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UCAM
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
PSICOPEDAGOGIA E O TOC NA ESCOLA PREPARATÓRIA:UM ESTUDO DE CASO
MARIA DE FÁTIMA GRANGEIA CARDOSO
ORIENTADORA: PROFESSORA MARIA POPPE
RIO DE JANEIRO 2010
2
UCAM
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PSICOPEDAGOGIA E O TOC NA ESCOLA PREPARATÓRIA:UM ESTUDO DE CASO
MONOGRAFIA APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE PSICOPEDAGOGIA, DO INSTITUTO A VEZ DO MESTRE, UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES COM REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE
PSICOPEDAGOGA.
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
MARIA DE FÁTIMA GRANGEIA CARDOSO
RIO DE JANEIRO 2010
3
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar, pois ele me possibilita
viver a cada dia ;
À Ana Carolina G. Cardoso pelo auxílio e orientação
na formatação da pesquisa;
Aos professores do Instituto A Vez do Mestre, que
elucidaram a minha pesquisa;
Às pessoas que, direta e indiretamente contribuíram
para a realização desse trabalho acadêmico.
À minha mãe por cuidar da sua família com tanta
dedicação.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa aos meus filhos José
Augusto e Ana Carolina que tanto colaboraram
para a realização e elaboração deste projeto
com paciência, com incentivo , com apoio e
confiança em minha pessoa.
5
RESUMO
O presente trabalho tem a finalidade de reconhecer o sujeito com TOC e a
partir dessa identificação , encaminhá-lo e sua família aos especialistas como
o neurologista, o psiquiatra ,o psicólogo e o psicopedagogo para que possam
receber todos os esclarecimentos necessários sobre esse transtorno . Acredita-
se que esse assunto seja de extrema importância, pois através da pesquisa e
coletando elementos relevantes ao tratamento e/ou acompanhamento, pode-
se realizar uma avaliação do comportamento e investigar o diagnóstico, para
que a intervenção seja eficaz na diminuição dos ritos prejudiciais à interação do
sujeito com os outros alunos.O diagnóstico nada mais é do que uma relação
entre o aprendente e o ensinante na instituição escolar que permite o acesso à
relação do sujeito com o conhecimento, face aos aspectos corporais ,
intelectuais e afetivos.
Nesse sentido a intervenção deverá sugerir tratamento diferenciado , já que
ela contribui no procedimento investigatório do pensamento infantil, pensando-
se na escola como agente formador e transformador para pleno
desenvolvimento da aprendizagem da criança.
Assim , pode-se recorrer ao psicopedagogo para estruturar formas de ações
e ou intervenções psicopedagógicas que clareiam o caminho percorrido pelos
sujeitos. Nesta pesquisa destacar-se-á alguns desses aspectos para que ,tanto
o educador como os cuidadores , sintam-se seguros e orientados quanto a
forma de lidar com o sujeito com transtorno obsessivo-compulsivo.
6
METODOLOGIA
Para desenvolver esta pesquisa,que trata-se de um estudo de caso e,
segundo Lüdke e Marli (1986) ,é sempre bem delimitado, devendo ter seus
contornos claramente bem definidos no seu desenrolar e, portanto , incide
naquilo que ele tem de único , de particular, mesmo que posteriormente venha
a ficar evidente certas semelhanças com outros casos ou situações ;fez-se
necessário realizar um trabalho de campo composto por observação do sujeito
na Instituição Educacional, entrevista com o mesmo , com seus cuidadores e
alguns professores.
Além desse procedimento,alguns autores, especialistas em transtornos
obsessivos e em psicopedagogia ,permearão a fundamentação teórica do
caso, entre eles Ahmed Okasha(1990), Martine F. Flament (1988) , David
Cohen (1999), que são especialistas em diagnóstico do TOC, a psicóloga Maria
Ângela Sandoval (2007) especialista em terapia comportamental, as
especilistas em psicopedagogia Dayse Serra(2004) e Aline Lamoglia
(2009)com suas teorias sobre inclusão , a psicóloga Sonia Casarin (2009) ,
que também fundamenta a inclusão do sujeito , Pain(1985) enriquecerá os
estudos sobre intervenção psicopedagógica e Marta Pires Relvas (2007) ,
especialista em Fisiologia Humana que contribuirá com suas teorias sobre o
afeto.
As entrevistas e/ou questinários farão parte da pesquisa e serão
apresentadas nos capítulos a seguir, assim como o material didático do aluno
(páginas dos seus cadernos) que será escaneado e anexado ao trabalho.
7
SUMÁRIO Introdução................................................................................................ 9 Capítulo I: Reconhecer o sujeito com transtorno obsessivo-compulsivo 1.1 – O que é o TOC................................................................................ 13 1.2–Diagnóstico diferencial feito por especialistas.................................. 14
1.3-Diagnóstico por Etiologia do TOC feito por especialistas................. 16
1.4– Avaliação e Abordagem do TOC feito por especialistas.................. 17
1.5– Insight e Aspectos Psicológicos do TOC......................................... 18
1.6–TOC- Dados de um País em Desenvolvimento ............................... 19
Capítulo II: Estudo e análise do caso específico
2.1- Entrevista com os cuidadores ......................................................... 21
2.2-Entrevista com o sujeito.................................................................... 23
2.3-Avaliação de laudo............................................................................ 25
2.4-Observações diárias no aspecto acadêmico dentro da Instituição
Educacional............................................................................................ 26
2.5-Análise do seu material didático..................................................... 27
2.6-Entrevista com professores........................................................... 27
Capítulo III: Intervenções psicopedagógicas, psicológicas e farmacológicas
3.1-Inclusão do sujeito com TOC na Instituição...................................... 29
3.2-Afetividade e aprendizagem................................................................ 31
3.3-A importância e a realidade das práticas psicopedagógicas............... 33
3.4-A intervenção psicopedagógica institucional nas dificuçldades de
aprendizagem do sujeito com TOC............................................................ 34
3.5-Tratamento psicofarmacológico......................................................... ..37
3.6-Terapia cognitivo-comportamental(TCC).............................................. 37
83.7- Resultados a curto e longo prazo ........................................................38
Conclusão....................................................................................................39
Bibliografia...................................................................................................41
Anexos.........................................................................................................43
Índice ..........................................................................................................50
9
INTRODUÇÃO
Na atualidade, muitos educadores não estão preparados para trabalhar em
sala de aula com alunos que apresentam dificuldades, sejam elas quais forem.
É mais fácil trabalhar a criança que já chega pronta, dá menos trabalho.
O Tema a ser analisado, pesquisado, abordado neste trabalho é como
incluir um sujeito com Toc em uma escola que possui turmas preparatórias
para concursos técnicos e vestibulares ,com sucesso .
A experiência no magistério e o estudo da psicopedagogia pode mostrar a
importância de incluir o sujeito que apresenta algum tipo de transtorno, no
processo de aprendizagem humana e nas relações interpessoais.
Para esses indivíduos que não têm capacidade de se concentrar, que não
prestam a atenção no que está sendo passado, solicitado,se distraem com a
sua compulsividade de movimentos ,é muito preocupante para os pais e
professores, porque nunca conseguem terminar uma atividade, tudo vai ficando
incompleto, passam a ter má reputação com professores e técnicos,
prejudicam os relacionamentos com os pais e irmãos e , quando adultos,
podem ter conflitos ainda maiores em casa e/ou no trabalho se não forem bem
orientados , bem conduzidos.
A proposta deste estudo é investigar o diagnóstico e encaminhar o sujeito
com Toc, para que a intervenção seja eficaz na diminuição dos
comportamentos ritualísticos prejudiciais a sua interação com outras pessoas
na Instituição.
Torna-se necessário reconhecer a diferença desse sujeito , assumir a tarefa
de reproduzir conhecimento, emancipá-lo dentro da Instituição e levá-lo aos
concursos, através da aplicação do raciocínio na manipulação do conteúdo
escolar e cultural de maneira que ele se identifique e se aproprie da utilização
dos conceitos aprendidos em qualquer situação.
Nos capítulos seguintes deste trabalho serão expostos os objetivos
propriamente ditos como, reconhecer o transtorno mais especificamente
através de diagnósticos feitos por especialistas ,realização de trabalho de
campo por meio de entrevistas, observações,análise das avaliações
10terapêuticas, avaliar os relacionamentos construídos pelo sujeito e suas
dificuldades em mantê-los ;investigar seus aspectos psicológicos e afetivos
para que a partir desta análise possa-se definir a intervenção psicopedagógica
e propor os encaminhamentos necessários para que esse sujeito tenha
sucesso em sua vida acadêmica , familiar e social .
