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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR Neospora caninum EM BOVINOS DE UMA CENTRAL DE TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM GOIÁS Vanessa Silvestre Ferreira de Oliveira Orientadora: Profª. Drª. Andréa Caetano da Silva GOIÂNIA 2007

TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

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Page 1: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR Neospora caninum EM BOVINOS DE UMA CENTRAL DE

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM GOIÁS

Vanessa Silvestre Ferreira de Oliveira Orientadora: Profª. Drª. Andréa Caetano da Silva

GOIÂNIA

2007

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VANESSA SILVESTRE FERREIRA DE OLIVEIRA

TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR Neospora caninum EM BOVINOS DE UMA CENTRAL DE

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM GOIÁS

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás

Área de concentração: Sanidade Animal Orientadora: Profª. Drª. Andréa Caetano da Silva -IPTSP/UFG Comitê de orientação: Profª. Drª. Lígia Miranda Ferreira Borges - IPTSP/UFG Profª. Drª. Maria Lúcia Gambarini Meirinhos - EV/UFG

GOIÂNIA

2007

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Dedico este trabalho aos meus pais, João e Maria Alice, por serem meu porto seguro, fonte de amor, paciência e força nos momentos mais difíceis, e pelo imenso apoio, sem o qual eu não conseguiria realizar mais este objetivo

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AGRADECIMENTOS A Deus, que me conduziu à Veterinária e à pesquisa, por iluminar e guiar sempre

o meu caminho.

Ao meu irmão Fábio, por seu apoio e palavras de otimismo, admiração e amizade.

A todos os meus familiares, que sempre acreditaram em mim e me deram forças

para seguir o meu caminho.

Ao Marco Aurélio, que esteve ao meu lado nos melhores e nos piores momentos,

pela sua dedicação, amor, companheirismo e tolerância.

À professora Andréa, por ter aceitado me orientar, por sua confiança, amizade e

dedicação, e também pelas oportunidades que me deu, além de todos os

exemplos, tanto profissionais quanto pessoais, e de tudo que me ensinou e

continua me ensinando.

À veterinária e amiga Márcia Carneiro Silveira, por quem tenho imensa

admiração, pela amizade, carinho, motivação, pelos ensinamentos e por todas as

portas que me abriu.

À veterinária Maria Lúcia Mundim Bernardes, pelo interesse, boa vontade,

dedicação e profissionalismo, e por ter me dado a oportunidade de realizar esta

pesquisa em sua empresa.

À Paula, Liliana e Débora, grandes amigas de todos os momentos, por me darem

apoio, força e entusiasmo, e por me ensinarem tantas coisas e terem tanta

paciência.

À Sabrina, Marina e Cybelly, por toda grande ajuda que me deram, pela amizade,

carinho, respeito e alto astral sempre presente.

À querida amiga Úrsula, que também me ajudou nas colheitas e que me

acompanhou com sua amizade, carinho e força em todos os momentos.

Ao veterinário Bruno e aos alunos de graduação Lucas, Henrique, Leonardo e

Jean, que muito me auxiliaram nas colheitas de material.

À Gabriela e ao Marcelo, estagiários queridos, que me ajudaram não só nas

colheitas, mas em tudo, com boa vontade, interesse e dedicação.

À querida amiga Diana, pela alegria sempre constante, bom humor e pela imensa

ajuda na elaboração do abstract deste trabalho.

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Às minhas amigas Raquel, Liliane, Naira, Michely, Nicolle e Clarissa, que sempre

estiveram do meu lado e contribuíram indiretamente para a realização deste.

Ao Misael e a todos os funcionários da Central, pela imensa boa vontade e pela

colaboração, fundamentais para o andamento da pesquisa.

À professora Lígia, pela co-orientação e disposição para ajudar.

À professora Maria Lúcia, por ceder seus materiais para pesquisa e por sua co-

orientação.

Ao professor Guido, sempre disposto a tirar nossas dúvidas e a nos ensinar, com

sua solicitude e dedicação.

À professora Mirian, que emprestou seus equipamentos para o andamento das

pesquisas.

Ao CNPq, pela concessão da bolsa durante o mestrado.

À Escola de Veterinária e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal,

que permitiram a realização deste trabalho.

Aos animais que doaram seu sangue, seu tempo e sua tolerância para que este

estudo acontecesse.

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"Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”.

Madre Teresa de Calcutá

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS...................................................................................... viiiLISTA DE TABELAS...................................................................................... ixRESUMO....................................................................................................... xABSTRACT.................................................................................................... xi1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 12 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 32.1 Biologia e ciclo biológico do parasito....................................................... 32.2 Neosporose bovina................................................................................. 52.2.1 Sinais clínicos........................................................................................ 62.2.2 Resposta imune e transmissão vertical................................................. 72.2.2.1 Resposta imune humoral................................................................... 82.2.2.2 Resposta imune celular...................................................................... 92.2.2.3 Relação parasito-hospedeiro............................................................. 102.3 Diagnóstico da neosporose bovina.......................................................... 122.3.1 Diagnóstico clínico e epidemiológico.................................................... 132.3.2 Diagnóstico laboratorial......................................................................... 132.3.3 Técnicas sorológicas............................................................................. 142.3.3.1 Imunofluorescência indireta (IFI)........................................................ 152.3.3.2 Ensaio imuno-enzimático (ELISA)...................................................... 152.3.3.3 Western blotting................................................................................. 162.3.3.4 Aglutinação direta............................................................................... 162.4 Importância econômica............................................................................ 172.5 Controle da neosporose bovina............................................................... 173 OBJETIVOS................................................................................................ 203.1 Objetivo Geral.......................................................................................... 203.2 Objetivos Específicos............................................................................... 204 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 214.1 Levantamento de dados e aspectos reprodutivos.................................... 214.2 Colheita de amostras............................................................................... 214.3 Detecção de anticorpos anti-Neospora caninum.................................... 224.4 Cultivo de células (manutenção).............................................................. 224.5 Cultivo de Neospora caninum.................................................................. 224.6 Preparação de antígeno anti-Neospora caninum..................................... 234.7 Técnica de Imunofluorescência Indireta (IFI)........................................... 244.8 Avaliação da transmissão vertical e titulação de anticorpos maternos.... 254.9 Análise estatística.................................................................................... 255 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 265.1 Ocorrência de anticorpos anti-Neospora caninum................................... 265.2 Transmissão vertical................................................................................ 275.3 Relação entre títulos de anticorpos e transmissão vertical...................... 285.4 Índices reprodutivos................................................................................. 305.5 Ocorrência de abortos.............................................................................. 316 CONCLUSÕES........................................................................................... 347 REFERÊNCIAS........................................................................................... 35

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Ciclo biológico de N. caninum (ALVAREZ–GARCIA, 2003)............ 4Figura 2 – Relação parasito-hospedeiro em vacas prenhes e não-prenhes (INNES et al., 2002).......................................................................................... 11Gráfico 1 – Cinética de anticorpos anti-N. caninum em receptoras que transmitiram a infecção ao bezerro, em central de transferência de embriões, Nerópolis, GO.................................................................................. 29

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Soroprevalência de anticorpos anti-N. caninum em bovinos provenientes de Central de Transferência de Embriões, realizada por IFI (titulação ≥ 1:200) no período de 04/2005 a 10/2006...................................

26

Tabela 2 – Ocorrência de anticorpos anti N. caninum em bezerros nascidos de receptoras positivas ou não ao N. caninum, realizada por IFI (titulação ≥ 1:200)...........................................................................................

27

Tabela 3 – Relação entre título de anticorpos anti-N. caninum maternos e transmissão vertical........................................................................................

29

Tabela 4 – Taxa de repetição de cio entre receptoras positivas e negativas para N. caninum.............................................................................................

31

Tabela 5 – Quantidade de embriões produzidos por doadoras positivas e negativas ao N. caninum e índice de prenhez das receptoras......................

31

Tabela 6 – Número de abortos ocorridos em relação ao número total de receptoras positivas e negativas.................................................................... 32

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RESUMO

Este estudo foi realizado em uma central de transferência de embriões em Goiás,

onde foram analisadas amostras sorológicas de 101 receptoras, 61 doadoras e 90

bezerros. Desse total de animais estudados, 32,67% das receptoras mostraram-

se positivas à sorologia por imunofluorescência indireta, bem como 26,22% das

doadoras e 6,66% dos bezerros. A taxa de transmissão vertical encontrada foi de

24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a

transmissão vertical, ou seja, vacas com título mais alto foram capazes de

transmitir a infecção à cria. Em relação aos índices reprodutivos, como repetição

de cio e produção de embriões, não houve diferença estatística entre as vacas

positivas e negativas ao N. caninum. Ocorreram oito abortos, dos quais seis

(75%) em fêmeas positivas e dois (25%) em fêmeas negativas. Estes resultados

indicam que a neosporose é uma importante causa de falhas reprodutivas em

centrais de transferência de embriões que utilizam receptoras sem exame prévio.

