76

TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 1/76

Page 2: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 2/76

 Teorias Linguísticas II

Eneida Oliveira Dornellas de CarvalhoElisabete Borges Agra

Campina Grande-PB2011

Governo FederalDilma Vana Rousseff 

Presidente

Ministério da EducaçãoFernando Haddad

Ministro

Secretaria de Educação a Distância

Carlos Eduardo BielschowskySecretário

Diretor do Departamento de Políticas em Educação a DistânciaHélio Chaves Filho

CAPESJorge Almeida Guimarães

Presidente

Diretor de Educação a DistânciaJoão Carlos Teatini de Souza Clímaco

Governo do Estado

Ricardo Vieira CoutinhoGovernador

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA 

Marlene Alves Sousa LunaReitora

 Aldo Bezerra Maciel Vice-Reitor

Eli Brandão da SilvaPró-Reitor de Ensino de Graduação

Eliane de Moura SilvaCoordenação Institucional de Programas Especiais – CIPE

Secretaria de Educação a Distância – SEAD

 Assessora de EADCecília Queiroz

Page 3: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 3/76

Sumário

I UnidadeConhecendo a linguística textual ......................................................................... 7

II Unidade A coesão textual ...................................................................................................... 23

III UnidadeMecanismos de coesão textual: a Referenciação .......................................... 41

IV Unidade A relação entre a coerência e a coesão textuais ........................................... 57

 V UnidadeIntencionalidade, situacionalidade e aceitabilidade:fatores pragmáticos responsáveis pela textualidade .................................... 79

 VI UnidadeIntertextualidade: uma forma de reflexão críticasobre o estudo do texto ........................................................................................ 95

 VII Unidade A textualidade proporcionada pelos critériosde informatividade e não- contradição textuais ......................................... 117

 VIII UnidadeRevisão dos fatores responsáveis pela coesão e coerência textuais.........131

  410

  C331l Carvalho, Eneida Oliveira Dornellas de.Licenciatura em Letras/Português: teorias lingüísticas 2. /

Eneida Oliveira Dornelas de Carvalho; Elisabete Borges Agra, UEPB/ Coordenadoria Institucional de Programas Especiais, Secretaria deEducação à Distância._Campina Grande: EDUEPB, 2011.

151 p.: il.

1. Linguística. 2. Intertextualidade. 3. Coesão e Coerência Textual. I.Título. II. EDUEPB / Coordenadoria Institucional de Programas Especiais.

21. ed.CDD

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

Universidade Estadual da ParaíbaMarlene Alves Sousa LunaReitora

 Aldo Bezerra Maciel Vice-Reitor

Pró-Reitor de Ensino de Graduação

Eli Brandão da SilvaCoordenação Institucional de Programas Especiais-CIPESecretaria de Educação a Distância – SEADEliane de Moura Silva

Cecília Queiroz Assessora de EAD

Coordenador de TecnologiaÍtalo Brito Vilarim

Projeto Gráco Arão de Azevêdo Souza

Revisora de Linguagem em EADRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

Revisão LinguísticaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

Diagramação Arão de Azevêdo SouzaGabriel Granja

Page 4: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 4/76

 Conhecendo a

linguística textual

I UNIDADE

Page 5: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 5/76

 8 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  9

 Apresentação

Neste segundo curso de teorias linguísticas é nosso pro-pósito dar prosseguimento ao seu aprendizado sobre o ob-jeto da linguística. Se no primeiro momento, apresentamosvárias perspectivas de estudo que terminaram por consagrara linguística como ciência autônoma de investigação da lín-gua, neste segundo momento, o direcionamento do cursose dá no sentido de aprofundar uma teoria. Esta teoria é a

linguística textual. Vamos descobrir o modo como se de-senvolvem os estudos que adotam seus pressupostos para oestudo do texto, os procedimentos metodológicos adotadospara a investigação dos processos linguísticos que se dão nointerior do texto, a que resultados se pode chegar centrando--se a análise a partir dos pressupostos da linguística textual,bem como tomar conhecimento de resultados práticos quese observam no campo do ensino de leitura e compreensãodo texto, um aspecto que ganhou relevada importância apartir do desenvolvimento da linguística textual.

Levando-se em consideração os aspectos referentes àcompreensão dos processos envolvidos no ato de produçãodo texto, dos elementos que o constituem de forma a torná-lo

uma unidade de sentido, garantimos a você que sua própriapercepção do texto, sua capacidade de ler e observar comose dá a construção do texto a partir de sua materialidade lin-guística, sua capacidade de elaborar o sentido para o texto,irão se ampliar de forma surpreendente. Portanto, este cursolhe será muito útil em sua vida acadêmica. Mas, você já sabe,resultados tão positivos só surgirão se você fizer sua parte,como fez para nosso primeiro curso. Assim, reforçamos nos-

sas recomendações para que você tenha o melhor aproveita-mento possível, seguindo os passos já conhecidos:

• Dedicar cotidianamente um tempo para suas leituras.• Ler os textos de modo atento, refletindo sobre os no-

vos conceitos e informações apresentados;

• Reler se necessário, fazendo anotações, marcando oque julgar importante;

• Responder as atividades propostas, com atenção.

• Não guardar para si as dúvidas, esclarecendo-as como professor ou o tutor;

• Realizar com segurança a autoavaliação que se en-contra ao final da aula. Se você achar que sua avalia-ção não foi satisfatória, retome as leituras, pesquise,reflita, discuta com o professor ou tutor, até que cons-tate que aprendeu.

 A orientação para que você siga esses passos é para quealcance também os objetivos estabelecidos para esta aula.

 Assim, esperamos que ao final desta unidade, você:

Objetivos

• Demonstre uma compreensão do que significa um es-tudo da língua na perspectiva da linguística textual;

• Conheça os fundamentos teórico-metodológicos dalinguística de texto;

•  Assimile a concepção de texto como a propõe a lin-guística textual.

Page 6: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 6/76

 10 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  11

gramáticas de frase – já que um texto não é simplesmente uma sequên-cia de frases isoladas, mas uma unidade linguística com propriedadesestruturais específicas -, tais gramáticas têm por objetivo apresentar osprincípios de constituição do texto em dada língua”.

“É somente a partir de 1980, contudo, que ga-nham corpo as Teorias do Texto – no plural, já que,embora fundamentadas em pressupostos básicoscomuns, chegam a diferir bastante umas das ou-tras, conforme o enfoque predominante” (KOCH,1989, p. 11-12).

Foram várias, portanto, as ramificações da linguística textual. Vocêpode conhecê-las lendo os textos citados nas referências ao final destaaula. O que importa nesse momento é ressaltar que, mesmo em setratando de ramificações, noções básicas da teoria são constantes emtodas elas. Marcuschi (2008, p. 75) apresenta o que há de comumnas diversas vertentes da linguística textual (LT). Leia abaixo o que dizo autor.

• A LT é uma perspectiva de trabalho que observa o funcionamen-to da língua em uso e não in vitro. Trata-se de uma perspectivaorientada por dados autênticos e não pela introspecção, masapesar disso, sua preocupação não é descritivista.

• A LT se funda numa concepção de língua em que a preocupa-

ção maior recai nos processos (sociocognitivos) e não no pro-duto.

• A LT não se dedica ao estudo das propriedades gerais da lín-gua, como o faz a linguística clássica, que se dedica aos subdo-mínios estáveis do sistema, tais como a fonologia, a morfologiae a sintaxe, reduzindo assim o campo de análise e descrição.

• A LT dedica-se a domínios mais flutuantes ou dinâmicos, comoobserva Beaugrand (1997), tais como a concatenação de enun-ciados, a produção de sentido, a pragmática, os processos decompreensão, as operações cognitivas, a diferença entre os gê-neros textuais, a inserção da linguagem em contextos, o aspectosocial e o funcionamento discursivo da língua. Trata-se de umalinguística da enunciação em oposição a uma linguística doenunciado ou do significante.

• A LT tem como ponto central de suas preocupações atuais asrelações dinâmicas entre a teoria e a prática, entre o processa-mento e o uso do texto.

 À medida que desenvolvemos este curso, você poderá constatarcomo de fato essas noções estão arraigadas na proposta teórica dalinguística textual. E constatar por que a linguística textual mantém rela-ções tão fortes com o ensino de língua.

Um pouco decontextualização

Finalizamos nossa última unidade do curso de Teorias Linguísticas Ichamando a atenção para o fato de que, se os estudos da linguagempermaneceram por muito tempo marcados pelos pressupostos teóricosde Saussure, seguindo uma abordagem imanente do fenômeno linguís-tico, nos anos sessenta, contudo, assiste-se a um novo direcionamen-to na linguística, que resultou em novas tendências para o estudo dalíngua, caracterizadas sobretudo pela contribuição de aportes teóricosadvindos de outros ramos do saber. Assim, a li nguística definitivamentese abria para a interdisciplinaridade, da qual resultou, por exemplo,a sociolinguística e a antropolinguística, disciplinas das quais fizemosuma breve apresentação para que você tivesse uma idéia de como sedeu a conjunção de outras áreas com aquela que tem por objeto espe-cífico o estudo da língua.

 Vimos que essas disciplinas estavam estudando a língua em relaçãoaos seus usuários, levando em conta o contexto que estava servindo debase para seu uso. A incorporação desses fatores à análise da língua

terminaram por dar as condições para o surgimento das chamadasTeorias do discurso: a linguística de texto, a análise da conversação ea linha francesa da análise do discurso.

Em comum, essas teorias partilham o fato de conceber o texto comoo lugar prioritário onde se reflete a realidade concreta da língua. Comonosso foco neste curso recai sobre a linguística textual, vamos tratarde caracterizá-la em especial. Faremos isto principalmente a partir dostrabalhos de Ingedore Villaça Koch, a autora que difundiu a linguísti-ca textual no Brasil e até hoje é referência para qualquer estudo quetrate do tema. É dela que transcrevemos os trechos a seguir, atravésdos quais se caracterizam os momentos históricos mais marcantes dateoria:

“Surgida na década de 60, na Europa, onde ga-nhou projeção a partir dos anos 70, a LinguísticaTextual teve inicialmente por preocupação, descre-

ver os fenômenos sintático-semânticos ocorrentesentre enunciados ou sequências de enunciados,alguns deles, inclusive, semelhantes aos que já ha-viam sido estudados no nível da f rase”.

“Na década de 70, muitos estudiosos encontram-se ainda bastantepresos à gramática estrutural, ou – principalmente – à gramática gera-tiva, o que explica o seu interesse na construção de ‘gramáticas de tex-to’. A partir da descrição de fenômenos linguísticos inexplicáveis pelas

Page 7: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 7/76

 12 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  13

Refazendo percursos

Para chegarmos à linguística textual, foi necessário que houvesseuma mudança na perspectiva de estudo da língua, já sabemos. Mas écerto que toda mudança não acontece de forma repentina. Assim, vale

a pena retomar estudos anteriores que já apontavam para a necessi-dade de se repensar antigos conceitos com a finalidade de explicarmelhor o objeto da nova linguística que se delineava.

Seguindo essa trilha, você deve estar lembrado de alguns nomesque citamos anteriormente e que foram importantes para a linguísticarenovar seus conceitos, ampliar seus pressupostos, tomar novos rumos.

Um nome que não pode ser esquecido, porque teve importânciafundamental na adoção de novos paradigmas para o estudo da língua,é o de Jakobson. A elaboração de um circuito de comunicação, deseus elementos, e sobretudo a consideração das funções fática, meta-linguística e poética, representaram uma ampliação do foco de estudoda linguística que se restringia apenas ao estudo da forma1.

 Veja como os representantes do Círculo Linguístico de Pragaexplicitaram sua tese sobre as funções da língua, a par da sua estrutura:

 “O estudo de uma língua exige que se considererigorosamente a variedade das funções linguísticase de seus modos de realização no caso conside-rado. [...] É de acordo com essas funções e comesses modos que se transformam a estrutura fônicae a gramatical, e a composição lexical da língua”.(PARVEAU E SARFATI, 2006, p. 121)

  Percebe-se na citação que o estudo da estrutura linguística estásubordinado ao estudo das funções que acompanham o ato comunica-tivo. Assim, importam as necessidades, as condições da comunicação,o contexto, os participantes, ou seja, os fatores e os elementos queestão envolvidos numa situação de comunicação.

  Após esse breve comentário, você pode retomar o que leu so-bre Jakobson na sétima unidade do curso de Teorias Linguísticas I, eentão explicitar como sua teoria pode representar um avanço em dire-ção a uma linguística discursiva. Registre suas conclusões na atividade3 a seguir.

 Atividade I

 

Um outro autor que é necessário ser retomado é Benveniste. O autor nãoconcebia o homem separado da língua. Veja como ele pensava essa relação:

“O ato individual pelo qual se utiliza a língua introduz em primeirolugar o locutor como parâmetro nas condições necessárias da enun-ciação. Antes da enunciação, a língua não é senão possibilidade dalíngua” (BENVENISTE, 1989, p. 83).

 Assim, Benveniste concebeu uma linguística em que o sujeito e ascondições específicas de produção dos enunciados não podiam estarde fora. Esses elementos de fato representaram contribuições significati-vas para renovar a perspectiva da linguística, que começa a vislumbrarpossibilidades de estudo da língua para além das formas linguísticas. Alíngua passava então a ser considerada como um forma de atividadeentre os participantes de um ato comunicativo.

Em relação a Benveniste, pedimos que você rememore pontos importantes desua teoria e registre na atividade a seguir. Veremos que esses pontos terãoimportância fundamental para a linguística textual.

 Atividade IIEm nossa proposta de retomada de autores determinantes para uma mudançade perspectiva na linguística, não poderíamos deixar de fora Bakhtin.

Dedicamos toda uma aula no curso de Teorias Linguísticas I ao autor, a aula 9, você deve estar lembrado. Por isso, vamos chamar sua atenção no momento,para o que é fundamental em sua teoria, que caracteriza uma compreensão dosprocessos linguísticos como tarefa prioritária da linguística.

Bakhtin vê na interação o lugar privilegiado para o estudo da lín-gua. Portanto, a língua não pode ser vista como sistema de formas fi-xas, exterior à vida social. Nesse caso, o estudo da língua extrapola emmuito o estudo das formas isoladas, porque é na enunciação, no uso

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

1  O estud o da forma signica o estudo da

estrutura interna da língua. É o estudoapoiado na tradição saussuriana, que cou

conhecido como formalismo. Já quando setrata de relacionar o estudo da língua como social, tem-se um estudo de caráter fun-cionalista.

Page 8: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 8/76

 14 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  15

que fazem dela os falantes reais quando estão interagindo, que ela serealiza. E esse é um processo ininterrupto, o da “correnteza verbal”, quepõe toda enunciação em contato com as demais que já foram produ-zidas e mesmo com as que ainda estão por vir. Yaguello (2002, p. 15),na introdução que faz para a tradução do livro Marxismo e filosofia dalinguagem, resume essa idéia: “Toda enunciação, fazendo parte de umprocesso de comunicação ininterrupto, é um elemento do diálogo, nosentido amplo do termo, englobando as produções escritas”.

Esse é o processo dialógico da língua, que não permite serem osenunciados tomados isoladamente. Essa é uma concepção social da lín-gua que vai além do social de Saussure, porque aqui o social é constitu-tivo. Para Bakhtin, a língua só existe dentro dessa dimensão. Diz o autor:

“A verdadeira substância da língua não é constitu-ída por um sistema abstrato de formas linguísticasnem pela enunciação monológica isolada, nempelo ato psicofisiológico de sua produção, maspelo fenômeno social da interação verbal, realiza-da através da enunciação ou das enunciações. Ainteração verbal constitui assim a realidade funda-mental da língua” (BAKHTIN, 2002, p. 123).

 Agora é sua vez: reita sobre o que dissemos acima e retome a aula em que

falamos de Bakhtin. Agora responda a pergunta da atividade 3 a seguir:

 Atividade III

Em que aspecto a teoria de Bakhtin o faz ser citado como um precursor dalinguística discursiva?

O que os autores comentados acima, e outros que não citamosaqui, fizeram em comum, foi o fato de apontarem para outras possibi-lidades de análise do objeto da linguística para além do fechamento

em sua estrutura, como propunha Saussure. E assim, abria-se caminhopara outras considerações no estudo da língua, observando-a em fun-cionamento, como processo.

Seguindo esse percurso, chegou-se então ao texto como lugar deobservação da língua, de inscrição de sentidos, das intenções dos seusprodutores. E chegou-se também à linguística textual. Havendo situadohistoricamente seu aparecimento, daremos então continuidade a nossaaula, passando agora à definição desse campo de estudo, o que fare-mos a partir da resposta dada à pergunta a seguir.

O que é linguística textual? A linguística textual é um ramo dos estudos linguísticos que, como

o próprio nome indica, está teoricamente centrado no texto, tomadocomo seu objeto de investigação. E textos, como sabemos, são objetosreais, produzidos com uma finalidade específica. Já aqui podemos an-tecipar importantes concepções teóricas que vão marcar uma linguísti-ca de caráter discursiva. Vamos pensar um pouco sobre isso.

Primeiramente, estamos percebendo que a unidade de análise para

essa linguística não se restringe aos elementos fonéticos, fonológicos,morfológicos da língua. Se você não está lembrado do que significamesses conceitos, pare um momento e volte até nossa quarta aula docurso de Teorias Linguísticas I. Mas não continue sem saber do queestamos falando porque vamos nomear assim esses elementos, quandoeles aparecerem em nossas aulas. Está vendo como os pilares da lin-guística estrutural continuam firmes? Nenhuma teoria bem fundamen-tada se perde com o tempo. Mas voltemos ao texto. Ele é consideradoo lugar específico para a manifestação da linguagem. E como sabe-mos, o uso da língua pode ser realizado de forma falada ou escrita.Portanto, a linguística textual tratará tanto de textos falados quanto detextos escritos.

Em segundo lugar, pensando no que foi dito sobre o texto ser pro-duzido por alguém, com uma finalidade, não há como não considerarque o texto para se concretizar depende de alguém, de um sujeito (Será

que podemos pensar em Benveniste neste momento?), situado numadeterminada situação de comunicação, dirigindo-se para um outro al-guém. Por que esses elementos são importantes? Porque eles nos fazempensar na interação, nesse momento em que interlocutores estão esta-belecendo uma relação e para isso estão fazendo uso da língua. Nessecaso, a língua é tomada aqui como uma forma de ação, como umaatividade. Essa é a concepção que permeia os estudos linguísticos deorientação discursiva, como a linguística textual.

 Veja o que diz Koch (apud XAVIER e CORTEZ, 2003, p. 124) sobrea língua, ao ser perguntada acerca da relação entre língua, linguageme sociedade:

“A língua se configura através das práticas sociaisde uma sociedade, de uma comunidade. Então, alíngua se configura dentro do meio social, comoexpressão do meio social, lugar de interação entre

os membros de uma sociedade e nesse lugar deinteração é que se constituem as formas linguísti-cas e todas as maneiras de falar que existem numadeterminada época, numa determinada sincronia”.

 Ao ler esta definição você percebe nela uma orientação teóricaconvergente com o que se observa na sociolinguística? Isso aconte-ce porque a linguística textual absorveu contribuições dessa disciplina.

 Você pode verificar em que sentido ocorreram essas contribuições, reto-

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Page 9: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 9/76

 16 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  17

mando a parte da décima aula do curso de teorias linguísticas I que tra-ta da sociolinguística. Esta é nossa proposta para a atividade a seguir.

 

 Atividade IV 

 

Releia a denição de língua acima, e recupere na última aula sobre outrasperspectivas para o estudo da língua , do curso anterior, aspectos em que sepode perceber a aproximação entre a linguística e a sociolinguística.

Já que a pergunta feita à autora inclui também a noção de lingua-gem, é importante que se conheça a diferença de conceitos que existeentre estes dois termos, embora eles possam ser usados indiferente-mente. Você poderá encontrar esse uso em algum texto que venha aler. Mas geralmente, quando se fala em linguagem, está se pensandona “capacidade do ser humano de se expressar através de um conjuntode signos, de qualquer conjunto de signos” (KOCH, apud XAVIER eCORTEZ, 2003, p. 124).

O conceito de linguagem, portanto, tem uma ampliação maior do

que a de língua. Saussure mesmo já esboçara uma diferença entrelíngua e linguagem. Se for do seu interesse, você pode mais uma vezvoltar um pouco atrás e na aula três, sobre os pressupostos teóricosde Saussure, relembrar como o fundador da linguística propôs essadiferença.

Esclarecida a noção de língua com que trabalha a linguística tex-tual, é necessário, como não poderia deixar de ser, em se tratando deuma linguística de texto, que se esclareça também a noção do que seestá discutindo, quando se fala em texto. Recorremos mais uma vez aIngedore Koch que, no comentário a seguir, nos traz uma definiçãosimples e bastante esclarecedora do que é considerado texto na pers-pectiva da linguística textual:

“A Linguística Textual toma, pois, como objeto par-

ticular de investigação não mais a palavra ou afrase isolada, mas o texto, considerado a unidadebásica de manifestação da linguagem, visto que ohomem se comunica por meio de textos e que exis-tem diversos fenômenos linguísticos que só podemser explicados no interior do texto. O texto é muitomais que a simples soma das frases (e palavras)que o compõem: a diferença entre frase e texto nãoé meramente de ordem quantitativa; é sim, de or-dem qualitativa” (KOCH, 1989, p. 14).

O que podemos apreender a partir dessa citação? Primeiramente,você percebe que há um novo direcionamento no recorte do objeto aser estudado. A autora diz: não mais a palavra ou a frase isolada, mas otexto. Portanto, percebe-se claramente o rompimento com a linguísticada frase, e isso por uma razão muito clara nesse estágio dos estudosda língua: o homem se comunica por meio de textos. Parece óbvio, nãoé? Mas só agora é que a ideia é posta de forma tão transparente nalinguística.

Uma outra consideração muito importante que segue essa últimaafirmação de Koch, é a de que  existem diversos fenômenos linguísticosque só podem ser explicados no interior do texto. O que isso significa?Que o estudo da língua, o estudo dos aspectos gramaticais envolvidosno seu uso, só encontram respaldo se são realizados a partir de seuaparecimento, do seu uso efetivo no texto. Nesse ponto, retomamosBakhtin, que pode ser citado como uma referência para a abordagemdo texto pela linguística, visto que muitos dos seus pressupostos se har-monizam perfeitamente bem com os pressupostos da linguística textual.

 Veja por exemplo o que ele já havia enunciado na década de 20:

“Cada texto pressupõe um sistema compreensívelpara todos (convencional, dentro de uma dada co-letividade) – uma língua (ainda que seja a línguada arte). Se por trás do texto não há uma língua,já não se trata de um texto, mas de um fenômenonatural (não pertencente à esfera do signo)... As-sim, por trás de todo texto, encontra-se o sistemada língua” (BAKHTIN, 2000, p. 331).

Certamente você leu a apresentação desta aula e deve estar fazen-do a relação do que foi dito lá com o que acabamos de enunciar aquisobre o estudo da língua a partir do texto. É assim que vemos as teoriasfuncionando para dar embasamento a uma prática. Esperamos quevocê consiga realizar esta ponte quando estiver atuando como profes-sor de língua portuguesa.

Finalizando, vamos tomar o último enunciado: a diferença entrefrase e texto não é meramente de ordem quantitativa; é sim, de ordemqualitativa. Essa é uma questão interessante porque remete para a no-ção de texto. O que é preciso para que se diga que uma sequência depalavras faladas ou escritas seja um texto? Para responder essa per-gunta dentro da perspectiva da linguística textual, foram estabelecidos

alguns critérios de textualidade. Sobre esses critérios vamos falar naspróximas unidades. No momento, analisamos os termos quantitativoe qualitativo. Texto não é sinônimo de vinte, trinta ou mais linhas. Naperspectiva que estamos estudando, uma simples palavra, se contex-tualizada, se correspondendo a uma situação de comunicação, cum-prindo uma função comunicativa, é considerada texto. Isso vale dessaforma, tanto para uma simples pergunta como Que horas são? quantopara um tratado filosófico de cem páginas sobre o sentido da existênciahumana.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Page 10: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 10/76

 18 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  19

 

 Atividade V 

 

 Agora é a sua vez. Daremos a seguir uma de nição de texto e esperamos que você justique por que essa denição está vinculada à perspectiva discursiva

da linguística textual.

“O texto  será entendido como uma unidade linguística concreta(perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários dalíngua (falante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situação de interaçãocomunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preen-chendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, inde-pendentemente da sua extensão” (KOCH e TRAVAGLIA, 1989, p. 8-9).

Encerrando por aqui esta unidade, gostaríamos de reportar umadefinição de linguística textual de Marcuschi (1983, p. 12-13), porquecom ela o autor resume bem os propósitos da linguística de texto. Leiaa seguir o que ele diz:

“Proponho que se veja a Linguística do Texto, mes-mo que provisória e genericamente, como o estudodas operações linguísticas e cognitivas reguladorase controladoras da produção, construção, funciona-mento e recepção de textos escritos ou orais . Seutema abrange a coesão superficial ao nível dos cons-tituintes linguísticos, a coerência conceitual ao nívelsemântico e cognitivo e o sistema de pressuposiçõese implicações a nível pragmático2  da produção dosentido no plano das ações e intenções. Em suma,

a Linguística Textual trata o texto como um ato decomunicação unificado num complexo universo deações humanas. Por um lado deve preservar a or-ganização linear   que é o tratamento estritamentelinguístico abordado no aspecto da coesão e, poroutro, deve considerar a organização reticulada outentacular, não linear portanto, dos níveis de sentidoe intenções que realizam a coerência no aspecto se-mântico e funções pragmáticas”.

Serão justamente os temas de que fala o autor na citação, os assun-tos que serão tratados nas próximas aulas deste curso. Você terá assimoportunidade de conhecer os procedimentos teóricos e metodológicosempregados numa análise da língua centrada nos pressupostos da lin-guística textual. Com certeza muita leitura e análise esperam por você.Portanto, encha-se de disposição para aprender. De início, já indica-mos as obras a seguir, para que você amplie sua compreensão sobreo assunto estudado.

Leituras recomendadasKOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 7. ed. São Paulo: Contex-to, 1997.

 De leitura fácil e bastante didática, fazendo uso de muita exem-plificação, os textos de Koch são de leitura obrigatória paraquem quer conhecer a linguística textual. Citamos aqui esta in-trodução, mas qualquer um de seus livros que estão citados nasreferências a seguir, podem ser lidos com esse fim.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros ecompreensão. São Paulo, Parábola Editorial, 2008.

 Vamos apresentar este livro transcrevendo um trecho de seu

prefácio, na página 11: “A natureza didática do livro é evi-dente, especialmente, pela presença de atividades, exemplosilustrativos, glossários, indicações de obras de consulta para oaprofundamento dos temas tratados e uma série de quadros etabelas que buscam sistematizar as teorias abordadas. Percebe--se ainda uma progressão de dificuldade das atividades propos-tas, partindo-se de indagações mais pontuais até pesquisas decampo realizadas pelos alunos e socializadas em pôsteres”. Portudo isso vale a pena estudar com esse livro, a partir mesmo doprefácio.

PAVEAU, Marie-Anne & SARFATI, Georges-Élia.  As grandes teoriasda linguística. Da gramática comparada à pragmática. São Carlos:Claraluz, 2006.

Neste livro os autores fazem uma apresentação da progressãohistórica da linguística no século XIX, mostrando as filiaçõesteóricas de cada corrente linguística. Assim, ficamos sabendodas concepções em que se assentaram as bases da linguísticano século XX. Recomendamos para esta aula, especialmente, aleitura do capítulo sobre as linguísticas discursivas, porque vocêficará conhecendo as fontes em que beberam os pesquisadoresda linguística textual no Brasil.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

2  O nível pragmático se refere ao nível douso da língua. São fatores pragmáticos “osfatores que regem nossas escolhas linguís-

ticas na interação social e os efeitos denossas escolhas sobre as outras pessoas”(WEDWOOD, 2002, p. 144).

Page 11: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 11/76

 20 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  21

Resumo

O surgimento da linguística textual está atrelado ao movimento deampliação das fronteiras da linguística, rumo a uma interdisciplinari-dade cada vez mais crescente, especialmente na década de 60. Suaproposta teórica se baseia especialmente na tomada do texto comoobjeto de investigação, já que é ele a unidade básica de comunicação.

 A linguística textual estuda assim, o funcionamento da língua, comoela está sendo atualizada pelos falantes. Portanto, a língua enquantoprocesso, a partir do qual sentidos são construídos.

 Autovaliação

 

Tendo como base a noção de texto apresentada nesta aula, e consi-derando que sobre ela deve estar centrada a aula de língua portuguesa,indique se a proposta abaixo, de uma produção textual requisitada em

um vestibular, apresenta elementos ou não, que justifiquem tal noção.

