Trabalho - Unidade de Recuperação Pós-Anestésica

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CURSO DE ENFERMAGEM CIDADE UNIVERSITRIA DE DOURADOS

ELBESON DE OLIVEIRA

UNIDADE DE RECUPERAO PS-ANESTSICA

DOURADOS 2008

ELBESON DE OLIVEIRA

UNIDADE DE RECUPERAO PS-ANESTSICA

Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovao na disciplina de Enfermagem Cirrgica do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Professora MSc: Elaine Ap. Mye Watanabe

DOURADOS 2008

SUMRIO

1 Introduo.................................................................................................................. 5 2 A Unidade de Recuperao Ps-Anestsica............................................................ 6 2.1 Localizao............................................................................................................... 7 2.2 Planta fsica .............................................................................................................. 7 2.3 rea da RPA............................................................................................................. 8 2.4 Elementos da Unidade de RPA................................................................................. 8 2.5 Quantidade de leitos................................................................................................. 9 2.6 Instalaes, equipamentos e materiais da RPA........................................................ 10 3 Recursos humanos..................................................................................................... 11 4 Planejamento da Assistncia de Enfermagem no Perodo Ps-Operatrio......... 11 5 Admitindo o paciente na URPA .............................................................................. 12 6 Sistematizao da Assistncia de Enfermagem....................................................... 13 7 Fases do cuidado Ps-Anestsico.............................................................................. 14 8 Tratamento de Enfermagem na URPA................................................................... 14 9 Avaliao do paciente................................................................................................ 15 9.1 Mantendo uma via area permevel......................................................................... 15 9.2 Avaliando a dor e a ansiedade.................................................................................. 16 9.3 Controlando a nusea e o vmito.............................................................................. 16 10 Diagnstico de Enfermagem na URPA.................................................................. 17 11 Complicaes no ps-operatrio imediato............................................................. 22 11.1 Complicaes respiratrias..................................................................................... 22 11.2 Complicaes gastrointestinais............................................................................... 28 11.3 Complicaes cardiovasculares.............................................................................. 30 11.4 Complicaes urolgicas........................................................................................ 39 11.5 Complicaes metablicas...................................................................................... 41 11.6 Complicaes hematolgicas.................................................................................. 42

11.7 Complicaes neurolgicas.................................................................................... 43 11.8 Outras complicaes............................................................................................... 46 12 Alta da URPA........................................................................................................... 53 13 Promovendo o cuidado domiciliar e comunitrio................................................. 54 14 Concluso.................................................................................................................. 56 Referncias bibliogrficas............................................................................................ 57

1 INTRODUO

O perodo ps-operatrio comea quando o paciente deixa a sala de cirurgia e vai at a ltima visita do cirurgio. Este perodo pode ser curto ou durar at alguns meses. Nessa fase a equipe de enfermagem deve estar atenta ao restabelecimento do equilbrio fisiolgico do paciente, ao alvio da dor, preveno de complicaes e o ensino do paciente. A avaliao cuidadosa permite o retorno rpido, seguro e o mais confortvel possvel para o paciente (SMELTZER & BARE, 2005). Possari (2003) relata que as vantagens da introduo de uma unidade de Recuperao Ps-Anestsica (URPA) no hospital para os pacientes receberem cuidados especiais proporcionam garantia para sua sobrevida, que se beneficiam com as seguintes vantagens: reduo da mortalidade ps-anestsicas e ps-operatrias; facilidade para o trabalho de rotina das Unidades de Internao, possibilitando melhor cuidado aos demais pacientes nas enfermarias; sensao de maior segurana do paciente e familiares; reduo dos possveis acidentes ps-operatrios e ps-anestsicos. Prado et al (1998) apontam como objetivos e vantagens desta unidade, a preveno e deteco precoce das possveis complicaes ps-anestsicas, assistncia de enfermagem especializada a pacientes submetidos a diferentes tipos de anestesia e cirurgias, maior segurana ao paciente, equipe mdica e de enfermagem, racionalizao de pessoal, eficincia dos recursos humanos, utilizao de teraputicas especializadas e campo de aprendizagem para alunos da rea da sade.

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2 A UNIDADE DE RECUPERAO PS-ANESTSICA

Mesmo antes descoberta da anestesia se teve o primeiro relato formal sobre a existncia da primeira sala de recuperao ps-anestsica em 1801, em Newcastle (Inglaterra) localizada ao lado das salas de operao para observao e cuidados especiais, ainda prestados por pessoal sem treinamento (POSSARI, 2003). Florence Nightingale, em 1863 j previa a necessidade que os pacientes operados fossem agrupados para facilitar o atendimento nas primeiras horas ps-operatrias. Ela praticava o cuidado progressivo, instalando os pacientes graves na proximidade da mesa do enfermeiro, enquanto os convalescentes ou aqueles em estado de menor gravidade ficavam mais afastados. Meiker e Rothrock (1997, p. 179) referem-se a uma fala de Florence onde pela primeira vez ela descreve a rea de ps - anestesia: No incomum, em pequenos hospitais do pas, ter um recesso ou salas pequenas do cenrio da operao em que o paciente permanece at que ele tenha se recuperado, ou no mnimo at que se recupere dos efeitos imediatos da operao. Com o advento da anestesia, juntaram-se aos problemas inerentes cirurgia aqueles oriundos da transio entre o estado de anestesia e o estado em que o paciente tem redobrada no apenas a conscincia, mas todas as condies para manter sua hemostasia, sem auxlio externo. Possari (2003) afirma que a partir de 1920 e principalmente aps a Segunda Guerra Mundial, muitos hospitais europeus e norte-americanos comearam a planejar a instalao de sala de recuperao ps-anestsica. Porm, somente em 1942, nos Estados Unidos da Amrica, o termo sala de recuperao anestsica foi utilizado e teve seus objetivos especficos definidos a partir de 1944. Nas dcadas de 50 e 60, a grande expanso desses servios proporcionou uma maior compreenso da fisiopatologia das complicaes ps-operatrias. H autores que delatam o fato de que nos anos 40 por causa do perodo de guerra, o pequeno nmero de enfermeiras e a necessidade de centralizar os pacientes, equipamentos e pessoal para que pudessem realizar os cuidados ps-operatrios, foram abertas muitas URPAs. Assim no demorou muito para que descobrissem que o uso da URPA diminua a morbimortalidade dos pacientes e tambm encurtava o perodo de hospitalizao destes (RUTH et al., 1947 apud MEIKER e ROTHROCK, 1997). No Brasil, apesar de j fazer parte das previses das unidades cirrgicas desde 1977, pela Portaria 400, a obrigatoriedade da sala de recuperao ps-anestsica somente foi

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estabelecida em 1993, por Decreto Federal, com a resoluo CFM n 1363/93 (POSSARI, 2003). Com o avano das tcnicas cirrgicas e de anestesia, principalmente com o advento da monitorizao invasiva passaram a exigir a criao de uma rea que oferecesse meios de recuperao ps-anestsicas, como tambm recuperao ps-operatrias. A RPA a rea destinada aos pacientes submetidos a qualquer procedimento anestsico-cirrgico, onde permanecem at a recuperao da conscincia, a normalizao dos reflexos e dos sinais vitais, sob observao e cuidados constantes das equipes de enfermagem e mdica (POSSARI, 2003).

