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GAUCHET, Marcel. O desencantamento do mundo : uma história política da religião. Primeira parte AS METAMORFOSES DO DIVINO ORIGEM, SENTIDO E DEVIR DO RELIGIOSO

(TRADUCAO) GAUCHET .1 CAP.[1].doc

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GAUCHET, Marcel

GAUCHET, Marcel. O desencantamento do mundo : uma histria poltica da religio.Primeira parte

AS METAMORFOSES DO DIVINOORIGEM, SENTIDO E DEVIR DO RELIGIOSO

HISTORICIDADE DO RELIGIOSO

Existe alguma coisa como uma funo religiosa, subdiviso da funo simblica, organizada, ao lado da palavra e do utenslio, constituindo nossa relao com a realidade, o rodeio pelo invisvel no eixo da ao humana? H a um vnculo consubstancial entre dimenso religiosa e fato social, a alteridade sagrada fornece ao grupo o meio de se fundar, o bem exprimindo e instituindo por sua vez a superioridade da essncia do ser coletivo face a face de seus componentes individuais? Tal pode se formular, trazido ao essencial, a questo das relaes entre religio e sociedade.

Colocar a questo, essas questes, no isso de fato ai responder? Assim assaz comumente admitido, com efeito, que uma permanncia, uma constncia, se isso no uma invarincia do religioso na histria que obriga a trazer de novo as condies mesmas da existncia de uma sociedade humana, como em seguida se o concebe o seu papel dentro dessa estruturao primordial do campo coletivo. Fenmeno original, que se encontra tambm longe que se pode remontar no tempo dos homens, fenmeno universal, ao qual no se conhece nenhuma sociedade que escapou, fenmeno recorrente, do qual se discerne a empresa, todo prximo de ns, at no seio de movimentos de inspirao fundamentalmente anti-religiosas, como as empresas totalitrias: todo no lhe parece atestar que se est na presena de um dos ltimos constrangimentos inerentes ao ser-junto sempre igual a ele mesmo em ltima instncia, e do qual tratar-se-ia de resgatar a nica necessidade atrs da proliferante e metamrfica diversidade de suas manifestaes?

Se a gente o desejou contra volta da interrogao l onde a afirmao parece dever se impor, o que se cr chegada a hora da reposio em causa das teses acreditadas e da re-interpretao dos dados irrecusveis, que os suportam. Sem duvida o religioso foi at o presente, uma constante, muito prxima, das sociedades humanas: a religio no por menos a compreender, a nosso sentido, como um fenmeno histrico, isto , corresponde a uma era precisa da humanidade, a qual se suceder uma outra. Sem dvida a religio por sua vez, e para tanto que se sabe, desde sempre e por toda parte: ela no se procede menos na sua organizao, nos esforaremos em mostrar, de uma instituio e no do constrangimento, da escolha e no da obrigao. Sem dvida em fim reencontrarmos alguma coisa do esquema religioso fundamental no processo social que se acreditava nas antpodas: que a religio ter sido o habitat multimilenar de uma estrutura antropolgica mais profunda que, as religies desfazem, no em continuar a jogar menos sob uma outra vestidura.

A religio, no sentido verdadeiramente substantivo do termo: a forma sob a qual se ser socialmente traduzido e materializado na relao de negatividade do homem social consigo mesmo do qual a desagregao desde dois sculos, por relativa e parcial que seja a residncia, permite, entretanto, entrever a economia geral sob a expresso particular que se lhe tem duravelmente prestado corpo. Uma maneira de institucionalizar o homem contra ele mesmo, isto a verdade da organizao do homem nisso que ele comporta de mais especfico: essa postura de confrontao ao olhar que lhe torna estruturalmente impossvel de ai se alojar e de se acomodar, que o consagra irresistivelmente a uma no-aceitao transformadora, que se trate da natureza, que no se saberia deixar ao estado, de seus semelhantes, que ele apreende sob o signo potencial de sua aniquilao, da cultura onde ele se insere, o que ele no pode mudar de sua prpria realidade ntima em fim, que no preciso modificar nada. O trao central e remarcvel do religioso era precisamente que essa potncia constituinte de negao recebeu como aplicao sua prpria recuperao, se viu reconhecer e se tratar como papel sua prpria denegao agindo em particular na relao, que nos interessa em primeiro plano, a ordem social instituda. Assim a fora fundamental de recusa que define o homem se ela principalmente exprimida sob forma de lanamento de sua prpria tomada transformadora sobre a organizao de seu mundo.

A essncia do religioso est toda nessa operao: o estabelecimento de uma relao de despossesso entre o universo dos vivos visveis e seu fundamento. Ainda preciso ver bem que essa dvida de sentido, que se recusa religiosa de si mesma e se manifesta fortemente pela histria inteira do homem, no seno que formaes secundrias, que transcries socialmente eficazes de uma potncia dinmica subjacente quela desse mundo singular de instituio, que deu lugar ao mesmo tempo que a neutralizou e subtraiu. O religioso, o princpio de mobilidade mas a servio do imvel, o princpio de transformao mobilizada para garantir intangibilidade das coisas, a energia do negativo toda inteira retornada ao proveito da aceitao e da reconduo da lei estabelecida. L est todo o mistrio de nossa histria, que na sua relao conflitual consigo mesmo o homem comeou por repelir precisamente isso, essa verdade discordante dele mesmo, essa incerteza de sua insero no mundo e a fecunda instaabilidade de ser do movimento. A religio, nesse sentido: o enigma de nossa entrada recuada na histria. I

A religio primeira ou o reino do passado puro

O trao mais notvel dessa entrada ao reverso, e o trao a partir do qual se pode reconstituir a histria dessa relao de recusa da histria, que ela comea por ser radical, para depois se relativizar, se abrir e, em uma certa medida, se desfazer. A idia de um desenvolvimento religioso tem uma longa e venervel tradio. Ela comandou em geral a perspectiva de um progresso na concepo do divino (do qual o monotesmo constituiria a noo mais elaborada) e na diferenciao correlativa da atividade religiosa no seio do conjunto das atividades coletivas, no quadro de uma complexidade social crescente. Desde o instante onde, tal como proposto aqui, se faz da relao com o fundamento social o centro de gravidade do religioso, se conduziu a inverter radicalmente a perspectiva: a religio a mais sistemtica e a mais completa, de partida que ela se encontra se encontra, e as transformaes ulteriores que se acreditara corresponde a um aprofundamento ou a um avano constituem de fato etapas sobre o caminho de uma reposio em questo do religioso. A origem e a despossesso radical, a alteridade integral do fundamento. E contra isso que sugerem as aparncias, essas elaboraes mais recentes da imagem do divino que vo no sentido de um reforo da potncia do todo-outro, e do qual, se seria tentado a pensar, da dependncia humana para com o alm, corresponde em realidade a uma reduo da alteridade do ltimo princpio de ordem de seu mundo para os agentes aqui debaixo, das religies primitivas ao cristianismo moderno, o trajeto aquele de uma raapropriao disso, a fonte do sentido e o foco da lei, que foi inicialmente rejeitada, e radicalmente, fora da tomada dos atores humanos.

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verdadeiro que se tem alguma pena em conciliar a idia de uma escolha da instituio com a regularidade sem falha na radicalidade que parece ter presidido a sua adoo. Por toda parte, sob as mais variadas latitudes, e sem uma s exceo, , nos vestgios de sociedades anteriores ao Estado que ns estamos mesmo a observar, a mesma dupla afirmao, assim diversa em suas expresses como montona em seu contedo ltimo, de uma despossesso radical dos homens quanto a isso que determina sua existncia e de uma permanncia intangvel da ordem que os rene. Nos no estamos por nada dentro disso que . Nossa maneira de viver, nossas regras, nossos usos, isso que ns sabemos, a outros que ns devemos, esses so os seres de uma outra natureza que no a nossa, ao Ancestrais, os Heris, os Deuses, que estabeleceram ou instauraram. Ns no fazemos seno os seguir, os imitar ou repetir isso que eles nos ensinaram. Por essncia, em outros termos, todo isso que regra os trabalhos e os dias recebidos; grandes obrigaes e menos gestos, toda a armadura na qual se perde a prtica dos presentes vivos procede de um passado fundador que o rito vem permanentemente reativar como inesgotvel fonte e reafirmar na sua alteridade sagrada. Semelhante recorrncia uniforme de um dispositivo por outro lado tambm completo na sua coerncia tendo evidentemente que acreditar na interveno de um determinismo por sua vez original, universal e paraticularmente implacvel. preciso que haja mesmo mais que uma potente razo, uma imperiosa obrigao, se tentou pensar , para que uma atitude tambm sistemtica haja unanimemente prevalecido sob os milnios, sobretudo a infinita fragmentao planetria das culturas e dos grupos. Um dos pondo sem dvida onde se atesta o melhor da unidade da espcie humana e de sua histria e da qual, lgico supor, onde se deve averiguar claramente a identidade dos fatores suscetveis de moldar o curso.

