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Trabalho Penal

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Page 1: Trabalho Penal

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABACURSO DE DIREITO

Mircia Maria Ferreira Piacentini

ERRO DE TIPOEssencial e Acidental

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Piracicaba/SP2.009

Mircia Maria Ferreira Piacentini

ERRO DE TIPOEssencial e Acidental

Trabalho de final de semestre apresentado como exigência parcial para complementação de conceito.

Professor: Dr. José Luiz Jovelli.

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Piracicaba/SP2.009

Dedico primeiramente a Deus por tudo que tem me proporcionado.

À Márcia, minha mãe, a qual é meu

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espelho de toda coragem, dedicação e honestidade, sem ela nada seria.

SUMÁRIO

1. Introdução.....................................................................................5

2. Erro de tipo....................................................................................6

2.1. Dispositivo legal.....................................................................6

2.2. Conceito.................................................................................6

2.3. Erro de tipo essencial.............................................................8

2.3.1. Invencível...................................................................9

2.3.2. Vencível.....................................................................9

2.4. Erro de tipo acidental...........................................................10

2.4.1. Erro sobre o objeto..................................................11

2.4.2. Erro sobre a

pessoa.................................................11

2.4.3. Erro na execução.....................................................12

2.4.4. Resultado diverso do pretendido.............................13

2.4.5. Erro sobre o nexo causal.........................................14

3.Discriminantes putativas...............................................................14

4. Conclusão....................................................................................16

5.Bibliografia....................................................................................17

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1.INTRODUÇÃO

O princípio básico que orienta a construção do Direito Penal, a partir

da Carta Magna, é o da legalidade penal ou da reserva legal, resumida na

fórmula nullum crimen, nulla poena, sine lege, que a Constituição Federal

trouxe expressa no seu art. 5º, inciso XXXIX:

“XXXIX — não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem

prévia cominação legal”.

É a mais importante garantia do cidadão contra o arbítrio do Estado,

pois só a lei (norma jurídica emanada do Parlamento), pode estabelecer que

condutas serão consideradas criminosas, e quais as punições para cada crime.

A ilicitude penal é uma ilicitude típica, ou seja, a norma penal, que

define o delito, deve fazê-lo de maneira precisa; do contrário, a autoridade

poderia, a pretexto de interpretar extensivamente a lei, transformar em crimes

fatos não previstos no comando legal.

Embora não seja expressamente descrito na CF, o princípio da

tipicidade é uma das garantias essenciais do Estado de Direito, de modo que

as leis penais vagas e imprecisas são consideradas inválidas perante o

ordenamento jurídico.

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2. ERRO DE TIPO

2.1. Dispositivo legal

O art. 20 e seus parágrafos, do Código Penal, cuidam do chamado

erro de tipo assim redigido:

Art.20. O erro sobre o elemento constitutivo do tipo

legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição

por crime culposo, se previsto em lei.

§ 1º É isento de pena quem, por erro plenamente

justificado pelas circunstancias, supõe situação de

fato que, se existisse, tornaria a ação legitima. Não há

isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o

fato é punível como crime culposo.

§ 2º Responde pelo crime o terceiro que determina o

erro.

§ 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é

praticado não isenta de pena. Não se consideram,

neste caso, as condições ou qualidades da vítima,

senão as da pessoa contra quem o agente queria

praticar o crime.

2.2. Conceito

O erro é uma apreciação equivocada da realidade, é um conhecimento

errado, divergente sobre determinada questão.

Os tipos penais são modelos de conduta, descrições abstratas que

reúnem os elementos essenciais para se considerar um fato humano como

crime. Os tipos penais podem ser divididos em: elementares, que constituem o

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tipo penal (stricto sensu), e circunstâncias, que influenciam diretamente na

fixação da pena.

A ilicitude penal é uma ilicitude típica, ou seja, só é relevante, para o

Direito Penal, um fato que a lei previamente tenha descrito como delito, o que

não impede que um fato atípico seja considerado ilícito à luz do Direito Civil ou

do Direito Administrativo, por exemplo. Apenas não será considerado um ilícito

penal, por ausência de tipicidade.

