realização dos

objectivos determina o grau de sucesso do desempenho. A Figura 9 ilustra a

ideia da gestão por objectivos.

Figura 9 – Gestão por objectivos

Quando estamos perante um grau inferior de realização de objectivos é

porque os resultados do desempenho não permitiram atingir os objectivos

Resultados Objectivos

Gestão por Objectivos

Definição de

Objectivos

Desempenho da

Organização

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fixados. Os desvios negativos dos resultados face aos objectivos indiciam

que o desempenho ficou aquém do que se esperava. Esta situação gera a

surpresa própria à frustração de expectativas e constitui uma oportunidade de

aprendizagem e mudança organizacional. Quando esta situação ocorre e

permanece o objectivo, há que proceder à correcção dos desvios. Para tal é

fundamental entrar num processo de aprendizagem sobre as razões que

justificam o desempenho inferior e, consequentemente, desenvolver a

mudança organizacional que assegure um desempenho capaz de cumprir os

objectivos. É a mudança que permite a adaptação e o êxito da organização.

Sempre que os resultados de desempenho confirmam os objectivos fixados,

não existem motivos para proceder a mudanças organizacionais ou à

interferência do líder no desempenho. É por isso que se deve entender a

gestão de objectivos como uma gestão por excepção. Ou seja, na gestão por excepção a intervenção dos líderes e da sua gestão só se justifica

quando ocorrem desvios negativos dos resultados face aos objectivos

fixados, de modo a corrigir o desempenho.

Neste sentido, este tipo de gestão promove a delegação de decisão e a

autonomia do desempenho, que só deve ser interrompida no momento em

que se verificam desempenhos inferiores. As pessoas que se comprometem

com objectivos são responsáveis pela sua realização, mas têm liberdade

para escolher os meios ou as formas de os alcançar.

Aos líderes cabe o papel de empenharem, motivarem, capacitarem e

responsabilizarem os seus colaboradores para a prossecução de objectivos.

Liberto da atenção sobre o exercício das tarefas dos seus colaboradores, o

líder centra-se em monitorar e controlar os resultados e assegurar a

disponibilidade dos recursos necessários ao desempenho. A liderança

orientada por objectivos permite desenvolver novos líderes capazes de

fomentarem desempenhos individuais e de equipa de excelência.

Definição de Objectivos: Intenções, Indicadores de Medida e Metas de Desempenho

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Na definição de objectivos, é comum confundirem-se os conceitos de

objectivo, indicador de medida e meta. Fala-se de objectivos como sendo

metas ou destas como sendo indicadores de medida. Na verdade, esta

confusão tem alguma razão de ser, uma vez que não faz sentido utilizar

qualquer um destes conceitos sem os restantes estarem implicados. A um

objectivo deve corresponder um ou mais indicadores e a cada um destes

uma meta.

Assim a definição de objectivos consiste no estabelecimento de objectivos

de desempenho revelados pelos respectivos indicadores de medida e cuja

realização, em cada um dos referidos indicadores, se afere face a metas de

desempenho a prosseguir por um dado responsável num determinado

período de tempo.

A ideia de que um objectivo pode ter mais que um indicador e uma meta

justifica-se pelo facto de que podem ser vários os resultados de desempenho

a concorrer para realizar o objectivo. A Figura 10 mostra a lógica integrada

destes conceitos na definição de objectivos.

Figura 10 – Definição de objectivos

Objectivo 1 Indicador de medida 1.1.

Indicador de medida 1.2.

Indicador de medida 1.3.

…..

Meta 1.1.1.

Meta 1.2.1.

Meta 1.3.1.

…..

Objectivo 2 Indicador de medida 2.1.

Indicador de medida 2.2.

Indicador de medida 2.3.

…..

Meta 2.1.1.

Meta 2.2.1.

Meta 2.3.1.

…..

…..

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Mas vejamos o que é que cada um destes conceitos significa e como se

relacionam entre si:

Objectivo: é um enunciado de uma intenção geral de realização através do

desempenho;

Indicador de medida: consiste num indício do grau de existência de uma

dada propriedade de desempenho (termo de comparação) dado por uma

determinada métrica;

Meta: é um resultado esperado, aferido em termos de um indicador de

medida, a realizar por um dado responsável num determinado período de

tempo.

De seguida dão-se alguns exemplos de definição de objectivos, na sua

formulação mais simples, numa organização pública:

Objectivo Indicadores de Medida Metas

Aumentar as receitas próprias Valor da receita própria 1.000.000 €

Taxa de crescimento da receita em percentagem

10%

Pugnar por economia orçamental Desvio orçamental em euros 250.00 €

Desvio orçamental em percentagem -5.00%

Melhorar a satisfação dos utentes

Escala de valorização da satisfação de utentes (5 níveis: insatisfeitos, pouco, satisfeitos, muito e totalmente satisfeitos) Muito satisfeitos

Taxa de crescimento das reclamações em percentagem -20%

Melhorar a qualidade percebida de prestação de serviços a utentes

Escala de valorização da qualidade percebida (5 níveis: sem, baixa, média, elevada e excelente)

Elevada

qualidade

Reduzir o tempo de resposta a utentes

Número de dias úteis de resposta a pedidos de utentes 5 dias

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Reduzir o tempo de tratamento de processos

Número de horas de tratamento de processos 7 horas

Melhorar a qualidade de tratamento dos processos

Taxa de erros com processos em percentagem 2.00%

Taxa de processos devolvidos por erros pelos utentes 1.00%

Melhorar as competências técnicas dos trabalhadores

Número de horas de formação técnica com aproveitamento 100 horas

Melhorar o conhecimento organizacional

Número de boas práticas partilhadas na organização 15

Número de casos de estudo partilhados na organização 10

Melhorar a liderança por resultados

Taxa média de realização de objectivos em percentagem 90%

Incrementar a adesão a uma nova aplicação informática

Grau de adesão à nova aplicação informática em percentagem 75%

De notar nos exemplos dados que, como foi referido, um objectivo pode ter

um ou mais indicadores de medida de desempenho a que correspondem as

respectivas metas de desempenho.

Meta como Grau de Melhoria de Desempenho

O primeiro desafio prático na implementação da gestão por objectivos é a

definição de objectivos. Uma vez que esta se centra em resultados planeados

face a resultados alcançados, a definição de objectivos deve ir da intenção

geral à meta a realizar, sob a forma de resultados esperados.

Vimos, anteriormente, que cada organização deve começar por definir os

seus objectivos estratégicos e desdobrá-los em cascata na organização, de

modo a assegurar que acrescentam valor às actividades por ela

desenvolvida. Uma vez identificadas as intenções gerais de uma organização

(os seus objectivos), estas devem traduzir-se em metas a realizar ou

resultados esperados do desempenho individual e de equipa. Por sua vez, a

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fixação de metas implica estabelecer graus de melhoria de desempenho que

são avaliados em termos de indicadores de medida .

A fixação de metas para determinado desempenho só faz sentido quando se

conhecem os resultados correntes desse desempenho. Não é possível saber

para onde queremos ir, sem se saber onde estamos. É a partir dos resultados

correntes ou actuais que se pode determinar o grau de melhoria de

desempenho. A fixação de uma meta é o estabelecimento de um grau de

melhoria de desempenho. A Figura 1 traduz em esquema esta ideia.

