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1 UNIVERSIDADE PAULISTA Curso de Graduação em Biomedicina JEFERSON NUNES DE ALMEIDA UM ESTUDO SOBRE O CANCER DE PRÓSTATA

Uma revisão de literatura sobre a próstata

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Estudo sobre a próstata e como prevenir o cancer de próstata

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Page 1: Uma revisão de literatura sobre a próstata

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UNIVERSIDADE PAULISTACurso de Graduação em Biomedicina

JEFERSON NUNES DE ALMEIDA

UM ESTUDO SOBRE O CANCER DE PRÓSTATA

MANAUS 2012

Page 2: Uma revisão de literatura sobre a próstata

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JEFERSON NUNES DE ALMEIDA

UM ESTUDO SOBRE O CANCER DE PRÓSTATA

Monografia entregue para a obtenção do título de graduação em Biomedicina apresentado à Universidade Paulista – UNIP.

Orientadora: Denise Inês Pinheiro Silva

MANAUS 2012

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3

Bibliotecária Maria Izabel da C. Nunes – 11ª Reg./409-Am

Almeida, Jeferson Nunes de.

Um estudo sobre o câncer de próstata. / Jeferson Nunes de Almeida. Manaus: UNIP, Instituto de Ciências Humanas, 2012.

48.;il; figuras, tabelas, 29 cm

Inclui bibliografia.

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do título de Bacharel em Biomedicina, apresentado pela Universidade Paulista – UNIP/ Instituto de Ciências Humanas, 2012.

Orientador: Profª Denise Inês Pinheiro Silva

1.Câncer de Próstata 2.Manifestação Clínica 3. Tratamento.

Denise Inês Pinheiro Silva – Orientadora. II.Título

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JEFERSON NUNES DE ALMEIDA

UM ESTUDO SOBRE O CANCER DE PRÓSTATA

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção da graduação em Biomedicina na Universidade Paulista – UNIP.

Aprovado em: ____/___/____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Profª. Denise Inês Pinheiro Silva

Orientadora

________________________________________ Prof.(a)

Universidade Paulista - UNIP

________________________________________ Prof.(a)

Universidade Paulista - UNIP

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais

que sempre me apoiaram para que eu

concluísse esse curso.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus que é a fonte de todo conhecimento e força,

sem Ele não conseguiria concluir esta etapa de minha vida.

Aos meus pais por sempre me apoiarem para que este projeto fosse possível.

Aos professores pelos conhecimentos ensinados e à minha orientadora pelo

apoio na conclusão desta monografia.

Enfim, à todos que direta e indiretamente contribuíram para a realização

deste sonho.

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Tentar eliminar o sintoma sem trabalhar

na dissolução da causa é inútil.

(THOMAS HENRY HUXLEY)

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RESUMO

O câncer de próstata caracteriza-se pelo crescimento exagerado da próstata, com

consequente diminuição do calibre e intensidade do jato urinário, sendo considerada

uma das principais causas de doença e morte no mundo. Influências genéticas,

história sexual, exposição a patógenos, substâncias químicas industriais,

urbanização, hábitos alimentares, metabolismo hormonal, além da idade e do estilo

de vida, são fatores postulados na promoção e início da doença. O diagnóstico desta

patologia e seus estágios podem ser confirmados por: toque retal, dosagem do PSA

e fosfatase ácida, ultra-sonografia transretal, biópsia e por outros métodos. Se o

tumor prostático for localizado, pode-se recorrer à cirurgia ou à radioterapia, porém,

se este se expandiu para outros órgãos, a castração ou bloqueio hormonal são os

tratamentos mais adequados. Esta revisão busca trazer informações voltadas aos

profissionais, pesquisadores e a população em geral, sobre a fisiopatologia, a

etiologia, os sintomas, o tratamento e a prevenção do câncer de próstata, uma vez

que sua incidência vem aumentando nos últimos anos.

PALAVRAS-CHAVE: Câncer de próstata. Manifestação Clínica. Tratamento.

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ABSTRACT

Prostate cancer is characterized by overgrowth of the prostate, with a consequent

decrease in the intensity and caliber of the urinary stream, and is considered a major

cause of illness and death worldwide. Genetic influences, sexual history, exposure to

pathogens, industrial chemicals, urbanization, dietary, hormonal metabolism, in

addition to age and lifestyle factors are postulated in the promotion and disease

onset. The diagnosis of this disease and its stages can be confirmed by: digital rectal

examination, PSA dosage and acid phosphatase, transrectal ultrasound, biopsy and

other methods. If the prostate tumor is located, one can resort to surgery or

radiotherapy, but if it has spread to other organs, castration or blocking hormonal

treatments are most appropriate. This review seeks to bring information aimed at

professionals, researchers and the general public, about the pathophysiology,

etiology, symptoms, treatment and prevention of prostate cancer, since its incidence

has been increasing in recent years.

KEYWORDS: Prostate cancer. Clinical Manifestation. Treatment.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Próstata normal e tumor na próstata....................................................... 15

Figura 2: O exame do toque retal é muito importante............................................ 22

Figura 3: O teste do PSA....................................................................................... 24

Figura 4: Ecografia abdominal................................................................................ 26

Figura 5: Ecografia transretal................................................................................. 27

Figura 6: O câncer de próstata (mais agressivo em obesos)................................. 29

Figura 7: Estágios do desenvolvimento do câncer de próstata.............................. 30

Figura 8: Radiação externa.................................................................................... 31

Figura 9: Radiação interna (braquiterapia)............................................................. 31

Figura 10: Prostatectomia radical............................................................................ 33

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12

1 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................. 14

1.1 FISIOPATOLOGIA........................................................................................... 14

1.2 INCIDÊNCIA..................................................................................................... 16

1.3 ETIOPATOGENIA............................................................................................. 17

1.4 SINTOMATOLOGIA.......................................................................................... 19

1.5 DOENÇA DISSEMINADA................................................................................. 20

1.6 DIAGNÓSTICO................................................................................................. 22

1.7 TRATAMENTO................................................................................................. 29

1.7.1 Tratamento do CP localizado...................................................................... 29

1.7.2 Tratamento do CP disseminado (metastásico)......................................... 34

1.8 CIRURGIA X RADIOTERAPIA......................................................................... 36

1.9 PREVENÇÃO................................................................................................... 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 44

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 45

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INTRODUÇÃO

A frequência do câncer da próstata aumentou de forma explosiva nos últimos

anos, consternando a ciência médica e os homens em geral, estas geralmente

surgem com o envelhecimento e que potencialmente podem ser detectadas e

tratadas precocemente, vêm assumindo uma dimensão cada vez maior, não

somente como um problema de Saúde Pública, mas pelo impacto socioeconômico

sobre a população (DINI; KOFF, 2006; PINA; LUNET; DIAS, 2006).

A próstata, glândula de dimensões diminutas localizada na base da bexiga,

pode ser sede de dois processos distintos. Além disto, o câncer da próstata é

encontrado em um número elevado de indivíduos, sem lhes causar qualquer mal. O

primeiro é o crescimento benigno, chamado de hiperplasia, que acomete quase 90%

dos homens após os 40 anos e que produz dificuldade para a eliminação da urina. O

segundo é o câncer da próstata, que surge associado ou não ao crescimento

benigno e que se manifesta quase sempre depois que os homens completam 50

anos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Câncer de Próstata é a

neoplasia maligna mais frequente nos homens e o segundo maior causador de

mortes no Brasil (SBU, 2008). Raramente este tipo de câncer produz sintomas até

que se encontre em sua forma avançada. Todavia, nos casos sintomáticos, o

paciente se queixa de dificuldade para urinar, jato urinário fraco e sensação de não

esvaziar bem a bexiga (CORRÊA et al., 2003; GONÇALVES; PADOVANI; POPIM,

2008). Sua etiologia é ainda desconhecida, entretanto, presume-se que alguns

fatores possam influenciar no seu desenvolvimento.

