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TÍTULOS DE CRÉDITO PROFESSOR: CLÁUDIO CALO 2004 / 2005 1 a aula 04/11/2004 Livros que o professor indica: Professor Luis Emydio Ed. Renovar; (é o melhor) Fran Martins, Títulos de Crédito - volume I e volume II; Rubens Requião – Títulos de Crédito. Salvador Paes de Almeida Fabio Ulhoa Coelho LEGISLAÇÃO: (TC = TÍTULOS DE CRÉDITO) Letra de Câmbio (LC) e Nota Promissória (NP)= Decreto 57663/66 que é a Lei Uniforme de Genebra -> LUG e há também o Decreto 2044/1908 que está parcialmente revogado, como veremos adiante. Cheque – Lei 7357/85 (o Decreto 57595/66 é uma lei uniforme sobre cheque que, segundo o STF, se aplica subsidiariamente à lei do cheque, pq este decreto é oriundo de um tratado internacional e anterior à lei do cheque); Duplicata = Lei 5474/68; Conhecimento de Depósito e Warrant = Decreto 1102/1903; (são títulos de crédito armazeneiros pq estão relacionados aos armazéns em geral); Conhecimento de transporte = Decreto 19473/30 1

TÍTULOS DE CRÉDITO - Claudio Calo

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TÍTULOS DE CRÉDITO

PROFESSOR: CLÁUDIO CALO

2004 / 2005

1a aula

04/11/2004

Livros que o professor indica:

Professor Luis Emydio Ed. Renovar; (é o melhor)

Fran Martins, Títulos de Crédito - volume I e volume II;

Rubens Requião – Títulos de Crédito.

Salvador Paes de Almeida

Fabio Ulhoa Coelho

LEGISLAÇÃO:

(TC = TÍTULOS DE CRÉDITO)

Letra de Câmbio (LC) e Nota Promissória (NP)= Decreto 57663/66 que

é a Lei Uniforme de Genebra -> LUG e há também o Decreto 2044/1908 que

está parcialmente revogado, como veremos adiante.

Cheque – Lei 7357/85 (o Decreto 57595/66 é uma lei uniforme sobre

cheque que, segundo o STF, se aplica subsidiariamente à lei do cheque, pq

este decreto é oriundo de um tratado internacional e anterior à lei do cheque);

Duplicata = Lei 5474/68;

Conhecimento de Depósito e Warrant = Decreto 1102/1903; (são

títulos de crédito armazeneiros pq estão relacionados aos armazéns em geral);

Conhecimento de transporte = Decreto 19473/30

Títulos de Credito Rurais (NP rural e Duplicata rural) = Decreto 167/67

(são títulos de financiamento, procuram financiar a atividade rural)

Novo Código Civil – art. 887 e seguintes

Vejamos alguns artigos importantes do NCC:

O art. 903 do NCC é o artigo mais importante do NCC pq ele indica que o

NCC só será utilizado quando não houver legislação especial sobre o tema. Ou

seja, o NCC será utilizado em ultimo lugar. Primeiro é preciso observar a lei

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especial. Se esta for omissa, ou se ela não puder ser aplicada, o NCC será

aplicado, subsidiariamente, à matéria cambiária.

EX: a Lei 5474/68 é uma lei que contém poucos artigos. Se esta lei for

omissa é preciso olhar para o art. 25 da própria lei 5474/68 que dispõe que nas

omissões desta lei, aplicam-se os atos normativos que regulam as LC. Então,

havendo omissão na lei da duplicata será aplicada a LUG e se ainda assim

continuar havendo omissão será aplicado o NCC. Por esta razão é que as

duplicatas são consideradas TC cambiariformes, pq é TC equiparado,

assemelhado à Letra de Câmbio.

O art. 903 do NCC deve ser lido com muito cuidado.

Ele diz que em primeiro lugar aplica-se a lei especial. Apenas no que a

lei especial for omissão ou quando a lei especial não puder ser aplicada, é que

o NCC será aplicado.

EX: ENDOSSO - A Lei prevê que os cheques não podem ser ao portado

caso o valor do cheque seja superior a 100 reais. Mas o NCC, no seu art. 904,

prevê a possibilidade do cheque ser ao portador. A maioria dos alunos pensa

que o NCC por ser posterior à lei do cheque teria revogado a lei 7357/85,

entretanto isto está errado. Vejam que o art. 907 do NCC diz que é nulo o TC

emitido ao portador em desacordo com a legislação especial. Então, alem do

art. 903 há também o art. 907 do NCC que nos manda aplicar a lei especial e

somente subsidiariamente que o NCC será aplicado.

Façam remissão do art. 907 do NCC ao art. 2 da lei 8021/90; art. 69 da

lei 9069/95; art. 19 da lei 8088/90.

EX: AVAL PARCIAL - Art. 897, PU do NCC fala em aval como garantia do

pagamento do valor constante no TC. E o parágrafo único diz expressamente

que é vedado o aval parcial. Então imaginemos a seguinte situação:

A emite uma NP à B e promete pagar à B 100 reais.

C assina a NP e esta assinatura garante o pagamento desta NP. C não

disse quanto ele garantia. Se não disse é pq ele garantiu o pagamento integral

daquele TC. Mas fora do TC o C fala para B que só está garantindo 50 reais.

Pergunta-se: é possível o aval parcial no direito brasileiro? Sendo

possível, neste caso apresentado seria possível? Por quê?

2

No direito brasileiro o aval parcial é permitido em algumas hipóteses. Se

há um titulo atípico que não possui lei especial o regulando, aplica-se o NCC e

neste caso o aval parcial é proibido. Mas se há um titulo típico, com lei especial

o regulando e permitindo o aval parcial, neste caso há a possibilidade do aval

parcial. Tudo depende da lei que regulará o Título. O NCC vedou o aval parcial,

mas não é em todos os casos que o NCC será aplicado. O NCC não se aplica à

LC nem à NP, nem ao cheque, porque estes títulos possuem lei especial.

A LUG diz que é possível haver o aval no todo ou em parte. Logo,

prevalece o art. 30 da LUG (que é uma lei especial) e não o art. 897, PUnico do

NCC. É possível o aval parcial pq prevalece a lei especial e o art. 30 da LUG é

expresso neste sentido. Entretanto, neste caso concreto, o aval parcial não

seria possível pq o C não colocou no corpo do Titulo que aquele aval é parcial.

Prevalece o Principio da Literalidade, ou seja, vale o que está escrito no Título

de Crédito. E mesmo nos casos em que é permitido o aval parcial, este deve

estar escrito no Titulo de Crédito, em razão do princípio da literalidade.

Em matéria cambiária, a legislação exige que a assinatura seja feita em

determinados locais do Título. Desta forma, a simples assinatura na face (na

frente) do título caracteriza o aval. A assinatura no verso corresponde ao

endosso. Mas nada impede que alguém assine no verso do título e escreva ao

lado desta assinatura que ela corresponde a um aval. Neste caso o aval valerá

da mesma forma, desde que seja indicado que se trata de um aval. Isto tudo

existe justamente em razão do principio da literalidade.

Outro artigo do NCC que é muito importante é o art. 914 que trata dos

Títulos à Ordem.

Os TC circulam através da simples tradição. Os contratos não são TC

propriamente ditos. É possível a transmissão dos créditos decorrentes de um

contrato através da cessão ordinária de crédito, que é um instituto do direito

civil. Nos TC a transferência dos direitos ao crédito se dá através de endosso.

De acordo com o art. 914 do NCC, em regra o endossante (aquele que

transfere o Titulo de Credito ) não garante o pagamento, salvo se houver

cláusula expressa no TC dispondo em contrário.

Exemplo: A é o emitente de uma NP que promete pagar à B o valor

descrito na NP. B é o credor de A. Ocorre que o B está devendo exatamente

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aquela quantia ao C. Para pagar a sua dívida com C, o B endossa aquela NP

para o C (endossatário que recebe o TC). O devedor propriamente dito é o A

(devedor principal).

O art. 914 do NCC diz que em regra, quando o B endossa o TC para o C

ele não garante o pagamento, ele garante apenas a existência da obrigação,

tal como disposto no art.295 do NCC. Logo, de acordo com o art. 914 do NCC o

B não é devedor cambiário pq ele apenas endossou o TC. Para que B fosse

devedor cambiário ele teria que assinar aquele TC e escrever ao lado de sua

assinatura que iria garantir o pagamento.

Ocorre que a lei especial dispõe justamente o contrário. A lei especial

dispõe que o endosso garante tanto a existência como o pagamento do título

de credito, salvo se houver expressa disposição em contrário.

Ora, o art. 914 do NCC só será aplicado se não houver lei especial

regulando o endosso. Se o B tivesse endossado para o C um TC atípico que não

tivesse lei especifica, haveria a aplicação do art. 914 do NCC e neste caso sim,

o endosso não garantiria o pagamento. Entretanto o TC em questão era uma

NP e este TC tem lei especial regulando-o. Por sua vez, a lei especial é

expressa ao dizer que, em regra o endosso garante tanto a existência como

também o pagamento do TC, salvo se houver disposição em contrário. Logo,

neste caso aplica-se a lei especial e o B irá garantir o pagamento, eis que de

acordo com a lei especial, o B só estaria livre do pagamento se houvesse

disposição expressa neste sentido. Sendo assim, o C que é o credor deste TC

poderá cobrar tanto de A como de B. Para cobrar de A (devedor principal) o C

precisará apenas apresentar o TC, entretanto para cobrar de B que é o

endossante e devedor cambiário indireto, o C precisará protestar o TC.

Então, eu lhes pergunto:

O C (credor) cobra do A o valor daquele TC (amigavelmente), entretanto

A não paga. C após protestar o TC poderá ingressar com uma ação contra

ambos. Entretanto ele ingressa com uma ação apenas em face do B,

endossante, que é o devedor cambiário indireto. Neste contexto, pode o B

chamar o A para ingressar no processo, ao argumento de que há solidariedade

entre os credores, com fundamento no art. 77, III do CPC? Ou seja, cabe a

intervenção de terceiros nesta hipótese?

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Essa resposta será dada na próxima aula!!! Só há um livro que trate

deste assunto.

Façam remissão no art.914 NCC, ao art. 21 da lei 7357/85, ao art. 15

da LUG, ao art. 25 da Lei das Duplicatas, e art. 295 do NCC e art. 12, §1 da lei

da duplicata e ao art. E art. 903 do NCC. => Estes artigos que estão fora do

art. 914 do NCC dispõem que o endossante em regra garante o pagamento,

salvo se houver disposição em contrário.

TÍTULOS DE CRÉDITO PRÓPRIOS

Os TC próprios têm a finalidade de documentar (representar,

materializar) um crédito. O crédito é materializado através de um cheque, ou

de uma letra de cambio, ou de uma nota promissória... O TC próprio

materializa o próprio crédito (ao passo que os TC impróprios materializam

outros direitos, como veremos adiante).

CONCEITO ECONÔMICO DE CRÉDITO: “Crédito é a possibilidade de se

utilizar no presente de um recurso próprio ou de terceiro que estará disponível

no futuro”. É o que os alunos fazem aqui no Master quando emitem o popular

cheque “pré-datado”. Na verdade o que a maioria das pessoas chama de

cheque pré-datado é um cheque pós-datado. O aluno emite um cheque hoje e

esse pagamento só será efetuado daqui a um mês, ou seja, o aluno coloca uma

data para o futuro. O termo pré-datado é usual no comércio. Mas não é a

expressão correta. Até existe o cheque pré-datado, é aquele em que você

emite hoje com uma data anterior, emite o cheque hoje com data de ontem ou

de um mês atrás. Isso sim é o cheque pré-datado. O cheque que vocês

emitiram hoje datado para daqui a um mês para pagar este curso, na verdade

é um cheque pós-datado. O problema do cheque pré-datado propriamente dito

é que o prazo de apresentação dele é menor pq a data constante no titulo é

anterior à data da emissão, e como vale o que está escrito (literalidade), o

prazo para a apresentação daquele cheque será contado a partir da data que

constar no cheque, ainda que esta data seja anterior à data da sua emissão.

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O importante deste conceito econômico é que vocês saibam que o

crédito tem dois elementos cumulativos: Fidúcia (confiança) e tempo.

Vejam bem, o art. 32 da lei do cheque diz que o cheque é ordem de

pagamento a vista. Do ponto de vista cambiário, ninguém está obrigado a

aceitar um cheque para ser apresentado apos 1 mês, 2 meses após a sua

emissão. Entretanto, em razão da confiança, nada impede que exista acordo

entre as partes para que aquele cheque seja apresentado no decorrer de certo

tempo.

Vamos analisar agora os TC próprios em seu sentido mais restrito.

Nos TC em sentido amplo, os créditos decorrem da vontade, como por

exemplo, o contrato de locação, o carnê das Casas Bahia, etc ...

Os TC em sentido estrito são TC em virtude da lei ou por possuir

atributos cambiários.

Atributo do TC é tudo aquilo que é inerente ao TC.

EX: A lei de cheque, em momento nenhum diz que o cheque é um TC.

Entretanto o art. 1 diz o que o cheque deve conter. Aí está estampado o

principio da literalidade. O art. 13 diz que as obrigações contraídas através do

cheque são autônomas e independentes e aí está estampado o principio da

autonomia dos TC. O art. 17 trata do endosso, que é um instituto próprio das

operações cambiárias. O art. 21 trata do aval que é outro instituto próprio das

operações cambiárias. Autonomia e literalidade, endosso e aval são atributos

dos TC. Ora se o cheque possui atributos de TC é pq ele pode ser considerado

um TC.

A finalidade dos Títulos de Créditos é conferir segurança aos credores.

Se o Título não for pago, o credor poderá executar o devedor.

CONCEITO JURÍDICO DE TÍTULO DE CRÉDITO => Está no art. 887 do

NCC.

Este artigo copia o conceito de Vivant, que analisou o TC sob o aspecto

jurídico e não sob o aspecto econômico. O aspecto econômico do TC foi

analisado por José Maria __(não entendi)___ .

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Título de Crédito é um documento formal necessário ao

exercício do direito literal e autônomo nele mencionado

(aspecto jurídico – Cezar Vivant – art. 887, NCC), capaz de

realizar imediatamente o seu valor (aspecto econômico).

O art. 887 NCC prevê na sua parte final que os TC somente produzem

efeitos quando preenchidos os requisitos da lei. Ora, esta frase final significa os

TC devem obedecer aos requisitos essenciais previstos em lei, pois somente

quando estes requisitos forem respeitados é que o TC produzirá efeitos. Os

requisitos essenciais dos TC estão nas leis específicas de cada TC. Desta forma,

o cheque tem seus requisitos essenciais mencionados na lei do cheque. A NP e

a LC possuem requisitos essenciais dispostos na LUG etc...

Normalmente as leis cambiárias colocam logo no art. 1 todos os

requisitos do TC (essenciais ou não essenciais) e depois lá no meio da lei, ou

logo no artigo subseqüente as leis dizem quais são os requisitos não essenciais

ou os essenciais.

Por exemplo: o Art. 1 do anexo I da LUG diz o que contem uma Letra de

Cambio. Logo no art. 2o há menção aos requisitos que a lei suprirá caso não

conste na LC. Por exemplo: a LC que não indique a data do pagamento será

considerada pagável a vista. A não indicação da data do vencimento não

descaracteriza a LC.

Por exemplo: A esteve num papel que promete pagar esta Promissória

(não escreve nota promissória). O nome do Título é um requisito essencial que

não pode ser suprido pela lei. Logo, a falta deste requisito descaracteriza a NP

e o credor terá que ingressar com uma ação monitória para formar o título

executivo e assim, poder executar aquele valor.

Fazer remissão: na palavra “efeito” do art. 887, NCC, puxe uma seta e

combinem com o art. 1102-A, do CPC e com o art. 585 do CPC para saberem

que o efeito a que se refere o art. 887 CPC é o efeito executório dos TC.

11/11/04

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“Título de Crédito é um documento formal necessário

ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado,

capaz de realizar imediatamente o seu valor (aspecto

econômico)”

A expressão “nele contido” descrita no art. 887 do NCC é uma expressão

que deve ser lida com cuidado. O art. 36 do Dec 2044/08 prevê a possibilidade

de ser proposta ação para ser exercido o direito mencionado no TC mesmo

após a sua destruição. AÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO DE TÍTULO NOMINAL

EXTRAVIADO OU DESTRUÍDO! Esta ação vai permitir que o titular do direito

mencionado no TC o exerça. Esta é uma situação excepcional prevista para os

casos em que o TC for extraviado ou destruído. Então, na palavra contido,

escrita no art. 887 NCC façam uma remissão ao art. 36 do Decreto 2044/08.

Para determinado documento ter eficácia cambiária e eficácia executiva,

é necessário que o documento preencha os requisitos da lei. E isto se chama

formalismo.

Caso o documento não contenha os requisitos da lei será necessária a

propositura de uma ação de conhecimento ou uma ação monitória a fim de que

se forme o titulo executivo.

A ação de execução fundada em um TC é chamada de ação cambiária.

Para ser uma ação cambiária, o titulo que fundamenta esta ação tem que

preencher os requisitos da lei.

Combinar o art. 887 do NCC com o art. 585 do CPC e com a Sumula

387 do STF.

EX: A quer emitir uma NP para B e escreve num papel em branco que

promete pagar àquela “PROMISSÓRIA” à B, e, além disso, escreve a data de

vencimento, a quantia devida, a assinatura do emitente, credor identificado e a

data de emissão da NP. Entretanto, este documento não possuía o nome do

Título. Ou seja, em nenhum momento o A escreveu qual era este Título que

ele estava emitindo para o B. Ele apenas escreveu que prometia pagar uma

promissória. Não escrever que prometia pagar uma “Nota Promissória”. Este

documento pode fundamentar uma ação cambiária?

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O art. 887 do NCC em sua parte final diz que o TC somente produz efeito

se preencher os requisitos da lei. Esta frase nos diz que para sabermos se a NP

produzirá os efeitos cambiários precisaremos olhar a lei que trata da NP. A lei

que trata da NP é a LUG que em seu art. 75 dispõe sobre os requisitos da NP.

Pelo art. 75 da LUG nós podemos observar que está faltando um requisito

exigido pela lei, que é o nome do título. Ora, se falta um requisito ao TC é pq

ele não poderá produzir os seus devidos efeitos. Neste caso não será possível

executar o A fundamentando a ação neste documento. Para que B possa

executar o A ele terá que formar um título executivo e a ação adequada para

isto é a ação monitória. Por esta razão que é preciso combinar o art. 1102-A do

CPC com o art. 887 NCC. Se o documento não preencher os requisitos da lei

ele não será hábil para fundamentar uma ação cambiária, mas poderá ensejar

a propositura de ação monitória.

O nome do título é importante para que se saiba qual a lei que regulará

a matéria. A falta deste requisito desafia ação monitória para a formação do

titulo executivo, pois embora a NP não seja um TC padronizado, (NP pode ser

constituída em qualquer papel) ela exige que sejam atendidos todos os seus

requisitos essenciais para que se transforme num TC.

TC é documento formal pq ele tem que atender aos requisitos

essenciais, sob pena de perder a sua eficácia cambiária. Quem

diz quais são os requisitos essenciais dos TC é a lei.

Existem três requisitos que são essenciais a quase todos os TC:

Nome do titulo, para saber a legislação aplicável;

Data de emissão, para saber se o emitente estava vivo na época da

emissão e para saber se o emitente na época da emissão era capaz.

Assinatura, para saber quem é o emitente, garantidor, endossante.

Existem requisitos que não são essenciais aos TC, ou seja,

são requisitos supríveis. A falta de um requisito não essencial

não descaracteriza aquele documento como sendo um TC. Em

outras palavras, o documento não deixa de ser um TC caso

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falte um requisito não essencial. E isto se dá porque a própria

lei supre a falta destes requisitos não essenciais.

Data de vencimento é um requisito dos TC. Entretanto a data de

vencimento é um requisito não essencial à NP. Faltando a data de vencimento,

a lei diz que a NP passará a ser a vista. Então, a lei supre a falta deste requisito

dizendo que na falta de data de vencimento, a NP vencerá a vista, ou seja, na

data em que for apresentada para pagamento. Se o legislador supriu a falta do

requisito “data de vencimento” é pq este requisito não é essencial.

Para saber quais são os requisitos não essenciais, é preciso ler a lei.

Normalmente os requisitos essenciais dos TC, via de regra, estão logo

nos primeiros artigos da sua respectiva lei. E no artigo subseqüente a lei dirá

quais são os requisitos supríveis. Ou seja, a própria lei dirá que a falta de

alguns requisitos será suprida de acordo com o que estiver estabelecido na

própria lei.

Vamos ver, por exemplo, a lei do cheque – Lei 7357/85, art.1, caput diz:

“O cheque contém:” e os incisos deste artigo 1o enumeram todos os requisitos

do cheque. Ocorre que com a simples leitura do art. 1o não saberemos quais os

requisitos essenciais e quais os requisitos não essenciais. Para sabermos isto

precisaremos olhar para o artigo subseqüente. O art. 2 da lei do cheque nos diz

quais são os requisitos supríveis pela lei.

Vejam o art. 1, inciso I exige a denominação “cheque”, que é o

nome do título. O inciso II diz que é requisito do cheque a ordem incondicional

de pagar uma quantia. Não é admissível que o cheque contenha qualquer

condição para que se realize o pagamento. O inciso III exige que o cheque

contenha o nome do banco ou da instituição financeira que deva pagar o

cheque - onde está a palavra instituição financeira, façam uma remissão ao

art. 17 da lei 4595/64. O inciso IV exige que o cheque contenha a indicação do

lugar do pagamento. O inciso V exige a data e lugar da emissão. E o inciso VI

exige a assinatura do emitente.

O art. 2 supre a falta de alguns destes requisitos elencados no art. 1.

O inciso I do art. 2 supre a falta da indicação do lugar do pagamento,

logo, este é um requisito não essencial. O inciso II do art. 2o supre a falta da

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indicação do lugar do pagamento, previsto no art.1, V da lei 7357/85, logo,

este é outro requisito não essencial.

PERGUNTA: Em que momento os requisitos essenciais devem constar

na cártula do TC?

A sumula 387 do STF diz que os requisitos essenciais devem constar na

cártula, no documento. Mas se faltar algum requisito, a falta deve ser suprida

antes do protesto ou antes da cobrança.

Combinar a sumula 387 do STF com o art. 891 do NCC e com o art. 1

do Decreto 2044/08, para saberem que mesmo faltando um requisito essencial,

o TC pode circular e o TC terá eficácia cambiária desde que os requisitos sejam

preenchidos antes da cobrança ou do protesto.

TC em branco e TC incompleto:

No TC incompleto os requisitos não são preenchidos involuntariamente.

EX: sujeito esqueceu de preencher um requisito.

No TC em branco os requisitos não são preenchidos voluntariamente.

Ex: O sujeito não colocou no TC um requisito exigido pela lei, pq não quis.

PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE:

O TC é um documento que representa um direito. O direito deve estar

representado, incorporado em um papel, em um documento, em uma cártula.

Os TC são documentos formais pq eles representam direitos e precisam

obedecer a algumas formas previstas em lei.

Via de regra o TC representa um direito de crédito. Os TC próprios

representam sempre o direito de crédito. Pode existir um TC que represente

outro direito, diferente do direito de crédito, neste caso, temos os TC

impróprios, um documento formal que documenta outro direito, que não é o

direito de crédito, como por exemplo, o direito pignoratício, o direito de

propriedade etc...

PRINCÍPIO DA LITERALIDADE:

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Os TC são documentos formais que representam um direito. O principio

da Literalidade significa que vale o que estiver escrito no TC. Ou seja, o que

não estiver no TC não está no mundo cambiário. O TC não pode representar

um direito que não esteja nele previsto. (O pensamento é idêntico ao que

ocorre no processo, pois o que não estiver nos autos não servirá de

fundamento para a sentença).

Exemplo: Se eu te devo 500 reais e emito uma NP em seu favor onde

digo que prometo pagar 50 reais, você só poderá me cobrar através desta NP

os 50 reais que estão escritos na cártula. (Os outros 450 reais que eu te devo,

você terá que cobrar de outra forma, pois nos TC só vale o que estiver escrito).

Em princípio todas as assinaturas constantes na cártula são importantes,

ou seja, não há assinaturas inúteis, conseqüentemente para uma pessoa se

vincular à relação jurídica cambiária, é necessário que assine na cártula.

Exemplo: X quer avalizar uma NP. Ele pode escrever na NP a seguinte

expressão: “avalizo o título” e assina em seguida. Mas também é possível que

o X apenas assine na face do título, sem colocar expressão nenhuma ao lado

de sua assinatura e isto equivalerá ao aval.

Exemplo: Y quer endossar o TC para W. Para tanto ele poderá apenas

assinar o verso da cártula e esta assinatura equivalerá ao endosso. Mas nada

impede que ao lado de sua assinatura ele escreva a expressão “pague à W”.

Então, a simples assinatura na cártula manifesta uma declaração de

vontade relacionada àquela relação cambiária. A assinatura tem que estar na

cártula em razão do princípio da cartularidade.

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA:

TC é documento formal, necessário ao exercício de um direito literal e

autônomo, nele mencionado (art. 887 NCC, primeira parte).

Princípio da autonomia é o princípio segundo o qual as

obrigações cambiárias (constantes no TC) são autônomas e

independentes (art.13 da lei 7353/85), ou seja, eventuais defeitos

ou vícios intrínsecos ou não visíveis, existentes em uma obrigação

não contaminam as demais obrigações cambiárias, tendo cada

devedor cambiário (avalista, emitente, endossante) a sua própria

obrigação cambiária, embora sejam devedores solidários.

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Exemplo: A é locador e celebra contrato de locação com o locatário B

em que Y presta fiança para garantir a obrigação constante no contrato de

locação. Neste contrato há uma obrigação principal de A com B e uma

obrigação acessória de Y com A. Se A não cumprir o contrato, B poderá

executar o A. Se Y renunciou ao benefício de ordem, B poderá executar tanto

o A como o Y pq ambos se obrigaram ao pagamento daquela obrigação. O B

poderá executar os dois, como pode escolher qualquer um dos dois para

executar. Na fiança não existe o principio da autonomia pq a fiança não é um

instituto cambiário. Na fiança incide o principio da acessoriedade onde o

contrato acessório segue o principal. Se o B executar o Y, ele pode em sua

defesa alegar que não vai pagar pq o contrato de locação celebrado entre A e

B (contrato principal) é um contrato nulo pq A foi compelido, obrigado a

assinar aquele contrato de locação com B que ameaçou matar a mãe de A..

Nos TC isso não seria possível. Eventuais vícios intrínsecos do TC não

contaminam as demais obrigações.

A emite uma NP em favor de B pq este está ameaçando matar a mãe do

A caso ele não emita aquela NP em favor do B. A emite a NP e pede o aval

para Y. Então, Y concorda e se torna o avalista de A. Neste contexto, B ajuíza

uma ação cambiária em face do A. Cabe ao A embargar a execução e alegar o

vício de consentimento. Este vício é uma defesa pessoal que A tem contra o B.

Mas se o B resolve executar o Y, este não poderá alegar o vício existente no

momento da formação do TC. Trata-se de um vício intrínseco do TC. Vício

intrínseco é aquele que não pode ser verificado com a mera análise do título.

vício intrínseco não contamina a obrigação. Ou seja, o Y não poderia embargar

a execução alegando o vício existente de A com B justamente por causa do

princípio da autonomia.

Seria diferente se houvesse algum vício de forma, como por exemplo, a

falta de algum requisito essencial do TC. Neste caso caberiam os embargos

para opor aqueles defeitos extrínsecos, defeitos que podem ser verificados

com a mera análise do TC.

PRINCÍPIO DA INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES:

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As defesas pessoais podem ser opostas. Mas nenhum obrigado poderá

se utilizar de defesas pessoais de outros co-obrigados.

Na verdade a inoponibilidade das exceções é um sub-principio do

princípio da autonomia. Ele indica que nenhum co-obrigado pode utilizar

exceções pessoais de terceiros para eximir-se da sua própria obrigação.

Neste exemplo acima nós verificamos que o Y não poderia alegar o vício

existente entre A e B. esta vedação decorre do principio da inoponibilidade das

exceções. Ou seja, o Y querendo se desobrigar não poderia se utilizar de uma

defesa pessoal do A.

Com base nisso, vou fazer uma questão para ser respondida em casa:

Qual o tipo de cognição dos embargos à execução, propostos no

processo de execução fundado em título executivo extrajudicial, precisamente,

de um TC em que se faz presente o princípio da autonomia? Exige-se cognição

ampla?

CONTRATO DE FACTORING

O contrato de factoring é um negocio jurídico bilateral em que

uma das partes denominada factorizada, visando obter capital de giro

(liquidez), transfere à outra parte, denominada Factorizador, títulos de crédito

a prazo, mediante o pagamento de uma remuneração denominada comissão,

tendo o factorizador que assumir o risco de os devedores originários do título

não pagarem os títulos no vencimento. O risco é inerente à este contrato.

Portanto, não pode o Factorizador cobrar a importância constante nos títulos

do factorizado eis que este não garante o pagamento. No entanto, na prática é

comum o factorizador, quando da celebração do contrato, exigir do factorizado

a emissão de uma NP com o fim de garantir o negócio jurídico realizado, pois

se os devedores originários não pagarem o título, o factorizador poderá

executar a NP em desfavor do factorizado, inclusive é comum o requerimento

de falência do factorizado com base na NP protestada. Neste caso, a suposta

NP apesar de ser um documento, não tem eficácia executiva, pois o título

executivo tem como atributos a liquidez e a certeza, ou seja, a obrigação nele

constante deve ser certa quanto à existência e determinada quanto ao valor.

14

Neste caso, como o risco é inerente ao factoring, bem como pelo fato do

factorizado não garantir a obrigação quanto à certeza da NP.

EX: Di Santini é credora de vários TC a prazo, mas precisa de dinheiro agora

para renovar o seu estoque. Ela tem 100.00 reais em TC a prazo e precisa de

dinheiro vivo. Para tanto, a Di Santini vai realizar um contrato de factoring com

uma sociedade de fomento mercantil, que é chamada de factorizador. A

Sociedade de fomento mercantil vai pegar aqueles 100.000 reais da Di Santini

traduzidos em TC a prazo e vai pagar, à vista, 80.000. Quando isso acontece a

sociedade de fomento passa a ser a credora daqueles TC. Caso o devedor do

TC não pague, a sociedade de fomento não poderá cobrar da Di Santini pq o

risco é inerente ao contrato de factoring. Ou seja, a sociedade de fomento só

poderá cobrar aqueles créditos dos devedores originários e não poderá

executar a Di Santini.

Como há este risco inerente ao contrato de factoring as sociedades de

fomento via de regra, fazem uma NP como garantia de que aqueles créditos

sejam pagos. A Di Santini seria a emitente desta NP e a sociedade de fomento

seria a beneficiária. Uma vez que aqueles TC objeto do contrato de factoring

não foram pagos, a sociedade de fomento pega a NP e executa a Di Santini,

que emitiu a NP. Mas isso não é possível!!! Essa NP não poderá servir de

fundamento para a execução pq lhe falta liquides.

O TC representa uma dívida líquida e certa. Certa quanto à existência e

determinada quanto ao valor.

Ou seja, não existe obrigação do factorizado de garantir o valor daqueles

TC negociados. Ele só possui a obrigação de garantir a existência dos TC

negociados.

Para obter capital de giro, o factorizado transfere ao factorizador Títulos

com vencimento a prazo, recebendo antecipadamente um valor. Neste

contrato, chamado de factoring há o elemento risco, que é inerente ao

contrato.

Há controvérsia se o contrato de factoring tem natureza bancária, ou

seja, se o factorizador tem que ser instituição financeira, havendo duas

posições:

15

1) De Lucca entende que se trata de um contrato bancário, sendo o

factorizador considerado uma instituição financeira, pois esta instituição

financeira, precisamente as suas operações, também tem o risco como uma

das suas características, o que é inerente ao factoring. (Livro: Obrigações e

contratos da Falência – Ed. Renovar)

2) Penalva Santos entende que não se trata de contrato bancário e,

portanto o Factorizador não é instituição financeira, este apenas antecipa um

valor, mediante o recebimento de uma remuneração, porém não intermedia

nem aplica recursos financeiros de terceiros, bem como não mantém em

custódia valores pecuniários, ou seja, não se adequa ao conceito de instituição

financeira do art. 17 da lei 4595/64. O outro argumento desta posição é a LC

105/01 que trata do sigilo. O art. 1 da LC 105 elenca as instituições financeiras

pára os efeitos da LC 105. no art. 1, §2 da LC 105/01 trata das empresas de

factoring (empresas de fomento mercantil) e diz que elas são equiparadas à

instituições financeiras. Ora, se elas são equiparadas às instituições financeiras

é pq elas não são instituições financeiras. A lei apenas equipara o factorizador

às instituições financeiras, demonstrando assim que não se confunde com

estas ultimas, pois do contrário, não precisaria estender a disciplina jurídica.

O contrato de factoring não se confunde com a operação de desconto

bancário, pois esta operação envolve necessariamente uma instituição

financeira e a transferência se faz mediante endosso, significando que o credor

originário garante o pagamento, o que não ocorre no factoring.

18/11/04

1a questão que caiu no MP (15/11/04):

Cristiano emitiu um cheque no valor de 5.000 reais em favor de Marlene.

Esta emissão ocorreu em 10/10/2003 para pagamento na mesma praça.

Marlene guardou o cheque consigo e em 16/11/2003 fez um endosso em favor

de Roberto. Com o cheque em seu poder, Roberto moveu ação cambiária em

face de Cristiano. Após assegurar o juízo, Cristiano propôs embargos à

execução argüindo e comprovando ter pago diretamente à Marlene 2.500 reais

no dia 13/11/2003. Roberto, embargado, argumentou que o pagamento parcial

16

do cheque não poderia ser oposto contra ele em razão das normas de direito

cambiário.

Bom, a resposta aqui não é o gabarito pq não se sabe o que o

examinador quer.

O principio da autonomia significa que as obrigações cambiárias são

autônomas e independentes. Ou seja, os vícios intrínsecos em uma obrigação

cambiária não se estendem às demais obrigações. Os vícios intrínsecos não se

propagam. Apenas os vícios extrínsecos se propagam e podem ser opostos. Do

princípio da autonomia decorre o princípio da inoponibilidade das exceções

pessoais, ou seja, uma defesa pessoal sua em relação ao devedor é uma

defesa autônoma e não pode ser oposta à terceiros. Só pode ser oposta ao

próprio devedor.

Quando o título circula através de endosso tempestivo, incide o

principio da autonomia. Endosso tempestivo é aquele realizado antes do

protesto ou, antes do prazo para o protesto. O endosso tempestivo tem o

efeito purificador, ou seja, havendo o endosso há a transferência de um direito

originário, limpo, sem vícios. Além disso, o endosso tempestivo garante o

pagamento.

O endosso tempestivo difere do endosso póstumo. O endosso póstumo é

aquele em que a transferência ocorre após o protesto ou após o prazo para o

protesto. O endosso póstumo corresponde à uma cessão ordinária de crédito. A

cessão é um instituto civil onde o cedente não garante o pagamento, garante

apenas a existência do direito que transfere e transfere um direito derivado, ou

seja, não há o efeito purificador. O cedente transfere ao cessionário o mesmo

direito que ele tem.

Nesta questão da prova, houve o endosso póstumo. Marlene endossou o

cheque após o prazo de protesto. O cheque tem prazo para apresentação.

Prazo decadencial de apresentação de 30 na mesma praça ou 60 dias se em

praças diversas, a contar da data da emissão. Na verdade Marlene realizou

uma cessão de crédito e transferiu para o Roberto o direito que ela tinha.

Marlene transferiu o cheque depois de transcorridos 30 dias da data da

emissão e esta questão falava que o cheque havia sido emitido na mesma

praça. Quando ocorre uma cessão de crédito não há autonomia nas obrigações

assumidas e conseqüentemente não incide o principio da inoponibilidade das

17

exceções pessoais. Na cessão de crédito não existe o efeito purificador que é

inerente ao endosso. Se o Cristiano havia pagado 2.500 para Marlene, aquela

defesa poderia ser oposta contra o Roberto, eis que neste caso houve um

endosso póstumo. Aquelas exceções poderiam ser opostas em face do

Roberto.

2a questão da prova do MP (15/11/04):

É possível a habilitação de crédito na falência, representado por

duplicatas que foram protestadas sem aceite e sem o comprovante de entrega

das mercadorias?

A habilitação de crédito na falência exige que o credor demonstre a

legitimidade do crédito. Cada credor vai instaurar um processo de habilitação

de seus créditos na falência. As habilitações vão tramitar apensadas ao

processo falimentar e após a habilitação, haverá a fase da verificação dos

créditos. Apenas os créditos legítimos serão admitidos no quadro geral de

credores.

A habilitação do credito na falência exige a legitimidade do credito, mas

não há necessidade da habilitação ser através de um TC. Basta a

demonstração da existência e legitimidade de um crédito, ou seja, é preciso

demonstrar a condição de credor. Nesta fase não é preciso que haja

necessariamente um título executivo, pois o que se exige é que fique

demonstrada a condição de credor. Por exemplo, o locador do falido tem um

contrato de locação que demonstra a existência de um crédito, porém ele não

possui um título executivo. Mesmo assim ele pode se habilitar e ter o seu

crédito admitido na falência, pois o que se exige nesta fase é a demonstração

da legitimidade e existência do crédito, independentemente do título em que

este crédito se fundamente.

Nesta questão da prova do MP, na opinião do professor, o credito estava

representado numa duplicata protestada sem aceite e o comprovante de

entrega das mercadorias.

A duplicata é um TC causal. As suas causas estão previstas na lei da

duplicata, ou seja, compra e venda e prestação de serviço. A questão da prova

se referia a uma compra e venda de mercadorias. Então vou dar um exemplo

de duplicatas que possuem como causa a compra e venda de mercadorias:

18

Lojas Americanas compram 100 bolas da Estrela, no valor de R$

1.000,00. A Estrela que vendeu é a sacadora e as Lojas Americanas que

compraram são a sacada. A Estrela pode documentar este crédito de mil reais

através de um TC e resolve fazê-lo através de uma duplicata. Então a Estrela

saca uma duplicata. Quem saca a duplicata é a sacadora, credora, que neste

caso é a Estrela. Então a Estrela saca uma duplicata no valor de R$ 1.000,00 e

a encaminha para as Lojas Americanas, que são o sacado, o devedor.

As Lojas Americanas podem analisar aquela duplicata, verificar se está

tudo correspondendo à compra e venda das mercadorias (as 100 bolas) e

assinar a duplicata. Ao assinas a duplicata as Lojas Americanas aceitam aquele

título, ou seja, a assinatura do aceite significa que as Lojas Americanas

aceitam pagar mil reais no prazo estabelecido na duplicata.

As Lojas Americanas também podem não assinar a duplicata. Pode

alegar um dos motivos estabelecidos na lei de duplicatas e desta forma,

devolve as mercadorias, explicando que comprou bolas de uma marca e

recebeu bolas de outra marca, ou que contratou o prazo de 90 dias e a

duplicata previa prazo de 10 dias para o pagamento... Enfim, o art. 8 da lei das

duplicatas elenca os motivos que podem ser alegados para a o não aceite da

duplicata.

A terceira hipótese que pode acontecer é a retenção indevida da

duplicata. Ou seja, as Lojas Americanas não devolvem as mercadorias e não

assinam a duplicata. Neste caso, nós veremos mais adiante, que será o caso

de protesto por indicação que é uma exceção ao principio da cartularidade.

A quarta hipótese que pode acontecer é das Lojas Americanas ficarem

com as mercadorias e devolverem a duplicata sem a assinar. Neste caso, com

base no art. 15, II há a figura do aceite tácito ou presumido. A Estrela terá que

ir ao cartório e comprovar que não houve o aceite. Esta comprovação se faz

através do protesto. O primeiro requisito do art. 15 é o protesto por falta de

aceite. O segundo requisito é a comprovação da entrega das mercadorias ou

da prestação de serviço. E o terceiro requisito, cumulativo, é a comprovação

de que não houve justificativa para a falta de aceite.

No caso da prova, a duplicata teve o protesto por falta de aceite, mas

não teve a comprovação da entrega das mercadorias. A falta de comprovação

da entrega das mercadorias não impede que o crédito seja habilitado, mas

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impedirá que ele seja admitido na falência pq este credito não terá

legitimidade, ou seja, não comprovará a condição de credor daquele que

habilita o crédito.

NATUREZA JURÍDICA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:

Título de Crédito é um título executivo extrajudicial = art. 585 do

CPC. Os TC possibilitam a ação executiva que é denominada ação cambiária. A

ação cambiária nada mais é do que uma ação de execução fundada em um TC.

O TC, por ser um título executivo extrajudicial, também é denominado

como título falimentar ou falencial. A falência do devedor pode ser

decretada com base na impontualidade (art.1, LF) com base na prática de atos

de falência (art.2, LF) e com base no art. 8 da LF que trata da auto-falência.

O requerimento de falência com base na impontualidade (art.1 LF) é de

suma importância que haja um título executivo judicial ou extrajudicial. O título

falimentar configura um titulo executivo judicial ou extrajudicial que

documenta uma obrigação líquida, certa e exigível pecuniária (obrigação de

dar dinheiro). Título idôneo (hábil) ao requerimento de falência com base no

art.1 da LF (correspondente ao art. 94 do Projeto de Lei de Falências = PLF),

desde que devidamente protestado (art. 10 da LF).

Para fins de falência, não basta o simples descumprimento da obrigação

constante no TC. Para fins de falência é necessário que haja a chamada

impontualidade qualificada, que é configurada através do Protesto. Ou seja, o

protesto vai comprovar a impontualidade. O protesto vai comprovar o não

cumprimento da obrigação no seu vencimento. Este protesto trará a certeza

de que houve uma impontualidade, por isto se diz que na falência exige-se a

impontualidade qualificada.

Os TC também têm natureza de bens móveis. Uma vez caiu uma

questão na Magistratura perguntando o que era o endosso mandato. O

endosso mandato é um endosso impróprio. E o mandato é uma representação.

Quem realiza um endosso mandato transfere o exercício do direito existente

na cártula, mas não transfere o crédito. É endosso impróprio pq houve a

transferência da cártula sem haver a transferência do direito de credito

representado no TC.

20

Como já caiu uma questão sobre o endosso mandato, que é uma

espécie de endosso impróprio, pode ser que daqui a pouco caia uma questão

sobre outro endosso impróprio, que é o endosso pignoratício.

ENDOSSO PIGNORATÍCIO também chamado de endosso caução. O

endosso pignoratício é outra espécie de endosso impróprio onde há uma

garantia. Penhor é garantia. Endosso é transferência. Se o TC é um bem móvel,

ele pode ser objeto de um direito real de garantia, tal como o penhor. É o que

ocorre quando a cártula é entregue (empenhado) ao credor de alguém como

forma de garantir uma dívida. Quando há este endosso não ocorre a

transferência do direito de crédito constante no TC. Ocorre apenas a

transferência da cártula que fica em mãos do credor pignoratício como forma

de garantir um direito real, por isso é um endosso impróprio. EX: eu compro

um relógio raro e pago este relógio em várias prestações. Para garantir que eu

vou pagar todas as prestações eu entrego ao vendedor um título de crédito

que eu possuo, ou seja, eu realizo um endosso pignoratício. No dia em que eu

acabar de pagar as prestações, aquele TC voltará para mim, eis que ele só foi

entregue mediante um endosso pignoratício, como forma de garantir o

pagamento daquelas prestações. Mas caso eu não cumpra as prestações o

vendedor poderá se valer daquela garantia para não ficar no prejuízo.