PROPOSTA DE VESTIBULAR:

“Imagine que você é a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.Redija a carta de demissão da ex-ministra ao presidente Lula, apresen-tando a situação e justificando o pedido. Utilize um mínimo de 20 e ummáximo de 25 linhas para elaboração de seu texto.”

 Para ajudá-lo na elaboração de seu comentário, releia o que dizemKoch e Travaglia, (1989, p. 8-9):

“O texto será entendido como uma unidade lin-guística concreta (perceptível pela visão ou audi-ção), que é tomada pelos usuários da língua (fa-lante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situaçãode interação comunicativa específica, como umaunidade de sentido e como preenchendo uma fun-ção comunicativa reconhecível e reconhecida, in-

dependentemente da sua extensão.”

e Marcuschi (1989, p. 12-13):

“Proponho que se veja a Linguística do Texto, mes-mo que provisória e genericamente, como o estudodas operações linguísticas e cognitivas reguladorase controladoras da produção, construção, funcio-namento e recepção de textos escritos ou orais”.

Lembre-se de que Marcuschi fala nessa mesma passagem, que notexto estão implicadas “pressuposições [...] a nível pragmático da pro-dução do sentido no plano das ações e intenções”. Dessa forma, oautor considera o texto “como um ato de comunicação unificado no

complexo universo de ações humanas”.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Page 12: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 12/76

 22 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II

II UNIDADE

 A coesão textual

ReferênciasBAKHTIN, M. (Voloshinov). Marxismo e losoa da linguagem. (Trad. deM. Lahud e Y. Vieira). São Paulo: Hucitec. 2002, 1929.

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. (Trad. de Mª. E. Pereira). SãoPaulo: Martins Fontes, 2000, 1979.

BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Geral II. Campinas, SP:Pontes, 1989 (1902-1976).

KOCH, Ingedore Villaça.  A coesão textual. 7. ed. São Paulo: Contexto,1989.

KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo:Contexto, 1997.

KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à linguística textual: trajetória egrandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos.  A coerência textual. 8. ed. São Paulo: Contexto, 1997.

MARCUSCHI, Luiz Antônio.  A Linguística de Texto: o que é e como se

faz. Recife. Universidade Federal de Pernambuco, 1983.MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros ecompreensão. São Paulo, Parábola Editorial, 2008.

PAVEAU, Marie-Anne & SARFATI, Georges-Élia. A s grandes teoriasda linguística. Da gramática comparada à pragmática. São Carlos:Claraluz, 2006.

WEEDWOOD, Barbara. História concisa da linguística. Tradução deMarcos Bagno. 2. Ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

 XAVIER, Antônio Carlos e CORTEZ, Suzana (orgs.). Conversas comlinguistas: Virtudes e controvérsias da linguística. São Paulo: Parábola,2003.

Page 13: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 13/76

 24 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  25

 Apresentação

 

Com a unidade anterior você tomou conhecimento dospressupostos fundamentais da corrente linguística que tomao texto como sua unidade básica de estudo. Assim, você jásabe do que se trata um estudo da língua que seja realizadosegundo a perspectiva da linguística textual. Inclusive, tive-mos a preocupação de tornar suf icientemente clara a noçãodo que se entende por texto, quando se trata de tomá-locomo objeto de investigação segundo essa perspectiva te-órica.

Pois bem, a partir desta segunda unidade estaremos es-pecificamente tratando de apresentar os mecanismos queestão disponíveis na língua para se produzir textos que se-jam compreensíveis aos usuários dessa língua. E o maisimportante: estaremos mostrando qual a função que esseselementos exercem nas sequencias textuais em que estãoinseridos, de modo a contribuírem para construírem textosreconhecidos como bem formados pelos usuários da língua.Trata-se do estudo dos elementos de coesão textual. Trata-sedo que Marcuschi (1983, p. 12-13), citado na aula anterior,designou como fazendo parte da organização linear que é otratamento estritamente linguístico abordado no aspecto dacoesão”.

 A partir desta aula você terá certamente uma maior pre -ocupação com sua própria produção textual, seja ela fala-da ou escrita. Porque é justamente o aspecto da produçãotextual que estaremos enfocando nesta unidade. Tendo emvista tais considerações, só temos a lhe desejar um excelenteproveito de seus estudos, a partir dos objetivos que estabe-lecemos a seguir:

Objetivos

 Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de:

• Explicitar uma concepção de texto partindo da identi-ficação dos elementos de coesão;

• Reconhecer os elementos que estão estabelecendo acoesão do texto;

•  Avaliar um texto bem formado, do ponto de vista dacoesão.

 

Page 14: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 14/76

 26 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  27

Da definição de coesão 

 A investigação sobre a coesão no campo da linguística textual éfeita com vistas a se investigar os aspectos que dizem respeito aos pro-cessos que são empregados no ato de produção textual, com a finali-dade de se obter um produto, o texto, dotado de sentido. É evidente,portanto, que nesta aula será dispensada atenção prioritária ao estudodesses processos. Mas antes que comecemos nosso trabalho de análi-

se de textos para explicitar como operam os mecanismos responsáveispelo estabelecimento da coesão textual, é necessário conhecermos asdefinições do termo, estabelecidas por teóricos da linguística textual.É nesse sentido que transcrevemos abaixo as definições presentes emKoch (2001, p. 17, 18).

Uma primeira definição, de Halliday & Hasan, diz que:

“a coesão ocorre quando a interpretação de al-gum elemento no discurso é dependente da de ou-tro. Um pressupõe o outro, no sentido de que nãopode ser efetivamente decodificado a não ser porrecurso ao outro”.

“Para Beaugrande & Dressler (1981),

a coesão concerne ao modo como os componen-tes da superfície textual – isto é, as palavras e frasesque compõem um texto – encontram-se conecta-das entre si numa sequência linear, por meio dedependências de ordem gramatical”.

Para Marcuschi, são fatores de coesão, aqueles que:

“dão conta da estruturação da sequência superfi-cial do texto, ‘afirmando que não se trata de prin-cípios meramente sintáticos, mas de’ uma espéciede semântica da sintaxe textual, ‘isto é, dos meca-nismos formais de uma língua que permitem es-

tabelecer, entre os elementos linguísticos do texto,relações de sentido”.

 Você leu as definições acima e certamente percebeu que há umaspecto caracterizador da coesão que é realçado nas três definições.Isso quer dizer que é esse o aspecto fundamental para se definir a coe-são. Vamos deixar para você a tarefa de explicitar qual é esse aspecto,respondendo a atividade a seguir:

 Atividade IReleia as três denições apresentadas acima, e identique o traço comumapresentado pelos três autores, que denem resumidamente o que éconceituado como coesão.

Responda ainda: das três denições, qual a que abarca uma denição mais

completa de coesão? Por quê?

Responda a atividade com bastante atenção, porque sua resposta seráconstantemente retomada na sequência desta unidade. Isso porque nessaresposta está o cerne do que se entende por coesão, o tema que estaremosdesenvolvendo aqui.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Passemos agora a uma segunda etapa de nosso percurso em dire-ção ao conhecimento da coesão textual: sua efetivação no texto.

 

 Analisando a coesão de um texto escrito

  Nesse momento, vamos analisar como a coesão se processaem um texto real, a exemplo dos que circulam nos diversos suportestextuais em nossa sociedade. Para isso, vamos tomar como ponto departida a noção de coesão como sendo a forma como os elementoslinguísticos da superfície textual se relacionam entre si, numa sequência. 

 Através dessa relação, são sinalizados os percursos que o leitor/ouvintedeve percorrer para construir o sentido do texto. Por isso, é certo que acoesão interfere também no nível semântico do texto.

Mas vamos parar de falar sobre a coesão, para vermos como defato ela funciona nos textos. Vamos tomar um texto simples, e assimfacilmente poderemos perceber como acontece o encadeamento dossintagmas, das frases, dos parágrafos, das partes do texto, constituindoo processo coesivo.

Page 15: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 15/76

 28 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  29

 TEXTO 1

PODER INVISÍVEL

Noêmia Lopes

 A gente não vê, mas a água de rios, lagos e mares tem mo-radores incríveis: o plâncton, seres minúsculos e essenciais para

a vida na Terra.Nessa turma estão algas, bactérias, fungos, crustáceos, mo-

luscos e outras criaturas microscópicas. Alguns não tem mem-bros para locomoção e outros são pequenos demais para nadar.Por isso, eles ficam flutuando na água.

Existem dois tipos de plâncton, o vegetal e o animal. Os doisservem de comida para vários animais, por isso são importantesno equilíbrio da cadeia alimentar. Além disso, o plâncton vegetalfaz a fotossíntese e fornece grande parte do oxigênio que existeno planeta.

(RECREIO, Ano10, nº 504, 5/11/2009)

 Vamos começar a destrinchar esse texto por uma pergunta clássicadas aulas de leitura: do que fala do texto? Claro que você consegueresponder essa pergunta facilmente. E um dos motivos para isso é que otexto está muito bem tramado do ponto de vista de sua coesão textual.

 Veja que o modo como os sintagmas, as frases, as três partes do texto,estão encadeados de forma a não oferecem qualquer dúvida quantoaos elementos a que estão sendo feitas as referências no texto. Vamosver como isso acontece:

Primeiramente, ficamos sabendo quem são os moradores incríveis por-que eles estão anunciados justamente após o termo moradores incríveis.

 A gente não vê, mas a água de rios, lagos e mares tem moradores incríveis: o

plâncton, seres minúsculos e essenciais para a vida na Terra.

 Veja bem, só essa ordem em que os termos estão dispostos, um ime-diatamente após o outro, separados pelo sinal de pontuação, os dois pon-tos, já é indicativo de que o segundo termo, o plâncton, deve ser tomadocomo referente ao primeiro, moradores incríveis. Esse já é um fator de co-esão. Para ficar bem claro por que esses seres são incríveis, a adjetivaçãonão deixa dúvida: eles são minúsculos e essenciais para a vida na Terra.

O segundo parágrafo se inicia através do sintagma nessa turma. Imediatamente, o leitor faz uma remissão para o parágrafo anterior,que é onde se encontra o termo referido por nessa turma. Já foi feitaaqui a ligação entre os dois primeiros parágrafos do texto. Continuan-do a leitura, deparamo-nos como o termo alguns. Dá para recuperar aquem ele se refere? Se sim, a coesão continua sendo garantida. Logoà frente, encontramos o termo outros. Mais uma vez, sabemos perfeita-mente quem são esses outros no texto. E eles?

 Você está vendo, não há como o leitor perder o fio do texto, seele segue as pistas linguístico-gramaticais que o autor maneja paraconstruir seu texto. Veja só como isso fica evidente se destacamos esses

elementos no texto. A gente não vê, mas a água de rios, lagos e mares tem moradores

incríveis:

o plânctonseres minúsculos

e

essenciaispara a vida na

 Terra

Nessa turma estão algas, bactérias, fungos, crustáceos, moluscose outras criaturas microscópicas. Alguns não tem membros para loco-moção e outros são pequenos demais para nadar. Por isso, eles ficamflutuando na água.

E continua: Existem dois tipos de plâncton. Não há como “esque-cer” qual era o tema tratado no texto, porque ele foi retomado agora

no terceiro parágrafo, através da mesma palavra: plâncton. Os dois servem de comida para vários animais. A quem se refereos dois? Quem são importantes? Se existem dois tipos de plâncton, oplâncton vegetal é um deles.

Chegamos ao final do texto, mas isso não quer dizer que esgo-tamos todas as possibilidades de verificação dos seus elementos co-esivos. Você até pode ter se dado conta de algum aspecto que nãocitamos em nossa análise. É interessante até que faça o registro do queobservou, assim estará exercitando sua capacidade interpretativa. Maspor ora vamos fazer uma pausa para discutir um aspecto importante dacoesão, no item a seguir.

Por que é importante estudar a coesão

quando se ensina língua?E então, é simples verificar como se processa a coesão num texto?

Temos que admitir que para nós, leitores proficientes da língua, o textoPoder Invisível, de fato, é de fácil compreensão. Mas o que importa éque a construção do texto por meio do manuseio dos elementos linguís-ticos segue a mesma lógica, no sentido de se alcançar, como produto,o texto de qualidade coesiva. O que vai acontecer é que dependendo

Page 16: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 16/76

 30 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  31

do gênero do texto, diferentes recursos coesivos vão ser ativados porseu produtor. E claro, quanto mais avançamos no nosso conhecimentode língua e de textos, fazemos um uso mais ampo dos recursos coesivosque a língua nos oferece. Isso é válido também para os textos orais queproduzimos diariamente em nossa vida cotidiana. É importante salien-tar ainda que esses recursos são inesgotáveis e que em cada texto sãoempregados diferentes recursos coesivos. Portanto, não adianta cons-truir uma forma para analisar todos os textos com que nos deparamos,porque não há um texto que repita outro, mesmo em se tratando desua estrutura formal.

Esse é um aspecto interessante do ponto de vista do ensino da lín-

gua, porque, além disso, você deve ter percebido que estudamos ele-mentos linguísticos que normalmente são visualizados somente a partirda perspectiva da gramática tradicional. No entanto, pudemos verifi-car a importância desses elementos quando estão funcionando de fatonum texto, como elementos que promovem sua coesão. Portanto, oimportante não é centrar-se sobre uma nomenclatura ou sobre umacategorização do certo e do errado do ponto de vista gramatical, massobre o que funciona bem para que meu texto adquira sentido e sejacompreendido por quem o lê ou por quem o escuta.

 Após essas considerações do ponto de vista do ensino da língua,temos uma proposta de atividade a seguir.

 Atividade II

Retome alguns dos elementos linguísticos que destacamos durante a análisedo texto PODER INVISÍVEL e pesquise numa gramática tradicional o modo comoesses elementos são analisados ali. Reita sobre qual das duas perspectivas, ada gramática tradicional ou a da linguístca textual, é mais ecaz para o ensinode produção textual. Você deverá levar suas reexões para o fórum de debatese assim compartilhá-las com seus colegas.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

 A coesão no texto falado

  Para desenvolvermos esse item vamos retomar o conceito detexto que reportamos na unidade anterior:

“O texto será entendido como uma unidade lin-guística concreta (perceptível pela visão ou audi-ção), que é tomada pelos usuários da língua (fa-lante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situaçãode interação comunicativa específica, como uma

unidade de sentido e como preenchendo uma fun-ção comunicativa reconhecível e reconhecida, in-dependentemente da sua extensão” (KOCH e TRA-

 VAGLIA, 1989, p. 8-9).

Depreende-se dessa definição, que a linguistica textual trabalhatanto com textos escritos quanto com textos orais. E os textos orais, den-tro de suas especificidades, são também construídos com vistas a seremcompreendidos. Portanto, também nesses estão presentes elementos decoesão textual.

Somente para exemplificar, porque para tratar da oralidade serianecessário um curso todo dedicado a isso, mostramos no trecho de falaa seguir 1, como os elementos de coesão são acionados pelo falante, demodo a que o resultado da fala seja um texto dotado de sentido.

 TEXTO 2

  ... sabemos por exemplo... que o sindicato... dos co-merciários para falar de um assunto que nos toca... pati parti-cularmente... possui uma granja na cidade de Carpina... e queproporciona... àquela imensa... leva de associados... um lazerrealmente magnífico... um momento de:... descanso... um mo-mento de: felicidade podemos dizer assim... a todos aqueles...que vão... até lá em busca de paz de sossego e de tranquilida-de... sabemos também... que...

(DID.131 – NURC/REC.:39-47)

  Ressaltamos no trecho que o falante reformula o enunciado umlazer realmente magnífico, através de um outro enunciado em forma deparáfrases: um momento de:... descanso... um momento de:... felicida-de. Assim ele precisa o sentido do que quis dizer, e chama a atenção do

1 Os três pontos que aparecem nesse textotranscrito a partir de um texto falado, sãoutilizados para indicar pausas feitas pelofalante. Os dois pontos indica que ele sealongou na pronúncia da vogal.

Page 17: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 17/76

 32 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  33

seu ouvinte. Destaca-se também no trecho a presença do conector e,do termo assim, que resume todo o enunciado anterior. E para f inalizar,a retomada do início do texto, feita através da repetição da sequência: sabemos também que.

Este exemplo é elucidativo para demonstrarmos que a coesão fazparte de toda e qualquer produção textual. Isso inclui os textos faladosque são tão presentes em nossa vida cotidiana e que merecem tambémser investigados em seu processo de produção. Mas como não vamosnos centrar no estudo dessa modalidade de língua, prosseguimos nos-sa aula discutindo a respeito das propriedades da coesão, no item aseguir.

 A coesão é um processo sintático,ou semântico?

 A afirmação de que a coesão proporciona unidade temática aotexto reflete a ideia de que ela, operando no nível superficial, favorece,a partir daí, as construções de sentido para o texto, que se diz fazeremparte de sua superfície profunda. De forma que no final tem-se um todocoeso e dotado de sentido, ou seja, tem-se o que podemos reconhecer,na qualidade de falantes da língua, como sendo um texto.

É hora de fazermos o feedback. Lembra-se de termos pedido quevocê respondesse a atividade 1 com bastante atenção? Pois bem, che-

gou o momento de voltarmos à resposta que você deu naquele mo-mento. E isso através, é claro, de mais uma atividade.

 Atividade IIIRetome agora a resposta dada para a atividade 1. Avalie se a deniçãoescolhida por você é condizente com o que dissemos acima sobre a coesão serum processo sintático ou semântico.

 Você mesmo pode responder agora: A coesão é um processo sintático ousemântico? Não vale responder sem explicar o porquê. Então, mãos à “caneta”.

Continuando...

O reconhecimento da unidade temática do texto, de que falamosanteriormente, se processa porque, ao ir fazendo as ligações na super-fície do texto, como vimos para o texto acima, vão se fazendo tambémas ligações no nível conceitual.

 Assim, por exemplo, no texto PODER INVISÍVEL, é possível, a partirdo título mesmo, fazer sua ligação com o que está nele expresso. Va-mos retomar o texto: Por que o uso da palavra poder? Porque de fato asações desses seres microscópicos, citadas no texto, são dignas de super

heróis. E será que a palavra “microscópicos” tem a ver com invisibili-dade? A primeira frase do texto já nos dá pista disso: A gente não vê.

Se continuamos, podemos perceber claramente que é a partir dasrelações que se fazem no nível micro, nas relações gramaticais mesmo,como por exemplo entre os sujeitos e as formas verbais, que vão sendoestabelecidas as relações nos níveis superiores.

 Assim, como bons conhecedores da língua, estabelecemos comosujeito do verbo estão, no segundo parágrafo do texto, os termos quevem depois dele: algas, bactérias, fungos, crustáceos, moluscos e outrascriaturas microscópicas. E por que não fazemos com o termo que vemantes, o que é a ordem mais comum em nossa sintaxe? Uma pista: aterminação do verbo indica um sujeito plural.

O simples conectivo e garante a ligação entre algas, bactérias, fun-gos, crustáceos, moluscos e outras criaturas microscópicas; entre Alguns

e outros.Se passamos para o nível das orações, temos outros conectores,

que enfatizam determinado tipo de relação que se estabelece entre asorações.

•  A gente não vê, mas a água de rios, lagos e mares tem mora-dores incríveis;

•  Alguns não tem membros para locomoção e outros são peque-nos demais para nadar. Por isso, eles ficam flutuando na água;

• Os dois servem de comida para vários animais, por isso são im-portantes no equilíbrio da cadeia alimentar. Além disso, o plânc-ton vegetal faz a fotossíntese e fornece grande parte do oxigênioque existe no planeta.

Para que a compreensão do texto fosse assegurada, o autor do tex-

to garantiu a manutenção do tema ao longo dos parágrafos. Para isso,estabeleceu os elos de ligação entre eles, através do sintagma Nessaturma (segundo parágrafo) e da oração Existem dois tipos de plâncton(terceiro parágrafo),que retomam termos citados anteriormente, mastambém reintroduzindo o tema que vinha sendo exposto, desenvolve-o,amplia-o.

Tudo isso é feito de modo que, ao chegar ao final do texto, o leitorpode ter formulado uma interpretação para ele. Percebe-se então que

Page 18: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 18/76

 34 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  35

o texto é, finalmente, o resultado de um processo de múltiplos encade-amentos, na medida em que cumpre assim, a função da coesão, qualseja: “a de criar, estabelecer e sinalizar os laços que deixam os váriossegmentos do texto ligados, articulados, encadeados. Reconhecer, en-tão, que um texto está coeso é reconhecer que suas partes – como dis-se, das palavras aos parágrafos – não estão soltas, fragmentadas, masestão ligadas, unidas entre si” (ANTUNES, 2005, p. 47).

O que expusemos até aqui reforça a ideia de que não falamos porpalavras isoladas, mas através de textos, em sua completude. Isso querdizer: através de sequências que, interligadas, fazem sentido para quemas produz e para quem se dirigem. Ou seja, através de textos coesos.

Seria interessante verificar mais uma vez como isso acontece? En-tão, vamos a mais um texto.

 TEXTO 3

2. O determinismo geográfico

O determinismo geográfico considera que as diferenças doambiente físico condicionam a diversidade cultural. São explica-ções existentes desde a Antiguidade, do tipo das formuladas porPollio, Ibn Khaldun, Bodin e outros, como vimos anteriormente.

Estas teorias, que foram desenvolvidas principalmente porgeógrafos no final do século XIX e no início do século XX, ga-nharam uma grande popularidade. Exemplo significativo dessetipo de pensamento pode ser encontrado em Huntington, emseu livro Civilization and Climate (1915), no qual formula umarelação entre a latitude e os centros de civilização, considerandoo clima como um fator importante na dinâmica do progresso.

 A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber,entre outros, refutaram este tipo de determinismo e demonstra-ram que existe uma limitação na influência geográfica sobre osfatores culturais. E mais: que é possível e comum existir umagrande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo deambiente físico.

Tomemos, como primeiro exemplo, os lapões e os esquimós. Ambos habitam a calota polar norte, os primeiro no norte daEuropa e os segundos no norte da América. Vivem, pois, em am-bientes geográficos muito semelhantes, caracterizados por umlongo e rigoroso inverno. Ambos têm ao seu dispor flora e faunasemelhantes. Era de se esperar, portanto, que encontrassem asmesmas respostas culturais para a sobrevivência em um ambien-te hostil. Mas isto não ocorre:

Os esquimós constroem suas casas (iglus) cortandoblocos de neve e amontoando-os num formato de col-méia. Por dentro a casa é forrada com pelos de animaise com o auxílio do fogo conseguem manter o seu interiorsuficientemente quente. É possível, então, desvencilhar--se das pesadas roupas, enquanto no exterior da casa atemperatura situa-se a muitos graus abaixo de zero graucentígrado. Quando deseja, o esquimó abandona a casatendo que carregar apenas os seus pertences e vai cons-truir um novo retiro

Os lapões, por sua vez, vivem em tendas de peles derena. Quando desejam mudar os seus acampamentos,necessitam realizar um árduo trabalho que se inicia pelodesmonte, pela retirada do gelo que se acumulou sobre aspeles, pela secagem das mesmas e o seu transporte parao novo sítio.

Em compensação, os lapões são excelentes criadoresde renas, enquanto tradicionalmente os esquimós limitam--se à caça desses mamíferos.

 A aparente pobreza glacial não impede que os esquimóstenham uma desenvolvida arte de esculturas em pedra-sabão enem que resolvam os seus conflitos com uma sofisticada compe-

tição de canções entre os competidores.  Um segundo exemplo, transcrito de Felix Keesing, é a

variação cultural observada entre os índios do sudoeste norte--americano: (...)

(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito Antropológico. 11.ed. Rio de Janeiro: Zahar Editor. 1997, p. 21-22).

Começando pelo começo...

 Voltamos nossa atenção para o título do texto e percebemos que omesmo já se inicia privilegiando o aspecto coesivo. O primeiro pará-grafo parte de uma retomada do título, através da repetição: O deter-minismo geográfico. O final do parágrafo, por sua vez, já remete parauma outra parte do texto, anterior, que obviamente não transcrevemosaqui. Com o enunciado: como vimos anteriormente, o autor deixa cla-ro que já havia tratado do assunto antes. Merecem também atençãoo uso do pronome outros. Através dele o autor pode omitir uma listatalvez enorme de teóricos. Você deve ter prestado atenção também que

Page 19: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 19/76

 36 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  37

o sintagma as diferenças do ambiente físico, é retomado primeiro pelotermo explicações, e depois por do tipo das formuladas. Nesse caso,houve também a retomada do tema através de termos diferentes, pro-porcionando o encadeamento das sequências, e consequente progres-são do texto. Essa é uma função da coesão.

Passando para o segundo parágrafo, verifica-se que a ligação como primeiro está assegurada através do sintagma estas teorias. Mais umtermo que se junta a as diferenças do ambiente físico, explicações, edo tipo das formuladas. E ainda a esse tipo de pensamento, que lemosmais à frente. Você pode indicar que termo é substituído pelo pronomeno qual, na quarta linha desse parágrafo? Uma dica: ele está no gêne-

ro masculino e no singular. A partir de 1920, ou melhor, a partir daqui, deixamos para você a

tarefa de dar continuidade à observação de como está sendo costuradoo texto. Este é um ótimo exercício para se aprender a produzir os pró-prios textos. Portanto, não perca a oportunidade.

 Atividade IV Está lançada então a proposta. Dê continuidade à análise que vínhamosfazendo, e assim você descobrirá variadas possibilidades de se fazer eloscoesivos num texto. Claro que não será possível remarcar todas numa primeira vez. Nesse caso, compartilhar o que você fez no fórum, com seus colegas,será uma oportunidade excelente para tomar conhecimento do que você nãopercebeu, mostrar o que você fez, e assim ter uma análise bem completa dotexto. Bom trabalho!

Com esta atividade encerramos nossaunidade. Esperamos que você tenhagostado de descobrir o texto como essetapete em que se entrecruzam fios devariados tamanhos e cores. E veja queisso é só o começo. Há muito mais a seobservar quando olhamos esse objeto

de perto. Nas próximas aulas estudaremos em maior número possível,como cada fio em particular funciona no texto, de modo que a trama nãoapresente falhas. E ainda, de modo que a trama adquira determinadapadronagem. Essa tarefa de tecer com palavras, definitivamente, não éuma tarefa fácil. É tarefa que exige cuidado e bastante atenção. Mas valea pena se tornar um bom tecelão. Afinal, quem não gosta de ler um bomtexto, um bom livro? E se dizemos que o texto é bom, que o livro é bom, éporque ele está bem escrito do ponto de vista da coesão. Isso vale paranossos textos também. Portanto, vale a pena se esmerar.

Leituras recomendadas

KOCH, Ingedore Villaça.  A coesão textual. 7. ed. São Paulo: Con-texto, 1997.

Continuamos recomendando Koch, pelas mesmas razões: de leitu-ra fácil e bastante didática, a autora faz uso de muita exemplificação.

 Além disso, por ser uma pioneira da linguística textual no Brasil, seustextos são de leitura obrigatória para quem quer conhecer a teoria. Esta

é uma das suas primeiras produções na área. Portanto, vale a penaconhecer outras produções da autora como as citadas nas referênciasa seguir.

 ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Pau-lo: Parábola Editorial, 2005.

Irandé Antunes é hoje uma das pesquisadoras que têm se ocupadoda linguística textual, e tem sabido transmitir de forma muito simples eprazerosa a teoria que geralmente é apresentada de forma muito técni-ca. Com bastantes exemplos extraídos da literatura, de revistas e jornaisda atualidade, facilmente podemos descobrir os efeitos de sentido quedecorrem do uso da linguagem. Portanto, sua leitura é imprescindível.

Resumo A coesão é estudada no interior da teoria da linguística textual comouma propriedade do texto falado ou escrito, responsável pelos sucessi-vos encadeamentos de termos, de frases, de parágrafos, de modo queeste texto como produto, se apresente como uma unidade de sentido.Observa-se a coesão a partir da materialidade linguística do texto, dos

elementos coesivos da superfície textual, que ao estabelecerem rela-ções entre as diversas partes do texto, vão estabelecendo também asrelações de sentido que tornam os textos compreensíveis para seus lei-tores e ouvintes.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Page 20: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 20/76

 38 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  39

 AutovaliaçãoEste é o momento em que você deverá avaliar se seu aprendizado

se deu a contento. Portanto, a proposta de autoavaliação que sugeri-

mos deve ser realizada com bastante segurança. Se você considera quesuas leituras ainda não foram suficientes para realizá-la, é importanteque você retome as leituras, as discussões com o professor e os cole-gas, de modo a ter segurança para realizar a atividade que sugerimosa seguir:

Releia os textos PODER INVISÍVEL e O DETERMINISMO GEOGRÁ-FICO. Compare os dois, levando em consideração seu trabalho comoleitor/leitora para seguir as pistas coesivas nos dois textos, na tentativade compreendê-los.