Todo homem nasce programado para ter câncer da próstata, pois todos

carregam em seu código genético os chamados "proto-oncogens", que dão a ordem

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para uma célula normal se transformar em outra maligna. Isto só não ocorre

indiscriminadamente porque a função dos proto-oncogens é antagonizada por outro

grupo de gens protetores, chamados de "supressores", dos quais os mais

conhecidos são o p53 e o p21. Estes gens promovem o suicídio das células toda vez

que elas sofrem um processo de degeneração maligna, num fenômeno conhecido

como apoptose. O câncer da próstata surge porque as múltiplas divisões celulares,

que ocorrem em todos os seres vivos, acompanham-se de discreta fragmentação

dos cromossomos, que vão se privando de parte do seu material genético. Com o

decorrer dos anos acumulam-se perdas dos gens supressores, que libera a

atividade dos proto-oncogens e permite a degeneração das células prostáticas.

Ultimamente, tem se dado muita atenção a alimentação, uma vez que dietas

ricas em gordura predispõem ao câncer e as ricas em fibras diminuem o seu

aparecimento. Os fatores genéticos e ambientais são alvo, também, de investigação

(GOMES et al., 2008). Fumaça de automóveis, cigarros, fertilizantes e outros

produtos químicos estão sob suspeita (BANDEIRAS et al., 2003).

O diagnóstico da doença muitas vezes acontece quando o câncer prostático

já se disseminou para outros órgãos, o que dificulta seu tratamento (GONÇALVES;

PADOVANI; POPIM, 2008). Quando a doença é detectada precocemente, por

exames clínicos e laboratoriais de rotina como, por exemplo, o toque retal e a

dosagem do antígeno prostático específico (PSA), a patologia é curável em 80% dos

casos (CIMERI, 2007).

Neste estudo é feita uma revisão da literatura acerca do Câncer de Próstata,

enfatizando sua fisiopatologia, incidência e etiologia, bem como seus sintomas,

métodos diagnósticos, tratamento e possíveis medidas preventivas.

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1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 FISIOPATOLOGIA

A próstata é uma pequena glândula localizada na pelve masculina, cujo peso

normal é aproximadamente 20g. Ela é responsável em produzir 40% a 50% dos

fluidos que constituem o sêmen ou esperma, tendo uma função biológica importante

na fase reprodutora do homem, conferindo proteção e nutrientes fundamentais à

sobrevivência dos espermatozóides.

Além disso, a próstata é muito importante na prática urológica, já que é sede

de vários processos que causam transtornos a pacientes de idades variadas

(CALVETE et al., 2003).

À medida que o homem envelhece sua próstata vai aumentando de tamanho.

Em razão deste aumento, é comum que a partir dos 50 anos os homens sintam o

fluxo urinário mais lento e um pouco menos fácil de sair. Por isso, quando aumenta

de volume, a próstata se transforma em uma verdadeira ameaça para o bem-estar

do homem, pois começa a comprimir a uretra e a dificultar a passagem da urina: o

jato urinário se torna gradativamente fino e fraco (FERREIRA; MATHEUS, 2004).

Para Corrêa e colaboradores (2003) e Dini e Koff (2006), como todos os

outros tecidos e órgãos do corpo, a próstata é composta por células, que

normalmente se dividem e se reproduzem de forma ordenada e controlada, no

entanto, quando ocorre uma disfunção celular que altere este processo de divisão e

reprodução, produz-se um excesso de tecido, que dá origem ao tumor, podendo

este ser classificado como benigno ou maligno.

Segundo Srougi e Simon (1996), a próstata pode ser sede desses dois

processos: o crescimento benigno, chamado de hiperplasia prostática benigna

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(HPB), e o maligno, denominado CP, podendo este último surgir associado ou não

ao crescimento benigno (figura 1).

Figura 1: Próstata normal e tumor na próstataFonte: Srougi e Simon (1996)

A velocidade de crescimento do CP é lento, sendo necessário entre 4 a 10

anos para que uma célula produza um tumor de 1 cm (MIRANDA et al., 2004),

todavia, esse crescimento leva a próstata a atingir volumes de 60g ou mesmo de

100g, passando a exigir quase sempre tratamento cirúrgico (CALVETE et al., 2003).

Nos estágios iniciais, o câncer limita-se à próstata, entretanto, se deixado

sem tratamento, poderá invadir órgãos próximos como vesículas seminais, uretra e

bexiga, bem como espalhar-se para órgãos distantes como ossos, fígado e pulmões,

quando se torna incurável e de nefastas conseqüências (LYNCH; LYNCH, 1996;

GOMES et al., 2008; INCA, 2008).

Ao se espalhar da sua localização original para outros órgãos, o novo tumor

tem o mesmo tipo e o mesmo nome das células anormais do tumor primário. Por

exemplo, se o CP contamina os ossos, as células cancerosas do novo tumor são

células da próstata, a doença é um câncer metastático da próstata, e não um câncer

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de osso (LYNCH; LYNCH, 1996). Dessa maneira, a neoplasia se dissemina desde o

seu estágio primário, formando tumores secundários em outros órgãos (INCA,

2008).

1.2 INCIDÊNCIA

O CP é o tumor maligno de maior incidência em homens nos Estados Unidos,

estima-se que 1:6 homens desenvolvam a doença. Cerca de 200.000 novos casos

são diagnosticados todo ano. Esta patologia é a segunda principal causa de morte

por câncer em homens, com uma mortalidade anual avaliada em 38.000 óbitos,

tendo um impacto devastador sobre a morbidade e a mortalidade na população

masculina norte-americana a partir da meia-idade (ABDO et al., 2006).

Dados do INCA (2008) mostram que o número de novos casos

diagnosticados de CP no mundo é de aproximadamente 543 mil por ano,

representando 15,3% de todos os casos incidentes de câncer em países

desenvolvidos e 4,3% dos casos em países em desenvolvimento. O CP é o tipo de

neoplasia mais prevalente em homens, com estimativa de 1,5 milhões de casos

diagnosticados nos últimos anos. Este tipo de câncer é raro antes dos 50 anos, mas

a incidência aumenta constantemente com a idade, atingindo quase 50% dos

indivíduos com 80 anos, e quase 100% dos com 100 anos.

Segundo Corrêa e colaboradores (2003) e Dini e Koff (2006), atualmente o

CP é a patologia maligna mais frequente e que mais aumenta em incidência no

Brasil (52 novos casos a cada 100 mil homens). Estima-se que cerca de 140.000

novos casos de câncer prostático surjam a cada ano e que, desses,

aproximadamente 10.000 resultem em óbito devido a complicações desta patologia.

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As estimativas realizadas pelo INCA para o Brasil, em 2008, válidas também

para o ano de 2009, apontam que ocorrerão 466.730 casos novos de câncer. Os

tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão o

CP e de pulmão no sexo masculino, e os cânceres de mama e de colo de útero, no

sexo feminino, acompanhando o mesmo perfil da magnitude observada no mundo.

São esperados 231.860 casos novos de câncer para o sexo masculino e 234.870

para o sexo feminino. Estima-se que o câncer de pele do tipo não melanoma (115

mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos

tumores de próstata (49 mil), de mama feminina (49 mil), de pulmão (27 mil), de

cólon e reto (27 mil), de estômago (22 mil) e de colo do útero (19 mil) (INCA, 2008).

