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1 PORTUGUÊS 10º ANO TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO Caravaggio c. 1598-99, Narciso Biografia vem de BIO, que significa VIDA e GRAFIA, que significa ESCRITA. Uma Biografia é a história de vida de uma pessoa. Quando nós mesmos vamos escrever a nossa própria história, então temos uma AUTOBIOGRAFIA. A escrita intimista e autobiográfica é aquela em cujo ato de escrita o sujeito se reflete e reflete sobre si mesmo. O auto-retrato, a autobiografia, os poemas autobiográficos, o diário, as cartas, as memórias, são exemplos de textos autobiográficos. A escrita intimista e autobiográfica pode concretizar-se, entre outros, através de memórias, diários, autobiografias, cartas e até mesmo textos poéticos. De referir que a delimitação entre os três primeiros géneros citados nem sempre é nítida, o que muitas vezes gera dúvidas relativamente à classificação literária de determinados textos deste género. Na realidade, os géneros literários intimistas pressupõem um discurso virado para o eu (presente ou subentendido), predominando, por isso, formas verbais, pronomes e determinantes na primeira pessoa, bem como uma linguagem conotativa, subjetiva e emotiva. Neste tipo de textos, o eu evoca experiências marcantes, momentos, etapas, iniciativas da sua

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Informações diversas sobre os textos de carácter autobiográfico.

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Page 1: Textos_autobiograficos

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PORTUGUÊS – 10º ANO

TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO

Caravaggio c. 1598-99, Narciso

Biografia

vem de BIO, que significa VIDA e GRAFIA, que significa ESCRITA.

Uma Biografia é a história de vida de uma pessoa. Quando nós mesmos vamos escrever a

nossa própria história, então temos uma AUTOBIOGRAFIA.

A escrita intimista e autobiográfica é aquela em cujo ato de escrita o sujeito se reflete e reflete

sobre si mesmo.

O auto-retrato, a autobiografia, os poemas autobiográficos, o diário, as cartas, as memórias, são

exemplos de textos autobiográficos.

A escrita intimista e autobiográfica pode concretizar-se, entre outros, através de memórias,

diários, autobiografias, cartas e até mesmo textos poéticos. De referir que a delimitação entre os três

primeiros géneros citados nem sempre é nítida, o que muitas vezes gera dúvidas relativamente à

classificação literária de determinados textos deste género. Na realidade, os géneros literários intimistas

pressupõem um discurso virado para o eu (presente ou subentendido), predominando, por isso, formas

verbais, pronomes e determinantes na primeira pessoa, bem como uma linguagem conotativa, subjetiva e

emotiva. Neste tipo de textos, o eu evoca experiências marcantes, momentos, etapas, iniciativas da sua

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vida pessoal/profissional, a sua relação com quem/o que o rodeia, transmitindo simultaneamente as

sensações, sentimentos, emoções que essas vivências lhe despertaram.

TEMÁTICAS PRESENTES NOS TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS:

Percursos/etapas/momentos de vida particular.

Relação consigo próprio/com os outros.

Recordação de vivências marcantes. Atitudes e comportamentos.

Iniciativas/escolhas pessoais.

Experiências e suas consequências.

Individualidade/identidade.

Sentimentos/emoções.

Reflexão/meditação.

Conflitos/busca de paz interior.

Introspeção.

Percepções/sensações/captação através dos sentidos.

AO NÍVEL DA EXPRESSÃO, O DISCURSO AUTOBIOGRÁFICO CARACTERIZA-SE POR:

Discurso na 1.ª pessoa;

Predomínio do eu (presente ou subentendido);

Formas verbais na 1.ª pessoa;

Presença de pronomes pessoais (forma de sujeito e de complemento);

Presença de determinantes e de pronomes possessivos (meu/minha …);

Privilégio de linguagem conotativa e emotiva;

Uso de nomes abstratos, adjetivação expressiva;

Verbos do domínio do “ser” (definição/permanência) e do “estar” (caracterização do momento);

Pontuação sugestiva;

Frases do tipo exclamativo e interrogativo;

Utilização de recursos estilísticos.