11
CAPÍTULO I
RECONHECER O SUJEITO COM TRANSTORNO
OBCESSIVO-COMPULSIVO
Ao iniciar este capítulo,faz-se necessário entender o que é um transtorno de
aprendizagem , para que em seguida possa-se reconhecer e analisar o TOC.
O transtorno de aprendizagem compreende uma inabilidade específica,
como leitura, escrita ou matemática, concentração e/ou atenção, em indivíduos
que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para seu
nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual (Flament,
1988).
O aprendizado é um processo complexo e dinâmico que resulta em
modificações estruturais e funcionais do SNC. As modificações ocorrem a partir
de um ato motor e perceptivo que, elaborado no córtex cerebral, dá origem à
cognição ( Flament,1988).
A dificuldade de aprendizagem pode ser classificada, levando-se em conta
as funções afetadas que são as psicológicas superiores. Estas são aprendidas
desde o nascimento e são fundamentais para o aprendizado formal.Podem ser
detectadas nos primeiros anos de vida , utilizando-se instrumentos de
avaliação do desenvolvimento neurológico, como o exame neurológico
evolutivo dos três aos sete anos de idade e o exame das funções cerebrais
superiores a partir dos oito anos. Esse conjunto de testes permite detectar
distúrbios da atenção, da memória, das gnosias, das praxias, da linguagem oral
e escrita (Cohen,1994).
Após a detecção dos principais problemas que interferem na aprendizagem,
o escolar deve ser encaminhado ao tratamento específico, e deve ser
acompanhado constantemente, pois, a cada momento, o foco deve estar
centrado nas dificuldades da criança. Nesse momento, cabe a intervenção do
psicopedagogo,que prioriza a aprendizagem humana, situada além dos limites
da Psicologia e da própria Pedagogia ,que ocupa-se com o aprender,como
12produz-se as alterações nesse processo, como reconhecê-las, tratá-las e
preveni-las. O psicopedagogo tem como função identificar a estrutura do
sujeito, suas transformações no tempo, influências do seu meio nestas
transformações e seu relacionamento com o aprender. Este saber exige do
psicopedagogo o conhecimento do processo de aprendizagem e todas as suas
inter-relações com outros fatores que podem influenciá-lo, das influências
emocionais, sociais, pedagógicas e orgânicas. Conhecer os fundamentos da
Psicopedagogia implica refletir sobre suas origens teóricas e entender como
estas áreas de conhecimento são aproveitadas e transformadas num novo
quadro teórico próprio, nascido de sementes em comum (Bossa, 1990).
Abaixo , algumas patologias associadas às dificuldades de aprendizagem.
-Epilepsia
-Transtorno de humor bipolar
-Transtorno de humor depressivo
-Transtorno da ansiedade
-Transtorno de conduta
-Transtorno de tiques
-Transtorno de déficit de atenção
Esquirol , há mais de três séculos, no seu famoso livro Tratado das Doenças
Mentais” (Flament,1988), identificou uma síndrome relacionada ao transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC). Os primeiros relatos refletiam a cultura
predominante dos observadores.Pode-se fazer uma relação com a síndrome
da melancolia, com a perda da vontade e com a natureza irracional dos
pensamentos, associados à psicose .
O TOC constitui exemplo do resultado positivo das pesquisas modernas
sobre transtornos mentais. Até a década de 80, era considerado incomum e
pouco responsivo a tratamento. Agora, reconhece-se que a sua maior
prevalência foi a melhor resposta ao tratamento
Tais estudos foram objetos de crítica. Isso porque o Diagnóstic Interview
Schedule – DIS, usado pela maioria dos estudos para avaliar a sintomatologia,
foi desenvolvido para aplicação por entrevistadores leigos, e não por
13psiquiatras. Nos estudos em que os entrevistadores eram psiquiatras, os
índices de TOC foram mais baixos; mesmo assim é incontestável que o TOC
seja um transtorno altamente prevalente em diversos países.
Os portadores de TOC do sexo masculino costumam ficar solteiros. O Cross-
National Epidemiological Study confirmou que a proporção entre homens e
mulheres varia entre 1,2% e 1,6% . Entre crianças,porém , há mais meninos
que meninas em tratamento.Tais diferenças entre sexos apontam indícios para
investigação de processos neurobiológicos subjacentes.
1.1- O que é o Transtorno obsessivo-compulsivo?
O TOC é identificado pela presença de obsessões e/ou compulsões. Essa
definição se aplica à CID-10 e ao DSM-VI. As obsessões são pensamentos,
impulsos ou imagens persistentemente recorrentes experimentados como
intrusivos , inadequados e perturbadores indo muito além de preocupações
excessivas com problemas reais.As compulsões são comportamentos
repetitivos ou atos mentais que a pessoa se sente compelida a realizar de
acordo com determinada regra aplicada rigidamente para reduzir o desconforto
ou evitar algum resultado temido. As obsessões e as compulsões são
egodistônicas, consideradas pelo próprio sujeito como irracionais ou não –
realistas, tanto que há tentativa de resistir a elas. Em crianças e adolescentes,
elas podem se manter ocultas por bastante tempo ou só aparecer em casa ou
na presença de familiares mais próximos. Constituem sempre fonte de
perturbação psicológica e interferem no funcionamento pessoal e ocupacional,
na vida social e nas relações com os outros.As obsessões mais comuns são
centradas nos medos de sujeira, nos rituais repetitivos como lavar, repetir ,
verificar, tocar, arrumar, contar, acumular. Toro e colaboradores (1999)
descrevem uma série de 72 crianças e adolescentes com TOC em Barcelona ,
na qual as compulsões mais comuns eram rituais de repetir e limpar .
Tipicamente , as crianças e os adolescentes com Toc experimentam
obsessões e compulsões múltiplas cujo conteúdo pode mudar com o tempo.
Geralmente as compulsões são executadas para eliminar a ansiedade e/ou em
reação a uma obsessão,como impedir danos a alguém. Certas crianças com
14TOC não consegum especificar os eventos temíveis que teoricamente seus
rituais compulsivos afastariam, tendo apenas vaga premonição de que algo
ruim pode acontecer (Swedo ,1989).O início do TOC em crianças pode ser
agudo ou gradual. Familiares ou os próprios sujeitos acreditam que um fato
específico pode precipitar o início de seu comportamento obsessivo-
compulsivo.Todavia os fatos mais comuns envolvem eventos familiares
estressantes ou medos desenvolvidos a partir de programas de televisão; em
outras palavras, geralmente não se trata de evento particularmente traumático
ou alguma situação com a qual crianças não costumam se deparar.
1.2- Diagnóstico diferencial feito por especialistas
Diferenciar o TOC dos outros transtornos pode causar uma certa
dificuldade.O diagnóstico diferencial caracteriza-se por transtornos de humor,
de ansiedade e delirantes , bem como transtorno de espectro impulsivo e
transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva.
Realizando-se um histórico cuidadoso, todavia ,normalmente possibilita
diagnóstico preciso.Por exemplo, indivíduos com transtorno da personalidade
obsessivo-compulsiva não tem obsessões ou compulsões. Eles apresentam
uma preocupação crônica e abrangente essencialmente egossintônica, embora
possam ter consciência das conseqüências negativas de seu traço,
(Goodman,1989).
Observa-se que alguns sujeitos com TOC experimentam ataques de pânico,
porém são secundários relacionando-se com seus temores
obsessivos.Segundo os critérios do DSM-IV, os ataques espontâneos de
pânico são pré-requisitos para que se configure o transtorno e como poucos
sujeitos com pânico já apresentam rituais, é fácil distinguir o seu quadro do
caracterizado pelo TOC.
A depressão faz-se presente no diagnóstico do TOC , acompanhada de
ruminações com possível caráter obsessivo e ; tendo como pano de fundo o
humor deprimido. Vale a pena mencionar o fato de que pacientes com
transtorno da personalidade borderline ,que demonstram pensamentos e
sentimentos intensos sobre determinado tema , podem atribuir esses sintomas
ao TOC (Geller ,1996) .