O nmero daqueles que aqui consideram logo e certamente o demasiado frgil desenvolvimento dos recursos tcnico, e, em geral, os meios de controle da natureza a dependncia religiosa traduzida em representao inferioridade ressentida diante desses poderes infinitamente outros que o homem. A qual as objees se restabelecem todas ao fundo, a fazer ressaltar a forte autonomia relativa desse sistema de atitude e de pensamento em relao a seu substrato material e ao olhar os dados da experincia. Uma constatao histrica, para comear: uma mudana tambm capital nos meios de produo e de subsistncia que a revoluo neoltica, uma das duas grandes transformaes de base material das sociedade, pode aparecer sem no todo sistematicamente acarretar em mutao cultural e religiosa. A maior parte das sociedades primitivas ou selvagens que se conhecem so sociedades neolticas, onde a adoo da agricultura em particular no tem substancialmente conduzido a modificao no sistema de crenas. Melhor, o acontecimento foi traduzido na linguagem da despossesso e da dvida, essa obra humana por excelncia que a domesticao das plantas devm dos deuses, bens de um heri dos tempos originais do qual se fez desde ento seguir respeitosamente a lio. Assim tambm essa independncia da estrutura, capaz de ditar sua lei aos feitos maiores da natureza lhe abalar, ela confirmou em um outro registro pela anlise dos comportamentos econmicos, eles mesmos comandados por normas de suficincia e de estabilidade globais nas antpodas de toda pretenso de acumulao e de desprendimento de um excesso o ganho de produtividade introduzido, por exemplo, por uma ferramenta superior era compensado por uma diminuio do tempo de trabalho. A supor ento que se esteja dentro dessa economia simblica da dvida para com um passado fundador o reflexo de uma inferioridade maior diante das foras naturais, seria preciso ainda prestar conta da sua transposio sob a forma de um partido tomado sistematicamente da imobilidade, que, em lugar de estimular o esforo para a suportar, tende ao contrrio a impedir e a perpetuar a vulnerabilidade presente. E esses no so alis seno que os grandes acontecimentos que absorveram da espcie, apagado, negado por um sistema de pensamento que no veio a conhecer seno que do originrio e do imutvel: a evidncia por assim dizer cotidiana da mudana, da alterao das coisas, da ao transformadora que exercem constantemente os indivduos, sem procurar, sobre suas relaes sociais e a cultura onde eles se inserem, para no falar das adaptaes que as circunstncias exteriores exigem. Certamente que no h seno sociedades dentro da histria: sem dvida mesmo isso que a repetio pura rigorosamente impossvel ao homem. Resta esse dado irrecusvel, que as sociedades humanas se aplicaram sobre a mais longa parte de seus percursos, a recuar metodicamente, a recobrir ou a conter no de resto sem eficcia. Pois se isso no os impediu de mudar continuamente, no obstante que se tivera seus agentes, isso os consagrou por perto de um ritmo de mudana mais lento. A essncia primitiva do fato religioso est toda nessa disposio contra a histria. A religio ao estado puro, ela se rene nessa diviso dos tempos que coloca o presente numa absoluta dependncia para com o passado mtico e que garante a imutvel fidelidade do conjunto das atividades humanas a sua verdade inaugural ao mesmo tempo, que ela marca a despossesso sem apelo dos atores humanos face a face com isso que confere materialidade e sentido aos fatos e gestos de sua existncia. Co-presena origem e disjuno com o momento de origem, exata e constante conformidade a isso que foi uma vez por todas, fundado e separado com o fundamento: se tem na articulao desse conservadorismo radical, por sua vez, a chave da relao religio e sociedade e o segredo da natureza do religioso. *

Como o que se toma, a gente se encontra assim diante de uma organizao a priori do quadro do pensamento que no se deixa trazer de novo a nenhum determinismo exterior. Para se compreender a razo de ser, o caminho da anlise interna que preciso tomar emprestado. Isso no seno que uma vez que se a olha como a pea central de um dispositivo do conjunto que seu contedo se esclarece, em funo dos efeitos que induz. Pois essa denegao metdica e a reconduo conservadora das coisas existentes que a acompanham se confirmam, desde que a o avista, ricos de implicaes cruciais. Polticas, por exemplo: a separao rigorosa dos indivduos do presente com o tempo instaurador que comanda a de parte a parte seu modo de fazer, a firme garantia disso que pessoa alguma entre eles pode pretender falar em nome da norma sagrada, de servir-se de suas relaes privilegiadas com o fundamento divino para editar sua lei ou se arrogar ao monoplio do princpio da ordem coletiva. A despossesso radical funciona como meio de uma igualdade poltica ltima que, ela no impede de modo algum as diferenas sociais de status ou de prestgio de representao, interdito em revanche da ciso de um poder. Ao olhar dessa ordem integralmente recebida a qual se excluiu de tocar, ponto de privilgio possvel entre os vivos, todos colocados sobre o mesmo plano, o papel do chefe se limita a celebrar a sabedoria dos ancestrais que desejou tais coisas e a se recordar a inaltervel e necessria permanncia. Isso assim do ponto de vista da poltica contida na religio primitiva que toma todo seu sentido na noo introduzida por Pierre Clastres da sociedade contra o Estado. Entendemos por detrs da expresso: uma sociedade onde a subtrao religiosa do princpio instaurador previne e desarma a separao de uma autoridade legitimante e coercitiva. Era de outra parte entendido que ela traz em si a ttulo de virtualidade estrutural semelhante ciso poltica e que essa virtualidade a fonte da reflexividade impessoal a obra dentro da escolha religiosa que a repeliu e a recuperou isso, que apelara do mais longo desenvolvimento, indica somente guisa de resposta a objeo principal que sublinha uma interpretao em termos de escolha contra: seu aparente finalismo. De onde pode provir, de qual prescincia, de qual faculdade de antecipao, semelhante partido negativo ao lugar de qualquer coisa que no um fato acontecido ainda? O problema certamente ter colocado tudo de outro lado. Isso no em funo de uma perspectiva extrnseca e de uma possvel hipottica em que h determinao; por relao com um dado interno, uma articulao de repente presente, originria, que se confunde com uma das condies da existncia do social. no quadro de uma antropologia fundamental, nas estruturas primeiras que fundam a existncia da sociedade, que preciso remontar para agarrar a razo de ser e o ponto de aplicao de uma ato sociolgico como aquele que consiste a conjurar a dominao poltica jogando contra ela a despossesso religiosa. na medida onde o espao social de cara organizado, poder de identidade, por uma oposio interna fundante da universal potencialidade da separao do poder, que h escolha possvel e sentido a sentimento em sua efetuao escolha que no anula a polaridade poder-sociedade, como em testemunho anlise fina das funes ligadas a essa chefia confinada na palavra e no prestgio, mas a neutralizar graas diviso com o passado absoluto e a proximidade por sua vez dos heris instauradores. O remarcvel e o enigmtico que resta ainda uma vez tomar partido da auto-negao, da inconsciente e sistemtica recusa em assumir as dimenses constituintes do fato humano-social aos quais o homem parece ter sido primitivamente consagrado. Como se isso pelo qual o homem adveio lhe tivesse sido, imediatamente, a esse ponto insustentvel que lhe era preciso imperativamente o conter ou o recobrir.

A recusa em regra dos fundamentos e das causas do lado do outro, dos outros, das origens, no responde, com efeito, seno que a questo da diviso poltica, vai simultaneamente em resposta s questes de estrutura colocadas pela definio do vnculo inter-humano ou posio para com a natureza. Est fora de questo, nos limites da presente exposio, entrar no exame de cada uma dessas articulaes, elas tambm constitutivas, seria preciso mostrar, do espao humano-social, e no detalhe e na maneira da qual elas se encontram arranjadas. Dizemos para ir mais rpido que a tem semelhantemente em todos os casos neutralizao de uma relao estruturalmente definida em termos de oposio. Assim a disposio temporal colocando o atual na completa dependncia do original no ela separvel de uma disposio espacial inscrita no mundo dos vivos no seio d ordem natural, sem soluo de continuidade. Sob sua forma radical, a despossesso religiosa com incluso cosmobiolgica, integrao carnal aos ciclos do cu e a permanncia organizada dos elementos e dos espaos quer dizer de fato nentralizao do antagonismo potencial alojado na relao do homem com a natureza, pela substituio de uma postura simblica de pertena postura constituinte de confrontao. Qualquer coisa na sua organizao qualquer coisa inerente ao utenslio, inerente linguagem desembaraa o homem da natureza. A religio, no seu estado primeiro e puro, o partido que a se funde, no sem o desdobramento por outro lado dessa extraordinria atividade ordenadora do pensamento selvagem, bem colocado em relevo por Claude Lvi-Strauss, onde se pode reconhecer, como no papel do chefe selvagem se reencontra a necessidade primordial do poder, esse que contra a vontade subsiste todo nesse face a face com o mundo domestico ou desarmado.