Figura 1 – Fixação de Metas

Assim, podemos dizer que existem dois elementos interligados que devem

ser considerados na fixação de metas: primeiro, conhecer o resultado

corrente (R1c) e, a partir deste, estabelecer o grau de melhoria de

desempenho, de acordo com o qual fixamos a meta ou resultado esperado

(R2e). O grau de melhoria de desempenho implica que R2

e ≥ R1c . A

superioridade do resultado esperado relativamente ao resultado corrente

confirma que a fixação da meta corresponde a uma melhoria de

desempenho. Porém, sempre que o resultado corrente for o resultado de

desempenho máximo possível, o resultado esperado não pode ir mais além

Desempenho Resultado Corrente

(R1c)

Resultado Esperado

(R2e)

Momento 1 Momento 2

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do que o resultado corrente (R2e = R1

c). Esta possibilidade admite que a

melhoria de desempenho é também conservar o limite máximo possível do

resultado desse mesmo desempenho. De assinalar que esta situação, em

termos técnicos, só deve ocorre na prática quando um determinado

desempenho esgota as possibilidades de melhoria, ainda que a manutenção,

no melhor interesse da organização, do resultado limite obtido exija um

esforço considerável do colaborador, fazendo uso do limite máximo da sua

capacidade de desempenho.

A fixação da meta beneficia do conhecimento da evolução dos resultados

passados. A tendência destes resultados permite conhecer o padrão da sua

evolução e, com base nele, procurar diagnosticar as causas que o justificam.

Este conhecimento pode permitir uma colocação enquadrada e mais

consciente da meta de desempenho. Todavia, quando não existem registos

históricos, nem é possível recolhê-los no presente, é indispensável pelo

menos determinar o resultado corrente. É o resultado corrente que permite

fixar a meta em termos de resultado esperado. Seja como for, em muitos

casos, para fixar a meta, é fundamental, antes de mais, conhecer o resultado

corrente, se bem que, como explicaremos, nem sempre é possível conhecer

o resultado real.

Primeiro, para tal é pressuposto que o resultado corrente seja determinado

com base no mesmo indicador de medida que afere o resultado esperado.

Ou seja, tem de haver um indicador de medida de desempenho a partir do

qual recolhemos e tratamos dados nos termos da sua métrica.

Segundo, para sabermos os resultados correntes houve que, durante o

período de aferição, recolher os dados. E se não houve recolha de dados?

Neste caso, ou a sua recolha é possível no presente ou não é possível.

Terceiro, se a recolha é possível, pode ser inviável do ponto vista económico

recolher a totalidade dos dados. Deste modo, pode-se apresentar como mais

aceitável a estimativa do resultado corrente a partir de uma amostra

estatisticamente significativa do universo de dados de possível recolha.

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Quarto, quando, na situação descrita, a recolha é impossível, a estimativa do

resultado corrente poderá ser realizada com base numa amostra de dados a

recolher. Durante um determinado período (uma semana, um mês, ou mais)

procede-se à recolha e tratamento dos dados e o resultado assim obtido é

extrapolado para o ano civil (se for esse o período de avaliação do respectivo

objectivo). O resultado assim estimado constitui o resultado corrente a partir

do qual se estabelece o grau de melhoria de desempenho. Este método de

estimativa do resultado corrente pode ser utilizado em alternativa à amostra

estatística, prevista no ponto anterior.

Quinto, se não se conhece o resultado corrente, sendo ou não possível

conhece-lo, existe sempre um último reduto como método de o estimar.

Estamos a referir-nos à estimativa por sentimento. Esta estimativa emerge do

conhecimento por experiência directa do desempenho que produziu o

resultado corrente. Ou seja, a estimativa por sentimento do resultado corrente

é aquele resultado que, quem tem a responsabilidade de fixar a meta, julga

ser o resultado mais provável. O grau de precisão desta estimativa pode ser

bastante baixa, recomendando-se que este “sentimento” seja sujeito a

confirmação por pares que conheçam a respectiva realidade de desempenho

e por aqueles que tiveram o desempenho responsável pela produção desse

mesmo resultado corrente. Da convergência de “sentimentos” depende a

maior fiabilidade desta estimativa.

É preferível a estimativa do resultado corrente, do que não ter qualquer

resultado de partida que permita avaliar o grau de desafio envolvido na

fixação da meta. Sabendo, no entanto, que certos métodos de estimação

podem ter um baixo nível de fiabilidade. E agora, sim, concentremo-nos na

tarefa propriamente dita de fixação da meta de desempenho.

Fixar a Meta ou o Resultado Esperado

A fixação da meta de desempenho é a tarefa mais delicada da gestão por

objectivos. A colocação da meta a um nível pouco ambicioso, porque de fácil

realização, não aproveita o potencial de melhoria de desempenho e é um

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fraco factor de motivação individual ou de equipa. A colocação da meta a um

nível demasiado ambicioso, porque de realização improvável, pressupõe uma

melhoria que não merece credibilidade, nem constitui factor de motivação

individual ou de equipa. Qualquer uma destas situações é de evitar, pois

traduz uma má utilização da gestão por objectivos.

As metas a alcançar podem constituir, dentro de determinados limites

credíveis de exigência de esforço, factores de motivação de desempenho. A

motivação tende a crescer com o incremento do desafio (ou da dificuldade de

atingir o objectivo) colocado pelas metas a alcançar; esse crescimento vai

diminuindo à medida que o desafio é maior; a partir de certo nível de

incremento do desafio, ele perde credibilidade, as pessoas deixam de confiar

na sua capacidade de ter um desempenho capaz de o realizar e a motivação

anula-se completamente. A figura abaixo ilustra graficamente esta ideia.

Figura 2 – Grau de Motivação por Objectivos

Dificuldade do Objectivo

Fácil Difícil

Motivação para

Alcançar o Objectivo

Baixa

Alta

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Este facto leva-nos, no intuito de evitar a fixação de metas inadequadas, a

estabelecer alguns princípios fundamentais na fixação do resultado esperado,

que de seguida se enunciam. Esses princípios são os seguintes:

Princípio de previsibilidade: a meta deve ser fixada de modo a ter em

consideração as condições do desempenho iniciais e as previstas no período

da sua realização.

Princípio de controlo: a meta deve ser fixada de modo a que o indivíduo ou

a equipa controle, se não a totalidade, pelo menos a maior parte das

condições, que lhe permitem atingir o resultado esperado.

Princípio de eficácia de esforço: a meta deve ser fixada tendo em

consideração o acréscimo de esforço necessário para atingir o resultado

esperado.

Princípio de inseparabilidade: a meta deve ser de equipa, sempre que não

for possível separar o contributo individual dos seus membros para a sua

realização.

Princípio de negociação: a fixação final do nível da meta de desempenho

deve ser acordada com quem assume a responsabilidade de a alcançar, de

modo a assegurar o seu compromisso e empenhamento.

Princípio de previsibilidade

É o desempenho que produz os resultados capazes de realizar a meta fixada.

