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Janaína Cecin Silva
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II
RELAÇÕES ENTRE O LIVRO “ONDE VIVEM OS MONSTROS” E TÉCNICAS DA
MENSAGEM PUBLICITÁRIA
Santa Maria, RS
2012/2
1
Janaína Cecin Silva
RELAÇÕES ENTRE O “LIVRO ONDE VIVEM OS MONSTROS” E TÉCNICAS DA
MENSAGEM PUBLICITÁRIA
Trabalho Final de Graduação II apresentado ao
Curso de Publicidade e Propaganda, da Área
de Ciências Sociais, do Centro Universitário
Franciscano.
Orientador (a): Profª. Laise Zappe Loy
Santa Maria, RS
2012/2
2
Janaína Cecin Silva
RELAÇÕES ENTRE O LIVRO “ONDE VIVEM OS MONSTROS” E TÉCNICAS DA
MENSAGEM PUBLICITÁRIA
Trabalho Final de Graduação II apresentado ao
Curso de Publicidade e Propaganda, da Área
de Ciências Sociais, do Centro Universitário
Franciscano.
_________________________________________________
Profª Laise Zappe Loy (orientadora)
_________________________________________________
Profª Salette Mafalda Oliveira Marchi
_________________________________________________
Profª Pauline Neutzling Fraga
_________________________________________________
Profª Michele Kapp Trevisan (Suplente)
Aprovado em .......... de ..................................... de ................
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais pela paciência, presteza e dedicação com que me ajudaram desde sempre. Aos
meus colegas, e agora amigos, que me fizeram sorrir e enfrentar algumas manhãs
tumultuadas. A minha orientadora que auxiliou na busca de soluções para cada dúvida que
surgia. A todos os demais professores que compartilharam seu conhecimento acadêmico e
experiência de vida. E, enfim, dedico este trabalho a todas as pessoas importantes que me
ajudaram e incentivaram durante minha passagem pelo curso de Publicidade e Propaganda.
4
RESUMO
O presente trabalho consiste relacionar, através de uma análise comparativa, a mensagem
publicitária com os elementos do gênero literário. Assim, o objetivo desta pesquisa é analisar
o que existe em comum no que diz respeito ao texto e as ilustrações presentes no livro "Onde
vivem os monstros", do autor Maurice Sendak e as estratégias publicitárias utilizadas em três
anúncios impressos da campanha "O amor é a melhor herança”, da RBS TV. Como base para
o desenvolvimento do trabalho foram utilizadas referências sobre texto, ilustração e fantasia,
na publicidade e literatura. O material da análise foi escolhido de acordo com seu maior
número de detalhes e ilustração, possibilitando a divisão entre categorias de texto (estrutura,
posição do narrador, figuras de linguagem, recursos publicitários) e ilustração (cenário,
personagens, fantasia). Enfim, foi possível verificar que nas peças publicitárias existem
muitas referências apropriadas do gênero literário desde caracterizações verbais, estereótipos
e estrutura do texto até mesmo elementos visuais que compõem a ilustração como traço,
cenário, cores e personagens.
Palavras-chave: comunicação, publicidade, literatura, ilustração, fantasia
ABSTRACT
This paper brings to relate through a comparative analysis, the advertising message with the
elements of the literary genre. The objective of this research is to analyze what is in common
with the text and illustrations in the book "Where the Wild Things Are" by Maurice Sendak
and advertising strategies used in three ads campaign "O amor é a melhor herança"by RBS
TV. The base for the development of research was references about text, fantasy and
illustration, in advertising and literature. The material analyses were chosen according to their
much detail and illustration, allowing the division between text categories (structure, position
of the narrator, figures of speech, limited advertising) and illustration (setting, characters,
fantasy). Finally, it’s was found that there are many references to appropriate literary genre
since verbal characterizations, stereotypes and structure text even visual elements that
compose the illustration as stroke, scenery, colors and characters.
Keywords: communication, advertising, literature, illustration, fantasy
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Maurice Sendak ....................................................................................................... 29
Figura 2 - Max de castigo em seu quarto.................................................................................. 32
Figura 3 - Tipo de ilustração Digital: Bicho Papão, Bruxa Malvada e Diabo .......................... 45
Figura 4 - Ilustração tradicional de Onde vivem os monstros .................................................. 45
Figura 5 - Cenário Bicho Papão ............................................................................................... 47
Figura 6 - Cenário Bruxa Malvada ........................................................................................... 48
Figura 7 - Cenário Diabo .......................................................................................................... 49
Figura 8 – Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 1 ..................................................... 50
Figura 9 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 2 ...................................................... 51
Figura 10 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 3 .................................................... 52
Figura 11 - Expressões dos personagens: Chateado, Preocupada, Preocupado, Tranquilo...... 52
Figura 13 - Expressões dos personagens monstros: Surpresa, tédio, cansaço, obediente ........ 53
Figura 12 - Expressões do personagem Max: imposição, tédio, alívio .................................... 53
6
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Cenário Bicho Papão .............................................................................................. 46
Quadro 2 - Cenário Bruxa Malvada ......................................................................................... 47
Quadro 3 - Cenário Diabo ........................................................................................................ 48
Quadro 4 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 1 página 13.................................... 49
Quadro 5 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 2 página 17.................................... 50
Quadro 6 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 3 .................................................... 51
8
1 INTRODUÇÃO
A comunicação está presente em muitos aspectos da vida em sociedade. Segundo
Martino (2001), comunicar é o ato de tornar comum (participar) um mesmo objeto mental
(seja desejo, afeto, pensamentos, sensações). Então, com o passar dos anos, as técnicas para
comunicar uma mensagem foram aperfeiçoadas e ampliadas para atingir um público cada vez
maior. Neste contexto, é possível destacar uma das formas de comunicação que consegue
transmitir a mensagem em âmbito coletivo: a publicidade.
Zeca Martins (2006), de um ponto de vista simplista, acredita que a publicidade e a
propaganda surgiram quando os indivíduos precisavam oferecer alguma coisa a alguém (seja
um serviço ou produto) e, para que o ato fosse eficiente, era necessário utilizar estratégias na
negociação de sua oferta.
Hoje, de acordo com Martins (2006), sabe-se que eficiência da mensagem publicitária
acontece principalmente na forma de execução das estratégias que vão desde uma mídia
interativa até um layout diferenciado. Para o planejamento das estratégias utilizadas, a
publicidade apropria-se de muitos gêneros de entretenimento e informação como o cinema, a
música, as artes plásticas e também a literatura.
Assim, o gênero literário tem sido apropriado de várias maneiras na publicidade,
algumas vezes aplicando a palavra para emocionar o receptor, outras, a coesão de ideias e até
mesmo a concepção de universos de fantasia e ficção.
É possível acrescentar mais um elemento nessa apropriação do gênero literário: o uso de
ilustrações relacionadas ao texto, característica, sobretudo inerente à literatura infantil.
Exemplos destas práticas, como o uso de ilustrações, são claros em anúncios impressos de
jornais e revistas, como a campanha “O amor é a melhor herança, cuide das crianças”1 e livros
de literatura infantil como “Onde vivem os monstros”, do autor Maurice Sendak,
“Chapeuzinho Amarelo”, do autor Ziraldo, entre muitos outros.
As peças publicitárias podem trazer muitas referências no que diz respeito a literatura,
pois apropriam-se de características do gênero literário na construção da mensagem. Assim, o
problema de pesquisa deste trabalho trata-se de verificar o que existe em comum no que diz
respeito ao texto e as ilustrações presentes no livro "Onde vivem os Monstros", do autor
Maurice Sendak e as estratégias de mensagem utilizadas nos anúncios da campanha "O Amor
é a melhor herança”, da RBS TV, veiculada em junho de 2003. A pesquisa tem como objetivo
1 Campanha RBS TV, junho de 2003.
9
geral analisar o que existe em comum no que diz respeito ao texto e a as ilustrações presentes
no livro "Onde vivem os monstros", do autor Maurice Sendak e as estratégias publicitárias
utilizadas em três anúncios impressos da campanha "O amor é a melhor herança”, da RBS TV
veiculada em junho de 2003.
Este trabalho também tem como objetivos específicos estudar os princípios básicos das
técnicas presentes na mensagem publicitária e na literatura infantil, analisar os elementos de
narrativa e da ilustração presentes nos anúncios impressos da campanha “O amor é a melhor
herança”, da RBS TV e descrever elementos de narrativa e ilustração presentes no livro
“Onde vivem os monstros” do Maurice Sendak”.
Além disso, a publicidade usa constantemente elementos de outros gêneros para criação
de peças publicitárias. Nos anúncios impressos nos quais a palavra e a imagem têm papel
fundamental na transmissão de mensagens, percebem-se vários princípios do gênero literário.
O uso desses princípios em peças publicitárias produz a chamada “intertextualidade”. Gastal
(2006) afirma que:
A intertextualidade é a estratégia da mistura, condicionando não só o conteúdo, mas
também os aspectos formais da obra – vários textos num só – sem que se destruam
mutuamente: é a presença de um significante em outro, mas também a passagem de
um significante a outro. (GASTAL, 2006, p 47).
Uma forma mais simples de esclarecer esse componente, nada mais é do que um texto
combinado a outro texto. Na publicidade, o conceito de intertextualidade aparece na forma de
ideias que partiram de gêneros, principalmente quando a ideia parte de uma referência já
existente.
Exemplo disso, são os anúncios do Bombril que trazem a suas campanhas ícones da literatura
como Lobo Mau e Mágico de Oz; as campanhas de Dia das Crianças das lojas Renner citando
contos de fadas; a Coca-Cola usando a fantasia e o lúdico em sua campanha “Fábrica da
felicidade” como estratégia para transmitir a mensagem, ou seja, características, como a
fantasia e o lúdico, que partiram da literatura.
Assim, entender como a publicidade e a literatura relacionam-se será pertinente para
fornecer bases referenciais na criação de textos coerentes em peças publicitárias e ideias
criativas que oportunizem o receptor a refletir sobre seu conceito e conceber cada vez mais
um intelecto crítico para beneficiar o mundo que o cerca.
Espera-se que a pesquisa contribua como complemento no que diz respeito ao estudo de
referências, pois é através delas que o público se identifica com uma peça publicitária.
10
Outro aspecto importante no desenvolvimento desta pesquisa é entender como o texto e
as imagens conseguem se relacionar para transmitir a mensagem sem tornarem-se
redundantes, já que ambos se complementam para que na interpretação do espectador nenhum
dos dois seja descartado.
Desta forma, o tema escolhido procura satisfazer as necessidades da pesquisadora, que
após o término do curso pretende seguir como ilustradora de livros infantis. Desta forma, esta
pesquisa será relevante para melhorar sua experiência acadêmica e servir de auxílio para
trabalhos futuros.
E, enfim, o presente trabalho aborda os conteúdos de comunicação e linguagem, texto e
ilustração na publicidade, panorama geral da literatura, texto e ilustração na literatura, breve
histórico do autor Maurice Sendak , apresentação do material de pesquisa escolhido e também
o desenvolvimento da lógica da fantasia e emoção na publicidade e literatura.
11
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1.1 LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
A linguagem, segundo Teixeira (2007), é a capacidade natural que todos os seres
humanos têm de se comunicar, o que, dentro do sistema comunicativo, pode ocorrer por meio
de múltiplos códigos (línguas) ou canais.
O autor acredita que já a noção de língua é menos abrangente e pode ser definida por
signos; ela é mais restrita e se desenvolve através da competência linguística, ou seja, de
acordo com a língua natural do grupo a que se pertence. É a partir da língua que nossas
linguagens se manifestam. A linguagem está sempre vinculada à comunicação, pois é desta
forma que a comunicação está articulada.
Teixeira (2007) afirma que ao empregar a língua na comunicação o homem utiliza um
código mais específico e desta forma com maior possibilidade expressiva. Para Serra (2007),
a comunicação está relacionada ao compartilhamento e a conversão da mensagem em algo
universal, pois deriva do latim communicare que significa “tornar comum a muitos, partilhar”.
Enquanto nome de acção, a palavra comunicação envolve um sentido duplo: ela
pode ser (e é) interpretada seja como transmissão, “um processo de sentido único”,
seja como partilha, “um processo comum ou mútuo”. No sentido único está
relacionada ao compartilhamento entre indivíduos. (SERRA, 2007, p 70)
Já Teixeira (2007) explica a transmissão de mensagens como um processo e define dois
movimentos no sistema de transmissão de mensagem: o primeiro considera a transformação
da ideia (abstração) em código (codificação) para que o destinatário da mensagem possa
transformar o código em ideia (decodificação). Para que aconteça o processo de transmissão
de mensagem é necessário que seis elementos estejam presentes: emissor, receptor,
mensagem, canal, código e contexto. Todos os elementos têm papel essencial no processo e
qualquer falha pode prejudicar a intenção da mensagem.
O uso da linguagem articulada desenvolve ações que são intrínsecas ao ato de
comunicar. Não estão exclusivamente relacionadas ao conteúdo e ocorrem
independentemente da intenção do emissor no processo comunicativo. São chamadas as
funções da linguagem, que para Teixeira (2007), são definidas por: emotiva, apelativa ou
conativa, fática, metalinguística e referencial.
A função emotiva, segundo o referido autor, caracteriza-se por estar centrada no
emissor, refletindo sua visão de mundo, emoções e estados subjetivos. É nitidamente visível a
12
personalidade do emissor ao utilizar essa função. Nela, ocorrem geralmente em interjeições,
exclamações, reticências, adjetivação e presença marcante da 1ª pessoa. Já a função apelativa
ou conativa é centrada no receptor e procura modificar ideias, opiniões e estados emocionais.
