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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 3 1 1 8 6 RECURSO CRIMINAL (RC) N. 532-69.2012.6.24.0068 - CLASSE 31 - RECURSO CRIMINAL - 68 a ZONA ELEITORAL - BALNEÁRIO PIÇARRAS (PENHA) Relatora: Juíza Ana Cristina Ferro Blasi Recorrentes: Evaldo Eredes dos Navegantes e Carlos José Serpa Recorrido: Ministério Público Eleitoral - RECURSO CRIMINAL - ELEIÇÕES 2014 - ART. 331 DO CÓDIGO ELEITORAL. - PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL - PEÇA ACUSATÓRIA QUE NARRA O FATO DELITUOSO COM TODAS AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS DE ESPAÇO, TEMPO E MODO - DEFESA VIABILIZADA - REQUISITOS DO ART. 357 DO CÓDIGO ELEITORAL PREENCHIDOS - AFASTADA. - PERTURBAÇÃO DE PROPAGANDA ELEITORAL DE CANDIDATO AO CARGO DE PREFEITO - CAMPANHA PREJUDICADA EM RAZÃO DA PRESENÇA DE CARROS COM SOM ALTO - AMEAÇAS E INSULTOS PROFERIDOS POR INTEGRANTES DE COLIGAÇÃO ADVERSÁRIA - ATOS DE CAMPANHAS DESCONTINUADOS - IMPEDIMENTO DO REGULAR EXERCÍCIO DO DIREITO DE PROPAGANDA DO ENTÃO CANDIDATO - MATERIALIDADE DO DELITO CONFIGURADA. - PROVA TESTEMUNHAL QUE CONFIRMA A PARTICIPAÇÃO ATIVA DOS ACUSADOS NA CONDUTA ILÍCITA - AUTORIA CONFIRMADA. - ATO ILÍCITO OCORRIDO APÓS JÁ INICIADA A REGULAR ENTREGA DE PROPOSTA DE GOVERNO DE CASA EM CASA - CONDUTA TIPIFICADA PELO ART. 331 E, NÃO, PELO ART. 332 DO CÓDIGO ELEITORAL, CUJA CONFIGURAÇÃO EXIGE QUE A AÇÃO DELETÉRIA OBSTE O INÍCIO DA REALIZAÇÃO DE PROPAGANDA ELEITORAL REGULAR. - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - AUSÊNCIA DE COMPROVANTE DE RENDA RELATIVO À CAPACIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS ACUSADOS - APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE - RAZÃO APLICADA AO VALOR DE CADA DIA-MULTA REDUZIDA DE 3/30 PARA 1/30 DO SALÁRIO-MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS - PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

ACÓRDÃO N. 3 1 1 8 6

RECURSO CRIMINAL (RC) N. 532-69.2012.6.24.0068 - CLASSE 31 - RECURSO CRIMINAL - 68a ZONA ELEITORAL - BALNEÁRIO PIÇARRAS (PENHA) Relatora: Juíza Ana Cristina Ferro Blasi Recorrentes: Evaldo Eredes dos Navegantes e Carlos José Serpa Recorrido: Ministério Público Eleitoral

- RECURSO CRIMINAL - ELEIÇÕES 2014 - ART. 331 DO CÓDIGO ELEITORAL.

- PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL - PEÇA ACUSATÓRIA QUE NARRA O FATO DELITUOSO COM TODAS AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS DE ESPAÇO, TEMPO E MODO - DEFESA VIABILIZADA - REQUISITOS DO ART. 357 DO CÓDIGO ELEITORAL PREENCHIDOS - AFASTADA.

- PERTURBAÇÃO DE PROPAGANDA ELEITORAL DE CANDIDATO AO CARGO DE PREFEITO - CAMPANHA PREJUDICADA EM RAZÃO DA PRESENÇA DE CARROS COM SOM ALTO - AMEAÇAS E INSULTOS PROFERIDOS POR INTEGRANTES DE COLIGAÇÃO ADVERSÁRIA - ATOS DE CAMPANHAS DESCONTINUADOS - IMPEDIMENTO DO REGULAR EXERCÍCIO DO DIREITO DE PROPAGANDA DO ENTÃO CANDIDATO - MATERIALIDADE DO DELITO CONFIGURADA.

- PROVA TESTEMUNHAL QUE CONFIRMA A PARTICIPAÇÃO ATIVA DOS ACUSADOS NA CONDUTA ILÍCITA - AUTORIA CONFIRMADA.