Palavras-chave: Neospora caninum, aborto, vacas, transmissão vertical,

transferência de embriões

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ABSTRACT This study was made in an embryo transfer center where there were analyzed

serological samples from 101 recipients, 61 donors and 90 calves. Among these

animals, 32,67% of the recipients were positive on immunofluorescence indirect

reaction, 22,22% of the donors and 6,66% of the calves. The rate of vertical

transmission found was 24%. There were statistically significative difference

between the antibody title and the vertical transmission, it means, cows with higher

title were able to transmit the infection to their offspring. About the reproductive

indexes, such as estrum repetition and embryo production, statistical difference

was not found between the positive and negative cows to Neospora caninum.

Eight abortion occurred, six (75%) in positive females and two (25%) in negative

females. These results indicate that neosporosis is an important cause of

reproductive failure in embryo transfer centers that use non-examined recipients.

Keywords: Neospora caninum, abortion, cows, vertical transmission, embryo

transfer

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1 INTRODUÇÃO

A neosporose bovina é considerada uma das principais causas de

aborto em bovinos, em várias regiões do mundo. Em bovinos, o principal modo de

transmissão é o vertical, passado da mãe para o feto, podendo ocasionar aborto,

nascimento de bezerros cronicamente infectados ou com apresentação de sinais

neurológicos, além de falhas reprodutivas, como repetições de cio e infertilidade.

BJERKAS e colaboradores, em 1984, descreveram em cães jovens

uma infecção causada por um parasito similar ao Toxoplasma gondii, que

apresentava uma síndrome caracterizada por encefalomielite e miosite. Em 1988,

nos Estados Unidos, DUBEY e colaboradores propuseram um novo gênero ao

identificar um protozoário em cães que apresentavam sinais neuromusculares,

como paresia de membros posteriores depois de cinco a oito semanas após o

nascimento, devido a poliradiculoneurite e polimiosite granulomatosa. Esta nova

espécie foi denominada de Neospora caninum, pertencente ao filo Apicomplexa,

família Sarcocystidae.

Em Medicina Veterinária, o interesse por esse protozoário aumentou

quando THILSTED & DUBEY (1989) identificaram pela primeira vez o N. caninum

como agente etiológico de aborto em bovinos, confirmando que a infecção por

este parasito era uma das principais causas de abortamento no rebanho leiteiro

da Califórnia (ANDERSON et al., 1991). Em 1992, comprovou-se

experimentalmente a transmissão vertical do agente na espécie bovina e em 1993

foi conseguido o primeiro isolado procedente de um feto bovino abortado (DUBEY

et al., 1992; CONRAD et al., 1993).

Na história desse protozoário, mereceram menção especial,

primeiramente, a descoberta do cão (Canis familiaris) como hospedeiro definitivo

e, por conseguinte, a possibilidade de transmissão horizontal da infecção

(MCALLISTER et al., 1998). Além dos cães, os coiotes (Canis latrans) foram

recentemente reconhecidos como hospedeiros definitivos de N. caninum

(GONDIM et al., 2004).

Atualmente, a neosporose bovina é considerada uma enfermidade

parasitária de distribuição cosmopolita e uma das causas mais freqüentes de

falhas reprodutivas nos rebanhos bovinos (DUBEY, 2003).

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Goiás é um dos maiores produtores de carne bovina do País e o

segundo maior produtor de leite (IBGE, 2006). Outra prática bastante utilizada no

Estado é a transferência de embriões, empregada principalmente em rebanhos de

alta genética.

O mercado nacional de embriões registrou uma marcante expansão

nos últimos cinco anos. Dados da Sociedade Brasileira de Tecnologia de

Embriões (SBTE), relativos a 2004, apontam crescimento de 545,27% na

produção por aspiração folicular e FIV (fecundação in vitro) e de 47,12% na

produção por meio da técnica de TE (transferência de embriões). Ainda, o número

de vacas receptoras chega a 220 mil. As biotécnicas FIV e TE trouxeram uma

nova dimensão à importância das fêmeas no processo seletivo. Se antes uma

matriz ficava restrita a uma cria por ano, hoje esse número pode chegar a

centenas. É exatamente essa nova dimensão de aproveitamento e ampliação da

genética da linhagem materna que implica na seleção cuidadosa de matrizes

doadoras (ABCZ, 2006).

Porém, somente os cuidados com as doadoras não são suficientes, se

a seleção das receptoras não for feita de maneira adequada. Além do manejo

nutricional, o sanitário é de extrema importância, uma vez que os animais

receberão embriões de alto valor genético e, conseqüentemente, de alto custo.

Levando-se em conta que existem várias doenças reprodutivas, capazes de

provocar aborto, repetição de cios e até infertilidade, este estudo tem como

principal objetivo demonstrar o impacto da neosporose bovina em receptoras de

embriões, o que contribui para perdas econômicas significativas no setor e para

um maior risco de nascimento de bezerros de alto valor genético congenitamente

infectados.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Biologia e ciclo biológico do parasito

Neospora caninum é um parasito intracelular obrigatório, que penetra

na célula hospedeira mediante invasão ativa e se localiza no interior de um

vacúolo parasitóforo no citoplasma. O fenômeno de invasão foi amplamente

estudado em cultivos celulares e consiste em prévio reconhecimento e adesão à

célula hospedeira. No interior do vacúolo parasitóforo, os taquizoítos se

multiplicam mediante endodiogenia, podendo uma célula conter mais de 100

taquizoítos. Após a ruptura celular, os taquizoítos saem para o meio extracelular e

em poucas horas iniciam os mecanismos de adesão e invasão de novas células

(HEMPHILL et al., 1996).

Os cistos teciduais são observados principalmente em tecido nervoso

(como cérebro, medula espinhal, nervos), músculos cardíacos e esqueléticos,

fígado e músculos oculares (ANDERSON et al., 1991; BARR et al., 1991a;

DUBEY & LINDSAY, 1996, LINDSAY et al., 1996). Nos cistos, os bradizoítos

conservam sua capacidade infectante durante períodos de tempo prolongados

(um ano no cérebro de camundongos com infecção experimental) e são

resistentes à ação do ácido clorídrico (HCl) e à pepsina (LINDSAY & DUBEY,

1990).

O ciclo biológico do N. caninum é caracterizado pela fase assexuada,

que se desenvolve tanto no hospedeiro definitivo como no intermediário, e pela

fase sexuada, que ocorre nos hospedeiros definitivos. O ciclo intestinal do

parasito ainda não foi descrito (GONDIM et al., 2002); porém, pela semelhança

com o Toxoplasma gondii, acredita-se que a fase sexuada provavelmente ocorra

no intestino dos hospedeiros definitivos que se infectam ao consumir taquizoítos

ou tecidos infectados com cistos parasitários. Os cães, após ingerirem tecidos

infectados, eliminam oocistos não-esporulados nas fezes (MCALLISTER et al.,

1998) (Figura 1). Os oocistos esporulam no ambiente dentro de 42 a 72 horas, em

condições favoráveis, podendo ser ingeridos pelos hospedeiros intermediários. Os

oocistos esporulados contêm dois esporocistos, com quatro esporozoítos cada

(MCALLISTER et al., 1998; LINDSAY et al., 1999).

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Figura 1 - Ciclo biológico de N. caninum (ALVAREZ–GARCIA, 2003)

Os hospedeiros intermediários de N. caninum já descritos são os

bovinos, ovinos, caprinos, cervídeos, eqüinos, bubalinos, raposas e felinos, que

se infectam por meio da ingestão de oocistos liberados nas fezes dos hospedeiros

definitivos (MCALLISTER et al., 1998).

HI

HD

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5

Os hospedeiros intermediários podem se infectar ao consumir água ou

alimentos contaminados com oocistos esporulados. A presença de cães

soropositivos para N. caninum em fazendas foi correlacionada com a alta

soroprevalência do parasito no rebanho bovino (WOUDA et al., 1999). Dessa

forma, o cão parece ter um importante papel na rota da transmissão horizontal da

infecção em bovinos (DUBEY, 1999), o que foi recentemente comprovado no

México por SANCHEZ et al. (2003).

Entretanto, estudos epidemiológicos realizados até o momento indicam

que a infecção pós-natal tem menor importância, ocorrendo em níveis inferiores

aos verificados na via transplacentária, principal modo de transmissão em bovinos

e responsável pela manutenção e pela perpetuação da infecção nos rebanhos

(SCHARES et al., 1998; DAVISON et al., 1999b; DUBEY 2003; HALL et al.,

2005). A transmissão congênita tem papel preponderante, com percentagens que

variam entre 50% e 95% (WOUDA et al., 1997; SCHARES et al., 1998). As

fêmeas bovinas infectadas permanecem nesse estado por toda a vida e têm até

7,4 vezes mais chances de abortar do que uma vaca não-infectada (THURMOND

& HIETALA, 1997).