CARACTERÍSTICAS (OU ATRIBUTOS) DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Alguns autores chamam os atributos de características, outros chamam

as características de atributos, e outros entendem que atributos e

características são sinônimos. Então, se cair uma questão na prova

perguntando o que são os atributos dos TC o melhor a ser feito é escrever

sobre todos os atributos e todas as características.

As duas primeiras características dos TC são chamadas por Fabio Ulhoa de

atributos.

1) AUTO-EXECUTORIEDADE -> Os TC que preencham todos os

requisitos exigidos em lei, não exigem a propositura de uma ação de

conhecimento para serem cobrados. Os TC são auto-executáveis. Basta ajuizar

a ação de execução. Art. 585, I c/c 618, I ambos do CPC.

21

2) NEGOCIABILIDADE => O TC deve ser apto a circular. Não pode

haver óbice à circulação do TC. Pode acontecer do TC não circular, mas isso

não pode acontecer em razão de alguma vedação constante no TC proibindo-o

de circular. Quando um TC não circula, é pq o credor não quis ou não lembrou

de endossá-lo, mas a razão da não circulação do TC não pode ser uma

cláusula expressa no próprio TC vedando a sua circulação. Daí surge uma

pergunta: É possível o endosso condicional? Combinar o art. 12 da LUG c/c art.

912 do NCC c/c art. 18 da lei 7357/85. o endosso condicionado pode até existir,

mas a condição será considerada como não escrita. Em outras palavras, o

endosso será válido, mas a condição será tida como não escrita.

Outra pergunta: O endosso pode ser parcial?

Todos sabemos que o pagamento pode ser parcial e que o aval pode ser

parcial, mas o endosso NÃO pode ser parcial. O endosso parcial afetaria a

negociabilidade dos TC eis que prejudicaria a circulação do TC, portanto não

pode haver endosso parcial.

3) FORMALISMO => Significa que o TC tem que preencher os

requisitos legais essenciais sob pena do TC perder sua eficácia cambiária. Isso

está no art. 887 do NCC parte final. Aqui é bom lembrar da Sumula 387 do STF

que diz que os requisitos essenciais podem ser preenchidos após a emissão do

título, desde que antes de protestar o titulo ou desde que antes de cobrar o

título.

4) OBRIGAÇÃO LÍQUIDA, CERTA E EXIGÍVEL => Título de Crédito

documenta uma obrigação líquida, certa e exigível (art. 618,I do CPC).

Obrigação certa quanto à existência (an debeatur) e determinada ou

determinável quanto ao valor (quantum debeatur). Ou seja, a obrigação

constante no TC deve existir. O valor desta obrigação deve ser ao menos

determinável.

TÍTULOS INDEXADOS: Os TC indexados subsistem quanto à sua

liquidez?

Os títulos de crédito indexados com índices que não sejam o salário

mínimo, possuem um valor determinável. Há entendimento de que os valores

determináveis não traduzem uma obrigação líquida pq faltaria justamente a

22

determinação deste valor. Outros entendem que a determinação deste valor

dependeria apenas da conversão do índice indexador para o real e isto não

descaracteriza a liquidez do título.

A posição amplamente dominante do STJ e da maioria da doutrina

entende que os títulos indexados subsistem quanto à sua liquidez, sendo que

apesar da obrigação não estar determinada, a mesma é passível de

determinação através de simples operação aritmética.

Fran Martins isoladamente entende que o TC indexado não possui

liquidez. A obrigação passa a ser ilíquida e o título perde a sua executoriedade.

Para ele, o TC se caracteriza pelo formalismo e apesar do Direito empresarial

ser um direito informal, o direito cambiário exige certas formalidades que são

os requisitos essenciais dos TC, e dentre estas formalidades está a

necessidade do TC descrever uma quantia determinada a ser paga. Se a

quantia tem que ser determinada, ela não pode ser determinável através de

um índice indexador. A falta de determinação desta quantia descaracteriza o

TC. Por exemplo: O art. 1, II da lei 7357/85 diz que o cheque contém a ordem

incondicional de pagar quantia determinada (e não determinável). O art. 897

do NCC diz que o pagamento do TC que contenha obrigação de pagar quantia

determinada pode ser garantido por aval. Outra vez a lei nos mostra que a

quantia tem que ser determinada e não determinável.

Pergunta: Zezinho é credor de uma NP no valor de 1 salário mínimo. Na

NP estava escrito que havia ali uma promessa de pagamento de um salário

mínimo. Zezinho poderá cobrar aquela NP?

A CF veda a indexação através do salário mínimo no art. 7, IV, parte

final. O salário mínimo não pode servir de índice indexador. Sendo assim, o

Zezinho não poderia cobrar aquela NP. Entretanto se aquela NP estivesse

indexada através de outro índice, como por exemplo, a UFIR, ele poderia

cobrar a NP. Bastaria converter a UFIR para Real e executar o título.

5) OBRIGAÇÃO QUERABLE => Obrigação quérable, ou quesível é

aquela que para ser cumprida, ou satisfeita é necessário que o credor procure

o devedor. É o oposto da obrigação portable.

23

6) TC SÃO TÍTULOS DE APRESENTAÇÃO => Esta característica (ou

atributo) tem a ver com a cartularidade, literalidade e com o formalismo. O

valor do TC só será pago se o próprio TC for apresentado ao devedor. O TC tem

que ser apresentado no original para que o devedor possa analisar se aquele

TC realmente é o título que representa a sua dívida e também para saber se

quem está cobrando tem legitimidade, ou seja, para que o devedor tenha como

saber se quem cobra aquele pagamento realmente é o credor. O credor tem

que apresentar o TC original pq uma fotocópia pode não retratar a verdade

sobre o TC. O devedor não é obrigado a pagar um TC se o credor apresentou-

lhe uma fotocópia. A cartularidade significa o documento. A literalidade

significa que vale o que está escrito no TC. E o formalismo significa a

necessidade de preencher os requisitos essenciais do TC. O devedor tem que

ter a chance de analisar tudo isso, e por esta razão que se exige a

apresentação do documento original.

7) TC SÃO TÍTULOS DE RESGATE => em um determinado momento a

obrigação tem que ser satisfeita. Há um prazo para a satisfação da obrigação.

Títulos de resgate se contrapõem aos títulos permanentes. As ações de uma

S.A são títulos permanentes pois o titular das ações permanentemente

auferem lucro através das ações. Mas os TC são títulos de resgate onde há um

momento para a obrigação ser satisfeita mesmo que a data do vencimento não

seja um requisito essencial. Se o TC não tiver data de vencimento, a lei supre

este requisito e o TC será válido e seu vencimento se dará a vista.

8) EFICÁCIA PROCESSUAL ABSTRATA => A ação cambiária que é

uma ação de execução, se fundamenta em um TC e é instruída com a cártula.

Uma vez que a ação é interposta e fundamentada com a cártula, as questões

prévias desta ação devem ser analisadas pelo juiz, tais como as condições da

ação e os pressupostos processuais. Depois disso o juiz vai analisar se o

documento que instrui a inicial possui algum vício de forma. Se houver algum

vício de forma, o juiz deve reconhecê-lo de ofício. Entretanto, se não houver

nenhum vício de forma o juiz mandará citar o réu. isso acontece justamente pq

o TC tem eficácia processual abstrata.

24

Se houver algum vício intrínseco, que não seja um vício de forma, o juiz

não poderá reconhecê-lo de oficio. Os vícios intrínsecos só podem ser

reconhecidos mediante provocação do executado, mediante embargos à

execução ou exceção de pré-executividade.

Segundo Libmam, o TC caracteriza-se por ter eficácia processual

abstrata, significando que o juiz não pode de oficio, reconhecer vícios

intrínsecos, não aparentes ou não visíveis, eis que estes dependem da

provocação do executado. Em sendo assim, estando presentes as

condições para o legítimo exercício do direito de ação, os pressupostos

processuais, bem como não existindo qualquer vício de forma (art.887,

parte final do NCC), deve o juiz proceder a execução, proferindo

despacho liminar positivo (cite-se).

9) NATUREZA PRO SOLVENDO => Os TC tem natureza pró

solvendo (e não pró soluto).

Todo TC tem uma causa debend, ou seja, todo TC tem uma causa

que lhe deu origem, uma razão, um motivo que ensejou a criação do TC.

Existem TC que são causais, ou seja, estas causas estão previstas em lei,

como é o caso da duplicata. Outros TC não são causais pq a lei não

estabelece as causa que poderão lhe dar origem, como é o caso do cheque

(o cheque pode ser emitido pq houve uma compra e venda, ou pq houve

uma doação, ou pq houve a prestação de um serviço etc... a lei não se

importa com a causa que deu origem ao cheque).

Por exemplo: A e B realizaram a compra e venda de um videocassete

usado a ser pago em 30 dias. A que comprou o vídeo, prometeu pagar ao B

o valor do vídeo através de uma NP. Então A emitiu uma NP para o B

prometendo pagar-lhe 200 reais com vencimento em 30 dias. Aqui há uma

relação que deu causa ao nascimento de uma NP. Quando se emitiu a NP

não houve novação da dívida. A emissão da NP não extinguiu a relação

causal. Ambas as relações continuam existindo. A extinção da obrigação

causal não extingue a obrigação cambiária.

A compra e venda do videocassete é uma relação jurídica realizada

por A e B. Esta relação jurídica deu origem à uma NP. Portanto a compra e

venda é, neste caso, uma relação causal.

25

Quando eu digo que um TC é pro solvendo significa que quando se

emitiu o TC não houve a novação da dívida. Ou seja, a emissão do TC não

extinguiu a relação causal. As duas relações jurídicas coexistem.

Se o pagamento do vídeo tivesse sido feito através de dinheiro vivo,

aquela relação jurídica estaria extinta com o pagamento. Mas como foi

emitida uma NP, aquela relação jurídica não se extinguiu. Vejam que no

NCC, no livro que trará das obrigações não há nenhum artigo dizendo que a

emissão de um TC é causa de extinção das obrigações. Vocês não vão

encontrar isso em nenhum lugar justamente pq a emissão de um TC

caracteriza uma novação.

Se o TC fosse pró-soluto, aí sim, a emissão da NP extinguiria a

obrigação que lhe deu origem. Mas isso não acontece. Pelo fato dos TC ser

pró-soluto as duas obrigações coexistem, ou seja, tanto a relação causal

quanto a relação cambiária continuam existindo.

Digamos que essa NP foi emitida pelo B (devedor de 200 reais) e o A

esqueceu de cobrá-la. Transcorreram 5 anos e o A lembrou-se daquela NP.

Neste caso, já houve a prescrição. Se o A ingressar com uma ação

cambiária em face do B este poderá alegar que aquele crédito já está

prescrito e desta forma o juiz terá que julgar o pedido improcedente em

razão da prescrição. Entretanto, houve uma compra e venda realizada há 5

anos atrás e houve o enriquecimento do B e um empobrecimento do A.

nada impede que o A proponha uma ação de enriquecimento ilícito em face

do B, tendo como fundamento a relação causal.

Isso está muito claro no art. 48 do decreto 2044/08 e no art. 61 da lei

7357/85. Estes artigos dizem que o credor, mesmo após perder a

possibilidade de ajuizara ação cambiária, pode receber o que é devido

através da ação de enriquecimento ilícito, que é uma ação ordinária que

tem por base a relação causal.

TC representa um valor que pode ser traduzido em dinheiro, mas TC

não é pagamento.

Pergunta de uma aluna: uma vez que o credor perde a possibilidade

de ajuizar a ação cambiária em face do devedor, o credor pode ajuizar a

ação de enriquecimento ilícito contra o avalista?

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Resposta: não, pq neste caso o avalista não enriqueceu ilicitamente.

O avalista apenas garantiu o pagamento sem auferir nenhuma vantagem

naquele TC. Sendo assim a ação de enriquecimento ilícito só pode ser

proposta em face do devedor.

Questão para a próxima aula:

O cheque no direito brasileiro tem curso forçado? É obrigatória a

aceitação do cheque? Qual o dispositivo legal? E se a relação for de

consumo, baseada no CDC? Analise inclusive o art. 39, IX do CDC.

25/11/2004

Respondendo à pergunta que foi deixada na aula passada,

imaginemos a seguinte situação:

Você vai ao posto de gasolina, abastece o tanque do seu carro e na

hora de efetuar o pagamento o frentista te diz que não aceita cheques. O

posto só aceita dinheiro e cartão de crédito. Mas você que é um advogado

apresenta ao frentista o art. 39 IX do CDC. Este dispositivo diz que o

fornecedor de bens e serviços não pode recusar a venda de bens ou a

prestação de serviços diretamente a quem se dispõe a adquiri-los,

ressalvados os casos previstos em lei especial. Este dispositivo do CDC

interpretado literalmente dentro de uma visão coloquial, pode levar ao

entendimento de que a aceitação do cheque como forma de pagamento é

uma obrigação do fornecedor de produtos e serviços. Entretanto, a questão

é controvertida pois o cheque por si só, não extingue a obrigação eis que o

cheque pode não ter fundos. O cheque tem natureza pro solvendo, ou seja,

não extingue a relação causal. Quando o cheque é emitido, não há a

extinção da relação causal. O que extingue a relação causal é o pagamento

com dinheiro em espécie.

Embora o CDC seja uma lei especial, neste caso em exame temos

que analisar também as demais leis especiais que tratam do cheque. O

cheque também possui uma lei especial. Por esta razão, a pergunta

formulada deve ser respondida através da compatibilização das duas leis.

Daí surgiram controvérsias:

27

Com o advento da lei 8002/90 o cheque passou a ter curso forçado

no direito brasileiro, ou seja, não se poderia recusá-lo. No entanto, após a

lei 8884/94, aparentemente o cheque deixou de ter curso forçado, pois o

art. 92 desta lei revogou expressamente a lei 8002/90. No entanto, a

questão tornou-se controvertida.

1a corrente, minoritária, sustenta que o cheque nas relações de

consumo tem curso forçado por força do art. 39, IX do CDC, que considera

prática abusiva a recusa ao consumidor que queira o produto ou serviço e

se disponha a fazer através de “pronto” pagamento.

2a corrente, majoritária, inclusive defendida por Fábio Ulhoa Coelho,

sustenta que o cheque deixou de ter curso forçado por força do art. 92 da

lei 8884/94 que revogou a lei 8002/90 (esta lei 8002/90 determinava que o

cheque tinha curso forçado). Além disso, também se pode acrescentar

outros argumentos à esta posição, 1o argumento: o cheque caracteriza-se

por ser pro solvendo, o que significa que ao emiti-lo não há o pronto

pagamento, pois não se extingue a obrigação principal (ou o negócio

subjacente, ou a causa debend, ou o negócio ao qual o cheque se originou).

Ou seja, não há novação da dívida (art.61 da lei 7357/85); o 2o argumento

está no próprio art. 39, IX do CDC eis que a sua redação foi dada

justamente pela lei 8884/94 que revogou a lei 8002/90, portanto não faz

sentido a lei acabar com o curso forçado do cheque através daquela

revogação e ao mesmo tempo, ressuscitá-lo no CDC.

OBS: não há nenhum dispositivo legal dizendo expressamente que o

cheque não tem curso forçado. Entretanto este é o entendimento da

interpretação das leis 8884/94, art. 92 que revogou a lei 8002/90 que dizia

expressamente que o cheque tinha curso forçado e da lei 7357/85, art. 61

que diz que o cheque tem natureza pró solvendo e, portanto não extingue a

obrigação. Além disso, o próprio art. 39, IX do CDC que se refere ao pronto

pagamento teve a sua redação dada pela lei 8884/94 que revogou a lei

8002/90. Ou seja, tudo leva a crer que a segunda corrente tem razão ao

dizer que o cheque não tem curso forçado e ninguém pode ser compelido à

recebê-lo como forma de pagamento.

28

PRINCÍPIOS CAMBIÁRIOS:

PRINCÍPIO DA CARTUALRIDADE

PRINCÍPIO DA LITERALIDADE

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA (Inoponibilidade de exceções pessoais em

face de terceiros de boa-fé)

PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA

PRINCÍPIO DA ABSTRAÇÃO

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE OU RESERVA LEGAL (questão polêmica)

PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE:

O princípio da cartularidade também é chamado de princípio da

INCORPORAÇÃO CAMBIÁRIA.

Cartularidade decorre de cártula. Cártula é papel.

Alguns autores chamam este principio de Incorporação pq antes do

papel há o direito. E o direito é incorporado ao papel (cártula). Mas na

prática esta distinção é inócua pq ambos significam a mesma coisa.

O Princípio da cartularidade ou incorporação significa que o direito

deve estar incorporado, materializado, representado, corporificado, num

documento formal (em uma cártula) que preencha, obrigatoriamente, todos

os requisitos essenciais previstos na lei para que tenha eficácia cambiária

(art. 887 parte final do NCC c/c a sumula 387 do STJ).

E é justamente por causa do princípio da cartularidade que é

necessário que o documento seja apresentado no seu original ao devedor.

Isto é exigido para que o devedor possa analisar se os requisitos foram

preenchidos, conforme manda a lei. A fotocópia do documento poderia

prejudicar a analise por parte do devedor destes requisitos exigidos.

Para exercer o direito de credito é necessário que o credor apresente

a cártula. É imprescindível que o credor tenha o documento em seu poder

para que ele possa exercer o direito constante no TC.

É possível o exercício do direito de crédito sem que o

credor apresente a cártula, (o documento original)?

Sim, de acordo com o art. 36 do Decreto 2044/1908 que prevê a ação

de substituição de título nominal destruído ou extraviado. O § 3 deste

29

dispositivo prevê a possibilidade de executar o devedor ainda que o credor

não possua o TC em seu poder. Art. 887 NCC, na palavra documento

façam remissão ao art. 36 do Decreto 2044 para que vocês saibam que

existe esta ação de substituição de TC.

O art. 36 do Decreto 2044/08 é uma exceção ao P. da

Cartularidade.

O art. 82, §1 da LF (DL 7661/45) prevê outra hipótese de

substituição dos TC, ou seja, é outra exceção ao principio da cartularidade.

Na habilitação do credor na falência, se o título onde se fundamenta o seu

crédito estiver instruindo um outro processo, o credor não precisará retirar

o TC daquele outro processo para poder se habilitar na falência. O credor

vai pedir uma certidão àquele juízo onde tramita o outro processo e esta

certidão irá substituir o TC na habilitação na falência. A certidão vai

substituir o TC e com base naquela certidão o credor vai poder exercer o

seu direito de crédito na da habilitação na falência. Art. 887 NCC, na

palavra documento fazer remissão ao art. 82, §1 LF.

O art. 21, §3 da lei 9492/97 prevê o protesto por indicação. Este

artigo 21 revogou o art. 13 §1 da lei das duplicatas (lei 5474/68). O protesto

por indicação é uma outra exceção ao princípio da cartularidade.

A duplicata é uma ordem de pagamento. A duplicata é um TC causal

que só pode ser emitido se houver uma compra e venda de mercadorias ou

a prestação de serviço. a emissão da duplicata pressupõe o aceite. O aceite

é a aceitação da ordem de pagamento. Se aquele que recebe a ordem de

pagamento, emite o aceite, ele está dizendo que reconhece a obrigação de

pagar aquele valor. Na duplicata o sacado recebe o TC para aceitá-la ou

para devolvê-la. Caso o sacado não devolva a duplicata, haverá a retenção

da mesma e o credor não terá aquele TC em seu poder. Neste caso caberá

o protesto por indicação.

Para que vocês entendam melhor esta sistemática, vou falar um

pouco da Letra de Câmbio para depois voltar para a Duplicata.

A LC também é uma ordem de pagamento. A (Sacador) dá uma

ordem de pagamento para B (sacado) para pagar C (credor). Por exemplo,

o B deve 100 reais para o A e ao mesmo tempo A deve 100 reais para C.

30

Ou seja, A é, ao mesmo tempo, credor de B e devedor de C. A não tem

dinheiro, mas tem um crédito, eis que B lhe deve 100 reais. Então A resolve

mandar B pagar ao C aquele valor de 100 reais. Para tanto, A emite uma

LC, ou seja, A dá uma ordem de pagamento ao B para que pague ao C.

Esta LC fica na posse do C. Antes do vencimento o C terá que

apresentar a cártula ao sacado B. Se B assinar aquela cártula ele assume a

obrigação de pagar. Se ele não assinar ele não assume obrigação nenhuma,

pois quem não assina, em regra, não se vincula. O B não é obrigado a

assinar aquela LC, ele não é obrigado a se vincular àquela obrigação

cambiária. A relação jurídica do B é com o A, logo, ele não pode ser

obrigado a aceitar (assinar) aquela LC.

Pode acontecer também do C apresentar a LC ao B e ele pedir um

prazo de 24 horas para pensar se irá aceitar ou não aquela LC. Isso é

chamado pela doutrina de prazo de respiro. Durante este prazo de respiro a

LC fica na posse do B que por sua vez resolve não devolvê-la ao C, retendo

a LC. Sendo assim, de acordo com a regra geral, o C não poderá cobrar

aquela LC pq ele não está no poder da cártula.

Para tentar evitar os casos de retenção indevida, a lei procura

regularizar esta questão.

De acordo com o art. 9 da LUG o C poderá cobrar do A (devedor

principal) desde que prove que B reteve a LC indevidamente (sem

autorização). E isso se faz através do chamado PROTESTO POR FALTA DE

DEVOLUÇÃO.

O Protesto por falta de devolução se faz através da 2a via da LC. Na

LC não existe a figura do protesto por indicação.

O protesto por falta de indicação é instituto da duplicata.

Exemplo: As Lojas Americanas compram mercadorias da Estrela S.A.

Trata-se de um contrato de compra e venda de 1000 bonecas no valor de

500 reais a serem pagos no dia 30/12/2004. As Lojas Americanas devem

dinheiro à Estrela. A Duplicata é uma ordem de pagamento. Ora, se é uma

ordem de pagamento, o credor é quem ordena ao devedor que lhe pague.

Com base na fatura daquela venda a Estrela pode sacar uma duplicata

dando uma ordem de pagamento às Lojas Americanas, que devem 500

reais à Estrela.

31

As Lojas Americanas podem receber as mercadorias e realizar o

aceite expresso, devolvendo a cártula à Estrela.

As Lojas Americanas também podem não receber as mercadorias e

não realizar o aceite, justificando o porquê. Por exemplo, as Lojas

Americanas podem não receber as mercadorias ao argumento de que as

bonecas vieram quebradas e sendo assim não aceitarão aquela ordem de

pagamento constante na duplicata. Qualquer divergência na relação causal

pode ser uma justificativa para o não recebimento das mercadorias, na

forma do art. 8 da Lei das Duplicatas e no prazo do art.7 da mesma lei.

Neste caso, as Lojas Americanas não serão devedoras da Estrela pq ela terá

justificado o não recebimento das mercadorias e não terá assinado a

duplicata.

As Lojas Americanas ainda podem receber as mercadorias e reter

“indevidamente” a duplicata. Se as Lojas Americanas retivera a duplicata,

ela terá que utilizar-se do art. 21, §3 da lei 9492/97. Este artigo trata do

PROTESTO POR FALTA DE DEVOLUÇÃO.

O protesto por falta de devolução da LC é diferente do protesto por

falta de devolução da duplicata.

Na LC o protesto por falta de devolução se faz através da 2a via da

LC.

Na duplicata o protesto por falta de devolução se faz por INDICAÇÃO.

Ou seja, a retenção indevida da duplicata se comprova através das

indicações das características da duplicata retida, comprovando a relação

jurídica causal que deu origem à emissão da duplicata. Com a

comprovação da entrega da mercadoria, e com o instrumento do protesto,

a Estrela poderá executar as Lojas Americanas. A indicação das

características possui a presunção relativa da verdade existente na

duplicata. Nada impede que as Lojas Americanas provem que a estrela

realizou indicações de características inexistentes na duplicata.

Na verdade o protesto por indicação é uma sub-espécie do protesto

por falta de devolução, com a peculiaridade de que o protesto por indicação

é próprio da duplicata retida indevidamente. No art. 21, §3 da lei 9492/97

sublinhem “indicações da duplicata” para saberem que o protesto por

32

indicações é próprio das duplicatas e que na LC o protesto por falta de

devolução se faz através da 2a via da LC.

PROTESTO POR INDICAÇÕES É uma modalidade de protesto

especifico para as duplicatas, configurando um ato do cartório,

extrajudicial, solene e público, realizado pelo credor e instrumentalizado

pelo oficial do cartório, que tem por finalidade comprovar a falta de

devolução da duplicata retida indevidamente pelo sacado, consistindo no

apontamento pelo credor das características que continha a duplicata

retida indevidamente, devendo o credor provar a relação jurídica causal, eis

que a duplicata é TC causal. Portanto, o protesto por indicações é uma

especificidade, ou seja, uma forma de se fazer o protesto por falta de

devolução na duplicata. Este protesto acarreta uma presunção relativa, iuris

tantum, de veracidade quanto às características apontadas pelo credor,

ensejando uma inversão do ônus da prova, ou seja, o sacado é que terá que

desconstituir as indicações das características apontadas pelo credor.

Outra exceção ao Princípio da Cartularidade está no art. 17 da

Medida Provisória 2160-25/2001. Art. 887 NCC, na palavra documento

façam remissão ao art. 17 da MP 2160-25/2001.

Cédula de credito bancário (cujo conceito está no art. 1 desta MP)

admite o protesto da própria cártula ou o protesto da fotocópia da cártula,

na forma do art. 17 da MP 2160-25/01.

Outra exceção à cartularidade das os TÍTULOS VIRTUAIS

previstos no art. 889, §3 do NCC.

No art. 889, §3 fazer remissão ao art. 223, PU, do NCC, ao art. 8 e

ao art. 21, §3 da Lei 9492/97, remissão também ao art. 19 da Lei 5474/68;

ao art. 1102-A do CPC e ao art. 618, I do CPC c/c art. 585, I do CPC.

Os TC virtuais são aqueles emitidos a partir de caracteres criados por

computador ou meios técnicos equivalentes, exigindo-se no mínimo, os

requisitos do art. 889, caput do NCC.

33

Para visualizar um titulo virtual, vamos imaginar a seguinte situação

hipotética:

A Estrela e as Lojas Americanas celebraram contrato de compra e

venda. Ambas possuem conta corrente no banco ITAÚ. Nada impede que

Estrela emita uma duplicata virtual. Esta duplicata será sacada

virtualmente através do computador e neste caso, as Lojas Americanas

receberão uma senha previamente ajustada para que emitam o aceite. As

Lojas Americanas aceitam a duplicata virtual e assim se obrigam a pagar. A

possibilidade de existir um TC virtual é inquestionável. O problema está no

litígio versando sobre um título virtual pq estes TC não possuem a cártula.

Se a Estrela emitisse uma duplicata do modo tradicional, através de

uma cártula, e as Lojas Americanas aceitassem a duplicata e não a

pagasse, a Estrela poderia ingressar com uma ação de execução em face

das Lojas Americanas, fundamentando esta ação com a duplicata aceita e

não paga.

No caso de uma duplicata virtual, o aceite é feito através de uma

senha e uma simples senha não é hábil para fundamentar uma ação de

execução. Por esta razão, é necessário que exista uma reforma na

legislação cambiária de modo que se permita a execução de um TC virtual

sem a cártula. O art. 887 NCC traz o fenômeno clássico de Vivant e dispõe

sobre a cartularidade. Concomitantemente ao art. 889, §3 o NCC traz o art.

223, PU que diz que a prova não supre a ausência do TC. Então, ao mesmo

tempo em que o NCC admite os TC virtuais no art. 889, §3 ele exige a

demonstração do TC no art. 223, PU. Ou seja, estes artigos são

contraditórios pq o TC virtual não possui a cártula e assim, não pode ser

juntado aos autos de um processo. Por esta razão, o professor acha que

deve haver uma mudança na legislação.

5a aula

02/12/2004

PRINCÍPIO DA LITERALIDADE:

O TC se manifesta, se expressa pelo seu conteúdo literal. Isso

significa que o direito de crédito corresponde àquilo que estiver escrito na

cártula. Por esta razão que o aval parcial, precisa ser colocado na cártula,

34

literalmente, pois se o aval não descrever o valor parcial que está

avalizado, entender-se-á que o valor total do crédito foi avalizado.

A primeira afirmativa que decorre do principio da literalidade é a

seguinte: “Vale o que estiver escrito na cártula, no documento. O

que não estiver escrito no título não está no mundo cambiário”.

Esta afirmativa existe justamente para dar segurança às relações

cambiárias.

A segunda afirmativa que decorre do princípio da literalidade é que:

“Em princípio, para se vincular à relação jurídica cambiária, ou

seja, para se tornar devedor cambiário, em regra, é necessário

assinar na cártula, portanto, em princípio, todas as assinaturas são

úteis.”. Esta afirmativa é importante pq a assinatura no TC atesta a

manifestação de uma vontade. A lei determina que o aval deve ser feito

através da assinatura do avalista No verso ou no anverso do TC (art.898

NCC) e o endosso deve ser feito com a assinatura no verso do TC (art. 910,

§1 do NCC). o art. 898, §1 do NCC diz que para o aval ser válido basta a

simples assinatura do avalista no anverso (face) do TC. Se o aval estiver no

verso do TC ele deve indicar a intenção do assinante de ser avalista para

que esta assinatura não se confunda com a assinatura dos endossantes que

também devem assinar no verso do TC.

A regra geral é que não é possível cobrar de quem não assinou o TC

assim como não é possível cobrar parcela que não conste na cártula.

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA LITERALIDADE:

Excepcionalmente é possível cobrar de alguém que não assinou a

cártula assim como é possível cobrar uma parcela que não consta na

cártula.

Para saber as exceções, combinar no Art. 887 do NCC onde está a

palavra literal, fazer remissão ao art. 15,II da lei 5474/68; ao art. 7, §1 e

art.9, §1 da lei 5474/68; art. 29, 2a alínea da LUG; art.7 da MP 21060-25/91.

E combinem também a palavra literal com a sumula 248 do STJ.

A primeira exceção está no art. 15, II da Lei da Duplicata (LD) que

trata do aceite tácito, ficto ou presumido.

35

Na duplicata o sacador é o credor (vendedor das mercadorias) que dá

uma ordem de pagamento ao sacado (devedor e comprador das

mercadorias). O aceite ordinário é aquele em que o devedor aceita a

duplicata e a devolve ao credor. Pode acontecer do devedor não aceitar a

duplicata justificando a falta de aceite de acordo com art. 7 e 8 da LD e

sendo assim a duplicata perde a sua força executiva tendo em vista que ela

não foi aceita justificadamente. Também pode acontecer do devedor

receber as mercadorias e não devolver a cártula, retendo-a sem

justificativa. Neste caso será possível efetuar o protesto por indicação.

Por fim há a possibilidade do devedor não aceitar a cártula

injustificadamente. Se o devedor devolve a duplicata sem o aceite e sem

nenhuma justificativa para a falta do aceite esta cártula não possui a

assinatura do devedor. Aqui a recusa do aceite é injustificada e o art. 15, II

da lei 5474/68 diz que neste caso, presentes três condições cumulativas há

a presunção do aceite. Ou seja, embora a duplicata não contenha a

assinatura do devedor referente ao aceite, se forem preenchidos os

requisitos todos do art. 15, II da LD o legislador presume o aceite.

Caiu na PGE a seguinte questão: Em que hipótese a duplicata sem

aceite configura Titulo executivo extrajudicial?

Caiu no MP a seguinte questão: A duplicata sem aceite mas que foi

protestada é TC hábil ao requerimento de falência?

Estas questões possuem a mesma resposta: A duplicata é Título

executivo extrajudicial se preencher os requisitos do art. 15, II da LD que

trata do aceite tácito. E sendo Título executivo extrajudicial, esta duplicata

sem aceite mas que preencha os requisitos do art. 15, II da LD é hábil ao

requerimento de falência!!! Isso está na sumula 248 do STJ. Esta sumula

deve ser lida com atenção pq a falta de aceite a que se refere a sumula 248

do STJ é a falta de aceite que preencha os requisitos do art. 15, II da LD. Se

não ocorrer o aceite expresso e não forem preenchidos TODOS os requisitos

do art. 15, II da LD, mesmo protestada, esta duplicata não será hábil para

fundamentar o pedido de falência.

Presentes os três requisitos do art. 15, II da LD, não obstante a falta

de assinatura do aceitante, ele será um devedor cambiário. É uma exceção

36

ao principio da literalidade pq embora ele não assine a cártula, ele se

vincula.

A 2a exceção ao principio da Literalidade está no art. 20 CPC e Lei

6899/81. Na ação de execução fundada no TC é possível cobrar os juros, a

correção monetária, despesas judiciais e os honorários advocatícios, que

são parcelas que não constam na cártula mas que podem ser cobradas.

A 3a exceção ao Principio da Literalidade é o aceite por

comunicação prevista no art. 7, da LD.

Exemplo: o Sacador pode contratar um serviço de uma instituição

financeira para que esta cobre a duplicata do devedor. A instituição

financeira vai apresentar a duplicata ao devedor para o aceite e para o

pagamento. O art. 7, §1 da LC trata da comunicação do aceite ou aceite por

comunicação. Desta forma, quando a duplicata é apresentada ao devedor,

este poderá retê-la ate a data do vencimento desde que comunique por

escrito à Instituição Financeira que aceita aquela duplicata. Neste caso, se

o devedor reteve a cártula, haverá o aceite por escrito em um documento

que não é a cártula. Aqui há uma exceção à literalidade pq o aceite

constará em outro documento diferente da cártula. Sublinhar no art. 7, §1

da LD as palavras “comunique” e “aceite”.

Outra exceção está no art. 9, §1 da LD que trata da quitação em

separado. Isto significa o seguinte: Quem paga o valor do TC quer o

documento e quer a quitação do credor na própria cártula. Entretanto, o

art. 9, §1 da LD admite a quitação fora da cártula, em documento em

separado.

Outra exceção está no Art. 29, 2a alínea da LUG (Dec. 57663/66)

que trata da desconstituição do cancelamento do aceite.

Exemplo: O Sacado de uma LC aceita o TC e depois cancela (risca) o

aceite e depois desconstitui o cancelamento (conseqüentemente, aceitando

o TC novamente).

A LC só tem uma modalidade de aceite, que é o expresso.

37

EX: Numa LC há o Sacador A, o Sacado B e o credor C.

A é credor de B fora do TC e ao mesmo tempo o A é devedor de C.

Então o A dá uma ordem de pagamento para o B, para que o B pague ao C.

Nesta relação jurídica o B é apenas o Sacado, que recebe a ordem de

pagamento. O B só vai se obrigar a pagar esta LC se ele aceitar pagar este

crédito. Para aceitar o B tem que assinar o título. Então, antes do

vencimento o C vai apresentar a LC ao B para ver se ele aceita. Se o B

aceitar o TC, assinado na cártula, ele se obriga ao pagamento. Se o B não

aceitar, o C terá que executar o A, devedor originário.

Mas também pode acontecer do B querer ficar com a LC por 24 horas

para pensar se vai aceitar ou não aquela LC. Este prazo de 24h é chamado

pela doutrina de “PRAZO DE RESPIRO”. Se no prazo de 24 horas o B não

devolver a LC, o C terá que fazer o protesto por falta de devolução,

realizado na 2a via da LC. Mas também pode acontecer do B assinar a

cártula e aceitar a LC durante este prazo de 24h, e antes de devolvê-la ao

C, o B pode se arrepender de ter aceitado a LC. Arrependido de ter

aceitado a LC o B pode cancelar o aceite (riscando-o) e devolver a cártula

para o C com o aceite riscado e cancelado. Entretanto, depois da restituição

da LC ao C o B se arrepende de novo e aceita aquela LC. Neste caso o B

realizará a desconstituição do cancelamento do aceite.

Isso tudo está no art. 29, 1a alínea da LUG.

Ocorre que se o Sacado, durante o prazo de 24h em que ele estiver

com a LC, informar por escrito que aceita a LC, ele fica obrigado a aceitá-la.

Nos termos do art.29, 2a alínea da LUG. Este aceite por escrito não estará

na LC mas em outro documento. Por isso esta é uma exceção ao principio

da literalidade.

Outra exceção está no art. 7 da MP 21060-25/91 que dispõe que a

garantia do TC pode ser dada fora da cártula. normalmente a garantia da

obrigação vem descrita na própria cártula, todavia a MP 21060-25/91

admite que a garantia seja feita em documento separado.

38

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA:

Questões:

1) Caio credor de uma Nota Promissória, após o vencimento, ajuíza

ação de execução em face de Tício, seu devedor. Tício, após segurar o

juízo, embarga a execução a fim de se defender alegando todas as matérias

possíveis em razão do principio da ampla defesa, face ao exposto no art.

745 do CPC.

a) O embargante está correto?

b) Qual a natureza jurídica dos embargos à execução do art 745?

Resposta: O embargante está errado!!! Nos embargos à execução

fundada em titulo extrajudicial é possível alegar qualquer matéria. Trata-se

de uma ação de conhecimento amplo, na forma do art. 745 do CPC.

Entretanto, é o art. 745 do CPC se aplica à todos os títulos extrajudiciais,

com exceção dos TC informados pela autonomia. O Principio da autonomia

traz consigo seu sub-princípio da inoponibilidade das exceções que diz que

o devedor não pode opor exceções pessoais perante terceiros. Logo, se há

o principio da inoponibilidade das exceções algumas matérias não poderão

ser opostas em face do credor pois a defesa do devedor continua a ser

limitada. A limitação nesta defesa encontra fundamento no principio da

inoponibilidade das exceções e não no CPC.

2) Caio emite uma NP para Tício, que foi endossada para Mévio, tendo

sido avalizada por Paulo, que indicou Caio como seu avalista. Após o

vencimento, tendo havido o protesto, Mévio quis cobrar de Tício e Paulo, tendo

estes pleiteado a aplicação do art. 77, III do CPC, alegando que como são

devedores cambiários, são também solidários. Analise.

Resposta: O art. 77, III do CPC dispõe sobre solidariedade civil e o caso

acima descrito versa sobre a solidariedade cambiária. A solidariedade civil é

diferente da solidariedade cambiária. No direito cambiário, via de regra incide

o principio da autonomia e é justamente este principio que diferencia a

solidariedade cambiária da solidariedade civil. A autonomia é uma

peculiaridade dos TC. Sendo assim, as obrigações constantes na NP são

autônomas e independentes.

39

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA é o princípio segundo o qual as

obrigações cambiárias constantes nos TC são autônomas e independentes, o

que significa que eventuais vícios intrínsecos ou não aparentes existentes

numa obrigação cambiária não contaminam as demais obrigações cambiárias.

Este princípio tem por finalidade a proteção do terceiro de boa-fé, sendo certo

que eventuais vícios de forma (requisitos essenciais legais) não são protegidos

pelo principio da autonomia, o que significa que contaminam as demais

relações cambiárias.

Fundamentos legais: art. 13 da Lei do cheque (lei 7357/85); art. 915 e

916 NCC; art. 17 e 19 da LUG e art. 25 da lei 5474/68. fazer remissão destes

artigos em cima da palavra autônomo do art. 887 NCC.

Normalmente os alunos acham que para o TC ter autonomia ele precisa

circular. Mas isso não é verdade!!!

Exemplo: A emite uma NP para B. Nesta operação existe apenas uma

obrigação cambiária, onde A é devedor de B, e neste caso, realmente não há o

que se falar em autonomia pq aqui existe apenas uma obrigação cambiária.o

que determina a incidência da autonomia não é a circulação do TC mas sim a

existência de mais de uma obrigação constante no TC.

Imaginemos agora que A emitiu esta mesma NP para o B, sendo que C

era o avalista de A. o B não endossou esta NP para ninguém, logo o TC não

circulou, entretanto, neste TC existe mais de uma obrigação cambiária (existe

a obrigação do devedor e a obrigação do avalista). Logo, se existe mais de uma

obrigação cambiária, este TC possui autonomia ainda que ele não tenha

circulado.

Então, lembrem sempre desta afirmativa: O TC terá autonomia

sempre que nele contar mais de uma obrigação cambiária, ainda que

ele não tenha circulado. Para incidir a autonomia o pressuposto é que

se tenha pluralidade de obrigações cambiárias. Não é imprescindível

para incidir o principio da autonomia a circulação do TC, pois pode o

TC circular e ter autonomia assim como também pode acontecer do TC

não circular e continuar tendo autonomia, desde que neste TC haja

mais de uma obrigação cambiária. Inclusive pode acontecer do TC

circular e não ter autonomia.

40

Quando se trata do Principio da Autonomia leva-se em conta a relação

jurídica cambiária, ou seja, se consta algum vício intrínseco nesta e não a

relação jurídica causal (relação extra-cartular, ou causa debend, ou negócio

subjacente, ou negócio fundamental). O Principio da autonomia não se

relaciona com a causa que deu origem ao TC.

No Princípio da autonomia, as obrigações cambiárias são autônomas e

independentes. Eventuais vícios intrínsecos em uma relação cambiária não

contaminam as demais relações cambiárias do TC.

Em incidindo o principio da autonomia tem-se como corolário a

INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES (defesas) PESSOAIS EM FACE DO PORTADOR

DE BOA FÉ. Como as obrigações cambiárias são autônomas, um determinado

devedor cambiário ao ser executado não pode embargar a execução alegando

toda e qualquer matéria de defesa, conforme preceitua o art. 745 do CPC, mas

apenas pode alegar defesas pessoais suas, com aquele exeqüente. Conclui-se

portanto, que o princípio da autonomia, e conseqüentemente da

inoponibilidade de exceções pessoais, acaba por excepcionar o art. 745 do CPC

pois torna a cognição nos embargos à execução, limitada ou restrita.

O principio da autonomia limita a cognição dos embargos à execução eis

que não permite que qualquer matéria seja oposta ao credor de boa-fé. As

defesas pessoais de terceiros não podem ser opostas pelo embargante. EX:

Tício, portador de um TC executa Y, que é o avalista de Caio. O Caio é devedor

daquele TC pq João ameaçou matá-lo caso ele não assinasse o TC. O Y não

pode opor defesas pessoais de Caio para escusar-se do pagamento, alegando

que Caio foi coagido. O Y só poderá opor as suas próprias defesas pessoais (se

houverem) pq as obrigações cambiárias são autônomas. O fato de Caio ter sido

coagido não pode ser oposto por Y pq esta é uma defesa pessoal do Caio que

só pode ser oposta pelo próprio Caio.

Pergunta para casa: João, casado com Maria, celebra com o Banco

ITAÚ conta corrente conjunta com a sua mulher, estabelecendo solidariedade,

41

sendo que as assinaturas poderão ser isoladas, ou seja, a mulher tem o

talonário dela e o marido tem o talonário dele. Maria, emite dezenas de

cheques pós-datados para seu deleite pessoal, os quais são devolvidos por

falta de fundos. Os credores ajuízam ações cambiárias em face dos correntistas

com fundamento no art. 51 da lei 7357/85. Pergunta-se: Se João ficar

insatisfeito juridicamente, poderá se valer de que instrumento? Os credores

poderão executar ambos os correntistas?

6a aula

09/12/04

Vamos deixar para responder a pergunta deixada para casa mais adiante.

Agora vamos estudar mais um pouco do principio da autonomia.

Para falar em autonomia teremos que analisar o instituto do endosso,

ainda que, por ora, seja de maneira superficial.

Nós vimos na aula passada que o TC não precisa circular para ter

autonomia.