- ATO ILÍCITO OCORRIDO APÓS JÁ INICIADA A REGULAR ENTREGA DE PROPOSTA DE GOVERNO DE CASA EM CASA - CONDUTA TIPIFICADA PELO ART. 331 E, NÃO, PELO ART. 332 DO CÓDIGO ELEITORAL, CUJA CONFIGURAÇÃO EXIGE QUE A AÇÃO DELETÉRIA OBSTE O INÍCIO DA REALIZAÇÃO DE PROPAGANDA ELEITORAL REGULAR.

- MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - AUSÊNCIA DE COMPROVANTE DE RENDA RELATIVO À CAPACIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS ACUSADOS - APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE - RAZÃO APLICADA AO VALOR DE CADA DIA-MULTA REDUZIDA DE 3/30 PARA 1/30 DO SALÁRIO-MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS -PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO CRIMINAL (RC) N. 532-69.2012.6.24.0068 - CLASSE 31 - RECURSO CRIMINAL - 68a ZONA ELEITORAL - BALNEÁRIO PIÇARRAS (PENHA)

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso a ele dar parcial provimento, apenas para reduzir a razão aplicada ao valor de cada dia-multa de 3/30 para 1/30 do salário mínimo vigente à data dos fatos, nos termos do voto da Relatora, que fica fazendo parte integrante da decisão.

Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Florianópolis, 29 de fevereiro de 2016.

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R E L A T Ó R I O

Trata-se de recurso interposto por Evaldo Eredes dos Navegantes e Carlos José Serpa contra decisão proferida pelo Juízo da 68a Zona Eleitoral -Balneário Piçarras (fls. 141-147) que, julgando procedente denúncia do Ministério Público Eleitoral, os condenou ao pagamento de multa individual no valor de R$ 5.598,00 (cinco mil, quinhentos e noventa e oito reais), a ser corrigido monetariamente pelo índice do INPC desde a data do fato, acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir do trânsito em julgado da decisão, por infração ao art. 331 do Código Eleitoral combinado com o art. 29 do Código Penal.

A inicial de fls. 2-4 relata que o direito de liberdade à propaganda do então candidato ao cargo de prefeito, Aquiles José Schneider da Costa, teria sido tolhido por adversários de campanha. Consigna-se que, no dia 13.9.2012, no curso do período matutino, no momento em que entregava aos munícipes residentes na Comunidade de Olaria no Município de Penha, sua proposta de governo, teria sido interrompido pelos acusados Evaldo Eredes dos Navegantes e Carlos José Serpa, os quais — juntamente com outros integrantes da Coligação "Juntos e Melhor" —, o teriam impedido, assim como a seus correligionários, de dar continuidade aos atos de campanha, ao fazerem uso de som altíssimo oriundo de 5 (cinco) automóveis estacionados nas imediações, intimidando os presentes com ameaças e o uso de palavras de baixo calão.

Conquanto se trate de crime de menor potencial ofensivo, deixou-se de oferecer a proposta de transação penal, uma vez que os acusados já teriam sido agraciados anteriormente com o mesmo benefício. Sucessivamente, ofereceu-se a suspensão condicional do processo, que, aceita por ambos, restou homologada em audiência admonitória (fl. 94). Posteriormente, ante a ausência de cumprimento das condições impostas pelos acusados, revogou-se o benefício, dando-se prosseguimento ao feito (fl. 121).

Em sua peça recursal (fls. 154-164), suscitam os recorrentes a inépcia da inicial, ao argumento de que o procedimento se encontra basicamente amparado na comunicação de infração por candidato adversário, não tendo a denúncia descrito pormenorizadamente os fatos e elementares, o que viria em prejuízo ao exercício da ampla defesa, além de se mostrar contrária à legislação vigente. No mérito, sustentam que as provas amealhadas não seriam suficientes para comprovar a ocorrência da infração, sobretudo por não restar evidenciado o dolo específico necessário à sua configuração. Aduzem que, após a interferência da polícia militar, as próprias vítimas teriam confirmado que puderam continuar com a propaganda eleitoral. Requerem o acolhimento da preliminar, para que seja reconhecida a nulidade do feito ou, no mérito, o provimento do recurso, para que, reformada a sentença, sejam absolvidos da imputação ou, alternativamente, reenquadrada a tipificação penal, para o crime previsto no art. 332 do Código

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Eleitoral, bem como a redução do valor do dia-multa aplicado, considerando-se a condição econômica dos réus.

Em sede de contrarrazões (fls. 169-174), o representante ministerial de primeiro grau infirma a alegada inépcia da inicial, por entender que o fato delituoso foi devidamente descrito, em todos os seus contornos, com a qualificação dos recorrentes e o rol de testemunhas. No mérito, defende a manutenção da sentença, por restarem configuradas a materialidade e a autoria do crime previsto no art. 331 do Código Eleitoral.