2.1 Localizao

A RPA deve estar localizada o mais prximo possvel do Centro Cirrgico, facilitando o transporte do paciente, atendimento do cirurgio e anestesiologista, bem como o retorno rpido do paciente sala de operao se for necessrio.

2.2 Planta Fsica

No que se refere planta fsica, diversos detalhes devem ser observados: Forma retangular ou redonda, permitindo a visualizao fcil e constante dos pacientes. Portas amplas, no mnimo com as dimenses de 1,10 X 2,10m, facilitando o fluxo de pessoal e a passagem de camas, macas e equipamentos. Piso e paredes devem ser revestidos de materiais lavveis, o piso deve amortecer o som de sapatos e o forro deve possuir material antiacstico. Iluminao clara, sem sombras ou mudanas de cor. A iluminao artificial deve ser indireta, para permitir a avaliao acurada das coloraes perifricas e central do paciente. Ambiente calmo, sem rudos desnecessrios para proporcionar bem-estar do paciente, porque a audio o primeiro dos sentidos que se recupera na fase de reverso da anestesia. Temperatura controlada em torno de 22C e umidade relativa entre 50 e 60%, para proporcionar conforto e segurana do paciente. 7

Sistema de comunicao eficiente, principalmente para atendimento de pacientes em situaes de emergncia. Instalaes eltricas, hidrulicas e de gases medicinais.

2.3 rea da RPA

A rea determinada por aspectos como: Nmero de salas de operao; Tipo, durao total de procedimentos anestsico-cirrgicos realizados; Critrios de avaliao desde a admisso at a alta dos clientes dessa unidade.

2.4 Elementos da Unidade de RPA

rea de preparo para medicaes, constitudas de armrios e balces para guarda dos artigos estreis, material de consumo e medicamentos. Secretaria provida de mesa, telefone, sistema de comunicao interna e impressos utilizados na RPA. Sala de utilidades destinada limpeza dos artigos utilizados no paciente e utenslios utilizados na limpeza da unidade. Posto de enfermagem provido de imobilirios Rouparia provida de armrio. rea para visitas destinada permanncia dos familiares e amigos enquanto aguardam o trmino da operao. Sanitrios para os funcionrios e etc.

2.5 Quantidade de leitos

Deve ser igual ao nmero de salas de operao mais dois leitos. No caso de cirurgias de alta complexidade a recuperao pode ser diretamente na UTI. A Recuperao PsAnestsica deve ter no mnimo dois leitos, com distncia entre eles igual a 0,8 metro e entre leito e paredes, exceto a cabeceira, igual a 0,6 metro.

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O leito deve proporcionar fcil acesso ao paciente, ser seguro e de simples mobilidade, colocar-se sem complicaes na posio Trendelenburg e Trendelenburg reversa, e possuir caractersticas que facilitam o cuidado.

2.6 Instalaes, Equipamentos e Materiais da RPA

A RPA deve ser provida de equipamentos em perfeitas condies de uso e materiais em quantidade suficiente, a fim de atender qualquer situao de emergncia (POSSARI, 2003). Portanto, provida de: Camas com grades laterais de segurana, rodas e sistema manual (manivelas) ou eltrico para colocar o paciente facilmente na posio Fowler e Trendelenburg. Macas com sistema de elevao e transporte do paciente para evitar acidentes com os funcionrios da RPA. Tomadas eltricas. Para cada leito devem existir pelo menos 8 tomadas (ambas voltagens 110V e 220V). Instalao hidrulica com gua quente e fria. Sala de expurgo com sistema de despejo de secreo. Fontes de oxignio medicinal, ar comprimido. Sistema de vcuo clnico, pelo menos um para cada leito. Uma unidade mvel de aspirao acionada pelo p do operador deve ficar disponvel para o caso de falha nas instalaes centrais e vcuo. Aparelho para medio de Presso Arterial fixo na parede, pedestral ou manual, com braadeiras de vrios tamanhos para lactentes, crianas maiores, adultos e obesos. Prateleiras para reservatrio de roupas, frascos coletores de vmitos. Equipamentos para monitorizao dos sinais vitais, oximetria, presso arterial invasiva, dbito cardaco. Carro de emergncia provido de materiais como cnulas orofarngeas e nasofarngeas, mscaras faciais, cnulas traqueais, ambu, medicamentos, laringoscpios com diversas lminas adulto e infantil. Respiradores artificiais para adulto e crianas, para ventilao invasiva e no invasiva. Aquecedor (cobertor trmico, de sangue). Aparelhos para infuso de solues medicamentosas sob presso. 9

Desfibrilador com cardioverso sincronizada. Eletrocardigrafo porttil. Marcapasso externo. Balo intra-atico Estimulador de nervo perifrico. Negatoscpio. Bomba de aspirao a vcuo intermitente. Bandejas para procedimentos (cateterismo vesical, intracateter, drenagem torcica). Caixa de instrumental. Carrinhos com materiais especficos e gerais. Mesa ou balco. Cadeiras para uso de mdicos e membros da equipe de enfermagem. Telefone sem fio. Refrigerador. Foco auxiliar. Hamper. Recipiente para lixo. O autor ainda afirma que a URPA deve ser um lugar tranqilo, limpo e livre de equipamento desnecessrio. Esta rea pintada em cores suaves e agradveis e possui iluminao indireta, um teto prova de som, equipamento que controla ou elimina o rudo (p.ex., cubas plsticas para vmitos, pra-choques de borracha em leitos e mesa) e boxes isolados, porm visveis, para os pacientes agitados. A URPA tambm deve ser bem ventilada. Esses aspectos beneficiam o paciente, pois o ajudam a diminuir a ansiedade e promover o conforto. O leito da URPA propicia acesso fcil ao paciente, seguro e de fcil mobilidade; pode ser colocado na posio a fim de simplificar o uso de medidas para se contrapor ao choque, e possui aspectos que facilitam o cuidado, como suportes intravenosos (IV), grades laterais, freios nas rodas e uma prateleira para guardar o pronturio.