RELATIVAMENTE AO TEXTO AUTOBIOGRÁFICO, DISTINGUEM-SE VÁRIAS TIPOLOGIAS TEXTUAIS:

Carta pessoal ou particular

Diário

Memórias

Confissões

Biografia

Autobiografia

Tábua cronológica

Retrato

Auto-retrato

Caricatura

Fotobiografia

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A biografia é um género narrativo em prosa que consiste na descrição da vida de uma determinada

personalidade, onde devem constar datas, lugares, pessoas e acontecimentos marcantes. É redigida na 3ª

pessoa e a linguagem predominantemente objetiva e informativa; pode apresentar-se, quer como um

relato meramente informativo, quer como um texto onde se evidenciam e valorizam aspectos relevantes

do percurso do biografado.

A biografia pode ser uma simples nota biográfica ou mesmo constituir-se como um livro, segundo a

finalidade a que se propõe. Ao contrário da autobiografia, na biografia deve-se respeitar a ordem

cronológica.

Diferenças entre a autobiografia e a biografia:

Autobiografia

- Texto predominantemente expressivo e subjetivo.

- Texto que acentua o percurso existencial do autor.

- Texto onde a ordem cronológica dos factos narrados pode não ser respeitada.

-Texto predominantemente narrado na 1ª pessoa.

Biografia

- Texto predominantemente informativo e objetivo.

- Texto que acentua o percurso de vida do autor.

- Texto onde a ordem cronológica dos factos narrados é respeitada.

- Texto onde consta a data dos factos narrados.

A Autobiografia visa retratar a vida de uma pessoa, mas, neste caso, autor, narrador e personagem

identificam-se, na medida em que é o próprio quem narra a sua experiência vivencial. Trata-se de um

discurso de primeira pessoa, pelo que assume um carácter subjetivo. O relato autobiográfico tem, em geral,

um carácter mais expressivo do que informativo. A partir da memória, o autor recria vivências passadas,

direta ou indiretamente relacionadas com a sua própria vida, podendo modificar a narração cronológica

dos acontecimentos.

As marcas linguísticas da autobiografia

Formas verbais na 1.ª pessoa;

Marcas de 1.ª pessoa nos pronomes pessoais e nos determinantes possessivos;

Explicitação das coordenadas de enunciação (determinação das características do momento em

que se escreve);

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Verbos epistémicos (achar, acreditar, calcular, considerar, pensar, supor, reconhecer...); verbos

avaliativos (detestar, gostar, lamentar, suportar, tolerar...); verbos perceptivos (ouvir, sentir, ver...);

verbos volitivos (desejar, esperar, querer, tencionar...); verbos de rememoração (recordar-se,

lembrar-se...);

Projeção das ações num intervalo temporal lato;

Conectores de ordenação temporal.

Outros recursos expressivos que contribuem para a subjetividade dos textos autobiográficos: a

adjetivação, as repetições, outras figuras de estilo, as interjeições e os sinais de pontuação como,

por exemplo, os pontos de exclamação e as reticências.

A fotobiografia, tal como o próprio nome indica, é uma biografia baseada e apresentada numa série de

fotografias. Contudo, a seleção das fotografias exige muita pesquisa, pois estas devem ter qualidade

suficiente, ser expressivas e ilustrar momentos diferentes da vida da personalidade escolhida. Além disso,

estas, devidamente legendadas, devem estar dispostas segundo a ordem cronológica da história de vida

que se está a relatar.

É no início da Idade Média que surge o primeiro grande modelo de obra autobiográfica, as Confessiones

(Confissões) de santo Agostinho (século IV), que, pela sua introspeção psicológica e antevisão

existencialista, permanecem vivas até hoje, tendo exercido profunda influência sobre filósofos como Pascal

e Kierkegaard ou escritores como Rousseau.

O romance autobiográfico

Romance no qual se misturam ficção e realidade, com uma relação de identidade entre autor, narrador e

personagem, já que relatam eventos e descrevem espaços indissociáveis do testemunho e vivências

pessoais dos autores. O romance autobiográfico difere da autobiografia: "a biografia e a autobiografia são

textos referenciais: exactamente como o discurso científico e histórico, elas pretendem trazer uma

informação sobre uma realidade exterior ao texto, e portanto se submetera uma prova de verificação". (P.

Lejeune, 1975. p.36.)