2.2 Neosporose bovina

Nos diversos países onde é estudada a neosporose bovina tem sido

considerada uma enfermidade parasitária de distribuição cosmopolita e uma das

causas mais freqüentes de falhas reprodutivas (GONZÁLES et al., 1999; TREES

et al., 1999). Desde sua descrição nos Estados Unidos, como causa de aborto, a

importância da neosporose bovina vem aumentando significativamente. Vários

estudos sorológicos realizados demonstram uma elevada prevalência, individual e

em rebanhos, nas principais zonas produtoras de bovinos do mundo (DUBEY &

LINDSAY, 1996; DAVISON et al., 1999a).

No Brasil, Neospora caninum foi identificado pela primeira vez em feto

abortado proveniente de uma exploração leiteira na Bahia, por GONDIM et al.

(1999), que detectaram prevalência de 14,09% entre bovinos leiteiros.

RAGOZO et al. (2003) verificaram a ocorrência de animais

soropositivos em seis estados brasileiros (Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,

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Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo), encontrando 23,6% de

positividade. O Rio de Janeiro apresentou a menor percentagem de soropositivos

(14,7%) e Minas Gerais, a maior (29,0%). Com relação à aptidão animal,

observou-se maior ocorrência nos bovinos leiteiros (26,2%) do que nos de corte

(19,1%), com os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul

apresentando os maiores valores de ocorrência nos bovinos de corte e Minas

Gerais nos leiteiros. Em estudo realizado em Goiás, foi detectada prevalência

entre 10,3% e 89,7%, tanto em rebanhos leiteiros como de corte (MELO et al,

2006).

2.2.1 Sinais clínicos

Bovinos infectados por N. caninum antes da gestação podem sofrer

abortos, o que sugere que a imunidade gerada pela primeira exposição ao

parasito é insuficiente para protegê-los da doença. Em vacas, o aborto é o único

sinal clínico observado, além da repetição de cio. Vacas soropositivas, em

comparação com soronegativas, podem apresentar maior número de

inseminações por prenhez, evidenciando baixo desempenho reprodutivo

(STENLUND et al., 1999; HALL et al., 2005).

Nos rebanhos infectados por N. caninum, os abortos podem

apresentar-se de forma esporádica, endêmica ou epidêmica (DAVISON et al.,

1999b). A forma esporádica ocorre em rebanhos em que a taxa de aborto é baixa

e acontece a intervalos irregulares.

Nos casos que apresentam padrão endêmico de abortos, a taxa anual

de abortamento é elevada, persistindo durante períodos de tempo prolongados

(ANDERSON et al., 2000). O padrão endêmico é a forma mais freqüente de

abortos e ocorre em rebanhos em que o parasito é transmitido, principalmente, de

modo vertical entre gerações sucessivas.

Nos abortos epidêmicos causados pelo N. caninum, são observadas

altas taxas de soroprevalência e associação significativa entre eles e a

soropositividade da mãe (WOUDA et al., 1999).

As vacas afetadas abortam em qualquer idade ou estado de gestação,

desde o terceiro até o oitavo mês, ainda que a idade gestacional média dos fetos

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abortados esteja entre o quinto e o sexto mês (THORNTON et al., 1994;

MCALLISTER et al., 1996; WOUDA et al., 1999).

Apesar de a infecção subclínica ser a forma mais freqüente de

apresentação da neosporose congênita, também são descritos casos de bezerros

infectados durante a gestação que apresentaram quadro nervoso como

conseqüência da presença de cistos no Sistema Nervoso Central (SNC). As

lesões localizadas nos músculos e no SNC seriam as responsáveis pelos sinais

neurológicos e neuromusculares observados ocasionalmente (BARR et al.,

1991a; DUBEY & LINDSAY, 1996).

2.2.2 Resposta imune e transmissão vertical

N. caninum é um parasito intracelular obrigatório. Tanto a resposta de

anticorpos específicos, de grande ajuda no diagnóstico e nos estudos

epidemiológicos (CONRAD et al., 1993), quanto os mecanismos implicados na

resposta celular são elementos importantes da resposta imune frente ao parasito.

Nesse sentido, os diversos estudos sobre a resposta imune desenvolvida pelo

hospedeiro vêm demonstrando que a infecção induz a uma resposta humoral e

celular (ÁLVARES-GARCIA, 2003). Anticorpos específicos e imunidade mediada

por células, que envolve proliferação celular e produção de INF-γ (Interferon γ),

são observados em animais infectados naturalmente ou experimentalmente com

taquizoítos ou oocistos, após infecção primária com o parasito ou por meio de

recrudescência de uma infecção prévia (LUNDÉN et al., 1998; DE MAREZ et al.,

1999; ANDRIANARIVO et al., 2001; INNES et al., 2002).

A gestação cria um desequilíbrio na relação hospedeiro-parasito, o que

pode ajudar na explicação da patogenia da neosporose. A resposta imune

desenvolvida frente à infecção é capaz de prejudicar o sucesso da gestação e

comprometer a capacidade do animal em levar a gestação adiante (INNES et al.,

2002).

Em mamíferos, mecanismos imunológicos complexos agem para

permitir que a fêmea mantenha o feto e não o rejeite como estranho (ENTRICAN,

2002). Nos ruminantes, estes mecanismos são mediados por meio da interface

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materno-fetal, constituída de vários pontos de contato (placentomas). Cada

placentoma é composto por um cotilédone da placenta fetal, projetado para dentro

da superfície do útero e intimamente conectado com a carúncula materna. A

transferência de nutrientes e oxigênio da mãe para o feto acontece por meio

dessas estruturas, que formam o placentoma.

Como parte do equilíbrio imunológico da placenta, citocinas maternas

benéficas do tipo Th2, como a interleucina (IL) 10 e TGF-β (Transforming Growth

Factor β), são predominantes, enquanto potentes citocinas destrutivas do tipo

Th1, como IL-2, IL-12, IFN-γ e TNF-α (Tumor Necrosis Factor α), são restritas

(ENTRICAN, 2002). Conseqüentemente, esse equilíbrio imunológico que permite

à mãe manter a gestação pode favorecer a invasão da placenta e a infecção do

feto por certos microrganismos, inclusive N. caninum (INNES et al., 2001).

Outros fatores que podem influenciar no resultado da infecção por N.

caninum na gestação são: o tempo, a quantidade e a duração da parasitemia

durante a gestação, a eficiência da resposta imune materna e a habilidade do feto

em montar uma resposta imune efetiva (INNES et al., 2002).

Portanto, os abortos causados por N. caninum podem ser o resultado

de uma resposta inflamatória que é conseqüência da invasão e da multiplicação

dos taquizoítos em células da placenta do feto ou da mãe, estimulando uma

resposta imune inapropriada, que comprometeria a gestação (ÁLVARES-

GARCIA, 2003).

2.2.2.1 Resposta imune humoral

Tanto nos animais adultos como nos fetos capazes de montar resposta

imune, a infecção provoca o desenvolvimento de uma resposta imune humoral,

mediada majoritariamente por IgG2 (ANDRIANARIVO et al., 2001).

Estudos realizados com animais persistentemente infectados

demonstraram aumento de anticorpos maternos específicos durante a metade da

gestação, o que pode ser um indicativo de recrudescência do parasito em fêmeas

infectadas naturalmente (GUY et al., 2001). Porém, apesar de os anticorpos

serem indicadores indiretos da multiplicação parasitária no hospedeiro, é ainda

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9

desconhecido se estes podem influenciar diretamente na recrudescência do

parasito (INNES et al., 2002).

Em rebanhos que apresentam aborto endêmico têm sido detectadas

flutuações nos níveis de anticorpos ao longo da gestação. Tais níveis podem

preceder a infecção congênita ou o aborto. Nesse sentido, é desconhecido se

essas flutuações são devidas a estímulos antigênicos por reativação de infecções

latentes ou por reinfecções a partir de fonte externa. Também não se sabe o

papel desses anticorpos no desenvolvimento de uma imunidade protetora.

Existem dados contraditórios a esse respeito (COLLANTES-FERNÁNDEZ, 2003),

uma vez que a imunidade desenvolvida em resposta a uma exposição primária ao

N. caninum geralmente é insuficiente para prevenir contra a ocorrência de

transmissão vertical (PARÉ et al., 1996).

Estudos realizados com animais experimentalmente infectados

(WILLIAMS et al., 2000) demonstraram haver diferença na resposta imune em

relação aqueles naturalmente infectados. Quando vacas adultas foram expostas à

primo-infecção, desenvolveram uma imunidade adequada para N. caninum, a fim

de inibir a transmissão vertical do parasito. Vacas naturalmente e cronicamente

infectadas tiveram proteção contra aborto seguida da exposição exógena, mas

não foram capazes de evitar a transmissão vertical do parasito (INNES et al.,

2001).

A principal diferença entre bovinos natural e experimentalmente

infectados é a maturidade relativa do sistema imune no tempo inicial à exposição

ao parasito, pois a maioria dos bovinos infectados naturalmente tem a primeira

experiência do parasito in utero, quando o sistema imune ainda está se

desenvolvendo (INNES et al., 2002).