A distribuição dos casos novos de câncer segundo sua localização primária é

bem heterogênea entre estados e capitais do país (MIRANDA et al., 2004). As

regiões Sul e Sudeste, de maneira geral, apresentam as maiores incidências de CP,

enquanto as regiões Norte e Nordeste mostram as menores incidências. As taxas da

região Centro-Oeste apresentam um padrão intermediário. Sem considerar os

tumores de pele não melanoma, o CP é o mais frequente em todas as regiões, com

risco estimado de 69/100.000 na região Sul, 63/100.000 na região Sudeste,

47/100.000 na região Centro-Oeste, 38/100.000 na região Nordeste, e 22/100.000

(INCA, 2008).

1.3 ETIOPATOGENIA

O câncer prostático possui uma etiologia indeterminada (INCA, 2008).

Entretanto, vários são os fatores postulados na sua promoção e início: o

envelhecimento, o metabolismo hormonal, o estilo de vida, a história sexual, a

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exposição a patógenos, as substâncias químicas industriais, a urbanização, os

hábitos alimentares e a hereditariedade (COSTA, 1997; FRIEDENREICH, 2001).

Dentre os fatores citados, os fatores hormonais, dietéticos, genéticos e

ambientais têm recebido maior destaque na literatura científica.

Há evidências bem estabelecidas de que a testosterona tem papel importante

na história natural da doença, indicando inclusive, que o hormônio provoca

proliferação celular (HERING; SROUGI, 1995; DAMIÃO; AGUINAGA, 1998;

KOWALSKI et al., 2002; OTTO, 2002; CALVETE et al., 2003), entretanto, este é um

assunto ainda controverso. Pesquisas experimentais revelaram que sua

administração causou aparecimento da doença em animais. Verificou-se, também,

ser rara a detecção da doença em homens castrados antes da puberdade (HERING;

SROUGI, 1995; DAMIÃO; AGUINAGA, 1998; CALVETE et al., 2003).

A ingestão de grandes quantidades de gordura de origem animal pode

aumentar a incidência do CP (CAGIGAL; ALONSO; SÁNCHEZ, 2003), uma vez que

este nutriente elevaria as taxas de androgênios e estrogênios, os quais, por sua vez,

induziriam ao desenvolvimento de tumores da próstata (SROUGI; SIMON, 1996;

GARÓFOLO et al., 2004). Estudo com camundongos portadores de câncer

prostático que receberam dieta com 40% e 2,3% de gordura, demonstraram que

após decorrido algum tempo, o volume do tumor foi três vezes maior nos animais

que receberam dieta com 40% de gordura, do que naqueles que receberam dieta

com 2,3% (SROUGI, 2007).

Nos casos hereditários, os antecedentes familiares têm particular importância

por elevarem o risco de ocorrência precoce da patologia (BANDEIRAS et al., 2003).

A existência de um antepassado com CP supõe um risco duas vezes superior ao da

população em geral (SROUGI; LIMA, 2000). O risco de CP aumenta 1,5 vezes

quando um parente de primeiro grau (pai ou irmão) tem o tumor, cinco vezes quando

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são acometidos dois parentes de primeiro grau (HERING; SROUGI, 1995) e 10,9

vezes quando três parentes de primeiro grau têm a doença (FRIEDENREICH, 2001).

Recentemente, estudando 66 famílias com alta prevalência do CP,

pesquisadores suecos identificaram no braço longo do cromossomo I o local onde,

provavelmente, se aloja o principal proto-oncogene causador do câncer prostático, o

HPCI “Hereditary Prostate Câncer I”. Tal descoberta permitirá, em futuro próximo,

que um simples teste laboratorial de análise de DNA identifique indivíduos

propensos a ter CP. Em médio prazo, é possível que os médicos possam intervir

sobre este gene, neutralizando-o e impedindo a degeneração maligna das células

prostáticas (SROUGI; SIMON, 1996).

No que se refere aos fatores ambientais, muitas relações com

desenvolvimento do CP são possíveis, entretanto, destaca-se a capacidade

etiopatogênica de substâncias químicas utilizadas na indústria de fertilizantes (ferro,

cromo, cádmo, borracha e chumbo), embora tal capacidade não seja cientificamente

comprovada (BANDEIRAS et al., 2003). Recentemente, a exposição ao arsênico

inorgânico, um contaminante ambiental, também tem sido responsabilizado pela

iniciação e/ou progressão do CP (BENBRAHIM-TALLAA; WAALKES, 2009).

Populações que vivem em locais de baixa incidência de CP, quando migram para

áreas de alta incidência, apresentam um aumento na ocorrência de casos. A fumaça

de automóveis, cigarros, fertilizantes e outros produtos químicos também estão sob

suspeita, porém, mais estudos ainda são necessários (BANDEIRAS et al., 2003).

1.4 SINTOMATOLOGIA

Nos estágios iniciais, o CP é completamente assintomático (COSTA, 1997;

CORRÊA et al., 2003; GARÓFOLO et al., 2004; INCA, 2008). No entanto, com o

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decorrer do tempo podem surgir dificuldades para expelir a urina, jato urinário fraco,

aumento do número de micções (COSTA, 1997; CORRÊA et al., 2003; REGGIO,

2005; GONÇALVES; PADOVANI; POPIM, 2008), necessidade imperiosa de urinar,

presença de sangue na urina ou ainda dor e queimação durante a micção.

Um em cada nove homens com CP pode apresentar manifestações clínicas

(REGGIO, 2005), entretanto, tais sintomas são comuns nos casos de crescimento

benigno, de modo que a presença deles não indica, necessariamente, a existência

de câncer, exigindo, no mínimo, uma melhor avaliação médica (COSTA, 1997;

CORRÊA et al., 2003; INCA, 2008).

Cada homem apresenta um tempo variável para o aparecimento dos

sintomas, uma vez que o câncer geralmente se inicia na periferia da próstata,

podendo não provocar nenhuma mudança no ritmo urinário, fato que acaba por não

conduzir o indivíduo ao médico e, assim, retardando o diagnóstico da doença

(BRUM; SPRITZER; BRENTANI, 2005; GOMES et al., 2008).

De acordo com Reggio (2005), o CP avançado pode se disseminar pelo

corpo, provocando sintomas diferentes dos urinários. Dores no períneo, alterações

do funcionamento intestinal, dores ao nível dos rins e nos ossos, cansaço, perda de

força e de peso, são algumas das manifestações clínicas provocadas pela extensão

do CP a órgãos vizinhos ou à distância (metástases). Muitas vezes indivíduos

apresentam fratura espontânea do fêmur sem qualquer tipo de trauma, o que pode

ser considerado uma fratura patológica, esta provocada pela disseminação do tumor

prostático.

1.5 DOENÇA DISSEMINADA

Page 21: Uma revisão de literatura sobre a próstata

21

Embora o prognóstico dos casos de tumor disseminado pelo organismo seja

mais reservado, cerca de 35% destes pacientes permanecem vivos e bem após

cinco anos, muitos sobrevivendo mais de 10 anos.

A existência de focos de tumor ou metástases em outros órgãos torna inútil a

tentativa de se erradicar o tumor prostático inicial através de cirurgia ou de

radioterapia. Como o crescimento das células malignas da próstata é estimulado

pela testosterona (o hormônio masculino produzido pelos testículos), qualquer

medida que reduza os níveis desta substância no sangue, faz retroceder o câncer,

tanto a lesão inicial da próstata como os focos de metástases. Na prática, recorre-se

à castração (extração de ambos os testículos) ou à administração de hormônios

chamados anti-androgênicos, que antagonizam a testosterona (POPIM, 2008).

