Tese mestrado MadeiraSustentabConstrucao

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O PAPEL DA MADEIRA NA SUSTENTABILIDADE DA CONSTRUO

LUS EDUARDO MENEZES MARINHO MARQUES

Dissertao submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAO EM CONSTRUES CIVIS

Orientador: Professor Jos Manuel Marques Amorim de Arajo Faria

JULHO DE 2008

MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2007/2008DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Tel. +351-22-508 1901 Fax +351-22-508 1446 [email protected]

Editado por

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Rua Dr. Roberto Frias 4200-465 PORTO Portugal Tel. +351-22-508 1400 Fax +351-22-508 1440 [email protected] http://www.fe.up.pt

Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado Integrado em Engenharia Civil 2007/2008 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2008.

As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relao a erros ou omisses que possam existir.

Este documento foi produzido a partir de verso electrnica fornecida pelo respectivo Autor.

O papel da madeira na sustentabilidade da construo

AGRADECIMENTOS As palavras so sempre pequenas para os agradecimentos!

Aos meus queridos e fantsticos pais, um profundo agradecimento pela motivao e apoio dados, no s neste trabalho, mas em todo o meu crescimento, os quais tornaram possvel, para alm de muitas outras, a minha formao acadmica.

Ao meu orientador, o Professor Jos Amorim Faria, pelos conhecimentos partilhados e pela pacincia e total disponibilidade com que sempre acompanhou este trabalho. A ele, o meu enorme reconhecimento e gratido por toda a dedicao e compreenso.

minha irm pela grandiosa sabedoria e amizade.

Aos meus amigos e colegas que de vrias formas me ajudaram e fica a esperana que assim tudo continue.

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RESUMO De um modo geral, Portugal e grande parte do Mundo ainda no se encontram totalmente sensibilizados para as questes ambientais que gradualmente vo deteriorando o nosso planeta. Nessa ptica, necessrio criar mecanismos e solues para contrariar esse processo, da esta dissertao ser feita para tentar demonstrar a necessidade e as vantagens do uso da madeira como material para uma construo mais sustentvel. Esta dissertao insere-se num projecto de investigao relacionado com o papel que a madeira apresenta para uma boa sustentabilidade na construo, documento este, necessrio para obteno do Mestrado Integrado em Engenharia Civil. A investigao realizada teve como principal objectivo o clculo de indicadores de sustentabilidade (captulo 5), relativamente a solues construtivas de paredes e pavimentos, de maneira a poder tirar concluses acerca da sustentabilidade das solues em madeira comparativamente com as solues convencionais. Para chegar ndole da questo, comeou-se por um captulo mais genrico, relacionado claro com o tema da dissertao, at a um captulo mais focado e integrado. O captulo 2 est relacionado com o desenvolvimento sustentvel e aqui se d conhecimento da realidade ambiental em que nos encontramos e se demonstram solues para criar cidades mais sustentveis. No seguimento, temos o captulo 3 sobre construo em que evidenciado os problemas que a construo acarreta durante todo o seu ciclo de vida e se do solues para caminhar para uma construo mais sustentvel. No captulo 4 so representadas as utilidades possveis a dar madeira na construo, tal como a sua importncia para o desenvolvimento e construo sustentvel. No captulo final apresenta-se as principais concluses deste trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento sustentvel, construo sustentvel, madeira, ambiente

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ABSTRACT Overall, Portugal and much of the world are not yet fully aware of environmental issues that will gradually deteriorating our planet. Accordingly, it is necessary to create mechanisms and solutions to counter this process, then this dissertation be made to try to demonstrate the necessity and advantages of the use of wood as building material for a more sustainable. This thesis is part of a research project related to the role the wood presents for good sustainability in construction, this document, necessary for obtaining Integrated Master in Civil Engineering. Research had as its main objective the calculation of sustainability indicators (Chapter 5), for constructive solutions, walls and floors, so that it can draw conclusions about the sustainability of solutions in wood compared with the conventional solutions. To reach the kind of issue, started by a more general chapter, is clearly linked with the theme of the dissertation, a chapter to the more focused and integrated. Chapter 2 is related to the sustainable development here and whether knowledge of the environmental reality in which we find ourselves and if demonstrate solutions to create more sustainable cities. Following, we have the chapter 3 on construction that is evidenced by the problems that entails the building throughout its life cycle and provided solutions to move towards a more sustainable construction. In Chapter 4 represented the utilities are allowed to give the wood in construction, as its importance for the development and sustainable construction. In the final chapter appears to be the main conclusions of this work.

KEYWORDS: sustainable development, sustainable construction, timber, environment

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NDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... i RESUMO ................................................................................................................................. iii ABSTRACT ............................................................................................................................................... v

1. INTRODUO ....................................................................................................................11.1. OBJECTO, MBITO, JUSTIFICAO E BASES DO TRABALHO.........................................................1 1.2. ORGANIZAO DA DISSERTAO ...................................................................................................2

2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL .....................................................52.1. PROCURAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL .........................................................................5 2.2. PRINCIPAIS CONCEITOS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ............................................8 2.3. SOLUES PARA A SUSTENTABILIDADE SEGUNDO A PRESPECTIVA BIOMIMTICA ...................10 2.4. CIDADES SUSTENTVEIS ...............................................................................................................11 2.5. O QUE PRECISO PARA ALCANAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ...............................14

3. CONSTRUO SUSTENTVEL....................................................................173.1. DEFINIO DE CONSTRUO SUSTENTVEL ...............................................................................17 3.2. PRINCIPAIS QUESTES AMBIENTAIS RELACIONADAS COM AS ACTIVIDADES CONSTRUTIVAS ..19 3.3. NOVO PARADIGMA DA CONSTRUO SUSTENTVEL ..................................................................19 3.4. CICLO DE VIDA DAS CONSTRUES E SEUS IMPACTES AMBIENTAIS .........................................20 3.5. MATERIAIS E METODOLOGIAS PARA A CONSTRUO SUSTENTVEL ........................................24 3.6. EXEMPLOS DE REAS DE INTERVENO DE SUSTENTABILIDADE DE EDIFCIOS ........................303.6.1. FONTES RENOVVEIS PARA A PRODUO DE ELECTRICIDADE ............................................................30 3.6.1.1. Painis solares fotovoltaicos .....................................................................................................31 3.6.1.2. Micro turbinas elicas................................................................................................................31 3.6.1.3. Micro-hidrogeradores ................................................................................................................32 3.6.2. PRTICAS ACONSELHADAS PARA A REDUO DE ENERGIA NA ELUMINAO E ELECTRODOMSTICOS ...32 3.6.3. APARELHOS SANITRIOS E DISPOSITIVOS DE UTILIZAO MAIS EFICIENTES .........................................34 3.6.4. RECOLHA DA GUA DA CHUVA E REUTILIZAO DE GUA ...................................................................36 3.6.5. TOXICIDADE DO MATERIAL ...............................................................................................................36 3.6.6. MEDIDAS QUE POTENCIAM A REDUO E REUTILIZAO DOS RESDUOS .............................................36

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3.7. O CAMINHO PARA A CONSTRUO SUSTENTVEL ..................................................................... 37

4. MADEIRA COMO MATERIAL DE CONSTRUO ..................... 394.1. ENQUADRAMENTO ........................................................................................................................ 39 4.2. FLORESTA E MADEIRA .................................................................................................................. 404.2.1. A IMPORTNCIA DAS FLORESTAS ..................................................................................................... 40 4.2.2. A ANATOMIA DA RVORE ................................................................................................................. 41 4.2.3. O CORTE DA RVORE ..................................................................................................................... 42 4.2.4. MADEIRAS USADAS NA CONSTRUO .............................................................................................. 42 4.2.4.1. Madeiras macias..................................................................................................................... 42 4.2.4.2. Madeiras industriais.................................................................................................................. 43

4.3. MADEIRA NA CONSTRUO .......................................................................................................... 444.3.1. ESTRUTURAS DE EDIFCIOS ............................................................................................................. 45 4.3.2. CASAS DE TRONCOS DE MADEIRA .................................................................................................... 45 4.3.3. ACABAMENTOS DE EDIFCIOS .......................................................................................................... 46 4.3.4. REABILITAO DE EDIFCIOS ........................................................................................................... 48 4.3.5. PONTES PEDONAIS ......................................................................................................................... 50

4.4. MADEIRA E CONSTRUO SUSTENTVEL ................................................................................... 50 4.5. O PORQU DA IMPORTNCIA DA UTILIZAO DA MADEIRA NA CONSTRUO .......................... 52

5. ANLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DE SOLUES CONSTRUTIVAS E MATERIAIS DE CONSTRUO ..................................................................................................................... 555.1. MBITO .......................................................................................................................................... 55 5.2. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ......................................................................................... 555.2.1. CONSIDERAES GERAIS ............................................................................................................... 55 5.2.2. INDICADORES PARA MATERIAIS SIMPLES .......................................................................................... 55 5.2.2.1. Indicadores ambientais............................................................................................................. 55 5.2.2.2. Indicadores funcionais .............................................................................................................. 58 5.2.2.3. Indicadores econmicos........................................................................................................... 60 5.2.3. INDICADORES PARA SOLUES CONSTRUTIVAS ................................................................................ 61 5.2.3.1. Indicadores ambientais............................................................................................................. 61 5.2.3.2. Indicadores funcionais .............................................................................................................. 61

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5.2.3.3. Indicadores econmicos............................................................................................................62