Este desempenho individual ou de equipa é, contudo, condicionado pela

envolvente onde se produz e pela sua evolução no período da sua

realização. Ao nível interno, os recursos (humanos, orçamentais,

informáticos, etc.), os sistemas de gestão, os processos de trabalho e de

decisão, a estrutura organizacional, os estilos de liderança, entre outros,

constituem elementos que afectam directa ou indirectamente o desempenho

orientado por resultados. Ao nível externo, os factores condicionadores do

desempenho podem ser o padrão da procura pelos serviços prestados, o

padrão de comportamento da concorrência no e ao serviço público, a

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situação económica e social do país, as políticas públicas e as inovações

tecnológicas.

O princípio da previsibilidade estabelece que a fixação de metas deve ter

como pressupostos o estado destes factores internos e externos no momento

da fixação de metas, bem como a sua evolução previsível no período de

avaliação de desempenho. Qualquer alteração imponderável relativamente a

estes pressupostos muda as condições iniciais e previstas para o

desempenho orientado para resultados esperados. Esta situação é

susceptível de conduzir à revisão das metas fixadas ou, então, à criação de

soluções criativas que tornem viável a realização das metas predefinidas. É

este princípio que sustenta a única possibilidade técnica de revisão de metas.

Princípio de controlo

Uma vez estabelecidas as condições da envolvente que determinam o

desempenho em função de resultados esperados, é necessário assegurar

que os indivíduos ou as equipas controlem as demais condições necessárias

à prossecução e cumprimento das metas fixadas. Essas condições incluem,

designadamente, as competências cognitivas e comportamentais dos

indivíduos e a sua autonomia de decisão e acção.

Por um lado, quando se determina uma melhoria de desempenho, esta

pressupõe a existência de competências requeridas para o efeito. O mesmo

é dizer que para cumprir uma meta fixada é necessário que os indivíduos ou

as equipas detenham ou venham a adquirir as competências com potencial

de geração de resultados esperados. Caso contrário, o desafio colocado pela

meta torna-se irrealista e desmotivador. Por outro lado, se as decisões e

acções dos indivíduos ou das equipas estão dependentes de terceiros,

líderes ou outros colaboradores, o desempenho por estes realizado não é da

sua total responsabilidade. Compreende-se nesta dependência o poder de

decisão sobre os meios necessários para, através do desempenho individual

ou de equipa, prosseguir os seus objectivos.

Por isso, e de acordo com o princípio de controlo, quando se fixa uma meta,

o indivíduo ou equipa deve ter as competências requeridas e a autonomia de

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decisão e acção relativas ao desempenho que concorre para os resultados

esperados.

Princípio da eficácia de esforço

Este princípio estabelece que existe uma relação positiva e crescente entre

esforço e resultados do esforço: em condições iguais, mais esforço dá origem

a mais resultados. No entanto, uma dada lei empírica, que se verifica na

generalidade dos casos de desempenho humano, estabelece que a taxa de

eficácia do esforço é decrescente, isto é, o mesmo acréscimo de esforço

sucessivo produz acréscimos de resultados cada vez menores. Deste modo,

para o mesmo objectivo (por exemplo, de redução do tempo de tratamento de

processos), quando temos duas situações iniciais em que um dos resultados

correntes é superior a outro (no mesmo exemplo dado, 5 dias e 2 dias), o

mesmo acréscimo de resultados (grau de melhoria de desempenho: menos 1

dia) não implica um esforço de desempenho igual. Dito de outro modo, o

mesmo grau de esforço não produz o mesmo acréscimo de resultados, se

houver um resultado corrente superior a outro. Isto significa que o acréscimo

de resultados é decrescente com o grau de esforço, como é ilustrado na

figura abaixo.

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Figura 3 – Curva de Eficácia de Esforço de Desempenho

Esta curva justifica o princípio de eficácia de esforço, o qual estabelece que o

desafio colocado pela meta deve ter em consideração o nível de resultado

corrente. Com efeito, quando o resultado corrente se aproxima do resultado

máximo possível, iguais acréscimos de resultados exigem maior grau de

esforço. Por exemplo, um colaborador com um resultado corrente elevado em

termos taxa de erros com processos (30%) e com uma meta de 10 %, poderá

ter um esforço de desempenho idêntico a outro colaborador cujos resultados

corrente e meta são, respectivamente, de 10% e 5%.

Finalmente, faz parte ainda deste princípio o facto de que, para

desempenhos que visam o mesmo objectivo e partindo do mesmo resultado

corrente, um esforço igual da parte de diferentes indivíduos ou equipas poder

dar origem a resultados distintos. Duas pessoas, com o mesmo resultado

corrente, a fazer o mesmo esforço podem não produzir o mesmo acréscimo

de resultado. Ou, dizendo o mesmo noutros termos, dois ou mais indivíduos

podem não ter a mesma taxa de eficácia de esforço. A diferença entre

Acréscimo de Resultados

Grau de Esforço

0

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indivíduos ou equipas na sua taxa de eficácia de esforço deve determinar

diferenças no grau de melhoria de desempenho que lhes é exigido. Admitindo

que ambos partam do mesmo resultado corrente, os que têm maior eficácia

de esforço devem ter um grau de melhoria de desempenho superior àqueles

que tem menor eficácia de esforço. Se, pelo contrário, os indivíduos ou

equipas têm a mesma eficácia de esforço, então devem ter iguais graus de

melhoria de desempenho, se partirem do mesmo resultado corrente.

Estes princípio é fundamental à garantia da equidade e equilíbrio na fixação

de metas de desempenho entre colaboradores da mesma organização.

Princípio da inseparabilidade

Finalmente, o princípio da inseparabilidade. Quando não é possível isolar

numa equipa o desempenho individual na prossecução de uma dada meta,

isto é, o respectivo contributo mensurável para esse resultado esperado,

então essa meta deve constituir um objectivo de equipa ou partilhado por

todos os seus membros. Esta é a razão teórica para a existência de

objectivos de equipa. Mas é a razão prática que nos diz que é preciso

contrariar, com os objectivos de equipa, a fragmentação interna, a ameaça à

coesão das equipas e do espírito de grupo originadas pela existência apenas

de objectivos individuais. É, ainda, normal existirem metas comuns quando é

mais vantajoso medir os resultados ao nível de equipa do que ao nível

individual.

É exemplo de objectivo partilhado, nos termos deste princípio, as

reclamações gerais, cujas causas não é possível atribuir a um indivíduo em

particular e, portanto, são da responsabilidade de toda equipa objecto das

reclamações. Outros exemplos são todas as tarefas de grande complexidade

e para as quais contribuem diferentes pessoas em constante rotatividade de

responsabilidades ou funções, sem que se possa distinguir o contributo de

cada uma delas para os resultados produzidos. Esta situação verifica-se,

frequentemente, nos projectos em equipa e nas actividades de atendimento

ao público.

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Algumas considerações adicionais sobre os objectivos partilhados ou de

equipa:

a) Na realização de um objectivo de equipa não se pretende avaliar o

desempenho individual dos seus membros, mesmo que não se verifique

o princípio da inseparabilidade. O sucesso ou insucesso na sua

realização é partilhado de igual modo por todos os membros da equipa:

ou todos cumprem, ou todos não cumprem, ou todos superam o

objectivo. Não é desejável que tendo-se, por exemplo, incumprido um

objectivo de equipa, haja membros dessa equipa que o superaram,

outros que o cumpriram e outros, ainda, que o incumpriram.

b) Um objectivo de equipa não é um objectivo desdobrado. Um objectivo

desdobrado é caracterizado pela divisão do resultado esperado e da

responsabilidade para o alcançar entre diferentes indivíduos. Enquanto

um objectivo de equipa se caracteriza exactamente de modo contrário: o

resultado esperado é indivisível e a responsabilidade pelo seu alcance é

comum e solidária aos membros da equipa.

c) Um objectivo de equipa é um objectivo para uma equipa, que não é um

mero conjunto ou agregado de indivíduos. Uma equipa é efectivamente

um grupo de pessoas, mas desde que funcionem como uma verdadeira

equipa, articuladas entre si, coordenando e controlando as suas decisões

e acções, convergindo no seu esforço para uma finalidade comum.