2.2.2.2 Resposta imune celular

A imunidade mediada por células é mais freqüentemente envolvida na

defesa do hospedeiro contra protozoários (ANDRIANARIVO et al., 2000).

Até o momento, as informações sobre o papel das diferentes linfocinas

e populações celulares na resposta imune bovina são escassas. Os diversos

estudos realizados tanto em infecções naturais como experimentais sobre a

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10

resposta imune celular destacam a participação de células CD4+, Th1 e linfocinas

como IFN-γ, IL-12 e macrófagos (ANDRIANARIVO et al., 2001). GUY et al. (2001)

demonstraram o efeito protetor do IFN-γ ao final da gestação em fêmeas com

infecção natural, sendo seus valores especialmente elevados nas reprodutoras

que não transmitiram a infecção à descendência. Recentemente, ALMERIA et al.

(2003) estudaram a resposta imune desenvolvida pelas fêmeas e seus fetos

quando estas foram infectadas no segundo trimestre da gestação. Nesse estudo

foram detectados maiores níveis de linfócitos CD3+, CD4+ e CD8+ nas

reprodutoras infectadas. Nos fetos, destacou-se a presença de linfócitos CD3+ e a

infecção estimulou resposta tanto Th1 como Th2.

Em novilhas infectadas experimentalmente, houve uma resposta imune

de base celular, na qual se destacaram elevados níveis de IFN-γ (LUNDEN et al.,

1998; INNES et al., 2001). No estudo realizado por WILLIAMS et al. (2000), a

infecção veio acompanhada de uma resposta de tipo Th1, mediada por IgG2,

linfoproliferação e elevados níveis de IFN-γ.

2.2.2.3 Relação parasito-hospedeiro

O feto é especialmente vulnerável durante o primeiro terço de

gestação, devido à imaturidade de seu sistema imune, quando está

desenvolvendo o timo, o baço e os nódulos linfáticos periféricos (BUXTON et al.,

2002).

Durante o terço médio da gestação, esses tecidos começam a

reconhecer e a responder frente aos microrganismos. O feto é, então, capaz de

iniciar uma resposta imune rudimentar, que talvez ainda não seja suficiente para

evitar o abortamento, uma vez que a maioria dos abortos ocorre nessa fase

(GONZÁLEZ et al., 1999). No terceiro trimestre, o feto já é capaz de,

progressivamente, desenvolver uma resposta imune competente contra o

parasito, o que resulta no nascimento de bezerros congenitamente infectados,

porém clinicamente sadios (BUXTON et al., 2002).

A Figura 2 (INNES et al., 2002) ilustra diferentes aspectos da relação

hospedeiro-parasito em vacas prenhes e não-prenhes. O gráfico (a)(i) mostra o

desenvolvimento da imunidade mediada por células (verde), envolvendo

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11

proliferação celular e produção de INF-γ e resposta de anticorpo (vermelho), após

a infecção experimental com N. caninum de vacas não-prenhes.

Fonte: INNES et al (2003)

Relação parasito-hospedeiro(a) (i)

(b) (i)

0 2 4

Cisto com bradizoítos

INF-y

Res

pos t

a

IMC

Res

post

a A

cR

espost

a

IMC

Res

post

a A

c

0 14 28 42Semanas de gestação

(ii) Recrudescência ou nova infecção?

(iii) Recrudescência ou infecção

↓ Th1

Invasão da placenta Th2

Imunidade fetal imatura

(iv) Invasão da placenta e tecido fetal

Imunidade fetal capaz de resistir

à infecção

Citocinas pro-

inflamatórias

sf

ce

INF-y

Semanas pós infecção

(a) (ii)

1º trimestre 2º trimestre3º trimestre

INF-y

Fonte: INNES et al (2003)

Relação parasito-hospedeiro(a) (i)

(b) (i)

0 2 4

Cisto com bradizoítos

INF-y

Res

pos t

a

IMC

Res

post

a A

cR

espost

a

IMC

Res

post

a A

c

0 14 28 42Semanas de gestação

(ii) Recrudescência ou nova infecção?

(iii) Recrudescência ou infecção

↓ Th1

Invasão da placenta Th2

Imunidade fetal imatura

(iv) Invasão da placenta e tecido fetal

Imunidade fetal capaz de resistir

à infecção

Citocinas pro-

inflamatórias

sf

ce

INF-y

Semanas pós infecção

(a) (ii)

1º trimestre 2º trimestre3º trimestre

INF-y

Figura 2 – Relação parasito-hospedeiro em vacas prenhes e não prenhes (INNES et al., 2002)

Em animais não-prenhes, a infecção por N. caninum não costuma

causar doença clínica. INF-γ produzido por células T-CD4+ (roxo) é capaz de

limitar a multiplicação intracelular do parasito e isso é um importante componente

da proteção imunológica (esquema (b)(i)). O parasito consegue persistir em forma

de bradizoítos dentro de cistos teciduais no Sistema Nervoso Central (SNC).

O gráfico (a)(ii) mostra a relativa importância da resposta imune

mediada por células (IMC) específica para N. caninum (verde) e diferentes

exemplos de resposta de anticorpos durante toda a gestação em vacas, quando a

parasitemia ocorre no meio da gestação (vermelho) ou em seu fim (azul). A

relativa maturidade da resposta imune fetal também é indicada no gráfico

(amarelo). Se as vacas são infectadas experimentalmente com N. caninum no

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início da gestação, as conseqüências podem ser graves, resultando em morte do

feto. A causa precisa do aborto é assunto de debate. Se o feto se torna infectado,

é pouco provável que seja capaz de organizar uma resposta imune efetiva, devido

à imaturidade do sistema imune. Se não, é sabido que, no início da gestação, a

mãe é capaz de montar uma forte resposta de proliferação celular com produção

de INF-γ em resposta ao antígeno do parasito (INNES et al., 2002).

Conseqüentemente, é possível que o aborto seja causado pela presença de

citocinas pró-inflamatórias tipo 1 (Th1) na interface materno-fetal, quando o

sistema imune materno combate a infecção (esquema (b)(ii)). Significante imunomodulação de células de proliferação e de INF-γ

ocorre no meio da gestação, podendo ser desencadeada por recrudescência da

infecção, pela existência de parasitos contidos dentro dos cistos teciduais

(esquema (b)(iii)). Nesse estágio da gestação, as conseqüências da infecção

podem ser morte fetal ou o nascimento do bezerro congenitamente infectado, já

demonstrando sinais da parasitemia.

A idade do feto ao tempo da infecção é crucial para determinar a

gravidade da doença (BARR et al., 1991a; BARR et al., 1994; BUXTON et al.,

1998; WILLIAMS et al., 2000). A transmissão vertical do parasito para o feto no

fim da gestação resulta em menor probabilidade de aborto, presumivelmente por

causa da maturidade do sistema imune fetal (esquema (b)(iv)). O provável efeito

da infecção fetal no final da gestação é o nascimento de bezerros congenitamente

infectados, mas clinicamente sadios. A infecção intrauterina induz, em fetos

imunocompetentes, a produção de títulos elevados de anticorpos específicos pré-

colostrais, que podem chegar a ser superiores aos títulos de anticorpos das mães

(ÁLVARES-GARCIA, 2003).

2.3 Diagnóstico da neosporose bovina

O diagnóstico clínico da neosporose é difícil, devido à inexistência de

sinais nos animais cronicamente infectados e ao número reduzido de parasitos

encontrados nos fetos abortados (JENKINS et al., 2002). Atualmente o

diagnóstico é baseado na detecção de anticorpos específicos frente ao parasito

em bovinos adultos (BJORKMAN & UGLA, 1999) e em lesões compatíveis no

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cérebro, no coração e no fígado de fetos abortados, combinadas com o exame

imunoistoquímico (BARR et al., 1990, 1991b; ANDERSON et al., 1991), com a

reação em cadeia da polimerase (PCR) em tecidos fetais (GOTTSTEIN et al.,

1998; PEREIRA-BUENO et al., 2003) e com a sorologia fetal (BARR et al., 1995;

BUXTON et al., 1997).

2.3.1 Diagnóstico clínico e epidemiológico

Além de dados relativos ao tipo de exploração e ao manejo do

rebanho, a história clínica da doença pode facilitar a realização de um diagnóstico

preciso. Nos rebanhos infectados por N. caninum, os abortos ocorrem tanto em

novilhas como em vacas e podem apresentar-se de forma esporádica, endêmica

ou epidêmica, em qualquer época do ano. Uma vez que a infecção congênita é o

principal modo de transmissão entre bovinos, é importante o estudo de abortos

que possam ter ocorrido nos ascendentes ou descendentes dos animais

infectados (ÁLVARES-GARCIA, 2003).

