TEMPLARIOS - Guerreiros de Cristo

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  • 8/7/2019 TEMPLARIOS - Guerreiros de Cristo

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    Guerreiros de CristoOs templrios eram religiosos fanticos, cavaleiros temidos e banqueiros poderosos,mas nada disso os livrou da morte trgica. Conhea a saga da mais misteriosa ordemcatlica medievalTexto Reinaldo Lopes

    Parecia que, depois de meses de cerco debaixo do sol de rachar da Palestina, a vontadede Deus finalmente se revelava aos cruzados que em 1153 tentavam tomar a cidade deAscalon. O fogo ateado pelos prprios muulmanos que defendiam a cidade tinha sevoltado contra eles e comeava a rachar as pedras da muralha, abrindo uma enorme

    brecha. Sem pestanejar, 40 cavaleiros da Ordem dos Templrios seguiram o aparentesinal divino e avanaram para tomar a cidade, enquanto outros membros da ordem

    barravam a passagem do restante do exrcito cristo a glria, pensaram, seria s deles.

    Em poucos minutos, porm, os islmicos se deram conta de que lutavam contra apenasum punhado de cavaleiros, cercando e massacrando a todos. Os corpos dos templriosforam pendurados sobre a brecha consertada da muralha e Ascalon s passou para asmos dos cruzados meses depois, por meio de um acordo.

    H quem diga que a estupidez dos cavaleiros foi aumentada por cronistas que no iammuito com a cara dos templrios, mas ela exemplifica com perfeio as caractersticasda mais lendria das ordens de cavalaria. Os templrios, monges-guerreiros ferozmentefiis Igreja e donos de uma coragem que podia chegar s raias do suicdio, foramtambm os primeiros banqueiros da Europa, credores de nobres e papas e senhores deterras. Foram perseguidos, exterminados e deixaram um rastro de lendas e mistrio. Esta a histria deles.

    As origens

    Os templrios o nome completo Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e doTemplo de Salomo so filhotes das Cruzadas, o movimento que levou dezenas demilhares de europeus para lutar na Palestina e recolocar sob domnio cristo a terra ondeJesus nasceu e morreu. Para os que embarcaram na empreitada, enfrentar a morte em

    batalha por Cristo significava uma passagem de primeira classe para o paraso.Organizao e planejamento nunca foram o forte desses guerreiros: desconheciam aPalestina e cometeram muitas burradas. Mesmo assim, em 1099, entraram vitoriosos emJerusalm. Em teoria, a Terra Santa agora era segura para os muitos peregrinos quevinham da Europa. Na prtica, o que os primeiros cruzados conseguiram foi um

    punhado de cidades que permaneceram cercadas por um mar de muulmanos.

    A segurana dos peregrinos e dos comerciantes era um problema crnico. O devotoescandinavo Saewulf, que viajou para Jerusalm em 1102, conta que os sarracenos[muulmanos] esto sempre armando ciladas para os cristos (...), espreita dos que

    podem atacar por estarem em grupo pequeno ou daqueles que por cansao ficam para

    trs. Ah, o nmero de corpos humanos que jazem, despedaados por bestas selvagens...

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    O perigo fez alguns nobres dar uma forcinha defesa da Cidade Santa mesmo depois deconquistada. Um desses sujeitos era um cavaleiro do norte da Frana chamado Hugo dePayns, at ento um ilustre desconhecido. No se sabe exatamente quando nem por queHugo foi parar em Jerusalm. Alguns relatos dizem que era vivo e decidira se dedicara Deus depois da morte da esposa. Outros historiadores falam de um massacre

    especialmente sangrento de peregrinos, que aconteceu na Pscoa de 1119 e levou o reide Jerusalm, Balduno 2o, a estimular a formao de uma milcia que protegesse osfiis chefiada por Hugo.

