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Terapêutica Nutricional na Nefropatia Diabética Nutritional Therapeutics in Diabetic Nephropathy Irina da Cruz Ferreira Orientada por: Dr. Daniel Carvalho Braga Monografia Porto, 2009

Terapêutica Nutricional na Nefropatia Diabética · Esta monografia pretende reunir e analisar conceitos que versam o tema da Nefropatia Diabética, no que concerne à sua Terapêutica

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Terapêutica Nutricional na Nefropatia Diabética

Nutritional Therapeutics in Diabetic Nephropathy

Irina da Cruz Ferreira

Orientada por: Dr. Daniel Carvalho Braga

Monografia

Porto, 2009

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À minha Avó,

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Agradecimentos

Ao Miguel, por estar sempre do meu lado, por perder todo o tempo do mundo

para me ajudar. Por ser quem é e nunca mudar.

Aos meus Pais, por me ensinarem a lutar pelo que quero e por terem sempre uma

palavra de conforto.

À Professora Doutora Flora Correia, pela disponibilidade e por toda a ajuda.

Ao Dr. Daniel Carvalho Braga pela orientação e pela disponibilidade.

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Índice ��

Lista de Abreviaturas .............................................................................................. vi

Resumo e Palavras-Chave.................................................................................... vii

Abstract and Keywords ........................................................................................ viii

1.Introdução ............................................................................................................ 1

2.Desenvolvimento

2.1 Nefropatia Diabética ................................................................................ 2

2.2 Diagnóstico e Tratamento ........................................................................ 4

2.3 Factores de Risco..................................................................................... 6

2.4 Terapêutica Nutricional .......................................................................... 10

3. Conclusão ......................................................................................................... 17

4. Referências Bibliográficas ................................................................................. 21

5. Índice de Anexos ............................................................................................... 25

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Lista de Abreviaturas

ADA – American Diabetes Association

AGPI/AGS – Ácidos Gordos Polinsaturados / Ácidos Gordos Saturados

AGPM/AGS – Ácidos Gordos Monoinsaturados / Ácidos Gordos Saturados

AHA – American Heart Association

ARBs – Bloqueadores dos Receptores da Angiotensina II

ATP III - Adult Treatment Panel III

AVB – Alto Valor Biológico

DASH - Dietary Approaches to Stop Hypertension

ECA – Enzima de conversão da angiotensina

FDA - Food and Drug Administration

HbA1C – Hemoglobina Glicosilada

HDL – High-density lipoprotein

HTA – Hipertensão Arterial

IECAs – Inibidores da enzima de conversão da angiotensina

IRC – Insuficiência Renal Crónica

LDL – Low-density lipoprotein

MDRD – Modification of diet in renal disease

NKF - National Kidney Foundation

RDA – Recommended Dietary Allowance

SRA – Sistema – Renina – Angiotensina

TFG – Taxa de Filtração Glomerular

VET – Valor Energético Total

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Resumo

Esta monografia pretende reunir e analisar conceitos que versam o tema

da Nefropatia Diabética, no que concerne à sua Terapêutica Nutricional.

Pretendem-se juntar pontos de vista distintos, provenientes de diferentes estudos,

analisando esta patologia consequente da Diabetes e muito associada à

Insuficiência Renal Crónica.

Além de se definir a patologia, seus possíveis factores de risco e

respectivas consequências, descrevem-se as principais directrizes de controlo e

monitorização da Nefropatia Diabética.

Sendo esta uma doença irreversível, este trabalho destaca a importância

das Ciências da Nutrição, em forma de Terapêutica Nutricional, na prevenção e

redução da progressão da mesma. Confrontam-se alguns estudos, cujas

conclusões de inferências estatísticas divergem, especialmente no que respeita

às recomendações de ingestão proteica dos doentes, impedindo o consenso que

levaria a uma única solução standard.

Palavras-chave:

Nefropatia Diabética

Terapêutica Nutricional

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Abstract

This monograph intends to collect and analyse concepts about Diabetic

Nephropathy, with respect to its Nutritional Therapeutic. It is expected to link

diverse points of view which are results of different studies, analysing this

pathology that is consequent of Diabetes and very associated with Chronic Renal

Insufficiency.

Further than defining the pathology, its possible risk factors and respective

consequences, the principal guidelines for screening and control of Diabetic

Nephropathy are described.

Being this an irreversible disease, this work detaches the importance of

Nutrition Sciences, in a Nutritional Therapeutic form, preventing and reducing the

progression of the pathology. References are made to several studies, whose

statistical inferences conclusions diverge, especially in concern with patient protein

intake, hindering the consensus that would lead to a standard solution.

Keywords:

Diabetic Nephropathy

Nutritional Therapeutic

1. Introdução

A Nefropatia Diabética é a principal patologia que no seu último estádio leva

ao desenvolvimento da Insuficiência Renal Crónica (IRC), o que a torna uma

causa comum de morbilidade e mortalidade entre indivíduos diabéticos. [1,2,3,4,5]

Posto isto, este trabalho procura desenvolver o tema da Nefropatia Diabética no

que diz respeito à importância da terapêutica nutricional, na prevenção e

minimização dos efeitos desta patologia.