5.3. METODOLOGIAS DE AVALIAO DA SUSTENTABILIDADE............................................................62 5.4. AVALIAO DE SUSTENTABILIDADE DE SOLUES CONSTRUTIVAS ..........................................655.4.1. PAREDES EXTERIORES ....................................................................................................................65 5.4.1.1. Descrio das paredes exteriores estudadas ...........................................................................65 5.4.1.2. Clculos para as solues construtivas em madeira................................................................66 5.4.1.3. Resumo dos indicadores obtidos ..............................................................................................68 5.4.1.4. Peso dos indicadores e parmetros na avaliao da sustentabilidade ....................................68 5.4.1.5. Nota de sustentabilidade das paredes exteriores.....................................................................69 5.4.2. PAVIMENTOS ..................................................................................................................................69 5.4.2.1. Descrio dos pavimentos estudados ......................................................................................69 5.4.2.2. Resumo dos indicadores obtidos ..............................................................................................70 5.4.2.3. Peso dos indicadores e parmetros na avaliao da sustentabilidade ....................................71 5.4.2.4. Nota de sustentabilidade dos pavimentos ................................................................................72 5.4.3. DISCUSSO DOS RESULTADOS OBTIDOS ...........................................................................................72

6. CONCLUSO ....................................................................................................................73

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NDICE DE FIGURAS

Figura 1 Lista cronolgica de acontecimentos relacionados com o desenvolvimento sustentvel..7 Figura 2 Demonstrao da contradio existente entre vrios sectores ..............................................8 Figura 3 tringulo de sustentabilidade ..................................................................................................9 Figura 4 Futura cidade Masdar ...........................................................................................................12 Figura 5 Eco-cidades de Dongtan e de Bedzed .................................................................................13 Figura 6 exemplo esquemtico de uma cidade insustentvel ............................................................13 Figura 7 exemplo esquemtico de uma cidade sustentvel ...............................................................14 Figura 8 Aspectos competitivos na construo tradicional .................................................................19 Figura 9 Construo eco-eficiente ......................................................................................................20 Figura 10 Construo sustentvel ......................................................................................................20 Figura 11 - Ciclo de vida das construes .............................................................................................21 Figura 12 - Impactes ambientais causadas pelas actividades da construo .......................................22 Figura 13 Exemplos de mdulos solares fotovoltaicos .......................................................................31 Figura 14 - Aerogerador domstico de turbina horizontal com ps .......................................................32 Figura 15 Sistema micro-hidrogerador instalado numa nascente situada numa encosta ..................32 Figura 16 Comparao da eficcia luminosa dos diferentes tipos de lmpadas................................33 Figura 17 Tubo solar ...........................................................................................................................33 Figura 18 Etiqueta energtica de electrodomsticos ..........................................................................34 Figura 19 Autoclismo de descarga diferenciada e bacia de retrete de compostagem .......................35 Figura 20 Chuveiro de baixo caudal ...................................................................................................35 Figura 21 torneira monocomando com filtro arejador .........................................................................35 Figura 22 recolha e armazenamento de gua das chuvas .................................................................36 Figura 23 Floresta e processo de fotossntese ...................................................................................40 Figura 24 Corte transversal de um tronco...........................................................................................41 Figura 25 Toros e Madeira serrada.....................................................................................................43 Figura 26 Madeira lamelada colada e Viga pr-fabricada base de LVL e OSB ..............................43 Figura 27- Parallam e LVL .....................................................................................................................44 Figura 28 Vrios tipos de painis ........................................................................................................44 Figura 29 Sheffield Millenium Winter Garden Sheffield, UK e Pohjala Stadium Vantaa, Filndia45 Figura 30 exemplo de uma fachada exterior e interior de uma casa em madeira..............................46 Figura 31 pormenor construtivo de um pavimento de soalho.............................................................47

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Figura 32 exemplo de pavimento em parquet e flutuante .................................................................. 47 Figura 33 corte vertical e horizontal de uma porta ............................................................................. 48 Figura 34 exemplo de parede de taipa de rodzio.............................................................................. 49 Figura 35 exemplo de parede de taipa de fasquio ............................................................................. 49 Figura 36 modelo de construo em paredes de gaiola .................................................................... 49 Figura 37 exemplo de parede de tabique........................................................................................... 50 Figura 38 Ponte Leonardo - Aas, Noruega e Ponte sobre o Reuss Sua .................................... 50 Figura 39 ciclo de CO2 ....................................................................................................................... 51 Figura 40 Parede de referncia.......................................................................................................... 65 Figura 41 Parede em Madeira 1......................................................................................................... 66 Figura 42 Parede em Madeira 2......................................................................................................... 66 Figura 43 Pavimento de referncia .................................................................................................... 70 Figura 44 Pavimento em madeira 1 ................................................................................................... 70 Figura 45 Pavimento em Madeira 2 ................................................................................................... 70 Figura 46 Pavimento em Madeira 3 ................................................................................................... 70

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NDICE DE TABELAS

Tabela 1 Principais questes ambientais relacionadas com a actividade construtiva .......................19 Tabela 2 Aspectos relevantes da construo sustentvel na fase de concepo .............................28 Tabela 3 - Aspectos relevantes da construo sustentvel na fase de construo ..............................29 Tabela 4 - Aspectos relevantes da construo sustentvel na fase de operao.................................30 Tabela 5 - Aspectos relevantes da construo sustentvel na fase de demolio ...............................30 Tabela 6 materiais constituintes de diferentes taipas .........................................................................48 Tabela 7 potencial de aquecimento global de cada material/produto ................................................56 Tabela 8 energia primria incorporada em cada material/produto .....................................................57 Tabela 9 Reservas existentes de matria-prima.................................................................................57 Tabela 10 valores da condutibilidade trmica em cada material/produto...........................................58 Tabela 11 frequncias criticas para 1 cm de espessura para diferentes materiais............................59 Tabela 12 Durabilidade dos materiais/produtos..................................................................................60 Tabela 13 massa volmica de diferentes tipos de produtos ...............................................................60 Tabela 14 Possveis indicadores a utilizar na avaliao da sustentabilidade ....................................63 Tabela 15 Nota a atribuir a cada indicador (Ni) em funo dos valores dos ndices (Ix) ...................64 Tabela 16 Classificao do desempenho da soluo em estudo a partir de NS ...............................65 Tabela 17 Resultados obtidos na quantificao dos indicadores a nvel de paredes exteriores .......68 Tabela 18 Pesos considerados na avaliao......................................................................................69 Tabela 19 Resultados obtidos na quantificao da Nota de Sustentabilidade...................................69 Tabela 20 Resultados obtidos na quantificao dos indicadores a nvel de pavimentos...................71

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1INTRODUO

1.1

OBJECTO, MBITO, JUSTIFICAO E BASES DO TRABALHO

O nosso planeta teve, nos seus primrdios, uma atmosfera repleta de dixido de carbono, como Vnus, o que impossibilitava o aparecimento de vida animal na Terra. Acontece que o mar e as plantas so absorventes naturais do dixido de carbono, pelo que ambos comearam a actuar e, ao longo de milhes de anos, fizeram diminuir o dixido de carbono na atmosfera, permitindo a existncia dos animais. Contudo a expanso da presena humana, com a consequente destruio das florestas e a queima de lenha, a que se acrescentou depois a queima do carvo e de petrleo para obteno de energia, fez aumentar os valores de dixido de carbono para valores muito elevados. Valores altos de dixido de carbono levam ao aquecimento do planeta de que, por sua vez, resultam alteraes climticas significativas, como as secas, as inundaes, a desertificao, o deslizamento de terras e a subida do nvel do mar. Essa subida consequncia do derretimento do gelo do rctico e Antrctida e resulta da libertao lquida de trilies de metros cbicos que se acumulam gua j existente nos oceanos. O pior de tudo isto, o facto de o Mundo ainda no se ter apercebido que no ir conseguir inverter esta tendncia to cedo quanto se desejaria, porque os maiores pases mundiais, como so o caso da China e da ndia, esto a industrializar-se e precisam de combustveis fsseis para o seu desenvolvimento. Por outro lado, os grandes produtores mundiais de dixido de carbono, os Estados Unidos e a Europa, habituaram-se aos confortos proporcionados pela actual economia muito dependente de elevados consumos de energia e no a dispensam, uma vez que tm de assegurar a continuidade do seu crescimento econmico. A poluio originada em emisses, processos industriais, fertilizantes, pesticidas e resduos, resulta na poluio do ar, na contaminao da gua, nas alteraes climticas e riscos qumicos, expondo as pessoas a nveis mais elevados e a um leque mais vasto de produtos qumicos. Esta situao , por exemplo, bem ilustrada no relatrio recentemente realizado pela UNFPA (United Nations Population Fund) que refere, segundo uma edio recente de um jornal nacional, que 25 por cento das mortes anuais se devem a problemas ambientais.

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Da, ser necessrio haver realmente conscincia por parte de todos, principalmente, pelos grandes pases e entidades poluidoras, de que necessrio arranjar alternativas eficazes para tentar solucionar este grande problema. O sector da construo responsvel por uma grande parcela da poluio no nosso planeta, logo fundamental haver mais cuidado no s na fase de construo do edificado, mas tambm em todo o seu ciclo de vida. Um maior uso da madeira na construo, associado a uma gesto mais sustentvel da floresta, pode contribuir significativamente para a inverso do actual processo de degradao acelerada dos recursos naturais da Terra. , assim, no tema de sustentabilidade da construo que se insere o objecto do presente trabalho. Mais especificamente, este trabalho tem como objectivo principal avaliar o papel da madeira na sustentabilidade da construo. O trabalho tem como base diversos documentos recolhidos das pesquisas bibliogrficas realizadas, que se detalha na bibliografia e de que se destacam: - diversos documentos retirados de pginas internet dedicadas ao tema de desenvolvimento sustentvel e de construo sustentvel; - o livro editado pelo Instituto do Ambiente Ambiente e Construo sustentvel de Duarte Pinheiro; - o livro editado pela Edies Copy Tecnologias construtivas para a sustentabilidade da construo de Lus Bragana e Ricardo Mateus; - o livro editado Architectural Press The ecology of building materials de Bjorn Berge. Pretende-se ento com este trabalho perceber qual o verdadeiro contributo da madeira para a construo sustentvel. Esse contributo ser mesmo importante? O sentimento geralmente aceite de que a madeira tem um papel fundamental no processo ser mesmo correcto? De que forma se ligam floresta e madeira? Face necessidade urgente de comear a inverter o actual processo de degradao acelerado da Terra, parece justificar-se amplamente o presente trabalho. Entende-se que todos os contributos no sentido de perceber como tornar a construo mais sustentvel so de igual modo importantes. Este trabalho pretende ser, assim, apenas mais uma modesta contribuio nesse sentido.