O transporte de outro lado das razes instauradoras, , em fim, a neutralizao do antagonismo radical dos seres inscritos no vnculo que os tm em conjunto. Disposio estreitamente correlativa das precedentes: se sabido que as modalidades costumeiras da coexistncia humana so inteiramente pr-definidas, imediatamente excludo que se possa fazer abertura a uma oposio entre atores sociais atraente ao contedo e s formas da relao coletiva. Por adiantamento, do qual, todo conflito eventual entre indivduos e grupos se v afetar os limites precisos quanto a essas perspectivas e a suas apostas. Isso que, de passagem, permite resgatar, sem dvida, a propriedade mais geral do religioso na sua relao com o social: quem diz religio diz em ltima instncia um tipo bem determinado de sociedade, base da anterioridade e da superioridade do princpio da ordem coletiva sobre a vontade dos indivduos que a rene. Se ter reconhecido o modelo de sociedade que Louis Dumont chamou holista, em funo do primado do todo sobre a parte que a organiza, por oposio a nosso prprio modelo individualista, onde a disperso dos tomos independentes reputou primeiramente e onde a ordem do conjunto julgou resultar da livre expresso dos cidados em assemblia. O modelo holista recupera exatamente na histria o tempo das sociedades que se pode dizer religiosas, em funo no da crena de seus membros mas de sua articulao efetiva volta de um primado do religioso, quer dizer, da prevalncia absoluta de um passado fundador, d uma tradio soberana que pr-existe s preferncias pessoais e se impem irresistivelmente a elas como lei geral ou regra comum, desde sempre vlida para todos. Em outro sentido, a se regressar, a entrada na era do individualismo no mais profunda sada da era do religioso, a dependncia para com o conjunto e a dvida para com o outro se desfaz do acordo. Bem se v que seja o que seja, para se retomar o nosso objeto imediato, com a lgica da ordem recebida, no seu mais alto degrau de rigor, eficazmente de natureza a prevenir e imobilizar todo desenvolvimento de uma conflitualidade intra-social: por antecipao, ela tacitamente colocada sobre isso que vos rene a vossos semelhantes, no se saberia afrontar. Pode-se sempre, certamente, colocar em jogo sua vida; mas no colocar em questo a coexistncia mesma em seu princpio. Se h lugar para a guerra, ele no est a para a ruptura do sentido. Isto para o prtico negativo do dispositivo. Para o porte positivo, atualmente, do lado do ordenamento das formas efetivas do ser-junto respondendo a esse imperativo de neutralizao do antagonismo estrutural que liga os homens, a regra da reciprocidade que ele convidaria em particular a desmontar. Nada h nela da necessidade lgica ao estado selvagem, da relao social restabelecida na sua expresso mais elementar ao constatar a regra disso que ai tem o um e o outro. Ela est toda na instituio, rodagem ativa na economia geral da recusa do religioso. Por ela se toma figura pura, com efeito, seria preciso mostrar, a anterioridade que relao sobre a vontade dos indivduos coloca em relao, e da qual a norma estabelecida, a partir disso que na organizao do vnculo inter-humano representa a possibilidade permanente de regresso ao zero, da redefinio da regra, do estabelecimento do novo da relao sobre as bases repensadas: o face a face radical do reconhecimento mtuo. , em outros termos, instaurao de um produto social excludo a priori da recolocao em causa das suas prprias modalidades a partir disso que, estruturalmente, confere relao entre os seres sua forma de questo. H, nisso que liga constitutivamente o homem a seus semelhante, o fermento de uma indeterminao conflitual. A lei da reciprocidade, , na paz da troca consentida como no desencadeamento restitutivo da vingana, o inquestionvel fundamento do religioso colocado em forma de relao social, a prevalncia unnime das razes ltimas assegura em ato contra isso que compromete os indivduos uns para com os outros, livre deliberao ou mortal oposio.*

Assim se viu se restabelecer em todas as partes ao partido central de permanncia costumeira e de dependncia sagrada, na qual reside a essncia primordial do religioso. Isso que d sentido existncia, isso que dirige nossos gestos, isso que ampara nossos usos no nosso, mas de antes de homens como ns, de seres de uma outra natureza, da qual a diferena e a sacralidade consistem nisso principalmente que eles foram os criadores, ento que no h mais desde ento que seguidores; nada disso que est aqui teve seu lugar e sua destinao fixados seno nesse tempo acontecido aos quais sucedeu nosso tempo da repetio; e nada por conseguinte das coisas estabelecidas que no seja a reconduzir tal atravs da substituio sucessiva das geraes. Em breve, o exterior como fonte e o imutvel como regra: eis verdadeiramente o ncleo duro das atitudes e do pensamento religiosos, tomados como fenmeno histrico. Passo que um corpo de representaes e de convices: sobre a mais longa durao das sociedades humanas, o corao da organizao coletiva, discursos, crenas e prticas rituais no livram que a espuma visvel de uma articulao global do corpo social em termos religioso, comanda tambm assim sua forma poltica e sua disposio no seio da natureza o modo das relaes entre seus agentes. Junto de atitudes e sistema de pensamento a esse ponto coerentes e enraizados que eles tiveram que atravessar o tempo com pouca diferena at ns, apesar da runa do tipo de organizao social lhe corresponder plenamente, a despeito das perturbaes polticas, das revolues materiais, das transformaes espirituais e culturais. Qualquer coisa, inegavelmente, desse sentido pago da despossesso costumeira, ter chegado ao menos at o fim do ltimo sculo nas nossas sociedades camponesas, ao meio de um mundo globalmente sem mais nada de comum com sua terra natal. Como se a histria, surgimento dos Estados, mutaes econmicas, surgimentos religiosos, se era feito por alto, por cima desse leito primordial, para no ganhar e no absorver que mais lentamente no seu processo de inveno o ltimo resto de uma escolha originria desde longo tempo desfeito, e, entretanto, invencivelmente persistente.

Pois o belo e o bom de uma escolha que preciso falar para nomear adequadamente o contedo dessa operao instituinte evitando de um s golpe todos os fatores de instabilidade ou tenso dinmica ao proveito da essencial unidade do grupo, da intangibilidade de sua regra e da exterioridade de seu fundamento. Ela se restabelece no seu fundo uma maneira de assumir as estruturas primeiras atravs das quais advm o social como tal, maneira que tem a mais remarcvel particularidade de pedir emprestado as vias da denegao sistemtica do restabelecimento da regra. Oposio por relao a um papel de poder, deslocao antagonista face a face ao mundo, separao dentro da co-pertena: as dimenses constitutivas esto ali sempre, subjacentes, e mesmo funcionalmente, simplesmente retomadas e arranjos de tal sorte que elas esvaziadas de efeito e impedimentos de materialmente se manifestar. A energia do movimento est toda inteira colocada a servio da conservao e do assentimento inabalvel a isso que existe. o enigma mais profundo da histria humana que esse ato de partida que decidiu pela durao imensa de uma organizao das sociedades em termos de recusa e de conjurao delas mesmas. Ato inconsciente, do qual a efetuao exigira para ser compreendido que se esclarecesse o mistrio, no sentido onde se procuraria em vo a relao a um determinismo exterior esse que no vale dizer ato arbitrrio ou gratuito, e se no sem entrever, de um lado, isso que no destino do homem de natureza a ancorar o sentimento de uma dependncia irremedivel para com o outro, como, de outro lado, os benefcios suscetveis de resultar desse partido do imvel e da despossesso. O ato faz sentido, se o discerne imediatamente por relao s referncias maiores da economia psquica. Isso no decide para tanto as suas razes. Mas isso indica muito provavelmente a via na qual se conseguiria esclarecer. Sem dvida isso na operao antropognica ela mesma em parte alguma por outro lado que encontra-se pelo essencial o segredo dessa inaugural conjurao de si. elucidando a fundo os processos que deram ao homem a ele mesmo ligando-o aos outros, estabelecendo o vnculo coletivo, ao mesmo tempo que, a diviso consciente, que se tornar melhor inteligvel a universal disposio denegadora que tem inicialmente acolhido essas estruturas instauradoras. Dentro disso que faz ser, existem as razes que no podem deixar de ser. Todo o mistrio do discurso inscrito de nascena na relao do homem com ele mesmo, penhorado aqui na sua expresso histrica maior.

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Do ponto de vista estrito da anlise do fenmeno religioso e da reconstituio dessas etapas significativas, a lio das sociedades selvagens em todo caso esclareceu: em funo do seu ponto de aplicao que preciso julgar o contedo das idias religiosas, e no em funo de seu a parente grau interno de elaborao ou de organizao. A inclinao natural de ler a histria das crenas no interior de uma histria geral da crena, sob o ngulo dos progressos na racionalizao dos dogmas e no aprofundamento das noes do divino. Isso que corresponde a indiscutveis dados, mas mascara completamente a empresa e a verdadeira natureza da evoluo assim observvel. A comear pelo carter total e radical que se revestem de fato as religies primitivas, para alm da fluidez do discurso mtico e da tenuidade das imagens da divindade que ele veicula. Carter ao qual no se esclarece seno por prticas e representaes recolocadas no dispositivo social do qual elas confirmam formar a chave da abbada, e compreende em funo das finalidades que elas servem. Nenhum trao h nelas de uma forma bruta, espontnea da inteligncia, ou de um entendimento elementar das coisas, em uma palavra, de um estado primitivo de desenvolvimento: elas so sistematicamente determinadas no seu contedo como nas suas modalidades pelo imperativo da alteridade da lei instituinte que comanda a economia da diviso social. ao olhar dessa necessidade central que a articulao do sistema religioso se revela do seu rigor de conjunto e no detalhe de seus traos. Assim da prevalncia absoluta do passado mtico. preciso bem ver, para se compreender exatamente o sentido, que ela o meio, e o limiar, do estabelecer um corte verdadeiramente completo e sem apelo entre o instituinte e o institudo, o nico recurso eficaz para fundar uma ordem integralmente recebida, inteiramente subtrada da tomada dos homens. Com essa contrapartida paradoxal que a distncia, de por sua extremidade mesma, se retorna em proximidade, a ausncia em presena, a diviso em fuso, e que o outro tempo, o momento sagrado das origens, retorna regularmente no rito restaurado e como faz acontecer o novo e, portanto, uma vez para todas, sucedido aos presentes vivos. Esse retorno e ressurgimento permanente do inaugural, ainda uma vez, funo do afastamento radical que nos separa. Ponto de criao, alm do que, se faz da origem, ao sentido de um acontecimento nico e global imputvel vontade soberana de um sujeito ou de um grupo de sujeitos: dos comeos, dos adventos, dos avatares do mundo e das criaturas que o povoam, das instauraes parciais e sucessivas, como acidentais e restituveis ao dos ancestrais hericos bem antes que a deciso dos deuses pela intermediao das quais se tivera na presente comunicao com e tomada sobre a inteno criadora responsvel das coisas tais como elas so. Quanto mais os deuses forem grandes, mais os seus poderes sero considerados, mais se lhes far suportar diretamente a inveno do mundo, e mais em realidade os homens tero por seu vis acesso necessidade sensata da origem. o paradoxo fundamental da histria das religies: a subida em potncia dos deuses qual no seria absurdo restabelecer no se feita em detrimento dos homens, acentuando sua submisso, mas a seu proveito. Ela teve o instrumento mesmo do recobrimento da razo que os causou. A plida figura das divindades chega-se mesmo a falar propriamente, instauradoras e de modo algum proprietrias, em todo caso, do curso do mundo onde elas se inscrevem, o que povoa os pantees selvagens medida da despossesso dos vivos e a funo da cesura que os separa do tempo de origem, e, portanto, dos motivos da lei reinante: de relao com a operao instituinte de outro modo que sobre a maneira de seu retorno ritual e de sua repetio do idntico. Haveria de mostrar, mais geralmente, no prolongamento da presente anlise, como essas so as modalidades especificamente contra-subjetivas do pensamento mtico, seu casamento do abstrato e do concreto, seus re-comeos sem fim, seu percurso plural, rompe, intotalizvel que procede dessa mesma lgica da subtrao. Nada do institudo, ainda uma vez, na maneira semelhante de pensar, nas antpodas de um qualquer funcionamento natural ou selvagem do esprito: a conciliao da exigncia talvez natural, com efeito, da inteligibilidade da totalidade das coisas com o imperativo, ele, social e religioso, de preservao de uma ordem integralmente recebida isto , excluindo seu princpio todo agrupamento atual dentro de uma suprema inteligncia de sua forma subjetiva, como que se a concebe. Um pensamento, do qual, diferena do nosso, visa produzir uma inteligibilidade do mundo no mais em vista de seu controle global (do ponto de vista do sujeito divino ou do ponto de vista do sujeito humano), mas ao inverso, a fim de estabelecer (ou pressupondo a base) a ausncia no presente, como a separao e como advir, de uma unicidade reitora presidindo a marcha do conjunto das coisas.