A Nefropatia Diabética é então uma complicação microvascular tardia da

Diabetes [6], epidemia crescente a nível mundial. [7] Estima-se que a prevalência

da Diabetes em 2030 seja de 4,4%, admitindo todas as faixas etárias, o que se

traduz em 366 milhões de indivíduos. [8] Este aumento relaciona-se com factores

como as mudanças de diagnóstico da doença, o aumento de consciencialização,

o aumento da esperança média de vida, o crescimento da doença entre as

populações minoritárias, o aumento dramático da Obesidade, bem como a

adopção de estilos de vida sedentários. [8] Com o aumento da prevalência da

Diabetes a nível mundial é de supor que aumentem também os casos de

indivíduos afectados pela Nefropatia Diabética. [2] O último estádio desta patologia

conduz à IRC, que é sinónima de perda progressiva e irreversível da função renal.

A National Kidney Foundation (NKF) estima que cerca de metade dos 50 milhões

de indivíduos afectados por IRC sejam indivíduos diabéticos.

O nutricionista tem um papel extremamente relevante na prevenção,

tratamento e acompanhamento destes doentes, pois através de uma eficiente

terapêutica nutricional, estes podem usufruir de grandes benefícios a curto e a

longo prazo. Devem ser implementadas estratégias de intervenção nutricional

com bases científicas, tal como se devem educar os doentes, para que consigam

2 2. Desenvolvimento�

fazer escolhas e tomar decisões adequadas para melhorar a sua qualidade de

vida. Sem o adequado acompanhamento e tratamento, cerca de 80% dos

indivíduos diabéticos tipo 1 progridem para falência renal e 20 a 40% do tipo 2

progridem para a mesma num período de 15 anos. [1,3]

O trabalho reúne vários pontos de vista baseados em estudos no âmbito da

Nefropatia e da terapêutica nutricional associada. Este tema tem suscitado

alguma controvérsia junto da comunidade científica, no sentido de falta de

consenso relativamente às recomendações adequadas para prevenção e

tratamento.

2. Desenvolvimento

2.1 Nefropatia Diabética

Ao desenvolver um tema acerca de Nefropatia Diabética é importante

esclarecer alguns aspectos relacionados com os rins. A sua principal função

baseia-se no paradoxo filtração – reabsorção, que promove a homeostasia pela

remoção de toxinas através da formação da urina. Mantêm o equilíbrio

electroquímico, regulam o balanço ácido-base e pressão arterial, promovem a

activação da vitamina D e produção de eritrócitos através da eritropoetina. A sua

constituição relaciona-se directamente com a sua principal função, pois são

constituídos por inúmeros nefrónios que contêm um glomérulo que possui uma

barreira de filtração glomerular conferindo-lhe elevada permeabilidade à água e

relativa impermeabilidade às macromoléculas, nas quais se incluem as proteínas

A Nefropatia Diabética tem várias fases de desenvolvimento e são

múltiplos os mecanismos que contribuem para tal, sendo os principais a

2. Desenvolvimento 3

hipertensão e a hiperglicemia. Estes provocam alterações hemodinâmicas,

funcionais e posteriormente estruturais. [1,2]

De forma geral, e de maneira a que se compreenda a instalação da patologia,

surgem inicialmente hiperfunção e hipertrofia, que se caracterizam por

hiperfiltração glomerular e nefromegalia devido ao aumento da pressão

intraglomerular.[9] Numa primeira fase, apesar da hipertrofia glomerular, não há

alterações a níveis da membrana basal do glomérulo.[9] Mas com o continuar

destas características surge espessamento da membrana basal do glomérulo e

expansão mesangial. [1,2,5,9,10] Estas alterações têm como consequência

desregular o Sistema – Renina – Angiotensina (SRA) e de outros processos

bioquímicos e hormonais. [1] Quando ocorrem as primeiras alterações a nível

glomerular, os indivíduos diabéticos apresentam níveis de albuminúria normais,

mas com o passar do tempo começam a surgir pequenos, mas anormais, níveis

de albumina na urina. [1,9,10] Com a disfunção a nível endotelial e a permeabilidade

do glomérulo cada vez mais comprometida, aumentam os níveis de proteína

filtrada, surgindo assim Nefropatia Clínica. [5,9,10] As alterações estruturais também

se irão estender ao sistema tubular. Quando a proteína filtrada atinge níveis

severos e há perda progressiva da barreira glomerular, poderá haver instalação

do Síndrome Nefrótico. O síndrome nefrótico caracteriza-se por proteinúria (>

3,5g/dia), no qual os principais sintomas são a hipoalbuminemia com consequente

edema e hipercolesterolemia devido à diminuição das proteínas séricas, o que se

traduzirá em malnutrição se não forem tidos em conta os devidos cuidados.

Resumindo, a Nefropatia Diabética assume 4 estádios até atingir a IRC. [9]

No primeiro observa-se nefromegalia e hiperfiltração, no segundo aparecem

lesões estruturais, no terceiro surge microalbuminúria e inicio da diminuição da

4 2. Desenvolvimento�

TFG e no quarto, há progressão para proteinúria com possível Síndrome Nefrótico

e declínio inexorável da TFG. [9] Por fim é instalada a insuficiência renal com

consequente azotemia e uremia. [9] Nesta última e avançada fase de IRC terminal

os doentes têm de recorrer a hemodiálise, diálise peritoneal ou transplante renal.

