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TÍTULOS DE CRÉDITO
PROFESSOR: CLÁUDIO CALO
2004 / 2005
1a aula
04/11/2004
Livros que o professor indica:
Professor Luis Emydio Ed. Renovar; (é o melhor)
Fran Martins, Títulos de Crédito - volume I e volume II;
Rubens Requião – Títulos de Crédito.
Salvador Paes de Almeida
Fabio Ulhoa Coelho
LEGISLAÇÃO:
(TC = TÍTULOS DE CRÉDITO)
Letra de Câmbio (LC) e Nota Promissória (NP)= Decreto 57663/66 que
é a Lei Uniforme de Genebra -> LUG e há também o Decreto 2044/1908 que
está parcialmente revogado, como veremos adiante.
Cheque – Lei 7357/85 (o Decreto 57595/66 é uma lei uniforme sobre
cheque que, segundo o STF, se aplica subsidiariamente à lei do cheque, pq
este decreto é oriundo de um tratado internacional e anterior à lei do cheque);
Duplicata = Lei 5474/68;
Conhecimento de Depósito e Warrant = Decreto 1102/1903; (são
títulos de crédito armazeneiros pq estão relacionados aos armazéns em geral);
Conhecimento de transporte = Decreto 19473/30
Títulos de Credito Rurais (NP rural e Duplicata rural) = Decreto 167/67
(são títulos de financiamento, procuram financiar a atividade rural)
Novo Código Civil – art. 887 e seguintes
Vejamos alguns artigos importantes do NCC:
O art. 903 do NCC é o artigo mais importante do NCC pq ele indica que o
NCC só será utilizado quando não houver legislação especial sobre o tema. Ou
seja, o NCC será utilizado em ultimo lugar. Primeiro é preciso observar a lei
1
especial. Se esta for omissa, ou se ela não puder ser aplicada, o NCC será
aplicado, subsidiariamente, à matéria cambiária.
EX: a Lei 5474/68 é uma lei que contém poucos artigos. Se esta lei for
omissa é preciso olhar para o art. 25 da própria lei 5474/68 que dispõe que nas
omissões desta lei, aplicam-se os atos normativos que regulam as LC. Então,
havendo omissão na lei da duplicata será aplicada a LUG e se ainda assim
continuar havendo omissão será aplicado o NCC. Por esta razão é que as
duplicatas são consideradas TC cambiariformes, pq é TC equiparado,
assemelhado à Letra de Câmbio.
O art. 903 do NCC deve ser lido com muito cuidado.
Ele diz que em primeiro lugar aplica-se a lei especial. Apenas no que a
lei especial for omissão ou quando a lei especial não puder ser aplicada, é que
o NCC será aplicado.
EX: ENDOSSO - A Lei prevê que os cheques não podem ser ao portado
caso o valor do cheque seja superior a 100 reais. Mas o NCC, no seu art. 904,
prevê a possibilidade do cheque ser ao portador. A maioria dos alunos pensa
que o NCC por ser posterior à lei do cheque teria revogado a lei 7357/85,
entretanto isto está errado. Vejam que o art. 907 do NCC diz que é nulo o TC
emitido ao portador em desacordo com a legislação especial. Então, alem do
art. 903 há também o art. 907 do NCC que nos manda aplicar a lei especial e
somente subsidiariamente que o NCC será aplicado.
Façam remissão do art. 907 do NCC ao art. 2 da lei 8021/90; art. 69 da
lei 9069/95; art. 19 da lei 8088/90.
EX: AVAL PARCIAL - Art. 897, PU do NCC fala em aval como garantia do
pagamento do valor constante no TC. E o parágrafo único diz expressamente
que é vedado o aval parcial. Então imaginemos a seguinte situação:
A emite uma NP à B e promete pagar à B 100 reais.
C assina a NP e esta assinatura garante o pagamento desta NP. C não
disse quanto ele garantia. Se não disse é pq ele garantiu o pagamento integral
daquele TC. Mas fora do TC o C fala para B que só está garantindo 50 reais.
Pergunta-se: é possível o aval parcial no direito brasileiro? Sendo
possível, neste caso apresentado seria possível? Por quê?
2
No direito brasileiro o aval parcial é permitido em algumas hipóteses. Se
há um titulo atípico que não possui lei especial o regulando, aplica-se o NCC e
neste caso o aval parcial é proibido. Mas se há um titulo típico, com lei especial
o regulando e permitindo o aval parcial, neste caso há a possibilidade do aval
parcial. Tudo depende da lei que regulará o Título. O NCC vedou o aval parcial,
mas não é em todos os casos que o NCC será aplicado. O NCC não se aplica à
LC nem à NP, nem ao cheque, porque estes títulos possuem lei especial.
A LUG diz que é possível haver o aval no todo ou em parte. Logo,
prevalece o art. 30 da LUG (que é uma lei especial) e não o art. 897, PUnico do
NCC. É possível o aval parcial pq prevalece a lei especial e o art. 30 da LUG é
expresso neste sentido. Entretanto, neste caso concreto, o aval parcial não
seria possível pq o C não colocou no corpo do Titulo que aquele aval é parcial.
Prevalece o Principio da Literalidade, ou seja, vale o que está escrito no Título
de Crédito. E mesmo nos casos em que é permitido o aval parcial, este deve
estar escrito no Titulo de Crédito, em razão do princípio da literalidade.
Em matéria cambiária, a legislação exige que a assinatura seja feita em
determinados locais do Título. Desta forma, a simples assinatura na face (na
frente) do título caracteriza o aval. A assinatura no verso corresponde ao
endosso. Mas nada impede que alguém assine no verso do título e escreva ao
lado desta assinatura que ela corresponde a um aval. Neste caso o aval valerá
da mesma forma, desde que seja indicado que se trata de um aval. Isto tudo
existe justamente em razão do principio da literalidade.
Outro artigo do NCC que é muito importante é o art. 914 que trata dos
Títulos à Ordem.
Os TC circulam através da simples tradição. Os contratos não são TC
propriamente ditos. É possível a transmissão dos créditos decorrentes de um
contrato através da cessão ordinária de crédito, que é um instituto do direito
civil. Nos TC a transferência dos direitos ao crédito se dá através de endosso.
De acordo com o art. 914 do NCC, em regra o endossante (aquele que
transfere o Titulo de Credito ) não garante o pagamento, salvo se houver
cláusula expressa no TC dispondo em contrário.
Exemplo: A é o emitente de uma NP que promete pagar à B o valor
descrito na NP. B é o credor de A. Ocorre que o B está devendo exatamente
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aquela quantia ao C. Para pagar a sua dívida com C, o B endossa aquela NP
para o C (endossatário que recebe o TC). O devedor propriamente dito é o A
(devedor principal).
O art. 914 do NCC diz que em regra, quando o B endossa o TC para o C
ele não garante o pagamento, ele garante apenas a existência da obrigação,
tal como disposto no art.295 do NCC. Logo, de acordo com o art. 914 do NCC o
B não é devedor cambiário pq ele apenas endossou o TC. Para que B fosse
devedor cambiário ele teria que assinar aquele TC e escrever ao lado de sua
assinatura que iria garantir o pagamento.
Ocorre que a lei especial dispõe justamente o contrário. A lei especial
dispõe que o endosso garante tanto a existência como o pagamento do título
de credito, salvo se houver expressa disposição em contrário.
Ora, o art. 914 do NCC só será aplicado se não houver lei especial
regulando o endosso. Se o B tivesse endossado para o C um TC atípico que não
tivesse lei especifica, haveria a aplicação do art. 914 do NCC e neste caso sim,
o endosso não garantiria o pagamento. Entretanto o TC em questão era uma
NP e este TC tem lei especial regulando-o. Por sua vez, a lei especial é
expressa ao dizer que, em regra o endosso garante tanto a existência como
também o pagamento do TC, salvo se houver disposição em contrário. Logo,
neste caso aplica-se a lei especial e o B irá garantir o pagamento, eis que de
acordo com a lei especial, o B só estaria livre do pagamento se houvesse
disposição expressa neste sentido. Sendo assim, o C que é o credor deste TC
poderá cobrar tanto de A como de B. Para cobrar de A (devedor principal) o C
precisará apenas apresentar o TC, entretanto para cobrar de B que é o
endossante e devedor cambiário indireto, o C precisará protestar o TC.
Então, eu lhes pergunto:
O C (credor) cobra do A o valor daquele TC (amigavelmente), entretanto
A não paga. C após protestar o TC poderá ingressar com uma ação contra
ambos. Entretanto ele ingressa com uma ação apenas em face do B,
endossante, que é o devedor cambiário indireto. Neste contexto, pode o B
chamar o A para ingressar no processo, ao argumento de que há solidariedade
entre os credores, com fundamento no art. 77, III do CPC? Ou seja, cabe a
intervenção de terceiros nesta hipótese?
4
Essa resposta será dada na próxima aula!!! Só há um livro que trate
deste assunto.
Façam remissão no art.914 NCC, ao art. 21 da lei 7357/85, ao art. 15
da LUG, ao art. 25 da Lei das Duplicatas, e art. 295 do NCC e art. 12, §1 da lei
da duplicata e ao art. E art. 903 do NCC. => Estes artigos que estão fora do
art. 914 do NCC dispõem que o endossante em regra garante o pagamento,
salvo se houver disposição em contrário.
TÍTULOS DE CRÉDITO PRÓPRIOS
Os TC próprios têm a finalidade de documentar (representar,
materializar) um crédito. O crédito é materializado através de um cheque, ou
de uma letra de cambio, ou de uma nota promissória... O TC próprio
materializa o próprio crédito (ao passo que os TC impróprios materializam
outros direitos, como veremos adiante).
CONCEITO ECONÔMICO DE CRÉDITO: “Crédito é a possibilidade de se
utilizar no presente de um recurso próprio ou de terceiro que estará disponível
no futuro”. É o que os alunos fazem aqui no Master quando emitem o popular
cheque “pré-datado”. Na verdade o que a maioria das pessoas chama de
cheque pré-datado é um cheque pós-datado. O aluno emite um cheque hoje e
esse pagamento só será efetuado daqui a um mês, ou seja, o aluno coloca uma
data para o futuro. O termo pré-datado é usual no comércio. Mas não é a
expressão correta. Até existe o cheque pré-datado, é aquele em que você
emite hoje com uma data anterior, emite o cheque hoje com data de ontem ou
de um mês atrás. Isso sim é o cheque pré-datado. O cheque que vocês
emitiram hoje datado para daqui a um mês para pagar este curso, na verdade
é um cheque pós-datado. O problema do cheque pré-datado propriamente dito
é que o prazo de apresentação dele é menor pq a data constante no titulo é
anterior à data da emissão, e como vale o que está escrito (literalidade), o
prazo para a apresentação daquele cheque será contado a partir da data que
constar no cheque, ainda que esta data seja anterior à data da sua emissão.
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O importante deste conceito econômico é que vocês saibam que o
crédito tem dois elementos cumulativos: Fidúcia (confiança) e tempo.
Vejam bem, o art. 32 da lei do cheque diz que o cheque é ordem de
pagamento a vista. Do ponto de vista cambiário, ninguém está obrigado a
aceitar um cheque para ser apresentado apos 1 mês, 2 meses após a sua
emissão. Entretanto, em razão da confiança, nada impede que exista acordo
entre as partes para que aquele cheque seja apresentado no decorrer de certo
tempo.
Vamos analisar agora os TC próprios em seu sentido mais restrito.
Nos TC em sentido amplo, os créditos decorrem da vontade, como por
exemplo, o contrato de locação, o carnê das Casas Bahia, etc ...
Os TC em sentido estrito são TC em virtude da lei ou por possuir
atributos cambiários.
Atributo do TC é tudo aquilo que é inerente ao TC.
EX: A lei de cheque, em momento nenhum diz que o cheque é um TC.
Entretanto o art. 1 diz o que o cheque deve conter. Aí está estampado o
principio da literalidade. O art. 13 diz que as obrigações contraídas através do
cheque são autônomas e independentes e aí está estampado o principio da
autonomia dos TC. O art. 17 trata do endosso, que é um instituto próprio das
operações cambiárias. O art. 21 trata do aval que é outro instituto próprio das
operações cambiárias. Autonomia e literalidade, endosso e aval são atributos
dos TC. Ora se o cheque possui atributos de TC é pq ele pode ser considerado
um TC.
A finalidade dos Títulos de Créditos é conferir segurança aos credores.
Se o Título não for pago, o credor poderá executar o devedor.
CONCEITO JURÍDICO DE TÍTULO DE CRÉDITO => Está no art. 887 do
NCC.
Este artigo copia o conceito de Vivant, que analisou o TC sob o aspecto
jurídico e não sob o aspecto econômico. O aspecto econômico do TC foi
analisado por José Maria __(não entendi)___ .
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Título de Crédito é um documento formal necessário ao
exercício do direito literal e autônomo nele mencionado
(aspecto jurídico – Cezar Vivant – art. 887, NCC), capaz de
realizar imediatamente o seu valor (aspecto econômico).
O art. 887 NCC prevê na sua parte final que os TC somente produzem
efeitos quando preenchidos os requisitos da lei. Ora, esta frase final significa os
TC devem obedecer aos requisitos essenciais previstos em lei, pois somente
quando estes requisitos forem respeitados é que o TC produzirá efeitos. Os
requisitos essenciais dos TC estão nas leis específicas de cada TC. Desta forma,
o cheque tem seus requisitos essenciais mencionados na lei do cheque. A NP e
a LC possuem requisitos essenciais dispostos na LUG etc...
Normalmente as leis cambiárias colocam logo no art. 1 todos os
requisitos do TC (essenciais ou não essenciais) e depois lá no meio da lei, ou
logo no artigo subseqüente as leis dizem quais são os requisitos não essenciais
ou os essenciais.
Por exemplo: o Art. 1 do anexo I da LUG diz o que contem uma Letra de
Cambio. Logo no art. 2o há menção aos requisitos que a lei suprirá caso não
conste na LC. Por exemplo: a LC que não indique a data do pagamento será
considerada pagável a vista. A não indicação da data do vencimento não
descaracteriza a LC.
Por exemplo: A esteve num papel que promete pagar esta Promissória
(não escreve nota promissória). O nome do Título é um requisito essencial que
não pode ser suprido pela lei. Logo, a falta deste requisito descaracteriza a NP
e o credor terá que ingressar com uma ação monitória para formar o título
executivo e assim, poder executar aquele valor.
Fazer remissão: na palavra “efeito” do art. 887, NCC, puxe uma seta e
combinem com o art. 1102-A, do CPC e com o art. 585 do CPC para saberem
que o efeito a que se refere o art. 887 CPC é o efeito executório dos TC.
11/11/04
7
“Título de Crédito é um documento formal necessário
ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado,
capaz de realizar imediatamente o seu valor (aspecto
econômico)”
A expressão “nele contido” descrita no art. 887 do NCC é uma expressão
que deve ser lida com cuidado. O art. 36 do Dec 2044/08 prevê a possibilidade
de ser proposta ação para ser exercido o direito mencionado no TC mesmo
após a sua destruição. AÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO DE TÍTULO NOMINAL
EXTRAVIADO OU DESTRUÍDO! Esta ação vai permitir que o titular do direito
mencionado no TC o exerça. Esta é uma situação excepcional prevista para os
casos em que o TC for extraviado ou destruído. Então, na palavra contido,
escrita no art. 887 NCC façam uma remissão ao art. 36 do Decreto 2044/08.
Para determinado documento ter eficácia cambiária e eficácia executiva,
é necessário que o documento preencha os requisitos da lei. E isto se chama
formalismo.
Caso o documento não contenha os requisitos da lei será necessária a
propositura de uma ação de conhecimento ou uma ação monitória a fim de que
se forme o titulo executivo.
A ação de execução fundada em um TC é chamada de ação cambiária.
Para ser uma ação cambiária, o titulo que fundamenta esta ação tem que
preencher os requisitos da lei.
Combinar o art. 887 do NCC com o art. 585 do CPC e com a Sumula
387 do STF.
EX: A quer emitir uma NP para B e escreve num papel em branco que
promete pagar àquela “PROMISSÓRIA” à B, e, além disso, escreve a data de
vencimento, a quantia devida, a assinatura do emitente, credor identificado e a
data de emissão da NP. Entretanto, este documento não possuía o nome do
Título. Ou seja, em nenhum momento o A escreveu qual era este Título que
ele estava emitindo para o B. Ele apenas escreveu que prometia pagar uma
promissória. Não escrever que prometia pagar uma “Nota Promissória”. Este
documento pode fundamentar uma ação cambiária?
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O art. 887 do NCC em sua parte final diz que o TC somente produz efeito
se preencher os requisitos da lei. Esta frase nos diz que para sabermos se a NP
produzirá os efeitos cambiários precisaremos olhar a lei que trata da NP. A lei
que trata da NP é a LUG que em seu art. 75 dispõe sobre os requisitos da NP.
Pelo art. 75 da LUG nós podemos observar que está faltando um requisito
exigido pela lei, que é o nome do título. Ora, se falta um requisito ao TC é pq
ele não poderá produzir os seus devidos efeitos. Neste caso não será possível
executar o A fundamentando a ação neste documento. Para que B possa
executar o A ele terá que formar um título executivo e a ação adequada para
isto é a ação monitória. Por esta razão que é preciso combinar o art. 1102-A do
CPC com o art. 887 NCC. Se o documento não preencher os requisitos da lei
ele não será hábil para fundamentar uma ação cambiária, mas poderá ensejar
a propositura de ação monitória.
O nome do título é importante para que se saiba qual a lei que regulará
a matéria. A falta deste requisito desafia ação monitória para a formação do
titulo executivo, pois embora a NP não seja um TC padronizado, (NP pode ser
constituída em qualquer papel) ela exige que sejam atendidos todos os seus
requisitos essenciais para que se transforme num TC.
TC é documento formal pq ele tem que atender aos requisitos
essenciais, sob pena de perder a sua eficácia cambiária. Quem
diz quais são os requisitos essenciais dos TC é a lei.
Existem três requisitos que são essenciais a quase todos os TC:
Nome do titulo, para saber a legislação aplicável;
Data de emissão, para saber se o emitente estava vivo na época da
emissão e para saber se o emitente na época da emissão era capaz.
Assinatura, para saber quem é o emitente, garantidor, endossante.
Existem requisitos que não são essenciais aos TC, ou seja,
são requisitos supríveis. A falta de um requisito não essencial
não descaracteriza aquele documento como sendo um TC. Em
outras palavras, o documento não deixa de ser um TC caso
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falte um requisito não essencial. E isto se dá porque a própria
lei supre a falta destes requisitos não essenciais.
Data de vencimento é um requisito dos TC. Entretanto a data de
vencimento é um requisito não essencial à NP. Faltando a data de vencimento,
a lei diz que a NP passará a ser a vista. Então, a lei supre a falta deste requisito
dizendo que na falta de data de vencimento, a NP vencerá a vista, ou seja, na
data em que for apresentada para pagamento. Se o legislador supriu a falta do
requisito “data de vencimento” é pq este requisito não é essencial.
Para saber quais são os requisitos não essenciais, é preciso ler a lei.
Normalmente os requisitos essenciais dos TC, via de regra, estão logo
nos primeiros artigos da sua respectiva lei. E no artigo subseqüente a lei dirá
quais são os requisitos supríveis. Ou seja, a própria lei dirá que a falta de
alguns requisitos será suprida de acordo com o que estiver estabelecido na
própria lei.
Vamos ver, por exemplo, a lei do cheque – Lei 7357/85, art.1, caput diz:
“O cheque contém:” e os incisos deste artigo 1o enumeram todos os requisitos
do cheque. Ocorre que com a simples leitura do art. 1o não saberemos quais os
requisitos essenciais e quais os requisitos não essenciais. Para sabermos isto
precisaremos olhar para o artigo subseqüente. O art. 2 da lei do cheque nos diz
quais são os requisitos supríveis pela lei.
Vejam o art. 1, inciso I exige a denominação “cheque”, que é o
nome do título. O inciso II diz que é requisito do cheque a ordem incondicional
de pagar uma quantia. Não é admissível que o cheque contenha qualquer
condição para que se realize o pagamento. O inciso III exige que o cheque
contenha o nome do banco ou da instituição financeira que deva pagar o
cheque - onde está a palavra instituição financeira, façam uma remissão ao
art. 17 da lei 4595/64. O inciso IV exige que o cheque contenha a indicação do
lugar do pagamento. O inciso V exige a data e lugar da emissão. E o inciso VI
exige a assinatura do emitente.
O art. 2 supre a falta de alguns destes requisitos elencados no art. 1.
O inciso I do art. 2 supre a falta da indicação do lugar do pagamento,
logo, este é um requisito não essencial. O inciso II do art. 2o supre a falta da
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indicação do lugar do pagamento, previsto no art.1, V da lei 7357/85, logo,
este é outro requisito não essencial.
PERGUNTA: Em que momento os requisitos essenciais devem constar
na cártula do TC?
A sumula 387 do STF diz que os requisitos essenciais devem constar na
cártula, no documento. Mas se faltar algum requisito, a falta deve ser suprida
antes do protesto ou antes da cobrança.
Combinar a sumula 387 do STF com o art. 891 do NCC e com o art. 1
do Decreto 2044/08, para saberem que mesmo faltando um requisito essencial,
o TC pode circular e o TC terá eficácia cambiária desde que os requisitos sejam
preenchidos antes da cobrança ou do protesto.
TC em branco e TC incompleto:
No TC incompleto os requisitos não são preenchidos involuntariamente.
EX: sujeito esqueceu de preencher um requisito.
No TC em branco os requisitos não são preenchidos voluntariamente.
Ex: O sujeito não colocou no TC um requisito exigido pela lei, pq não quis.
PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE:
O TC é um documento que representa um direito. O direito deve estar
representado, incorporado em um papel, em um documento, em uma cártula.
Os TC são documentos formais pq eles representam direitos e precisam
obedecer a algumas formas previstas em lei.
Via de regra o TC representa um direito de crédito. Os TC próprios
representam sempre o direito de crédito. Pode existir um TC que represente
outro direito, diferente do direito de crédito, neste caso, temos os TC
impróprios, um documento formal que documenta outro direito, que não é o
direito de crédito, como por exemplo, o direito pignoratício, o direito de
propriedade etc...
PRINCÍPIO DA LITERALIDADE:
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Os TC são documentos formais que representam um direito. O principio
da Literalidade significa que vale o que estiver escrito no TC. Ou seja, o que
não estiver no TC não está no mundo cambiário. O TC não pode representar
um direito que não esteja nele previsto. (O pensamento é idêntico ao que
ocorre no processo, pois o que não estiver nos autos não servirá de
fundamento para a sentença).
Exemplo: Se eu te devo 500 reais e emito uma NP em seu favor onde
digo que prometo pagar 50 reais, você só poderá me cobrar através desta NP
os 50 reais que estão escritos na cártula. (Os outros 450 reais que eu te devo,
você terá que cobrar de outra forma, pois nos TC só vale o que estiver escrito).
Em princípio todas as assinaturas constantes na cártula são importantes,
ou seja, não há assinaturas inúteis, conseqüentemente para uma pessoa se
vincular à relação jurídica cambiária, é necessário que assine na cártula.
Exemplo: X quer avalizar uma NP. Ele pode escrever na NP a seguinte
expressão: “avalizo o título” e assina em seguida. Mas também é possível que
o X apenas assine na face do título, sem colocar expressão nenhuma ao lado
de sua assinatura e isto equivalerá ao aval.
Exemplo: Y quer endossar o TC para W. Para tanto ele poderá apenas
assinar o verso da cártula e esta assinatura equivalerá ao endosso. Mas nada
impede que ao lado de sua assinatura ele escreva a expressão “pague à W”.
Então, a simples assinatura na cártula manifesta uma declaração de
vontade relacionada àquela relação cambiária. A assinatura tem que estar na
cártula em razão do princípio da cartularidade.
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA:
TC é documento formal, necessário ao exercício de um direito literal e
autônomo, nele mencionado (art. 887 NCC, primeira parte).
Princípio da autonomia é o princípio segundo o qual as
obrigações cambiárias (constantes no TC) são autônomas e
independentes (art.13 da lei 7353/85), ou seja, eventuais defeitos
ou vícios intrínsecos ou não visíveis, existentes em uma obrigação
não contaminam as demais obrigações cambiárias, tendo cada
devedor cambiário (avalista, emitente, endossante) a sua própria
obrigação cambiária, embora sejam devedores solidários.
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Exemplo: A é locador e celebra contrato de locação com o locatário B
em que Y presta fiança para garantir a obrigação constante no contrato de
locação. Neste contrato há uma obrigação principal de A com B e uma
obrigação acessória de Y com A. Se A não cumprir o contrato, B poderá
executar o A. Se Y renunciou ao benefício de ordem, B poderá executar tanto
o A como o Y pq ambos se obrigaram ao pagamento daquela obrigação. O B
poderá executar os dois, como pode escolher qualquer um dos dois para
executar. Na fiança não existe o principio da autonomia pq a fiança não é um
instituto cambiário. Na fiança incide o principio da acessoriedade onde o
contrato acessório segue o principal. Se o B executar o Y, ele pode em sua
defesa alegar que não vai pagar pq o contrato de locação celebrado entre A e
B (contrato principal) é um contrato nulo pq A foi compelido, obrigado a
assinar aquele contrato de locação com B que ameaçou matar a mãe de A..
Nos TC isso não seria possível. Eventuais vícios intrínsecos do TC não
contaminam as demais obrigações.
A emite uma NP em favor de B pq este está ameaçando matar a mãe do
A caso ele não emita aquela NP em favor do B. A emite a NP e pede o aval
para Y. Então, Y concorda e se torna o avalista de A. Neste contexto, B ajuíza
uma ação cambiária em face do A. Cabe ao A embargar a execução e alegar o
vício de consentimento. Este vício é uma defesa pessoal que A tem contra o B.
Mas se o B resolve executar o Y, este não poderá alegar o vício existente no
momento da formação do TC. Trata-se de um vício intrínseco do TC. Vício
intrínseco é aquele que não pode ser verificado com a mera análise do título.
vício intrínseco não contamina a obrigação. Ou seja, o Y não poderia embargar
a execução alegando o vício existente de A com B justamente por causa do
princípio da autonomia.
Seria diferente se houvesse algum vício de forma, como por exemplo, a
falta de algum requisito essencial do TC. Neste caso caberiam os embargos
para opor aqueles defeitos extrínsecos, defeitos que podem ser verificados
com a mera análise do TC.
PRINCÍPIO DA INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES:
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As defesas pessoais podem ser opostas. Mas nenhum obrigado poderá
se utilizar de defesas pessoais de outros co-obrigados.
Na verdade a inoponibilidade das exceções é um sub-principio do
princípio da autonomia. Ele indica que nenhum co-obrigado pode utilizar
exceções pessoais de terceiros para eximir-se da sua própria obrigação.
Neste exemplo acima nós verificamos que o Y não poderia alegar o vício
existente entre A e B. esta vedação decorre do principio da inoponibilidade das
exceções. Ou seja, o Y querendo se desobrigar não poderia se utilizar de uma
defesa pessoal do A.
Com base nisso, vou fazer uma questão para ser respondida em casa:
Qual o tipo de cognição dos embargos à execução, propostos no
processo de execução fundado em título executivo extrajudicial, precisamente,
de um TC em que se faz presente o princípio da autonomia? Exige-se cognição
ampla?
CONTRATO DE FACTORING
O contrato de factoring é um negocio jurídico bilateral em que
uma das partes denominada factorizada, visando obter capital de giro
(liquidez), transfere à outra parte, denominada Factorizador, títulos de crédito
a prazo, mediante o pagamento de uma remuneração denominada comissão,
tendo o factorizador que assumir o risco de os devedores originários do título
não pagarem os títulos no vencimento. O risco é inerente à este contrato.
Portanto, não pode o Factorizador cobrar a importância constante nos títulos
do factorizado eis que este não garante o pagamento. No entanto, na prática é
comum o factorizador, quando da celebração do contrato, exigir do factorizado
a emissão de uma NP com o fim de garantir o negócio jurídico realizado, pois
se os devedores originários não pagarem o título, o factorizador poderá
executar a NP em desfavor do factorizado, inclusive é comum o requerimento
de falência do factorizado com base na NP protestada. Neste caso, a suposta
NP apesar de ser um documento, não tem eficácia executiva, pois o título
executivo tem como atributos a liquidez e a certeza, ou seja, a obrigação nele
constante deve ser certa quanto à existência e determinada quanto ao valor.
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Neste caso, como o risco é inerente ao factoring, bem como pelo fato do
factorizado não garantir a obrigação quanto à certeza da NP.
EX: Di Santini é credora de vários TC a prazo, mas precisa de dinheiro agora
para renovar o seu estoque. Ela tem 100.00 reais em TC a prazo e precisa de
dinheiro vivo. Para tanto, a Di Santini vai realizar um contrato de factoring com
uma sociedade de fomento mercantil, que é chamada de factorizador. A
Sociedade de fomento mercantil vai pegar aqueles 100.000 reais da Di Santini
traduzidos em TC a prazo e vai pagar, à vista, 80.000. Quando isso acontece a
sociedade de fomento passa a ser a credora daqueles TC. Caso o devedor do
TC não pague, a sociedade de fomento não poderá cobrar da Di Santini pq o
risco é inerente ao contrato de factoring. Ou seja, a sociedade de fomento só
poderá cobrar aqueles créditos dos devedores originários e não poderá
executar a Di Santini.
Como há este risco inerente ao contrato de factoring as sociedades de
fomento via de regra, fazem uma NP como garantia de que aqueles créditos
sejam pagos. A Di Santini seria a emitente desta NP e a sociedade de fomento
seria a beneficiária. Uma vez que aqueles TC objeto do contrato de factoring
não foram pagos, a sociedade de fomento pega a NP e executa a Di Santini,
que emitiu a NP. Mas isso não é possível!!! Essa NP não poderá servir de
fundamento para a execução pq lhe falta liquides.
O TC representa uma dívida líquida e certa. Certa quanto à existência e
determinada quanto ao valor.
Ou seja, não existe obrigação do factorizado de garantir o valor daqueles
TC negociados. Ele só possui a obrigação de garantir a existência dos TC
negociados.
Para obter capital de giro, o factorizado transfere ao factorizador Títulos
com vencimento a prazo, recebendo antecipadamente um valor. Neste
contrato, chamado de factoring há o elemento risco, que é inerente ao
contrato.
Há controvérsia se o contrato de factoring tem natureza bancária, ou
seja, se o factorizador tem que ser instituição financeira, havendo duas
posições:
15
1) De Lucca entende que se trata de um contrato bancário, sendo o
factorizador considerado uma instituição financeira, pois esta instituição
financeira, precisamente as suas operações, também tem o risco como uma
das suas características, o que é inerente ao factoring. (Livro: Obrigações e
contratos da Falência – Ed. Renovar)
2) Penalva Santos entende que não se trata de contrato bancário e,
portanto o Factorizador não é instituição financeira, este apenas antecipa um
valor, mediante o recebimento de uma remuneração, porém não intermedia
nem aplica recursos financeiros de terceiros, bem como não mantém em
custódia valores pecuniários, ou seja, não se adequa ao conceito de instituição
financeira do art. 17 da lei 4595/64. O outro argumento desta posição é a LC
105/01 que trata do sigilo. O art. 1 da LC 105 elenca as instituições financeiras
pára os efeitos da LC 105. no art. 1, §2 da LC 105/01 trata das empresas de
factoring (empresas de fomento mercantil) e diz que elas são equiparadas à
instituições financeiras. Ora, se elas são equiparadas às instituições financeiras
é pq elas não são instituições financeiras. A lei apenas equipara o factorizador
às instituições financeiras, demonstrando assim que não se confunde com
estas ultimas, pois do contrário, não precisaria estender a disciplina jurídica.
O contrato de factoring não se confunde com a operação de desconto
bancário, pois esta operação envolve necessariamente uma instituição
financeira e a transferência se faz mediante endosso, significando que o credor
originário garante o pagamento, o que não ocorre no factoring.
18/11/04
1a questão que caiu no MP (15/11/04):
Cristiano emitiu um cheque no valor de 5.000 reais em favor de Marlene.
Esta emissão ocorreu em 10/10/2003 para pagamento na mesma praça.
Marlene guardou o cheque consigo e em 16/11/2003 fez um endosso em favor
de Roberto. Com o cheque em seu poder, Roberto moveu ação cambiária em
face de Cristiano. Após assegurar o juízo, Cristiano propôs embargos à
execução argüindo e comprovando ter pago diretamente à Marlene 2.500 reais
no dia 13/11/2003. Roberto, embargado, argumentou que o pagamento parcial
16
do cheque não poderia ser oposto contra ele em razão das normas de direito
cambiário.
Bom, a resposta aqui não é o gabarito pq não se sabe o que o
examinador quer.
O principio da autonomia significa que as obrigações cambiárias são
autônomas e independentes. Ou seja, os vícios intrínsecos em uma obrigação
cambiária não se estendem às demais obrigações. Os vícios intrínsecos não se
propagam. Apenas os vícios extrínsecos se propagam e podem ser opostos. Do
princípio da autonomia decorre o princípio da inoponibilidade das exceções
pessoais, ou seja, uma defesa pessoal sua em relação ao devedor é uma
defesa autônoma e não pode ser oposta à terceiros. Só pode ser oposta ao
próprio devedor.
Quando o título circula através de endosso tempestivo, incide o
principio da autonomia. Endosso tempestivo é aquele realizado antes do
protesto ou, antes do prazo para o protesto. O endosso tempestivo tem o
efeito purificador, ou seja, havendo o endosso há a transferência de um direito
originário, limpo, sem vícios. Além disso, o endosso tempestivo garante o
pagamento.
O endosso tempestivo difere do endosso póstumo. O endosso póstumo é
aquele em que a transferência ocorre após o protesto ou após o prazo para o
protesto. O endosso póstumo corresponde à uma cessão ordinária de crédito. A
cessão é um instituto civil onde o cedente não garante o pagamento, garante
apenas a existência do direito que transfere e transfere um direito derivado, ou
seja, não há o efeito purificador. O cedente transfere ao cessionário o mesmo
direito que ele tem.
Nesta questão da prova, houve o endosso póstumo. Marlene endossou o
cheque após o prazo de protesto. O cheque tem prazo para apresentação.
Prazo decadencial de apresentação de 30 na mesma praça ou 60 dias se em
praças diversas, a contar da data da emissão. Na verdade Marlene realizou
uma cessão de crédito e transferiu para o Roberto o direito que ela tinha.
Marlene transferiu o cheque depois de transcorridos 30 dias da data da
emissão e esta questão falava que o cheque havia sido emitido na mesma
praça. Quando ocorre uma cessão de crédito não há autonomia nas obrigações
assumidas e conseqüentemente não incide o principio da inoponibilidade das
17
exceções pessoais. Na cessão de crédito não existe o efeito purificador que é
inerente ao endosso. Se o Cristiano havia pagado 2.500 para Marlene, aquela
defesa poderia ser oposta contra o Roberto, eis que neste caso houve um
endosso póstumo. Aquelas exceções poderiam ser opostas em face do
Roberto.
2a questão da prova do MP (15/11/04):
É possível a habilitação de crédito na falência, representado por
duplicatas que foram protestadas sem aceite e sem o comprovante de entrega
das mercadorias?
A habilitação de crédito na falência exige que o credor demonstre a
legitimidade do crédito. Cada credor vai instaurar um processo de habilitação
de seus créditos na falência. As habilitações vão tramitar apensadas ao
processo falimentar e após a habilitação, haverá a fase da verificação dos
créditos. Apenas os créditos legítimos serão admitidos no quadro geral de
credores.
A habilitação do credito na falência exige a legitimidade do credito, mas
não há necessidade da habilitação ser através de um TC. Basta a
demonstração da existência e legitimidade de um crédito, ou seja, é preciso
demonstrar a condição de credor. Nesta fase não é preciso que haja
necessariamente um título executivo, pois o que se exige é que fique
demonstrada a condição de credor. Por exemplo, o locador do falido tem um
contrato de locação que demonstra a existência de um crédito, porém ele não
possui um título executivo. Mesmo assim ele pode se habilitar e ter o seu
crédito admitido na falência, pois o que se exige nesta fase é a demonstração
da legitimidade e existência do crédito, independentemente do título em que
este crédito se fundamente.
Nesta questão da prova do MP, na opinião do professor, o credito estava
representado numa duplicata protestada sem aceite e o comprovante de
entrega das mercadorias.
A duplicata é um TC causal. As suas causas estão previstas na lei da
duplicata, ou seja, compra e venda e prestação de serviço. A questão da prova
se referia a uma compra e venda de mercadorias. Então vou dar um exemplo
de duplicatas que possuem como causa a compra e venda de mercadorias:
18
Lojas Americanas compram 100 bolas da Estrela, no valor de R$
1.000,00. A Estrela que vendeu é a sacadora e as Lojas Americanas que
compraram são a sacada. A Estrela pode documentar este crédito de mil reais
através de um TC e resolve fazê-lo através de uma duplicata. Então a Estrela
saca uma duplicata. Quem saca a duplicata é a sacadora, credora, que neste
caso é a Estrela. Então a Estrela saca uma duplicata no valor de R$ 1.000,00 e
a encaminha para as Lojas Americanas, que são o sacado, o devedor.
As Lojas Americanas podem analisar aquela duplicata, verificar se está
tudo correspondendo à compra e venda das mercadorias (as 100 bolas) e
assinar a duplicata. Ao assinas a duplicata as Lojas Americanas aceitam aquele
título, ou seja, a assinatura do aceite significa que as Lojas Americanas
aceitam pagar mil reais no prazo estabelecido na duplicata.
As Lojas Americanas também podem não assinar a duplicata. Pode
alegar um dos motivos estabelecidos na lei de duplicatas e desta forma,
devolve as mercadorias, explicando que comprou bolas de uma marca e
recebeu bolas de outra marca, ou que contratou o prazo de 90 dias e a
duplicata previa prazo de 10 dias para o pagamento... Enfim, o art. 8 da lei das
duplicatas elenca os motivos que podem ser alegados para a o não aceite da
duplicata.
A terceira hipótese que pode acontecer é a retenção indevida da
duplicata. Ou seja, as Lojas Americanas não devolvem as mercadorias e não
assinam a duplicata. Neste caso, nós veremos mais adiante, que será o caso
de protesto por indicação que é uma exceção ao principio da cartularidade.
A quarta hipótese que pode acontecer é das Lojas Americanas ficarem
com as mercadorias e devolverem a duplicata sem a assinar. Neste caso, com
base no art. 15, II há a figura do aceite tácito ou presumido. A Estrela terá que
ir ao cartório e comprovar que não houve o aceite. Esta comprovação se faz
através do protesto. O primeiro requisito do art. 15 é o protesto por falta de
aceite. O segundo requisito é a comprovação da entrega das mercadorias ou
da prestação de serviço. E o terceiro requisito, cumulativo, é a comprovação
de que não houve justificativa para a falta de aceite.
No caso da prova, a duplicata teve o protesto por falta de aceite, mas
não teve a comprovação da entrega das mercadorias. A falta de comprovação
da entrega das mercadorias não impede que o crédito seja habilitado, mas
19
impedirá que ele seja admitido na falência pq este credito não terá
legitimidade, ou seja, não comprovará a condição de credor daquele que
habilita o crédito.
NATUREZA JURÍDICA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:
Título de Crédito é um título executivo extrajudicial = art. 585 do
CPC. Os TC possibilitam a ação executiva que é denominada ação cambiária. A
ação cambiária nada mais é do que uma ação de execução fundada em um TC.
O TC, por ser um título executivo extrajudicial, também é denominado
como título falimentar ou falencial. A falência do devedor pode ser
decretada com base na impontualidade (art.1, LF) com base na prática de atos
de falência (art.2, LF) e com base no art. 8 da LF que trata da auto-falência.
O requerimento de falência com base na impontualidade (art.1 LF) é de
suma importância que haja um título executivo judicial ou extrajudicial. O título
falimentar configura um titulo executivo judicial ou extrajudicial que
documenta uma obrigação líquida, certa e exigível pecuniária (obrigação de
dar dinheiro). Título idôneo (hábil) ao requerimento de falência com base no
art.1 da LF (correspondente ao art. 94 do Projeto de Lei de Falências = PLF),
desde que devidamente protestado (art. 10 da LF).
Para fins de falência, não basta o simples descumprimento da obrigação
constante no TC. Para fins de falência é necessário que haja a chamada
impontualidade qualificada, que é configurada através do Protesto. Ou seja, o
protesto vai comprovar a impontualidade. O protesto vai comprovar o não
cumprimento da obrigação no seu vencimento. Este protesto trará a certeza
de que houve uma impontualidade, por isto se diz que na falência exige-se a
impontualidade qualificada.
Os TC também têm natureza de bens móveis. Uma vez caiu uma
questão na Magistratura perguntando o que era o endosso mandato. O
endosso mandato é um endosso impróprio. E o mandato é uma representação.
Quem realiza um endosso mandato transfere o exercício do direito existente
na cártula, mas não transfere o crédito. É endosso impróprio pq houve a
transferência da cártula sem haver a transferência do direito de credito
representado no TC.
20
Como já caiu uma questão sobre o endosso mandato, que é uma
espécie de endosso impróprio, pode ser que daqui a pouco caia uma questão
sobre outro endosso impróprio, que é o endosso pignoratício.
ENDOSSO PIGNORATÍCIO também chamado de endosso caução. O
endosso pignoratício é outra espécie de endosso impróprio onde há uma
garantia. Penhor é garantia. Endosso é transferência. Se o TC é um bem móvel,
ele pode ser objeto de um direito real de garantia, tal como o penhor. É o que
ocorre quando a cártula é entregue (empenhado) ao credor de alguém como
forma de garantir uma dívida. Quando há este endosso não ocorre a
transferência do direito de crédito constante no TC. Ocorre apenas a
transferência da cártula que fica em mãos do credor pignoratício como forma
de garantir um direito real, por isso é um endosso impróprio. EX: eu compro
um relógio raro e pago este relógio em várias prestações. Para garantir que eu
vou pagar todas as prestações eu entrego ao vendedor um título de crédito
que eu possuo, ou seja, eu realizo um endosso pignoratício. No dia em que eu
acabar de pagar as prestações, aquele TC voltará para mim, eis que ele só foi
entregue mediante um endosso pignoratício, como forma de garantir o
pagamento daquelas prestações. Mas caso eu não cumpra as prestações o
vendedor poderá se valer daquela garantia para não ficar no prejuízo.
CARACTERÍSTICAS (OU ATRIBUTOS) DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
Alguns autores chamam os atributos de características, outros chamam
as características de atributos, e outros entendem que atributos e
características são sinônimos. Então, se cair uma questão na prova
perguntando o que são os atributos dos TC o melhor a ser feito é escrever
sobre todos os atributos e todas as características.
As duas primeiras características dos TC são chamadas por Fabio Ulhoa de
atributos.
1) AUTO-EXECUTORIEDADE -> Os TC que preencham todos os
requisitos exigidos em lei, não exigem a propositura de uma ação de
conhecimento para serem cobrados. Os TC são auto-executáveis. Basta ajuizar
a ação de execução. Art. 585, I c/c 618, I ambos do CPC.