3 Recursos Humanos De acordo com Possari (2003)O dimensionamento da pessoal de enfermagem tem sido definido como a etapa inicial do processo de provimento de pessoal, que tem por finalidade a previso da quantidade de profissionais por categoria, requerida para suprir as necessidades de assistncia de enfermagem, direta ou indiretamente prestada clientela.

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Para esse dimensionamento do pessoal de enfermagem, faz-se necessrio um clculo proporcional, para que o nmero de pessoas da equipe de enfermagem seja o mesmo em relao ao nmero de pacientes da URPA. A equipe deve ser treinada e habilitada para prestar cuidados de alta complexidade e individualizados ao paciente no perodo ps-operatrio imediato, assegurando a preveno de riscos e complicaes decorrentes do ato anestsicocirrgico. Por isso a equipe de enfermagem deve ser composta por enfermeiro e tcnico de enfermagem, mesmo que haja um nico paciente. Os profissionais que atuam no Centro Cirrgico so: as equipes mdicas (cirrgica e anestesiologia), de enfermagem, administrativa e de higiene, que tm como objetivo assistir adequadamente s necessidades do paciente. de extrema importncia que seus componentes atuem de forma harmnica e integrada para a segurana do paciente e a eficincia do ato cirrgico. importante ainda que as boas relaes humanas e o profissionalismo sempre prevaleam sobre as tenses, inevitveis nesse tipo de trabalho. A equipe de enfermagem deve pautar suas aes na deteco, ateno e preveno das complicaes possveis de acontecer em decorrncia do procedimento anestsico cirrgico, tomando as devidas providncias de forma imediata e chamando o mdico responsvel (BASSO e PICOLI, 2004; POSSARI, 2003). Para isso, deve haver uma constante avaliao dos sinais vitais at sua normalizao. Para Bello (2000) a alta do URPA de responsabilidade do anetesiologista e necessita ser baseada em ndices de avaliao que permitam o retorno seguro do paciente ao seu leito de origem. Fica exposto que os critrios de alta do paciente no perodo de recuperao psanestsica so de responsabilidade intransfervel do anestesista. Segundo a portaria SMSA/SUS-BH N 008/2008 de 27 de maro de 2008. Anexo II: Requisitos para credenciamento de unidades hospitalares em procedimentos de

videolaparoscopia. Aborda os recursos humanos necessrios na SRPA: Um enfermeiro exclusivo por turno de funcionamento para sala de recuperao psanestsica; Um tcnico/auxiliar de enfermagem para cada cinco leitos de sala de recuperao psanestsica ou frao por turno de funcionamento; Mdico anestesiologista para a sala de recuperao ps-anestsica, responsvel pela monitorao dos pacientes, desde a admisso at o momento da alta.

4 Planejamento da Assistncia de Enfermagem no Perodo Ps-Operatrio 11

Possari

(2003)

escreve

que

a

assistncia

de

enfermagem

perioperatria,

especificamente a do perodo de recuperao anestsica, compreende as atividades desenvolvidas to logo o procedimento cirrgico seja concludo, durante a transferncia do paciente e at sua alta da sala de recuperao ps-anestsica. Os critrios de seleo de doentes a serem encaminhados para a RPA devem ser preestabelecidos pelo regulamento do hospital e em reunies realizadas pelos cirurgies, anestesiologistas e enfermeiros. Os principais critrios so: recebeu anestesia geral; teve perodos de hipotenso; teve grandes hemorragias, sofreu acidentes graves no ato operatrio; foi submetido operao demorada. Paciente infectado (por exemplo, gangrena gasosa) no deve ser admitido na RPA. A transferncia do paciente ps-operatrio da sala de operao para a Recuperao Ps-Anestsica responsabilidade do anestesiologista, com algum membro da unidade de cuidados especiais em servio. 5 Admitindo o paciente na URPA De acordo com Potter & Perry (2004)Antes da chegada do cliente Unidade de Recuperao Ps-anestsica (URPA), a enfermeira da URPA deve obter os dados, fornecidos pela equipe de cirurgia na sala de cirurgia, relacionados ao estado geral do paciente bem como a necessidade de equipamentos e cuidado de enfermagem especializado. O planejamento minucioso permite que a equipe de enfermagem considere a internao dos clientes na SRPA.

Segundo Brunner & Suddarth (2005), durante o transporte da sala de cirurgia para a URPA, o fornecedor da anestesia permanece na cabeceira da maca (para manter a via area), e um membro da equipe cirrgica permanece na extremidade oposta. Transportar o paciente envolve a considerao especial do stio incisional, alteraes vasculares potenciais e exposio. A inciso cirrgica considerada sempre que o paciente ps-operatrio movido; muitas feridas so fechadas sob tenso considervel, sendo feitos todos os esforos para evitar a tenso adicional sobre a inciso. O paciente posicionado de modo que no deite sobre drenos ou tubos de drenagem, nem os obstrua. A hipotenso ortosttica grave pode ocorrer quando se movido de uma posio para outra (p.ex., de uma posio de litotomia para uma posio horizontal ou de uma posio de decbito lateral para uma posio horizontal ou de uma posio de decbito lateral para um decbito dorsal), de modo que o paciente deve ser movido de forma lenta e cuidadosa. 12

A enfermeira que admite o paciente na URPA rev as seguintes informaes com o anestesiologista ou anestesista: Diagnsticos mdicos e tipo de cirurgia realizada Histrico mdico pregresso e alergias pertinentes Idade e condies gerais do paciente, permeabilidade da via area, sinais vitais. Anestsico e outros medicamentos empregados durante o procedimento (p.ex., opiides e outros agentes analgsicos, relaxantes musculares, antibiticos). Quaisquer problemas que tenham ocorrido na sala de cirurgia que poderiam influenciar o cuidado ps-operatrio (p.ex., hemorragia extensa, choque, parada cardaca). Patologia encontrada (se a malignidade for um problema durante a cirurgia, a enfermeira precisa saber se o paciente e/ou a famlia foram informados). Lquido administrado, perda sangunea estimada e lquidos de reposio. Qualquer equipo, drenos, cateteres ou outros dispositivos de suporte. Informaes especficas sobre as quais o cirurgio, anestesiologista ou anestesista desejam ser notificados (p.ex., presso arterial ou freqncia cardaca abaixo ou acima de um nvel especificado).