�2.2 Diagnóstico e Monitorização

As alterações clínicas da Nefropatia Diabética mais visíveis são a

albuminúria, o aumento da pressão arterial e a perda de função renal. [5,6] Estas

podem ser avaliadas através de dados clínicos, avaliação laboratorial e ecografia

e poderá ser necessária biopsia renal para confirmação do diagnóstico. [2,5]

A American Diabetes Association (ADA) define duas fases (Anexo 1) de

Nefropatia Diabética baseada na albuminúria com os respectivos valores de corte:

a microalbuminúria, caracterizada quando a excreção urinária de albumina é

superior a 30 mg/dia, o que equivale a um rácio albumina/creatinina entre o

intervalo 30 – 299 μg/mg; a macroalbuminúria, caracterizada quando há excreção

urinária de albumina superior a 300 mg/dia, o que equivale a um rácio

albumina/creatinina acima dos 300 μg/mg. [2,4,5]

Evidências referem que o risco de progressão da Nefropatia Diabética

começa ainda antes do doente desenvolver microalbuminúria [5], mas é através do

surgimento desta que estamos perante a primeira evidência clínica, denominada

fase de Nefropatia Incipiente. [1,2,5,9] Nesta fase, a função renal ainda não se

encontra completamente comprometida, pelo que esta fase nem sempre implica

progressão para macroalbuminúria. [1.9]

Há realmente comprometimento da função renal quando há progressão para

macroalbuminúria, surgindo proteinúria com aumento da pressão arterial e grande

risco de insuficiência renal, denominada fase de Nefropatia Clínica. [1,5,9,11]

2. Desenvolvimento 5

A ADA, recomenda monitorização de albuminúria para indivíduos

diabéticos tipo 1 (com evolução da doença de pelo menos 5 anos) e

imediatamente após diagnóstico para indivíduos diabéticos tipo 2 (já que neste

caso muitas vezes não é possível determinar com exactidão o momento de

surgimento da patologia). [12] Na monitorização dos valores da albuminúria,

quando surge microalbuminúria positiva devem ser registados 2 a 3 testes

positivos num intervalo de 6 meses, de forma a ser possível afirmar o início da

Nefropatia. Isto porque existe alguma variação intra-individual, e alguns factores

como o exercício físico aumentado nas últimas 24 horas, infecção, febre, entre

outras, que podem ser responsáveis por estes falsos valores. [4,5] Após

diagnóstico da Nefropatia Diabética é essencial monitorizar a função renal. [3,4]

Quando está disponível a análise da urina de 24 horas, a avaliação faz-se através

do cálculo directo da Depuração de Creatinina (Anexo 2), caso contrário é feita

uma estimativa indirecta pela fórmula de Cockroff e Gault (Anexo 3), que

considera a idade e o peso dos indivíduos. [3]

Juntamente a isto e de forma a estimar o grau de doença renal, a NKF

recomenda a utilização da fórmula utilizada no estudo “Modification of diet in renal

disease” (MDRD) (Anexo 4). [4] A estimativa considera a idade, o sexo, a

creatinina plasmática standard e a área corporal. Através da TFG pode-se

determinar 5 graus de doença renal (Anexo 5) quando os seus valores são

menores que 90ml/min. É considerada uma boa forma para avaliar a função renal

e determinar o grau da doença, pois a TFG é considerada como o melhor

parâmetro de avaliação da função renal global. [3,5] É importante estimar a TFG

independentemente da albuminúria, pois existem casos onde o doente apresenta

valores normais de albuminúria e diminuição da TFG. [5]

6 2. Desenvolvimento�

Segundo a NKF, a presença de Nefropatia Clínica pode ser afirmada

quando estamos na presença de macroalbuminúria, microalbuminúria conjugada

a retinopatia diabética ou microalbuminúria em indivíduos diabéticos com 10 ou

mais anos de evolução da patologia.[13] Devem ser sempre excluídas outras

possíveis causas para a existência destes parâmetros. Em caso de dúvida é feita

uma biopsia renal que, quando positiva, revela glomeruloesclerose, caracterizada

pelo espessamento da membrana basal, expansão mesangial difusa, inflamação

intersticial, provavelmente pela excessiva passagem de proteínas, bem como os

característicos nódulos de Kimmelstiel Wilson. [2,5]

Além dos parâmetros de avaliação do estado da doença, devem ser

monitorizadas a avaliação bioquímica, que reflecte a malnutrição no doente renal

(Anexo 6), consequente da perda excessiva de proteína e a avaliação

antropométrica, já que perdas de peso superiores a 5% num mês são indicadoras

de desnutrição grave. [13]

2.3 Factores de Risco

Mogensen CE, [14] refere que indivíduos diabéticos com um mau controlo

metabólico e hipertensão arterial (HTA) têm um elevado risco de desenvolver

Nefropatia Diabética. Desta forma e segundo vários autores, os principais factores

de risco para o desenvolvimento e progressão da Nefropatia Diabética são a

hiperglicemia e a HTA. [1,2,5,14,15,16,17,18] Para além destes, existem alguns estudos

que mostram a influência da predisposição genética, da dislipidemia, da presença

de microalbuminúria, da ingestão excessiva de proteína e um papel ainda não

muito claro do tabagismo. [2,4,5,14,15,16,18] Factores como a idade, o sexo, a raça e a

duração da patologia podem também estar envolvidos. [14,15,16] O desenvolvimento

2. Desenvolvimento 7

da patologia requer uma combinação de factores de risco [1] que devem ser

monitorizados e tratados a fim de reduzir a progressão da doença.