Tipicamente, caracteriza-se por ter um espírito comum, ser um corpo

coeso, e que se movimenta e adapta em permanente interacção e

entreajuda.

d) Um objectivo de equipa é um objectivo para uma equipa funcional. Uma

condição essencial à funcionalidade de uma equipa é a dimensão

adequada à finalidade para a qual foi constituída. O subdimensionamento

de uma equipa pode comprometer, por capacidade insuficiente, a

realização da finalidade para a qual foi criada. Mas, uma equipa

sobredimensionada dificilmente funciona como uma verdadeira equipa,

além de ser permeável ao efeito de boleia. Imaginemos uma equipa

constituída por 60 pessoas com um objectivo partilhado. Cada um dos

seus membros pode fazer o seguinte raciocínio: “entre tantos colegas de

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equipa, não tenho meios para controlar o que cada um faz; depois, por

um lado, se eu me esforçar para realizar o objectivo e os meus colegas

não realizarem qualquer esforço, o meu esforço é inglório, já que,

sozinho, é ineficaz na sua realização; por outro lado, se eu não fizer

qualquer esforço e todos os meus colegas se aplicarem na consecução

do objectivo, muito provavelmente, o objectivo vai ser realizado; em

suma, não vale a pena eu envidar esforços para concretizar o objectivo

da equipa de que faço parte”. Este fenómeno só se pode ultrapassar

quando as equipas têm uma dimensão que lhes permita funcionar como

uma verdadeira equipa a prosseguir objectivos comuns.

Princípio da negociação

Os objectivos devem ser negociados entre o líder e cada um dos seus

colaboradores. Só, assim, é possível gerar o compromisso e a motivação dos

colaboradores para a realização dos objectivos. A negociação de objectivos

permite a participação dos colaboradores na definição de objectivos. Nessa

ocasião, os colaboradores podem manifestar a sua opinião sobre o nível das

metas propostas com base na sua experiência e nas condições de

desempenho existentes. Ao dar-lhes voz activa, os colaboradores sentem-se

parte do processo de gestão por objectivos e com algum controlo sobre as

metas que têm de alcançar. Se desta negociação resultarem objectivos

credíveis, isto é, que geram expectativas concretas de realização, eles

constituem uma fonte de motivação para os colaboradores.

Para os líderes, a negociação de objectivos, para além de permitir o

compromisso dos colaboradores e de gerar a sua motivação, é um processo

que contribui para afinar a fixação da meta, tirando partido da experiência de

desempenho do colaborador. Os colaboradores podem dispor de informação

sobre a realidade concreta das actividades desenvolvidas que não foram

consideradas na proposta de fixação da meta. Além disso, este processo

permite discutir realidades de trabalho e comparar as diferentes situações de

desempenho dos colaboradores. Esta comparação facilita a procura de

justiça na fixação de metas diferenciadas entre os colaboradores de uma

dada equipa.

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© António Pais 17

O processo de negociação deve ser gerido de forma a evitar soluções de

conflito e insatisfação. Caso contrário, a gestão por objectivos torna-se

contraproducente, produzindo efeitos perversos que contrariam os benefícios

do seu bom funcionamento. Muitas vezes, esta situação resulta de processos

de negociação que se centram no confronto de posições antagónicas e

enquistadas. Os resultados de uma negociação com estas características são

pouco sensatos, ineficientes e colocam em perigo o relacionamento

profissional. De forma a evitar situações desta natureza, o processo de

negociação deve ser gerido partindo do princípio de que os participantes

estão orientados para a resolução de problemas e têm como objectivo

alcançar um resultado de forma eficiente e amigável.

De seguida enunciam-se algumas regras que, ao orientar a negociação para

a superação de problemas, promovem o objectivo referido.

Separar as pessoas dos problemas: não personalizar os problemas e

proceder de forma independente da confiança pessoal.

Focar nos interesses em presença e não em posições: tornar

transparentes os interesses em presença, evitando posições irredutíveis.

Criar opções com vantagem mútua: desenvolver múltiplas opções de

escolha para a resolução de problemas e avaliação posterior.

Insistir na utilização de critérios objectivos: acordar em princípios e

critérios de decisão, baseados em razões fortes, que sejam independentes

das vontades em presença.

O líder ao conduzir o processo de negociação, na reunião com os seus

colaboradores, deve ainda ter um comportamento que demonstre as

seguintes características:

• Prepara e estrutura a reunião de negociação de objectivos;

• Comunica o tempo previsto, os objectivos e a agenda da reunião;

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• Assegura que a reunião e a negociação se centram sobre os objectivos e

as questões relacionadas com a sua fixação, deixando de fora outros

assuntos que lhe sejam alheios ou irrelevantes;

• Fundamenta devidamente as propostas de objectivos;

• Encoraja a manifestação de opinião, o levantamento de problemas e a

proposta de sugestões;

• Combate as ambiguidades, certificando-se da compreensão e do acordo

sobre os objectivos em discussão;

• Constrói o compromisso sobre os objectivos acordados, assegurando-se

do empenhamento firme em realizá-los.

Níveis de Realização do Objectivo

Muito embora, possam-se estabelecer outros níveis de realização de uma

meta ou objectivo de desempenho, os níveis mais elementares são:

“cumpre”; “não cumpre”; e “supera”. É o nível de cumprimento de um

objectivo que define, por defeito, os níveis do seu incumprimento e de

superação. O nível de cumprimento é o nível de realização da meta fixada, e,

portanto, sendo os dois outros níveis desvios negativos (incumprimento) e

positivos (superação) face à meta. Obviamente, os três níveis de realização

do objectivo ou meta devem:

a) Ser fixados de acordo estrito com a métrica do respectivo indicador de

medida de desempenho;

b) Ser mutuamente exclusivos, nos seus respectivos valores de

realização; e

c) Incluir todos os valores possíveis de realização do objectivo, ou seja,

não podem existir valores de realização que não estejam previstos

num dos três níveis referidos.

A meta ou o nível de cumprimento da mesma pode ser fixada em termos de

um único valor ou um intervalo de valores. Neste último caso, temos um meta

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© António Pais 19

por intervalo. Esta tem como maior vantagem permitir assegurar uma

diferença significativa de desempenho entre quem supera e quem não

cumpre um objectivo. Ela torna-se particularmente conveniente quando quem

fixa a meta não está seguro, em termos absolutos, do valor unitário que

constitua um verdadeiro e viável desafio de desempenho, enquanto um

intervalo de valores acomoda, no interior dos seus limites, várias

possibilidades do seu cumprimento, das mais às menos difíceis. O que se

deve procurar no estabelecimento de uma meta por intervalo é garantir, por

um lado, que o limite superior do intervalo define o limiar acima do qual existe

inequívoco mérito na superação do objectivo, e, por outro lado, que o seu

limite inferior fixe o limiar abaixo do qual é merecido o seu incumprimento.