 Agora responda: o fato desses dois textos serem de gêneros diferentes, estaremendereçados a públicos diferentes, faz com que haja maior diculdade em

reconhecer as pistas linguísticas neles presentes? Por quê?

Lembre-se de que, para responder a essa questão, você deve seater aos elementos coesivos da língua. Não entra em jogo em jogoaqui seu conhecimento maior ou menor acerca dos temas tratados nostextos.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Referências ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:Parábola Editorial, 2005.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo:Martins Fontes, 1991.

KOCH, Ingedore Villaça.  A coesão textual. 7. ed. São Paulo: Contexto,1989.

KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo:Contexto, 1997.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos.  A coerência textual.8. ed. São Paulo: Contexto, 1997.

MARCUSCHI, Luiz Antônio.  A Linguística de Texto: o que é e como sefaz. Recife. Universidade Federal de Pernambuco, 1983.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros ecompreensão. São Paulo, Parábola Editorial, 2008.

MARTELLOTA, M. et. alii. (orgs.) Manual de Linguística. São Paulo:Contexto, 2008.

Page 21: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 21/76

 40 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  41

III UNIDADE

Mecanismos de coesãotextual: a Referenciação

Page 22: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 22/76

 42 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  43

 ApresentaçãoEstudando as duas primeiras aulas deste curso de Teorias

Linguísticas II, você travou conhecimento com a LinguísticaTextual. Desse modo, já conhece os pressupostos em que sebaseia essa corrente da linguística, já conhece a definiçãode texto com que opera a Linguística de Texto, bem comojá exercitou os conhecimentos que foram adquiridos sobreos recursos utilizados pelos produtores textuais na busca deuma construção de textos coesivos, observando analitica-mente o resultado de seu emprego nos textos.

Esse caminho que você percorreu certamente já lhe pro-porcionou uma visão muito mais aguçada do produto textual.Os primeiros passos na linguística textual sempre possibilitama aquisição de uma noção de texto como artefato, como umobjeto sobre o qual é preciso trabalhar, elaborando e reelabo-rando enunciados, escolhendo a palavra mais justa, atentandopara detalhes que podem fazer muita diferença no que o produ-tor do texto quer dizer, no que o leitor pode interpretar. Todo tra-balho de elaboração textual requer a atenção do seu produtorno intuito de chegar a sua forma final mais acabada. Para isso,o conhecimento dos elementos linguísticos do texto ajuda muito.

Por isso, para esta aula, nossa proposta é fazer um estu-do mais específico da coesão, centrando-nos no estudo dos

mecanismos disponíveis na língua através dos quais são es-tabelecidas referências entre os constituintes do texto. Nossaproposta é fazer você perceber como funcionam esses meca-nismos e, sobretudo, reconhecer sua importância para a ela-boração do texto. A partir disso você mesmo poderá tambémfazer um uso muito mais consciente desses elementos. Comesse propósito, estabelecemos os objetivos de nossa unidade:

Objetivos Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz

de:

• Identificar os mecanismos linguísticos responsáveispela coesão referencial do texto;

•  Avaliar um texto bem formado, do ponto de vista doemprego dos elementos coesivos referenciais;

• Empregar os conhecimentos da linguística textual emsua atividade de leitor e produtor textual.

Page 23: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 23/76

 44 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  45

Consideraçõesiniciais necessárias

Estamos tratando neste curso, da maneira como os termos, os enun-ciados, os parágrafos do texto vão sendo encadeados num processo deidas e vindas, de retomadas, de articulações que vão resultar num textocoeso e com sentido. Porque, para que o texto tenha sentido, é precisoque suas palavras, enunciados, parágrafos, estejam interligados. Essaé a função da coesão. A partir de agora, vamos observar como os

elementos linguísticos responsáveis pela coesão funcionam nos textos.Seguiremos a proposta de Koch (1989, p. 26), que é bastante di-

dática, em que a autora propõe a “existência de duas grandes mo-dalidades de coesão: a coesão referencial  (referenciação, remissão)e a coesão sequencial (sequenciação)”. Esta unidade será dedicada àcoesão referencial, que Koch (1989, p.30) define como sendo “aquelaem que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s)elemento(s) do universo textual”. A coesão sequencial será estudada napróxima unidade.

 Ao chegar ao final do curso, você perceberá como será útil parasua própria atividade de produção textual, o conhecimento de comofuncionam os elementos de coesão. Certamente você desenvolverámaior controle sobre sua escrita, tornando-se um produtor textual maiscompetente. Bem como, um leitor mais atento ao texto que vier a ler a

partir de então.E já que o objeto de análise da linguística textual é o texto, vamos

apresentar os mecanismos de coesão referencial, naturalmente, atravésde textos. E a partir daí, vamos explicando seu funcionamento, semprerequisitando sua participação, evidentemente. Contudo, selecionare-mos trechos em que podemos observar o procedimento linguístico es-pecífico que queremos analisar. Isso porque não temos espaço suficien-te para incluir o texto integral, em função do limite que nos impõe umaaula como esta. Assim, teremos o cuidado de recuperar as informaçõesque sejam relevantes para sua compreensão.

Mas, para satisfazer sua curiosidade de leitor, indicamos sempre areferência para que você possa recuperar todo o contexto textual, lendoo texto na íntegra, sempre que possível. Asseguramos que essa seráuma atitude inteligente e prazerosa.

Contamos com sua efetiva participação na aula. Será muito impor-tante seu envolvimento realizando os exercícios, tirando as dúvidas como tutor, discutindo com os colegas no ambiente virtual. Portanto, vamosaos textos ou trechos!

 

 Analisando procedimentosde coesão referencial

Para começar, vamos ler um trecho de um diálogo imaginado porLuis Fernando Veríssimo, entre o cineasta Federico Fellini e seu produ-tor. Reportamos o trecho final porque ele exemplifica bem um procedi-mento recursivo: a repetição de um mesmo item lexical. Esse é um re-curso através do qual se consegue a reiteração de um referente textual,conseguindo-se assim estabelecer uma forma de coesão textual.

 Antunes (2005, p. 71) explica que

“A repetição, como o próprio nome indica, corres-ponde à ação de voltar  ao que foi dito antes pelorecurso de fazer reaparecer uma unidade que jáocorreu previamente. Essa unidade pode ser umapalavra, uma sequência de palavras ou até umafrase inteira”.

 Vamos ao trecho em que Fellini fala sobre a presença de gatos emum próximo filme, e você poderá confirmar o que Antunes disse acimasobre a repetição:

“_ Isso. Oitocentos gatos caolhos. Mil. Os gatos estão por todo o apartamento. O casal não con-

segue sentar ou dormir por causa dos gatos. Osgatos  comem a empregada. Os gatos  ocupamtodo o prédio. Toda a cidade! É isso! A cidade estátomada por gatos caolhos. Milhões de gatos cao-lhos. Anote aí: um milhão de gatos caolhos. Só ocasal ainda não foi comido pelos gatos, porque...”(VERISSIMO, 2003, p. 43)

 

 Você contou quantas vezes o termo gato aparece no trecho? Pare-ce um exagero, mas a retomada do mesmo item lexical é empregadapara criar um efeito expressivo. A repetição da palavra gato revela oexagero do cineasta, conhecido pela montagem de cenas inusitadas. Arepetição não desqualifica o trecho, porque neste caso ela cumpre umafunção. A ênfase nos gatos, inevitavelmente, cria em nossa mente umcenário tomado por gatos que surgem de todas as partes, e a reitera-

ção do termo garante a continuidade do texto, sua coesão. Recomen-damos a leitura de Antunes (2005) para um maior aprofundamentodessa forma de remissão.

No próximo trecho também observamos um caso de repetição, masagora através de um outro mecanismo, o uso de expressões nominaisdefinidas, assim conceituadas por Koch (2009, p. 68): “Denominam-seexpressões ou formas nominais definidas as formas linguísticas constituí-das, minimamente, de um determinante definido seguido de um nome”.

Page 24: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 24/76

 46 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  47

 Vamos ao exemplo para deixar claro do que estamos tratando:

“Woody Allen não é um filósofo. É um judeu dabaixa classe média urbana do Leste dos EstadosUnidos, como dez entre dez estrelas da comédiaamericana. Ele mesmo se situa na tradição dos stand-up comedians,...” (VERISSIMO, 2003, p. 50)

  Você consegue identificar as expressões nominais que são em-pregadas no trecho para fazer referência a Woody Allen? Você identi-ficou um judeu da baixa classe média urbana, uma estrela da comédia

americana e um dos stand-up comedians?O interessante no emprego dessas expressões é que, como ressalta

Koch (2009, p. 68),

“o uso de uma descrição definida implica sempreuma escolha dentre as propriedades ou qualidadescapazes de caracterizar o referente, escolha estaque será feita, em cada contexto, em função doprojeto de dizer do produtor do texto”.

  Não parece ser isso mesmo o que pretende Veríssimo? A partirda identificação de Woody Allen pelo que ele não é, um filósofo, Ve-ríssimo informa ao leitor quem ele é. Para isso, faz uso das expressõesnominais. Dessa forma, o referente é retomado, e ao mesmo tempo emque é retomado, é resignificado pelas novas informações que lhe sãoacrescentadas. Assim o texto progride.

O que acontece também nesse trecho é que seu produtor, Fernando Veríssimo, construiu o texto com o objetivo de fazer o leitor conhecerWoody Allen a partir da apresentação das características que o iden-tificam, segundo a ótica de Veríssimo, claro. Podemos dizer, portanto,que o uso das expressões definidas é resultado do projeto discursivo doautor, naquele contexto.

Um outro recurso coesivo bastante comum nos textos é a  substitui-ção de um termo por outros equivalentes. Através desse recurso ficaassegurada a manutenção do elemento que está sendo o foco do texto,ao mesmo tempo em que se evita uma repetição que poderia ser en-fadonha no texto. Mas principalmente, pela substituição, se oferece aoleitor outras possibilidades de interpretação para um mesmo referente.É o que acontece nos trechos do jornal a seguir em que, a partir do tí-tulo que anuncia o nome de Messi, vários outros epítetos são atribuídos

ao jogador.

Messi  dá novo show

O craque do Barcelona Lionel Messi deu novo show no Camp Nou ...

O argentino Messi voltou a dar espetáculo e foi ovacionado pela

torcida do Barça, que fez gestos levantando e abaixando os braços emreverência ao camisa 10...

Durante o jogo, a imprensa europeia e argentinatambém já exaltavam o craque: ‘Deus Messi’, diziao espanhol ‘Marca’, enquanto o ‘Olé’ chamava omeia-atacante de ‘Rei do Camp Nou’. Eleito o me-lhor jogador do mundo, em 2009, esta é a primeiravez na carreira que o craque fez quatro gols em umsó jogo...” (O Norte, 07/04/2010)

Podemos dizer que as sucessivas substituições deixam o texto mais

informativo a respeito de quem é Messi, o que é muito apropriado paraum texto jornalístico. Ao mesmo tempo, o leitor tem sempre em menteque é dele que se está falando. Não há, portanto, possibilidade deconfusão.

Outras formas de substituição podem ser feitas através de Sinôni-mos1, como em: “A porta se abriu e apareceu uma menina. A garotinha tinha olhos azuis e longos cabelos dourados”;

  Antunes (2005, p. 98)lembra que “podemossubstituir uma palavra porum seu sinônimo, isto é,por uma outra palavra quetenha o mesmo sentido ou,pelo menos, um sentidoaproximado (...), sempre

na dependência das condi-ções de cada texto”.

Hiperônimos2: “Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns mi-nutos depois, o veículo estacionava adiante do Palácio do Governo”;

Uma visualização de hiperônimos é facilmente encontrada nasclassificações, como esta abaixo, usada na biologia. Animal funcionacomo hiperônimo de qualquer uma das classes que estão abaixo naclassificação.

 ANIMAL

  RÉPTEIS AVES MAMÍFEROS

  ROEDORES FELINOS PRIMATAS

 

1 SINONÍMIA – Propriedade de dois ou matermos (v. termo) poderem ser empregados um pelo outro sem prejuízo do que spretende comunicar (MATTOSO CÂMARA1986, p.222)

2 “Hiperônimo – isto é, uma palavra de sentido geral, que designa uma classe de serespor isso mesmo, chamada de ‘palavra suprordenada’ ou ‘nome genérico” (ANTUNES2005, p. 98).

Fonteda imagem:

http://www.grupoescolar.com/materia/semantica_%28sinonimos_e_antonimoshomonimos_e_paronimos%29.html)

Page 25: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 25/76

 48 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  49

Nomes genéricos: “A multidão ouviu o ruído de um motor. Todosolharam para o alto e viram a coisa3 se aproximando”;

Nominalizações4: “Os grevistas paralisaram todas as atividades dafábrica. A paralisação durou uma semana.

Todos esses exemplos foram retirados de Koch (1989, 46). É fácilperceber neles que os termos em itálico promovem, anaforicamente,um retorno ao que foi anunciado antes no texto. Há, portanto, umainterrelação entre elementos, que caracteriza a coesão textual.

Há muitas outras possibilidades de se fazer remissão em textos,utilizando-se recursos lexicais. Você encontra nos trabalhos já citados

de Antunes (2005) e Koch (2009), diversos exemplos e comentários decomo esses recursos podem direcionar um sentido para o texto. Em ACoesão Textual, Koch (1989) faz uma relação exaustiva dessas formas.

 Vale a pena conferir esse seu trabalho para iniciar os estudos sobre asformas de se estabelecer coesão textual.

 Vamos parar um pouco para que você agora tenha a oportuni-dade de refletir sobre como se procede para garantir a coesão textualatravés dos recursos coesivos referenciais que estudamos até aqui. Essaserá sua primeira atividade.

 Atividade ILeia atentamente o texto abaixo. Identique elementos de coesão referencial. Você pode até identicar elementos que já estudamos na aula anterior. Depois,explique como, através da repetição de termos, do uso de expressões nominais,da repetição parcial ou total de termos, o autor do texto consegue garantir acoesão necessária à unidade textual.

 As geleiras de Marte

Imagens raras dos paredões de Mojave, uma gi-gantesca cratera de gelo do planeta Marte, foramdivulgadas pela Nasa, agência espacial america-na. As fotografias registram uma região com cerca

de 60 quilômetros de diâmetro. Sua profundidadede 2,6 quilômetros mostra ainda que a cratera foipouco afetada pela erosão ou por outros processosgeológicos. Mojave é uma das mais recentes gran-des crateras de Marte – tem cerca de 10 milhõesde anos. Segundo os cientistas, o clima do planetavermelho pode ter sido influenciado pelo intensobombardeio de meteoritos há 3,9 bilhões de anos.(ISTOÉ, 31/03/2010, p. 25)

Retomando o último trecho reportado de Verissimo, verificamos apresença do pronome ele seguido da expressão mesmo que não deixadúvida quanto ao nome que está sendo retomado, Woody Allen. Esse éum caso de retomada que na linguística é conhecida como anafórica5 , porque o termo a que se faz referência (Woody Allen) vem antes da for-ma referencial (ele mesmo). Ou seja, há um movimento de referênciaao que veio antes, voltando-se no texto. Veja como isso acontece:

“Woody Allen não é um filósofo. (...) Ele mesmo se situa na tradiçãodos stand-up comedians,...”

Quando esse movimento é para frente, diz-se que se tem uma refe-rência catafórica, como no exemplo a seguir:

“Ginástica para viver, ridícula e patética ginástica que tanta gentefaz todo dia simplesmente para isso: para continuar”.

(BRAGA, 2004, p. 26)

 Veja que só sabemos a que se refere o pronome isso continuando aleitura, no segundo momento do enunciado. Primeiro, há a apresenta-ção do referente, isso, e depois o termo referido, continuar . Ressaltamosque contribui sintaticamente para o estabelecimento dessa relação, apresença dos dois pontos. Podemos constatar assim, que é a relaçãoentre diversos procedimentos linguísticos, que proporciona a arquitetu-

ra textual.Os pronomes se incluem entre as principais formas gramaticais

através das quais se faz remissão em português. Eles garantem a conti-nuidade referencial e é muito importante observar no seu uso, as flexõesde gênero e número que permitem a identificação com o termo a quese referem. Assim fica assegurada a devida ligação entre os elementosdo texto e, consequentemente, assegura-se também sua compreensão.

Observe essa concordância nos exemplos a seguir. Marcamos comitálico os pronomes que estão estabelecendo uma relação remissivanos trechos. Para você, fica a tarefa de identificar o termo que estásendo retomado pela referenciação pronominal e de explicar como areferência está acontecendo no trecho. Interprete isso como um maisexercício a ser realizado. Esta será sua ATIVIDADE 2.

 

“...Recentemente uma celebridade reagiu à idéiade que seus seios não eram seus dizendo que tinhapagado por eles, e, portanto, eles eram mais seus do que os originais...”(VERISSIMO, 2003, p. 214)

 

3 Coisa é o mais comum dos hiperônimos emnossa língua. Uma espécie de “coringa”.Quem não já se valeu da palavra quando nãose lembrava

4 “Entende-se por nominalização o processogramatical de formar nomes a partir de ou-tras partes do discurso, usualmente verbose adjetivos.” (KHEDI, 1992, P. 26).

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

5 “Chamamos de anafóricas as expressõ

que se interpretam por referência a outrpassagens do mesmo texto. As expressõ

anafóricas servem, tipicamente, para ‘rtomar’ outras passagens de um texto. Uexemplo típico é o demonstrativo isso efrases como ‘a gasolina subiu de novo’,isso vai gerar outros aumentos de preçosnesse contexto, camos sabendo que

palavra isso faz referência ao aumento dgasolina, olhando par o texto que prece(ILARI, 2001, p. 55)”.

Page 26: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 26/76

 50 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  51

“...O Ulisses de Homero e o Ulisses de Dante  seencontram no Ulisses de James Joyce. Encontram-- se, mas não  se fundem, transformam- se em doispersonagens: Leopold Bloom, o Ulisses de Home-ro segundo Joyce, cuja aventura é uma volta paracasa, e Stephen Dedalus, o Ulisses de Dante segun-do Joyce, cujo exílio é uma aventura sem volta”.(VERISSIMO, 2003, p. 133)

“...Há tempos apareceu uma teoria segundo a qualexistiria uma ‘memória da água’. A água reterianas  suas moléculas uma ‘lembrança’ recuperávelde movimentos e efeitos. A teoria não foi provada,

o  que  é uma pena. Suas  possibilidades poéticaseram imensas...”(VERISSIMO, 2003, p. 126)

Os artigos, numerais, advérbios pronominais e expressões adver-biais são outros elementos gramaticais que também funcionam comoformas remissivas da língua, como podemos verificar nos exemplos:

a) Era uma vez um rei que morava num castelo. O rei vivia muitosozinho.

Um comentário importante a respeito dos artigos como elementosreferenciais é que o indefinido funciona como catafórico. Veja que noexemplo um rei será retomado posteriormente. Já com o artigo defi-nido, a remissão é feita ao que já foi enunciado antes. O rei sozinho

é o rei de quem já se disse morar num castelo. Da mesma forma, sequiséssemos falar do castelo, teríamos que usar agora o artigo definido. Por exemplo: Era uma vez um rei que morava num castelo. O casteloera muito sombrio.

 Verificar o valor anafórico ou catafórico dos artigos é uma questãoessencial a se considerar quando a referência é feita através do artigodefinido ou indefinido. A informação acerca dessa particularidade nouso dos artigos nunca é ressaltada pelas gramáticas tradicionais. Verifi-camos assim a importância do conhecimento que está sendo adquiridonessa unidade, acerca da função coesiva dos elementos linguísticos.

b) “Na madrugada do domingo, às 01h45, um adolescente de 17anos faleceu em um acidente de motocicleta. Outra pessoa queestava com ele, identificado como Luciano, foi socorrido, leva-

do para Campina Grande e está em estado grave... A moto queos dois ocupavam, uma yamaha 125, saiu da pisa e tombou emseguida...” (O Norte, 05/04/ 2010)

Facilmente pode-se reconhecer o valor coesivo do numeral porqueele está sendo usado para fazer referência às pessoas acidentadas,citadas anteriormente no texto.

 Você percebe nesse trecho que há o uso de mais formas referenciaisalém do numeral? Que tal se você identificar os elementos lingUísticosque estão servindo para estabelecer esse tipo de coesão? Vamos lá,essa é mais uma oportunidade de você por em prática os conhecimen-tos que já adquiriu sobre os modos de se conferir aspectos coesivos aotexto. Portanto, realize a atividade 3 a seguir:

 Atividade IIIIdentique os elementos coesivos referenciais no trecho acima, bem como os

termos a que se referem.

Nesse enunciado está presente uma expressão adverbial que funciona comoelemento coesivo. Você pode identicá-lo? Aliás, nossas aulas estão repletasde elementos circunstanciais que utilizamos para fazer ligações entre suaspartes. É o que acontece nos enunciados:

c) “ Leia atentamente o texto abaixo”;  “ Quando esse movimento é para frente, diz-se que se tem uma referênciacatafórica, como no exemplo a seguir:”  “A partir de agora...”

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

São muitas as possibilidades de se estabelecer referências no textopara que nenhuma parte fique solta, sem ligação com as demais. Emtão pouco espaço é impossível fazer um estudo exaustivo dos elementosde coesão referencial. Por isso é importante que você leia sobre o temanos livros que recomendamos. Há muitos trabalhos na internet. Ana-lisando com cuidado, você poderá encontrar na rede uma excelentefonte de pesquisa. Não deixe de compartilhar suas descobertas com oscolegas e tirar as dúvidas com o professor. Essa é uma atitude inteligen-te por parte do aluno que quer realmente aprender.

 Vamos apresentar mais uma forma de se fazer coesão referencial, aelipse6, um recurso de referenciação sintática, frequentemente empre-gado em textos. Certamente você já estudou elipse em suas aulas de

6 Denição: “ELIPSE – Omissão, n

enunciação, linguística, do termo presem nosso espírito, porque se depreendcontexto geral ou da situação” (MATTCÂMARA, 1986, p.49).

Page 27: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 27/76

 52 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  53

gramática, onde deve ter aparecido sob a designação de uma figurade linguagem. Agora você poderá observar como esse pode ser umrecurso que propicia a coesão referencial. Mais uma vez Veríssimo nosdá um excelente exemplo de coesão em seu texto e também nos deixamais conhecedores de Woody Allen. Por isso, vamos retomá-lo:

“...Allen pertence ao pequeno mundo liberal-inte-lectual de Nova York. Escreve para o New Yorker, apóia todas as causas corretas, frequenta os cine-mas de arte, almoça no Russian Tea Room e abo-mina a Califórnia. Mas, com a lúcida irreverênciade um emigrado do Brooklyn, sabe que há mais

pose do que conteúdo no estilo da ilha. Sabe queNova York, como ele, consome cultura de segun-da mão: o cinema – que não é feito lá – e o altopensamento europeu...” (VERISSIMO, 2003, p. 51)

 Vamos então verificar como o processo da elipse se faz presente notrecho. No primeiro enunciado, tudo muito claro. A partir dele, umasérie de orações:

Escreve para o New Yorker/ apóia todas as causas cor-retas/ frequenta os cinemas de arte/ almoça no RussianTea Room/ abomina a Califórnia.

O sujeito dessas orações não está antecedendo imediatamente as

formas verbais, está elíptico. Mas está presente no primeiro enunciadodo trecho e podemos identificá-lo pelas terminações verbais, bem comopelo fato de não haver outro termo que pudesse ocupar a posição desujeito. Allen é ainda o sujeito para as duas ocorrências verbais doverbo saber. A próxima forma verbal que aparece no trecho é consome.Mas o sujeito aqui é outro e por isso está explícito.

 A elipse pode ser um recurso de efeito muito expressivo, como sepode verificar no texto da propaganda a seguir:

   A gente está muito orgulhoso  por ter conquistado tanta coisa.

  E mais ainda porque sabeque você também está.

  Ministério de

Minas e Energia

(ISTOÉ, 26/05/2010, p.76)

  Este texto servirá para você exercitar seu conhecimento acercada coesão referencial. Para isso, sugerimos a atividade a seguir.

 Atividade IV 

Certamente você identica o termo que foi intencionalmente suprimido notexto. A partir dele, pedimos que você explique o modo de funcionamento daelipse como recurso de coesão referencial.

Considerações nais inevitáveis

O texto que você acabou de analisar é uma propaganda do Go-verno Federal. Você deve ter percebido que os exemplos utilizados naaula para exemplificar o processo de coesão textual são extraídos degêneros textuais diversos. Utilizamos texto literário, texto de jornal, textode revista. Isso quer dizer que a coesão não é exclusiva de um gêneroespecífico. Em qualquer texto, pode-se encontrar elementos que estãofuncionando ali para garantir sua coesão.

Ressaltamos nesse aspecto, que é importante observar que gênerotextual estamos lendo ou produzindo, para ter maior clareza de comoo elemento de coesão está empregado no texto, que efeito de sentidoseu uso provoca no texto. Isso porque o modo de funcionamento doselementos coesivos vai depender do gênero do texto. Dependendo doobjetivo para o qual o texto foi produzido, a presença de um mesmoelemento linguístico empregado para estabelecer a coesão, resulta emum diferente efeito no texto. Portanto, é importante atentar para o usodesses elementos quando estamos lendo e produzindo textos.

Mais uma vez insistimos que não conseguimos em tão pouco es-paço esgotar um assunto tão importante e tão amplo. É por isso queoferecemos sempre, ao final de cada aula, indicações de leituras com-plementares ao seu estudo. Mas para esse nosso tema poderíamoschamá-las de leituras obrigatórias, tal a necessidade de aprofundamen-

to das noções que apresentamos aqui. Você mesmo deverá sentir essanecessidade. Portanto, não perca tempo. Mergulhe fundo na leitura.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Page 28: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 28/76

 54 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  55

Leituras recomendadas

KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à linguística textual: trajetória egrandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

 Você já conhece A coesão textual. Já comentamos as qualidades deIngedore como teórica que sabe tornar seu texto didático aos iniciantes.É isso que acontece mais uma vez nesse seu livro. Além disso, é muito

produtivo acompanhar a evolução de uma teoria por quem tem se de-dicado a ela. Você vai encontrar aqui um aprofundamento necessário einstigante das noções que a autora vem pesquisando. Não deixe de leresse texto que vai muito além de uma introdução.

 ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:Parábola Editorial, 2005.

Mais uma vez, uma leitura já recomendada. Sinal de que é impres-cindível. Você vai ver que Irandé agrupa as noções que tratamos aqui,de um modo diferente. Isso porque ela analisa as mesmas questões deuma perspectiva diferenciada. Portanto, seu horizonte de conhecimentoacerca da coesão será ampliado. Os comentários da autora sobre apossibilidade de estudo da língua para além da simples gramaticali-

dade mostram o quanto é necessária uma formação linguística para oprofessor de línguas. Portanto, não há como se furtar a lutar com suaspalavras.

Resumo A construção de um texto requer que seus termos, enunciados,

parágrafos sejam dispostos de forma a estarem encadeados no texto,obedecendo a um processo de idas e vindas, de retomadas, de articu-lações que vão resultar num todo coeso. Uma das formas de garantiressa unidade é através do mecanismo de referenciação, em que oscomponentes do texto são retomados, fazendo com que o texto progri-da seguindo um fio condutor. Assim, elementos linguístico-gramaticaissão mobilizados de modo a estabelecerem no texto, o que se reconhe-ce na linguística textual, como sendo o processo de coesão referencial.

 

 AutovaliaçãoNeste momento de autoavaliação é importante que você retome o

conteúdo que foi estudado e reflita sobre seu aprendizado. Para favore-cer esse processo, nada melhor do que por em prática os conhecimen-tos adquiridos. Portanto, vamos ao texto. Iniciamos com um texto de

 Veríssimo, vamos finalizar com um texto sobre ele. É um comentário queestá na quarta capa de seu livro, Banquete com os deuses. Pedimos avocê que a partir deste título, comente o funcionamento dos elementosque fazem a coesão referencial do texto;

“Louco por cinema, música e literatura, Veríssimo nos convida apartilhar deste banquete – uma seleta caprichada de textos, escritos aolongo dos últimos 20 anos, em que ele analisa algumas das suas gran-des paixões culturais. Com a proverbial argúcia e o humor generosocom que invariavelmente tempera suas crônicas, o escritor elege umtime de craques – mestres do jazz, da música popular, da pintura, dafilosofia, de arte várias. No universo dos seus escolhidos, vamos iden-tificar livros e autores que jamais esqueceremos, filmes que marcaram

nossa vida, astros e estrelas por quem já fomos loucamente apaixona-dos, trilhas sonoras que, há muito, nos emocionam e nos fazem sentirdeliciosamente jovens”.