21
2) NEGOCIABILIDADE => O TC deve ser apto a circular. Não pode
haver óbice à circulação do TC. Pode acontecer do TC não circular, mas isso
não pode acontecer em razão de alguma vedação constante no TC proibindo-o
de circular. Quando um TC não circula, é pq o credor não quis ou não lembrou
de endossá-lo, mas a razão da não circulação do TC não pode ser uma
cláusula expressa no próprio TC vedando a sua circulação. Daí surge uma
pergunta: É possível o endosso condicional? Combinar o art. 12 da LUG c/c art.
912 do NCC c/c art. 18 da lei 7357/85. o endosso condicionado pode até existir,
mas a condição será considerada como não escrita. Em outras palavras, o
endosso será válido, mas a condição será tida como não escrita.
Outra pergunta: O endosso pode ser parcial?
Todos sabemos que o pagamento pode ser parcial e que o aval pode ser
parcial, mas o endosso NÃO pode ser parcial. O endosso parcial afetaria a
negociabilidade dos TC eis que prejudicaria a circulação do TC, portanto não
pode haver endosso parcial.
3) FORMALISMO => Significa que o TC tem que preencher os
requisitos legais essenciais sob pena do TC perder sua eficácia cambiária. Isso
está no art. 887 do NCC parte final. Aqui é bom lembrar da Sumula 387 do STF
que diz que os requisitos essenciais podem ser preenchidos após a emissão do
título, desde que antes de protestar o titulo ou desde que antes de cobrar o
título.
4) OBRIGAÇÃO LÍQUIDA, CERTA E EXIGÍVEL => Título de Crédito
documenta uma obrigação líquida, certa e exigível (art. 618,I do CPC).
Obrigação certa quanto à existência (an debeatur) e determinada ou
determinável quanto ao valor (quantum debeatur). Ou seja, a obrigação
constante no TC deve existir. O valor desta obrigação deve ser ao menos
determinável.
TÍTULOS INDEXADOS: Os TC indexados subsistem quanto à sua
liquidez?
Os títulos de crédito indexados com índices que não sejam o salário
mínimo, possuem um valor determinável. Há entendimento de que os valores
determináveis não traduzem uma obrigação líquida pq faltaria justamente a
22
determinação deste valor. Outros entendem que a determinação deste valor
dependeria apenas da conversão do índice indexador para o real e isto não
descaracteriza a liquidez do título.
A posição amplamente dominante do STJ e da maioria da doutrina
entende que os títulos indexados subsistem quanto à sua liquidez, sendo que
apesar da obrigação não estar determinada, a mesma é passível de
determinação através de simples operação aritmética.
Fran Martins isoladamente entende que o TC indexado não possui
liquidez. A obrigação passa a ser ilíquida e o título perde a sua executoriedade.
Para ele, o TC se caracteriza pelo formalismo e apesar do Direito empresarial
ser um direito informal, o direito cambiário exige certas formalidades que são
os requisitos essenciais dos TC, e dentre estas formalidades está a
necessidade do TC descrever uma quantia determinada a ser paga. Se a
quantia tem que ser determinada, ela não pode ser determinável através de
um índice indexador. A falta de determinação desta quantia descaracteriza o
TC. Por exemplo: O art. 1, II da lei 7357/85 diz que o cheque contém a ordem
incondicional de pagar quantia determinada (e não determinável). O art. 897
do NCC diz que o pagamento do TC que contenha obrigação de pagar quantia
determinada pode ser garantido por aval. Outra vez a lei nos mostra que a
quantia tem que ser determinada e não determinável.
Pergunta: Zezinho é credor de uma NP no valor de 1 salário mínimo. Na
NP estava escrito que havia ali uma promessa de pagamento de um salário
mínimo. Zezinho poderá cobrar aquela NP?
A CF veda a indexação através do salário mínimo no art. 7, IV, parte
final. O salário mínimo não pode servir de índice indexador. Sendo assim, o
Zezinho não poderia cobrar aquela NP. Entretanto se aquela NP estivesse
indexada através de outro índice, como por exemplo, a UFIR, ele poderia
cobrar a NP. Bastaria converter a UFIR para Real e executar o título.
5) OBRIGAÇÃO QUERABLE => Obrigação quérable, ou quesível é
aquela que para ser cumprida, ou satisfeita é necessário que o credor procure
o devedor. É o oposto da obrigação portable.
23
6) TC SÃO TÍTULOS DE APRESENTAÇÃO => Esta característica (ou
atributo) tem a ver com a cartularidade, literalidade e com o formalismo. O
valor do TC só será pago se o próprio TC for apresentado ao devedor. O TC tem
que ser apresentado no original para que o devedor possa analisar se aquele
TC realmente é o título que representa a sua dívida e também para saber se
quem está cobrando tem legitimidade, ou seja, para que o devedor tenha como
saber se quem cobra aquele pagamento realmente é o credor. O credor tem
que apresentar o TC original pq uma fotocópia pode não retratar a verdade
sobre o TC. O devedor não é obrigado a pagar um TC se o credor apresentou-
lhe uma fotocópia. A cartularidade significa o documento. A literalidade
significa que vale o que está escrito no TC. E o formalismo significa a
necessidade de preencher os requisitos essenciais do TC. O devedor tem que
ter a chance de analisar tudo isso, e por esta razão que se exige a
apresentação do documento original.
7) TC SÃO TÍTULOS DE RESGATE => em um determinado momento a
obrigação tem que ser satisfeita. Há um prazo para a satisfação da obrigação.
Títulos de resgate se contrapõem aos títulos permanentes. As ações de uma
S.A são títulos permanentes pois o titular das ações permanentemente
auferem lucro através das ações. Mas os TC são títulos de resgate onde há um
momento para a obrigação ser satisfeita mesmo que a data do vencimento não
seja um requisito essencial. Se o TC não tiver data de vencimento, a lei supre
este requisito e o TC será válido e seu vencimento se dará a vista.
8) EFICÁCIA PROCESSUAL ABSTRATA => A ação cambiária que é
uma ação de execução, se fundamenta em um TC e é instruída com a cártula.
Uma vez que a ação é interposta e fundamentada com a cártula, as questões
prévias desta ação devem ser analisadas pelo juiz, tais como as condições da
ação e os pressupostos processuais. Depois disso o juiz vai analisar se o
documento que instrui a inicial possui algum vício de forma. Se houver algum
vício de forma, o juiz deve reconhecê-lo de ofício. Entretanto, se não houver
nenhum vício de forma o juiz mandará citar o réu. isso acontece justamente pq
o TC tem eficácia processual abstrata.
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Se houver algum vício intrínseco, que não seja um vício de forma, o juiz
não poderá reconhecê-lo de oficio. Os vícios intrínsecos só podem ser
reconhecidos mediante provocação do executado, mediante embargos à
execução ou exceção de pré-executividade.
Segundo Libmam, o TC caracteriza-se por ter eficácia processual
abstrata, significando que o juiz não pode de oficio, reconhecer vícios
intrínsecos, não aparentes ou não visíveis, eis que estes dependem da
provocação do executado. Em sendo assim, estando presentes as
condições para o legítimo exercício do direito de ação, os pressupostos
processuais, bem como não existindo qualquer vício de forma (art.887,
parte final do NCC), deve o juiz proceder a execução, proferindo
despacho liminar positivo (cite-se).
9) NATUREZA PRO SOLVENDO => Os TC tem natureza pró
solvendo (e não pró soluto).
Todo TC tem uma causa debend, ou seja, todo TC tem uma causa
que lhe deu origem, uma razão, um motivo que ensejou a criação do TC.
Existem TC que são causais, ou seja, estas causas estão previstas em lei,
como é o caso da duplicata. Outros TC não são causais pq a lei não
estabelece as causa que poderão lhe dar origem, como é o caso do cheque
(o cheque pode ser emitido pq houve uma compra e venda, ou pq houve
uma doação, ou pq houve a prestação de um serviço etc... a lei não se
importa com a causa que deu origem ao cheque).
Por exemplo: A e B realizaram a compra e venda de um videocassete
usado a ser pago em 30 dias. A que comprou o vídeo, prometeu pagar ao B
o valor do vídeo através de uma NP. Então A emitiu uma NP para o B
prometendo pagar-lhe 200 reais com vencimento em 30 dias. Aqui há uma
relação que deu causa ao nascimento de uma NP. Quando se emitiu a NP
não houve novação da dívida. A emissão da NP não extinguiu a relação
causal. Ambas as relações continuam existindo. A extinção da obrigação
causal não extingue a obrigação cambiária.
A compra e venda do videocassete é uma relação jurídica realizada
por A e B. Esta relação jurídica deu origem à uma NP. Portanto a compra e
venda é, neste caso, uma relação causal.
25
Quando eu digo que um TC é pro solvendo significa que quando se
emitiu o TC não houve a novação da dívida. Ou seja, a emissão do TC não
extinguiu a relação causal. As duas relações jurídicas coexistem.
Se o pagamento do vídeo tivesse sido feito através de dinheiro vivo,
aquela relação jurídica estaria extinta com o pagamento. Mas como foi
emitida uma NP, aquela relação jurídica não se extinguiu. Vejam que no
NCC, no livro que trará das obrigações não há nenhum artigo dizendo que a
emissão de um TC é causa de extinção das obrigações. Vocês não vão
encontrar isso em nenhum lugar justamente pq a emissão de um TC
caracteriza uma novação.
Se o TC fosse pró-soluto, aí sim, a emissão da NP extinguiria a
obrigação que lhe deu origem. Mas isso não acontece. Pelo fato dos TC ser
pró-soluto as duas obrigações coexistem, ou seja, tanto a relação causal
quanto a relação cambiária continuam existindo.
Digamos que essa NP foi emitida pelo B (devedor de 200 reais) e o A
esqueceu de cobrá-la. Transcorreram 5 anos e o A lembrou-se daquela NP.
Neste caso, já houve a prescrição. Se o A ingressar com uma ação
cambiária em face do B este poderá alegar que aquele crédito já está
prescrito e desta forma o juiz terá que julgar o pedido improcedente em
razão da prescrição. Entretanto, houve uma compra e venda realizada há 5
anos atrás e houve o enriquecimento do B e um empobrecimento do A.
nada impede que o A proponha uma ação de enriquecimento ilícito em face
do B, tendo como fundamento a relação causal.
Isso está muito claro no art. 48 do decreto 2044/08 e no art. 61 da lei
7357/85. Estes artigos dizem que o credor, mesmo após perder a
possibilidade de ajuizara ação cambiária, pode receber o que é devido
através da ação de enriquecimento ilícito, que é uma ação ordinária que
tem por base a relação causal.
TC representa um valor que pode ser traduzido em dinheiro, mas TC
não é pagamento.
Pergunta de uma aluna: uma vez que o credor perde a possibilidade
de ajuizar a ação cambiária em face do devedor, o credor pode ajuizar a
ação de enriquecimento ilícito contra o avalista?
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Resposta: não, pq neste caso o avalista não enriqueceu ilicitamente.
O avalista apenas garantiu o pagamento sem auferir nenhuma vantagem
naquele TC. Sendo assim a ação de enriquecimento ilícito só pode ser
proposta em face do devedor.
Questão para a próxima aula:
O cheque no direito brasileiro tem curso forçado? É obrigatória a
aceitação do cheque? Qual o dispositivo legal? E se a relação for de
consumo, baseada no CDC? Analise inclusive o art. 39, IX do CDC.
25/11/2004
Respondendo à pergunta que foi deixada na aula passada,
imaginemos a seguinte situação:
Você vai ao posto de gasolina, abastece o tanque do seu carro e na
hora de efetuar o pagamento o frentista te diz que não aceita cheques. O
posto só aceita dinheiro e cartão de crédito. Mas você que é um advogado
apresenta ao frentista o art. 39 IX do CDC. Este dispositivo diz que o
fornecedor de bens e serviços não pode recusar a venda de bens ou a
prestação de serviços diretamente a quem se dispõe a adquiri-los,
ressalvados os casos previstos em lei especial. Este dispositivo do CDC
interpretado literalmente dentro de uma visão coloquial, pode levar ao
entendimento de que a aceitação do cheque como forma de pagamento é
uma obrigação do fornecedor de produtos e serviços. Entretanto, a questão
é controvertida pois o cheque por si só, não extingue a obrigação eis que o
cheque pode não ter fundos. O cheque tem natureza pro solvendo, ou seja,
não extingue a relação causal. Quando o cheque é emitido, não há a
extinção da relação causal. O que extingue a relação causal é o pagamento
com dinheiro em espécie.
Embora o CDC seja uma lei especial, neste caso em exame temos
que analisar também as demais leis especiais que tratam do cheque. O
cheque também possui uma lei especial. Por esta razão, a pergunta
formulada deve ser respondida através da compatibilização das duas leis.
Daí surgiram controvérsias:
27
Com o advento da lei 8002/90 o cheque passou a ter curso forçado
no direito brasileiro, ou seja, não se poderia recusá-lo. No entanto, após a
lei 8884/94, aparentemente o cheque deixou de ter curso forçado, pois o
art. 92 desta lei revogou expressamente a lei 8002/90. No entanto, a
questão tornou-se controvertida.
1a corrente, minoritária, sustenta que o cheque nas relações de
consumo tem curso forçado por força do art. 39, IX do CDC, que considera
prática abusiva a recusa ao consumidor que queira o produto ou serviço e
se disponha a fazer através de “pronto” pagamento.
2a corrente, majoritária, inclusive defendida por Fábio Ulhoa Coelho,
sustenta que o cheque deixou de ter curso forçado por força do art. 92 da
lei 8884/94 que revogou a lei 8002/90 (esta lei 8002/90 determinava que o
cheque tinha curso forçado). Além disso, também se pode acrescentar
outros argumentos à esta posição, 1o argumento: o cheque caracteriza-se
por ser pro solvendo, o que significa que ao emiti-lo não há o pronto
pagamento, pois não se extingue a obrigação principal (ou o negócio
subjacente, ou a causa debend, ou o negócio ao qual o cheque se originou).
Ou seja, não há novação da dívida (art.61 da lei 7357/85); o 2o argumento
está no próprio art. 39, IX do CDC eis que a sua redação foi dada
justamente pela lei 8884/94 que revogou a lei 8002/90, portanto não faz
sentido a lei acabar com o curso forçado do cheque através daquela
revogação e ao mesmo tempo, ressuscitá-lo no CDC.
OBS: não há nenhum dispositivo legal dizendo expressamente que o
cheque não tem curso forçado. Entretanto este é o entendimento da
interpretação das leis 8884/94, art. 92 que revogou a lei 8002/90 que dizia
expressamente que o cheque tinha curso forçado e da lei 7357/85, art. 61
que diz que o cheque tem natureza pró solvendo e, portanto não extingue a
obrigação. Além disso, o próprio art. 39, IX do CDC que se refere ao pronto
pagamento teve a sua redação dada pela lei 8884/94 que revogou a lei
8002/90. Ou seja, tudo leva a crer que a segunda corrente tem razão ao
dizer que o cheque não tem curso forçado e ninguém pode ser compelido à
recebê-lo como forma de pagamento.
28
PRINCÍPIOS CAMBIÁRIOS:
PRINCÍPIO DA CARTUALRIDADE
PRINCÍPIO DA LITERALIDADE
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA (Inoponibilidade de exceções pessoais em
face de terceiros de boa-fé)
PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA
PRINCÍPIO DA ABSTRAÇÃO
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE OU RESERVA LEGAL (questão polêmica)
PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE:
O princípio da cartularidade também é chamado de princípio da
INCORPORAÇÃO CAMBIÁRIA.
Cartularidade decorre de cártula. Cártula é papel.
Alguns autores chamam este principio de Incorporação pq antes do
papel há o direito. E o direito é incorporado ao papel (cártula). Mas na
prática esta distinção é inócua pq ambos significam a mesma coisa.
O Princípio da cartularidade ou incorporação significa que o direito
deve estar incorporado, materializado, representado, corporificado, num
documento formal (em uma cártula) que preencha, obrigatoriamente, todos
os requisitos essenciais previstos na lei para que tenha eficácia cambiária
(art. 887 parte final do NCC c/c a sumula 387 do STJ).
E é justamente por causa do princípio da cartularidade que é
necessário que o documento seja apresentado no seu original ao devedor.
Isto é exigido para que o devedor possa analisar se os requisitos foram
preenchidos, conforme manda a lei. A fotocópia do documento poderia
prejudicar a analise por parte do devedor destes requisitos exigidos.
Para exercer o direito de credito é necessário que o credor apresente
a cártula. É imprescindível que o credor tenha o documento em seu poder
para que ele possa exercer o direito constante no TC.
É possível o exercício do direito de crédito sem que o
credor apresente a cártula, (o documento original)?
Sim, de acordo com o art. 36 do Decreto 2044/1908 que prevê a ação
de substituição de título nominal destruído ou extraviado. O § 3 deste
29
dispositivo prevê a possibilidade de executar o devedor ainda que o credor
não possua o TC em seu poder. Art. 887 NCC, na palavra documento
façam remissão ao art. 36 do Decreto 2044 para que vocês saibam que
existe esta ação de substituição de TC.
O art. 36 do Decreto 2044/08 é uma exceção ao P. da
Cartularidade.
O art. 82, §1 da LF (DL 7661/45) prevê outra hipótese de
substituição dos TC, ou seja, é outra exceção ao principio da cartularidade.
Na habilitação do credor na falência, se o título onde se fundamenta o seu
crédito estiver instruindo um outro processo, o credor não precisará retirar
o TC daquele outro processo para poder se habilitar na falência. O credor
vai pedir uma certidão àquele juízo onde tramita o outro processo e esta
certidão irá substituir o TC na habilitação na falência. A certidão vai
substituir o TC e com base naquela certidão o credor vai poder exercer o
seu direito de crédito na da habilitação na falência. Art. 887 NCC, na
palavra documento fazer remissão ao art. 82, §1 LF.
O art. 21, §3 da lei 9492/97 prevê o protesto por indicação. Este
artigo 21 revogou o art. 13 §1 da lei das duplicatas (lei 5474/68). O protesto
por indicação é uma outra exceção ao princípio da cartularidade.
A duplicata é uma ordem de pagamento. A duplicata é um TC causal
que só pode ser emitido se houver uma compra e venda de mercadorias ou
a prestação de serviço. a emissão da duplicata pressupõe o aceite. O aceite
é a aceitação da ordem de pagamento. Se aquele que recebe a ordem de
pagamento, emite o aceite, ele está dizendo que reconhece a obrigação de
pagar aquele valor. Na duplicata o sacado recebe o TC para aceitá-la ou
para devolvê-la. Caso o sacado não devolva a duplicata, haverá a retenção
da mesma e o credor não terá aquele TC em seu poder. Neste caso caberá
o protesto por indicação.
Para que vocês entendam melhor esta sistemática, vou falar um
pouco da Letra de Câmbio para depois voltar para a Duplicata.
A LC também é uma ordem de pagamento. A (Sacador) dá uma
ordem de pagamento para B (sacado) para pagar C (credor). Por exemplo,
o B deve 100 reais para o A e ao mesmo tempo A deve 100 reais para C.
30
Ou seja, A é, ao mesmo tempo, credor de B e devedor de C. A não tem
dinheiro, mas tem um crédito, eis que B lhe deve 100 reais. Então A resolve
mandar B pagar ao C aquele valor de 100 reais. Para tanto, A emite uma
LC, ou seja, A dá uma ordem de pagamento ao B para que pague ao C.
Esta LC fica na posse do C. Antes do vencimento o C terá que
apresentar a cártula ao sacado B. Se B assinar aquela cártula ele assume a
obrigação de pagar. Se ele não assinar ele não assume obrigação nenhuma,
pois quem não assina, em regra, não se vincula. O B não é obrigado a
assinar aquela LC, ele não é obrigado a se vincular àquela obrigação
cambiária. A relação jurídica do B é com o A, logo, ele não pode ser
obrigado a aceitar (assinar) aquela LC.
Pode acontecer também do C apresentar a LC ao B e ele pedir um
prazo de 24 horas para pensar se irá aceitar ou não aquela LC. Isso é
chamado pela doutrina de prazo de respiro. Durante este prazo de respiro a
LC fica na posse do B que por sua vez resolve não devolvê-la ao C, retendo
a LC. Sendo assim, de acordo com a regra geral, o C não poderá cobrar
aquela LC pq ele não está no poder da cártula.
Para tentar evitar os casos de retenção indevida, a lei procura
regularizar esta questão.
De acordo com o art. 9 da LUG o C poderá cobrar do A (devedor
principal) desde que prove que B reteve a LC indevidamente (sem
autorização). E isso se faz através do chamado PROTESTO POR FALTA DE
DEVOLUÇÃO.
O Protesto por falta de devolução se faz através da 2a via da LC. Na
LC não existe a figura do protesto por indicação.
O protesto por falta de indicação é instituto da duplicata.
Exemplo: As Lojas Americanas compram mercadorias da Estrela S.A.
Trata-se de um contrato de compra e venda de 1000 bonecas no valor de
500 reais a serem pagos no dia 30/12/2004. As Lojas Americanas devem
dinheiro à Estrela. A Duplicata é uma ordem de pagamento. Ora, se é uma
ordem de pagamento, o credor é quem ordena ao devedor que lhe pague.
Com base na fatura daquela venda a Estrela pode sacar uma duplicata
dando uma ordem de pagamento às Lojas Americanas, que devem 500
reais à Estrela.
31
As Lojas Americanas podem receber as mercadorias e realizar o
aceite expresso, devolvendo a cártula à Estrela.
As Lojas Americanas também podem não receber as mercadorias e
não realizar o aceite, justificando o porquê. Por exemplo, as Lojas
Americanas podem não receber as mercadorias ao argumento de que as
bonecas vieram quebradas e sendo assim não aceitarão aquela ordem de
pagamento constante na duplicata. Qualquer divergência na relação causal
pode ser uma justificativa para o não recebimento das mercadorias, na
forma do art. 8 da Lei das Duplicatas e no prazo do art.7 da mesma lei.
Neste caso, as Lojas Americanas não serão devedoras da Estrela pq ela terá
justificado o não recebimento das mercadorias e não terá assinado a
duplicata.
As Lojas Americanas ainda podem receber as mercadorias e reter
“indevidamente” a duplicata. Se as Lojas Americanas retivera a duplicata,
ela terá que utilizar-se do art. 21, §3 da lei 9492/97. Este artigo trata do
PROTESTO POR FALTA DE DEVOLUÇÃO.
O protesto por falta de devolução da LC é diferente do protesto por
falta de devolução da duplicata.
Na LC o protesto por falta de devolução se faz através da 2a via da
LC.
Na duplicata o protesto por falta de devolução se faz por INDICAÇÃO.
Ou seja, a retenção indevida da duplicata se comprova através das
indicações das características da duplicata retida, comprovando a relação
jurídica causal que deu origem à emissão da duplicata. Com a
comprovação da entrega da mercadoria, e com o instrumento do protesto,
a Estrela poderá executar as Lojas Americanas. A indicação das
características possui a presunção relativa da verdade existente na
duplicata. Nada impede que as Lojas Americanas provem que a estrela
realizou indicações de características inexistentes na duplicata.
Na verdade o protesto por indicação é uma sub-espécie do protesto
por falta de devolução, com a peculiaridade de que o protesto por indicação
é próprio da duplicata retida indevidamente. No art. 21, §3 da lei 9492/97
sublinhem “indicações da duplicata” para saberem que o protesto por
32
indicações é próprio das duplicatas e que na LC o protesto por falta de
devolução se faz através da 2a via da LC.
PROTESTO POR INDICAÇÕES É uma modalidade de protesto
especifico para as duplicatas, configurando um ato do cartório,
extrajudicial, solene e público, realizado pelo credor e instrumentalizado
pelo oficial do cartório, que tem por finalidade comprovar a falta de
devolução da duplicata retida indevidamente pelo sacado, consistindo no
apontamento pelo credor das características que continha a duplicata
retida indevidamente, devendo o credor provar a relação jurídica causal, eis
que a duplicata é TC causal. Portanto, o protesto por indicações é uma
especificidade, ou seja, uma forma de se fazer o protesto por falta de
devolução na duplicata. Este protesto acarreta uma presunção relativa, iuris
tantum, de veracidade quanto às características apontadas pelo credor,
ensejando uma inversão do ônus da prova, ou seja, o sacado é que terá que
desconstituir as indicações das características apontadas pelo credor.
Outra exceção ao Princípio da Cartularidade está no art. 17 da
Medida Provisória 2160-25/2001. Art. 887 NCC, na palavra documento
façam remissão ao art. 17 da MP 2160-25/2001.
Cédula de credito bancário (cujo conceito está no art. 1 desta MP)
admite o protesto da própria cártula ou o protesto da fotocópia da cártula,
na forma do art. 17 da MP 2160-25/01.
Outra exceção à cartularidade das os TÍTULOS VIRTUAIS
previstos no art. 889, §3 do NCC.
No art. 889, §3 fazer remissão ao art. 223, PU, do NCC, ao art. 8 e
ao art. 21, §3 da Lei 9492/97, remissão também ao art. 19 da Lei 5474/68;
ao art. 1102-A do CPC e ao art. 618, I do CPC c/c art. 585, I do CPC.
Os TC virtuais são aqueles emitidos a partir de caracteres criados por
computador ou meios técnicos equivalentes, exigindo-se no mínimo, os
requisitos do art. 889, caput do NCC.
33
Para visualizar um titulo virtual, vamos imaginar a seguinte situação
hipotética:
A Estrela e as Lojas Americanas celebraram contrato de compra e
venda. Ambas possuem conta corrente no banco ITAÚ. Nada impede que
Estrela emita uma duplicata virtual. Esta duplicata será sacada
virtualmente através do computador e neste caso, as Lojas Americanas
receberão uma senha previamente ajustada para que emitam o aceite. As
Lojas Americanas aceitam a duplicata virtual e assim se obrigam a pagar. A
possibilidade de existir um TC virtual é inquestionável. O problema está no
litígio versando sobre um título virtual pq estes TC não possuem a cártula.
Se a Estrela emitisse uma duplicata do modo tradicional, através de
uma cártula, e as Lojas Americanas aceitassem a duplicata e não a
pagasse, a Estrela poderia ingressar com uma ação de execução em face
das Lojas Americanas, fundamentando esta ação com a duplicata aceita e
não paga.
No caso de uma duplicata virtual, o aceite é feito através de uma
senha e uma simples senha não é hábil para fundamentar uma ação de
execução. Por esta razão, é necessário que exista uma reforma na
legislação cambiária de modo que se permita a execução de um TC virtual
sem a cártula. O art. 887 NCC traz o fenômeno clássico de Vivant e dispõe
sobre a cartularidade. Concomitantemente ao art. 889, §3 o NCC traz o art.
223, PU que diz que a prova não supre a ausência do TC. Então, ao mesmo
tempo em que o NCC admite os TC virtuais no art. 889, §3 ele exige a
demonstração do TC no art. 223, PU. Ou seja, estes artigos são
contraditórios pq o TC virtual não possui a cártula e assim, não pode ser
juntado aos autos de um processo. Por esta razão, o professor acha que
deve haver uma mudança na legislação.
5a aula
02/12/2004
PRINCÍPIO DA LITERALIDADE:
O TC se manifesta, se expressa pelo seu conteúdo literal. Isso
significa que o direito de crédito corresponde àquilo que estiver escrito na
cártula. Por esta razão que o aval parcial, precisa ser colocado na cártula,
34
literalmente, pois se o aval não descrever o valor parcial que está
avalizado, entender-se-á que o valor total do crédito foi avalizado.
A primeira afirmativa que decorre do principio da literalidade é a
seguinte: “Vale o que estiver escrito na cártula, no documento. O
que não estiver escrito no título não está no mundo cambiário”.
Esta afirmativa existe justamente para dar segurança às relações
cambiárias.
A segunda afirmativa que decorre do princípio da literalidade é que:
“Em princípio, para se vincular à relação jurídica cambiária, ou
seja, para se tornar devedor cambiário, em regra, é necessário
assinar na cártula, portanto, em princípio, todas as assinaturas são
úteis.”. Esta afirmativa é importante pq a assinatura no TC atesta a
manifestação de uma vontade. A lei determina que o aval deve ser feito
através da assinatura do avalista No verso ou no anverso do TC (art.898
NCC) e o endosso deve ser feito com a assinatura no verso do TC (art. 910,
§1 do NCC). o art. 898, §1 do NCC diz que para o aval ser válido basta a
simples assinatura do avalista no anverso (face) do TC. Se o aval estiver no
verso do TC ele deve indicar a intenção do assinante de ser avalista para
que esta assinatura não se confunda com a assinatura dos endossantes que
também devem assinar no verso do TC.
A regra geral é que não é possível cobrar de quem não assinou o TC
assim como não é possível cobrar parcela que não conste na cártula.
EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA LITERALIDADE:
Excepcionalmente é possível cobrar de alguém que não assinou a
cártula assim como é possível cobrar uma parcela que não consta na
cártula.
Para saber as exceções, combinar no Art. 887 do NCC onde está a
palavra literal, fazer remissão ao art. 15,II da lei 5474/68; ao art. 7, §1 e
art.9, §1 da lei 5474/68; art. 29, 2a alínea da LUG; art.7 da MP 21060-25/91.
E combinem também a palavra literal com a sumula 248 do STJ.
A primeira exceção está no art. 15, II da Lei da Duplicata (LD) que
trata do aceite tácito, ficto ou presumido.
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Na duplicata o sacador é o credor (vendedor das mercadorias) que dá
uma ordem de pagamento ao sacado (devedor e comprador das
mercadorias). O aceite ordinário é aquele em que o devedor aceita a
duplicata e a devolve ao credor. Pode acontecer do devedor não aceitar a
duplicata justificando a falta de aceite de acordo com art. 7 e 8 da LD e
sendo assim a duplicata perde a sua força executiva tendo em vista que ela
não foi aceita justificadamente. Também pode acontecer do devedor
receber as mercadorias e não devolver a cártula, retendo-a sem
justificativa. Neste caso será possível efetuar o protesto por indicação.
Por fim há a possibilidade do devedor não aceitar a cártula
injustificadamente. Se o devedor devolve a duplicata sem o aceite e sem
nenhuma justificativa para a falta do aceite esta cártula não possui a
assinatura do devedor. Aqui a recusa do aceite é injustificada e o art. 15, II
da lei 5474/68 diz que neste caso, presentes três condições cumulativas há
a presunção do aceite. Ou seja, embora a duplicata não contenha a
assinatura do devedor referente ao aceite, se forem preenchidos os
requisitos todos do art. 15, II da LD o legislador presume o aceite.
Caiu na PGE a seguinte questão: Em que hipótese a duplicata sem
aceite configura Titulo executivo extrajudicial?
Caiu no MP a seguinte questão: A duplicata sem aceite mas que foi
protestada é TC hábil ao requerimento de falência?
Estas questões possuem a mesma resposta: A duplicata é Título
executivo extrajudicial se preencher os requisitos do art. 15, II da LD que
trata do aceite tácito. E sendo Título executivo extrajudicial, esta duplicata
sem aceite mas que preencha os requisitos do art. 15, II da LD é hábil ao
requerimento de falência!!! Isso está na sumula 248 do STJ. Esta sumula
deve ser lida com atenção pq a falta de aceite a que se refere a sumula 248
do STJ é a falta de aceite que preencha os requisitos do art. 15, II da LD. Se
não ocorrer o aceite expresso e não forem preenchidos TODOS os requisitos
do art. 15, II da LD, mesmo protestada, esta duplicata não será hábil para
fundamentar o pedido de falência.
Presentes os três requisitos do art. 15, II da LD, não obstante a falta
de assinatura do aceitante, ele será um devedor cambiário. É uma exceção
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ao principio da literalidade pq embora ele não assine a cártula, ele se
vincula.
A 2a exceção ao principio da Literalidade está no art. 20 CPC e Lei
6899/81. Na ação de execução fundada no TC é possível cobrar os juros, a
correção monetária, despesas judiciais e os honorários advocatícios, que
são parcelas que não constam na cártula mas que podem ser cobradas.
A 3a exceção ao Principio da Literalidade é o aceite por
comunicação prevista no art. 7, da LD.
Exemplo: o Sacador pode contratar um serviço de uma instituição
financeira para que esta cobre a duplicata do devedor. A instituição
financeira vai apresentar a duplicata ao devedor para o aceite e para o
pagamento. O art. 7, §1 da LC trata da comunicação do aceite ou aceite por
comunicação. Desta forma, quando a duplicata é apresentada ao devedor,
este poderá retê-la ate a data do vencimento desde que comunique por
escrito à Instituição Financeira que aceita aquela duplicata. Neste caso, se
o devedor reteve a cártula, haverá o aceite por escrito em um documento
que não é a cártula. Aqui há uma exceção à literalidade pq o aceite
constará em outro documento diferente da cártula. Sublinhar no art. 7, §1
da LD as palavras “comunique” e “aceite”.
Outra exceção está no art. 9, §1 da LD que trata da quitação em
separado. Isto significa o seguinte: Quem paga o valor do TC quer o
documento e quer a quitação do credor na própria cártula. Entretanto, o
art. 9, §1 da LD admite a quitação fora da cártula, em documento em
separado.
Outra exceção está no Art. 29, 2a alínea da LUG (Dec. 57663/66)
que trata da desconstituição do cancelamento do aceite.
Exemplo: O Sacado de uma LC aceita o TC e depois cancela (risca) o
aceite e depois desconstitui o cancelamento (conseqüentemente, aceitando
o TC novamente).
A LC só tem uma modalidade de aceite, que é o expresso.
37
EX: Numa LC há o Sacador A, o Sacado B e o credor C.
A é credor de B fora do TC e ao mesmo tempo o A é devedor de C.
Então o A dá uma ordem de pagamento para o B, para que o B pague ao C.
Nesta relação jurídica o B é apenas o Sacado, que recebe a ordem de
pagamento. O B só vai se obrigar a pagar esta LC se ele aceitar pagar este
crédito. Para aceitar o B tem que assinar o título. Então, antes do
vencimento o C vai apresentar a LC ao B para ver se ele aceita. Se o B
aceitar o TC, assinado na cártula, ele se obriga ao pagamento. Se o B não
aceitar, o C terá que executar o A, devedor originário.
Mas também pode acontecer do B querer ficar com a LC por 24 horas
para pensar se vai aceitar ou não aquela LC. Este prazo de 24h é chamado
pela doutrina de “PRAZO DE RESPIRO”. Se no prazo de 24 horas o B não
devolver a LC, o C terá que fazer o protesto por falta de devolução,
realizado na 2a via da LC. Mas também pode acontecer do B assinar a
cártula e aceitar a LC durante este prazo de 24h, e antes de devolvê-la ao
C, o B pode se arrepender de ter aceitado a LC. Arrependido de ter
aceitado a LC o B pode cancelar o aceite (riscando-o) e devolver a cártula
para o C com o aceite riscado e cancelado. Entretanto, depois da restituição
da LC ao C o B se arrepende de novo e aceita aquela LC. Neste caso o B
realizará a desconstituição do cancelamento do aceite.
Isso tudo está no art. 29, 1a alínea da LUG.
Ocorre que se o Sacado, durante o prazo de 24h em que ele estiver
com a LC, informar por escrito que aceita a LC, ele fica obrigado a aceitá-la.
Nos termos do art.29, 2a alínea da LUG. Este aceite por escrito não estará
na LC mas em outro documento. Por isso esta é uma exceção ao principio
da literalidade.
Outra exceção está no art. 7 da MP 21060-25/91 que dispõe que a
garantia do TC pode ser dada fora da cártula. normalmente a garantia da
obrigação vem descrita na própria cártula, todavia a MP 21060-25/91
admite que a garantia seja feita em documento separado.
38
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA:
Questões:
1) Caio credor de uma Nota Promissória, após o vencimento, ajuíza
ação de execução em face de Tício, seu devedor. Tício, após segurar o
juízo, embarga a execução a fim de se defender alegando todas as matérias
possíveis em razão do principio da ampla defesa, face ao exposto no art.
745 do CPC.
a) O embargante está correto?
b) Qual a natureza jurídica dos embargos à execução do art 745?
Resposta: O embargante está errado!!! Nos embargos à execução
fundada em titulo extrajudicial é possível alegar qualquer matéria. Trata-se
de uma ação de conhecimento amplo, na forma do art. 745 do CPC.
Entretanto, é o art. 745 do CPC se aplica à todos os títulos extrajudiciais,
com exceção dos TC informados pela autonomia. O Principio da autonomia
traz consigo seu sub-princípio da inoponibilidade das exceções que diz que
o devedor não pode opor exceções pessoais perante terceiros. Logo, se há
o principio da inoponibilidade das exceções algumas matérias não poderão
ser opostas em face do credor pois a defesa do devedor continua a ser
limitada. A limitação nesta defesa encontra fundamento no principio da
inoponibilidade das exceções e não no CPC.
2) Caio emite uma NP para Tício, que foi endossada para Mévio, tendo
sido avalizada por Paulo, que indicou Caio como seu avalista. Após o
vencimento, tendo havido o protesto, Mévio quis cobrar de Tício e Paulo, tendo
estes pleiteado a aplicação do art. 77, III do CPC, alegando que como são
devedores cambiários, são também solidários. Analise.
Resposta: O art. 77, III do CPC dispõe sobre solidariedade civil e o caso
acima descrito versa sobre a solidariedade cambiária. A solidariedade civil é
diferente da solidariedade cambiária. No direito cambiário, via de regra incide
o principio da autonomia e é justamente este principio que diferencia a
solidariedade cambiária da solidariedade civil. A autonomia é uma
peculiaridade dos TC. Sendo assim, as obrigações constantes na NP são
autônomas e independentes.
39
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA é o princípio segundo o qual as
obrigações cambiárias constantes nos TC são autônomas e independentes, o
que significa que eventuais vícios intrínsecos ou não aparentes existentes
numa obrigação cambiária não contaminam as demais obrigações cambiárias.
Este princípio tem por finalidade a proteção do terceiro de boa-fé, sendo certo
que eventuais vícios de forma (requisitos essenciais legais) não são protegidos
pelo principio da autonomia, o que significa que contaminam as demais
relações cambiárias.
Fundamentos legais: art. 13 da Lei do cheque (lei 7357/85); art. 915 e
916 NCC; art. 17 e 19 da LUG e art. 25 da lei 5474/68. fazer remissão destes
artigos em cima da palavra autônomo do art. 887 NCC.
Normalmente os alunos acham que para o TC ter autonomia ele precisa
circular. Mas isso não é verdade!!!
Exemplo: A emite uma NP para B. Nesta operação existe apenas uma
obrigação cambiária, onde A é devedor de B, e neste caso, realmente não há o
que se falar em autonomia pq aqui existe apenas uma obrigação cambiária.o
que determina a incidência da autonomia não é a circulação do TC mas sim a
existência de mais de uma obrigação constante no TC.
Imaginemos agora que A emitiu esta mesma NP para o B, sendo que C
era o avalista de A. o B não endossou esta NP para ninguém, logo o TC não
circulou, entretanto, neste TC existe mais de uma obrigação cambiária (existe
a obrigação do devedor e a obrigação do avalista). Logo, se existe mais de uma
obrigação cambiária, este TC possui autonomia ainda que ele não tenha
circulado.
Então, lembrem sempre desta afirmativa: O TC terá autonomia
sempre que nele contar mais de uma obrigação cambiária, ainda que
ele não tenha circulado. Para incidir a autonomia o pressuposto é que
se tenha pluralidade de obrigações cambiárias. Não é imprescindível
para incidir o principio da autonomia a circulação do TC, pois pode o
TC circular e ter autonomia assim como também pode acontecer do TC
não circular e continuar tendo autonomia, desde que neste TC haja
mais de uma obrigação cambiária. Inclusive pode acontecer do TC
circular e não ter autonomia.
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Quando se trata do Principio da Autonomia leva-se em conta a relação
jurídica cambiária, ou seja, se consta algum vício intrínseco nesta e não a
relação jurídica causal (relação extra-cartular, ou causa debend, ou negócio
subjacente, ou negócio fundamental). O Principio da autonomia não se
relaciona com a causa que deu origem ao TC.
No Princípio da autonomia, as obrigações cambiárias são autônomas e
independentes. Eventuais vícios intrínsecos em uma relação cambiária não
contaminam as demais relações cambiárias do TC.
Em incidindo o principio da autonomia tem-se como corolário a
INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES (defesas) PESSOAIS EM FACE DO PORTADOR
DE BOA FÉ. Como as obrigações cambiárias são autônomas, um determinado
devedor cambiário ao ser executado não pode embargar a execução alegando
toda e qualquer matéria de defesa, conforme preceitua o art. 745 do CPC, mas
apenas pode alegar defesas pessoais suas, com aquele exeqüente. Conclui-se
portanto, que o princípio da autonomia, e conseqüentemente da
inoponibilidade de exceções pessoais, acaba por excepcionar o art. 745 do CPC
pois torna a cognição nos embargos à execução, limitada ou restrita.
O principio da autonomia limita a cognição dos embargos à execução eis
que não permite que qualquer matéria seja oposta ao credor de boa-fé. As
defesas pessoais de terceiros não podem ser opostas pelo embargante. EX:
Tício, portador de um TC executa Y, que é o avalista de Caio. O Caio é devedor
daquele TC pq João ameaçou matá-lo caso ele não assinasse o TC. O Y não
pode opor defesas pessoais de Caio para escusar-se do pagamento, alegando
que Caio foi coagido. O Y só poderá opor as suas próprias defesas pessoais (se
houverem) pq as obrigações cambiárias são autônomas. O fato de Caio ter sido
coagido não pode ser oposto por Y pq esta é uma defesa pessoal do Caio que
só pode ser oposta pelo próprio Caio.
Pergunta para casa: João, casado com Maria, celebra com o Banco
ITAÚ conta corrente conjunta com a sua mulher, estabelecendo solidariedade,
41
sendo que as assinaturas poderão ser isoladas, ou seja, a mulher tem o
talonário dela e o marido tem o talonário dele. Maria, emite dezenas de
cheques pós-datados para seu deleite pessoal, os quais são devolvidos por
falta de fundos. Os credores ajuízam ações cambiárias em face dos correntistas
com fundamento no art. 51 da lei 7357/85. Pergunta-se: Se João ficar
insatisfeito juridicamente, poderá se valer de que instrumento? Os credores
poderão executar ambos os correntistas?
6a aula
09/12/04
Vamos deixar para responder a pergunta deixada para casa mais adiante.
Agora vamos estudar mais um pouco do principio da autonomia.
Para falar em autonomia teremos que analisar o instituto do endosso,
ainda que, por ora, seja de maneira superficial.
Nós vimos na aula passada que o TC não precisa circular para ter
autonomia.
Pode acontecer de um TC não circular e ainda assim ter autonomia, basta
penar na relação do avalista do devedor em relação ao credor. o avalista tem
uma relação cambiária autônoma em relação ao credor. Há autonomia nesta
relação entre avalista e credor, mesmo que o TC não tenha circulado através
de endosso. Entretanto, uma vez que o TC circula através do endosso
tempestivo, ele automaticamente terá autonomia.
A cessão de crédito, que é um instituto do direito civil, também permite
que o TC circule, entretanto, a cessão de crédito não confere ao TC o efeito
purificador, corolário da autonomia. O endosso intempestivo é uma cessão de
crédito que não produz o efeito purificador. A cessão de credito garante apenas
a existência do credito, mas não garante o pagamento. A cessão transfere um
direito derivado onde o cedente transfere ao cessionário exatamente o mesmo
direito que ele (cedente) possuía. Sendo assim, eventuais vícios são
transmitidos, eis que o direito transferido é o mesmo e não é purificado.