1.2

ORGANIZAO DA DISSERTAO

Esta dissertao encontra-se organizada segundo 6 captulos: Captulo 1: Faz-se uma breve apresentao do trabalho e sintetiza-se o seu contedo Captulo 2: Desenvolve-se o tema do Desenvolvimento Sustentvel, o que o define e o que se tem procurado fazer para a sua concretizao. Explica-se o conceito de cidade sustentvel, definindo medidas para o seu alcance e exemplos a seguir;

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Captulo 3: Define-se Construo Sustentvel. Principais questes ambientais relacionadas com as actividades construtivas, novo paradigma da construo, ciclo de vida das construes, materiais e metodologias para a construo sustentvel, exemplos de reas de interveno; Captulo 4: D-se a conhecer o material de construo base para o presente estudo. Provenincia, caractersticas principais, composio, aplicabilidade e vantagens do seu uso. Apresentao da importncia da madeira na construo; Captulo 5: Define-se indicadores de sustentabilidade para materiais simples e solues construtivas, nomeadamente paredes e pavimentos. Apresenta-se uma metodologia de avaliao desses indicadores e consequente clculo e resultados; Captulo 6: Este captulo contempla concluses e recomendaes para a prtica de sustentabilidade na construo

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2DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

2.1

PROCURAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

O Homem, com a Revoluo Industrial do sculo XVIII, assumiu que a evoluo tecnolgica tornaria os recursos naturais infinitos, e esse optimismo foi reforado com as inmeras descobertas e conquistas alcanadas nos diferentes campos da actividade humana. Tal foi o caso da produo agrcola, que passou a ser controlada em funo do constante crescimento da populao, das descobertas ao nvel da medicina, que permitiram prolongar a longevidade do homem e do surgimento de novas tecnologias, que tornaram a vida das pessoas mais confortvel e com maior qualidade. Esta iluso de sensao de poder sobre a terra foi ainda mais alimentada aps a II Guerra Mundial, com o rpido crescimento econmico e pelas muitas inovaes tecnolgicas. Infelizmente no havia por parte dos decisores do mundo uma percepo adequada dos reais problemas que se estavam a criar, ignorando-se sempre os avisos da comunidade cientfica, que alertava sobre os problemas ambientais que essa evoluo originaria. [1] O agravamento dos problemas ambientais fez-se sentir, por exemplo, na diminuio abrupta da qualidade do ar nas principais cidades desenvolvidas e na reduo de recursos naturais. Da resultaram vozes crescentes de protesto da comunidade cientfica no sentido de haver maior conscincia a nvel da explorao dos recursos naturais, nos factores de produo de poluio e industrializao descontrolada, porque caso contrrio, a longo prazo, se assistiria a um ponto irreversvel e susceptvel de pr em risco a prpria sobrevivncia da humanidade. A contribuir para esta viso [fig. 1], o Clube de Roma que um grupo de pessoas ilustres que se renem para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados com a poltica e economia internacional publicou em1972 um livro denominado Os Limites do Crescimento com o objectivo de alertar para o modelo de desenvolvimento econmico da altura e que alertava para a necessidade de serem adoptadas medidas ecolgicas e sociais de desenvolvimento sustentvel. Neste mesmo ano, devido a presses de vrios movimentos ecologistas, realiza-se pela primeira vez, escala mundial, a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, onde so abordados os problemas da degradao do planeta.

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Seguiram-se, a partir da, vrios acontecimentos com vista implementao e consciencializao sobre o Desenvolvimento Sustentvel. Em 1987 o Relatrio Brundtland aconselhava uma srie de medidas para os governos promoverem o desenvolvimento sustentvel. Entre elas [1]: Limitao do crescimento populacional; Garantia de recursos bsicos (gua, alimentos, energia) a longo prazo; Preservao da biodiversidade e dos ecossistemas; Diminuio do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energticas renovveis; Aumento da produo industrial nos pases no-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; Controle da urbanizao desordenada e integrao entre campo e cidades menores; Atendimento das necessidades bsicas (sade, escola, habitao). Definio de Desenvolvimento Sustentvel segundo Brundtland, 1987: Por Desenvolvimento Sustentvel entende-se o desenvolvimento que satisfaz as necessidades actuais sem comprometer a capacidade das geraes futuras para satisfazerem as suas prprias necessidades.

Mais tarde deu-se a Cimeira da Terra no Rio de Janeiro em 1992, onde foram dados passos importantes para a consciencializao ambiental dos Estados e em que o seu objectivo principal era encontrar meios de conciliar o desenvolvimento socio-econmico com a conservao e proteco dos ecossistemas e da prpria Terra. Para isso foi definido o conceito de Desenvolvimento Sustentvel, um modelo de crescimento econmico menos consumista e mais adequado ao equilbrio ecolgico, e dado a conhecer que os problemas ambientais eram maioritariamente da responsabilidade dos pases desenvolvidos. Reconheceu-se tambm a necessidade dos pases em desenvolvimento receberem apoio financeiro e tecnolgico para contriburem, igualmente, para o Desenvolvimento Sustentvel. Em 1997 implementado um dos programas mais ambiciosos de sempre a Agenda 21 aprovado na Cimeira da Terra em 1992, uma vez que tem a inteno de pr em pratica os princpios do desenvolvimento sustentvel concebidos pelo Relatrio Brundtland. Este um plano que estabeleceu a importncia de cada Pas se comprometer a reflectir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizaes no-governamentais e todos os sectores da sociedade poderiam cooperar no estudo de solues para os problemas scio-ambientais. Os temas da Agenda 21 so tratados em quatro seces: Dimenses sociais e econmicas; Conservao e gesto de recursos para o desenvolvimento; Fortalecimento do papel dos grupos sociais; Meios de execuo.

Mais recentemente realizou-se em Joanesburgo a Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Sustentvel, na qual foram definidas as bases de reviso actualizada, relativamente s definies e recomendaes emanadas na Conferncia do Rio.

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CITAOCada autoridade local dever iniciar um dilogo com os seus cidados, organizaes locais e empresas privadas e aprovar uma Agenda 21 Local. Mediante a celebrao de consultas e a promoo de um consenso, as autoridades locais vo receber achegas da cidadania e as organizaes cvicas,

empresariais e industriais locais e obtero a informao precisa para formular as melhores estratgias.Cap. 28 do Agenda 21, Cimeira da Terra,

1972 - Decorre a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente Humano, em Estocolmo; - criado o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), a primeira agncia mundial neste sector; - O Clube de Roma publica o relatrio denominado Os Limites de Crescimento 1974 - Cientistas americanos, publicam um artigo mostrando que os clorofluorcarbonetos (CFC) podem destruir a camada de ozono na estratosfera. 1976 - Criado um organismo de registo de comrcio de flora e fauna selvagens (TRAFFIC) como medida de reforo da Conveno CITES (Conveno de Washington sobre o Comrcio de Espcies da Fauna e Flora Selvagens Ameaadas de Extino). 1979 - A Conferncia Mundial do Clima, realizada em Genebra, conclui que o efeito de estufa, devido ao aumento do dixido de carbono na atmosfera, necessita de urgentes medidas de aco pela comunidade internacional. 1980 - Publicada a Estratgia Mundial de Conservao da Natureza. 1983 - Criada a Comisso Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Assembleia Geral das Naes Unidas, no mbito da qual elaborado o relatrio O Nosso Futuro Comum, geralmente conhecido pelo Relatrio Brundtland. 1985 - Satlites detectam uma rarefaco da camada de ozono na zona do Antrctico, confirmando assim os efeitos dos CFC. 1986 - Uma exploso e incndio num reactor da central nuclear de Chernobyl, na Ucrnia, liberta cerca de sete toneladas de material radioactivo para a atmosfera, provocando o maior acidente nuclear do Mundo. 1987 - Publicao do relatrio Brundtland, que apresenta o conceito de desenvolvimento Sustentvel. 1992 - Realiza-se a Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro, sendo assinados os protocolos relativos biodiversidade e desertificao. So dados os primeiros passos para a aplicao da Agenda 21 e da conveno para as alteraes climticas. 1993 - Implementao do Tratado de Maastricht que vem reforar a poltica ambiental ao introduzir a sustentabilidade como um dos objectivos da Unio Europeia. 1994 - Conferncia Europeia sobre as Cidades Sustentveis (Aalborg): aprovada a Carta de Aalborg as cidades comprometem-se a aplicar localmente os princpios do Desenvolvimento Sustentvel. 1995- A Frana realiza vrios testes nucleares em atis do Pacfico, sob um coro de protestos. 1996 - Segunda Conferncia sobre as Cidades Sustentveis (Lisboa):. 1997 - Aprovada a Conveno Quadro sobre Alteraes Climticas, conhecida por Protocolo de Quioto. Os representantes de mais de 150 pases chegam a acordo para que, at 2010, haja uma reduo dos gases de efeito de estufa, numa mdia de 5,2 por cento relativamente a valores de 1990. -Assembleia Geral das Naes Unidas: sesso especial sobre o meio ambiente e o desenvolvimento, Rio + 5 (Nova Iorque): estabelecido um programa para uma melhor aplicao da Agenda 21. 1999 - Conferncia Euro-Mediterrnea das Cidades Sustentveis (Sevilha): avaliao da aplicao da Carta de Aalborg e do Plano de Aco de Lisboa no desenvolvimento sustentvel. 2000 - A NASA anuncia que o buraco na camada de ozono sobre a Antrctida atingiu uma rea de 28,3 milhes de quilmetros quadrados; - A Unio Europeia probe a comercializao de gasolina com chumbo. - Terceira Conferncia sobre as Cidades Sustentveis (Hannover): aprovada a Carta de Hannover balano sobre a Campanha das Cidades Europeias Sustentveis nos ltimos anos. 2001 - Numa reunio em Haia, o Protocolo de Quioto aprovado, embora mais tarde os Estados Unidos, Canad e Austrlia se recusem a ratific-lo. 2002 - Uma gigantesca fraco da Pennsula da Antrctida, com 3 200 KM2, separa-se da parte continental, sendo relacionado com o aquecimento global; - Realiza-se a Cimeira da Terra em Joanesburgo; - Naufrgio do petroleiro Prestige na costa da Galiza, com o derramamento de um manto de crude. - Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Sustentvel (Joanesburgo): reviso do que foi implementado na Conferncia do Rio. 2003 - IV Conferncia Ministerial para a Proteco das Florestas na Europa na ustria 2004 - Tem incio a fase experimental do mercado mundial de emisses poluentes.