Intil insistir sobre o fato de que essas vises sumrias no pretendem expor o sujeito, mas justamente esboar as grandes linhas disso que poderia ser seu tratamento. Dois traos, todavia, ainda a mencionar brevemente em funo das comparaes que eles autorizam: o primeiro no tocante forma que suscetvel de revestir o comrcio com o invisvel no semelhante sistema, e o segundo maneira da qual aqui se administrou e se viveu a regra recebida.

Se tem com o chamanismo um remarcvel revelador do modo como se articulam realidades manifestas e foras ocultas, recursos visveis e poderes invisveis nas religies primitivas. Eis aqui, com efeito, especialidades iniciticas da comunicao com o mundo dos espritos e a manipulao de seus representantes, que para alm de seu prestgio por vezes considervel e dos temores que eles podem suscitar, restam no seio de suas sociedades rigorosamente alinhadas sobre a sorte comum. que de fato, visvel e invisvel formam um s mundo, ao interior do qual as duas ordens se misturam estreitamente, e que passa momentaneamente para alm das aparncias, mediante disposies e treino apropriado, isso no se separar de seus semelhantes adquirindo uma natureza diferente do fato dessa participao no outro mundo. O cham habita um manipulador dotado de uma faculdade privilegiada de se deslocar entre os vivos e os mortos, as almas e os poderes mgicos; ele no de maneira nenhuma, de perto ou de longe, um encarnador pela pessoa da qual se efetuaria a ttulo permanente a juno entre o universo dos homens e a esfera dos outros que o causa e o regra. O cham testemunha, dito de outro modo, isso que uma viagem possvel ao presente, dentro de um semelhante sistema, do outro lado da realidade sensvel, no h ponto em compensao de passagem concebvel do lado do passado fundador e da lei instauradora, da qual o ciclo ritual est l para assegurar a impessoal perpetuao. Ao olhar desse corte fundamental, todos, chefe e cham aqui compreendido, se reencontram no fim das contas igualdade.

Quer dizer que no semelhante quadro a regra da vida se confunde puramente e simplesmente com a lei do grupo, a qual a sua volta em princpio imanente prtica coletiva. Ponto de afastamento institucionalizvel entre a norma e o ser. Passo do lugar para uma moral definida parte da boa maneira de se conduzir, no mais que para um imperativo social que tratar-se-ia de fazer prevalecer contra a inclinao espontnea dos agentes. A adeso a isso que , e essencial conformidade suposta da experincia coletiva com sua lei ancestral: tais so as duas grandes caractersticas culturais inerentes religio primitiva que toda a evoluo religiosa ulterior considera, de certa maneira, a recolocao em causa. II

O Estado,

Transformador sacral

No se trata atravs dessa colocao em lugar deliberadamente esquemtico, seno que fazer ressaltar a coerncia das disposies que fundem o falar bem alm da simples cronologia, de uma religio primeira. Se decisivo partir assim da organizao religiosa dos povos selvagens, que ela contm a chave da histria toda inteira das relaes entre religio e sociedade. Ela permite, em sua radicalidade uma colocao em perspectiva disso que se tem costume de chamar as grandes religies obriga a considerar seriamente a significao que se lhe atribui. Sobre a f do enriquecimento simblico e do aprofundamento especulativo do qual elas testemunham, se tem assaz ordinariamente julgado que elas representariam o verdadeiro comeo de uma histria religiosa diligente sempre a volta de refinamento na representao do divino, o paganismo difuso dos primitivos testemunhos, ultimamente da universalidade do sentimento religioso, mas no se livrando seno que de um estado embrionrio ou indiferenciado. Iluso completa de perspectiva razo de um desconhecimento no menos inteiro do papel que joga esse primeiro entendimento religioso das coisas nas sociedades de antes do Estado e dos fatores que as modelam. Sem dvida as mitologias das primeiras grandes formaes despticas aparecem sensivelmente melhor fixadas, mais organizadas, mais penetradas talvez de um sentido propriamente espiritual que as produes mveis e enraizadas no sensvel do pensamento selvagem e a fortiori, mais prximos de ns, as primeiras elaboraes metafsicas das religies da transcendncia que surgem meio milnio antes de nossa era. No impede que entre selvagens, brbaros e civilizados, os mais profundamente, os mais rigorosamente religiosos no so aqueles que as aparncias designam. Esses desenvolvimentos maiores na ordem teolgica e cultural que se observa no seio das altas culturas representam em realidade, sob os exteriores tericos de afirmao da pessoa e da potncia dos deuses, tanto de etapas sobre o caminho de uma reduo pratica da alteridade do fundamento, tal que ela se encontra por assim dizer realizada nas sociedades primitivas. Se temos, que no centro do fato religioso existe a tese em ato que isso que causa e justifica a esfera visvel onde evoluem os homens, no exterior dessa esfera, foroso ento bem admitir que entre os selvagens que ela tem sua expresso mais acabada, sua traduo e sua aplicao as mais exaustivas. Trazida a essa despossesso primordial, ler em seguida, descobriremos, em termos de reapropriao. Ao fio disso que ns temos o hbito de ter para os aprofundamentos sucessivos da experincia e da concepo do Outro, , de fato, a uma retomada progressiva disso que foi de partida absolutamente escondido que se assiste. Os deuses se afastaram, esse baixo mundo se cinde do outro mundo que o determina e o compreende, mas ao mesmo tempo, o inquestionvel institudo entra cada vez mais no questionvel, como se afirma a tomada dos homens sobre a organizao de seu prprio universo. A acentuao da diferena divina se confirma ir de par com a libertao do poder dos homens sobre eles mesmos e a ordem a qual eles obedecem. Deus pensado e reverenciado mais como Todo Outro, e menos isso que comanda a existncia dessas criaturas compreendidas e realizadas por elas como outro. As grandes religies: os grandes impulsos em direo sada da religio.

No porque se ocupara do mundo o menos possvel, com um processo unvoco e linear. Bem ao contrrio. Progresses e regresses ai se mesclam estreitamente, sobre o fundo da extraordinria resistncia da reverncia original para com o imutvel estabelecido, e com recursos em matria de uma estabilizao durvel que no evoca precisamente a marcha de uma necessidade histrica qualquer. Permanece atravs de quaisquer rupturas que compem a seu modo uma srie orientada, tudo se passa como se a razo do destino humano, a lei e a forma do ser-junto, se tornasse o objeto e a colocao de uma questo de fato, no tanto na cabea dos atores, mas no seio do prprio dispositivo social e de sua dinmica como se excludo por excelncia da prtica coletiva, a reposio em causa do princpio instituinte, se fizera pouco a pouco o centro. No se buscar aqui reconstituir e seguir essa evoluo no seu conjunto. Nos concentraremos sobre trs descontinuidade consideradas particularmente decisivas: aquela correspondente emergncia do Estado, aquela constituda pela apario de uma divindade do outro mundo e de uma recusa religiosa desse mundo no corao disso que se convencionou chamar, aps Jaspers, a poca axial, e essa representada enfim pelo movimento interno do cristianismo ocidental. Trs metamorfoses cruciais do Outro religioso. Trs deslocamentos de amplitude fundamental do ponto de aplicao do invisvel no seio do visvel. Trs reformulaes da dvida dos homens para com isso que os ultrapassa, onde cada vs se jogou, com todo desconhecimento de causa, um avano determinante em direo do restabelecimento deles mesmos.