Em regra o endosso produz dois efeitos: o endossante ao realizar o
endosso garante não só a existência da obrigação como também garante a
solvência da obrigação.
42
Quem endossa garante a existência do crédito e o seu pagamento. Este é
o efeito purificador do endosso.
EX: A (devedor principal) emite um TC ao B que o transfere ao C . Quando
B endossa esse TC para o C ele garante que o crédito existe e que será pago.
Uma vez que chega a data do vencimento o C vai procurar A (devedor
principal) para pagar. Se A não pagar voluntariamente, C pode executar o A,
assim como também pode executar o B desde que C prove para B que o A não
pagou. Esta prova é o protesto. Por fim, o C também tem a opção de executar
A e B, que são devedores solidários, sendo que neste caso, o protesto
continuará sendo necessário para executar o B.
O garantidor do endosso está no art. 21 da lei do cheque, no art. 15 da
LUG, art. 25 da LD. Estes artigos devem ser combinados com o art. 914 e 903
do NCC.
O art. 914 do NCC diz que o endossante não garante o pagamento.
Entretanto, o art. 903 do NCC diz que o NCC só será aplicado quando não
houver lei especial dispondo em contrário. Desta forma aplicam-se as leis
especiais e a regra geral é a de que o endossante garante o pagamento.
O endosso tem efeito purificador. Isto significa que o endossante não
transfere para o endossatário um direito que o endossante tinha. Quando
ocorre o endosso, o endossante transfere ao endossatário um direito novo,
puro. Se houver algum vício intrínseco no TC este vício não será transmitido ao
endossatário. Apenas os vícios extrínsecos são transmitidos.
O aspecto processual da autonomia é o princípio da inoponibilidade das
exceções pessoais em face de terceiros de boa-fé.
PRINCÍPIO DA INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS EM
FACE DE TERCEIROS DE BOA-FÉ art. 17 LUG.
Uma vez vencido o TC o credor vai executar o devedor. O devedor por
sua vez, pode embargar a execução. Estes embargos à execução são uma
ação de conhecimento e podem versar sobre vícios extrínsecos assim como
podem versar sobre matérias pessoais existentes entre o executado e o
exeqüente.
43
Sob o aspecto processual é preciso analisar com muito cuidado o art. 745
do CPC que diz que os embargos à execução fundados em título extrajudicial
podem versar sobre as matérias previstas no art. 741 do CPC e quaisquer
outras. As matérias do art. 741 se referem aos embargos à execução, fundados
em título judicial. Em resumo, o art. 741 dispõe que os embargos à execução
fundados em titulo judicial não podem versar sobre qualquer matéria, ou seja,
a lei restringe a matéria a ser alegada em embargos fundados em titulo
judicial. Trata-se de uma cognição restrita. O art. 745 do CPC, entretanto, se
refere aos embargos fundados em título extrajudicial e, nestes casos, o
devedor, embargante, poderá alegar qualquer matéria além das matérias do
art. 741 do CPC. Ou seja, os embargos à execução fundados em titulo
extrajudicial têm cognição ampla.
O art. 745 do CPC é a regra geral, entretanto, esta regra não se aplica aos
Títulos extrajudiciais que a um só tempo forem TC dotados de autonomia.
Se o titulo executivo extrajudicial for um TC sem a presença do
princípio da autonomia, aplica-se o art. 745 do CPC e neste caso a cognição
dos embargos à execução será ampla. Entretanto, se o Título extrajudicial for
um TC dotado de autonomia, a cognição dos embargos será restrita. Havendo
a presença do princípio da autonomia, haverá a aplicação do principio da
inoponibilidade das exceções pessoais. A autonomia purifica as relações
cambiárias, logo, as defesas pessoais de um sujeito não podem ser opostas por
outro sujeito em face de terceiro de boa-fé. EX: B deve 100 reais para C. C é
credor de B e emite um TC de modo que B é o devedor principal de C e A é o
avalista. O TC vence e C executa o A, que é avalista de B. A não pode opor em
seus embargos a defesa pessoal que ele tem em relação ao B para defender-se
da execução de C. Nesta execução movida pelo C, as defesas do A em relação
ao B não pode ser oposta eis que a relação cambiária existente é autônoma.
O principio da inoponibilidade das exceções excepciona o art. 745 do CPC.
Agora, vejamos algumas outras hipóteses:
a) O TC não circula e não tem autonomia:
EX: A emite um NP (promete pagar) para B. B permanece com a NP até a
data do vencimento e uma vez vencido o TC, B executa A. Neste exemplo, o
TC não circulou e não foi avalizado. Este TC ainda não adquiriu autonomia.
44
Neste caso, a defesa do A nos embargos à execução movida por B poderão
alegar qualquer matéria. Neste caso a cognição dos embargos será ampla pq
não incide o principio da autonomia.
b) O TC circula e não tem autonomia.
EX: A emite uma NP para B, que a transfere para C com a cláusula não à
ordem. Uma vez vencida a NP, C executa A. O TC com cláusula não à
ordem circula com efeito de cessão de crédito. A cláusula não à ordem é uma
exceção eis que a regra geral é que o TC circule através de endosso (à ordem).
Uma vez que o TC foi transferido por cessão de credito, é preciso saber que o
cedente não garante o pagamento. O cedente garante apenas a existência do
crédito. Na cessão de redito, o cedente transfere o mesmo direito que ele tem,
não há o efeito purificador do endosso. Sendo assim, se há algum vício na
relação do cedente com o devedor, este vício será transferido ao cessionário.
Neste exemplo, se havia algum vício na relação entre A e B, este vício será
transferido para o C. Quando o C executa A, o A poderá, através de embargos
à execução, opor as defesas pessoais que tiver em relação ao B. Isto é possível
pq não há autonomia nesta relação cambiária. Não havendo autonomia,
também não há inoponibilidade das exceções eis que não ocorreu o efeito
purificador pois a NP circulou através de uma cessão de crédito.
c) O TC não circula, mas tem autonomia:
EX: A emite uma NP para B e C é o avalista. Neste caso o TC não
circulou mas nele existem duas obrigações cambiárias. O aval é um instituto
cambiário, uma relação autônoma. B executa o C. Neste caso, C não poderá
opor as defesas pessoais do A porque as relações cambiárias são autônomas. A
obrigação do avalista é autônoma em relação às obrigações do avalizado, cada
um tem a sua própria obrigação autônoma e independente. O vício de uma não
contamina a outra, logo há autonomia, e há a incidência do principio da
inoponibilidade. A cognição é restrita.
d) o TC circula por cessão de crédito e tem autonomia:
EX: A emite NP em favor de B com cláusula não à ordem. Y é avalista de
A. B cede esta NP para o C. Se houver um vício intrínseco na relação de A com
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B haverá a contaminação e o A ao ser executado, por C poderá, em seus
embargos, opor tais vícios em face de C. Entretanto, se o C executar o Y,
avalista do A, o Y não poderá opor as defesas pessoais do A para eximir-se de
pagar. A relação de Y é uma relação cambiária e sobre ela incide o principio
da inoponibilidade das exceções.
e) TC circula por endosso e não tem autonomia: (Endosso
Póstumo)
EX: A emite uma NP para B que realiza um endosso póstumo para C. A NP
em questão é uma NP à ordem, ou seja, a transferência deste TC se dá através
de endosso. B é o endossante e C é o endossatário. E se há endosso, em regra
é pq há autonomia. Só que como toda regra, esta também sofre exceções. E a
exceção à esta regra é o endosso póstumo.
EX: A emitiu essa NP para o B no dia 06/12/04, com vencimento no dia
07/12/04. B endossou para C no dia 09/12/04, ou seja, após o prazo para o
protesto. O endosso realizado por B para o C é o endosso póstumo, também
chamado de endosso tardio, ou * OBS* “endosso posterior ao vencimento” ou
endosso intempestivo.
O endosso póstumo é aquele em que há a transferência de um
direito após o vencimento e após o protesto ou após o decurso do
prazo para o protesto.
Natureza jurídica do endosso póstumo: Formalmente é um endosso. A
transferência é feita da mesma forma que o endosso (através da assinatura no
verso do TC) de acordo com o art. 910, §1, parte final do NCC.
Substancialmente, ou na essência, o endosso póstumo produz efeitos de
cessão ordinária de crédito. *OBS* Todo endosso póstumo é posterior ao vencimento, mas nem todo
endosso posterior ao vencimento é endosso póstumo. O endosso realizado
após o vencimento, mas antes de expirado o prazo para o protesto é um
endosso verdadeiro, com efeito purificador, um instituto do direito cambiário.
* OBS* Cuidado com a expressão “Endosso Posterior ao Vencimento” pq para o endosso ser intempestivo, não basta que ele ocorra depois do vencimento, ele tem que ocorrer também após o prazo para o protesto ou depois de expirado o prazo para o protesto. VIDE ART. 20 LUG.*
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ENDOSSO # CESSÃO DE CRÉDITO
O endosso é um instituto que diz respeito à TC nominais e à ordem.
O endosso tem autonomia, já que é um instituto do direito cambiário. Se o
endosso tem autonomia ele tem o efeito purificador, ou seja, o endosso
transfere um direito originário, sem vícios intrínsecos.
É diferente da cessão de credito pois a cessão é um instituto civil e não
possui o efeito purificador. Na cessão de credito há a transferência do mesmo
direito. O cedente cede ao cessionário aquele mesmo direito que ele tinha
antes da cessão, com todos os vícios, intrínsecos e extrínsecos.
No endosso, em regra, o endossante garante o pagamento e a existência
do credito.
Na cessão de crédito, o cedente garante apenas a existência do credito,
mas em regra, o cedente não garante o pagamento.
O endosso póstumo em regra produz os mesmos efeitos de uma cessão
de crédito, embora a sua transferência ocorra da mesma forma que ocorre no
endosso comum, verdadeiro.
OBS: O Cheque pode ser protestado durante o prazo para a apresentação.
Esse prazo poderá ser de 30 ou 60 dias, dependendo da praça – art. 33 da lei
do cheque.
Se o cheque for endossado após o prazo para apresentação, haverá um
endosso póstumo. No cheque o prazo para o protesto por falta de pagamento é
o prazo de apresentação – art. 33 da Lei 7357/85 – sendo assim, o endosso
realizado após o prazo de apresentação é considerado endosso póstumo,
produzindo efeito de uma cessão ordinária de crédito – art. 27 da Lei 7357/85.
=>Questão do MP/RJ 2004.
f) TC circula por endosso póstumo, mas tem autonomia:
EX: A emite uma NP em 08/11/2004 para B que endossou a NP para C no
dia 09/11/2004. C por sua vez, endossou para D no dia 13/11/2004 aquela NP,
e D endossou para E esta mesma NP no dia 15/11/04. Y era o avalista do
endossante A. A NP venceu em 12/11/2004.
O E, credor, endossatário, pode cobrar a NP de quem?
Vejam que a questão não fala em protesto. Se não fala, é pq não houve
protesto. Se não houve o protesto, o credor só poderá cobrar do devedor direto
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que é o A. Se não houve protesto, nós não temos nem mesmo que analisar o
fato do ultimo endosso ter sido realizado após o prazo para o protesto ou não,
pq sem o protesto, o único devedor que pode ser acionado, é o devedor direto
A e seu avalista. Ainda que não tenha ocorrido o protesto, o credor poderá
cobrar do avalista do devedor direto. Então, como não houve o protesto, o
credor poderá cobrar do A e do Y pq ambos possuem a mesma posição na
relação cambiária, embora as obrigações sejam diferentes e autônomas. Se o
E executar o Y, ele não poderá opor as defesas pessoais do A para eximir-se ao
pagamento pois a relação cambiária do Y com o A é autônoma.
Agora vamos supor que tenha havido o protesto. Na data certa para o
protesto, o E levou a NP à protesto.
Se houve o protesto, E poderá cobrar de quem? E poderá cobrar de todos
os endossantes? Algum endossante poderá opor defesas pessoais de terceiros?
Vejam bem, dia 09/11/04 houve um endosso tempestivo, pq realizado
antes do vencimento. A NP venceu no dia 12/11/04 que era uma sexta feira. O
primeiro dia útil após o vencimento é o dia em que o protesto foi realizado.
Este 1o dia útil foi o dia 16/11/04 (pq o dia 15/11 é feriado nacional). Sendo
assim, todos os endossos foram válidos e verdadeiros. O E pode cobrar de
todos os sujeitos envolvidos na relação cambiária.
Se o endosso para o E tivesse sido realizado após o prazo para o protesto,
ou seja, se o dia 15/11 fosse dia útil, haveria uma cessão de crédito por se
tratar de um endosso póstumo. Sendo assim, apenas esta relação não seria
dotada de autonomia, razão pela qual, eventuais exceções pessoais existentes
entre o devedor e o cedente (D) poderiam ser opostas em face do E. Mas,
eventuais vícios existentes nas outras relações, jamais poderiam ser opostos
em face do E pq as demais relações cambiárias são autônomas.
Pergunta para casa: Qual a diferença entre endosso póstumo ou cessão
e a cláusula sem garantia?
16/12/04
Endosso sem garantia # endosso póstumo ou cessão de crédito
O endosso póstumo é diferente da cessão de crédito.
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O endosso póstumo, formalmente, é um endosso pq ele é realizado da
mesma forma que o verdadeiro endosso, ou seja, através de uma assinatura no
verso da cártula, nos TC à ordem. Entretanto o endosso póstumo produz os
efeitos de uma cessão de crédito. O endosso póstumo é realizado após o
vencimento e após o prazo para o protesto ou após o protesto. Formalmente o
endosso póstumo é um endosso mas materialmente é uma cessão.
A cessão ordinária de crédito diz respeito à TC nominais, não à ordem.
(art. 11 da LUG)
O endosso verdadeiro, em regra é ao portador e à ordem.
Há diferenças entre o endosso com cláusula sem garantia e o endosso
póstumo ou cessão de crédito. No endosso póstumo assim como na cessão de
credito, os efeitos são idênticos, ou seja, não há a garantia pelo pagamento e
não há o efeito purificador.
No endosso sem garantia, transfere um direito puro, trata-se de um
endosso verdadeiro, com a peculiaridade de que o endossante que colocou a
cláusula “sem garantia” fica desobrigado do pagamento. Esta cláusula é
pessoal e só se aplica ao endossante que a inseriu na cártula. nada impede
que o TC continue circulando através de sucessivos endossos, entretanto, na
hora do pagamento, havendo o protesto, o credor poderá cobrar de qualquer
co-obrigado, menos do endossante que inseriu a cláusula “sem garantia” eis
que este endossante, ao inserir a cláusula sem garantia eximiu-se do
pagamento e não poderá ser acionado na execução.
EX: A emite uma NP (à ordem) para B que endossa tempestivamente para
C. Só que B coloca expressamente na cártula que este endosso é sem
garantia, de acordo com o art. 15 da LUG. Quando o B colocou a cláusula sem
garantia, ele retirou um dos efeitos do endosso que é a garantia do
pagamento. Entretanto, este endosso continua possuindo o efeito purificador.
O endossante apenas não garante o pagamento. A cláusula sem garantia não
se confunde com a cláusula não à ordem. A cláusula sem garantia transfere um
direito purificado, um direito originário, entretanto o credor não poderá cobrar
do endossante B este crédito. Se o C quiser endossar essa NP para o D ele
poderá fazê-lo. E quando houver o vencimento, o D protestará a NP e poderá
executar todos os devedores, com exceção do B. O B não será obrigado ao
pagamento justamente pq ele inseriu a cláusula “sem garantia”. Entretanto, os
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demais sujeitos desta relação cambiária ficarão obrigados. Assim, D vai cobrar
de A. Se o A não pagar, ele poderá cobrar de C.
Endosso com cláusula sem garantia => art. 21 da lei 7357/85; art. 914
NCC; art. 25 Lei da duplicata; art. 15 da LUG.
A diferença entre o endosso com cláusula sem garantia e o endosso
póstumo é que o endosso com a cláusula sem garantia é um endosso
tempestivo e afasta apenas um efeito do endosso que é a garantia pelo
pagamento. O efeito purificador do endosso continua existindo mesmo
havendo na cártula a cláusula sem garantia inserida por um endossante. O
endosso póstumo é um endosso intempestivo que substancialmente é uma
cessão de crédito e afasta ambos os efeitos do endosso, ou seja, o endosso
póstumo não garante nem o pagamento e nem produz o efeito purificador.
O endosso póstumo diz respeito à TC nominais à ordem em que há a
transferência do TC por endosso, porém, tardiamente (após o vencimento e
após o prazo do protesto ou após o protesto) produzindo efeito de uma cessão
ordinária de crédito (garantia da existência mas não do pagamento da
obrigação, bem como não produz efeito purificador). Já o TC não à ordem (cuja
cláusula deve estar expressa na cártula) circula por cessão ordinária de
crédito, produzindo os mesmos efeitos já mencionados.
O TC nominal à ordem circula por endosso, normalmente um endosso
tempestivo, produzindo o efeito garantidor da obrigação bem como o efeito
purificador (arts. 12 e 15 da LUG). No entanto, nesta última hipótese, o
endossante pode, excepcionalmente (art. 15 da LUG), demonstrar ao
endossatário, expressamente na cártula que não garante o pagamento,
bastando colocar a cláusula “sem garantia” ou cláusula equivalente, afastando
apenas um dos feitos do endosso, porém subsiste o efeito purificador,
diferenciando assim, do endosso póstumo e da cessão ordinária de crédito.
ATENÇÃO: Art. 920 NCC “O endosso posterior ao vencimento produz
os mesmos efeitos do anterior”.
Este artigo se for lido sem atenção, pode levar o aluno ao erro.
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Veja bem, o art. 920 do NCC fala em endosso posterior ao vencimento. Ele
não se refere ao endosso póstumo. Todo endosso póstumo é posterior ao
vencimento, mas nem todo endosso posterior ao vencimento é endosso
póstumo eis que após o vencimento ainda há o prazo para o protesto.
Analisando o art. 920 do NCC, pode-se chegar à equivocada conclusão de
que todo endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos que o
endosso realizado antes, ou seja, produz a garantia do pagamento e o efeito
purificador. No entanto, se o endosso for feito após o vencimento e após o
protesto ou após o decurso do prazo para o protesto, ou ainda, após o prazo de
apresentação do cheque (arts. 20 da LUG, art. 25 da LD, art. 27 da Lei do
cheque) produz efeito de cessão. Conclui-se que todo endosso póstumo é
posterior ao vencimento, mas nem todo endosso posterior ao
vencimento é póstumo.
Caio emitiu uma NP para Tício que a endossou para Mévio. Paulo era
avalista. Mévio procurou Cão para o pagamento mas em razão de sua recusa,
Mévio optou por executar Paulo. Paulo, em embargos, defendeu-se alegando
que ele, Caio e Tício são devedores solidários e portanto requereu o
chamamento de Caio ao com fundamento no art. 77, III do CPC. Pergunta: Isso
é possível?
O art. 77, III do CPC permite o chamamento ao processo de todos os
devedores solidários de uma dívida comum. Este artigo, se refere à
solidariedade civil. Entretanto a solidariedade em questão é uma solidariedade
cambiária. Fabio Ulhoa Coelho chama a solidariedade cambiária de sistema de
regressividade. O art. 77, III do CPC não pode ser aplicado à solidariedade
cambiaria porque nas relações cambiárias incide o principio da autonomia.
A solidariedade civil decorre da lei ou do contrato. Nesta solidariedade o
credor poderá cobrar de um e/ou de todos os devedores toda a dívida. Uma vez
que um dos devedores paga a dívida inteira, ele terá o direito de regresso, ou
seja, poderá cobrar dos demais devedores a cota parte que cada um deles
devia. Os devedores são ligados ao mesmo credor através de uma única
obrigação. Se uma obrigação estiver viciada, este vício alcança a todos os
devedores pq as obrigações civis não possuem autonomia. Por exemplo: se a
51
obrigação de pagar a dívida prescrever para um devedor, ela também
prescreverá para todos os outros.
A solidariedade cambiária é diferente da solidariedade civil. Na
solidariedade cambiária há autonomia nas relações jurídicas. Cada devedor
possui a sua própria obrigação. As obrigações cambiárias são autônomas e
independentes. Cada devedor possui a sua própria obrigação. Se houver um
vício intrínseco em uma obrigação cambiária, este vício não será estendido aos
demais devedores. E o vício de uma relação cambiária não pode ser oposto
pelo sujeito que figurar em outra relação cambiária. A solidariedade cambiária
ou, como diz Fabio Ulhoa Coelho, o sistema da regressividade só tem em
comum com a solidariedade civil a possibilidade do credor executar qualquer
um dos devedores ou todos conjuntamente.
É possível ocorrer o chamamento ao processo, de acordo com o art. 77,
III do CPC quando houver devedores solidários em relação à uma dívida
comum. No entanto, a solidariedade referida pelo CPC é a solidariedade
comum, ou civilista, mas não a solidariedade cambiária, que Fabio Ulhoa
Coelho chama de regressividade. Na solidariedade cambiária não se admite o
chamamento ao processo previsto no art. 77, III do CPC pq na solidariedade
cambiária há o principio da autonomia e conseqüentemente, há o principio da
inoponibilidade de exceções pessoais, o que demonstra que cada devedor
cambiário tem a sua própria obrigação que não se confundem com as
obrigações dos demais devedores, pois são autônomas e independentes.
SOLIDARIEDADE CIVIL SOLIDARIEDADE CAMBIÁRIA ou
SISTEMA DA REGRESSIVIDADE
Decorre da lei ou do Contrato Decorre apenas da lei =>EX: art. 914
NCC; art. 51 da Lei do cheque
Não há autonomia. Há autonomia.
Não há inoponibilidade das
exceções pessoais. Uma vez que a
obrigação de um devedor for
viciada, todas as demais obrigações
dos devedores solidários serão
Há a inoponibilidade das exceções
pessoais. Eventuais vícios existentes
em uma obrigação cambiária não
contaminam as demais obrigações
52
contaminadas. cambiárias.
O devedor solidário que paga a
dívida pode cobrar de qualquer
outro devedor a cota parte que for
devida respectivamente. Não há
uma ordem de preferência entre os
devedores solidários. Todos são
devedores de uma cota parte da
dívida e ao mesmo tempo são
devedores da divida toda.
O devedor solidário que paga não pode
cobrar de todos os demais devedores.
Só pode cobrar dos devedores
anteriores à ele. Não pode cobrar dos
devedores posteriores. Sendo assim,
não há o que se falar em cota parte na
solidariedade cambiária. O devedor
que paga ao credor pode cobrar dos
demais devedores a dívida inteira.
Agora vejamos outra questão sobre solidariedade!!!
João, casado com Maria, celebra com o Banco ITAÚ contrato de conta
corrente conjunta com a sua mulher, estabelecendo solidariedade, sendo que
as assinaturas poderão ser isoladas, ou seja, a mulher tem o talonário dela e o
marido tem o talonário dele. Maria, emite dezenas de cheques pós-datados
para seu deleite pessoal, os quais são devolvidos por falta de fundos. Os
credores ajuízam ações cambiárias em face dos correntistas com fundamento
no art. 51 da lei 7357/85. Pergunta-se: Se João ficar insatisfeito juridicamente,
poderá se valer de que instrumento? Os credores poderão executar ambos os
correntistas?
A resposta desta pergunta está no principio da literalidade!!!!
O art. 51 da lei do cheque diz que todos os obrigados respondem
SOLIDARIAMENTE.
A questão diz que a Maria emitiu os cheques para o seu deleite pessoal.
Se a Maria emitiu os cheques, ela quem assinou o título. Se no cheque só
há a assinatura da Maria, ela é que é a obrigada eis que vigora o principio da
literalidade. João não assinou nada, logo ele não se vinculou. Se João tivesse
assinado a cártula ele estaria obrigado ao pagamento.
Se João está sendo executado em razão das dividas contraídas por Maria,
ele poderá opor embargos de terceiro pq a execução deverá recair sobre os
bens da Maria, emitente dos cheques. João não assinou os cheques emitidos
por Maria, logo ele não é um obrigado nesta relação cambiária.
53
Se os cheques tivessem sido pagos pelo Banco Itaú e após o pagamento o
banco viesse a executar os correntistas, neste caso sim haveria a solidariedade
e o João responderia. Perante o Banco, a solidariedade contratual da conta
corrente conjunta faria com que Maria e João se obrigassem a pagar. Mas
perante terceiros, credores, portadores do cheque apenas Maria seria obrigada
pq neste caso a solidariedade é cambiária e somente se obriga a pagar o TC
quem nele houver assinado.
A 2a turma do STJ entende que no contrato de conta conjunta somente o
emitente que assina a cártula responderá pelo pagamento perante os credores,
portadores do título. A solidariedade de que se refere o art. 51 da lei do cheque
existe no contrato de abertura de conta corrente. Trata-se de uma
solidariedade civil e não cambiária. Logo, esta solidariedade, por ser
contratual, só pode ser alegada pelo Banco, que celebrou o contrato com os
correntistas. A solidariedade contratual não pode ser alegada pelos credores
que receberam o cheque pq o cheque é um TC e as relações jurídicas à ele
referentes são relações cambiárias onde vigora o principio da literalidade.
Somente quem assina na cártula poderá ser executado.
PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA:
O principio da independência significa que os TC são independentes,
ou seja, eles não precisam de nenhum outro documento para que eles
existam. EX: uma LC quando é emitida ela poderá fundamentar uma
execução independentemente da existência de qualquer outro documento.
Mas existe exceção:
As Duplicatas da Lei 5474/68 são exceções ao princípio da
independência. As duplicatas de compra e venda e as duplicatas em
decorrência de prestação de serviço são TC causais.
A compra e venda de produtos rurais realizado diretamente por um
produtor rural ou por uma cooperativa, pode dar causa à uma duplicata
rural. Este crédito a prazo, pode ser documentado em uma duplicata rural,
que é um TC causal. Entretanto, nada impede que esta compra e venda de
54
produtos rurais seja documentada em uma duplicata comum da lei
5474/68.
A diferença prática entre a duplicata de compra e venda comum e a
duplicata rural está no fato de que o credor da duplicata comum prevista na
lei 5474/68 será um credor quirografário. Já o credor da duplicata rural será
um credor com privilégio. O risco do credor da duplicata rural não receber
o seu crédito é menor do que o risco que o credor da duplicata comum
sofre nos caos de falência eis que os credores privilegiados recebem seus
créditos antes dos credores quirografários.
A outra diferença pratica entre estas duplicatas é que a duplicata
comum depende de uma fatura ao passo que a duplicata rural independe
da fatura. Ao sacar uma duplicata rural, a causa debend deve ser
documentada na própria cártula da duplicata rural.
Lei 5474/68 - Duplicatas comuns
AS DUPLICATAS DA Lei 5474/68 SÃO TC DEPENDENTES PQ
DEPENDEM DA FATURA – Art. 2, §2 da Lei 5474/68.
AS DUPLICATAS DA Lei 5474/68 EXCEPCIONAM O PRINCÍPIO
DA INDEPENDÊNCIA.
As duplicatas são TC dependentes pq dependem da fatura. O numero
da fatura é requisito essencial das duplicatas. A fatura é o “espelho da
negociação”, pq retrata da negociação que deu causa à duplicata. Por isso
se diz que as duplicatas são TC causais. A fatura vai documentar a causa
debend (descriminação dos produtos, o prazo etc...). Para sacar uma
duplicata é essencial que exista uma fatura pq um dos requisitos essenciais
das duplicatas é a indicação na cártula, do numero da fatura (art. 2, §1, II
da lei 5474/68).
Duplicata Rural do DL 167/67 não excepciona o principio da
independência. A duplicata rural é um TC independente.
O art. 48 do DL 167/67 trata dos requisitos essenciais da duplicata
rural. Este artigo não se refere à fatura. Ou seja, a duplicata rural
independe da fatura. A causa debend não precisa ser descriminada na
55
fatura pois o art. 48, VII do DL 167/67 determina que a causa debend venha
expressa na própria cártula da duplicata rural.
No art. 2, §1, II fazer remissão ao art. 48, VII do DL 167/67 para
indicar a diferença.
OBS: Requião diz que é errada a nomenclatura das duplicatas rurais. Ele
diz que a duplicata é uma reprodução da fatura e na duplicata rural não há
fatura, logo ela não poderia ser uma duplicata. A duplicata rural independe da
fatura, embora elas sejam TC causais.
PRINCÍPIO DA ABSTRAÇÃO:
O principio da autonomia se refere à causa debend.
De acordo com o princípio da abstração, uma vez que o TC circula por
endosso, o TC se desvincula de sua causa debend (negócio subjacente,
negocio fundamental ou relação jurídica causal), o que significa que se o
terceiro de boa-fé for cobrar do devedor primitivo, este não poderá se eximir
do pagamento alegando um vício na causa debend, mas tão somente para o
credor originário. Portanto, este princípio acaba inclusive por legitimar causas
ilegítimas, desde que o TC seja colocado em circulação.
Há autores que confundem o principio da autonomia com o principio da
abstração enquanto que outros autores (Fábio Ulhoa Coelho) entendem que o
principio da abstração configura um sub-princípio do Principio da autonomia.
Entretanto, são princípios distintos.
O principio da autonomia pressupõe pluralidade de obrigações cambiárias,
estando relacionado com eventuais vícios intrínsecos porventura existentes em
alguma obrigação cambiária, não se referindo à causa debend. Ademais, não é
imprescindível para incidir a autonomia a circulabilidade do TC eis que um TC
pode ter autonomia mesmo que ele não circule.
O princípio da abstração tem como premissa a circulação do TC, estando
relacionado com eventual defeito (ou vício) na relação jurídica causal.
EXEMPLO: A emite uma NP para B prometendo pagar 100 reais. A NP é
um TC que pode ter qualquer causa. A é o emitente e B é o credor primitivo.
Esta NP está perfeita e preencheu todos os requisitos legais. ao ser executado
56
por B, o A poderá se eximir de pagar aquela NP alegando que o DVD comprado
e que deu origem àquela NP veio com defeito.
Mas suponhamos que o B endossou esta NP para o C. O C recebeu a NP
sem nem mesmo saber qual a causa debend daquela NP. No vencimento, C
procura o A para que este pague o valor descrito na NP. Neste caso, houve
circulação e, portanto, o A não poderá alegar para o C o vício na causa debend
para não pagar. O C não participou da relação causal. Por esta razão que o
principio da abstração acaba por legitimar causas ilegítimas. Neste caso, como
houve circulação por endosso, o A terá que pagar aquela NP mesmo que o
negócio causal tenha vícios.
O Princípio da Abstração e TC causais:
O princípio da abstração se aplica aos TC abstratos, ou seja, aqueles em
que qualquer causa debend pode ensejar a emissão do TC.
EX: o cheque pode ser emitido por uma compra e venda, por uma
prestação de serviço, por uma doação etc... Logo o cheque é um TC abstrato.
O TC causal é aquele que tem uma causa especifica prevista em lei. EX:
duplicata rural.
EXEMPLO:
Lojas Americanas compram mil bolas da Estrela. A Estrela saca uma
duplicata no valor de 300 reais com vencimento para 90 dias. A estrela é a
vendedora do produto e a credora do preço. As Lojas Americanas são as
credoras do produto e devedoras do preço.
As lojas americanas podem fazer o aceite expresso, ou podem não fazer o
aceite, justificando o vício na causa debend. O art. 7 da LD diz que é possível
que o sacado justifique a falta de aceite alegando algum vício na relação
causal.
Ocorre que a duplicata pode ser endossada.
Se a Estrela endossar para X antes da apresentação para o aceite, as
Lojas Americanas, devedoras do preço, não poderão alegar para o X o vício na
relação causal eis que neste caso, o TC terá circulado e uma vez que o TC
circula, ele se torna abstrato.
Há quem sustente que o principio da abstração está relacionado com os
TC abstratos. Pontes de Miranda, acertadamente, prevê que o principio da
57
abstração também é aplicável aos TC causais, que são aqueles que têm causas
específicas previstas na lei, bastando que o TC venha a circular. É o que ocorre,
por exemplo, na duplicata em que o sacado pode alegar o vício na causa para
o sacador (credor primitivo ou originário) atendendo aos arts. 7 e 8 da LD.
Porém, se o TC causal circular, quando terceiro de boa-fé for cobrar do
aceitante, este não poderá alegar eventual defeito na causa debend.
PRINCÍPIO TIPICIDADE:
O principio da tipicidade também é conhecido como principio da
LEGALIDADE ou principio da RESERVA LEGAL.
Aqui se faz necessário a mesma idéia que nós temos de tipicidade penal.
É a mesma noção do direito penal, aquela de que somente há crime se houver
lei que o defina, então, da mesma forma, somente há título de crédito se
houver lei prevendo.
Embora nem todos os autores comentem este princípio, os títulos de
crédito são numerus clausulus, ou seja, são taxativos. Só vai existir um título
de crédito se houver previsão legal, ou um ato normativo com força de lei,
exemplo Medida Provisória, por exemplo, a MP 1925 que criou a cédula de
crédito bancário.
A tipicidade dos TC deve ser verificada através do ato normativo que o
criou. Somente a lei ou algum outro ato normativo com força de lei poderá
criar um TC. Uma portaria ou uma resolução não poderão criar título de crédito,
pq estes não possuem força de lei.
13/01/2005
DECLARAÇÕES CAMBIÁRIAS:
Podemos conceituar as declarações cambiárias como sendo
manifestações unilaterais de vontade inseridas no título de crédito.
58
Justamente em razão dos princípios da autonomia, inoponibilidade das
exceções pessoais, estas declarações não tem natureza de contrato, nem de
declaração bilateral, mas sim declaração unilateral de vontade. Sendo
assim, na emissão do TC, no endosso, no aceite, no saque e no aval se estará
fazendo uma declaração unilateral.
PERGUNTA: Em qual momento surge a obrigação cambiária? Em que
momento a pessoa fica obrigada no título de crédito, é somente quando assina
ou é quando o título sai de suas mãos e é colocado em circulação?
Por exemplo, se A emite uma NP e a guarda em seu armário para depois
entrega-la a alguém, neste caso estará constituída a obrigação cambiária ou
será necessário que o título tenha saído de suas mãos voluntariamente? E se
alguém pegar escondido este título, o emitente será ou não devedor do título?
Em outras palavras, em que momento surge a obrigação cambiária será com a
simples assinatura do título ou é com a assinatura mais a saída voluntária de
suas mão?
Há duas teorias. O CC/16 gerava controvérsia e o NCC trouxe a mesma
redação, logo, a controvérsia continua existindo!
TEORIA DA CRIAÇÃO: A obrigação cambiária surge com a simples
assinatura na cártula, não importa se a saída do título das mãos de quem o
assinou foi de forma voluntária ou involuntária. Se alguém pegar o título, o
emitente é obrigado a pagar.
TEORIA DA EMISSÃO: A obrigação cambiária não surgirá apenas com a
assinatura, que é muito importante já que é um requisito essencial do TC.
Porém, não basta à assinatura, porque a obrigação cambiária surge com a
assinatura + (mais) a saída voluntária por parte do subscritor.
No Direito brasileiro há controvérsia porque nós temos dois artigos e
cada um adota uma teoria:
- Art. 896 NCC – De acordo com este art. 896, do NCC, a simples
assinatura já gera a obrigação cambiária. Este artigo adotou a teoria da
criação. E ainda o art. 905, e seu PU dispõem que o portador tem direito à
59
prestação indicada no TC mediante a sua simples apresentação, mesmo que o
TC tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente.
- Art. 909 NCC – Se o TC sair das mãos do proprietário de forma
involuntária, porque perdeu ou extraviou o título, ele poderá se recorrer do
Judiciário para impedir que haja o pagamento deste título (que saiu de suas
mãos de forma involuntária). Logo, este artigo quer nos dizer que o TC tem que
sair (circular) de forma voluntária das mãos do emitente, adotando a Teoria da
Emissão.
Cada artigo adota uma teoria pq repetem o CC/16, que no art. 1506
tratava da teoria da criação e o art. 1510 que tratava da teoria da emissão,
então a controvérsia de antes permanece no NCC, então eu pergunto, o que o
direito brasileiro adotou?
1ª corrente: Rubens Requião – Entende que se temos dois artigos
versando sobre duas teorias diferentes, é pq o Brasil não optou em escolher
entre uma e outra. A legislação brasileira ao elencar as duas teorias optou por
adotar as duas, tanto a da criação como da emissão.
2ª corrente: Predominante - Todo o resto da doutrina entende que o
Brasil adotou a Teoria da Criação, ou seja, a obrigação constante no TC nasce
com a simples assinatura, de acordo com art. 896 e 905 § único do NCC. Ou
seja, a priori o Brasil adota a teoria da criação, e sendo assim, se surgir a
obrigação ela será devida independentemente do fato do TC ter circulado
voluntariamente ou não. Já o art. 906 NCC exige a intervenção do judiciário nos
casos em que o proprietário for injustamente desapossado do TC. a doutrina
majoritária entende que para ser aplicada a teoria da emissão é necessário a
interferência do poder judiciário.
Se isso for perguntado em prova, com certeza o examinador vai querer
ouvir as duas posições.
TÍTULOS DE CRÉDITO IMPRÓPRIOS
O TC representa um direito. Que direito é representado no TC?
60
Nós vimos que existem TC próprios e existem TC impróprios e nós vimos
também que a palavra crédito provém de um conceito econômico. O crédito
caracteriza uma riqueza e o TC propicia a circulação destas riquezas.
TC próprio é aquele que documenta ou representa um direito de
crédito. EX: NP, LC são TC próprios.
O cheque tem natureza controvertida. Nós veremos isso mais a frente. Há
5 posições quanto à natureza jurídica do cheque. Esta polêmica decore da
função econômica do cheque.
TC impróprio é aquele que embora atenda aos princípios
cambiários (cartularidade, literalidade etc..) é considerado um TC
impróprio pq documenta outros direitos que não os direitos de
crédito. EX: conhecimento de depósito, warrant, conhecimento de frete ou
transporte.
Conhecimento de deposito é um TC por força de lei. A lei é que diz que o
Conhecimento de Depósito é um TC. Logo, o conhecimento de depósito é uma
espécie de TC, entretanto este TC se classifica como um TC impróprio. Há
quem entenda que as ações são TC, e estes autores sustentam que as ações
são TC impróprios pq representam um direito social, que é o direito na
participação dos valores da sociedade.
Os TC impróprios possuem atributos cambiários, porém, eles representam
quaisquer outros direitos, mas não os direitos de crédito.
Exemplo: Há TC impróprios que representam o direito de propriedade, tal
como o Conhecimento de Depósito regulado no Decreto 1102 de 1903 e o
Conhecimento de Frete ou Transporte regulado no Decreto 19473 de 1930.
TÍTULOS ARMAZENEIROS:
O Decreto 1102/1903 regula os títulos armazeneiros, precisamente o
Conhecimento de Depósito e o Warrant, os quais estão relacionados com os
armazéns gerais, podendo circular junto ou separadamente, porém, possuem
finalidades distintas. O Conhecimento de Depósito configura um TC
armazeneiro impróprio e representa o domínio, ou o direito de propriedade
61
sobre as mercadorias depositadas nos Armazéns Gerais para fins de guarda e
conservação, o que significa que para negociar as mercadorias (aliena-las)
basta a transferência do TC. Já o Warrant é um TC armazeneiro impróprio que
documenta um direito real de garantia sobre bem móvel (e não documenta a
propriedade), ou seja, o warrant documenta um direito pignoratício. Uma vez
emitido o warrant, as mercadorias depositadas nos armazéns gerais podem ser
dadas em garantia pelo proprietário, para tanto, basta que o proprietário
transfira (endosse) o warrant. (ver arts. 894 NCC e art. 44, I, da LF)
Conhecimento de Depósito – Um empresário recebe uma encomenda
de mercadorias em outubro para vendê-las aos seus clientes na época do
Natal, mas enquanto não chega a época do Natal, este empresário não tem
onde guardar (armazenar) as mercadorias. Então, ele resolve armazenar estas
mercadorias em um depósito, em um armazém. Para que o armazém guarde
as mercadorias o empresário faz um contrato de depósito com o armazém para
que ele guarde e conserve a mercadoria e a restitua ao seu legitimo
proprietário tão logo for reclamada.
Entretanto, nada impede que o armazém entregue a este empresário um
TC, que é o Conhecimento de Depósito. Este TC documenta a propriedade das
mercadorias ali armazenadas. Nada impede que o empresário negocie aquelas
mercadorias endossando o TC (Conhecimento de Depósito). Ao endossar o
Conhecimento de Depósito o empresário estará transferindo a propriedade das
mercadorias armazenadas ao endossatário, sem precisar realizar a tradição
real daquelas mercadorias.
O conhecimento de depósito é um título de crédito emitido pelos
armazéns gerais que tem por finalidade materializar o direito de propriedade
sobre as mercadorias armazenadas (depositadas).
Warrant é um título de crédito impróprio, emitido pelos Armazéns
Gerais e tem por finalidade representar (materializar) um direito real de
garantia que é um direito pignoratício sobre os bens depositados nos armazéns
gerais.
62
O Warrant documenta um direito real de garantia
Nada impede que o TC impróprio seja dado em garantia - penhor. Por
exemplo, imaginemos que aquele empresário do exemplo acima esteja
precisando de um empréstimo. Ele vai até uma Instituição Financeira, realiza
este empréstimo e diz que entregará um Warrant em garantia ao pagamento
daquele empréstimo. O warrant representa uma garantia real e neste caso do
empresário, o warrant emitido estará dizendo que as mercadorias
armazenadas serão dadas em garantia ao pagamento do empréstimo. Isto
ocorre pq a Warrant documenta um direito real de garantia. Trata-se de uma
garantia pignoratícia. É diferente do Conhecimento de Depósito pq este
representa um direito de propriedade.
Warrant é o TC impróprio que pode circular junto ou separadamente do
Conhecimento de Depósito. Ao endossar o warrant não há a transferência da
propriedade, mas há a constituição de uma garantia real sobre as mercadorias
armazenadas.
O Conhecimento de Depósito e o Warrant são títulos armazeneiros, ou
seja, se relacionam com os armazéns gerais e ambos estão regulados no
Decreto 1102 de 1903. Tanto o Conhecimento de Depósito como o Warrant
são TC impróprios, entretanto, se distinguem pq representam direitos
diferentes. O conhecimento de Depósito representa o direito de propriedade ao
passo que o warrant representa uma garantia real.
CONHECIMENTO DE FRETE OU TRANSPORTE é TC impróprio pq não
representa o direito de crédito. Este TC documenta a propriedade de
mercadorias em trânsito.
O conhecimento de transporte está regulado no Decreto 19473/30 e
configura um TC impróprio relacionado com as sociedades transportadoras que
tem por finalidade representar o direito de propriedade sobre as mercadorias
transportadas e objeto de compra e venda a distancia. É um TC que propicia a
tradição simbólica das mercadorias. (ver arts. 894 NCC e art. 44, I LF).
63
OBS: Os títulos que representam valores participativos são polêmicos.
Rubens Requião e Waldiro Bulgarelli entendem que os valores mobiliários,
ações debêntures, partes beneficiárias, bônus de subscrição são TC impróprios,
ao passo que Tavares Borba e Fábio Ulhoa Coelho diferenciam os valores
mobiliários dos títulos de crédito e entendem que são títulos de investimento
(não são títulos de crédito).
TITULOS RURAIS
Os TC rurais estão no Decreto 167/67. Neste decreto há a previsão da
DULICATA RURAL e da NOTA PROMISSÓRIA RUAL.