Pode acontecer de um TC não circular e ainda assim ter autonomia, basta

penar na relação do avalista do devedor em relação ao credor. o avalista tem

uma relação cambiária autônoma em relação ao credor. Há autonomia nesta

relação entre avalista e credor, mesmo que o TC não tenha circulado através

de endosso. Entretanto, uma vez que o TC circula através do endosso

tempestivo, ele automaticamente terá autonomia.

A cessão de crédito, que é um instituto do direito civil, também permite

que o TC circule, entretanto, a cessão de crédito não confere ao TC o efeito

purificador, corolário da autonomia. O endosso intempestivo é uma cessão de

crédito que não produz o efeito purificador. A cessão de credito garante apenas

a existência do credito, mas não garante o pagamento. A cessão transfere um

direito derivado onde o cedente transfere ao cessionário exatamente o mesmo

direito que ele (cedente) possuía. Sendo assim, eventuais vícios são

transmitidos, eis que o direito transferido é o mesmo e não é purificado.

Em regra o endosso produz dois efeitos: o endossante ao realizar o

endosso garante não só a existência da obrigação como também garante a

solvência da obrigação.

42

Quem endossa garante a existência do crédito e o seu pagamento. Este é

o efeito purificador do endosso.

EX: A (devedor principal) emite um TC ao B que o transfere ao C . Quando

B endossa esse TC para o C ele garante que o crédito existe e que será pago.

Uma vez que chega a data do vencimento o C vai procurar A (devedor

principal) para pagar. Se A não pagar voluntariamente, C pode executar o A,

assim como também pode executar o B desde que C prove para B que o A não

pagou. Esta prova é o protesto. Por fim, o C também tem a opção de executar

A e B, que são devedores solidários, sendo que neste caso, o protesto

continuará sendo necessário para executar o B.

O garantidor do endosso está no art. 21 da lei do cheque, no art. 15 da

LUG, art. 25 da LD. Estes artigos devem ser combinados com o art. 914 e 903

do NCC.

O art. 914 do NCC diz que o endossante não garante o pagamento.

Entretanto, o art. 903 do NCC diz que o NCC só será aplicado quando não

houver lei especial dispondo em contrário. Desta forma aplicam-se as leis

especiais e a regra geral é a de que o endossante garante o pagamento.

O endosso tem efeito purificador. Isto significa que o endossante não

transfere para o endossatário um direito que o endossante tinha. Quando

ocorre o endosso, o endossante transfere ao endossatário um direito novo,

puro. Se houver algum vício intrínseco no TC este vício não será transmitido ao

endossatário. Apenas os vícios extrínsecos são transmitidos.

O aspecto processual da autonomia é o princípio da inoponibilidade das

exceções pessoais em face de terceiros de boa-fé.

PRINCÍPIO DA INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS EM

FACE DE TERCEIROS DE BOA-FÉ art. 17 LUG.

Uma vez vencido o TC o credor vai executar o devedor. O devedor por

sua vez, pode embargar a execução. Estes embargos à execução são uma

ação de conhecimento e podem versar sobre vícios extrínsecos assim como

podem versar sobre matérias pessoais existentes entre o executado e o

exeqüente.

43

Sob o aspecto processual é preciso analisar com muito cuidado o art. 745

do CPC que diz que os embargos à execução fundados em título extrajudicial

podem versar sobre as matérias previstas no art. 741 do CPC e quaisquer

outras. As matérias do art. 741 se referem aos embargos à execução, fundados

em título judicial. Em resumo, o art. 741 dispõe que os embargos à execução

fundados em titulo judicial não podem versar sobre qualquer matéria, ou seja,

a lei restringe a matéria a ser alegada em embargos fundados em titulo

judicial. Trata-se de uma cognição restrita. O art. 745 do CPC, entretanto, se

refere aos embargos fundados em título extrajudicial e, nestes casos, o

devedor, embargante, poderá alegar qualquer matéria além das matérias do

art. 741 do CPC. Ou seja, os embargos à execução fundados em titulo

extrajudicial têm cognição ampla.

O art. 745 do CPC é a regra geral, entretanto, esta regra não se aplica aos

Títulos extrajudiciais que a um só tempo forem TC dotados de autonomia.

Se o titulo executivo extrajudicial for um TC sem a presença do

princípio da autonomia, aplica-se o art. 745 do CPC e neste caso a cognição

dos embargos à execução será ampla. Entretanto, se o Título extrajudicial for

um TC dotado de autonomia, a cognição dos embargos será restrita. Havendo

a presença do princípio da autonomia, haverá a aplicação do principio da

inoponibilidade das exceções pessoais. A autonomia purifica as relações

cambiárias, logo, as defesas pessoais de um sujeito não podem ser opostas por

outro sujeito em face de terceiro de boa-fé. EX: B deve 100 reais para C. C é

credor de B e emite um TC de modo que B é o devedor principal de C e A é o

avalista. O TC vence e C executa o A, que é avalista de B. A não pode opor em

seus embargos a defesa pessoal que ele tem em relação ao B para defender-se

da execução de C. Nesta execução movida pelo C, as defesas do A em relação

ao B não pode ser oposta eis que a relação cambiária existente é autônoma.

O principio da inoponibilidade das exceções excepciona o art. 745 do CPC.

Agora, vejamos algumas outras hipóteses:

a) O TC não circula e não tem autonomia:

EX: A emite um NP (promete pagar) para B. B permanece com a NP até a

data do vencimento e uma vez vencido o TC, B executa A. Neste exemplo, o

TC não circulou e não foi avalizado. Este TC ainda não adquiriu autonomia.

44

Neste caso, a defesa do A nos embargos à execução movida por B poderão

alegar qualquer matéria. Neste caso a cognição dos embargos será ampla pq

não incide o principio da autonomia.

b) O TC circula e não tem autonomia.

EX: A emite uma NP para B, que a transfere para C com a cláusula não à

ordem. Uma vez vencida a NP, C executa A. O TC com cláusula não à

ordem circula com efeito de cessão de crédito. A cláusula não à ordem é uma

exceção eis que a regra geral é que o TC circule através de endosso (à ordem).

Uma vez que o TC foi transferido por cessão de credito, é preciso saber que o

cedente não garante o pagamento. O cedente garante apenas a existência do

crédito. Na cessão de redito, o cedente transfere o mesmo direito que ele tem,

não há o efeito purificador do endosso. Sendo assim, se há algum vício na

relação do cedente com o devedor, este vício será transferido ao cessionário.

Neste exemplo, se havia algum vício na relação entre A e B, este vício será

transferido para o C. Quando o C executa A, o A poderá, através de embargos

à execução, opor as defesas pessoais que tiver em relação ao B. Isto é possível

pq não há autonomia nesta relação cambiária. Não havendo autonomia,

também não há inoponibilidade das exceções eis que não ocorreu o efeito

purificador pois a NP circulou através de uma cessão de crédito.

c) O TC não circula, mas tem autonomia:

EX: A emite uma NP para B e C é o avalista. Neste caso o TC não

circulou mas nele existem duas obrigações cambiárias. O aval é um instituto

cambiário, uma relação autônoma. B executa o C. Neste caso, C não poderá

opor as defesas pessoais do A porque as relações cambiárias são autônomas. A

obrigação do avalista é autônoma em relação às obrigações do avalizado, cada

um tem a sua própria obrigação autônoma e independente. O vício de uma não

contamina a outra, logo há autonomia, e há a incidência do principio da

inoponibilidade. A cognição é restrita.

d) o TC circula por cessão de crédito e tem autonomia:

EX: A emite NP em favor de B com cláusula não à ordem. Y é avalista de

A. B cede esta NP para o C. Se houver um vício intrínseco na relação de A com

45

B haverá a contaminação e o A ao ser executado, por C poderá, em seus

embargos, opor tais vícios em face de C. Entretanto, se o C executar o Y,

avalista do A, o Y não poderá opor as defesas pessoais do A para eximir-se de

pagar. A relação de Y é uma relação cambiária e sobre ela incide o principio

da inoponibilidade das exceções.

e) TC circula por endosso e não tem autonomia: (Endosso

Póstumo)

EX: A emite uma NP para B que realiza um endosso póstumo para C. A NP

em questão é uma NP à ordem, ou seja, a transferência deste TC se dá através

de endosso. B é o endossante e C é o endossatário. E se há endosso, em regra

é pq há autonomia. Só que como toda regra, esta também sofre exceções. E a

exceção à esta regra é o endosso póstumo.

EX: A emitiu essa NP para o B no dia 06/12/04, com vencimento no dia

07/12/04. B endossou para C no dia 09/12/04, ou seja, após o prazo para o

protesto. O endosso realizado por B para o C é o endosso póstumo, também

chamado de endosso tardio, ou * OBS* “endosso posterior ao vencimento” ou

endosso intempestivo.

O endosso póstumo é aquele em que há a transferência de um

direito após o vencimento e após o protesto ou após o decurso do

prazo para o protesto.

Natureza jurídica do endosso póstumo: Formalmente é um endosso. A

transferência é feita da mesma forma que o endosso (através da assinatura no

verso do TC) de acordo com o art. 910, §1, parte final do NCC.

Substancialmente, ou na essência, o endosso póstumo produz efeitos de

cessão ordinária de crédito. *OBS* Todo endosso póstumo é posterior ao vencimento, mas nem todo

endosso posterior ao vencimento é endosso póstumo. O endosso realizado

após o vencimento, mas antes de expirado o prazo para o protesto é um

endosso verdadeiro, com efeito purificador, um instituto do direito cambiário.

* OBS* Cuidado com a expressão “Endosso Posterior ao Vencimento” pq para o endosso ser intempestivo, não basta que ele ocorra depois do vencimento, ele tem que ocorrer também após o prazo para o protesto ou depois de expirado o prazo para o protesto. VIDE ART. 20 LUG.*

46

ENDOSSO # CESSÃO DE CRÉDITO

O endosso é um instituto que diz respeito à TC nominais e à ordem.

O endosso tem autonomia, já que é um instituto do direito cambiário. Se o

endosso tem autonomia ele tem o efeito purificador, ou seja, o endosso

transfere um direito originário, sem vícios intrínsecos.

É diferente da cessão de credito pois a cessão é um instituto civil e não

possui o efeito purificador. Na cessão de credito há a transferência do mesmo

direito. O cedente cede ao cessionário aquele mesmo direito que ele tinha

antes da cessão, com todos os vícios, intrínsecos e extrínsecos.

No endosso, em regra, o endossante garante o pagamento e a existência

do credito.

Na cessão de crédito, o cedente garante apenas a existência do credito,

mas em regra, o cedente não garante o pagamento.

O endosso póstumo em regra produz os mesmos efeitos de uma cessão

de crédito, embora a sua transferência ocorra da mesma forma que ocorre no

endosso comum, verdadeiro.

OBS: O Cheque pode ser protestado durante o prazo para a apresentação.

Esse prazo poderá ser de 30 ou 60 dias, dependendo da praça – art. 33 da lei

do cheque.

Se o cheque for endossado após o prazo para apresentação, haverá um

endosso póstumo. No cheque o prazo para o protesto por falta de pagamento é

o prazo de apresentação – art. 33 da Lei 7357/85 – sendo assim, o endosso

realizado após o prazo de apresentação é considerado endosso póstumo,

produzindo efeito de uma cessão ordinária de crédito – art. 27 da Lei 7357/85.

=>Questão do MP/RJ 2004.

f) TC circula por endosso póstumo, mas tem autonomia:

EX: A emite uma NP em 08/11/2004 para B que endossou a NP para C no

dia 09/11/2004. C por sua vez, endossou para D no dia 13/11/2004 aquela NP,

e D endossou para E esta mesma NP no dia 15/11/04. Y era o avalista do

endossante A. A NP venceu em 12/11/2004.

O E, credor, endossatário, pode cobrar a NP de quem?

Vejam que a questão não fala em protesto. Se não fala, é pq não houve

protesto. Se não houve o protesto, o credor só poderá cobrar do devedor direto

47

que é o A. Se não houve protesto, nós não temos nem mesmo que analisar o

fato do ultimo endosso ter sido realizado após o prazo para o protesto ou não,

pq sem o protesto, o único devedor que pode ser acionado, é o devedor direto

A e seu avalista. Ainda que não tenha ocorrido o protesto, o credor poderá

cobrar do avalista do devedor direto. Então, como não houve o protesto, o

credor poderá cobrar do A e do Y pq ambos possuem a mesma posição na

relação cambiária, embora as obrigações sejam diferentes e autônomas. Se o

E executar o Y, ele não poderá opor as defesas pessoais do A para eximir-se ao

pagamento pois a relação cambiária do Y com o A é autônoma.

Agora vamos supor que tenha havido o protesto. Na data certa para o

protesto, o E levou a NP à protesto.

Se houve o protesto, E poderá cobrar de quem? E poderá cobrar de todos

os endossantes? Algum endossante poderá opor defesas pessoais de terceiros?

Vejam bem, dia 09/11/04 houve um endosso tempestivo, pq realizado

antes do vencimento. A NP venceu no dia 12/11/04 que era uma sexta feira. O

primeiro dia útil após o vencimento é o dia em que o protesto foi realizado.

Este 1o dia útil foi o dia 16/11/04 (pq o dia 15/11 é feriado nacional). Sendo

assim, todos os endossos foram válidos e verdadeiros. O E pode cobrar de

todos os sujeitos envolvidos na relação cambiária.

Se o endosso para o E tivesse sido realizado após o prazo para o protesto,

ou seja, se o dia 15/11 fosse dia útil, haveria uma cessão de crédito por se

tratar de um endosso póstumo. Sendo assim, apenas esta relação não seria

dotada de autonomia, razão pela qual, eventuais exceções pessoais existentes

entre o devedor e o cedente (D) poderiam ser opostas em face do E. Mas,

eventuais vícios existentes nas outras relações, jamais poderiam ser opostos

em face do E pq as demais relações cambiárias são autônomas.

Pergunta para casa: Qual a diferença entre endosso póstumo ou cessão

e a cláusula sem garantia?

16/12/04

Endosso sem garantia # endosso póstumo ou cessão de crédito

O endosso póstumo é diferente da cessão de crédito.

48

O endosso póstumo, formalmente, é um endosso pq ele é realizado da

mesma forma que o verdadeiro endosso, ou seja, através de uma assinatura no

verso da cártula, nos TC à ordem. Entretanto o endosso póstumo produz os

efeitos de uma cessão de crédito. O endosso póstumo é realizado após o

vencimento e após o prazo para o protesto ou após o protesto. Formalmente o

endosso póstumo é um endosso mas materialmente é uma cessão.

A cessão ordinária de crédito diz respeito à TC nominais, não à ordem.

(art. 11 da LUG)

O endosso verdadeiro, em regra é ao portador e à ordem.

Há diferenças entre o endosso com cláusula sem garantia e o endosso

póstumo ou cessão de crédito. No endosso póstumo assim como na cessão de

credito, os efeitos são idênticos, ou seja, não há a garantia pelo pagamento e

não há o efeito purificador.

No endosso sem garantia, transfere um direito puro, trata-se de um

endosso verdadeiro, com a peculiaridade de que o endossante que colocou a

cláusula “sem garantia” fica desobrigado do pagamento. Esta cláusula é

pessoal e só se aplica ao endossante que a inseriu na cártula. nada impede

que o TC continue circulando através de sucessivos endossos, entretanto, na

hora do pagamento, havendo o protesto, o credor poderá cobrar de qualquer

co-obrigado, menos do endossante que inseriu a cláusula “sem garantia” eis

que este endossante, ao inserir a cláusula sem garantia eximiu-se do

pagamento e não poderá ser acionado na execução.

EX: A emite uma NP (à ordem) para B que endossa tempestivamente para

C. Só que B coloca expressamente na cártula que este endosso é sem

garantia, de acordo com o art. 15 da LUG. Quando o B colocou a cláusula sem

garantia, ele retirou um dos efeitos do endosso que é a garantia do

pagamento. Entretanto, este endosso continua possuindo o efeito purificador.

O endossante apenas não garante o pagamento. A cláusula sem garantia não

se confunde com a cláusula não à ordem. A cláusula sem garantia transfere um

direito purificado, um direito originário, entretanto o credor não poderá cobrar

do endossante B este crédito. Se o C quiser endossar essa NP para o D ele

poderá fazê-lo. E quando houver o vencimento, o D protestará a NP e poderá

executar todos os devedores, com exceção do B. O B não será obrigado ao

pagamento justamente pq ele inseriu a cláusula “sem garantia”. Entretanto, os

49

demais sujeitos desta relação cambiária ficarão obrigados. Assim, D vai cobrar

de A. Se o A não pagar, ele poderá cobrar de C.

Endosso com cláusula sem garantia => art. 21 da lei 7357/85; art. 914

NCC; art. 25 Lei da duplicata; art. 15 da LUG.

A diferença entre o endosso com cláusula sem garantia e o endosso

póstumo é que o endosso com a cláusula sem garantia é um endosso

tempestivo e afasta apenas um efeito do endosso que é a garantia pelo

pagamento. O efeito purificador do endosso continua existindo mesmo

havendo na cártula a cláusula sem garantia inserida por um endossante. O

endosso póstumo é um endosso intempestivo que substancialmente é uma

cessão de crédito e afasta ambos os efeitos do endosso, ou seja, o endosso

póstumo não garante nem o pagamento e nem produz o efeito purificador.

O endosso póstumo diz respeito à TC nominais à ordem em que há a

transferência do TC por endosso, porém, tardiamente (após o vencimento e

após o prazo do protesto ou após o protesto) produzindo efeito de uma cessão

ordinária de crédito (garantia da existência mas não do pagamento da

obrigação, bem como não produz efeito purificador). Já o TC não à ordem (cuja

cláusula deve estar expressa na cártula) circula por cessão ordinária de

crédito, produzindo os mesmos efeitos já mencionados.

O TC nominal à ordem circula por endosso, normalmente um endosso

tempestivo, produzindo o efeito garantidor da obrigação bem como o efeito

purificador (arts. 12 e 15 da LUG). No entanto, nesta última hipótese, o

endossante pode, excepcionalmente (art. 15 da LUG), demonstrar ao

endossatário, expressamente na cártula que não garante o pagamento,

bastando colocar a cláusula “sem garantia” ou cláusula equivalente, afastando

apenas um dos feitos do endosso, porém subsiste o efeito purificador,

diferenciando assim, do endosso póstumo e da cessão ordinária de crédito.

ATENÇÃO: Art. 920 NCC “O endosso posterior ao vencimento produz

os mesmos efeitos do anterior”.

Este artigo se for lido sem atenção, pode levar o aluno ao erro.

50

Veja bem, o art. 920 do NCC fala em endosso posterior ao vencimento. Ele

não se refere ao endosso póstumo. Todo endosso póstumo é posterior ao

vencimento, mas nem todo endosso posterior ao vencimento é endosso

póstumo eis que após o vencimento ainda há o prazo para o protesto.

Analisando o art. 920 do NCC, pode-se chegar à equivocada conclusão de

que todo endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos que o

endosso realizado antes, ou seja, produz a garantia do pagamento e o efeito

purificador. No entanto, se o endosso for feito após o vencimento e após o

protesto ou após o decurso do prazo para o protesto, ou ainda, após o prazo de

apresentação do cheque (arts. 20 da LUG, art. 25 da LD, art. 27 da Lei do

cheque) produz efeito de cessão. Conclui-se que todo endosso póstumo é

posterior ao vencimento, mas nem todo endosso posterior ao

vencimento é póstumo.

Caio emitiu uma NP para Tício que a endossou para Mévio. Paulo era

avalista. Mévio procurou Cão para o pagamento mas em razão de sua recusa,

Mévio optou por executar Paulo. Paulo, em embargos, defendeu-se alegando

que ele, Caio e Tício são devedores solidários e portanto requereu o

chamamento de Caio ao com fundamento no art. 77, III do CPC. Pergunta: Isso

é possível?

O art. 77, III do CPC permite o chamamento ao processo de todos os

devedores solidários de uma dívida comum. Este artigo, se refere à

solidariedade civil. Entretanto a solidariedade em questão é uma solidariedade

cambiária. Fabio Ulhoa Coelho chama a solidariedade cambiária de sistema de

regressividade. O art. 77, III do CPC não pode ser aplicado à solidariedade

cambiaria porque nas relações cambiárias incide o principio da autonomia.

A solidariedade civil decorre da lei ou do contrato. Nesta solidariedade o

credor poderá cobrar de um e/ou de todos os devedores toda a dívida. Uma vez

que um dos devedores paga a dívida inteira, ele terá o direito de regresso, ou

seja, poderá cobrar dos demais devedores a cota parte que cada um deles

devia. Os devedores são ligados ao mesmo credor através de uma única

obrigação. Se uma obrigação estiver viciada, este vício alcança a todos os

devedores pq as obrigações civis não possuem autonomia. Por exemplo: se a

51

obrigação de pagar a dívida prescrever para um devedor, ela também

prescreverá para todos os outros.

A solidariedade cambiária é diferente da solidariedade civil. Na

solidariedade cambiária há autonomia nas relações jurídicas. Cada devedor

possui a sua própria obrigação. As obrigações cambiárias são autônomas e

independentes. Cada devedor possui a sua própria obrigação. Se houver um

vício intrínseco em uma obrigação cambiária, este vício não será estendido aos

demais devedores. E o vício de uma relação cambiária não pode ser oposto

pelo sujeito que figurar em outra relação cambiária. A solidariedade cambiária

ou, como diz Fabio Ulhoa Coelho, o sistema da regressividade só tem em

comum com a solidariedade civil a possibilidade do credor executar qualquer

um dos devedores ou todos conjuntamente.

É possível ocorrer o chamamento ao processo, de acordo com o art. 77,

III do CPC quando houver devedores solidários em relação à uma dívida

comum. No entanto, a solidariedade referida pelo CPC é a solidariedade

comum, ou civilista, mas não a solidariedade cambiária, que Fabio Ulhoa

Coelho chama de regressividade. Na solidariedade cambiária não se admite o

chamamento ao processo previsto no art. 77, III do CPC pq na solidariedade

cambiária há o principio da autonomia e conseqüentemente, há o principio da

inoponibilidade de exceções pessoais, o que demonstra que cada devedor

cambiário tem a sua própria obrigação que não se confundem com as

obrigações dos demais devedores, pois são autônomas e independentes.

SOLIDARIEDADE CIVIL SOLIDARIEDADE CAMBIÁRIA ou

SISTEMA DA REGRESSIVIDADE

Decorre da lei ou do Contrato Decorre apenas da lei =>EX: art. 914

NCC; art. 51 da Lei do cheque

Não há autonomia. Há autonomia.

Não há inoponibilidade das

exceções pessoais. Uma vez que a

obrigação de um devedor for

viciada, todas as demais obrigações

dos devedores solidários serão

Há a inoponibilidade das exceções

pessoais. Eventuais vícios existentes

em uma obrigação cambiária não

contaminam as demais obrigações

52

contaminadas. cambiárias.

O devedor solidário que paga a

dívida pode cobrar de qualquer

outro devedor a cota parte que for

devida respectivamente. Não há

uma ordem de preferência entre os

devedores solidários. Todos são

devedores de uma cota parte da

dívida e ao mesmo tempo são

devedores da divida toda.

O devedor solidário que paga não pode

cobrar de todos os demais devedores.

Só pode cobrar dos devedores

anteriores à ele. Não pode cobrar dos

devedores posteriores. Sendo assim,

não há o que se falar em cota parte na

solidariedade cambiária. O devedor

que paga ao credor pode cobrar dos

demais devedores a dívida inteira.

Agora vejamos outra questão sobre solidariedade!!!

João, casado com Maria, celebra com o Banco ITAÚ contrato de conta

corrente conjunta com a sua mulher, estabelecendo solidariedade, sendo que

as assinaturas poderão ser isoladas, ou seja, a mulher tem o talonário dela e o

marido tem o talonário dele. Maria, emite dezenas de cheques pós-datados

para seu deleite pessoal, os quais são devolvidos por falta de fundos. Os

credores ajuízam ações cambiárias em face dos correntistas com fundamento

no art. 51 da lei 7357/85. Pergunta-se: Se João ficar insatisfeito juridicamente,

poderá se valer de que instrumento? Os credores poderão executar ambos os

correntistas?

A resposta desta pergunta está no principio da literalidade!!!!

O art. 51 da lei do cheque diz que todos os obrigados respondem

SOLIDARIAMENTE.

A questão diz que a Maria emitiu os cheques para o seu deleite pessoal.

Se a Maria emitiu os cheques, ela quem assinou o título. Se no cheque só

há a assinatura da Maria, ela é que é a obrigada eis que vigora o principio da

literalidade. João não assinou nada, logo ele não se vinculou. Se João tivesse

assinado a cártula ele estaria obrigado ao pagamento.

Se João está sendo executado em razão das dividas contraídas por Maria,

ele poderá opor embargos de terceiro pq a execução deverá recair sobre os

bens da Maria, emitente dos cheques. João não assinou os cheques emitidos

por Maria, logo ele não é um obrigado nesta relação cambiária.

53

Se os cheques tivessem sido pagos pelo Banco Itaú e após o pagamento o

banco viesse a executar os correntistas, neste caso sim haveria a solidariedade

e o João responderia. Perante o Banco, a solidariedade contratual da conta

corrente conjunta faria com que Maria e João se obrigassem a pagar. Mas

perante terceiros, credores, portadores do cheque apenas Maria seria obrigada

pq neste caso a solidariedade é cambiária e somente se obriga a pagar o TC

quem nele houver assinado.

A 2a turma do STJ entende que no contrato de conta conjunta somente o

emitente que assina a cártula responderá pelo pagamento perante os credores,

portadores do título. A solidariedade de que se refere o art. 51 da lei do cheque

existe no contrato de abertura de conta corrente. Trata-se de uma

solidariedade civil e não cambiária. Logo, esta solidariedade, por ser

contratual, só pode ser alegada pelo Banco, que celebrou o contrato com os

correntistas. A solidariedade contratual não pode ser alegada pelos credores

que receberam o cheque pq o cheque é um TC e as relações jurídicas à ele

referentes são relações cambiárias onde vigora o principio da literalidade.

Somente quem assina na cártula poderá ser executado.

PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA:

O principio da independência significa que os TC são independentes,

ou seja, eles não precisam de nenhum outro documento para que eles

existam. EX: uma LC quando é emitida ela poderá fundamentar uma

execução independentemente da existência de qualquer outro documento.

Mas existe exceção:

As Duplicatas da Lei 5474/68 são exceções ao princípio da

independência. As duplicatas de compra e venda e as duplicatas em

decorrência de prestação de serviço são TC causais.

A compra e venda de produtos rurais realizado diretamente por um

produtor rural ou por uma cooperativa, pode dar causa à uma duplicata

rural. Este crédito a prazo, pode ser documentado em uma duplicata rural,

que é um TC causal. Entretanto, nada impede que esta compra e venda de

54

produtos rurais seja documentada em uma duplicata comum da lei

5474/68.

A diferença prática entre a duplicata de compra e venda comum e a

duplicata rural está no fato de que o credor da duplicata comum prevista na

lei 5474/68 será um credor quirografário. Já o credor da duplicata rural será

um credor com privilégio. O risco do credor da duplicata rural não receber

o seu crédito é menor do que o risco que o credor da duplicata comum

sofre nos caos de falência eis que os credores privilegiados recebem seus

créditos antes dos credores quirografários.

A outra diferença pratica entre estas duplicatas é que a duplicata

comum depende de uma fatura ao passo que a duplicata rural independe

da fatura. Ao sacar uma duplicata rural, a causa debend deve ser

documentada na própria cártula da duplicata rural.

Lei 5474/68 - Duplicatas comuns

AS DUPLICATAS DA Lei 5474/68 SÃO TC DEPENDENTES PQ

DEPENDEM DA FATURA – Art. 2, §2 da Lei 5474/68.

AS DUPLICATAS DA Lei 5474/68 EXCEPCIONAM O PRINCÍPIO

DA INDEPENDÊNCIA.

As duplicatas são TC dependentes pq dependem da fatura. O numero

da fatura é requisito essencial das duplicatas. A fatura é o “espelho da

negociação”, pq retrata da negociação que deu causa à duplicata. Por isso

se diz que as duplicatas são TC causais. A fatura vai documentar a causa

debend (descriminação dos produtos, o prazo etc...). Para sacar uma

duplicata é essencial que exista uma fatura pq um dos requisitos essenciais

das duplicatas é a indicação na cártula, do numero da fatura (art. 2, §1, II

da lei 5474/68).

Duplicata Rural do DL 167/67 não excepciona o principio da

independência. A duplicata rural é um TC independente.

O art. 48 do DL 167/67 trata dos requisitos essenciais da duplicata

rural. Este artigo não se refere à fatura. Ou seja, a duplicata rural

independe da fatura. A causa debend não precisa ser descriminada na

55

fatura pois o art. 48, VII do DL 167/67 determina que a causa debend venha

expressa na própria cártula da duplicata rural.

No art. 2, §1, II fazer remissão ao art. 48, VII do DL 167/67 para

indicar a diferença.

OBS: Requião diz que é errada a nomenclatura das duplicatas rurais. Ele

diz que a duplicata é uma reprodução da fatura e na duplicata rural não há

fatura, logo ela não poderia ser uma duplicata. A duplicata rural independe da

fatura, embora elas sejam TC causais.

PRINCÍPIO DA ABSTRAÇÃO:

O principio da autonomia se refere à causa debend.

De acordo com o princípio da abstração, uma vez que o TC circula por

endosso, o TC se desvincula de sua causa debend (negócio subjacente,

negocio fundamental ou relação jurídica causal), o que significa que se o

terceiro de boa-fé for cobrar do devedor primitivo, este não poderá se eximir

do pagamento alegando um vício na causa debend, mas tão somente para o

credor originário. Portanto, este princípio acaba inclusive por legitimar causas

ilegítimas, desde que o TC seja colocado em circulação.

Há autores que confundem o principio da autonomia com o principio da

abstração enquanto que outros autores (Fábio Ulhoa Coelho) entendem que o

principio da abstração configura um sub-princípio do Principio da autonomia.

Entretanto, são princípios distintos.

O principio da autonomia pressupõe pluralidade de obrigações cambiárias,

estando relacionado com eventuais vícios intrínsecos porventura existentes em

alguma obrigação cambiária, não se referindo à causa debend. Ademais, não é

imprescindível para incidir a autonomia a circulabilidade do TC eis que um TC

pode ter autonomia mesmo que ele não circule.

O princípio da abstração tem como premissa a circulação do TC, estando

relacionado com eventual defeito (ou vício) na relação jurídica causal.

EXEMPLO: A emite uma NP para B prometendo pagar 100 reais. A NP é

um TC que pode ter qualquer causa. A é o emitente e B é o credor primitivo.

Esta NP está perfeita e preencheu todos os requisitos legais. ao ser executado

56

por B, o A poderá se eximir de pagar aquela NP alegando que o DVD comprado

e que deu origem àquela NP veio com defeito.

Mas suponhamos que o B endossou esta NP para o C. O C recebeu a NP

sem nem mesmo saber qual a causa debend daquela NP. No vencimento, C

procura o A para que este pague o valor descrito na NP. Neste caso, houve

circulação e, portanto, o A não poderá alegar para o C o vício na causa debend

para não pagar. O C não participou da relação causal. Por esta razão que o

principio da abstração acaba por legitimar causas ilegítimas. Neste caso, como

houve circulação por endosso, o A terá que pagar aquela NP mesmo que o

negócio causal tenha vícios.

O Princípio da Abstração e TC causais:

O princípio da abstração se aplica aos TC abstratos, ou seja, aqueles em

que qualquer causa debend pode ensejar a emissão do TC.

EX: o cheque pode ser emitido por uma compra e venda, por uma

prestação de serviço, por uma doação etc... Logo o cheque é um TC abstrato.

O TC causal é aquele que tem uma causa especifica prevista em lei. EX:

duplicata rural.

EXEMPLO:

Lojas Americanas compram mil bolas da Estrela. A Estrela saca uma

duplicata no valor de 300 reais com vencimento para 90 dias. A estrela é a

vendedora do produto e a credora do preço. As Lojas Americanas são as

credoras do produto e devedoras do preço.

As lojas americanas podem fazer o aceite expresso, ou podem não fazer o

aceite, justificando o vício na causa debend. O art. 7 da LD diz que é possível

que o sacado justifique a falta de aceite alegando algum vício na relação

causal.

Ocorre que a duplicata pode ser endossada.

Se a Estrela endossar para X antes da apresentação para o aceite, as

Lojas Americanas, devedoras do preço, não poderão alegar para o X o vício na

relação causal eis que neste caso, o TC terá circulado e uma vez que o TC

circula, ele se torna abstrato.

Há quem sustente que o principio da abstração está relacionado com os

TC abstratos. Pontes de Miranda, acertadamente, prevê que o principio da

57

abstração também é aplicável aos TC causais, que são aqueles que têm causas

específicas previstas na lei, bastando que o TC venha a circular. É o que ocorre,

por exemplo, na duplicata em que o sacado pode alegar o vício na causa para

o sacador (credor primitivo ou originário) atendendo aos arts. 7 e 8 da LD.

Porém, se o TC causal circular, quando terceiro de boa-fé for cobrar do

aceitante, este não poderá alegar eventual defeito na causa debend.

PRINCÍPIO TIPICIDADE:

O principio da tipicidade também é conhecido como principio da

LEGALIDADE ou principio da RESERVA LEGAL.

Aqui se faz necessário a mesma idéia que nós temos de tipicidade penal.

É a mesma noção do direito penal, aquela de que somente há crime se houver

lei que o defina, então, da mesma forma, somente há título de crédito se

houver lei prevendo.

Embora nem todos os autores comentem este princípio, os títulos de

crédito são numerus clausulus, ou seja, são taxativos. Só vai existir um título

de crédito se houver previsão legal, ou um ato normativo com força de lei,

exemplo Medida Provisória, por exemplo, a MP 1925 que criou a cédula de

crédito bancário.

A tipicidade dos TC deve ser verificada através do ato normativo que o

criou. Somente a lei ou algum outro ato normativo com força de lei poderá

criar um TC. Uma portaria ou uma resolução não poderão criar título de crédito,

pq estes não possuem força de lei.

13/01/2005

DECLARAÇÕES CAMBIÁRIAS:

Podemos conceituar as declarações cambiárias como sendo

manifestações unilaterais de vontade inseridas no título de crédito.

58

Justamente em razão dos princípios da autonomia, inoponibilidade das

exceções pessoais, estas declarações não tem natureza de contrato, nem de

declaração bilateral, mas sim declaração unilateral de vontade. Sendo

assim, na emissão do TC, no endosso, no aceite, no saque e no aval se estará

fazendo uma declaração unilateral.

PERGUNTA: Em qual momento surge a obrigação cambiária? Em que

momento a pessoa fica obrigada no título de crédito, é somente quando assina

ou é quando o título sai de suas mãos e é colocado em circulação?

Por exemplo, se A emite uma NP e a guarda em seu armário para depois

entrega-la a alguém, neste caso estará constituída a obrigação cambiária ou

será necessário que o título tenha saído de suas mãos voluntariamente? E se

alguém pegar escondido este título, o emitente será ou não devedor do título?

Em outras palavras, em que momento surge a obrigação cambiária será com a

simples assinatura do título ou é com a assinatura mais a saída voluntária de

suas mão?

Há duas teorias. O CC/16 gerava controvérsia e o NCC trouxe a mesma

redação, logo, a controvérsia continua existindo!

TEORIA DA CRIAÇÃO: A obrigação cambiária surge com a simples

assinatura na cártula, não importa se a saída do título das mãos de quem o

assinou foi de forma voluntária ou involuntária. Se alguém pegar o título, o

emitente é obrigado a pagar.

TEORIA DA EMISSÃO: A obrigação cambiária não surgirá apenas com a

assinatura, que é muito importante já que é um requisito essencial do TC.

Porém, não basta à assinatura, porque a obrigação cambiária surge com a

assinatura + (mais) a saída voluntária por parte do subscritor.

No Direito brasileiro há controvérsia porque nós temos dois artigos e

cada um adota uma teoria:

- Art. 896 NCC – De acordo com este art. 896, do NCC, a simples

assinatura já gera a obrigação cambiária. Este artigo adotou a teoria da

criação. E ainda o art. 905, e seu PU dispõem que o portador tem direito à

59

prestação indicada no TC mediante a sua simples apresentação, mesmo que o

TC tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente.

- Art. 909 NCC – Se o TC sair das mãos do proprietário de forma

involuntária, porque perdeu ou extraviou o título, ele poderá se recorrer do

Judiciário para impedir que haja o pagamento deste título (que saiu de suas

mãos de forma involuntária). Logo, este artigo quer nos dizer que o TC tem que

sair (circular) de forma voluntária das mãos do emitente, adotando a Teoria da

Emissão.

Cada artigo adota uma teoria pq repetem o CC/16, que no art. 1506

tratava da teoria da criação e o art. 1510 que tratava da teoria da emissão,

então a controvérsia de antes permanece no NCC, então eu pergunto, o que o

direito brasileiro adotou?

1ª corrente: Rubens Requião – Entende que se temos dois artigos

versando sobre duas teorias diferentes, é pq o Brasil não optou em escolher

entre uma e outra. A legislação brasileira ao elencar as duas teorias optou por

adotar as duas, tanto a da criação como da emissão.

2ª corrente: Predominante - Todo o resto da doutrina entende que o

Brasil adotou a Teoria da Criação, ou seja, a obrigação constante no TC nasce

com a simples assinatura, de acordo com art. 896 e 905 § único do NCC. Ou

seja, a priori o Brasil adota a teoria da criação, e sendo assim, se surgir a

obrigação ela será devida independentemente do fato do TC ter circulado

voluntariamente ou não. Já o art. 906 NCC exige a intervenção do judiciário nos

casos em que o proprietário for injustamente desapossado do TC. a doutrina

majoritária entende que para ser aplicada a teoria da emissão é necessário a

interferência do poder judiciário.

Se isso for perguntado em prova, com certeza o examinador vai querer

ouvir as duas posições.

TÍTULOS DE CRÉDITO IMPRÓPRIOS

O TC representa um direito. Que direito é representado no TC?

60

Nós vimos que existem TC próprios e existem TC impróprios e nós vimos

também que a palavra crédito provém de um conceito econômico. O crédito

caracteriza uma riqueza e o TC propicia a circulação destas riquezas.

TC próprio é aquele que documenta ou representa um direito de

crédito. EX: NP, LC são TC próprios.

O cheque tem natureza controvertida. Nós veremos isso mais a frente. Há

5 posições quanto à natureza jurídica do cheque. Esta polêmica decore da

função econômica do cheque.

TC impróprio é aquele que embora atenda aos princípios

cambiários (cartularidade, literalidade etc..) é considerado um TC

impróprio pq documenta outros direitos que não os direitos de

crédito. EX: conhecimento de depósito, warrant, conhecimento de frete ou

transporte.

Conhecimento de deposito é um TC por força de lei. A lei é que diz que o

Conhecimento de Depósito é um TC. Logo, o conhecimento de depósito é uma

espécie de TC, entretanto este TC se classifica como um TC impróprio. Há

quem entenda que as ações são TC, e estes autores sustentam que as ações

são TC impróprios pq representam um direito social, que é o direito na

participação dos valores da sociedade.

Os TC impróprios possuem atributos cambiários, porém, eles representam

quaisquer outros direitos, mas não os direitos de crédito.

Exemplo: Há TC impróprios que representam o direito de propriedade, tal

como o Conhecimento de Depósito regulado no Decreto 1102 de 1903 e o

Conhecimento de Frete ou Transporte regulado no Decreto 19473 de 1930.

TÍTULOS ARMAZENEIROS:

O Decreto 1102/1903 regula os títulos armazeneiros, precisamente o

Conhecimento de Depósito e o Warrant, os quais estão relacionados com os

armazéns gerais, podendo circular junto ou separadamente, porém, possuem

finalidades distintas. O Conhecimento de Depósito configura um TC

armazeneiro impróprio e representa o domínio, ou o direito de propriedade

61

sobre as mercadorias depositadas nos Armazéns Gerais para fins de guarda e

conservação, o que significa que para negociar as mercadorias (aliena-las)

basta a transferência do TC. Já o Warrant é um TC armazeneiro impróprio que

documenta um direito real de garantia sobre bem móvel (e não documenta a

propriedade), ou seja, o warrant documenta um direito pignoratício. Uma vez

emitido o warrant, as mercadorias depositadas nos armazéns gerais podem ser

dadas em garantia pelo proprietário, para tanto, basta que o proprietário

transfira (endosse) o warrant. (ver arts. 894 NCC e art. 44, I, da LF)

Conhecimento de Depósito – Um empresário recebe uma encomenda

de mercadorias em outubro para vendê-las aos seus clientes na época do

Natal, mas enquanto não chega a época do Natal, este empresário não tem

onde guardar (armazenar) as mercadorias. Então, ele resolve armazenar estas

mercadorias em um depósito, em um armazém. Para que o armazém guarde

as mercadorias o empresário faz um contrato de depósito com o armazém para

que ele guarde e conserve a mercadoria e a restitua ao seu legitimo

proprietário tão logo for reclamada.

Entretanto, nada impede que o armazém entregue a este empresário um

TC, que é o Conhecimento de Depósito. Este TC documenta a propriedade das

mercadorias ali armazenadas. Nada impede que o empresário negocie aquelas

mercadorias endossando o TC (Conhecimento de Depósito). Ao endossar o

Conhecimento de Depósito o empresário estará transferindo a propriedade das

mercadorias armazenadas ao endossatário, sem precisar realizar a tradição

real daquelas mercadorias.

O conhecimento de depósito é um título de crédito emitido pelos

armazéns gerais que tem por finalidade materializar o direito de propriedade

sobre as mercadorias armazenadas (depositadas).

Warrant é um título de crédito impróprio, emitido pelos Armazéns

Gerais e tem por finalidade representar (materializar) um direito real de

garantia que é um direito pignoratício sobre os bens depositados nos armazéns

gerais.

62

O Warrant documenta um direito real de garantia

Nada impede que o TC impróprio seja dado em garantia - penhor. Por

exemplo, imaginemos que aquele empresário do exemplo acima esteja

precisando de um empréstimo. Ele vai até uma Instituição Financeira, realiza

este empréstimo e diz que entregará um Warrant em garantia ao pagamento

daquele empréstimo. O warrant representa uma garantia real e neste caso do

empresário, o warrant emitido estará dizendo que as mercadorias

armazenadas serão dadas em garantia ao pagamento do empréstimo. Isto

ocorre pq a Warrant documenta um direito real de garantia. Trata-se de uma

garantia pignoratícia. É diferente do Conhecimento de Depósito pq este

representa um direito de propriedade.

Warrant é o TC impróprio que pode circular junto ou separadamente do

Conhecimento de Depósito. Ao endossar o warrant não há a transferência da

propriedade, mas há a constituição de uma garantia real sobre as mercadorias

armazenadas.

O Conhecimento de Depósito e o Warrant são títulos armazeneiros, ou

seja, se relacionam com os armazéns gerais e ambos estão regulados no

Decreto 1102 de 1903. Tanto o Conhecimento de Depósito como o Warrant

são TC impróprios, entretanto, se distinguem pq representam direitos

diferentes. O conhecimento de Depósito representa o direito de propriedade ao

passo que o warrant representa uma garantia real.

CONHECIMENTO DE FRETE OU TRANSPORTE é TC impróprio pq não

representa o direito de crédito. Este TC documenta a propriedade de

mercadorias em trânsito.

