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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO LUCIANA BULHÕES MACHADO IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à Condutor em Camaçari-BA MACEIÓ - AL 2013

UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA - netrantransito.com.br Luciana Bulhoes.pdf · respostas afirmativas nas cinco questões estudadas, evidenciado que os participantes, de maneira geral,

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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO

LUCIANA BULHÕES MACHADO

IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA:

Percepção dos Candidatos à Condutor em Camaçari-BA

MACEIÓ - AL

2013

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LUCIANA BULHÕES MACHADO

IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA:

Percepção dos Candidatos à Condutor em Camaçari-BA

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.

Orientador: Prof. Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva

MACEIÓ - AL

2013

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LUCIANA BULHÕES MACHADO

IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA:

Percepção dos Candidatos à Condutor em Camaçari-BA

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.

APROVADO EM: ____/____/____

_______________________________________________

PROF. MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA

ORIENTADOR

________________________________________________

PROF.DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

PROF.ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA

BANCA EXAMINADORA

4

DEDICATÓRIA

Aos meus pais

José Lúcio e Lucina Machado

Ao meu amado marido

Luís Henrique Araújo

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus a quem devo minha existência e que tornou possível seguir esse

caminho profissional com amor, ética e dedicação.

Ao meu marido Luís Henrique, pela compreensão e incentivo em todos os momentos.

Aos professores pelo apoio e orientação necessários para a realização desse estudo.

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RESUMO

A avaliação psicológica é atualmente uma etapa preliminar e obrigatória para todos os candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Essa avaliação consiste na aplicação de testes psicológicos, observação, realização de dinâmicas e entrevistas por profissionais de Psicologia devidamente capacitados na área do Trânsito. O objetivo deste estudo foi verificar a importância da avaliação psicológica no contexto de trânsito na percepção dos candidatos à obtenção da CNH. De modo específico, pretendeu-se: analisar se os candidatos que passaram pela avaliação psicológica concordam que o candidato reprovado não pode dirigir um veículo automotor; se consideram que essa etapa contribui para identificar comportamentos adequados no trânsito, que diminuiriam o risco de acidentes; e detectar se essa avaliação psicológica deve ser realizada com maior periodicidade. Participaram da pesquisa 101 pessoas de uma clínica, na cidade de Camaçari, credenciada ao Departamento de Transito da Bahia. Os resultados revelaram altas porcentagens de respostas afirmativas nas cinco questões estudadas, evidenciado que os participantes, de maneira geral, consideram importante a realização da avaliação psicológica no trânsito. Isso demonstra a valorização e desenvolvimento dessa área da Psicologia, que busca contribuir para a segurança da população no trânsito. Palavras-chave: Psicologia do Trânsito; Avaliação psicológica; Habilitação.

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ABSTRACT

The psychological assessment is currently a preliminary step is mandatory for all applicants for a National Driver's License. This assessment is based on the use of psychological tests, observation, completion of dynamic and interviews by professionals of Psychology properly trained in the area of transit. The objective of this study was to verify the importance of the psychological assessment in the context of transit in the perception of candidates obtaining the National Driver's License. In particular, was intended to: examine whether candidates who have passed the psychological assessment agree that the candidate failed cannot address a powered vehicle; if they consider that this step helps to identify appropriate behaviors in traffic, which would decrease the risk of accidents; and detect if this psychological assessment must be carried out with greater frequency. Participated in this study 101 people of a clinic in the city of Camaçari, accredited to the Department of transit of Bahia. The results showed high percentages of affirmative answers in five issues studied, evidenced that the participants, in general, consider important the realization of the psychological assessment in transit. This demonstrates the enhancement and development of this area of Psychology, which aims to contribute to the security of the population in transit. Keywords: Traffic Psychology; Psychological assessment; Enabling.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 01 – Importância da realização da avaliação psicológica para obter a

Carteira Nacional de Habilitação (CNH)...................................................43

FIGURA 02 – Candidato reprovado na avaliação psicológica não pode dirigir

um veículo................................................................................................45

FIGURA 03 – Avaliação psicológica contribui para identificar comportamentos

adequados para o trânsito........................................................................47

FIGURA 04 – Avaliação psicológica pode ajudar a diminuir risco de acidentes ............48

FIGURA 05 – Avaliação psicológica deveria ocorrer com maior frequência...................49

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................12

2.1 Breve Histórico sobre a Psicologia do Trânsito...................................................12

2.2 Avaliação Psicológica no Processo de Habilitação de Condutores..................19

2.3 Testes Psicológicos Utilizados na Avaliação Pericial dos Condutores.............26

2.3.1 Testes de Personalidade.....................................................................................27

2.3.2 Testes de Atenção................................................................................................30

2.3.3 Testes de Inteligência e Raciocínio....................................................................32

2.4 A Importância da Avaliação Psicológica para Redução de Acidentes de Trânsito....................................................................................................................34

3 MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................40

3.1 Ética..........................................................................................................................40

3.2 Universo...................................................................................................................40

3.3 Amostra....................................................................................................................41

3.4 Instrumento de Coleta de Dados...........................................................................41

3.5 Procedimentos para Coleta de Dados...................................................................41

3.6 Procedimentos para Análise dos Dados...............................................................42

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................43

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................51

REFERÊNCIAS...............................................................................................................54

APÊNDICES....................................................................................................................58

ANEXOS.........................................................................................................................59

10

1 INTRODUÇÃO

O trânsito de veículos ocupa um papel fundamental na vida das pessoas, que de

diversas formas precisam se deslocar no seu dia a dia, transportar mercadorias que

possibilitam a sobrevivência do ser humano e favorece o desenvolvimento em

sociedade. Contudo, esse deslocamento de pessoas e veículos também trouxe sérias

conseqüências negativas, como graves problemas de saúde e segurança pública.

Através dessas conseqüências negativas, como os acidentes de trânsito, começou-se a

cogitar a possibilidade de utilização de vários conhecimentos científicos, e dentre eles a

psicologia, para minimizar essas trágicas ocorrências. A denominada Psicologia do

Trânsito nasce, então, da necessidade de estudar o comportamento humano no trânsito

e de torná-lo mais seguro, contribuindo para o bem estar das pessoas em seus

deslocamentos.

No Brasil, a história da psicologia aplicada ao trânsito começou com as primeiras

aplicações de instrumentos psicológicos. O Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN)

estabeleceu a necessidade de avaliar psicologicamente os requerentes à Carteira

Nacional de Habilitação (CNH) com finalidade profissional, com o objetivo de diminuir a

incidência de acidentes no trânsito em veículos automotores; e posteriormente, esses

exames foram estendidos para todos os futuros condutores no Brasil, perdurando até

os dias de hoje. Portanto, um dos campos de atuação do psicólogo do trânsito é a

realização da avaliação psicológica.

Entretanto, pode-se verificar que tem havido um crescente debate sobre a

importância, ou não, da avaliação psicológica nesse processo de aquisição da

habilitação de condutor. Alguns autores consideram a avaliação psicológica no trânsito

desnecessária e trazem discussões que envolvem questões referentes à segurança no

trânsito, à validade dos testes psicológicos e à capacidade do psicólogo em avaliar o

perfil do bom condutor. Por ser uma área em que a população tem bastante contato, é

fundamental pesquisar a percepção dos candidatos à condutores com relação à

importância da avaliação psicológica no trânsito.

Percebe-se que esse estudo é bastante atual, possuindo grande relevância para

o psicólogo de trânsito que irá realizar avaliação psicológica nos candidatos à carteira

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de habilitação. Afinal esse profissional precisa estar seguro dos benefícios da sua

atuação para a população brasileira, assim como ter uma visão crítica que possibilitará

o investimento no desenvolvimento e valorização da Psicologia do Trânsito.

Além disso, já existe um estudo realizado por Lamounier e Rueda (2005) em que

foi verificado se os candidatos à obtenção da CNH e os condutores habilitados do

Estado de Minas Gerais consideram a avaliação psicológica importante para o contexto

do trânsito. Participaram da pesquisa 783 sujeitos e os autores observaram que a

grande maioria dos sujeitos se mostrou a favor da avaliação psicológica. Os autores

dessa pesquisa concluíram que estudos em outros Estados do Brasil são necessários

para verificar a percepção da população acerca da avaliação psicológica, portanto, com

base nisso, julga-se fundamental esse novo estudo que será realizado na cidade de

Camaçari na Bahia a fim de compará-lo com os dados já apresentados.

O objetivo desse estudo foi verificar a importância da avaliação psicológica no

trânsito na percepção dos candidatos à 1ª CNH. De modo específico, pretende-se:

analisar se os candidatos que passaram pela avaliação psicológica concordam que o

candidato reprovado não pode dirigir um veículo automotor; se consideram que essa

etapa contribui para identificar comportamentos adequados no trânsito; e detectar se

essa avaliação psicológica deve ser realizada com maior freqüência.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Breve Histórico sobre a Psicologia do Trânsito

O trânsito surgiu em função da necessidade do ser humano se locomover, trocar

mercadorias, comercializar produtos, intercambiar conhecimentos, tecnologias e cultura,

aspectos essenciais que possibilitam a sobrevivência e favorecem o desenvolvimento

em sociedade (ROZESTRATEN, 1988). Os deslocamentos das pessoas e veículos nas

vias públicas ocorrem dentro de um sistema regulamentado que assegura a integridade

dos participantes.

O trânsito é composto principalmente pelo homem, a via e o veículo; sendo que a

segurança no trânsito necessita da integração harmônica entre esses três elementos

(ROZESTRATEN, 1988). Atualmente, a grande quantidade de veículos nas ruas, a

precariedade das vias públicas e as diversas características comportamentais das

pessoas tornam a locomoção bem complicada (TEBALDI e FERREIRA, 2009).

Os primeiros automóveis e caminhões começaram a circular no Brasil no início

do século XX. A locomoção em massa realizada por meio de bondes e trens foi sendo

lentamente substituída pelo uso do automóvel, fruto do apoio da indústria

automobilística no país (LAGONEGRO, 2008). Nos tempos atuais, o uso de veículos

automotores tem influenciado a sociedade de diferentes maneiras, como na mudança

de valores culturais, na percepção de distância, entre espaço e tempo, cidades e

países, nas relações humanas, no comportamento social e nos avanços tecnológicos

(HOFFMANN e CRUZ, 2007).

Apesar da produção e uso do automóvel ter contribuído para o desenvolvimento

econômico do país, também trouxe um lado negativo, pois, passaram a existir graves

problemas ambientais e de saúde pública (SILVA, 2005). Os órgãos governamentais, ao

apresentarem as estatísticas de trânsito, geralmente consideram os motoristas como

responsáveis pela produção de mais de 70% do total de acidentes (PORTUGAL e

SANTOS, 1991; RODRIGUES, 2000 apud GOUVEIA et al, 2002). Em algumas

pesquisas o Brasil foi apontado como o terceiro país do mundo em acidentes fatais no

trânsito, apresentando uma média de 14 mortes por grupos de 100.000 habitantes,

13

ficando atrás apenas da Grécia e dos Estados Unidos (Notas Internacionais, 2000 apud

GOUVEIA et al, 2002).

Dessa maneira, a Organização Mundial de Saúde considera o trânsito um

problema de saúde pública e buscam-se soluções para a violência. Notícias sobre o

trânsito estão diariamente na mídia, mostrando os mortos contabilizados, assim como

as incontáveis pessoas com seqüelas ou mutilações ocorridas por conseqüência da

violência no trânsito (THIELEN, 2011).

A psicologia do trânsito nasceu da necessidade de tornar o trânsito mais seguro,

contribuindo para o bem estar das pessoas em seus deslocamentos (CONSELHO

FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000, apud SILVA, 2005). Para Silva (2005), o homem,

com seus múltiplos fatores sensoriais, motivacionais, emocionais e de personalidade, é

o maior responsável pelas diferentes causas dos acidentes de trânsito.