O credor de uma NP comum é um credor quirografário. Mas a NP rural tem
uma peculiaridade pq o legislador diz que o credor da NP rural é um credor
com privilégio especial. Com a atual LF (DL7661/45) os credores com privilégio
especial recebem seu crédito antes dos credores quirografários. Sendo assim,
o credor de uma NP comum vai receber seu crédito depois do credor de uma
NP rural isto ocorre pq o legislador pretendeu fomentar a atividade rural. Nós
vamos voltar a este tema quando tratarmos da Nota Promissória e da
duplicata.
Pergunta: Estabeleça a diferença entre a NP comum, a NP rural e o
comercial paper.
TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE:
LETRA DE CÂMBIO:
A LC está regulada na LUG (Decreto 57663/66) e no Decreto 2044/08.
A LUG é a Lei Uniforme de Genebra e trata da LC e NP. No seu Anexo I,
que vai do art. 1 ao art. 78, é a verdadeira Lei Uniforme, pois trata das
questões que definem os casos concretos. O Anexo I possui normas essenciais
e normas não essenciais. Ou seja, os paises que aderiram à LUG têm o dever
de aplicar as normas essenciais do Anexo I e as normas não essenciais só
serão aplicáveis nos ordenamentos jurídicos com os quais elas forem
compatíveis. Ou seja, os paises que aderiram a LUG têm a faculdade de fazer a
64
chamada Reserva, e em fazendo a Reserva eles podem optar por aplicar ou
não as normas não essenciais do Anexo I da LUG. Por exemplo, o Brasil pode
reservar-se ao direito de não aplicar uma norma não essencial da LUG em seu
ordenamento interno.
O Anexo II da LUG vai do art. 1 ao art. 23 e trata de questões secundárias,
pq ligados às matérias do Anexo I, em sede de LC e NP.
PERGUNTA: O analfabeto, ou o mutilado, ou o cego podem, diretamente,
constituir uma LC ou uma NP? Fundamente.
No Anexo I, art. 1, nº.8, da LUG diz que a LC deve conter a assinatura do
emitente. e a assinatura é um requisito essencial da LC. Entretanto, a LUG não
regula a hipótese de um mutilado emitir a assinatura. Como solucionar esta
questão?
Bom, para solucionar esta questão é preciso saber aplicar a LGUG.
Em primeiro lugar deve-se ler o preâmbulo da LUG. Na 1ª alínea deste
preâmbulo é dito que “O Presidente da República: .... faz RESEREVA dos arts.
2,3,5,6,7,9,10,13,15,16,17,19 e 20 do Anexo II”.
Em segundo lugar deve-se ler apenas os artigos mencionados no
preâmbulo. Após a leitura destes artigos do Anexo II, deve-se ler os artigos
todos do Anexo I para marcar quais os artigos do Anexo I que podem ser
afastados em razão da Reserva do Anexo II.
Então, de volta ao Anexo I poderemos riscar os artigos do Anexo I que
foram afastados pelo Anexo II ou então podemos ir ao Decreto 2044/08.
Se a LUG for omissa ou se a LUG tiver algum artigo com reserva, aplica-se
o Decreto 2044/08.
Vejamos alguns casos práticos:
Art. 3 do Anexo II sofreu Reserva. Este artigo 3 do Anexo II está nos
dizendo que os paises que aderiram à LUG têm a faculdade de não inserir o art.
10 do Anexo I na sua legislação interna. O Brasil ao aderir à LUG disse em seu
preâmbulo que fazia Reserva ao art. 3 do Anexo II. Ao colocar este art. 3 do
Anexo II no seu preâmbulo, o Brasil disse que não queria aplicar no direito
interno o art. 10 do Anexo I da LUG. Se o Brasil quisesse aplicar no seu
ordenamento interno o teor do art. 10 do Anexo I, ele não teria feito a reserva
do art. 3 do Anexo II. Mas como houve a Reserva, o Brasil não aplica no
65
ordenamento interno o art. 10 do Anexo I. Então, vcs podem riscar o art. 10 do
Anexo I sem nenhum medo. Este art. 10 do Anexo I não se aplica no Brasil pq é
uma norma não essencial.
Art. 9 do Anexo II também sofreu Reserva no Brasil. Este artigo se refere
ao prazo para o protesto por falta de pagamento previsto no art. 44, alínea 3
do Anexo I. Ou seja, o art. 9 do Anexo II consta no Preâmbulo da LUG e este
artigo diz que os paises que aderiram a LUG têm a faculdade de afastar do
ordenamento jurídico a alínea 3ª do art. 44 da LUG. Então, marquem esta
alínea e façam remissão ao art. 9 do Anexo II. Mas não risquem todo o artigo
44 pq mais a frente veremos uma polêmica sobre ele e principalmente, pq o
artigo 9 do Anexo II só afasta a aplicação da 3ª alínea do art. 44 do anexo I.
Nesta 3ª alínea do art. 44 do Anexo I é bom riscar e puxar uma seta para
o art. 28 do DEC. 2044/08 e para o art. 12, §2 da lei 9492/97.
Respondendo à pergunta acima citada:
O art. 2 do Anexo II sofreu Reserva. Este artigo se refere à falta de
assinatura. A LUG não regulou esta matéria e deixou para as Partes que
aderiram à LUG regula-la. E o Brasil regulou esta matéria no art. 1, V do
Decreto 2044/08. Sendo assim, o analfabeto, o mutilado ou o cego poderão
assinar a LC através de seu mandatário especial.
Então, lá no art.1, nº.8 da LUG puxem uma seta e façam remissão ao art.
1, V do Decreto 2044/08 c/c art. 2 do Anexo II da LUG.
PERGUNTA: A LUG pode ser revogada por uma lei interna brasileira? A
LUG, Decreto 57663/66 pode ter a sua incidência automaticamente afastada
por uma lei posterior interna brasileira?
Isso é matéria de direito internacional. E aconteceu situação semelhante
com o cheque. Há uma Lei Uniforme sobre o cheque, que é o Decreto
57595/66. O Brasil aderiu à esta Lei Uniforme do cheque e depois publicou a lei
7357/85 que vem sendo aplicada até hoje em nosso ordenamento jurídico.
1ª corrente: É dominante na doutrina de direito internacional e
defendida por Aroldo Valadão e Celso Albuquerque Melo o entendimento de
que não cabe o afastamento automático do Tratado por lei interna posterior,
66
sendo necessária a prévia Denúncia, que é um instituto de direito internacional
que deve ser utilizado pelo país que produzir lei interna versando sobre a
mesma matéria do Tratado, com o fim de comunicar aos organismos
internacionais o afastamento por seu ordenamento interno da incidência de um
ato normativo originário de fonte legislativa externa.
Em outras palavras, esta corrente entende que nada impede que uma lei
interna afaste um Tratado Internacional, desde que o país informe ao direito
internacional que não está mais aplicando o Tratado, através do instituto da
Denúncia.
2ª corrente: A Jurisprudência do STF é no sentido de que pode ocorrer o
afastamento automático do Tratado Internacional por uma lei interna,
independentemente da prévia Denúncia. Marco Aurélio Melo diz que a
Denúncia é um instituto de direito internacional que não pode vincular de
maneira absoluta o ordenamento jurídico de um país porque se a Denuncia
vinculasse o ordenamento interno, o STF não poderia reconhecer nenhum vício
de constitucionalidade da lei interna antes do aviso prévio (Denuncia). Para
fazer o controle de constitucionalidade o STF teria que fazer também a
Denuncia e não há nenhuma menção na CF que se refira a necessidade do STF
fazer a Denuncia sobre o afastamento do Tratado para poder analisar a
constitucionalidade da lei interna. Além disso, o Tratado, para ser aplicado tem
que passar pelo Congresso nacional e pelo Presidente da República (art. 84 da
CF) e entra no ordenamento vigente com força de lei ordinária. E sendo assim,
deve-se aplicar o art. 2 da LICC que dispõe que a lei posterior afasta a
incidência de lei anterior. A Jurisprudência do STF ainda diz que de acordo com
a CF não há nenhuma supremacia dos Tratados sobre as leis ordinárias que
faça com que os Tratados prevaleçam. Um outro fundamento do STF está no
direito tributário. Para o STF o disposto no art. 98 do CTN não se aplica à esta
questão cambiária pois o Tratado mencionado no art. 98 do CTN tem natureza
de tratado-acordo (tratado-contrato), enquanto que o Tratado analisado nesta
questão tem natureza de Tratado -Lei, tratado-ato normativo.
Decreto 2044/08 LUG - Decreto 57663/66:
67
1) Uma matéria na qual o Decreto 2044/08 é omisso e a LUG regula
aplica-se a LUG.
2) Uma matéria regulada no Decreto 2044/08 e que a LUG é omissa
aplica-se o Decreto 2044/08.
3) Uma matéria regulada tanto no Decreto 2044/08 como também na LUG
aplica-se a LUG pq a LICC no seu art. 2 diz que a lei posterior afasta a lei
anterior.
4) Uma matéria em que o Decreto 2044/08 é omisso e que a LUG regula,
porém com Reserva, ou seja, com a faculdade de não aplicar o dispositivo no
ordenamento brasileiro Neste caso, alguns doutrinadores entendem que
aplica-se a LUG de forma resolutiva, ou seja até que uma lei interna venha a
regular aquela matéria. Para outros, e na opinião do professor, de forma mais
técnica, havendo omissão no Decreto 2044/08 e reserva na LUG, aplica-se o
NCC que é uma norma geral interna e subsidiária. Apenas no caso do NCC
também ser omisso é que aplica-se a LUG com a condição resolutiva de que se
vier lei interna regulando a matéria, esta será aplicada.
5) Decreto 2044/08 regula a matéria e a LUG também regula a mesma
matéria, porém o Brasil fez Reserva, ou seja, reservou-se ao direito de não
aplicar aquele dispositivo. Neste caso há controvérsias. A posição dominante
é que prevalece o decreto 2044/08 que é a norma interna. Isoladamente, Fran
Martins entende que será aplicada a LUG sob condição resolutiva, ou seja, até
que surja uma lei regulando o caso.
6) Decreto 2044/08 é omisso e a LUG também é omissa Neste caso
aplica-se o NCC. Se o NCC também for omisso, aplica-se o art. 4 da LICC e
serão adotados métodos de integração, ou seja, o juiz decidirá o caso de
acordo com os costumes, analogia e princípios gerais de direito.
27/01/2005
LETRA DE CÂMBIO (continuação)
A LC sempre envolve três figuras, que não são necessariamente três
pessoas.
68
Por exemplo, uma pessoa, A, possui duas relações jurídicas. Ou seja, o A é
credor de B e ao mesmo tempo A é devedor de C. Nada impede que o A
unifique estas duas relações jurídicas em um Título de Crédito. E sendo assim,
o A pode dizer ao B que aquele valor que o B deve ao A deverá ser pago ao C.
Ao fazer isso, o A estará dando uma ordem de pagamento ao B. Pela lei esta
ordem de pagamento pode ser a vista ou a prazo.
A dará uma ordem de pagamento ao B (à vista ou a prazo) para que B
pague ao C. Esta ordem de pagamento poderá ser documentada em uma LC
desde que sejam obedecidos os requisitos essenciais do art. 1 da LUG.
Quem dá a ordem de pagamento (Pessoa Natural ou Jurídica) é o
SACADOR.
Quem recebe a ordem de pagamento (Pessoa Natural ou Jurídica) é o
SACADO.
Quem se beneficia com a ordem de pagamento é o BENEFICIÁRIO (ou
CREDOR ou TOMADOR).
Foi dito acima que a LC envolve três figuras sem envolver
necessariamente três pessoas. Isso acontece pq o Sacador dá a ordem de
pagamento ao Sacado. Ao dar a ordem de pagamento, o Sacador assina a LC.
Ao assinar a LC o Sacador se obriga. Mas o Sacado poder receber a ordem sem
aceita-la. Se o Sacado não aceitar a ordem de pagamento, ele não assinará a
LC e, portanto, não se obrigará. Se o Sacado não aceita a LC ele não se torna
um devedor cambiário. Também pode acontecer do Sacador ser o credor da
LC, nesta hipótese, o Sacador dará a ordem de pagamento ao Sacado para que
o sacado pague ao credor que neste caso é o próprio Sacado. Por essa razão é
que a LC tem que ter necessariamente, três figuras, embora nem sempre
exista três pessoas envolvidas.
CONCEITO DE LETRA DE CÂMBIO
LC configura um TC próprio que documenta uma ordem de
pagamento, à vista ou a prazo, feita pelo Sacador (Pessoa Jurídica ou
Pessoa Natural) contra o Sacado (Pessoa Jurídica ou Pessoa Natural), em
favor de si próprio (em favor do próprio Sacador) ou em favor de terceiro
denominado Credor, Tomador ou Beneficiário.
69
Então a LC está entre os TC que documentam uma ordem de pagamento.
(O cheque e a duplicata também documentam uma ordem de pagamento,
embora sejam TC diferentes da LC).
A LC tem necessariamente, três figuras jurídicas originárias. São as figuras
do Sacador (que dá a ordem de pagamento), Sacado (que recebe a ordem de
pagamento) e Tomador (que é o credor originário). Mas nada impede que a LC
tenha figuras derivadas, que figurarão na LC através do aval ou através do
endosso.
IMPORTANTE: O Sacado é uma figura jurídica, sendo um mero recebedor
da ordem de pagamento, mas não é devedor cambiário. O Sacado só se
transformará em devedor cambiário quando ele aceitar a ordem de
pagamento. Antes do aceite, o Sacado não é devedor cambiário. Após o aceite
o Sacado passa a ser Aceitante.
O art. 47 da LUG diz quais são os devedores cambiários na LC. Vejam que
este artigo não menciona o Sacado. O art. 47 se refere ao ACEITANTE. E
aceitante não é o sacado. Uma vez que o Sacado aceita a ordem de
pagamento, ele deixa de ser o Sacado e passa a ser o aceitante. O Sacado não
é devedor cambiário pq ele ainda não assinou a LC. Em razão do principio da
literalidade, para que algum sujeito possa se vincular ao TC, é preciso assinar a
cártula. Uma vez que há a assinatura do aceite, o Sacado se vincula à LC e
passa a ser aceitante.
O Sacado é mero recebedor da ordem de pagamento, não é devedor
cambiário porque ele não está no rol do art. 47 da LUG eis que ainda não
assinou a cártula e em razão do Principio da Literalidade, só são obrigados
aqueles que tiverem assinado na cártula. O Sacado se transforma em aceitante
quando assina a cártula e consequentemente passa a ser um devedor
cambiário, na forma do art. 47 da LUG e em atenção ao Principio da
Literalidade.
Pergunta da Magistratura: O sacado pode ser executado?
Resposta: Não, pois o sacado não é devedor cambiário. O Sacado que não
assina a cártula, não se vincula na relação cambiária. Pode ser que o sacado
seja devedor do Sacador em alguma outra relação jurídica. Neste caso, o
70
Sacador poderá cobrar a sua dívida do sacado, mas em uma ação não
cambiária.
O fato do sacado não ter assinado a cártula, não significa que a LC não
exista.
Pode acontecer do sacado não aceitar a LC e neste caso o credor deverá
demonstrar ao Sacador que não houve o aceite. A demonstração de que não
houve o aceite será feita através do PROTESTO. Nós teremos uma aula só para
falar do Protesto.
No art. 47 da LUG, onde está escrito Sacadores, puxar uma seta e fazer
remissão ao art. 9 da LUG. E onde está escrito “aceitante” puxar outra seta e
fazer remissão aos artigos 21 e seguintes.
O art. 9 da LUG diz que o Sacador é devedor cambiário e garante o
pagamento em duas hipóteses: 1) O Sacador garante o pagamento se não
ocorrer o aceite; 2) O Sacador garante o pagamento se ocorrer o aceite, mas
se não ocorrer o pagamento por parte do aceitante.
Então o Sacador vai garantir o pagamento caso o Sacado se recuse a
aceitar a ordem de pagamento. E o Sacador também garante o pagamento no
caso de ser aceita a ordem de pagamento da LC e após a assinatura do ACEITE
na cártula este aceitante se recusar a efetuar o pagamento da LC.
Em regra, quem faz o aceite é o Sacado. Mas o Sacado não se confunde
com o aceitante. Existe a possibilidade de um terceiro (que não é o sacado)
aceitar a ordem de pagamento. Neste caso, o terceiro será o aceitante e o
devedor cambiário. O Sacado só será devedor cambiário quando ele aceitar a
ordem de pagamento mediante a sua assinatura na LC.
Não há a hipótese do aceite tácito na LC.
Na LC o aceite tem que ser expresso na cártula.
DEVEDORES CAMBIÁRIOS:
Os devedores cambiários são aqueles que podem ser executados em uma
ação cambiária.
71
Há devedores cambiários diretos e devedores cambiários indiretos. Alguns
autores falam em devedores cambiários principais e devedores cambiários de
regresso. Luis Emygdio chama atenção para a diferenciação destas
nomenclaturas eis que um não é sinônimo do outro. Nem sempre o devedor
direto cambiário será o devedor principal, assim como nem sempre o devedor
indireto será sempre o devedor de regresso.
DEVEDOR CAMBIÁRIO DIRETO (DCD) assume que vai pagar o valor do
TC no vencimento. É exatamente o que o aceitante faz quando assina a cártula
da LC. Ele assume a obrigação de pagar no vencimento. O DCD é aquele que
se compromete a cumprir a obrigação cambiária no vencimento.
DEVEDOR CAMBIÁRIO INDIRETO (DCI) é aquele que se compromete a
pagar se o Devedor Cambiário Direto (DCD) não o fizer.
Para saber quem é o DCD é preciso saber quem deverá pagar no
vencimento. Na LC, quem deve pagar no vencimento é o aceitante (art.28
LUG). Se o aceitante não pagar, o credor poderá exigir o pagamento dos DCI
desde que prove a falta de aceite. Esta prova, em regra se faz através do
Protesto. Na falta de protesto, o direito de cobrar dos devedores indiretos
decairá. Para cobrar o pagamento do devedor cambiário direto, não há
necessidade de protesto. Neste caso, o protesto é facultativo. Mas para cobrar
dos devedores indiretos, em regra, há a necessidade do Protesto. Caso o
tomador pretenda executar o DCD e os DCI em um litisconsórcio passivo será
necessária a realização do protesto.
DEVEDOR PRINCIPAL é aquele que pagando o TC, não tem de quem
cobrar aquele valor em ação de regresso. A solidariedade cambiária traz uma
ordem de co-obrigados. Aquele que paga o TC só poderá cobrar em regresso
daqueles sujeitos cambiários que estavam na cadeia cambiária atrás dele. Mas
o devedor principal não tem ninguém atrás dele, logo ele não tem de quem
cobrar o valor do TC em regresso. Uma vez que o devedor principal paga o TC
extingue-se a relação cambiária.
72
DEVEDOR EM REGRESSO é aquele que pagando o TC ainda poderá
cobrar dos devedores anteriores. O pagamento libera quem estiver na frente,
mas cria o direito de regresso dos devedores cambiários que estiverem atrás.
LETRA DE CÂMBIO COM ACEITE
A (Sacador) dá uma ordem de pagamento para B (Sacado) em favor de C
(Tomador / Credor). A tinha um avalista X e B também tinha um avalista Z. O
C apresenta a LC para B aceitar o TC. B assina o TC e passa a ser o Aceitante.
C arruma um avalista Z e endossa a LC para D e D por sua vez, endossa a LC
para E que é o atual credor. Nesta cadeia cambiária há ainda a figura de um
avalista P que não disse quem era seu avalizado. Aqui nós vamos partir da
premissa de que todos os endossos foram tempestivos (pq se a hipótese fosse
endosso póstumo, o endossante não garantiria o pagamento).
Y(avalista de A) Z (avalista de B) X(avalista de C) P (avalista que
não indicou quem é o seu avalizado)
A B C D E
(Sacador) (Sacado) (credor originário)
(endossante) (endossatário)
(Aceitante) (endossante)
(credor / tomador)
( B não pagou a LC)
Neste exemplo acima, quem é ou quem são os Devedores Cambiários
Diretos?
Resposta: B e Z são Devedores Cambiários Diretos.
Por quê?
73
Quando o B assinou a cártula, realizou o aceite expresso e reconheceu
que faria o pagamento no vencimento. Se o B é o aceitante, ele é devedor
cambiário direto.
O Z é o avalista do aceitante e, portanto, ele também é devedor cambiário
direto.
A figura do avalista vai equivaler à figura do avalizado. Logo, o avalista
pode ser Devedor Cambiário Direto ou Indireto, dependendo do avalizado. Se o
avalizado for um DCD o avalista também será um DCD. Se o avalizado for um
DCI o avalista também será um DCI. AVALISTA E AVALIZADO OCUPAM A
MESMA POSIÇÃO JURÍDICA EM UMA RELAÇÃO CAMBIÁRIA. O AVALISTA TERÁ O
MESMO GRAU DE RESPONSABILIDADE QUE O SEU AVALIZADO TIVER. O
AVALISTA É O QUE O AVALIZADO FOR. Entretanto o avalista NÃO tem as
mesmas obrigações que o avalizado eis que as obrigações cambiárias são
autônomas. O avalista tem obrigação equiparada à obrigação do avalizado (art.
899 do NCC).
Pode-se dizer que o avalista tem a mesma obrigação do avalizado?
NÃO!!! O AVALISTA TEM A MESMA POSIÇÃO DO AVALIZASO, O AVALISTA
TEM O MESMO GRAU DE RESPONSABILIDADE QUE O AVALIZADO, MAS NÃO TEM
A MESMA OBRIGAÇÃO DO AVALIZADO. O AVALISTA TEM OBRIGAÇÃO
EQUIPARADA À DO AVALIZADO.
As obrigações cambiárias são autônomas. Dizer que o avalista tem as
mesmas obrigações do avalizado seria o mesmo que negar a autonomia das
obrigações cambiárias. Em razão do principio da autonomia não existem
obrigações idênticas nas relações cambiárias.
O avalista tem a mesma posição jurídica e tem o mesmo grau de
responsabilidade de seu avalizado, mas não tem a mesma obrigação cambiária
do seu avalizado, face ao princípio da autonomia. O avalista tem obrigação
EQUIPARADA à obrigação do avalizado ( art. 899 do NCC c/c art. 32 da LUG).
Neste exemplo acima, não haverá necessidade de Protesto para E cobrar
do Aceitante B, que é devedor direto. Logo também não haverá necessidade
de Protesto para cobrar do Z, avalista do aceitante.
74
O P é um avalista, mas ele não indicou quem ele estaria avalizando. Neste
caso, o P fez um aval em branco. Por que, então, ele é um DCI? Porque está na
lei.
A lei diz que quando o avalista não indica o seu avalizado, presumir-se-á
que ele avaliza o constituidor (criador) do TC. Neste exemplo, quem constituiu
a LC foi o Sacador, que é um Devedor Indireto. Se o P é avalista do criador do
TC, que é um devedor indireto, P será também um devedor indireto.
IMPORTANTE: Quando houver avalista em branco, ou seja, quando uma
pessoa avalizar o TC sem identificar o avalizado na cártula, a lei presume de
forma absoluta (não admite prova em contrário) que o avalizado será o
constituidor do TC.
Art. 30, PU, da lei 7357/85; art. 31 da LUG; art. 77 da LUG. Fazer
remissão destes artigos no art. 899 NCC, parte final.
ART. 30, PU L. 7357/85 o aval sem indicação será presumido que foi dado
ao emitente do cheque. Na LC o aval sem indicação será presumido que foi
dado ao Sacador.
OBS: Na duplicata esta regra não se aplica pq quem constitui a duplicata é
o credor, mas isso nós veremos mais a frente.
Então, voltando ao exemplo acima mencionado, os devedores diretos são:
o aceitante B e o avalista do aceitante, Z.
E QUEM SÃO OS DEVEDORES INDIRETOS?
O devedor cambiário indireto garante o pagamento caso o devedor direto
não pague o TC.
O Sacador A é um devedor cambiário por força do art. 9 da LUG. Ele
garante o aceite e o pagamento. Neste exemplo, como houve o aceite, mas
não houve o pagamento, o Sacador será um DCI.
O P como foi dito acima é avalista do Sacador, na forma do art. 31 da
LUG. LUG, o P é um devedor indireto.
O endossante C e seu avalista X, assim como o endossante D também são
devedores indiretos.
Para cobrar dos devedores indiretos, em regra será necessário o Protesto.
75
QUEM É O DEVEDOR PRINCIPAL?
O Devedor Principal é aquele que pagando o TC não poderá cobrar em
ação de regresso de nenhum outro sujeito da relação cambiária. Se olharmos
para toda a cadeia cambiária acoima veremos que o D é o endossante e
devedor indireto. Se o E protestar o TC, ele poderá cobrar de qualquer devedor
cambiário indireto. Se ele cobrar de D e D ele pagar a LC ele poderá cobrar do
C de B e de A e de seus respectivos avalistas, Y, Z, X e P. Digamos que E
cobre de C. Se o C pagar ele poderá regredir em face de B e A e dos
respectivos avalistas Y, Z e P. O C não poderá cobrar em regresso do D pq
nesta cadeia cambiária, o D está na frente do C.
Digamos que o E execute o avalista de C. Neste caso o avalista de C
poderá cobrar, em regresso, do C, do B, do A e dos avalistas Y, Z e P, mas não
poderá cobrar do D pq este está na frente do C na cadeia cambiária.
Se o E executar o Z e ele pagar, o Z poderá regredir em face do B., mas
se o E executar o B, este devedor cambiário não poderá regredir em face de
ninguém eis que ele é o devedor principal.
Vejam o ponto interessante desta questão: o Z é devedor de regresso
embora seja devedor direto cambiário (porque ele é avalista do B e, portanto
ocupa a mesma posição jurídica, equiparando-se ao seu avalizado B,
entretanto ele possui o direito de regredir contra seu avalizado caso Z efetue o
pagamento).
Por esta razão que não é correto dizer que o devedor direto é sempre o
devedor principal. O avalista do devedor direto também é devedor cambiário
direto embora não seja o devedor principal. O avalista do devedor direto
cambiário é devedor de regresso.
LETRA DE CÂMBIO SEM ACEITE:
Y(avalista de A) X(avalista de C)
A B C D E
(Sacador) (Sacado) (credor originário)
(endossante) (endossatário)
(endossante)
(credor / tomador)
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( B não aceitou a Ordem de Pagamento).
O sacado B não aceitou a ordem de pagamento, não assinou a cártula.
Logo, o B não é devedor cambiário.
Uma vez que a LC não foi aceita pelo B, quem são os devedores
cambiários diretos?
Devedor direto é aquele que assume o pagamento no vencimento. O
Sacador garante o pagamento, na forma do art. 9 da LUG, mas o Sacador não
garante que este pagamento será feito na data do vencimento. Sendo assim,
se o sacador não garante o pagamento no vencimento, ele não pode ser
considerado um devedor direto. Logo, neste nosso exemplo, não há nenhum
devedor direito.
Quem são os devedores indiretos?
Se não há nenhum devedor direto, todos os sujeitos desta relação
cambiária são devedores indiretos. Para executa-los basta protestar por falta
de aceite. É preciso a prova de que a ordem de pagamento não foi aceita. Feita
esta prova, através do Protesto, ocorrerá o vencimento antecipado da LC. Feito
o Protesto, todos os devedores da relação cambiária serão obrigados.
Quem são os devedores de regresso?
São aqueles que podem ajuizar ação de regresso em face dos outros
devedores cambiários. Neste caso são o Y, avalista do A, o endossante C e seu
avalista X, e o endossante D.
Quem é o devedor principal?
O devedor principal é aquele que não tem ação de regresso contra
ninguém. Neste exemplo o devedor principal é o A, Sacador. Uma vez que o A
paga a LC ele não terá ação regressiva contra ninguém. Logo, ele será o
devedor principal.
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IMPORTANTE: Na LC sem aceite, em que não há aceitante, o Sacado é
um nada cambiariamente falando. Ou seja, o Sacado que não aceita a LC não é
devedor do TC.
Na LC sem aceite, o Sacador é o devedor principal, pois pagando o TC não
tem de quem cobrar cambiariamente, de forma regressiva, porém subsiste
como devedor cambiário indireto, cujo Protesto, em regra é necessário.
Portanto, na LC sem aceite não há a figura do devedor cambiário direto.
OUTRO EXEMPLO:
Y (avalista de B - AVAL
ANTECIPADO) .
A B C .
(Sacador) (Sacado) (credor
originário).
(Devedor indireto) (beneficiário /
tomador).
(B não aceitou a Ordem de
Pagamento).
A é o Sacador e dá uma ordem de pagamento ao Sacado B para que ele
pague a LC ao C.
Digamos que quando A entregou a LC ao C, o C exigiu do A um aval
antecipado.
O AVAL ANTECIPADO é aquele que avaliza o Sacado antes mesmo dele
aceitar a LC. O aval antecipado antecede ao aceite.
O avalista tem obrigação cambiária de pagar.
O sacado não tem obrigação cambiária pq não aceitou a LC.
C que é o credor ajuíza uma ação cambiária em face do Y, avalista do B.
Mas acontece que neste caso o B não se obrigou pq não aceitou a LC, não
assinou o TC. Esse aval antecipado realizado por Y será valido e eficaz?
Há controvérsias:
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Há quem entenda que em razão do principio da autonomia este aval é
válido e eficaz. Mas há quem entenda que o aval antecipado é um aval
condicionado ao aceite e neste caso, se o Sacado não aceitar a LC o aval perde
a sua eficácia.
Em uma LC sem aceite é possível ocorrer o aval antecipado, ou seja,
uma determinada pessoa avaliza o TC indicando o Sacado como avalizado,
antes mesmo de o credor apresentar a cártula para o Aceite.
Se o Sacado aceitar a LC o aval é válido e eficaz.
No entanto, se houver recusa do aceite, a questão passa a ser
controvertida com relação ao avalista.
Rubens Requião e a doutrina majoritária sustentam que o aval antecipado
é garantia do pagamento do TC, o que significa que o avalista do Sacado será
devedor cambiário, apesar de o Sacado não possuir obrigação cambiária. Esta
posição também se fundamenta no principio da autonomia onde a obrigação
do avalista independe da obrigação do avalizado.
Fran Martins entende que o avalista não será devedor cambiário, pois o
aval antecipado é condicional. Ou seja, o aval antecipado para produzir efeitos,
depende do implemento de uma condição suspensiva, que é justamente o
aceite do sacado. Ademais, o aval garante a obrigação cambiária, pressupondo
que o avalizado tenha assumido esta obrigação, até porque, a própria lei (arts.
899 NCC e art. 32 da LUG) prevê que o avalista tem obrigação equiparada à
obrigação do avalizado, de modo que a lei exige implicitamente, que o
avalizado integre a relação cambiária, o que não ocorre quando o Sacado
recusa o Aceite. Esta posição também se fundamenta na teoria dos atos
inexistentes, ou seja, se inexiste a obrigação do avalizado, também inexiste a
obrigação do avalista.
03/02/2005
PRESCRIÇÃO art. 70 da LUG
O prazo prescricional para executar os devedores de uma LC está na Lei =
art.70, LUG.
Este prazo vai variar dependendo do devedor a ser executado.
79
Por exemplo, se o credor executar o devedor principal, o prazo
prescricional será de 3 anos a contar do vencimento.
Se o credor for executar qualquer devedor de regresso, o prazo
prescricional desta execução será de 1 ano, a contar do Protesto.
Os devedores de regresso também têm prazo prescricional para cobrar
dos anteriores e este prazo é de 6 meses. Por exemplo, se o endossante paga
a LC e quiser cobrar em regresso de outro endossante que o antecede, ele terá
o prazo de 6 meses para ingressar com esta ação de regresso. A partir do
momento que um devedor de regresso paga o TC, ele tem 6 meses para cobrar
dos devedores de regresso anteriores à ele.
No caso da Nota Promissória, os prazos prescricionais são idênticos pq a
LUG regula tanto a LC como a NP.
O importante é saber identificar que existem prazos diferentes para cada
tipo de devedor.
SOLIDARIEDADE CAMBIÁRIA:
Os devedores do TC são devedores solidários. Há uma solidariedade
cambiária que o Fábio Ulhoa Coelho chama de regressividade, que não se
confunde em hipótese nenhuma com a solidariedade civil eis que vigora no
direito cambiário o principio da autonomia e consequentemente a
inoponibilidade das exceções.
Por exemplo: o art. 51 da lei do cheque fala que todos os devedores
solidários do cheque podem ser cobrados, entretanto esta solidariedade se
refere ao contrato de conta corrente, pois somente aqueles que houverem
assinado o cheque serão obrigados a paga-lo.
CARACTERÍSTICAS DA LETRA DE CÂMBIO:
1ª) A LC é um TC nominal. A LUG coloca como requisito essencial o nome
do beneficiário. Sendo assim, a LC não pode ser ao portador, embora haja a
sumula 387 do STF que entende que no momento da constituição do TC não é
obrigatório que todos os requisitos essenciais estejam preenchidos, desde que
sejam completados pelo credor de boa-fé antes da cobrança, ou antes, do
protesto.
80
2ª) A LC é um TC nominal que pode ser a ordem ou não à ordem. Se a LC
for à ordem ela circulará por endosso, se for não à ordem, a LC circulará por
cessão ordinária de crédito. (Diferente da duplicata que é um TC à ordem,
sempre, pois a lei exige que a duplicata seja um TC à ordem. É um requisito
essencial da duplicata que ela circule por endosso, eis que não vale a cláusula
não à ordem em uma duplicata.)
3ª) A LC é um TC próprio, pq a LC efetivamente documenta uma operação
creditícia, ou seja, ela documenta um crédito. O direito documentado na LC é
um crédito.
4ª) A LC é um TC abstrato ou não causal. Não há uma causa prevista na
lei para o saque de uma LC. Qualquer causa, em princípio poderá dar causa à
emissão de uma LC. Fabio ulhoa Coelho sustenta que a LC é um TC limitado,
pois qualquer causa viabiliza a sua emissão, desde que esta causa não seja
idêntica a uma das causas que ensejam a emissão da duplicata, na forma do
art. 2 caput da lei 5474/68.
5ª) A LC é uma ordem de pagamento, que pode ser a vista (com a
apresentação da LC pelo credor ao aceitante) ou a prazo (como veremos mais
a frente).
6ª) A LC tem sempre, pelo menos, três figuras originárias, que é o
sacador, o sacado e o credor. Na LC sempre haverá o Sacador que dá a ordem
de pagamento ao Sacado para aceitar ou não esta ordem de pagamento e há o
credor da LC.
7ª) A LC é sempre constituída pelo devedor cambiário indireto, ou seja, o
Sacador. A importância prática disso é que para cobrar do Sacado será
necessário, sempre, o Protesto.
8ª) Na LC, ocorrendo eventual aval em branco, o avalizado será o
Sacador, e consequentemente haverá necessidade de Protesto para executar
este avalista que deu o seu aval sem indicar quem é o seu avalizado. Este
avalista em branco será sempre devedor indireto, embora possa também um
ser devedor principal nos casos em que o Sacado não aceitar a LC. Mesmo
nestes casos em que não houver o aceite pelo Sacado, o avalista que não
indicou o nome de seu avalizado será um devedor indireto (e ao mesmo tempo
também será um devedor principal).
9ª) A LC é um TC passível de aceite.
81
10ª) A LC é um TC que pode ser objeto de Protesto por Falta de
Pagamento, por Falta de Aceite ou por Falta de Devolução (este último é o
protesto para a falta de devolução da LC, quando o Sacado retém
indevidamente a LC). Não existe o Protesto por indicação na LC, mas existe o
protesto por falta de Devolução da LC, previsto no art. 21, §3, primeira parte,
da Lei 9492/97 (lei de Protestos).
ACEITE:
O ACEITE normalmente está relacionado aos TC que emitem uma ordem
de pagamento que será aceita ou não. Mas no cheque, por exemplo, que é
uma ordem de pagamento, não há o aceite. No cheque o sacado é o banco,
mas o banco não tem nenhuma obrigação na relação cambiária nascida
através da emissão de um cheque. O cheque apesar de ser uma ordem de
pagamento não admite o aceite pq a obrigação cambiária é reconhecida pelo
próprio emitente quando este emite o cheque. Em outras palavras, no cheque,
a obrigação cambiária é reconhecida pelo emitente no momento em que ele
emite o cheque e sendo assim a obrigação cambiária nasce no momento da
emissão do cheque, na forma do art. 6 da lei 7357/85. No cheque, o banco,
sacado, não integra a relação cambial. O banco sacado tem apenas uma
relação jurídica contratual com o emitente do cheque. Antigamente existia a
figura do cheque marcado onde o credor apresentava o cheque ao banco para
ser descontado e o banco, sacado, pedia um prazo ao credor para pagar o
cheque. Se o credor autorizasse, o banco marcava o cheque para paga-lo em
um prazo fixado pelo banco. Na verdade a ratio do art. 6 da lei do cheque foi
revogar a figura do cheque marcado no direito brasileiro.
O ACEITE é uma manifestação de vontade feita pelo Sacado em uma LC
ou em uma Duplicata. O aceite é uma manifestação de vontade feita no TC que
a doutrina chama de declaração cambiária. Todas as manifestações de vontade
emitidas no TC são declarações cambiárias, tal como o aceite, o endosso e o
aval. A diferença está no conteúdo destas manifestações de vontade. No aceite
há a manifestação de vontade de aceitar o pagamento do TC. No endosso há a
manifestação de vontade de transferir o TC. No aval há a manifestação de
82
vontade de garantir o TC. Todas estas manifestações de vontade são
declarações cambiárias.
As declarações cambiárias que são manifestações de vontade podem ser:
a) Originária – É a manifestação de vontade que dá origem ao TC, faz
nascer a obrigação cambiária, é emitida na constituição do TC. As declarações
originárias são: a emissão da NP e do cheque e os saques da LC e da duplicata.
Por exemplo: Quem emite um cheque, a emissão dá origem ao cheque. Ao
sacar uma duplicata, está sendo criada uma duplicata. Quem emite uma NP dá
origem à NP.
b) Sucessiva - É a manifestação da vontade emitida depois da constituição
do TC. É a manifestação que sucede à declaração cambiária originária do TC.
Por exemplo: Aval, endosso, Aceite.
c) Necessária – É a manifestação de vontade imprescindível para o TC
existir. Sem a declaração cambiária necessária o TC não existe. E estas
declarações necessárias são justamente as declarações cambiárias originárias,
que fazem nascer o TC.
d) Eventual – É a manifestação de vontade que se não existir não tem
problema nenhum, pq o TC continuará existindo. Por exemplo, um TC sem aval
não deixa de ser um TC. Um TC sem endosso não deixa de ser um TC.
Em regra, toda declaração cambiária originária é também uma declaração
cambiária necessária. Na LC toda declaração cambiária sucessiva também será
uma declaração cambiária eventual.
Aceite é uma declaração cambiária sucessiva e na LC também é uma
declaração cambiária eventual. Na duplicata é diferente, pois na duplicata o
aceite é uma declaração cambiária sucessiva e essencial.
Em todos os casos, o ACEITE é uma declaração cambiária sucessiva.
CONCEITO DE ACEITE:
O ACEITE é uma declaração cambiaria emitida pelo Sacado de uma LC ou
duplicata, em que uma simples assinatura reconhece que irá cumprir a
obrigação no vencimento. O aceite é o reconhecimento da ordem de
83
pagamento. Quando o Sacado reconhece a ordem de pagamento transforma-
se em um devedor cambiário.
Na LC o ACEITE é uma declaração cambiária eventual, pois se não houver
esta declaração de vontade o credor poderá cobrar do Sacador, que garante o
pagamento e o aceite.
Mas na Duplicata o ACEITE é uma declaração cambiária essencial, pois
quem saca a duplicata é o credor que irá apresentá-la ao devedor para que o
devedor aceite a duplicata. Diz-se que o aceite é obrigatório na duplicata pq se
não houver justificativa para a recusa do aceite, haverá a presunção do aceite,
que é o aceite tácito. Se houver justificativa para a falta de aceite, não haverá
o preenchimento do requisito do art. 15, II, c da lei das duplicatas e, portanto, a
duplicata não poderá ser executada.
IMPORTANTE:
O aceite é uma declaração cambiária sucessiva sempre.
No caso da LC o ACEITE além de ser uma declaração sucessiva é também
uma declaração eventual, haja vista que mesmo que o Sacado não aceite a LC,
o TC subsiste válido, pois o Sacador garante o pagamento, na forma do art. 9
da LUG. Em razão, diz-se que na LC o aceite é facultativo.
No caso da Duplicata diz-se que o ACEITE é sucessivo e obrigatório. No
entanto, se o Sacado recusar justificadamente a recusa do Aceite, alegando
uma das matérias previstas no art. 8 da Lei 5474/68, e, se a recusa for
legitima, não haverá o aceite e a duplicata não configurará um título executivo
extrajudicial. Entretanto, se não houver motivação ou se a justificativa alegada
for ilegítima, neste caso, haverá o aceite presumido ou tácito, desde que
presentes todos os incisos do art. 15, II da LD. Por esta razão, o aceite é
considerado obrigatório na duplicata, tornando-se aqui uma declaração
cambiária sucessiva e necessária.
Ao emitir o ACEITE, o aceitante transforma-se em devedor cambiário.
Via de regra, quem aceita expressamente o TC se torna em devedor
direto.
84
Na LC o aceite tem que ser expresso sempre. Na LC só existe o aceite
expresso, sendo que o aceitante é sempre devedor cambiário direto, cujo
protesto é facultativo.
Na duplicata o aceite pode ser expresso ou tácito, como também pode
ser por comunicação. O aceite expresso é aquele emitido na cártula e o aceite
por comunicação é aquele emitido em outro documento que não a cártula.
Nestes dois casos, o aceitante é devedor cambiário direto, cujo protesto é
facultativo. No entanto, havendo a hipótese excepcional do aceite tácito (ficto
ou presumido) onde o Sacado se torna aceitante, porém, de acordo com a
maioria da doutrina, o Sacado passa a ser devedor cambiário indireto e
principal, pq de acordo com o art. 15, II, a da LD, é necessário o Protesto.
PERGUNTA: Só existe aceite com assinatura na cártula?
Em regra, só pode ocorrer o ACEITE com a assinatura do aceitante
(sacado), porém excepcionalmente o aceite pode ser feito fora da cártula na
hipótese do ACEITE por comunicação, na forma do art. 7, §1 da LD. Também
pode ocorrer, excepcionalmente, o aceite sem assinatura do Sacado, nas
hipóteses em que ocorrer o aceite presumido, onde o legislador presume o
aceite.
17/02/2005
O aceite é a manifestação de vontade onde alguém reconhece que vai
pagar o valor constante na cártula.
O efeito desta manifestação de vontade é que aquele que aceita pagar o
valor constante na cártula passa a ser devedor cambiário, podendo ser
acionado pelo credor. Porém, em havendo a recusa quanto ao aceite, o efeito é
a necessidade de protesto por falta de aceite. Neste caso, ocorre o vencimento
antecipado da dívida.
Por exemplo: Sacador emite uma LC com vencimento para dezembro de
2006 e nesta LC há uma ordem de pagamento, para que o Sacado aceite pagar
a dívida. No dia 10/07/2005 o credor apresenta a LC para o Sacado aceita-la,
mas o Sacado não aceita a LC. Neste caso o credor poderá efetuar o protesto
por falta de aceite. Este protesto tem como efeito o vencimento antecipado da
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dívida. Vencendo antecipadamente a dívida, o credor poderá cobrá-la do
Sacador logo em seguida, sem precisar esperar o vencimento estipulado
naquela LC para 2006.