Pode-se dizer que é a função com discurso de convencimento. É uma das funções mais
utilizadas na propaganda. A função que tem o objetivo de abrir, fechar ou simplesmente testar
o canal de comunicação é chamada de função fática e serve para reforçar o envio da
mensagem.
A função metalinguística se preocupa em esclarecer o código utilizado na comunicação
como uso de dicionários e explicação oral de um determinado assunto. E, por fim, a função
referencial, que acontece quando há referência a um contexto histórico ou regional. Está
presente em quase todas as situações de comunicação.
Já na comunicação, Serra (2007) defende que mesmo com os diversos tipos de
comunicação existentes, o que importa é o contexto e o fenômeno na qual ela está inserida.
Desta maneira, o autor explica a classificação dos fenômenos através do: tempo (comunicação
direta e indireta), do número (comunicação interpessoal e comunicação de massa), do espaço
(presencial ou a distância) e quanto ao código (comunicação verbal e comunicação não
verbal).
Da dificuldade ou mesmo impossibilidade de um único modelo – ou teoria, ou
mesmo paradigma – da comunicação descrever a totalidade dos fenómenos
comunicacionais não se pode, contudo, concluir pela inutilidade desses mesmos
modelos; de facto, os modelos continuam a ser-nos úteis enquanto dispositivos
teóricos (potencialmente) dotados de uma função organizadora, heurística e
preditiva que permite conferir uma certa ordem à multiplicidade e heterogeneidade
dos fenômenos comunicacionais. (SERRA, 2007, p 80)
Segundo Teixeira (2007), em qualquer situação de comunicação, a linguagem é
utilizada como prática social, uma vez que a fala aponta traços de intencionalidade, aspectos
referentes a identidade, relações interpessoais, sistemas de valores e crenças.
Além de contextos, valores e crenças, a publicidade, que é uma forma de comunicação,
consegue aproveitar bastante as funções da linguagem em anúncios para um público-alvo
muito específico, aplicando funções referenciais em campanhas institucionais ou datas
especiais empregando a emoção, e mesmo a função conativa para motivar o consumo de um
produto ou serviço.
13
2.2 PUBLICIDADE E PROPAGANDA
O desenvolvimento da linguagem e transmissão de mensagens promoveu diversas
formas de comunicação. Uma destas formas é a publicidade, que, segundo Tavares (2005)
trata-se de uma mensagem paga por um cliente em um meio de comunicação (mídia) com
objetivo de vender um produto ou serviço utilizando recursos linguísticos de ordenação,
persuasão e sedução. Entretanto, Tavares (2005) afirma que a publicidade vai muito além da
motivação de consumo dos produtos uma vez que seu discurso não espelha apenas a
realidade, mas também constrói práticas sociais e culturais.
Para Santos (2005), existe uma divisão no que diz respeito aos termos utilizados para
designar publicidade e propaganda. O autor afirma que a publicidade está relacionada a
compra direta e tem como objetivo direcionar o público-alvo ao consumo. Já a propaganda,
segundo o autor, é uma prática que tem como objetivo a mudança de comportamento e ideias:
Publicidade: É todo processo de planejamento, criação, produção, veiculação e
avaliação de anúncios pagos e assinados por organizações específicas (públicas,
privadas ou do terceiro setor). Nessa acepção, as mensagens têm finalidade de
predispor o receptor a praticar uma ação específica (por exemplo, comprar um
produto, abrir uma conta em determinado banco, reciclar embalagens e etc.). Essa
ação tem localização no tempo e no espaço, podendo ser quantificada.
Propaganda: visa mudar a atitude das pessoas em relação a uma crença, a uma
doutrina ou a uma ideologia. Embora muitas vezes utilize as mesmas ferramentas da
publicidade, a propaganda não tem finalidade de levar as pessoas a praticar uma
ação específica ou imediata. Ela visa a mudança das atitudes do público em relação a
uma ideia. Tem lugar na mente dos indivíduos ou no imaginário social e é de difícil
quantificação. (SANTOS, 2005, p 17)
Santos (2005) também afirma que a publicidade e a propaganda têm o caráter de
modificar valores já existentes ou até mesmo criar novos, como por exemplo, a mudança do
papel da mulher na sociedade que antes apenas zelava pelo bem estar da família e se
transformou um prática, dinâmica e hedonista.
Martins (2006) explica que, para produzir uma publicidade eficaz, é necessário que haja
planejamento de sua estrutura, identificação com o público que se pretende atingir, realização
de pesquisas e, por fim, passar pelo processo de criação, que inclui o desenvolvimento textual
e visual de uma peça.
14
2.2.1 Texto na publicidade
O texto na publicidade é um elemento de grande importância na composição da
mensagem. Carrascoza (2003) afirma que as ideias e as palavras na publicidade são
construídas através do processo da associação, que significa unir um elemento a outro.
O autor acredita que os tipos de associações partiram de conceitos definidos por
Aristóteles. Os tipos citados por Aristóteles apud Carrascoza (2003) podem ser divididos em:
semelhança, contraste e contigüidade. Porém, Carrascoza (2003) argumenta que, no séc.
XVIII, David Hume2 suprimiu uma das classificações (contraste) que considerava uma
mistura entre semelhante e contiguidade e assim acrescentou outra categoria, chamada de
causa e efeito.
Assim, através dos exemplos citados, Carrascoza (2003) consegue definir melhor o que
acontece em cada tipo de associação. A semelhança acontece quando uma imagem conduz o
pensamento do indivíduo para seu original; por exemplo, quando as pessoas contemplam um
quadro de paisagem, logo começam a pensar por meio da semelhança.
Já o tipo de causa e efeito acontece quando associamos um ato com uma sensação física,
por exemplo, quando as pessoas se deparam com uma imagem de ferimento,
instantaneamente começa-se a refletir sobre a dor que o cerca. E, por fim, o tipo definido
como contiguidade é aquele que conduz a ideia ou imagem a outra adjacente a ela, ou seja, de
continuidade em relação ao que foi citado. Hume citado por Carrascoza (2003), demonstra
que a contiguidade trata-se da continuidade em um assunto específico, por exemplo, quando
mencionada a palavra edifício em uma conversa, automaticamente por associação, os
indivíduos começam a imaginar diversos tipos de edifícios.
Além disso, o autor apresenta as relações baseadas no caráter linear da língua que se
sustentam através de extensões. Um exemplo claro deste conceito é quando se substitui uma
palavra em uma frase, entretanto seu sentindo continua semelhante. De modo geral,
Carrascoza (2003) acredita que a associação depende de métodos mnemônicos (memória).
Carrascoza (2003) afirma que transpor as palavras de um método para outro resulta em
uma espécie de literatura chamada “palavra-puxa-palavra”, destacando-se muito na
publicidade especialmente por analogia de significados.
2 David Hume foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês, autor do Tratado da Natureza Humana - Uma
Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais.
15
A analogia de significados na publicidade acontece, por exemplo, quando uma imagem
apóia um texto, quando o texto nos remete a um contexto ou situação e também quando os
recursos do texto publicitário conseguem transmitir a mensagem claramente.
Apesar da analogia de significados ser muito importante no discurso publicitário,
Carrascoza (2003) ainda considera outras estratégias relevantes para tornar coerente a
mensagem. Uma delas se baseia em etapas propostas por Aristóteles apud Carrascoza (2003).
São elas:
Exórdio: é a introdução, quando se sinaliza qual assunto será abordado, visando
assim captar de saída o interesse do interlocutor.
Narração: consiste na parte do discurso em que se apresentam os fatos, atribuindo-
lhes importância.
Provas: associadas aos fatos, devem ser demonstrativas e, embora o discurso
deliberativo aconselhe para uma conduta futura, pode-se tirar exemplos do passado,
ressaltando aquilo que deu certo ou não.
Peroração: é o epílogo, em que se unem os pontos principais das três fases
anteriores. Compõe-se de quatro partes: a primeira busca predispor o interlocutor a
nosso favor; a segunda amplia ou atenua o que foi dito; a terceira deve excitar a
paixão do interlocutor; a quarta recapitula e o coloca na posição de realmente julgar.
(CARRASCOZA, 2003, p 18)
Simultaneamente às etapas, Carrascoza (2003) também define alguns recursos que um
bom texto publicitário deve conter alguns recursos sendo eles: A unidade textual, para que o
receptor se mantenha no mesmo assunto ao longo da mensagem, ou mesmo convergir para um
mesmo fim; o circuito fechado que o final do texto precisa retornar ao início, para fechar o
circuito e impedir aconteçam outras conclusões.; a dominância da função conativa para criar
uma falsa intimidade com o destinatário através de palavras, ocultando o caráter coletivo da
mensagem; as figuras de linguagem para aumentar o grau de expressividade do texto com
hipérboles (valorizando ainda mais o produto), eufemismos (amenizando fatos), repetições
(reforçando ideias e palavras), anáforas (repetição de uma mesma palavra no início de versos
ou frases), sinestesia (sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido); a criação de
inimigos que é o inimigo a ser combatido, explícito ou oculto. Este recurso serve para criar
um contraste e permitir que o interlocutor reconheça semelhanças; as afirmações:
possibilitando interpretações variadas por parte do público, além de confirmar a proposta;
os estereótipos que são modelos consagrados em mensagens visuais e linguísticas, conforme
Carrascoza (2003), pode ser definido como generalizações, ou pressupostos, sobre as
características ou comportamentos de grupos sociais específicos ou tipos de indivíduos.
Dimblebay (1990) acredita que estereótipos constituem um estratagema para apelar a crenças,
atitudes e preconceitos. Entretanto Carrascoza (2003) afirma que estereótipos são muito
16
importantes para a publicidade. De forma favorável, o estereótipo contribui na identificação
com o público-alvo, além de confirmar uma ideia de forma mais prática.
Além dessas estratégias existem outros recursos que servem para enriquecer o texto
publicitário. Um deles é conhecido como ancoragem, que, segundo Joly (1996), baseada em
conceitos descritos por Barthes, consiste em sustentar o sentido de uma imagem (no caso da
relação texto e imagem) em um anúncio, ou seja, ambos se completam na formação do
significado. O sentido da ancoragem se baseia principalmente no elo entre a imagem e a
situação espacial-temporal por meio do texto, pois é ele que confere à imagem um tempo
definido.
2.2.1.1 Bricolagem
A bricolagem é uma das características importantes na publicidade, principalmente
na criação do texto. Segundo Carrascoza (2008), a bricolagem deriva da palavra francesa
bricoleur que significa um trabalho manual feito de improvisos e aproveitando toda a espécie
de materiais e objetos.
Na publicidade, o autor afirma que a bricolagem diz respeito a uma prática de
“colagem” de textos já produzidos a outros, na forma de referência. Basicamente, Carrascoza
(2008) acredita que a bricolagem é uma forma de transferir a referência de algo conhecido à
criação publicitária de forma a desenvolver a identificação da mensagem com o público.
Assim, Carrascoza (2008) explica que o objetivo da bricolagem é facilitar a assimilação
através da relação com uma forma já conhecida.
A trama de todo texto é, portanto, tecida com elementos de outros textos, revelando-
se nesse cruzamento as posições ideológicas de seu enunciador. Essa tessitura é
obtida por meio da citação, da alusão ou da estilização, o que nos leva as paráfrases
(quando um texto cita outro para reafirmar suas ideias) e as paródias (quando um
texto cita outro para contestar seu sentido).
(CARRASCOZA, 2008, p 24).
O autor também explica que as paródias podem se revelar tanto no campo verbal
quanto no campo visual, estabelecendo relações com imagens históricas, obras de artes,
referências a filmes e, desta forma, conferem ao anúncio a associação por semelhança.
17
2.2.2 Ilustração na publicidade
O texto é um dos elementos importantes no desenvolvimento de uma peça publicitária.
Entretanto, além do texto, a imagem tem papel fundamental na construção da mensagem
publicitária, pois a imagem, segundo Mello (2003), é a impressão inconsciente que um
indivíduo tem de algum elemento.
Segundo Cesar (2006), a imagem pode representar ideias, emoções, opiniões. Mesmo
que reproduza fatos, ou construa uma nova representação, elas podem disfarçar o produto,
enfeitar ou mesmo enganar. Apesar disso, a imagem é uma das ferramentas mais poderosa da
publicidade no ato de comunicar.
Na publicidade, a ilustração pode ser um recurso mais prático, pois não é preciso um
vasto equipamento (como equipamentos fotográficos) para representar uma floresta ou várias
pessoas, pode-se até criar o que não existe. Cesar (2006) descreve dois tipos de imagens: a
fotografia e a ilustração.
A fotografia é a representação do fotógrafo sobre sua realidade através de um
equipamento que capta luz (máquina fotográfica). Cesar (2006) afirma que, na publicidade, a
fotografia não só apenas faz com que os consumidores lembrem-se do produto, mas também
que tenham desejo consumi-lo. É uma forma de demonstrar o produto e reforçar suas
qualidades. Alguns aspectos são importantes para que a fotografia esteja adequada, como
observação, composição, dramaticidade e perspectiva, luz e forma, entre outros.
Já a ilustração, para Cesar (2006), compreende as imagens criadas tanto manualmente
quanto digitalmente. Podem contar histórias, representar fatos, apresentar elementos fictícios.