    Seja como for, o fato que, naquele mesmo ano, ele e outros 8 companheiros (a listados nomes ainda existe, e todos parecem ter vindo da nobreza da Frana) fizeram um

    juramento sagrado. Os votos eram exatamente os mesmos de qualquer monge do sculo12 ou de hoje: pobreza, obedincia e castidade. Mas a misso deles era surpreendente:assegurar, de espada na mo, que os peregrinos tivessem acesso sem medo aos lugaressagrados.

    O rei Balduno 2o lhes deu como residncia parte do que ele julgava ser o Templo deSalomo na verdade, era a Cpula da Rocha e a mesquita Al-Aqsa, construdas pelosmuulmanos no lugar onde o templo havia existido na poca de Jesus (veja mapa na

    pgina 55). Eis a origem do nome templrios o lugar ficou to identificado com aordem que muitos se referiam ela como o Templo.

    aqui que a usina de lendas sobre os templrios comea a funcionar a todo vapor.Pouco se ouve falar das atividades deles, coisa que, na verdade, atrapalha bastante quemtenta entender como a ordem evoluiu nesse momento crucial. Os documentos sobreessa fase da histria deles so escassos. De 1120 at 1140, tudo especulativo, dizEllis Skip Knox, da Universidade Estadual de Boise, EUA.

    Tanto assim que os mais empolgados falam de uma escavao secreta no terreno dovelho templo: Hugo e companhia teriam descoberto algum segredo dos primrdios dacristandade bem debaixo do seu quartel. S alguns nobres de alto escalo teriam sidoinformados do achado e o acobertaram, em conluio com a ordem. O duro saber quediabos era o tal segredo, porque cada terico da conspirao tem seu artefato favorito.Alguns falam das relquias sagradas do templo judaico; outros, do santo graal; h os queapostam na prpria cabea embalsamada de Jesus Cristo, provando que ele no tinharessuscitado nem era divino. Os mais modestos sugerem que as runas do templo deram ordem conhecimentos secretos sobre a natureza mstica da arquitetura, como forma de

    criar espaos sagrados e de se comunicar com Deus. Essa sabedoria, depois, teria sidopassada maonaria, que originalmente era uma confraria de mestres construtores.

    Para a maioria dos historiadores, porm, o motivo do silncio sobre a ordem nessesprimeiros anos bem menos empolgante: ela ainda no tinha a menor importncia(bom, o que voc esperava de 9 cavaleiros querendo brigar com todos os salteadores daPalestina?). Porm, pouco a pouco, a combinao da ajuda de patronos poderosos e uma

    boa dose de coragem em batalha comeou lentamente a aumentar o poder templrio.

    Em 1126, Hugo de Payns, ento j conhecido pelo ttulo de gro-mestre (chefesupremo) dos templrios, viajou para o Ocidente para procurar recrutas e buscar apoio

    oficial da Igreja. E conseguiu atrair para o seu lado o monge francs Bernardo, abade deClairvaux (canonizado como so Bernardo). O monge era provavelmente o intelectual

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    mais influente da Europa, capaz de convencer papas e imperadores, e tambm ummstico apaixonado. Em resumo: um trator. O que Bernardo atacasse estava fadado aofracasso; o que ele aprovasse florescia, diz Edward Burman, da Universidade de Leeds,Reino Unido, em seu livro Templrios Os Cavaleiros de Deus. Bernardo conseguiu a

    bno oficial do papa para a ordem. Tambm elaborou para ela um conjunto de normas

    de conduta diria, indispensvel para qualquer comunidade religiosa da poca. Aindahavia gente dentro da Igreja que no era exatamente f da idia de monges matando emnome da f. O futuro santo escreveu ento uma carta em que justificava, com toda aelegncia teolgica, a guerra em defesa de Jesus. O soldado de Cristo (...) oinstrumento de Deus para a punio dos malfeitores e para a defesa dos justos. Naverdade, quando ele mata malfeitores, no se trata de homicdio, mas de malicdio,afirmou Bernardo no Livro para os Soldados do Templo Do Louvor do NovoExrcito.

    Completando o sucesso da misso de Hugo, nobres europeus de vrios pases fizeramdoaes de terras e rendas para os templrios. A ordem virou uma instituio realmente

    internacional, e a nica autoridade que realmente estava acima do gro-mestre era opapa.