O conhecimento de transporte está regulado no Decreto 19473/30 e

configura um TC impróprio relacionado com as sociedades transportadoras que

tem por finalidade representar o direito de propriedade sobre as mercadorias

transportadas e objeto de compra e venda a distancia. É um TC que propicia a

tradição simbólica das mercadorias. (ver arts. 894 NCC e art. 44, I LF).

63

OBS: Os títulos que representam valores participativos são polêmicos.

Rubens Requião e Waldiro Bulgarelli entendem que os valores mobiliários,

ações debêntures, partes beneficiárias, bônus de subscrição são TC impróprios,

ao passo que Tavares Borba e Fábio Ulhoa Coelho diferenciam os valores

mobiliários dos títulos de crédito e entendem que são títulos de investimento

(não são títulos de crédito).

TITULOS RURAIS

Os TC rurais estão no Decreto 167/67. Neste decreto há a previsão da

DULICATA RURAL e da NOTA PROMISSÓRIA RUAL.

O credor de uma NP comum é um credor quirografário. Mas a NP rural tem

uma peculiaridade pq o legislador diz que o credor da NP rural é um credor

com privilégio especial. Com a atual LF (DL7661/45) os credores com privilégio

especial recebem seu crédito antes dos credores quirografários. Sendo assim,

o credor de uma NP comum vai receber seu crédito depois do credor de uma

NP rural isto ocorre pq o legislador pretendeu fomentar a atividade rural. Nós

vamos voltar a este tema quando tratarmos da Nota Promissória e da

duplicata.

Pergunta: Estabeleça a diferença entre a NP comum, a NP rural e o

comercial paper.

TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE:

LETRA DE CÂMBIO:

A LC está regulada na LUG (Decreto 57663/66) e no Decreto 2044/08.

A LUG é a Lei Uniforme de Genebra e trata da LC e NP. No seu Anexo I,

que vai do art. 1 ao art. 78, é a verdadeira Lei Uniforme, pois trata das

questões que definem os casos concretos. O Anexo I possui normas essenciais

e normas não essenciais. Ou seja, os paises que aderiram à LUG têm o dever

de aplicar as normas essenciais do Anexo I e as normas não essenciais só

serão aplicáveis nos ordenamentos jurídicos com os quais elas forem

compatíveis. Ou seja, os paises que aderiram a LUG têm a faculdade de fazer a

64

chamada Reserva, e em fazendo a Reserva eles podem optar por aplicar ou

não as normas não essenciais do Anexo I da LUG. Por exemplo, o Brasil pode

reservar-se ao direito de não aplicar uma norma não essencial da LUG em seu

ordenamento interno.

O Anexo II da LUG vai do art. 1 ao art. 23 e trata de questões secundárias,

pq ligados às matérias do Anexo I, em sede de LC e NP.

PERGUNTA: O analfabeto, ou o mutilado, ou o cego podem, diretamente,

constituir uma LC ou uma NP? Fundamente.

No Anexo I, art. 1, nº.8, da LUG diz que a LC deve conter a assinatura do

emitente. e a assinatura é um requisito essencial da LC. Entretanto, a LUG não

regula a hipótese de um mutilado emitir a assinatura. Como solucionar esta

questão?

Bom, para solucionar esta questão é preciso saber aplicar a LGUG.

Em primeiro lugar deve-se ler o preâmbulo da LUG. Na 1ª alínea deste

preâmbulo é dito que “O Presidente da República: .... faz RESEREVA dos arts.

2,3,5,6,7,9,10,13,15,16,17,19 e 20 do Anexo II”.

Em segundo lugar deve-se ler apenas os artigos mencionados no

preâmbulo. Após a leitura destes artigos do Anexo II, deve-se ler os artigos

todos do Anexo I para marcar quais os artigos do Anexo I que podem ser

afastados em razão da Reserva do Anexo II.

Então, de volta ao Anexo I poderemos riscar os artigos do Anexo I que

foram afastados pelo Anexo II ou então podemos ir ao Decreto 2044/08.

Se a LUG for omissa ou se a LUG tiver algum artigo com reserva, aplica-se

o Decreto 2044/08.

Vejamos alguns casos práticos:

Art. 3 do Anexo II sofreu Reserva. Este artigo 3 do Anexo II está nos

dizendo que os paises que aderiram à LUG têm a faculdade de não inserir o art.

10 do Anexo I na sua legislação interna. O Brasil ao aderir à LUG disse em seu

preâmbulo que fazia Reserva ao art. 3 do Anexo II. Ao colocar este art. 3 do

Anexo II no seu preâmbulo, o Brasil disse que não queria aplicar no direito

interno o art. 10 do Anexo I da LUG. Se o Brasil quisesse aplicar no seu

ordenamento interno o teor do art. 10 do Anexo I, ele não teria feito a reserva

do art. 3 do Anexo II. Mas como houve a Reserva, o Brasil não aplica no

65

ordenamento interno o art. 10 do Anexo I. Então, vcs podem riscar o art. 10 do

Anexo I sem nenhum medo. Este art. 10 do Anexo I não se aplica no Brasil pq é

uma norma não essencial.

Art. 9 do Anexo II também sofreu Reserva no Brasil. Este artigo se refere

ao prazo para o protesto por falta de pagamento previsto no art. 44, alínea 3

do Anexo I. Ou seja, o art. 9 do Anexo II consta no Preâmbulo da LUG e este

artigo diz que os paises que aderiram a LUG têm a faculdade de afastar do

ordenamento jurídico a alínea 3ª do art. 44 da LUG. Então, marquem esta

alínea e façam remissão ao art. 9 do Anexo II. Mas não risquem todo o artigo

44 pq mais a frente veremos uma polêmica sobre ele e principalmente, pq o

artigo 9 do Anexo II só afasta a aplicação da 3ª alínea do art. 44 do anexo I.

Nesta 3ª alínea do art. 44 do Anexo I é bom riscar e puxar uma seta para

o art. 28 do DEC. 2044/08 e para o art. 12, §2 da lei 9492/97.

Respondendo à pergunta acima citada:

O art. 2 do Anexo II sofreu Reserva. Este artigo se refere à falta de

assinatura. A LUG não regulou esta matéria e deixou para as Partes que

aderiram à LUG regula-la. E o Brasil regulou esta matéria no art. 1, V do

Decreto 2044/08. Sendo assim, o analfabeto, o mutilado ou o cego poderão

assinar a LC através de seu mandatário especial.

Então, lá no art.1, nº.8 da LUG puxem uma seta e façam remissão ao art.

1, V do Decreto 2044/08 c/c art. 2 do Anexo II da LUG.

PERGUNTA: A LUG pode ser revogada por uma lei interna brasileira? A

LUG, Decreto 57663/66 pode ter a sua incidência automaticamente afastada

por uma lei posterior interna brasileira?

Isso é matéria de direito internacional. E aconteceu situação semelhante

com o cheque. Há uma Lei Uniforme sobre o cheque, que é o Decreto

57595/66. O Brasil aderiu à esta Lei Uniforme do cheque e depois publicou a lei

7357/85 que vem sendo aplicada até hoje em nosso ordenamento jurídico.

1ª corrente: É dominante na doutrina de direito internacional e

defendida por Aroldo Valadão e Celso Albuquerque Melo o entendimento de

que não cabe o afastamento automático do Tratado por lei interna posterior,

66

sendo necessária a prévia Denúncia, que é um instituto de direito internacional

que deve ser utilizado pelo país que produzir lei interna versando sobre a

mesma matéria do Tratado, com o fim de comunicar aos organismos

internacionais o afastamento por seu ordenamento interno da incidência de um

ato normativo originário de fonte legislativa externa.

Em outras palavras, esta corrente entende que nada impede que uma lei

interna afaste um Tratado Internacional, desde que o país informe ao direito

internacional que não está mais aplicando o Tratado, através do instituto da

Denúncia.

2ª corrente: A Jurisprudência do STF é no sentido de que pode ocorrer o

afastamento automático do Tratado Internacional por uma lei interna,

independentemente da prévia Denúncia. Marco Aurélio Melo diz que a

Denúncia é um instituto de direito internacional que não pode vincular de

maneira absoluta o ordenamento jurídico de um país porque se a Denuncia

vinculasse o ordenamento interno, o STF não poderia reconhecer nenhum vício

de constitucionalidade da lei interna antes do aviso prévio (Denuncia). Para

fazer o controle de constitucionalidade o STF teria que fazer também a

Denuncia e não há nenhuma menção na CF que se refira a necessidade do STF

fazer a Denuncia sobre o afastamento do Tratado para poder analisar a

constitucionalidade da lei interna. Além disso, o Tratado, para ser aplicado tem

que passar pelo Congresso nacional e pelo Presidente da República (art. 84 da

CF) e entra no ordenamento vigente com força de lei ordinária. E sendo assim,

deve-se aplicar o art. 2 da LICC que dispõe que a lei posterior afasta a

incidência de lei anterior. A Jurisprudência do STF ainda diz que de acordo com

a CF não há nenhuma supremacia dos Tratados sobre as leis ordinárias que

faça com que os Tratados prevaleçam. Um outro fundamento do STF está no

direito tributário. Para o STF o disposto no art. 98 do CTN não se aplica à esta

questão cambiária pois o Tratado mencionado no art. 98 do CTN tem natureza

de tratado-acordo (tratado-contrato), enquanto que o Tratado analisado nesta

questão tem natureza de Tratado -Lei, tratado-ato normativo.

Decreto 2044/08 LUG - Decreto 57663/66:

67

1) Uma matéria na qual o Decreto 2044/08 é omisso e a LUG regula

aplica-se a LUG.

2) Uma matéria regulada no Decreto 2044/08 e que a LUG é omissa

aplica-se o Decreto 2044/08.

3) Uma matéria regulada tanto no Decreto 2044/08 como também na LUG

aplica-se a LUG pq a LICC no seu art. 2 diz que a lei posterior afasta a lei

anterior.

4) Uma matéria em que o Decreto 2044/08 é omisso e que a LUG regula,

porém com Reserva, ou seja, com a faculdade de não aplicar o dispositivo no

ordenamento brasileiro Neste caso, alguns doutrinadores entendem que

aplica-se a LUG de forma resolutiva, ou seja até que uma lei interna venha a

regular aquela matéria. Para outros, e na opinião do professor, de forma mais

técnica, havendo omissão no Decreto 2044/08 e reserva na LUG, aplica-se o

NCC que é uma norma geral interna e subsidiária. Apenas no caso do NCC

também ser omisso é que aplica-se a LUG com a condição resolutiva de que se

vier lei interna regulando a matéria, esta será aplicada.

5) Decreto 2044/08 regula a matéria e a LUG também regula a mesma

matéria, porém o Brasil fez Reserva, ou seja, reservou-se ao direito de não

aplicar aquele dispositivo. Neste caso há controvérsias. A posição dominante

é que prevalece o decreto 2044/08 que é a norma interna. Isoladamente, Fran

Martins entende que será aplicada a LUG sob condição resolutiva, ou seja, até

que surja uma lei regulando o caso.

6) Decreto 2044/08 é omisso e a LUG também é omissa Neste caso

aplica-se o NCC. Se o NCC também for omisso, aplica-se o art. 4 da LICC e

serão adotados métodos de integração, ou seja, o juiz decidirá o caso de

acordo com os costumes, analogia e princípios gerais de direito.

27/01/2005

LETRA DE CÂMBIO (continuação)

A LC sempre envolve três figuras, que não são necessariamente três

pessoas.

68

Por exemplo, uma pessoa, A, possui duas relações jurídicas. Ou seja, o A é

credor de B e ao mesmo tempo A é devedor de C. Nada impede que o A

unifique estas duas relações jurídicas em um Título de Crédito. E sendo assim,

o A pode dizer ao B que aquele valor que o B deve ao A deverá ser pago ao C.

Ao fazer isso, o A estará dando uma ordem de pagamento ao B. Pela lei esta

ordem de pagamento pode ser a vista ou a prazo.

A dará uma ordem de pagamento ao B (à vista ou a prazo) para que B

pague ao C. Esta ordem de pagamento poderá ser documentada em uma LC

desde que sejam obedecidos os requisitos essenciais do art. 1 da LUG.

Quem dá a ordem de pagamento (Pessoa Natural ou Jurídica) é o

SACADOR.

Quem recebe a ordem de pagamento (Pessoa Natural ou Jurídica) é o

SACADO.

Quem se beneficia com a ordem de pagamento é o BENEFICIÁRIO (ou

CREDOR ou TOMADOR).

Foi dito acima que a LC envolve três figuras sem envolver

necessariamente três pessoas. Isso acontece pq o Sacador dá a ordem de

pagamento ao Sacado. Ao dar a ordem de pagamento, o Sacador assina a LC.

Ao assinar a LC o Sacador se obriga. Mas o Sacado poder receber a ordem sem

aceita-la. Se o Sacado não aceitar a ordem de pagamento, ele não assinará a

LC e, portanto, não se obrigará. Se o Sacado não aceita a LC ele não se torna

um devedor cambiário. Também pode acontecer do Sacador ser o credor da

LC, nesta hipótese, o Sacador dará a ordem de pagamento ao Sacado para que

o sacado pague ao credor que neste caso é o próprio Sacado. Por essa razão é

que a LC tem que ter necessariamente, três figuras, embora nem sempre

exista três pessoas envolvidas.

CONCEITO DE LETRA DE CÂMBIO

LC configura um TC próprio que documenta uma ordem de

pagamento, à vista ou a prazo, feita pelo Sacador (Pessoa Jurídica ou

Pessoa Natural) contra o Sacado (Pessoa Jurídica ou Pessoa Natural), em

favor de si próprio (em favor do próprio Sacador) ou em favor de terceiro

denominado Credor, Tomador ou Beneficiário.

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Então a LC está entre os TC que documentam uma ordem de pagamento.

(O cheque e a duplicata também documentam uma ordem de pagamento,

embora sejam TC diferentes da LC).

A LC tem necessariamente, três figuras jurídicas originárias. São as figuras

do Sacador (que dá a ordem de pagamento), Sacado (que recebe a ordem de

pagamento) e Tomador (que é o credor originário). Mas nada impede que a LC

tenha figuras derivadas, que figurarão na LC através do aval ou através do

endosso.

IMPORTANTE: O Sacado é uma figura jurídica, sendo um mero recebedor

da ordem de pagamento, mas não é devedor cambiário. O Sacado só se

transformará em devedor cambiário quando ele aceitar a ordem de

pagamento. Antes do aceite, o Sacado não é devedor cambiário. Após o aceite

o Sacado passa a ser Aceitante.

O art. 47 da LUG diz quais são os devedores cambiários na LC. Vejam que

este artigo não menciona o Sacado. O art. 47 se refere ao ACEITANTE. E

aceitante não é o sacado. Uma vez que o Sacado aceita a ordem de

pagamento, ele deixa de ser o Sacado e passa a ser o aceitante. O Sacado não

é devedor cambiário pq ele ainda não assinou a LC. Em razão do principio da

literalidade, para que algum sujeito possa se vincular ao TC, é preciso assinar a

cártula. Uma vez que há a assinatura do aceite, o Sacado se vincula à LC e

passa a ser aceitante.

O Sacado é mero recebedor da ordem de pagamento, não é devedor

cambiário porque ele não está no rol do art. 47 da LUG eis que ainda não

assinou a cártula e em razão do Principio da Literalidade, só são obrigados

aqueles que tiverem assinado na cártula. O Sacado se transforma em aceitante

quando assina a cártula e consequentemente passa a ser um devedor

cambiário, na forma do art. 47 da LUG e em atenção ao Principio da

Literalidade.

Pergunta da Magistratura: O sacado pode ser executado?

Resposta: Não, pois o sacado não é devedor cambiário. O Sacado que não

assina a cártula, não se vincula na relação cambiária. Pode ser que o sacado

seja devedor do Sacador em alguma outra relação jurídica. Neste caso, o

70

Sacador poderá cobrar a sua dívida do sacado, mas em uma ação não

cambiária.

O fato do sacado não ter assinado a cártula, não significa que a LC não

exista.

Pode acontecer do sacado não aceitar a LC e neste caso o credor deverá

demonstrar ao Sacador que não houve o aceite. A demonstração de que não

houve o aceite será feita através do PROTESTO. Nós teremos uma aula só para

falar do Protesto.

No art. 47 da LUG, onde está escrito Sacadores, puxar uma seta e fazer

remissão ao art. 9 da LUG. E onde está escrito “aceitante” puxar outra seta e

fazer remissão aos artigos 21 e seguintes.

O art. 9 da LUG diz que o Sacador é devedor cambiário e garante o

pagamento em duas hipóteses: 1) O Sacador garante o pagamento se não

ocorrer o aceite; 2) O Sacador garante o pagamento se ocorrer o aceite, mas

se não ocorrer o pagamento por parte do aceitante.

Então o Sacador vai garantir o pagamento caso o Sacado se recuse a

aceitar a ordem de pagamento. E o Sacador também garante o pagamento no

caso de ser aceita a ordem de pagamento da LC e após a assinatura do ACEITE

na cártula este aceitante se recusar a efetuar o pagamento da LC.

Em regra, quem faz o aceite é o Sacado. Mas o Sacado não se confunde

com o aceitante. Existe a possibilidade de um terceiro (que não é o sacado)

aceitar a ordem de pagamento. Neste caso, o terceiro será o aceitante e o

devedor cambiário. O Sacado só será devedor cambiário quando ele aceitar a

ordem de pagamento mediante a sua assinatura na LC.

Não há a hipótese do aceite tácito na LC.

Na LC o aceite tem que ser expresso na cártula.

DEVEDORES CAMBIÁRIOS:

Os devedores cambiários são aqueles que podem ser executados em uma

ação cambiária.

71

Há devedores cambiários diretos e devedores cambiários indiretos. Alguns

autores falam em devedores cambiários principais e devedores cambiários de

regresso. Luis Emygdio chama atenção para a diferenciação destas

nomenclaturas eis que um não é sinônimo do outro. Nem sempre o devedor

direto cambiário será o devedor principal, assim como nem sempre o devedor

indireto será sempre o devedor de regresso.

DEVEDOR CAMBIÁRIO DIRETO (DCD) assume que vai pagar o valor do

TC no vencimento. É exatamente o que o aceitante faz quando assina a cártula

da LC. Ele assume a obrigação de pagar no vencimento. O DCD é aquele que

se compromete a cumprir a obrigação cambiária no vencimento.

DEVEDOR CAMBIÁRIO INDIRETO (DCI) é aquele que se compromete a

pagar se o Devedor Cambiário Direto (DCD) não o fizer.

Para saber quem é o DCD é preciso saber quem deverá pagar no

vencimento. Na LC, quem deve pagar no vencimento é o aceitante (art.28

LUG). Se o aceitante não pagar, o credor poderá exigir o pagamento dos DCI

desde que prove a falta de aceite. Esta prova, em regra se faz através do

Protesto. Na falta de protesto, o direito de cobrar dos devedores indiretos

decairá. Para cobrar o pagamento do devedor cambiário direto, não há

necessidade de protesto. Neste caso, o protesto é facultativo. Mas para cobrar

dos devedores indiretos, em regra, há a necessidade do Protesto. Caso o

tomador pretenda executar o DCD e os DCI em um litisconsórcio passivo será

necessária a realização do protesto.

DEVEDOR PRINCIPAL é aquele que pagando o TC, não tem de quem

cobrar aquele valor em ação de regresso. A solidariedade cambiária traz uma

ordem de co-obrigados. Aquele que paga o TC só poderá cobrar em regresso

daqueles sujeitos cambiários que estavam na cadeia cambiária atrás dele. Mas

o devedor principal não tem ninguém atrás dele, logo ele não tem de quem

cobrar o valor do TC em regresso. Uma vez que o devedor principal paga o TC

extingue-se a relação cambiária.

72

DEVEDOR EM REGRESSO é aquele que pagando o TC ainda poderá

cobrar dos devedores anteriores. O pagamento libera quem estiver na frente,

mas cria o direito de regresso dos devedores cambiários que estiverem atrás.

LETRA DE CÂMBIO COM ACEITE

A (Sacador) dá uma ordem de pagamento para B (Sacado) em favor de C

(Tomador / Credor). A tinha um avalista X e B também tinha um avalista Z. O

C apresenta a LC para B aceitar o TC. B assina o TC e passa a ser o Aceitante.

C arruma um avalista Z e endossa a LC para D e D por sua vez, endossa a LC

para E que é o atual credor. Nesta cadeia cambiária há ainda a figura de um

avalista P que não disse quem era seu avalizado. Aqui nós vamos partir da

premissa de que todos os endossos foram tempestivos (pq se a hipótese fosse

endosso póstumo, o endossante não garantiria o pagamento).

Y(avalista de A) Z (avalista de B) X(avalista de C) P (avalista que

não indicou quem é o seu avalizado)

A B C D E

(Sacador) (Sacado) (credor originário)

(endossante) (endossatário)

(Aceitante) (endossante)

(credor / tomador)

( B não pagou a LC)

Neste exemplo acima, quem é ou quem são os Devedores Cambiários

Diretos?

Resposta: B e Z são Devedores Cambiários Diretos.

Por quê?

73

Quando o B assinou a cártula, realizou o aceite expresso e reconheceu

que faria o pagamento no vencimento. Se o B é o aceitante, ele é devedor

cambiário direto.

O Z é o avalista do aceitante e, portanto, ele também é devedor cambiário

direto.

A figura do avalista vai equivaler à figura do avalizado. Logo, o avalista

pode ser Devedor Cambiário Direto ou Indireto, dependendo do avalizado. Se o

avalizado for um DCD o avalista também será um DCD. Se o avalizado for um

DCI o avalista também será um DCI. AVALISTA E AVALIZADO OCUPAM A

MESMA POSIÇÃO JURÍDICA EM UMA RELAÇÃO CAMBIÁRIA. O AVALISTA TERÁ O

MESMO GRAU DE RESPONSABILIDADE QUE O SEU AVALIZADO TIVER. O

AVALISTA É O QUE O AVALIZADO FOR. Entretanto o avalista NÃO tem as

mesmas obrigações que o avalizado eis que as obrigações cambiárias são

autônomas. O avalista tem obrigação equiparada à obrigação do avalizado (art.

899 do NCC).

Pode-se dizer que o avalista tem a mesma obrigação do avalizado?

NÃO!!! O AVALISTA TEM A MESMA POSIÇÃO DO AVALIZASO, O AVALISTA

TEM O MESMO GRAU DE RESPONSABILIDADE QUE O AVALIZADO, MAS NÃO TEM

A MESMA OBRIGAÇÃO DO AVALIZADO. O AVALISTA TEM OBRIGAÇÃO

EQUIPARADA À DO AVALIZADO.

As obrigações cambiárias são autônomas. Dizer que o avalista tem as

mesmas obrigações do avalizado seria o mesmo que negar a autonomia das

obrigações cambiárias. Em razão do principio da autonomia não existem

obrigações idênticas nas relações cambiárias.

O avalista tem a mesma posição jurídica e tem o mesmo grau de

responsabilidade de seu avalizado, mas não tem a mesma obrigação cambiária

do seu avalizado, face ao princípio da autonomia. O avalista tem obrigação

EQUIPARADA à obrigação do avalizado ( art. 899 do NCC c/c art. 32 da LUG).

Neste exemplo acima, não haverá necessidade de Protesto para E cobrar

do Aceitante B, que é devedor direto. Logo também não haverá necessidade

de Protesto para cobrar do Z, avalista do aceitante.

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O P é um avalista, mas ele não indicou quem ele estaria avalizando. Neste

caso, o P fez um aval em branco. Por que, então, ele é um DCI? Porque está na

lei.

A lei diz que quando o avalista não indica o seu avalizado, presumir-se-á

que ele avaliza o constituidor (criador) do TC. Neste exemplo, quem constituiu

a LC foi o Sacador, que é um Devedor Indireto. Se o P é avalista do criador do

TC, que é um devedor indireto, P será também um devedor indireto.

IMPORTANTE: Quando houver avalista em branco, ou seja, quando uma

pessoa avalizar o TC sem identificar o avalizado na cártula, a lei presume de

forma absoluta (não admite prova em contrário) que o avalizado será o

constituidor do TC.

Art. 30, PU, da lei 7357/85; art. 31 da LUG; art. 77 da LUG. Fazer

remissão destes artigos no art. 899 NCC, parte final.

ART. 30, PU L. 7357/85 o aval sem indicação será presumido que foi dado

ao emitente do cheque. Na LC o aval sem indicação será presumido que foi

dado ao Sacador.

OBS: Na duplicata esta regra não se aplica pq quem constitui a duplicata é

o credor, mas isso nós veremos mais a frente.

Então, voltando ao exemplo acima mencionado, os devedores diretos são:

o aceitante B e o avalista do aceitante, Z.

E QUEM SÃO OS DEVEDORES INDIRETOS?

O devedor cambiário indireto garante o pagamento caso o devedor direto

não pague o TC.

O Sacador A é um devedor cambiário por força do art. 9 da LUG. Ele

garante o aceite e o pagamento. Neste exemplo, como houve o aceite, mas

não houve o pagamento, o Sacador será um DCI.

O P como foi dito acima é avalista do Sacador, na forma do art. 31 da

LUG. LUG, o P é um devedor indireto.

O endossante C e seu avalista X, assim como o endossante D também são

devedores indiretos.

Para cobrar dos devedores indiretos, em regra será necessário o Protesto.

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QUEM É O DEVEDOR PRINCIPAL?

O Devedor Principal é aquele que pagando o TC não poderá cobrar em

ação de regresso de nenhum outro sujeito da relação cambiária. Se olharmos

para toda a cadeia cambiária acoima veremos que o D é o endossante e

devedor indireto. Se o E protestar o TC, ele poderá cobrar de qualquer devedor

cambiário indireto. Se ele cobrar de D e D ele pagar a LC ele poderá cobrar do

C de B e de A e de seus respectivos avalistas, Y, Z, X e P. Digamos que E

cobre de C. Se o C pagar ele poderá regredir em face de B e A e dos

respectivos avalistas Y, Z e P. O C não poderá cobrar em regresso do D pq

nesta cadeia cambiária, o D está na frente do C.

Digamos que o E execute o avalista de C. Neste caso o avalista de C

poderá cobrar, em regresso, do C, do B, do A e dos avalistas Y, Z e P, mas não

poderá cobrar do D pq este está na frente do C na cadeia cambiária.

Se o E executar o Z e ele pagar, o Z poderá regredir em face do B., mas

se o E executar o B, este devedor cambiário não poderá regredir em face de

ninguém eis que ele é o devedor principal.

Vejam o ponto interessante desta questão: o Z é devedor de regresso

embora seja devedor direto cambiário (porque ele é avalista do B e, portanto

ocupa a mesma posição jurídica, equiparando-se ao seu avalizado B,

entretanto ele possui o direito de regredir contra seu avalizado caso Z efetue o

pagamento).

Por esta razão que não é correto dizer que o devedor direto é sempre o

devedor principal. O avalista do devedor direto também é devedor cambiário

direto embora não seja o devedor principal. O avalista do devedor direto

cambiário é devedor de regresso.

LETRA DE CÂMBIO SEM ACEITE:

Y(avalista de A) X(avalista de C)

A B C D E

(Sacador) (Sacado) (credor originário)

(endossante) (endossatário)

(endossante)

(credor / tomador)

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( B não aceitou a Ordem de Pagamento).

O sacado B não aceitou a ordem de pagamento, não assinou a cártula.

Logo, o B não é devedor cambiário.

Uma vez que a LC não foi aceita pelo B, quem são os devedores

cambiários diretos?

Devedor direto é aquele que assume o pagamento no vencimento. O

Sacador garante o pagamento, na forma do art. 9 da LUG, mas o Sacador não

garante que este pagamento será feito na data do vencimento. Sendo assim,

se o sacador não garante o pagamento no vencimento, ele não pode ser

considerado um devedor direto. Logo, neste nosso exemplo, não há nenhum

devedor direito.

Quem são os devedores indiretos?

Se não há nenhum devedor direto, todos os sujeitos desta relação

cambiária são devedores indiretos. Para executa-los basta protestar por falta

de aceite. É preciso a prova de que a ordem de pagamento não foi aceita. Feita

esta prova, através do Protesto, ocorrerá o vencimento antecipado da LC. Feito

o Protesto, todos os devedores da relação cambiária serão obrigados.

Quem são os devedores de regresso?

São aqueles que podem ajuizar ação de regresso em face dos outros

devedores cambiários. Neste caso são o Y, avalista do A, o endossante C e seu

avalista X, e o endossante D.

Quem é o devedor principal?

O devedor principal é aquele que não tem ação de regresso contra

ninguém. Neste exemplo o devedor principal é o A, Sacador. Uma vez que o A

paga a LC ele não terá ação regressiva contra ninguém. Logo, ele será o

devedor principal.

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IMPORTANTE: Na LC sem aceite, em que não há aceitante, o Sacado é

um nada cambiariamente falando. Ou seja, o Sacado que não aceita a LC não é

devedor do TC.

Na LC sem aceite, o Sacador é o devedor principal, pois pagando o TC não

tem de quem cobrar cambiariamente, de forma regressiva, porém subsiste

como devedor cambiário indireto, cujo Protesto, em regra é necessário.

Portanto, na LC sem aceite não há a figura do devedor cambiário direto.

OUTRO EXEMPLO:

Y (avalista de B - AVAL

ANTECIPADO) .

A B C .

(Sacador) (Sacado) (credor

originário).

(Devedor indireto) (beneficiário /

tomador).

(B não aceitou a Ordem de

Pagamento).

A é o Sacador e dá uma ordem de pagamento ao Sacado B para que ele

pague a LC ao C.

Digamos que quando A entregou a LC ao C, o C exigiu do A um aval

antecipado.

O AVAL ANTECIPADO é aquele que avaliza o Sacado antes mesmo dele

aceitar a LC. O aval antecipado antecede ao aceite.

O avalista tem obrigação cambiária de pagar.

O sacado não tem obrigação cambiária pq não aceitou a LC.

C que é o credor ajuíza uma ação cambiária em face do Y, avalista do B.

Mas acontece que neste caso o B não se obrigou pq não aceitou a LC, não

assinou o TC. Esse aval antecipado realizado por Y será valido e eficaz?

Há controvérsias:

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Há quem entenda que em razão do principio da autonomia este aval é

válido e eficaz. Mas há quem entenda que o aval antecipado é um aval

condicionado ao aceite e neste caso, se o Sacado não aceitar a LC o aval perde

a sua eficácia.

Em uma LC sem aceite é possível ocorrer o aval antecipado, ou seja,

uma determinada pessoa avaliza o TC indicando o Sacado como avalizado,

antes mesmo de o credor apresentar a cártula para o Aceite.

Se o Sacado aceitar a LC o aval é válido e eficaz.

No entanto, se houver recusa do aceite, a questão passa a ser

controvertida com relação ao avalista.

Rubens Requião e a doutrina majoritária sustentam que o aval antecipado

é garantia do pagamento do TC, o que significa que o avalista do Sacado será

devedor cambiário, apesar de o Sacado não possuir obrigação cambiária. Esta

posição também se fundamenta no principio da autonomia onde a obrigação

do avalista independe da obrigação do avalizado.

Fran Martins entende que o avalista não será devedor cambiário, pois o

aval antecipado é condicional. Ou seja, o aval antecipado para produzir efeitos,

depende do implemento de uma condição suspensiva, que é justamente o

aceite do sacado. Ademais, o aval garante a obrigação cambiária, pressupondo

que o avalizado tenha assumido esta obrigação, até porque, a própria lei (arts.

899 NCC e art. 32 da LUG) prevê que o avalista tem obrigação equiparada à

obrigação do avalizado, de modo que a lei exige implicitamente, que o

avalizado integre a relação cambiária, o que não ocorre quando o Sacado

recusa o Aceite. Esta posição também se fundamenta na teoria dos atos

inexistentes, ou seja, se inexiste a obrigação do avalizado, também inexiste a

obrigação do avalista.

03/02/2005

PRESCRIÇÃO art. 70 da LUG

O prazo prescricional para executar os devedores de uma LC está na Lei =

art.70, LUG.

Este prazo vai variar dependendo do devedor a ser executado.

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Por exemplo, se o credor executar o devedor principal, o prazo

prescricional será de 3 anos a contar do vencimento.

Se o credor for executar qualquer devedor de regresso, o prazo

prescricional desta execução será de 1 ano, a contar do Protesto.

Os devedores de regresso também têm prazo prescricional para cobrar

dos anteriores e este prazo é de 6 meses. Por exemplo, se o endossante paga

a LC e quiser cobrar em regresso de outro endossante que o antecede, ele terá

o prazo de 6 meses para ingressar com esta ação de regresso. A partir do

momento que um devedor de regresso paga o TC, ele tem 6 meses para cobrar

dos devedores de regresso anteriores à ele.

No caso da Nota Promissória, os prazos prescricionais são idênticos pq a

LUG regula tanto a LC como a NP.

O importante é saber identificar que existem prazos diferentes para cada

tipo de devedor.

SOLIDARIEDADE CAMBIÁRIA:

Os devedores do TC são devedores solidários. Há uma solidariedade

cambiária que o Fábio Ulhoa Coelho chama de regressividade, que não se

confunde em hipótese nenhuma com a solidariedade civil eis que vigora no

direito cambiário o principio da autonomia e consequentemente a

inoponibilidade das exceções.

Por exemplo: o art. 51 da lei do cheque fala que todos os devedores

solidários do cheque podem ser cobrados, entretanto esta solidariedade se

refere ao contrato de conta corrente, pois somente aqueles que houverem

assinado o cheque serão obrigados a paga-lo.

CARACTERÍSTICAS DA LETRA DE CÂMBIO:

1ª) A LC é um TC nominal. A LUG coloca como requisito essencial o nome

do beneficiário. Sendo assim, a LC não pode ser ao portador, embora haja a

sumula 387 do STF que entende que no momento da constituição do TC não é

obrigatório que todos os requisitos essenciais estejam preenchidos, desde que

sejam completados pelo credor de boa-fé antes da cobrança, ou antes, do

protesto.

80

2ª) A LC é um TC nominal que pode ser a ordem ou não à ordem. Se a LC

for à ordem ela circulará por endosso, se for não à ordem, a LC circulará por

cessão ordinária de crédito. (Diferente da duplicata que é um TC à ordem,

sempre, pois a lei exige que a duplicata seja um TC à ordem. É um requisito

essencial da duplicata que ela circule por endosso, eis que não vale a cláusula

não à ordem em uma duplicata.)

3ª) A LC é um TC próprio, pq a LC efetivamente documenta uma operação

creditícia, ou seja, ela documenta um crédito. O direito documentado na LC é

um crédito.

4ª) A LC é um TC abstrato ou não causal. Não há uma causa prevista na

lei para o saque de uma LC. Qualquer causa, em princípio poderá dar causa à

emissão de uma LC. Fabio ulhoa Coelho sustenta que a LC é um TC limitado,

pois qualquer causa viabiliza a sua emissão, desde que esta causa não seja

idêntica a uma das causas que ensejam a emissão da duplicata, na forma do

art. 2 caput da lei 5474/68.

5ª) A LC é uma ordem de pagamento, que pode ser a vista (com a

apresentação da LC pelo credor ao aceitante) ou a prazo (como veremos mais

a frente).

6ª) A LC tem sempre, pelo menos, três figuras originárias, que é o

sacador, o sacado e o credor. Na LC sempre haverá o Sacador que dá a ordem

de pagamento ao Sacado para aceitar ou não esta ordem de pagamento e há o

credor da LC.

7ª) A LC é sempre constituída pelo devedor cambiário indireto, ou seja, o

Sacador. A importância prática disso é que para cobrar do Sacado será

necessário, sempre, o Protesto.

8ª) Na LC, ocorrendo eventual aval em branco, o avalizado será o

Sacador, e consequentemente haverá necessidade de Protesto para executar

este avalista que deu o seu aval sem indicar quem é o seu avalizado. Este

avalista em branco será sempre devedor indireto, embora possa também um

ser devedor principal nos casos em que o Sacado não aceitar a LC. Mesmo

nestes casos em que não houver o aceite pelo Sacado, o avalista que não

indicou o nome de seu avalizado será um devedor indireto (e ao mesmo tempo

também será um devedor principal).

9ª) A LC é um TC passível de aceite.

81

10ª) A LC é um TC que pode ser objeto de Protesto por Falta de

Pagamento, por Falta de Aceite ou por Falta de Devolução (este último é o

protesto para a falta de devolução da LC, quando o Sacado retém

indevidamente a LC). Não existe o Protesto por indicação na LC, mas existe o

protesto por falta de Devolução da LC, previsto no art. 21, §3, primeira parte,

da Lei 9492/97 (lei de Protestos).

ACEITE:

O ACEITE normalmente está relacionado aos TC que emitem uma ordem

de pagamento que será aceita ou não. Mas no cheque, por exemplo, que é

uma ordem de pagamento, não há o aceite. No cheque o sacado é o banco,

mas o banco não tem nenhuma obrigação na relação cambiária nascida

através da emissão de um cheque. O cheque apesar de ser uma ordem de

pagamento não admite o aceite pq a obrigação cambiária é reconhecida pelo

próprio emitente quando este emite o cheque. Em outras palavras, no cheque,

a obrigação cambiária é reconhecida pelo emitente no momento em que ele

emite o cheque e sendo assim a obrigação cambiária nasce no momento da

emissão do cheque, na forma do art. 6 da lei 7357/85. No cheque, o banco,

sacado, não integra a relação cambial. O banco sacado tem apenas uma

relação jurídica contratual com o emitente do cheque. Antigamente existia a

figura do cheque marcado onde o credor apresentava o cheque ao banco para

ser descontado e o banco, sacado, pedia um prazo ao credor para pagar o

cheque. Se o credor autorizasse, o banco marcava o cheque para paga-lo em

um prazo fixado pelo banco. Na verdade a ratio do art. 6 da lei do cheque foi

revogar a figura do cheque marcado no direito brasileiro.

O ACEITE é uma manifestação de vontade feita pelo Sacado em uma LC

ou em uma Duplicata. O aceite é uma manifestação de vontade feita no TC que

a doutrina chama de declaração cambiária. Todas as manifestações de vontade

emitidas no TC são declarações cambiárias, tal como o aceite, o endosso e o

aval. A diferença está no conteúdo destas manifestações de vontade. No aceite

há a manifestação de vontade de aceitar o pagamento do TC. No endosso há a

manifestação de vontade de transferir o TC. No aval há a manifestação de

82

vontade de garantir o TC. Todas estas manifestações de vontade são

declarações cambiárias.

As declarações cambiárias que são manifestações de vontade podem ser:

a) Originária – É a manifestação de vontade que dá origem ao TC, faz

nascer a obrigação cambiária, é emitida na constituição do TC. As declarações

originárias são: a emissão da NP e do cheque e os saques da LC e da duplicata.

Por exemplo: Quem emite um cheque, a emissão dá origem ao cheque. Ao

sacar uma duplicata, está sendo criada uma duplicata. Quem emite uma NP dá

origem à NP.

b) Sucessiva - É a manifestação da vontade emitida depois da constituição

do TC. É a manifestação que sucede à declaração cambiária originária do TC.

Por exemplo: Aval, endosso, Aceite.

c) Necessária – É a manifestação de vontade imprescindível para o TC

existir. Sem a declaração cambiária necessária o TC não existe. E estas

declarações necessárias são justamente as declarações cambiárias originárias,

que fazem nascer o TC.

d) Eventual – É a manifestação de vontade que se não existir não tem

problema nenhum, pq o TC continuará existindo. Por exemplo, um TC sem aval

não deixa de ser um TC. Um TC sem endosso não deixa de ser um TC.

Em regra, toda declaração cambiária originária é também uma declaração

cambiária necessária. Na LC toda declaração cambiária sucessiva também será

uma declaração cambiária eventual.

Aceite é uma declaração cambiária sucessiva e na LC também é uma

declaração cambiária eventual. Na duplicata é diferente, pois na duplicata o

aceite é uma declaração cambiária sucessiva e essencial.

Em todos os casos, o ACEITE é uma declaração cambiária sucessiva.

CONCEITO DE ACEITE:

O ACEITE é uma declaração cambiaria emitida pelo Sacado de uma LC ou

duplicata, em que uma simples assinatura reconhece que irá cumprir a

obrigação no vencimento. O aceite é o reconhecimento da ordem de

83

pagamento. Quando o Sacado reconhece a ordem de pagamento transforma-

se em um devedor cambiário.

Na LC o ACEITE é uma declaração cambiária eventual, pois se não houver

esta declaração de vontade o credor poderá cobrar do Sacador, que garante o

pagamento e o aceite.

Mas na Duplicata o ACEITE é uma declaração cambiária essencial, pois

quem saca a duplicata é o credor que irá apresentá-la ao devedor para que o

devedor aceite a duplicata. Diz-se que o aceite é obrigatório na duplicata pq se

não houver justificativa para a recusa do aceite, haverá a presunção do aceite,

que é o aceite tácito. Se houver justificativa para a falta de aceite, não haverá

o preenchimento do requisito do art. 15, II, c da lei das duplicatas e, portanto, a

duplicata não poderá ser executada.

IMPORTANTE:

O aceite é uma declaração cambiária sucessiva sempre.

No caso da LC o ACEITE além de ser uma declaração sucessiva é também

uma declaração eventual, haja vista que mesmo que o Sacado não aceite a LC,

o TC subsiste válido, pois o Sacador garante o pagamento, na forma do art. 9

da LUG. Em razão, diz-se que na LC o aceite é facultativo.

No caso da Duplicata diz-se que o ACEITE é sucessivo e obrigatório. No

entanto, se o Sacado recusar justificadamente a recusa do Aceite, alegando

uma das matérias previstas no art. 8 da Lei 5474/68, e, se a recusa for

legitima, não haverá o aceite e a duplicata não configurará um título executivo

extrajudicial. Entretanto, se não houver motivação ou se a justificativa alegada

for ilegítima, neste caso, haverá o aceite presumido ou tácito, desde que

presentes todos os incisos do art. 15, II da LD. Por esta razão, o aceite é

considerado obrigatório na duplicata, tornando-se aqui uma declaração

cambiária sucessiva e necessária.

Ao emitir o ACEITE, o aceitante transforma-se em devedor cambiário.

Via de regra, quem aceita expressamente o TC se torna em devedor

direto.

84

Na LC o aceite tem que ser expresso sempre. Na LC só existe o aceite

expresso, sendo que o aceitante é sempre devedor cambiário direto, cujo

protesto é facultativo.

Na duplicata o aceite pode ser expresso ou tácito, como também pode

ser por comunicação. O aceite expresso é aquele emitido na cártula e o aceite

por comunicação é aquele emitido em outro documento que não a cártula.

Nestes dois casos, o aceitante é devedor cambiário direto, cujo protesto é

facultativo. No entanto, havendo a hipótese excepcional do aceite tácito (ficto

ou presumido) onde o Sacado se torna aceitante, porém, de acordo com a

maioria da doutrina, o Sacado passa a ser devedor cambiário indireto e

principal, pq de acordo com o art. 15, II, a da LD, é necessário o Protesto.

PERGUNTA: Só existe aceite com assinatura na cártula?

Em regra, só pode ocorrer o ACEITE com a assinatura do aceitante

(sacado), porém excepcionalmente o aceite pode ser feito fora da cártula na

hipótese do ACEITE por comunicação, na forma do art. 7, §1 da LD. Também

pode ocorrer, excepcionalmente, o aceite sem assinatura do Sacado, nas

hipóteses em que ocorrer o aceite presumido, onde o legislador presume o

aceite.

17/02/2005

O aceite é a manifestação de vontade onde alguém reconhece que vai

pagar o valor constante na cártula.