Tipicidade é a relação de enquadramento entre o fato delituoso

(concreto) e o modelo (abstrato) contido na lei penal. É preciso que todos os

elementos presentes no tipo se reproduzam na situação de fato. Ex.: o tipo de

furto consiste em subtrair uma coisa móvel alheia, com o intuito de

“apoderamento”. Se a pessoa subtrai a coisa com a intenção de devolvê-la, o

fato não será típico.

Para agir com dolo o sujeito precisa conhecer, ter consciência, e

querer, todas elas. Caso contrário, não terá agido com dolo especificamente

em relação àquele tipo penal em questão.

Mas o que acontece se ele não tem exato conhecimento de todos os

dados de fato, os quais encontram correspondência nas elementares de um

dado tipo penal? Se para agir com dolo em relação a um determinado tipo

penal ele precisa conhecer e querer todas as suas elementares e

circunstâncias e ele, no caso concreto, não as conhece nem as quer, a

conclusão a que podemos chegar só pode ser que ele não age com dolo em

relação a esse tipo penal, uma vez que não conhecia nem queria todas as suas

elementares e/ou circunstâncias.

É aí que entra o erro, para explicar porque ele não conhecia e, por

esse motivo, não queria todas as elementares e/ou circunstâncias de um

determinado crime. Para que possamos melhor visualizar esse conceito, vamos

pensar no seguinte exemplo: suponhamos que um homem sentado na varanda

de sua fazenda escuta um barulho, ou algo se mexer atrás das árvores,

assustado corre para dentro de sua casa pega sua espingarda e atira no

suposto animal, ainda com medo o sujeito se aproxima da vítima e descobre

que na verdade, era seu vizinho (art.121, CP). Ou ainda, o sujeito pega o

chapéu achando que é seu próprio chapéu, quando na verdade era de terceiro

(art. 155 CP), ou então o indivíduo mata dolosamente outra pessoa ser saber

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que se tratava de seu pai ou de seu irmão. Nos dois primeiros exemplos o

sujeito erra sobre uma das elementares de um respectivo tipo penal e, por isso,

não age com dolo em relação a cada um deles. No terceiro, age com dolo na

prática do homicídio, mas não com relação à circunstância de a vítima ser

ascendente ou irmão, de modo que não há dolo específico quanto a essa

circunstância. Nos três casos, o agente somente responderá pelo que estiver

abraçado por seu dolo.

O Erro de tipo segundo Luiz Flávio Gomes, “é a falsa representação

da realidade ou o falso ou equivocado conhecimento de um objeto (é um

estado positivo). Conceitualmente, o erro difere da ignorância: esta é a falta de

representação da realidade ou o desconhecimento total do objeto (é um estado

negativo)”.1

Não obstante essa distinção, o erro e a ignorância são tratados de

forma idêntica pelo Direito Penal, sendo também idênticos seus efeitos.

Entende-se por erro de tipo aquele que recai sobre as elementares,

circunstâncias ou qualquer dado que se agregue a determinada figura típica, ou

ainda aquele, segundo Damásio, incidente sobre os “pressupostos de fato de

uma causa de justificação ou dados secundários da norma penal

incriminadora”.2 Como é o caso do exemplo supra citado, o agente como se

percebe, não tinha vontade de causar a morte de seu semelhante, e tampouco

tinha consciência de que matava alguém. Sem vontade e sem consciência, não

se pode falar em dolo. Embora não possa o agente responder pelo delito a

título de dolo, sendo inescusável o erro, deverá, nos termos da segunda parte

do art. 20 do Código Penal, ser responsabilizado a titulo de culpa, se houver

previsão legal para tanto.3

2.3. Erro de tipo essencial

Ocorre quando a falsa percepção impede o sujeito de compreender a

natureza criminosa do fato; recai sobre os dados principais do tipo, ou seja,

incide sobre as elementares e circunstâncias, ou sobre os pressupostos de fato

1 GOMES, Luiz Flávio. Erro de tipo e erro de proibição, p.23.2 JESUS, Damásio E. de. Direito penal – Parte geral, v. I, p. 265.3 GRECO, Rogério. Curso de Direito penal – Parte geral, v.I, p. 300.