A eficiência clínica destas diversas alternativas é mais ou menos parecida, o

que as diferenciam são os seus efeitos colaterais. O mais incômodo deles é a

impotência sexual, que surge em quase todos os casos e é difícil de ser contornada,

já que o paciente perde as ereções e, também, o desejo sexual. Recentemente foi

descrita uma outra complicação relacionada com estas medicações: osteoporose

generalizada, que aumenta de cinco vezes os riscos de fraturas ósseas espontâneas

neste grupo de pacientes (CORRÊA et al., 2003).

Com o passar do tempo, o tumor pode se tornar resistente ao tratamento

hormonal e voltar a crescer. Isto resulta do aparecimento dos chamados "receptores

promíscuos", proteínas localizadas no núcleo das células tumorais que passam a

estimular seu crescimento mesmo na ausência de testosterona (REGGIO, 2005).

Os urologistas tem tentado contornar este fenômeno fornecendo os

hormônios anti-androgênicos de forma interrompida, bloqueando a glândula

suprarenal, usando substâncias radioativas que vão se alojar nas células malignas

ou administrando drogas anti-cancerígenas ligadas a hormônios femininos, que

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conduzem a droga tóxica especificamente para dentro das células prostáticas. Com

estas medidas é possível reverter quadros de recrudescimento do tumor e melhorar

a qualidade de vida destes pacientes (COSTA, 1997).

1.6 DIAGNÓSTICO

Além dos sintomas, o médico precisa reunir outras informações para

diagnosticar com certeza o tipo de problema que o paciente prostático apresenta

(NETTINA, 2003). Para isto, vários exames podem ser empregados: o toque retal,

testes laboratoriais (PSA e fosfatase ácida sérica), ultra-sonografia transretal,

ressonância magnética, tomografia computadorizada, ecografia, urografia,

endoscopia urinária, biópsia, entre outros (OTTO, 2002; NETTINA, 2003; MIRANDA

et al., 2004).

O câncer da próstata não produz sintomas nas fases iniciais. Com o decorrer

do tempo pode surgir dificuldade para expelir a urina, jato urinário fraco ou aumento

do número de micções. Estes sintomas são comuns nos casos de crescimento

benigno, de modo que a presença deles não indica, necessariamente, a existência

de câncer, mas exige, no mínimo, uma avaliação médica (figura 2).

Page 23: Uma revisão de literatura sobre a próstata

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Figura 2: O exame do toque retal é muito importante para se prevenir do câncer de próstataFonte: Nettina (2003)

O toque retal é um exame preventivo que permite avaliar diversos aspectos

da próstata (NETTINA, 2003): seu tamanho e forma, sua consistência (dureza),

sensibilidade, se é muito dolorosa, incomoda ou assintomática à pressão com o

dedo e, ainda, o tônus do esfíncter anal (SROUGI, 1995). A próstata normal ou com

HPB é fibroelástica, todavia, com CP torna-se firme ou endurecida (pétrea)

(COTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).

Os homens sabem que o toque digital é importante para o diagnóstico do

câncer da próstata. Nestes casos, a glândula torna-se irregular e de consistência

endurecida. Um alegado preconceito cultural tenta explicar porque a maioria dos

latinos resiste ao exame, mas todos os que já submeteram ao toque aceitam repeti-

lo sem restrição. Em outras palavras, o problema talvez não seja cultural ou

psicológico, mas apenas o medo infundado de possível dor (CORRÊA et al., 2003).

A busca do diagnóstico precoce visa um tratamento curativo, assumindo,

portanto, fundamental importância, devendo o toque retal ser realizado anualmente

em todos os homens acima de 45 anos de idade, independente de apresentarem ou

Page 24: Uma revisão de literatura sobre a próstata

24

não sintomas (BANDEIRAS et al., 2003; CORRÊA et al., 2003; SBU, 2008). De

acordo com Miranda e colaboradores (2004), os homens sabem que o toque retal é

importante para o diagnóstico precoce do CP, entretanto, estes evitam a consulta

com o urologista, devido ao mito do toque retal ou, às vezes, por geralmente não

apresentarem sintomas.

O teste do PSA, uma glicoproteína do sêmen produzida pela próstata, é um

exame feito em laboratório que mede a sua quantidade no sangue (figura 3). Se o

resultado apresenta-se acima do normal (2,5 ng/ml para homens entre 40 e 50 anos

e até 4,0 ng/ml para homens entre 50 e 60 anos), isso significa que está havendo

alterações na glândula e o médico poderá recomendar outros exames para

determinar a melhor forma de tratamento (KOWALSKI et al., 2002; SROUGI, 2007).

Figura 3: O teste do PSAFonte: Kowalski et al., (2002); Srougi (2007)

A determinação do PSA é de grande ajuda na diferenciação entre HPB e o

CP, porém não é totalmente exato (CORRÊA et al., 2003; REGGIO, 2005). Por esse

motivo, os valores do PSA devem correlacionar-se com as conclusões do toque retal

e da ecografia prostática para decidir sobre a realização de uma biópsia da próstata.

Page 25: Uma revisão de literatura sobre a próstata

25

O uso do PSA isolado sem o toque retal não é recomendável, porque até um quarto

dos portadores de CP tem PSA menor que 4 ng/ml (KOWALSKI et al., 2002).

Além do toque, dois outros exames são utilizados para identificar o câncer:

dosagens do antígeno prostático específico no sangue (conhecido como PSA) e o

exame de ultrassom. O PSA é uma proteína produzida exclusivamente pela

próstata, que se eleva de maneira significativa nos casos de câncer, mas também

aumenta em pacientes com infecção ou com crescimento benigno exagerado da

glândula. Por isto, elevações do PSA sempre exigem uma atenção médica, mas não

indicam necessariamente a presença de câncer na próstata, conhecendo-se os

níveis do PSA no sangue e o resultado do toque digital, pode-se calcular em cada

homem o risco de existir câncer na próstata (CORRÊA et al., 2003; REGGIO, 2005).

Atualmente, a hK2, uma glicoproteína glandular humana muito parecida ao

PSA e que também se expressa predominantemente na próstata, é o mais novo

marcador sérico do CP em estudo. Ao contrário do PSA, a expressão da hK2 é

maior no tecido canceroso que no tecido benigno (ALACREU et al., 2008).

Outro tipo de exame para a detecção do tumor prostático primário é a

determinação da fosfatase ácida sérica, uma enzima produzida no epitélio

prostático. No CP a integridade dos ácinos é violada ocorrendo extravasamento da

fosfatase ácida para a corrente sanguínea, acarretando sua elevação. A sua queda

com a instituição do tratamento representa melhor prognóstico, principalmente

quando os valores se normalizam, já elevações subsequentes representam

recrudescimento da moléstia (COSTA, 1994).

Costa (1994) ainda destaca que a ultra-sonografia transretal (USTR) é

também um exame opcional para detecção de tumor primário. A USTR apresenta-se

mais útil para o estadiamento das neoplasias, para caracterizar o tamanho ou

volume do tumor, sua localização, grau e padrão de crescimento, assimetria

Page 26: Uma revisão de literatura sobre a próstata

26

prostática e a irregularidade ou ruptura capsular; para a avaliação da resposta após

tratamento; para orientar as biópsias com agulha e, também, para avaliar a vesícula

seminal quanto a sua assimetria, dilatação e obliteração.

O exame de ultrassom feito através do ânus permite visualizar as chamadas

áreas hipoecóicas dentro da próstata, típicas das lesões cancerosas. Este exame,

falha em 60% a 70% dos pacientes, deixando de evidenciar tumores que estão

presentes ou demonstrando áreas hipoecóicas que não são malignas. Por isto, o

ultrassom é utilizado pelos urologistas em alguns casos de dúvida clínica e,

principalmente, para orientar a realização de biópsias da próstata.