As memórias estão no meio-termo entre a autobiografia e a crónica, variando, de caso para caso, o

peso relativo do eu no conjunto do narrado. São, sem dúvida, uma forma de escrita sobre si mesmo, mas

dão-nos também o testemunho de um tempo e de um meio, somando ao relato de casos pessoais e

familiares o de conhecimentos históricos e políticos .A narrativa memorialista tem um fundo histórico-

cultural, embora sujeito à filtragem subjetiva de quem a produz.

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A memória é a capacidade que cada um tem de reter informações sobre alguém ou alguma coisa. Pode-se

falar em memória individual ou memória coletiva. A primeira cinge-se aos acontecimentos, realidades,

experiências e emoções de cada indivíduo; a segunda engloba o conjunto de recordações pertencentes a

um país, a uma comunidade, a um povo.

As memórias pertencem a um género literário narrativo, cujo autor relembra acontecimentos passados e

experiências vividas, transmite as suas emoções/sentimentos e apresenta simultaneamente realidades

sociais, humanas e políticas. Daí que, com alguma frequência, surjam citações a pessoas ilustres e

momentos históricos marcantes.

Uma vez que é a memória o principal suporte dessas evocações, torna-se, por vezes, necessário recorrer a

outras fontes como documentos de vária espécie: cartas, diários, jornais, etc., que conferem uma tónica

mais convincente e autêntica ao que se escreve. No fundo, as memórias possuem um valor documental, ao

associar experiências de vida do próprio com o contexto sociocultural que o envolve, muito embora de

carácter subjetivo, dado serem perspectivados pelo eu.

Papel da memória (os acontecimentos são passados pelo crivo da lembrança. Esta, por vezes, necessita de

ajudas: os memorialistas socorrem-se de documentação diversa, como o diário íntimo, as cartas, os

jornais...);

Escrita sobre si mesmo (“ retrato de uma voz “);

Relevância do acontecimento narrado; Fundo histórico-cultural (testemunho dum tempo e de um meio,

somando ao relato de casos pessoais e familiares o de acontecimentos históricos e políticos);

Valor documental do texto (o memorialista presta um serviço aos vindouros, legando-lhes um

testemunho).

O diário é um dos géneros da literatura autobiográfica. Ele pressupõe o registo das vivências e

sentimentos de um eu face ao mundo que o rodeia. Possui, por esse motivo, um carácter intimista e

confidente.

O diário é o testemunho quotidiano, por vezes com algumas descontinuidades, do quotidiano de alguém

que fixa, através da escrita, factos, desejos e emoções. Por vezes, o diário adquire interesse nacional ou

internacional enquanto testemunho histórico-político, social e cultural. Exemplos: Diário de Miguel Torga,

Diário de Sebastião da Gama, Diário de Anne Frank.

O diário inscreve-se, geralmente, no género narrativo e constitui-se como o registo de vivências,

pensamentos, eventos e emoções quotidianos de um narrador que se exprime na 1ª pessoa (daí o

predomínio da função emotiva) e que assume o seu diário como seu confidente, uma espécie de “amigo

secreto”. A datação surge como forma de organizar a narração intercalada e fragmentária dos factos

imposta pelo ritmo quotidiano, apesar de ser possível uma leitura descontínua e desordenada do diário,

sem prejudicar a sua compreensão. De facto, o diário é íntimo, privado e secreto, no entanto, com a sua

publicação, afigura-se igualmente como partilha a partir do momento em que se comunica com os outros,

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perdendo, assim, o seu estatuto de privado. Aliás, para os mais radicais a sua publicação é mesmo uma

contradição.

TEMÁTICAS:

• Vivências do Eu

• Relações do Eu com os outros

• Testemunhos de situações

• Contexto histórico, político e social em que o Eu se insere

• Reflexão sobre as problemáticas:

- que o afetam (individuais)

- que afetam o seu país (nacionais)

- que afetam o mundo (internacionais)

• Confissões / Confidências

EXPRESSÃO/MARCAS DISCURSIVAS:

• Marcas autobiográficas

• Realidade filtrada por grande subjectividade

• Ações situadas no tempo (temporização mais ou menos pormenorizada)

• Linguagem informativa, emotiva e poética

• Discurso acessível com linguagem de registo familiar

• Escrito em prosa ou em verso

O retrato consiste na representação oral, escrita ou por meio de uma imagem (fotografia, pintura,

desenho…) de pessoas (caracterização física e/ou psicológica),animais ou objetos.