    Apogeu e declnio

    A partir de 1150, o progresso deles claro, diz Knox. Para o historiador, a ordemtinha uma vantagem na baguna que era a Terra Santa: ao contrrio das grandes famliasde nobres, a morte individual de membros ou herdeiros era incapaz de destru-la, e as

    batalhas vencidas no traziam reputao para um nico membro, mas para toda aconfraria. So vantagens, alis, compartilhadas pelo outro grupo de monges-guerreirosda poca, os hospitalrios, com os quais os templrios tinham de conviver na Palestina eno Ocidente. O grupo surgiu algumas dcadas antes do Templo e seus propsitosiniciais eram, como o nome indica, dar assistncia mdica e espiritual aos peregrinosque chegavam a Jerusalm. Com o problema da insegurana, porm, ela passou aoferecer tambm outro servio: escolta pelos caminhos da Palestina. De forma parecidacom o Templo, foi ganhando controle de fortalezas e castelos. No toa que as duasordens tenham sido rivais e batido cabea de vez em quando.

    O dia-a-dia dos templrios, a julgar pela regra da ordem, no era muito diferente do de

    qualquer outro monge. As normas eram duras. Havia dezenas de oraes a serempronunciadas diariamente, e datas semanais e anuais de abstinncia de carne ou jejumtotal. Era proibido fazer a barba, caar (lees eram permitidos), possuir mais de 3cavalos (o gro-mestre podia ter 4) e, principalmente, ter qualquer contato commulheres. A parania em relao ao sexo feminino tpica da Idade Mdia, mas a regratemplria pega pesado. Eis o que diz: A companhia de mulheres uma coisa perigosa,

    pois por causa dela o velho Diabo tem desviado muitos do reto caminho do paraso. Eainda especificava as mulheres que no se devia beijar: Viva, moa, me, irm, tia ououtra qualquer.

    Os dormitrios tinham de ficar sempre iluminados de dia ou de noite e era preciso

    dormir de calas e botas supostamente para que os cavaleiros estivessem sempreprontos para sair na porrada. Mas esse detalhe tambm servia para impedir que eles,

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    digamos, resolvessem contornar a falta de mulheres com aquele barbudo da cela aolado. Em batalha, os templrios eram sempre os primeiros a avanar e os ltimos arecuar, e a ordem normalmente no pagava resgates caso um de seus homens fossecapturado. Na prtica, isso significava quase sempre uma sentena de morte para ocavaleiro aprisionado. As punies para quem pisasse na bola eram severas: ser

    aoitado, posto a ferros ou obrigado a comer comida do cho, feito cachorro. Osdetalhes da ordem no podiam ser comentados fora do mosteiro: ela gostava de mantersegredo sobre seus planos, o que deu munio, mais tarde, para que seus inimigosafirmassem que ela praticava rituais sinistros ou imorais.

    A prosperidade da ordem fez os templrios se afastar da misso inicial: proteger osperegrinos. Ao lado dos hospitalrios, os cavaleiros do Templo se tornaram a espinhadorsal do Exrcito do Reino de Jerusalm. No Ocidente, a ordem virou o prottipo dos

    bancos atuais, emprestando seus considerveis bens a juros (leia quadro na pgina 51).A nova situao da ordem atraiu crticas. Muita gente comeou a achar estranho quesujeitos auto-apelidados de pobres cavaleiros de Cristo fossem donos de cerca de 9

    mil propriedades na Europa e na Palestina. J os soberanos de Jerusalm, depois deperceber que precisavam negociar com os muulmanos se quisessem permanecer naregio, reclamavam da desobedincia e da cabea-dura dos templrios. Intolerantes?Com certeza, embora at os templrios estivessem dispostos a lutar ao lado demuulmanos se um perigo maior estivesse presente. Teimosos? Sim, e eram famosos

    por isso. Temerrios? Bem, sim, mas muitos outros cavaleiros tambm o eram. Aspessoas da poca, inclusive os muulmanos, chamavam isso de bravura, diz Knox.