Na publicidade, além de contar histórias e representar fatos, a ilustração serve para destacar os
benefícios de um produto e deixá-lo visualmente surreal, característica dificilmente alcançada
pela fotografia do produto real. Cesar (2006) descreve os tipos de ilustração através de:
ilustrações de moda que são usadas pelos estilistas para apresentar suas criações antes de
serem catalogadas; ilustrações editoriais utilizadas em revistas e livros como forma de
complementar o texto ou apresentar um assunto; ilustrações científicas destinadas ao ramo
científico; as história em quadrinhos divididas em quadros para representar histórias.
(frequentemente utiliza personagens infantis e super heróis. Exige o uso de expressões,
interpretações, movimentos. É também bastante aplicado em storyboards3 para comerciais,
curtas e longa metragem, animações); ilustrações hiper realistas que representam com total
3 Ilustrações feitas com o propósito de organizar as cenas de um filme e apresentar uma pré-visualização.
18
realismo o objeto; são muitas vezes até confundidas com fotografias. Geralmente a
publicidade aproveita o hiper realismo na reprodução de embalagens que ainda não estão
finalizadas (ajuda a reduzir os custos caso aconteça algum imprevisto), destacar o potencial
do produto através de luz e sombra, criar peças criativas, etc; os infográficos que combinam
ilustrações, fotografias e textos. Podem ser mapas, manuais técnicos ou educativos e as
ilustrações de estilo que utilizam diferentes materiais como folhas, alumínio, café, colagens. É
um tipo inovador e que possibilita a mistura de muitos estilos para criação do produto final.
A publicidade não tem como regra o uso de um tipo específico de ilustração. Cezar
(2006) explica que o mais importante é preparar uma imagem criativa e que satisfaça as
necessidades do cliente, pois com uma proposta interessante é possível convencer que esta é a
melhor opção, além de oferecer praticidade, a ilustração pode criar elementos que não existes
e dar vazão a infinitas possibilidades à criação.
2.2.2.1 Cores em peças impressas
Os tipos de ilustrações utilizados em peças impressas devem ser escolhidos de acordo
com o objetivo da mensagem. No entanto, além da escolha do tipo que será utilizado é
necessário que as cores desta ilustração façam sentido na mensagem final. Farina (1986)
explica que a cor utilizada em um anúncio é um fator muito importante na construção da peça
gráfica, pois a sua lembrança resulta experiências já vividas e estimula o indivíduo a agir de
determinadas maneiras já que está diretamente ligada a sensações conscientes de uma parte do
cérebro.
Para Fernandes (2008), a cor é o elemento principal da percepção visual, pois está
relacionada com a emissão de luz. A autora afirma que só percebemos as cores através de
radiações de luz e cada cor existente é proveniente de destas radiações. Assim, a cor é
entendida pela autora como um fenômeno dividido em três fatores: fonte luminosa (luz,
energia visível), anteparo e visão humana. O autor também explica que a relação com a
transmissão de luzes e cores está ligada diretamente à energia, por isso as pessoas podem
percebem cores através de formas diferentes, como olfato e audição.
Estimular sentidos que vão além da percepção visual é uma capacidade de cruzar
estímulos chamada sinestesia. A autora descreve a sinestesia como a capacidade de perceber o
mesmo estímulo através de dois ou mais sentidos. A sinestesia é em grande parte responsável
19
pela formação da memória corporal das experiências, que temos por meio de sentidos
associados à consciência e às nossas experiências existenciais.
Ao percebermos a cor de um objeto, somos capazes de associá-la simultaneamente a
outras características como textura, temperatura, sabor, cheiro, formato e toda a
gama de sensações que esse objeto pode nos imprimir. Dessa forma, podemos até
dizer que, por exemplo, o amarelo é amargo ou que o vermelho é quente.
Inversamente é raro ouvirmos dizer que o dia está cinza de tristeza ou alguém está
roxo de fome ou vermelho de raiva.
(FERNANDES, 2008, p 71)
Além disso, Fernandes (2008) afirma que a valorização da capacidade sinestésica se
apresenta, hoje, como poderoso instrumento de percepção a ser utilizado no cotidiano e para
evolução pessoal e social.
Segundo Farina (1986), estimular os sentidos através das cores pode orientar a
publicidade de maneira a atingir até mesmo as raízes nativas dos indivíduos.
A inclinação das pessoas de clima quente ao se expressarem mais por determinada
cor (especialmente as cores puras) e a das de clima frio, ao optarem pela forma e
pelas cores frias, talvez esteja ligada ao fato de que, a uma iluminação maior,
corresponde uma recordação mais viva da cor.(FARINA, 1986, p 110)
Entretanto, apesar do autor descrever a reação de cada individuo de uma forma
particular e subjetiva, psicologicamente existem significados que são comuns a determinadas
cores e básicas para qualquer indivíduo:
As cores fazem parte da vida do homem porque são vibrações do cosmo que
penetram em seu cérebro, para continuar vibrando e impressionando sua psique, para
dar um som e um colorido ao pensamento e às coisas que o rodeiam; enfim, para dar
sabor à vida, ao ambiente. É uma dádiva que lhe oferece a natureza na sua existência
terrena.(FARINA, 1986, p 112)
Farina divide as cores em dois tipos de sensações: acromáticas (sensações provenientes
de apenas uma dimensão de luz, adicionadas ou retiradas, e não são consideradas cores,
exatamente por não terem variação na sua luminosidade) e as cromáticas (sensações ligadas a
variações de luzes).
Assim as sensações acromáticas, segundo Farina (1986), são determinadas por: branco,
preto e cinza e cada uma delas tem um significado diferente.
Segundo Farina (1986) o branco significa batismo, casamento, cisne, lírio, nuvens, ordem,
simplicidade, limpeza, pensamento, juventude, otimismo, piedade, paz, pureza, inocência,
dignidade, afirmação, modéstia, deleite, despertar, infância, alma, harmonia, estabilidade,
divindade. Já o preto é associado a sujeira, sombra, enterro, morto, fim, fumaça, mal, miséria,
20
pessimismo, sordidez, tristeza, frigidez, desgraça, dor, temor, negação, melancolia, opressão,
angústia, renúncia, intriga, nobreza e seriedade e o cinza lembra pó, chuva, ratos, neblina,
máquinas, mar sob tempestade, tédio, tristeza, decadência, velhice, desânimo, seriedade,
sabedoria, passado, finura, pena, aborrecimento, carência vital (simboliza posição
intermediária entre luz – branco- e a falta dela-preto-)
Já as cromáticas são determinadas pelo autor como o vermelho que é associado com
rubi, cereja, guerra, perigo, vida, sol, sangue, conquista, masculinidade, dinamismo, força,
energia, revolta, movimento, coragem, vigor, poder, calor, violência, intensidade, excitação,
emoção, ação, agressividade, vulgaridade, extroversão, aproximação; o laranja com outono,
luz, chama, calor, aurora, perigo, robustez, força, luminosidade, dureza, euforia, energia,
alegria, advertência, tentação, prazer, senso de humor; o amarelo que significa iluminação,
conforto, alerta, gozo, luz, calor, verão, terra, flores, euforia, originalidade, esperança,
orgulho, idealismo, egoísmo, inveja, ódio, adolescência, espontaneidade, variabilidade,
expectativa; o verde associado com umidade, frescor, primavera, bosque, folhagem, mar,
verão, planície, natureza, adolescência, bem estar, paz, saúde, ideal, abundancia,
tranqüilidade, segurança, natureza, equilíbrio, esperança, serenidade, juventude, suavidade,
crença, firmeza, coragem, desejo, descanso, liberdade, tolerância, ciúme; o azul relacionado
com montanhas, frio, mar, céu, gelo, feminilidade, águas tranqüilas, espaço, viagem, verdade,
sentido, afeto, intelectualidade, paz, advertência, serenidade, infinito, confiança, meditação,
amizade, amor, fidelidade, sentimento profundo; o roxo com noite, janela, igreja, aurora,
sonho, mar profundo, fantasia, mistério, profundidade, eletricidade, dignidade, justiça,
egoísmo, grandeza, misticismo, espiritualidade, delicadeza, calma; o marrom que significa
terra, águas lamacentas, outono, sensualidade, desconforto, pesar, melancolia, resistência,
vigor e enfim o violeta: engano, miséria, calma, dignidade, violência, furto, agressão, sono.
Desta forma, Farina (1986) acredita que as cores podem incentivar a ação dos
indivíduos, exemplificando com aplicações no sentido de chamar atenção (como as cores
utilizadas no trânsito) ou as aplicadas em embalagens de comidas, estimulando a percepção
degustativa. O autor também acredita que a percepção das cores fica ainda mais forte se for
reforçada com a estrutura textual presente no anúncio publicitário.
21
2.2.3 Relação texto e imagem na publicidade
O texto e a imagem na publicidade procuram se complementar, no entanto, Vestergaard
e Schroder (2000), acreditam que a diferença mais importante entre imagem e texto (verbal) é
que o texto é conjugado em um tempo, ou seja, está temporalmente localizado, além de ser
não-ambíguo e monossêmico. Ao contrário, as imagens que são atemporais e podem ter
sentidos ambíguos e polissêmicos. Os autores afirmam que uma imagem em si é sempre
neutra: no entanto, se estiver acompanhada de um texto e legenda, ela nunca será, pois pode
apresentar identidade dos indivíduos na imagem, localização, tempo, situação, entre outras
características que contextualizam a imagem.
Apesar de a imagem ter conteúdo ambíguo e portando mais vago, Vestergaard e
Schroder (2000) reconhecem que é necessário empregar a utilização da imagem com o texto,
pois o que lhe falta em precisão e claridade, sobra-lhe em riqueza de informação. O texto
aparece como elemento mais explícito e a imagem requer interpretação mais profunda
(embora tenha a vantagem de comunicar imediatamente em alguns casos), forçando o
destinatário a participar ativamente, embora de maneira inconsciente. A conotação revelada
através das inúmeras interpretações que uma imagem pode apresentar é amenizada através da
ancoragem do texto, é por esta razão que embora texto e imagem sejam elementos tão
heterogêneos, um completa o outro.
Para Lasbeck (2002), as imagens têm o objetivo de representar o corpo físico, enquanto
o texto representa o comportamento desse corpo. O autor afirma que a conjunção de texto e
imagem na publicidade ganha uma nova dimensão quando se entende que o texto escrito não
é só capaz de veicular imagens por metáforas ou descrições, mas também possui a habilidade
de provocar imagens mentais, imagens essas que podem ser correspondidas ou não, em
diversos graus de intensidade e identidade, por aquelas que nos são sugeridas.
Nessa gradação de afinidades e diferenças, a leitura pode proporcionar satisfação ou
ansiedade, acomodação ou instigamento; pode confirmar nossas expectativas
(confirmação esta que será estendida ao produto anunciado) ou frustrá-las
(frustração que pode ser amenizada pela adesão do produto anunciado) gerando
supresa e novidade. Também aí verificamos a interdependência, a interação
produtiva da relação texto/imagem aos propósitos da publicidade.
(LASBECK, 2002, p. 45).
22
Assim, Vestergaard e Schroder (2000) afirmam que, apesar do contraste entre as
linguagens de texto e imagem, se forem analisadas em um texto publicitário, é possível
perceber que sua união é capaz de amparar-se mutuamente na aquisição de mensagens.
2.2.4 Lógica da fantasia e emoção
A combinação entre texto e imagem só é eficiente quando ambos estão em sintonia.
Além disso, tanto na publicidade, quanto em gêneros artísticos e literários, o texto e a imagem
precisam envolver o receptor. Uma forma de envolver e atrair o público é aproveitando a
lógica da fantasia e emoção.
Segundo Murad (2010), a maioria das pessoas não estão acostumadas a persuadir
utilizando emoções, metáforas ou entretenimento. A palavra persuadir ainda tem conotação
negativa, pois está relacionada a influenciar, o que geralmente acontece em ocasiões em que
não existe muito entusiasmo. As metáforas, para Murad (2010), são um excelente recurso para
utilizar a fantasia e emoção, já que através delas é que o receptor consegue captar as
sensações propostas. As metáforas ajudam a compreender melhor uma ideia através da
associação a outra, pois elas conseguem demonstrar uma ideia baseada em uma argumentação
mais sutil.
Murad (2010) descreve a relação entre fantasia e emoção através de uma lei chamada de
“lei da realidade dos sentimentos” que acontece quando o ser humano se ilude com um objeto
físico acreditando que seja algo diferente. A autora cita como exemplo o fato das crianças
acreditarem que uma sombra de um brinquedo possa ser uma entidade real que faça mal a
elas, ou seja, a vivência é falsa, mas o sentimento que todo ato carrega é completamente real.
Este processo também é muito frequente em cinema e literatura, pois o indivíduo se identifica
com o personagem, acompanha a trama e também compartilha as mesmas afeições.
A autora também afirma que, ao se deparar com elementos fantasiosos, as pessoas lidam
com duas situações: a primeira acontece quando a emoção já está dentro dela, fruto de um
sentimento e a fantasia intensifica a reação precedente e no caso da segunda emoção se unir
apenas as imagens de fantasia, encontrando ali a solução e debilitando a manifestação de
emoção.
23
2.3 LITERATURA
A lógica da fantasia e emoção não são características exclusivas da mensagem
publicitária. A literatura, por exemplo, constitui-se de um gênero que utiliza várias
características baseadas na fantasia e emoção. A etimologia da palavra literatura, segundo
Bernardi (1999), provem do latim litteras: literatura, ou seja, a arte de dominar as letras. O
autor afirma que o termo pode ser descrito como um conjunto de determinados textos, que
resulta da realidade em que vive o escritor, de sua expressão e do que deseja transmitir. Assim
como a arte, a literatura preocupa-se com a forma e sua harmonia.