Deste modo, assegura-se que a fixação da meta não prejudica ou beneficia

indevidamente quem assume a responsabilidade de a atingir, pondo em

causa a própria gestão por objectivos e o superior interesse da organização

que a adopta. Quando fixamos metas por intervalo há, contudo, que atender

aos dois factos seguintes:

a) Quanto maior a amplitude do intervalo, maior a probabilidade de se

cumprir o objectivo e menor é a de se o incumprir ou superar. Porém,

uma grande amplitude pode anular o repto de desempenho constituído

pelo objectivo. Mais, quando isso acontece, anulam-se as diferenças,

porventura significativas, entre todos aqueles que obtiveram resultados

compreendidos na ampla zona de cumprimento do objectivo. Logo, é da

maior importância estabelecer um intervalo de cumprimento que permita,

na prática, reconhecer a diferença, isto é, o desempenho de superação e

o de incumprimento do objectivo.

b) Existe conflito de interesses entre os lideres (avaliadores) e os liderados

(avaliados) na fixação de metas por intervalo. Quem assume a

responsabilidade de cumprimento de um objectivo, prefere claramente

um intervalo de meta cujo o limite superior coincide com o valor unitário

que seria a meta mais provável em valor absoluto – uma vez, que lhe

amplia as possibilidades de superação do objectivo; enquanto quem

defende os interesses da organização, prefere que seja o limite inferior

desse intervalo a coincidir com esse valor – já que dificulta a superação

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© António Pais 20

do objectivo e, deste modo, atesta e reforça o merecimento da sua

superação. Uma meta por intervalo cujos limites sejam equidistantes

desse valor absoluto é a que, provavelmente, melhor defende os

interesses da organização, acautelando a motivação dos avaliados para

a concretização das metas de desempenho.

Como até aqui ficou claro, a definição de um objectivo deve obedecer a uma

estrutura que de seguida se apresenta:

1. Objectivo como intenção geral de realização

2. Indicador(es) de medida de desempenho

3. Níveis de realização do objectivo:

a. Cumpre (meta)

b. Não Cumpre

c. Supera

Os dois exemplos seguintes destinam-se a ilustrar a definição de objectivos

nos termos da estrutura apresentada:

1.º Exemplo

OBJECTIVO

Reduzir o peso das despesas de funcionamento

INDICADOR(ES) DE MEDIDA DE DESEMPENHO

Taxa de cobertura anual, em percentagem, das despesas de funcionamento

pelas receitas próprias

NÍVEIS DE REALIZAÇÃO DO OBJECTIVO

Cumpre: verifica uma taxa de cobertura anual entre 55% e 70%

Não Cumpre: verifica uma taxa de cobertura anual inferior a 55%

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© António Pais 21

Supera: verifica uma taxa de cobertura anual superior a 70%

2.º Exemplo

OBJECTIVO

Assegurar a realização atempada do projecto de construção de referencial de

competências

INDICADOR(ES) DE MEDIDA DE DESEMPENHO

Data de calendário para a conclusão do projecto de construção de referencial

de competências

NÍVEIS DE REALIZAÇÃO DO OBJECTIVO

Cumpre: o projecto é concluído no período compreendido entre 10/09/2020 e

20/11/2020

Não Cumpre: o projecto é concluído depois de 20/11/2020

Supera: o projecto é concluído antes de 10/09/2020

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© António Pais 22

PARTE II Formulação de

Indicadores de Medida de Desempenho

Noção de Indicador de Medida de Desempenho

Um indicador do desempenho é um indício da existência de uma dada

propriedade do desempenho. Os indicadores de desempenho podem ser

comportamentais ou de medida. Os comportamentais revelam propriedades

do desempenho a partir de indícios observáveis e dependentes do juízo

subjectivo de quem os observa (baseado em evidências subjectivas ou

aparentes). Já os indicadores de medida baseiam-se em indícios de

propriedade de desempenho igualmente observáveis, mas independentes do

juízo subjectivo de quem os observa (baseado em evidências materiais).

Assim, um indicador de medida do desempenho consiste na atribuição

objectiva de numerais de modo a que eles correspondam a diferentes graus

de existência de uma dada propriedade do desempenho. Essa atribuição de

numerais designa-se de escala de medida do desempenho. Esses numerais

na escala de medida constituem métricas de desempenho.

Existem diferentes tipos de escala ou formas de atribuir numerais a diferentes

graus de existência de uma dada propriedade do desempenho. A saber:

Escalas Nominais: Atribuição de um número ao desempenho que o qualifica

como membro de uma dada categoria que identifica o desempenho medido.

Exemplo: “1” – desempenho técnico; “2” – desempenho relacional

Escalas Ordinais: Atribuição de um número de ordem quanto ao grau de

existência de uma propriedade entre diferentes desempenhos ou um conjunto

de propriedades num dado desempenho. Exemplo: Ordene em função da

maior presença das seguintes características de desempenho, atribuindo “1”

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© António Pais 23

àquela que tiver em primeiro lugar maior presença, “2” àquela que tiver em

segundo lugar maior presença, e assim sucessivamente.

Escalas por Intervalo: Atribuição de números que indicam diferentes graus

de uma propriedade do desempenho ao longo de um contínuo, de tal modo

que a diferença de número para número é igual ao longo do intervalo da

escala. Exemplo: Como classificaria a atitude do prestador do serviço: “1” –

Muito negativa; “2” – Negativa; “3” – Nem negativa nem positiva; “4” –

Positiva; “5” – Muito positiva.

Escalas por Rácio: Atribuição de números a propriedades do desempenho

de tal modo que inclui um único ponto zero e os rácios (quocientes) ou

magnitudes entre pontos na escala têm significado. Exemplo: Quantidade de

processos tratados ou taxa de processos correctamente tratados ou valor das

importâncias dos processos tratados.

As métricas de desempenho podem assumir várias unidades de medida,

designadamente:

• Números absolutos (quantidade e valor)

• Médias, modas e medianas

• Percentagens, taxas e rácios (quocientes)

• Índices

As fontes de recolha de dados podem ser das mais variadas, entre elas

destacamos as seguintes:

• Base de dados informática

• Registos administrativos

• Estatísticas públicas

• Inquéritos

• Testes

• Observação directa

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© António Pais 24

Critérios Técnicos de Formulação de Indicadores de Medida de Desempenho

A formulação de um indicador de medida de desempenho deve obedecer a

critérios fundamentais, que de imediato se dão conta e, logo a seguir, se

desenvolvem:

Critério de validade: um indicador de medida de desempenho deve captar a

realidade de desempenho que se propõe medir, isto é, constituir um

importante indício da existência de uma dada propriedade de desempenho.

Critério de fiabilidade: um indicador de medida de desempenho, quando

aplicado sucessivamente sobre a mesma realidade de desempenho e seja

quem for que o aplique, deve fornecer precisamente o mesmo resultado. Ou,

para uma dada propriedade de desempenho, o indício da sua existência é

invariável no tempo e com quem o observa.