ATENÇÃO: A falta de aceite na LC enseja o vencimento antecipado.
A Nota Promissória pode ter vencimento antecipado?
OBS: Nota Promissória e o Vencimento Antecipado:
A NP não admite aceite, pois trata-se de promessa de pagamento, o que
faz com que a obrigação cambiária já nasça reconhecida (aceita) pelo
emitente. Ainda assim, é possível o vencimento antecipado da dívida caso o
emitente da NP seja devedor empresário e tenha a sua falência decretada, haja
vista que um dos efeitos da sentença decretatória de falência, quanto aos
credores, é o vencimento antecipado das dívidas, conforme o art. 25 da LF
(DL7661/45) que foi repetido na NLF – Lei 11101. Este efeito existe para que
todos os credores possam habilitar os seus créditos, a fim de que sejam
inseridos no quadro geral e pagos de acordo com a ordem de preferência,
aplicando-se-lhes o Princípio da Paridade ou também chamado de Principio da
par conditio creditorium. Na execução coletiva não se aplica o principio da
prioridade, previsto no art. 612 do CPC que se refere apenas à execução
singular onde quem realiza a primeira penhora terá prioridade sobre os
demais.
Na NP não há o aceite, logo não há o vencimento antecipado por falta de
aceite. Mas por outro lado, é possível o vencimento antecipado da NP na
hipótese de decretação da falência do devedor. Exemplo: A emitente, promete
pagar 100 reais no dia 30/03/2005 para B, credor. Não há o aceite. O A pode
eventualmente ser cobrado antes do dia 30/03/2005 caso um outro credor de
A requeira a sua falência (na forma do art. 94 da Lei 11101/05) e esta seja
decretada. E uma vez decretada a falência do A, todos os seus credores
deverão se habilitar para receber seus créditos, pois um dos efeitos da
sentença decretatória da falência é o vencimento antecipado de todas as suas
dívidas.
ACEITE POR INTERVENÇÃO:
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Ocorre quando o Sacado não faz o aceite porém uma terceira pessoa
intervém na relação cambiária fazendo o aceite no lugar do Sacado, tornando-
se devedor cambiário.
Ex: A é o Sacador e dá uma ordem de pagamento ao B que é o Sacado,
para que pague 100 reais ao C, credor. Se o Sacado B não aceitar, em regra
ocorre o vencimento antecipado. Mas a lei permite que neste caso um terceiro
intervenha e aceite pagar aquele valor em nome do Sacado.O aceite por
intervenção ocorre quando um terceiro intervém e aceita o TC em nome do
Sacado.
Mas a questão é saber se o credor é obrigado a acatar o aceite realizado
pelo terceiro – ou seja, o aceite por intervenção. E isto vai depender do que foi
escrito na cártula no momento em que o Sacador sacar a LC.
Se no momento em que o Sacador emite a ordem de pagamento (no
momento em que a LC é sacada) o Sacador fizer menção a possibilidade do
aceite por intervenção, o credor será obrigado a acata-lo caso ele ocorra. Por
exemplo, A dá uma ordem de pagamento ao B ou a quem quer que queira
aceitar a LC, para que pague no vencimento o valor de 100 reais ao C. Neste
caso, o credor tem que acatar o aceite por intervenção. Mas se o Sacador não
fizer menção ao aceite por intervenção, o credor não estará obrigado a acatar
o aceite por intervenção, podendo realizar o protesto por falta de aceite do
Sacado originário.
Em outras palavras, dependendo do caso, o credor não estará obrigado a
acatar o aceite por intervenção, pois se o Sacado originário não fez o aceite,
poderá o credor protestar por falta de aceite e cobrar do Sacador, face ao
vencimento antecipado e ao disposto no art. 9 da LUG. Entretanto, se o próprio
Sacador ao sacar a LC estipular a possibilidade de um terceiro intervir e aceitar
a LC no lugar do Sacado, neste caso o credor estará obrigado a acatar o aceite
por intervenção.
CLÁUSULA PROIBITIVA DE ACEITE
Tem por finalidade impedir o vencimento antecipado da dívida!!!!
Não confundam esta cláusula com a proibição de aceite.
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A cláusula proibitiva de aceite impede que ocorra o vencimento
antecipado da dívida de modo que se o Sacado não aceitar a LC o credor só
poderá cobrar aquele valor na data do vencimento.
Não confundam a cláusula proibitiva de aceite com a proibição do aceite.
PERGUNTA: É possível que na LC haja cláusula expressa proibindo o aceite?
Exemplo: A dá uma ordem de pagamento para que B pague 100 reais
para C. Nesta ordem de pagamento há uma cláusula dizendo que o aceite é
proibido. Se é proibido o B não poderá aceitar a LC e por falta de aceite
ocorrerá o vencimento antecipado. Ora, claro que isso não é possível, pois
se o Sacador proibir o aceite haverá o vencimento antecipado da dívida. Se o
Sacador proibir que a ordem de pagamento seja aceita ele estará aniquilando
aquela ordem de pagamento.
A cláusula proibitiva de aceite na verdade apenas impede que ocorra o
vencimento antecipado, na hipótese do Sacado não aceitar a ordem de
pagamento. Esta cláusula deixa ao arbítrio do Sacado aceitar ou não a LC. Mas
havendo a clausula proibitiva de aceite, caso o Sacado não aceite a LC, não
ocorrerá o vencimento antecipado e o credor terá que aguardar o vencimento
daquela LC para poder cobrá-la do Sacador.
VENCIMENTO DA LETRA DE CÂMBIO
A LC é uma ordem de pagamento a vista ou a prazo.
O vencimento não é um requisito essencial da LC, pois na sua falta
presume-se que a LC é a vista, na forma do art. 2, 2ª alínea da LUG e art. 888
do NCC.
O vencimento a prazo é gênero que admite três espécies.
Vencimento a prazo pode ser: a dia certo; a certo termo da data; a certo
termo da vista.
Vencimento a vista é aquele que se ocorre no momento da apresentação
para o aceite, sem necessidade de ser estipulada uma data para este
vencimento. Quando a LC a vista for apresentada ela vencerá.
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Vencimento a dia certo é aquela que contem um dia, um mês e um ano
(dd/mm/aaaa) que indicam a data do seu vencimento. É quando a letra contém
uma cláusula expressa dizendo, por exemplo, que vencerá no dia 30/10/2005.
Vencimento a certo termo da data é o vencimento que ocorre dentro de
um prazo que se inicia na data do saque da LC. O termo a quo é o saque da
LC. Ex: Ordeno que Y pague 100 reais para X em 20 dias a contar do saque.
(Saque é a emissão da LC).
Vencimento a certo termo da vista: Requião entende que o vencimento a
certo termo da vista tem como termo a quo o aceite. A partir do aceite o prazo
do vencimento começará a correr. Para Requião vista é o aceite. Para doutrina
majoritária vista não é apenas o aceite, mas para fins de LC o Requião está
certo e para fins de LC vocês devem ter em mente que vista é igual ao aceite,
embora este não seja o que ocorre na nota promissória, mas a controvérsia
que paira sobre a NP nós veremos mais a frente.
Exemplo: A dá uma ordem de pagamento para que B pague a C em 20
dias da vista. Então o C apresenta a LC para o B que a aceita em 10/02/2005 e
nesta data teremos o termo a quo para o vencimento, que se dará em 20 dias
a contar desta data.
PERGUNTA: Na LC cuja modalidade de vencimento é a certo termo da
vista, pode ser inserida a cláusula proibitiva de aceite?
A clausula proibitiva de aceite impede o vencimento antecipado.
O efeito da falta de aceite é o vencimento antecipado.
Para Requião, o vencimento a certo termo da vista é o vencimento que
ocorre em um prazo que será contado a partir do momento em que a LC é
aceita pelo Sacado.
Partindo destas premissas nós teremos que raciocinar.
Digamos que a LC vai vencer em 20 dias a contar da vista. Para Requião,
a vista é o aceite. Digamos que o Sacado aceite. Neste caso nós saberemos
que o vencimento se dará em 20 dias a contar do aceite.
Mas o problema está na hipótese do Sacado não aceitar a LC.
89
Como foi dito, a falta de aceite acarreta o vencimento antecipado. Mas se
houver a cláusula proibitiva do aceite não será possível o vencimento
antecipado. E se não houver nem o aceite e nem o vencimento antecipado da
LC (com vencimento a certo temo da vista), este Título não vencerá nunca.
Logo, nas LC com vencimento a certo termo da vista não poderão conter nunca
a cláusula proibitiva de aceite.
Em resumo:
Se a LC for a prazo e tiver como modalidade de vencimento a certo
termo da vista, neste caso, segundo Requião, o termo inicial será o aceite por
parte do Sacado, pois Requião considera que a vista é igual ao aceite. Nesta
hipótese não pode ser inserida a cláusula proibitiva do aceite (ou cláusula de
não aceite), pois caso o Sacado não falca o aceite, a LC não iria vencer nunca,
pois sem o aceite não corre o prazo para o vencimento e com a cláusula
proibitiva do aceite não há o vencimento antecipado da dívida, devendo-se
observar que uma das características dos TC é que eles são Títulos de
resgate.
PERGUNTA PARA CASA: A NP não admite aceite, mas pode ter como
modalidade de vencimento “a certo termo da vista”?
Se seguirmos a orientação do Requião não pode, pois a vista é igual ao
aceite e se na NP não há o aceite também não será possível o vencimento a
certo termo da vista.
Sendo assim, como se explica o art. 78 da LUG?
Na Np vista é diferente de aceite. A resposta desta questão será dada
quando analisarmos a Nota Promissória.
ACEITE PARCIAL:
É possível o aceite parcial.
O aceite parcial diz respeito ao valor. E ocorre quando o Sacado aceita
pagar apenas uma parte do valor constante no TC.
Ou seja, o aceitante pode aceitar pagar apenas uma parte do valor
estipulado na ordem de pagamento. Neste caso, o credor terá que protestar
por falta de aceite o restante, haverá necessidade de protesto do valor que não
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foi aceito pelo Sacado a fim de que assim seja possível cobrar do sacador o
valor não aceito pelo Sacado.
ACEITE MODIFICATIVO
Diz respeito ao vencimento e ao domicilio.
EX: A dá uma ordem de pagamento ao B para que B pague ao credor.
É uma das características da LC que o credor procure o devedor para que
este realize o pagamento. Então, via de regra o credor vai procurar o aceitante
no seu domicilio.
Pode acontecer de o Sacado no momento do aceite, modifique o seu
domicilio. Neste caso teremos um aceite domiciliado, que é uma hipótese de
aceite modificativo.
Também pode acontecer do Sacado alterar a data do vencimento. E neste
caso teremos um aceite modificativo do vencimento.
Quando ocorrer um aceite modificativo, em que a alteração do
vencimento ou a alteração do valor é realizada pelo Sacado, o aceitante não é
obrigado a acatar.
Se o credor não acatar o aceite modificativo, ele poderá recusá-lo e neste
caso haverá o vencimento antecipado da LC.
ENDOSSO:
O endosso é uma forma de transferência do TC.
Só os TC são passiveis de endosso, mas nem todo TC é passível de
endosso. Em outras palavras, apenas os TC podem ser endossados, mas nem
todo TC pode ser endossado. O endosso é uma manifestação de vontade
realizada no próprio TC e, portanto, o endosso é uma declaração cambiária.
É uma declaração cambiária que ocorre depois da criação do TC e,
portanto é uma declaração cambiária que sucede a constituição do TC. O
endosso é uma declaração cambiária sucessiva e eventual (pq não é
imprescindível ao TC).
Quem endossa um TC é o titular do direito de edito, logo só pode endossar
quem for credor do TC. Somente os TC nominais ou à ordem são passíveis de
endosso. Os TC com cláusula não à ordem até podem circular, mas não através
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de endosso. Os TC com cláusula não à ordem circulam como cessão ordinária
de credito, instituto de direito civil.
Quem endossa um TC transfere o crédito e deixa de ser credor, passando
a ser, em regra, devedor cambiário indireto, porque para executa-lo será
necessário o protesto e de regresso eis que quando ele pagar a dívida poderá,
em ação de regresso, cobrar dos demais devedores.
ENDOSSO PRÓPRIO => Configura uma declaração cambiária
sucessiva e eventual feita pelo credor de um TC nominal à ordem em
que se transfere a titularidade do direito de crédito a uma terceira
pessoa, que em regra se torna devedor cambiário indireto e de regresso.
NATUREZA JURÍDICA DO ENDOSSO:
O endosso é uma declaração unilateral de vontade e autônoma. O
endosso transfere um direito de crédito sem nenhum vício intrínseco.
A simples assinatura no verso da cártula já demonstra o endosso. Mas o
endosso só fica realmente perfeito e acabado com a entrega da cártula ao
endossatário, para que este possa apresentar o TC ao devedor a fim de que
seja efetuado o pagamento. Logo, para que o endosso seja perfeito e produza
efeitos será necessária a assinatura e a tradição. Art. 910 do NCC c/c 11, n.13
da LUG; art. 17 ao 19 da lei 7357/85.
EFEITOS DO ENDOSSO:
a) Garantia do pagamento – O endossante quando endossa o TC, em
regra, garante o pagamento pq ele se torna um devedor cambiário indireto e
de regresso.
b) Purifica eventuais vícios intrínsecos existentes no TC.
O art. 914 do NCC, por força do art. 903 do NCC, só se aplica quando
não houver lei especifica regulando o endosso do TC que possuir legislação
específica..
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OBS¹: Endosso sem garantia é uma exceção, pois esta cláusula
permite que se realize o endosso próprio, entretanto ela afasta a garantia do
pagamento. No endosso com cláusula sem garantia há a transferência de um
direito autônomo, um direito limpo, e, portanto, incide o principio da
autonomia e abstração. A cláusula sem garantia apenas suprime o efeito da
garantia do pagamento. O endosso com cláusula sem garantia é um endosso
próprio em que o endossante que insere esta cláusula não garantirá o
pagamento à ninguém.
Nem todos os sujeitos da relação cambiária poderão inserir a cláusula
sem garantia. O Sacador da LC ou o constituidor de outros TC não podem
inserir a cláusula sem garantia, assim como o avalista também não pode
inserir a cláusula sem garantia, pois caso estes sujeitos insiram esta cláusula
o TC poderá ficar sem devedor. Por exemplo, o Sacador ao constituir a LC não
poderá inserir a cláusula sem garantia pq ele garante o pagamento caso o
Sacado não aceite. Na duplicata, segundo grande parcela da doutrina, não
pode sequer o próprio endossante inserir esta cláusula, face ao art. 18, §2 da
lei 5474/68.
A cláusula sem garantia não se confunde com a cláusula proibitiva de
novo endosso. A cláusula proibitiva de novo endosso é inserida no TC e
transfere o direito de crédito autônomo constante no TC, entretanto, o
endossante que insere a cláusula proibitiva de endosso não vai garantir o
pagamento dos endossos que forem realizados após o seu. Mesmo inserindo
esta cláusula o endossante garante o pagamento das relações cambiárias
existentes naquele TC e anteriores ao seu endosso. Na verdade quem insere
a cláusula proibitiva de novo endosso está apenas dizendo que não garantirá
o pagamento dos futuros endossos posteriores ao seu.
OBS²: titulo de crédito não à ordem pode ser transferido através de uma
cessão de crédito. De acordo com o art. 296 do NCC o cedente do TC não
garante o pagamento do título. Em regra o cedente só garante a existência
do crédito, mas não garante o pagamento. Além disso, a cessão de crédito é
um instituto civil (não é um instituto cambiário) logo, a cessão não transfere
um direito autônomo. O cessionário recebe o mesmo direito do cedente, seja
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este um direito viciado ou não. A cessão de credito não purifica os vícios
intrínsecos.
OBS³: O endosso intempestivo, realizado após o vencimento ou após
o prazo para o protesto, ou após o prazo de apresentação do cheque,
formalmente é um endosso nominal e a ordem, entretanto, substancialmente
ele não é um endosso, mas sim uma CESSAO DE CRÉDITO, pois este
endosso póstumo produz os efeitos idênticos aos de uma cessão de
crédito. Não é uma cessão de crédito pq a transferência se deu à ordem, mas
seus efeitos são idênticos ao de uma cessão de crédito.
24/02/2005
Endosso com Cláusula sem garantia e a DUPLICATA
A doutrina majoritária entende que não cabe nenhum endosso com
cláusula sem garantia na Duplicata, por força do art. 18 §2 da lei 5474/68. De
acordo com este dispositivo, os co-obrigados respondem solidariamente pelo
aceite e pelo pagamento. E, portanto, não cabe a situação excepcional da
cláusula sem garantia na duplicata.
Mas minoritariamente, há quem entenda que como não há previsão da
cláusula sem garantia na lei da duplicata, deve ser aplicado o art. 25 da lei
5474/68 que manda aplicar a LUG nas omissões da lei da duplicata, e sendo
assim, caberá a cláusula sem garantia.
ENDOSSO PÓSTUMO
O endosso póstumo produz os efeitos idênticos aos de uma cessão de
crédito. Não é uma cessão de crédito pq a transferência se deu à ordem, mas
seus efeitos são idênticos ao de uma cessão de crédito.
O endosso póstumo não retira a natureza executiva do TC. O TC
continua sendo exigível mesmo após o endosso póstumo, que na verdade é
apenas uma transferência intempestiva. O endossante póstumo não garante
o pagamento porque o endosso póstumo produz os efeitos de uma cessão de
credito. O endossante póstumo transfere o mesmo direito que ele tinha, logo,
ele não transfere um direito limpo, puro.
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Quando ocorre o endosso póstumo, o credor não poderá cobrar do
endossante póstumo.
Exemplo ¹:
A emite uma Nota Promissória para B que faz um endosso póstumo para
C.
O emitente A tem um avalista Y e B tem um avalista X.
Neste caso, o C não poderá cobrar do B nem do X porque o B realizou um
endosso póstumo e, portanto ele não garante o pagamento. Na verdade o B
não é um devedor indireto justamente pq ele realizou o endosso póstumo que
produz os efeitos de uma cessão de crédito. Neste caso, o Y poderá cobrar do
A e do Y, pois o credor C tem uma relação cambiaria apenas com estes
sujeitos.
Exemplo ²:
A emite uma Nota Promissória para B que faz um endosso próprio para C
que por sua vez fez um endosso póstumo para D.
O emitente A tem um avalista Y e B tem um avalista X.
Neste exemplo não houve protesto.
De quem o D poderá cobrar?
Aqui é preciso atenção porque o C não é devedor cambiário indireto
porque ele realizou um endosso póstumo. Independentemente da não
existência do protesto o C não poderá ser cobrado pq ele não é devedor
indireto.
Neste exemplo o D poderia cobrar do B e do seu avalista X, caso
houvesse o protesto, pois o protesto legitima a cobrança dos devedores
indiretos. Mas, como não houve o protesto, o D só poderá cobrar do A e do seu
avalista Y que são devedores diretos. A falta de protesto tem como
conseqüência a decadência do direito de cobrar dos devedores indiretos. Na
falta de protesto somente os devedores diretos poderão ser executados eis que
para estes o protesto é facultativo.
ENDOSSO PARCIAL
O endosso parcial é a transferência de uma parte do crédito.
O endosso parcial dificulta a circulabilidade da cártula, logo, ele é nulo de
pleno direito.
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Por exemplo, A promete pagar a B 100 reais e o B transfere para o C
através de endosso próprio o valor de 50 reais. Isso é o endosso parcial.
O endosso parcial no direito brasileiro é nulo por dois motivos: art. 12 da
LUG c/c art. 912, PU, do NCC.
ENDOSSO CONDICIONAL
É o endosso que contém uma cláusula estipulando uma condição
qualquer.
Exemplo: Prometo pagar 100 reais para W se ele se casar.
A lei brasileira dispõe que é considerada não escrita a cláusula
condicional. Neste caso, o endosso é válido, mas a condição é considerada não
escrita. Art. 12 da LUG e art. 912 caput do NCC
ENDOSSO DE RETORNO E REENDOSSO
O endosso de retorno é aquele endosso realizado para alguém que já
fazia parte da relação cambiária.
O reendosso ocorre quando alguém que já participou da relação
cambiária realiza um novo endosso. O reendosso pressupõe um endosso de
retorno. Ocorrendo o endosso de retorno o sujeito que já havia participado da
relação cambiária volta a participar dela e com o TC em suas mãos, nada
impede que ele realize um novo endosso que é chamado de reendosso.
Caiu na prova da PGE: Uma NP após circular por meio de sucessivos
endossos voltou para as mãos do emitente. Pergunta: Esta NP pode circular
novamente?
Resposta: Sim, nada impede que esta NP circule novamente. Este endosso
realizado pelo credor ao emitente é chamado de endosso de retorno. Mas
quando o emitente realiza novo endosso ocorre o chamado reendosso.
Exemplo. A emite uma NP para B que a endossa para C, que a endossa
para D, que a endossa para B. Neste caso, o endosso de D para B é o endosso
de retorno, pois a NP voltou para as mãos de um sujeito que já havia
participado da relação cambial. Se o B endossar para o Y haverá o reendosso.
Por esta razão que o reendosso pressupõe o endosso de retorno.
CLASSIFICAÇÃO DO ENDOSSO:
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ENDOSSO PRÓPRIO (também chamado de endosso regular ou
propriamente dito)
Ocorre o endosso próprio quando há a transferência da cártula e também há a
transferência da titularidade do direito de crédito. O endosso próprio se
aperfeiçoa com a assinatura no verso da cártula e com a tradição, que é a
entrega da cártula ao endossatário.
ENDOSSO IMPRÓPRIO (ou endosso irregular)
Ocorre o endosso impróprio quando há a transferência da cártula com a
assinatura no verso, mas não há a transferência do direito de crédito. Não há a
transferência do direito de crédito, mas há a transferência da cártula e do
exercício do direito de crédito. É o que ocorre no chamado ENDOSSO
MANDATO (ou endosso procuração). Quando ocorre o endosso mandato o
endossante será denominado de endossante mandante e o endossatário será
denominado de endossatário mandatário que terá a cártula em seu poder e
poderá exercer os direitos que pertencem ao endossante mandante. No
endosso mandato o endossante mandante continua a ser o credor. o
endossatário mandatário apenas terá o exercício do direito de credito, mas
este direito pertencerá ao endossante mandante.
Caso ocorra outro endosso, se, por exemplo, o endossatário mandatário
endossar o TC este será um novo endosso mandato.
No que é endosso mandato é possível ocorrer endosso sem a
transferência do direito de crédito, ou seja, sem que o endossatário se torne
credor cambiário.
ENDOSSO MANDATO = art. 18 da LUG e art. 23 da lei 7357/85 c/c art.
917 do NCC.
O endossatário do endosso-mandato terá direito apenas ao exercício dos
direitos inerentes ao TC. Mas ele não será credor daquela TC. O endossatário
mandatário só pode endossar novamente o TC os poderes que recebeu do
endossante mandante.
Outro endosso impróprio é o ENDOSSO CAUÇÃO, ou também chamado
de ENDOSSO PIGNORATÍCIO, ou ENDOSSO EM GARANTIA, que ocorre em
forma de garantia de uma obrigação. Neste endosso em garantia há a
transferência do exercício dos direitos inerentes ao TC, mas não há a
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transferência do direito de crédito. ENDOSSO EM GARANTIA = Art. 19 da LUG
c/c art. 918 NCC.
ENDOSSO EM PRETO – Ou também chamado de endosso nominal,
complemento ou pleno. É o endosso que indica o nome do endossatário.
ENDOSSO EM BRANCO ou AO PORTADOR – É aquele que não indica o
nome do endossatário. É o endosso onde o endossante não indica quem é o
endossatário. Toda vez que o endossante indicar o endossatário haverá a
hipótese do endosso em preto. Mas quando o endossante não indicar a quem
deve ser pago o TC, ou seja, quando o endossante não indicar o nome do
endossatário, haverá o endosso em branco.
Questão interessante que ainda não caiu em prova:
Com o advento das leis 8021/90 e 8088/90, é possível o endosso em
branco, diante do disposto no art. 913 do NCC?
O art. 2, II da lei 8021/90 e o art. 19 da lei 8088/90 vedavam o endosso
em branco nos Títulos. Estas leis exigiam a identificação do endossatário como
requisito essencial de todos os TC, para fins de arrecadação de tributos.
Mas a sumula 387 do STF dispôs que o TC pode não ter todos os seus
requisitos essenciais desde que antes do Protesto ou antes da cobrança estes
requisitos sejam preenchidos. Então, esta sumula já deu uma mitigada nas leis
acima mencionadas. Então, de acordo com esta sumula, o beneficiário deveria
ser identificado até o momento do protesto ou até o momento da cobrança.
Mas em 2002 veio o NCC que em seu art. 913 permite expressamente o
endosso em branco. Este artigo diz que o endossatário do endosso em branco
pode transferi-lo através de endosso em preto (assinado na cártula) ou pode
transferi-lo através de endosso em branco (sem assinar na cártula) ou pode
transferi-lo sem endossar. Em outras palavras, o art. 913 permite que o
endossatário em branco nem apareça na relação cambiária.
Diante de todas estas regras, qual delas deve ser aplicada à luz do art.
903 do NCC que dispõe que os TC deverão ser regidos à luz de leis especiais,
aplicando o NCC apenas em caso de omissões.
Qual a lei a ser aplicada? É controvertido!!!!
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Requião e Waldo Fazzio Jr. entendem que o ordenamento jurídico
brasileiro não admite o endosso em branco porque a lei 80210e a lei 8088
estão em vigor e são leis especiais e, em razão do art. 903 NCC o endosso em
branco não pode ser admitido, eis que existe vedação expressa em lei
especial.
STF e grande parte da doutrina e jurisprudência entendem que as leis
8021 e 8088 estão em vigor apenas para títulos de investimento e não para
TC. O STF admite o endosso em branco nos Títulos de Credito. Por esta razão
não pode haver ações ao portador, mas nada impede que haja um TC ao
portador.
Victor Eduardo Dias Gonçalves no livro “Contratos e TC” entende que as
leis 8021/90 e 8088/90 estão revogadas porque estas leis eram leis
extravagantes que continham normas gerais e por ser norma geral não há a
aplicação do art. 903 NCC. Para ele, o NCC que é uma norma geral, ao
estabelecer as regras do art. 913 NCC revogou as leis 8021/90 e 8088/90.
AVAL
O AVAL é instituto cambiário. É uma garantia pessoal que diz respeito aos
títulos de credito. Por ser um instituto cambiário, esta garantia deverá estar
expressa na cártula. A lei diz que o aval deverá ser inserido no anverso da
cártula ou em qualquer outro lugar da cártula, desde que esta assinatura seja
seguida da indicação do aval.
O aval é uma declaração cambiária sucessiva (após a constituição do
titulo) e eventual (porque ela não é imprescindível).
Em principio, qualquer pessoa com capacidade pode ser avalista. Ao
emitir esta declaração de vontade o avalista garante para uns o pagamento do
TC, tornando-se sempre um devedor cambiário de regresso, pois poderá cobrar
dos devedores indiretos e de seu avalizado.
CONCEITO DE AVAL:
O Aval configura uma declaração cambiária sucessiva e eventual feita,
segundo o entendimento dominante, por qualquer pessoa com capacidade
(integrante ou não da relação jurídica cambiária) e tem por finalidade garantir
pessoalmente o pagamento do título ou o cumprimento da obrigação cambiária
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(dependendo da posição que ele ocupe na relação cambiária) tornando-se
sempre um devedor cambiário de regresso, que por sua vez poderá ser um
devedor cambiário direto ou indireto. Art. 32 da LUG, art. 899 NCC, art. 77 da
LUG, art. 30 e 31 da Lei do cheque.
NATUREZA JURIDICA DO AVAL:
Pontes de Miranda minoritariamente, entende que o aval é uma obrigação
equiparada e para este autor, em termos técnicos, o aval não seria uma
garantia porque o avalista se equipara ao seu avalizado. Este entendimento
encontra respaldo no art. 899 NCC.
Requião e todo o resto da doutrina entendem que o aval é uma
declaração unilateral de vontade que consiste em uma garantia autônoma. Ou
seja, se a obrigação do avalizado tiver algum defeito, este defeito não poderá
ser alegado pelo seu avalista. As defesas pessoais do avalizado não poderão
ser alegadas pelo avalista, pois nesta obrigação cambiária (no aval) há o
principio da autonomia. Trata-se de uma garantia cambial autônoma.
PERGUNTA: O avalista tem que ser terceira pessoa com capacidade ou
pode ser alguém que já integrava a relação cambiária?
Exemplo: O endossante B pode ser avalista de R na mesma relação
cambiária?
O entendimento dominante é no sentido de que o avalista pode ser
qualquer pessoa, seja esta pessoa um terceiro estranho à relação cambiária,
seja esta pessoa um sujeito que já integrava a relação cambiária.
O entendimento minoritário entende que o avalista só pode ser terceira
pessoa. Para este entendimento o avalista não pode ser uma pessoa que já
integrava aquela mesma relação cambiária porque esta pessoa antes de ser
avalista já era um devedor cambiário e não seria lícito que ela aumentasse a
sua responsabilidade cambiária.
CARACTERÍSTICAS DO AVAL:
Aval é uma declaração unilateral de vontade. É uma declaração cambiária.
100
O aval é uma declaração cambiária eventual (não é imprescindível para a
existência do TC) e sucessiva (porque esta declaração cambiaria ocorre após a
constituição do TC).
O aval é um ato de favor. É um ato de liberalidade.
PERGUNTA: Caso o TC venha a prescrever, pode ser proposta a ação de
enriquecimento ilícito em face do avalista?
A ação de enriquecimento ilícito tem como pressupostos a prescrição, o
enriquecimento ilícito de alguém e o empobrecimento de outrem.
Como o aval é um ato de liberalidade não houve enriquecimento ilícito do
avalista, logo, esta ação só poderá ser proposta em face de quem enriqueceu
ilicitamente.
O aval pode ser em branco ou em preto:
AVAL EM PRETO – O aval em branco indica qual o sujeito que está sendo
avalizado.
AVAL EM BRANCO - O aval em branco não identifica o avalizado. Não
identifica qual o sujeito da relação cambiaria está sendo avalizado. No aval em
branco há a presunção absoluta de que o aval foi dado em favor do
constituidor do TC – art. 899, parte final do NCC c/c art. 31 da LUG, art. 77 da
LUG e art. 30 da lei do cheque.
O aval pode ser total ou parcial
AVAL TOTAL: É o aval que garante a dívida toda.
AVAL PARCIAL: É o aval que garante apenas uma parte da obrigação.
Para que haja o aval parcial é preciso que o avalista insira na cártula esta
peculiaridade pois se o avalista não disser expressamente que garante apenas
uma parte da obrigação, aquele aval será considerado total.
O direito brasileiro admite o aval parcial?
O art. 897, PU do NCC, expressamente vedou o aval parcial. No entanto o
art. 903 do NCC preceitua que deve prevalecer o disposto nas leis especiais.
Em sendo assim, se a lei especial autorizar o aval no todo ou em parte, esta
prevalecerá (art. 30 da LUG, art. 29 da Lei 7357/85, art. 25 da Lei 5474/68).
Nestes casos em que é admitido o aval parcial. É imprescindível que o aval
parcial conste literalmente na cártula, face ao principio da literalidade.
101
Embora existam leis especiais admitindo o aval parcial, o art. 897, PU do
NCC será aplicado sempre que houver TC atípicos (sem previsão legal) ou nos
TC típicos quando a lei reguladora destes TC for omissa quanto ao aval. Nestes
casos será vedado o aval parcial na forma do art. 897, PU, NCC.
03/03/2005
AVAL PÓSTUMO: O aval póstumo é aquele prestado pelo avalista após o
vencimento do TC e após o transcurso do prazo para o protesto ou após o
protesto.
Todo aval póstumo é posterior ao vencimento, mas nem todo aval após o
vencimento é aval póstumo, pois pode acontecer do aval ser efetuado após o
vencimento e dentro do prazo para o protesto e neste caso não haverá o aval
póstumo.
Art. 900 do NCC diz que o aval posterior ao vencimento produz os mesmos
efeitos do aval anteriormente dado, desde que antes do transcurso do prazo
para o protesto, ou antes do protesto. .
Ex: A emite uma NP para B com vencimento para o dia 10/03/2005. O dia
do protesto é dia 11/03/2005 (primeiro dia útil a contar do vencimento).
Imaginemos que houve o protesto no dia 11/03/05 as 16 h. e Y avalizou A
neste mesmo dia 11/03/2005, as 7h da manhã, ou seja, dentro do prazo do
protesto e antes do protesto. Neste caso não houve o aval póstumo.
Exemplo: A emite uma NP para B com vencimento para o dia 10/03/2005.
O dia do protesto é dia 11/03/2005. B protesta esta NP no dia 11/03/2205 e
após a efetivação do protesto, Y avaliza esta NP no dia 15/03/2005, ou seja,
após o vencimento, após o protesto e após o prazo do protesto. Neste caso há
o aval póstumo.
O art. 900 do NCC dispõe que o aval posterior ao vencimento produz os
mesmos efeitos do anteriormente dado. Mas e quanto ao aval posterior ao
prazo do protesto?
A lei nos diz que o endosso póstumo produz efeito de cessão de crédito.
102
Mas a lei é omissa em relação ao o aval póstumo, efetuado após o
protesto ou após o prazo para o protesto. E por causa desta omissão, há
controvérsias.
1ª corrente: Luis Emygdio entende que o aval póstumo, realizado após o
protesto e após o prazo para o protesto, não tem qualquer validade. O avalista
póstumo não pode ser cobrado porque após o protesto do TC a relação
cambiária se exaure e, portanto o aval não tem qualquer valor.
2ª corrente: Fran Martins entende que o aval póstumo é uma garantia,
entretanto, produz efeitos de uma de fiança. Para eles, como a legislação é
omissa, deve ser feito um paralelo entre o aval póstumo e o endosso póstumo.
Da mesma forma que o endosso póstumo produz efeitos de uma cessão civil
de crédito, o aval póstumo também seguirá esta regra, e por esta razão, o aval
póstumo deixa de ser um aval propriamente dito, e passa a produzir os efeitos
de uma fiança. Por produzir os efeitos de uma fiança, o fiador (avalista
póstumo) terá responsabilidade subsidiária, porque na fiança há o benefício de
ordem e desta forma o afiançado deve ser executado antes do fiador, salvo se
houver cláusula expressa do fiador renunciando ao beneficio de ordem. (É
diferente do aval onde a responsabilidade do avalista é solidária à
responsabilidade do avalizado e, portanto o credor poderá executar qualquer
um deles eis que no aval não há o beneficio de ordem). Nós veremos mais a
frente as principais diferenças entre aval e fiança!
3ª corrente: João Nonato Borges entende que diante da omissão
legislativa o aval póstumo será considerado um aval propriamente dito desde
que o avalista possa ser demandado, ou seja, desde que na época em que o
avalista avalizou o TC ele pudesse ser executado. Para ele, o aval póstumo
efetuado após a prescrição do TC não tem efeito cambiário, pois após a
prescrição do TC este passa a ser cambiariamente inexigível e, portanto o
avalista não pode ser demandado.
Exemplo: A emitiu NP para B com vencimento para o dia 10/03/2005 e Y
avalizou A, após o vencimento e após transcorrido o prazo para o protesto.
Quando ele avalizou o TC, o credor B deste TC podia demandá-lo ou o TC já
estava prescrito?
103
B é credor, A é devedor direto e principal. E Y por ter avalizado o A
também será devedor direto e principal. Neste caso, não houve protesto
porque o protesto era desnecessário, eis que o credor pode executar o devedor
principal independentemente do protesto. Para esta 3ª corrente, como esta NP
não está prescrita (pois a NP prescreve em 3 anos), o Y pode ser executado eis
que na época em que ele realizou o aval ele poderia ser executado.
Exemplo ²: A emite uma NP para B que o endossa tempestivamente para
C que é o credor. Y avalizou B após o protesto e após o prazo para o protesto.
A NP não foi protestada. Neste exemplo, C pode demandar o A que é devedor
direto e principal, logo para que A seja executado não há necessidade de
protesto. Mas, para esta corrente, C não poderá executar B nem Y, pois o B é
devedor indireto e seu avalista também será devedor indireto. Sem o protesto
os devedores indiretos não podem ser executados.
Natureza jurídica do direito de regresso do avalista:
Exemplo: A emite uma NP em favor de B, sendo que o A tem o avalista Y.
Se o B executar o Y este não poderá alegar as defesas pessoais de A para não
pagar o B. Se o Y pagar a NP ele terá direito a ingressar com uma ação
regressiva em face de A, que é o seu avalizado, pois o avalista é um devedor
de regresso. Esta ação regressiva tem natureza executória (não é uma ação de
conhecimento). A ação regressiva que o avalista propõe em face de seu
avalizado é uma ação cambiária, executória.
AVAL & FIANÇA
Aval e fiança se assemelham porque são garantias pessoais também
chamadas de garantias fidejussórias. A partir do NCC, ambos precisam de
outorga uxória para serem realizados ( art. 1647, III, NCC).
Mas o aval não se confunde com a fiança.
Aplica-se ao aval os institutos cambiários ao passo que aplica-se a fiança
os institutos civis.
No aval há o principio da literalidade, o aval só pode ser realizado no TC,
na cártula. Já a fiança é um contrato acessório, que pode vir escrito tanto no
contrato principal como em um contrato acessório em separado.
104
No aval há autonomia das obrigações assumidas pelo avalista. Ou seja, se
a obrigação do avalizado for nula, esta nulidade não atinge o avalista. Já na
fiança, se a obrigação principal (do avalizado) for nula, esta nulidade atinge
também a obrigação do fiador, que é uma obrigação acessória.
Os devedores cambiários são devedores solidários, onde o credor pode
cobrar de um ou de outro ou dos dois. Ou seja, o credor pode cobrar do
avalista, ou do avalizado ou dos dois porque se trata de uma obrigação
solidária. Já na fiança a há obrigações subsidiárias e sendo assim o credor só
poderá cobrar do fiador depois de cobrar do afiançado. Uma vez que o
afiançado não pague ao credor, este poderá acionar o fiador, pois na fiança há
o beneficio de ordem.
O aval é uma declaração unilateral de vontade ao passo que a fiança é um
contrato bilateral.
105
AVAL FIANÇA
O aval é um instituto cambiário que
obedece aos princípios cambiários
A fiança é um instituto civil.
O aval é declaração unilateral de
vontade
A fiança é contrato, logo, é declaração
bilateral da vontade.
O aval segue ao principio da
literalidade, logo tem que ser prestado
na própria cártula.
A fiança não tem literalidade, logo ela
pode ser inserida no próprio contrato
principal como em um documento em
separado.
O aval é uma garantia cambiária
autônoma onde a obrigação do avalista
não se confunde com a obrigação do
avalizado. Ainda que haja um vício
intrínseco na obrigação do avalizado,
este vício não anulará a obrigação do
avalista.
A fiança é um contrato acessório, onde
não há autonomia entre o fiador e o
afiançado. Na relação jurídica entre fiador
e afiançado há a regra da acessoriedade.
O contrato acessório de fiança seguirá a
sorte do contrato principal. Se houver um
vício na obrigação principal, este vício vai
contaminar a relação jurídica do fiador.
Se a obrigação do avalista é autônoma,
sobre ela incide a regra da
inoponibilidade das exceções pessoais.
O avalista não pode se defender
alegando as matérias de defesa pessoal
do avalizado.
O fiador pode defender-se utilizando as
defesas pessoais do seu avalizado, pois na
fiança, o fiador não precisa respeitar as
regras da inoponibilidade das exceções.
Entre avalista e avalizado há
solidariedade. Avalista e avalizado são
devedores solidários. O credor pode
executar ou um ou outro ou os dois ao
mesmo tempo.
Entre fiador e afiançado há
subsidiáriedade. O fiador tem direito ao
benefício de ordem, e desta forma, o
credor terá que executar primeiro o
afiançado e somente depois poderá
106
executar o fiador, salvo se expressamente
o fiador recusar este benefício.
O avalista no momento em que presta o
aval, este será realizado sobre uma
dívida líquida e certa.
No momento em que o fiador presta a
fiança, a obrigação não precisa estar
líquida, ainda que ela tenha que ser
liquidada no momento da execução.
Após o NCC é necessária a autorização do cônjuge para que seja prestado
o aval – art. 1647, III do NCC. No CC/16, a outorga uxória só era exigida na
fiança. No aval não havia necessidade de autorização do cônjuge.
Mas agora esta necessidade existe.
No art. 897 NCC fazer remissão ao art. 1647, III do NCC. E no art. 1647,
III fazer remissão ao art. 987 e art. 1642, I do NCC.
PERGUNTA:
O empresário individual, casado, no exercício da empresa, ao conceder o
aval necessita da autorização do cônjuge?
Na verdade há um conflito aparente entre o art. 1647, III e o art. 1642, I.
Na verdade o art. 1642, I diz que o marido ou a mulher pode praticar
todos os atos necessários para o exercício da atividade profissional,
independentemente da autorização do outro cônjuge. Há o enunciado 114 do
CEJF que diz exatamente isso.
Sendo assim o empresário individual no exercício da sua profissão pode
avalizar sem o consentimento do seu cônjuge.
AVALISTA QUE CONFERE AVAL À UM SUJEITO SEM OBRIGAÇÃO
CAMBIÁRIA
QUESTÕES:
1) A emite uma NP para B que faz um endosso póstumo para C. por ser
um endosso póstumo, produz os efeitos de uma cessão de crédito e desta
forma o cedente em regra não garante o pagamento, logo não é devedor.
Portanto o C só poderá cobrar de A. Se Y avaliza B que é um endossante
107
póstumo, o Y terá obrigação cambiária, ou seja, Y será devedor mesmo que
seu avalizado não tenha obrigação??
2) A dá uma ordem de pagamento ao B para que B pague ao C. B é o
sacado, que só se transforma em devedor cambiário após o aceite. Mas antes
mesmo de B aceitar o TC, Y o avaliza. No momento do aceite, o B se recusa a
aceitar aquele TC. Logo, B não será um devedor cambiário, mas e seu avalista
Y será ou não um devedor cambiário?
3) Avalista que confere aval à uma pessoa sem obrigação cambiária será
considerado devedor cambiário?
Para responder a estas questões, existem controversas:
1ª corrente: Carvalho de Mendonça, R. Requião e Luis Emygdio
entendem que nestas situações o avalista será considerado avalista face ao
principio da autonomia e além disso o avalista quando presta o aval, garante o
pagamento do TC (e não a obrigação). – Majoritária.
2ª corrente: Campinho, e Fran Martins entendem que nestas hipóteses o
avalista não será considerado avalista porque o aval garante a obrigação
cambiária. Se inexiste a obrigação do avalizado, inexiste também a obrigação
do avalista.
QUESTÕES DA MAGISTRATURA:
a) Uma determinada sociedade Y Ltda. tinha 3 sócios. Os sócios A e B
eram administradores desta sociedade e de acordo com o contrato social, a
atuação de A e B deve ser conjunta, ou seja, tudo que A assina o B também
tem que assinar. Entretanto, A, na qualidade de administrador, emitiu uma
nota promissória em nome da Sociedade, em favor de W (credor). Após o
vencimento o credor executou a Sociedade. E esta sociedade, em embargos à
execução alegou que a NP teria que conter também a assinatura do sócio B e
que como a NP só possuía a assinatura do sócio A, este é que deveria ser
executado, e não a sociedade. Decida.