Hoffmann e Legal (2007) identificaram três grandes categorias que envolvem os

erros mais importantes que precedem um acidente: erros de reconhecimento e

percepção; erros de processamento e tomada de decisão-inteligência, conhecimentos

ou atitudes; e erros na execução da manobra, que envolvem habilidades psicomotoras.

Além disso, as falhas humanas mais comuns são as causas físicas, como fadiga, falta

de energia, defeitos sensoriais; causas psíquicas, de pressa, falta de atenção,

agressividade e competitividade; busca intencional de risco e de emoções intensas;

distrações; e estados psicofísicos transitórios, através do uso inadequado de álcool,

fármacos, sonolência, depressão e estresse.

O trânsito do Brasil pode ser considerado o espelho das normas e condutas da

sociedade. Percebe-se que a educação, os costumes e os valores dessa irão refletir na

obediência ou não dos cidadãos aos códigos estabelecidos. Embora a fiscalização e

punição no trânsito sejam necessárias, supõe-se que trabalhos preventivos, que os

psicólogos do trânsito podem realizar, serão mais eficazes, promovendo

conscientização e proteção dos brasileiros (DUARTE, 2007).

Através de numerosas pesquisas em dezenas de institutos, laboratórios e

centros de pesquisa observaram-se a importância de uma Psicologia do Trânsito, que

foi definida como o estudo científico do comportamento dos participantes do trânsito

(CARBONELLI, 1981). Os estudos acerca da Psicologia do trânsito são relevantes para

14

o conhecimento dos comportamentos individuais e sociais do homem neste tipo de

situação, contribuindo para uma relação com o trânsito mais harmônica. Afinal ao se

compreender mais acerca do comportamento humano no trânsito é possível fazer um

trabalho preventivo, diminuindo as possibilidades de um motorista se colocar em

situações de risco, o que dá maiores condições de segurança.

A Psicologia aplicada ao estudo dos transportes terrestres remonta a meados do

século XX, à década de 1920. Essa prática marcou uma das primeiras competências

profissionais de intervenção legalmente regulamentada e preservada ao longo da

história da Psicologia no Brasil (HOFFMANN, 1995 apud HOFFMANN e CRUZ, 2007).

Hoffmann e Cruz (2007) apontam que os fatos mais importantes da história da

evolução da Psicologia do Trânsito no Brasil podem ser estruturados em quatro

grandes etapas: 1) o período das primeiras aplicações de técnicas de exame

psicológico até a regulamentação da Psicologia como profissão; 2) consolidação da

Psicologia do Trânsito como disciplina científica; 3) notável desenvolvimento da

Psicologia do Trânsito em vários âmbitos e sua presença no meio interdisciplinar; 4)

aprovação do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503, de 23/09/97) e um período de

maior sensibilização da sociedade e dos psicólogos com relação à discussão sobre

políticas públicas de saúde, educação e segurança na circulação humana.

Com relação à Psicologia da Segurança Viária, Mira y López, diretor do Instituto

de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), destacou-se como precursor de uma

atividade preventiva direcionada a todos os condutores e profissionais da condução.

Em abril de 1951, o ISOP iniciou o exame dos candidatos à obtenção da Carteira

Nacional de Habilitação (CNH) por meio de entrevistas, prova de aptidão e de

personalidade (HOFFMANN e CRUZ, 2007).

Segundo Silva (2005), apenas em 1953, o Conselho Nacional de Trânsito

(CONTRAN) aprovou uma resolução que tornou obrigatório, em todo país, avaliar

psicologicamente os requerentes à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com

finalidade profissional. O objetivo era diminuir a incidência de acidentes no trânsito em

veículos automotores, não concedendo a habilitação aos motoristas considerados

inaptos. Em 1962, ano do reconhecimento da profissão de psicólogo no Brasil, o

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CONTRAN estendeu o exame psicotécnico para todos os futuros condutores no Brasil,

perdurando até os dias de hoje.

A estrutura de um serviço de avaliação psicológica na área foi materializada pela

primeira vez em Minas Gerais, por organizar o Serviço de Psicologia em avaliação de

condutores. Tal programa pioneiro seguiu por vários anos como modelo de avaliação

de condutores, tomado como referência de atuação a ser seguida pelos Serviços de

Psicologia do Trânsito dos demais estados brasileiros. Neste sentido, Minas Gerais

seguiu a dianteira dos estudos e pesquisas na área, editando livros e um periódico, o

primeiro na Psicologia do Trânsito, a Revista do Gabinete de Psicotécnica em Trânsito

(HOFFMANN e CRUZ, 2007).

De acordo com Alchieri, Silva e Gomes (2006), a aprovação do Código Nacional

de Trânsito em 1966, em substituição ao de 1941, veio confirmar com mais força a

avaliação psicológica obrigatória. E a expressão de instituições nacionais, como

Conselho Federal de Psicologia (CFP), Conselhos Regionais de Psicologia (CRP), no

amparo legal e profissional a nova profissão, asseguraram a importância e expressão

como ação no trânsito. Pelo trabalho desenvolvido, definem-se como precursores da

Psicologia do Trânsito, Roberto Mange, Emilio Mira y López e Alice G. de Mira, José

Nava, José A. Amorim, Roberto Suchaneck, Alfredo Oliveira Pereira, José Silveira

Pontual, Suzana Cunha.

Vale ressaltar que é com o professor Reinier Rozestraten que a Psicologia do

Trânsito começa a ser amplamente conhecida no contexto brasileiro através de suas

publicações nacionais e internacionais, participações em congressos e realizações de

cursos para psicólogos. Por sua condução também foram criados diversos núcleos de

pesquisa, assim como cursos de pós-graduação voltados para a área de Psicologia do

Trânsito (HOFFMANN e CRUZ, 2007).

Na década de 70, a psicologia tinha sua atenção voltada para os aspectos da

avaliação e medida de comportamentos, posição esta questionada frontalmente por

novas idéias no cenário mundial da contracultura, o que acabou restringindo o

desenvolvimento de estratégias e ações quanto à avaliação psicológica por quase uma

década (PASQUALI e ALCHIERI, 2001, apud ALCHIERI, SILVA e GOMES, 2006).

16

A partir dos anos 80, verifica-se a reativação da Psicologia do Trânsito e sua

correlata, a Segurança Viária adentrando nos meios universitários e em outros países,

como também em outras ciências no Brasil. Cabe considerar ainda a relevância do

Código Brasileiro de Trânsito de 1998 e suas conseqüências na atualização dos

aspectos legais desta área (ALCHIERI, SILVA e GOMES, 2006).

Segundo Alchieri, Silva e Gomes (2006), por mais de cinco décadas os

profissionais da psicologia avaliaram os candidatos a condutores de todo o país,

seguindo os ditames legais dos órgãos de trânsito e as orientações dos seus

respectivos órgãos de classe, quando estes se manifestavam. Desta maneira, as

atividades da psicologia continuaram pelas décadas seguintes, com pouca ou quase

nenhuma modificação em sua execução, até o veto presidencial, na virada do novo

milênio, quase chegando a eliminar esta atividade. Através das ações da categoria e

das orientações do DENATRAN, a resolução 80 (1998) é apresentada, regulamentando

também a avaliação psicológica.

Atualmente, a avaliação psicológica é exigência obrigatória em situações

específicas, como no caso de condutores infratores contumazes, envolvidos em

acidentes graves, conforme a Resolução N° 80/1998 do Conselho Nacional de Trânsito

(1998), e, mais recentemente, em caso de renovação da CNH dos condutores

profissionais, como estabelecido pela Resolução N° 168/2004 (CONSELHO NACIONAL

DE TRÂNSITO, 2004, apud SILVA, 2005).

De acordo com Carbonelli (1981), a Psicologia do Trânsito estuda o

comportamento dos pedestres de todas as idades, do motorista amador e profissional,

do motoqueiro, do ciclista, dos passageiros e do motorista de coletivos, e num sentido

mais largo ainda, de todos os participantes do tráfego aéreo, marítimo, fluvial e

ferroviário. De modo geral, no entanto, essa área da Psicologia se restringe ao

comportamento dos usuários das rodovias e das redes viárias urbanas.

Segundo Silva (2005), para que se possa entender a importância de se falar em

uma psicologia dedicada a estudar o trânsito e como ela pode ajudar a melhorar a

situação neste espaço, é fundamental, que se tenha consciência do papel central que o

trânsito exerce na vida das pessoas. É impossível não participar do trânsito em algum

momento, seja como pedestre, condutor ou passageiro.

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Segundo Carbonelli (1981), a Psicologia do Trânsito se relaciona com quase

todas as áreas especializadas da Psicologia, desde a psicofísica e psicofisiologia até a

teoria de decisão e os processos cognitivos, procurando explicações na teoria do

condicionamento operante e na teoria psicanalítica. Permeia pela psicologia do

desenvolvimento e pela psicologia gerontológica e se relaciona com a psicologia da

motivação e da aprendizagem, com a psicopedagogia e com a psicologia social. É um

campo que envolve grande complexidade de fatores. Além de estar ligado às diversas

áreas da Psicologia, este campo requer também contatos com a engenharia de

estradas e de veículos, com a medicina do trabalho, com a estatística, a física, a

ergonomia, a sociologia, a psicopedagogia e mesmo com o direito e com a criminologia.

O mesmo autor citado acima acredita que a Psicologia do Trânsito pode

contribuir para diminuir a enorme quantidade de acidentes nas estradas. Afinal oferece

subsídios para garantir ao ser humano condições de maior segurança no trânsito,

diminuindo os riscos de acidentes e as ameaças de perder a vida. Ela pode dar as

diretrizes educacionais, sugerindo recursos mais eficientes para o ensino, pois dirigir é

aparentemente simples, mas um pequeno erro pode ter graves consequências. Assim

o comportamento de dirigir é na realidade bastante complexo, pois pode incluir

processo de atenção, de detecção, de diferenciação e de percepção, o processamento

de informações, a memória a curto e a longo prazo, a aprendizagem e o conhecimento

de normas e de símbolos, a motivação, a tomada de decisões bem como uma série de

automatismos percepto-motores, de manobras rápidas e uma capacidade de reagir

prontamente ao feedback, a previsão de situações em curvas, em cruzamentos e em

lombadas, e também, uma série de atitudes em relação aos outros usuários, aos

inspetores, às normas de segurança, ao limite de velocidade, etc.

A realização da avaliação psicológica é considerada apenas uma das

possibilidades de atuação do psicólogo do trânsito, que passa por processos de

revisões e atualizações. É interessante que surjam novos espaços para a realização de

outras atividades, como, por exemplo, a elaboração de pesquisas no campo dos

processos psicológicos, psicossociais, psicofísicos; colaboração na

elaboração/implantação de ações de engenharia e operação de tráfego;

desenvolvimento de ações sócio-educativas; análise dos acidentes de trânsito e

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sugestões de como evitar e atenuar suas incidências (HOFFMANN, 2003, apud SILVA,

2005).

Os psicólogos que trabalham atualmente nos Departamentos de Trânsito

(DETRANs), em parte por razões históricas, continuam atuando principalmente com a

avaliação psicológica de condutores, administrando, analisando os resultados dos

instrumentos e fiscalizando as atividades realizadas pelas clínicas credenciadas. O

funcionamento desses departamentos também contribuiu para que os psicólogos

assumissem outras tarefas decorrentes da evolução da legislação e de novas

demandas sociais, como capacitação dos psicólogos peritos em trânsito, diretores e

instrutores; elaboração de programas de reabilitação e educação aos motoristas

infratores; e realização de ações para prevenir acidentes (HOFFMANN, 2003 apud

SILVA e GUNTHER, 2009).