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Entre essas diferentes rupturas, a mais importante, em suma, sem dvida a primeira. O nascimento do Estado: o acontecimento que divide a histria em dois e faz as sociedades humanas entrarem em uma poca inteiramente nova as faz entrar muito precisamente dentro da histria, se quer bem entender por l no o que os faz passar da imobilidade ao movimento, mas que ele modifica de parte a parte sua relao de fato com a mudana, e, portanto, seu ritmo real de mudana: no princpio, nada de fundamentalmente transformado: se permanece em uma economia religiosa da dvida, da intangibilidade das coisas estabelecidas, e em uma disposio terica, ento, contra a histria. Mas qualquer coisa que seja das atitudes e das crenas dos agentes, qualquer coisa que eles pensam fazer e desejam, so de ora adiante consagrados na prtica, de pela articulao mesma da relao social, a colocao em questo da legalidade da organizao coletiva at em seu fundamento sagrado. Eles podem querer o imvel; eles tero e no cessaram de suscitar o movimento. assim, verdadeiro a certas consideraes, que isso sempre passado. Se rigoroso era o conservadorismo das sociedades selvagens, ele no os impediu de mudar continuamente, no mais que ele tenha reprimido totalmente o esprito de inveno de seus membros, prova os resultados imensos do neoltico. A novidade da ocorrncia, no que isso seja a inexorvel alterao contra a vontade dos esforos para salvaguardar e perpetuar o idntico. que l onde se jogam os mecanismos de neutralizao, tendem a colocar o quadro social ao abrigo da dinmica das relaes entre indivduos e grupos, o acontecimento da dominao poltica instala objetivamente ao contrrio, a confrontao sobre o sentido e a legitimidade do conjunto no corao do processo coletivo. Isso no somente, ento, que ela arrasta ou secreta mais tempo de instabilidade e de transformaes efetivas. que ela remodela as relaes tanto intra- quanto inter-social, de tal sorte que no seu jogo de foras o mais material, eles tendem a implicar e a abalar o inquestionvel institudo tendo os seres conjuntamente. De onde o prodigioso efeito de colocao em movimento desse aparecimento da diviso poltica totalmente recente da escada disso que se pode decifrar da aventura humana no seu conjunto, alguns cinco mil anos contra as dezenas de milhares, verdadeiramente, do mundo ordenado em vista da estrita reconduo das coisas ao idntico e da in-diviso coletiva. Como se teria l o entalhamento de um irresistvel desvio, a ao dos homens os coloca a partir desse momento, em permanncia nas tomadas, qualquer coisa que eles tenham, com isso que suas crenas continuam a declarar fora do alcance, e seu novo quando de existncia os determinam contra a vontade deles a reposio em causa do vnculo definido do exterior. Ao primeiro feito, no haver jamais repouso.

, com efeito, que com a apario do Estado, o Outro religioso entra de novo na esfera humana. Conservando tudo, naturalmente, sua exterioridade face a face com ela, ele ai penetra e se materializa. A diviso religiosa passara anteriormente, em suma, entre os homens e suas origens, de maneira a prevenir o surgimento de uma diviso entre eles. Com a emergncia de um aparelho de dominao, ela se coloca a passar entre os prprios homens. No meio deles, a os separar uns dos outros. Dominantes e dominados, aqueles que esto do lado dos deuses e aqueles que no esto. As verses do fenmeno so mltiplas, desde o dspota, deus vivente no qual o Outro ento dependente os homens tomam decididamente figura humana, at no templo onde o deus em pessoa se presentifica, sem encarnao humana propriamente dita, mas com servidores e porta-vozes, todos eleitos entre os homens. Sob uma forma ou sob outra, em todos os casos, e l est o trao novo, o trao capital, h refrao da alteridade divina no interior do espao social, concretizao do extra-humano na economia do vnculo inter-humano. Investimento de um lugar e de uma instituio ou investimento de uma individualidade, o essencial que haver a partir desse momento, no corao do visvel e do acessvel um fiador institudo de outro lado, e dos homens absolutamente diferentes de seus semelhantes na medida onde eles participam diretamente ou indiretamente do invisvel foco sagrado onde se alimenta a existncia coletiva. O que falado e ordenado em nome dos deuses, o que tm o domnio dos ritos onde renascera o sentido original das coisas, na carne das quais se toca, literalmente, no princpio superior que comanda o mundo. Mas de um giro, contrapartida decisiva, atravs dessa presena coercitiva, dessa implicao sob forma de poder no seio dos afazeres humanos, os mesmos deuses se encontram restabelecidos em qualquer modo ao alcance, objeto entregue a prticas socialmente contestveis, tomadas que so nos avatares do dispositivo que teoricamente inspiram ou determinam. Aqui se est inexorvelmente dependente disso que se sups depender deles, isto , da marcha de um sistema intrinsecamente consagrado ao movimento, que eles mesmos so reputados ento, em garantir a intangibilidade.

Pois o acontecimento da ciso poltica, tambm a introduo da necessidade do devir, a instalao de um constrangimento dinmico, de um princpio de mudana no corao da prtica coletiva, sobre todos os planos, material e espiritual com simblico. E somente em rao das tenses inerentes ao exerccio da dominao. Em funo igualmente do imperativo da estrutura que determina todo poder separado a se comportar efetivamente, to profundamente conservadoras que sejam suas perspectivas, em agente de transformao social. Impor uma ordem, isso era em nome de sua intangvel legitimidade, , de fato, surdamente, sub-repticiamente que seja isso, o mudar, tanto do ponto de vista daqueles que o suportam, quanto do ponto de vista daqueles que o aplicam. o fazer insensivelmente passar do registro da ordem recebida ao registro da ordem desejada com as mais considerveis incidncias sobre a representao dos autores e de seus fundamentos. Aquilo para o qual est as novas relaes criadas no interior da sociedade. Mas do lado das relaes com o exterior que est o potencial de transformao mais penoso de conseqncias. A dominao, com efeito, porta em si a perspectiva de sua extenso: desde o instante onde h a separao da instncia do poder, h o horizonte de um alargamento da esfera que ela rege, sua distncia e ento sua potncia face a face com seus sujeitos se afirma atravs da dilatao da zona de sua empresa. Com o Estado, dito de outro modo, advm a perspectiva imperial de domnio conquistador do mundo. Se devm isso que leva a comoes quanto representao, precisamente, do lugar dos homens no mundo. todo o sistema de adeso de cada comunidade particular ao absoluto bem fundado de sua ordem, derivado em linha direta, ainda l, da qualificao desse aqui como ordem recebida, que se encontra solapada ate nas suas bases pela irrupo do universalismo imperial, e a descentralizao violenta que se resulta. Sem dvida a esse ttulo a guerra da expanso deve ela ser arranjo para uma das maiores foras espirituais e intelectuais que obrara na histria. De todas as partes tambm, o dispositivo social articulado pela diviso poltica se mostra no poder funcionar sem obscuramente abalar ou recolocar em causa os fundamentos imutveis e sagrados supostos a lhe ditar sua lei. O poder de qualquer um em nome dos deuses, o comeo, quo tmido e dissimulado, mas irreversvel, de um poder de todos sobre os decretos dos deuses o incio tambm indiscernvel que certo de uma tomada coletiva sobre a ordem declarada subtrara a tomada. Entra-se com o Estado na era da contradio entre a estrutura social e a essncia do religioso. Instrumento decisivo da captura dos deuses nas redes da histria, a dominao poltica ter sido a invisvel alavanca que nos fez oscilar fora da determinao religiosa.

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Esquematizando ao extremo, poder-se-ia descrever a situao, no plano dos contedos religiosos, como o resultado, eminentemente varivel, de uma interao e de um compromisso entre a manuteno da estrutura fundamental das religies primitivas e o trabalho de trs grandes fatores de transformao, tendo um o elemento hierrquico, o outro a relao de poder, e o ltimo a dinmica conquistadora.HIERARQUIA

Pelo essencial, com efeito, o quadro e o modo de representao da dependncia para com o outro que o homem permanecera idntico, em particular quanto ao pondo nodal da maneira de conceber o ajustamento das ordens de realidade: natureza e sobre-natureza, diversidade visvel e pluralidade invisvel continuam a se responder e a se interpenetrar no seio de uma s e mesma totalidade cosmobiolgica, ligada por um tecido estreito de diferenas e de correspondncias que o mito vivifica. Primeiro grande dado novo que tende a modificar em profundidade, todavia, a relao para com os poderes sobrenaturais: a articulao em termos de hierarquia tanto dos homens quanto dos deuses os dois agem indissoluvelmente em p de igualdade. No se tem pesar em penhorar as manifestaes exteriores: comea ento a era do culto propriamente dito, do sacrifcio em forma dual, da adorao regrada. Mas isso que existe subterraneamente de decisivo na mudana no se livra na experincia vivida e nisso que se pensaria a decifrar, em uma perspectiva continusta, do sentimento mais intenso da diferena dos deuses por outro lado melhor identificados. O essencial comporta a desestabilizao definitiva da relao entre o visvel e o invisvel instituinte e a norma instituda que provm estruturalmente da remodelagem geral das relaes sociais em funo, precisamente, da materializao desse outro fundador na esfera humana. Pois a hierarquia isso: a incorporao da alteridade do fundamento na substncia mesmo do vnculo social e sua difuso ou sua refrao tangveis a todos os nveis. Ela no corresponde verdadeiramente desse ponto de vista de uma criao. Ela revela a refundio e a redistribuio da dimenso religiosa por excelncia, a saber, a autoridade e a superioridade absolutas da ordem coletiva estabelecida sobre a vontade dos indivduos particulares. O fenmeno novo era que essa dimenso a qual, no mundo selvagem, separava e ligava do mesmo movimento a comunidade dos vivos e o povo das origens devm, no universo da diviso poltica, isso que por sua vez, distingue e solda carnalmente os homens entre eles, a trama sensvel e a aposta imediata da ligao dos seres uns com os outros. Na relao do inferior ao superior, se vai ao encontro ou da comunicao do indivduo com a lei que o precede e que lhe determina o avano de seu papel entre seus semelhantes com esse princpio outro de onde procede o mesmo que os homens sempre tiveram juntos. Dentro dessa diferena que une a essncia mesma da articulao hierrquica se tem um eco e uma pausa da exterioridade que assegura a exata e a inteira conformidade o conjunto humano e seu princpio instituinte. A hierarquia, dito de outro modo, a repetio em todos os graus da relao social da relao seminal entre a sociedade e seu fundamento, em funo da interseo central do visvel e do invisvel que determina propriamente o vnculo do poder. Pela mediao do outro sagrado assim encarnado ou presentificado no outro do poder, ao cume da pirmide dos vivos visveis, a potncia instauradoura perfaz, por assim dizer, materialmente na sua esfera de aplicao, e da, de estgio em estgio, a penetra e a irriga at a ltima classe dos seres.