15 O diagnóstico do TOC em jovens é claramente distinto durante o
desenvolvimento infantil , os quais podemos incluir as ações de ir para a cama,
não pisar na junções ou rachaduras do piso, contar , ter números de sorte e de
azar e querer as coisas no lugar certo. Esse sintomas aparecem em ambos os
sexos, são mais intensos por volta dos quatro anos, enfatizam as regras
associadas à rotina, ajudam a criança a manejar sua ansiedade e reforçam o
processo de socialização. Eles tendem a desaparecer aos oito anos. Já os
rituais obsessivo-compulsivos são percebidos como indesejáveis e irracionais ,
deixando a criança incapacitante e sofrida, provocando o isolamento social e
comportamentos regressivos.
O TOC deve ser diferenciado de outros transtornos de ansiedade. Na fobias,
os sujeitos só se preocupam com seus medos quando se deparam com os
estímulos fóbicos, no transtorno de ansiedade de separação, o medo de danos
aos pais ou a algum ente querido é parte de preocupações persistentes e
comportamentos que não são objeto de crítica da criança (Cohen,1999).
No retardo mental , no autismo e em outros transtornos desenvolvimentais
invasivos, os movimentos estereotipados e os comportamentos ritualísticos são
freqüentes.Não transmitem, contudo, qualquer intencionalidade em particular e,
apesar de constituírem fonte de dano funcional e de incomodar outras pessoas,
não causam desconforto à criança, que não tenta lhes resistir (Flament,1999).
Jovens infanto-juvenis com TOC podem agir de modo bizarro e ter
convicção quase delirante, assemelhando-se de forma errônea aos pacientes
esquisofrênicos. No TOC , a ausência de transtornos do pensamento e de
alucinações e a preservação do teste de realidade fora da área de
preocupação obsessiva podem ajudar a diferenciá-lo da esquisofrenia.No
entanto , Geller e colaboradores(Maj, Sartorius, Okasha e Zohar-1992)
registraram características psicóticas em 30% de uma amostra juvenil com
TOC . Por outro lado, os sintomas psicomotores da esquisofrenia catatônica
podem mimetizar os rituais obsessivo-compulsivos quando os pacientes são
incapazes de expressar seus fenômenos alucinatórios. A esquisofrenia também
pode ocorrer, porém, o conceito de TOC delirante não foi estendido ao grupo
pediátrico.
16 Existem escalas que foram desenvolvidas para ajudar o diagnóstico do TOC
e na medida do grau de eficácia de seu tratamento , cabe aos especialistas as
verificarem e as vantagens e desvantagens de usá-las.
Há tentativas de identificar possível relação entre oTOC e outros transtornos
mentais, principalmente o de depressão maior e os de ansiedade. Weizman e
colaboradores (1986), demonstraram que nove entre dez sujeitos não
medicados apresentaram diminuição da reação do hormônio estimulador da
tireóide à estimulação do hormônio liberador da tirotropina . Isso demonstra
alguma disfunção do eixo hipotálamo-pituitária-tireóide e sugere ligação entre o
TOC e o transtorno de humor.Contudo a especificidade do teste ainda é
questionada.
1.3- Diagnóstico por Etiologia do TOC feito por especialistas
Através de avaliação lúdica e prática , o professor Okasha (1990) conclui
que o diagnóstico do TOC é relativamente simples , que exige a presença de
apenas um dentre dois fenômenos clínicos(obsessões, compulsões ou ambas).
O TOC identifica-se como o quarto transtorno mental em ocorrência e em
grau de prejuízo, conforme a conceituação em DALYs(anos de vida ajustados
pela incapacidade).Os medidores para avaliação do TOC vêm sendo
aprimorados e podem ser de grande valia nas avaliações da gravidade do
transtorno e da melhora após o tratamento. O seu tratamento eficaz exige
diagnóstico preciso e avaliação completa do quadro.
Faz-se necessário a análise de estudos adicionais para melhor
compreendermos a possível relação entre a personalidade e o transtorno
obsessivo-compulsivo.Propomos estudos de campo que validem sua
classificação como uma doença predominantemente obsessiva ou compulsiva
ou com tipos mistos.
17
1.4-Avaliação e Abordagem do TOC feito por especialistas
Uma característica clínica importantíssima do transtorno obsessivo-
compulsivo é o segredo mantido pelos pacientes sobre sua condição. Como
aponta o professor Okasha(1994), tal ocultamento dos sintomas é fator
importante na subestimação da verdadeira incidência da doença.Apesar de já
ser mais fácil reconhecer clinicamente esse transtorno, a dissimulação de
sintomas, a vergonha e a negação, por parte dos sujeitos, continuam a
influenciar a avaliação, o tratamento e a validade dos resultados da
pesquisa.Torna-se difícil para o sujeito com TOC relatar espontâneamente
seus sintomas a profissionais de saúde ou mesmo a familiares próximos.
Assim, como o sujeito é dominado pelos seus sintomas e pelo pensamento
obsessivo , demonstra-se frequentemente anti-social ,pois teme ser censurado
ou desaprovado ao revelar a doença.Existe,também , a razão para crer que o
segredo tenha função própria na formação e na perpetuação dos sintomas do
TOC, os quais servem para proteger contra dolorosa ansiedade.Alunos com
TOC preocupam-se muito com a aprovação de outras pessoas . Segundo
Okasha(1994), seu reconhecimento ou negação da falta de sentido dos
sintomas costuma basear-se no que pressupõe ser as expectativas dos
entrevistadores ou dos formuladores das escalas de auto-avaliação.A baixa
confiabilidade é provavelmente fruto do formato de resposta(sim ou não) para
as questões formuladas.
Uma avaliação diagnóstica clínica e psicopedagógica adequada pode obter
dados do aluno de modo objetivo e não ameaçador.Tal atitude também é
conveniente ao longo do tratamento e no acompanhamento de características
específicas da doença.Para se determinar se o sujeito é exagerado na
verificação das coisas , pode-se coletar informações sobre os seus trabalhos
em sala de aula, se lida com papéis e tarefas repetitivas, sua rotina de estudo
em casa , quais os ritos que apresenta em dias de provas,quantas vezes ele
verifica a tranca da porta antes de sair, quantas vezes olha se o forno está
ligado, quanto tempo leva para se vestir ao levantar? E quanto a limpeza, deve-
se investigar os hábitos do sujeito com relação à arrumação da casa, às ações
18de banhar-se e de lavar as mãos e se evita contaminações e sujeira
excessivamente.
Avaliando-se o pensamento obsessivo, pode-se obter informações
relevantes através de suas dificuldades da vida diária.O clínico e o
psicopedagogo devem investigar se durante o sono aparecem pensamentos
perturbadores ou repetitivos que mantenham o sujeito desperto .Caso seja
relatado distrações e falta de concentração na escola, pode-se perguntar sobre
preocupações freqüentes.
Começamos a reconhecer e a tratar uma condição há muito oculta. Para
expandir nosso conhecimento sobre ela e tratá-la com eficácia, não devemos
nos apressar em julgamentos ou formulações prematuras; antes devemos
empregar nossas melhores capacidades de compreensão e conduta
clínica(Rothenberg,1986).
1.5- Insight e Aspectos Psicológicos do TOC
Nos últimos anos , tem-se realizado várias pesquisas sobre o TOC . O
professor Okasha aponta novas possibilidades no que se refere às questões do
insight e do potencial de teorização psicológica no processo diagnóstico do
TOC.
A maneira de os sujeitos julgarem suas obsessões e compulsões
(intrusivas, sem sentido, inapropriadas, irrealistas, exageradas, etc.), isto é, seu
grau de insight, é de crucial importância no diagnóstico e no tratamento do
TOC e dos transtornos associados (Cohen-1998).
Deve-se avaliar o insght utilizando abordagens dimensionais, como admite o
professor Okasha.Assim, pode-se considerar duas condições como extremos
de um contínuo. Pode-se , como sugerem alguns autores, no meio do contínuo,
colocar a noção de idéia supervalorizada( conceito há muito estabelecido por
Wernicke) .O sujeito pode dizer”Sei que é estúpido lavar minhas mãos, mas...”
(obsessões) ou “ Lavo minhas mãos constantemente porque estão tentando
me contaminar com germes e eu ficarei doente”(delírios).” Pode ainda insistir:”
Mesmo que as possibilidades sejam remotas, o preço de contrair uma doença
perigosa é alto demais para eu correr o risco de não lavá-las”(idéia
19supervalorizada). Eisen(1999) e colaboradores concluíram que o insight não
existe em um contínuo e que cerca de um quarto dos sujeitos com TOC podem
ter insight pobre, mas só poucos são francamente delirantes.