É importante reconhecer também que existe campo de atuação, para o psicólogo

do trânsito, fora das clínicas e dos DETRANs. Isso implica no desafio de ocupar outros

campos potenciais e desenvolver práticas inovadoras. Para isso, destaca-se a

resolução n.267/2008 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) que estabelece

algumas mudanças para trabalho do psicólogo, dentre elas, a que determina que a

partir de 2013, só serão credenciados os profissionais com título de especialista em

Psicologia do Trânsito. Essa medida pode auxiliar para que tenhamos profissionais

mais capacitados para atuar de forma mais ampla com os diversos problemas do

trânsito, ocupando mais espaços, como no contexto das políticas públicas de transporte

(SILVA e GUNTHER, 2009).

O psicólogo do trânsito é um profissional polivalente, capaz de atuar nas áreas

de educação, engenharia e fiscalização, intervindo no sistema do trânsito de forma

eficiente. Por outro lado, apesar do campo de atuação do psicólogo do trânsito ter

ampliado, ainda é na área de avaliação psicológica para habilitação de condutores que

a grande maioria dos psicólogos atua. Dessa maneira, precisa-se estudar mais

profundamente como vêm sendo desempenhada essa prática e a importância da

avaliação psicológica no trânsito e na prevenção de acidentes.

19

2.2 Avaliação Psicológica no Processo de Habilitação de Condutores

O termo avaliação refere-se ao fato de que o ser humano utiliza códigos de

conduta através dos quais as pessoas e as sociedades julgam o comportamento dos

semelhantes. Vale ressaltar que se deve aos psicólogos do fim do século XIX a origem

da avaliação formal e sistemática (PASQUALI, 1999 apud GOUVEIA et al, 2002).

A avaliação de habilidades e traços psicológicos, através de técnicas ou testes

projetivos e psicométricos tem sido um dos alicerces da intervenção e direção do

conhecimento do psicólogo nas diversas áreas: clínica, escolar, organizacional, trânsito,

etc. A avaliação psicológica demonstrou seu valor ao longo da história, sendo

fundamental durante a Primeira Guerra Mundial, quando os militares passaram a ser

recrutados e designados para determinadas funções segundo suas habilidades

psicológicas (PRIETO e GOUVEIA, 1997 apud GOUVEIA et al, 2002).

Pasquali (1999 apud GOUVEIA et al, 2002, p.13) observa que os instrumentos

psicológicos, como os testes, escalas e questionários “representam a expressão

cientificamente sofisticada de um procedimento sistemático de qualquer organismo,

biológico ou social, a saber, o de avaliar as situações para tomar decisões que

garantam a sobrevivência do próprio organismo, bem como seu auto-desenvolvimento”.

Isto possibilita um diagnóstico mais preciso e fidedigno.

É importante abordar que a avaliação psicológica é, provavelmente, uma das

mais antigas áreas da psicologia e que a utilização dos testes psicológicos tem crescido

em um ritmo cada vez mais acelerado e vem contribuindo nas variadas áreas da vida

cotidiana, inclusive na área do trânsito (ANASTASI e URBINA, 2000). Contudo, os

testes são apenas ferramentas, sendo assim, os usuários dos testes precisam saber

como avaliá-los, o propósito que será utilizado, quais são as informações que ele pode

oferecer sobre a pessoa que se submete a ele e como avaliar o resultado.

Observa-se que, até o momento, não existe consenso sobre a relevância e

necessidade da avaliação psicológica no processo de concessão da Carteira Nacional

de Habilitação (CNH). Sabe-se que o antigo Presidente Fernando Henrique Cardoso

vetou sua obrigatoriedade no novo Código Nacional de Trânsito, porém as intensas

mobilizações dos psicólogos e de alguns parlamentares fez com que, no dia 15 de

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Janeiro de 1998, a Câmara dos Deputados aprovasse o Projeto de Lei que a instituía,

sendo esta decisão ratificada pelo Senado logo após. Essa foi uma situação de

evidente confrontação de interesses, discutida no informativo mensal do CRP-05,

matéria divulgada em Janeiro de 1998, sob o título “Avaliação Psicológica: Vitória da

Psicologia” (GOUVEIA et al, 2002).

A avaliação psicológica se inseriu no processo de habilitação, sendo atualmente

uma etapa preliminar, obrigatória, eliminatória e complementar para todos os

condutores e candidatos a obtenção ou mudança de categoria da Carteira Nacional de

Habilitação. No exame de avaliação psicológica no trânsito devem ser investigadas

segundo a Resolução n.80/98 do Código de Trânsito Brasileiro (1998) as seguintes

características psicológicas: percepto-reacional, que permitem aferir a atenção,

percepção, tomada de decisão, motricidade e nível mental; equilíbrio psíquico que

avalia a ansiedade, excitabilidade, ausência de quadro patológico, controle adequado

da agressividade e da impulsividade, equilíbrio emocional e ajustamento pessoal-social;

e por último as habilidades específicas, que prevê avaliação dos tempos de reação,

atenção concentrada, rapidez de raciocínio e relações espaciais (DUARTE, 2007).

Pode-se considerar que a Psicologia de Trânsito e a Avaliação Psicológica são

áreas afins, uma vez que essa última consiste em um processo técnico-científico,

realizado por meio de estratégias psicológicas como métodos, técnicas e instrumentos

que permitem um conhecimento de capacidades cognitivas e sensório-motoras,

componentes sociais, emocionais, afetivos, motivacionais, aptidões específicas e

indicadores psicopatológicos (NORONHA, 1999 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005).

Desse modo, os psicólogos de trânsito fazem uso da avaliação psicológica para

investigar as características psicológicas dos candidatos à obtenção da CNH, da

mudança da categoria da CNH e em caso de renovação para motoristas profissionais.

Desde o início da utilização da Avaliação Psicológica para o Trânsito, esse processo

tem sido denominado Exame Psicotécnico. No entanto, em 1998, com a publicação do

Novo Código de Trânsito Brasileiro, esse termo foi substituído pela Avaliação

Psicológica Pericial. Deve-se dizer que essa alteração ocorreu em razão das novas

exigências da Resolução 80/98 do CONTRAN em relação ao procedimento que

passaria a ser adotado.

21

As principais alterações baseavam-se no fato de que a Avaliação Psicológica

Pericial para o Trânsito deveria ser realizada por Peritos de Trânsito que tivessem o

respectivo curso e a finalidade do exame passava a ser investigar adequações

psicológicas mínimas no candidato à CNH para que fosse capaz de conduzir de forma

correta e segura. Portanto, a razão maior desse processo estaria na necessidade de

tentar garantir a segurança do condutor e dos demais envolvidos no trânsito (CFP, 2000

apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005).

Vale ressaltar que a avaliação psicológica é uma atividade ampla e complexa

que permite ao profissional interpretar, através de coleta de dados e informações,

traços do comportamento humano. Ela é uma área técnica produtora de ferramentas

profissionais, assim como é a área da psicologia responsável pela operacionalização

das teorias psicológicas em aspectos observáveis, possibilitando a integração da teoria

com a prática. Tal processo não consiste apenas na aplicação e interpretação dos

testes, mas também em um método que envolve entrevistas e observações

psicológicas (PRIMI, 2010; LAMOUNIER e RUEDA, 2005).

A entrevista psicológica é vista como um diálogo, uma comunicação entre

pessoas, uma relação, levando em conta fatores psicológicos observados. As

entrevistas permitem ao psicólogo verificar manifestações características do sujeito, o

auxiliando a compreender de forma ampla e profunda o outro e seu modo de se

relacionar. Por meio da entrevista é possível buscar esclarecimentos, exemplos e

contextos para as respostas do indivíduo. E, para a boa realização de uma entrevista, o

entrevistador precisa estar livre de preocupações se colocando presente, para ouvir o

outro de forma a focar a atenção no entrevistando. Dessa forma, a entrevista deve ser

considerada mais que uma técnica, é um momento de contato social entre duas ou

mais pessoas. A execução dessa técnica é importante, pois é influenciada pelas

habilidades interpessoais do entrevistador, permitindo ao analisado revelar seus

pensamentos e sentimentos (ALMEIDA, 2004).

Com relação ao teste psicológico, este é definido como uma mensuração

objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento, podendo ser descrito com

ajuda de escalas numéricas ou categorias fixas. Dividido em dois tipos, os testes

psicológicos podem ser psicométricos ou projetivos. Os testes psicométricos se

22

baseiam na teoria da medida, usam números para descrever os fenômenos

psicológicos e seus resultados originam um cálculo; sendo o resultado do teste de cada

sujeito comparado com uma tabela do resultado para a população em geral. Os testes

psicométricos primam pela objetividade e tarefas padronizadas; sua correção ou

apuração é mecânica, portanto, sem ambiguidade por parte do avaliador. Já os testes

projetivos se fundamentam na descrição lingüística e nas interpretações qualitativas da

amostra estudada, caracterizando os sujeitos em termos de atributos e qualidades,

permitindo identificar características da personalidade, da história de vida e estado

mental do sujeito (ANASTASI, 1977).

Após a aplicação e correção dos testes psicológicos, os psicólogos que atuam

nas clínicas de trânsito devem realizar a construção do laudo psicológico, que é uma

ferramenta usada para informar resultados referentes à avaliação, realizar análise dos

resultados e informar as conclusões. Para Silva e Alchieri (2011), existem algumas

falhas na construção de laudos psicológicos, seja na estrutura ou no preenchimento dos

documentos construídos pelos profissionais de psicologia e pelos peritos de trânsito. A

falta de padronização, de alguns itens obrigatórios como a conclusão, usos de

abreviaturas, de expressões não adequadas dos instrumentos e de suas avaliações,

além da falta de integração dos dados pessoais com as entrevistas, observações

gerais, dos testes e da análise, a falta do nome do psicólogo ou número do Conselho

Regional de Psicologia (CRP), acabam comprometendo o parecer final dos

profissionais. Dessa maneira, entende-se que alguns laudos psicológicos não possuem

a qualidade necessária que é estabelecida pelo CRP.

No laudo deve ser identificado o resultado da avaliação psicológica, para que

junto com a avaliação médica o futuro candidato possa obter a permissão ou não para

dirigir (SILVA e ALCHIERI, 2010). Seguindo as recomendações da Resolução

267/2008, do CONTRAN, o candidato avaliado pelo psicólogo deverá ser considerado

como: apto, se apresentar desempenho condizente para condução de veículo

automotor; apto com restrições, se houver necessidade de restrição a ser registrada na

CNH; inapto temporário, se o candidato apresentar deficiência passível de melhora,

como estresse e depressão, podendo realizar após determinado período nova

23

avaliação; e inapto, quando apresentar inadequação nas áreas avaliadas que estejam

fora dos padrões de normalidade e de natureza não recuperável.

Contudo, verifica-se a ausência de critérios precisos para avaliar o condutor;

deficiente capacitação profissional dos psicólogos; má qualidade do processo de

avaliação psicológica, conforme realizado em alguns departamentos de trânsito e

clínicas credenciadas, que possuem espaços inapropriados para a aplicação;

simplificações e erros no uso dos testes e instrumentos copiados; divergências de

posicionamentos entre psicólogos peritos examinadores e usuários, quanto ao grau de

importância dado ao processo de avaliação de motoristas (SILVA E ALCHIERI, 2007).

Sabe-se que a avaliação psicológica é uma ação bastante indagada no Brasil,

por muitos anos esta atividade passou por mudanças. Seu início foi conturbado, pois

havia a rotulação dos doentes mentais, sendo bastante questionada por seus métodos

e pela pouca exatidão dos resultados. O que percebe-se é que, atualmente, essa

prática encontra-se em um momento de aprimoramento, mesmo com as controvérsias

que ainda existem. O que se busca é uma avaliação psicológica que seja considerada

uma atividade importante e que seja uma necessidade primária (NORONHA, 2002).