O retrato é, muitas vezes, uma criação ficcional com função crítica, estética e poética. Pode partir de um

referente real, mais ou menos fiel, dando, muitas vezes, lugar à denúncia das limitações de uma visão

redutora – a caricatura.

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Na elaboração de um retrato, enquanto produção literária, dever-se-ão salientar:

• Traços importantes do aspecto físico (aparência, estatura, tamanho, modo de andar, cabelos, tom de

pele, rosto, olhos, nariz, boca, vestuário…);

• Qualidades psicológicas (personalidade, comportamento…);

• Características sociais (meio ambiente, profissão, hábitos…).

No auto-retrato encontramos um eu que se olha, que se descobre no espelho de Narciso e que se

apresenta a si próprio. O auto-retrato é, pois, o retrato de uma pessoa feito por ela própria.

Fazendo uma análise de vários auto-retratos, podemos verificar que são assumidas diferentes perspectivas.

Assim sendo, podemos observar o seguinte: um tipo de registo objetivo/subjectivo, uma perspectiva

geral/pormenorizada, uma perspectiva fixa/móvel, a selecção de características físicas, psicológicas,

intelectuais ou emocionais, os diferentes aspectos ou partes seleccionados e evidenciados.

A caricatura consiste igualmente na representação de algo ou alguém, quer por meio da escrita quer da

imagem, mas deformando ou exagerando certos traços salientes, com intenção crítica, satírica ou

humorística, e a partir da qual se enfatizam determinadas características pessoais ou sociais.

Historicamente a palavra caricatura vem do italiano caricare (carregar, no sentido de exagerar, aumentar

algo em proporção). A caricatura é a mãe do expressionismo, onde o artista desvenda as impressões que a

índole e a alma deixaram na face da pessoa. A distorção e o uso de poucos traços são comuns na caricatura.

Diz-se que uma boa caricatura pode ainda captar aspectos da personalidade de uma pessoa através do jogo

com as formas. É comum a sua utilização nas sátiras políticas; às vezes, esse termo pode ainda ser usado

como sinónimo de grotesco (a imaginação do artista é priorizada em relação aos aspectos naturais) ou

burlesco.

O relato de vivências e experiências do próprio ou de outrem possui um carácter intimista, por vezes,

confessional, que aponta para o memorialismo, género que remonta, ainda que de forma incipiente, às

primeiras manifestações literárias em prosa da época medieval, nomeadamente às crónicas de viagem.

Também na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, no século XVI, se vislumbram traços do memorialismo,

pelo seu cariz predominantemente narrativo e autobiográfico. É, no entanto, nos séculos XVIII e XIX, com a

adesão preferencial dos leitores às narrativas autobiográfica, epistolar e diarística, que o memorialismo

ganha especificidade, sendo que se trata de um género cujo autor recorda o que, num determinado

momento, viveu ou presenciou, e que possui interesse pessoal ou coletivo.

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Carta pessoal ou particular – numa carta informal, a linguagem utilizada depende do grau de

intimidade entre o remetente e o destinatário. Contudo, o mais frequente é situar-se entre a língua

corrente e familiar, sendo o discurso predominantemente de primeira pessoa, com marcas de subjetividade

e emotividade do emissor.

A carta possui uma vertente literária, sempre que trata temas profundos e complexos e se registam

preocupações ao nível estético e da linguagem. Neste caso, trata-se do género epistolar, onde se inserem

as Cartas de António Ferreira; a Carta de Achamento do Brasil, de Pêro Vaz de Caminha, as Cartas a

Ramalho de Eça de Queirós, as Cartas a Sandra de Vergílio Ferreira, entre outras.

A cronologia também pretende ser a escrita da vida de uma determinada personalidade, através da

sucessão temporal de eventos ou factos. Distingue-se, no entanto, da biografia, pela sua estrutura e pelo

discurso utilizado.

- quanto à estrutura, a data (ano) é a primeira referência e aparece em tabela ou lista.

- quanto ao discurso, é essencialmente informativo e constituído por frases curtas e sintéticas;

- o tempo verbal utilizado é o presente.

Exemplo: CRONOLOGIA DE VERGÍLIO FERREIRA

1916 - Vergílio Ferreira nasce em Melo, concelho de Gouveia.