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de uma excludente da ilicitude. A consequência do erro de tipo essencial é

sempre eliminar o dolo, permitindo a punição por delito culposo se existir.

Com o advento da teoria finalista da ação e a comprovação de que o

dolo integra a conduta, chegou-se à conclusão de que a vontade do agente

deve abranger todos os elementos constitutivos do tipo. Desejar, portanto, a

prática de um crime nada mais é do que ter consciência e a vontade de realizar

todos os elementos que compõem o tipo legal. Nessa linha, o erro de tipo

essencial ou impede o agente de saber que está praticando um crime, quando

o equivoco incide sobre elementar, ou de perceber a existência de uma

circunstância. Daí o nome erro essencial: incide sobre situação de tal

importância para que o tipo que, se o erro não existisse, o agente não teria

cometido o crime, ou, pelo menos, não naquelas circunstancias.4

O erro de tipo essencial apresenta-se sob 2 formas, vejamos:

2.3.1. Invencível

O erro de tipo invencível, ou escusável, exclui dolo e a culpa. Não há

consciência (previsão), nem previsibilidade. Ainda que o autor agisse com a

prudência do homem médio, ou seja, mesmo atentando-se para os cuidados

necessários, o agente não teria evitado o erro. Ex. subtração de caneta

idêntica. Amigo que vai dá susto no caçador.

Se o erro não podia ser vencido, nem mesmo com o emprego de

cautela, não podemos dizer que o agente procedeu de forma culposa. Sendo

assim, se não há consciência não há dolo; se não há previsibilidade também

não há o que se falar em culpa.

Portanto, ficando o dolo e a culpa excluída do erro de tipo; e como sem

dolo e sem culpa não existe conduta, e sem ela não há que se falar em fato

típico, leva então à atipicidade do fato e à exclusão do crime.

Devemos ressaltar ainda, que as conseqüências processuais são de

suma importância, pois havendo inquérito, deve o membro do “parquet” pedir

seu arquivamento, e se houver ação penal, deve pedir o trancamento.

4 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte geral, v. I, p. 223.

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2.3.2. Vencível

O erro será evitável se concluirmos que um pouquinho mais de

atenção e cautela teriam impedido o erro. Se ainda assim o agente erra, seu

erro decorrerá dessa falta de cuidado e, portanto, de um comportamento

culposo. Por isso que o sujeito poderá responder pela modalidade culposa, se

ela existir.

Sendo assim, o erro de tipo vencível, ou inescusável, é evitável pela

diligencia ordinária, o agente responderá por crime culposo, se previsto pelo

tipo respectivo. Vejamos o seguinte exemplo: Num dia de caça, atirar contra

uma pessoa, pensando em se tratar de um animal, provando-se que qualquer

pessoa nas condições em que o caçador se viu envolvido, empregando a

diligencia ordinária exigida pela ordem jurídica, não incidiria em erro, há

exclusão do dolo, mas não da culpa, respondendo o agente por homicídio

culposo.

Portanto o réu responde por crime culposo, se existir a modalidade

culposa, em decorrência do Princípio da Excepcionalidade do Crime culposo.

2.4. Erro de tipo acidental

Recai sobre circunstâncias secundárias do crime. Não impede o

conhecimento sobre o caráter ilícito da conduta, o que por consectário lógico

não obsta a responsabilização do agente, devendo responder pelo crime, ou

seja, o erro no caso, não recai sobre os elementos ou circunstancias do crime,

mas sobre dado periférico, irrelevante da figura típica. O agente, sabendo que

pratica um fato típico, responde pelo crime.5

O erro, contudo, pode incidir sobre dados de fato penalmente

irrelevantes, como o material ou a cor do chapéu alheio que o sujeito queria

subtrair. O fato não deixa de ser crime de furto se o agente queria furtar um

chapéu preto e furta um marrom, ou se queria furtar um anel de ouro e furta um

anel banhado em ouro. Não deixa de ser crime se o sujeito queria matar um

5 CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para concursos, p. 64.

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advogado e mata um promotor. São questões de fato irrelevantes para o

enquadramento penal.