Nesta instância, a Procuradoria Regional Eleitoral opina pelo conhecimento e desprovimento do recurso (fls. 180-185).

É o relatório.

V O T O

A SENHORA JUÍZA ANA CRISTINA FERRO BLASI (Relatora): Sr. Presidente, o recurso preenche os requisitos de admissibilidade, pelo que dele conheço.

Cumpre analisar, inicialmente, a preliminar de nulidade do feito por inépcia da inicial suscitada no recurso, por descumprimento ao contido no art. 357, § 2° do Código Eleitoral.

Sustentam os recorrentes que a denúncia se encontra basicamente amparada em notícia-crime formulada por candidato antagonista, sem a devida pormenorização dos fatos e elementares, o que teria prejudicado a elaboração de suas defesas.

Lendo-se a peça acusatória, todavia, possível verificar que os requisitos de admissibilidade da denúncia previstos tanto no art. 41 do Código de Processo Penal quanto no § 2o do art. 357 do Código Eleitoral foram preenchidos, pois realizada a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias; a qualificação dos acusados; a classificação do crime e apresentação do rol das testemunhas.

Encontram-se, portanto, presentes os necessários indícios de materialidade e de autoria, os quais ensejaram o recebimento da denúncia pelo Juiz a quo.

Com efeito, a narrativa detalhada na inicial não deixa dúvidas quanto à conduta na qual teriam incidido os acusados, a finalidade de sua prática — embaraçar o direito dos candidatos adversos de promover sua propaganda eleitoral —, tendo-lhes sido permitido tomar conhecimento da acusação e de todas as suas

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elementares, viabilizando a clara exposição da tese de defesa e o pleno exercício do contraditório nestes autos.

Este Tribunal Regional Eleitoral, em recente julgamento, decidiu que "não há como declarar a inépcia da peça acusatória, porquanto descreve, mesmo que de forma sucinta, a conduta e suas circunstâncias, apontando com manifesta clareza os supostos autores do delito eleitoral [...]" [TRESC. Ac. 30211, de 15.10.2014, Rei. Juiz Sérgio Roberto Baasch Luz].

Não é inepta a peça acusatória, se esta narra o fato delituoso com todas as suas circunstâncias de espaço, tempo e modo, viabilizando o pleno exercício de defesa.

Ultrapassada a preliminar, passo ao exame de mérito.

No curso da investigação policial, em apuração à representação de fls. 2-140 — Notícia-Crime n. 290-13.2012.6.24.0068 —, foram coligidos elementos que caracterizariam a possível prática do crime previsto no art. 331 do Código Eleitoral pelos acusados Evaldo Eredes dos Navegantes e Carlos José Serpa em desfavor do então candidato ao cargo de Prefeito do Município de Penha, Aquiles José Schneider da Costa, nas Eleições de 2012.

Com base no procedimento investigatório, o Ministério Público Eleitoral ofereceu a denúncia de fls. 2-3, nos seguintes termos:

Consta dos autos, que no dia 13 de setembro de 2012, o candidato a Prefeito de Penha, Aquiles José Schneider da Costa, no período matutino, na Rua Pedro Ferreira, na comunidade Vila Olaria, na Penha, juntamente com outros candidatos da Coligação "PRA FAZER MAIS E MELHOR", estava se locomovendo de casa em casa, entregando sua proposta de governo, exercendo seu direito de fazer propaganda eleitoral, quando foi interrompido pelos denunciados, que eram integrantes da Coligação adversária "JUNTOS E MELHOR".

Segundo a vítima, os denunciados, junto com outras pessoas, chegaram ao local, após cinco veículos com som altíssimo já estar impedindo o diálogo com os eleitores, após descerem de seus carros, se colocaram nas laterais da via, em posição de intimidação, provocando o acionamento da Polícia Militar.

Além disso, os denunciados ameaçaram a vítima e proferiram palavras de baixo calão para as pessoas que ali estavam, inclusive uma senhora, candidata a vereadora Rosalva Maria A. Nusda.

Assim agindo, incorreram os denunciados no disposto no art. 331 do Código Eleitoral c/c o artigo 29 do Código Penal.

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Segundo o articulado pelo autor, estaria configurada, em tese, a prática do ilícito previsto no art. 331 do Código Eleitoral, a seguir descrito:

Art. 331. Inutilizar, alterar ou perturbar meio de propaganda devidamente empregado:

Pena - detenção até seis meses ou pagamento de 90 a 120 dias-multa.