1926 - Entra no seminário do Fundão, que frequentará durante seis anos.

1932 - Deixa o seminário e acaba o Curso Liceal no Liceu da Guarda.

1936 - Entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

1940 - Conclui a sua Licenciatura em Filologia Clássica.

1942 - Começa a leccionar em Faro.

1944 - Passa a leccionar no Liceu de Bragança.

1945 - Ingressa no Liceu de Évora.

1946 - Casa-se com Regina Kasprzykowsky.

1980 – Lauro António realiza a longa-metragem Manhã Submersa, onde Virgílio Ferreira interpreta o papel

de reitor.

1992 - É eleito para a Academia das Ciências de Lisboa.

1996 - Morre em Lisboa, a 1 de Março.

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EXEMPLOS DE TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS

Sophia de Mello Breyner Andresen

Autobiografias

Nasci no Porto mas vivo há muito em Lisboa.

Durante a minha infância e juventude passava os verões na praia da Granja, de que falo em tantos dos

meus poemas e contos.

Estudei no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Porto, e quando tinha 17 anos inscrevi-me na Faculdade

de Letras de Lisboa, em Filologia Clássica, curso que, aliás, não terminei. Antes de 25 de Abril de 1974 fiz

parte de diversas organizações de resistência, tendo sido um dos fundadores da Comissão Nacional de

Socorro aos Presos Políticos.

Depois de 25 de Abril de 1974 fui deputada à Assembleia Constituinte (1975-1976) e detesto escrever

currículos...

[...]

Comecei a inventar histórias para crianças quando os meus filhos tiveram sarampo. Era no inverno e o

médico tinha dito que eles deviam ficar na cama, bem cobertos, bem agasalhados. Para isso era preciso

entretê-los o dia inteiro. Primeiro, contei todas as histórias que sabia. Depois, mandei comprar alguns livros

que tentei ler em voz alta. Mas não suportei a pieguice da linguagem nem a sentimentalidade da

"mensagem"; uma criança é uma criança, não é um pateta. Atirei os livros fora e resolvi inventar. Procurei a

memória daquilo que tinha fascinado a minha própria infância. Lembrei-me de que quando eu tinha 5 ou 6

anos e vivia numa casa branca na duna - a minha mãe me tinha contado que nos rochedos daquela praia

morava uma menina muito pequenina. Como nesse tempo, para mim, a felicidade máxima era tomar

banho entre os rochedos, essa menina marinha tornou-se o centro das minhas imaginações. E a partir

desse antigo mundo real e imaginário, comecei a contar a história a que mais tarde chamei Menina do Mar.

Os meus filhos ajudavam. Perguntavam:

- De que cor era o vestido da menina?

O que é que fazia o peixe?

Aliás, nas minhas histórias para crianças quase tudo é escrito a partir dos lugares da minha infância

in De que são feitos os sonhos

ATIVIDADES:

Mesmo antes de ler este texto já deves saber que um texto autobiográfico tem características próprias.

Em que pessoa se vai expressar a voz narrativa? a)

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Que parte do texto mais se assemelha a um curriculum vitae? E a um excerto autobiográfico? b)

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AUTOBIOGRAFIAS

Alberto Caeiro

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,

Não há nada mais simples

Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.

Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.

Vi como um danado.

Amei as coisas sem sentimento nenhum.

Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.

Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.

Page 11: Textos_autobiograficos

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Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;

Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.

Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.

Fechei os olhos e dormi.

Além disso, fui o único poeta da Natureza.