Figura 1 Lista cronolgica de acontecimentos relacionados com o desenvolvimento sustentvel [2]

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

2.2

PRINCIPAIS CONCEITOS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

O Desenvolvimento Sustentvel um conceito muito mais complexo do que a simples proteco do meio ambiente, ou seja, implica a preocupao pelas geraes futuras e pela salubridade e integridade, a longo prazo, do meio ambiente. Isto inclui a qualidade de vida, a preocupao com a equidade entre geraes (as geraes futuras merecem um ambiente pelo menos to bom como aquele de que usufrumos actualmente, se no melhor), a igualdade entre as pessoas no presente (incluindo a preveno da pobreza), e as dimenses social e tica do bem-estar humano. Implica ainda, que s dever haver um maior desenvolvimento se este se situar dentro dos limites da capacidade de carga dos sistemas naturais. E se, por um lado, o consumo de recursos naturais tem aumentado exponencialmente devido a uma sociedade cada vez mais numerosa, que cresce a um ritmo de 250.000 pessoas por dia, cada vez mais tecnologicamente desenvolvida e em que os padres de conforto so cada mais exigentes, por outro, a quantidade disponvel de recursos apresenta um comportamento inverso [Fig.2].

Crescimento da populao, consumo de combustveis fsseis, consumo de outros recursos, produo industrial, agricultura, desertificao, salinizao, contaminao, despesas militares, assimetrias regionais, nvel de conforto exigido, desenvolvimento tecnolgico.

Reduo das reas florestais, stocks de pesca, terrenos agrcolas, terra vegetal, habitats, espcies, biodiversidade, fontes de energia no renovvel.

Figura 2 Demonstrao da contradio existente entre vrios sectores

A realizao da Agenda 21 representa, visivelmente, um novo e grande desafio. Ser necessrio que as corporaes do sector privado reformem as suas metodologias de administrao e de produo. Implica que os governos locais modifiquem a forma como as suas estruturas municipais operam. Necessita que os servios e recursos municipais possam ser sustentveis e equitativamente distribudos para as geraes futuras. Para atingir este objectivo foi definida uma metodologia de planificao estratgica que considera, igualmente a comunidade a longo termo e as preocupaes ecolgicas e econmicas, que preciso seguir. A satisfao de necessidades humanas bsicas, como o caso, do consumo de gua potvel ou de alimentao, podem ter associados problemas ambientais graves, visto que na explorao agrcola para a produo de alimentos, so utilizados pesticidas e adubos, com consequente contaminao de solos e no caso da produo de gua potvel so produzidas grandes quantidades de lamas e dispendida energia com consequente emisso de CO2. Para a sustentabilidade ser uma realidade, necessrio colocar em prtica questes ambientais que visam a reduo de consumo de recursos, a reduo de produo de resduos e a preservao da funo

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

e biodiversidade dos sistemas naturais. O objectivo que o consumo de gua, energia e materiais ocorra a um nvel passvel de serem renovados. Os problemas ambientais no nosso planeta resultam, como se sabe, da aco do homem. No entanto, para a resoluo destes necessrio ter em conta factores sociais, em que so includos o bem-estar pessoal, as diferentes culturas, hbitos e valores. Ou seja, a satisfao das necessidades humanas no se cinge apenas satisfao das necessidades bsicas das pessoas, mas envolve tambm factores, tal como, a educao, o lazer e o ambiente saudvel. A resoluo destas necessidades sustentada simultaneamente com o desenvolvimento econmico. Um crescimento econmico sustentado est na base da satisfao das necessidades dos indivduos e a preveno dos problemas ambientais tem obrigatoriamente de integrar medidas polticas de desenvolvimento econmico sustentvel. Ou seja, a sustentabilidade envolve trs factores: o ambiente, a economia e a sociedade. Criando assim o denominado tringulo de sustentabilidade e que a seguir se representa [3]:

Figura 3 tringulo de sustentabilidade

Actualmente, o factor que apresenta maior relevncia por parte da comunidade na sua maioria, o econmico, deixando para segundo plano a dimenso social e praticamente nulo o desenvolvimento ao nvel da dimenso ambiental. Esta assimetria, na maneira como o Homem encara cada uma destas trs dimenses, coloca seriamente em risco, a curto prazo, a sobrevivncia das geraes futuras. No que diz respeito aos pases em desenvolvimento, estes no podem seguir os mesmos modelos adoptados pelos pases desenvolvidos, falando claro do campo da economia (que o factor que sempre se ps mais em evidncia). O desenvolvimento econmico vital para os pases mais pobres, mas o caminho a seguir no pode ser o mesmo adoptado pelos pases industrializados. Mesmo porque no ser possvel. Caso as sociedades dos pases subdesenvolvidos copiassem os padres das sociedades dos pases desenvolvidos, a quantidade de combustveis fsseis consumida actualmente aumentaria 10 vezes e a de recursos minerais, 200 vezes. Ao contrrio de aumentar os nveis de consumo dos pases em desenvolvimento, preciso reduzir os nveis observados nos pases industrializados. [4] O crescimento econmico e populacional das ltimas dcadas tm sido marcados por disparidades. Embora os pases desenvolvidos possuam apenas um quinto da populao do planeta, eles detm

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produo de madeira mundial. De seguida, apresentam-se diversas citaes que ilustram o conceito de Desenvolvimento Sustentvel segundo vrios autores: Brundtland, 1987: capacidade da humanidade garantir que corresponde s necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraes futuras de assegurarem as suas prprias necessidades. O desenvolvimento sustentvel no um estado fixo de harmonia, mas um processo de mudana no qual a explorao de recursos, a direco dos investimentos, a orientao do desenvolvimento tecnolgico e as mudanas institucionais so compatibilizadas com as necessidades futuras assim como as presentes Allen, 1980: Desenvolvimento que susceptvel de atingir uma satisfao duradoura das necessidades humanas e melhorar a qualidade de vida humana Naes Unidas, 1991: Desenvolvimento Sustentvel significa melhorar a qualidade de vida sem ultrapassar a capacidade de carga dos ecossistemas de suporte

2.3

SOLUES PARA A SUSTENTABILIDADE SEGUNDO A PERSPECTIVA BIOMIMTICA

A biomimtica (do Grego bios, vida, e mimesis, imitao) uma rea da cincia que tem como objectivo o estudo das estruturas biolgicas e das suas funes, procurando aprender com a Natureza e utilizar esse conhecimento em diferentes domnios da cincia. A biomimtica observa a Natureza e procura estimular novas ideias para produzir sistemas sintticos similares aos encontrados nos sistemas biolgicos. Este estudo permite desenvolver ou aperfeioar novas solues de engenharia, concluindo assim, que os biomimeticistas encontraram na Natureza um modelo perfeito de inspirao e de imitao. Segundo a biloga Americana Janine Benyus o biomimetismo uma referncia de inovao e de mudana para as actividades humanas e rege-se essencialmente pelos seguintes princpios: Considerar os resduos como recursos; Diversificar e cooperar para uma utilizao total do habitat; Utilizar a energia de forma eficiente; Optimizar em vez de maximizar; Usar parcimoniosamente os materiais; No sujar o respectivo habitat; No desperdiar recursos; Manter-se em balano com a biosfera; Basear-se em informao; Comprar localmente.