De acordo com Lamounier e Rueda (2005) é fundamental pontuar que o objetivo

da Avaliação Psicológica Pericial no contexto de Trânsito nunca foi o de predizer se um

determinado indivíduo viria a se envolver em acidente ou não, e sim de realizar um

trabalho preventivo, no qual fosse possível diminuir as possibilidades de um condutor

se expor as situações de risco. Alchieri e Stroeher (2002 apud LAMOUNIER e RUEDA,

2005) realizaram uma pesquisa revelando estudos que demonstram algumas

características de personalidade predisponentes a acidentes de trânsito nos

condutores. Ao lado disso, vários estudos verificam uma forte conexão entre

agressividade e trânsito.

Lancaster e Ward (2002 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005) também sugerem

que pode haver uma relação entre estresse e acidentes de trânsito. Outra explicação

dada à alta ocorrência de acidentes de trânsito é que exceder os limites de velocidade

significa desafiar a lei, e para os indivíduos com desvio social mais elevado, esse

comportamento representa uma forma de autoafirmação compensatória (CORASSA,

2001; HOFFMANN e GONZÁLEZ, 2003 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005). Sob

24

essas perspectivas, são muitas as variáveis psicológicas que podem influenciar na

ocorrência de acidentes.

Por outro lado, as características de personalidade verificadas na avaliação

psicológica para o trânsito ainda não estão muito bem definidas. Muito embora alguns

estudos internacionais indiquem algumas características psicológicas consideradas

fatores que influenciam direta ou indiretamente no envolvimento do ser humano em

acidentes, o Brasil é carente em pesquisas, não fornecendo subsídios para a

compreensão das infrações associadas às características de personalidade. Não existe

um estudo que defina claramente um perfil para a função de motorista, seja no exterior

ou no Brasil.

Lamounier e Rueda (2005) realizaram investigação com 110 candidatos à CNH

para identificar, através do teste PMK (Psicodiagnóstico Miocinético) possíveis

diferenças de variáveis de personalidade entre aptos e inaptos para dirigir e comparar

as avaliações dadas por dois peritos e verificaram, quanto aos pareceres, que houve

discordância em apenas dois casos, o que, segundo os autores, já refutaria afirmações

de que a avaliação psicológica de condutores é feita sem parâmetros preestabelecidos.

Pode-se questionar, então, até que ponto é importante à realização da avaliação

psicológica para obtenção da CNH. Alguns autores consideram a Avaliação Psicológica

no trânsito desnecessária e criticam os profissionais da área e os instrumentos que são

utilizados. Quanto aos instrumentos psicológicos, com a Resolução nº 025/2001 do

CFP, os instrumentos a serem utilizados por psicólogos devem ter propriedades

adequadas para receberem um parecer favorável pelo CFP. É verdade que existem

muitos profissionais pouco capacitados para serem peritos examinadores de trânsito,

mas essa verdade também se encaixa nas diversas áreas da Psicologia e de outras

profissões.

De acordo com Hoffmann, Cruz e Klusener (2007) o psicólogo manifesta

competências profissionais adequadas diante da avaliação psicológica de condutores

quando for capaz de: identificar problemas que precisam ser resolvidos para realizar a

avaliação; considerar os diversos fatores de tempo, recursos, custos, informações

disponíveis; optar pela estratégia de avaliação mais eficiente; planejar e colocar em

prática a estratégia de avaliação adotada; coordenar essa implementação alinhada aos

25

acontecimentos; reavaliar, caso necessário, a estratégia, podendo modificá-la; respeitar

os princípios legais e éticos da avaliação psicológica dos condutores; documentar e

registrar procedimentos. Percebe-se que a avaliação psicológica de condutores é uma

ação complexa que necessita de competências também complexas do psicólogo que a

realiza.

Segundo Gouveia et al, (2002), o veículo automotor pode se transformar em uma

“arma” seja pela forma de conduzir ou mesmo devido às condições de insegurança do

ambiente. Portanto, é necessário prudência no momento de entregar uma “arma” a

alguém sem antes conhecer de quem se trata; o exame psicológico constitui uma

ferramenta indispensável neste contexto. Pode-se pensar que o problema não está na

avaliação psicológica propriamente, mas em uma capacitação dos psicólogos e

estabelecimento de critérios que definam o que significa ser um bom condutor nos dias

atuais. Mostra-se bastante comum entre os brasileiros a sensação de que os

comportamentos e atitudes de vários condutores têm causado insegurança aos

pedestres e aos demais condutores. Observa-se agressão no volante, imprudência no

trânsito, desatenção e irresponsabilidade. Porém, pouco se sabe sobre o que realmente

possibilita diferenciar com exatidão os bons dos maus condutores. Esta deverá ser uma

difícil, mas importante tarefa dos profissionais da Psicologia interessados no

comportamento no trânsito, que contam com a vantagem de dispor de um banco de

dados informatizado e permanente onde figuram a quantidade e os tipos de infração no

trânsito.

É possível relacionar os resultados dos exames psicológicos de cada condutor

com o seu desempenho em situação real no trânsito. Isto auxiliaria a traçar um perfil do

bom condutor, assim como na seleção dos instrumentos psicológicos mais adequados.

E, embora a avaliação psicológica para condutores exista no país desde a metade do

século passado, caminha-se a passos lentos. É oportuno destacar que existem

diferentes aspectos a considerar sobre a importância e necessidade da avaliação

psicológica. O presente e futuro do trânsito dependem principalmente da capacidade

dos psicólogos de realizarem adequadamente suas atividades e mostrarem a utilidade

dos serviços prestados à comunidade, tanto no tráfego como na vida pessoal do

condutor.

26

Para Primi (2010), é necessário desenvolver mais estudos sobre a relação do

uso da avaliação psicológica com o trânsito e a coerência na aplicabilidade. É

fundamental aperfeiçoar os estudos sobre a avaliação psicológica, de forma a acabar

com falsos conflitos e preconceitos de que a avaliação é uma atividade mecanicista e

descompromissada socialmente. Nota-se o aumento na quantidade de eventos

relacionados a área e de publicações sobre o assunto, sendo que a produção quase

triplicou em relação à década de 1980, o que indica o quanto a área da avaliação

psicológica teve um notável crescimento nos últimos 20 anos.

2.3 Testes Psicológicos Utilizados na Avaliação Pericial dos Condutores

A identificação dos testes psicológicos mais utilizados na avaliação pericial do

psicólogo junto ao trânsito foi motivo de discussão e polêmica durante os últimos anos,

buscando uma definição dos atributos a serem medidos e avaliados (ALCHIERI e

NORONHA, 2007). Percebe-se que esses instrumentos referem-se, principalmente, a

testes de personalidade, atenção, inteligência e raciocínio.

Alchieri e Stroeher (2003 apud SILVA e ALCHIERI, 2007), observaram uma

grande diversidade de testes psicológicos utilizados pelos psicólogos do trânsito, bem

como a falta de padronização no processo avaliativo. Foram identificados diversos

instrumentos usados para avaliar o condutor em todo o país, entre eles estão: G-36, G-

38 e R-1 (Testes Não-Verbais de Inteligência); CPS (Escalas de Personalidade de

Comrey); BFM-1 (Bateria de Funções Mentais para Motoristas – Teste de Atenção);

BFM-2 (Teste de Memória); BFM-3 (Teste de Raciocínio Lógico); AC (Atenção

Concentrada); IFP (Inventário Fatorial de Personalidade); Z-Teste-Zulliger (Teste de

Pesonalidade); STAXI (Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço); HTP

(Teste Projetivo de Personalidade); PFISTER (Teste das Pirâmides); PMK

(Psicodiagnóstico Miocinético); entre outros.

Destaca-se que o uso do teste PMK foi suspenso no ano de 2012 pelo SATEPSI

– Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos do Conselho Federal de Psicologia

(CFP), buscando algumas adequações. A aplicação do PMK, com uma seqüência de

falhas e descumprimento de normas instituídas pelo CFP resultou na sua suspensão.

27

Entretanto já está em análise uma nova versão, instituída PMK 2012, que tem como

objetivo analisar os estudos que atendem aos critérios obrigatórios instituídos pelo

Conselho Federal de Psicologia. Caso seja aprovado, o teste voltará ao uso profissional

dos psicólogos (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA SP, 2012).

O Brasil pode ser considerado pioneiro na implantação de um sistema de

certificação que utiliza de critérios internacionais de validade dos testes, de forma a

conter os instrumentos usados profissionalmente em um país. A meta do Sistema de

Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) é a busca pela qualidade dos

instrumentos de avaliação psicológica, visto que inúmeros testes, utilizados na prática

profissional, não eram baseados em estudos que comprovassem sua validade e

fundamentos científicos. Sendo assim, o CFP analisa os testes psicológicos e

disponibiliza uma lista de testes com pareceres favoráveis e desfavoráveis, e

informativos ligados ao tema. Isso representa um importante avanço na área, dando

maior credibilidade ao profissional, porém, é difícil saber o quanto esse avanço reflete

na prática dos psicólogos (PRIMI, 2010).

Vale ressaltar que no ano de 2012, após suspensão do teste PMK, o Detran da

Bahia elencou os seguintes testes psicológicos que podem ser utilizados pelos

profissionais: os testes de personalidade Palográfico, HTP, Zulliger ou Pirâmides

Pfistter; os testes de atenção concentrada TEACO, AC, TACOM A ou TACOM B; o

teste de atenção dividida TEADI; o teste de atenção alternada TEALT; os testes de

atenção difusa TADIM 1, TADIM 2, TEDIF 1 ou TEDIF 2; o teste de atenção

discriminativa TADIS ou TADIS I; o teste de atenção seletiva MPM; e os testes de

inteligência R1, R1-B, TRAP ou BETA 3. Cabe ao psicólogo escolher, dentre esses

testes, os que ele prefere utilizar, sendo que é obrigatório avaliar a personalidade,

inteligência e três tipos de atenção.

2.3.1 Testes de Personalidade

Os testes de personalidade representam a maior parcela de instrumentos

disponíveis no mercado, haja vista que a avaliação da personalidade é imprescindível

em diferentes contextos, assim como no contexto do trânsito (NORONHA et al, 2002).

28

Os testes de personalidade procuram medir as características da personalidade, em um

momento determinado. Conforme Tebaldi e Ferreira (2009), a personalidade do

indivíduo não muda quando ele se senta diante do volante do carro. Ou seja, no

trânsito, as características da personalidade, como o desejo de ser mais corajoso,

podem aparecer com intensidade porque essas características fazem parte da vida do

indivíduo. Sendo assim, avaliar as características da personalidade é fundamental para

prevenir comportamentos de risco.

Dos testes de personalidade, verifica-se que o teste palográfico é amplamente

utilizado. Conforme a Universidade Estácio de Sá (2003), o Teste Palográfico foi

idealizado e elaborado pelo professor Salvador Escala Milá, do Instituto Psicotécnico de

Barcelona, na Espanha. No Brasil, esse teste teve validação com os estudos do

Professor Agostinho Minicucci, na década de 1960, que introduziu um Centro de

Estudos de Grafoanálise (Análise da Escrita) e Testes Gráficos, sendo que, na década

de 1970, o uso do Palográfico foi difundido largamente no país.

Para Vels (1982, apud ALVES e ESTEVES, 2009), o teste Palográfico pode ser

aplicado tanto a crianças a partir dos oito anos quanto em adolescentes e adultos,

tendo uma estrutura simples, que consiste na realização de traços verticais. Sua

aplicação é dividida em duas partes, tendo a primeira duração de dois minutos e trinta

segundos, não devendo ser avaliada, mas apenas com o objetivo de diminuir as

inibições naturais que os testes produzem nos indivíduos. A segunda parte possui

caráter avaliativo e dura cinco minutos, sendo controlado o tempo de realização a cada

minuto, no qual se diz a palavra “sinal” quando o examinando deve fazer um traço

horizontal e continuar a tarefa.