Alexandre O'Neil

HOMEM

INSOFRIDO TEMÍVEL ADAMADO PURO SAGAZ INTELIGENTÍSSIMO MODESTO RARO CORDIAL EFICIENTE CRITERIOSO

EQUILIBRADO RUDE VIRTUOSO MESQUINHO CORAJOSO VELHO RONCEIRO ALTIVO ROTUNDO VIL INCAPAZ

TRABALHADOR IRRECUPERÁVEL CATITA POPULAR ELOQUENTE MASCARADO FARROUPILHA GORDO HILARIANTE

PREGUI‚OSO HIEROMÂNTICO MALƒVOLO INFANTIL SINISTRO INOCENTE RIDÍCULO ATRASADO SOERGUIDO

DELEITÁVEL ROMÂNTICO MARRÌO HOSTIL INCR'VEL SERENO HIANTE ONANISTA ABOMINÁVEL RESSENTIDO

PLANIFICADO AMARGURADO EGOCÉNTRICO CAPAC'SSIMO MORDAZ PALERMA MALCRIADO PONDEROSO VOLÚVEL

INDECENTE ATARANTADO BILTRE EMBIRRENTO FUGITIVO SORRIDENTE COBARDE MINUCIOSO ATENTO JÚLIO

PANCRÁCIO CLANDESTINO GUEDELHUDO ALBINO MARICAS OPORTUNISTA GENTIL OBSCURO FALACIOSO MÁRTIR

MASOQUISTA DESTRAVADO AGITADOR RO'DO PODEROS'SSIMO CULT'SSIMO ATRAPALHADO PONTO MIRABOLANTE

BONITO LINDO IRRESIST'VEL PESADO ARROGANTE DEMAGÓGICO ESBODEGADO ÁSPERO VIRIL PROLIXO AFÁVEL

TREPIDANTE RECHONCHUDO GASPAR MAVIOSO MACACÌO ESFOMEADO ESPANCADO BRUTO RASCA PALAVROSO

ZEZINHO IMPOLUTO MAGNÂNIMO INCERTO INSEGURÍSSIMO BONDOSO GOSMA IMPOTENTE COISA BANANA

VIDRINHO CONFIDENTE PELUDO BESTA BARAFUNDOSO GAGO ATILADO ACINTOSO GAROTO ERRADÍSSIMO

INSINUANTE MELÍFLUO ARRAPAZADO SOLERTE HIPOCONDRÍACO MALANDRECO DESOPILANTE MOLE MOTEJADOR

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ACANALHADO TROCA TINTAS ESPINAFRADO CONTUNDENTE SANTINHO SOTURNO ABANDALHADO IMPECÁVEL

MISERICORDIOSO VOLUPTUOSO AMANCEBADO TIGRINO HOSPITALEIRO IMPANTE PRESTÁVEL MOROSO

LAMBAREIRO SURDO FAQUISTA AMORUDO BEIJOQUEIRO DELAMBIDO SOEZ PRESENTE PRAZENTEIRO BIGODUDO

ESPARVOADO VALENTE SACRIPANTA RALHADOR FERIDO EXPULSO IDIOTA MORALISTA MAU NÌO TE RALES

AMORDA‚ADO MEDONHO COLABORANTE INSENSATO CRAVA VULGAR CIUMENTO TACHISTA GASTO IMORALÌO

IDOSO IDEALISTA INFUNDIOSO ALDRABÌ0 RACISTA MENINO LADRADOR POBRE DIABO ENJOADO BAJULADOR VORAZ

ALARMISTA INCOMPREENDIDO VÍTIMA CONTENTE ADULADO BRUTALIZADO COITADINHO FARTO PROGRAMADO

IMBECIL CHOCARREIRO INAMOVIVEL...

Auto-retrato

O'Neill (Alexandre), moreno português,

cabelo asa de corvo; da angústia da cara,

nariguete que sobrepuja de través

a ferida desdenhosa e não cicatrizada.

Se a visagem de tal sujeito é o que vês

(omita-se o olho triste e a testa iluminada)

o retrato moral também tem os seus quês

(aqui, uma pequena frase censurada...)

No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)

e tem a veleidade de o saber fazer

(pois amor não há feito) das maneiras mil

que são a semovente estátua do prazer.

Mas sobre a ternura, bebe de mais e ri-se

do que neste soneto sobre si mesmo disse...

Poemas com endereço (1962)

ATIVIDADES:

1. Apresenta, a partir deste poema de O'Neill, a apresentação dos seus traços:

Físicos a)

Morais b)

Afetivos c)

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2. Dá a tua opinião sobre a forma como o sujeito poético se refere:

ao seu retrato moral a)

ao amor b)

Adaptado da Internet

Revê, por favor, estes vídeos para consolidar/verificar algumas informações sobre

esta unidade.

http://www.youtube.com/watch?v=3nLtHcLwSuI&feature=related

''Autobiografia de mim mesmo, à maneira de mim próprio'', por Rolando Boldrin

http://www.youtube.com/watch?v=w9UU5ZWb3WU

Autobiografia

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=xVkc-0cI91o

Conhece a história de Anne Frank!