A hiperglicemia é a principal condição metabólica que define a Diabetes,

logo, para minimizar este factor, há necessidade de um controlo adequado da

glicemia. Os estudos “The Diabetes Control and Complications Trial” e o “UK

Prospective Diabetes Study” demonstram que o controlo intensivo dos níveis de

glicemia podem prevenir o surgimento da microalbuminúria e diminuir a

progressão desta para proteinúria, na diabetes tipo 1 e tipo 2 respectivamente. A

ADA apoia-se, em parte, nestes estudos para formulação das recomendações do

controlo glicémico, tanto para controlar a Diabetes como para prevenção da

Nefropatia Diabética. O bom controlo glicémico reflecte-se através de níveis de

hemoglobina glicosilada (HbA1C) inferiores a 7%, mas sem demasiadas

hipoglicemias para indivíduos diabéticos com ou sem Nefropatia. [12,16] No

tratamento da hiperglicemia são utilizados anti-hiperglicemiantes orais ou insulina,

no qual a insulina parece ter maior benefício a nível do controlo da progressão da

patologia. [5,16] Em doentes que já têm a função renal comprometida (estádio 3 ou

acima), o controlo intensivo da glicemia pode levar a hipoglicemias graves. [2,16]

Em doentes com Nefropatia Clínica, o controlo da glicemia não tem o mesmo

impacto, pois já não é possível prevenir a perda de função, embora continue a ser

muito importante para a prevenção de outras complicações (se ainda não

estiverem associadas) e para retardar a evolução da patologia. [17]

Há então que ter em conta a auto-vigilância da glicemia e o valor da

HbA1C, pelo menos duas vezes ao ano em doentes controlados, e de três em

três meses em doentes que iniciaram nova terapêutica ou que ainda não

atingiram os objectivos. [5,12,17]

8 2. Desenvolvimento�

Outro factor de risco importante é a HTA, comum em indivíduos diabéticos.

[17,18] Muitos estudos revelam uma relação proporcional entre HTA e aumento do

risco de insuficiência renal. Juntamente, Earle K. e Viberti GC [17] sugerem que

existe uma certa susceptibilidade familiar para o desenvolvimento de

microalbuminúria, já que em indivíduos diabéticos tipo 1, quando têm história

familiar de HTA, normalmente desenvolvem micro ou macroalbuminúria.

Com base em estudos, a ADA define como meta a atingir, uma pressão

sistólica de <130mmHg e a diastólica de <80 mmHg em diabéticos sem

albuminúria e pressão sistólica <127 mmHg e diastólica de <75mmHg naqueles

que tiverem proteinúria, devendo esta ser avaliada de forma rotineira. [4,5]

A pressão arterial, principalmente os valores da sistólica [1,4,15], são uma

chave importante na prevenção e no tratamento de doentes com Nefropatia

Diabética. [2] Manter a pressão arterial controlada é muito importante nestes

doentes, tanto pelo papel que tem na evolução para IRC, como pelo risco de

Doença Cardiovascular. [2,18] Hoje em dia, como auxílio ao tratamento, são

utilizados inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs) e

bloqueadores dos receptores da angiotensina II (ARBs) no qual se podem

associar diuréticos de forma a abrandar a progressão de proteinúria. [5,12,16]

Segundo a recente publicação Clinical Pratice Recomendation da NKF, estes

fármacos devem ser associados à terapêutica de indivíduos diabéticos que sejam

normotensos, mas que apresentem microalbuminúria ou macroalbuminúria. [13]

Com estes fármacos deve haver uma monitorização frequente da função renal e

dos níveis do potássio plasmático. [12]

Por sua vez, alguns estudos relacionam a existência de dislipidemia com a

progressão da Nefropatia Diabética.[14] Existem algumas evidências de que o uso

2. Desenvolvimento 9

de fármacos como as estatinas podem preservar a TFG e diminuir a proteinúria

em indivíduos diabéticos, mesmo em indivíduos que tenham baixos valores de

colesterol LDL [5,19] Para além de que indivíduos diabéticos têm elevado risco

Cardiovascular. [2,14,19]

Desta forma, as recomendações da ADA baseiam-se no Adult Treatment

Panel III (ATP III) da American Heart Association (AHA), que define como ideais

valores de colesterol LDL (Low-density lipoprotein) <100 mg/dl, colesterol HDL

(High-density lipoprotein) �>50 mg/dl em mulheres e >40mg/dl nos homens e de

triglicerídos <150 mg/dl em doentes que se encontrem num dos quatro estádios

da doença. Quando os doentes têm Doença Cardiovascular associada devem ter

um nível de colesterol LDL <70mg/dl.

Apesar da microalbuminúria nem sempre indicar progressão de Nefropatia

Diabética, é um factor de predisposição da macroalbuminúria e de risco para

doença cardiovascular. [1,16] Quando não é devidamente tratada, cerca de 80%

dos indivíduos diabéticos tipo 1 poderão progredir para macroalbuminúria e

consequente Nefropatia Diabética. [1,6] A associação da microalbuminúria e

progressão da doença não é tão forte em indivíduos diabéticos tipo 2. [6] Mas,

segundo Parving, a microalbuminúria é o melhor predictor de Nefropatia Diabética

em ambos os tipos de Diabetes. [20] Nem todos os estudos demonstram redução

da progressão de insuficiência renal em indivíduos diabéticos quando ocorre

diminuição da microalbuminúria mas, apesar disso, esta recomendação deve ser

tida em conta. [5]