O efeito desta manifestação de vontade é que aquele que aceita pagar o

valor constante na cártula passa a ser devedor cambiário, podendo ser

acionado pelo credor. Porém, em havendo a recusa quanto ao aceite, o efeito é

a necessidade de protesto por falta de aceite. Neste caso, ocorre o vencimento

antecipado da dívida.

Por exemplo: Sacador emite uma LC com vencimento para dezembro de

2006 e nesta LC há uma ordem de pagamento, para que o Sacado aceite pagar

a dívida. No dia 10/07/2005 o credor apresenta a LC para o Sacado aceita-la,

mas o Sacado não aceita a LC. Neste caso o credor poderá efetuar o protesto

por falta de aceite. Este protesto tem como efeito o vencimento antecipado da

85

dívida. Vencendo antecipadamente a dívida, o credor poderá cobrá-la do

Sacador logo em seguida, sem precisar esperar o vencimento estipulado

naquela LC para 2006.

ATENÇÃO: A falta de aceite na LC enseja o vencimento antecipado.

A Nota Promissória pode ter vencimento antecipado?

OBS: Nota Promissória e o Vencimento Antecipado:

A NP não admite aceite, pois trata-se de promessa de pagamento, o que

faz com que a obrigação cambiária já nasça reconhecida (aceita) pelo

emitente. Ainda assim, é possível o vencimento antecipado da dívida caso o

emitente da NP seja devedor empresário e tenha a sua falência decretada, haja

vista que um dos efeitos da sentença decretatória de falência, quanto aos

credores, é o vencimento antecipado das dívidas, conforme o art. 25 da LF

(DL7661/45) que foi repetido na NLF – Lei 11101. Este efeito existe para que

todos os credores possam habilitar os seus créditos, a fim de que sejam

inseridos no quadro geral e pagos de acordo com a ordem de preferência,

aplicando-se-lhes o Princípio da Paridade ou também chamado de Principio da

par conditio creditorium. Na execução coletiva não se aplica o principio da

prioridade, previsto no art. 612 do CPC que se refere apenas à execução

singular onde quem realiza a primeira penhora terá prioridade sobre os

demais.

Na NP não há o aceite, logo não há o vencimento antecipado por falta de

aceite. Mas por outro lado, é possível o vencimento antecipado da NP na

hipótese de decretação da falência do devedor. Exemplo: A emitente, promete

pagar 100 reais no dia 30/03/2005 para B, credor. Não há o aceite. O A pode

eventualmente ser cobrado antes do dia 30/03/2005 caso um outro credor de

A requeira a sua falência (na forma do art. 94 da Lei 11101/05) e esta seja

decretada. E uma vez decretada a falência do A, todos os seus credores

deverão se habilitar para receber seus créditos, pois um dos efeitos da

sentença decretatória da falência é o vencimento antecipado de todas as suas

dívidas.

ACEITE POR INTERVENÇÃO:

86

Ocorre quando o Sacado não faz o aceite porém uma terceira pessoa

intervém na relação cambiária fazendo o aceite no lugar do Sacado, tornando-

se devedor cambiário.

Ex: A é o Sacador e dá uma ordem de pagamento ao B que é o Sacado,

para que pague 100 reais ao C, credor. Se o Sacado B não aceitar, em regra

ocorre o vencimento antecipado. Mas a lei permite que neste caso um terceiro

intervenha e aceite pagar aquele valor em nome do Sacado.O aceite por

intervenção ocorre quando um terceiro intervém e aceita o TC em nome do

Sacado.

Mas a questão é saber se o credor é obrigado a acatar o aceite realizado

pelo terceiro – ou seja, o aceite por intervenção. E isto vai depender do que foi

escrito na cártula no momento em que o Sacador sacar a LC.

Se no momento em que o Sacador emite a ordem de pagamento (no

momento em que a LC é sacada) o Sacador fizer menção a possibilidade do

aceite por intervenção, o credor será obrigado a acata-lo caso ele ocorra. Por

exemplo, A dá uma ordem de pagamento ao B ou a quem quer que queira

aceitar a LC, para que pague no vencimento o valor de 100 reais ao C. Neste

caso, o credor tem que acatar o aceite por intervenção. Mas se o Sacador não

fizer menção ao aceite por intervenção, o credor não estará obrigado a acatar

o aceite por intervenção, podendo realizar o protesto por falta de aceite do

Sacado originário.

Em outras palavras, dependendo do caso, o credor não estará obrigado a

acatar o aceite por intervenção, pois se o Sacado originário não fez o aceite,

poderá o credor protestar por falta de aceite e cobrar do Sacador, face ao

vencimento antecipado e ao disposto no art. 9 da LUG. Entretanto, se o próprio

Sacador ao sacar a LC estipular a possibilidade de um terceiro intervir e aceitar

a LC no lugar do Sacado, neste caso o credor estará obrigado a acatar o aceite

por intervenção.

CLÁUSULA PROIBITIVA DE ACEITE

Tem por finalidade impedir o vencimento antecipado da dívida!!!!

Não confundam esta cláusula com a proibição de aceite.

87

A cláusula proibitiva de aceite impede que ocorra o vencimento

antecipado da dívida de modo que se o Sacado não aceitar a LC o credor só

poderá cobrar aquele valor na data do vencimento.

Não confundam a cláusula proibitiva de aceite com a proibição do aceite.

PERGUNTA: É possível que na LC haja cláusula expressa proibindo o aceite?

Exemplo: A dá uma ordem de pagamento para que B pague 100 reais

para C. Nesta ordem de pagamento há uma cláusula dizendo que o aceite é

proibido. Se é proibido o B não poderá aceitar a LC e por falta de aceite

ocorrerá o vencimento antecipado. Ora, claro que isso não é possível, pois

se o Sacador proibir o aceite haverá o vencimento antecipado da dívida. Se o

Sacador proibir que a ordem de pagamento seja aceita ele estará aniquilando

aquela ordem de pagamento.

A cláusula proibitiva de aceite na verdade apenas impede que ocorra o

vencimento antecipado, na hipótese do Sacado não aceitar a ordem de

pagamento. Esta cláusula deixa ao arbítrio do Sacado aceitar ou não a LC. Mas

havendo a clausula proibitiva de aceite, caso o Sacado não aceite a LC, não

ocorrerá o vencimento antecipado e o credor terá que aguardar o vencimento

daquela LC para poder cobrá-la do Sacador.

VENCIMENTO DA LETRA DE CÂMBIO

A LC é uma ordem de pagamento a vista ou a prazo.

O vencimento não é um requisito essencial da LC, pois na sua falta

presume-se que a LC é a vista, na forma do art. 2, 2ª alínea da LUG e art. 888

do NCC.

O vencimento a prazo é gênero que admite três espécies.

Vencimento a prazo pode ser: a dia certo; a certo termo da data; a certo

termo da vista.

Vencimento a vista é aquele que se ocorre no momento da apresentação

para o aceite, sem necessidade de ser estipulada uma data para este

vencimento. Quando a LC a vista for apresentada ela vencerá.

88

Vencimento a dia certo é aquela que contem um dia, um mês e um ano

(dd/mm/aaaa) que indicam a data do seu vencimento. É quando a letra contém

uma cláusula expressa dizendo, por exemplo, que vencerá no dia 30/10/2005.

Vencimento a certo termo da data é o vencimento que ocorre dentro de

um prazo que se inicia na data do saque da LC. O termo a quo é o saque da

LC. Ex: Ordeno que Y pague 100 reais para X em 20 dias a contar do saque.

(Saque é a emissão da LC).

Vencimento a certo termo da vista: Requião entende que o vencimento a

certo termo da vista tem como termo a quo o aceite. A partir do aceite o prazo

do vencimento começará a correr. Para Requião vista é o aceite. Para doutrina

majoritária vista não é apenas o aceite, mas para fins de LC o Requião está

certo e para fins de LC vocês devem ter em mente que vista é igual ao aceite,

embora este não seja o que ocorre na nota promissória, mas a controvérsia

que paira sobre a NP nós veremos mais a frente.

Exemplo: A dá uma ordem de pagamento para que B pague a C em 20

dias da vista. Então o C apresenta a LC para o B que a aceita em 10/02/2005 e

nesta data teremos o termo a quo para o vencimento, que se dará em 20 dias

a contar desta data.

PERGUNTA: Na LC cuja modalidade de vencimento é a certo termo da

vista, pode ser inserida a cláusula proibitiva de aceite?

A clausula proibitiva de aceite impede o vencimento antecipado.

O efeito da falta de aceite é o vencimento antecipado.

Para Requião, o vencimento a certo termo da vista é o vencimento que

ocorre em um prazo que será contado a partir do momento em que a LC é

aceita pelo Sacado.

Partindo destas premissas nós teremos que raciocinar.

Digamos que a LC vai vencer em 20 dias a contar da vista. Para Requião,

a vista é o aceite. Digamos que o Sacado aceite. Neste caso nós saberemos

que o vencimento se dará em 20 dias a contar do aceite.

Mas o problema está na hipótese do Sacado não aceitar a LC.

89

Como foi dito, a falta de aceite acarreta o vencimento antecipado. Mas se

houver a cláusula proibitiva do aceite não será possível o vencimento

antecipado. E se não houver nem o aceite e nem o vencimento antecipado da

LC (com vencimento a certo temo da vista), este Título não vencerá nunca.

Logo, nas LC com vencimento a certo termo da vista não poderão conter nunca

a cláusula proibitiva de aceite.

Em resumo:

Se a LC for a prazo e tiver como modalidade de vencimento a certo

termo da vista, neste caso, segundo Requião, o termo inicial será o aceite por

parte do Sacado, pois Requião considera que a vista é igual ao aceite. Nesta

hipótese não pode ser inserida a cláusula proibitiva do aceite (ou cláusula de

não aceite), pois caso o Sacado não falca o aceite, a LC não iria vencer nunca,

pois sem o aceite não corre o prazo para o vencimento e com a cláusula

proibitiva do aceite não há o vencimento antecipado da dívida, devendo-se

observar que uma das características dos TC é que eles são Títulos de

resgate.

PERGUNTA PARA CASA: A NP não admite aceite, mas pode ter como

modalidade de vencimento “a certo termo da vista”?

Se seguirmos a orientação do Requião não pode, pois a vista é igual ao

aceite e se na NP não há o aceite também não será possível o vencimento a

certo termo da vista.

Sendo assim, como se explica o art. 78 da LUG?

Na Np vista é diferente de aceite. A resposta desta questão será dada

quando analisarmos a Nota Promissória.

ACEITE PARCIAL:

É possível o aceite parcial.

O aceite parcial diz respeito ao valor. E ocorre quando o Sacado aceita

pagar apenas uma parte do valor constante no TC.

Ou seja, o aceitante pode aceitar pagar apenas uma parte do valor

estipulado na ordem de pagamento. Neste caso, o credor terá que protestar

por falta de aceite o restante, haverá necessidade de protesto do valor que não

90

foi aceito pelo Sacado a fim de que assim seja possível cobrar do sacador o

valor não aceito pelo Sacado.

ACEITE MODIFICATIVO

Diz respeito ao vencimento e ao domicilio.

EX: A dá uma ordem de pagamento ao B para que B pague ao credor.

É uma das características da LC que o credor procure o devedor para que

este realize o pagamento. Então, via de regra o credor vai procurar o aceitante

no seu domicilio.

Pode acontecer de o Sacado no momento do aceite, modifique o seu

domicilio. Neste caso teremos um aceite domiciliado, que é uma hipótese de

aceite modificativo.

Também pode acontecer do Sacado alterar a data do vencimento. E neste

caso teremos um aceite modificativo do vencimento.

Quando ocorrer um aceite modificativo, em que a alteração do

vencimento ou a alteração do valor é realizada pelo Sacado, o aceitante não é

obrigado a acatar.

Se o credor não acatar o aceite modificativo, ele poderá recusá-lo e neste

caso haverá o vencimento antecipado da LC.

ENDOSSO:

O endosso é uma forma de transferência do TC.

Só os TC são passiveis de endosso, mas nem todo TC é passível de

endosso. Em outras palavras, apenas os TC podem ser endossados, mas nem

todo TC pode ser endossado. O endosso é uma manifestação de vontade

realizada no próprio TC e, portanto, o endosso é uma declaração cambiária.

É uma declaração cambiária que ocorre depois da criação do TC e,

portanto é uma declaração cambiária que sucede a constituição do TC. O

endosso é uma declaração cambiária sucessiva e eventual (pq não é

imprescindível ao TC).

Quem endossa um TC é o titular do direito de edito, logo só pode endossar

quem for credor do TC. Somente os TC nominais ou à ordem são passíveis de

endosso. Os TC com cláusula não à ordem até podem circular, mas não através

91

de endosso. Os TC com cláusula não à ordem circulam como cessão ordinária

de credito, instituto de direito civil.

Quem endossa um TC transfere o crédito e deixa de ser credor, passando

a ser, em regra, devedor cambiário indireto, porque para executa-lo será

necessário o protesto e de regresso eis que quando ele pagar a dívida poderá,

em ação de regresso, cobrar dos demais devedores.

ENDOSSO PRÓPRIO => Configura uma declaração cambiária

sucessiva e eventual feita pelo credor de um TC nominal à ordem em

que se transfere a titularidade do direito de crédito a uma terceira

pessoa, que em regra se torna devedor cambiário indireto e de regresso.

NATUREZA JURÍDICA DO ENDOSSO:

O endosso é uma declaração unilateral de vontade e autônoma. O

endosso transfere um direito de crédito sem nenhum vício intrínseco.

A simples assinatura no verso da cártula já demonstra o endosso. Mas o

endosso só fica realmente perfeito e acabado com a entrega da cártula ao

endossatário, para que este possa apresentar o TC ao devedor a fim de que

seja efetuado o pagamento. Logo, para que o endosso seja perfeito e produza

efeitos será necessária a assinatura e a tradição. Art. 910 do NCC c/c 11, n.13

da LUG; art. 17 ao 19 da lei 7357/85.

EFEITOS DO ENDOSSO:

a) Garantia do pagamento – O endossante quando endossa o TC, em

regra, garante o pagamento pq ele se torna um devedor cambiário indireto e

de regresso.

b) Purifica eventuais vícios intrínsecos existentes no TC.

O art. 914 do NCC, por força do art. 903 do NCC, só se aplica quando

não houver lei especifica regulando o endosso do TC que possuir legislação

específica..

92

OBS¹: Endosso sem garantia é uma exceção, pois esta cláusula

permite que se realize o endosso próprio, entretanto ela afasta a garantia do

pagamento. No endosso com cláusula sem garantia há a transferência de um

direito autônomo, um direito limpo, e, portanto, incide o principio da

autonomia e abstração. A cláusula sem garantia apenas suprime o efeito da

garantia do pagamento. O endosso com cláusula sem garantia é um endosso

próprio em que o endossante que insere esta cláusula não garantirá o

pagamento à ninguém.

Nem todos os sujeitos da relação cambiária poderão inserir a cláusula

sem garantia. O Sacador da LC ou o constituidor de outros TC não podem

inserir a cláusula sem garantia, assim como o avalista também não pode

inserir a cláusula sem garantia, pois caso estes sujeitos insiram esta cláusula

o TC poderá ficar sem devedor. Por exemplo, o Sacador ao constituir a LC não

poderá inserir a cláusula sem garantia pq ele garante o pagamento caso o

Sacado não aceite. Na duplicata, segundo grande parcela da doutrina, não

pode sequer o próprio endossante inserir esta cláusula, face ao art. 18, §2 da

lei 5474/68.

A cláusula sem garantia não se confunde com a cláusula proibitiva de

novo endosso. A cláusula proibitiva de novo endosso é inserida no TC e

transfere o direito de crédito autônomo constante no TC, entretanto, o

endossante que insere a cláusula proibitiva de endosso não vai garantir o

pagamento dos endossos que forem realizados após o seu. Mesmo inserindo

esta cláusula o endossante garante o pagamento das relações cambiárias

existentes naquele TC e anteriores ao seu endosso. Na verdade quem insere

a cláusula proibitiva de novo endosso está apenas dizendo que não garantirá

o pagamento dos futuros endossos posteriores ao seu.

OBS²: titulo de crédito não à ordem pode ser transferido através de uma

cessão de crédito. De acordo com o art. 296 do NCC o cedente do TC não

garante o pagamento do título. Em regra o cedente só garante a existência

do crédito, mas não garante o pagamento. Além disso, a cessão de crédito é

um instituto civil (não é um instituto cambiário) logo, a cessão não transfere

um direito autônomo. O cessionário recebe o mesmo direito do cedente, seja

93

este um direito viciado ou não. A cessão de credito não purifica os vícios

intrínsecos.

OBS³: O endosso intempestivo, realizado após o vencimento ou após

o prazo para o protesto, ou após o prazo de apresentação do cheque,

formalmente é um endosso nominal e a ordem, entretanto, substancialmente

ele não é um endosso, mas sim uma CESSAO DE CRÉDITO, pois este

endosso póstumo produz os efeitos idênticos aos de uma cessão de

crédito. Não é uma cessão de crédito pq a transferência se deu à ordem, mas

seus efeitos são idênticos ao de uma cessão de crédito.

24/02/2005

Endosso com Cláusula sem garantia e a DUPLICATA

A doutrina majoritária entende que não cabe nenhum endosso com

cláusula sem garantia na Duplicata, por força do art. 18 §2 da lei 5474/68. De

acordo com este dispositivo, os co-obrigados respondem solidariamente pelo

aceite e pelo pagamento. E, portanto, não cabe a situação excepcional da

cláusula sem garantia na duplicata.

Mas minoritariamente, há quem entenda que como não há previsão da

cláusula sem garantia na lei da duplicata, deve ser aplicado o art. 25 da lei

5474/68 que manda aplicar a LUG nas omissões da lei da duplicata, e sendo

assim, caberá a cláusula sem garantia.

ENDOSSO PÓSTUMO

O endosso póstumo produz os efeitos idênticos aos de uma cessão de

crédito. Não é uma cessão de crédito pq a transferência se deu à ordem, mas

seus efeitos são idênticos ao de uma cessão de crédito.

O endosso póstumo não retira a natureza executiva do TC. O TC

continua sendo exigível mesmo após o endosso póstumo, que na verdade é

apenas uma transferência intempestiva. O endossante póstumo não garante

o pagamento porque o endosso póstumo produz os efeitos de uma cessão de

credito. O endossante póstumo transfere o mesmo direito que ele tinha, logo,

ele não transfere um direito limpo, puro.

94

Quando ocorre o endosso póstumo, o credor não poderá cobrar do

endossante póstumo.

Exemplo ¹:

A emite uma Nota Promissória para B que faz um endosso póstumo para

C.

O emitente A tem um avalista Y e B tem um avalista X.

Neste caso, o C não poderá cobrar do B nem do X porque o B realizou um

endosso póstumo e, portanto ele não garante o pagamento. Na verdade o B

não é um devedor indireto justamente pq ele realizou o endosso póstumo que

produz os efeitos de uma cessão de crédito. Neste caso, o Y poderá cobrar do

A e do Y, pois o credor C tem uma relação cambiaria apenas com estes

sujeitos.

Exemplo ²:

A emite uma Nota Promissória para B que faz um endosso próprio para C

que por sua vez fez um endosso póstumo para D.

O emitente A tem um avalista Y e B tem um avalista X.

Neste exemplo não houve protesto.

De quem o D poderá cobrar?

Aqui é preciso atenção porque o C não é devedor cambiário indireto

porque ele realizou um endosso póstumo. Independentemente da não

existência do protesto o C não poderá ser cobrado pq ele não é devedor

indireto.

Neste exemplo o D poderia cobrar do B e do seu avalista X, caso

houvesse o protesto, pois o protesto legitima a cobrança dos devedores

indiretos. Mas, como não houve o protesto, o D só poderá cobrar do A e do seu

avalista Y que são devedores diretos. A falta de protesto tem como

conseqüência a decadência do direito de cobrar dos devedores indiretos. Na

falta de protesto somente os devedores diretos poderão ser executados eis que

para estes o protesto é facultativo.

ENDOSSO PARCIAL

O endosso parcial é a transferência de uma parte do crédito.

O endosso parcial dificulta a circulabilidade da cártula, logo, ele é nulo de

pleno direito.

95

Por exemplo, A promete pagar a B 100 reais e o B transfere para o C

através de endosso próprio o valor de 50 reais. Isso é o endosso parcial.

O endosso parcial no direito brasileiro é nulo por dois motivos: art. 12 da

LUG c/c art. 912, PU, do NCC.

ENDOSSO CONDICIONAL

É o endosso que contém uma cláusula estipulando uma condição

qualquer.

Exemplo: Prometo pagar 100 reais para W se ele se casar.

A lei brasileira dispõe que é considerada não escrita a cláusula

condicional. Neste caso, o endosso é válido, mas a condição é considerada não

escrita. Art. 12 da LUG e art. 912 caput do NCC

ENDOSSO DE RETORNO E REENDOSSO

O endosso de retorno é aquele endosso realizado para alguém que já

fazia parte da relação cambiária.

O reendosso ocorre quando alguém que já participou da relação

cambiária realiza um novo endosso. O reendosso pressupõe um endosso de

retorno. Ocorrendo o endosso de retorno o sujeito que já havia participado da

relação cambiária volta a participar dela e com o TC em suas mãos, nada

impede que ele realize um novo endosso que é chamado de reendosso.

Caiu na prova da PGE: Uma NP após circular por meio de sucessivos

endossos voltou para as mãos do emitente. Pergunta: Esta NP pode circular

novamente?

Resposta: Sim, nada impede que esta NP circule novamente. Este endosso

realizado pelo credor ao emitente é chamado de endosso de retorno. Mas

quando o emitente realiza novo endosso ocorre o chamado reendosso.

Exemplo. A emite uma NP para B que a endossa para C, que a endossa

para D, que a endossa para B. Neste caso, o endosso de D para B é o endosso

de retorno, pois a NP voltou para as mãos de um sujeito que já havia

participado da relação cambial. Se o B endossar para o Y haverá o reendosso.

Por esta razão que o reendosso pressupõe o endosso de retorno.

CLASSIFICAÇÃO DO ENDOSSO:

96

ENDOSSO PRÓPRIO (também chamado de endosso regular ou

propriamente dito)

Ocorre o endosso próprio quando há a transferência da cártula e também há a

transferência da titularidade do direito de crédito. O endosso próprio se

aperfeiçoa com a assinatura no verso da cártula e com a tradição, que é a

entrega da cártula ao endossatário.

ENDOSSO IMPRÓPRIO (ou endosso irregular)

Ocorre o endosso impróprio quando há a transferência da cártula com a

assinatura no verso, mas não há a transferência do direito de crédito. Não há a

transferência do direito de crédito, mas há a transferência da cártula e do

exercício do direito de crédito. É o que ocorre no chamado ENDOSSO

MANDATO (ou endosso procuração). Quando ocorre o endosso mandato o

endossante será denominado de endossante mandante e o endossatário será

denominado de endossatário mandatário que terá a cártula em seu poder e

poderá exercer os direitos que pertencem ao endossante mandante. No

endosso mandato o endossante mandante continua a ser o credor. o

endossatário mandatário apenas terá o exercício do direito de credito, mas

este direito pertencerá ao endossante mandante.

Caso ocorra outro endosso, se, por exemplo, o endossatário mandatário

endossar o TC este será um novo endosso mandato.

No que é endosso mandato é possível ocorrer endosso sem a

transferência do direito de crédito, ou seja, sem que o endossatário se torne

credor cambiário.

ENDOSSO MANDATO = art. 18 da LUG e art. 23 da lei 7357/85 c/c art.

917 do NCC.

O endossatário do endosso-mandato terá direito apenas ao exercício dos

direitos inerentes ao TC. Mas ele não será credor daquela TC. O endossatário

mandatário só pode endossar novamente o TC os poderes que recebeu do

endossante mandante.

Outro endosso impróprio é o ENDOSSO CAUÇÃO, ou também chamado

de ENDOSSO PIGNORATÍCIO, ou ENDOSSO EM GARANTIA, que ocorre em

forma de garantia de uma obrigação. Neste endosso em garantia há a

transferência do exercício dos direitos inerentes ao TC, mas não há a

97

transferência do direito de crédito. ENDOSSO EM GARANTIA = Art. 19 da LUG

c/c art. 918 NCC.

ENDOSSO EM PRETO – Ou também chamado de endosso nominal,

complemento ou pleno. É o endosso que indica o nome do endossatário.

ENDOSSO EM BRANCO ou AO PORTADOR – É aquele que não indica o

nome do endossatário. É o endosso onde o endossante não indica quem é o

endossatário. Toda vez que o endossante indicar o endossatário haverá a

hipótese do endosso em preto. Mas quando o endossante não indicar a quem

deve ser pago o TC, ou seja, quando o endossante não indicar o nome do

endossatário, haverá o endosso em branco.

Questão interessante que ainda não caiu em prova:

Com o advento das leis 8021/90 e 8088/90, é possível o endosso em

branco, diante do disposto no art. 913 do NCC?

O art. 2, II da lei 8021/90 e o art. 19 da lei 8088/90 vedavam o endosso

em branco nos Títulos. Estas leis exigiam a identificação do endossatário como

requisito essencial de todos os TC, para fins de arrecadação de tributos.

Mas a sumula 387 do STF dispôs que o TC pode não ter todos os seus

requisitos essenciais desde que antes do Protesto ou antes da cobrança estes

requisitos sejam preenchidos. Então, esta sumula já deu uma mitigada nas leis

acima mencionadas. Então, de acordo com esta sumula, o beneficiário deveria

ser identificado até o momento do protesto ou até o momento da cobrança.

Mas em 2002 veio o NCC que em seu art. 913 permite expressamente o

endosso em branco. Este artigo diz que o endossatário do endosso em branco

pode transferi-lo através de endosso em preto (assinado na cártula) ou pode

transferi-lo através de endosso em branco (sem assinar na cártula) ou pode

transferi-lo sem endossar. Em outras palavras, o art. 913 permite que o

endossatário em branco nem apareça na relação cambiária.

Diante de todas estas regras, qual delas deve ser aplicada à luz do art.

903 do NCC que dispõe que os TC deverão ser regidos à luz de leis especiais,

aplicando o NCC apenas em caso de omissões.

Qual a lei a ser aplicada? É controvertido!!!!

98

Requião e Waldo Fazzio Jr. entendem que o ordenamento jurídico

brasileiro não admite o endosso em branco porque a lei 80210e a lei 8088

estão em vigor e são leis especiais e, em razão do art. 903 NCC o endosso em

branco não pode ser admitido, eis que existe vedação expressa em lei

especial.

STF e grande parte da doutrina e jurisprudência entendem que as leis

8021 e 8088 estão em vigor apenas para títulos de investimento e não para

TC. O STF admite o endosso em branco nos Títulos de Credito. Por esta razão

não pode haver ações ao portador, mas nada impede que haja um TC ao

portador.

Victor Eduardo Dias Gonçalves no livro “Contratos e TC” entende que as

leis 8021/90 e 8088/90 estão revogadas porque estas leis eram leis

extravagantes que continham normas gerais e por ser norma geral não há a

aplicação do art. 903 NCC. Para ele, o NCC que é uma norma geral, ao

estabelecer as regras do art. 913 NCC revogou as leis 8021/90 e 8088/90.

AVAL

O AVAL é instituto cambiário. É uma garantia pessoal que diz respeito aos

títulos de credito. Por ser um instituto cambiário, esta garantia deverá estar

expressa na cártula. A lei diz que o aval deverá ser inserido no anverso da

cártula ou em qualquer outro lugar da cártula, desde que esta assinatura seja

seguida da indicação do aval.

O aval é uma declaração cambiária sucessiva (após a constituição do

titulo) e eventual (porque ela não é imprescindível).

Em principio, qualquer pessoa com capacidade pode ser avalista. Ao

emitir esta declaração de vontade o avalista garante para uns o pagamento do

TC, tornando-se sempre um devedor cambiário de regresso, pois poderá cobrar

dos devedores indiretos e de seu avalizado.

CONCEITO DE AVAL:

O Aval configura uma declaração cambiária sucessiva e eventual feita,

segundo o entendimento dominante, por qualquer pessoa com capacidade

(integrante ou não da relação jurídica cambiária) e tem por finalidade garantir

pessoalmente o pagamento do título ou o cumprimento da obrigação cambiária

99

(dependendo da posição que ele ocupe na relação cambiária) tornando-se

sempre um devedor cambiário de regresso, que por sua vez poderá ser um

devedor cambiário direto ou indireto. Art. 32 da LUG, art. 899 NCC, art. 77 da

LUG, art. 30 e 31 da Lei do cheque.

NATUREZA JURIDICA DO AVAL:

Pontes de Miranda minoritariamente, entende que o aval é uma obrigação

equiparada e para este autor, em termos técnicos, o aval não seria uma

garantia porque o avalista se equipara ao seu avalizado. Este entendimento

encontra respaldo no art. 899 NCC.

Requião e todo o resto da doutrina entendem que o aval é uma

declaração unilateral de vontade que consiste em uma garantia autônoma. Ou

seja, se a obrigação do avalizado tiver algum defeito, este defeito não poderá

ser alegado pelo seu avalista. As defesas pessoais do avalizado não poderão

ser alegadas pelo avalista, pois nesta obrigação cambiária (no aval) há o

principio da autonomia. Trata-se de uma garantia cambial autônoma.

PERGUNTA: O avalista tem que ser terceira pessoa com capacidade ou

pode ser alguém que já integrava a relação cambiária?

Exemplo: O endossante B pode ser avalista de R na mesma relação

cambiária?

O entendimento dominante é no sentido de que o avalista pode ser

qualquer pessoa, seja esta pessoa um terceiro estranho à relação cambiária,

seja esta pessoa um sujeito que já integrava a relação cambiária.

O entendimento minoritário entende que o avalista só pode ser terceira

pessoa. Para este entendimento o avalista não pode ser uma pessoa que já

integrava aquela mesma relação cambiária porque esta pessoa antes de ser

avalista já era um devedor cambiário e não seria lícito que ela aumentasse a

sua responsabilidade cambiária.

CARACTERÍSTICAS DO AVAL:

Aval é uma declaração unilateral de vontade. É uma declaração cambiária.

100

O aval é uma declaração cambiária eventual (não é imprescindível para a

existência do TC) e sucessiva (porque esta declaração cambiaria ocorre após a

constituição do TC).

O aval é um ato de favor. É um ato de liberalidade.

PERGUNTA: Caso o TC venha a prescrever, pode ser proposta a ação de

enriquecimento ilícito em face do avalista?

A ação de enriquecimento ilícito tem como pressupostos a prescrição, o

enriquecimento ilícito de alguém e o empobrecimento de outrem.

Como o aval é um ato de liberalidade não houve enriquecimento ilícito do

avalista, logo, esta ação só poderá ser proposta em face de quem enriqueceu

ilicitamente.

O aval pode ser em branco ou em preto:

AVAL EM PRETO – O aval em branco indica qual o sujeito que está sendo

avalizado.

AVAL EM BRANCO - O aval em branco não identifica o avalizado. Não

identifica qual o sujeito da relação cambiaria está sendo avalizado. No aval em

branco há a presunção absoluta de que o aval foi dado em favor do

constituidor do TC – art. 899, parte final do NCC c/c art. 31 da LUG, art. 77 da

LUG e art. 30 da lei do cheque.

O aval pode ser total ou parcial

AVAL TOTAL: É o aval que garante a dívida toda.

AVAL PARCIAL: É o aval que garante apenas uma parte da obrigação.

Para que haja o aval parcial é preciso que o avalista insira na cártula esta

peculiaridade pois se o avalista não disser expressamente que garante apenas

uma parte da obrigação, aquele aval será considerado total.

O direito brasileiro admite o aval parcial?

O art. 897, PU do NCC, expressamente vedou o aval parcial. No entanto o

art. 903 do NCC preceitua que deve prevalecer o disposto nas leis especiais.

Em sendo assim, se a lei especial autorizar o aval no todo ou em parte, esta

prevalecerá (art. 30 da LUG, art. 29 da Lei 7357/85, art. 25 da Lei 5474/68).

Nestes casos em que é admitido o aval parcial. É imprescindível que o aval

parcial conste literalmente na cártula, face ao principio da literalidade.

101

Embora existam leis especiais admitindo o aval parcial, o art. 897, PU do

NCC será aplicado sempre que houver TC atípicos (sem previsão legal) ou nos

TC típicos quando a lei reguladora destes TC for omissa quanto ao aval. Nestes

casos será vedado o aval parcial na forma do art. 897, PU, NCC.

03/03/2005

AVAL PÓSTUMO: O aval póstumo é aquele prestado pelo avalista após o

vencimento do TC e após o transcurso do prazo para o protesto ou após o

protesto.

Todo aval póstumo é posterior ao vencimento, mas nem todo aval após o

vencimento é aval póstumo, pois pode acontecer do aval ser efetuado após o

vencimento e dentro do prazo para o protesto e neste caso não haverá o aval

póstumo.

Art. 900 do NCC diz que o aval posterior ao vencimento produz os mesmos

efeitos do aval anteriormente dado, desde que antes do transcurso do prazo

para o protesto, ou antes do protesto. .

Ex: A emite uma NP para B com vencimento para o dia 10/03/2005. O dia

do protesto é dia 11/03/2005 (primeiro dia útil a contar do vencimento).

Imaginemos que houve o protesto no dia 11/03/05 as 16 h. e Y avalizou A

neste mesmo dia 11/03/2005, as 7h da manhã, ou seja, dentro do prazo do

protesto e antes do protesto. Neste caso não houve o aval póstumo.

Exemplo: A emite uma NP para B com vencimento para o dia 10/03/2005.

O dia do protesto é dia 11/03/2005. B protesta esta NP no dia 11/03/2205 e

após a efetivação do protesto, Y avaliza esta NP no dia 15/03/2005, ou seja,

após o vencimento, após o protesto e após o prazo do protesto. Neste caso há

o aval póstumo.

O art. 900 do NCC dispõe que o aval posterior ao vencimento produz os

mesmos efeitos do anteriormente dado. Mas e quanto ao aval posterior ao

prazo do protesto?

A lei nos diz que o endosso póstumo produz efeito de cessão de crédito.

102

Mas a lei é omissa em relação ao o aval póstumo, efetuado após o

protesto ou após o prazo para o protesto. E por causa desta omissão, há

controvérsias.

1ª corrente: Luis Emygdio entende que o aval póstumo, realizado após o

protesto e após o prazo para o protesto, não tem qualquer validade. O avalista

póstumo não pode ser cobrado porque após o protesto do TC a relação

cambiária se exaure e, portanto o aval não tem qualquer valor.

2ª corrente: Fran Martins entende que o aval póstumo é uma garantia,

entretanto, produz efeitos de uma de fiança. Para eles, como a legislação é

omissa, deve ser feito um paralelo entre o aval póstumo e o endosso póstumo.

Da mesma forma que o endosso póstumo produz efeitos de uma cessão civil

de crédito, o aval póstumo também seguirá esta regra, e por esta razão, o aval

póstumo deixa de ser um aval propriamente dito, e passa a produzir os efeitos

de uma fiança. Por produzir os efeitos de uma fiança, o fiador (avalista

póstumo) terá responsabilidade subsidiária, porque na fiança há o benefício de

ordem e desta forma o afiançado deve ser executado antes do fiador, salvo se

houver cláusula expressa do fiador renunciando ao beneficio de ordem. (É

diferente do aval onde a responsabilidade do avalista é solidária à

responsabilidade do avalizado e, portanto o credor poderá executar qualquer

um deles eis que no aval não há o beneficio de ordem). Nós veremos mais a

frente as principais diferenças entre aval e fiança!

3ª corrente: João Nonato Borges entende que diante da omissão

legislativa o aval póstumo será considerado um aval propriamente dito desde

que o avalista possa ser demandado, ou seja, desde que na época em que o

avalista avalizou o TC ele pudesse ser executado. Para ele, o aval póstumo

efetuado após a prescrição do TC não tem efeito cambiário, pois após a

prescrição do TC este passa a ser cambiariamente inexigível e, portanto o

avalista não pode ser demandado.

Exemplo: A emitiu NP para B com vencimento para o dia 10/03/2005 e Y

avalizou A, após o vencimento e após transcorrido o prazo para o protesto.

Quando ele avalizou o TC, o credor B deste TC podia demandá-lo ou o TC já

estava prescrito?

103

B é credor, A é devedor direto e principal. E Y por ter avalizado o A

também será devedor direto e principal. Neste caso, não houve protesto

porque o protesto era desnecessário, eis que o credor pode executar o devedor

principal independentemente do protesto. Para esta 3ª corrente, como esta NP

não está prescrita (pois a NP prescreve em 3 anos), o Y pode ser executado eis

que na época em que ele realizou o aval ele poderia ser executado.

Exemplo ²: A emite uma NP para B que o endossa tempestivamente para

C que é o credor. Y avalizou B após o protesto e após o prazo para o protesto.

A NP não foi protestada. Neste exemplo, C pode demandar o A que é devedor

direto e principal, logo para que A seja executado não há necessidade de

protesto. Mas, para esta corrente, C não poderá executar B nem Y, pois o B é

devedor indireto e seu avalista também será devedor indireto. Sem o protesto

os devedores indiretos não podem ser executados.

Natureza jurídica do direito de regresso do avalista:

Exemplo: A emite uma NP em favor de B, sendo que o A tem o avalista Y.

Se o B executar o Y este não poderá alegar as defesas pessoais de A para não

pagar o B. Se o Y pagar a NP ele terá direito a ingressar com uma ação

regressiva em face de A, que é o seu avalizado, pois o avalista é um devedor

de regresso. Esta ação regressiva tem natureza executória (não é uma ação de

conhecimento). A ação regressiva que o avalista propõe em face de seu

avalizado é uma ação cambiária, executória.

AVAL & FIANÇA

Aval e fiança se assemelham porque são garantias pessoais também

chamadas de garantias fidejussórias. A partir do NCC, ambos precisam de

outorga uxória para serem realizados ( art. 1647, III, NCC).

Mas o aval não se confunde com a fiança.

Aplica-se ao aval os institutos cambiários ao passo que aplica-se a fiança

os institutos civis.

No aval há o principio da literalidade, o aval só pode ser realizado no TC,

na cártula. Já a fiança é um contrato acessório, que pode vir escrito tanto no

contrato principal como em um contrato acessório em separado.

104

No aval há autonomia das obrigações assumidas pelo avalista. Ou seja, se

a obrigação do avalizado for nula, esta nulidade não atinge o avalista. Já na

fiança, se a obrigação principal (do avalizado) for nula, esta nulidade atinge

também a obrigação do fiador, que é uma obrigação acessória.

Os devedores cambiários são devedores solidários, onde o credor pode

cobrar de um ou de outro ou dos dois. Ou seja, o credor pode cobrar do

avalista, ou do avalizado ou dos dois porque se trata de uma obrigação

solidária. Já na fiança a há obrigações subsidiárias e sendo assim o credor só

poderá cobrar do fiador depois de cobrar do afiançado. Uma vez que o

afiançado não pague ao credor, este poderá acionar o fiador, pois na fiança há

o beneficio de ordem.

O aval é uma declaração unilateral de vontade ao passo que a fiança é um

contrato bilateral.

105

AVAL FIANÇA

O aval é um instituto cambiário que

obedece aos princípios cambiários

A fiança é um instituto civil.

O aval é declaração unilateral de

vontade

A fiança é contrato, logo, é declaração

bilateral da vontade.

O aval segue ao principio da

literalidade, logo tem que ser prestado

na própria cártula.

A fiança não tem literalidade, logo ela

pode ser inserida no próprio contrato

principal como em um documento em

separado.

O aval é uma garantia cambiária

autônoma onde a obrigação do avalista

não se confunde com a obrigação do

avalizado. Ainda que haja um vício

intrínseco na obrigação do avalizado,

este vício não anulará a obrigação do

avalista.

A fiança é um contrato acessório, onde

não há autonomia entre o fiador e o

afiançado. Na relação jurídica entre fiador

e afiançado há a regra da acessoriedade.

O contrato acessório de fiança seguirá a

sorte do contrato principal. Se houver um

vício na obrigação principal, este vício vai

contaminar a relação jurídica do fiador.

Se a obrigação do avalista é autônoma,

sobre ela incide a regra da

inoponibilidade das exceções pessoais.

O avalista não pode se defender

alegando as matérias de defesa pessoal

do avalizado.

O fiador pode defender-se utilizando as

defesas pessoais do seu avalizado, pois na

fiança, o fiador não precisa respeitar as

regras da inoponibilidade das exceções.

Entre avalista e avalizado há

solidariedade. Avalista e avalizado são

devedores solidários. O credor pode

executar ou um ou outro ou os dois ao

mesmo tempo.

Entre fiador e afiançado há

subsidiáriedade. O fiador tem direito ao

benefício de ordem, e desta forma, o

credor terá que executar primeiro o

afiançado e somente depois poderá

106

executar o fiador, salvo se expressamente

o fiador recusar este benefício.

O avalista no momento em que presta o

aval, este será realizado sobre uma

dívida líquida e certa.

No momento em que o fiador presta a

fiança, a obrigação não precisa estar

líquida, ainda que ela tenha que ser

liquidada no momento da execução.

Após o NCC é necessária a autorização do cônjuge para que seja prestado

o aval – art. 1647, III do NCC. No CC/16, a outorga uxória só era exigida na

fiança. No aval não havia necessidade de autorização do cônjuge.

Mas agora esta necessidade existe.

No art. 897 NCC fazer remissão ao art. 1647, III do NCC. E no art. 1647,

III fazer remissão ao art. 987 e art. 1642, I do NCC.

PERGUNTA:

O empresário individual, casado, no exercício da empresa, ao conceder o

aval necessita da autorização do cônjuge?

Na verdade há um conflito aparente entre o art. 1647, III e o art. 1642, I.

Na verdade o art. 1642, I diz que o marido ou a mulher pode praticar

todos os atos necessários para o exercício da atividade profissional,

independentemente da autorização do outro cônjuge. Há o enunciado 114 do

CEJF que diz exatamente isso.

Sendo assim o empresário individual no exercício da sua profissão pode

avalizar sem o consentimento do seu cônjuge.

AVALISTA QUE CONFERE AVAL À UM SUJEITO SEM OBRIGAÇÃO

CAMBIÁRIA

QUESTÕES:

1) A emite uma NP para B que faz um endosso póstumo para C. por ser

um endosso póstumo, produz os efeitos de uma cessão de crédito e desta

forma o cedente em regra não garante o pagamento, logo não é devedor.

Portanto o C só poderá cobrar de A. Se Y avaliza B que é um endossante

107

póstumo, o Y terá obrigação cambiária, ou seja, Y será devedor mesmo que

seu avalizado não tenha obrigação??

2) A dá uma ordem de pagamento ao B para que B pague ao C. B é o

sacado, que só se transforma em devedor cambiário após o aceite. Mas antes

mesmo de B aceitar o TC, Y o avaliza. No momento do aceite, o B se recusa a

aceitar aquele TC. Logo, B não será um devedor cambiário, mas e seu avalista

Y será ou não um devedor cambiário?

3) Avalista que confere aval à uma pessoa sem obrigação cambiária será

considerado devedor cambiário?

Para responder a estas questões, existem controversas:

1ª corrente: Carvalho de Mendonça, R. Requião e Luis Emygdio

entendem que nestas situações o avalista será considerado avalista face ao

principio da autonomia e além disso o avalista quando presta o aval, garante o

pagamento do TC (e não a obrigação). – Majoritária.

2ª corrente: Campinho, e Fran Martins entendem que nestas hipóteses o

avalista não será considerado avalista porque o aval garante a obrigação

cambiária. Se inexiste a obrigação do avalizado, inexiste também a obrigação

do avalista.