A biomimtica constitui uma das reas de investigao que mais ferramentas poder trazer para a causa da proteco do desenvolvimento sustentvel. No fundo, trata-se da aprender com a natureza para melhor conseguir proteg-la e mant-la viva num crculo fechado permanente de desenvolvimento [3]

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2.4

CIDADES SUSTENTVEIS

Dois anos aps a Cimeira da Terra do Rio de Janeiro em 1992, d-se a Conferncia Europeia sobre as Cidades Sustentveis, na cidade Dinamarquesa de Aalborg, onde implementada a Carta de Aalborg, a qual consiste numa declarao de compromisso das autoridades locais para o desenvolvimento de processos e estratgias, que levam tomada de medidas da aco concretas para a sustentabilidade urbana. Assim, as cidades, enquanto unidades mais pequenas de desenvolvimento, esto em contacto directo com os inmeros desequilbrios arquitectnicos, sociais, econmicos, polticos e ambientais que as afectam, devendo por isso identific-los e resolv-los adequadamente de uma maneira integrada, logstica e sustentvel. Para tal, torna-se importante que os poderes locais iniciem um processo de dilogo com todas as entidades, desde escolas e universidades, empresas, organizaes e comunidade em geral, a quem deve ser dada informao e possibilidade de participao. Segundo Herbet Giradet, uma cidade sustentvel deve estar organizada de modo a permitir que os seus cidados satisfaam as suas prprias necessidades e melhorem o seu bem-estar, sem causarem danos no ambiente natural ou colocarem em risco as condies de vida de outras pessoas no presente ou no futuro. Para isso, as autoridades locais devem encarar a cidade como um organismo vivo, que necessita de funcionar bem e que deve ser sustentvel em termos ambientais, sociais e econmicos. As cidades actuais apresentam problemas de qualidade do ar (CO2, SO2 e partculas), rudo e, directamente ou no, consomem cerca de 80% da energia fssil, sendo que grande parte desta perdida em transporte e produo. No que diz respeito aos alimentos, so transportadas centenas de milhares de toneladas de produtos alimentares das zonas rurais para as urbanas e os veculos automveis ocupam um tero do espao citadino, gerando poluio atmosfrica e acstica. So produzidos resduos e efluentes de forma significativa e muitos deles com algum grau de perigosidade. Para defender o conceito de sustentabilidade, as cidades devem apostar nas energias renovveis, especialmente na solar. Exemplo disso, seria o caso de abastecer as coberturas japonesas com painis solares permitindo assim diminuir cerca de 60% do consumo de energia atravs de fontes no renovveis. As rvores so purificadoras do ar, ou seja, s uma rvore capaz de, atravs da fotossntese, transferir 380 litros de gua para o ar e fornecer oxignio durante o dia, removendo o dixido de carbono. Outra soluo para a sustentabilidade das cidades a utilizao de transportes pblicos eficientes, de maneira a por de lado o uso do automvel particular, bem como a utilizao de veculos de emisso zero, movidos a hidrognio. A utilizao de bicicletas, tal como utilizada na Holanda ou na Sua, claramente a opo mais eficiente energeticamente. Manter os automveis fora dos centros das cidades constitui um princpio importante, pois permite libertar espao para as reas de lazer pblicas, para as reas verdes e produo de alimentao e habitao. Cidades com um sistema eficaz de reciclagem mostram que possvel reciclar 75% dos resduos domsticos. [3] Sinal de que a humanidade est a acordar e est a pr a criatividade em funcionamento pleno o que est j em execuo nos Emirados rabes Unidos, mais concretamente em Abu Dhabi, onde ir nascer a primeira cidade mundial completamente sustentvel, designada de Masdar (a fonte em rabe). Esta foi desenhada pelo gabinete britnico de arquitectos Foster and Partners e representa um investimento inicial de 5 bilies de dlares. A previso dos 50 mil possveis moradores se poderem l estabelecer para incios de 2009. E inclui tambm espaos de comrcio, lazer, centros tecnolgicos e universidades, espalhados por 6 km2. [5]

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Esta cidade ser livre de emisses de carbono e desperdcios, uma vez que vai funcionar 100% base de energias renovveis e 99% do lixo produzido na regio ser reciclado ou transformado em compostos. No que respeita s energias renovveis, Masdar ter a maior central de energia fotoelctrica do mundo e energia elica captada por turbinas construdas na periferia da cidade. A gua necessria ser captada no mar e transformada em gua potvel em centrais de dessalinizao e a gua residual produzida pela cidade, no potvel, ser utilizada para sistemas de irrigao de plantaes destinadas produo de biocombustveis e ao sumptuoso projecto de paisagismo. De acordo com o projecto dos arquitectos, a cidade ser isenta de automveis. Apenas haver transportes pblicos e nenhum pedestre ter que andar mais de 200 m para ter acesso ao transporte pblico. Alm disso, a maioria das ruas da cidade sero estreitas e sombreadas, tero apenas 3 m de largura e 70 m de comprimento para facilitar a passagem de ar e incentivar a caminhada. Esta uma aposta inteligente para o futuro do pas, uma vez que dentro de algumas dcadas o petrleo acabar e a cidade ter que ter outras fontes de rendimento. Segundo um comunicado da Foster and Partners Masdar promete estabelecer padres para as cidades sustentveis do futuro. [6]

Figura 4 Futura cidade Masdar

Outras cidades sustentveis esto j em estudo e execuo, como o caso de Dongtan, perto da cidade de Shangai na China e de Bedzed na periferia da cidade de Londres na Gr-Bretanha. Esta ltima j est em funcionamento e representa um projecto de sustentabilidade no s ambiental, mas tambm social, j que promove a incluso de populaes carenciadas, os edifcios tm alta eficincia energtica, sendo alimentados por energias renovveis como a solar e a elica e as ruas esto concebidas para a circulao pedestre e de velocpedes, com um sistema eficaz de transportes pblicos.

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Figura 5 Eco-cidades de Dongtan e de Bedzed

Cidade sustentvel, define-se como sendo aquela que satisfaz os requisitos sociais, ambientais, culturais e polticos, da mesma maneira que os econmicos e fsicos. A cidade constitui um organismo dinmico, to complexo como a prpria sociedade e que se adapta suavemente s suas mudanas. Segundo Richard Rogers (Rogers, 2001) uma Cidade Sustentvel aquela que abrange os seguintes factores [3]: Cidade justa - onde justia, alimento, abrigo, educao, sade e esperana esto distribudos de forma razovel e em que as pessoas participam na sua governao; Cidade bela onde arte, arquitectura e paisagem espelhem a imaginao e harmonia e sejam mobilizadores para o esprito; Cidade criativa onde a abertura de mentalidade e o esprito de experimentao mobilizem todo o potencial dos recursos humanos e permitam uma resposta rpida mudana; Cidade ecolgica que minimize o seu impacte ecolgico, onde a paisagem e as formas construdas estejam equilibradas e onde os edifcios e as infra-estruturas sejam eficientes do ponto de vista dos recursos; Cidade de contactos fceis onde a coisa pblica encoraje a comunidade e mobilidade e onde a informao seja trocada de forma directa ou electronicamente; Cidade compacta e policntrica que proteja os espaos rurais e naturais envolventes, que integre as comunidades em bairros e maximize a vizinhana e sua s convivncia; Cidade diversa onde uma vasta gama de actividades sobrepostas criem animao, inspirao e contribuam para uma vida pblica com vitalidade e originalidade.

Figura 6 exemplo esquemtico de uma cidade insustentvel

Cidade insustentvel aquela que no pauta o seu crescimento e organizao pelos limites de carga dos sistemas naturais, pondo em risco a sua existncia equilibrada no futuro

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

Figura 7 exemplo esquemtico de uma cidade sustentvel

Cidade sustentvel a cidade que capaz de satisfazer as suas necessidades no presente, sem comprometer a capacidade para satisfazer as suas necessidades no futuro, visando a integridade e a estabilidade social e econmica e a qualidade de vida da sua populao [1] Concluindo, as cidades modernas tm enorme impacto sobre o seu ambiente, mas poderiam ainda prosperar se decidissem reduzir drasticamente o seu consumo de recursos e de energia. A reciclagem de resduos pode reduzir maciamente a utilizao urbana de recursos e ao mesmo tempo criar muitos novos empregos. Novos materiais e desenhos arquitectnicos podem melhorar grandemente o desempenho ambiental dos edifcios urbanos. As cidades podem tambm adoptar novas abordagens imaginativas ao planeamento e gesto dos transportes e utilizao do espao urbano. Podemos melhorar drasticamente a vivncia urbana atravs da criao de novas aldeias urbanas, reduzindo o desejo das pessoas de escapar s presses da vida urbana.

2.5

O QUE PRECISO PARA ALCANAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

O mundo enfrenta uma ameaa causada pela prpria actividade humana o aquecimento global e as cidades, onde metade da populao mundial vive, esto sobrelotadas, congestionadas, extremamente poludas e com emisso de gigantescas quantidades de desperdcios gerados todos os dias. Pior ainda, so dependentes de um combustvel muito poluente e que pode acabar a curto prazo, o petrleo. Por estas razes necessrio implementar medidas srias com vista a atingir o desenvolvimento sustentvel, isto , criar mecanismos de modo a satisfazer as necessidades da gerao actual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras geraes. o desenvolvimento que no esgota os recursos para o futuro. Para ser alcanado, o desenvolvimento sustentvel depende do planeamento e do reconhecimento de que os recursos naturais so finitos. Esse conceito representa uma nova forma de desenvolvimento econmico, que tem em conta o meio ambiente e os factores sociais. Muitas vezes, desenvolvimento confundido com crescimento econmico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentvel, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Actividades econmicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos pases. Desses recursos depende no s a existncia humana e a diversidade biolgica, como o prprio crescimento econmico. O desenvolvimento sustentvel sugere, de facto, qualidade em vez de quantidade, com a

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reduo do uso de matrias-primas e produtos, o aumento da reutilizao e da reciclagem e na utilizao de recursos renovveis, como o caso da energia solar e energia elica. J Mahatma Gandhi indicava que os modelos de desenvolvimento precisariam de mudar, quando depois da Independncia da ndia lhe questionaram se iria seguir o estilo de vida britnico ao responder: ...a Gr-Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcanar sua prosperidade. Quantos planetas no seriam necessrios para que um pas como a ndia alcanasse o mesmo patamar?