    O fato que as supostas falhas de carter dos templrios no foram to importantesenquanto o Reino de Jerusalm estava bem das pernas. A situao, porm, foi sealterando ao longo dos anos 1170, com a chegada ao poder do lder muulmanoSaladino. Ele conseguiu trazer para o seu controle tanto a Sria quanto o Egito, deixandoas terras cruzadas, na prtica, cercadas por um nico imprio.

    O estopim para a guerra total veio quando uma fora liderada pelo filho de Saladinopediu permisso para atravessar pacificamente a Galilia e o senhor da regio,Raimundo de Trpoli, a concedeu. Mas o gro-mestre de ento, Grard de Ridefort, aosaber do fato, resolveu emboscar os islmicos. Tanto o chefe dos hospitalrios quanto ovice de Ridefort, marechal Jacques de Mailly, tentaram fazer com que ele desistisse,

    porque o Exrcito muulmano era grande. Ridefort acusou a dupla de covardia e aindacutucou Mailly: Vs amais em demasia vossa cabea loura para querer perd-la. E

    partiu para o ataque com s 90 cavaleiros.Se havia algum covarde ali, certamente no era Jacques de Mailly, que morreu lutandono mesmo dia. J Ridefort tomou uma sova e fugiu, enquanto o furioso Saladino reuniasua fora total para atacar o reino. A batalha decisiva varreu do mapa as foras crists.Saladino poupou o rei e o gro-mestre dos templrios, mas no os demais monges-cavaleiros. Ao amanhecer, 230 cavaleiros do Templo foram decapitados. Em 2 deoutubro de 1187, Saladino entrou triunfalmente em Jerusalm.

    No era o fim ainda. Os cristos mantiveram algumas possesses no litoral daPalestina e foram reconquistando o territrio, chegando at a retomar Jerusalm por um

    tempo. Ao longo do sculo 13, porm, as foras se tornaram dependentes da vindaconstante de cruzados da Europa e da desorganizao dos muulmanos. O reino foi se

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    tornando cada vez mais nanico e mudou sua capital para a cidade de Acre, onde recaiu oataque decisivo muulmano, em 1291. A bravura da ordem se revelou como nunca: o

    prprio gro-mestre, Guilherme de Beaujeu, morreu em combate. Quando os cristosevacuaram a Terra Santa, a ltima fortaleza a resistir, por cerca de 12 anos, eratemplria e ficava na ilha de Ruad. No fim, porm, a nica sada foi abandon-la.

    A queda

    Um desastre como a perda da Terra Santa costuma ser a deixa para buscar um bodeexpiatrio, e boa parte dos dedos da Europa se puseram a apontar para templrios ehospitalrios. A falta de obedincia, a rivalidade entre elas e at uma suposta falta decoragem foram duramente criticadas, e muitos intelectuais e religiosos propunham queelas fossem fundidas, ou ento dissolvidas para que se criasse uma nova ordem. Ostemplrios, liderados por um novo gro-mestre, Jacques de Molay, resistiram a essas

    medidas. E, por algum tempo, o papado ficou do lado deles, ajudando mesmo aarrecadar novos fundos para combates no Oriente.

    Na poca, a Frana era o reino mais poderoso da Europa, e seu soberano, Filipe, o Belo,tinha seus prprios planos para o papado e os templrios. Sua influncia sobre a Igrejalevou eleio de um francs, Clemente 5o, como papa em 1305. Clemente nemchegou a ir para Roma, passando toda a sua carreira na Frana. Logo ficou claro queFilipe exercia presso para garantir seus interesses.

    Um dos projetos do rei era unir as ordens, de preferncia transformando a si mesmo emgro-mestre, e assim liderar uma nova cruzada para retomar Jerusalm. O plano no foiem frente e Filipe decidiu tomar medidas drsticas: em 1307, ordenou secretamente a

    priso de todos os 15 mil templrios da Frana. As razes exatas para que resolvesseacabar com o Templo no so muito claras, mas tudo indica que ele desejava tomar

    posse das considerveis propriedades dele e talvez visse as derrotas na Terra Santacomo uma deixa propcia para atacar.