O tipo penal tem por objetivo assegurar aos candidatos o direito de veicular suas ideias políticas e programas de governo aos eleitores durante o pleito, sem censuras, respeitada a legislação eleitoral vigente. Logo, ilícita torna-se a conduta que tenta perturbar o regular exercício do direito de propaganda eleitoral.

Na lição de Suzana de Camargo Gomes: "[.••] a objetividade jurídica do tipo penal em questão está justamente na tutela a ser conferida à liberdade de propaganda. Protege a norma eleitoral o direito à propaganda eleitoral levada a efeito através de meios e modos legítimos, lícitos [...]" (Crimes Eleitorais. São Paulo: RT. 2000, p. 171).

O crime eleitoral se caracteriza pela inutilização, alteração ou perturbação de publicidade utilizada pelo candidato em sua campanha, não configurando a prática ilícita a destruição, a modificação ou a realização de empecilhos à propaganda que não se presta mais para o fim a que foi destinada.

Além disso, constitui elemento essencial do tipo o dolo genérico, ou seja, a vontade livre e consciente de atrapalhar, destruir ou adulterar a propaganda de candidato ou de partido.

Basta, para que o agente seja incurso nas penas do ilícito eleitoral, a prática, ao menos, de uma das condutas núcleo descritas no dispositivo legal.

Trata-se de crime de consumação imediata, configurado com a efetiva inutilização, alteração ou perturbação da propaganda eleitoral, independentemente da natureza do dano causado ao candidato ou partido, sendo admissível sua forma tentada.

No caso em exame, Evaldo Eredes dos Navegantes e Carlos José Serpa foram condenados por perturbarem meio de propaganda legitimamente empregado, tendo sido ambos incursos nas sanções do art. 331 do Código Eleitoral e apenados ao pagamento de multa individual no valor de R$ 5.598,00 (cinco mil, quinhentos e noventa e oito reais).

Em sua defesa, os recorrentes alegam que a notícia efetuada por Aquiles José Schneider da Costa sobre a ocorrência de infração penal imputada a Evaldo Eredes dos Navegantes e de Carlos José Serpa (fls. 2-6) — único subsídio a amparar a denúncia — não passaria de um artifício para denegrir a imagem dos

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acusados, em decorrência das desavenças políticas havidas entre os candidatos adversários.

Nesse sentido, afirmam que, apesar de haver prova de que no local dos eventos se encontrariam pelo menos 8 (oito) pessoas, a denúncia se limitou a imputar a responsabilidade criminal apenas aos réus.

Além disso, sustentam a ausência de dolo específico, ao argumento de que não teria sido demonstrado eventual prejuízo na realização da propaganda eleitoral de Aquiles José Schneider da Costa, uma vez que, após a intercessão da polícia militar, os ânimos teriam sido arrefecidos e a ordem reestabelecida, possibilitando a continuidade da campanha dos candidatos.

Todavia, a produção probatória, sobretudo os testemunhos colhidos, na fase inquisitorial e na judicial, corrobora, com a necessária certeza, a ocorrência da conduta e a participação ativa dos acusados nos fatos tidos como ilícitos, conforme a seguir exposto.

As declarações da vítima Aquiles Jose Schneider da Costa, então candidato ao cargo de Prefeito do Município de Penha pela Coligação "Pra Fazer Mais e Melhor" (PMDB/PT/PDT/PCdoB/PSC), perante a autoridade policial esclarece, de forma minudente, a sucessão dos fatos ocorridos naquela manhã:

[...] Que, na data de 13/9/2012, no período da manhã deslocou para a localidade de Olaria, para realizarem campanha política, que consistia em abordar as pessoas nas casas, entregando também o material de campanha, o qual possuía plano de governo, em forma de jornal; Que, em determinado momento começaram a chegar veículos de som de propaganda política do partido político contrário (PSDB); Que, chegaram cerca de 5 veículos; Que, lembra que eram os veículos: Chevy de cor branca, dois Fiat Strada de cor vermelha, um Fiat Fiorino de cor branca e um caminhão de cor amarela; Que os veículos estacionaram próximo a comitiva do depoente, aumentando bastante o volume, de uma maneira que não conseguiam conversar com as pessoas; Que, também viu o veículo de Sandro coordenador de campanha do PSDB e da pessoa conhecida como Zinha, motorista do Prefeito de Penha e a pessoa de Evaldo, irmão do Prefeito, além de outras; Que, estacionaram nos dois lados da via, no final da Rua Pedro Ferreira, formando um corredor; Que, a pessoa de Zinha passava com seu veículo Peugeot de cor branca, fazendo manobras do tipo frenagem e arrancadas nos dois lados da via, no final da Rua Pedro Ferreira, formando um corredor; Que, a comitiva do depoente seguiu, passando pelo local, sendo que quando chegou até eles, a pessoa de Evaldo falou para o depoente: "você vai ver o que eu vou fazer contigo após a eleição". [...] Que, a pessoa de Zinha investiu contra a candidata a vereadora Rosalva, dizendo: "você não deveria trazer o grupo do PMDB para pedir voto nesse local", referindo-se à candidata que reside na| Olaria, assim como veio a empurrá-la; [...] [fls. 25-26]. j