A hierarquia funciona, de fato, como meio de garantir essa mesma conjuno do corpo social com sua razo de ser, sua causa e sua norma da qual a produo e a preservao, no de antes do Estado, retornara exclusivamente ao ritual aquela em particular voltada ao redor da iniciao, do marcado, da identidade. Salvo que, para funcionamento equivalentes que sejam esses dois meios, a substituio de uma outro no indiferente: ela implica numa mudana essencial na disposio mtua dos termos que se trata de unir. Disposio radical para com o tempo fundador e conjuno plena e inteira com a herana das origens se equilibram exatamente, no seio da organizao primitiva. A separao rigorosa do princpio instituinte aquela mesmo que garante a igual conformidade da existncia coletiva a suas razes primordiais. Imbricao sem falha do presente e do passado, reconduo circular do invisvel ao visvel, de presena a ausncia, do absolutamente familiar ao absolutamente oculto: o ajustamento de duas ordens se realidade nesse ponto ntimo e inquestionvel que h justamente mais verdadeiro sentido a distinguir as duas ordens, como pde cada uma de uma consistncia autnoma. Eles so um para e pelo outro, e de um s tido. Desde o instante por contra onde h cruzamento do visvel e do invisvel, presena do invisvel divino no seio do visvel, surge e se abre um problema de hoje em diante impossvel de tornar a fechar quanto articulao entre essa presena sacral e a ausncia da qual ela emana. Ou mais exatamente, em funo de um hiato que a encarnao por outro lado, aqui o torna patente, irrecusvel, a relao entre visvel e invisvel toma em ato a forma de problema e problema sensvel no dispositivo hierrquico inteiro. A diviso da realidade se imps como questo, e bem antes de chegar dentro dos espritos, a partir de sua inscrio na economia geral da adequao social a seu fundamento. O esforo da identidade com o outro instaurador, atravs do abrao do poder e da corrente de superioridades que a se reatam, faz invencivelmente ressaltar ou sobressair sua diferena ltima, o excesso onde ele se encontra por relao a isso que se materializa dele. E mais a presena do mais alto que o homem se faz sentir entre os homens, mais irresistivelmente sua ausncia se evoca. Emerge da sorte engendrada pelo jogo interno da estrutura social, o espao potencial de uma teologia, isto , de uma especulao sobre a ausncia, sobre isso que se define por escapar citao mtica como a interpretao humana. No desdobramento da ordem estatal, h em germe a ruptura da unidade csmica, a ciso de um aqui em baixo e de um alm, a oposio desse mundo e de um outro mundo. A materializao do outro em um poder separado no vai, pelo menos virtualmente, sem sua metamorfose: ela porta o que conduz o que torna pensvel sua transcendncia e a coisa, ainda uma vez, no socialmente de pequena consequncia, pois est em todo o entendimento dos vnculos do homem com o homem e o mais ntimo de suas modalidades que se refrata nesse n primordial de um alm e do aqui. A gente ver a diviso entre a ordem visvel e a ordem invisvel, isso quer dizer, enormemente quanto relao de sujeio. Desencaixamento de um aqui de baixo e de um l de cima at acol de um s tendo, isso ser decisiva transformao das formas da subordinao e da ligao dos indivduos coletividade. Voltaremos nisso. Demarcamos por agora a sublinhar essa eficcia espiritual inerente ao do Estado, do nico fato de sua existncia, e independentemente disso que pode se passar na cabea daqueles que a conduzem como daqueles que a suportam. Obscuramente ela descobre, ela traz uma transformao simblica, antes e deste lado de toda concepo, ela cria do concebvel, as revolues religiosas da continuao diante de conduzir ao explcito as significaes geradas j pelo processo social e escondidas na sua efetuao.

DOMINAO

O segundo dado dinmico que vai pesar poderosamente no sentido de uma transformao da figura do divino: a dimenso subjetiva inerente relao de poder. Dimenso contraditria com a representao reconduzida de uma ordem csmica intangvel, diante ao todo do passado fundador o escalamento hierrquico nada modifica desse ponto de vista , ao interior do qual a funo soberana constitui uma engrenagem no menos pr-definida, objetivamente circunscrita, exatamente o decreto que resta da grande organizao onde ela se insere.

Em princpio, o papel do poder no semelhante quadro, por sua posio de estratgica dobradura do visvel e do invisvel, todo de manuteno mgica e de preservao simblica da coeso geral do mundo e da boa marcha das coisas, conforme a essa regra que no para ningum e que se tem desde sempre recebido. Em realidade, o soberano ordenador estruturalmente consagrado a transbordar os limites teoricamente determinados a sua tarefa, com importantes efeitos a retornar sobre a economia do sistema do qual ele pea central. Isso na medida onde sua ao comandada por uma relao de imposio face a face com os seres e os grupos situados no seu interior. atravs de uma tenso coercitiva com o resto da sociedade que ele guarda fidelidade a sua lei e em harmonia com as foras do universo. Relao da qual o jogo interno, a dois ttulos complementares, por natureza suscetvel de desembocar sobre uma dinmica subjetiva recolocando fundamentalmente em causa o imutvel estabelecido, seja do ponto de vista da instncia de poder, seja do ponto de vista de seu fiador sobrenatural. Que as circunstncias venham a se dar na relao de poder uma franca apresentao da oposio, e o ator soberano ser como que naturalmente conduzido a mobilizar acima dele a vontade suposta das potncias invisveis e a apresentar sua prpria ao sob o signo de uma vontade reitora sem o abrao consciente do qual o edifcio csmico e humano se desmoronaria infalivelmente. A ordem social, dita de outro modo, tende a ser suspensa a eficincia imediata de uma empresa intencional, assim tambm na sua substncia concreta como no seu suporte sagrado. Tanto a relao intra-social, quanto relao extra-social, para o dizer ainda de outro modo, tendem a se subjetivar. Viu-se o duplo deslocamento que isso implica ao olhar do quadro estrito de uma ordem recebida: deslocamento primeiramente do passado onde tudo se jogou em direo ao presente, e deslocamento em seguida da impessoalidade essencial do legado ancestral e dos efeitos sempre contingentes, no mito, da ao dos heris instauradores em direo personalizao do contedo como da aplicao da lei instituinte, e dali, em direo a sua redefinio em termos de necessidade. E se discerne, no cruzamento dos dois, a nova face dos poderes sobrenaturais suscetveis de se resultar: a comear por sua identificao estvel e limpa, mas tambm e, sobretudo, sua conexo direta e constante com os afazeres desse mundo. Elas no povoam mais simplesmente um universo paralelo perceptvel atravs de suas influncias mgicas. Elas abraam esse universo aqui, do qual elas controlam ao menos um setor, e no que diz respeito ao qual elas tm pouco ou muita responsabilidade instituinte. De sorte que se tem com elas uma resposta imediata da origem e do fundamento das coisas, sobre as intenes ou as razes da qual existe matria a especular.

Isso no uma matriz de possveis lgicas que se desenha aqui: ela resgata as vias da evoluo; ela no diz nada da maneira indefinidamente diversa da qual cada contexto modelara a explorao de virtualidades por toda parte fundamentalmente as mesmas. De todos os modos, ali ainda, anteriormente explicitao formal e comoo religiosa, est inscrita na ao do Estado, contida nas suas necessidades, tais que determinadas pela diviso poltica. O alargamento de sua empresa carrega a subjetivao das potncias sobrenaturais. As quais ao retorno, pela postura intermediria de uma vontade instituinte que ela lhe maneja, no pode seno que dilatar ainda as perspectivas prticas de sua dominao. Dialtica da fora visvel e de seu fiador invisvel, da potncia materializada e da potncia suposta que faz com que o religioso seja histria a partir desse momento, por to lentamente ou to confusamente que isso seja. CONQUISTA

