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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO TONNY KERLEY DE ALENCAR RODRIGUES VALORES HEDÔNICOS E UTILITÁRIOS NA COMPRA DO AUTOMÓVEL: experiências de consumo na classe média emergente Rio de Janeiro 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

TONNY KERLEY DE ALENCAR RODRIGUES

VALORES HEDÔNICOS E UTILITÁRIOS NA COMPRA DO

AUTOMÓVEL: experiências de consumo na classe média

emergente

Rio de Janeiro

2017

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TONNY KERLEY DE ALENCAR RODRIGUES

VALORES HEDÔNICOS E UTILITÁRIOS NA COMPRA DO

AUTOMÓVEL: experiências de consumo na classe média emergente

Tese apresentada ao Instituto COPPEAD de

Administração, da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Doutor em

Administração.

Orientadora: Profª. Drª. Leticia Moreira Casotti

Co-Orientador: Prof. Dr. Otávio Figueiredo

Rio de Janeiro

2017

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Tonny Kerley de Alencar Rodrigues

VALORES HEDÔNICOS E UTILITÁRIOS NA COMPRA DO AUTOMÓVEL:

experiências de consumo na classe média emergente

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor

em Administração.

Rio de Janeiro

2017

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa a minha mãe, Carmina Neta de Alencar (In Memmorian).

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por me manter firme ao longo desta caminha.

À minha mãe que sempre batalhou para que eu pudesse estudar e, com isso,

transformou a minha vida.

À Profa. Dra. Leticia Casotti por ter acreditado em mim desde o início e ter

permitido que tudo isso acontecesse.

Ao COPPEAD/UFRJ que transformou a minha vida enquanto docente e

pesquisador.

Ao Centro Universitário Santo Agostinho (Átila, Yara e Tieta) que me incentivaram

desde o princípio e foram essenciais a esta conquista.

Aos meus pais (Antônio e Aloísio), meus irmãos (Júnior e Aloisinho), demais

familiares e amigos.

Ao Prof. Dr. Otávio Figueiredo por ter sido decisivo na reta final deste doutorado.

Ao Prof. Dr. Victor Almeida que me tornou um outro Professor e Pesquisador.

Ao professor Dr. Peter Wanke que contribuiu com minha formação de pesquisador.

Às professoras Dra. Maribel Suarez e Dra. Roberta Campos pelos ensinamentos ao

longo do doutorado.

Aos demais membros da banca, Dra. Angela da Rocha, Dr. Eduardo Ayrosa e Dr.

Salomão Farias.

Aos professores do COPPEAD, Dr. Kleber Figueiredo, Dr. Alexandre Rodrigues,

Dr. Vicente Ferreira e Dra. Rebecca Arkader.

À Cátedra FIAT de Estudos de Consumo do Instituto COPPEAD de Administração.

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RESUMO

RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Valores hedônicos e utilitários na compra do

automóvel: experiências de consumo na classe média emergente, 2017. 131f. Tese (Doutorado

em Administração) - Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

Esta tese de doutorado tem por objetivo compreender os valores hedônicos e utilitários na

compra do automóvel a partir de experiências de consumo na classe média emergente. Para

isso, foram realizados três artigos que buscam contemplar esta pesquisa. O primeiro deles,

"Queremos mobilidade! Lógicas de consumo associadas à experiência com o primeiro

automóvel", teve por objetivo compreender significados e práticas construídos no processo de

consumo do primeiro automóvel de um grupo de consumidores da cidade de Teresina. Para

isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa, exploratória, com suporte no paradigma

interpretativista e no campo da Consumer and Culture Theory (CCT), que utilizou como

instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevistas semiestruturado. Foram realizadas

entrevistas em profundidade com 18 consumidores da classe média emergente de Teresina e

para analisar as falas dos sujeitos adotou-se a proposta metodológica de Spiggle (1994). A

interpretação dos relatos sugere que esse grupo de consumidores inicia sua experiência no

mercado de automóveis a partir de significados e práticas associados a aspectos utilitários dessa

categoria de produtos que diferem daqueles apontados em outros estudos que estavam focados

em consumidores de mais alta renda. O segundo estudo, "Significados do automóvel na música:

posse divertida, transformadora e identitária", também utilizando uma abordagem qualitativa,

amparada no paradigma interpretativo e na família de perspectivas teóricas que formam a CCT,

buscou, na música, compreender os significados culturais do automóvel construídos em suas

letras. A partir da análise de 28 músicas do gênero forró, utilizando a tradição hermenêutica de

interpretação textual, a investigação se concentrou na compreensão do conteúdo semântico das

músicas como relatos de uma cultura que produz e consome seus significados. Assim, a

pesquisa destaca que o automóvel aparece nesses textos culturais como um espaço de

entretenimento, capaz de promover diferentes tipos de transformação ou libertação a partir da

sua posse. Os achados sugerem que o carro parece promover diversão, demarcação entre os

gêneros e a complementação de acessórios que viabilizam a transformação do design original

do produto, além de projetar/potencializar a identidade do proprietário que é beneficiado com

relacionamentos sociais bem-sucedidos. Por fim, a terceira pesquisa, “Escala de valores

hedônicos e utilitários na experiência de compra de automóveis na classe média emergente”,

buscou realizar uma adaptação de escalas que pudessem medir o valor utilitário e hedônico da

experiência de compra de automóveis por consumidores da classe média emergente. A partir

de uma survey com 2364 consumidores de automóveis da classe média emergente, foi realizada

uma análise fatorial exploratória e, posteriormente, uma análise fatorial confirmatória. Os

resultados mostram que ocorreram distinções de modo a inverter a lógica tradicional do

consumo hedônico e utilitário por conta de três aspectos: a regionalidade, os indivíduos da

classe média emergente e por se tratar da categoria de produto automóvel. Ainda, a pesquisa

melhorou os índices de ajustamento das escalas de hedonismo e utilitarismo de Babin, Darden

e Griffin (1994) e O’Brien (2010).

Palavras-chave: Consumo. Hedonismo. Utilitarismo. Automóveis. Classe média emergente.

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ABSTRACT

RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Valores hedônicos e utilitários na compra do

automóvel: experiências de consumo na classe média emergente, 2017. 131f. Tese (Doutorado

em Administração) - Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

This doctoral thesis aims to understand the hedonic and utilitarian values in the purchase of the

car from experiences of consumption in the emerging middle class. For that, three articles were

carried out that seek to contemplate this research. The first one, "We want mobility! Logics of

consumption associated with the experience with the first automobile", aimed to understand

meanings and practices built in the process of consumption of the first automobile of a group

of consumers of the city of Teresina. For this, a qualitative, exploratory research was carried

out, with support in the interpretative paradigm and in the field of the Consumer and Culture

Theory (CCT), which used as a data collection instrument a semi-structured interview script.

In-depth interviews were conducted with 18 consumers from the emerging middle class of

Teresina, and Spiggle's (1994) methodological proposal was used to analyze the subjects'

speeches. The interpretation of the reports suggests that this group of consumers begins their

experience in the automobile market from meanings and practices associated to utilitarian

aspects of this category of products that differ from those pointed out in other studies that were

focused on consumers of higher income. The second study, "Meaning of the automobile in

music: fun, transforming and identity possession", also using a qualitative approach, based on

the interpretive paradigm and the family of theoretical perspectives that form the CCT, sought

in music to understand the cultural meanings of built on their lyrics. From the analysis of 28

songs of the genre forró, using the hermeneutic tradition of textual interpretation, the

investigation focused on the understanding of the semantic content of the songs as reports of a

culture that produces and consumes their meanings. Thus, the research highlights that the

automobile appears in these cultural texts as an entertainment space, capable of promoting

different types of transformation or liberation from its possession. The findings suggest that the

car seems to promote fun, gender demarcation, and accessory complements that enable the

transformation of the original product design, as well as designing/enhancing owner identity

that benefits from successful social relationships. Finally, the third survey, "Scale of hedonic

and utilitarian values in the experience of shopping of automobiles in the emerging middle

class", sought to carry out an adaptation of scales that could measure the utility and hedonic

value of the experience of consumption of automobiles by consumers of the emerging middle

class. From a survey of 2364 consumers of emerging middle class automobiles, an exploratory

factorial analysis was carried out and, later, a confirmatory factor analysis. The results show

that distinctions have occurred in order to reverse the traditional logic of hedonic and utilitarian

consumption due to three aspects: regionalism, the emerging middle class and the automobile

product category. Moreover, the research improved the indices of adjustment of the hedonic

and utilitarian scales of Babin, Darden and Griffin (1994) and O'Brien (2010).

Keywords: Consumption. Hedonism. Utilitarianism. Automobiles. Emerging middle class.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Significados da posse do automóvel na música ......................................................... 61

Figura 2 Modelo para a Escala de Babin, Darden e Griffin (1994). ...................................... 102

Figura 3 Modelo para a Escala de O’Brien (2010). ................................................................ 103

Figura 4 Modelo Geral com dois fatores: Utilitarismo e Hedonismo.....................................104

Figura 5 Modelo para a Escala de Babin, Darden e Griffin (1994) com a exclusão

de variáveis...............................................................................................................107

Figura 6 Modelo para a Escala de O’Brien (2010), com a exclusão de variáveis..................108

Figura 7 Modelo Geral com dois fatores: Utilitarismo e Hedonismo, com a exclusão de

variáveis....................................................................................................................109

Quadro 1 – Etapas do processo de adaptação de escalas..........................................................72

Quadro 2 Composição dos itens da escala a partir das quatro referências teóricas

utilizadas.....................................................................................................................75

Quadro 3 – Proposta de escala adaptada.................................................................................112

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfil dos entrevistados da pesquisa .......................................................................... 35

Tabela 2 Músicas utilizadas no estudo e suas características. .................................................. 52

Tabela 3 Características da amostra..........................................................................................79

Tabela 4 Correlações das variáveis da escala de Babin, Darden e Griffin (1994)....................81

Tabela 5 Correlações das variáveis da escala de O'Brien (2010).............................................82

Tabela 6 Correlações da Escala Geral......................................................................................85

Tabela 7 Matriz Anti-imagem para a Escala de Babin, Darden e Griffin (1994).....................88

Tabela 8 Matriz Anti-imagem para a Escala de O'Brien (2010)...............................................88

Tabela 9 Matriz Anti-imagem da Escala Geral.........................................................................88

Tabela 10 KMO e Teste de Bartlett..........................................................................................89

Tabela 11 Análise Fatorial Exploratória da Escala de Babin, Darden e Griffin (1994) ......... 90

Tabela 12 Análise Fatorial Exploratória da Escala de O'Brien (2010).....................................91

Tabela 13 Análise Fatorial Exploratória da Escala Geral.........................................................92

Tabela 14 Alfa de Cronbach.....................................................................................................95

Tabela 15 Matriz Anti-imagem Depurada para a Escala de Babin, Darden e Griffin

(1994).......................................................................................................................96

Tabela 16 Matriz Anti-imagem Depurada para a Escala de O'Brien (2010)............................96

Tabela 17 Matriz Anti-imagem Depurada da Escala Geral......................................................97

Tabela 18 KMO e Teste de Bartlett Depurados........................................................................97

Tabela 19 Análise Fatorial Exploratória Depurada da Escala de Babin, Darden

e Griffin (1994).........................................................................................................98

Tabela 20 Análise Fatorial Exploratória Depurada da Escala de O'Brien (2010)....................99

Tabela 21 Análise Fatorial Exploratória Depurada da Escala Geral.......................................100

Tabela 22 Alfa de Cronbach após a Depuração......................................................................100

Tabela 23 Índices de ajustamento dos modelos......................................................................105

Tabela 24 Índice de Hoelter....................................................................................................106

Tabela 25 Índices de ajustamento dos modelos, com a exclusão de variáveis.......................109

Tabela 26 Índice de Hoelter, com a exclusão das variáveis....................................................110

Tabela 27 Correlação dos fatores hedônicos e utilitários das três escalas..............................110

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACR: Association for Consumer Research

CCEB: Critério de Classificação Econômica Brasil

CCT: Consumer and Culture Theory

CFI: Comparative Fit Index

DENATRAN: Departamento Nacional de Trânsito

DETRAN-PI: Departamento Estadual de Trânsito do Piauí

EUA: Estados Unidos da América

GL: Graus de Liberdade

GPS: Global Position System

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

IFI: Incremental Fit Index

JCR: Journal of Consumer Research

KMO: Kaiser-Meyer-Olkin

MSA: Measure of Sampling Adequacy

NFI: Normed Fit Index

PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RMSEA: Root Mean Square Error of Aproximation

SPSS: Statistical Package for Social Sciences

TFI: Tuker-Lewis Index

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SUMÁRIO

1 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................... 13

1.1 Introdução ....................................................................................................................... 13

1.2 Estudos Culturais ............................................................................................................ 16

1.3 Os três estudos ................................................................................................................. 19

1.4 Objetivo geral e apresentação das etapas da tese .......................................................... 23

2 CAPÍTULO 2 – ETAPA QUALITATIVA: LÓGICAS DE CONSUMO

ASSOCIADAS À EXPERIÊNCIA COM O PRIMEIRO CARRO.............................. 25

2.1 Introdução........................................................................................................................ 25

2.2 Referencial teórico........................................................................................................... 27

2.3 Método.............................................................................................................................. 32

2.4 Resultado e Discussões.................................................................................................... 36

2.5 Considerações Finais....................................................................................................... 42

3 CAPÍTULO 3 – PESQUISA DE TEXTOS CULTURAIS COM SIGNIFICADOS

DO AUTOMÓVEL NAS MÚSICAS DE FORRÓ........................................................ 45

3.1 Introdução ....................................................................................................................... 45

3.2 Referencial teórico .......................................................................................................... 46

3.3 A Pesquisa e o Forró........................................................................................................ 50

3.4 Resultado e Discussões..................................................................................................... 54

3.5 Considerações Finais....................................................................................................... 63

4 CAPÍTULO 4 – ESCALA DE VALORES HEDÔNICOS E UTILITÁRIOS NA

EXPERIÊNCIA DE CONSUMO DE AUTOMÓVEIS NA CLASSE MÉDIA

EMERGENTE ................................................................................................................ 65

4.1 Introdução........................................................................................................................ 65

4.2 Revisão de Literatura...................................................................................................... 68

4.3 Método.............................................................................................................................. 72

4.4 Resultados e Discussões................................................................................................... 79

4.5 Conclusão.......................................................................................................................... 114

5 CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 117

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 119

APÊNDICE A – Questionário de Hedonismo e Utilitarismo para a Escala Geral.... 131

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1- Introdução

A trajetória dessa tese não se inicia com lacunas teóricas e sim a partir de três diferentes

contextos. O primeiro contexto se refere à região de origem do pesquisador que é o nordeste

brasileiro, mais especificamente Teresina, a capital do estado do Piauí. Esse estado ocupa a

segunda colocação com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país (IBGE,

2016). Como um dos principais componentes para a formação do IDH é a renda e esta pesquisa

recai sobre pessoas da classe média emergente, isto é, com um nível de renda mais próximo da

base da pirâmide, o local possui o contexto social e econômico propício ao tipo de população

em que se buscou estudar o comportamento de consumo de automóveis dessa classe emergente.

Fazer o estudo de campo em Teresina parecia uma barreira para um nordestino que havia se

aventurado a fazer um doutorado no Rio de Janeiro. No entanto, o grupo de pesquisa

demonstrou curiosidade justamente pela possibilidade de conhecer o comportamento do

consumidor de uma subcultura diferente daquela que predominava nas pesquisas desenvolvidas

até então.

A escolha do segundo contexto está relacionada com o Brasil que, de 2001 a 2012,

passou por um período onde aconteceu um aumento da renda (BRASIL, 2013) e,

consequentemente, do consumo. Embora possam ser encontradas muitas críticas (ABDALA,

2012; BAVA, 2012; COCCO, 2012; YACCOUB, 2011) em relação a esse estímulo ao consumo

em um país de grandes desigualdades sociais, com problemas de desemprego, saúde, educação,

pobreza e inclusão social (BRASIL, 2013), um extrato social que foi chamado por Neri (2008;

2010) de nova classe média, caracterizando uma classe média emergente que, de fato, teve

acesso ao consumo de muitos bens e serviços pela primeira vez.

Esse novo grupo de consumidores despertou a atenção desta pesquisa assim como de

outros pesquisadores brasileiros (ABDALA; MISOCZKY, 2012; BARROS; HEMAIS, 2014;

MATTOSO, 2013; MATTOSO; FERREIRA, 2012; NERI, 2008; NERI, 2010; ROCHA;

ROCHA, 2014; YACCOUB, 2011) e se torna assim o primeiro contexto escolhido. Dentro do

grupo de pesquisa do Centro de Estudos em Consumo do COPPEAD-UFRJ, os trabalhos de

Franca, Casotti e Faria (2013), Suarez (2010), Suarez, Casotti e Campos (2013) e Suarez,

Casotti e Chauvel (2012), embora tratassem se temáticas distintas, focalizavam o

comportamento do consumidor de automóveis, cuja posse já havia despertado o interesse de

estudos internacionais de diferentes perspectivas teóricas (BELK, 2004; BELK; BAHN;

MAYER, 1982; BELK; WALLENDORF; SHERRY, 1989; GRUBB; HUPP, 1968).

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No Brasil, entretanto, além do estudo de Franca, Casotti e Faria (2013), que se

preocupou em entender o endividamento das famílias a partir da compra do automóvel, e o de

Suarez (2010), que buscou entender tipologias do abandono do automóvel, não foram

encontrados estudos sobre o comportamento do consumidor de automóveis dentro da

perspectiva da CCT (Consumer and Culture Theory), termo proposto por Arnould e Thompson

(2005, 2007) que reúne estudos que buscam entender o consumo a partir da perspectiva

sociocultural. A posse do automóvel dentro de uma perspectiva sociocultural se torna assim o

terceiro contexto a fazer parte da proposta inicial dos dois primeiros estudos que compõem essa

tese. O terceiro estudo, quantitativo, ainda que tenha sua inspiração nos achados dos dois

primeiros estudos interpretativos, se insere no tradicional modelo de decisão de compra que

tem origem na psicologia (KOTLER; KELLER, 1967).

Os três contextos representaram um grande desafio, mas desafios dentro de outra ordem

também se apresentavam. Primeiro a falta de experiência em estudos interpretativos do

pesquisador, já que na pesquisa realizada para conclusão do mestrado e em outros estudos

realizados posteriormente eu havia utilizado metodologias quantitativas.

A primeira disciplina cursada no doutorado foi História do Campo de Comportamento

do Consumidor. Ela apresentava a CCT, enquanto tradição de pesquisa que analisa o

consumidor a partir de questões que envolvem aspectos socioculturais, experienciais,

simbólicos e ideológicos do consumo (ARNOULD; THOMPSON, 2005). A disciplina parte do

surgimento do campo comportamento do consumidor nos estudos de Marketing, discute a

fundação da Association for Consumer Research (ACR) e do Journal of Consumer Research

(JCR).

As leituras percorrem os precursores do campo como Sidney Levy e Harold Kassarjian

e outros importantes nomes da revisão epistemológica do campo como Paul F. Anderson,

Shelby D. Hunt e Jagdish N. Sheth. Foi possível entender, nessa disciplina, o nascimento do

relativismo na pesquisa de comportamento do consumidor com Elizabeth Hirschman e Morris

Holbrook e a aventura denominada Consumer Odyssey que deu origem a vários trabalhos

inovadores que foram considerados os precursores da CCT, marca que legitima uma nova

perspectiva teórica e metodológica (ARNOULD; THOMPSON, 2005).

Com essa leitura e o entendimento de uma nova perspectiva de pesquisa, iniciou-se uma

nova trajetória para o pesquisador desta tese seguindo a tradição de pesquisa CCT que

prevaleceu nos dois primeiros estudos desenvolvidos.

Esse caminho trouxe o entendimento de que os números podiam não dar conta de

explicar muitas questões que envolvem o consumo. Assim, foi iniciada uma preparação para

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enfrentar o que pode ser considerado o maior desafio ao longo do doutorado que foi a ida ao

campo para as entrevistas e depois a análise e interpretação dos achados do campo e dos textos

de base secundária do segundo estudo. De forma quase ingênua, acreditava-se que a busca por

esse tipo de estudo interpretativo acontecia porque os pesquisadores consideravam análises

estatísticas muito complexas e buscavam métodos mais simples. Logo, ficou claro que havia

um equívoco quanto às características de facilidade e comodidade que tinham sido atribuídas

aos estudos interpretativos. Assim, foi possível compreender que o método qualitativo possui a

sua própria complexidade.

Na aula de Metodologia da Pesquisa, amparada nos níveis de observação do consumidor

propostos por Cova e Cova (2002) a partir de uma adaptação de Desjeux (1998), a professora

explicou que os estudos da cultura do consumo não são análises no nível macrossocial, como

as análises econômicas, e nem no nível individual, como as análises psicológicas, mas se

localizam no nível micro social com apoio de perspectivas sociológicas e antropológicas para

compreender grupos de consumidores.

Nesse curso, foi possível entender também que o caminho desta pesquisa estava

caracterizado como uma “pesquisa de contextos”. Ao mesmo tempo que se compreendia que

as análises iniciais poderiam gerar insights para a continuação do campo e ou até novas

propostas conceituais e teóricas. Outros estudos partem de lacunas teóricas delimitadas e o

campo tem o propósito de preenche-las e buscar teorização.

A revisão da literatura levou a um gap nos estudos que buscavam entender o

comportamento do consumidor de automóveis. Os estudos encontrados analisam consumidores

experientes (HIRSCHMAN, 2003; BELK, 2004; SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL, 2012;

SUAREZ; CASOTTI; CAMPOS, 2013; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013), o que levou à

decisão de analisar um grupo que tivesse realizado a primeira compra de um automóvel e que

pertencesse a uma camada mais popular pertencente aos extratos C1 e C2 (CCEB, 2014) da

população de Teresina com renda variando entre R$ 1.277,00 e R$ 3.117,99 (CCEB, 2014).

Contudo, ao ler estudos sobre o consumo na base da pirâmide, percebeu-se que alguns

autores utilizavam a denominação conferida por Neri (2008, 2010), nova classe média, por

considerarem que esse grupo de consumidores tinha alcançado um extrato de classe média em

decorrência das políticas governamentais brasileiras de transferência de renda que que contou

com o incentivo ao crédito em um cenário econômico positivo da economia brasileira no mesmo

período.

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1.2- Estudos Culturais

Os estudos da área de marketing, inicialmente, tiveram resquícios do conhecimento da

economia, que estava mais interessada em investigar a produção e distribuição dos produtos,

bem como o nível econômico das demandas que os consumiam e o valor dos serviços ofertados.

Entretanto, no marketing, os estudos se direcionavam ao consumo das pessoas, dotadas de

desejos em adquirir produtos e serviços de diversas naturezas, e não apenas os essenciais à

sobrevivência como alimentação e higiene básica pessoal (HEMAIS et al., 2014).

Diante disso, a compreensão desse consumo mais complexo, permite demonstrar que os

consumidores parecem ser motivados não só por fatores de utilidade, que incluem a eficiência

e o custo do produto (BABIN et al., 1994; KIM, 2006), mas também pelo desejo de satisfazer

suas necessidades hedônicas em relação ao objeto adquirido, evolvendo-se de forma afetiva

nesse processo que pode possibilitar experiências singulares de consumo (ARNOLD;

REYNOLDS, 2003; O’BRIEN, 2010).

O estudo de Levy (1959) foi uma obra pioneira na defesa de uma nova abordagem que

estudasse o consumo de forma qualitativa, onde os números não seriam capazes de desvelar os

significados que envolvem esse fenômeno. Segundo o autor, as pessoas consomem por razões

diversas, entre elas, o valor dos produtos parece não ser o principal fator na decisão de compra,

muito menos a sua utilidade, pois o significado que o envolve pode ser determinante nesse

processo.

A contribuição de Levy favoreceu uma mediação de disciplinas como a sociologia,

antropologia e psicologia nos estudos de consumo. Essa multidisciplinaridade vinculada à área

do marketing trouxe uma visão interpretativista do consumo que, como objeto de estudo,

viabilizou uma mudança da influência da cultura nos negócios e no processo de consumo

(ROCHA; ROCHA, 2007).

A cultura traz contribuições para a interpretação das práticas de consumo no que diz

respeito às diferenças dos grupos na sociedade que consumiam de acordo com as suas tradições.

O antropólogo Edward T. Hall atentou para questões como tempo, espaço e linguagem, como

elementos fundamentais para entender diferenças culturais (HALL, 1966; 1983).

O consumo que era observado como uma prática coletiva, em que os aspectos singulares

dos diversos grupos que constituem a sociedade parecem manifestar características e

significados homogêneos em relação aos produtos consumidos. Dessa forma, a cultura ocupava

uma função secundária e classificatória em estudos sobre consumo. Nesse sentido, a

antropologia trouxe significativas contribuições ao marketing que, passou a ver a cultura como

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um fator predominante no processo do consumo individual. Assim, essa prática não seria apenas

um comportamento classificado pelo grupo ao qual o indivíduo participava, mas seria uma ação

envolvida por significados particulares e interpretações próprias (ROCHA; ROCHA, 2007).

Já na década de 1950, Levy (1959) observou que o consumidor não parece ser orientado

pela funcionalidade utilitária do produto como costumava ser, se é que em algum momento o

foi, contudo, consome símbolos e os atribuem significados. Assim, o que antes se considerava

critérios de compra para o homem econômico como custo, durabilidade e utilidade do produto,

parece estar em um segundo plano. As pessoas parecem comprar “coisas” não só pelo que

podem fazer, mas também pelo que podem significar.

Hirschman e Holbrook (1982) trazem considerações ao consumo como uma prática

hedonista, onde o consumidor passa por experiências multissensoriais, vivencia fantasias e

emoções ao utilizar o produto. Segundo os autores, essas experiências podem ser afloradas por

eventos que já ocorreram ou por imagens da fantasia do sujeito que experimenta sensações que

nunca ocorreram e internaliza como fenômenos mentais reais. Nesse contexto, o discurso

publicitário dissemina ideologias sobre esse consumo hedonista como facilitador de uma

felicidade plena em que possuir produtos e serviços é garantia de interação social,

entretenimento e relacionamentos sociais bem-sucedidos (ROCHA, 2005).

O consumo tem uma função importante na vida das pessoas, entretanto, elas parecem

estar em uma linha tênue entre consumir de acordo com o seu poder aquisitivo ou seguir uma

lógica que foge ao valor monetário que quantifica o produto e passa a ser regida pelo prazer

hedônico que esse consumo pode proporcionar (HOLBROOK; HIRSCHMAN, 1982).

Outros pesquisadores como Belk, Wallendorf e Sherry Jr (1988), Hirschman e Holbrook

(1982) que também fazem parte da família que formam a perspectiva da CCT formulada por

Arnould e Thompson (2005), mostraram em suas pesquisas a importância de se analisar o

comportamento do consumidor com um novo olhar, não baseado em dados estatísticos ou

índices econômicos como já faziam os positivistas até então, mas de maneira interpretativa,

subjetiva, buscando compreender aspectos muitas vezes negligenciados por serem difíceis de

serem acessados como sentimentos, emoções, gostos e preferências. O estudo de Hirschman e

Holbrook (1982) foi importante para a consolidação dessa nova abordagem dentro da pesquisa

do comportamento do consumidor. Nessa investigação, os autores destacaram as diferenças

existentes entre a abordagem tradicional e a abordagem “hedônica”- designação também

utilizada para descrever a pesquisa do consumidor de cunho interpretativo - para isso, utilizaram

aspectos como: construções mentais, classes de produtos, modo de uso dos produtos e

diferenças individuais.

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18

Dentre outros achados, os autores destacaram que, na abordagem tradicional, alguns

autores tendem a dar ênfase a produtos como cigarros, pastas de dentes, cerveja, enquanto na

abordagem hedônica alguns estudiosos preferem desenvolver investigações com produtos

estéticos como filmes, shows de rock e desfiles de moda, pois estes despertam maiores emoções

nos consumidores. Outra diferença destacada pelos autores é o fato de que a abordagem

tradicional investiga o processo de decisão de compra e a abordagem hedônica vai um pouco

mais além, investigando o modo de uso e a relação do consumidor com o produto adquirido.

No mesmo ano, Holbrook e Hirschman (1982) desenvolveram um estudo onde destacaram a

natureza simbólica, hedônica e estética do consumo ao associar esse fenômeno à aquisição de

fantasias, sentimentos e diversão.

Outro importante acontecimento ocorrido na década de 1980 que ajudou a estabelecer

as bases dessa nova abordagem, mais naturalista, da pesquisa do consumidor foi a Odisséia do

comportamento do consumidor (BELK, 1987). Nela, um grupo de pesquisadores, liderados por

Russel Belk, viajaram por várias cidades, dos EUA e Canadá, à procura de material que lhes

permitisse desenvolver pesquisas de natureza qualitativa de modo a demonstrar a importância

e a utilidade dessa abordagem à pesquisa do consumidor, inspirados, principalmente, na

insatisfação com o predomínio de estudos positivistas dentro dessa área de estudos (SHERRY

JR., 1987). O resultado dessa Odisséia permitiu que novos horizontes de investigações

passassem a ser explorados e os estudos de consumo fossem ampliados de forma significativa

(BELK, 1987).

Em meados dos anos 2000, a pesquisa do consumidor deu outro grande salto com a

criação da designação Consumer Culture Theory (CCT) para uma família de perspectivas

teóricas que abordam as relações dinâmicas entre as ações do consumidor, o mercado e os

significados culturais. De acordo com Arnould e Thompson (2005), criadores desse termo, a

CCT se relaciona com as seguintes temáticas: identidade do consumidor, culturas de mercado,

padrões sócio históricos de consumo e ideologias de mercado.

A criação da CCT permitiu que um grupo sólido e bem definido de pesquisadores se

formasse e se reunisse periodicamente para discutir a pesquisa do consumidor. Além disso, a

CCT permitiu que aqueles pesquisadores que desenvolviam pesquisas naturalistas se

diferenciassem daquele grupo mais positivista de pesquisadores. Nessa época, houve também

a criação de eventos e periódicos específicos para a publicação de artigos com este escopo, mais

naturalista, de investigações (ARNOULD; THOMPSON, 2005; 2007).

Pesquisas no Brasil, por exemplo, inspiradas na CCT vêm ganhando espaço dentro da

área de marketing com a quantidade significativa de submissões e publicações de trabalhos

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realizados ao Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Administração (EnANPAD), evento que visa expor produções de conhecimento cientifico

dentro do campo das ciências administrativas, contábeis e afins no Brasil (CASOTTI;

SUAREZ, 2016).

Um destaque a esses estudos realizados no Brasil são os resultados que não são descritos

por pesquisadores americanos ou europeus que estão inseridos em um contexto cultural

diferenciado, porém são capazes de oferecer um amplo campo de pesquisas que possam

contribuir para a compreensão de distintas práticas de consumo em culturas diversificadas e

oferecer um olhar ampliado em relação às necessidades e expectativas dos consumidores

universais (BELK; CASOTTI,2014).

Casotti e Suarez (2016) publicaram um artigo sobre os 10 anos da CCT na Revista de

Administração de Empresas - RAE, contando sua trajetória desde 2005, ano em que foi

publicado o artigo Consumer Culture Theory (CCT): Twenty years of research, por Arnould e

Thompson (2005), no Journal of Consumer Research.