108
b) A sociedade Y Ltda. tinha três sócios e o contrato social dizia que o A
era o sócio administrador. Além disso, o contrato social também dizia que o
sócio administrador não poderia conceder aval, salvo com a anuência expressa
dos demais sócios. Entretanto, o A avalizou uma NP, violando a cláusula do
contrato social. O credor desta NP ajuíza execução contra a sociedade e esta
defende-se alegando que o A não poderia conceder o aval porque atuou em
desconformidade com o contrato social. Decida.
Em outras palavras, estas cláusulas proibitivas e restritivas podem ser
invocadas pela Sociedade para não pagar a terceiros?
Antes do NCC a questão era controvertida. Após o NCC a questão
continua controvertida, pois o NCC acolheu a posição minoritária.
Antes do NCC:
Waldemar Ferreira e Pontes de Miranda entendiam que a Sociedade não
se obriga, logo poderá invocar a cláusula restritiva para não ser responsável.
Se a cláusula determinou que o sócio administrador não poderia ser avalista,
então a Sociedade não vai se obrigar se o sócio assinar como avalista (a
mesma coisa para as obrigações assumidas somente por um sócio, em que
deveria ter a assinatura dos dois sócios). Os fundamentos desta corrente
estavam no art. 8 da LUG e no Princípio da Publicidade, pois se a cláusula do
contrato social que está arquivado na Junta empresarial é público, as partes
interessadas deveriam consultar este contrato para saber se aquele
administrador tinha poderes para tal.
Rubens Requião, Sergio Campinho, Tavares Borba Entendiam que a
cláusula restritiva do contrato social é válida e eficaz, porém somente entre os
sócios e a Sociedade, e não perante terceiros de boa-fé. Ou seja, aquele
administrador que violou a cláusula poderá ser responsabilizado pela
Sociedade porque praticou um ato danoso, e a Sociedade vai acionar aquele
administrador, entretanto, perante terceiros de boa-fé quem responde é a
Sociedade. Os fundamentos desta corrente estão na Teoria da Aparência, ou
seja, se aquele administrador praticou o ato aparentemente lícito, vinculando a
Sociedade, então este ato é válido para os terceiros de boa fé. Aqui, o que se
109
tem é uma culpa in eligendo da Sociedade que elegeu um administrador ruim,
que violou o contrato, por isso a Sociedade deve arcar com esta
responsabilidade perante terceiros, mas poderá ingressar com ação de
regresso em face do administrador que praticou o ato danoso.
Sergio Campinho ainda tem um outro argumento, que é o art. 42 Dec.
2044/08, (lembra quando eu falei da Teoria da Personalidade, que a PJ tem
capacidade contratual, processual, cambiária), então este art. 42 determina
que poderá se obrigar na Letra de Câmbio quem tem capacidade civil ou
comercial, logo se a Sociedade tem capacidade cambiária ela se obriga. E
como as normas que tratam da capacidade são normas de ordem pública, são
imperativas e cogentes, uma cláusula contratual não poderá afastar esta
capacidades, pois a cláusula contratual não pode afastar uma norma de ordem
pública. (inclusive, somente a legislação diz quem são os incapazes, não
poderá uma cláusula determinar isso, apesar dela valer entre os sócios, porém
perante terceiros não será válida)
Rubens Requião ainda critica a 1ª posição, porque este artigo 8º da LUG
fala que é na qualidade de representante que é mandante, e de acordo com a
Teoria do Órgão o administrador é um presentante (não é representante), logo
a Sociedade também será responsabilizada perante terceiros. Inclusive, esta
crítica também pode ser aplicada ao art. 892 NCC, que fala em representante,
que é somente o caso de se dar uma procuração para uma terceira pessoa,
que extrapola os poderes, neste caso somente ele, mandatário, vai responder,
já o mandante não responderá.
Após o NCC
Com o advento do NCC a posição de Waldemar Ferreira e Pontes de
Miranda que era minoritária passou a ser dominante e a posição majoritária
(antes do NCC) passou a ser minoritária por conta do art. 892 NCC. O art. 892
deve ser lido à luz do art. 1015, PU do NCC.
Art. 1015, PU, do NCC – Os atos normais de gestão praticados pelo
administrador são de responsabilidade da Sociedade, pois a Sociedade é quem
pratica estes atos através da pessoa do administrador (Teoria do Órgão). Já os
110
atos anormais, em regra quem responderá é a Sociedade e o sócio, porém o
parágrafo único excepciona ao falar que o excesso praticado pelo
administrador poderá, eventualmente, ser invocado pela Sociedade para se
eximir da responsabilidade, desde que tenha pelo menos uma das hipóteses
dos incisos.
I – O inciso primeiro adota o Princípio da Publicidade, ou seja, o terceiro
não pode alegar desconhecimento da cláusula restritiva, pois o contrato social
está devidamente registrado no órgão competente. É a posição de Waldemar
(minoritária). Este inciso responde a questão do sócio que concedeu o aval
violando a cláusula contratual e a questão do sócio que emitiu a NP sem a
assinatura do outro sócio.
O inciso I acaba mitigando uma teoria fundamental que é a Teoria da
Aparência e conseqüentemente diminui a proteção de terceiros de boa-fé, vou
dar um exemplo, se você faz um contrato com a Sociedade de R$
1.000.000,00, neste caso o contrato é muito alto, logo neste caso terceiros não
vão negociar sem antes consultar o contrato social da sociedade, logo se aplica
a regra do inciso I.
II – Neste inciso, determina que mesmo se a limitação não estivesse
registrada, mas se fosse provado que era conhecida pelo terceiro, este não
estaria de boa-fé, já que tinha conhecimento da limitação e por isso assumiu a
responsabilidade, logo a Sociedade não deve responder.
III – Trata da Teoria Ultra Vires Societatis, neste caso se a operação for
estranha ao objeto social.
Basta apenas uma destas hipóteses para que a Sociedade se exima da
responsabilidade, e as hipóteses dos incisos I e II são casos de uso indevido
que viola a lei ou contrato. Já a hipótese do inciso III é um caso de abuso, que é
a teoria ultra vires societatis, viola o objeto social.
OBS¹: A diferença entre uso indevido e abuso do nome empresarial:
O uso indevido do nome empresarial ocorre quando o administrador viola
o contrato social ou atua em proveito próprio, ou seja, utiliza o nome da
111
sociedade para fins pessoais. O abuso do nome empresarial é a violação do
contrato que extrapola o objeto social. O abuso do nome é a prática de um ato
que não condiz com o objeto do contrato social e este abuso tem a natureza do
ato ultravires societatis. O ato ultra vires é o ato abusivo do contrato social, da
cláusula que delimita o objeto social (art. 997, II, NCC).
OBS²: O NCC dá muita importância ao Princípio da Publicidade, então, se
esta controvérsia cair você deve falar das controvérsias anteriores e que o NCC
mudou o tratamento dada para esta disciplina, e ainda deve demonstrar que o
art. 1015 deve ser mitigado para mostrar conhecimento, e é o que a doutrina
vem fazendo.
PLURALIDADE DE AVAIS ou AVAIS PLÚRIMOS:
Exemplo: A emite uma NP para B que endossa para C.
Nesta relação cambiária A é avalizado por Y, por X e por Z. Nesta relação
cambiária, os avalistas X, Y e Z estão avalizando o emitente A. O credor C
poderá executar o A ou o X ou o Y ou o Z e não haverá benefício de ordem.
Em relação ao credor, pouco importa o tipo de aval plúrimo, mas entre os
avalistas haverá diferença.
AVAL SUCESSIVO = É o aval do aval. No aval sucessivo o sujeito da
relação cambiária é avalizado por um avalista e posteriormente este avalista é
avalizado por outro avalista e assim por diante... No aval sucessivo, entre os
avalistas a solidariedade é cambiária e há o direito de regresso apenas em
relação aos avalistas anteriores, pois os avalistas que concederam o aval
depois do que realizou o pagamento, não serão obrigados ao pagamento.
W
Z (avalista)
X (avalista)
A ----------------------- B ----------------------------C
112
AVAL SIMULTÂNEO = É a pluralidade de avais concedidos ao mesmo
tempo, simultaneamente. Vários avalistas diretamente avalizam o sujeito da
relação cambiária. No aval simultâneo a solidariedade é civil. Aquele que pagar
o Titulo poderá ingressar com ação de regresso contra todos os demais
avalistas.
X Y Z (avalistas)
A ----------------------- B ----------------------------C
A relação existente entre os avalistas e o credor será a mesma tanto no
aval sucessivo ou no simultâneo, pois credor pode cobrar de um, alguns ou
todos os avalistas, que são devedores diretos, pois avalizam o emitente, logo
não há necessidade nem mesmo do protesto.
A diferença entre o aval sucessivo e o aval simultâneo se dá na relação
interna entre os avalistas, pois se o aval for SuCessivo a Solidariedade entre os
avalistas será Cambiária. Já se o aval for simultâneo a solidariedade entre os
avalistas é Civil (ver a diferença destas solidariedades no inicio deste módulo).
Então, por exemplo, se o C cobrar a dívida toda de Z, de quem o Z
poderá cobrar em regresso?
Se o aval for sucessivo, onde a solidariedade é cambiária, Z somente
pode cobrar a dívida toda de quem está na sua frente, então Z poderá cobrar a
dívida de X ou de A.
Se o aval for simultâneo, que a solidariedade é civil, neste caso o Z
poderá também cobrar em regresso tanto dos outros avalista, cada um na sua
quota parte, como do emitente.
No aval sucessivo existem vários avalistas, porém apenas um garante
diretamente o avalizado, que é o X garantindo A, já o resto dos avalistas
garantem os outros avalistas, (W garante Z e Z garante X).
Já o aval simultâneo todos os avalistas garantem diretamente o
avalizado A.
113
Agora, para o avalizado A não tem nenhuma diferença se o aval é
sucessivo ou simultâneo, contra ele sempre caberá a ação de regresso.
OBS: A sumula 189 do STF determina que o aval em branco e
superpostos consideram-se simultâneos, porque no aval em branco todos
avalizam o constituidor do título e mesmo que um seja superposto ao outro,
como não há identificação de quem é o avalizado, presume-se que todos
avalizam o emitente (constituidor do TC).
Logo, para indicar um aval simultâneo tem que ser em preto.
10/03/2005
AVAL & ENDOSSO
Aval e endosso são declarações cambiárias unilaterais, eventuais e
sucessivas realizadas no TC. Estas manifestações são sucessivas porque elas
são realizadas após a constituição do TC e são eventuais porque não são
essenciais para que o TC exista. Pode existir um TC sem que nele seja
realizado nenhum aval ou nenhum endosso.
Aval e endosso são informados pelo principio da literalidade, cartularidade
e da autonomia.
Mas o aval e o endosso não se confundem. (aqui trataremos do endosso
propriamente dito)
A finalidade do aval é uma garantia cambiária ao passo que a finalidade
do endosso é a circulação. O aval não tem nenhuma dependência com a
circulação do TC. O endosso visa a transferência do direito constante no TC, e o
endosso não tem função exclusiva de garantir o TC, inclusive o endossante
pode inserir no TC cláusula sem garantia, de modo que uma vez inserida esta
cláusula o endossante não garantirá o pagamento do TC. O aval
independentemente da circulação, garantirá o pagamento do TC e justamente
114
por se tratar de uma garantia cambiária, o avalista nunca poderá inserir
cláusula que exclua a garantia do pagamento.
O aval pode ser parcial se a lei extravagante assim autorizar, já o endosso
nunca poderá ser parcial. O endosso parcial é nulo.
O aval garante qualquer titulo de crédito. Já o endosso só pode ser
realizado nos títulos de crédito nominais à ordem.
O aval pode ser dado por qualquer pessoa, inclusive por quem já integra a
relação jurídica cambiária. Já o endosso só pode ser realizado por quem tiver o
direito de crédito (o credor).
PROTESTO:
O protesto está regulado na Lei 9492/97.
Lei 9492/97:
Art. 1 da lei 9492/97 conceitua o protesto, mas este artigo tem dois
defeitos graves que não devem ser repetidos em uma prova.
O primeiro defeito é que o art. 1 da lei 9492/97 não trata de todas as
espécies de Protestos, logo o conceito deste art. 1 é incompleto. Além disso, o
art. 1 da lei 9492/97 é impreciso pq ele não esclarece quais os documentos
que podem ser protestáveis. O art. 1 apenas diz que os documentos de dívida
podem ser protestados, mas não diz quais são estes documentos de dívida.
No art. 1 onde está a palavra “inadimplência”, fazer remissão ao art. 21
para indicar que o protesto pode ser por falta de pagamento, falta de aceite ou
por falta de devolução.
CONCEITO DE PROTESTO:
Protesto configura ato cartoriano, extrajudicial, solene e público, feito
pelo credor e instrumentalizado pelo oficial do cartório (art. 22 da lei 9492/97)
que tem por finalidade comprovar a falta de aceite, a falta de pagamento ou a
falta de devolução do título, viabilizando o exercício do direito de ação
cambiária indireta*, ou o requerimento de falência com base no art. do art. 1
da LF. (Art. 1 c/c art. 10 da LF c/c art. 94, I, da lei 11101/2005)
* Ação cambiária indireta é a ação cambiária fundada em TC que é
proposta em face dos devedores cambiários indiretos.
115
O protesto é ato cartoriano formal e público pq ele é realizado no cartório
de títulos e documentos, logo este é um ato extrajudicial. O protesto é um ato
assecuratório, que não cria um direito, mas assegura o exercício de um direito.
É um ato probatório, não é um meio de cobrança, mas um meio de prova.
O protesto é um direito potestativo, que viabiliza a cobrança do crédito
dos devedores indiretos. Se o titular do direito de realizar o protesto não
exercê-lo, ele perderá o direito de cobrar dos devedores indiretos porque seu
direito decairá. Logo, prazo para realização do protesto é um prazo
decadencial. A perda deste prazo extingue o direito.
Existe a figura do Protesto Judicial, que é uma medida cautelar nominada
prevista no art. 882 do CPC e que tem por finalidade conferir uma cautela para
assegurar um direito. O protesto judicial não tem nada a ver com o nosso
protesto cambiário.
QUESTÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA:
Zezinho, credor de uma NP no valor de 1 salário mínimo procura o gerente
do Banco e pergunta se com um simples protesto poderia cobrar o TC.
Pergunta: o Protesto é um meio de cobrança?
Na prática é muito comum que ao realizar o protesto, o oficial do cartório
intime o devedor para que este tome conhecimento do Protesto ou para que o
devedor possa comparecer ao cartório ou possa ingressar com uma ação
cautelar para impedir o protesto, ou por fim, pode acontecer do devedor
aparecer no cartório para pagar a dívida. Então, na verdade o protesto não é
um meio extrajudicial de cobrança, mas muitas vezes quando ocorre o Protesto
o devedor comparece no cartório e paga a dívida. Para a doutrina majoritária o
Protesto é meio de comprovação de que a dívida não foi paga. O Protesto não
cria o direito de cobrar do devedor. Mas para exercer o direito de cobrar de
alguns devedores, em regra, é preciso protestar o TC. Em regra, o protesto vai
viabilizar a cobrança do TC dos devedores indiretos. Se o credor não realizar o
Protesto, o direito de ele cobrar dos devedores indiretos decai.
NATUREZA JURIDICA DO PROTESTO:
Para a doutrina majoritária o Protesto é um ato comprobatório.
116
Para Fabio Comparato, o Protesto além de ser um ato comprobatório é
também um ato jurídico em sentido estrito. Ou seja, o protesto além de ser um
ato comprobatório, produz os efeitos previstos na lei. Os atos jurídicos em
sentido estrito são aqueles cujos efeitos decorrem da lei (e não da vontade das
partes).
EFEITOS DO PROTESTO:
Quando o credor protesta um TC produzem-se os seguintes efeitos:
- O protesto interrompe o prazo prescricional. A sumula 153 do STF diz
que o simples protesto cambiário não interrompe a prescrição. Entretanto esta
súmula está prejudicada porque o art. 202, III do NCC dispõe que o protesto
cambiário interrompe a prescrição.
- O protesto impede a participação em procedimento licitatório. Para
participar do procedimento licitatório é necessária a apresentação de
documentos e dentre eles há a necessidade de apresentar certidão de nada
consta, porque o Poder Público não se interessa em contratar com quem é
inadimplente.
- O protesto viabiliza ação cambiária indireta – para executar os devedores
indiretos;
- O protesto por falta de aceite produz o vencimento antecipado da dívida,
viabilizando a cobrança do Sacador da LC (art. 19 Decreto 2044/1908).
- O protesto é importante para verificação da ocorrência de endosso
póstumo. O endosso realizado após o protesto produz efeitos de uma cessão
de crédito.
- O protesto autoriza o pedido de falência fundado na impontualidade do
devedor (art. 1 c/c art. 10 da LF).
- O protesto fixa o marco inicial do termo legal da falência – art. 14, PU, III,
LF (e art. 99, II da Lei 11101/05). O art.14, PU, III do DL 7661 e o art. 99, II da
lei 11.101/05 tratam dos elementos que constam na sentença que decreta a
falência. Dentre estes elementos está a fixação do termo legal. O período do
termo legal foi ampliado na nova lei de falência e passou a ser fixado em até
90 dias. A sentença que decreta a falência tem efeitos retroativos, ela tem
eficácia ex tunc e atinge atos praticados antes da decretação da falência. Os
atos praticados durante o termo legal, durante aquele prazo de até 90 dias
117
anteriores à sentença, ainda que não tenham sido atos fraudulentos ou que
não tenham causado prejuízos, estes atos praticados dentro do termo legal são
tidos como ineficazes perante a massa falida, na forma do art. 52, I, da LF. O
requerimento de falência com base no art. 1 da LF necessariamente terá que
ter o protesto. O termo legal levará em conta a data do primeiro protesto e
fixará um termo desta data para trás. O primeiro protesto é o marco inicial
onde será contado o período que antecedeu ao primeiro protesto.
Requião entende que não há qualquer diferença entre termo legal e
período suspeito, pois a lei sequer faz menção à expressão “período suspeito”.
Mas Anco Marcio Vale e outros doutrinadores entendem que termo legal não se
confunde com período suspeito. Para ele o termo legal é de até 60 dias,
conforme previsto no art. 14, PU, III da LF e que o período suspeito estaria
previsto no art. 52, IV e V da LF que é equivalente aos 2 anos anteriores à
decretação da falência.
- O protesto impede a concordata proibitiva ( art. 158, IV da LF c/c sumula
190 STF).
CLASSIFICAÇÃO DO PROTESTO:
PROTESTO EXTRAJUDICIAL (OU CARTORIANO):
O protesto extrajudicial pode ser por falta de aceite, por falta de
devolução ou por falta de pagamento.
O protesto por falta de pagamento é possível em todos os TC, porque visa
comprovar a inadimplência.
O protesto por falta de aceite é possível na LC e na Duplicata. (cheque e
NP não possuem aceite).
O protesto por falta de devolução visa comprovar a retenção indevida (art.
21, §3 da lei 9492/97 revogou o art. 13, §1 da lei da duplicata)
PROTESTO FACULTATIVO & PROTESTO NECESSÁRIO
O protesto é facultativo para cobrar do devedor cambiário direto.
E o protesto em regra é necessário para o credor cobrar dos devedores
indiretos. O protesto também é necessário para o requerimento de falência.
Neste caso há necessidade do chamado protesto especial previsto no art. 10
118
da LF. Este protesto é chamado de protesto especial pq antigamente havia um
livro para os protestos comuns e outro livro para o protesto para requerimento
de falência. O art. 10 caput, parte final se refere à um livro especial, mas isso
está revogado pelo art. 23 da lei 9492/97.
PROTESTO COMUM E PROTESTO PARA FINS ESPECIAIS (FINS
FALIMENTARES)
O protesto comum viabiliza a ação cambiária contra devedores indiretos.
O protesto comum pode ocorrer por falta de aceite, falta de devolução ou por
falta de pagamento.
O protesto para fins especiais viabiliza o pedido de falência com
fundamento no art. 1 da LF. O protesto para fins de falência leva em conta a
falta de pagamento, pq quer comprovar a impontualidade.
Existem hipóteses em que o protesto não é necessário para fins cambiais,
mas é necessário para fins falimentares. Por exemplo, o credor não precisará
do protesto para executar o devedor direto. Mas se o credor quiser requerer a
falência do devedor direto, ele terá que protestar o TC.
O protesto comum cambiário tem prazo decadencial para ser levado à
efeito, já o protesto para fins especiais, não tem prazo. Enquanto não houver
prescrição do direito de crédito do credor, poderá ser efetuado o protesto, a
qualquer tempo – art. 10 LF.
O protesto para fins cambiários, em regra é efetuado na praça do
pagamento, ou seja, no lugar onde deve ser efetuado o pagamento. Já o
protesto para fins especiais, há controvérsias. O entendimento predominante é
no sentido de que o protesto para fins de falência deve ser realizado no lugar
onde estiver o principal estabelecimento do devedor, por causa do art. 7 caput
da LF, que deve ser aplicado ao protesto por analogia. Mas, minoritariamente,
Anco Marcio Vale entende que o local para o protesto falimentar é tanto o local
do principal estabelecimento como também a praça do pagamento. Para ele o
protesto é um ato administrativo, que antecede o procedimento judicial, logo
não há aplicação do art. 7 da LF.
IMPORTANTE:
119
O protesto comum não é sempre necessário para cobrar dos devedores
indiretos.
A regra geral nos diz que o protesto comum é necessário para cobrança
dos devedores indiretos. Mas existem exceções. As exceções prevêem
dispensa do protesto para cobrar dos devedores indiretos.
- art. 47, II da lei 7351/85 – Quando o credor apresenta o cheque dentro
do prazo de apresentação previsto no art. 33 da lei do cheque, ele não
precisará realizar o protesto para cobrar dos devedores indiretos, desde que
tenha a comprovação da falta de pagamento. Ou seja, há a dispensa do
protesto para cobrar dos endossantes e seus avalistas caso o credor tenha a
comprovação da falta de pagamento. E esta comprovação pode se dar com o
carimbo do banco indicando a falta de pagamento. O carimbo do banco é a
declaração do sacado de que não houve o pagamento e por sua vez, esta
declaração substitui o protesto nos casos em que a apresentação do cheque se
realiza dentro do prazo previsto no art. 33 da lei do cheque. ATENÇÃO: Para
fins de falência é necessário o protesto. A dispensa do protesto prevista no art.
47, II só servirá para a ação executória.
17/03/2005
DISPENSA DE PROTESTO
Em regra o protesto é necessário para que o credor do TC possa cobrar
dos devedores indiretos.
No que tange aos TC, a dispensa do protesto pode decorrer da lei ou da
vontade. O art. 47, II da lei do cheque prevê uma exceção à obrigatoriedade do
protesto para cobrança dos devedores indiretos do cheque. O art. 47, II
dispensa o protesto para cobrar dos devedores indiretos (endossantes e seus
avalistas) desde que o cheque tenha sido apresentado dentro do prazo legal
previsto no art. 33 da lei do cheque e desde que haja o carimbo do banco
comprovando a falta de pagamento. Ou seja, quando o Banco, Sacado, recusa
o pagamento por ausência de fundos, ele efetua um carimbo no cheque e se o
credor estiver dentro do prazo decadencial previsto no art. 33, ele poderá
executar os devedores indiretos sem necessidade de realizar o protesto.
120
O importante aqui é que seja sempre lembrado que esta dispensa de
protesto diz respeito apenas à possibilidade de executar os devedores
indiretos. Se o credor pretender requerer a falência do deve dor, terá que
protestar o cheque. Esta dispensa não se estende ao requerimento de falência.
Não há dispensa de protesto para fins falimentares.
O protesto é sempre necessário para o requerimento de falência do
devedor empresário, quando a causa de pedir da falência for a impontualidade
(art. 94, I, lei 11.101) .
Uma outra dispensa legal de protesto diz respeito à NP rural e à duplicata
rural, previstas no DL 167/67. Este DL não faz qualquer exigência do protesto
para que o credor possa cobrar dos devedores cambiários indiretos.
Pode haver também a dispensa voluntária do protesto quando as pessoas
que integram a relação jurídica cambiária dispensam o protesto. – art. 46, LUG.
Para que haja a dispensa voluntária do protesto, esta cláusula tem sempre
que vir expressa na cártula.
Se a cláusula que dispensa o protesto for inserida por um devedor indireto
ela só produzirá efeitos com relação ao devedor indireto que à inseriu no TC.
Nestes casos a cláusula terá natureza personalíssima.
Exemplo: A emite uma NP para B, que por sua vez endossa a NP para C,
que endossa para D. D é o credor. A é o devedor direto. B e C são devedores
indiretos que podem ser cobrados, desde que a NP seja protestada.
Entretanto nada impede que em uma relação cambiária idêntica à esta
acima descrita, o B, que é um devedor indireto, insira na NP uma cláusula
dispensando o protesto. Neste caso, diante da cláusula inserida pelo B, o
protesto será dispensado em relação ao B. Em outras palavras, a cláusula
inserida pelo B traduz uma dispensa voluntária do protesto, e no momento em
que o credor D for executar os devedores desta NP ele poderá fazê-lo sem
necessidade de realizar o protesto com relação ao devedor principal (como é a
regra) e com relação ao B (que inseriu cláusula dispensado o protesto).
A cláusula que dispensa o protesto, quando inserida por um devedor
indireto, é uma cláusula personalíssima, ou seja, ela não se estende aos
demais devedores indiretos. Se um devedor indireto inseriu cláusula
121
dispensando o protesto, a dispensa de protesto só produz efeitos em relação
aquele devedor que inseriu a cláusula. Em relação aos demais devedores
indiretos, o protesto será necessário, justamente pq a cláusula que dispensa o
protesto é personalíssima e não se estende à nenhum outro devedor indireto
que não seja aquele que inseriu a referida cláusula no TC. Entretanto, nada
impede que todos os devedores indiretos insiram a cláusula dispensando
protesto. Neste caso não haverá necessidade de protesto em relação à
nenhum devedor indireto.
Agora, se a cláusula que dispensa o protesto for inserida pelo constituidor
do TC, esta cláusula se estenderá à todos os devedores indiretos, produzirá
efeitos amplos.
O nome da cláusula que dispensa o protesto é cláusula sem despesa de
protesto.
De qualquer forma, a cláusula sem despesa de protesto, que dispensa o
protesto, só produz efeitos para fins cambiários. Ou seja, a dispensa do
protesto só diz respeito à ação executória fundada no TC.
A cláusula de dispensa de protesto nunca produzirá efeitos para fins
falimentares.
Em resumo, a cláusula que dispensa o protesto só produz efeitos para fins
cambiários. Quando ela for inserida por um devedor indireto ela terá natureza
personalíssima e só produzirá efeitos em relação ao devedor indireto que a
inseriu no TC. Mas se a cláusula sem despesa de protesto for inserida pelo
constituidor do TC ela produzirá efeitos em relação a todos os devedores
cambiários daquele TC.
TÍTULOS PROTESTÁVEIS:
Art. 1 da Lei 9492/97 conceitua o protesto. Mas este conceito é impreciso
e incompleto. É incompleto pq só preceitua o protesto por falta de pagamento,
quando o protesto também pode ser por falta de aceite e por falta de
devolução, tal como o disposto no art. 21.
No art. 1 da lei 9492 é dito que o protesto é o ato formal e solene pelo
qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em
títulos e em outros documentos de dívida.
122
O que seriam estes “outros documentos de dívida” a que se refere o art.
1?
Quais são os documentos passíveis de protesto? O boleto bancário pode
ser protestado? Exemplo, o assinante da revista “CARAS” recebe em casa um
boleto bancário e não o paga. Este boleto, embora não seja um TC, pode ser
protestado?
Há controvérsias.
Hermínio Amarildo Darouge e Pedro Luiz Rosa entendem que a expressão
“outros documentos” deve ser interpretada restritivamente. Ou seja, só é
passível de protesto os títulos executivos judiciais ou extrajudiciais, exigíveis, e
que documentem uma obrigação pecuniária. Esta corrente afasta a
possibilidade do protesto em um boleto bancário, em um contrato sem força
executória, ou em um titulo prescrito.
Carlos Henrique Abrão e a prática nos cartórios, segue esta corrente, no
sentido de que a expressão “outros documentos” deve ser interpretada
ampliativa e literalmente, ou seja, qualquer documento de valor pode ser
objeto de protesto. Sendo assim, um boleto bancário e um contrato sem força
executória pode ser objeto de protesto, eis que estes documentos traduzem
uma dívida de valor.
Pergunta: O título prescrito pode ser objeto de protesto? O credor de um
cheque prescrito poderá levá-lo à protesto?
A prescrição é matéria de defesa e em regra o juiz não pode reconhecer a
prescrição de ofício. Ora, se o juiz não pode reconhecer a prescrição de ofício, o
oficial de cartório poderá reconhecê-la administrativamente?
O art. 9 da lei 9492/97 diz que todos os títulos e documentos de dívida
protocolizados serão examinados em seus caracteres formais. Em outras
palavras, o oficial do cartório terá que examinar as formalidades dos TC e dos
documentos de dívida que lhe forem apresentados. E o art. 9 ainda diz que não
cabe ao oficial de cartório apreciar a prescrição.
Embora esta seja a letra da lei, a questão não é pacifica.
Pedro Viscosa entende que apesar da redação do art. 9 da lei 9492/97,
não cabe ao oficial do Cartório protestar Titulo Prescrito, pois há a necessidade
de o TC ser exigível, eis que do contrário o TC não terá utilidade.
123
Mas a posição dominante, que é a do Carlos Henrique Abrão, diz que, de
acordo com o art. 9 da lei 9492/97 o oficial do cartório ou tabelião só devem
analisar a existência de vícios formais, extrínsecos ou aparentes, não podendo
reconhecer a prescrição. Ademais, de acordo com o art. 219, §5, do CPC,
prescrição envolvendo direitos patrimoniais não pode ser reconhecida de oficio
pelo juízo, e, portanto também não pode ser reconhecida pelo cartório.
Certidão da Dívida Ativa (CDA) pode ser objeto de protesto?
A Certidão da Dívida Ativa (CDA) é um titulo executivo extrajudicial – art.
585, VI do CPC. A Fazenda constitui seu titulo executivo e executa o
contribuinte inadimplente através da ação de execução fiscal fundamentada na
CDA para que a Fazenda execute o contribuinte não há necessidade de
protesto da CDA.
Mas caso a Fazenda queira requerer a falência do contribuinte empresário
inadimplente, ela poderá fazê-lo, com base na CDA?
Há controvérsias quanto à possibilidade da Fazenda requerer a falência de
seu contribuinte empresário. Alguns autores sustentam a impossibilidade da
Fazenda requerer a falência do devedor empresário por lhe faltar interesse
processual neste requerimento. Para outros autores a Fazenda pode requere a
falência do devedor empresário e neste caso este requerimento será
fundamentado na impontualidade, que será demonstrada através da CDA.
Sendo assim esta CDA teria que ser protestada.
A nova lei de falências (Lei 11.101) não trata deste assunto, que já era
controvertido na antiga lei de falência, e pelo visto continuará controvertido.
Fabio Ulhoa Coelho, Nelson Abrão, Waldo Fazzio Jr. e parte do STJ
entendem que a Fazenda Pública pode requerer a falência do contribuinte
devedor empresário, fundamentado na CDA. E uma vez que o titulo de
requerimento de falência por impontualidade há de ser protestado, neste caso
a CDA também terá que ser protestada.
Para esta corrente a lei de falências não veda que a Fazenda requeira a
falência do contribuinte devedor empresário. A Certidão da Divida Ativa é um
Titulo executivo extrajudicial que atende aos requisitos da lei de falência. Logo,
nada impede que a Fazenda requeira a falência do devedor empresário, desde
124
que a CDA seja protestada, de modo a atender as exigências da Lei de
falências. Neste caso haveria uma insolvência comprovada pelo protesto. Além
disso, a lei de falências só restringe o requerimento de falência ao credor com
garantia real que não teria interesse no requerimento de falência uma vez que
este credor pode executar a sua garantia real, salvo nas hipóteses em que a
garantia real se perder.
Rubens Requião, Miranda Valverde e a outra parte do STJ entendem que a
Fazenda Pública não pode requerer a falência do devedor empresário e por
esta razão não há o que se falar em protesto da certidão da divida ativa eis
que para a Fazenda executar o contribuinte inadimplente a CDA não precisa
ser protestada.
Para esta corrente a fazenda Pública não poderia requerer a falência por
força do art. 186 do CTN (alterado pela LC 118) que diz que o crédito tributário
prefere a qualquer outro, salvo aos créditos provenientes de acidente de
trabalho, créditos trabalhistas. E o art. 187 do CTN diz que a Fazenda Pública
não se sujeita ao concurso de credores. Sendo assim, se a Fazenda não se
sujeita ao concurso de credores, a Fazenda não se sujeita ao processo
falimentar, que é uma espécie de concurso de credores. Além disso, há o art.
29 da lei 6830/80 que repete o art. 187 do CTN, dizendo que a Fazenda não se
sujeita ao concurso de credores. Outro argumento seria o art. 1 da lei de
execução fiscal que diz que os créditos tributários seriam regulados pela LEF, e
a contrario sendo, os créditos tributários não poderiam ser regulados pela lei
de falência. Por fim, outro argumento é o principio da razoabilidade porque a
falência não seria uma medida útil, necessária e proporcional à execução do
credito tributário. O processo falimentar é muito mais gravoso do que a
execução fiscal.
Uma vez ocorrido o protesto comum, há necessidade da realização do
protesto para fins especiais ou falimentares?
Exemplo: A é um empresário que emite uma NP para B. Na data do
vencimento, A não paga ao B. O B pode executar este devedor empresário
singularmente através de uma ação cambiária. Digamos que B proteste esta
NP, dentro do prazo para o protesto comum. Com a NP protestada B resolve
125
que quer requerer a falência do A. Nada impede que B requeira a falência do A,
pois ele possui um título executivo vencido e não pago. A pergunta é a
seguinte, este protesto comum realizado pelo B é suficiente para ele requerer
a falência do A, ou o B terá que efetuar o protesto especial para fins
falimentares? Ora, com aquele protesto comum o credor comprovou a
impontualidade. O objetivo do protesto especial é justamente a de comprovar a
impontualidade, logo, neste caso não será necessário que o B realize o
protesto especial.
O protesto comum supre a necessidade de protesto especial em relação
aos devedores indiretos?
Outro exemplo: A é um empresário e emite uma NP para B que também é
empresário e que endossa a NP para C. C é o credor e para cobrar a NP do
devedor direto A não precisara realizar o protesto comum. Mas para que C
possa cobrar de B, que é devedor indireto, será necessário o protesto comum.
C realiza o protesto comum. Mediante este protesto, C poderá requerer a
falência de A, que é devedor direto e principal. Este protesto comum realizado
pelo C supre o protesto especial para fins de requerimento de falência do
devedor direto, eis que este necessariamente será intimado do protesto.
Mas com este protesto, C poderá requerer a falência de B que é devedor
indireto?
Aqui a questão é controvertida no que diz respeito à lei a ser aplicada à
matéria.
Antes da lei 9492/97 havia o art. 29, III do decreto 2044, que regula a LC e
NP e que exige a intimação do Sacado ou do aceitante, de modo que assim
fica atestada a impontualidade destes sujeitos. Este dispositivo não faz
menção ao sacador da LC e nem aos devedores indiretos da NP. Por esta razão
este protesto, na forma do art. 29, III do Decreto 2044 não seria hábil a atestar
a impontualidade dos devedores indiretos. Para requerer a falência de um
devedor indireto seria necessário o protesto especial.
Antes da lei 9492/97, em relação ao cheque, não se aplicava o decreto
2044, mas sim o art. 48, §2, b da lei 7357/85 que estende à todos os co-
obrigados a intimação que atesta a impontualidade, não restringindo-a aos
devedores diretos como fez o decreto 2044. No cheque, a certidão de
impontualidade se estenderia os todos os co-obrigados.
126
Com o advento da lei 9492/97, a matéria passou a ser regulada no art. 22,
V, onde é dito que o registro do protesto e seu instrumento deverão conter a
indicação dos intervenientes voluntários. Ou seja, no instrumento do protesto
deve estar transcrita a indicação de todos os sujeitos cambiários. Este inciso
deve ser combinado com o art. 21, §4 da lei 9492/97.
Através da leitura destes dispositivos é possível perceber que a disciplina
da lei 9492/97 é diferente da disciplina do Decreto 2044.
Em relação aos devedores indiretos da LC, NP e cheque, o protesto
comum supre a necessidade do protesto especial, desde que o credor indique
os co-obrigados no momento em que for realizar o protesto. Agora, cabe ao
credor indicar os co-obrigados no momento em que ele for realizar o protesto
comum. Feita esta indicação todos os co-obrigados serão intimados do protesto
e sendo assim, este protesto comum suprirá a necessidade de protesto
especial em relação aos devedores indiretos.
Bom, mas a questão é saber qual a lei que deve ser aplicada, se seria o
decreto 2044, a lei de cheque ou a lei 9492/97.
Minoritariamente Hermínio Amarildo entende que deve ser aplicado o art.
29, III do Decreto 2044 e o art. 48, §2 da lei do cheque.
Majoritariamente a doutrina sustenta que deve ser aplicada a lei 9492/97,
art. 21, §4 c/c art. 22, V, tendo em vista que se trata de uma lei especial
posterior que regula apenas matéria referente ao protesto e faz referencia
expressa à LC, NP, cheque e duplicata. O art. 22, IV da lei 9492/97 apenas
preceitua que o instrumento deverá conter a “certidão das intimações”, porem
não esclarece quem será intimado. No entanto o art. 21, §4 da lei 9492/97
dispõe que o aceitante da LC e da duplicata, bem como o emitente da NP e do
cheque serão intimados, havendo assim o suprimento quanto à estes. Com
relação aos devedores indiretos destes títulos só haverá suprimento com
relação àqueles que forem indicados pelo credor à opção do cartório.
31/03/2005
PROTESTO E JUROS – Art. 40, da Lei 9492/97
127
Antes da lei 9492/97, havia entendimento no sentido de que os juros
moratórios incidiam após o protesto. O protesto seria o termo a quo para
incidir os juros moratórios, (não seria a partir do vencimento). Porém, após o
advento da lei 9492/97, o entendimento mais correto, e que dá a correta
interpretação ao art. 40 Lei 9492/97 é que a partir do vencimento da dívida é
que vão incidir os juros moratórios.
Entretanto, é possível que não haja um vencimento, nos casos em que a
obrigação não tem um prazo de vencimento, nestes casos, o protesto será o
termo a quo para incidir os juros moratórios, mas é somente se a obrigação
não tiver um vencimento estipulado.
Já se a obrigação tiver um vencimento estipulado, neste caso os juros
moratórios incidirão a partir do vencimento.
CONTRA-PROTESTO
SUSTAÇÃO - Art. 17 L 9492/97
CANCELAMENTO – Art. 26 l 9492/97
O protesto não é meio de cobrança, até poderá servir na prática como
um meio de cobrança, porque é feito pelo credor, mas não é meio de cobrança.
O oficial apenas instrumentaliza o protesto. Desta forma, o oficial do cartório
intima o devedor para pagar o título, ou fazer o aceite, ou devolver a cártula,
dependendo do motivo do protesto.
Então, após a intimação do devedor, durante os 3 dias seguintes, poderá
ocorrer três hipóteses:
1) O devedor não comparece no cartório, não faz nada Neste caso, o
oficial do cartório deverá efetivar o protesto.
2) O devedor poderá comparecer para pagar ou aceitar ou devolver o
título, suprindo o objeto do protesto Neste caso não haverá a efetivação do
protesto.
3) O devedor poderá realizar o Contra Protesto, que é uma defesa,
justificando perante o cartório por que não pagou o título, não aceitou ou não
128
devolveu. Esta defesa é apenas moral, sendo certo que não caberá ao oficial
de cartório fazer juízo de valor, porque ele somente pode analisar requisitos
formais Neste caso o protesto será efetivado.
Se o devedor comprovar que pagou a dívida, o oficial do cartório não
deverá efetivar o protesto, porque o protesto, neste caso, vai gerar um
constrangimento, inclusive cabe até perdas e danos.
SUSTAÇÃO - Art. 17, Lei 9492/97
Se o devedor pagou o titulo, mas mesmo assim o título foi protestado,
poderá sustar este protesto com um pedido de liminar nos 3 dias subsequente.
E depois entra com uma ação declaratória de inexigibilidade o titulo, porque já
foi pago.
A sustação prevista no art. 17 da lei 9492/97 uma medida judicial,
cautelar, nominada (porque tem nome) e típica (porque tem previsão legal) e
que visa impedir a efetivação do protesto. Mas, esta medida cautelar tem que
ser proposta rapidamente, nos 3 primeiros dias. Porém, se não houver esta
sustação, o devedor poderá entrar com perdas e danos, porque já pagou o
título e o protesto gera um constrangimento.
A sustação é sempre judicial
Tem por objetivo o impedimento da realização do protesto.
Se o protesto for indevido caberá a anulação, art.26, Lei 9492/97.
CANCELAMENTO - Art. 26 l 9492/97
Neste caso, o protesto é efetivado e depois vai requerer o cancelamento
do protesto, é uma medida desconstitutiva, que pode ser extrajudicial ou
judicial.
*Prova MP – Em que hipótese é possível o cancelamento do protesto?
129
Cancelamento Extrajudicial - Por exemplo, se o devedor pagar somente
após o protesto, neste caso com a quitação dada pelo credor poderá então, o
devedor ir ao cartório e demonstrar que já pagou e cancelar o protesto
diretamente no cartório.
Cancelamento Judicial – Por exemplo, se entrar com uma ação
declaratória de inexigibilidade do título, vai pedir em juízo para declarar que o
título não é mais exigível e também vai pedir o cancelamento. Ou uma ação
desconstitutiva do título, porque é um título inválido já que o devedor foi
coagido, neste caso vai desconstituir o título e cancelá-lo no cartório.
Então, o cancelamento pode ser feito através do pagamento ou através
de uma ação principal declaratória de inexigibilidade do título ou
desconstitutiva de título.
O cancelamento do protesto pode ser feito pela via administrativa
perante o tabelião ou pela via judicial.
Quando o devedor paga o título e tem o título em suas mãos basta a sua
apresentação para que o tabelião cancele o protesto.
Se o devedor que paga o título, não o tem em mãos, a lei autoriza
declaração de todos aqueles que tiveram o título, no sentido de que o mesmo
foi pago.
Nas demais hipóteses faz-se necessária a ação de cancelamento de
protesto. Ex: Protesto de duplicata fria.
Pergunta de um aluno (inaudível)
Resposta: Prazo para protesto da LC E NP - art. 28, Dec. 2044/08. prazp
do protesto da Duplicata esta no art..13, §4 da Lei 5474/68, que estabelece
um prazo mais decente para que não haja decadência. É de 30 dias.
Cheque: Lei 7357/85, art. 33 estabelece que o protesto deve ser feito
enquanto não escoado o prazo para apresentação de cheque ( 30 dias para
cheque da mesma praça e 60 dias para praças distintas).