Critério de economia: a relação custo/benefício da aplicação de um

indicador de medida de desempenho deve ser vantajosa. Os custos da

medida ou de recolha e tratamento de dados devem ser inferiores aos

benefícios gerados pela informação recolhida.

Critério de clareza: a formulação do indicador de medida de desempenho

não deve gerar equívocos, ambiguidades ou dúvidas quanto ao que pretende

medir (propriedade de desempenho), como medir (indício considerado e

eventual fórmula de cálculo) e como obter os resultados da medida

(instrumento de medida e recolha e tratamento de dados).

Critério de comparabilidade: só se pode comparar dois ou mais

desempenhos em termos do grau de existência de uma dada propriedade se

forem aferidos no mesmo indicador de medida.

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© António Pais 25

Critério de Validade

Um indicador de medida de desempenho define-se por uma métrica que deve

ter uma unidade de medida. Esta métrica destina-se a mensurar uma

determinada realidade de desempenho individual ou de equipa. É a métrica

utilizada que define o domínio de resultados de desempenho possíveis. O

critério de validade estabelece que um indicador de medida, no domínio de

resultados que compreende, quando aplicado, capte os resultados relevantes

de desempenho, isto é, os que mais concorrem para a consecução da

intenção geral de realização, dada pelo objectivo. Por exemplo, se o objectivo

é melhorar a qualidade de prestação de serviços públicos, então o indicador

de medida deve ser constituído por todos aqueles indícios cujos resultados

possíveis permitem avaliar o grau de contribuição do desempenho para esta

intenção geral de realização; se o objectivo é aumentar as receitas próprias

de um serviço público, então o indicador de medida tem uma natureza

financeira, definida pelo conceito de receitas próprias, e é um indicador de

medida monetário.

Podem existir, para o mesmo objectivo ou intenção geral de realização,

indicadores de medida de desempenho com diferente validade. No referido

objectivo de melhorar a qualidade de prestação de serviços públicos, o

questionário de inquérito sobre qualidade percebida pelos utentes nos

serviços prestado pode ser, à partida, de maior validade que o indicador de

medida constituído pelo número de erros, falhas ou omissões cometidos na

prestação de serviços a utentes. Enquanto este apenas capta o que corre

mal na prestação do serviço na óptica administrativa, o primeiro pode captar

quer o bom quer o mau da prestação do serviço na perspectiva de quem o

consome.

Por esta razão, não raras vezes, um só indicador de medida é insuficiente

para captar os diferentes tipos de resultados que concorrem para a

realização do objectivo. Por isso, o critério de validade aconselha a que,

sempre que possível, se utilizem vários indicadores de medida, tantos

quantos forem necessários para avaliar o grau de realização de um dado

objectivo. Por exemplo, no objectivo de melhorar a satisfação dos utentes,

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© António Pais 26

podem-se utilizar como indicadores de medida uma escala de valorização da

satisfação de utentes e a taxa de crescimento das reclamações dos utentes.

O mesmo objectivo com vários indicadores que aferem em que medida se

realizou a intenção geral.

Critério de Fiabilidade

De acordo com o critério de fiabilidade, o indicador de medida deve ser

pensado de modo a que, por um lado, os resultados de desempenho

recolhidos, por aplicação do indicador de medida ou instrumento de medida,

sejam de facto todos os resultados que, no período de tempo considerado,

eram susceptíveis de recolha, e, por outro lado, a recolha e o tratamento

doso dados não seja de todo permeável à influência pessoal, do avaliador ou

do avaliado, ou seja de quem for. Mesmo quando o indicador é baseado em

evidências materiais, há que assegurar que a aplicação da medida produz os

mesmos resultados independentemente de quem seja que a aplica.

Se é o avaliador a medir os resultados conseguidos, o avaliado pode

questionar a veracidade dos resultados medidos; o mesmo se passa, se a

situação for a inversa. Daí que a situação desejável é que a medida dos

resultados seja realizada por uma entidade independente das partes

interessadas. Assim acontece, normalmente, quando a medida é realizada

por instrumento de medida automático, ou seja, por meios informáticos ou por

processo independente e blindado contra quaisquer preferências pessoais ou

de outra natureza. Recorrendo aos mesmos exemplos anteriormente

referidos, a fiabilidade da medida das receitas próprias é assegurada pelo

sistema contabilístico informatizado, enquanto a fiabilidade da medida de

satisfação do utente está assegurada se a sua avaliação for realizada por

uma amostra estatisticamente significativa dos utentes desse serviço.

Quando não é possível aplicar uma medida de forma independente das

partes interessadas, então deverão o avaliador e o avaliado certificar os

resultados medidos.

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© António Pais 27

No entanto, a garantia da independência na recolha e tratamento de dados

da aplicação de um indicador de medida de desempenho não é suficiente

para certificar a sua fiabilidade. É, ainda, necessário que se recolham e

tratem todos os dados que relevam do desempenho num dado período de

tempo. As falhas de recolha, por omissão ou impossibilidade, fazem com que

os resultados obtidos não sejam um reflexo real do desempenho aferido pelo

indicador de medida. Deste modo, o teste da fiabilidade obriga não só á

prova das evidências que sustentam os resultados obtidos, mas também á

certificação do rigor e precisão do processo de recolha e tratamento de dados

aferidos no indicador de medida.

Critério de economia

O critério de economia procura que os custos de formulação e aplicação dos

indicadores de medida não sejam superiores aos benefícios gerados pela

informação que propicia. Pode ocorrer que os custos de desenvolvimento de

um indicador de medida, que garanta a sua objectividade e independência, e

os custos de recolha e tratamento de dados de desempenho ascendam a

níveis não comportáveis e, especialmente, não se justifiquem face aos

benefícios gerados pelo conhecimento dos resultados de desempenho. Se

esta relação de custo/benefício não for vantajosa, este critério aconselha a

que se procure outros indicadores de medida mais vantajosos deste ponto de

vista, de preferência sem prejudicar os critérios de validade e fiabilidade.

A utilização de um indicador de medida com uma relação custo/benefício não

vantajosa para a organização leva a que quem recolhe e trata dados de

desempenho se questione quanto ao sentido deste processo de medida tão

oneroso. A economia de um indicador de medida de desempenho é posta em

causa, sobretudo, sempre que a recolha e tratamento de dados de

desempenho é complexa, consumidora de tempo e feita manualmente,

perturbando, ao sobrepor-se ás suas actividades de negócio, o normal

funcionamento da organização.

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© António Pais 28

Critério de Clareza

Na formulação de indicadores de medida de desempenho é absolutamente

crítico que a mesma não venha a suscitar conflitos de entendimento ou

interpretação, mais ainda se sustenta avaliações de desempenho. Um

indicador de medida de formulação ambígua é suficiente para pôr em causa a

sua fiabilidade ou duvidar da sua validade. Se houver diferentes

entendimentos, entre avaliador e avaliado, sobre exactamente o que se

procura e como medir, isso é motivo de diferendo que põe em causa a

credibilidade e seriedade do sistema de avaliação do desempenho.

A aplicação do critério de clareza, mais do que o uso apurado de uma

técnica, é um esforço atento, diligente e perspicaz de combate a equívocos,

ambiguidades ou dúvidas na formulação e utilização dos indicadores de

medida de desempenho.