Esperamos que tenha gostado do texto. Lembre-se de que disse-mos ser impossível apresentar todos os recursos de coesão referencialde que dispõe a língua. Isso é positivo no sentido de que você vai sedar conta de que já pode identificar sozinho elementos e processos dereferenciação. Mas como é bem possível que escape algum elementoe você tenha alguma dúvida, compartilhe com os colegas suas desco-bertas no ambiente virtual. Será muito proveitoso.

Boa leitura! Bom trabalho!

Fontes dos exemplos apresentados

BRAGA, Rubem. Um pé de milho. Rio de Janeiro: Record, 2004.ISTOÉ, 2107, 31/3/2010; 26/05/2010.O Norte. João Pessoa, Caderno Esportes. 05/ 04/ 2010; 07, 04/2010.

 VERISSIMO, Luis Fernando. Banquete com os deuses. Rio de Janeiro:Objetiva, 2003.

Page 29: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 29/76

 56 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  57

Referências ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:Parábola Editorial, 2005.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo:Martins Fontes, 1991.

ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica – brincando com a gramática.SãoPaulo, Contexto, 2001.

KHEDI, Valter. Formação de palavras em português. São Paulo: Ática,1992.

KOCH, Ingedore Villaça.  A coesão textual. 7. ed. São Paulo: Contexto,1989.

KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à linguística textual. São Paulo:Martins Fontes, 2009.

MATTOSO CÂMARA, Joaquim. Dicionário de Linguística e Gramática.Petrópolis: Vozes, 1986.

IV UNIDADE

 A relação entre a coerênciae a coesão textuais

Page 30: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 30/76

 58 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  59

 Apresentação

Esta unidade procura resumir alguns dos conceitos maisimportantes com relação à coerência e coesão textuais erelacioná-los com atividades de análise de redações elabo-radas por diversos usuários da língua, na tentativa de esta-belecer um diálogo entre texto e leitor e levantar reflexões

acerca do ato de produção do texto escrito. A unidade seapóia em reflexões acerca do tema, de estudiosos como:Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia, na obra “Textoe Coerência” (2009).

Objetivos Ao término desta unidade, queremos que você:

• compreenda a relação entre coerência e coesão;

• entenda o que se pode considerar como texto;

• observe de que depende e como se estabelece a co-erência textual.

R fl õ i i i i i í i “t d ã d t t à did f

Page 31: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 31/76

 60 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  61

Reflexões iniciais...

Para entendermos o que é coerência textual, devemos compreen-der, inicialmente, a noção de texto, pois sabemos que:

a linguística textual, desenvolvida sobretudo na Eu-ropa a partir do final da década de 60, tem se dedi-cado a estudar a natureza do texto e os fatores en-volvidos em sua produção e recepção. Essa teoria,na medida em que busca esclarecer o que é e comose produz um texto, merece ser conhecida e consi-derada por quem se interessa pelo trabalho com aexpressão escrita na escola (VAL. 1991.p. 02).

Inicialmente, podemos começar pela noção de coerência e sua re-lação com a coesão.

 A coerência de um texto tem a ver “com a boa formação” do própriotexto. Mas esse critério não diz respeito apenas à noção da competênciagramatical que este apresenta, ele se refere, sobretudo, “a uma boa forma-ção em termos de interlocução comunicativa”. Dessa forma, entendemosque a coerência se estabelece através do processo de interação, de inter-locução e numa dada situação de comunicação entre usuários da língua.Ela se constitui como a possibilidade de estabelecimento entre aquilo que

se diz e como esse dizer é compreendido e aceito pelos interlocutores. Esseprocesso de comunicação é resultado de uma unidade global capaz de“dá continuidade de sentidos perceptível no texto”. Essa unidade globaldepende não apenas dos elementos constitutivos do texto, mas

de fatores socioculturais diversos, devendo ser vistanão só como o resultado de processos cognitivos,operantes entre os usuários, mas também de f ato-res interpessoais como as formas de influência dofalante na situação de fala, as intenções comunica-tivas dos interlocutores, enfim, tudo o que se possaligar a uma dimensão pragmática da coerência.Os processos cognitivos caracterizam a coerênciaà medida que possibilitam criar um mundo textualem face do conhecimento de mundo registrado namemória, o que levaria à compreensão do texto(KOCH E TRAVAGLIA, 2009. p. 12).

Como podemos observar a coerência é responsável pelo sentidodo texto. Esse sentido envolve os fatores semânticos e cognitivos. Daí,afirmarmos que ela é, “ao mesmo tempo, semântica e pragmática”. Doponto de vista semântico, podemos destacar o princípio da interpre-tabilidade, uma vez que o texto necessita do conhecimento partilhadoentre os interlocutores. De acordo com Koch e Travaglia (2009) esse

princípio “tem a ver com a produção do texto à medida que quem o fazquer que seja entendido por seu interlocutor, conforme se supõe peloprincípio da cooperação” (p.13).

 Assim, um texto é coerente no momento em que for compatívelcom o conhecimento de mundo do receptor. Partindo dessa afirmação,entendemos que a produção de texto não existe em si mesma, mas sim,através da união entre locutor, interlocutor e o mundo partilhado porambos. Podemos sintetizar a relação de coerência do texto evidenciadodois fatores: os fatores linguísticos (coesão, coerência e intertextualida-de) e os fatores extralinguísticos (intencionalidade, aceitabilidade, infor-matividade e situalidade).

 A coerência textual convive com a coesão textual. Elas formam umaespécie de par “opositivo/distintivo”, segundo Koch e Travaglia. A coe-são se difere da coerência porque ela é explicitamente nítida na super-fície do texto através de seus elementos linguísticos. Por isso possui um“caráter linear” e a observamos através da sintaxe e gramática do texto.Mas de acordo com Halliday e Hasan (1976) ela também possui umcaráter semântico, uma vez que liga os elementos superficiais do texto,interferindo na maneira como estes se relacionam, na combinação dasfrases e nos períodos, tudo isso, “para assegurar um desenvolvimentoproporcional” (p. 36).

Revisão de conceitos de

coesão segundo algunsestudiosos

 Vamos relembrar, um pouco,as unidades anteriores?

De acordo com Pécora qualquer tipo de texto, seja oral ou escrito,não apresenta um conjunto de elementos isolados, todavia um conjun-to em sua totalidade semântica em que os elementos estabelecem entresi, modos de significações. O autor define esse conjunto significativo

como um valor intersubjetivo e pragmático:

 A capacidade de um texto possuir um valor inter-subjetivo e pragmático está no nível argumentativodas produções linguísticas, mas a sua totalidadeSemântica decorre de valores internos à estruturade um texto e se chama coesão textual. (Pécora,1987, p. 47).

neta Carro Maço de cigarros caixa de fósforos Paletó

Page 32: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 32/76

 62 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  63

Logo, entender os mecanismos de coesão presentes em dado textoé avaliar que cada componente do texto depende um do outro em seucontexto situacional. Mesmo apresentando uma relação semântica, acoesão envolve todos os elementos do sistema lexical e gramatical.Por isso, existe coesão através dos elementos gramaticais e através doselementos do léxico de determinada língua. De acordo com Hallidaye Hasan (1976) “a coesão é a relação semântica entre dois elementosdo texto, de modo que um deles tem de ser interpretado por referênciaao outro, pressupondo-o. Para esses autores há cinco distintos meca-nismos de coesão: referência, substituição, elipse, conjunção e coesãolexical. Cria-se entre os elementos um vínculo” (p.45).Todavia, essa co-

esão gramatical e essa coesão lexical não garante ao texto um sentido. A textualidade ultrapassa a coesão gramatical e a lexical, pois o sentidodo texto depende de “certo grau de coerência” que abrange os diversoselementos tanto do interior do texto quanto do seu exterior. Os recursosextralinguísticos possuem o mesmo valor dos recursos intralinguísticospara a compreensão global da textualidade. Diante disso, a coesãonão é condição única para que o texto apresente textualidade. Observeo exemplo abaixo do escritor Ricardo Ramos:

Circuito Fechado

  Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Esco-va, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel,espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, águaquente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, cami-sa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda,copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas,caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros,papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarroe fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales,cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio.Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios,fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos defilmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro,giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadei-ras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara.Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes,pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista,copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, grava-

ta, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves,lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal.Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guar-danapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa epoltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, provade anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro,fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone,papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e ca-

neta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó,gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras,pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro efósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, pol-trona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos,meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Co-berta, cama, travesseiro.

Como se percebe, o texto acima deixa notório que o critério datextualidade não depende somente dos elos coesivos. No caso desseexemplo, depende dos recursos extralinguísticos oriundos do conheci-

mento de mundo do interlocutor.Beaugrande e Dressler (1981) afirmam que coesão é o modo como

os elementos da superfície do texto se encontram relacionados entre si,numa sequência combinativa. Marcuschi também (2001) conceituacoesão textual como sendo a “estrutura da sequência superficial dotexto e à sua organização linear sob o aspecto estritamente linguístico”.Charolles (1978) sugere os conceitos de coesão e conexão. Para oautor,

a coesão se refere às relações de identidade, de in-clusão ou de associação entre constituintes de enun-ciados, que são as relações entre os elementos dotexto que podem ser resolvidas em termos de igual-dade ou diferença: pronomes, SNs, descrições defi-nidas e demonstrativas, possessivos etc. A conexãomarca as relações entre os conteúdos proposicio-

nais e/ou atos de fala; é a marcação da relação en-tre enunciados (KOCH E TRAVAGLIA. 2009, p. 23).

Que tal agora reetirmos acerca dosconceitos de coerência textual?

Conceitos de coerência textual de acordo com alguns estudiosos dalíngua citados por Koch e Travaglia, no livro “ Texto e coerência”.

Segundo Franck (1980), a coerência é a ligação formal entre os ter-mos sequenciais, tais como: enunciados, frases, atos ilocutórios. Essaligação relaciona esses termos uns com os outros “e os insere numa for-ma de organização superior como, por exemplo, nomes em uma lista,frases em texto, atos de fala numa sequência dialógica etc.” (KOCH ETRAVAGLIA. 2009, p. 16).

Já Beaugrande e Dressler (1981) acreditam que a coerência é a res-ponsável pela continuidade dos sentidos do texto. Ela é “o resultado da

atualização de significados potenciais que vai configurar um sentido” que ela encontra-se estabelecida nas diversas situações de comunicação

Page 33: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 33/76

 64 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  65

atualização de significados potenciais que vai configurar um sentido .Ou seja, é o resultado dos conhecimentos partilhado pelos usuários. As-sim, a coerência é responsável por acionar os processos cognitivos. Taisprocessos divulgam a conexão conceitual. Um desses processos é o co-nhecimento declarativo – aquele que sugere crenças que dizem respeitoaos fatos do mundo real - e o conhecimento “procedural” – valores guar-dados na memória e acionados como parte argumentativa sempre que ousuário necessitar. Para Widdowson (1978) a coerência está diretamenteligada ao desenvolvimento dos atos da fala. Nesse sentido, os enuncia-dos são dotados de ações (pedido, conselho, aviso, ordem, promessaetc.) que se concretizam a partir das condições impostas a esses enuncia-dos. O exemplo a seguir determina com precisão esse conceito, vejamos:

Temos o seguinte enunciado:

1. O carro está com defeito.

1.1. O carro – conteúdo proporcional que faz parte do mun-do real.

1.2. está com defeito – informação a respeito do seu estado(ato de predicação)

1.3. Através dessa enunciação podem-se apresentar diversosatos de fala, tais como:

1.4.Uma ordem: o dono da oficina manda o funcionário con-

sertar o carro com defeito.1.5. Um pedido: o dono do carro pede a alguém que esteja

passando por perto para ajudá-lo a empurrar o carro atéa oficina mais próxima.

1.6. Uma asserção: o dono constata que o carro está comdefeito.

Segundo Bernárdez (1982) apud Salomon Marcus (1980) a coerên-cia é semântica, sintática e pragmática. De ponto de vista semânticoela se manifesta na unidade textual, ou seja, o texto atua como unidadepara remeter ao seu sentido global. É sintática porque é recuperada,

quando necessária, através da “sequência linguística” que forma a uni-dade do texto e é pragmática, uma vez que o sentido depende um con-texto intencional. Assim, “a coerência [...] é não só uma propriedadedo texto, mas também um processo em que não é possível estabeleceruma diferença marcante entre os níveis pragmático, semântico e sintá-tico” (op. cit. p. 19).

Os linguistas Van Dijk e Kintsch (1983) afirmavam que coerência era“uma propriedade lógica do texto”, atualmente esses autores acreditam

que ela encontra se estabelecida nas diversas situações de comunicaçãodos usuários que possuem “modelos cognitivos comuns ou semelhan-tes”, propiciados por determinado contexto cultural. Eles falam de doistipos de coerência: local – aquela que ocorre na superfície do texto – eglobal – aquela que faz parte do texto como um todo. Ainda classificam--na em: coerência semântica, sintática, estilística e pragmática.

Para o autor Marcuschi a coerência “é a organização reticulada outentacular do texto, não linear, portanto, dos níveis de sentido e inten-ções que realizam a coerência no aspecto semântico e função pragmá-tica” (op. cit. p. 21). Dessa forma, para esse linguista, como tambémpara os linguistas Beaugrande e Dressler, a coerência é estabelecidaatravés dos elementos que dão continuidade ao sentido do texto.

Caro aluno!

Pretendemos com essa exposição dos conceitos de coesão e coe-rência difundidos por Koch e Travaglia, em obra já citada, que vocêsadquiram uma visão global do que se entende por esses dois critérios.

Que tal, agora, vocêspraticarem um pouco?

 Atividade I

Partindo do pressuposto de que a coesão é responsável pela unidade formaldo texto, construída através de mecanismos gramaticais e lexicais (KOCK E TRAVAGLIA, 2009) e “a coerência tem a ver com a ‘boa formação’ do texto nãono sentido de gramaticalidade, mas no sentido de boa formação em termos dainterlocução, numa situação comunicativa entre dois usuários”, identique asrelações de coesão e coerência nos textos transcritos a seguir.

 TEXTO A 

 A vaguidão especíca

 As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamode vago-específica.

- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.- Junto com os outros?- Não ponha junto com os outros, não. Senão pode vir

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

alguém e querer fazer qualquer coisa com eles. Ponha no a boca

Page 34: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 34/76

 66 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  67

alguém e querer fazer qualquer coisa com eles. Ponha nolugar do outro dia.

- Sim senhora. Olha, o homem está ai.- Aquele de quando choveu?- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.- Que é que você disse a ele?- Eu disse pra ele continuar.- Ele já começou?- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde

quisesse.

- É bom?- Mais ou menos. O outro parece mais capaz.- Você trouxe tudo pra cima?- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe

porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.- Mas traga, traga. Na ocasião, né! Descemos tudo de

novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclamacomo na outra noite.

(FERNANDES, Millôr.  Trinta anos de mim mesmo. São Paulo, Círculo do Livro, 2001.)

 TEXTO B

 A Pesca

 Affonso Romano de Sant’Anna

 o anil

o anzolo azul

o silêncioo tempoo peixe

a agulhavertical

mergulha

a águaa linha

a espuma

o tempoa âncorao peixe

a bocao arrancoo rasgão

aberta a águaaberta a chagaaberto o anzol

aquelíneoágilclaro

estabanado

o peixea areiao sol

Continuando a nossa conversa...

Coesão e coerência: critérios que se complementam

Como podemos observar, os teóricos que estudam as relaçõesde coesão e coerência concordam que esses critérios estão, indiscu-tivelmente, relacionados no processo de produção e interpretação

textual. A coerência é entendida como “a configuração conceitual subjacentee responsável pelo sentido do texto, e a coesão como sua expressão noplano linguístico” (VAL, 2000. p. 20). Sendo assim, a coesão contribuipara o estabelecimento da coerência, mas não assegura a sua obtenção.Segundo alguns autores a coesão é em parte responsável pela coerência,porque apenas os elementos linguísticos não são suficientes para garantira coerência de um texto. Por isso, conclui-se que essa contribuição éapenas parcial, uma vez que o uso adequado esses elementos sozinhos,sem que o leitor acione os recursos extralinguísticos, são insuficientespara que se compreenda o sentido global do enunciado. De acordo comMarcuschi (2002)

há textos sem coesão, mas cuja textualidade ocorrea nível da coerência”. De outra forma, pode haversequências linguísticas coesas, mas para os quais o

leitor não consegue estabelecer ou dificilmente es-tabelece um sentido que lhe de coerência. Eviden-temente, a nível de leitor individual, um texto coesopode parecer incoerente, por dificuldades particula-res do leitor, como o desconhecimento do assunto ounão-inserção na situação. Tudo isso evidencia que acoesão ajuda a estabelecer a coerência, mas não agarante, pois ela depende muito dos usuários do tex-to (seu conhecimento de mundo etc) e da situação.

Na verdade, alguns linguistas defendem que os elementos coesivos - Como não vale? Retrucou o pintou, ofendido em sua

Page 35: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 35/76

 68 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  69

g g qfavorecem na percepção da compreensão da coerência, uma vez quefuncionam como resultado da coerência no processo da atividade tex-tual. Para eles “o texto não é coerente porque as frases que o compõemguardam entre si determinadas relações, mas estas relações existemprecisamente devido à coerência do texto” (op. cit. p. 24).

O que podemos perceber é que o processo de compreensão de umtexto está diretamente ligado aos critérios de coesão e coerência. Issosignifica afirmar que o texto é considerado texto quando o leitor reco-nhece implícita e explicitamente os elementos que o compõe tanto nasuperfície textual quanto em suas entrelinhas. Tudo isso torna claro quea coesão ajuda a estabelecer a coerência, entretanto não a garante,uma vez que ela irá depender dos conhecimentos de mundo acionadospelos usuários do texto e do contexto em que esse texto está inserido.Enfim, em se tratando de considerarmos se texto constitui-se um textoou não, faz-se necessário atentarmos para o produtor, para o destina-tário, para o contexto em que o texto está inserido e, finalmente, paraa intenção comunicativa do locutor.

Para reetir...

 Atividade IILeia o texto abaixo e responda:

 A mensagem

Num mundo em que a comunicação é tudo e o dis-curso sempre pouco, conta-se aqui uma história altamentemoral sobre a inutilidade da primeira enquanto se econo-miza o segundo.

E chamou o pintor e lhe encomendou a placa paraanunciar a especialidade do seu negócio: “Nesta casa sevende ovos frescos”. Além dos dizeres, recomendou aopintor que bolasse uma figura, qualquer alegoria referenteao ramo. E perguntou quanto era. O pintor disse que fica-ria em 50.000 cruzeiros.

- Cinquenta mil o quê? Indagou o comerciante, pen-sando, inutilmente, numa moeda mais desvalorizada doque o cruzeiro.

- Cinquenta mil cruzeiros, disse o pintor. Ah, não vale,disse então o comerciante.

parte mais do que atingido em sua economia.

- O senhor não poderia reduzir um pouco? Arriscou ocomerciante.

- Claro que posso, disse o pintor, posso reduzir a figurae os dizeres.

- Como assim? Disse o comerciante.

- Olha, explicou o pintor, pra começo de conversa, nãoprecisamos usar figura nenhuma. Se se diz que o senhorvende ovos, não há necessidade de colocar nenhuma ga-

linha pintada, não é mesmo? Se o normal são ovos degalinha, o fato de não ter nenhuma outra ave faz com queos ovos sejam, presumivelmente, de galinha.

- É certo, concordou o negociante.

- Então, fez o pintou, vinte mil cruzeiros de menos. Ago-ra também não é necessário dizer “nesta casa”. Se o fre-guês passa por aqui e vê: “se vende ovos frescos”, já sabeque é nesta casa. Ele não vai pensar que é na casa aolado, não é mesmo?

- Certíssimo, exclamou o comerciante.

- então, continuou o pintor, por que colocar “Se ven-de”? Se o freguês potencial lê “Ovos frescos” já sabe quese vende. Ninguém pensaria que o senhor vai abrir umacasa comercial para alugar ovos ou apenas para expô-los,

certo?- É mesmo, espantou-se ainda mais o comerciante.

- Quanto ao “frescos”, continuou impávido o pintor, re-fletindo melhor, não é de boa psicologia usar essa palavra.“Fresco” lembra sempre a hipótese contrária, a de ovos“velhos”. Não deve nem ter passado pela cabeça do com-prador a ideia de que seus ovos podem ser outra senãofrescos. Portanto, tiremos também o “frescos”.

- Certíssimo! Berrou o negociante, agora profunda-mente entusiasmado com a dialética do pintor. Façamos,portanto, apenas “OVOS”, tout court. Por favor, desenhe aisó essa palavra, bem bonita, bem clara: OVOS! Só ovos,ovos em si mesmos, que se vendam pela sua pura e sim-ples aparência de ovos, pelo inimitável oval!

- Então vamos lá, concordou o pintor. Mas antes decomeçar a usar o pincel, voltou-se para o negociante, pre-ocupado:

- Mas, me diga aqui, amigo pensando bem, por quevender ovos?

(Millôr Fernandes.  Tempo e contratempo. Rio deJaneiro: Edições O cruzeiro, s.d.)

Page 36: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 36/76

 70 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  71

1. Com base na leitura da crônica de Millôr Fernandes, justique a seguintearmação: “coerência [...] é uma atividade de articulação entre o que é

apanhado no enunciado e o que é selecionado no conjunto de dados contextuaisque conhecemos.[...] Envolve, pois, uma série de operações mentais, que,acionados, nos permitem “pescar” ou recuperar a coerência do que dizemose ouvimos, considerando não apenas o que é posto na superfície do discurso,mas tudo quanto está de pressuposto ou implicado naquilo que é dito, ou éinferível, a partir de nossas experiências de vida” (ANTUNES. 2009,p. 122).

Finalizando a nossa conversa...

Como ocorre e de que depende a coerência textual

 A coerência é estabelecida através de uma multiplicidade de fa-tores, uma vez que ela é vista como um “processo de interpretabili-dade do texto”. Dessa forma, a coerência depende do conhecimentolinguístico, do conhecimento de mundo, do conhecimento partilhado,das inferências, dos fatores pragmáticos, da situacionalidade, da inten-cionalidade, da aceitabilidade, da informatividade, da focalização, daintertextualidade e da relevância.

 A seguir explicitaremos cada um desses fatores com exemplos paraque você possa se situar no estudo da coerência. Evidentemente, quecada um desses fatores será objeto de estudo das nossas próximas aulas.

1. Conhecimento linguístico

É do consenso de todos os estudiosos da língua que o conhecimen-to linguístico é bastante relevante para o estabelecimento da coerênciade qualquer texto. A decodificação é necessária para que se possa en-tender qualquer língua, sem esse conhecimento o usuário não é capazde efetivar o processo de comunicação. Como podemos notar, o co-nhecimento linguístico é a primeira condição para que a comunicaçãoseja efetivada. Segundo Koch “a compreensão depende de nosso co-

nhecimento de mundo e fatores pragmáticos”(op. cit. p. 53). Observeo exemplo a seguir:

Suponhamos o seguinte aviso no quadro de avisos de umauniversidade;

COLÓQUIO CIDADANIA CULTURAL

O pensionato e seus análogos na literatura e na arte,na mídia e na história cultural

Prof. Dr. Sébastien Joachim

4ª feira, 06/10/10

15 horas Auditório Ceduc

Notamos que as expressões linguísticas do aviso acima não cons-tituem uma frase. Para que este aviso seja compreendido é necessá-rio, pelo menos que o interlocutor acione conhecimentos linguísticosprévios. São eles: 1º - entender o que é um colóquio, 2º - quem é opalestrante, 3º - em que local fica o auditório Ceduc.

De acordo com Koch (p.54) “é a coerência que determina, emultima instância, que elementos vão constituir a estrutura superficiallinguística do texto e como eles vão estar encadeados na sequêncialinguística superficial, e isto é suficiente para deixar claro que a recupe-ração desta coerência passa pelas marcas linguísticas”.

Como vimos, o conhecimento linguístico serve para nortear o leitorem seu percurso de leitura, pois de acordo com Koch e Travaglia (p. 59)“não é possível apreender o sentido de um texto com base apenas naspalavras que o compõem e na sua estruturação sintática, é indiscutívela importância dos elementos linguísticos do texto para o estabeleci-mento da coerência [...] esses elementos servem como pistas para aativação dos conhecimentos armazenados na memória, constituem oponto de partida para a elaboração de inferências, ajudam a captar aorientação argumentativa dos enunciados que compõem o texto [...],enfim, todo o contexto linguístico – ou co-texto – vai contribuir de ma-neira ativa na construção da coerência”.

2. Conhecimento de mundo

Observe o texto abaixo:

O conhecimento de mundo do leitor exerce um papel fundamentalpara o estabelecimento da coerência de um texto. É através dele que situ-amos aquilo que estamos lendo. Segundo Koch e Travaglia “os modeloscognitivos são culturalmente determinados e apreendidos através de nossavivência em dada sociedade [...]. É a partir dos conhecimentos que temosque vamos construit um modelo do mundo representado em cada texto – éo mundo textual [...] , para que possamos estabelecer a coerência de um

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

texto, é preciso que haja correspondência ao menos parcial entre os co-h l d h d d

terminada situação comunicativa. A meta pode ser informar, ou impres-l d f d E é l

Page 37: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 37/76

 72 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  73

nhecimentos nele ativados e o nosso conhecimento de mundo, pois, casocontrário, não teremos condições de construir o mundo textual, dentro doqual as palavras e expressões do texto ganham sentido”(p. 63).

3. Conhecimento partilhado

O conhecimento partilhado diz respeito aos conhecimentos comunsque o locutor e o interlocutor possuem acerca de determinado texto.

 Afinal, nenhum texto é coerente ou incoerente, depende de quem o estálendo. A coerência, é, pois, o jogo de interpretação que se instaura no

momento da recepção de dado texto. Ela depende do receptor, de suaatitude de cooperação, de habilidade em desvendar o sentido do texto.

 A função do leitor é fundamental para a construção da coerência,porque mesmo um texto sendo inteligível para alguns, se determinadoleitor conseguir atribuir-lhe sentido, ele será considerado coerente.

O conhecimento partilhado é essencial para o processo de com-preensão, pois ele abrange basicamente o conhecimento de mundo eo conhecimento textual, “é armazenado na memória do leitor, a partirdas vivências e experiências acumuladas ao longo de sua vida. Diantedos estímulos fornecidos pelo texto, esse conhecimento é ativado, pos-sibilitando a compreensão e a construção da coerência” (op. cit. p. 86).

Fatores pragmáticosresponsáveis pela textualidade

Para a obtenção da coerência e o alcance da compreensão con-correm também fatores de ordem pragmática, tais como o contexto desituação, os atos de fala, as intenções do produtor e do receptor. Fato-res como esses influenciam a interação do leitor com o texto e são vistoscomo o aspecto pragmático dessa interação. Na verdade, eles criamcondições para que a comunicação se estabeleça, por estarem forte-mente relacionados ao conhecimento de mundo dos interlocutores.

Elencaremos aqui cinco fatores responsáveis pela textualidade. Sãoeles: intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, grau de infor-matividade e intertextualidade.

Intencionalidade

De acordo com Costa Val (2001) a intencionalidade de um texto dizrespeito “ao empenho do produtor em construir um discurso coerente,coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa de-

sionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou ofender etc. E é ela quevai orientar a confecção do texto” (51).

 Aceitabilidade

Entende-se por aceitabilidade “a expectativa do recebedor de queo conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente,coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou acooperar com os objetivos do produtor” (op. cit. p. 51).

 Assim, toda produção textual deverá ser compatível com a expec-tativa do leitor em posicionar-se diante do texto. A cooperação é umcritério estabelecido pelo produtor e pelo receptor e permite que, em-bora a comunicação apresente falhas de quantidade e de qualidade,não haja vazios comunicativos. Isso ocorre porque o leitor ao acionar ocritério de cooperação, tenta compreender os textos produzidos.

Situacionalidade

 A situacionalidade de texto diz respeito “aos elementos responsá-veis pela pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em queocorre. É a adequação do texto à situação comunicativa”(op. cit. 52).

Dessa forma, o contexto é definido como responsável pela textualida-de, pois orienta tanto a produção quanto e recepção de determinado texto.

Grau de informatividade

O grau de informatividade se refere às informações veiculadas atra-vés dos diversos textos. Ele é medido de acordo com o conhecimentode mundo dos usuários a que o texto é endereçado. Isso significa afir-mar que o grau de informatividade dependerá do repertório culturaldo leitor. Segundo Costa Val (2001) a informatividade “diz respeito àmedida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não,conhecidas ou não, no plano conceitual ou no formal. Ocorre que umdiscurso menos previsível é mais informativo, porque a sua recepção,embora mais trabalhosa, resulta mais interessante, mais envolvente”.Existem três níveis de informatividade: zero, médio e alto.