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Da mesma forma, a declarante Rosalva Maria Anhaia Nusda, à época concorrente ao cargo de vereador pela mesma coligação, também participante da comitiva, acrescentou em seu depoimento:

[...] Que, a depoente estava dentro da casa da moradora de nome Regiane e quando saiu no portão foi agredida verbalmente pela pessoa conhecida como "Zinha" (Carlos José Serpa", "Sandro" (Alessandro Rubens da Silva) e "Maurício" (Maurício Olívio Brockeld); Que, a pessoa de Zinha gritando, apontando-lhe o dedo lhe falou: você não passa de uma sem vergonha, pisando no chão do Evandro, você vivia comendo barro e pó, e hoje está pisando no limpo. [...] Que, não foi possível continuar com o trabalho da campanha eleitoral naquele momento, pelo ocorrido [fls. 27-28].

As versões encontram ressonância na prova judicial produzida, pois são uníssonas as testemunhas ao afirmar que presenciaram, entre outros correligionários da oposição, os recorrentes impedirem a continuidade dos atos de campanha da comitiva do PMDB na Vila Olaria na manhã do dia 13.9.2012.

Reafirmou o candidato majoritário, em depoimento compromissado, que estava distribuindo panfletos com seu programa de governo aos residentes da Vila Olaria no final da manhã do dia 13.9.2012, no Município de Penha, juntamente com outros candidatos a vereador da Coligação "Pra Fazer Mais e Melhor", ocasião em que teria sido obstado de promover sua campanha por vários correligionários da Coligação "Juntos e Melhor" (PSDB/DEM/PSD/PP/PR/PRB/PPS/PSB/PTN), entre eles os ora acusados, que se aproximaram da localidade conduzindo carros com som altíssimo, impedindo-os de conversarem com os eleitores, e intimidaram os presentes ao proferirem ameaças e palavras de baixo calão ao final do trajeto que faziam a pé pela comunidade.

Os depoimentos compromissados prestados por Carlos Dovino Georg e Fabiano Nunes, ambos candidatos ao cargo de vereador pelo PMDB, integrantes da mesma comitiva, reforçam a certeza da conduta ilícita praticada pelos recorrentes.

Segundo se pode destacar do testemunho de Carlos Dovino Georg, as desavenças havidas entre as coligações adversárias e o clima tenso que se instalou, os teria impossibilitado de prosseguir com a campanha naquele dia:

[...] num determinado momento, quando a gente estava lá, começamos a escutar música alta, um som alto, que era a música de campanha do outro partido, da outra coligação, e a gente foi chegando mais próximo da música, e quando nós chegamos na rua em que eles estavam, 2 ou 3 carros, com carro de som bem forte, aí, praticamente impossibilitou, né, a gente até de conversar com o eleitor na rua, por causa que o som era alto. [...]

[...] quando nós fomos nos aproximando do local onde eles estavam, eu percebi que já existia uma exaltação do pessoal que estava meio nervoso*

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com a nossa presença ali e eu me adiantei e chamei a polícia, o apoio da polícia, antes que começasse qualquer tumulto.

[...] praticamente impediram nossa passagem naquela rua ali, com algumas palavras, xingamentos e falando que aquela rua eles tinham calçado, que todo aquele bairro ali tinham calçado, feito a pavimentação e que a gente não deveria estar pedindo voto lá [...].

[...] vieram para cima dele [Paulo], com o dedo, querendo empurrar, e eu cheguei mais perto, e a polícia já estava chegando neste momento, e ele teve que andar de costas para não ser, né, porque a pessoa vem para empurrar. Para evitar o confronto [...].

[...] a polícia ficou ali, né, teve um bate-boca, nome daqui, nome dali, então, depois [...] eu não recordo muito bem, mas eu acho que a gente saiu para outro bairro, ou acabou a campanha aquele dia e voltamos para o diretório [...]. [...] o cronograma do dia era completar aquele bairro, todas as ruas, de casa em casa, que foi na nossa campanha. [...] não, não conseguimos fazer aquele dia [CD def l . 133].