    O prprio Jacques de Molay foi preso dias depois de ajudar a carregar o caixo dacunhada do rei. Para se ter uma idia da ingenuidade do chefe templrio, ele tinha

    pedido ao papa, no mesmo ano, que investigasse alguns boatos caluniosos contra ostemplrios pelo jeito, j era a campanha difamatria de Filipe em ao. A acusao

    oficial era previsvel: heresia. Crimes horrveis de contemplar, terrveis de ouvir, umaobra abominvel, uma desgraa detestvel, uma coisa quase inumana, na verdadedesprezada por toda a humanidade, diz a ordem de priso.

    A linguagem deixa claro que tudo no passava de perseguio poltica. Era uma receitaprtica para se livrar de gente incmoda. Tanto assim que as acusaes renegarCristo e cuspir em imagens dele, praticar sodomia ritual e adorar um misterioso dolo de3 cabeas ou com forma de gato ou bode chamado Baphomet aparecem, com poucasmudanas, em todos os outros processos contra herticos da poca. Quase nenhumhistoriador v traos de verdade nessas histrias. H quem suponha que o tal Baphometfosse, na verdade, a relquia de algum santo, ou que a negao de Cristo fosse parte de

    tcnicas templrias para escapar com vida das prises muulmanas fingindo ter seconvertido, mas a histria da ordem no parece apoiar essas especulaes.

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    O fato que at o papa Clemente 5o criticou as prises arbitrrias. Um processo papalfoi instalado para averiguar as acusaes muitos templrios confessaram sua culpainduzidos por tortura e depois voltaram atrs diante dos enviados de Clemente. A idiafoi corajosa, mas resultou na morte de 54 membros da ordem: segundo as regras da

    Inquisio, hereges confessos que voltassem atrs deveriam ser imediatamenteexecutados. Jacques de Molay, que era analfabeto e pelo visto no muito inteligente,disse que no tinha estudo suficiente para servir de advogado da ordem. Ficou esperade que o papa o salvasse.

    A investigao papal em toda a Europa achou pouqussimas provas de heresia. Mas apresso de Filipe continuava, e Clemente 5o acabou concordando com a dissoluo daordem em 1311. O rei conseguiu alguns bens dos templrios, mas de forma clandestina:a deciso do papa foi leg-los aos hospitalrios, enquanto os ex-cavaleiros entravam

    para mosteiros de outras ordens ou se tornavam mercenrios. Mesmo extintos, ostemplrios ainda dariam origem a mais uma lenda: a de que a perseguio apenas fez os

    membros mais importantes sair de cena e continuar a promover seus interesses msticosem segredo. Para isso, teriam se ligado ao Priorado de Sio, uma ordem que

    permaneceria at hoje e que teria tido, entre seus lderes, o pintor Leonardo Da Vinci e ofsico Isaac Newton. O grupo guardaria os principais segredos da origem docristianismo, como o graal e a linhagem de supostos descendentes de Jesus e MariaMadalena. A histria, divulgada em livros como O Cdigo Da Vinci, uma das

    principais responsveis pelo renascimento do interesse nos templrios. O problema que documentos que provem a existncia do Priorado de Sio so rarssimos, e os que oligam aos templrios, inexistentes. Para os pesquisadores srios, nada disso faz sentido.

    O fim dos templrios, no entanto, no foi desprovido de mistrio. Na cadeia, Jacques deMolay e seu companheiro Geoffroy de Charney tiveram um ltimo gesto de coragem:renegaram sua confisso de heresia. E, numa pequena ilha do rio Sena, os dois

    pereceram na fogueira em 1314. Reza a lenda que Jacques de Molay convocou o rei e opapa a comparecer diante do tribunal de Deus antes que o ano terminasse. Pelo visto,praga de templrio pega: Filipe, o Belo, e Clemente 5o morreram antes que 1314findasse.