Intertextualidade

De acordo com Koch e Elias (2009), “em sentido restrito, todo textofaz remissão a outro(s) efetivamente já produzido(s) e que faz(em) parteda memória social dos leitores.” (p.101). E de acordo com Kristeva(1974), “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto éabsorção e transformação de um outro texto” ( p. 64).

Como podemos notar o seu humano sempre se apropria do dito emd d ã i bóli E d d fi

 TEXTO 2

Page 38: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 38/76

 74 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  75

seu processo de produção simbólica. E de acordo com essas afirma-ções, a citação é inerente ao texto. todo texto se constrói em torno decitações diretas ou indiretas. Segundo COMPAGNON (1996) “escre-ver, pois, é sempre reescrever, não difere de citar. A citação, graças àconfusão metonímica a que preside, é leitura e escrita, une o ato de lei-tura ao de escrita. Ler ou escrever é realizar um ato de citação” (p. 34).

Esses fatores de textualidade serão aprofundados nas aulas posteriores.

 Vamos praticar?

 Atividade III

Nos textos a seguir há trechos que, se tomados, literalmente, levam a umainterpretação absurda.

 TEXTO 1

“João Carlos vivia em uma pequena casa construída no altode uma colina árida, cuja frente dava para o leste. Desde o pé dacolina se espalhava em todas as direções, até o horizonte, umaplanície coberta de areia. Na noite em que completava 30 anos,João, sentado nos degraus da escada colocada à frente de suacasa, olhava o sol poente e observava como a sua sombra ia di-minuindo no caminho coberto de grama. De repente, viu um ca-valo que descia para sua casa. As árvores e as folhagens não lhe

permitiam ver distintamente; entretanto, observou que o cavaloera manco. Ao olhar de mais perto, verificou que o visitante eraseu filho Guilherme, que há 20 anos tinha partido para alistar-seno Exército; e, em todo esse tempo, não havia dado sinal de vida.Guilherme, ao ver o pai, desmontou imediatamente, correu atéele, lançando-se nos seus braços e começando a chorar”.

(Texto texto ilustrado pela Prof Mary A. Kato)

a. Transcreva os trechos problemáticos dos textos em questão.

b. Diga qual a interpretação absurda que se pode extrair desses trechos.

c. Quais as interpretações pretendidas pelos autores?

d. Reescreva os textos de forma a deixar explícitas tais interpretações.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Leituras recomendadas

Page 39: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 39/76

 76 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  77

Leituras recomendadas

“A obra expõe a constituição dossentidos dos textos e seus fatores,tais como os elementos linguísticos,o conhecimento do mundo, as in-ferências e a situação. Um de seuscapítulos é dedicado ao registro decomo a análise da coerência  TEX-

 TUAL  pode auxiliar no trabalho doprofessor no ensino da língua. Osautores apresentam uma ampla bi-bliografia comentada para os inte-ressados nesse campo”.

“Este trabalho da professora uni-versitária e pesquisadora de línguaportuguesa, Irandé Antunes, é maisdo que um trabalho sobre a coesãoe a coerência textuais. É, sobretudo,um exercício de tradução, em pa-lavras simples e compreensíveis ao

leigo, daqueles conceitos teóricos etécnicos que aparecem nos sisudosmanuais de linguística textual. E quemuitas vezes passam, sem qualquermediação explicativa, para os livrosdidáticos, e a professora ou o pro-

fessor sequer conseguem saber do que se trata. A capacidade de dizerde maneira simples o complexo é uma das tantas virtudes da obra quevocê está começando a ler” (Luis A. Marcuschi).

ResumoEstudamos, nesta unidade, que a coerência textual convive harmo-

niosamente com a coesão textual. Elas formam uma espécie de par“opositivo/distintivo”. Mas a textualidade ultrapassa a coesão gramaticale a lexical, pois o sentido do texto depende de “certo grau de coerência”que abrange os diversos elementos tanto do interior da produção quanto

do seu exterior. Os recursos extralinguísticos possuem o mesmo valordos recursos intralinguísticos para a compreensão global da textualidade.Por isso, a coesão não é condição única para que o texto seja um todosignificativo. Para a obtenção da coerência e o alcance da compreensãoconcorrem também fatores de ordem pragmática, tais como o contextode situação, os atos de fala, as intenções do produtor e do receptor. Fato-res como esses influenciam a interação do leitor com o texto e são vistoscomo aspectos fundamentais nesse jogo interativo, pois criam condiçõespara que a comunicação se estabeleça.

 

 AutovaliaçãoPara Reetir:

Depois das discussões promovidas por esta aula acerca dos fa-tores responsáveis pela textualidade, é possível afirmar que o textoabaixo é coerente? Socialize sua resposta no fórum de debates.

 Texto

Subi a porta e fechei a escada.

Tirei minhas orações e recitei meus sapatos.Desliguei a cama e deitei-me na luzTudo porqueEle me deu um beijo de boa noite...

(Autor anônimo)

Page 40: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 40/76

 78 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  79

ReferênciasCOMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Trad. Cleonice P. B.Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996.

KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Trad. Lúcia Helena FrançaFerraz. São Paulo: Perspectiva, 1974.

FERNANDES, Millôr.  Trinta anos de mim mesmo. São Paulo, Círculo doLivro, 2001.

FIORIN, J. & SAVIOLI, P. Lições de texto: Leitura e redação. 2ª ed.. SãoPaulo. Ática, [s/d.].

GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português.  In: ––– (org). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2007.

KLEIMAN, A. A interface de estratégias e habilidades. In: Ocina deleitura: teoria e prática. Campinas: Pontes / UNICAMP, 2000.

KOCH, I. & TRAVAGLIA, L.C.  A coerência textual. São Paulo. Contexto,2009.

––––––. A coesão textual. São Paulo. Contexto.2000.

KOCH, CAVALCANTE E BENTES, Ingedore G. Villaça; Anna Christina;

Mônica Magalhães. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo:Cortez, 2007.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever –estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009.

TRAVAGLIA, L.C. Gramática e interação: uma proposta para o ensinode gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 2002.

 VILLARI, R. e GERALDI, J. W. Semântica. São Paulo: Ática, 2006.

 V UNIDADE

Intencionalidade,situacionalidade e

aceitabilidade: fatorespragmáticos responsáveis

pela textualidade

Page 41: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 41/76

 80 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  81

 Apresentação

Na aula anterior procuramos resumir alguns dos concei-tos mais importantes com relação à coerência e coesão tex-tuais e relacioná-los com atividades de análise de redaçõeselaboradas por diversos usuários da língua. Nesta aula,pretendemos que vocês verifiquem que o texto se constituia partir do entrecruzamento dos fatores de intencionalida-de, aceitabilidade e situacionalidade, pois para que o texto

apresente textualidade, faz-se necessário perceber as inten-ções do produtor e a receptividade do leitor, que participade modo fundamental do processo de compreensão, em queé chamado a colaborar, preenchendo as lacunas deixadaspelo texto. O papel do leitor e sua bagagem cognitiva sãoessenciais na construção da coerência e do sentido do texto.E finalmente que o contexto situacional exerce uma funçãodeterminante na construção de seu sentido.

Objetivos Ao término desta unidade, queremos que você:

• reconheça as marcas de valores e intenções dos pro-dutores de textos em função de seus interesses políti-cos, ideológicos e sociais, expressos linguisticamente;

• verifique que a comunicação se efetiva quando se es-tabelece um contrato de cooperação entre os interlo-cutores;

• perceba que o contexto situacional é um fator rele-vante na construção do sentido do texto.

Reflexões iniciais...  Vimos na unidade anterior que um texto para possuir textualidadee ser naturalmente bem interpretado necessita que se verifique alguns

Page 42: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 42/76

 82 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  83

 A palavra está sempre carregada de um conteúd oideológico ou vivencial.É assim que compreende-mos as palavras e somente reagimos àquelas que

despertam em nós ressonâncias ideológicas ouconcernentes à vida.

(Mikhail Bakhtin)

Para relembrar:

 Algumas considerações acerca do texto:

REFLEXÃO 1...o texto possui apenas uma pequena superfície expos-

ta e uma imensa área imersa subjacente. Para se chegar àsprofundezas do implícito e dele extrair um sentido, faz-senecessário o recurso aos vários sistemas de conhecimentoe a ativação de processos e estratégias cognitivas e inte-racionais. (KOCH, 2003, O texto e a construção dos Sentidos.

p.30).

REFLEXAO 2Todo texto é um objeto heterogêneo, que revela uma

relação radical de seu interior com seu exterior; e, desseexterior, evidentemente, fazem parte outros textos, que lhedão origem, que o predeterminam, com os quais dialoga,que retoma, a que alude, ou a que se opõe ( Koch. 2003,p. 46).

REFLEXAO 3O texto é um evento sociocomunicativo, que ganha exis-

tência dentro de um processo interacional. Todo texto é oresultado de uma coprodução entre interlocutores (KOCH.2009. Ler e escrever: estratégias de produção textual, p. 13).

 A noção de texto é de suma importância no campo da linguísticatextual e na teoria do texto, pois possibilita que se verifiquem os váriosfatores que dizem respeito tanto aos aspectos formais como as relaçõessintático-semânticas, quanto às relações entre texto e os elementos queo constituem: produtor, destinatário e situação sociocomunicativa.

p q q gfatores. A textualidade se constitui a partir desses fatores que fazem dotexto não apenas uma sequência de frases, mas um todo constituído desentido. De acordo com Beaugrande e Dressier os fatoess que confe-rem sentido ao texto são: intencionalidade, aceitabilidade, situacionali-dade, intertextualidade e informatividade.

Nesta unidade, iremos priorizar os fatores intencionalidade, aceita-bilidade e situacionalidade.

 

 A intencionalidade, a aceitabilidade e asituacionalidade como fatores imanentesao texto

Como se nota, Ingedore Koch define o texto como um produto emconstante transformação, algo inacabado, no entanto a partir da cons-trução de sentido através do conteúdo fornecido, dos saberes acumu-lados, do conhecimento linguístico e do conhecimento de mundo, seinstaura o processamento estratégico, que acontece por meio da inte-ração verbal entre interlocutores no ato da comunicação.

Para que aconteça êxito no processamento estratégico, os princí-pios de textualidade são de suma importância. De acordo com essa

autora, a intencionalidade é a finalidade de o produtor elaborar umtexto com textualidade, pois garante a interação entre autor e destina-tário, contribuindo assim, para a realização das intenções e efeitos queo texto proporcionará ao leitor.

 A aceitabilidade é a disposição do destinatário de aceitar um textoque possua importância para ele, tanto pelo conhecimento transmitidocomo pelo jogo de interação entre autor e destinatário.

Desse modo, os efeitos de sentido que o texto pode proporcionarao leitor, do ponto de vista da compreensão, da consideração e dareação, dependerá da construção de sentidos, que é proporcionadapela intencionalidade e pela aceitabilidade no jogo dialógico no atoda comunicação

Quanto mais o destinatário tiver conhecimento acerca do tema emquestão, mais eficaz será a interação entre os interlocutores.

 Assim, os critérios de intencionalidade e aceitabilidade são de sumaimportância na interação verbal, uma vez que são aspectos essenciaisna construção de sentido do texto, por estabelecerem maior nível deinferências e relações com outros textos. Tais inferências contribuempara que se percebam também as relações que um texto possui comoutros textos, ou seja, proporcionam a percepção da intertextualidade.

 A situacionalidade de acordo com Marcuschi (2008) “é o critério

que se refere ao fato de relacionamento do evento textual à situação(social, cultural, ambiente etc) em que ele acontece. Ela além de inter-

afirmando que a tragédia no Haiti trouxe bons resultados para oconsulado e atribuindo a culpa do terremoto às origens africanas

Page 43: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 43/76

 84 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  85

pretar e relacionar o texto ao contexto interpretativo, orienta a própriaatividade textual. É um critério de adequação textual que se refere aosfatores que tornam o texto importante em dada situação. Segundo Koche Travaglia (2009) esse critério pode ser entendido sob duas óticas.Observamos:

“a) da situação para o texto – neste caso, trata-se de determinarem que medida a situação comunicativa interfere na produção/recepção do texto. Sendo que a situação pode ser entendidatanto em sentido estrito (situação comunicativa propriamentedita), como em sentido amplo (o contexto sócio-político-cultural

em que a interação está inserida). O lugar e o momento dacomunicação vão influir tanto na produção do texto, como nasua compreensão;”

“b) do texto para a situação: também o texto tem reflexos impor-tantes sobre a situação comunicativa. Ao construir um texto oprodutor recria o mundo de acordo com seus objetivos, logo, omundo criado pelo texto não é uma cópia fiel do mundo real, omundo representado textualmente é aquele visto pelo produtor,a partir de suas perspectivas”.

Que tal você reetir um pouco?

 Atividade I

Observe os textos abaixo:

 TEXTO 1

 Jornal do BrasilHaiti: cônsul do Haiti culpa macumba pelo terremoto

BRASÍLIA - Naquele que certamente é o pior momento vividopelo Haiti nas últimas décadas, o cônsul geral do país caribenhoem São Paulo, Jorge Samuel Antoine, deu uma demonstraçãode insensibilidade grosseira em relação às milhares de pessoasatingidas pelo terremoto responsável pela devastação do paísque Antoine supostamente deveria estar representando diplo-maticamente. Reportagem exibida no SBT Brasil mostra o cônsul

da população e da religião haitiana. Antoine deu as declaraçõesà repórter Elaine Cortez sem saber que estava sendo gravado.

– A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui ficarconhecido. Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei oque é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar quetem africano tá f... – comentou o cônsul. Uma das principaiscorrentes religiosas no país é o vodu, que tem relação com ou-tras manifestações de origem africana como o candomblé e asanteria.

Sexta-feira, Antoine decidiu se explicar e culpou a falta dehabilidade com a língua portuguesa pelas declarações. Em nota,o consulado também pediu desculpas pelo ocorrido. “Lamen-tamos profundamente o fato ocorrido. A intenção foi enfatizarque o trágico acontecimento no Haiti fez com que o mundo todovoltasse os olhos para os problemas do seu povo. Em nenhumaoportunidade tomou atitude racista, tendo se expressado, tão so-mente, que os povos de origem africana são sofredores em váriasregiões do mundo. O cônsul-geral do Haiti em São Paulo pededesculpas a quem de alguma maneira tenha se sentido ofendi-do”, declarou o consulado na nota.

22:02 - 15/01/2010(Fonte: http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/01/15/e150114905.asp)

 TEXTO 2

Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é de-terminada tanto pelo fato de que procede de alguém como pelofato de que se dirige para alguém. (...) A palavra é uma espéciede ponte lançada entre mim numa extremidade, na outra apóia-sesobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutore do interlocutor (BAKHTIN/ VOLOCHINOV, 1929, p. 113).1

Responda às questões propostas:

Tendo com apoio a reflexão do texto 2 sobre o uso interacio-nal da palavra, como você avalia a declaração do cônsul geraldo Haiti, presente no texto 1?

Diante da declaração de Jorge Samuel Antoine sobre a tra-gédia no Haiti, você concorda que o cônsul realmente não domi-nava a língua, como afirmou em nota explicativa, ou houve umaintencionalidade por trás de sua afirmação? Se houve intencio-nalidade a descreva.

 Ao afirmar que “a desgraça de lá está sendo uma boa pra gen-te aqui ficar conhecido”, Antoine usou propriedades que regulam o

1 O fragmento foi retirado da obra: “Marmo e Filosoa da Linguagem”, de Mikh

Bakhtin. É interessante que leiam este lna íntegra.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

exercício da textualidade e especificam os modos de sua relevâncialinguística e social. Evidentemente, que o cônsul utilizou a língua def l bj i d i S b l i

Logo, “ a exigência de que um texto deve constituir uma unidade se-mântica fundamenta o uso dos vários recursos coesivos”. Como afirmaADAM (2008 87) “ f lh l i

Page 44: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 44/76

 86 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  87

forma clara e objetiva para expor seu ponto de vista. Soube relacionaros elementos linguísticos e os elementos extralinguísticos em sua atu-ação verbal. Mas será que a sua intenção era realmente “enfatizar queo trágico acontecimento no Haiti fez com que o mundo todo voltasse os olhospara os problemas do seu povo”? E a imprensa? Como você avalia a ênfase queela está dando a esse fato?

Dando prosseguimento ao nosso diálogo...

Espero que você tenha percebido, com a conclusão da atividadeanterior, que nenhuma atividade verbal acontece de qualquer jeito, semnenhuma intencionalidade.

Cada atividade verbal acontece sob uma condição de contexto ver-bal e é essa condição que justifica o sentido do texto. Como observa-mos na fala do cônsul do Haiti, ninguém fala ou escreve, a ser não serpor meio de textos intencionais. E essa atividade textual não “se esgotapelo conjunto dos elementos verbais que a constituem. Consta entreoutros fatores, com a intervenção dos sujeitos participantes” que sãoresponsáveis pela produção da interpretação dos eventos de comuni-cação em que se encontram inseridos.

Dessa forma, o texto não pode ser considerado o resultado de umaatividade autônoma. Vimos que os estudos sobre a coesão e coerên-cia do texto mostram que esses dois critérios são responsáveis pelainterrelação entre o linguístico e o extralinguístico em cada forma demanifestação de uso da língua. A coesão é definida como “um con-junto de recursos léxico-gramaticais destinados a prover e a assinalara interligação semântica entre os diferentes segmentos que compõema superfície do texto”. Cada segmento do texto está vinculado entre side modo que cada unidade está “presa a um outro antecedente ousubsequente”.

Do resultado dessa vinculação “resultam a continuidade e a uni-dade semânticas necessárias para que a superfície do texto se mostrecoerente”. Todavia, essa coesão não pode ser considerada meramentesuperficial. A superfície do texto deve está ligada a sua pertinência. Demodo que a afirmação do cônsul do Haiti “a desgraça de lá está sendo

uma boa pra gente aqui ficar conhecido”, foi inoportuna para o momento,pois a rede de relações entre o que foi afirmado pelo representante doHaiti no Brasil foi quebrada. Essa quebra influenciou diretamente noespaço semântico do seu pronunciamento. Se sua intenção era afirmarque de agora em diante o mundo olharia para o país com outros olhos,a distribuição das palavras em seu texto produziu um efeito contrárioe tal contradição refletiu exatamente na relação com os interlocutores.

 ADAM (2008, p 87) “um texto falho em elementos coesivos concorrepara julgamentos de incoerência e dá a entender que o locutor pareceter perdido o controle de sua comunicação”.

Podemos concluir que coesão e coerência:

• são relevantes ao texto no momento em que estão em plenaharmonia;

• têm função de promover a interligação semântica solicitadapela unidade textual.

 Veja o exemplo abaixo:

“No Brasil apenas 1% tem. Os restantes 99% tem que” (Millôr Fernandes). 

Se tomarmos como base de análise apenas os elementos estruturaisda língua, afirmaremos que o texto citado (muitos nem consideram umtexto) está incoerente porque lhe falta um complemento. Mas, paraentendermos o conteúdo do texto em questão, teremos de atentar quetodo texto, além de sua estrutura formal, é composto também por seuselementos extralinguísticos. Tais elementos devem ser levados em con-sideração no momento de análise de toda produção. No caso dessaprodução, o que contribui para sua a coerência são os sentidos queo autor atribui ao verbo ter. Evidentemente, que a omissão do com-plemento do verbo “ter” tem uma função muito importante no que serefere à coerência. Note que o autor opta por deixar uma lacuna notexto para provocar, além da imprevisibilidade, um tom satírico e con-testador. Notamos o que autor legitima essa lacuna por supor que osleitores saberão preenchê-la.

O texto quebra regras estruturais com a intenção de provocar noleitor um posicionamento diante do que foi exposto. É notório que,nesse contexto, a ruptura das regras estruturais da língua promoveu umjogo interativo entre interlocutores.

Como vimos anteriormente, não basta apenas a disposição de ex-pressões de forma coesa e coerente para produzir a textualidade. Éclaro que o texto é construído pela distribuição das palavras, mas ape-nas essa distribuição não é suficiente para “a determinação de suarelevância comunicativa”. Sendo assim, “as palavras não preenchem atotalidade dos requisitos necessários à sua realização” (como vimos no

texto do Millôr).Como afirma Irandé Antunes (2009, p. 79), um texto é resultado de

uma atividade exercida por dois ou mais sujeitos, que, numa determi-nada situação social, interagem; produzem juntos uma peça de comu-nicação. Logo, as implicações resultantes das intenções e expectativasdesses sujeitos constituem, também, elementos do sentido figurado.

Finalizando a nossa conversa...

Page 45: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 45/76

 88 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  89

Em síntese:

• “a elaboração de um texto consiste em um trabalho artesanal [...].Entretecer os fios com amor e habilidade, refletir sobre cadaescolha e combinação a serem feitas ter sempre em menteaqueles a quem o texto se destina, procurando, por meio depistas linguísticas e extralinguísticas, orientá-los para a constru-ção de um sentido – um e não o – compatível com a propostade sentido que lhes estamos apresentando; enfim, oferecer-lheos meios necessários para, ao final, atribuir coerência ao texto

lido” (op. cit. 2009, p. 211).

• intencionalidade, de modo abrangente, é o percurso o qual oautor utiliza para satisfazer suas intenções comunicativas. Essecritério é um fator relevante para a textualização, pois se refereaquilo que os produtores do texto pretendem, têm em menteou querem que o leitor faça com o texto. É com base na in-tencionalidade que podemos afirmar que o texto é produzidocom uma finalidade que deve ser compreendida pelo leitor. Deacordo com Marcuschi citando Beaugrande & Dressler, a in-tencionalidade, no sentido estrito, é a intenção do locutor deproduzir uma manifestação linguística coesiva e coerente, aindaque essa intenção nem sempre se realize na sua totalidade, es-pecialmente na conversação usual (MARCHUSCI, 2008).

•  A aceitabilidadeé o outro lado da intencionalidade. Ela se refereà postura do destinatário diante do texto como uma configura-ção aceitável. Permite certo grau de tolerância, diante daquiloque é lido.

•  A situacionalidade, como vimos, exerce um papel de relevância.Um texto que é coerente em dada situação pode não sê-lo emoutra: daí a importância da adequação do texto à situação co-municativa. Ela tem duas direções: da situação para o texto edo texto para a situação. “Da situação para o texto” se refereao contexto imediato do ato comunicativo; o processo de in-teração, o contexto sociopolítico-cultural em que a interaçãoencontra-se inserida. “Do texto para a situação” se refere à re-criação do autor do mundo real de acordo com seus propósitos

e interesses. O destinatário, nesse sentido, interpreta o texto deacordo com seu ponto de vista. Como podemos observar, háuma mediação entre o mundo textual e o mundo real.

Que tal analisarmos um pouco essas propriedades?

 Atividade IIObserve os textos abaixo e responda às questões propostas:

 TEXTO 1

 TEXTO 2

a. No texto 1, o que, de fato, o gato quis dizer ao rato?

b. Ao associar os elementos visuais aos elementos verbais do texto 2 , vocêconsegue perceber a intencionalidade do produtor?

 c. Ambos os textos atingiram as suas intencionalidades?

d. Explique os critérios de situacionalidade e aceitabilidade a partir da leiturado texto em questão.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

 

Page 46: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 46/76

 90 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  91

Leituras recomendadas”Este livro procura condensar

noções relevantes dessa teoria eaplicá-las a analise de redaçõesde vestibular, na tentativa de esta-belecer um diagnóstico e levantarsugestões para o trabalho com a

expressão escrita na escola”.

“Nesta obra, Luiz Antônio Mar-cuschi reúne alguns textos que es-creveu ao longo dos últimos anos,muitos dos quais provenientes desua participação em congressos eseminários de Linguística. Váriosdeles foram publicados, primeira-mente, em revistas universitárias

brasileiras, cuja regularidade e dis-tribuição, como sempre acontececom publicações desse tipo, são,em geral, muito precárias. Por isso,

pesquisadores da área, professores e alunos, há muito se ressentem dafalta desses textos que, agora, se apresentam nesta coletânea. Fenô-menos da linguagem: reflexões semânticas e discursivas constitui umaexcelente oportunidade para conhecer ou revisitar alguns temas po-lêmicos da Linguística, vistos pela análise penetrante de Luiz AntônioMarcuschi, um linguista à frente de seu tempo.” Dino Preti

ResumoEm diálogo com as unidades anteriores, esta unidade mostrou que

o ensino do texto deve está pautado nas propriedades: intencionali-dade e aceitabilidade presentes na construção de seu sentido. Nessaperspectiva, a atividade verbal acontece mediante a intervenção dossujeitos participantes que se predispõem para produzir e interpretar,de forma coesa e coerente, as manifestações linguísticas que efetivam.Diante disso, confeccionar um texto é promover um diálogo entre lín-gua e sociedade. É a manifestação da participação efetiva dos interlo-cutores. Não existe passividade no processo de interação verbal. A ati-vidade linguística só é possível quando produto e destino empenham-sepor encontrar o sentido de um enunciado.

 AutovaliaçãoExplicite na canção abaixo os critérios de intencionalidade, aceitabilidade esituacionalidade presentes em sua constituição.

O Bêbado e A EquilibristaElis Regina

Composição: João Bosco e Aldir blanc

Caía a tarde feito um viadutoE um bêbado trajando luto

Me lembrou Carlitos...

 A luaTal qual a dona do bordelPedia a cada estrela fria

Um brilho de aluguel

E nuvens!Lá no mata-borrão do céu

Chupavam manchas torturadas

Que sufoco!Louco!

O bêbado com chapéu-cocoReferências

Page 47: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 47/76

 92 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  93

O bêbado com chapéu cocoFazia irreverências mil

Prá noite do Brasil.Meu Brasil!...

Que sonha com a voltaDo irmão do Henfil.

Com tanta gente que partiuNum rabo de foguete

Chora! A nossa Pátria

Mãe gentilChoram MariasE Clarisses

No solo do Brasil...

Mas sei, que uma dor Assim pungente

Não há de ser inutilmente A esperança...

Dança na corda bambaDe sombrinha

E em cada passoDessa linha

Pode se machucar...

 Azar!

 A esperança equilibristaSabe que o showDe todo artista

Tem que continuar...

 ADAM, J. M.  A linguística textual: introdução à análise textual dosdiscursos. São Paulo: Cortez, 2008.

 ANTUNES, Irandé. Língua texto e ensino outra escola possível. São Paulo:Parábola Editorial, 2009.

BAKHTIN, M. Marxismo e losoa da linguagem. São Paulo:Hucitec,1995.

BRAIT, B. (org.) Bakthin, dialogismo e construção de sentido. Campinas,SP. :Editora da Unicamp, 1997.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo:Martins Fontes, 2004.

KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos Sentidos. São Paulo:Contexto, 2003.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender – ossentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2009.

_________. Ler e escrever – estratégias de produção textual. São Paulo:Contexto, 2009.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Coerência eEnsino. In:  A Coerência Textual. 17ed. São Paulo: Contexto, 2009.

MARCHUSCI, Luiz Antônio. Processos de produção textual. In:Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: ParábolaEditorial. 2008.

OLIVEIRA, M.L.Simões de. Charge Imagem e palavra numa leitura burlescado mundo. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/01/15/e150114905.asp

Page 48: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 48/76

 94 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  95

 VI UNIDADE

Intertextualidade: umaforma de reflexão crítica

sobre o estudo do texto

 

Page 49: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 49/76

 96 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  97

 Apresentação

Na unidade anterior, percebemos que atividade verbalacontece a partir da intervenção dos sujeitos participantesque se predispõem para produzir e interpretar as manifes-tações linguísticas que efetivam. Por isso, fez-se necessárioo estudo das propriedades: intencionalidade, aceitabilidadee situacionalidade. Para tanto, destacamos que essas pro-priedades se constituem como elementos responsáveis pelocaráter interativo do texto. Assim, a atividade linguística só

é possível quando produto e destino empenham-se por en-contrar o sentido de um enunciado.

Nesta unidade, estudaremos como o critério da intertex-tualidade se comporta no texto como um modo de recupe-ração da história do homem e como condição inerente àprodução humana.

 

Objetivos Ao final desta unidade, esperamos que você entenda que:

• Todo texto faz remissão a outro texto efetivamente jáproduzido e que faz parte da memória social dos lei-tores;

•  A intertextualidade se dá tanto na produção como narecepção da grande rede cultural, de que todos par-ticipam;

• Referências, alusões, epígrafes, paráfrases, paródiasou pastiches são algumas das formas de intertextua-lidade.

Para começo de conversaDessa forma, a intertextualidade “encontra-se na base de constituiçãode todo e qualquer dizer” (KOCH, 2006, p. 75).

As diversas transformações verificadas na arte em geral têm levado

Page 50: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 50/76

 98 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  99

Para começo de conversa... 

De acordo com a Linguística Textual a intertextualidade é um dosfatores de textualidade, pois todo texto faz remissão a outro texto ain-da que inconscientemente. Desse modo, tanto quem produz um textoquanto quem o recebe recorre ao conhecimento prévio de outros textos.