A hiperfiltração glomerular e o aumento da pressão intraglomerular são

mecanismos reconhecidos como causas de lesão renal induzida pelo excesso de

ingestão proteica. [19] Assim, alguns estudos revelam que uma quantidade

10 2. Desenvolvimento�

elevada de ingestão proteica (≥ 20 % do valor energético total (VET)) está

associada ao surgimento de microalbuminúria e progressão de perda da função

renal em indivíduos diabéticos hipertensos. [19] Brenner et al. foram os primeiros a

por a hipótese que um aumento excessivo da ingestão proteica levaria a um

aumento da pressão glomerular e hiperfiltração com consequente lesão renal. [21]

Contrariamente à ingestão proteica, a predisposição genética, não é

modificável. Mas este factor parece também ter importância no desenvolvimento

da Nefropatia, devido a um polimorfismo associado à enzima de conversão de

angiotensina (ECA), no qual é afectado o SRA. [1,15]

Por fim, o tabagismo, a idade avançada, o sexo masculino, a raça Africana,

Latino e Afro-Americana, tal como o tempo de duração da Diabetes, parecem

influenciar o surgimento e progressão da Nefropatia Diabética. [4,15,16]

2.4 Terapêutica Nutricional

O doente diabético deve ser acompanhado por uma equipa multidisciplinar,

onde deve ser sempre incluído o nutricionista. Isto, porque a dieta destes doentes

é extremamente importante no seu tratamento, logo deve ter sempre intervenção

nutricional.

O objectivo da intervenção nutricional é melhorar o controlo metabólico,

promover qualidade de vida e evitar/minimizar possíveis complicações

decorrentes da Diabetes, como a Nefropatia Diabética. Quando diagnosticada

Nefropatia Diabética, a necessidade de intervenção a nível nutricional duplica,

pois grande parte dos possíveis factores de risco são modificáveis e a Nutrição

tem um papel importante na sua minimização.

2. Desenvolvimento 11

As recomendações nutricionais para estes doentes devem ter como pilar a

patologia base, a Diabetes, e de seguida dar atenção as necessidades

específicas da Nefropatia. Segundo as recentes guidelines da NKF [19], as

necessidades energéticas devem ser calculadas com base no indivíduo e nas

suas necessidades. Relativamente aos macronutrientes a distribuição

praticamente só varia na percentagem de energia proveniente da proteína, que

deve ser estimada conforme o grau da doença. Ou seja, indivíduos que se

encontrem no grau 1 ou 2 devem ingerir cerca de 0,8g/kg peso/dia (cerca de 10%

do valor energético total (VET)), enquanto que no grau 3 ou 4, ou seja no início

acentuado do declínio da TFG devem ingerir entre 0,6 – 0,8g/kg peso/dia. Os

hidratos de carbono devem perfazer entre 50 a 60% do VET e as gorduras devem

ser inferiores a 30% do VET, no qual menos de 10% deve ser de ácidos gordos

saturados. O colesterol alimentar deve ser limitado a menos de 200 mg/dia.

Relativamente à ingestão de sódio, as recomendações indicam que em todos os

estádios da patologia devem ser abaixo dos 2,3 g/dia, já que é frequente estes

indivíduos sofrerem de HTA. Minerais como o potássio e o fósforo também devem

ser monitorizados, sendo que nos graus iniciais da patologia devem ser > 4g/dia e

1,7 g/dia, respectivamente. Nos graus 3 e 4 há que limitar estes valores, no qual o

fósforo deve apenas atingir 0,8-1,0 g/dia e o potássio 2,4 g/dia. Nestes últimos

graus, muitas vezes é feita associação com quelantes do fósforo. Segundo a NKF

devem ser privilegiados produtos hortícolas, cereais completos, oleaginosas,

lacticínios com baixo teor de gordura, azeite, peixe e carne de aves nas devidas

proporções e quantidades. A NKF sugere que estas recomendações devem ser

uma adaptação da Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH).

12 2. Desenvolvimento�

As guidelines da ADA [11,22] recomendam uma redução da ingestão de

proteína para 0,8-1,0 g/Kg peso/dia nos primeiros graus da doença e de 0,8g/Kg

peso/dia nos últimos graus de forma a melhorar a função renal estimada, ou

através da albuminúria ou da TFG. Quando há um grande declínio da TFG

recomenda uma restrição para 0,6g/Kg peso/dia. Quanto aos outros

macronutrientes, devem ser prescritos com base nas necessidades do consumo

energético do doente e na quantidade de proteína, dando sempre atenção ao

perfil metabólico. A alimentação deve ser variada e incluir todos os grupos de

alimentos de forma equilibrada. A monitorização dos hidratos de carbono é a

melhor estratégia de conseguir um controlo glicémico adequado,

independentemente de ser através da contagem de hidratos de carbono ou das

estimativas prescritas. O controlo do índice glicémico dos alimentos, quando este

é tido em conta, poderá ter um benefício moderado adicional. Alimentos ricos em

sacarose não estão proibidos, mas devem ser consumidos no contexto de uma

alimentação saudável e sempre incluídos numa refeição. Nesta situação há que

ter em atenção o excesso de valor energético ingerido, característico destes

alimentos. Adoçantes não nutritivos e polióis são permitidos, mas não devem

exceder os limites estipulados pela Food And Drug Administration (FDA).

Relativamente à recomendação de ingestão de fibra alimentar, estes não

necessitam de quantidades maiores das dos indivíduos saudáveis.