    Nos primrdios dos bancos europeus quando a expresso fazer um depsitosignificava literalmente depositar metais preciosos, cereais ou at escravos numainstalao segura para que eles fossem guardados , os templrios desempenhavam

    papel fundamental para a economia do Ocidente e da Terra Santa. difcil saberexatamente como eles acabaram abraando esse negcio, embora a prpria natureza daordem favorecesse esse caminho, de certa forma.

    Assim como aconteceu em outras pocas em cidades como Veneza e Gnova, estardividido entre dois centros econmicos parece levar de forma bastante natural necessidade de desenvolver mecanismos para transferir grandes quantidades de dinheiroentre um lugar e outro, diz Ellis Skip Knox, da Universidade de Boise, EUA.

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    Os servios oferecidos pela ordem eram variados e, segundo a reputao deles na poca,confiveis. Um nobre que fizesse uma doao em dinheiro ou terra para os templrios

    podia estipular, por exemplo, que a quantia ou o imvel devia ser utilizado para provero sustento de sua esposa e filhos quando ele morresse. Quem depositasse bens numacasa templria do Ocidente e rumasse para a Terra Santa tinha o direito de retirar

    quantias equivalentes quando chegasse l. E, por quase sempre dispor de somassubstanciais de dinheiro vivo, a ordem estava em posio privilegiada para realizaremprstimos, criando uma clientela fiel entre a alta nobreza e o clero. Um detalheinteressante que os emprstimos, claro, eram feitos a juros prtica condenadaoficialmente pela Igreja da poca.

    Padre templrio

    Os membros combatentes da ordem, apesar de sua formao de monge, eram quasesempre analfabetos e com pouco conhecimento de teologia ou das escrituras. Por isso,as missas, confisses e outras cerimnias religiosas eram presididas por padres queviviam nos estabelecimentos templrios.

    Cavaleiro templrio

    Quase sempre de origem nobre, era o membro da ordem por excelncia: tanto umguerreiro experiente, treinado para combater a cavalo com armadura pesada, quanto ummonge ordenado, com votos de pobreza, obedincia e castidade. Usava um manto

    branco com a cruz vermelha. Dificilmente correspondiam a mais de 10% dos membros.

    Soldado templrio

    Os templrios tambm recrutavam soldados leigos, que no eram monges e, na TerraSanta, podiam ser at cristos de origem sria. Usavam mantos e seus oficiais eramchamados de sargentos. Nenhum deles era obrigado a seguir os votos dos cavaleiros e

    alguns eram at casados. Havia tambm irmos leigos que realizavam tarefasdomsticas.

    Cavaleiro hospitalrio

    Os membros da outra ordem militar-religiosa da Palestina levavam vida dupla, aocontrrio dos templrios: dedicavam-se tanto a alojar doentes e peregrinos no Hospitalde So Joo de Jerusalm (da o nome) quanto a combater os infiis como cavaleiros. Aordem mudou sua sede para Rodes e depois para Malta, durando at o comeo do sculo

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    Grandes centros

    A Frana foi o bero dos primeiros templrios e o lugar que mais ofereceu recrutas epropriedades ordem. Mas o centro comercial e financeiro deles na Europa era aInglaterra, onde se envolviam fortemente at na agricultura local.

    rea de ataque

    No era preciso ir Terra Santa para combater os infiis: bem ali na Europa, os cristosda pennsula Ibrica lutavam contra islmicos. Essas regies passaram a contar comcastelos dos templrios j na segunda dcada de existncia da ordem.

    Terra Santa

    De uma modesta base em Jerusalm, os templrios dominaram uma rede de castelos naPalestina graas ao sucesso na guerra. Alm de importantes militarmente, esses pontosgarantiam o domnio sobre rotas de comrcio, rebanhos e plantaes caso em que aordem se tornava a senhora feudal local.