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3CONSTRUO SUSTENTVEL

3.1

DEFINIO DE CONSTRUO SUSTENTVEL

O desenvolvimento sustentvel no apenas uma bandeira dos ecologistas e j se constitui como uma preocupao real para a indstria da construo, quer a nvel nacional quer internacional. A indstria da construo, devido grande quantidade de recursos que consome, quantidade de resduos que produz, sua implicao na economia dos pases e sua inter-relao com a sociedade, assume um papel fundamental e uma parte importante dos objectivos e metas que regem o desenvolvimento sustentvel O conceito de construo sustentvel no recente, pois existem indcios documentados, que remontam Antiguidade Clssica, onde se referem as ligaes entre os meios natural e artificial. Este conceito foi abordado pelo arquitecto e engenheiro romano Vitrvio (sc. I a. C.), no seu tratado de arquitectura, atravs de certas recomendaes acerca de temas como a localizao, orientao e iluminao natural dos edifcios. Nos finais do sculo XVIII, com o incio da Revoluo Industrial em Inglaterra, assistiu-se migrao de pessoas das zonas rurais para as cidades mais industrializadas, na tentativa de encontrarem melhores empregos e mais satisfatrias condies salariais. Nesta altura, o nmero de pessoas nos centros urbanos aumentou desmesuradamente e as cidades expandiram-se rapidamente e sem qualquer ordenamento. O rpido crescimento destas cidades no foi acompanhado por igual crescimento das infra-estruturas e por um correcto planeamento e desenho urbano, pelo que as condies que estas proporcionavam eram de extrema insalubridade. A corrente de pensamento de ndole sanitria que da adveio traria consigo as sementes de um novo conceito, o da relao do ambiente construdo com o meio ambiente. S muito mais tarde, dois sculos depois, na conferncia do Rio de Janeiro (Rio-92) que ganhou nfase o conceito de "construo sustentvel", o qual visava o aumento de oportunidades para as geraes futuras, atravs de uma nova estratgia ambiental direccionada para a produo de construes melhor adaptadas ao meio ambiente e s exigncias dos seus utilizadores. Nesta conferncia, foram definidas as orientaes para as estratgias locais e nacionais a aplicar na construo. Um dos aspectos particulares enfatizado neste contexto reala que se por um lado se assistia ao crescimento exponencial do consumo energtico no sector dos edifcios, por outro continuava-se a assistir falta de adequao da arquitectura ou do projecto dos edifcios e do desenho e planeamento urbano s condies climticas locais.

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

Ou seja, de entre os vrios sectores de actividade da nossa sociedade, o sector da construo, no apenas na sua fase de operacionalizao (utilizao do edifcio), mas considerando tambm a sua fase de obra (construo propriamente dita) tem srias responsabilidades no que respeita ao impacte ambiental negativo que lhe est adjacente. De entre os vrios impactes, salientam-se: a produo de resduos, o consumo de energia, as emisses de CO2 e o consumo de recursos naturais. Segundo a Agenda 21 para a Construo Sustentvel, s durante a fase de construo so consumidos cerca de 50% dos recursos naturais, produzidos mais de 50% dos resduos, consumida mais de 40% de energia (nos pases industrializados, sendo em Portugal cerca de 20% da energia total do pas) e produzidas cerca de 30% das emisses de CO2. Assim, e sendo o ambiente construdo, em particular os edifcios, indispensveis vida humana, necessria uma actuao junto deste sector, de molde a que, tambm ele seja um forte impulsionador do desenvolvimento e crescimento da sociedade, minimizando o seu impacte ambiental negativo, apostando fortemente na racionalizao do consumo de energia, entre outros aspectos tambm relevantes. Importa ainda salientar o facto de Portugal possuir um parque urbano sobrelotado, evidenciando-se necessria a reabilitao de edifcios existentes como prioridade em relao nova construo. Esta j uma forte aposta da Unio Europeia, sendo Portugal o pas onde a taxa de reabilitao menor. Reabilitar edifcios possibilita a diminuio do impacte da produo de energia, a reduo da extraco de matrias-primas para a construo e a diminuio da produo de materiais de construo. As actividades a realizar em obra so muito mais circunscritas e os estaleiros mais reduzidos, sendo ainda a necessidade de transportes de materiais consideravelmente menor, diminuindo em consequncia o impacte ambiental negativo causado na envolvente. Assim, a nova construo em detrimento da reabilitao, conduz a que se verifique a ocorrncia de um crescimento urbano excessivo, conduzindo nomeadamente extraco em meio terrestre, marinho e fluvial de grandes quantidades de inertes, ao mesmo tempo que ocorrem grandes consumos energticos e emisses excessivas de CO2 e de outros poluentes. Isto para alm de continuarem a ser ocupadas e impermeabilizadas novas reas de solo importantes para a conservao dos valores e equilbrios naturais e para as vrias actividades humanas. Definio de construo sustentvel segundo Kibert, 1994: Criao e gesto responsvel de um ambiente construdo saudvel, baseado na eficincia de recursos e princpios ecolgicos Um novo rumo para o sector da construo em Portugal urgente, pela necessidade de um reordenamento do territrio com base num planeamento urbano adequado e de tornar a construo mais eficiente do ponto de vista da conservao de energia, indo ao encontro dos compromissos assumidos por Portugal e pela Unio Europeia no mbito do Protocolo de Quioto e do desenvolvimento sustentvel. A responsabilidade por uma casa saudvel e de baixo impacto ambiental est associada a diferentes opes e fases. Comea na escolha de materiais aliada ao seu design de elementos, passa pela utilizao quotidiana do espao, para terminar na escolha dos mtodos e destinos do seu desmantelamento no fim da sua vida til [7].

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

3.2

PRINCIPAIS QUESTES AMBIENTAIS RELACIONADAS COM AS ACTIVIDADES CONSTRUTIVAS

No que diz respeito s actividades construtivas, as principais preocupaes a nvel ambiental em todo o seu ciclo de vida, indicam-se na tabela 1 [3].Tabela 1 Principais questes ambientais relacionadas com a actividade construtiva

Descritor gua

Ar Energia

Preocupao Origem, Licena de Utilizao Qualidade Valores limite Qualidade Tipo Quantidade Tipo Quantidade RAN/REN Paisagem Zonas de paisagem protegida Quantidade Destino Transporte

Descritor Efluentes

Preocupao Destino Valores limite Proteco dos valores naturais Proteco de valores arquitectnicos Substncias e materiais perigosos Controlo dos riscos Processo de avaliao Requisitos do DIA Valores limite Modelos de gesto

Biodiversidade Patrimnio Construdo Riscos

Matrias-Primas

Solo e Condicionantes

Impacte Ambiental

Resduos

Rudo

As preocupaes acima indicadas remetem, como se ver mais frente, ao cuidado a ter em diferentes fases da construo. Desde o planeamento da obra at sua demolio.

3.3

NOVO PARADIGMA DA CONSTRUO SUSTENTVEL

Enquanto que tradicionalmente as preocupaes incidiam somente na qualidade do produto, nos custos associados e no tempo gasto (Figura 8), a construo sustentvel pretende propor novas orientaes relativamente concepo, construo, operao e demolio, de modo a permitir melhorar o seu desempenho ecolgico.

Figura 8 Aspectos competitivos na construo tradicional

A introduo das preocupaes ambientais esto a levar a que o conceito de qualidade na construo comece a abranger os aspectos relacionados com a qualidade ambiental, atravs da denominada

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

construo eco-eficiente [Figura 9]. Esta traduz-se por construir com o impacte ambiental mnimo, ou seja, a nvel do consumo de recursos e da emisso de poluentes, ou at se possvel, criar edifcios com efeitos reparadores do meio ambiente.

Figura 9 Construo eco-eficiente

Integrando os princpios da eco-eficiencia com as condicionantes econmicas, a equidade social e o legado cultural, est-se na presena do novo paradigma da construo [8] [Figura 10].

Figura 10 Construo sustentvel

Nesta perspectiva, o papel dos vrios agentes fundamental, incluindo o sector da extraco dos materiais, o dos construtores, os clientes das estruturas edificadas, os gestores e os responsveis pela manuteno. Pode, assim, dizer-se que este novo modo de conceber a construo, procura satisfazer as necessidades humanas, protegendo e preservando simultaneamente a qualidade ambiental e os recursos naturais [3].

3.4

CICLO DE VIDA DAS CONSTRUES E SEUS IMPACTES AMBIENTAIS

As actividades associadas construo de ambientes construdos, infra-estruturas e edifcios, bem como os seus efeitos ambientais, variam com as respectivas tipologias e ao longo do seu ciclo de vida. A forma como as estruturas construdas so obtidas e erigidas, usadas e operadas, mantidas e reparadas, modernizadas e reabilitadas, e finalmente desmanteladas (e

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

reutilizadas) ou demolidas (e recicladas), constituem o ciclo completo das actividades construtivas sustentveis". [3] O ciclo de vida das construes inicia-se na concepo e perpetua-se at desactivao [Fig.11]. Assim, a criao de infra-estruturas e edificaes envolve todo o ciclo da construo, embora a sua maior expresso, em termos construtivos, ocorra na fase de construo propriamente dita e na fase de Demolio

Concepo

Construo

Operao

Desactivao

Figura 11 - Ciclo de vida das construes

Quando se abordam os efeitos da construo, muitas vezes centra-se a anlise numa parte importante dos seus efeitos negativos e incomodidades associados obra em si mesma, isto , fase de construo, quando grande parte dos benefcios se associam fase de operao, pelo que tal pode conduzir a uma abordagem pouco representativa. A fase de construo est, no geral, associada a perodos mais reduzidos (meses), face fase de operao (anos). Refira-se que a maioria das infra-estruturas e edifcios projectados na actualidade tem um tempo de vida superior a 40 anos e alguns dos edifcios e estruturas existentes pode ultrapassar, ou j ultrapassam, os 100 anos. Isto significa que as estruturas construdas tm impactes com efeitos muito duradouros, quer a nvel dos consumos, quer na acumulao dos materiais, quer ao nvel das emisses e cargas poluentes, cujos efeitos ambientais importa considerar. Nesse contexto, os efeitos ambientais das actividades construtivas decorrem no s do acto de construir, mas tambm da operao das estruturas construdas (incluindo a sua manuteno) e at da sua desactivao (cada vez mais referida como "desconstruo"), sendo os seus efeitos (impactes diferenciados em cada uma das fases) representados na Figura 12.