Levando em conta a relação custos/benefícios, definiu-se que a melhor forma

de diagnosticar o câncer da próstata é representada pela combinação de toque

digital e dosagem do PSA. O toque exclusivo falha em 30% a 40% dos casos, as

medidas de PSA falham em 20%, mas a execução conjunta dos dois exames deixa

de identificar o câncer em menos 5% dos pacientes.

A ressonância magnética (RM) e a tomografia computadorizada (TC) são

também alguns exames opcionais utilizados no diagnóstico do CP, entretanto, estes

não superam a eficiência da USTR (FACUNDES, 2002; SROUGI; CURY, 2006).

A RM fornece bom contraste dos tecidos moles, permitindo a delineação da

anatomia intraprostática (SROUGI; CURY, 2006) e o estadiamento do tumor

(BARONI et al., 2009), todavia, há sobreposição no surgimento de processos

benignos e malignos. A TC permite uma melhor análise do envolvimento dos

linfonodos no CP (TAMAGHO; MCANINCH, 1994; FACUNDES, 2002; SROUGI;

CURY, 2006).

Page 27: Uma revisão de literatura sobre a próstata

27

Figura 4: Ecografia abdominalFonte: Friedenreich (2001)

Outro exame utilizado para o diagnóstico do CP é a ecografia abdominal ou

transretal. A ecografia abdominal (figura 4) oferece uma avaliação dos rins e das

vias urinárias altas (pélvis e ureteres), assim como visualiza a existência de cálculos

e tumores na bexiga e na próstata. Já a ecografia transretal (figura 5), procedimento

realizado introduzindo a sonda do ecógrafo através do reto, permite visualizar o

tamanho e a forma da próstata. Além disso, o estado das vesículas seminais e dos

tecidos que rodeiam a próstata, também podem ser avaliados. A ecografia substituiu

a urografia intravenosa, que antes era a principal forma de exploração radiológica da

próstata (FRIEDENREICH, 2001).

Page 28: Uma revisão de literatura sobre a próstata

28

Figura 5: Ecografia transretalFonte: Friedenreich (2001)

Miranda e colaboradores (2004) relatam também o emprego da endoscopia

urinária e da endoscopia urodinâmica como métodos diagnósticos para esta

patologia. No primeiro método, o urologista introduz na uretra do paciente, um tubo

longo e fino, com iluminação própria, que lhe permite “enxergar” por dentro, a uretra,

a bexiga e a próstata, identificando qualquer condição anormal que possa existir em

tais órgãos.

Já no segundo, introduzem-se pequenas sondas no reto e na uretra do

paciente, que funcionam como “sensores” ligados a um equipamento

computadorizado que avalia o estado de funcionamento do sistema urinário inferior.

A biópsia da próstata, mais uma das opções diagnósticas, é a que se realiza sempre

que existe uma suspeita de câncer prostático e um ou mais diagnósticos já

constatados, tais como: toque retal com suspeita de malignidade, nódulos ou zonas

endurecidas; PSA superior a 10 ng/ml e/ou detecção na ecografia de zonas com

alterações ecogênicas que sugiram à presença de um CP. Atualmente, a biópsia da

Page 29: Uma revisão de literatura sobre a próstata

29

próstata é realizada utilizando-se a ecografia transretal, uma vez que o aparelho

indica as zonas suspeitas que se deve biopsiar (BANDEIRAS et al., 2003).

Quando a biópsia confirma a presença do câncer, deve-se proceder à

avaliação da extensão e das características do tumor (REGGIO, 2005), a fim de se

estabelecer o estágio da doença e o seu tratamento (OTTO, 2002). Para tanto,

utiliza-se o scanner ou a tomografia computadorizada para avaliar a extensão do

tumor a tecidos vizinhos, a gânglios linfáticos, ao fígado, rins, ureteres e bexiga; a

radiografia do tórax para pesquisar metástases no pulmão, e ainda, o rastreio ósseo,

que consegue detectar a presença de metástases nos ossos (REGGIO, 2005).

Estudos de Bandeiras et al., (2003), sobre crescimento tumoral indicam que

as formas agressivas do câncer da próstata (figura 6), quando não tratadas, levam

entre dois e oito anos para se ramificar pelo organismo, tornando a doença de difícil

controle. Desta forma, um exame preventivo anual sempre identificará o tumor ainda

dentro da próstata e potencialmente curável. Em homens sem antecedentes

familiares, estes exames devem ser realizados à partir dos 50 anos.

Figura 6: O câncer de próstata (mais agressivo em obesos)Fonte: Bandeiras et al., (2003)

1.7 TRATAMENTO

Page 30: Uma revisão de literatura sobre a próstata

30

1.7.1 Tratamento do CP localizado

Quando o câncer prostático encontra-se localizado, a radioterapia é uma das

opções de tratamento vigentes (GALÁN et al., 2004; SHAHI; MANGA, 2006). Esta se

baseia em administrar radiações externas ou internas sobre a próstata para destruir

as células cancerígenas (SROUGI; SIMON, 1996; SROUGI, 2007).

Ao planejar o tratamento do câncer da próstata, os médicos levam

principalmente em consideração a extensão da doença. Classificando a doença em

4 estágios do desenvolvimento do câncer de próstata (figura 7) a saber: Os tumores

localizados inteiramente dentro da glândula, denominados estágio A ou B, às vezes

não precisam ser tratados, mas quando isto for necessário, pode-se recorrer à

cirurgia, tecnicamente denominada prostatectomia radical, ou à radioterapia.

Quando o câncer atinge os envoltórios da próstata, o chamado estágio C, costuma-

se indicar tratamento radioterápico. Finalmente, quando o tumor se estende para

outros órgãos, instalando outros focos de câncer denominados metástases, a

doença é classificada como estágio D e é tratada com castração ou hormônios.

Page 31: Uma revisão de literatura sobre a próstata

31

Figura 7: Estágios do desenvolvimento do câncer de próstataFonte: Srougi (2007)

Na radiação externa (figura 8), a radiação provém de uma máquina emissora,

geralmente, os tratamentos são realizados durante 5 dias por semana, durante

várias semanas (5 a 7 semanas). Alguns doentes com cancro da próstata fazem

radiação conformacional tri-dimensional. Este tipo de radioterapia incide mais

diretamente no tumor, poupando o tecido normal, todavia, acaba danificando outros

órgãos, podendo os pacientes sentir cansaço durante o tratamento (CORDÓN;

ALBIACH; ALBIACH, 2003).

Page 32: Uma revisão de literatura sobre a próstata

32

Figura 8: Radiação externaFonte: Albiach (2003)

Já na radiação interna, também conhecida como braquiterapia (figura 9), a

radiação é emitida dentro do órgão (aplicação de sementes radioativas de iodo ou

de ouro na próstata), sendo, por isso, mais concentrada e constante, apresentando-

se então, mais eficiente, porém, muitas vezes levando a impotência sexual e a

incontinência urinária (NETTO JUNIOR; WROCLAWSKI, 2000; FRIEDENREICH,

2001; CORRÊA et al., 2003). Diarréias, inflamações do reto e estreitamento na

uretra são também complicações frequentes (SROUGI, 2007).

Figura 9: Radiação interna (braquiterapia)Fonte: Srougi (2007)

Page 33: Uma revisão de literatura sobre a próstata

33

Uma observação aparentemente desconcertante foi feita recentemente,

ganhando grande destaque na imprensa e gerando algum debate entre os médicos.