6 Sistematizao da Assistncia de Enfermagem

O planejamento dos cuidados de enfermagem feito de acordo com as necessidades individuais dos pacientes durante o perodo de recuperao ps-anestsica e as caractersticas especficas de cada procedimento cirrgico e anestsico. Portanto, sistematizar a assistncia significa individualizar, humanizar e respaldar as aes de enfermagem (POSSARI, 2003). Os principais procedimentos so os seguintes: Receber e identificar o paciente; Verificar a saturao de oxignio e a permeabilidade de vias areas superiores, adotar manobras necessrias para sua manuteno e instalar nebulizao contnua atravs de mscara facial simples ou com Venturi ou de uma pea em forma de T, para facilitar a expirao de gases anestsicos inalatrios. Verificar SSVV, presso arterial e dor, com periodicidade de 15 minutos na primeira hora, 30 minutos por duas horas, e depois de hora em hora. Manter a cabeceira lateralizada em posio levemente inferior ao corpo para evitar 13

aspirao de secreo em casa de vmitos. Restringir o paciente se for necessrio. Manter o paciente aquecido, utilizando foco de luz, manta trmica, entre outros; Verificar nvel de conscincia e reflexos; Observar conexo de drenos e sondas, controle de solues medicamentosas. Observar sinais e sintomas de choque. Administrar medicamentos conforme prescrio. Avaliar a fora e as respostas musculares. Verificar condies e colorao da pele. Checar o preenchimento de impressos do pronturio, principalmente, com relao anestesia e cirurgia. Registrar todos os procedimentos realizados com relao anestesia e cirurgia. Encaminhar rotina relativa alta do paciente. Aps a recuperao da conscincia, informar ao paciente o trmino da cirurgia, atendendo s suas solicitaes. Para Possari (2003)O enfermeiro responsvel pela RPA deve sistematizar o registro das informaes, mantendo vnculo ativo com os profissionais da sade, alm de oferecer equipe de enfermagem condies para atuar junto ao cliente de maneira efetiva, planejada e segura. O planejamento da assistncia de suma importncia na recuperao do paciente e na preveno de complicaes ps-operatrias.

7 Fases do Cuidado Ps-Anestsico

Ciente de que o perodo de recuperao ps-anestsica considerado crtico, uma vez que o paciente passa por um procedimento cirrgico e recebe drogas anestsicas, deve-se exigir da equipe cirrgica uma vigilncia constante. O cuidado ps-anestsico, em alguns hospitais e centros de cirurgia ambulatorial, divide-se em 2 fases. Na fase I da URPA, usada durante a fase de recuperao imediata, fornecido o cuidado intensivo de enfermagem. A fase II da URPA reservada para pacientes que precisam de observao menos freqente e menos cuidado de enfermagem.

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De acordo com Brunner & Suddarth (2005), na unidade de fase II, o paciente preparado para a alta. Cadeiras reclinveis, em lugar de macas ou leitos, so padres em muitas unidades de fase II, que tambm podem ser referidas como unidades de regresso, de sada ou de cuidado progressivo. Os pacientes podem permanecer em uma unidade de URPA de II por at 4 a 6 horas, dependendo do tipo de cirurgia e de quaisquer condies preexistentes do paciente. Nas instituies sem unidades de fase I e fase II separadas, o paciente permanece na URPA e pode receber alta para casa diretamente dessa unidade. As enfermarias de URPA de fase I e fase II possuem competncias especiais. A enfermaria da URPA de fase I fornece a monitorao freqente (cada 15 minutos) do pulso, eletrocardiograma, freqncia respiratria, presso arterial e valor do oxmetro de pulso (nvel de oxignio no sangue) do paciente. Em alguns casos, os nveis de dixido de carbono no volume corrente final (ETCO2) tambm so monitorados. A via area do paciente pode ficar obstruda por causa dos efeitos da anestesia recente, devendo a enfermeira da URPA ser preparada para assistir na reintubao e no manuseio de outras emergncias que possam ocorrer. A enfermeira na URPA de fase II deve possuir fortes competncias do histrico clnico e do ensino do paciente (Brunner & Suddarth, 2005).

8 Tratamento de Enfermagem na URPA

As metas do tratamento de enfermagem para o paciente na URPA consistem em fornecer o cuidado at que o paciente tenha se recuperado dos efeitos da anestesia (p.ex., at a retomada das funes motora e sensorial), esteja orientado, apresente sinais vitais estveis e no mostre evidncias de hemorragia nem outras complicaes.

9 Avaliao do paciente

Segundo Smeltzer & Bare (2005), avaliaes freqentes e criteriosas do nvel da saturao de oxignio no sangue, freqncia e regularidade do pulso, profundidade e natureza das respiraes, colorao da pele, nvel de conscincia e a capacidade de responder aos comandos so os marcos do cuidado de enfermagem na URPA. A enfermeira realiza uma avaliao basal, depois verifica o stio cirrgico para a drenagem ou hemorragia e se certifica de que todos os tubos de drenagem e linhas de monitorao esto conectados e funcionantes.

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Depois da avaliao inicial, os sinais so monitorados e o estado geral do paciente examinado, pelo menos, a cada 15 minutos. A permeabilidade da via area e a funo respiratria sempre sero avaliadas em primeiro lugar, seguidas pela avaliao da funo cardiovascular, condio do stio cirrgico e funo do sistema nervoso central (SMELTZER & BARE, 2005). A enfermeira precisa estar ciente de qualquer informao significativa da histria do paciente (p.ex., o paciente tem dificuldade de audio, possui uma histria de convulses, tem diabetes ou alrgico a determinados medicamentos ou ao ltex).

9.1 Mantendo uma Via Area permevel

Esta a principal meta no ps-operatrio imediato. Consiste em manter a ventilao pulmonar evitando a hipoxemia e hipercapnia. O enfermeiro tambm avalia a freqncia e a profundidade respiratrias, a facilidade das respiraes, a saturao de oxignio e os sons respiratrios.

9.2 Avaliando a Dor e a Ansiedade

Os analgsicos opiides so administrados de maneira criteriosa e, com freqncia, por via intravenosa na URPA, eles proporcionam alvio imediato, tm curta ao, minimizando assim o potencial para as interaes medicamentosas ou depresso respiratria prolongada, enquanto os anestsicos ainda esto ativos no sistema do paciente. Assim que a dor estiver controlada pela analgesia, h possibilidade de transferir o paciente para o seu leito e ou uma alta para a casa (VENDER; SPIESS, 1995). Tais medicamentos tm como efeito a analgesia, supresso da tosse, alterao do afeto e como efeitos colaterais, nuseas, vmitos e diminuio da motilidade gstrica. Alm de monitorar o estado fisiolgico do paciente e de controlar a dor, a enfermeira da URPA fornece apoio psicolgico em um esforo para aliviar os medos e preocupaes do paciente. A enfermeira verifica o pronturio mdico para as necessidades e preocupaes especiais do paciente. Quando a condio do paciente permite, um membro prximo da famlia pode visit-lo na URPA por alguns momentos. Com freqncia, isso diminui a ansiedade da famlia e faz com que o paciente se sinta mais seguro (SMELTZER & BARE, 2005).