Entre os caminhos percorridos pela CCT está o Brasil na busca por um maior

reconhecimento desse tipo de pesquisa no próprio país e em diferentes contextos. Diante disso,

o Brasil oferece uma riqueza sociocultural capaz de trazer significativas contribuições que

ultrapassem fronteiras no que diz respeito ao que pertence apenas a um determinado lugar

(CASOTTI; SUAREZ, 2016).

Os dois primeiros se localizam dentro da perspectiva da CCT e buscaram contribuições de

outras disciplinas sociais para melhor compreensão nas práticas de consumo (BURREL;

MORGAN, 1979; HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982) bem como, entender questões relativas

à cultura e consumo simbólico (ROCHA; ROCHA, 2007),

1.3- Os três estudos

No primeiro estudo o pesquisador fez um levantamento da literatura de comportamento

do consumidor de automóveis em diferentes perspectivas teóricas, mas com maior foco nos

estudos de consumo que se aproximassem da CCT. Escrever sobre o método qualitativo foi

importante para compreender que a descrição das etapas seguidas pelo pesquisador pode ser

interessante para dar confiabilidade ao que foi feito e sobre como foi feito. As entrevistas em

profundidade do primeiro artigo tiveram roteiro semiestruturado, elaborado junto ao grupo de

pesquisa, na ocasião em que o pesquisador recebeu orientações sobre como conduzir uma

entrevista.

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A experiência no campo se mostrou surpreendente, pois os entrevistados não pareciam

inibidos em contar suas experiências de consumo do automóvel. Em alguns casos, pareciam

mesmo ter prazer em responder as questões que eram abertas e, portanto, não eram muitas. Foi

possível observar, também, como a cada entrevista eu me tornava um ouvinte mais atento ou

menos ansioso. Ao final, quando foram transcritas as entrevistas, ficou claro que a pesquisa

poderia ter explorado ainda melhor as perguntas e a curiosidade demonstrada pelos

entrevistados em relação ao tema. As informações levantadas eram instigantes e começavam a

se repetir, indicando que com 13 entrevistas eu já havia alcançado o objetivo de explorar o

comportamento de consumo desse grupo. A análise trouxe, como primeiro foco das falas dos

entrevistados, questões relativas à mobilidade ou aos problemas de mobilidade que esse

primeiro automóvel parecia resolver, o que foi interessante já que o automóvel é constantemente

associado a um bem de status, o que apareceu de forma tímida nesse grupo de baixa renda que

havia comprado o seu primeiro carro.

O primeiro artigo da tese de doutorado foi intitulado "Queremos mobilidade! Lógicas

de consumo associadas à experiência com o primeiro automóvel" e foi assim submetido a um

primeiro periódico. A avaliação contribuiu para que fossem feitas revisões, por exemplo,

prosseguir com as entrevistas pois o número foi considerado pequeno por um dos avaliadores.

As cinco novas entrevistas não trouxeram novidades, mas reforçaram os achados anteriores.

Uma versão foi escrita e o artigo foi submetido a outro periódico e publicado (RODRIGUES;

CASOTTI, 2015).

A ideia do segundo artigo surgiu no curso de Comportamento do Consumidor com as

discussões sobre a influência de textos culturais - como filmes, músicas, propagandas, novelas,

seriados e peças teatrais - nos estudos de consumo. Já havia chamado atenção do pesquisador,

principalmente pelo tema do primeiro artigo, que as letras do forró, gênero musical

predominante na região Nordeste, falavam com frequência sobre o carro, mas não sobre

mobilidade como o primeiro estudo havia sinalizado. Enquanto a utilidade do carro havia sido

descrita de forma clara como o principal benefício buscado pelo grupo que havia tido acesso ao

carro pela primeira vez, o hedonismo era predominante nas primeiras letras selecionadas na

internet.

Ao mostrar algumas das músicas para o grupo de pesquisa, foi possível perceber um

rico universo de significados e representações simbólicas associadas ao automóvel presentes

nessas músicas, com isso, iniciou-se o processo de construção do segundo artigo interpretativo,

com dados secundários, no contexto das músicas de forró que cantavam o carro, ou seja, foram

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selecionadas 25 músicas e analisados significados e práticas sobre o carro que eram ali

cantados.

O artigo foi intitulado "Significados do automóvel na música: posse divertida,

transformadora e identitária" teve sua primeira versão apresentada no XXXIX EnANPAD

(RODRIGUES, 2015) e obteve parecer bem positivo dos avaliadores. No entanto, os

comentários motivaram a construção de um framework conceitual a partir dos achados.

O que pareceu inicialmente simples, a construção do esquema conceitual, já que estava

mais confiante no segundo exercício interpretativo de análise, durou meses pois foram muitas

tentativas realizadas até chegar a uma versão satisfatória. Esse esquema final levou a novas

leituras não só do texto já escrito, mas de nova literatura de apoio que enriqueceu a primeira

versão.

Finalmente, a proposta final de framework presente no segundo artigo conseguiu

expressar a influência dos significados culturais e sociais no consumo de automóveis presentes

nas letras de forró que cantam a customização do carro e o carro como espaço de

entretenimento, transformações identitárias e hierarquia de gênero. O segundo artigo foi

publicado recentemente (RODRIGUES; CASOTTI, 2017).

Como unir essas duas experiências de pesquisa? Como unir o grupo da mobilidade com

o hedonismo dos textos culturais? O terceiro estudo deveria cumprir esse objetivo, ou seja,

trazer contribuições dos dois primeiros.

Dois caminhos possíveis se apresentaram. O primeiro seria voltar ao campo para um

outro estudo qualitativo e realizar novas entrevistas em profundidade. Para isso, os

consumidores seriam levados a discutir a influência desses aspectos hedônicos presentes nas

letras das músicas em suas práticas de consumo reais.

O segundo caminho que se apresentou e que foi o escolhido, partiu da leitura do artigo

de Babin, Darden e Griffin (1994), enquanto era realizada uma revisão de literatura sobre

hedonismo e utilitarismo. A referida pesquisa sugere, em suas conclusões, a construção de uma

escala de hedonismo e utilitarismo para o consumo de automóveis. Esse estudo desenvolve uma

escala hedonismo e utilitarismo em viagens de compras, todavia, os autores apontam que a

chance de a escala ser utilizada em outros contextos de pesquisa ou outras categorias de

produtos pode ser questionada, pois apesar das características utilitárias terem a possibilidade

de serem semelhantes, o valor hedônico pode ter variações nesses diferentes contextos de

consumo como eu havia aprendido no primeiro curso de doutorado com a leitura do ensaio

seminal de Holbrook e Hirschman (1982) que falava do hedonismo no consumo a partir de uma

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nova perspectiva. Portanto, a partir desse momento, o foco foi a adaptação de escalas de

hedonismo e utilitarismo no consumo de automóveis.

Assim, os dois estudos qualitativos mostraram o consumo como um processo complexo

de construções sócio-culturais e que o consumo do automóvel possui o lado utilitário e

hedônico, não é apenas utilitário e nem apenas hedônico, ou seja, os dois estudos qualitativos

chamaram a atenção para uma massa nebulosa em torno do consumo do automóvel que apoiou

a ideia de adaptar uma escala em que se possa medir o quanto o consumo de automóveis é mais

utilitário ou mais hedônico, tendo certeza que ambas características estão presentes. Para

esse terceiro estudo, foram utilizados itens que pudessem incluir elementos de escalas já

construidas mais os elementos obtidos nos achados dos dois artigos qualitativos

(RODRIGUES; CASOTTI, 2017; RODRIGUES; CASOTTI, 2015). Foram aplicados 2364

questionários com a ajuda de 257 estudantes de graduação que receberem treinamento.

Foram também buscados dados do DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito),

DETRAN-PI (Departamento Estadual de Trânsito do Piauí) e da PNAD (Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios) para relacionar os dados de frota de veículos em relação à outras

localidades, percentual de condutores por gênero, faixa etária e escolaridade.

Os resultados surpreenderam a partir do momento que algumas variáveis que eram

utilitárias se posicionaram com maior fator de carga no fator hedônico, bem como o inverso

também ocorreu. Todavia, ao fazer a leitura dos fraseamentos da escala, essas inversões do que

normalmente seria hedônico no consumo de um modo geral, mas que no consumo de

automóveis por indivíduos da classe média emergente se transformava em utilitário e vice-

versa, faziam sentido quando comparados com os resultados dos estudos qualitativos, tornando

essas questões um importante achado do terceiro artigo.

Iniciou-se o caminho de pesquisa buscando conhecer as raízes da complexa associação

dos consumidores com o automóvel que envolvem o dia a dia de sua vida social e os

significados culturalmente construídos nos textos das músicas regionais. Esse processo não

linear revelou práticas e significados utilitaristas e hedônicos. A partir da construção de uma

escala, pude visualizar a complementaridade possível entre diferentes perspectivas teóricas e

entre três diferentes métodos de coleta de dados: a entrevista individual, a interpretação de

dados secundários originados de textos culturais e a abordagem quantitativa a partir de

questionários estruturados. Realizar estudos qualitativos antes de um estudo quantitativo me

auxiliou o pesquisador com um histórico de experiência em estudos quantitativos a retirar “as

vendas dos olhos” ou a ter um novo olhar no processo de análise do terceiro artigo.

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1.4- Objetivo geral e apresentação das etapas da tese

Assim podemos sintetizar como objetivo geral dessa tese compreender os significados

e o valor utilitário e hedônico associados às experiências de uso e de compra de automóveis

considerando consumidores da classe média emergente. Nesse sentido, para apreender esses

significados, adotou-se esse produto como objeto de pesquisa por apresentar um significativo

valor cultural e social como apontado por estudos anteriores (BELK; GER; ASKEGAARD,

2003; HIRSCHMAN, 2003; BELK, 2004; SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL, 2012; SUAREZ;

CASOTTI; CAMPOS, 2013; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013).

A primeira pesquisa qualitativa exploratória teve como objetivo principal identificar e

compreender significados e práticas construídos no processo de consumo do primeiro

automóvel por um grupo de consumidores da cidade de Teresina. Os dados foram coletados em

fontes primárias por meio de entrevistas em profundidade, onde os participantes expressaram

opiniões a respeito da temática discutida (DENZIN; LINCOLN, 2000).

Os achados da primeira etapa surpreenderam, já que pesquisas anteriores tinham como

foco apenas as práticas de consumidores experientes de automóveis que escolhiam o carro

muito mais pelos benefícios sociais que pode proporcionar, como status e pertencimento social

(HIRSCHMAN, 2003; BELK, 2004; SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL, 2012; SUAREZ;

CASOTTI; CAMPOS, 2013; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013). No entanto, o grupo

pesquisado trouxe afirmativas fortes sobre a busca da mobilidade como o principal benefício

do carro, uma função mais utilitária, capaz de transformar o cotidiano da vida, o que é diferente

das imagens tradicionais das propagandas de automóveis que apresentam modelos de acordo

com os padrões estéticos de beleza predominantes e dão muito destaque aos atrativos mais

sensoriais, emocionais e de pertencimento social se compararmos aos atrativos utilitários ou

funcionais de uma experiência automotiva. Esses achados trazidos por esse grupo, que pela

primeira vez comprava um carro, despertaram nosso interesse para realizar o segundo estudo

exploratório.

A segunda pesquisa exploratória e interpretativa teve foco nas letras de músicas de forró,

gênero popular no Piauí e nos demais estados do Nordeste do Brasil, que cantam

frequentemente a posse do carro. As letras selecionadas descrevem a posse do automóvel como

um consumo capaz de proporcionar diferentes tipos de experiências hedônicas. Esse tipo de

abordagem qualitativa está presente em diversos estudos da cultura do consumo

(ASKEGAARD, 2010; HIRSCHMAN, 1988, 2000; HIRSCHMAN; SCOTT; WELLS, 1998;

HOLBROOK, 2004, 2005, 2007, 2008; HOLBROOK; GRAYSON, 1986). Esse trabalho

buscou compreender como a posse do automóvel é construída em letras de músicas locais

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selecionadas a partir de pesquisa realizada com as letras obtidas pela internet com alguns

critérios de acesso previamente estabelecidos, ou seja, para essa etapa, foram utilizados dados

de fonte secundária. A análise de 25 músicas de forró selecionadas mostrou significados

hedônicos da posse do automóvel que aparece, por exemplo, como um espaço de

entretenimento.

A terceira etapa de pesquisa partiu das contribuições dos dois estudos qualitativos

anteriores para então construir um estudo mais amplo para conhecer aspectos funcionais e

hedônicos da posse do automóvel.

Esse estudo mais abrangente levou em consideração as características utilitárias do

primeiro estudo (sendo mobilidade a principal) e diversas características hedônicas, do segundo

estudo, associadas à experiência da posse do automóvel. Foi realizada uma análise quantitativa

com levantamento de dados por meio de uma survey, onde mediante procedimentos estatísticos,

com uma amostra significativa de participantes, foi desenvolvida uma escala de utilitarismo e

hedonismo com o intuito de compreender a influência de diferentes tipos de motivações -

hedônicas e utilitárias na compra do automóvel por consumidores da classe média emergente

(CHITTURI; RAGHUNATHAN; MAHAJAN, 2008; DHAR; WERTENBROCH, 2000).)

Os capítulos 2, 3 e 4 a seguir trazem, respectivamente, uma discussão sobre os

procedimentos realizados na construção dos artigos “Queremos mobilidade! Lógicas de

Consumo Associadas à Experiência com o Primeiro Automóvel”, “Significados do Automóvel

na Música: Posse Divertida, Transformadora e Identitária” e “Escala de Valores Hedônicos

e Utilitários na Experiência de Compra de Automóveis na Classe Média Emergente.

Finalmente, o capítulo 5 discute as considerações finais da pesquisa com as contribuições

teóricas, gerenciais e sociais, além das limitações da pesquisa e de algumas sugestões para

estudos futuros.

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2 CAPÍTULO 2 – ETAPA QUALITATIVA: LÓGICAS DE CONSUMO ASSOCIADAS

À EXPERIÊNCIA COM O PRIMEIRO AUTOMÓVEL1

2.1 Introdução

O consumo da população de renda mais baixa tem se intensificado nos últimos anos.

Credita-se esse fato a uma série de medidas governamentais voltadas, especificamente, para

este público e à própria estabilidade da economia brasileira (PEREZ; BAIRON, 2012). Hoje,

essa nova classe média emergente, denominação conferida por Neri (2008, 2010) a esta camada

da população brasileira que adquiriu na última década notório poder de consumo, exige das

organizações uma reavaliação da abordagem de seus negócios a partir do entendimento de que

suas lógicas de consumo diferem do comportamento de outros grupos sociais, de renda mais

alta, no mercado de bens e serviços (HEMAIS; CASOTTI; ROCHA, 2013).

A participação de novos grupos de consumidores no mercado não tem se limitado

apenas à categoria de produtos simples e essenciais (BARROS, 2006). A opção por formas de

pagamento mais acessíveis, tais como cartões de crédito, com suas opções de parcelamento,

propiciou a este grupo de consumidores, no Brasil, o acesso a produtos e serviços outrora

disponíveis apenas às classes mais abastadas, como viagens, aparelhos tecnológicos como

celulares e computadores e, principalmente, automóveis (BARROS, 2012a; BARROS, 2012b;

MATTOSO; FERREIRA, 2012; MATTOSO, 2013; HEMAIS; CASOTTI, 2014; HEMAIS et

al., 2014; ROCHA; ROCHA, 2014).

O automóvel, originalmente projetado para ser utilizado segundo seus aspectos mais

utilitários (FORD, 2007), adquire uma importância particular no imaginário da sociedade de

consumo, especialmente, por sua posse estar associada a valores fortemente simbólicos como,

por exemplo, inserção e conquista social (BELK; GER; ASKEGAARD, 2003; HIRSCHMAN,

2003; BELK, 2004; SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL, 2012; SUAREZ; CASOTTI;

CAMPOS, 2013; FRANCA; CASOTTI;FARIA, 2013) Os dados do setor automobilístico

brasileiro indicam uma crescente na procura e aquisição de automóveis nos últimos anos. A

frota já atingiu o número de 45,4 milhões de veículos, o que representa a proporção de um carro

para cada quatro habitantes (FENABRAVE, 2014).

Diante dessas considerações, destaca-se que essa pesquisa buscou explorar e ampliar os

horizontes sobre os significados e práticas associados à compra do primeiro carro por um grupo

1 RODRIGUES, T. K. A.; CASOTTI, L. M. Queremos Mobilidade! Lógicas de consumo associadas à

experiência com o primeiro automóvel. Revista de Administração da Unimep, v. 13, n. 1, p. 220-247, 2015.

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de consumidores de Teresina, cidade, cujas características socioeconômicas a colocam como a

capital do estado com o segundo menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil

(IBGE, 2013). O estudo nos desafia a conhecer novos grupos de consumidores de automóveis

que vivem em contextos diferentes de outras localidades brasileiras que possuem indicadores

sociais e econômicos mais favoráveis.

Para preencher uma lacuna teórica dos estudos de consumo, que tradicionalmente

utilizam como foco consumidores experientes, em práticas de consumo de automóveis

(HIRSCHMAN, 2003; BELK, 2004; SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL, 2012; SUAREZ;

CASOTTI; CAMPOS, 2013; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013), esta pesquisa recaiu sobre

a possibilidade de compreender lógicas de consumo associadas a pessoas que se engajam pela

primeira vez no processo de aquisição desse produto, já que esse grupo ainda demonstra

dificuldades em avaliar as condições que envolvem a aquisição do automóvel, o que tem por

consequência os altos índices de endividamento (MATTOSO, 2013) e de descontentamento

desses consumidores em relação às empresas do segmento (FRANCA; CASOTTI; FARIA,

2013).

Dessa forma, tomando como ponto de partida desse estudo exploratório, que é parte de

uma pesquisa mais abrangente sobre o comportamento do consumidor de automóveis, um grupo

de novos consumidores da cidade de Teresina, e seguindo a proposição de que esse grupo de

consumidores possui comportamentos distintos dos demais grupos com maior experiência

nesse mercado, esse estudo busca responder aos seguintes questionamentos: quais os principais

significados associados à experiência de compra do primeiro carro? Que lógicas de consumo

sobre esse grupo de consumidores da cidade de Teresina podem ser identificadas a partir de

suas ações no mercado de automóveis?

Esse estudo está estruturado a partir da família de perspectivas teóricas que formam a

CCT (Consumer Culture Theory) proposta por Arnould e Thompson (2005, 2007). A

fundamentação teórica discute, dentre outros assuntos, o consumo e seus significados e o

comportamento de compra da população da nova classe média emergente brasileira.

Posteriormente, se descreve a metodologia do estudo com seus respectivos procedimentos,

destacando as estratégias de execução, cuja inspiração foi trazida pelo modelo de pesquisa

proposto por Belk, Sherry Jr. e Wallendorf (1988). Em seguida, têm-se os principais achados

obtidos a partir das entrevistas. Por fim, foram apresentadas as considerações finais e as

contribuições da pesquisa bem como algumas sugestões para estudos futuros.

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2.2 Referencial teórico

Significados do Consumo: Contribuições da Antropologia

Os produtos, outrora vistos e desejados principalmente por seus aspectos utilitários

foram sendo acrescidos de uma simbologia que os confere um caráter de verdadeiros signos.

Dentro desse contexto de mudanças, a ótica utilitarista foi sendo gradativamente acrescida de

novas visões, pois essa abordagem não produzia explicações satisfatórias ao fenômeno do

consumo, tão complexo do ponto de vista de suas influências culturais (McCRACKEN, 1986).

Para se compreender essas modificações que ocorreram com as lógicas associadas à

noção de consumo podemos partir das contribuições de Veblen (1965) que introduz uma

discussão que perpassa pela sociedade bárbara, destacando que a propriedade de objetos

materiais, inicialmente era útil apenas para se estabelecer uma manifestação de força superior

entre o indivíduo possuidor e aquele do qual foram retirados tais objetos. Porém, quando a

sociedade passa a vivenciar sua era industrial, os bens perdem seu caráter de evidência de

conquista, de um homem sobre outro, e passam a servir como objetos de comparação, onde o

proprietário se utiliza de sua posse para sobrepujar-se sobre os demais membros de seu grupo.

Mais tarde, Marcel Mauss (1974) define que, no contexto das relações sociais primitivas

ou modernas, os bens são concebidos como sinônimos de retribuição. Na ótica desse autor, os

indivíduos, ao serem presenteados, se sentem na obrigação de retribuir tal gesto por meio de

outros produtos, geralmente de valor superior, como uma forma de demonstrar uma suposta

superioridade. Mauss (1974) insere elementos de ordem cultural, por exemplo, ao significado

de presentear.

A obra de Sahlins (1979) oferece uma contribuição fundamental ao debate evidenciando

o código cultural de propriedades concretas que governam a utilidade das mercadorias, códigos

esses, criados e conferidos pelas próprias pessoas aos objetos que adquirem. Dessa forma,

Sahlins (1979) indica que o indivíduo é produtor e consumidor de uma simbologia que emana

dele próprio. As ideias desse autor foram responsáveis por conferir novos contornos à

discussão, substituindo o tradicional viés predominantemente utilitário, fazendo emergir um

contexto de análise que considera os significados culturais dos bens.

O trabalho de Douglas e Isherwood (1978) auxiliou no desenvolvimento dessa

discussão. Apoiados na base de conhecimentos formados até então, esses autores redefiniram o

que se entendia por consumo e o papel dos bens dentro desse contexto. Segundo eles, o consumo

pode ser entendido como uma forma de comunicação entre as pessoas, na qual os bens atuam

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como uma ponte intermediária nesse processo. Acrescentam ainda que, os produtos são

elementos que permitem as pessoas se expressarem através deles, representando a

materialização de toda uma cultura.

Campbell (1987) acrescenta que os bens materiais não podem ser concebidos apenas

como meros elementos representativos de status sociais. Para esse autor, os produtos, por meio

dos seus significados, são capazes de conferir aos consumidores experiências ilusórias

responsáveis pelo prazer do ato de consumir, ou seja, o consumo se desdobra na busca pela

reprodução real de uma situação outrora idealizada na imaginação do consumidor, fenômeno

ao qual o autor denomina de hedonismo imaginativo.

Com um enfoque teórico que remonta à obra de Douglas e Isherwood (1978), e outros

autores que contribuíram para o desenvolvimento da antropologia do consumo, McCracken

(1986) afirma que os significados associados aos bens materiais encontram-se em constante

fluxo, em um movimento que parte do mundo culturalmente constituído para os bens e destes

para o consumidor final. Através dessas constatações, McCracken (1986) pretende demonstrar

a complexidade dos atos de consumo, de certa forma explicados pela, também, complexidade

associada aos bens.

Cabe ainda, aqui, salientar a contribuição conferida pelo antropólogo brasileiro

Everardo Rocha ao debate construído. Para Rocha (1985; 1995), os bens são capazes de

promover distinções sociais claras entre os homens, por meio do universo de significados a eles

associados. Por sua vez, essa imensidade de significados é conferida aos produtos pelo sistema

publicitário – a mídia – que funciona como um mediador entre as esferas da produção e do

consumo. Segundo Rocha e Barros (2006, p.38) “a produção precisa ser revestida de símbolos

que vão lhe dar sentido”. Nesse contexto, a publicidade atua conferindo aos produtos,

fabricados aos milhares em série, uma identidade num processo que Rocha (1985) denomina

de “magia do capitalismo”.

Lógicas de Consumo em novos grupos sociais

Influenciados pelas ideias de C. K. Prahalad e suas obras seminais sobre baixa renda

(PRAHALAD; HART, 2002; PRAHALAD; HAMMOND, 2002), e ainda, conscientes das

mudanças socioeconômicas presenciadas no Brasil, no que se refere a poder de consumo e

mobilidade social, alguns autores passaram a defender a concepção de que os limites da base

da pirâmide social, expressão que se refere aos estratos populacionais de renda mais baixa, já

não eram suficientes para definir o grupo de compradores que entram com mais força no

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mercado de bens e serviços de consumo (NERI, 2008; NERI, 2010; ROCHA; ROCHA, 2014;

BARROS; HEMAIS, 2014).

Dessa forma, as novas perspectivas sobre o consumo de baixa renda, trazidas por

Prahalad e Hart (2002) e Prahalad e Hammond (2002), que modificaram o estigma associado

aos “pobres” como consumidores orientados apenas à sobrevivência, parecem ter aberto

caminho para que outras denominações e contornos sociais sejam atribuídos a esses indivíduos,

como a caracterização de “classe média emergente”. Neri (2008, 2010) observa que esses

consumidores emergentes no Brasil embora sejam oriundos da base da pirâmide, demonstram

características distintas na forma de consumir bens e serviços que os diferenciam dos que

permanecem na extrema base da pirâmide.

Mesmo diante dessas considerações, percebe-se ainda há uma dificuldade, demonstrada

por pesquisadores e estudiosos, em estabelecer esquemas classificatórios demarcadores de

classes sociais e econômicas capazes de distinguir os consumidores que ascenderam

socialmente à nova classe média e aqueles que ainda permanecem na base da pirâmide. No

entanto, é possível observar novos grupos de consumidores que não podem ser definidos dentro

dos critérios discriminadores da “pobreza” (NERI, 2008; NERI, 2010; BARROS; HEMAIS,

2014).

Essas concepções e a própria necessidade que se apresentava no contexto social e

acadêmico, desencadearam, nos últimos anos, no Brasil, um aumento de estudos centrados em

compreender o comportamento e as relações de consumo de uma nova classe média emergente

como os estudos de Neri (2008; 2010), Yaccoub (2011) Abdala e Misoczky (2012), Mattoso e

Ferreira (2012), Mattoso (2013), Barros e Hemais (2014), Rocha e Rocha (2014). Nesses

estudos, percebe-se que é frequente o descontentamento dos autores para com a falta de um

padrão de estratificação social.

Mattoso (2013), por exemplo, discute a necessidade da criação de esquemas

classificatórios adequados às necessidades do mercado, que determinem contornos nítidos entre

baixa renda e classe média emergente e propõe ainda que haja uma discussão mais pontual em

relação à discriminação dos estratos sociais brasileiros, onde novos modelos de classificação

possam ser elaborados. Quanto a esse aspecto percebe-se que, preferencialmente, os estudiosos

brasileiros têm optado por utilizar o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) como

base para estabelecer os contornos sociais desse país.

Elaborado pela Associação Brasileira de Empresas e Pesquisa (ABEP), o CCEB

considera aposse de bens e o grau de instrução do chefe do domicílio para estratificar a

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população brasileira em oito classes A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E (HEMAIS; CASOTTI;

ROCHA, 2013).

No entanto, os critérios socioeconômicos existentes, até então, têm provocado dúvidas

e insatisfação nos pesquisadores brasileiros, principalmente, por indicarem caminhos diversos

e, muitas vezes, opostos na tarefa de estratificar a população em grupos distintos (HEMAIS;

CASOTTI; ROCHA, 2013). Barros e Hemais (2014) também fazem uma crítica à tradicional

concepção, popularizada no meio acadêmico e empresarial, que persistia, até bem pouco tempo,

em conceber os estratos sociais mais baixos da população como um único grupo, sem considerar

suas distinções quanto a características históricas, culturais e políticas. Nesse ponto, Barros e

Hemais (2014) corroboram com Abdala e Misoczky (2012), que também criticaram os modelos

de classificação adotados para se segmentar as camadas sociais brasileiras de mais baixa renda.

Mesmo diante dessa dificuldade quanto à definição de critérios de classificação sociais

e econômicas no Brasil alguns estudos têm sido desenvolvidos no intuito de se compreender

melhor práticas e lógicas de consumo associadas aos consumidores da nova classe média

emergente brasileira (NERI, 2008; 2010; YACCOUB, 2011; ABDALA; MISOCZKY, 2012;

MATTOSO; FERREIRA, 2012; MATTOSO, 2013; BARROS; HEMAIS, 2014; ROCHA;

ROCHA, 2014). Castilhos (2007), por exemplo, desenvolveu um estudo onde se pode perceber

esse movimento de ascensão da população de baixa a um grupo superior quanto à renda, ao

destacar o papel do consumo na construção e manutenção de identidades em famílias de “pobres

urbanos”. Para o autor, esses consumidores percebem em bens como a casa, eletroeletrônicos,

móveis e vestuário como elementos que os diferenciam em relação aos “pobres-pobres” os

aproximando da noção de consumidores de classe média ou emergentes.

O estudo de Rocha e Rocha (2014) também traz uma interessante contribuição para a

compreensão das práticas de consumo emergente ao observar que elas não se limitam à

aquisição de produtos e serviços básicos e necessários, mas seu consumo se estende a outros

bens, anteriormente restritos apenas às classes mais abastadas, aspecto esse corroborado por

Mattoso e Ferreira (2012). Assim, as autoras investigam o consumo de cruzeiros marítimos e o

destacam como uma prática classificatória, que propicia a seus consumidores, mesmo que de

forma temporária, a experiência de pertencer a “classe ociosa”.

Perspectiva simbólica dos automóveis: algumas contribuições

Já na década de 1960, alguns estudos chamavam a atenção para a forte dimensão

simbólica do consumo do automóvel capaz de superar a ótica inicial que concebia este objeto

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com base predominantemente em suas características funcionais de mobilidade. O estudo

Grubb e Hupp (1968), por exemplo, um dos primeiros sobre a temática, buscou criar dimensões

de consumo de pertencimento a partir da relação simbólica existente entre homem e automóvel.

A pesquisa relaciona a escolha por uma determinada marca de carro pelo consumidor com o

grupo de referência que ele quer pertencer. Os resultados evidenciaram que os automóveis são

capazes, não apenas de carregar e transmitir significados, mas detêm o poder de segmentar

grupos de pessoas por sua escolha.

A pesquisa de Belk, Bahn e Mayer (1982) traz o automóvel não apenas como uma

categoria capaz de agrupar consumidores, mas também como forma de expressão de um estilo

de vida e de si próprio. Cada peculiaridade do automóvel como, por exemplo, a cor, o modelo

ou os acessórios na verdade representam uma especificidade de seu proprietário, e evidenciam

características sobre sua personalidade. Dessa forma, os autores sugerem que o homem projeta

aspirações e sentimentos que se materializam por meio de seus carros.

Outro estudo que possibilitou que se avançasse nas discussões sobre a relação simbólica

entre homens e carros foi o de Belk (2004). Por meio de uma investigação que envolveu

indivíduos fascinados por automóveis ao ponto de os conceberem como extensões deles

próprios, ele constatou que existe uma interação recíproca de significados entre esses dois elos,

pois, se por um lado o homem confere ao carro muito de sua personalidade ao customizá-lo a

sua maneira, de outro, o automóvel propicia ao seu dono atributos na forma de valores que lhe

conferem status e notoriedade social perante um grupo.

Belk (2004) ainda ressalta que à medida que os significados de natureza simbólica

passaram a dominar a escolha e compra desse bem, muitos automóveis passaram a ocupar

espaço e importância de verdadeiros membros da família. Os carros podem assumir papéis de

filhos, amigos e até amantes. Alguns objetos de consumo, dentre eles os automóveis, podem se

tornar sagrados para seus consumidores (BELK; WALLENDORF; SHERRY, 1989).

No Brasil, podem ser encontrados estudos que também ofereceram contribuições à

temática. Franca, Casotti e Faria (2013), em uma pesquisa exploratória identificaram

significados e sentimentos positivos associados ao automóvel por famílias que se endividaram

para adquirir esse bem e não conseguiram pagar suas prestações. As famílias entrevistadas com

dificuldades financeiras enfrentadas com a compra do carro continuavam associando à sua

posse a significados positivos de liberdade e segurança. O estudo de Suarez, Casotti e Mattos

(2013) com dez famílias paulistanas buscou compreender as interações familiares no consumo

de automóveis e os significados envolvidos nesse contexto identificando o automóvel como um

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objeto capaz de demarcar valores, hierarquias familiares e de representar a transição de ciclos

de vida das famílias.