Abordagens cognitivo-comportamentais sugerem que certas convicções e
pressuposições atuam na cadeia patogênica de eventos que conduzem ao
TOC e/ou o mantêm . Identifica-se o excesso de responsabilidade, convicção
segundo o qual dois domínios de crenças são relevantes: o sujeito é
responsável pela intrusão e pelas perigosas conseqüências percebidas e pelas
pressuposições disfuncionais sobre a relação entre pensamento e ações.Essas
proposições estão em estágio preliminar de desenvolvimento.
1.6- TOC- Dados de um País em Desenvolvimento
Os sintomas do TOC chamam a atenção dos pesquisadores e clínicos desde
o surgimento das psiquiatrias de adultos e de crianças. Por constituírem um
dos transtornos que mais afetam o comportamento, sentimentos e cognições
humanos, são provavelmente fortes representantes dos desenvolvimentos
paradigmáticos na psiquiatria em todos os tempos.
Desde a forte conceituação psicanalítica nos primeiros estágios da
compreensão etiológica até a noção orientada mais biologicamente, a
psiquiatria infantil vem lidando com o transtorno obsessivo-compulsivo não
apenas como uma condição clínica de impacto significativo sobre o
funcionamento geral do sujeito, mas também como um modelo dos transtornos
mentais em sua fenomenologia(Berganza C.E. 1996).
Flament e Cohen apresentam abrangente revisão do TOC em crianças e
adolescentes, examinado a extensa literatura e resumindo as evidências mais
sólidas em questões relativas à prevalência à morbidade, à fenomenologia, à
etiologia e ao tratamento, entre outras.Pela pesquisa feita , pode-se concluir
que a prevalência desse transtorno parece muito semelhante em diferentes
países do mundo , incluindo-se o Brasil . Discute-se o fato de como a cultura
afeta sua fenomenologia, especialmente em países em desenvolvimento ou em
culturas menos sofisticadas; e como pode ajudar aos pesquisadores a
20identificar os casos , escolher o tratamento, o acompanhamento específico e a
sua efetividade.
Os sintomas obsessivo-compulsivos associam-se a altos níveis de disfunção
psicossocial , logo os portadores de TOC que não são tratados , apresentam
dificuldades marcantes em sua rotina.
Sendo assim , apesar das questões etiológicas dominarem o interesse dos
pesquisadores do TOC, acredita-se ser importante a influência cultural na
identificação desse transtorno, permitindo aos pesquisadores uma
sensibilidade diagnóstica maior em diferentes países, principalmente em
desenvolvimento , pois se não houver o encaminhamento específico e o
tratamento por parte das famílias , a escola não vai conseguir o resultado
esperado; podendo levar esse aluno ao fracasso .
21
CAPÍTULO II
ESTUDO E ANÁLISE DO CASO ESPECÍFICO
Segundo Goode e Hatt (1968), o caso se destaca por se constituir numa
unidade dentro de um sistema mais amplo. O interesse, portanto, incide naquilo
que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente venham a ficar
evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações. Quando
queremos estudar algo singular, que tenha um valor em si mesmo, devemos
escolher o estudo de caso.
Pretende-se buscar retratar a realidade de forma completa e profunda,
revelando a inter-relação dos seus componentes.
Realizou-se observações diárias na escola,onde pode-se coletar
informações sobre as atitudes apresentadas pelo sujeito em relação ao corpo
discente,ao seu relacionamento com o corpo docente e em relação ao modo
como lidava com o seu material escolar.Todas essas anamnéses foram
realizadas em diferentes momentos de sua rotina escolar. A pesquisa foi feita
em uma escola preparatória ( com turmas regulares e turmas preparatórias),
pretendeu-se observar situações de sala de aula, de reuniões de grupo, de
recreio, de entrada e de saída ;coletou-se dados no início do semestre, após o
recesso no meio do ano e durante o quarto bimestre do ano letivo.Ouviu-se
professores, os cuidadores e o sujeito.
2.1-Entrevista com os cuidadores
Escolheu-se inicialmente , os seus cuidadores (pai e mãe) para serem
entrevistados , pois a partir dessa anamnése poder-se-ia entender alguns
sintomas que vieram a se apresentar pelo sujeito em um momento de sua vida
escolar.
2.1.1- Como foi a vida sentimental do casal?
22 O namoro foi conturbado,mas com muito amor. A família não queria a união.
Muitos ciúmes por parte da esposa.Estão casados até hoje.
2.1.2-Como foi a gestação?
A gestação muito precária , pois estavam desempregados. Não foi desejada,
através do uso incorreto de preservativo.A família recomendou o aborto.
2.1.3-Como foram os nove meses?
Fez o acompanhamento da gestação em hospital público com muita
dificuldade. Chegou a pegar sarna.
2.1.4-Como foi o parto?
Difícil. A bacia era estreita , o sujeito ficou preso na bacia sem
passagem.;durando três horas e meia. O sujeito nasceu roxo, engoliu líquido
amniótico e fezes.
2.1.5-Foi parto normal ou cesariana?
Cesariana.
2.1.6-Como se passou o primeiro ano do sujeito ?
Nos primeiros quinze dias, ele apresentou uma bronquite, depois foi normal
como todo bebezinho, até os doze meses.
2.1.7-Com que idade ele engatinhou, sentou-se, andou , falou?
Ele engatinhou com dez meses, andou com doze meses e falou aos dois
anos de idade.
2.1.8-Como foi a sua alimentação?
Fez uso do leite materno e posteriormente de alimentação normal.
2.1.9-Na pré-escola,como foi o seu desenvolvimento,o seu relacionamento, já
apresentava algum sintoma?
Foi para a escola aos dezessete meses . Não se relacionava bem com as
outras crianças , batia nas meninas, não parava quieto, queria fazer os deveres
dos colegas para irem logo para o recreio, pois só sairiam quando todos
acabassem. Cumpria rigorosamente todas as suas tarefas.
2.1.10-Foi alfabetizado com que idade?
Aos cinco anos. Nesse momento, o sujeito teve meningite viral e aos seis
anos teve miosite, ficando um ano sem andar.
2.1.12-Repetiu alguma série?
23 O sétimo ano.
2.1.13-Como e quem percebeu os primeiros ritos(atitudes ritualísticas)?
A Instituiçao educacional Colégio Paranapuâ , pelas atitudes apresentadas
nesta escola.
2.1.14-Como reagia se fosse questionado com relação aos ritos?
Com muita tristeza, queria morrer. O único modo de disfarçar os ritos era
fazer brincadeiras, chamar atenção para outras coisas, para saciar a
ansiedade.
2.1.15-Como e que procedimentos vocês tomaram?
Buscamos o tratamento na Santa Casa com Neuropsiquiatra , com psicólogo
e psicopedagogo.
2.1.16-Como surgiu o primeiro sintoma?
Quando ele tinha dez anos , aconteceu uma discussão entre a cuidadora e
uma vizinha por causa do sujeito. A vizinha teve uma convulsão,foi levada por
ambulância para o hospital .Acuidadora foi ameaçada, discriminada pelos
vizinhos e ele se sentiu culpado pelo sofrimento da mãe.Ficou um ano sem
descer para o play do prédio. O psicólogo fez uma hipnose onde o sujeito
afirmou que o que lhe amedronta é aquela vizinha. Quando a vê, sente que
algo ruim vai acontecer , logo começam os ritos.
2.1.17-Como você vê, observa seu filho?
Sujeito de coração maravilhoso, porém rebelde pela idade. Ações
ritualísticas intensas e não quer tomar a medicação.
2.2- Entrevista com o sujeito
Esse momento da entrevista com o sujeito foi muito especial, pois com
dificuldades ele começou a falar de si mesmo, situação esta que o incomoda
muito,e que na verdade ele tem medo.
2.2.1-Como é sua relação familiar?
Sou atencioso com todos .
2.2.2-Você se identifica mais com seu pai ou sua mãe?
24 Com a minha mãe . Dependo muito dela.
2.2.3-Você possui irmãos? O que sente em relação a ele?
Sim ,um mais velho. Orgulho, amor.
2.2.4-Como é seu relacionamento com ele?
Somos amigos.
2.2.5-Há alguma pessoa que você se relacione mais ou melhor?
Meu primo Lucas de dezessete anos.
2.2.6-Como você se vê?Auto-imagem?
Sou vaidoso, gosto de mim , de me arrumar ,mas quando persevero não me
gosto.
