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AUTORES:LUIZ MARCELO BEVERVANSOMANOEL FERNANDO PAZIN MARQUES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁSETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIASDEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL E EXTENSÃOPÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIO
DISCIPLINA: GESTÃO AMBIENTAL
TÍTULO: SOLUÇÃO AMBIENTAL PARA DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS DE EXPLORAÇÃO DE PECUÁRIA LEITEIRA: VANTAGENS DA APLICAÇÃO DE SISTEMA AERÓBICO DE TRATAMENTO DE ESTERCO COM SEPARAÇÃO SÓLIDO / LÍQUIDO E FERTIRRIGAÇÃO.
Local: Cândido de Abreu (PR)
Data: 27 de maio de 2005
Introdução: Com a crescente população mundial e
alta demanda por alimentos, um dos principais meios de suprir esta necessidade é
pela produção animal. No entanto, o confinamento e a indústria de processamento
acabam gerando resíduos, os quais ao serem lançados no ecossistema, provocam
sérios impactos ambientais. O Brasil tem o maior rebanho de gado do mundo, sendo
no Paraná 10 milhões de cabeças (IBGE 2002), e cada animal gera em média, 50 kg
de esterco semi-sólido por dia. Somando a urina, água desperdiçada e de lavagem
de equipamentos, estima-se que o volume de dejetos atinja até 100 kg/cabeça/dia.
Na pecuária extensiva, a pasto, dada a pequena concentração de animais, as
excreções não representam perigo de contaminação. Distribuídas com relativo
espaçamento no solo, passam por um processo natural de decomposição por
microorganismos. No entanto, quando há concentração de gado numa pequena
área, o problema aparece e precisa de solução. Afinal, num confinamento de, por
exemplo, 300 vacas leiteiras, algo em torno de 30.000 kg/dia de dejetos terão de ser
coletados, transportados, estocados, tratados e distribuídos.
Desenvolvimento do tema: Um dos maiores
problemas em confinamento de bovinos de leite é a quantidade de dejetos
produzidos diariamente numa área reduzida. A disposição dos resíduos das
instalações animais tem se constituído, ultimamente, num desafio para criadores e
especialistas, pois envolve aspectos técnicos, sanitários e econômicos. Esses
resíduos, se manejados inadequadamente, podem causar impactos negativos ao
meio ambiente.
Os prejuízos ambientais são ainda maiores quando
esses resíduos orgânicos são arrastados para os cursos d’água, pois possuem alta
DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), reduzindo o teor de oxigênio da água.
Além disso, os diversos nutrientes contidos nesses resíduos (principalmente N, P e
K) estimulam o crescimento de plantas aquáticas e a eutrofização dos corpos
d’água.
Vários autores alertam para os problemas relativos
ao confinamento quanto aos efeitos nocivos dos gases (amônia, metano, sulfito de
hidrogênio, sulfeto de hidrogênio, dióxido de enxofre, aminas, mercaptanos, ácidos
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orgânicos gordurosos e outros) produzidos pela fermentação anaeróbia dos dejetos,
no interior das instalações, sobre os próprios animais e o homem.
A contaminação do solo, lagos e rios pelos resíduos
animais, a infiltração de águas residuárias no lençol freático e o desenvolvimento de
moscas e gases malcheirosos são alguns dos problemas de poluição ambiental
provocados pelos dejetos animais. Mesmo nos países desenvolvidos, é rara a
fazenda produtora de leite com um sistema satisfatório de manejo de efluentes. Não
há uma solução única. Todas as alternativas podem ser consideradas.
"O fim mais correto para o esterco é a sua
incorporação ao solo. Jogá-lo aleatoriamente no campo pode causar sérias
complicações sanitárias, como a poluição de córregos e rios, que acabam por
transportar o problema para outros locais", alerta o pesquisador e engenheiro rural
da Embrapa-Sede, Ricardo Encarnação. Segundo ele, a forma tradicional de
tratamento de estrume envolve, no mínimo, três etapas: a raspagem do estábulo, o
carregamento a uma área a ser cultivada e o preparo da terra com arado.
Procedimentos que exigem gastos excessivos com mão-de-obra e energia, o que,
muitas vezes, contribui para o descaso de o pecuarista despender uma atenção
maior no que se refere ao manejo de esterco.