O conhecimento prévio sobre algo que foi exposto anteriormente éde grande importância para elaboração de um sentido ao novo texto,assim como contribuem com os conceitos que se instauram do mundo,

da cultura e dos estereótipos. É natural que, ao elaborar um texto, oautor se valha daquilo que já vivenciou.

Os conceitos referentes à intertextualidade são objetos de reflexãoconstantes na linguística contemporânea, porque sempre um texto dia-loga com outro que o antecedeu no tempo e no espaço de sua produ-ção.

 Ao dialogar conscientemente com um texto anterior, nem sempre oautor faz referência à fonte, pois imagina que o leitor ative seu conheci-mento de mundo e compartilhe com ele das informações a respeito dostextos que compõem um determinado universo cultural.

De acordo com a teoria de Bakhtiniana acerca do dialogismo, osenunciados produzidos só adquirem sentido quando ocorre a interaçãoverbal. A enunciação ocorre na relação com o outro e só desta formaé que ganha sentido, pois

[...] todo falante é por si mesmo um respondenteem maior ou menor grau: porque ele é o primei-ro falante, o primeiro a ter violado o terno silên-cio do universo do universo, e pressupõe não sóa existência do sistema da língua que usa, mastambém de alguns enunciados antecedentes – dosseus e alheios – com os quais o seu enunciado en-tra nessas ou naquelas relações (baseia-se neles,polemiza com eles, simplesmente os pressupõe jáconhecidos do ouvinte). Cada enunciado é um elona corrente complexamente organizada de outrosenunciados (BAKTHIN. 2003, p, 272).

 Assim ocorre a experiência discursiva individual, que “se forma e se

desenvolve em uma interação constante e contínua com os enunciadosindividuais dos outros” (op. cit. 2003, p. 294).

Dessa interação constante entre os textos emerge o caráter intertex-tual. A própria constituição da palavra intertextualidade já deixa notóriaa relação que existem entre os textos. Evidentemente, que o sentido detexto aqui é visto como um recorte significativo feito no processo inin-terrupto na imensa rede se significações dos bens e valores culturais.

 As diversas transformações verificadas na arte em geral têm levadomuitos artistas a dialogarem não com a realidade aparente das coisas,mas com a realidade da própria linguagem. Compartilhando o seuespaço com as artes de modo geral, a linguagem literária, por exem-plo, alargou-se internamente, ao se apropriar de uma vasta gama demateriais estilísticos e formais pertencentes a outros espaços artísticos.

Não raro os escritores se utilizam de recursos que são tipicamentedo cinema, elaborando narrativas, em que se verifica nitidamente umnarrador que mais parece um diretor cinematográfico, conduzindo ascenas do enredo da história, como se pode constatar na novela de

Caio Fernando Abreu, “Bem Longe de Marienbad” e o filme “O anopassado lá em Marienbad”, dirigido por Robbe-Grillet, por exemplo.Esse procedimento intertextual a partir do entrecruzamento de lingua-gens é amplamente usado tanto por Caio em sua novela como porRobbe-Grillet na direção de seu filme. Vejamos como isso se configura:

1.O ano passado lá em Marienbadsob a direção de Robbe-Grillet

L’année dernière à Marinebad, autêntico representantedo nouveau cinéma francês, escapa a qualquer tentativade análise que se paute pela linearidade clássica. Mar-cado por uma multiplicidade de imagens, diálogos e cenas

que se repetem e por uma linguagem cinematográfica quecongrega várias outras, música, teatro, fotografia, pintura,vídeo, é uma produção atravessada por diversos discursosque remetem para uma evidente metalinguagem, o que éum traço fundamental da arte na virada do milênio, se-gundo Calvino (1990, 237). Sobre essa nova tendência daarte na contemporaneidade, essa multiplicidade como tra-ço fundamental, Machado (1997, p. 238) afirma que, aosolhos de quem a produz, “o mundo é visto e representadocomo uma trama de relações de uma complexidade inex-tricável em que cada instante está marcado pela presençasimultânea de elementos os mais heterogêneos”. Dessaforma, no cinema, por exemplo, a tela se converte num“espaço topográfico” em que os distintos recursos imagé-ticos, verbais e sonoros vêm efetuar-se de forma a diluiras fronteiras formais e materiais entre esses recursos e aslinguagens. As referências a outras situações e lugares sãomuitas, o que exige permanente atitude de alerta da partedo espectador. A começar pela escolha da cidade, na Re-pública Tcheca, famosa pelos hotéis luxuosos frequentadospor espiões durante a Guerra Fria, onde se praticava omesmo jogo em que se arriscam as personagens do fil-me. Também a guerra configura uma temática recorrente

neste cinema que se aproxima da literatura dos nouveauxromanciers, sendo o próprio Robbe-Grillet um dos seus re-presentantes, na década de 60.

neira como este reagirá aos acontecimentos encenados. Aforma como o narrador interage com o público faz desteuma testemunha e também cúmplice involuntário do de-

l d t

Page 51: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 51/76

 100 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  101

 As partes que compõem o quadro da trama se deslo-cam para os mais diversos contextos espaciais e temporais,sobrepondo-se em aspectos que se cruzam. Nesse sentido,a tela transforma-se em espaço mosaicado e,

Representa hoje o local de convergência detodos os novos saberes e das sensibilida-des emergentes que perfazem o panoramada visualidade(e também da musicalidade,

da verbalidade) deste final de século [...] aimagem eletrônica se mostra ao espectadornão mais como um atestado da existênciaprévia das coisas visíveis, mas explicitamen-te como uma produção do visível, comoefeito de mediação. A imagem se ofereceagora como um “texto” para ser decifradoou “lido” pelo espectador e não mais comopaisagem a ser contemplada (MACHADO,1997, p.244).

Na película de Robbe-Grillet, o narrador descrevea decoração pesada do ambiente e essa descrição  vemacompanhada de um som que reforça o efeito de peso.

 Ambos combinam.

Na observação inicial dessa trama, percebem-se, ime-diatamente, as instâncias em que se cruza a metadiscursivi-dade. São várias formas artísticas que a formam.

Na abertura do filme ocorrem ações simultâneas commontagens paralelas. A cena inicia-se a partir da atitudeobservadora do narrador (suposto amante) de uma peçateatral e reproduz exatamente a sua situação: um casalde amantes discute a relação e a fala da mulher reproduzo fim do relacionamento. Ao se ver representado no es-petáculo, o amante tem um momento de conscientizaçãodo seu papel e resolve procurar sua amada. A utilizaçãodesse recurso cinematográfico, que traz a peça teatral paradentro do filme, vai proporcionando uma interiorização esubjetivação, de maneira a exteriorizar o ponto de vista donarrador da trama. Nesse sentido, é o narrador que rege o

olhar em torno das cenas que ele fragmenta, estabelecen-do uma ponte com o público a partir do que essas cenasrepresentam.

Podemos antecipar uma conclusão, dizendo que Oano passado lá em Marienbad é um melodrama passional de cunho intimista que, baseado na montagem alternada deações paralelas, controla os afetos do espectador e a ma-

senrolar da trama.

Nesse ponto, o cinema se aproxima da construção lite-rária, pois traz para o lugar cinematográfico uma instâncianarrativa que forja o tempo e o espaço, proporcionandoassim, como faz a literatura com o leitor, um efeito queaflora com os sentimentos do espectador, como observaMachado (1997, p. 140): “o cinema aproxima-se cadavez mais do ideal literário de uma narrativa controlada nosseus mínimos detalhes, capaz, ao mesmo tempo, de traba-

lhar os afetos do espectador na sala escura”.

2. Bem longe de Marienbad, deCaio Fernando Abreu

Causando menos estranhamento, mas ainda assiminusitada, percebemos a proposta de Caio Fernando Abreuem Bem longe Marienbad. Em sua novela o autor usa eabusa do expediente intertextual transitando em um espaçoprovisório, cria um narrador que exerce abundantementesua condição de diretor cinematográfico. Ele existe no es-paço fílmico. Assim como narrador da película, o narrador

protagonista na novela de Caio é uma recriação do pri-meiro, uma vez que como o narrador do filme ele entrecru-za as linguagens e transforma o ambiente ao seu redor emum espaço cinematográfico.

 A excessiva fragmentação narrativa desse texto podeser encarada como qualidade ou apontada como uma de-bilidade na construção da história. A impressão, não rara,de desconexão verbal é suplementada pela estratégia darepetição de cenas, expressões, situações, como no filme.

 Ambos, novela e filme, parecem apostar no hibridismo daslinguagens como novo modelo estético que se diferenciaráda tradição.

Essa mistura de linguagens presente na narrativa de Abreu, assim como no filme de Robbe-Grillet, convive har-monicamente com o apelo da busca do eu total que, por

mais que se apresente em fragmentos, almeja a unificação.Os anos 70 no Brasil, época em que se situa a novela, essahibridização figura como interlocutora assídua no universocarnavalizado das referências,seja para transformar auto-res em personagens, ou apenas para a desmitificação dapostura vitalista da contracultura cujo lema era o discursoideal de vida “faça amor e não faça guerra”.

 A novela Bem longe de Marienbad, predominantemen-te escrita em primeira pessoa, oferece ao narrador umaposição privilegiada. A postura desse narrador evolui doentusiasmo inicial à escritura fortemente contestadora que A i id d I

Page 52: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 52/76

 102 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  103

entusiasmo inicial à escritura fortemente contestadora quese estrutura numa forma de dizer e articular experiênciasexistenciais singulares que funcionam como marca enga-jada em torno das representações da sensibilidade e dosvazios deixados por essa contracultura radical.

Dessa forma, o autor atribui vida a um narrador queserá protótipo de boa parte de sua poética: de maneira in-trospectiva, o narrador captura os momentos reais em que,através de digressões, coaduna um cenário de ocorrências

que estrutura um enredo entrecortado por vozes e situaçõesdistintas buscando retratar identidades imersas em conflitosconstruídos a partir das suas inaptidões no lidar com seusvários eus. A função desse narrador, atordoado ante a sen-sação de impotência do narrar, é constituir as formas derecuperar sua totalidade, instituindo esteticamente o caosem busca da ordem.1 

Posto isso, podemos afirmar que existe uma relação in-tertextual entre a película e a novela, uma vez que ambosapresentam uma experiência de tempo, e é essa experiên-cia de tempo que faz tanto o espectador quanto o leitorreagirem em suas observações. A novela e a película sãolentas. A lentidão encoraja quem está assistindo ou lendo apensar. Tanto no filme quanto na novela a participação doespectador e do leitor afeta o texto. Muda-o, pois as obras

nos favorecem pensar como a história se relaciona com anossa própria experiência. Literatura e cinema interagemcom a nossa perspectiva. Veja que através da manipulaçãodo espaço e do tempo a montagem das cenas paralelas napelícula assume-se como a principal força organizadoraem termos da construção de significados. A mesma coisaacontece na novela de Caio, que nos coloca em diversostempos e espaços dentro da narrativa, mas sempre dentrodo momento das personagens envolvidas, situando assimdesta forma uma ou várias personagens (ou as suas me-mórias) em diversos tempos e espaços ao mesmo tempo.

Pela comparação feita entre cinema e literatura, pode-mos perceber que a relação intertextual existente entre asobras analisadas pode ser considerada como uma tradu-ção, pois apresenta no texto um efeito centrípeto, conser-

vando os sentidos da primeira no ato da releitura.

 Vamos colocar essa te oria em prática?

 Atividade I

Leia o texto a seguir e responda à questão proposta:

 Ave Maria cheia de graças...”

 A tarde era tão bela, a vida era tão pura,as mãos de minha mãe eram tão doces,

havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá l onge...

“- Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!”

Bendita!

Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos

menores, meus brinquedos, a casaria branca de

minha terra, a burrinha do vigário

pastando

junto à capela... lá longe...

 Ave cheia de graça

- ...”bendita sois entre as mulheres, bendito é o

fruto do vosso ventre...”

E as mãos do sono sobre os meus olhos,

e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho,

e as estampas de meu catecismo

para o meu sonho de ave!

E isto tudo tão longe... tão longe...

(Jorge de Lima)

1. Acione o seu conhecimento de mundo e comente o recurso da intertextualidadeutilizado por Jorge de Lima no poema citado.

1  Texto adaptado do artigo: Cruzamentos efronteiras nos espaços do cênico e do literá-rio, apresentado por Elisabete Borges Agrae Eneida Dornellas de Carvalho, no congres-so Abralic: Diálogo entre Literatura e outrasartes, 2008.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Continuando a nossa conversa...

lação de retrospectiva com o texto parafraseado. Um exemplo corri-queiro de paráfrase é a síntese, uma vez que consiste em reproduzir aessencialidade do texto resumido; condensa aquilo que o autor discutiuamplamente sem contudo fugir do seu ponto de vista Observe o

Page 53: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 53/76

 104 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  105

 Tipos de relações intertextuais:

Observe as tirinhas abaixo:

 Alusão

 A alusão é uma forma subtendida de citação: há uma sutileza doautor ao se referir ao texto de outrem. Veja que Mauricio de Souza re-corre sutilmente ao conhecimento de mundo do leitor, quando recorreà teoria da relatividade associando imagem a texto. Para Afonso R.de Sant`Anna “a percepção desse recurso depende exclusivamente doleitor, [..] o que equivale a dizer que são recursos percebidos por umleitor mais informado.

Paráfrase

Esse recurso se constitui a partir da interpretação de um texto com

as próprias palavras daquele que interpretou, mantendo, essencialmen-te, o ponto de vista da produção interpretada. É uma espécie de adap-tação do texto original. É um processo no qual o texto “reformuladormantém com o texto anterior uma relação de equivalência semânti-ca”, com a intenção de promover um diálogo entre os interlocutores.

 A paráfrase não anula o que foi dito anteriormente, entretanto retomao enunciado anterior com outras palavras. Portanto, mantém uma re-

amplamente, sem, contudo, fugir do seu ponto de vista. Observe oexemplo abaixo:

Exemplo 1

O QUINZE 2

  Debaixo de um juazeiro grande, todo um bandode retirantes se arranchara: uma velha, dois homens, umamulher nova, algumas crianças.

O sol, no céu, marcava onze horas. Quando ChicoBento, com seu grupo, apontou na estrada, os homensesfolavam uma rês e as mulheres faziam ferver uma latade querosene cheia de água, abanando o fogo com umchapéu de palha muito sujo e remendado.

Em toda a extensão da vista, nenhuma outra árvoresurgia. Só aquele juazeiro, devastado e espinhento, ver-dejava a copa hospitaleira na desolação cor de cinza dapaisagem.

Cordulina ofegava de cansaço. A Limpa-Trilho gania eparava, lambendo os pés queimados.

Os meninos choramingavam, pedindo de comer.E Chico Bento pensava:– Por que, em menino, a inquietação, o calor, o can-

saço, sempre aparecem com o nome de fome?– Mãe, eu queria comer... me dá um taquinho derapadura!

– Ai, pedra do diabo! Topada desgraçada! Papai, va-mos comer mais aquele povo, debaixo desse pé de pau?

O juazeiro era um só. O vaqueiro também se achouno direito de tomar seu quinhão de abrigo e de frescura.

E depois de arriar as trouxas e aliviar a burra, reparounos vizinhos. A rês estava quase esfolada. A cabeça in-chada não tinha chifres. Só dois ocos podres, mal cheiro-sos, donde escorria uma água purulenta.

Encostando-se ao tronco, Chico Bento se dirigiu aosesfoladores:

– De que morreu essa novilha, se não é da minhaconta?

Um dos homens levantou-se, com a faca escorrendosangue, as mãos tintas de vermelho, um fartum sangrentoenvolvendo-o todo:

– De mal-dos-chifres. Nós já achamos ela doente. Evamos aproveitar, mode não dar para os urubus.

Chico Bento cuspiu longe, enojado:– E vosmecês têm coragem de comer isso? Me ripuna

só de olhar...

2 Exemplo retirado de uma proposta de vestbular da UFPB, de 1989.

  O outro explicou calmamente:– Faz dois dias que a gente não bota um de-comer de

panela na boca...Chico Bento alargou os braços, num grande gesto de

É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer.

 Ainda que eu falasseA lí d h

Page 54: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 54/76

 106 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  107

Chico Bento alargou os braços, num grande gesto defraternidade:

– Por isso não! Aí nas cargas eu tenho um resto decriação salgada que dá para nós. Rebolem essa porquei-ra pros urubus, que já é deles! Eu vou lá deixar umcristão comer bicho podre de mal, tenho um bocado nomeu surrão!

Realmente a vaca já fedia, por causa da doença.Toda descarnada, formando um grande bloco san-

grento, era uma festa para os urubus vê-la, lá de cima,

lá da frieza mesquinha das nuvens. E para comemorar oachado executavam no ar grandes rondas festivas, negre-jando as asas pretas em espirais descendentes.

(Rachel de Queiroz )

Síntese

 Arranchados sob um juazeiro, em meio àquela desola-ção, um bando de retirantes tentava aproveitar uma vacajá em estado de putrefação, para combater-lhe a fome dedois dias. Quando Chico Bento, com o seu bando, apro-xima-se também em busca de abrigo e, compadecendo-sedaquela situação, divide com os miseráveis o resto de ali-mento que trazia, deixando o animal para os urubus.

EXEMPLO 2

MONTE CASTELO/ LEGIÃO URBANA 

 Ainda que eu falasse A língua dos homensE falasse a língua dos anjos,Sem amor eu nada seria.

É só o amor! É só o amorQue conhece o que é verdade.O amor é bom, não quer o mal,Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;

 A língua dos homensE falasse a língua dos anjosSem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É um não contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É um ter com quem nos mata a lealdade.Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem.Todos dormem. Todos dormem.

  Agora vejo em parte,Mas então veremos face a face.

É só o amor! É só o amorQue conhece o que é verdade.

 Ainda que eu falasse A língua dos homensE falasse a língua dos anjos,Sem amor eu nada seria.

 Amor é fogo que arde sem se ver/ Luís Vaz de Camões Amor é fogo que arde sem se ver,é ferida que dói, e não se sente;é um contentamento descontente,é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;é um andar solitário entre a gente;é nunca contentar-se de contente;é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;é servir a quem vence, o vencedor;é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favornos corações humanos amizade,se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Paródia

Observe o texto abaixo do autor Affonso Romano de Sant’anna

Modernamente a paródia se define através de um jogointertextual. A esse respeito, como veremos mais adianteem Manuel Bandeira, pode-se falar de intertextualidade(quando um autor utiliza textos de outros) e intratextualida-

Page 55: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 55/76

 108 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  109

acerca do recurso intertextual paródia:

Começo por redefinir paródia traçando uma breve his-tória do termo e vendo como modernamente se aprofundao seu entendimento. O termo paródia tornou-se institucio-nalizado a partir do séc. 17. A isto se referem vários dicio-nários de literatura. No entanto já em Aristóteles apareceum comentário a respeito desta palavra. Em sua Poéticaatribuiu a origem da paródia, como arte, a Hegemon deThaso (séc. 5 a.C.), porque ele usou o estilo épico pararepresentar os homens não como superiores ao que sãona vida diária, mas como inferiores. Teria ocorrido, então,uma inversão. A epopéia, gênero que na Antiguidade ser-via para apresentar os heróis nacionais no mesmo níveldos deuses, sofria agora uma degradação.

Essa observação de Aristóteles revela um enfoque mar-cadamente ético e mostra que os gêneros literários eram tãoestratificados quanto as classes sociais. A tragédia e a epo-péia eram gêneros reservados a descrições mais nobres, en-quanto a comédia era o espaço da representação popular.

 Alguns autores, no entanto, apontam Hipponax de Éfe-so (séc. 6 a.C.) como “o pai da paródia”.

Signicados

É mais importante ir rastreando, por enquanto, as defini-ções do termo. Aliás, tais definições nunca constituíram umgrave problema. O dicionário de literatura de Brewer, porexemplo, nos dá uma definição curta e funcional: “paródiasignifica uma ode que perverte o sentido de outra ode (grego:para- ode)”. Essa definição implica o conhecimento de queoriginalmente a ode era um poema para ser cantado. Por isto,Shipley , mais acuradamente, registraria que o termo gregoparódia implicava a idéia de uma canção que era cantada aolado de outra, como uma espécie de contracanto. A origem,portanto, é musical. Em literatura acabaria por ter uma cono-tação mais específica. O próprio Shipley, no seu dicionário de

literatura discrimina três tipos básicos de paródia:a) verbal — com a alteração de uma ou outra palavrado texto;

b) formal — em que o estilo e os efeitos técnicos deum escritor são usados como forma de zombaria;

e) temática — em que se faz a caricatura da forma edo espírito de um autor.

(q )de (quando o escritor retoma sua obra e a reescreve). Essaanotação, no entanto, não é típica da paródia. Tambémocorre na paráfrase, como observaremos oportunamente.Por isto é que é necessário trabalhar mais essa questão daintertextualidade.

De uma maneira geral, porém, os autores que ante-cederam os dois formalistas (Tynianov, 1919, e Bakhtin,1928) definiam a paródia dentro de uma certa sinonímia.

 Aproximavam-na do burlesco, considerando-a como umsubgênero. Nesta linha, mesmo autores mais contempo-râneos definem a paródia também por contiguidade, con-siderando-a um mero sinônimo de pastiche, ou seja, umtrabalho de ajuntar pedaços de diferentes partes de obrade um ou de vários artistas.3

Como podemos notar, de acordo com Romano de Sant’anna, a pa-ródia é um texto que subverte a mensagem do texto que o inspirou. Leiaa história em quadrinhos do Maurício de Souza, cujo diálogo já indicaa intenção paródica do filme “O vento levou”: -“Oh, minha fazendaKara foi arrasada pelos ianques! – “E o que sobrou o vento levou”:

Se a paráfrase funciona como um efeito centrípeto, a paródia funcio-na como um efeito centrífugo, ou seja, ela descentraliza o texto parodia-do. Note que ao decorrer ao título do filme a personagem de Mauríciode Souza estabelece um diálogo com ele pautado na ridicularizarão. Aridicularização, nesse caso, está voltada para a diferença entre a propos-ta do filme e a proposta do quadrinho. Sabe-se que o quadrinho tem aintenção de provocar o humor a partir da relação que o leitor fará dotexto anterior com o texto parodiado, nisso reside a diferença. De acor-do com Romano de Sant`Anna(2003) “[...] falar de paródia é falar deintertextualidade das diferenças [...]a paródia é como a lente: exagera osdetalhes de tal modo que pode converter uma parte do elemento focado

3 SANT’ANNA, Affonso Romano de. ParódParáfrase & Cia. São Paulo: Ática, 2003

num elemento dominante, invertendo, portanto, a parte pelo todo, comose faz na charge e na caricatura. E eu diria, usando ainda um raciocíniopsicanalítico, que a paródia é um ato de insubordinação contra o simbó-lico, uma maneira de decifrar a Esfinge da Mãe Linguagem. Ela difere da

exuberância de sentimento que precisa de expandir-se. En-tão um olhar, um sorriso, que aí penetre, é semente depaixão e pulula com vigor extremo.

O moço parecia estar nessas condições: ele trajava

Page 56: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 56/76

 110 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  111

paráfrase na medida em que a paráfrase se assemelha àquele que dor-me edipianamente cego no leito da Mãe Ideologia. Sendo uma rebelião,a paródia é parricida. Ela mata o texto-pai em busca da diferença. E ogesto inaugural da autoria e da individualidade (p. 33).

Pastiche

O pastiche é uma forma de intertextualidade parecida com a paródia,pois ambos envolvem imitação. Entretanto traduzir as formas como sinôni-mo é um equivoco, pois o pastiche associa-se à imitação de um estilo. Elepode ser entendido como uma colagem ou montagem do texto “original”.Ele é a forma mais polemica de intertextualidade, pois a obra literária éimitada diretamente de outra. É uma espécie de colagem, se o leitor co-nhece a obra imitada, percebe claramente trechos inteiros sendo copiados.Glauco Mattoso de posse desse recurso intertextual e remonta a obra de

 Alencar “A pata da gazela”numa espécie de versão transviada. Observem:

 Texto de referência

 A Pata da Gazela José de Alencar

Simples no trajo e pouco favorecido a respeito de be-leza; os dotes naturais que excitavam nesse moço algumaatenção eram uma vasta fronte meditativa e os grandesolhos pardos, cheios do brilho profundo e fosforescente quenaquele momento derramavam pelo semblante de Amélia.

Havia minutos que, percorrendo a Rua da Quitandaem sentido oposto à direção do carro, avistara a moçarecostada nas almofadas, e sentira a seu aspecto viva im-pressão. Sem disfarce ou acanhamento, recostando-se àombreira de uma porta de escritório, esqueceu-se naquelaardente contemplação.

O coração é um solo. Vale onde brotam as paixões,como os outros vales da natureza inanimada, ele tem suasestações, suas quadras de aridez ou de seiva, de esterilida-de ou de abundância.

Depois das grandes borrascas e chuvas, os caloresdo sol produzem na terra uma fermentação, que forma ohumo; a semente, caindo aí, brota com rapidez. Depoisdas grandes dores e das lágrimas torrenciais, forma-setambém no coração do homem um humo poderoso, uma

O moço parecia estar nessas condições: ele trajavaluto pesado, não somente nas roupas negras, como na cormacilenta das faces nuas, e na mágoa que lhe escureciaa fronte.

Notando Amélia a insistência do mancebo, ficou vi-vamente contrariada. Aquele olhar profundo, que pareciadespedir os fogos surdos de uma labareda oculta, incu-tia nela um desassossego íntimo. Agitava-se impaciente,como uma criatura no meio de um sono inquieto ou mes-

mo de um ligeiro pesadelo. Até que abriu o chapeuzinho-de-sol para interceptar a

contemplação apaixonada de que era objeto. Nesta oca-sião, Laura, que frequentemente se debruçava para verquando vinha o lacaio, retraiu o corpo com vivacidade:

— Enfim; aí vem!

— Felizmente! disse Amélia.

 

 Versão transviada

Existe um antagonismo presente nessas obras que são fundamentaispara se entender o processo intertextual proporcionado pela leitura de“A planta da donzela”, de Glauco Mattoso. Enquanto em “A pata dagazela” prevalece a pura contemplação/ idealização do sexo, em “Al d d l ” d bl f

 Afasto o que não conheçoE quem vende outro sonho feliz de cidade

 Aprende depressa a chamar-te de realidadePorque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Page 57: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 57/76

 112 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  113

planta da donzela” esse desejo sublimar se transforma em incessantemasturbação. É naturalmente uma versão transviada da obra de Alen-car. De acordo com Ítalo Moriconi (2005) “A planta da Donzela” é umpastiche que “se combina com a paródia [...] não é pura repetição.Glauco utiliza-se do espírito sardônico da paródia para colocar a nutemas e percepções que os textos românticos e os clássicos modernistasdeixaram na sombra. E nessa área da paródia literária, o autor tambémé mestre. Em relação ao decoro de Alencar, A planta da Donzela é umaabertura desenfreada de sentidos. É a liberação em ato. É a revelação

do inconsciente obsceno dos românticos e até mesmo dos historiadoresde alta estirpe, como Gilberto Freire. É o grito de “ia, ia” da mulherdevassa que chicoteia seu parceiro submisso. A planta da donzela refazo jogo d’ A pata da gazela”, reaproveitando cenas inteiras do livro de

 Alencar , mas modificando completamente o perfil sexual dos persona-gens e o tipo de intriga em que se envolvem” (p. 220).

 Atividade IILeia a composição abaixo, de Caetano Veloso e responda o que se pede:

SampaComposição: Caetano Veloso 

 Alguma coisa acontece no meu coraçãoQue só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendiDa dura poesia concreta de tuas esquinasDa deselegância discreta de tuas meninas

 Ainda não havia para mim Rita Lee A tua mais completa tradução

 Alguma coisa acontece no meu coraçãoQue só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rostoChamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto

É que Narciso acha feio o que não é espelhoE à mente apavora o que ainda não é mesmo velho

Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelasDa força da grana que ergue e destrói coisas belas

Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelasEu vejo surgir teus poetas de campos, espaçosTuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do sambaMais possível novo quilombo de Zumbi

E os novos baianos passeiam na tua garoa

E novos baianos te podem curtir numa boa

Entendemos que a intertextualidade é “o diálogo entre os muitostextos da cultura, que se instala no interior de cada texto e o define”.(Barros, 1994, p 4). Como exemplo de texto em que se realiza a in-tersecção de muitos diálogos, temos a fala poética de Caetano Velosona composição “Sampa”. Verifica-se que o compositor utiliza-se desserecurso para estabelecer o diálogo com outros textos. Ative o seu co-nhecimento de mundo e identifique com quem Caetano dialoga paradescrever São Paulo em sua variedade.

Encerrando a nossa conversa...