2.2.7-Quando percebeu que precisava perseverar?
Aos dez anos , com o incidente da vizinha com a minha mãe.
2.2.8-Que sentimentos precedem a prática dos ritos?
Medo de perdas, medo de algo ruim acontecer.
2.2.9-Quando acontecem?
A maioria à noite antes de dormir.
2.2.10-Usa medicamentos?
Sim , ritalina e anti-depressivo .
2.2.11-Como se sente com o medicamento?
Careta. Não sou eu, por isso não gosto de tomar.
Após as entrevistas pode-se observar que o sujeito sofreu para nascer, mas
desenvolveu-se normalmente até os dez anos , quando ocorreu uma situação
em que ele apresentou muito medo ; medo de perder sua cuidadora, medo que
a cuidadora fosse culpada pelo o que acontecera à vizinha, medo de acontecer
algo ruim. Esse episódio foi um marco , um detonador dos ritos. A partir desse
momento as atitudes ritualísticas não pararam mais. Observou-se,também,
uma relutância em tomar as medicações; fato este que dificulta o tratamento e
prolonga a aquisição de resultados positivos. O sujeito passou a ter um outro
tipo de vida e tem sofrido muito com essa realidade, por mais
acompanhamentos e tratamentos que ele tenha feito e que esteja fazendo.
25
2.3-Avaliação de laudo
Observa-se que o diagnóstico médico comprova o que já havia sido
observado pelos docentes e pela equipe pedagógica . Com esse laudo em
mãos pode-se realizar uma intervenção psicopedagógica com esse sujeito ,
para que ele possa melhorar sua qualidade de vida pessoal,social e
acadêmica.
26
2.4-Observações diárias no aspecto acadêmico dentro da
Instituição Educacional
O referido aluno veio para a instituição citada no sétimo ano, onde
apresentou grandes dificuldades de concentrar-se em sala de aula, ficar
sentado realizando atividades, queria ir ao banheiro a todo instante. Sua
caligrafia apresentava perseverança , assemelhando-se a rasura.Seu caderno
e seus trabalhos eram muito confusos, rasurados ; as letras eram reescritas
várias vezes no mesmo lugar,ou seja,perseveradas. A turma passou a rejeitá-
lo,pois não parava quieto e tirava a atenção dos colegas. Ninguém queria ficar
perto dele,tornando-se excluído na sala de aula. A família foi orientada a
realizar avaliações com especialistas que pudessem ajudar a instituição a
melhorar a vida cidadã e acadêmica desse sujeito. Na escola, fez
acompanhamento com a psicóloga e a psicopedagoga. Através das avaliações
realizadas pelos médicos e os especialistas, identificou-se que o sujeito
apresentava sintomas de TOC. Iniciou-se uma nova etapa na vida desta
família. Passou a fazer acompanhamento com neurologista, psiquiatra,
psicólogo e psicopedagogo. Começou-se a observar melhora na permanência
em sala de aula, a medicação o fez acalmar-se, logo conseguia realizar as
tarefas e se relacionar com mais serenidade.Seus cadernos apresentavam-se
com mais capricho e menos perseverança ; consequentemente seu rendimento
melhorou e suas notas também. Não conseguiu passar de ano,porém no ano
seguinte tornou-se um exemplo dentro da Instituição, completamente adaptado
ao ritmo acadêmico , fazendo o acompanhamento dentro da instituição e
usando a medicação recomendada.
Neste ano, em que realizei estas observações, foi o melhor momento deste
sujeito ;pois ele foi identificado como aluno exemplar , em hábitos , atitudes,
comportamento, interesse e rendimento.
27
2.5-Análise de seu material didático
Anexou-se algumas páginas dos cadernos do sujeito, desde o momento em
que foi identificado suas dificuldades por intermédio do corpo docente e das
coordenações da instituição. Analisando a primeira página, pode-se observar
o quanto esse transtorno maltratava esse sujeito.A perseverança apresenta-se
em todas as palavras e na figura geométrica, demonstrando uma grande
confusão. Já as outras páginas anexadas vão caracterizando a melhora do
sujeito que passou a ter acompanhamento farmacológico e psicopedagógico.
Todas essas páginas podem ser avaliadas no anexo desta pesquisa.
Ao analisar o material didático coletado desse sujeito, percebe-se uma
evolução gradativa do seu amadurecimento, do seu controle, de sua
concentração, e também uma diminuição das atitudes ritualísticas , de
perseverança, consequentemente obteve-se mais rendimento e melhora no
processo da aprendizagem.
2.6-Entrevista com professores
Escolheu-se aqueles professores que tinham um número maior de tempos
com esse sujeito, como os de Língua Portuguesa, de Matemática , de História
e de Ciências, quatro professores,pois com certeza puderam realizar mais
observações diárias.
2.6.1-O que vocês observaram sobre o referido aluno?
Ao chegar em nossa escola, o referido aluno apresentava-se muito
inquieto,não conseguia realizar as tarefas, não se relacionava bem com os
colegas,estava sempre criando situações inadequadas com os outros para
chamar atenção para si mesmo.
2.6.2-Como lidaram com essa situação?
O primeiro ano desse sujeito,quando chegou na escola, foi muito difícil,pois
não sabía-se ainda ,de fato, qual era a sua dificuldade.Após observações de
28toda a equipe docente, das coordenações , da psicóloga e psicopedagoga , o
sujeito foi encaminhado aos especialistas para que pudessem realizar testes e
exames.
2.6.3-Como vocês lidavam com o grupo?
Mostrando as crianças que o colega precisava de todos da sala ; que ele
tinha que se sentir útil, confiante,seguro e ser considerado como um amigo.
2.6.4-Como o grupo reagiu?
Inicialmente, com resistência,mas o sujeito foi incluído no grupo.
Após o contato com os professores, pode-se observar o quanto é difícil para
os docentes compreenderem um sujeito com dificuldades e incluí-lo dentro do
contexto. É necessário ter-se muita determinação, competência e muito desejo
para fazê-lo.
Segundo o relato desses professores, pode-se perceber que todo o processo
foi realizado com grande resistência, tanto por parte dos alunos em sala de
aula, como também por parte do sujeito que não aceitava e nem compreendia
o que estava acontecendo.Para Jorge Visca(1987) é possível compreender a
participação dos aspectos afetivos, cognitivos e do meio que se unem ao
aprender do ser humano. Percebe-se que a intervenção plena de afetividade
realizada pela equipe docente,assim como pela psicopedagoga foi de
fundamental importância para o desenvolvimento do processo.A escola e os
professores têm papel importante também como “ mediadores” , pois estão
justapostos entre a criança e o mundo social, ao ministrarem conteúdos
pragmáticos e fundamentais à formação cidadã dos envolvidos. O enfoque
psicopedagógico da dificuldade de aprendizagem desse sujeito foi direcionado
de maneira interdisciplinar, buscando apoio em várias áreas do conhecimento e
analisou a aprendizagem no contexto escolar e familiar; e no aspecto afetivo,
cognitivo e biológico. Tarefa árdua dessa equipe em incluir esse sujeito com
sucesso, como ele se encontra hoje.
29
CAPÍTULO III
INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS,
PSICOLÒGICAS E
FARMACOLÓGICAS
Nos últimos anos, nossa compreensão da natureza, avaliação, tratamento e
acompanhamento dos transtornos infantis aumentou consideravelmente
(Cohen,1995). Conforme foram se incrementando os conhecimentos básicos,
foi ficando cada vez mais evidente que os modelos de adultos sobre a
psicopatologia, a avaliação, o tratamento e o acompanhamento psicopedagó –
gico não podem , simplesmente, extrapolar a infância. Neste capítulo , será
abordado as intervenções que devem ser feitas , levando-se em conta a
natureza do desenvolvimento na infância, isto é, as rápidas e irregulares
mudanças evolutivas que acontecem nas crianças,para que esse sujeito
consiga ser inserido e incluído nos grupos escolar, familiar e social com
sucesso.