QUESTÕES DA MAGISTRATURA:

a) Uma determinada sociedade Y Ltda. tinha 3 sócios. Os sócios A e B

eram administradores desta sociedade e de acordo com o contrato social, a

atuação de A e B deve ser conjunta, ou seja, tudo que A assina o B também

tem que assinar. Entretanto, A, na qualidade de administrador, emitiu uma

nota promissória em nome da Sociedade, em favor de W (credor). Após o

vencimento o credor executou a Sociedade. E esta sociedade, em embargos à

execução alegou que a NP teria que conter também a assinatura do sócio B e

que como a NP só possuía a assinatura do sócio A, este é que deveria ser

executado, e não a sociedade. Decida.

108

b) A sociedade Y Ltda. tinha três sócios e o contrato social dizia que o A

era o sócio administrador. Além disso, o contrato social também dizia que o

sócio administrador não poderia conceder aval, salvo com a anuência expressa

dos demais sócios. Entretanto, o A avalizou uma NP, violando a cláusula do

contrato social. O credor desta NP ajuíza execução contra a sociedade e esta

defende-se alegando que o A não poderia conceder o aval porque atuou em

desconformidade com o contrato social. Decida.

Em outras palavras, estas cláusulas proibitivas e restritivas podem ser

invocadas pela Sociedade para não pagar a terceiros?

Antes do NCC a questão era controvertida. Após o NCC a questão

continua controvertida, pois o NCC acolheu a posição minoritária.

Antes do NCC:

Waldemar Ferreira e Pontes de Miranda entendiam que a Sociedade não

se obriga, logo poderá invocar a cláusula restritiva para não ser responsável.

Se a cláusula determinou que o sócio administrador não poderia ser avalista,

então a Sociedade não vai se obrigar se o sócio assinar como avalista (a

mesma coisa para as obrigações assumidas somente por um sócio, em que

deveria ter a assinatura dos dois sócios). Os fundamentos desta corrente

estavam no art. 8 da LUG e no Princípio da Publicidade, pois se a cláusula do

contrato social que está arquivado na Junta empresarial é público, as partes

interessadas deveriam consultar este contrato para saber se aquele

administrador tinha poderes para tal.

Rubens Requião, Sergio Campinho, Tavares Borba Entendiam que a

cláusula restritiva do contrato social é válida e eficaz, porém somente entre os

sócios e a Sociedade, e não perante terceiros de boa-fé. Ou seja, aquele

administrador que violou a cláusula poderá ser responsabilizado pela

Sociedade porque praticou um ato danoso, e a Sociedade vai acionar aquele

administrador, entretanto, perante terceiros de boa-fé quem responde é a

Sociedade. Os fundamentos desta corrente estão na Teoria da Aparência, ou

seja, se aquele administrador praticou o ato aparentemente lícito, vinculando a

Sociedade, então este ato é válido para os terceiros de boa fé. Aqui, o que se

109

tem é uma culpa in eligendo da Sociedade que elegeu um administrador ruim,

que violou o contrato, por isso a Sociedade deve arcar com esta

responsabilidade perante terceiros, mas poderá ingressar com ação de

regresso em face do administrador que praticou o ato danoso.

Sergio Campinho ainda tem um outro argumento, que é o art. 42 Dec.

2044/08, (lembra quando eu falei da Teoria da Personalidade, que a PJ tem

capacidade contratual, processual, cambiária), então este art. 42 determina

que poderá se obrigar na Letra de Câmbio quem tem capacidade civil ou

comercial, logo se a Sociedade tem capacidade cambiária ela se obriga. E

como as normas que tratam da capacidade são normas de ordem pública, são

imperativas e cogentes, uma cláusula contratual não poderá afastar esta

capacidades, pois a cláusula contratual não pode afastar uma norma de ordem

pública. (inclusive, somente a legislação diz quem são os incapazes, não

poderá uma cláusula determinar isso, apesar dela valer entre os sócios, porém

perante terceiros não será válida)

Rubens Requião ainda critica a 1ª posição, porque este artigo 8º da LUG

fala que é na qualidade de representante que é mandante, e de acordo com a

Teoria do Órgão o administrador é um presentante (não é representante), logo

a Sociedade também será responsabilizada perante terceiros. Inclusive, esta

crítica também pode ser aplicada ao art. 892 NCC, que fala em representante,

que é somente o caso de se dar uma procuração para uma terceira pessoa,

que extrapola os poderes, neste caso somente ele, mandatário, vai responder,

já o mandante não responderá.

Após o NCC

Com o advento do NCC a posição de Waldemar Ferreira e Pontes de

Miranda que era minoritária passou a ser dominante e a posição majoritária

(antes do NCC) passou a ser minoritária por conta do art. 892 NCC. O art. 892

deve ser lido à luz do art. 1015, PU do NCC.

Art. 1015, PU, do NCC – Os atos normais de gestão praticados pelo

administrador são de responsabilidade da Sociedade, pois a Sociedade é quem

pratica estes atos através da pessoa do administrador (Teoria do Órgão). Já os

110

atos anormais, em regra quem responderá é a Sociedade e o sócio, porém o

parágrafo único excepciona ao falar que o excesso praticado pelo

administrador poderá, eventualmente, ser invocado pela Sociedade para se

eximir da responsabilidade, desde que tenha pelo menos uma das hipóteses

dos incisos.

I – O inciso primeiro adota o Princípio da Publicidade, ou seja, o terceiro

não pode alegar desconhecimento da cláusula restritiva, pois o contrato social

está devidamente registrado no órgão competente. É a posição de Waldemar

(minoritária). Este inciso responde a questão do sócio que concedeu o aval

violando a cláusula contratual e a questão do sócio que emitiu a NP sem a

assinatura do outro sócio.

O inciso I acaba mitigando uma teoria fundamental que é a Teoria da

Aparência e conseqüentemente diminui a proteção de terceiros de boa-fé, vou

dar um exemplo, se você faz um contrato com a Sociedade de R$

1.000.000,00, neste caso o contrato é muito alto, logo neste caso terceiros não

vão negociar sem antes consultar o contrato social da sociedade, logo se aplica

a regra do inciso I.

II – Neste inciso, determina que mesmo se a limitação não estivesse

registrada, mas se fosse provado que era conhecida pelo terceiro, este não

estaria de boa-fé, já que tinha conhecimento da limitação e por isso assumiu a

responsabilidade, logo a Sociedade não deve responder.

III – Trata da Teoria Ultra Vires Societatis, neste caso se a operação for

estranha ao objeto social.

Basta apenas uma destas hipóteses para que a Sociedade se exima da

responsabilidade, e as hipóteses dos incisos I e II são casos de uso indevido

que viola a lei ou contrato. Já a hipótese do inciso III é um caso de abuso, que é

a teoria ultra vires societatis, viola o objeto social.

OBS¹: A diferença entre uso indevido e abuso do nome empresarial:

O uso indevido do nome empresarial ocorre quando o administrador viola

o contrato social ou atua em proveito próprio, ou seja, utiliza o nome da

111

sociedade para fins pessoais. O abuso do nome empresarial é a violação do

contrato que extrapola o objeto social. O abuso do nome é a prática de um ato

que não condiz com o objeto do contrato social e este abuso tem a natureza do

ato ultravires societatis. O ato ultra vires é o ato abusivo do contrato social, da

cláusula que delimita o objeto social (art. 997, II, NCC).

OBS²: O NCC dá muita importância ao Princípio da Publicidade, então, se

esta controvérsia cair você deve falar das controvérsias anteriores e que o NCC

mudou o tratamento dada para esta disciplina, e ainda deve demonstrar que o

art. 1015 deve ser mitigado para mostrar conhecimento, e é o que a doutrina

vem fazendo.

PLURALIDADE DE AVAIS ou AVAIS PLÚRIMOS:

Exemplo: A emite uma NP para B que endossa para C.

Nesta relação cambiária A é avalizado por Y, por X e por Z. Nesta relação

cambiária, os avalistas X, Y e Z estão avalizando o emitente A. O credor C

poderá executar o A ou o X ou o Y ou o Z e não haverá benefício de ordem.

Em relação ao credor, pouco importa o tipo de aval plúrimo, mas entre os

avalistas haverá diferença.

AVAL SUCESSIVO = É o aval do aval. No aval sucessivo o sujeito da

relação cambiária é avalizado por um avalista e posteriormente este avalista é

avalizado por outro avalista e assim por diante... No aval sucessivo, entre os

avalistas a solidariedade é cambiária e há o direito de regresso apenas em

relação aos avalistas anteriores, pois os avalistas que concederam o aval

depois do que realizou o pagamento, não serão obrigados ao pagamento.

W

Z (avalista)

X (avalista)

A ----------------------- B ----------------------------C

112

AVAL SIMULTÂNEO = É a pluralidade de avais concedidos ao mesmo

tempo, simultaneamente. Vários avalistas diretamente avalizam o sujeito da

relação cambiária. No aval simultâneo a solidariedade é civil. Aquele que pagar

o Titulo poderá ingressar com ação de regresso contra todos os demais

avalistas.

X Y Z (avalistas)

A ----------------------- B ----------------------------C

A relação existente entre os avalistas e o credor será a mesma tanto no

aval sucessivo ou no simultâneo, pois credor pode cobrar de um, alguns ou

todos os avalistas, que são devedores diretos, pois avalizam o emitente, logo

não há necessidade nem mesmo do protesto.

A diferença entre o aval sucessivo e o aval simultâneo se dá na relação

interna entre os avalistas, pois se o aval for SuCessivo a Solidariedade entre os

avalistas será Cambiária. Já se o aval for simultâneo a solidariedade entre os

avalistas é Civil (ver a diferença destas solidariedades no inicio deste módulo).

Então, por exemplo, se o C cobrar a dívida toda de Z, de quem o Z

poderá cobrar em regresso?

Se o aval for sucessivo, onde a solidariedade é cambiária, Z somente

pode cobrar a dívida toda de quem está na sua frente, então Z poderá cobrar a

dívida de X ou de A.

Se o aval for simultâneo, que a solidariedade é civil, neste caso o Z

poderá também cobrar em regresso tanto dos outros avalista, cada um na sua

quota parte, como do emitente.

No aval sucessivo existem vários avalistas, porém apenas um garante

diretamente o avalizado, que é o X garantindo A, já o resto dos avalistas

garantem os outros avalistas, (W garante Z e Z garante X).

Já o aval simultâneo todos os avalistas garantem diretamente o

avalizado A.

113

Agora, para o avalizado A não tem nenhuma diferença se o aval é

sucessivo ou simultâneo, contra ele sempre caberá a ação de regresso.

OBS: A sumula 189 do STF determina que o aval em branco e

superpostos consideram-se simultâneos, porque no aval em branco todos

avalizam o constituidor do título e mesmo que um seja superposto ao outro,

como não há identificação de quem é o avalizado, presume-se que todos

avalizam o emitente (constituidor do TC).

Logo, para indicar um aval simultâneo tem que ser em preto.

10/03/2005

AVAL & ENDOSSO

Aval e endosso são declarações cambiárias unilaterais, eventuais e

sucessivas realizadas no TC. Estas manifestações são sucessivas porque elas

são realizadas após a constituição do TC e são eventuais porque não são

essenciais para que o TC exista. Pode existir um TC sem que nele seja

realizado nenhum aval ou nenhum endosso.

Aval e endosso são informados pelo principio da literalidade, cartularidade

e da autonomia.

Mas o aval e o endosso não se confundem. (aqui trataremos do endosso

propriamente dito)

A finalidade do aval é uma garantia cambiária ao passo que a finalidade

do endosso é a circulação. O aval não tem nenhuma dependência com a

circulação do TC. O endosso visa a transferência do direito constante no TC, e o

endosso não tem função exclusiva de garantir o TC, inclusive o endossante

pode inserir no TC cláusula sem garantia, de modo que uma vez inserida esta

cláusula o endossante não garantirá o pagamento do TC. O aval

independentemente da circulação, garantirá o pagamento do TC e justamente

114

por se tratar de uma garantia cambiária, o avalista nunca poderá inserir

cláusula que exclua a garantia do pagamento.

O aval pode ser parcial se a lei extravagante assim autorizar, já o endosso

nunca poderá ser parcial. O endosso parcial é nulo.

O aval garante qualquer titulo de crédito. Já o endosso só pode ser

realizado nos títulos de crédito nominais à ordem.

O aval pode ser dado por qualquer pessoa, inclusive por quem já integra a

relação jurídica cambiária. Já o endosso só pode ser realizado por quem tiver o

direito de crédito (o credor).

PROTESTO:

O protesto está regulado na Lei 9492/97.

Lei 9492/97:

Art. 1 da lei 9492/97 conceitua o protesto, mas este artigo tem dois

defeitos graves que não devem ser repetidos em uma prova.

O primeiro defeito é que o art. 1 da lei 9492/97 não trata de todas as

espécies de Protestos, logo o conceito deste art. 1 é incompleto. Além disso, o

art. 1 da lei 9492/97 é impreciso pq ele não esclarece quais os documentos

que podem ser protestáveis. O art. 1 apenas diz que os documentos de dívida

podem ser protestados, mas não diz quais são estes documentos de dívida.

No art. 1 onde está a palavra “inadimplência”, fazer remissão ao art. 21

para indicar que o protesto pode ser por falta de pagamento, falta de aceite ou

por falta de devolução.

CONCEITO DE PROTESTO:

Protesto configura ato cartoriano, extrajudicial, solene e público, feito

pelo credor e instrumentalizado pelo oficial do cartório (art. 22 da lei 9492/97)

que tem por finalidade comprovar a falta de aceite, a falta de pagamento ou a

falta de devolução do título, viabilizando o exercício do direito de ação

cambiária indireta*, ou o requerimento de falência com base no art. do art. 1

da LF. (Art. 1 c/c art. 10 da LF c/c art. 94, I, da lei 11101/2005)

* Ação cambiária indireta é a ação cambiária fundada em TC que é

proposta em face dos devedores cambiários indiretos.

115

O protesto é ato cartoriano formal e público pq ele é realizado no cartório

de títulos e documentos, logo este é um ato extrajudicial. O protesto é um ato

assecuratório, que não cria um direito, mas assegura o exercício de um direito.

É um ato probatório, não é um meio de cobrança, mas um meio de prova.

O protesto é um direito potestativo, que viabiliza a cobrança do crédito

dos devedores indiretos. Se o titular do direito de realizar o protesto não

exercê-lo, ele perderá o direito de cobrar dos devedores indiretos porque seu

direito decairá. Logo, prazo para realização do protesto é um prazo

decadencial. A perda deste prazo extingue o direito.

Existe a figura do Protesto Judicial, que é uma medida cautelar nominada

prevista no art. 882 do CPC e que tem por finalidade conferir uma cautela para

assegurar um direito. O protesto judicial não tem nada a ver com o nosso

protesto cambiário.

QUESTÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA:

Zezinho, credor de uma NP no valor de 1 salário mínimo procura o gerente

do Banco e pergunta se com um simples protesto poderia cobrar o TC.

Pergunta: o Protesto é um meio de cobrança?

Na prática é muito comum que ao realizar o protesto, o oficial do cartório

intime o devedor para que este tome conhecimento do Protesto ou para que o

devedor possa comparecer ao cartório ou possa ingressar com uma ação

cautelar para impedir o protesto, ou por fim, pode acontecer do devedor

aparecer no cartório para pagar a dívida. Então, na verdade o protesto não é

um meio extrajudicial de cobrança, mas muitas vezes quando ocorre o Protesto

o devedor comparece no cartório e paga a dívida. Para a doutrina majoritária o

Protesto é meio de comprovação de que a dívida não foi paga. O Protesto não

cria o direito de cobrar do devedor. Mas para exercer o direito de cobrar de

alguns devedores, em regra, é preciso protestar o TC. Em regra, o protesto vai

viabilizar a cobrança do TC dos devedores indiretos. Se o credor não realizar o

Protesto, o direito de ele cobrar dos devedores indiretos decai.

NATUREZA JURIDICA DO PROTESTO:

Para a doutrina majoritária o Protesto é um ato comprobatório.

116

Para Fabio Comparato, o Protesto além de ser um ato comprobatório é

também um ato jurídico em sentido estrito. Ou seja, o protesto além de ser um

ato comprobatório, produz os efeitos previstos na lei. Os atos jurídicos em

sentido estrito são aqueles cujos efeitos decorrem da lei (e não da vontade das

partes).

EFEITOS DO PROTESTO:

Quando o credor protesta um TC produzem-se os seguintes efeitos:

- O protesto interrompe o prazo prescricional. A sumula 153 do STF diz

que o simples protesto cambiário não interrompe a prescrição. Entretanto esta

súmula está prejudicada porque o art. 202, III do NCC dispõe que o protesto

cambiário interrompe a prescrição.

- O protesto impede a participação em procedimento licitatório. Para

participar do procedimento licitatório é necessária a apresentação de

documentos e dentre eles há a necessidade de apresentar certidão de nada

consta, porque o Poder Público não se interessa em contratar com quem é

inadimplente.

- O protesto viabiliza ação cambiária indireta – para executar os devedores

indiretos;

- O protesto por falta de aceite produz o vencimento antecipado da dívida,

viabilizando a cobrança do Sacador da LC (art. 19 Decreto 2044/1908).

- O protesto é importante para verificação da ocorrência de endosso

póstumo. O endosso realizado após o protesto produz efeitos de uma cessão

de crédito.

- O protesto autoriza o pedido de falência fundado na impontualidade do

devedor (art. 1 c/c art. 10 da LF).

- O protesto fixa o marco inicial do termo legal da falência – art. 14, PU, III,

LF (e art. 99, II da Lei 11101/05). O art.14, PU, III do DL 7661 e o art. 99, II da

lei 11.101/05 tratam dos elementos que constam na sentença que decreta a

falência. Dentre estes elementos está a fixação do termo legal. O período do

termo legal foi ampliado na nova lei de falência e passou a ser fixado em até

90 dias. A sentença que decreta a falência tem efeitos retroativos, ela tem

eficácia ex tunc e atinge atos praticados antes da decretação da falência. Os

atos praticados durante o termo legal, durante aquele prazo de até 90 dias

117

anteriores à sentença, ainda que não tenham sido atos fraudulentos ou que

não tenham causado prejuízos, estes atos praticados dentro do termo legal são

tidos como ineficazes perante a massa falida, na forma do art. 52, I, da LF. O

requerimento de falência com base no art. 1 da LF necessariamente terá que

ter o protesto. O termo legal levará em conta a data do primeiro protesto e

fixará um termo desta data para trás. O primeiro protesto é o marco inicial

onde será contado o período que antecedeu ao primeiro protesto.

Requião entende que não há qualquer diferença entre termo legal e

período suspeito, pois a lei sequer faz menção à expressão “período suspeito”.

Mas Anco Marcio Vale e outros doutrinadores entendem que termo legal não se

confunde com período suspeito. Para ele o termo legal é de até 60 dias,

conforme previsto no art. 14, PU, III da LF e que o período suspeito estaria

previsto no art. 52, IV e V da LF que é equivalente aos 2 anos anteriores à

decretação da falência.

- O protesto impede a concordata proibitiva ( art. 158, IV da LF c/c sumula

190 STF).

CLASSIFICAÇÃO DO PROTESTO:

PROTESTO EXTRAJUDICIAL (OU CARTORIANO):

O protesto extrajudicial pode ser por falta de aceite, por falta de

devolução ou por falta de pagamento.

O protesto por falta de pagamento é possível em todos os TC, porque visa

comprovar a inadimplência.

O protesto por falta de aceite é possível na LC e na Duplicata. (cheque e

NP não possuem aceite).

O protesto por falta de devolução visa comprovar a retenção indevida (art.

21, §3 da lei 9492/97 revogou o art. 13, §1 da lei da duplicata)

PROTESTO FACULTATIVO & PROTESTO NECESSÁRIO

O protesto é facultativo para cobrar do devedor cambiário direto.

E o protesto em regra é necessário para o credor cobrar dos devedores

indiretos. O protesto também é necessário para o requerimento de falência.

Neste caso há necessidade do chamado protesto especial previsto no art. 10

118

da LF. Este protesto é chamado de protesto especial pq antigamente havia um

livro para os protestos comuns e outro livro para o protesto para requerimento

de falência. O art. 10 caput, parte final se refere à um livro especial, mas isso

está revogado pelo art. 23 da lei 9492/97.

PROTESTO COMUM E PROTESTO PARA FINS ESPECIAIS (FINS

FALIMENTARES)

O protesto comum viabiliza a ação cambiária contra devedores indiretos.

O protesto comum pode ocorrer por falta de aceite, falta de devolução ou por

falta de pagamento.

O protesto para fins especiais viabiliza o pedido de falência com

fundamento no art. 1 da LF. O protesto para fins de falência leva em conta a

falta de pagamento, pq quer comprovar a impontualidade.

Existem hipóteses em que o protesto não é necessário para fins cambiais,

mas é necessário para fins falimentares. Por exemplo, o credor não precisará

do protesto para executar o devedor direto. Mas se o credor quiser requerer a

falência do devedor direto, ele terá que protestar o TC.

O protesto comum cambiário tem prazo decadencial para ser levado à

efeito, já o protesto para fins especiais, não tem prazo. Enquanto não houver

prescrição do direito de crédito do credor, poderá ser efetuado o protesto, a

qualquer tempo – art. 10 LF.

O protesto para fins cambiários, em regra é efetuado na praça do

pagamento, ou seja, no lugar onde deve ser efetuado o pagamento. Já o

protesto para fins especiais, há controvérsias. O entendimento predominante é

no sentido de que o protesto para fins de falência deve ser realizado no lugar

onde estiver o principal estabelecimento do devedor, por causa do art. 7 caput

da LF, que deve ser aplicado ao protesto por analogia. Mas, minoritariamente,

Anco Marcio Vale entende que o local para o protesto falimentar é tanto o local

do principal estabelecimento como também a praça do pagamento. Para ele o

protesto é um ato administrativo, que antecede o procedimento judicial, logo

não há aplicação do art. 7 da LF.

IMPORTANTE:

119

O protesto comum não é sempre necessário para cobrar dos devedores

indiretos.

A regra geral nos diz que o protesto comum é necessário para cobrança

dos devedores indiretos. Mas existem exceções. As exceções prevêem

dispensa do protesto para cobrar dos devedores indiretos.

- art. 47, II da lei 7351/85 – Quando o credor apresenta o cheque dentro

do prazo de apresentação previsto no art. 33 da lei do cheque, ele não

precisará realizar o protesto para cobrar dos devedores indiretos, desde que

tenha a comprovação da falta de pagamento. Ou seja, há a dispensa do

protesto para cobrar dos endossantes e seus avalistas caso o credor tenha a

comprovação da falta de pagamento. E esta comprovação pode se dar com o

carimbo do banco indicando a falta de pagamento. O carimbo do banco é a

declaração do sacado de que não houve o pagamento e por sua vez, esta

declaração substitui o protesto nos casos em que a apresentação do cheque se

realiza dentro do prazo previsto no art. 33 da lei do cheque. ATENÇÃO: Para

fins de falência é necessário o protesto. A dispensa do protesto prevista no art.

47, II só servirá para a ação executória.

17/03/2005

DISPENSA DE PROTESTO

Em regra o protesto é necessário para que o credor do TC possa cobrar

dos devedores indiretos.

No que tange aos TC, a dispensa do protesto pode decorrer da lei ou da

vontade. O art. 47, II da lei do cheque prevê uma exceção à obrigatoriedade do

protesto para cobrança dos devedores indiretos do cheque. O art. 47, II

dispensa o protesto para cobrar dos devedores indiretos (endossantes e seus

avalistas) desde que o cheque tenha sido apresentado dentro do prazo legal

previsto no art. 33 da lei do cheque e desde que haja o carimbo do banco

comprovando a falta de pagamento. Ou seja, quando o Banco, Sacado, recusa

o pagamento por ausência de fundos, ele efetua um carimbo no cheque e se o

credor estiver dentro do prazo decadencial previsto no art. 33, ele poderá

executar os devedores indiretos sem necessidade de realizar o protesto.

120

O importante aqui é que seja sempre lembrado que esta dispensa de

protesto diz respeito apenas à possibilidade de executar os devedores

indiretos. Se o credor pretender requerer a falência do deve dor, terá que

protestar o cheque. Esta dispensa não se estende ao requerimento de falência.

Não há dispensa de protesto para fins falimentares.

O protesto é sempre necessário para o requerimento de falência do

devedor empresário, quando a causa de pedir da falência for a impontualidade

(art. 94, I, lei 11.101) .

Uma outra dispensa legal de protesto diz respeito à NP rural e à duplicata

rural, previstas no DL 167/67. Este DL não faz qualquer exigência do protesto

para que o credor possa cobrar dos devedores cambiários indiretos.

Pode haver também a dispensa voluntária do protesto quando as pessoas

que integram a relação jurídica cambiária dispensam o protesto. – art. 46, LUG.

Para que haja a dispensa voluntária do protesto, esta cláusula tem sempre

que vir expressa na cártula.

Se a cláusula que dispensa o protesto for inserida por um devedor indireto

ela só produzirá efeitos com relação ao devedor indireto que à inseriu no TC.

Nestes casos a cláusula terá natureza personalíssima.

Exemplo: A emite uma NP para B, que por sua vez endossa a NP para C,

que endossa para D. D é o credor. A é o devedor direto. B e C são devedores

indiretos que podem ser cobrados, desde que a NP seja protestada.

Entretanto nada impede que em uma relação cambiária idêntica à esta

acima descrita, o B, que é um devedor indireto, insira na NP uma cláusula

dispensando o protesto. Neste caso, diante da cláusula inserida pelo B, o

protesto será dispensado em relação ao B. Em outras palavras, a cláusula

inserida pelo B traduz uma dispensa voluntária do protesto, e no momento em

que o credor D for executar os devedores desta NP ele poderá fazê-lo sem

necessidade de realizar o protesto com relação ao devedor principal (como é a

regra) e com relação ao B (que inseriu cláusula dispensado o protesto).

A cláusula que dispensa o protesto, quando inserida por um devedor

indireto, é uma cláusula personalíssima, ou seja, ela não se estende aos

demais devedores indiretos. Se um devedor indireto inseriu cláusula

121

dispensando o protesto, a dispensa de protesto só produz efeitos em relação

aquele devedor que inseriu a cláusula. Em relação aos demais devedores

indiretos, o protesto será necessário, justamente pq a cláusula que dispensa o

protesto é personalíssima e não se estende à nenhum outro devedor indireto

que não seja aquele que inseriu a referida cláusula no TC. Entretanto, nada

impede que todos os devedores indiretos insiram a cláusula dispensando

protesto. Neste caso não haverá necessidade de protesto em relação à

nenhum devedor indireto.

Agora, se a cláusula que dispensa o protesto for inserida pelo constituidor

do TC, esta cláusula se estenderá à todos os devedores indiretos, produzirá

efeitos amplos.

O nome da cláusula que dispensa o protesto é cláusula sem despesa de

protesto.

De qualquer forma, a cláusula sem despesa de protesto, que dispensa o

protesto, só produz efeitos para fins cambiários. Ou seja, a dispensa do

protesto só diz respeito à ação executória fundada no TC.

A cláusula de dispensa de protesto nunca produzirá efeitos para fins

falimentares.

Em resumo, a cláusula que dispensa o protesto só produz efeitos para fins

cambiários. Quando ela for inserida por um devedor indireto ela terá natureza

personalíssima e só produzirá efeitos em relação ao devedor indireto que a

inseriu no TC. Mas se a cláusula sem despesa de protesto for inserida pelo

constituidor do TC ela produzirá efeitos em relação a todos os devedores

cambiários daquele TC.

TÍTULOS PROTESTÁVEIS:

Art. 1 da Lei 9492/97 conceitua o protesto. Mas este conceito é impreciso

e incompleto. É incompleto pq só preceitua o protesto por falta de pagamento,

quando o protesto também pode ser por falta de aceite e por falta de

devolução, tal como o disposto no art. 21.

No art. 1 da lei 9492 é dito que o protesto é o ato formal e solene pelo

qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em

títulos e em outros documentos de dívida.

122

O que seriam estes “outros documentos de dívida” a que se refere o art.

1?

Quais são os documentos passíveis de protesto? O boleto bancário pode

ser protestado? Exemplo, o assinante da revista “CARAS” recebe em casa um

boleto bancário e não o paga. Este boleto, embora não seja um TC, pode ser

protestado?

Há controvérsias.

Hermínio Amarildo Darouge e Pedro Luiz Rosa entendem que a expressão

“outros documentos” deve ser interpretada restritivamente. Ou seja, só é

passível de protesto os títulos executivos judiciais ou extrajudiciais, exigíveis, e

que documentem uma obrigação pecuniária. Esta corrente afasta a

possibilidade do protesto em um boleto bancário, em um contrato sem força

executória, ou em um titulo prescrito.

Carlos Henrique Abrão e a prática nos cartórios, segue esta corrente, no

sentido de que a expressão “outros documentos” deve ser interpretada

ampliativa e literalmente, ou seja, qualquer documento de valor pode ser

objeto de protesto. Sendo assim, um boleto bancário e um contrato sem força

executória pode ser objeto de protesto, eis que estes documentos traduzem

uma dívida de valor.

Pergunta: O título prescrito pode ser objeto de protesto? O credor de um

cheque prescrito poderá levá-lo à protesto?

A prescrição é matéria de defesa e em regra o juiz não pode reconhecer a

prescrição de ofício. Ora, se o juiz não pode reconhecer a prescrição de ofício, o

oficial de cartório poderá reconhecê-la administrativamente?

O art. 9 da lei 9492/97 diz que todos os títulos e documentos de dívida

protocolizados serão examinados em seus caracteres formais. Em outras

palavras, o oficial do cartório terá que examinar as formalidades dos TC e dos

documentos de dívida que lhe forem apresentados. E o art. 9 ainda diz que não

cabe ao oficial de cartório apreciar a prescrição.

Embora esta seja a letra da lei, a questão não é pacifica.

Pedro Viscosa entende que apesar da redação do art. 9 da lei 9492/97,

não cabe ao oficial do Cartório protestar Titulo Prescrito, pois há a necessidade

de o TC ser exigível, eis que do contrário o TC não terá utilidade.

123

Mas a posição dominante, que é a do Carlos Henrique Abrão, diz que, de

acordo com o art. 9 da lei 9492/97 o oficial do cartório ou tabelião só devem

analisar a existência de vícios formais, extrínsecos ou aparentes, não podendo

reconhecer a prescrição. Ademais, de acordo com o art. 219, §5, do CPC,

prescrição envolvendo direitos patrimoniais não pode ser reconhecida de oficio

pelo juízo, e, portanto também não pode ser reconhecida pelo cartório.

Certidão da Dívida Ativa (CDA) pode ser objeto de protesto?

A Certidão da Dívida Ativa (CDA) é um titulo executivo extrajudicial – art.

585, VI do CPC. A Fazenda constitui seu titulo executivo e executa o

contribuinte inadimplente através da ação de execução fiscal fundamentada na

CDA para que a Fazenda execute o contribuinte não há necessidade de

protesto da CDA.

Mas caso a Fazenda queira requerer a falência do contribuinte empresário

inadimplente, ela poderá fazê-lo, com base na CDA?

Há controvérsias quanto à possibilidade da Fazenda requerer a falência de

seu contribuinte empresário. Alguns autores sustentam a impossibilidade da

Fazenda requerer a falência do devedor empresário por lhe faltar interesse

processual neste requerimento. Para outros autores a Fazenda pode requere a

falência do devedor empresário e neste caso este requerimento será

fundamentado na impontualidade, que será demonstrada através da CDA.

Sendo assim esta CDA teria que ser protestada.

A nova lei de falências (Lei 11.101) não trata deste assunto, que já era

controvertido na antiga lei de falência, e pelo visto continuará controvertido.

Fabio Ulhoa Coelho, Nelson Abrão, Waldo Fazzio Jr. e parte do STJ

entendem que a Fazenda Pública pode requerer a falência do contribuinte

devedor empresário, fundamentado na CDA. E uma vez que o titulo de

requerimento de falência por impontualidade há de ser protestado, neste caso

a CDA também terá que ser protestada.

Para esta corrente a lei de falências não veda que a Fazenda requeira a

falência do contribuinte devedor empresário. A Certidão da Divida Ativa é um

Titulo executivo extrajudicial que atende aos requisitos da lei de falência. Logo,

nada impede que a Fazenda requeira a falência do devedor empresário, desde

124

que a CDA seja protestada, de modo a atender as exigências da Lei de

falências. Neste caso haveria uma insolvência comprovada pelo protesto. Além

disso, a lei de falências só restringe o requerimento de falência ao credor com

garantia real que não teria interesse no requerimento de falência uma vez que

este credor pode executar a sua garantia real, salvo nas hipóteses em que a

garantia real se perder.

Rubens Requião, Miranda Valverde e a outra parte do STJ entendem que a

Fazenda Pública não pode requerer a falência do devedor empresário e por

esta razão não há o que se falar em protesto da certidão da divida ativa eis

que para a Fazenda executar o contribuinte inadimplente a CDA não precisa

ser protestada.

Para esta corrente a fazenda Pública não poderia requerer a falência por

força do art. 186 do CTN (alterado pela LC 118) que diz que o crédito tributário

prefere a qualquer outro, salvo aos créditos provenientes de acidente de

trabalho, créditos trabalhistas. E o art. 187 do CTN diz que a Fazenda Pública

não se sujeita ao concurso de credores. Sendo assim, se a Fazenda não se

sujeita ao concurso de credores, a Fazenda não se sujeita ao processo

falimentar, que é uma espécie de concurso de credores. Além disso, há o art.

29 da lei 6830/80 que repete o art. 187 do CTN, dizendo que a Fazenda não se

sujeita ao concurso de credores. Outro argumento seria o art. 1 da lei de

execução fiscal que diz que os créditos tributários seriam regulados pela LEF, e

a contrario sendo, os créditos tributários não poderiam ser regulados pela lei

de falência. Por fim, outro argumento é o principio da razoabilidade porque a

falência não seria uma medida útil, necessária e proporcional à execução do

credito tributário. O processo falimentar é muito mais gravoso do que a

execução fiscal.

Uma vez ocorrido o protesto comum, há necessidade da realização do

protesto para fins especiais ou falimentares?

Exemplo: A é um empresário que emite uma NP para B. Na data do

vencimento, A não paga ao B. O B pode executar este devedor empresário

singularmente através de uma ação cambiária. Digamos que B proteste esta

NP, dentro do prazo para o protesto comum. Com a NP protestada B resolve

125

que quer requerer a falência do A. Nada impede que B requeira a falência do A,

pois ele possui um título executivo vencido e não pago. A pergunta é a

seguinte, este protesto comum realizado pelo B é suficiente para ele requerer

a falência do A, ou o B terá que efetuar o protesto especial para fins

falimentares? Ora, com aquele protesto comum o credor comprovou a

impontualidade. O objetivo do protesto especial é justamente a de comprovar a

impontualidade, logo, neste caso não será necessário que o B realize o

protesto especial.

O protesto comum supre a necessidade de protesto especial em relação

aos devedores indiretos?

Outro exemplo: A é um empresário e emite uma NP para B que também é

empresário e que endossa a NP para C. C é o credor e para cobrar a NP do

devedor direto A não precisara realizar o protesto comum. Mas para que C

possa cobrar de B, que é devedor indireto, será necessário o protesto comum.

C realiza o protesto comum. Mediante este protesto, C poderá requerer a

falência de A, que é devedor direto e principal. Este protesto comum realizado

pelo C supre o protesto especial para fins de requerimento de falência do

devedor direto, eis que este necessariamente será intimado do protesto.

Mas com este protesto, C poderá requerer a falência de B que é devedor

indireto?

Aqui a questão é controvertida no que diz respeito à lei a ser aplicada à

matéria.

Antes da lei 9492/97 havia o art. 29, III do decreto 2044, que regula a LC e

NP e que exige a intimação do Sacado ou do aceitante, de modo que assim

fica atestada a impontualidade destes sujeitos. Este dispositivo não faz

menção ao sacador da LC e nem aos devedores indiretos da NP. Por esta razão

este protesto, na forma do art. 29, III do Decreto 2044 não seria hábil a atestar

a impontualidade dos devedores indiretos. Para requerer a falência de um

devedor indireto seria necessário o protesto especial.

Antes da lei 9492/97, em relação ao cheque, não se aplicava o decreto

2044, mas sim o art. 48, §2, b da lei 7357/85 que estende à todos os co-

obrigados a intimação que atesta a impontualidade, não restringindo-a aos

devedores diretos como fez o decreto 2044. No cheque, a certidão de

impontualidade se estenderia os todos os co-obrigados.

126

Com o advento da lei 9492/97, a matéria passou a ser regulada no art. 22,

V, onde é dito que o registro do protesto e seu instrumento deverão conter a

indicação dos intervenientes voluntários. Ou seja, no instrumento do protesto

deve estar transcrita a indicação de todos os sujeitos cambiários. Este inciso

deve ser combinado com o art. 21, §4 da lei 9492/97.

Através da leitura destes dispositivos é possível perceber que a disciplina

da lei 9492/97 é diferente da disciplina do Decreto 2044.

Em relação aos devedores indiretos da LC, NP e cheque, o protesto

comum supre a necessidade do protesto especial, desde que o credor indique

os co-obrigados no momento em que for realizar o protesto. Agora, cabe ao

credor indicar os co-obrigados no momento em que ele for realizar o protesto

comum. Feita esta indicação todos os co-obrigados serão intimados do protesto

e sendo assim, este protesto comum suprirá a necessidade de protesto

especial em relação aos devedores indiretos.

Bom, mas a questão é saber qual a lei que deve ser aplicada, se seria o

decreto 2044, a lei de cheque ou a lei 9492/97.

Minoritariamente Hermínio Amarildo entende que deve ser aplicado o art.

29, III do Decreto 2044 e o art. 48, §2 da lei do cheque.

Majoritariamente a doutrina sustenta que deve ser aplicada a lei 9492/97,

art. 21, §4 c/c art. 22, V, tendo em vista que se trata de uma lei especial

posterior que regula apenas matéria referente ao protesto e faz referencia

expressa à LC, NP, cheque e duplicata. O art. 22, IV da lei 9492/97 apenas

preceitua que o instrumento deverá conter a “certidão das intimações”, porem

não esclarece quem será intimado. No entanto o art. 21, §4 da lei 9492/97

dispõe que o aceitante da LC e da duplicata, bem como o emitente da NP e do

cheque serão intimados, havendo assim o suprimento quanto à estes. Com

relação aos devedores indiretos destes títulos só haverá suprimento com

relação àqueles que forem indicados pelo credor à opção do cartório.

31/03/2005

PROTESTO E JUROS – Art. 40, da Lei 9492/97

127

Antes da lei 9492/97, havia entendimento no sentido de que os juros

moratórios incidiam após o protesto. O protesto seria o termo a quo para

incidir os juros moratórios, (não seria a partir do vencimento). Porém, após o

advento da lei 9492/97, o entendimento mais correto, e que dá a correta

interpretação ao art. 40 Lei 9492/97 é que a partir do vencimento da dívida é

que vão incidir os juros moratórios.

Entretanto, é possível que não haja um vencimento, nos casos em que a

obrigação não tem um prazo de vencimento, nestes casos, o protesto será o

termo a quo para incidir os juros moratórios, mas é somente se a obrigação

não tiver um vencimento estipulado.

Já se a obrigação tiver um vencimento estipulado, neste caso os juros

moratórios incidirão a partir do vencimento.

CONTRA-PROTESTO

SUSTAÇÃO - Art. 17 L 9492/97

CANCELAMENTO – Art. 26 l 9492/97

O protesto não é meio de cobrança, até poderá servir na prática como

um meio de cobrança, porque é feito pelo credor, mas não é meio de cobrança.

O oficial apenas instrumentaliza o protesto. Desta forma, o oficial do cartório

intima o devedor para pagar o título, ou fazer o aceite, ou devolver a cártula,

dependendo do motivo do protesto.

Então, após a intimação do devedor, durante os 3 dias seguintes, poderá

ocorrer três hipóteses:

1) O devedor não comparece no cartório, não faz nada Neste caso, o

oficial do cartório deverá efetivar o protesto.

2) O devedor poderá comparecer para pagar ou aceitar ou devolver o

título, suprindo o objeto do protesto Neste caso não haverá a efetivação do

protesto.

3) O devedor poderá realizar o Contra Protesto, que é uma defesa,

justificando perante o cartório por que não pagou o título, não aceitou ou não

128

devolveu. Esta defesa é apenas moral, sendo certo que não caberá ao oficial

de cartório fazer juízo de valor, porque ele somente pode analisar requisitos

formais Neste caso o protesto será efetivado.

Se o devedor comprovar que pagou a dívida, o oficial do cartório não

deverá efetivar o protesto, porque o protesto, neste caso, vai gerar um

constrangimento, inclusive cabe até perdas e danos.

SUSTAÇÃO - Art. 17, Lei 9492/97

Se o devedor pagou o titulo, mas mesmo assim o título foi protestado,

poderá sustar este protesto com um pedido de liminar nos 3 dias subsequente.

E depois entra com uma ação declaratória de inexigibilidade o titulo, porque já

foi pago.

A sustação prevista no art. 17 da lei 9492/97 uma medida judicial,

cautelar, nominada (porque tem nome) e típica (porque tem previsão legal) e

que visa impedir a efetivação do protesto. Mas, esta medida cautelar tem que

ser proposta rapidamente, nos 3 primeiros dias. Porém, se não houver esta

sustação, o devedor poderá entrar com perdas e danos, porque já pagou o

título e o protesto gera um constrangimento.

A sustação é sempre judicial

Tem por objetivo o impedimento da realização do protesto.

Se o protesto for indevido caberá a anulação, art.26, Lei 9492/97.

CANCELAMENTO - Art. 26 l 9492/97

Neste caso, o protesto é efetivado e depois vai requerer o cancelamento

do protesto, é uma medida desconstitutiva, que pode ser extrajudicial ou

judicial.

*Prova MP – Em que hipótese é possível o cancelamento do protesto?

129

Cancelamento Extrajudicial - Por exemplo, se o devedor pagar somente

após o protesto, neste caso com a quitação dada pelo credor poderá então, o

devedor ir ao cartório e demonstrar que já pagou e cancelar o protesto

diretamente no cartório.

Cancelamento Judicial – Por exemplo, se entrar com uma ação

declaratória de inexigibilidade do título, vai pedir em juízo para declarar que o

título não é mais exigível e também vai pedir o cancelamento. Ou uma ação

desconstitutiva do título, porque é um título inválido já que o devedor foi

coagido, neste caso vai desconstituir o título e cancelá-lo no cartório.

Então, o cancelamento pode ser feito através do pagamento ou através

de uma ação principal declaratória de inexigibilidade do título ou

desconstitutiva de título.

O cancelamento do protesto pode ser feito pela via administrativa

perante o tabelião ou pela via judicial.

Quando o devedor paga o título e tem o título em suas mãos basta a sua

apresentação para que o tabelião cancele o protesto.

Se o devedor que paga o título, não o tem em mãos, a lei autoriza

declaração de todos aqueles que tiveram o título, no sentido de que o mesmo

foi pago.

Nas demais hipóteses faz-se necessária a ação de cancelamento de

protesto. Ex: Protesto de duplicata fria.

Pergunta de um aluno (inaudível)

Resposta: Prazo para protesto da LC E NP - art. 28, Dec. 2044/08. prazp

do protesto da Duplicata esta no art..13, §4 da Lei 5474/68, que estabelece

um prazo mais decente para que não haja decadência. É de 30 dias.