Originalidade e intertextualidade 4

  A teoria da intertextualidade, além de nos ensinar que entre os humanosa linguagem é circulante e que os conceitos se desdobram em ondas decomunicação temporal e intemporal entre humanos, leva-nos ainda àhumilde conclusão de que o verbo que consideramos nosso é de certaforma o verbo de todos, graças à socialização da palavra. E aqui vem,a termo, a distinção feita por Saussure entre língua e fala. Todos osfalantes humanos têm naturalmente uma base de partida para elaborarsua comunicação escrita ou falada dentro de um código próprio dacomunidade a que pertencem mas é em seu ato singulativo que a palavratoma o sentido da pessoa e da individualidade. Todavia, nunca ninguémdeve esquecer, nem sequer os intelectuais, de que no lar, na escola, noslivros, na roda dos amigos, na leitura, na escuta das informações daimprensa ou na Internet, nós estamos apenas no circuito de linguagemque é nossa e dos outros e que o caráter intertextual da expressão eda linguagem nos mostra o patrimônio comum de que participamosnesta grande teia universal do pensamento e da comunicação escrita efalada no seio dos códigos da linguagem.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

4 OTexto de autoria de João Ferreira (200no ensaio intitulado: Os meandros e afronteiras da intertextualidade. Ele podser encontrado no seguinte endereço:wwUsinadeletras.com.br/exibelotextophp?cod=237&cat=Ensaios&vinda=S

ResumoLeituras recomendadas

Page 58: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 58/76

 114 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  115

ResumoNesta unidade, você observou que a intertextualidade, seja a pa-

ródia seja a apropriação, por exemplo, mais que simples expedienteslúdicos, podem ser entendidas como forma de reflexão crítica sobrea arte. Os autores, em diferentes épocas e estilos, recorreram a talexpediente para demonstrar maior consciência sobre o fazer artístico.

 A intertextualidade está diretamente associada à metalinguagem, pois

tais procedimentos são relacionais. Na intertextualidade, um texto ab-sorve outros textos. Esses procedimentos tornam o leitor mais crítico ereflexivo.

 Autovaliação Agora é com você:

 Acione a sua história de leitura e produza um texto comentando acerca dorecurso da intertextualidade presente nas leituras feitas por você ao longode sua vida. Socialize seu texto no chat a combinar.

  “Reunião dos principaisensaios do autor dedicados àliteratura brasileira e diversosoutros trabalhos de reflexãosobre teoria literária, semió-tica e poética da tradução;balanços das obras de Bense,Barthes, Sergio Buarque de

Holanda, bem como excur-sos sobre a prática textual doautor, sobre a razão antropo-

fágica e sobre as relações poesia-música, sob o signo antinormativo dainvenção e da leitura revisional”( Sinopse livraria Saraiva).

 “Toda a cultura, incluindoa produção literária, dialogacom outras produções pormeio de um processo inter-textual. Todo o texto retomaoutro texto, relativizando aquestão da autoria. Na pro-dução literária, são vistas as

epígrafes, a citação, a refe-rência, a alusão. São espe-cialmente destacados a pará-frase, a paródia, o pastiche e

a tradução. A intertextualidade ainda é abordada na perspectiva darecepção e da história literária. Além da parte teórica, ricamente exem-plificada, as autoras propõem para esta obra uma prática de vinte euma atividades”(Sinopse livraria Saraiva).

“Os conceitos de paródia,paráfrase, estilização e apropria-ção redefinidos, para esclarecera natureza da literatura, levandoo leitor a entender as relaçõesideologia/linguagem”(Sinopse li-

vraria Cultura).

VII UNIDADE

Page 59: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 59/76

 116 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  117

Referências ALENCAR, José de.  A Pata da Gazela; Série Bom Livro. São Paulo: Ática,1998.

BARROS, Diana Luz Pessoa & FIORIN, José Luiz. (org.) Dialogismo,polifonia, intertextualidade: em torno de Bakhtin. São Paulo. Universidade

de São Paulo-USP. 2001.COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Trad. Cleonice P. B.Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996.

KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Trad. Lúcia Helena FrançaFerraz. São Paulo: Perspectiva, 1974.

KOCH, CAVALCANTE E BENTES, Ingedore G. Villaça; Anna Christina;Mônica Magalhães. Intertextualidade:diálogos possíveis. São Paulo:Cortez, 2007.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever –estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. SãoPaulo: Cortez, 2002.

_____. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. SãoPaulo: Martins Fontes, 2004.

_____. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2005.

_____. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo: Cortez, 2007.

LUYTEN, Sonia M. Bibe (Org). Histórias em quadrinhos – leitura crítica.São Paulo: Paulinas, 1985.

MATTOSO, GLAUCO.  A planta da donzela. Rio de Janeiro: Lamparina,2005.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, Paráfrase & Cia. São Paulo: Ática, 2003.

SCHNEIDER, Michel. Ladrões de palavras. Ensaio sobre o plágio, a

psicanálise e o pensamento. Trad. Luiz Fernando P. N. Franco. Campinas:Editora da UNICAMP, 1990.

SOUSA, Maurício de. Magali nº. 90. São Paulo: Globo, 1992.

_________________ .Mônica nº. 131. São Paulo: Globo, 2003.

 VII UNIDADE

 A textualidadeproporcionada

pelos critérios deinformatividade e não-

contradição textuais

Page 60: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 60/76

 118 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  119

 ApresentaçãoNa unidade anterior, você observou que a intertextualida-

de é um recurso capaz de acionar a reflexão crítica sobre otexto. Verificou também que ela está diretamente associadaà metalinguagem, pois tal procedimento é relacional. É atra-vés dele que um texto absorve outros textos, portanto, esserecurso é também responsável pela coerência textual.

Nesta unidade, verificaremos como o grau de informati-vidade presente no texto é medido a partir do conhecimentode mundo a que ele se destina. Refletiremos também que umtexto precisa respeitar princípios lógicos elementares. “Suasocorrências não podem se contradizer, devem ser com-patíveis entre si e com o mundo a que se referem”( Costa

 VAL.2006).

Objetivos Ao término desta unidade, queremos que você:

• Compreenda que o grau de informatividade é respon-sável pela coerência textual;

• Entenda que um texto coerente é um texto não-con-

traditório.

Reexões iniciais... Posto isso, podemos concluir que o grau informatividade de umtexto é medido a partir do conhecimento de mundo das pessoas a queele se destina. Isso significa afirmar que o texto dependerá do repertóriocultural do leitor para ser designado como portador de graus de infor-matividade baixo, médio ou alto.

Page 61: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 61/76

 120 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  121

Grau de informatividadedo texto

Segundo Koch e Travaglia (2009) ao se deparar com um texto, o leitor

pode ter dificuldade de interpretá-lo ou porque as informações são paraele superficiais, ou porque falta-lhe domínio do assunto abordado. O quevai determinar, portanto, se um texto é ou não coerente é o grau de conhe-cimento existente entre leitor e texto. Se o leitor não possuir conhecimentoprévio suficiente para entender o texto, não ocorrerá interação entre textoe receptor. Não havendo interação o texto torna-se incoerente para ele.

Levando em consideração que o ato de comunicação é recíproco, épertinente afirmar que o grau de conhecimento prévio partilhado entreleitor e texto é que vai desvendar se o grau de informação do texto ébaixo ou alto a ponto de ter dificultado o estabelecimento da coerência.

Posto isso, parece notório que o conhecimento prévio e o conheci-mento partilhado são essenciais no estabelecimento do grau de infor-matividade do texto, pois estes fatores podem nos apontar se o receptoré portador ou não dos conhecimentos que ajudarão na compreensão

do texto como um todo significativo.Costa Val (2006) usa o termo informatividade para explicar “a ex-tensão em que as ocorrências linguísticas apresentadas no texto, noplano conceitual e no formal, são novas ou inesperadas para os re-ceptores”. Para essa autora a informatividade é medida pelo grau deprevisibilidade apresentado pelo texto. Dessa forma, se um texto for, emgrande parte, previsível menor será o seu caráter informativo, se o textosurpreender o leitor com informações desconhecidas por ele, maiorserá o seu caráter informativo.

Diante disso, Costa Val esclarece que as informações são previsíveisquando não são novidades para o ouvinte ou leitor; são rapidamentereconhecidas e de fácil processamento, já as informações imprevisíveis,aquelas incomuns ao leitor ou ouvinte, fornecem ao texto um aspectoinovador e proporciona ao leitor/ouvinte um desafio por exigir delemais esforço na compreensão. Assim, o texto com um padrão razoável

de informatividade deve conter todas as informações necessárias paraque seja entendido de acordo com intencionalidade do autor.

Já a previsibilidade do texto vai ser determinada pelos conhecimen-tos adquiridos culturalmente pelos interlocutores no ato da comunica-ção, pois estes são guardados na memória e ativados durante o pro-cesso comunicativo.

v ,

 Veja o exemplo abaixo:

 A Literatura do Brasil faz parte das literaturas do Oci-dente da Europa. No tempo da nossa independência, pro-clamada em 1822, formou-se uma teoria nacionalista queparecia incomodada por este dado evidente e procurouminimizá-lo, acentuando o que haveria de original, de di-

ferente, a ponto de rejeitar o parentesco, como se quisessedescobrir um estado ideal de começo absoluto. Trata-se deatitude compreensível como afirmação política, exprimindoa ânsia por vezes patética de i dentidade por parte de umanação recente, que desconfiava do próprio ser e aspiravaao reconhecimento dos outros. Com o passar do tempo foificando cada vez mais visível que a nossa é uma literaturamodificada pelas condições do Novo Mundo, mas fazendoparte orgânica do conjunto das literaturas ocidentais.

Por isso, o conceito de “começo” é nela bastante re-lativo, e diferente do mesmo fato nas literaturas matrizes.

 A literatura portuguesa, a francesa ou a italiana foram seconstituindo lentamente, ao mesmo tempo que se forma-vam os respectivos idiomas. Língua, sociedade e literaturaparecem nesses casos configurar um processo contínuo,afinando-se mutuamente e alcançando aos poucos a ma-turidade. Não é o caso das literaturas ocidentais do NovoMundo.

Com efeito, no momento da descoberta e durante oprocesso de conquista e colonização, houve o transplantede línguas e literaturas já maduras para um meio físico di-ferente, povoado por povos de outras raças, caracterizadospor modelos culturais completamente diferentes, incompa-tíveis com as formas de expressão do colonizador. No casodo Brasil, os povos autóctones eram primitivos vivendo emculturas rudimentares. Havia, portanto, afastamento má-ximo entre a cultura do conquistador e a do conquistado,que por isso sofreu um processo brutal de imposição.

Este, além de genocida, foi destruidor de formas cultu-

rais superiores no caso do México, da América Central edas grandes civilizações andinas.

CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasilei-ra. Humanitas publicações – FFLCH/USP. 1999.

O texto acima contém discussões acerca da teoria literária. Se essetexto for direcionado a todos os públicos poderá apresentar alto graude informatividade, todavia se for endereçado a um público restrito:aqueles que dominam os conceitos desta área do conhecimento, ograu de informatividade poderá ser considerado médio, uma vez que

psicólogos e outros estudantes das ciências humanas, serápraticamente impossível de ser eliminada.

 A dificuldade na solução deste problema está na com-plexidade do mesmo. Várias são as suas causas e paracada uma se faz necessária uma medida especial medias

Page 62: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 62/76

 122 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  123

g p qesse público domina o conteúdo em questão. Se o grau de informa-tividade do texto for muito baixo, o destinatário pode desinteressar-sepor ele, pelo fato de não apresentar informação relevante. Um exemplode informação óbvia é o que comumente chamamos “senso comum”.Observe o exemplo a seguir:

Notamos que o diálogo do texto acima é composto por informa-ções óbvias. O texto não apresenta nenhum grau de informatividade.

 A coerência é afetada, pois não existe nenhuma informação relevanteque atraia o publico ao qual se destina. São afirmações irrelevantes epautadas no senso comum.

 Agora é a sua vez...

 Atividade ILeia o texto seguinte (transcrito tal qual foi produzido) e observe o grau deinformatividade apresentado e responda às questões propostas abaixo.

“Atualmente, um dos grandes problemas que afetam avida de uma sociedade, é a violência nela inserida. Violên-cia essa que devido a vários fatores, segundo sociólogos,

cada uma se faz necessária uma medida especial, mediasessas que muitas vezes são impossíveis de serem colocadasem prática.

 A violência pode ser gerada pela própria sociedade,por crises econômicas, por um problema mental do indiví-duo, pelo grande número de adeptos ao uso de drogas, epor uma enorme série de outros fatores.

Devido as perspectivas quase que inexistentes em uma

solução a curto ou médio prazo para a questão da violência,o melhor a fazer, é se precaver para não se tornar mais umavítima de um dos problemas mais sérios da nossa sociedade.

(Redação de aluno. Apud Maria da Gra-ça Costa Val, op.cit.,p.86)

1. Que grau de informatividade o texto acima apresenta? Para fundamentar asua resposta analise os seguintes aspectos:

a. A tese apresentada pelo texto;

b. Os argumentos:

c. O desenvolvimento dos argumentos;

d. Informações relevantes;

e. A inovação acerca do tema;

f. estrutura formal do texto no que se refere à coerência.

2. Leia a tirinha abaixo e responda o que se pede:

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

a. Segundo Costa Val (2006) “um texto com um bom índice de in-formatividade precisa atender a outro requisito: a suficiênciade dados. Isso significa que um texto tem que apresentar todasas informações necessárias para que seja compreendido com osentido que o produtor pretende. Não é possível nem desejável

Page 63: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 63/76

 124 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  125

que o discurso explicite todas as informações necessárias ao seu

processamento, mas é preciso que ele deixe inequívocos todos osdados necessários a sua compreensão aos quais o recebedor nãoconseguirá chegar sozinho”(p. 85). De acordo com o pensamentodessa autora e com as discussões promovidas por esta unidade,

analise o grau de informatividade da tirinha acima.

Continuando a nossa conversa...

 A não-contradi ção do texto

Um texto bem articulado coerentemente possui relações de sentidoentre suas informações, que se relacionam entre si. “A relação existenteem um texto é a maneira como seus conceitos se organizam e os comoexercem seus papeis uns com os outros na sociedade. As relações entreos fatos têm que estar presentes e ser pertinentes. Isso se constitui comofator lógico irrefutável. Um texto bem relacionado é um texto não- con-traditório. Se ocorrer contradições internas ou externas a textualidade

ficará comprometida. Às vezes, o produtor de determinado texto levan-ta um ponto de vista (uma tese) e não consegue argumentá-la, os argu-mentos não passam de informações pautadas no senso comum. Comoresultado disso, o texto começa apresentar informações desencontra-das, sem sentido, contraditórias. De acordo com Costa Val (2006)

 A coerência resulta também da não-contradição entre as diferentespartes de um texto que devem estar encadeadas logicamente. Cadaparte é pressuposto da parte seguinte, e assim por diante, formandoassim um entrecruzamento de ideias concatenadas harmonicamente.Quando ocorre ruptura nessa concatenação, ou quando uma parteatual do texto é contraditória com a anterior, rompe-se a coerência tex-tual, uma vez que ela é também resultante da adequação do que se dizao contexto além texto, ou seja, tudo aquilo a que o texto diz respeito,que precisa ser conhecido pelo destinatário.

O texto a seguir é uma reportagem da Folha de São Paulo afir-mando que a presidenta Dilma Rousseff “em seu contato direto comos eleitores depois de tomar posse” não entusiasmou a população,há não ser quando falou do recado que o ex-presidente Luis InácioLula da Silva mandou para os Baianos. Acontece que pela fotografiaocorre uma nítida contradição, pois imagem e texto escrito não com-binam entre si.

Percebemos que o conjunto de textos é incoerente em decorrên-cia da incompatibilidade entre a imagem e o conteúdo escrito paraexplicá-la. Percebe-se que a textualidade está comprometida porqueos segmentos estão desconexos, ou seja; a imagem proporciona umaleitura e o texto escrito outra. De acordo com a intencionalidade dequem produziu essa reportagem, a imagem e a escrita deveriam combi-nar no sentido de um texto reafirmar as informações do outro. Todaviapercebemos que essa harmonia foi quebrada, causando, portanto umacontradição entre as partes que compõem este gênero textual.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

 Vamos praticar um pouco?

O texto a seguir é uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, re-tirada da obra “De notícias e não-notícias faz-se a crônica”. Nela o autor

l t di d l L i ô i d d

- A carne também é listrada?- pergunta que desenca-deia riso geral.

- Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saberdireito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra noaçougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse,

Page 64: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 64/76

 126 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  127

relata um dia comum de aula. Leia a crônica e responda o que se pede:

DA UTILIDADE DOS ANIMAIS

Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala,estampas coloridas mostram animais de todos os feitios. Épreciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso

que envolve toda a fauna, protegendo-a. Eles têm direito àvida, como nós, e além disso são muito úteis. Quem nãosabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorrofaz muita falta. Mas não é só ele não. A galinha, o peixe, avaca… Todos ajudam.

- Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?- Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele

serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazemperucas bacanas. E a carne, dizem que é gostosa.

- Mas se serve de montaria, como é que a gente vaicomer ele?

- Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para ou-tra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pin-tar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Pareceque é ótimo.

- Ele faz pincel, professora?- Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel

de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer. Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétri-

co. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vezque devemos gostar dele, mas a professora já explicava autilidade do canguru:

- Bolsas, mala, maletas, tudo isso o couro do cangurudá pra gente. Não falando da carne. Canguru é utilíssimo.

- Vivo, fessora?- A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz

é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlodela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.

- Depois a gente come a vicunha, né fessora?- Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta

retirar a lã da vicunha, que torna a crescer…- A gente torna a corta? Ela não tem sossego, tadinha.- Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no

circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de al-mofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem?

não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pin-guim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, ondecostuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que sóserve para brincar? Estão enganados. Vocês devem res-peitar o bichinho. O excremento – não sabem o que é? Ococô do pinguim é um adubo maravilhoso: guano, rico emnitrato. O óleo feito da gordura do pinguim…

- A senhora disse que a gente deve respeitar.- Claro. Mas o óleo é bom.- Do javali, professora, duvido que a gente lucre algu-

ma coisa.- Pois lucra. O pêlo dá escovas é de ótima qualidade.- E o castor?- Pois quando voltar a moda do chapéu para os ho-

mens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta,com a pele usada para agasalhos. É o que se pode cha-mar de um bom exemplo.

- Eu, hem?- Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode enco-

mendar um vaso raro para o living da sua casa.Do couro da girafa Luís Gabriel pode tirar um escudo de

verdade, deixando os pêlos da cauda para Tereza fazer umbracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de umautilidade que vocês não cauculam. Comem-se os ovos etoma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricarpentes, cigarreiras, tanta coisa. O biguá é engraçado.

- Engraçado, como?- Apanha peixe pra gente.- Apanha e entrega, professora?- Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço

dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Entãovocê tira o peixe da goela do biguá.

- Bobo que ele é.- Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que

nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo:

devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito ne-nhum. Entendeu, Ricardo?- Entendi, a gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e

aproveitar bem o pêlo, o couro e os ossos.

(Texto extraído de Drummond, Carlos de.De notícias e não notícias faz-se a crônica. Riode Janeiro, José Olympio, 1975)

  a. No decorrer da narrativa existem trechos contraditórios. Identifique-os ecomente-os levando em conta as discussões promovidas por esta unidade.

Resumo

Page 65: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 65/76

 128 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  129

Encerrando a nossa conversa...

Caros alunos,

Sabemos que na organização de um texto é essencial que todosos seus segmentos estejam interligados. São eles que proporcionam

nosso processo reflexivo, funcionam como componentes de um todoe devem articular-se de maneira harmônica para que as informaçõesnão se dispersem. É fundamental saber que a tessitura de um texto nãoé resultado de frases soltas e desvinculadas entre si.

Por isso que estudar a coerência textual é de suma importânciapara que entendamos o processo de textualidade. Entender os níveisque promovem a informatividade do texto é perceber que o enunciadotem por obrigação apresentar informações relevantes para aquele aque ele se destina.

Compreender também que um texto contraditório compromete atextualidade, é um requisito fundamental no estudo da coerência tex-tual, pois cada frase enunciada deve ter vínculo com a anterior paranão perder o fio do pensamento, não ocorrendo isso, haverá uma se-quência de frases sem nexo, sucedendo-se umas após outras, sem co-

erência.Portanto um texto contraditório e com grau nulo de informatividade

é um texto incoerente, e de acordo com Costa Val (2006) “um dis-curso é aceito como coerente quando apresenta uma configuraçãoconceitual compatível com o conhecimento de mundo do recebedor.Essa questão é fundamental. O texto não significa exclusivamente porsi mesmo. Seu sentido é construído não só pelo produtor como tambémpelo recebedor, que precisa deter os conhecimentos necessários à suainterpretação. O produtor do discurso não ignora essa participação dointerlocutor e conta com ela. É fácil verificar que grande parte dos co-nhecimentos necessários à compreensão dos textos não vem explicita,mas fica dependendo da capacidade de pressuposição e inferência dorecebedor” (p. 85).

Nesta unidade, estudamos os dois critérios responsáveis pela coe-rência textual: informatividade e não-contradicao. Vimos que a não--contradicão de um texto é percebida a partir das relações existentesentre as suas partes. Tais relações referem-se à forma como seus con-ceitos se encadeiam, como se organizam, que papeis exercem uns em

relação aos outros. E a informatividade é medida pelo grau de previ-sibilidade apresentado pelo texto. Assim, se um texto for, em grandeparte, previsível menor será o seu caráter informativo, se o texto sur-preender o leitor com informações desconhecidas por ele, maior seráo seu caráter informativo. Sendo assim, esses dois critérios são grandescontribuintes no estabelecimento de sentido do texto.

 Autovaliação Agora é sua vez...

Os temas abaixo são sugestões para você desenvolver argumentospertinentes a eles, dando-lhes um caráter mais informativo, que fuja dosenso-comum. Cuidado! Não entre em contradição no momento dedesenvolvê-los.

a) A leitura é fundamental para a formação do indivíduo.

b) A sociedade deve lutar pelo direito da cidadania.

c) Uma boa educação é fundamental para o desenvolvimento de

toda nação.d) É necessário preservar o meio ambiente, pois nossas crianças de

hoje dependerão dele amanhã.

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Leitura recomendada

 VIII UNIDADE

Page 66: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 66/76

 130 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  131

Leitura recomendada

 “A intenção deste livro é fixaralgumas noções básicas acerca da

propriedade textual da coesão e desua relação com a coerência, como objetivo de desenvolver nossacompetência para falar, ouvir, lere escrever textos, com mais rele-vância, consistência e adequação.Isso contribuirá para que todo leitor

compreenda o que fazer para deixar o seu texto articulado, encadeado,coeso e coerente”(Sinopse da livraria Saraiva).

Referências ANDRADE, Carlos Drummond de. De notícias e não notícias faz-se acrônica. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975.

 AZEREDO, José Carlos (org.). Repensando a textualidade. In: Línguaportuguesa em debate: conhecimento e ensino. 4. ed. Petrópolis, RJ:

 Vozes, 2007.

CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira. Humanitaspublicações – FFLCH/USP. 1999.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo:Martins Fontes, 2006.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Coerência eEnsino. In: A Coerência Textual. 17ed. São Paulo: Contexto, 2009.

Revisão dos fatoresresponsáveis pela coesão

e coerência textuais

Page 67: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 67/76

 132 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  133

 Apresentação

Nas unidades anteriores, vimos que para que um texto seja dotadode sentido/ textualidade, ele precisa ser coeso e coerente. Para isso faz--se necessário que ele se constitua de fatores, tais como: articulação deideias; progressão e continuidade; informatividade, não-contradição;intertextualidade; intencionalidade, situacionalidade e aceitabilidade.Nesta unidade, resumiremos esses fatores e os relacionaremos comatividades de análise de redações elaboradas por diversos usuários dalíngua.

objetivos Ao término desta unidade, queremos que você

• Relembre que a relação entre coesão e coerência é essencialao estabelecimento da textualidade;

• Revise os fatores responsáveis pela coesão e coerência textuais.

Reexões iniciais...

Vamos relembrar?

 Vamos começar a destrinchar esse texto por uma pergunta clássicadas aulas de leitura: do que fala do texto? Claro que você consegueresponder essa pergunta facilmente. E um dos motivos para isso é que otexto está muito bem tramado do ponto de vista de sua coesão textual.

 Veja que o modo como os sintagmas, as frases, as três partes do textoestão encadeados de forma a não oferecem qualquer dúvida quanto

Page 68: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 68/76

 134 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  135

 Vamos relembrar?Um texto não é uma unidade construída por uma adi-

ção de sentenças, mas, sim, pelo encadeamento semânticodelas, resultando, dessa maneira, em uma trama semânticaa que denominamos de textualidade. O encadeamento se-mântico que produz a textualidade chama-se coesão. Pode-

mos definir a coesão através do estabelecimento de fatoresque, de acordo com Marcuschi “dão conta da estruturaçãoda sequência superficial do texto, ‘afirmando que não setrata de princípios meramente sintáticos, mas de’ uma espé-cie de semântica da sintaxe textual, ‘isto é, dos mecanismosformais de uma língua que permitem estabelecer, entre oselementos linguísticos do texto, relações de sentido”.

 Vamos tomar um texto simples, e assim facilmente poderemos per-ceber como acontece o encadeamento dos sintagmas, das frases, dosparágrafos, das partes do texto, constituindo o processo coesivo.

PODER INVISÍVEL

Noêmia Lopes

 A gente não vê, mas a água de rios, lagos e mares tem mo-radores incríveis: o plâncton, seres minúsculos e essenciais paraa vida na Terra.

Nessa turma estão algas, bactérias, fungos, crustáceos, mo-luscos e outras criaturas microscópicas. Alguns não tem mem-bros para locomoção e outros são pequenos demais para nadar.Por isso, eles ficam flutuando na água.

Existem dois tipos de plâncton, o vegetal e o animal. Os doisservem de comida para vários animais, por isso são importantesno equilíbrio da cadeia alimentar. Além disso, o plâncton vegetalfaz a fotossíntese e fornece grande parte do oxigênio que existeno planeta.

(RECREIO, Ano10, nº 504, 5/11/2009)

q q qaos elementos a que estão sendo feitas as referências no texto. Vamosver como isso acontece:

Primeiramente, ficamos sabendo quem são os moradores incríveisporque eles estão anunciados justamente após o termo moradores in-críveis.

 A gente não vê, mas a água de rios, lagos e mares tem moradores incríveis: o

 plâncton, seres minúsculos e essenciais para a vida na Terra.

 Veja bem, só essa ordem em que os termos estão dispostos, umimediatamente após o outro, separados pelo sinal de pontuação, osdois pontos, já é indicativo de que o segundo termo, o plâncton, deveser tomado como referente ao primeiro, moradores incríveis. Esse já éum fator de coesão. Para ficar bem claro por que esses seres são incrí-veis, a adjetivação não deixa dúvida: eles são minúsculos e essenciaispara a vida na Terra.

O segundo parágrafo se inicia através do sintagma nessa turma. Imediatamente, o leitor faz uma remissão para o parágrafo anterior,que é onde se encontra o termo referido por nessa turma. Já foi feitaaqui a ligação entre os dois primeiros parágrafos do texto. Continuan-do a leitura, deparamo-nos como o termo alguns. Dá para recuperar aquem ele se refere? Se sim, a coesão continua sendo garantida. Logoà frente, encontramos o termo outros. Mais uma vez, sabemos perfeita-mente quem são esses outros no texto. E eles?

 Você está vendo, não há como o leitor perder o fio do texto, se elesegue as pistas linguístico-gramaticais que o autor maneja para cons-truir seu texto.

E a coerência textual, como é estabelecida,e qual é a sua relação com a coesão?

Para entendermos o que é coerência textual, devemos compreen-der inicialmente a noção de texto pois sabemos que:

quer que seja entendido por seu interlocutor, conforme se supõe peloprincípio da cooperação” (p.13).

 Assim, um texto é coerente no momento em que for compatívelcom o conhecimento de mundo do receptor. Partindo dessa afirmação,entendemos que a produção de texto não existe em si mesma, mas sim,através da união entre locutor interlocutor e o mundo partilhado por

Page 69: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 69/76

 136 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  137

der, inicialmente, a noção de texto, pois sabemos que:

a linguística textual, desenvolvida sobretudo na Eu-ropa a partir do final da década de 60, tem se dedi-cado a estudar a natureza do texto e os fatores en-volvidos em sua produção e recepção. Essa teoria,na medida em que busca esclarecer o que é e comose produz um texto, merece ser conhecida e consi-derada por quem se interessa pelo trabalho com a

expressão escrita na escola (VAL. 1991.p. 02).

Inicialmente, podemos começar pela noção de coerência e sua re-lação com a coesão.