2.3 Método

As estratégias de execução do estudo buscaram seguir as sugestões de um modelo

próprio dos estudos de consumo (CALDER; TYBOUT, 1987) e com perspectiva

interdisciplinar, conforme sugere Ferber (1977), abordando concepções de diversos campos das

ciências sociais, principalmente, a sociologia e a antropologia, no intuito de se compreender o

fenômeno estudado. Para isso, seguiu-se a proposta de desenho metodológico de Belk, Sherry

Jr. e Wallendorf (1988), que tem sido utilizada por estudos mais recentes no Brasil com sucesso

(SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL, 2012; SUAREZ; CASOTTI; CAMPOS, 2013; FRANCA;

CASOTTI; FARIA, 2013) para entender as relações de consumo de categorias de produtos

diversos.

Seguindo essa proposta de desenho metodológico foram utilizadas: a) uma coleta

dedados com um time de pesquisadores com formações multidisciplinares, como

administradores, antropólogos e sociólogos, para se obter diferentes visões acerca do mesmo

fenômeno, em contraste com a lógica positivista; b) gravação dos dados (no caso os áudios das

entrevistas) para possível checagem futura; c) desenho de amostragem intencional em que as

unidades são, geralmente, pessoas, mas também incluem o tempo e lugar; d) autodriving, que

consiste em mostrar as gravações para as pessoas no momento da entrevista, para observar as

reações dos informantes sobre o que eles dizem; e) memoing, que envolve esporádicas

instruções orais ou escritas dos outros membros do time de pesquisadores, para o pesquisador

que realiza a entrevista durante o ato em relação a uma interpretação emergente de dados ou

sentido do progresso do estudo; f) um processo de análise dos dados que se inicia a partir da

coleta, concomitante a ela, com interação entre os pesquisadores membros; g) checagem dos

sujeitos da pesquisa ao final da mesma, para que eles indiquem sua opinião acerca da análise;

e h) auditoria externa para criticar o estudo em que, nesse caso, foram solicitadas avaliações de

dois editores de importantes periódicos. Foram estes alguns dos critérios utilizados para garantir

a qualidade dessa pesquisa qualitativa.

Desse modo, por meio de um método indutivo de construção e utilizando uma

abordagem qualitativa na coleta e análise dos dados que pelo fato de lidar com um número

menor de envolvidos, consegue captar informações mais aprofundadas acerca do objeto de

estudo, buscou-se compreender significados que estão mais implícitas à realidade desse objeto

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ao centrar-se em sua subjetividade. Além disso, esse modelo de pesquisa possui um

desenvolvimento imprevisível, devido às poucas ideias preconcebidas que enfatizam o sujeito

(DENZIN; LICOLN, 2000).

Percebe-se, então, que o paradigma adotado neste estudo é o interpretativista (BURREL;

MORGAN, 1979; HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982) que contribui para melhor entender

questões relativas à cultura e consumo simbólico (ROCHA; ROCHA, 2007), que implica em

múltiplas realidades (HUNT, 1991), o que, de acordo com Denzin e Licoln (2000) pressupõe

relativismo quanto à ontologia, em decorrência das múltiplas realidades envolvidas na

investigação, epistemologia subjetivista, onde sujeito e objeto interagem no intuito de formular

compreensões da realidade observada, uma axiologia com valores particulares e naturalismo

quanto aos procedimentos metodológicos adotados.

Por consistir-se em um estudo preliminar com foco de abordagem ainda sem construção,

qual seja, o comportamento do consumidor de automóveis na cidade de Teresina, Piauí, Brasil,

esta pesquisa caracteriza-se como exploratória quanto aos seus objetivos. Pois, de fato, até o

desenvolvimento desta investigação não havia nenhum estudo que abordasse esse campo na

referida localidade. Ainda, apesar da existência de diversas publicações sobre comportamento

do consumidor de automóveis, conforme supracitado na fundamentação teórica, a

imprevisibilidade dos resultados dos estudos dessa natureza, que envolvem variáveis subjetivas,

garante a novidade das contribuições emanantes dessa investigação.

Quanto ao aspecto aplicado, trata-se de um estudo transversal em que os dados foram

coletados em um único período de tempo, ou seja, é como se fosse a fotografia de um cenário

naquele momento (LAKATOS, 1974). Por isso, como requisito de inclusão dos entrevistados,

foi utilizado um filtro: ter comprado seu primeiro carro nos últimos 12 meses, além de ter um

perfil indicativo de pertencer à nova classe média emergente. Tal perfil está baseado na

estratificação social proposta pelo CCEB (2014). Dessa forma, os consumidores entrevistados

pertencem ao grupo que possui como renda média bruta familiar mensal um montante entre R$

1.277,00 e R$ 3.117, 99 o que os classifica dentro dos contornos das classes C1 e C2 da

sociedade brasileira. A escolha pelo CCEB deve-se a dois fatores: a) esse método tem sido

utilizado frequentemente por estudiosos do consumo para desenvolver seus estudos (BARROS,

2006; CHAUVEL; MATTOS, 2007; BACHA; STREHLAU; SCHAUN, 2011; NOGAMI;

PACAGNAN, 2011; NOGAMI; VIEIRA; MEDEIROS, 2012; PEREZ; BAIRON, 2013;

GOLVÊA; ALVES; MANTOVANI, 2013) e; b) utiliza não somente critérios econômicos

como também sociais para estratificar a população brasileira.

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Assim, compreender os significados associados à compra do primeiro carro por um

grupo iniciante de consumidores da cidade de Teresina, uma questão de natureza subjetiva que

envolve elementos relacionados a sentimentos e emoções, exige um instrumento de coleta de

dados flexível, que possa absorver respostas em meio a um universo de fatores de ordem

naturalista, num contexto de interações sociais; então, optou-se por aplicar nessa investigação

entrevistas em profundidade com roteiro semiestruturado (SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL,

2012).

A escolha do método de entrevista em profundidade nos pareceu adequada já que, por

meio desta técnica, não se pretende obter respostas simples e previsíveis, mas compreender a

experiência da forma como foi vivida a experiência do consumidor e os significados que dela

derivam. Em uma abordagem que ao leigo assemelha-se a uma interação cotidiana (SUAREZ;

CASOTTI; CHAUVEL, 2012), esse instrumento visa, através de uma conversa direta e pessoal,

captar e formar uma compreensão mais detalhada sobre crenças, atitudes, valores e motivações

(DENZIN; LICOLN, 2000).

A seleção dos entrevistados seguiu o modelo, no qual os envolvidos se renovam ao

longo do processo de pesquisa, atendendo a critérios de melhor obtenção de informações. Dessa

forma, foram entrevistados, inicialmente, 13 consumidores que compraram seu primeiro carro

no ano de 2013 na cidade Teresina. Posteriormente, no intuito de enriquecer o conteúdo obtido

e permitir maior aprofundamento na formulação de proposições teóricas, foram entrevistados

mais cinco consumidores, utilizando-se os mesmos critérios de seleção. O processo de

entrevistas findou quando se atingiu um volume de informações que julgamos satisfatório para

essa primeira etapa do estudo exploratório. Cabe ressaltar a heterogeneidade dos entrevistados,

ou seja, o estudo procurou abranger pessoas de diferentes idades, formações, sexo e

preferências, permitindo uma abordagem ampla sobre o problema investigado (Tabela 1). No

intuito de resguardar a identidade dos consumidores entrevistados, os mesmos foram

identificados com nomes fictícios.

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Tabela 1 – Perfil dos entrevistados da pesquisa

Nome Ocupação

Profissional

Idade Carro Adquirido Situação do carro

na compra

Wilson Jornalista 27 anos Renault Clio Seminovo

Joana Assessora de

Imprensa

26 anos Peugeot 206 Seminovo

Marcos Bibliotecário 24 anos Renault Clio Seminovo

Marília Consultora de

vendas

34 anos Volkswagen Voyage Seminovo

Francisco Gerente de

Projetos

28 anos Volkswagen Gol G6 Novo

Renata Auxiliar

Administrativa

32 anos Fiat Uno Way Novo

Paulo Administrador 28 anos Ford Ka Seminovo

Inês Servidora

Pública

36 anos Fiat Grand Siena Novo

Fábio Técnico em

Informática

29 anos Fiat Palio Seminovo

Ingrid Estudante 23 anos Chevrolet Celta Seminovo

Henrique Auxiliar

Administrativo

25 anos Renault Sandero Seminovo

Letícia Secretária 31 anos Chevrolet Celta Novo

Cláudia Servidora

Pública

35 anos Toyota Corola Seminovo

Cecília Enfermeira 29 anos Fiat Punto Novo

Érica Estudante 22 anos Chevrolet Celta Seminovo

Carina Auxiliar

Administrativa

32 anos Fiat Palio Seminovo

Raquel Secretária 35 anos Volkswagen Gol G6 Novo

Andréia Estudante 21 anos Fiat Palio Novo

Fonte: Elaborada pelos autores.

Para analisar as falas dos sujeitos, em um primeiro momento adotou-se a proposta

metodológica de Spiggle (1994); assim, todas as entrevistas foram lidas, por diversas vezes, na

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busca por aspectos convergentes e divergentes que permitissem a formulação de categorias de

análise. Após essa etapa inicial, as categorias encontradas foram comparadas com o corpo

teórico existente sobre a temática para validar os achados e permitir posteriormente, a

formulação de teorias. Mediante a utilização dessas técnicas de análise, algumas categorias

emergiram, tais como, os aspectos relevantes ao automóvel para identificar as suas concepções

acerca dos mesmos, os fatores relacionados à compra do automóvel, buscando entender os

sentimentos envolvidos no ato da compra e, por fim, as preferências e os descontentamentos

dos consumidores em relação ao seu automóvel.

2.4 Resultados e discussões

Principais achados da pesquisa

A análise foi dividida em três temas principais que emergiram quando o conteúdo das

entrevistas foi analisado: significados associados aos automóveis, a experiência de compra do

automóvel além de preferências e descontentamentos dos consumidores em relação ao seu

automóvel.

Significados associados aos automóveis

Quais foram as primeiras associações livres com automóveis desse grupo de novos

consumidores? Os principais significados que surgiram não estavam relacionados ao “sonho de

consumo”, “luxo” ou ao “status social”, em geral atribuídos à categoria de automóveis (BELK;

BAHN; MAYER, 1982; BELK; GER; ASKEGAARD, 2003; FRANCA; CASOTTI; FARIA,

2013). A mobilidade aparece de forma preponderante com sua característica utilitarista através

de expressões como “necessidade”, “comodidade”, “facilidade” “autonomia” e “liberdade”,

mas também em situações que descrevem “desespero” e “medo” mais próximas de pesadelos

do que de sonhos:

“Anteriormente, o carro era uma questão de status, luxo, mas hoje é uma necessidade.

Eu moro muito longe do meu trabalho e eu não posso ficar esperando tanto tempo

pelo ônibus. Os ônibus ainda estão sempre ameaçando entrar em greve e as pessoas

estão desesperadas correndo lado a lado para pegar o ônibus. Eles têm medo de não

chegar em casa” (Cecília, 29 anos, enfermeira).

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Nosso imaginário povoado de emoções positivas relacionadas ao sonho de consumo do

carro dá lugar a testemunhos mais racionais para descrever o comportamento de consumo

associado ao primeiro carro. Essa racionalidade vai sendo melhor compreendida à medida em

que os relatos dão ênfase aos graves problemas de deslocamento enfrentados na cidade de

Teresina para aqueles que não possuem automóvel. Para esse grupo de entrevistados, o principal

gatilho para a compra do carro parece ter sido mesmo a funcionalidade do carro ou o não

funcionamento adequado do transporte público. As falas sugerem lógicas diferentes das que

Castilhos (2007) trouxe quando pesquisou consumidores de mais baixa renda que buscavam

por meio da aquisição de um bem, muito mais do que apenas utilizá-lo, mas sentirem-se

pertencentes a determinado grupo social. A falta de condições de mobilidade pode criar uma

conexão diferente entre os consumidores e seus automóveis.

Ainda que possa ser observada a ideia de consumo de pertencimento encontrada em

outras pesquisas (BELK, 2004; CASTILHOS, 2007; FRANCA, CASOTTI; FARIAS, 2013),

que falam da aquisição de uma mercadoria como um dos aspectos importantes para elevar

indivíduos à sonhada “sociedade de consumo”, os relatos obtidos negligenciaram, inicialmente,

associações com reconhecimento social. Os exemplos a seguir indicam que o carro “não é nem

luxo”, sugerindo ser essa posse uma diferença “muito grande” para a mobilidade.

“[...] No meu caso, eu penso em mobilidade. Eu queria muito ter um automóvel por

causa da mobilidade, ando muito, trabalho em lugares diferentes, então, pensava

muito em mobilidade, não pensava no conforto, pensava na mobilidade que o

automóvel ia me trazer” (Wilson, 27 anos, Jornalista).

“Carro hoje em dia é necessidade, não é nem luxo não, tá tão grande a correria hoje

em dia que um carro dá um auxílio muito grande. É uma agilidade muito grande”

(Henrique, 25 anos, Auxiliar administrativo).

O conforto foi outra característica destacada pelos consumidores entrevistados. Esse

aspecto, no entanto, não era explicado a partir de itens de tecnologia ou acabamento do carro,

mas a partir de comparações do deslocamento com ou sem o carro próprio. Eles falam de

transporte coletivo e da utilização de meios de locomoção de menor segurança e conforto, como

é o caso da motocicleta, usando como exemplo seus trajetos casa-trabalho sem lembrar do uso

do automóvel para um tipo de consumo mais hedônico como o lazer.

A posse de um automóvel proporciona para esse grupo entrevistado, portanto, a saída

de uma realidade desgastante e incerta que decorre, principalmente, da condição precária do

transporte coletivo público. Por isso, o significado de “liberdade” atribuído aos automóveis

pode ser interpretado como um sinônimo de independência da modalidade de transporte

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coletivo sempre caótica, o que difere das representações de liberdade trazidas pela mídia,

principalmente através da publicidade de automóveis que mostram paisagens bucólicas,

longínquas e exóticas (CORRÊA, 2011).

A “liberdade” diversas vezes mencionada nos relatos dos consumidores combina assim

com a “praticidade”, com a “rapidez” e com o “conforto” para conferir “bem-estar”. “O carro

me dá bem-estar”? O que significa essa expressão no contexto desse grupo? A expressão “bem-

estar” pode ser encontrada de forma recorrente em produtos e serviços posicionados para

classes mais abastadas, possivelmente com o intuito de disfarçar ou diminuir a dissonância de

um consumo hedônico, caro, de luxo, algo superficial ou cosmético. Para esses entrevistados,

no entanto, “bem-estar” é “não ter que esperar ônibus no sol e calor”, “poder ir e vir a hora que

quer” e “capacidade de locomoção”.

Aspectos subjetivos como lazer, luxo, poder e pertencimento foram lembrados deforma

apenas discreta enquanto a experiência de aquisição do primeiro carro foi descrita por esse

grupo sempre bem próxima do cotidiano, ou seja, sempre perto da rotina da casa e do trabalho.

Outro aspecto lembrado de forma também tímida foi a variável “marca”, sugerindo que as

empresas devem avaliar como melhorar o seu esforço de construção de marca, quando estão

buscando essa nova classe média que indicou, nesse estudo, valorizarem primeiro lugar as

características funcionais do veículo, como na fala de Letícia, 31 anos, secretária:

“Automóvel!? Eu penso em carro, em meio de transporte. Em marca?! Não penso em

nenhuma não!”.

Tomada aqui como um aspecto intangível, a marca não parece explicar escolhas e

preferências de automóveis desse grupo de entrevistados, já que, para eles, os significados

foram relacionados às características capazes de proporcionar “bem-estar”. Mas o que significa

mesmo sentir “bem-estar” no automóvel? Uma soma de independência, conforto, praticidade e

economia de tempo, aspectos menos subjetivos e intangíveis.

A Experiência de compra do automóvel

Alguns aspectos podem ser destacados quando os consumidores foram questionados

sobre a experiência de compra do automóvel. O primeiro a ser destacado é a forma de

pagamento utilizada para adquirir esse automóvel. Todos desse grupo entrevistado recorreram

ao financiamento para conseguir efetuar a compra. Assim como o freio ABS ou trio elétrico

podem ser combinações ou acessórios importantes para serem discutidos e negociados na

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compra do automóvel por experientes consumidores de classes sociais mais altas, esse novo

grupo de consumidores parece discutir e negociar como o mais um importante “acessório” a

forma de parcelamento ou o seu endividamento. Ainda que a população da chamada classe

média emergente tenha aumentado seu poder de compra, não é possível realizar excessos

(BARROS; HEMAIS, 2014; ROCHA; ROCHA, 2014), assim, compra do primeiro carro passa

por diferentes arranjos financeiros como empréstimos de família e a compra primeiro da moto

que aparece como uma forma de poupar parte do recurso necessário para dar entrada na compra

do carro.

“[...] então eu optei pra comprar esse carro. Carro muito caro, R$ 49.900,00. Comprei

e dei a metade na entrada, entendeu!? E parcelei o resto” (Paulo, 28 anos,

Administrador).

“[...] aí eu peguei umas economias pra comprar o carro de uma tia minha, aí eu peguei

e dei de entrada e financiei o resto” (Inês, 36 anos, Servidora Pública).

“Eu tinha uma moto aí o negócio seria, eu vender a moto, [...] e dar de entrada no

carro [...]” (Joana, 26 anos, Assessora de Imprensa).

Os relatos analisados também sugerem que existe uma preferência desse grupo de

consumidores pela compra de carros “seminovos” e “conservados”, termos que parecem

diminuir a dissonância cognitiva de quem não pode comprar um “carro zero” e tem que comprar

um “carro que era mais ou menos” como assume um dos entrevistados. O preço, em forma de

parcelamento, representa o aspecto central responsável pela opção desses consumidores pelo

carro usado. Alguns explicam que o preço do usado é consideravelmente mais baixo se

comparado a um automóvel novo. Um dos entrevistados chega a justificar a compra do

seminovo como se sua manutenção tivesse um custo menor, sem considerar os anos de garantia

dos carros novos:

“[...] achei um carro muito bom, um carro que era mais ou menos o que eu tava

querendo, [...] e tava seminovo, mas tava muito conservado[...]” (Marília, 34 anos,

Consultora de vendas).

“[...] passamos seis meses pesquisando, resolvemos não adquirir um carro novo

porque o custo e manutenção são maiores. Daí a gente resolveu que um carro

seminovo seria o ideal [...]” (Cláudia, 35 anos, Servidora pública).

Os relatos também revelaram ao final das entrevistas que eles indicariam, para quem

pretende comprar um automóvel, que o ideal seria comprar mesmo um carro novo, o que pode

ser visto como uma indicação de suas pretensões de compra no futuro ou, quem sabe, uma

experiência que poderá ser vivida na troca do primeiro carro.

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Preferências e Descontentamentos dos consumidores em relação ao seu automóvel

Quando perguntados sobre o que gostam mais nesse primeiro carro adquirido, voltam

nos relatos o termo “conforto” ou “comodidade” associados à mobilidade ou ao direito de ir e

vir que foi modificado:

“O que eu mais gosto?! O que eu mais gosto no meu carro é a comodidade, o conforto.

É o conforto de você se deslocar sem preocupação [...]” (Francisco, 28 anos, Gerente

de projetos).

Um dos entrevistados, só a partir dessa segunda pergunta, foi capaz de descrever com

mais detalhes sua luta nos deslocamentos diários casa-trabalho, ocasionada pela falta de

conforto e pelo tempo perdido. Ele avalia a “mudança muito grande, muito grande mesmo”

com a compra do carro e que foi capaz de mudar “totalmente a sua rotina”:

“[...] Foi uma mudança muito grande, muito grande mesmo! Por que eu pegava duas

conduções, sem falar que eu descia numa parada, caminhava bastante, ainda era muito

distante da minha residência, mas transformou, eu passava quase três horas pra chegar

na faculdade com as duas conduções que eu pegava, hoje em dia eu passo 20 minutos

pra chegar. Mudou totalmente minha rotina! [...]” (Renata, 32 anos, Auxiliar

administrativa).

Outro aspecto a ser mencionado é o sentimento de posse que esse grupo de

consumidores demonstraram ter para com seu primeiro automóvel que dá um significado

especial ao seu cotidiano. Cabe aqui ressaltar que, de posse desse automóvel, algumas

mudanças parecem inevitáveis na vida de quem o adquire, por exemplo, os lugares

frequentados, os horários e as relações sociais são aspectos que sugerem mudanças em suas

práticas diárias que se constroem e reconstroem a partir dessa primeira compra.

Os significados desse primeiro automóvel ou dessa posse, e não apenas os significados

dos automóveis em geral, foram também explorados nessa pesquisa. Quando perguntados sobre

o que mais gostam em seus carros nossa expectativa seria a lembrança de itens mais específicos

e particulares dos automóveis, mas eles continuaram falando da posse e conquista do bem por

inteiro e que gostam do “fato dele ser meu, não foi ninguém que me deu”, indicando orgulho

de uma conquista pessoal ou da liberdade que experimentam que pode fazer do carro “a melhor

coisa do mundo”, pois “eu posso ir e voltar pra onde eu quiser”. De acordo com Hirschman e

Holbrook (1982), o sentimento de posse não se explica por si só; na verdade, ele decorre dos

vários significados inerentes a um produto e que estes são capazes de provocar nos indivíduos

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sensações diversas, pois consumidores, em seus atos de compra, almejam adquirir não somente

o produto, mas todos os significados intrínsecos a este.

“O que eu mais gosto no meu carro? O fato dele ser meu! O que eu mais gosto no meu

carro é o fato dele ser meu, não foi ninguém que me deu, foi eu que comprei, é meu!

Eu posso ir e voltar pra onde eu quiser a hora que quiser [...]” (Wilson, 27anos,

Jornalista).

“[...] carro é a melhor coisa do mundo, ainda estão pra inventar, outra coisa que dá a

liberdade de você se locomover a hora que você quer pra onde você quer. Te dá

comodidade” (Letícia, 31 anos, Secretária).

Analisando os relatos, constata-se ainda que o sentimento de posse ou apego

demonstrado por esse grupo de consumidores, quando falam de seu primeiro automóvel, se

explica, também, pela relação que eles constroem com o bem no processo que antecede a

compra. A aquisição de um automóvel é uma decisão estudada e analisada e, geralmente,

acompanhada de endividamento advindo de empréstimos bancários, ou da venda de outros bens

como, por exemplo, a motocicleta. Não foram relatadas indecisões quanto a modelos e marcas

de automóveis nesse processo de compra, mas foram observados alguns aspectos negativos que

serão analisados no item a seguir.

Quando são perguntados sobre o que não gostam em seus automóveis, a falta de um

item específico, o ar condicionado, foi o aspecto mais lembrado pelos entrevistados. As

temperaturas altíssimas de Teresina durante todo o ano parece ser o contexto que levou a essa

lembrança:

“Não tem ar condicionado, é péssimo andar num carro sem ar condicionado aqui em

Teresina [...]” (Marcos, 24 anos, Bibliotecário).

Outros aspectos de insatisfação foram apontados por esse grupo de entrevistados como

a baixa potência do motor dos automóveis 1.0, sem considerar a economia de combustíveis que

esse tipo de motor pode trazer. Por outro lado, algumas reclamações foram recortadas sobre os

gastos incorridos com esses carros em sua manutenção. A expressão “seminovo” aparece aqui

com associações negativas, pois “tem sempre alguma coisa quebrando” e “já tava muito usado”.

“[...] O que eu me arrependo de ter comprado nele foi a questão dele ser 1.0, Eu

comprei porque eu não tinha experiência com automóvel, achei que seria melhor

assim, mas hoje eu não compraria um carro 1.0. [...]” (Renata, 32 anos, Auxiliar

administrativa).

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Síntese da análise do estudo exploratório

A experiência de consumo do primeiro automóvel relatada por esse grupo de

entrevistados de Teresina permitiu construir diversas lógicas para o processo de consumo do

carro. Algumas lógicas parecem diferir de achados de estudos anteriores e outras parecem estar

na contramão de discussões atuais sobre o uso do carro e a mobilidade mais sustentável

principalmente em grandes centros urbanos de países mais desenvolvidos. Procuramos trazer

descrições, interpretações e significados presentes no iniciante processo de consumo do carro

desse grupo sem julgamentos de valor entre certo e errado. O quadro 1 procura mostrar algumas

proposições que acreditamos poder servir de inspiração para outros estudos de comportamento

do consumidor e contribuir para reflexões tanto das empresas automotivas produtoras e

distribuidoras como para políticas públicas que se defrontam com problemas de mobilidade

urbana.

Proposições sobre o processo de consumo do automóvel pelo grupo de Entrevistados

O carro não é sonho, mas é realidade de mobilidade.

O carro não é desejo, mas é necessidade de mobilidade.

O carro não é luxo, pois muda o cotidiano da vida.

O carro polui, mas dá dignidade para a locomoção.

O uso do carro não prejudica a mobilidade, pois é o direito de ir e vir.

O carro não é uma marca construída na mídia de massa, é um bem utilitário.

2.5 Considerações Finais

Como contribuição acadêmica, este estudo buscou apropriar-se de uma temática que há

tempos tem sido discutida e, com propriedade, tem conferido explicações aos atos de consumo

dos variados tipos de consumidores. Analisando especificamente o comportamento desse grupo

de consumidores emergentes encontramos experiências no mercado de automóveis que

constroem significados de liberdade, conforto e conquista que diferem daqueles apontados em

outros estudos que estavam focados em consumidores de mais alta renda. Usando como

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inspiração um clássico do cinema brasileiro que mostrou, em 1981, o cotidiano de uma família

operária com muitos conflitos quanto às suas aspirações de consumo, podemos dizer que “eles

não usam blacktie”, mas querem mobilidade.

Os indivíduos entrevistados relataram maior interesse por aspectos utilitários dos

automóveis, já que falam dessa primeira compra, ao mesmo tempo em que compartilham com

o entrevistador seus problemas de mobilidade e a deficiência dos transportes públicos,

indicando que um problema é consequência do outro. Dessa forma, os relatos não destacaram

os valores simbólicos e subjetivos que aparecem como os mais importantes na literatura

consultada. Esse achado deve ser cuidadosamente observado pela indústria automobilística e

pelas empresas do varejo de automóveis que devem refletir sobre a necessidade de mobilidade

expressa pelos entrevistados desse estudo.

Buscou-se ainda gerar uma contribuição social, do ponto de vista de políticas públicas,

atendendo à crítica de Sheth (1992) que, desde o início da década de 1990, atenta para a perda

de impacto político que tem permeado os estudos de consumo, segundo o autor a acrimônia na

torre de marfim. Assim, a preocupação de forma mais ampla com questões que dizem respeito

ao coletivo foi quase esquecida face à situação de emergência demonstrada para resolver

problemas pessoais de mobilidade urbana. Chama atenção, no entanto, a ligação do tema

comportamento do consumidor de automóveis com as diversas manifestações de rua recentes

que indicaram, dentre outros fatores, a indignação com falta de políticas públicas adequadas

para a melhoria da mobilidade em cidades como Teresina e também na maior parte das cidades

brasileiras.

A distância do indivíduo das questões coletivas parece ser tão grande em Teresina que

um dos entrevistados fala do carro “como um membro da família, um integrante que sempre

que eu precisar ele vai estar ali presente”, indicando, assim, que não pensaria contar com

alternativas que partissem de iniciativas públicas. Os vários problemas associados à mobilidade

parecem mitigar preocupações menores como, por exemplo, as preocupações com o calor do

carro sem ar condicionado e as dificuldades com as longas e onerosas prestações da compra do

primeiro carro.

O que se espera a partir dessa primeira parte de um estudo mais amplo sobre o consumo

de carro desse grupo de consumidores emergentes? Um ponto de partida tanto para outros

estudos qualitativos, quanto para estudos quantitativos que possam trazer outros recortes do

consumo desse produto em um país com a diversidade cultural do Brasil. Pedimos aqui licença

para finalizar essa discussão final com algumas perguntas que exemplificam a complexidade

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do que encontramos no comportamento do consumidor de automóveis desse grupo de

entrevistados.

Novas lógicas de consumo ou um retorno à funcionalidade que a categoria já buscou no

passado?

Como os diferentes textos culturais podem influenciar no consumo da categoria?

Estariam as marcas de carro iniciando um processo de perda relativa de importância?

O que predomina em relação ao carro, mais associações com o trabalho ou mais

associações com o lazer?

Será que o transporte público humilha o consumidor ao invés de libertá-lo do consumo

individual?

Será que o carro pode libertar o consumidor mesmo tendo características não

sustentáveis para a sociedade?

Como promover uma melhor conexão entre os consumidores de automóveis, as

empresas ligadas ao setor automobilístico e as políticas públicas relacionadas à melhoria

da mobilidade?

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3 CAPÍTULO 3 – PESQUISA DE TEXTOS CULTURAIS COM SIGNIFICADOS DO

AUTOMÓVEL NAS MÚSICAS DE FORRÓ2

3.1 Introdução

A análise de textos culturais nos estudos relativos à área de comportamento do

consumidor (ASKEGAARD, 2010; HIRSCHMAN, 1988, 2000; HIRSCHMAN; SCOTT;

WELLS, 1998; HOLBROOK, 2004, 2005, 2007, 2008; HOLBROOK; GRAYSON, 1986),

destacam músicas, filmes, programas de televisão, anúncios e a literatura como veículos de

construção de significados simbólicos que podem influenciar nas práticas de consumo de

diferentes categorias de bens e serviços, por meio das imagens e narrativas que os representam.

Especificamente, ao analisar pesquisas na área de comportamento do consumidor, que

têm na música seu foco de interpretação, foi possível encontrar investigações preocupadas em

compreender a musicalidade em textos publicitários e sua participação no processo de indução

do consumidor a um determinado ato de consumo (GORN, 1982; MILLIMAN, 1982); estudos

que relacionavam a música à diminuição do stress e aumento da produtividade dos

trabalhadores (KELLARIS; COX, 1989; MILLIMAN, 1986; STUART; SHIMP; ENGLE,

1987); e estudos que apresentavam a música com noções de cultura associada a outros textos

culturais como o cinema (HOLBROOK, 2004, 2005, 2007, 2008).

No entanto, pesquisas que buscam entender as letras das músicas como narrativas da

cultura de quem as produz e consome, ou, mais especificamente, como fonte alternativa para a

compreensão da cultura de consumo de determinada categoria de produtos, não são comuns

nesse campo de investigação (ASKEGAARD, 2010), e foi diante dessa lacuna teórica

(ALVESSON; SANDBERG, 2011) que esta pesquisa se desenvolveu.

Este estudo interpreta narrativas de músicas do gênero forró, um estilo musical típico

do nordeste brasileiro. Foram selecionados os forrós que falam dos automóveis, um bem de

consumo de forte dimensão simbólica que detém a capacidade de transmitir significados aos

seus compradores e que envolve questões de natureza emocional e subjetiva em seu processo

de consumo (BELK, 2004; BELK; BAHN; MAYER, 1982; BELK; GER; ASKEGAARD,

2003; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013; HIRSCHMAN, 2003).

2RODRIGUES, T. K. A. Significados do Automóvel na Música: posse divertida, transformadora e identitária. In:

Encontro Nacional da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, 39, 2015,

Anais... Belo Horizonte: Anpad, 2015.