9.3 Controlando a Nusea e o Vmito 16

Smeltzer & Bare (2005), relatam que a nusea e o vmito so problemas comuns na URPA. A enfermeira deve intervir no primeiro relato de nusea do paciente para controlar o problema em lugar de aguardar que ela progrida at o vmito. comum na administrao intravenosa ou intramuscular de droperidol (Inapsine), principalmente no ambiente ambulatorial. Em geral, so prescritos outros medicamentos como a metoclopramida (Phenergan), embora seja dispendioso, o ondansetron (Zofran) um antiemtico efetivo, freqentemente utilizado, com poucos efeitos colaterais.

9.4 Avaliao das Condies de Recuperao do Paciente

Possari (2003) informa sobre o ndice de Adrete e Kroulik, que assim representado:

Conscincia Avaliada por meio da determinao do nvel de conscincia do paciente: 2 - desperto totalmente. 1 desperto ao chamar. 0 no responde.

Atividade A atividade muscular avaliada por meio da observao da capacidade do paciente em mover suas extremidades espontaneamente ou quando solicitado: 2 movimento voluntrio de todas as extremidades. 1 movimento voluntrio de duas extremidades. 0 incapaz de se mover. Respirao A eficcia respiratria avaliada numa forma que permita uma determinao precisa e objetiva, sem testes fsicos complicados: 2 respira profundamente e tosse. 1 dispnia, hipoventilao. 0 apnia.

Circulao 17

Utiliza as alteraes na presso arterial como base nos nveis pr-anestsicos: 2 presso arterial (PA) normal ou at 20% menor que no pr-anestsico. 1 presso arterial (PA) menor em 25% a 50% do nvel pr-anestsico. 0 presso arterial (PA) igual ou menor que 55% nvel pr-anestsico.

Saturao Utiliza a concentrao de oxignio circulante no sangue: 2 saturao de oxignio maior que 92%, respirando ar ambiente. 1 necessita suplementao de oxignio para manter a saturao de oxignio maior que 90%. 0 saturao de oxignio menor que 90% mesmo com o oxignio suplementar. O paciente deve receber ndice mximo de 10 quando se registram graus mximos de normalidade para todos os parmetros. ndices iguais ou superiores a 8 so considerados seguros. A variao do ndice atribudo ao paciente em observaes peridicas indica a evoluo do paciente da recuperao anestsica. A utilizao desse sistema permite determinar o estado do paciente e verificar se est apto para deixar a Sala de recuperao Ps-Anestsicas. medida que o paciente evolui no perodo de recuperao, seus sinais clnicos so observados e avaliados por meio de um guia de registro objetivo.

10 Diagnstico de Enfermagem na URPA

Para Carpenito-Moyet (2006), os diagnsticos de enfermagem dos pacientes na URPA, oferecem fundamentao para determinar as intervenes de enfermagem facilitando a implementao da assistncia. Diagnsticos de enfermagem: Risco para padro respiratrio ineficaz relacionado imobilidade secundria ao estado e dor ps-anestsicos; Risco para infeco relacionado ao local da invaso do organismo secundrio a cirurgia; Dor aguda relacionada ruptura cirrgica das estruturas do organismo, flatos e imobilidade;

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Risco para nutrio desequilibrada: menos que as necessidades corporais relacionado ao aumento das exigncias de protenas e vitaminas para a cicatrizao de feridas em gesto diminuda secundrias a dor, nusea, vmito e restries alimentares; Risco para constipao relacionado ao peristaltismo diminudo secundrio a imobilidade, efeitos da anestesia e narcticos; Intolerncia a atividade relacionada a dor e fraqueza secundria a anestesia, hipxia tissular e ingesto insuficiente de lquidos e nutrientes; Risco para controle ineficaz do regime teraputico relacionado a conhecimento insuficiente sobre o cuidado do local da cirurgia, restries (dieta, atividade), medicamentos, sinais e sintomas de complicaes e segmentos dos cuidados.

Intervenes de Enfermagem

Risco para padro respiratrio ineficaz relacionado imobilidade secundria ao estado e dor ps-anestsicos Auscultar as reas pulmonares para verificar os sons respiratrios e se esto diminudos ou normais. A presena de estertores indica reteno de secreo e diminuio de sons respiratrios indica atelectasia. Realizar medidas de preveno posicionando o cliente de lado com os travesseiros apoiando suas costas e os joelhos levemente flexionados, pois no perodo psoperatrio a hipoventilao contribui para maior risco de aspirao. Promover respiraes profundas, tosse (exceto se contra-indicado), mudana de decbito e deambulao precoce. Esses exerccios promovem expanso pulmonar a fim de mobilizar as secrees, assim como a tosse ajuda a deslocar tampes de muco. Incentivar a ingesto de lquidos orais, pois a hidratao adequada amolece as secrees facilitando a expectorao.

Risco para infeco relacionado ao local da invaso do organismo secundrio a cirurgia. Monitorar sinais e sintomas de infeco da ferida como edema e vermelhido aumentados, deiscncia, drenagem purulenta e temperatura aumentada. Monitorar a cicatrizao da ferida, observando se as bordas esto intactas (primeira inteno) ou se tem evidencia de tecido granular (segunda e terceira inteno).

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Orientar sobre os fatores que podem retardar a cicatrizao, como tecido desidratado, infeco, pois o exsudato prejudica a epitelizao e o fechamento da ferida. Nutrio e hidratao inadequadas, pois o tecido precisa de uma maior ingesta de protenas e carboidratos e hidratao adequada para transportar oxignio e resduos. O suprimento de sangue ao tecido lesionado deve transportar leuccitos e o estresse deve ser diminudo, pois este deprime a regenerao epidrmica pelos elevados nveis de quelide produzidos. Prevenir a infeco pela lavagem de mos uso de luvas, limpeza de drenos e sondas e mant-las longe da inciso. Minimizar a irritao da pele por meio de bolsa coletora se indicado e troca freqente de curativos. Ajudar o cliente a se movimentar e apoiar a rea cirrgica ao tossir, espirrar, vomitar e reduzir o acmulo de flatos.