Os textos, descritos por Bernardi (1999), podem ser definidos por gêneros da literatura
como: literatura infantil, literatura médica, literatura esportiva, literatura medieval, literatura
brasileira, entre muitos outros. Outra classificação deriva da literatura lato sensu e literatura
stricto sensu. A literatura stricto sensu, de acordo com Bernardi (1999), é o conjunto de
textos, geralmente escritos, mas possivelmente orais, que apresentam cumulativamente as
seguintes características: ficcionalidade, valorização da forma, significante, plurissignificação,
originalidade e suspensão provisória de interesses práticos.
Já a literatura lato sensu, é explicada pelo autor como o conjunto de todos os textos
escritos: literatura judaica, literatura artística, literatura jurídica, literatura culinária, literatura
histórica, etc.
As características do texto literário são descritas pelo autor pelos seguintes conceitos:
ficcionalidade, valorização da forma significante, plurissignificação, originalidade e
suspensão provisória de interesses práticos.
A ficcionalidade trata-se de uma composição essencialmente lírica em que o autor
expressa seus sentimentos ou cria uma nova realidade. A valorização da forma significante
acontece quando o autor utiliza os recursos fônicos (como uso de ditongos nasais, oxítonas,
proparoxítonas) para transmitir a ideia ou sentimento do texto. Já a plurissignificação é
utilizada quando as palavras ou frases possuem mais de um sentido. A originalidade ocorre
principalmente em poemas, pois utilizam recursos rítmicos na expressão de sentimentos. E,
finalmente, a suspensão provisória de interesses práticos aparece quando o autor quer apenas
provocar uma reflexão, o que difere da intencionalidade na mensagem publicitária, por
exemplo.
24
Existem diferentes gêneros literários, Bernadi (1999) afirma o conceito de gênero
consiste em combinar a forma, com um tipo de conteúdo e composição. O gênero também é
caracterizado por apresentar as diversas modalidades de exposição (no caso literário), ou seja,
são conjuntos de elementos que apresentam em comum a forma e conteúdo. Na literatura,
Bernardi (1999) acredita que os gêneros estejam divididos em clássicos ou tradicionais, que
reúnem gêneros líricos, épicos, narrativos, dramáticos e críticos; e modernos que
compreendem poema, romance, conto, crônica, novela, fábula, apólogo, parábola, ensaio,
críticas, entre muitos outros.
Ao longo dos anos, a literatura ficou cada vez mais específica e isso produziu
subdivisões que ajudaram a organizar uma variedade tão grande de títulos. Algumas
subdivisões se destacam pela direção do público alvo como: literatura infantil, infanto-juvenil,
literatura adulta; outras são caracterizadas pelo território como: literatura brasileira, literatura
inglesa, literatura escandinava, ou dividida por conteúdos: literatura culinária, artística,
histórica.
No que diz respeito à literatura infantil, acredita-se que o conceito de criança só foi
idealizado a partir do sec. XVIII, quando se começou a refletir e pensar o desenvolvimento da
infância e como este período se constituía em uma evolução do ser humano.
Assim, surgiram diversos estudos e tipos específicos de literatura para o público infantil.
Esse tipo de literatura foi denominada literatura infantil, como contos e lendas folclóricas, que
apesar de lições moralistas, já instigavam a imaginação do leitor. Exemplos disso são os
contos de Perrault como “Chapeuzinho Vermelho”, “Gato de Botas”, “Pequeno Polegar” os
irmãos Grimm com “A gata borralheira”, “Branca de Neve”, “João e Maria”, Andersen com
“O Patinho Feio”, Esopo com “A lebre e a tartaruga”, “O lobo e a cegonha”, “O leão
apaixonado”, entre muitos outros que se destacaram na época.
Desta forma, entre muitas categorias literárias, Nikolajeva e Scott (2011) acreditam que
o caráter impar dos livros ilustrados para crianças acontece principalmente por ter como base
a combinação de dois níveis de comunicação: o visual e o verbal.
2.3.1 Texto na literatura infantil
A combinação dos níveis verbal e visual é uma das características que praticamente
define a literatura infantil. Entretanto, Nikolajeva e Scott (2011) afirmam que o nível verbal
em um livro infantil, caracterizado pelos textos, tem propriedades específicas como: a escolha
25
do tema para contar a história geralmente com intenção de estimular a criatividade, o uso de
metáforas para demonstrar a narrativa de outra perspectiva, a repetição de palavras para
reforçar uma ideia e também lições de moral que visam ajudar o desenvolvimento da criança
como ser humano.
Além disso, as autoras definem algumas características importantes em uma narrativa de
livro infantil e a primeira delas consiste na ambientação: o texto precisa conter informações
simples para comunicar ao leitor o contexto em que se passa a história. A ambientação pode ir
muito além do que tempo e lugar, de acordo com as expectativas que definem o gênero
(contos de fadas, fantasia), criando assim um ambiente novo. A construção da ambientação
acontece pelo contexto através de palavras como: longe de casa, na cidade, no campo, no
parque, e podem gerar um clima que influencia emocionalmente o leitor.
Combinados a ambientação, Nikolajeva e Scott (2011) afirmam que o emprego de
redundâncias e hipérboles criam uma atmosfera especial no livro, elas transmitem a
experiência subjetiva de uma criança diante do mundo grande e assustador, como por
exemplo, “mil milhões”, que naturalmente é apenas verbal, mas para criança configura uma
situação de maior intensidade.
Outro aspecto presente no texto de livros infantis descrito pelas autoras trata-se da
caracterização dos personagens por meio de muitos adjetivos (feio, grande, azul, pernas
compridas). A descrição verbal dos personagens e objetos exige uma longa pausa na narrativa
para que o leitor possa procurar na imagem o que foi mencionado no texto, é uma forma de
incentivar a memória e o desenvolvimento do raciocínio, através da ancoragem.
Nikolajeva e Scott (2011) também definem o contraponto como característica
fundamental em um texto de livro infantil, pois é através dela que os livros suscitam diversas
interpretações e leituras. O contraponto consiste em uma possibilidade de repensar, a partir de
uma ideia já estabelecida. Existem diversas formas de contrapontos, de acordo com
Nikolajeva e Scott (2011), que podem ser empregadas no texto tais como: o contraponto por
endereçamento (lacunas textuais são deixadas para serem preenchidas de maneiras diferentes
pela criança e adultos), contraponto no estilo (em um livro ilustrado, as palavras podem ser
irônicas, enquanto as imagens não, e vice e versa. Entre as possibilidades de contraponto no
estilo estão encontram-se sério/humorístico, romântico/realista, realista/ingênuo,
histórico/anacrônico, entre outros), contraponto no gênero ou modalidade (as palavras podem
ser realistas e as imagens sugerirem fantasias.
Enquanto a história verbal geralmente é contata do ponto de vista da criança,
apresentando os eventos como verdadeiros, os detalhes nas imagens sugerem que a história
26
acontece apenas na imaginação dela), As autoras também definem o contraponto por
justaposição (quando em uma história encontramos uma ou duas paralelas ligadas pela
narrativa), contraponto na perspectiva ou ponto de vista (distinção entre quem está falando,
nos livros ilustrados expresso principalmente por palavras, e quem está vendo (expresso de
modo metafórico, por palavras ou de modo literal, por imagem), contraponto de natureza
metaficticia (as palavras podem expressar noções que não conseguem ser retratadas em
imagens, como por exemplo, quadrados redondos), contraponto no espaço e tempo (única área
em que as imagens e as palavras podem coincidir ao invés de se complementarem, pois com a
descrição verbal do espaço o leitor precisa de elementos na imagem que consigam manter
esse contexto e localizá-lo na narrativa).
Além disso, o texto na literatura infantil serve para descrever o espaço, podendo indicar
a presença de um narrador na história:
Na teoria narrativa, a descrição é um dos sinais da presença do narrador no texto. O
narrador verbal força o leitor a “ver” certos detalhes do cenário, ao mesmo tempo
em que ignora outros. A representação visual do cenário é “inenarrada” e, por isso,
não manipuladora, dando ao leitor considerável liberdade de interpretação.
(NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011, p 85).
O texto de um livro infantil consegue transmitir a mensagem de maneira eficiente quando
combina as funções da linguagem (como hipérbole e redundância) com os recursos da
narrativa (caracterização de personagens, ambientação e contraponto). Assim, é na interação
de palavras e imagens que novas soluções podem ser encontradas.
2.3.2 Ilustrações na literatura infantil
A ilustração na literatura infantil é um dos principais elementos que contribuem para
contar a história. Para Biazetto (2008) a percepção de uma imagem envolve a relação do leitor
com ela, como é realmente a imagem, pois o olhar compreende as experiências vividas por
aquele que olha.
A autora também acredita que o ato de perceber uma imagem depende tanto de atributos
intrínsecos a ela (intensidade, tamanho, contraste, novidade, repetição e movimento) quanto
de fatores extrínsecos a ela e pertinentes ao leitor (atenção, expectativa, experiência e
memória), além de selecionar estímulos através do olhar atento.
Alarcão (2008) explica que existem diversos tipos de técnicas para ilustrar um livro
infantil. As técnicas são divididas entre tradicionais, como pintura a óleo, acrílica, aquarela,
27
grafite, colagens; e técnicas digitais em que o processo de ilustração ocorre a partir da
máquina (no caso computador). O autor também explica que a tecnologia ajudou muito a
reproduzir as técnicas de ilustração, possibilitando o ilustrador a criar diversas opções, além
da praticidade. Com os softwares, é possível desfazer rapidamente algum erro, aplicar cores
que levariam muito tempo para produzir manualmente, entre muitas outras facilidades do
programa.
Alarcão (2008) afirma que a ilustração manual tem cada vez dado mais espaço para a
digital devido à praticidade e facilidade com que pode ser desenvolvida, porém a ilustração
manual (ou tradicional) ainda tem caráter artesanal, que aproxima os leitores de sua infância
quando realizavam trabalhos escolares através de tintas, lápis de cor, giz de cera, trazendo
certa nostalgia e identificação com o desenho.
Embora, as técnicas sejam diferentes, o objetivo é transmitir uma mensagem e contar a
história. Biazetto (2008) afirma que as imagens e ilustrações têm uma estrutura semelhante
em termos de elementos visuais. Elas são compostas da linha que apesar da sua simplicidade,
ela prende nossa atenção e nos força a percorrer toda sua extensão, podendo imprimir ritmo e
movimento à imagem. Ela funciona como indicadora da direção que deve seguir nosso olhar.
A linha isolada pode ser um simples contorno, mas, quando agrupada, pode formar
superfícies, representar sombra e dar ideia de volume.
As ilustrações, segundo Biazetto (2008), também são compostas de superfície que é um
espaço bidimensional, com altura e largura. Nosso olhar vai fazer a relação de uma dimensão
com a outra, percorrendo toda a forma; o volume: a ideia de volume pode ser criada por meio
de uso da perspectiva, das cores e da luz e sombra; a luz que é constituída do claro-escuro. As
diferenças entre áreas claras e escuras proporcionam ritmo a imagem, pois zonas claras
parecem avançar e escuras recuar; a cor que é o elemento visual com maior grau de
sensualidade e emoção do processo visual. Nenhum outro elemento da imagem atrai com
tanta intensidade quanto a cor. É possível elaborar um grande número de relacionamento entre
a cor e os outros elementos, alcançando significados bastante diversos. Podemos também
alcançar ampla variedade de significados por meio de combinações entre cores. As
associações de cores quentes e frias, de cores complementares, saturadas e dessaturadas, cores
primárias e secundárias, podem gerar diferentes sensações no observador.
Além disso, Biazetto (2008) afirma que a ilustração que atrai é aquela que apresenta
focos de interesses em vários pontos, incluindo regiões com maior nível de detalhes e outras
com menor densidade, mas com elementos distribuídos de maneira a levar os olhos a
28
percorrerem toda sua superfície, retornando, por fim ao ponto de partida e capturando por
mais tempo a atenção do leitor.
Biazetto (2008) explica que a leitura de uma imagem é feita da esquerda para a direita,
em diagonal descendente. Porém, as formas que contrapõem esta imagem não devem estar
somente dentro dessa zona diagonal, elas precisam estar distribuídas, caso contrário a leitura
será muito rápida.
A autora também discute a possibilidade de trabalhar com semelhanças e contrastes
entre formas e cores. Elementos semelhantes tendem a atrair-se, e o que é diferente tende a
destacar-se, contrastando com outras zonas. Podem-se utilizar efeitos de contraste, criar áreas
de tensão e, por meio das semelhanças, dar ritmo à imagem. Assim, alternando contrastes e
semelhanças, criamos um movimento visual, que torna a leitura mais dinâmica e interessante.
Além do contraste aplicado às ilustrações, é necessário analisar todo contexto em que a
imagem está inserida. Nikolajeva e Scott (2011) explicam que a ambientação na ilustração é
um aspecto importante para leitura do livro ilustrado.
As autoras defendem que a ambientação pode comunicar muito mais do que o tempo e
lugar da história.A ambientação ilustrada pode definir o gênero (contos de fadas, fantasia), na
construção de um clima afetivo, influenciando na interação e emoções do leitor (nostálgico,
cotidiano, grotesco) e também pela mudança drástica de situação ou desenvolvimento (traços
modificados ao longo da história podem significar a transformação do personagem ou
alteração da história).