Critério de Comparabilidade

As medidas permitem comparar os resultados de desempenho previstos e os

realizados, a sua evolução no tempo e os resultados relativos a várias

unidades de desempenho. Esta função de comparação designa-se de

benchmarking e a sua realização só é possível quando sustentada no mesmo

ou nos mesmos indicadores de medida. As unidades de desempenho objecto

de benchmarking podem ser pessoas, unidades organizacionais ou

organizações.

As diferenças de resultados de desempenho entre unidades de desempenho,

aferidos nos mesmos indicadores de medida, que possam ocorrer em

benchmarking, podem ser motivadas por diversas razões. A começar, só faz

sentido comparar aquilo que for comparável. Ou seja, não parece razoável

comparar desempenhos de actividades não relacionadas ou completamente

distintas. A comparação de resultados só é aceitável quando as unidades de

desempenho em confronto prosseguem actividades idênticas ou afins. Se for

respeitado este princípio, então as diferenças de resultados entre elas podem

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© António Pais 29

ser motivadas por diferentes condições concretas de desempenho,

nomeadamente, em termos de quantidade e qualidade de recursos ou meios

ao dispor, e particularidades distintivas da procura pelo serviço.

Normalmente, o que se procura com o benchmarking é identificar hiatos de

desempenho com origem nas diferenças de práticas de gestão e operação,

isto é, por esta via, ficar a conhecer as melhores práticas organizacionais, por

serem elas a produzir os melhores resultados.

A comparação entre unidades de desempenho pode ser realizada em termos

da relação entre níveis de desempenho ou graus de melhoria de

desempenho (a diferença entre o resultado final e o resultado inicial). No

primeiro caso, a comparação pode ser de todo imprópria dadas as distintas

condições de desempenho de partida, que separam e distanciam as

unidades de desempenho em comparação. No segundo caso, essa

comparação parece mais adequada, uma vez que não é o nível relativo de

desempenho que está a ser comparado, mas os graus relativos de melhoria

de desempenho, que atendem ao resultado de partida, o qual já reflecte as

referidas diferenças de condições de desempenho. Mas, mesmo assim,

também o grau de melhoria de desempenho de cada unidade está

dependente das suas condições concretas de actividade e do facto de quanto

maior o nível de desempenho em que se encontra tanto mais pequenas

tendem a ser as melhorias de desempenho. É por este motivo que o

benchmarking raramente se realiza com base em apenas um indicador de

medida de desempenho, mas antes numa multiplicidade de indicadores que

captam com maior validade as diferenças de desempenho entre unidades em

comparação. Daí a construção de índices de benchmarking, que mais não

são que indicadores de desempenho compósitos que permitem uma

ordenação de desempenhos.

Outros Critérios

Para além dos que vimos, existem outros critérios técnicos que, sem os

desenvolvermos, passamos a descrevê-los brevemente:

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© António Pais 30

Critério de Relevância: entre os possíveis indicadores de medida de uma

dada realidade ou intenção geral de desempenho, há uns mais válidos do

que outros, isto é, que indiciam em maior ou menor grau uma dada

propriedade de desempenho. Este critério considera não relevantes todos

aqueles indicadores que são de menor ou nula validade, isto é, que são

fracos indícios da existência de uma dada propriedade de desempenho.

Critério de Equilíbrio e Coerência: um indicador de medida de desempenho

por si só é apenas susceptível de fornecer uma informação parcial cujo o seu

sentido e compreensão adquirem maior clareza e poder explicativo quando

integrado num conjunto coerente de outra informação que, de forma

equilibrada, dêem uma imagem global e consistente sobre o desempenho

numa organização. É a articulação coerente e equilibrada de diferentes

indicadores de medida que confere sentido a cada um deles pela função que

desempenham no todo. (Este critério justifica a adopção de metodologias do

tipo Balanced Scorecard, que desenvolveremos no próximo capítulo.)

Critério de Direcção do Movimento: as métricas dos indicadores de medida

de desempenho podem ter duas direcções distintas: do menor para o maior

ou “quanto mais melhor” (direcção positiva; p.e., receitas) e do maior para o

menor ou “quanto menos melhor” (direcção negativa; p.e., despesas). A

interpretação ou julgamento das alterações de resultados aferidos pelos

indicadores de medida são, obviamente, determinadas pela sua direcção do

movimento.

Critério de Oportunidade e Accionável: a selecção de um indicador de

medida de desempenho deve obedecer (para além, dos demais, e sobretudo

dos critérios de validade, fiabilidade, economia e relevância) à possibilidade

de se actuar oportunamente sobre o desempenho de modo a melhorar os

resultados por ele aferidos. É a monitorização das medidas de resultados de

desempenho que permite apoiar a decisão sobre acções correctivas do

mesmo. Por isso, são elegíveis, nos termos deste critério, os indicadores de

medida que facilitem a gestão do desempenho.

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© António Pais 31

Critério de Não-redundância: para avaliar uma determinada realidade de

desempenho não devem adoptar-se indicadores de medida que sejam

convertíveis uns nos outros, pois os resultados que facultam são

essencialmente os mesmos e, como tal, redundantes.

Tipologia de Indicadores de Medida de Desempenho

Podem ser adoptados critérios distintos para classificar e organizar por tipos

os indicadores de medida de desempenho. Vamos adoptar dois critérios que

decorrem de uma abordagem sistémica à organização, do género Input

Desempenho Output Outcome. Os critérios são a eficiência e eficácia.

O primeiro deles tem a ver com o que funda a existência de qualquer

organização, o mesmo é dizer que justifica o seu desempenho. Este critério é

o da criação de valor, que numa organização pública é a criação de valor

público. Este assunto foi tratado em capítulo anterior, onde se definiu este

conceito como a verificação da seguinte condição: o valor dos outputs (bens

e serviços) ou dos outcomes (benefícios ou impactos) gerados por uma

qualquer unidade de transformação ou desempenho (pessoa, unidade

orgânica ou organização) é superior ao valor dos inputs (recursos)

consumidos nessa actividade. Este tipo de indicadores, designados de

eficiência, têm a seguinte fórmula genérica:

Output ÷ Input ou Outcome ÷ Input.

Há ganhos de eficiência (ganhos de criação de valor) sempre que se verifica

uma das seguintes condições: mais output ou outcome com o mesmo input

(“mais com o mesmo”); igual output ou outcome com menos input (“o mesmo

com menos”); ou, finalmente, mais output ou outcome com menos input

(“mais com menos”).

E se só se verificar tão-só ou mais output ou mais outcome ou menos input?

Nessa altura, passamos a ter um critério de classificação de indicadores de

medido do tipo eficácia. De acordo com ele, a melhoria de cada uma das

variáveis que integram a visão sistémica da organização é suficiente para um

ganho de eficácia. De notar que pode haver ganhos de eficácia com perdas

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© António Pais 32

de eficiência: aumento de output ou de outcome (mais eficácia) menos que

proporcional ao aumento do input (menos eficiência); redução do input (mais

eficácia) menos que proporcional à redução do output ou outcome (menos

eficiência). E, de modo análogo, mas inverso, pode haver perdas de eficácia

com ganhos de eficiência.