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Como as letras de músicas, do gênero forró, podem oferecer contribuições que permitam

compreender aspectos associados à cultura de consumo de automóveis? Essa pesquisa busca

compreender significados culturais e sociais construídos nas letras das músicas que são

inspiradas, não apenas no imaginário, mas também nas práticas de consumo, como sugere

McCracken (1987) em seu modelo de movimento dos significados.

Para atender aos objetivos estabelecidos nesse estudo, adotou-se uma abordagem

qualitativa e interpretativa (DENZIN; LINCON, 2000; ROCHA; ROCHA, 2007) que se

utilizou de dados secundários, ou seja, as letras de músicas de forró. Este estudo de textos

culturais se insere na família de perspectivas teóricas que formam a CCT (ARNOULD;

THOMPSON, 2005, 2007). Foram selecionadas 28 músicas do gênero forró, adotando a

concepção de Hirschman, Scott e Wells (1998) de que esses textos culturais representam dados

secundários produzidos e propagados pela própria sociedade. Utilizou-se, ainda, referências

teóricas da tradição hermenêutica de interpretação textual para a análise desse material

(PRASAD, 2005).

3.2 Referencial Teórico

Textos Culturais: uma abordagem inicial

Dentre a gama de conhecimentos que emergiram de uma nova lente lançada sob o

fenômeno do consumo, cabe destacar o maior interesse conferido à interpretação da relação

entre os textos e as práticas expressivas desenvolvidas pela cultura, ou seja, seus sinais e

convenções comunicativas (MICK, 1986). Assim, músicas, filmes, anúncios, programas de

televisão e a literatura – textos culturais – passam a ser foco de análise de estudiosos do

consumo pela sua capacidade de absorver e comunicar significados representativos da cultura

(HIRSCHMAN, 1988, 2000; HOLBROOK; GRAYSON, 1986).

Textos culturais podem ser entendidos como representações da cultura e das concepções

formadas e propagadas pelo meio social. Dessa forma, crenças e valores, codificados por meio

de imagens ou narrativas, falam muito sobre a cultura de quem produz e consome esses textos.

A cultura codificada nas cenas de um filme ou mesmo nas letras de uma canção, por trás de seu

caráter de entretenimento, escondem características e particularidades que identificam grupos

sociais (HIRSCHMAN; STERN, 1994). Além disso, textos culturais também têm a capacidade

de “vestir” os produtos físicos de conteúdo simbólico, o que lhes confere maior valor

econômico no mercado (STERN, 1996).

Há uma dinâmica capaz de construir associações simbólicas e fornecer interpretações

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acerca dos significados dos produtos e de seu modo de uso originada dos textos culturais

produzidos por constantes relações com o mundo culturalmente constituído, influenciando e

sendo influenciado pelas ações cotidianas (MCCRACKEN, 1987). Essas narrativas derivam do

corpo de práticas em torno do consumo de determinado objeto, ou seja, o corpo existente de

práticas é o material da vida cotidiana que vai originar representações, mas que, por outro lado,

também se desdobra em um modelo de comportamento que influencia práticas de consumo de

determinados produtos (HIRSCHMAN; SCOTT; WELLS, 1998).

Os textos culturais, além de representarem elementos identitários de uma sociedade,

ainda são capazes de sugerir e influenciar comportamentos que podem ser adotados pelos seus

membros, como defendem Hirschman (2000) e Russell e Stern (2006). Ambos observaram que

os consumidores de filmes e séries de televisão incorporam essas narrativas culturais em suas

vidas, tomando-as como suporte para muitos de seus comportamentos não apenas de consumo,

mas de um estilo de vida em geral.

No Brasil, alguns estudos têm sido desenvolvidos de modo a evidenciar as

representações simbólicas do consumo, codificadas por meio de textos culturais (ABRÃO,

2009; CAMPOS, 2009; FARIA; CASOTTI, 2012; SILVA, 2008; SUAREZ, MOTTA;

BARROS, 2009). O trabalho de Suarez, Motta e Barros (2009) ilustra a relação entre os textos

e práticas culturais. Os autores analisaram as relações de consumo apresentadas em um seriado

de TV “A Diarista” para compreender mensagens que o seriado transmite sobre representações

do consumo das classes mais baixas. Diversas vezes, a diarista, que representa uma camada

mais baixa da população, é sempre “castigada” quando tenta usufruir de novos bens e serviços

consumidos pelas classes sociais mais altas, sugerindo uma divisão de bens e serviços

adequados ou possíveis entre classes sociais. As telenovelas brasileiras também foram o objeto

de análise nos estudos de Silva (2008), Abrão (2009) e Faria e Casotti (2014).

Em meio à riqueza de análise do consumo em textos culturais de filmes de propaganda

e cinema, novelas e séries de TV, nosso destaque recai nas músicas como narrativas. A seguir

trazemos contribuições de outros estudos na área de comportamento do consumidor que usaram

a música como contexto de pesquisa.

Textos Culturais: a Música nos Estudos de Consumo

A música se constitui um dos mais importantes elementos identitários da cultura de um

povo, além de representar um caminho para se refletir sobre a relação entre indivíduo e

sociedade (SETTON, 2009). Diferentes gêneros musicais destacam maneiras distintas de

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indivíduos e grupos sociais se reconhecerem e se situarem em contextos socioculturais

específicos (DREWETT, 2008; MORCOM, 2008; OLSEN; GOULD, 2008). No entanto,

interpretações destinadas a entender a música como uma forma de gerar insights sobre a cultura

de consumo são ainda um horizonte de investigação a ser explorado (ASKEGAARD, 2010).

Holbrook (2008) e Askegaard (2010) destacam que poucos foram os pesquisadores que

se debruçaram sobre esta vertente de representação cultural para fornecer-lhe uma compreensão

mais aprofundada. Encontramos em periódicos da área de marketing, os trabalhos pioneiros de

Gorn (1982) e Milliman (1982), os estudos de Holbrook e Hirschman (1993), Holbrook (2004;

2005; 2007; 2008) e Askegaard (2010), além de uma edição especial, em 2008, da revista

Consumption, Markets and Culture (BRADSHAW; SHANKAR, 2008; DREWETT, 2008;

HESMONDHALGH, 2008; HOLBROOK, 2008; MORCOM, 2008; OLSEN; GOULD, 2008)

voltada inteiramente às investigações dentro do escopo da música. Esses trabalhos sugerem o

interesse de utilizar “novas lentes” na observação do “mundo dos bens” como já sugeriram os

antropólogos Douglas e Isherwood (1978). Os estudos a seguir são exemplo dessa busca, pois

procuram compreender a relação existente entre as produções musicais e “o mundo dos bens”.

Os primeiros estudos da área de marketing relacionados à música, como os de Gorn

(1982), Milliman (1982, 1986) e Kellaris e Cox (1989), eram orientados à compreensão da

música de fundo (background music) em anúncios publicitários e seus efeitos, como um recurso

capaz de insinuar determinados aspectos do produto e influenciar na atitude e no

comportamento de consumo. Esses estudos, embora importantes para o desenvolvimento da

temática, não investigaram a música do ponto de vista de suas influências culturais, e

destacavam a música como um estímulo apenas afetivo e não como estímulo semântico

(HOLBROOK, 2005; SCOTT, 1990)

Scott (1990), em sua pesquisa sobre música e publicidade, forneceu novas diretrizes

aos estudos do comportamento do consumidor, ao utilizar uma abordagem que descreve a

música com base em noções de cultura, retórica e ação simbólica. Para esse autor, a música é

capaz de estruturar o tempo e simular movimento em anúncios publicitários, ou seja,

desempenha uma variedade de funções para a tarefa retórica geral da publicidade. Dessa forma,

as interpretações dessa representação cultural deixam de ser idiossincráticas, e passam a ser

socialmente compartilhadas.

A contribuição do estudo de Scott (1990), publicado no Journal of Consumer Research,

parece abrir espaço para os trabalhos de Holbrook e Hirschman (1993), Holbrook (2004, 2005,

2007, 2008) onde a análise de músicas passa, de fato, a ser realizada com foco em aspectos

culturais. Holbrook é reconhecido por Askergaard (2011) como pioneiro na utilização de

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produtos culturais – seja música, cinema ou ambos – para formular insights sobre a cultura de

consumo. Holbrook (2004; 2005) analisou a música ambidiegética, recurso sonoro que

acrescenta profundidade a um personagem por meio de associações simbólicas relevantes,

capazes de enriquecer uma cena, bem como conferir a um personagem mais velho vivacidade

e juventude.

Yazicioglu e Firat (2008) construíram identificações simbólicas quanto à utilização de

músicas em movimentos sociais. Nessa mesma linha de estudos musicais com ênfase em

ideologias culturais e impactos sociais destaca-se a edição especial da revista Consumption,

Markets and Culture, em 2008. Os estudos que analisam o impacto da música em contextos

como o cenário político do Tibete (MORCOM, 2008), as relações sociais e de gênero na

Jamaica (OLSEN; GOULD, 2008) e o período pós-apartheid na África do Sul (DREWETT,

2008) permitem compreender o ato de fazer e ouvir música como uma produção e consumo de

significado social.

O estudo de Askegaard (2010) oferece outra contribuição aos estudos musicais, ao

destacar as letras das canções como uma janela para o entendimento de aspectos da cultura de

consumo em geral. Ele analisa um conjunto de letras de canções da banda californiana The

Beach Boys, dos anos 1960, conhecidos como verdadeiros mensageiros de um estilo de vida

hedonista. Ao suscitar essa discussão, o autor explora a cultura de consumo contemporânea e

os rituais de consumo associados aos automóveis.

No Brasil, país com reconhecida riqueza cultural de sua produção musical, foram

poucos os estudos encontrados que trazem a música dentro da perspectiva da cultura de

consumo (CORRÊA, 2011; MONTEIRO, 2013; SCHOTT; CUPOLILLO; SUAREZ, 2014;

SUAREZ, 2010).

Alguns estudos encontrados na literatura de marketing internacional e brasileira

mostram como representações de experiências de consumo cotidianas podem ser descritas em

textos musicais. A música, carregada de códigos e símbolos, está inserida em um sistema

complexo para ser interpretada por sua subjetividade de forma singular (ASKEGAARD, 2010;

LARSEN; LAWSON; TODD, 2009; 2010; HIRSCHMAN, 1988, 2000; HIRSCHMAN;

SCOTT; WELLS, 1998; HOLBROOK, 2004; 2005; 2007; 2008; HOLBROOK; GRAYSON,

1986). A música pode evidenciar, em sua composição, conteúdos simbólicos capazes de

expressar sentimentos e/ou de influenciar ações (HOLBROOK, 2004, 2005, 2007, 2008).

Textos musicais que envolvem significados e práticas de consumo podem auxiliar a

compreender o consumo (ARNOLD; THOMPSON, 2005; 2007).

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3.3 A Pesquisa e o Forró

Nesse estudo, adotou-se uma abordagem qualitativa na coleta e análise dos dados, a fim

de compreender significados construídos em relação à categoria de automóveis em textos

culturais, mais especificamente nas letras musicais do ritmo forró. A natureza e os objetivos da

investigação conduzem à utilização de técnicas interpretativas, no intuito de permitir a

identificação de elementos sociais e culturais em um contexto diversificado e ainda pouco

explorado (DENZIN; LINCOLN, 2000).

A escolha por uma abordagem qualitativa amparada pelo paradigma interpretativo

(DENZIN; LINCOLN, 2000; ROCHA; ROCHA, 2007) parece ainda tangenciar diferentes

dimensões da CCT, já que se utiliza dessa família de perspectivas teóricas, que abordam

relações dinâmicas entre as ações do consumidor, o mercado e os significados culturais, para

compreender um fenômeno que se relaciona com os seguintes conjuntos de temas em

comportamento do consumidor: a) identidade do consumidor; b) culturas do mercado; c)

padrões sócio históricos de consumo; e d) ideologias de mercado.

Esse estudo toma por referência metodológica trabalhos como o de Mick (1986),

Hirschman (1988), Hirschman e Stern (1994), Holbrook (2005) e, principalmente, Suarez

(2010) e Askegaard (2010), uma vez que tem por proposta gerar contribuições teóricas na

interpretação de textos culturais musicais. O forró é um gênero musical típico da região nordeste

que se constituiu midiaticamente a partir das canções de artistas como Luiz Gonzaga, Jackson

do Pandeiro e Dominguinhos (QUADROS JUNIOR; VOLP, 2005). Toda a produção musical

construiu a imagem do gênero vinculado ao sertão nordestino e suas representações típicas,

como a pobreza, a seca e o sertanejo (TROTTA, 2009a). Originalmente, o gênero se dedicou a

retratar, por meio de suas canções, a realidade do povo do Nordeste, sendo frequente, nessas

músicas, a presença do dialeto regional, expressões linguísticas e fonéticas características desse

povo (FERNANDES, 2008).

No entanto, a dinâmica do gênero musical passou por mudanças consideráveis,

assumindo, então, outras denominações como forró elétrico e forró universitário. O consumo

de objetos de valor, como carros, mansões e bebidas alcoólicas, está presente em suas letras e

guarda semelhança com mudanças ocorridas no funk em São Paulo e no Rio de Janeiro, como

o chamado funk ostentação (ANTONACCI; MARCELINO, 2013) e adaptações da música

sertaneja nos grandes centros urbanos, que passou a ser conhecida como sertanejo universitário

(ALONSO, 2011a).

As mudanças do forró e outros gêneros, como o funk e a música sertaneja, indicam o

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distanciamento desses gêneros musicais de suas origens socioculturais. A necessidade de se

adaptarem à indústria fonográfica parece ter sido um importante condicionante para essas

mudanças (ALONSO, 2011b): o funk incorporou hits de exaltação à riqueza, marcas e produtos

de luxo e a diversão (ANTONACCI; MARCELINO, 2013); a música sertaneja se distanciou

da realidade do universo rural (ALONSO, 2011a; ALONSO, 2011b) e canta, por exemplo, um

modelo de carro, o Camaro amarelo. Já o forró deixou de representar a realidade do sertão

nordestino e passou a cantar os comportamentos e consumo dos grandes centros urbanos

(TROTTA, 2009a). Destaca-se que este aspecto adquirido, especificamente, pelo forró foi

determinante para sua escolha nesta investigação.

Para a elaboração dessa pesquisa, inicialmente foi realizada uma busca nos principais

sites especializados no gênero musical em questão (portal do forrozão; forró dicumforça;

planeta forró; forró para o Brasil; estação forró; e portal do forró), a fim de obter material para

essa pesquisa. Foram encontradas, inicialmente, 41 músicas que faziam alguma menção à

categoria de produtos “automóvel” dentro do gênero estudado. No entanto, o objetivo era

analisar canções em que o carro apresentasse um papel de destaque dentro da narrativa

selecionada, ou seja, que permitisse uma análise apurada do fenômeno; então, destas 41 músicas

encontradas inicialmente, apenas 28 detinham essa peculiaridade e, diante disso, representaram

o objeto de análise desse estudo.

A escolha por estas 28 músicas se justifica pela grande divulgação em rádios e meios

midiáticos, já que juntas ultrapassaram 30 milhões de downloads em sites especializados e 42

milhões de visualizações no Youtube. Além disso, essas músicas representam um material

disponível e de fácil acesso em meios eletrônicos para estudiosos que queiram tomar como

suporte os resultados aqui apresentados para a formulação de outros estudos e para

pesquisadores que desejem refazer o mesmo caminho metodológico e avançar essa pesquisa.

Essa disponibilidade de acesso ao material utilizado na pesquisa foi destacada em outros

estudos de textos culturais (HIRSCHMAN, 2000; SUAREZ; MOTTA; BARROS, 2009).

É importante destacar que, apesar da popularidade dos textos musicais nas mídias

eletrônicas, bem como uma ampla divulgação em rádios, os shows ao vivo de forró são o

principal meio de promoção dessas músicas. Algumas bandas realizam uma média de 25

apresentações por mês, cobrando cachês que ultrapassam cem mil reais, com média de público

de 15 mil pessoas por show (FORROZÃO NA NET, 2013). Na análise, as músicas são

identificadas com o título, seguido do nome do cantor ou banda e do ano da primeira gravação.

A tabela 2 a seguir reúne informações das músicas analisadas e traz os consumos de bens e

serviços mencionados nas letras.

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Tabela 2 – Músicas utilizadas no estudo e suas características

Ano Música Quem canta? Bens e serviços

mencionados

Visualizações

no Youtube

2014 Playboy Fazendeiro Mano Walter Gado, Uísque e Cerveja. 910.954

2013 As mina curte e bebe Banda Garota

Safada

Bebidas Alcoólicas em

geral.

96.880

2013 Garagem Milionária Forró Estourado Entretenimento. 1.160.199

2013 Meu Carro Virou Bar Banda Farra de

Rico

Bebidas Alcoólicas em

geral.

67.490

2013 O Empresário Forró Pegado Cordão de ouro e

bebidas alcoólicas.

496.273

2013 O show Terminou Gabriel Diniz Cerveja, Uísque e Som

automotivo

171.921

2012 Abra a mala e solta o

som

Banda Garota

Safada

Som automotivo. 112.129

2012 Beleza e Riqueza Forró Estourado Champanhe, cerveja e

camarote.

39.601

2012 Eike Batista Forró Estourado Cobertura em frente ao

mar, helicóptero, viagem

a Disney e Cassinos.

412.567

2012 Motel Disfarçado Aviões do Forró Bebidas Alcoólicas em

geral.

7.499.930

2012 Quem paga minha

faculdade

Aviões do Forró Faculdade. 648.112

2012 Resposta do Motel

Disfarçado

Forró Pegado Motel, Mansão e Uísque. 107.145

2012 Rico e Solteiro Forró Pegado Casa na praia. 48.492

2012 Saveiro do Papai Gabriel Diniz Cerveja. 50.367

2012 Tem que ter carrão Chapahalls do

Brasil

Entretenimento 63.849

2012 Vai a pé que eu vou de

Carro

Forró Pegado Uísque, relógio

importado, cordão de

ouro.

642.137

2012 Vida Mais ou Menos Banda Luxúria Uísque 1.483.5413

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53

2011 A festa começou Banda

Estakazero

Bebidas Alcoólicas em

geral.

272.627

2011 Carro Pancadão Banda Garota

Safada

Rodão, suspensão a ar,

vidro fumê, teto solar,

DVD, GPS e turbina.

3.804.669

2011 Combate Mundial de

Som

Forró Estourado Som automotivo. 629.719

2011 Eu era feio agora tenho

um carro

Aviões do Forró Entretenimento. 2.589.804

2011 Sou Playboy Forró Estourado Cerveja e ouro. 52.301

2010 Tem que ter carrão Forró Estourado Som automotivo. 59.769

2009 Abre o som Bonde do

Maluco

Cerveja. 1.843.245

2008 Carro de Playboy Banda Garota

Safada

Som automotivo, DVD. 648.125

2008 Carro de Apaixonado Companhia do

Calypso

Cerveja e Som

automotivo.

333.960

2007 Vai a pé Aviões do Forró Uísque, DVD, aro

cromado,

372.872

2007 Zoar e Beber Banda os Kara

de Carrão

Cerveja. 4.781.913

Dessa forma, para análise do conteúdo cultural das letras das músicas foram utilizadas

referências da tradição hermenêutica de interpretação textual. Além de ser uma técnica muito

difundida em pesquisas qualitativas (PRASAD, 2005), a adoção da hermenêutica, como

tradição interpretativa textual nesse estudo, se deu em decorrência de ela considerar que a

linguagem representa muito mais do que uma grande coleção de palavras e regras gramaticais.

Para a hermenêutica, a linguagem é um sistema de significados inter-relacionados que fornecem

um quadro culturalmente compartilhado de referências (PRASAD, 2005; THOMPSON;

POLLIO; LOCANDER, 1994). Desse modo, conforme destaca Prasad (2005, p. 31) “a

hermenêutica representa o processo de explicar e esclarecer textos, com a intenção de tornar o

obscuro mais óbvio”.

O estudo segue, portanto, a orientação de Prasad (2005), quando interpreta as letras das

músicas por meio de uma análise criteriosa de suas narrativas, tomadas como discursos do meio

social, o que evidencia muito mais que simples concepções sobre uma categoria de produtos,

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54

mas traz à luz significados que permitem um melhor entendimento sobre a cultura de consumo

em geral.

Destaca-se que o objetivo dessa análise vai além da verificação da influência da

musicalidade/sonoridade sobre a atitude de consumidores e práticas de consumo em geral,

como defendido nos estudos de Gorn (1982) e Milliman (1986), já que nessa investigação os

esforços se concentram na compreensão do conteúdo semântico das músicas como relatos de

uma cultura que produz e consome seus significados.

3.4 Resultados e Discussão

Uma breve observação da tabela 2, onde estão os títulos das músicas selecionadas,

permite caracterizar o consumidor de carro que está no imaginário dos compositores das

músicas de forró. De acordo apenas com os nomes atribuídos às músicas de forró, o carro é um

produto superlativo, ou seja, ele é um “carrão pancadão”, que pertence a alguém rico

(empresário ou playboy fazendeiro) e solteiro. Esse “carrão” de rico vem também associado a

outros consumos tanto de espaços de luxo (“camarote”, “cobertura de frente pra praia”) quanto

de bebidas sofisticadas (“champanhe”, “whisky”). Para que consumir tudo isso? “Curtir”,

“zoar” e conquistar as mulheres. Estão aí resumidos alguns ingredientes que já sinalizam que

“a festa” do forró vai começar.

A descrição e interpretação das letras das músicas trazem diferentes perspectivas

relacionadas ao consumo e utilização do automóvel que serão analisadas a seguir: “a festa” ou

a posse do automóvel como espaço de entretenimento; a posse do automóvel como promotora

de mudanças pessoais e sociais e a posse do automóvel associada às relações de gênero.

Posse do carro como espaço de entretenimento: “a festa vai começar”

Poucas músicas associaram o carro à sua tradicional função de transporte. Em meio ao

conjunto de canções analisadas, pudemos encontrar apenas alguns exemplos de que o carro é

útil para “levar” alguém ou para “dar um rolé”, expressões que indicam a funcionalidade desse

bem de consumo.

Predominam nas letras analisadas de forró, no entanto, situações de uso do automóvel

que o distanciam de sua funcionalidade associada ao benefício da mobilidade. O carro descrito

no forró é usado como o próprio entretenimento e não como o objeto que pode transportar o

consumidor para seus locais de entretenimento. Ainda que o carro não seja um espaço que se

imagina típico de uma festa, alguns usos descritos desse bem de consumo nas músicas de forró

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trazem componentes que não podem faltar em uma boa festa: pode servir de bar para as bebidas,

pode trazer um som “pancadão” em seu “paredão” e também atrair a “mulherada”. Tudo isso

faz do carro um gatilho para “começar a festa” ou faz do carro a própria festa. As músicas

falam, por exemplo, do carro como o bar da festa, pois ele gela as bebidas no freezer colocado

em seu porta-malas ou do capô que pode virar uma mesa de bar. Combinado com música,

bebida e a “mulherada” o carro cantado no forró é o promotor da festa.

“O show terminou/ e eu alcoolizado/chamei a galera, tá tudo preparado/

compramos uísque / caixa de cerveja/ e os capôs dos carros

transformamos em mesa [...]” (O show terminou, Gabriel Diniz, 2013,

grifo nosso).

“[...] Botei um freezer no meu carroôôô/ um som irado o meu carro é

um show/botei um freezer no meu carro aaa/fim de semana meu carro

virou bar [...]” (A festa começou, Banda Estaka zero, 2011, grifo nosso).

A festa promovida pelo carro pode não terminar no bar ou, mesmo, depois que a música

do “paredão” parar de tocar. O entretenimento pode continuar ainda no espaço do carro depois

que a festa acabar. O carro pode ser usado, de acordo com o próprio título da música, como um

“motel disfarçado”.

“Carro parado com vidro embaçado/Cuidado, cuidado é motel

disfarçado/Carro parado, carro balançando/ subindo e descendo tem

gente ficando (Motel disfarçado, Aviões do Forró, 2012, grifo nosso)”.

As letras analisadas parecem ainda ignorar a Lei Seca, promulgada desde 2008, que

modificou o Código de Trânsito Brasileiro. Essa lei proíbe o consumo de álcool, em qualquer

quantidade, por condutores de veículos. Desde então, o motorista que infringir essa lei pode

sofrer sanções que vão desde uma multa e suspensão da habilitação até a detenção. O forró

parece desconhecer essa lei, pois bebidas alcoólicas nas músicas analisadas aparecem quase

como produtos complementares ao automóvel. O antropólogo Roberto DaMatta, quando

analisa o comportamento dos brasileiros no volante, observa que, na cultura brasileira, obedecer

à lei pode ser visto como um sintoma de inferioridade, o que explica o fato de o bom motorista,

cumpridor da lei, ser visto como “babaca” ou, por analogia, o motorista “esperto” seria o que

burla a lei (DaMATTA, 2012). No entanto, diferente das músicas românticas do popular cantor

Roberto Carlos, que nas décadas de 1960 e 1970 cantava um carro que acelerava para encontrar

a mulher amada, esse carro do forró parece ficar mais parado e por isso está associado a um

espaço de entretenimento.

O estudo de Russell e Russell (2009), que analisa o conteúdo de produtos culturais como

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programas de televisão, filmes e músicas, também faz uma referência à forte presença de

bebidas. As músicas analisadas do forró sugerem que os homens – gênero dominante no

conteúdo das letras – dirigem “alcoolizados” esse carro-bar. A quase apologia da mistura do

carro e do álcool cantada nas músicas passa distante das consequências retratadas nas

campanhas da mídia (“se beber não dirija”), que alertam sobre a perigosa mistura e sobre o

risco de ser enquadrado na Lei Seca, cada vez mais aplicada nos centros urbanos:

“Mais o calor bateu/ vou tomar uma geladinha./Eu vou lotar meu

carro/e dar role com as gatinhas [...]” (Sou Playboy, 2011, Forró

Estourado, grifo nosso).

Russell e Russell (2009) observam que as mensagens sobre o consumo de álcool em

textos culturais podem ser positivas, negativas e mistas. Aquelas positivas geralmente estão

associadas a humor, camaradagem e encontros românticos, e as imagens negativas envolvem

associações com vícios, acidentes e morte. No forró, as bebidas alcoólicas possuem apenas

associações positivas e assumem, juntamente com o carro, o papel de combustível para a festa

e para a socialização, como indica a expressão “vou lotar meu carro”.

Além da ideia de socialização, as letras do forró ainda descrevem o carro como um

instrumento de conquista masculino, já que são descritas situações em que os homens se

aproximam das “gatinhas”, “das novinhas” e “da mulherada” ao utilizar esse bem.

Posse do carro como mudança identitária: “eu era feio, agora tenho um carro”

O antropólogo Roberto DaMatta observa que a elite brasileira sempre rejeitou a

perspectiva igualitária representada pelo transporte coletivo e que o carro foi adotado como um

símbolo de superioridade social (DaMATTA, 2012). O forró traz em seu texto uma descrição

do processo de transformação social, financeira e estética que acontece a partir da posse do

carro: o antes e o depois. O homem sem carro é cantado como “feio”, “zé ninguém”, o

“coitado”, o “otário”, o “mala”, o “vacilão”, “liso”, “triste”, já que “andar a pé” é ser relegado

ao esquecimento, à solidão, ao desprezo. Não ter carro no forró é ser socialmente excluído,

enquanto a posse do carro traz um efeito transformador para o homem que é, então, cantado

como “bonito”, “empresário”, “rico”, “feliz” e cheio de “amigos pra curtir” e “mulherada pra

namorar”.

“Eu era feio/ Agora tenho carro ôôôô/ Eu sou muito mais feliz/

A mulherada me adora/ Tenho amigos pra curtir/ E um carrão da

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hora/Minha vida mudou/Agora só penso em diversão/ Tristeza

xô, xô, xô/ Adeus solidão [...]” (Eu era feio agora eu tenho um

carro, Aviões do forró, 2011, grifo nosso).

“[...] Quando eu não tinha carro só andava de busão/não pegava

nada não/não pegava nada não/ Tenho dinheiro e um carrão da

hora/ mulherada me ama/mulherada me adora/ tenho dinheiro e

não ando mais a pé/ na minha horta está chovendo mulher [...]” (Tem que ter carrão, Chapahalls do Brasil, 2012, grifo

nosso).

“[...] comprei casa na praia e um carrão da hora/só porque fiquei

rico/você vem dizer que me adora [...]” (Rico e Solteiro, Forró

Pegado, 2012, grifo nosso).

As letras do forró sugerem que não é um simples carro que detém a capacidade de

transformar o homem “feio” e excluído socialmente em um homem “bonito” e com aprovação

social. O que pode promover essa mudança é o “carro novo” ou o “carrão”, que são cantados

com muitos acessórios que complementam a identificação da conquista social e da conquista

feminina, pois “a mulherada adora, pira e encosta”:

“Botei quatro rodão/ suspensão a ar/ vidro fumê/ teto

solar/power DVD/ GPS pra rodar/ botei banco de couro e uma

turbina pra voar/a mulherada quer/ a mulherada adora/ a

mulherada pira/ a mulherada encosta [...] Eu equipei meu carro

pras gatinhas enlouquecer! [...]” (Carro Pancadão, Banda Garota

Safada, 2011, grifo nosso).

“Mas elas querem carro rebaixado/que tenham turbina e aro

cromado/ela gosta de aventura/ essa mina é pirada/som

automotivo ela se amarra [...]” (Tem que ter carrão, Forró

Estourado, 2010, grifo nosso).

“[...] ele tinha um carrão irado/DVD, aro cromado/todo

rebaixado, um sonzão/tinha um teto solar [...]” (Vai a pé, Aviões

do Forró, 2007, grifo nosso).

Os trechos de músicas acima sugerem uma distância entre o carro e o “carrão”

customizado com “rodão”, “suspensão a ar”, “vidro fumê”, “teto solar”, “DVD”, “GPS”,

“banco de couro”, “turbina”, “rebaixamento” e “som”. Essa customização pode ser entendida

como uma co-criação, já que a montadora não fornece o carro com o conjunto de itens que a

música reúne. Consumidores ou homens consumidores devem, então, customizar seus

automóveis “pras gatinhas enlouquecer!”. Belk (2004) também observou em seu estudo que a

devoção aos carros e à customização tem como objetivo exercer atração nas mulheres, já que

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os entrevistados de seu estudo falam em “as mulheres ficam loucas” e “as mulheres tem uma

coisa com carros” para justificar o engajamento no processo de customização do automóvel.

As análises de Belk (2004) também mostram que a modificação do automóvel está

associada às modificações dos próprios homens pois, a cada novo acessório adicionado ao

carro, o que torna esses veículos mais atraentes visualmente, consequentemente, os seus

proprietários também se sentem mais atraentes aos olhos das mulheres. O forró canta esse jogo

de atração e sedução entre homens e mulheres a partir do “carrão” customizado. De um lado “a

mulherada quer”, “a mulherada gosta”, “a mulherada pira” e “pra ficar com elas tem que ter

carrão”. Por outro lado, os homens respondem com seus atraentes carros e acessórios que

parecem ser o “eu estendido” (BELK, 1988) do homem socialmente bem-sucedido.

Outros trechos de músicas falam de um “efeito transformador” reverso, caso o “carrão”

seja perdido em uma blitz, isto é, caso a lei seja cumprida. As situações festivas com o “carrão”

e com a “mulherada” podem sofrer um revés se o carro for apreendido em uma blitz que leva o

carro e também “leva a gata”.