A ausência de sinais nos animais adultos infectados impede o

diagnóstico clínico. Quando ocorre aborto, o exame macroscópico do feto e da

placenta geralmente não contém informações que possam ser conclusivas

(ÁLVARES-GARCIA, 2003).

Os bezerros infectados por N. caninum podem nascer com peso abaixo

do normal, dificuldades de se levantar e com manifestações nervosas (DUBEY &

LINDSAY, 1996). Os membros, mais freqüentemente os posteriores, podem estar

flexionados ou hiperestendidos. Os animais também podem apresentar ataxia,

diminuição do reflexo patelar e perda da consciência, bem como exoftalmia e

aparência assimétrica dos olhos. Entretanto, é importante destacar que estes

casos não são freqüentes, sendo mais comum o nascimento de bezerros

congenitamente infectados, mas clinicamente sadios (FERRE et al., 2003).

2.3.2 Diagnóstico laboratorial

A detecção da infecção em bovinos se fundamenta na verificação de

anticorpos específicos anti - N. caninum no soro, por meio de técnicas sorológicas

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(COLLANTES-FERNÁNDEZ, 2003). A transmissão congênita também é avaliada

pela detecção de anticorpos em soro pré-colostral de bezerros recém-nascidos,

uma vez que em bovinos não existe transferência de anticorpos da mãe para o

feto durante a gestação (PARÉ et al., 1996).

No feto, o diagnóstico laboratorial é feito em tecidos e líquidos fetais,

por meio de técnicas que permitem a detecção de lesões, o isolamento do

parasito e sua identificação, a detecção de DNA nos tecidos infectados e a

evidência de anticorpos anti-Neospora nos fluidos fetais (ÁLVARES-GARCIA,

2003). Como exemplos podem ser utilizadas técnicas histológicas, PCR,

imunoistoquímica, isolamento e inoculação em animais de laboratório. As lesões

mais características em fetos abortados se localizam preferencialmente no

cérebro, podendo ser detectadas inclusive em fetos mumificados ou autolisados

(SILVA, 2004).

2.3.3 Técnicas sorológicas

As técnicas sorológicas apresentam elevada sensibilidade e

especificidade, além de possibilitarem o exame in vivo dos animais. Para detectar

anticorpos específicos anti - N. caninum, diferentes provas sorológicas foram

desenvolvidas, como a imunofluorescência indireta (IFI), o ensaio

imunoenzimático (ELISA), o western-blot (WB) e a aglutinação direta (AT).

(COLLANTES-FERNÁNDEZ, 2003).

Desde a primeira descrição do parasito (DUBEY et al., 1988),

diferentes provas sorológicas foram desenvolvidas para a detecção de anticorpos

específicos frente ao N. caninum, o que tem permitido melhorar o diagnóstico e o

conhecimento da biologia e da epidemiologia da infecção.

A primeira prova utilizada no diagnóstico da neosporose foi a IFI e

desde então foram desenvolvidas várias provas de ELISA baseadas em

diferentes preparações antigênicas, bem como a prova de aglutinação direta e o

western blotting (BJÖRKMAN & UGGLA, 1999).

As técnicas sorológicas permitem o diagnóstico da infecção e o estudo

do papel que pode ter o animal no ciclo biológico do parasito ou na epidemiologia

da doença. As limitações da sorologia são relacionadas às diferenças existentes

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entre os laboratórios, às propriedades da técnica aplicada e às oscilações dos

níveis de anticorpos específicos produzidos nos animais infectados, que podem

influir consideravelmente na sensibilidade da técnica utilizada (CONRAD et al.,

1993).

2.3.3.1 Imunofluorescência indireta (IFI)

A imunofluorescência indireta foi a primeira técnica sorológica aplicada

à neosporose e é utilizada como prova de referência. A IFI utiliza como antígeno

taquizoítos cultivados em meio livre de soro ou com soro eqüino (COLLANTES-

FERNÁNDEZ, 2003), e detecta anticorpos que se unem a antígenos localizados

na superfície celular de N. caninum. O resultado é considerado positivo quando se

observa a fluorescência em todas as partes do taquizoíto (ALVAREZ-GARCIA,

2003). Os pontos de corte utilizados para IFI variam entre os diferentes

laboratórios; em bovinos adultos são utilizados pontos de corte que oscilam entre

1:200 (SCHARES et al., 1998) e 1:640 (CONRAD et al., 1993); na sorologia fetal,

os pontos de corte mais aceitos variam de 1:50 até 1:80 (SILVA, 2004).

A IFI é uma técnica específica, sendo que não foram detectadas

reações cruzadas com outros protozoários relacionados (DUBEY & LINDSAY,

1996). Os inconvenientes observados dizem respeito ao certo grau de

subjetividade na interpretação dos resultados e ao requerimento de experiência

prévia do técnico (BJÖRKMAN & UGLA, 1999).

2.3.3.2 Ensaio imuno-enzimático (ELISA)

A prova de ELISA possui numerosas vantagens, como a simplicidade,

a rapidez, a facilidade de interpretação dos resultados, a capacidade de

automatização e o baixo custo, o que a torna a técnica mais utilizada quando se

analisa um número elevado de amostras (COLLANTES-FERNÁNDEZ, 2003).

Diversas provas de ELISA foram desenvolvidas para a detecção

imuno-enzimática de anticorpos específicos anti - N. caninum, com a utilização de

diferentes tipos de antígenos. O ELISA convencional utiliza antígeno solúvel de

taquizoítos, sendo a técnica de diagnóstico utilizada com maior freqüência na

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detecção de anticorpos específicos em soro e líquidos fetais (BJÖRKMAN &

UGGLA, 1999). Uma variante do ELISA convencional é o ELISA de competição,

uma prova indireta que utiliza um anticorpo monoclonal que compete com os

anticorpos específicos do soro problema, conferindo maior especificidade em

relação ao ELISA indireto tradicional (ALVAREZ-GARCIA, 2003).

Nos últimos anos, foi desenvolvido ELISA de avidez, que se baseia na

maturação do sistema imune produzido frente à exposição prévia ao parasito. A

estimação da avidez das IgGs anti-N. caninum presentes no soro dos animais

infectados pode ajudar a determinar o momento da exposição ao parasito, com o

objetivo de distinguir entre infecções recentes e crônicas (ALVAREZ-GARCIA,

2003).

2.3.3.3 Western blotting

O western blotting é empregado, essencialmente, para estudar a

composição antigênica do N. caninum, utilizando soros de diferentes espécies

infectadas. Entre os antígenos identificados, destacam-se vários

imunodominantes, de 17 kDa, 29-30 kDa, 37 kDa e 46 kDa (BJERKAS et al.,

1994). Quanto à utilidade no diagnóstico, o western blotting é uma técnica

utilizada em poucos estudos de rebanhos, como apoio a outras provas

sorológicas (IFI e ELISA), para estabelecer valores de concordância e pontos de

corte (SCHARES et al., 1998; SONDGEN et al., 2001).

Posteriormente, foi comprovado que o diagnóstico sorológico fetal

melhorava consideravelmente quando se utilizava o western blotting (SONDGEN

et al., 2001). No futuro, o conhecimento do padrão de reconhecimento específico

de taquizoítos e bradizoítos poderia ser muito útil para distinguir entre as fases

aguda e crônica da infecção por N. caninum (FERRE et al., 2003).

2.3.3.4 Aglutinação direta

A aglutinação direta se baseia na capacidade de aglutinação dos

taquizoítos formalinizados na presença de imunoglobulinas específicas

(ALVAREZ-GARCIA, 2003). Tem como vantagem o fato de não necessitar de um

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anticorpo secundário espécie-específico, o que torna a técnica mais simples e

com capacidade de ser utilizada para diferentes espécies de hospedeiros

(BJORKMAN & UGLA, 1999).

2.4 Importância econômica

Na literatura consultada não existem dados conclusivos acerca das

perdas econômicas causadas pela neosporose bovina, mas é inquestionável a

sua importância para a cadeia produtiva. Estudos realizados na Califórnia e na

Holanda mostraram que 20% dos abortos em bovinos são causados por N.

caninum; na Bélgica e no Reino Unido, as taxas giram em torno de 12,5%

(DAVISON et al., 1999c; DE MEERSCHMAN et al., 2002); e na Espanha, entre

10,7% e 57%, dependendo da técnica de diagnóstico utilizada (GONZÁLEZ et al.,

1999; PEREIRA-BUENO et al., 2003). Estudos recentes realizados no Canadá

demonstraram uma perda anual por animal atribuída ao N. caninum de

aproximadamente CAD$ 1.766,51 por cem matrizes ou CAD$ 18,00 por matriz

infectada, sendo o aborto responsável por 50% das perdas econômicas

(HADDAD et al., 2005).

Devem ser considerados, dessa maneira, os custos indiretos

associados ao aborto, tais como infertilidade, repetições de cios, assistência

veterinária, gastos com exames para diagnóstico, reposição de animais e possível

queda na produção leiteira.