Estudos realizados pelos doutores Willet Whitmore, de Nova York, Nelson George,

de Manchester, na Inglaterra, Jan Adolfsson e Jan Johansson, de Karolinska, na

Suécia, demonstraram que alguns pacientes acompanhados sem qualquer

tratamento inicial tiveram a mesma sobrevida que outros submetidos à cirurgia

radical ou à radioterapia. Em decorrência, estes autores chegaram a questionar a

necessidade de tratamento dos pacientes com câncer da próstata (SROUGI, 2007).

Uma análise mais detalhada destes trabalhos revela que a maioria dos

pacientes estudados tinha idade muito avançada e portavam tumores indolentes,

sob forma de focos microscópicos. Esta lesões tendem a crescer lentamente,

fazendo com que eventuais manifestações clínicas surjam somente após 8 ou 10

anos. Em outras palavras, estes tumores não chegavam a causar problemas

simplesmente porque os seus portadores eram muito idosos e não viviam o

suficiente para tanto. Além do mais, muitos destes casos tinham apresentado

progressão do tumor e continuavam vivos apenas porque passaram a receber

tratamento hormonal (CORDÓN; ALBIACH; ALBIACH, 2003).

Um tratamento muito eficaz e curativo, que oferece maior sobrevivência que a

radioterapia é a prostatectomia radical (figura 10) (LUCIA et al., 2005). Tal método

consiste na extirpação de toda a próstata (tumor, hiperplasia e glândula prostática) e

das vesículas seminais, posteriormente unindo-se a bexiga à uretra (GOMES et al.,

2008). Apesar da eficácia deste tratamento, Srougi e Simon (1996) e Srougi (2007),

ressaltam que este procedimento é muito agressivo podendo acarretar certas

complicações: estreitamento da nova união entre a bexiga e a uretra, incontinência e

fugas involuntárias de urina e impotência sexual. Mesmo assim, há possibilidade de

se corrigir tais problemas, obtendo-se a cura do paciente.

Page 34: Uma revisão de literatura sobre a próstata

34

Figura 10: Prostatectomia radicalFonte: Srougi (2007)

A crioblação é ainda outro tipo de tratamento possível para o CP localizado.

De acordo com Reggio (2005), esta terapia teve início no século XIX, quando James

Arnott aplicou misturas de gelo e sal com baixas temperaturas em tumores de colo

uterino e mama, diminuindo seu tamanho, reduzindo drenagens e aliviando a dor,

uma vez que por meio do congelamento diminui-se a inflamação, destruindo a

vitalidade das células cancerosas, assim prolongando a vida e, em estágios iniciais,

proporcionando a cura.

Muitas teorias têm sido divulgadas sobre o mecanismo de lesão tecidual na

crioterapia. Uma das teorias propõe que a lesão protéica gerada pela alta

concentração de solutos devido ao congelamento e desidratação celular danificaria

as membranas celulares e o seu maquinário enzimático. A formação de cristais

intracelulares causaria a ruptura das organelas celulares como também das

membranas plasmáticas. Outra teoria refere-se ao dano vascular causado pelo

congelamento, principalmente na microvasculatura, impedindo a perfusão dos

tecidos provocando necrose. Acredita-se, ainda, que ocorra uma ativação do

Page 35: Uma revisão de literatura sobre a próstata

35

sistema imunológico do hospedeiro contra o tecido, particularmente nas áreas mais

periféricas do congelamento (MANGA, 2006).

De qualquer forma, Lucia et al., (2005) tiveram o mérito de demonstrar que

alguns homens com câncer da próstata, talvez 10% deles, não precisam ser

tratados. Incluem-se aqui os pacientes que tem menos de 10 anos de perspectiva de

vida pela frente, por serem muito idosos ou por apresentarem outras moléstias

graves, que apresentam níveis de PSA baixo e que tem tumores de pouca

agressividade, demonstrada pela biópsia.

Nos demais casos, com doença de maior significado, deve-se realizar alguma

forma de tratamento objetivo, que tanto pode ser a cirurgia radical, a radioterapia

externa ou a terapêutica hormonal. Enfatiza-se que a opção do não-tratamento deve

ser adotada com extrema responsabilidade, visto que, se o câncer for agressivo,

poderá não haver tempo para arrependimentos. Por uma triste fatalidade, o doutor

Whitmore, um dos proponentes do não-tratamento, morreu de câncer generalizado 4

anos após ter optado por não tratar uma pequena lesão identificada na sua próstata.

Esses diversos mecanismos descritos sugerem que a lesão talvez seja um

processo multifatorial (REGGIO, 2005).

1.7.2 Tratamento do CP disseminado (metastático)

No caso de CP metastático, a terapia endócrina ou hormonoterapia é o

tratamento mais indicado (DÍAZ et al., 2005; SHAHI; MANGA, 2006; KALIKS;

GIGLIO, 2008). Nesta terapia são empregados vários medicamentos à base de

hormônios (estrógenos, análogos da LHRH e antiandrógenos), que impedem a

produção de testosterona ou bloqueiam as suas ações na próstata. A castração

(orquiectomia), retirada cirúrgica dos testículos, também é utilizada como

Page 36: Uma revisão de literatura sobre a próstata

36

hormonoterapia, já que elimina os órgãos que produzem o hormônio masculino, este

apontado como principal responsável pelo crescimento do tumor (CORDÓN;

ALBIACH; ALBIACH, 2003; SHAHI; MANGA, 2006).

Segundo Srougi e Simon (1996), a dependência hormonal do CP foi

estabelecida por estudos experimentais, onde se verificaram que a administração de

testosterona estimulava a secreção e o crescimento da próstata e, que ao contrário,

a castração de estrógenos tinha efeitos opostos. A próstata normal e as neoplasias

da próstata sofrem influências hormonais, em função da presença em seu aparato

celular de mecanismos sensíveis à ação da testosterona. Por ação da 5-alfa

redutase, a testosterona é transformada no citoplasma das células prostáticas em

dihidrotestosterona, que se liga a um receptor e é transportada ao núcleo celular,

onde favorece a síntese de RNA e DNA. Isto estimula a função e a proliferação das

células prostáticas, ao passo que a redução dos níveis de testosterona inibe o

metabolismo e a divisão das mesmas.

A produção de testosterona no testículo é regulada pela hipófise, através da

liberação do hormônio luteinizante (LH). A utilização de estrógenos inibe em nível

hipotalâmico e hipofisário a liberação de LH e, consequentemente, reduz os valores

séricos da testosterona a níveis de castração. Além de inibir a produção de

testosterona, os estrógenos em doses elevadas têm uma ação citotóxica direta

sobre as células prostáticas (SROUGI; SIMON, 1996).

Os medicamentos denominados análogos do LHRH impedem a formação de

testosterona no testículo, travando-se ou retardando-se o crescimento do CP

(OTTO, 2002; SBU, 2008). A terapia com análogo do LHRH consiste na

administração de uma droga denominada agonista do receptor do hormônio

liberador do hormônio luteinizante (LHRH-A); este conduzindo a uma queda no nível

de testosterona. A administração de um análogo do LHRH produz um resultado tão

Page 37: Uma revisão de literatura sobre a próstata

37

bom quanto a remoção dos testículos, porém não envolve cirurgia. Esta classe de

drogas pode oferecer uma alternativa para o paciente que não pode, ou opta por não

realizar uma orquiectomia ou receber a terapia estrogênica (SCHELLHAMMER et

al., 1997).