O Palográfico é uma técnica expressiva de avaliação da personalidade, podendo

ser utilizado em processos de seleção de pessoas, em consultorias, em

psicodiagnóstico, em psicotécnicos e outros contextos, por possibilitar o registro de uma

série de observações úteis no diagnóstico de comprometimento de aspectos cerebrais,

uso de álcool e outras drogas. De acordo com a Universidade Estácio de Sá (2003), o

teste Palográfico avalia a personalidade tendo como base a expressão gráfica, sendo

que a folha de papel utilizada para o teste representa o mundo no qual o sujeito se

coloca afetivamente e a forma pela qual ele se relaciona com o meio externo, através

29

dos traçados. Sendo uma técnica projetiva de movimento expressivo, apresenta

semelhanças com outros testes de personalidade que utilizam desenhos e grafias.

Outro teste de personalidade utilizado para avaliação de condutores à primeira

CNH, é o teste HTP. Este teste normalmente é aplicado nos candidatos que foram

reprovados no teste palográfico. O HTP é uma técnica projetiva de desenho da Casa-

Árvore-Pessoa (House-Tree-Person) que busca obter informação de como o sujeito

experiência sua individualidade em relação aos outros e ao ambiente, estimulando a

projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito. Nessa técnica, solicita-

se que o sujeito faça um desenho a mão livre, inicialmente de uma casa,

posteriormente de uma árvore e de uma pessoa. Em um segundo momento, é realizado

um inquérito bem estruturado, em que são feitas perguntas relativas às associações

sobre aspectos de cada desenho. Na avaliação, verificam-se sinais de psicopatologia

baseados no conteúdo, no tamanho do desenho, localização, presença ou ausência de

determinadas partes e as respostas durante o inquérito (BUCK, 2009).

Já o teste de personalidade das pirâmides coloridas de Pfister foi criado por Max

Pfister que se apoiou nas impressões subjetivas que as cores produziam nas pessoas.

Max Pfister nasceu em Zurique e tinha dons artísticos que se revelaram desde bem

jovem, porém por problemas de saúde precisou se afastar da dança, interessando-se

pela psicologia. Estudou no Instituto de Psicologia Aplicada em Zurique e seu trabalho

de conclusão de curso foi sua criação da técnica das pirâmides coloridas para avaliação

da personalidade (VILLEMOR-AMARAL, 2012).

O teste das pirâmides coloridas é composto de material simples e de fácil

manuseio, que consiste em jogo com quadrículos coloridos composto de 10 cores

subdivididas em 24 tonalidades, cartelas contendo o esquema de uma pirâmide, folha

de aplicação e mostruário de cores. O psicólogo deve instruir o candidato a cobrir os

espaços da pirâmide usando as cores que quiser até que fique satisfeito com a

pirâmide colorida que se formou. Na análise deve considerar o modo de execução,

modo de colocação dos quadrículos e as cores utilizadas. As cores mantêm um

simbolismo universal e representam os afetos e emoções, por exemplo, a cor azul tem

a conotação de cor fria e profunda, ligada ao pensamento e introversão; e o vermelho

aparece como a cor do instinto e da paixão (VILLEMOR-AMARAL, 2012).

30

Por fim, o teste Zulliger (Z-teste) reflete a personalidade do indivíduo por meio de

manchas de tinta não estruturadas, provocando associações com registros de

experiências que geram as respostas, que serão transformadas em categorias e

interpretadas no todo, sob os múltiplos aspectos do dinamismo perceptivo e associativo

(WIENER, 1994 apud VILLEMOR-AMARAL, MACHADO e NORONHA, 2009). Esse

teste foi construído durante a segunda grande guerra por Hans Zulliger a partir de

estudos com o Rorschach, porém o Z-teste tem um conjunto de apenas três figuras. O

material desse teste é constituído de três lâminas ou slides, três cartões, folhas de

localização e folha de síntese. A aplicação coletiva é dividida em quatro fases:

Apresentação, fase clara, fase escura e inquérito.

2.3.2 Testes de Atenção

A atenção é uma qualidade da percepção, considerando a percepção como a

entrada de todos os materiais do conhecimento, de toda a informação recebida pelo

indivíduo. A atenção é uma função mental que exige um determinado nível de alerta, de

vigília plena, que mantém o cérebro preparado para desempenhar suas funções em

diversos contextos. A percepção de situações no trânsito produz comportamentos

diferentes e, para que sejam produzidos comportamentos adequados, são necessários

estímulos claros, um organismo em condições de perceber e reagir, assim como

conhecimento dos sinais e normas presentes no contexto do trânsito. Dessa maneira,

quando o condutor olhar para uma determinada placa de trânsito, deve compreender o

que o sinal está transmitindo e qual o comportamento esperado, já que, se não houver

a percepção correta do mesmo, haverá risco de acidente. A atenção aos sinais de

trânsito é um dos aspectos que constroem o comportamento adequado e que deve ser

avaliado quando da avaliação psicológica do condutor (ROZESTRATEN, 1988).

Com relação aos testes de atenção utilizados na avaliação de candidatos à

primeira habilitação, a Bateria de Funções Mentais para Motorista (BFM-1) obteve

parecer favorável do CFP. Esta Bateria, segundo Tonglet (2007, p. 22), “se constitui

num conjunto de instrumentos psicológicos destinados à investigação, avaliação,

classificação e padronização das funções psíquicas consideradas fundamentais para o

31

condutor”. Os testes de atenção da BFM-1 são particularmente importantes, pois “o

examinando [...] em certo momento tem que utilizar sua atenção de forma difusa, num

outro momento precisa empregar sua atenção de maneira concentrada e ainda em

outro instante focaliza sua atenção de modo discriminativo” (TONGLET, 2007, p. 24).

Assim, percebe-se que os testes da BFM-1 avaliam três aspectos da atenção: a

atenção difusa (TADIM), a atenção concentrada (TACOM) e a atenção discriminativa

(TADIS). A atenção difusa é chamada de função de vigilância e consiste na capacidade

de estar atento e em busca de estímulos; é uma função mental que focaliza diversos

estímulos dispersos espacialmente de uma só vez. A atenção concentrada consiste na

capacidade de selecionar o estímulo relevante do meio e dirigir sua atenção para esse

estímulo; é uma função mental de focalização. A atenção discriminativa é uma função

mental que, ao focalizar estímulos diferentes, separa-os considerando somente o

estímulo de interesse e emite respostas específicas a ele (BRAGA, 2007).

Na avaliação psicológica de candidatos à primeira habilitação, Tonglet (2007)

afirma ser importante que os três níveis de atenção sejam considerados para que o

desempenho dos testes seja analisado de forma integrada. Os três testes de atenção

da BFM têm sido utilizados na avaliação psicológica no trânsito em candidatos à

obtenção da CNH e, para isso, as placas de sinalização de trânsito são apresentadas

como estímulo. O autor recomenda que, na primeira avaliação, sejam realizados os

testes de atenção partindo do simples para o complexo (por exemplo, TACOM A –

TADIM – TADIS 1) e, sendo necessário reteste, aplicar a ordem seguinte: TACOM B –

TADIM 2 - TADIS 2. A aplicação desses testes pode ser individual ou coletiva, podendo

ser aplicados a sujeitos alfabetizados até sujeitos com nível superior de instrução.

Outro instrumento de avaliação da atenção bastante aplicado no contexto de

trânsito é o Teste AC, que avalia especificamente a habilidade que o sujeito tem de

manter sua atenção concentrada no trabalho, por um período de tempo. Esse teste é

uma produção nacional, de autoria de Suzy Vijande Cambraia e foi editado pela Vetor

em 1967. Há indicações no manual de que o teste pode ser aplicado em todos níveis de

escolaridade e não têm limites de idade. A aplicação possui duração de cinco minutos

e pode ser individual ou coletiva. O material é composto por manual, crivo de correção e

folha de respostas (ALCHIERI e NORONHA, 2007). Embora o teste AC não tenha sido

32

criado com a intenção de ser um instrumento específico para a avaliação de motoristas,

e sim para ser utilizado nas mais diversas situações, atualmente sua utilização é muito

comum na realização dos exames psicológicos para obtenção da CNH.

Para a avaliação da atenção seletiva há o Teste de Medida de Prontidão Mental

(MPM). O teste MPM se propõe a verificar a capacidade de atenção seletiva, e a

rapidez perceptual, possibilitando identificar diferenças individuais em percepção visual.

Esse tipo de atenção exige do sujeito esforço em reconhecer, discriminar e recordar

imediatamente os elementos da figura que permite comparar com outras durante sua

busca visual. O processo de realização do teste implica na procura de 60 pares de

figuras exatamente iguais, em distâncias e posições variadas, demandando uma

atenção seletiva. Este teste pode ser aplicado coletiva ou individualmente e o tempo de

aplicação é de sete minutos e meio, sendo indicado para pessoas de 16 anos até 50

anos de idade (PIOVANI, 2006).

2.3.3 Teste de Inteligência e Raciocínio

Segundo Green (1998), uma definição da inteligência foi apresentada no

"Mainstream Science on Intelligence", assinada por 52 pesquisadores em inteligência,

em 1994, afirmando que é uma capacidade mental, que entre outras coisas, envolve a

habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata,

compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. O

conceito refere-se a uma capacidade ampla e profunda de compreensão do mundo à

volta, algo como entender ou ter uma melhor percepção sobre o sentido das coisas.

A inteligência é também uma capacidade avaliada no contexto de trânsito.

Observa-se que a avaliação da inteligência ocupa, na maioria das vezes, um papel

central na avaliação das capacidades das pessoas que desejam obter carteira de

habilitação para dirigir veículos automotores. De acordo com Sisto, Bartholomeu e

Fernandes (2005 apud NAKANO, SAMPAIO e SILVA, 2011), isso ocorre pelo fato da

inteligência ser um aspecto socialmente valorizado e por existirem pesquisas que

revelam existência de relação entre inteligência pobre e maior envolvimento em

33

acidentes de trânsito, assim como maiores dificuldades de aprender a dirigir e no

próprio ato de dirigir.

Em relação ao teste R-1, este pode ser incluído como um dos testes mais

utilizados nesse contexto e construído com base na teoria geral de inteligência,

podendo avaliar pessoas com baixo nível de escolaridade. Esse teste foi criado pelo

psicólogo Rynaldo de Oliveira e editado pela Vetor Editora em 1973. Caracteriza-se por

ser um instrumento não verbal de inteligência e seu manual possui informações sobre

validade e precisão obtidos com pessoas que foram avaliadas por psicólogos peritos

em trânsito. Este teste é constituído por 40 itens, que constituem figuras nas quais há

uma parte faltando e o candidato deve selecionar, dentre as alternativas, a resposta

que completa corretamente a figura (ALVES, 2009). Os materiais do teste R-1 são:

caderno de questões, folha de respostas, crivo de correção e manual com as instruções

do teste. A aplicação pode ser individual ou coletiva e as respostas devem ser anotadas

pelo examinando na folha de respostas.

Já o Teste de Raciocínio Lógico de Placas (TRAP-1), que faz parte da BFM-3, foi

elaborado com a finalidade de investigar, avaliar e mensurar o raciocínio lógico dos

candidatos à obtenção da CNH, motoristas que estão mudando a categoria, bem como

aqueles profissionais que estão renovando os exames. O raciocínio lógico é a função

mental cujo procedimento intelectual envolve a interação e conexão entre vários

mecanismos operativos do pensamento que são encadeados de modo lógico, com

finalidade de adquirir e verificar um conhecimento. Na construção do TRAP-1 foram

utilizadas placas de regulamentação, de advertência e outros sinais de trânsito que são

apresentados de forma colorida. O TRAP-1 é composto de 40 questões e o

encadeamento das questões obedece um grau de complexidade progressiva, sendo

que pode ser aplicado com marcação dos tempos (10, 15, 20 minutos) ou com tempo

livre. Compõem o material do teste: manual do BFM-3, caderno do teste, folha de

respostas, crivo de apuração e crivo de análise de erros. Vale ressaltar que a validade

do TRAP-1 foi dada através da validade simultânea com o R-1 (TONGLET, 2001).