Confirmou o depoente, ainda, a efetiva presença dos acusados no iocal dos fatos e a participação ativa destes nas ações ofensivas.

Por sua vez, o depoimento judicial de Rosalva Maria Anhaia Nusda ratifica aquele anteriormente prestado na fase investigatória, dele realçando-se o relato de que os membros da coligação adversa teriam, inclusive, fechado a rua, de modo a impedir a continuidade da realização da propaganda eleitoral.

Narrou a depoente, ademais, que teria sido chamada de "sem-vergonha" e "vagabunda" pelos correligionários da Coligação "Juntos e Melhor", entre eles o réu Carlos José Serpa, conhecido como "Zinha", por realizar campanha em favor do PMDB. Os xingamentos teriam como justificativa o fato de ser moradora do local e não se mostrar agradecida ou valorizar as benfeitorias realizadas pelo então prefeito do PSDB, em especial, o pavimento de ruas naquela comunidade.

Ao depor, o réu Evaldo Eredes dos Navegantes não nega sua presença no local, mas afirma que lá teria ido para realizar campanha própria, acompanhado de seus correligionários e de carros de som. Destaca, porém, que o conflito havido entre os oponentes foi gerado a partir da informação de que os correligionários do PMDB, integrantes da Coligação "Pra Fazer Mais e Melhor", juntamente com a proposta de governo, estariam distribuindo aos residentes da Vila Olaria cópia do Jornal Diarinho, que exibia notícia prejudicial ao candidato da Coligação "Juntos e Melhor". Negou, todavia, houvessem insultado ou agredido seus oponentes.

Ouvido em Juízo, o réu Carlos José Serpa minimizou a importância do ocorrido, aduzindo que todas as circunstâncias narradas teriam sido

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"potencializadas" pelos oponentes, mas, nega, do mesmo modo, tenham sido proferidas palavras de baixo calão ou ofensas a qualquer dos correligionários do PMDB.

As testemunhas de defesa, Alexsandro Rubens da Silva e Dorval Carvalho Gonçalves aduziram que estiveram no local.

O primeiro depoente, aliás, esclareceu ter ouvido "comentários que o partido da oposição (MPDB) estava entregando alguns materiais que não convinham com seus interesses; que os partidos se encontraram e houve discussão; [...] que a polícia chegou e as pessoas dispersaram; ...; que tinha um carro de som" [fl. 144].

Não há dúvidas da materialidade e da autoria da conduta ilícita, não se mostrando razoável a justificativa dos acusados de que teriam comparecido na Vila Olaria apenas para verificar se a Coligação "Pra Fazer Mais e Melhor" realmente estava distribuindo material publicitário desfavorável ao candidato do PSDB às eleições de 2012, sobretudo por não haver elementos de prova desconstitutivos dos fatos.

A alegada dissensão entre as chapas adversárias — diga-se, iniciada por provocação dos correligionários do PSDB —, não é motivo para elidir a responsabilidade criminal dos acusados.

Como antes expendido, o tolhimento na consecução dos atos de campanha do PMDB e a intimidação provocada pelos correligionários do PSDB, em especial, a ação dos ora acusados, afetaram profundamente o clima amistoso da campanha eleitoral daquele dia, tornando inviável, após o ocorrido, a sua continuidade.

Reforça essa certeza a divulgação de matérias nos periódicos on line Beira da Praia, Litoral Norte de Santa Catarina e Megafone (cópias às fls. 13-18), que relatam o incidente, conforme trechos a seguir reproduzidos:

O encontro de militantes das coligações "Pra Fazer Mais e Melhor" (PMDB, PT, PDT, PCdoB e PSC) e "Juntos e Melhor" (PSDB, DEM, PSD, PP, PR, PRB, PPS, PSB e PTN) acabou em confronto nas ruas da localidade da Olaria, entre Armação e Gravatá, na última quinta-feira, dia 13.

[...]

Vendo a campanha da oposição em ação, os situacionistas ligaram os carros de som e após circularem várias vezes pelas ruas da localidadei os estacionaram no final da rua Pedro Ferreira, aguardando a chegada do grupo de Aquiles, que descia a rua. J

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No momento em que os militantes vermelhos tentaram chegar ao fim da rua, o grupo de amarelo se altercou com eles, e o bate-boca quase chegou as vias de fato, quando o ex-secretário de obras, Alessandro Rubens da Silva, foi para cima do presidente do PDT, Paulinho Roberto Silveira. A briga só foi evitada porque militantes de ambas as coligações se interpuseram no meio.

[...]