Cheque: Lei 7357/85, art. 33 estabelece que o protesto deve ser feito

enquanto não escoado o prazo para apresentação de cheque ( 30 dias para

cheque da mesma praça e 60 dias para praças distintas).

Lugar do protesto:

A LUG é não fala nada. O art. 28, Dec.2044/08 diz que é o lugar do pagamento

da LC ou da NP. Mas o lugar do pagamento não é requisito essencial. O art. 1

130

da LUG enumera os requisitos da LC e no artigo seguinte supre os que não são

essenciais. O lugar do pagamento está no inciso art. 2 da LUG, que diz que o

lugar do pagamento deve estar ao lado do nome do sacado. Sendo assim, o

protesto deverá ser realizado no lugar do pagamento.

131

NOTA PROMISSÓRIA:

CONCEITO:

Na Nota Promissória é uma promessa de pagamento..

A nota promissória é um título de crédito, então é um documento formal

(devendo ter os requisitos essenciais ou formais), que consubstancia em uma

promessa para pagar. Quem promete é o emitente e quem recebe é o

favorecido ou credor, então tem duas figuras.

“A Nota Promissória configura um documento formal, que

representa uma promessa de pagamento a vista ou a prazo, feita pelo

emitente (PN ou PJ) em favor de outra pessoa, credor, favorecido ou

tomador, (PN ou PJ)”.

A natureza jurídica da NP é a de uma promessa de pagamento

incondicionada, pura e simples.

A legislação aplicável à Nota Promissória é a mesma da Letra de Câmbio,

só que é a partir da parte final da LUG (Dec. 57663/66) e o Decreto. 2044/08.

(OBS: O certo é sempre olhar a legislação nesta ordem, primeiro a LUG, que, se

for omissa, poderá ser suprida em suas omissões pelo Decreto 2044, e se

ainda assim persistir a omissão, então deverá ser consultado o NCC).

Para estudarmos a NP teremos que analisar os art. 75 e seguintes da

LUG. O art. 75 trata dos requisitos da NP, o art. 76 trata dos requisitos

supríveis.

REQUISITOS ESSENCIAIS E NÃO ESSENCIAIS DA NOTA PROMISSÓRIA

Os requisitos da NP estão no art. 75 da LUG. Vejamos cada um destes

requisitos:

132

1. A promessa pura e simples do pagamento. É pura e simples porque

esta promessa não pode ser condicionada, (por exemplo, eu prometo pagar

se ela passar no concurso da Magistratura), neste caso a condição impede a

circulação do título, e por isso não poderá ter qualquer condição. A expressão

quantia determinada é importante por causa dos títulos indexados (em que a

quantia não é determinada, mas sim determinável), por isso que Fran Martins

considera ilíquidos os títulos indexáveis.

Este dois requisitos são essenciais, porque de acordo com art. 76, a falta

destes requisitos não pode ser suprida.

2. Época do pagamento, ou seja, quando ocorrerá o pagamento, o

vencimento. Este requisito é não essencial, porque se não estiver escrita a

data do pagamento, o vencimento será considerado à vista, na forma do art.

76 da LUG.

3. Lugar em que se efetuará o pagamento. Na falta de indicação do

lugar do pagamento, o art. 76 da LUG diz que considerar-se-á o lugar em que a

NP foi passada (emitida).

4. O nome da pessoa a quem, ou a ordem de quem, se deve efetuar o

pagamento, que é o beneficiário, isto significa que necessariamente a nota

promissória será nominal, podendo ser a ordem ou não a ordem (não poderá

ser ao portador).

Agora, não se esqueça que no momento da emissão da nota não é

necessário que todos os requisitos estejam presentes, porque a Sumula 387 do

STF mitiga esta necessidade.

5. A indicação da data e do lugar que a nota promissória foi passada.

Neste item, temos dois requisitos, a data e o lugar.

6. A assinatura do emitente, que é um requisito essencialíssimo.

O art. 76 da LUG determina quais são os requisitos supríveis:

Art. 76 LUG c/c Art. 889 NCC – lembrar que sempre se aplica a LUG em

primeiro lugar e somente na hipótese da LUG ser omissa é que nós vamos nos

socorrer do NCC.

133

A época do pagamento (que é o vencimento) é um requisito suprível,

será considerado a vista.

Lugar onde o título foi passado em que se efetuará o pagamento,

também é um requisito não essencial, porque será considerado como sendo o

lugar do pagamento, e ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor.

Se não conter o lugar onde foi passada, que também é um requisito

suprível, será considerado no lugar ao lado do nome do subscritor.

Requisitos Essenciais

Os três requisitos que são sempre importantes para qualquer título são:

- Nome do título; Data de emissão; Assinatura

O nome do título, explicitando que se trata de uma “nota promissória”.

Se no título estiver escrito apenas a palavra “promissória” não será

considerada como sendo um título executivo de crédito, porque faltará o

requisito do art. 75. Tem que estar escrito “nota promissória”. Porém, se

estiver escrito “nota promiçoria” (com ç), escrito errado não tem problema,

neste caso não desnaturará o titulo de crédito que será válido.

A data prevista no nº 6 do art. 75 é importante inclusive para se saber se

o emitente tinha capacidade, se estava morto ou vivo, então sempre tem que

ter a data da emissão, inclusive podemos saber que não é suprível, porque o

art. 76 não fala nada sobre a data.

TÍTULO CAMBIARIFORME

O art. 77 determina a aplicação as disposições da LUG relativas à LC,

referentes ao endosso, vencimento, pagamento, às notas promissórias, desde

que não sejam contrárias à natureza da NP, não podendo haver qualquer

incompatibilidade.

Um exemplo de incompatibilidade é o vencimento por falta de aceite que

existe na Letra de Câmbio, mas não existe na Nota Promissória, porque a NP

não tem aceite, (veremos isso de novo daqui a pouco)

134

Cambiariforme porque é considerado um título equiparado ou

assemelhado a Letra de Câmbio, ou seja, tem a mesma disciplina jurídica,

mesmo tratamento jurídico das LC, e a própria LUG determina isso no art. 77

mandando aplicar as mesma regras - Sublinhar no art. 77 – “aplicáveis” e “as

disposições relativas a letra” – porque em razão disto é que a Nota Promissória

é considerado um Título de Crédito Cambiariforme.

FIGURAS JURÍDICAS NA NP

Ao contrário da LC, que tem 3 figuras: sacador, sacado (que poderá se

transformar em aceitante ou não) e o credor (que poderá ser terceira pessoa

ou o próprio sacador), a NP tem apenas duas figuras iniciais.

Na Nota Promissória, as figuras originais são duas: Emitente e Credor =>

A que emite a nota promissória prometendo pagar para B que é credor.

A NP pode ter figuras derivadas. As figuras derivadas são os endossantes

e o avalista.

OBS: Não há aceite na NP, porque a NP já nasce aceita, porque temos

uma promessa de pagamento, logo não terá aceite, já que com a simples

promessa já se está aceitando pagar desde o momento da emissão.

DEVECORES CAMBIÁRIOS NA NP

Ex: A emite uma NP para B, que endossa para C, que endossa para D,

que possuem avalistas Y, Z e W respectivamente com avalista X.

Y Z W

A B C D

135

X (deu aval em branco, logo é avalista do constituidor do título)

Devedores Diretos = A (emitente) e seu avalista Y que possuem o

mesmo grau de responsabilidade (não tem a mesma obrigação, porque as

obrigações são autônomas)

Devedores Indiretos = B e C (endossantes) e seu avalistas Z e W que

tem o mesmo grau de responsabilidade.

OBS: apesar do NCC prever que agora a regra é que o endossante não

garante o pagamento, salvo se estiver expressamente estipulado, porém o que

prevalece é a Lei Especial que determina que o endossante garante o

pagamento, salvo clausula em contrário.

Com relação ao devedor direto, o protesto é facultativo. Já com relação

ao devedor indireto, em regra o protesto é necessário, mas tem exceções em

virtude da lei ou da manifestação de vontade.

Devedores Principais = É aquele que quando paga o titulo não tem

como ir em regresso contra ninguém. No caso da NP é o emitente.

Devedores de Regresso = são os devedores que ao pagarem o TC tem

o direito de regresso contra os co-devedores anteriores. Na NP são os

endossantes e seus avalistas, assim como o avalista do emitente (que apesar

de ser um devedor direto, não será um devedor principal, mas sim de

regresso, já que pode regredir em face do emitente).

E o X? Ele é que tipo de avalista? Vai ser direto ou Indireto?

É devedor direto e de regresso, porque poderá ser acionado

independentemente de protesto e poderá regredir contra o avalizado.

Ele é um avalista direto, porque seu aval em branco em que há uma

presunção relativa de que quem concede o aval em branco está avalizando o

subscritor da NP, quem constituiu o título, que na NP é o emitente, e

conseqüentemente, em relação à ele, o protesto é facultativo. Art. 77 in fine

(parte final) LUG – Aval em Branco (c/c art. 899, 2ª parte do NCC).

136

Atenção, na NP, é diferentemente da LC,onde o avalista em branco seria

avalista do sacador, que é devedor indireto, logo o avalista em branco também

seria um devedor indireto, e conseqüentemente será necessário o protesto.

Título de Modelo Livre

É possível com uma folha de caderno elaborar uma Nota Promissória,

desde que atente para os requisitos da lei. Diferentemente do que ocorre com

o cheque, que tem o modelo vinculado, que tem modelo padronizado pelo

BACEN.

Título Constituído pelo Devedor Cambiário Direto e Principal

A NP será constituída pelo devedor direto e principal, que será o

emitente, que é sempre um devedor direto e principal, logo este sempre

existe.

(Diferentemente da Letra de Câmbio em que quem constitui é o sacador,

que é sempre um devedor indireto, mas podendo ser principal ou de regresso

dependendo se tem ou não aceite. E inclusive, uma outra diferença é que se na

LC não houver aceite, não teremos a figura do devedor direto, logo este

poderá ou não existir, e ainda assim a LC será válida).

A NP é título que não Admite o Aceite porque já nasce com a obrigação

cambiária reconhecida, assim sendo não há o que se falar em protesto por

falta de aceite e por falta de devolução (porque no momento em que o

emitente constitui uma NP ele já a entrega ao credor).

Na Nota Promissória somente caberá protesto por falta de pagamento e

protesto por falta de data de visto.

CARACTERÍSTICAS DA NOTA PROMISSÓRIA

TÍTULO ABSTRATO OU NÃO CAUSAL

Qualquer causa debendi ou negócio subjacente (ou fundamental)

viabiliza a emissão da Nota Promissória.

137

*Com base nesta características nós poderíamos responder uma questão

que caiu na prova do MP/RJ: Se poderia ser emitida uma Nota Promissória com

base em contrato de Compra e venda mercantil? Em outras palavras, se uma

NP com base em um Contrato de compra e venda mercantil poderia viabilizar o

requerimento de falência?

Para responder esta pergunta nem precisa ir na Lei da Duplicata, que

veremos depois, porque a Lei da Duplicata, no art. 2º aparentemente faz crer

que a compra e venda Mercantil e na prestação de serviço está obrigado a

sacar duplicata, não podendo emitir outro título de crédito, porém, não é isso.

Se eu disser que a NP não pode ser emitida com base em uma compra e

venda mercantil eu não poderia falar que ela é um título abstrato ou não

causal, isto é, não possui causa específica. É característica da Nota Promissória

a abstração, em que qualquer causa poderá viabilizar a emissão da Nota

Promissória, assim sendo, se por exemplo, a Estrela vender brinquedos para as

Lojas Americanas, esta poderá sacar uma duplicata, porém o saque da

duplicata é facultativo (não é obrigatório), e por isso, se quiser, poderá optar

por emitir uma Nota Promissória, já que é um Título de Crédito abstrato, em

que qualquer causa debendi ou negócio subjacente (ou fundamental) viabiliza

a emissão da Nota Promissória, inclusive uma compra e venda mercantil ou

uma Prestação de Serviço.

A exigência da compra e venda mercantil ou Prestação de Serviço é

somente para sacar a duplicata, mas tendo estas causas não significa que você

está obrigado a sacar a duplicata, e caso você queira sacar outro título

também poderá fazer, inclusive um cheque, que também pode ser emitido

pelas Lojas Americanas em virtude desta compra e venda mercantil.

O nome em favor de quem se passa a Nota Promissória, é um requisito

essencial. Pode ser nominal à ordem (em que circulará por endosso) ou não a

ordem (em que circulará com efeito de cessão)

SÚMULA 387 STF e art. 891 NCC – Mitiga esta característica, porque

determina que este nome deve estar somente no momento em que for cobrar

ou protestar.

138

VENCIMENTO - O vencimento da NP pode ser: Vencimento a Vista; A

Dia Certo; A Tempo Certo da Data (ao período a contar da emissão); A Tempo

Certo Dia da Vista.

Se não tiver a data do vencimento, o título será válido porque será

considerado o vencimento à vista. Entretanto, se tiver vencimento à Certo Dia

da Vista, exemplo, prometo pagar por esta Nota Promissória no prazo de 20

dias a contar da vista, poderá se ter este tipo de vencimento, porque a lei

admite, apesar deste título não ser passível de aceite.

Se a Nota Promissória não é passível de aceite, como conjugar a

inexistência do instituto do aceite com este art. 78, 2ª alinha da LUG que diz “a

certo termo da vista”? Em outras palavras, há ou não possibilidade deste

vencimento já que a Nota Promissória não admite aceite? Há controvérsias:

Rubens Requião, minoritariamente, entende que não é passível esta

modalidade de vencimento na Nota Promissória, porque não há aceite. Um

outro argumento dele é que o art. 77 manda aplicar as regras da Letra de

Câmbio à Nota Promissória, mas sem fazer menção ao aceite, assim sendo

como a Nota Promissória não é passível de aceite e o art. 77 exclui o aceite,

logo não poderá ter esta modalidade de vencimento, inclusive este art. 78

causa perplexidade. Ele também tem esta posição porque fala que visto é igual

ao aceite, por isso ele não consegue viabilizar a incidência deste tipo de

vencimento na Nota Promissória.

A doutrina majoritária, Fran Martins, Waldiro Bulgarelli, Luís Emigdio e

João eunápio Borges entendem que na NP é possível existir esta modalidade

de vencimento porque o visto é diferente do aceite, então eles diferem o visto

do aceite.

OBS: João Eunápio Borges, apesar de admitir esta modalidade de

vencimento, ele acha ela inócua, inútil (eu concordo com ele)

Na letra de Câmbio é mais difícil de se diferenciar, porque quando A

(sacador) saca uma Letra de Câmbio para B (sacado) pagar ao C (credor). Este

credor tem que apresentar a LC para ver se o sacado aceita ou não. Se o

sacado aceitar está tranqüilo, em ocorrendo o aceite vai começar a correr o

prazo de vencimento para este tipo de vencimento a certo termo da vista.

139

Agora, em não ocorrendo o aceite, haverá vencimento antecipado e o credor

poderá cobrar de A, que é o devedor principal. Já na Nota Promissória não há o

aceite (não há reconhecimento), mas há visto, o visto é igual a apresentação

do título, então, se A prometer pagar ao B, 20 dias a contar do visto, então

quando B apresentar ao A a NP, este vai “vistar” e datar, e assim vai começar

a correr o prazo de 20 dias, logo houve apresentação, mas não houve aceite.

Visto = Apresentação

Aceite = Reconhecimento

Agora, se não houver nem visto e nem data, então deverá protestar, eis

que neste caso terá como efeito termo inicial para contagem do prazo do

vencimento (logo não tem como efeito o vencimento antecipado, que é no caso

da falta de aceite, que não existe na Nota Promissória).

Cabe vencimento antecipado na Nota Promissória? O emitente poderá

prometer pagar daqui a 120 dias, mas eventualmente poderá ocorrer o

vencimento antecipado?

Sim, mas somente no caso da decretação da falência, porque um dos

efeitos da sentença declaratória de falência com relação aos credores é o

vencimento antecipado das dívidas, inclusive para respeitar o Princípio da

Paridade, onde todos os credores poderão bater na porta e se habilitar na

falência sem sofrer prejuízo.

NOTA PROMISSÓRIA COMUM # NOTA PROMISSÓRIA RURAL

Nota Promissória Comum

Está regulada na LUG e no Dec.

2044/08.

Título Abstrato, sem causa

específica prevista em lei.

Figuras Originárias: Qualquer

Pessoa (Natural ou Jurídica).

Cobrança dos devedores

Nota Promissória Rural

Está regulada no Dec. 167/67 (art. 42 ao 45).

Título Causal, as causas estão previstas no Art.

42, estabelece a causa debendi que é a venda

direta de produtos de natureza agrícola, pastoril ou

extrativa feita por cooperativa ou produtor rural.

Figuras Originárias: Necessariamente tem que ter

Produtor Rural ou Cooperativa.

140

cambiários Indiretos é necessário o

Protesto.

Credor na Nota Promissória no

quadro geral de credores da

falência é quirografário (sem

garantia e sem privilégio)

Cobrança dos devedores cambiários Indiretos não

é necessário o Protesto (art. 44).

Credor com Privilégio Especial, porque a lei

determina isso (art. 45) – Privilégio é conferido por

lei, então receberá na frente dos quirografários.

07/04/2005

NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO

Exemplo: A pessoa vai comprar um imóvel que custa 200 mil reais. Mas a

pessoa só tem 150 mil reais. Esta pessoa celebra um contrato de promessa de

compra e venda onde ela entrega ao vendedor 150 mil reais e emite 10 NP ao

vendedor (cada uma no valor de 5 mil), a fim de que o valor destas NP

complemente o valor do imóvel. Enquanto a pessoa não quitar este pagamento

não será realizada a escritura definitiva.

Nestes casos, o que acontece é que a NP fica vinculada ao negócio que lhe

deu origem. Ou seja, a NP fica vinculada à promessa de compra e venda.

E caiu na prova da Magistratura a seguinte questão: A NP vinculada ao

negócio que lhe deu origem perde a sua natureza abstrata?

Um TC abstrato é um TC que pode ser constituído através de qualquer

causa. È o oposto do TC causal que só pode ser emitido diante de algumas

causas previamente previstas em lei. Por exemplo, a duplicata é um TC causal

que só pode ser emitida diante de duas causas, Compra e Venda Mercantil ou

Prestação de serviços.

Quando um TC não causal é colocado em circulação ele se abstrai da causa

que lhe deu origem. Sendo assim, quando o endossatário credor for cobrar o

TC do devedor, este não poderá opor exceções que digam respeito à causa

debend (causa que deu origem ao TC), pois neste momento esta causa não

141

terá relevância em relação ao endossatário. Ele não poderá alegar um vício na

causa que deu origem ao TC.

De acordo com a doutrina, a NP vinculada à promessa de compra e venda

flexibiliza o principio da abstração. A vinculação da NP à causa que lhe deu

origem deve estar na cártula, para que ela possa circular através de endosso.

Quando a vinculação estiver na cártula, os terceiros que venham a receber

aquela NP através do endosso estarão vinculados àquele negocio jurídico que

lhe deu origem. Se na cártula não houver menção ao negócio que deu origem à

NP, os terceiros que receberam aquela NP através do endosso não poderão

sofrer as exceções relativas à causa debend. Mas se a cártula contiver menção

ao Negocio que deu origem á NP, os terceiros ficaram vinculados à ela.

Isto porque, se A emitir esta Nota Promissória para B, vinculado a

contrato de Compra e Venda do Imóvel, sem inserir na própria cártula a

vinculação, a causa debend, caso B queira transferir para C endossando, neste

caso é à ordem (vai circular por endosso), conseqüentemente o TC terá

abstração e se desvinculará do negocio causal. Mas se A inserir na cártula esta

vinculação, então C não poderá ser terceiro de Boa-Fé, porque estará ciente

desta vinculação. Agora, se não tiver a vinculação, ele terá boa-fé, e não

poderá cogitar a vinculação.

Na opinião do professor este entendimento está equivocado porque a

circulação por endosso purifica os vícios intrínsecos que eventualmente

existam no TC. Sendo assim para que a causa debend pudesse ser oposta aos

terceiros que receberam o TC por endosso, bastaria que o endossante

colocasse na cártula a cláusula não à ordem e assim esta circularia produzindo

os efeitos de uma cessão de credito e desta forma as exceções pessoais de

quem realizou o negocio causal poderiam ser opostas perante terceiros.

Os TC em regra são Pro Solvendo, isto é, existem duas relações jurídicas:

que é a Compra e venda e a relação jurídica Cambiária, ou seja, quando você

emite o título, você não está pagando a mercadoria que você comprou. Você

não quita a obrigação causa, pois as duas coexistem (lembrem sempre disso).

Se o título ficar prescrito, você deixará de entrar com ação cambiária, mas

ainda poderá entrar com ação causal, porque o TC é pro solvendo.

142

Mas quando a NP contém em sua cártula a menção ao negocio que lhe deu

origem, a NP deixa de ser pró solvendo e passa a ser pró soluto, eis que ela

extinguirá a obrigação que lhe deu causa. É uma exceção!

A NP vinculada ao negocio jurídico significa que o emitente devedor, na

própria cártula, demonstra expressamente que aquele TC está relacionado

(vinculado) com uma determinada causa debend ou negocio subjacente, o que

faz com que terceiros ao receberem esta NP tenham ciência da vinculação.

Neste caso, segundo o entendimento majoritário na doutrina e na

jurisprudência, aplicando-se os princípios do CDC, a maioria entende que há

uma flexibilização do principio da abstração, o que significa que ainda que a NP

seja à ordem (transferida por endosso), se o terceiro de boa-fé, ora

endossatário e credor for executar o emitente da NP, poderá este (o

executado) em embargos à execução, invocar em sua defesa vício na causa

debend, exceção do contrato não cumprido, apesar de o endossatário

(exeqüente) não ter participado da relação jurídica causal, porém o TC está

vinculado à causa. Desta forma, a NP passa a ser pró soluto implicando em

novação da dívida, o que significa que o credor originário (vendedor) não pode

desfazer o negócio jurídico, mas tão somente executar o titulo. Esta situação é

corriqueira nos instrumentos de compra e venda de bens imóveis.

Há quem sustente, minoritariamente, que na situação acima descrita,

levando-se em consideração que a NP foi emitida à ordem, circulou por

endosso, o que faz com que tenha que incidir as regras cambiárias que lhe são

peculiares, ou seja, na hipótese, há que incidir o princípio da abstração, o que

significa que não obstante a vinculação ao negocio jurídico, o endossatário,

credor exeqüente, ao executar o emitente, este não poderá alegar a causa

debend (por causa do principio da abstração). Se o emitente quiser se proteger

dos terceiros, basta inserir na cártula a cláusula “não à ordem” o que faz com

que a NP circule por meio de cessão ordinária de credito e consequentemente

o emitente poderá invocar ao cessionário tudo aquilo que poderia invocar ao

cedente, até pq o cedente transfere ao cessionário um direito derivado, ou

seja, transfere o mesmo direito que possuía em relação ao emitente.

143

Portanto, apesar de alguns autores mencionarem que esta situação

excepciona o princípio da autonomia, na realidade é uma questão relacionada

com a flexibilização do principio da abstração.

DUPLICATA:

LEI 5474/68 e DECRETO LEI 167/67 (art. 46 ao 54)

A Duplicata significa uma reprodução da fatura. A fatura é o que

comprova a causa debend, a negociação.

A fatura não é TC. A fatura não é passível de endosso. A fatura é um

documento comum, que não tem força executória. A fatura é o espelho da

negociação que apenas comprova a negociação. Quando muito, se for assinada

a fatura pode fundamentar uma ação monitória, na forma do art. 1102-A do

CPC.

Como a fatura não é um TC, surgiu a duplicata.

A duplicata é um TC. A duplicata tem força executória e é passível de

endosso. A duplicata é dependente da fatura. Pode existir a fatura sem uma

duplicata mas se existir uma duplicata necessariamente existirá uma fatura.

LEI 5474/68 (LD) trata da duplicata de compra e venda e prestação de

serviço

DECRETO LEI 167/67 (art. 46 ao 54) trata da duplicata rural.

Pergunta: No quadro geral de credores, o credor de uma duplicata entra

em que classe de credores?

Resposta: Depende do tipo de duplicata.

O vendedor de produtos rurais é o credor do preço. A lei prevê a duplicata

rural para estes sujeitos pq se o comprador for um empresário, este será um

devedor empresário e se o devedor empresário não pagar ao credor da

duplicata rural, a lei diz que este crédito não será um credito comum. O DL

167/67 diz que esta duplicata rural confere ao credor da duplicata rural a

qualidade de credor com privilégio especial. Diferentemente da duplicata

comum onde seu credor será um credor quirografário.

144

A duplicata é um TC, logo é um documento, que representa uma ordem

de pagamento à vista ou à prazo (à dia certo).

Quem vende a mercadoria ou quem presta o serviço é o sacador, que dá

a ordem de pagamento ao sacado, que é o comprador da mercadoria ou

que se beneficia do serviço.

A (vendedor) -------------------------- B (comprador)

Credor do preço Devedor do preço

DUPLICATA é TC causal e, portanto é um documento que

representa uma ordem de pagamento á vista ou à prazo (à dia certo –

art. 2, §1, III, LD) feita pelo sacador (credor - vendedor da mercadoria ou

prestador do serviço) contra o sacado (devedor - comprador da mercadoria

ou beneficiário do serviço), em virtude de uma causa debend especifica

prevista em lei, ou seja, um contrato de compra e venda ou de

prestação de serviço (Lei 5474/68 - LD) ou em virtude de uma venda a

prazo de bens de natureza rural (agrícola pastoril ou extrativa) feita

diretamente por produtor rural ou cooperativa (DL 167/67, art. 46).

NATUREZA DA DUPLICATA: é uma ordem de pagamento.

FIGURAS JURÍDICAS DA DUPLICATA: existem 2 figuras originárias na

duplicata. De um lado há o Sacador (credor do preço e vendedor da

mercadoria) e de outro lado há o Sacado (devedor do preço e comprador da

mercadoria) que recebe a ordem de pagamento, que pode se tornar o

aceitante, quando reconhece a obrigação cambiária.

A duplicata pode ter como figuras derivadas os endossantes e os avalistas

que assumem obrigações cambiárias sucessivas.

EXEMPLO: A dá uma ordem de pagamento ao B. B aceita a duplicata e

tem um avalista X. A endossa para C que tem o avalista Y. C endossa para D.

145

-> Devedores cambiários diretos: é o aceitante (B) e seu avalista (X)

-> Devedores indiretos: são os endossantes e seus avalistas (A, C e Y, que

vão pagar se o devedor direto não pagar).

-> Devedor principal: é o aceitante (B)

-> Devedores de regresso: são os endossantes e seus avalistas (A, C e Y)e

o avalista do aceitante (X).

Suponhamos que o W tenha conferido um aval em branco. Na Duplicata o

aval em branco traz a presunção relativa de que o avalista que avalizou em

branco avaliza o aceitante, que é o devedor principal e final – art. 899, parte

final do NCC.

Características da duplicata:

A duplicata é uma ordem de pagamento;

A duplicata é um TC causal porque tem causa prevista em lei (LD e DL

167/67);

A duplicata é um TC nato, ou seja, é um TC que necessariamente tem

que circular por endosso. Por força do art. 2, §1, VII da LD, um dos requisitos

essenciais da duplicata é a circulação por endosso, mediante cláusula à ordem.

Mas nada impede que este TC circule através de endosso postulo, nos 30 dias

depois do vencimento. O endosso póstumo produz os efeitos de uma cessão de

crédito.

A Duplicata é um TC nominal que não pode ser ao portador. O nome do

beneficiário deve constar na cártula – art. 2, §1, IV da LD.

A Duplicata é um TC cambiariforme, ou seja, é equiparado às cambiais.

Havendo omissão na LD aplicam-se as regras da LC que forem compatíveis

com a duplicata – art. 25 da LD.

A Duplicata é um TC de saque facultativo. Não há obrigatoriedade do

credor sacar uma duplicata. Ninguém está obrigado a sacar uma duplicata.

Mas se alguém quiser sacar uma duplicata só poderá fazê-lo se houver uma

daquelas causas previstas em lei.

O art. 2 caput da lei 5474/68 da a idéia de que diante daquelas causas

previstas na LD, o único TC que pode ser sacado é a duplicata. Mas, embora

haja interpretação literal deste artigo, a maioria entende que diante das causas

146

previstas para o saque da Duplicata, nada impede seja emitido outro TC. não

há obrigatoriedade no saque da duplicata simplesmente pq estão presentes as

suas causas.

A vedação do art. 2 caput diz respeito apenas ao vendedor que é o credor.

Mas não diz respeito ao comprador, que é o devedor, que pode emitir uma NP

ou um cheque.

A duplicata já foi TC de saque obrigatório. Porém a lei 5474/68 não

prevê a obrigatoriedade da duplicata. A partir da LD a duplicata passou a ser

de saque facultativo, o que significa que ainda que se tenha uma das causas

previstas em lei, não há obrigatoriedade de ser constituída a duplicata, mas se

quiser sacá-la há que se ter uma daquelas causas.

Requião, de forma minoritária adota interpretação literal do caput do art.

2 da LD (“não sendo admitida qualquer outra espécie de TC”) sustenta que só

pode ser sacada a duplicata.

Entretanto, o entendimento majoritário (Jurisprudência, Fabio Ulhoa

Coelho e outros) é no sentido de que o art. 2 caput configura uma norma

restritiva direcionada apenas ao vendedor da mercadoria ou ao prestador de

serviço (art. 20, §3 LD), os quais são credores do TC, mas nada impede que o

comprador do produto ou beneficiário do serviço (devedores do preço) emitam

NP, ou cheque, até porque estes TC são abstratos. Ademais, o referido artigo

faz menção ao saque, que configura uma declaração cambiária originária e

necessária para a duplicata e LC, sendo que a NP e o cheque são constituídos

através de emissão.

A Duplicata da Lei 5474/68 é TC dependente, pq depende da fatura. A

duplicata tem que conter o numero da fatura. Mas as duplicatas rurais são

TC independentes, pois não precisam de fatura (art. 48, VII do DL 167/67). As

duplicatas rurais dispensam a fatura porque a própria negociação (os produtos

rurais) deve constar na duplicata.

14/03/2005

Duplicata e endosso póstumo

147

Para o professor Luis Emygdio o endosso póstumo na duplicata produz os

mesmos efeitos que o endosso anterior, porque a LD não faz nenhuma menção

ao endosso póstumo.

João Donato Borges entende que o endosso póstumo da duplicata também

produz efeitos de uma cessão de credito, pois diante da omissão da LD aplica-

se a LUG, por força do art. 25 da LD.

Duplicata e o protesto

Na duplicata o instituto do aceite é aplicável, logo, há o protesto por

falta de aceite. Na duplicata há a figura do Sacador e a figura do Sacado. O

sacador saca a duplicata e remete ao Sacado para que este faça o aceite.

Logo, na duplicata há a figura do protesto por falta de aceite.

Pode acontecer do Sacado ao receber a duplicata para realizar o aceite,

não devolve-la ao Sacador. Ou seja, pode acontecer do Sacado reter a

duplicata. Neste caso haverá a possibilidade do protesto por falta de

devolução da duplicata. O protesto por falta de devolução da duplicata é

instrumentalizado por indicações do Sacador – art. 21, §3 da lei 9492/97. Este

artigo revogou o artigo 13, §1 da LD.

Na duplicata há a possibilidade do protesto por falta de pagamento.

As modalidades de vencimento da duplicata estão no art. 2, §1, III da LD

que diz que a duplicata pode ser sacada a vista ou a dia certo (dia, mês e ano).

A duplicata não pode ter o vencimento a certo termo da vista ou a certo termo

da data.

O aceite é um instituto cambiário que também é aplicável à duplicata.

O aceite pode ser expresso, tácito, ficto ou presumido e o aceite por

comunicação.

O aceite expresso é aquele em que o aceitante coloca sua assinatura na

cártula.

O aceite tácito ou presumido é aquele em que o aceitante não coloca sua

assinatura na cártula, mas que se os requisitos do art. 15, II, a,b e c, forem

preenchidos, o legislador presume que houve o aceite.

O aceite por comunicação é aquele em que a duplicata é retida

devidamente e o aceitante comunica o aceite em um documento em separado.

148

O aceitante expresso e o aceitante por comunicação são devedores

cambiários diretos. O aceitante presumido é considerado devedor cambiário

indireto pelo fato de o art. 15, II, a exigir o protesto do TC como um dos

requisitos para que o devedor se torne o aceitante. Sendo assim, nos casos de

aceite presumido, será necessário o protesto para que se possa executar o

aceitante. Neste caso a duplicata não terá um devedor direto, mas o devedor

será o devedor principal. (*não confundir devedor principal com devedor

direto).

Questão que caiu na Defensoria:

Uma duplicata sem aceite e que foi devidamente protestada pode, por si

só, fundamentar o requerimento de falência?

O protesto não é o único requisito para o requerimento de falência. Há

necessidade de preencher os três requisitos do art. 15, II da LD para que a

duplicata possa fundamentar o requerimento de falência. Logo, o protesto por

si só, não é suficiente para fundamentar o pedido de falência.

Questão da Magistratura de 1997:

Pode ser sacada uma duplicata de mercadoria que ainda não existe, mas

que existirá no futuro?

Esta questão diz respeito à compra e venda de mercadoria esperada. Por

exemplo, o sujeito quer comprar os filhotes de um cachorro de raça muito rara,

que nascerão no fim do ano. Mas ele quer garantir que aqueles cachorros lhe

serão vendidos. Então ele negocia com o vendedor e saca uma duplicata hoje

para garantir que aqueles cachorros lhe serão entregues no final do ano. Isto é

possível?

A duplicata é uma reprodução da fatura. Ela tem uma causa debend que é

retratada na fatura. Com base na fatura a duplicata é sacada. Mas a lei não

exige que no ato de emissão da duplicata que a fatura esteja presente.

Entretanto não é possível que seja sacada uma duplicata de uma mercadoria

que não exista. Até porque o saque de uma duplicata de mercadorias que não

existem pode ensejar o crime de duplicata simulada.

149

Então não é possível o saque de uma duplicata de mercadorias futuras. A

duplicata depende da fatura e no ato de emissão da fatura é preciso que as

mercadorias já existam.

Requião, de forma acertada ensina que não pode ser sacada duplicata

tendo por base entrega de mercadoria futura, haja vista que a duplicata da lei

5474/68 é um TC dependente, pois deve ser sacado com base na fatura, que é

documento comum ou quirógrafo, sendo que no ato da emissão da fatura deve

existir a mercadoria vendida. Portanto, o saque da duplicata deve ser

contemporâneo à venda efetiva da mercadoria (art. 1, §1 c/c art. 2, caput da

LD).

SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE DUPLICTA E LC

A duplicata e a LC possuem Sacador e Sacado.

Na LC há três figuras originárias (Sacador, Sacado e Credor).

Na Duplicata há pelo menos figuras originárias - Sacador que é o credor

do preço e vendedor da mercadoria e Sacado que é o devedor do preço e

comprador da mercadoria. O Sacado exerce dois papeis. Ele além de ser o

devedor do preço pode ser também o aceitante.

O art. 25 da LD diz que nas suas omissões, deve-se aplicar às duplicatas

as regras da LC, no que couber.

No que couber significa que nem sempre será possível aplicar as regras da

LC pq a duplicata nem sempre se assemelha à LC.

A duplicata é um TC causal ao passo que a LC é um TC abstrato, pode ter

qualquer causa.

A duplicata é um TC nominal à ordem (ou nato) a LC é um TC nominal que

pode ser à ordem ou não à ordem (ou inato).

A duplicata permite que o aceite seja tácito. Na LC o aceite tem que ser

expresso.

Na duplicata o aceite é obrigatório. Só não haverá o aceite se a recusa for

justificada de acordo com o art. 8 da LD. Na LC o aceite é facultativo. Não há

nenhuma regra que obrigue o sacado de realizar o aceite.

150

A duplicata é um TC dependente (depende da fatura). A LC é um TC

independente.

Tanto a duplicata quanto a LC podem ser retidas pelo sacado. Ambas

admitem o protesto por falta de devolução. Mas a LC este protesto se faz

através da 2ª via da LC. Na duplicata o protesto por falta de devolução se faz

por indicação.

TRIPLICATA – art. 23 LD

A perda ou extravio da duplicata obriga o vendedor (credor) a extrair a

triplicata.

PERGUNTA: No caso de retenção indevida da duplicata pode ser sacada a

triplicata?

A doutrina entende que não é obrigatório o saque da triplicata nestes

casos, mas se o credor quiser poderá sacar a triplicata.

Na opinião do professor, no caso de retenção indevida a lei prevê o

protesto por falta de devolução (art. 21, §1 da lei 9492/97) logo, nestes casos

não seria necessário o saque da triplicata. Entretanto, a doutrina entende que

é possível o saque da triplicata no caso de retenção indevida da duplicata.

Esta seria uma faculdade do credor que poderia sacar a triplicata ou efetuar o

protesto por falta de devolução.

DUPLICATA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

PERGUNTA: A Duplicata de prestação de serviço é titulo hábil ao

requerimento de falência?

Ninguém tem duvidas quanto à força executória desta duplicata que ter

força executiva e é considerada um titulo executivo extrajudicial – art. 585, I

CPC.

Mas em sendo um titulo executivo, pode fundamentar o pedido de

falência?

Ora, só pode falir quem for empresário. A duplicata de prestação de

serviço só poderá fundamentar pedido de falência se o devedor for empresário.

Em sendo um devedor empresário, aplica-se a sumula 248 do STJ.

Fazer remissão da sumula 248 do STJ ao art. 1, §3 do DL 7661/45.

151

A polêmica gira em torno do art. 1, §3 do DL 7661/45 que se reporta ao

art. 15 da lei 5474/68, que por sua vez, se refere apenas à duplicata de compra

e venda. A duplicata de prestação de serviço está regulada no art. 20. Por esta

razão, surgiram controvérsias.

Alguns doutrinadores sustentavam que o requerimento de falência só

poderia se fundar em uma duplicata se esta fosse uma duplicata de compra e

venda mercantil, pois o art. 1, §3 teria excluído a possibilidade de

requerimento de falência com base na duplicata de prestação de serviço.

Entretanto, prevalece o entendimento de que a duplicata de prestação de

serviço é titulo hábil ao requerimento de falência (desde que devidamente

protestada) porque o art. 20, §3 da LD manda aplicar à duplicata de prestação

de serviço as regras da duplicata de compra e venda. Daí o STJ entendeu que o

credor de uma duplicata de prestação de serviço devidamente protestada pode

requerer a falência do devedor, desde que este devedor seja empresário.

Com a lei 11101 esta polemica acabará porque a nova lei de falência não

repete o art. 1, §3 do DL 7661/45.

PERGUNTA: Há diferença entre a duplicata simulada e a duplicata

fria?

Esta é uma pergunta do direito empresarial, mas que tem reflexos no

direito penal.

O art. 172 do CP trata da duplicata simulada. O conceito de duplicata

simulada é um conceito penal. O art. 54 do DL 167/67 faz menção à duplicata

simulada rural. Ou seja, se o sujeito emitir uma duplicata simulada rural

responde pelo crime do art. 54 do DL 167/67 e se o sujeito emitir uma

duplicata comum simulada responde pelo art. 172 do CP. O art. 1 da lei

8137/90 também trata da duplicata simulada. Esta lei é especial. Tem um

especial fim de agir que é a supressão de tributo.

Antes da lei 8137/90 o art. 26 da LD tratava da duplicata simulada. Este

artigo deu nova redação ao art. 172 do CP. O crime de duplicata simulada era o

saque de duplicata sem causa debend. Era o saque de uma duplicata que não

correspondesse à efetiva venda. Naquela época também existia o DL 167/67

que previa o crime de duplicata simulada nas hipóteses em que era sacada

uma duplicata que não correspondesse à venda de mercadoria rural. Em 1990,

152

entrou em vigor a lei 8137 que alterou o art. 172 do CP. A ratio da mudança foi

agravar o tipo penal do art. 172 CP. Com isso a lei 8137/90 aumentou a pena

mínima do art. 172 CP e aumentou o rol das condutas típicas previstas no art.

172 CP. Hoje o crime do art. 172 CP abrange outras condutas além do saque

de duplicata simulada. O art. 172 CP prevê que é crime a emissão de fatura, a

emissão de nota de venda e a emissão de duplicata que não corresponda à

mercadoria vendida. Então hoje é crime de emissão de duplicata simulada

assim como é crime a emissão de nota de venda ou fatura simulada.

A simulação ocorre quando houver a compra e venda ou a prestação de

serviço, mas a duplicata (ou fatura ou nota de venda) não corresponder

exatamente ao que foi vendido. O crime pressupõe a efetiva existência da

causa debend (venda), mas com divergência, contradição, entre a duplicata

sacada e a venda realizada. Exemplo, eu compro 10 cadeiras e a nota vem

dizendo que comprei apenas 2 cadeiras. Neste caso há uma nota de venda

simulada.

Mas e quando for sacada uma duplicata que não tenha causa debend?

Esta conduta se enquadraria no art. 172 do CP? Através da leitura deste tipo

penal é possível que se entenda que a emissão de uma duplicata sem causa

debend seria uma figura atípica? É típica a conduta de sacar duplicata sem que

haja uma efetiva causa debend, ou seja, sem que haja o efetivo contrato de

compra e venda, ou de prestação de serviço?

Antes da lei 8137/90 esta conduta era típica, pois era tratada no art. 26 da

lei 5474/68 que deu nova redação ao art. 72 do CP, sendo que no tocante à

duplicata rural há a adequação típica no art. 54 do DL 167/67. Dependendo do

caso, pode ainda configurar crime contra a ordem tributária – art. 1, III da lei

8137/90.

No entanto, quanto à adequação ao tipo previsto no atual art. 172 do CP

há polêmica.

Fabio Ulhoa entende que a conduta de sacar duplicata sem que haja uma

causa debend é uma conduta atípica, pois com a alteração do art. 172 do CP

(alteração realizada pela lei 8137/90) a conduta típica do art. 172 pressupõe

que haja causa debend. A redação do art. 172 exige que exija uma mercadoria

vendida ou um serviço prestado, entretanto com contradições entre a causa e

a emissão da duplicata.

153

Celso Delmanto entende que a emissão de duplicata sem causa debend é

conduta típica do art. 172 CP. Para ele a ratio do art. 172 CP é punir tanto o

saque de duplicata sem causa debend como o saque de duplicata em

contradição com a causa debend. Ele diz que se a conduta menos grave é

punida no art. 172 do CP (saque de duplicata em contradição com a causa

debend) com muito mais razão há de ser punível a conduta mais grave (saque

de duplicata sem causa debend). O fundamento deste entendimento encontra-

se no art. 172, PU do CP c/c art. 19 da lei 5474/68 c/c art. 1180 NCC. Quem

saca uma duplicata tem que ter um livro (obrigatório) para registro de

duplicata (art. 1180 NCC c/c art. 19 LD). O art. 172, PU diz que nas mesmas

penas incorre quem falsificar ou adulterar escrituração livro de registro de

duplicatas. Ora, quem saca uma duplicata simulada está falsificando ou

adulterando a escrituração do Livro de Duplicatas, então está praticando a

conduta do art. 172, PU do CP.

Para uma terceira corrente a duplicata sacada sem causa debend é uma

conduta típica, entretanto ela se enquadra na regra geral do estelionato, ou

seja, seria o crime do art. 171, caput do CP.

Mas voltando à pergunta inicial: Há diferença entre a duplicata

simulada e a duplicata fria?