2.5 Controle da neosporose bovina

Devido à inexistência de um tratamento e de vacinação eficazes frente

à neosporose bovina, os esforços para o controle da infecção devem ser dirigidos

ao estabelecimento de medidas higiênico-sanitárias, com o fim de evitar a

propagação do agente e reduzir o nível de infecção. Tendo em conta o ciclo

biológico do parasito e suas possíveis vias de transmissão, as práticas de manejo

que devem ser instauradas são divididas em função das transmissões vertical e

horizontal (COLLANTES-FERNÁNDEZ, 2003).

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A medida mais indicada para controlar a infecção congênita é a

redução do número de animais infectados mediante o descarte e a reposição

seletiva (JENSEN et al., 1999). Inicialmente, recomenda-se estudar a taxa de

aborto presente no rebanho: se superior aos níveis admitidos (em torno de 3% a

10%), recomenda-se a realização do diagnóstico etiológico do mesmo (FORAR et

al., 1995). As medidas de controle devem atingir todo o rebanho, sempre em

função das taxas de soroprevalência e aborto. A eliminação das vacas

soropositivas pode ser a medida mais adequada se a soroprevalência for baixa;

porém, se for elevada, as medidas a serem tomadas não devem ser tão drásticas.

Nos animais soropositivos podem ser encontrados diferentes tipos de

manifestações, que influirão na decisão a ser tomada. Vacas que abortaram uma

ou mais vezes devem ser consideradas casos de descarte; vacas soropositivas,

sem antecedentes de aborto, podem atuar como portadoras da infecção,

devendo-se, portanto, evitar a utilização de sua descendência para reposição.

Se a vaca é de alto valor genético e se há o desejo de conservar sua

descendência, é recomendada a realização de sorologia pré-colostral, deixando

para reposição apenas as crias negativas, ou o uso da transferência de embriões,

que foi considerado um método seguro e eficiente para prevenir a transmissão

vertical do parasito (BAILLARGEON et al., 2001; LANDMANN et al., 2002;

CAMPERO et al., 2003). Porém, o uso intensivo da transferência de embriões,

sem exame prévio das receptoras, representa um risco substancial para a

introdução do agente no rebanho. Já o uso de receptoras negativas, mesmo

quando as doadoras são positivas, previne a transmissão vertical, evitando assim

a infecção em crias de alto valor genético (BAILLARGEON et al., 2001).

O risco da transmissão horizontal em bovinos é pouco conhecido e

presumivelmente muito escasso, razões pelas quais pouco se sabe sobre as

possíveis medidas a serem tomadas e a eficácia das mesmas (COLLANTES-

FERNÁNDEZ, 2003). Medidas higiênicas devem ser tomadas com os objetivos de

prevenir contra a infecção dos animais soronegativos e de reduzir a possível

contaminação ambiental pelas diferentes fases do parasito. Deve-se evitar a

ingestão de fetos, fluidos e restos de placentas por cães, bem como o acesso dos

mesmos a locais de comida (pastagens, currais de alimentação) e água,

mantendo sempre os alimentos em lugares fechados ou silos. Além do controle

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da população de cães, indica-se o controle de roedores, principalmente nos

estábulos.

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20

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Avaliar a transmissão congênita e a ocorrência de abortos por Neospora

caninum em uma central de transferência de embriões em Nerópolis,

Goiás.

3.2 Objetivos Específicos

Verificar a presença de anticorpos anti-N. caninum em doadoras e

receptoras de embriões;

Verificar a ocorrência de transmissão vertical de N. caninum em receptoras

de embriões;

Verificar a relação entre título de anticorpos anti-N. caninum em receptoras

e a ocorrência de transmissão vertical;

Avaliar a ocorrência de abortos e repetição de cio em receptoras de

embriões positivas para N. caninum.

Avaliar quantidade de embriões produzidos por doadoras de embriões

positivas para N. caninum.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Levantamento de dados e aspectos reprodutivos

Os estudos foram realizados em uma central de transferência de

embriões localizada no município de Nerópolis, Goiás. Dados reprodutivos, como

repetição de cios, ocorrência de abortos e quantidade de embriões produzidos,

foram obtidos por meio de fichas individuais pertencentes ao banco de dados da

própria instituição.

Foram utilizadas fêmeas bovinas, sendo que as doadoras eram todas

da raça Nelore e as receptoras mestiças (Zebu/Holandês). Todos os animais

utilizados para transferência de embriões eram negativos ao exame sorológico

para brucelose e tuberculose e vacinados contra leptospirose, IBR e BVD, além

de serem tratados contra leptospirose, com antibióticos, antes de cada programa.

A Transferência de Embriões (TE) foi realizada sempre pelo mesmo

técnico, pelo método transcervical, não-cirúrgico. As doadoras foram

superovuladas e a inseminação foi realizada em tempo fixo, com a sincronização

de cios entre receptoras e doadoras.

4.2 Colheita de amostras

Foram colhidas amostras de sangue de 61 doadoras, 101 receptoras e

90 bezerros. As colheitas nas vacas foram realizadas após a inovulação das

receptoras. Para evitar possíveis transtornos aos animais, não foram colhidas

amostras antes do programa de TE, uma vez que as doadoras estavam sendo

inseminadas e passariam pelo processo de colheita de embriões, e as receptoras

apresentavam gestação recente. O material foi colhido após os 60 dias de

gestação das receptoras e após o término do programa de TE nas doadoras. As

amostras individuais de sangue venoso foram colhidas na veia coccígea nos

animais adultos e na veia jugular nos bezerros, em tubos tipo Vacutainer®, sem

anticoagulante, para a obtenção de soro. As colheitas foram realizadas nas

receptoras, durante toda a gestação, em intervalos de aproximadamente 60 dias,

com uma média de quatro a cinco colheitas por animal. Nos bezerros a colheita

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foi realizada logo após o nascimento, antes da ingestão do colostro até os sete

meses de idade, para avaliação da transmissão vertical, com uma média de três a

cinco colheitas por bezerro. O sangue colhido foi levado ao laboratório do Centro

de Parasitologia da Escola de Veterinária/UFG e centrifugado para obtenção do

soro, que foi identificado e mantido a -20ºC até o momento de realização do

exame.

4.3 Detecção de anticorpos anti-Neospora caninum

Para a detecção de anticorpos específicos anti - N. caninum foi

utilizada a técnica de imunofluorescência indireta (IFI). O antígeno foi preparado

por meio da multiplicação de taquizoítos de N. caninum (amostra Nc-1) em

cultivos de células Marc-145.

4.4 Cultivo de células (manutenção)

Células Marc-145 foram mantidas em frascos para cultivo celular, com

meio DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle Medium, GIBCO®) suplementado com

solução antibiótica e antimicótica (GIBCO®), tampão HEPES (GIBCO®, 20mM) e

soro fetal bovino (GIBCO®) a 5%, em estufa para cultivo celular, a 37oC com 5%

de CO2.

Após a observação de uma monocamada celular íntegra e com

capacidade de multiplicação, o cultivo foi lavado com solução salina tamponada

(PBS - pH 7,4). O sobrenadante foi eliminado, adicionando posteriormente

solução de tripsina-EDTA (GIBCO®) e o frasco foi incubado a 37ºC por dois

minutos, para permitir que as células se despregassem. O número de células por

mL foi contado em câmara de Neubauer e posteriormente repassado para outros

frascos, utilizando-se o mesmo meio.

4.5 Cultivo de Neospora caninum

Taquizoítos de N. caninum (amostra Nc-1), foram mantidos “in vitro”,

em cultivos de células Marc-145, com repasses semanais.

Page 34: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

23

Os repasses foram realizados quando a maioria (>90%) das células do

frasco de cultivo se encontrava lisada. As células foram raspadas para que

pudessem ser despregadas da superfície do frasco. O sobrenadante resultante do

raspado foi transferido a um frasco estéril, de onde foram colhidos 100 µL,

adicionados a 900µL de azul de Tripan em tubo eppendorf, para contagem do

número de taquizoítos presentes e verificação da viabilidade dos mesmos, em

câmara de Neubauer.

4.6 Preparação de antígeno anti-Neospora caninum

A obtenção de taquizoítos e sua purificação foram realizadas mediante

o uso de colunas PD-10, que têm capacidade de remover solutos de baixo peso

molecular e reter partículas grandes, como células, com excelente percentagem

de recuperação de parasitos viáveis.

O procedimento foi realizado da seguinte maneira:

• Foram cultivadas 15x105 células MARC-145 em frasco de cultivo de

75 cm2, com DMEM suplementado com 10% de SFB.

• Ao terceiro ou quarto dia, observou-se a presença de lacunas e

vacúolos parasitóforos em quantidade suficiente para proceder a

purificação.

• O tapete infectado foi raspado com um cell scraper, passado por

seringa com agulha de 25G para um tubo falcon, para assegurar a

ruptura das células infectadas.

• O conteúdo foi centrifugado a 1.350g durante 15min e o

sobrenadante descartado. O sedimento contendo os taquizoítos foi

ressuspendido em 10mL de PBS 1x.