Por causa do incidente, a Justiça Eleitoral de Balneário Piçarras marcou uma reunião com as coordenações de campanha de ambas as chapas para tentar evitar novos incidentes durante a campanha [Jornal on Une Beira da Praia, Litoral Norte de Santa Catarina fls. 13-14 - grifou-se].

Nada obstante, importa reiterar que a caracterização da infração em análise prescinde do seu resultado, consumando-se com a mera prática da conduta tipificada, "independentemente da natureza do dano causado ao partido ou candidato que estava a utilizar meio de propaganda legítimo", conforme enunciado por Suzana de Camargo Gomes [op.cit., p. 173].

Confirmada a materialidade, a autoria e o dolo genérico exigido para o delito em questão, deve ser mantida a condenação dos apelantes pela prática, em concurso, do delito prescrito no art. 331 do Código Eleitoral.

Nesse sentido, os precedentes:

RECURSO CRIMINAL. AÇÃO PENAL ELEITORAL. ART. 331 DO CÓDIGO ELEITORAL. PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. AUTORIA, MATERIALIDADE E DOLO COMPROVADOS. PROPAGANDA ELEITORAL - "BANNER" -DANIFICADA POR CANDIDATO ADVERSÁRIO. IDONEIDADE DAS TESTEMUNHAS. CONJUNTO PROBATÓRIO HARMÔNICO SUFICIENTEMENTE ROBUSTO PARA SUSTENTAR A CONDENAÇÃO DO RECORRENTE. DOSIMETRIA. AUSÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIAS QUE ENSEJEM A FIXAÇÃO DA PENA BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL, BEM COMO O AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DA PENA IMPOSTA. MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO. RECURSO CRIMINAL DESPROVIDO [TRE-SP. Recurso Criminal n. 17.862, de 1.9.2015, rei. Juíza Marli Marques Ferreira - grifou-se]

EMENTA. RECURSO CRIMINAL DESTRUIÇÃO DE MATERIAL DE PROPAGANDA ELEITORAL. ARTIGO 331, DO CÓDIGO ELEITORAL.

A denúncia que aborda todos os elementos objetivos e subjetivos exigidos! pelo art. 41, do CPP é apta a ensejar a condenação, uma vez que assegurados os princípios da ampla defesa e contraditório. PRELIMINAR» REJEITADA. I

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO CRIMINAL (RC) N. 532-69.2012.6.24.0068 - CLASSE 31 - RECURSO CRIMINAL - 68a ZONA ELEITORAL - BALNEÁRIO PIÇARRAS (PENHA)

A inutilização de propaganda devidamente empregada resta comprovada quando as testemunhas oculares afirmam extreme de dúvida quem fora o autor do desiderato criminoso. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO [TRE-PR. Processo n. 21.222, Ac. n. 38.640, de 16.6.2010, Rei. Juiz Roberto Antônio Massaro - grifou-se].

Por fim, pedem os recorrentes o reenquadramento dos fatos, alegando que a conduta não se subsumiria ao tipo do art. 331, mas, sim, ao do art. 332 do Código Eleitoral, pois não teria havido o impedimento do regular exercício de propaganda eleitoral.

Conquanto o bem jurídico tutelado em ambos os dispositivos seja a liberdade de propaganda eleitoral, tem-se que a conduta capitulada no art. 331 do Código Eleitoral versa sobre a supressão da propaganda regularmente efetuada já em curso, tipificando-se a prevista no art. 332 do Código Eleitoral no momento em que se obsta o início do exercício dessa garantia legal.

Nesse sentido, ensina Rui Stoco:

Mas, embora o bem jurídico protegido seja o mesmo, ou seja, a liberdade de fazer propaganda eleitoral nos termos do permissivo legal, ao contrário do que estabelece o art. 331 do mesmo Código, que pressupõe a ação do agente contra propaganda já existente [...], a figura do art. 332 refere-se a propaganda que não chegou a ser veiculada por ação ou omissão do sujeito ativo.

É o que esclarece Fávila Ribeiro: "na primeira modalidade, a ação danosa é dirigida contra a propaganda já executada ou que perturbe após iniciada a sua execução, enquanto que na outra modalidade o exercício da propaganda é obstado, não se podendo iniciar por causa da nefasta interferência do autor do delito, autoridade ou particular" (Direito Eleitoral, Rio de Janeiro: Forense, 1988, p. 658) [Legislação Eleitoral Interpretada. São Paulo: RT. 2006, p. 767].