"Além disso, tal rotina funciona bem somente em
fazendas dos Estados Unidos, onde o próprio dono ou seus filhos se encarregam
desse trabalho. No Brasil, nem sempre é aconselhável entrar com tratores nas
instalações que acomodam os animais", acrescenta. Assim, com o propósito de
reduzir custos e facilitar o dia-a-dia da produção leiteira, Encarnação, desde o início
da década de 90, vem aprimorando seus estudos com o objetivo de encontrar a
fórmula mais adequada ao manejo de esterco. Resultado: projetou um mecanismo
de tratamento no qual tornou-se possível reutilizar a parte líquida dos dejetos para a
limpeza do estábulo que foi batizado de Sistema Aeróbico de Tratamento de Esterco
com Separação Sólido/Líquido e Fertirrigação.
O líquido, fertilizante com alto índice de nutrientes, é
bombeado para campo, numa área onde se desenvolva qualquer tipo de cultura
agrícola, seja de pastagem, hortaliças, milho etc. "O percentual de água limpa
exigido para o funcionamento do sistema é oriundo da lavagem de equipamentos, da
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sala de ordenha e do curral de espera", esclarece Encarnação. Toda essa
movimentação com a água acaba por fazer a oxigenação, daí o nome aeróbico ao
sistema, eliminando o mau cheiro e as moscas. Para eclodirem, os ovos precisam
de um meio pastoso, justamente o que desaparece em função do trabalho do
separador. Daí, se forem colocados em local seco, eles não eclodem; em líquido,
morrem.
Por 24 dias, o esterco vai sendo armazenado até
completar os 300 m3, quando será encaminhado para área de cultivo. Enquanto
ocorre o descarregamento do primeiro tanque, o outro passa a funcionar como
captador dos dejetos. "Distribuímos 80% do volume no campo, deixando o restante
para servir de inoculante, acelerando o processo de estabilização da nova batelada
de dejetos serem depositados". Projetada para atender as exigências de 120
Unidades Animal (UA), de 500 kg vivo, essa estrutura faz a lavagem a uma vazão de
60 m3 / hora, comandada por uma bomba de rotor aberto, com potência de 7,5 CV.
Os tanques, construídos em concreto, têm dimensões de 4,0 metros de profun
didade e 10,5 metros de diâmetro.
De acordo com os cálculos de Campos, o custo
desse sistema de tratamento encontra-se na casa dos R$ 36.000,00. Um valor que
se justifica pela redução nas despesas, apresentada pela produção de 3.650 m/ano
de adubo, economia de 93% de água, 216% de energia elétrica e 36% de mão-de-
obra, mais a diminuição de horas trabalhadas de máquinas e tratores. Para se ter
uma idéia, o sistema consome 4.167 litros de água/dia, ou seja, 35 litros/UA/ dia,
exigindo menos da metade do volume de água ingerido diariamente por UA. Tudo
isso gera uma receita de R$ 28.000,00, sendo que, desse total, R$ 16.000,00 são
provenientes da transformação do esterco em fertilizante.
"Esses são os benefícios diretos, imediatamente
visíveis ao olhar do produtor. No entanto, não computamos as vantagens indiretas,
compostas, principalmente, pela ausência de moscas, eliminação do mau cheiro,
bom saneamento ambiental e conservação do solo", conta ele. Considerando a
depreciação de equipamentos, gastos fixos e variáveis, com juros de oportunidade a
12% aa e de investimento a 6% aa, há uma previsão de que o tempo de
recuperação do capital aplicado seja da ordem de 29 meses. Dessa forma, Campos
chegou a conclusão de que, para cada R$1,00 investido, o produtor consegue um
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retorno líquido de R$0,91. "É uma prova de que os valores são elevados, mas eles
se pagam". Fechando a discussão, o pesquisador em Nutrição da Embrapa-Gado de
Leite, Pedro Arcuri, lembra que a leiteria na exploração confinada caminha para,
cada vez mais, se aproximar dos centros urbanos. Segundo ele, trata-se de uma
forma de diminuir gastos de distribuição e vender a imagem do produto "fresco",
recém- pasteurizado. Nesse sentido, para o consumidor pensar no leite com tal
característica, é importante a condição sanitária excelente no rebanho, o que coloca
o tratamento do esterco como um fator fundamental entre as etapas de produção.
"Com certeza, será mais um diferencial para se vender uma boa imagem do
produto", conclui.
São considerados resíduos facilmente biodegradá
veis aqueles cujas Demanda Química de Oxigênio (DQO) e DBO apresentam uma
relação DQO/DBO < 2. Nesse caso, a DQO/DBO do afluente é semelhante à
DQO/DBO do efluente, recomendando-se o tratamento biológico convencional.
Entretanto, quando a relação DQO/DBO > 2, a DQO/DBO do afluente é menor que a
DQO/DBO do efluente, indicando a existência de matéria orgânica não
biodegradável. Nesse caso, se a parte não biodegradável não é importante do ponto
de vista da poluição, recomenda-se o tratamento biológico convencional, e o
efluente tratado terá grande redução de DBO e redução parcial de DQO.