    Todo louco mais cedo ou mais tarde acaba vindo com essa dos templrios. H tambmloucos sem templrios, mas os de templrios so mais traioeiros, diz um dos

    personagens do romance O Pndulo de Foucault, de Umberto Eco. Tantas besteirasforam escritas sobre esses cavaleiros nos ltimos 250 anos que quase se tem aimpresso de que toda conspirao precisa de alguma forma envolver a ordem. Amaonaria, por exemplo, teria se originado de mestres pedreiros que aprenderam com ostemplrios as tcnicas secretas que guiaram a construo do Templo de Salomo.(Parece que ningum prestou ateno no fato de que o templo estava destrudo fazia

    mais de 1 000 anos quando o primeiro templrio ps os ps na Terra Santa.) Ossupostos rituais herticos em torno de Baphomet seriam, na verdade, a adorao dacabea embalsamada de Jesus Cristo. A lista no tem fim, mas at onde os historiadores

    puderam pesquisar, no h um s fiapo de evidncia confivel nessas teorias.

    Mas por que justamente os templrios foram despertar tantas lendas? Um dos fatoresque deve ter estimulado a paixo dos escritores romnticos do sculo 19 por coisasmedievais, pois os mitos, na verdade, se originaram nessa poca. Outro a falta defontes sobre os anos iniciais dos templrios. Isso d aos criadores de lendas muitoespao para trabalhar, afirma Knox. O fim da ordem tambm no ajudou: vrias dasacusaes falsas feitas a eles por Filipe, o Belo, acabaram reforando a idia de que os

    cavaleiros seguiam algum tipo de culto mstico pr-cristo. E a lenda permanece athoje.

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    O sinete

    Um dos smbolos da ordem o emblema dos dois homens no mesmo cavalo, paramostrar que a pobreza no permitia uma montaria para cada um. Foi usado depois paraacusar a ordem de homossexualismo.

    A moradia

    A planta baixa da Cpula da Rocha, parte da sede da Ordem, lembrava o sinal da cruz einspirou vrias igrejas templrias no Ocidente. Os cavaleiros acreditavam que ela

    refletia as linhas do templo de Salomo.

    A perseguio no atingiu da mesma maneira os templrios de toda a Europa. Fora daFrana, a tortura foi menos usada para extrair confisses dos cavaleiros. Por isso, pode-se supor que foi com a honra intacta que alguns deles ingressaram na nova ordem criada

    por dom Dinis, rei de Portugal, em 1318: a Ordem de Cristo.

    Na verdade, no h consenso entre os historiadores sobre a composio da novaconfraria: para alguns, os templrios portugueses (presentes no pas desde os tempos deHugo de Payns) teriam trocado de nome. De qualquer maneira, a Ordem de Cristoherdou todas as propriedades e fortalezas de sua antecessora, assim como os votos de

    pobreza, castidade e obedincia (ao rei de Portugal, que claramente no era bobo).

    Ao longo do sculo seguinte, os considerveis recursos militares e econmicos daordem, que passou a ser comandada pelo infante (prncipe) dom Henrique, foramdirecionados para a expanso martima portuguesa, que estava ganhando impulso. AOrdem de Cristo ganharia soberania sobre os territrios que conquistasse na frica, bemcomo direito a 5% do valor das mercadorias vindas da regio.

    Novas mudanas liberaram os cavaleiros de seu voto de castidade e pobreza, permitindoque navegadores como Pedro lvares Cabral e Vasco da Gama se tornassem membrosda Ordem de Cristo. Os navios que aportaram no Brasil pela primeira vez traziam emsuas velas o emblema da confraria, aparentemente uma verso modificada da antigacruz templria.

    Os Templrios - Piers Paul Read, Imago, 2000

    Templrios Os Cavaleiros de Deus - Edward Burman, Nova Era, 1997

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    Os Cavaleiros de Cristo - Alain Demurger, Jorge Zahar, 2002

    Histria Ilustrada das Cruzadas - W.B. Bartlett, Ediouro, 2003

    Carta de So Bernardo ao Fundador dos Templrios -faculty.smu.edu/bwheeler/chivalry/bernard.html