Assim, Nikolajeva e Scott (2011) afirmam que geralmente as crianças preferem
descrições visuais, uma vez que elas estejam acostumadas a procurar detalhes.
Geralmente acredita-se que os leitores jovens detestam descrições e até as “pulam”
durante a leitura, e por isso, em romances para crianças as descrições verbais do
cenário estão totalmente ausentes ou são insignificantes. A descrição visual (típica
de livros demonstrativos e “abecês” e também naqueles onde estão presentes apenas
os personagens e objetos secundários necessários ao desenvolvimento do enredo),
até um cenário completamente retratado que pode ter predomínio do visual, do
verbal, ou com diversas combinações e permutações.
(NIKOLAJEVA E SCOTT, 2011, p 86).
Além disso, Goés (2009) explica que a preferência de formas visuais entre crianças e
adolescentes é muito diferente. A autora acredita que, primeiramente, o bebê tem a
preferência por imagens com manchas, borrões e riscos porque estimulam a produtividade de
algo novo, já que são suas primeiras experiências com percepções visuais. Já as crianças têm a
preferência de imagens constituídas de traços, pontos e círculos porque estimulam a
orientação e a admiração pelas formas e, por último, os adolescentes estão em processo de
29
transformação e busca de sua personalidade, por isso estão inclinados a preferirem uma
profusão de imagens, colagens e diferentes formas de manifestações visuais.
Segundo Goés (2009), a percepção da criatividade ao longo da vida depende muito de
nossas referências e experiências de vida, por isso a ilustração reflete muito a personalidade
do ilustrador e faz com seus livros abram espaço para identificação de diferentes públicos.
2.3.3 Maurice Sendak: contando e ilustrando histórias
A combinação de ilustrações e narrativas que remetem a fantasia são algumas das
muitas características do livro infantil. Um dos autores que consegue captar essas
características e interpretá-la através do seu próprio traço e narrativa é o autor Maurice
Sendak.
Segundo Poole (1996), Maurice Sendak tem uma longa jornada através da produção de
livros infantis. O autor afirma que Sendak nasceu em 1928 no estado de Connecticut, nos
Estados Unidos, e já foi premiado em diversos festivais de literatura infantil. Sua história com
livros infantis começa quando Maurice se oferece para ilustrar um manuscrito de história
infantil em uma editora, escrito por Isaac Bashevis Singer. Assim, Poole (1996) descreve o
começo da carreira de Sendak.
Após ilustrar histórias de outros escritores, Sendak volta seu trabalho para a
interpretação de contos de fadas clássicos como as histórias dos Irmãos Grimm, que foram
alguns dos seus trabalhos mais aclamados.
No entanto, Poole (1996) afirma que sua popularidade ganhou força a partir de títulos
como Where the wild things are (1963), In the night Kitchen (1970) e Outside Over There
Figura 1 - Maurice Sendak
Fonte: Disponível em < http://davidcorio.com/news/26-
maurice-sendak-rip>. Acesso: 2012.
30
(1981). O primeiro com tradução no Brasil de “Onde vivem os monstros” e os dois últimos
sem tradução para o português.
Maurice tinha grande admiração por artistas como William Blake e Albrecht Dürer;
além disso, seus personagens eram geralmente crianças e possuíam uma personalidade forte e
nome simples. Sendak gostava de nomes simplificados como Max, Rose, Kelly e Lou, pois
seriam mais fáceis de encaixar na história e teriam a conotação que o autor queria expressar.
Poole (1996) explica que Maurice se preocupava muito em escrever uma boa história,
muito mais do que a ilustração em si. Ele desenvolveu muito mais a escrita do que os
desenhos, pois acreditava que a história devia ser muito bem escrita antes de considerar
ilustrá-la. Maurice também acreditava que assim como as ilustrações, as palavras deviam
contextualizar muito bem o leitor.
As palavras são essenciais, elas situam as ilustrações dentro de um determinado
contexto narrativo e significado. As palavras “apóiam” as ilustrações no conjunto de
significados que se quer expressar, sendo uma das primeiras coisas que Sendak gosta
de fazer: “Eu gosto de pensar em mim mesmo como a descrição da ilustração. Um
livro é um retrato verdadeiro de um poema visual”. (POOLE, 1996, p 33)4
Assim, para Sendak mesmo um livro infantil composto apenas de imagens precisa ter
uma história instigante e muito bem estruturada. Apesar de ter algumas obras no estilo, uma
de suas maiores realizações e o marco como ilustrador e escritor profissional foi “Onde vivem
os monstros” (1963), traduzida em diversos países, é a primeira história de uma trilogia
descrita pelo autor como “as experiências de ser uma criança”.
2.3.4 Onde vivem os monstros: O rei da selvageria
O livro “Onde vivem os monstros” teve sua primeira publicação no ano de 1963. Poole
(1996) afirma que Sendak pretendia escrever uma coleção de livros em que pudesse expressar
as experiências da criança no mundo real, sem interferência da tecnologia da época, apenas
transmitindo a sensibilidade da infância e do estado de ânimo (tédio, medo, frustração, raiva,
inveja, admiração) que frequentemente é alterado durante esta fase da vida. Poole (1996)
afirma que o visual do livro é um retrato do século XX, as roupas, os móveis, as cores, que
relembram os hábitos da classe média da época:
4 Tradução livre. Original: The words are essential, they locate the pictures within a particular narrative, context
and meaning. The words ´anchor´ the pictures into a dominant of preferred set of meanings, which Sendak likes
to get right first: ´I like to think of myself as setting words to pictures. A true picture book is a visual poem´.
31
O visual do livro é a generalização do meio do século XX: a mobília, trajes e
acessórios sugere que a cidade poderia ser em uma casa na cidade de Moscou ou em
algum subúrbio de Sidnei, assim como algum lugar da América Central. Sendak
mantém deliberadamente de fora a tecnologia moderna, tais como televisores, rádios
e uma quantidade grande de eletrodomésticos (o que geralmente pode ser ruim).
(POOLE, 1996, p 86)5
Outro aspecto importante descrito por Poole (1996) é a transformação do cenário em um
mundo fantasioso (com florestas e monstros gigantes). Essa mudança acontece quando os
objetos lentamente saem do cenário e desaparecem atrás do narrador principal, Max. Poole
(1996) acredita que essa troca acontece de maneira a demonstrar a força e poder de
imaginação da criança. A autora afirma que o narrador (Max) cria um universo em que ele é
o protagonista e não tem medo do que pode acontecer.
Além disso, Poole (1996), Nikolajeva e Scott (2011) destacam uma característica visível
no livro de Sendak: as ilustrações aumentam de tamanho conforme o desenvolvimento da
história, enquanto a fantasia se expande na imaginação de Max. No entanto, há um equilibro
entre texto e imagem no meio da narrativa e gradativamente o texto diminui conforme Max
adentra ao mundo da fantasia.
O livro tem o seu clímax no meio, não no final como de costume. Aqui, as imagens
expandem tanto quanto a sangria da página, não deixando espaço para palavras. O
total de imagens centrais significa que eles (personagens) não estão mais
emoldurados, não há mais distância entre o leitor e as ilustrações. As imagens são
vistas como se fosse de “dentro”, demonstrando experiência total ao leitor. As
imagens expandem rapidamente, primeiras de uma página, e então os personagens se
movem através do lado esquerdo. O espaço em branco em volta do texto é dividido
em: árvores e as bordas das imagens, espalhadas pelas páginas da esquerda. Há algo
proibido e que quebra a moldura em torno das imagens. Vemos as coisas selvagens
penduradas em árvores como macacos, copiando Max e chutando suas pernas,
fazendo uma careta, se divertindo muito. Vemos as coisas selvagens uivando para a
lua, dançando em um antigo ritual. (POOLE, 1996, p 89)6
5 Tradução livre. Original: The look of the book is a generalized mid-20th century: the furnishings, costumes
and props suggest a world that could be a Moscow town house or a Sydney suburb as well as somewhere in
Middle America. Sendak deliberately keeps out modern technology, such as televisions, radios, and myriad
household appliances (which often date badly)
6 Tradução livre. Original: The book has its climax in the middle, not, as is usual, at the end. Here, the
pictures expand so much they bleed of the page, leaving no room for words. The totally of the central pictures
means they are no longer framed; there is no longer and extra distance between the reader and the pictures. The
pictures are seen as from ´within´, as a total experience. The pictures in the boom expand, first one page, and
then they move across the left hand page. The white space around the text becomes broken into as the tree and
edges of the pictures spread across the left-hand pages. Here something forbidden and miraculous breaks the
frame around the pictures. We see the Wild Things hanging on trees like monkeys, copying Max and kicking
their legs, grimacing, heaving a great time. We see the Wild Things howling at the moon, dancing in an ancient
ritual.
32
Assim, embora Sendak tenha conferido ao livro vários detalhes, Poole (1996) afirma
que toda a história se baseia na experiência de uma criança sendo “abandonada”, nisso Sendak
procurou demonstrar através das ilustrações e textos que mesmo em situações ruins é possível
que a criança use sua imaginação e torne-a algo positivo. Onde vivem os monstros é
basicamente um livro que, através da combinação entre a ilustração e narrativa, retrata o
triunfo da fantasia e imaginação em aspectos considerados difíceis na infância.
2.4 RELAÇÕES ENTRE LITERATURA INFANTIL E PUBLICIDADE
O discurso publicitário mistura diversas linguagens verbais e não verbais. Teixeira
(2010) afirma que tanto a literatura quanto a publicidade são produtores de significados,
projetam modelos culturais e são indispensáveis na formação da identidade de gerações, seja
para repetir ou negar o discurso em prática.
O autor acredita que na relação particular da publicidade com a literatura, percebe-se
uma mútua influência que ultrapassou o limite que os separava. Tanto a criação literária
quanto o texto publicitário compreendem uma atitude do escritor/dupla de criação frente ao
mundo real: um texto apresenta nexos literários, sociais, históricos e, também, a visão pessoal
– vestígios da experiência de muitas leituras e da observação da realidade. Escrever não é,
Figura 2 - Max de castigo em seu quarto
Fonte: Onde vivem os monstros.
33
portanto, um ato isolado, implica um posicionamento crítico e uma participação ativa do
escritor.
Do mesmo modo, segundo Teixeira (2010), a criação publicitária requer uma
participação ativa da dupla de criação para ler o mundo a partir de leituras variadas. Há
sempre, na produção textual literária ou publicitária, uma absorção e uma transformação de
outros textos, uma vez que não se cria no vazio, isto é, sem pré-texto. O diálogo entre textos
implica sempre uma atitude criativa, reinventado conforme o momento histórico e cultural em
que está inserido. O texto literário é resultado da interação dos universos cultural e histórico-
social do escritor e de sua experiência de leituras, o texto publicitário também contém uma
soma de referências a outros textos, mesmo que veiculadas de forma inconsciente.
Segundo Calabrese (1999), outro aspecto importante entre a publicidade e literatura são
o acompanhamento das transformações entre formas e valores sociais. Antes, devido a
comportamentos e hábitos da época, as pessoas tinham como modelo de vida certo padrão
social que refletia em sua arte, literatura, hábitos. Com advento da tecnologia e
transformações históricas, Calabrese (1999) cita as diferentes mudanças no cotidiano dos
indivíduos, a figura da mulher, a preocupação com a infância, a vida em família, etc.
O autor também explica as mudanças ocorridas no campo visual e na percepção do ser
humano sobre o que é ser belo/feio e bom/mau. Para isso, Calabrese (1999) exemplifica as
formas “disformes” que são frequentemente utilizadas em filmes, livros e histórias em
quadrinhos. As formas disformes, descritas pelo auto, são formas imperfeitas geralmente
assimétricas, sem relação com a realidade, excessivas e além das normais.
Calabrese (1999) acredita que o termo disforme é diretamente ligado ao conceito de
imperfeição. Na Idade Média, a imperfeição era utilizada para representar sobrenatural e
fantástico, pois influenciados pela cultura grega, as formas disformes eram demonstradas por
protótipos de monstros como o minotauro, medusa e esfinge.
No entanto, o autor explica que a base principal dos hábitos existentes na Idade Média
era centrada no equilíbrio, na perfeição espiritual, por isso qualquer variável que saísse dos
padrões era considerada uma perturbação maligna além da natureza humana.
Assim, Calabrese (1999) afirma que o conceito de deformidade descrito na época deriva
do verbo latim monere que significa “avisar/chamar atenção”, é daí que surge o termo
monstro, partindo do latim monstrum definido por “mau agouro, imperfeição, assimetria, ser
deformado”.
E de facto, os monstros em quaisquer descrições, da Antiguidade até nossos dias,
são sempre excedentes ou excessivos, em grandeza ou pequeneza: gigantes,
centauros, ciclopes; anões, gnomos, pigmeus; com muitas partes em falta:
34
gastrópodes, esquizópodes, etc. A perfeição natural é uma medida média e aquilo
que dela ultrapassa os limites é “imperfeito” e monstruoso. Mas imperfeito e
monstruoso é também aquilo que ultrapassa os confins da medida média que
distingue a outra perfeição, a espiritual.
(CALABRESE, 1999, p 106).
Entretanto, a explicação do termo pelo autor também está relacionada com a
transformação. É neste contexto que a figura do monstro passa de negativa para positiva.