Lugar do protesto:
A LUG é não fala nada. O art. 28, Dec.2044/08 diz que é o lugar do pagamento
da LC ou da NP. Mas o lugar do pagamento não é requisito essencial. O art. 1
130
da LUG enumera os requisitos da LC e no artigo seguinte supre os que não são
essenciais. O lugar do pagamento está no inciso art. 2 da LUG, que diz que o
lugar do pagamento deve estar ao lado do nome do sacado. Sendo assim, o
protesto deverá ser realizado no lugar do pagamento.
131
NOTA PROMISSÓRIA:
CONCEITO:
Na Nota Promissória é uma promessa de pagamento..
A nota promissória é um título de crédito, então é um documento formal
(devendo ter os requisitos essenciais ou formais), que consubstancia em uma
promessa para pagar. Quem promete é o emitente e quem recebe é o
favorecido ou credor, então tem duas figuras.
“A Nota Promissória configura um documento formal, que
representa uma promessa de pagamento a vista ou a prazo, feita pelo
emitente (PN ou PJ) em favor de outra pessoa, credor, favorecido ou
tomador, (PN ou PJ)”.
A natureza jurídica da NP é a de uma promessa de pagamento
incondicionada, pura e simples.
A legislação aplicável à Nota Promissória é a mesma da Letra de Câmbio,
só que é a partir da parte final da LUG (Dec. 57663/66) e o Decreto. 2044/08.
(OBS: O certo é sempre olhar a legislação nesta ordem, primeiro a LUG, que, se
for omissa, poderá ser suprida em suas omissões pelo Decreto 2044, e se
ainda assim persistir a omissão, então deverá ser consultado o NCC).
Para estudarmos a NP teremos que analisar os art. 75 e seguintes da
LUG. O art. 75 trata dos requisitos da NP, o art. 76 trata dos requisitos
supríveis.
REQUISITOS ESSENCIAIS E NÃO ESSENCIAIS DA NOTA PROMISSÓRIA
Os requisitos da NP estão no art. 75 da LUG. Vejamos cada um destes
requisitos:
132
1. A promessa pura e simples do pagamento. É pura e simples porque
esta promessa não pode ser condicionada, (por exemplo, eu prometo pagar
se ela passar no concurso da Magistratura), neste caso a condição impede a
circulação do título, e por isso não poderá ter qualquer condição. A expressão
quantia determinada é importante por causa dos títulos indexados (em que a
quantia não é determinada, mas sim determinável), por isso que Fran Martins
considera ilíquidos os títulos indexáveis.
Este dois requisitos são essenciais, porque de acordo com art. 76, a falta
destes requisitos não pode ser suprida.
2. Época do pagamento, ou seja, quando ocorrerá o pagamento, o
vencimento. Este requisito é não essencial, porque se não estiver escrita a
data do pagamento, o vencimento será considerado à vista, na forma do art.
76 da LUG.
3. Lugar em que se efetuará o pagamento. Na falta de indicação do
lugar do pagamento, o art. 76 da LUG diz que considerar-se-á o lugar em que a
NP foi passada (emitida).
4. O nome da pessoa a quem, ou a ordem de quem, se deve efetuar o
pagamento, que é o beneficiário, isto significa que necessariamente a nota
promissória será nominal, podendo ser a ordem ou não a ordem (não poderá
ser ao portador).
Agora, não se esqueça que no momento da emissão da nota não é
necessário que todos os requisitos estejam presentes, porque a Sumula 387 do
STF mitiga esta necessidade.
5. A indicação da data e do lugar que a nota promissória foi passada.
Neste item, temos dois requisitos, a data e o lugar.
6. A assinatura do emitente, que é um requisito essencialíssimo.
O art. 76 da LUG determina quais são os requisitos supríveis:
Art. 76 LUG c/c Art. 889 NCC – lembrar que sempre se aplica a LUG em
primeiro lugar e somente na hipótese da LUG ser omissa é que nós vamos nos
socorrer do NCC.
133
A época do pagamento (que é o vencimento) é um requisito suprível,
será considerado a vista.
Lugar onde o título foi passado em que se efetuará o pagamento,
também é um requisito não essencial, porque será considerado como sendo o
lugar do pagamento, e ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor.
Se não conter o lugar onde foi passada, que também é um requisito
suprível, será considerado no lugar ao lado do nome do subscritor.
Requisitos Essenciais
Os três requisitos que são sempre importantes para qualquer título são:
- Nome do título; Data de emissão; Assinatura
O nome do título, explicitando que se trata de uma “nota promissória”.
Se no título estiver escrito apenas a palavra “promissória” não será
considerada como sendo um título executivo de crédito, porque faltará o
requisito do art. 75. Tem que estar escrito “nota promissória”. Porém, se
estiver escrito “nota promiçoria” (com ç), escrito errado não tem problema,
neste caso não desnaturará o titulo de crédito que será válido.
A data prevista no nº 6 do art. 75 é importante inclusive para se saber se
o emitente tinha capacidade, se estava morto ou vivo, então sempre tem que
ter a data da emissão, inclusive podemos saber que não é suprível, porque o
art. 76 não fala nada sobre a data.
TÍTULO CAMBIARIFORME
O art. 77 determina a aplicação as disposições da LUG relativas à LC,
referentes ao endosso, vencimento, pagamento, às notas promissórias, desde
que não sejam contrárias à natureza da NP, não podendo haver qualquer
incompatibilidade.
Um exemplo de incompatibilidade é o vencimento por falta de aceite que
existe na Letra de Câmbio, mas não existe na Nota Promissória, porque a NP
não tem aceite, (veremos isso de novo daqui a pouco)
134
Cambiariforme porque é considerado um título equiparado ou
assemelhado a Letra de Câmbio, ou seja, tem a mesma disciplina jurídica,
mesmo tratamento jurídico das LC, e a própria LUG determina isso no art. 77
mandando aplicar as mesma regras - Sublinhar no art. 77 – “aplicáveis” e “as
disposições relativas a letra” – porque em razão disto é que a Nota Promissória
é considerado um Título de Crédito Cambiariforme.
FIGURAS JURÍDICAS NA NP
Ao contrário da LC, que tem 3 figuras: sacador, sacado (que poderá se
transformar em aceitante ou não) e o credor (que poderá ser terceira pessoa
ou o próprio sacador), a NP tem apenas duas figuras iniciais.
Na Nota Promissória, as figuras originais são duas: Emitente e Credor =>
A que emite a nota promissória prometendo pagar para B que é credor.
A NP pode ter figuras derivadas. As figuras derivadas são os endossantes
e o avalista.
OBS: Não há aceite na NP, porque a NP já nasce aceita, porque temos
uma promessa de pagamento, logo não terá aceite, já que com a simples
promessa já se está aceitando pagar desde o momento da emissão.
DEVECORES CAMBIÁRIOS NA NP
Ex: A emite uma NP para B, que endossa para C, que endossa para D,
que possuem avalistas Y, Z e W respectivamente com avalista X.
Y Z W
A B C D
135
X (deu aval em branco, logo é avalista do constituidor do título)
Devedores Diretos = A (emitente) e seu avalista Y que possuem o
mesmo grau de responsabilidade (não tem a mesma obrigação, porque as
obrigações são autônomas)
Devedores Indiretos = B e C (endossantes) e seu avalistas Z e W que
tem o mesmo grau de responsabilidade.
OBS: apesar do NCC prever que agora a regra é que o endossante não
garante o pagamento, salvo se estiver expressamente estipulado, porém o que
prevalece é a Lei Especial que determina que o endossante garante o
pagamento, salvo clausula em contrário.
Com relação ao devedor direto, o protesto é facultativo. Já com relação
ao devedor indireto, em regra o protesto é necessário, mas tem exceções em
virtude da lei ou da manifestação de vontade.
Devedores Principais = É aquele que quando paga o titulo não tem
como ir em regresso contra ninguém. No caso da NP é o emitente.
Devedores de Regresso = são os devedores que ao pagarem o TC tem
o direito de regresso contra os co-devedores anteriores. Na NP são os
endossantes e seus avalistas, assim como o avalista do emitente (que apesar
de ser um devedor direto, não será um devedor principal, mas sim de
regresso, já que pode regredir em face do emitente).
E o X? Ele é que tipo de avalista? Vai ser direto ou Indireto?
É devedor direto e de regresso, porque poderá ser acionado
independentemente de protesto e poderá regredir contra o avalizado.
Ele é um avalista direto, porque seu aval em branco em que há uma
presunção relativa de que quem concede o aval em branco está avalizando o
subscritor da NP, quem constituiu o título, que na NP é o emitente, e
conseqüentemente, em relação à ele, o protesto é facultativo. Art. 77 in fine
(parte final) LUG – Aval em Branco (c/c art. 899, 2ª parte do NCC).
136
Atenção, na NP, é diferentemente da LC,onde o avalista em branco seria
avalista do sacador, que é devedor indireto, logo o avalista em branco também
seria um devedor indireto, e conseqüentemente será necessário o protesto.
Título de Modelo Livre
É possível com uma folha de caderno elaborar uma Nota Promissória,
desde que atente para os requisitos da lei. Diferentemente do que ocorre com
o cheque, que tem o modelo vinculado, que tem modelo padronizado pelo
BACEN.
Título Constituído pelo Devedor Cambiário Direto e Principal
A NP será constituída pelo devedor direto e principal, que será o
emitente, que é sempre um devedor direto e principal, logo este sempre
existe.
(Diferentemente da Letra de Câmbio em que quem constitui é o sacador,
que é sempre um devedor indireto, mas podendo ser principal ou de regresso
dependendo se tem ou não aceite. E inclusive, uma outra diferença é que se na
LC não houver aceite, não teremos a figura do devedor direto, logo este
poderá ou não existir, e ainda assim a LC será válida).
A NP é título que não Admite o Aceite porque já nasce com a obrigação
cambiária reconhecida, assim sendo não há o que se falar em protesto por
falta de aceite e por falta de devolução (porque no momento em que o
emitente constitui uma NP ele já a entrega ao credor).
Na Nota Promissória somente caberá protesto por falta de pagamento e
protesto por falta de data de visto.
CARACTERÍSTICAS DA NOTA PROMISSÓRIA
TÍTULO ABSTRATO OU NÃO CAUSAL
Qualquer causa debendi ou negócio subjacente (ou fundamental)
viabiliza a emissão da Nota Promissória.
137
*Com base nesta características nós poderíamos responder uma questão
que caiu na prova do MP/RJ: Se poderia ser emitida uma Nota Promissória com
base em contrato de Compra e venda mercantil? Em outras palavras, se uma
NP com base em um Contrato de compra e venda mercantil poderia viabilizar o
requerimento de falência?
Para responder esta pergunta nem precisa ir na Lei da Duplicata, que
veremos depois, porque a Lei da Duplicata, no art. 2º aparentemente faz crer
que a compra e venda Mercantil e na prestação de serviço está obrigado a
sacar duplicata, não podendo emitir outro título de crédito, porém, não é isso.
Se eu disser que a NP não pode ser emitida com base em uma compra e
venda mercantil eu não poderia falar que ela é um título abstrato ou não
causal, isto é, não possui causa específica. É característica da Nota Promissória
a abstração, em que qualquer causa poderá viabilizar a emissão da Nota
Promissória, assim sendo, se por exemplo, a Estrela vender brinquedos para as
Lojas Americanas, esta poderá sacar uma duplicata, porém o saque da
duplicata é facultativo (não é obrigatório), e por isso, se quiser, poderá optar
por emitir uma Nota Promissória, já que é um Título de Crédito abstrato, em
que qualquer causa debendi ou negócio subjacente (ou fundamental) viabiliza
a emissão da Nota Promissória, inclusive uma compra e venda mercantil ou
uma Prestação de Serviço.
A exigência da compra e venda mercantil ou Prestação de Serviço é
somente para sacar a duplicata, mas tendo estas causas não significa que você
está obrigado a sacar a duplicata, e caso você queira sacar outro título
também poderá fazer, inclusive um cheque, que também pode ser emitido
pelas Lojas Americanas em virtude desta compra e venda mercantil.
O nome em favor de quem se passa a Nota Promissória, é um requisito
essencial. Pode ser nominal à ordem (em que circulará por endosso) ou não a
ordem (em que circulará com efeito de cessão)
SÚMULA 387 STF e art. 891 NCC – Mitiga esta característica, porque
determina que este nome deve estar somente no momento em que for cobrar
ou protestar.
138
VENCIMENTO - O vencimento da NP pode ser: Vencimento a Vista; A
Dia Certo; A Tempo Certo da Data (ao período a contar da emissão); A Tempo
Certo Dia da Vista.
Se não tiver a data do vencimento, o título será válido porque será
considerado o vencimento à vista. Entretanto, se tiver vencimento à Certo Dia
da Vista, exemplo, prometo pagar por esta Nota Promissória no prazo de 20
dias a contar da vista, poderá se ter este tipo de vencimento, porque a lei
admite, apesar deste título não ser passível de aceite.
Se a Nota Promissória não é passível de aceite, como conjugar a
inexistência do instituto do aceite com este art. 78, 2ª alinha da LUG que diz “a
certo termo da vista”? Em outras palavras, há ou não possibilidade deste
vencimento já que a Nota Promissória não admite aceite? Há controvérsias:
Rubens Requião, minoritariamente, entende que não é passível esta
modalidade de vencimento na Nota Promissória, porque não há aceite. Um
outro argumento dele é que o art. 77 manda aplicar as regras da Letra de
Câmbio à Nota Promissória, mas sem fazer menção ao aceite, assim sendo
como a Nota Promissória não é passível de aceite e o art. 77 exclui o aceite,
logo não poderá ter esta modalidade de vencimento, inclusive este art. 78
causa perplexidade. Ele também tem esta posição porque fala que visto é igual
ao aceite, por isso ele não consegue viabilizar a incidência deste tipo de
vencimento na Nota Promissória.
A doutrina majoritária, Fran Martins, Waldiro Bulgarelli, Luís Emigdio e
João eunápio Borges entendem que na NP é possível existir esta modalidade
de vencimento porque o visto é diferente do aceite, então eles diferem o visto
do aceite.
OBS: João Eunápio Borges, apesar de admitir esta modalidade de
vencimento, ele acha ela inócua, inútil (eu concordo com ele)
Na letra de Câmbio é mais difícil de se diferenciar, porque quando A
(sacador) saca uma Letra de Câmbio para B (sacado) pagar ao C (credor). Este
credor tem que apresentar a LC para ver se o sacado aceita ou não. Se o
sacado aceitar está tranqüilo, em ocorrendo o aceite vai começar a correr o
prazo de vencimento para este tipo de vencimento a certo termo da vista.
139
Agora, em não ocorrendo o aceite, haverá vencimento antecipado e o credor
poderá cobrar de A, que é o devedor principal. Já na Nota Promissória não há o
aceite (não há reconhecimento), mas há visto, o visto é igual a apresentação
do título, então, se A prometer pagar ao B, 20 dias a contar do visto, então
quando B apresentar ao A a NP, este vai “vistar” e datar, e assim vai começar
a correr o prazo de 20 dias, logo houve apresentação, mas não houve aceite.
Visto = Apresentação
Aceite = Reconhecimento
Agora, se não houver nem visto e nem data, então deverá protestar, eis
que neste caso terá como efeito termo inicial para contagem do prazo do
vencimento (logo não tem como efeito o vencimento antecipado, que é no caso
da falta de aceite, que não existe na Nota Promissória).
Cabe vencimento antecipado na Nota Promissória? O emitente poderá
prometer pagar daqui a 120 dias, mas eventualmente poderá ocorrer o
vencimento antecipado?
Sim, mas somente no caso da decretação da falência, porque um dos
efeitos da sentença declaratória de falência com relação aos credores é o
vencimento antecipado das dívidas, inclusive para respeitar o Princípio da
Paridade, onde todos os credores poderão bater na porta e se habilitar na
falência sem sofrer prejuízo.
NOTA PROMISSÓRIA COMUM # NOTA PROMISSÓRIA RURAL
Nota Promissória Comum
Está regulada na LUG e no Dec.
2044/08.
Título Abstrato, sem causa
específica prevista em lei.
Figuras Originárias: Qualquer
Pessoa (Natural ou Jurídica).
Cobrança dos devedores
Nota Promissória Rural
Está regulada no Dec. 167/67 (art. 42 ao 45).
Título Causal, as causas estão previstas no Art.
42, estabelece a causa debendi que é a venda
direta de produtos de natureza agrícola, pastoril ou
extrativa feita por cooperativa ou produtor rural.
Figuras Originárias: Necessariamente tem que ter
Produtor Rural ou Cooperativa.
140
cambiários Indiretos é necessário o
Protesto.
Credor na Nota Promissória no
quadro geral de credores da
falência é quirografário (sem
garantia e sem privilégio)
Cobrança dos devedores cambiários Indiretos não
é necessário o Protesto (art. 44).
Credor com Privilégio Especial, porque a lei
determina isso (art. 45) – Privilégio é conferido por
lei, então receberá na frente dos quirografários.
07/04/2005
NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO
Exemplo: A pessoa vai comprar um imóvel que custa 200 mil reais. Mas a
pessoa só tem 150 mil reais. Esta pessoa celebra um contrato de promessa de
compra e venda onde ela entrega ao vendedor 150 mil reais e emite 10 NP ao
vendedor (cada uma no valor de 5 mil), a fim de que o valor destas NP
complemente o valor do imóvel. Enquanto a pessoa não quitar este pagamento
não será realizada a escritura definitiva.
Nestes casos, o que acontece é que a NP fica vinculada ao negócio que lhe
deu origem. Ou seja, a NP fica vinculada à promessa de compra e venda.
E caiu na prova da Magistratura a seguinte questão: A NP vinculada ao
negócio que lhe deu origem perde a sua natureza abstrata?
Um TC abstrato é um TC que pode ser constituído através de qualquer
causa. È o oposto do TC causal que só pode ser emitido diante de algumas
causas previamente previstas em lei. Por exemplo, a duplicata é um TC causal
que só pode ser emitida diante de duas causas, Compra e Venda Mercantil ou
Prestação de serviços.
Quando um TC não causal é colocado em circulação ele se abstrai da causa
que lhe deu origem. Sendo assim, quando o endossatário credor for cobrar o
TC do devedor, este não poderá opor exceções que digam respeito à causa
debend (causa que deu origem ao TC), pois neste momento esta causa não
141
terá relevância em relação ao endossatário. Ele não poderá alegar um vício na
causa que deu origem ao TC.
De acordo com a doutrina, a NP vinculada à promessa de compra e venda
flexibiliza o principio da abstração. A vinculação da NP à causa que lhe deu
origem deve estar na cártula, para que ela possa circular através de endosso.
Quando a vinculação estiver na cártula, os terceiros que venham a receber
aquela NP através do endosso estarão vinculados àquele negocio jurídico que
lhe deu origem. Se na cártula não houver menção ao negócio que deu origem à
NP, os terceiros que receberam aquela NP através do endosso não poderão
sofrer as exceções relativas à causa debend. Mas se a cártula contiver menção
ao Negocio que deu origem á NP, os terceiros ficaram vinculados à ela.
Isto porque, se A emitir esta Nota Promissória para B, vinculado a
contrato de Compra e Venda do Imóvel, sem inserir na própria cártula a
vinculação, a causa debend, caso B queira transferir para C endossando, neste
caso é à ordem (vai circular por endosso), conseqüentemente o TC terá
abstração e se desvinculará do negocio causal. Mas se A inserir na cártula esta
vinculação, então C não poderá ser terceiro de Boa-Fé, porque estará ciente
desta vinculação. Agora, se não tiver a vinculação, ele terá boa-fé, e não
poderá cogitar a vinculação.
Na opinião do professor este entendimento está equivocado porque a
circulação por endosso purifica os vícios intrínsecos que eventualmente
existam no TC. Sendo assim para que a causa debend pudesse ser oposta aos
terceiros que receberam o TC por endosso, bastaria que o endossante
colocasse na cártula a cláusula não à ordem e assim esta circularia produzindo
os efeitos de uma cessão de credito e desta forma as exceções pessoais de
quem realizou o negocio causal poderiam ser opostas perante terceiros.
Os TC em regra são Pro Solvendo, isto é, existem duas relações jurídicas:
que é a Compra e venda e a relação jurídica Cambiária, ou seja, quando você
emite o título, você não está pagando a mercadoria que você comprou. Você
não quita a obrigação causa, pois as duas coexistem (lembrem sempre disso).
Se o título ficar prescrito, você deixará de entrar com ação cambiária, mas
ainda poderá entrar com ação causal, porque o TC é pro solvendo.
142
Mas quando a NP contém em sua cártula a menção ao negocio que lhe deu
origem, a NP deixa de ser pró solvendo e passa a ser pró soluto, eis que ela
extinguirá a obrigação que lhe deu causa. É uma exceção!
A NP vinculada ao negocio jurídico significa que o emitente devedor, na
própria cártula, demonstra expressamente que aquele TC está relacionado
(vinculado) com uma determinada causa debend ou negocio subjacente, o que
faz com que terceiros ao receberem esta NP tenham ciência da vinculação.
Neste caso, segundo o entendimento majoritário na doutrina e na
jurisprudência, aplicando-se os princípios do CDC, a maioria entende que há
uma flexibilização do principio da abstração, o que significa que ainda que a NP
seja à ordem (transferida por endosso), se o terceiro de boa-fé, ora
endossatário e credor for executar o emitente da NP, poderá este (o
executado) em embargos à execução, invocar em sua defesa vício na causa
debend, exceção do contrato não cumprido, apesar de o endossatário
(exeqüente) não ter participado da relação jurídica causal, porém o TC está
vinculado à causa. Desta forma, a NP passa a ser pró soluto implicando em
novação da dívida, o que significa que o credor originário (vendedor) não pode
desfazer o negócio jurídico, mas tão somente executar o titulo. Esta situação é
corriqueira nos instrumentos de compra e venda de bens imóveis.
Há quem sustente, minoritariamente, que na situação acima descrita,
levando-se em consideração que a NP foi emitida à ordem, circulou por
endosso, o que faz com que tenha que incidir as regras cambiárias que lhe são
peculiares, ou seja, na hipótese, há que incidir o princípio da abstração, o que
significa que não obstante a vinculação ao negocio jurídico, o endossatário,
credor exeqüente, ao executar o emitente, este não poderá alegar a causa
debend (por causa do principio da abstração). Se o emitente quiser se proteger
dos terceiros, basta inserir na cártula a cláusula “não à ordem” o que faz com
que a NP circule por meio de cessão ordinária de credito e consequentemente
o emitente poderá invocar ao cessionário tudo aquilo que poderia invocar ao
cedente, até pq o cedente transfere ao cessionário um direito derivado, ou
seja, transfere o mesmo direito que possuía em relação ao emitente.
143
Portanto, apesar de alguns autores mencionarem que esta situação
excepciona o princípio da autonomia, na realidade é uma questão relacionada
com a flexibilização do principio da abstração.
DUPLICATA:
LEI 5474/68 e DECRETO LEI 167/67 (art. 46 ao 54)
A Duplicata significa uma reprodução da fatura. A fatura é o que
comprova a causa debend, a negociação.
A fatura não é TC. A fatura não é passível de endosso. A fatura é um
documento comum, que não tem força executória. A fatura é o espelho da
negociação que apenas comprova a negociação. Quando muito, se for assinada
a fatura pode fundamentar uma ação monitória, na forma do art. 1102-A do
CPC.
Como a fatura não é um TC, surgiu a duplicata.
A duplicata é um TC. A duplicata tem força executória e é passível de
endosso. A duplicata é dependente da fatura. Pode existir a fatura sem uma
duplicata mas se existir uma duplicata necessariamente existirá uma fatura.
LEI 5474/68 (LD) trata da duplicata de compra e venda e prestação de
serviço
DECRETO LEI 167/67 (art. 46 ao 54) trata da duplicata rural.
Pergunta: No quadro geral de credores, o credor de uma duplicata entra
em que classe de credores?
Resposta: Depende do tipo de duplicata.
O vendedor de produtos rurais é o credor do preço. A lei prevê a duplicata
rural para estes sujeitos pq se o comprador for um empresário, este será um
devedor empresário e se o devedor empresário não pagar ao credor da
duplicata rural, a lei diz que este crédito não será um credito comum. O DL
167/67 diz que esta duplicata rural confere ao credor da duplicata rural a
qualidade de credor com privilégio especial. Diferentemente da duplicata
comum onde seu credor será um credor quirografário.
144
A duplicata é um TC, logo é um documento, que representa uma ordem
de pagamento à vista ou à prazo (à dia certo).
Quem vende a mercadoria ou quem presta o serviço é o sacador, que dá
a ordem de pagamento ao sacado, que é o comprador da mercadoria ou
que se beneficia do serviço.
A (vendedor) -------------------------- B (comprador)
Credor do preço Devedor do preço
DUPLICATA é TC causal e, portanto é um documento que
representa uma ordem de pagamento á vista ou à prazo (à dia certo –
art. 2, §1, III, LD) feita pelo sacador (credor - vendedor da mercadoria ou
prestador do serviço) contra o sacado (devedor - comprador da mercadoria
ou beneficiário do serviço), em virtude de uma causa debend especifica
prevista em lei, ou seja, um contrato de compra e venda ou de
prestação de serviço (Lei 5474/68 - LD) ou em virtude de uma venda a
prazo de bens de natureza rural (agrícola pastoril ou extrativa) feita
diretamente por produtor rural ou cooperativa (DL 167/67, art. 46).
NATUREZA DA DUPLICATA: é uma ordem de pagamento.
FIGURAS JURÍDICAS DA DUPLICATA: existem 2 figuras originárias na
duplicata. De um lado há o Sacador (credor do preço e vendedor da
mercadoria) e de outro lado há o Sacado (devedor do preço e comprador da
mercadoria) que recebe a ordem de pagamento, que pode se tornar o
aceitante, quando reconhece a obrigação cambiária.
A duplicata pode ter como figuras derivadas os endossantes e os avalistas
que assumem obrigações cambiárias sucessivas.
EXEMPLO: A dá uma ordem de pagamento ao B. B aceita a duplicata e
tem um avalista X. A endossa para C que tem o avalista Y. C endossa para D.
145
-> Devedores cambiários diretos: é o aceitante (B) e seu avalista (X)
-> Devedores indiretos: são os endossantes e seus avalistas (A, C e Y, que
vão pagar se o devedor direto não pagar).
-> Devedor principal: é o aceitante (B)
-> Devedores de regresso: são os endossantes e seus avalistas (A, C e Y)e
o avalista do aceitante (X).
Suponhamos que o W tenha conferido um aval em branco. Na Duplicata o
aval em branco traz a presunção relativa de que o avalista que avalizou em
branco avaliza o aceitante, que é o devedor principal e final – art. 899, parte
final do NCC.
Características da duplicata:
A duplicata é uma ordem de pagamento;
A duplicata é um TC causal porque tem causa prevista em lei (LD e DL
167/67);
A duplicata é um TC nato, ou seja, é um TC que necessariamente tem
que circular por endosso. Por força do art. 2, §1, VII da LD, um dos requisitos
essenciais da duplicata é a circulação por endosso, mediante cláusula à ordem.
Mas nada impede que este TC circule através de endosso postulo, nos 30 dias
depois do vencimento. O endosso póstumo produz os efeitos de uma cessão de
crédito.
A Duplicata é um TC nominal que não pode ser ao portador. O nome do
beneficiário deve constar na cártula – art. 2, §1, IV da LD.
A Duplicata é um TC cambiariforme, ou seja, é equiparado às cambiais.
Havendo omissão na LD aplicam-se as regras da LC que forem compatíveis
com a duplicata – art. 25 da LD.
A Duplicata é um TC de saque facultativo. Não há obrigatoriedade do
credor sacar uma duplicata. Ninguém está obrigado a sacar uma duplicata.
Mas se alguém quiser sacar uma duplicata só poderá fazê-lo se houver uma
daquelas causas previstas em lei.
O art. 2 caput da lei 5474/68 da a idéia de que diante daquelas causas
previstas na LD, o único TC que pode ser sacado é a duplicata. Mas, embora
haja interpretação literal deste artigo, a maioria entende que diante das causas
146
previstas para o saque da Duplicata, nada impede seja emitido outro TC. não
há obrigatoriedade no saque da duplicata simplesmente pq estão presentes as
suas causas.
A vedação do art. 2 caput diz respeito apenas ao vendedor que é o credor.
Mas não diz respeito ao comprador, que é o devedor, que pode emitir uma NP
ou um cheque.
A duplicata já foi TC de saque obrigatório. Porém a lei 5474/68 não
prevê a obrigatoriedade da duplicata. A partir da LD a duplicata passou a ser
de saque facultativo, o que significa que ainda que se tenha uma das causas
previstas em lei, não há obrigatoriedade de ser constituída a duplicata, mas se
quiser sacá-la há que se ter uma daquelas causas.
Requião, de forma minoritária adota interpretação literal do caput do art.
2 da LD (“não sendo admitida qualquer outra espécie de TC”) sustenta que só
pode ser sacada a duplicata.
Entretanto, o entendimento majoritário (Jurisprudência, Fabio Ulhoa
Coelho e outros) é no sentido de que o art. 2 caput configura uma norma
restritiva direcionada apenas ao vendedor da mercadoria ou ao prestador de
serviço (art. 20, §3 LD), os quais são credores do TC, mas nada impede que o
comprador do produto ou beneficiário do serviço (devedores do preço) emitam
NP, ou cheque, até porque estes TC são abstratos. Ademais, o referido artigo
faz menção ao saque, que configura uma declaração cambiária originária e
necessária para a duplicata e LC, sendo que a NP e o cheque são constituídos
através de emissão.
A Duplicata da Lei 5474/68 é TC dependente, pq depende da fatura. A
duplicata tem que conter o numero da fatura. Mas as duplicatas rurais são
TC independentes, pois não precisam de fatura (art. 48, VII do DL 167/67). As
duplicatas rurais dispensam a fatura porque a própria negociação (os produtos
rurais) deve constar na duplicata.
14/03/2005
Duplicata e endosso póstumo
147
Para o professor Luis Emygdio o endosso póstumo na duplicata produz os
mesmos efeitos que o endosso anterior, porque a LD não faz nenhuma menção
ao endosso póstumo.
João Donato Borges entende que o endosso póstumo da duplicata também
produz efeitos de uma cessão de credito, pois diante da omissão da LD aplica-
se a LUG, por força do art. 25 da LD.
Duplicata e o protesto
Na duplicata o instituto do aceite é aplicável, logo, há o protesto por
falta de aceite. Na duplicata há a figura do Sacador e a figura do Sacado. O
sacador saca a duplicata e remete ao Sacado para que este faça o aceite.
Logo, na duplicata há a figura do protesto por falta de aceite.
Pode acontecer do Sacado ao receber a duplicata para realizar o aceite,
não devolve-la ao Sacador. Ou seja, pode acontecer do Sacado reter a
duplicata. Neste caso haverá a possibilidade do protesto por falta de
devolução da duplicata. O protesto por falta de devolução da duplicata é
instrumentalizado por indicações do Sacador – art. 21, §3 da lei 9492/97. Este
artigo revogou o artigo 13, §1 da LD.
Na duplicata há a possibilidade do protesto por falta de pagamento.
As modalidades de vencimento da duplicata estão no art. 2, §1, III da LD
que diz que a duplicata pode ser sacada a vista ou a dia certo (dia, mês e ano).
A duplicata não pode ter o vencimento a certo termo da vista ou a certo termo
da data.
O aceite é um instituto cambiário que também é aplicável à duplicata.
O aceite pode ser expresso, tácito, ficto ou presumido e o aceite por
comunicação.
O aceite expresso é aquele em que o aceitante coloca sua assinatura na
cártula.
O aceite tácito ou presumido é aquele em que o aceitante não coloca sua
assinatura na cártula, mas que se os requisitos do art. 15, II, a,b e c, forem
preenchidos, o legislador presume que houve o aceite.
O aceite por comunicação é aquele em que a duplicata é retida
devidamente e o aceitante comunica o aceite em um documento em separado.
148
O aceitante expresso e o aceitante por comunicação são devedores
cambiários diretos. O aceitante presumido é considerado devedor cambiário
indireto pelo fato de o art. 15, II, a exigir o protesto do TC como um dos
requisitos para que o devedor se torne o aceitante. Sendo assim, nos casos de
aceite presumido, será necessário o protesto para que se possa executar o
aceitante. Neste caso a duplicata não terá um devedor direto, mas o devedor
será o devedor principal. (*não confundir devedor principal com devedor
direto).
Questão que caiu na Defensoria:
Uma duplicata sem aceite e que foi devidamente protestada pode, por si
só, fundamentar o requerimento de falência?
O protesto não é o único requisito para o requerimento de falência. Há
necessidade de preencher os três requisitos do art. 15, II da LD para que a
duplicata possa fundamentar o requerimento de falência. Logo, o protesto por
si só, não é suficiente para fundamentar o pedido de falência.
Questão da Magistratura de 1997:
Pode ser sacada uma duplicata de mercadoria que ainda não existe, mas
que existirá no futuro?
Esta questão diz respeito à compra e venda de mercadoria esperada. Por
exemplo, o sujeito quer comprar os filhotes de um cachorro de raça muito rara,
que nascerão no fim do ano. Mas ele quer garantir que aqueles cachorros lhe
serão vendidos. Então ele negocia com o vendedor e saca uma duplicata hoje
para garantir que aqueles cachorros lhe serão entregues no final do ano. Isto é
possível?
A duplicata é uma reprodução da fatura. Ela tem uma causa debend que é
retratada na fatura. Com base na fatura a duplicata é sacada. Mas a lei não
exige que no ato de emissão da duplicata que a fatura esteja presente.
Entretanto não é possível que seja sacada uma duplicata de uma mercadoria
que não exista. Até porque o saque de uma duplicata de mercadorias que não
existem pode ensejar o crime de duplicata simulada.
149
Então não é possível o saque de uma duplicata de mercadorias futuras. A
duplicata depende da fatura e no ato de emissão da fatura é preciso que as
mercadorias já existam.
Requião, de forma acertada ensina que não pode ser sacada duplicata
tendo por base entrega de mercadoria futura, haja vista que a duplicata da lei
5474/68 é um TC dependente, pois deve ser sacado com base na fatura, que é
documento comum ou quirógrafo, sendo que no ato da emissão da fatura deve
existir a mercadoria vendida. Portanto, o saque da duplicata deve ser
contemporâneo à venda efetiva da mercadoria (art. 1, §1 c/c art. 2, caput da
LD).
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE DUPLICTA E LC
A duplicata e a LC possuem Sacador e Sacado.
Na LC há três figuras originárias (Sacador, Sacado e Credor).
Na Duplicata há pelo menos figuras originárias - Sacador que é o credor
do preço e vendedor da mercadoria e Sacado que é o devedor do preço e
comprador da mercadoria. O Sacado exerce dois papeis. Ele além de ser o
devedor do preço pode ser também o aceitante.
O art. 25 da LD diz que nas suas omissões, deve-se aplicar às duplicatas
as regras da LC, no que couber.
No que couber significa que nem sempre será possível aplicar as regras da
LC pq a duplicata nem sempre se assemelha à LC.
A duplicata é um TC causal ao passo que a LC é um TC abstrato, pode ter
qualquer causa.
A duplicata é um TC nominal à ordem (ou nato) a LC é um TC nominal que
pode ser à ordem ou não à ordem (ou inato).
A duplicata permite que o aceite seja tácito. Na LC o aceite tem que ser
expresso.
Na duplicata o aceite é obrigatório. Só não haverá o aceite se a recusa for
justificada de acordo com o art. 8 da LD. Na LC o aceite é facultativo. Não há
nenhuma regra que obrigue o sacado de realizar o aceite.
150
A duplicata é um TC dependente (depende da fatura). A LC é um TC
independente.
Tanto a duplicata quanto a LC podem ser retidas pelo sacado. Ambas
admitem o protesto por falta de devolução. Mas a LC este protesto se faz
através da 2ª via da LC. Na duplicata o protesto por falta de devolução se faz
por indicação.
TRIPLICATA – art. 23 LD
A perda ou extravio da duplicata obriga o vendedor (credor) a extrair a
triplicata.
PERGUNTA: No caso de retenção indevida da duplicata pode ser sacada a
triplicata?
A doutrina entende que não é obrigatório o saque da triplicata nestes
casos, mas se o credor quiser poderá sacar a triplicata.
Na opinião do professor, no caso de retenção indevida a lei prevê o
protesto por falta de devolução (art. 21, §1 da lei 9492/97) logo, nestes casos
não seria necessário o saque da triplicata. Entretanto, a doutrina entende que
é possível o saque da triplicata no caso de retenção indevida da duplicata.
Esta seria uma faculdade do credor que poderia sacar a triplicata ou efetuar o
protesto por falta de devolução.
DUPLICATA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
PERGUNTA: A Duplicata de prestação de serviço é titulo hábil ao
requerimento de falência?
Ninguém tem duvidas quanto à força executória desta duplicata que ter
força executiva e é considerada um titulo executivo extrajudicial – art. 585, I
CPC.
Mas em sendo um titulo executivo, pode fundamentar o pedido de
falência?
Ora, só pode falir quem for empresário. A duplicata de prestação de
serviço só poderá fundamentar pedido de falência se o devedor for empresário.
Em sendo um devedor empresário, aplica-se a sumula 248 do STJ.
Fazer remissão da sumula 248 do STJ ao art. 1, §3 do DL 7661/45.
151
A polêmica gira em torno do art. 1, §3 do DL 7661/45 que se reporta ao
art. 15 da lei 5474/68, que por sua vez, se refere apenas à duplicata de compra
e venda. A duplicata de prestação de serviço está regulada no art. 20. Por esta
razão, surgiram controvérsias.
Alguns doutrinadores sustentavam que o requerimento de falência só
poderia se fundar em uma duplicata se esta fosse uma duplicata de compra e
venda mercantil, pois o art. 1, §3 teria excluído a possibilidade de
requerimento de falência com base na duplicata de prestação de serviço.
Entretanto, prevalece o entendimento de que a duplicata de prestação de
serviço é titulo hábil ao requerimento de falência (desde que devidamente
protestada) porque o art. 20, §3 da LD manda aplicar à duplicata de prestação
de serviço as regras da duplicata de compra e venda. Daí o STJ entendeu que o
credor de uma duplicata de prestação de serviço devidamente protestada pode
requerer a falência do devedor, desde que este devedor seja empresário.
Com a lei 11101 esta polemica acabará porque a nova lei de falência não
repete o art. 1, §3 do DL 7661/45.
PERGUNTA: Há diferença entre a duplicata simulada e a duplicata
fria?
Esta é uma pergunta do direito empresarial, mas que tem reflexos no
direito penal.
O art. 172 do CP trata da duplicata simulada. O conceito de duplicata
simulada é um conceito penal. O art. 54 do DL 167/67 faz menção à duplicata
simulada rural. Ou seja, se o sujeito emitir uma duplicata simulada rural
responde pelo crime do art. 54 do DL 167/67 e se o sujeito emitir uma
duplicata comum simulada responde pelo art. 172 do CP. O art. 1 da lei
8137/90 também trata da duplicata simulada. Esta lei é especial. Tem um
especial fim de agir que é a supressão de tributo.
Antes da lei 8137/90 o art. 26 da LD tratava da duplicata simulada. Este
artigo deu nova redação ao art. 172 do CP. O crime de duplicata simulada era o
saque de duplicata sem causa debend. Era o saque de uma duplicata que não
correspondesse à efetiva venda. Naquela época também existia o DL 167/67
que previa o crime de duplicata simulada nas hipóteses em que era sacada
uma duplicata que não correspondesse à venda de mercadoria rural. Em 1990,
152
entrou em vigor a lei 8137 que alterou o art. 172 do CP. A ratio da mudança foi
agravar o tipo penal do art. 172 CP. Com isso a lei 8137/90 aumentou a pena
mínima do art. 172 CP e aumentou o rol das condutas típicas previstas no art.
172 CP. Hoje o crime do art. 172 CP abrange outras condutas além do saque
de duplicata simulada. O art. 172 CP prevê que é crime a emissão de fatura, a
emissão de nota de venda e a emissão de duplicata que não corresponda à
mercadoria vendida. Então hoje é crime de emissão de duplicata simulada
assim como é crime a emissão de nota de venda ou fatura simulada.
A simulação ocorre quando houver a compra e venda ou a prestação de
serviço, mas a duplicata (ou fatura ou nota de venda) não corresponder
exatamente ao que foi vendido. O crime pressupõe a efetiva existência da
causa debend (venda), mas com divergência, contradição, entre a duplicata
sacada e a venda realizada. Exemplo, eu compro 10 cadeiras e a nota vem
dizendo que comprei apenas 2 cadeiras. Neste caso há uma nota de venda
simulada.
Mas e quando for sacada uma duplicata que não tenha causa debend?
Esta conduta se enquadraria no art. 172 do CP? Através da leitura deste tipo
penal é possível que se entenda que a emissão de uma duplicata sem causa
debend seria uma figura atípica? É típica a conduta de sacar duplicata sem que
haja uma efetiva causa debend, ou seja, sem que haja o efetivo contrato de
compra e venda, ou de prestação de serviço?
Antes da lei 8137/90 esta conduta era típica, pois era tratada no art. 26 da
lei 5474/68 que deu nova redação ao art. 72 do CP, sendo que no tocante à
duplicata rural há a adequação típica no art. 54 do DL 167/67. Dependendo do
caso, pode ainda configurar crime contra a ordem tributária – art. 1, III da lei
8137/90.
No entanto, quanto à adequação ao tipo previsto no atual art. 172 do CP
há polêmica.
Fabio Ulhoa entende que a conduta de sacar duplicata sem que haja uma
causa debend é uma conduta atípica, pois com a alteração do art. 172 do CP
(alteração realizada pela lei 8137/90) a conduta típica do art. 172 pressupõe
que haja causa debend. A redação do art. 172 exige que exija uma mercadoria
vendida ou um serviço prestado, entretanto com contradições entre a causa e
a emissão da duplicata.
153
Celso Delmanto entende que a emissão de duplicata sem causa debend é
conduta típica do art. 172 CP. Para ele a ratio do art. 172 CP é punir tanto o
saque de duplicata sem causa debend como o saque de duplicata em
contradição com a causa debend. Ele diz que se a conduta menos grave é
punida no art. 172 do CP (saque de duplicata em contradição com a causa
debend) com muito mais razão há de ser punível a conduta mais grave (saque
de duplicata sem causa debend). O fundamento deste entendimento encontra-
se no art. 172, PU do CP c/c art. 19 da lei 5474/68 c/c art. 1180 NCC. Quem
saca uma duplicata tem que ter um livro (obrigatório) para registro de
duplicata (art. 1180 NCC c/c art. 19 LD). O art. 172, PU diz que nas mesmas
penas incorre quem falsificar ou adulterar escrituração livro de registro de
duplicatas. Ora, quem saca uma duplicata simulada está falsificando ou
adulterando a escrituração do Livro de Duplicatas, então está praticando a
conduta do art. 172, PU do CP.
Para uma terceira corrente a duplicata sacada sem causa debend é uma
conduta típica, entretanto ela se enquadra na regra geral do estelionato, ou
seja, seria o crime do art. 171, caput do CP.
Mas voltando à pergunta inicial: Há diferença entre a duplicata
simulada e a duplicata fria?
Para Fabio Ulhoa a duplicata simulada é aquela do art. 172 caput que
prevê a duplicata em contradição com a compra e venda ou com a prestação
de serviço. e duplicata fria seria aquela que é sacada sem causa debend. Para
ele a duplicata fria é uma conduta atípica em razão das alterações sofridas no
art. 172 CP. Só seria crime a duplicata simulada.