3.1- Inclusão do sujeito com TOC na Instituição
Observa-se que a literatura sobre inclusão apresenta uma gama diversa de
conceitos. Para uns autores, inclusão e integração teriam o mesmo
sentido(Nunes,2000; Silva, 2004), porém nos documentos oficiais encontramos
a inclusão como uma evolução da integração, visto que na integração o aluno é
quem deveria se adaptar ao sistema escolar e caberia aos sistemas
educacionais oferecer o acesso. Já a inclusão envolveria uma gama de
alterações no ambiente e nas práticas pedagógicas para favorecer o
desenvolvimento do educando(MEC,2001). A inclusão deve ser definida a partir
30de uma educação de qualidade que contemple sujeitos com dificuldades em
qualquer nível de ensino.A inclusão envolve a comunidade escolar, familiares
e, principalmente, os alunos. Ela não pode ocorrer através de um manual ou
pela força de documentos políticos. Envolve culturas , políticas e práticas
pedagógicas, e, nesse caso, não só a diversidade do sujeito, mas também a
diversidade do contexto deverá ser considerada (Zamora,2002).
Para Vilhena(2002), a individualidade e as necessidades de cada um são
trocadas pelas características de um grupo, uma forma de classificar para
excluir .
Com relação às práticas pedagógicas, para que se efetivem, é necessário
que haja a garantia do funcionamento administrativo que garanta o
planejamento e a execusão das propostas pedagógicas e psicopedagógicas
pela mobilização de recursos dentro da instituição . As aulas precisam , acima
de tudo, ser acessíveis a todos os alunos, inclusive àqueles com dificuldades.
Visto que , o objetivo do psicopedagogo é intervir junto à aprendizagem.
Alicia Fernández (2001) relata que todo sujeito tem sua modalidade de
aprendizagem e os seus meios para construir o próprio conhecimento, e isso
significa uma maneira muito pessoal para se dirigir e construir o saber.A
aprendizagem é fruto da história de cada sujeito e das relações que ele
consegue estabelecer com o conhecimento ao longo da vida (Bossa,2000).
As causas do não aprender podem ser diversas; a tarefa não é fácil para os
educadores compreenderem essa pluricausalidade. É comum constatar que as
escolas rotulam e condenam esse grupo de alunos à repetência ou
multirrepetência, como também os colocam na berlinda, com adjetivos de
alunos “sem solução” e vítimas de uma desigualdade social.
Para Weiss(2000), a psicopedagogia deve considerar o sujeito como um ser
global, composto pelos aspectos orgânico, cognitivo, afetivo, social e
pedagógico.O aspecto orgânico diz respeito à construção biológica do sujeito,
portanto, a dificuldade de aprender estaria relacionada ao corpo. O aspecto
cognitivo está relacionado ao funcionamento das estruturas cognitivas. Nesse
caso, o problema de aprendizagem residiria nas estruturas do pensamento do
sujeito. O aspecto afetivo diz respeito à afetividade do sujeito e de sua relação
31com o aprender, com o desejo de aprender, pois o indivíduo pode não
conseguir estabeleçecer um vínculo com a aprendizagem. O aspecto social
refere-se à relação do sujeito com a família, com a sociedade, seu contexto
social e cultural. E por fim , o aspecto pedagógico que está relacionado como a
escola organiza o seu trabalho, ou seja, o método, a avaliação, os conteúdos ,
a forma de ministrar a aula. Pode-se afirmar, que o psicopedagogo tem a
atribuição de interar o sujeito com o meio.
3.2-Afetividade e aprendizagem
“ Amor é a capacidade de reconhecer
como semelhante aquele em quem as diferenças nos incomodam e
também encantam .” Teodor W. Adorno (1903-1969)
O homem é um diamante bruto. Assim como o diamante , que passa por
processos de cuidadosa lapidação para se tornar em uma bela e valiosa pedra,
assim também deve acontecer com o homem.
Carl Rogers diz:” Todo homem possui uma direção positiva no sentido do
crescimento, da maturidade e da socialização. Todo ser humano é dotado de
forças latentes , potencialidades, com a finalidade de atingir a harmonia
perante si mesmo e a sociedade”.
O sujeito só se realiza com o saber, a aprendizagem. Esta aprendizagem
permite capacitar a mente respeitando a individualidade, a maturidade, a parte
psicológica e o ambiente sociocultural de cada um , estimulando ,
desenvolvendo e exercitando assim suas habilidades particulares. È
necessário que os educadores e psicopedagogos tenham atenção para suas
ações pedagógicas e psicopedagógicas, pois são por meio delas que os
cérebros serão moldados em sua plasticidade cerebral.
O ensino que realmente causa impacto em quem o recebe não é o que
passa de uma mente para a outra, mas de coração para outro.Essa lei é a lei
32do coração , que só pode ser verdadeira se compreendermos o sentido da
palavra coração, que é coragem em ação, ou seja , emoção.
Transferir conhecimento de intelecto para intelecto é a relação mais simples
do mundo. Mas fazer esse trajeto pela via coração é bem mais difícil, porém
mais compensador, operando transformações na vida.Quando se aprende com
a razão, o afeto e com a emoção, sempre há algo a dizer sobre o que parece
ter aprendido, pois a aprendizagem torna-se mais verdadeira..
Segundo a terceira lei de Newton, a toda ação , corresponde a uma reação
com mesma intensidade e mesma direção.
Analisando esta lei, pose-se concluir que é mais racional refletir antes de
tomar qualquer decisão, pois a reação gera consequências de ações que
realizamos. É importante o equilíbrio entre a razão , a emoção e o afeto para
que os resultados sejam positivos tanto para o educador, quanto para o
educando (M.F.S. ,2009).
Não existem fórmulas mágicas para se obter um aprendizado eficiente,
usando a união entre a razão e a paixão, mas o mais importante é conhecer a
realidade dos estudantes, está presente naquilo que os interessam, isto é ,
trabalhar o emocional, visto que o educador estabelece vínculos com seus
estudantes e os mesmos jamais serão rompidos.
Sendo assim , a razão e a paixão dependem muito do fator inter-relacional
entre ensino e aprendizagem para surtir efeitos nos processos cognitivos e na
formação do sujeito. Essa relação depende muito mais do educador, pois é o
mediador do processo.As emoções básicas podem ser percebidas em sala de
aula, basta um olhar!Estudantes e educadores envolvidos em emoções: uma
aula bem humorada promove um bem -estar físico, psicológico, afetivo seguro,
liberando neurotransmissores favoráveis à aprendizagem. Os estímulos
externos que causam as reações emocionais e o significado que se dá a essas
reações são a maneira pela qual o humano expressa o resultado da
aprendizagem.
O mais importante é fazer do sujeito, no seu maior sentido e desafio que é
tornar-se pessoa e autor de sua vida . Esse é o principal papel que o educador
e o psicopedagogo exercem em seus estudantes, o de incentivadores, o de
33tocar no mais sublime ser: a essência de ser humano bioético,
independentemente de seus gêneros, etnias, culturas e dificuldades
(Relvas,2009).
3.3-A importância e a realidade das práticas psicopedagógicas
Os estudos sobre diagnóstico e intervenção precoces no campo das
dificuldades ganham cada vez mais importância no cenário acadêmico. Muitas
vezes são os professores que sinalizam para os pais que o desenvolvimento do
sujeito precisa ser observado de forma mais específica. É natural que diante de
um grupo de crianças , os desvios do desenvolvimento tornem-se mais
evidentes do que em casa, quando muitas vezes não se tem a possibilidade de
uma comparação com o desenvolvimento típico.A intervenção precoce consiste
em proporcionar a criança , através de intervenções específicas, habilidades
que permitam seguir o curso do desenvolvimento típico.Em todos os programas
de intervenção a participação da família é apontada como algo crucial, e
atualmente encontramos na literatura programas comprovadamente eficientes
( Klinger e Dawson,1992; Greenspan e Wieder, 200; Prizant,Wetherby e
rydell,2000 ).
No Ensino Fundamental e no Ensino Médio as propostas pedgógicas e
psicopedagógicas inclusivas na rede pública, nem sempre são possíveis. Entre
a suspeita dos cuidadores, a confirmação do diagnóstico e a aquisição de uma
vaga na rede de ensino, leva-se muito tempo(anos). Já nas instituições
particulares torna-se mais fácil esse acesso, pois os cuidadores estão
pagando.
Rocca(2005) aponta que uma das condições para a inclusão é a presença
de um professor assistente ou facilitador, pois nem sempre é possível contar
com um professor ou técnico com formação, e o comum é poder contar com
estagiários dos cursos de Pedagogia, Psicopedagogia ou Fonoaudiologia .
Cutler(2000) destaca que é possível encontrar diferenças de posicionamento
entre escolas particulares e públicas sobre inclusão,e que, com a inclusão séria
34e responsável verifica-se um custo elevado , porém é possível encontrar
posicionamentos muito diferenciados entre estes dois setores.