Vacilou a blitz pegou/tava charlando com dinheiro da prestação

do carro/se ferrou, quando o carro passou/levou as gata de

carona/ elas disseram seu otário/ Vai a pé que eu vou de

carro/vai a pé que eu vou de carro/vai otário, vai a pé que eu vou

de carro (Vai a pé que eu vou de carro, Forró Pegado, 2012, grifo

nosso).

Posse do carro e papéis de gênero: “a novinha e o papai”

A análise de gênero é caracterizada por comparações que buscam distinguir e aproximar

diferentes gêneros nos discursos sociais (ARAÚJO, 2005). A relação de gênero cantada nas

músicas do forró destaca posições assimétricas e hierarquizadas entre as noções de masculino

e feminino. O homem cantado possui estereótipos patriarcais, de dominância e virilidade como

o “ricão”, o “patrocinador”, o “empresário”, o “pegador”, o “gostosão”, o “papai” e o “patrão”,

enquanto a mulher é retratada de maneira submissa e infantilizada como a “mina”, a “gatinha”,

a “novinha” e a “sapequinha”.

Essa concepção de dominação e superioridade masculina também pode ser identificada

em outros gêneros musicais brasileiros, como no pagode baiano (NASCIMENTO, 2008), no

sertanejo universitário (ALONSO, 2011) e no funk ostentação (ANTONACCI; MARCELINO,

2013), bem como em representações culturais internacionais (DUNNE, FREEMAN,

SHERLOCK, 2006). As letras do forró constroem significados socialmente positivos para os

homens que têm “carrão”. Ele tem “pinta de barão”, “marca presença”, ele é “empresário” e

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“patrocinador”, ele é quem “paga a conta” e que “tem moral”. Já a mulher aparece nas letras de

forró que cantam o carro como um gênero sem moral capaz de ser atraída facilmente pelo

carrão, como uma posse desejada em meio a outros produtos como “cordão de ouro” ou “relógio

importado”, ou mesmo um acessório “pra chamar muita atenção”.

“O cara que tem moral, tem carrão e é estourado/ Quem sou eu? O

empresário! [...] Eu marco presença, só elite no meu lado/De cordão de

ouro e de carro importado/Sou patrocinador, sou eu que pago a conta/

Mulher que anda comigo fica logo beba tonta [...]” (O empresário, Flávio

e Forró Pizada Quente, grifo nosso).

“[...] Ele só tomava uísque / tinha pinta de barão/ seu relógio era

importado e de ouro era o cordão só queria gata massa/ pra chamar

muita atenção/ o carrão ia lotado/ quase encostando no chão [...]”(Vou

a pé que eu vou de Carro, Forró Pegado, grifo nosso).

A representação do gênero feminino tem destaque reduzido nas músicas analisadas se

comparada ao gênero masculino. As mulheres, nesses textos, recebem atributos pejorativos

(NASCIMENTO, 2008), são inferiorizadas, e infantilizadas (ROCHA, 2001) e sensualizadas

(NASCIMENTO, 2008; ROCHA, 2001). Elas aparecem de forma recorrente no diminutivo

como “novinha”, “gatinha”, “sapequinha” e “piriguete”, gíria que parece reunir as três

caracterizações diminutivas. Essas representações da mulher analisadas na música constroem

uma posição hierárquica socialmente inferiorizada em relação ao uso do carro pelo homem e

simbolizada também pelo lugar que as mulheres ocupam ou não ocupam no carro cantado no

forró: elas não dirigem o carro, vão de carona ou na caçamba.

Nas 28 músicas selecionadas a partir do tema carro, apenas uma, que é cantada por uma

mulher, traz significados diferentes em relação ao papel da mulher nesse gênero musical. O

forró “Quem paga minha faculdade” canta sentimentos de libertação e independência da

mulher. Ao invés de acessórios de luxo e bebidas alcoólicas, a voz feminina fala de “limpar a

honra”, de “não ter preço”. O estigma de inferioridade em relação aos homens, ou a

representação de mulheres que enlouquecem por causa do carrão dá lugar a uma mulher que é

dona do carro, que estuda, tem autoconfiança e quer mostrar a sua liberdade, pelo fato de não

depender do homem, ou de poder ter o que quer: “não importa o que você tem, se eu quiser eu

posso ter também”.

“Eu tenho meu carro e a minha faculdade quem paga sou

eu/Então não pense porque tem dinheiro/ Meu amor vai ser

teu./Você fala que mulher só gosta de dinheiro/ Que sentimento

feminino não é verdadeiro/ Mas hoje eu vim aqui limpar nossa

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honra/Te provar que tem mulheres que você não compra/Não

importa o que você tem/Se eu quiser eu posso ter também/Eu

não tenho preço então não venha me comprar [...]” (Quem paga

minha faculdade, Aviões do forró).

Uma nova imagem da mulher? Certamente a sinalização de mudança, quando o

automóvel é reconhecidamente um demarcador do gênero masculino (BELK, 2004). Um sinal

de mudança e liberdade em meio a outras 28 músicas selecionadas que cantam uma mulher

objeto, subjugada à posse do carro.

Posse do Automóvel na Música: Uma proposta conceitual de significados e práticas

As músicas de forró analisadas trazem, em seus conteúdos, significados culturais e

sociais associados à posse do automóvel, como representado na Figura 1. A partir desses textos

culturais, a posse do carro aparece ligada às experiências hedônicas de consumo (“espaço de

entretenimento”), que promovem reconhecimento social (“ficar bonito”) e que são marcadoras

de hierarquia entre os gêneros e/ou um instrumento libertador de padrões sociais tradicionais

impostos às mulheres. Dessa forma, o esquema conceitual representado na Figura 1 mostra três

eixos principais de significados sobre a posse do carro encontrados nas letras de forró. Esses

eixos possuem fronteiras tênues e aparecem interseções, quando analisamos os diferentes textos

musicais. Essas fronteiras e interseções estão representadas pelos círculos em aberto dos três

eixos destacados, dada a interação entre eles. Além disso, os três eixos destacados fazem parte

de um mesmo processo de consumo. As narrativas musicais sugerem que a origem do

entretenimento, da transformação identitária e da hierarquia de gênero pode estar na

customização do carro ou, dito de outra maneira, pela busca de diferenciação do automóvel

cantado no forró. Mas esses três elementos de diferenciação podem ser vistos, também, como

a motivação para que esse carro seja customizado.

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Figura 1 - Significados da Posse do Automóvel na Música

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Com essa representação esquemática, trazemos novas lentes para compreender

significados do comportamento do consumidor de automóvel construídos em uma subcultura

brasileira e que podem ou não ter ressonância em outras regiões do país. Estudos recentes feitos

no Brasil sinalizam uma diversidade de novas questões associadas à posse do automóvel.

Mesmo quando predominam na promoção da categoria, por fabricantes e varejistas, associações

como status adquirido a partir da posse do bem, alguns consumidores trazem em suas falas, em

primeiro lugar, benefícios em relação à funcionalidade e à mobilidade proporcionada pelo

primeiro automóvel (RODRIGUES; CASOTTI, 2015). Outro exemplo diz respeito aos

problemas com endividamento e inadimplência das famílias a partir da compra do automóvel

que é pago em dezenas de parcelas, onde estão embutidos altos juros. Os sérios problemas

enfrentados parecem não abalar o imaginário de significados positivos construídos sobre a

posse do carro pelas famílias (FRANCA, 2013; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013). Também

identificamos um estudo que mostra como o processo de consumo do carro, desde sua compra

até o seu descarte, possibilita compreender relações familiares (SUAREZ; CASOTTI;

MATTOS, 2013).

Estes são alguns exemplos de estudos que buscaram compreender significados e práticas

da posse do automóvel no cotidiano de indivíduos e famílias. Significados trazidos pela análise

das letras de forró são construídos a partir desse cotidiano e ou podem estar influenciados por

outros textos culturais como, por exemplo, aqueles associados às estratégias de comunicação

de fabricantes e varejistas.

Podemos inferir, partindo da proposta esquemática da Figura 1, por exemplo, que o

carro como espaço de entretenimento, como transformador da identidade e representante de

hierarquias de gênero é customizado, é o “carrão” que não sai das fábricas ou concessionárias

“montado” “diferente”, adaptado ao seu dono que quer maior interação com a categoria, como

cantam as músicas analisadas sobre o automóvel.

Qual a contribuição desse esquema conceitual? Acredita-se que ele pode inspirar

pesquisas futuras que continuem analisando textos culturais de outros estilos de música ou

outros textos originados de outras mídias. Seriam esses significados e essas experiências com

o automóvel, cantadas no forró, vivenciadas no contexto real? Também apontamos, aqui, que

os estudos que buscam analisar significados e práticas dos consumidores de automóveis no

cotidiano da vida também podem se beneficiar desse esquema conceitual como inspiração ou

guia para a construção de roteiros ou questionários de pesquisa que tragam informações que

contribuam para diferentes empresas inseridas no setor automobilístico, ainda que as

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representações do carro trazidas pelo forró não estejam condizentes, por exemplo, com o que

seria considerado um bom comportamento ao dirigir (DaMATTA, 2012).

3.5 Considerações finais

O automóvel, como retratado nas letras do forró, assumiu conotações interessantes que,

até então, não haviam sido trazidas à luz de outras análises encontradas. Estudos anteriores com

textos culturais falaram de “movimento”, “fuga”, “velocidade”, “liberdade”, “conforto”,

“autonomia”, “mobilidade” e de associações fortes com o gênero masculino. A masculinidade

construída por muitas negações, por exemplo, homem não chora ou homem não usa a cor rosa,

tem na música, tipicamente nordestina, a posse do automóvel como uma afirmação da

masculinidade. O carrão é um espaço de entretenimento e festa típico do homem.

Esse carro do homem, no entanto, não vem pronto da fábrica. O “carrão” deve ser

customizado com uma série de acessórios. O “carrão” deve também estar acompanhado de

produtos complementares a exemplo das bebidas alcoólicas, produto politicamente incorreto, e

mulheres que aparecem nas letras de forró como objetos de consumo masculino. Esse “macho”

parece ter nesse carro customizado a sua identidade de gênero estendida, ou seja, para ter

mulherada tem que ter carrão com muitos acessórios e muita bebida para eles e para elas na

festa automotiva.

A mulher não é cantada com algum tipo de caracterização singela e delicada como as

mulheres cantadas na bossa nova brasileira ou de forma romântica, vista nos sucessos musicais

de Roberto Carlos com letras repletas de automóveis dirigidos em alta velocidade. Não existe

a mulher amada, pois as mulheres estão no plural: “mulherada”, “piriguetes”, “gostosas” que

“piram” com o carro do macho. Apenas uma exceção, cantada por uma mulher, descreve a

mulher independente e livre, que dirige o carro que ela mesma foi capaz de pagar, assim como

as parcelas da sua universidade. Um pequeno sinal de emancipação feminina em meio às 28

músicas selecionadas.

As letras de músicas trazem faces de um universo simbólico ainda não explorado em

pesquisas anteriores, que buscaram compreender significados sociais e culturais do automóvel.

A análise desses textos culturais estimula a busca de novos caminhos simbólicos a serem

percorridos dentro dos estudos de consumo. Os achados podem auxiliar as empresas que lidam

com a categoria de produto de forma mais ou menos direta.

Confrontar o posicionamento dos automóveis nas práticas de mercado versus o

posicionamento das músicas de forró parece ser uma direção interessante para reflexão. Outro

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interesse desses achados de pesquisa se destina às políticas públicas, cuja preocupação é

justamente o combate às duas práticas que aparecem como complementares nas letras das

músicas: dirigir e consumir bebidas alcoólicas, o que traz grandes prejuízos econômicos e

sociais. Como os jovens percebem as caras campanhas de educação, prevenção e repressão de

não beber quando se está dirigindo? De que forma os textos culturais, como a música, que

mostram o carro tão próximo da bebida, podem funcionar como neutralizadores ou como uma

força oposta às campanhas, ou mesmo ao cumprimento da Lei Seca?

Analisar aspectos relacionados à cultura de consumo pode desencadear questões

complexas como essas que fogem aos limites dessa pesquisa de textos culturais. Esse estudo

pretende ser apenas uma abordagem inicial capaz de abrir margens para estudos posteriores,

que intentem se aprofundar não só em elementos representativos da cultura de consumo, mas

em outros tipos de estudos e metodologias capazes de construir informações diversas e

integradas que contribuam para o entendimento dos caminhos da categoria automóveis. Será

importante conhecer, também, os diferentes elementos que compõem o mercado dessa categoria

de produto, tais como os consumidores e produtores envoltos em questões econômicas, legais

e as difíceis questões relativas ao meio ambiente. Um exemplo recente chama atenção. Duas

músicas de forró levaram a um grande aumento de vendas de motocicletas: o forró “pop 100”,

destacando o modelo 100 cilindradas da montadora japonesa Honda, e a música “Shineray”,

que traz, já no título, a marca chinesa de motocicleta, a qual, abertamente, se coloca como

produtora do forró. A força dos textos culturais da música sendo descoberta pelo mercado

produtor? Possibilidades se seguem de novos exercícios de pesquisa para compreender

movimentos de significados que partem de textos culturais que podem tanto incentivar quanto

desestimular o consumo de categorias ou marcas específicas de produtos.

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65

4 CAPÍTULO 4 – ESCALA DE VALORES HEDÔNICOS E UTILITÁRIOS NA

EXPERIÊNCIA DE CONSUMO DE AUTOMÓVEIS NA CLASSE MÉDIA

EMERGENTE

4.1 Introdução

O comportamento do consumidor, nos últimos 50 anos, tem sido um campo de

investigação repleto de complexidade, onde pesquisadores que se interessam pela temática têm

se debruçado em explorar os motivos que regem a prática do consumo de determinadas

categorias de produtos e serviços a fim de estabelecer estratégias que superem os desafios que

as empresas enfrentam na conquista do mercado e na satisfação dos consumidores (CASOTTI;

SUAREZ, 2016).

O consumo, de maneira rudimentar, é definido como um processo que envolve a ação

de procura, compra e uso de produtos e serviços (WILKIE, 1990). No entanto, a lógica de

pesquisa do comportamento do consumidor investiga as práticas do consumo por considerar

importante questionar o que as pessoas compram, porque compram, em que momento

compram, o local onde compram, a regularidade em que compram e em que usam o produto

(SCHIFFMAN; KANUF, 1994). Ademais, diante da oportunidade de compra, o consumidor se

envolve nesse processo por um longo período, procurando informações sobre o produto a fim

de obter sucesso em sua compra (CLARKE; BELK, 1978).

Esse envolvimento justifica-se com base nas necessidades e valores em relação ao

produto (VOSS, SPANGENBERG; GROHMANN, 2003; ZAICHKOWSKY, 1985) ou, ainda,

por atributos que incluam estética, atenção concentrada, percepção, usabilidade e durabilidade

(O’BRIEN, 2010), além de avaliar benefícios como prestígio e socialização que podem ser

estabelecidos por meio do produto (ARNOLD; REYNOLDS, 2003).

Em relação ao conceito de valor, Wagner (1999), argumenta que o valor do consumo

não está relacionado diretamente ao custo do produto, mas à relação da experiência que o

consumidor estabelece com ele. No estudo de Babin, Darden e Griffin (1994), esse valor no

consumo, corresponde a dois tipos: (1) valor utilitário, voltado à funcionalidade prática do

produto, caracterizado por uma busca consciente e intencional; e (2) valor hedônico, que resulta

na busca de um produto gratificante correspondente a uma recompensa.

Diante disso, estudos como, de Tauber (1972), Holbrook e Hirschman (1982), Batra e

Ahtola (1990), Sherry (1990) e Lofman (1992), descrevem que o consumidor, além de ser

motivado por valores simbólicos, ainda vivencia experiências que correspondem a esses

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valores. Elas podem se dividir em dois tipos: uma hedônica e outra utilitária. Assim, na

experiência hedônica, o consumo torna-se uma aventura agradável repleta de significados,

enquanto a experiência utilitária assemelha-se a uma missão em busca do produto por sua

funcionalidade.

Na tentativa de medir as experiências de consumo, Batra e Ahtola (1990) foram

pioneiros na utilização de uma escala capaz de medir, quantitativamente, as dimensões

hedônicas e utilitárias vivenciadas por consumidores. A partir desses pesquisadores, outros

estudos foram inspirados nessa concepção, são exemplos: Babin, Darden e Griffin (1994) que

descreveram o desenvolvimento de uma escala de medição dos valores hedônicos e utilitários

obtidos a partir da experiência de consumo generalizado de produtos e serviços; Voss,

Spangenberg e Grohmann (2003) que mediram as dimensões hedônicas e utilitárias das atitudes

dos consumidores em relação às categorias de diferentes produtos e marcas; e O’Brien (2010)

que explorou motivações hedônicas e utilitárias no contexto do envolvimento do usuário com

as compras online.

No estudo de Voss, Spangenberg e Grohmann (2003), os autores ainda identificaram

que algumas categorias de produtos como, calças jeans, sapatos esportivos e automóveis, são

mais propensos à mensuração quantitativa de experiências utilitárias e hedônicas, por

oferecerem conteúdos ricos em suas representações sociais e culturais.

No que diz respeito à representação do automóvel, o estudo de Babin, Darden e Griffin

(1994) propôs como sugestão para estudos futuros o desenvolvimento de uma escala para

automóveis, destacando essa categoria de produto por sua forte atribuição hedônica e utilitária.

Mediante a isso, esta pesquisa tenciona como objeto de estudo esse bem por ele ser um produto

carregado de significados simbólicos que podem ser internalizados, despertando emoções e

engajamento financeiro (LUCE, 1998; DESMET; HEKKERT; JACOBS, 2000;

HIRSCHMAN, 2003; BELK, 2004; DALLI; GISTRI, 2006; SUAREZ, CASOTTI, MATTOS,

2013).

O automóvel atingiu um caráter que ultrapassa seus aspectos utilitários (FORD, 2007),

por exercer uma forte demarcação sociocultural. A sua posse transformou-se em uma conquista

de poder associada a valores simbólicos (BELK; GER; ASKEGAARD, 2003; HIRSCHMAN,

2003; BELK, 2004; SUAREZ; CASOTTI; CHAUVEL, 2012; SUAREZ; CASOTTI;

CAMPOS, 2013; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013). Os dados do setor automobilístico

brasileiro podem descrever esse fenômeno (consumo) por meio do crescente número de

aquisição de automóveis, atingindo mais 45,4 milhões de veículos nos últimos anos

(FENABRAVE, 2014).

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Nesse contexto de consumo, o grupo de consumidores da classe média emergente, até

então desvalorizado, passou a participar significativamente no mercado consumindo produtos

de categorias distintas, inclusive o automóvel (RODRIGUES; CASOTTI, 2015). Essa

população, na última década, assumiu uma posição elevada no poder de consumo. Esse

fenômeno pode justificar-se, em parte, com a facilidade de crédito oferecido a essa população

(NERI, 2008; 2010; PEREZ; BAIRON, 2012; HEMAIS; CASOTTI; ROCHA, 2013).

A partir do que foi discutido, surge o seguinte questionamento: como adaptar escalas

que possam medir o valor utilitário e hedônico da experiência de compra de automóveis por

consumidores da classe média emergente? Assim, este estudo propõe como objetivo realizar

uma adaptação de escalas que pudessem medir o valor utilitário e hedônico da experiência de

compra de automóveis por consumidores da classe média emergente. Para isso, buscou-se

superar dois desafios específicos inspirados na: (1) adaptação de uma escala de medição para

as dimensões hedônica e utilitária (BATRA; AHTOLA, 1990); e na (2) adaptação de uma escala

abrangente a fim de medir a experiência de consumidores da classe média emergente na compra

do automóvel (BABIN; DARDEN; GRIFFIN, 1994).

Esse estudo realça sua relevância propondo, como contribuição teórica, uma

investigação sobre valor no consumo do automóvel associado à mensuração da experiência

hedônica e utilitária a partir de influências socioculturais regionais, distinguindo de outros

estudos mais interessados em medir, apenas, as dimensões presentes no consumo de categorias

distintas de produtos, além de terem o foco na medição de atitudes (BATRA; AHTOLA, 1990;

BABIN; DARDEN; GRIFFIN, 1994).

Nesse sentido, para atingir o objetivo do estudo, esta pesquisa vai seguir um percurso

metodológico baseado numa abordagem quantitativa, com natureza aplicada, objetivos

descritivos e uma survey como procedimentos. Foram aplicados questionários com

consumidores de automóveis da classe média emergente da cidade de Teresina e,

posteriormente, realizada uma análise fatorial por meio da fatoração dos componentes

principais e rotação pelo método oblíquo direto.

Portanto, esse estudo segue a seguinte estrutura iniciada por essa introdução que explora

de forma geral a reflexão realizada sobre a temática e suas implicações. Na sequência o

referencial teórico está dividido em três sessões: a) Hedonismo e Escalas de Hedonismo; b)

Utilitarismo e Escalas de Utilitarismo e; c) Escalas de Hedonismo e Utilitarismo. Enquanto no

método está descrito o caminho metodológico percorrido para a realização dessa pesquisa. Nos

resultados e discussão são apresentadas as características da amostra, as correlações, a matriz

anti-imagem, os testes de Kayse-Meyer-Olkin e Bartlett, a análise fatorial e o alfa de Cronbach.

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68

E finalmente nas conclusões, estão incluídas a contribuições gerenciais, acadêmicas, sociais,

limitações da pesquisa e sugestões para futuros estudos.

4.2 Revisão de Literatura

Hedonismo e Escalas de Hedonismo

O estudo de Rodrigues (2015) destaca o automóvel como um espaço de entretenimento,

capaz de promover diferentes tipos de transformação ou libertação a partir da sua posse. Os

resultados dessa pesquisa tiveram origem a partir da análise de 28 músicas do gênero forró que

expressavam, em suas letras, significados simbólicos associados ao automóvel, revelando ainda

o consumo dessa categoria de produto como uma experiência de significativo valor hedônico.

Nesse contexto, considerando o consumo como uma prática que desperta nas pessoas

um forte engajamento financeiro e emocional, torna-se possível afirmar que também é capaz de

produzir valores relacionados ao significado que o produto representa para o consumidor

(FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013). Assim, esses valores despertam experiências de

consumo singulares que podem internalizar o consumo como uma prática simbólica, fugindo à

lógica racional da compra em que o único objetivo é a busca da funcionalidade prática do

produto (WAGNER, 1999).

Entendendo a ação de compra como uma prática que produz valores, Babin, Darden e

Griffin (1994) descrevem o consumo como um processo de produção de valores. Entre esses

valores, os autores destacam o valor hedônico, caracterizado por uma criação de significados

associados a sentimentos de aventura e gratificação.

A partir dessa perspectiva, o consumidor envolve-se no consumo na procura de

experiências associadas ao prazer, diversão, fantasia e estimulação sensorial (HOLBROOK;

HIRSCHMAN, 1982). O consumo de valor hedônico, nessa visão, torna-se um momento de

descontração e relaxamento, levando as pessoas a sentirem diversas sensações agradáveis.

Portanto, ele relaciona-se, ainda, à estimulação de duas dimensões: do prazer e da excitação

(DONOVAN; ROSSITER, 1982). A primeira diz respeito à satisfação do consumidor ao

adquirir o produto desejado. Enquanto a segunda dimensão corresponde à estimulação do

consumidor no momento da compra.

Assim, esse processo (consumo) oferece benefícios que não se direcionam somente à

funcionalidade prática do produto, mas à representação subjetiva que é interpretada pelo

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consumidor (JONES; REYNOLDS; ARNOLD, 2006). Dessa forma, a experiência de compra

torna-se mais significativa do que a posse em si do produto (SHERRY, 1990).

A partir dessa discussão, entre os principais estudos sobre consumo hedônico, destacam-

se autores como Hirschman e Holbrook (1982a) que identificaram esse tipo de consumo como

extensão importante e complementar da pesquisa tradicional do consumidor, compreendendo

alguns fenômenos do consumo até então ignorados. Hirchman e Holbrook (1982b) defenderam,

ainda, uma visão ampliada dessa prática de consumo, considerando o comportamento do

consumidor como resultado de uma complexa e multifacetada interação entre o organismo

(consumidor) e o ambiente (local físico da compra) que não devem ser ignoradas. No ano

seguinte, Hirschman (1983) identifica comportamentos hedônicos no consumo e os divide em

quatro tipos (projeção do problema, projeção do papel, fantasia da compra e escape). Para

Venkatraman e MacInnis (1985), os consumidores hedônicos envolvem-se na compra,

valorizando os atributos sensoriais de determinados produtos e buscam informações

essencialmente sensoriais e hedônicas sobre o produto.

O estudo de Lofman (1991) conclui que o consumo hedônico, também denominado

experimental, é composto por seis elementos: criação, sensação, pensamento, sentimento,

atividade e avaliação. Enquanto Babin, Darden e Griffin (1994) consideram que a junção do

valor hedônico e utilitário origina uma experiência de compra completa. Para Wakefield e

Barnes (1996), o ambiente hedonista leva os consumidores a não direcionarem sua atenção ao

valor monetário do produto, mas à diversão que o consumo pode proporcionar.

Para Dhar e WertenBroch (2000), os consumidores estabelecem relações simbólicas

com os produtos adquiridos. No entanto, essas relações são mais fortes nos bens hedônicos do

que nos bens utilizados. Por isso, Arnold e Jones (2003) apontam que a motivação hedônica

depende do envolvimento do consumidor com o produto e da situação específica da compra. A

partir disso, Okada (2005) propõe que os consumidores estão mais inclinados a consumir um

produto hedônico ao invés de um produto utilitário.

A partir dessa discussão, percebe-se que o consumo tem um significado além da simples

satisfação das necessidades básicas. As preocupações de status, o grupo de referência, o prazer

de consumir, o básico doméstico e a expectativa de escapar à marginalização social são aspectos

do consumo que podem predizer significativamente a felicidade das pessoas (GUILLEN-

ROYO; 2008).

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70

Utilitarismo e Escalas de Utilitarismo

A busca por um produto caracterizava-se por sua necessidade até a década de 70, assim,

o consumidor era considerado um “pensador” que adquiria bens e serviços apenas para fins

utilitários (VENKATRAMM; MACINNIS, 1985; FIORE; KIM, 2007). Dentro dessa

perspectiva, a experiência de compra levava o consumidor à compra de produtos específicos de

forma rápida e sem distrações (WOLFINBARGER; GILLY, 2001).

Para Rodrigues e Casotti (2015), consumidores de automóvel iniciam suas experiências

de compra a partir de significados e práticas associados a aspectos utilitários. Diante disso, os

resultados desse estudo caracterizam o carro como uma representação de liberdade, conforto e

conquista associada à mobilidade urbana.

Dessa forma, a reflexão sobre o conceito tradicional do consumo recai sobre o uso do

produto como um bem capaz de oferecer benefícios utilitários, onde sua função principal é

tornar a vida das pessoas mais prática a partir de suas necessidades (ATHOLA, 1985). Diante

disso, as escolhas dos consumidores tendem a orientar-se ao consumo utilitarista por

considerarem mais significativa e recompensadora a preferência pelos bens utilitários (DHAR;

WERTENBROCK, 2000).

O estudo de Okada (2005), ainda destaca que a escolha pelo consumo utilitário se torna

mais fácil de justificar a partir de duas variáveis, o tempo e dinheiro. Onde o primeiro diz

respeito ao contexto que influencia na compra e o segundo ao engajamento financeiro do

consumidor e a certeza que seu investimento vai corresponder ao fim necessário da utilização

do produto.

No consumo utilitário, os consumidores percebem o processo de compra como uma

tarefa ou atividade que se assemelha a um trabalho. Dessa forma, eles avaliam a experiência de

compra a partir do tempo que gastam para encontrar o produto desejado, porém se o objetivo

não for alcançado, resultando em um período prolongado, consideram o consumo como algo

improdutivo (SHERRY et al., 1993).

Entre as principais pesquisas sobre consumo utilitário, destacam-se autores como,

Athola (1985) que discute aspectos hedônicos e utilitários na atitude do consumidor em relação

ao produto. Outros autores como, Venkatraman e MacInnis (1985) defendem que os

consumidores utilitários valorizam a praticidade e funcionalidade do produto.

Nesse contexto, Babin, Darden e Griffin (1994) destacam que o valor utilitário está

relacionado às experiências de compra em relação à capacidade (ou incapacidade) de completar

uma atividade de compra. Enquanto no estudo de Dhar e WertenBroch (2000) conclui que, nas

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escolhas dos produtos, prefere-se bens utilitários ao invés de produtos hedônicos. Nesse sentido,

Okada (2005), no que diz respeito à necessidade de justificar a preferência de um produto em

relação a outro, o bem utilitário enquadra-se de forma satisfatória a categoria racional do

consumo.

Escalas de Hedonismo e Utilitarismo

A atitude dos consumidores em relação à compra de categorias de produtos alcança uma

experiência bidimensional. Dessa forma, as dimensões hedônicas e utilitárias de atitudes gerais

dos consumidores ocorrem por duas razões básicas: a primeira, afetiva consumatória

(hedônica), relacionada à gratificação (de atributos sensoriais); e a segunda instrumental, por

razões utilitárias (BATRA; AHTOLA, 1990)

A partir dessa reflexão, o estudo de Babin, Darden e Griffin (1994) discute o consumo

utilitário e hedônico em viagens de compras que podem ser um “sucesso”, atingindo sua

finalidade na descoberta do produto desejado, ou, ainda, como uma “viagem sem sucesso”, que

corresponde ao fracasso. O artigo desses autores, descreve o desenvolvimento de uma escala

que mede valores hedônicos e utilitários obtidos a partir da experiência de consumo

generalizado de compras. Dessa forma, o grande desafio desse trabalho foi o desenvolvimento

de uma escala abrangente.

Uma visão geral do valor reconhecido nos achados do trabalho desses autores foram:

um resultado utilitarista resultante de algum tipo de busca consciente de uma consequência

intencional e um resultado mais relacionado com respostas espontâneas hedônicas captadas em

uma dualidade básica de recompensas para o comportamento humano. Assim, o valor utilitário

caracteriza-se como uma missão e/ou trabalho, enquanto o valor hedônico como uma aventura

e/ou gratificação. Diante disso, essas duas dimensões relacionam-se de forma dimensional, ou

seja, o valor utilitário está presente na aquisição do produto que é completado com facilidade e

o valor hedônico associado ao negócio (BABIN; DARDEN; GRIFFIN, 1994).

Outro estudo que se propõe a medir dimensões hedônicas e utilitárias no consumo é o

de Voss, Spangenberg e Grohmann (2003). Os autores utilizam uma escala de diferencial

semântico com 10 itens (5 itens da dimensão hedônica e 5 itens da dimensão utilitária) para

mensurar as atitudes dos consumidores em relação à categoria de variados produtos e marcas.

No processo de escolha do produto, o consumidor toma sua decisão de compra entre um

bem hedônico e um bem utilitário (DHAR; WERTENBROCK, 2000). Diante disso, a

influência na escolha por um consumo hedônico e/ou utilitário varia de acordo com o contexto

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da situação de compra. Portanto, é necessário ao consumidor poder justificar com facilidade a

compra de um produto por seus fins utilitários, associando-os a sua experiência hedônica

(OKADA, 2005).