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O papel da madeira na sustentabilidade da construo

Figura 12 - Impactes ambientais causadas pelas actividades da construo [3]

Em sntese, os impactes ambientais mais relevantes provocados pela construo civil podem considerar-se os seguintes: a extraco e o consumo de matrias-primas, a alterao do uso do solo, a compactao do solo e, eventualmente, a sua contaminao, o rudo resultante das actividades construtivas e de operao (poluio sonora), os consumos de energia e as emisses de gases com efeito de estufa, bem como outras emisses, a afectao das espcies naturais e seus habitats e a intruso visual e a alterao da paisagem natural. Ao nvel dos sistemas socio-econmicos, podem referir-se: incmodos nas populaes e comunidades, eventuais riscos de sade pblica, na obra e para os utilizadores, necessidades suplementares de acessibilidades, de transportes e de alterao do trfego local, presso sobre as infra-estruturas e servios urbanos, alterao das condies de segurana, mas tambm gerao de emprego, conforto, funcionalidade, riqueza e desenvolvimento. Se analisadas integradamente no seu ciclo de vida as estruturas edificadas, em particular os edifcios, possuem uma importncia diferenciada em termos de impacte ambiental ao longo do seu ciclo de vida, revelando uma importncia, at agora, menos abordada, em particular na regulamentao. Os edifcios e espaos envolventes (empreendimentos) respondem s necessidades humanas, originando na sua construo, operao e desactivao, impactes mais ou menos directos: nos recursos, nas emisses, nas cargas e nos ambientes construdos e de forma indirecta nos

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ambientes naturais. Um aspecto relevante a considerar assenta no facto de que para os edifcios satisfazerem as funes para que foram criados (por exemplo, residncias, escritrios, entre outros) necessitam de infra-estruturas e por isso, de forma indirecta, tambm os impactes a elas associados podem decorrer da presena e operao dos edifcios. Os impactes dos edifcios, tal como os das restantes estruturas, reflectem-se de forma distinta nas diferentes fases do seu ciclo de vida, desde a concepo operao e desactivao (ou desconstruo). Apresentam-se em seguida, detalhadamente, os impactes ambientais mais significativos relativamente a cada uma das etapas da vida de um edifcio:

a)

Fase de concepo

Em termos de dimenso, os impactes efectivos desta fase quase no apresentam significado quando comparados com as restantes fases, sendo essencialmente associados aos consumos de: Energia, transporte e deslocaes: para analisar o local e efectuar os levantamentos necessrios; Consumos e emisses associados operao de escritrios: como grande parte da actividade executada em escritrios, os efeitos da sua operao (consumo de energia, por exemplo) podem originar impactes ambientais; Consumo de papel: uma fase de elevado consumo de papel, no desenvolvimento do plano e projecto, bem como no processo de autorizao e licenciamento.

b)

Fase de construo

Na fase de construo a ateno recai, sobretudo, sobre a forma de desenvolvimento do processo construtivo, sendo esta associada, essencialmente, interveno no local, com alterao do uso do solo, consumo de matrias-primas, energia e gua e alteraes nos ambientes natural e/ou construdo. Ou seja, os impactes ambientais causados nesta fase da obra, so importantes e incluem nomeadamente: Extraco e consumo de matrias-primas; Produo de resduos devido ao no-aproveitamento de materiais nas novas construes e aumento destes no caso de demolio; Possvel descarga e contaminao dos solos, se os materiais combustveis e outros produtos perigosos existentes no forem devidamente armazenados ou controlados; Efeitos ambientais importantes nos meios hdricos se a gua consumida nas actividades construtivas no for devidamente tratada; Produo de emisses poluentes com a necessidade de energia nas actividades construtivas e aumento da necessidade de transportes, o que por sua vez aumenta o trfego, o consumo de combustvel e as emisses atmosfricas, cria poluio acstica e vibraes e provoca a

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degradao esttica do local; Criao de zonas impermeabilizadas origina o aumento de escorrncia superficial e aumento da probabilidade de cheias a jusante; Em zonas de ambientes naturais, ao serem intrusivas, as actividades construtivas provocam interferncias na fauna e flora e alteram a dinmica dos ecossistemas.

c)

Fase de operao

Os impactes relevantes associados ao empreendimento edificado, decorrentes da sua operao, resultam do seguinte: consumo de energia, de gua e de materiais, produo de resduos, de efluentes e de emisses atmosfricas, com consequentes impactes directos. Como exemplos de impactos ambientais, podemos referir que cerca de metade dos CFC produzidos no mundo inteiro so usados na refrigerao de sistemas de ar condicionado e na refrigerao de edifcios e grande parte da gua consumida, depois descarregada sob a forma de efluentes lquidos, que exigem tratamento adequado, obrigando a dispor de ETAR's, consumindo energia e reagentes e produzindo lamas.

d)

Fase de renovao e desactivao

Esta uma fase desenvolvida pelo sector da construo civil, com a mesma tipologia de efeitos anteriormente descritos para a construo, sendo de destacar que, dada a forma de eliminao ou desconstruo, ela se traduz num importante acrscimo, do ponto de vista de produo de resduos. Os restantes impactes so, no geral, mais reduzidos no que se refere ao consumo de materiais, existindo, contudo, impactes importantes ao nvel da energia, das emisses (nomeadamente, de rudo e vibraes) e, em especial, nos resduos (embora a nvel nacional o seu valor seja, por enquanto, reduzido).

3.5

MATERIAIS E METODOLOGIAS PARA A CONSTRUO SUSTENTVEL

Na Natureza existe um conjunto de matrias-primas que, pelas suas caractersticas, foram largamente utilizadas na construo desde tempos imemoriais pelo Homem. So elas o barro, a madeira, a palha, as fibras vegetais, a pedra, a cal e muitos outros. No se trata de recuar no tempo, mas antes analisar os benefcios que esta experincia pode trazer para o futuro. Durante o processo de adaptao s condies climatricas, seleccionaram-se materiais e tipologias de construo que optimizavam o conforto com um dispndio mnimo de recursos, e numa tentativa de melhorar as suas caractersticas tcnicas e construtivas, os materiais foram submetidos a transformaes proporcionais ao desenvolvimento tcnico. Assim, fomos substituindo muitos dos anteriores materiais, melhorando as suas caractersticas, mas infelizmente causando vrios impactes ambientais negativos (toxicidade, mau comportamento na presena de humidade, difcil reutilizao, transformao da paisagem nos locais de extraco, etc.)

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Ou seja, tambm uma necessidade, a utilizao de materiais de construo mais sustentveis, de origem natural e local, com baixo valor de energia incorporada (energia dispendida desde a extraco da matria-prima at forma final do material apto a ser utilizado), reutilizveis e/ou reciclveis. Tal como contemplar planos adequados de gesto ambiental durante a execuo da obra, de forma a minimizar desperdcios e consumos desnecessrios. [7] Para que as construes sejam mais sustentveis, os materiais devem obedecer aos seguintes requisitos: representarem menores custos energticos, sociais, econmicos e ambientais; terem origens em fontes renovveis, no poluentes e no txicas; serem durveis e/ou com possibilidade de reutilizao/reciclagem ou diminutos desperdcios; no afectarem a sade. Estes so os principais requisitos a exigir aos materiais de modo a transformar as nossas construes em produtos mais sustentveis. Idealmente sero autctones, ou seja, do mesmo local ou regio, pois deste modo diminuiro o custo de transporte (que por vezes muito elevado), j sem falar nas emisses poluentes e nos consumos de recursos associados ao transporte. Para caminhar no sentido da construo sustentvel, necessrio tomar medidas nesse sentido desde a fase inicial da obra, ou seja, desde a fase de planeamento e concepo, porque as decises tomadas nesta fase determinam os custos do ciclo de vida, os consumos de energia, a qualidade do ar no interior dos edifcios e a reciclabilidade e reutilizao dos resduos de demolio. [9] Nesta ptica, possvel apresentar uma lista de prioridades que podem ser consideradas os pilares da construo sustentvel e que a seguir se desenvolvem: a) Economizar energia e gua. Os edifcios devem ser concebidos de modo assegurar-se uma gesto eficiente dos consumos energticos e de gua. A energia elctrica resulta principalmente da combusto de combustveis fsseis. O processo produtivo de energia elctrica apresenta elevado impacte ambiental devido grande quantidade de gases poluentes emitidos e ao facto de utilizar como matria-prima um recurso natural limitado e no renovvel, pelo que se dever reduzir ao mximo o seu consumo. O uso contnuo de energia constitui provavelmente o maior impacte ambiental dos edifcios, pelo que deve constituir a prioridade principal. Este ponto est relacionado com muitos aspectos, que vo desde a minimizao dos consumos energticos durante a fase de construo (adoptando sistemas de construo simples), at reduo dos consumos energticos durante a fase de utilizao atravs da utilizao de fontes de energia renovveis, minimizao dos consumos durante as estaes de arrefecimento (Vero)e aquecimento (Inverno) e a optimizao da iluminao e ventilao natural. O consumo de gua nos edifcios est directamente relacionado com a produo de guas residuais pelo que importa assegurar uma gesto adequada deste bem precioso e cada vez mais escasso, atravs da introduo, por exemplo, de autoclismos com sistemas de descarga diferenciados, bases de chuveiros em detrimento de banheiras, torneiras monocomando, torneiras com temporizador e de descarga automtica, entre outros. b) Assegurar a salubridade dos edifcios. Salvaguardando o conforto ambiental no seu interior, atravs da introduo e maximizao da iluminao e ventilao natural, onde for possvel. So de evitar os compartimentos que no possuam aberturas directas para o exterior do edifcio. c) Maximizar a durabilidade dos edifcios. Actualmente projecta-se para a resistncia e no para a durabilidade. Urge mudar esta situao, pois com pequenos investimentos nas fases de concepo e