A eficácia é frequentemente concebida como o grau em que medida se

realizam resultados padrões ou esperados para cada uma das variáveis

mencionadas. É-se eficaz se se atingirem os resultados esperados para

essas variáveis e tanto mais eficaz quanto maior for o grau de realização dos

mesmos. Nesta definição de eficácia, não é suficiente melhorar o

desempenho em cada uma das variáveis, é condição necessária o cumprir

com as metas fixadas previamente.

E o que significa melhorar ou piorar o desempenho em cada uma das

variáveis referidas? Para podermos responder de forma mais esclarecida,

recordemos o que cada uma dessas variáveis significa. O input é os recursos

humanos, financeiros, materiais, de informação e tempo utilizados e

consumidos no processo de transformação (desempenho) que gera produtos

e serviços. Por sua vez, o output é os bens e serviços fruto do desempenho.

O outcome é o benefício privado do consumo dos bens e serviços ou o seu

benefício público, também designado de impacto. Cada uma destas variáveis

pode ser expressa, nomeadamente, em valor monetário, quantidade e

qualidade. Assim, ter um melhor desempenho em inputs pode querer

significar reduzir o custo ou quantidade ou melhorar a qualidade dos

recursos; nos outputs, melhorar significa mais receitas ou quantidade

produzida ou melhor qualidade técnica dos bens e serviços; por último,

melhorar o outcome é apenas aumentar os benefícios ou impactos,

intermédios e finais, para os destinatários dos bens e serviços.

A tabela 3 dá alguns exemplos de indicadores de medida de desempenho,

centrados na actividade de tratamento de processos administrativos a pedido

dos utentes, do tipo eficiência e eficácia.

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© António Pais 33

Exemplos de Indicadores de Medida de Desempenho do Tipo Eficiência

Número médio de processos tratados por trabalhador (n.º total de processos

tratados ÷ n.º de trabalhadores a tratar processos)

Tempo médio de tratamento de processos em horas (n.º total de horas de

tratamento de processos ÷ n.º total de processos tratados)

Taxa de resposta a pedidos com instrução de processo no ano N em % (n.º

total de saídas ou de respostas a pedidos com instrução de processo no ano

N ÷ n.º total anual de entradas de pedidos com instrução de processo no ano

N x 100)

Taxa de cobertura anual por receitas dos custos do trabalho de tratamento de

processos em % (valor anual das receitas em euros de cobrança de taxa de

serviço com tratamento de processos ÷ encargos totais em euros com

trabalhadores afectos ao tratamento de processos × 100)

Custo médio, em euros, do trabalho de tratamento de processos (encargos

totais em euros com trabalhadores afectos ao tratamento de processos ÷ n.º

total de processos tratados)

Número médio de processos tratados com erros, falhas ou omissões por

trabalhador (n.º de processos tratados com erros, falhas ou omissões ÷ n.º de

trabalhadores a tratar processos)

Tempo médio de pendência dos processos em dias (n.º total de dias com

processos pendentes ÷ n.º total de processos pendentes)

Taxa de informatização de processos em % (n.º total de processos

informatizados ÷ n.º total de processos a informatizar × 100)

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© António Pais 34

Exemplos de Indicadores de Medida de Desempenho do Tipo Eficácia

Taxa anual de crescimento dos processos tratados em % ((n.º de processos

tratados no ano N ÷ n.º de processos tratados no ano N-1 – 1) × 100)

Valor em euros da receita própria por cobrança de taxa de serviço com

tratamento de processos

Taxa de pedidos com processos mal instruídos em % (n.º de pedidos com

instrução deficiente de processos ÷ n.º total de processos instruídos × 100)

Taxa de processos tratados devolvidos por erros, falhas ou omissões em %

(n.º de processos tratados devolvidos por erros, falhas ou omissões ÷ n.º total

de processos tratados × 100)

Número anual de correcções de erros, falhas ou omissões no tratamento de

processos

Taxa de processos tratados com decisão favorável em % (n.º de processos

tratados com decisão favorável ÷ N.º total de processos tratados × 100)

Taxa anual de reclamações com processos tratados em % (n.º anual de

reclamações com processos tratados ÷ n.º anual de processos tratados)

Taxa de processos arquivados em % (n.º de processos arquivados ÷ n.º de

processos entrados)

Tabela 2

Objectividade dos Indicadores de Medida de Desempenho

A afirmação de que os objectivos podem ser quantitativos ou qualitativos

significa que a realidade de desempenho a medir pode ter estas duas

naturezas. Os objectivos quantitativos aplicam-se a realidades de

desempenho cujos resultados são medidos em termos de métricas padrão

universais e objectivas, de quantidade numérica ou de valor. Já os objectivos

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© António Pais 35

qualitativos incidem sobre realidades de desempenho cujos resultados são

avaliados com base em métricas de padrão não universal e subjectivas. Será

que dada a sua subjectividade, os objectivos qualitativos, quando utilizados,

introduzem subjectividade nos resultados de desempenho face aos

objectivos? Em que medida se pode considerar que existe objectividade na

medida de resultados de qualidade da prestação de serviços ou de satisfação

do cidadão?

Todas as medidas ou indicadores de medida são convencionados e o que

distingue as realidades quantitativas das qualitativas é, antes de mais, se as

medidas resultam de convenções universais ou não. As medidas qualitativas

caracterizam-se por ser convencionadas ao nível particular. Mas este facto,

por si só, não ameaça a objectividade destas medidas; elas devem ter uma

construção que procura captar da forma mais completa possível a realidade

que pretendem mensurar. Todavia, a outra característica das medidas

qualitativas é precisamente a subjectividade dos resultados da sua aplicação.

Isto significa que as unidades de medida não têm um valor constante entre os

avaliadores. O centímetro tem uma distância fixa independentemente de

quem aplica a medida. No entanto, numa dada escala de avaliação do nível

de qualidade (ver figura 5), o que é “elevada” ou “excelente” para uma

pessoa não é igual ao que é para outra pessoa; além disso, a diferença que

separa o “excelente” do “elevada” não é uniforme ou imutável, podendo variar

com o avaliador.

Escala de Nível de Qualidade

Figura 5

1 2 3 4 5

Péssima Baixa Média Elevada Excelente

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© António Pais 36

É a variabilidade das avaliações individuais na aplicação da escala de

medida que introduz subjectividade às medidas qualitativas. Poderemos,

então, concluir que têm razão os que afirmam que os objectivos qualitativos

não garantem objectividade ao sistema de gestão por objectivos?

A finalidade das medidas qualitativas é traduzir as realidades subjectivas em

padrões quantificados. O que se procura medir é exactamente o julgamento

subjectivo (interior: desempenho percebido) de realidades objectivas

(exterior: desempenho concreto). Para efeitos de avaliação desempenho, são

as próprias percepções e afectos que se pretendem medir e não a realidade

de desempenho que as gerou. É verdade que a aplicação destas medidas ao

nível de um indivíduo pouco significa, a não ser uma tradução da sua própria

avaliação, não generalizável. Porém, o que se pretende com estas medidas é

perceber, com base numa escala de medida única, qual a tendência central

da avaliação de uma dada realidade junto de um dado universo ou amostra

estatisticamente significativa de avaliadores. Neste propósito, estas medidas

podem ser consideradas como tendo algum grau de objectividade, na medida

em que captem as percepções e afectos dominantes, no caso presente

relativo ao desempenho individual, de equipa ou organizacional.