O erro acidental, ao contrário do essencial não tem condão de afastar

o dolo (ou o dolo e a culpa) do agente, e segundo Aníbal Bruno, “não se faz o

agente julgar lícita a ação criminosa. Ele age com a consciência da

antijuridicidade do seu comportamento, apenas se engana quanto a um

elemento não essencial do fato ou erra no seu movimento de execução”.6

Portanto o agente sabe perfeitamente que está cometendo um crime. Por essa

razão, é um erro que não traz qualquer conseqüência jurídica: o agente

responde pelo crime como se não houvesse erro.7

As espécies de erro de tipo se apresentam das seguintes formas:

2.4.1. Erro sobre o objeto

Ocorre quando o sujeito supõe que sua conduta recai sobre

determinada coisa, sendo que na realidade incide sobre outra; é o caso do

sujeito subtrair açúcar supondo tratar-se de farinha. Ou seja, o agente imagina

estar atingindo um objeto material (coisa), quando na verdade atinge outro. “O

agente representa mal a coisa visada”.

Tal erro é absolutamente irrelevante, na medida em que não traz

qualquer conseqüência jurídica, respondendo, portanto, pelo mesmo crime,

pois seu erro não o impediu de saber que cometia um ilícito contra a

propriedade.

2.4.2. Erro sobre a pessoa

Acontece quando há erro de representação, em face do qual o sujeito

atinge uma pessoa supondo tratar-se da que pretendia ofender; ele pretende

atingir certa pessoa, vindo a ofender outra inocente pensando tratar-se da

primeira. A execução é perfeita, mas a vítima foi mal interpretada, por isso não

se confunde com o erro na execução. “O agente representa mal a vítima”. Aqui

também não há erro na execução, a execução é perfeita.

6 BRUNO, Aníbal. Direito Penal – Parte geral, t. II, p. 123. 7 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte geral, v. I, p. 232.

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Exemplo: quero matar meu pai, mas por má representação acabo por

matar meu tio, seu irmão gêmeo. Responde por parricídio, mesmo o pai

estando vivo. Há aqui uma substituição de pessoas que se viram envolvidas no

fato.

Portanto o legislador determina que o autor seja punido pelo crime que

efetivamente cometeu contra terceiro inocente (o chamado vitima efetiva),

como se tivesse atingido a pessoa pretendida (vitima virtual), isto é considera-

se para fins de sanção penal as qualidades da pessoa que o agente queria

atingir, e não as da efetivamente atingida (CP, art. 20, § 3º).8

2.4.3. Erro na execução (aberratio ictus)

Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos

meios de execução, o agente, ao invés de atingir a

pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa,

responde como se tivesse praticado o crime contra

aquela, atendendo-se ao disposto no art.20, § 3º do

(erro sobre a pessoa). No caso de ser também

atingida a pessoa que o agente pretendia ofender,

aplica-se a regra do artigo 70 (concurso formal).

Ocorre quando o agente por execução imperfeita acaba atingindo um

terceiro que, em regra, não fazia parte do seu animus. Ex: Júnior, um

desastrado, resolve matar seu irmão. Quando este passa pelo local esperado

Júnior atira, mas por erro de pontaria, acaba não por atingir seu irmão, mas a

namorada deste, que estava ao seu lado.

Havendo resultado único o agente responde por um só crime, mas

levando-se em conta as condições pessoa que queria atingir, nesse sentido art.

73 CP. Porém, pode ocorrer resultado duplo, vale dizer, atingiu dolosamente a

pessoa que queria e culposamente um terceiro, neste caso há concurso formal

perfeito (ou normal ou próprio), uma vez que não existem desígnios

autônomos, devendo ser considerada uma só pena aumentando-se de 1/6 a ½.

É o sistema da exasperação. Pode ocorrer também, como afirmamos retro, que

8 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte geral, v. I, p. 233.

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esteja no animus do agente atingir as duas pessoas, portanto um resultado

duplo doloso. Neste caso afirma-se haver desígnios autônomos, devendo então

as penas serem somadas, é o sistema do cúmulo material. Tem-se na hipótese

manejada o concurso formal impróprio. De notar-se que o erro na execução

difere do erro contra a pessoa porque neste, o agente atinge a vítima pensando

que a desejada. Ou seja, há uma falsa representação da realidade. No erro na

execução, o agente quer atingir a vítima desejada e sabe que é ela, só que erra

na execução, e atinge outra pessoa (vítima alvejada).