Outra pesquisa que explorou motivações hedônicos e utilitárias no contexto do

envolvimento do usuário com as compras online foi o trabalho de O’Brien (2010). Esse estudo

ocorreu a partir da aplicação de uma escala de motivação das compras, seguida do procedimento

de regressão linear múltipla que foi utilizada para testar hipóteses com relação às motivações

hedônicas e utilitárias (ideal, social, aventura/gratificação, valor e do cumprimento de compras)

e atributos de envolvimento do usuário (estética, atenção concentrada, percepção, usabilidade

e durabilidade).

4.3 Método

Para que a pesquisa pudesse ser realizada, utilizou-se: a) uma abordagem quantitativa

por envolver dados numéricos e estatísticos; b) natureza aplicada por se caracterizar como uma

pesquisa que possui aplicação prática ao campo de conhecimento em discussão, no caso,

consumo; c) com objetivos descritivos em que se buscou descrever o consumo utilitário e

hedônico de automóveis; d) como procedimento uma survey, que é utilizado quando se tem

uma pesquisa quantitativa com uma amostra representativa da população e que se utiliza um

questionário estruturado; e e) um estudo transversal, em que os dados foram coletados em um

único período de tempo, ou seja, é como se fosse uma fotografia daquele momento (BURRELL;

MORGAN, 1979; CALDER; TYBOUT, 1987; REED; BABBIE, 1973; ROCHA; ROCHA,

2007).

Assim, o método da pesquisa seguiu o modelo de etapas proposto por autores

especialistas em desenvolvimento e adaptação de escalas (CHURCHILL Jr.; DeVELLIS, 1991;

SPECTOR, 1992). O Quadro 1 apresenta detalhadamente o passo a passo que este estudo

utilizou para a adaptação das escalas estudadas e a nova proposição.

Quadro 1 – Etapas do processo de adaptação de escalas

Etapa Detalhamento

1. Mapeamento do domínio

conceitual do construto

Identificação das definições e conceituações do construto

Identificação das abordagens de mensuração

Identificação das dimensões básicas do construto

Aprofundamento da literatura para identificar as variáveis

dentro de cada dimensão

Modelo conceitual do estudo

Especificação do nível de análise

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2. Identificação, seleção e

adequação dos instrumentos de

medida

Seleção dos instrumentos identificados na literatura para

medição do construto

Procedimentos de tradução e retradução dos instrumentos

Determinação das características da escala de medida

Escolha dos países

Pré-teste dos instrumentos

3. Avaliação da validade de

conteúdo e de face Consulta a especialistas

4. Testes empíricos

Definição do método de levantamento de dados

Determinação de população e amostra

Procedimentos de coleta de dados

5. Purificação das medidas

Análise de correlações

Análise fatorial exploratória

Análise fatorial confirmatória

6. Comparação dos resultados

obtidos pelos vários instrumentos

Teste de hipóteses

Outras análises

7. Sugestão de adaptação de escala

de mensuração

Apresentação da escala final adaptada

Testes futuros recomendados

O local escolhido para a realização da pesquisa foi a cidade de Teresina, capital do

estado do Piauí, localizado na região Nordeste do Brasil. A escolha da cidade se justifica por

ela ser a capital do estado que ocupa a segunda colocação com o pior IDH (Índice de

Desenvolvimento Urbano) do país (IBGE, 2016). Como um dos principais componentes para a

formação do IDH é a renda e esta pesquisa recai sobre pessoas da classe média emergente, isto

é, com um nível de renda mais próximo da base da pirâmide, o local possui o contexto social e

econômico propício ao tipo de população em que se buscou estudar.

Para a definição da população da pesquisa, buscou-se junto ao último censo realizado

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi o do ano de 2010, o

contingente populacional da cidade de Teresina-PI, que corresponde a 814.230 habitantes.

Desse total, que possuem faixa etária superior a 18 anos, idade em que a partir dela a legislação

brasileira permite que o indivíduo possa dirigir, são 548.413 pessoas e, desse contingente,

apenas 151.523 possuem renda bruta familiar entre R$ 1.277,00 e R$ 3.117,99 (IBGE, 2010),

ou seja, indivíduos pertencentes à classe média emergente que são pessoas que estão, de acordo

com a estratificação social da CCEB (2014), incluídos nas classes C1 e C2 da sociedade

brasileira.

Rodrigues e Casotti (2015) chamam a atenção para a importância da utilização desse

Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) porque ele leva em consideração aspectos

sociais e não apenas econômicos, além de ser utilizado com frequência por diversos estudos de

consumo (BARROS, 2006; CHAUVEL; MATTOS, 2007; BACHA; STREHLAU; SCHAUN,

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2011; NOGAMI; PACAGNAN, 2011; NOGAMI; VIEIRA; MEDEIROS, 2012; PEREZ;

BAIRON,2013; GOLVÊA; ALVES; MANTOVANI, 2013).

Assim, para o cálculo da amostra, diante dessa população de 151.523 habitantes da

cidade de Teresina com mais de 18 anos e dentro da faixa de renda supracitada, foi utilizado

um nível de confiança de 95% e um erro amostral de 2%, assim, a amostra necessária foi de n

= 2364 indivíduos, a partir de uma amostragem probabilística estratificada e que foram

utilizados esses estratos de idade e renda.

Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário estruturado com o intuito de

desenvolver uma escala de hedonismo e utilitarismo no consumo de automóveis. Para isso, o

primeiro passo foi realizar uma revisão de literatura, buscando pesquisas que utilizam escalas

de hedonismo e utilitarismo e que possuem objetivos de análises similares a esta pesquisa.

Chegou-se, então, aos estudos de Babin, Darden e Griffin (1994), O'Brien (2010), Batra e

Ahtola (1990) e Voss, Spangenberg e Grohmann (2003), contudo, após a construção de um

quadro comparativo entre as quatro escalas, os dois últimos foram excluídos da composição

dos itens da escala por analisarem as atitudes em relação ao consumo, enquanto os dois

primeiros tiveram itens de suas escalas incorporados a este estudo por não abordarem atitudes,

mas a experiência relacionada ao consumo, que também é o que esta pesquisa busca.

Além disso, essas duas escalas também foram utilizadas como referências para outras

pesquisas que buscaram construir escalas de hedonismo e utilitarismo (GERTNER; DIAZ,

1999; ROSA, 2012). Ainda, para a composição dos itens da escala, foram adicionados os

achados de duas pesquisas qualitativas exploratórias realizadas anteriormente a esta

(RODRIGUES, 2015; RODRIGUES; CASOTTI, 2015).

Para a composição dos 42 itens presentes no questionário, conforme a Tabela 1 abaixo,

foram utilizados os 15 itens da escala de Babin, Darden e Griffin (1994) e quando eliminados

os itens da escala de O'Brien (2010), que eram similares ao estudo anterior, ainda foram

acrescentados 9 itens deste último. Os demais 18 itens presentes na escala, emergiram a partir

dos achados presentes nas falas dos entrevistados das duas pesquisas qualitativas exploratórias

anteriores a esta pesquisa quantitativa.

A etapa seguinte envolveu o processo de tradução e retradução das escalas (DeVELLIS,

1991; SPECTOR, 1992) em que os itens das duas escalas citadas acima foram traduzidos e,

posteriormente, retraduzidos por duas pessoas especializadas em tradução de textos científicos,

cinco pesquisadores da área de consumo e um pesquisador da área de métodos quantitativos.

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Quadro 2 - Composição dos itens da escala a partir das quatro referências teóricas utilizadas

V Itens da escala Itens da escala em inglês

Babin,

Darden e

Griffin

(1994)

O'Brien

(2010)

Rodrigues

e Casotti

(2015)

Rodrigues

(2015) U/H

V1 A compra desse carro foi

realmente prazerosa.

This shopping trip was

truly a joy. X X H

V2

Eu comprei esse carro não

porque eu tinha que comprá-lo,

mas porque eu queria comprá-lo.

I continued to shop, not

because I had to, but

because I wanted to. X H

V3 Para mim, a compra desse carro

significou uma fuga.

This shopping trip felt like

an escape. X H

V4

Comparando às outras coisas

que eu poderia ter feito, o tempo

gasto na compra desse carro foi

verdadeiramente agradável.

Compared to other things I

could have done, the time

spent shopping was truly

enjoyable. X H

V5 Eu fico entusiasmado com o

lançamento de novos carros.

I enjoyed being immersed

in exciting new products. X X H

V6

Eu gostei dessa experiência de

compra de carro em si,

independente do carro que foi

comprado.

I enjoyed this shopping trip

for its own sake, not just

for the items I may have

purchased. X X H

V7

Eu me diverti na compra desse

carro pois fui capaz de comprá-

lo por impulso.

I had a good time because I

was able to act on the

“spur of the moment”. X H

V8 Durante a compra desse carro,

eu senti o prazer da procura.

During the trip, I felt the

excitement of the hunt. X X H

V9

Durante a compra desse carro, eu

pude esquecer os meus

problemas.

While shopping, I was able

to forget my problems. X H

V10 A compra desse carro me faz

sentir uma sensação de aventura.

While shopping, I felt a

sense of adventure. X X H

V11 A compra desse carro não foi

uma pausa agradável.

This shopping trip was not

a very nice time out. X H

V12 Eu realizei exatamente o que eu

queria com a compra desse carro.

I accomplished just what I

wanted to on this shopping

trip. X X U

V13 Eu não pude comprar o carro que

eu realmente precisava.

I couldn’t buy what I really

needed. X U

V14

Enquanto eu estava comprando o

carro, encontrei exatamente o

que estava procurando.

While shopping, I found

just the item(s) I was

looking for. X X U

V15

Eu fiquei desapontado, pois tive

que ir a outra loja para achar

exatamente o carro que eu

procurava.

I was disappointed because

I had to go to another

store(s) to complete my

shopping. X X U

V16 Para mim, a compra desse carro

foi uma forma de aliviar o stress.

To me, shopping is a way

to relieve stress. X H

V17

Eu comprei esse carro porque

queria me dar um presente

especial.

I go shopping when I want

to treat myself to

something special. X H

V18 Eu comprei esse carro para estar

em dia com as tendências.

I go shopping to keep up

with trends. X H

V19 Eu comprei esse carro pensando

em meus amigos e familiares.

I enjoy shopping for my

friends and family. X H

V20 Gostei de socializar quando

comprei esse carro.

I enjoy socializing with

others when I shop. X H

V21

Eu gostei de procurar boas

barganhas quando comprei esse

carro.

I enjoy hunting for

bargains when I shop. X U

Continua...

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76

Fonte: Elaboração própria.

*U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo.

V: Variável.

continuação.

Quadro 2 - Composição dos itens da escala a partir das quatro referências teóricas utilizadas

V Itens da escala Itens da escala em inglês

Babin,

Darden e

Griffin

(1994)

O'Brien

(2010)

Rodrigues

e Casotti

(2015)

Rodrigues

(2015) U/H

V22 Eu gostei de procurar descontos

quando comprei esse carro.

I enjoy looking for

discounts when I shop. X U

V23 Eu gostei de me sentir inteligente

quando comprei esse carro.

I like to feel smart about

my shopping trip. X U

V24

Eu me senti bem quando percebi

que a compra desse carro foi

bem sucedida.

It feels good to know that

my shopping trip was

successful. X U

V25 Eu comprei esse carro por

necessidade. I bought this car for need. X U V26

Eu comprei esse carro por status. I bought this car for status. X H

V27

Eu comprei esse carro porque eu

moro muito longe do meu

trabalho ou da minha faculdade.

I bought this car because I

live far from my work or

my college. X U

V28

Eu comprei esse carro porque eu

não posso esperar tanto tempo

pelo ônibus.

I bought this car because I

can not wait that long for

the bus. X U

V29 Eu comprei esse carro porque

pensava em mobilidade.

I bought this car because I

was thinking about

mobility. X U

V30 Eu comprei esse carro porque

pensava em conforto.

I bought this car because I

thought in comfort. X H

V31 Eu comprei esse carro porque me

dá agilidade.

I bought this car because it

gives me agility. X U

V32 Eu comprei esse carro porque eu

precisava dele.

I bought this car because I

needed it. X U

V33

Eu pesquisei o custo de

manutenção antes de comprar

esse carro.

I researched the cost of

maintenance before buying

this car. X U

V34

Quando eu comprei esse carro,

não me preocupei com os

acessórios.

When I bought this car, I

do not worry about the

accessories. X U V35

Esse carro é uma festa. This car is a party. X H

V36 Esse carro é um espaço de

entretenimento.

This car is an

entertainment space. X H

V37

Depois que comprei esse carro,

eu me sinto uma pessoa mais

bonita.

After I bought this car, I

feel more beautiful person. X H

V38 Com esse carro, eu tenho mais

amigos pra curtir.

With this car, I have more

friends to enjoy. X H

V39

Depois da compra desse carro,

eu passei a ser uma pessoa mais

feliz.

After buying this car, I

started to be a happier

person. X H

V40

Os(As) homens/mulheres

passaram a gostar mais de mim

depois do meu carro.

Men / women began to like

me after my car. X H

V41 Eu me preocupei em equipar

esse carro com vários acessórios.

I worried in equipping a

car with several

accessories. X H

V42 Eu me preocupei em equipar

esse carro com um som.

I worried in equipping a

car with a sound. X H

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77

Em seguida, os 42 itens do questionário foram organizados de forma aleatória em cinco

diferentes versões do instrumento de dados. A posição das perguntas em sequências diferentes

foi realizada para que as respostas dadas em um item não influenciassem os outros itens

seguintes. Os itens foram apresentados aos respondentes em formato de frases afirmativas. O

respondente deveria indicar o seu grau de concordância com as afirmações, em relação a última

compra de um automóvel, numa escala de 1 até 7, onde 1 representava discordo fortemente e 7

representava concordo fortemente. Além das perguntas da escala, foram acrescentados ao

questionário: a) um texto introdutório explicativo sobre o mesmo; b) três filtros de exclusão

iniciais que era o fato de ter carro, de se encaixar na faixa de renda da pesquisa e do carro ter

sido comprado e ser utilizado pelo respondente do questionário; e c) perguntas demográficas

como idade, gênero e escolaridade, além de quantos carros o respondente possui.

Foi realizado pré-teste do instrumento de coleta com 30 pessoas visando identificar

possíveis necessidades de ajustes aos itens da escala. Durante a aplicação, percebeu-se que os

respondentes não compreenderam bem o item 3 "Para mim, a compra desse carro significou

uma fuga", questionando o que seria "fuga". Assim, o item 3 foi alterado para "A compra desse

carro significou uma distração para mim", seguindo a mesma frase utilizada no estudo de Rosa

(2012). Além disso, o item 11 "A compra desse carro não foi uma pausa agradável" também

teve problemas de entendimento pelos respondentes por não compreenderem o que seria essa

"pausa". Com isso, o item 11 foi alterado para "A compra desse carro não foi uma forma

agradável de passar o tempo" se aproximando das frases utilizadas por Gertner e Diaz (1999) e

Rosa (2012). Todos os ajustes sugeridos no pré-teste foram incorporados ao instrumento de

coleta, uma versão desse questionário está disponibilizada no Apêndice 1.

A coleta de dados foi realizada durante os meses de outubro e novembro de 2016 e

foram aplicados 2364 questionários. Para isso, foram recrutados 432 estudantes de graduação

de 11 diferentes turmas, no entanto, apenas 257 alunos conseguiram participar, de fato, da coleta

de dados. Cada um dos estudantes recebeu um treinamento de aproximadamente 2 horas de

duração. O treinamento foi realizado pelo pesquisador e teve como objetivos apresentar o

questionário a ser aplicada, a forma adequada de abordar os respondentes e como realizar o

preenchimento do instrumento de coleta. Esses alunos foram divididos em grupos de 4 pessoas

de turmas diferentes em que cada questionário aplicado necessitava da presença de todos os

membros do grupo para evitar a possibilidade de preenchimento de questionários que não

fossem reais. Eles percorreram shopping centers, feiras comerciais, supermercados,

concessionárias de carros e outros estabelecimentos voltados, principalmente, para clientes da

classe média emergente. Foram coletados ao todo 2739 questionários, dos quais 2368 foram

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considerados válidos por estarem corretamente e plenamente preenchidos e 371 considerados

inválidos por não terem sido completamente preenchidos ou apresentarem dados inconsistentes

ao filtro da pesquisa. Após a coleta, os dados foram tabulados por meio do programa Google

Docs®.

Posteriormente, a análise exploratória dos dados foi realizada através da Análise Fatorial

Exploratória, por meio do software IBM SPSS® (Statistical Package for Social Sciences)

versão 20. Para análise das escalas foi utilizada a Análise Fatorial Confirmatória, por meio do

software IBM Amos®, versão 20.

A análise fatorial exploratória é uma técnica exploratória usada para identificar a

estrutura subjacente em um conjunto de variáveis (HAIR et al., 2009). A análise fatorial foi

utilizada para analisar a dimensionalidade dos construtos presentes no estudo. O método de

extração utilizado foi a fatoração dos eixos principais (principal axis factoring) em que a

estimativa dos fatores é feita com base na variância comum, sendo a forma adequada quando o

intuito é identificar as dimensões subjacentes e quando a variância comum é o interesse dos

resultados. A rotação foi realizada pelo método oblíquo direto (direct oblimin method) já que

ele é a melhor opção quando as variáveis investigadas apresentam, teoricamente, algum grau

de relação entre elas (HAIR et al., 2009; MALHOTRA, 2012).

Para analisar a adequação da análise fatorial realizada, foi utilizado o teste de Kaiser-

Meyer-Olkin (KMO). Segundo Hair et al. (2009), para a análise ser considerada aceitável, o

teste deve apresentar estatística superior a 0,5. Por fim, foi realizada a análise de confiabilidade

das escalas por meio do alfa de Cronbach (α). Esta estatística mede a correlação entre as

variáveis do questionário por meio da variância tanto dos itens individuais como da soma deles,

em que nesse caso deve ficar acima de 0,7 (HAIR et al., 2009; MALHOTRA, 2012).

A análise fatorial confirmatória é a técnica estatística usada para avaliar o grau de

aderência um grupo de variáveis medidas representa os construtos de um modelo estabelecido

pela teoria (HAIR et. al., 2009). Na análise do ajuste dos modelos foram utilizados como teste:

o valor do Qui-quadrado (X2), graus de liberdade (gl), a significância do modelo (p-value), os

índices NFI (Normed Fit Index), IFI (Incremental Fit Index), TFI (Tuker-Lewis Index) e CFI

(Comparative Fit Index) e o RMSEA (Root Mean Square Error of Aproximation) (BENTLER,

1990; BOOMSMA, 2000; BYRNE, 2001; MACCALLUM; ROZNOWSKI; NECOWITZ,

1992; MCDONALD; HO, 2002; ULLMAN, 2001).

Tanto a análise fatorial exploratória, quanto a análise fatorial confirmatória, foram

analisadas para as escalas de: Babin, Darden e Griffin (1994), O'Brien (2010) e para escala

chamada nesse estudo de geral. A escala geral nada mais é do que um composto das escalas de

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Babin, Darden e Griffin (1994) e O'Brien (2010), acrescentando os itens encontrados nos

estudos qualitativos de Rodrigues (2015) e Rodrigues e Casotti (2015). Vale ressaltar que estas

duas últimas pesquisas não produziram escalas próprias.

4.4 Resultados e Discussão

Características da amostra

A Tabela 3 expressa as características da amostra quanto à quantidade de carros que os

indivíduos possuem, o tipo de carro (se é novo ou usado), quanto ao sexo das pessoas, a faixa

etária desses indivíduos e o seu respectivo nível de escolaridade.

Tabela 3 - Características da amostra

Quantidade de carros n % Tipo de Carro n %

1 2205 93,1 Usado 1110 46,9

2 149 6,3 Novo 1258 53,1

3 14 0,6

Escolaridade n % Sexo n %

Não declararam 1 0,05 Feminino 751 31,7

Não Alfabetizado 1 0,05 Masculino 1617 68,3

Somente Alfabetizado 10 0,4

Da 1ª a 3ª série do 1º grau 22 0,9

Até a 4ª série do 1º grau 34 1,4 Idade n %

Da 5ª a 8ª série do 1º grau 141 6 De 18 a 29 anos 942 39,8

2º grau 808 34,1 De 30 a 40 anos 807 34,1

Superior 1271 53,7 De 41 a 50 anos 432 15,3

Mestrado ou Doutorado 80 3,4 Acima de 51 anos 187 10,8 Fonte: elaborada a partir dos dados primários da pesquisa.

Em relação à quantidade de carros, percebe-se que a maior parte dos indivíduos (93,1%)

possuem apenas um carro. Esse número demonstrar uma questão natural para a pesquisa tendo

em vista que a amostra está dentro de um estrato de renda da classe média emergente (renda

familiar mensal entre R$ R$ 1.277,00 e R$ 3.117,99). Desse modo, é comum que a quantidade

predominante de carros seja a menor possível dada a limitação dos rendimentos das pessoas

envolvidas na pesquisa.

Em relação ao tipo de carro, se é novo ou usado, os resultados ficaram próximos,

contudo, há uma pequena vantagem (53,1%) de possuidores de carros novos em relação aos

carros usados. Já no que diz respeito ao sexo, os dados obtidos na pesquisa (68,3% homens e

31,7% mulheres) ficaram próximos do percentual de condutores do estado do Piauí em 2011,

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80

em que 75,6% são homens e 24,4% são mulheres (DETRAN-PI, 2011). Acredita-se que esse

aumento no número de mulheres na posse do automóvel possa ser uma evolução que tenha

ocorrido nos últimos cinco anos, em que cada vez mais as mulheres têm assumido um papel

primário e menos secundário na posse do automóvel.

Em relação à idade, os dados obtidos na pesquisa demonstram a maior concentração de

carros entre pessoas mais jovens (39,8% de 18 a 29 anos) e no início da fase adulta (34,1% de

30 a 40 anos), evidenciando uma maior procura desse bem por pessoas mais novas. Além disso,

o estudo de Rodrigues e Casotti (2015) também teve os indivíduos dessas duas faixas etárias

como os mais representativos na compra do primeiro carro.

No que diz respeito à escolaridade, houve uma alta concentração de indivíduos com o

segundo grau (34,1%) e, principalmente, com ensino superior (53,7%). Essa informação vai ao

encontro do que diz a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) em que na faixa

etária de 18 a 24 anos, por exemplo, a taxa de escolaridade do estado é 10,4% maior que a

média nacional, o Piauí com 40,7% e o Brasil com 30,3%. Brasília, segunda colocada, caiu para

36,6% ao longo dos últimos anos (IBGE, 2016).

Correlações

A Tabela 4 apresenta as correlações entre as variáveis presentes na escala de Babin,

Darden e Griffin (1994), em que os resultados demonstram que existem correlações

significativas entre as variáveis. As correlações foram, em sua maioria, significantes a um nível

de 0,01 e apenas algumas a um nível de 0,05.

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Tabela 4 - Correlações das variáveis da escala de Babin, Darden e Griffin (1994)

H/U V V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10 V11 V12 V13 V14

H V1

H V2 0,273**

H V3 0,139** 0,254**

H V4 0,317** 0,201** 0,258**

H V5 0,081** 0,180** 0,282** 0,164**

H V6 0,269** 0,199** 0,228** 0,295** 0,270**

H V7 -0,011 0,178** 0,239** 0,149** 0,192** 0,116**

H V8 0,158** 0,219** 0,318** 0,379** 0,248** 0,245** 0,286**

H V9 0,118** 0,167** 0,357** 0,364** 0,217** 0,190** 0,299** 0,347**

H V10 0,177** 0,170** 0,366** 0,285** 0,249** 0,200** 0,308** 0,386** 0,506**

H V11 0,085** -0,062** -0,049** 0,027 -0,046* -0,030 -0,109** -0,028 -0,096** -0,054**

U V12 0,363** 0,189** 0,142** 0,308** 0,055** 0,250** 0,013 0,219** 0,154** 0,195** 0,008

U V13 0,116** -0,038* -0,083** -0,006 -0,159** -0,062** -0,145** -0,073** -0,127** -0,084** 0,163** 0,154**

U V14 0,307** 0,182** 0,119** 0,316** 0,055** 0,195** -0,019 0,263** 0,119** 0,139** 0,024 0,412** 0,180**

U V15 0,021 -0,078** -0,127** -0,035* -0,088** -0,052** -0,207** -0,153** -0,148** -0,151** 0,144** 0,005 0,229** 0,014

** Correlação significativa a um nível de 0,01.

* Correlação significativa a um nível de 0,05.

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo.

V: Variáveis.

Apesar das variáveis serem correlacionadas, algumas apresentaram correlação fraca e

outras moderada. Dentre estas que tiveram uma força um pouco maior, a Variável 1 ("a compra

desse carro foi realmente prazerosa") possui correlação moderada com: a Variável 4

("comparando às outras coisas que eu poderia ter feito, o tempo gasto na compra desse carro

foi verdadeiramente agradável") de р= 0,317.

A Variável 3 ("para mim, a compra desse carro significou uma fuga") possui correlação

moderada com: a Variável 8 ("durante a compra desse carro, eu senti o prazer da procura") de

р= 0,318; a Variável 9 ("durante a compra desse carro, eu pude esquecer os meus problemas")

de р= 0,357; e a Variável 10 ("a compra desse carro me faz sentir uma sensação de aventura")

de р= 0,357.

A Variável 4 ("comparando às outras coisas que eu poderia ter feito, o tempo gasto na

compra desse carro foi verdadeiramente agradável") possui correlação moderada com: a

Variável 8 ("durante a compra desse carro, eu senti o prazer da procura") de р= 0,379; a Variável

9 ("durante a compra desse carro, eu pude esquecer os meus problemas") de р= 0,364.

A Variável 7 ("eu me diverti na compra desse carro pois fui capaz de comprá-lo por

impulso") possui correlação moderada com a Variável 10 ("a compra desse carro me faz sentir

uma sensação de aventura") de р= 0,308.

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82

A Variável 8 ("durante a compra desse carro, eu senti o prazer da procura") possui

correlação moderada, além das já mencionadas anteriormente, com: a Variável 9 ("durante a

compra desse carro, eu pude esquecer os meus problemas") de р= 0,347; e a Variável 10 ("a

compra desse carro me faz sentir uma sensação de aventura") de р= 0,386.

A Variável 9 ("durante a compra desse carro, eu pude esquecer os meus problemas")

possui correlação moderada, além das já mencionadas anteriormente, com a Variável 10 ("a

compra desse carro me faz sentir uma sensação de aventura") de р= 0,506. Esta foi a correlação

mais forte da escala de Babin, Darden e Griffin (1994).

A Variável 12 ("eu realizei exatamente o que eu queria com a compra desse carro")

possui correlação moderada, além das já mencionadas anteriormente, com a Variável 14

("enquanto eu estava comprando o carro, encontrei exatamente o que estava procurando") de

р= 0,412. Esta foi a segunda correlação mais forte da escala de Babin, Darden e Griffin (1994).

A Tabela 5 busca apresentar as correlações existentes entre as variáveis utilizadas na

escala que estão presentes no estudo de O'Brien (2010), em que os resultados demonstram que

existem correlações significativas entre as variáveis. As correlações foram, em sua maioria,

significantes a um nível de 0,01 e apenas algumas a um nível de 0,05.

Tabela 5 - Correlações das variáveis da escala de O'Brien (2010)

H/U V V1 V5 V6 V8 V10 V16 V17 V18 V19 V20 V12 V14 V15 V21 V22 V23

H V1

H V5 0,081**

H V6 0,269** 0,270**

H V8 0,158** 0,248** 0,245**

H V10 0,177** 0,249** 0,200** 0,386**

H V16 0,110** 0,178** 0,239** 0,279** 0,303**

H V17 0,198** 0,218** 0,189** 0,345** 0,374** 0,277**

H V18 0,071** 0,274** 0,126** 0,307** 0,303** 0,278** 0,455**

H V19 0,054** 0,085** 0,146** 0,172** 0,172** 0,184** 0,204** 0,179**

H V20 0,167** 0,223** 0,202** 0,361** 0,427** 0,263** 0,367** 0,357** 0,190**

U V12 0,363** 0,055** 0,250** 0,219** 0,195** 0,179** 0,201** 0,078** 0,075** 0,159**

U V14 0,307** 0,055** 0,195** 0,263** 0,139** 0,136** 0,228** 0,125** 0,093** 0,152** 0,412**

U V15 0,021 -0,088** -0,052* -0,153** -0,151** -0,132** -0,106** -0,208** -0,099** -

0,158** 0,005 0,014

U V21 0,046* 0,142** 0,101** 0,346** 0,232** 0,147** 0,269** 0,216** 0,141** 0,357** 0,093** 0,135** -

0,159**

U V22 0,123** 0,155** 0,177** 0,329** 0,178** 0,154** 0,197** 0,151** 0,167** 0,196** 0,147** 0,179** -

0,144** 0,340**

U V23 0,157** 0,208** 0,230** 0,381** 0,314** 0,289** 0,321** 0,309** 0,171** 0,351** 0,218** 0,216** -

0,152** 0,311** 0,414**

U V24 0,556** 0,061** 0,260** 0,181** 0,140** 0,118** 0,201** 0,081** 0,088** 0,155** 0,344** 0,299** 0,025 0,098** 0,149** 0,181**

** Correlação significativa a um nível de 0,01. * Correlação significativa a um nível de 0,05.

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo. V: Variáveis.

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83

Apesar das variáveis serem correlacionadas, algumas apresentaram correlação fraca e

outras moderada. Além disso, o número de correlações moderadas foi bem maior do que na

escala de Babin, Darden e Griffin (1994).

A Variável 8 ("durante a compra desse carro, eu senti o prazer da procura"), além das

correlações já mencionadas da Tabela 4, possui correlação moderada com: a Variável 17 ("eu

comprei esse carro porque queria me dar um presente especial") de р= 0,345; a Variável 18 ("eu

comprei esse carro para estar em dia com as tendências") de р= 0,307; e a Variável 20 ("gostei

de socializar quando comprei esse carro") de р= 0,361.

A Variável 10 ("a compra desse carro me faz sentir uma sensação de aventura"), além

das correlações já mencionadas da Tabela 5, possui correlação moderada com: a Variável 16

("para mim, a compra desse carro foi uma forma de aliviar o stress") de р= 0,303; a Variável

17 ("eu comprei esse carro porque queria me dar um presente especial") de р= 0,374; a Variável

18 ("eu comprei esse carro para estar em dia com as tendências") de р= 0,303; e a Variável 20

("gostei de socializar quando comprei esse carro") de р= 0,427, em que esta foi a terceira

correlação mais forte.

A Variável 12 ("eu realizei exatamente o que eu queria com a compra desse carro"),

além das correlações já mencionadas anteriormente, possui correlação moderada com: a

Variável 14 ("enquanto eu estava comprando o carro, encontrei exatamente o que estava

procurando") de р= 0,412, em que esta foi a quinta correlação mais forte; e a Variável 24 ("eu

me senti bem quando percebi que a compra desse carro foi bem-sucedida") de р= 0,344.

A Variável 17 ("eu comprei esse carro porque queria me dar um presente especial"),

além das correlações já mencionadas anteriormente, possui correlação moderada com: a

Variável 18 ("eu comprei esse carro para estar em dia com as tendências") de р= 0,455, em que

esta foi a segunda correlação mais forte; a Variável 20 ("gostei de socializar quando comprei

esse carro") de р= 0,367; e a Variável 23 ("eu gostei de me sentir inteligente quando comprei

esse carro") de р= 0,321.

A Variável 18 ("eu comprei esse carro para estar em dia com as tendências"), além das

correlações já mencionadas anteriormente, possui correlação moderada com: a Variável 20

("gostei de socializar quando comprei esse carro") de р= 0,357.