Contrariamente, se a parte não-biodegradável é causadora de poluição, o
tratamento biológico, a princípio, não é recomendado.
O tratamento biológico aeróbio e a reciclagem de
dejetos líquidos de bovinos, pelo processo de lodo ativado por batelada, em Sistema
Intensivo de Produção de Leite (SIPL), têm garantido uma série de vantagens ao
produtor rural e benefícios ao meio ambiente. As tabelas abaixo demonstram o que
esta tecnologia tem proporcionado em um SIPL de 40 hectares (Tabela 1) e a
produção diária de esterco por animais de raça leiteira (Tabela 2):
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Tabela 1 – Impacto Ambiental e Econômico com tratamento biológico aeróbico de
resíduos
Dimensão do Impacto
Ambiental
• redução de 94% na Demanda Biológica de
Oxigênio – DBO, e de 78% da Demanda Química
de Oxigênio – DQO do efluente líquido oriundo
das instalações dos bovinos
• economia de 96% de água, pela reciclagem do
efluente no sistema de limpeza hidráulica das
instalações de confinamento
• economia de 216% de energia elétrica em
relação aos processos convencionais de lodo
ativado por batelada
Dimensão do Impacto
Econômico
• relação custo/benefício de 1,91 (eficiência de
91%)
• economia de R$ 28,5 mil por ano, com
fertilizantes orgânicos, químicos e corretivos
• economia de R$ 16 mil por ano, com mão-de-
obra, máquinas e implementos agrícolas, para
condução do SIPL
Tabela 2 -Produção diária de esterco por animais de raça leiteira
Peso do animal (kg) Produção total de esterco
(m3/dia)Conteúdo em nutrientes (g/dia)
N P205 K2068113227454635
0,0050,0090,0190,0370,052
27,2245,3690,72
185,97258,55
10,4020,7837,4275,87
106,02
21,8538,2576,49
147,52207,63
Fonte: Midwest Plan Service. Dairy housing and equipment handbook. 14 ed. Armes: lowa State University. 1985. cap 8.
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FIGURA 1 – Diagrama do sistema de tratamento biológico de esterco líquido com reciclagem do efluente.
A produção animal também contribui para a emissão
de metano, por intermédio de duas grandes vias. A primeira delas é a fermentação
entérica, pois herbívoros ruminantes, como bovinos, ovinos, bubalinos e caprinos,
produzem metano como um subproduto do processo digestivo. As emissões globais
desse gás, a partir dos processos entéricos, são estimadas em 80 milhões de
toneladas anuais, correspondendo a cerca de 22% das emissões totais de metano
de fontes antrópicas.
O Brasil possui um rebanho bovino de 163 milhões
de animais - considerado o maior rebanho comercial do mundo -, além dos rebanhos
de outros animais. A segunda via de produção de metano é representada pelos
dejetos animais, principalmente os manipulados na forma líquida, em condições de
anaerobiose. O metano mundial proveniente dessa fonte é estimado em 25 milhões
de toneladas por ano, correspondendo a 7% das emissões totais.
A Embrapa desenvolveu modelos de simulação,
para formulação de dietas e para orientação da pesquisa, que permite a redução da
emissão de metano por bovinos leiteiros, por meio do balanceamento de rações. O
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potencial de redução chega até 60% da emissão do metano, quando comparado
com dietas não balanceadas, à base de forrageiras de baixa qualidade.
Conclusão: A adoção de sistema integrando
lavoura e pecuária, com a utilização da técnica de Sistema Aeróbico de Tratamento
de Esterco com Separação Sólido/Líquido e Fertirrigação em uma mesma área, pelo
cultivo de culturas anuais com forrageiras, além de reduzir a abertura de novas
áreas para formação de pastagem, constitui-se em um mecanismo de melhoria na
reciclagem de nutrientes no solo. O consórcio de forrageiras, especialmente as do
gênero Brachiaria, com culturas anuais, em solos devidamente corrigidos,
proporciona a produção de grãos no período normal de cultivo, sem perda
relevantes em produtividade. Possibilita, ainda, a produção de forrageira para
pastoreio ou silagem no período seco ou de entressafra, além de uma excelente
palhada para o plantio direto da cultura anual da estação chuvosa seguinte.
Referência Bibliográfica:
Campos, Aloísio Torres de. Tratamento biológico aeróbio e reciclagem de dejetos de bovinos em sistema intensivo de produção de leite. Tese de Doutorado apresentada à FCA-UNESP – Botucatu
Balanço Ambiental / Embrapa. — Brasília, DF, 2002 . 67 p.
Revista Balde Branco – Número 417 - Julho/1999
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