2.4.4. Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)

Art. 74. Fora dos casos do artigo anterior , quando,

por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém

resultado diverso do pretendido, o agente responde

por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se

ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a

regra do art.70 (concurso formal).

Nesta espécie de erro do tipo, o agente quer atingir determinado bem

jurídico, mas atinge outro. Ex: Júnior quer atingir a vidraça, mas por erro de

pontaria acaba por acertar a cabeça de José. Neste caso o agente só responde

por lesões culposas, que absorve a tentativa de dano. Porém se ocorrer duplo

resultado, ou seja, atinge a vidraça e pessoa, o agente responde por crime de

dano consumado em concurso formal com crime de lesões corporais culposas,

aplicando-se o sistema de exasperação.

Por fim, não se pode deixar de mencionar, responde pelo crime o

terceiro que determina o erro, na forma do art. 20, § 2º do CP. Colhamos aqui o

exemplo dado pelo professor Mirabete, para melhor compreensão da hipótese

aventada: “suponha-se que o médico, desejando matar o paciente, entrega à

enfermeira uma injeção contendo veneno, afirma que se trata de um anestésico

e fez com que ela aplique”.9 Conclui-se que a enfermeira não agiu

dolosamente, mas por um erro que terceiro determinou, neste caso apenas o

médico responde pelo crime de homicídio.

9 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal – Parte geral, v.I.

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Contudo, se o resultado previsto como culposo for menos grave ou se

o crime não tiver modalidade culposa, não se aplica a regra do aberratio

criminis, prevista no artigo supra mencionado.10

2.4.5. Erro sobre o nexo causal (aberratio causae)

Neste caso o erro recai sobre o nexo causal, é a hipótese do dolo

geral. Um exemplo nos leva à compreensão da espécie. Exemplo: A dá várias

facadas em B e, presumindo que esteja morto, atira-o de um precipício, mas B

vem a morrer com a queda e não em razão das facadas – nesses casos, não

haverá exclusão do dolo, punindo-se o autor por crime doloso. Também se fala

em aberratio causae, quando o fato se consuma em dois atos, sobre cuja

significação se equivoca o autor, ao crer que o resultado se produzira já em

razão do primeiro ato, quando na verdade, ele vem acontecer pelo segundo,

destinado a ocultar o primeiro.11

3.Discriminantes putativas

As discriminantes putativas fáticas é um dos temas do nosso direito

material onde não há, nem se espera que haja consenso entre os

doutrinadores. Trata-se de modalidade de erro que recai sobre os pressupostos

fáticos de uma causa de justificação.

Algumas teorias tentam solucionar o problema, vejamos algumas:

1) Teoria limitada da culpabilidade: seria erro de tipo permissivo e, por

analogia, teria o mesmo tratamento do erro de tipo (se escusável, há

atipicidade; se inescusável, pena do crime culposo);

2) Teoria dos elementos negativos do tipo: seria erro de tipo (se

invencível, atipicidade; se vencível, pena do crime culposo);

3) Teoria extremada da culpabilidade: trata-se de erro de proibição (se

invencível, isenção de pena; se vencível, culpabilidade dolosa atenuada);

10 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte geral, v. I, p. 237.11 GOMES, Luiz Flávio. Erro de tipo e erro de proibição.

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Page 15: Trabalho Penal

4) Teoria do erro orientada às conseqüências: o agente comete um

crime doloso quando atua com essa espécie de erro, mas deve sofrer as

conseqüências de um crime culposo se evitável o erro porque o desvalor da

ação é menor; se inevitável, há isenção de pena.

Da leitura do dispositivo conclui-se que a teoria adotada pelo nosso CP

foi a Teoria Limitada da Culpabilidade, sendo o erro que incide sobre as

discriminantes putativas fáticas verdadeiro erro de tipo, que exclui o dolo, por

conseguinte a tipicidade se for invencível, ou permite a punição por crime

culposo se o erro for vencível. É, pois, um erro sui generis na concepção de

Luiz Flávio Gomes12 e de Cezar Bitencourt13, pois para os mestres seria um

misto de erro de proibição para com erro de tipo. Assim sendo, deveria ser

tratado em dispositivo autônomo.