Dor aguda relacionada ruptura cirrgica das estruturas do organismo, flatos e imobilidade; Colaborar com o cliente para determinar intervenes ineficazes no alivio da dor. Reduzir o medo do cliente esclarecendo informaes pertinentes. Orientar o paciente a descrever a sensao de dor e o seu tempo de durao. Oferecer privacidade ao cliente durante a sua experincia de dor, permitindo que o expresse reduzindo sua ansiedade. Oferecer analgsicos prescritos. Explicar e auxiliar o uso de medidas no invasivas e no-famacolgicas para aliviar a dor como: apoiar o local da inciso, posicionar-se corretamente, realizar exerccios respiratrios e distrao. Ensinar o cliente a expelir os flatos conforme orientao: deambular assim que possvel aps a cirurgia e mudar de posio regularmente ajudando o peristaltismo e a expulso dos flatos. Risco para nutrio desequilibrada: menos que as necessidades corporais relacionado ao aumento das exigncias de protenas e vitaminas para a cicatrizao de feridas em gesto diminuda secundrias a dor, nusea, vmito e restries alimentares. Explicar a necessidade de ingesta nutricional adequada contendo protenas e carboidratos, vitaminas e sais minerais. 20

Realizar medidas para reduo da dor, como administrar medicamentos, pois a dor causa fadiga reduzindo o apetite. Explicar as causas de provveis nuseas e vmitos: sendo efeito colateral de medicamentos ps-operatrios, procedimentos cirrgicos, distenso gstrica,

reduzindo a ansiedade do paciente e auxiliando a diminuir os sintomas. Manter uma boa higiene oral e assim estimulando o apetite. Administrar antiemticos antes das refeies se indicado.

Risco para constipao relacionado ao peristaltismo diminudo secundrio a imobilidade, efeitos da anestesia e narcticos. Investigar rudos intestinais, pois este indica retorno do peristaltismo. Estimular a atividade diria como a deambulao, pois este ajuda na eliminao intestinal pelo peristaltismo aumentado. Promover fatores que contribuam para uma eliminao adequada como: dieta equilibrada (elevado teor de fibras), frutas e verduras, ingesta de no mnimo 2000ml de lquido, identificar o padro normal de evacuao antes do inicio da constipao e incluir o horrio para evacuar como parte da rotina normal, incentivar o uso do banheiro em vez da comadre se possvel, ajudar a posicionar-se no sanitrio e oferecer privacidade ao cliente. Notificar o mdico caso os rudos intestinais no retornem em um prazo de seis a dez horas ou se no houver eliminao, pois a ausncia de rudos pode indicar leo paraltico e a ausncia de movimentos intestinais podem identificar obstruo.

Intolerncia a atividade relacionada dor e fraqueza secundria a anestesia, hipxia tissular e ingesto insuficiente de lquidos e nutrientes. Encorajar aumento da atividade do cliente durante cada turno, permitindo que suas pernas fiquem livres na beira da cama ajudando a minimizar a hipotenso ortosttica. Elevar a posio da cama e levantar a cabeceira e encoraj-lo a deambular para alivio da dor. Aumentar as atividades de autocuidado do cliente, pois sua participao melhora a funo fisiolgica e reduz a fadiga decorrente da inatividade. Verificar sinais vitais antes das atividades e investigar se apresenta reaes anormais, como reduo da freqncia do pulso, FR aumentada ou diminuda, vertigem, 21

movimentos descoordenados, presso arterial sistlica diminuda, pois a tolerncia atividade depende da capacidade em adaptar-se as exigncias fisiolgicas. Planejar perodos de repouso para permitir que o organismo conserve e recupere energia. Encorajar o progresso do cliente incentivando-o.

Risco para controle ineficaz do regime teraputico relacionado a conhecimento insuficiente sobre o cuidado do local da cirurgia, restries (dieta, atividade), medicamentos, sinais e sintomas de complicaes e segmentos dos cuidados. Explicar e demonstrar o cuidado da ferida cirrgica, lavando com gua e sabo, trocar curativos usando uma tcnica limpa para evitar risco de trauma. Reforar restries a atividades conforme indicado reduzindo o risco de deiscncia da ferida. Explicar a importncia de beber lquido e manter uma dieta equilibrada, favorecendo assim a cicatrizao e evitando fontes de infeco. Revisar com a famlia e o cliente a finalidade da administrao de medicamentos prescritos, evitando erros ao administr-los. Ensinar o cliente e a famlia a estarem observando sinais e sintomas de complicaes como, elevao persistente da temperatura, dificuldade para respirar, aumento da fraqueza, dor, fadiga e mudanas na ferida como drenagem aumentada, rubor e edema. Estas intervenes permitem a rpida minimizao da gravidade dessas complicaes. Oferecer orientaes por escrito como forma de informativo para uso domiciliar, e avaliar sua compreenso quanto s mesmas informaes.

11 Complicaes no ps-operatrio imediato

A vulnerabilidade do paciente nesse perodo pode desencadear complicaes, que podem ser de ordem respiratria, circulatria e gastrintestinal (POSSARI, 2003).

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A presena de complicaes nesse perodo pode estar associada s condies do paciente no pr-operatrio, as especificidades do procedimento cirrgico, intercorrncias no perodo transoperatrio e as medidas teraputicas adotadas (BASSO e PICOLI, 2004).

11.1 Complicaes respiratrias

As complicaes respiratrias esto entre as mais comuns complicaes no psoperatrio como hipoventilao, obstruo de vias areas, broncoespasmo, pneumotrax, hemotrax, hipoxemia e embolia pulmonar. Os problemas respiratrios ocorrem mais comumente nas salas de operao, porm, quando acontecem na URPA, eles so mais graves, com leso cerebral e morte. O oxmetro de pulso um importante aliado na deteco precoce da desaturao arterial para a posterior tomada de decises no tratamento, a fim de se evitar a progresso da hipoxemia (POSSARI, 2003; VENDER e SPIESS, 1995).

Hipoventilao Segundo Possari (2003), a hipoventilao esta presente quando a ventilao alveolar anormalmente baixa, e determina aumento de presso parcial do (PaCO2) e hipoxemia arterial.

Causas - Depresso dos centros respiratrias; - Drogas anestsicas; - Acmulo de secreo orotraqueal; - Paralisia muscular residual; - Hipotermia; - Insuficincia cardaca; - Broncoespasmo.

Sinais e sintomas - Aumento da presso parcial de PaCO2; - Hipoxemia arterial.

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Aes de enfermagem - Instalar ventilador mecnico em paciente entubado; - Administrar oxignio mido; - Monitorizar presso parcial de PaO2 e presso parcial de PaCO2; - Instalar oxmetro de pulso; - Aspirar secreo orotraqueal s/n; - Elevar o decbito; - Administrar analgsico conforme prescrio mdica; - Monitorar SSVV; - Registrar observaes e cuidados prestados.