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construo possvel ampliar bastante o ciclo de vida dos edifcios. Para tal, devem ser utilizadas tecnologias construtivas e materiais de construo que sejam durveis e as construes devem ser flexveis de modo a permitirem o seu ajuste a novas utilizaes. Quanto maior for o ciclo de vida de um edifcio, maior vai ser o perodo de tempo durante o qual os impactes ambientais produzidos durante a fase de construo sero amortizados. d) Planear a conservao e a manuteno dos edifcios. Actualmente, esquece-se que, aps a construo, um edifcio deve ser objecto de alguns investimentos peridicos que salvaguardem a sua conservao. Os edifcios possuem uma vida til limitada e seguem um processo de envelhecimento desde a sua construo at sua reabilitao e demolio. Inevitavelmente, com o passar dos anos, os edifcios tendem a deteriorar-se, atravs das aces fsicas, qumicas e mecnicas a que esto submetidos, chegando a atingir um estado de degradao que no compatvel com o conforto e a segurana estrutural previstos durante a fase de projecto, podendo mesmo em casos extremos verificar-se a sua runa total ou parcial. Os edifcios comportam uma grande quantidade de recursos naturais e culturais que importa serem preservados, fazendo parte integrante da identidade do local onde esto implantados. Assim, os edifcios tm que ser vistos como um recurso valioso e no como algo que se usa e deita fora. As intervenes de manuteno e reabilitao permitem a dilatao do ciclo de vida das construes, com todas as vantagens inerentes, enunciadas no ponto anterior. e) Utilizar materiais eco-eficientes. Materiais eco-eficientes ou ecolgicos so todos os materiais que durante o ciclo de vida, desde a fase de extraco at devoluo ao meio ambiente, possuem um baixo impacte ambiental. So considerados materiais eco-eficientes os materiais que cumpram os seguintes requisitos: 1. No possuir qumicos nocivos camada de ozono (como, por exemplo, CFCs e HCFCs). Deve ser evitada a utilizao de espumas isolantes em que se utiliza como gases expansivos os HCFCs, como, por exemplo, o poliestireno expandido (EPS), o poliestireno expandido extrudido (XPS) e a espuma rgida de poliuretano (PUR); 2. Ser durvel. Como os consumos energticos durante a fase de processamento dos materiais so elevados, um material que seja durvel ou que requeira uma menor manuteno, contribui geralmente para a poupana energtica. Materiais mais durveis tambm contribuem para a diminuio dos problemas relacionados com a produo de resduos slidos; 3. Exigir poucas operaes de manuteno. Sempre que possvel, deve escolher-se materiais que exijam poucas operaes de manuteno (tintas, materiais impermeabilizantes, etc.), ou aqueles cuja manuteno implique um baixo impacte ambiental; 4. Incorporar baixa energia primria (PEC - Primary Energy Consumption). A energia primria dos materiais resulta do somatrio da energia consumida durante a extraco das matrias-primas, seu transporte para as unidades de processamento e no seu processamento. Quanto mais elaborado for o processamento maior ser a energia primria. Sempre que a durabilidade dos materiais no seja comprometida e as reservas de matrias-primas o permitam, devem ser utilizados materiais com baixa energia primria, como por exemplo, a madeira; 5. Estar disponvel nas proximidades do local de construo. O transporte dos materiais de construo implica custos econmicos e ambientais (utilizao de energia e emisso de gases poluentes). Deve-se preferir a utilizao de materiais produzidos na regio; 6. Ser elaborado a partir de matrias recicladas e/ou que possuam grandes potencialidades para virem a ser recicladas ou reutilizadas. Os materiais de construo realizados a partir de matrias recicladas participam na mitigao dos problemas relacionados com os resduos slidos, na

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diminuio dos consumos energticos durante a fase de transformao e contribuem para a preservao dos recursos naturais. f) Apresentar baixa massa de construo. Quanto menor for a massa total do edifcio menor ser a quantidade de recursos naturais incorporada. Uma das solues que pode substancialmente contribuir para uma construo mais racional ser a introduo de tecnologias construtivas que permitam reduzir o peso das construes. Esta reduo pode ser conseguida atravs da utilizao de uma soluo construtiva leve na envolvente vertical dos edifcios, com elevado desempenho trmico e acstico e da utilizao pontual no seu interior de materiais de elevada massa, que desempenhem conjuntamente funes estruturais e de armazenamento trmico. A ttulo de exemplo, o desenvolvimento de sistemas construtivos baseados numa estrutura de perfis leves de ao (LWFS - Light Weight Frame Systems) resultou da necessidade de se aumentar a racionalizao da quantidade de matria-prima a incorporar nas construes, consistindo numa evoluo lgica dos sistemas de construo tradicional em beto armado. g) Minimizar a produo de resduos. Os resduos da construo provm das mais diversas fontes: produo dos materiais, perdas durante o seu armazenamento, transporte, construo, manuteno e demolio. na fase de construo que se produz uma grande parte dos resduos provenientes da indstria da construo. Durante as fases de transporte e construo poder-se- diminuir a produo de resduos atravs de um correcto acondicionamento e armazenagem dos materiais de construo. A diminuio da produo de resduos na fase de construo pode ser conseguida atravs da maximizao da utilizao de sistemas pr-fabricados, que s pode ser conseguida atravs da utilizao de dimenses padro na fase de concepo e de uma concepo modular baseado em desenho paramtrico. h) Ser econmica. Uma construo s pode ser sustentvel se, depois de integrados os princpios enunciados nos pontos anteriores, conseguir compatibilizar o seu custo com os interesses do dono de obra e dos potenciais utilizadores. A construo sustentvel no pode competir com a construo tradicional se o seu custo for substancialmente superior. A anlise econmica de um sistema de construo deve ser efectuada durante as diversas fases do seu ciclo de vida: construo, utilizao, manuteno e reabilitao, e demolio. O aumento da produtividade durante a fase de construo, atravs da utilizao de sistemas construtivos simples, padronizados e que exijam uma menor carga de mo-de-obra, um aspecto a considerar com vista racionalizao econmica desta fase. Por outro lado, a diminuio do perodo de construo, constitui um factor econmico importante pois permite maior rapidez no retorno do investimento inicial. Durante a fase de utilizao devem ser considerados os benefcios econmicos resultantes da melhor racionalizao energtica e de consumo de gua e da maior durabilidade dos materiais, com a consequente reduo dos custos de manuteno. A anlise econmica de um sistema construtivo no fica completa se no for considerado o valor residual das construes, isto , o valor no final da sua vida til, que depende da possibilidade dos seus materiais e componentes virem a ser reutilizados ou reciclados. Importa aqui salientar que o conceito de construo econmica no sinnimo de construo barata. i) Garantir condies dignas de higiene e segurana nos trabalhos de construo. Deve-se realizar uma escolha criteriosa dos materiais, produtos, sistemas construtivos e processos de construo, de modo a melhorar as condies de trabalho dos trabalhadores e a potenciar a diminuio dos riscos de acidente, em cada uma das fases do ciclo de vida de uma construo. Sobre a forma de tabelas e diferenciando as fases de obra, as reas de interveno relevantes a adoptar no sentido de obter uma construo mais sustentvel, so as que constam nas tabelas 2, 3,4e 5 [3]:

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Tabela 2 Aspectos relevantes da construo sustentvel na fase de concepo

Descritor ENERGIA

Problemas principais Optimizao do consumo de energia Optimizao da iluminao Optimizao de aquecimento/ arrefecimento

Estratgia Utilizar sistemas de gesto energtica Utilizar fontes de energia renovvel Projectar de maneira a maximizar a iluminao natural dentro dos edifcios Projectar de maneira a que, devido orientao do edifcio e dos materiais a adoptar, no seja necessrio recorrer exageradamente utilizao de sistemas de aquecimento/arrefecimento Projectar sistemas de gesto de gua Projectar sistemas de armazenamento e reutilizao de guas pluviais e de lavagem Projectar de maneira a assegurar a salubridade dos edifcios, atravs da maximizao da iluminao e ventilao natural No utilizar materiais txicos na construo dos edifcios Evitar a concepo de compartimentos sem abertura directas para o exterior dos edifcios Isolar adequadamente a nvel acstico compartimentos e locais de apoio e infraestruturas, como o caso de lavandarias e tubagens de guas residuais, respectivamente Projectar de modo a que os resduos sejam mnimos Projectar sistemas integrados de recolha de resduos Aproveitar os imveis j existentes Aumentar as actividades de reabilitao e recuperao Sempre que haja possibilidade, pensar em zonas industriais abandonadas para novas construes Criar edifcios multifuncionais Considerar o contexto local ao nvel de: clima, topografia, impacte visual, rudo, economia local Ter em conta a localizao dos edifcios na proximidade de transportes pblicos Proteger a vida selvagem e a flora locais Reciclar materiais em fim de vida Seleccionar materiais com melhor desempenho ambiental Utilizar materiais reciclveis Projectar e construir tendo em conta o destino final

AGUA

Optimizao do consumo de gua Qualidade do ar interior

AR

RUDO

Rudo dentro da habitao

RESDUOS

Gesto de resduos

OCUPAO DO SOLO

Uso eficiente do solo

Escolha do local Aumentar a utilizao de transportes pblicos Proteco da natureza MATERIAIS Tipo de materiais a utilizar Edifcios reciclveis

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Descritor(Cont,)

Problemas principais (Cont.) Utilizao eficiente de recursos

Estratgia (Cont.) Reduzir o consumo de recursos Reutilizar os recursos sempre que possvel Ter o cuidado de especificar exigncias de desempenho, de maneira, a encorajar o uso mais efi