Para Fabio Ulhoa a duplicata simulada é aquela do art. 172 caput que

prevê a duplicata em contradição com a compra e venda ou com a prestação

de serviço. e duplicata fria seria aquela que é sacada sem causa debend. Para

ele a duplicata fria é uma conduta atípica em razão das alterações sofridas no

art. 172 CP. Só seria crime a duplicata simulada.

Para Delmanto, a duplicata simulada seria aquela prevista no caput do art.

172 CP e a duplicata fria seria aquela sacada sem causa debend, que

configuraria o crime previsto no art. 172, PU do CP.

Para outros doutrinadores a duplicata fria é aquela sacada sem causa

debend, mas que configura a conduta prevista no art. 171 caput.

DUPLICATA VIRTUAL

(Vide aula sobre cartularidade) Este título é constituído através de meio

magnético, meio eletrônico, virtual. decorre do fenômeno da desmaterialização

154

dos títulos de crédito, isto é, tornar possível que o direito de crédito não esteja

necessariamente materializado em um documento cartular, em uma cártula.

Fabio Ulhoa admite a duplicata virtual e diz que nesta duplicata ocorrerá o

protesto por indicações. A duplicata virtual é sacada de acordo com a causa

debend e não se materializa em uma cártula (é virtual). Entretanto, se o

sacado não a apresentar para o aceite esta duplicata virtual poderá sofrer o

protesto por indicação. Há o protesto sem que haja a cártula (art. 21 Lei

9492/97).

DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE DUPLICATA COMUM E

DUPLICATA RURAL

Ambas admitem o aceite; Ambas são causais;

DUPLICATA COMUM DUPLICATA RURAL

ART. 2, §1 LEI 5474/68

Requisitos essenciais da duplicata

comum

ART. 48, DL 167/67

Requisitos essenciais da duplicata rural;

É um TC dependente, pq depende da

FATURA;

É um TC independente pq o objeto da

duplicata rural terá que ser discriminado

na própria cártula. Não há fatura;

As causas da duplicata comum são:

compra e venda ou prestação de

serviço;

A causa da duplicata rural tem que ser a

compra e venda à prazo de produtos

rurais realizada por produtor rural ou por

cooperativa (art. 48 e 46 do DL 167/67);

O credor da duplicata comum é um

credor quirografário – art. 102 do DL

7661/45 e art. 83, VI, da lei 11101/05;

O credor da duplicata rural é credor com

privilégio especial, por força do art. 45 do

DL 167/67 (c/c art. 83, IV da lei

11.101/05);

Para cobrar a duplicata comum dos

devedores indiretos em regra há

necessidade de protesto.

Art. 44 do DL 167/67 dispensa a

necessidade de protesto da duplicata

rural para cobrar dos devedores indiretos;

Na duplicata comum o 1º endosso é

com garantia;

Na duplicata rural o 1º endosso é sem

garantia, art. 60, §1 do DL 167/67;

155

A duplicata comum tem como

modalidade de vencimento, à vista ou

à dia certo, art. 2, §1, III da LD;

A duplicata rural tem três modalidades de

vencimento – art. 48, II do DL 167/67, ou

seja, pode ser à vista, à dia certo e à

tempo certo da vista.

156

28/04/2005

C H E Q U E

LEI 7357/85 – Lei do cheque

LUG de cheque – Lei Uniforme de Genebra sobre cheque. – Decreto

57595/66

A LUG de cheque traz a mesma idéia da LUG, com reservas, anexo I

e II.

A LUG de cheque é de origem externa e o Brasil é signatário deste

tratado. A lei 7357/85 é posterior à LUG de cheque.

O entendimento minoritário é no sentido de que, para a lei interna

posterior afastar a lei externa, é preciso haver a denuncia. A lei interior

não pode afastar automaticamente a lei externa anterior. Tem que

haver a denúncia, que é um prévio aviso aos organismos internacionais

no sentido de que o Brasil não aplicará mais o Tratado no ordenamento

interno.

O entendimento majoritário e do STF é no sentido de que a lei em

vigor é a lei 7357/85 porque esta lei é posterior à LUG do cheque e não é

preciso haver a denuncia do Tratado. Por força da LICC (art.3) a lei

posterior revoga a lei anterior. A denuncia é apenas um instituto de

direito internacional que não vincula o país internamente. Se a denuncia

vinculasse o ordenamento interno, não seria possível que o STF

reconhecesse a inconstitucionalidade de um Tratado internacional. Além

disso, a CF não faz nenhuma distinção entre lei externa e lei interna.

CONCEITO

Cheque é um documento formal (tem que preencher os requisitos

da lei) que representa uma ordem de pagamento à vista (art. 32 da lei

7357/85), dada pelo emitente (pessoa natural ou jurídica), contra,

necessariamente, uma instituição financeira (art. 17 lei 4595/64), da

qual o emitente se vincula através de um contrato, mantendo uma

previa relação jurídica contratual (contrato de conta corrente e

157

eventualmente, abertura de crédito – cheque especial) em favor de si

próprio ou de terceira pessoa.

Função econômica do cheque:

O cheque é um substitutivo do dinheiro. Mas ainda assim o cheque

é pro – solvendo. Só vai haver a efetiva quitação quando a ordem de

pagamento for cumprida pela instituição financeira. Quem paga uma

camisa com um cheque não quita a obrigação. Esta obrigação só será

quitada quando a instituição financeira cumprir a ordem de pagamento

que está prevista no cheque.

O cheque também serve como prova de pagamento – art. 28, PU da

lei do cheque. Quando alguém diz que não recebeu o pagamento

através de cheque, esta afirmação pode cair por terra se o emitente

requerer uma microfilmagem do cheque para saber a conta corrente

onde aquele cheque foi depositado.

O cheque é um instrumento de retirada de fundos. Com o cheque o

sujeito pode ir à boca do caixa e retirar dinheiro em espécie. O cheque

também meio e pagamento à distância. O correntista pode comprar uma

camisa lá no espírito Santo e emitir um cheque de uma conta corrente

do RJ.

Natureza Jurídica do cheque:

Há controvérsias:

Pontes de Miranda, minoritariamente, entende que o cheque não

tem natureza de TC. O cheque é um titulo de exação. É um instrumento

de retirada de fundos e um instrumento de pagamento.

Esta posição não é dominante porque a natureza cambiária de um

documento vem da lei ou dos atributos cambiários auferidos pela lei ao

titulo.

158

O art. 1 da lei 7357/85 diz que o cheque contem alguns requisitos e

o art. 2 diz que a ausência daqueles requisitos descaracteriza o cheque.

Em suma, o cheque possui o formalismo, que é atributo dos TC.

O art. 17 diz que o cheque pode circular por endosso. O endosso é

um instituto cambiário. O art. 29 diz que o pagamento do cheque pode

ser garantido por aval. o aval é uma garantia cambiária. O art. 13 diz

que as obrigações contraídas no cheque são autônomas e

independentes. Ou seja, o cheque é um titulo autônomo, que vale por si

só e não precisa de nenhum outro documento que lhe dê eficácia. Ora,

pela redação destes artigos da lei 7357/85 pode-se concluir que o

cheque tem atributos cambiários, próprios dos TC.

Fran Martins entende que o cheque é TC impróprio. Cheque é TC

porque tem atributos cambiários – endosso, aval, autonomia – mas é um

TC impróprio pq tem como finalidade precípua servir como instrumento

de pagamento, retirada de fundos, substitutivo da moeda, etc... Fran

Martins diz que o cheque é um titulo cambiariforme, porque é

equiparado à LC.

Requião e Waldemar Ferreira entendem que o cheque é um TC

próprio desde que o cheque seja colocado em circulação. Se não houver

circulação o cheque será apenas um instrumento de pagamento.

Amador Paes de Almeida e Luiz Emydio e a Jurisprudência em geral,

entendem que cheque é TC próprio, ainda que não circule. Para eles, o

cheque é um TC porque os dois elementos do crédito (fidúcia e prazo)

estão presentes no cheque. Quem recebe um cheque tem que ter

alguma confiança no emitente, no sentido de que aquele cheque terá

fundo e, além disso, quem recebe um cheque tem um prazo para

apresentá-lo ao sacado. Esta posição entende que o cheque só não vai

ter natureza de titulo de crédito se o beneficiário for o próprio emitente,

porque neste caso o cheque será um mero instrumento de retirada de

fundo.

159

Bulgareli entende que o cheque é sempre um TC, circulando ou não

e ainda que o credor seja o próprio emitente. E ele traça um paralelo

com a LC. Ele diz que na LC o sacador dá uma ordem de pagamento ao

sacado para que o sacado pague o credor. Mas nada impede que o

sacador seja o credor. Ou seja, nada impede que o sacador seja ao

mesmo tempo o credor, beneficiário da ordem de pagamento, e neste

caso a LC não perderá sua natureza cambiária.

Na opinião do professor, a melhor posição é a do Luiz Emydio.

Aposição menos aceita é a do Pontes de Miranda, embora esta posição

tenha que ser citada para demosntrar conhecimento.

Requisitos do cheque:

Requisitos essenciais: art. 1 da lei 7357/85.

Requisitos não essenciais : art. 2 da lei 7357/85

Art. 1 da lei 7357/85

I - A denominação “cheque” é requisito essencial. Sua ausência não

pode ser suprida. Fazer remissão ao art. 889 do NCC. o nome do titulo é

importante para saber qual a lei aplicável.

II- Ordem incondicional de pagar quantia determinada – fazer

remissão aos artigos 32, 35 e 36 da lei do cheque. Esta remissão é

importante pq o art. 32 nos diz que a ordem de pagamento tem que ser

a vista. O art. 35 e 36 dizem que esta ordem de pagamento é

incondicional, mas não é irrevogável. Nós vamos estudar isso mais a

frente. A ordem de pagamento realizada no cheque pode ser revogada

(sustação), mas ela não pode ser condicionada a nada. Ninguém pode

emitir um cheque para se inscrever no concurso do MP sob a condição

do cheque só ser descontado se houver a aprovação no concurso.

160

Na palavra incondicionada façam remissão ao art. 35 para saber

que embora a ordem de pagamento seja incondicionada, ela pode ser

revogada.

III – Nome do banco que deve pagar – na palavra banco, fazer

remissão ao art. 17 da lei 4595.

IV- Lugar do pagamento -> este requisito é não essencial. Fazer

remissão ao art. 2, I da lei do cheque.

V- Indicação da data da emissão e do lugar da emissão. Neste inciso

V há dois requisitos. O primeiro é essencial e o segundo é não essencial.

Onde está escrito lugar da emissão, fazer remissão ao art. 2 II, da lei do

cheque. E onde está escrito data (da emissão), fazer remissão ao art. 37

e ao art. 33 da lei do cheque. Esta remissão ao art. 37 vai fazer com que

vocês lembrem que o cheque emitido hoje, se o emitente morre meia

hora depois de emitir o cheque, este poderá ser descontado. O cheque é

uma ordem de pagamento a vista.

VI – Assinatura é uma declaração cambiária originaria necessária. É

uma declaração unilateral de vontade. a assinatura é requisito essencial

do cheque.

FIGURAS DO CHEQUE:

Emitente – é o autor da declaração originária – é o autor da ordem

de pagamento – pode ser pessoa jurídica ou pessoa natural.

Sacado – é necessariamente uma instituição financeira

Credor – pode ser pessoa jurídica ou pessoa natural.

O cheque também pode ter outras figuras.

Avalista

Endossante (no singular)

O dispositivo da lei do cheque que trata da pluralidade de endosso

está com a eficácia suspensa. Vide capítulo do endosso onde isso foi

explicado.

161

O cheque é uma ordem de pagamento que não admite o aceite. Há

expressa vedação ao aceite no art. 6 da lei 7357/85. o art. 6 existe para

acabar com a figura do cheque marcado.

Devedores do cheque:

A emite uma ordem de pagamento contra o ITAU para que o ITAU

pague ao D. A tem o avalista Y. D tem avalista Z. D endossa para C

que é o atual credor.

Devedores diretos = O emitente e seu avalista.

O credor pode entrar com ação cambiária direta contra eles – art.

47, I. o prazo para a ação cambiária direta está no art. 59.

Devedores indiretos = são os endossantes e seus avalistas.

Devedor principal = é o emitente

Devedores de regresso = o avalista do emitente, os endossantes e

seus avalistas.

O sacado não é devedor cambiário.

Para cobrar do devedor principal não precisa protestar.

Para cobrar dos devedores indiretos também não precisa protestar.

O art. 47, II diz claramente que os devedores indiretos podem ser

executados se ficar comprovado que não houve o pagamento. O

protesto é uma das formas de comprovar que não houve o pagamento.

A outra forma de comprovar que não houve o pagamento é a declaração

do sacado (art. 47, II lei 7357/85). O protesto é importante para

comprovar a falta de pagamento, mas não é imprescindível. Os

devedores indiretos também poderão ser executados se houver

declaração do sacado. Para cobrar dos devedores indiretos é necessário

que tenha sido respeitado o prazo para a apresentação. Este prazo está

no art. 33 da lei do cheque. Basta que o cheque seja apresentado dentro

do prazo do art. 33 e que haja a comprovação da falta de pagamento

mediante declaração do sacado e os devedores indiretos poderão ser

executados. Mas atenção porque esta declaração do sacado não é hábil

162

para o requerimento de falência dos devedores indiretos. Para que haja

o requerimento de falência, dos devedores diretos ou indiretos sempre

será necessário o protesto. Para fins de falência a impontualidade

necessariamente terá que ser comprovada por protesto.

O protesto do cheque pode ser dispensado para fins de execução

dos devedores indiretos.

Tudo que foi dito sobre protesto se aplica aos cheques, naquilo em

que for compatível. Algumas regras sobre protesto não são compatíveis

com o cheque. Por exemplo, não se admite o protesto por falta de aceite

pois o cheque não admite o aceite (art. 6 da lei 7357/85). Não se admite

o protesto por falta de devolução pois o cheque não admite a devolução.

Mas o cheque admite a cláusula de protesto sem despesa – art. 49

da lei 7357/85.

Qual a relação jurídica entre o sacado e o emitente?

O sacado não é devedor cambiário. o sacado é uma figura presente

no cheque mas ele não tem nenhuma relação jurídica cambiaria com o

emitente. O sacado, instituição financeira, tem apenas uma relação

contratual com o emitente (correntista). O banco não é devedor

cambiário. O banco pode ser responsabilizado em virtude de algum

ilícito contratual, mas jamais será devedor cambiário.

Por exemplo, o emitente emite um cheque que é devolvido pelo

banco sob a alegação de falta de fundos quando na verdade havia

fundos disponíveis. Isto pode causar dano material e dano moral, e cabe

indenização, na forma da sumula 37 do STJ.

O art. 4 da lei do cheque diz o que são os fundos disponíveis na

conta corrente do emitente. Os fundos serão verificados no momento da

apresentação do cheque para o pagamento pelo sacado. Isso está lá no

art. 4, §1 (fazer remissão ao art. 171, §2, VI do CP). Se no momento da

apresentação havia fundos e o sacado devolveu o cheque sob a

163

alegação de falta de fundos, houve uma infração contratual, que gera

um dano, passível de indenização.

Por exemplo, cheque cruzado – é o cheque com dois traços

paralelos – estes traços significam que o cheque não pode ser pago na

boca do caixa. Estes traços do cheque cruzado indicam que o cheque

deverá ser pago através da câmara de compensação. Se o emitente

emite um cheque cruzado, mas o banco o desconta na boca do caixa,

ele pode ser responsabilizado por isso.

Outro exemplo de descumprimento contratual é quando o banco

paga um cheque falso ou falsificado. Quando o banco paga um cheque

falso ou falsificado há uma presunção relativa de que o banco será

responsabilizado – sumula 28 do STF c/c art. 927 NCC. – O cheque falso

diz respeito à assinatura e o cheque falsificado diz respeito ao conteúdo.

Esta presunção é relativa pq o banco pode provar a culpa

exclusiva ou concorrente do emitente.

Cheque irregular # cheque inválido

Cheque irregular é um cheque que pode ser executado. O cheque

irregular é aquele que não tem suficiente provisão de fundos. O cheque

inválido é aquele que não preenche os requisitos essenciais previstos

em lei (art. 3 e 2º caput da lei 7357/85)

CARACTERÍSTICAS DO CHEQUE:

O cheque é um titulo de modelo vinculado porque o cheque tem

um modelo padronizado.

O cheque pode ser ao portador se o valor for inferior a R$ 100, 00

(cem reais) art. 907NCC c/c o art. 2 lei 8021/90 c/c o art. 69 lei

9069/95 c/c art. 19 lei 8088/90.

164

O cheque também pode ser nominal e à ordem. A regra é que o

cheque seja um titulo nominal inato, ou seja, pode circular por endosso

ou por cessão – art. 17 lei do cheque.

O cheque é uma ordem de pagamento a vista – art. 32 da lei do

cheque.

Há quem considere o cheque um titulo próprio e há quem considere

o cheque um titulo impróprio. Isso já foi visto quando estudamos a

natureza do cheque.

O cheque é um titulo bancário porque necessariamente tem que

existir uma previa relação contratual entre o emitente e o sacado, sob

pena do cheque ser inválido.

O cheque é um documento formal. Precisa preencher os

requisitos essenciais (art. 1 da lei do cheque).

O cheque não admite aceite.

O cheque é pro – solvendo.

O cheque tem autonomia, abstração, cartularidade ... o cheque

tem atributos cambiários – art. 13 e art. 1 da lei do cheque.

O cheque tem curso forçado?

A lei 8002/90 dizia que o cheque tem curso forçado. Mas o art.92 da

lei 8884/94 revogou a lei 8002/90 e o cheque deixou de ter curso

forçado. Depois veio o CDC onde seu art. 39, IX criou controvérsias. Há

quem entenda que em razão do art. 39, IX do CDC o cheque passou a

ter curso forçado nas relações de consumo, pois o cheque traduz pronto

pagamento. Mas a maioria entende que o cheque não tem curso

forçado, pois o cheque é pro – solvendo. E o inciso IX do art. 39 do CDC

foi acrescentado pela lei 8884/90 que é a mesma lei que acabou com o

curso forçado do cheque.

Conta corrente conjunta:

165

Não há solidariedade cambiária por força da conta corrente

conjunta.

A e B assinaram contrato de conta corrente conjunta. Neste caso há

solidariedade contratual, mas perante terceiros só haverá solidariedade

cambiária se os dois assinarem o cheque. Se apenas o A assinar o

cheque, o B não será devedor cambiário, face ao principio da

literalidade. Só é devedor cambiário do cheque, perante terceiros,

aquele que assina a cártula. se apenas um correntista assinou o cheque

somente ele será devedor.

A solidariedade contratual que existe na conta corrente conjunta só

existe entre os correntistas e o banco. Esta solidariedade não se estende

aos terceiros.

A emissão de cheque sem fundos é crime de estelionato – art. 171,

§2, VI CP. Este é um crime comum, doloso, material que se consuma

com a efetiva devolução – art. 4, §1 lei do cheque. Este crime só se

consuma no momento da apresentação e recusa do pagamento do

cheque pelo sacado. Sumula 521 do STF. Este crime admite a suspensão

condicional do processo.

Sumula 554 SFT – o pagamento do cheque recusado pelo sacado

por falta de pagamento, obsta o recebimento da denuncia. Mas se o

pagamento for feito após o recebimento da denuncia o processo seguirá.

Na verdade esta sumula merece criticas, pois o judiciário está

legislando. Se o cheque foi pago antes do recebimento da denuncia,

nada obstará no processo. Uma vez que o cheque foi pago antes da

denuncia ser recebida, o processo ainda assim deverá ser instaurado e

neste caso aplica-se o art. 16 do CP que trata do arrependimento

posterior e é causa obrigatória de diminuição de pena. Então, o juiz deve

receber a denúncia, aplicar o art. 16 CP e suspender o processo na

forma do art. 89 da lei 9099.

Esta seria a forma mais técnica.

166

Entretanto os juizes nem recebem a denuncia nos casos em que o

cheque é pago antes do recebimento da denuncia.

05/05/05

CHEQUE E ENDOSSO

O cheque pode ser endossado uma única vez. A legislação tributária

impede que o cheque circule por mais de um endosso. A lei do cheque

prevê a possibilidade do cheque circular através de mais de um

endosso, mas estes dispositivos da lei do cheque estão com a eficácia

suspensa.

A lei que prevê a CPMF prevê que o cheque só pode ser endossado

uma única vez. A lei do cheque prevê a possibilidade de pluralidade de

endossos do cheque – art. 17, §2 e art. 20, II, da lei 7357/85. A parte

final do art. 17, §2 e o art. 20 II da lei 7357/85 estão sem eficácia pois a

lei 9311/96, que é a lei do CPMF dispõe que o cheque só pode ser

endossado uma única vez. O art. 22 da lei 7357/85 fala em “série

ininterrupta de endossos”. Este dispositivo também está sem eficácia e

art. 20, II, pois o cheque não pode ser endossado mais de uma vez.

Endosso póstumo, tardio ou posterior ao vencimento é o endosso

que é feito após o protesto ou após o prazo para o protesto. Como nós

vimos, o protesto no cheque é facultativo. Nada impede que haja o

endosso póstumo após o prazo de apresentação do cheque. Isso está

claro no art. 27 da lei do cheque. Aliás, esta era a resposta do ultimo

provão do MP.

Endosso pignoratício pode ser feito no cheque?

Não.

O endosso pignoratício é uma espécie de endosso caução. O

endosso pignoratício ocorre quando o TC é dado ao credor em garantia

real, de modo que se o devedor não cumprir a obrigação, o credor de

posse daquele TC poderá executa-lo. O endosso pignoratício está

167

previsto no art. 918 do NCC e, em suma, pode-se conceitua-lo como uma

garantia de dívida.

Mas o cheque não pode ser objeto de endosso pignoratício porque o

cheque não é uma garantia de dívida. O cheque é ordem de pagamento

a vista, na forma do art. 32 da lei 7357/85.

Prazos:

O cheque é uma ordem de pagamento a vista.

Mas o cheque tem alguns prazos.

O credor do cheque tem um prazo para apresentar o cheque ao

Sacado.

Esta apresentação pode se dar de duas formas: apresentação na

boca do caixa ou apresentação para compensação, na câmara de

compensação.

O prazo para apresentação do cheque está no art. 33. Trata-se de

um prazo decadencial de 30 ou 60 dias.

O prazo é de 30 dias em municípios idênticos. Por exemplo: cheque

emitido no município do Rio de Janeiro e apresentado no município do

Rio de Janeiro – o prazo para esta apresentação é de 30 dias.

O prazo é de 60 dias quando a emissão de um cheque se dá em um

município e a apresentação se dá em outro município.

Para saber a data de apresentação é preciso que no cheque o

sujeito coloque no cheque o nome do lugar (município) da emissão.

A ação de execução está no art. 47 e o prazo para executar o

cheque está no art. 59 da lei do cheque. Se o cheque for devolvido sem

fundos, o credor tem prazo de 6 meses para ajuizar ação cambiária em

face do devedor.

Se o credor perder o prazo da ação cambiária, o credor ainda terá

prazo de 2 anos para ajuizar ação de locupletamento ilícito, na forma do

art. 61 da lei de cheque.

168

O prazo de apresentação do cheque é muito importante. Entretanto

há a sumula 600 do STF que diz que cabe ação executiva contra os

devedores cambiários diretos do cheque, ainda que o cheque não seja

apresentado ao sacado no prazo legal, mas desde que não esteja

prescrita a ação cambiária.

Em outras palavras, esta sumula quer dizer que mesmo o cheque

não tendo sido apresentado no prazo de 30 ou 60 dias, o emitente e seu

avalista podem ser executados. Mas esta sumula 600 só abrange os

devedores diretos. Façam uma remissão nesta sumula 600 ao art. 47, I

da lei do cheque.

O término do prazo de apresentação serve como termo a quo para

os 6 meses da ação executória. Ou seja, o prazo de 6 meses para ajuizar

ação cambiária começa no dia em que termina o prazo para

apresentação. Isso está no art. 59 da lei do cheque.

Na palavra prazo de apresentação fazer remissão ao art. 33 da lei

do cheque.

Interpretação do art. 59 da lei do cheque:

Fabio Ulhoa Coelho entende que o art. 59 da lei do cheque tem que

ser interpretado literalmente. Por exemplo, se o cheque foi emitido em

maio de 2005, e o prazo é de 30 dias para apresentação, em junho de

2005 começa o prazo de 6 meses previsto no art. 59. Não importa se o

cheque foi devolvido em julho. Para Fabio Ulhoa, o prazo começa a fluir

após o efetivo término do prazo para apresentação. Esta posição

favorece ao credor!

A maioria das turmas do STJ entende que se o cheque não foi

apresentado no prazo de apresentação, o inicio do prazo prescricional

para a ação cambiaria prevista no art. 59 será o do efetivo termino do

prazo de apresentação. Por exemplo, o cheque foi emitido em maio e

não foi apresentado. O prazo para a ação executória do credor começa

169

em junho pois esta seria a data do efetivo término do prazo para

apresentação.

Mas o STJ diz que se o cheque foi apresentado e devolvido, o prazo

do art. 59 começa a partir da data da devolução do cheque. Então, neste

mesmo exemplo, o cheque foi emitido em maio, apresentado em junho

(dentro do prazo de apresentação) e foi devolvido em julho. Para esta

posição do STJ o prazo do art. 59 começaria a correr a partir de julho,

que é a data da devolução do cheque.

O prazo de apresentação do cheque também é importante por

causa do art. 47 da lei do cheque.

Quem deixa de apresentar o cheque no prazo de apresentação

previsto no art. 33 pode cobrar dos devedores diretos, na forma do art.

47, I c/c a sumula 600 do STF.

Mas a falta de apresentação impede que o credor execute os

devedores indiretos. O art. 47, II diz que para cobrar dos devedores

indiretos é necessário que o cheque seja apresentado em tempo hábil.

Caso o cheque não seja apresentado em tempo hábil, o direito de cobrar

dos devedores indiretos decairá.

Obs: Se o credor não obedecer o prazo de apresentação, ele não

poderá cobrar dos devedores indiretos (avalistas e endossantes), mas

ainda sim poderá cobrar dos devedores diretos (emitente e avalistas

deste), de acordo com a S 600 STF.

Então, a regra geral é que não se precisa cumprir o prazo de 30/60

dias para cobrar dos devedores diretos, pois a lei não faz esta exigência.

Porém, para cobrar dos devedores indiretos deverá ter apresentado

dentro do prazo, porque o art. 47, II exige isso.

170

Mas, existe uma exceção desta regra, ou seja, se o credor não

apresentar neste prazo de 30/60 dias ele vai perder o direito de cobrar

do emitente do Cheque.

Por exemplo, se A emitiu um Cheque de R$ 100.000,00, pela regra

geral não é necessário apresentar no prazo, porque mesmo se não

apresentar ainda terá direito de cobrar do emitente ou seus avalistas

(que são devedores diretos), porque o art. 47, I não exige.

Porém, de acordo com o art. 43 § 3º, se durante o prazo de

apresentação o emitente tinha os R$ 100.000,00, mas o credor não

apresentou o cheque ao banco, e se posteriormente ele quiser executar,

porém o devedor não tem mais fundos em sua conta corrente por

circunstancias alheias de sua vontade, neste caso não poderá mais

executar o emitente.

Estas circunstâncias alheias devem ser interpretada no sentido de

força maior, ou caso fortuito. Por exemplo, uma liquidação do Banco que

perde o dinheiro dos clientes. Foi o que aconteceu com o Banco santos

que acabou de entrar em liquidação. Estas circunstancias não podem

ser interpretadas como sendo fatos derivados da vontade do emitente,

por exemplo, não é no caso da mãe do emitente morrer e ele pegar o

dinheiro para pagar o funeral, aqui ele está usando o dinheiro.

Art. 47§ 3º c/c art. 47, I e S 600 STF, demonstrando que o § 3º é

exceção ao inciso I e a súmula 600.

Sublinhar no art. 47 § 3: “tempo hábil” c/c art. 33 LC; “emitente”;

“fato que não lhe seja imputado”

Então, neste caso temos uma exceção, já que vai perder o direito

de executar o emitente se não tiver apresentado em tempo hábil, desde

que tenha durante o prazo da apresentação tinha fundos, mas após o

prazo não tem mais por circunstancias alheias a vontade do emitente.

171

Pergunta: O art. 47, §3 fala que o credor perde o direito de cobrar

do emitente. E quanto aos avalistas do emitente, estes poderão ser

cobrados diante de circunstancias do art. 47, §3? Este § 3º é regra

excepcional ou geral?

Há controvérsias.

Alguns entendem que por se tratar de uma norma de exceção, este

dispositivo do art. 47, §3 deve ser interpretado restritivamente. E,

portanto, como este dispositivo só se refere ao emitente, ele não deve

ser ampliado ao avalista. Como se trata de uma norma excepcional deve

ser interpretada restritivamente, de modo que só se aplica ao emitente.

Ou seja, não se pode executar o emitente, mas pode ser executado o

avalista,

Para outros, esta norma deve ser interpretada extensivamente de

modo que nem o emitente e nem o avalista podem ser executados, pois

o avalista praticou um ato de liberalidade, sendo certo que não pode ter

responsabilidade maior do que a responsabilidade do avalizado. O

avalista possui obrigação equiparada a do avalizado (art. 899 NCC).

OBS: Nas hipóteses do art. 47, §3, nada impede que o credor ajuíze

uma ação monitoria contra o emitente.

CHEQUE VISADO – art. 7 da lei do cheque

Cheque visado não deixou de existir, mas perdeu um pouco de sua

importância.

O cheque visado é aquele em que o Banco dá um visto no cheque.

Este visto certifica que durante o prazo de apresentação previsto no art.

33 há fundos disponíveis.

Por exemplo, eu compro um carro no valor de 10 mil reais e emito

um cheque no dia 05/05/2005. O banco visa este cheque, certificando

que há fundos disponíveis para aquele cheque durante o prazo de

172

apresentação. Se o credor apresentar o cheque dentro do prazo de

apresentação, este cheque será pago. Quando o Banco certifica que há

fundos disponíveis para aquele cheque, o banco automaticamente

bloqueará aquela quantia e não poderá pagar outros cheques que

possam descobrir aqueles fundos. Este bloqueio da quantia do cheque

visado só dura o tempo do prazo de apresentação.

Se ultrapassar o prazo de apresentação e o credor não apresentar o

cheque visado, a certificação perderá a sua eficácia. Se o cheque visado

for descontado depois do prazo de apresentação ele até poderá ser pago

se houver fundos, porque ele continua sendo um cheque, mas não

haverá mais a certificação do banco. Caso não haja fundos, após o prazo

de apresentação, o banco não tem responsabilidade.

O cheque visado é um cheque comum, mas a pedido do emitente, a

instituição financeira sacada visa a cártula, certificando que durante o

prazo de apresentação há fundos disponíveis na conta do emitente,

sendo que a quantia constante no cheque passa a ser bloqueada pelo

banco (sacado) para saldar exclusivamente aquele credor. Após o prazo

de apresentação o cheque subsiste como tal, possuindo eficácia

executiva, apenas aquela certificação é que perde a sua eficácia, ou

seja, a quantia passa a ser desbloqueada. (art. 7 da lei 7357/85)

FORMAS DE IMPEDIR O PAGAMENTO DO CHEQUE

Art. 35 da lei 7357/85

Há duas formas licitas de impedir o pagamento do cheque.

A primeira hipótese é a revogação ou contra-ordem.

A segunda hipótese é a sustação em sentido estrito ou oposição.

A revogação está no art. 35 e a sustação está no art. 36.

173

A revogação só pode ser feita pelo emitente do cheque. Quem dá a

ordem de pagamento é o emitente e a revogação é exclusiva do

emitente.

A sustação pode ser feita pelo emitente ou por terceiro interessado.

A revogação e a sustação podem ser feitas a qualquer momento.

A revogação pode ser feita a qualquer momento, mas a sua eficácia

é diferida, pois ela só produz efeitos após o prazo de apresentação. Se o

emitente emite o cheque hoje e revoga hoje, se o credor apresentar o

cheque amanha, este cheque será pago.

A sustação produz efeitos imediatos. Se você emite um cheque hoje

e susta esse cheque hoje, se o credor apresentar este cheque amanha,

este cheque não será pago pelo sacado.

Questão: Zezinho emitiu um cheque no dia 03/05/2005 em favor de

Hugo. No dia 15/05/2005 Zezinho revogou a ordem de pagamento.

Pergunta-se: O banco tem que aceitar a revogação? O banco pode pagar

o cheque diante da suficiência de fundos, e descumprir a revogação? O

que ocorreria se fosse sustação?

Resposta:

O banco tem que aceitar esta revogação. O banco tem que acatar a

revogação, sob pena de cometer um ilícito contratual.

Ocorre que esta revogação da ordem de pagamento ocorreu

durante o prazo de apresentação. Sendo assim, o banco pode pagar o

cheque, mesmo diante da revogação, desde que o cheque seja

apresentado dentro do prazo de apresentação. Se o cheque for

apresentado dentro do prazo pelo credor, a revogação não produzirá

nenhum efeito. Mas se o cheque for apresentado após o prazo de

apresentação o banco não poderá paga-lo.

174

Se a hipótese fosse de sustação, esta produz efeitos imediatos.

Neste caso, o banco não poderá pagar o cheque. Se o banco pagar um

cheque sustado, o banco comete um ilícito contratual.

A revogação é definitiva.

Quem revoga um cheque não pode se retratar. Após o prazo de

apresentação o banco não pode mais pagar o cheque revogado. O

pagamento deste cheque revogado só poderá ser feito voluntariamente

em dinheiro, ou diante de outro cheque para substituir o cheque

revogado ou através de ação de cobrança judicial.

A sustação admite retratação. Após a sustação pode haver

retratação de modo que o cheque seja pago.

Há quem entenda que na revogação é necessário motivação. Mas a

sustação não tem que ser motivada.

Luis Emydio diz que em qualquer hipótese há de ter motivação.

Para ocorrer a sustação em sentido amplo (revogação e sustação

em sentido estrito) é necessário a existência de fundos?

Há controvérsias:

Requião entende que no caso da revogação não há necessidade de

fundos, mas no caso da revogação há necessidade de fundos

disponíveis.

Luis Emydio entende que em ambas as hipóteses não há

necessidade de fundos disponíveis por inexistência de previsão legal.

Revogação e Sustação não se confundem com frustração.

Tanto na revogação, como na sustação como na frustração não

ocorre o pagamento.

A sustação e a revogação são instrumentos lícitos de impedir o

pagamento do cheque.

175

A frustração é instrumento ilícito de impedir o pagamento do

cheque. A frustração do pagamento configura um ilícito penal, previsto

no art. 171, §2, VI do CP.

Cheque pós-datado e cheque pré-datado.

Existe a figura do cheque pré-datado e a figura do cheque pós-

datado.

Por exemplo: hoje é dia 05/05/2005. Você pode emitir um cheque

para o Master com data de emissão do dia 01/05/2005. Isto é um cheque

pré-datado, porque a data é pretérita. O prazo para apresentação deste

cheque será de 30 ou 60 dias, contados do dia 01/05.

O cheque é pós-datado quando emitido hoje com data do mês que

vem. Se hoje você emite um cheque e coloca a data do dia 05/06/2005,

você está emitindo um cheque pós-datado. A data de emissão é futura.

O prazo para apresentação do cheque pós-datado é futura.

Atenção: o cheque pós-datado só produz efeitos entre o emitente e

o credor originário. É uma cláusula que não vincula terceiros. Do ponto

de vista cambiário, o cheque pós-datado é inócuo. Nada impede que o

credor apresente o cheque e que o banco pague o cheque porque o art.

32 diz que o cheque é uma ordem de pagamento a vista e considera-se

não escrita qualquer cláusula em contrário.

Mas o cheque pós-datado é relevante para fins civis e penais.

Se você emite um cheque pós-datado ao Master, cambiariamente,

nada impede que o Master apresente este cheque ao banco

imediatamente. Mas para o direito civil, esta conduta do Master

caracteriza o descumprimento de uma obrigação de não fazer. Quando o

Master aceita o cheque pós-datado ele está se obrigando a não

depositar o cheque antes daquela data. Se a apresentação antecipada

do cheque pós-datado causar algum dano, caberá responsabilidade civil.

176

Para fins penais o cheque pós-datado indica que no momento da

emissão o sujeito não tinha fundos, mas que o teria na data aprazada.

Sendo assim, a apresentação antecipada do cheque pós-datado não

caracteriza ilícito penal do art. 171, §2, Vi do CP. Vide sumula 246 STF.

Não há estelionato, pq não há fraude.

Hipótese: Zezinho tinha uma conta corrente no Itaú. Ele encerrou a

conta no Itaú, mas ele ainda tinha um talão de cheques deste banco.

Mesmo depois de encerrada a conta no Itaú o Zezinho continua emitindo

cheques deste banco. Que crime ele cometeu?

É o crime do art. 171, caput, do CP.

CHEQUE TURISMO OU VIAGEM

Este cheque é utilizados quando se viaja para o exterior, ele tem

duas assinaturas uma quando se recebe e outra quando se vai utilizá-lo.

Não é um Cheque, pois ele não circula.

Na verdade este cheque serve como um dinheiro, pois ou poderá

pagar alguma coisa com aquilo ou então poderá troca-lo por moeda

estrangeira.

Então, este Cheque configura um documento que tem por

finalidade o transporte de moeda estrangeira para o exterior que será

trocado no País de destino, sendo intransmissível e imprescritível, não

configurando um verdadeiro cheque, mas sim um instrumento de

transporte de valores.

CHEQUE FISCAL

É um documento que serve para fins de restituição tributária.

Então, é um documento que o fisco se utiliza para proceder a restituição

de um tributo arrecadado em excesso. As pessoas ficam felizes com

177

restituição, porém isso é somente um valor que o Estado restitui, pois

cobrou de mais, é um valor que já é do contribuinte.

CHEQUE POSTAL

Também, não configura um verdadeiro cheque, mas sim um

documento utilizado para fins de reembolso postal. É um instrumento de

reembolso postal.

CHEQUE “ESPECIAL”

Esta denominação especial não é técnico, por isso evitem falar

assim, coloquem entre aspas “especial”. O mais correto é falar em

Cheque decorrente de Contrato de Abertura de Crédito. Na prática este

Cheque é para aquela quantia que é colocada a disposição do

correntista pelo Banco.

Então, o Contrato de Abertura de Crédito é um contrato bancário

celebrado com uma Instituição Financeira e seu correntista, em que

aquela se compromete a colocar à disposição um determinado valor,

sendo remunerada apenas se o correntista utilizar deste valor.

Este Cheque Especial está dentro dos fundos disponíveis do art. 4º

§2º, c da lei de cheque. O que caracteriza este contrato é a

disponibilidade, o cliente poderá nunca usar aquela quantia que o Banco

põe a disposição do cliente.

ESPÉCIES DE CHEQUE:

CHEQUE CRUZADO – é aquele em que o emitente imprime dois

traços paralelos na cártula. Estes traços paralelos podem ser horizontais,

verticais ou transversais.

Ao cruzar o cheque o emitente tem a segurança de saber que em

caso de extravio do cheque será possível sustar o pagamento. O cheque

cruzado não pode ser descontado na boca do caixa. O portador do

cheque cruzado tem que depositar o cheque cruzado em sua conta

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corrente. A sua compensação será feita através da câmara de

compensação.

- Cruzamento em Branco: É quando ao cruzar, entre os traços

paralelos não se coloca qual o Banco em que se deverá depositar o

Cheque, poderá ser depositado em qualquer banco.

- Cruzamento em Preto ou Especial: É quando se indica qual é o

banco que deverá ser depositado o Cheque, por exemplo, Banco de

Boston, então este Cheque só poderá se depositado por quem tem conta

no Banco de Boston.

Cláusula Irrevogável

Esta cláusula de cruzamento é irrevogável, após ter cruzado o

Cheque não poderá voltar a atrás e se retratar.

CHEQUE PARA SER CREDITADO EM COTA - Art. 46 Lei do

cheque

É parecido com o cheque cruzado. É aquele onde se coloca uma

inscrição transversal “para ser creditado em conta”, normalmente é um

carimbo. O art. 46 determina que é uma inscrição transversal, que

normalmente é um carimbo.

Este Cheque é semelhante ao Cheque cruzado, porque nos dois

quem pode receber é somente quem tem conta corrente para depositar,

então ambos devem ser objetos de depósito e o pagamento se faz

através da câmara de compensação.

Há quem entenda que o cheque para ser creditado em conta é

intransmissível. Seria a única hipótese em que o cheque ficaria impedido

de circular.

O entendimento dominante é que não cabe endosso, mas nada

impede que este cheque circule através da cessão ordinária de credito.

CHEQUE VISADO – Art. 7º LC – vide explicação acima

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CHEQUE ADMINISTRATIVO – Art. 9º Lei de cheque, que também

é chamado de:

- CHEQUE CAIXA,

- CHEQUE BANCÁRIO

- CHEQUE TESOURARIA

- CHEQUE ADÚLTERO

- CHEQUE COMPRADO

O cheque administrativo é o cheque emitido pela instituição

financeira e o sacado é a proproia instituição financeira. Na verdade este

cheque administrativo é uma transmissão de valores que a Matriz faz

para uma agencia bancaria.

Por exemplo: A pessoa vai ao Banco e pede para transferir um

dinheiro para outra agência, transferências de valores dentro da mesma

Instituição Financeira em que o Banco é ao mesmo tempo emitente e

sacado.

Para o banco fazer isso ele assegura que tem fundos em sua

conta.

Conceito – “Cheque Administrativo é um cheque emitido por uma

Instituição Financeira que dá uma ordem de pagamento a vista a um dos

seus estabelecimentos bancários em favor de outro estabelecimento, a

qual está identificada (deve ser nominal), tendo por finalidade a

transferência de valores”

Na verdade o cheque administrativo é um repasse de valores que

um cliente tem em uma Instituição Financeira, para algum de seus

estabelecimentos. Então, o emitente na realidade não é o correntista,

mas sim o banco, sacado, por isso é controvertido a natureza de cheque

deste chamado cheque administrativo.

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Waldemar Ferreira, minoritariamente, entende que o cheque

administrativo não tem natureza propriamente de um cheque, pois o

emitente não é o correntista, mas sim o próprio Banco.

Mauro Rodrigues Penteado tem a posição dominante, no sentido

de que o cheque administrativo é um cheque como outro qualquer, mas

com certas peculiaridade já que o emitente é o próprio Banco, e porque

este cheque inclusive circula, pode ser objeto de protesto, pode ser

objeto de execução. Mas, tem a peculiaridade que o próprio emitente é

o Banco.

QUESTÃO: Poderá haver Sustação ou Revogação do cheque

administrativo? Em outras palavras, poderá haver Sustação em sentido

amplo? Poderá o Banco ser impedido de transferir?

O emitente do Cheque é o banco, logo só ele poderia sustar, mas

ele não tem nenhum interesse em sustar, pois o dinheiro não é dele, os

fundos pertencem ao correntista.

Mas, o STJ tem acórdão admitindo que o correntista impeça o

pagamento do cheque administrativo.

Por exemplo, eu comprei o carro e peço para passar o final de

semana com o carro em troca eu deixo o cheque administrativo com o

dono do carro. Na Segunda Feira, o dono do carro não passa o carro

para meu nome, e por isso o STJ entende que neste caso concreto em

que o negócio jurídico não se tornou perfeito, já que o credor do Cheque

não cumpriu com sua obrigação, logo poderá o correntista impedir o

pagamento. Em outras palavras, o STJ entende que é possível que o

correntista impeça o pagamento do cheque administrativo se o

beneficiário do cheque administrativo não cumprir a sua obrigação

causal.

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