Obstruo das vias areas superiores Esta complicao conseqncia de alteraes nas propriedades mecnicas dos pulmes. No ps - operatrio imediato os principais obstculos so a queda da lngua (obstruo hipofarngea), laringoespasmo, edema de laringe.

Causas - Quando o paciente encontra-se inconsciente com a mandbula relaxada, a lngua pode cair para trs e obstruir as vias areas; - Laringoespasmo resultante de estimulao da laringe na reverso da anestesia; - Edema de laringe como conseqncia de trauma, entubao ou infeco; - Insuflao excessiva do balonete do tubo endotraqueal podendo causar herniao e obstruo distal.

Sinais e sintomas Obstruo parcial -Respirao dificultosa; - Movimentos desordenados do abdome e do trax; - tosse; - Cianose; - Batimentos da asa do nariz.

Obstruo completa 24

- Nenhum movimento de ar; - Ausncia de rudos respiratrios; - Disritmias e taquicardia; - Sinais de hipxia.

Aes de Enfermagem - Semi - estender a cabea; - Deslocar anteriormente a mandbula; - Inserir a cnula oral no paciente inconsciente; - Aspirar a laringe; - Colocar o paciente em posio Trendelenburg para auxiliar a expulso de qualquer material estranho; - Preparar material para laringoscopia, broncoscopia, traqueostomia; - Registrar atividades desenvolvidas.

Broncoespasmo So contraes da musculatura brnquica que leva a sibilncia e tosse.

Causas - Predominncia do tnus parassimptico (aps a administrao de beta-adrenergicospropanolol); - Irritao das vias areas superiores; - Reaes anafilticas.

Sinais e sintomas -Dispnia; - Chiados. Aes de Enfermagem - Administrar oxignio mido atravs de mascara facial simples; - Administrar medicamentos prescritos; - Se o broncoespasmo e dispnia persistirem, providenciar matria para entubao e ventilao do paciente; - Registrar atividades desenvolvidas. 25

Pneumotrax e Hematrax O acmulo de ar na cavidade pleural (pneumotrax) pode ocorrer espontaneamente ou por ruptura de um alveolar pulmonar. Quando existe presena de sangue denomina-se hematrax. O diagnstico do pneumotrax precisa ser diferenciado de outras condies que causem diminuio dos rudos ventilatrios e provoquem hipoxemia (VENDER e SPIESS, 1995).

Causas - Leso pleural, em conseqncia de cirurgia ou trauma; - Puno pleural acidental aps bloqueio intercostal ou braquial; - Colocao de cateter no sistema venoso central; - Rotura alveolar durante ventilao com presso positiva intermitente.

Sinais e sintomas - Dor torcica com irradiao para o pescoo; - Dispnia; - Cianose; - Entrada de ar diminuda no lado afetado; - Pulso alternante; - Taquipnia ao exame fsico; - ausculta, diminuio ou ausncia dos rudos respiratrios no lado afetado; - Radiografia velada.

Aes de Enfermagem - Preparar material necessrio para drenagem pleural; - Tranqilizar o paciente; - Administrar oxignio mido; - Registrar observaes e cuidados prestados. Embolia Pulmonar Caracterizada pela obstruo aguda da circulao pulmonar por mbolos originrios do sistema venoso, tendo relao geralmente com a trombose venosa profunda. uma complicao fatal em procedimentos ortopdicos, e que pode levar a sintomas como 26

apreenso, dispnia, taquicardia e estertores (MEEKER e ROTHROCK, 1997). Os fatores que podem causar a trombose venosa incluem (VENDER e SPIESS, 1995): - Repouso prolongado no leito; - Insuficincia cardaca congestiva (ICC); - Mobilidade limitada; - Varicosidades em sistema venoso profundo; - Estados de hipercoagulao.

Sinais e sintomas (so inespecficos no ps-operatrio) - Dor torcica pleurtica - Hemoptise; - Hipoxemia e hipocarbia.

O tratamento consiste na administrao de anticoagulantes sistmicos e oxignio suplementar, porm, se os anticoagulantes estiverem contra-indicados, feita a colocao de um filtro tipo guarda-chuva na veia cava inferior para evitar a trombose venosa profunda das extremidades inferiores (VENDER e SPIESS, 1995).

Hipoxemia uma complicao comum na URPA e que pode ser prevenida com a administrao de oxignio suplementar (35 a 40% da concentrao inspirada por mscara fcil ou cnula nasal) num fluxo de 2L/min, provocando uma desaturao inferior a 90% em pacientes previamente sadios (VENDER e SPIESS, 1995). A hipoxemia o suprimento de sangue reduzido de oxignio no sangue arterial, capilar ou venoso, ou reduo de saturao de hemoglobina. Pode acorrer em anestesia ou ps-operatrio imediato.

Causas - Diminuio da tenso do oxignio inspiratrio; - Tremores; - Convulses; - Hipertermia; - Hipoventilao ou ventilao mecnica; - Atelectasia; 27

- Alterao na relao ventilao/perfuso (efeito shunt ou mistura); - Shunt (mistura) direito-esquerdo intrapulmonar (shunt ou mistura verdadeira); De acordo com Vender e Spiess (1995), o shunt verdadeiro ocorre quando o sangue venoso misturado entra no lado esquerdo do corao sem ter passado pelo gs alveolar. O efeito shunt ocorre quando o sangue recebe o gs alveolar, mas existe nele menor quantidade (menor tenso) de oxignio. A hipoxemia resultante do shunt verdadeiro pode ser corrigida com a administrao de oxignio suplementar, porm, com o efeito shunt, ocorrer uma melhora acentuada com o aumento da FiO2.

Sinais e sintomas - Pulso rpido e cheio; - Hipertenso arterial; - Colorao anormal da pele; - ansiedade; - Agitao e confuso; - Aumento da intensidade das hemorragias capilares; - Aumento do tnus capilar; - Taquicardia seguida de bradicardia; - Presso parcial do oxignio abaixo do normal.

Aes de enfermagem - Aumentar a oferta de oxignio atravs da administrao por mscara simples facial; - Verificar se existe falha na montagem do circuito do ventilador mecnico, caso o paciente esteja entubado com ventilao mecnica; - Administrar medicamentos conforme prescrio; - Monitorar a evoluo atravs da analise seriada dos gases sanguneos; - Solicitar ao paciente para realizar respirao profunda; - Monitorar SSVV; - Registrar atividades desenvolvidas. 11.2 Complicaes Gastrointestinais

As principais alteraes incluem modificaes do volume, contedo e motilidade das vsceras favorecendo complicaes como nuseas e vmitos, que so mais comuns em 28

mulheres e pessoas obesas (as clulas adiposas agem como reservatrios para o anestsico) e distenso abdominal que podem aparecer aps anestesia e cirurgia. A distenso abdominal pode ser ainda aumentada por imobilidade, ao dos agentes anestsicos e pelo uso de medicamentos opiides. Com o acmulo de ar inspirado e devido s secrees gastrointestinais em conseqncia de propulso dos movimentos peristlticos aumenta a circunferncia abdominal (POSSARI, 2003; SMELTZER & BARE, 2005).