• A quantidade de taquizoítos obtidos foi contada em uma câmara de

Neubauer e novamente centrifugada a 1.350g durante 15min. O

sobrenadante foi descartado.

• O pellet foi ressuspendido em 5mL de PBS 1x e a coluna foi

equilibrada com 20mL de PBS 1x. Os taquizoítos ressuspendidos

foram filtrados passando pela coluna.

Page 35: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

24

• Depois de filtrados, os taquizoítos foram contados novamente em

câmara de Neubauer, com azul tripan a 0,05%, e novamente

centrifugados como descrito anteriormente.

• O pellet formado foi ressuspendido em PBS 1x a uma razão de

1x108 parasitos/mL, com formol a 0,1%, e aliquotado em

eppendorfs de 1,5mL.

4.7 Técnica de Imunofluorescência Indireta (IFI)

Esta técnica se fundamenta na união do antígeno de N. caninum aos

anticorpos que possam estar presentes no soro pesquisado, e do soro a uma

imunoglobulina G anti-bovina marcada com uma substância fluorescente, o

isotiocianato de fluoresceína (FITC).

A técnica foi realizada da seguinte maneira:

Preparação das lâminas:

• Nas lâminas demarcadas para IFI foram adicionados, em cada

pocinho, 9 µL de antígeno. Elas foram deixadas para secar em

temperatura ambiente e, após estarem secas, foram fixadas em

acetona a -20°C por 10min e lavadas com água destilada por

10min em agitação.

Diluição do soro e conjugado:

• Foi realizada uma diluição inicial do soro de 1:50, com diluições

subseqüentes ao dobro, sendo o resultado considerado positivo

quando foi observada fluorescência em todo o taquizoíto, na

diluição de 1:200. Nas amostras positivas foi realizada a titulação

dos anticorpos, em diluições ao dobro, partindo de 1:50. O

conjugado anti-IgG bovina (Sigma®) foi diluído a 1:300 em azul

de Evans a 0,2% em PBS.

Controle:

• Em todas as lâminas foram adicionados controles positivo e

negativo, a fim de evitar possíveis erros.

Page 36: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

25

Imunofluorescência:

• Acrescentou-se 9 µL do soro-teste em cada pocinho e as lâminas

foram incubadas em câmara úmida, em estufa a 37°C, durante

30min.

• As lâminas foram lavadas com PBS 1x (2x 10min) e uma vez com

água destilada (10min) em agitação.

• Acrescentou-se 9 µL do conjugado por pocinho. As lâminas foram

incubadas em câmara úmida em estufa a 37°C durante 30min.

• As lâminas foram lavadas novamente com PBS 1x (2 x 10min) e

uma vez com água destilada (10min) em agitação.

• Foram secas em temperatura ambiente, sem presença de luz.

• Glicerina tamponada foi adicionada em gotas nas lâminas, que

foram cobertas com lamínulas. A leitura foi feita em microscópio

de fluorescência, com objetiva de 40x.

4.8 Avaliação da transmissão vertical e titulação de anticorpos maternos

Esta avaliação foi realizada por meio do exame dos soros colhidos dos

bezerros, antes da ingestão de colostro, e pela titulação dos anticorpos anti-N.

caninum dos soros das receptoras positivas.

4.9 Análise estatística

A probabilidade de ocorrência de transmissão vertical foi verificada pela

fórmula p = x/(x+y), na qual x é a freqüência de bezerros positivos nascidos de

vacas positivas e y é a freqüência de bezerros negativos nascidos de vacas

positivas. O intervalo de confiança foi medido através da fórmula:

p ± 1,96 √ p (1-p)/(x+y)

A existência de relações entre a titulação da mãe e a transmissão

vertical de N. caninum e entre a produção de embriões de vacas positivas e

negativas foi avaliada pelo teste do X2.

Page 37: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

26

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisadas amostras de soros de 101 receptoras, 61 doadoras e

90 bezerros. Desse total, oito das 101 receptoras abortaram e três bezerros

morreram logo após o nascimento, de causas não determinadas.

5.1 Ocorrência de anticorpos anti-Neospora caninum

Das 101 receptoras, 33 foram positivas ao diagnóstico por IFI. Entre as

doadoras que participaram do experimento, 16 foram positivas, e entre os

bezerros, apenas seis foram positivos (Tabela 1).

Tabela 1 – Ocorrência de anticorpos anti-N. caninum em bovinos provenientes de central de transferência de embriões, realizada por IFI (titulação ≥ 1:200) no período de 04/2005 a 10/2006, Nerópolis-GO

Animais Positivos Negativos Total

Receptoras 33 (32,67%) 68 (67,33%) 101

Doadoras 16 (26,22%) 45 (73,78%) 61

Bezerros 6 (6,66%) 84 (93,34%) 90

Total 55 (21,82%) 197 (78,18%) 252

No estado de Goiás, a neosporose bovina é pouco estudada, sendo

escassos os levantamentos de prevalência de N. caninum.

No Brasil, país líder mundial na produção de embriões (RUBIN, 2005),

não há registro de estudos sorológicos para N. caninum em centrais de

transferência de embriões. Na literatura consultada, entre os trabalhos publicados

até o momento sobre a neosporose bovina, apenas três foram realizados com

doadoras e receptoras de embriões (BAILLARGEON et al., 2001; LANDMANN et

al., 2002; CAMPERO et al., 2003).

Do total de receptoras deste estudo, foi encontrada uma

soroprevalência de 32,67% para N. caninum. Uma vez que estas provêm

geralmente de rebanhos leiteiros, tal resultado condiz com MELO et al. (2006),

que realizaram um estudo de soroprevalência nas microrregiões de Goiânia e

Page 38: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

27

Anápolis, onde foram colhidas amostras sorológicas de gado de corte e de leite e

observada uma média de 30,43% de animais soropositivos. Este resultado é

superior aos encontrados por BRAUTIGAN et al. (1996) e GONDIM et al. (1999),

que verificaram uma soroprevalência de 15% no estado de São Paulo e de 14%

na Bahia, respectivamente, em rebanhos de aptidão leiteira. No Rio Grande do

Sul, foi constatado que 23,3% das vacas com histórico de aborto eram

soropositivas para N. caninum, enquanto que nas demais essa prevalência foi de

8,3% (CORBELLINI et al., 2002).

Em relação às doadoras, foi encontrada uma soroprevalência de

26,2%, índice menor que das receptoras. Isso deve-se provavelmente ao manejo

diferenciado destas, que ficam em pastos exclusivos ou em baias individuais,

recebendo tratamento e manejo especializados.

5.2 Transmissão vertical

A taxa de transmissão vertical verificada em soros pré-colostrais das

crias foi de 24% (Tabela 2).

Tabela 2 – Ocorrência de anticorpos anti-N. caninum em bezerros nascidos de receptoras positivas ou não ao N. caninum, realizada por IFI (titulação ≥ 1:200)

Animais Positivos Negativos Total

Bezerros nascidos de mãe positiva 6 (24%) 19 (76,0%) 25

Bezerros nascidos de mãe negativa 0 (0%) 65 (100%) 65

Total 6 (6,6%) 84 (93,4%) 90

BAILLARGEON et al. (2001) e LANDMANN et al. (2002) demonstraram

que a transferência de embriões é uma técnica segura e eficiente de controle da

transmissão vertical, uma vez que os embriões provindos de doadoras positivas,

se transferidos para receptoras negativas, rompem o ciclo da infecção congênita.

Porém, o contrário pode acontecer: se ocorrer a transferência de embriões de

doadoras, tanto negativas como positivas, para receptoras positivas ao N.

caninum, estas são capazes de transmitir a infecção ao feto. No estudo de

Page 39: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

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BAILLARGEON et al. (2001), o índice de transmissão vertical foi de 75% quando

embriões foram implantados em receptoras positivas. CAMPERO et al. (2003)

obtiveram resultado semelhante: não houve o nascimento de bezerros positivos

para N. caninum quando implantaram embriões de doadoras positivas em

receptoras negativas. Entretanto, todas as receptoras positivas obtiveram crias

positivas.

Neste experimento, observou-se índice de transmissão vertical (24%)

inferior aos índices encontrados nos estudos citados. Entretanto, houve a

ocorrência de seis abortos e duas mortes de bezerros provenientes de receptoras

positivas. Embora não tenha sido possível confirmar se N. caninum foi o agente

primário desses abortos e mortes, essa possibilidade é grande, se for considerada

a positividade das receptoras. Neste caso, se as perdas forem atribuídas à

neosporose, a taxa de transmissão congênita será de 42,4%.

Em outros estudos realizados em rebanhos, que não utilizaram a

técnica de transferência de embriões, foram encontradas taxas de 75%, 94%,

81% e 95% de transmissão vertical, respectivamente (HALL et al., 2005,

SCHARES et al., 1998, PARÉ et al., 1996, DAVISON et al., 1999b).