O Teste BETA-III, conhecido internacionalmente como Revised Beta

Examination, é também uma importante ferramenta para avaliação da inteligência geral.

Há a padronização brasileira dos subtestes de Raciocínio Matricial e de Códigos, que

34

tem por objetivo a avaliação do raciocínio geral e velocidade de processamento em

adolescentes e adultos. Pode ser aplicada coletiva ou individualmente, com tempo de

cinco minutos para o subteste Raciocínio Matricial, e de dois minutos para o subteste

Códigos, sendo que pode-se optar por apenas um subteste. Geralmente é aplicado nos

contextos de avaliação educacional, organizacional, do trânsito e demais áreas; sendo

que o manual apresenta estudos sobre amostra de trânsito. O material do teste consiste

em manual, caderno de aplicação do subteste de Raciocínio Matricial, bloco de folha de

resposta de ambos subtestes e crivo de correção de ambos subtestes (KELLOGG e

MORTON, 2011).

2.4 A Importância da Avaliação Psicológica para Redução de Acidentes de

Trânsito

Na avaliação psicológica no contexto de trânsito considera-se fundamental

avaliar o condutor de veículos em relação aos diversos aspectos do comportamento,

afinal “pelo menos 80% dos acidentes são devidos a fatores humanos”

(ROZESTRATEN, 1988, p.28). Desse modo, a Psicologia do Trânsito busca avaliar

fatores humanos que podem induzir à falhas e insegurança no trânsito e diminuir a alta

incidência de acidentes.

Considera-se como acidente de trânsito todo acontecimento ocorrido com

veículos automotores em uma via pública, resultando em danos materiais e/ou

pessoais, havendo uma interrupção abrupta da atividade através de evento inesperado

(LUZ, 1994 e ROZESTRATEN, 1988 apud MÉA e ILHA, 2007). “Os acidentes de

trânsito podem ser causados por falhas mecânicas, pela imprudência dos motoristas,

pelas condições de trabalho dos profissionais, por problemas de trânsito e outras” (LUZ,

1994, p.273).

Os estudos sobre acidentes de trânsito (AT) no Brasil, assim como as ações de

prevenção e controle ainda são escassos, pouco se conhece a respeito do

comportamento do condutor e pedestre, das condições de segurança das vias e

veículos, da engenharia do tráfego e das conseqüências dos acidentes. Percebe-se que

nos países desenvolvidos há considerável esforço no sentido de controlá-lo, porém nos

35

países em desenvolvimento, ele aparece como um problema em crescimento (MARIN e

QUEIROZ, 2000).

“No ano 2000, mais de 1,2 milhões de pessoas morreram como conseqüência de acidentes de trânsito, fazendo desta a nona causa mais importante de morte no mundo. Há previsão de que no ano 2020 esta cifra praticamente duplique. Além das surpreendentes taxas de mortalidade, os traumatismos por acidentes de trânsito constituem uma das principais causas de perdas da saúde e vultosa despesa para o sistema de saúde” (WHO, 2003 apud HOFFMANN e LEGAL, 2007).

No Brasil, o trânsito de veículos é considerado um dos piores e mais perigosos

do mundo, obtendo alto índice de acidentes de trânsito. De 1992 a 1996, houve um

acréscimo de 24% no número de mortes por AT, de acordo com o DENATRAN (1997),

sendo o índice de fatalidade, pelo menos, duas vezes maior do que o encontrado em

países desenvolvidos. Em 73,1% dos casos, os principais envolvidos em AT são

pessoas do sexo masculino, sendo que os jovens são as principais vítimas, e a faixa

etária que contém um número mais significativo destas, com 24,32% do total, é a que

vai dos 15 aos 24 anos (DENATRAN, 1997). Os adolescentes podem apresentar maior

freqüência de infração pelo forte desejo de aventura ou vontade de se destacar, e os

adultos possivelmente revelam aspirações primitivas de poder (MARIN e QUEIROZ,

2000).

De acordo com Paschoal (1995 apud MÉA e ILHA, 2007), os acidentes de

trânsito têm sido observados e analisados pela Psicologia porque alguns fatores

psicológicos são responsáveis pela maioria dos acidentes. Dentre esses fatores

destaca-se a insegurança, depressão, desespero, impulsividade e agressão. Para esse

autor, o exame psicológico deve “inaptar” quem apresenta traços de personalidade

perturbada, impulsividade e agressividade não controladas.

Hoffmann e Legal (2007), pontuam, entre os erros mais freqüentes que

precedem um acidente, os erros de percepção, de processamento, na execução da

manobra e de tomada de decisão. Kaiser (1979 apud MARIN e QUEIROZ, 2000)

também considera como um aspecto psicológico importante para o condutor à tomada

de decisão no trânsito, a qual sofre intervenção de percepção, juízos, motivações e

outras atividades psíquicas. As situações de trânsito obrigam o indivíduo a tomar

36

decisões em frações de segundos, sendo que o condutor pode apresentar uma decisão

inadequada em razão de uma perturbação transitória, como nos casos de fadiga,

estresse, sobrecarga emotiva ou embriaguez.

Percebe-se que o trânsito, com os congestionamentos de veículos cada vez mais

freqüentes e longos, os ruídos e a violência, contribui para aumentar os níveis de

estresse. Assim como o próprio estresse é agente causal de vários acidentes. A

pesquisa de McMurray (1970 apud HOFFMANN e LEGAL, 2007) revelou que em

períodos em que a pessoa se envolve em situações estressantes, como divórcio e

morte de ente querido, a possibilidade de sofrer um acidente aumenta

consideravelmente, podendo até duplicar.

É interessante pontuar que existem condutores que para reduzir o seu estresse,

fazem uso de determinados medicamentos ou de álcool. O estudo de Moura et al

(2009) apresenta uma relação entre consumo abusivo de álcool e acidentes de trânsito.

Pesquisas mostram que o nível de álcool no sangue produz diferentes alterações

neuromotoras, assim como diminuição da atenção, uma falsa percepção da velocidade

e falso juízo de confiança.

O consumo de bebidas alcoólicas pelos condutores é considerado um problema

de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento. Embora o art. 165 do

Código Brasileiro de Trânsito considere dirigir alcoolizado como uma infração

gravíssima na qual o sujeito poderá ser multado e até suspenso do direito de dirigir com

apreensão do veículo, o índice de adultos que afirmam dirigir veículos motorizados

após o consumo de bebidas alcoólicas ainda é elevado (DUALIBI et al, 2007). Portanto,

é importante conscientizar a população da necessidade de conhecer o padrão de

consumo e o tipo de pessoas mais vulneráveis, características essenciais para

subsidiar políticas públicas de promoção da saúde e prevenção de um comportamento

de risco (MOURA et al, 2009).

Um outro problema freqüente entre a população geral é o transtorno mental da

depressão. Muitas pessoas que desenvolvem depressão atuam como motoristas e são

desinformadas das alterações que ela gera nas capacidades psicofísicas necessárias

para dirigir. Dentre essas alterações, pode-se destacar a diminuição da atenção,

tendência suicida, alterações de sono, alterações da capacidade de tomada de decisão,

37

diminuição da capacidade de processamento de informações e de reconhecimento

visual (HOFFMANN e LEGAL, 2007).

Diante dessas questões, percebe-se que no contexto de países desenvolvidos

ou em desenvolvimento, a grande diferença nos níveis de AT está estreitamente

vinculada à responsabilidade que o poder público tem de implementar políticas

adequadas e fazer cumprir a lei. No Brasil, os elevados índices de AT estão associados

à falta de fiscalização da legislação e de políticas públicas adequadas (MARIN e

QUEIROZ, 2000).

Além da possibilidade de punir o infrator, é fundamental a educação no trânsito,

que exigirá um esforço considerável de integração de vários órgãos federais, estaduais

e municipais, como os Ministérios do Transporte, da Saúde, da Educação, do Trabalho,

da Justiça, e o Sistema Único de Saúde. É previsto que as escolas de ensino

fundamental, médio e as universidades contemplem vários tipos de atividades nesse

sentido. A questão referente à educação de reincidentes é outro aspecto importante

para a diminuição dos índices de AT. Contudo, a mudança que trará uma alteração

significativa de comportamento e, conseqüentemente, na cultura do trânsito, será um

processo que demandará um tempo considerável (MARIN e QUEIROZ, 2000).

Com a legalização do atual Código de Trânsito Brasileiro, considera-se

necessária a busca por um trânsito mais humanizado. Para alguns pesquisadores

talvez esteja faltando conhecer mais o perfil das pessoas que conduzem veículos,

aspectos como o que eles pensam sobre os automóveis, qual o sentimento de quando

estão dirigindo na presença de outras pessoas e de outros automóveis, qual o

sentimento de quando passam por uma situação de risco, como explicam a falta de

respeito às normas de trânsito na prática (SPARTI e SZYMANSKI, 2008).

Aprimorar os estudos sobre os processos psicológicos é algo essencial para a

segurança no trânsito, já que nesse momento os resultados mostram o mal-

funcionamento do motorista. Aspectos relacionados a violações e erros são

características dos comportamentos inadequados ao dirigir, como por exemplo, passar

por um sinal vermelho. Vale salientar que no trânsito circulam pessoas, que no

momento que estão dirigindo apresentam emoções, objetivos, passam por obstáculos,

38

podem demonstrar solidariedade, ou comportamentos de impaciência, vingança e

violência (VEIGA et al, 2009; SPARTI e SZYMANSKI, 2008).

Alguns estudos revelam conexão significativa entre personalidade e risco de AT.

Uma pesquisa na Austrália, por exemplo, comparou cem indivíduos culpados de

acidentes graves com cem controles pareados. Os casos apresentaram maior

freqüência de sintomas psiquiátricos, como ansiedade, impulsividade e falta de

consciência social. Relataram com maior freqüência eventos de vida desfavoráveis nas

quatro semanas prévias ao acidente (WHO, 1976 apud MARIN e QUEIROZ, 2000).

Grisci (1991 apud SILVA e ALCHIERI, 2010) investigou a relação entre acidentes

de trânsito e o comportamento agressivo no teste Gestáltico Visomotor de Bender,

sendo que participaram da pesquisa 60 motoristas profissionais. Os resultados

revelaram que o grupo com histórico de acidentes teve um nível maior de

agressividade, atuação e dificuldade no controle dos impulsos agressivos em

comparação ao grupo sem esse histórico.

Por outro lado, verifica-se que existem poucas pesquisas que comprovam a

validade preditiva da avaliação psicológica em relação aos acidentes e infrações de

trânsito. Sem evidências significativas, tal causalidade é apenas conjectura. Duarte

(1999 apud SILVA e ALCHIERI, 2010) pesquisou o instrumento de atenção

concentrada (AC), o Toulouse-Pierón e dois instrumentos de personalidade para

verificar a validade preditiva com relação aos comportamentos de 182 condutores. Os

resultados não evidenciaram diferenças significativas no teste AC entre os condutores

infratores e os que não cometeram infrações. Também não houve correlação entre os

resultados do teste projetivo Bender e no Inventário Fatorial de Personalidade (IFP), só

teve correlação entre o número total de infrações e os fatores de assistência e

deferência.

“A literatura em psicologia do trânsito, tanto nacional quanto internacional, tem

questionado se avaliar aspectos psicológicos dos motoristas traz uma efetiva

colaboração para a diminuição dos acidentes ou das infrações” (SILVA E ALCHIERI,

2008, p.57). De acordo com esses autores, em cinco décadas, não houve avanço

suficiente para responder aos questionamentos e anseios básicos da sociedade sobre a

obrigatoriedade da avaliação psicológica no contexto do trânsito; assim como sobre os

39

ganhos efetivos com a segurança do trânsito e diminuição dos acidentes, que

justifiquem o custo financeiro que os cidadãos despendem no processo. Desse modo,

ressalta-se novamente a necessidade de investimento em pesquisas com o objetivo de

clarificar a relação entre aspectos psicológicos e o comportamento do condutor.