Nuseas e Vmitos Causas - Ao direta dos anestsicos no centro do vmito; - Acidose; - Distenso gstrica; - Hipoglicemia; - Hipxia cerebral; - Hipercapnia (aumento de dixido de carbono); - Estimulao da orofaringe; - Ansiedade; - Dor de forte intensidade; - Uso de anestsicos halogenados; - Uso de narcticos; - Hipersensibilidade simptica; - Aps cirurgia intra-abdominal; - Desidratao; - Hipotenso arterial; - Hipercalemia; - Cirurgias do ouvido mdio; - Cirurgias da musculatura extrnseca do olho.

Sinais e Sintomas -Eliminao pela boca, de contedo de origem gstrica, sangue ou secreo do ato operatrio; - Sensao desagradvel de localizao difusa entre a faringe e o abdome superior.

Riscos 29

- Tensionamento dos pontos da inciso cirrgica; - Aspirao pulmonar; - Aumento da presso intracraniana e ocular.

Aes de enfermagem - Colocar o paciente em decbito lateral, com a cabea em posio mais baixa que o corpo; - Aspirar as vias areas superiores; - Manter prvia a sonda nasogstrica, facilitando assim a drenagem da secreo gstrica; - Aplicar antitrmicos, quando prescritos (hioscina transdrmica eficaz na reduo de nuseas e vmitos, aps morfina epidural); - Administrar oxignio mido (2-5 litros/minuto atravs de mscara facial simples); - Evitar manipulao desnecessria do paciente; - Administrar medicao analgsica; - Tranqilizar o paciente que retorna conscincia; - Administrar medicao antiemtica prescrita. O droperidol uma droga freqentemente usada. Outras drogas comumente usadas so metoclopramida, proclorperaina, prometazina e ondansetron; - Monitorar SSVV; - Registrar observaes e os cuidados ao paciente.

Distenso Abdominal Causas - Diminuio do peristaltismo por manipulao das vsceras (cirurgias renais e ureterais).

Sinais e Sintomas -Aumento da circunferncia abdominal; -Desconforto respiratrio.

Aes de enfermagem - Passar sonda nasogstrica para descompresso; - Manter sonda nasogstrica prvia; - Mudar o decbito; 30

- Aplicar analgsicos, quando prescritos (dor); - Registrar cuidados prestados.

11.3 Complicaes cardiovasculares

Esta complicao um achado freqente depois de intervenes cirrgicas, onde incluem hipotenso, hipertenso, arritmias, bradicardia, taquicardia, disritmias, parada cardaca e hipovolemia.

Hipotenso Arterial a reduo dos valores da presso arterial sistlica e diastlica, que pode deixar vrias seqelas, como isquemia de sistemas orgnicos (infarto do miocrdio, acidente vascular enceflico, falncia renal aguda) (VENDER; SPIESS, 1995; POSSARI, 2003). O tratamento deve iniciar rapidamente, com reposio hdrica intravenosa e oxignio suplementar.

Causas - Drogas utilizadas e anestesias que provocam hipotenso. - Anestsicos inalatrios (halotano, enflurano), bloqueadores beta-adrenrgicos (propanolol, barbitricos) que levam depresso do miocrdio, conseqentemente a ocorrncia de hipotenso; - Ganglioplgicos (trimetefan, pentolnio), anestsicos locais em anestesias espinhais, drogas vasodilatadoras (nitroglicerina, nitropurissato, clorpromazina, droperidol, opiceos) que levam queda da resistncia vascular perifrica, conseqentemente ocorrncia da hipotenso; - Septicemia, especialmente aps cirurgia de intestinos ou urolgicas; - Cobertura inadequada de corticosterides, principalmente em pacientes com doena de Addison no diagnosticada; - Transfuso de sangue incompatvel; - Dor normalmente provoca hipertenso, entretanto algumas vezes acorre hipotenso; - Sangramento.

Sinais e sintomas 31

- Diminuio da presso arterial (menor que 20% do nvel basal ou que a presso do properatrio), venosa central e capilar pulmonar.A presso sistlica abaixo de 100 mmHg; - Taquicardia.

Aes de Enfermagem - Verificar a presso artria a cada dois minutos ate a estabilizao; - Providenciar acessos venosos; - Manter presso arterial mdia acima de 60 mmHg e menor que 110 mmHg; - Administrar medicao conforme prescrio mdica ou protocolos estabelecidos na RPA; - Administrar oxignio; - Administrar lquidos em bolus; - Checar a freqncia cardaca, tratar bradicardias ou outras arritmias; - Elevar as pernas; - Realizar exame fsico: ausculta torcica, inspecionar a ferida operatria, verificar sangramentos; - Registrar as observaes e os cuidados prestados ao paciente;

Hipertenso Arterial A hipertenso o aumento da presso sangunea nas artrias acima dos valores considerados normais. Geralmente definida como presso arterial maior que 20% do nvel basal do paciente. Quando assintomtica, geralmente benigna, e ocorre como reao a estmulos nocivos, como dor, excitao, tremores e hipotermia branda. Porm, em pacientes que j apresentam uma doena arterial coronariana, a presso arterial aumentada pode precipitar a isquemia miocrdica ou infarto (VENDER; SPIESS, 1995).

Causas - Aumento da dor; - Bexigoma; - Hipoxemia; - Hipercabia; - hipotermia; - Hipotermia; - Distenso vesical; 32

- Hipertenso arterial sistmica prvia; - Depresso respiratria com hipercabia; - Transfuso excessiva; - Cirurgia cardiovascular; - Drogas usadas durante anestesia, como quetamina, metoxamina, efedrina; - Condio intercorrente como feocromocitoma, hipertireoidismo, elevao da presso intracraniana, toxemia, pr-eclmpsia.

Sinais e Sintomas - Cefalia; -Alteraes visuais; - Elevao da presso arterial.Pode ser identificada de duas maneiras: 1. Presso arterial para adulto > 18 anos: -hipertenso leve PAS =140-159 mmHg e PAD =90-99 mmHg; -hipertenso moderada PAS 160-179 mmHg e PAD + 100-109 mmHg; -hipertenso grave PAS >180 mmHg ou PAD >110 mmHg; -hipertenso sistlica isolada PAS >140 mmHg e PAD