Percebe-se a importância da formação do professor para atuar nas classes
inclusivas e é comum discutir-se tais princípios na formação de professores da
Educação Básica, e talvez seja o momento de iniciarmos a discussão na
formação do professor do Ensino Superior (Nunes,2000).
3.4- A intervenção psicopedagógica institucional nas
dificuldades de aprendizagem do sujeito com TOC
A investigação psicopedagógica já demonstrou que a resposta à instrução
é diferente de criança para criança e de professor para professor, pois não se
deve esquecer que os professores são tão diferentes quanto os alunos, e que o
processo ensino-aprendizagem é muito mais complexo do que parece à
primeira vista. Acrescenta-se que a investigação é urgente, na medida em que
pode facilitar a utilização de processos de individualização, bem como
processos de integração (Fonseca,1995).
Ao avaliar os sujeitos que apresentam dificuldades de aprendizagem, vamos
encontrar diversas categorias.Haverá aqueles que de fato necessitam de uma
intervenção clínica, seja psicológica, psiquiátrica, psicopedagógica, ou
neurológica que é o caso do sujeito em estudo ,que precisa de todas essas
intervenções, mas haverá aqueles que o problema pode ser resolvido dentro do
contexto escolar, por meio de programas individualizados de ensino e de
práticas psicopedagógicas diferenciadas.Dessa forma, a avaliação torna-se um
elemento muito importante para traçarmos o caminho a seguir. Avaliar não para
classificar , para rotular, mas para promover alternativas.
Quando o sujeito apresenta dificuldades, cabe ao psicopedagogo valorizar
suas potencialidades.Experimentando alguns sucessos, pode-se abrir uma
porta para a construção de um vínculo positivo com as demais áreas da
aprendizagem que o sujeito precisa aprimorar.
A sala de aula é um espaço dialético, pois ao mesmo tempo que aprender é
um processo individual, na escola, ele ocorre na coletividade. Cabe ao
35professor oferecer momentos de individualidade e momentos de coletividade
na construção da aprendizagem.Para a Psicopeagogia os papéis de ensinante
e aprendente se alternam o tempo todo,pois aprendemos diariamente com os
nossos alunos.O ensinante deve elaborar a prática docente e modo que ela
fique mais perto da necessidade do aprendente. O ensinante deve se
preocupar com a linguagem utilizada ,pois existem diferenças acentuadas de
cultura, causando conflito e dificuldade de comunicação.Todos os seres
humanos são capazes de aprender, mas é necessário que adaptemos a nossa
forma de ensinar (Vygotsky,1992).
O psicopedagogo deve desenvolver trabalhos integrado com outros
profissionais , respeitando o sujeito e resguardando, para os psicólogos , a
exclusividade do uso dos testes psicológicos, pois a Psicopedagogia conta com
uma série de recursos que permite ao psicopedagogo desenvolver o seu
trabalho em harmonia com outras áreas do conhecimento humano, trabalhando
nos estritos limites das atividades que lhes são concedidas, conforme o
Capítulo III do Código de Ética.
O diagnóstico psicopedagógico, segundo Rubinstein(1996), possui uma
dinâmica muito particular, fazendo com que o psicopedagogo participe
ativamente do processo psicopedagógico, contrariando os padrões onde o
terapeuta adota uma atitude estática diante da dinâmica do caso. A
intervenção sobrepõe-se à simples tarefa de educar, visto que é fator
sumariamente importante e tido como interferência para um profissional dentro
do processo de desenvolvimento e aprendizagem do sujeito , principalmente
quando o mesmo apresenta algum problema que o afasta do conhecimento,
assim como o sujeito estudado nesta pesquisa.
Pain(1985) trata o tema intervenção juntamente com o do diagnóstico, em
crianças com problemas de aprendizagem. O autor demonstra que o não-
aprender como sintoma que precisa ser desvendado e suas origens estão na
constituição orgânica e na articulação das crianças e seus pais.
Fernandez(1987) propõe um olhar clínico para os problemas de
aprendizagem, revelado sobre a atitude que se resume em escutar e traduzir o
material trazido pelo sujeito.
36 Atualmente pode-se entender como intervenções psicopedagógicas as
estratégias que visam à recuperação, por parte dos sujeitos, os conteúdos
escolares avaliados como deficitários; os procedimentos de orientação de
estudos e as atividades como brincadeiras, jogos de regras e dramatizações
realizadas na escola e fora dela, com o objetivo de promover a plena
expressão dos afetos e o desenvolvimento da personalidade de crianças com e
sem dificuldades de aprendizagem ; acompanhamento desses sujeitos com
dificuldades e pesquisa de instrumentos que podem ser utilizados para auxiliar
o processo de aprendizagem , bem como o seu desenvolvimento , no que se
refere à inteligência e afetividade. Tem-se uma idéia conjuntural sobre o papel
do psicopedagogo, partindo da premissa de afirmação, sabendo-se que a
intervenção advém da necessidade imperiosa na resolução de problemas e ,
na construção de um diagnóstico preciso( Oliveira M.,2007) .
Referindo-se ao sujeito estudado pode-se citar algumas intervenções
psicopedagógicas que foram utilizadas na escola e que puderam clarear o
caminho desse aprendente:
- observar e ajudá-lo a controlar seus pensamentos negativos
- criar vínculos de afeto e de comportamento com a comunidade acadêmica
- incluí -lo no grupo
-interferir nas escolhas de grupos de trabalhos
-permitir saídas constantes da sala de aula
-ampliar o tempo para realizar suas tarefas e avaliações
-dar-lhe espaço para falar sobre os ritos e os seus medos
-ouví-lo
As estratégias utilizadas visaram à recuperação, por parte do sujeito, dos
conteúdos escolares avaliados como deficitários e principalmente diminuir a
quantidade de ritos . Criou-se procedimentos de orientação de estudos
(organização, planejamento diário, disciplina ) e adotou-se a prática de jogos
de regras e dramatizações na escola e fora dela , com o objetivo de promover a
plena expressão dos afetos e o desenvolvimento da personalidade do sujeito.
Fez-se necessário que a família fosse orientada a trabalhar junto à escola
para que ele obtivesse o resultado esperado.
37
3.5-Tratamento psicofarmacológico
A bem-documentada descoberta de que pacientes com o transtorno
obsessivo –compulsivo respondem a determinado grupo de fármacos, os
inibidores da recaptação da serotonina, os quais exercem efeito específicos
sobre a atividade do sistema neuro transmissor serotonérgico, mudou as
perspectivas para os sujeitos (Zohar,1987). Alguns medicamentos que agem
como antidepressivos , também possuem uma ação anti-obsessiva .
Setenta por cento dos pacientes com TOC reagem ao tratamento adequado
a esse transtorno, qual seja, doses médias a altas de medicação anti-sintomas
obsessivos durante um mínimo de dez semanas. Porém , um número
substancial de portadores da doença apresenta apenas mudanças parciais ou
quase nenhuma nos sintomas.
A família deve se transformar em um suporte importante para o tratamento
do TOC. Pode auxiliar a identificar rituais encobertos e não percebidos pelo
sujeito, na elaboração das listas de rituais e de evitações. Faz-se necessário a
compreensão de como se dá o processo de cura, conhecer o processo da
habituação, pois a aflição passa por mais elevados que sejam seus níveis. É
fundamental o apoio às tentativas de exposição e prevenção dos rituais e à
adesão ao tratamento, além da paciência e tolerância para eventuais aumentos
de ansiedade ou retrocessos do sujeito.
3.6-Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
Estudos realizados apontam os efeitos benéficos da TCC , isoladamente ou
junto com fármacos, sobre crianças e adolescentes.Em geral o tratamento
abrange três estágios: coleta de informações, exposição gradual assistida pelo
terapeuta mais prevenção de resposta e elaboração das tarefas em casa
(Collins,1995).
Para crianças com sintomas predominantemente subjetivos, o tratamento
também inclui relaxamento e treinamento cognitivo A família precisa ser
38envolvida em grau que varia de acordo com as situações individuais. Normal-
mente, a TCC é implementada começando-se com treze a vinte sessões
semanais individuais ou familiares e prescrição de tarefas em casa .Pacientes
com pouca ou nenhuma resposta, talvez precisem de sessões mais freqüentes
e realização de tarefas assistidas pelo terapeuta inclusive fora do consultório.
Sessões de reforço da terapia comportamental permitem descontinuação da
medicação (Franklin, 1998 ).