Entre todas as aes do Estado, h nele uma mais pesada diretamente de consequncias que as outras do ponto de vista das representaes sociais: a guerra. No, certamente, que ele seja o inventor. Mas que seu advento em modificar as formas e o sentido, e, literalmente, em inverter as perspectivas. A guerra entre unidades sociais primitivas, pelo fato de seu modo de coeso, obedece a uma lgica da diferenciao ou da reduo. O jogo sem cessar mudado da aliana e da discrdia, o estado permanente das hostilidades dentro de um sentido ou dentro de outro reconduzem e alimentam a disperso da pluralidade centrfuga de grupos eles prprios vtimas, apesar de ou em causa de seu ideal de unicidade, a processos de diviso. A identidade de cada comunidade vive dessa confrontao potencial que a ope a todas as outras, a dinmica belicosa vai sempre a aprofundar o afastamento, e jamais a o apagar por englobamento de um grupo em outro. Haver, a ocasio, a expulso e mesmo a destruio de um grupo por outro ponto de absoro. Com e em funo da separao do Estado se imps ao contrrio uma lgica de expanso e de assimilao. O horizonte da conquista est de nascena, inscrito no vnculo de subordinao; ele participa inteiramente do dinamismo da diviso poltica. Com efeito, a relao de poder interdita praticamente o equilbrio esttico. O mais alto que o comum dos homens comandou a se afirmar sempre mais alto, sempre mais longe do resto dos mortais, sempre mais diferente. Inerente potencia, o imperativo de elevao em potncia. Essa distncia interior da instncia soberana a seus sujeitados, isso que torna concebvel e praticvel a absoro ilimitada do universo exterior. Para o aparelho de dominao, os dominados so todos eles mesmos. Ao olhar da suprema grandeza do dspota, as aparncias cesso de contar. No h e no pode ter semelhantemente e sem limite que os dependentes e os obedientes. Toda outra formao soberana no pode ser apreendida, do mesmo, em funo dessa oferta superior obrigada, que sobre o modo do desafio a reduzir: preciso se subordinar toda subordinao. O verdadeiro rei rei dos reis, segundo a obsessiva frmula dos titulares imperiais. Na dominao, em outros termos, existe, latente, a perspectiva de uma dominao universal, da unificao ltima do mundo conhecido sob a autoridade severa do mais potente entre as potncias.

Intil dizer que dentro dos feitos, os grandes impulsos conquistadores se detm em geral em compromissos entre lgica de expanso e lgica de pertena tnica ou cultural e retomam assaz frequentemente as empresas de unificao de uma rea de civilizao relativamente homognea. Isso no eleva em nada ao ilimitado simblico desse objetivo de englobamento ltimo que veicula e desenha o transbordamento guerreiro. Com o Estado e seu imperativo de expanso, e quaisquer que sejam os limites dentro dos quais habita sua realizao concreta, a dimenso e o horizonte da universal fonte de irrupo no campo da experincia humana. Imenso abalo e talvez o mais formidvel onda de choque espiritual da histria. Pois se apercebe isso que se encerra de efeitos de ruptura mental e de constrangimentos assombrosos, mesmo se mudos, a reavaliao da medida do mundo essa mudana de escala da empresa humana, com a descentralizao forada do eu coletivo que ele no cessa de relanar. Toda uma nova ordem religiosa, todo um novo quadro de pensamento em secreta gestao dentro do crisol da violncia conquistadora e o abrao de seu desenho unificador.

Como no se submete assim reviso radical das propores do divino, em funo do agrupamento da esfera visvel inteira tornada a ambio constituinte da soberania terrestre? Se o dspota consegue se outorgar pelo o senhor do mundo, onde colocar ao olhar desse mundo os deuses que se inspiram e se legitimam no curso, e aquelas dimenses lhes prestar? Como no buscar ao lado da vontade dos deuses as justificaes da misso de ser ou do povo ao qual retornam a submeter o conjunto dos outros? Tantas questes que no tm mais necessidade, ainda uma vez, de ser explicitamente colocadas para trabalhar obscuramente as significaes sociais estabelecidas, impostas que elas esto pela marcha dos acontecimentos, e como torcidas de viva fora no corpo coletivo pelo movimento mesmo que as suporta.

Mas o mais determinante est de outro lado, na recolocao em causa da diviso entre os verdadeiros homens, vivendo em conformidade com a verdadeira lei, e os outros, que arrebatam no menos inexoravelmente com ela a entrada no reino do universal. Na lgica primitiva da oposio (virtual) de cada grupo para com os outros, vaia ai no somente, como ns observamos, do ressegurado permanente de sua indivisvel identidade, mas ainda da certeza socialmente encarnada, que qualquer espcie, a ocupar o centro do mundo. O etnocentrismo radical faz parte integrante do dispositivo: a nica boa maneira de ser, a nossa, os nicos seres verdadeiramente dignos do nome de homens, somos ns. o correlato obrigatrio da conjuno uma vez por todas materializado entre a prtica coletiva e a norma ancestral que a funda, e o fogo do encontro guerreiro em produzir a constante reafirmao. A existncia segundo a ordem recebida, tambm e necessariamente a curvatura exclusiva, o enclausuramento inquestionvel de cada unidade social na sua particularidade. Com o desenho imperial da unificao do mundo, que faz aparecer aquele aqui como um englobamento geral, regido idealmente por um supremo soberano do qual a grandeza transpe a multido das comunidades naturais e suas diferenas, se abre em compensao um hiato escancarado entre isso que a fidelidade cotidiana, na limites da pertena ao um grupo definido, lei dos ancestrais, e o ponto de vista do universal em ato. Se tem ali, instalado dentro dos fatos, ancorado na efetividade do vnculo social, a alavanca de um descentramento irresistvel em relao ao domnio da existncia habitual, com relao evidncia de seu bem-fundado, com relao sua completude ou sua suficincia, tratando-se de definir a boa vida. Ali onde reinava a unidade da regra de vida sob todos os aspectos, pblicos e privados, individuais e coletivos, tendendo subterraneamente a se colocar no lugar uma duplicao dos registros da experincia: de um lado, sempre, sem dvida, a norma herdada, compreendida em termos de adeso sem discusso, prpria estreita comunidade de origem determinando os contornos; mas de outro lado, mais longe acima e para alm, a ltima lei do cosmo ou do ser universal, indistintamente requerente para todos aqueles viventes abraados sob sol-mestre do mundo. Fratura entre o crculo familiar e a rbita do ilimitado, cesura entre as realidades imediatas e a verdade ltima, divergncia do constrangimento interno provindo da localizao social e do apelo interior inspirado pelo horizonte da generalidade humana que, sero contra o desenvolvimento das grandes religies comumente ditas histricas. Aparece aqui, com o desprendimento e a ruptura do prximo e do longnquo, do contingente e do essencial, a inextinguvel tenso geradora disso que se tornar em seguida a vida espiritual.

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Ns no cessamos de insistir aqui e no se saberia demasiado nisso insistir, no se trata de nenhuma maneira de se alojar um determinismo direto a base de transformaes religiosa das quais se esboou a perspectiva, como se o desdobramento da diviso poltica devesse necessariamente suscitar todas as peas de um novo universo de representaes e crenas. O processo de outro modo subterrneo e complexo. A efetuao da potncia abertura do possvel mental. Ela carrega consigo a cristalizao simblica e inconsciente de uma srie de dimenses que, todas, de diferentes modos, quebram com o quadro original da ordem integralmente recebida. Mas ali se interrompe rigorosamente sua eficincia criadora: ela engendra na obscuridade; ela no conduz mais o dia. Nada nesse dinamismo sugestivo de dominao que deve conduzir a ou desapertar sobre a explicao dos contedos do pensamento que veicula e segrega. Da produo do possvel sua explorao, a passagem permanece indefinida. Elas revelam, em todos os casos, lgicas totalmente independentes. Assim tambm essas novas figuras da experincia religiosa puderam elas permanecer latentes, do estrito ponto de vista do mecanismo do qual elas procedem. Dentro dos fatos, se os v insensivelmente difusos, penetrar o edifcio das crenas antigas, se agregar contraditoriamente economia da sobre-natureza natural e da imemorialidade fundadora, ora por impulses autoritrias vindas do alto, ora por desenvolvimentos surgidos de baixo. De onde o carter hbrido, plural, incrivelmente complexo, quanto s formas culturais, quanto s orientaes intelectuais, dessas religies arcaicas, conforme, todavia, terminologia em vigor, tal como os reconstitui o estudo das primeiras altas civilizaes o carter de formao de compromisso, em realidade, muito diversamente equilibrados, entre ordens profundamente antinmicas, aquela herana da era da relao ao exterior da esfera humana disso que comanda a existncia dos homens, e aquela acontecida na e pela dinmica da ciso entre os homens. O PERODO AXIAL

Nada ento do mecanismo unilinear que permitiria trazer a inovao religiosa ao constrangimento regular de uma causa inexorvel, mais um desgaste aberto, mesmo se ignorado, entre o sistema explcito das crenas e as linhas de foras subjacentes do pensvel, no afastamento do qual, circunstncias e presses estruturais podem fazer germinar a inveno e o movimento. Resta em outro sentido que no se saberia compreender a prodigiosa vaga de fundo do qual o rompimento sobre alguns sculos (entre 800 a 200 a. C., aproximadamente ), da Prsia China, da ndia Grcia, passando pela Palestina, cindiu a histria das religies em duas, um antes e um depois que se tem conceitulmente dificuldade, com efeito, em colar e que K. Jspers props por essa razo de nomear o perodo axial da histria universal , sem a acrescentar o imenso trabalho espiritual subterraneamente inscrito na diviso poltica e seu desdobrar expansivo. Essa reorientao revolucionria, essa transmutao radical, total, do religioso sob o signo da transcendncia e do cuidado do verdadeiro mundo contra esse mundo, essa transvalorao das apostas e das regras de vida que parecem surgir do nada, tanto profunda a descontinuidade que elas estabelecem, elas tm de fato por todas as suas fibras a secreta metamorfose simblica operada do interior da ordem estatal. Nem uma ltima vez, que aquele aqui tivesse intrinsecamente potncia de os impor, o enigma da sua irrupo permanece inteiro, no estaria isso para o aspecto notavelmente sincrnico que ela apresenta. Mas que, do ponto de vista do contedo e das regularidades no menos notveis que aqui se revela, seu surgimento permaneceria absolutamente ininteligvel fora do reatamento a essa gestao da sombra longamente amadurecida nas entranhas do dspota.