Na ingestão de gordura, os ácidos gordos saturados devem ser

consumidos em quantidades inferiores a 7% do VET, o consumo dos ácidos

gordos trans devem ser limitado e o colesterol alimentar deve ser menor que 200

mg/dia. Também há recomendação de inclusão de peixes ricos em ácidos gordos

polinsaturados da série n-3 na alimentação. Não há evidências que justifiquem a

2. Desenvolvimento 13

recomendações de diferentes níveis de micronutrientes comparativamente a

indivíduos saudáveis. Há também referência à DASH para diminuir a hipertensão.

Em casos de Síndrome Nefrótico, há necessidade de repor as perdas de

proteína, com o objectivo de manter o balanço azotado positivo. Deve então ser

prescrito um regime hiperenergético (35-50 kcal/Kg de peso/dia), com restrição de

colesterol alimentar e restrição moderada de sódio, de forma a diminuir o edema.

Relativamente à quantidade de proteína, se o doente apresentar função renal

normal, a ingestão vai depender dos valores de ureia e creatinina e deverá ser de

0,8g – 1g/Kg de peso/dia, com suplementação de 1g por cada proteína perdida

em Alto Valor Biológico (AVB). Quanto está presente proteinúria e para não

afectar a albumina sérica,o valor de ingestão proteica deve ser de 0,6g/Kg de

peso/ dia com 75% de AVB. Na presença de deterioração da função renal, a

ingestão deve ser de 0,8g/Kg de peso/dia, mais o valor de perdas proteicas da

urina de 24 horas, em AVB. Geralmente prescreve-se acima de 1g/Kg de peso/dia

quando o doente tem uma função renal razoável mas apresenta malnutrição

proteico-energética. [13] Para além destas recomendações existem outras,

contudo, o objectivo final é a reposição dos valores proteicos perdidos,

prevenindo a malnutrição e atrasar a progressão para a IRC.

Todos os valores até agora apresentados baseiam-se em recomendações

apostoladas por grandes e reconhecidas organizações mundiais. Contudo, no

meio científico, a investigação leva a constantes actualizações do estado da arte.

No que diz respeito à Nefropatia Diabética e à Terapêutica Nutricional não existe

muito consenso.

Estudos em modelos animais mostram que uma restrição proteica reduz a

hiperfiltração, a pressão intraglomerular e consequentemente a redução da

14 2. Desenvolvimento�

progressão de doença renal, incluindo a Nefropatia Diabética. [4] Alguns estudos

em humanos com Nefropatia Diabética mostraram que a prescrição de uma dieta

com restrição proteica (0,6g/kg de peso/dia, no qual os indivíduos apenas

alcançaram a restrição média de 0,8 g/kg de peso/dia) retardava modestamente o

declínio da TFG. Contudo, na meta-análise de Pan et al [23], ao ser avaliado o

efeito de uma dieta com restrição proteica (valor médio de 0,91g/Kg de peso/dia)

versus ingestão normal (valor médio de 1,27 g/Kg de peso/dia) na progressão do

declínio da função renal, em ambos os tipos de Diabetes com Nefropatia

Diabética, não foi concluída associação, apesar de ter havido uma redução

significativa na albuminúria ou na proteinúria. Na meta-análise de Robertson et al.

[6], onde foram incluídos ambos os tipos de Diabetes, foi concluído sem significado

estatístico, que uma restrição da ingestão proteica parece atrasar de forma lenta a

falência renal.Por sua vez o estudo de Hansen et al [24], ao comparar uma dieta

com restrição proteica (valor médio de 0,89g/Kg de peso/dia) e uma dieta habitual

(valor médio de 1,02 g/Kg de peso/dia) em indivíduos diabéticos tipo 1 com

Nefropatia quanto à progressão de Nefropatia Diabética para IRC e morte,

concluiu que apesar de os dois grupos de estudo não mostrarem diferença

significativa quanto à TFG, houve uma modesta melhoria na progressão da

patologia, no grupo ao qual foi prescrita a dieta com restrição proteica.

Na meta-análise de Pedrini et al [25], a comparação de estudos de

indivíduos não diabéticos com indivíduos diabéticos levou a um resultado

estatístico significativo na redução dos níveis de albuminúria e no declínio da

TFG, quando adoptadas dietas com baixa ingestão proteica (entre 0,5-0,85 g/kg

peso/dia). Concluíram que uma restrição proteica poderá diminuir a progressão da

doença em indivíduos diabéticos e não diabéticos.

2. Desenvolvimento 15

Um estudo com duração de um ano, que pretendia avaliar até que ponto a

restrição proteica pode atrasar a progressão de IRC provocada por Nefropatia e

qual o seu papel quanto à indução de malnutrição, comparou 2 grupos com

ambos os tipos de Diabetes, um com dieta hipoproteica (0,6g/Kg de peso/dia) e

outro com dieta habitual. [25] Demonstrou que uma restrição proteica severa não

parecia atrasar a progressão de doença renal nestes doentes, mas que poderia

induzir a malnutrição, já que ao ser avaliada a concentração da pré-albumina

sérica havia uma diminuição significativa e após 9 meses traduzia-se em

diminuição de albumina.[27]

Para além da relação da quantidade de proteína ingerida, poucos estudos

também referem que a origem da proteína pode influenciar na progressão da

doença. Ao serem comparadas três dietas, uma dieta com apenas carne de aves,

outra dieta com restrição proteica (valor médio de 0,66 g/Kg de peso/dia) e outra

dieta habitual (sem intervenções), foi observado que, em indivíduos diabéticos

tipo 2 com microalbuminúria, a dieta à base de proteína proveniente de aves

provocava uma redução significativa na taxa de excreção da albuminúria. [16]

Nesse mesmo estudo foi observado um decréscimo nos níveis de colesterol LDL

em todos os grupos que consumiam a dieta com restrição proteica e a de proteína

proveniente da carne de aves. Alguns estudos como o Nurses Health Study,

demonstram que proteína derivada da soja é benéfica no risco de perda de

função renal, comparativamente à derivada de carnes vermelhas. Um recente

estudo de revisão refere que a substituição de proteína de origem animal por

proteína de origem vegetal ou de peixe, poderá proteger contra o

desenvolvimento de proteínuria em doentes diabéticos. Mas referindo sempre que

são necessárias mais evidências.