Outro tipo de hormonoterapia utilizada no combate ao CP é a administração

de drogas denominadas antiandrogênicos, que bloqueiam os receptores da

testosterona ao nível da próstata, impedindo, assim, a ação do hormônio masculino

que chega à próstata. Ao se administrar simultaneamente análogos do LHRH e

antiandrógenos, um bloqueio hormonal completo pode ser obtido, uma vez que

estes dois medicamentos associados travam a progressão do CP (TAMAGHO;

MCANINCH, 1994). O análogo do LHRH ou a orquiectomia reduzem a testosterona,

enquanto que o antiandrogênico bloqueia qualquer hormônio masculino restante no

corpo (SCHELLHAMMER et al., 1997).

Com relação ao tratamento quimioterápico, frequentemente utilizado no

combate a cânceres, diversos esquemas têm sido utilizados em tumores avançados

ou metastáticos da próstata, porém, os resultados não são animadores. A utilização

de apenas uma droga ou a associação de várias drogas vem sendo propostas,

entretanto, até o momento não se pode concluir quanto sua eficácia (NETTO

JÚNIOR; WROCLAWSKI, 2000, WROCLAWSKI et al., 2003).

1.8 CIRURGIA X RADIOTERAPIA

Uma grande controvérsia médica envolve o tratamento dos pacientes com

câncer localizado da próstata. Cirurgiões e radioterapeutas proclamam que a cirurgia

radical e a radioterapia externa, respectivamente, representam a maneira ideal de se

tratar tais casos. Numa tentativa de esclarecer esta polêmica, a American Urological

Page 38: Uma revisão de literatura sobre a próstata

38

Association constituiu em 1994 um painel de especialistas incumbido de rever todos

os estudos publicados à respeito na literatura médica.

Foram encontrados 12.501 artigos que lidavam com o tratamento do câncer

localizado da próstata, mas apenas 165 obedeciam aos critérios científicos que

davam credibilidade aos seus resultados. A conclusão deste painel foi de que entre

89% e 93% dos pacientes submetidos à prostatectomia radical e entre 66% e 86%

dos casos tratados com radioterapia externa estavam curados após 10 anos de

acompanhamento. O painel deu importância à avaliação feita após 10 anos, porque

com cinco anos quase 100% dos pacientes com câncer localizado da próstata estão

vivos, qualquer que seja o tratamento aplicado (WROCLAWSKI et al., 2003).

Outra conclusão óbvia desta pesquisa: apenas 2% dos estudos científicos

comparando cirurgia e radioterapia eram confiáveis. Em outras palavras, a quase

totalidade das conclusões publicadas na literatura médica sobre o tema são

inconsistentes e qualquer especialista, baseado nestes estudos, pode provar o que

quiser. Sempre existirão trabalhos demonstrando que a cirurgia ou a radioterapia

são extremamente eficientes ou, ao contrário, que não são dotadas de maior eficácia

clínica (SROUGI; SIMON, 1996).

Pedindo que se levasse em conta minha posição suspeita de cirurgião,

gostaria de dizer porque me sinto incomodado com a radioterapia convencional.

Existe, presentemente, um consenso de que a cura do câncer localizado da próstata

só poderá ocorrer se os níveis de PSA no sangue caírem para valores abaixo de 1

após o tratamento. Enquanto este fenômeno é observado em 90% dos pacientes

submetidos a prostatectomia radical, ele ocorre em apenas 40% dos casos tratados

com radioterapia, segundo dados do doutor Gunar Zagars, radioterapeuta do

renomado M.D. Anderson Cancer Center, de Houston. Em segundo lugar, a cirurgia

pode curar pacientes que têm PSA inicial até 50, mas de acordo com estudos

Page 39: Uma revisão de literatura sobre a próstata

39

realizados por radioterapeutas da Filadélfia e de Boston, a radioterapia externa só

age quando o PSA inicial é inferior a 15 ou 20. Um terceiro motivo de preocupação:

entre 60% e 70% dos casos submetidos à tratamento radioterápico evidenciam

focos cancerosos na próstata, quando a glândula é biopsiada após 2 anos do

tratamento (TAMAGHO; MCANINCH, 1994).

Os radioterapeutas dizem que estas lesões são biologicamente inativas, de

comportamento indolente. Pode ser que tenham razão, mas este fenômeno não

deixa de ser desconfortável. Na minha concepção, obviamente tendenciosa, câncer

indolente é aquele que está dentro de um balde com formol, não dentro do nosso

organismo (WROCLAWSKI et al., 2003).

Finalmente, os próprios radioterapeutas estão começando a demonstrar

algum desencanto pela radioterapia convencional. Estudo recentemente publicado

pela Divisão de Radioterapia do Massachusetts General Hospital, de Boston,

concluiu que a radioterapia externa cura menos de 40% dos casos de câncer

localizado da próstata. Da mesma forma, uma análise tardia de 1355 pacientes

tratados com radioterapia no M.D. Anderson Cancer Center concluiu que "a

erradicação total e permanente do câncer da próstata com as doses convencionais

de radioterapia externa, é muito mais difícil de ser obtida do que geralmente se

divulga" (SROUGI; SIMON, 1996).

Talvez por estarem conscientes da menor eficiência da radioterapia

convencional, os radioterapeutas tem explorado novas técnicas de irradicação da

próstata, incluindo-se aqui a radioterapia conformada, a braquiterapia (aplicação de

sementes radioativas de iodo ou de ouro na próstata) e a associação de radioterapia

com tratamento hormonal. Os resultados precoces com estes métodos, após 3 ou 4

anos, têm sido favoráveis. Contudo, todos os pacientes com câncer localizado de

próstata sobrevivem cinco anos, independente do tratamento realizado, de modo

Page 40: Uma revisão de literatura sobre a próstata

40

que é impossível afirmar, no momento, se estas técnicas são superiores à

radioterapia convencional. Enquanto não surgirem avaliações com 10 anos de

acompanhamento, estas três alternativas devem ser consideradas experimentais

(TAMAGHO; MCANINCH, 1994).

Argumentos desfavoráveis também existem em relação à cirurgia radical.

Embora seu valor curativo seja inquestionável (gráfico), a prostatectomia radical

pode provocar impotência sexual e incontinência urinária, ou seja, incapacidade para

se conter a urina. A impotência, que se caracteriza por perda das erecções

penianas, apesar do paciente poder atingir o orgasmo, surge em 95%quase todos os

operados com mais de 70 anos de idade, em 50% a 60% dos indivíduos com 55 a

65 anos e em 15% a 20% dos pacientes com menos de 55 anos (WROCLAWSKI et

al., 2003).

Ressalte-se que os riscos de impotência diminuem significativamente quando

o tumor é oculto, não palpável no toque digital e quando o cirurgião é

experimentado. Incontinência urinária moderada ou grave surge em 20% a 40% dos

pacientes submetidos à cirurgia em centros não-especializados mas acomete

apenas 1% a 2% dos casos quando a intervenção é realizada por equipes

habilitadas (SROUGI; SIMON, 1996).

A radioterapia externa, divulgada como uma terapêutica menos agressiva que

a cirurgia, também não é isenta de problemas. Entre 30% a 40% dos pacientes

desenvolvem impotência sexual, que surge um ou dois anos após o tratamento e,

por isto, nem sempre é atribuída à radioterapia. Além disto, 20% a 40% dos casos

apresentam queimaduras no intestino grosso, ânus e bexiga durante o tratamento,

que tendem a melhorar após alguns meses, mas costumam produzir grande

desconforto aos pacientes (WROCLAWSKI et al., 2003). Independente de todas as

incertezas que envolvem o tratamento do câncer localizado da próstata, nenhum

Page 41: Uma revisão de literatura sobre a próstata

41

especialista poderá orientar corretamente seus pacientes sem levar em conta os

sentimentos dos mesmos.