Desvio do aqui debaixo e do alm, subjetivao do princpio divino, universalizao da perspectiva de vida: essas so as resultantes fundamentais da subverso religiosa, habitada na intimidade mesma da articulao coletiva, que atravessam e cristalizam no seio do discurso social ento da elevao espiritual da poca axial. Tudo isso que se estabeleceu ali, atravs dessa ciso central, como referncia do religioso referncia sempre disso que ns identificamos do instinto como dependente por essncia do religioso tudo isso que se instaura de fato relativamente realidade, em nodo de fazer e de pensar, era de mais longa mo impalpavelmente desenhado no vnculo da sociedade. Isso que permite de resto compreender o efeito de massa suscitado ou encontrado pelos reformadores espirituais, o aspecto do movimento social que tem regularmente emprestado a difuso das crenas novas como se houvesse de uma s vez dado resposta a uma espera muda, mas profundamente hospedada na espessura das cidades e dos povos. Pois isso no somente a apario das doutrinas que se trata de explicar. tambm sua recepo. o eco que encontrou de repente esses apelos exigncia absoluta quanto ao destino do homem e quanto sua vocao em ultrapassar as fronteiras imediatas. Ponto de outra via para esclarecer essa conjuno que restabelece a raiz comum do trabalho de concepo e do movimento de adeso: a lgica escondida do Estado, enquanto empresa intrinsecamente produtora de religio. Ela no cria menos, com efeito, as condies de uma escuta dissidente daquelas de uma palavra em ruptura. Isso que suporta e alimenta o discurso inspirado ou a predicao instauradora ao mesmo tempo isso que subterraneamente distancia os espritos da convico reinante, isso que propaga no entendimento coletivo inteiro a confusa e mvel esperana de outra coisa.

Isso no d conta do todo, necessrio o redizer, e sem dvida preciso fazer a parte, para cada contexto especfico, dos despedaamentos sociais, da infelicidade dos tempos, da ameaa sentida ou da indizvel esperana que tem decisivamente contribudo, segundo o caso, a precipitar procura de uma sada espiritual. Permanece, por trs da soma dos elementos que se poder da espcie de cada vez reunir, a obra oculta desse fator, por sua vez, mais geralmente determinado e menos diretamente causal: o efeito da projeo simblica inscrita na estrutura e a marcha das sociedades, que restituiu como universalmente sensvel, em oco, bem antes que ela seja pensada, a figura nova do Outro nesse mundo. Aquela que era a importncia da equao pessoal entre os inspiradores ou os fundadores de religio e se quer, certos, de ser revelado que com eles, da Lao Tse a Zaratustra, dos profetas de Israel a Buda, que o princpio da individualidade faz verdadeiramente irrupo na histria, bem mais que com os grandes soberanos, entre os quais funo e pessoa se deixam dissociar mal , no preciso perder de vista que eles operaram antes todos como os reveladores de uma verso do sagrado por sua vez inconscientemente enterrado e tacitamente ressentido. De onde a eficcia, de fato restitutiva, dessas diversas colocaes em forma de estranheza a esse mundo, a ciso das aparncias e do verdadeiro. De onde a potncia de penetrao desses ensinamentos mobilizam pela primeira vez, ali tambm, sem dvida, na histria, das individualidades compreendidas como interioridades. Inexoravelmente atrs e no obstante aparente manuteno de valores e de formas antigas, lugar e disponibilidade estiveram cavados, no corao dos seres, para um outro entendimento da vida. Afastamento invisvel e aberto que faz entrever como, por exemplo, o imprio que se acreditou o melhor garantido de sua fora e de sua durao pode ser minado do interior pela desagregao/subverso moral e religiosa: que alm dele prprio, de seus cultos oficiais e de sua firme imagem do mundo, sua sombra alcance desenhado invisivelmente a impensvel e necessria figura de outra coisa.

A se ter disso o estrito contedo das doutrinas, extremamente difcil de agarrar isso que faz a unidade axial dessas emergncias em srie. Isso no somente em funo da diferena de contextos, da distncia das tradies portadoras e do afastamento das linguagens, mas muito mais profundamente em funo da desigualdade de desenvolvimento, si ousamos dizer, separado os diversos resultados do perodo. O compromisso entre mensagem nova e estruturas antigas permanece, com efeito, ainda ali, fundamentalmente a regra, com isso que aquilo significa de variaes na relao de fora e nvel de libertao do indito face a face com o estabelecido. esse jogo da ruptura e da continuidade, bem mais que aos problemas de traduo sobre as quais mira toda diligncia comparativa, que preciso imputar a dificuldade a encontrar uma ou as categorias suscetveis de exprimir ao fundo isso que se cr aperceber da inspirao comum base dessas mltiplas sabedorias ou teologias, e que restituem mal os critrios formais, relativos s a seu modo de pensamento, sobre os quais se dobra (libertao do mito, simplificao das crenas, advento de uma reflexo propriamente especulativa). A forma nova do pensar e isso no de menor interesse na perspectiva adotada aqui, que de esclarecer, com as condies gerais da sada do mundo do mito, as razes espirituais disso que ns chamamos racional. Isso seria atualmente uma tarefa enorme, mostrar em que se ocupou, para alm da exploso dessas expresses, de um processo nico, tornado semelhantemente em ltima instncia volta da ciso do aqui debaixo com o alm e da subjetivao do divino do dualismo ontolgico e da transcendncia, se o deseja em outros termos , dimenses simplesmente comprimidas ali, no quadro oriental em particular, moderados pela antiga organizao unitria do cosmo, e mais ainda deixadas livres de se expor de outro lado. No conjunto dos casos, de todas as maneiras, as duas formas de ordem, imanncia e transcendncia, pluralidade contra-subjetiva e unificao subjetivante entram em composio e coexistem. No h de modo algum esquecimento de um por outro, substituio sem resto de uma imagem dual ao monismo de origem: mas trespassado, mais desigual, de uma viso do sobrenatural em termos de separao, no interior ou sobre o fundo dessa estrutura primordial habitando o visvel e o invisvel no seio da mesma esfera estrutura extraordinariamente impositiva, que, mesmo acol onde o movimento do desdobrar da transcendncia ir pouco a pouco ao extremo de si mesmo, e continuar a se manter at ns ou quase, como o atestar a interminvel perdurao de sua expresso por excelncia, da ordem mgica. Seria preciso mostrar como sempre, de fato, visivelmente ou tacitamente, de uma resoluo dessas tendncias antagonistas que procedem s formaes religiosas e o perodo: isso que se d em particular a esclarecer volta de alguns pontos privilegiados de equilbrio como a re-interpretao do original, como a articulao do um e do mltiplo (o paradoxo aqui era que o surgimento da temtica do Um vai no sentido da transcendncia e da dualidade ontolgica, nesse caso que a antiga economia do mltiplo a condio e a chave da representao de um s mundo), como a passagem enfim da iluso verdade. Esse minucioso trabalho de desmontagem e de comparao para subir at ao foco comum da nebulosa no seno da energia estreitamente modelizadora da presente exposio. Justamente podemos indicar essas que seriam as linhas e diretrizes.

A identidade da inspirao que conseguimos to dificilmente estabelecer sobre a f das teologias, cosmolgicas ou soteriologias constitudas, se a apreendemos muito melhor em contrapartida, no plano das atitudes e da experincia religiosa. Na falta de categorias vizinhas e de organizaes intelectuais imediatamente comparveis, o acordo se faz assaz ordinariamente para admitir, mais que um parentesco, uma certa comunidade de sentimentos no que diz respeito da existncia e das condues relativas a: recusa desse mundo e aspirao a um outro mundo, depreciao dessa vida e procura da salvao, peso imperativo dos seres sobre eles mesmos, a todos ao menos, em funo de uma outra ordem de realidade ali ainda, as noes gerais capazes de cobrir o espectro inteiro das convices e das regras fundam eminentemente o problema. A inevitvel aproximao dos termos no impede, ao menos, de claramente discernir, no corao desses ascetismos variados, a nova relao com a realidade realidade de si como realidade disso que est ao redor de si que os alimenta semelhantemente. E atravs dessa disposio central, desse ncleo vivido, que se consegue compreender melhor a metamorfose da alteridade que constitui o fundo do surgimento axial. Dupla tarefa, ento, em funo das dificuldades e das possibilidades: se esforar primeiramente, na abstrao feita de toda preciso doutrinal, de recompor idealmente o modelo dessa transformao do Outro sentido e concebido; e se acompanhar em seguida de mais perto, o encadeamento privilegiado que procuramos nessa mesma revoluo da transcendncia em sua expresso mais radical. Para uma apresentao adequada da problemtica clssica, cf. Robert N. Bellah, Religious Evolution, in Beyond Belief; Essays on Religion in a Post-Traditional Word, New York, Harper and Row, 1970, pp.20-50.

No, de resto, sem se encarnar, de maneira impessoal, sob a forma de irrecusveis marcas iniciticas, chamando, na carne de cada um, a incontrolvel e inteira submisso lei dos ancestrais. Cf. Pierre Clastrs, De la torture dans les socits primitives, in La Socit contre lEtat. Recherches danthropologie politique, Paris: ditions de Minuit, 1974.

Karl Jaspers, Origine et sens de lhistorie, trad. fran., Paris, Plon, 1954. Por une mise au point recente, cf. Shmuel N. Eisenstadt, The Axiel Age : the emergence of trancedantal visions and the rise of clerics, Arquiver europennes de sociologie, XXIII, 1982, n 2, pp. 294-314.