A Variável 21 ("eu gostei de procurar boas barganhas quando comprei esse carro"), além

das correlações já mencionadas anteriormente, possui correlação moderada com: a Variável 22

("eu gostei de procurar descontos quando comprei esse carro") de р= 0,340; e a Variável 23

("eu gostei de me sentir inteligente quando comprei esse carro") de р= 0,311. Enquanto a

Variável 22 ("eu gostei de procurar descontos quando comprei esse carro"), além das

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correlações já mencionadas anteriormente, possui correlação moderada com a Variável 23 ("eu

gostei de me sentir inteligente quando comprei esse carro") de р= 0,414, em que esta foi a quarta

correlação mais forte.

A Tabela 6 busca apresentar as correlações existentes entre as variáveis utilizadas na

escala a partir dos achados dos dois estudos qualitativos (RODRIGUES, 2015; RODRIGUES;

CASOTTI, 2015), em que os resultados demonstram que existem correlações significativas

entre as variáveis. As correlações foram, em sua maioria, significantes a um nível de 0,01 e

apenas algumas a um nível de 0,05.

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85

Tabela 6 - Correlações da Escala Geral

** Correlação significativa a um nível de 0,01.

* Correlação significativa a um nível de 0,05.

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo.

V: Variáveis.

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86

Apesar das variáveis serem correlacionadas, algumas apresentaram correlação

fraca e outras moderada. Além disso, o número de correlações moderadas, bem como as

suas forças, foi bem maior do que nas escalas de Babin, Darden e Griffin (1994) e O'Brien

(2010). Dentre estas que tiveram uma força um pouco maior, a Variável 25 ("eu comprei

esse carro por necessidade") possui correlação moderada com a Variável 32 ("eu comprei

esse carro porque eu precisava dele") de р= 0,515, em que esta é a quinta correlação mais

forte presente nestas variáveis.

A Variável 26 ("eu comprei esse carro por status") possui correlação moderada

com: a Variável 35 ("esse carro é uma festa") de р= 0,300; a Variável 36 ("esse carro é

um espaço de entretenimento") de р= 0,339; a Variável 37 ("depois que comprei esse

carro, eu me sinto uma pessoa mais bonita") de р= 0,387; a Variável 38 ("com esse carro,

eu tenho mais amigos pra curtir") de р= 0,399; a Variável 40 ("os(as) homens/mulheres

passaram a gostar mais de mim depois do meu carro") de р= 0,403; e a Variável 41 ("eu

me preocupei em equipar esse carro com vários acessórios") de р= 0,385. Esta foi a

variável que mais apresentou correlações com as demais.

A Variável 27 ("eu comprei esse carro porque eu moro muito longe do meu

trabalho ou da minha faculdade") possui correlação moderada com a Variável 28 ("eu

comprei esse carro porque eu não posso esperar tanto tempo pelo ônibus") de р= 0,378.

Já a Variável 29 ("eu comprei esse carro porque pensava em mobilidade") possui

correlação moderada com: a Variável 31 ("eu comprei esse carro porque me dá

agilidade") de р= 0,389; e a Variável 32 ("eu comprei esse carro porque eu precisava

dele") de р= 0,322. Enquanto a Variável 31 ("eu comprei esse carro porque me dá

agilidade") possui correlação moderada com a Variável 32 ("eu comprei esse carro porque

eu precisava dele") de р= 0,376.

A Variável 35 ("esse carro é uma festa") possui correlação moderada com:

Variável 36 ("esse carro é um espaço de entretenimento") de р= 0,448; e a Variável 39

("depois da compra desse carro, eu passei a ser uma pessoa mais feliz") de р= 0,318.

Enquanto a Variável 36 ("esse carro é um espaço de entretenimento") possui correlação

moderada com: a Variável 37 ("depois que comprei esse carro, eu me sinto uma pessoa

mais bonita") de р= 0,402; a Variável 38 ("com esse carro, eu tenho mais amigos pra

curtir") de р= 0,377; a Variável 39 ("depois da compra desse carro, eu passei a ser uma

pessoa mais feliz") de р= 0,360; e a Variável 40 ("os (as) homens/mulheres passaram a

gostar mais de mim depois do meu carro") de р= 0,330.

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A Variável 37 ("depois que comprei esse carro, eu me sinto uma pessoa mais

bonita") possui correlação moderada com: a Variável 38 ("com esse carro, eu tenho mais

amigos pra curtir") de р= 0,619, em que esta é a correlação mais forte de todas as tabelas;

a Variável 39 ("depois da compra desse carro, eu passei a ser uma pessoa mais feliz") de

р= 0,413; e a Variável 40 ("os(as) homens/mulheres passaram a gostar mais de mim

depois do meu carro") de р= 0,566, em que esta é a quarta correlação mais forte. Enquanto

a Variável 38 ("com esse carro, eu tenho mais amigos pra curtir") possui correlação

moderada com: a Variável 39 ("depois da compra desse carro, eu passei a ser uma pessoa

mais feliz") de р= 0,361; a Variável 40 ("os (as) homens/mulheres passaram a gostar mais

de mim depois do meu carro") de р= 0,589, em que esta é a segunda correlação mais forte;

e a Variável 41 ("eu me preocupei em equipar esse carro com vários acessórios") de р=

0,320.

A Variável 39 ("depois da compra desse carro, eu passei a ser uma pessoa mais

feliz") possui correlação moderada, além das já mencionadas anteriormente, com a

Variável 40 ("os (as) homens/mulheres passaram a gostar mais de mim depois do meu

carro") de р= 0,345. Ela foi a segunda variável com maior número de correlações

moderadas. Enquanto a Variável 40 ("os (as) homens/mulheres passaram a gostar mais

de mim depois do meu carro") possui correlação moderada, além das já mencionadas

anteriormente, com a Variável 41 ("eu me preocupei em equipar esse carro com vários

acessórios") de р= 0,301. Ela, em conjunto com a 26, foi a variável com maior número

de correlações moderadas. Já a Variável 41 ("eu me preocupei em equipar esse carro com

vários acessórios") possui correlação moderada, além das já mencionadas anteriormente,

com a Variável 42 ("eu me preocupei em equipar esse carro com um som") de р= 0,588,

em que esta é a terceira correlação mais forte.

Matriz Anti-imagem

A matriz de correlação anti-imagem é uma medida de adequação da amostra

(Measure of Sampling Adequacy - MSA). Os valores observados são aqueles presentes

na linha diagonal da matriz. O MSA indica o grau de intercorrelação entre as variáveis e

deve possuir valor acima de 0,5 para que a variável seja considerada como adequada

(CERNY; KAISER, 1977).

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Tabela 7 - Matriz Anti-imagem para a Escala de Babin, Darden e Griffin (1994)

Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA

V1 0,798 V6 0,866 V11 0,678

V2 0,849 V7 0,844 V12 0,816

V3 0,892 V8 0,876 V13 0,701

V4 0,858 V9 0,825 V14 0,795

V5 0,848 V10 0,833 V15 0,776

Os valores do MSA da matriz anti-imagem da escala de Babin, Darden e Griffin

(1994) estão acima de 0,5 mostram uma boa medida de adequação da amostra em que o

menor valor foi V11 = 0,678 ("a compra desse carro não foi uma pausa agradável") e o

maior valor foi V3 = 892 ("para mim, a compra desse carro significou uma fuga").

Tabela 8 - Matriz Anti-imagem para a Escala de O'Brien (2010)

Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA

V1 0,753 V8 0,918 V14 0,848 V17 0,891 V20 0,895 V23 0,901

V5 0,859 V10 0,894 V15 0,861 V18 0,849 V21 0,860 V24 0,769

V6 0,874 V12 0,845 V16 0,916 V19 0,917 V22 0,832

Os valores do MSA da matriz anti-imagem da escala de O'Brien (2010) também

estão acima de 0,5 e foram melhores que os valores da escala de Babin, Darden e Griffin

(1994), o que mostra uma boa medida de adequação da amostra em que o menor valor foi

V1 = 0,753 ("a compra desse carro foi realmente prazerosa") e o maior valor foi V8 =

918 ("durante a compra desse carro, eu senti o prazer da procura").

Tabela 9 - Matriz Anti-imagem da Escala Geral

Variáveis MSA Variáveis MAS Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA

V1 0,838 V8 0,942 V15 0,878 V22 0,882 V29 0,853 V36 0,957

V2 0,906 V9 0,946 V16 0,944 V23 0,946 V30 0,889 V37 0,939

V3 0,942 V10 0,948 V17 0,957 V24 0,859 V31 0,892 V38 0,926

V4 0,932 V11 0,797 V18 0,945 V25 0,800 V32 0,823 V39 0,959

V5 0,928 V12 0,914 V19 0,926 V26 0,943 V33 0,819 V40 0,933

V6 0,914 V13 0,820 V20 0,948 V27 0,851 V34 0,664 V41 0,849

V7 0,931 V14 0,890 V21 0,919 V28 0,863 V35 0,938 V42 0,824

Os valores do MSA da matriz anti-imagem da escala geral também estão acima

de 0,5 e foram melhores que os valores das escalas de Babin, Darden e Griffin (1994) e

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O'Brien (2010), o que mostra uma boa medida de adequação da amostra em que o menor

valor foi V34 = 0,664 ("quando eu comprei esse carro, não me preocupei com os

acessórios") e o maior valor foi V39 = 0,959 ("depois da compra desse carro, eu passei a

ser uma pessoa mais feliz").

Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Teste de Bartlett

O teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) indica a adequação que a análise fatorial

possui, ou seja, é ele quem vai indicar que os resultados obtidos são adequados ou não.

Para que se tenha uma análise fatorial adequada, o KMO deve ser acima de 0,5, segundo

Hair et al. (2009), contudo, Cerny e Kaiser (1977) apontaram que uma análise fatorial

adequada deve ter um KMO acima de 0,7.

O teste de esfericidade de Bartlett busca identificar se as variáveis são ou não

correlacionadas dentro da população analisada, por meio de um teste de hipótese. Para

verificar se a análise fatorial é apropriada ou não, o teste analisa se a matriz de correlação

da população em estudo é, de fato, uma matriz identidade (HAIR et al., 2009).

Tabela 10 - KMO e Teste de Bartlett

KMO e Teste de Bartlett Babin, Darden e

Griffin (1994)

O'Brien

(2010)

Escala

Geral

Medida de Adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) 0,834 0,865 0,917

Teste de Esfericidade de Bartlett Qui-quadrado aproximado 6017,174 8203,48 28455,646

Df 105 136 861

Significância 0,000 0,000 0,000

A medida de adequação da amostra KMO teve valores crescentes partindo da

escala de Babin, Darden e Griffin (1994), passando por O'Brien (2010), até a Escala

Geral. Isso mostra que à medida que itens foram incorporados nas três escalas, desde a

primeira até a proposta atual, a análise fatorial possui uma amostra mais adequada. Além

disso, os três valores ficaram acima de 0,7, com destaque para a Escala Geral que ficou

com valor acima de 0,9, assim, os resultados encontrados são adequados.

Por meio do teste de esfericidade de Bartlett, pode-se verificar que os três possuem

significância de 0,000, ou seja, a hipótese nula de que a matriz de correlação é, de fato,

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uma matriz identidade foi rejeitada, com isso, percebe-se que a análise fatorial é

apropriada para as três escalas.

Análise Fatorial Exploratória

A Tabela 11 evidencia os resultados da matriz padrão da análise fatorial

exploratória apenas com as variáveis do estudo de Babin, Darden e Griffin (1994). Os

itens em vermelho são aqueles em que o fator de carga maior (hedonismo ou utilitarismo)

difere da característica original da variável, ou seja, seria uma variável hedônica e nos

resultados apresentou maior carga no fator utilitário ou o contrário.

Tabela 11 - Análise Fatorial Exploratória da Escala de Babin, Darden e Griffin (1994)

Fator

U/H V Hedonismo Utilitarismo

H V1 0,586

H V2 0,329

H V3 -0,436

H V4 0,549

H V5 -0,375

H V6 0,394

H V7 -0,513

H V8 -0,399

H V9 -0,528

H V10 -0,503

H V11 0,224

U V12 0,630

U V13 0,415

U V14 0,607

U V15 0,357

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo.

V: Variáveis.

As variáveis que possuem um fator de carga maior diferente do originalmente

proposto no instrumento de coleta de dados são 1, 2, 4, 6, 13 e 15. Destas, apenas a

Variável 2 (“eu comprei esse carro não porque eu tinha que comprá-lo, mas porque eu

queria comprá-lo”) ainda não foi discutida acerca do possível motivo da mudança. Na

escala geral com as 42 variáveis do instrumento, ela se manteve com maior fator de carga

hedônico, de acordo com sua caraterística original. Contudo, para a escala de Babin,

Darden e Griffin (1994), ela se posicionou com maior fator de carga utilitário. Isso pode

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ocorrer porque na escala original, para viagem de compras, ter que comprar o produto

está relacionado com um aspecto utilitário, enquanto querer comprar algo está

relacionado com uma característica hedônica. Todavia, para o consumo de automóveis

por esse grupo de consumidores, querer comprar esse produto está associado com uma

característica utilitária que é a mobilidade (RODRIGUES; CASOTTI, 2015).

A Tabela 12 evidencia os resultados da matriz padrão da análise fatorial

exploratória apenas com as variáveis do estudo de O’Brien (2010).

Tabela 12 - Análise Fatorial Exploratória da Escala de O'Brien (2010)

Fator

U/H V Hedonismo Utilitarismo

H V1 0,724

H V5 0,392

H V6 0,313

H V8 0,582

H V10 0,555

H V16 0,433

H V17 0,549

H V18 0,595

H V19 0,307

H V20 0,602

U V12 0,556

U V14 0,471

U V15 -0,332

U V21 0,499

U V22 0,402

U V23 0,559

U V24 0,693

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo.

V: Variáveis.

As variáveis que possuem um fator de carga maior diferente do originalmente

proposto no instrumento de coleta de dados são 1, 6, 15, 21, 22 e 23. Destas, apenas a

Variável 22 (“eu gostei de procurar descontos quando comprei esse carro”) ainda não foi

discutida acerca do possível motivo da mudança. Na escala geral com as 42 variáveis do

instrumento, ela se manteve com maior fator de carga utilitário, de acordo com sua

caraterística original. Contudo, para a escala de O’Brien (2010), ela se posicionou com

maior fator de carga hedônico. De forma similar ao que aconteceu com a Variável 21 que

está relacionada a procurar barganhas, isso pode ocorrer porque na escala original, para

viagem de compras, pedir descontos pode representar a busca por um produto com menor

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preço, portanto, uma característica utilitária. No caso do consumo de automóveis, esses

consumidores da classe média emergente, geralmente, já optam por carros mais simples,

em que seus preços já possuem o menor nível possível, então, para eles, a possibilidade

de pedir descontos ocorre quando se faz a compra de um produto com um preço mais alto.

A Tabela 13 possui os resultados da matriz padrão da análise fatorial exploratória

para a escala geral.

Tabela 13 - Análise Fatorial Exploratória da Escala Geral

Fator Fator

U/H V Hedonismo Utilitarismo U/H V Hedonismo Utilitarismo

H V1 0,451 U V12 0,473

H V2 0,337 U V13 -0,197

H V3 0,546 U V14 0,477

H V4 0,389 U V15 -0,266

H V5 0,398 U V21 0,361

H V6 0,354 U V22 0,326

H V7 0,5 U V23 0,483

H V8 0,47 U V24 0,489

H V9 0,572 U V25 0,467

H V10 0,595 U V27 0,28

H V11 -0,139 U V28 0,31

H V16 0,419 U V29 0,516

H V17 0,539 U V31 0,561

H V18 0,616 U V32 0,571

H V19 0,241 U V33 0,258

H V20 0,604 U V34 0,091

H V26 0,646

H V30 0,390

H V35 0,466

H V36 0,594

H V37 0,679

H V38 0,701

H V39 0,469

H V40 0,623

H V41 0,544

H V42 0,428

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo. V: Variáveis.

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Por meio dos resultados acima, percebe-se que oito variáveis estão em fatores

diferentes dos originais. A Variável 1 ("a compra desse carro foi realmente prazerosa"),

em que prazer é uma característica hedônica no consumo, teve seu maior fator de carga

no utilitarismo.

O estudo qualitativo de Rodrigues e Casotti (2015) pode explicar um pouco desse

aspecto. Os autores, ao entrevistarem os indivíduos da classe média emergente,

perceberam que, para eles, o prazer na compra do carro estava relacionado simplesmente

ao fato de ter um carro, independentemente do tipo ou características desse automóvel.

Assim, o prazer dos indivíduos (sentimento hedônico dos indivíduos) estava ligado à

funcionalidade do carro (característica utilitária do bem). Desse modo, o prazer seria

proporcionado pela liberdade de não precisar mais esperar um ônibus, ou enfrentar filas

e espaços apertados presentes nos transportes públicos, isto é, a liberdade de ir e vir para

onde quiser e no momento em que quiser, portanto, o prazer para eles seria ter mobilidade

(característica utilitária).

A Variável 4 ("comparando às outras coisas que eu poderia ter feito, o tempo gasto

na compra desse carro foi verdadeiramente agradável") também é uma variável

originalmente hedônica, mas que nos resultados da pesquisa teve o seu fator de carga

maior como uma variável utilitária. Uma possível explicação para isso é o fato que, para

esse grupo de consumidores analisados, com limitações de renda, gastar tempo de forma

agradável na procura pelo bem não é uma questão de prazer, mas de necessidade. Isso

porque a compra é muito bem analisada em diferentes aspectos (preço, qualidade do

produto, economia de combustível e manutenção), de modo que ela não pode ser uma

compra errada. Além disso, conforme as estatísticas descritivas, são indivíduos em que

93,1% possuem apenas um carro. Então, depois da compra feita, a limitação de renda não

permite que eles façam uma outra compra em pouco tempo, portanto, gastar tempo de

forma agradável na compra do automóvel é uma questão de necessidade para a classe

média emergente.

A Variável 6 ("eu gostei dessa experiência de compra de carro em si, independente

do carro que foi comprado") também era originalmente hedônica e se posicionou com

maior fator de carga como utilitária. Novamente, de acordo com Rodrigues e Casotti

(2015), reitera-se o fato de que a experiência de possuir um carro é maior do que o tipo

de carro em que foi comprado. Assim, para esse grupo de consumidores, faz sentido essa

variável se posicionar como utilitária, já que a principal questão envolvida não são as

características do automóvel, mas a posse em si.

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A Variável 13 ("eu não pude comprar o carro que eu realmente precisava") que

originalmente seria utilitária e se posicionou com maior fator de carga hedônico. Isso

porque para esse grupo de consumidores da classe média emergente, não poder comprar

o carro que precisa pode significar comprar um carro superior ao necessário (ao carro

básico), significa comprar um carro melhor, por isso, a variável ter sido interpretada como

hedônica. Enquanto que para o grupo de consumidores da escala original (viagem de

compras) poderia significar não poder ter a possibilidade de comprar algum dos produtos

previstos na relação de compras, por isso ela na escala original é um item utilitário.

A Variável 15 ("eu fiquei desapontado, pois tive que ir a outra loja para achar

exatamente o carro que eu procurava") era originalmente utilitária e se posicionou com

maior fator de carga hedônico. Isso porque, para a escala original (viagem de compras),

realmente representa um significado utilitário, pois quer dizer que o consumidor possa ter

ido em outra loja e ter gastado tempo durante a procura, isto é, ter tido o desconforto de

ir até outra loja para comprar o que queria. Contudo, para esses consumidores de

automóveis, ir a outra loja significa ter a opção de escolha, de poder escolher um outro

produto melhor, por isso, se aproxima mais de uma característica hedônica. Além disso,

como já mencionado anteriormente, gastar tempo na procura do automóvel é algo

prazeroso para esse grupo de consumidores, dado o significado de conquista.

A Variável 21 ("eu gostei de procurar boas barganhas quando comprei esse

carro"), que na escala original é utilitária, se posicionou com maior fator de carga

hedônico. Isso pode ter ocorrido porque, para uma compra comum, procurar barganhar

ou pedir descontos pode representar a busca por um produto com menor preço, portanto,

uma característica utilitária. No caso do consumo de automóveis, esses consumidores da

classe média emergente, geralmente, já optam por carros mais simples, em que seus

preços já possuem o menor nível possível, então, para eles, a possibilidade de barganha

ocorre quando se faz a compra de um produto com um preço mais alto.

A Variável 23 ("eu gostei de me sentir inteligente quando comprei esse carro"),

que na escala original é utilitária, se posicionou com maior fator de carga hedônico. Uma

possibilidade dessa modificação é porque para esse grupo de indivíduos, talvez uma

compra inteligente esteja associada com a possibilidade de poder fazer escolhas, no caso,

escolhas inteligentes. E como já mencionado anteriormente, fazer escolhas pode

significar ter a opção de comprar um automóvel mais caro ou com mais acessórios, ou

seja, uma característica hedônica.

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A Variável 30 (“eu comprei esse carro porque pensava em conforto”), que

emergiu a partir dos estudos qualitativos como uma característica hedônica, se posicionou

com maior fator de carga utilitário. Como já discutido anteriormente, para esse grupo de

consumidores, o conforto do automóvel pode não possuir um significado associado a um

carro mais confortável, a um carro mais luxuoso ou com mais acessórios. O conforto,

nesse caso, pode estar associado a abandonar a parada de ônibus, bem como o calor da

espera exposto ao sol, ou as filas para utilizar o transporte público. Assim, conforto pode

ser simplesmente ter um carro, mesmo que seja um automóvel básico, portanto, uma

característica utilitária (RODRIGUES; CASOTTI, 2015). Esta foi a única variável da

escala utilizada na coleta de dados que veio a partir de um estudo qualitativo, o que pode

representar uma boa escolha das categorias dos estudos qualitativos que ingressaram no

instrumento de coleta de dados.

Alfa de Cronbach

A medida de confiabilidade da pesquisa foi realizada pelo Alfa de Cronbach (α)

que analisa a correlação entre as respostas dos indivíduos e a correlação média das

perguntas do questionário, buscando estimar a confiança que o instrumento de coleta de

dados possui. Assim, uma pesquisa, para ter uma boa análise de confiabilidade necessita

de um α maior que 0,7 (HAIR et al., 2009).

Tabela 14 - Alfa de Cronbach

Escalas Alfa de Cronbach Nº de Itens

Babin, Darden e Griffin (1994) 0,674 15

O'Brien (2010) 0,784 17

Escala Geral 0,868 42

As análises de confiabilidade das três escalas foram boas, apenas a escala de

Babin, Darden e Grinffin (1994) ficou um pouco abaixo de 0,7. Isso demonstra que o

instrumento de coleta de dados possui maior confiança à medida que os itens da escala

foram sendo incorporados, tornando-a maior.

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Matriz Anti-imagem Depurada

As tabelas 11, 12 e 13, que discutem as análises fatoriais exploratórias para os três

modelos analisados, mostram que algumas variáveis originalmente utilitárias

apresentaram maior fator de carga no fator hedônico e vice-versa. Assim, uma nova

matriz anti-imagem depurada foi realizada com a exclusão dessas variáveis que se

posicionaram com maior carga fatorial em fatores distintos aos propostos.

Para a escala de Babin, Darden e Griffin (1994), foram excluídas as variáveis V2,

V6, V13 e V15, enquanto para a escala de O’Brien (2010) foram excluídas V1, V6, V15,

V21, V22 e V23 e para a escala geral foram excluídas V1, V4, V6, V13, V15, V21, V23

e V30.

Tabela 15 - Matriz Anti-imagem Depurada para a Escala de Babin, Darden e Griffin

(1994)

Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA

V1 0,780 V7 0,825 V11 0,640

V3 0,874 V8 0,852 V12 0,773

V4 0,836 V9 0,803 V14 0,761

V5 0,861 V10 0,817

Os valores do MSA da matriz anti-imagem da escala de Babin, Darden e Griffin

(1994) estão acima de 0,5 mostram uma boa medida de adequação da amostra. Contudo,

com a exclusão das variáveis, a Variável 5 foi a única que teve o seu valor aumentado, ou

seja, todas as demais diminuíram.

Tabela 16 - Matriz Anti-imagem Depurada para a Escala de O'Brien (2010)

Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA

V5 0,876 V12 0,741 V17 0,851 V20 0,868

V8 0,881 V14 0,756 V18 0,822 V24 0,801

V10 0,853 V16 0,898 V19 0,904

Os valores do MSA da matriz anti-imagem da escala de O'Brien (2010) também

estão acima de 0,5, o que mostra uma boa medida de adequação da amostra. No entanto,

com a exclusão das variáveis, os valores também diminuíram com exceção das Variáveis

5 e 24.

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97

Tabela 17 - Matriz Anti-imagem Depurada da Escala Geral

Variáveis MSA Variáveis MAS Variáveis MSA Variáveis MSA Variáveis MSA

V2 0,895 V11 0,743 V20 0,945 V29 0,847 V37 0,937

V3 0,936 V12 0,854 V22 0,887 V31 0,863 V38 0,917

V5 0,953 V14 0,852 V24 0,862 V32 0,805 V39 0,951

V7 0,927 V16 0,938 V25 0,790 V33 0,779 V40 0,925

V8 0,930 V17 0,957 V26 0,940 V34 0,636 V41 0,843

V9 0,946 V18 0,939 V27 0,839 V35 0,924 V42 0,816

V10 0,942 V19 0,929 V28 0,847 V36 0,952

Os valores do MSA da matriz anti-imagem da escala geral também estão acima

de 0,5, o que mostra uma boa medida de adequação da amostra. Entretanto, com a

exclusão das variáveis, os valores também diminuíram com exceção das Variáveis 5, 19,

22 e 24.

Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Teste de Bartlett Depurados

Um novo KMO e teste de Barlett foram realizados com a exclusão das variáveis.

Após a depuração, os dados abaixo foram encontrados.

Tabela 18 - KMO e Teste de Bartlett Depurados

KMO e Teste de Bartlett Babin, Darden e

Griffin (1994)

O'Brien

(2010)

Escala

Geral

Medida de Adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) 0,817 0,840 0,911

Teste de Esfericidade de Bartlett Qui-quadrado aproximado 4503,187 4428,486 22194,841

Df 55 55 561

Significância 0,000 0,000 0,000

A medida de adequação da amostra KMO teve valores crescentes partindo da

escala de Babin, Darden e Griffin (1994), passando por O'Brien (2010), até a Escala

Geral. Isso mostra que à medida que itens foram incorporados nas três escalas, desde a

primeira até a proposta atual, a análise fatorial possui uma amostra mais adequada. Além

disso, os três valores ficaram acima de 0,7, com destaque para a Escala Geral que ficou

com valor acima de 0,9, assim, os resultados encontrados são adequados.

Por meio do teste de esfericidade de Bartlett, pode-se verificar que os três possuem

significância de 0,000, ou seja, a hipótese nula de que a matriz de correlação é, de fato,

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98

uma matriz identidade foi rejeitada, com isso, percebe-se que a análise fatorial é

apropriada para as três escalas.

Contudo, todos os valores diminuíram após a depuração.

Análise Fatorial Exploratória Depurada

Uma nova análise fatorial exploratória foi realizada após a exclusão das variáveis.

A Tabela 19 evidencia os resultados da matriz padrão da análise fatorial exploratória

depurada apenas com as variáveis do estudo de Babin, Darden e Griffin (1994). Os itens

em vermelho são aqueles em que o fator de carga maior (hedonismo ou utilitarismo)

difere da característica original da variável, ou seja, seria uma variável hedônica e nos

resultados apresentou maior carga no fator utilitário ou o contrário.

Tabela 19 - Análise Fatorial Exploratória Depurada da Escala de Babin, Darden e

Griffin (1994)

Fator

U/H V Hedonismo Utilitarismo

H V3 0,626

H V5 0,520

H V7 0,646

H V8 0,591

H V9 0,711

H V10 0,703

H V11 -0,243

U V12 0,726

U V13 0,415

U V14 0,607

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo. V: Variáveis.

Após a depuração, os fatores de carga de todos os itens se elevaram. A Tabela 18

evidencia os resultados da matriz padrão da análise fatorial exploratória depurada apenas

com as variáveis do estudo de O’Brien (2010).

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99

Tabela 20 - Análise Fatorial Exploratória Depurada da Escala de O'Brien (2010)

Fator

U/H V Hedonismo Utilitarismo

H V5 0,552

H V8 0,579

H V10 0,670

H V16 0,531

H V17 0,650

H V18 0,720

H V19 0,380

H V20 0,673

U V12 0,780

U V14 0,744

U V24 0,694

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo. V: Variáveis.

Após a depuração, todos os itens tiveram os seus fatores de carga melhorados. A

Tabela 21 possui os resultados da matriz padrão da análise fatorial exploratória depurada

para a escala geral.

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100

Tabela 21 - Análise Fatorial Exploratória Depurada da Escala Geral

Fator Fator

U/H V Hedonismo Utilitarismo U/H V Hedonismo Utilitarismo

H V2 0,396 U V12 0,418

H V3 0,598 U V14 0,421

H V5 0,435 U V22 0,348

H V7 0,516 U V24 0,415

H V8 0,510 U V25 0,613

H V9 0,607 U V27 0,448

H V10 0,639 U V28 0,473

H V11 -0,125 U V29 0,625

H V16 0,463 U V31 0,639

H V17 0,593 U V32 0,698

H V18 0,643 U V33 0,334

H V19 0,271 U V34 0,153

H V20 0,636

H V26 0,664

H V35 0,533

H V36 0,639

H V37 0,698

H V38 0,706

H V39 0,521

H V40 0,634

H V41 0,572

H V42 0,468

U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo. V: Variáveis.

Após a depuração, todos os itens tiveram os seus fatores de carga melhorados.

Alfa de Cronbach após a Depuração

Um novo Alfa de Cronbach foi feito após a exclusão das variáveis. A tabela abaixo

apresenta os dados encontrados.

Tabela 22 - Alfa de Cronbach após a Depuração

Escalas Alfa de Cronbach Nº de Itens

Babin, Darden e Griffin (1994) 0,712 11

O'Brien (2010) 0,759 11

Escala Geral 0,861 34

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101

As análises de confiabilidade das três escalas foram boas, pois todas ficaram

acima de 0,7. Todavia, apesar da escala de Babin, Darden e Grinffin (1994) ter melhorado

o seu valor, pois antes estava abaixo de 0,7, as demais escalas tiveram uma leve

diminuição dos seus indicadores.

Análise Fatorial Confirmatória

A análise confirmatória preliminar para as três escalas em estudo foi realizada e

seus resultados são apresentados abaixo. As Figuras 2,3 e 4 apresentam os modelos para

a Escala de Babin, Darden e Griffin (1994), Escala de O’Brien (2010) e Escala Geral,

respectivamente.

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102

Figura 2 – Modelo para a Escala de Babin, Darden e Griffin (1994)

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103

Figura 3 – Modelo para a Escala de O’Brien (2010)

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104

Figura 4 – Modelo Geral com dois fatores: Utilitarismo e Hedonismo

De acordo com a Tabela 23, para os testes de ajuste dos modelos da Escala Geral,

da escala de Babin, Darden e Griffin (1994) (BDG) e da Escala de O’Brien (2010), foram

analisados: o valor do Qui-quadrado (X2), graus de liberdade (gl), a significância do

modelo (p-value), os índices NFI (Normed Fit Index), IFI (Incremental Fit Index), TFI

(Tuker-Lewis Index) e CFI (Comparative Fit Index) e o RMSEA (Root Mean Square

Error of Aproximation), conforme propõem os autores especializados (BENTLER, 1990;

BOOMSMA, 2000; BYRNE, 2001; MACCALLUM; ROZNOWSKI; NECOWITZ,

1992; MCDONALD; HO, 2002; ULLMAN, 2001).