Como visto, a prova produzida deixou evidenciada a intenção dos recorrentes de frustrar a campanha do candidato opositor Aquiles José Schneider da Costa e de seus correligionários do PMDB — interrompendo-os no momento em que ainda visitavam os eleitores —, não só pelo tom dos insultos e impropérios desferidos, quanto pela ideia de que, por serem os supostos responsáveis pelos melhoramentos no bairro Vila Olaria, não poderiam seus adversários realizar campanha eleitoral naquela comunidade.

Não há dúvida, portanto, que a ação deletéria se enquadra na conduta típica prevista no art. 331 do Código Eleitoral.

No que tange à dosimetria da pena, Evaldo Eredes dos Navegantes j e Carlos José Serpa foram condenados ao pagamento individual de 90 dias-multa,j

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sendo cada dia-multa arbitrada à razão de 3/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos.

Na primeira fase, ponderadas as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, restou fixada a pena base no mínimo legal, ou seja, 90 dias-multa.

Já na segunda fase, não se fazendo presentes nenhuma das atenuantes ou agravantes previstas no art. 62, III, do Código Penal, foi mantida a penalidade pecuniária antes cominada.

Na terceira fase da dosimetria, anotou o Juízo de primeiro grau a falta de causas especiais de diminuição e de aumento de pena, tornando definitiva a reprimenda em 90 dias-multa, cada qual à razão de 3/30 do salário-mínimo vigente à época dos fatos, considerada a situação econômico-financeira ostentada pelos réus.

Em setembro de 2012, o salário-mínimo vigente era de R$ 622,00, correspondendo cada dia-multa (3/30) a R$ 62,20, que, multiplicado pela quantidade de dias-multa ao fim fixada, resultou em R$ 5.598,00 para cada réu, com o acréscimo de juros de mora de 1% ao mês a contar do trânsito em julgado da decisão.

No que tange ao requerimento para minoração da pena, tem-se que esta merece a devida retificação, pois o montante devido mostra-se bastante excessivo, notadamente quando se leva em consideração o padrão de vida de um servidor público municipal do interior do Estado de Santa Catarina e a ausência de comprovante de renda que demonstre a efetiva capacidade econômico-financeira dos acusados.

Diante disso, entendo aplicáveis os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade apenas para reduzir a razão aplicada ao valor de cada dia-multa para 1/30 do salário-mínimo vigente à data dos fatos, ou seja, de R$ 20,73 para cada dia-multa, que, multiplicado por 90 dias-multa, corresponde à soma de R$ 1.865,70 para cada réu.

Ante o exposto, conheço do recurso e a ele dou parcial provimento, para manter a condenação de Carlos José Serpa e de Evaldo Eredes dos Navegantes, ante a configuração do delito previsto no art. 331 do Código Eleitoral, mas, reduzir, à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos o valor do dia-multa arbitrado, fixando, ao final, a reprimenda em R$ 1.865,70 para cada réu, valor que deve ser corrigido monetariamente pelo índice INPC desde a data do fato, além de acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a fluir do trânsito em julgado desta decisão.

É o voto. r I

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

EXTRATO DE ATA

RECURSO CRIMINAL N° 532-69.2012.6.24.0068 - RECURSO CRIMINAL - AÇÃO PENAL - CRIME ELEITORAL - PROPAGANDA ELEITORAL - PERTURBAÇÃO DE MEIO DE PROPAGANDA DEVIDAMENTE EMPREGADO - ART. 331 DO CÓDIGO ELEITORAL C/C ART. 29 DO CÓDIGO PENAL - PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO CRIMINAL - 68a ZONA ELEITORAL - BALNEÁRIO PIÇARRAS RELATORA: JUÍZA ANA CRISTINA FERRO BLASI

RECORRENTE(S): EVALDO EREDES DOS NAVEGANTES; CARLOS JOSÉ SERPA ADVOGADO(S): WLAMIR MENDONÇA FERREIRA DA SILVA RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ SÉRGIO ROBERTO BAASCH LUZ PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: MARCELO DA MOTA

Decisão: à unanimidade, conhecer do recurso, afastar a preliminar de inépcia da inicial e, no mérito, a ele dar parcial provimento, reduzindo o valor de cada dia-multa arbitrado para 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, nos termos do voto da Relatora. Foi assinado o acórdão n. 31186. Presentes os Juízes Sérgio Roberto Baasch Luz, Antonio do Rêgo Monteiro Rocha, Davidson Jahn Mello, Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli, Alcides Vettorazzi, Hélio David Vieira Figueira dos Santos e Ana Cristina Ferro Blasi.

SESSÃO DE 29.02.2016.

R E M E S S A

Aos dias do mês de de 2016 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações Processuais - CRIP. Eu,

, Coordenador de Apoio ao Pleno, lavrei o presente termo.