3.7-Resultados a curto e longo prazo
O TOC na infância ,talvez seja o transtorno psiquiátrico infantil mais parecido
ao seu correspondente adulto. Apesar da relativa diversidade, o conjunto de
sintomas é finito e muito semelhante ao observado em indivíduos com mais
idade.Prevalência,co-morbidade e resposta aos tratamentos farmacológico,
comportamental e psicopedagógico também parecem contínuos ao longo da
vida.
A farmacologia requer bastante tempo até produzir efeitos
comprovadamente significativos sobre esse transtorno.Volavka e
colaboradores( 1985) relataram que apenas na quinta semana evidenciaram as
diferenças entre o tratamento com fármacos diferentes.De modo geral , sujeitos
com TOC podem levar de dez a doze semanas para mostrar resposta inicial e
meses, um semestre ou até mais para apresentarem resposta máxima .Dois
estudos apontaram que o resultado da combinação de exposição e prevenção
de rituais supera os da exposição e da prevenção de rituais
isoladamente.Verificou-se,também, que a depressão prejudica os resultados. A
melhora é muitas vezes incompleta, poucos sujeitos se tornam assintomáticos ,
podendo ser necessário tratamento de manutenção a longo prazo. Como essa
doença costuma ocorrer no contexto de outras dificuldades adaptativas e
psicopatológicas, em geral, necessita-se de intervenções psicoterapêuticas
individuais e familiares, bem como psicopedagógicas,que já foram
mencionadas e exemplificadas anteriormente .
39
CONCLUSÃO
Quando você consegue, de alguma forma,
despertar o desejo no sujeito,
todo o resto acontece, cedo ou tarde.
Fátima Grangeia
A Psicopedagogia nasceu como um fazer empírico devido à necessidade de
atender às crianças com dificuldades de aprendizagem, cujas causas eram
estudadas pela medicina e pela psicologia. Com o tempo ela foi se
transformando em um conhecimento independente, com objeto de estudo
próprio -o ser humano em processo de aprendizagem - e propondo técnicas
diagnósticas próprias.
No Brasil , a Psicopedagogia surge em meados dos anos cinqüenta como
resposta a uma demanda crescente em relação ao fracasso escolar e aos
problemas de aprendizagem(Berlin e Portella,2007).
Sua atuação se dá hoje, tanto do ponto de vista preventivo,quanto do ponto
de vista terapêutico. Neste estudo de caso do sujeito citado , verificou-se a
ação preventiva do psicopedagogo que após as observações de alguns
professores agiu,preparando os profissionais do corpo docente da instituição
para intervir junto ao sujeito, ensinando-lhes sobre o processo ensino-
aprendizagem ,assim como sobre o desenvolvimento global do ser humano,
construiu o entendimento de que ,para aprender, o sujeito precisa ter condições
físicas adequadas, um equilíbrio emocional que depende das relações afetivas
positivas estabelecidas, um meio social e cultural propício que lhe dê estímulo
e ao mesmo tempo fomente o crescimento e mostrou-lhes a importância de se
firmar uma relação vincular com a pessoa que vai transmitir os conhecimentos,
sem a qual não haveria possibilidade de assimilação de tais conhecimentos,
muito menos de ressignificá-los a fim de que a aprendizagem se estabeleça .
Após a avaliação psicopedagógica, o sujeito foi encaminhado aos
especialistas da área clínica , neurologista e psiquiatra, para que pudessem
40realizar suas respectivas avaliações. Ao receber o laudo médico , iniciou-se
então a intervenção psicopedagógica com o sujeito.
Percebeu-se que foi um trabalho delicado, pois necessitou do
comprometimento de todos, da instituição educacional, dos colegas de classe ,
da família e principalmente do sujeito, pois se ele não colaborasse , não teria-
se o resultado que obteve-se. Hoje, o sujeito já aceita o seu transtorno, sabe
reconhecer o que pode detonar as atitudes ritualísticas e como controlar-se, a
perseverança diminuiu sensivelmente em todos os sentidos , percebe-se o fato
constatado em anexo , na última página anexada do seu caderno. No que
refere-se a vida familiar , observa-se uma rotina mais harmoniosa relatado pelo
sujeito e por seus cuidadores.
É possível observar com a pesquisa desenvolvida, que o
psicopedagogo,hoje,dispõe de muitos recursos literários para que possa
realizar uma intervenção psicopedagógica de maneira eficiente e
eficaz,contribuindo assim para melhorar a qualidade de ensino, quer seu
enfoque de trabalho seja preventivo ou curativo, no sentido de intervir no
problema de aprendizagem já apresentado pelo sujeito ou no sentido de
prevenir a instalação de problemas nos educandos.Deste modo, não há razão
para que o psicopedagogo faça uso de recursos específicos da Psicologia ou
da Pedagogia , uma vez que possui recursos diversificados e por ser uma área
de atuação multidisciplinar.
41
BIBLIOGRAFIA
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neurobiology of Tourette’s syndrome. J. Am.Acad. Child Adolesc. Psychiatry,
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43
ANEXOS
Índice de anexos
Material didático do sujeito
Apresenta-se nos anexos páginas do caderno do sujeito com TOC,onde
pode-se observar a evolução do sujeito enquanto realizava o tratamento e o
acompanhamento psicopedagógico, durante o sétimo ano, oitavo ano e nono
ano do Ensino Fundamental.
Anexo 1 >>Início da observação do sujeito
Anexo 2 >> Anamnese
Anexo 3>> Sétimo ano > observação do quadro
Anexo 4 >> Oitavo ano > participação da família
Anexo 5 >> Nono ano > evolução do sujeito
Anexo 6 >> Término da observação do sujeito
44
Anexo 1
Pode-se observar que neste momento , o sujeito apresentava muitos ritos em
sua caligrafia ; completamente rasurada.Encontrava-se com grande angustia e
conflito.
45
Anexo 2
A partir desse momento, começou-se a amamnese com o sujeito e sua
família.
46Anexo 3
Já podemos identificar uma sensível redução em relação aos ritos.Neste
período, o sujeito realizava os acompanhamentos psicopedagógico e
farmacológico.
47Anexo 4
No ano seguinte, pode-se observar o progresso do sujeito realizando o
tratamento farmacológico , o acompanhamento psicopedagógico e percebeu-se
a participação efetiva da família no processo.
48Anexo 5
A cada dia que passava, observava-se a evolução do sujeito, o qual se
tornou exemplo de dedicação, perseverança e determinação para todos os
alunos da instituição.Cursava o nono ano.
49
Anexo 6
Quando terminou-se a observação, foi possível perceber grande
evolução na escrita, no comportamento , na aprendizagem, no convívio social,
enfim em sua vida acadêmica. Através da intervenção psicopedagógica,
transformou-se a vida desse sujeito.
50
ÍNDICE Introdução................................................................................................ 9 Capítulo I: Reconhecer o sujeito com transtorno obsessivo-compulsivo 1.2 – O que é o TOC................................................................................13 1.2–Diagnóstico diferencial feito por especialistas..................................14
1.3-Diagnóstico por Etiologia do TOC feito por especialistas.................16
1.4– Avaliação e Abordagem do TOC feito por especialistas..................17
1.5– Insight e Aspectos Psicológicos do TOC.........................................18
1.6–TOC- Dados de um País em Desenvolvimento ...............................19
Capítulo II: Estudo e análise do caso específico
2.1- Entrevista com os cuidadores ..........................................................21
2.2-Entrevista com o sujeito.....................................................................23
2.3-Avaliação de laudo.............................................................................25
2.4-Observações diárias no aspecto acadêmico dentro da Instituição
Educacional..............................................................................................26
2.5-Análise do seu material didático........................................................ 27
2.6-Entrevista com professores.............................................................. 27
Capítulo III: Intervenções psicopedagógicas, psicológicas e farmacológicas
3.1-Inclusão do sujeito com TOC na Instituição.......................................29
3.2-Afetividade e aprendizagem...............................................................31
3.3-A importância e a realidade das práticas psicopedagógicas.............33
3.4-A intervenção psicopedagógica institucional nas dificuldades de
aprendizagem do sujeito com TOC.........................................................34
3.5-Tratamento psicofarmacológico........................................................37
3.6-Terapia cognitivo-comportamental(TCC)......................................... 37
513.7- Resultados a curto e longo prazo ......................................................38
Conclusão..................................................................................................39
Bibliografia.................................................................................................41
Anexos.......................................................................................................43
Índice.........................................................................................................50
52