Numa pesquisa realizada em 1995 pela US TOO, entidade não-oficial de

apoio aos portadores de câncer da próstata, perguntou-se a um grupo de pacientes

o que eles mais esperavam do tratamento. Como resposta, 45% almejavam usufruir

de boa qualidade de vida, 29% gostariam de prolongar o tempo de sobrevida e 13%

desejavam retardar a evolução da doença. Por isto, médicos e pacientes, em

decisão conjunta, devem optar pelo tratamento mais eficiente quando sobrevida for a

questão mais relevante e escolher a terapêutica menos agressiva quando qualidade

de vida for a principal preocupação do paciente (WROCLAWSKI et al., 2003).

1.9 PREVENÇÃO

De acordo com dados do INCA (2008), não são conhecidas formas

específicas de prevenção do CP. No entanto, sabe-se que a adoção de hábitos

saudáveis de vida é capaz de evitar o desenvolvimento de certas doenças, entre

elas, o câncer. Atividade física, alimentação saudável, manutenção do peso corporal

correto e o não-uso de drogas, são algumas das medidas importantes para se

prevenir doenças em geral.

A prevenção do câncer da próstata não pode ser feita de forma eficiente, no

momento, porque ainda não são conhecidos os fatores que modificam a maquinaria

celular, tornando-a maligna.

Hábitos dietéticos talvez possam reduzir os riscos de câncer da próstata.

Neste sentido, tem-se recomendado alimentação com baixo teor de gordura animal,

comum nos países onde a incidência da doença é baixa (apenas 15% do total de

calorias sob forma de gordura).

Page 42: Uma revisão de literatura sobre a próstata

42

A ingestão abundante de tomate e seus derivados parece diminuir de 35% os

riscos de câncer da próstata, segundo estudo realizado na Universidade de Harvard.

O efeito benéfico do tomate resultaria da presença de grandes quantidades de

lycopene, um b-caroteno natural precursor da vitamina A. Finalmente,

complementação dietética com vitamina E (800 mg ao dia) e com selenium (200 µg

ao dia) talvez tenha um efeito protetor contra o câncer da próstata, de acordo com

dados do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, de Nova York.

A identificação dos estágios iniciais das doenças crônicas pode reduzir taxas

de morbidade e mortalidade, o que pode ser realizado por meio de dois níveis de

programas de prevenção: a primária que previne a ocorrência da enfermidade e a

secundária que consiste no diagnóstico precoce por meio de rastreamento.

No caso do câncer, a prevenção primária consiste na limitação da exposição

a agentes causais ou fatores de riscos como o fumo, sedentarismo, dieta

inadequada, vírus e exposição solar. Para a prevenção secundária do câncer se faz

necessário procedimentos junto à população que permitam o diagnóstico precoce ou

detecção das lesões pré-cancerosas, cujo tratamento pode levar à cura ou, ao

menos, à melhora da sobrevida dos indivíduos (TUCUNDUVA et al., 2004).

Segundo Gomes e colaboradores (2008), o exercício regular e a comida

saudável diminui a taxa de crescimento do câncer. Deve-se evitar gorduras, álcool,

carnes em geral (especialmente carne vermelha) e cálcio (nunca mais de 2 copos de

leite ao dia), já que o câncer necessita de calorias para crescer.

A melhor forma para uma alimentação saudável é comer muita verdura e

vegetais, grãos e legumes, produtos de soja, chá verde ou branco, água (2

litros/dia), fibras (pelo menos 25 gramas), vitaminas C, D e E e o mineral selênio.

Costa (1994) ressalta ainda que a ingestão abundante de tomate é muito importante,

Page 43: Uma revisão de literatura sobre a próstata

43

pois seus derivados parecem diminuir cerca de 35% os riscos do CP, segundo

estudo realizado na Universidade de Harvard.

Conforme Cagigal, Alonso e Sánchez (2003), o efeito benéfico do tomate

resultaria da presença de grandes quantidades de Licopeno (um b-caroteno natural

precursor da vitamina A), que apresenta um importante papel antioxidante.

Com relação à prevenção secundária do CP, Moritz e colaboradores (2005)

destacam que, em decorrência dos programas de detecção precoce e da introdução

das medidas do PSA, atualmente cerca de 75% dos novos casos de CP se

apresentam como doença localizada, uma evolução quando comparado a dados do

passado, onde a maioria dos pacientes com CP apresentava-se, de início, com

neoplasia disseminada.

De acordo com Srougi e Simon (1996), Fuganti, Machado e Wroclawski

(2003) e Pina, Lunet e Dias (2006), a descoberta precoce do CP é de fundamental

importância para a sua cura, por isso é de extrema importância que os homens

submetam-se ao exame preventivo anual da próstata, a partir dos 45 anos de idade.

Como a testosterona constitui um dos combustíveis que alimenta o câncer da

próstata, é possível que o bloqueio parcial deste hormônio possa reduzir a incidência

da doença. Com esta perspectiva, o National Cancer Institute, dos Estados Unidos,

estabeleceu um projeto para explorar um eventual papel da finasterida na prevenção

dos tumores malignos da próstata. Esta medicação bloqueia a enzima 5 a-redutase,

responsável pela ação da testosterona na célula prostática e não interfere

significativamente com a função sexual do paciente, comum quando se utilizam

outros antagonistas da testosterona.

Este projeto, que já se encontra em andamento, avaliará 18.000 homens

norte-americanos, que estão sendo sorteados para receber, durante 7 anos,

finasterida (5 mg ao dia) ou placebo (comprimido semelhante mas sem a droga).

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Todos estes indivíduos serão submetidos à biópsia prostática no final do estudo e,

desta forma, será possível determinar se a inibição da testosterona pode prevenir o

aparecimento do câncer da próstata.

Em suma, apesar da inexistência de medidas específicas de prevenção do

CP, constata-se que os conhecimentos de prevenção primária associados com os

conhecimentos da prevenção secundária, permitem a diminuição da exposição da

população a fatores de riscos e a realização de diagnóstico precoce, podendo

reduzir em 2/3 o número de casos de câncer em nosso meio (TUCUNDUVA et al.,

2004).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O câncer de próstata, uma das principais causas de doença e morte no

mundo, tem um tratamento controverso, uma vez que muitas variáveis o influenciam:

idade do paciente, níveis do PSA, estágio do tumor e seu tipo histológico, bem como

o desconhecimento de sua etiologia. Atualmente, o grande desafio é realizar o

diagnóstico precoce da doença, buscando sua cura logo nos estágios inicias.

Contudo, nota-se ainda um descaso da população masculina com relação a

fisiopatologia do câncer prostático, assim como sobre a importância da utilização de

medidas preventivas para se evitar o seu desenvolvimento, já que registra-se na

literatura um aumento progressivo de sua incidência com o passar dos anos. Este

aumento pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos,

pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na

expectativa de vida do brasileiro. No entanto, superar o preconceito, o medo e as

barreiras impostas à realização do exame preventivo do toque retal, assim como a

desinformação dos homens com respeito a esta patologia, ainda é uma realidade em

nosso meio.

Diante deste cenário, fica evidente a necessidade de se ampliar os

investimentos no desenvolvimento de ações abrangentes para o controle do CP, nos

diferentes níveis de atuação como: na promoção da saúde, na detecção precoce, na

assistência aos pacientes, na vigilância, na formação de recursos humanos, na

comunicação e mobilização social, assim como, na pesquisa e na gestão do SUS.

Estas são algumas das ações imprescindíveis que poderão um dia modificar o perfil

desta doença em nosso país.

Page 46: Uma revisão de literatura sobre a próstata

46

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