PARÉ et al. (1996) relataram que a baixa probabilidade de transmissão

vertical pode ser ocasionada por uma estimulação contínua do sistema imune

materno, especialmente a resposta imune celular, em condições de

endemicidade. As fêmeas podem estar expostas ao parasito com freqüência,

produzindo estímulo contínuo do sistema imune, suficiente para prevenir a

exposição do feto frente a uma dose infectante de taquizoítos. Entretanto, não há

evidência conclusiva sobre o papel do sistema imune maternal na prevenção da

transmissão vertical.

5.3 Relação entre títulos de anticorpos e transmissão vertical

Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de

anticorpos anti-N. caninum materno e a ocorrência de transmissão vertical. As

receptoras com título maior ou igual a 1:400 durante o período de gestação

apresentaram maior taxa de transmissão vertical (Tabela 3).

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29

Tabela 3 – Relação entre título de anticorpos anti-N. caninum maternos e transmissão vertical

Título-mãe (IFI) Bezerros positivos Bezerros negativos Total

≤ 1:200 1 71 72

≥ 1:400 5 13 18

Total 6 84 90 X2 = 15,459; p≤0,001

No Gráfico 1, é possível observar que houve transmissão vertical em

receptoras que mantiveram titulação alta durante a gestação ou que tiveram

aumento nos títulos de anticorpos em determinada época da gestação. Somente

uma receptora (vaca número 6), na qual foi observada a transmissão vertical,

manteve titulação baixa (≤ 1:200).

Gráfico 1 – Cinética de anticorpos anti-N. caninum em receptoras que transmitiram a infecção ao bezerro, em central de transferência de embriões, Nerópolis, GO

10

100

1000

10000

60 110 160 200 260

dias de gestação

Títu

lo A

c

vaca 1 vaca 2 vaca 3 vaca 4 vaca 5 vaca 6

200

400

6400

3200

Títu

lo d

e A

c (lo

g)

0

800

Page 41: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

30

PARÉ et al. (1996) em seus estudos, por meio da infecção

experimental de vacas em diferentes idades gestacionais, verificaram que as

reprodutoras com títulos elevados de anticorpos ao redor do 240º dia de gestação

tinham maior probabilidade de gerar bezerros soropositivos ao nascimento.

A associação significativa entre as flutuações de anticorpos detectadas

ao longo da gestação e a transmissão congênita foi também explicada por

PEREIRA-BUENO et al. (2000), uma vez que o aumento do título de anticorpos

durante o sexto mês de gestação foi relacionado com o nascimento de bezerros

congenitamente infectados.

5.4 Índices reprodutivos

Neste estudo, não foi encontrada diferença estatística entre receptoras

soropositivas e soronegativas a N. caninum em relação ao índice de repetição de

cio (Tabela 4). Este resultado foi diferente do observado por HALL et al. (2005),

que demonstraram que vacas soropositivas requerem maior número de

inseminações por concepção do que vacas soronegativas. HALL et al. (2005)

encontraram resultados semelhantes aos de STENLUD et al. (1999), nos quais

vacas soronegativas à enfermidade receberam 1,7 dose de sêmen para ficarem

prenhas, enquanto as soropositivas necessitaram de 2,2 doses de sêmen.

Existem evidências de que vacas soropositivas ao N. caninum sejam

eliminadas antecipadamente do rebanho, por apresentarem um baixo

desempenho reprodutivo (THURMOND & HIETALA, 1996). Isso ocorria na central

onde foi realizado este estudo: as receptoras que repetiam cio por mais de uma

vez ou que abortavam uma única vez eram descartadas e substituídas. Talvez por

este motivo não se observou diferença entre os dois grupos em relação à

repetição de cios.

Page 42: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

31

Tabela 4 – Taxa de repetição de cios entre receptoras positivas e negativas para N. caninum

Animais Repetiram cio Não repetiram cio Total

Vacas positivas 11 (37,9%) 18 (62,1%) 29

Vacas negativas 24 (36,3%) 42 (63,7%) 66

Total 35 (35,8%) 60 (64,2%) 95 X2 = 0,02065; p>0.001

Também não houve diferença significativa entre a quantidade de

embriões produzidos por 26 doadoras, das quais foi possível a obtenção dos

dados, e o índice de prenhez das receptoras, de acordo com positividade das

doadoras para N. caninum (Tabela 5). Estes dados estão de acordo com o

observado por BAILLARGEON et al. (2001), em que os índices foram

praticamente os mesmos em grupos de doadoras positivas e negativas.

Provavelmente isso ocorre devido ao fato de que a zona pelúcida protege os

embriões contra a invasão de N. caninum, fazendo com que estes possam ser

transferidos com segurança para as receptoras (CAMPERO et al., 2003). Não foi

avaliada neste estudo a qualidade dos embriões em relação à positividade das

doadoras, uma vez que todos os embriões transferidos eram de boa qualidade

(graus I e II).

Tabela 5 - Quantidade de embriões produzidos por doadoras positivas e negativas ao N. caninum e índice de prenhez das receptoras

Animais Número de doadoras Embriões produzidos

Índice de prenhez

Doadoras positivas 9 106 50 (47,16%)

Doadoras negativas 17 137 67 (48,90%)

Total 26 243 117 (48,10%) X2= 0,0252; p>0.001

5.5 Ocorrência de abortos

Foram verificados oito casos de aborto, dos quais seis (75%)

ocorreram em receptoras positivas para N. caninum e dois (25%) em receptoras

Page 43: TRANSMISSÃO VERTICAL E OCORRÊNCIA DE ABORTOS POR24%. Houve diferença estatisticamente significativa entre o título de anticorpos e a transmissão vertical, ou seja, vacas com título

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negativas. Não foi possível diagnosticar a causa primária dos abortos, pois os

fetos não foram recuperados.

Dentre as receptoras positivas que abortaram, três apresentaram, no

momento do aborto, título de anticorpos anti-N. caninum de 1:200. Dessas, duas

tiveram o diagnóstico de aborto realizado aos 60 dias de gestação e uma abortou

aos sete meses de gestação. Outras duas apresentaram títulos de 1:400, sendo

que uma teve o diagnóstico de aborto aos 60 de gestação e outra abortou no

quinto mês. A outra ocorrência de aborto foi em uma receptora que apresentava

título 1:1600 e que foi diagnosticado aos 60 dias de gestação.

O número de abortos ocorridos em relação ao número total de

receptoras positivas e negativas pode ser observado na Tabela 6.

Tabela 6 – Número de abortos ocorridos em relação ao número total de receptoras positivas e negativas ao N. caninum

Abortaram Não abortaram Total

Receptoras positivas 6 (18,18%) 27 (81,82%) 33

Receptoras negativas 2 (2,94%) 66 (97,06%) 68

Total 8 (7,92%) 93 (92,08%) 101

PARÉ et al. (1996), em seus estudos com infecção experimental de N.

caninum, verificaram que as reprodutoras com títulos de anticorpos elevados

entre os dias 180 e 210 de gestação teriam maior probabilidade de abortar.

QUINTANILLA-GOZALO et al. (2000) detectaram flutuações de anticorpos em

reprodutoras com infecção natural ao longo da gestação, sendo os maiores títulos

de anticorpos encontrados nas fêmeas que abortaram na metade da gestação,

coincidindo com o momento do aborto.

Nos resultados deste experimento observou-se que a ocorrência de

abortos entre as receptoras soropositivas foi de 18,18%, enquanto a ocorrência

entre receptoras soronegativas foi de 2,94%, demonstrando uma alta

probabilidade de abortos em fêmeas positivas. Este resultado assemelha-se ao

relatado por HALL et al. (2005), no qual 31,3% de vacas soropositivas ao N.

caninum abortaram, contra 2,4% de vacas soronegativas. Segundo THURMOND

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33

& HIETALA (1996), em rebanhos com moderada (10% a 20%) ou alta (>20%)

soroprevalência de infecção por N. caninum, os abortos podem ser freqüentes e

distribuídos por todo ano. O risco de aborto é duas ou três vezes mais alto nos

rebanhos soropositivos do que nos soronegativos (PARÉ et al., 1997; MOEN et

al., 1998; DAVISON et al.,1999c).

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34

6 CONCLUSÕES

A partir dos resultados encontrados, podemos concluir que, na central

de transferência de embriões avaliada::

• Neospora caninum está presente em receptoras e doadoras de

embriões.

• A transmissão congênita de N. caninum e a ocorrência de

abortos são significativamente maiores em receptoras positivas.

• O título alto de anticorpos (≥1:400) influencia na ocorrência de

transmissão vertical de N. caninum.

• A positividade para N. caninum das doadoras de embriões não

interfere na produção dos embriões.

• A transferência de embriões é uma técnica segura para evitar a

transmissão vertical de N. caninum, quando são utilizadas

receptoras negativas.

• O diagnóstico sorológico em vacas receptoras é de fundamental

importância onde a transferência de embriões é desempenhada

rotineiramente.

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35

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