Calabrese (1999) relaciona a figura do monstro através de exemplos presentes no cinema
como “A coisa”, de John Carpenter, e ET de Steven Spielberg. Ambos os filmes utilizam
figuras disformes como tema principal da história. A diferença está no valor atribuído para
cada personagem.
O personagem criado por John Carpenter tem uma configuração tão assimétrica que não
possui nenhum traço com a realidade, além de causar pânico e terror durante toda a narrativa.
Já o personagem de Spielberg, possui alguns traços característicos de seres humanos como
dedos, pernas, olhos e expressa emoções. Calabrese (1999) afirma que essa transformação
também acontece na sociedade, as pessoas ficaram cada vez mais individualistas e com
sentimento de deslocamento em relação aos demais, já que com tanta informação e tecnologia
os indivíduos se sentem longe do que a mídia costuma impor como padrão de beleza e
comportamento.
Assim, o autor explica que determinando algumas características humanas as formas
disformes é possível aproximar o espectador do personagem, trazendo o sentimento de
identificação, de ser diferente e mesmo assim conseguir tornar sua existência única e benéfica,
como no filme ET em que o personagem extraterrestre é um ser benéfico, já que pode
provocar a mudança de comportamento, incerteza, complexidade e variabilidade (assim como
o ser humano próprio se configura) na sociedade que se insere.
Além das formas disformes e suas características que se inserem desde a televisão até a
literatura, outro aspecto importante que envolve a publicidade e literatura trata-se do diálogo
entre dois textos, que no caso da literatura e publicidade será direcionado principalmente ao
que diz respeito às referências, chamado de intertextualidade que na publicidade é abordado
através da bricolagem, como já foi tratado.
35
3 METODOLOGIA
O presente trabalho consistiu-se em uma pesquisa exploratória, descritiva e
bibliográfica, que, conforme Marconi e Lakatos (2004) consiste em colocar o pesquisador em
contato direto com todas as fontes sobre o determinado assunto. Desta maneira, as autoras
acreditam que a pesquisa bibliográfica propicia a análise do assunto de uma abordagem
diferente, descobrindo outras soluções e resultados inovadores.
Além disso, o trabalho tem natureza qualitativa e o método de pesquisa foi comparativo
que realiza comparações, com a finalidade de verificar as semelhanças e explicar
divergências. A metodologia comparativa do trabalho teve como finalidade comparar os
elementos da literatura infantil (texto e imagem) presentes no livro “Onde vivem os
monstros”, de Maurice Sendak e as técnicas publicitárias empregadas nos anúncios impressos
da campanha “O amor é a melhor herança, cuide das crianças”, da RBS TV, veiculada no ano
de 2003. Foram três peças impressas escolhidas para análise e três ilustrações do livro “Onde
vivem os monstros” junto o texto integral da história. A primeira trata-se do primeiro anúncio
de jornal, com o personagem principal da campanha “Bicho Papão”, a segunda tem apenas a
personagem “Bruxa Malvada” e, por último, o anúncio com o personagem “Diabo”.
O critério de escolha das peças foi o uso exclusivamente de ilustrações, a quantidade
equilibrada de texto (não muito extenso e nem muito curto, possibilitando a análise de todo
texto), a distribuição de um personagem em cada anúncio, que possibilita maior riqueza de
detalhes e o texto produzido de acordo com o personagem e a temática da campanha que faz
referência a seres fictícios. No caso das ilustrações do livro, a escolha acontece pela
possibilidade de detalhar mais cada ilustração, a presença de todos os personagens em uma
ilustração e a última com o protagonista sozinho, possibilitando a análise do contexto em que
ele se encontra.
O livro “Onde vivem os monstros”, do autor Maurice Sendak, foi escrito em 1963,
conforme Poole (1996). O livro conta a história de Max, um menino que comete uma
travessura e é mandando para o quarto sem a jantar, e então é transportado de um sonho para
um mundo de fantasia (pois que escapar do mundo real) e lá encontra as novos amigos, os
monstros. Logo fica entediado, pois o mundo da fantasia pode ser tão tedioso quanto o mundo
e real e fica com fome, assim retorna do mundo da fantasia para o seu quarto.
36
É um marco na literatura infantil do séc. XX, pois além de criar um universo inteiro de
fantasia demonstra os monstros em uma perspectiva positiva. Além disso, o livro “Onde
vivem os monstros” foi escolhido por ser uma história que utiliza a experiência de uma
criança (uma das primeiras histórias conhecidas que não utiliza animais como protagonistas),
sonhadora, travessa e que, como todas as crianças têm atritos com os pais de vez em quando.
A perspectiva positiva também foi aproveitada pela campanha da RBS TV “O amor é a
melhor herança”, lançada em junho de 2003. Apresentando elementos do imaginário infantil
temidos pelas crianças, passa a demonstrá-los como aliados na luta contra o abuso de
menores.
Assim, as categorias da análise foram divididas de acordo com uma pré-análise dos
anúncios e das ilustrações e texto do livro. Com essa pré-análise realizada no começo do
trabalho foi possível descobrir os principais elementos de cada peça como estrutura do texto,
posição do narrador, recursos publicitários, caracterizações verbais, cenário da ilustração,
personagens, elementos de fantasia e expressões. Através dessas categorias, percebeu-se que
alguns componentes do mesmo material têm as mesmas características, logo para não tornar
redundante a análise individual, as peças que tinham as mesmas características foram
mencionadas em conjunto, quando necessário. No decorrer da análise também foram
encontrados muitos detalhes que poderiam ser analisados na categoria de ilustração, assim,
foram definidas mais subcategorias em ilustração do que na parte textual, a fim de deixar a
pesquisa mais organizada.
Além disso, a análise do material foi dividida entre anúncios da campanha e partes do
livro. A primeira parte da análise se deu pela parte textual na qual foram analisados o texto
dos anúncios, combinados com a análise do texto do livro. Este critério possibilitou melhor
comparação entre os objetos de pesquisa. A segunda parte da análise foi dividida entre
ilustrações da campanha e ilustrações do livro, utilizando o mesmo critério de combinação de
peças para melhor aproveitamento da pesquisa comparativa. E enfim, optou-se pela
exemplificação (com trechos de cada material – anúncios e livros) em cada categoria de modo
a demonstrar melhor o que resultou de cada categoria.
37
4 ANÁLISE E DESCRIÇÃO DOS DADOS
4.1 Análise do texto da campanha “O amor é a melhor herança” e do livro “Onde vivem os
monstros”
4.1.1 Estrutura do texto
A estrutura do texto, como explica Carrascoza (2003), baseia-se em quatro etapas de
forma a tornar o texto coerente e localizar o receptor. Na publicidade, estas etapas estão bem
separadas, como na campanha do “O amor é a melhor herança”, da RBS TV.
Os anúncios conseguem exemplificar bem a divisão das etapas. Na primeira parte, a
frase que se trata do título, é definida como o exórdio, parte inicial da estrutura que introduz o
assunto e precisa captar atenção.
Título do anúncio Bicho Papão: Sim, tem pai que amarra os filhos em casa. E eu, o
bicho papão, que sou um monstro?
Título do anúncio Bruxa Malvada: Sim, tem mãe que nem dá banho nos filhos. E eu,
a Bruxa, que sou uma monstra?
Título Diabo: Daqui uns dias começa o dia da criança. Até eu vou ter que cometer
umas boas ações. (Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>.
Acesso 2012)
O exórdio está bem claro, pois já mostra diretamente o assunto que as informações
seguintes pretendem abordar (violência, violência doméstica e negligência). No entanto, no
texto de “Onde vivem os monstros”, as etapas são mais difíceis de enxergar, uma vez que o
texto é longo e precisa envolver o leitor na forma de narrativa. Assim, o exórdio do texto do
livro começa um pouco maior, mas já demonstra o que acontecerá durante a narrativa:
Na noite em que Max vestiu sua fantasia de lobo e saiu fazendo bagunça
Uma atrás da outra
A mãe dele o chamou de “monstro!”
E max disse “olha que eu te como!”
E acabou sendo mandado para a cama sem comer nada. (SENDAK, Maurice, p 6,
1964)
É importante analisar que a palavra monstro nestas duas etapas tem sentido negativo,
porém enquanto na campanha ela se refere a violência, no texto do livro, está relacionada a
má criação do personagem Max.
Assim, a segunda etapa do texto refere-se a narração, que é a descrição de todas as
informações relevantes do assunto:
38
Narração Bicho Papão: No Brasil, a agressão sexual afeta 15% dos 65 milhões de
jovens com menos de 18 anos. Pelo menos 100 desses jovens morrem por dia,
vítimas destes maus-tratos. São 9,7 milhões de casos por ano. Infelizmente, a
maioria desses casos acontece em casa: é a violência doméstica. Você sabe, as
crianças procuram a família quando estão em perigo.
Narração Bruxa Malvada: Quando se fala em maus-tratos as crianças, costumamos
pensar apenas em atitudes chocantes como violência física ou sexual. Mas é bom
não esquecermos de que negligência também é mau trato. Não matricular a criança
na escola é violentar o futuro. Não garantir higiene básica é violentar o futuro. Não
orientar a respeito da vida é violentar o futuro.
Narração Diabo: Pergunta a uma criança que costuma ser espancada se estranhos
devem ou não se meter na vida dos outros. Infelizmente, apenas os casos extremos
de violência contra crianças se tornam públicos, fazendo com que o problema não se
torne ainda mais visível. Quando uma família não acode uma criança, a sociedade é
que tem que acudir. Ao presenciar a violência doméstica, ligue para o disque
denúncia – 0800 990 500. (Disponível em
<http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso 2012)
É nesta etapa que está inserida a peroração, uma etapa a parte que demonstra provas da
veracidade da informação. Nos anúncios as provas estão dentro da narração, no anúncio Bicho
Papão as provas são definidas por dados númericos, enquanto no anúncio Bruxa Malvada e
Diabo as provas são apresentadas com um argumento negativo:
Peroração: Bicho Papão: No Brasil, a agressão sexual afeta 15% dos 65 milhões de
jovens com menos de 18 anos. Pelo menos 100 desses jovens morrem por dia,
vítimas destes maus-tratos. São 9,7 milhões de casos por ano.
Peroração Bruxa Malvada: Negligência também é mau trato. Não matricular a
criança na escola é violentar o futuro. Não garantir higiene básica é violentar o
futuro. Não orientar a respeito da vida é violentar o futuro.
Peroração Diabo: Infelizmente, apenas os casos extremos de violência contra
crianças se tornam públicos, fazendo com que o problema não se torne ainda mais
visível. (Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso
2012)
Já na narrativa de onde vivem os monstros, a segunda etapa é definida pelo
desenvolvimento da história:
Naquela mesma noite nasceu uma floresta no quarto de Max
Que cresceu...
E cresceu até aparecerem cipós pendurados no teto
E as paredes se transformarem no mundo inteiro
E um oceano surgir ondulante com um barquinho só para Max
E ele navegou noite e dia
Semana vem semana vai
Durante quase um ano
Para onde vivem os monstros.
E quando ele chegou aonde vivem os monstros
Eles rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus terríveis dentes
E reviraram seus terríveis olhos e mostraram suas terríveis garras
Até que Max disse “quietos!”
E amansou todos eles com o truque mágico
De olhar nos olhos amarelos deles sem piscar nem uma vez
E eles ficaram com medo e disseram que mais monstruoso do que ele não havia
39
E o fizeram rei de todos os monstros.
“agora”, exclamou Max, “vamos dar início à bagunça geral!”
“agora parem!”, disse Max e mandou os monstros para a cama
Sem jantar. E Max, o rei de todos os monstros, ficou sozinho
Com vontade de estar em algum lugar onde alguém gostasse dele de verdade.
Então, por todos os lados, vindo de muito longe, atravessando o mundo inteiro
Ele sentiu cheiro de coisa boa de comer
E desistiu de ser rei do lugar onde vivem os monstros.
Mas os monstros gritaram: “oh por favor não vá embora...
Nós vamos comer você... Gostamos tanto de você!”.
E Max disse: “não!”.
Os monstros rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus terríveis dentes
E reviraram seus terríveis olhos e mostraram suas terríveis garras
Mas Max entrou no barquinho que era só dele e deu adeus. (SENDAK, Maurice, p 6,
1964)
A narrativa por se tratar de uma história fictícia não precisa necessariamente verificar se
a informação está correta, já que se trata de uma obra literária de ficção, porém o anúncio tem
objetivo de informar as pessoas sobre um fato real, logo se o texto tiver embasamento em
informações comprovadas o anúncio terá mais credibilidade.
Por fim, a última etapa da estrutura do anúncio é demonstrada pelo ato que finaliza a
informação. Esta etapa precisa estar em sintonia com o exórdio para que o texto tenha unidade
e não seja contestado.
Peroração Bicho Papão: Mas, quando a família é o perigo, as crianças contam com
quem? Conosco. Com você. Com todos nós. Está mais do que na hora de cuidar das
crianças. Não podemos transformar atos monstruosos em rotina.
Peroração Bruxa Malvada: Não vamos negligenciar os cuidados do dia-a-dia. A
verdade é, quem ama, cuida.