Para Delmanto, a duplicata simulada seria aquela prevista no caput do art.
172 CP e a duplicata fria seria aquela sacada sem causa debend, que
configuraria o crime previsto no art. 172, PU do CP.
Para outros doutrinadores a duplicata fria é aquela sacada sem causa
debend, mas que configura a conduta prevista no art. 171 caput.
DUPLICATA VIRTUAL
(Vide aula sobre cartularidade) Este título é constituído através de meio
magnético, meio eletrônico, virtual. decorre do fenômeno da desmaterialização
154
dos títulos de crédito, isto é, tornar possível que o direito de crédito não esteja
necessariamente materializado em um documento cartular, em uma cártula.
Fabio Ulhoa admite a duplicata virtual e diz que nesta duplicata ocorrerá o
protesto por indicações. A duplicata virtual é sacada de acordo com a causa
debend e não se materializa em uma cártula (é virtual). Entretanto, se o
sacado não a apresentar para o aceite esta duplicata virtual poderá sofrer o
protesto por indicação. Há o protesto sem que haja a cártula (art. 21 Lei
9492/97).
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE DUPLICATA COMUM E
DUPLICATA RURAL
Ambas admitem o aceite; Ambas são causais;
DUPLICATA COMUM DUPLICATA RURAL
ART. 2, §1 LEI 5474/68
Requisitos essenciais da duplicata
comum
ART. 48, DL 167/67
Requisitos essenciais da duplicata rural;
É um TC dependente, pq depende da
FATURA;
É um TC independente pq o objeto da
duplicata rural terá que ser discriminado
na própria cártula. Não há fatura;
As causas da duplicata comum são:
compra e venda ou prestação de
serviço;
A causa da duplicata rural tem que ser a
compra e venda à prazo de produtos
rurais realizada por produtor rural ou por
cooperativa (art. 48 e 46 do DL 167/67);
O credor da duplicata comum é um
credor quirografário – art. 102 do DL
7661/45 e art. 83, VI, da lei 11101/05;
O credor da duplicata rural é credor com
privilégio especial, por força do art. 45 do
DL 167/67 (c/c art. 83, IV da lei
11.101/05);
Para cobrar a duplicata comum dos
devedores indiretos em regra há
necessidade de protesto.
Art. 44 do DL 167/67 dispensa a
necessidade de protesto da duplicata
rural para cobrar dos devedores indiretos;
Na duplicata comum o 1º endosso é
com garantia;
Na duplicata rural o 1º endosso é sem
garantia, art. 60, §1 do DL 167/67;
155
A duplicata comum tem como
modalidade de vencimento, à vista ou
à dia certo, art. 2, §1, III da LD;
A duplicata rural tem três modalidades de
vencimento – art. 48, II do DL 167/67, ou
seja, pode ser à vista, à dia certo e à
tempo certo da vista.
156
28/04/2005
C H E Q U E
LEI 7357/85 – Lei do cheque
LUG de cheque – Lei Uniforme de Genebra sobre cheque. – Decreto
57595/66
A LUG de cheque traz a mesma idéia da LUG, com reservas, anexo I
e II.
A LUG de cheque é de origem externa e o Brasil é signatário deste
tratado. A lei 7357/85 é posterior à LUG de cheque.
O entendimento minoritário é no sentido de que, para a lei interna
posterior afastar a lei externa, é preciso haver a denuncia. A lei interior
não pode afastar automaticamente a lei externa anterior. Tem que
haver a denúncia, que é um prévio aviso aos organismos internacionais
no sentido de que o Brasil não aplicará mais o Tratado no ordenamento
interno.
O entendimento majoritário e do STF é no sentido de que a lei em
vigor é a lei 7357/85 porque esta lei é posterior à LUG do cheque e não é
preciso haver a denuncia do Tratado. Por força da LICC (art.3) a lei
posterior revoga a lei anterior. A denuncia é apenas um instituto de
direito internacional que não vincula o país internamente. Se a denuncia
vinculasse o ordenamento interno, não seria possível que o STF
reconhecesse a inconstitucionalidade de um Tratado internacional. Além
disso, a CF não faz nenhuma distinção entre lei externa e lei interna.
CONCEITO
Cheque é um documento formal (tem que preencher os requisitos
da lei) que representa uma ordem de pagamento à vista (art. 32 da lei
7357/85), dada pelo emitente (pessoa natural ou jurídica), contra,
necessariamente, uma instituição financeira (art. 17 lei 4595/64), da
qual o emitente se vincula através de um contrato, mantendo uma
previa relação jurídica contratual (contrato de conta corrente e
157
eventualmente, abertura de crédito – cheque especial) em favor de si
próprio ou de terceira pessoa.
Função econômica do cheque:
O cheque é um substitutivo do dinheiro. Mas ainda assim o cheque
é pro – solvendo. Só vai haver a efetiva quitação quando a ordem de
pagamento for cumprida pela instituição financeira. Quem paga uma
camisa com um cheque não quita a obrigação. Esta obrigação só será
quitada quando a instituição financeira cumprir a ordem de pagamento
que está prevista no cheque.
O cheque também serve como prova de pagamento – art. 28, PU da
lei do cheque. Quando alguém diz que não recebeu o pagamento
através de cheque, esta afirmação pode cair por terra se o emitente
requerer uma microfilmagem do cheque para saber a conta corrente
onde aquele cheque foi depositado.
O cheque é um instrumento de retirada de fundos. Com o cheque o
sujeito pode ir à boca do caixa e retirar dinheiro em espécie. O cheque
também meio e pagamento à distância. O correntista pode comprar uma
camisa lá no espírito Santo e emitir um cheque de uma conta corrente
do RJ.
Natureza Jurídica do cheque:
Há controvérsias:
Pontes de Miranda, minoritariamente, entende que o cheque não
tem natureza de TC. O cheque é um titulo de exação. É um instrumento
de retirada de fundos e um instrumento de pagamento.
Esta posição não é dominante porque a natureza cambiária de um
documento vem da lei ou dos atributos cambiários auferidos pela lei ao
titulo.
158
O art. 1 da lei 7357/85 diz que o cheque contem alguns requisitos e
o art. 2 diz que a ausência daqueles requisitos descaracteriza o cheque.
Em suma, o cheque possui o formalismo, que é atributo dos TC.
O art. 17 diz que o cheque pode circular por endosso. O endosso é
um instituto cambiário. O art. 29 diz que o pagamento do cheque pode
ser garantido por aval. o aval é uma garantia cambiária. O art. 13 diz
que as obrigações contraídas no cheque são autônomas e
independentes. Ou seja, o cheque é um titulo autônomo, que vale por si
só e não precisa de nenhum outro documento que lhe dê eficácia. Ora,
pela redação destes artigos da lei 7357/85 pode-se concluir que o
cheque tem atributos cambiários, próprios dos TC.
Fran Martins entende que o cheque é TC impróprio. Cheque é TC
porque tem atributos cambiários – endosso, aval, autonomia – mas é um
TC impróprio pq tem como finalidade precípua servir como instrumento
de pagamento, retirada de fundos, substitutivo da moeda, etc... Fran
Martins diz que o cheque é um titulo cambiariforme, porque é
equiparado à LC.
Requião e Waldemar Ferreira entendem que o cheque é um TC
próprio desde que o cheque seja colocado em circulação. Se não houver
circulação o cheque será apenas um instrumento de pagamento.
Amador Paes de Almeida e Luiz Emydio e a Jurisprudência em geral,
entendem que cheque é TC próprio, ainda que não circule. Para eles, o
cheque é um TC porque os dois elementos do crédito (fidúcia e prazo)
estão presentes no cheque. Quem recebe um cheque tem que ter
alguma confiança no emitente, no sentido de que aquele cheque terá
fundo e, além disso, quem recebe um cheque tem um prazo para
apresentá-lo ao sacado. Esta posição entende que o cheque só não vai
ter natureza de titulo de crédito se o beneficiário for o próprio emitente,
porque neste caso o cheque será um mero instrumento de retirada de
fundo.
159
Bulgareli entende que o cheque é sempre um TC, circulando ou não
e ainda que o credor seja o próprio emitente. E ele traça um paralelo
com a LC. Ele diz que na LC o sacador dá uma ordem de pagamento ao
sacado para que o sacado pague o credor. Mas nada impede que o
sacador seja o credor. Ou seja, nada impede que o sacador seja ao
mesmo tempo o credor, beneficiário da ordem de pagamento, e neste
caso a LC não perderá sua natureza cambiária.
Na opinião do professor, a melhor posição é a do Luiz Emydio.
Aposição menos aceita é a do Pontes de Miranda, embora esta posição
tenha que ser citada para demosntrar conhecimento.
Requisitos do cheque:
Requisitos essenciais: art. 1 da lei 7357/85.
Requisitos não essenciais : art. 2 da lei 7357/85
Art. 1 da lei 7357/85
I - A denominação “cheque” é requisito essencial. Sua ausência não
pode ser suprida. Fazer remissão ao art. 889 do NCC. o nome do titulo é
importante para saber qual a lei aplicável.
II- Ordem incondicional de pagar quantia determinada – fazer
remissão aos artigos 32, 35 e 36 da lei do cheque. Esta remissão é
importante pq o art. 32 nos diz que a ordem de pagamento tem que ser
a vista. O art. 35 e 36 dizem que esta ordem de pagamento é
incondicional, mas não é irrevogável. Nós vamos estudar isso mais a
frente. A ordem de pagamento realizada no cheque pode ser revogada
(sustação), mas ela não pode ser condicionada a nada. Ninguém pode
emitir um cheque para se inscrever no concurso do MP sob a condição
do cheque só ser descontado se houver a aprovação no concurso.
160
Na palavra incondicionada façam remissão ao art. 35 para saber
que embora a ordem de pagamento seja incondicionada, ela pode ser
revogada.
III – Nome do banco que deve pagar – na palavra banco, fazer
remissão ao art. 17 da lei 4595.
IV- Lugar do pagamento -> este requisito é não essencial. Fazer
remissão ao art. 2, I da lei do cheque.
V- Indicação da data da emissão e do lugar da emissão. Neste inciso
V há dois requisitos. O primeiro é essencial e o segundo é não essencial.
Onde está escrito lugar da emissão, fazer remissão ao art. 2 II, da lei do
cheque. E onde está escrito data (da emissão), fazer remissão ao art. 37
e ao art. 33 da lei do cheque. Esta remissão ao art. 37 vai fazer com que
vocês lembrem que o cheque emitido hoje, se o emitente morre meia
hora depois de emitir o cheque, este poderá ser descontado. O cheque é
uma ordem de pagamento a vista.
VI – Assinatura é uma declaração cambiária originaria necessária. É
uma declaração unilateral de vontade. a assinatura é requisito essencial
do cheque.
FIGURAS DO CHEQUE:
Emitente – é o autor da declaração originária – é o autor da ordem
de pagamento – pode ser pessoa jurídica ou pessoa natural.
Sacado – é necessariamente uma instituição financeira
Credor – pode ser pessoa jurídica ou pessoa natural.
O cheque também pode ter outras figuras.
Avalista
Endossante (no singular)
O dispositivo da lei do cheque que trata da pluralidade de endosso
está com a eficácia suspensa. Vide capítulo do endosso onde isso foi
explicado.
161
O cheque é uma ordem de pagamento que não admite o aceite. Há
expressa vedação ao aceite no art. 6 da lei 7357/85. o art. 6 existe para
acabar com a figura do cheque marcado.
Devedores do cheque:
A emite uma ordem de pagamento contra o ITAU para que o ITAU
pague ao D. A tem o avalista Y. D tem avalista Z. D endossa para C
que é o atual credor.
Devedores diretos = O emitente e seu avalista.
O credor pode entrar com ação cambiária direta contra eles – art.
47, I. o prazo para a ação cambiária direta está no art. 59.
Devedores indiretos = são os endossantes e seus avalistas.
Devedor principal = é o emitente
Devedores de regresso = o avalista do emitente, os endossantes e
seus avalistas.
O sacado não é devedor cambiário.
Para cobrar do devedor principal não precisa protestar.
Para cobrar dos devedores indiretos também não precisa protestar.
O art. 47, II diz claramente que os devedores indiretos podem ser
executados se ficar comprovado que não houve o pagamento. O
protesto é uma das formas de comprovar que não houve o pagamento.
A outra forma de comprovar que não houve o pagamento é a declaração
do sacado (art. 47, II lei 7357/85). O protesto é importante para
comprovar a falta de pagamento, mas não é imprescindível. Os
devedores indiretos também poderão ser executados se houver
declaração do sacado. Para cobrar dos devedores indiretos é necessário
que tenha sido respeitado o prazo para a apresentação. Este prazo está
no art. 33 da lei do cheque. Basta que o cheque seja apresentado dentro
do prazo do art. 33 e que haja a comprovação da falta de pagamento
mediante declaração do sacado e os devedores indiretos poderão ser
executados. Mas atenção porque esta declaração do sacado não é hábil
162
para o requerimento de falência dos devedores indiretos. Para que haja
o requerimento de falência, dos devedores diretos ou indiretos sempre
será necessário o protesto. Para fins de falência a impontualidade
necessariamente terá que ser comprovada por protesto.
O protesto do cheque pode ser dispensado para fins de execução
dos devedores indiretos.
Tudo que foi dito sobre protesto se aplica aos cheques, naquilo em
que for compatível. Algumas regras sobre protesto não são compatíveis
com o cheque. Por exemplo, não se admite o protesto por falta de aceite
pois o cheque não admite o aceite (art. 6 da lei 7357/85). Não se admite
o protesto por falta de devolução pois o cheque não admite a devolução.
Mas o cheque admite a cláusula de protesto sem despesa – art. 49
da lei 7357/85.
Qual a relação jurídica entre o sacado e o emitente?
O sacado não é devedor cambiário. o sacado é uma figura presente
no cheque mas ele não tem nenhuma relação jurídica cambiaria com o
emitente. O sacado, instituição financeira, tem apenas uma relação
contratual com o emitente (correntista). O banco não é devedor
cambiário. O banco pode ser responsabilizado em virtude de algum
ilícito contratual, mas jamais será devedor cambiário.
Por exemplo, o emitente emite um cheque que é devolvido pelo
banco sob a alegação de falta de fundos quando na verdade havia
fundos disponíveis. Isto pode causar dano material e dano moral, e cabe
indenização, na forma da sumula 37 do STJ.
O art. 4 da lei do cheque diz o que são os fundos disponíveis na
conta corrente do emitente. Os fundos serão verificados no momento da
apresentação do cheque para o pagamento pelo sacado. Isso está lá no
art. 4, §1 (fazer remissão ao art. 171, §2, VI do CP). Se no momento da
apresentação havia fundos e o sacado devolveu o cheque sob a
163
alegação de falta de fundos, houve uma infração contratual, que gera
um dano, passível de indenização.
Por exemplo, cheque cruzado – é o cheque com dois traços
paralelos – estes traços significam que o cheque não pode ser pago na
boca do caixa. Estes traços do cheque cruzado indicam que o cheque
deverá ser pago através da câmara de compensação. Se o emitente
emite um cheque cruzado, mas o banco o desconta na boca do caixa,
ele pode ser responsabilizado por isso.
Outro exemplo de descumprimento contratual é quando o banco
paga um cheque falso ou falsificado. Quando o banco paga um cheque
falso ou falsificado há uma presunção relativa de que o banco será
responsabilizado – sumula 28 do STF c/c art. 927 NCC. – O cheque falso
diz respeito à assinatura e o cheque falsificado diz respeito ao conteúdo.
Esta presunção é relativa pq o banco pode provar a culpa
exclusiva ou concorrente do emitente.
Cheque irregular # cheque inválido
Cheque irregular é um cheque que pode ser executado. O cheque
irregular é aquele que não tem suficiente provisão de fundos. O cheque
inválido é aquele que não preenche os requisitos essenciais previstos
em lei (art. 3 e 2º caput da lei 7357/85)
CARACTERÍSTICAS DO CHEQUE:
O cheque é um titulo de modelo vinculado porque o cheque tem
um modelo padronizado.
O cheque pode ser ao portador se o valor for inferior a R$ 100, 00
(cem reais) art. 907NCC c/c o art. 2 lei 8021/90 c/c o art. 69 lei
9069/95 c/c art. 19 lei 8088/90.
164
O cheque também pode ser nominal e à ordem. A regra é que o
cheque seja um titulo nominal inato, ou seja, pode circular por endosso
ou por cessão – art. 17 lei do cheque.
O cheque é uma ordem de pagamento a vista – art. 32 da lei do
cheque.
Há quem considere o cheque um titulo próprio e há quem considere
o cheque um titulo impróprio. Isso já foi visto quando estudamos a
natureza do cheque.
O cheque é um titulo bancário porque necessariamente tem que
existir uma previa relação contratual entre o emitente e o sacado, sob
pena do cheque ser inválido.
O cheque é um documento formal. Precisa preencher os
requisitos essenciais (art. 1 da lei do cheque).
O cheque não admite aceite.
O cheque é pro – solvendo.
O cheque tem autonomia, abstração, cartularidade ... o cheque
tem atributos cambiários – art. 13 e art. 1 da lei do cheque.
O cheque tem curso forçado?
A lei 8002/90 dizia que o cheque tem curso forçado. Mas o art.92 da
lei 8884/94 revogou a lei 8002/90 e o cheque deixou de ter curso
forçado. Depois veio o CDC onde seu art. 39, IX criou controvérsias. Há
quem entenda que em razão do art. 39, IX do CDC o cheque passou a
ter curso forçado nas relações de consumo, pois o cheque traduz pronto
pagamento. Mas a maioria entende que o cheque não tem curso
forçado, pois o cheque é pro – solvendo. E o inciso IX do art. 39 do CDC
foi acrescentado pela lei 8884/90 que é a mesma lei que acabou com o
curso forçado do cheque.
Conta corrente conjunta:
165
Não há solidariedade cambiária por força da conta corrente
conjunta.
A e B assinaram contrato de conta corrente conjunta. Neste caso há
solidariedade contratual, mas perante terceiros só haverá solidariedade
cambiária se os dois assinarem o cheque. Se apenas o A assinar o
cheque, o B não será devedor cambiário, face ao principio da
literalidade. Só é devedor cambiário do cheque, perante terceiros,
aquele que assina a cártula. se apenas um correntista assinou o cheque
somente ele será devedor.
A solidariedade contratual que existe na conta corrente conjunta só
existe entre os correntistas e o banco. Esta solidariedade não se estende
aos terceiros.
A emissão de cheque sem fundos é crime de estelionato – art. 171,
§2, VI CP. Este é um crime comum, doloso, material que se consuma
com a efetiva devolução – art. 4, §1 lei do cheque. Este crime só se
consuma no momento da apresentação e recusa do pagamento do
cheque pelo sacado. Sumula 521 do STF. Este crime admite a suspensão
condicional do processo.
Sumula 554 SFT – o pagamento do cheque recusado pelo sacado
por falta de pagamento, obsta o recebimento da denuncia. Mas se o
pagamento for feito após o recebimento da denuncia o processo seguirá.
Na verdade esta sumula merece criticas, pois o judiciário está
legislando. Se o cheque foi pago antes do recebimento da denuncia,
nada obstará no processo. Uma vez que o cheque foi pago antes da
denuncia ser recebida, o processo ainda assim deverá ser instaurado e
neste caso aplica-se o art. 16 do CP que trata do arrependimento
posterior e é causa obrigatória de diminuição de pena. Então, o juiz deve
receber a denúncia, aplicar o art. 16 CP e suspender o processo na
forma do art. 89 da lei 9099.
Esta seria a forma mais técnica.
166
Entretanto os juizes nem recebem a denuncia nos casos em que o
cheque é pago antes do recebimento da denuncia.
05/05/05
CHEQUE E ENDOSSO
O cheque pode ser endossado uma única vez. A legislação tributária
impede que o cheque circule por mais de um endosso. A lei do cheque
prevê a possibilidade do cheque circular através de mais de um
endosso, mas estes dispositivos da lei do cheque estão com a eficácia
suspensa.
A lei que prevê a CPMF prevê que o cheque só pode ser endossado
uma única vez. A lei do cheque prevê a possibilidade de pluralidade de
endossos do cheque – art. 17, §2 e art. 20, II, da lei 7357/85. A parte
final do art. 17, §2 e o art. 20 II da lei 7357/85 estão sem eficácia pois a
lei 9311/96, que é a lei do CPMF dispõe que o cheque só pode ser
endossado uma única vez. O art. 22 da lei 7357/85 fala em “série
ininterrupta de endossos”. Este dispositivo também está sem eficácia e
art. 20, II, pois o cheque não pode ser endossado mais de uma vez.
Endosso póstumo, tardio ou posterior ao vencimento é o endosso
que é feito após o protesto ou após o prazo para o protesto. Como nós
vimos, o protesto no cheque é facultativo. Nada impede que haja o
endosso póstumo após o prazo de apresentação do cheque. Isso está
claro no art. 27 da lei do cheque. Aliás, esta era a resposta do ultimo
provão do MP.
Endosso pignoratício pode ser feito no cheque?
Não.
O endosso pignoratício é uma espécie de endosso caução. O
endosso pignoratício ocorre quando o TC é dado ao credor em garantia
real, de modo que se o devedor não cumprir a obrigação, o credor de
posse daquele TC poderá executa-lo. O endosso pignoratício está
167
previsto no art. 918 do NCC e, em suma, pode-se conceitua-lo como uma
garantia de dívida.
Mas o cheque não pode ser objeto de endosso pignoratício porque o
cheque não é uma garantia de dívida. O cheque é ordem de pagamento
a vista, na forma do art. 32 da lei 7357/85.
Prazos:
O cheque é uma ordem de pagamento a vista.
Mas o cheque tem alguns prazos.
O credor do cheque tem um prazo para apresentar o cheque ao
Sacado.
Esta apresentação pode se dar de duas formas: apresentação na
boca do caixa ou apresentação para compensação, na câmara de
compensação.
O prazo para apresentação do cheque está no art. 33. Trata-se de
um prazo decadencial de 30 ou 60 dias.
O prazo é de 30 dias em municípios idênticos. Por exemplo: cheque
emitido no município do Rio de Janeiro e apresentado no município do
Rio de Janeiro – o prazo para esta apresentação é de 30 dias.
O prazo é de 60 dias quando a emissão de um cheque se dá em um
município e a apresentação se dá em outro município.
Para saber a data de apresentação é preciso que no cheque o
sujeito coloque no cheque o nome do lugar (município) da emissão.
A ação de execução está no art. 47 e o prazo para executar o
cheque está no art. 59 da lei do cheque. Se o cheque for devolvido sem
fundos, o credor tem prazo de 6 meses para ajuizar ação cambiária em
face do devedor.
Se o credor perder o prazo da ação cambiária, o credor ainda terá
prazo de 2 anos para ajuizar ação de locupletamento ilícito, na forma do
art. 61 da lei de cheque.
168
O prazo de apresentação do cheque é muito importante. Entretanto
há a sumula 600 do STF que diz que cabe ação executiva contra os
devedores cambiários diretos do cheque, ainda que o cheque não seja
apresentado ao sacado no prazo legal, mas desde que não esteja
prescrita a ação cambiária.
Em outras palavras, esta sumula quer dizer que mesmo o cheque
não tendo sido apresentado no prazo de 30 ou 60 dias, o emitente e seu
avalista podem ser executados. Mas esta sumula 600 só abrange os
devedores diretos. Façam uma remissão nesta sumula 600 ao art. 47, I
da lei do cheque.
O término do prazo de apresentação serve como termo a quo para
os 6 meses da ação executória. Ou seja, o prazo de 6 meses para ajuizar
ação cambiária começa no dia em que termina o prazo para
apresentação. Isso está no art. 59 da lei do cheque.
Na palavra prazo de apresentação fazer remissão ao art. 33 da lei
do cheque.
Interpretação do art. 59 da lei do cheque:
Fabio Ulhoa Coelho entende que o art. 59 da lei do cheque tem que
ser interpretado literalmente. Por exemplo, se o cheque foi emitido em
maio de 2005, e o prazo é de 30 dias para apresentação, em junho de
2005 começa o prazo de 6 meses previsto no art. 59. Não importa se o
cheque foi devolvido em julho. Para Fabio Ulhoa, o prazo começa a fluir
após o efetivo término do prazo para apresentação. Esta posição
favorece ao credor!
A maioria das turmas do STJ entende que se o cheque não foi
apresentado no prazo de apresentação, o inicio do prazo prescricional
para a ação cambiaria prevista no art. 59 será o do efetivo termino do
prazo de apresentação. Por exemplo, o cheque foi emitido em maio e
não foi apresentado. O prazo para a ação executória do credor começa
169
em junho pois esta seria a data do efetivo término do prazo para
apresentação.
Mas o STJ diz que se o cheque foi apresentado e devolvido, o prazo
do art. 59 começa a partir da data da devolução do cheque. Então, neste
mesmo exemplo, o cheque foi emitido em maio, apresentado em junho
(dentro do prazo de apresentação) e foi devolvido em julho. Para esta
posição do STJ o prazo do art. 59 começaria a correr a partir de julho,
que é a data da devolução do cheque.
O prazo de apresentação do cheque também é importante por
causa do art. 47 da lei do cheque.
Quem deixa de apresentar o cheque no prazo de apresentação
previsto no art. 33 pode cobrar dos devedores diretos, na forma do art.
47, I c/c a sumula 600 do STF.
Mas a falta de apresentação impede que o credor execute os
devedores indiretos. O art. 47, II diz que para cobrar dos devedores
indiretos é necessário que o cheque seja apresentado em tempo hábil.
Caso o cheque não seja apresentado em tempo hábil, o direito de cobrar
dos devedores indiretos decairá.
Obs: Se o credor não obedecer o prazo de apresentação, ele não
poderá cobrar dos devedores indiretos (avalistas e endossantes), mas
ainda sim poderá cobrar dos devedores diretos (emitente e avalistas
deste), de acordo com a S 600 STF.
Então, a regra geral é que não se precisa cumprir o prazo de 30/60
dias para cobrar dos devedores diretos, pois a lei não faz esta exigência.
Porém, para cobrar dos devedores indiretos deverá ter apresentado
dentro do prazo, porque o art. 47, II exige isso.
170
Mas, existe uma exceção desta regra, ou seja, se o credor não
apresentar neste prazo de 30/60 dias ele vai perder o direito de cobrar
do emitente do Cheque.
Por exemplo, se A emitiu um Cheque de R$ 100.000,00, pela regra
geral não é necessário apresentar no prazo, porque mesmo se não
apresentar ainda terá direito de cobrar do emitente ou seus avalistas
(que são devedores diretos), porque o art. 47, I não exige.
Porém, de acordo com o art. 43 § 3º, se durante o prazo de
apresentação o emitente tinha os R$ 100.000,00, mas o credor não
apresentou o cheque ao banco, e se posteriormente ele quiser executar,
porém o devedor não tem mais fundos em sua conta corrente por
circunstancias alheias de sua vontade, neste caso não poderá mais
executar o emitente.
Estas circunstâncias alheias devem ser interpretada no sentido de
força maior, ou caso fortuito. Por exemplo, uma liquidação do Banco que
perde o dinheiro dos clientes. Foi o que aconteceu com o Banco santos
que acabou de entrar em liquidação. Estas circunstancias não podem
ser interpretadas como sendo fatos derivados da vontade do emitente,
por exemplo, não é no caso da mãe do emitente morrer e ele pegar o
dinheiro para pagar o funeral, aqui ele está usando o dinheiro.
Art. 47§ 3º c/c art. 47, I e S 600 STF, demonstrando que o § 3º é
exceção ao inciso I e a súmula 600.
Sublinhar no art. 47 § 3: “tempo hábil” c/c art. 33 LC; “emitente”;
“fato que não lhe seja imputado”
Então, neste caso temos uma exceção, já que vai perder o direito
de executar o emitente se não tiver apresentado em tempo hábil, desde
que tenha durante o prazo da apresentação tinha fundos, mas após o
prazo não tem mais por circunstancias alheias a vontade do emitente.
171
Pergunta: O art. 47, §3 fala que o credor perde o direito de cobrar
do emitente. E quanto aos avalistas do emitente, estes poderão ser
cobrados diante de circunstancias do art. 47, §3? Este § 3º é regra
excepcional ou geral?
Há controvérsias.
Alguns entendem que por se tratar de uma norma de exceção, este
dispositivo do art. 47, §3 deve ser interpretado restritivamente. E,
portanto, como este dispositivo só se refere ao emitente, ele não deve
ser ampliado ao avalista. Como se trata de uma norma excepcional deve
ser interpretada restritivamente, de modo que só se aplica ao emitente.
Ou seja, não se pode executar o emitente, mas pode ser executado o
avalista,
Para outros, esta norma deve ser interpretada extensivamente de
modo que nem o emitente e nem o avalista podem ser executados, pois
o avalista praticou um ato de liberalidade, sendo certo que não pode ter
responsabilidade maior do que a responsabilidade do avalizado. O
avalista possui obrigação equiparada a do avalizado (art. 899 NCC).
OBS: Nas hipóteses do art. 47, §3, nada impede que o credor ajuíze
uma ação monitoria contra o emitente.
CHEQUE VISADO – art. 7 da lei do cheque
Cheque visado não deixou de existir, mas perdeu um pouco de sua
importância.
O cheque visado é aquele em que o Banco dá um visto no cheque.
Este visto certifica que durante o prazo de apresentação previsto no art.
33 há fundos disponíveis.
Por exemplo, eu compro um carro no valor de 10 mil reais e emito
um cheque no dia 05/05/2005. O banco visa este cheque, certificando
que há fundos disponíveis para aquele cheque durante o prazo de
172
apresentação. Se o credor apresentar o cheque dentro do prazo de
apresentação, este cheque será pago. Quando o Banco certifica que há
fundos disponíveis para aquele cheque, o banco automaticamente
bloqueará aquela quantia e não poderá pagar outros cheques que
possam descobrir aqueles fundos. Este bloqueio da quantia do cheque
visado só dura o tempo do prazo de apresentação.
Se ultrapassar o prazo de apresentação e o credor não apresentar o
cheque visado, a certificação perderá a sua eficácia. Se o cheque visado
for descontado depois do prazo de apresentação ele até poderá ser pago
se houver fundos, porque ele continua sendo um cheque, mas não
haverá mais a certificação do banco. Caso não haja fundos, após o prazo
de apresentação, o banco não tem responsabilidade.
O cheque visado é um cheque comum, mas a pedido do emitente, a
instituição financeira sacada visa a cártula, certificando que durante o
prazo de apresentação há fundos disponíveis na conta do emitente,
sendo que a quantia constante no cheque passa a ser bloqueada pelo
banco (sacado) para saldar exclusivamente aquele credor. Após o prazo
de apresentação o cheque subsiste como tal, possuindo eficácia
executiva, apenas aquela certificação é que perde a sua eficácia, ou
seja, a quantia passa a ser desbloqueada. (art. 7 da lei 7357/85)
FORMAS DE IMPEDIR O PAGAMENTO DO CHEQUE
Art. 35 da lei 7357/85
Há duas formas licitas de impedir o pagamento do cheque.
A primeira hipótese é a revogação ou contra-ordem.
A segunda hipótese é a sustação em sentido estrito ou oposição.
A revogação está no art. 35 e a sustação está no art. 36.
173
A revogação só pode ser feita pelo emitente do cheque. Quem dá a
ordem de pagamento é o emitente e a revogação é exclusiva do
emitente.
A sustação pode ser feita pelo emitente ou por terceiro interessado.
A revogação e a sustação podem ser feitas a qualquer momento.
A revogação pode ser feita a qualquer momento, mas a sua eficácia
é diferida, pois ela só produz efeitos após o prazo de apresentação. Se o
emitente emite o cheque hoje e revoga hoje, se o credor apresentar o
cheque amanha, este cheque será pago.
A sustação produz efeitos imediatos. Se você emite um cheque hoje
e susta esse cheque hoje, se o credor apresentar este cheque amanha,
este cheque não será pago pelo sacado.
Questão: Zezinho emitiu um cheque no dia 03/05/2005 em favor de
Hugo. No dia 15/05/2005 Zezinho revogou a ordem de pagamento.
Pergunta-se: O banco tem que aceitar a revogação? O banco pode pagar
o cheque diante da suficiência de fundos, e descumprir a revogação? O
que ocorreria se fosse sustação?
Resposta:
O banco tem que aceitar esta revogação. O banco tem que acatar a
revogação, sob pena de cometer um ilícito contratual.
Ocorre que esta revogação da ordem de pagamento ocorreu
durante o prazo de apresentação. Sendo assim, o banco pode pagar o
cheque, mesmo diante da revogação, desde que o cheque seja
apresentado dentro do prazo de apresentação. Se o cheque for
apresentado dentro do prazo pelo credor, a revogação não produzirá
nenhum efeito. Mas se o cheque for apresentado após o prazo de
apresentação o banco não poderá paga-lo.
174
Se a hipótese fosse de sustação, esta produz efeitos imediatos.
Neste caso, o banco não poderá pagar o cheque. Se o banco pagar um
cheque sustado, o banco comete um ilícito contratual.
A revogação é definitiva.
Quem revoga um cheque não pode se retratar. Após o prazo de
apresentação o banco não pode mais pagar o cheque revogado. O
pagamento deste cheque revogado só poderá ser feito voluntariamente
em dinheiro, ou diante de outro cheque para substituir o cheque
revogado ou através de ação de cobrança judicial.
A sustação admite retratação. Após a sustação pode haver
retratação de modo que o cheque seja pago.
Há quem entenda que na revogação é necessário motivação. Mas a
sustação não tem que ser motivada.
Luis Emydio diz que em qualquer hipótese há de ter motivação.
Para ocorrer a sustação em sentido amplo (revogação e sustação
em sentido estrito) é necessário a existência de fundos?
Há controvérsias:
Requião entende que no caso da revogação não há necessidade de
fundos, mas no caso da revogação há necessidade de fundos
disponíveis.
Luis Emydio entende que em ambas as hipóteses não há
necessidade de fundos disponíveis por inexistência de previsão legal.
Revogação e Sustação não se confundem com frustração.
Tanto na revogação, como na sustação como na frustração não
ocorre o pagamento.
A sustação e a revogação são instrumentos lícitos de impedir o
pagamento do cheque.
175
A frustração é instrumento ilícito de impedir o pagamento do
cheque. A frustração do pagamento configura um ilícito penal, previsto
no art. 171, §2, VI do CP.
Cheque pós-datado e cheque pré-datado.
Existe a figura do cheque pré-datado e a figura do cheque pós-
datado.
Por exemplo: hoje é dia 05/05/2005. Você pode emitir um cheque
para o Master com data de emissão do dia 01/05/2005. Isto é um cheque
pré-datado, porque a data é pretérita. O prazo para apresentação deste
cheque será de 30 ou 60 dias, contados do dia 01/05.
O cheque é pós-datado quando emitido hoje com data do mês que
vem. Se hoje você emite um cheque e coloca a data do dia 05/06/2005,
você está emitindo um cheque pós-datado. A data de emissão é futura.
O prazo para apresentação do cheque pós-datado é futura.
Atenção: o cheque pós-datado só produz efeitos entre o emitente e
o credor originário. É uma cláusula que não vincula terceiros. Do ponto
de vista cambiário, o cheque pós-datado é inócuo. Nada impede que o
credor apresente o cheque e que o banco pague o cheque porque o art.
32 diz que o cheque é uma ordem de pagamento a vista e considera-se
não escrita qualquer cláusula em contrário.
Mas o cheque pós-datado é relevante para fins civis e penais.
Se você emite um cheque pós-datado ao Master, cambiariamente,
nada impede que o Master apresente este cheque ao banco
imediatamente. Mas para o direito civil, esta conduta do Master
caracteriza o descumprimento de uma obrigação de não fazer. Quando o
Master aceita o cheque pós-datado ele está se obrigando a não
depositar o cheque antes daquela data. Se a apresentação antecipada
do cheque pós-datado causar algum dano, caberá responsabilidade civil.
176
Para fins penais o cheque pós-datado indica que no momento da
emissão o sujeito não tinha fundos, mas que o teria na data aprazada.
Sendo assim, a apresentação antecipada do cheque pós-datado não
caracteriza ilícito penal do art. 171, §2, Vi do CP. Vide sumula 246 STF.
Não há estelionato, pq não há fraude.
Hipótese: Zezinho tinha uma conta corrente no Itaú. Ele encerrou a
conta no Itaú, mas ele ainda tinha um talão de cheques deste banco.
Mesmo depois de encerrada a conta no Itaú o Zezinho continua emitindo
cheques deste banco. Que crime ele cometeu?
É o crime do art. 171, caput, do CP.
CHEQUE TURISMO OU VIAGEM
Este cheque é utilizados quando se viaja para o exterior, ele tem
duas assinaturas uma quando se recebe e outra quando se vai utilizá-lo.
Não é um Cheque, pois ele não circula.
Na verdade este cheque serve como um dinheiro, pois ou poderá
pagar alguma coisa com aquilo ou então poderá troca-lo por moeda
estrangeira.
Então, este Cheque configura um documento que tem por
finalidade o transporte de moeda estrangeira para o exterior que será
trocado no País de destino, sendo intransmissível e imprescritível, não
configurando um verdadeiro cheque, mas sim um instrumento de
transporte de valores.
CHEQUE FISCAL
É um documento que serve para fins de restituição tributária.
Então, é um documento que o fisco se utiliza para proceder a restituição
de um tributo arrecadado em excesso. As pessoas ficam felizes com
177
restituição, porém isso é somente um valor que o Estado restitui, pois
cobrou de mais, é um valor que já é do contribuinte.
CHEQUE POSTAL
Também, não configura um verdadeiro cheque, mas sim um
documento utilizado para fins de reembolso postal. É um instrumento de
reembolso postal.
CHEQUE “ESPECIAL”
Esta denominação especial não é técnico, por isso evitem falar
assim, coloquem entre aspas “especial”. O mais correto é falar em
Cheque decorrente de Contrato de Abertura de Crédito. Na prática este
Cheque é para aquela quantia que é colocada a disposição do
correntista pelo Banco.
Então, o Contrato de Abertura de Crédito é um contrato bancário
celebrado com uma Instituição Financeira e seu correntista, em que
aquela se compromete a colocar à disposição um determinado valor,
sendo remunerada apenas se o correntista utilizar deste valor.
Este Cheque Especial está dentro dos fundos disponíveis do art. 4º
§2º, c da lei de cheque. O que caracteriza este contrato é a
disponibilidade, o cliente poderá nunca usar aquela quantia que o Banco
põe a disposição do cliente.
ESPÉCIES DE CHEQUE:
CHEQUE CRUZADO – é aquele em que o emitente imprime dois
traços paralelos na cártula. Estes traços paralelos podem ser horizontais,
verticais ou transversais.
Ao cruzar o cheque o emitente tem a segurança de saber que em
caso de extravio do cheque será possível sustar o pagamento. O cheque
cruzado não pode ser descontado na boca do caixa. O portador do
cheque cruzado tem que depositar o cheque cruzado em sua conta
178
corrente. A sua compensação será feita através da câmara de
compensação.
- Cruzamento em Branco: É quando ao cruzar, entre os traços
paralelos não se coloca qual o Banco em que se deverá depositar o
Cheque, poderá ser depositado em qualquer banco.
- Cruzamento em Preto ou Especial: É quando se indica qual é o
banco que deverá ser depositado o Cheque, por exemplo, Banco de
Boston, então este Cheque só poderá se depositado por quem tem conta
no Banco de Boston.
Cláusula Irrevogável
Esta cláusula de cruzamento é irrevogável, após ter cruzado o
Cheque não poderá voltar a atrás e se retratar.
CHEQUE PARA SER CREDITADO EM COTA - Art. 46 Lei do
cheque
É parecido com o cheque cruzado. É aquele onde se coloca uma
inscrição transversal “para ser creditado em conta”, normalmente é um
carimbo. O art. 46 determina que é uma inscrição transversal, que
normalmente é um carimbo.
Este Cheque é semelhante ao Cheque cruzado, porque nos dois
quem pode receber é somente quem tem conta corrente para depositar,
então ambos devem ser objetos de depósito e o pagamento se faz
através da câmara de compensação.
Há quem entenda que o cheque para ser creditado em conta é
intransmissível. Seria a única hipótese em que o cheque ficaria impedido
de circular.
O entendimento dominante é que não cabe endosso, mas nada
impede que este cheque circule através da cessão ordinária de credito.
CHEQUE VISADO – Art. 7º LC – vide explicação acima
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CHEQUE ADMINISTRATIVO – Art. 9º Lei de cheque, que também
é chamado de:
- CHEQUE CAIXA,
- CHEQUE BANCÁRIO
- CHEQUE TESOURARIA
- CHEQUE ADÚLTERO
- CHEQUE COMPRADO
O cheque administrativo é o cheque emitido pela instituição
financeira e o sacado é a proproia instituição financeira. Na verdade este
cheque administrativo é uma transmissão de valores que a Matriz faz
para uma agencia bancaria.
Por exemplo: A pessoa vai ao Banco e pede para transferir um
dinheiro para outra agência, transferências de valores dentro da mesma
Instituição Financeira em que o Banco é ao mesmo tempo emitente e
sacado.
Para o banco fazer isso ele assegura que tem fundos em sua
conta.
Conceito – “Cheque Administrativo é um cheque emitido por uma
Instituição Financeira que dá uma ordem de pagamento a vista a um dos
seus estabelecimentos bancários em favor de outro estabelecimento, a
qual está identificada (deve ser nominal), tendo por finalidade a
transferência de valores”
Na verdade o cheque administrativo é um repasse de valores que
um cliente tem em uma Instituição Financeira, para algum de seus
estabelecimentos. Então, o emitente na realidade não é o correntista,
mas sim o banco, sacado, por isso é controvertido a natureza de cheque
deste chamado cheque administrativo.
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Waldemar Ferreira, minoritariamente, entende que o cheque
administrativo não tem natureza propriamente de um cheque, pois o
emitente não é o correntista, mas sim o próprio Banco.
Mauro Rodrigues Penteado tem a posição dominante, no sentido
de que o cheque administrativo é um cheque como outro qualquer, mas
com certas peculiaridade já que o emitente é o próprio Banco, e porque
este cheque inclusive circula, pode ser objeto de protesto, pode ser
objeto de execução. Mas, tem a peculiaridade que o próprio emitente é
o Banco.
QUESTÃO: Poderá haver Sustação ou Revogação do cheque
administrativo? Em outras palavras, poderá haver Sustação em sentido
amplo? Poderá o Banco ser impedido de transferir?
O emitente do Cheque é o banco, logo só ele poderia sustar, mas
ele não tem nenhum interesse em sustar, pois o dinheiro não é dele, os
fundos pertencem ao correntista.
Mas, o STJ tem acórdão admitindo que o correntista impeça o
pagamento do cheque administrativo.
Por exemplo, eu comprei o carro e peço para passar o final de
semana com o carro em troca eu deixo o cheque administrativo com o
dono do carro. Na Segunda Feira, o dono do carro não passa o carro
para meu nome, e por isso o STJ entende que neste caso concreto em
que o negócio jurídico não se tornou perfeito, já que o credor do Cheque
não cumpriu com sua obrigação, logo poderá o correntista impedir o
pagamento. Em outras palavras, o STJ entende que é possível que o
correntista impeça o pagamento do cheque administrativo se o
beneficiário do cheque administrativo não cumprir a sua obrigação
causal.
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