16 2. Desenvolvimento�

Também tem sido dada alguma atenção à quantidade de ácidos gordos

ingeridos, tanto quando ao surgimento e progressão da Nefropatia, como quanto

à sua prevenção e tratamento. Mas segundo a NKF, os poucos estudos que

existem não tem conclusões firmes. O que parece estar relativamente sustentado

é o benefício dos ácidos gordos monoinsaturados e dos ácidos gordos

polinsaturados da série n-3. [5]Contudo, comparada a quantidade de ácidos

gordos saturados e proteína ingerida em indivíduos diabéticos tipo 1 com e sem

microalbuminúria, houve uma clara associação que os indivíduos que consumiam

mais ácidos gordos saturados tinham maiores níveis de microalbuminúria, não

havendo associação quanto aos níveis de proteína ingeridos. [28] O mesmo parece

acontecer, num estudo multicentrico observacional prospectivo feito em Espanha

com monitorização de cerca de 7 anos, que demonstra que em ambos os tipos de

Diabetes, não houve associação entre a ingestão de proteína quer na progressão

quer no atraso da Nefropatia Diabética, tal como no aparecimento ou na

progressão da microalbuminúria. Apenas mostrou associação significativa na

progressão da Nefropatia com uma maior ingestão de ácidos gordos saturados

relativamente aos ácidos gordos polinsaturados. [29] Relacionando também que

maiores rácios AGPI/AGS e AGMI/AGS parecem estar relacionados com o

retardar da patologia.

Existem ainda estudos que associam o papel de vitaminas antioxidantes C

e E na Nefropatia Diabética como benéfico [30], no entanto ainda nada está

confirmado, havendo poucos indicadores concretos nesse sentido. [11]

18 3. Conclusão�

3. Conclusão

Existe evidência suficiente que sugere que o risco de desenvolvimento de

Nefropatia Diabética começa muito antes de surgirem níveis anormais de

albuminúria [3], logo há que monitorizar o tratamento adequado e atempado para

que seja possível a prevenção desta patologia.

A Nutrição tem um papel importante como parte integrante desse

tratamento. Embora o seu papel suscite alguma especulação, ela pode exercer

influência na minimização e no controlo dos principais factores de risco e é

também através dela que se torna possível, em muitos casos, a melhoria das

condições e da qualidade de vida.

O que tem suscitado maior investigação e controvérsia prende-se com qual

será a intervenção adequada de ingestão proteica, pois diferentes estudos

revelam diferentes conclusões. O que poderá estar associado aos diferentes

desenho de estudo, logo a diferentes tempos de intervenção, diferentes totais da

amostra, diferentes quantidades prescritas de quantidade e constituição da

proteína e mesmo até quanto à sua origem. [6,27] Estas diferenças poderão ser

suficientes para as melhorias observadas não serem condizentes, para além de

que, alguns estudos não têm em conta outros possíveis factores de risco, como a

predisposição genética e muitas vezes a Nefropatia Diabética não é bem definida.

Por exemplo, apesar de na meta-análise de Pan et al. [23] não haver um claro

efeito da restrição proteica na função renal, houve uma melhoria quanto aos

níveis de microalbuminúria, que é um claro factor de predisposição para a

redução da TFG e doença renal.

Neste momento, o consenso da prescrição de proteína parece apoiar-se

nas Recommended Dietary Allowance (RDA), nas quais está estipulada uma

3. Conclusão 19

ingestão diária de proteína 0,8 g/Kg de peso/dia para indivíduos adultos

saudáveis. Mas é sugerido que quando a TFG começa a decair, haja uma

restrição para 0,6g/kg que poderá ajudar na diminuição do declínio da TFG. Há

que ter em atenção que deficiências nutricionais podem ocorrer nestes indivíduos,

como tal a restrição proteica deve ser apenas prescrita um por nutricionista, tendo

sempre em conta o alto valor biológico da proteína prescrita e a patologia de

base. O ideal é que haja um equilíbrio entre a síntese proteica e a sua

degradação.

Nalguma informação existente acerca da ingestão de proteína nas

populações indicam que na maioria dos casos a ingestão excede os valores

determinados pelas RDA, o que é condizente com os estudos descritos,

revelando que dietas com restrições proteicas muito rigorosas, a longo prazo,

parecem não funcionar devido à falta de adesão e motivação por parte dos

doentes. [7,19] Desta forma, uma das estratégias que poderá ser tida em conta,

como refere a NKF, passa pela culinária, de forma a tornar mais apelativa e de

maior palatibilidade esta dieta. Para além disso, autores sugerem que apenas

uma limitação da ingestão proteica actual poderá ser benéfica. [19]

Quanto às diferentes origens proteicas, pode-se especular que algum do

benefício encontrado quando à substituição da proteína animal pela vegetal ou da

proteína à base de carne de aves, se poderá dever à diminuição de ácidos gordos

saturados ingeridos, que é reflectido na redução dos níveis de dislipidemia, que

também é considerado factor de risco. Desta forma serão necessários mais

estudos, pois poderá ser uma óptima alternativa às dietas hipoproteicas.