Para isso acontecer, o complexo sistema de trânsito precisa formular políticas

públicas adequadas para a área, nas quais o psicoteste seja também utilizado como um

dado para futuras pesquisas e não apenas como o aspecto principal da aquisição da

CNH. É fundamental o acompanhamento dos condutores por um período, para que se

possa realizar uma análise mais aprofundada da possível relação que envolve a

avaliação psicológica e acidentes e infrações no trânsito (GOUVEIA et al, 2002).

Acredita-se que relacionar a avaliação psicológica com as estatísticas reais do trânsito

é um caminho para diagnosticar e propor novos caminhos para um sistema de trânsito

seguro.

40

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Ética

Por tratar-se de dados secundários, não houve necessidade do projeto de

pesquisa ser submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, para

atender à Resolução 196/96 do CNS-MS. Porém, todos os participantes foram

informados sobre os objetivos da pesquisa, que não incorriam em nenhum tipo de risco.

Foi apresentado a cada participante um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE), em que ele autorizava a sua participação na pesquisa e era informado sobre

aspectos importantes da mesma, como o fato de poder interromper sua participação a

qualquer momento, que seu nome não será divulgado, que não terá despesas e não

receberá dinheiro por participar do estudo.

3.2 Universo

Esse trabalho utilizou o método de revisão de literatura sobre o trânsito e a

avaliação psicológica no processo de habilitação de condutores. Foi realizada uma

pesquisa de campo para avaliar a percepção dos candidatos à CNH. Os dados da

pesquisa foram coletados em uma clínica na cidade de Camaçari que fica situada no

Estado da Bahia; sendo que esta clínica é credenciada pelo Detran-BA. Em Camaçari,

no momento, existem quatro clínicas credenciadas para avaliação psicológica de

condutores de veículos de diferentes categorias e graus de habilitação. Camaçari fica

localizada a 41 quilômetros da capital da Bahia, Salvador, e o município é também

conhecido por Cidade Industrial, é considerada a quarta cidade mais populosa do

estado e segunda maior cidade da Região Metropolitana de Salvador. Possui uma área

equivalente a 785 quilómetros quadrados, com uma população de em média 242.970

habitantes (IBGE, 2010).

41

3.3 Amostra

Participaram da pesquisa 101 indivíduos, sendo 66 homens e 35 mulheres, que

realizaram avaliação psicológica pela primeira vez para obtenção da CNH. Os

candidatos após a finalização da avaliação psicológica foram convidados a participar da

pesquisa e os que concordaram receberam os questionários. Os dias e horários

escolhidos para realização das entrevistas foram aleatórios. Com relação a

escolaridade dos participantes, tiveram candidatos do 1º grau, 2º grau e nível superior.

3.4 Instrumento de Coleta de Dados

Foi elaborado um instrumento estruturado, que consiste em um questionário com

perguntas objetivas, buscando obter informações com relação aos objetivos da

pesquisa.

3.5 Procedimentos para Coleta de Dados

Em um primeiro momento foi realizado contato com uma clínica em Camaçari,

credenciada pelo Detran da Bahia, informando os objetivos da pesquisa e solicitando

autorização para aplicação dos questionários na própria clínica, através de assinatura

do termo de autorização, pela pessoa responsável. Posteriormente, a própria

pesquisadora aplicou o questionário nas pessoas que realizaram avaliação psicológica

pela primeira vez e foi entregue juntamente o termo de consentimento para cada

participante. Os participantes só responderam ao questionário após terem finalizado a

avaliação psicológica. Esses questionários foram aplicados no período de 01 de

setembro a 30 de outubro de 2012, e nesse período 101 pessoas aceitaram participar

da pesquisa.

42

3.6 Procedimentos para Análise dos Dados

Na análise dos resultados, inicialmente os dados foram organizados e

contabilizados, calculando-se posteriormente a freqüência dos dados, segundo as

variáveis da pesquisa. Em um segundo momento, observou-se possíveis diferenças de

média em cada uma das questões com relação ao sexo. Os resultados foram também

apresentados na forma de figuras, para melhor visualização dos dados.

43

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na questão referente à importância da avaliação psicológica na obtenção da

CNH, 99% dos participantes, ou seja, 100 pessoas responderam “sim”, consideram

essa avaliação importante, conforme demonstrado na figura 01.

Figura 01 – Importância da realização da avaliação psicológica para obter a Carteira Nacional de

Habilitação (CNH), em porcentagem (%), para o município de Camaçari-BA.

99%

1%

Sim Não

Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012.

Aprofundando o resultado com relação ao sexo, identificou-se que 66 homens

participaram da pesquisa e desses 66 homens, ou seja, 100% dos homens

participantes, 65 (98,48%) apresentaram respostas positivas. Com relação às mulheres,

35 participaram da pesquisa e todas as mulheres (100%) apresentaram respostas

positivas. Isso revela uma pequena diferença entre os sexos, que não é significativa

para análise.

Pode-se observar que essa questão apresentou uma alta porcentagem de

concordância sobre a importância da avaliação psicológica. Esse resultado corrobora o

resultado da pesquisa de Lamounier e Rueda (2005) em que se concluiu que a

avaliação psicológica nesse contexto de trânsito era importante para a população

estudada; contudo ambos os resultados vão de encontro com os achados de Gouveia

et al (2002), que verificaram justamente o oposto. Uma hipótese é a de que as

pesquisas mais recentes, em 2005 e a presente pesquisa de 2012, já revelam um

44

resultado positivo, o que pode ser atribuído a uma maior valorização da avaliação

psicológica no trânsito.

No Brasil, a implantação do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos

(SATEPSI) possibilitou uma maior qualidade dos instrumentos de avaliação psicológica,

através de estudos que comprovem a validade e fundamentos científicos dos testes

utilizados pelos profissionais. O Conselho Federal de Psicologia avalia os testes

psicológicos e disponibiliza os pareceres, o que, segundo Primi (2010), representa um

importante avanço na área, que dá maior credibilidade ao trabalho do psicólogo.

Ainda existirem diversos pontos a serem melhorados na avaliação psicológica

com objetivo de obter a CNH, como deficiente capacitação dos profissionais, condições

inapropriadas para aplicação dos testes e falta de critérios de avaliação. Por outro lado,

percebe-se que os profissionais, com a cobrança de realizarem uma especialização na

área de Psicologia do Trânsito, estão buscando maior capacitação e desenvolvimento

profissional, o que lhes dão elementos para mostrar à população a importância do seu

trabalho. De alguma maneira, isso já pode estar refletindo na população que revela

posicionamento favorável quanto à importância dada ao processo de avaliação dos

candidatos a condutor.

Para Noronha (2002) e Primi (2010), essa prática está em momento de

aprimoramento, verifica-se que a produção de publicações da área quase triplicou nos

últimos 20 anos; com isso almeja-se que a avaliação psicológica seja considerada

atividade importante e imprescindível. Gouveia et al (2002) afirma que depende dos

profissionais mostrarem a utilidade de seu serviço e que se espera que suas práticas

sejam sentidas pela população geral. Com o resultado dessa primeira questão da

pesquisa, verifica-se que a população que participa do processo de avaliação

psicológica para obter a CNH já está sentindo maior confiança e dando importância ao

trabalho do psicólogo que atua no trânsito.

A figura 02 apresenta os resultados referentes à questão que aborda se o

participante concorda que, o candidato reprovado na avaliação psicológica não pode

dirigir um veículo. Verifica-se que 70 participantes responderam que “sim”, ou seja,

69,3% das respostas foram positivas.

45

Figura 02 – Candidato reprovado na avaliação psicológica não pode dirigir um veículo.

69,3%

30,7%

Sim Não

Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012.

Com relação ao sexo, identificou-se que considerando o total da amostra

masculina pesquisada de 66 homens (100%), 47 (71,21%) apresentaram respostas

positivas e do total da amostra feminina de 35 mulheres (100%), 24 (68,5%)

apresentaram respostas positivas. Esse dado revela uma diferença pequena entre os

sexos, que também não é significativa para análise.

De acordo com Silva (2005), o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN)

aprovou resolução que tornou obrigatório avaliar psicologicamente os requerentes a

CNH, não sendo concedida habilitação aos candidatos considerados inaptos. Portanto,

seguindo as recomendações da Resolução 267/2008 do CONTRAN, ao ser avaliado

pelo psicólogo o candidato deverá ser considerado inapto temporário quando

apresentar deficiência no desempenho com possibilidade de melhora, sendo avaliado

novamente após um período; e será considerado inapto, após ter sido submetido a

avaliação psicológica algumas vezes e não apresentar desempenho apropriado para

condução de veículo.

Nesta questão da pesquisa, quanto ao fato de que caso o candidato seja

reprovado na avaliação psicológica ele não pode dirigir um veículo, verificou-se uma

significativa diminuição de respostas positivas com relação à questão anterior.

Considera-se como hipótese para esse dado a de que a população no Brasil possui o

entendimento de que o ato de dirigir é um “direito” deles e não aceitam facilmente

perdê-lo, principalmente observando a população pesquisada, que é do interior da

Bahia, onde é muito comum que as pessoas aprendam a dirigir desde criança com os

46

próprios pais e já o fazem muito antes de ter idade para dirigir, perante a lei do país.

Afinal, é contraditório que os participantes considerem que a avaliação psicológica no

trânsito é importante e por outro lado o candidato que fosse reprovado nessa avaliação

pudesse dirigir normalmente, não tendo nenhum efeito ou repercussão para a

segurança das pessoas no trânsito.

Méa e Ilha (2007, p.276) afirmaram que por meio da avaliação psicológica “deve-

se inaptar quem apresenta traços de personalidade perturbada, impulsividade e

agressividade não controlada”. O Conselho Federal acredita que os testes psicológicos

utilizados no exame de habilitação de condutores, quando são aplicados corretamente,

podem efetivamente contribuir para impedir a presença de maus condutores.

Ao avaliar os resultados no que diz respeito a se a avaliação psicológica

contribui para identificar comportamentos adequados para o trânsito, verificou-se que

95 participantes, que correspondem a 94% do total de participantes, concordam com a

questão formulada, conforme figura 03. Essa questão apresentou uma alta

porcentagem de respostas afirmativas, o que pode demonstrar que os participantes

conseguem perceber que para dirigir com segurança é necessário ter algumas

habilidades e comportamentos específicos, que a avaliação psicológica consegue

identificar.

Determinadas habilidades e comportamentos devem ser investigados na

avaliação psicológica no trânsito, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, como:

atenção, percepção, tomada de decisão, nível mental, equilíbrio psíquico, ausência de

quadro patológico, controle adequado da agressividade e impulsividade, ajustamento

pessoal-social, entre outras (DUARTE, 2007). A avaliação psicológica é uma atividade

ampla e complexa, que, através de entrevistas, dinâmicas, observações e aplicação de

testes, permite ao psicólogo interpretar traços do comportamento humano (PRIMI,

2010; LAMOUNIER e RUEDA, 2005). Portanto, os participantes da pesquisa, assim

como esses autores citados, acreditam que a avaliação psicológica pode contribuir para

identificar comportamentos adequados dos condutores no trânsito.

Por outro lado, observa-se que 6% dos participantes não concordaram que essa

avaliação contribui para identificar comportamentos adequados para o trânsito. Pode-se

pensar que esse dado reflete a falta de critérios estabelecidos que definam o que é ser

47

um bom condutor nos dias atuais com base em pesquisas e dados objetivos divulgados

para a população. Para Gouveia et al (2002) existe pouco conhecimento sobre o que

realmente diferencia os bons dos maus condutores; e deve ser uma tarefa dos

psicólogos buscarem, através do banco de dados informatizado, os tipos de infrações

de trânsito e suas causas relacionadas ao comportamento do condutor.

Figura 03 - Avaliação psicológica contribui para identificar comportamentos adequados para o

trânsito.

94%

6%

Sim Não

Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012.