Peroração Diabo: Os que mal sabem agradecer, agradecerão.
www.clickrs.com.br/cuidadascriancas. (Disponível em
<http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso 2012)
Percebe-se que a informação final volta a confirmar o que dizia o exórdio, sobre
violência e negligência e ainda consegue introduzir o termo monstro na forma de
monstruosos. Isso também acontece no texto de “Onde vivem os monstros”:
E navegou de volta por mais de um ano
Semana vem semana vai
E um dia inteiro
Para a noite de seu próprio quarto
Onde encontrou o jantar esperando por ele
Ainda quentinho. (SENDAK, Maurice, p 38, 1964)
O autor Maurice Sendak trouxe o personagem novamente para o quarto onde foi
colocado de castigo e conseguiu trazer de volta a informação sobre o jantar. Desta forma,
fecha o circuito da narrativa e coloca uniformidade a história.
40
4.1.2 Posição do narrador
A estrutura do texto, apresentada por Carrascoza (2003), possibilita a coerência do
texto, mas é através da posição do narrador é que o espectador se aproxima ou não do que está
sendo informado. É possível perceber que nos anúncios da campanha “O amor é a melhor
herança” que posição do narrador está na 1ª pessoa do singular, principalmente quando o
personagem principal de cada anúncio “fala” com o receptor:
Sim, tem pai que amarra os filhos em casa. E eu, o bicho papão, que sou um
monstro?
Sim, tem mãe que nem dá banho nos filhos. E eu, a Bruxa, que sou uma monstra?
Daqui uns dias começa o dia da criança. Até eu vou ter que cometer umas boas
ações. (Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso 2012)
A posição é revelada diretamente ao receptor com o pronome “eu” presente nas 3 frases
dos anúncio. Além disso, nas informações sobre violência que apresentam as provas da
mensagem, o personagem estabelece uma relação direta com o receptor, com os pronomes
“conosco”, “vocês”, “nós”.
Enquanto, os anúncios impressos procuram posicionar o narrador como o próprio
personagem, no livro “Onde vivem os monstros” a narrativa fica por conta de um individuo
externo (na 3ª pessoa do singular), pois conta a história do lado de fora descrevendo as ações
dos personagens, o cenário e localizando o leitor na narrativa:
Naquela mesma noite nasceu uma floresta no quarto de Max
Os monstros rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus
terríveis dentes. (SENDAK, Maurice, p 38, 1964)
Assim como a estrutura do texto, que tem objetivo de organizar e manter unidade,
segundo Carrascoza (2003), a posição do narrador é importante para localizar o espectador e
estabelecer uma relação na troca de mensagens da narrativa NIKOLAJEVA E SCOTT (2011).
4.1.3 Recursos publicitários
Os recursos publicitários empregados no anúncio são, conforme Carrascoza (2003),
estratégias para enriquecer o texto, direta ou indiretamente. Os anúncios impressos da
41
campanha da RBS “O amor é a melhor herança” e o livro “Onde vivem os monstros”
apresentam alguns recursos comuns demonstrados através de criações de inimigos e
estereótipos.
A criação de inimigos é geralmente um recurso utilizado em anúncios publicitários, pois
segundo Carrascoza (2003), é o problema que o anúncio irá solucionar. Nos anúncios
impressos, os inimigos podem ser exemplificados através das informações sobre violência que
é visivelmente o principal “inimigo” a ser combatido no anúncio publicitário:
Inimigos no anúncio Bicho Papão: Infelizmente, a maioria desses casos acontece em
casa: é a violência doméstica.
Inimigos Bruxa Malvada : Mas é bom não esquecermos de que negligência também
é mau trato. (Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso
2012)
Neste caso, o inimigo principal do anúncio é a negligência que fica evidenciada na
própria frase com o substantivo.
Inimigo Diabo : Ao presenciar a violência doméstica, ligue para o disque denúncia –
0800 990 500. Os que mal sabem agradecer, agradecerão. (Disponível em
<http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso 2012)
Enquanto no anúncio “Diabo”, o inimigo fica evidenciado pela violência doméstica,
incentivando o espectador a agir caso esteja presente em uma situação parecida.
Já, no livro “Onde vivem os monstros”, a criação de inimigos é diferente de um anúncio
publicitário, pois uma história depende de seu desfecho, não necessariamente uma solução
para o problema. O personagem Max é mandado para o quarto sem jantar devido suas más-
criações e assim começa a imaginar um mundo fantasioso dentro do próprio quarto. Porém, ao
adentrar totalmente no mundo fantasioso e encontrar seus amigos monstros, Max se dá conta
que eles são tão mal-criados quanto ele e acaba se sentindo sozinho em um mundo diferente.
O inimigo na narrativa do livro é a própria má-criação e o desfecho da história acontece
quando Max se dá conta disso e volta para o mundo “real”.
Embora a conclusão da história seja equivalente ao conflito presente nos anúncios, ela
não precisa apresentar uma solução e sim apenas indícios de que a narrativa será terminada.
No caso de “Onde vivem os monstros”, o desfecho da história acontece quando Max retorna
de sua fantasia novamente para o quarto, e sua mãe muda de ideia, deixando um prato de
comida no mesmo lugar onde começa a história.
Em ambos os casos (livro e anúncios) existem estereótipos para cada personagem. O
monstro popularmente conhecido por ser uma criatura malvada dá espaço para um amigo do
42
personagem Max (no livro) e um amigo do espectador (nos anúncios). O autor Calabrese
(1999) descreve a mudança de estereótipo de um comportamento ruim (por parte do monstro)
transformando-se em um personagem do bem, tanto no anúncio quanto no livro os
personagens monstros são ilustrados como criaturas grandes, esquisitas, coloridas, porém
protetoras e amigáveis. Um exemplo disso é a interação dos personagens dos anúncios que
solicitam ajuda do espectador e demonstram preocupação com os casos de violência:
Mas, quando a família é o perigo, as crianças contam com quem? Conosco. Com
você. Com todos nós. Está mais do que na hora de cuidar das crianças.
Não vamos negligenciar os cuidados do dia-a-dia. A verdade é, quem ama, cuida.
Ao presenciar a violência doméstica, ligue para o disque denúncia – 0800 990 500.
(Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso 2012)
Já no livro “Onde vivem os monstros” o estereótipo de monstro amigo pode ser verificado
através do seguinte exemplo:
Mas os monstros gritaram: “oh por favor não vá embora...
Nós vamos comer você... Gostamos tanto de você!”. (SENDAK, Maurice, p 35,
1964)
Além disso, outro estereótipo apresentado pelo livro é o de criança travessa e imponente
que exemplifica bem a personalidade do personagem Max quando ele é colocado de castigo
pelas travessuras e tenta comandar o grupo de monstros impondo ações e comportamentos.
4.1.4 Figuras de linguagem
As figuras de linguagem também são formas de enriquecer o texto, além de se
caracterizarem como um dos tipos de recurso publicitário. Tanto nos anúncios como no livro,
existem algumas figuras de linguagem que servem para demonstrar a expressividade do texto.
Alguns exemplos nos anúncios impressos da campanha “O amor é a melhor herança”:
Anáforas: A palavra “Não” que se repete várias vezes no anúncio da Bruxa Malvada
e a palavra “Sim” que também se repete no início de cada frase no anúncio Bicho
Papão.
Repetição: Não matricular a criança na escola é violentar o futuro. Não garantir
higiene básica é violentar o futuro. Não orientar a respeito da vida é violentar o
futuro.
Metáforas: Sim, tem pai que amarra os filhos em casa. E eu, o bicho papão, que sou
um monstro? Sim, tem mãe que nem dá banho nos filhos. E eu, a Bruxa, que sou
uma monstra? (Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>.
Acesso 2012)
43
Percebe-se que a quantidade de figuras de linguagem na narrativa de Onde vivem os
monstros é maior devido à quantidade de texto e a temática da obra que pode ser totalmente
fictícia. Encontrou-se no livro Onde vivem os monstros as seguintes figuras de linguagem:
Anáforas: A repetição do “E” no ínicio das frases:
E cresceu até aparecerem cipós pendurados no teto
E as paredes se transformarem no mundo inteiro
E um oceano surgir ondulante com um barquinho só para Max
E ele navegou noite e dia
Repetição: Eles rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus terríveis dentes/
E reviraram seus terríveis olhos e mostraram suas terríveis garras.
Que cresceu.. E cresceu até aparecerem cipós pendurados no teto.
Hipérboles: E ele navegou noite e dia/ Semana vem semana vai/ Durante quase um
ano.
E as paredes se transformarem no mundo inteiro.
Eufemismo: E eles ficaram com medo e disseram que mais monstruoso do que ele
não havia (Neste caso monstruoso está sendo usado para caracterizar algo muito
ruim).
Sinestesia: E um oceano surgir ondulante com um barquinho só para Max.
(SENDAK, Maurice, 1964)
4.1.5 Ambientação e caracterização verbal
A caracterização verbal do ambiente, segundo Nikolajeva e Scott (2011), tem objetivo
de situar a cena e localizar o espectador, sendo geralmente utilizada na literatura. Porém,
embora os anúncios da RBS não tenham descrição verbal do ambiente, a ilustração consegue
demonstrar todos os aspectos de localização, diferentemente da narrativa de Onde vivem os
monstros em que o autor procurou transmitir a descrição tanto visualmente quanto
verbalmente, exemplificada no seguinte trecho:
Naquela mesma noite nasceu uma floresta no quarto de Max
Que cresceu...
E cresceu até aparecerem cipós pendurados no teto
E as paredes se transformarem no mundo inteiro
E um oceano surgir ondulante com um barquinho só para Max. (SENDAK, Maurice,
p 7, 1964)
Sendak consegue descrever o mundo fantasioso de Max através de algumas frases e da
ilustração gradativa do crescimento da floresta no quarto do personagem. Além disso, o autor
também caracteriza os personagens na forma de adjetivos terríveis, monstros, quentinho, boa,
bagunça, monstruoso, amarelos; monstruosos, monstro, violentos, mau, chocantes
44
Os adjetivos se destacam em ambos os casos porque empregarem o substantivo
monstruoso como uma palavra negativa em compensação os personagens “monstros” são
estereotipados como amigos protetores
45
4.2 Análise das ilustrações da campanha “O amor é a melhor herança” e do livro Onde
vivem os monstros
4.2.1 Tipo de ilustração
A descrição verbal da cena em que acontece a ação é importante para dar sentido
temporal à imagem. Além disso, outra categoria importante na análise é o tipo de ilustração
utilizada em cada um dos anúncios/páginas do livro, pois de acordo com Alarcão (2008) é
possível identificar o sentido da mensagem (nostalgia, praticidade, rapidez).
Nos anúncios da campanha da RBS TV “O amor é a melhor herança” todos foram
desenvolvimentos na plataforma digital, que pode ser exemplificado através das linhas retas
(vetores) e cores chapadas que dramatizam o personagem e o cenário.
Enquanto no desenho de “Onde vivem os monstros”, percebem-se hachuras e texturas
típicas de ilustrações tradicionais:
Figura 3 - Tipo de ilustração Digital: Bicho Papão, Bruxa Malvada e Diabo
Fonte: Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso 2012.
Figura 4 - Ilustração tradicional de Onde vivem os monstros
Fonte: Onde vivem os monstros
46
Além disso, o desenho do livro “Onde vivem os monstros” tem mais detalhes
comparando com as ilustrações dos anúncios que possuem traços mais simplificados
(acredita-se pela praticidade e enfoque da mensagem – interação).
4.2.2 Cenário (cor, objetos, linha, superfície, volume, luz/contraste)
A composição do cenário depende do tipo de ilustração que será utilizada, conforme
Biazetto (2008). Um dos principais elementos do cenário trata-se da cor que, segundo Farina
(1986), pode despertar sentido no leitor, os objetos que identificam o local da cena e podem
demonstrar a estética de seu tempo, as linhas que determinam a suavidade da ilustração e o
contraste que cada elemento do cenário se relaciona com os outros dentro da composição.
O anúncio do Bicho Papão apresenta duas cores principais que são: verde e azul que,
conforme Farina (1986), são cores cromáticas significativas. O verde simbolizando a
segurança, esperança e serenidade o que contrasta com o azul do personagem Bicho Papão
que representa a cor da intelectualidade e amizade. Além disso, o personagem não veste
roupas.
Quadro 1 - Cenário Bicho Papão
47
Figura 5 - Cenário Bicho Papão
Fonte: Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>.
Acesso 2012.
O anúncio da Bruxa Malvada, assim como o primeiro do Bicho Papão, tem objetivo de
destacar o personagem principal, que no caso trata-se da Bruxa. As roupas escuras identificam
o estereotipo de Bruxa da Idade Média, acredita-se que ela utilizava roupas escuras
acreditando na força que a cor tinha sobre sua própria energia, pois o roxo como havia
descrito Farina (1986) é associado ao misticismo. O cenário verde também tem objetivo de
passar tranqüilidade e esperança, além de demonstrar os objetos da cena do banheiro sem tirar
o enfoque para a personagem.
Quadro 2 - Cenário Bruxa Malvada
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Figura 6 - Cenário Bruxa Malvada
Fonte: Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>.
Acesso 2012.
O anúncio do Diabo procurou utilizar cores quentes que simbolizassem o fogo, uma das
características mais importantes relacionadas ao estereótipo de Diabo. Além disso, o vermelho
e o amarelo por representarem o calor tornam o cenário mais aconchegante já que a relação
com o slogan pressupõe que o personagem fará boas ações. Apesar de ter cores bem
diferentes dos demais anúncios, essa peça não perde a unidade, pois seguiu a mesma lógica
dos outros anúncios: destacar os dois personagens e deixar o fundo com uma cor uniforme.
Quadro 3 - Cenário Diabo
49
Figura 7 - Cenário Diabo
Fonte: Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>.
Acesso 2012.