 A coerência de um texto tem a ver “com a boa formação” do pró-prio texto. Mas esse critério não diz respeito apenas à noção da compe-tência gramatical que este apresenta, ele se refere, sobretudo, “a umaboa formação em termos de interlocução comunicativa”. Dessa forma,entendemos que a coerência se estabelece através do processo de in-teração, de interlocução e numa dada situação de comunicação entreusuários da língua. Ela se constitui como a possibilidade de estabele-cimento entre aquilo que se diz e como esse dizer é compreendido eaceito pelos interlocutores. Esse processo de comunicação é resultadode uma unidade global capaz de “dá continuidade de sentidos percep-

tível no texto”. Essa unidade global depende não apenas dos elementosconstitutivos do texto, mas

de fatores socioculturais diversos, devendo ser vistanão só como o resultado de processos cognitivos,operantes entre os usuários, mas também de f ato-res interpessoais como as formas de influência dofalante na situação de fala, as intenções comunica-tivas dos interlocutores, enfim, tudo o que se possaligar a uma dimensão pragmática da coerência.Os processos cognitivos caracterizam a coerênciaà medida que possibilitam criar um mundo textualem face do conhecimento de mundo registrado namemória, o que levaria à compreensão do texto(KOCH E TRAVAGLIA, 2009. p. 12).

Como podemos observar a coerência é responsável pelo sentidodo texto. Esse sentido envolve os fatores semânticos e cógnitivos. Daí,afirmarmos que ela é, “ao mesmo tempo, semântica e pragmática”. Doponto de vista semântico, podemos destacar o princípio da interpre-tabilidade, uma vez que o texto necessita do conhecimento partilhadoentre os interlocutores. De acordo com Koch e Travaglia (2009) esseprincípio “tem a ver com a produção do texto à medida que quem o faz

através da união entre locutor, interlocutor e o mundo partilhado porambos. Podemos sintetizar a relação de coerência do texto evidenciadodois fatores: os fatores linguísticos (coesão, coerência e intertextualida-de) e os fatores extralinguísticos (intencionalidade, aceitabilidade, infor-matividade e situalidade).

 A coerência textual convive com a coesão textual. Elas formam umaespécie de par “opositivo/distintivo”, segundo Koch e Travaglia. A coe-são se difere da coerência porque ela é explicitamente nítida na super-fície do texto através de seus elementos linguísticos. Por isso possui um“caráter linear” e a observamos através da sintaxe e gramática do texto.Mas de acordo com Halliday e Hasan (1976) ela também possui umcaráter semântico, uma vez que liga os elementos superficiais do texto,interferindo na maneira como estes se relacionam, na combinação dasfrases e nos períodos, tudo isso, “para assegurar um desenvolvimentoproporcional” (p. 36).

Que tal agora reetirmos acerca dosconceitos de coerência textual?

Conceitos de coerência textual de acordo com alguns estudiosos dalíngua citados por Koch e Travaglia, no livro “ Texto e coerência”

Segundo Franck (1980), a coerência é a ligação formal entre os ter-mos sequenciais, tais como: enunciados, frases, atos ilocutórios. Essaligação relaciona esses termos uns com os outros “e os insere numaforma de organização superior como, por exemplo, nomes em uma lis-ta, frases em texto, atos de fala numa sequência dialógica etc.”(KOCHE TRAVAGLIA. 2009, p. 16).

Já Beaugrande e Dressler (1981) acreditam que a coerência é aresponsável pela continuidade dos sentidos do texto. Ela é “o resul-tado da atualização de significados potenciais que vai configurar umsentido”. Ou seja, é o resultado dos conhecimentos partilhados pelosusuários. Assim, a coerência é responsável por acionar os processoscognitivos. Tais processos divulgam a conexão conceitual. Um dessesprocessos é o conhecimento declarativo – aquele que sugere crençasque dizem respeito aos fatos do mundo real - e o conhecimento “proce-dural” – valores guardados na memória e acionados como parte argu-mentativa sempre que o usuário necessitar. Para Widdowson (1978) acoerência está diretamente ligada ao desenvolvimento dos atos da fala.

Nesse sentido, os enunciados são dotados de ações (pedido, conselho,aviso, ordem, promessa etc.) que se concretizam a partir das condiçõesimpostas a esses enunciados. O exemplo a seguir determina com pre-cisão esse conceito, vejamos:

T i t i d

 Ainda classificam-na em: coerência semântica, sintática, estilística epragmática.

Para o autor Marcuschi a coerência “é a organização reticulada outentacular do texto, não linear, portanto, dos níveis de sentido e inten-ções que realizam a coerência no aspecto semântico e função pragmá-tica” (op. cit. p. 21). Dessa forma, para esse linguista, como também

Page 70: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 70/76

 138 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  139

Temos o seguinte enunciado:

1. O carro está com defeito.

1.1. O carro – conteúdo proporcional que faz partedo mundo real.

1.2. está com defeito – informação a respeito do seuestado (ato de predicação)

1.3. Através dessa enunciação podem-se apresentardiversos atos de fala, tais como:

1.4.Uma ordem: o dono da oficina manda o funcio-nário consertar o carro com defeito.

1.5. Um pedido: o dono do carro pede a alguémque esteja passando por perto para ajudá-lo aempurrar o carro até a oficina mais próxima.

1.6. Uma asserção: o dono constata que o carro estácom defeito.

Segundo Bernárdez (1982) apud Salomon Marcus (1980) a coerên-cia é semântica, sintática e pragmática. De ponto de vista semânticoela se manifesta na unidade textual, ou seja, o texto atua como unidadepara remeter ao seu sentido global. É sintática porque é recuperada,quando necessária, através da “sequência linguística” que forma a uni-dade do texto e é pragmática, uma vez que o sentido depende um con-texto intencional. Assim, “a coerência [...] é não só uma propriedadedo texto, mas também um processo em que não é possível estabeleceruma diferença marcante entre os níveis pragmático, semântico e sintá-tico” (op. cit. p. 19).

Os linguistas Van Dijk e Kintsch (1983) afirmavam que coerên-cia era “uma propriedade lógica do texto”, atualmente esses autoresacreditam que ela encontra-se estabelecida nas diversas situações decomunicação dos usuários que possuem “modelos cognitivos comunsou semelhantes”, propiciados por determinado contexto cultural. Elesfalam de dois tipos de coerência: local – aquela que ocorre na superfí-cie do texto – e global – aquela que faz parte do texto como um todo.

tica (op. cit. p. 21). Dessa forma, para esse linguista, como tambémpara os linguistas Beaugrande e Dressler, a coerência é estabelecidaatravés dos elementos que dão continuidade ao sentido do texto.

Caro aluno! Pretendemos com essa exposição dos conceitos de co-esão e coerência difundidos por Koch e Travaglia, em obra já citada,que vocês adquiram uma visão global do que se entende por esses doiscritérios.

Que tal, agora, vocês praticarem um pouco?

 

 Atividade I

1. Leia o texto a seguir, e faça uma análise dos fatores responsáveis pela suacoesão.

“A atividade de leitura em sala de aula, em toda suacomplexidade, como sabemos, não é uma tarefa fácil parao professor de Língua Portuguesa, mas também não deveser uma tarefa enfadonha e improdutiva. Os PCN prescre-vem que as práticas de leitura e produção de textos nãodevem limitar-se a um gênero específico, já que a plura-lidade textual possibilita o leque de ferramentas que inte-ragem nas relações sociais, permitindo a ampliação doshorizontes do aluno. Assim como, o trabalho com o textonão pode limitar-se a uma prática arraigada a certa tradi-ção, nem mesmo se deve considerar o texto como pretextoou exemplificação da Gramática da frase e sim promoverum ensino produtivo que permita dotar os alunos de umasólida capacidade de manejo com o texto, propiciandoenriquecer o repertório, socializar os gêneros discursivos,solidificar os tipos textuais, desvendar os implícitos, ativar eestimular, cognitivamente as inferências, bem como outrasestratégias de leitura”.

(Irandé Antunes)

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Continuando a nossa conversa...

Coesão e coerência: critérios que se complementam

Como podemos observar, os teóricos que estudam as relações de

vam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo erespondeu:

- É areia!

 Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areianenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta paraexaminar o saco A velhinha saltou o fiscal esvaziou o saco

Page 71: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 71/76

 140 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  141

Como podemos observar, os teóricos que estudam as relações decoesão e coerência concordam que esses critérios estão, indiscutivel-mente, relacionados no processo de produção e interpretação textual.

 A coerência é entendida como “a configuração conceitual subja-cente e responsável pelo sentido do texto, e a coesão como sua expres-são no plano linguístico” (VAL, 2000. p. 20). Sendo assim, a coesãocontribui para o estabelecimento da coerência, mas não assegura a

sua obtenção. Segundo alguns autores a coesão é em parte respon-sável pela coerência, porque apenas os elementos linguísticos não sãosuficientes para garantir a coerência de um texto. Por isso, conclui-seque essa contribuição é apenas parcial, uma vez que o uso adequadoesses elementos sozinhos, sem que o leitor acione os recursos extralin-guísticos, são insuficientes para que se compreenda o sentido globaldo enunciado. 

 Atividade II

1. De acordo com os conceitos de  coesão e coerência discutidosanteriormente nesta aula, observe o texto abaixo e conclua se ele é coesoe coerente aplicando o que vimos até agora acerca deste assunto:

 A VELHA CONTRABANDISTA 

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta.Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta,com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Al-fândega – tudo malandro velho – começou a desconfiarda velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco

atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinhaparou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aquitodo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhoraleva nesse saco?

 A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe resta-

examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o sacoe dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à ve-lhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foiembora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhi-nha passasse um dia com areia e no outro com muamba,dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela

passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandouparar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no sacoe ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou eera mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptoua velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco eraareia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra bur-ro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contra-bandista.

- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já iatocar a lambreta, quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar.Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém,mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que asenhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não “espaia” ? – quis saber avelhinha.

- Juro – respondeu o fiscal.

- É lambreta.

(Stanislaw Ponte Preta)

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Encerrando a nossa conversa...

Fatores de coerência: uma breve revisão

“a) da situação para o texto – neste caso, trata-se de determinar emque medida a situação comunicativa interfere na produção/recep-ção do texto. Sendo que a situação pode ser entendida tanto emsentido estrito (situação comunicativa propriamente dita), comoem sentido amplo (o contexto sócio-político-cultural em que a in-teração está inserida). O lugar e o momento da comunicação vãoinfluir tanto na produção do texto como na sua compreensão;”

Page 72: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 72/76

 142 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  143

Como vimos, a textualidade se constitui a partir de fatores quefazem do texto não apenas uma sequência de frases, mas um todoconstituído de sentido. Beaugrande e Dressier denominam tais fatores,como: intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, intertextualidade einformatividade e não-contradicão.

Ingedore Koch define o texto como um produto em constante

transformação, algo inacabado, no entanto a partir da construção desentido através do conteúdo fornecido, dos saberes acumulados, doconhecimento linguístico e do conhecimento de mundo, se instaura oprocessamento estratégico, que acontece por meio da interação verbalentre interlocutores no ato da comunicação.

Para que aconteça êxito no processamento estratégico, os princí-pios de textualidade são de suma importância. De acordo com essaautora, a intencionalidade é a finalidade de o produtor confeccionar umtexto com textualidade, pois garante a interação entre autor e destina-tário, contribuindo assim, para a realização das intenções e efeitos queo texto proporcionará ao leitor.

 A aceitabilidade é a disposição do destinatário de aceitar um textoque possua importância para ele, tanto pelo conhecimento transmitidocomo pelo jogo de interação entre autor e destinatário.

Desse modo, os efeitos de sentido que o texto pode proporcionarao leitor, do ponto de vista da compreensão, da consideração e dareação, dependerá da construção de sentidos, que é proporcionadapela intencionalidade e pela aceitabilidade no jogo dialógico no atoda comunicação

Quanto mais o destinatário tiver conhecimento acerca do tema emquestão, mais eficaz será a interação entre os interlocutores.

 Assim, os critérios de intencionalidade e aceitabilidade são de sumaimportância na interação verbal, uma vez que são aspectos essenciaisna construção de sentido do texto, por estabelecerem maior nível de in-ferências e relações com outros textos. Tais inferências contribuem paraque se perceba também as relações que um texto possui com outrostextos, ou seja, proporcionam a percepção da intertextualidade.

 A situacionalidade de acordo com Marcuschi (2008) “é o critério que

se refere ao fato de relacionamento do evento textual à situação (social,cultural, ambiente etc) em que ele acontece. Ela além de interpretar erelacionar o texto ao contexto interpretativo, orienta a própria atividadetextual. É um critério de adequação textual que se refere aos fatores quetornam o texto importante em dada situação. Segundo Koch e Travaglia(2009) esse critério pode ser entendido sob duas óticas. Observemos:

influir tanto na produção do texto, como na sua compreensão;

“b) do texto para a situação: também o texto tem reflexos importantessobre a situação comunicativa. Ao construir um texto o produtorrecria o mundo de acordo com seus objetivos, logo, o mundocriado pelo texto não é uma cópia fiel do mundo real, o mundorepresentado textualmente é aquele visto pelo produtor, a partir desuas perspectivas”.

Segundo Koch e Travaglia (2009) ao se deparar com um texto, oleitor pode ter dificuldade de interpretá-lo ou porque as informaçõessão para ele superficiais, ou porque falta-lhe domínio do assunto abor-dado. O que vai determinar, portanto, se um texto é ou não coerenteé o grau de conhecimento existente entre leitor e texto. Se o leitor nãopossuir conhecimento prévio suficiente para entender o texto, não ocor-rerá interação entre texto e receptor. Não havendo interação o textotorna-se incoerente para ele.

Levando em consideração que o ato de comunicação é recíproco, épertinente afirmar que o grau de conhecimento prévio partilhado entreleitor e texto é que vai desvendar se o grau de informação do texto é baixoou alto a ponto de ter dificultado o estabelecimento da coerência.

Posto isso, parece notório que o conhecimento prévio e o conheci-mento partilhado são essenciais no estabelecimento do grau de infor-

matividade do texto, pois estes fatores podem nos apontar se o receptoré portador ou não dos conhecimentos que ajudarão na compreensãodo texto como um todo significativo.

Costa Val (2006) usa o termo informatividadepara explicar “a exten-são em que as ocorrências linguísticas apresentadas no texto, no planoconceitual e no formal, são novas ou inesperadas para os receptores”.Para essa autora a informatividade é medida pelo grau de previsibili-dade apresentado pelo texto. Dessa forma, se um texto for, em grandeparte, previsível menor será o seu caráter informativo, se o texto surpre-ender o leitor com informações desconhecidas por ele, maior será o seucaráter informativo.

Diante disso, Costa Val esclarece que as informações são previ-síveis quando não são novidades para o ouvinte ou leitor; são rapi-damente reconhecidas e de fácil processamento, já as informaçõesimprevisíveis, aquelas incomuns ao leitor ou ouvinte, fornecem ao tex-to um aspecto inovador e proporciona ao leitor/ouvinte um desafiopor exigir dele mais esforço na compreensão. Assim, o texto com umpadrão razoável de informatividade deve conter todas as informaçõesnecessárias para que seja entendido de acordo com intencionalidadedo autor.

Já a previsibilidade do texto vai ser determinada pelos conhecimen-

tos adquiridos culturalmente pelos interlocutores no ato da comunica-ção, pois estes são guardados na memória e ativados durante o pro-cesso comunicativo.

Posto isso, podemos concluir que o grau informatividade de umtexto é medido a partir do conhecimento de mundo das pessoas a queele se destina. Isso significa afirmar que o texto dependerá do repertório

l l d l d d d d d f

verbal. A enunciação ocorre na relação com o outro e só desta formaé que ganha sentido, pois

[...] todo falante é por si mesmo um respondenteem maior ou menor grau: porque ele é o primei-ro falante, o primeiro a ter violado o terno silên-cio do universo do universo, e pressupõe não sóa existência do sistema da língua que usa mas

Page 73: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 73/76

 144 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  145

cultural do leitor para ser designado como portador de graus de infor-matividade baixo, médio ou alto.

Um texto bem articulado coerentemente possui relações de sentidoentre suas informações, que se relacionam entre si. “A relação existenteem um texto é a maneira como seus conceitos se organizam e os comoexercem seus papeis uns com os outros na sociedade. As relações entreos fatos têm que estar presentes e ser pertinentes. Isso se constitui comofator lógico irrefutável. Um texto bem relacionado é um texto não- con-traditório. Se ocorrer contradições internas ou externas a textualidadeficará comprometida. Às vezes, o produtor de determinado texto levan-ta um ponto de vista (uma tese) e não consegue argumentá-la, os argu-mentos não passam de informações pautadas no senso comum. Comoresultado disso, o texto começa a apresentar informações desencontra-das, sem sentido, contraditórias. De acordo com Costa Val (2006)

 A coerência resulta também da não-contradição entre as diferentespartes de um texto que devem estar encadeadas logicamente. Cadaparte é pressuposto da parte seguinte, e assim por diante, formandoassim um entrecruzamento de ideias concatenadas harmonicamente.Quando ocorre ruptura nessa concatenação, ou quando uma parteatual do texto é contraditória com a anterior, rompe-se a coerência tex-tual, uma vez que ela é também resultante da adequação do que se dizao contexto além texto, ou seja, tudo àquilo a que o texto diz respeito,que precisa ser conhecido pelo destinatário.

De acordo com a Linguística Textual a intertextualidade é um dosfatores de textualidade, pois todo texto faz remissão a outro texto ain-da que inconscientemente. Desse modo, tanto quem produz um textoquanto quem o recebe recorre ao conhecimento prévio de outros textos.

O conhecimento prévio sobre algo que foi exposto anteriormente éde grande importância para elaboração de um sentido ao novo texto,assim como contribuem com os conceitos que se instauram do mundo,da cultura e dos estereótipos. É natural que, ao confeccionar um texto,o autor se valha daquilo que já vivenciou.

Os conceitos referentes à intertextualidade são objetos de reflexãoconstantes na linguística contemporânea, porque sempre um texto dialo-ga com outro que o antecedeu no tempo e no espaço de sua produção.

 Ao dialogar conscientemente com um texto anterior, nem sempre oautor faz referência à fonte, pois imagina que o leitor ative seu conheci-mento de mundo e compartilhe com ele das informações a respeito dostextos que compõem um determinado universo cultural.

De acordo com a teoria de Bakhtiniana acerca do dialogismo, osenunciados produzidos só adquirem sentido quando ocorre a interação

a existência do sistema da língua que usa, mastambém de alguns enunciados antecedentes – dosseus e alheios – com os quais o seu enunciado en-tra nessas ou naquelas relações (baseia-se neles,polemiza com eles, simplesmente os pressupõe jáconhecidos do ouvinte). Cada enunciado é um elona corrente complexamente organizada de outrosenunciados (BAKTHIN. 2003, p. 272).

 Assim ocorre a experiência discursiva individual, que “se forma e sedesenvolve em uma interação constante e contínua com os enunciadosindividuais dos outros” (op. cit. 2003, p. 294).

Dessa interação constante entre os textos emerge o caráter intertex-tual. A própria constituição da palavra intertextualidade já deixa notóriaa relação que existem entre os textos. Evidentemente, que o sentido detexto aqui é visto como um recorte significativo feito no processo inin-terrupto na imensa rede sd significações dos bens e valores culturais.Dessa forma, a intertextualidade “encontra-se na base de constituiçãode todo e qualquer dizer” (KOCH, 2006, p. 75).

 As diversas transformações verificadas na arte em geral têm levadomuitos artistas a dialogarem não com a realidade aparente das coisas,mas com a realidade da própria linguagem. Compartilhando o seu

espaço com as artes de modo geral, a linguagem literária, por exem-plo, alargou-se internamente, ao se apropriar de uma vasta gama demateriais estilísticos e formais pertencentes a outros espaços artísticos.

Leituras recomendadas

”Este livro procura condensar noções re-levantes dessa teoria e aplicá-las à analise de

Resumo

Page 74: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 74/76

 146 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  147

levantes dessa teoria e aplicá las à analise deredações de vestibular, na tentativa de estabe-lecer um diagnóstico e levantar sugestões parao trabalho com a expressão escrita na escola”.

“Toda a cultura, incluindo a produção lite-rária, dialoga com outras produções por meiode um processo intertextual. Todo o texto re-toma outro texto, relativizando a questão daautoria. Na produção literária, são vistas asepígrafes, a citação, a referência, a alusão.São especialmente destacados a paráfrase, aparódia, o pastiche e a tradução. A intertextu-alidade ainda é abordada na perspectiva darecepção e da história literária. Além da parteteórica, ricamente exemplificada, as autoraspropõem para esta obra uma prática de vinte euma atividades”(Sinopse Livraria Saraiva).

  “A intenção deste livro é fixar algumas

noções básicas acerca da propriedade textualda coesão e de sua relação com a coerência,com o objetivo de desenvolver nossa compe-tência para falar, ouvir, ler e escrever textos,com mais relevância, consistência e adequa-ção. Isso contribuirá para que todo leitor com-preenda o que fazer para deixar o seu textoarticulado, encadeado, coeso e coerente” (Si-nopse da Livraria Saraiva).

 A coesão é estudada no interior da teoria da linguística textual comouma propriedade do texto falado ou escrito, responsável pelos sucessivosencadeamentos de termos, de frases, de parágrafos, de modo que este tex-to como produto, se apresente como uma unidade de sentido. E a coerên-cia textual convive harmoniosamente com a coesão textual. Elas formamuma espécie de par “opositivo/distintivo”. Mas a textualidade ultrapassa acoesão gramatical e a lexical, pois o sentido do texto depende de “certo

grau de coerência” que abrange os diversos elementos tanto do interior daprodução quanto do seu exterior. Por isso, a coesão não é condição únicapara que o texto seja um todo significativo. Para a obtenção da coerênciae o alcance da compreensão concorrem também fatores de ordem prag-mática, tais como: o contexto de situação, os atos de fala, as intençõesdo produtor e do receptor, grau de informatividade, não-contradicão eintertextualidade. Fatores como esses influenciam a interação do leitor como texto e são vistos como aspectos fundamentais nesse jogo interativo, poiscriam condições para que a comunicação se estabeleça.

 

 Autovaliação

 

Este é o momento em que você deverá avaliar se seu aprendizadose deu a contento. Portanto, a proposta de autoavaliação que sugerimosdeve ser realizada com bastante segurança. Se você considera que suasleituras ainda não foram suficientes para realizá-la, é importante quevocê retome as leituras, as discussões com o professor e os colegas, demodo a ter segurança para realizar a atividade que sugerimos a seguir:

Leia os textos abaixo: PODER INVISÍVEL e O DETERMINISMO GEOGRÁ-FICO. Compare os dois, levando em consideração seu trabalho como

leitor/leitora para seguir as pistas coesivas e coerentes nos dois textos,na tentativa de compreendê-los.

 Agora responda: o fato desses dois textos serem de gêneros di-ferentes, estarem endereçados (intencionalidade) a públicos diferentes(aceitabilidade) , faz com que haja maior dificuldade em reconhecer aspistas linguísticas neles presentes? Por quê?

dica. utilize o blocode anotações pararesponder as atividades!

Lembre-se de que, para responder a essa questão, você deve seater aos critérios de coesão e coerência textuais responsáveis pela textu-alidade. Entra em jogo aqui o grau de informatividadeacerca dos temastratados nos textos.

 TEXTO I

e demonstraram que existe uma limitação na influência ge-ográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível ecomum existir uma grande diversidade cultural localizadaem um mesmo tipo de ambiente físico.

Tomemos, como primeiro exemplo, os lapões e os es-quimós. Ambos habitam a calota polar norte, os primeirono norte da Europa e os segundos no norte da América

Page 75: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 75/76

 148 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  149

PODER INVISÍVEL

Noêmia Lopes

  A gente não vê, mas a água de rios, lagos e ma-

res tem moradores incríveis: o plâncton, seres minúsculos eessenciais para a vida na Terra.

Nessa turma estão algas, bactérias, fungos, crus-táceos, moluscos e outras criaturas microscópicas. Algunsnão tem membros para locomoção e outros são pequenosdemais para nadar. Por isso, eles ficam flutuando na água.

  Existem dois tipos de plâncton, o vegetal e o ani-mal. Os dois servem de comida para vários animais, porisso são importantes no equilíbrio da cadeia alimentar.

 Além disso, o plâncton vegetal faz a fotossíntese e fornecegrande parte do oxigênio que existe no planeta.

(RECREIO, Ano10, nº 504, 5/11/2009)

 TEXTO II

O DETERMINISMO GEOGRÁFICO

O determinismo geográfico considera que as diferen-ças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural.São explicações existentes desde a Antiguidade, do tipodas formuladas por Pollio, Ibn Khaldun, Bodin e outros,como vimos anteriormente.

Estas teorias, que foram desenvolvidas principalmentepor geógrafos no final do século XIX e no início do século

 XX, ganharam uma grande popularidade. Exemplo signifi-cativo desse tipo de pensamento pode ser encontrado emHuntington, em seu livro Civilization and Climate (1915),no qual formula uma relação entre a latitude e os centrosde civilização, considerando o clima como um fator impor-tante na dinâmica do progresso.

 A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler,Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de determinismo

no norte da Europa e os segundos no norte da América. Vivem, pois, em ambientes geográficos muito semelhantes,caracterizados por um longo e rigoroso inverno. Ambostêm ao seu dispor flora e fauna semelhantes. Era de seesperar, portanto, que encontrassem as mesmas respostasculturais para a sobrevivência em um ambiente hostil. Masisto não ocorre:

 Os esquimós constroem suas casas (iglus) cortandoblocos de neve e amontoando-os num formato de colméia.Por dentro a casa é forrada com pelos de animais e com oauxílio do fogo conseguem manter o seu interior suficien-temente quente. É possível, então, desvencilhar-se das pe-sadas roupas, enquanto no exterior da casa a temperaturasitua-se a muitos graus abaixo de zero grau centígrado.Quando deseja, o esquimó abandona a casa tendo quecarregar apenas os seus pertences e vai construir um novoretiro

Os lapões, por sua vez, vivem em tendas de peles derena. Quando desejam mudar os seus acampamentos,necessitam realizar um árduo trabalho que se inicia pelodesmonte, pela retirada do gelo que se acumulou sobre aspeles, pela secagem das mesmas e o seu transporte parao novo sítio.

Em compensação, os lapões são excelentes criadoresde renas, enquanto tradicionalmente os esquimós limitam--se à caça desses mamíferos.

 A aparente pobreza glacial não impede que os esqui-mós tenham uma desenvolvida arte de esculturas em pe-dra-sabão e nem que resolvam os seus conflitos com umasofisticada competição de canções entre os competidores.

Um segundo exemplo, transcrito de Felix Keesing, é avariação cultural observada entre os índios do sudoestenorte-americano: (...)

(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um con-ceito Antropológico. 11. ed. Rio de Janeiro:

Zahar Editor. 1997, p. 21-22).

Referências ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:Parábola Editorial, 2005.

AZEREDO José Carlos (org ) Repensando a textualidade In: Língua

Page 76: TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

7/25/2019 TEORIAS LINGUÍSTICAS 2 - UEPB - 2011.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/teorias-linguisticas-2-uepb-2011pdf 76/76

 150 SEAD/UEPB I Teoria Linguísticas II Teoria Linguísticas II I SEAD/UEPB  151

 AZEREDO, José Carlos (org.). Repensando a textualidade. In: Línguaportuguesa em debate: conhecimento e ensino. 4. ed. Petrópolis, RJ:

 Vozes, 2007.

BARROS, Diana Luz Pessoa & FIORIN, José Luiz. (org.) Dialogismo,polifonia, intertextualidade: em torno de Bakhtin. São Paulo.Universidade de São Paulo-USP. 2001.

COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Trad. Cleonice P. B.Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. KRISTEVA, Julia.Introdução à semanálise. Trad. Lúcia Helena França Ferraz. São Paulo:Perspectiva, 1974.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo:Martins Fontes, 1991.

GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português. In:––– (org). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2007.

KLEIMAN, A. A interface de estratégias e habilidades. In: Oficina deleitura: teoria e prática. Campinas: Pontes / UNICAMP, 2000.

KOCH, Ingedore Villaça.  A coesão textual. 7. ed. São Paulo: Contexto,1989.

______. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.______. Introdução à linguística textual:  trajetória e grandes temas. SãoPaulo: Martins Fontes, 2004.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos.  A coerência textual.8. ed. São Paulo: Contexto, 2000.

MARCUSCHI, Luiz Antônio.  A Linguística de Texto: o que é e como sefaz. Recife. Universidade Federal de Pernambuco, 1983.

_______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo,Parábola Editorial, 2008.

MARTELLOTA, M. et. alii. (orgs.) Manual de Linguística. São Paulo:Contexto, 2008.