A noção de culpa imprópria vem com a teoria causalista (Teoria esta

que vigorava no CP de 1940) em explicar este erro. Vejamos: se o pai atira no

próprio filho pensando tratar-se de um ladrão, atua imaginando que se encontra

albergado pela legítima defesa. Para Hungria ‘o pai’ havia atuado com culpa,

pois o dolo era a vontade de praticar um crime e, in casu, o pai evidentemente

não queria matar o próprio filho; porém, como não se admite tentativa de crime

culposo, seria uma culpa sui generis, denominada de imprópria.

Não obstante, com o finalismo, e já afirmamos por diversas vezes

neste ensaio, o dolo deixou de ser normativo e passou a ser natural, não mais

se exigindo a consciência da ilicitude, mas tão somente a consciência e

vontade de realização do comportamento típico, o que se amolda perfeitamente

ao exemplo retrotraido. No caso dado em exemplo, o agente aprecia mal as

circunstâncias, atua finalisticamente para a pratica do ato, portanto, é um crime

doloso, mas a lei, talvez por questões de política criminal, pune como crime

culposo (chamada culpa imprópria ou por equiparação), modalidade tão

excepcional, que fugindo de toda regra, admite até a tentativa.

Não obstante todas as afirmações tecidas acima acreditaram que, em

verdade, não há nas discriminantes putativas fáticas um verdadeiro crime

doloso, isso por força da Teoria da Congruência.

12 GOMES, Luiz Flávio. Erro de tipo e erro de proibição.13 BITENCOURT, Cezar Roberto. Erro de tipo e erro de proibição – Uma analise comparativa.

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Page 16: Trabalho Penal

4.Conclusão

Após percorrermos sobre o tão controvertido tema, as conclusões

alcançadas, após breve analise do assunto em discussão foram:

O erro que recai sobre os elementos exigidos no tipo objetivo é o “erro

de tipo”, que invariavelmente exclui a tipicidade dolosa da conduta.

No ordenamento brasileiro, quando o erro de tipo é invencível elimina

qualquer tipicidade, ao passo que, se vencível, pode dar lugar à tipicidade

culposa, desde que seus extremos sejam estabelecidos. O erro acidental, que

recai sobre circunstâncias secundárias do crime. Não impede o conhecimento

sobre o caráter ilícito da conduta, o que por consectário lógico não obsta a

responsabilização do agente, devendo responder pelo crime.

O erro acidental, que recai sobre circunstâncias secundárias do crime.

Não impede o conhecimento sobre o caráter ilícito da conduta, o que por

consectário lógico não obsta a responsabilização do agente, devendo

responder pelo crime. Esse erro possui várias espécies: erro sobre o objeto,

sobre a pessoa, na execução, resultado diverso do pretendido e nexo causal.

Em relação as discriminantes putativas fáticas; quanto à sua

conceituação problemas não há, a grande celeuma que se instala sobre o

instituto se refere à sua natureza jurídica. Desse modo, seria, as

descriminantes putativas, erro de tipo ou erro de proibição? Por isso, há varias

teorias tentando solucionar esse tipo de problema.

Cabe ressaltar, que grande parte dos delitos são praticados tendo

como causa erros, que levam seus autores a realizar condutas tipificadas no

Código Penal como é o caso, por exemplo, do supra citado crime de homicídio

culposo.

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Page 17: Trabalho Penal

5.Bibliografia

GOMES, Luiz Flávio. Erro de tipo e erro de proibição.

JESUS, Damásio E. de. Direito penal – Parte geral, v. I.

GRECO, Rogério. Curso de Direito penal – Parte geral, v. I.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte geral, v. I.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal – Parte geral, v. I.

BRUNO, Aníbal. Direito Penal – Parte geral, t. II, p. 123.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Erro de tipo e erro de proibição – Uma analise

comparativa.

Código Penal

www.jusnavigandi.com.br

www.centraljuridica.com.br

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