A ilustração da página 13 do livro “Onde vivem os monstros” possui o cenário da
floresta e a presença de todos os personagens da história. O azul e verde são muito utilizados
assim como nos anúncios do “O amor é a melhor herança”, da RBS. Acredita-se que isso
acontece pelo mesmo motivo de trazer segurança, amizade e confiabilidade. Além de se
relacionar com a situação e localização da cena, no caso desta ilustração, acontece à noite. Os
personagens tem cores mais voltadas para o sentido de calor (amarelo, laranja e vermelho) de
forma a destacar e iluminar a parte em que estão inseridos (assim como acontece no anúncio).
Já o personagem Max usa uma roupa branca que representa bem o significado da cor, pureza,
infância e inocência.
Quadro 4 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 1 página 13
50
Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 2 página 17
A segunda ilustração escolhida acontece na passagem de tempo para o final da tarde
antecedendo o começo da noite. As cores quentes utilizadas nessa ilustração representam bem
o por do sol e a sensação de tédio e cansaço que costumam acontecer no horário. Além de
conseguir demonstrar bem o clima da floresta. Percebe-se que em todas as ilustrações
presente no livro “Onde vivem os monstros”, as cores são de dessaturadas, isso quer dizer que
elas não são tão vivas quanto no anúncio que precisa de impacto imediato.
Figura 8 – Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 1
Fonte: Onde vivem os monstros
Quadro 5 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 2 página 17
51
Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 3 página 20
Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 3
A terceira ilustração apresenta o cenário dentro da casa de Max, assim como no anúncio do
Diabo que utilizou principalmente cores quentes (vermelho, amarelo e laranja) para
representar o personagem e atribuir aconchego ao cenário (por estar presente em uma sala de
estar) o quarto de Max é o único local do livro que tem cenário localizado dentro de casa.
Figura 9 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 2
Fonte: Onde vivem os monstros
Quadro 6 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 3
52
4.2.3 Expressão facial dos personagens
A análise dos anúncios e ilustrações do livro demonstrou que todos os personagens
presentes demonstram um sentimento de acordo com o andamento do texto:
As expressões dos personagens dos anúncios são mais evidentes porque precisam causar
impacto rápido, principalmente nos personagens Bruxa Malvada e Diabo que apresentam
expressões de preocupação com o fato apresentado no texto, diferentemente do livro que será
apreciado mais lentamente:
Figura 11 - Expressões dos personagens: Chateado, Preocupada, Preocupado, Tranquilo
Fonte: Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas>. Acesso 2012.
Figura 10 - Cenário Onde vivem os monstros - Ilustração 3
Fonte: Onde vivem os monstros
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As expressões de Max são mais suaves (com linhas menores) e representam as emoções
do personagem durante o dia e de uma criança que se entedia fácil porque está sempre
procurando algo novo para explorar.
Já os personagens Monstros, amigos de Max, variam suas emoções de obediência (pois
acreditam que Max é seu rei) até cansaço, suas expressões são mais serenas.
Figura 13 - Expressões dos personagens monstros: Surpresa, tédio, cansaço, obediente
Fonte: Onde vivem os monstros
4.2.4 Fantasia
As ilustrações e o texto presentes em cada peça formam o conjunto que estimula a
fantasia e questões que estão no inconsciente do espectador. Exemplo disso, é a coroa de Max
que faz dele um rei (reis e rainhas são elementos constantes em histórias infantis), as roupas
características de Bruxa que se relacionam com as conhecidas bruxas de livros infantis e o
tridente do diabo, objeto característico do personagem.
Esses elementos, através da ilustração, podem despertar sensações no leitor como:
Figura 12 - Expressões do personagem Max: imposição, tédio, alívio
Fonte: Onde vivem os monstros
54
medo, surpresa, felicidade, indiferença. Os elementos podem ser percebidos no anúncio do
Bicho Papão, por exemplo, que utiliza um ser irreal para representar o personagem principal;
no anúncio da Bruxa Malvada é possível perceber que se trata de uma bruxa pelas roupas
características e pela vassoura ao seu lado. Já no anúncio do Diabo, os elementos fantasiosos
que mais despertam atenção são o tridente e o fogo, utilizados como características do
personagem que na vida real são considerados perigosos.
E, enfim, nas ilustrações de “Onde vivem os monstros” os elementos fantasiosos de
mais destaques são: a fantasia do personagem Max que é baseada no animal lobo, a coroa e o
bastão que trazem referência à majestade e imposição, os monstros que usam roupas humanas
e a cabana feita em forma de castelo e confeccionada em palha.
Através da análise das ilustrações do livro e dos anúncios foi possível perceber que
todas têm pelo menos um item “fora do mundo real” e que fazem parte do universo lúdico.
55
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do presente trabalho que consistiu em uma pesquisa comparativa foi possível
perceber a quantidade de elementos do gênero literário apropriado pela campanha da RBS
TV, “O amor é a melhor herança”, ou seja, a literatura é uma das bases de referência no que
diz respeito à apropriação de elementos para desenvolvimento de uma campanha.
Foi possível realizar dois quadros resumo comparativos entre imagem e texto das peças
analisadas:
Categorias de texto Anúncios RBS TV Livro Onde vivem os monstros
Estrutura do texto completa X
Estrutura do texto sem as
provas
X
Narrador 1ª pessoa X
Narrador 3ª pessoa X
Recursos Publicitários X X
Figuras de linguagem X X
Caracterização verbal X
Através do quadro comparativo entre os textos dos anúncios e o texto do livro onde
vivem os monstros descobriu-se alguns pontos comuns como a utilização de recursos
publicitários (criação de estereótipos e criação de inimigos), as figuras de linguagem
(hipérboles, redundância, repetição) e a estrutura do texto que, embora não tenha provas (no
caso do livro que se trata de uma obra fictícia), conseguem manter quase integralmente a
ordem: exórdio, narração e peroração.
Já na análise das ilustrações também foram encontradas diversas peculiaridades comuns
entre anúncio e livro:
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Categorias de ilustração Anúncios RBS TV Livro Onde vivem os
monstros
Ilustração digital X
Ilustração manual X
Ilustração com cenário X X
Contraste no cenário X
Personagens expressivos X X
Uso de elementos de fantasia X X
Personagens vestidos X X
Assim, o quadro comparativo das categorias de ilustração demonstra mais elementos
comuns do que a análise textual como o uso de cenário para composição do ambiente (cores,
linhas, objetos da cena), a expressão de cada personagem na situação em que acontece a cena,
o uso de elementos fantasiosos (objetos da casa, objeto dos personagens, estereótipos) e a
utilização de roupas em personagens que não são humanos. Acredita-se que a quantidade de
trivialidades entre ilustrações seja maior devido ao próprio caráter que uma imagem exerce,
pois segundo Vestergaard e Schroder (2000), ela é geralmente neutra e tem diversos sentidos
por isso tem mais possibilidades de interpretações.
Além disso, tanto o livro quanto os anúncios têm temáticas voltadas ao lúdico que
fazem as crianças sonharem, embora os anúncios sejam direcionados ao público adulto, por
ser uma campanha informativa , procura trazer de volta a perspectiva de nostalgia através dos
contos de fadas.
A campanha se mostrou interativa por usar expressões de “conte comigo” (como se
estivesse solicitando a ajuda do público-alvo), já que o objetivo é impactasse e motivasse o
público a tomar uma atitude (de participar da cena utilizando toda página como base do
desenho), enquanto no livro por apresentar uma moldura em volta das imagens pressupõe-se
que ele deseja ter uma “platéia” (espectador).
Outro aspecto percebido durante a análise foi a mudança de estereótipos que buscou
trazer os temíveis monstros da infância como amigos do personagem e do espectador. Essa
mudança pressupõe a mudança de comportamento dos adultos e crianças para tudo que é
diferente e proporcionar a aceitação lentamente por conta das formas disformes. E o cenário
que apresentou vários objetos representativos de uma casa comum. Nos anúncios foi
57
visivelmente claro que a ilustração demonstrou os perigos que se pode ter em casa colocando
um monstro em um cômodo comum. E enfim, as cores da composição que estimulam os
sentidos e são uma das principais maneiras de impactar o leitor porque rapidamente remetem
a objetos e emoções que são comumente presenciadas no dia-a-dia.
Desta maneira, a pesquisa foi de grande importância para conhecer as informações que
podem ser utilizadas em uma campanha publicitária. Os contos de fadas são elementos que
podem atingir desde o público infantil até mesmo o público adulto e saber utilizá-los em
qualquer situação é uma maneira de persuadir o público mexendo com a nostalgia e
instigando suas emoções.
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qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo:
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CARRASCOZA, João Anzanello. Evolução do texto publicitário. São Paulo: Futura, 2003.
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livros para crianças e jovens nas palavras de seus criadores. São Paulo: Paulus, 2009.
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59
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NIKOLAJEVA, Maria; SCOTT, Carole. Livro ilustrado: palavras e imagens. São Paulo:
Cosac Naify, 2011.
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VESTERGAARD, Torben. SCHRODER, Kim. A linguagem da propaganda. 3 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
60
ANEXO A
Texto integral do livro Onde vivem os monstros de Maurice Sendak
Na noite em que Max vestiu sua fantasia de lobo e saiu fazendo bagunça
Uma atrás da outra
A mãe dele o chamou de “monstro!”
E max disse “olha que eu te como!”
E acabou sendo mandado para a cama sem comer nada.
Naquela mesma noite nasceu uma floresta no quarto de Max
Que cresceu...
E cresceu até aparecerem cipós pendurados no teto
E as paredes se transformarem no mundo inteiro
E um oceano surgir ondulante com um barquinho só para Max
E ele navegou noite e dia
Semana vem semana vai
Durante quase um ano
Para onde vivem os monstros.
E quando ele chegou aonde vivem os monstros
Eles rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus terríveis dentes
E reviraram seus terríveis olhos e mostraram suas terríveis garras
Até que Max disse “quietos!”
E amansou todos eles com o truque mágico
De olhar nos olhos amarelos deles sem piscar nem uma vez
E eles ficaram com medo e disseram que mais monstruoso do que ele não havia
E o fizeram rei de todos os monstros.
“agora”, exclamou Max, “vamos dar início à bagunça geral!”
“agora parem!”, disse Max e mandou os monstros para a cama
Sem jantar. E Max, o rei de todos os monstros, ficou sozinho
Com vontade de estar em algum lugar onde alguém gostasse dele de verdade.
Então, por todos os lados, vindo de muito longe, atravessando o mundo inteiro
Ele sentiu cheiro de coisa boa de comer
E desistiu de ser rei do lugar onde vivem os monstros.
Mas os monstros gritaram: “oh por favor não vá embora...
Nós vamos comer você... Gostamos tanto de você!”.
E Max disse: “não!”.
Os monstros rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus terríveis dentes
E reviraram seus terríveis olhos e mostraram suas terríveis garras
Mas Max entrou no barquinho que era só dele e deu adeus
E navegou de volta por mais de um ano
Semana vem semana vai
E um dia inteiro
Para a noite de seu próprio quarto
Onde encontrou o jantar esperando por ele
Ainda quentinho.
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ANEXO B
Ilustrações escolhidas – Onde vivem os monstros
Ilustração 1
Fonte: Livro Onde vivem os monstros
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ANEXO C Texto integral campanha da RBS TV “O amor é a melhor herança cuide das crianças”
1) Anúncio “Bicho Papão”
Sim, tem pai que amarra os filhos em casa. E eu, o bicho papão, que sou um monstro?
No Brasil, a agressão sexual afeta 15% dos 65 milhões de jovens com menos de 18 anos. Pelo
menos 100 desses jovens morrem por dia, vítimas destes maus-tratos. São 9,7 milhões de
casos por ano. Infelizmente, a maioria desses casos acontece em casa: é a violência doméstica.
Você sabe, as crianças procuram a família quando estão em perigo. Mas, quando a família é o
perigo, as crianças contam com quem? Conosco. Com você. Com todos nós. Está mais do que
na hora de cuidar das crianças. Não podemos transformar atos monstruosos em rotina.
2) Anúncio “Bruxa Malvada”
Sim, tem mãe que nem dá banho nos filhos. E eu, a Bruxa, que sou uma monstra?
Quando se fala em maus-tratos as crianças, costumamos pensar apenas em atitudes chocantes
como violência física ou sexual. Mas é bom não esquecermos de que negligência também é
mau trato. Não matricular a criança na escola é violentar o futuro. Não garantir higiene básica
é violentar o futuro. Não orientar a respeito da vida é violentar o futuro. Não vamos
negligenciar os cuidados do dia-a-dia. A verdade é, quem ama, cuida.
3) Anúncio “Diabo”
Daqui uns dias começa o dia da criança. Até eu vou ter que cometer umas boas ações.
Pergunte a uma criança que costuma ser espancada se estranhos devem ou não se meter na
vida dos outros. Infelizmente, apenas os casos extremos de violência contra crianças se
tornam públicos, fazendo com que o problema não se torne ainda mais visível. Quando uma
família não acode uma criança, a sociedade é que tem que acudir. Ao presenciar a violência
doméstica, ligue para o disque denúncia – 0800 990 500. Os que mal sabem agradecer,
agradecerão. www.clickrs.com.br/cuidadascriancas
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ANEXO D
Ilustrações escolhidas – Anúncios impressos campanha “O amor é a melhor herança”
Ilustração do anúncio Bicho Papão
Fonte:Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas/ >.
66
Ilustração do anúncio Bruxa malvada
Fonte:Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/cuidedascriancas/ >.