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Tabela 23 – Índices de ajustamento dos modelos

Modelos X2 Gl p-value X2/(gl) NFI IFI TLI CFI RMSEA

BDG 735,47 80 0,000 9,19 0,878 0,890 0,855 0,889 0,059

O'Brien 826,40 115 0,000 7,19 0,900 0,912 0,896 0,912 0,050

Escala Geral 6140,27 791 0,000 7,76 0,786 0,808 0,790 0,807 0,053

Inicialmente, o valor do Qui-quadrado (X2) mostra a consistência global do

modelo. O modelo obteve um X2 = 6140,27 e graus de liberdade (gl) igual a 791, a um

nível de significância de 0,000. Assim, apesar de não existir um consenso entre os autores,

acredita-se que, para ser considerado satisfatório, (X2/gl) deve ser inferior a 5 (BROWN,

2006) e nesse caso o valor foi de 7,76. Os modelos especificados são, normalmente,

rejeitados pelos testes de excelência (ajuste perfeito), devido à sua complexidade e ao

número de restrições, considerando-se, por conseguinte, que o ajuste não é perfeito.

Para contornar as limitações do teste do X2, interpreta-se os índices de aderência

(Goodness-of-fit) para avaliar o modelo. Os índices NFI (Normed Fit Index), IFI

(Incremental Fit Index), TFI (Tuker-Lewis Index) e CFI (Comparative Fit Index)

comparam o modelo hipotético com o modelo de independência. Eles variam entre 0 e 1,

considerando-se um bom ajuste valores > 0,90. Nos casos da escala geral e da escala de

Babin, Darden e Griffin (1994), os índices ficaram muito próximos de 0,90, mas não

atingiram os valores necessários. Contudo, para a escala de O’Brien (2010), os índices

ficaram acima de 0,90.

O RMSEA (Root Mean Square Error of Aproximation) mostra o erro da

estimação, por ser medido em graus de liberdade é sensível ao número de parâmetros

estimados no modelo. Os valores menores a 0,05 indicam um bom ajuste, os superiores a

0,08 indicam baixa qualidade no ajuste e os valores entre 0,51 e 0,07 pode ser indicativo

de um bom ajuste entre o modelo hipotético e os dados observados. Assim, as três escalas

apresentaram um bom ajuste com os valores em torno de 0,05.

Conforme a Tabela 24, o CN (Critical N), também chamado índice de Hoelter,

mede a adequação do tamanho da amostra ao modelo postulado com 95% de confiança e

99% de confiança, respectivamente. Este critério verifica a adequação do tamanho da

amostra e não o ajustado modelo.

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106

Tabela 24 – Índice de Hoelter

Modelos Hoelter

0,05

Hoelter

0,01

BDG 328 362

O'Brien 404 439

Escala Geral 331 342

A proposta deste índice é uma estimativa do tamanho da amostra que seja

suficientemente adequado ao ajuste do modelo para o teste X2. Valores superiores a 200

é indicativo que o modelo representa adequadamente os dados amostrais. Desse modo, os

três modelos apresentados indicaram bons valores, representando uma boa adequação do

tamanho da amostra ao modelo proposto.

Análise Fatorial Confirmatória com a Exclusão de Variáveis

As tabelas 11, 12 e 13, que discutem as análises fatoriais exploratórias para os três

modelos analisados, mostram que algumas variáveis originalmente utilitárias

apresentaram maior fator de carga no fator hedônico e vice-versa. Assim, uma nova

análise fatorial confirmatória foi realizada com a exclusão dessas variáveis que se

posicionaram com maior carga fatorial em fatores distintos aos propostos.

As Figuras 5,6 e 7 apresentam os modelos para a Escala de Babin, Darden e Griffin

(1994), Escala de O’Brien (2010) e Escala Geral, respectivamente, já com a exclusão

dessas variáveis. Para o primeiro modelo, foram excluídas as variáveis V2, V6, V13 e

V15, enquanto para o segundo modelo foram excluídas V1, V6, V15, V21, V22 e V23 e

já para o terceiro modelo, foram excluídas V1, V4, V6, V13, V15, V21, V23 e V30.

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Figura 5 – Modelo para a Escala de Babin, Darden e Griffin (1994) com a exclusão

de variáveis

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Figura 6 – Modelo para a Escala de O’Brien (2010), com a exclusão de variáveis

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Figura 7 – Modelo Geral com dois fatores: Utilitarismo e Hedonismo, com a

exclusão de variáveis

De acordo com a Tabela 23, para os testes de ajuste dos modelos da Escala Geral,

da escala de Babin, Darden e Griffin (1994) (EBDG) e da Escala de O’Brien (2010),

foram analisados: X2, GL, p-value, NFI, IFI, TFI e CFI e o RMSEA.

Tabela 25 – Índices de ajustamento dos modelos, com a exclusão de variáveis

Modelos X2 Gl p-value X2/(gl) NFI IFI TLI CFI RMSEA

BDG 393,01 80 0,000 9,825 0,913 0,921 0,901 0,921 0,061

O'Brien 193,94 42 0,000 4,62 0,956 0,965 0,955 0,965 0,039

Escala Geral 6779,69 526 0,000 12,889 0,696 0,713 0,693 0,712 0,071

Após a exclusão das variáveis, dos três modelos analisados, O’Brien (2010) foi o

único que obteve um ajuste adequado, ou seja, (X2/gl) com um valor inferior a 5. Para

contornar as limitações do teste do X2, interpreta-se os índices de aderência (Goodness-

of-fit) para avaliar o modelo, são eles: NFI, IFI, TFI e CFI. Apenas as escalas de Babin,

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110

Darden e Griffin (1994) e O’Brien (2010) apresentaram os índices maiores que 0,90.

Quanto ao RMSEA, apenas a escala de O’Brien (2010) apresentou um bom ajuste com

os valores maiores que 0,05. Abaixo, a Tabela 16 apresenta o índice de Hoelter com a

exclusão das variáveis.

Tabela 26 – Índice de Hoelter, com a exclusão das variáveis

Modelos Hoelter

0,05

Hoelter

0,01

BDG 336 384

O'Brien 710 809

Escala Geral 203 212

Os três modelos apresentaram adequação do tamanho da amostra ao modelo

postulado por terem valores superiores a 200, assim, eles representam adequadamente os

dados amostrais.

Comparação das Escalas

Para realizar uma comparação entre as escalas, foi feita uma análise de correlação

entre os seus resultados. Para isso, após a exclusão das variáveis, cada fator de carga da

análise fatorial confirmatória foi multiplicado pelos resultados dos respondentes de cada

variável. Em outras palavras, os valores presentes nas figuras 4, 5 e 6 foram multiplicados

pelas respostas de cada um dos participantes da pesquisa. Assim, a Tabela 25 mostra as

correlações entre as três escalas tanto para hedonismo quanto para utilitarismo.

Tabela 27 – Correlação dos fatores hedônicos e utilitários das três escalas

HEDONISMO

Babin, Darden e

Griffin (1994) O’Brien (2010)

O’Brien (2010) 0,849

Escala Geral 0,861 0,921

UTILITARISMO

Babin, Darden e

Griffin (1994) O’Brien (2010)

O’Brien (2010) 0,848

Escala Geral 0,428 0,454

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111

Os resultados mostram uma correlação muito forte entre as escalas para o fator

hedônico, o que pode apontar que as variáveis hedônicas das três escalas apontam para

respostas similares.

Para o fator utilitarismo, as escalas de Babin, Darden e Griffin (1994) e O’Brien

(2010) apresentam forte correlação (p = 0,848), contudo, quando ambas são

correlacionadas com a Escala Geral, os valores apresentados são baixos. Isso pode refletir

que existem itens presentes no fator de carga utilitário da Escala Geral, e que não estão

nas outras duas escalas, que não representam os mesmos resultados obtidos nas respostas

dos indivíduos entrevistados.

Assim, as variáveis utilitárias que estão na Escala Geral, mas que não fazem parte

das outras duas são: V25 (Eu comprei esse carro por necessidade), V27 (Eu comprei esse

carro porque eu moro muito longe do meu trabalho ou da minha faculdade), V28 (Eu

comprei esse carro porque eu não posso esperar tanto tempo pelo ônibus), V29 (Eu

comprei esse carro porque pensava em mobilidade), V31 (Eu comprei esse carro porque

me dá agilidade), V32 (Eu comprei esse carro porque eu precisava dele), V33 (Eu

pesquisei o custo de manutenção antes de comprar esse carro) e V34 (Quando eu comprei

esse carro, não me preocupei com os acessórios).

Talvez, um dos motivos de ter resultados diferentes foi o fato das outras escalas

não terem sido desenvolvidas para o consumo de automóveis. Por meio das frases,

percebe-se que alguns itens são muito específicos para carro e não para outros bens de

consumo, como é o caso de: espera por ônibus (V28), mobilidade (V29), precisar do carro

(V32), custo de manutenção (V33) e acessórios do carro (V34).

Além disso, outro aspecto pode ser pelo fato de no automóvel o fator utilitarismo

estar relacionado com a mobilidade, ou seja, o consumidor necessita do carro,

principalmente para se deslocar de um local para o outro (V27), como foi exposto no

estudo qualitativo de Rodrigues e Casotti (2015).

Ainda, a Variável 31 pode ter uma dupla interpretação por esses consumidores.

Isso porque agilidade pode vir a significar aspectos utilitários de mobilidade como o

consumidor ir de um lugar para o outro de forma rápida. Todavia, agilidade também pode

significar aspectos hedônicos como carros que conseguem obter alta velocidade e gerar

prazer/emoção para consumidores que consideram esse atributo importante.

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112

Proposta de Nova Escala Adaptada

Após a exclusão das variáveis V1, V4, V6, V13, V15, V21, V23 e V30 com o

processo de depuração em que as aquelas originalmente utilitárias apresentaram maior

fator de carga hedônico e vice-versa, tem-se o Quadro 3 que apresenta a proposta de

escala adaptada.

Quadro 3 – Proposta de escala adaptada

V Itens da escala Itens da escala em inglês

Babin,

Darden e

Griffin

(1994)

O'Brien

(2010)

Rodrigues

e Casotti

(2015)

Rodrigues

(2015) U/H

V2

Eu comprei esse carro não

porque eu tinha que comprá-lo,

mas porque eu queria comprá-lo.

I continued to shop, not

because I had to, but

because I wanted to. X H

V3 Para mim, a compra desse carro

significou uma fuga.

This shopping trip felt like

an escape. X H

V5 Eu fico entusiasmado com o

lançamento de novos carros.

I enjoyed being immersed

in exciting new products. X X H

V7

Eu me diverti na compra desse

carro pois fui capaz de comprá-

lo por impulso.

I had a good time because I

was able to act on the

“spur of the moment”. X H

V8 Durante a compra desse carro,

eu senti o prazer da procura.

During the trip, I felt the

excitement of the hunt. X X H

V9

Durante a compra desse carro, eu

pude esquecer os meus

problemas.

While shopping, I was able

to forget my problems. X H

V10 A compra desse carro me faz

sentir uma sensação de aventura.

While shopping, I felt a

sense of adventure. X X H

V11 A compra desse carro não foi

uma pausa agradável.

This shopping trip was not

a very nice time out. X H

V12 Eu realizei exatamente o que eu

queria com a compra desse carro.

I accomplished just what I

wanted to on this shopping

trip. X X U

V14

Enquanto eu estava comprando o

carro, encontrei exatamente o

que estava procurando.

While shopping, I found

just the item(s) I was

looking for. X X U

V16 Para mim, a compra desse carro

foi uma forma de aliviar o stress.

To me, shopping is a way

to relieve stress. X H

V17

Eu comprei esse carro porque

queria me dar um presente

especial.

I go shopping when I want

to treat myself to

something special. X H

V18 Eu comprei esse carro para estar

em dia com as tendências.

I go shopping to keep up

with trends. X H

V19 Eu comprei esse carro pensando

em meus amigos e familiares.

I enjoy shopping for my

friends and family. X H

V20 Gostei de socializar quando

comprei esse carro.

I enjoy socializing with

others when I shop. X H

V22 Eu gostei de procurar descontos

quando comprei esse carro.

I enjoy looking for

discounts when I shop. X U

V24

Eu me senti bem quando percebi

que a compra desse carro foi

bem sucedida.

It feels good to know that

my shopping trip was

successful. X U

V25 Eu comprei esse carro por

necessidade. I bought this car for need. X U

Continua...

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113

Fonte: Elaboração própria.

*U/H: U - Utilitarismo e H - Hedonismo.

V: Variável.

Considerações das Análises em Relação aos Objetivos

Retomando os objetivos do estudo, que é realizar uma adaptação de escalas que

pudessem medir o valor utilitário e hedônico da experiência de compra de automóveis

por consumidores da classe média emergente. E especificamente: (1) adaptar uma escala

de medição para as dimensões hedônica e utilitária (BATRA; AHTOLA, 1990); e na (2)

continuação.

Quadro 3 – Proposta de escala adaptada

V Itens da escala Itens da escala em inglês

Babin,

Darden e

Griffin

(1994)

O'Brien

(2010)

Rodrigues

e Casotti

(2015)

Rodrigues

(2015) U/H

V25 Eu comprei esse carro por

necessidade. I bought this car for need. X U V26

Eu comprei esse carro por status. I bought this car for status. X H

V27

Eu comprei esse carro porque eu

moro muito longe do meu

trabalho ou da minha faculdade.

I bought this car because I

live far from my work or

my college. X U

V28

Eu comprei esse carro porque eu

não posso esperar tanto tempo

pelo ônibus.

I bought this car because I

can not wait that long for

the bus. X U

V29 Eu comprei esse carro porque

pensava em mobilidade.

I bought this car because I

was thinking about

mobility. X U

V31 Eu comprei esse carro porque me

dá agilidade.

I bought this car because it

gives me agility. X U

V32 Eu comprei esse carro porque eu

precisava dele.

I bought this car because I

needed it. X U

V33

Eu pesquisei o custo de

manutenção antes de comprar

esse carro.

I researched the cost of

maintenance before buying

this car. X U

V34

Quando eu comprei esse carro,

não me preocupei com os

acessórios.

When I bought this car, I

do not worry about the

accessories. X U V35

Esse carro é uma festa. This car is a party. X H

V36 Esse carro é um espaço de

entretenimento.

This car is an

entertainment space. X H

V37

Depois que comprei esse carro,

eu me sinto uma pessoa mais

bonita.

After I bought this car, I

feel more beautiful person. X H

V38 Com esse carro, eu tenho mais

amigos pra curtir.

With this car, I have more

friends to enjoy. X H

V39

Depois da compra desse carro,

eu passei a ser uma pessoa mais

feliz.

After buying this car, I

started to be a happier

person. X H

V40

Os(As) homens/mulheres

passaram a gostar mais de mim

depois do meu carro.

Men / women began to like

me after my car. X H

V41 Eu me preocupei em equipar

esse carro com vários acessórios.

I worried in equipping a

car with several

accessories. X H

V42 Eu me preocupei em equipar

esse carro com um som.

I worried in equipping a

car with a sound. X H

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114

adaptar uma escala abrangente a fim de medir a experiência de consumidores da classe

média emergente na compra do automóvel (BABIN; DARDEN; GRIFFIN, 1994).

Quanto ao primeiro objetivo específico, percebeu-se que a escala de O’Brien

(2010) é a melhor a ser utilizada, seguida da escala de Babin, Darden e Griffin (1994).

Além disso, ambas as escalas poderão ser usadas para mensurar a experiência hedônica e

utilitária do consumo de automóveis na classe média emergente.

Quanto ao segundo objetivo específico, foi realizada uma adaptação das escalas

existentes para mensurar a experiência de consumo hedônico e utilitário de automóveis

na classe média emergente que pudesse compreender os itens dessas duas escalas

anteriores somados a itens oriundos dos dois estudos qualitativos gerados por esta Tese

de Doutorado. Contudo, os índices de ajustamento do novo modelo proposto foram bons,

mas inferiores aos índices dos outros dois modelos. Assim, a adaptação das escalas já

existentes possui melhor aplicação.

5.5 Conclusão

O presente estudo buscou realizar uma adaptação de escalas que pudessem medir

o valor utilitário e hedônico da experiência de compra de automóveis por consumidores

da classe média emergente. Assim, foi realizado o (1) adaptação de uma escala de

medição para as dimensões hedônica e utilitária, conforme sugestão de Batra e Ahtola

(1990) e o (2) adaptação de uma escala abrangente a fim de medir a experiência de

consumidores da classe média emergente na compra do automóvel, conforme sugestão

de Babin, Darden e Griffin (1994).

Além disso, estudos anteriores que buscaram desenvolver uma escala de

hedonismo e utilitarismo focaram as dimensões presentes no consumo de categorias

distintas de produtos, além de terem o foco na medição de atitudes (BATRA; AHTOLA,

1990; BABIN; DARDEN; GRIFFIN, 1994). Esta pesquisa, no entanto, avança também

com uma investigação sobre o valor no consumo do automóvel associado à mensuração

da experiência hedônica e utilitária a partir de influências socioculturais regionais.

A análise fatorial traz resultados que permitem uma reflexão que foge à lógica

tradicional do que é hedônico e utilitário para o consumo de produtos/serviços de um

modo geral. Os achados apontam para três aspectos que evidencia distinções de modo a

inverter a lógica do consumo hedônico e utilitário. A primeiro aspecto é a regionalidade,

isto é, o quanto a cultura regional pode interferir no fraseamento de uma escala enquanto

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115

instrumento de coleta de dados em que o significado de palavras como “barganha” e

“fuga” ou expressões como “sensação de aventura” podem interferir no resultado final da

análise.

O segundo aspecto está relacionado ao grupo de indivíduos pesquisado. A

compreensão do que é hedônico e utilitário parece se modificar em algumas questões

dadas as limitações de renda da classe média emergente. Os significados de “prazer” e

“conforto”, que tradicionalmente estão associados às características hedônicas no

consumo, quando se trata desse grupo de indivíduos, essas palavras podem representar

abandonar paradas de ônibus com filas e em meio a altas temperaturas, de modo que ter

um carro básico que supre a função utilitária de mobilidade já significa “prazer” e

“conforto”.

O terceiro aspecto é a categoria do automóvel em si. Por se tratar de um bem de

alto valor agregado, também pode representar inversões nos significados hedônicos e

utilitários. As questões envolvendo o tempo gasto na compra ser agradável, enquanto

dimensão hedônica, por exemplo numa viagem de compras, para o automóvel é uma

questão básica (utilitária), pois dado o alto preço do produto, não gastar tempo na procura

pode envolver uma compra errada e que um alto nível de arrependimento. Além disso,

“procurar barganhas” e “procurar descontos” que tradicionalmente estaria associado à

dimensão utilitária, para esse bem, está mais relacionado à dimensão hedônica, pois as

barganhas e descontos irão existir em maior quantidade quando se trata de carros com um

preço mais alto, por exemplo na black Friday deste ano, a Mercedes chegou a anunciar

descontos de até R$ 190.000,00.

Ainda, de acordo com os resultados da análise fatorial confirmatória, os modelos

propostos pela Escala Geral e pela Escala de Babin, Darden e Griffin (1994) apresentaram

índices de ajustamento do modelo (X2/gl), (p-value), NFI, IFI, TFI e CFI bem próximos

aos valores descritos na literatura (0,90) e o RMSEA em torno de 0,50. Contudo, apenas

o modelo proposto pela Escala de O’Brien (2010) teve esses mesmos índices

perfeitamente dentro dos valores recomendados, representando um ótimo ajuste. Assim,

o modelo de O’Brien (2010) apresenta os melhores indicadores estatísticos.

Após essa análise fatorial confirmatória com todas as variáveis presentes, foi

realizada novamente a análise, mas com a exclusão de variáveis que na análise fatorial

exploratória eram, originalmente, utilitárias e apresentaram maior fator de carga hedônico

e vice-versa. Os resultados demonstraram que, após essa exclusão, o modelo proposto

pela Escala Geral teve os valores dos seus índices de ajustamento distanciados do valor

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ideal (acima de 0,90), contudo, as escalas de Babin, Darden e Griffin (1994) e O’Brien

(2010) melhoraram seus índices, sendo esta última, a que obteve, novamente, os melhores

índices de ajuste, isto é, a melhor escala para medir hedonismo e utilitarismo no consumo

de automóveis.

Um dos aspectos possíveis para que isso tenha ocorrido pode ser o fato das outras

duas escalas já existentes não abordarem especificamente o consumo de automóveis,

diferentemente da escala proposta. Além disso, pode ser ainda que no caso de automóveis

o fator utilitário esteja associado aos aspetos de mobilidade, como relatado no estudo de

Rodrigues e Casotti (2015), diferenciando assim esse fator dos aspectos utilitários

existentes nas outras duas escalas já existentes.

Como contribuições sociais, chama a atenção a alteração do significado hedônico

do “querer comprar” para o significado utilitário. Normalmente, “ter que comprar” um

produto estaria associado à utilidade, enquanto o “querer comprar” ao prazer (dimensão

hedônica). Contudo, o querer comprar o automóvel passa a ser algo necessário para esse

grupo de indivíduos que convive diariamente com transporte público precário,

manifestado em atrasos de horários em seus compromissos pessoais e de trabalho, à baixa

infraestrutura dos pontos de ônibus e demais transportes coletivos, além da insegurança

(manifestada pelos altos índices de violência) em esperar de forma prolongada por esses

meios de transporte a partir de horários noturnos ou em dias de menor movimentação de

pessoas como domingos e feriados. Portanto, “querer comprar” um carro parece ser algo

de grande necessidade.

Como limitações, a análise fatorial confirmatória para o modelo da escala proposta

apresentou índices de ajustamento bem próximos aos ideais, mas ainda não o suficiente

para um bom ajustamento. Isso pode ter acontecido pela presença de observações

discrepantes, portanto, testes com uma possível exclusão de cada um desses casos atípicos

podem vir a trazer um melhor índice de ajustamento do modelo.

Como sugestões, estudos futuros podem: a) vir a buscar testar essa escala em

outros contextos com características regionais distintas para verificar a influência da

cultura sobre as variáveis analisadas; b) testar a escala em um grupo de indivíduos com

níveis de renda maiores para compreender como se comportam essas alterações hedônicas

e utilitárias encontradas; e c) testar essa escala ou adaptá-la ao consumo de outras

categorias de produtos, por exemplo, motocicletas.

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117

5 CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa partiu do entendimento de que o utilitarismo no consumo assume

uma posição de que o indivíduo compra um determinado produto pela sua função básica,

isto é, para aquilo que ele é descrito como útil. Assim, uma compra utilitária assume

características de que o produto consumido foi adquirido, predominantemente, por

aspectos que envolvem o quesito necessidade. De outra forma, o hedonismo, no consumo,

está dentro do contexto de uma compra, preponderantemente, voltada para o prazer, para

a satisfação dos desejos e vontades do consumidor.

Todavia, o que parecem ser duas orientações de consumo diferentes ou até mesmo

opostas podem ser vistas, na verdade, como duas faces de um mesmo continuum. Uma

compra possui características tanto utilitárias quanto hedônicas, isto é, elementos de

necessidade e prazer estão envolvidos, ao mesmo tempo, na decisão de comprar e usar

um produto como um automóvel. A principal diferenciação, no entanto, não se localiza

no produto e suas características tangíveis e intangíveis, mas sim em quem vai compra-

lo e usá-lo.

Indivíduos, pequenos grupos sociais, grandes grupos segmentados

demograficamente exemplificam diferentes lentes para conhecer o comportamento do

consumidor de determinado produto. Cada lente, contexto ou situação de compra e uso

pode construir uma grande diversidade de significados e consequentemente de gradações

para mais ou para menos no continuum da necessidade e do prazer.

A contribuição dos três diferentes estudos, que trazem, inclusive, perspectivas

teóricas e metodológicas também distintas, é mostrar a importância da pluralidade de

lentes para uma melhor compreensão dos aspectos utilitários e hedônicos que envolvem

uma categoria de produto como o automóvel. Essas duas faces diferenciam a compra e

uso do automóvel, mas ao mesmo tempo parecem se somar e se completar quando se

busca compreender tanto os significados quanto as experiências de consumo do

automóvel.

Os três estudos trazem narrativas pessoais, associações e características da

experiência de compra do automóvel que falam do valor mais ou menos utilitário ou mais

ou menos hedônico. Desta forma, o estudo atende ao seu objetivo geral de compreender

os significados e o valor utilitário e hedônico associados às experiências de uso e de

compra de automóveis considerando consumidores da classe média emergente em uma

das cidades mais desiguais do Brasil e com o menor IDH.

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118

Embora o comportamento do consumidor de automóvel tenha forte dimensão

simbólica, de acordo com estudos anteriores encontrados na literatura pesquisada, os

consumidores da classe média emergente que contribuíram para esse estudo, agregaram

originalidade ao tema quando colocaram a mobilidade em primeiro plano de forma

enfática em algumas narrativas.

Todavia, as letras de músicas do gênero forró, que se inspiram na realidade, trazem

conteúdo com fortes dimensões simbólicas e transformações identitárias associadas a um

consumo predominantemente hedônico associado, por exemplo, a um espaço de

entretenimento. Como então identificar e compreender, características mais ou menos

utilitárias e/ou hedônicas que motivam a compra e o uso de produtos para um grupo de

consumidores? Esta pesquisa sugere que os achados de diferentes perspectivas teóricas e

metodológicas podem trazer contribuições para os estudos acadêmicos e também para

decisões gerenciais que envolvem toda a jornada percorrida pelos consumidores.

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119

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APÊNDICE A – Questionário de Hedonismo e Utilitarismo para a Escala Geral

1. Você tem carro? ( ) Não. ( )Sim. Se sim, quantos?______

2. Você possui renda familiar mensal entre R$1277 e R$3117,99? ( ) Sim ( ) Não

3. A compra do carro foi para você mesmo? ( ) Não ( ) Sim 4. Você comprou o carro: ( ) Novo ( ) Usado

5. Sexo? ( ) M ( ) F 6. Idade? _____

7. Escolaridade? ( ) Não alfabetizado ( ) Somente alfabetizado ( ) Elementar incompleto ou da 1ª a 3ª série do 1º

grau ( ) Elementar completo ou até a 4ª série do 1º grau ( ) Médio 1º ciclo ou da 5ª a 8ª série do 1º grau

( ) Médio 2º ciclo ou 2º grau ( ) Superior ( ) Mestrado ou Doutorado ( ) Não sabe / Sem declaração

O tema dessa pesquisa se refere ao consumo de automóveis novos ou usados. A seguir, gostaríamos que você avaliasse

alguns atributos relativos a sua última compra de automóvel. O critério dessa avaliação deve ser o seu grau de

concordância com as afirmativas. Por favor, é importante que você responda todos os campos da pesquisa. Não existem

respostas certas ou erradas. O preenchimento deste questionário leva, em média, cerca de 10 minutos. Agradecemos

sua colaboração. Por favor, indique em uma escala de sete pontos de 1 = "Discordo fortemente" até 7= "Concordo

fortemente" o grau de concordância com as afirmativas a seguir:

Afirmativa Resposta

1 A compra desse carro foi realmente prazerosa. 1 2 3 4 5 6 7

2 Eu comprei esse carro não porque eu tinha que comprá-lo, mas porque eu queria comprá-lo. 1 2 3 4 5 6 7

3 Para mim, a compra desse carro significou uma fuga. 1 2 3 4 5 6 7

4 Comparando às outras coisas que eu poderia ter feito, o tempo gasto na compra desse carro foi verdadeiramente agradável. 1 2 3 4 5 6 7

5 Eu fico entusiasmado com o lançamento de novos carros. 1 2 3 4 5 6 7

6 Eu gostei dessa experiência de compra de carro em si, independente do carro que foi comprado. 1 2 3 4 5 6 7

7 Eu me diverti na compra desse carro pois fui capaz de comprá-lo por impulso. 1 2 3 4 5 6 7

8 Durante a compra desse carro, eu senti o prazer da procura. 1 2 3 4 5 6 7

9 Durante a compra desse carro, eu pude esquecer os meus problemas. 1 2 3 4 5 6 7

10 A compra desse carro me faz sentir uma sensação de aventura. 1 2 3 4 5 6 7

11 A compra desse carro não foi uma pausa agradável. 1 2 3 4 5 6 7

12 Eu realizei exatamente o que eu queria com a compra desse carro. 1 2 3 4 5 6 7

13 Eu não pude comprar o carro que eu realmente precisava. 1 2 3 4 5 6 7

14 Enquanto eu estava comprando o carro, encontrei exatamente o que estava procurando. 1 2 3 4 5 6 7

15 Eu fiquei desapontado, pois tive que ir a outra loja para achar exatamente o carro que eu procurava. 1 2 3 4 5 6 7

16 Para mim, a compra desse carro foi uma forma de aliviar o stress. 1 2 3 4 5 6 7

17 Eu comprei esse carro porque queria me dar um presente especial. 1 2 3 4 5 6 7

18 Eu comprei esse carro para estar em dia com as tendências. 1 2 3 4 5 6 7

19 Eu comprei esse carro pensando em meus amigos e familiares. 1 2 3 4 5 6 7

20 Gostei de socializar quando comprei esse carro. 1 2 3 4 5 6 7

21 Eu gostei de procurar boas barganhas quando comprei esse carro. 1 2 3 4 5 6 7

22 Eu gostei de procurar descontos quando comprei esse carro. 1 2 3 4 5 6 7

23 Eu gostei de me sentir inteligente quando comprei esse carro. 1 2 3 4 5 6 7

24 Eu me senti bem quando percebi que a compra desse carro foi bem sucedida. 1 2 3 4 5 6 7

25 Eu comprei esse carro por necessidade. 1 2 3 4 5 6 7

26 Eu comprei esse carro por status. 1 2 3 4 5 6 7

27 Eu comprei esse carro porque eu moro muito longe do meu trabalho ou da minha faculdade. 1 2 3 4 5 6 7

28 Eu comprei esse carro porque eu não posso esperar tanto tempo pelo ônibus. 1 2 3 4 5 6 7

29 Eu comprei esse carro porque pensava em mobilidade. 1 2 3 4 5 6 7

30 Eu comprei esse carro porque pensava em conforto. 1 2 3 4 5 6 7

31 Eu comprei esse carro porque me dá agilidade. 1 2 3 4 5 6 7

32 Eu comprei esse carro porque eu precisava dele. 1 2 3 4 5 6 7

33 Eu pesquisei o custo de manutenção antes de comprar esse carro. 1 2 3 4 5 6 7

34 Quando eu comprei esse carro, não me preocupei com os acessórios. 1 2 3 4 5 6 7

35 Esse carro é uma festa. 1 2 3 4 5 6 7

36 Esse carro é um espaço de entretenimento. 1 2 3 4 5 6 7

37 Depois que comprei esse carro, eu me sinto uma pessoa mais bonita. 1 2 3 4 5 6 7

38 Com esse carro, eu tenho mais amigos pra curtir. 1 2 3 4 5 6 7

39 Depois da compra desse carro, eu passei a ser uma pessoa mais feliz. 1 2 3 4 5 6 7

40 Os(As) homens/mulheres passaram a gostar mais de mim depois do meu carro. 1 2 3 4 5 6 7

41 Eu me preocupei em equipar esse carro com vários acessórios. 1 2 3 4 5 6 7

42 Eu me preocupei em equipar esse carro com um som. 1 2 3 4 5 6 7