Com relação ao sexo dos participantes, considerou-se que do total da amostra

masculina pesquisada de 66 homens (100%), 63 (95,4%) apresentaram respostas

positivas e do total da amostra feminina, 33 mulheres (94,2%) apresentaram respostas

positivas. Esse dado revela uma diferença pequena entre os sexos, que também não é

significativa para análise.

Com relação à questão referente a se a avaliação psicológica pode ajudar a

diminuir o risco de acidentes de trânsito, apresentada na figura 04, constata-se que

87,1%, que correspondem a 88 participantes, indicaram respostas afirmativas.

48

Figura 04 - Avaliação psicológica pode ajudar a diminuir o risco de acidentes.

87,1%

12,9%

Sim Não

Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012.

A questão referente a se a avaliação psicológica pode ajudar a diminuir o risco

de acidentes de trânsito teve na sua grande maioria uma percepção positiva. Segundo

Lamounier e Rueda (2005) o objetivo da avaliação psicológica pericial no contexto do

trânsito é de realizar um trabalho preventivo, sendo possível diminuir a possibilidade do

condutor se expor as situações de risco de acidentes. Percebe-se que não é possível

prever que uma pessoa que apresenta traços agressivos e impulsivos vá manifestar

esse comportamento no trânsito, pois ela pode canalizar esse comportamento quando

dirige e manifestá-lo em outro ambiente. Em virtude de ser um trabalho preventivo,

torna-se necessário evitar que essa pessoa dirija e venha a se expor em uma situação

de risco podendo envolver outras vítimas.

Todavia, houve diminuição de respostas positivas com relação à questão

anterior, podendo-se levantar a hipótese de que apesar da avaliação psicológica ser

realizada de forma obrigatória, não foram divulgadas pesquisas para a população que

comprovem realmente a redução do número de acidentes de trânsito. Percebe-se que o

Brasil ainda é carente em pesquisas e que poucas delas investigaram e fornecem

subsídios para a compreensão de acidentes de trânsito associadas às características

da personalidade. Dessa maneira, não há comprovação empírica consistente de que a

avaliação psicológica ajuda a diminuir o risco de acidentes. Apesar disso, pode-se

considerar, através do resultado da pesquisa, que há grande confiança da população

no trabalho do psicólogo em auxiliar na segurança do trânsito e na diminuição de

acidentes.

49

Observam-se nos dados da pesquisa, com relação ao sexo dos participantes,

que nessa questão também não houve uma diferença significativa da percepção entre

os sexos. Do total da amostra masculina pesquisada, 59 homens (89,3%) apresentaram

respostas positivas e do total da amostra feminina, 31 mulheres (88,5%) apresentaram

respostas positivas.

Por fim, 88 participantes (87,1%) responderam que a avaliação psicológica

deveria ocorrer com maior freqüência, sendo realizada na renovação da CNH, conforme

demonstra a figura 05.

Figura 05 - Avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência.

87,1%

12,9%

Sim Não

Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012.

A questão com relação a maior freqüência da realização da avaliação

psicológica, sendo realizada na renovação da CNH, também teve na sua grande

maioria uma percepção positiva. Atualmente a avaliação psicológica é realizada em

caso de renovação da CNH dos condutores profissionais, como estabelecido na

resolução número 168/2004. Contudo, os condutores não profissionais, só precisam

passar pela avaliação psicológica em um primeiro momento; já o exame de aptidão

física e mental é feito a cada renovação da CNH.

Pode-se verificar que a maioria das pessoas se submete à avaliação psicológica

no contexto de trânsito apenas uma vez, não havendo um acompanhamento do

psicólogo na renovação da CNH. Isso torna menos eficaz o trabalho do psicólogo, pois

assim como uma pessoa pode vir a desenvolver com o passar dos anos uma

dificuldade na visão, ela também pode apresentar um transtorno psicológico ou mudar

50

características do comportamento, se tornando mais agressivo. O ser humano se

transforma o tempo todo, então dificilmente um psicólogo poderá prever que ele terá

características de um bom condutor ao longo de toda a sua vida. Portanto, assim como

percebido pela maioria dos participantes da pesquisa, é realmente importante que o

exame psicológico seja realizado com maior periodicidade.

Observa-se que apesar dos participantes da pesquisa acreditarem na

importância da avaliação psicológica, alguns deles não gostariam de ser submetidos a

esta com maior freqüência. É possível perceber que a avaliação psicológica além de

trazer um desgaste emocional para o candidato, pode fazer com que ele deixe de atuar

como condutor e é mais um custo financeiro. Dessa maneira, alguns condutores podem

ter dificuldade no pagamento periódico da avaliação.

Considera-se a partir dos dados da pesquisa, que do total da amostra masculina

pesquisada, 61 homens (92,4%) apresentaram respostas positivas e do total da

amostra feminina, 28 mulheres (80%) apresentaram respostas positivas. Em relação à

diferença das respostas entre os sexos, somente essa questão referente a se avaliação

psicológica deveria ocorrer com maior freqüência é que indicou diferenças significativas,

sendo mais homens do que as mulheres perceberam essa necessidade. Isso pode

ocorrer pelo fato dos homens observarem mais as dificuldades no trânsito e as

imprudências dos condutores, afinal na grande maioria dos acidentes os principais

envolvidos são pessoas do sexo masculino.

Segundo Andrade e Jorge (2000), os homens vivenciam mais violência no

trânsito do que as mulheres; sendo que as ocorrências no grupo das mulheres

geralmente estão relacionadas à condição de passageiros, divergente dos homens, que

se traumatizam como os condutores. Isso parece estar ainda relacionado às normas

sociais aceitas, de que o homem é quem deve assumir o veículo, na maioria dos casos.

51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trânsito ocupa um papel fundamental na vida das pessoas, onde todos

necessitam dele para se locomover e participam de alguma maneira, seja como

condutor, pedestre ou passageiro. Os estudos acerca da Psicologia do Trânsito são

relevantes para o conhecimento dos comportamentos individuais e sociais do homem

neste tipo de situação, contribuindo para uma relação com o trânsito mais harmônica.

Afinal ao se compreender mais acerca do comportamento humano no trânsito é

possível fazer um trabalho preventivo, diminuindo as possibilidades de um condutor se

colocar em situações de risco, o que dá maiores condições de segurança.

De acordo com Noronha (2002), é inconcebível que as intervenções ocorram

sem que seja precedido as avaliações psicológicas, já que é fundamental para uma

atuação adequada. A avaliação é relevante para a tomada de decisões, ou seja, serve

para orientar uma ação de forma mais segura para o trabalho do psicólogo.

Esse estudo teve como objetivo analisar a opinião da população de candidatos a

CNH da cidade de Camaçari/BA em relação a questões referentes à avaliação

psicológica no contexto de trânsito. Dessa maneira, analisando os resultados

encontrados, verificou-se que, no geral, a maioria da amostra concorda sobre a

importância da prática da avaliação psicológica para o trânsito, afinal todas as questões

pesquisadas revelaram altas porcentagens de respostas afirmativas.

A questão que dizia respeito a se a avaliação psicológica era importante foi a

que apresentou maiores porcentagens de respostas afirmativas (99%), seguida pela

questão relacionada à avaliação psicológica contribuir para identificar comportamentos

adequados para o trânsito (94%). Percebe-se grande valorização da avaliação

psicológica no contexto de trânsito pela população estudada, o que indica o avanço da

Psicologia do Trânsito, com aumento de publicações científicas, maior credibilidade dos

profissionais e compreensão da contribuição da avaliação psicológica para ter

condutores com habilidades e comportamentos adequados no trânsito.

Apesar dos participantes da presente pesquisa perceberem a avaliação

psicológica como importante, ainda não há consenso entre os psicólogos sobre a

52

necessidade da realização da avaliação psicológica para a pessoa adquirir a CNH. De

acordo com diversos autores, o campo da avaliação psicológica de condutores possui

muitas dificuldades e limitações em sua fundamentação e exercício, não existindo

clareza sobre sua validade em relação ao aumento da segurança nos deslocamentos

nas vias públicas.

Quanto à questão da avaliação psicológica ajudar a diminuir o risco de acidentes

e a questão se esta avaliação deveria ocorrer com maior periodicidade, verificou-se

87,1% de concordância. O que permite concluir que, para os participantes, a avaliação

psicológica torna possível a prevenção de que os condutores apresentem

comportamentos de risco, podendo diminuir o número de acidentes de trânsito, que se

encontra bastante elevado. Além disso, com a realização da avaliação psicológica com

maior periodicidade, o psicólogo poderá acompanhar as mudanças ocorridas no

comportamento do indivíduo, buscando manter como condutores, pessoas com

desempenho adequado.

Porém, para se ter clareza e consistência com relação à diminuição de acidentes

de trânsito é imprescindível a efetuação de pesquisas para verificar a evolução dos

candidatos. Ou seja, analisar o perfil psicológico de condutores que cometem muitas

infrações e se envolvem em acidentes e contrastá-lo com o perfil dos que tem

comportamento exemplar no trânsito.

A questão que obteve o menor número de respostas afirmativas (69,3%) foi se o

participante da pesquisa concorda que o candidato reprovado na avaliação psicológica

não pode dirigir um veículo. Isso pode ser atribuído ao fato do participante se ver no

risco de perder na avaliação psicológica caso não apresente desempenho mínimo

esperado para possuir o direito de dirigir. Uma hipótese é a de que muitas pessoas

consideram que já possuem o “direito” de dirigir e sentem-se lesadas caso não sejam

consideradas aptas pelo psicólogo.

Sabe-se que um erro no trânsito pode ser fatal e a avaliação psicológica busca

diminuir essa possibilidade, o que já é algo positivo para a população brasileira e

mostra que a avaliação psicológica possui um papel importante. Para haver uma maior

valorização da Psicologia do Trânsito como um todo e da avaliação psicológica nesse

contexto, os profissionais de psicologia devem se unir para discutir e trocar

53

informações, além de ter um papel mais ativo na realização de pesquisas que

promovam um amparo científico de sua atuação. Afinal, nessa pesquisa, os

participantes já demonstraram confiança no papel do psicólogo do trânsito ao

considerar a avaliação psicológica importante.

Em relação à diferença entre os sexos, apenas a questão referente a se

avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência é que apresentou

diferenças significativas, sendo os homens os que mais percebem dessa maneira.

Pode-se levar em consideração o fato dos homens assumirem mais a posição de

condutores, sendo assim eles observam mais as dificuldades no trânsito, as

imprudências dos condutores e estão envolvidos na maioria dos acidentes. Por isso

eles podem considerar a necessidade da avaliação psicológica ter maior freqüência.

Conclui-se que o objetivo da pesquisa foi alcançado e considera-se fundamental

que mais estudos em outras Cidades e Estados sejam realizados, com a finalidade de

verificar a percepção da população brasileira a respeito da avaliação psicológica. Afinal,

são as pessoas que se submetem a esse procedimento e que estão em contato

permanente com o trânsito que podem oferecer informações sobre a necessidade e

contribuição do trabalho do psicólogo para um trânsito mais seguro e harmonioso.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

QUESTIONÁRIO

Idade____________ Sexo ( ) F ( ) M Dê sua opinião, marcando com um “X” a sua resposta:

1- Você acha importante a realização da avaliação psicológica para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH)?

( ) Sim ( ) Não 2- Você concorda que o candidato reprovado na avaliação psicológica não pode

dirigir um veículo? ( ) Sim ( ) Não 3- A avaliação psicológica contribui para identificar comportamentos adequados

para o trânsito? ( ) Sim ( ) Não 4- Em sua opinião, a avaliação psicológica pode ajudar a diminuir o risco de

acidentes de trânsito? ( ) Sim ( ) Não 5- A avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência, sendo realizada

na renovação da CNH? ( ) Sim ( ) Não

Obrigada pela sua participação.

Luciana Bulhões Machado – Psicóloga (CRP 03/04594)

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ANEXO

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