20 3. Conclusão�

Por último, quanto à ingestão de proteína, a NKF refere que esta parece ter

maior relevância em indivíduos diabéticos tipo 1 do que em tipo 2. O que também

se poderá dever ao menor número de estudos em indivíduos diabético tipo 2.

Especificamente quanto aos estudos que avaliam a ingestão de ácidos

gordos saturados, as evidências parecem demonstram que uma redução destes é

benéfica, nem que seja através da diminuição dos níveis colesterol LDL, pois é

clara a influência tanto a nível da progressão renal, como da doença

cardiovascular. [7] Este resultado poderá ser atingido apenas com a redução da

ingestão de proteína animal ou a alteração da origem proteica, como já referido.

Desta forma, e como estes indivíduos passam já por um enorme controlo a

nível de tratamento da Diabetes, na prevenção e no tratamento da Nefropatia

Diabética, há que procurar certo equilíbrio sustentado em evidências científicas

mas considerando o bom senso.

Concluindo há então que promover estratégias para que sejam feitas

mudanças no estilo de vida, relativamente à monitorização e tratamento da

glicemia e da hipertensão arterial, quanto ao consumo de ácidos gordos

saturados e trans, quanto à redução de ingestão de colesterol, quanto à ingestão

proteica, à perda de peso, se necessária, cessação tabágica, adesão à

terapêutica farmacológica e ao aumento da actividade física para que seja

possível prevenir a progressão da Nefropatia Diabética. Quando esta evolui para

IRC, há que promover uma terapêutica nutricional ainda mais especializada e

rigorosa para retardar a mortalidade.

21

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25

Índice de Anexos

Anexo 1 - Categorização da excreção de albumina......................... .................... A1

Anexo 2 - Fórmula Directa da Depuração de Creatinina…………………. ............ A2

Anexo 3 - Fórmula de Cockroff e Gault (Estimação indirecta da Depuração de

Creatinina)……………………………….. ............................................................... A3

Anexo 4 - Fórmula do estudo “Modification of diet in renal disease” para estimar a

TFG...................................... ................................................................................ A4

Anexo 5 - Determinação do Grau de Doença Renal através do valor da TFG.. ... A5

Anexo 6 - Avaliação Bioquimica para avaliar Malnutrição no doente renal.. ........ A6

A1

Anexo 1 – Categorização da excreção de albumina.

Categoria Razão

albumina/creatinina (μg/mg)

Excreção urinária Albumina(mg /24h)

Normal <30 <30 Microalbuminúria 30-299 30-299 Macroalbuminúria >= 300 >= 300

* Devido à grande variabilidade de albuminúria, devem ser recolhidos 2 a 3 resultados positivos num período de 3 a 6 mês para se fazer o diagnóstico. Exercício físico nas últimas 24 horas, infecção, febre, insuficiência cardíaca congénita, hiperglicemia, hipertensão, hematúria podem aumentar os níveis de albuminúria. �

A2

Anexo 2 – Fórmula Directa da Depuração de Creatinina. �

����������� ������������������ �������������������� �������� � ������������

! = Depuração de Creatinina*

* expresso em ml/min.

A3

Anexo 3 – Fórmula de Cockroff e Gault (Estimação indirecta da Depuração de Creatinina).

����"#��$%���$�� ��& '()*+,-./�0(�1+(,23434, *

I – Idade (anos

P – Peso (Kg)

Pcr – Creatinina plasmática (mg/dl)

*No sexo feminino multiplica-se por 0,85. Fórmula deduzida por análise de 249 indivíduos de sexo masculino, com uma Depuração de Creatinina entre 30 a 130 ml/m2, não ajustada à área corporal.

A4

Anexo 4 – Fórmula do estudo “Modification of diet in renal disease” para estimar a TFG.

�%5� � $��6"�7�5�� � #"�7��8 � 9 � : & ;<=*

Pcrs – Creatinina Plasmática standard (mg/dl)

I – Idade (anos)

TFG – Taxa de Filtração Glomerular (ml/min. /1,73m2)

K = 0,742, se individuo do sexo feminino, caso contrário, K=1. R = 1,210, se individuo Afro-Americano, caso contrário, R =1.

* Fórmula deduzida em 1628 doentes TFG entre 5 a 90 ml/min./1,73m2

A5

Anexo 5 – Determinação do Grau de Doença Renal através do valor da TFG.

Grau de Doença Renal Taxa Filtração Glomerular

Valor TFG (ml/min. /1,73m2)

1 Normal ou aumentada ≥ 90

2 Diminuição ligeira 60 – 89

3 Diminuição moderada 30 – 59

4 Diminuição Severa 29 -15

5 Falência Renal < 15

A6

Anexo 6 – Avaliação Bioquímica para avaliar Malnutrição no doente renal.

Albumina <4g/dl

Pré – Albumina <30mg/dl

Transferina

< 2 g/dl – Malnutrição ligeira

1,0 a 1,5 g/dl - Malnutrição moderada

<1,0 g/dl - Malnutrição severa

Colesterol total <150 – 180 mg/dl

Creatinina <10 mg/dl

Potássio e Fósforo <3,5 mEq/l e <2.5 mg/dL